Vice-presidente da Assembleia da República portuguesa defende canal de televisão lusófono

[dropcap]O[/dropcap] vice-presidente da Assembleia da República de Portugal, Jorge Lacão, defendeu ontem a criação de um canal lusófono partilhado pelos vários canais de televisão dos países de língua portuguesa, com “uma dimensão à escala planetária”.

Jorge Lacão falava à agência Lusa à margem dos trabalhos da VIII Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (AP-CPLP), que decorre na capital de Cabo Verde, e na qual está a participar em substituição do presidente da Assembleia da República de Portugal, Eduardo Ferro Rodrigues, ausente por motivos de doença.

O deputado, que irá intervir hoje, sexta-feira, durante a sessão plenária desta AP-CPLP, que tem como tema “CPLP – Uma comunidade de pessoas”, irá voltar a esta ideia, a qual já foi aflorada em encontros anteriores.

Este canal lusófono, explicou, seria “partilhado pelos vários canais de televisão dos vários países, com uma dimensão à escala planetária”. “Pode parecer uma ideia excessivamente megalómana, mas, se pensarmos bem nas capacidades de emissão já hoje existentes em cada país, uma partilha deste género poderia ser um contributo qualitativo de grande alcance para a aproximação dos nossos povos”, adiantou.

Questionado sobre o tema da mobilidade, comum a todas as intervenções da sessão de abertura desta Assembleia Parlamentar, Jorge Lacão recordou que a política oficial portuguesa, conduzida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, vai no sentido de colocar toda a política de vistos “ao alcance deste objectivo da mobilidade dos cidadãos da CPLP”.

Jorge Lacão sublinhou “a forma extraordinariamente empenhada” com que Cabo Verde está a receber as delegações da Assembleia Parlamentar e de como o presidente da Assembleia Nacional cabo-verdiana se está a empenhar neste mandato de dois anos à frente da AP-CPLP, que agora começa.

O parlamentar considerou de “extraordinária relevância” o discurso do Presidente da República de Cabo Verde, o qual “revela uma visão cosmopolita, de grande alcance relativamente ao aprofundamento do que gostamos de designar como o estatuto da lusofonia, um estatuto que permita ao conjunto dos cidadãos dos países da CPLP partilhar cada vez mais fatores de mobilidade de todos os níveis”.

Durante a sua intervenção, que decorreu na sessão de abertura, Jorge Carlos Fonseca lembrou que ainda este ano vai organizar, em Cabo Verde, “um grande encontro de jovens da CPLP e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental [CEDEAO] que deverá ser um espaço de reflexão e de proposições relativamente ao devir dos nossos países, na perspectiva dos jovens”.

O chefe de Estado cabo-verdiano aproveitou para “solicitar o decisivo apoio dos senhores representantes do Parlamento da CPLP para a realização desse evento”. A este pedido, Jorge Lacão referiu que a iniciativa será apoiada por Portugal “em todo o alcance” e “em todo o sentido”.

11 Jan 2019

Editora portuguesa Relógio d’Água vai publicar últimos poemas de Leonard Cohen

[dropcap]O[/dropcap]s últimos poemas escritos por Leonard Cohen, o romance considerado o melhor Prémio Man Booker de sempre e um livro de crónicas e ensaios de Djaimilia Pereira de Almeida são algumas das novidades da Relógio d’Água para este ano.

Dois anos após a morte do músico canadiano Leonard Cohen, a Relógio d’Água publica neste mês “A Chama”, livro que reúne os seus últimos poemas, letras de canções, desenhos e versos dispersos em cadernos de apontamentos e guardanapos de bares, revela o editor Francisco Vale, acrescentando que esta obra foi preparada para publicação pelo próprio Leonard Cohen e está traduzida pela poeta Inês Dias.

O mês de Janeiro reserva ainda a publicação de “Léxico Familiar”, de Natalia Ginzburg, um clássico da literatura italiana contemporânea, cuja narrativa acompanha a vida dos Levi, que viveram em Turim no período da ascensão do fascismo, da Segunda Guerra Mundial e do que se lhe seguiu.

O livro “No Verão”, de Karl Ove Knausgård, que encerra o quarteto de ensaios com títulos das estações do ano do escritor norueguês, sairá também no mês de Janeiro.

Ainda este mês, a Relógio d’Água planeia publicar “Tchékhov na Vida”, a biografia do escritor russo, escrita por Ígor Sukhikh, através das suas cartas, diários, livros e conferências, assim como “Na América, disse Jonathan”, de Gonçalo M. Tavares, no qual o autor viaja pelos EUA na companhia de Kafka, e a nova edição de “O Susto”, de Agustina Bessa-Luís, com prefácio de António M. Feijó.

“O doente inglês” na agenda

Em Fevereiro, chega “O doente inglês”, de Michael Ondaatje, romance de 1992, lançado em Portugal pela D. Quixote em 1996, e que em 2018 foi premiado com um “Booker Dourado”, uma distinção especial que a organização do Prémio Literário Man Booker decidiu atribuir ao livro que fosse escolhido como o melhor das 51 edições já realizadas.

A publicação deste romance pela Relógio d’Água segue-se à de “A luz da guerra”, editado em Dezembro do ano passado, o mais recente romance do escritor canadiano e que esteve na lista dos nomeados para o Prémio Man Booker 2018.

Fevereiro é também mês de publicar “História da Sexualidade IV, As Confissões da Carne”, de Michel Foucault, volume que completa os três livros da História da Sexualidade. Outra novidade é a publicação de “Tess dos D’Urbervilles”, um dos principais romances de Thomas Hardy, há muito esgotado em Portugal, que pôs em causa as convenções sociais do seu tempo e chocou os leitores da sua época, quando foi publicado em 1891.

“As Novas Rotas da Seda”, de Peter Frankopan, “Todos Nós Temos Medo do Vermelho, Amarelo e Azul”, um livro de contos de Alexandre Andrade sobre a intensa perturbação que é possível sentir perante certas cores nalguns locais, e “O Abismo de Fogo: A Destruição de Lisboa”, do historiador norte-americano Mark Molesky, sobre o terramoto de Lisboa de 1755 são outras das novidades para este mês.

Em Março chega mais um livro de Agustina Bessa-Luís – de quem a Relógio d’Água tem estado a publicar a obra -, intitulado “As Pessoas Felizes”, com prefácio de António Barreto, que assina também um livro intitulado “Fotomaton — Retratos de Salazar, Cunhal e Soares”, reunião das biografias desses três políticos, a ser editado no mesmo mês.

“Pintado com o Pé”, de Djaimilia Pereira de Almeida, autora de “Luanda, Lisboa, Paraíso” (publicado na Companhia das Letras) é um livro de crónicas e breves ensaios, completado com dois ensaios, “Amadores” e “Inseparabilidade”, que vai chegar às livrarias pela mão da Relógio d’Água.

“Bom Entretenimento”, do filósofo germano-coreano Byung-Chul Han, “A Mulher de Trinta Anos” – um dos episódios de A Comédia Humana – do romancista francês do século XIX Honoré de Balzac, “Vento, Areia e Amoras Bravas”, de Agustina Bessa-Luís, e “Sabes Que Queres Isto”, de Kristen Roupenian, livro de contos que inclui “Cat Person”, o conto mais lido, tanto ‘online’ como em papel, da The New Yorker, são os restantes livros anunciados por Francisco Vale.

Na colecção de viagens, será editado “Açores — O Canto das Ilhas”, de Carlos Pessoa. No mês de Abril, a editora vai publicar “Movimento das Ideias”, de José Gil, e “Normal People”, de Sally Rooney, romance apontado pelo The Guardian como um futuro clássico, que foi finalista do Prémio Man Booker e venceu o Prémio Costa 2018 na categoria de romance.

Outra das apostas da editora é o mais recente romance da canadiana Rachel Cusk, “Kudos”, que encerra a trilogia iniciada com “A contraluz” e continuada com “Trânsito”, ambos editados pela Quetzal.

“Correspondências + Minhas Queridas”, de Clarice Lispector, a antologia “Provocações”, de Camille Paglia, conhecida pelo seu feminismo viril e heterodoxo, e “O Estendal e Outros Contos”, de Jaime Rocha, são as outras novidades.

Para o mês de Maio, está reservado o livro “Álvaro Siza: Conversas com Estudantes de Arquitectura”, organizado por Manuel Graça Dias, “A Balada do Medo”, de Norberto Morais, “Pensamentos”, de Blaise Pascal, com prefácio de T. S. Eliot, e “Pensar sem Corrimão”, uma antologia de ensaios de Hannah Arendt.

11 Jan 2019

Festival Fringe | “Phubber Drama” alerta para dependência das redes sociais

Uma performance interactiva e inesperada, com o objectivo de alertar as pessoas para a sua dependência do telemóvel é o que vai acontecer nos próximos dias 19 e 21 de Janeiro com “Phubber Drama”, uma iniciativa criada por Cherrie Leong. A performance vai ter lugar junto do edifício da administração pública e do templo de Kun Iam para deixar um recado: “é preciso o convívio pessoal”

 

[dropcap]“A[/dropcap]s pessoas já não estão umas com as outras”, começa por dizer ao HM a responsável por “Phubber Drama”, a performance interactiva que pretende alertar o público para o uso excessivo do telemóvel. Aliás, o termo “phubbing” está agora “na moda” e define este fenómeno de ligação virtual permanente das pessoas, acrescenta Leong.

Mas até que ponto estas ligações estão a privar as pessoas de estarem umas com as outras? Esta foi a questão que levou a artista local a criar“Phubber Drama”. “Actualmente quando nos juntamos com amigos e família, estamos sempre a utilizar o telefone em vez de comunicarmos uns com os outros, directamente e cara a cara”, começa por explicar. O fenómeno é visível em todo o lado, quer quando as pessoas estão em grupo, ou sozinhas enquanto andam nos transportes e pela rua. “As pessoas estão permanentemente ligadas”, sublinha Cherrie Leong.

Perante esta alienação, Cherrie Leong decidiu intervir, avançar para o público na rua, e fazer, com ele, uma performance. O objectivo é conseguir promover uma reflexão capaz de “encorajar uma mudança nas pessoas e nas suas atitudes para que deixem de usar tanto o telefone”.

