Sofia Margarida Mota EventosOrquestra de Macau | Programa de concertos já é conhecido Kyung Wha Chung, Stefan Vladare e Henning Kraggerud são apenas alguns dos nomes que vão acompanhar a Orquestra de Macau na próxima temporada de concertos. O programa foi divulgado ontem e dele constam espectáculos de música clássica para todos os gostos e idades [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão mais de 25 os espectáculos que vão preencher a próxima temporada de concertos da Orquestra de Macau (OM). A apresentação do programa aconteceu ontem e hoje os bilhetes já estão à venda, sendo que até dia 31 de Agosto, os interessados podem usufruir de um desconto de 40 por cento. A iniciativa tem como tema, nesta edição, “Confraternizando com a alegria musical” e conta com actividades distribuídas por cinco categorias: “virtuosos extraordinários”, “maestros com carisma”, “produções especiais”, “viagem de câmara” e “gala de ópera”. São quatro os espectáculos inseridos na categoria “virtuosos extraordinários”, que têm início com o concerto de abertura da temporada. Marcado para o dia 2 de Setembro, conta com Kyung Wha Chung. “A rainha do violino”, assim é designada pela organização, traz ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) o Concerto para Violino em Ré Maior, Op. 61, de Beethoven, e de Brahms a Sinfonia nº 4 em Mi menor, Op. 98. Na mesma categoria, a temporada segue a 20 de Janeiro com “três gigantes da música alemã e austríaca – Beethoven, Brahms e Bruckner”, num espectáculo que conta com o pianista Stefan Vladar. A 10 de Março o palco do CCM vai acolher três peças de Dvorak. O intérprete convidado é o violoncelista Mario Brunello, vencedor do concurso internacional Tchaikovsky. A categoria fecha a 22 de Maio com o concerto que junta o compositor, maestro e violinista escandinavo Henning Kraggerud à OM. De acordo com a organização, o concerto mistura “as montanhas íngremes, os belos fiordes e os misteriosos glaciares daquela zona do norte da europa”. A ideia de trazer a Macau o “autêntico som da Noruega” com obras como a “Suite de Holberg”, de Grieg, a “Suite em Lá menor”, de Christian August Sinding, e “Danças Norueguesas”, de Johan Halvorsen. O concerto reserva ainda uma peça do próprio Henning Kraggerud: “O Equinócio”. Tratando-se do centésimo aniversário do nascimento do maestro e compositor americano, Leonard Bernstein, o maestro local Lio Kuokman é o convidado para assinalar a efeméride com um concerto a seu cargo. A organização destaca ainda o espectáculo que conta com a violinista nascida na Alemanha, de origem sul coreana, Clara Jumi Kang, e o concerto de final de temporada com a OM a interpretar a “Sinfonia nº 9”, de Beethoven. Para os miúdos Na categoria das produções especiais, o Instituto Cultural continua a chegar aos mais jovens. A 30 de Junho a organização promete levar o público numa “jornada heróica, diferente de qualquer coisa que já ouviu ou, na verdade, viu”. A organização refere-se à peça “Heróis: uma sinfonia de jogos electrónicos” que apresenta a música de alguns dos jogos electrónicos mais populares incluindo “ The elder scrolls”, “BioShock” e o “Halo”, entre outros. O concerto é acompanhado de imagens projectadas de modo a ser “uma apresentação imersiva”. Para os bebés que ainda não nasceram, tem lugar, a 17 de Março, um concerto em que são interpretadas obras de Mozart, Haydn e Prokofiev numa apresentação especialmente concebida para as futuras mães. A ideia, afirma a organização, é que seja “a primeira experiência musical do bebé”. O Dia Mundial da Criança não foi esquecido e a 2 de Junho, em colaboração com o grupo de teatro infantil Ratão, a OM apresenta “Terra de fadas e magia sinfónica”. A ideia é combinar música, dança e teatro de modo a despertar a curiosidades dos mais pequenos. Do programa destaca-se também a deslocação da OM à comunidade. Neste sentido a orquestra desloca-se às escolas, desde o ensino primário ao superior com eventos musicais especificamente concebidos para cada um destes públicos. A OM vai ainda continuar a dar concertos nos locais classificados como património. De acordo com a organização, é uma forma de “criar experiências musicais únicas num ambiente de encontro entre o oriente e o ocidente”. De modo a estar mais perto da comunidade vão continuar, à semelhança dos anos anteriores, os espetáculos que levam a música clássica à galeia da Tap Seac, à biblioteca e ao museu.
Hoje Macau EventosFotógrafo de Macau participa em acção solidária sobre incêndios de Pedrógão Grande [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau, é um dos nomes que participa com imagens suas na acção “Uma Imagem Solidária”, que consiste na entrega de um donativo aos bombeiros em troca de imagens captadas pelas lentes de fotojornalistas e outros fotógrafos profissionais. A iniciativa decorre esta semana no Museu das Telecomunicações, em Lisboa. António Falcão, fotógrafo que viveu em Macau, também é um dos participantes. As imagens captadas por quase 200 fotojornalistas e outros fotógrafos profissionais podem ser vistas e trocadas por donativos, por um valor mínimo de 20 euros (184 patacas), na quarta-feira, a partir das 18h00, e na quinta-feira, a partir das 10h00, disse à agência Lusa o mentor da iniciativa, o fotojornalista António Cotrim. O que começou por ser uma acção de fotojornalistas, sob o lema “o melhor de cada um de nós para o melhor de todos nós”, estendeu-se a outros profissionais da fotografia, “que se mostraram interessados em participar”, contou o fotojornalista da agência Lusa. “Nesta altura de solidariedade não deve haver barreiras entre fotógrafos com e sem carteira de jornalista, deve haver união”, referiu o fotojornalista. As imagens, de tema livre, serão impressas no formato 30x40cm. Algumas fotografias, adiantou António Cotrim, chegaram de Macau, da China, da Alemanha, de França e do Brasil. Na página da iniciativa na rede social Facebook já foram sendo divulgadas algumas das imagens que estarão disponíveis para venda por um valor mínimo “simbólico, que não paga o trabalho de quem fotografou, que tenta ir ao encontro do maior número de participantes”. Dois grandes incêndios começaram no dia 17 de Junho em Pedrógão Grande e Góis, tendo o primeiro provocado 64 mortos e mais de 200 feridos. Foram extintos uma semana depois. Estes fogos terão afectado aproximadamente 500 habitações, 169 de primeira habitação, 205 de segunda e 117 já devolutas. Quase 50 empresas foram também afectadas, assim como os empregos de 372 pessoas. Os prejuízos directos dos incêndios ascendem a 193,3 milhões de euros, estimando-se em 303,5 milhões o investimento em medidas de prevenção e relançamento da economia.
João Luz EventosIntercâmbio | Fundo Nacional das Artes financia 3 mil projectos em Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] intercâmbio cultural entre Macau e China na formação de artistas e quadros especializados da área cultural são alguns dos objectivos de interesse do Executivo no âmbito do Fundo Nacional das Artes. Nesse sentido, Alexis Tam reuniu-se com a vice-presidente e secretária-geral do organismo, Zhao Shaohua na sede do Governo. O Fundo Nacional das Artes foi criado em 2013 com o objectivo de fomentar o desenvolvimento da criatividade artística, promover os artistas que tenham trabalhos de grande qualidade, assim como formar quadros qualificados na área da produção artística. Desde a sua génese, o fundo financiou mais de três mil projectos em Macau, incluindo programas de cooperação cultural e artística, envolvendo um montante investido de quase 3 mil milhões de patacas. Zhao Shaohua afirmou que a sua visita a Macau tem em vista o reforço da cooperação com o Governo da RAEM, assim como com as associações cívicas locais. Pretende também prestar o apoio necessário ao desenvolvimento e promoção de criações artísticas de Macau e formar pessoal no sector. Alexis Tam focou a sua intervenção no que está a ser realizado no território, nomeadamente no pacote de medidas do Executivo para promover a cultura e o intercâmbio entre a China e os países de língua portuguesa. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura recomendou que sejam realizadas acções de formação de jovens artistas locais e quadros técnicos na China. O coordenador adjunto do Centro de Gestão do Fundo Nacional das Artes, Wang Yong, adiantou que os formandos recomendados pelo Executivo serão bem recebidos e assegurou apoio às intenções de Alexis Tam. Além disso, foi mencionado que o Fundo Nacional das Artes tem toda a disponibilidade para apoiar e promover óperas locais com características históricas e culturais típicas de Macau na China e no exterior.
Sofia Margarida Mota EventosMartim Moniz | O portal que une comunidades O Portal Martim Moniz é uma plataforma portuguesa que presta serviços de ligação entre chineses e portugueses. Do ensino de línguas ao apoio logístico, os serviços são actualmente fundamentais num momento em que China e Portugal estreitam laços [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]xiste em Portugal uma plataforma que une as comunidades portuguesa e chinesa, o Portal Martim Moniz. Além de proporcionar informação bilingue de actualidade com interesse para públicos de ambos os países, fornece uma série de serviços com potencial para a integrar a comunidade chinesa em Portugal. “O Portal é uma plataforma digital de intercâmbio cultural entre Portugal e a China, cujo objetivo é dar conhecer Portugal aos chineses e a China aos portugueses”, resume a directora executiva, Sara Costa. A vertente informativa é a mais visível da plataforma, mas são os serviços, nomeadamente relativos à língua, que representam uma maior procura. “Temos um Centro de Língua Chinesa e um Centro de Tradução e Interpretação de modo a optimizar a comunicação entre as comunidades”. O objectivo, afirma, é o fomento do intercâmbio cultural entre os dois povos. Aprendizagem de línguas é, neste momento o serviço mais procurado e em particular o ensino do português a chineses. “É uma oportunidade de aprender português com professores qualificados para o ensino de PLE (Português Língua Estrangeira) e que possuem também um total domínio do mandarim”, diz Sara Costa. O contrário também acontece e, de acordo com a directora, são cada vez mais os empresários portugueses a procurar formação em mandarim. Estudantes do ensino secundário e universitário também integram estas formações, bem como alguns curiosos acerca da língua e cultura chinesa. Para a responsável, a existência do portal é fundamental no momento actual de relações que os dois países vivem. “A plataforma surge numa altura especialmente próspera das relações Portugal-China. Esta é uma história que tem mais de 500 anos, uma vez que os portugueses chegaram à China no início do século XVI. Nos últimos anos temos vindo a assistir a um reforço dos investimentos chineses em Portugal, nomeadamente no sector da energia, dos seguros, da banca, do imobiliário, entre outros”. Sara Costa não deixa de sublinhar o desenvolvimento de relações entre os dois países também no sector do turismo, sendo que “Portugal foi um dos primeiros países a estabelecer um acordo estratégico com a República Popular da China definindo, a posteriori, diretrizes para cooperação no turismo”. “O acordo estratégico assinado em 2005 é sobretudo uma declaração de intenções passada a escrito que a China adotou para privilegiar alguns países com quem tem melhores relações e que começou a ter repercussões mais visíveis a partir de 2010”, explica Sara Costa. Integração inevitável A comunidade chinesa em Portugal já está, se acordo com responsável, enraizada. “Se, por um lado, continuamos a ver comunidades um pouco fechadas entre si nos negócios mais tradicionais desta comunidade, por outro vemos já a segunda geração a integrar-se nas nossas escolas, atividades e sociedade civil”. Por outro lado, refere, os sectores de trabalho a que se dedicam são também cada vez mais diversos. Para Sara Costa as relações entre os dois países estão a passar “uma das melhores etapas” e a existência deste tipo de trabalho é cada vez mais importante.
