Riade | Fórum empresarial com acordos de mais de 9,2 MM de euros

O encontro empresarial na capital da Arábia Saudita movimentou quantias astronómicas. Só o acordo entre a chinesa Human Horizons, fabricante de veículos eléctricos, e o Ministério de Investimentos saudita cifrou-se em 5,6 mil milhões de dólares

 

O Fórum de Empresários Árabes e Chineses, que terminou ontem em Riade, promoveu acordos comerciais estimados em mais de 10 mil milhões de dólares, noticiou a imprensa internacional. Segundo os meios de comunicação sauditas, os acordos do primeiro dia incluíram, entre outros, investimentos conjuntos nos sectores de tecnologia, energia renovável, agricultura, habitação, cadeia de suprimentos, turismo e saúde.

O maior destes, no valor de 5,6 mil milhões de dólares, foi assinado pelo Ministério de Investimentos saudita e pela empresa chinesa Human Horizons, especializada no desenvolvimento de tecnologias de direcção autónoma e na fabricação de veículos eléctricos com a marca HiPhi.

As partes estabelecerão uma parceria para investigar, desenvolver, fabricar e vender veículos eléctricos na Arábia Saudita, segundo as fontes.

Outros acordos, alguns entre empresas sauditas do sector privado, incluem o estabelecimento de investimentos conjuntos para fabricar carruagens de comboios, construir e operar um projecto de mineração de cobre ou ainda desenvolver aplicativos sobre turismo.

Parceria reforçada

O Fórum de Empresários Árabe e Chineses – na sua décima edição e que teve início no domingo em Riade – é visto pela Arábia Saudita como uma oportunidade para ampliar a parceria económica com a China, considerada a principal parceira comercial de Riade.

O chanceler saudita, Faisal bin Farhan, estimou durante a sessão inaugural em 430 mil milhões de dólares o volume do intercâmbio comercial árabe-chinês em 2022, e em 106 mil milhões o comércio saudita-chinês no mesmo período, com um aumento de 31 por cento e 30 por cento, respectivamente, em relação a 2021.

Este fórum ocorre quando os Estados Unidos estão a perder gradualmente a sua influência na região, o que fez com que a China se posicionasse no centro dos países da Liga Árabe, formada por 22 membros, principalmente nas monarquias ricas em petróleo do Golfo Pérsico.

Em Dezembro passado, a China consolidou-se como o maior parceiro comercial da Arábia Saudita, assinando cerca de trinta acordos multimilionários, incluindo um acordo de “Parceria Estratégica”, durante a primeira visita do Presidente chinês, Xi Jinping, ao reino desde 2016.

13 Jun 2023

Futebol | Nuno Espírito Santo sela marca lusa na Arábia Saudita pelo terceiro ano seguido

O treinador português Nuno Espírito Santo sagrou-se no sábado campeão saudita de futebol pelo Al-Ittihad, destronando o Al-Hilal, que conquistara duas das últimas três edições pela mão de José Morais e Leonardo Jardim.

Uma vitória na visita ao Al Feiha (3-0) permitiu aos ‘tigres’ chegarem ao seu nono cetro e desfazerem um ‘jejum’ de 14 anos, num 29.ª e penúltima ronda em que o ‘vice’ Al Nassr, no qual atua o internacional luso Cristiano Ronaldo, empatou na casa do Al-Ettifaq (1-1).

O Al-Ittihad fortaleceu a liderança, com 66 pontos, cinco acima do Al Nassr, sobre o qual também tinha vantagem no confronto direto, numa temporada em que já tinha vencido a Supertaça da Arábia Saudita, ao bater o Al Feiha (2-0), na decisão disputada em Riade.

No rasto dos êxitos de 1981/82, 1996/97, 1998/99, 1999/00, 2000/01, 2002/03, 2006/07 e 2008/09, o clube de Jeddah igualou o Al Nassr no segundo lugar do quadro de honra do principal escalão saudita, reunindo metade dos 18 títulos do até aqui tricampeão Al-Hilal.

Nuno Espírito Santo sagrou-se campeão nacional pela primeira vez e granjeou o terceiro título no seu currículo de treinador principal, iniciado com a conquista da segunda divisão inglesa, e consequente subida direta à Premier League, pelo Wolverhampton (2017/18).

O antigo guarda-redes, que chegou a passar pelo comando do FC Porto (2016/17), clube no qual terminou a sua carreira de futebolista, aumentou para seis o número de técnicos lusos campeões na Arábia Saudita, após Artur Jorge (Al-Hilal, em 2001/02), Rui Vitória e Hélder Cristóvão (ambos com o Al Nassr, em 2018/19), José Morais e Leonardo Jardim.

Nuno Espírito Santo, de 49 anos, emerge agora como um dos 13 compatriotas vitoriosos em campeonatos nacionais na Ásia e frisou o contributo do maior país do Médio Oriente nesse lote, que atravessa China, Coreia do Sul, Hong Kong, Macau, Malásia, Maldivas, Qatar ou Vietname, incluindo desde este ano a Indonésia e os Emirados Árabes Unidos.

Os treinadores portugueses já prevaleceram num conjunto de 36 nações dispersas pelos quatro cantos do planeta, com destaque para os 34 êxitos observados em oito países de África, onde os escalões principais de Egito e de Moçambique somaram 10 títulos cada.

Nesse continente, distinguiram-se Manuel José, com seis cetros egípcios pelo Al-Ahly, e Bernardino Pedroto, com três no ASA e dois no Petro Luanda, todos em Angola, à parte das conquistas em Cabo Verde, Líbia, Marrocos, Tunísia ou Argélia, onde Carlos Gomes se tornou o primeiro lusitano a ser campeão no estrangeiro, em 1970/71, pelo MC Oran.

Na Europa, e para além de Portugal, os treinadores nacionais granjearam sucesso em 13 países, tais como Bulgária, Chipre, Grécia, Israel, Luxemburgo, Roménia, Rússia, Suíça ou Ucrânia, faltando a Alemanha para fechar a senda nos cinco principais campeonatos.

O maior responsável deste cenário é José Mourinho, que ainda é o único a triunfar em Espanha, pelo Real Madrid (2011/12), em Inglaterra, onde foi tricampeão com o Chelsea (2004/05, 2005/06 e 2014/15), e em Itália, ‘bisando’ no Inter Milão (2008/09 e 2009/10).

O atual técnico dos transalpinos da Roma nunca trabalhou na Alemanha ou em França, nação onde comemoraram o ‘rei’ Artur Jorge, com o Paris Saint-Germain, em 1993/94 e 1994/95, e, mais recentemente, em 2016/17, Leonardo Jardim, ao serviço do Mónaco.

Brasil e Equador distinguiram recentemente a presença portuguesa na América do Sul, com Jorge Jesus a festejar pelo Flamengo (2019) e Abel Ferreira a imitar esse feito pelo Palmeiras (2022), entre a conquista de Renato Paiva no Independiente del Valle (2021).

Se não há qualquer êxito na Oceânia, o historial na América do Norte resume-se ao ‘bis’ de Guilherme Farinha na Costa Rica, em representação do Alajuelense, em 1999/00 e 2000/01, e ao cetro de Pedro Caixinha no México, com o Santos Laguna, em 2014/15.

28 Mai 2023

Príncipe herdeiro saudita é pragmático e procura assegurar papel de líder no Médio Oriente, diz analista

O analista de política internacional Filipe Pathé Duarte defende que a retoma das relações entre a Arábia Saudita e o Irão demonstra o “pragmatismo” do príncipe herdeiro saudita na procura de assegurar o papel de líder no Médio Oriente.

Em declarações à agência Lusa, o académico da NOVA School of Law de Portugal lembrou que o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman está a procurar “isolar” Israel para que se possa, paralelamente, pôr em causa os Acordos de Abraão (assinados em 2020 pelo Estado israelita com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein e, mais tarde, com Marrocos e o Sudão), devendo ainda ter-se de perceber se a “guerra por procuração” no Iémen vai ou não continuar.

Questionado pela Lusa sobre se o recente acordo entre Riade e Teerão, patrocinado pela China e assinado a 06 deste mês, é “contranatura”, Pathé Duarte admitiu que tudo é possível.

“Não sei se é contranatura. Bin Salman é um líder extremamente pragmático. Temos de perceber verdadeiramente o futuro deste acordo. Por um lado, isola Israel, por outro, pode pôr em causa os Acordos de Abraão e temos ainda de pensar na efetividade desse acordo. Para isso, temos de pensar no que está a acontecer no Iémen e perceber se a guerra por procuração vai ou não continuar”, respondeu.

“De qualquer maneira, o acordo parece ser uma espécie de acordo antinatura, mas não é. Bin Salman é um pragmático e está a tentar assegurar, cada vez mais, a sua posição como líder do Médio Oriente”, sustentou.

Para Pathé Duarte, as consequências da retoma das relações entre sauditas e iranianos, além de pôr em causa os Acordos de Abraão e o isolamento de Israel, suscita ainda mais uma questão, que é tentar perceber se a causa palestiniana voltará a tornar-se “uma forma de unificação de todo o mundo árabo-muçulmano contra Israel”.

“Nos últimos anos tem havido uma espécie de um apagar da causa israelo-palestiniana precisamente por esta aproximação de Estados árabo-islâmicos a Israel [os Acordos de Abraão], isolando progressivamente o Irão. O que temos aqui, eventualmente, é o resultado do pragmatismo de Bin Salman, podendo assistir-se aqui a um volta-face das dinâmicas no Médio Oriente em que Israel pode sofrer”, argumentou.

