Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialFestival Cinema | “Clean-Up” da Coreia do Sul arrecada prémio para melhor filme O filme sul coreano “Clean Up” ganhou o prémio para o Melhor Filme na 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau que terminou na passada sexta-feira. Também fortemente elogiado pelo júri e distinguido com a melhor realização e melhor interpretação foi o filme dinamarquês “The Guilty” [dropcap]T[/dropcap]erminou na passada sexta-feira a 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. O evento fechou com a entrega de prémios aos vencedores e o galardão para o melhor filme foi para o sul coreano “Clean Up”, de Kwon Man-ki. A distinção foi “uma verdadeira surpresa” para o cineasta. De acordo com o realizador, o maior desafio foi o orçamento, até porque “foi uma produção de baixo custo que acarretava muita pressão para que o filme fosse terminado o mais rápido possível”, apontou após a entrega do prémio. O cineasta de “The Guilty”, Gustav Moller, levou para casa o prémio de melhor realizador. O filme dinamarquês, que também levou o galardão para o melhor actor, com a interpretação de Jakob Cedergren, foi destacado pelo júri pelo seu atrevimento. A película desenrola-se toda num único cenário sendo um filme “arrojado e difícil de filmar”. A melhor actriz deste ano foi a alemã Aenne Schwarz, com a sua interpretação no filme “All Good”. Já o prémio especial do júri foi para o filme argentino “White Blood” da realizadora Barbara Sarasola-Day. Segundo a cineasta, os desafios na rodagem da história que conta a relação complicada de uma traficante de droga com o seu pai, prenderam-se com a própria localização das filmagens. “O filme foi filmado, em grande parte junto da fronteira entre a Argentina e a Bolívia, numa terra remota. A equipa tinha que se deslocar para lá durante longos períodos de tempo e nem sempre era um cenário seguro”, comentou após ter recebido o prémio. Kaloyan Bozhilov, director de fotografia de “Ága” que trouxe ao grande ecrã a tundra siberiana arrecadou o prémio para a melhor contribuição técnica . Barnaby Southcombe ganhou a estatueta para o melhor argumento com “Scarborough”, o filme que retrata as relações de dois casais com amores proibidos. O jurí atribui ainda uma menção especial ao filme japonês “Jesus” e o prémio do público foi para a produção mexicana “The Good Girls”. Nesta edição, a avaliação dos 11 filmes em competição foi feita por Chen Kaige, que presidiu ao júri também composto pela realizadora de Hong Kong, Mabel Cheung, a actriz indiana Tillotama Shome, o produtor australiano Paul Currie e o realizador bósnio Danis Tanovic. As estreias Este ano o maior evento dedicado à sétima arte no território teve uma nova secção, dedicada ao cinema em língua chinesa. O vencedor foi “Up the Mountain” de Zhang Yang. Em competição estavam mais cinco películas: “Dear Ex”, “Baby”, “Xiao Mei”, “Fly By Night” e “The Pluto Moment”. As curtas metragens de realizadores locais também tiveram um espaço para serem exibidas. Este ano, 14 trabalhos do projecto “Macau – O Poder da Imagem” foram apresentados em três sessões, com o filme “The Melancholy of Gods” de Lei Cheok Mei a ser distinguido com o Prémio Especial do Júri, e “Halfway” de Ng Ka Lon com a Menção Especial. “Suburban Birds” recebeu o Prémio NETPAC (Network for the Promotion of Asian Cinema – Rede de Promoção do Cinema Asiático enquanto o filme “Crazy Rich Asians” recebeu o Prémio de Filme Sucesso de Bilheteira Asiático de 2018. Nesta edição houve ainda espaço para o Prémio das Próximas Estrelas Asiáticas da Variety que distinguiu ainda cinco actores: Anne Curtis, Iqbaal Ramadhan, Zaira Wasim, Xana Tang e Ryan Zheng Kai. Os premiados Melhor filme – “Clean Up” Melhor Realizador – Gustav Moller – “The Guilty” Melhor Actor – Jakob Cedergren – “The Guilty” Melhor Actriz – Aenne Schwarz – “All Good” Melhor Contribuição Técnica – Kaloyan Bozhilov (director de fotografia) – “Ága” Melhor Argumento – Barnaby Southcombe – “Scarborough” Melhor Jovem Actor – Abhimanyu Dassani – “The Man Who Feels No Pain” Menção Especial – “Jesus” Prémio do Público – “The Good Girls” Prémio de Carreira “Espírito do Cinema” – Chen Kaige Prémio do Melhor Filme Chinês – “Um The Mountain” Prémio NETPAC (Network for Promotion of Asian Cinema) – “Suburban Birds” Prémio Filme de Sucesso de Bilheteira Asiático – “Crazy Rich Asians” Prémio das próximas Estrelas Asiáticas da Variety – Anne Curtis, Iqbaal Ramadhan, Zaira Wasim, Xana Tang e Zheng Kai Secção Macau – O Poder da Imagem Prémio Especial do Júri – The Melancholy of Gods” de Lei Cheok Mei Menção Especial – “Halfway” de Ng Ka Lon
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialChen Kaige, realizador, presidente do júri do MIFF: “Sinto falta do tempo em que gostávamos uns dos outros” “Farewell my Concubine” e “Life on a String”, realizados por Chen Kaige, foram filmes responsáveis pelos primeiros contactos do Ocidente com o cinema chinês. Aos jornalistas, o realizador, que esteve no território a presidir o júri da 3ª edição do Festival Internacional de Cinema, falou das transformações sociais da China que considera estarem a ser pagas com a perda de valores como a solidariedade e a confiança Nos seus filmes aborda a história recente da China em “Farewell my Concubine” ou “Life on a String”, bem como as transformações sociais contemporâneas em “Caught in the Web”, ou mesmo a história antiga trazida por “Legend of the Demon Cat”. Que diferenças existem em fazer filmes que retratam dinastias, passam pela Revolução Cultural e abordam o mundo contemporâneo? [dropcap]À[/dropcap]s