Tempo de parar

A ideia não é deixar de utilizar este dispositivo que já faz parte da vida de todos, mas sim que parem e que tenham em conta o tempo que passam efectivamente com a família e com os amigos e a forma como comunicam nestas situações.

Por outro lado, a responsável tem notado que a dependência da sociedade actual no número de gostos no facebook ou de seguidores noutras plataformas começou ser preocupante, sendo que “todas as pessoas centram a sua existência nas plataformas sociais e fazem delas a sua vida”.

Todo este mundo, que não existe na realidade, está a alterar a forma como as pessoas estão umas com as outras e “está na altura de repensar o lugar dos amigos e da família real”, refere, sendo que, “as relações humanas estão cada vez mais esquecidas”.

No fundo, Cherrie Leong pretende com “Phubber Drama” a busca de um equilíbrio entre o virtual e o real que considera perdido.

Situação surpresa

A iniciativa integra o cartaz da edição este ano do festival Fringe que tem hoje início oficial e o evento vai ter lugar nos dias 19 em frente ao edifício da administração pública e no dia 21 em frente ao templo de Kun Iam, sempre junto da paragem de autocarros.

A performance vai ser feita “inesperadamente e os artistas vão aparecer do nada, e da mesma forma vão desaparecer”. Apesar de ter uma duração de apenas cinco minutos, “haverá tempo para interagir”.

“Tentamos fazer alguma coisa diferente porque queremos que as pessoas se juntem a nós. Vamos claro, aproximarmo-nos de quem estiver a utilizar o telefone”, aponta Leong.

11 Jan 2019

Novos livros de Mia Couto e Germano Almeida chegam no final do ano

[dropcap]N[/dropcap]ovos livros dos escritores Mia Couto e Germano Almeida vão chegar às livrarias portuguesas no final do ano, revelou a editora Caminho, responsável pela publicação das obras dos dois escritores em Portugal.

Ainda sem título, os livros do moçambicano Mia Couto e do cabo-verdiano Germano Almeida, ambos vencedores do Prémio Camões, são duas das apostas para este ano da Caminho. “O fiel defunto” foi o último livro escrito e publicado por Germano Almeida, em Maio de 2018, o mesmo ano em que venceu o Prémio Camões.

Dois meses depois da atribuição do galardão, a Caminho reeditou três livros daquele que é um dos escritores mais lidos e traduzidos de Cabo Verde: “O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, “A ilha Fantástica” e “Dona Pura e Camaradas de Abril”.

O mais recente romance de Mia Couto, vencedor do Prémio Camões em 2013, é “O bebedor de horizontes”, terceiro volume da trilogia “As areias do imperador”, editado pela Caminho em 2017, que se sucedeu a “A espada e a azagaia” e a “Mulheres de cinza”.

Outra aposta da Caminho, que também só chegará no final do ano, é um novo livro do psiquiatra e escritor Daniel Sampaio, sobre a temática da parentalidade na era digital.

Para o mês de Fevereiro, a Caminho prevê reeditar “Os Negros em Portugal”, de José Ramos Tinhorão, e em Março publica um novo livro da colecção “Uma Aventura”, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, com o título “Uma Aventura no Fundo do Mar”.

Durante o primeiro semestre, a editora vai publicar uma nova edição de “A Noite e a Madrugada”, de Fernando Namora, assinalando cem anos do nascimento e 30 anos da morte do médico e escritor português.

A Caminho está a preparar também a edição de um novo livro de ficção de Patrícia Portela e um livro de contos de Isabela Figueiredo, ambos sem título ainda.

Outras novidades para este período são o lançamento de uma reportagem fotográfica sobre a crise académica de 1969, em Coimbra, ainda sem título, coordenada por José Veloso, e um livro de crónicas de Ana Paula Tavares.

10 Jan 2019

Novo livro revela que trabalho forçado nas colónias portuguesas estava disseminado até década de 1960

[dropcap]O[/dropcap]s registos históricos não permitem averiguar a escala, mas o trabalho forçado nas colónias portuguesas era uma realidade “bastante disseminada”, pelo menos até à década de 1960, segundo o historiador José Pedro Monteiro, num novo livro sobre o tema.

Depois de concluída a tese de doutoramento intitulada “A internacionalização das políticas laborais ‘indígenas’ no império colonial português (1944-1962)”, José Pedro Monteiro apresenta, em Lisboa, o livro daí resultante: “Portugal e a questão do trabalho forçado: Um império sob escrutínio” (Edições 70).

O trabalho analisa “o modo como as dinâmicas internacionais e transnacionais se relacionaram com o trajecto histórico do Império Português em matéria de relações laborais ‘indígenas’ (mais precisamente entre 1944 e 1962)”, tendo por base que “qualquer estudo sobre a evolução das políticas e práticas sociais no colonialismo tardio português que omita o impacto destas dinâmicas é forçosamente incompleto e, mais do que isso, marcadamente lacunar/impreciso”.

Questionado pela Lusa sobre a dimensão do trabalho forçado nas colónias portuguesas durante o período estudado, José Pedro Monteiro respondeu que o material disponível não permite chegar a números precisos: “É muito difícil conseguir-se ter uma ideia global à escala do império. Primeiro, há realidades geográficas muito distintas. Em Cabo Verde, Timor e, eventualmente, na Guiné a questão do trabalho forçado não se coloca da mesma maneira que se coloca em São Tomé, Angola e Moçambique”.

Por isso, “desconfiaria muito de alguém que desse um número redondo para os trabalhadores forçados”, salientou.

No livro, com base em documentação da viragem da década de 1950, José Pedro Monteiro constata que “o trabalho obrigatório não se limitava a fins públicos [como previsto no Código de Trabalho dos Indígenas (CTI)]; para fins públicos, era usado como regra e não como dando resposta às excepções previstas no CTI; o recrutamento era feito generalizadamente com intervenção das autoridades administrativas (tanto para fins privados como públicos); os compromissos de repatriamento não eram respeitados; as taxas de mortalidade eram extraordinariamente altas; e, por fim, os castigos corporais estavam longe de estar completamente erradicados, como a lei postulava”.

Por exemplo, em 1945, um relatório indicava a existência de trabalhadores presos com “grilhetas” ao pescoço em São Tomé, o que levava o Inspector Superior de Serviços Judiciais a argumentar contra tal imposição, “não por uma razão humanitária, [mas] antes diplomática”, depois de turistas estrangeiros terem fotografado pessoas a serem chicoteadas, o que podia levar a censura internacional.

Em 1951, um encarregado de serviços da Inspeção Superior dos Negócios Indígenas desfiava “um rol de iniquidades e abusos”: desde a elevada taxa de mortalidade no transporte de pessoas aos “acidentes de trabalho que eram dados como ocorridos nas horas de descanso, como forma de desresponsabilização”, passando pelos “inválidos que eram obrigados a trabalhar em São Tomé”, então classificados como “verdadeiros farrapos humanos”, ou pelas violações sistemáticas de mulheres de trabalhadores, “enquanto outras grávidas e mulheres com filhos eram ‘monstruosamente espancadas com mais de 50 palmatoadas’ por terem abandonado o trabalho”.

Sobre a escala daquela realidade, José Pedro Monteiro esclareceu: “Muitas das vezes, o que para um é trabalho forçado para outro não é. O facto de a própria legislação ser ambígua e dizer que se deve encorajar o indígena a trabalhar, é muito difícil conseguir ter um registo de quais os números exactos. Há situações muito cinzentas. O que posso dizer é que se manteve como realidade bastante disseminada – com diferenças – até 1961/62. Mais não posso dizer porque a minha tese pára em 1962”.

O investigador de pós-doutoramento do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra salientou que “há diferenças entre as colónias”, até mesmo dentro das distintas colónias.

Apesar de o “reformismo português existir”, este tinha limites que eram, “em grande medida, resultado de uma equação utilitarista”: “Aqueles funcionários que se indignavam com o trabalho forçado e exigiam o cumprimento integral do CTI eram (…) provavelmente aqueles mais comprometidos com uma mudança”.

Por outro lado, “nestas mesmas instâncias de inspecção encontram-se relatos bem mais complacentes com práticas de trabalho coercivo”, como é disso exemplo o escrito de um determinado funcionário: “Todo aquele que tem lidado com pretos sabe muito bem que o indígena nunca vai trabalhar para fora da sua terra, por um período superior a cinco ou seis meses, contratado de sua livre vontade. Pode ausentar-se por um período superior como voluntário. Como contratado só obrigado”.

10 Jan 2019

Fotografia | João Miguel Barros distinguido nos prémios internacionais de Tóquio

Uma série de fotografias que contam a história de um pugilista do Gana, da autoria de João Miguel Barros, acabam de ser distinguidas nos Tokyo International Foto Awards (TIFA). Além do prémio, o trabalho fica exposto no Centro Cultural de Shibuya entre os dias 20 e 24 de Fevereiro

[dropcap]A[/dropcap]s imagens do ensaio “Blood, Sweat and Tears” foram distinguidas no prémio internacional de fotografia de Tóquio (Tokyo International Foto Awards – TIFA), no Japão. Algumas das imagens que João Miguel Barros captou no Gana estarão expostas, entre os dias 20 e 24 de Fevereiro, no Centro Cultural de Shibuya, na capital japonesa.

João Miguel Barros ganhou a medalha de ouro na sub-categoria de Desporto e uma menção honrosa na sub-categoria Ensaio, ambas inseridas na categoria Editorial, na vertente de fotógrafos amadores. O fotógrafo conquistou também uma menção honrosa com o ensaio “Night Visions”, desta vez sobre Macau.

Ao HM, João Miguel Barros adiantou que a distinção “acaba por ser um estímulo e um incentivo para continuar a trabalhar”, tendo em conta que o fotógrafo começou nesta profissão tardiamente, pelo facto de ser advogado e ter feito a sua formação base na área do Direito.

“Comecei relativamente tarde a trabalhar nas fotografias de uma forma mais consistente, no sentido de criar histórias e fazer menos fotografias bonitas. Neste momento tenho alguns portfólios construídos”, adiantou.

