MIFF | Evento sem Marco Mueller avança com transtornos, mas confiante

 

 

A primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau é marcada pela saída repentina de Marco Mueller da direcção. Mais do que para a apresentação do cartaz, a conferência de imprensa realizada ontem foi marcada pela ausência do italiano de renome que prometia levar o território ao mundo

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] conferência de imprensa destinada à apresentação do programa da primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (MIFF, na sigla inglesa) ficou essencialmente marcada pela ausência de Marco Mueller. O italiano que, até ao passado domingo, era o director do evento e que apresentou demissão é agora substituído pela directora dos Serviços do Turismo e representante da Comissão Organizadora, Maria Helena de Senna Fernandes.

A iniciativa, que vai ter lugar entre os dias 8 e 13 de Dezembro, irá, à partida, decorrer sem grandes alterações, afirma Senna Fernandes, não deixando de sublinhar que o MIFF vai sofrer contratempos. “Não posso dizer que não há transtornos com a saída de Marco Mueller, mas estamos confiantes, porque um festival não é feito por uma só pessoa mas da junção do trabalho de várias partes.”

Tudo na mesma

Até ontem, o programa previsto para a primeira edição do MIFF não tinha sofrido qualquer alteração apesar da saída do director. “A maioria dos filmes foi escolhida por Marco Mueller, mas também há convidados especiais que a Comissão Organizadora contactou por achar que podiam ter um ângulo diferente, de modo a construir um programa mais completo”, explica Senna Fernandes.

A actual responsável pelo evento justifica que, das reuniões a que assistiu em que pudessem ter existido divergências quanto à inclusão de obras, nunca os diferendos deixaram de ser resolvidos, sendo que, na sua perspectiva, não foi por discordâncias de programação que Marco Mueller terá pedido a demissão.

Encontrar um substituto para o demissionário director está, nesta altura, fora de questão. Para Helena de Senna Fernandes, “não seria justo colocar outra pessoa para de repente assumir esta tarefa, sem mais nem menos, e que já tem a assinatura de outra pessoa”. No entanto, e tendo em conta edições futuras, a Comissão Organizadora admite que já está à procura de quem assuma o cargo – ainda assim, é uma tarefa que, de momento, exige calma. “Há pessoas em todo o mundo que têm este tipo de experiência e há pessoas qualificadas para assumir este tipo de tarefas. Não é altura para precipitar a situação, mas sim para acalmar os ânimos”, diz Helena de Senna Fernandes.

Tudo indica que a programação prevista para a primeira edição do MIFF não vai sofrer alterações e, até ontem, nenhum dos convidados declinou os convites. “Quando publicámos a notícia da demissão de Marco Muller, fizemos saber a informação a todos os contactos associados ao festival, e até à data, ainda não recebemos nenhuma recusa por parte dos nomes até agora confirmados”, explica a directora dos Serviços de Turismo. “Os filmes que estão divulgados também já assinaram acordo com evento pelo que, caso não queiram prosseguir com a sua participação, terão as consequências previstas”.

 

 

 

Estreias mundiais e asiáticas em destaque

O cartaz da primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau é composto por 49 filmes. A informação foi adiantada ontem na conferência de imprensa promovida pela comissão organizadora do evento.

Do programa relativo à competição internacional, a mais prestigiada do evento, constam 11 películas, todos eles estreias, mundiais ou asiáticas. As origens são diversas e os filmes vêm de França, Inglaterra, Índia ou Japão.

Ainda em competição oficial está a estreia no grande ecrã de “Sisterhood”, da realizadora local Tracy Choi, ou “São Jorge”, do português Marco Martins, metragem que valeu a Nuno Lopes o prémio de melhor actor da secção “Horizontes” do Festival de Veneza. Os 11 filmes em competição concorrem a nove prémios dos quais se destacam os de melhor filme, melhor realizador ou melhores actores de ambos os géneros.

Do júri fazem parte cinco elementos presididos pelo produtor e realizador indiano Skekhar Kapur, que já viu as suas obras nomeadas para os Óscares e Baftas.

O festival inclui ainda várias rubricas e em competição há uma secção especialmente dedicada à Ásia, a “Hidden Dragons”.

A comissão organizadora sublinhou a importância das “masterclasses” – duas – que vão ser levadas a cabo por Gianni Ninnari, Tom McCarthy e Bobby Cannavale.

Do programa consta ainda uma secção de competição de curtas-metragens de modo a incentivar a produção e divulgação local. As inscrições abriram ontem e fecham a 30 de Novembro.

O MIFF abre o ecrã com “Polina”, a 8 de Dezembro, uma produção francesa que conta a história que junta a sétima arte e a dança contemporânea na personagem que dá nome à película. A realização está a cabo de Angelin Preljocaj e Valérie Muller, e o elenco conta com Anastasia Shevtsova e Juliette Binoche.

Os bilhetes estão à venda a partir da próxima segunda-feira e os preços são de 50 patacas para as sessões normais e de 80 para as sessões em 3D.

Mueller em tribunal?

A Associação de Cultura e Produção de Filmes e Televisão de Macau, co-organizadora do MIFF, fez saber ontem, em nota de imprensa, que “irá exigir a Marco Mueller todas as responsabilidades decorrentes do incumprimento contratual, por todos os meios ao seu alcance, incluindo a via judicial”. Helena de Senna Fernandes admite a possibilidade de abertura de um processo contra o director demissionário, dadas as circunstâncias da sua saída. Para a associação, o que está em causa é o incumprimento do compromisso assinado pelo director italiano. “Marco Mueller faltou ao compromisso assinado como director do Festival conforme acordo assinado com a Associação de Cultura e Produção de Filmes e Televisão de Macau [sic]”, lê-se na mesma nota.

É a segunda vez que se anuncia uma primeira edição de um festival internacional de cinema de Macau organizado por esta associação. No ano passado, o evento também terá estado para acontecer, sem ter sido realizado. Helena de Senna Fernandes, confrontada com a situação, não adiantou as razões que levaram a iniciativa a ficar pelo caminho e os representantes da associação não se pronunciaram em conferência de imprensa, nem avançaram com mais informações acerca de um eventual processo contra Marco Mueller.

 

15 Nov 2016

Despedida | Morreu o músico Leonard Cohen

É um ano negro para quem gosta de música – de música a sério. Leonard Cohen morreu na passada sexta-feira, aos 82 anos. Tinha músicas e poemas para acabar, mas dizia-se preparado para ir embora

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á menos de um mês contava que só pensava na família, nos amigos e no trabalho que tinha em mãos. “Tive uma família para alimentar. Nunca vendi o suficiente para ser capaz de deixar de pensar em dinheiro. Tive dois filhos e a mãe deles para apoiar durante toda a vida. Tornou-se um hábito”, explicava à New Yorker, numa longa entrevista publicada a 17 de Outubro.

“Depois há a questão do tempo, que é poderoso, com o seu incentivo para acabar. Estou longe de conseguir acabar. Acabei algumas coisas. Não sei quantas mais conseguirei acabar, porque neste momento sinto uma grande fadiga… Há alturas em que tenho de me deitar”, desabafava. “Já não consigo tocar.”

Leonard Cohen morreu aos 82 anos e a notícia chegou pelo Facebook. Na página oficial de Cohen alguém anunciou, “com profundo pesar, que morreu o legendário poeta, escritor de canções e artista”, para depois acrescentar que “perdemos um dos visionários mais prolíficos da música”. Não foram dados detalhes sobre o que aconteceu – apenas que estava planeada uma cerimónia em Los Angeles, onde o músico viveu durante muitos anos.

No artigo de Outubro, a New Yorker contava que Cohen tinha poemas para terminar, letras de músicas que ainda não tinha acabado, outras que não tinha gravado e outras prontas mas ainda por lançar. Estava a pensar, na altura, fazer um pequeno livro de poemas. “A grande mudança é a proximidade com a morte”, dizia. “Eu sou o tipo de pessoa arrumada. Gosto de acabar as coisas que comecei. Se não puder, tudo bem. Mas a minha natureza é essa.”

Leonard Cohen sabia que não seria capaz de acabar as canções que tinha a meio. “Acho que não vou conseguir. Talvez, quem sabe? Mas não me atrevo a ficar preso a uma estratégia espiritual. Jamais o faria. Tenho algum trabalho para fazer. Estou pronto para morrer. Espero que não seja muito desconfortável. Chegou a minha hora.”

Uns dias depois, foi lançado o 14o. e último álbum do cantor, “You Want it Darker”. Na música que abre o disco – a música que dá o nome ao disco – ouve-se “I’m ready my Lord”. Cohen estava pronto.

Da simplicidade

O que é que tinha Cohen de especial? “Para mim tudo. As palavras que tocam no mais íntimo de nós, na esperança, no amor, na sua constante beleza. A voz que nos envolve como nenhum outro, que ecoa dentro do nosso corpo. A música que se eleva em arranjos de uma simplicidade espiritual tão difícil de conseguir.” José Drummond, artista plástico, recebeu a notícia do desaparecimento de Leonard Cohen com profunda tristeza. “É uma estupidez por certo mas, tal como com David Bowie, sinto-me órfão”, diz. “São aqueles que estiveram sempre ao meu lado. Em quem sempre me refugiei em momentos de dor ou de alegria. É tão difícil escolher uma música apenas”, admite.

Cohen foi transversal – atravessou gerações, países, chegou à fama sem nunca ter sido o artista que mais discos vendeu. Educou os sentimentos de muitos, com letras em que se fundiram imagens religiosas, temas de redenção e desejo sexual. E o amor, pois, o amor. “Cohen foi sempre o meu preferido para sonhar, para namorar, para acordar, para adormecer”, diz Drummond, sobre este homem “enigmático, uma estrela que se ocultava, que deixava a música falar por ele, que embora nascido judeu se dedicou ao budismo zen e que, nos seus poemas, incorporava todo um sentido cristão”, resume. “Podemos falar tanto sobre ele e o que quer que digamos é sempre bom.”

Natural do Quebeque, Leonard Cohen já era um poeta e um novelista conceituado quando, em 1966, se mudou para Nova Iorque. Tinha 31 anos quando entrou no mundo da música. Não foi preciso muito tempo para que a crítica começasse a comparar o seu trabalho ao de Bob Dylan, pela força lírica das canções que escrevia.

Apesar de ter influenciado muitos músicos e de ter sido distinguido das mais diversas formas – celebrado pelo mundo do espectáculo, mas também pelas autoridades oficiais do Canadá, por exemplo – Cohen raras vezes atingiu os tops com o folk-rock (rótulo talvez curto) que foi gravando. Escreveu, no entanto, músicas que foram revisitadas por centenas de artistas. “Hallelujah”, lançada em 1984, é talvez o melhor exemplo do modo como o escritor de canções marcou gerações de cantores.

Do sagrado ao profano

Muitas das canções que Leonard Cohen escreveu tornaram-se famosas pela voz de outros músicos – no início dos anos 1960, Judy Collins ajudou à projecção do compositor ao gravar alguns dos seus primeiros temas.

Os admiradores de Cohen comparam os seus trabalhos a uma espécie de profecia espiritual. Escreveu sobre religião, mas também sobre amor e sexo, política, arrependimento e acerca daquilo que um dia disse ser a procura por “uma espécie de equilíbrio no caos da existência”.

As letras das suas músicas eram muito pessoais – e às vezes assemelhavam-se a preces, como “Bird on the Wire”, de 1969. Entre os temas mais conhecidos estão “Suzanne”, “So Long, Marianne”, “Famous Blue Raincoat” e “The Future”.

“So Long, Marianne” nasce do relacionamento com Marianne Ihlen, uma mulher que foi namorada – e musa – de Cohen nos anos 1960, depois de se terem conhecido na Grécia.

No artigo da New Yorker, depois de ter ficado a saber que Marianne teria poucos dias de vida, conta-se que Leonard Cohen lhe escreveu um email: “Bem Marianne, chegou a altura em que somos mesmo velhos e em que os nossos corpos já não aguentam, e eu acho que te vou seguir muito em breve”. Dois dias depois, o cantor ficou a saber que ela morreu depois de ter lido o email que lhe enviou. So Long, Marianne.

Dos livros aos discos

A voz anasalada e grave – muito grave – de Cohen nem sempre foi bem recebida pela crítica e por outros músicos, como o britânico Paul Weller, que chegou a considerar que se estava perante um estilo melancólico “de cortar os pulsos”. Mas a verdade é que o trabalho de Leonard Cohen também é marcado pela ironia e por um sentido de humor muito próprio.

Nascido em 1934, filho de judeus, o poeta, novelista e escritor de canções cresceu em Montreal, num bairro onde se falava inglês. Na adolescência, leu Federico García Lorca, aprendeu a tocar guitarra e formou uma banda de country que se chamava “Buckskin Boys”. Frequentou a McGill University, em Montreal, tendo publicado o seu primeiro livro de poesia pouco depois de se ter formado.

A viver com apoios do Governo do Canadá e com dinheiro que herdou da família, Cohen publicou, na década de 1960, as colecções de poesia “The Spice-Box of Earth” e “Flowers for Hitler”, e os romances “The Favourite Game” e “Beautiful Losers”. Mas, desiludido com o modo de vida que tinha, decidiu começar a escrever canções e acabou por fazer uma audição em 1967 com John Hammond. O produtor conseguiu um contrato com a Columbia Records, a discográfica com que Cohen viria a ter uma relação de cinco décadas.

Deu centenas e centenas de concertos, mas também passou por períodos de isolamento, de meditação, longe dos públicos. Durante os anos 1990, esteve num mosteiro budista zen nas Montanhas de São Gabriel, perto de Los Angeles. Entre 2008 e 2013, voltou a palco com muita regularidade, depois de ter sido incapaz de recuperar grande parte dos nove milhões de dólares que dizia terem-lhe sido tirados por Kelley Lynch, antiga manager e companheira.