vezes olho para a minha vida e sinto que, de certa forma, tem sido muito dramática. Posso dizer que não tive aquilo a que se chama de uma infância bonita. Naquela altura, a China era um país muito isolado, muito fechado ao mundo. Nós basicamente não sabíamos nada sobre o que se passava fora do país. Ainda não tinha 17 anos quando fui enviado para um campo de trabalho. Depois fui mandado para o exército, e daí para uma fábrica, numa província remota da China. Sentia muito a falta da minha família que estava em Pequim naquele momento. Tudo mudou com o começo da reforma económica. A China abriu as portas ao mundo. Houve uma espécie de revolução, devo dizer, mas agora uma revolução económica. Foi nesta altura que foi autorizado, novamente, o acesso à universidade. Entrei como estudante para a Beijing Film Academy e comecei a minha carreira. Devo dizer que nos últimos 40 anos há uma mudança incrível no país e que envolveu biliões de pessoas. Acho que meu destino também mudou. Nunca pensei que poderia ser realizador de cinema. Nunca pensei que tivesse a sorte de ter um prémio em Cannes. Acho que tudo isso foi um presente concedido pelo tempo. Mas, voltando à questão, prefiro fazer filmes contemporâneos e que se debrucem sobre as mudanças da China. Infelizmente não há muitos filmes que abordem ainda este aspecto. Por outro lado, uma das razões que me leva a olhar para trás através do cinema, é para aprender alguma coisa com o que se passou. Acho que tivemos que pagar um preço demasiado alto pelas mudanças que estão a acontecer no país. A China, o nosso comportamento, o relacionamento entre as pessoas e a estrutura da sociedade, tudo mudou completamente. Acabámos por perder muitas coisas que costumavam ser preciosas para nós. Na escuridão da história, podemos ver as coisas que têm sido perdidas e que na altura brilhavam. É por isso que gosto de voltar à história e trazer aqueles valores para o mundo actual, para mostrar o que tínhamos e o que perdemos. Que tipo de coisas? A sociedade vive agora em competição permanente. A relação entre as pessoas mudou. O outro é visto como um concorrente e não necessariamente como um amigo. Mas no passado sabíamos até como respeitar um concorrente. Quando era miúdo e morava em Pequim, as pessoas eram muito educadas e cordiais umas com as outras. Gostava muito disso. Pessoalmente, não me importo com o quão forte a sociedade possa ser, quão forte a nação possa ser. O que me importa, e o que também quero mostrar nos meus filmes, é como as pessoas podem ser boas umas com as outras. Sinto falta do tempo em que gostávamos uns dos outros. Acha que seus filmes podem ajudar a trazer de volta esse tipo de relação? A minha voz é muito fraca. A minha voz não é ouvida por milhões de pessoas. Talvez seja eu que esteja errado. De qualquer forma, tento dar uma energia positiva às pessoas, seja a partir da actualidade, seja através da história. Por outro lado, não espero que as pessoas gostem disso. O que me importa é que o possa fazer e que possa acreditar que é este tipo de sentimento humano que fez de mim um cineasta, desde o início. Existe algum período específico na história da China que lhe interesse particularmente? Passei seis anos a fazer o meu último filme – “Legend of the Demon Cat”. Parece muito comercial, mas tem um significado profundo. É sobre a dinastia Tang que, para mim, é a mais bela dinastia da história da China. Era uma dinastia muito aberta ao mundo e que aceitava pessoas de todo o lado: da Coreia, do Irão, da Ásia Central e talvez mesmo da Europa. Estava sediada na actual cidade de Xi´An. Quando estava a pesquisar nos registos históricos, constatei que talvez mais de quarenta mil estrangeiros também viviam ali e podiam mesmo tornar-se oficiais caso passassem nos exames. Houve muitos japoneses que, por isto, vieram a ocupar altos cargos no país. Era uma dinastia que se baseava na hospitalidade, na confiança. São bons exemplos para mostrar o que fomos naquela altura. Foi com películas como o “Farewell my Concubine” que o Ocidente teve os primeiros contactos com o cinema chinês tendo-se rendido a muitos filmes assinados por si. O que acha que motivou este interesse pelo cinema da China? Devo dizer que tive muita sorte por ter tido o tempo do meu lado. Naquela época, as pessoas do ocidente, incluindo os críticos de cinema, não sabiam mesmo nada sobre cinema chinês. Provavelmente nem sabiam que havia cinema feito na China. Talvez por isso, por existir esta novidade, a porta foi-nos logo aberta. Ainda me lembro de alguns críticos de cinema ocidentais nos visitarem em Hong Kong onde assistiram a “Yellow Earth”. Depois de verem o filme, vieram ter comigo para dizer que tinham gostado. Acho que este reconhecimento, não a mim pessoalmente, mas ao cinema chinês, é histórico. Ainda assim os seus filmes ainda podem ser considerados uma excepção dentro do cinema que consegue entrar no mercado do ocidente. Na sua opinião porque é que há tantas dificuldades para o cinema chinês entrar nos outros mercados? Alguns filmes como os meus ou os de Zhang Yimou podem ser considerados bem-sucedidos talvez porque existia uma certa curiosidade por um país ainda desconhecido. Não sei porquê, mas de facto o ocidente não presta muita atenção aos filmes da indústria chinesa que é cada vez maior. O que sinto é que também existe muita concorrência que acaba por pressionar os cineastas a optarem por filmes que ganhem dinheiro de forma a fazerem os investidores felizes. No meu caso, sempre continuei a dizer para mim próprio que queria continuar a ser eu nos filmes que fazia e faço. Caso