Banda portuguesa UHF celebra 45 anos de existência

“O rock nasceu em Almada”. Foi com este mote provocatório, ao seu estilo, que a banda portuguesa UHF arrancou as celebrações dos 45 anos de carreira no dia 18 de Novembro com um concerto e a bilheteira esgotada numa hora, dias depois de terem editado o novo álbum “Novas Canções de Bem Dizer”.

Em 1978, a banda de Almada, que hoje tem apenas António Manuel Ribeiro como único elemento da formação inicial, tinha dado nesse mesmo dia o seu primeiro concerto em Lisboa, na discoteca Brown’s.

Em entrevista à agência Lusa, António Manuel Ribeiro conta um pouco da história da banda, de como começaram a juntar-se no café Central em Almada ainda com o nome “À Flor da Pele” que acabou por ser abandonado porque alguém disse que “era psicadélico e já não se usava”, mas mesmo assim permaneceu na sua história, tornando-se o título do primeiro álbum do grupo.

“O que trouxemos à música pop rock pós-25 de Abril foi a capacidade de construir uma carreira sem saber que estávamos a construir uma carreira”, disse o músico, confidenciando que nunca pensou que chegaria aos 45 dias quanto mais aos 45 anos de carreira.

Almada começa a fervilhar em termos musicais por essa altura, recorda. Os jovens encontravam-se no café Central, após as aulas, e foi assim que alguns músicos se foram conhecendo. A banda formou-se desta forma espontânea e um dia foram tocar a Lisboa, ficando conhecida pela banda misteriosa porque tocava e desaparecia.

“Para nós era pragmatismo puro. Ninguém tinha carro, íamos de transportes, tínhamos de sair cedo porque se não chegássemos a horas ao barco em Lisboa, ficávamos a dormir ao relento. Saíamos porque tínhamos de apanhar o metro e o barco para este lado do rio”, explica, sorrindo.

O primeiro êxito

“Cavalos de Corrida” é o primeiro ‘single’ e a segunda gravação da banda, um tema que nasceu numa capela abandonada na Torre da Marinha, no Seixal, onde ensaiavam, e que atingiu nos primeiros meses de 1980 a liderança do top nacional de vendas, tornando-se no primeiro ‘single’ de rock português a receber um disco de prata.

Depois deste sucesso inicia-se um processo conturbado na relação com editoras. Hoje a banda tem uma discográfica própria. “Em 82, quando decidimos sair da Valentim, rompemos contrato, fomos transferidos de uma editora para outra através de pagamento de ‘luvas’ e entrámos numa editora que não existe neste momento e ainda bem. Vendíamos bem, mas nunca soubemos o que vendemos. Mais tarde saímos e entrámos [noutra] editora portuguesa, onde voltámos a ser enganados”, disse.

O que aconteceu com os UHF, afirmou, também aconteceu com outros músicos.

“Em 89 lançámos um maxi single ‘Hesitar’ que foi considerado o que mais vendeu em Portugal. Sabe quanto nos pagaram? Não chegou aos 1.700 exemplares. O estranho é que chegava a Bragança e as pessoas conheciam a canção e não seria só um fenómeno de rádio, era também de vendas”.

Face a estes contratempos, diz António Manuel Ribeiro, o que manteve os UHF foi a determinação de saber exactamente para onde ia e o que queria, caso contrário teria acabado como muitos grupos que desapareceram ao longo dos tempos.

“Há uma coisa que costumo dizer aos músicos novos: Em Portugal para se ser artista é preciso 50 por cento de inspiração e 50 por cento de organização. Se não houver essa capacidade de organizar isto desmorona”, revelou.

Fãs até hoje

António Manuel Ribeiro é peremptório em afirmar que se os UHF têm hoje fãs, um grupo consistente que os segue de norte a sul do país, é porque escreveram e escrevem boas e interessantes canções: “Sem canções e sem as pessoas que gostam das canções não havia hipótese”.

E as canções dos UHF contam histórias, assumem uma posição em relação a alguns temas da atualidade nacional e internacional como é o caso de “Sarajevo”, “Vernáculo”, “Ucrânia livre” e “O Indigente”, este último do novo álbum “Novas Canções de Bem Dizer”, tudo canções repletas de mensagens à maneira da música de intervenção inspirada em José Afonso e em tantos outros músicos da época.

“É a minha escola sabe, a do José Afonso. A censura portuguesa no tempo da nossa ditadura ajudou a criar a melhor poesia cantada do mundo”, defende a inconfundível voz da banda composta também por Antonio Côrte Real (guitarra), Ivan Cristiano (bateria e coros) e Nuno Correia (baixo).

Celebrar uma carreira de 45 anos é celebrar todo este legado musical e poético de que António Manuel Ribeiro fala com orgulho. “Acho que temos direito a celebrar com os nossos o que fizemos e trouxemos à música portuguesa”, vincou.

29 Dez 2023

Glockenwise – “Plástico”

Plástico

Fazem um ar zangado
De quem não quer falar
Cruzam os olhos de lado
Com medo de espreitar
Tem cuidado no passo
Graça de artista só
Muitas manias no trato
A mim só me dá dó

E oh!
É tão fácil ver
Que é só plástico
Oh, eu também quero ser
Só de plástico

Vesti a indumentária
Que hoje vou aparecer
A crítica é binária
Quase tudo para esquecer
É festa, não presta, não tem valor
Focado, ao lado, só causa dor

Porque, oh!
É tão fácil ver
Que é só plástico
Oh, eu também quero ser
Só de plástico

E eu sei que é difícil de aceitar
Que eu tenho a minha arte no falhar
E ando à toa
E oh!

