Nova Deli | Registado primeiro pico de poluição da estação

A poluição atmosférica atingiu ontem o primeiro pico da estação em Nova Deli, com concentrações de partículas nocivas até 50 vezes superiores ao nível considerado tolerável pelas autoridades sanitárias indianas.

A megalópole de cerca de 30 milhões de habitantes regista todos os anos grandes picos de poluição com a aproximação do Inverno.

Nesta altura do ano, os fumos diários produzidos pela indústria e pelos veículos combinam-se com os das queimadas agrícolas para criar uma nuvem que as temperaturas mais frias e os ventos mais fracos colocam sobre a cidade.

Ontem de manhã (hora local), o índice de qualidade do ar ultrapassou a marca simbólica dos 1.000 pontos em várias zonas de Nova Deli, sendo que um nível acima de 300 é considerado perigoso para os seres humanos.

As concentrações de partículas PM2.5 – as mais perigosas porque se difundem na corrente sanguínea – eram até 50 vezes mais elevadas nas primeiras horas da manhã do que o limiar considerado tolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O Rajpath, a célebre esplanada rodeada pela Porta da Índia, um arco triunfal dedicado à memória dos indianos mortos em guerras, foi coberto ao amanhecer por um fumo particularmente denso. Um estudo publicado em Junho concluiu que a poluição atmosférica era responsável por 11,5 por cento das mortes em Deli, ou seja, 12.000 mortes por ano.

13 Nov 2024

Praias | Zheng Anting alerta para a má qualidade da água

O deputado Zheng Anting pede uma actualização dos padrões para avaliar a qualidade da água das praias de Macau, que datam dos anos 80. Além disso, defende a criação de um mecanismo de previsão da qualidade da água para alertar os banhistas

 

O deputado Zheng Anting está preocupado com a qualidade das águas nas praias de Macau e pretende saber que medidas vão ser adoptadas para melhorar a situação. A questão faz parte de uma interpelação em que se questionam os planos para alterar a forma como a qualidade da água é avaliada.

No documento, o legislador aponta que há residentes que corajosamente “nadam ou praticam actividades desportivas” ao longo de todo o ano, tanto na praia de Hác Sá, como na praia de Cheoc Van. No entanto, a qualidade do mar continua abaixo do que seria expectável, devido à presença de “cheiros estranhos, óleos, plásticos e à turbidez”, que afecta as actividades marítimas.

O legislador indica também que desde o início do ano registaram-se quatro situações em que a qualidade da água esteve abaixo dos níveis recomendados para a prática de natação ou desportos marítimos. Os maiores níveis de poluição são registados durante a época balnear, o que é encarado como uma preocupação adicional.

Por outro lado, Zheng Anting demonstrou preocupações com os padrões de análise à qualidade das águas. Segundo o deputado, actualmente os testes têm por base a existência de bactérias. Porém, a poluição causada por poluentes orgânicos, químicos e metais pesados, que são igualmente prejudiciais para o corpo humano, não é tida em conta.

“Apesar de o Governo enfatizar que Macau segue os padrões de qualidade da água do Departamento de Protecção Ambiental de Hong Kong, estes padrões foram estabelecidos na década de 1980, têm quase 40 anos”, afirma Zheng. “Será que o Governo considera que os padrões reflectem de forma abrangente os vários poluentes presentes na água do mar que são prejudiciais para a saúde humana e para a ecologia? Será que considera que os padrões satisfazem os requisitos da sociedade actual em matéria de qualidade da água?” questionou. “Vão optimizar os padrões?”, perguntou.

O membro da Assembleia Legislativa critica também o facto de a informação sobre a qualidade da água não ser actualizada em tempo real nas plataformas online. Situação que provocou queixas de cidadãos que referiram que se soubessem antecipadamente a qualidade da água evitavariam deslocações às praias, nos dias em que a qualidade é reduzida.

“Os resultados dos testes da qualidade da água não são disponíveis em tempo real, e ao contrário do que acontece em outros locais nem sequer há uma previsão anterior”, criticou o deputado ligado à comunidade de Jiangmen. “Será que o Governo vai seguir a experiência das cidades vizinhas e recorrer à tecnologia moderna para estabelecer um sistema de previsão da qualidade da água?”, interrogou. Em Setembro, os Serviços de Saúde anunciaram dois casos de infecção pela bactéria Vibrio Vulnificus, que pode ser mortal, que afectaram dois banhistas.

10 Out 2023

Estudo | Poluição é primeira ameaça mundial para saúde humana

Um estudo ontem publicado indica que a poluição atmosférica representa um risco maior para a saúde global do que o tabagismo ou o consumo de álcool, perigo exacerbado em regiões como Ásia e África.

De acordo com este relatório do Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago (EPIC) sobre a qualidade do ar a nível mundial, a poluição por partículas finas, emitidas pelos veículos a motor, pela indústria e pelos incêndios, representa “a maior ameaça externa à saúde pública” a nível mundial.

Mas, apesar disso, os fundos para a luta contra a poluição atmosférica representam apenas uma fracção ínfima dos fundos consagrados às doenças infecciosas, por exemplo, sublinhou o relatório. A poluição por partículas finas aumenta o risco de doenças pulmonares e cardíacas, de acidentes vasculares cerebrais e de cancro.

O EPIC estimou que, se o limiar da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a exposição a partículas finas fosse respeitado em todas as circunstâncias, a esperança de vida global aumentaria 2,3 anos, com base nos dados recolhidos em 2021.

Em comparação, o consumo de tabaco reduz a esperança de vida global numa média de 2,2 anos e a subnutrição infantil e materna em 1,6 anos.

No Sul da Ásia, a região do mundo mais afectada pela poluição atmosférica, os efeitos na saúde pública são muito pronunciados.

De acordo com os modelos criados pelo EPIC, os habitantes do Bangladesh poderiam ganhar 6,8 anos de esperança de vida se o limiar de poluição fosse reduzido para o nível recomendado pela OMS.

O ar do mundo

A capital da Índia, Nova Deli, é a “megalópole mais poluída do mundo”, enquanto a China “fez progressos notáveis na luta contra a poluição atmosférica” iniciada em 2014, disse a directora dos programas de qualidade do ar do EPIC, Christa Hasenkopf.

A poluição média do ar no país diminuiu 42,3 por cento entre 2013 e 2021, mas continua a ser seis vezes superior ao limiar recomendado pela OMS. Se este progresso se mantiver ao longo do tempo, a população chinesa deverá ganhar uma média de 2,2 anos de esperança de vida, referiu o estudo.

Mas, de um modo geral, as regiões do mundo mais expostas à poluição atmosférica são as que recebem menos recursos para combater este risco, observou o relatório.

“Existe uma profunda discrepância entre os locais onde o ar é mais poluído e aqueles onde são mobilizados mais recursos colectivos e globais para resolver este problema”, explicou Hasenkopf.

Embora existam mecanismos internacionais de luta contra o VIH, a malária e a tuberculose, não há equivalente para a poluição atmosférica.

“E, no entanto, a poluição atmosférica reduz a esperança média de vida de uma pessoa na República Democrática do Congo e nos Camarões mais do que o VIH, a malária e outras doenças”, salientou o relatório.

Nos Estados Unidos, o programa federal “Clean Air Act” contribuiu para reduzir a poluição atmosférica em 64,9 por cento desde 1970, aumentando a esperança média de vida dos norte-americanos em 1,4 anos.

Na Europa, a melhoria da qualidade do ar ao longo das últimas décadas seguiu a mesma tendência que nos EUA, mas continuam a existir grandes disparidades entre o leste e o oeste do continente.

Todos estes esforços estão ameaçados, entre outros factores, pelo aumento do número de incêndios florestais em todo o mundo, causado pelo aumento das temperaturas e por secas mais frequentes, associadas às alterações climáticas, provocando picos de poluição atmosférica.

