Casa Garden acolhe Rota das Letras entre os dias 8 e 17 de Março

O Festival Literário de Macau Rota das Letras vai regressar à programação cultural da região durante Primavera, depois da mudança forcada para o Outono durante os anos da pandemia. Entre os dias 8 e 17 de Março, a Casa Garden vai acolher a 13.ª edição do festival que irá celebrar a obra poética de Li Bai e de Luís de Camões.
Entre os convidados, o chinês Dong Xi, vencedor do 11.º Prémio Mao Dun de Literatura, e o norte-americano Chang-era Lee, finalista do Prémio Pulitzer, são os nomes mais marcantes. Num evento com espaço também para a evocação dos 50 Anos do 25 de Abril, o escritor e jornalista João Céu e Silva, o artista Fido Nesti e a guitarrista Marta Pereira da Costa estão entre os representantes do mundo lusófono.
“Sempre entendemos que é em Março que faz mais sentido a realização do Festival Literário de Macau, por ser uma época do ano com menor sobrecarga de eventos. Daí que, à primeira oportunidade, e depois de várias edições realizadas nos meses de Outubro e Novembro, por força da pandemia, tenhamos decidido fazê-lo regressar à sua data original”, diz Ricardo Pinto, director do Rota das Letras.
Cinco meses após a última edição, o festival volta a celebrar os 500 anos do nascimento de Luís de Camões. Desta feita, a Casa Garden, com a gruta do poeta bem próxima, vai receber a visita de Kenneth David Jackson, professor da Universidade de Yale e autor de vários estudos camonianos.
O ilustrador brasileiro Fido Nesti evocará também a obra de Camões, através da sua adaptação d’ Os Lusíadas para crianças.

Lugar à poesia
Além do épico poeta português, a 13.ª edição do Rota das Letras terá como destaque outro nome grande da poesia universal na abertura do evento. A vida e a obra de Li Bai são o tema de uma exposição de fotografia de Xu Peiwu, artista chinês que ao longo da última década percorreu os mesmos caminhos por onde andou o poeta há́ mais de mil anos, registando as paisagens que o inspiraram na sua errância por vastas e dispersas regiões da China.
São imagens “de uma enorme beleza e densidade, que nos permitem contemplar uma China despida e cativante”, afirma João Miguel Barros, curador da exposição. Na sessão inaugural, a editora Livros do Meio, de Carlos Morais José, fará nova apresentação do livro ‘Li Bai – A Via do Imortal’, de António Izidro.
A evocação do 50.º aniversário da Revolução do 25 de Abril será também evocada nos primeiros dias do festival. João Céu e Silva apresenta ao público de Macau a sua obra ‘O General que começou o 25 de Abril dois meses antes dos Capitães’ – a história nunca contada de como o General António Spínola fez cair o regime.

3 Mar 2024

Conhecidos autores chineses presentes no Rota das Letras

Foram ontem anunciados os nomes dos autores chineses que vão participar na edição deste ano do festival literário Rota das Letras, que decorre entre os dias 6 e 15 de Outubro. Destaque, assim, para a presença de Deng Yiguang, escritor de etnia mongol nascido em Chongqing, mas hoje baseado em Shenzhen. Segundo um comunicado do festival, Deng é um autor já galardoado com o Prémio Literário Lu Xun, um dos mais importantes da China. Os seus romances estão traduzidos em várias línguas estrangeiras e têm sido, frequentemente, adaptados ao cinema.

Destaque também para a presença de Fu Zhen, natural de Nanchang, em Jiangxi, agora radicada em Hong Kong, considerada uma das escritoras mais influentes da nova geração. A autora vem a Macau falar do seu primeiro romance, “Zebra”, e também dos vários livros de viagens que já publicou. Wang Weilian é outro dos jovens autores chineses de maior talento que estará no Rota das Letras. Wang já foi distinguido com o Prémio Literário Mao Dun para Novos Autores e com a medalha de ouro na mais importante competição literária da China para obras de ficção científica. Vem de Cantão, como vem também Zhu Shanbo, autor de vários romances históricos e colecções de contos.

O cartaz inclui ainda Xiao Hai, hoje a viver em Pequim, um representante da chamada poesia operária chinesa, um género literário que está a ressurgir na China. No Festival Rota das Letras, vai partilhar a mesa de uma sessão com Valério Romão, que recentemente tem vindo a trabalhar este tema de forma performativa.

Memórias e evocações

Além dos nomes de autores chineses, o Rota das Letras traz de novo ao território Francisco José Viegas, autor, editor e ex-Secretário de Estado da Cultura em Portugal, bem como o escritor Valério Romão. Destaque também para a presença da poetisa Sara F. Costa, que no primeiro fim-de-semana do festival vai apresentar o seu mais recente livro de poesia, “Ser-Rio, Deus-Corpo”, uma projecção de vídeo-poemas intitulada “Tocar os sons e ouvir as imagens”, produzida por si, e ainda coordenar o workshop intitulado “Vamos traduzir um verso chinês!”.

O horário completo de todas as sessões da 12ª edição do festival deverá ser conhecido hoje. Numa primeira fase os eventos do festival decorrem na Livraria Portuguesa entre os dias 6 e 8 de Outubro, seguindo depois para a Casa Garden de 13 a 15.

A par da literatura contemporânea, prestar-se-á tributo a nomes grandes do passado: Camões, Shakespeare, W.H. Auden, J.R.R. Tolkien. O festival abre com uma sessão evocativa do centenário de Henrique de Senna Fernandes. No que respeita a autores portugueses, destaque para a participação de Patrícia Portela e do jornalista António Caeiro. Por ambos os espaços vão também passar vários autores de Macau ou aqui baseados: Joe Tang, Erica Lei, Yang Sio Mann, Isaac Pereira, Rui Rasquinho, Rui Farinha Simões, Paulo Cardinal, José Basto da Silva, Marisa C. Gaspar, Andrew Pearson, Tim Simpson, Joshua Ehrlich. Além disso, o programa inclui o espectáculo “Samba de Guerrilha”, de Lucas Argel, dedicando espaço à fotografia, com nomes como Rusty Fox, entre outros.

29 Set 2023

Rota das Letras | Livro “Jornadas pelo Mundo” apresentado em Macau

Bernardo Pinheiro Correia de Melo, Conde de Arnoso, integrou a delegação portuguesa que, em 1887, foi a Pequim assinar um dos tratados mais importantes da relação luso-chinesa. Dessa viagem, com passagens por Macau e Hong Kong, nasceu o livro “Jornadas pelo Mundo”, agora reeditado. A obra será apresentada no Festival Rota das Letras e no Clube Lusitano de Hong Kong

 

“Encontrar terra portuguesa, a mais de três mil e seiscentas léguas de distância da nossa querida pátria, é tamanha ventura que os cinco dias que estivemos em Macau contarão na nossa vida como para os caminhantes no deserto contam as horas de descanso passadas à sombra benfazeja das palmeiras de um oásis”.

Pousados os pés em Macau depois de uma longa viagem de barco desde Marselha, é desta forma que o Conde de Arnoso, título atribuído pelo rei D. Carlos I a Bernardo Pinheiro Correia de Melo, descreve o território administrado por portugueses. Integrante da comitiva portuguesa que veio à China assinar o Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português, em 1887, o Conde de Arnoso passou por vários lugares até chegar a Pequim, incluindo Macau e Hong Kong, onde passou alguns dias e procurou avidamente compreender os usos e costumes locais.

O relato de viagem lê-se em “Jornadas pelo Mundo”, obra editada pela primeira vez em 1895 e depois em 1916, já depois da morte do autor, e que ganha agora nova edição revista e ilustrada com o cunho da Quetzal e coordenação de Francisco José Viegas, autor convidado da próxima edição do festival literário Rota das Letras, que acontece entre os dias 6 e 15 de Outubro. O programa do festival inclui, aliás, uma conversa sobre este livro, que será também apresentado no Clube Lusitano de Hong Kong.

Ao HM, Francisco José Viegas descreve o Conde de Arnoso como uma “figura extraordinária, um homem literário, ligado às áreas da matemática, da engenharia, mas também da diplomacia”, tendo sido secretário particular do rei D. Carlos, assassinado no Regicídio, e feito parte do grupo “Vencidos da Vida” onde constavam autores como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão ou Guerra Junqueiro.

Francisco José Viegas diz ter ficado “fascinado” com a obra que tem um cunho inovador no campo da literatura de viagens, sobretudo no que diz respeito ao “interesse diplomático e histórico”.

A missão diplomática em causa era chefiada por Tomás Rosa, que foi governador de Macau, tendo Pedro Nolasco da Silva sido o tradutor oficial. Em 1887 a China enfrentava “um período particularmente importante”, sendo governada pela Imperatriz Cixi e estando no final das guerras do Ópio.

Evocações e vislumbres

A chegada a Macau constituiu “um momento particularmente importante” para o Conde de Arnoso, que faz uma espécie de “reencontro com a pátria”. “Ele vai evocar o governador Ferreira do Amaral, as escolas religiosas, a história, os monumentos de exaltação patriótica que encontra. Não era muito vulgar num homem em funções diplomáticas, nessa altura, ter os múltiplos conhecimentos e estudos, a curiosidade e a capacidade de narrativa do Conde Arnoso.”

Francisco José Viegas descreve que esta não foi apenas uma “viagem patriótica”, sendo descritos episódios como o consumo do ópio, a “crescente criminalidade”, vários problemas da sociedade da época. “Ele sabe que Macau é um problema na nossa identidade e história, como foi sempre ao longo dos anos, e está sempre consciente disso.”

O olhar do Conde de Arnoso sobre Macau é, assim, “deslumbrado”. “O século XIX é quando Portugal reencontra a Europa, com a Monarquia Constitucional, dando-se a entrada da cultura europeia em Portugal, com uma geração de autores. O Conde de Arnoso é também um europeu, uma mistura entre Paris, Londres, desempenhando algumas funções diplomáticas. Depois de atravessar meio mundo, encontra Portugal. Para ele [Macau] é uma ilha no meio de um continente exótico.”

Desta forma, o Conde de Arnoso fez “o que qualquer europeu medianamente culto fazia nas suas viagens: encontrar o mundo como um lugar de exotismo por onde os europeus se passeiam”.

A estupefacção com a China

Para Francisco José Viegas, “Jornadas pelo Mundo” mostra um outro lado do Conde de Arnoso face aos habituais viajantes da época: a sua curiosidade e capacidade de questionar.

“O que iliba o Conde de Arnoso é esse sentimento de justiça que toma conta dele na China, sobretudo, quando enfrenta a pobreza, questionando como é possível um império tão importante chegar aquele ponto, apesar do passado e de uma história tão gloriosa. Isso choca-o na China, mas fica eufórico com Macau.”

Destaque para o relato feito em Xangai da “cidade china, encerrada dentro de altos muros ameados”, que “espanta pelo contraste com os bairros chinas das concessões”. Lá, “as ruas são vielas estreitas e tortuosas”. “Falta o ar, respira-se mal, tudo tem um aspecto porco e sujo.”

“O encontro do Conde de Arnoso com a China é espantoso, porque ele tem a noção de que há ali qualquer coisa de muito importante, algo que os ocidentais geralmente não têm. Muito agora as grandes figuras ocidentais na China tenham essa sensação, depois não vão procurar os sinais. O Conde de Arnoso tentou encontrar as referências ao passado, ao império, mas sem deixar de fazer críticas severas ao funcionamento do regime, à burocracia, à aristocracia”, descreveu Francisco José Viegas.

Observa-se, em “Jornadas pelo Mundo”, “uma espécie de narrativa pioneira da verdadeira China e não [o país] da história ou da literatura”. No caso de Hong Kong, Conde de Arnoso ficou surpreendido por encontrar um Clube Lusitano.

Ao longo desta obra o autor vai sempre “à procura do que é estranho, oriental, do que é local”, tentando escapar “ao que é oficial” e tendo a “reacção de um europeu de classe alta, educado, mas muito aberto”.

Isto numa altura em que “muitas das narrativas europeias de viagens pela China eram muito depreciativas para o país”. Escritos que davam a entender o país “como se fosse uma nação menor, mas Conde de Arnoso percebe que não é nada disso, compreende a enormidade [do país]”.

 

 

“Melancholia” e outras histórias

Francisco José Viegas apresenta dois livros no Rota das Letras

“Melancholia”, lançado no ano passado, e “A Luz de Pequim”, editado em 2019, são duas obras que serão apresentadas na 12ª edição do festival Rota das Letras, além de “Jornadas pelo Mundo”. Trata-se de dois livros onde o personagem Jaime Raimos, inspector, assume novamente o protagonismo, estando presente em diversos textos e obras de Francisco José Viegas desde 1991.

“A Luz de Pequim” começa no Porto, de onde foge alguém para a capital chinesa, sendo que a investigação “gira em torno deste desaparecimento e da geração que foi comunista a seguir à revolução [do 25 de Abril de 1974]”. Essa obra termina no Palácio de Cristal, no Porto, ponto de partida para “Melancholia”, marcado pelo assassinato de uma escritora.

“Interessa-me a investigação policial na medida em que jogo com as técnicas do policial, mas interessa-me muito mais o país. Por exemplo, em ‘A Luz de Pequim’, interessa-me o poder dos poderosos, as oligarquias, mais do que as guerras do submundo portuense. Neste livro interessa-me também esse mecanismo de produção de melancolia portuguesa mais do que a investigação. A escrita é um símbolo dessa produção de melancolia, se quisermos.”

Francisco José Viegas assume que Jaime Ramos já tem personalidade e rumo próprios. “É uma espécie de companhia muito presente em todos os meus livros e na verdade já é independente de mim. Costumo dizer que esse é o sonho de qualquer escritor, criar uma personagem que já tem vida própria. Dá-me uma grande alegria por saber que ele ganhou vida e uma biografia própria, e que tem um modo de interagir com outros personagens que não tem a ver comigo.”