É tão fácil ver
Que é só plástico
Oh, eu também quero ser
Só de plástico

Glockenwise

NUNO RODRIGUES, RAFAEL FERREIRA e RUI FIUSA

30 Jul 2020

Cassete Pirata – “Sem ar”

“Sem ar”

Nem mais um dia sem razão p’ra acordar
Não vou seguir na omissão p’ra agradar

Vivo ao contrário do tempo em mim
P’ra te encontrar
Vivo ao contrário
Voo sem subir
Balão sem ar
Sem ar
Sem ar
Sem ar

Quantas horas vão em vão no sono a combater
Noites claras, primaveras para recriar

Vivo ao contrário do tempo em mim
P’ra te encontrar
Vivo ao contrário
Voo sem subir
Balão sem ar

Vivo ao contrário do tempo em mim
P’ra te encontrar
Vivo ao contrário
Voo sem subir
Balão sem ar
Sem ar
Sem ar
Sem ar

Cassete Pirata

JOÃO FIRMINO, JOÃO PINHEIRO, ANTÓNIO QUINTINO, MARGARIDA CAMPELO e JOANA ESPADINHA

5 Mai 2020

Alen Tagus ao vivo em estúdio

Alen Tagus ao vivo no Studio Canoa

[dropcap]S[/dropcap]im, de um lado Sines do outro Paris, uma linha pelo meio. Charlie Mancini encontrou Pamela Hute online e com o despertar da curiosidade, por empatia no gosto mútuo pela composição musical, estabeleceu a ligação e começou a enviar-lhe ficheiros sonoros com composições suas, elaboradas nas teclas do seu piano. A luzinha acendeu do outro lado e desse primeiro embate, Pam resolve colocar a sua técnica apurada e a voz, misturando os fios para a eternidade do que à partida seria um encontro efémero, na verdadeira glória da partilha electrónica.

Assim nasceram os Alen Tagus, nome que não é preciso descodificar. A conexão prosseguiu durante meses a fio, numa ligação criativa vivida apenas à distância. Os temas começaram a sair do forno como pãezinhos quentes e de repente tinham um álbum nas mãos para apresentar ao mundo, “Paris, Sines”. Em Portugal, passaram pelas rádios e novos brilhos se acenderam. O passo seguinte seria, finalmente, o encontro cara-a-cara e a formação física de uma banda. De novo de cá e de lá surgiram os outros elementos: Eva Tribolles, no baixo; Miguel Sousa Moreira, nas guitarras; e Pedro Sousa Moreira, na bateria. A simbiose para um equilíbrio perfeito.

A estreia deu-se no Festival Termómetro, um concurso musical que decorreu no último Outono/Inverno. Com datas marcadas para os primeiros concertos em Portugal e com uma residência artística agendada para Sines, deu-se o isolamento forçado pela pandemia mundial do vírus que deixa todos em casa. Sem a possibilidade da digressão prevista, o forno voltou a ter a sua chama e novos temas surgem com regularidade. O sabor é distinto, como uma iguaria da cuisine française elaborada no Alentejo.

ALEN TAGUS

Projecto franco-português, imaginado entre Sines e Paris, Alen Tagus criam uma indie-pop introspectiva influenciada pelos sons dos anos 70. O primeiro single questiona a evolução do amor e da amizade nas relações humanas e revela uma composição sensível e elegante. Nascida da inesperada associação entre o músico português Charlie Mancini – pianista e compositor de filmes – e a artista francesa Pamela Hute – melodista e roqueira no coração – Alen Tagus exploram bases musicais incomuns.

Alen Tagus

PAMELA HUTE, CHARLIE MANCINI, EVA TRIBOLLES, MIGUEL SOUSA MOREIRA, PEDRO SOUSA MOREIRA

27 Mar 2020

José Mário Branco, solidário para além da vida

[dropcap]N[/dropcap]a última vez que o vi, já lá vão mais de 5 anos, ele não estava: foi uma das primeiras apresentações públicas de “Mudar de Vida”, detalhado e preciso documentário sobre a vida e a obra de José Mário Branco, exibido em sessão muito especial da edição de 2014 do festival IndieLisboa, sintomaticamente alojada numa das pequenas salas que resultou do esquartejamento de um dos grandes cinemas do centro de Lisboa, transformado em espaço mais moderno, flexível e multi-qualquer-coisa. Estava cheia, contudo, a pequena sala. Cheia de caras conhecidas, já agora. Assinalavam-se por aqueles dias os 40 anos do 25 de Abril e a exibição do filme era também um tributo à Revolução. Por isso José Mário Branco não quis lá estar: em mensagem gravada pediu desculpas ao público presente e explicou a ausência: não havia nada a celebrar naqueles 40 anos de Abril. Não nos prendamos, portanto, a uma onda qualquer de celebração nostálgica.