Esta não é a primeira vez que “Boxe” é distinguido a nível internacional, tendo já ganho algum reconhecimento em Paris e Nova Iorque. As imagens resultaram de um combate de boxe que aconteceu em Macau em Outubro de 2017, e João Miguel Barros nunca mais perdeu a linha narrativa que se criou no ringue.

“Depois segui esse pugilista ganês, que perdeu o combate, até ao Gana. Estive lá em duas ocasiões distintas, uma em Julho do ano passado e outra em finais de Novembro ou Dezembro. A partir daí construí uma narrativa.”

Do ringue para a escola

Já em África, João Miguel Barros decidiu acompanhar os treinos do jovem ganês, com cerca de 20 anos, que tem o sonho de ser um grande pugilista, mas que perdeu o combate em Macau.

“Acompanhei-o durante algum tempo nos seus treinos e na sua relação com os outros desportistas que treinam regularmente, duas vezes por dia, na cidade velha de Acra.”

Daí nasceu uma outra ideia associada à série “Boxe”. “Da última vez que lá estive aproveitei para fazer um outro trabalho, que não é complementar, mas que está próximo deste, que teve a ver com o registo da vivência numa escola preparatória que fica muito perto do ginásio onde eles treinavam no final de tarde.”

Ambos os projectos são independentes e têm como nome “Wisdom” (sabedoria), e darão origem a uma futura exposição no Albergue, a anunciar em Junho deste ano. “Vou apresentar os dois projectos porque as fotos foram tiradas na mesma zona da cidade”, frisou.

África minha

A viver em Macau há 30 anos, João Miguel Barros sempre se distinguiu como advogado, tendo trabalhado em Portugal como assessor da ex-ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz. Contudo, assume estar cansado da profissão de uma vida e querer mostrar os projectos culturais que sempre desenvolveu desde os tempos da faculdade.

O seu olhar de fotógrafo está agora virado para África. “Já tenho mais alguns projectos em mente, em África. Ao fim de 30 anos em Macau, e com um conhecimento da Ásia relativamente grande, acabo por desviar um bocadinho o meu centro de atenções para África e fugir um bocadinho da Ásia. Não sei se isto tem a ver com o facto de ter um pouco o olhar cansado relativamente à Ásia”, assumiu, afirmando que quase nunca tira fotos em Macau.

“Tento procurar coisas que me surpreendam e África é o continente que menos conheço. Não ponho de parte a hipótese de construir histórias e narrativas na Ásia ou outros sítios que tenham algum tema interessante”, frisou.

Com uma exposição já marcada para o Museu Berardo, em Lisboa, onde vai expor ao lado de Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io em Novembro, João Miguel Barros revela estar cada vez mais interessado em criar histórias com as imagens que capta.

“Cada vez entendo mais que é importante se a fotografia fizer parte de um processo narrativo. Na exposição que fiz no Museu Berardo [Photo-Metragens] também utilizei texto como uma parte integrante desse processo da narrativa. Não ponho de parte a possibilidade do texto estar ao lado da imagem, mas o que importa é que o conjunto tenha consistência”, apontou.

Com 60 anos de idade, João Miguel Barros assume estar “claramente cansado da advocacia” e conta que há muito tempo queria mostrar o que fazia além dos tribunais e processos.

“A profissão, muitas vezes, esmaga-nos, e nem todas as pessoas são corajosas para mostrarem de imediato o que fazem. Depois de sair do ministério [da Justiça] achei que era tempo de mostrar os esqueletos que tinha no armário, dar o salto e vir a público mostrar as coisas que andava a fazer. Esse processo acaba por ser o resultado de muito investimento da minha parte.”

10 Jan 2019

“Roma” e “Assim Nasce Uma Estrela” candidatos a “Melhor Filme” dos prémios Bafta

[dropcap]“R[/dropcap]oma”, do mexicano Alfonso Cuarón, e “Assim Nasce uma Estrela”, protagonizada por Lady Gaga, são dois dos filmes em competição na edição deste ano dos prémios britânicos de cinema Bafta, anunciou hoje a organização.

Na categoria de “Melhor Filme” os candidatos da edição deste ano são “Roma”, “Assim Nasce uma Estrela”, “BlacKkKlansman”, “The Favorite” e “Green Book: Um Guia para a Vida”, revelou hoje a Academia Britânica de Artes e Televisão de Cinema (BAFTA).

Alfonso Cuarón por “Roma”, Spike Lee por “BlacKkKlansman”, Pawel Pawlikowski por “Guerra Fria”, Yorgos Lanthimos (“O Favorito”) e Bradley Cooper (“Assim Nasce uma Estrela Nasce”) são os candidatos ao prémio de “Melhor Realizador”.

Na lista de candidatas a “Melhor Actriz” anunciada hoje estão Olivia Colman (‘The Favourite’), Glenn Close (‘The Wife’), Lady Gaga (‘Assim Nasce uma Estrela’), Melissa McCarthy (‘Can you ever forgive me?’) e Viola Davis pela sua interpretação em (‘Widows’).

Os candidatos a “Melhor Actor” são Bradley Cooper (‘Assim Nasce uma Estrela’), Christian Bale (‘Vice’), Rami Malek (‘Bohemian Rhapsody’), Steve Coogan (‘Stan & Ollie’) e Viggo Mortensen (Green Book: Um Guia para a Vida’).

Na categoria de “Melhor Actriz Secundária” concorrem Amy Adams, Claire Foy, Emma Stone, Margot Robbie e Rachel Weisz e de “Melhor Actor Secundário” Adam Driver, Maheshala Ali, Richard E. Grant, Sam Rockwell e Timothée Chalamet.

De acordo com a organização os candidatos a “Melhor Guião original” são “Cold War”, “The Favourite”, “Green Book”, “Vice” e “Roma”. A 72.ª edição dos prémios Bafta vai realizar-se a 10 de Fevereiro no Royal Albert Hall, em Londres.

9 Jan 2019

Governo vai aumentar iniciativas para internacionalização da cultura portuguesa

[dropcap]O[/dropcap] Governo português assumiu ontem o aumento do número de iniciativas para a internacionalização da cultura portuguesa, num plano para 2019 com apresentação prevista para dia 28, que resulta de colaboração entre os ministérios da Cultura e dos Negócios Estrangeiros.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, garantiu que “irá existir um aumento em várias iniciativas” e assinalou a importância da experiência em 2018, com várias presenças da cultura portuguesa no estrangeiro, como na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, a segunda maior do mundo, na qual Portugal foi convidado de honra.

“O programa de 2019 tem essa enorme mais-valia que é termos uma experiência acumulada de como correu o ano passado e o que devemos alargar, repetir e diversificar e, se calhar noutras dimensões, fazer de forma diferente”, afirmou a governante, após o encerramento do seminário sobre Cooperação, Cultura e Língua, promovido pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, em Lisboa.

Graça Fonseca sublinhou ainda que “também é importante apresentar o balanço do que foi feito em 2018, quais foram as iniciativas e como é que elas são avaliadas e analisadas”, remetendo para o próximo 28 de Janeiro, sem dar mais pormenores sobre o plano.

Igualmente no encerramento do seminário, em que se abordou cooperação da sociedade civil e cultura e língua portuguesas, entre outras matérias, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou o plano de acção cultural externa “um desafio que tem sido ganho”.

O ministro declarou que o programa para este ano terá “a mesma lógica de sustentação dos avanços” registados no ano passado.

Neste âmbito, Augusto dos Santos Silva revelou que 2018 provou a “sustentação dos pilares que organizam a projecção internacional da cultura portuguesa, a fileira absolutamente essencial da literatura e do livro com programas activos de tradução de obras portugueses e de participação em feiras e mercados ligadas à promoção de livro e da literatura, como também programas muito importantes de divulgação quer da riqueza patrimonial portuguesa quer da criação portuguesa contemporânea”.

Augusto Santos Silva manifestou também confiança na “introdução gradual do português em vários sistemas de ensino” no mundo e “na duplicação do número de países” onde se ensina a língua portuguesa no presente, que está “numa vintena”.

O ministro referiu também que se espera “desafios muitíssimos importantes” na área da cooperação no que se refere à língua portuguesa.

“No âmbito do mundo da língua portuguesa da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), quer no plano multilateral, quer no plano bilateral, vivemos um momento particularmente auspicioso, que nos coloca mais exigências, porque as condições que hoje existem de desenvolvimento da cooperação multilateral no quadro da CPLP e as condições que hoje existem da realização de todos os programas estratégicos de cooperação que já estão aprovados, designadamente com Angola, são muito promissores”, afirmou.

9 Jan 2019

Fringe | Palestras sobre crítica de arte antecedem abertura oficial do festival

A edição do festival Fringe tem início oficial esta sexta feira, mas as actividades começam hoje com um ciclo de palestras dedicado à crítica de arte. O debate e a troca de ideias são a novidade deste ano do festival que tenciona promover formas alternativas de expressão artística no território

[dropcap]P[/dropcap]alestras e debates fazem parte, pela primeira vez, da edição do festival Fringe. Este ano o evento prevê três momentos, com temáticas diferentes, dedicados à troca de ideias, sendo que o primeiro, de um ciclo dedicado à crítica artística, tem inicio já hoje.

O objectivo, afirma a organização na apresentação do evento, é guiar os interessados “pelo mundo da arte e da escrita cultural através de dicas de escrita, palestras, entrevistas com artistas, desenvolvendo a tua capacidade de apreciação, competência analítica e observação atenta dos espectáculos”.

“Crítica de Arte 101” é o tema que vai preencher três palestras. A primeira tem lugar hoje pelas 20h na Macao Theatre Library e é dedicada à discussão da diversidade da crítica artística. A coordenar a conversa vai estar Mok Sio Chong, crítico de teatro local, dramaturgo e encenador. Mok Sio Chong é também editor-chefe da publicação trimestral Performance Arts Forum e de Reviews, sendo presidente do Macao Theatre Culture Institute.

Carol Law vai estar à frente da conversa agendada para amanhã, à mesma hora e no mesmo local, que se vai debruçar na preparação técnica para entrevistas a artistas. Carol Law, fez o mestrado em Jornalismo e Gestão Cultural pela Universidade Chinesa de Hong Kong e foi repórter de televisão responsável pela realização de entrevistas, redacção de notícias, edição de vídeo tendo trabalhado ainda na área de investigação. Actualmente, é escritora freelancer e trabalha com diferentes média, focando-se em temas como o desenvolvimento da indústria artística de Macau, estilo de vida ecológico e a história de Macau.