 

Escrita em Macau

Tanto Jaime Ramos como os próprios portugueses têm duas características, a ironia e a melancolia. “Entre estes dois pólos, pode dizer-se que Jaime Ramos opta muito mais pela melancolia. Dizer que somos um povo melancólico é tão banal como dizer que somos um povo de tolos ou de levianos. Não nos definimos apenas por uma característica, mas a melancolia é uma das nossas características, e isso tem a ver com o nosso isolamento, a forma como nos relacionamos com o destino, como desistimos dele muitas vezes. A melancolia diz respeito à forma como vemos a própria literatura.”

Francisco José Viegas está a ultimar um romance maioritariamente passado em Macau, e que será concluído nesta viagem. “É uma espécie de despedida portuguesa de Macau ou, pelo menos, a minha despedida. Abordar a memória e a presença portuguesa [no território] é muito complexo, e vejo sempre Macau de fora, é sempre como se fosse o cenário de um filme. É sempre tão difícil de entender que é fascinante. Com este livro não pretendo explicar nada, mas sim fazer uma visita. O próprio Jaime Ramos faz a sua visita a Macau e, de fora, observa-a, quando tem apenas uma semana para fazer a investigação.”

Sobre o Rota das Letras, o autor defende que “é importantíssimo” que continue sendo “a garantia de que não há uma despedida total [dos portugueses] de Macau” e uma “prova desse dinamismo”.

18 Set 2023

Rota das Letras | Rolling Puppets apresentam “Droga” de Lu Xun

“Droga” de Lu Xun está em cena hoje, amanhã e domingo, nas oficinas navais nº2, pelas mãos da companhia Rolling Puppets. O espectáculo fecha mais uma edição do festival literário Rota das Letras e insere-se nas comemorações dos 100 anos do movimento do 4 de Maio que revolucionou a escrita no continente colocando as palavras ao alcance de todos

[dropcap]”[/dropcap]A verdadeira acção não acontece quando se tem esperança de que se consiga alguma coisa com ela, a verdadeira acção acontece quando já não se espera”. Estas são as palavras de Tan Tan La, co-fundadora, com Kevin Chio, da companhia de teatro Rolling Puppets, para descrever o espírito de Lu Xun, autor de “Droga”, a peça que vai subir ao palco das oficinas navais, nº2, hoje, amanhã e domingo. Esta interpretação do trabalho de Lu Xun é também o mote para mais uma apresentação do espectáculo no território.

A ideia de pegar neste texto, “Droga”, que pode ainda ser traduzido por “Medicamento” da autoria de um dos escritores emblemáticos do Movimento literário do 4 de Maio, surgiu em 2013. Nesta altura os responsáveis da Rolling Puppets, assistiam em Macau àquilo que consideraram “um verdadeiro início de movimentação social”. “Vivia-se uma época de alguma esperança social”, conta Tan Tan. A responsável recorda a saída à rua dos moradores do edifício Sin Fong, reclamando contra as más condições em que viviam. A eles juntaram-se residentes, e tudo parecia apontar para “uma luta colectiva por direitos sociais”.

No entanto, esta “reivindicação”, foi de pouca duração. “Vimos a ocupação das ruas por parte de manifestantes, mas foi durante muito pouco tempo, nem chegou a uma noite, mas isso aconteceu”, recorda com satisfação. No entanto, de repente, “houve distribuição de dinheiro e deixou de ser necessário pedir que se fizesse justiça”, lamenta. “Quando começámos a ver as pessoas a saírem à rua, a pedir justiça, pensámos que finalmente estavam a acordar mas acabámos por perceber que afinal voltaram a adormecer muito rapidamente”, acrescenta a responsável.

Foi também nessa altura, que os artistas encontraram um texto de Lu Xun que falava de solidão, em que o autor classificava o ser revolucionário como sendo uma espécie de viver solitário. “Ele, como revolucionário falava de como se sentia sozinho no seio da sociedade”. A partir daqui, pegar num texto de Lu Xun tornou-se imperativo para Ten Ten La e Kevin Chio.

Por outro lado, trazer Lu Xun a cena pareceria ser também uma missão. Se os seus textos eram o reflexo de uma sociedade de há 100 anos, actualmente continuam a espelhar as necessidades de mudança. “Somos artistas e achamos que devemos ecoar alguma coisa no que fazemos que faça as pessoas pensar”, aponta Kevin Chio, “e este texto vai nesse sentido”, acrescenta.

Questão necessária

“Queremos que este espectáculo interrogue as pessoas acerca do que querem nesta vida confortável que aparentemente têm. Será que possuem alguma coisa que queiram proteger? Será que se sentem vivos?”, questiona Ten Ten. Mais, “será que a população agora é assim tão diferente daquela para quem escrevia Lu Xun, há exactamente 100 anos?”

O autor, famoso por ter revolucionado a forma de escrita na China, tornando-a acessível a todos e libertando-a das elites, “falava acerca das pessoas que o rodeavam, de como o olhavam, como viam este medicamento, esta droga. O sangue contaminado que representava o sangue de uma revolução, levantava a interrogação se se trata de um veneno ou de uma cura”, diz Ten Ten La.

Apesar das diferenças trazidas pela passagem do tempo, o responsável considera que ainda assim, as pessoas, agora, não diferem muito das do início do século. “Actualmente as pessoas continuam a ser como dantes. Continuamos a tentar protegermo-nos a nós próprios sem olhar para o mundo em geral e para o que nos rodeia. É o mesmo”, acrescenta. Lu Xun descreveu o que o rodeava, Ten Ten e Chio pretendem ser o seu “espelho”.

Em dois tempos

Para adaptar o texto do “mestre”, a Rolling Puppets reescreveu o conto de modo a que seja representado “a dois tempos” em paralelo. “Quando tentámos adaptar o texto, aproveitámos para preencher as lacunas que o autor deixou, propositadamente. Para isso alternamos a representação entre situações da história original, passada naquele restaurante de Pequim, em que um pai luta pela sobrevivência do filho doente através da dádiva de sangue, com situações actuais, em que adaptamos o espaço para um restaurante chique de Macau”, explica Tan Tan. Para o efeito, os artistas utilizam “o sangue que pode ser da cura ou da morte, que pode ser medicamento ou veneno, do conto original, e também o seu contraponto com os valores da actualidade que podem ser duplamente interpretados”, remata.

22 Mar 2019

Entrevista | Pedro Lamares, actor

Pedro Lamares teve um percurso que passou por múltiplas formas de expressão artística, até que Pessoa o encaminhou para dizer poesia, o que o levou à representação. Todas estas estradas trouxeram o actor até Macau numa viagem que culmina, sábado às 21h, no palco do Teatro D. Pedro V, onde vai recriar o poema “Ode Marítima”, de Álvaro de Campos

[dropcap]E[/dropcap]stá em Macau a recitar a “Ode Marítima” de Fernando Pessoa. Como é representar este texto emblemático do Pessoa?
A Ode Marítima é aquilo a que chamamos na gíria teatral “um bife”. É um grande naco, e não é pela quantidade de texto. Aliás, eu não o faço de cor, o espectáculo é uma leitura viva e encenada. É um desafio brutal, acho que é, eventualmente, a coisa mais difícil e mais exigente que já disse. O texto pede uma entrega absoluta, não vale a pena dizer aquilo se não estiver disponível a entrar naquela espiral e encontrar a determinada altura o vórtice e alguma linha de trabalho que não seja um desatino total, que não seja só a loucura. Não há outra forma de fazer este espectáculo, sem ser com entrega total. A “Ode Marítima dá cabo de mim, é porrada emocional. Na semana antes de ter este espectáculo normalmente adoeço, fico sem voz. É uma cena psicossomática. O texto tem uma estrutura perfeita, é completamente pessoano; temos todo o delírio do Álvaro de Campos, visceral, mas tens o cérebro do Pessoa permanentemente a actuar sobre aquilo. O texto é tripartido. O primeiro bloco é a instalação, em que ele se senta no cais de pedra numa manhã de Verão e começa a observar o que vai acontecendo, mas ainda numa zona muito pacífica. A segunda parte é a subida em espiral, o delírio absoluto e depois cai a pique de um momento para o outro. O terceiro momento é todo em baixo é toda a reflexão sobre o que aconteceu ali. A primeira vez que disse a Ode, ao trabalhar o texto em casa, há nove anos, sentei-me à noite na mesa da sala com um whisky, um cinzeiro e um maço de cigarros à frente. Comecei a tentar ler o texto para dentro e aquilo é ilegível. Entra-se nas onomatopeias e é impossível, não estava mesmo a conseguir. Quando ia para aí na quarta página, voltei atrás e resolvi começar a dizer o texto em voz alta. Descomprometidamente. Liguei um cronómetro. Percebi que o texto tem exactamente 60 minutos, divididos em três blocos de 20. Sem ter o texto na cabeça, comecei a dizê-lo e entrei naquela espiral. Aliás, como ele diz no texto “o volante começou a girar dentro de mim”. Quando dei por mim, eram duas da manhã e, de repente, tudo começou a surgir com essa lógica muito evidente.

Representou Fernando Pessoa no filme “ Filme do Desassossego” de João Botelho. Como foi essa experiência?
Morri de medo no início. A minha ligação ao Pessoa vem de muito pequeno. Com treze anos comecei a ler Alberto Caeiro, quando o meu padrasto me ofereceu “O guardador de rebanhos”. Aquilo mudou tudo. Acho que foi isso que me pôs a dizer poesia, foi o dizer poesia que me pôs a estudar teatro. Aquilo condicionou o caminho da minha vida de uma forma definitiva, sem charme e sem romantismos. Fazer o Pessoa no “Filme do Desassossego” era assustador para mim. Além da força que o Pessoa tem na minha vida e, portanto, a responsabilidade natural que isso já me traria, existe todo um imaginário. Toda a gente tem um Pessoa na cabeça, qualquer português tem uma imagem do Pessoa. É um ícone. Corremos o risco de rejeição, como se se tratasse de um corpo estranho. Na altura, tive uma conversa com muito importante com o João Botelho, em que lhe falei desses medos, e ele disse-me: “Não quero fazer um documentário histórico, para isso existe a BBC. Quero fazer um filme, isto é sobre arte. Portanto, tu não vais ser o Fernando Pessoa, vais ser o Sr. Pessoa do ‘Filme do Desassossego’. Constrói”. Aquilo libertou-me completamente, mas não me tirou a responsabilidade.

FOTO: Sofia Margarida Mota

Tem um espectáculo intitulado “A poesia é uma arma carregada de futuro”. É isso que acha da poesia?
Acho, absolutamente. Na arte em geral, e como escolhi a poesia como ferramenta é dessa que vou falar. Não tenho interesse na arte que não desarrume. Não tenho interesse em nenhum movimento artístico que não esteja comprometido com alguma coisa. Uma coisa que é feita só para agradar ou para ser bonita não me interessa como arte. Atenção que eu adoro o belo, sou um esteta. Adoro o belo, adoro pilotar aviões e não há nada mais belo do que estar lá em cima, no cockpit a ver o pôr do sol no Saara. É lindíssimo, mas não é arte. O meu trabalho artístico tem quase sempre um comprometimento, pelo menos com uma ideia de mundo, de pensamento, com uma ideia social que me acompanha. Estas coisas estão juntas. Portanto, o poema do Gabriel Celaya, cujo título dá nome a esse espectáculo, tem exactamente que ver com aquilo em que acredito. Ele diz: “maldigo a arte que é concebida como luxo cultural para os neutrais”.

Estamos a falar da palavra. Acha que a palavra escrita está em vias de extinção nesta era digital?
Se pensarmos em escrita, como caligrafia, tinta e coisas feitas à mão, ou livros em papel, não sei se em vias de extinção, mas em vias de entrar numa zona residual quase museológica acho que sim, dentro do romantismo. Ainda existem máquinas de escrever, e penas e canetas de tinta permanente, mas ninguém as usa. Eu tenho em casa porque sou um romântico e acho bonito, mas não as uso também. Portanto, acho que, mais cedo ou mais tarde, o objecto livro estaria mais ou menos na mesma dimensão. Eu não leio em livro electrónicos porque não me dá jeito. Gosto de sublinhar e de riscar de dobrar folhas, porque sou arcaico. Mas não tenho nada contra. Não acho que isso seja o fim da escrita. Há ameaças muito mais sérias à escrita e ao pensamento crítico que não sei se os distingo um do outro.

Quais?
A banalização e o vício do excesso de estímulo. A lógica digital que começa a trabalhar em nós uma ideia de que se não estivermos a ser permanentemente estimulados e se uma coisa não nos agarrar desde o primeiro momento com imensa informação visual sonora etc., nós desistimos dela. Isso sim, acho que é uma coisa que nos vai afastando daquilo que precisamos para ler e que nos vai pondo mais à superfície. A leitura exige de nós outro tipo de exercício mental, outro tipo de contemplação, de atenção e de paciência, de pensamento, de tempo. É muito mais fácil ver um filme do que ler um livro, e por sua vez é muito mais fácil ver uma série do que ver um filme e por sua vez é muito mais fácil ver um vídeo de cinco minutos do que acompanhar uma temporada de uma série. E por aí vamos. Por isso, depois aparecem fenómenos de escrita como uma fotografia e uma frase inspiradora, algo que não demore mais de 30 segundos a ler. Isso para mim ameaça mais a escrita do que o formato digital em si. Não sou conservador, a escrita pode mudar de forma. Mas acho que estamos num processo social que pode pôr em risco, e aí a escrita e a leitura são só a ponta do iceberg. Isso está a pôr em risco a nossa capacidade de questionamento e isso sim, pode ser gravíssimo.