Para o docente e investigador, os Acordos de Abraão “foram um passo altamente positivo para Israel porque isolava o Irão e unificava o mundo árabo-islâmico, aproximando-o progressivamente” de Telavive, ao mesmo tempo que “diluía” a causa palestiniana.

“Mas, quando há uma fragilidade em termos de política interna em Israel, por regra, o que acontece é que surge sempre uma violência sectária. E pergunta-se: será que essa violência sectária é instigada para que surja num momento de instabilidade política para Israel? E é instigada por quem?”, questionou, sublinhando que só o tempo poderá responder cabalmente a estas questões.

“Mas, sim, acho que o que estamos a assistir é a um isolamento de Israel, tendo, sobretudo, como pano de fundo, cada vez mais, a situação interna de Israel [cujo atual Governo é o mais à direita da história do país ao integrar parceiros ultraortodoxos e de extrema-direita], que está confrontado com um problema existencial”, afirmou.

Para Pathé Duarte, esse problema existencial passa por se saber se Israel quer verdadeiramente ser um Estado democrático secular ou se quer ser um Estado judaico.

“Se quer ser um Estado judaico, vai ter de, possivelmente, contar com movimentos de âmbito mais extremista no poder, que, por sua vez, são um desafio às liberdades, direitos e garantias e ao próprio Estado de Direito. Neste momento, Israel sabe que está a confrontar-se com esse problema. E sabendo que está a ser confrontado com esse problema, há imediatamente um reequilíbrio no plano regional, com uma aparente aproximação entre Irão e Arábia Saudita”, justificou.

“Temos de olhar para o pragmatismo de Bin Salman e de olhar também para o que vai acontecer no Iémen, para, a partir daí, podermos perceber se, de facto, há um acordo e uma aproximação com pernas para andar ou se é meramente resultado de um momento contextual”, declarou.

O Iémen vive desde 2014 mergulhado num conflito entre os rebeldes xiitas Huthis, próximos do Irão, e as forças do Governo, apoiadas por uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita e que inclui os Emirados Árabes Unidos.

Ainda questionado pela Lusa sobre se a atual contestação interna ao Governo israelita deixa no ar a ideia de que o executivo está a prazo, Pathé Duarte sublinhou ser “difícil perceber”, embora defenda que a legitimidade do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu “está a ser posta em causa”. “E, se num Estado de Direito a legitimidade está posta em causa, os governos alteram-se”, concluiu.

13 Abr 2023

Arábia Saudita | Integração na Organização de Cooperação de Xangai aprovada

A Arábia Saudita aprovou ontem a sua associação à Organização de Cooperação de Xangai (SCO), à qual pertencem Rússia e China, como parceiro de diálogo, ilustrando a sua estratégia de aproximação a Pequim.

“O memorando para a concessão ao reino da Arábia Saudita do estatuto de membro associado no diálogo da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês) foi aprovado”, disse a agência oficial de notícias saudita SPA, sem dar mais pormenores.

A decisão foi aprovada numa sessão presidida pelo rei saudita, Salmán bin Abdulaziz, no palácio Al Salam, na cidade de Jeddah. O estatuto de membro associado ao diálogo é um pré-requisito para os países que se querem tornar membros plenos da organização.

A SCO é uma organização política, económica e militar da Eurásia, fundada em 2001 em Xangai pelos líderes da China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão. Há quatro anos, o grupo passou a incluir a Índia e o Paquistão, com o objectivo de desempenhar um maior papel maior como contrapeso à influência ocidental na região. O Irão deve obter o estatuto de membro na próxima cimeira, que se realiza em Abril, na Índia.

Desde a sua criação, a organização tem-se concentrado principalmente em questões de segurança regional, na luta contra o terrorismo, separatismo étnico e extremismo religioso.

O Irão e a Arábia Saudita anunciaram, este mês, em Pequim, um acordo para restabelecerem as relações diplomáticas, cortadas por Riade em 2016, no que foi visto como um triunfo para a China, que tem reclamado um papel maior na resolução de questões internacionais.

30 Mar 2023

APN | Xi reclama maior papel internacional para Pequim após acordo entre Arábia Saudita e Irão

A China deve assumir um papel cada vez mais relevante na governação internacional o que trará mais benefícios, não só para o país, mas também para a conjuntura global, sublinhou Xi Jinping no discurso de encerramento da APN em que foi eleito para um terceiro mandato como Presidente

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, reclamou ontem um papel maior para a China na resolução de questões internacionais, após Pequim ter sediado negociações que culminaram num acordo entre Arábia Saudita e Irão para restabelecer relações diplomáticas.

A China deve “participar activamente na reforma e construção do sistema de governação global” e promover “iniciativas de segurança global”, disse Xi, no encerramento da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão máximo legislativo da China.

Xi Jinping obteve, na sexta-feira, um inédito terceiro mandato como chefe de Estado. Foi nomeado sem nenhum voto contra dos quase três mil delegados da APN.

Uma maior intervenção da China na governação internacional vai trazer “energia positiva para a paz e desenvolvimento mundiais e criar um ambiente internacional favorável ao desenvolvimento do nosso país”, disse Xi.

O Presidente chinês não deu detalhes sobre as ambições do Partido Comunista Chinês, mas Pequim assumiu uma política externa cada vez mais assertiva, desde que Xi assumiu o poder, em 2012.

O líder chinês tem exigido mudanças no Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e outras entidades que Pequim diz não reflectirem as necessidades e desejos dos países em desenvolvimento.

O Partido Comunista Chinês também utilizou o crescente peso da China, como a segunda maior economia do mundo, para promover iniciativas de comércio e construção de infraestruturas que os EUA, Japão, Rússia e Índia vêem com desconfiança, face à expansão da influência estratégica chinesa.

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, alertou Washington, na semana passada, sobre possíveis “conflitos e confrontos”, caso os Estados Unidos não “mudem de rumo” nas relações bilaterais, que se deterioram, nos últimos anos, face a diferendos sobre Taiwan, direitos humanos, Hong Kong, segurança e tecnologia.

Nação renascida

No discurso desta segunda-feira, Xi Jinping utilizou por oito vezes o termo “rejuvenescimento nacional”, parte da sua agenda para restaurar o papel da China como líder económico, cultural e político a nível mundial.

Consagrando o seu estatuto como o líder chinês mais forte desde o fundador da República Popular da China, Mao Zedong (1949 – 1976), a nova equipa de governação nomeada pela Assembleia Popular Nacional tem laços profissionais e pessoais antigos ao líder chinês. Xi conseguiu assim afastar rivais e preencher os principais órgãos do Estado com quadros da sua confiança.

Afirmou que, antes de o Partido Comunista conquistar o poder, em 1949, a China foi “reduzida a um país semicolonial e semifeudal, sujeito à intimidação por países estrangeiros”. “Finalmente, eliminamos a humilhação nacional e o povo chinês é agora dono do seu próprio destino”, disse Xi. “A nação chinesa levantou-se, enriqueceu e está a tornar-se forte”, acrescentou.

14 Mar 2023

Diplomacia | China apadrinhou restabelecimento das relações diplomáticas entre Irão e Arábia Saudita

Para surpresa geral da comunidade internacional, a diplomacia chinesa conseguiu mediar na passada sexta-feira o que parecia impossível: o restabelecimento das relações entre a Arábia Saudita e o Irão. O acordo entre as duas potências do Médio Oriente foi assinado na China, onde as duas partes mantiveram negociações com o apoio de Pequim, segundo um comunicado conjunto dos três países

 

“A República Islâmica do Irão e o Reino da Arábia Saudita decidiram retomar as relações diplomáticas e reabrir as suas embaixadas no prazo de dois meses”, pode ler-se no inesperado comunicado, assinado em Pequim, que deixou o Médio Oriente na expectativa de uma diminuição dos conflitos na região.

As conversações para retomar as relações diplomáticas foram conduzidas em Pequim de 6 a 10 de Março, de acordo com uma declaração trilateral da China, Arábia Saudita e Irão, informou a Xinhua. “Tanto a Arábia Saudita como o Irão manifestaram o seu apreço e agradecimento ao Iraque e a Omã por acolherem múltiplas rondas de diálogo entre 2021 e 2022, e aos líderes chineses e ao governo chinês por acolherem, apoiarem e contribuírem para o sucesso das conversações”, lê-se na declaração final.

O papel que a China desempenhou na ajuda aos dois países, que são velhos rivais, suscitou elogios generalizados após o seu anúncio, com uma esperada excepção. Segundo Pequim, “isto mostra que a filosofia diplomática chinesa, que visa promover a paz e o desenvolvimento, é muito mais apelativa do que a táctica de alguns países de alimentar o confronto para expandir o seu próprio domínio político na região do Golfo”.

“Esta é também uma das melhores práticas no âmbito da Iniciativa de Segurança Global (ISG) que a China propôs e que poderia ter implicações de grande alcance e um efeito demonstrativo noutras regiões que enfrentam problemas semelhantes de confrontação e conflito”, acrescentaram fontes próximas da diplomacia chinesa.

Já o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China afirmou no sábado que “a China espera ver uma comunicação e um diálogo mais estreitos entre a Arábia Saudita e o Irão e está pronta a continuar a desempenhar um papel positivo e construtivo na facilitação de tais esforços”.