Sexta feira é dedicada ao debate sobre a questão “quão no limite é o festival Fringe?”. No Macau Theater Library vai estar Hui Koc Kun . Conhecido por “Big Bird”, Hui é dramaturgo, encenador e actor de teatro há mais de três décadas. Licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Macau, foi também um dos primeiros licenciados do Programa de Administração de Arte do Centro de Artes de Hong Kong, e graduado pelo Programa de Pós-Graduação em Indústrias Culturais e Criativas da Academia de Artes e Design da Universidade de Tsinghua.

Hui tem na sua carreira a coordenação de eventos culturais e artísticos, incluindo o Festival de Música Pop de Macau, as Apresentações de Teatro Conjuntas de Macau, e o projecto Ano Novo Chinês em Lisboa. O dramaturgo foi um dos elementos envolvidos na criação do Festival Fringe e coordena o evento há mais de uma década. Actualmente, está envolvido na área da programação e os seus mais recentes projectos incluem o HUSH! Full Music e o Desfile por Macau, Cidade Latina.

Os interessados em participar têm que ter mais de 16 anos e para se inscreverem devem produzir um pequeno texto de 200 palavras a ser entregue no momento de chegada e onde descrevem os motivos da sua presença.

Fronteiras discutidas

As fronteiras entre a arte e o quotidiano são o tema que vai ocupar a palestra marcada para sábado, às 15h na galeria At Light. “A linha entre a arte e o quotidiano” é o tema de conversa que vai estar a cargo de Pak Sheung Chuen que vem de Hong Kong, Siraya Pai de Taiwan, e Cherrie Leong e Lei Sam I, de Macau. A conversa tem como objectivo possibilitar um espaço de debate acerca do papel da arte no dia a dia de cada um e debater a fronteira entre expressões artísticas e o quotidiano.

“Cada vez mais as actividades artísticas interagem com o nosso dia-a-dia e cada vez mais os espectáculos entram no nosso quotidiano. A arte está ultrapassar os limites e a entrar nas nossas rotinas diárias? Ou já estamos a envolver a arte na nossa vida diária e já não há mais fronteiras?”, questiona a organização na apresentação do evento. A participação é limitada a 30 pessoas com idades acima dos seis anos e as inscrições são feitas por ordem de chegada. A palestra vai ser conduzida em cantonês e mandarim.

No sábado, dia 26, é o momento de balanço com o encontro entre o público e críticos convidados para partilharem as suas opiniões sobre os espectáculos do Fringe.

9 Jan 2019

Morreu o escritor britânico John Burningham

[dropcap]O[/dropcap] autor britânico John Burningham, que ficou conhecido por ter escrito e ilustrado dezenas de livros para crianças, morreu na sexta-feira aos 82 anos em consequência de uma pneumonia, foi ontem anunciado.

Formado em ilustração e design gráfico, John Burningham estreou-se na literatura para crianças em 1963 quando publicou um livro sobre Borka, um ganso que nasceu sem penas, com o qual recebeu o prémio Kate Greenaway Medal, o primeiro de várias distinções ao longo da vida.

Em 1970 voltaria a receber a mesma distinção com “Mr. Gumpy’s outing”, uma das obras mais conhecidas do autor, inédita no mercado português. O mais recente reconhecimento foi em 2018, com a atribuição de um prémio de carreira a John Burningham e à mulher e autora Helen Oxenbury.

Em Portugal estão publicados apenas alguns títulos do autor: “Aldo”, “A prenda de natal de Henrique Semprespera” e “Vai chegar um bebé”, o único que fez com Helen Oxenbury.

Citada pelo jornal The Guardian, Francesca Dow, da editora Penguin Random House, recordou John Burningham como um “verdadeiro pioneiro do livro ilustrado e um inesgotável e inventivo criador de histórias”. “Nunca falou com superioridade com as crianças, sempre as tratou com o maior respeito”.

8 Jan 2019

Festival Fringe arranca esta sexta-feira com espectáculos para todos os gostos

[dropcap]O[/dropcap] 18º Festival Fringe da Cidade de Macau, organizado pelo Instituto Cultural, arranca já esta sexta-feira e prolonga-se até ao próximo dia 27 deste mês. A inauguração terá lugar no pelas 19:30 horas, no Edifício do Antigo Tribunal.

Na altura, será apresentado o “18.º supermercado do Fringe”, sendo que à noite o espectáculo Sigma, produzido pelo grupo Gandini Juggling e pela coreógrafa premiada Seeta Patel, ambos do Reino Unido sobe ao palco mostrando, segundo o comunicado da organização, geometrias virtuosas através de circo e dança clássica indiana. Os bilhetes disponíveis para alguns espectáculos do festival já são limitados, adverte ainda a organização.

Da mescla de espectáculos constam também Conjunto de Música Urbana Interactiva com instalações artísticas e orquestra ao ar livre que mostra uma instalação com desenhos de diferentes instrumentos musicais para o público tocar. Janelas Efémeras – Arte Urbana nos Terraços usa papel de arroz para mostrar a arte de rua não agressiva, convidando as pessoas a trocar pontos de vista e a participar, mudando a fisionomia da cidade através da arte. Flash Mob – Phubber Drama irá apanhar phubbers em paragens de autocarro numa actividade interactiva com o público.

O programa do Fringe apresenta ainda outros espectáculos, como The Icebook, apresentado por artistas também provenientes do Reino Unido, Davy e Kristin McGuire, com o primeiro livro pop-up do mundo em vídeo mapping.

Em Sê Meu Velho Amigo, produzido pela companhia local Dream Theater Association, através de objectos de estimação, velhos amigos contam-nos histórias pessoais, lembrando os dias de Macau do antigamente; na leitura de teatro ao ar livre Sonia, escrita pelo dramaturgo local Ma Wai In e encenada por Ku Ieng Un, o público vai ouvir uma história que, dando vida a personagens não-humanas, reproduz a realidade; já o espectáculo Peixe-dourado, apresentado por Four Dimension Spatial de Macau e pela Companhia de Dança Moderna de Changde, revela as memórias ocultas de tabus emocionais sob a lógica do sonho, informa a organização.

O Festival Fringe realiza ainda 10 actividades de extensão, incluindo workshops, palestras, crítica artística e sessões de partilha. Os bilhetes para os espectáculos estão disponíveis na Bilheteira Online de Macau.

8 Jan 2019

Pintura | “A state of bliss”, de Zhao Qian, é inaugurada hoje na Fundação Rui Cunha

É inaugurada hoje a exposição “A state of bliss” de Zhao Qian na Fundação Rui Cunha. A mostra traz à galeria da Praia Grande pinturas chinesas que pretendem transmitir paz e calma a quem as vê

 

[dropcap]A[/dropcap] exposição “A state of bliss” de Zhao Qian tem inauguração marcada para hoje pelas 18h30 a e traz à galeria da Fundação Rui Cunha um conjunto de 17 obras de pintura chinesa. Mas, adverte a curadora, Laurentina da Silva, não é a pintura tradicional a que o público está habituado que vai estar patente. “É diferente da pintura chinesa normal, diferente do que estamos habituados a ver”, conta, até porque “normalmente quando se fala de pintura chinesa pensa-se mais no jogo de sombras em que os pretos e cinzentos são cores muito comuns”, acrescenta.

Em “A state of bliss”, a artista Zhao Qian optou pelo uso de cores suaves com o objectivo de projectar nas suas obras “mais calma” e a “sensação de paz, do zen”, aponta Laurentina da Silva.

Para obter as tonalidades pretendidas e uma maior veracidade no seu trabalho a artista optou pelo uso de tinta japonesa. “As mais recentes produções de tinta na China não têm a mesma qualidade das mais antigas. Mas no Japão ainda se consegue encontrar tinta idêntica à que antigamente se fazia no continente porque eles fazem questão de manter a qualidade da tinta” aponta a curadora, “sendo mais original”, acrescenta.

Inspirações transcendentes

A inspiração para esta mostra veio de uma série de viagens que a artista realizou e a sua pintura é “o reflexo da imaginação misturado com as diversas experiências de vida”.

Depois de passar por Xinjiang, Tibete, Nepal e Tailândia e de ter estado em contacto com as diferentes manifestações religiosas destas regiões, Zhao decidiu passar para a tela o que delas tinha colhido, ou seja, o sentimento de tranquilidade que encontrou e que era comum às diferentes manifestações de fé. Por estes sítios foi absorvendo “o espírito que as religiões transmitem às pessoas mas, além do aspecto da fé, há mais: há um convite à calma e à paz”, refere a curadora. Por outro lado, a artista juntou ainda aspectos ligados ao seu dia-a-dia.

As 17 obras são o resultado desta mistura e concretizam “um conceito artístico além da natureza e tranquilidade, um estado entre o sonho e realidade, quer sejam cenários da vida diária ou de montanhas distantes, estas obras apresentam uma imagem de leveza, como um sonho”, aponta a apresentação do evento.

Em “A state of bliss” o público é convidado, na observação de cada uma das obras, a interpretar e a reflectir acerca de si e das suas aspirações. O objectivo é permitir ao observador que tenha ali também o seu momento de paz, em que possa interpretar as imagens que vê, avança Laurentina da Silva.

Zhao Qian, nasceu em 1983 na província de Anhui, na China. Concluiu o seu mestrado na Universidade de Xiamen em 2007, e foi oradora da universidade de Finanças e Economia de Anhui. É neste momento candidata ao doutoramento da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Nos últimos anos, realizou várias exposições em Taiwan e na China Continental. A exposição pode ser vista até 21 de Janeiro.

8 Jan 2019

Filme “Bohemian Rhapsody” sobre Freddy Mercury é o grande vencedor dos Globos de Ouro

[dropcap]E[/dropcap]m noite de surpresas, “Bohemian Rhapsody”, filme biográfico centrado na vida do músico Freddie Mercury, foi o grande vencedor da 76.ª edição dos Globos de Ouro, ao arrecadar dois dos mais importantes prémios, incluindo melhor filme.