30 Ago 2023

O negacionismo, as alterações climáticas e a poluição

Vem este texto a propósito dos que não acreditam que as alterações climáticas são causadas pelas atividades humanas. Na realidade é lícito que haja quem duvide, atendendo a que alguns cientistas também são dessa opinião. Trata-se, no entanto, de uma minoria pouco significativa, considerando que se estima que cerca de 97% dos cientistas que estudam este assunto estão de acordo que são os gases de efeito de estufa (GEE) que retêm o calor, o que provoca o aquecimento global e, consequentemente, essas alterações.
Os negacionistas não acreditam nas conclusões a que chegaram numerosas instituições científicas, tais como universidades, institutos, agências especializadas e programas das Nações Unidas, entre os quais a Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UN Environment Programme – UNEP). Também não acreditam no IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), nem nas conclusões e recomendações das 27 Conferências das Partes (Conferences of the Parties – COP).
Curiosamente, os negacionistas das alterações do clima estão em geral de acordo com teorias da conspiração defendidas por movimentos de extrema-direita. Bolsonaro e Trump são exemplos bem conhecidos como defensores destas teorias, nomeadamente no que se refere às alterações climáticas e à epidemia Covid-19. Alguns até creem que a terra é plana, como defendia um dos mentores de Bolsonaro, o “filósofo” brasileiro Olavo de Carvalho, falecido em janeiro de 2022, vítima da Covid-19, na qual não acreditava e designava por “historinha de terror”. São conhecidas afirmações proferidas pelo ex-presidente do Brasil em que se referia à pandemia como “uma gripezinha” e em que preconizava o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes. Também ficou célebre a frase “Se tomar vacina e virar jacaré não tenho nada a ver com isso”. Segundo um relatório da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), difundido em 24 de novembro de 2022, referindo-se às medidas de combate à pandemia, “caso o país tivesse seguido o padrão médio global, três de cada quatro mortes por Covid-19 ocorridas no Brasil teriam sido evitadas”.
Como negacionista, Bolsonaro deu também o dito por não dito quando anunciou que a 25ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP25) não se realizaria no Brasil, conforme havia sido anteriormente acordado, o que provocou a sua transferência para Madrid (2-13 de dezembro de 2019). Segundo ele, a pressão internacional sobre a problemática das alterações climáticas não passaria de um “jogo comercial”.
Também Trump subestimava a pandemia e não acreditava nas alterações climáticas. Segundo a revista científica The Lancet, uma das mais antigas e prestigiadas publicações de carácter médico, entre as 450 mil mortes por Covid-19 nos EUA, cerca de 40% poderiam ter sido evitadas. Também como negacionista das alterações climáticas, numa mensagem via Twitter, Trump chegou a comentar “Brutal and Extended Cold Blast could shatter ALL RECORDS – Whatever happened to Global Warming?” (“Uma brutal e extensa invasão de ar frio pode rebentar com TODOS OS REGISTOS – o que aconteceu com o aquecimento global?”), confundindo meteorologia com climatologia, comparando um simples evento meteorológico com valores médios referentes a dezenas de anos que são necessários para caracterizar o clima.
A Organização Mundial da Saúde e o Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) são duas das entidades que se dedicam ao estudo da saúde à escala mundial. Ambas as instituições chegaram a valores muito semelhantes no que se refere à estimativa do número de vítimas mortais precoces causadas anualmente pela poluição atmosférica, respetivamente cerca de 7 e 6,7 milhões.
A poluição atmosférica está intimamente relacionada com as alterações climáticas, na medida em que a causa principal destas alterações consiste na injeção de GEE provenientes da utilização de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural). Estes gases são também poluentes, os quais, quando respirados, contribuem para o desenvolvimento de doenças respiratórias que afetam os seres vivos, constituindo um fator importante de mortalidade. De acordo com a OMS, cerca de 99% da população mundial respira ar cujo conteúdo em poluentes excede o estabelecido como limites nas diretrizes desta organização. Os principais poluentes atmosféricos, nomeadamente partículas em suspensão, monóxido de carbono, dióxido de azoto, dióxido de enxofre e ozono, resultam dos combustíveis fósseis. Entre as partículas microscópicas arrastadas pelo vento sobressaem as PM10 e as PM2,5, respetivamente com diâmetros iguais ou inferiores a 10 e 2,5 micrómetros (μm), provenientes não só das atividades industriais, mas também de fogos florestais e transportes terrestres, marítimos e aéreos. Ainda recentemente foi detetado na Europa fumo proveniente dos incêndios florestais que têm devastado milhares de hectares de florestas no Canadá. A frequência e a intensidade dos fogos florestais estão intimamente relacionadas com as alterações climáticas, na medida em que o aumento da temperatura é propício à criação de condições favoráveis a esses incêndios.
Como 99,9% das moléculas que constituem o ar se encontram na camada atmosférica entre a superfície e 50km de altitude, mesmo os negacionistas das alterações climáticas, se forem honestos, compreenderão que, em situações meteorológicas de grande estabilidade, estes poluentes se acumulam na camada baixa da troposfera, com graves consequências para os seres vivos. Há países em que é frequente proceder a restrições do trânsito automóvel durante situações meteorológicas caracterizadas por grande estabilidade atmosférica. Não são raras as imagens veiculadas pelos media, hjunnnnnnnjuhkkkkkkk (desculpem, o meu gato passou agora por cima do teclado), em que os cidadãos circulam de máscara para evitar respirar as partículas poluentes em suspensão no ar.
Os combustíveis fósseis e seus derivados estão também intimamente ligados à poluição dos oceanos, atendendo a vários fatores, entre os quais os acidentes com navios de transporte de produtos petrolíferos e as chuvas ácidas, com graves consequências para a biodiversidade marinha. Também o plástico, que é um subproduto da indústria petrolífera, é um dos poluentes mais presentes nos oceanos, cujas partículas microscópicas já são detetáveis na cadeia alimentar humana.
No que se refere à poluição do solo, entre as agressões a que o meio-ambiente está sujeito causadas pela atividade humana, é de salientar a atitude agressiva do governo do país mais extenso do mundo, no que se refere ao rebentamento de barragens, à deposição de metais pesados nos campos, provenientes de bombardeamentos indiscriminados e de minas, e à agressão a este nosso planeta por milhares de toneladas de detritos de bombas e restos de mísseis de “elevada precisão”, tão certeiros que já destruíram milhares de instalações relacionadas com a saúde, a instrução e a energia, tais como centros médicos, hospitais, maternidades, escolas, universidades, centrais elétricas, etc.
A poluição provocada pela guerra na Ucrânia irá refletir-se negativamente na qualidade de vida das futuras gerações.
Perante o exposto, é fácil concluir que, na luta contra as alterações climáticas, está implícita a luta contra a poluição. Assim, embora pareça ser razoável que haja quem não acredite que essas alterações são em grande parte motivadas pelos gases de efeito de estufa, já não é aceitável que não acreditem que os poluentes provenientes dos combustíveis fósseis são a causa principal das doenças respiratórias.
As medidas preconizadas no que se refere à mitigação das alterações climáticas, que implicam o banir dos combustíveis fósseis, têm também como consequência a diminuição da poluição do ar, dos oceanos e do solo. Daí a necessidade da redução drástica da utilização desses combustíveis, conforme preconizado pela ONU.

6 Jul 2023

Cimeira de Paris | China comprometida no combate às alterações climáticas e pobreza

Numa conferência que juntou mais de 40 chefes de Estado e de Governo na cidade das luzes, Pequim, através do primeiro-ministro, Li Qiang, afirmou estar preparada para cooperar na luta global contra as alterações climáticas e a pobreza

 

A China está preparada para assumir maiores compromissos na luta contra as alterações climáticas e a pobreza, bem como no alívio da dívida dos países pobres, anunciou na sexta-feira em Paris o primeiro-ministro chinês, Li Qiang.

No encerramento da cimeira de Paris para um novo pacto financeiro global, Li afirmou que a China acelerou os esforços para promover “uma produção e um estilo de vida com baixas emissões de carbono”.

“Nos últimos dez anos, a China registou um crescimento médio de 6,3 por cento, mas apenas 3 por cento de crescimento no consumo de energia”, afirmou, citado pela agência francesa AFP.

O primeiro-ministro chinês disse que a China, acusada de ser um dos maiores poluidores do mundo, diminuiu a quota do carvão.

Li disse que a China também está empenhada na cooperação global na luta contra a pobreza e na iniciativa de suspensão do serviço da dívida apoiada pelo G20 (grupo das maiores economias).

A China está preparada para “trabalhar com todas as partes interessadas, incluindo as instituições financeiras internacionais, os credores privados e outros”, afirmou o chefe do Governo do país asiático.

 

Ajuste de contas

Este compromisso surge no momento em que os credores da Zâmbia anunciaram na passada quinta-feira que tinham chegado a um acordo para reestruturar parte da dívida do país da África Austral.

A Zâmbia, com quase 20 milhões de habitantes, entrou em incumprimento da dívida em 2020, e as negociações para resolver o problema estavam paradas devido a divergências entre os credores ocidentais e chineses.

“A China está pronta a trabalhar com todas as partes envolvidas para garantir que as finanças mundiais se tornem justas e eficientes”, concluiu Li Qiang.

A presidência francesa organizou a cimeira para lançar as bases de uma revisão da arquitectura financeira internacional que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, com o objectivo de travar a pobreza e o aquecimento global.

Participam na cimeira cerca de quarenta chefes de Estado e de Governo, bem como os dirigentes das instituições internacionais.

Li Qiang está em Paris depois de ter visitado Berlim, na primeira deslocação ao estrangeiro desde que assumiu funções em Março.

26 Jun 2023

Crise obriga China a liberalizar sector eléctrico para atingir descarbonização, diz especialista

A actual crise de energia que a China enfrenta vai obrigar o país a acelerar as reformas no setor elétrico, apontou um especialista à agência Lusa, frisando a urgência em adoptar medidas para reduzir as emissões.

“O que me parece é que, com esta crise, a China vai ter que acelerar o processo de reforma do setor elétrico e do setor energético”, diz Renato Roldão, especialista português em alterações climáticas a viver em Pequim desde 2008, e atual vice-presidente da consultora norte-americana Inner City Fund (ICF) International para a China e Europa.

“Algumas pessoas dizem que esta é, de facto, uma das primeiras crises deste momento de transição para fontes de energia renovável”, frisa.

No caso da China, a reforma passa por liberalizar os preços da eletricidade para as indústrias, pondo fim aos limites impostos pelos reguladores, e acrescentar custos consoante as emissões de carbono da fonte utilizada na geração de energia, explica Roldão.

“Nessas situações, a forma de despacho na eletricidade é diferente, ou seja, o que chamamos em Portugal a ordem de mérito”, descreve.

Neste cenário, os preços adicionais cobrados pela emissão de gases com efeito de estufa encarecem o carvão, relativamente ao gás natural, e este último em relação às renováveis.

O carvão, que é a fonte de energia mais poluente, continua a fornecer cerca de 60% da produção de eletricidade da China.

Nas últimas semanas, o país asiático enfrentou cortes de energia, que interromperam a produção industrial em várias províncias importantes.

Entre as razões apontadas para esses cortes estão a recuperação económica global, que pressiona as fábricas a aumentar a produção, os limites da produção de carvão impostos pelos objetivos para o clima e a existência de um preço regulado da eletricidade.

O Governo chinês anunciou recentemente uma desregulação parcial dos preços da eletricidade vendida aos fabricantes, numa altura em que a subida de preço do carvão tornou a produção de energia economicamente inviável para as empresas.

O país pediu ainda às minas de carvão que aumentem a produção diária, para um mínimo de 12 milhões de toneladas – um valor recorde. Várias províncias chinesas têm também prosseguido com a construção de novas unidades fabris termoelétricas a carvão.

O Presidente chinês, Xi Jinping, reafirmou, no entanto, no mês passado, na Assembleia das Nações Unidas, os compromissos chineses para o clima: neutralidade carbónica “antes de 2060” e atingir o pico das emissões “antes de 2030”.

“É um efeito do tipo ‘yo-yo’”, nota Roldão, que acrescenta: “Há alturas em que dizem que são as províncias que autorizam novas construções. Outras vezes, é o governo central que diz: ‘não, agora, somos nós que controlamos isto, porque está um bocado descontrolado, vamos controlar o número da nova capacidade instalada’”.

No conjunto, no entanto, o especialista considera que, entre usinas que encerraram e outras abertas recentemente, a capacidade instalada não aumentou.

Sobre a COP26, a conferência do clima que se realiza em Glasgow, na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, Renato Roldão diz não ter “grandes expectativas”.

“Esta [conferência] devia gerar um aumento da ambição dos países. Era importante que se fizessem de facto anúncios de coisas concretas e não só anúncios políticos vazios”, observa.

“No entanto, fala-se muito, muito, e vê-se pouca ação”, realça. Roldão adverte: “Estamos a ficar sem tempo”.

“Continuamos sempre a dizer isto: temos pouco tempo, mas começámos agora, ainda pode dar, temos que fazer mais. No ano a seguir, continuamos a dizer a mesma coisa, mas o tempo está a passar e nós não estamos a alterar a forma de produzir e consumir nos vários níveis, de maneira a alinhar com os objetivos”, frisa.

22 Out 2021

Poluição | Limites de emissão mais restritos a partir de amanhã

A partir de amanhã haverá limites mais restritos para a emissão de gases dos motociclos, ficando a promessa de rever os limites de outros veículos. Para Tam Wai Man os condutores estão “disponíveis” para ajudar a controlar a poluição atmosférica. Sobre o tratamento de águas residuais, existe um plano para resolver 47 “pontos negros”

 

O director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Tam Wai Man, revelou que haverá limites mais restritos para a emissão de gases provenientes dos escapes de motociclos a partir do próximo mês. Para o responsável, os condutores deste tipo de veículos estão disponíveis para que tal aconteça, contribuindo para que, “passo a passo”, o controlo da poluição do ar seja mais rigoroso.

“A partir de Julho haverá limites mais restritos para motociclos. Estamos a rever os limites das emissões (…) estabelecidas no ano passado. Os condutores de motociclos estão disponíveis para que haja mais restrições aos limites. Vamos, passo a passo, [impor] restrições ao limite de gases emitidos pelo escape de veículos para que, com a redução dessas emissões, seja possível controlar a situação”, começou por dizer ontem Tam Wai Man à margem da cerimónia de atribuição do Prémio Hotel Verde de Macau.

“Depois de termos feito um estudo preliminar, vamos eliminar alguns motociclos altamente poluidores que não satisfaçam os limites”, acrescentou.

Sobre as 47 condutas de água previamente identificadas como zonas “críticas” ao nível do escoamento nocivo de água para o mar, o Director da DSPA apontou que existem medidas concretas para resolver o problema.