Apesar da relação por Marianne – e das outras mulheres que fizeram parte da sua vida – Leonard Cohen não casou. Deixou dois filhos, milhares de fãs e uma obra para durar até ao fim do amor.

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14 Nov 2016

A alquimia de transformar a escuridão

O último álbum de Leonard Cohen
O último álbum de Leonard Cohen

[dropcap]U[/dropcap]m mês depois de completar 82 anos, Leonard Cohen ofereceu ao mundo o seu, agora confirmado, último álbum. “You Want it Darker” não é só mais uma viagem do compositor, poeta e cantor canadiano, à melancolia da existência. Agora, visto à luz da sua recente despedida, é o adeus sóbrio e sublime de um dos grandes nomes da canção dos últimos 50 anos.

Leonard Cohen abre o disco com o tema que lhe dá nome e faz antever a morte, em que o “I´m ready my lord” não é só mais um verso, mas sim a assinatura da canção. A playlist que se segue, faixa a faixa, não é menos consciente.

“Treaty” é uma verdadeira metáfora de amor e angústia perante a vida. Um tema de cansaço que, agora, se pode associar ao seu debilitado estado de saúde e à impotência perante o inevitável. O tão almejado “tratado” regressa na última faixa de “You Want it Darker”, agora num frenesim de cordas que marcam o abrir de portas do fim do disco e de 50 anos embalados pelos temas de Leonard Cohen.

A voz grave, que mais parece vinda das entranhas da melancolia, continua pelo álbum fora. Limpa, como a verdade que Cohen aponta tema a tema, e cortante em cada palavra que entoa.

“I´m travelling light, it´s au revoir” é só um verso que abre mais uma canção, já com “You Want it Darker” a meio. Uma canção entre bandolins e coros, que o cantor tanto honrou ao longo da carreira, num convite a uma dança harmoniosa com a despedida de um amor, de uma vida.

Não é possível escolher o melhor tema dos nove que compõem o último disco de Cohen. Mas é imperativo um tirar de chapéu, grato e humilde, como também ele ensinou a fazer nos concertos que deu nos últimos anos de vida. “You Want it Darker” é mais um reflexo daquele que conseguiu dotar a escuridão da existência de uma beleza doce, capaz de fazer os outros entenderem melhor o que levam no coração. “You Want it Darker” é um álbum, como todos os outros de Leonard Cohen, de amor, esperança, desilusão e, agora, de um verdadeiro adeus.

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14 Nov 2016

Palestra | Turismo deve dar a conhecer a história do território

 

O património de Macau classificado pela UNESCO deve ser dado a conhecer para além da fotografia turística, considera a arquitecta Maria José de Freitas, que dá uma palestra amanhã sobre os desafios de uma das principais indústrias do território. A intenção é perceber como ligar as informações dada pelos guias à história local

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] história de Macau, o património e a sua herança cultural representam, actualmente, um desafio para os guias turísticos da região. A ideia é defendida pela arquitecta Maria José de Freitas ao HM, que considera que há que investir activamente na formação dos profissionais do sector. “O desafio para os guias turísticos diz respeito à informação a ser passada às pessoas e aos visitantes capaz de conter mais dados acerca da história do património local por onde passam”, ilustra.

De modo a explicar a actual situação, Maria José de Freitas sublinha que “os principais desafios que neste momento se apresentam nesta comunicação entre património e agentes turísticos estão associados ao próprio contexto do território”. Para a arquitecta, circunstâncias como o desenvolvimento do sector do jogo e a abertura de toda uma série de novos casinos, e a consequente entrada de mais pessoas no território provenientes, na maioria, da China Continental, criam a possibilidade de dar a conhecer “um pouco mais acerca de Macau”.

No entanto, o facto de os casinos proporcionarem passeios pela cidade não significa que promovam o conhecimento pelos locais por onde passam. “As pessoas são levadas a passear, mas não são informadas”, aponta Maria José de Freitas. “Andam pelas ruas, tiram umas fotografias, passam pelas Ruínas de São Paulo ou pelo Senado e pouco mais acontece, quanto muito ainda comem uns pastéis de nata, o que é muito curto e muito pouco.”

No entendimento da arquitecta, urge a criação de circuitos de passeio curtos e com menos gente, mas munidos de guias devidamente informados para que possam elucidar sobre o que foi a história de Macau e sobre os espaços que se estão a percorrer.

No programa das visitas deveria constar por exemplo a deslocação, acompanhada da devida informação, ao museu que se situa nas Ruínas, que faz alusão aos jesuítas e ao papel da própria Igreja, além de ter sido o Colégio de São Paulo que representa a primeira universidade ocidental na Ásia. A ideia é que estas são informações “que podem abrir os horizontes a quem nos visita e até proporcionar uma outra imagem de Macau”.

Da foto ao conhecimento

O desafio é avançar de uma situação de registo fotográfico “como se o património não passasse de um cenário de fundo para um registo informado e mais participado”, explica a arquitecta. Maria José de Freitas dá como exemplo a possibilidade de os visitantes, num trajecto de um dia, poderem conhecer os locais principais da cidade, sendo que seria positivo, para quem queira mais detalhe, um outro tipo de resposta. “É nesta parte que residem as dificuldades e que deve ser alvo de intervenção mais cuidada, tendo em vista o património de Macau que é reconhecido pela UNESCO.”

A ideia encaixa no que as políticas para a diversificação do turismo têm vindo a proclamar e que tem de ser efectivamente posto em prática. Para o efeito, há que ter guias com formação universitária e na posse de informação fundamentada e detalhada. “Macau tem de escolher entre um turismo em que tem 40 ou 50 pessoas enfiadas num autocarro e que param em determinados lugares para a tal fotografia, ou assume que tem um património para mostrar e uma cidade que, nas suas ruas, arquitectura e planeamento manifestam uma história que precisa de ser contada, sendo que é necessário que haja alguém capaz de o fazer.” Neste sentido, a arquitecta considera ainda que cabe ao Governo e mesmo aos casinos a promoção da vertente cultural do património de Macau.

Um património único

“Macau tem um património único, nomeadamente no que respeita à mistura cultural. E é nesta miscigenação, que não é inteiramente ocidental ou oriental, que está a originalidade do território”, afirma. Outra característica do património local reside no facto de “não ser demasiado erudito”, no sentido em que muitas das construções não foram feitas por arquitectos ou engenheiros, mas sim por militares, por exemplo, que por cá viveram e deixaram o seu legado cultural inscrito no actual património. “Os nossos edifícios mostram uma história escrita na pedra e que é de cinco séculos, e que continua a ser construída”, remata Maria José de Freitas.

Se por um lado as entidades competentes não têm tido o papel que lhes cumpre na associação da informação turística à história local, a palestra que irá proferir a convite da Associação de Estudos da Herança e Património de Macau revela, surpreendentemente, a vontade de assumir este tipo de desafios por parte de entidades privadas e formadas por “gente interessada e com formação”.

“O encontro com este núcleo aconteceu, inesperadamente, em Portugal, numa conferência internacional acerca de património em que faziam uma apresentação sobre Macau e as suas particularidades”, recorda. No entanto, “esta é uma situação, a da relação entre o património e a informação turística, que passa muito ao lado das entidades oficiais, quer ligadas a Portugal, que ao Instituto Cultural, e são estas pessoas, ao nível individual, que mostram ter uma actividade cuidadosa, informada e rigorosa acerca de um assunto que é, de facto, de relevo”, defende.

A palestra “De cenários amorfos a espaços culturais com significado – Desafios para o turismo na cidade de Macau” tem lugar amanhã, pelas 14h, na sede da Associação de Estudos da Herança e Património de Macau, situada na Rua dos Artilheiros.

11 Nov 2016

Fortes Pakeong Sequeira: “O trabalho criativo é um acto de partilha”

 

Aos 13 anos foi para Hong Kong para ser gangster. A vida mudou-lhe o rumo e Fortes Pakeong Sequeira é um dos artistas locais de renome. Multifacetado, inaugura no próximo fim-de-semana a exposição “Return to Nature” e organiza a segunda edição do festival alternativo “Blademark”

 

“Return to nature” apresenta uma nova abordagem sua. O que é que o público pode esperar desta exposição?

Não espero que as pessoas venham ver esta exposição para dizerem que gostam muito deste meu novo estilo. Espero, acima de tudo, conseguir partilhar aquilo que realmente tenho sentido e que me acompanhou na concepção dos trabalhos que vão estar expostos.

Está a falar de alguma altura ou circunstância em particular?

Sim. O último ano tem sido um momento muito especial e preenchido por muitas questões. Na essência, andava duvidoso acerca do que realmente queria enquanto artista. Ao mesmo tempo que me ia questionando, ia trabalhando e, no resultado, gostava que as pessoas, ao observarem, pudessem também, perante elas, perguntarem-se o que é que realmente as faz viver e para o que é que vivem.

 Ao longo do processo, encontrou algumas respostas?

Acho que, com o processo criativo destas obras, encontrei algumas respostas ao que me incomodava. Este ano foi um ano de transição para mim, em que me senti perdido. Na base da “aflição” estava a decisão que tinha tomado de me tornar independente dentro do que fazia. Isso assustou-me e, de repente, senti-me perdido. De repente questionei-me se era realmente um artista e o que é que conseguia fazer. Mas dei por mim a conseguir fazer as coisas e, mais que tudo, senti que tinha quem apoiasse o meu trabalho. Por outro lado, foi bom fazer alguma coisa que nunca tinha feito antes e, ao mesmo tempo, senti que estava a aprender muito. Acabou por ser muito gratificante até porque não faço as coisas só para mim, mas sim para partilhar com os outros. O trabalho criativo é um acto de partilha. Quando resolvemos ser independentes e os outros não nos dão o valor que possamos ter, é muito triste. As pessoas pensam que és um vagabundo. Com este trajecto aprendi também a ver quem é que estava comigo. Foi bom não estar sozinho e sentir o apoio de vários lados. Esta exposição é o produto de tudo isso e desse caminho num processo em que resolvi mudar tudo na minha vida. Mais que assustador, foi um processo engraçado, mas conturbado.

O festival que se realiza no próximo fim-de-semana vai já na segunda edição. Como apareceu e porquê a repetição?

No ano passado, o festival foi criado pela banda de que faço parte e que tem o mesmo nome – Blademark. Fazíamos dez anos de existência e resolvemos comemorar com uma festa que se transformou num festival. A adesão foi surpreendentemente boa e só nos demos conta quando nos apercebemos do número de pessoas que tinham participado e dos comentários que faziam. O resultado foi surpresa e satisfação por um festival dedicado à componente mais alternativa, do rock, e mesmo do metal ter tanta adesão em Macau. Penso que é fundamental o convívio entre diferentes tipos de culturas urbanas e com o evento, associadas à música, juntaram-se pessoas que trabalhavam em várias áreas, ligadas essencialmente, às industrias criativas. Esta sinergia acabou por fazer com que o evento se tornasse maior e mais dinâmico.

Agora, mais independente e enquanto artista, como é sobreviver em Macau nesta área?

Não é nada fácil. O facto de se pintar ou desenhar não garante que os trabalhos sejam vendidos. No processo temos de comprar os materiais que utilizamos e acabamos por estar a gastar sem nunca ter garantias. No entanto, este ano e com tanta mudança, decidi apostar noutras áreas ligadas à criação artística e a marcas associadas. Por exemplo, comecei a dedicar-me mais à ilustração e à concepção de objectos com os desenhos que vou fazendo. Para mim é também um novo desafio um novo interesse. Estou também a apostar em roupa, por exemplo. Paralelemente, criei uma marca pessoal à qual se associam outros projectos, como por exemplo a Blademark, que também é uma marca, ou a Denim Works em que participo com outro sócio. Vamos formando uma rede em que juntamos objectos e criatividade, e a coisa funciona.

A sua história e sucesso não são comuns….

Talvez não. Lembro-me que sempre pintei desde pequeno, era uma coisa natural. Recordo-me de uma amiga da minha mãe referir que “tinha jeito para aquilo”. Por volta dos oito anos ganhei um prémio internacional e a minha professora da altura recomendou que eu seguisse alguma coisa ligada à carreira artística. No entanto, aos 13 anos desisti de estudar e optei por uma carreira de gangster em Hong Kong.

Mas o que é que aconteceu?

Na realidade desisti de tudo e escolhi não ser uma pessoa, naquele momento. Vivi cinco anos em Hong Kong. Acabei por ficar detido no posto da polícia durante um mês, estava quase com 18 anos. A minha mãe foi-me buscar e fui a vários julgamentos. Acabei por ser solto, regressei a Macau e voltei para a escola.

Aos 18 anos?

Sim. Todos os meus colegas de turma eram mais novos do que eu cinco anos. Não foi fácil adaptar-me, mas não tinha outra hipótese e estava ciente de que não podia dedicar-me mais à preguiça. Já tinha perdido demasiado tempo. Acho que tive mais uma oportunidade para viver. Acabei por tirar Design Gráfico no Instituto Politécnico de Macau, área em que trabalhei vários anos e com a qual viajei pelo mundo. Depois as coisas foram acontecendo. Acabei por ser convidado a expor e em 2009 a participar a “Art Beijing”. Foi um momento muito importante porque foi a primeira vez que saí de Macau para mostrar o meu trabalho enquanto artista. Como pintava ao vivo durante o evento, as pessoas interessaram-se por mim e pelo que estava a fazer. A partir daí comecei a andar entre Macau e China Continental, e quando dei por mim estava a passar por Tóquio, Nova Iorque ou Portugal para mostrar a minha técnica. Fui vendendo alguns dos meus trabalhos de modo a sobreviver.