Eram tempos muito adversos. O país voltava a viver sob sequestro do FMI, desta vez em versão alargada, com a sinistra Troika com que a União Europeia assinalava a sua adesão inequívoca às cartilhas neoliberais dominantes: privatizações em larga escala, renúncia sistemática ao investimento público e empobrecimento generalizado, com os resultados habituais e previsíveis: ainda menos crescimento económico, ainda maior desigualdade, mais miséria e mais milionários, menos esperança e mais desespero, menos justiça e mais evasão fiscal, menos projetos e mais emigração, menos alegria e mais suicídios, menos ideias e mais miséria. Não havia nada a celebrar, de facto, naquele final de Abril que assinalava 40 anos desde que os cravos vermelhos tinham restituído ao país um horizonte de futuro. E de presente, já agora, que nós – como o José Mário Branco – queremos ser felizes agora.

Artista de variedades, compositor popular e aprendiz de feiticeiro – nunca José Mário Branco se apresentou ao público como economista. Mas é, ainda assim, exímio analista histórico das nefastas presenças em Portugal do Fundo Monetário Internacional. Pessoalmente, foi um privilégio ter lá por casa o FMI, o disco publicado em 1982 e que me acompanhou a adolescência: também eu tinha visto o meu povo a lutar, durante a infância, e soube bem a companhia para o desalento de quem cresceu assistindo à substituição progressiva das utopias comunitárias pelo individualismo galopante e as ambições económicas, sociais e políticas que o “progresso” ia trazendo – à esquerda e à direita, já agora. O FMI viria decretar a definitiva inviabilidade de qualquer alternativa de política económica ao neoliberalismo que na altura se começava a afirmar como ideologia e prática globalmente hegemónica. Talvez não fosse assim tão nosso, o Carvalhal.

Seria quase dez anos depois do FMI – o disco – que havíamos de nos cruzar com alguma regularidade. Depois de militâncias no PCP (antes do 25 de Abril) e na UDP (desde a sua fundação, em 1974), José Mário Branco havia de regressar à atividade partidária numa campanha eleitoral do PSR, por onde eu andava em 1991: uma minoria absoluta que juntava à agenda social e económica da esquerda temas até então pouco ou nada discutidos (o racismo, o militarismo, a legalização das drogas ou as liberdades sexuais) e que mobilizava um conjunto relativamente alargado de pessoas dos universos laboral, cultural e artístico, sobretudo em meios urbanos. Percorremos o norte de país com comícios em várias cidades e tive essa rara oportunidade de conhecer o José Mário Branco enquanto orador, com a mesma inquietação, o mesmo rigor, a mesma capacidade de captar a atenção de quem o ouve – não para cantar, mas para discutir novas propostas e abrir novos caminhos. Mas mais do que esse orador clarividente e com notável capacidade performativa, descobri como presença do José Mário Branco transmitia fraternidade, cooperação, aprendizagem permanente, sempre novas possibilidades de construção. Aprendia-se muito de utopias com aquele convívio e aquele trabalho conjunto. Valeram então a pena todas as travessias.

Não nos encontrámos muito depois disso. Na realidade, ambos tivemos passagens fugazes pelo Bloco de Esquerda – onde PSR e UDP viriam a desaguar – mas só coincidimos na falta de persistência: não estivemos lá ao mesmo tempo (ele esteve na fundação e quando eu cheguei já o José Mário Branco se tinha sabiamente retirado) e não nos cruzaríamos por ali. Havíamos, no entanto, de nos ir cruzando, mais ou menos ocasionalmente, ao longo da vida que se foi seguindo, que as rotas não têm como divergir assim tanto: eventos culturais, celebrações de Abril ou de Maio, manifestações pontuais, organizações diversas. E sempre encontrei a mesma disposição fraterna e incondicional. Nós, os que choramos a sua morte, aprendemos com ele que a morte nunca existiu. Sabemos que nos deixou um legado poético, político e humano que o fará continuar mais vivo do que morto por muitos anos. Sabemos que se pode ser solidário para além da vida e que de cada perda se pode fazer uma raiz. Sabemos que, apesar de todas as improbabilidades, podemos ser felizes. Mas ainda assim choramos. E sabemos que choramos mais do que a morte do José Mário Branco. Choramos as derrotas. Choramos os barcos que deitámos ao mar e ficaram pelo caminho. Choramos não ter sabido usar como devíamos a sabedoria que nos trouxe no ventre das canções. Choramos por o ter deixado partir num mundo que não fomos capazes de tornar melhor, apesar de tudo o que nos ensinou. Se não o fizemos com o Zé Mário ao nosso lado, como o poderemos fazer sem ele?

22 Nov 2019

Mónica Ferraz estreia-se em Timor-Leste com concerto em Díli

[dropcap]A[/dropcap] cantora portuguesa Mónica Ferraz, ex-vocalista do grupo Mesa, apresenta no próximo dia 22 de Junho os seus novos trabalhos, incluindo o single “Fool”, num concerto de estreia em Timor-Leste.

Mónica Ferraz, 39 anos e natural do Porto, começou a sua carreira aos 15 anos, estreando-se em 2003 como vocalista da sua primeira banda de originais, o projecto Mesa. Sete anos depois, em 2010, iniciou uma carreira a solo com o primeiro álbum “Start Stop”, com participações em alguns dos principais festivais em Portugal.

