Códigos de saúde | Avaria na ligação a Guangdong levou a falhas

Uma avaria na ligação à base de dados de Guangdong esteve na origem de várias falhas nos códigos de saúde em Macau, precisamente no dia em que o sistema foi alargado a mais espaços. O Centro de Coordenação garante que tem meios para lidar com eventuais falhas no futuro

 

O acesso ao sistema de códigos de saúde registou várias falhas de funcionamento ao longo do dia de ontem, que se deveram a problemas na ligação ao sistema de Guangdong. A garantia foi dada por Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Coordenação de Contingência do novo tipo de coronavírus.

“Houve uma avaria na ligação à base de dados entre Guangdong e Macau, mas conseguimos reparar o sistema uma hora depois”, disse a responsável, referindo-se à primeira avaria registada de manhã. No entanto, à tarde seria registada uma segunda falha.

“Vamos reforçar a fiscalização da ligação a essa base de dados. Caso verifiquemos uma avaria podemos desligar a ligação para que o funcionamento do sistema de Macau se mantenha normal”, frisou.

Em relação ao período de validade dos códigos de saúde, mantém-se as seis horas para entradas e saídas de zonas de alto risco, e de 24 horas para entradas e saídas em estabelecimentos locais. Leong Iek Hou sugeriu que a população aceda ao sistema de declaração do código de saúde logo de manhã e guarde a imagem no telemóvel, ou imprima um documento que será depois válido no acesso aos diversos locais. Caso a pessoa não tenha consigo a declaração do código de saúde, os proprietários dos estabelecimentos podem colocar três perguntas para verificar o risco de contágio, descartando-se a possibilidade de preenchimento de um documento.

Uma questão de códigos

Na mesma conferência de imprensa foi referido que os motoristas de autocarro não são obrigados a pedir o código de saúde a todos os passageiros, porque “pode causar um grande atraso nas carreiras”, disse a coordenadora. “Os taxistas, por exemplo, conseguem fazer isso. Não é obrigatório pedir o código [nos autocarros].”

Quem tiver código amarelo de saúde “tem de apanhar outros transportes públicos que não o autocarro para evitar contágio com pessoas, nomeadamente o carro privado”.

Relativamente ao corredor aéreo entre Macau e Singapura, chegam este sábado 67 pessoas ao território, mas há receios com mudanças de horários no voo que sairá de Macau para a Cidade-Estado. Lau Fong Chi, representante da Direcção dos Serviços de Turismo, aconselhou os residentes a consultarem a companhia aérea, uma vez que “se trata de uma política comercial”.

Os responsáveis do Centro de Coordenação confirmaram que, para já, o risco de contágio com origem nas cidades de Zhuhai e Zhongshan é baixo, uma vez que “não houve casos confirmados nas comunidades”, além de que está a ser feita a testagem em massa contra a covid-19.

10 Jun 2021

Conselheiro do CPU sugere um “Central Park” nos novos aterros

Na sessão do Conselho do Planeamento Urbanístico, Omar Yeung To Lai defendeu a criação de um parque de dimensões internacionais nos aterros C e D para promover o turismo e atrair mais visitantes

 

O arquitecto Omar Yeung To Lai defendeu a criação de um grande parque com espaços verdes, de dimensão internacional, entre a Zona C e Zona D dos novos aterros. A ideia foi deixada ontem na reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), que teve como ponto único na agenda a partilha de opiniões dos conselheiros sobre o Plano Director.

“A Zona C e D dos Aterros pode receber um parque central. Há muitos parques conhecidos a nível mundial, que além de terem espaços verdes, têm história e são representativos dos locais onde se encontram”, afirmou Omar. “Macau deve construir um parque internacional para todos os cidadãos poderem visitar. Um parque desta natureza pode contribuir para o turismo e ser uma zona ecológica”, acrescentou.

Segundo o arquitecto, a intenção passa por criar um espaço emblemático como o Central Park, em Nova Iorque, os Jardins Botânicos em Singapura, ou o Parque Beihai, em Pequim. “Um parque nessa zona vai ter uma paisagem muito linda porque os Lotes C e D vão ter construções com uma altura baixa”, realçou.

Segundo a presidente do CPU, Chan Pou Ha, directora dos Serviços de Solo, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), 19 membros entregaram opiniões sobre o Plano Director. Porém, e apesar de vários estarem presentes, apenas nove leram o resumo das opiniões submetidas.

Um dos assuntos mais focados foi a necessidade de dotar Macau de mais espaço verdes e zonas de lazer. Um dos membros que defendeu esta ideia foi Kou Ngon Seng, destacando como ideal a área do Lago de Nam Van. “Nessa zona podemos meter mais elementos, espaços verdes e zonas de lazer”, indicou.

Ameaça às praias

No que diz respeito às zonas verdes, Leong Pou U mencionou a questão das Praias de Hac Sá e de Cheoc Van e a sua classificação. Na resposta, Lo Chi Kin, vice-presidente do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais, garantiu que não vão deixar de ser zonas verdes.

Porém, o responsável do IAM foi mais longe e explicou que o aquecimento global está a afectar os areais. “Não alterámos a classificação das praias, como zonas verdes. Mas, essas praias estão a sofrer algumas mudanças, tudo por causa do aquecimento global, com a altura do mar a ser cada vez mais alta”, disse Lo Chi Kin. “Em algumas estações, o clima pode mesmo prejudicar o uso das duas praias. Mas temos os serviços competentes a lidar com a situação”, clarificou.

Durante a reunião, o arquitecto André Lui questionou se até 2040, altura de validade do Plano Director, se a demarcação de apenas duas áreas para instituições de saúde será suficiente. Por sua vez, Omar Yeung To Lai, além de ter sugerido a criação de um parque questionou também se não era necessário expandir os espaços para cemitérios.

Os representantes do Governo garantiram que os espaços são suficientes. Lo Chi Kin revelou ainda que há cada vez menos pessoas a recorrerem a sepulturas.

10 Jun 2021

Lee Sio Kuan promete estratégia que vai revolucionar campanha eleitoral

Lee Sio Kuan, candidato às eleições de 2017 pela lista Ou Mun Kong I, promete concorrer às eleições e revolucionar a campanha eleitoral com algo que designou como a “Estratégia Cão Louco”. As declarações sobre a intenção de concorrer foram feitas ontem, depois de ter entregue uma petição na Sede do Chefe do Executivo, em que se mostrou preocupado com os efeitos da pandemia.

Em declarações aos jornalistas, Lee Sio Kuan prometeu entregar uma lista de comissão de candidatura com 398 assinaturas, apesar de admitir que não vai concorrer para ser eleito, tendo em conta os meios das outras listas. O número de assinaturas da comissão é igual ao de 2017.

Apesar de reconhecer as limitações, Lee garantiu que vai agitar a campanha, com a aplicação da “Estratégia Cão Louco”. Quando questionado sobre o “estratagema”, o potencial candidato respondeu: “esperem e vão ver”.

Em 2017, a lista encabeçada por Lee conseguiu 393 votos nas eleições. O candidato acabou por se destacar, quando “atacou” uma acção de campanha do deputado Sulu Sou. Lee foi a julgamento, mas acabou por ser considerado inocente da acusação de violação do direito de reunião e manifestação.

Quanto ao documento entregue na sede do Chefe do Executivo, Lee Sio Kuan defendeu que as pessoas devem poder levantar o montante das contas individuais do Fundo de Segurança Social antes da idade de reforma.

“Desde 2008 que o Governo começou a injectar todos os anos dinheiro nas contas dos cidadãos. Até agora, o valor acumulado é de 86.910 patacas, por isso, se os residentes pudessem levantar o dinheiro, em duas tranches e antes da idade de reforma, tinham uma forma de lidar com as dificuldades da pandemia”, disse Lee. “Os residentes já estão a ter dificuldades em se alimentarem”, avisou.

Lee Sio Kuan questionou ainda o Governo quanto à razão para não se restringir a circulação de trabalhadores não-residentes. “Por que é que muitos visitantes passam as fronteiras à noite? Porque eles fazem contrabando, pelo menos três por dia”, acusou. “O Governo devia cancelar os bluecards nos casos em que a passagem diária das fronteiras ultrapassa as duas vezes” sugeriu.

Petição por “Filhos Maiores”

A carta de Lee não foi a única recebida por Ho Iat Seng durante o dia de ontem. A Associação de Reunião Familiar de Macau fez o mesmo, e pediu uma solução para o problema dos filhos maiores. A questão diz respeito aos filhos de imigrantes ilegais que foram legalizados, mas que não viram os filhos obter a residência de Macau, uma vez que já eram maiores.

O presidente da associação, Sit Chong Kong, frisou que já se passaram dezenas de anos e que todos os anos entregam cartas, sem o que problema seja resolvido. Na carta, a associação pediu ao Chefe do Executivo para pedir uma autorização especial ao Governo Central para que seja concedida residência a essas pessoas.

10 Jun 2021

Eleições | Ron Lam promete lutar pelo “pragmatismo” e “transparência”

O presidente da Associação da Sinergia de Macau apresentou ontem as assinaturas para validar a candidatura às eleições legislativas. Se for eleito, Ron Lam irá lutar por medidas concretas para tornar os processos administrativos e de tomada de decisão mais “transparentes”, combater “slogans vazios” e distribuir os dividendos económicos do território de forma justa

 

Ron Lam apresentou ontem as 500 assinaturas necessárias para validar a comissão de candidatura em nome da lista “Poder da Sinergia”. O também presidente da Associação da Sinergia de Macau apontou que o objectivo passa por ocupar assentos na Assembleia Legislativa, para tornar os processos de decisão mais pragmáticos e transparentes.

“Tendo em conta o trabalho que foi feito nos últimos quatro anos, podemos dizer com certeza que temos capacidade para mudar Macau. Insistimos que devem ser apresentadas justificações concretas e que haja pragmatismo para resolver os problemas de Macau”, começou por dizer. “Queremos que o sistema se torne mais transparente e imparcial, para que Macau seja um local onde todos possam desenvolver as suas particularidades e perseguir os seus sonhos”.

O presidente da Associação da Sinergia de Macau defendeu ainda que, se as políticas do Governo não acompanharem o rápido desenvolvimento social, o crescimento do território “não vai ser equilibrado”, fazendo com que os cidadãos não gozem a riqueza gerada em Macau.

“[Para que o crescimento seja equilibrado] dispomos de sugestões concretas em todas as vertentes que afectam a vida da população como a economia, reformas da administração pública, trânsito e habitação”, concretizou Ron Lam.

Após a entrega das assinaturas, o candidato revelou que, apesar de não ter sido eleito para a actual legislatura, acredita que, tendo por base algumas mudanças visíveis, “há mais residentes a apoiar as ideias da lista”.

Factos e dados

Para Ron Lam, tanto o Governo como a Assembleia Legislativa, devem mudar a forma como são tomadas as decisões que toldam o rumo político a seguir, nomeadamente para que a população “veja mudanças reais”.

“O Governo e a Assembleia Legislativa devem pensar em formas concretas de fazer com que os residentes sintam a implementação de mudanças reais e que vão além da partilha de slogans. As políticas não devem ser tomadas a partir de impulsos e opiniões. São precisos dados e justificações concretas”, apontou.

O candidato defendeu ainda que em anos passados “não houve debate suficiente” no Governo e na Assembleia Legislativa e que, por isso mesmo, “muitos assuntos não avançaram”.

Sobre a equipa que encabeça para as eleições, Ron Lam apontou que “há caras novas” e que a maior vantagem é serem oriundos de diferentes sectores e terem “experiências ricas em termos políticos”.

10 Jun 2021

Eleições | Governo português aposta em projecto piloto para voto electrónico

O Governo português quer implementar um projecto piloto para o voto electrónico nas próximas eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas. Num debate online promovido pela plataforma “Também Somos Portugueses”, Antero Luís, secretário de Estado adjunto, disse que o sistema é “complexo” e que é necessário garantir a segurança dos dados. Gilberto Camacho, conselheiro em Macau, concorda com o voto electrónico

Depois dos incidentes ocorridos nas últimas eleições para a Presidência da República em Portugal, em que devido à pandemia muitos cidadãos não conseguiram votar, o Governo português promete avançar com um projecto piloto que permita o voto electrónico. Antero Luís, secretário de Estado adjunto e da Administração Interna, revelou a iniciativa no debate online “Votar sem Fronteiras”, promovido esta terça-feira pela plataforma “Também Somos Portugueses”.