“O seu diálogo e o acordo estabelecem um bom exemplo de como os países da região podem resolver disputas e diferenças e alcançar uma boa vizinhança e amizade através do diálogo e da consulta. Isto ajudará os países regionais a livrarem-se da interferência externa e a tomarem o futuro nas suas próprias mãos”, disse o porta-voz, observando que a China continuará a contribuir com os seus conhecimentos e propostas para a realização da paz e tranquilidade no Médio Oriente.

Ao mesmo tempo que felicita as duas partes por terem dado um passo histórico em frente, Wang Yi, director do Gabinete da Comissão dos Negócios Estrangeiros do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), disse que a China apoia as duas partes a darem passos firmes, tal como acordado no acordo, para trabalharem para o futuro brilhante comum com paciência e sabedoria. “Como amigo de confiança dos dois países, a China continuará a desempenhar um papel construtivo”, disse Wang.

Hussein Ibish, um académico residente no Instituto dos Estados Árabes do Golfo em Washington, afirmou numa entrevista à CNN que “o facto de ter sido acordado em Pequim é muito significativo para a China e a sua ascensão como actor diplomático e estratégico na região do Golfo”. “Isto parece reconhecer o papel único da China em ser capaz de intermediar as relações entre Teerão e Riade, entrando numa posição que tinha sido anteriormente ocupada por países europeus, se não pelos Estados Unidos, e isto não será particularmente agradável para Washington”, disse Ibish.

Redução de conflitos

O acordo entre o Irão e a Arábia Saudita para a retoma dos laços diplomáticos pode ter efeitos a longo prazo em todo o Médio Oriente e não só, reduzindo as hipóteses de conflitos armados entre rivais regionais. Uma análise da agência Associated Press (AP), sobre os países afectados por este acordo, refere o Iémen, país onde quer a Arábia Saudita, quer o Irão, estão profundamente envolvidos na sua longa guerra civil.

A Arábia Saudita entrou no conflito em 2015, apoiando o Governo exilado do país, enquanto o Irão apoiou os rebeldes houthis, que em 2014 tomaram a capital, Sanaa. Diplomatas têm procurado uma forma de encerrar o conflito, que gerou um dos piores desastres humanitários do mundo e que se transformou numa guerra por procuração entre Riade e Teerão. O acordo saudita-iraniano pode dar um impulso aos esforços para acabar com o conflito.

Já no Líbano, há muito que o Irão apoia a poderosa milícia xiita libanesa Hezbollah, enquanto a Arábia Saudita apoia os políticos sunitas do país. O alívio das tensões entre Riade e Teerão pode levar os dois a procurarem uma reconciliação política no Líbano, que enfrenta um colapso financeiro sem precedentes.

Por outro lado, na Síria, o Irão apoiou o Presidente sírio, Bashar al-Assad, na longa guerra civil deste país, enquanto a Arábia Saudita apoiou os rebeldes que procuram derrubá-lo. No entanto, nos últimos meses, principalmente após o terremoto que devastou a Síria e a Turquia, as nações árabes aproximaram-se de Al-Assad. O acordo diplomático desta sexta-feira pode tornar mais apelativo para Riade interagir com Al-Assad.

O americano intranquilo

No ‘outro lado do mundo’, o Governo norte-americano, liderado por Joe Biden, não quer acreditar no que se passou sob “as suas barbas” e sublinha que está “céptico” de que o Irão irá honrar os seus compromissos e garantem que estarão atentos. O papel da China na mediação feriu o papel dos EUA na região e, no que se refere à batalha entre Washington e Pequim pela influência na região e não só. Temerosas, as autoridades norte-americanas realçam que “não está claro” se os esforços chineses serão bem-sucedidos.

O acordo com a Arábia Saudita pode fornecer a Teerão novos caminhos para contornar as sanções, depois de já ter aprofundado laços com a Rússia e até armado Moscovo com ‘drones’ de ataque utilizados contra a Ucrânia.

Já na Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman pretende gastar dezenas de milhões de dólares em megaprojetos para reformular o reino rico em petróleo perante as ameaças impostas pelas alterações climáticas. Preocupações com ataques e conflitos regionais apenas colocaria esses projectos em dúvida.

Sem “agenda escondida”

Entretanto, perante as dúvidas e o mal-estar dos EUA, a China garantiu que o seu papel no restabelecimento das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita não tem uma agenda escondida e que não pretende preencher um vazio no Médio Oriente.

“A China não persegue qualquer interesse egoísta” e vai continuar a apoiar os países do Médio Oriente “a resolver as suas diferenças através do diálogo e em consultas para promover a paz e estabilidade duradouras em conjunto”, lê-se numa declaração colocada no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

A posição da China surge depois de ter mediado a reaproximação entre os dois países, e na sequência de preocupações de vários analistas e países, como os Estados Unidos, sobre as reais intenções da mediação chinesa.

A intervenção chinesa no reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, incluindo a reabertura de embaixadas depois de sete anos, foi vista como uma grande vitória diplomática da China, com os países do Golfo a considerarem que os Estados Unidos reduziam a sua intervenção na região.

“Respeitamos o estatuto dos países do Médio Oriente como senhores desta região e opomo-nos à concorrência geopolítica no Médio Oriente”, lê-se ainda na declaração. “A China não tem intenção e não vai procurar ocupar o chamado vazio ou erguer blocos exclusivos”, afirma-se ainda, numa aparente referência aos Estados Unidos.

A diplomacia chinesa, no Médio Oriente, é encarada como um parte neutra, com fortes laços quer ao Irão, quer à Arábia Saudita, bem como com Israel e a Autoridade Palestiniana.

ONU, Europa e países do Golfo saúdam o acordo

A União Europeia (UE) considerou positivo o acordo para o restabelecimento de relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita e espera que possa contribuir para a estabilização do Médio Oriente. “A UE saúda o acordo para o restabelecimento das relações diplomáticas entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irão e aguarda agora a sua implementação. Uma vez que ambos são fundamentais para a segurança da região, o restabelecimento das suas relações bilaterais pode contribuir para a estabilização da região como um todo”, declarou, em comunicado, o Serviço Europeu de Ação Externa.

A UE, que reconheceu “os esforços diplomáticos que levaram a este importante passo”, destacou que a promoção da paz e da estabilidade, bem como a redução das tensões na região, são prioridades do bloco comunitário e declarou-se “preparada para estar em contacto com todos os actores da região de forma inclusiva e com total transparência”.

Também o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, saudou o acordo e elogiou a China, Omã e o Iraque por promoverem as conversações. Países como o Qatar, os EAU, Iraque, Omã, Líbano, Bahrein, entre muitos outros, também expressaram sentimentos positivos em relação à decisão dos dois países de retomar os laços diplomáticos, informou a Reuters.

Séculos de tensões entre Irão e Arábia Saudita

As relações entre o Irão (indo-europeu) e a Arábia Saudita (semita), dois “pesos-pesados” do Médio Oriente, são tensas há séculos devido a rivalidades religiosas e à luta de influências na região. Seguem-se alguns pontos essenciais na história de relações tensas entre os dois países.

Século VII
Povos árabes invadem o Irão (império sassânida) impondo o Islão e eliminando o zoroastrismo.

Século VIII
Irão adopta o xiismo, criado na sequência do massacre a uma caravana onde seguia Ali (quarto califa), a sua mulher Fátima (filha do profeta Maomé) e o filho de ambos.

Século XX
Revolução iraniana e guerra
Após a criação da República Islâmica do Irão, em abril de 1979, na sequência da revolta popular desse ano, os países sunitas acusaram Teerão de pretender “exportar” a revolução xiita para os abafar. Em 1980, o Iraque atacou o Irão, desencadeando uma guerra de oito anos durante a qual a Arábia Saudita apoiou financeiramente o regime iraquiano.

Peregrinos mortos, relações rompidas
Em 1987, as forças de segurança em Meca, na Arábia Saudita, reprimem uma manifestação anti-norte-americana não autorizada organizada por peregrinos iranianos. Mais de 400 pessoas, na maioria iranianas, são mortas. Iranianos, furiosos, saquearam a Embaixada Saudita em Teerão e, em 1988, Riade cortou relações diplomáticas, o que se prolongaria até 1991.

Oposição na Síria e no Iémen
Enquanto os protestos da Primavera Árabe atingem a região em 2011, Riade envia soldados para o Bahrein, onde os xiitas estão a manifestar-se em apoio à revolução. A Arábia Saudita acusa o Irão de alimentar tensões. Os dois países rivais confrontam-se novamente em 2012, quando irrompe a crise síria. O Irão apoia o Presidente sírio, Bashar al-Assad, enquanto a Arábia Saudita sai em defesa dos rebeldes. No Iémen, em 2015, Riade formou uma coligação árabe sunita para intervir em favor do Presidente iemenita para tentar derrotar os rebeldes xiitas Houthi, apoiados por Teerão.

Debandada mortal em Meca
Uma debandada durante a grande peregrinação anual a Meca, em 2015, matou cerca de 2.300 peregrinos estrangeiros, incluindo centenas de iranianos. O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, diz que a Arábia Saudita não merece administrar os locais mais sagrados do Islão.

Relações novamente rompidas
Em 2016, a Arábia Saudita executou o proeminente clérigo xiita Nimr al-Nimr, uma dos principais líderes dos protestos antigovernamentais, por “terrorismo”. A execução deixa o Irão furioso. Manifestantes atacam missões diplomáticas sauditas no Irão. Riade rompe novamente as relações com Teerão.