Quais são os livros da sua vida?
Antes de mais tenho que falar do “Guardador de Rebanhos” do Alberto Caeiro, porque é brutal. Esse estará seguramente entre os livros da minha vida. O “Medo” do Al Berto que foi um livro que literalmente desfiz, a capa já saiu, criou bolhas. O Herberto Hélder, não é um livro, é um autor, mas também tem uma importância brutal. Portanto, se tivesse que escolher um livro diria a “Poesia Completa” porque me reensinou a dizer poesia. Ensinou-me a não trabalhar pela parte racional a não trabalhar só pelo entendimento do texto e pela sua narrativa. Com ele tive de trabalhar com outro lado de mim, com uma sensação de pele e com imagens. Estes três ao nível da poesia terão sido os mais marcantes. Ao nível do romance, coisa bastante óbvias. Marcou-me imenso ler “Os Maias”. A primeira vez que chorei a ler um livro foi a ler “Os Maias”, acabei de o ler e voltei a ler passado um ano. Outro romance que li muitos anos mais tarde e que me marcou imenso, do Sándor Márai, “As velas ardem até ao fim”, é muito duro. Tchekov também me marcou-me muito. O Oscar Wilde também me marcou muito, deixa-me desarrumado. Mas é engraçado que nunca tinha pensado nos livros da minha vida. Acho que o “Ensaio sobre a Cegueira” também seria um dos livros da minha vida. Fala daquilo que pode ser a sociedade em estado de medo ou em estado de crise.

Começou nas artes plásticas, ainda andou pelo jazz e, a determinada altura, entrou numa licenciatura em música sacra.
Chama-se adolescência. Há aquelas pessoas que na adolescência vão fumar charros ou fazer coisas que os pais não deixam. Eu não tive uma educação católica, portanto, acho que o meu gesto de rebelião aos 18 anos foi estudar música sacra. Tive lá um ano e fui-me embora para estudar teatro. A literatura não faz partes das artes está em humanidades. É uma lógica estranha, deve ter sido escrita pelo Kafka. Depois vais para as tais artes e passas anos a estudar história de arte e algumas técnicas de desenho, pintura e escultura e gravura. Mas acabei por estudar teatro, a profissão dos esquizofrénicos. Como queria ser tanta coisa ao mesmo tempo, decidi fazer algo que me pagam para ser uma coisa diferente de cada vez.

Acabou de chegar a Macau. O que gostaria de levar daqui?
Na verdade, gostava de ter três experiências: sentir a cidade na sua memória histórica e no confronto entre passado e presente, sem saudosismos bacocos. Gostava de ver o que restou e como as pessoas vivem; tenho alguma curiosidade de ver a parte dos casinos, uma curiosidade exótica. Quero ver aquelas luzes e sentir-me num filme americano dos anos 90. Depois gostava muito de dar um salto ao continente. Passar a fronteira e ir à China de verdade.

22 Mar 2019

Entrevista | Hirondina Joshua, poetisa

Hirondina Joshua está em Macau a convite do festival literário Rota das Letras e no próximo sábado integra o painel “Pode ainda a Poesia revolucionar uma vida?”. A poetisa moçambicana começou a ler livros de filosofia aos 12 anos, e é na linguagem que considera estar o poder criativo do autor

[dropcap]C[/dropcap]omeçou a ler livros de filosofia aos 12 anos. Como é que isso aconteceu? 
Foi um acidente. O meu pai tem uma biblioteca com muitos livros e muitos eram de filosofia. Tínhamos os nossos livros infantis, eu e os meus irmãos, mas fiquei cansada deles e queria ler uma coisa diferente. Queria saber o que o meu pai lia. Acabei por achar muito interessante.

 O que é que absorvia dessas leituras, na altura?
Fascinava-me o facto daqueles livros me darem uma outra forma de ver as coisas. Coisas que nunca tinha sentido  que não sabia o que eram. Era uma descoberta. Falavam da vida, eu não sabia o que era a vida, não pensava nisso. Era uma coisa estranha para uma criança. As crianças não pensam nestas coisas. As crianças vão fluindo e são contaminadas pelos adultos. As crianças perguntam sobre sensações e vão vivendo isso despreocupadamente. Quem pergunta o que é a vida não está despreocupado.

Como apareceu a escrita? 
A escrita apareceu como uma experimentação. Eu via as pessoas, os autores que lia, e pensava que escreviam o que escreviam porque tiravam isso de algum lugar só deles. Depois pensava que se calhar também tinha um lugar assim e queria saber que lugar era esse em mim. Queria descobrir aquele lugar privado, queria encontrar o meu lugar para tirar os textos.

Encontrou?
Não. Não encontrei e acho interessante que não tenha encontrado. Ainda estou à procura desse lugar.

FOTO: Sofia Margarida Mota

O que é que a inspira para escrever?
As pessoas, o que me rodeia, a vida, a tragédia. Não quero dizer que na vida seja tudo muito mau, mas infelizmente também não é muito bom. Inspiro-me na vida e em particular na criança que acho que ainda sou. Na inocência.

Porquê a opção pela escrita de poesia?
Não sei. É natural. Não sei responder.

Escreveu os “Ângulos da casa”. Como foi o processo para chegar a este livro?
Publiquei o livro quando tinha 29 anos e a maior parte dos textos foram escritos antes disso. “Ângulos da casa” foi uma associação desses textos com sete poemas que dão efectivamente o título ao livro, Nunca tinha tido a intenção de publicar. Só escrevia. Não pensei nos textos como um livro. Foi um processo diferente daquele por que estou a passar no livro que estou a escrever agora. Agora penso no que faço como um livro

E em que é que está a trabalhar actualmente?
É mais uma experiência. É diferente do outro em termos de sensibilidade.

Gosta especialmente de escrever recorrendo a uma linguagem mais surrealista e simbolista. Porquê?
Sim. Gosto muito. Neste meu último trabalho estou a explorar muito mais o simbolismo por exemplo. Acho que todas as coisas já foram ditas, já foram vistas, já foram escritas. Qual é a graça da literatura se já conhecemos todas as histórias? Nos poemas é a mesma coisa. Não há novidade. A única novidade que pode existir na literatura é a linguagem. Acho que o simbolismo e o surrealismo, principalmente estas duas linguagens, trazem a vida à literatura. Se já está tudo escrito o que me levaria a escrever? É por isso que exploro a linguagem. A linguagem é uma coisa tão particular que pode prender qualquer pessoa. Se a linguagem fosse plana a literatura não tinha graça. A criatividade está na linguagem.

Veio de Moçambique para Macau. O que pode levar daqui?
É uma cidade fascinante. As pessoas são diferentes das de Moçambique, mas descobri uma coisa: o Homem é igual em todo o lado. Há pessoas simpáticas e antipáticas, boas e más, com qualidades e defeitos em todo o lado. É verdade que o povo de Moçambique e este são muito diferentes. Mas é interessante descobrir as pessoas. É interessante perceber como as culturas moldam os povos.

Como vê a literatura africana e especialmente a do seu país, Moçambique? 
Prefiro falar de Moçambique e da nova geração. Gosto muito do que os meus colegas estão a fazer incluindo as mulheres. Ficámos muito tempo escondidas e agora há muita mulheres a dinamizar a literatura. Em Moçambique há agora muitos movimentos literários. A cidade não fica parada como antes. Agora temos festivais, eventos e feiras. Os mais novos não estão à espera que os mais velhos avancem com iniciativas. Acho que a minha geração é muito forte e estou feliz por isso.

21 Mar 2019

Entrevista | Gisela Casimiro, poetisa

Natural da Guiné Bissau e a viver em Lisboa, a convidada do festival literário Rota das Letras, Gisela Casimiro vai fazer parte do painel de sábado dedicado ao tema “Pode ainda a Poesia revolucionar uma vida?” O seu livro “Erosão”, lançado em Novembro do ano passado, reúne um conjunto de poemas que falam da desconstrução

[dropcap]C[/dropcap]omo apareceu a poesia na sua vida?
Apareceu na adolescência. Leio desde criança mas ler poesia em particular, só comecei mesmo na adolescência, altura em que a descobri. Passei demasiado tempo sozinha na biblioteca a ler tudo o que podia. Lia sobretudo Sophia de Mello Breyner e Octávio Paz, entre outros. Mas, na altura, lia tudo. O plano era ler tanto quanto possível porque sabia que isso me ajudaria a escrever melhor, mas também porque gosto de contar histórias e também gosto que me contem histórias. Lembro-me de quando li o meu primeiro livro sozinha, era um livro de histórias dos irmãos Grimm. Entretanto, também fui muito influenciada por contos persas. A poesia foi talvez uma maturidade que tenha surgido. A poesia já não pressupõe ficção. Escrevi prosa durante muito anos, altura em que escrevia ficção. Depois deixei de o fazer.

Como é que foi o processo de criação de “Erosão”?
Antes de ser “Erosão”, tinha outros conjuntos de poemas. Erosão neste caso é quase como um livro do meio na cronologia poética. Tenho um primeiro volume do qual tirei algumas coisas que estão no “Erosão” e depois tenho outro que já é pós este livro mas que ainda não está publicado. Portanto ali – no livro – houve uma mistura de duas vozes diferentes, de momentos diferentes. Mas é um livro que tal como o próprio nome indica tece um processo muito longo de construção ou de destruição.

Porquê de destruição?
O “Erosão” fala das coisas que nos destroem enquanto seres humanos, mas também da destruição de preconceitos, de ideias. O desaparecer do sofrimento, o desaparecer da ilusão e o aparecer da minha forma mais real, mais verdadeira. Um filtro digamos assim.

FOTO: Sofia Margarida Mota

Também escreve prosa. Que diferenças nota entre estes dois géneros?
Não vejo muita diferença porque penso que a minha prosa também tem o seu quê de poético. A diferença que vejo é que quando escrevo poesia é como estar ao espelho e quando escrevo prosa é como estar a uma janela. Tem sempre que ver com pessoas, mas a poesia permite-me ser um pouco mais egocêntrica. Quando se escreve prosa tem que ver com histórias dos outros. Não é que não tenha que ver comigo também, mas é diferente, Sinto que estou a contar mais as histórias dos outros e não propriamente a minha.

Nasceu na Guiné Bissau. O que traz das suas origens para o que escreve? 
Das minhas raízes não sei se já trago alguma coisa para a minha escrita. Não é uma escrita que seja conotada como sendo africana ou europeia. Eu conto histórias, e conto histórias que podem ser entendidas por qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Para mim a linguagem também é simples mesmo quando falo de coisas complexas. São coisas complexas, mas são coisas que todos nós partilhamos enquanto pessoas e que não importa de onde viemos. Aquilo que abordo são coisas do quotidiano com que todos nós lidamos. Claro que quando regressar a África, certamente que me tocará profundamente e isso irá reflectir-se naquilo que escrevo. Não estamos num mundo estanque e as pessoas que têm acesso ao que escrevo, identificam-se com elas. Aliás, isso é o que me interessa, chegar a uma coisa mais universal mas sem esquecer a individualidade de cada um. Gosto muito da Chimamanda, uma autora nigeriana que escreve ficção mas em que sabemos que existem ali muitas situações que acontecem na realidade.  O “Americana” foi um livro que me marcou imenso porque senti que era o livro que tinha sido escrito para mim. No entanto é sobre uma nigeriana, e eu nasci na Guiné, e ela é uma nigeriana que emigra e vai para os Estados Unidos e o namorado vai para Inglaterra e eu não tive nenhuma dessas experiências. Quando fui para Portugal, era muito pequenina e foi uma decisão dos meus pais e não minha. Mas isso não me impede de me rever naquele livro. É isso que espero que aconteça quando as pessoas lerem a minha poesia.

Como está a ser a sua estadia em Macau?
Está a ser curiosa. Há alguns meses que escrevo crónicas para aqui e tinha curiosidade em estar neste lugar onde já estava presente sem ser de forma física. Estava curiosa por encontrar as pessoas. Ainda tenho que explorar muito mais e descobrir. Quem vem de Lisboa nota logo quando uma terra é muito plana (risos). Mas notamos logo as primeiras coisas que nos são familiares. Quando vinha no ferry de Hong Kong para cá estava a fazer piadas em que mencionava que estava num cacilheiro, depois vi a ponte e lembrei-me da ponte Vasco da Gama . Isto acontece em mais situações. Acho engraçado fazer primeiro estas comparações e depois começar a descobrir as coisas que são de cada lugar.

21 Mar 2019

Livro | Apresentado hoje Dicionário do Crioulo de Macau

É hoje lançado no âmbito do Rota das Letras o Dicionário do Crioulo de Macau. A apresentação da obra vai ficar a cargo do arquitecto Carlos Marreiros que fala de mais um “contributo para a fixação das memórias colectivas da cultura macaense”

[dropcap]“[/dropcap]Macau di nosso coraçam/Alma di nosso vida/Unde vós ta vai, quirida?” titula o painel que tem lugar hoje, pelas 18h30, no Albergue SCM, durante o qual vai ser apresentado o Dicionário do Crioulo de Macau. A obra, com a chancela da Praia Grande Edições, lançada no âmbito do Festival Literário – Rota das Letras, é da autoria de Raul Leal Gaião, investigador nas áreas da Lexicologia, Dialectologia e Crioulística.

“É mais um contributo fantástico e significativo e de grande vulto para a fixação das memórias colectivas da cultura macaense”, descreve Carlos Marreiros que, “com todo o gosto”, aceitou fazer a apresentação do livro. “É um trabalho de grande fôlego”, realça o arquitecto, para quem o dicionário, além de “exaustivo” e “erudito”, encontra-se “muito bem sistematizado”.

Durante o painel, Carlos Marreiros vai debruçar-se sobre a “componente prática” do patuá: “Vou tentar comunicar com a plateia no sentido de mostrar a alegria, a doce brejeirice muito própria que os macaenses herdaram”.

Ao longo de mais de mil páginas, o Dicionário do Crioulo de Macau introduz o significado de palavras em patuá, utilizando como base os escritos de José ‘Adé’ dos Santos Ferreira, ‘traduzindo-as’ depois para português. “O autor confronta muitas fontes. Penso que é uma peça de referência”, destaca Carlos Marreiros, a quem pertence a autoria do desenho patente na capa do livro.

O Dicionário do Crioulo de Macau figura, como observou Carlos Marreiros, como a terceira obra a versar sobre os significados e significantes do patuá. “Glossário do Dialecto Macaense”, da autoria de Graciete Batalha, marcou a estreia, com a primeira edição a remontar ao final da década de 1970. Seguiu-se (em 2004) “Maquista Chapado – vocabulário e expressões do crioulo português de Macau”, de Miguel Senna Fernandes e Alan Baxter, obra editada nas línguas portuguesa e em inglesa.