“A Assembleia da República (AR) recomendou ao Governo a apresentação de estudos necessários sobre o voto por correspondência e o voto electrónico não presencial com a validação da chave móvel digital. Estão feitos os primeiros estudos que permitem apresentar um plano de acção para o voto electrónico não presencial, sendo intenção do Governo fazer a experiência nas próximas eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).”

Antero Luís deixou claro que o voto electrónico, a ser plenamente implementado, não irá anular outras formas de sufrágio, uma vez que muitos cidadãos não têm acesso ou conhecimento sobre meios electrónicos. Além disso, o projecto piloto será testado em apenas um país “do espaço europeu”, mas o secretário de Estado adjunto não quis revelar qual. Recorde-se que as eleições para o CCP decorrem em Novembro deste ano.

O Governo criou um grupo de trabalho para analisar estas matérias eleitorais, composto por membros de três ministérios e também da Presidência do Conselho de Ministros. O grupo tem trabalhado desde Março do ano passado.

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, defendeu a necessidade de alterar leis para que o voto electrónico seja uma realidade. “É preciso elaborar leis que permitam, antes de novas eleições, a revisão do mecanismo eleitoral. Sei que o debate é difícil, que há quem se oponha, que vale a pena discutir causas e soluções, mas temos de olhar de frente para um problema que tem de ser resolvido. Não há plenos direitos de cidadania se o seu exercício é tão complexo como se viu nas últimas eleições presidenciais.”

O Presidente assumiu que “uma das lições retiradas da pandemia prende-se com as condições em que os portugueses podem exercer o direito de voto”.

Macau não esteve representado no debate, mas, questionado pelo HM, Gilberto Camacho, conselheiro do CCP, disse ser a favor do voto electrónico, “desde que continue a ser secreto e autêntico”. “É uma medida que deve ser implementada gradualmente e sou da opinião de que o eleitor deve poder escolher entre a via tradicional e a via electrónica. A autenticidade do voto pode ser garantida através da tecnologia ‘blockchain’”, acrescentou.

Gilberto Camacho destaca ainda as vantagens ambientais com esta forma de votar, além de que os eleitores podem evitar deslocações. “O voto electrónico também vem reduzir drasticamente o trabalho da entidade que organiza as eleições. A contagem manual dos votos é muito mais lenta que a contagem via dispositivos electrónicos, além de estar sujeita à falha humana”, apontou.

Sobre o atraso nas eleições do CCP, que há seis anos não elege novos conselheiros, Gilberto Camacho disse estar relacionado com a pandemia, “que levou à suspensão de muitos serviços e que pôs outros tantos a trabalhar a meio gás”.

Sistema “complexo”

Berta Nunes, secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, destacou o facto de o recenseamento automático, introduzido em 2018, ter permitido um aumento do número de eleitores. No caso das últimas eleições presidenciais, foram registados 29.153 votos face aos 14.150 registados em 2016.

“Este aumento vem introduzir grandes desafios no processo de recenseamento eleitoral, na organização dos processos eleitorais e no modo de votação presencial ou por via postal. O Governo está a fazer melhorias em relação ao voto por via postal. Em relação ao voto electrónico, efectuou-se, aquando das eleições europeias de 2019, um projecto piloto de voto electrónico presencial”, recordou.

O Governo apresentou, entretanto, um relatório à AR que “analisa as vantagens, desafios, inconvenientes, custos e enquadramento jurídico desse projecto piloto”. Antero Luís falou de um sistema que não é tão fácil de implementar como se pensa.

“A questão do voto electrónico não é consensual. Não há muitos países a ter o voto electrónico, alguns fizeram a experiência e recuaram. Temos de ter duas realidades: a verdade do sufrágio e a liberdade do eleitor, e a segurança.”

Segundo o secretário de Estado adjunto, o voto electrónico não presencial “tem problemas ao nível da segurança”. “São questões complexas e difíceis e não é possível fazer de forma imediata. Temos o valor do nosso processo eleitoral que é a verdade, pois nunca ninguém questionou nos tempos de democracia a falsidade dos resultados eleitorais. É um processo verdadeiro e transparente e não podemos criar incertezas. É por isso que não há consenso na AR, mas também não existe do ponto de vista técnico. Falamos de ter redes seguras em todo o mundo a partir de Portugal e não é coisa fácil”, frisou.

Ainda assim, o governante defendeu que houve uma evolução positiva relativamente ao voto dos portugueses que residem no estrangeiro. “Deu-se um grande passo com o recenseamento obrigatório e estão a dar-se passos para criar a possibilidade de uma maior participação dos portugueses residentes no estrangeiro. Temos alguns problemas com o voto postal para a eleição do Presidente da República, e só com o alargamento dos prazos é que é possível uma situação desse género, porque se houver uma segunda volta diria que é quase impossível enviar e recolher os boletins de voto.”

Antero Luís disse mesmo que se chegou a um “momento de viragem”. “Há um caminho que está a ser construído, e há uma maior consciencialização do ponto de vista do debate parlamentar para se encontrarem soluções que permitam uma maior participação [eleitoral]”, afirmou.

O grupo de trabalho tem trabalhado em assuntos além do voto electrónico, como a “normalização das metodologias de voto antecipado no estrangeiro”.

As propostas, que serão em breve submetidas à AR, passam pela implementação da votação presencial para todos os cidadãos nacionais residentes no estrangeiro, para todas as eleições, bem como a opção do voto postal para todos os cidadãos residentes no estrangeiro através da inscrição na plataforma electrónica ou nos consulados.

As propostas passam também pelo estabelecimento da votação antecipada em território nacional para cidadãos que residam no estrangeiro e que estejam temporariamente deslocados em Portugal. De frisar que, nas últimas presidenciais, registaram-se casos de cidadãos que, estando temporariamente em Portugal, não conseguiram votar por estarem recenseados no país ou região de residência no estrangeiro.

O grupo tem trabalhado também sobre as alterações ao sistema de votação por via postal e na mobilidade em função da implementação dos cadernos eleitorais. Algo que irá permitir que “o cidadão possa votar em qualquer mesa a constituir no estrangeiro no país onde se encontra recenseado”, concluiu Antero Luís.

10 Jun 2021

ANIMA fecha 2020 com prejuízos de 1.2 milhões de patacas

A ANIMA fechou o ano passado com um prejuízo de 1.2 milhões de patacas, que na prática passou a cerca de 700 mil patacas devido ao perdão de algumas dívidas e suspensão de projectos para os quais não houve dinheiro. A maior parte das despesas está relacionada com cuidados a animais, já que os resgates continuaram a ser muito superiores às adopções

 

2020 voltou a ser um ano financeiramente difícil para a Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA, que fechou as contas com um prejuízo de cerca de 1.2 milhões de patacas.

Segundo os relatórios consultados pelo HM, e que foram aprovados na última assembleia-geral da associação, a 29 de Maio, os prejuízos baixam para cerca de 700 mil patacas devido a “actividades de anos anteriores que já estavam contabilizadas [e que foram retiradas do balanço]”, explicou Albano Martins, presidente honorário da ANIMA, ao HM. Um dos exemplos é uma obra no sistema de esgotos, no valor de 200 mil patacas, que foi perdoada pelo empreiteiro. O projecto foi executado, mas acabaria por não ser autorizado pelo Governo.

“Fez-se uma limpeza do balanço pois não há dinheiro para acabar essas obras que foram pagas parcialmente e foram interrompidas, e também porque houve dívidas de trabalhos feitos no passado que foram perdoadas”, acrescentou.

“Ficámos com muitas dívidas por pagar que serão pagas gradualmente, talvez cerca de 25 mil patacas mensais nos próximos dois ou três anos”, disse ainda Albano Martins. Algumas das dívidas dizem respeito a donativos, como é o caso dos montantes de 500 e 800 mil patacas emprestadas por dois membros da direcção.

As despesas correntes da ANIMA, em 2020, foram superiores a 10.3 milhões de patacas, com um rendimento corrente total de 9.1 milhões de patacas. Só em cuidados com animais, a associação gastou 3.3 milhões de patacas, face às 3.2 milhões gastos em 2019. As despesas em 2019 foram de 9.6 milhões de patacas.

A associação diz ter apoiado a comunidade “com comida para animais, medicamentos, esterilizações, assistência veterinária e acomodação”. Só em comida a ANIMA gastou 1,2 milhões de patacas, enquanto a facgtura da electricidade foi de 159 mil patacas face a 115 mil em 2019. Os custos com funcionários ascenderam às 5 milhões de patacas, quando em 2019 foram de apenas 4,6 milhões.

Em relação ao terreno em Coloane que a ANIMA ocupa, ainda não há resposta do Governo. “Apresentámos um pedido para a concessão gratuita do terreno como única forma de resolver definitivamente os problemas levantados pelas autoridades. Não temos ainda a concessão final.”

Resgates superiores às adopções

Apesar de, o ano passado, terem sido adoptados 180 animais, mais 19 do que no ano anterior, os salvos voltaram a ser bem mais: 458 face aos 391 cães e gatos capturados em 2019. Foram ainda esterilizados 124 animais, incluindo os que estão nos abrigos e os que vivem na rua.

Tal “contribuiu, mais uma vez, para a situação de sobrelotação do abrigo”. A ANIMA assume não poder “melhorar a qualidade do trabalho” com esta situação. “O rácio de animais saídos relativamente a animais entrados foi de 0.97, 0.98 e 0.90, valor longe do nosso objectivo de 2. Contudo, houve uma melhoria no valor do rácio dos gatos, dado o maior número de adopções”, aponta o relatório.

Albano Martins confirmou também que a Fundação Macau aceitou que a verba de cinco milhões de patacas possa ser usada em várias actividades da ANIMA e não apenas no pagamento de salários e dos tratamentos dos animais. A primeira tranche, de 2,5 milhões de patacas, já foi paga, enquanto que a segunda tranche será paga este ano com uma redução de dez por cento.

“Enviámos uma carta a pedir a antecipação da segunda verba, que não vai ser de 2.5 milhões de patacas, uma vez que dez por cento ficam retidos e só serão dados no próximo ano, mediante apresentação do relatório e contas. A ANIMA sempre entregou os seus relatórios e sairá prejudicada com isso”, concluiu o activista.

9 Jun 2021

Covid-19 | Governo emite novas orientações de apresentação de código de saúde

Além de maiores exigências para entrar em vários espaços, quem apresentar declaração de saúde com um código amarelo ou vermelho fica impedido de viajar nos transportes públicos. A entrada em supermercados, restaurantes, bares, cabeleireiros, saunas e ginásios pode exigir apresentação de código, se o estabelecimento assim o entender

 

O Governo anunciou ontem novas orientações para a declaração de saúde em Macau, que vai depender dos espaços que se frequentam. Segundo a apresentação feita ontem por Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença, durante a conferência de imprensa sobre a pandemia da covid-19, vai haver três níveis.

No primeiro nível, que abrange casinos, hotéis, pensões, edifícios de migração e instituições médicas, as pessoas estão obrigadas a apresentar o código de saúde.

As regras definem que para o segundo nível, a exigência da apresentação da declaração de saúde depende dos responsáveis dos espaços. Neste âmbito, estão incluídos os centros comerciais, supermercados, restaurantes, bares, salões de beleza, cabeleireiros, barbeiros, saunas, ginásios, bibliotecas, entre outros espaços em que seja expectável a permanência por mais de 20 minutos.

No terceiro nível estão lojas de pequeno comércio, lojas de conveniências e outras com tamanho reduzido. “Como estas lojas são mais pequenas e têm um fluxo menor, não precisam de exigir o código da declaração de saúde”, justificou Leong Iek Hou.

A médica explicou ainda que todos os estabelecimentos têm de ter meios alternativos para ler a declaração de saúde, além do telemóvel, e que o registo possa ser aferido, além de uma declaração oral.

Foi ontem também esclarecido que quem apresente código de saúde com as cores amarela e vermelha fica impedido de usar transportes públicos.

Testagem sem data

Ontem circularam rumores nas redes sociais de que haveria uma data para realizar testes de ácido nucleico a toda a população. No entanto, Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde, desmentiu haver uma data para o arranque da operação.

“Há rumores que temos uma data, mas quero dizer que estamos a fazer a preparação. Não há uma data concreta. Temos de preparar equipamentos e reagentes e pessoal”, explicou Lo. “A realização de testes é uma forma bastante importante de combater a pandemia, vamos ver como evolui a situação”, acrescentou.