Numa cerimónia marcada por poucos comentários políticos, “Roma”, o drama semi-autobiográfico de Alfonso Cuarón, foi eleito melhor filme estrangeiro. A obra filmada a preto e branco na cidade do México valeu a Cuarón o prémio de melhor realizador.

Rami Malek, que dá vida à lenda dos “Queen”, foi eleito melhor actor, categoria para a qual estava nomeado Bradley Cooper, realizador e protagonista de “Assim Nasce Uma Estrela”, um dos filmes derrotados da noite. “Obrigado a Freddie Mercury por me dar a alegria de uma vida” disse Rami Malek, ao agarrar a estatueta que o distinguiu num filme do produtor e realizador norte-americano Bryan Singer.

Outra das surpresas aconteceu no prémio de melhor actriz: venceu a veterana Glenn Close, em “The Wife”, no papel de mulher de um Nobel da Literatura. A também cantora Lady Gaga era apontada como favorita ao galardão, pela sua actuação em “Assim Nasce Uma Estrela”.

Regina King venceu o prémio de melhor actriz secundária em “A Favorita” e Mahershala Ali o prémio de melhor actor secundário em “Green Book: Um Guia para a Vida”, do realizador Peter Farrelly, filme distinguido nas categorias de melhor comédia ou musical e de melhor argumento.

Um ano depois do discurso de Oprah Winfrey contra “os homens poderosos e brutais”, em pleno desenvolvimento do movimento #MeToo, esta edição não ficou marcada por comentários políticos, pelo menos até Christian Bale subir ao palco para receber o prémio de melhor actor em comédia ou musical, pela sua performance em “Vice”, de Adam McKay.

“O que acham? Mitch McConnell a seguir?” brincou o actor nascido no País de Gales, referindo-se ao líder da maioria do Senado norte-americano. “Obrigado a Satanás por me dar inspiração para este papel”, acrescentou.

Olivia Colman foi distinguida como melhor actriz na mesma categoria. No campo televisivo, “The Americans”, que retrata a vida de dois espiões russos nos EUA dos anos 1980, foi eleita a melhor série dramática, na sexta e última temporada, enquanto a melhor série de comédia foi “O Método Kominsky”.

7 Jan 2019

Mais de uma dezena de filmes portugueses estreiam-se nos próximos meses

[dropcap]O[/dropcap]s premiados “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos” e “Diamantino”, as histórias biográficas sobre Snu Abecassis e António Variações e o documentário “Debaixo do céu” são alguns dos filmes portugueses a estrearem-se este ano nos cinemas portugueses.

De acordo com dados compilados pela agência Lusa junto de exibidoras e produtoras, pelo menos uma dezena de produções portuguesas vão chegar ao circuito comercial nos próximos meses, entre as quais “Terra Franca”, a primeira longa-metragem de Leonor Teles, já no dia 10 de Janeiro.

Distinguido em quase uma dezena de festivais, “Terra Franca” é um documentário sobre a vida de Albertino, pescador em Vila Franca de Xira, e a sua ligação ao rio Tejo e à família, tendo sido rodado ao longo de quase dois anos.

Em Janeiro vai estrear-se ainda outro documentário, “Debaixo do céu”, de Nicholas Oulman, com histórias de judeus que passaram por Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Nicholas Oulman, filho de uma família francesa judia fixada em Portugal desde 1920 e que ajudou outros refugiados, quis encontrar e ouvir os relatos pessoais de alguns dos judeus que procuraram refúgio temporário em Portugal, porta de saída para o Ocidente, em fuga desde a Alemanha, onde foram perseguidos pelo regime Nazi.

No trabalho de pesquisa, foram encontrados cerca de 20 sobreviventes, todos com mais de 80 anos e a maioria a residir nos Estados Unidos. No filme entram sete, que à época eram crianças, que vão relatando histórias, ilustradas com imagens de arquivo.

Neste mês estão previstas ainda as estreias da comédia “Tiro & Queda”, de Ramon de los Santos, com Manuel Marques e Eduardo Madeira, e de “Os dois irmãos”, de Francisco Manso, a partir de uma história verídica e do romance homónimo do autor cabo-verdiano Germano Almeida.

Em Março, no dia 7, é esperada a estreia de “Snu”, filme de Patrícia Sequeira sobre a relação entre a editora Snu Abecassis e o político Francisco Sá-Carneiro. No papel do casal estão Inês Castel-Branco e Pedro Almendra.

A 14 de Março, quase um ano depois de ter recebido o prémio especial do júri “Un certain regard” de Cannes, chegará às salas de cinema portuguesa o filme “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora.

O filme foi rodado durante nove meses numa aldeia brasileira no estado de Tocatins e é protagonizado por Ihjãc, um adolescente indígena dos Krahô.

Março será ainda o mês de estreia de “Gabriel”, filme de Nuno Bernardo, protagonizado por Igor Regalla, no papel de um jovem cabo-verdiano que descobre o pugilismo quando ruma a Portugal à procura do pai.

Em abril, estrear-se-ão “Diamantino”, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, “Hotel Império”, de Ivo M. Ferreira, e “Quero-te tanto”, de Vicente Alves do Ó.

“Diamantino”, com estreia para 4 de Abril, é a primeira longa-metragem daqueles dois realizadores e cruza comédia, drama, policial e ficção científica, a partir da história de um futebolista, tendo sido distinguido no ano passado na Semana da Crítica, em Cannes.

“Hotel Império”, em exibição a partir de 18 de Abril, foi rodado em Macau, e conta a história de uma portuguesa nascida na cidade – interpretada por Margarida Vila-Nova – que, juntamente com outras pessoas, habita um antigo hotel em vias de ser destruído para dar lugar a um edifício moderno.

Vicente Alves do Ó estreará em Abril a comédia “Quero-te tanto”, protagonizada por Benedita Pereira e Pedro Teixeira, e depois no outono vai ter nos cinemas “Golpe de Sol”.

Sem data de estreia, mas aprazada para o verão, está a longa-metragem “Variações”, de João Maia, sobre o músico António Variações, que morreu em Junho de 1984.

Com Sérgio Praia no papel principal, “Variações” foca-se sobretudo na transformação de António Ribeiro em António Variações, num período de vida entre 1977 e 1981, a época em que um barbeiro ambicionava viver da música.

Este ano é esperada ainda a estreia de “A Portuguesa”, de Rita Azevedo Gomes, a partir de “Die Portugiesin”, de Robert Musil, e deverá estrear-se também “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam, ambos sem data.

Em 2018, segundo dados do Instituto do Cinema e Audiovisual, estrearam-se 38 filmes portugueses e de co-produção portuguesa, com “Pedro & Inês”, de António Ferreira, a ser o mais visto, com 46.717 espectadores.

7 Jan 2019

“Reencarnação” de Allen Wong inaugura dia 10 no espaço Creative Macau

A exposição “Reencarnação” reúne 21 trabalhos de Allen Wong que exploram o ciclo da vida numa metáfora com a própria arte ancestral da pintura chinesa e a sua evolução no mundo contemporâneo. A mostra é inaugurada na próxima quinta-feira na Creative Macau

 

[dropcap]“R[/dropcap]eencarnação” é o nome da exposição do artista local Allen Wong com inauguração marcada para a próxima quinta-feira na galeria da Creative Macau. O evento está marcado para as 18h30 e vai apresentar 21 obras, sendo que duas são instalações. Os restantes trabalhos são pinturas em que o artista utiliza de forma experimental a tinta num regresso às origens da arte chinesa e em forma de metáfora com o ciclo da vida na sociedade contemporânea.

A escolha da arte chinesa, mesmo que utilizada em representações abstractas, foi uma opção de Wong tendo em conta a sua origem. De acordo com o artista, “a pintura chinesa é profunda e apresenta uma atmosfera que procura o espaço espiritual mantendo o seu balanço através da prática,” afirma Allen Wong na apresentação do evento.

No entanto, também a pintura chinesa tem passado por várias formas. “A caneta e a tinta são como a poesia que tem vindo a ficar pior com o passar de gerações e tal como a água fervente, fica sem sabor à medida que o tempo passa”, refere. Com o declínio evidente, o artista local questiona a razão que mantém a arte chinesa ainda em uso.

Para Wong, este tipo de questão possibilita ao artista a reflexão “tendo por base o paradoxo filosófico do navio de Teseu”, aponta. O resultado é uma viagem pela história da pintura chinesa através de uma linha do tempo em que se passa pela época em que era uma arte criadora de estilos próprios tendo passado a ser uma herança e mesmo uma forma de imitação em que os métodos tradicionais vão sendo substituídos pela utilização de outros meios, mais contemporâneos.

A vida em conceitos

Por outro lado, o artista teve em conta, na concepção de “Reencarnação”, a exploração de dois conceitos: o de Topos e o de Concreto. No primeiro, Allen Wong aborda “a extração da inércia da tinta tradicional e converte o resultado numa sequência de substâncias”. São estas substâncias que, sendo simulações de uma vida natural, resultam na conversão de elementos inanimados em formas de vida, acrescenta.

Já no escopo do Concreto, estão os aspectos mecânicos que conduzem a própria vida. Para a sua operacionalização, Wong utiliza as estruturas que simulam o sistema circular da vida dos animais e das plantas e que é representado pela tinta na caneta.

Para o artista, “as memórias das emoções são fontes de energia e é nesta energia natural, governada pelo ritmo mecânico das estruturas regularizadoras, que ‘Reencarnação” se desenvolve seguindo o ciclo da vida”, remata.

7 Jan 2019

Portuguesa grava música em clarinete para novo filme co-produzido por Brad Pitt

[dropcap]O[/dropcap] novo filme coproduzido pelo norte-americano Brad Pitt, “The Last Black Man in San Francisco”, tem a participação musical da portuguesa Virginia Costa Figueiredo, disse à Lusa a clarinetista radicada em Los Angeles. A professora doutorada em clarinete gravou a música para o filme, que será apresentado no festival Sundance a 26 de Janeiro.

A oportunidade surgiu como fruto do “networking com músicos e compositores” que é fomentado pela forte presença da indústria cinematográfica em Los Angeles, explicou Virginia Costa Figueiredo, que reside na cidade californiana há 16 anos.