 

20 Mar 2019

Entrevista | António Falcão, o homem da maratona

António Falcão inicia hoje, pelas 15h, na Livraria Portuguesa, uma maratona de 24 horas de escrita. O autor tem uma ideia base, e a partir daí vai deixar a escrita falar desafiando a resistência física. Ao mesmo tempo, de hora a hora, publicará online um capítulo de cada uma das histórias que vão sendo escritas

[dropcap]E[/dropcap]m que consiste este evento?
Vai ser uma maratona com ponto de partida às 15h em que vou estar a escrever durante 24 horas na montra da Livraria Portuguesa. Será um processo sem plano concreto, apenas com alguns tópicos como guia. Vou ter um tema base, que irei explorar durante esse período, deixando a escrita fluir. Ao mesmo tempo vou publicar online, a cada hora, um capítulo de uma história, ou será mais correcto dizer uma trama, que será dividida, assim, em 24 capítulos. A ideia é escrever um bloco de texto completo, com um princípio e um fim, como quem entra para uma corrida de resistência e tenta chegar ao final incólume, sem acidentes, com o veículo inteiro. Muitas vezes, não é possível. Neste caso, a escrita ditará e arrancará sozinha por ali fora, sem um circuito por onde se delimitar. Tentarei estar presente o menos possível, deixando as mãos falarem por si, entre as teclas e o papel digital: as 24 Horas de Les Mains. Uma singularidade espacial. This is Major Tom to Ground Control.

Porque decidiu fazer este tipo de maratona escrita?
Não usaria o termo decisão. É certo que não foi um convite. Foi uma proposta da minha parte. Dada a coincidência de datas, em que consigo pela primeira vez estar em Macau durante o período do festival literário Rota das Letras, achei que fazia sentido ter uma participação no evento. Mas não me estava a ver incluído em algum painel, nem a falar, que é coisa para a qual não tenho vocação. Não sei bem de onde surgiu a ideia. Se calhar partiu da minha paixão por corridas de automóveis e de querer, todos os anos, estar presente nas 24 Horas de Le Mans. É um dia sagrado. Queria fazer algo parecido. O desafio em si, de estar enfiado numa cápsula com o tempo a contar lá fora, onde tudo é possível. Uma espécie de travessia, ir de uma ponta à outra, a caminhar numa corda bamba, com pouco equilíbrio. A ideia de estar um dia inteiro a escrever sem interrupções pareceu-me um bom acto de funambulismo. Digamos que neste caso será mais sonambulismo, parto um pouco sem a consciência da façanha em si. Mas o Houdini também teve de começar por algum lado. Meto a primeira e sigo prego a fundo.

Que dificuldades pensa encontrar durante o processo?
Creio que a principal dificuldade é de escrever algo que faça sentido do princípio ao fim, que conseguia erguer um bloco. Que exista um enredo linear, ou sequer um fio de escrita literário. Qualquer pessoa que tenha a escrita como profissão, consegue estar a escrever um dia inteiro sem parar, mas a grande dificuldade será fazê-lo com consistência e com alguma habilidade, para que não seja apenas um grande disparate. Confio na fluidez da escrita, e que a certo ponto entre num estado de hipnose tal que deixo de ali estar, e só retorne no final, numa viagem de ida e volta a outra galáxia. Na verdade, não sei bem o que vai acontecer, tentarei ser apenas espontâneo. Sinto um misto de receio e de confiança, de que vou sair ileso, e de que me safo melhor assim, com uma corda ao pescoço. A corda do ajuste imediato. De outra forma, poderia aborrecer-me e desistir, destruindo o empreendimento. Ou então é a paranoia com o perfeccionismo que deita tudo a perder. Do modo como vai acontecer hoje, com o fio da guilhotina a cair, safo-me melhor. Este ano tenho escrito todos os dias. Uma história por dia, na página de um caderno. Já vou em mais de setenta. Tem sido um bom exercício e essa experiência talvez seja um bom auxílio para me afundar neste pântano. Uma tábua de salvação.

Tem ideia sobre o que vai escrever?
Sim e não quero dizer o que é em concreto, mas vou escrever sobre um fim. Não direi que seja polémico, mas sim pertinente. Vivemos imiscuídos neste bolo comunicacional em que se perdeu a noção das certezas. As pessoas já não se questionam, embrulham-se. Deixam-se alienar pelos pacotes que lhes oferecem. Olhe-se para o panorama civilizacional de vários países, em que grandes traumas da nossa história voltam a ebulir. Qual a origem disto tudo? Baixámos os braços? Deixámos de ser exigentes? Ninguém lê? Olha-se para as televisões e só se vê lixo. A maioria dos jornais etiquetaram-se a um post-it, porque acham que os leitores perderam a paciência e já não conseguem prestar atenção e ler três frases, limitando-se ao superficial. É um mundo cão e só querem subsistir. Depois há a filosofia do isco, não interessa o conteúdo, só importa o fio a passar e o clique. Os cérebros deixam de ter neurónios e passam a ter isso: cliques de ansiedade. Estou a generalizar, é certo, mas o que graça por aí não é para meninos. Daí que pensem em colonizar outros planetas. Porque o nosso também está nas ruas da amargura. Mas o pior de tudo isto é que se somos inteligentes e temos as ferramentas para dar a volta, porque preferimos não o fazer? Será só o poder e o dinheiro? Vou escrever sobre sobrevivência. Outros dos aspectos deste desafio tem que ver com o facto da sobrevivência necessitar de sacrifício e esforço físico. Por isso, às últimas horas, a escrita que brotar virá muito dessa dificuldade acrescida, que se poderá equiparar ao que estiver a ser vivido por mim. Com a veia truncada. Em delírio puro.

Vai estar exposto. Acha que a presença de público vai interferir com a escrita?
A exposição, para além da manifestação lúdica, depreende uma certa interactividade. A vontade é de que o público, de certo modo, tanto porque a “classificação geral” da prova vai estar exposta de hora a hora, tenha alguma influência no processo. Terá, com certeza, dado que irei estar a captar e a assimilar sentidos de várias fontes. Não vou estar empalado, e tudo isso será inspiração. Pretendo inclusive que as pessoas apareçam na livraria e possam deixar bilhetinhos e comentários sobre todo este desastre à beira de acontecer. Vou respirar fundo.

19 Mar 2019

Literatura | Rota das Letras arranca quinta-feira com a poesia como tema

A oitava edição do festival literário, Rota das Letras, está à porta com datas marcadas entre 14 e 24 de Março. Este ano a programação será compactada em menos dias e pela primeira vez terá um tema: a poesia. Miguel Sousa Tavares e José Luís Peixoto são dois dos principais convidados portugueses, num ano em que se celebram Sophia de Mello Breyner, Adé dos Santos Ferreira, Herman Melville, Walt Whitman e Jorge de Sena

[dropcap]“A[/dropcap] poesia é o início de tudo, a primeira interpretação do mundo.” Foi assim que Carlos Morais José, director de programação do festival literário Rota das Letras apresentou a oitava edição subordinada ao tema da poesia. É para mostrar a universalidade desta arte que o Rota das Letras de 2019 propõe uma programação que trespassa o género literário na multiplicidade de formas que pode apresentar. “Queremos mostrar às pessoas que há muitas formas diferentes de apresentar poesia, podemos fazê-lo simplesmente através do recitar, podemos fazer através do teatro, do cinema ou através da pintura”, acrescenta o director de programação.

Um dos destaques do cartaz deste ano vai para a celebração do 100º aniversário de Sophia de Mello Breyner. A efeméride vai ser assinalada com a presença do jornalista e escritor Miguel de Sousa Tavares, filho da poetisa, no dia 15 pelas 19h, nas Oficinas Navais. Durante a palestra, intitulada “O percurso literário de Sophia”, o filho da poetisa irá recitar alguns poemas da mãe.

A Associação Cultural D´as Entranhas também vai assinalar o aniversário da autora portuguesa com a performance “Sophia”, no mesmo dia e local, às 21h. O grupo vai partir da poesia de Sophia de Mello Breyner, e reinterpreta-la, num formato que em nada se assemelha a um recital. “Pegar nos monstros é sempre complicado, ainda por cima tratando-se da Sophia”, revelou Vera Paz, responsável pela associação.

Também Jorge de Sena terá destaque nesta 8ª edição do festival literário. “Vamos apresentar um documentário sobre o Jorge de Sena realizado por um professor de uma universidade e South Lake City, nos Estados Unidos”, desvenda Ricardo Pinto. O director do festival explica que o académico, além de ter trabalhado com o poeta, fez também várias antologias poéticas de Angola e de Moçambique, destacando-se como um grande promotor da poesia em português.

Poemas de cá

Adé Ferreira dos Santos será outro dos destaques da edição deste ano do Rota das Letras. O poeta macaense vai ser recordado com um recital inteiramente feito em patuá. Será um raro momento de leitura de poesia, apontou ontem Carlos Morais José.

Durante o evento será ainda publicado um dicionário de Crioulo de Macau.

Também Camilo Pessanha vai ser recordado na 8.ª edição do festival literário de Macau, desta feita com a apresentação do filme “Pe San Ié” de Rosa Coutinho Cabral que tem Carlos Morais José como protagonista.

 

Clássicos de sempre

Os 200º aniversários de Herman Melville, autor de “Moby Dick” e de Walt Whitman vão ser assinalados na edição deste ano do Rota das Letras com a apresentação de dois documentários sobre a vida dos incontornáveis escritores norte-americanos.

Outra das datas assinaladas pelo Rota das Letras é o centenário do movimento do 4 de Maio, que marca a Nova Literatura na China. O festival vai trazer alguns dos escritos de autores que marcaram esta altura, entre eles, Lu Xun, Hu Shi e Zhu Ziqing. O grupo de teatro de Macau Rolling Puppets vai levar à cena, a peça de teatro de marionetas “Droga”, uma adaptação do romance homónimo de Lu Xun publicado em 1919. A peça será representada durante os últimos três dias do festival, nas antigas Oficinas Navais.

 

Ode nunca vista

O Rota das Letras apresentará ainda o espectáculo de Pedro Lamares “Ode Marítima”, baseado no poema de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Vai ser a primeira vez que a “Ode Marítima” é declamada integralmente num palco de Macau.

“A forma dos sentimentos – quando a poesia inspira a arte” é o nome da exposição que vai estar patente nas Oficinas Navais, a partir de dia 23, e que reúne trabalhos de artistas locais baseados em excertos de poemas dos autores celebrados na edição 2019 do Rota das Letras. Rui Rasquinho, Carlos Marreiros, Fortes Pakeong Sequeira, Joaquim Franco, Konstantin Bessmertny, Cherry Tsang são alguns dos autores que aceitaram o desafio.

 

Sons da festa

Na música o destaque vai para o cantor português Salvador Sobral, vencedor do Festival Eurovisão da Canção em 2017, que fará a sua primeira visita a Macau para um concerto marcado para o dia 17 de Março no Teatro Broadway.

A festa de encerramento do festival vai estar a cargo da banda de Taiwan Wednesday & Bad to the Bone. O concerto está marcado para as 22h30, do dia 24 de Março, no LMA. Depois da performance da banda de Taiwan, a noite prossegue em festa.

Apesar de mais curta, a edição deste ano é mais condensada, apontou Carlos Morais José. “Esta edição encurtou-se mas concentrou-se no tempo que existe, em termos de quantidade é a mesma coisa. O tempo é que é mais curto, porque entendemos que duas semanas era muito tempo. Dez dias é uma coisa mais concentrada e permite uma acção mais eficaz”, disse.

O director do festival, Ricardo Pinto, salienta neste aspecto o “período de transição” que o Rota das Letras atravessa, mas confessou estar “muito feliz” com a programação final.

 

 

 

 

11 Mar 2019

Rota das Letras traz “Ode Marítima” ao Teatro D. Pedro V no próximo dia 23

A “Ode Marítima”, central na obra de Álvaro de Campos, vai ser declamada integralmente, pela primeira vez, num palco de Macau no âmbito do Festival Literário – Rota das Letras. O espectáculo de Pedro Lamares, baseado no extenso poema de um dos heterónimos de Fernando Pessoa, tem lugar no Teatro D. Pedro V, às 21h do próximo dia 23, véspera do encerramento do Festival Literário, anunciou ontem a organização, num comunicado enviado às redacções.

Nas palavras do filósofo José Gil, em “Ode Marítima” – considerado uma das obras-primas da poesia portuguesa – “exterior e interior são separados pela mesma ‘distância’ que vai do poeta no cais deserto ao navio que ele vê ao longe. É a distância entre a sensação e a coisa, entre a sensação como realidade interior e o paquete como realidade exterior. Ora, esta distância liga-se a uma sensação ‘primitiva’, como diz Pessoa, sensação que desempenha um papel essencial em toda a sua poesia: a sensação de mistério. Na ‘Ode Marítima’, o mistério é significado por toda a distância, tudo o que se separa, todo o movimento que cria uma separação”, realça a mesma nota.

Pedro Lamares desempenhou o papel de Fernando Pessoa em “O Filme do Desassossego”, de João Botelho e participou em filmes dos realizadores como Jorge Paixão da Costa, Vítor Goncalves, Joaquim Leitão e António Pedro Vasconcelos. Na televisão apresenta o programa “Literatura Aqui” (RTP2) com Filipa Leal, em que faz selecção e gravação de textos. Além disso, dirige espectáculos, lecciona em escolas de teatro e comunicação e é ainda director artístico da cooperativa “Casca de Noz”, ainda de acordo com a organização.

A oitava edição do Festival Literário – Rota das Letras vai decorrer entre os próximos dias 15 e 24. No próximo domingo, pelas 15h, a Livraria Portuguesa acolhe uma conferência de imprensa de apresentação do programa.