contrário, um realizador perde-se e acaba por não conseguir fazer nada de bom. Penso que ainda existe um futuro no Ocidente para o cinema feito na China, mas não é hoje, não é agora. Vamos ver. Há sempre sonhadores e jovens cineastas que querem fazer trabalhos interessantes. Mas, como a situação e a competitividade são difíceis, acabam por optar por ganhar dinheiro. É muito complicado. Acha que os actuais filmes chineses são muito comerciais? Sim, muitos deles são muito comerciais. Eu não sou contra filmes comerciais. Há muitos que são significativos. Mas penso que devemos criar um ambiente em que os jovens realizadores se sintam confortáveis e que consigam, com os trabalhos que fazem, ter mais auto-confiança. É por isso que estou aqui. Como definiria um filme? Não quero dizer que os filmes são a minha vida. Eu não sei o que poderia fazer além de filmes. Não há mais nada que realmente me interesse. Não quero ser um bilionário ou ganhar mais fama. Por isso, para permanecer quem sou, pergunto-me repetidamente: se mudei nestes últimos 33 anos, para que possa perceber quem ainda sou. É mais difícil agora fazer cinema acerca das mudanças actuais da sociedade chinesa? Acho que os tempos mudaram e que os filmes são feitos numa altura que lhes é favorável. Não me surpreende que o “Farewell my Concubine” tenha sido feito nos anos 90 e acho que não poderia ser feito hoje. O tempo confere pontos de vista e perspectivas diferentes. As conexões são feitas consoante o tempo e é aí que sabemos como combiná-las para que funcionem. É difícil responder a essa questão, mas sou um optimista e tento olhar para o lado bom das coisas. Lidou pessoalmente com a censura. Como é que vê este limite agora? No passado, digamos há 25 anos, quando havia censura recebíamos apenas um pedaço de papel, agora recebemos um telefonema de uma autoridade a querer falar connosco acerca do filme. Isto significa que há a possibilidade de comunicação. As pessoas que estão no comando e os próprios cineastas têm um relacionamento melhor agora, do que tinham antes. Podemos conversar, podemos argumentar. Desta forma as pessoas podem perceber que não queremos fazer nada contra a sociedade. Que projectos está a preparar agora? Acho que vou fazer algo interessante, mas têm que esperar para ver. Será, definitivamente, um filme contemporâneo e joga com a harmonia por um lado, e por outro com o chicote. A sociedade é como um rio em que a água pode fluir e pode falhar. Estou a tentar encontrar a perspectiva. Não quero fazer qualquer julgamento. Na minha opinião não há pessoas boas e pessoas más. Só pessoas. É nisto que estou a trabalhar. Não posso dizer detalhes sobre a história, mas é sobre os dias de hoje. Trabalhou como actor com Bernardo Bertolucci em “The Last Emperor”. Como foi? Bernardo Bertolucci era um homem de verdade e foi também uma criança até morrer. Um homem com um grande sentido de humor e que estava sempre a sorrir. A primeira coisa que fez quando chegou a Pequim foi telefonar-me. Eu não era muito bom a falar inglês naquela altura. Convidou-me para jantar e disse que tinha um pequeno papel para mim no filme, para não me preocupar que qualquer um o poderia fazer. Eu perguntei porque me tinha escolhido a mim, ao que me respondeu que isso iria fazer a diferença e que queria que o meu rosto fosse visto. Tinha 33 anos, fiz isso por ele, e na cena acabei por cair do cavalo. Quais são os seus filmes favoritos? O meu filme favorito é o que ainda vou fazer. Isto é mesmo verdade. A esperança é sempre grande, enquanto a realidade é assim, pequena.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - Especial“Industry Hub” | Júri justifica premiação dos dois projectos locais Antes ser criticado por premiar os dois projectos locais que se apresentaram na secção “Industry Hub”, do que não dar oportunidade a filmes que prometem qualidade só porque são de Macau. A ideia foi deixada pelo membro do júri desta secção do Festival Internacional de Cinema ao HM, Evan Louis Katz, que assim justificou os galardões atribuídos a Tracy Choi e a Wang Chac Koi [dropcap]O[/dropcap]s dois projectos locais seleccionados para a secção “Industry Hub” do Festival Internacional de Cinema projecto foram galardoados. “Lost Paradise” da realizadora Tracy Choi venceu, o primeiro prémio no valor de 15 mil dólares americanos, enquanto o prémio “Espírito de Macau”, foi atribuído a Wang Chac Koi com o projecto “Wonderland” no valor de cinco mil dólares americanos. A avaliação dos 14 projectos internacionais que integraram esta secção do festival ficou a cargo do realizador Evan Louis Katz, do produtor Philip Iee e da especialista em formação de cinema Jane Williams. Em declarações ao HM Katz justificou a premiação dos projectos de Macau. “Sei que muitas pessoas vão criticar o facto de existirem dois vencedores locais e sabe que mais? Queremos enfrentar essa crítica porque sentimos que estes projectos são tão fortes que nos sentiríamos realmente mal se não incluíssemos estes dois filmes entre os premiados só por estarmos preocupados com o que as pessoas vão dizer. Tracy Choi e Wang Chac Koi conseguiram trazer os seus projectos até nós, têm óptimas equipas e aguardo para ver estes filmes nas salas de cinema.”, começou por dizer, peremptoriamente, o realizador norte-americano. Comédia negra e humana Quanto à escolha de “Wonderland”, o júri foi conquistado logo com a forma como o filme foi apresentado. É uma comédia negra que me conquistou logo pelo seu aspecto divertido e pela forma como o projecto foi apresentado em que parecia que estava a assistir a uma stand up comedy”, refere Katz. A