Sofia Margarida Mota EventosJoalharia | Começa amanhã mais um ateliê na Casa de Portugal Tem início amanhã mais um conjunto de dois ateliês de formação na arte da joalharia. A iniciativa, promovida pela Casa de Portugal em Macau, é aberta a todos e ensina a dar os primeiros passos na criação de peças únicas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] formação tem início amanhã para os estreantes na arte de fazer jóias. No dia 19 o ateliê continua, agora destinado aos interessados que já têm um nível mais avançado no ofício. Trata-se da formação em joalharia a cargo da Casa de Portugal, monitorizada por Cristina Vinhas. “A ideia é dar a conhecer aos interessados o que é a joalharia”, diz a formadora ao HM. “No nível inicial, a intenção é dar as bases para que as pessoas comecem a perceber o comportamento dos materiais, nomeadamente dos metais latão e prata, porque são aqueles em que trabalhamos mais”, explica. No nível inicial o trabalho é essencialmente em latão. “O objectivo é que nesta primeira aprendizagem não exista um grande desperdício de material”, explica a formadora, sendo que no segundo nível já se começa a trabalhar com a prata. No entanto, há casos em que, porque o formando já apresenta conhecimentos acerca dos materiais, Cristina Vinhas permite que as pessoas trabalhem em metais mais nobres. A razão da cedência, aponta, é por serem da preferência dos alunos. “Há um pouco aquela ideia de que uma jóia é em ouro ou em prata”, mas, actualmente, essa ideia estará a mudar. O conceito de joalharia é, porém, muito vasto. Para Cristina Vinhas, que trabalha na área há vários anos, a criação de uma peça é definida essencialmente pela sua elegância. “Pode ser uma peça muito simples e é igualmente uma jóia, porque uma jóia não é definida pela quantidade de diamantes ou de brilhantes que a peça tem. Tem que ver, essencialmente, com a sua forma e design”, sublinha. Além dos metais, as formações integram também o trabalho com outros materiais. Cristina Vinhas trabalha, nos ateliês, o uso do sisal, de madeiras e resinas. “De momento estou também a trabalhar muito os acrílicos, vidros e sedas e mesmo casulos dos bichos da seda, um material que, penso, tem muito potencial”, acrescenta a formadora. Liberdade para criar As formações em joalharia dirigidas por Cristina Vinhas são essencialmente caracterizadas pela liberdade criativa. “Os formandos vêm com interesses diferentes e querem fazer diversos tipos de peças, e por isso não imponho nada, cada um desenvolve o seu trabalho dentro daquilo que mais gosta”, explica a formadora. O mesmo acontece com os materiais a trabalhar. De acordo com Cristina Vinhas, este também é o objectivo das formações promovidas pela Casa de Portugal. “Não estamos a falar de um curso curricular e o interesse destes ateliês é precisamente o facto de não limitarem as pessoas e serem um espaço em que podem fazer o que mais gostam”. A responsável já monitoriza a formação da Casa de Portugal em joalharia há oito anos e sublinha a diversidade de alunos que tem vindo a ter, sendo que “é uma formação para todos e temos tido muitas pessoas de várias classes e nacionalidades”. Muitos portugueses, macaenses, chineses vietnamitas e mesmo gregos têm aprendido a fazer jóias com Cristina Vinhas. Esta diversidade tem uma razão evidente: “Macau é um lugar cosmopolita, com muitas culturas e etnias, e os cursos acabam por também acolher muita gente diferente”, refere a responsável. Apesar do empenho, a responsável não vê evolução na área da joalharia no território. “Há muita coisa ainda para desenvolver. No entanto, já esteve pior.” A formadora considera que começa a existir algum interesse e menciona algumas formandas que teve, que continuaram o seu trabalho com estudos em Londres e que agora já desenvolvem as suas peças de autor. “Não estamos a falar de alta joalharia, mas sim de joalharia contemporânea, e o desenvolvimento deste sector em Macau é um trabalho necessário”, remata.
Hoje Macau EventosOito filmes integram evento “Cinema InspirARTE em Festa” [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão oito filmes dedicados aos mais novos que integram a edição de “Cinema InspirARTE em Festa”. A organização, a cargo do Centro Cultural de Macau (CCM), aposta na projecção de filmes dirigidos a crianças e adolescentes. A ideia, lê-se no comunicado enviado à comunicação social, é “retratar uma diversidade de vivências e realidades sociais, captando diferentes culturas em registos cinematográficos”. “O primeiro contacto das crianças com o cinema dá-se geralmente através das narrativas simples e emotivas dos filmes de animação”, escreve o CCM. Neste contexto, a mostra de cinema conta com a apresentação de “Molly a Monstrinha”, uma história contada da perspectiva de uma menina que vai ter uma irmã mais nova, e “Bailarina”, uma “animação que utiliza tecnologia da Pixar e segue a história de uma criança que vai em busca dos seus sonhos”, refere a organização. O autismo é abordado no filme “A Vida Animada”. A película conta a aventura de um menino que volta a ligar-se ao mundo através das longas-metragens da Disney, dando relevo ao poder do cinema na vida da criança. Nomeado para os Óscares deste ano, o filme utiliza uma mescla de animação e documentário para contar “uma história estimulante”. Realizado por Roger Ross Williams, “Vida Animada” obteve o galardão para Melhor Realização, na categoria de Documentário, no Festival de Cinema Sundance de 2016. Documentários e comédia Já o documentário “Aterro Filarmónico” segue um grupo de jovens paraguaios que constroem instrumentos musicais a partir de lixo e com eles formam uma orquestra. Dirigido por Favio Chavez, um director musical sonhador, o grupo é subitamente lançado para a ribalta global, aterrando num mundo desconhecido de espectáculos esgotados. A mostra reserva ainda espaço para a comédia com o filme de fantasia alemão “Socorro! Encolhi a Professora”. A festa cinematográfica prossegue com o cinema da Coreia do Sul. “Mundo Nosso” é uma história que retrata a amizade entre duas meninas, e “A Caixinha do Papá”, filme taiwanês, é “sobre a viagem catártica de uma família após a morte do pai”. O filme “O Grande Dia” é um retrato de quatro crianças de origens e percursos diversos que se vêem forçadas a reformular as suas vidas, ao mesmo tempo que cortam com as barreiras de classe, género e religião para afirmar a sua independência. Os bilhetes para os filmes do “Cinema InspirARTE em Festa”, que decorre entre 4 e 6 e de 25 a 27 de Agosto, já estão à venda nas bilheteiras do CCM e aos balcões da Rede Bilheteira de Macau.
Isabel Castro EventosPortugal | Exposição de Sofia Bobone é hoje inaugurada A artista plástica Sofia Bobone inaugura hoje a sua primeira exposição de pintura em Portugal. Por convite da Câmara Municipal de Odivelas, estão expostos mais de 30 quadros. São mulheres, animais e pinturas abstractas numa abordagem múltipla da obra da artista [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o início, não era a pintura. Mas passou (também) a ser porque houve mais tempo, houve tempo para aprender. Sofia Bobone, designer, expôs há um par de anos em Macau os seus primeiros quadros e houve quem tivesse achado que a obra deveria ser levada até Portugal. O convite partiu da Câmara Municipal de Odivelas e o trabalho de sete meses, feito a pensar nesta exposição, pode ser visto a partir de hoje. O desafio que lhe foi colocado, diz Sofia Bobone, teve o condão de a obrigar “a trabalhar muito”. A grande maioria das telas que levou para Portugal foi feita a pensar em “O Corpo e a Cor”, nome escolhido para a mostra. Entre os 33 quadros, apenas dois tinham sido já expostos. Os quadros dividem-se em três partes. “Foi-me pedido que trouxesse várias coisas. Como é a primeira vez que exponho em Portugal, seria melhor mostrar a variedade do que tenho feito”, explica. Assim, podem ser observados quadros sobre a figura feminina, outros sobre animais – veados e cavalos – e trabalhos abstractos. “Não tenho um estilo em que só faça uma coisa”, justifica a pintora. “Comecei há pouco tempo e estou a aprender, a explorar técnicas e estilos novos, e tenho estado sempre a variar.” Há, no entanto, uma linha transversal a esta variedade: a cor. “É muito à base de cor. Todos os quadros têm cores vivas”, aponta. “Por exemplo, nos quadros com figuras femininas e nos dos animais exploro como a cor se reflecte. As mulheres são, na sua maioria, azuis, mas não são quadros abstractos, são completamente figurativos. Percebem-se as formas todas e como a cor pode incidir nelas.” Para ficar Apesar de continuar a fazer trabalho como designer gráfica e também como designer de jóias, Sofia Bobone tem dedicado mais tempo à pintura, “um desafio enorme” que a deixa “muito contente”. As telas e os pincéis surgiram numa altura em que ficou sem trabalho e, por isso, com o tempo que ainda não tinha conseguido para se dedicar a um projecto antigo. Mas foi preciso ultrapassar outra barreira. “A pintura sempre foi algo que quis muito fazer, mas tinha medo de falhar, de não conseguir e de não fazer bem. Depois perdi o medo. Não sei se é da idade”, diz. “Pensei em experimentar e comecei a ter aulas com [o artista plástico] Lao Sio Kit. Ele encorajou-me muito e disse-me que tinha potencial. Fez-me acreditar e, a partir daí, continuei.” Sofia Bobone continua a frequentar o ateliê livre dado por Madalena Fonseca. O trabalho de design não ficou para trás: é uma actividade a que se dedica a tempo parcial. “Dá para poder continuar a pintar. Como sou eu que faço a gestão do meu tempo, posso fazer as três coisas: design gráfico, de jóias e pintura.” Concentrada agora na exposição de Portugal, Sofia Bobone não tem planos concretos para novos projectos em Macau. Mas deixa, desde já, uma garantia. “Quero continuar a pintar e, mesmo sem ter uma exposição à vista, vou continuar a desenvolver trabalho. Tenho de me mexer porque isto de ser artista é bonito, mas as pessoas têm de ir à procura de sítios para expor e encontrar pessoas para mostrar o seu trabalho.” O plano da artista passa por aqui. A pintura chegou para ficar.