Em 2012 e 2013 foi nomeada para a categoria de ‘Best Portuguese Act’, nos MTV Europe Music Awards e em 2014 editou o seu segundo álbum. Actualmente a viver na Suíça, Mónica Ferraz está a trabalhar com vários músicos e produtores europeus, lançando este ano o single “Fool”.

A cantora, que veio para Timor-Leste numa iniciativa da NoLimit, actua no Hotel Timor na noite de 22 de Junho.</p

16 Jun 2019

“Sou eu agora com tudo o que já fui”, diz Lena d’Água sobre o novo álbum

[dropcap]A[/dropcap]os 62 anos, Lena d’Água edita “Desalmadamente”, um álbum escrito por Pedro da Silva Martins para ela, sem saudosismos nem regressos ao passado. “Isto sou eu agora, com tudo aquilo que já fui”, contou à agência Lusa.

“Desalmadamente”, que sai na sexta-feira, tem dez canções originais compostas por Pedro da Silva Martins (Deolinda), produzidas e interpretadas por um grupo de músicos com quem Lena d’Água se cruzou recentemente e que tinham vontade de trabalhar com ela: Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, Benjamim e Sérgio Nascimento.

“Não tenho palavras para lhes agradecer. (…) Eles têm metade da minha idade, mas têm uma sabedoria, uma musicalidade, um talento e um jeito. Foi tão bom. Senti-me dirigida de uma maneira muito firme e muito doce”, afirma a cantora, figura pioneira do rock pop dos anos 1980.

Lena d’Água rejeita qualquer ideia de regresso à música portuguesa, porque esteve sempre activa, talvez com menor visibilidade pública. Aliás, diz que nunca se foi embora, citando a música que levou ao Festival da Canção em 2017, fruto da primeira experiência com composição de Pedro da Silva Martins e participação daqueles músicos.

“‘Isto’ foram muitos encontros, nós fomos experimentando as canções do Pedro, a ver quais as que queríamos mais, aquelas que me diziam mais fortemente e depois fomos fazendo experiências, acertar a tonalidade de cada canção, os andamentos”, explicou.

Além de dar nome ao disco, “Desalmadamente” é também título de uma das canções novas. Esteve para ser a escolhida para o Festival da Canção, mas acabou convertida em disco. Nela, Lena d’Água canta “O corpo lá responde ao pensamento, ó ai / que julga ainda ter só 20 anos, ui / e às vezes vai / tropegamente / ganha ligeireza e assim flui”.

“Ter 60 [anos], já não tenho nem 20, 30, 40, ok, mas agora apesar de o meu corpo ter decaído um bocado, de ter ganho peso, sou mais feliz. Eu era amada pelos motivos errados, naquela altura. Nunca foram amores felizes, foram sempre desencontros. Eu por dentro sou a mesma que fui quando tinha 20 anos, e foi isso que o Pedro percebeu”, afirmou a cantora.

Lena d’Água começou nos Beatnicks – é considerada a primeira mulher portuguesa a integrar uma banda rock -, foi co.fundadora dos Salada de Frutas, passou pelos Atlântida, cantou António Variações, interpretou canções para crianças e ficou conhecida sobretudo pelos temas compostos por Luís Pedro Fonseca.

“Os meus discos dos anos 1980, para mim, tiveram uma parte de sofrimento muito grande, a minha relação com o Luís Pedro era um bocadinho difícil, porque era uma relação afectiva, e depois ele era um bocado bruto como dizia as coisas. Eu não me sentia livre, à vontade, estava em estúdio sempre em grande sofrimento e a achar-me uma merda. É verdade!”, exclama a cantora.

Foi “um tempo muito rico e muito forte na música portuguesa” e que diz ter ficado tatuado nela para sempre. Ainda hoje sobrevivem músicas como “Sempre que o amor me quiser”, “Perto de ti” ou “Robot”, mas sobre essa época não há qualquer nostalgia.

“Os primeiros discos ficaram perfeitos, mas foram difíceis de fazer, sofri bastante em todos eles. E agora no ‘Desalmadamente’, o único sofrimento foi a parte da espera para continuar um trabalho que eu tinha a certeza que ia ficar brutal”, contou.

Num tempo em que a música portuguesa era feita sobretudo por homens, Lena d’Água recorda que “o país era um bocado atrasado”, porque se interessava mais pelas pernas de uma cantora do que por aquilo que cantava.

Hoje vê tudo mais diverso, rico e multiplicado na música portuguesa e não se cansa de sublinhar a participação de duas mulheres na construção do novo disco, com Francisca Cortesão e Mariana Ricardo.

Lena d’Água quer agora levar “Desalmadamente” para o palco, com “a banda desalmada”. “Espero muito que nos queiram ver ao vivo”, disse.

O concerto de apresentação está marcado para 4 de Junho, no Teatro Villaret, em Lisboa, e esperam-se novas datas nos próximos meses com as canções novas. Enquanto isso, Lena d’Água manterá ainda alguns concertos já marcados com Primeira Dama (projecto de Manuel Lourenço) e a banda Xita, uma colaboração que se tem estendido desde 2018, com interpretação de repertório de ambos: este mês estarão no festival Aleste, na Madeira, e, em Junho, no Festival Primavera Sound, no Porto.