par do elemento divertido, trata-se de um projecto que “conta parte da realidade de Macau, em que os emigrantes vêm para cá em busca de dinheiro e depois voltam à sua terra natal, abordando a forma como sentem as transformações da sua identidade”, acrescentou. Em suma, o júri considerou que estava perante uma “história que entre o crime, o drama e a comédia capaz de tocar temas mais sensíveis como o da emigração e o que é estar longe de casa”. Este último factor confere à película uma temática mais universal. “Gosto sempre de ver um filme de género que ao mesmo tempo traz uma reflexão sobre pessoas, e todas as oportunidades que tivermos para ter este género de filmes no ecrã são importantes”, conclui Katz relativamente ao filme de Wang. Provas dadas Já o projecto “Lost Paradise” de Tracy Choi arrebatou o júri por representar um desafio. O filme trata de uma matéria que vai ter dificuldades em ter o seu público. Isto seria factor suficiente para não apostar no seu financiamento, considerou o membro do júri. No entanto, a realidade é a oposta. “Tracy Choi não é nova a fazer filmes e tem-se sempre aventurado na abordagem de questões complexas e que nem sempre são fáceis, e é bem sucedida nisso”, referiu Evan Louis Katz. A realizadora local já tem provas dadas e conhecidas do júri. “É uma equipa que trabalha muito para conseguir tratar de temas ligados à comunidade LGBT, à gravidez na adolescência, que são assuntos difíceis de se trazer ao ecrã e em que não é fácil conseguir financiamento. E, de facto, têm feito isso e são inspiradoras”, sublinhou. Katz não deixou de recordar o filme que arrecadou o prémio especial do júri na 1ª edição do maior evento dedicado à sétima arte de Macau, atribuído a “Sisterhood” também de Tracy Choi, e que serve de exemplo de credibilidade para a realizadora. “’Sisterhood’ teve óptimas críticas internacionais, portanto agora com a abordagem do assédio sexual no ponto de vista da vítima, e sabendo que consegue fazer aquilo a que se propõe, achamos que deve ter uma oportunidade no financiamento deste novo projecto”, rematou.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - Especial“Diamantino” | O filme premiado em Cannes foi a única representação portuguesa no MIFF “Diamantino”, a primeira longa-metragem de ficção de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, foi o único filme português seleccionado para a 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. Diamantino é um retrato de uma realidade “universal” com toques de surrealismo e de comédia que se tem mostrado do agrado de diferentes públicos e críticos trazendo ao ecrã uma odisseia delirante, que envolve neofascismo, crise dos refugiados, modificação genética e a busca pela origem da genialidade. Além de Carloto Cotta, o elenco desta coprodução entre Portugal, Brasil e França inclui Cleo Tavares, Anabela Moreira, Margarida Moreira, Carla Maciel, Filipe Vargas e Manuela Moura Guedes. Daniel Schmidt esteve em Macau para apresentar a película e numa entrevista colectiva falou sobre o sucesso inesperado de “Diamantino”, um filme que pensava vir a ser um desastre De que trata o filme “Diamantino”? [dropcap]É[/dropcap] um conto de fadas contemporâneo, que se passa em 2018, sobre um jogador de futebol famoso, um ícone nacional, que perde a final de uma taça do mundo por falhar um penálti. Diamantino entra em crise psicológica e começa à procura de um novo significado para a vida. Acaba por adoptar uma criança refugiada. Ao mesmo tempo, Diamantino está rodeado de pessoas que tentam manipular a sua fama, e que vão desde o representantes do Governo português à sua família. Todos tentam perverter a sua vida. Mas porque se trata de uma pessoa muito inocente e que tem, de alguma maneira, uma relação ambígua com o mundo, Diamantino acaba por distorcer o que lhe fazem e por se proteger. O que quiseram dizer com este filme? Penso que há muitas coisas de que queremos falar através de “Diamantino”. Um dos temas que tratamos é o excesso de temáticas. Vivemos constantemente expostos a isto, a todos os tipos de media em todo o lado, a todo o tipo de histórias. Depois temos uma celebridade que teria uma espécie de poder, mas que acaba manipulado por todas estas coisas. Queremos que as pessoas olhem para esta personagem e vejam como acaba por ser explorada por este tipo de forças. Há uma questão política e mesmo humana: esta personagem em vez de responder às ameaças que recebe de uma forma vingativa, não, Diamantino enfrenta os obstáculos com abertura e inocência e até com um certo grau de inaptidão para perceber a complexidade do mundo actual. Tem uma perspectiva simplista do que é o amor e a aceitação, e mostra até que ponto esta atitude é uma forma de responder a algumas das insanidades que vivemos hoje em dia. Trabalhou com um realizador português. O filme é em língua portuguesa e passa-se em Portugal. Como foi para si fazer um filme que usa uma linguagem e cultura que não é a sua? É um desafio e um privilégio. O Gabriel é português e já trabalhámos juntos antes em filmes em línguas que desconhecemos. Penso que estamos interessados em trazer uma espécie de linguagem de Hollywood para situações de outros países. Não como uma força colonizadora, mas como uma forma de destabilizar ou mesmo perverter Hollywood. Quisemos olhar para a sociedade contemporânea na perspectiva dos reality shows de Kim Kardashian, por exemplo. Há um certo grau de farsa neste filme. Por outro lado, foi uma forma para olharmos para a crise na Europa, a crise dos refugiados que vão além de Portugal. Mas há também muitas piadas portuguesas. Muitas