Que conselho deixaria aos jovens artistas de Macau?

Que acreditem. Se gostam do que fazem, se isso for onde se encontram realmente, têm de confiar e trabalhar. No fim, o que é bom na vida é o que se ama, porque o dinheiro, na realidade, não consegue comprar o que nos preenche.

Que expectativas tem para esta segunda edição do Blademark?

A única coisa que espero é que as pessoas gostem de lá estar. O festival vai ter sete bandas a dar concertos e muitas actividades e mostras de trabalhos criativos associados à marca e não só. São todos bem-vindos.

 

Blademark para todos os gostos

Realiza-se no próximo fim-de-semana a segunda edição do Blademark. O festival que vai ocupar o Albergue promete dar oportunidade ao contexto alternativo de se mostrar, tanto na música, como pelos objectos espalhados e à venda pelas tendas que o integram. O objectivo é criar um espaço dinâmico em que caibam todos, afirmou a organização ao HM. Das 15h às 20h, o pátio do Albergue vai acolher em palco os Lansin, Kylamary, Ferdinand Choi, Experience, Catalyser, Zenith e, claro, a banda que lhe dá nome e corpo, os Blademark. A assinalar o evento, e além das bancas de vestuário, artesanato, produtos de design ou comes e bebes, esta segunda edição conta com a projecção do filme “A primeira década dos Blademark”. A entrada é livre.

10 Nov 2016

Han Lili | Literatura local é de qualidade mas precisa de divulgação

 

 

A literatura de Macau está bem e recomenda-se. A ideia é passada pela académica Han Lili que esteve no Fórum do Livro de Macau em Lisboa para apresentar e discutir a produção e necessidades da actividade literária local

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] necessário divulgar a literatura que se produz em Macau. A sugestão é deixada pela académica e poetisa Han Lili, após ter participado no primeiro Fórum do Livro de Macau em Lisboa. A também professora do Instituto Politécnico de Macau foi, a convite da Associação Amigos do Livro, dar a conhecer um pouco da produção literária que se faz na região, de modo a suscitar a discussão acerca da temática.

Um dos problemas que a produção literária local atravessa é a falta de divulgação e o Fórum proporcionou um momento para que tal fosse feito. Com um balanço “muito positivo” do evento, Han Lili não deixa de sublinhar o facto de mesmo as pessoas que são de Macau e que estavam presentes em Lisboa desconhecerem algumas das traduções que já existem de obras escritas em chinês na região. A situação demonstra que “a produção literária que por cá se faz não é suficientemente divulgada, e o Fórum proporcionou um momento de debate acerca das dificuldades e caminhos a seguir de modo a motivar a literatura local”, refere Han Lili no balanço que faz da sua participação na iniciativa.

Divulgação é prioridade

“Os escritores locais enfrentam muitos desafios, porque o mercado não tem muita procura”, afirma a académica, pelo que considera “imperativo que sejam divulgados na China Continental e com iniciativas como o Fórum do Livro de Macau”, para que as traduções possam ser incentivadas e as obras possam rumar a outros continentes. “Há falta de informação em Macau acerca do que cá se produz literariamente, e é preciso divulgar e materializar esta ponte entre as duas culturas”, ilustra ao HM.

No cerne das questões debatidas em Lisboa esteve a necessidade de apoio social e institucional para divulgar a literatura de Macau. “Para dar a conhecer livros é necessário que as pessoas saibam que existem e que os leiam, é preciso público.”

Neste sentido, é urgente que se passe à sensibilização social de modo a fomentar o hábito de ler obras escritas por locais. Han Lili considera ainda que “se houver este mercado e esta procura, será uma forma de incentivar os próprios tradutores a realizar um trabalho mais exaustivo e elaborado, de modo a ter o sucesso necessário na sua função”.

No entanto, a dificuldade em traduzir este tipo de obras, e especialmente a poesia, é vivida na primeira pessoa pela académica. Paralelas à necessidade de tradução para uma maior divulgação estão as dificuldades associadas ao processo de passar conceitos, nem sempre concretos, para um outro sistema linguístico.

No sentido de promover o bilinguismo e a sua materialização no que respeita à tradução literária, Han Lili considera que as directivas de Pequim no sentido de desenvolver a língua portuguesa são fundamentais e “já se notam”. “A estratégia do Governo Central e respectiva implementação das Linhas de Acção Governativa já se reflectem, por exemplo, nos cursos de Tradução que são motivo de cada vez mais candidaturas”, explica, sem deixar de salientar que é preciso mais. Para traduzir uma obra literária não basta ser tradutor, há que ter sensibilidade e dominar por completo as culturas em que as línguas com que se trabalha se inserem.

“No mercado é muito difícil encontrar tradutores de qualidade, sobretudo de obras literárias, área em que não chega ter o curso e é preciso ter a sensibilidade necessária para, por exemplo, poder traduzir poesia.”

A ilustrar a situação, Han Lili dá o seu próprio exemplo enquanto poetisa. “Não traduzo os meus poemas, ou os escrevo em português ou em chinês, porque há elementos que não podem ser traduzidos”, explica.

No entanto, na opinião da académica, os escritores locais estão cada vez mais incentivados e precisam de mais iniciativas por parte das próprias instituições.

A académica, que foi falar de literatura chinesa de Macau à capital portuguesa, considera que o tema engloba não só a literatura produzida por autores locais, mas também a que foi escrita por outros desde que seja sobre o território, ou feita por quem por cá tenha passado. “Para poder alargar a dimensão que abrange a literatura de Macau, recorri à definição proposta por José Seabra Pereira, em que literatura de Macau não significa que seja escrita por pessoas de Macau, mas sim aquela que é sobre a terra, porque Macau não é um conceito geográfico”, explica Han Lili ao demonstrar que o tema é alargado.

Na calha para o futuro

Macau já tem uma produção literária “sólida”, afirma ao HM, que se reflecte tanto no que respeita à escrita em português como em chinês, e mesmo em obras traduzidas, algumas pelos próprios autores. Han Lili destaca Yao Jingming, que escreve em chinês, português ou mesmo inglês. No entanto, “apesar de Yao Jingming fazer as suas traduções, tem muitas obras que ainda não têm versão em português”. Para a professora, o académico é um exemplo do que de sólido e de qualidade se faz em Macau ao nível da escrita”. “Além de ter uma sensibilidade poética, [Yao Jingming] consegue escrever em línguas diferentes, sem que interfiram uma com a outra”, explica.

Outra referência proposta para futura tradução é a poetisa Susana Yun ou Tai Ki, que “é uma excelente romancista”. Ao recorrer a pequenas histórias, Tai Ki consegue tecer um argumento complexo e muito estruturado, o que lhe valeu o prémio de literatura, durante três anos, atribuído pela Fundação Macau: “Isto demonstra que a qualidade começa a ser reconhecida”.

 

9 Nov 2016

Exposição de Tim Burton chega a Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] o mundo fantástico de uns dos realizadores mas aclamados da actualidade. Depois de passar por várias capitais mundiais, é a vez de Tim Burton trazer, a Hong Kong, a sua magia.

A exposição, que se traduz num espaço labiríntico, alberga nove galerias temáticas e explora transversalmente o trabalho do realizador num caminho que vai da infância ao agora aclamado Tim Burton.

Em Hong Kong, apresenta cerca de 500 obras que incluem esboços e projectos completos, pinturas, storyboards e fotografias em grande formato de trabalhos tão conhecidos como “Eduardo Mãos de Tesoura”, “O Estranho Mundo de Jack”, “Batman”, “Marte Ataca!” ou “Ed Wood”, não descurando o que ficou de trabalhos nunca materializados em obra editada.

A retrospectiva de trabalhos de Tim Burton foi concebida pelo MoMA, em 2009, e depois viajou para as cidades de Melbourne, Toronto, Los Angeles, Paris e Seul. O “Mundo de Tim Burton” foi crescendo e a ele foram acrescentados mais 150 itens para mostrar. A exposição conta com a curadoria independente de Jenny He, em colaboração com a Tim Burton Productions, e está patente na ArtisTree até 23 de Janeiro do próximo ano com bilhetes que vão dos 180 aos 220 HKD.

O autor

Timothy Walter Burton nasceu em 25 de Agosto de 1958, em Burbank, no sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Enquanto adolescente, dedicava-se ao desenho e à produção de curtas-metragens, como forma de se alhear do tédio. Em 1976, entrou no California Institute of The Arts e, alguns anos depois, em 1979, entrou para a The Walt Disney Company, onde foi estagiário de animação.

A carreira na sétima arte de Burton começou em 1985 na Warner Bros, com “As Grande Aventuras de Pe-wee”, “Beetlejuice” (1988) e “Batman” (1989), e a sua reputação enquanto autor de um estilo visual único foi conseguida com o sucesso de “Eduardo Mãos de Tesoura” (1990) e “The Nightmare Before Christmas” (1993). Ao longo da sua produção cinematográfica, Burton explorou os mais variados géneros, entre eles, a biografia em “Ed Wood” (1994), a ficção-científica em “Marte Ataca!” (1996), o terror com “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), a fantasia de “Big Fish” (2003), stop-motion com “A Noiva Cadáver” (2005), a literatura infantil em “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate (2005)” e o musical em “Sweeney Todd” (2007).

 

8 Nov 2016

Moda | Macaense Nuno Lopes de Oliveira quer estabelecer marca em Macau

 

A colecção final de curso do macaense Nuno Lopes de Oliveira mereceu destaque na Vogue britânica e na Elle italiana. Findo o curso e com a marca estabelecida na capital inglesa, Nuno Lopes de Oliveira quer trazer a marca para a sua terra natal através do estabelecimento de uma loja online

 

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a cabeça de Nuno Lopes de Oliveira o mundo pode ser dourado e brilhante, mas ao mesmo tempo leve e descontraído. As roupas têm tons fortes, mas também podem ser associadas ao chamado estilo street wear. O macaense, que recentemente terminou o curso de Design de Moda na Universidade Middlesex de Londres, conseguiu que algumas peças da sua colecção final de curso aparecessem nas revistas Vogue britânica e Elle italiana, que ditam tendências e criam estilistas.

Com a marca estabelecida em Londres, Nuno Lopes de Oliveira quer agora estabelecer-se na terra que o viu nascer e de onde saiu há dez anos para fazer a sua formação como estilista. Ao HM, o designer confessou que o estabelecimento da sua marca em Macau far-se-á através da criação de uma loja online, devido aos elevados preços das rendas.

“Vou manter o meu negócio em Londres enquanto tento trazer a minha marca para Macau. Será difícil, mas vai valer a pena”, confessou. “Vim a Macau participar num evento de moda da Feira Internacional de Macau (MIF), mas o meu objectivo é fazer uma pesquisa no mercado local e da Ásia, e tentar expandir a minha marca. Continuo a ter o meu negócio em Londres, mas estou neste momento à procura de fábricas na China com as quais possa trabalhar para implementar a minha marca”, explicou.

Londres, há muito uma das principais praças mundiais da moda, é um local mais fácil para Nuno Lopes de Oliveira começar uma carreira, mas a aposta na sua terra natal é para manter. “A atmosfera em Londres, na indústria da moda, é mais vibrante e há mais oportunidades. É mais fácil chegar aos estilistas e que eles cheguem até mim, mas em Macau isso não acontece. É esse o contraste que existe. Mas não quero estabelecer-me em Hong Kong só e deixar Macau para trás, porque sou de Macau. Tenho o meu negócio em Londres que serve de apoio e penso que as coisas podem funcionar em Macau”, apontou.

Tecidos com glamour

Enquanto não expande o seu trabalho, Nuno Lopes de Oliveira garante que as peças de roupa que faz não são muito comerciais e são apenas feitas por encomenda. O designer macaense tem ainda contactos com várias celebridades, sendo que a socialite Paris Hilton usou uma das suas criações quando actuou em Macau como DJ.

O designer acredita que as suas peças apareceram em duas grandes revistas de moda porque soube fazer diferente. “O dourado faz-me lembrar Macau e a sua arquitectura. O dourado faz-me lembrar a minha casa, então é como mostrar que tenho saudades de casa. O meu design tem tudo que ver com o meu estilo. Reflecte o lado glamoroso de Macau. O meu estilo é também uma mistura de alta costura com roupa de rua, e as colecções captam isso, algo diferente, porque eu não sigo tendências. A parte boa de ser designer é que podes criar algo diferente.”

Referindo que em Macau “há muitos estilistas talentosos”, Nuno Lopes de Oliveira defende que é bom que existam apoios governamentais, para uma maior diversidade de projectos económicos.

“O Governo tem vários apoios financeiros para os novos negócios, mas o que falta em Macau são oportunidades. No fim de contas, o foco acaba sempre por ir parar aos casinos, mas Macau pode ter uma maior diversidade. Tanto o Governo como as pessoas de Macau devem estar mais envolvidas em actividades culturais e isso iria levar Macau a tornar-se uma cidade mais diversificada.”

A preparar uma nova colecção, Nuno Lopes de Oliveira gostaria de levar as suas peças à próxima Semana da Moda em Londres. A participação na Semana da Moda de Shenzen, no próximo ano, já está garantida.

 

8 Nov 2016

Clockenflap | Festival de Hong Kong com olhos postos no futuro

A edição de 2016 do Clockenflap acontece no último fim-de-semana deste mês, com uma agenda cheia e diversificada. Música, dança, teatro e cinema são garantidos. Há andróides como convidados especiais, num dos festivais mais aguardados da Ásia

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hega a Hong Kong quando os dias começam a ficar mais frescos e é um dos momentos mais esperados do ano por aqueles que gostam de música, de músicos ao vivo, de performances e festivais. O Clockenflap tem vindo a crescer de ano para ano e 2016 não é excepção: entre 25 e 27 deste mês há muita música, artes e algumas surpresas a pensar no futuro.