6 Mai 2019

Cavalheiro – “Ninguém me avisou”

“Ninguém me avisou”

Ninguém me avisou
Que a chapa estava quente
Antes de lá pôr a mão

Ninguém me avisou
Para não travar com o da frente
Até estar estendido no chão

Ia lá saber
Que o teu coração
Era uma mina até o pisar

Ia lá saber
Que o casco furou
Até já estar a afundar

E se espero que o tempo abra
Oiço a chuva a bater
E parece que o tempo cole
Quando te a prender

Eu queria crescer
Sem niguém a ver
Sem ter de temer
Eu queria ganhar
Sem ter de jurar

Cavalheiro

TIAGO FERREIRA, XANA e JOÃO FREITAS

20 Abr 2019

Birds Are Indie – “Close, but no cigar”

“Close, but no cigar”

Don’t you wanna think about it
One more time
Or do you wanna talk about it now?
Don’t you wanna think about it
One more time
Or do you want to dream about it now?

Do you want me to roll over
Close, but no cigar
Till this conversation is over
We’ll stay where you are
Then we’ll see if I still hang around

Birds Are Indie

JOANA CORKER, RICARDO JERÓNIMO e HENRIQUE TOSCANO

9 Jan 2019

PZ – “No meu lugar”

“No meu lugar”

Não quero pôr o pé lá fora
Não quero pôr o pé lá fora
Tenho medo de encontrar um bicho, ou isso

Não quero pôr o pé lá fora
Não quero pôr o pé lá fora
Não quero dar de caras com um bicho, ou isso

Quero ficar
No meu lugar
Para encontrar
O meu lugar

Não sabes o que tens
quando manténs
dúvidas, dúvidas…
daquelas que empatam

Mas quando convém
tu já não tens
dúvidas, dúvidas
elas quase que me matam

Quero pôr o pé lá fora
Quero pôr o pé lá fora
Quero poder-me encontrar contigo, ou isso

Quero pôr o pé lá fora
Quero pôr o pé lá fora
Quero poder-me encontrar contigo, é isso

Fazes muito bem
tu já não tens
dúvidas, dúvidas…
elas quase que me matam

Quando convém
tu já não tens
dúvidas, dúvidas…
daquelas que empatam

Quero ficar
No meu lugar
Para encontrar
O meu lugar

Não quero pôr o pé lá fora
Não quero pôr o pé lá fora
Não quero dar de caras com um bicho, ou isso

PZ

20 Nov 2018

Portugueses D.A.M.A respondem “com energia” à barreira linguística em Macau

A banda portuguesa D.A.M.A estreou-se na Ásia ao actuar em Macau, o primeiro de quatro concertos nos quais o grupo quer responder à barreira linguística com “energia e portugalidade”.

[dropcap]A[/dropcap]banda portuguesa D.A.M.A estreou-se esta segunda-feira na Ásia ao actuar em Macau, o primeiro de quatro concertos nos quais o grupo quer responder à barreira linguística com “energia e portugalidade”.

“Tem um sabor especial cantar em português aqui. Trazemos energia e vamos tentar animar as pessoas, temos de ir por aí para ultrapassar a barreira linguística” disse à Lusa Miguel Cristovinho, um dos vocalistas, antes do primeiro concerto.

A banda pop/rap, oriunda de Lisboa, é um dos destaques da 10.ª semana cultural da China e dos Países de Língua portuguesa, que junta mais de 130 artistas e várias exibições de dança, música, teatro, fotografia e gastronomia lusófonos.

“Acabamos a última digressão e já só queríamos ir para a Ásia, ter a experiência de tocarmos para quem não percebe português. Vai ser um desafio, mas vamos desfrutar”, garantiu à Lusa Francisco Maria Pereira, outro dos membros do ‘trio’.

‘Kasha’, como também é conhecido, desvendou que todos os concertos vão ter o mesmo arranjo, mas que vão condensar as músicas mais conhecidas dos três álbuns, num conceito mais energético para “contagiar o público”.

“Os quatro concertos vão ter o mesmo arranjo e contamos contagiar o público com a nossa portugalidade, até porque só vamos cantar em português”, afirmou.

Miguel Coimbra, também membro do grupo, já viveu no sul da China e promete surpreender o público com “algumas palavras em chinês”. Para o músico, os concertos em Macau podem ser “uma porta para outros espetáculos”.

O Largo do Senado, no coração de Macau, a Doca dos Pescadores e as Casas Museu da Taipa vão ser os palcos de vários concertos lusófonos nos próximos dias.

Além do grupo português, a edição deste ano reúne músicos de Cabo Verde (Grace Évora e Banda), Angola (Paulo Flores), Timor-Leste (Black Jesuz), Moçambique (Moza Band), Brasil (Banda Circulô), Guiné-Bissau (Rui Sangara), São Tomé e Príncipe (Alex Dinho) e China (Grupo Artístico Folclórico de Songjiang).

16 Out 2018

Rodrigo Leão | Novas datas de “O Aniversário” no Porto e em Lisboa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] músico Rodrigo Leão, a celebrar 25 anos de carreira, acrescentou duas datas extras às apresentações, em Novembro, nos coliseus do Porto e de Lisboa, do espectáculo “O Aniversário”, anunciou ontem a sua produtora.