Hoje Macau EventosPintura | Os sentidos de Denis Murrell [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] inaugurada na próxima segunda-feira uma exposição de Denis Murrell. “Para Baixo e Para Cima” está integrada no Projecto de Promoção de Artistas de Macau, uma organização da Fundação Macau (FM) que conta com a colaboração da Fundação Rui Cunha. Em comunicado, a FM explica que a mostra reúne mais de 30 obras de Denis Murrell. Na cerimónia de inauguração será lançada uma publicação com o mesmo título da exposição. Denis Murrell nasceu em Upper Ferntree Gully, nos arredores de Melbourne, na Austrália, em 1947. Vive em Macau desde 1989. Antes de se mudar para o território, foi durante 14 anos professor de inglês na Papua Nova Guiné e na Austrália. Em 1995, o artista ganhou o 1.º Prémio de Pintura Ocidental na II Bienal de Arte de Macau. No ano seguinte, a sua obra “Ambos” ganhou o primeiro prémio na categoria de pintura de expressão ocidental na XIII da Exposição Colectiva dos Artistas de Macau. Em 2000, a sua pintura “Fantasia Lunar” ganhou uma medalha de bronze no Concurso de Arte Asiática do Século XX Forte Cup, em Washington. Em 2006, Denis foi seleccionado pela empresa Liquitex como Artista do Mês, tendo sido apresentado no seu website. Em 2012, o Museu de Arte de Macau realizou uma exposição que contou, entre outras peças, com mais de 20 trabalhos que Denis Murrell doara ao longo dos anos ao museu. Considerando-se há muito um artista de Macau, sempre activo, o pintor tem participado em muitas exposições, tanto no território, como no estrangeiro. “Nos últimos anos tem-se dedicado ao ensino, transmitindo aos seus alunos as técnicas do seu estilo particular, que faz uso do acrílico, aguarelas e tinta-da-china, em toda a espécie de papel absorvente”, descreve a FM. A inauguração está marcada para as 18h30, na Galeria da Fundação Rui Cunha. A exposição estará patente até ao próximo dia 26. A entrada é gratuita.
João Luz EventosExposição | Taipei recebe a primeira exposição com temas LGBTQ na Ásia No dia 9 de Setembro é inaugurada “Spectrosynthesis – Asian LGBTQ Issues and Art Now”. Esta é a primeira exposição de arte dedicada a temas relacionadas com a homossexualidade exibida num museu estatal na Ásia [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Formosa continua na vanguarda da luta pelos direitos civis, desta vez com um acontecimento cultural pioneiro no continente asiático: a estreia na museologia asiática estatal de um evento de cariz LGBTQ, a exposição “Spectrosynthesis – Asian LGBTQ Issues and Art Now”. O evento decorre no Museu de Arte Contemporânea (MOCA) e estará patente ao público entre 9 de Setembro e 5 de Novembro, contando com a colaboração de 22 artistas de Hong Kong, Taiwan, Interior da China, Singapura e artistas chineses baseados nos Estados Unidos e no Canadá. Os 50 trabalhos que constituem “Spectrosynthesis” focam-se na confluência de dois conceitos: espectro e fotossíntese. O tema central da exposição é o espectro de luz que pretende iluminar, dar visibilidade, à riqueza cultural e histórica da comunidade LGBTQ. O próprio arco-íris que simboliza o movimento representa o espectro e a diversificação que existente na própria comunidade. A exposição tem quase meio século de criação e foi composta pelo curador Sean Hu, um local de Taiwan. As obras tocam em assuntos como a identidade, igualdade, a propensão dos media para a caça à novidade, opressão social, estigmatização, luxúria, vida e morte. Olhar para fora A exposição que estará patente no MOCA em Taiwan surge no seguimento de uma tendência internacional de visibilidade a um conjunto de comunidades historicamente ligadas às artes, mais normalmente no Ocidente. Ainda este ano, tanto a Tate Modern, como a Tate Britain organizaram mostras de larga escala dedicadas aos feitos artísticos de criadores LGBTQ. Um dos incontornáveis destaques da exposição, que é inaugurada em Setembro, é o trabalho “Muted Situation #5: Muted Chorus”, de Samson Young. O artista de Hong Kong, que usa o som como forma de expressão, apresenta uma performance de palco, uma composição de coro, sem qualquer projecção consciente de notas musicais. Este método permite revelar sonoridades que normalmente não estão incorporadas em composições musicais, tais como as respirações dos cantores, os sons produzidos pelo corpos dos artistas e o barulho das pautas musicais a serem folheadas. Tudo entra na performance, numa peça sonoramente inclusiva. Noutra vertente, o artista de Taiwan, Ho Chun-ming, apresenta uma selecção de 13 quadros intitulada “Man Hole”, cada um com duas composições, que resultaram de uma série de entrevistas conduzidas pelo artista em 2014. Durante as conversas, o pintor convidou os “modelos” a desenharem num pedaço de papel algo representativo da sua vida. Em seguida, o pintor “responde” aos testemunhos em papel preto. A série pretende encapsular em tinta as memórias das pessoas, os desejos, segredos, perdas e explorações. Em comunicado, Pan Sheau Shei, director do MOCA Taipé, refere que “a arte contemporânea deve ser agradável aos sentidos mas, também, responder a assuntos de relevo cultural que permitam o diálogo com o público, abrindo horizontes e entendimento do mundo”. Esta exposição surge numa altura de avanço em termos de direitos civis com a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Taiwan, mais uma vez, pioneiro no contexto asiático.
Hoje Macau EventosMuseu de Arte de Macau apresenta “Ballada –Animamix Arte Contemporânea” [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] inaugurada esta semana, no Museu de Arte de Macau, a exposição “Ballada – Animamix Arte Contemporânea”. De acordo com o Instituto Cultural (IC), a mostra é composta por 46 peças, incluindo animações, vídeos, instalações, esculturas, pinturas a óleo e pinturas ao vivo de grande dimensão. São trabalhos de artistas da China Continental, Coreia do Sul, Japão e Macau. A iniciativa é, assegura a organização, uma representação do “campo emergente da arte contemporânea que se desenvolve no sentido da diversidade cultural, visualização de textos, virtualização surrealista e regionalização transnacional”. A “Bienal de Animamix” teve início em 2007, pretendendo dar a conhecer, através da cooperação e de projectos de intercâmbio, as características estéticas e culturais únicas da arte contemporânea que se desenvolveu sob a influência da animação e da banda desenhada. O MAM participou no evento de arte asiática em 2014, com um projecto subordinado ao tema “Expressão Macau”. “Uma das características de Animamix é um texto narrativo repleto de assombro e mudanças, permitindo que as imagens se tornem numa linguagem visual expressiva”, sublinha o IC. Este ano, a participação do MAM na “Bienal Animamix 2017-2018”, que tem como tema “Ballada”, faz-se ao lado de instituições como a Power Station of Art de Xangai, o Museu de Arte MoA da Coreia e o Centro de Artes Visuais de Hong Kong. Doze artistas e grupos artísticos da China foram convidados para participar na exposição. Quanto aos participantes locais, são eles Lei Ieng Wai, Leong Man Teng e Sanchia Lau. As obras são diversificadas. Quem passar pelo MAM poderá ver “animação de marionetes, imagens aéreas imersivas, animação fosforescente e cenas bizarras criadas com instalações de som mecânicas e itens pré-fabricados”. Diz o IC que “as obras reflectem o pensamento e a representação dos artistas sobre a narração espaço-tempo ou a visão mundial numa perspectiva contemporânea”. Os trabalhos de grande dimensão, em formatos inovadores, serão exibidos no rés-do-chão, primeiro e segundo pisos do MAM, perfazendo uma área total de mais de 1100 metros quadrados. A inauguração está agendada para quinta-feira, sendo que a exposição pdoerá ser vista até 15 de Outubro.