Desde segunda-feira que para poder circular entre Macau e o Interior é necessário apresentar teste de ácido nucleico com validade inferior a 48 horas. A medida levou à corrida a centros de testagem e, por esse motivo foi ontem anunciada a abertura de um novo posto temporário. “A partir de amanhã [hoje] o Centro de Actividades Juvenis da Areia Preta vai ser um centro de testes. […] Vamos arranjar transportes para os estudantes irem ao centro, mas eles também podem fazer a marcação online para serem testados no Fórum de Macau e Terminal do Pac On”, revelou Wong Ka Ki, chefe do Departamento do Ensino Não-Superior destes Serviços da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ).

Barcos-Dragão sem público

Face à evolução da pandemia nas regiões vizinhas, as corridas Barcos-Dragão, agendadas para 13 e 14 de Junho, vão ser realizadas sem a presença de público. Além disso, o Festival em Família, que estava previsto para 12 de Junho, das 10H às 18H, foi cancelado. Os participantes e colaboradores das provas têm de mostrar relatório de teste de ácido nucleico válido negativo (durante o período das provas), ou terem completado as duas doses de vacina contra a COVID-19, pelo menos, com antecedência de 14 dias.

9 Jun 2021

Covid-19 | Deputados apelam a empresas para ajudarem trabalhadores

Face à evolução da pandemia nas regiões vizinhas, deputados pediram ao Governo e às empresas para facilitarem condições para trabalhadores, nomeadamente quanto à realização de testes de ácido nucleico

 

Alguns deputados de sectores tradicionais apelaram ontem a empresas que encontrem soluções de alojamento para trabalhadores e que o Governo melhore as condições de testes de ácido nucleico para quem tem de atravessar a fronteira todos os dias. Os apelos foram relatados ontem pelo jornal Ou Mun, na sequência da crescente preocupação com o desenvolvimento da pandemia nas regiões vizinhas.

O primeiro deputado citado pelo jornal foi Leong Sun Iok, dos Operários, que pede às empresas que implementem políticas amigáveis para os trabalhadores que têm de fazer testes de ácido nucleico para passar a fronteira.
Por outro lado, o deputado pede também respeito pelos trabalhadores na implementação de medidas de protecção. Leong recorda que em fases anteriores da pandemia trabalhadores foram repreendidos pelos patrões por pedirem a clientes que utilizassem máscara de protecção, por isso deixou o desejo que as situações não se repitam.

Por sua vez, Ella Lei, colega de bancada de Leong, escreveu uma interpelação a pedir ao Governo o aumento do número de postos de teste de ácido nucleico para alunos e professores que todos os dias precisam de atravessar a fronteira para regressar a casa.

Cooperação com Zhuhai

A deputada sugeriu igualmente ao Executivo de Macau que negoceie com a congénere de Zhuhai, para que professores e alunos que atravessam a fronteira diariamente possam fazer testes do outro lado da fronteira. Ella Lei apontou mesmo a possibilidade de, como acontece com os residentes de Zhuhai, os testes serem realizados gratuitamente.

Na bancada dos Moradores, Ho Ion Sang defendeu que as empresas devem encontrar casa para os trabalhadores segundo as práticas do ano passado, durante o pico da pandemia.

Ho Ion Sang defendeu ainda que devem ser abertos mais postos grátis do teste de ácido nucleico e pediu apoio psicológico para acompanhar as pessoas afectadas pelas alterações.

Por parte do campo de Jiangmen, Zheng Anting pediu ao Governo o reforço da divulgação sobre a vacina e que incentive os funcionários públicos a aderirem em força ao programa. Zheng revelou ainda ter recebido várias queixas sobre o custo dos testes de ácido nucleico e sugeriu ao Governo que tente negociar a redução do preço.

9 Jun 2021

Migração | ANM contra atribuição de BIR a quem vive fora de Macau

A Associação Novo Macau é contra a alteração da proposta de lei da migração que prevê que os titulares de BIR não permanente possam ter residência, mesmo que não vivam em Macau. Para Sulu Sou “não existe consenso social” sobre uma matéria “estrutural” que vai em sentido contrário aos desenvolvimentos gerados pelo caso IPIM

 

A Associação Novo Macau (ANM) está contra a alteração da proposta de lei do “Regime jurídico do controlo de migração e das autorizações de permanência e residência na RAEM”, que prevê a atribuição de residência aos portadores de Bilhete de Identidade e Residência (BIR) não permanente que estudem ou trabalhem em Macau, mas não pernoitem no território.

Segundo revelou ontem Sulu Sou, a alteração anunciada pela 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) no passado dia 24 de Maio é “estrutural” e “não protege os interesses da população”.

Além disso, o deputado defendeu que a alteração é “contrária” às necessidades que ficaram à vista, desde 2018, com o início do processo judicial relativo à atribuição da residência por investimento por parte do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

“Esta modificação pode alterar as bases do actual sistema legal de atribuição de residência que vigora desde 1999. Achamos que o Governo deveria restringir mais, tratar de forma mais séria e verificar duplamente os processos de candidatura à residência por parte do pessoal qualificado ou investidores. No entanto, o Governo está a ir numa direcção contrária, e quer flexibilizar essas medidas e abrir mais a porta. Essa é a grande razão para a nossa oposição”, apontou Sulu Sou.

Para o deputado que também é membro da 3ª comissão da AL, caso a alteração venha a ser aprovada isso irá “agitar a base do sistema legal”, podendo gerar “riscos para a sociedade”.

“Todos os residentes sabem que (…) se alguém não reside no território não deve ter BIR. É esta a mentalidade pela qual nos guiamos. Mas agora foram avançadas algumas razões para a cooperação no contexto da Grande Baía e da relação entre Macau e a China. Muitos sentem-se desiludidos com o facto de várias pessoas terem recorrido ao Governo para obter o BIR, mesmo não sendo talentos, sobretudo cidadãos da China”, explicou Sulu Sou.

Mostrar reprovação

Por seu turno, Rocky Chan, também vice-presidente da ANM, referiu que a população deve demonstrar descontentamento em relação à proposta de lei, através da partilha de opiniões na consulta pública alusivo ao tema que deverá acontecer em Setembro deste ano.

O vice-presidente da associação referiu ainda que quando a proposta de lei foi submetida à AL para ser discutida na generalidade, “nunca mencionada flexibilização do estatuto de residência”.

“Não existem razões para alterar a proposta de lei e a actual definição de residência temporária. O artigo [em questão] não exige a apresentação de justificações razoáveis, apenas exige [que o candidato] se desloque regularmente a Macau para estudar ou trabalhar”, explicou Rocky Chan.

9 Jun 2021

História | Análise a relatos de época da primeira viagem de avião entre Portugal e Macau

As académicas Cátia Miriam Costa e Olívia Pestana analisaram a forma como os jornais Diário de Lisboa e O Comércio do Porto noticiaram a aventura dos aviadores José Manuel Sarmento de Beires e António Jacinto da Silva Brito Pais, que em 1924 voaram de Vila Nova da Milfontes com destino a Macau acabando por aterrar em Cantão. Ambas as publicações deram grande destaque à viagem, que serviu de bandeira nacional, e cujo 97º aniversário se celebra daqui a duas semanas

 

No dia 2 de Abril de 1924 os aviadores portugueses José Manuel Sarmento de Beires e António Jacinto da Silva Brito Pais partiram de Vila Nova de Milfontes, em Portugal, para fazer aquela que seria a primeira viagem de avião entre Portugal e Macau, apenas dois anos depois da célebre travessia entre Lisboa e o Rio de Janeiro feita por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

No entanto, os dois aviadores, que se fizeram acompanhar por um alferes mecânico, Manuel Gouveia, acabariam por aterrar nos arredores de Cantão a 23 de Junho, depois de terem percorrido 16.380 quilómetros. Foram usados dois aviões, com os nomes “Pátria” e “Pátria II”.

Cátia Miriam Costa, do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e Olívia Pestana, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, analisaram a forma como dois jornais portugueses da época, o Diário de Lisboa e O Comércio do Porto, noticiaram a viagem, no trabalho académico “De Lisboa a Macau: A conquista dos ares vista pela imprensa portuguesa do ponto de vista comparativo”, publicado recentemente no Portuguese Journal of Social Science.

Além de olharem para a cobertura do evento do ponto de vista jornalístico, as autoras analisaram “o compromisso [dos jornais] com a recolha de fundos e o seu papel na mobilização do público como intermediários entre os pilotos e as autoridades públicas”.

Apesar do entusiasmo gerado, as académicas concluem que a aventura acabou por cair no esquecimento. “Apesar dos investigadores das ciências aeroespaciais considerarem ainda esta viagem como essencial para o conhecimento técnico e científico, o voo é geralmente desconhecido e pouco estudado. Enquanto Portugal celebra outras aventuras aéreas, esta parece ter caído no esquecimento, e as referências oficiais são pequenas e escassas”, pode ler-se no documento.

As explicações para este esquecimento foram dadas por Cátia Miriam Costa à agência Lusa, em 2019, e devem-se a questões políticas. “Esta viagem foi apagada da memória portuguesa não porque seja menos importante que a viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Mas, sobretudo, porque Sarmento de Beires é um opositor ao regime que se anunciava.”

“Apesar de militar, não concorda com a Ditadura militar, nem posteriormente com o Estado Novo, é um homem perseguido durante o período das ditaduras em Portugal”, recordou.

Um “evento nacional” e não só

Porquê estes jornais? Segundo as autoras, “a escolha reflecte a necessidade de comparar diferenças abordagens à viagem aérea e detectar eventuais estratégias editoriais que poderiam justificar as diferenças existentes”. Além disso, os familiares dos aviadores tinham estreitas ligações às cidades de Lisboa e do Porto, “o que ajudou a aumentar o interesse do seu desafiante voo na experiência destas famílias”.

As autoras concluem que “o Diário de Lisboa publicou mais notícias sobre este assunto do que O Comércio do Porto”, embora com “visíveis diferenças”. “Do ponto de vista do discurso jornalístico, o orgulho pelos pilotos e pelo projecto é uma realidade desde o início. No entanto, há também um discurso patriótico que emerge à medida que as dificuldades aumentam e a aventura avança. O uso de pontos de exclamação era também um padrão”, acrescenta-se.

No caso do Diário de Lisboa, foi usada com “frequência a expressão ‘aqui e agora’, convidando o leitor a tomar parte desta iniciativa que é sempre apresentada como um evento nacional envolvendo todos os portugueses”.

Quando não havia informações para publicar sobre a viagem propriamente dita, os jornais recorriam a histórias em torno dos seus protagonistas. “O Diário de Lisboa publicava notícias sobre a campanha de recolha de fundos, com entrevistas aos apoiantes do projecto em Portugal (como por exemplo, o Director de Aviação) ou artigos sobre as dificuldades que os aviadores e as suas famílias iam enfrentando”, descrevem as investigadoras.

No caso d’O Comércio do Porto, as notícias “eram em menor número”. “Os acontecimentos em torno do voo transformaram-se numa narrativa que preencheu páginas de jornal quando não havia notícias sobre os pilotos. Conteúdos sobre a campanha de fundos são sempre noticiados em relação com o projecto e como parte da aventura, devido ao facto de uma das dificuldades mais significativas durante a viagem foi a falta de fundos, sejam de fontes públicas ou privadas”, pode ler-se.

No início do século XX, as fontes usadas pelos jornais passavam pelas entrevistas, telegramas e agências noticiosas. Segundo as autoras, “o discurso directo foi usado algumas vezes no Diário de Lisboa, muitas vezes transcrito em forma de diálogo, enquanto que em outras alturas foi usado o discurso indirecto, apresentando linhas gerais da narrativa enquanto cita declarações (em geral pessoas directamente envolvidas com o projecto ou com o campo da aviação”.

No caso do jornal do Porto, foi muito usado o discurso indirecto, “provavelmente devido ao facto de ter citado fontes de informação”.

Em ambos os jornais “os telegramas oficiais e as notícias de agências internacionais eram transcritas, tal como outra correspondência (cartas a familiares, por exemplo), em adição de informação com base em telefonemas”.

Foi detectado, por parte das autoras do estudo, “um forte compromisso de afirmar a credibilidade da informação e a sua verosimilhança através (…) do uso de fontes, recursos de estilo no discurso, a busca pela identificação e envolvimento do leitor na aventura”. Este compromisso “é evidente em ambos os jornais, mas O Comércio do Porto mostra a credibilidade da informação ao citar notícias de outras fontes de informação”.