Com realização de Joe Talbot, “The Last Black Man in San Francisco” é produzido por Brad Pitt, Jeremy Kleiner e Dede Gardner, voltando a reunir os produtores responsáveis por “Moonlight”, vencedor do Óscar para Melhor Filme em 2017. É inspirado na história verdadeira de Jimmie Fails e conta ainda com os actores Jonathan Majors, Danny Glover, Thora Birch e Mike Epps.

“Los Angeles é uma cidade com uma indústria muito ativa para músicos freelancers”, afirmou a portuguesa, referindo que “há muito trabalho que não se encontra noutros sítios” e isso tem-se refletido nas oportunidades. A clarinetista trabalha com empresas que “empregam músicos especificamente para fazer esse tipo de trabalho” e pretende aumentar esta componente da sua carreira.

No ano passado, gravou música para outros filmes, incluindo “Hator” de Ziyi Zheng e o filme ‘anime’ japonês “Circus Sam”, além de várias séries documentais.

O dinamismo da indústria também a levou a participar no novo álbum de Alan Parsons, o primeiro desde 2004 e que será lançado no início deste ano. Em 2018, Virginia Figueiredo trabalhou ainda num álbum de Chance the Rapper.

A artista prepara-se para lançar um álbum próprio no final de Janeiro, “Intuición”, executado em clarinete e piano e inspirado em música folclórica da América Latina.

Outro projecto que está em curso é a criação de um livro de instrução para alunos do ensino básico baseado em música popular portuguesa, “que é uma coisa que nunca foi feita”. Neste momento, Virginia Figueiredo está a recolher as músicas “para depois transcrever como exercícios de aprendizagem de clarinete”, tendo como alvo alunos nas escolas de Portugal e do Brasil.

Aos 39 anos, a artista portuguesa é professora na Pierce College, Cerritos College e Moorpark College e toca com a companhia Pacific Opera Project, cuja temporada vai começar em Fevereiro.

Virginia Figueiredo é presença regular nos eventos da comunidade portuguesa na Califórnia, em especial quando há performances musicais envolvidas, mas refere que existe pouco “networking de portugueses”, comparado com o que é feito noutras comunidades de imigrantes.

É um problema que deriva do menor número de portugueses e luso-descendentes e que agudiza as diferenças entre a sociedade americana e a portuguesa, que assume “uma atitude muito diferente em relação a família e amigos”, já que os americanos “são muito independentes” e têm “uma existência um bocado solitária”.

A clarinetista, que chegou a Los Angeles em 2003 como bolseira de Mestrado pela Gulbenkian, não põe de parte um regresso a Portugal “com a oportunidade certa”, mas refere que até agora “não surgiu nada que tivesse funcionado”.

Virginia Figueiredo acabou por ser “a primeira pessoa portuguesa a obter um doutoramento em clarinete”, na UCLA (University of California, Los Angeles), e ficou porque “há mais oportunidades, definitivamente”.

6 Jan 2019

Academia Portuguesa da História recebe 12 novos membros na próxima semana

[dropcap]A[/dropcap] Academia Portuguesa de História (APH) recebe na próxima quarta-feira, em sessão solene, 12 novos académicos, entre eles, Pedro Santana Lopes, como “académico honorário”, divulgou ontem a instituição.

À sessão, no Palácio dos Lilases em Lisboa, assiste a ministra da Cultura, Graça Fonseca, e além do ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa Pedro Santana Lopes, como “académicos honorários” passam também a fazer parte António Miguel Forjaz Pacheco Trigueiros, José Alarcão Troni, José Bouza Serrano e Fernando Baptista.

António Miguel Forjaz Pacheco Trigueiros é autor, entre outras obras, de “A Viagem das Insígnias (a história inédita da Real Ordem da Torre e Espada de Dom João VI)”, José Augusto Perestrello de Alarcão Troni dirige a Sociedade Histórica da Independência de Portugal, o embaixador José de Bouza Serrano editou no ano passado “As Famílias Reais dos Nossos Dias”, e Fernando Paulo do Carmo Baptista é professor e investigador do Instituto Piaget, em Viseu.

Entre os 12 novos membros da APH estão também, como “académicos de mérito”, o bispo de Leiria-Fátima, António dos Santos Marto, o catedrático jubilado da Universidade de Évora Manuel Ferreira Patrício e o investigador Vasco da Cruz Soares Mantas.

Como “académicos correspondentes” passam a fazer parte da APH João Eurípedes Franklin Leal, da Universidade Federal de Espírito Santo, no Brasil, e Emanuel d’Able do Amaral, abade-presidente do Capítulo Geral da Congregação Beneditina do Brasil e membro da Academia de Letras da Bahia.

Também como “académicos correspondentes” entram a escritora italiana Rosa Nicloletta Tomasone, que preside ao Centro Culturale L. Einaudi, e o diplomata espanhol Jaime de Ferrá y Gisbert.

Nesta mesma cerimónia os académicos correspondentes Sérgio Campos Matos e Fernando Taveira da Fonseca passam, respetivamente, a “académico de número” e a “académico de mérito”.

Até Abril próximo a APH prevê a realização 11 sessões, a iniciar no próximo dia 16, e uma de recepção ao académico honorário Juan Rodríguez Ibarra, no dia 30 de Março.

Juan Rodríguez Ibarra foi presidente do governo da região autónoma espanhola da Extremadura, de 1983 a 2007.

As sessões da APH abrem com o historiador José Eduardo Franco, que fez parte da equipa coordenadora da publicação da Obra Completa do padre António Vieira, e que falará sobre “Fernando Augusto da Silva, um pioneiro da construção de um saber enciclopédico regionalizante. Nos 600 anos do descobrimento oficial do arquipélago da Madeira”.

Dos palestrantes do primeiro quadriénio deste ano, entre outros, fazem ainda parte, Luís Manuel Araújo, que falará sobre “O ‘Livro dos Mortos’ do Antigo Egipto e a sua presença em objectos de colecções portuguesas”, no dia 14 de Fevereiro, Maria Manuela Tavares Ribeiro, que apresentará a conferência “1919 – A Questão das nacionalidades”, e Fernando Taveira da Fonseca, que, no dia 3 de Abril, abordará as origens da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra.

A APH foi fundada em 1720 por João V e restaurada em 1936, sendo actualmente presidida pela historiadora Manuela Mendonça.

Até Dezembro último contava com 447 académicos, dos quais, 93 de mérito, 79 honorários, 30 portugueses de número e 11 académicos de número brasileiros, para além de quatro “académicos beneméritos” e 230 “académicos correspondentes”. Com a entrada destes novos académicos a APH passa a contabilizar 459 académicos.

6 Jan 2019

Lançadas biografias de figuras portuguesas escritas por romancistas

[dropcap]A[/dropcap] editora Contraponto apresentou na sexta-feira uma nova colecção de biografias de “Grandes Figuras da Cultura Portuguesa” contemporâneas, que começa com Amália Rodrigues, Manoel de Oliveira, Natália Correia, Agustina Bessa-Luís, Herberto Helder e José Cardoso Pires.

Trata-se de um projecto extenso no tempo, que arranca agora com as primeiras seis biografias, a serem apresentadas numa cerimónia na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, com a presença dos autores, quase todos ficcionistas, e da ministra da Cultura, anunciou a editora.

Este projecto editorial irá permitir “conhecer em profundidade personalidades extraordinárias dos séculos XX e XXI”, como Agustina Bessa-Luís, Herberto Helder, José Cardoso Pires, Natália Correia, Manoel de Oliveira e Amália Rodrigues, as seis primeiras “grandes figuras” da coleção, que se estenderá a outras personalidades, ao longo dos próximos anos.

Para escrever estas biografias, o editor da Contraponto convidou maioritariamente escritores, pois não quer que estas obras “sejam meros repositórios de factos por ordem cronológica”, mas sim obras que os leitores tenham “prazer ao lê-las”.

A excepção é o sociólogo João Pedro George, autor da biografia de Luiz Pacheco, que agora assina o volume dedicado ao poeta Herberto Helder (1930-2015).

A primeira biografia é dedicada a Agustina Bessa-Luís (nascida em 1922) e é de autoria de Isabel Rio Novo, enquanto Filipa Melo ficou com a responsabilidade de biografar a fadista Amália Rodrigues (1920-1999).

Bruno Vieira Amaral escreve a biografia do escritor José Cardoso Pires (1925-1998), Paulo José Miranda, colaborador do HM, vai ser responsável pela biografia do cineasta Manoel de Oliveira (1908-2015) e Filipa Martins a da poetisa Natália Correia (1923-1993).

6 Jan 2019

Gravura | 3.ª edição da Trienal inaugurada hoje

É hoje oficialmente inaugurada a 3.ª edição da Trienal de Gravura de Macau. O evento coincide com a entrega de prémios aos vencedores e tem lugar às 18h30 no Centro de Arte Contemporânea – Pavilhão n.º 1 das Oficinas Navais. Na mostra vão estar patentes 175 trabalhos de artistas de todo o mundo

[dropcap]A[/dropcap] cerimónia de inauguração e a entrega de prémios da 3.ª edição da Trienal de Gravura de Macau tem lugar hoje pelas 18h30, no Centro de Arte Contemporânea – Pavilhão n.º 1 das Oficinas Navais. A exposição das 175 obras seleccionadas e com assinatura de autores de todo o mundo vai também ter trabalhos na Galeria Tap Seac, na Galeria de Exposições Temporárias do IACM, na Galeria de Exposições e na Casa Nostalgia das Casas da Taipa.

De acordo com a organização, o evento que teve a sua primeira edição em 2012, “pretende promover a criação e pesquisa de obras de gravura”. O objectivo passa pela oferta de uma plataforma de “intercâmbio aprofundado entre artistas internacionais” de modo a promover o desenvolvimento desta arte no território, “promovendo assim a criatividade, a apreciação, os estudos e o progresso da arte da gravura”, aponta o Instituto Cultural (IC).