Isabel Castro EventosIsabel Valadão, autora de “O Rio das Pérolas”: “As palavras são o que restará de nós” Viveu aqui na década de 1980, uma passagem de três anos que a marcou. África tinha ficado para trás, Lisboa foi o destino que se seguiu à vida no Oriente. Mais de três décadas depois, Isabel Valadão regressa a Macau através da literatura. “O Rio das Pérolas”, romance recentemente lançado pela Bertrand, conta a história de Mei Lin, uma mulher que existiu e que agora ganha uma nova vida Viveu em Macau durante algum tempo, tendo deixado o território em 1986. Como é que surge este regresso, através da escrita, 30 anos depois? Macau não foi mais uma passagem por um lugar que desconhecemos e que nos desperta curiosidade. Claro que também foi isso. Mas foi, sobretudo, uma etapa importante da minha vida. Angola tinha ficado para trás mas estava sempre presente nos meus pensamentos. Portugal, Lisboa, Cascais tinham apenas sido locais de passagem, apeadeiros impostos pelas circunstâncias. O regresso a Macau por este livro – uma forma de regressar que talhamos à medida dos nossos desejos e não pelos caprichos do tempo – talvez tenha a ver com a saudade mas está, muito certamente, relacionado com a minha formação em História e com o hábito de investigar o que o tempo guardou dos locais, das terras e das gentes por onde passo. Tem obra como romancista sobretudo em torno de África, onde viveu, continente que em muito a marcou. “O Rio das Pérolas” obrigou a uma mudança na geografia. Foi fácil esta transição? Não foi, exactamente, o Continente que me marcou, mas Angola – embora exista uma relação de afecto entre mim e toda a África. “O Rio das Pérolas” é uma memória como são de memórias todos os livros que escrevi – frequentemente romanceadas. Se um dia deste nosso futuro tão incerto me for oferecida a oportunidade de passar por qualquer outro ponto do mundo e por lá me detiver por algum tempo voltarei a sentir-me emocionalmente compelida a investigar e a escrever sobre esse lugar e as suas gentes. A geografia é importante para o contexto. Mas o que é realmente importante são as pessoas, mesmo que algumas delas tenham de regressar da eternidade para as páginas dos romances que vou escrevendo. Em “O Rio das Pérolas”, há uma mulher no centro da narrativa. Convida os leitores para uma viagem entre os anos 1940 e 1960. De onde partiu esta história? Quem é a Mei Lin? Mei Lin existiu na história de Macau. É um personagem que resgatei da vida real e coloquei no meu livro porque é um dos símbolos da mulher chinesa daquele tempo. Provavelmente, dei-lhe o brilho romanceado de uma história de encantar, emprestei-lhe uma personalidade que talvez nunca tenha tido, envolvi-a em mistérios orientais eternamente indecifráveis e ofereci-lhe um coração que ela talvez nunca tenha tido a oportunidade de conhecer. O resto da história é um romance sobre um lugar e as suas gentes… Uma espécie de fresco. Estamos perante uma obra de ficção, mas com uma componente histórica. É licenciada em História de Arte. Sente que a sua obra ganha significado por partir de factos reais? Como é fazer este exercício de encaixe da história e da ficção? Não existe nada na ficção que não seja, tenha sido ou venha a ser um dia uma realidade. Antes de ser historiadora sou, sobretudo, escritora e romancista. Mas é na História que me inspiro. E nela, das gentes desse mundo fora. Não existe nada de mais belo e de mais inspirador para um escritor do que as pessoas que se cruzam connosco num determinado momento ou numa esquina por onde o tempo já passou. Cada um de nós é um templo, tantas vezes misterioso na singularidade das nossas vidas, livros abertos que ninguém lê, exemplos de coragem, de altruísmo, de genialidade que o anonimato esconde na morte e enterra na campa mais profunda. Eu gosto muito de descobrir os heróis do passado e emprestar-lhes por um instante a homenagem que a vida lhes negou. Viveu em vários continentes e teve actividades profissionais completamente distintas. Como é que surge a escrita, no meio de todas estas vivências diferentes? A escrita chega quando tudo o mais se aproxima do fim. Chega-me numa idade mais madura, depois de todas as experiências que a vida me proporcionou. Chega-me também da necessidade de me ocupar e de me manter viva. De me manter, sobretudo, alerta. E da necessidade imperiosa de não esquecer! É a última casa de quem sobe na direcção da saída grande. Tenho 72. Faz investigação na área da defesa e conservação do património. Escrever sobre o passado de locais onde viveu é também, de certo modo, uma forma de preservar outro tipo de património? Sim. O património imaterial que todos nós somos. As nossas palavras são tudo o que restará de nós para as gerações futuras. Sei que tem planos para voltar a Macau nas suas obras. Podemos esperar para breve um novo livro? Provavelmente voltarei a Macau – um dia. Mas o meu próximo romance terá o antigo Reino do Congo como chão. Uma princesa-escrava. Heróis avulsos. Guerreiros, estrategas e generais. Mártires e defuntos. Despojos. Escravatura. Epopeias, algumas que a História esqueceu. E uma história de amor, como não poderia deixar de ser.
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteIrmãos Gao, artistas plásticos: “As nossas criações, para o público, não passam de crítica política” Chamam-se Gao Zhen e Gao Qiang e são conhecidos como os irmãos Gao. Os seus trabalhos já passaram por Nova Iorque, Berlim e Londres. Considerados uma referência da arte contemporânea chinesa, além de políticas, as suas obras são uma reflexão da sociedade actual na China Como é que se começaram a interessar pela criação artística? Foi nas décadas de 60 e 70, no século passado. Quando éramos miúdos já gostávamos de pintar juntos. Fomos directamente influenciados pela nossa mãe que nos questionava acerca do que víamos e do que desenhávamos. Ela era muito boa a recortar papel e os trabalhos que fazia pareciam que lhe saíam naturalmente do coração. O que ela fazia diferenciava-se da cultura folclórica, eram recortes de uma beleza primitiva original. Sem dúvida que, se temos algum talento, o herdámos da nossa mãe. O vosso trabalho é contemporâneo, mas tiveram formação em arte tradicional chinesa. No liceu tínhamos de estudar pintura tradicional. Naquela altura, devido às dificuldades económicas, não pudemos continuar a estudar. Passámos seis anos a trabalhar arduamente ainda muito novos. Na mesma altura começámos a aprender pintura tradicional chinesa de paisagem e a fazer cópias de trabalhos das dinastias Song, Yuan, Ming e Qing, e de alguns autores famosos mais contemporâneos. Acabou por ser uma aprendizagem muito forte e intensa, apesar de não ser académica. Mas porque fazíamos livremente aquilo que nos interessava, acabámos por criar várias obras contemporâneas ainda nessa altura. Como é que essa aprendizagem influencia o vosso trabalho actual? Se olharmos superficialmente para a arte tradicional, podemos dizer que não terá grande influência no que fazemos hoje em dia. Mas na nossa estética há uma ligação, que podemos considerar livre, entre os caminhos da arte tradicional e da arte contemporânea. Esta ligação acaba por ter sempre um papel, mesmo que subtil, no que fazemos. Por exemplo, em 2008, com o trabalho “Never Finished Building, n.º 4”, apesar de não usarmos uma nítida influência no resultado final da imagem, no processo criativo e no efeito criado pela peça, tivemos em conta um trabalho da dinastia Song. Escolhemos uma peça do pintor Zhang, o “Qingming River”, e a experiência que este trabalho nos proporcionava enquanto espectadores. Ambas as peças, a nossa e a tradicional, são um registo do estatuto social e da paisagem cultural na vida de um artista. Ambas reflectem o espírito de uma era. Parece que nós, agora, tal como há 800 anos, não estamos satisfeitos com o papel que o artista tem e queremos deixar um texto visual histórico com o que criamos para as gerações futuras. Os irmãos Gao são uma referência internacional, com trabalhos nas galerias e museus do mundo. Na China, algumas das vossas obras são alvo de censura, mas continuam em Pequim. Já pensaram mudar de país? Estamos na cena artística de Pequim há mais de dez anos. Às vezes sentimo-nos um pouco cansados e pensamos em mudar para Nova Iorque para começar uma nova vida e com ela novas criações. No entanto, também estamos muito conscientes da nossa inseparabilidade da nossa terra e história. São a nossa carne e o nosso sangue, e temos algumas dificuldades em demitir-nos dessa responsabilidade. Por isso, andamos sempre num estado de hesitação entre estes dois lugares, mas continuamos na China. Os vossos trabalhos têm uma componente de intervenção, nomeadamente política. Quais são, para vocês, os aspectos mas pertinentes para abordar na China contemporânea? No Velho Testamento, Isaías já dizia que “a manhã virá e a noite também”. A situação na China não é mais optimista. A nossa criação artística é um meio de expressarmos livremente a nossa resistência política, uma forma de manter a nossa dignidade básica e a nossa salvação. É também a forma de nos envolvermos com o mundo. Uma das vossas obras icónicas é a série de esculturas “Miss Mao”. Criámos a primeira escultura “Miss Mao” em 2006. Foi inspirada num trabalho em vídeo que tínhamos feito em 1998 denominado “BeiBei Mao”. Aliás, no fundo, a nossa desconstrução e crítica da ideologia e do sistema de Mao já tinha começado em 1989. Na altura fizemos várias imagens, não só de Mao, mas também de Marx e Lenine, produzidas em fotocopiadoras. Mas a polémica realmente foi instalada com a imagem de “Miss Mao” que já passou por Londres, Paris, Moscovo, Nova Iorque e Singapura. Nunca foi exibida na China devido à censura. De certa forma, “Miss Mao” é uma metáfora política da sociedade pós-Mao. Superficialmente, parece que, na China, a figura de Mao Zedong já está ausente há muito tempo e muitos dos aspectos que lhe são associados já