delas eu não conhecia e tiveram que mas explicar. Para mim foi muito bonito fazer este tipo de trabalho dentro de um contexto que eu não compreendo completamente e em que aprendo mais do que no típico filme que é suposto eu fazer. De onde vieram os cãezinhos felpudos? Onde está Cristiano Ronaldo? E as irmãs de Diamantino, são as da Gata Borralheira? Os cães vieram de um desejo de mostrar o que se passava dentro da cabeça de Diamantino. Não queríamos ir à procura do cliché. Queríamos alguma coisa de surreal e com alguma imaginação. Acabámos por ser inspirados por textos de um autor que se debruçava sobre o génio dos atletas e que defende que alguns estão aptos a ter um desempenho excelente sob pressão por terem uma faceta mais idiota, ou seja, defendem que existe uma espécie de estupidez que lhes permite atingir excelentes desempenhos no que fazem. Ficámos interessados nesta ideia que considerámos bastante perversa. Mas não queríamos ter no Diamantino apenas um idiota. Queríamos ter uma coisa mais leve, com alguma ambiguidade e imaginação e mesmo com inocência. Os cachorrinhos apareceram como sendo uma boa opção. Cristiano Ronaldo é uma referência óbvia no filme, mas queríamos ter uma visão mais alargada dos jogadores de futebol. No que diz respeito à aparência, há muitos jogadores que usam aquele tipo de brincos de diamante, aquele penteado, que têm uma cara bonita e aquele tipo de físico. Queríamos chegar àquele aspecto até porque ajuda o público a perceber mais rapidamente e a identificar o personagem. Mas psicologicamente tirámos muito pouco do que poderá ser o Ronaldo, o Messi ou outros jogadores famosos. Para a sua personalidade tivemos em conta uma grande variedade de referências, desde a Britney Spears, a Forest Gump e Michael Jackson. Também procurámos personagens muito diferentes de Diamantino, mas que de alguma forma se podiam encaixar como Lance Armstrong. Cristiano Ronaldo não é uma referência directa, mas obviamente que dada a sua nacionalidade e a do filme e dada a sua profissão, é muito claro que até certo ponto o Diamantino pode ser identificado com ele. E as irmãs? Quantos às irmãs de Diamantino, foram definitivamente inspiradas nas irmãs da Cinderela. Queríamos que o filme fosse uma espécie de conto de fadas. Queríamos trazer esse espírito que todos conhecemos para assuntos contemporâneos. Claro que parece perverso, mas se olharmos bem para os contos de fadas que conhecemos, são histórias muito perversas e muito violentas, e que respondem a questões muito contemporâneas. Por outro lado, elas também adicionaram com a sua representação uma componente ligada ao cartoon e forma como representam não é nada diferente por exemplo da forma como as Kardashians por exemplo gritam uma com a outra. Há esta relação escorregadia entre a realidade e outros aspectos. O que mais gosta neste filme? Acho que é interpretação de Diamantino feita pelo actor Carloto Cotta. O Gabriel e eu sempre tentámos alcançar o prazer visual, mas nunca tínhamos feito nada com esta carga humana e carismática e que de alguma forma toca o coração das pessoas. Quando começámos a partilhar o projecto com o Carloto percebemos logo que tínhamos ali um terceiro colaborador além de nós os dois. Ele acabou por ser um de nós, desenvolveu o personagem e fez exactamente o que os grande actores fazem. Como é que tem sido a reacção do público? A reacção tem sido muito encorajante, ficámos muito surpreendidos. Pensávamos que o filme ia ser um desastre. Quando acabámos de filmar estávamos extremamente deprimidos e começámos a pensar o que iriamos fazer com aquilo para que não fosse vergonhoso. Acabámos por melhor do que isso. As pessoas parecem realmente gostar do filme. Conseguimos não só estar em Cannes como ser premiados. Outro aspecto que considero interessante é a abrangência de audiência que o filme tem tido. Já disse ao Gabriel que um dia podemos fazer um filme melhor, ou um filme com ainda mais visibilidade, mas acho que jamais faremos um filme que parece agradar um público tão diversificado. “Diamantino” tem sido seleccionado para festivais dedicados a guiões experimentais, ao cinema experimental, ao cinema fantástico, a filmes de género e para Cannes. Porque é que isso acontece? Penso que fizemos um filme que tenta abordar muitos dos assuntos contemporâneos. Os media por exemplo, estão sempre a interromper as nossas vidas. É um filme que acaba por tocar numa variedade de assuntos que vão de encontro a diversos públicos. Alguns consideram que é um filme que brinca com a temática do futebol e é o que querem ver. Outros acham que é um filme que usa de uma forma experimental o formato 16mm e alguns efeitos visuais. Outros acham que é um filme que tem uma história de amor comovente. Outros ainda pensam que é um filme sobre a crise política ou mesmo de ficção científica. Ao tentar abordar todos estes assuntos, o público consegue identificar-se sempre com algum aspecto. Digamos que é um filme que consegue encaixar em muitas gavetas.