Os 175 trabalhos que vão ser exibidos vieram um pouco de todo o mundo, Da Tailândia ao Irão, da Estónia à Austrália, a organização procura, mais uma vez, a inovação sem esquecer as tradições artísticas. “As obras não reflectem apenas os estudos aprofundados de técnicas pelos artistas, mas também a combinação das novas produções, média, impressão e técnicas integradas”, aponta. No total vão ser apresentada abras vindas de 39 países e regiões, sendo que de Macau estão presentes os trabalhos de Wong Wai I e Loi Chi Fong.

A selecção foi também feita por um júri internacional composto por artistas e académicos de renome como Walter Jule, Zhang Minjie, Luckana Kunavichayanont, Kwak Namsin, Sou Pui Kun, Lin Ping e Maurice Pasternak.

 

Os premiados

O IC já apresentou os vencedores desta terceira edição. Segundo a página oficial do evento, o prémio de ouro foi dado ao polaco Lukasz Koniuszy com a obra “Estrutura habitável”, enquanto a prata e o bronze foram para a Tailândia com as obras “Vestígios das coisas dolorosas 6” de Warranutchai Kajaree e “Método das ceifeiras N.º 2” de Rattana Sudjarit, respectivamente. Foram ainda atribuídas sete menções honrosas distribuídas pelo italiano Alberto Balletti, a tailandesa Chalita Tantiwitkosol, os chineses Cao Jianhong, Lee Wen-Jye, Zuo Wei e Li Can, e a britânica Bianca Cork.

Além da exposição o evento conta ainda com a realização de um apalestra temática, amanhã entre as 10h e as 12h30, no Centro de Arte Contemporânea – Pavilhão n.º 1 das Oficinas Navais, a cargo do Professor Adjunto da Escola Superior de Artes do Instituto Politécnico de Macau, Sou Pui Kun e do Vice-Director do Comité de Arte de Gravura da Associação de Artistas da China e Professor da Academia de Arte da China, Zhang Mingjie. Para a palestra estão disponíveis 40 lugares e a entrada é livre.

4 Jan 2019

EUA e Israel saem da UNESCO

[dropcap]A[/dropcap] saída dos Estados Unidos e de Israel da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) tornou-se efectiva ontem, culminando um processo desencadeado em Outubro de 2017. A saída dos dois países assenta no suposto sentimento anti-Israel da organização, alegado pelas respetivas representações diplomáticas.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a saída da organização em 12 Outubro de 2017, poucas horas antes de anúncio similar feito pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Os Estados Unidos invocaram “preocupações com os atrasos crescentes na UNESCO, a necessidade de uma reforma fundamental da organização e o permanente preconceito anti-Israel”. O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Danny Danon, disse hoje que o seu país “não será membro de uma organização cujo objectivo seja deliberadamente agir contra Israel”, dando argumentos aos seus “inimigos”.

A organização com sede em Paris foi acusada de criticar a ocupação israelita de Jerusalém Oriental, em particular por identificar locais reivindicados por Israel, como herança palestiniana, além de ter aprovado a plena adesão da Palestina à organização, em 2011, facto que levou os Estados Unidos a suspender, desde então, as contribuições financeiras.

Nos últimos anos, a UNESCO aprovou várias resoluções muito criticadas por Israel, nomeadamente textos que omitem a vinculação judaica à denominada Esplanada das Mesquitas de Jerusalém.

No verão de 2017, a Cidade Velha de Hebron (Palestina) foi incluída na Lista de Património Mundial, decisão que levou Israel a anunciar que iria retirar um milhão de dólares na sua contribuição para as Nações Unidas.

Desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca, no início de 2017, os EUA retiraram-se da UNESCO, cortaram vários financiamentos a órgãos da ONU e anunciaram a sua saída do Acordo de Paris de combate às alterações climáticas, do acordo nuclear com o Irão, apoiado pela ONU, e do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

Em 1984, durante a administração de Ronald Reagan, os Estados Unidos romperam igualmente com a UNESCO, por suposta cedência a interesses soviéticos, em plena Guerra Fria, tendo regressado à organização em 2003.

3 Jan 2019

Museu de Florença pede devolução de quadro roubado pelos nazis

[dropcap]O[/dropcap] director da Galeria dos Ofícios, Eike Schmidt, o maior museu de Florença, pediu na terça-feira à Alemanha a devolução de um quadro do pintor Jan van Huysum, do século XVIII, roubado pelos nazis durante a II Guerra Mundial.

“Um apelo à Alemanha para 2019: fazemos votos para que este possa finalmente ser o ano em que será restituído à Galeria dos Ofícios o célebre ‘Vaso de Flores’, roubado pelos soldados nazis”, escreveu num comunicado, o director do museu, ele próprio de nacionalidade alemã.

De acordo com o responsável, o quadro está actualmente na posse de uma família alemã, que ainda não o devolveu, apesar dos vários pedidos do Estado italiano.

Trata-se de um óleo sobre tela de 47×35 centímetros, assinado por Jan van Huysum (1682-1749), um pintor holandês de renome, especializado em naturezas mortas, e que pertenceu, após 1824, às colecções do Palais Pitti, outro grande museu florentino.

Levado pelos alemães durante a guerra, o quadro foi transferido dentro da Alemanha e o seu paradeiro perdeu-se durante muito tempo, antes de ser redescoberto, em 1991, após a reunificação alemã, segundo Eike Schmidt.

Enquanto aguarda a devolução da obra original, o museu expõe a partir de hoje uma reprodução a preto e branco do “Vaso de Flores”, com a inscrição “Roubado”, em italiano, inglês e alemão, e uma curta legenda explicativa que recorda aos visitantes que “foi roubada por soldados do exército nazi, em 1944, e encontra-se hoje numa coleção alemã privada”.

2 Jan 2019

Especial 2018 | Cultura: Um oásis no deserto

[dropcap]S[/dropcap]e por um lado há muito a apontar à cultura ou à falta dela no território, por outro é pertinente salientar o que consegue vingar, tratando-se de um lugar que por princípio lhe é hostil. Onde param as demonstrações culturais, sejam elas de que origem forem, num pequeno território governado por casinos e turistas consumidores de cosméticos?

A cultura é uma espécie de oásis que consegue, quase despercebida, emergir, lutando contra as forças de um deserto de gente poderosa que não quer saber dela. Apesar das dificuldades, há áreas que são de destaque e que, gradualmente, assumem um lugar digno, apesar de muitas vezes negado.

Neste ano que chega ao fim, a sétima arte ocupa o pódio no que respeita a cartazes, e mais importante, na sua capacidade de chamar as pessoas às salas da cidade.

Mas vejamos.

Macau conseguiu levar avante um festival internacional de cinema, que mais parecia ter nascido morto. O que parecia impossível, acabou por acontecer. Depois de uma primeira edição que nada tinha de auspicioso, o evento não só se manteve como, dois anos depois, nesta terceira edição, se conseguiu afirmar. Mais: conseguiu mostrar que não era mais um. Conseguiu garantir que podia ser bom. Mike Goodrige e Helena de Senna Fernandes estão de parabéns. O cartaz não desiludiu. Filmes como “Roma”, “Diamantino”, “A favorita” ou “The green book” foram exibidos por cá depois de passarem em ecrãs como Cannes, Berlim ou Veneza e antes de serem nomeados para os melhores dos óscares ou do ano.

Festival com público

Além do que está na tela, parece que o evento está a conquistar o público. Se na estreia, em 2016, as salas estavam tristemente vazias, com o andar das edições os auditórios do Centro Cultural de Macau, da Paixão e da Torre esgotam, ou se isso não acontece, estão pelo menos bem compostos por públicos diversos, reflexo de quem cá mora.

O festival é pontual, mas a cinemateca Paixão é presença permanente e nome a considerar para quem gosta da sétima arte. Apostada e convicta em manter uma programação que nem sempre é para todos os gostos, mas que sem duvida inclui os filmes de referência a nível internacional, a Paixão aqui salta poros fora e mostra-se. O grande ecrã é acarinhado regularmente com uma programação de luxo, não só para Macau, mas que poderia estar em qualquer cartaz de uma cidade internacional. Ali, na Travessa homónima, aquela sala pequenina peca por não ser a dobrar ou a triplicar.

Celebrado o primeiro ano de actividade da Cinemateca em 2018, a dupla de programadores Rita Wong e Albert Chu merece os parabéns. Por ali passaram filmes de animação, documentários, curtas e independentes. Houve espaço para o mundo com ciclos dedicados ao cinema do Estados Unidos ou de Portugal. Deu-se destaque a alguns dos melhores realizadores da praça como David Lynch e Kore-eda. Macau e o seu ainda embrionário cinema também teve direito a uma programação própria. Até a gastronomia fez parte de um cartaz na celebração do primeiro aniversário da cinemateca, e não foi preciso andar por aí a falar de capitais de tudo e de nada para juntar sabores e imagens.

Filmes à parte, as demonstrações culturais continuaram a passar obrigatoriamente pelas iniciativas de matriz portuguesa. Acontecem todos os anos e há mesmo quem diga, com ar aborrecido: “Lusofonia outra vez? São João?”. Pois sim, é isso mesmo e é lá que se junta muito do que é a identidade local.

As casas da Taipa e a zona de São Lázaro voltaram este ano a ser palco de encontros, os do costume e outros, com as comunidades que partilham desta terra. Trazem o sabor da sardinha, trazem música do mundo ou do arraial. Trazem o que Macau é: esta mescla de gentes, que deve ser respeitada e recordada.

Música para si

E como estamos a falar de oásis no deserto, é tempo de falar de música. O festival de música de Macau é uma referência que se mantém, já faz parte do protocolo. É bom, mas não chega.

Apesar das queixas dos vizinhos, a Live Music Association (LMA) continuou a ser a alternativa para quem quer marcar o quotidiano com uma ida a um concerto. Num deserto de opções, o 11º andar da Coronel Mesquita conseguiu, durante mais um ano, abrir portas e arriscar. Entre uma programação semanal, Vincent Cheang consegue ter ali espaço para a diversidade, consegue ter “O gajo” a tocar viola campaniça, os “Re-Tros” com as sonoridades pós-punk de Pequim, as bandas dos países nórdicos europeus com minimalismos tecnológicos, o punk dos “Lonely Leary”, o rock, o jazz e até o cabaret. Bem-haja.