“Em Macau existem algumas zonas críticas ao nível da poluição e já incumbimos uma instituição de estudar a situação do escoamento de águas. Descobrimos que, em 47 condutas de água residuais, a água vai para o mar em vez de seguir para tratamento numa ETAR. Por isso mesmo, já temos medidas especificas para resolver o problema do escoamento das águas na origem”, explicou Tam Wai Man.

O responsável revelou ainda que serão construídas três estações de tratamento temporário de águas residuais no edifício portuário, nas pontes-cais número 25 e 27 e na ponte-cais número 5, no Porto Interior.

No caminho certo

Durante a cerimónia de entrega de prémios propriamente dita, Tam Wai Man, referiu que, apesar da taxa de ocupação hoteleira ter baixado devido à pandemia, os hotéis premiados “nunca pararam as suas práticas diárias ecológicas”, o que demonstra que “o sector está no caminho do desenvolvimento sustentável e a elevar incansavelmente o seu desempenho ambiental”.

Relativamente à conservação energética, os 57 hotéis vencedores do Prémio Hotel Verde estão equipados com iluminação LED. Por outro lado, relativamente ao ano passado, foi registado um aumento de mais de 70 por cento no número de lugares de carregamento de veículos eléctricos, sendo que o número dos que usam veículos eléctricos como shuttle-bus também cresceu mais de 30 por cento.

30 Jun 2021

Ambiente | Temperatura média em 2020 caiu 0,3º em relação a 2019

No ano passado, a temperatura média em Macau foi de 23,3º, menos 0,3º face 2019. A tendência de decréscimo é transversal a dados como o dia mais quente, mais frio, precipitação, consumo de água e resíduos sólidos tratados na central de incineração. O único indicador das estatísticas do ambiente de 2020 que aumentou foi o que mede o número de dias com boa qualidade do ar

 

Uma das vantagens da paralisia a que a pandemia votou o mundo foi o abrandamento dos factores que normalmente ameaçam o ambiente. Sem referir causas, esse é o silencioso fio condutor que guia as estatísticas do ambiente referentes a 2020, divulgadas ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

No ano passado, Macau registou uma temperatura média de 23,3º, menos 0,3º em relação a 2019. O mês de 2020 em que o mercúrio dos termómetros subiu mais alto foi Julho, quando a temperatura chegou aos 35,5º, o que representou uma ligeira descido, 0,2º, em relação ao ano anterior. Quanto à temperatura mais baixa, a variação foi mais acentuada. Em Dezembro do ano passado, registou-se o dia mais frio, com 6,7º, menos 1,7º relativamente ao dia mais frio de 2019.

Também choveu menos no ano passado, com a precipitação total a atingir 1.713,2 milímetros, menos 534,8 milímetros em comparação com 2019.

No capítulo dos tufões, 2020 manteve o registo de 2019, com um total de cinco tempestades tropicais. Destas, a mais grave foi o tufão “Higos”, que obrigou as autoridades a hastearem o sinal nº 10 de tempestade tropical, e Macau a resistir a rajadas máximas na ordem dos 215,6 quilómetros por hora. O “Higos” registou uma velocidade média máxima do vento de 138,6 quilómetros por hora durante 10 minutos.

Um fenómeno muito mais severo do que o ciclone tropical Wipha, o mais grave de 2019, que teve a rajada máxima de 100,1 quilómetros por hora e a velocidade média do vento, durante 10 minutos, alcançou 67,3 quilómetros por hora, não ultrapassado o sinal nº8.

Descanso aos pulmões

Quanto à qualidade do ar, a poluição atmosférica diminuiu no ano passado. “O número de dias com qualidade do ar ‘bom’ observado em todas as estações de monitorização de Macau em 2020 foi superior ao registado em 2019. Relativamente ao número de dias com qualidade do ar ‘insalubre’, realça-se que em todas as estações se observaram decréscimos significativos do número de dias.

Em relação às partículas inaláveis em suspensão (PM10) e às partículas finas em suspensão (PM2,5), nenhuma estação registou valores superiores ao respectivo valor padrão em nenhum dia de 2020. Importa referir que as normas de qualidade do ambiente de Macau foram alteradas, tornando-se mais exigentes, mas apenas foram adoptadas oficialmente a partir de 1 de Janeiro de 2021.

Também o consumo global de água diminuiu no ano passado, em relação a 2019, atingindo os 85.515.000 metros cúbicos, uma redução de 7,9 por cento. Ainda assim, o consumo doméstico aumentou 9,4 por cento (42.816.000m3), provavelmente reflectindo a maior permanência de pessoas em casa.

No que diz respeito aos resíduos sólidos urbanos, no ano passado a central de incineração tratou 437.592 toneladas, menos 19,8 por cento em termos anuais. Finalmente, a DSEC dá conta do aumento da densidade populacional em Macau durante 2020, com o registo de 20.800 pessoas por km2, mais 400 pessoas que em 2019.

21 Abr 2021

Alterações climáticas não se corrigem por leis e tratados

“Over the last half-billion years, there have been five mass extinctions, when the diversity of life on earth suddenly and dramatically contracted. Scientists around the world are currently monitoring the sixth extinction, predicted to be the most devastating extinction event since the asteroid impact that wiped out the dinosaurs. This time around, the cataclysm is us.”
Elizabeth Kolbert
The Sixth Extinction: An Unnatural History

 

De acordo com investigações publicadas na revista “Geology”, a Terra está a preparar-se para uma nova extinção em massa. Há anos que temos vindo a ver esses sinais nas notícias. Fenómenos extremos tais como furacões de intensidade crescente, trombas de água, inundações, seca prolongada, frio polar, CO2 na atmosfera, gelo derretido, etc., que são tudo consequências do aquecimento global progressivo. Houve cinco grandes extinções na história da Terra durante as quais mais de metade das espécies animais conhecidas desapareceram. Pelo menos duas parecem ter sido causados por um impacto de meteorito, enquanto as outras foram causadas por uma grande alteração ambiental. A maior extinção em massa foi a extinção do Permiano-Triássico, para a qual há provas de grave aquecimento global, acidificação dos oceanos, e falta de oxigénio.

Ocorreu há cerca de duzentos e cinquenta e dois milhões de anos. Foi o mais grave evento de extinção em massa jamais ocorrido na Terra, com 81 por cento das espécies marinhas e 70 por cento das espécies terrestres a desaparecerem. Haverá uma sexta extinção em massa? Se a temperatura média global atingir 6°C em comparação com os tempos pré-industriais, certamente que sim. Seis graus mudariam o mundo. Desertos por todo o lado, glaciares e calotas polares completamente desaparecidos, grandes regiões costeiras e ilhas submersas, falta de água potável e alimentos, cidades abandonadas ou com mais metros de água, eventos naturais extremos na ordem do dia, extinção de um número muito grande de espécies. A Terra tornar-se-ia irreconhecível para um homem do nosso tempo.

A investigação levada a cabo por um exército de cientistas e estudiosos confirma uma conclusão alarmante. A de que não é possível “corrigir” as alterações climáticas através de leis e tratados circunscritos ou pequenas modificações tecnológicas. É um fenómeno demasiado vasto em termos de espaço, tempo e complexidade. Além disso, as emissões que a provocam são uma consequência bastante directa da superpopulação do planeta, actualmente habitado por cerca de 7,5 mil milhões de pessoas, que dentro de algumas décadas se tornarão quase 10 mil milhões.

Houve inúmeros apelos de cientistas aos quais a “Encíclica Laudato Sì 2015” do Papa Francisco foi acrescentada, pregando o respeito pelo ambiente.

Apelos que infelizmente não foram ouvidos ou subestimados pela política. Os mais importantes e significativos deram-se em 1972, tais como “The Limits of Development”, publicado pelo Clube de Roma e escrito por jovens investigadores do MIT que afirmaram que o planeta é limitado e que o desenvolvimento económico não pode continuar indefinidamente sem colidir com os limites físicos do planeta. A “Union of Concerned Scientists”, em 1992, publica o primeiro “World Scientists’ Warning to Humanity” assinado por mais de mil e quatrocentos cientistas, incluindo muitos vencedores do Prémio Nobel. O documento relatou indicadores alarmantes, desde a desflorestação aos recursos hídricos e ao crescimento populacional, sendo que as actividades humanas estavam a destruir ecossistemas, levando a própria humanidade a uma crise global sem precedentes e em 2017, mais de quinze mil cientistas de cento e oitenta e quatro países assinam um segundo aviso de que “estamos perto de fazer danos irreversíveis ao planeta Terra”.

A Terra é um dos nove planetas do Sistema Solar, o único desse sistema onde a vida criou raízes, mas em troca é de uma beleza inimaginável, pois é rica em água e recursos naturais, a biodiversidade atingiu níveis muito elevados e existem inúmeras espécies vegetais e animais, as zonas climáticas são tão variadas que todas estão representadas, a inclinação do eixo da Terra faz com que as estações do ano variem em todos os cantos deste mundo, os oceanos cobrem dois terços do globo e a Terra está dividida em cinco continentes com um enorme número de rios, lagos, montanhas e florestas. Quando se chega perto do planeta, aparece um azul intenso manchado pelo verde e castanho da terra e pelo branco das formações de nuvens. Em suma, um espectáculo que nos deixa literalmente sem fôlego.

O problema é que nesse planeta uma espécie tomou a liderança, cujas características estão a pôr em perigo a existência do próprio planeta e das suas formas de vida. Esta espécie, segundo muitos derivada de uma família de animais primitivos chamados macacos, é chamada “Homem”. O Homem acredita ser superior a outros animais, mas na realidade é o ser mais feroz e sangrento que evoluiu na face da Terra. Os animais matam apenas por comida e por vezes para se defenderem. O homem, por outro lado, mata apenas pelo prazer de matar e gosta de torturar outros tanto física como psicologicamente. Só para dar um exemplo, na sua história recente, no período da II Guerra Mundial, havia um personagem chamado Adolfo Hitler, que sob o pretexto de purificar a raça, assassinou literalmente à escala industrial seis milhões de pessoas só porque o incomodavam por terem ganho poder nos campos económico e financeiro.

Depois, para não ser demasiado conspícuo, até queimou os seus corpos! Um total de cinquenta e cinco milhões de pessoas pereceu nessa guerra. Os vários povos estão sempre em guerra uns com os outros pela sede de poder e dinheiro dos seus líderes políticos e os períodos de paz servem na realidade para preparar as forças para conduzir uma nova guerra. O homem inventou e acumulou armas tão destrutivas que são suficientes para destruir o seu mundo dezenas de vezes e como se isso não fosse suficiente fabricaram armas químicas e bacteriológicas que poderiam causar grandes epidemias e sofrimento a milhões de pessoas. Mas os homens não são todos iguais, pois houve homens extremamente maus como Hitler, mas também houve homens profundamente bons como S. Francisco. No meio, encontram-se todas as “nuances” possíveis. Infelizmente os ímpios prevalecem sobre os bons porque são mais ricos e têm nas suas mãos as alavancas do poder.

A lei do mais forte prevalece. Segue-se que tanto a nível individual como nacional, os ricos estão a ficar mais ricos e os pobres estão a ficar mais pobres. Há pessoas que são tão ricas que nunca poderão gastar o seu dinheiro em toda a sua vida. Mas se pensa que estas pessoas estão felizes, está enganado. Também estão infelizes porque querem sempre mais. Dois terços dos habitantes da Terra, por outro lado, têm pouco ou nada e todos os dias milhares morrem de fome, enquanto nos países avançados morrem pela razão oposta. O que é realmente louco é como ainda não compreenderam que se os enormes esforços e investimentos feitos para os exércitos e armamentos fossem utilizados para o progresso dos países mais pobres e para a investigação científica, o mundo seria mais justo, pacífico e próspero e, portanto, não haveria necessidade de exércitos.