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialIFFAM | “Wonderland” é a primeira longa-metragem de Wang Chao Koi A secção “Industry Hub” da 3ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Macau seleccionou 14 projectos para serem apresentados às produtoras e distribuidoras internacionais que marcam presença no evento. De Macau foram escolhidos os filmes “Lost Paradise” de Tracy Choi e “Wonderland” de Wang Chao Koi. Além dos três prémios monetários a ser atribuídos por esta secção, este ano há mais uma recompensa dedicada ao filme que melhor retrate o espírito de Macau Jogo de sonho [dropcap]W[/dropcap]ang Chao Koi está agora a preparar a sua primeira longa metragem “Wonderland”, um projecto seleccionado para apresentação na secção internacional dedicada à indústria no Festival Internacional de Cinema de Macau. O título do filme foi inspirado num website – wonderful world – que contém os dados das pessoas com dívidas nos casinos, começa por contar Wang Chao Koi ao HM. A partir daqui, estava dado o mote para “Wonderland”, uma película que pretende levar ao grande ecrã, não só a temática do jogo e a ambição a ele associada, como a questão da emigração, das pessoas que vêm do interior da China para Macau para trabalhar como recrutadores de jogadores e que trocam a vida com a família pela busca desenfreada de dinheiro. “O protagonista da história, Huei, é um agente de apostas da China que tem como emprego angariar jogadores. É um emigrante. Entretanto, um dos seus clientes perde muito dinheiro e acaba por fugir para a sua terra natal. Huei vai atrás dele e confronta-se com o lugar que deixou 20 anos antes, quando decidiu ir à procura de uma forma de ganhar rapidamente dinheiro. Este confronto, levanta a questão da felicidade e onde é que ela se pode encontrar”, refere Wang. Bons passos Para o jovem realizador, Macau está no bom caminho quando se fala de cinema e de desenvolvimento de uma indústria local. “Quando comecei a fazer filmes, há 12 anos, não conseguia sequer arranjar material para filmar no território. Tinha que ir a Hong Kong. Agora isso já não acontece, já e mais fácil fazer filmes cá”, refere. No entanto ainda há um caminho a percorrer no sentido de divulgar e apoiar o cinema local, acrescenta. Por outro lado, “há uns anos, quando as pessoas falavam de filmes chineses falavam de cinema do interior da China, de Hong Kong, de Taiwan e mesmo de Singapura ou da Malásia, não se falava sequer de Macau. Mas agora, cada vez mais, Macau começa a ser reconhecido neste sentido”, sublinha, destacando o papel do festival para o efeito.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialIFFAM | “Lost Paradise”, de Tracy Choi, aborda assédio sexual A secção “Industry Hub” da 3ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Macau seleccionou 14 projectos para serem apresentados às produtoras e distribuidoras internacionais que marcam presença no evento. De Macau foram escolhidos os filmes “Lost Paradise” de Tracy Choi e “Wonderland” de Wang Chao Koi. Além dos três prémios monetários a ser atribuídos por esta secção, este ano há mais uma recompensa dedicada ao filme que melhor retrate o espírito de Macau A redenção [dropcap]O[/dropcap] assédio sexual é o tema central de “Lost Paradise”, a terceira longa metragem da realizadora local Tracy Choi. De acordo com a cineasta o objectivo “não é abordar o acto de assédio em si ou fazer uma perseguição a quem o faz”, mas antes trazer ao ecrã “a forma como as vítimas sobrevivem após terem sido sujeitas a assédio ou mesmo a violação”. A escolha do tema deve-se a uma razão pessoal. “Tenho uma amiga que já foi violada e sinto-me responsável por não ter evitado a situação”, conta a realizadora ao HM. “Não éramos muito próximas, mas na noite em que foi violada eu estive com ela. Saímos para nos divertir. No final da noite fui-me embora e ela ficou com outras pessoas. Sinto-me sempre muito culpada por a ter deixado sozinha e não ter ficado com ela naquela noite”, explica. No entanto, o período subsequente também não foi fácil para a vítima. “As pessoas sentem-se envergonhadas, tendem a não falar e a viver mais isoladas”, acrescenta Choi, salientando que é um filme de redenção e alerta para esta problemática. Festival promissor Acerca do festival de cinema que decorre em Macau até o dia 14, a cineasta confessa que, ao contrário do que se esperava depois de uma primeira edição marcada por muitos percalços, o evento tem tido um desenvolvimento assinalável. Por outro lado, o destaque dado aos filmes locais é cada vez mais evidente. “Recordo que na primeira edição, e mesmo no ano passado, os filmes de Macau eram projectados em horários menos nobres, em que as pessoas normalmente não tinham disponibilidade para ir ver. Este ano não é assim, os filmes locais estão agendados para a noite e esta é também uma forma de promover o cinema que por cá se faz”, aponta. Também na secção da indústria, o cinema local tem vindo a ser aceite, sendo que “no primeiro ano não foi seleccionado nenhum projecto de Macau, no ano passado já houve a presença de um e este ano estão dois realizadores a apresentar os filmes para financiamento e distribuição”, sublinha com entusiasmo. Recorde-se que a primeira longa metragem de Tracy Choi, “Sisterhood”, foi a vencedora do prémio do júri na edição de estreia do maior evento local dedicado à sétima arte.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - Especial MancheteNicholas Cage, actor: “Queria ser o James Dean” Nicholas Cage é o embaixador da 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau e um nome incontornável no mundo da sétima arte. Cage falou do que considera especial no cinema chinês e da sua preferência pelos filmes independentes É conhecido por trabalhar com cineastas em início de carreira. Acha que tem a responsabilidade de ajudar a criar novas gerações de realizadores? [dropcap]N[/dropcap]ão vejo as coisas nesses termos. Não considero que esteja, de facto, a ajudar estes realizadores. Sinto nos trabalhos que faço com novos realizadores, que se trata de um movimento comum em que, talvez eles sendo mais novos, e que cresceram a ver-me têm algo mais a descobrir em mim. Por isso é mais uma troca entre iguais