estão irreconhecíveis mas, de facto, a natureza do sistema e as regras não sofreram grandes mudanças. Infelizmente, as pessoas olham mais para a superfície e conseguem ver algumas mudanças sociais, mas não estão cientes de que a natureza totalitária do sistema continua a mesma. É essa a mensagem da “querida” “Miss Mao”. Criámos também várias séries que podem ser divididas em duas categorias. Uma delas tem uma figura sorridente, quase amorosa e com algum humor. Na segunda categoria acrescentámos um pouco de maldade. No entanto, e comparadas com a brutalidade do regime, estas imagens não se podem considerar ultrajosas. O peito que acrescentámos a Mao tem que ver com a propaganda política que lhe está associada de que alimenta o povo. Há mesmo uma canção de propaganda que diz: “Ponho o partido à frente da minha mãe”. É a mãe Mao que amamenta os seus filhos. Por outro lado, é um Mao mentiroso, daí o nariz da obra. “Miss Mao” não é só uma piada visual, mas sim uma crítica política carregada de ironia. A “Execução de Cristo” também é um trabalho relevante. Porquê esta metáfora? Na “Execução de Cristo” inspirámo-nos numa obra de Manet, por sua vez inspirado na “Noite de 3 de Maio de 1808”, de Goya. O massacre é um tema que também percorre a história da arte. A composição deste trabalho é inspirada nestes autores e a escolha dos personagens, Cristo e Mao Zedong, teve que ver com a nossa experiência pessoal de sobrevivência. Mao foi um dos grandes tiranos do século XX. Mais de dez milhões de chineses morreram devido à perseguição política que fez. O nosso pai foi uma dessas pessoas. Este trabalho revela a violência do ditador contra a natureza humana. O confronto entre Mao e Jesus Cristo corresponde à situação real de oposição aos valores do Ocidente, à liberdade e aos direitos humanos. Na vertente fotográfica, o vosso trabalho é marcado, entre outras obras, pela série “Sense of Space”. É um trabalho em fotografia que aborda o comportamento. Foi feito em 2000 e, através de um armário, metaforizámos a forma como as pessoas se encaixam no seu espaço, no seu isolamento. Um estado de solidão, de depressão e muitas vezes de sufoco. Tem que ver com o viver num estado totalitário, mas também é relativo à forma de viver nas grandes cidades em que as pessoas são espremidas espiritualmente para poderem sobreviver. São multifacetados e trabalham sempre em equipa. Como é que corre esta colaboração? A nossa colaboração é, de facto, muito simples. Se um de nós tem uma ideia, discutimo-la para tentar perceber se tem algum valor. Se ambos sentimos que sim, depois começamos a pensar como é que a podemos concretizar. Se ambos sentimos que não tem valor, normalmente desistimos. Se um de nós acredita muito na ideia, pode avançar individualmente. Estão no 798 Art District, um espaço privilegiado da cena artística de Pequim. Como é que foram para o bairro das artes? Em 2004, juntamente com outros artistas, alugámos um estúdio no 798. Estávamos a criar um espaço inovador de criação artística. Fizemos ainda algumas exposições mas, devido à pesada crítica política, as autoridades alarmaram-se e o projecto acabou por não avançar. Mais tarde, acabámos por arrendar, sozinhos, o estúdio onde ainda nos encontramos. A nossa casa é aqui, é aqui que criamos e este é o espaço onde os nossos trabalhos de maior relevo foram produzidos. Ainda no que respeita ao vosso aspecto interventivo. Como é que lidam com as reacções, tanto do país como do mundo, sendo que são bem diferentes? Quer na China, quer em qualquer outra parte do mundo, pensamos que as pessoas entendem mal o nosso trabalho e a parte da crítica política acaba por parecer que é a sua totalidade. Às vezes sentimos que as nossas criações, para o público, não passam disso, de crítica política. Na realidade, achamos que somos pensadores que expressam as suas ideias através das artes visuais. A política real é apenas uma parte do nosso pensamento e até mesmo uma pequena parte, mas, claro, uma parte importante. Por esta vertente fazer parte do nosso trabalho, tem causado muita controvérsia. Na realidade, criamos trabalhos de géneros muito diferentes. Prova disso é por exemplo a expressão da mudança na paisagem urbana em fotografia presente na série “Never Completed Buidings”. Foi um trabalho que passou por várias cidades mundiais e que explora a relação entre comunicação e comportamento. Com o bloqueio da Internet, criámos a performance “Broken Wall”. Abordamos ainda as mudanças sociais como “In Beijing, One Day Can Go Far”. Fazemos documentários, pintura e fotografia abstracta também. Como vêem o futuro da China? E como gostariam que fosse? Para olhar para o futuro da China temos de fazer uma passagem pela história do país. Temos ainda de construir a história contemporânea das principais forças políticas de modo a conseguir fazer julgamentos de valor realistas. A história provou que a introdução da ditadura soviética e a construção de um sistema totalitário que ainda permanece no comunismo chinês foram um erro. Sun Yat-sen defendia o princípio do povo para um governo constitucional republicano, era o objectivo deste país. Seria o fim dos milhares de anos de história ditatorial imperial e o estabelecimento da primeira república da Ásia – a República da China. Em 1945, depois da guerra, poderíamos ter a construção de um sistema constitucional com eleições democráticas e uma constituição partidária. É lamentável que uma tão prometedora república tenha sido também “rasteirada” pelas conjunções geopolíticas do final da Segunda Guerra Mundial, em 1949, quando o partido comunista soviético apoiou o homónimo chinês. A subversão aconteceu a partir daí. A China embarcou num sistema despótico de um partido único. Foi o caminho para a escravatura. Lamentavelmente, o círculo intelectual ainda não consegue avaliar verdadeiramente esta situação e permanece obcecado com a disputa entre a perspectiva reformista e a “Grande Prosperidade da Revolução Cultural”. Estamos convencidos de que o futuro da China poderá, um dia, passar pelo restauro de alguma justiça histórica, retornar à República da China, criar uma verdadeira soberania do povo e percorrer o caminho de uma democracia constitucional.
Hoje Macau EventosShenzhen | À procura de propostas para Bienal de Urbanismo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]té ao dia 2 do próximo mês, o Instituto Cultural (IC) está a receber propostas para a Bienal Bi-citadina de Urbanismo/ Arquitectura de Shenzhen e Hong Kong, que se realiza na cidade chinesa. O IC é o responsável pelo pavilhão da RAEM no evento, em colaboração com a Associação de Arquitectos e o Instituto de Planeamento Urbano de Macau. Este ano, a Bienal Bi-citadina escolheu como tema “Cidades, Crescer na Diferença”. Organizada de dois em dois anos, é a única bienal ao nível mundial dedicada exclusivamente à temática permanente da cidade, refere o IC. Conta já com seis edições, onde foram expostas mais de 930 obras provenientes de todo o mundo, organizados mais de 510 eventos e fóruns, atraindo assim mais de 1,1 milhões de visitantes. Com a participação no certame, o IC espera reforçar a cooperação entre Macau e Shenzhen e promover o intercâmbio cultural, de modo a aumentar o conhecimento dos residentes de Macau sobre as tendências culturais no âmbito do urbanismo e da arquitectura da China e do estrangeiro. Além disso, pretende-se despertar o interesse pela arquitectura, planeamento urbanístico, arte e design. A recolha de propostas tem como objectivo seleccionar talentos locais e os seus trabalhos, “garantindo assim que a qualidade das obras do pavilhão e o projecto possam decorrer de forma aberta e justa, sendo encorajado o público a participar activamente”, acrescenta o Instituto Cultural.
Hoje Macau EventosTeatro polaco apresenta adaptção de o “Rei Lear”, de Shakespeare, no Centro Cultural [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma reinvenção de Shakespeare, anunciada para 10 de Setembro. O Centro Cultural de Macau recebe o espectáculo “Canções de Lear”, uma adaptação alternativa da peça “Rei Lear”, numa encenação da companhia polaca Song of the Goat. “Entre salpicos de cantos gregorianos e salmos bíblicos, ‘Canções de Lear’ é uma versão sonora da icónica tragédia de Shakespeare dirigida pelo co-fundador da companhia Grzegorz Bral”, descreve o Instituto Cultural (IC), responsável pela organização. O espectáculo “desfia uma trama ecléctica de sons” através de 12 canções originais concebidas pelo instrumentista polaco Maciej Rychły e pelo compositor corso Jean-Claude Acquaviva. “Pontilhada por intensos rasgos de percussão, a performance é acompanhada pelo ocasional timbre metálico de um violino, o exotismo de um harmónio indiano e o alaúde africano (kora)”, conta ainda o IC. Onze artistas vão cantar e mover-se sobre excertos seleccionados da peça original, interpretados num cenário minimalista, expandindo a significância da tragédia shakesperiana para o mundo contemporâneo. A companhia Song of the Goat foi fundada em 1996 em Wroclaw, na Polónia, por Grzegorz Bral e Anna Zubrzycki. Desde então que a trupe experimental tem expandido a sua actividade e reputação internacional, tendo-se tornado numa das mais entusiasmantes e vanguardistas companhias teatrais europeias, refere o IC. Em 2012, as “Canções de Lear” foram muito saudadas pela crítica em Edimburgo, tendo conquistado outros palcos europeus em diversas digressões. O feitiço polifónico da companhia também atravessou o Atlântico e chegou a reconhecidos festivais como o Next Wave, de Nova Iorque, ou o Santiago a Mil, no Chile. Para os que tenham interesse em descobrir mais sobre estas “Canções de Lear”, haverá uma tertúlia pré-espectáculo de entrada livre. Moderada em cantonense, a sessão terá lugar na sala de conferências do Centro Cultural, uma hora antes do espectáculo. A ideia será partilhar algumas perspectivas sobre a música, o teatro e o percurso da companhia.