Hezbollah, Qatar
Em 2016, as monarquias árabes do Golfo consideram a poderosa milícia xiita libanesa Hezbollah, aliada do Irão, como uma “organização terrorista”. Em 2017, foi em Riade que o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, anunciou a renúncia ao cargo, argumentando com o “controlo” do Irão no Líbano através do Hezbollah. Mais tarde, Hariri irá retratar-se. No mesmo ano, a Arábia Saudita e aliados cortam relações diplomáticas com o Qatar, acusando-o de manter laços “muito estreitos” com o Irão e de apoiar o extremismo, o que Doha nega. A Arábia Saudita e respectivos aliados restabelecem as relações em 2021.

Nuclear iraniano
Em 2018, numa entrevista a uma cadeia de televisão norte-americana, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman avisou que, se Teerão adquirir armas nucleares, a Arábia Saudita fará o mesmo “o mais rápido possível”.

13 Mar 2023

Arábia Saudita | Xi na primeira cimeira China-Estados Árabes

Classificada como um marco histórico nas relações entre a China e os países árabes, a visita do Presidente chinês à Arábia Saudita visa estreitar as relações entre os dois lados e passar uma mensagem de solidariedade para o mundo

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, participa na primeira cimeira China-Estados Árabes. Este será o maior e mais alto nível evento diplomático entre a China e o mundo árabe desde a fundação da República Popular da China, bem como um marco histórico na história das relações sino-árabes, disse uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros na quarta-feira, citado pelo Diário do Povo.

“Realizar a primeira cimeira China-Estados Árabes é uma decisão estratégica conjunta de ambos os lados para fortalecer a solidariedade e a coordenação nas circunstâncias actuais. Esperamos que a cimeira proporcione uma oportunidade para os dois lados explorarem ideias para aumentar mais ainda as nossas relações, estabelecer o plano para a cooperação futura e inaugurar um futuro brilhante da parceria estratégica sino-árabe”, disse a porta-voz, Mao Ning, numa conferência de imprensa.

“Esperamos construir mais entendimentos comuns estratégicos sobre as principais questões regionais e internacionais para enviar uma mensagem forte sobre a nossa determinação de fortalecer a solidariedade e a coordenação, prestar apoio firme uns aos outros, promover o desenvolvimento comum e defender o multilateralismo. Esperamos agir em conjunto na Iniciativa de Desenvolvimento Global e na Iniciativa de Segurança Global, promover a cooperação de alta qualidade do projecto “Uma Faixa, Uma Rota” e contribuir para a paz e o desenvolvimento do Oriente Médio e do mundo em geral”, acrescentou.

“Esperamos construir uma comunidade sino-árabe com um futuro compartilhado na nova era e identificar os caminhos e medidas práticas juntos, a fim de promover a solidariedade entre os países em desenvolvimento e contribuir para uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade”, disse a porta-voz.

Xi está de visita à Arábia Saudita desde dia quarta-feira, dia 7, onde permanecerá até sábado, a convite do rei saudita Salman bin Abdulaziz Al Saud, anunciou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, nesta quarta-feira.

Parceria aprofundada

Afirmando que os países do CCG são parceiros importantes para a China na sua cooperação com o Médio Oriente, Mao disse que as relações China-CCG têm desfrutado de um crescimento abrangente, rápido e profundo nos últimos 41 anos, com uma cooperação frutífera abrangendo as áreas de economia, comércio, energia, serviços financeiros, investimento, alta tecnologia, aeroespaço, língua e cultura, estabelecendo o ritmo para a cooperação entre a China e os países do Médio Oriente.

Sobre a visita de Estado do presidente Xi à Arábia Saudita, a porta-voz disse que será a primeira visita de Xi a um país do Oriente Médio Oriente após o bem-sucedido 20.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China e sua segunda visita à Arábia Saudita em seis anos.

Durante a visita, o presidente Xi terá trocas profundas de pontos de vista com o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud e com o príncipe herdeiro e primeiro-ministro, Mohammed bin Salman Al Saud, sobre relações bilaterais e questões de interesse compartilhado, e elevará a parceria estratégica abrangente China-Arábia Saudita a um nível mais alto, disse Mao.

9 Dez 2022

Arábia Saudita e China acordam manter estabilidade no mercado de petróleo

Arábia Saudita e China comprometeram-se sexta-feira a cooperar para manter a estabilidade no mercado mundial de petróleo, segundo a imprensa oficial, depois de o reino árabe ter sido alvo de críticas por parte de Washington.

De acordo com a agência noticiosa saudita SPA, o ministro da Energia, Abdulaziz bin Salman bin Abdulaziz, e o director da Administração Nacional de Energia da China, Zhang Jianhua, “afirmaram a sua vontade de cooperar para garantir a estabilidade no mercado petrolífero mundial, manter uma comunicação eficaz e fortalecer a cooperação, visando enfrentar desafios futuros”, durante uma reunião por videoconferência.

As duas partes apontaram para a “importância de trocar pontos de vista, como dois dos mais importantes produtores e consumidores de energia do mundo”, segundo a mesma fonte, acrescentando que as duas partes sublinharam a importância de um fornecimento confiável de petróleo a longo prazo, para garantir a estabilidade no mercado de petróleo.

O mercado de petróleo enfrenta “muitas incertezas, como o resultado de condições internacionais complexas e em mudança”, disse a agência, sem dar mais detalhes.

Cooperação activa

A Arábia Saudita enfatizou que continua a ser o “parceiro e exportador mais confiável de suprimentos de petróleo bruto para a China”.

Ambos os lados acordaram ainda “cooperar, no âmbito do acordo de cooperação bilateral para o desenvolvimento de energia nuclear, negociado entre os governos da China e da Arábia Saudita”.

Os 13 membros da OPEP+, liderados pela Arábia Saudita e Rússia, decidiram, em 5 de Outubro, reduzir as cotas de produção, para impedir uma queda no preço do petróleo bruto, uma decisão que abalou a relação entre Riade e Washington.

A Casa Branca disse que vai “rever” o seu relacionamento com a Arábia Saudita, que acusou de “alinhar com a Rússia”, com aquela medida.

A Arábia Saudita defendeu o acordo da OPEP+ para reduzir a oferta de petróleo, afirmando que se trata de uma decisão puramente económica, algo que foi apoiado por muitos países, especialmente da região do Golfo Pérsico.

23 Out 2022

Arábia Saudita | Cimeira virtual do G20 aborda pandemia, crise económica e ajudas a países pobres

[dropcap]A[/dropcap] pandemia de covid-19, a crise económica daí oriunda e as ajudas económicas aos 73 países mais pobres do mundo vão centrar, no próximo fim de semana, a cimeira virtual das 20 economias mais industrializadas do planeta (G20).

Organizada pela primeira vez por um país árabe, a Arábia Saudita, e no formato inédito de videoconferência, a cimeira vai abordar a questão das implicações da pandemia no contexto económico e sanitário mundial – a covid-19 já infectou quase 56 milhões de pessoas e matou mais de 1,3 milhões – e eventuais medidas para relançar a economia no mundo.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), se, por um lado, a esperança na eficácia das vacinas está a subir, a economia, por outro, está ainda longe de ver a luz ao fundo do túnel, uma vez que as projeções apontam para que o Produto Interno Bruto (PIB) global deva diminuir 4,4% em 2020.

Os países do G20 gastaram já cerca de 11.000 biliões de dólares para salvar a economia mundial e têm pela frente uma “bomba-relógio”: a dívida dos países pobres, que se confrontam com um colapso (menos 700.000 milhões de dólares, segundo a Organização para a Cooperação e desenvolvimento Económico – OCDE) do seu financiamento externo.

A 13 deste mês, os ministros das Finanças do G20 acertaram um “quadro comum”, que implica pela primeira vez a China e os credores privados, para aliviar o peso da dívida, um avanço em relação à moratória de pagamento de juros implementada em abril, mas ainda insuficiente para as organizações não-governamentais (ONG).

“O G20 está a manter a cabeça na areia e não responde à urgência da situação”, numa altura em que, segundo perspectivou o Banco Mundial (BM), entre 88 e 115 milhões de pessoas deverão cair na extrema pobreza”, referiu Katherine Tu, dirigente da Action Aid.

Uma das soluções seria usar os Direitos Especiais de Saque (SDR, em inglês) do FMI, um instrumento de financiamento já usado durante a crise económica de 2008.

Numa entrevista recente ao Financial Times, o ministro das Finanças saudita, Mohammed al-Jaddan, disse estar confiante nessa solução, apesar das reservas iniciais dos Estados Unidos, cuja participação ao mais alto nível na cimeira ainda está em dúvida, uma vez que Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden nas eleições presidenciais norte-americanas de 03 deste mês, não confirmou a presença.

“Isso diz muito do seu interesse [de Trump] na cimeira do G20. Estas grandes reuniões são, de facto, menos válidas para um programa oficial muito consensual ou para o comunicado de imprensa final, muitas vezes muito suave, do que para as separações entre pessoas poderosas, os laços forjados à mesa, nos intervalos para café, nos corredores ou salas de ginástica dos hotéis”, comentou John Kirton, diretor do Centro de Investigação do G20.

No entanto, para o também professor da Universidade de Toronto, a “diplomacia digital” também tem as suas vantagens, ainda que apenas por questões de logística e segurança, numa região sob grande tensão.

Por outro lado, para Camille Lons, investigadora do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIEE), a cimeira é “uma oportunidade claramente perdida” para a Arábia Saudita, que “quis aproveitar para melhorar um pouco sua imagem”, maculada pelo assassínio, há dois anos, do jornalista Jamal Khashoggi.