Por outro lado, e com agenda marcada uma vez por ano, o “This is My City” (TIMC) também fez a sua parte nisto de trazer música aos de cá. O evento usou efectivamente o território como um local onde a cultura musical do continente se apresentou a par com sons de Portugal e locais. Sem utilizar a palavra bem-amada dos governantes – plataforma – o TIMC concretiza de alguma forma este objectivo. Não é preciso dizer nada, é preciso fazer. O TIMC fez.

Também sem precisar de etiquetas e chavões, destacou-se mais uma vez o Festival Literário Rota das Letras, um espaço em que convergem as literaturas do mundo e que na edição deste ano acabou por ser assombrado pela impossibilidade da presença de alguns autores “controversos” – Jung Chang, James Church e Suki Kim – o que valeu a demissão do seu director artístico Hélder Beja. Ainda assim, o Rota das Letras foi o evento literário do ano – e único – que junta géneros e autores, e isso ninguém lhe tira.

O teatro, por seu lado, manteve-se escondido nas vicissitudes linguísticas. A culpa não é dele. Não é de ninguém. Mas além do que vem de fora, o que se fez por cá continua a carecer de uma divulgação multilingue capaz de levar outras comunidades a ver as peças do Teatro experimental ou a assistir a uma encenação da Comuna de Pedra.

As faltas são ainda muitas no que respeita a iniciativas culturais neste pequeno território, é um facto. Mas no final de mais um ano em que houve tantos a fazerem o que podiam, é necessário o devido reconhecimento. Não é fácil ser terreno fértil em solo contaminado.

2 Jan 2019

Cinema | Início de 2019 celebrado com tributo à actriz japonesa Kirin Kiki

Kirin Kiki, a actriz japonesa que morreu no passado mês de Setembro, aos 75 anos, vítima de cancro, é homenageada pela Cinemateca Paixão no ciclo de cinema que vai abrir 2019. Já a partir de dia 1 vão ser exibidos quatro filmes em que Kiki é protagonista e entre eles está o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano, “Larápios”

 

[dropcap]O[/dropcap] ano de 2019 abre na cinemateca paixão com um programa especial de dicado à actriz japonesa Kirin Kiki, falecida no passado mês de Setembro e uma das protagonistas do grande vencedor de Cannes deste ano “Larápios”

A homenagem tem início logo no dia 1, pelas 19h30 com a exibição de “An”, um filme de 2015 realizado por Naomi Kawase.

Uma presença assídua em Cannes, Naomi Kawase abriu o evento “Un Certain Regard” em 2015 com este drama gastronómico que conta a história de Sentaro. O protagonista vive uma vida tranquila cozinhando dorayaki – um pastel com recheio doce de pasta de feijão vermelho – de qualidade medíocre numa pequena pastelaria suburbana. Um dia, uma simpática idosa chamada Tokue (Kirin Kiki) começa a trabalhar na loja de Sentaro. Consigo, Tokue traz uma receita caseira do mesmo pastel. A dupla improvável acaba por estabelecer uma parceria de sucesso e por dar um novo sentido à vida de cada um. De acordo com a apresentação da Cinemateca Paixão “An” “é um gentil drama humanista, apresentando poeticamente as visões de Naomi sobre a vida e o mundo”.

A An segue-se, no dia 4 pelas 19h30, um dos filmes de referência de Hirokazu Kore-eda, “Depois de tempestade”. Nomeado para o Prémio “Un Certain Regard” no Festival de Cannes 2016, para o Melhor Cinematógrafo no Prémios de Cinema Asiático 2017 e para Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Chicago 2016, a película traz a Macau mais um drama familiar.

Ryota, um escritor de renome e falido que se sustenta a ele e ao filho com um trabalho paralelo enquanto detective privado, após a morte do pai, consegue reconciliar-se com a sua mãe e com a ex-mulher. No apartamento onde vivia em criança, redescobre o passado da família e procura as suas origens. Kirin Kiki, é a matriarca Yoshiko, uma mulher idosa conhecida pelas tiradas sarcásticas e pelo olhar crítico ao mundo.

 

Ladrões premiados

O dia seguinte é o momento para ver o filme galardoado em Cannes este ano com a Palma de ouro e a última obra do realizador Hirokazu Kore-eda “Larápios”. Mais um drama familiar de Kore-eda que conta a história de uma família que sobrevive à conta de pequenos roubos. No entanto, após uma das suas sessões de furto, Osamu e o filho encontram uma menina, abandonada ao frio. De início relutante em dar abrigo à rapariga, a esposa de Osamu e matriarca da família concorda em tomar conta dela. Apesar de pobres, mal conseguindo o sustento com os furtos que fazem, parecem viver felizes e com a nova presença em casa começam a ser desvendados os elos que podem unir as pessoas, sendo ou não de sangue. De acordo com o realizador quando recebeu o prémio em Cannes, “existem formas variadas de formação familiar que não passam por laços de sangue, mas que envolvem algum ideal de honra”, disse Kore-eda. “Existe intolerância demais neste mundo. Eu quis filmar a caridade”, apontou.

A fechar a homenagem à actriz japonesa, fica a exibição de “Crónica da minha mãe” de Masto Harada.

Em 1975, o escritor Inoue Yasushi compilou três contos autobiográficos num único romance que segue a sua relação, por vezes tensa, com a mãe que sofre de demência, durante os últimos anos da sua vida. O filme é uma adaptação do romance que traz temas como o abandono, o ressentimento e o declínio, e em que Kirin Kiki interpreta a idosa que se debate com a lenta perda das memórias que amava.

28 Dez 2018

Cinema | Cinemateca Paixão apresenta três destaques de Cannes 2018

A Cinemateca Paixão assinala a época natalícia com a projecção de três filmes destacados no Festival de Cannes deste ano. “Girl”, “Sorry Angel” e “Asako I & II” são as propostas para ver até ao próximo dia 30

[dropcap]A[/dropcap] época natalícia está a ser assinalada na Cinemateca Paixão com a exibição de três filmes de referência. O vencedor da Queer Palm e do Prémio FIPRESCI no Festival de Cinema de Cannes 2018, “Girl” pode ser visto no grande ecrã diariamente até ao próximo dia 30 nas sessões das 19h30, à excepção de sábado que conta com uma projecção às 16h30.
“Girl” traz a história de Lara, uma adolescente de 15 anos determinada em tornar-se bailarina profissional. Com o apoio do pai, lança-se nesta demanda mas as frustrações e impaciência próprias da idade aumentam quando percebe que o seu corpo não se adapta com facilidade à severa disciplina a que é sujeita por ter nascido rapaz.
O drama é realizado por Lukas Dhont, um jovem cineasta formado na academia artística KASK. As suas curtas “Corps Perdu” e “L’Infini” ganharam vários prémios, no festival de Cinema de Ghent e no Festival Internacional de Curtas Metragens de Lovaina. Em 2016, “Girl” foi escolhido para projecto de realização da Cinéfondation de Cannes, tendo sido premiado.

Paris revisitado

Hoje, às 19h30 e domingo às 16h30 é a vez de “Sorry Angel” do francês Christophe Honoré ser apresentado em Macau. Nomeado para a Palma d’Ouro e Queer Palm em Cannes, este ano, “Sorry Angel” conta com as interpretações de Pierre Deladonchamps, Vincent Lacoste e Denis Podalydès num argumento que recorda a França dos anos 90 em que um encontro inesperado muda drasticamente a vida de Arthur, um jovem intelectual estudante de cinema vindo da província e de Jacques, um escritor mais ou menos famoso baseado em Paris. O filme semiautobiográfico, recria uma França da década de 1990 e “ilustra ternamente como, naquele tempo, se aprendia a viver e amar no momento, mas também a dizer adeus e enfrentar a perda daqueles que se amava”, refere a Cinemateca Paixão na apresentação da película. Por outro lado, “’Sorry Angel’ equilibra a esperança no futuro e a agonia do passado num drama inesquecível sobre uma busca pela coragem de amar no momento”, acrescenta a mesma fonte.
O realizador Christophe Honoré é um romancista francês que acabou por se tornar realizador e argumentista. Após os estudos universitários em Rennes, combinou várias actividades ao mesmo tempo: crítico de cinema (para Les cahiers du cinéma) e foi argumentista e escritor de livros para crianças e adultos. O seu primeiro filme, “Dezassete Vezes Cécile Cassard”, tornou-o num autor de cinema francês em ascensão. As obras de Honoré inspiram-se sobretudo em Paris, no cinema francês e na política LGBTQ, na representação da morte e do desejo sexual e nas próprias ligações entre os seus filmes. “Sorry Angel” marca o regresso do realizador à competição em Cannes, 11 anos depois de “Canções de Amor”.

Japão contemporâneo

“Asako I & II” é a proposta da programação “especial Natal”, com apresentação marcada para sábado às 21h30. O filme do japonês Ryusuke Hamaguchi é a adaptação do romance homónimo de Tomoka Shibasaki, vencedor do Prémio Akutagawa e traz ao ecrã um drama romântico que segue as desventuras de Asako, uma estudante de Osaka que se apaixona à primeira vista por Baku, um rapaz misterioso e temerário. Dois anos após o súbito desaparecimento de Baku, Asako muda-se para Tóquio de coração desfeito. Lá, conhece Ryuhei, um gentil e fiável empregado de uma empresa que se parece exactamente com Baku, mas sem qualquer semelhança com a sua personalidade desenfreada. De repente, Asako encontra-se apanhada entre dois amores.
Ryusuke Hamaguchi nasceu em Kanagawa em 1978. Formou-se na Escola Superior de Cinema e Novos Media da Universidade das Artes de Tóquio. Em 2013 realizou “Touching the Skin of Eeriness” e, em 2015, “Happy Hour” com uma duração de mais de cinco horas em que conta a vida de quatro raparigas ligadas por uma frágil amizade no momento em que uma delas desaparece. O filme foi premiado duas vezes no Festival de Locarno. A sua mais recente película “Asako I & II” competiu pela Palma d’Ouro 2018. É conhecido como o mais contemporâneo dos realizadores japoneses depois de Koreeda Hirokazu e de Naomi Kawasaki.

27 Dez 2018