No Coliseu do Porto, a nova data é 7 de Novembro, um dia antes da já anunciada, 8 de Novembro, e no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, dá um concerto às 18h, no dia 10, para o qual já estava previsto um concerto às 21h30. A outra data de Lisboa é o dia 9 de Novembro.

Segundo a promotora, estas datas extras devem-se à “grande procura do público, que praticamente já esgotou as datas anunciadas”. “O Aniversário”, o concerto, é uma produção “dirigida ao grande público, que percorrerá todo o repertório”, tal como no álbum, “contando com uma formação alargada a dez músicos, que inclui baixo e bateria”, e apresentará, pela primeira vez juntas, em palco, as cantoras Ana Vieira e Selma Uamusse, que regularmente têm gravado com o compositor”, disse à agência Lusa Rodrigo Leão.

“Sinto-me como há 25 anos, a tentar procurar melodias, harmonias, às vezes com grande sofrimento, pois nem sempre aparece a inspiração”, afirmou o compositor, quando do anúncio dos espectáculos, referindo também o “importante trabalho” da equipa de produção e dos músicos com quem trabalha – os músicos de quem se sente mais perto -, e dos amigos, que “são muito importantes para o trabalho final”. O músico disse à Lusa que tudo o influencia, “as viagens, as idas à Ericeira ou ao Alentejo, mas não há a intencionalidade dessa busca” identitária. “Trabalho de uma forma intuitiva. Às vezes, melodias que me surgem, gravo-as no telemóvel, antes de as trabalhar, só porque me surgiram naquele momento”, disse.

27 Set 2018

Joana Espadinha em busca da canção pop para um álbum que sai na sexta-feira

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cantora Joana Espadinha edita na sexta-feira o álbum “O material tem sempre razão”, que deriva de uma pergunta sobre música pop: “O que é que faz uma canção ficar no ouvido de alguém?”, contou à agência Lusa.

Joana Espadinha, formada em jazz, explicou que para este segundo álbum de originais queria entrar na pop, nas canções mais universais, com refrões ‘orelhudos’ e convidou o músico Luís Nunes (Benjamim) para produzir e afinar a sonoridade que procurava.

Na pré-produção, foram experimentando ideias e instrumentos, ao mesmo tempo que ouviam a música de nomes como Feist, Fleetwood Mac, Lena d’Água ou Dirty Projectors. A primeira canção que ficou terminada e que acabou por orientar as restantes foi “Leva-me a dançar”.

“Eu queria encontrar canções, não digo mais comerciais, mas que fossem mais universais, aquelas canções que as pessoas ficam com o refrão no ouvido. E isso interessa-me muito: o que é que faz uma canção ficar no ouvido de alguém e ter essa universalidade?”, explicou.

Joana Espadinha lança este álbum quatro anos depois da estreia, com “Avesso”. Tem o nome mais ligado ao jazz, depois de ter passado pelo Hot Clube de Portugal e de ter feito estudos em jazz em Amesterdão, onde começou a escrever as primeiras canções.

“As minhas canções sempre foram assim um híbrido. Tinha algumas influências de jazz, mas tinha também influências da adolescência. Adorava as ‘cantautoras’ norte-americanas. (…) Às vezes, para a música, os rótulos são sempre perigosos. Era uma coisa que me chateava, o meu primeiro disco tinha um bocadinho de jazz, um bocadinho de pop, não tinha muita produção. Para quem não me conhece pode ser algo impeditivo. Eu só quero que as pessoas oiçam a música”, defendeu.

Joana Espadinha, 35 anos, chamou ao álbum “O material tem sempre razão”, uma frase que diz ser-lhe familiar e que dá nome também a um dos temas do alinhamento.

“É uma canção que fala da viagem que tem sido o meu percurso artístico, um bocadinho irónico em certos momentos, quase estou a gozar comigo própria nos momentos em que a pessoa quer ser algo que não é, a pressão para agradar a toda a gente. Quando alguém se trai há aqui um curto-circuito, algo que não funciona e o material [a voz] tem sempre razão”, argumentou.

Este segundo álbum é o resultado de dois anos de trabalho, entre composição e produção, e sai poucos meses depois de ter participado no Festival da Canção, ao qual concorreu com a música “Zero a Zero”, escrita por Luís Nunes.

A par do álbum a solo, que é apresentado em concerto na quarta-feira no Passos Manuel (Porto), e no dia seguinte no Teatro do Bairro (Lisboa), Joana Espadinha ainda dá aulas de música na escola do Hot Clube de Portugal e na Universidade de Évora, e integra os grupos Cassete Pirata e The Happy Mess.