Andreia Sofia Silva EventosFotografia | Bruno Saavedra expõe “Made in China” em Lisboa O tempo de residência em Macau ajudou-o a compor um projecto que está em exposição até finais do mês de Setembro em Lisboa, na Casa Independente. “Made in China”, da autoria do fotógrafo Bruno Saavedra, é uma viagem pela “Ásia lisboeta”, com imagens que fogem do “óbvio” [dropcap]C[/dropcap]omo surgiu o projecto “Made in China”? A exposição tem fotografias da Ásia, mas de uma Ásia lisboeta. Todas as imagens foram feitas no Intendente, na Mouraria e nos Anjos, aqui em Lisboa. “Made in China” é uma exposição de fotografias resultante do trabalho desenvolvido na quinta edição do workshop “Narrativas Fotográficas do Intendente”, leccionado pela fotógrafa Pauliana Valente Pimentel, e realizado pela Casa Independente em 2016. Deste workshop, também estão expostos mais três trabalhos: “Glowing Up”, de Ana Antunes, “Pequena Cirurgia”, de Ana Bernadino, e “Caixa de Viagens”, de Sara Maia. O trabalho para esta exposição foi desenvolvido entre os meses de Novembro de 2016 e Fevereiro deste ano. Como a Pauliana sabia que vivi em Macau durante quase quatro anos, insistiu que eu desenvolvesse o trabalho sobre a comunidade chinesa. Macau estará decerto presente nesta exposição. Que zonas do território ou que partes das culturas decidiu retratar? Os quase quatro anos que vivi em Macau ajudaram-me de uma forma muito directa no desenvolvimento deste trabalho. O projecto narrativo retrata uma visão diferente e subtil da comunidade chinesa no Intendente, e fui à procura de detalhes e imagens que, de alguma forma, me fizessem conhecer a história das suas vidas e o modo como os chineses vivem nas freguesias mais cosmopolitas de Lisboa. Durante três meses, visitei casas, restaurantes, centro de estética, cabeleireiros, centro de massagens, escolas, lojas, supermercados, templos, igrejas, médicos, cafés, jornais. Acabei por descobrir que no Intendente existe uma verdadeira China, mas restrita e muito fechada. É uma China sofrida com memórias de outros, mas também nossas. Ouvi histórias, verdadeiros contos chineses. Pessoas que vivem clandestinamente e trabalham 16 horas por dia para conseguir juntar algum dinheiro com o sonho de regressar à sua terra natal. Finalizei o trabalho pela altura das comemorações do Ano Novo Chinês. Era o início do ano do Galo. Eles levam a mudança do ano muito a sério e está enraizado nas suas crenças e tradições. Na véspera do Ano Novo, os chineses limpam e arrumam a casa, cortam o cabelo, fecham as contas, presenteiam os deuses que protegem a casa, preparam as roupas, organizam as contas e o comércio. A cor vermelha, por ser yang e vibrante, é a predominante durante as comemorações do Ano Novo. O vermelho simboliza a transformação, o movimento e a vida, por isso, as mulheres usam um vestido novo nesta cor para atrair a sorte e o amor ao longo do ano. Que China poderá o público ver nesta exposição? Tentei fugir do óbvio dos retratos chineses, e entrar o máximo que conseguisse na vida dos chineses. Não foi fácil, mas a insistência também me ajudou muito. Também contei com a ajuda de uma amiga de Macau para a tradução e comunicação, a Virginia Or, que esteve quase sempre comigo. Nesta exposição o público poderá ver uma Ásia lisboeta, muito restrita e fechada. O público português está a começar a ter uma curiosidade crescente sobre os países que estão deste lado do mundo? A China e todos os países da Ásia sempre geraram curiosidade, mas penso que é preciso quebrar algumas barreiras, como a da língua. O público português tem um grande interesse pela cultura e costumes chineses, mas a verdade é que aqui em Lisboa essa curiosidade pode ser “quebrada” muito facilmente: basta irmos aos bairros do Intendente, Mouraria e Anjos. A China, e até Macau, são os territórios que geram mais curiosidade e interesse? A presença de Portugal em Macau representou um notável encontro entre Oriente e Ocidente, e é por esse motivo que, até aos dias de hoje, a China gera interesse no Ocidente. E para mim não há dúvidas de que este seja um dos principais motivos para que exista toda esta curiosidade e interesse pela China. Expectativas para este projecto? Poderá vir a Macau? O projecto fica até dia 30 de Setembro na Casa Independente, mas tenho muita vontade de o levar a outras galerias e espaços culturais aqui em Portugal. Neste momento estou em contacto e analisando algumas propostas. Levar o “Made in China” a Macau seria a concretização de um sonho, espero poder realizá-lo.
Hoje Macau EventosHong Kong | A história que os mortos contam, por Jason Wordie [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um passeio dedicado a quem gosta de história. Está marcada para o próximo sábado, em Hong Kong, mais uma iniciativa do historiador Jason Wordie, que organiza com regularidade caminhadas por diferentes pontos da antiga colónia britânica. Os percursos são acompanhados com enquadramentos e explicações sobre o passado do território. Desta feita, a proposta leva os interessados até Happy Valley, uma das zonas da ilha de Hong Kong “com maiores contradições urbanas”, refere a organização do evento. Nas imediações do Hong Kong Jockey Club, vários cemitérios recebem os mortos de diferentes religiões: muçulmanos, católicos romanos e hindus. É ali também que está o Cemitério de Hong Kong – em tempos conhecido como Cemitério Colonial – onde estão sepultados protestantes europeus, ortodoxos russos e seguidores de outras religiões. Várias campas estão ocupadas com os restos mortais de japoneses que viveram em Hong Kong antes da guerra, sendo que muitas delas são de jovens mulheres. Com o passeio pretende-se dar a conhecer, a partir dos cemitérios, as contribuições sociais e económicas das várias comunidades que passaram por Hong Kong durante o último século e meio. Jason Wordie é um historiador que vive em Hong Kong e que organiza este tipo de visitas com regularidade. Tem vários livros publicados sobre a antiga colónia britânica e também sobre Macau.
Sofia Margarida Mota EventosKodo | Conceito japonês inspira Fortes Pakeong Sequeira É uma exposição relâmpago. Acontece num stand de automóveis e apresenta sete trabalhos de Fortes Pakeong Sequeira. A ideia é mostrar o que a pintura pode fazer tendo por base o conceito japonês de Kodo, o novo modelo da marca, mas também o ponto de partida para a exploração plástica [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista multifacetado local Fortes Pakeong Sequeira alinhou agora num projecto diferente. O convite para a produção de uma exposição individual que tivesse como mote um modelo de carro veio da Mazda. Pakeong não hesitou. Kodo, mais do que uma palavra ou modelo de carro, é um conceito. “A palavra é japonesa e transmite uma ideia para apresentar um carro, mas refere-se sobretudo à ideia de movimento, de andamento fluido”, diz o artista ao HM. Foi esta analogia que deu a Fortes Pakeong Sequeira o mote para começar a produzir os trabalhos que integram a exposição em formato pop up, com data marcada para o próximo sábado. A mostra do artista local reúne sete trabalhos, entre acrílico e marcador sobre tela, sendo que “uns são grandes e outros mais pequenos”, dependendo como sentia o trabalho que ia fazendo. Quando teve conhecimento do convite para a produção da exposição, começou a investigar o conceito que lhe foi dado. “Acabei por perceber que para mim era uma área divertida e que Kodo tinha muito por onde pegar”, conta o artista. Simultaneamente, Fortes Pakeong Sequeira, foi notando que o que teria de tratar seria algo que não se pode tocar, mas que se sente. “É relativo a um objecto irreal, é mais como um sentimento que tem que ver com movimento e mesmo com velocidade”, diz. Para o artista é uma espécie de linha invisível, que anda, e é esta a ideia que pretende transmitir principalmente com as peças que utilizam o desenho a marcador. Em grande formato Por outro lado, não deixa de fazer referência a uma tela de grande dimensão que estará no stand da Mazda de Macau. “Um dos trabalhos novos que fiz é uma peça em grande escala. O nome é apenas Kodo.” É também este o trabalho que materializa a ideia original, feito em apenas uma semana. “Quando comecei esta obra de maior dimensão – três metros por quase dois – era para ser uma peça feita apenas com o recurso a marcador sobre tela.” O objectivo, sublinha, era mostrar com a técnica uma abordagem ao mais básico que o conceito poderia ter. Com o andar da produção, as ideias foram crescendo e Fortes quis transmitir mais. “Depois de dois dias de trabalho senti que não era suficiente. Percebi que havia muito mais coisas que queria dizer e transmitir às pessoas, foi quando comecei a usar acrílico e a cor.” Para o artista, apesar de o trabalho estar associado a uma campanha de publicidade, não deixa de ser interessante. “O conceito da própria marca é muito bom, e capaz de ser passado para a pintura, por exemplo, até porque se trata de uma ideia que vai além do carro, da máquina em si, e pode ser explorado de várias formas.”
Sofia Margarida Mota EventosFotografia | Lago Baikal, na Sibéria, em exposição em Macau [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ao Ip é um “assalariado” local. É esta a apresentação do também fotógrafo que se aventurou no Inverno siberiano em busca de imagens únicas. Cansado da monotonia diária, fez-se à estrada de câmara em punho. Lao foi ao lago Baikal para criar um conjunto de 30 imagens que vão estar, a partir de sexta-feira, expostas no espaço da associação Find Art Macau. No entanto, o lago parece ser apenas o mote. De acordo com a apresentação do evento, Lao trouxe um documento dos cenários e vidas que acontecem nesta zona em que parte do ano é gelada. O fotógrafo foi para Baikal no Inverno do ano passado e as temperaturas rondavam os 30 graus negativos. Mas não foi o frio que deteve o jovem de 28 anos. As paisagens são descritas como “magníficas” e mostram a existência de uma beleza particular, em situações extremas. A luz do dia e as particularidades nocturnas foram capturadas. A ideia é conseguir transmitir “uma atitude positiva quando se olha o ambiente, seja ele qual for”, lê-se na apresentação da mostra. A exposição conta com a curadoria do artista plástico João Lázaro das Dores.