O festival distribui-se por vários palcos ao longo do recinto construído no Central Harbourfront de Kowloon – é por aí que vão passar mais de 50 artistas.

À semelhança dos anos anteriores, os palcos principais são o Harbourflap, o FWD e o KEF, onde vão estar alguns dos nomes mais sonantes do cartaz e que prometem abordar as tendências musicais actuais de modo ecléctico. Ali há espaço para os artistas que recentemente vieram a público e para os que já têm assinatura marcada com anos de carreira e sucesso.

Desfile de lendas

Junta-se à festa das artes e na secção das “lendas” o grupo pioneiro de hip hop americano The Sugarhill Gang, que tiveram o single “Rapper’s Delight” a estrear o pódio da Bilboard. Noutro género, e vindo da música tradicional jamaicana, marcam presença os The Jolly Boys. Do rock, estão os Yo La Tengo que vão, com certeza surpreender os mais novos e trazer memórias a outras gerações que dedicavam os ouvidos à música independente. George Clinton & Parliament Funkadelic, como o nome indica, trazem o ritmo a palco e ao público, no funk que lhes é conhecido.

Ainda pelos palcos de “ouro” vão passar os Chemical Brothers, referência de mais de duas décadas de música, e os nórdicos e etéreos Sigur Rós trazem a sua linguagem própria vinda dos glaciares da Islândia. Do Reino Unido vem a rapper M.I.A. e os London Grammar que prometem, com este concerto, um espectáculo exclusivo na Ásia. Os Foals são também um dos nomes aguardados e que já constam como favoritos do evento. Taiwan também tem lugar marcado no palco das estrelas com a presença de Cheer Chen.

Os artistas do continente que acolhe o Clockenflap não foram esquecidos. Em estreia vão estar, de Taiwan, “No Party For Cao Dong” que, na cena rock alternativa, são considerados pela organização como um dos nomes mais procurados após a fusão pós-rock com o indie e os sons mais pesados do “metal”.

Ellen Loo, a formação alternativa Huh!? e ainda, com a nota no blues, os Juicyning, são alguma da “parta da casa” que vai marcar a presença de Hong Kong. A Coreia do Sul faz-se representar pelo quarteto indie Quartet Hyukoh e o Japão traz Sekai No Owari.

Já conhecido pela sua tendência burlesca e inesperada, o Club Minky é um dos espaços mais desejados para uma pausa bem-disposta, e muitas vezes, surpreendente. Ali cabem o teatro, o cabaret, a comédia ou as acrobacias. Este ano, a cabeça de cartaz são os vencedores do prémio “Melhor Circo e Teatro Físico” no Fringe de Adelaide, os All Genius All Idiot. Vindos de Estocolmo, utilizam a linguagem circense para abordar a condição e o comportamento humano.

Enquanto os palcos maiores se enchem, os menores não ficam atrás. Na agenda está ainda a malaiana Yuna, o pós dubstep de SBTRKT, os Blood Orange ou os inovadores Pumarosa com um espectáculo que não exclui a dança.

A eles juntam-se nos palcos onde o electrónico é maior, o Electriq e o Robot, nomes como o DJ Rødhåd, o DJ e produtor Danny Daze (EUA), Nick Höppner ou Terry Francis (Reino Unido). Também na agenda está Jimmy Edgar e Shy FX.

O Clockenflap volta a apostar nos momentos mais individualistas e a discoteca silenciosa regressa ao evento num espaço onde a música é vivida “a solo” e de auscultadores. Paralelamente, o Cinema Silenzio está de portas abertas e ecrã ligado. Nesta edição o programa é vasto, mas o projector está de olhos postos em “Lo and Behold” do já lendário Werner Herzog.

O futuro também está ali. Sophia é o robô mais recente e avançado da Hanson Robotics e personaliza os últimos desenvolvimentos na área da inteligência artificial. Capaz de aprender através da experiência e da interacção, este é o momento para poder conviver com “um ser do outro mundo”.

Paralelamente, e ainda na área da robótica, ocorre a performance que utiliza uma “máquina cega” que vai conhecendo os traços dos rostos que se disponham a passar por uma experiência diferente.

A realidade virtual também vai estar em Kowloon com a possibilidade de viver uma experiência a 3D como se estivesse a ver através dos olhos de um animal.

A segunda fase de venda de bilhetes termina esta semana, no dia 10. Os preços vão dos 850 aos 1620 dólares de Hong Kong (para o bilhete de três dias), sendo grátis para as crianças com menos de 12 anos.

7 Nov 2016

Livro | 15 anos depois, imprensa de Macau está bem e recomenda-se

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] coordenador do livro que aborda os jornais portugueses de Macau, entre 1999 e 2014, afirmou que a imprensa local tem “qualidade” e que permanece relevante, contrariando as previsões que se fizeram do seu fim. “A imprensa diária de Macau é uma imprensa que tem qualidade” e que se mostra “dinâmica”, apesar de “todas as dificuldades e insuficiências que tem”, disse à agência Lusa o coordenador do livro “15 Anos Depois: A Imprensa Portuguesa de Macau (1999-2014)”, João Figueira.

No entanto, aquando da transferência da soberania para a China, em 1999, perspectivava-se que a imprensa portuguesa em Macau poderia estar em vias de acabar, muito por culpa da ideia de que “o estatuto de região especial” e a manutenção do português como “língua oficial não passavam de meras fachadas”, explanou João Figueira, que falava à margem da apresentação da obra, na Casa da Escrita, em Coimbra.

“A realidade depois veio contrariar isso. Nunca a imprensa foi tão apoiada do ponto de vista oficial como é hoje e é apoiada não no sentido de controlar, mas por se entender que tem de haver uma imprensa diversificada que fale e que se expresse nas línguas oficiais”, sublinhou o também docente de Jornalismo da Universidade de Coimbra.

Além disso, “uma boa parte dos jornalistas não debandaram” quando Macau se tornou uma das regiões administrativas especiais da China, tendo feito “tudo para que a profecia não se cumprisse”. Numa região onde a população falante da Língua Portuguesa é minoritária, os jornais são também “um elemento de inserção” para uma comunidade que, na sua “esmagadora maioria”, pertence “a um padrão sócio cultural especial”, sendo altos quadros da administração, advogados, arquitectos, engenheiros ou analistas financeiros, entre outros.

A imprensa portuguesa acaba também por ser importante para toda a sociedade macaense, abordando muitas vezes assuntos que os jornais chineses “não abordam por sua iniciativa e que acabam por apenas tocar nessas matérias citando aquilo que saiu nos jornais portugueses”. “Apesar de tudo, temos uma tradição de liberdade de expressão e de capacidade de questionamento dos poderes que, culturalmente, na China não existe”, notou João Figueira.

Obstáculos e interrogações

Porém, há vários problemas que são também reflectidos no livro, nomeadamente a dificuldade no acesso às fontes e o facto de a maioria dos jornalistas não falar chinês e ter de fazer um trabalho “que muitas vezes tem que fazer quase em segunda mão, mediado por um intérprete”. A grande preocupação para o futuro está centrada nas próximas eleições que “vão decorrer daqui a quatro anos” e que levarão à mudança de líder, visto que o actual, Fernando Chui Sai On, está no seu segundo mandato.

“As interrogações têm que ver com isso: sobre se se vai manter o mesmo posicionamento de abertura e de apoio às minorias que coexistem neste território e que Pequim insiste que têm de existir”, observou.

Para o responsável da editora Livros do Oriente, Rogério Beltrão Coelho, a imprensa portuguesa, que vivia “basicamente apoiada ou sustentada por gabinetes de advogados” antes de 1999 viu as suas redacções “aumentarem em número e em qualidade”.

A imprensa portuguesa “afirmou-se por emitir opinião e por ser muito interventiva”, notou o editor que também passou por vários órgãos de comunicação de Macau, considerando que a importância que a China “dá à comunidade portuguesa e ao ensino do português” também foram importantes para a sobrevivência dos jornais.

“A força de intervenção da imprensa portuguesa é muito superior à sua tiragem”, frisou Rogério Beltrão Coelho. A obra, lançada pela Fundação Rui Cunha e Livros do Oriente, é da autoria de José Carlos Matias, Diana do Mar, Sónia Nunes, Marco Carvalho e Frederico Rato, contando com prefácio de Adelino Gomes.

7 Nov 2016

História oral | Carreira do locutor Leong Song Fong registada em livro

A colecção “História Oral de Macau” apresenta “Trinta e três anos na Rádio – entrevista com o locutor Leong Song Fong”. O livro acompanha a carreira do profissional. A publicação é acompanhada por uma exposição e duas palestras

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] lançamento do livro “Trinta e três anos na Rádio – Entrevista com o locutor Leong Song Fong “, da colecção “História Oral de Macau”, e a inauguração da exposição homónima estão agendados para o próximo dia 26, às 15h, na Academia Jao Tsung-I.

“A voz especial de Leong Song Fong é a voz de uma época”, refere o comunicado que anuncia o evento. Locutor de rádio, dedicou-se à actividade entre os anos de 1952 e 1985, período também considerado a “era de ouro” da radiodifusão de Hong Kong e de Macau. “Nessa altura, os dramas radiofónicos destinavam-se a indivíduos de todas as idades, sendo uma via de divulgação cultural e de divertimento quotidiano da população, que passou a ser memória colectiva dessas gerações contemporâneas de Macau”, explica a nota.

As comédias radiofónicas e as respectivas personagens que Leong Song Fong interpretou foram motivo de sucesso pela maneira de “contar histórias”, e pela capacidade em representar diversas personagens.

O livro “Trinta e três anos na Rádio” conta as experiências de Leong Song Fong como locutor de Macau, os truques de rádio, as carreiras radiofónicas na Rádio Vila Verde e na Rádio Macau, bem como as memórias históricas da “Luta de arte marcial entre o mestre Wu e o mestre Chan”.

Com companhia

Quanto à exposição que acompanha a apresentação da obra, “Trinta e três anos na rádio”, divide-se em três partes: biografia, carreira do locutor, e colegas e amigos. As fotografias, objectos e materiais multimédia cedidos por Leong Song Fong permitem conhecer mais detalhadamente a carreira do homem da rádio.

Após a apresentação da obra, têm lugar duas palestras, entre as 15h e as 17h: “A carreira de arte radiofónica de Leong Song Fong” e “Voz de uma geração”, proferidas pelo próprio locutor e pelo jornalista local Tang Io Weng.

4 Nov 2016

Instituto de Estudos Europeus organiza conferência sobre múltiplas modernidades

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]asceu da “necessidade intelectual interna” do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que quer estar com os sentidos alerta, e dos contornos que o mundo tem assumido nos últimos tempos. Amanhã, numa sala da Universidade de Macau, vai falar-se de múltiplas modernidades, um conceito que não é novo – deve-se ao sociólogo Shmuel Eisenstadt –, para se perceber até que ponto é que continuam a ser relevantes nos dias que correm.

“Decidimos que seria muito interessante trazer uma discussão sobre aquilo que é o mundo hoje, com todos os problemas que temos à nossa frente, com todas as contradições e conflitos que vemos por aí, e fazer uma reflexão a partir de Macau”, explica ao HM o presidente do IEEM, José Luís Sales Marques. “Aqui no instituto sempre pensámos – e continuamos a pensar – que, apesar de Macau ser uma terra com uma dimensão geográfica pequena, foi sempre muito mais do que isso: historicamente falando, com algumas excepções, somos um ponto de referência no mundo de uma certa abertura à diversidade”.

Para este palco historicamente tolerante foram chamados académicos dos Estados Unidos, da Europa e de Hong Kong que se juntam aos do território para debaterem “os novos paradigmas de diálogo e convivência entre culturas diferentes, de aceitação da diversidade”. Sales Marques sublinha que “o mundo hoje está muito intolerante”: “Basta vermos o que se está a passar nas eleições americanas”. A incapacidade de aceitação do que é distinto “está também noutras partes do mundo, inclusive na velha Europa e na própria União Europeia, que antes dava a ideia de uma grande tolerância e de uma grande solidariedade, mas que, nestes últimos anos, tem dado alguns maus exemplos, nomeadamente em relação à questão dos refugiados”.

Os pontos da reflexão

Com a duração de apenas um dia mas com um programa intenso, o seminário começa com intervenções em torno das modernidades e culturas. Julia Tao, professora em Hong Kong, traz a perspectiva confucionista sobre a harmonia e a dignidade humana. Jack Snyder, dos Estados Unidos, fala sobre as modernidades iliberais. “Começam a aparecer cada vez mais sinais de ideias, no que diz respeito à governação, pautadas por um liberalismo um bocado invertido”, anota Sales Marques. Em foco vai estar a questão do desenvolvimento das nações, assim como o modo como está relacionado com o liberalismo de ideias. “São reflexões importantes”, afiança o presidente do IEEM.

Depois, debate-se a boa sociedade e as múltiplas modernidades, com a presença de Henning Meyer, do Reino Unido, e de um consultor da Aliança das Civilizações das Nações Unidas, Hanifa Mezoui, com uma intervenção sobre a construção de sociedades inclusivas no século XXI. Tak Wing Ngo, da Universidade de Macau, completa a reflexão ao falar sobre as variantes do modernismo.

Para a tarde, é esperada a presença de Thomas Meyer, que vem da Alemanha, que se debruça sobre a boa governação e as múltiplas modernidades.