Estão tão cegos pelo egoísmo e tão sedentos de dinheiro e poder que não conseguem ver para além dos seus próprios narizes. Não conseguem fazer planos a longo prazo mas, em vez disso, querem ter tudo e agora, sem se preocuparem muito com as consequências das suas acções, não só para os seus filhos e para as gerações vindouras, mas até para si próprios. Os poucos que se preocupam com o estado actual das coisas e o futuro, se ousarem fazer algo para mudar o mundo no melhor dos casos, não são levados em consideração ou são rotulados como idealistas, sonhadores, utópicos, pessoas fora do mundo e da realidade. Mas não só o Homem está a destruir-se a si próprio, pois o que é ainda mais grave é que está a pilhar, a poluir e a destruir o ambiente em que vive e a fazer muito pouco para remediar estes problemas, de tal forma que milhares de espécies animais e vegetais estão a ser extintas a um ritmo implacável todos os anos e dentro de algumas décadas mais de 60 por cento das espécies vivas terão desaparecido. Estão a ocorrer eventos climáticos cada vez mais violentos, as florestas estão a ser queimadas, os desertos estão a avançar, os glaciares estão a derreter.

Mas o que é ainda mais grave, é que foi desencadeado um processo de aquecimento global que, se não intervirmos imediatamente, conduzirá a uma extinção em massa e a imensas catástrofes que tornarão a Terra inacessível durante milhares de anos! Muitos pensam que podem conter o aumento médio da temperatura global dentro de 2 por cento, mas estão muito enganados porque os governos nunca serão capazes de pôr em prática as medidas que seriam necessárias, porque são impopulares. Para os políticos são os votos que obtêm que contam e só procuram obter mais votos para as próximas eleições, pelo que têm o cuidado de não implementar políticas que seriam necessárias para o bem do planeta, mas que exigem sacrifícios da população. Mas mesmo os cidadãos têm os seus defeitos devido ao egoísmo e ao individualismo que prevalecem, não querendo desistir de nada.

A COVID-19 infelizmente não trouxe ainda mudanças nessa mentalidade. Se não forem capazes de intervir drasticamente dentro de alguns anos para conter o aumento médio da temperatura global, e duvido muito que o façam, serão desencadeados automatismos naturais que levarão a um aumento da temperatura de pelo menos seis graus em poucas décadas e deixará de ser possível parar o processo mesmo que reduzamos a emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera a zero. Um aumento de seis graus seria verdadeiramente catastrófico e a Terra, neste momento tão bela, tornar-se-ia irreconhecível! Para agravar a situação a população mundial está continuamente a aumentar e fora de controlo.

À medida que o planeta se aquece, animais grandes e pequenos, na terra e no mar, se dirigem aos polos para fugir do calor, o que significa que estão a entrar em contacto com outros animais, que normalmente não fariam, o que cria uma oportunidade para os patógenos entrarem em novos hospedeiros. Muitas das causas profundas das alterações climáticas também aumentam o risco de pandemias. O desmatamento, que ocorre principalmente para fins agrícolas, é a maior causa de perda de habitat em todo o mundo. A perda de habitat força os animais a migrar e, potencialmente, entrar em contacto com outros animais ou pessoas e compartilhar germes. As grandes áreas de criação de gado também podem servir como fonte de disseminação de infecções de animais para pessoas.

A menor procura de carne animal e criação de animais mais sustentável podem diminuir o risco de doenças infecciosas emergentes e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Em locais onde a poluição do ar é um problema rotineiro, devemos prestar atenção especial aos indivíduos que podem estar mais expostos ou vulneráveis ​​do que outros ao ar poluído, como os sem-abrigo, os que não têm filtragem de ar em suas casas ou aqueles cuja saúde está comprometida. Esses indivíduos podem precisar de mais atenção e apoio do que precisavam mesmo antes do surgimento do coronavírus. Ainda não temos uma noção do que a mudança do tempo significará para a COVID-19 e, portanto, não devemos depender de um clima mais quente para reduzir as transmissões.

É preciso fazer tudo o que pudermos para retardar a propagação desta doença, o que significa que precisamos seguir os conselhos que os especialistas em saúde pública estão a dar-nos e praticar o distanciamento social, boa higiene das mãos, uso das máscaras, entre outras ações. As alterações climáticas tornaram as condições mais favoráveis ​​à propagação de algumas doenças infecciosas, incluindo a doença de Lyme, doenças transmitidas pela água, como Vibrio parahaemolyticus, que causa vómitos e diarreia, e doenças transmitidas por mosquitos, como malária e dengue. Os riscos futuros não são fáceis de prever, mas as alterações climáticas afectam fortemente várias frentes que importam quando e onde os patógenos aparecem, incluindo os padrões de temperatura e precipitação.

Para ajudar a limitar o risco de doenças infecciosas, devemos fazer tudo o que pudermos para reduzir amplamente as emissões de gases de efeito estufa e mesmo assim tentar limitar o aquecimento global a 1,5 grau. Observamos uma tendência de maior surgimento de doenças infecciosas nas últimas décadas. A maioria dessas doenças chegou às pessoas a partir de animais, especialmente animais selvagens. Essa tendência tem muitas causas. Temos grandes concentrações de animais domesticados em todo o mundo, alguns dos quais podem ser o lar de patógenos, como a gripe, que pode deixar as pessoas doentes. Também temos grandes concentrações de pessoas em cidades onde doenças transmitidas por espirros podem encontrar terreno fértil. E temos a capacidade de viajar ao redor do globo em menos de um dia e compartilhar germes amplamente.

Mas uma observação mais atenta acerca das origens da COVID-19 revela que outras forças podem estar em jogo. No século passado, aumentamos a nossa procura sobre a natureza, de modo que estamos a perder espécies a uma taxa desconhecida desde que os dinossauros, junto com metade da vida na Terra, foram extintos há sessenta e cinco milhões de anos. Este rápido desmantelamento da vida na Terra deve-se principalmente à perda de habitat, que ocorre principalmente com o cultivo de plantações e criação de gado e com menos lugares para morar e menos fontes de alimento para se alimentar, os animais encontram alimento e abrigo onde as pessoas estão, e isso pode levar à propagação de doenças. Outra causa importante da perda de espécies é as alterações climáticas, que também pode mudar o local onde os animais e as plantas vivem e afectá-lo, onde as doenças podem ocorrer.

Historicamente, crescemos como espécie em parceria com as plantas e animais com os quais vivemos. Quando mudamos as regras do jogo alteramos drasticamente o clima e a vida na Terra, e devemos esperar que afecte a nossa saúde. Podemos fazer muitos investimentos inteligentes para evitar outro surto. As instituições internacionais e nacionais podem apoiar a liderança em saúde pública e a ciência, podemos fornecer mais financiamento para as pesquisas necessárias, resposta precoce a surtos e suprimentos para testes. E podemos fazer muito mais para controlar o comércio ilegal de animais selvagens. Também precisamos tomar medidas climáticas para prevenir uma próxima pandemia, como prevenir o desmatamento que é uma causa fundamental das alterações climáticas e pode ajudar a conter a perda de biodiversidade, bem como a retardar as migrações de animais que podem aumentar o risco de propagação de doenças infecciosas. A recente epidemia de “ébola” na África Ocidental provavelmente ocorreu em parte porque os morcegos, que transmitiam a doença, foram forçados a mudar-se para novos habitats porque as florestas onde viviam foram derrubadas para o cultivo de palmeiras. Para combater as alterações climáticas, precisamos de diminuir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.

Gerar eletricidade a partir de fontes de energia com baixo teor de carbono, como eólica e solar, diminui os poluentes atmosféricos prejudiciais, como óxidos de nitrogênio, dióxido de enxofre e dióxido de carbono, que levam a mais ataques cardíacos e derrames, bem como obesidade, diabetes e mortes prematuras que colocam mais tensões nossos sistemas de saúde. A preparação para pandemias também envolve manter as pessoas saudáveis ​​no início do estudo.

Se tivermos uma população nos Estados Unidos em que um terço de nossa população seja obesa e 5 a 10% das pessoas tenham diabetes, seremos imensamente mais vulneráveis. E se você observar por que as pessoas nos Estados Unidos não são saudáveis ​​no início, isso tem a ver com nossa dieta, poluição e mudança climática.

Temos aqui a oportunidade de reconhecer que a prevenção é, de longe, a melhor abordagem para proteger a saúde. Pessoas com condições crónicas de saúde, de baixa renda e comunidades de cor são desproporcionalmente impactadas pelo COVID-19 e pela mudança climática, e a poluição está no centro de ambos os problemas, como confirma um novo estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard TH Chan. Sabemos que as comunidades afro-americanas estão desproporcionalmente expostas à poluição do ar e agora estamos vendo essa poluição levando a taxas de mortalidade mais altas de COVID-19. Devemos melhorar a saúde a todos e fazemos isso reduzindo as fontes de poluição que geram uma grande carga de doenças nos Estados Unidos e em todo o mundo.

A superpopulação corre o risco de sufocar ainda mais o planeta com uma maior utilização de recursos, mais poluição e emissão de gases com efeito de estufa. Em vez de explorarem os amplos espaços disponíveis, tendem a concentrar-se em cidades cada vez maiores e a qualidade de vida deteriora-se drasticamente. É difícil compreender como podem lá viver. A sua economia não tem em conta os custos sociais e ecológicos dos produtos e serviços. O consumo aumenta constantemente com grande desperdício e considerável poluição do ar, água e do solo. Em vez de serem reutilizados e reciclados, produzem objectos que duram pouco mais tempo ou são mesmo descartados imediatamente após a sua utilização. De vez em quando há uma cimeira mundial sobre os problemas da terra e a preservação do ambiente que serve mais do que qualquer outra coisa para fazer os eleitores acreditarem que algo está a ser feito. Na realidade, estas reuniões servem apenas para fazer umas boas férias, porque os países participantes nunca concordam e as poucas e limitadas resoluções que são tomadas são desconsideradas. Assim, tudo permanece como antes e a solução dos problemas é adiada para a próxima cimeira.

A civilização na terra é actualmente baseada na electricidade. Toda a sua indústria, serviços e os transportes não poderiam funcionar sem energia eléctrica. Os motores das fábricas parariam, os computadores deixariam de funcionar, as comunicações deixariam de ser possíveis e mesmo os veículos de combustão parariam sem electricidade. Mas não só, mesmo as armas mais modernas não poderiam ser utilizadas pois os aviões, navios, submarinos, mísseis, armas nucleares, todos têm uma parte electrónica mais ou menos importante que deixaria de funcionar. Até as donas de casa teriam de voltar a lavar a roupa e a loiça à mão. Em suma, sem electricidade, a Terra voltaria à Idade Média. Ainda que a solução seja idealista demais, em mundo em que a pandemia seja controlada e que poderá levar anos, deve passar pela consideração de que a primeira acção é obviamente trazer a paz à Terra para evitar mais destruição e sofrimento.