Apesar do esquecimento a que ficou votada a jornada, ela teve, à época, uma dimensão equiparada às viagens feitas internacionalmente. “Outro aspecto que merece ser enfatizado é o panorama nacional e internacional deste evento: as notícias publicadas sobre o estado da aviação em Portugal, bem como o seu significado político. O mesmo tipo de projectos desenvolvidos pelos aviadores de outras nacionalidades são também mencionados, o que nos permite posicionar este evento ao mesmo nível dos outros [a nível internacional]”, denotam as investigadoras.

O Diário de Lisboa foi fundado em 1921 e publicou-se na capital portuguesa até 1990. A publicação “orgulhava-se da independência das opiniões dos jornalistas”, assumindo-se, pelos fundadores, como um jornal republicano, moderado e independente. No caso d’O Comércio do Porto, foi fundado em 1854 e fechou portas a 30 de Julho de 2005.

Uma viagem importante

Cátia Miriam Costa e Olívia Pestana apontam que, quando Brito Pais e Sarmento Beires começaram os planos depararam-se de imediato com a necessidade de recolha de fundos. “Nem o poder político estabelecido nem as forças armadas tinham fundos necessários para patrocinar a viagem, então a primeira vez que esta viagem captou a atenção do público foi através da ideia de obter fundos para comprar um avião.”

Com uma crise económica e divisões políticas, o primeiro voo entre Portugal e Macau acabou por ganhar “um significado de unificação e uma forma de confirmar a presença portuguesa no radar dos céus”.

O primeiro avião, “Pátria”, cairia perto de Cantão devido a uma tempestade. Durante o voo, “os aviadores perderam a aeronave e tiveram de esperar pela sua substituição”. Novamente os pilotos conseguiram comprar um segundo avião através da recolha de fundos, e desta vez com um maior envolvimento da imprensa portuguesa.

Tratou-se de uma viagem “com várias paragens” e acompanhada também pelos media internacionais, “o que transformou o projecto num evento internacional”. Os jornais analisados pelas investigadoras noticiaram a viagem “desde o início”, tendo os leitores “respondido aos apelos por fundos e mantendo-se fiéis” às notícias e reportagens sobre o voo.

O feito serviu também para Portugal se “comparar a outra nação poderosa”. Neste período “as relações com a China eram tensas devido ao debate em torno das águas que circundavam Macau”, pelo que o voo “era um símbolo de como Portugal era ainda um poder político com capacidade externa para lutar pelos seus territórios”.

“A ligação com as relações sino-portuguesas não é clara mas a aventura emerge como algo acima dos eventos políticos em Portugal, que exalta a presença portuguesa no mundo”, apontam as autoras.

Em 1924 estava no auge o conflito entre a I República, que já estava na sua fase terminal [a Ditadura Militar foi instituída em 1926], e os aviadores da Força Aérea. O voo serviu também “para desviar as atenções dos jornalistas e leitores dos problemas das Forças Armadas e as tensões entre o Governo, o parlamento e os militares”.

Brito Pais não esteve envolvido intelectualmente nem ideologicamente com esse tipo de lutas. No entanto, acaba por sofrer do mesmo ostracismo que vem do facto de não se poder reconhecer o seu companheiro de viagem”, indicou Cátia Miriam Costa à Lusa .

Em Macau os pilotos foram recebidos de forma “triunfal”, descreveu a investigadora, ainda que o voo não tenha terminado no território. Ainda assim, nas páginas do Diário de Lisboa a aventura foi considerada um sucesso. “As dificuldades causadas por uma tempestade sazonal e o facto de não haver nenhum lugar preparado em Macau para a aterragem foram aspectos noticiados pelo Diário de Lisboa antes do fim da viagem.”

Desta forma, as publicações “acabaram por baixar as expectativas e preparar o público para a possibilidade da viagem ser incompleta. O jornal celebrou o fim da viagem como se o avião tivesse aterrado em Macau.”

Em Lisboa os pilotos também foram bem recebidos e receberam condecorações militares ainda das mãos dos governantes da I República. Com a instauração do Estado Novo, em 1933, a viagem e os pilotos acabariam por ser despenhar num profundo esquecimento.

9 Jun 2021

Deputada Ella Lei declara “guerra” às garrafas de plástico

A legisladora dos Operários de Macau está preocupada com os resíduos sólidos de plástico e quer saber se além de medidas para palhinhas e pauzinhos para misturar bebidas, se há espaço para “combater” garrafas de plástico

 

Ella Lei perguntou ao Governo se tem planos para combater o fenómeno das garras de plástico não recicladas. A questão faz parte de uma interpelação escrita, divulgada ontem pela legisladora.

De acordo com a explicação de Ella Lei, o plástico representa mais de 20 por cento de todos os resíduos sólidos em Macau, o que faz com que seja o segundo resíduo mais prevalente. Apenas o lixo orgânico, como comida, ultrapassa o plástico em termos quantitativos.

Apesar de reconhecer que o Executivo tem adoptado restrições para reduzir a utilização de sacos de plástico, caixas de esferovite, e que prepara medidas para controlar o uso de palhinhas e os pauzinhos de plástico para mexer bebidas, Ella Lei defende mais pró-actividade. Por isso, diz que é necessário resolver o problema das garrafas de plástico, não só aumentando a capacidade de reciclagem, mas também da diminuição do uso.

Ella Lei está preocupada com a taxa de reciclagem de plástico e diz que se pode fazer mais: “De acordo com as informações de 2019, nesse ano os resíduos sólidos atingiram 555.000 toneladas métricas, entre as quais mais de 129.000 toneladas métricas eram plástico”, aponta. “No entanto, a reciclagem de plástico não foi além das 304 toneladas métricas, o que significa que a taxa de reciclagem de plástico não tenha foi além de 0,3 por cento”, sublinhou.

Contudo, o problema também deve ser “atacado” a partir da produção das garrafas de plástico e da indústria de bebidas. “Os residentes têm de começar a reduzir a utilização de plástico na fonte, para diminuir a quantidade de resíduos sólidos”, indica.

“O Governo também deve adoptar medidas práticas para encorajar e promover essa redução”, considera.
Neste cenário, Ella Lei pergunta ao Executivo o que vai ser feito: “Será que sabem a percentagem de garrafas de plástico que são efectivamente deitadas no lixo? E além das máquinas que permitem devolver garrafas a troco de dinheiro […] há medidas para limitar legalmente a utilização de garrafas de plástico?”, questiona.

A deputada quer ainda saber se no âmbito da redução das garrafas de plástico se vão ser adoptadas metas para limitar a utilização pela indústria que vende garrafas de águas para máquinas domiciliárias e outras. Outra pergunta foca a existência de planos para instalar mais bebedouros públicos e menos máquinas de venda de garrafas de plástico.

8 Jun 2021

Jardim Botânico | Fundação Casa de Macau vai renovar pavilhão

A Fundação Casa de Macau vai restaurar o pavilhão de chá no Espaço Jardim de Macau, situado no Jardim Botânico de Lisboa. O projecto deverá ser feito em parceria com a Universidade de Lisboa e a Fundação Jorge Álvares

 

O pavilhão de chá que esteve exposto na Expo 98, e que está hoje no Espaço Jardim de Macau, dentro do Jardim Botânico de Lisboa, vai ser alvo de obras de remodelação. Este projecto consta do plano de actividades da Fundação Casa de Macau (FCM) em Lisboa para este ano.

“Graças à reitoria da Universidade de Lisboa (UL) tem havido uma grande intervenção, sobretudo valorativa. Acompanhamos isso, mas falta valorizar o pavilhão de chá, que veio da Expo 98, que está inscrito no nosso orçamento queremos fazer o mais rapidamente possível”, disse ao HM Mário Matos dos Santos, administrador da FCM.

Nesta fase foi proposta cooperação à Fundação Jorge Álvares e à própria reitoria da UL, cujos detalhes ainda estão a ser ultimados. “Não vamos pedir apoio financeiro a Macau e faremos isto com mais duas entidades directamente interessadas. Gostaríamos de ter a obra pronta no Verão deste ano”, acrescentou. Sem avançar o orçamento, Mário Matos dos Santos referiu apenas que é um “valor normal para este tipo de trabalhos”.

A mão de Berardo

O Jardim Botânico Tropical, que chegou a chamar-se Jardim Colonial de Lisboa, foi criado em 1906. Em 1940, já no período do Estado Novo, realizou-se a “Exposição do Mundo Português”, na qual o jardim albergou uma secção de Etnografia Colonial.

Com “o objectivo de documentar e expor ao público fiéis representações de elementos da vida macaense e amostras naturais que constituíam a riqueza e paisagem natural de Macau”, conforme descreve a FCM, foi então concebido o Espaço Jardim de Macau.

Foram construídos elementos como o Arco de Macau e a Rua de Macau, que “se tornaram incontornáveis pontos de interesse daquele Jardim”. Esta iniciativa aconteceu a partir de 1949.

No final da Expo 98, a FCM doou alguns equipamentos que tinham feito parte do Pavilhão de Macau. Em Janeiro do ano passado o Jardim Espaço de Macau foi redesenhado e passou a ter plantas asiáticas. Além do trabalho feito pela reitoria, a sua manutenção chegou a ter a ajuda do empresário Joe Berardo.

“Durante a Expo 98 demos um grande apoio ao espaço e sempre estivemos próximos. Houve uma altura em que o Joe Berardo nos ajudou a colocar muitas coisas naquele jardim. A grande mudança deu-se com a entrada da reitoria [da UL], e desde esse momento que foram feitas alterações, como um novo alinhamento do percurso do jardim. A única coisa que falta fazer, e que é da nossa responsabilidade, é o pavilhão de chá”, rematou Mário Matos dos Santos.

O HM contactou o general Garcia Leandro, ex-Governador de Macau e actual presidente da Fundação Jorge Álvares, que confirmou a proposta da FCM. “É algo que está muito no princípio. Há muita coisa a fazer no jardim tropical e haverá uma parte ligada a Macau, que precisa de ser trabalhada, e irá contar com o apoio de certeza. Mas não temos pormenores”, concluiu.

O Jardim Botânico Tropical está classificado como Monumento Nacional e desde 2015 que integra a UL, sendo actualmente gerido em conjunto com o Museu de História Natural e da Ciência e o Jardim Botânico de Lisboa. A primeira fase da renovação do Jardim Espaço de Macau arrancou em 2019.

8 Jun 2021

Eleições | Agnes Lam destaca desemprego como prioridade de campanha

A deputada está preocupada com a comunidade portuguesa e macaense que fala chinês, mas não consegue ler. Agnes Lam diz que é incompreensível que não haja emprego para estas pessoas, mesmo nas grandes empresas, onde o inglês é a língua de trabalho. Rui Leão faz parte da lista

 

Com a atenção focada na situação do desemprego, Agnes Lam apresentou ontem as 500 assinaturas da comissão de candidatura com o nome Observatório Cívico. A deputada afirmou acreditar que o desemprego vai marcar a campanha para as eleições de Setembro e os primeiros meses da futura Legislatura.

“Nos próximos meses vão acontecer muitas mudanças, por isso queremos focar-nos nas questões do emprego e da diversificação económica. Se as pessoas não conseguem manter o emprego ou mesmo arranjar um, então vamos ter muitos problemas sociais”, afirmou Agnes Lam. “Acredito que a nossa campanha e programa político vão ser mais versáteis do que nos anos anteriores, porque as mudanças estão a acontecer a um nível elevado, devido aos impactos da pandemia, que são difíceis de controlar, e queremos responder aos problemas reais”, acrescentou.

A candidatura da deputada vai contar com o arquitecto Rui Leão, que deverá ocupar um dos últimos lugares da lista. A ordem ainda não está completamente definida, mas Agnes Lam vai ser a candidata número um e destaca a necessidade de proteger a comunidade portuguesa e macaense, a nível dos direitos laborais.

“Durante a pandemia, detectámos casos de portugueses ou macaenses que falam chinês, mas que são incapazes de encontrar emprego. Mesmo nas grandes empresas, em que o inglês é a língua do trabalho, não contratam essas pessoas”, explicou. “Quando contratam, pedem pessoas que escrevem chinês. Estas pessoas são fluentes no chinês, conseguem falar, só não escrevem. Mas isso também não tem um grande impacto, porque a língua do trabalho é o inglês. […] Estas pessoas têm de ter os seus direitos de trabalho protegidos. É um assunto novo que vamos defender”, prometeu.

Apesar de reconhecer que as prioridades vão sofrer alterações, Lam promete insistir nas questões da habitação para a classe sanduíche, idosos e ainda na falta de empregadas domésticas.