26 Set 2018

Salto – “Rio Seco”

“Salto”

Tens sede e não queres beber
tens medo de quem te dá
tens fome de crescer em paz
e vontade de viver inteiro

E sonho hoje como te devo dizer
Que todos os rios vão secar
Até os peixes, terem pernas para andar

Contas contas que são poucas
para te entreter
Finges não entender outras
que te possam entristecer

Acorda e sonha a cores

E quando tudo se deixar transformar
Passo a passo força-se o hábito
Devagar
Até as dunas terem voz para cantar

Contas contas que são poucas
para te entreter
Finges não entender outras
que te possam entristecer
Corto as pontas que são ocas
para engrandecer
Finjo e fico com as outras
Até o rio renascer

Acordo e sonho a cores

Até os peixes terem pernas para andar
Até os peixes terem voz para cantar

Acordo e sonho a cores

SALTO e emmy Curl

17 Set 2018

Rodrigo Leão (com Camané) – “Rosa”

“Rosa”

Hoje o céu está mais azul, eu sinto
Fecho os olhos, mesmo assim, eu sinto
O meu corpo estremeceu
Não consigo adormecer

Ah, nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Que estás longe de mim
É uma espécie de dor

Hoje o céu está mais azul, eu sinto
Olho à volta mesmo assim, eu sinto
Que este amor vai acabar
E a saudade vai voltar

Ah, nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Que estás longe de mim
É uma espécie de dor

Já não sei o que esperar
Desta vida fugidia
Não sei como explicar
Mas é mesmo assim o amor

Rodrigo Leão e Camané

3 Set 2018

Óbito | Morreu guitarrista Phil Mendrix aos 70 anos

[dropcap]O[/dropcap] guitarrista Filipe Mendes, conhecido como Phil Mendrix, morreu ontem, aos 70 anos, em Lisboa, vítima de doença prolongada, disse à agência Lusa fonte próxima da família.

O corpo do músico que foi considerado um dos melhores guitarristas portugueses de sempre vai estar em câmara ardente, a partir das 15h de hoje, na capela de Santa Maria no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

Às 14h de amanhã naquela capela haverá missa de corpo presente, realizando-se o funeral às 15h para o cemitério dos Prazeres, também em Lisboa.

Nascido em Lisboa, em 10 de Novembro de 1947, Filipe Mendes começou a estudar piano com sete anos. Em 1971, aperfeiçoou os conhecimentos de guitarra eléctrica num curso na Chicago School of Music.

Em 1964, estreou-se como profissional na rádio e televisão, tendo actuado no Festival Yé-Yé e no Teatro Monumental, em Lisboa.

O músico foi líder dos Chinchilas, que formou aos 16 anos com Vítor Mamede, José Machado, Mário Piçarra e Fernando, uma formação pioneira do designado como rock psicadélico português que inicialmente se chamavam Monstros.

Fortemente influenciada pela música dos Cream e de Jimi Hendrix – sobrenome que esteve na origem nome profissional que o músico acabaria, mais tarde, por adoptar já que era conhecido como o “Jimi Hendrix português” devido aos seus solos de guitarra, a banda gravou o primeiro disco em 1967.

Quatro anos depois, a formação que teve origem no Porto actuou no primeiro festival de Vilar de Mouros. Nesse ano sai o único ‘single’ editado pelos Chinchilas, com os temas “Barbarela” e “D. João”, em 1971, ano em que o grupo acabaria por se dissolver, segundo a “Enciclopédia da Música Ligeira”, editada pelo Círculo de Leitores e dirigida por Luís Pinheiro de Almeida e João Pinheiro de Almeida.

Filipe Alberto do Paço de Oliveira Mendes nasceu em Lisboa, em 10 de Novembro de 1947, e atravessou as várias décadas do rock português em múltiplos projectos e palcos da música.

14 Ago 2018

Nuno Prata – “Essa dor não existe (tu isso sabes, não sabes?)”

“Essa dor não existe (tu isso sabes, não sabes?)”

Dessa dor só te lembras
Nas alturas em que inventas
Vãos motivos para sofrer
Essa dor não a trazes
Essa dor só a usas
Quando queres fingir que não sabes rir

Essa dor não existe
Essa dor nunca sentiste
Essa dor não a tens
(Tu isso sabes, não sabes?)

Essa dor não te serve.
Essa dor só a vestes
Quando já não tens mais nada a dizer

Essa dor dá-te jeito
Essa dor é perfeita
Para termos todos pena de ti

Essa dor não é nada
Essa dor só acaba
Com o que ainda resta de ti
(Mas isso sabes, não sabes?)

Porque é que dela precisas?
Será mesmo que acreditas
Que o que não foi
É aquilo que hoje te rói?

Não te maces
Não te canses
Não te mates
Pois outros homens virão
Fazer de ti o que eles são

Essa dor não é tua
Acho que a achaste na rua
Ingrato resto de alguém

Essa dor não é nada
Essa dor só acaba
Com o que ainda resta de ti

Essa dor não existe
Essa dor nunca sentiste
Por isso sabe-te bem

(Isso tu sabes que eu sei)

Nuno Prata

29 Jun 2018

Claúdia Pascoal – “O Jardim”

“O Jardim”

Eu nunca te quis
Menos do que tudo
Sempre, meu amor

Se no céu também és feliz
Leva-me, eu cuido
Sempre, ao teu redor

São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim

São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim

Eu já prometi
Que um dia mudo
Ou tento, ser maior

Se do céu também és feliz
Leva-me, eu juro
Sempre, pelo teu valor

São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim

São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim

Agora que não estás, rego eu o teu jardim
Agora que não estás, rego eu o teu jardim
Agora que não estás
Agora que não estás, rego eu o teu jardim

Claúdia Pascoal e Isaura

11 Mai 2018

Sérgio Godinho – “Grão da mesma mó”

“Grão da mesma mó”

Não sei se estão a ver aqueles dias em que não acontece nada, a não ser o que o que aconteceu e não aconteceu
E do nada há uma luz que se acende. Não se sabe se vem de fora ou se de dentro, apareceu

E dentro da porção da tua vida, é a ti
que cabe o não trocar nenhum futuro pelo presente
O fazer face à face que se teve até ali
Ausente presente

Vê lá o que fazes, há
tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?