31 Mar 2021

Os peixes já não respiram

[dropcap]T[/dropcap]odos nós já ouvimos falar do que se está a passar nos oceanos. A falta de civismo dos homens, a falta de infra-estruturas, as fábricas que despejam produtos químicos para os rios, os piqueniques nas praias e nas margens dos rios, os navios que descarregam o lixo e lavam o seu interior deitando os detritos para o mar têm constituído as principais razões para que a poluição marítima comece a colocar a saúde dos humanos em perigo. Todos os que se dedicam ao mergulho sabem bem do que estamos a escrever. As águas dos rios e do mar estão a ficar um caos e têm sido inúmeras as vezes em que aparecem peixes mortos ao cimo das águas.

Estamos perante um verdadeiro crime ecológico. Os peixes já se alimentam de plástico e de produtos tóxicos. Alguns já nem conseguem respirar e morrem. O tio Alfredo é um pescador que assiduamente levanta-se de madrugada para ir à pesca, conforme as horas das marés o permite. Levanta-se cedo, pega no seu material de pesca e aí vai ele para a beira do rio Tejo.

– Então, tio Alfredo, isto está a dar ou não?
– Viva, amigo! Isto já não é o que era… antes até o robalinho apanhava aqui, agora nem vê-los…
– Mas tem visto aí uns golfinhos? Quer dizer que as águas estão mais limpas?
– Não, amigo. Os golfinhos aparecem porque andam cheios de fome e vêm atrás dos cardumes e rapidamente se vão embora porque sentem que as águas estão cheias de porcaria que não “lhes cheira bem”… tá-me a perceber?
– Parece que sim, tio Alfredo. Está a dizer-me que o que vem pelo rio abaixo chega aqui perto da foz e nota-se que os peixes não andam nada felizes…
– É isso mesmo. O peixe já não tem a mesma qualidade e agora ainda pior com essa história dos “aviários” que têm feito por todo o lado… aquilo é só farinha e o peixe não vale nada… ainda vou preferindo estes que ficam aqui nos meus anzóis…

O problema é grave e quem nos governa até tem ministros das Pescas. Que não servem para nada a não ser a preocupação dos licenciamentos de bons hotéis à beira da costa marítima… As organizações relacionadas com a defesa do ambiente tudo têm feito para que os rios e o mar possam ser alvo de uma acção musculada e efectiva. Normalmente falam para as paredes. Vamos ao rio Guadiana, ouvimos queixas. Vamos ao Mondego, as mesmas queixas. No Douro nem se fala. Num dos maiores rios navegáveis o factor ambiental está a tornar-se um crime. Como é possível que cada ano sejam licenciados mais barcos para navegar no Douro a fim de transportar turistas. E o ambiente marítimo? Nem se fala nisso. Os barcos são de os mais variados portes e até já existem navios-hotéis. Os motores das embarcações fazem uma barulheira que eles pensam que não incomoda os milhares de peixes que estão no fundo das águas. Os barcos a gasóleo largam resquícios de óleo e deitam uma fumarada que até o ambiente exterior fica conspurcado. No rio Douro é uma pena que a família piscícola não seja defendida. Peixes mortos aparecem todas as semanas de verão, altura em que os barcos são aos montes.

Mas, não haverá alternativa para estas embarcações a gasóleo que navegam por todo o país? Felizmente existe, mas as autoridades governamentais e os empresários que deviam ser obrigados a mudar de paradigma assobiam para o lado. Portugal tem um dos melhores estaleiros do mundo, em Olhão no Algarve, onde são construídos navios de todas as dimensões e que são movidos com baterias eléctricas e à base da energia solar. Energia solar? É verdade, amigos, num país como o nosso cheio de sol, os barcos que saem daquele estaleiro têm sido a alegria dos seus compradores. Já vai havendo alguns a navegar, mas o rio Douro, o lago Alqueva, o rio Tejo e tantas barragens existentes por todo o país mereciam uma legislação oficial que fosse obrigatória na aquisição de navios a energia solar. Nada melhor para o ambiente. Silenciosos e nada poluentes. Quem está satisfeito é o governo da Madeira que encomendou uma embarcação para cerca de 400 pessoas e para realizar o trajecto Funchal-Porto Santo. E por que não, o governo nacional não obrigar os empresários do Douro, Tejo, Guadiana e barragens a adquirir barcos a energia solar? Por que razão o governo prepara-se para adquirir novas embarcações, no valor de milhões de euros, para a travessia Lisboa-Barreiro e vai escolher embarcações poluentes? Ainda por cima a Sun Concept, a empresa portuguesa que está a desenvolver embarcações electro-solares inovadoras e sustentáveis está a exportar para vários países, nomeadamente para a Alemanha. Por que não dar a ganhar dinheiro a uma empresa portuguesa e defender o ambiente onde vivemos e onde os peixes já nem conseguem respirar?…

*Texto escrito com a ANTIGA GRAFIA

8 Nov 2020

Encontradas 239 garrafas de plástico na costa de Macau

Nem só de paisagem natural é composta a costa. A Ocean Conservancy revela que no ano passado se encontraram mais de nove mil toneladas de lixo por todo o mundo. Nas praias de Macau foram encontrados 1.999 itens, que perfazem um total de 133 quilos de lixo

 

[dropcap]A[/dropcap]s embalagens de comida foram o lixo mais comum encontrado nas praias em 2019. Foram recolhidas por mais de 900 mil voluntários cerca de 4,7 milhões destas embalagens, espalhadas por mais de 100 países e regiões. Os dados são do relatório de 2020 da Organização Não-Governamental Ocean Conservancy, que no caso de Macau revela que as garrafas de plástico foram o lixo mais encontrado.

Na RAEM, participaram 110 pessoas na limpeza anual das praias no ano passado, mais dez do que no ano anterior. Limparam 0.4 quilómetros de costa, ao longo dos quais encontraram 1.999 itens, que representam 133 quilos de lixo. Em 2018, em 0.5 quilómetros tinham sido recolhidos 358 quilos.

O relatório agora divulgado revela que foram encontradas na costa de Macau 239 garrafas de plástico, 198 pacotes de comida, 184 tampas de garrafas de plástico e 108 embalagens de take-away. Mas o top 10 de produtos que dão à costa também abrangem pontas de cigarro, palhinhas, sacos de compras e outro tipo de lixo de plástico.

Há elementos que remetem para a actividade humana a ser encontrados por praias de todo o mundo, e que não se cingem ao plástico. Entre os objectos mais invulgares, a Ocean Conservancy dá conta de um gnomo de jardim encontrado no Japão, uma boca de incêndio na Indonésia, uma tábua de passar a ferro na Venezuela, um saco de golfe na Noruega, um sofá no México e uma bota de esqui no Canadá.

Acção colectiva

No geral, o lixo encontrado no ano passado representa mais de nove mil toneladas. Foram recolhidos talheres de plástico suficientes para servir uma refeição de três pratos a 66 mil pessoas, linha para pescar a 55 milhas (cerca de 88 quilómetros) acima da superfície e um número astronómico de palhinhas.

A curta distância geográfica está a terceira localização com mais participantes no programa. Só em Hong Kong, 63.125 voluntários recolheram 4,56 milhões de quilos das praias. Um valor que representa 48 por cento do total. Por sua vez, uma extensão de 86 quilómetros de costa na China ficou mais limpa, com a recolha de mais de 143 mil itens. As garrafas de plástico foram a presença mais comum.

“O Dia Internacional de Limpeza da Costa foi sempre sobre comunidade, e o poder da acção colectiva em fazer a diferença. Em média cada voluntário recolhe [cerca de 10 quilos] de lixo, mas juntos enquanto Equipa Oceano, removemos milhões”, escreve a directora executiva da Ocean Conservancy, Janis Searles.

10 Set 2020

Apelos a mais inspecção e civismo devido a lixo nos trilhos de Coloane

A poluição nos trilhos de Coloane continua a deixar marcas. Membros do Conselho de Serviços Comunitários das Ilhas defendem o envio de mais agentes para inspecção dos trilhos. Para além da protecção da natureza, também foram apontadas preocupações ao aumento da dificuldade das tarefas dos trabalhadores de limpeza

 

[dropcap]U[/dropcap]m trio de membros do Conselho de Serviços Comunitários das Ilhas defende que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) deve reforçar o número de agentes para inspecções não periódicas nos trilhos mais populares de Coloane. A ideia é dar uma lição de educação cívica a quem deixa lixo no chão, aplicando sanções em caso de necessidade, noticiou o Ou Mun.

Ng Chi Lung, U Chi Lek Patrício e Lam Ka Chun querem também que o IAM afixe mais avisos a sensibilizar quem percorre os trilhos para a importância de valorizar o ambiente e para evitar deitar lixo fora. Para além disso, querem que os visitantes aprofundem o seu conhecimento, sugerindo para tal efeito a criação de placas com informação geológica.

Os membros do Conselho de Serviços Comunitários das Ilhas, receberam queixas de moradores relativamente ao lixo encontrado nos trilhos, e na costa quando a maré alta traz para terra materiais como sacos e garrafas de plástico. Situação para a qual pedem a intervenção dos serviços.

Note-se que durante a pandemia, os trilhos em Coloane passaram a ter maior afluência, por exemplo os trilhos do Altinho de Ká Hó e à Beira-Mar de Long Chao Kok de Hac Sá.

De acordo com o jornal Ou Mun, os membros do conselho visitaram os locais e verificaram que havia lixo em zonas mais densas, o que aumenta a dificuldade da tarefa dos trabalhadores de limpeza. E reconheceram que o volume de lixo aumentou recentemente entre cinco a dez vezes, enquanto a frequência de limpeza aumentou para duas a três vezes por dia, em vez de uma semanal.

Uma publicação de Agnes Lam nas redes sociais alertou para o mesmo problema. A deputada observa que há mais pessoas na zona de montanha, e que há quem deixe lixo à beira da estrada, podendo ver-se nos trilhos de Coloane garrafas, papel e pacotes de comida. Mostrou-se ainda “preocupada” com quem limpa a área. “Os trabalhadores de limpeza trabalham sob o sol, e a subir e descer a montanha para trazer todo o lixo”, descreveu.

A deputada considera que apesar de a RAEM ser rica e poder contratar pessoas para fazerem a limpeza do espaço é necessária uma abordagem pedagógica. “Temos de educar as pessoas e elas devem trazer o seu próprio lixo consigo quando vêm da montanha”, aponta. Em linha com essa ideia está a sua defesa de que o Governo pode tentar retirar alguns caixotes de lixo dos trilhos. “É conveniente para as pessoas deitarem fora o lixo, mas também as encoraja a deitar fora”, explicou.

O que dá à costa

No último fim-de-semana, o grupo Macau ECOnscious divulgou que numa acção de limpeza da costa removeram cerca de 300 quilos de lixo, incluindo esferovite, plástico e objectos grandes. “O lixo que retiramos é inferior à quantidade de lixo que o mar traz para a costa”, indica Gilberto Camacho, um dos impulsionadores do grupo.

No seu entender, a situação é difícil de resolver e prende-se com educação. “O problema é uma questão de educação e de prioridade de quem está no Governo. Vivemos numa Era em que a prioridade do Governo não deveria ser a economia, mas o ambiente. Porque sem um bom ambiente deixaremos de ter o chão para usufruirmos de uma boa economia”, explica. Apesar disso, Gilberto Camacho reconhece haver maior consciencialização das pessoas, e boa adesão a políticas como a criação de tarifas para sacos de plástico.