Sofia Margarida Mota Entrevista EventosJoão Botas, autor de biografia sobre Silva Mendes: “Deixou um legado de um valor inestimável” “Biografia de Manuel da Silva Mendes 1867 – 1931” é o mais recente livro de João Botas. A obra foi apresentada ao público na mais recente edição da Feira do Livro de Lisboa. O autor considera que Silva Mendes é uma personagem ímpar da história do território [dropcap]P[/dropcap]orquê a escolha de Manuel da Silva Mendes? Por vários motivos. Primeiro, porque foi num texto dele que me inspirei para dar nome ao blogue onde tenho vindo a divulgar a história de Macau desde 2008, o “Macau Antigo”, e que já ultrapassou um milhão de visitantes. Depois, porque Silva Mendes foi professor no Liceu de Macau, onde completei o ensino secundário. Acresce que há uns anos fui contactado por familiares de Silva Mendes que diziam querer saber mais sobre a sua vida. Encarei a abordagem como um desafio e, desde logo, pensei em escrever sobre a história da vida e legado de um homem que foi uma figura marcante da história de Macau na primeira metade do século XX e, inexplicavelmente, ainda nada de substancial tinha sido feito. No decorrer das pesquisas, que factos mais o surpreenderam neste homem? A multiplicidade de actividades a que se dedicou, um ou outro detalhe de âmbito mais pessoal que, julgo, ninguém até hoje conhecia, a dimensão e qualidade da sua colecção de obras de arte, um legado que em parte ainda hoje pode ser apreciado no Museu de Arte de Macau. Outro facto surpreendente foi a rapidez com que Silva Mendes construiu a sua casa, hoje a United Nations University International Institute for Software Technology. Ele chegou ao território em 1901 e, por volta de 1908, já a mansão estava pronta. De professor a sinólogo. Qual o legado que deixou a Macau? Manuel da Silva Mendes deixou um legado de um valor inestimável. Logo após a sua morte, Governo e sociedade civil de Macau, portugueses, macaenses e chineses, tiveram a noção clara da sua importância, a ponto de terem adquirido muitas das peças da sua colecção. As obras de cerâmica de Sek Wan ainda hoje constituem uma das mais valiosas colecções do género ao nível mundial. Não é de somenos importância as centenas de artigos publicados na imprensa local ao longo de quase 30 anos, bem como os livros que publicou, não só sobre Macau do seu tempo, como também sobre a cultura chinesa. Como está a ser recebido este livro? A apresentação ao público na Feira do Livro de Lisboa, bem como as sessões de autógrafos que se seguiram, decorreram muito bem. Houve muitas pessoas a assistir e a participar de forma activa, e isso deixa-me satisfeito, é claro. Até ao momento, as reacções que tenho recebido têm sido muito positivas. Já recebi alguns convites para fazer palestras sobre o livro em Portugal e espero que, em Outubro, (mês em que se assinalam os 150 anos do nascimento de Manuel da Silva Mendes), possa regressar a Macau para a apresentação pública do livro através do Instituto Cultural, co-editor da obra. Por essa altura, o livro já vai estar à venda em várias livrarias do território. Em Portugal, está disponível na Livraria do Turismo de Macau, em Lisboa, e já recebi alguns contactos de outras livrarias que estão interessadas. A seguir, o que pensa fazer? Que vida vai pesquisar? Esta foi a minha estreia no mundo das biografias e, confesso, fiquei entusiasmado com o género. Tenho mais dois ou três nomes em carteira de personalidades ‘macaenses’ que gostaria de biografar, mas não depende apenas de mim a sua concretização. Tenho também outros projectos relacionados com a história do jogo e do turismo bastante aliciantes. Faço-o com muito prazer, mas apenas nos tempos livres; além de tempo, são precisos apoios, nomeadamente financeiros. Já escrevi quatro livros (e outro em co-autoria) sobre a história de Macau, mas parece que como cartão-de-visita ainda não chegam para conseguir financiamentos. Para esta biografia, por exemplo, a Fundação Macau concedeu-me cinco mil patacas. Obviamente, recusei. Porquê o interesse pelos homens de Macau? O meu interesse pela história de Macau é o mais abrangente possível. Há quase duas décadas que venho coleccionando objectos – e já tenho uns cinco mil – sobre Macau (postais, fotografias, moedas, notas, livros, carteiras e caixas de fósforos, lai sis, jornais, revistas, calendários, bilhetes de cinema e de transportes, folhetos turísticos, etc.) num projecto que intitulei de “Macau Memorabilia” e que, um dia, tenciono transformar numa exposição iconográfica sobre a história de território, no século XX. Tenho uma colecção de cerca de 50 mapas/plantas de Macau que um dia também tenciono mostrar publicamente. Outro projecto antigo que tenho vindo a equacionar é passar para livro muitas das histórias que tenho vindo a publicar no blogue Macau Antigo. Acha que o território e a sua história precisam de ser mais conhecidos em Portugal? Costumo dizer que, nestas coisas, mais nunca é de mais. Na medida das minhas possibilidades estarei, como sempre estive, disposto a dar o meu contributo. Talvez no domínio dos projectos audiovisuais possa haver novidades em breve. Recentemente recebi dois convites, mas para já é prematuro avançar com detalhes. O que pode ser feito nesse sentido? Tanta coisa. Mas muito tem sido feito. Quem está minimamente atento não pode deixar de reconhecer a profusão de eventos que se vão realizando em Portugal relacionados com Macau, nomeadamente pela Delegação do Turismo de Macau em Portugal.
Sofia Margarida Mota EventosMAM | Relíquias da dinastia Qing a partir de Dezembro [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] nome ainda não está definido, mas a exposição é certa. Para já, e provisoriamente, chama-se “Armas Imperiais da Colecção do Museu do Palácio” e tem data de abertura marcada para Dezembro na galeria do quarto piso do Museu de Arte de Macau (MAM). “A exposição realiza-se mais uma vez no âmbito de uma parceria com o Museu do Palácio Imperial de Pequim, que tem resultado em exposições anuais de grande envergadura”, explica a direcção do museu. Esta já é a 25.a edição da iniciativa que pretende, de acordo com a organização, “dar a conhecer aos visitantes a arte e a cultura da China, através de algumas das mais relevantes relíquias do património cultural do Continente”. Estarão em exposição cerca de 150 objectos que incluem armas, na sua maioria do período da dinastia Qing, sendo que podem ainda ser vistos objectos que datam de dinastias anteriores. “Os Manchús no poder durante a Dinastia Qing dedicavam-se tradicionalmente à caça, razão que acrescenta aos motivos estritamente militares o interesse especial pelas armas e por todo um conjunto de objectos cerimoniais ligados ao universo do armamento”, explica a organização. A exposição organiza-se em torno de três núcleos temáticos. São eles: cerimónias, costumes e organização militar. Em destaque estarão armaduras, capacetes e adornos utilizados pelo imperador nos grandes desfiles imperiais, e arcos e flechas usados nas caçadas imperiais. O MAM destaca ainda a mostra de carimbos na altura nos decretos do imperador.
Sofia Margarida Mota EventosTaipa Art Village | Esculturas em madeira para ocupar o olhar São esculturas em contraplacado que desafiam o olhar humano. Estão a partir de amanhã em exposição no Village Art Space e concretizam o resultado de três anos de pesquisa do artista locai Tong Chong [dropcap style≠’circle’]“R[/dropcap]estless Nature” é a exposição que está, a partir de amanhã, aberta ao público no Village Art Space. A galeria situada na Taipa apresenta os trabalhos do artista local Tong Chong. Mais do que natureza sem descanso, “Restless Nature” é traduzida pelo curador João Ó por “natureza inquieta”. “Além de manifestar um movimento na natureza, percebi que estes trabalhos representam ainda a inquietação do próprio artista e que a natureza se reflecte nele, até porque ele também está a mudar”, referiu ao HM. Depois de três anos de pesquisa em torno de uma técnica pioneira na arte de esculpir contraplacado, o resultado é um conjunto de sete peças em que cada uma demorou cerca de seis meses a ser produzida. Os trabalhos fazem parte da investigação do artista, que durou cerca de três anos. O conjunto de peças integra ainda o projecto de mestrado de Tong na Academia de Artes de Cantão. Para o efeito, o artista desenvolveu uma técnica pioneira para trabalhar aquilo que é conhecido como contraplacado. “No fundo, o que fez foi pegar no conceito de contraplacado, criar uma massa em madeira e depois trabalhá-la”, explica João Ó. No entanto, sublinha o curador, “o grande desafio de Tong foi encontrar processos de colagem capazes de resistir às intempéries”. Apesar de Tong Chong ser conhecido essencialmente pelo trabalho na pintura, ao qual tem dedicado os últimos 15 anos, com esta exposição o artista local mostra a sua versatilidade. A exploração da madeira não é nova. “Ultimamente tem vindo a desenvolver algumas formas pictóricas com a criação de figuras fictícias, aproveitando a forma natural dos troncos.” A grande diferença é que, desta vez, Tong Chong enveredou por uma análise profunda do próprio processo da escultura. Mudou de carvão sobre tela, em que assumia um estilo naïf, para a construção do objecto em que mantém o estilo, mas através de outra técnica. Revelar nas falhas As esculturas em exposição têm uma grande enfâse no espaço negativo que corresponde à matéria tirada durante o processo. “É também este espaço que induz ao movimento que se sente no seu trabalho. Apesar de se tratar de um objecto estático, a peça induz ao movimento em dois sentidos: pelo próprio trabalho e pelo que exige do público. “Alguns dos trabalhos vão estar expostos no meio da galeria, de modo a que as pessoas se possam deslocar à volta das peças, até porque se tratam de objectos tridimensionais.” O curador fala ainda de algumas das obras que vão estar expostas. “Por exemplo, Chong tem uma peça em que aborda o desenvolvimento de nuvens, noutra cardumes de peixes e uma terceira a que chama de circular. Todas elas, pela sua forma e movimento, vão de encontro a uma mensagem simples: a natureza está em constante mudança e é cíclica, salienta João Ó. Tong Chong tem marcado o seu trabalho com a exploração da sociedade moderna, das suas culturas e, acima de tudo, do quotidiano do ser humano, das suas acções e hábitos. O artista enfatiza a emergência de um retorno à natureza e de uma orientação de papéis numa análise do comportamento humano nas sociedades modernas.