Menos importante a nível global, o tema dos direitos humanos na Arábia Saudita não deixa de estar em foco, uma vez que as organizações não-governamentais terão a oportunidade de interpelar a comunidade internacional sobre uma questão que gera grandes críticas à atuação das autoridades de Riad.

Parentes de ativistas presos chegaram mesmo a apelar aos líderes mundiais para boicotarem a cimeira ou para, pelo menos, pressionarem os líderes sauditas a libertar os presos políticos e a garantir o respeito pelos direitos humanos.

A repressão às vozes dissidentes manchou a imagem do príncipe herdeiro Mohammad bin Salmane, que está, simultaneamente, a operar reformas para aligeirar as leis muito conservadoras no reino muçulmano.

Além da Arábia Saudita, o G20 é integrado pela África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, bem como pela União Europeia (UE) e pela Espanha, como país convidado permanentemente.

19 Nov 2020

Duo do Ouro Negro

[dropcap]E[/dropcap]sta crónica não é sobre Raul Indipwo, mas “Vou Levar-te Comigo”, meu irmão. Este fim-de-semana, uma série de ataques de drones à maior refinaria de petróleo do mundo, na Arábia Saudita, fez soar os tambores da guerra.

Quando a vítima de um atentado é o ouro negro, Washington responde com ira e prontidão para começar uma guerra. Este episódio traz ao de cima, mais uma vez, uma das mais perversas e bizarras alianças geopolíticas dos últimos tempos, o Duo do Ouro Negro. Chamemos os bois pelos nomes.

A Arábia Saudita é o Estado Islâmico que conseguiu os seus intentos. Um país que, além de exportar petróleo, exporta wahhabismo, semente do terrorismo sunita que, inclusive, foi a força “espiritual” da Al-Qaeda. Um dos exemplos do enorme poder relativista do petróleo é o facto de que 15 dos 19 terroristas que desviaram os aviões que embateram contra o World Trade Center eram sauditas, assim como Osama Bin Laden.

Mas nada importa, pelo menos enquanto o petróleo xiita tiver a Rússia e a China como clientes. Há anos que a Arábia Saudita bombardeia o Iémen com armas norte-americanas, causando uma das maiores crises humanitárias da actualidade que ameaça limpar da superfície terrestre o que resta do país.

Agora que houve uma centelha de retaliação, explode o mais podre e hipócrita dos ultrajes. Vá lá, o desdém pela vida e direito internacional não era suposto ser assim tão óbvio, nem demonstrar tão claramente que petróleo vale mais que pessoas. Ao menos o preço do barril de crude subiu. Os mercados vivem, enquanto as pessoas morrem. Viva o Duo do Ouro Negro!

18 Set 2019

Petróleo | Preocupações com preços após ataque na Arábia Saudita

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês admitiu ontem estar preocupado com o impacto nos mercados do petróleo do ataque com veículos aéreos não tripulados (drones) a instalações petrolíferas na Arábia Saudita, ocorrido no fim de semana.

“A China está obviamente muito preocupada com o impacto do ataque na estabilidade e segurança do mercado internacional de fornecimento de petróleo”, afirmou a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.

Os preços do petróleo caíram na terça-feira, depois de subirem no dia anterior, após o ataque.
A China é um dos maiores clientes do petróleo do Médio Oriente.

Hua afirmou ainda que o país condena os ataques a uma refinaria e a um campo de exploração petrolífera em Aramco, que forçou a Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, a reduzir a produção para metade.

O porta-voz do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês Fu Linghui considerou ontem que é muito cedo para avaliar o impacto nos mercados de energia, e observou que os preços do petróleo estavam em queda antes do ataque.

Os rebeldes iemenitas Huthis, apoiados pelo Irão e que enfrentam uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita, há cinco anos, assumiram a responsabilidade pelos ataques.

O incidente foi condenado pela Casa Branca. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, acusou Teerão de “lançar um ataque sem precedentes ao fornecimento global de energia”.

18 Set 2019

Petróleo | Preocupações com preços após ataque na Arábia Saudita

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês admitiu ontem estar preocupado com o impacto nos mercados do petróleo do ataque com veículos aéreos não tripulados (drones) a instalações petrolíferas na Arábia Saudita, ocorrido no fim de semana.
“A China está obviamente muito preocupada com o impacto do ataque na estabilidade e segurança do mercado internacional de fornecimento de petróleo”, afirmou a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.
Os preços do petróleo caíram na terça-feira, depois de subirem no dia anterior, após o ataque.
A China é um dos maiores clientes do petróleo do Médio Oriente.
Hua afirmou ainda que o país condena os ataques a uma refinaria e a um campo de exploração petrolífera em Aramco, que forçou a Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, a reduzir a produção para metade.
O porta-voz do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês Fu Linghui considerou ontem que é muito cedo para avaliar o impacto nos mercados de energia, e observou que os preços do petróleo estavam em queda antes do ataque.
Os rebeldes iemenitas Huthis, apoiados pelo Irão e que enfrentam uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita, há cinco anos, assumiram a responsabilidade pelos ataques.
O incidente foi condenado pela Casa Branca. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, acusou Teerão de “lançar um ataque sem precedentes ao fornecimento global de energia”.

18 Set 2019

Ex-companheira de Khashoggi pede à UE que defenda valores humanos nos países árabes

[dropcap]A[/drocpap] noiva do jornalista assassinado Jamal Khashoggi, Hatice Cengiz, pediu na terça-feira aos Estados-membros da União Europeia (UE) que actuem em defesa dos “valores humanos” nos países árabes, especialmente na Arábia Saudita.

Durante uma intervenção no Parlamento Europeu, Cengiz, que é turca, considerou insuficientes as sanções impostas ao reino saudita pela morte do seu namorado. Mas mesmo considerando que as sanções “possam ter efeito”, os Estados europeus devem dialogar com os países árabes, que estão absorvidos “em muitas guerras que começaram na Primavera árabe”.

O jornalista Jamal Khashoggi, que era crítico dos dirigentes do seu país, foi assassinado em 2 de Outubro, no consulado saudita em Istambul, onde se tinha deslocado para tratar de documentação para o seu casamento com Hatice Cengiz.

“Do que é que os senhores estão à espera? Que se declare a guerra em todos os países árabes, em todos os países do Golfo? A guerra agora chegou a outros níveis, mata-se em outros níveis (…). Os países da União Europeia têm de prestar atenção a todas estas questões, falar entre si, formar uma frente comum e comunicar com o resto do mundo”, disse Cengiz.

Aconselhou também a UE a, “se pretende erigir-se como modelo dos valores humanos para o resto do mundo”, actuar em consequência e situar a defesa destes valores no topo da sua lista de prioridades.

Cengiz criticou o facto de a Arábia Saudita “se permitir fazer algo assim à vista de todo o mundo”, garantindo que este país “nunca contribuiu para que a investigação jurídica à morte de Khashoggi pudesse discorrer de maneira adequada”.

Em resposta às pretensões de Cengiz, o presidente da subcomissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu, Pier Antonio Panzeri, reiterou o seu compromisso com a protecção dos direitos humanos na península arábica e “procurar a verdade” sobre o assassinato de Khashoggi, que classificou como um “drama terrível”.

Dirigindo-se directamente a Cengiz, Panzeri disse que “o Parlamento Europeu e a sua subcomissão de Direitos Humanos não estão satisfeitos com o que se fez até agora” e que não vai permitir que a Arábia Saudita “saia impune de um assassínio”.

20 Fev 2019

Arábia Saudita executa filipina condenada por homicídio

[dropcap]U[/dropcap]ma filipina de 39 anos foi executada terça-feira na Arábia Saudita depois de ter sido considerada culpada de homicídio sob a ‘sharia’, ou lei islâmica, informou ontem o Departamento de Relações Exteriores das Filipinas.

“Lamentamos não termos conseguido salvar a vida desta filipina depois do Supremo Conselho Judicial ter classificado o seu caso como um em que não se aplica a fórmula do ‘dinheiro de sangue’ contemplado pela ‘sharia'”, pode ler-se numa nota.

De acordo com a lei islâmica, a fórmula conhecida como “dinheiro de sangue” permite a comutação de uma pena capital se a família da vítima for indemnizada.

A filipina, executada na terça-feira, trabalhava como trabalhadora doméstica na Arábia Saudita, onde há cerca de um milhão de trabalhadores migrantes filipinos que frequentemente sofrem exploração, abuso e assédio às mãos dos seus empregadores.

Durante o processo judicial, a embaixada filipina em Riade forneceu à ré assistência legal, enviou representantes para a visitarem em prisões e manteve a sua família regularmente informada sobre o andamento do caso.

O Departamento dos Negócios Estrangeiros não forneceu, contudo, informações sobre quem foi a vítima do homicídio, nem sobre as circunstâncias do crime, alegando o pedido de privacidade da família.

Fazer pela vida

Em Novembro, as Filipinas repatriaram Jennifer Dalquez, que trabalhava como empregada doméstica nos Emirados Árabes Unidos (EAU), após ser absolvida da acusação de homicídio contra seu empregador, num julgamento em que arriscava também a pena de morte.

Dalquez tinha matado o seu empregador em legítima defesa, quando este a tentou violar, ameaçando-a com uma arma branca. A filipina passou quatro anos na prisão.

De acordo com as autoridades, cerca de três mil filipinos saem do seu país todos os dias com contratos de trabalho temporários no exterior, muitos deles em países árabes, onde as mulheres geralmente trabalham como trabalhadoras domésticas e homens no sector de construção.