20 Mai 2020

Poluição baixou até 39% depois do Ano Novo Chinês

À semelhança de outras partes do mundo, a qualidade do ar em Macau também melhorou com o impacto do novo tipo de coronavírus. Trinta dias depois do Ano Novo Chinês, registou-se um aumento de 190% dos dias com boa qualidade do ar, em comparação com o mesmo período de tempo antes dos feriados

 

[dropcap]O[/dropcap] impacto do novo tipo de coronavírus traduziu-se em cidades isoladas, negócios fechados e restrições a viagens. A paragem económica e social provocada pela crise de saúde pública tem sido associada ao decréscimo da poluição do ar em diferentes pontos do mundo. Dados da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) mostram sinais do mesmo fenómeno em Macau. Entre 26 de Dezembro e 24 de Janeiro, registaram-se nove dias com boa qualidade do ar. Nos 30 dias seguintes, esse número subiu para 26, o que representa um aumento de 190 por cento.

“Verificou-se que após o Ano Novo Chinês, as concentrações médias de PM 2,5 e dióxido de azoto (NO2) apresentaram uma descida significativa sendo que os principais motivos foram a diminuição do fluxo de tráfego e a redução da emissão de gases provenientes de veículos automóveis”, indicam informações na página online do organismo. Ainda assim, os SMG apontam que a variação não se pode explicar apenas de uma perspectiva, já que as condições meteorológicas também afectam a qualidade do ar.

No caso das partículas PM 2,5 a descida foi de 39 por cento, enquanto a concentração média do dióxido de azoto baixou 29 por cento. O dióxido de azoto é um gás que vem sobretudo da queima de combustíveis fósseis, como nos motores de veículos ou processos industriais, e pode levar a problemas do foro respiratório.

De acordo com a Agência Espacial Europeia, dados de um satélite do programa Copernicus mostram que algumas cidades registaram uma diminuição de 45 a 50 por cento nos índices de dióxido de azoto, em comparação com o ano passado.

Os SMG indicam ainda que com a redução generalizada de actividades sociais depois do Ano Novo Chinês era expectável que o dióxido de carbono diminuísse ligeiramente.

Fecho dos casinos

Thomas Lei, um aluno de doutoramento da Universidade de São José (USJ), disse ao HM que “com o fecho dos casinos vimos uma quebra muito significativa de todos os poluentes em Macau”.

Durante os 15 dias em que os casinos fecharam em Fevereiro, como parte das medidas preventivas emitidas pelo Governo para prevenir a propagação da covid-19, a concentração de partículas PM 2.5 diminuiu para valores muito baixos. No entanto, desde que as restrições foram levantadas os valores têm recuperado. “Devagarinho vai voltar ao normal, porque tudo está a retomar”, comentou Thomas Lei, reiterando que “a suspensão das actividades sociais realmente melhorou a qualidade do ar”.

Questionado sobre o que pode a RAEM fazer para manter os níveis de poluição mais baixos, apontou para o exemplo das medidas tomadas na Europa. O estudante deu como exemplo a criação de zonas de baixa emissão em Lisboa como, por exemplo, a Avenida da Liberdade onde não podem circular carros com mais de oito anos. “O Governo pode definir algo assim, talvez na Rua do Campo ou áreas muito congestionadas em Macau”, observou.
Para além disso, o doutorando sugere mais incentivos na compra de veículos eléctricos e no uso de transportes públicos.

De acordo com uma resposta dada pela Sociedade do Aeroporto de Macau (CAM) ao HM em Março, devido à situação epidémica, o número de voos de Macau reduziu desde o final de Janeiro. “As companhias aéreas cancelaram cerca de 90 por cento dos voos e estão agora a operar cerca de 20 voos por dia.” O cancelamento de viagens de avião, no entender de Thomas Lei, também faz diferença. A esse nível, apontou que se pode encorajar mais trabalho remoto para diminuir a quantidade de viagens.

20 Abr 2020

China | Metas de redução de emissões de carbono atingidas antes do previsto

[dropcap]P[/dropcap]equim anunciou ontem que cumpriu, antes do previsto, a sua meta de redução das emissões de carbono para 2020, à medida que o país reduz a dependência de energias fósseis e investe em energias renováveis.
Segundo um relatório publicado ontem pelo ministério chinês da Ecologia e do Meio Ambiente, as emissões de CO2 da China por unidade do PIB [Produto Interno Bruto] caíram 4 por cento, no ano passado, em relação ao ano anterior, e 45,8 por cento, face a 2005.
O vice-ministro Zhao Yingmin considerou que aquele resultado “foi conquistado com muito esforço, através do trabalho de promoção da economia verde e de baixa emissão de carbono”.
Embora se tenha tornado mais eficiente, a China quase triplicou as suas emissões, entre 2000 e 2018, à medida que a economia do país cresceu a um ritmo acelerado.
A China continua a ser o maior emissor de gases poluentes do mundo, mas tornou-se também o mercado líder em painéis solares, turbinas eólicas e veículos eléctricos, e o maior fabricante mundial de painéis solares.
Segundo Zhao Yingmin, 14,3 por cento da energia consumida actualmente na China advém de fontes não fósseis. “Continuamos a enfrentar desafios no desenvolvimento da nossa economia, a melhorar o nível de vida da população, a reduzir a pobreza e a limpar o nosso meio ambiente”, apontou Zhao.
O vice-ministro garantiu que a China continuará a respeitar os seus compromissos de redução das emissões de carbono, estipulados no Acordo de Paris para as alterações climáticas.
Face ao recuo dos Estados Unidos no combate ao aquecimento global, que incluiu a retirada do Acordo de Paris, a China tem assumido a liderança nesta matéria, parte da sua ambição em ter maior preponderância em questões globais.
O país asiático, que é o maior emissor de gases poluentes do mundo, prometeu atingir o pico nas emissões de dióxido de carbono até 2030 e imediatamente reduzir a intensidade total do carbono entre 60 por cento e 65 por cento, face ao nível de 2005.

28 Nov 2019

China | Metas de redução de emissões de carbono atingidas antes do previsto

[dropcap]P[/dropcap]equim anunciou ontem que cumpriu, antes do previsto, a sua meta de redução das emissões de carbono para 2020, à medida que o país reduz a dependência de energias fósseis e investe em energias renováveis.

Segundo um relatório publicado ontem pelo ministério chinês da Ecologia e do Meio Ambiente, as emissões de CO2 da China por unidade do PIB [Produto Interno Bruto] caíram 4 por cento, no ano passado, em relação ao ano anterior, e 45,8 por cento, face a 2005.

O vice-ministro Zhao Yingmin considerou que aquele resultado “foi conquistado com muito esforço, através do trabalho de promoção da economia verde e de baixa emissão de carbono”.

Embora se tenha tornado mais eficiente, a China quase triplicou as suas emissões, entre 2000 e 2018, à medida que a economia do país cresceu a um ritmo acelerado.

A China continua a ser o maior emissor de gases poluentes do mundo, mas tornou-se também o mercado líder em painéis solares, turbinas eólicas e veículos eléctricos, e o maior fabricante mundial de painéis solares.

Segundo Zhao Yingmin, 14,3 por cento da energia consumida actualmente na China advém de fontes não fósseis. “Continuamos a enfrentar desafios no desenvolvimento da nossa economia, a melhorar o nível de vida da população, a reduzir a pobreza e a limpar o nosso meio ambiente”, apontou Zhao.

O vice-ministro garantiu que a China continuará a respeitar os seus compromissos de redução das emissões de carbono, estipulados no Acordo de Paris para as alterações climáticas.

Face ao recuo dos Estados Unidos no combate ao aquecimento global, que incluiu a retirada do Acordo de Paris, a China tem assumido a liderança nesta matéria, parte da sua ambição em ter maior preponderância em questões globais.

O país asiático, que é o maior emissor de gases poluentes do mundo, prometeu atingir o pico nas emissões de dióxido de carbono até 2030 e imediatamente reduzir a intensidade total do carbono entre 60 por cento e 65 por cento, face ao nível de 2005.

28 Nov 2019

Poluição | DSAMA não sabe de onde vem o lixo das praias

[dropcap]A[/dropcap]gnes Lam quis saber de onde provém o excesso de lixo a flutuar nas águas costeiras, e quais os mecanismos de cooperação com as regiões vizinhas para garantir a protecção ambiental das zonas balneares.

A DSAMA, respondeu à interpelação da deputada esclarecendo que o lixo das praias é composto por “plantas, galhos secos, tábuas de madeira, plásticos” que, pela grande variedade, “é difícil identificar a sua origem”, acabando no areal de Hác-Sá ou de Cheoc Van, consoante os ventos sejam de leste ou de sul.

Sempre que se verifica uma acumulação em excesso de resíduos, como acontece em caso de passagem de tufões ou tempestades, as acções de limpeza são reforçadas, com mais recursos humanos e dispositivos técnicos, garante a DSAMA, que tem divulgado a informação e comunicado avisos à população através da sua página electrónica.

Os responsáveis acrescentaram ainda que tem havido cooperação estreita com os serviços competentes vizinhos sobre protecção ambiental, nomeadamente nos casos recentes do “aparecimento de cadáveres de golfinhos-corcunda-indopacíficos”, cuja investigação está a ser acompanhada pela província de Guangdong e as autoridades de Zhuhai.

19 Ago 2019

Ambiente | Ho Ion Sang quer menos poluição nas águas costeiras

[dropcap]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang pediu por interpelação escrita mais atenção para o problema dos micro-plásticos e para a protecção da biodiversidade marinha em Macau, solicitando esclarecimentos do Governo sobre os estudos e testes à poluição por micro-plásticos no território.

Ho Ion Sang salientou que os danos e a poluição das águas costeiras não podem ser ignorados. Segundo o Relatório do Estado do Ambiente de Macau, “nos últimos dez anos, o índice de avaliação da exposição não metálica apresentou uma tendência crescente e ultrapassou os valores-padrão. E os índices de eutrofização [mudança de cor] das águas costeiras subiram”, citou.

Ho Ion Sang quer saber o que o Executivo vai fazer para controlar a situação, qual o progresso da pesquisa sobre micro-plásticos nas drenagens e se vai alargar os testes até às praias. Outra preocupação do deputado é a capacidade de filtragem destes materiais pelas Estações de Tratamento de Águas Residuais e o resultado da investigação à morte dos dois golfinhos encontrados nas águas de Macau.

12 Jul 2019

Países do Sudeste Asiático comprometem-se a combater poluição dos oceanos

[dropcap]O[/dropcap]s países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), assinaram no sábado um compromisso, sem precedentes, para lutarem em conjunto contra a poluição dos oceanos.

A ASEAN, que inclui Indonésia, Malásia, Singapura, Tailândia, Filipinas, Brunei, Vietname, Laos, Myanmar e Camboja, é o 5.º maior bloco do mundo, atrás da União Europeia, dos Estados Unidos, da China e do Japão. Esta associação representa 9% da população mundial, quase 650 milhões de habitantes.

Apenas cinco países asiáticos (China, Indonésia, Filipinas, Vietname e Tailândia) são responsáveis por mais da metade dos oito milhões de toneladas de plástico descartados anualmente nos oceanos no mundo, de acordo com um relatório de 2017 da organização não-governamental Ocean Conservancy.

Na “Declaração de Banguecoque sobre a luta contra a poluição marinha na ASEAN”, adoptada este sábado, os dez países da organização comprometem-se a “reduzir significativamente os detritos marinhos” produzidos nos seus territórios.