8 Mar 2019

Rota das Letras | Secretário Alexis Tam mantém apoio ao festival literário e à sua nova direcção

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, diz continuar a apoiar o Festival Literário Rota das Letras e que Carlos Morais José e Alice Kuok são “competentes” para os cargos que vão assumir na direcção do evento, de acordo com declarações feitas ao canal de rádio da TDM.

No domingo foi anunciado que Carlos Morais José, director do Hoje Macau, vai assumir as funções de director de programação do festival, e que Alice Kuok, presidente da Associação Arts for All, passa a ocupar o cargo de directora executiva.
“O [Festival Literário] Rota das Letras já conta com o meu apoio desde o início. Na altura, eu era chefe de gabinete do chefe do Executivo. Foram escolhidos e penso que são competentes para os cargos”, afirmou Alexis Tam à mesma fonte.
O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura falava na Escola São Paulo, à margem da inauguração de uma exposição dedicada a Giorgio La Pira, um activista católico e político italiano que contribuiu para a adesão da China à Organização das Nações Unidas (ONU), em 1971.

Um dos fundadores do evento, Hélder Beja, deixou o cargo de director de programação no final da edição deste ano do festival.

Hélder Beja explicou que não tinha condições para continuar no cargo depois da presença de três escritores ter sido cancelada por não terem entrada garantida em Macau.

Rota escolar

Entretanto, a possibilidade de voltar a levar o festival às escolas depende do interesse dos próprios estabelecimentos.

Questionado pelo canal de rádio da TDM sobre se a iniciativa vai ser retomada no próximo ano, o director dos Serviços de Educação e Juventude, Lou Pak Sang, remete a decisão para as escolas. “Na última edição, a organização do festival disse-nos muito tarde. Por isso não conseguimos arranjar os dias que eles queriam, porque as escolas tinham exames. No próximo ano tudo vai depender se eles nos dizem com antecedência e se as escolas estão interessadas ou não. Devo sublinhar que quando informamos as escolas, explicamos basicamente o estilo de escrita, depende se as escolas estão interessadas”, afirmou. O próximo festival vai ter lugar de 15 a 24 de Março.

26 Jun 2018

Helena Ramos, freelancer | Residente intermitente

[dropcap style=’circle’] Q [/dropcap] uando sobe o pano do Rota das Letras anda de um lado para outro de papéis na mão pelos corredores do edifício do antigo tribunal. Apesar da preferência pelos bastidores, todos a conhecem fora deles. Helena Ramos vem com regularidade a Macau, mas apesar de ter decidido desligar-se do Festival Literário no final da sétima edição, que terminou no final de Março, acabou por transformar-se numa “residente intermitente”. Novos projectos talvez continuem a trazê-la cá.

A primeira vez que desembarcou em Macau foi em 2013, ou seja, na segunda edição do Rota das Letras. “Quando cheguei fiquei louca com estas luzes e estes casinos todos e depois comecei a perceber um bocadinho melhor a segregação que existe e isso assustou-me. No primeiro ano sai daqui um pouco não desiludida com o festival, mas com Macau”, porque “achava que havia muito mais interacção entre culturas”. Essa primeira desilusão não a demoveu de continuar num projecto em que acreditava: “Afinal, o festival servia para isso mesmo, para aproximar as culturas, e pensei ‘vamos lá então tentar’”. Com o tempo, Helena Ramos não mudou totalmente de opinião, mas ter conhecido outras pessoas e perceber que “há, de facto, quem esteja particularmente interessado nessa mistura cultural” suavizou a primeira impressão. “Se estiveres com a mente aberta as pessoas não são assim tão fechadas. No início tive a impressão de que eram muito difíceis, porque nem olhavam para mim na rua nem me respondiam quando fazia perguntas e agora já não”, observa a freelancer.

A vida de Helena Ramos sempre girou à volta dos livros. Depois de ter ido estudar para estrangeiro, passando cinco anos em Espanha, regressou em 2004 a Portugal onde começou a trabalhar na ASA que, anos mais tarde, viria a ser adquirida pelo grupo Leya, altura em que recebe um convite para a Porto Editora. Foi, aliás, nesse “mundinho” que se cruzou com Hélder Beja, co-fundador e ex-director de programação do Rota das Letras, que mantinha um blogue sobre literatura. Ficam “grandes amigos”, pelo meio ganha vida o Festival Literário de Macau e Helena Ramos, sem possibilidade de vir a Macau, mas “com muito interesse” no novo projecto começa a participar à distância. “Comecei a trabalhar a partir de lá nos livros, a fazer traduções e a editar, porque é o que faço, mas depois percebemos que tinha de vir para aqui e coordenar os conteúdos e essas coisas todas”, conta a lisboeta de 41 anos que, embora não tenha vindo a Macau todos os anos consecutivos, era uma das pessoas mais antigas na equipa do festival.

Pelo meio, despediu-se para ser freelancer – faz tradução (de inglês e de espanhol) e edição. Contudo, o seu objectivo mantém-se: “abrir horizontes”. Um deles foi ir tirar o curso de Belas Artes (que ainda frequenta), após uma formação anterior em cinema. “O meu problema é que me aborreço imenso se fico só numa coisa. Então, estou sempre à procura de novas coisas o que, às vezes, é mau, porque não acabo uma e vou logo para outra, mas estou a tentar focar-me”, afirma.

Actualmente, tem outro vínculo com os livros, desta feita o novo desafio é escrever um, baseado na viagem de três meses que fez no ano passado, movida pela “vontade de sair” de Portugal. “Fui tipo Forrest Gump, mas a andar”, brinca Helena Ramos que apanhou um avião para Oslo e voltou a pé para Lisboa. “Foi um bocado à maluca. Fiz metade da Noruega, as montanhas todas, estive três semanas sem ver ninguém e para morrer várias vezes, porque eu nunca tinha feito isto, nem sequer sabia ler um mapa”, recorda. “Todos os dias perguntava-me o que estava a fazer ali e ainda por cima sozinha, mas aquele instinto de sobrevivência fez-me relativizar imenso as coisas do dia-a-dia que nos stressam e aprendi imenso sobre mim também”. Durante a viagem, apenas recorreu a dois meios de transporte: uma “bicicleta velha” que o desespero a levou a comprar e que a ajudou em parte do percurso, e um barco para fazer uma travessia de duas horas entre a Suécia e a Dinamarca.

Contar histórias é o que realmente lhe interessa, independentemente do formato, embora aprecie particularmente vídeo-arte, mas nada muito conceptual, porque gosta, acima de tudo, de levar a cultura aos cantos onde não chega. Na sua cabeça magica mil ideias. “No ano passado, quando tive um tempinho, comecei a fazer um trabalho aqui em Macau. Tirei umas fotografias e tenho, de facto, isso, além de que também já me disseram para fazer aqui uma exposição com os meus quadros e as minhas esculturas, mas fico um bocado envergonhada”.

“Embora tenha sido o meu último ano no Rota das Letras, tudo o que sejam projectos de cultura interessam-me e há vários em mente, a misturar culturas, e também a ver com a Ásia. Cá nos veremos outra vez noutros formatos”, promete.

 

6 Abr 2018

Caso Rota das Letras no relatório sobre direitos humanos da ONU

A suspensão da vinda de três escritores ao festival literário Rota das Letras, depois do aviso do Gabinete de Ligação do Governo Central, consta no mais recente relatório sobre direitos humanos enviado pela Associação Novo Macau à ONU

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] sétima edição do festival literário Rota das Letras ficou marcada pelo cancelamento da presença dos escritores Jung Chang, Suki Kim e James Church, depois da organização do festival ter recebido um aviso do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM de que a sua presença não seria “oportuna”.

O caso chega agora à Organização das Nações Unidas (ONU) pela mão da Associação Novo Macau (ANM), que abordou a questão no seu mais recente relatório sobre o panorama dos direitos humanos no território. A participação foi feita no âmbito da revisão da convenção da ONU nesta área.

“Em Fevereiro de 2018, a organização do Festival Literário de Macau [Rota das Letras] retirou o convite a três proeminentes autores depois do seu director ter recebido a sugestão do Gabinete de Ligação de que ‘não seria garantida a entrada em Macau” desses três escritores”, lê-se no relatório ontem apresentado. De frisar que o caso foi uma das razões para o pedido de demissão do director de programação do festival, Hélder Beja, que, numa entrevista, confessou que esta situação levou à abertura “de um precedente”.

Na visão dos activistas da Novo Macau, “os laços históricos, culturais e económicos entre Macau e as regiões vizinhas fizeram com que a liberdade de entrada e saída de Macau fosse parte da vida das pessoas”.

Tendo referido também os casos de proibição de entrada de deputados e académicos de Hong Kong, bem como de jornalistas da região vizinha durante a passagem do tufão Hato, o relatório alerta para a necessidade de divulgação das verdadeiras razões para a proibição de entrada de pessoas em Macau.

A Novo Macau pede que a ONU exija ao Governo “que crie os recursos efectivos para que as pessoas impedidas de entrar em Macau tenham acesso às verdadeiras razões para a entrada no território”. Tudo para que “se possam defender da avaliação das autoridades”. Neste sentido, os activistas consideram fundamental a revisão da lei de protecção dos dados pessoais, em vigor desde 2008. Tudo para que se possa “providenciar medidas efectivas para que os cidadãos, cuja entrada no território é recusada, tenham acesso à informação que as autoridades detém sobre eles”.

Até ao momento o Governo sempre negou que haja uma “lista negra” de pessoas proibidas de entrar no território, tendo afirmado que a negação de entrada se deve a questões de segurança interna. Contudo, a ANM diz que “o senso comum leva-nos a crer que estas justificações não são muito convincentes”.

 

Olha o passarinho

A proposta de lei da cibersegurança é outro dos pontos que a ANM destaca no seu relatório, sendo referido que “o público não tem possibilidades de verificar se a lei [Regime jurídico da videovigilância em espaços públicos] é respeitada pelas autoridades policiais”, além de que “o mecanismo para proteger os cidadãos de abusos ao nível dos dados pessoais é fraco”.

Isto porque “apesar de Macau ter adoptado a lei de protecção dos dados pessoas em linha com [as directivas da União Europeia], os actos do Gabinete de Protecção dos Dados Pessoais (GPDP) têm posto em causa a sinceridade no que diz respeito à protecção da privacidade dos cidadãos”.

A Novo Macau recorda que, nos últimos tempos, “o GPDP tem unido forças com a polícia para reprimir iniciativas civis”, além de que “apoiou a proposta de lei da cibersegurança sem reservas”.

Neste sentido, o relatório aponta não só para a obrigatoriedade das autoridades em revelarem “informação completa e verdadeira sobre as capacidades das tecnologias de vigilância em rede, no que diz respeito à nova proposta de lei da cibersegurança”

A revisão da lei de protecção de dados pessoais, de que fala a Novo Macau, iria também criar um mecanismo mais efectivo no tratamento das queixas apresentadas, uma vez que nunca há conclusões sobre os processos.

A desigualdade de género existente na legislação local, sobretudo na lei de prevenção e combate à violência doméstica, e a ausência de eleições directas para o futuro órgão municipal sem poder político, Chefe do Executivo e deputados à Assembleia Legislativa são outros dos pontos referidos no documento.

5 Abr 2018

Rota das Letras | Presidência da Assembleia da República afirma prestar atenção a Macau

O gabinete de Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República portuguesa, recusa a ideia de que não existe “um acompanhamento regular da situação” de Macau. Ainda assim, o Grupo de Amigos de Macau, com cariz informal, deixou de existir. Sobre o caso Rota das Letras, ministro dos Negócios Estrangeiros português disse que “China sabe qual o sistema que deve vigorar em Macau”

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] certo que a sétima edição do festival literário Rota das Letras chegou ontem ao fim, mas o caso da suspensão dos três escritores cuja visita ao território não seria oportuna continua a gerar reacções. Depois das declarações do ex-deputado e historiador Rui Tavares, sobre a necessidade da Assembleia da República (AR) prestar mais atenção à RAEM, eis que o gabinete do presidente do parlamento português, Eduardo Ferro Rodrigues, garantiu ao HM que nunca houve esquecimento face a Macau.

“O gabinete de imprensa do presidente da AR está em condições de lhe adiantar que, em relação a Macau, não se confirma que ‘não haja um acompanhamento regular da situação’”, disse apenas o assessor José Pedro Pinto. Ferro Rodrigues não pôde responder às restantes questões colocadas pelo HM por se encontrar a recuperar de uma cirurgia.

Apesar disso, o HM confirmou junto do deputado Vitalino Canas, ligado ao Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-China, que o Grupo de Amigos de Macau, criado pela ex-deputada do Partido Social Democrata (PSD) Mónica Ferro, deixou de existir. Este grupo existia de forma informal na AR e desconhecem-se as razões para o seu fim. O HM questionou Mónica Ferro sobre este assunto, mas não recebeu qualquer resposta.

O deputado à Assembleia Legislativa José Pereira Coutinho sempre esteve ligado a esta iniciativa, na qualidade de membro do Conselho das Comunidades Portuguesas, tendo adiantado que o grupo chegou mesmo ao fim por “desinteresse de ambas as partes”.

Em 2013 o jornal Ponto Final escrevia mesmo que responsáveis governamentais de Macau teriam dito a Mónica Ferro que haveria um certo incómodo pela existência deste grupo, criado em 2012. De acordo com o jornal, os assuntos de Macau, sendo uma região administrativa especial chinesa, deveriam ser “tratados através do Grupo de Amizade Portugal-China, que tem uma existência formal e reconhecida por Pequim.

Nas entrevistas que deu em Macau, Rui Tavares, convidado do festival Rota das Letras, defendeu um maior acompanhamento da parte da AR, com a criação de uma comissão especializada e elaboração de relatórios anuais sobre a implementação prática da Declaração Conjunta e da Lei Básica.

Santos Silva reagiu

Entretanto, e de acordo com a agência Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Santos Silva, disse que “a China sabe qual é o sistema que deve vigorar em Macau”, comentando a polémica à volta da retirada do convite a três escritores.