O painel que fecha a conferência é sobre segurança humana, um conceito que vai além de preocupações como o terrorismo. “Hoje em dia, quando falamos de segurança, falamos nas várias dimensões do conceito. Parece-me um tema muito importante”, diz José Luís Sales Marques. No debate de Macau, vai ser abordado por Amitav Acharya, dos Estados Unidos, a dar aulas em Pequim, e por Inge Kaul, de Berlim.

“De certeza que não vamos encontrar uma resposta, mas vamos reflectir em conjunto e dar um pouco o nosso contributo para procurarmos encontrar algumas pistas para respostas que todos nós procuramos, hoje em dia, no mundo conturbado em que estamos a viver”, remata o presidente do IEEM.

3 Nov 2016

Salão de Outono e VAFA a partir do próximo sábado

 

Eram mais de 250 candidatos, mas deu-se o caso de os cinco melhores trabalhos terem sido feitos, todos eles, por artistas do sexo feminino. O VAFA – Festival Internacional de Vídeo 2016 chega à Casa Garden no próximo sábado, dia em que abre portas o Salão de Outono. Há muita arte na delegação da Fundação Oriente para ver até ao final deste mês

 

[dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]oi um ano espectacular”, resume José Drummond, artista plástico e director do VAFA, o festival internacional de vídeo que nasceu modesto, pela mão da Art for All, e que chega à sexta edição cheio de candidatos e com qualidade acrescida. O ano foi espectacular, continua Drummond, porque à organização do FAVA chegaram 266 trabalhos, de 136 artistas ou colectivos de artistas de 42 países e territórios. São números recorde. E o festival de Macau é assumidamente internacional.

Diz o director da iniciativa que “a qualidade também subiu”, assim como aumentaram as apresentações de artistas da China Continental. Macau recebeu ainda candidaturas de “países muçulmanos, como o Irão”, e este ano foram muitos os trabalhos feitos por artistas mulheres.

Os trabalhos no feminino acabaram por conquistar o júri. “Dos oito finalistas, um é um casal, os outros dois são homens e os restantes são mulheres – e as cinco mulheres são todas premiadas”, explica José Drummond. “Os trabalhos delas são todos bastante diferentes no género e no contexto. Tende-se a estereotipar o trabalho no feminino como sendo feminista, mas penso que a prova de que isso é um estereótipo são os cinco trabalhos em questão, em que apenas um poderia considerar estar mais próximo de questões feministas. Os outros trabalhos são bastante mais gerais”, explica o director do VAFA.

O primeiro para a China

Chama-se Ariane Loze e vem da Bélgica a artista vencedora, com o vídeo vencedor “Les Colombes”. “Fez um trabalho fantástico. Enviou três filmes. Acabou por ganhar um que aborda questões muito contemporâneas, do mundo dos nossos dias, da necessidade de amar, a cada vez maior falta de valores”, antecipa Drummond. Loze aborda questões como o problema dos refugiados na Europa e a possibilidade de uma guerra nuclear, num “trabalho bastante interessante”.

Além do convite para vir a Macau participar na cerimónia de abertura do festival e do Salão de Outono – que acontece às 17h30 do próximo sábado –, a vencedora recebe ainda um prémio de mil dólares americanos.

Nesta sexta edição, decidiu-se ainda distinguir mais candidatos – ao todo, são oito, sendo que quatro receberam menções honrosas: “O que nós falamos quando falamos sobre o aborto”, de Zihui Song, da China; “Iris 2.0”, de Isabella Gresser, da Alemanha; “Diários da Morte: degradação suave”, de Mariana Rocha, do Brasil, e “Os filhos saem aos pais”, de Lina Selander, da Suécia. Cada menção honrosa vale 500 dólares americanos.

José Drummond destaca o trabalho de Zihui Song – para começar, é a primeira vez que o VAFA tem um vencedor da China Continental. Quanto ao vídeo, é aquele que tem “um lado mais feminista”, por abordar uma questão social protagonizada por mulheres. “Foi feito com um grupo de apoio a mulheres que fazem abortos. Tem todo esse lado bastante intenso, política e socialmente, sobre a posição da mulher na China, e especialmente das mulheres que passam por esse tipo de experiência, de que modo é que são depois vistas na sociedade. É um lado muito cruel da sociedade chinesa”, sintetiza.

Da Rússia com esplendor

À semelhança do que tem vindo a acontecer em edições anteriores, o VAFA fez um convite este ano a um festival similar – a organização de Macau também tem participado em eventos lá fora. Desta vez, Macau vai contar com a presença de Hong Kong, do festival da Videotage, “uma organização que existe talvez há já três décadas, dedicada à arte multimédia, e que irá apresentar um screening em conjunção com um festival paralelo do Reino Unido”.

O trabalho que vai ser exibido na Casa Garden “é feito exclusivamente por artistas que viveram em ambos os sítios, no Reino Unido e em Hong Kong”. O director do VAFA diz que tem também “um cariz de actualidade em relação a tudo aquilo que se tem passado nos últimos dois anos na região vizinha, com alguns conflitos sociais e políticos com a China Continental”.

Porque o melhor fica para o fim, eis o ponto forte do festival deste ano – o artista convidado. Para o FAVA de 2016, trata-se de um quarteto russo, um grupo criado em 1987 que dá pelo nome de AES+F. “Tem um trabalho absolutamente fascinante, uma junção entre o digital e o real, e que é imperdível. É uma produção esplendorosa, não existe ninguém a trabalhar como eles”, diz José Drummond acerca deste colectivo que ganhou muita projecção internacional a partir do momento em que Veneza, com a sua bienal, lhe abriu as portas.

Entre os preparativos do VAFA e a antecipação do que se vai pode ver na casa onde está a delegação da Fundação Oriente, o director do evento não se esquece de dizer que o “festival não seria possível sem a FO, que acreditou na proposta desde o início, e sem o apoio do Instituto Cultural”.

 

 

 

O espaço que ainda temos

Pelo sétimo ano, a Art for All e a Fundação Oriente organizam o Salão de Outono, uma colectiva em que se pretende mostrar a arte que se faz em Macau. Desta vez, a curadora do evento, Alice Kok, decidiu olhar para a cidade, “este pequeno sítio considerado a ‘Las Vegas da Asia’, cheio e hotéis e casinos”, para lançar uma pergunta à comunidade artística local: “Ainda nos resta algum espaço?”. A resposta pode ser vista na Casa Garden, a partir do próximo sábado, nas 67 obras de 32 artistas locais: Cai Guo Jie, Chan Ka Lok, Chan On Kei, Cheong Cheng Wa, Fan Em Kuan, Fok Hoi Seng, Francisco Ricate, Ho Si Man, Ieong Man Pan, José Lázaro das Dores, Keong Wan Wai, Lai Kit Sio, Lao Sin Heng, Lee On Yee, Lee I Fan, Lei Ieng Iong, Leong Cheng I, Leong Chi Hou, Leong Wai Lap, Lin Bo Xiang, Ng Fong Chao, Ng Lai Seong, Sofia Bobone, Sou Leng Fong, Tang Kuok Hou, Todi Kong de Sousa, Wan Ieng Meng, Wong Ka Long, Wong Weng Io, Wu Hin longo, Yves Etienne Solonet e Zhang Ke. Os trabalhos seleccionados incluem pintura a óleo, aguarela, desenho, escultura, fotografia, porcelana e gravura.

3 Nov 2016

Quarteto All Stars Power actua na 5ª Semana do Jazz de Macau

Pelo quinto ano consecutivo, a Associação Promotora do Jazz de Macau volta a organizar a Semana do Jazz de Macau, com um concerto do quarteto All Stars Power. Mars Lee, presidente da associação, diz querer aproximar ainda mais este estilo musical das pessoas

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]eremy Monteiro, de Singapura, Tots Tolentino, das Filipinas, Eugene Pao, de Hong Kong, e Hong Chanutr Techatana-nan, da Tailândia. Todos eles são músicos de jazz e vão actuar no próximo dia 27 de Novembro no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau, no âmbito da 5ª Semana do Jazz de Macau, com o nome All Stars Power. Esta é a segunda vez que o quarteto actua em Macau, depois da presença no Festival Internacional de Música de Macau. Há seis anos que o grupo dá concertos, tendo passado recentemente pelo EFG London Jazz Festival.

Mars Lee, presidente da Associação Promotora de Jazz de Macau, contou ao HM que, para celebrar uma data “memorável”, será realizado um concerto com músicos que podem não ser muito conhecidos ao nível mundial, mas que começam a dar cartas no panorama do jazz da Ásia.

“Sempre tivemos bons músicos a participar, mas este ano tentamos trazer grandes músicos de jazz da Ásia e grupos internacionais. Este ano é especial”, referiu. Além do concerto, vão ser realizadas pequenas actividades com músicos locais, nomeadamente com o grupo do Conservatório de Macau.

“O grupo do conservatório é um grande apoio para o jazz em Macau, porque eles tocam as músicas mais tradicionais e também têm uma vertente educacional.”

Cinco anos após ter sido dado o pontapé de saída para este evento, o jazz está mais forte do que nunca. “Esperamos mais público este ano. Ao longo de todo este tempo temos vindo a promover a música e a própria cultura do jazz, não apenas para os residentes, mas também para visitantes que vêm a Macau só para ver os nossos concertos, o que é, de facto, uma grande honra para nós”, contou Mars Lee.

“Hoje em dia, depois destes anos loucos de crescimento económico, as pessoas estão mais atentas à qualidade de vida, e vemos mais eventos culturais a acontecer. E o jazz tem sido um estilo musical em crescimento, porque estabelece uma ligação com as pessoas. Não é como a música pop, ou clássica. Tem uma certa identidade e uma intenção muito próprias”, indicou o músico e presidente da associação.

Educar o público é outro dos objectivos da Associação Promotora de Jazz. “Organizamos este evento por ano, com diferentes espectáculos. Queremos promover a música, mas mais do que isso: queremos educar as pessoas, não apenas os músicos, mas o público também. Queremos que mais pessoas possam apreciar este tipo de música e que possam compreender esta cultura”, adiantou Mars Lee.

Poucos mas bons

A 5ª Semana de Jazz de Macau conta com o apoio do Instituto Cultural e da Fundação Macau, mas os meios ainda são poucos para trazer mais música ao território, sobretudo se falarmos do número de salas de espectáculo.

“Todos os eventos precisam de dinheiro. Continuamos a ter margens pequenas de lucro e se o Governo pudesse apoiar mais seria o ideal”, disse Mars Lee.

“Temos alguns nomes nos restantes festivais organizados em Macau, mas porque existem estruturas maiores. Da nossa parte temos uma menor dimensão. Não temos fins lucrativos e dependemos do apoio do Governo, e é importante que nos foquemos nos nossos grupos. A maioria destes músicos não tem muita exposição, não são muito conhecidos, mas são muito bons.”

Apesar dos desafios constantes, Mars Lee garantiu estar satisfeito com o trabalho realizado até aqui. “Queremos fazer de Macau uma plataforma para os músicos asiáticos, porque essa foi a forma como começámos. Já conhecíamos todos estes músicos, da Malásia, Taiwan, Tailândia, não apenas da China. É importante que possamos aumentar ainda mais este círculo. O jazz começou na América, mas foi um movimento cultural que se espalhou para a Europa e agora para a Ásia”, concluiu.

1 Nov 2016

Subdirector do Rota das Letras fala em Bali da experiência de Macau

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]alou-se de Macau por estes dias em Ubud, onde se realiza um dos mais importantes festivais literários do Sudeste Asiático. Hélder Beja, co-fundador do Rota das Letras, esteve em Bali. Uma viagem que se pode reflectir nas próximas edições do evento do território

Sempre que pode, Hélder Beja faz as malas e viaja até à cidade onde está prestes a acontecer um festival literário. Foi assim com o festival literário de Paraty, em 2014, e foi assim também há uns meses, quando viajou até à Colômbia para a Feira do Livro de Bogotá. Desta vez, o destino foi mais próximo, mas há muito desejado. “Era um festival a que queria vir há muito tempo”, conta ao HM, ao telefone a partir de Bali.

“Vim à semelhança da forma como estive nos outros festivais. A decisão de vir aos encontros literários é minha, venho por minha conta. Mas como sou um dos organizadores do festival literário de Macau, acabo por ter um tipo de envolvimento diferente nos festivais do que tem um visitante normal”, explica o subdirector do Rota das Letras. “No caso de Ubud, quando entrei em contacto com os organizadores fui convidado para fazer parte de um painel precisamente sobre festivais literários.”

Hélder Beja participou, no final da semana passada, numa das muitas sessões que constituem o intenso programa principal do Festival de Escritores e Leitores de Ubud, uma iniciativa organizada na ilha indonésia há já 13 anos. O subdirector do Rota das Letras partilhou a mesa com a directora do festival de Bali, a australiana Janet DeNeefe, a escocesa Jenny Niven, responsável pelo aparecimento do festival literário de Pequim, e com Michael Williams, director do Wheeler Centre na Austrália, para uma sessão sobre “a vida secreta dos festivais” em torno dos livros e da escrita.

Das ideias que deixou na sessão acerca do Rota das Letras, Hélder Beja destaca o facto de ter causado muito interesse a particularidade de ser trilingue – em Ubud, apesar de haver tradução para bahasa, a língua mais usada acaba por ser o inglês. “As pessoas ficaram muito curiosas com essa parte, com a parte linguística”, relata, assim como com a duração mais prolongada do festival de Macau, em comparação com outros eventos do género.

A ideia da “memória palpável”, com a publicação dos livros de contos no âmbito do Rota das Letras, também foi um aspecto que mereceu atenção: “Acharam muito curioso o convite que lançamos aos escritores, todos os anos, para escreverem sobre Macau e depois traduzirmos tudo”. O festival literário de Macau é ainda diferente da maioria dos certames do género pelo facto de a grande maioria dos conteúdos do programa ser de entrada livre. “Expliquei porquê, porque é de facto bastante diferente do que acontece aqui, em Paraty ou em Bogotá.”