Hoje Macau EventosLiteratura | Granta unificada com edição simultânea em Portugal e no Brasil Textos de autores portugueses e brasileiros, escritos sem alterações à ortografia, numa revista que vai ser publicada em simultâneo dos dois lados do Atlântico. A Granta quer chegar a escritores de todo o universo lusófono [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] revista literária Granta Portugal terá, a partir de 2018, uma edição única em língua portuguesa, publicada em simultâneo em Portugal e no Brasil pela Tinta-da-China, com textos de autores portugueses e brasileiros e sem alterações ortográficas. Em declarações à Lusa, a editora portuguesa Bárbara Bulhosa apresentou esta nova vida da revista, a “Granta unificada”, como “um projecto literário de língua portuguesa – de modo nenhum um projecto português”, em que se manterão a periodicidade semestral e o director, o jornalista Carlos Vaz Marques. “Creio, aliás, que não há precedente e que será a primeira vez que teremos uma revista literária com edição simultânea em Portugal e no Brasil”, observou. “Já como Granta Portugal dávamos uma atenção especial à literatura brasileira, tendo publicado autores brasileiros em três números diferentes, [e] queremos contribuir, deste modo, para uma aproximação entre todos aqueles que se interessam pela literatura no nosso idioma, independentemente do espaço geográfico de que provêm”, sublinhou. Se o modelo da revista sempre assentou em edições temáticas em que eram encomendados textos a diversos autores, a partir de 2018, o leque de autores será bastante mais alargado, indicou Bárbara Bulhosa. “Com a edição simultânea no Brasil e em Portugal, passaremos a convidar a cada número escritores brasileiros e portugueses, enriquecendo em muito a diversidade e o interesse da revista. Estamos, aliás, interessados em autores de todo o mundo onde se fala e escreve em língua portuguesa”, referiu. Objecto de coleccionador Até agora, todos os textos da Granta têm sido sempre acompanhados por uma ilustração, com um ilustrador convidado em cada número, existindo também sempre um ‘portfolio’ fotográfico, traduzindo visualmente o tema de cada edição pela lente de um grande fotógrafo. A partir do número 11, anunciou a directora editorial da Tinta-da-China e Tinta-da-China Brasil, “a curadoria de imagem da Granta estará a cargo do fotógrafo Daniel Blaufuks, que já viveu no Brasil e acaba de ser distinguido em Portugal com o mais importante prémio para as artes visuais que é atribuído em Portugal, o prémio AICA”. “Estas duas particularidades visuais – a ilustração dos textos e o ‘portfolio’ fotográfico – dão à Granta um carácter único, tornando-a um objecto bonito e requintado, para coleccionar”, observou. A Granta Portugal foi criada em 2013, com periodicidade semestral, e saíram até agora nove números, estando em preparação o décimo, que sairá em Outubro ainda apenas em Portugal, pelo que será o 11.º, programado para Maio de 2018, o primeiro com edição simultânea em Portugal e no Brasil. “Na altura em que surgiu a Granta Portugal, existia ainda uma edição brasileira da revista que, entretanto, deixou de ser publicada”, explicou a editora, acrescentando: “Está na altura de devolvermos a Granta aos leitores brasileiros, num projecto renovado, alargado, mais ambicioso e capaz de fazer pontes entre o Brasil e Portugal”. “Como marca literária internacional, a Granta foi responsável pela afirmação de grandes nomes da literatura de língua inglesa, como Salman Rushdie, Julian Barnes ou Martin Amis, [e] cada número da revista é composto em idêntica proporção por textos originais e por textos traduzidos a partir de edições da Granta noutras línguas, em particular da Granta de língua inglesa, cujo património de décadas é extraordinário”, salientou. “Começámos a medo, comprometendo-nos a fazer apenas quatro números, para evitar que o projecto pudesse virar fracasso. O sucesso até a nós surpreendeu: venderam-se oito mil exemplares do primeiro número, um pouco menos daí para cá, mas muito acima das nossas melhores expectativas”, comentou Bárbara Bulhosa. Os cerca de mil assinantes que a revista tem em Portugal também ajudam a garantir a viabilidade do projecto, referiu a responsável, anunciando que “haverá também uma campanha de assinaturas no Brasil, oferecendo vantagens consideráveis a quem assinar a revista”.
Hoje Macau EventosImagens | HK Urbex à procura da memória colectiva de Hong Kong Na cidade dos arranha-céus, um grupo de jovens exploradores documenta, em fotos e vídeo, o interior de edifícios abandonados, na tentativa de os inscrever na memória colectiva de Hong Kong [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]e a metrópole é frequentemente associada à modernidade e futurismo – no cinema já foi, por exemplo, a Gotham City de “Batman” e cenário de “Ghost in the Shell” – nos vídeos do grupo “HK Urbex” são os redutos mais antigos, e até decadentes, que estão em destaque. O grupo de oito elementos, que mantém a identidade oculta, já entrou, sem autorização, em mais de 100 edifícios ou estruturas deixadas ao abandono em Hong Kong, desde um centro de detenção para a antiga agência de serviços secretos, a um hospital psiquiátrico, uma antiga mansão, escolas, cinemas, um mosteiro, um antigo matadouro. “Há muito património, mas é difícil de ver. Muitos destes sítios são demolidos sem que ninguém conheça a sua história. Partilhamos informação sobre eles para que entrem na consciência colectiva”, diz à Lusa Ghost, de 34 anos, um dos fundadores do projecto. Os edifícios com valor histórico – mesmo que não reconhecido oficialmente – são o ‘alvo’ preferido, mas também já entraram em “estações de metro [desactivadas], estaleiros de obras”, já que também “fazem parte da narrativa de Hong Kong” e são locais “que as pessoas não vêem normalmente”. Há também blocos residenciais, sem particular traço arquitectónico, mas que representam uma forma de viver. É o caso do prédio Hoi Hing, em Tai Kok Tsui, onde as 283 fracções estão quase todas abandonadas, mas nem por isso vazias. Além do avançado estado de decadência – janelas partidas, canos soltos, paredes lascadas – os corredores e os apartamentos do Hoi Hing estão repletos de coisas, móveis, roupa, sacos, caixas, papéis, um amontoado de lixo onde se avistam subitamente objectos pessoais: um sapato de bebé, um jornal de 1982, álbuns de fotografias. Num deles uma família à mesa, miúdos e graúdos de pauzinhos em punho, olha para a câmara com um ar desanimado. O edifício de 53 anos – que conta na sua história com um macabro caso de homicídio de um casal pelo filho – aguarda demolição, tendo a propriedade sido adquirida por 2,6 mil milhões de dólares de Hong Kong. O património que morre Os dois fundadores do projecto HK Urbex (2013), Ghost e Echo Delta, estão atentos às notícias sobre demolições e novos projectos imobiliários, e até desenvolveram um “sexto sentido”. “Há sinais. Notamos que há um edifício sem ar condicionado, a parede está partida, começamos a investigar. Muitas vezes somos as últimas pessoas a entrar nestes edifícios.” “Na última década muito património foi demolido ou renovado”, diz Echo Delta, lembrando o caso do Queens Pier, cujo anúncio de demolição gerou forte contestação. “Eu era jornalista na altura e estava a cobrir a história. Muitos jovens ficaram indignados e até se acorrentaram ao cais, fizeram greves de fome. Foi a primeira vez que assisti a isso e marcou-me muito”, conta. Uma combinação de demolições e gentrificação estão a ter um impacto significativo na cidade, garantem os exploradores. “Está a mudar muito rápido, está sempre tudo em obras, não fazemos ideia de qual será o aspecto da cidade daqui a 20 anos”, diz Echo Delta. “Em cantonês há um termo que quer dizer ‘memória colectiva’ e tem sido muito utilizado nos últimos anos, em que as pessoas se sentem nostálgicas em relação ao antigamente. O processo de gentrificação está descontrolado. Daqui a dez anos, até os sítios mais tradicionais vão ficar como Singapura, onde tudo tem um aspecto muito genérico”, comenta. Os edifícios “formam a identidade de Hong Kong” e, na opinião dos exploradores, o ímpeto para os proteger insere-se na mesma narrativa da luta política por democracia. “Muitos jovens querem diferenciar-se da China, por isso há tantos grupos pró-democracia, o Occupy Central, o ‘localismo’. De certa forma, isto surge em paralelo com isso, estamos a defender a nossa identidade e parte dela são estes edifícios”, salienta. Numa cidade que luta com a falta de espaço e bate recordes nos preços do imobiliário, Ghost considera “uma loucura” que existam tantos edifícios remetidos ao abandono, recordando uma notícia de 2015 que dava conta que cerca de 100 escolas permaneciam abandonadas. Embora longe de ser representativo, um relatório oficial indica que existiam no ano passado 43.660 fracções vagas em propriedades privadas. “É incrível, numa cidade onde as pessoas têm de viver no espaço de duas mesas, é criminoso, viola mais a lei do que nós ao entrarmos nesses sítios”, destaca. De toda a gente Apesar de saberem que não é permitido, os dois consideram as incursões importantes. “Não conhecemos a história se não entrarmos”, afirma Echo Delta, lembrando as emoções fortes das suas incursões, onde se comovem, assustam, divertem. “Os álbuns de fotografias dizem-me muito. Questiono-me sobre o que é feito daquelas pessoas. Cresceram, morreram, ainda estão em Hong Kong? É um pouco triste por vezes, são sentimentos mistos. O sapato de criança que encontrámos, por exemplo, é um pouco mórbido. Não conseguimos deixar de pensar ‘O que se passou aqui?’”, comenta. Estes salteadores dos prédios abandonados, que têm como mote “Não levar nada, não deixar nada, não matar nada”, começaram por usar máscaras para esconder a identidade, tendo em conta a ilicitude dos actos. As máscaras acabaram por se tornar numa forma de “combater a cultura das ‘selfies’ e do ego”, sublinha Echo Delta. “Estes sítios onde vamos não nos pertencem, são de toda a gente”.
Sofia Margarida Mota EventosPu Ching | Crianças que ajudam crianças [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] espectáculo é musical e integra a iniciativa anual que junta professores e alunos numa produção solidária. Este ano, sobe ao palco da Escola Pu Ching “Ester”, uma peça cantada em inglês. O dinheiro arrecadado com a venda dos bilhetes já tem uma finalidade: vai para a Associação Comunidade de Jesus Cristo Vale da Bênção, em Portugal. De acordo com a apresentação do evento enviada à imprensa, “é uma organização sem fins lucrativos que envia os seus voluntários para várias zonas de Portugal para ajudar famílias com dificuldades, órfãos e os mais necessitados.” Motivar a solidariedade é o lema do Centro Internacional de Cooperação em Educação (CICE), a organização que tem a seu cargo a iniciativa. “A ideia é tentar ajudar crianças com necessidades, de modo a que os alunos da escola tenham noção de que ajudam outros como eles”, disse ao HM Natacha Fidalgo, que integra o CICE. A iniciativa já existe há quatro anos e em cada evento é escolhida uma entidade que precisa de ajuda. No início, “os miúdos não tinham bem noção de que eram ricos aqui em Macau, não percebiam que além do território existiam pobreza e crianças com dificuldades.” Com este tipo de trabalho, saíram “da bolha” e aperceberam-se de que há crianças como eles a passarem dificuldades no mundo inteiro. Por outro lado, e uma das maiores conquistas, considera Natacha Fidalgo, é a de “fazer perceber que, mesmo enquanto crianças, os alunos da Pu Ching podem dar a sua ajuda”.