Precisas de água, a
Terra também
Ventos cruzados
E o sol e a chuva que os detém

Vivida a planta
Refeita a casa
É espaço em branco
Tempo de o escrever
E abrir asa

E a linha funda, na
palma da mão
Desenha o tempo então

Mas há linhas de água que cruzas sem sequer notares, e oh, estás no deserto e talvez no oásis, se o olhares
E não há mal e não há bem que não te venha incomodar
Vale esse valor? É para vender ou comprar?

Mas hoje, questões éticas? Agora? Por favor…
Que te iam prescrever a tal receita para a dor
Vais ter que reciclar o muito frio e o muito quente
Ausente presente

Vê lá o que fazes, há
tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?

E a linha funda, na
palma da mão
Desenha o tempo então

‘Um curto espaço de tempo’
Vais preenchê-lo com o frio da morte morrida
Ou o calor da vida vivida?
Não queiras ser nem um exemplo, nem um mau exemplo, por si só
Há dias em que é grão da mesma mó

E a senha já tirada, já tardia do doente
Dez lugares atrás, e pouco a pouco, à frente
E cada um falar-te das histórias da sua vida
Feliz, dorida

Vê lá o que fazes, há
tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?

Precisas de água, a
Terra também
Ventos cruzados
E o sol e a chuva que os detém

Vivida a planta
Refeita a casa
É espaço em branco
Tempo de o escrever
E abrir asa

E a linha funda, na
palma da mão
Desenha o tempo então

E explicaram-te em botânica, uma espécie que não muda
a flor do fatalismo, está feito
E se até dá jeito alterar só por hoje o amanhã
Melhor é transfigurar
o amanhã com todo o hoje

E as palavras tornam-se esparsas
Assumes
Fazes que disfarças
Escolhes paixões, ciúmes
Tragédias e farsas
E faças o que faças
Por vales e cumes
Encontras-te a sós, só
Grão a grão acompanhado e só
Grão da mesma mó
Grão da mesma mó

Sérgio Godinho

13 Abr 2018

Galgo – “Bambaré”

“Bambaré”

Bambaré de gatos pardos
Num beco escuro
Vêem tudo a passar
a passar a passar
a passar a passar
a passar a passar
a passar a passar

Bambaré de gatos pardos
Num beco escuro
Começam a dançar
a dançar a dançar
a dançar a dançar
a dançar a dançar
a dançar a dançar

Galgo

Alexandre Moniz, João Figueiras, Miguel Figueiredo e Joana Batista

10 Abr 2018

Señoritas | EA LIVE Sessions

“Acho que é meu dever não gostar”, “Ciática”, “A mão armada”, “Alice” e “Solta-me”

Señoritas

MITÓ MENDES e SANDRA BAPTISTA

EA LIVE Session de Senõritas foi gravada ao vivo no Palácio Sinel de Cordes, em Lisboa, para as EA LIVE Sessions, um projecto musical inédito em Portugal da autoria da Adega Cartuxa e dos vinhos EA.

31 Mar 2018

Baleia Baleia Baleia – “Quero ser um ecrã”

“Quero ser um ecrã”

E a vida, a morte, em fotos no ecrã
os dias compridos e os olhos no ecrã
o mundo perdido, achado no ecrã

Quero ser um ecrã

E os sonhos dos outros cumpridos no ecrã
o monstro do visível escondido do ecrã

Quero ser um ecrã

E as balas que nunca passam do ecrã
a força dos gritos, regulável no ecrã
as lendas e os mitos, imortais no ecrã

Quero ser um ecrã

Medos e incertezas no armário do ecrã
celulite e flacidez no ginásio do ecrã

Quero ser um ecrã

E é sempre Verão no ecrã
e os corpos estão sempre nus
e há tantos gatinhos no ecrã
e sushi
e bolinhos
e coisas boas

Baleia Baleia Baleia

23 Mar 2018

Rádio Macau – “Acordar”

“Acordar”

Não parti, mas já não sei voltar.
Ando às voltas a esquecer quem sou.
Bebo a noite até o Sol chegar.
Ele sempre me encontrou.

Só o Amor me faz correr.
Só o Amor me faz ficar.
Só o Amor me faz perder.
Só o Amor me faz querer mais.

Não sei viver sem ter de viver.
O que me dão já não sei gostar.
Não se perde o que não se quer ter.
Cada vez mais sem esperar.

Só o Amor me faz correr.
Só o Amor me faz ficar.
Só o Amor me faz perder.
Só o Amor me faz querer mais.

E se for a primeira vez,
que os teus dedos
tocam a luz da manhã.
Dá-me a tua mão.
Respira o ar do dia.
Talvez nada mais.

Rádio Macau

XANA, FLAK, ALEX, FILIPE VALENTIM, SAMUEL PALITOS e RICARDO FRUTUOSO

13 Jun 2017