O outro universo de escritores

Sobre a experiência em Ubud, Hélder Beja refere ainda a possibilidade de conhecer escritores do Sudeste Asiático – e aqui a viagem até Bali poderá ter influência em futuras organizações do Rota das Letras, sobretudo no que toca à lista de autores convidados.

Este ano com o tema “Tat Tvam Asi” – qualquer coisa que, em português, poderá ser traduzida como “eu sou tu, tu és eu” – o festival de Ubud juntou centenas de escritores, pensadores, artistas, analistas e activistas. Num dos painéis desta edição, que terminou ontem, esteve em análise o trabalho da jornalista e escritora portuguesa Susana Moreira Marques, autora do livro “Agora e na Hora da Nossa Morte”, uma obra que resulta da experiência ao lado de uma equipa de prestação de cuidados paliativos ao domicílio, em Trás-os-Montes.

A diversidade de convidados vai ao encontro do objectivo da organização – reforçar “a identidade colectiva da Indonésia” – num palco que, avalia Hélder Beja, é “o sítio ideal para um festival cultural de qualquer natureza”. “Dizia na sessão que, depois de chegar, um organizador de um festival literário de qualquer parte do mundo fica um bocadinho deprimido com o seu próprio festival, porque a localização é imbatível. São indiscritíveis os espaços, só comparáveis – mas até superiores – aos que vi em Paraty, e não comparáveis a nada do que tenha visto noutros sítios. Ubud é um sítio especialíssimo”, afirma. Macau não tem o mesmo cenário, é “menos idílico”, mas o subdirector do Rota das Letras espera que o festival de cá possa vir a ser também “uma referência no mapa dos festivais literários da Ásia”.

31 Out 2016

Fórum do Livro de Macau | Casa cheia em Lisboa para ouvir poetas da terra

[dropcap style≠’circle’]«A[/dropcap] poesia é uma grande ligação entre os povos e os homens». As palavras foram ditas pelo ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na sessão sobre poetas de Macau que teve lugar na Fundação Casa de Macau, no sábado em Lisboa. Parte do programa do Fórum do Livro de Macau, foi o primeiro evento unicamente dedicado à poesia e aos vários poetas, portugueses e chineses, que escreveram e escrevem sobre Macau.

A sessão, coordenada por Fernando Sales Lopes, que a abriu com poemas de Camilo Pessanha, passou por vários nomes e várias línguas. Ouviram-se versos em Português, em Mandarim e em Patoá com um poema de Adé. A barreira linguística, sempre a maior, continua a dificultar o conhecimento de poetas chineses e poucos são traduzidos para Português. Mas, e apesar do grande obstáculo linguístico, Fernando Sales Lopes acredita que é importante qualquer passo de aproximação. E o encontro de sábado, organizado pela Associação de Amigos do Livro em Macau e pela Fundação Casa de Macau, realizou-se nesse sentido. A casa estava cheia com muitos amigos a trocarem palavras de reencontro num espaço onde se partilha o amor pelo Oriente.

Na sua breve comunicação, o ministro da Cultura fez questão de referir que por ocasião da recente visita do primeiro-ministro à China, pôde testemunhar «o interesse genuíno do governo central chinês em Macau». As marcas da nossa história, disse o ministro Castro Mendes, são fundamentais para a construção do futuro. «Macau é uma charneira entre a grande nação chinesa e o mundo de língua portuguesa», acrescentou.

Recordar é dizer

Para Fernando Sales Lopes, com a sessão em Lisboa queria igualmente recordar amigos como o poeta Alberto Estima de Oliveira que faleceu em 2008. Presente na sala, foi o jornalista Hélder Fernando quem recordou os versos de Estima de Oliveira. Numa tarde em que o sol quente entrava pelas janelas do icónico edifício em Lisboa, várias foram as palavras de saudade sobre o poeta Estima de Oliveira. A sessão que se estendeu por quase duas horas deixou o “palco” aberto para todos os poetas e, a alguns presentes no público, foram dados sinais a chamá-los para ouvir a poesia dita pelo próprio. Foi o que sucedeu com Jorge Arrimar mas também com Ana Cristina Alves que leu uma tradução chinesa de um poema. António Bondoso, António Graça de Abreu, José Augusto Seabra, Cecília Jorge, Yao Jingming, Fernanda Dias, Alberto Estima de Oliveira, Fernando Sales Lopes, e a lista dos poetas lembrados podia continuar. A poesia encheu a Fundação Casa de Macau numa sessão onde estiveram igualmente presentes o general Garcia Leandro e o general Rocha Vieira, antigos governadores de Macau durante a administração portuguesa.

Maria João Belchior

31 Out 2016

Lusofonia | Banda portuguesa HMB actua hoje

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já hoje que arranca mais uma edição do festival da Lusofonia, estando agendado para as 19h15 os espectáculos musicais no anfiteatro das casas museu da Taipa. A primeira banda a actuar hoje será Don Kikas, de Angola, seguindo-se o grupo português HMB. O grupo Latin Connection, que representa Goa, Damão e Diu. Amanhã o anfiteatro é ocupado pelos Tubarões, grupo vindo de Cabo Verde e que, com este concerto, mostra que está de regresso aos palcos, após um interregno de mais de 20 anos. Toneca Prazeres, de São Tomé e Príncipe, e Margareth Menezes, do Brasil, também actuam nesse noite.

Sábado é também o dia em que as actividades musicais e de dança começam mais cedo. Por volta das 17h00 começam a actuar o grupo do jardim de infância D. José da Costa Nunes, o grupo folclórico da Escola Portuguesa de Macau ou ainda o grupo Axé Capoeira de Eddy Murphy, os quais vão actuar pelas ruas adjacentes às casas-museu da Taipa.

Domingo, último dia da lusofonia, o palco fica reservado para vários grupos, incluindo o músico local Fabrizio Croce. O espaço das casas-museu da Taipa vai ainda ter um lugar de exposição da escola profissional de música Ofício das Artes com o seu projecto de construção de instrumentos musicais. Há ainda os habituais jogos de matraquilhos e o restaurante de comida portuguesa aberto junto ao largo da igreja.

28 Out 2016

Fórum do Livro | Apresentado «Macau Histórico e Cultural»

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]presentado em Lisboa no Fórum do Livro de Macau, pela editora Livros do Oriente, a obra “Macau Histórico e Cultural”, de António Aresta, reúne vários textos, escritos em diferentes momentos, sobre algumas das figuras mais importantes na história e na cultura de Macau. Trata-se de uma colectânea de artigos que, desde há vários anos, o investigador e docente de filosofia, tem vindo a publicar em diferentes locais. Nas palavras do editor, Rogério Beltrão Coelho, esta edição faz todo o sentido tendo em conta que António Aresta reuniu nos últimos anos uma grande riqueza de temas e de assuntos, agora juntos num livro.

De Álvaro Semedo, o “clássico fundador da sinologia portuguesa”, até Eça de Queiroz e a emigração chinesa de Macau, o livro percorre vários séculos e episódios históricos. António Aresta descreve-o como um “pequeno e honesto esforço para pensar Macau”. Diferente da organização mais comum por ordem cronológica, a obra, está fora da “habitual narrativa historiográfica”, privilegiando o estudo das personalidades enquadradas na sua época. Para o autor, há uma dívida a saldar com nomes como Manuel da Silva Mendes, Carlos Montalto de Jesus, Charles Boxer, Luís Gonzaga Gomes e Austin Coates. Todos autores independentes mas com um amor comum – Macau.

Novos trilhos

No prefácio da obra, Daniel Pires escreveu que há caminhos que se abrem com este livro. De facto, percorrendo o Índice aguça-se-nos a curiosidade sobre alguns dos eventos descritos e fora da habitual análise histórica. Mais do que focar-se unicamente nas figuras e no seu tempo, o autor investigou também a imprensa antiga, reconstruindo alguns dos eventos aí contados, ainda que na parte “não oficial”. É o exemplo da visita do rei do Cambodja a Macau em Julho de 1872, cuja descrição António Aresta recuperou, interpretando à luz do seu tempo os motivos estratégicos da visita.

Além do território, também  a história dos edifícios de Macau surge no livro. A compilação, resultado de uma escolha, obedece a um sentido de curiosidade e compreensão da cultura no território. E entrelinhas deixa questões dando espaço ao leitor para pensar nas suas próprias perguntas.

Maria João Belchior

28 Out 2016

Israel Silva, guitarrista dos Tubarões: “Procuramos fazer música que mobilize o cabo-verdiano”

A história da independência de Cabo Verde contou-se ao som da música dos Tubarões. O grupo, nascido em 1969, deixou os palcos em 1994, mas está de regresso com um concerto no Festival da Lusofonia. Israel Silva, guitarrista, fala da ideia de um novo álbum, da pobreza de Cabo Verde e da falta de qualidade da nova música que se faz no país

[dropcap]A[/dropcap]companha a banda quase desde o início.
Conheço o historial da banda. Na altura, quando foi fundada, dei conta disso, a nossa cidade era muito pequena e dificilmente um acontecimento desses passava despercebido. Depois entrei para a banda em 1977. Como já lá estou há muito tempo fui acompanhando os mais velhos, que fizeram parte da primeira geração dos Tubarões.

Encerraram actividade em 1994, e agora estão de regresso com alguns concertos (actuaram o ano passado em Portugal). É um regresso definitivo?
Quem realmente deu esse pontapé de saída foi a Câmara Municipal de Lisboa, com o convite que nos fez para participarmos na semana cultural em Lisboa, onde se comemorava os 40 anos de independência das ex-colónias. Na sequência disso começaram a surgir os convites. Aquilo que foi uma reunião para responder a um convite acabou por dar azo ao que está a acontecer agora, que é a banda estar novamente na estrada.

E pretendem continuar assim.
Pretendemos continuar enquanto o podermos fazer.

Tinham saudades dos concertos, do regresso à estrada?
Claro que sim. Quem faz arte, os actores, os músicos, os artistas de circo (sentem um pouco isso). Quando se sai sem aquela sensação de que a carreira está mesmo encerrada, mesmo no nosso caso, em que os Tubarões era um grupo que fazia música por prazer. Mas um elemento mais velho, o Jaime, saxofonista, dizia que isto era um desporto que faziam a sério. Então fica sempre a vontade de estar num palco e conviver com os artistas num momento como este que estamos a viver em Macau. Isso é extraordinário.

Que espectáculo poderemos esperar na Lusofonia?
Voltamos a apresentar os temas que já tínhamos feito antes. Não há propriamente nenhum tema novo, mas algumas músicas foram trabalhadas, fizemos uma revisão em termos de sonoridade e orquestração. Mas continuamos a manter a linha de trabalho do grupo. É isso que trazemos. Trouxemos um cheirinho da cultura cabo-verdiana.

Em Macau residem muitos cabo-verdianos. Sentem que as pessoas têm saudades de vos ouvir?
De certeza (risos). Já estivemos com cabo-verdianos que aqui vivem, há uma certa euforia mesmo. O pessoal está muito satisfeito com a nossa presença. Tivemos malta mais jovem e muitos deles nunca tinham ouvido os Tubarões ao vivo, porque deixamos de actuar há 25 anos. E também não esperavam. Já tivemos essa reacção, porque alguns e nós já temos 60 anos, então as pessoas dizem que é um grupo da terceira idade, mas depois vêm-nos em palco e chegam à conclusão de que ainda há muita energia.

A morte de Ildo Lobo gerou um pouco o fim da banda. Quem são os tubarões hoje em dia?
Efectivamente deixamos de tocar um tempo antes da morte de Ildo Lobo, que morreu em 2004. Pessoalmente quando ele morreu admiti que já não voltava a actuar. Mas agora surgiu este convite, reagrupamo-nos, e o que acontece neste momento é que a banda tem a formação base que tinha em 1994. Temos apenas dois elementos novos, o vocalista e o baterista.

Há a hipótese de renovação da banda, com novos elementos e sonoridades?
Em termos de sonoridade vamos manter as nossas características, aquilo que se chama o ADN do grupo. Mantemos isso e não vemos necessidade de alterar. Quando actuamos as pessoas têm de nos identificar como os Tubarões. Claro que vamos ter de introduzir novos temas no nosso repertório, mas vamos fazer isso com calma. Um dos aspectos que sempre caracterizou o grupo é a qualidade daquilo que interpretamos. Sempre tivemos o cuidado da qualidade da sonoridade e da mensagem também.

A propósito da mensagem, estão ligados ao processo de independência de Cabo Verde. Que mensagem passam hoje em dia?
Naquela altura, em 1974, o papel do grupo foi de mobilização. Os compositores da chamada música de intervenção, como Zeca Afonso, escolheram os Tubarões para divulgar a sua mensagem de mobilização à volta do processo de independência, o que resultou bem. Hoje somos um país estável, que mantém alguns problemas, mas procuramos fazer uma música que divulgue a nossa tradição e mobilize o cabo-verdiano à volta desse desafio que é manter um país livre, independente e com uma resposta adequada aos problemas sociais que se vivem.

Que problemas são mais prementes? Como é que a música pode ajudar?
O nosso principal problema é a pobreza. Temos um problema estrutural: um país pobre, sem recursos identificados, temos de apostar na educação. Embora pobres, se conseguirmos elevar o nível cultural da população, estaremos a dar às pessoas um instrumento para sair dessa pobreza, porque não podemos estar de mãos estendidas à espera do Estado.

Como classifica a música que se faz hoje em dia em Cabo Verde?
Nos últimos anos houve uma explosão de artistas de música. Sou bastante crítico, porque muita música que se faz hoje em dia não tem qualidade. São plágios, vão buscar melodias feitos por artistas internacionais, alteram a letra, metem-na em crioulo e com mensagens vazias.