Cerca de dez milhões de filipinos são trabalhadores migrantes no exterior e o envio de contas de remessas contribuiu para mais de 10% do PIB filipino.

 

 

1 Fev 2019

Arábia Saudita executa filipina condenada por homicídio

[dropcap]U[/dropcap]ma filipina de 39 anos foi executada terça-feira na Arábia Saudita depois de ter sido considerada culpada de homicídio sob a ‘sharia’, ou lei islâmica, informou hoje o Departamento de Relações Exteriores das Filipinas.

“Lamentamos não termos conseguido salvar a vida desta filipina depois do Supremo Conselho Judicial ter classificado o seu caso como um em que não se aplica a fórmula do ‘dinheiro de sangue’ contemplado pela ‘sharia'”, pode ler-se numa nota.

De acordo com a lei islâmica, a fórmula conhecida como “dinheiro de sangue” permite a comutação de uma pena capital se a família da vítima for indemnizada.

A filipina trabalhava como trabalhadora doméstica na Arábia Saudita, onde há cerca de um milhão de trabalhadores migrantes filipinos que frequentemente sofrem exploração, abuso e assédio às mãos dos seus empregadores.

Durante o processo judicial, a embaixada filipina em Riade forneceu à ré assistência legal, enviou representantes para a visitarem em prisões e manteve a sua família regularmente informada sobre o andamento do caso.

O Departamento de Relações Exteriores não forneceu, contudo, informações sobre quem foi a vítima do homicídio, nem sobre as circunstâncias do crime, alegando o pedido de privacidade da família.

Em Novembro, as Filipinas repatriaram Jennifer Dalquez, que trabalhava como empregada doméstica nos Emirados Árabes Unidos (EAU), após ser absolvida da acusação de homicídio contra seu empregador, num julgamento em que arriscava também a pena de morte. Dalquez tinha matado o seu empregador em legítima defesa, quando este a tentou violar, ameaçando-a com uma arma branca. A filipina passou quatro anos na prisão.

De acordo com as autoridades, cerca de três mil filipinos saem do seu país todos os dias com contratos de trabalho temporários no exterior, muitos deles em países árabes, onde as mulheres geralmente trabalham como trabalhadoras domésticas e homens no setor de construção.

Cerca de dez milhões de filipinos são trabalhadores migrantes no exterior e o envio de contas de remessas contribuiu para mais de 10% do PIB filipino.

31 Jan 2019

Austrália vai analisar pedido de asilo de jovem saudita sob protecção do ACNUR

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades australianas confirmaram que receberam o pedido de asilo da jovem saudita que está sob a protecção do ACNUR em Banguecoque, na Tailândia, e que irão analisar o caso.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) enviou, de facto, “o caso para a Austrália para consideração de concessão de asilo como refugiada”, referiu num comunicado o Ministério do Interior australiano.

“Se for verificado que é uma refugiada, então nós estudaremos verdadeiramente, realmente a sério, a oportunidade de (concessão de) um visto humanitário”, havia dito anteriormente o ministro da Saúde australiano, Greg Hunt, no canal de televisão ABC. Hunt acrescentou que discutiu o caso com o ministro da Imigração, David Coleman, na terça-feira à noite. A Austrália é conhecida pela sua severa política de imigração.

“Vou continuar o meu caminho para chegar a um país onde estarei segura”, disse Rahaf Mohammed Al-Qunun, numa das suas mensagens publicadas em árabe na rede social Twitter. O ACNUR considerou que a jovem saudita Rahaf Mohammed Al-Qunun, que fugiu para a Tailândia, é uma refugiada e pediu à Austrália que lhe concedesse asilo.

Rahaf Mohammed Al-Qunun tinha previsto viajar para a Austrália, onde pretendia pedir asilo depois de receber ameaças de morte da sua família por ter rejeitado um casamento arranjado e também a religião islâmica, mas foi detida pelas autoridades tailandesas numa escala em Banguecoque no fim de semana passado.

De férias no Kuwait com sua família, Rahaf Mohammed al-Qunun, de 18 anos, fugiu e aterrou no aeroporto de Banguecoque.

As autoridades tailandesas queriam deportá-la para a Arábia Saudita na manhã de segunda-feira, mas Rahaf Mohammed al-Qunun barricou-se no seu quarto de hotel do aeroporto, de onde publicou mensagens desesperadas e vídeos na rede social Twitter, afirmando-se ameaçada de morte pela sua família caso regressasse a casa.

A adolescente ficou sob a protecção do ACNUR depois de deixar o aeroporto da capital tailandesa.

A jovem chegou no sábado ao aeroporto tailandês num voo a partir do Kuwait, onde aproveitou o facto de as mulheres não necessitarem de autorização dos seus “guardiões masculinos” para viajar, como ocorre na Arábia Saudita.

As autoridades tailandesas informaram que o pai e um irmão de Rahaf Mohammed Al-Qunun estão em Banguecoque, mas a jovem recusou encontrar-se com ambos.

10 Jan 2019

Saudita detida na Tailândia arrisca deportação quando procurava refúgio na Austrália

[dropcap]U[/dropcap]ma jovem saudita, detida no domingo no aeroporto de Banguecoque, na Tailândia, arrisca a deportação quando procurava chegar à Austrália para pedir asilo.

Rahaf Mohammed Al-Qunum, de 18 anos, lançou pedidos de ajuda, exigiu encontrar-se com representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), num momento em que foi lançada uma petição e um apelo à sua libertação pela organização não-governamental Human Rights Watch (HRW).

“Eu não vou sair do meu quarto até me encontrar com o ACNUR”, garantiu a saudita de 18 anos, num vídeo publicado hoje na rede social Twitter, onde se barricou no quarto de hotel no aeroporto.

A representação em Banguecoque do ACNUR confirmou à agência de notícias France-Presse (AFP) que está a tentar estabelecer contacto com a jovem de 18 anos “para avaliar a sua necessidade de protecção internacional”.

A imigração tailandesa, por sua vez, garantiu que a jovem “aguardava embarque” para o Kuwait e, depois, para a Arábia Saudita. “Ela mesma comprou uma passagem de avião, está à espera para embarcar”, disse à AFP o chefe da imigração tailandesa, Surachet Hapkarn.

Contudo, na conta do Twitter, hoje de manhã, a jovem assegurava encontrar-se ainda no quarto do hotel: “Eu apelo a todos que se encontrem na zona de trânsito em Banguecoque a protestarem contra a minha expulsão”, escreveu.

Rahaf Mohammed Al-Qunun teme o regresso à Arábia Saudita. “Tenho 100% de certeza de que eles me vão matar assim que eu sair de uma prisão saudita”, disse à AFP.

“Rahaf está em grande risco se for forçada a voltar para a Arábia Saudita, deve ter permissão para se reunir com o ACNUR e iniciar um procedimento de asilo”, disse Phil Robertson, representante na Ásia da HRW.

A HRW informou que a jovem fez escala em Banguecoque, quando procurava chegar à Austrália para ali pedir asilo, garantindo ter um visto de entrada naquele país. A embaixada australiana não respondeu aos contactos efetuados pela AFP. A imigração tailandesa garante que esta está a tentar fugir de um casamento arranjado.

Em Abril de 2017, o destino de outra mulher saudita, Dina Ali Lasloum, de 24 anos, que havia sido detida enquanto viajava pelas Filipinas para Sydney, já levantara preocupações à HRW. A jovem tentava fugir de um casamento arranjado.

A embaixada da Arábia Saudita em Manila descreveu o incidente como um assunto de família e assegurou que a jovem tinha “voltado para casa com a sua família”.

A Arábia Saudita é conhecida pelas restrições impostas às mulheres. Em particular, estão sujeitas à tutela de um homem (pai, marido ou outro, conforme o caso) que exerce autoridade sobre as mesmas e toma as decisões importantes em seu nome.

Uma mulher que tenha cometido um crime “moral” pode ser punida violentamente pela sua família e, nos casos denominados como de “crime de honra”, ser inclusive morta.

7 Jan 2019

CIA concluiu que príncipe saudita ordenou morte de Khashogg, escreve Washington Post

[dropcap]O[/dropcap] jornal Washington Post noticiou na sexta-feira que a Agência Central de Informações (CIA, na sigla em inglês) concluiu que o príncipe herdeiro saudita ordenou o homicídio do jornalista Jamal Khashoggi em Istambul, citando fontes anónimas.

A informação veiculada pelo Washington Post, jornal com o qual Khashoggi colaborou, contradiz as recentes posições do reino saudita, que negou qualquer responsabilidade de Mohammed bin Salman na morte do jornalista em Outubro. Contactada pela agência de notícias France Press, a CIA recusou-se a comentar.

Para chegar a esta conclusão, lê-se no jornal norte-americano, a CIA cruzou várias fontes, incluindo um contacto entre o irmão do príncipe herdeiro, também embaixador da Arábia Saudita nos Estados Unidos, e Jamal Khashoggi.

De acordo com o jornal de Washington, Khalid bin Salmane aconselhou Khashoggi a visitar o consulado saudita em Istambul, assegurando-lhe que nada lhe aconteceria. O jornal acrescenta que fez o telefonema a pedido de seu irmão, mas não ficou claro que Khalid bin Salman soubesse que Khashoggi seria então assassinado.

Khalid ben Salman reagiu de imediato na sua conta pessoal na rede social Twitter a estas acusações, negando veementemente o teor da notícia do Washington Post.