“Os termos são muito claros, e foram acordados entre Portugal e a China para a passagem de Macau para a plena soberania chinesa; seguem estritamente o princípio ‘um país, dois sistemas’, e todos os nossos amigos chineses sabem bem qual é o sistema que deve vigorar em Macau”, disse o chefe da diplomacia portuguesa aos jornalistas, à margem de uma conferência sobre a Nova Rota da Seda, que decorreu em Lisboa.

O Ministério já tinha reagido ao caso Rota das Letras através de uma resposta escrita enviada ao nosso jornal. “O Festival Literário de Macau, Rota das Letras, é uma iniciativa muito meritória da sociedade civil da Região Administrativa Especial de Macau, que conta com o patrocínio do Instituto Português do Oriente, com o objectivo de desenvolver a cultura e a promoção dos escritores”, pelo que se “lamenta a eventualidade do cancelamento desta iniciativa”, frisou ao nosso jornal.

26 Mar 2018

Rota das Letras | Exposição retrata relação entre cidade e o rio

[dropcap style=’circle’] M [/dropcap] aria José de Freitas é a curadora de uma exposição que conta pedaços da história de Macau e do o rio que rodeia o território. “Rivercities crossing borders: history and strategies” está patente no edifício do Antigo Tribunal até domingo, mas poderá deslocar-se a outros países

A exposição “Rivercities crossing borders: history and strategies”, com curadoria da arquitecta Maria José de Freitas, desaguou no edifício do Antigo Tribunal. Inserida no programa deste ano do festival literário Rota das Letras, a mostra apresenta em imagens parte da relação do território com o delta do Rio das Pérolas, e está relacionada com uma palestra que decorreu a semana passada, também no âmbito do festival.

Ao HM, Maria José de Freitas explicou a ideia por detrás de uma exposição que mostra a visão de fotógrafos como Carmo Correia, Gonçalo Lobo Pinheiro, António Mil-Homens e João Miguel Barros. Estão também incluídos desenhos de Guilherme Ung Vai Meng sobre os estaleiros de Lai Chi Vun, sem esquecer os esboços do plano da Baía da Praia Grande, da autoria dos arquitectos Manuel Vicente e Adalberto Tenreiro.

“Estamos cá há cinco séculos e pensei que Macau poderia ser um bom ponto de partida para esta reflexão conjunta, daí ter convidado diversos artistas locais e fotógrafos para nos fazerem uma apresentação do seu trabalho. Os fotógrafos que contactei são residentes de Macau, que têm esta perspectiva muito contemporânea da relação cidade-rio e que procuram recantos onde ela ainda ocorre.”

A exposição, que pode ser visitada até ao próximo Domingo, estende-se até à sala onde decorrem as palestras, revelando imagens que mostram uma panorâmica de Macau e a sua relação com a China, incluindo os novos aterros em construção.

Na visão de Maria José de Freitas, tratam-se de imagens exemplares “do ponto de vista da ligação entre margens, porque tudo isto é território chinês, embora esteja sujeito a uma administração diferente”. “É interessante perceber até que ponto esta ligação entre margens se pode fazer e manter alguma diferenciação relativamente a Macau, no que diz respeito ao seu passado histórico. Como forma de intervenção, pareceu-nos interessante mostrar o trabalho que permitiu uma nova frente de desenvolvimento para a cidade”, acrescentou a arquitecta.

Maria José de Freitas lamenta que um território que se foi desenvolvendo a partir da sua relação com o rio esteja hoje em dia distante dele, graças aos inúmeros tapumes espalhados pela cidade. “Há zonas em que há um divórcio, ou porque são zonas de novos aterros, ou porque estão ainda em vias de desenvolvimento, cobertas com tapumes, em que o rio é uma fronteira que nos separa da outra margem. Eu, os artistas que participam na exposição e os oradores da conferência, procuramos esbater essas fronteiras, como se esse rio pudesse transbordar e ser mais comunicativo e culturalmente mais válido e interessante.”

 

Imagens mais além

“Rivercities crossing borders: history and strategies” pode vir a cruzar fronteiras, embora a sua curadora ainda não tenha planos concretos para tal. Contudo, há um desejo de mostrar estes desenhos e imagens em países de língua portuguesa, por exemplo.

“Seria interessante levar a exposição a outros locais, mas ainda estou a averiguar”, contou. “Quando lancei o tema para a mesa procurei que se realizasse a conferência e a exposição, porque elas são complementares entre si. É um primeiro passo numa situação que gostaria de desenvolver no futuro. Depois da realização da conferência, e na sequência da inauguração da exposição, tenho encontrado artistas, pessoas associadas às artes plásticas que trabalham com elementos ligados à água, e que mostraram interesse em participar em futuras conferências e exposições que se venham a realizar. Da parte dos arquitectos e urbanistas de Macau a resposta também foi positiva”, rematou Maria José de Freitas.

A conferência que está ligada a esta exposição decorreu na passada Sexta-feira e teve como objectivo “analisar o papel dos rios como rotas, espaços de comunicação e diálogo, tendo como ponto de partida a cidade de Macau e outras cidades asiáticas”, explicou Maria José de Freitas à agência Lusa.

Os oradores, todos provenientes de cidades costeiras, analisaram os desafios e oportunidades históricas e a projecção futura, tendo em vista o projecto do Pan-delta do rio das Pérolas, entre nove províncias da região (Fujian, Jiangxi, Hunan, Guangdong, Guangxi, Hainan, Sichuan, Guizhou, Yunnan) e as duas regiões administrativas especiais chinesas, criado em 2004.

“É importante situar Macau neste contexto, que não é apenas económico, mas também cultural, e perspectivar o futuro”, disse a organizadora, destacando a intervenção de Wallace Chang Ping Hung, professor associado da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Hong Kong, sobre aquele projecto.

Maria José de Freitas destacou ainda a intervenção de Xu Ying sobre a experiência da cidade de Wuhan, na província chinesa de Hubei (centro), focada na protecção do património e da sua reutilização em termos contemporâneos.

“Wuhan está no delta de quatro rios e está a recuperar o património e herança de influência francesa, o que nos pode levar a reflectir sobre as zonas do porto interior e exterior de Macau”

21 Mar 2018

Ng Kuok Cheong quer justificações do Governo sobre o caso Rota das Letras

O deputado pró-democrata escreveu uma interpelação a exigir ao Executivo que se chegue à frente e explique o caso dos escritores a quem não foi garantida entrada no território. No caso Rota das Letras, Ng Kuok Cheong defende que está em causa a liberdade de expressão

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] polémica do Rota das Letras chegou à Assembleia Legislativa através do deputado Ng Kuok Cheong, que exige ao Governo explicações sobre o que realmente se passou. De acordo com o deputado, está na altura do Executivo dar uma resposta sobre o facto de três autores convidados para participarem no Rota das Letras (Jung Chang, Suki Kim e James Church) não terem tido garantida a entrada no território.

“Acredito que este tipo de incidentes gera preocupações sobre a liberdade de expressão e de trocas culturais na RAEM, assim como tem um impacto negativo para a imagem internacional de Macau”, começa por defender Ng Kuok Cheong.

“São práticas que não se coadunam com a participação na política Uma Faixa, Uma Rota, nem com o papel de Macau como Plataforma entre os Países Lusófonos e a China”, acrescentou no documento que entrou ontem no hemiciclo.

Por estes motivos, a primeira questão do deputado aponta aos serviços de imigração: “Foram efectivamente os Serviços de Imigração do Governo da RAEM que tomaram esta decisão [de não garantir a entrada dos escritores]?”, pergunta o deputado pró-democrata.

“Se, como o Governo pareceu indicar anteriormente, o caso foi puramente mal interpretado, ou mesmo um rumor, pode o Executivo clarificar de forma solene a questão para proteger a imagem internacional da RAEM?”, é sublinhado na interpelação.

Ng Kuok Cheong pergunta depois, de forma indirecta, se o caso teve origem no Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau: “Se, de acordo com as informações que o Governo tem disponíveis, esta foi uma decisão de um ‘órgão da autoridade’, o que é que o Governo de Macau vai fazer no futuro para evitar este tipo de incidentes e as consequências danosas para a imagem internacional da RAEM?”, pergunta.

 

Críticas ao secretários

Também na interpelação escrita, o deputado deixa críticas ao Secretário para a Segurança e ao Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. “Quando foram questionados pelos órgãos de comunicação social, os governantes das áreas da Segurança [Wong Sio Chak] e dos Assuntos Sociais [Alexis Tam] não souberam explicar o caso nem mostraram qualquer intenção de acompanhar a situação para a clarificar”, acusou.

O caso Rota das Letras veio a público no início de Março, quando a organização revelou que os escritores Jung Chang, Suki Kim e James Church não iriam participar na iniciativa, por não lhes ter sido garantida a entrada em Macau. Posteriormente, na cerimónia de abertura do evento, o director do evento, Ricardo Pinto, revelou que a informação sobre o facto dos escritores poderem ser barrados na fronteira tinha partido do Gabinete de Ligação. O Governo de Macau até hoje sempre afirmou desconhecer o caso e Wong Sio Chak falou mesmo de “rumores”.

20 Mar 2018

Rui Tavares, sobre período pós-Brexit: “Nesse cenário deveríamos prestar mais atenção a Macau”

O historiador e político acredita que Macau tem muito a ganhar quando for oficializada a saída do Reino Unido da União Europeia. Rui Tavares defende ainda que o projecto europeu deve continuar a lutar contra a fuga de capitais para offshores, que todos os anos representa perdas de um bilião de euros
FOTO: Eduardo Martins / Rota das Letras

[dropcap]H[/dropcap]á pouco defendeu que o projecto europeu tem de se democratizar mais, mas continua a acreditar nele.
Não é muito popular nesta fase ser pró-europeu [referindo-se à posição que o partido que fundou, o LIVRE, assume]. O que paga mais neste momento é inventar razões para deitar fora o projecto europeu, e seria um erro enorme abandoná-lo. Quando olhamos para o resto do mundo ainda ficamos mais convictos de que o projecto europeu tem defeitos, que há boas razões para muita gente estar frustrada e insatisfeita com ele, mas a atitude correcta a ter é refundar o projecto europeu e democratizá-lo, legitimá-lo mais junto dos cidadãos, e dotá-lo de instrumentos, através dos recursos próprios da UE, que permitam à UE ser mais forte nos tempos que aí vêm. Há que proteger mais os seus cidadãos, investir mais no futuro, nas universidades, na juventude, no combate à fuga de cérebros. Seria um erro estratégico crasso, neste cenário de que já falamos, com Trump de um lado, Putin do outro, Erdogan às portas da Europa, a China numa trajectória ambivalente, porque em alguns aspectos, nos últimos dois anos, a China tem-se tornado numa aliada valiosa da UE.

Em que áreas?
Pelo menos em duas coisas importantes: o combate às alterações climáticas e a luta pela preservação do sistema internacional à volta da ONU. É importante para a UE ter relações com todas estas partes do mundo e tê-las com elementos pragmáticos. Mas enfraquecermo-nos a nós mesmos, numa altura em que o mundo está a ficar multipolar e concentrado em homens fortes…seria um erro não contarmos com um projecto mais plural, que não deve ser imperialista e hegemónico, mas deve preservar numa parte do mundo o que eu chamo um patriotismo dos direitos humanos e um referencial para quem defende a democracia e os direitos humanos.

Relativamente à era pós-Brexit, qual deve ser o papel de Macau nesta matéria?
Se [o território] vai tirar partido, ou não, não sei, depende da maneira como souber gerir essa nova fase. Nitidamente é uma coisa que vai mudar uma espécie de paridade política que, de certa forma, existe, apesar da diferença de dimensões entre Macau e Hong Kong. Os embaixadores de Hong Kong no Parlamento Europeu e no Conselho vão deixar de existir, porque eram os representantes britânicos. O Reino Unido também vai perder peso dentro do Conselho de Segurança da ONU, porque há sempre quatro ou cinco países que são da UE. Portugal e Macau não perdem isso. Portugal e Macau, e dentro de Macau a comunidade portuguesa, passam a ter um papel de representante da UE nesta parte do mundo, um papel mais singular, e que só teria a ganhar em ser reforçado com a sua correspondência de representação junto de instituições europeias. Há muito caminho a fazer e acho que num cenário pós-Brexit deveríamos prestar mais atenção a Macau, pois pode representar um sítio privilegiado de uma relação com a UE, único após-Brexit de uma relação diferenciada com a UE, e na própria UE prestar-se também muita atenção a Macau como plataforma, que já o é, para a lusofonia. O Governo de Macau também tem muito para fazer. Há muitas cidades e regiões que têm uma representação junto da UE, e isso faz sentido.

A inclusão de Macau na lista negra de paraísos fiscais gerou alguma polémica [o território já foi retirado]. Houve um erro que gerou tensão com a China?
Acho que a UE deve trabalhar cada vez mais para garantir que os sistemas fiscais funcionam, que os Estados não ficam sem recursos e que o dinheiro que faz falta aos nossos hospitais e escolas não nos foge entre os dedos. E isso também é importante para os países terceiros, com um sistema fiscal mais justo que beneficia toda a gente. Há espaço para acordos internacionais à escala global que permitam fazer uma redistribuição de recursos. Acho natural que outros Estados possam ter algo a dizer em relação às listas que são elaboradas sobre legislações opacas. Devemos preparar-nos para uma maior actividade interna e externa da UE relativamente à evasão fiscal, sobretudo depois dos Panama Papers. Perde-se, na UE, todos os anos, um bilião de euros. Isto é tanto dinheiro que é mais do que todo o orçamento da UE para sete anos. Se recuperássemos uma fracção do que se perde, isso iria significar a resolução de problemas ligados ao endividamento externo e uma segurança maior para os cidadãos em termos do Estado social.