em que nos ajudamos mutuamente. Mas não penso nunca: “olha ali está um jovem cineasta que vou ajudar”. São realizadores apaixonados e entusiastas e que têm uma visão, que têm um ponto de vista diferente e que me dão uma perspetiva que eu não tinha visto antes. Já trabalhou com realizadores chineses. Que aspectos particulares destacaria no cinema da China? Tenho trabalhado com o realizador John Woo e não sei se posso, com esta referência, dizer que se trata de expressão chinesa, mas sendo que ele é desta parte do mundo posso assumir que há um estilo e um carisma particular que se sente no cinema de cá. Isso sente-se na música, na dinâmica, na dança, e mesmo na violência. É um cinema muito poderoso. Não posso dizer que todo o cinema chinês tem este estilo, mas da minha experiência a trabalhar com John Woo e com os irmãos Pang, penso que existe em ambos um sentido de ritmo muito particular. No filme “Bangkok dangerous” com os irmãos Pang , por exemplo, quando o Danny Pang me mostrou como disparar uma arma, disse-me que tinha que o fazer num determinado ritmo. Eles vão a este nível de detalhe quase como se o disparo de uma arma tivesse que ser em sincope ou mesmo musical. Também gosto muito a emoção e da profundidade das relações que o cinema chinês aborda e que é identificada em filmes como “Raise the Red Lantern” ou “Hero” de Zhang Yimou. Há uma paixão que penso que é única a esta parte do mundo do cinema. Houve uma altura da sua carreira em que fez uma mudança abrupta no tipo de filmes em que participou e em que passou dos filmes dramáticos para filmes de acção mais comerciais. Depois acabou por deixar este género e voltar ao drama. O que é que se passou? Houve muita gente que se chateou comigo na altura em que passei a participar em filmes de acção e por ter deixado aqueles que tinham um espírito mais independente. A razão da mudança foi essencialmente por ser um desafio em que queria provar a mim mesmo que conseguia fazer outras coisas. Todos me diziam que não conseguia porque não tinha a aparência certa ou a condição física adequada e não tinha os músculos necessários. Fi-lo por diversão. Pensei nisso como uma experiência e um desafio. Mas as minhas raízes estão no drama e no cinema independente. Eu surgi do “Vampire´s kiss” e do “Raising Arizona”. Vim de uma série de pequenos filmes provocadores. Mas os filmes de aventura – prefiro chamar assim aos filmes de acção – foram uma oportunidade para interpretar num formato diferente. Quando se está a fazer um filme de aventura existe pouco tempo para construir o personagem e contar a história antes de dar inicio à acção. Nestes filmes o actor tem muito pouco tempo para conseguir vender o que a personagem é de facto. Este é o desafio. Faz filmes há cerca de 40 anos. A relação entre actores e público tem mudado drasticamente com o fenómeno das redes sociais. Como é que esta transformação na relação que tem com o público? Houve uma mudança incrível na evolução da relação entre o actor e os seus fans e com a qual nunca me senti muito familiar. Quando me confronto com uma situação que possa requerer esse contacto pergunto-me: o que faria o Prince? E isso inspira-me. Não sei se o Prince aderiria ou não às redes sociais, mas na minha imaginação não o faria por ser um artista enigmático e misterioso. No minha abordagem às redes sociais prefiro permanecer um pouco mais na idade dourada, nos anos 30 e 40, um pouco mais Prince. Prefiro não estar conectado com os fans dessa forma tão imediata porque isso rouba, a eles e a mim, a possibilidade de imaginar e de sonhar. Se estivermos lá, ligados ao nosso público, deixa de existir mistério, que é o que, de alguma forma, nos une. O contacto mediático pode funcionar para muitas estrelas. Por outro lado, penso que a cultura da fama está um pouco sem rumo. Qualquer um pode ter uma cara bonita, beber uma garrafa de tequila e fazer uma cena numa cerimónia do tapete vermelho, e com isso ter uma fama imediata. Tudo devido às redes sociais que permitem gravações que acabam por correr o mundo. Estas pessoas acabam por ser famosas, de facto, mas têm uma fama que não tem nada que ver com talento ou com o fazer qualquer esforço a desenvolver um tipo de trabalho, seja ele uma grande canção, uma grande performance ou um bom filme. Isto é um fenómeno que acontece com a transformação que se vive actualmente. É o que é. Não o julgo. Mas não quero ser, de todo, parte disso. Escolhi ser actor porque queria ser o James Dean. Nunca poderei ser o James Dean mas isso foi a minha inspiração, e não foi porque queria acompanhar o meu número de seguidores no twitter. O que mais o interessa nas pequenas produções? As pequenas produções acontecem muito rapidamente quando são bem feitas. Não há muito tempo e temos que saber os nossos diálogos e ter gestos bem definidos cotemos que saber o que queremos fazer com a personagem porque uma vez que entremos no set temos apenas três ou quatro semanas para trabalhar, um financiamento limitado. Não há tempo a perder. É por isso que quando faço um filme mais independente faço questão de ter uma relação muito próxima com o realizador para poder perceber exactamente o que é que ele quer. O meu trabalho enquanto actor é, em primeiro lugar e acima de tudo, facilitar a visão do realizador. Tenho que entender bem o que ele quer para que possamos estar em harmonia numa situação em que ponho no papel a minha marca única mas que está ali para servir o cineasta. Por outro lado, as pequenas produções estão a chegar cada vez mais ao público. Não nas salas de cinema, mas em casa. As pessoas vão pouco ao cinema porque é muito