Podiam ir buscar algo à literatura do país.
Exacto. Eles ignoram o que existiu no passado. É por isso que o regresso dos Tubarões é importante, porque temos sentido muitos jovens a se aproximaram daquilo que era feito antes. Estão a sair desse circulo vicioso, desse género musical que não sabemos se é de Cabo Verde ou de Angola.

A história de Cabo Verde tem sido ignorada pelas novas gerações, ou mesmo esquecida?
Esquecida sim. Mas a culpa não é só dos jovens, mas também do poder político, porque desde a independência que não demos atenção suficiente. Mesmo nas escolas e nos programas de ensino não há uma abordagem adequada que permita aos jovens entenderem qual a importância de conhecerem a sua própria história.

Há um novo álbum pensado?
Começa-se a falar nisso, mas é como eu disse: temos de ter cuidado na selecção das composições. Pensamos até em retomar alguns temas que já tínhamos gravado. Tem de haver novidade. Estamos mesmo na fase inicial, estamos a começar a pensar e na fase dos contactos.

28 Out 2016

Livros em português e em chinês em debate no fórum que se realiza em Lisboa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]proximar Portugal e Macau em termos editoriais não é uma tarefa fácil. Mas, mesmo ciente das dificuldades, a Associação de Amigos do Livro em Macau considera ser muito importante aproximar os dois locais pelos livros e pelas traduções em português e chinês.

Rogério Beltrão Coelho, presidente da Associação de Amigos do Livro em Macau, realçou no fórum que decorre esta semana em Lisboa a relevância que tem poder ler em língua portuguesa o que se escreve em Macau. “Temos o dever de traduzir para português o que se escreve em Macau”, diz. Não é, contudo, um trabalho fácil pela própria distância entre as duas línguas, assim como pela dificuldade que existe de encontrar quem possa traduzir literatura, com um excelente domínio de ambos os idiomas.

Realçando o papel positivo da Fundação Rui Cunha, o editor fez questão de frisar que “é uma instituição absolutamente privada que apoia, sem criar condições, tudo o que se produz em português e em chinês.”

Mais cultura portuguesa

O presidente da associação referiu ainda que existe actualmente uma esperança muito grande pelos sinais que chegam de Pequim. Nos últimos anos, o Governo Central tem dado indicações de querer dar uma força cada vez maior à cultura portuguesa no território. O aumento da procura dos cursos de Língua Portuguesa por parte de estudantes chineses é igualmente um sinal positivo para o reforço da cultura na região.

Em termos literários, Macau continua a alimentar um imaginário colectivo que inspira escritores e poetas. O professor José Carlos Seabra Pereira considera que “o delta literário nunca esteve tão fecundo como agora para a literatura portuguesa e macaense.” Uma opinião partilhada por Margarida Duarte que moderou a mesa redonda acerca dos livros sobre Macau publicados em Portugal.

“Hoje há muita gente a escrever e a escrita foi melhorando”, disse Margarida Duarte, acrescentando que “há mais gente que se está a revelar”. No entanto, continuou, “ainda vai ser preciso mais uma geração para falarmos do valor literário das obras”.

A escrita de romances históricos, um género que entrou no top de vendas nas livrarias nos últimos anos, também se foi inspirar em Macau. Há livros que são escritos em Portugal por gente que não vive no território, mas há igualmente livros escritos in loco por autores portugueses que passaram as últimas décadas na cidade. São dois pontos de vista, duas formas de olhar.

Margarida Duarte considera que um dos problemas de escrever sobre Macau se prende com o exotismo. “Quem lá está, olha do lado de dentro mas de qualquer maneira não conhece o outro, e acaba a falar sobre si. Quem está deste lado, incorre no problema de estar sempre a explicar o outro”, disse. Entender para lá das pistas mais óbvias é o desafio que se coloca à escrita.

Para Margarida Duarte existe ainda um outro obstáculo – e maior. Se o exotismo pode acabar por ser uma armadilha, por outro lado, “continua a haver um grande desinteresse de Portugal sobre tudo o que diz respeito ao Oriente e ao que diz respeito a Macau, e isso é que é uma pena”. Um problema que, diz, tem muitos anos de história.

Maria João Belchior

27 Out 2016

Historiadora diz que Macau não desperta interesse aos portugueses

Macau não desperta interesse aos portugueses. A ideia foi passada pela historiadora Beatriz Basto da Silva que afirma ainda que os estrangeiros têm mais curiosidade pelo território do que aqueles que por cá viveram cerca de 400 anos, e que ainda vivem

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] historiadora especialista em Macau, Beatriz Basto da Silva, considerou que os portugueses dedicam pouca atenção à situação cultural e mesmo económica daquele território, acrescentando que são os estrangeiros a procurar mais as bibliotecas e os arquivos macaenses.

“Acho muito feio que as pessoas se alheiem da situação de Macau, tanto cultural como económica. Porque Macau merecia muito mais atenção. Para se gostar de Macau é preciso conhecê-lo. Eu escrevi uma Cronologia da História de Macau porque não conseguiria numa vida escrever uma história de Macau se não fosse por números, de tão rica que é”, considerou a historiadora à agência Lusa durante a abertura da Feira do Livro de Macau em Lisboa, a primeira iniciativa do primeiro Fórum do Livro de Macau na capital portuguesa, que se prolonga até 3 de Novembro.

“Não há, neste momento, interesse pela história de Macau, aqui. Na RAEM aparecerem muitos estrangeiros a perguntar pela nossa história, porque a história de Macau envolve muitas ligações com países de Europa. E são ligações tão grandes, tão importantes que não se pode contar a história de nenhum país europeu que não tenha qualquer coisa a ver com Macau”, salientou a especialista.

Dos portugueses e chineses que vivem em Macau, Beatriz Basto da Silva faz um retrato pouco animador. “A civilização que hoje existe em Macau é consumista”, pelo que “não há grande interesse em saber o porquê e ver o que se passou para trás”.

O fascínio do oriente

Presente na feira, o advogado José António Barreiros, antigo secretário da Administração e da Justiça em Macau em finais dos anos 80, considerou, por outro lado, que há “um interesse cíclico que não se perde” dos portugueses por Macau.

“O fascínio do Oriente acompanha sempre o português. E sobretudo em tempos de crise o português acaba por ter sempre o fascínio do longínquo Oriente, do enigmático Oriente. É um interesse cíclico que não se perde e que se vê pela vitalidade do que tem vindo a ser publicado”, disse o advogado, que é responsável pela editora Labirinto de Letras.

A Labirinto de Letras editou dois livros de Eduardo Ribeiro, sobre a presença de Camões em Macau, e recentemente uma biografia de Ouvidor Arriaga, de António Alves-Caetano.

“Não é um sucesso editorial, porque há pouca gente a ler, mas é seguramente algo de sério e de importante e que tem de ter o seu espaço”, completou.

Sobre o Fórum, o presidente da Associação Amigos do Livro de Macau, que organiza a iniciativa, explicou que a intenção “é dar a conhecer em Portugal o que se faz na literatura portuguesa em Macau e também dar a conhecer um pouco do que se faz em literatura chinesa” na agora Região Administrativa Especial chinesa.

“Teremos sessões, conferências, debates, lançamentos de livros, poesia. Não há propriamente pontos altos”, disse Rogério Beltrão Coelho.

“No Centro Científico e Cultural de Macau teremos duas conferências: uma sobre o livro antigo de Macau e outra sobre o livro actual. Na Universidade Católica haverá uma sessão sobre os livros de Direito. No Clube Militar Naval vai falar-se dos marinheiros que escreveram sobre Macau. O Fórum terminará na Biblioteca Nacional, onde se evocará uma grande escritora ligada a Macau, a Ondina Braga”, acrescentou.

No dia 29, o ministro da Cultura de Portugal estará numa sessão de poesia ligada a Macau na Fundação Casa de Macau em Lisboa.

26 Out 2016

Literatura de Macau em Lisboa até 3 de Novembro

Maria João Belchior

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeçou ontem uma iniciativa que acontece pela primeira vez e que junta editores, livreiros, autores, académicos e o público em geral interessado na temática de Macau. Organizado pela Associação de Amigos do Livro em Macau, este é o primeiro fórum dedicado à literatura e a estudos académicos sobre o território a realizar-se em Lisboa. É uma semana e meia de eventos, com conferências e mesas redondas que têm lugar em diferentes instituições na capital.

O Centro Científico e Cultural de Macau recebeu no primeiro dia as duas conferências inaugurais do Fórum. Luís Filipe Barreto, presidente do Centro Científico e Cultural de Macau, apresentou “Macau: Livros e Leituras. Século XVI e XVII”, numa viagem pelo início daquele que pretende ser também um caminho literário pela história da região.

Ainda no dia de abertura, teve lugar a conferência de José Carlos Seabra Pereira intitulada “O Delta Literário de Macau.”

Reunidas numa iniciativa lançada pela Associação de Amigos do Livro em Macau, liderada pelo editor Rogério Beltrão Coelho, várias editoras de Macau estão representadas na Feira do Livro que se realiza livraria da Delegação Económica e Comercial de Macau.

A variedade da agenda de eventos deste projecto pioneiro permite abordar diferentes temáticas, desde os estudos literários ao Direito. Na Universidade Católica em Lisboa terá lugar uma conferência, apresentada por Filipa Guadalupe, no próximo dia 31, tendo por tema “A importância dos livros de Direito de Macau na preservação de Um País, Dois Sistemas”.

Hoje, o segundo dia do Fórum, Margarida Duarte modera uma mesa redonda acerca dos livros sobre Macau publicados em Portugal. Vão estar presentes os escritores Maria Helena do Carmo e Fernando Sobral, assim como o escritor e editor José António Barreiros.

Língua portuguesa em destaque

O português como linha estratégica essencial vai ser o mote para uma das conferências do Fórum. O Instituto Politécnico de Macau (IPM) criou, em 2012, o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, sendo um dos objectivos principais o apoio do ensino do Português em Macau e no interior da China. Neste sentido, a actividade editorial tem crescido através de vários estudos publicados sobre a língua Portuguesa e o seu ensino. É neste contexto que vai ser apresentada pela primeira vez em Lisboa, a obra de Carlos Ascenso André, intitulada “Uma Língua para ver o Mundo”. A apresentação está marcada para quinta-feira e será feita pelo Luís Filipe Barreto. Nessa sessão deverão ser divulgados os títulos já publicados pelo IPM, assim como anunciados alguns dos projectos futuros.

Homenagem a Maria Ondina Braga

No último dia do Fórum, a 3 de Novembro, terá lugar na Biblioteca Nacional em Lisboa uma palestra inteiramente dedicada à escritora Maria Ondina Braga, cuja vida ficou marcada por Macau, um território dentro e fora de si, descrito nos seus livros. A sessão apresentada pelo editor José António Barreiros, que há vários anos estuda a obra da escritora, mantendo também uma página na Internet sobre a vida e os livros de Maria Ondina Braga, acontece às 18h30. Esta apresentação pretende, de certa forma, colmatar uma falta de divulgação e conhecimento generalizado sobre a riqueza da sua obra. Como escreve José António Barreiros, “será, pois, um regresso através dos seus livros, a revisitação e o desocultamento, cerimonial de purificação, a reconstrução do ser através do verbo”.

25 Out 2016

Instagram | Encontro no território pretende promover turismo internacional

Macau no Instagram e fotografado pelos “melhores”. Foi a ideia do Turismo para trazer à região os melhores “iggers” de Portugal e juntá-los com os da terra, para que as imagens, para além dos casinos, possam circular pelo mundo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro “Instameet Macau” aconteceu no passado sábado. O encontro que normalmente convida os mais prestigiados “iggers” foi agora aberto ao público numa iniciativa do Turismo de Macau em Lisboa. No total, a iniciativa contou com 15 participantes entre locais, oriundos da China continental, portugueses e até de Marrocos que, com o seu olhar, contribuíram para dar a conhecer a terra além dos casinos.

Em época de “diversificação do turismo da região, este foi um encontro que, aliado às novas tecnologias e tendências, pretendeu dar a conhecer a RAEM ao mundo”, afirma o organizador e representante dos escritórios do Turismo de Macau em Lisboa, Gonçalo Magalhães. Neste sentido, convidou duas referências portuguesas para uma semana no território de modo a que este fosse documentado de “outra forma”. A estadia de Ana Morais e Kitato, os “iggers” convidados, terminou com aquele encontro aberto que deixou nos participantes a sensação de “acontecimento a repetir”.

Recepção ventosa

Da semana que recebeu os instagrammers de Portugal, Gonçalo Magalhães faz um balanço “muito positivo”. “Apesar das adversidades que encontraram à chegada de Portugal, porque não só apanharam um, mas sim dois tufões, considero que não parámos de fotografar, de descobrir sítios e de procurar sempre mais coisas em Macau”.

O encontro que marca o final da viagem, ao contrário do que tem sido feito pelo mundo fora, foi pela primeira vez, aberto a todos, o que resultou numa mistura de culturas que “não se esquece”.

“O Turismo de Macau deu-nos a oportunidade de trazer aqui este encontro de “iggers” que, aliado ao P3 através do Luís Octávio Costa, proporcionou um bonito encontro cultural” descreve Ana Morais, convidada e representante da associação Gerador, ao HM, ainda profundamente impressionada com Macau. “Esta é a minha primeira experiência na Ásia e acho tudo maravilhoso”, explicou enquanto comentou que não se sentiu num país estranho. Outro ponto que a responsável pelos encontros refere é “forma simpática das pessoas acolherem os que vêm de fora”.