Um apoio português

Entre os membros da lista consta o arquitecto Rui Leão, que explicou o apoio à deputada com o trabalho de Agnes Lam nos últimos quatro anos no hemiciclo, assim como a necessidade de a comunidade portuguesa manter uma voz na política local.

“Sinto que com o passar do tempo, Macau, as relações políticas, sociais e culturais também vão mudando muito. As forças que estão no poder também vão mudando e sinto que é muito importante a comunidade portuguesa ser ouvida e tomada em atenção”, justificou Leão. “É preciso que a comunidade tenha uma voz e que os interesses sejam protegidos. A Agnes, por ser independente e por estar muito atenta às minorias e a certos tipos de grupos que não têm voz, é muito importante para defender os nossos interesses e pontos-de-vista”, completou.

O arquitecto fez ainda uma avaliação muito positiva do mandato de Agnes Lam e destacou a evolução ao longo dos quatro anos. “Acompanhei com muito prazer e fascínio, a Agnes cresceu muito nestes quatro anos e esteve sempre disponível com a porta aberta do escritório para ouvir e dar atenção a questões de pessoas e grupos completamente diferentes”, destacou.

Mais confiante

Em 2017, a lista Observatório Cívico de Agnes Lam foi a 10.ª mais popular com 9.590 votos. Este ano, a deputada admite estar mais confiante do que no ano anterior, por ter quatro anos de trabalho para mostrar aos cidadãos.

“A grande diferença face a 2017 passa por termos disponibilizado ao longo de quatro anos serviços à população. Durante este período ajudámos as pessoas, demos-lhes poder, ajudámos aqueles que nos contaram as suas dificuldades e temos casos bem-sucedidos”, explicou. “Este ano temos apoio de pessoas da comunidade que sentiram dificuldades e injustiças e que conseguimos ajudar. Por isso, acho que há um apoio da comunidade que não existia e isso é um factor de confiança e também de reconhecimento. Mostra que o nosso trabalho tem algum valor”, admitiu.

8 Jun 2021

Covid-19 | Serviços de Saúde ponderam testar toda a população

O director dos Serviços de Saúde admitiu existirem planos para testar toda a população de Macau se a evolução da pandemia o ditar. Cerca de 5.000 pessoas das 5.300 cujo código de saúde passou a vermelho fizeram ontem teste de ácido nucleico. Anunciado corredor aéreo entre Singapura e Macau para facilitar o regresso de residentes

 

O director dos Serviços de Saúde (SSM), Alvis Lo Iek Long admitiu ontem a possibilidade de toda a população de Macau ser submetida a testes de ácido nucleico. A revelação foi feita no seguimento do agravamento da situação epidémica na província de Guangdong, em particular nas cidades de Cantão (Guangzhou) e Foshan.

“Na cidade de Zhongshan (…) dentro de quatro ou cinco dias vão fazer testes de ácido nucleico dirigidos a todos os cidadãos. Ao observar a situação de Macau, não afastamos a possibilidade de submeter também toda a população ao teste de ácido nucleico. Obviamente que isto está dependente da [evolução] da situação da pandemia, mas temos de estar sempre preparados para garantir a segurança dos cidadãos”, apontou ontem.

Alvis Lo acrescentou tratar-se de um cenário ainda “em fase de estudo” e que implica, para já, averiguar a capacidade que o território tem a nível de recursos e mobilização de pessoal. Contudo, a acontecer, a testagem da população levará quatro dias e serão instalados pela cidade, 30 postos para esse efeito.

“É difícil dizer que critério precisa de ser observado [para testar toda a população]. Temos de acompanhar a evolução da pandemia (…) e, caso haja necessidade, vamos usar todos os recursos. Estamos preparados, mas esta ideia é ainda uma concepção. Se a medida avançar, vamos instalar 30 postos de testagem em Macau”, detalhou.

Recorde-se que, devido à gravidade da situação em Guangdong, desde a manhã de ontem que todos os cidadãos que tenham estado na Cidade de Cantão ou Foshan, nos 14 dias anteriores à entrada em Macau receberam uma mensagem para realizar um teste de ácido nucleico até às 18h de ontem. Segundo, o director dos SSM, das cerca de 5.300 pessoas notificadas, 5.000 tinham sido testadas.

Outra medida que surgiu em resposta ao aumento de casos em Guangdong e que entra em vigor a partir das 10h de hoje, prende-se com a obrigação de os indivíduos que se deslocam entre Guangdong e Macau terem de possuir resultado negativo ao teste de ácido nucleico, efectuado no prazo de 48 horas.

Apesar de o anúncio ter provocado a corrida aos postos de testagem que prescindem de marcação [ver caixa], durante a conferência de imprensa, o responsável dos serviços e educação, Kong Chi Meng, assegurou que a DSEDJ, os SSM e as autoridades de Macau estão a coordenar a realização de testes aos alunos, docentes e funcionários transfronteiriços de Macau.

Durante a conferência de imprensa, a responsável dos serviços de turismo (DST), Lau Fong Chi revelou que a Autoridade de Aviação Civil planeia criar um corredor aéreo entre Singapura e Macau com a frequência de dois voos semanais, “para facilitar o trânsito de residentes de Macau que queiram regressar”, explicou Lau Fong Chi.

 

Filas no Fórum de Macau

A necessidade de apresentar testes com menos de 48 horas de validade para poder circular entre Macau e Zhuhai gerou uma corrida aos testes, no Fórum de Macau. A grande afluência registou-se por volta das 15h e foi relatada pelos meios de comunicação social em língua chinesa. De acordo com os relatos, foram vários os alunos que chegaram ao local transportados por autocarros de escolas. Ao mesmo tempo, foram também enviados para a zona vários polícias para garantir a ordem. Face ao desenvolvimento, Vong Kuoc Ieng, Director da Escola Choi Nong Chi Tai, pediu ao Executivo para alargar os postos de testagem onde as pessoas podem comparecer sem uma marcação prévia. Actualmente, apenas há dois locais para testes sem marcação, no Terminal do Pac On e no Fórum de Macau.

Quarentena | Ponderada redução de dias para vacinados

O director dos Serviços de Saúde (SSM), Alvis Lo Iek Long admitiu ontem a possibilidade de, no futuro, passar a existir uma diferenciação entre vacinados e não vacinados, quanto ao número de dias de quarentena obrigatória para quem chega a Macau. Contudo, a redução só será uma realidade para vacinados caso existam fundamentos científicos suficientes. “A curto prazo, não temos esse plano [de reduzir o número de dias para vacinados], mas se houver dados científicos, não afastamos a possibilidade. No estrangeiro essas medidas existem, mas não nos podemos esquecer que em Macau não há casos há mais de 400 dias e temos de proteger a comunidade”, apontou.

Por seu turno, Tai Wai Hou, responsável do plano de vacinação revelou que está a ser ponderado um aumento do número dos postos de inoculação. Isto, tendo em conta que apenas 20 por cento da população (64.575) levou a primeira dose. No total, até à tarde de ontem, foram ministradas em Macau 201.051 doses em 137.338 pessoas.

8 Jun 2021

Covid-19 | Êxito na prevenção criou falsa segurança e comprometeu taxa de vacinação

Porque é que a taxa de vacinação em Macau continua tão baixa? Académicos ouvidos pela agência Lusa defendem que há uma desconfiança generalizada nas vacinas, uma vez que nunca houve um surto comunitário no território. No caso de Hong Kong, a desconfiança no Executivo é apontada como uma das razões para o facto de uma grande fatia da população não confiar nas vacinas contra a covid-19

 

Académicos especializados na área da saúde ouvidos pela Lusa consideram que a fraca taxa de vacinação em Macau prende-se com a habituação a um ‘novo normal’, mas também à desconfiança das vacinas num território que nunca teve um surto comunitário.

O programa de vacinação começou há quase quatro meses, é gratuito, os residentes podem escolher entre duas vacinas, não faltam doses disponíveis. Contudo, os resultados têm sido muito pouco animadores e até o Governo já admitiu que Macau pode ficar numa “situação embaraçosa”: apenas cerca de 10 por cento da população recebeu as duas doses.

Há mais de um ano, a situação era a oposta: Macau, um dos primeiros locais a registar os primeiros casos, foi considerado um caso de sucesso no mundo, controlou as fronteiras, rastreou os casos suspeitos, impôs pesadas quarentenas obrigatórias a todos os que regressavam, disponibilizou máscaras a toda a população e o seu uso sempre foi generalizado.

Essa receita mostrou-se um sucesso já que Macau detectou apenas 51 casos desde o início da pandemia, não tendo registado qualquer surto local ou infectados entre os profissionais de saúde.

“A falsa segurança não deriva apenas do facto de não haver infecção comunitária em Macau, mas também do facto de haver uma taxa de infecção relativamente baixa na China continental desde que o Governo assumiu o controlo da situação no ano passado”, explicou à Lusa antropóloga e investigadora na área da saúde Loretta Lou.

“O povo de Macau obedece ao uso de máscaras e ao distanciamento social porque estas medidas repercutem-se nos seus conhecimentos leigos sobre higiene pública e na sua experiência anterior com a epidemia SARS” (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que entre 2002 e 2003 causou a morte a 774 pessoas em todo o mundo, a maioria das quais na China.

Também ouvido pela Lusa, Ray Choy, professor da Faculdade de Humanidades e Ciências Sociais da Universidade Cidade de Macau, disse que os residentes habituaram-se às medidas sanitárias e “por isso não vêem a urgência de tomar a vacina”, frisando ainda que a epidemia no território se encontra estável e isso contribui para que as pessoas se sintam confortáveis.

Em relação à reduzida taxa de vacinação no território, o professor explica que a sensação geral da população de Macau é que a preparação e a produção das vacinas demoraram relativamente pouco tempo em relação a outras vacinas convencionais.

“Penso que a maioria dos residentes ainda está preocupada com a segurança e eficácia”, sublinhou, acrescentando que as pessoas continuam com a abordagem de “vou esperar e deixar ver”. “Acho que o tempo ajudará a que mais pessoas tomem a vacina”, frisou.

Também a antropóloga Loretta Lou refere a desconfiança em relação às vacinas por serem uma novidade, “mas também porque a vacinação não se enquadra na experiência quotidiana das pessoas comuns em matéria de saúde e doenças”.

“As pessoas esquecem que as vacinas salvaram muitas vidas ao longo do último século. É por isso que vemos um crescente movimento anti-vacinas a nível mundial”, explicou, detalhando que no caso de Macau “a maioria dos residentes recebeu a sua vacinação programada quando era bebé”.

“Para aqueles que não tomaram as vacinas contra a gripe sazonal no passado, a vacina contra a covid-19 é a sua ‘primeira vacina desde há algum tempo”, sendo compreensível que as pessoas estejam um pouco preocupadas”.
Contudo, a antropóloga deixa uma crítica às autoridades do antigo território administrado por Portugal: “Os funcionários da saúde pública poderiam ter feito mais educação pública”.

O Governo tem feito constantes apelos à vacinação e já avisou que a fronteira com a China continental pode endurecer restrições.

Casinos ajudam

Nas últimas semanas, e para contrariar a inação dos residentes, os casinos de Macau prometeram dinheiro, dias de férias extra e sorteios para quem se vacinar.

Uma das operadoras de jogo, a Melco Crown, avançou mesmo com uma campanha ‘milionária para a qual destinou 16 milhões de patacas e que contempla a organização de seminários, pagar mil patacas a cada funcionário “plenamente vacinado” e promover ainda sorteios que podem valer seis prémios de um milhão de patacas.

Estes incentivos coincidiram com o surgimento de casos na província de Guangdong, de onde provem a maioria de turistas para Macau e parte substancial da força de trabalho de Macau. Guangdong detectou dezenas de infeções locais desde 21 de Maio, situação que levou as autoridades locais a impor, esta semana, restrições à circulação interna de pessoas, ao ditar que quem quiser sair da província deve fazer um teste à covid-19, e a isolar bairros inteiros.

“Penso que a população de Macau se sente um pouco confortável demais com o ‘novo normal’, uma vez que os novos casos estão a aumentar rapidamente em Guangzhou e Taiwan. À medida que a sensação de crise se torna iminente, vemos mais residentes a reservar as suas vagas para as vacinas Covid-19 nestes últimos dias”, explicou Loretta Lou.

Por outro lado, Ray Choy faz uma relação directa entre o aumento de residentes que fizeram reservas para vacinação na última semana e o surgimento de novos casos tanto em Guangdong como em Taiwan. “Na semana passada, mais de 40.000 residentes fizeram a reserva para obter a vacina, que é o número mais alto desde que o programa foi introduzido em Fevereiro deste ano”, disse.