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20 Mar 2018

Rui Tavares, historiador e político, sobre Macau: “Até 2049, Portugal tem responsabilidades”

Historiador, político, ex-deputado europeu, Rui Tavares teme que as alterações à Constituição chinesa possam “vir a fazer escola” no mundo. Sobre Macau, o convidado do festival Rota das Letras lamenta que não haja um maior acompanhamento da parte da Assembleia da República e que Portugal ainda tem “obrigações morais e políticas importantes, enquanto garantia da autonomia de Macau dentro do Direito Internacional”

[dropcap]H[/dropcap]Há muitas vozes que dizem que a alteração à constituição chinesa é um retrocesso relativamente à revisão da constituição feita por Deng Xiaoping na década de 80. Concorda?
Concordo que há um retrocesso, que aliás é global. Estamos a assistir a um endurecimento dos regimes no mundo, e aqueles, como na União Europeia (UE), que não o estão a fazer, têm dentro de si regimes que têm estado a endurecer, como os EUA, Turquia, Rússia, Brasil. Há uma série de fenómenos muito preocupantes. E a China foi, de certa forma, mexer num processo que tem sido vantajoso para a China, e isso pode ser problemático para o país. O processo que, apesar de não ter correspondido a uma abertura generalizada, permitiu uma rotação de quadros políticos no topo da hierarquia chinesa, foi muito benéfico para a China nas últimas décadas. Substitui-lo por um processo em que o mesmo líder político pode ficar [no poder] indefinidamente não só pode ser problemático como coloca a seguinte questão: qual é o problema para que esta decisão propõe ser a solução? Ou seja, qual era exactamente o problema que a China tinha que necessitava de ser resolvido através de uma emenda constitucional como esta? Não se vê nenhum.

É uma questão de ideologia?
É uma questão de concentração de poder. Os Executivos têm uma propensão para concentrar poder que, normalmente, só é contida pelas constituições ou pela força da sociedade civil. Em casos que estudei, como o da Hungria, faltaram esses dois elementos, pois o poder podia mudar a Constituição e a sociedade civil não foi suficientemente forte para o conter. Depois do poder ter a concentração de autoridade que pretende, em geral, não a larga. Na Hungria não largaram.

No último congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) foi afirmado que estamos numa nova era para o socialismo com características chinesas. Que socialismo é este? O que vem aí em termos de ideologia política?
Parece-me claro que há a assunção oficial de uma doutrina, segundo a qual a grande diferença que interessa não é entre autocracias e democracias, é entre a boa e má governança, e que é muito conveniente para as autoridades chinesas. Esta destina-se a minimizar a importância da existência de liberdades cívico-políticas e da capacidade de escolha, e a maximizar aquilo a que os cientistas políticos chamam de “output legitimacy”. Ou seja, o regime é legítimo quando produz, de acordo com esta doutrina, que me parece errada, consequências desejáveis para a população. Se a economia está a crescer, se há emprego, estabilidade e segurança nas ruas, o regime é legítimo. Eu não vou negar que todas estas coisas são importantes, mas os regimes não podem utilizar essa legitimidade dos resultados como forma para ter uma legitimidade dos resultados, como se fosse desculpa para desconsiderar a legitimidade dos processos, nomeadamente os processos democráticos. O que é preocupante não é só para a China, mas também para o resto do mundo.

Que exemplos pode referir?
O regime da RPC, ao contrário da Rússia, é um regime desejável do ponto de vista em que há muitos outros países que desejam ser como a China, ter o seu tipo de performance. Ao passo que, quando se olha para a Rússia, tem uma posição mais retórica, com traços de uma paranóia geopolítica, o que faz com que gere as suas próprias resistências. O modelo chinês é mais exportável. Esta ideia de dizer que esta distinção entre autocracia e democracia não importa, porque o que importa é se produz boa ou má governança, é uma ideia perigosa porque é sedutora para muitos governos, incluindo no Ocidente. Não é um discurso assim tão diferente do que têm alguns burocratas da UE, que dizem que a UE não tem de ser mais democrática, porque o que é preciso é crescer mais e produzir mais emprego. Ninguém nega isso, mas é evidente que a falta de democracia na UE nos levou a onde estamos hoje. No mundo em que olhamos para os grandes blocos, e grande parte deles são liderados por regimes que estão em vias de se tornar mais autoritários, se a UE, se quer legitimar mais junto dos seus cidadãos e manter a sua credibilidade para o resto do mundo, tem de se democratizar. O que mais me preocupa é que parece que essa doutrina [da China] vai fazer escola.

Uma notícia apontava mesmo para o facto de muitos países africanos estarem a ponderar alterar as suas constituições para reforçar o poder presidencial e até Donald Trump fez elogios a Xi Jinping. Vêm aí tempos perigosos e de alguma inquietação?
Vêm. Temos uma situação muito ambivalente: existem ferramentas, acesso à informação, tecnologia e níveis educacionais altos que nos permitiriam gerir os nossos Estado-nações e organizações de forma mais democrática, dando mais respostas aos anseios das populações, mas não há como negar que este combate vai ser difícil nos próximos anos. Numas partes do mundo será mais arriscado do que noutras. O que é importante é que a sociedade civil à escala global seja capaz de criar redes de solidariedade que transcendam as fronteiras do Estado-Nação. Preocupar-se mais com o que está a acontecer na China e também em Macau e Hong Kong. Estarmos mais preparados para ajudar os nossos co-cidadãos de outras partes do mundo, porque os próximos anos vão ser difíceis e precisamos de deter a regressão no Estado de Direito e na democracia noutras partes do mundo, porque regressa sempre às zonas do mundo onde estamos. A sociedade civil portuguesa pode achar que não tem importância o que se está a passar do outro lado do mundo, mas tem, e isso acaba por reverter para Portugal. No caso específico de Macau, Portugal tem obrigações morais e políticas importantes enquanto garante da autonomia de Macau dentro do Direito Internacional.

Em relação a esse ponto, Hong Kong tem um movimento independentista que não se verifica em Macau. O Reino Unido tem opinado muito sobre a questão de Hong Kong, mas Portugal tem evitado fazer comentários. À luz dessas obrigações de que fala, considera que o país deveria ter uma posição mais forte relativamente a Macau?
Portugal deve ter uma posição mais atenta e mais activa. O Ministério dos Negócios Estrangeiros ou o Governo podem agir de forma mais discreta, e às vezes nem sempre pública. Mas acho que o devem fazer. A Assembleia da República (AR) tem a obrigação de agir de uma forma mais política e mais pública. É pena que não haja um acompanhamento regular da situação de Macau, com uma comissão parlamentar que reúna regularmente, que produza relatórios anuais. É uma pena também que os parlamentares portugueses no Parlamento Europeu não façam em relação a Macau aquilo que eu e a Ana Gomes fizemos em relação a Timor, de servirem de quase embaixadores de Macau junto do Parlamento Europeu. De facto, a comunidade política portuguesa não tem estado tão atenta quanto as obrigações morais e cívicas de Portugal em relação a Macau justificariam. São obrigações que estão plasmadas em instrumentos bilaterais de Direito Internacional, como é o caso da Declaração Conjunta. No caso específico de Macau, não estamos a falar de ingerência, de interferência nos assuntos internos da China, desde que nos mantenhamos nos limites que Portugal sempre soube respeitar.

Só se olha para a questão económica e esquecem-se as questões sobre os direitos, liberdades e garantias, e o sistema político?
Acho natural que o Governo português tenha uma visão marcada por um certo pragmatismo em relação ao que são os interesses económicos do investimento directo chinês em Portugal e do papel que empresas portuguesas possam ter no mercado chinês. Mas é importante que a AR não se sinta limitada por esse papel. O Parlamento deve ter capacidade de ter uma posição política, de acompanhar e recolher factos acerca da situação dos direitos, liberdades e garantias em Macau, onde vive uma comunidade portuguesa muito grande e diversa. Se há coisa que retiro das minhas conversas com portugueses em Macau é que estes têm vontade que esta informação passe para Portugal, de que estão atentos, preocupados também, e que gostariam que houvesse de Portugal uma atenção em relação à questão de Macau nos próximos tempos, para que o desenvolvimento harmónico desta sociedade, da sua autonomia e das suas liberdades, seja garantido. Até 2049, Portugal tem as suas responsabilidades e deve cumpri-las. Mas isso não passa pela política do megafone, passa por fazer perguntas. De cada vez que haja uma questão que possa pôr em causa a garantia dos direitos e liberdades, deve perguntar-se o que se passou. Passa também por ouvir mais a sociedade civil de Macau, com mais fóruns em que esse esforço seja feito. Esse papel deve ser feito pela nossa diplomacia, de uma forma mais discreta, mas também pela nossa AR.

O Gabinete de Ligação teme que haja influências do movimento independentista de Hong Kong em Macau. Acredita que essa influência possa, de facto, acontecer?
O movimento independentista de Hong Kong acaba, muitas vezes, por ser usado como uma forma de condicionar o movimento democrático. Não me queria pronunciar sobre as veleidades independentistas, porque está para lá de um limite que é preciso respeitar em relação à soberania e integridade territorial da China. Hong Kong e Macau pertencem à China. Acho natural que os movimentos, pela representação política, pelo pluralismo, se reforcem mutuamente de um sítio para o outro, na medida em que isso for a demonstração de um anseio político que cabe dentro da Lei Básica e dentro dos pressupostos da Declaração Conjunta. Ninguém deve declarar-se preocupado ou ameaçado pelo facto de as sociedades quererem viver de acordo com os compromissos que os Estados tiveram perante elas. E que acreditam que, até 2049, serão cumpridos.

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20 Mar 2018

Cartoonista Rodrigo de Matos inaugura “Punacotheca” na quinta-feira

[dropcap style =’circle’] R [/dropcap] odrigo de Matos inaugura, na próxima quinta-feira a exposição “Punacotheca”, integrada no Festival Literário – Rota das Letras. A mostra, que estará patente na Creative, reúne 30 trabalhos de pintura e ilustração num jogo de significados entre imagens e palavras

Rodrigo de Matos, conhecido como cartoonista, com trabalhos publicados em jornais em Macau e em Portugal, decidiu sair da sua zona de conforto e aventurar-se noutra área criativa . Na primeira exposição individual de pintura, Rodrigo de Matos propõe um jogo entre imagens – ambíguas e até ridículas – e os múltiplos significados de palavras ou expressões.

Em “Punacotheca” (em inglês) ou “Pinacotroca” (em português) – que brinca com a palavra trocadilho e pinacoteca – “propus-me a fazer uma série de pinturas e ilustrações que partem justamente de trocadilhos visuais e de sentidos. Na maior parte, as expressões que escolhi funcionam nas duas línguas (português e inglês)”, explicou o artista ao HM.

Embora tenha participado anteriormente em colectivas, Rodrigo de Matos nunca expôs pintura a solo. “No fundo, o que eu pretendi foi variar um pouco em relação àquilo que as pessoas conhecem do meu trabalho, que é o que sai publicado, mas há outras coisas que gosto de fazer além do cartoon, como pintar e brincar com os materiais”, sublinha.

“Esta exposição permitiu-me desenvolver um pouco a minha técnica que, no dia-a-dia, fica um pouco restrita ao meu estilo e limitações do cartoon, pelo que tento fugir um pouco”, explica Rodrigo de Matos que, em “Punacotheca”, explora habilidades que ficam de fora do quotidiano. “Procurei recuperar um pouco essa veia”, complementa.

Macau em tela

A exposição reúne 15 trabalhos de pintura e outros tantos de ilustração. “As pintura têm várias dimensões, normalmente com tinta acrílica sobre tela, enquanto entre as ilustrações, feitas à mão, são usadas canetas de tinta permanente mas também há pequenos toques ou apontamentos com tinta acrílica sobre cartolina”, especifica.

Se, por um lado, há imagens mais genéricas, por outro, encontram-se também referências concretas à realidade de Macau. “Sim, algumas são mais próprias para serem percebidas pelas pessoas de Macau ou, pelo menos, são coisas que têm estado mais na berra aqui. Mas penso que mesmo alguém de fora também irá perceber o jogo dos significados”.

“O que eu tentei em cada trabalho, independentemente dos que se enquadram num lado ou noutro, foi a partir de uma notícia, por exemplo, descodificar esses pequenos termos utilizados, como ‘talento bilingue’. No fundo, tentei jogar apenas com o significado das expressões, sem incutir qualquer opinião ou crítica política ao contrário do que faço habitualmente no cartoon”, explica Rodrigo de Matos.

Sem destacar uma obra em particular, Rodrigo de Matos entende que a mostra “vale como um todo”, estando a piada no jogo entre as imagens – com “uma certa dose de ambiguidade e até um pouco ridículas” – e os títulos dos quadros. Essa brincadeira permite que “as pessoas as possam interpretar como quiserem e todas as interpretações serão válidas”, sublinha.

“Penso que os mais ou menos bem-humorados são capazes de achar piada”, concluiu.

“Punacotheca”, que fica patente na Creative até 21 de Abril, é a terceira exposição de Rodrigo de Matos em Macau, mas a primeira que apresenta fora do universo dos cartoons.

20 Mar 2018

Tomás Ramos de Deus e Miguel Noronha Andrade lançam álbum “Oito” na próxima quarta-feira

Tomás Ramos de Deus e Miguel Noronha Andrade apresentam, na próxima quarta-feira, o álbum “Oito” no âmbito do Festival Literário de Macau – Rota das Letras. O projecto, da Casa de Portugal, alia a poesia à música

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] desafio foi lançado pelo poeta Yao Jingming, Tomás Ramos de Deus e Miguel Noronha Andrade aceitaram e a obra nasceu: Um álbum que reúne oito poemas de autores chineses cantados em português. A apresentação de “Oito”, que invoca o número da sorte chinês, tem lugar, na Quarta-feira às 20h, no edifício do antigo tribunal, no âmbito do Rota das Letras.

A ideia partiu de Yao Jingming. “Ele disse-nos o que tinha pensado e perguntou-nos se estaríamos disponíveis para esse desafio. Nós respondemos que sim e a Casa de Portugal também achou imensa graça, pelo que pusemo-nos logo a trabalhar”, afirmou o músico Tomás Ramos de Deus ao HM. 

O CD reúne oito poemas de autores chineses, incluindo do próprio Yao Jingming (que responde pelo pseudónimo de Yao Feng enquanto poeta) a quem coube a selecção e tradução, musicados por Tomás Ramos de Deus e Miguel Noronha Andrade. Além de Yao Feng, o álbum conta com poemas de Huang Lihai, Lan Lan, Yu Xiang e Gu Cheng.