Já Luís Octávio Costa vai de regresso a casa com a sensação  de que Macau é a verdadeira terra de misturas e contrastes. “Vim, enquanto Kitato,  e fui convidado pelo Turismo de Macau para fazer o que faço no instagram, ou seja, mostrar a minha perspectiva dos sítios por onde passo e não fazer os postais que normalmente se fazem das cidades” sendo esta a característica “mais interessante deste tipo de iniciativas”. Como também é editor do P3, as coisas acabam por se confundir e acaba por mostrar as galerias dentro da publicação.

Para o “igger” um dos motivos a explorar na RAEM “são os prédios e os seus recortes e há muitas pessoas que vêm aqui para fotografar isso mesmo”. Por outro lado, “o que atrai em Macau a nível visual, e para o instagram, é a vida nas ruas e as suas pessoas, sendo que a plataforma obriga a descobrir estas coisas”.

Ligados à cidade

No encontro participou também o arquitecto residente Nuno Assis, já reconhecido pela actividade no instagram. “Este tipo de eventos é importante para a promoção das cidades”, diz. Apesar de não serem muito conhecidas na China, as promoções das cidades através do instagram, na Europa, já começam a ser uma opção tomada por muitas cidades”. Nuno Assis considera que “é importante a cidade e o Governo entenderem que este tipo de eventos são fundamentais para a promoção da cidade e para a aproximação com as pessoas”.

Já Sam, vem da China continental a convite dos colegas que conhece via instagram. Ao saber do evento, não hesitou e juntou-se ao grupo . Para o “igger”, “é um evento muito positivo, não só como promoção do presente mas como “memória para o futuro porque Macau está a mudar muito e é bom ir registando os momentos para que fiquem nas recordações”, considera.

As fotografias e os vídeos resultantes do encontro podem ser acompanhados no Instagram a partir das “hastags” #osfabulososinstameetsgerador, #gerador, #experiencemacaoyourownstyle, #wowmacau e #macau.

25 Out 2016

Joaquim Franco, artista plástico: “Quero muito internacionalizar o meu trabalho”

Deixou a gravura no estúdio que um dia teve e que o preço das rendas já não lhe permite suportar. Agora só pinta. E pinta quadros com outras cores, influência das viagens, de paragens diferentes. Joaquim Franco tem um ateliê no Macau Art Garden, na Avenida Rodrigo Rodrigues. No quarto andar de um espaço cheio de luz e de silêncio encontramos um artista que se fechou no trabalho para um dia destes chegar lá fora, a outros destinos

[dropcap]H[/dropcap]á dez anos dizia que o ambiente artístico em Macau é sempre muito individual. Continua a ser assim?
Sim, embora as coisas tenham mudado bastante nestes últimos dez anos. Julgo que a mentalidade local abriu um bocadinho, até por influência do exterior, porque há mais estrangeiros. Mas, de facto, ainda continua a ser muito cada um no seu quintalzinho, cada um no seu cantinho.

Mas hoje partilha um espaço com outros artistas plásticos.
Sim, tive esta hipótese fabulosa que foi o James Chu ter-me ligado um dia destes a convidar-me para eu vir para aqui, porque sabia que eu não tinha estúdio, que está muito complicado ter um em Macau por causa do preço das rendas. Arranjei então este espaço. É pequenino, mas é simpático, estou concentrado no trabalho que estou a fazer e é muito bom.

O facto de estar num ambiente com outras pessoas – e, claro está, ter um estúdio – veio dar outra dinâmica ao seu trabalho?
Talvez possa considerar que sim. O que se passa é o seguinte: os artistas que estão aqui instalados neste edifício são, quase todos eles, jovens. São jovens que acabaram os cursos aqui de Macau, no Politécnico, há um ou outro que estudou fora na China, sobretudo –, mas são jovens. É engraçado e interessante conversar com eles sobre arte, sobre pintura. Não falam muito, porque a maior parte não domina o inglês, mas é interessante e simpático falar com eles, sobretudo porque são jovens e estão a começar.

Está cá há 26 anos. Como é que se faz, no caso de um artista plástico, para não ficar naquilo que estava a fazer quando chegou cá, dada a dimensão do meio?
É preciso ter a cabeça muito arrumada, na realidade. É preciso um grande esforço, muito trabalho e tenho lutado muito para chegar ao nível mais alto possível.

Veio para Macau fazer um trabalho completamente diferente daquele que tem hoje: arqueologia nas Ruínas de São Paulo.
A ideia era ficar 10 meses em Macau e já cá estou há 26 anos.

Como é que olha para estes 26 anos?
Olho bem, são simpáticos. Podiam ser melhores, podiam ser piores. É sempre uma questão à qual não conseguimos responder, porque se não tivesse sido aqui, teria sido noutro sítio e as coisas teriam sido com certeza diferentes. Agora, há uma coisa muito interessante, que gostava de focar nesta conversa: estes 26 anos não me transformaram num chinês ou num oriental, mas influenciaram muito o meu trabalho. Digamos que me aculturei e essa aculturação é extremamente importante perceber e digerir. Julgo que o meu trabalho foi muito influenciado pela arte chinesa e pela arte oriental.

E como é que essa influência se traduz?
Quando se olha para um quadro meu, à primeira vista, provavelmente as pessoas não se apercebem mas, na realidade, em termos de composição… Por exemplo, a composição da arte tradicional chinesa é vertical, da direita para a esquerda. Porquê? Porque tradicionalmente os chineses escreviam – e escrevem – de cima para baixo e da direita para a esquerda. Nós, no Ocidente, escrevemos horizontalmente e da esquerda para a direita, de cima para baixo. Resultado: a composição da pintura abstracta ocidental é normalmente muito horizontal, por essa influência, e, na minha pintura e no meu trabalho, a influência oriental existe, sinto-a e isso é interessante.

Esta aculturação não foi um processo deliberado…
Todos nós somos influenciados pelo meio, seria uma cobardia dizer que não, ninguém me influencia, eu sou o maior – isso não existe. No jornalismo, em todas as profissões, as pessoas são influenciadas pelo meio que as rodeia. É evidente que um artista plástico também sofre influências do meio. De repente, um dia acorda de manhã para um quadro e diz assim: ‘olha, afinal, que interessante, não tinha reparado nisto, mas isto é oriental’. É um pouco isto, é assim que acontece, não é ir à procura da influência. É um processo natural.

Nesta nova série em que está a trabalhar sente essa influência?
Sinto bastante. O mais interessante foi quando estive na Colômbia, no ano passado, em que aí se notou muito porque, na América Latina – apesar de terem a sua própria cultura –, a cultura deles é muito mais próxima da europeia do que a cultura asiática. Foi muito interessante porque, nos meus trabalhos, essa influência existia e nas conversas que tive com artistas lá discutiu-se muito isso, o que foi, de facto, interessante. Foi das coisas mais interessantes de verificar.

Tem uma nova série de trabalhos. O que é esta nova série?
Vem no seguimento do trabalho que já faço há dez anos – não parece, mas é verdade que já passaram dez anos e continuo a fazer mais ou menos a mesma coisa. Agora, a realidade, a influência da minha estadia na Colômbia – ainda foram quatro meses e meio em Medellín – ajudou a abrir outras portas, provavelmente. Ainda não estou muito certo disto mas penso que ajudou, talvez em termos de outras cores. A cor latino-americana é muito viva, muito brilhante, e eu usava muito laranjas e azuis, uns azuis muito escuros. Ainda uso, mas penso que, nesse aspecto, ajudou, influenciou.

Há quadros de grande dimensão?
Não, neste momento não tenho espaço suficiente para quadros de grande dimensão. Tenho uns quadros muito pequeninos, com 20 centímetros, 30 centímetros, e depois tenho uns maiores, com um metro por um metro, um metro e oito por oitenta. Gostaria de fazer coisas de grande dimensão, mas não é possível neste momento.

Está mais focado na pintura.
Só trabalho em pintura neste momento.

Onde é que ficou a gravura?
A gravura ficou no tinteiro, porque não é possível fazer gravura sem ter um ateliê. Eu tinha um ateliê montado, com prensa de gravura, com sala de ácidos, com tudo isso, mas é impossível manter, porque as rendas são muito caras e infelizmente não vendemos trabalho todos os meses. Do ponto de vista económico, a gravura é muito interessante, porque é a democratização da arte. Quando faço uma pintura é uma única; com uma gravura faço 30 provas e são 30 provas da mesma imagem. Todas elas têm o mesmo valor, mas o leque de pessoas que vão usufruir dessa imagem é muito maior. Por isso é que os artistas dizem que a gravura e a serigrafia são a democratização da arte. Mas infelizmente não é possível fazer gravura sem um ateliê, uma oficina, e neste momento não tenho espaço.

O que tem que ver com as mudanças também destes últimos anos. Dizia ainda há dez anos que o Governo e as instituições públicas não encomendam trabalho aos artistas.
Sim, isso continua mais ou menos na mesma. É pena – estão a fazer, por exemplo, o metro de Macau, podiam convidar os artistas para fazerem a decoração das estações de metro. Há uma questão em Macau que não existe: equipas interdisciplinares. Fazem-se casinos, fazem-se estações de metro, faz-se tudo, mas não se inclui um artista plástico numa equipa de engenheiros, arquitectos e, no caso dos casinos, designers de interiores. E é pena, porque poderia acontecer um trabalho muito mais interessante, mas não há essa tradição.

Algumas operadoras do sector do jogo têm trazido até Macau trabalhos de artistas de renome. Outras têm chamado para a curadoria de iniciativas um ou outro artista local, mas não há um investimento claro dos casinos nos artistas que vivem no território.
Tive a sorte, por exemplo, de fazer quatro painéis para um casino, em 2015, mas foi só isso. Fiz os painéis e pronto, não aconteceu mais nada. Conheço um casino que tem uma sala enorme cheia de quadros que foram comprados na China e na Tailândia mas que não podem ser usados, porque não estão de acordo com o ‘feng shui’, porque são quadros a óleo quando deviam ser a acrílico, por causa da questão da segurança, etc. Se convidassem artistas locais, provavelmente não teriam este tipo de problemas, mas é esta a realidade. De qualquer forma, tudo bem. Estou sempre aberto a propostas – venham elas.

Uma das áreas em que tem trabalhado é a formação. É uma vertente que continua a interessar-lhe?
Muito. Fiz arte-terapia por causa do tufão em Taclóban e da guerra em Zamboanga [nas Filipinas]. Fiz durante quase toda a minha vida, quando tinha um ateliê grande, workshops de formação. Há 20 anos – quando conheci este meu amigo colombiano com quem estive no ano passado – fiz um projecto exactamente ligado à educação, de intercâmbio internacional de artistas. Trazia artistas de fora a Macau, que fariam workshops e exposições, que trabalhariam em residência, e esse contacto com outros artistas, numa altura em que não havia escola de artes – hoje em dia já há o Politécnico, mas não há uma universidade de artes em Macau –, seria interessante. Talvez tenha sido muito cedo para as pessoas entenderem a dimensão de um projecto deste tipo e, portanto, acabou por não ser apoiado e desisti, porque lutei durante quase 15 anos e os resultados foram um bocadinho desastrosos. Não tive capacidade económica para continuar a custear o projecto.

Ainda assim, nomeadamente na Casa de Portugal, desenvolveu muito trabalho na área da formação.
Sim, sim. Dei aulas, fui o primeiro artista a dar aulas para a Casa de Portugal, a abrir os workshops, e durante uns anos dei aulas lá.

Sente que aquilo que foi passando durante estes anos a quem foi tendo contacto consigo deu frutos? Não digo necessariamente na formação de artistas, mas na sensibilização para a arte, na formação de público.
Acho que sim. Sempre que dou workshops não tenho na ideia que estou a formar artistas plásticos e que todos os meus alunos vão ser artistas plásticos. Por exemplo, durante 18 anos dei aulas no curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Macau e é evidente que tive milhares de alunos durante esses anos, porque cada ano eram 60, 70, e julgo que não andei a formar artistas. Mas sensibilizá-los para as técnicas, para a arte em geral, isso sim, acho que foi um trabalho que fica sempre.

Projectos para o futuro?
A internacionalização do meu trabalho. Neste momento, à revelia de tudo, fechei-me a pintar e estou muito concentrado no meu trabalho. Quero muito internacionalizar o meu trabalho.

Sente que se estão a abrir portas para que isso possa acontecer?
Acho que sim. Por exemplo, estive na Colômbia numa cidade que era considerada, há uns anos, a mais perigosa do mundo: Medellín. Depois da captura do grande chefe da máfia colombiana, as coisas apaziguaram bastante, o Governo colombiano entrou em conversações com as FARC para estabelecer a paz no país, porque a guerra civil já dura há imenso tempo. Medellín, em 2014, foi considerada a cidade com maior desenvolvimento cultural do mundo. Porquê? O alcaide de Medellín – e o Governo da Colômbia também – apercebeu-se de que pela educação é que vai conseguir apaziguar a situação. Estão a investir imenso na cultura e na educação, porque perceberam que a cultura pode influenciar e abrir portas para que a paz se estabeleça no país. Foi bastante interessante ver isso. Por exemplo, a Feira de Artes de Medellín, na qual tive dois trabalhos expostos, é neste momento uma das maiores feiras internacionais da América Latina. Não vendi, mas saiu um artigo sobre o meu trabalho numa revista, o meu trabalho entrou nas exposições, fiz também enquanto lá estive uma pintura mural num complexo de restaurantes onde uma fundação tinha uma grande exposição de arte. Convidou-me para fazer um painel e ofereci-o a essa fundação. Fiz imensos contactos, fiz imensos amigos e vamos ver os resultados disto tudo. É preciso semear para depois colher.

24 Out 2016