“Esta é uma acusação séria que não deve ser suportada por fontes anónimas”, defendeu numa publicação na qual consta também uma declaração que disse ter enviado ao jornal. “Em nenhum momento o príncipe Khalid discutiu algo com Jamal sobre uma viagem à Turquia”, escreveu.

O jornal New York Times, por seu lado, noticiou também na sexta-feira que as autoridades dos EUA advertiram que os serviços de informação norte-americanos e turcos não possuem provas claras que liguem o príncipe herdeiro ao assassínio de Khashoggi.

Contudo, avança aquele jornal, a CIA acredita que a influência do príncipe é tal que o homicídio não poderia ter ocorrido sem a sua aprovação.

Khashoggi entrou a 2 de Outubro no consulado saudita de Istambul e acabou por ser assassinado. A Arábia Saudita, em várias ocasiões, mudou sua versão oficial do que aconteceu com Jamal Khashoggi, mas na quinta-feira o promotor saudita admitiu que o jornalista foi drogado e desmembrado no local.

De um total de 21 suspeitos, a Justiça saudita indiciou 11 pessoas pelo crime, cinco das quais enfrentam agora a pena de morte. Numa conferência de imprensa, o porta-voz do procurador-geral, Shaalan al-Shaalan afirmou que o príncipe Mohammed bin Salmane não tinha conhecimento do caso.

Aliado histórico de Riade, Washington anunciou no mesmo dia sanções contra 17 autoridades sauditas pela sua “responsabilidade ou cumplicidade” na morte de Khashoggi.

18 Nov 2018

Dima Khatib: “Falta de liberdade de expressão é “muito grave no mundo árabe”

[dropcap]A[/dropcap] directora-geral da AJ+, Dima Khatib, amiga de Jamal Kashoggi, jornalista morto nas instalações do consulado saudita na Turquia, disse à Lusa que a falta de liberdade de expressão é uma situação “muito grave no mundo árabe”.

“Jamal era meu amigo, todos os jornalistas do mundo árabe conheciam Jamal porque era uma figura excepcional, era um dos seres humanos mais nobres que conheci na minha vida”, disse a jornalista, que lidera o projecto digital AJ+ da Al Jazeera Media Network, em entrevista à Lusa à margem da Web Summit, em Lisboa, onde a directora-geral marca presença.

Dima Khatib descreveu Jamal Khashoggi como um “ser humano muito sensível, muito simpático” e “muito amável”, apontando que o que aconteceu ao jornalista é “horrível”, mas “quantos mais” jornalistas há que estão a ser alvo de pressões e de perseguições, questionou.

“Milhares, que neste momento estão encarcerados no Egipto, em muitos países do mundo árabe que não têm nome no Washington Post”, apontou, aludindo ao facto do caso de Jamal Khashoggi ter tido uma maior exposição nas notícias pelo facto de este ter sido colaborador naquele jornal norte-americano.

“Obviamente que me entristece ter perdido o Jamal, mas parece-me uma oportunidade incrível que a sua morte tenha alcançado” aquilo que não atingiu na sua vida, ou seja, fazendo o seu trabalho de jornalista.

A morte do jornalista pôs ainda mais em evidência as dificuldades que os profissionais do sector atravessam no mundo árabe, nomeadamente aqueles que criticam os regimes instituídos.

“A sua morte abriu portas para nós, os jornalistas, nos darmos conta, no mundo inteiro, que temos de cuidar porque se tudo isto foi feito por causa” de um jornalista, “uma só pessoa, para que deixasse de escrever, imagina o poder que temos com a caneta”, acrescentou Dima Khatib.

“Ele não era uma estrela de televisão, escrevia artigos, era o que fazia. Tudo isto porque um homem escrevia artigos críticos, nem sequer era da oposição, nem sequer queria mudar as pessoas que estão no poder na Arábia Saudita, somente criticava algumas coisas, entre elas a liberdade de expressão”, prosseguiu.

“A situação está muito grave no mundo árabe, em geral”, no que respeita a liberdade de expressão, “em alguns países muito mais que outros”, salientou. A liberdade de imprensa “quase não existe no mundo árabe”, apontou.

“Por exemplo, não mandamos os nossos jornalistas” fazer reportagem dos países árabes, disse, explicando que além do medo, também são impedidos de trabalhar. No entanto, o mundo ocidental começar a dar-se conta do que está a acontecer “é um bom passo”, salientou Dima Khatib.

“Agora, o que vamos fazer com isso, não sei, parece-me que o que deveríamos fazer é, nós, os jornalistas trabalharmos mais para nos protegermos e para proteger os outros jornalistas e darmo-nos conta do poder que temos”, sublinhou.

Questionada sobre se o caso Khashoggi é uma janela para que o mundo veja o que se passa no mundo árabe, Dima Khatib acredita que sim.

“A minha vida diária é cheia de ameaças, podes ver pelo meu Twitter”, disse, acrescentando que recentemente encerrou contas naquela rede social e reportou as ameaças de que estava a ser alvo. “Reportei ao Twitter porque me estavam a dizer ‘que música queres que ponhamos quando te cortarmos em pedaços’”, confidenciou.

Para estas pessoas, “nós, jornalistas, somos coisas das quais podem abusar, terminar, acabar, é forte, creio que a nossa realidade é tão crua, estamos tão acostumados que não damos conta”, rematou dima Khatib.

O Ministério Público turco declarou recentemente que Jamal Khashoggi, de 59 anos, foi estrangulado e posteriormente desmembrado no consulado saudita em Istambul, no dia 2 de Outubro, onde tinha entrado para obter um documento para se casar com uma cidadã turca.

O jornalista era esperado no consulado por um comando de quinze agentes sauditas que viajaram para a cidade turca algumas horas antes e retornaram a Arábia Saudita naquela mesma noite.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, assegurou recentemente numa coluna publicada no jornal americano The Washington Post que está certo de que a ordem para matar o jornalista dissidente “veio do mais alto nível” do poder da Arábia Saudita.

O jornalista saudita, que colaborava com o jornal The Washington Post, estava exilado nos Estados Unidos desde 2017 e era um reconhecido crítico do poder em Riade. A Arábia Saudita admitiu que Jamal Khashoggi foi morto nas instalações do consulado saudita em Istambul, depois de, durante vários dias, as autoridades de Riade terem afirmado que saíra vivo do consulado.

7 Nov 2018

Arábia Saudita promete à ONU uma investigação “imparcial” no caso Khashoggi

[dropcap]A[/dropcap] Arábia Saudita assegurou hoje à ONU que a investigação ao assassínio de Jamal Khashoggi será “imparcial”, após uma nova série de críticas internacionais mais de um mês depois do desaparecimento do jornalista crítico de Riade.

A promessa foi feita durante a análise por parte dos membros da ONU, em Genebra, do respeito dos direitos humanos pela Arábia Saudita.

Este exame habitual do Conselho de Direitos Humanos da ONU, ao qual se submetem regularmente todos os membros das Nações Unidas, ganhou outra dimensão com o caso Jamal Khashoggi, cujo corpo ainda não foi encontrado.

A procuradoria de Istambul afirmou a semana passada que Khashoggi foi assassinado logo que entrou no consulado saudita em Istambul a 2 de outubro e que o seu corpo foi depois desmembrado.

O caso provocou indignação em todo o mundo e manchou a imagem da Arábia Saudita, nomeadamente a do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Hoje em Genebra, vários países, na maioria ocidentais, denunciaram o “assassínio premeditado” e pediram a Riade para realizar um inquérito “transparente”.

A Islândia e a Costa Rica pediram o envio de especialistas internacionais, como tinha sugerido a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

O embaixador britânico, Julian Braithwaite, indicou que o seu país estava “gravemente preocupado com a deterioração da situação dos direitos humanos na Arábia Saudita”, criticando “restrições severas do espaço político, detenções em massa de defensores dos direitos humanos, um maior recurso aos tribunais para casos de terroristas para os dissidentes políticos e um aumento da aplicação da pena de morte”.

“Mas o mais preocupante é o assassínio de Jamal Khashoggi”, disse, enquanto o embaixador alemão Michael Freiherr von Ungern-Sternberg pediu uma “resposta completa” às questões levantadas pela comunidade internacional sobre o caso.

“Condenamos este assassínio premeditado”, assinalou o encarregado de negócios norte-americano, Mark Cassayre, pedindo um inquérito “aprofundado e transparente”.

O chefe da delegação saudita, Bandar Al Aiban, presidente da Comissão dos Direitos Humanos, apenas dedicou alguns minutos à “morte do cidadão Khashoggi”, assegurando que o seu país “comprometeu-se a realizar um inquérito imparcial” e que “todas as pessoas envolvidas no crime serão julgadas”.

“O inquérito continua conforme às nossas leis”, disse ainda.

Durante a reunião, vários países, como o Brasil e o Japão, pediram a Riade para garantir a liberdade de opinião e a segurança dos jornalistas e da sociedade civil. Um grande número de países recomendou igualmente às autoridades sauditas que estabeleçam uma moratória em relação à pena capital.

A Arábia Saudita é um dos países onde ocorrem mais execuções. Assassínio, violação, assalto à mão armada, apostasia e tráfico de droga são crimes passíveis de pena de morte no país regido por uma versão altamente conservadora da lei islâmica (‘sharia’).

Muitos países elogiaram a permissão dada às mulheres de conduzirem, pedindo ao mesmo tempo a Riade para acabar globalmente com as discriminações em relação às mulheres e para abolir o sistema de tutela masculina que vigora no reino.