Contudo, como frequentemente acontece nos documentos da ASEAN, não está estabelecida nenhuma medida concreta. Activistas ambientais, que denunciam há anos a falta de uma política de preservação ambiental, incluindo o compromisso dos governos da região contra o uso de produtos plásticos, estão cépticos em relação a este documento

“Se não reduzirmos o uso de plásticos descartáveis esta declaração não vai funcionar, disse à AFP a activista do Greenpeace Tailândia Tara Buakamsri.

23 Jun 2019

Agnes Lam pede ao Governo medidas para combater lixo na costa

[dropcap]A[/dropcap] má qualidade e o lixo que se acumula nas águas costeiras de Macau é o mote para que Agnes Lam questione o Governo acerca das medidas que tenciona tomar para combater a poluição.

Em interpelação escrita, a deputada salienta o aumento dos resíduos que diariamente se acumulam na praia de Hac Sa, em especial depois de na semana passada a situação ter sido particularmente grave. Além do lixo, acresce o problema da propagação de bactérias. A situação não é nova, apontou, e “no passado, após tempestades, existia muito lixo na praia e encontravam-se muitos resíduos a flutuar nas águas”.

No entanto, as autoridades estão em falta, quer por não investigarem as fontes destes resíduos, quer por não apresentarem nenhum plano para a resolução da situação a longo prazo.

Entretanto, este tipo de incidentes, em que existe grande afluência de resíduos na costa local, normalmente passam despercebidos e à margem da agenda do Executivo, sendo apenas alvo atenção quando a população ou os órgãos de comunicação social fazem queixa, algo que para a deputada é lamentável.

De acordo com Lam, o Governo deve fazer um acompanhamento constante no que respeita à situação da poluição das praias e águas de Macau de modo a evitar que estas marés poluentes atinjam o território. Mas, a atitude do Governo tem sido a de “’chorar sobre leite derramado’ sem acção de combate e prevenção de situações idênticas no futuro”.

Qualidade em baixas

Lam recorda a classificação dos relatórios à qualidade da água de 2017 e 2018 que classificam as águas costeiras como sendo “de má qualidade”, admitindo mesmo “alguns casos de muito má qualidade”.

Tendo em conta estes dados, é fácil concluir que o Governo tem “muito que fazer para melhorar o estado de conservação da natureza costeira” e que deve implementar medidas com urgência.
Lam deixa ainda algumas sugestões a este respeito, sublinhando a importância de se proceder à monitorização constante, a pesquisas e à sensibilização social. O objectivo é “proteger a saúde do público e dos visitantes e a percepção que têm das praias de Macau”.

Neste sentido, Agnes Lam quer saber claramente quais as medidas que o Governo pretende implementar para averiguar as fontes dos resíduos que têm dado à costa na última semana, bem como as acções previstas para prevenir este tipo de situações a longo prazo.

Além disso a deputada pede esclarecimentos acerca do que tem sido feito, em conjunto com as regiões vizinhas, para promover mais cooperação na área da protecção ambiental.

21 Jun 2019

Europa mais verde

[dropcap]A[/dropcap] agenda ecológica vai fazendo o seu lento mas aparentemente imparável caminho na discussão política: a cada vez mais visível emergência dos problemas ambientais e a eminência de uma catástrofe global sensibilizam um número evidentemente crescente de pessoas e mobilizam-nas para ações políticas diversas: com muito pouco tempo de diferença, tivemos adolescentes nas ruas de todo o mundo numa sem precedentes reivindicação do seu direito ao futuro e assistimos à duplicação da representatividade dos partidos ecologistas no Parlamento Europeu. Em vários países da Europa, os países ecologistas foram o segundo mais votado. Portugal também contribuiu para este crescimento com a estreia de um deputado eleito pelo PAN – contrariando, de resto, a generalidade das projeções publicadas na imprensa – mas foi da Alemanha (mais 8), França (mais 6) e Reino Unido (mais 5 deputados) que chegaram os maiores contributos.

Já em relação à participação eleitoral, foi modesto o contributo nacional e a abstenção manteve-se muito próxima dos níveis habituais neste tipo de sufrágio, ao contrário do que aconteceu na generalidade do território europeu – na realidade um sinal de que as questões transnacionais da governação da União Europeia se vão tornando mais interessantes e mobilizadoras para a população do continente. Talvez essa preocupação chegue também a Portugal, um destes dias.

Por enquanto pareceu percorrer grande parte do continente e contribuir – aparentemente de forma decisiva, como no caso da Holanda – para neutralizar a emergência da extrema-direita xenófoba em vários países.

O aumento da participação foi acompanhado por um manifesto aumento da diversidade. A tendência que se vem assinalando em quase todos os países para a perda de hegemonia dos alegados “blocos centrais” – essa mesa onde animadamente repastam as chamadas esquerda e direita “moderadas” – atingiu um patamar sem precedentes no Parlamento Europeu: pela primeira vez desde que se realiza este tipo de eleição, as duas grandes “famílias” políticas não têm, em conjunto, mais de 50% de deputados. “Geringonças” governativas cada vez mais complexas há hoje muitas, por esse mundo fora. Também no Parlamento Europeu novas e criativas aritméticas serão certamente convocadas para definir maiorias num contexto de relativa pulverização do eleitorado e diversificação programática dos seus excelsos representantes.

Nesta diversificação não coube o primeiro movimento que reivindica um original caráter europeu, liderado pelo conhecido ex-ministro das finanças da Grécia, no triste período histórico em que o país tentou enfrentar – sem sucesso – as regras da austeridade definidas pelas instituições europeias e pelo FMI. Apesar do mediatismo de algumas intervenções, nenhuma das candidaturas nacionais associadas a esse movimento transeuropeu – o Diem25 – conseguiu eleger representantes. Aliás, também a “esquerda da esquerda” sofreu significativa derrota e perda de representatividade à escala europeia, ainda que o número de representantes portugueses se tenha mantido, com uma significativa troca de posições entre os dois partidos (BE e CDU) aí representados. Pelo contrário, além dos ecologistas, também os liberais (onde se inclui o partido do Presidente francês, mas também uma forte representação – provavelmente temporária – do Reino Unido) conseguiram um crescimento significativo, juntando-se aos mais tradicionais grupos da social democracia, da democracia cristã e dos conservadores enquanto forças hegemónicas no Parlamento Europeu. Uma hegemonia mais partilhada e complexa, em todo o caso.

Ao contrário do que foi anunciando na imprensa da especialidade nas semanas anteriores à eleição, nem os movimentos mais assumidamente xenófobos (ou fascistas, numa designação também muito utilizada – até pelos próprios – e eventualmente mais precisa), nem os partidos mais abertamente anti-EU assumiram posições determinantes nos luxuosos hemiciclos de Bruxelas e Estrasburgo. Essa extrema direita liderada pelo movimentos anti-imigração da Itália, França e Alemanha não foi acompanhada por uma significativa emergência de movimentos semelhantes noutros sítios – na realidade, em países como a Holanda, até desapareceram do espectro. Tal como noutros momentos históricos, a emergência da extrema-direita só parece ser possível em momentos de crise económica profunda, o que não parece ser (já? ainda?) o caso. De maneira semelhante, também os movimentos claramente anti-EU acabaram por conseguir limitada representação parlamentar – e que se tornará ainda mais pequena se e quando se concretizar o Brexit e saírem do Parlamento os deputados eleitos pelo Reino Unido. Dessa saída resultarão uma nova reconfiguração de forças e novas geografias e aritméticas parlamentares. São tempos interessantes mas com respostas lentas às urgências fundamentais.

1 Jun 2019

Ambiente | Mais de um milhão de espécies ameaçadas de extinção

O cenário é preocupante e a responsabilidade é da acção humana, submissa ao paradigma do desenvolvimento económico e sem olhar a meios no que respeita à preservação do ambiente. Em causa está a possibilidade de extinção de mais de um milhão de espécies nas próximas décadas. A conclusão é da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecos sistémicos (IPBES) das Nações Unidas

 

[dropcap]A[/dropcap]s próximas décadas podem levar à extinção de mais de um milhão, das cerca de oito milhões de espécies – animais e plantas – conhecidas no planeta. A conclusão é clara e faz parte do mais recente relatório apresentado pela Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecos sistémicos (IPBES na sigla inglesa) em Paris, no passado dia 7 de Maio.

De acordo com o documento, a quantidade de animais por espécie, presente nos habitats naturais terrestres diminuiu em pelo menos 20 por cento, desde 1900. Actualmente, mais de 40 por cento das espécies de anfíbios, quase 33 por cento dos corais de recife e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados. Os dados não são tão claros quando se fala de insectos, mas, ainda assim, os especialistas estimam que 10 por cento das espécies estejam fortemente ameaçadas. Pelo menos 680 espécies de vertebrados têm desaparecido, desde o séc. XVI e mais de nove por cento dos mamíferos que foram domesticados para uso alimentar e funções agrícolas também deixaram de existir, estando “pelo menos mais de mil raças ameaçadas”.

Trata-se de uma “situação sem precedentes” alerta o relatório. A preocupação é sublinhada pelo presidente do IPBES, Robert Watson. “A esmagadora evidência da Avaliação Global do IPBES, vinda de um vasto leque de diferentes áreas de conhecimento, apresenta um quadro sinistro” aponta.

Suicídio global

O desequilíbrio do ecossistema, cada vez mais acentuado, não representa apenas o fim de outras espécies. É uma ameaça à própria espécie humana que desta forma acaba por destruir “a sua economia, os seus meios de subsistência, a sua segurança alimentar e a sua saúde e qualidade de vida”, sublinhou.

Este é o alerta daquele que é “é o documento mais abrangente acerca deste tema, e o primeiro Relatório intergovernamental do seu tipo”, referiu Watson.

O conteúdo foi compilado por 145 especialistas oriundos de 50 países e avalia as mudanças nas últimas cinco décadas, “fornecendo uma visão abrangente da relação entre os caminhos do desenvolvimento económico e o seu impacto na natureza”.

Ainda há tempo

Apesar do cenário actual ser assumidamente desanimador, Robert Watson não perde a esperança e aponta que ainda é tempo de evitar o pior. Mas para o efeito são precisas “mudanças transformadoras” a todos os níveis “do local ao global”.

“Através de uma ‘mudança transformadora’, a natureza ainda pode ser conservada, restaurada e usada de forma sustentável”, revela, sendo que “por mudança transformadora” se entende “uma reorganização fundamental em todo o sistema, através de medidas tecnológicas, económicas e sociais, incluindo a mudança de paradigmas, de metas e de valores”.

Tendo em conta que o mundo se tem comportado conforme os ditames de um desenvolvimento económico desenfreado, e dos interesses a ele associados, o reverter da situação actual não é fácil, e qualquer acção nesse sentido pode encontrar obstáculos erguidos “pelos interesses dominantes”.

Por isso, o apelo é dirigido à maioria, ao público em geral que quer deixar um mundo aos seus descendentes.

A este respeito a especialista argentina, Sandra Díaz que co-presidiu a avaliação global em conjunto com o alemão Josef Settele e o brasileiro Eduardo S. Brondízio, foi peremptória ao exaltar o papel do legado da biodiversidade para as gerações futuras. “A biodiversidade e as contribuições da natureza para as pessoas são a nossa herança comum e a mais importante ‘rede de segurança’ e de apoio à vida da humanidade. Mas a nossa rede de segurança está esticada até quase um ponto de ruptura (…), embora ainda tenhamos os meios para garantir um futuro sustentável para as pessoas e para o planeta”, refere a especialista.