Taxa de vacinação em Hong Kong é superior a Macau

Ray Choy afirmou à Lusa que a fraca taxa de vacinação em Hong Kong resulta da desconfiança no Governo, mas em Macau a razão está relacionada com os bons resultados na prevenção da pandemia. Segundo os últimos dados oficiais, 52.246 foram inoculadas com a 1.ª dose da vacina e 68.149 tomaram as duas doses da vacina. Já em Hong Kong, 1.442.878 (22 por cento) de pessoas receberam a primeira dose e 1.059.737 (16,2 por cento) já estão completamente inoculados.

Para o professor da faculdade de humanidades e ciências sociais da Universidade Cidade de Macau, esta é uma questão peculiar já que ambas as populações são chinesas.

“A taxa de vacinação em Hong Kong é um pouco mais elevada do que a de Macau, porque agora temos cerca de 16 por cento das pessoas de Hong Kong que receberam duas injecções da vacinação, o que é um pouco mais elevado do que a de Macau”, detalhou.

“A pandemia em Macau foi contida e controlada bastante bem em comparação com Hong Kong é por isso que os residentes de Macau podem sentir-se um pouco à-vontade e adoptam uma atitude de descontração, esperar para ver e assim por diante”, explicou.

Um caso de sucesso

Macau detectou apenas 51 casos desde o início da pandemia, não registou qualquer surto local ou infectados entre os profissionais de saúde.

Já em Hong Kong, também com bons resultados iniciais, a situação foi menos bem controlada. Desde o início da pandemia da covid-19, a região administrativa especial chinesa registou 210 mortos e 11.848 casos da doença. Ainda assim, o território não regista casos locais da doença há mais de um mês.

A desconfiança em relação às vacinas está na confiança no Governo, disse Ray Choy, que foi Chefe da Unidade Central de Educação em Saúde, Centro de Protecção da Saúde, Departamento de Saúde, Governo de Hong Kong e membro do Conselho Tutelar, Subcomité do Fundo de Promoção e Cuidados de Saúde no território vizinho.

“Os residentes não estão confiantes, ou podem dizer que não confiam no Governo de Hong Kong. Alguns até adoptam uma atitude anti-governo de Hong Kong que pode não ser boa em termos de saúde pública”, disse. “Não estamos a falar de política e questões sociais, estamos apenas a falar de proteger a sua saúde”, afirmou.

A vacinação contra a covid-19 ultrapassou os dois mil milhões de doses em todo o mundo em seis meses, num total de 215 países ou territórios abrangidos, anunciou segundo a Agência France Presse (AFP).

7 Jun 2021

Ruído | Queixas aumentam quase 50%, “conversas e gritos” foram principal razão

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental afirma que o ruído foi inferior aos anos anteriores, mas que as queixas se devem ao facto de a população estar mais atenta. O relatório sobre o ambiente de Macau em 2020 sublinha também a melhoria da qualidade do ar devido à pandemia

 

O número de queixas sobre o ruído ambiental aumentou em 4.279 casos entre 2019 e 2020, o que representa um crescimento de 45,4 por cento. A informação consta no Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2020, feito pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), e as principais queixas deveram-se a “conversações e gritos”.

Entre as 13.701 queixas, as “conversas e gritos” foram o principal motivo, com 6.176 ocorrências. Seguem-se as reclamações devido a “música e karaoke”, com 1.854 queixas, “decoração interiores”, com 1.424, e ainda “obras de construção”, com 493 queixas. Em todos os campos apresentados, registaram-se aumentos face ao ano anterior que variaram entre 28,1 por cento e 53,7 por cento.

Segundo os dados da DSPA, o aumento das queixas é explicado com a maior atenção da população para o fenómeno. “Durante o período da epidemia em 2020, os níveis de ruídos registados em todas as estações de monitorização do ruído forma inferiores aos de 2019”, é afirmado. “Houve um aumento considerável de mais de 40 por cento no número de reclamações sobre o ruído em 2020 face a 2019, sendo os tipos principais, sucessivamente, ‘conversações e gritos’, ‘música e karaoke’, e ‘decorações de interiores’, todos provenientes da vida social, demonstrando que os moradores estiveram mais atentos ao estado sonoro do ambiente em que se inserem, durante a epidemia”, é acrescentado.

A DSPA propõe a redução da densidade populacional em algumas zonas, melhorar as condições de isolamento de som durante as fases de planeamento e concepção dos projectos de construção, controlo do número de veículos, incentivar uso dos transportes públicos e veículos eléctricos e redução do “impacto sonoro proveniente dos projectos de construção”.

Pandemia melhorou ar

Como consequência da pandemia, a redução das actividades sociais e económicas levaram a que em mais de 95 por cento do ano o ar fosse classificado como “bom” ou “moderado”. “Esta melhoria visível tem a ver com o abrandamento das actividades socioeconómicas durante a epidemia causada pelo novo tipo de coronavírus, devendo, no entanto, ser dada atenção à tendência de mudança à medida que as actividades socioeconómicas vão retomando a normalidade”, é acrescentado.

Ainda de acordo com os dados apresentados nas estações “Berma da Estrada (Macau)”, “Áreas de Alta Densidade Habitacional (Macau)” e “Áreas de Alta Densidade Habitacional (Taipa)” não houve qualquer dia de 2020 em que o ar estivesse “insalubre” ou “muito insalubre”. Nas estações “Ambiental (Taipa)”, “Ambiental (Coloane)” e “Berma da Estrada (Ká-Hó)” os dias com ar insalubre forma de 15, dias, 10, dias e 16 dias, respectivamente.

Ainda sobre a qualidade do ar, o relatório mostra-se preocupado com os níveis de ozono que afectam “amplamente a qualidade do ar da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” e põem “em causa a saúde da população”.

Neste contexto, é sugerido ao Governo medidas para reduzir as emissões principalmente nas áreas da produção de electricidade e dos transportes. Contudo é também deixado um apelo aos cidadãos: “Cada um de nós deve pensar em si e nas próximas gerações, optar por um estilo de vida mais ecológico, de modo a promover o desenvolvimento de baixo carbono em Macau, contribuindo assim para enfrentar as mudanças climáticas”.

Descargas sem tratamento

No ano passado, entre um total de 186 saídas de drenagem costeira, 47 (cerca de um quarto) enviaram águas residuais domésticas para o mar sem qualquer tratamento. É por esse motivo, que as águas estão insalubres, de acordo com o Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2020. A zona do Porto Interior é a mais afectada pelas descargas e deve-se ao facto de os colectores de intercepção estarem “constantemente cheios”. Porém, segundo director da DSPA, Raymond Tam Wai Man, há planos para construir três instalações provisórias de tratamento de água residual no Porto Interior.

7 Jun 2021

Eleições | Mak Soi Kun não se candidata pela via directa à Assembleia Legislativa

Mak Soi Kun, o candidato mais votado nas eleições directas de 2017, confirmou que está fora da ‘corrida’ ao hemiciclo. Sobre a possibilidade de ser eleito pela via indirecta ou nomeado pelo Chefe do Executivo diz “não ter ideia”

 

Mak Soi Kun admitiu que não será candidato nas eleições pela via directa à Assembleia Legislativa. As declarações do deputado ligado à comunidade de Jiangmen foram prestadas na sexta-feira ao jornal Ou Mun, depois de no dia anterior não ter comparecido à entrega dos documentos para formalizar a comissão de candidatura da lista União de Macau-Guangdong.

De acordo com o empresário e ainda deputado, a decisão foi tomada devido à “esperança que a vaga seja aproveitada por uma geração mais nova interessada em participar no processo político” da RAEM.

Em relação às “novas caras”, Mak Soi Kun sublinhou a importância do patriotismo e do território ser governado por patriotas. “A essência da educação patriótica está na transmissão das melhores tradições. Se queremos cultivar os melhores talentos para governar Macau, não nos podemos limitar a falar e não fazer nada”, explicou. “Espero que a oportunidade de participar nas eleições directas seja aproveitada para treinar e ensinar os mais novos, para que a educação tradicional e patriótica continue nas eleições futuras”, acrescentou.

No que diz respeito às missões do elenco do próximo hemiciclo, Mak Soi Kun destacou a implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas” e da política “Macau governado pelas suas gentes”. O deputado deixou também o desejo que os futuros legisladores continuem a “fiscalizar o Governo, de acordo com a lei” e que saibam “lutar pelos direitos e interesses dos residentes”.

Vias alternativas?

Questionado se seria candidato através das eleições indirectas ou por nomeação do Chefe do Executivo, Mak não recusou a possibilidade, mas limitou-se a dizer “não ter ideia”.

Por outro lado, apontou que até Agosto, altura em que termina o mandato dos legisladores eleitos em 2017, vai concentrar todos os seus esforços no trabalho que têm em mãos e a garantir que serve os interesses dos residentes.

Quanto aos três mandatos que serviu, desde 2009, Mak agradeceu aos cidadãos “todo o apoio” e a “confiança” que diz terem permitido “retribuir à sociedade” o que colheu em Macau ao longo dos anos.

Em 2017, a lista União de Macau-Guangdong foi a vencedora das eleições com 17.214 votos, mais 518 votos que a listas dos Operários de Macau. O resultado permitiu eleger os deputados Mak Soi Kun, deputado desde 2009, e Zheng Anting, eleito pela primeira vez em 2013.

7 Jun 2021

MNE apoia Polícia e TUI na proibição da vigília para lembrar Tiananmen

O comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês expressou apoio à Polícia e ao Tribunal de Última Instância (TUI) que proibiram a vigília em memória das vítimas dos acontecimentos de Tiananmen”, cuja data é assinalada a 4 de Junho.

Segundo a agência Lusa, a posição de Pequim foi dada a conhecer através de comunicados divulgados apenas em língua chinesa, na noite da passada quinta-feira, em Macau, pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Gabinete de Ligação do Governo Popular Central e Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado.

O comissariado salientou que “a liderança do Partido Comunista da China é a qualidade fundamental do socialismo com características chinesas. Como região administrativa local directamente sob o Governo Popular Central, a RAEM deve respeitar o sistema socialista praticado pelo Estado, respeitar a posição dominante do Partido Comunista da China, tal como estabelecido pela Constituição, e salvaguardar seriamente a ordem constitucional” e lembrou que “os assuntos de Macau são assuntos puramente internos da China, e nenhuma força externa tem o direito de interferir”.

Base sólida

O mesmo é sublinhado na nota do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central, que acrescentou: “A decisão do Tribunal de Última Instância tem uma base constitucional sólida e baseia-se na Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau, e está em conformidade com as disposições legais locais relevantes, com plena legitimidade, necessidade e propriedade”.

A mesma entidade frisou que “as autoridades executivas, legislativas, judiciárias e todos os sectores da sociedade da Região Administrativa Especial de Macau têm a responsabilidade constitucional de salvaguardar a soberania, segurança e interesses de desenvolvimento do Estado”.

Por fim, o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado assinalou que “apoia firmemente a RAEM na proibição de actos que minam a ordem constitucional de acordo com a lei”.

“Como região (…) directamente administrada pelo Governo Popular Central, a Região Administrativa Especial de Macau deve respeitar o sistema socialista praticado pelo principal órgão do Estado, respeitar o estatuto do Partido Comunista da China, tal como estabelecido pela Constituição, e manter efectivamente a ordem constitucional”, pelo que “quaisquer actos de organizações ou indivíduos que minem a ordem constitucional são ilegais e devem ser firmemente proibidos”.

7 Jun 2021

4 de Junho | Noite sem incidentes assinalada apenas com vigília online

Ao contrário do ano passado, quando o aparato policial se fez sentir a 4 de Junho, este ano não houve incidentes no Largo do Senado. A vigília online promovida por Ng Kuok Cheong e Au Kam San decorreu até ao fim, apesar de alguns cortes de rede nos minutos iniciais da transmissão. Ng frisou que o objectivo da vigília “nunca foi lutar contra as autoridades”

 

Apesar de ter estado debaixo do olho das autoridades, foi uma noite sem sobressaltos no Largo do Senado. Ao contrário do que aconteceu em 2020 onde a presença da polícia se fez sentir a 4 de Junho, na passada sexta-feira não houve incidentes nem detenções a registar no local onde durante 30 anos se assinalou em Macau a vigília em memória das vítimas de Tiananmen.