O processo, que envolveu desde a selecção de poemas até criação das músicas, aos arranjos, gravações, produção e masterização do disco, iniciou-se no Outono. “A fase de produção do disco foi de Outubro/Novembro até ao final do ano. De Janeiro até agora, dedicámo-nos à preparação do concerto de apresentação”, explicou Tomás Ramos de Deus que, embora habituado a adaptar e a musicar poemas, nota que “Oito” foi “mais desafiante”.

Letras e notas

“Este álbum é diferente porque tem poesia que foi traduzida de chinês para português. Embora o processo tenha sido semelhante a outros álbuns (em que também adaptamos poemas feitos e musicamos), este foi mais desafiante em termos do conteúdo”, sublinhou Tomás Ramos de Deus. “Alguns poemas, por exemplo, são muito pequeninos e tivemos que os transformar em músicas que não fossem mínimas, mas acho que fizemos um bom trabalho”, avalia.

As sonoridades também vão beber ao Oriente, acabando por criar uma fusão: “As músicas foram criadas consoante as nossas influências, o que ouvimos, estudamos e aprendemos, mas depois tentamos, através de alguns instrumentos chineses, dar uma sonoridade chinesa às músicas e uma cor diferente ao disco”.

Neste sentido, a expectativa de Tomás Ramos de Deus é a de que o público goste das músicas e do que tentaram criar com o álbum “Oito”: “Espero que tentem apreciar a fusão que fizemos” de sons Oriente com o Ocidente, afirmou.

19 Mar 2018

Rota das Letras | Portugal desconhece restrições a liberdades e lamenta eventual cancelamento do festival

O Ministério dos Negócios Estrangeiros português desconhece restrições por parte das autoridades chinesas ao exercício das liberdades e garantias dos participantes no Festival Literário de Macau – Rota das Letras, pelo que apenas “lamenta a eventualidade do cancelamento” da “muito meritória” iniciativa

 

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] Ministério dos Negócios Estrangeiros não tomou conhecimento de restrições por parte das autoridades chinesas ao exercício das liberdades e garantias dos participantes no referido Festival no espaço do Território”, afirmou a diplomacia portuguesa ao HM. É a primeira reacção de Lisboa ao cancelamento da presença de três escritores pelo Rota das Letras após indicação de que a vinda de Jung Chang, James Church e Suki Kim “não era considerada oportuna”, pelo que “não estava garantida a sua entrada no território”.

Segundo o director do Festival Literário de Macau, Ricardo Pinto, essa indicação veio da parte do Gabinete de Ligação, embora o chefe da representação da República Popular da China em Macau, Zheng Xiaosong, tenha afirmado desconhecer o caso em torno da Rota das Letras. A situação, “especialmente desconcertante”, levou a organização a cancelar a presença dos três autores para não colocar os convidados na situação de serem eventualmente barrados na fronteira.

Este episódio, sem precedentes na história do Festival Literário, criado em 2012, vai levar o Rota das Letras a reflectir sobre a continuidade de um evento que conquistou um lugar no calendário cultural de Macau. “Depois do que aconteceu, obviamente tudo terá que ser reflectido, repensado e discutido” para “ver até que ponto faz sentido continuar com o festival, em que termos, em que circunstâncias, em que condições”, reconheceu Ricardo Pinto.

“O Festival Literário de Macau, Rota das Letras, é uma iniciativa muito meritória da sociedade civil da Região Administrativa Especial de Macau, que conta com o patrocínio do Instituto Português do Oriente, com o objectivo de desenvolver a cultura e a promoção dos escritores”, pelo que o Ministério dos Negócios Estrangeiros “lamenta a eventualidade do cancelamento desta iniciativa”, diz a resposta escrita, sem mais. Sobre os princípios acordados na Declaração Conjunta ou eventuais diligências a respeito do caso, como consultar a parte chinesa, o MNE nada diz, atendendo a que garante, desde logo, desconhecer restrições a liberdades e garantias.

Indiferença desaconselhável

O historiador Rui Tavares, actualmente em Macau a participar da sétima edição do Rota das Letras, que decorre até Domingo, defende que Portugal não pode fechar os olhos ao que aconteceu. Num artigo de opinião, publicado na Sexta-feira, no jornal Público, é assertivo a comentar o caso. “Isto não é qualquer coisa a que Portugal possa ficar indiferente, desde logo porque o estatuto especial de Macau, incluindo as suas liberdades, está consagrado em garantias e protecções que obrigam tanto à China quanto ao nosso país”.

“No caso de Hong Kong, por exemplo, o parlamento britânico tem uma comissão de acompanhamento que realiza relatórios regulares a respeito da autonomia e liberdades nesse antigo território britânico”, sublinha Rui Tavares. “Em Portugal, infelizmente, a nossa Assembleia da República desligou-se completamente das suas obrigações perante estes temas em Macau”, observou o ex-eurodeputado.

“Podemos dizer que factos como estes empalidecem em comparação com a gravidade de situações de violação de direitos humanos no resto da China. Mas a verdade é que com Macau temos obrigações morais e políticas especificamente portuguesas e, se ficarmos passivos agora, não nos admiremos que a situação se torne mais grave depois. Fica o alerta e a garantia de continuar a seguir este assunto”, escreveu.

19 Mar 2018

Activismo | Na China, a censura tira poder ao movimento #metoo

Lijia Zhang trabalhou numa fábrica e aprendeu inglês sozinha até se tornar escritora. A autora do romance “Lotus”, que fala sobre a prostituição na China, disse ontem no Rota das Letras que a censura na internet faz com que o movimento #metoo não tenha ainda grande expressão no país. Zhang lamenta a fraca participação das mulheres na política

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sua avó foi prostituta e foi sujeita à prática dos pés de lótus, a tradição chinesa de amarrar os pés para moldar a sua forma. A sua mãe passou a adolescência no período da Revolução Cultural e trabalhou numa fábrica estatal. Ela, Lijia Zhang, teve melhor sorte, num destino construído com as suas próprias mãos. Trabalhadora numa fábrica, como tantas outras mulheres, esforçou-se por aprender inglês e conseguiu lançar-se na carreira de escritora e é, hoje em dia, uma das autoras chinesas que mais colabora com os media internacionais. O seu romance de estreia, intitulado “Lotus”, fala da prostituição na China.

Convidada do festival literário Rota das Letras, Lijia Zhang falou ontem sobre o papel da mulher chinesa na sociedade contemporânea, e não teve dúvidas em afirmar de que o movimento #metoo, surgido na internet após as acusações de assédio sexual em Hollywood, não tem mais expressão no continente porque a censura na internet não deixa.

“Devido às restrições impostas pelo Governo não há um grande movimento #metoo na China. Algumas mulheres têm falado muito sobre isso, têm levantado a questão.” Além de muitos websites não estarem disponíveis na China, há também o facto do assédio sexual e igualdade entre sexos não estar, sequer, na agenda política.

“O Governo não quer implementar este assunto, quer ter a sua própria agenda com assuntos onde se sente confortável. Há alguns anos, cinco mulheres tentaram protestar contra o assédio sexual em locais públicos, e foram presas pela polícia”, exemplificou a autora, que não esquece o facto das mulheres terem uma baixa presença na política, incluindo nos principais órgãos do Governo e do Partido Comunista Chinês (PCC).

“Um dos problemas é a baixa participação das mulheres na política. Nas aldeias é possível votar, mas apenas dois a três por cento dos que ocupam cargos de topo são mulheres. Há ainda uma grande confusão em relação a esse assunto e pensa-se que as mulheres não devem ter um papel além da família, e que não têm visão. Na Assembleia Popular Nacional há uma baixa participação de mulheres, e no Politburo só existem as vozes dos homens. Infelizmente, na sociedade civil, esse tema também não tem estado na agenda”, apontou.

Apesar disso, a escritora afirmou que têm surgido alguns movimentos sociais em torno desta questão. “Há muitas questões relacionadas com a igualdade de género na China, graças à reforma e à abertura, e também se nota um activismo relacionado com esta matéria. Em 2012, houve um protesto contra a violência doméstica, por exemplo. Os movimentos activistas vêm de baixo, são espontâneos.”

Natalidade baixa

No que diz respeito à igualdade entre sexos, a autora foi questionada sobre o impacto que a abolição da política do filho único poderá ter nas famílias, numa altura em que é cada vez mais difícil, para as mulheres na China, terem trabalho durante a gravidez.

“Um dos problemas é que antes o Governo tinha essa responsabilidade [de controlo da natalidade], mas agora depende de cada empresa. As mulheres grávidas têm muito mais dificuldade em obter emprego, porque algumas empresas não querem assumir essa despesa da licença de maternidade no futuro. Essa é uma das razões pelas quais as mulheres agora não querem ter um segundo filho.”

Além disso, há também um maior anseio pela independência. “Não só é mais caro ter filhos como há também o facto de as mulheres de classe média quererem viver para si mesmas, não querem ter uma vida de servidão como teve a minha avó. Já não encaram o casamento e os filhos como a única via.”

Lijia Zhang recordou que as mulheres passaram a ter mais oportunidades nos anos 80, na época de abertura e reformas económicas levadas a cabo pelo presidente Deng Xiaoping. No período da Revolução Cultural havia uma espécie de igualdade entre sexos, à luz de doutrina maoísta. Foi neste período que a mãe de Lijia foi educada.

“O PCC trouxe uma maior esperança ao país, e uma das primeiras medidas adoptadas neste período foi o fim da prática dos pés de lótus, o fim das concubinas e maior acesso das mulheres à educação e ao emprego. A minha mãe teve a sorte de obter um trabalho numa empresa estatal, onde desempenhava um trabalho essencialmente masculino. Mas havia uma espécie de igualdade entre sexos, que negava a diferença entre homens e mulheres. A mulher modelo deveria vestir-se como um homem, parecer um homem.”

Avó inspiradora

Não foi por acaso que Lijia Zhang decidiu começar a escrever sobre prostituição. Tudo começou quando, em 1998, soube pela mãe que a sua avó tinha sido vendida, aos 14 anos, para um prostíbulo.

À semelhança de muitas outras meninas da sua idade, a avó de Lijia Zhang havia sido submetida à prática dos pés de lótus [em que os pés eram dobrados até terem um máximo de dez centímetros de comprimento, ficando deformados para sempre e com os ossos partidos]. Enquanto prostituta conheceu o marido, que a comprou.

Em 1949, os comunistas instauram a República Popular da China (RPC) e a prostituição passa a ser proibida, algo que se mantém até aos dias de hoje.

“Desde então que me tornei algo obsessiva com o tema da prostituição porque sempre imaginei como teria sido a vida da minha avó nesse período. Alguns meses depois de descobrir esse segredo viajei para Shenzen em trabalho e descobri um grupo de raparigas e percebi que vinham de zonas pobres na China e que muitas delas trabalhavam em fábricas. Foi uma importante janela para perceber as mudanças sociais, porque esse é uma das grandes problemáticas que a China enfrenta nos dias de hoje: a migração do campo para as grandes cidades e a crescente desigualdade entre homens e mulheres.”

Lijia Zhang descobriu que muitas das prostitutas na China são-no porque são obrigadas ou porque precisam de dinheiro. “A minha avó foi vendida para ser prostituta, e hoje em dia muitas das mulheres são prostitutas por opção, mas muitas vezes são forçadas a fazê-lo, ou porque são trabalhadoras com baixos salários, ou porque são vítimas de violência doméstica.”

O trabalho de Lijia Zhang confunde-se muitas vezes com o de Leslie Chang, autora do livro “Factory Girls: From Village to City in a Changing China”. Zhang foi, ela própria, uma dessas “factory girls”, e durante o processo de pesquisa para o seu livro percebeu que muitas delas acabam por recorrer à prostituição por não terem outra escolha.

“Algumas das prostitutas também trabalham na linha de produção e têm vidas muito duras, com salários baixos. Então também trabalham em casas de massagens, onde ganham muito mais. Há uma tentação pelo dinheiro.”

Na fase em que trabalhava na fábrica, e em que “odiava” a sua vida, Lijia Zhang conseguiu lutar em prol de uma existência melhor. “Comecei sozinha a aprender inglês, foi um processo bastante lento. Aprender outro idioma mudou a minha vida, porque de certa forma abriu-me os horizontes, e actualmente vivo da escrita.”

“Um ponto interessante é que falar diferentes línguas trouxe ao de cima vários aspectos da minha personalidade. Quando estava na fábrica via a BBC de forma obsessiva, para tentar falar com sotaque e para fingir que era sofisticada (risos). Costuma dizer-se que quando aprendemos uma nova língua ficamos com uma nova alma, e acho que foi isso que aconteceu”, rematou.

19 Mar 2018

Rota das Letras | Jorge Morbey elogia Gabinete de Ligação

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]orge Morbey, ex-presidente do Instituto Cultural e docente da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, disse à Rádio Macau que a culpa pelo caso dos três escritores que não estiveram presentes no festival literário Rota das Letras é do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. “Contrariamente ao que circula por aí, o Gabinete de Ligação, se realmente comunicou com o Festival e desaconselhou [os escritores] a vir, eu penso que isto é de louvar, porque quando falha o Governo, se não há outra entidade para pôr mão nas coisas, acaba por ser o Gabinete de Ligação”.

Na visão de Morbey, que lançou ontem um novo livro, “a situação que se criou é da responsabilidade do Governo, concretamente do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, porque é óbvio que o planeamento do Festival Rota das Letras é objecto de uma proposta, porque de outra maneira não fazia sentido o dinheiro que se gasta com isto e que é suportado pelo Governo”.

“A assinatura que vale ouro aí é a do senhor secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Portanto, isto não lhe passou ao lado e se isto era mau, se o convite a estas pessoas era mau, devia ser um problema levantado por ele à organização do Festival, o que não levantou. Do meu ponto de vista, talvez por não saber quem eram as pessoas, o que é lamentável”, acrescentou à Rádio Macau.

15 Mar 2018