6 Nov 2018

Arábia Saudita liberta 19 filipinas detidas em festa de Halloween

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades sauditas libertaram hoje 19 filipinas que estavam detidas desde sexta-feira por participarem numa festa de ‘Halloween’, em Riade, aguardando agora julgamento na embaixada do seu país.

Em comunicado, o embaixador filipino na capital do reino, Adnan Alonto, anunciou ter conseguido a identificação das filipinas detidas, que afinal são 19 e não 17, como inicialmente reportado.

As autoridades concordaram em libertar as mulheres da prisão Al Nisa, na capital, e entregá-las “temporariamente” à embaixada das Filipinas, onde devem aguardar julgamento por terem violado a lei islâmica que proíbe a interação em público entre homens e mulheres sem laços familiares, segundo Adnan Alonto.

“As leis da Arábia Saudita proíbem estritamente homens e mulheres solteiros de serem vistos juntos em público”, pode ler-se no comunicado do Departamento de Negócios Estrangeiros das Filipinas.

Este episódio levou a embaixada em Riade a emitir um alerta à comunidade filipina no país, pedindo que esta “leve em conta as sensibilidades locais”. Ao mesmo tempo, apelaram aos trabalhadores filipinos que se encontram no Médio Oriente que respeitem as tradições locais e as leis dos países anfitriões.

De acordo com dados das autoridades filipinas, cerca de três mil filipinos abandonam todos os dias o país, muitos deles rumo a países árabes, onde as mulheres tendem a trabalhar como trabalhadoras domésticas e os homens no sector da construção. Cerca de dez milhões são trabalhadores migrantes no exterior e o envio de suas remessas representou 10,46% do PIB filipino em 2017, segundo o Banco Mundial.

31 Out 2018

Khashoggi: Portugal quer investigação que apure todas as responsabilidades

[dropcap]O[/dropcap]ministro dos Negócios Estrangeiros português disse no sábado que Portugal revê-se na posição da União Europeia e da comunidade internacional sobre a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi e que devem ser apuradas todas as responsabilidades.

“Temos pedido um apuramento de todas as responsabilidades”, através de uma investigação, defendeu Augusto Santos Silva, em Macau, onde tem estado no âmbito de uma visita oficial de três dias.

O governante referiu que a posição portuguesa está em linha com a da comunidade internacional e com aquela já manifestada pela União Europeia.

Também no sábado, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, exigiu uma “investigação aprofundada” sobre a morte “extremamente perturbadora” do jornalista saudita Jamal Khashoggi e que os autores sejam responsabilizados.

A União Europeia “insiste na necessidade de uma investigação aprofundada, credível e transparente, que esclareça as circunstâncias da morte e force os responsáveis a assumir total responsabilidade”, afirmou Federica Mogherini, em comunicado.

Jamal Khashoggi, 60 anos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, no dia 02 de outubro para obter um documento para casar com uma cidadã turca e nunca mais foi visto.

Jornalista saudita residente nos Estados Unidos desde 2017, Khashoggi era apontado como uma das vozes mais críticas da monarquia saudita.

A Arábia Saudita reconheceu no sábado que o jornalista foi morto no seu consulado em Istambul durante uma luta, referindo que 18 sauditas estão detidos como suspeitos, segundo a agência oficial de notícias SPA.

A mesma agência revelou também que um conselheiro próximo do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, foi demitido, juntamente com três líderes dos serviços de informação do reino e oficiais.

21 Out 2018

Mulheres sauditas entram numa nova era com o pé no acelerador

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s primeiros minutos deste domingo na Arábia Saudita ficaram marcados pela presença inédita de mulheres ao volante nas estradas do reino, uma reforma histórica neste país ultraconservador, levada a cabo pelo príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman.

“Tenho arrepios. Nunca imaginei em toda a minha vida que conduziria nesta avenida “, contou à AFP Samar Almogren, apresentadora de televisão e mãe de três filhos, enquanto descia a King Fahd Avenue, principal artéria da capital saudita, ao volante do seu automóvel,poucos minutos depois da meia-noite.

A agência conta que dezenas de mulheres aproveitaram a nova lei para circularem ao volante das suas viaturas logo que começou o novo dia, em que foi finalmente levantada uma proibição que durava há décadas e que era o sinal mais visível da repressão sobre as sauditas.

A questão de saber se a sociedade saudita estava pronta para ter mulheres ao volante de viaturas foi matéria de um longo debate no reino, que nem sempre decorreu nos moldes esperados.

Em 2013, um conhecido clérigo saudita, o xeque Saleh al-Louhaidan, chegou a garantir que a condução de automóveis poderia danificar os ovários das mulheres e deformar a sua pelve, o que levaria a malformações dos recém-nascidos.

A resistência ao levantamento da proibição ainda é forte em alguns setores da sociedade saudita. A AFP conta que músicas com títulos como “Do not drive” tornaram-se extremamente populares nas redes sociais nas últimas semanas.

Anunciada em setembro de 2017, a medida promovida pelo príncipe herdeiro integra um amplo plano de modernização do país, pondo fim a uma proibição que se tornou símbolo do da posição secundária atribuída às mulheres pelo regime.

A medida está a ser encarada por muitos como o início de uma nova era numa sociedade que vive sob um regime islâmico rigoroso.

“É um passo importante e uma etapa essencial para a mobilidade das mulheres”, resume Hana al Jamri, autora de um livro que será publicado em breve sobre as mulheres no jornalismo na Arábia Saudita.

A escritora lembra que as mulheres sauditas”vivem num sistema patriarcal”, e que a possibilidade de conduzir automóveis vai ajudá-las a desafiar as rígidas normas sociais do reino.

Segundo estimativas da empresa de consultadoria PricewaterhouseCoopers, cerca de três milhões de mulheres sauditas devem adquirir a carta de condução e começar a dirigir até 2020.

Apesar da abertura das escolas de condução, muitas mulheres reclamam da falta de instrutores e do alto custo das aulas. As autoridades emitiram este mês as primeiras licenças de condução para as mulheres, havendo muitas que simplesmente trocaram a carta de condução estrangeira por uma licença saudita.

24 Jun 2018

Xadrez : Campeã mundial recusa jogar na Arábia Saudita

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ucraniana Anna Muzychuk, de 27 anos, é dupla campeã mundial de xadrez. A sua irmã, Mariya Muzychuk, dois anos mais nova, seguiu-lhe os passos. E não apenas no desporto, mas também nas convicções. Entre 26 e 30 de Dezembro realiza-se o campeonato mundial de xadrez na Arábia Saudita e as irmãs não vão estar presentes: recusam-se a usar uma veste feminina saudita, a abaya [túnica larga].
Num post no Facebook, partilhado a 23 de Dezembro, a campeã explicou o motivo da decisão. “Em poucos dias vou perder dois títulos mundiais, um a um. Apenas porque decidi não ir à Arábia Saudita. Por não jogar com as regras de outros, por não usar abaya, por não ter de ir acompanhada à rua, e finalmente por não me sentir uma criatura secundária”, lê-se.
Na imagem partilhada, Anna surge com as duas medalhas recebidas o ano passado, sorridente. “Há exactamente um ano ganhei estes dois títulos e era a pessoa mais feliz no mundo do xadrez, mas agora sinto-me muito mal. Estou preparada para lutar pelos meus princípios e faltar a este evento, onde, em cinco dias, esperava ganhar mais do que numa dezena de competições”, refere a campeã.
Contudo, a publicação serve principalmente para marcar uma posição, demonstrando as diferenças existentes entre os vários países, no que toca às mulheres. “Tudo isto é irritante, mas o mais perturbador é quase ninguém se importar realmente. Este é um sentimento amargo, mas ainda não é o que vai mudar a minha opinião e os meus princípios. O mesmo vale para a minha irmã Mariya — e estou muito feliz por partilharmos este ponto de vista. E sim, para aqueles poucos que se importam — vamos voltar!”
Esta não é, contudo, a primeira vez que uma jogadora se nega a participar numa competição por motivos de vestuário feminino dos países em questão, conta o El País.
Em Fevereiro de 2017, Nazi Paikidze, campeã americana, não competiu no Irão por se recusar a cobrir a cabeça com o hijab [véu islâmico]. Neste campeonato, Anna Muzychuk esteve presente e competiu de véu na cabeça. Em Outubro, Dorsa Derakhshani, campeã de xadrez iraniana, foi proibida de jogar pelo seu país por também recusar o véu islâmico, passando depois a jogar pelos Estados Unidos.
No passado mês de Novembro, quando Anna soube do campeonato na Arábia, marcou a sua posição, defendida agora. “Primeiro Irão, depois Arábia Saudita… Pergunto-me onde serão organizados os próximos campeonatos mundiais femininos. Apesar do recorde de títulos, não vou jogar em Ryad, o que significa perder dois títulos de campeã mundial. Para arriscar a tua vida, para usar abaya o tempo todo? Tudo tem os seus limites e os véus no Irão já foram mais do que suficientes”.
A publicação desta semana já foi partilhada mais de 6 mil vezes e são muitos os comentários de apoio às irmãs. Até ao momento não há qualquer reacção por parte da organização do Campeonato do Mundo de Xadrez, que apenas refere no seu site que o campeão mundial masculino, o norueguês Magnus Carlsen, estará presente nos torneios. A FIDE, Federação Mundial de Xadrez, também não se manifestou quanto ao sucedido, publicando apenas no Twitter a indicação dos sorteios femininos.

28 Dez 2017