Relevância política

Para lançar o alerta político, os autores deste relatório apresentaram pela primeira vez uma classificação dos grandes responsáveis pelo cenário actual e dos quais é necessária uma acção imediata. Por ordem decrescente de importância o relatório aponta a responsabilidade das mudanças no uso da terra e do mar; da exploração directa de recursos naturais; das alterações climáticas; da poluição e das espécies invasoras. A título de exemplo, o número de espécies exóticas invasoras por cada país, dos 21 que integram a plataforma, aumentou cerca de 70 por cento desde 1970, revelam os especialistas.

Embora de forma mais indirecta, a perda da biodiversidade do planeta está relacionada com o aumento da população e do consumo per capita; com a inovação tecnológica e com questões de governação irresponsável.

Um padrão que entretanto emerge no desenvolvimento mundial é o da interconectividade global que tem tido efeitos no desequilíbrio da vida no planeta. Trata-se do “fenómeno em que se dá a exploração de recursos numa parte do mundo para satisfazer as necessidades dos consumidores de outras regiões”, o que está a esgotar os recursos existentes.

Pedidos repetidos

O apelo a mudanças económicas e sociais profundas tem sido reiterado por peritos para proteger o planeta.

Em Outubro do ano passado, a Plataforma Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, frisou esta questão, como sendo uma necessidade imprescindível para conter os gases que provocam o efeito de estufa com “a rapidez suficiente para evitar as consequências mais devastadoras do aquecimento global”.

Agora, o relatório apresentado em Paris, não deixa de apontar que, desde 1980, as emissões de gases que provocam o efeito estufa duplicaram e a temperatura média global já aumentou em 0,7 graus. De acordo com os especialistas, “o impacto deve aumentar nas próximas décadas, superando as transformações provindas da utilização de terras e dos mares”.

Direcção futura

O relatório apresenta ainda uma série de acções a tomar tendo em conta a sustentabilidade e os caminhos para a alcançar, especificando medidas em sectores como a agricultura, a silvicultura, os sistemas marinhos, os sistemas de água doce, as áreas urbanas, a energia e as finanças.

É destacada a importância em adoptar abordagens integradas de gestão que valorizem o equilíbrio na produção de alimentos e de energia, das infraestrutura, e no consumo de água doce e exploração costeira.

Também identificada como um elemento-chave de políticas futuras mais sustentáveis ​​está a evolução dos sistemas financeiros e económicos para a construção de uma economia global sustentável, “afastando-se do actual paradigma limitado ao crescimento económico”.

Para o efeito, é necessária a adopção de uma ciência autoritária para dominar o conhecimento e as opções políticas, frisa a secretária executiva do IPBES, Anne Larigauderie.

Os especialistas acreditam ainda que os resultados deste relatório vão permitir o aumento da pressão sobre os países para a protecção da vida selvagem. A esperança de novas opções políticas é já depositada numa conferência que deverá ocorrer na China no final do próximo ano. “A iniciativa pode reforçar o reconhecimento da necessidade de novas políticas tendo em conta a ameaça de extinção de espécies e as alterações climáticas”, aponta o documento.

 

Números

População global – duplicou desde 1970 de 3,7 para 7,6 mil milhões

75 por cento dos recursos de água doce aplicados na agricultura e pecuária

Produção agrícola – aumentou 300 por cento desde 1970

Exploração de recursos naturais – duplicou desde 1980

100 milhões de hectares de floresta tropical foram perdidos entre 1980 e 2000
75% do ambiente terrestre “severamente alterado” por acções humanas

9 Mai 2019

Ambiente | Proposta de lei prevê cobrança de taxa sobre sacos de plástico

O Governo avançou com uma proposta de lei que vai obrigar o comércio a cobrar pelo fornecimento de sacos de plástico, uma medida há muito exigida por activistas ambientais. O valor da taxa vai ser determinado por despacho do Chefe do Executivo

[dropcap]T[/dropcap]rês anos depois de uma consulta pública sobre a introdução de restrições ao uso de sacos de plástico, o Governo elaborou uma proposta de lei que prevê que os estabelecimentos comerciais cobrem obrigatoriamente uma taxa na hora de fornecer sacos de plástico aos clientes. Os principais contornos do diploma, que segue agora para a Assembleia Legislativa, foram apresentados ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo.

Leong Heng Teng escusou-se, porém, a adiantar o valor a cobrar pelo fornecimento de cada saco de plástico nos actos de venda a retalho, a fixar por despacho do Chefe do Executivo. Não obstante, sinalizou que a proposta de uma pataca, “basicamente, recolheu concordância” aquando da auscultação pública.

As verbas resultantes do pagamento da taxa vão reverter a favor dos estabelecimentos comerciais, modelo definido como “o mais apto” para Macau. Estes são, contudo, livres, à luz da lei, de cobrarem um valor acima do fixado, embora o director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Raymond Tam, não o recomende: “Não há uma pena [se cobrarem mais], mas isso vai prejudicar a sua imagem”.

Das excepções

O diploma, que “visa estabelecer normas sobre as restrições ao fornecimento de sacos de plástico em actos de venda a retalho”, prevê, no entanto, uma série de “situações excepcionais” que beneficiam de isenção de pagamento da taxa. À luz da proposta de lei, “designadamente por razões de higiene e segurança”, os sacos de plástico vão continuar a ser distribuídos gratuitamente quando em causa estiverem, por exemplo, produtos alimentares e medicamentos não embalados.

Os estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas ou até bancas de mercados, que infrinjam as restrições ao fornecimento de sacos de plástico incorrem numa multa de mil patacas. Já caso violem o dever de colaboração com as autoridades arriscam uma multa dez vezes superior: dez mil patacas. A fiscalização compete à DSPA que pode solicitar a colaboração de outras entidades públicas, nomeadamente dos Serviços de Alfândega, da PSP ou dos Serviços de Finanças, se necessário.

“É o primeiro passo para reduzir o impacto negativo dos sacos de plástico no meio ambiente”, afirmou o director da DSPA, realçando que o Governo tem vindo a “empenhar-se nos trabalhos de redução do plástico”, incluindo dentro da própria Administração, com o incentivo, por exemplo, do uso de máquinas de água em detrimento da distribuição de garrafas. Não há, no entanto, actualmente, alternativa à vista para as saquetas de plástico que são distribuídas pelos Serviços de Saúde quando os pacientes aviam medicamentos.

Para metade

Segundo dados facultados pelo director da DSPA, 23 por cento das 1.400 toneladas de lixo produzidas diariamente em 2017 eram plástico, dos quais 13 por cento eram sacos e dois por cento garrafas. Já 1,5 por cento dizia respeito a caixas de ‘take-away’. A cobrança de uma taxa pelo fornecimento de sacos de plástico tem produzido “resultados muito salientes” nos territórios vizinhos, com reduções no uso na ordem dos 80 por cento na fase de arranque da medida, realçou o director da DSPA que, adoptando uma estimativa “mais conservadora”, espera um corte, pelo menos, para metade no início da aplicação da medida.

 

 

15 Mar 2019

Bacia Norte do Patane | DSAMA retirou 800 quilogramas de peixe morto

Desde domingo vários quilos de peixe morto começaram a boiar na Bacia Norte do Patane e as autoridades tiveram de proceder a trabalhos de limpeza. Na causa do incidente, as autoridades suspeitam de baixos níveis de oxigénio no local

[dropcap]A[dropcap]Direcção de Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) retirou mais de 800 quilogramas de peixes mortos da Bacia do Norte do Patane, desde o passado dia 10. A informação foi avançada, ontem, pela autoridade, num comunicado, depois de mais uma manhã a realização operações limpezas na zona.

De acordo com o comunicado, a situação foi detectada no domingo, e a DSAMA enviou prontamente as equipas para o local, para dar início às acções de limpeza.

Ao mesmo tempo, também a Direcção de Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) esteve no local com o objectivo de fazer análises à água e apurar as causas das mortes dos peixes. Além de amostras de água foram recolhidas amostras de algas.

Apesar de até ao final do dia de ontem a DSPA não ter comentado sobre os resultados obtidos, a DSAMA admite como causa da situação os baixos níveis de oxigénio da água. “Nos últimos dias, o nível de oxigénio na água mantém-se baixo, por isso não é de excluir que as mortes dos peixes naquele local se fiquem a dever a este factor”, pode ler-se no comunicado.

O HM contactou igualmente a DSPA para obter os resultados das análises efectuadas à água e algas, mas até ontem ao final da noite ainda não tinha havido uma resposta oficial.

Apesar da DSAMA acreditar que a maior parte dos peixes mortos foi removida daquela zona vai continuar a haver um acompanhamento nos próximos dias para “avaliar a qualidade da água”. A autoridade comprometeu-se ainda a acompanhar a situação, admitindo que há a hipótese de nos próximos dias continuarem a surgir mais peixes mortos na superfície.

 

Pesca ilegal

Também ontem a DSAMA revelou que foram retiradas do Ponto Interior várias redes colocadas de forma ilegal para a pesca do caranguejo. Após ter recebido o alerta para a situação, a DSAMA procedeu imediatamente à remoção dos equipamentos ilegais.

De acordo com a informação divulgada, as redes não afectaram a navegação das embarcações locais, apesar de serem um perigo à navegação. Desde Março que já foram retiradas das águas no Porto Interior redes ilegais de pesca do caranguejo que perfazem 1,5 quilómetro de comprimento, segundo a DSAMA.

As autoridades emitiram também um comunicado a alertar que de acordo com a legislação actual as redes ilegais podem resultar em multas de 15 mil patacas para os infractores. Além disso, os pescadores responsáveis pela sua instalação podem ser chamados a responder perante a Justiça, no caso de causarem danos ou acidentes a embarcações que naveguem no local.

13 Mar 2019

Poluição | Coreia do Sul quer projecto com a China para limpar o ar

[dropcap]O[/dropcap]Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, propôs ontem à China um projecto conjunto de utilização de chuva artificial para limpar o ar em Seul, que tem registado níveis de poluição elevados.

Na semana passada, os níveis de poluição atingiram recordes negativos na Coreia do Sul. Para as autoridades sul-coreanas, este é um resultado das actividades industriais chinesas, mas também da emissão de poluentes dos veículos existentes na Coreia do Sul.

Moon Jae-in instruiu ainda as autoridades governamentais a acelerarem o encerramento das centrais a carvão, segundo o porta-voz da presidência sul-coreana, Kim Eui-kyeom.

O Presidente sul-coreano afirmou que “a China está muito mais avançada” tecnologicamente para o combate às emissões de poluentes, do que a Coreia do Sul, e que a cooperação com Pequim ajudaria a diminuir a poluição do ar.

Moon também propôs que a Coreia do Sul e a China desenvolvam um sistema conjunto para a emissão de alertas de poluição.

Na terça-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, anunciou que Pequim vai investir, este ano, 25 mil milhões de yuan no combate à poluição atmosférica, um aumento de 25 por cento em relação a 2018.

As principais cidades chinesas são frequentemente cobertas por um manto de poluição, resultado de três décadas de forte crescimento económico assente na produção industrial, que transformou o país na “fábrica do mundo”.

7 Mar 2019