Ao largo da fonte que acolhe a esfera armilar e onde foram colocados vários canteiros a vedar o espaço, a noite caiu ao som de um concerto de jazz que decorria alguns metros à frente. Ao longo de várias horas, contudo, a presença de elementos das autoridades à paisana fez-se sentir, tanto nas arcadas que ladeiam o Largo do Senado, como noutros pontos estratégicos.

Um cenário bem diferente do verificado a 4 de Junho do ano passado, quando vários agentes circularam em pleno Largo do Senado com altifalantes a passar o aviso sonoro dos Serviços de Saúde para evitar a concentração de pessoas, e outros elementos da polícia pediram mesmo a identificação de cidadãos que, maioritariamente, compareceram no espaço vestidos de preto.

Faltavam 10 minutos para as 20h00 quando, Ng Kuok Cheong e Au Kam San, os habituais promotores da vigília organizada em nome da União de Macau para o Desenvolvimento Democrático (UMDD) se preparavam para dar início ao evento online dedicado ao 4 de Junho, espalhando no chão várias velas e ensaiando algumas palavras. Aos jornalistas, Ng Kuok Cheong começou por dizer que “é possível construir uma China melhor”, sublinhando que o objectivo da vigília “nunca foi que pessoas lutassem contra as autoridades” e que, por isso mesmo, é necessário continuar a assinalar a data.

“Fazemos tudo de acordo com a lei e estamos a dar o nosso melhor, com os meios que dispomos, para que as pessoas de Macau possam prestar este tributo”, apontou o deputado.

Preocupações futuras

Antes do início da vigília, Ng Kuok Cheong frisou ainda estar “preocupado”, não só com o “presente”, mas também com o “futuro” de Macau, tendo sobretudo em conta, a “diferença” verificada ao nível da forma como a vigília foi enquadrada pelas autoridades, de um ano para o outro. Em relação ao futuro, o deputado mantém a esperança, mesmo que não seja a breve trecho.

“Eu sou apenas um ser humano, a minha vida é limitada. No entanto, temos de fazer aquilo que sentimos estar certo. Eu também sou chinês e tenho de insistir e ter esperança de que é possível construir uma China democrática. Mesmo que não seja agora, talvez isso possa acontecer no futuro, porque sei que a minha vida é limitada. É preciso continuar a fazer aquilo que se pode”, sublinhou.

De seguida, ainda no período reservado à comunicação social, a vigília começou, embora alguns minutos depois a transmissão tenha caído devido à ausência de rede no espaço. Cerca de três ou quatro minutos depois a emissão foi retomada e a vigília decorreu com leituras, alguns cânticos e sem sobressaltos.

Recorde-se que a realização de uma vigília online foi a única forma que os promotores arranjaram para assinalar a data, depois de o Tribunal de Última Instância (TUI) ter chumbado o recurso para uma vigília no Largo do Senado em memória das vítimas de Tiananmen, por considerar que a liberdade de reunião não pode admitir “abusos e ofensas sem limites”. Foi a primeira vez que as autoridades de Macau citaram razões políticas para proibir a comemoração.

 

Vigília | Novo Macau lamenta que recordar Tiananmen seja “crime”

A Associação Novo Macau criticou na passada sexta-feira a proibição da vigília em memória dos acontecimentos de Tiananmen, lamentando que recordar as vítimas seja agora considerado “crime”. “Este ano, o Governo da RAEM optou por introduzir acusações falsas contra a vigília anual. De repente, a recordação torna-se um ‘crime’ e a verdade é encoberta pela versão oficial”, escreveu a associação. “No entanto, acreditamos que a verdade histórica não depende da definição do Governo”, acrescenta-se na mesma nota. A associação pró-democracia sustentou também que a vigília de 4 de Junho nada tem a ver com “difamação”, “provocação”, ou mesmo “subversão” porque, “como disse o Tribunal de Última Instância, o direito a comemorar os mortos não deve ser negado”. “Os nossos direitos de comemorar publicamente o 4 de Junho foram privados. Mesmo assim, ainda esperamos que cada cidadão de Macau não esqueça o evento e o assinale à sua própria maneira”, pode ler-se no comunicado.

7 Jun 2021

Danny Leong, biólogo: “Aprendo todos os dias”

Tem 27 anos, nasceu em Macau e foi seleccionado pela National Geographic para integrar um grupo de 15 exploradores emergentes a nível global. Biólogo e investigador, Danny Chi-Man Leong diz-se “honrado” pela nomeação e espera agora inspirar novas gerações a explorar o mundo. Ao Governo sugere uma forte aposta na área da biologia como forma de tornar Macau mais resistente ao impacto de fenómenos naturais

 

Qual é para si a importância de integrar o grupo de exploradores da National Geographic?

Este ano, apenas 15 pessoas de todo o mundo foram nomeadas para integrar a lista de exploradores emergentes da National Geographic e eu fui uma delas. É uma grande honra para mim. Tenho apenas 27 anos e não esperava que isto viesse a acontecer, até porque algumas das pessoas selecionadas para o grupo são investigadores da NASA dedicados à investigação espacial. Estou muito entusiasmado com esta oportunidade.

Esperava fazer parte deste grupo?

Fui escolhido para integrar a lista da National Geographic porque me consideram um exemplo para Macau e para todo o mundo. Querem que, tal como eu, haja mais estudantes e investigadores, capazes de contribuir com o seu tempo e capacidade mental para desenvolver o tópico da sustentabilidade, explorar o que está à sua volta e mudar o mundo e as pessoas. Para se ser um explorador da National Geographic é preciso ter uma ideia de como é possível mudar o mundo. A minha ideia passa pelo estudo da sustentabilidade urbana e gestão da vida selvagem. Uma forma de contribuir para esse fim é compreender melhor de que forma a urbanização e os habitats humanos têm vindo a substituir habitats naturais. No meu entender, ainda é possível aumentar os espaços verdes disponíveis nas cidades se for feita uma aposta na preservação de jardins e em planos de manutenção das espécies nativas. Por isso, ao estudar estes tópicos, o meu objectivo tem passado por contribuir para a sustentabilidade urbana e a National Geographic demonstrou admiração pelo meu trabalho, em particular ao nível da descoberta de novas espécies, pois em 2018 descobri uma espécie de formiga que só existe em Macau [Leptanilla macauensis], e do aumento do conhecimento sobre a biodiversidade. Espero, com os resultados do meu trabalho, chegar ao público. Adoraria que isso acontecesse. Sinto-me honrado por ter sido escolhido.

Que tipo de apoio passa a receber da National Geographic através da nomeação?

Ao fazer parte da família National Geographic, posso ter acesso a algum equipamento específico e a algum apoio. Mas isso depende dos projectos que estiver a desenvolver e, além disso, é um pouco difícil de utilizar [em Macau] os equipamentos que disponibilizam, porque estão todos em Hong Kong. Por isso, neste momento, só consigo ter algum apoio da parte deles, mas espero que o Governo de Macau apoie os investigadores e as universidades locais a fazer mais estudos ambientais e a tornar Macau numa cidade fantástica e sustentável.

Qual foi a importância da descoberta da formiga endémica de Macau ao nível da investigação ambiental e biológica que é feita no território?

Acho que todos nós temos vontade de investigar e descobrir coisas novas que pertencem ao sítio onde pertencemos, mas poucas pessoas dão o passo seguinte. Eu fui uma dessas pessoas que deu o passo seguinte e, da minha iniciativa, fui até diferentes cidades para prosseguir os estudos e usei o meu tempo pessoal para investigar a biodiversidade de Macau, acabando por descobri uma espécie que, até hoje, era desconhecida em todo o mundo. Por isso, encorajo a próxima geração de jovens e estudantes de Macau a pensar em formas de contribuir para a comunidade.

Em Macau, como vê o panorama da investigação na área da biologia?

A biodiversidade de Macau é muito rica porque se situa numa região subtropical. Além disso, é uma zona rica em recursos biológicos que tem contribuído muito, por exemplo, para áreas como a medicina tradicional chinesa. Há ainda muito trabalho pela frente. Em primeiro lugar é preciso classificar todas as espécies que existem em Macau, porque até hoje ainda não sabemos quantas espécies existem e, por isso, não é possível estabelecer campos de investigação. Sugiro que Macau invista mais em biologia e recursos biológicos, pois são áreas de investigação que oferecem um potencial elevado para se tornarem em indústrias. Inclusivamente, o presidente Xi Jingping mencionou que as paisagens verdes são até mais importantes que o ouro e o dinheiro, por isso o Governo de Macau deve encorajar a investigação ambiental por forma a alcançar o objectivo da sustentabilidade. Além disso, Macau como cidade que faz parte da Grande Baía e da China, tem a obrigação de fazer isso.

De que forma a sustentabilidade pode ajudar a economia de Macau?

Se não atingirmos o objectivo da sustentabilidade Macau vai perder muito dinheiro. Por exemplo, ao nível da resiliência contra fenómenos naturais extremos como a chuva intensa. Basta ver os estragos provocados pelas últimas chuvas fortes. Fizeram-nos perder muito dinheiro.

Existem novos talentos em Macau na área da investigação ambiental?

Estou ansioso para que apareçam novos investigadores em Macau e espero que a iniciativa da National Geographic contribua para promover as questões ambientais e de sustentabilidade em Macau e permita que Macau seja reconhecida por isso. Gostava muito que a investigação que é feita em Macau pudesse dar contributos a nível mundial. Depois de integrar a lista da National Geographic pretendo encorajar mais pessoas a explorar os seus talentos e a encontrar vias para solucionar os problemas do mundo. A partir daí, espero que se tornem, tal como eu, em exploradores e que haja cada vez mais pessoas a enveredar por este caminho. Eu sou o primeiro e espero em breve conhecer o segundo.

Em termos académicos, existe oferta suficiente de cursos e planos de estudos nestas áreas em Macau?

Considero que ao nível da educação ambiental, ciências ambientais e investigação de recursos biológicos não existe oferta suficiente. Por isso, espero que o Governo desenvolva programas relacionados com as ciências ambientais e a investigação de recursos biológicos para colmatar esta questão, porque o caminho para tornar Macau numa cidade sustentável passa por aqui. Além disso, uma maior aposta nestas áreas pode ajudar Macau a atingir as metas traçadas pela ONU ao nível da conservação da diversidade biológica.

Como começou o seu interesse pelas ciências e pelo ambiente?

O meu sonho é conseguir fazer ligações entre pessoas e natureza, porque actualmente esse elo de ligação com a vida selvagem está partido. Em grande parte, a culpa disso estar a acontecer neste momento está relacionada com a pandemia de covid-19. As consequências podem ser vistas em todo o mundo e, por isso, mais do que nunca, tenho essa vontade de contribuir para que se retome essa ligação. Mas, antes disso, já me tinha apercebido que existia um grande problema e, por isso, decidi estudar a biodiversidade em contexto urbano, o que me levou ir para Macau para perceber o quão bonita cada uma das criaturas que há em Macau pode ser e a questionar-me se não existiriam novas espécies por descobrir. Agora não estudo só a biodiversidade, mas também a sustentabilidade urbana e a gestão da vida selvagem, com o objectivo concreto de explorar que políticas são adequadas para tornar Macau num sítio melhor e relevante nestas matérias, não só na Grande Baía, mas também a nível global. Aprendo todos os dias e espero que a minha história possa inspirar mais jovens.

7 Jun 2021

Inundações | Chuva intensa faz estragos na Universidade de Macau

Durante as chuvas intensas da passada terça-feira, começou a cair água do tecto e houve inundações, pelo menos, num dos parques de estacionamento e na cafetaria do Colégio Cheng Yu Tung da Universidade de Macau. Ao HM a UM confirmou a ocorrência de “alguns casos esporádicos” que, no entanto, não causaram “danos sérios” aos edifícios

 

O interior de algumas instalações do campus da Universidade de Macau (UM), inaugurado em 2014, foi afectado pela intempérie registada na passada terça-feira que provocou inundações, estragos e apreensão um pouco por toda cidade.

Contactado pelo HM, um aluno da UM partilhou que o parque de estacionamento localizado junto ao edifício central (E3-E7) da universidade começou a ser inundado por água durante a chuva intensa que se fez sentir. O estudante apercebeu-se da situação, ao receber uma notificação da empresa de segurança, a aconselhá-lo a remover o seu motociclo do parque porque estava a começar a ficar molhado devido à água que estava a cair dentro da estrutura.

Além disso, no momento em que se preparava para ir beber café, o estudante, que optou por não se identificar, encontrou o chão da cafetaria do Colégio Cheng Yu totalmente inundado, havendo, inclusivamente, água a cair do tecto. Através de vídeos partilhados com o HM foi ainda possível observar que, para atenuar o efeito da chuva que estava a cair também dentro de portas, foram espalhados baldes e panelas pelo espaço e, dentro do possível, as instalações eléctricas colocadas a salvo. Como resultado, os electrodomésticos ficaram molhados e foram necessárias várias horas para que o espaço pudesse voltar a estar em condições de ser usado.

“Quando decidi ir fazer café reparei que o chão estava inundado devido à chuva. Ao início, pensei que era porque a janela não estava fechada, mas não. Quando abri a porta para o interior da cafetaria, vi logo que estava a cair água do tecto e que alguns electrodomésticos estavam molhados”, partilhou.

O estudante referiu, contudo, que o dormitório onde vive não foi afectado pela chuva, desconhecendo se outros alunos foram forçados a sair dos seus quartos devido à intempérie.

Recorde-se que o novo Campus da Universidade de Macau foi inaugurado em 2014, tendo recebido no mesmo ano a visita do Presidente Xi Jingping. O ano lectivo 2014/2015 foi o primeiro em que as novas instalações abriram para receber estudantes.

Muito permeável

O estudante conta ainda que a situação foi semelhante à ocorrida durante a passagem do tufão Mangkhut em Setembro de 2018, altura em que os andares superiores do Colégio Cheng Yu ficaram também inundados e começou a cair água do tecto. “Demorou muito tempo a limpar tudo e a tirar a água do chão”, recorda.

Quando questionado sobre o que estará por trás do facto de, apesar de recentes, várias instalações da UM serem recorrentemente afectadas aquando da ocorrência de chuva intensa ou da passagem de tufões, o estudante aponta que tal se deve à fraca qualidade de construção.

“Penso que uma das razões pelas quais estas situações lamentáveis acontecem está, principalmente, ligada aos materiais de construção. Na minha opinião, a UM devia dar mais atenção à qualidade da construção pois, de outra forma, este tipo de casos irá acontecer mais vezes e a situação não melhora”, apontou.

O HM contactou a UM para comentar o sucedido e confirmar as ocorrências, nomeadamente quais as razões que explicam os incidentes reportados, tendo em conta o facto de todas as estruturas do actual campus da UM serem relativamente recentes. Na resposta, a UM confirma a ocorrência de alguns “casos esporádicos”, que não causaram danos sérios.

“A Universidade apenas encontrou casos esporádicos de inundações após a tempestade, sendo que todos os problemas foram resolvidos prontamente sem afectar o normal desenrolar das operações. Não foram registados danos sérios nos edifícios aos edifícios da universidade como resultado da tempestade”, pode ler-se na resposta.

4 Jun 2021

Covid-19 | IPM estuda previsão de infecções com base em análises ao sangue 

Cinco investigadores do Instituto Politécnico de Macau e da Universidade de Bolonha recorreram à inteligência artificial para analisar a precisão de quatro modelos de dados com o objectivo de prever o contágio de covid-19 através de análises ao sangue. Um deles atingiu bons resultados em todas as variáveis estudadas

 

A possibilidade de prever contágios de covid-19 através de uma simples análise ao sangue, com recurso à inteligência artificial, foi o foco do estudo desenvolvido por quatro investigadores do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Ziyue Yu, Lihua He, Wuman Luo e Rita Tse, e da investigadora Giovanni Pau da Universidade de Bolonha e departamento de ciências computacionais de Los Angeles.

Na tese de doutoramento intitulada “Deep Learning for COVID-19 Prediction based on Blood Test” é feita uma análise a quatro modelos híbridos de Deep Learning, aplicados depois a 18 dados de análises sanguíneas do Israelta Albert Einstein Hospital, no Brasil. Este trabalho foi feito, em parte, com recurso ao sistema Big Data Driven Intelligent Computing do IPM.

Foram analisados quatro modelos de Deep Learning, CNN+GRU, CNN+Bi-RNN, CNN+Bi-LSTM e CNN+Bi-GRU, aplicados depois aos dados das análises ao sangue. Os investigadores compararam depois os modelos segundo a sua precisão, recolha e pontuação, entre outras variáveis, sendo que “os resultados experimentais mostram que o modelo CNN+Bi-GRU atinge a melhor performance em todas as cinco métricas”.

Os investigadores assumem que este estudo visa “aliviar o pessoal de saúde do trabalho duro de testagem” e “acelerar” esse mesmo processo, tendo em conta o problema da falta de recursos humanos na área da saúde.

“Até agora a inteligência artificial tem vindo a tornar-se muito importante ao nível do diagnóstico médico. No entanto, a investigação ao nível da previsão da covid-19 com base no sistema de Deep Learning está ainda numa fase preliminar”. De frisar que o sistema de Deep Learning permite configurar parâmetros sobre dados e treinar o computador para fazer sozinho a sua leitura e reconhecimento.

Apoio precioso

Na tese pode ler-se que “o modelo CNN+Bi-GRU irá ser um método efectivo para o diagnóstico da covid-19 com base numa análise de sangue”. “No futuro, vamos continuar a explorar modelos de Deep Learning para a previsão da covid-19 e conceber novos modelos de previsão”, apontam os autores.

Actualmente, há duas formas de testar a infecção por covid-19, através da análise ao sangue e do teste de ácido nucleico. Este “é de momento o mais usado dada a sua simplicidade”, mas “a percentagem de falsos negativos atinge os 20 por cento”. Os investigadores defendem que “a performance da análise ao sangue em termos de falsos positivos e negativos, por comparação ao teste de ácido nucleico, é muito menor”.

Numa publicação nas redes sociais, o IPM comentou que esta investigação representa “uma ajuda altamente efectiva e precisa na previsão da infecção da covid-19”, além de constituir “um valor prático e académico significativo que pode ser aplicado de forma abrangente na prevenção e cura desta pandemia global”.

Este estudo foi distinguido na 6.ª Conferência Internacional da Internet das Coisas e Segurança de Dados, em Abril, além de ter recebido um outro prémio atribuído pelo Instituto de Sistemas e Tecnologias da Informação, Controlo e Comunicação, uma associação sem fins lucrativos sediada em Lisboa.

4 Jun 2021

Eleições | Mak Soi Kun falta a apresentação de comissão de candidatura

O deputado eleito pela lista mais votada em 2017 foi a ausência mais notada na apresentação da comissão de candidatura para o acto eleitoral de Setembro. A exclusão de Mak não foi confirmada, mas o presidente da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen prometeu que a lista vai ter muitas “caras novas”

 

A lista União de Macau-Guangdong, que em 2017 elegeu os deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting, apresentou ontem a comissão de candidatura, com o apoio de 500 residentes, o máximo permitido por lei. No entanto, a entrega dos documentos com as 500 assinaturas ficou marcada pela ausência de Mak Soi Kun, deputado e cabeça de lista nas últimas eleições.

Face à ausência do deputado, Ian Soi Kun, presidente da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, acompanhado por Zheng Anting, ficou encarregue de prestar declarações aos jornalistas. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, depois de entregar os documentos, Ian prometeu que a lista vencedora de 2017 vai apresentar muitas “caras novas” de vários sectores da sociedade.

E será que na lista ainda há espaço para o vencedor das últimas eleições? Segundo Ian Soi Kun, a lista ainda está em aberto e só vai ser apresentada depois da comissão de candidatura ser validada. Ao HM, também o deputado Zheng Anting não quis confirmar se Mak Soi Kun vai abdicar de concorrer para fazer o quarto mandato na Assembleia Legislativa: “Não sei a razão de ele não ter comparecido. Talvez esteja ocupado com outros assuntos e por isso não tenha podido estar presente”, afirmou.

Ian Soi Kun indicou ainda que a base de programa político está a ser preparada, mas que a habitação e a questão do trânsito são tidas como prioritárias. “A habitação e o trânsito são assuntos que vamos seguir com atenção, bem como o envelhecimento da população, uma vez que Macau está a tornar-se numa sociedade envelhecida e é necessário cuidar dos idosos”, apontou Ian.

Ao mesmo tempo, o presidente da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen sublinhou também que a integração na Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau e a questão da criação de mais empregos vão ser outros pontos importantes para a lista.

Em 2017, a lista União de Macau-Guangdong foi a vencedora das eleições com 17.214 votos, mais 518 votos que a listas dos Operários de Macau. O resultado permitiu eleger os deputados Mak Soi Kun, deputado desde 2009, e Zheng Anting, eleito pela primeira vez em 2013.

4 Jun 2021

4 de Junho | TUI nega recurso sobre realização de vigília no Leal Senado 

O Tribunal de Última Instância rejeitou o recurso apresentado pela União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia, alegando que a vigília constitui “um planeado e deliberado ataque e insulto a autoridades, entidades e instituições” de Pequim. Associação irá realizar vigília online

 

Pelo segundo ano consecutivo a zona do Leal Senado não irá receber a vigília do 4 de Junho em memória das vítimas dos acontecimentos de Tiananmen. Isto porque o Tribunal de Última Instância (TUI) rejeitou o recurso apresentado pelo deputado Au Kam San, em nome da União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia (UMDD), que pedia a anulação da decisão do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), de 25 de Maio, que proibiu a realização da vigília.

Segundo o acórdão, em causa estão as expressões usadas em cartazes e que constituem “um planeado e deliberado ataque e insulto a autoridades, entidades e instituições do Governo Central da República Popular da China (RPC)”.

Considera o TUI que “o recurso a expressões como ‘terror’, ‘massacre’ e ‘matança’ (e outras), que pela sua própria natureza e sentido implicam, (no mínimo), a causa da morte de um grande número de pessoas com ‘crueldade e desprezo’ e com ‘intenção do seu extermínio’” e que fazem recordar “episódios negros da história da Humanidade’, (como os ocorridos em Nanjing e Auschwitz) – são, sem dúvida, inadmissíveis em qualquer espécie de evento público”.

O uso destas expressões “com o claro propósito de incitar, incendiar e instigar à pública ‘oposição’, ‘combate’, ‘derrube’ e (à própria) ‘extinção’ das referidas Autoridades e Instituições, constitui, igualmente, uma conduta que ultrapassa o aceitável”.

Os juízes entenderam também que este exercício do direito de reunião e manifestação “pode ‘colidir’ com o exercício de outros direitos”, podendo estar em causa um “excesso” e uma “clara e directa ‘ofensa à honra e consideração’ do seu destinatário”.

“Invocar-se o direito – fundamental – à “reunião e manifestação” para cobertura (e palco) de um planeado e deliberado ataque e insulto a Autoridades, Entidades e Instituições do Governo Central da RPC, violando-se, grosseiramente, a honra, dignidade, respeito e consideração que lhes é devido, é, como se mostra óbvio, claramente inadmissível e de necessário repúdio”, acrescenta ainda o TUI.

De frisar que José Dias Azedo fez uma declaração de voto apontando que “se podia avançar para uma solução no sentido de se permitir a pretendida ‘reunião/manifestação’ desde que expurgada de todos os seus ‘elementos abusivos e ofensivos’”.

O CPSP entendeu, no despacho, que esta acção estaria “ferida de ilegalidade” e que seria “incompatível” com a lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis, devido à pandemia.

Online avança

Au Kam San anunciou ontem a realização da vigília online às 20h do dia 4 de Junho num apartamento na zona da Praia Grande. O público poderá assistir ao evento no Facebook da UDDM e do gabinete dos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong.

O responsável disse temer não conseguir proteger os participantes. “Se a polícia acusar alguém de violar a lei, isso não tem custos, mas os participantes pagam um preço alto para provar a sua inocência. Achamos que não é apropriado os residentes arriscarem.”

Foi feito um apelo para que a população “recorde [Tiananmen] de forma apropriada”. “Há pessoas que sugeriram vestir roupas pretas, ou colocar velas brancas em casa. Os pais podem procurar informações e partilhá-las com os filhos. Isso é educação cívica”, explicou.

Au Kam San lembrou que, nos anos anteriores, a realização da vigília nunca constituiu uma ilegalidade e que não iria haver cartazes com as expressões referidas pelo CPSP e no acórdão do TUI. “Normalmente usamos slogans como ‘Reabilitação do movimento democrático de 1989’ e ‘Desenvolver a China democrática’”, frisou.

O Governo disse que a decisão do TUI “vem confirmar que a reunião em causa viola artigos da Constituição, da Lei Básica e do Código Penal”. “O Governo da RAEM apela ao promotor em causa para dar cumprimento à decisão do TUI”, esperando que “a população reconheça a ilegalidade da actividade e o perigo que pode constituir à segurança nacional”.

4 Jun 2021