dispendioso quando se calcula o preço dos bilhetes para a família, das pipocas e dos doces. As pessoas começam a pensar que podem rapidamente poupar esse dinheiro e comprar um sistema de cinema ara ver em casa. Aliás a maioria dos filmes em que participei é visto em casa. Estes filmes mais pequenos acabam por estar acessíveis no sistema de aluguer de filmes que no fundo me permitido permanecer no ecrã com filmes fora do vulgar e com argumentos menos comerciais. Penso que há uma boa relação entre as pequenas produções e esta modificação na forma de ver filmes. Gostaria de participar mais em filmes asiáticos? Absolutamente. Quero experimentar o cinema em todos os lugares. Adoraria fazer um filme na Índia, alias já quase fiz, com o “The Darjeeling Limited”, mas não o fiz e teria sido uma experiência fascinante. Acabei de filmar “Outcast” nos arredores de Pequim e gostaria de fazer um filme no Japão e em Xangai. Penso que as nossas interpretações são influenciadas com o lugar onde que estamos. O facto de estarmos num sítio novo, com novos estímulos, com nova comida e em que podemos passar o serão com desconhecidos acaba por transformar a forma como interagimos. O contacto com uma nova cultura influencia o nosso desemprenho em frente às câmaras. Que conselho daria aos que querem enveredar por uma carreira na sétima arte? O meu conselho é muito simples: não deixar que outros ataquem os seus sonhos e as suas crenças. No mundo do cinema vão conhecer pessoas que vão dizer que não podem ser uma estrela ou que não podem ser um realizador. Não gosto do termo “não poder”. O que estas pessoas têm que ter em mente é que no seu caminho vão encontrar muita gente que os quer tirar de lá e que não podem ceder ou desistir. Têm que, pelo menos, dar-se um tempo. Quase não consegui ser actor de cinema e tinha um plano B que seria ser pescador. Iria pegar num barco, escrever contos e pescar. Podia ter sido um grande plano, mas o plano A, de ser actor, finalmente aconteceu. Fui rejeitado repetidamente. Ninguém queria fazer um filme comigo.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialIFFAM | Os dez filmes imprescindíveis A 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau acaba esta sexta-feira. A organização seleccionou dez filmes a não perder, distribuídos por entre as várias categorias da programação Green Book, de Peter Farrelly [dropcap]E[/dropcap]m primeiro lugar, o destaque vai para “Green Book”, o filme de abertura do evento, que é apresentado já amanhã, às 20h30 no Centro Cultural de Macau. Realizado por Peter Farrelly e protagonizado por Viggo Mortensen, Mahershala Ali e Linda Cardellini “Green Book” traz ao ecrã a história de Frank Vallelonga conhecido por “Tony Lip” e do pianista de renome internacional Don Shirley. Quando Tony Lip (Viggo Mortensen), um segurança ítalo-americano, é contratado como motorista do Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), para uma digressão pelo sul dos Estados Unidos, os dois servem-se de um guia para encontrar os locais que acolhem em segurança afro-americanos. Com o decorrer da viagem e confrontados com vários perigos e ameaças, apesar de oriundos de mundos diferentes, Lip e Shirley acabam por se aliar para superar as adversidades. Shadow, de Zhang Yimou Em segundo lugar a organização destaca o filme de encerramento, a última produção do realizador chinês Zhang Yimou, “Shadow”. Depois de ter passado por Veneza, Toronto e Londres, e de ter sido galardoado com o “Golden Horse” para a melhor realização, o drama histórico do também realizador de “To Live”, aparece como um “must see”. rotagonizado por Deng Chao e Sun Li, o filme é uma reinterpretação do argumento original de Zhu Sujin, de “Three Kingdoms”. Deng Chao interpreta os papéis de Ziyu e Jingzhou. O primeiro é um heróico comandante, enquanto o segundo a sua “sombra” que aparece em tempos de guerra. A sombra gradualmente quer tomar o lugar do comandante e conseguir a sua liberdade, mas apaixona-se pela sua esposa, Xiao’ai interpretada por Sun Li. Hotel Império, de Ivo Ferreira Em terceiro lugar o festival destaca o filme do português Ivo Ferreira “Hotel Império” Mandy, de Panos Cosmatos Já a película de terror protagonizada por Nicholas Cage é a quarta grande recomendação da 3ª edição do maior evento dedicado ao cinema no território. Além de Cage, o filme realizado por Panos Cosmatos, conta ainda nos principais papéis com Andrea Riseborough e Linus Roache. Nas montanhas do noroeste americano, nos anos de 1980, Red Miller (Nicolas Cage) e Mandy Bloom (Andrea Riseborough) são um casal apaixonado que vive pacificamente numa cabana. Tudo parece correr bem até que o líder de um culto sádico, Jeremiah Sand, se apaixona por Mandy acabando ordenar o seu rapto. Quando a tenta seduzir é rejeitado e assassina Bloom. Com a perda do amor de uma vida, Red é catapultado para uma viagem fantasmagórica numa caça ao assassino e aos membros do culto que dirige. Mandy é exibido sábado, às 21h na Torre de Macau. In Fabric, de Peter Strickland O quinto lugar entre os filmes a não perder vai para o filme britânico “In Fabric” de Peter Strickland a ser exibido dia 11, às 21h15 na Cinemateca Paixão. A película traz a história de uma empregada bancária de meia idade que vê a sua vida transformada depois de comprar um vestido vermelho. Mas a peça de roupa parece estar amaldiçoada. O elenco de “In Fabric” conta com Gwendoline Christie, Marianne Jean-Baptiste, Hayley Squires e Leo Bill. Roma, de Alfonso Cuaron Um dos filmes que está a causar furor no panorama cinematográfico internacional e que é a oitava recomendação do festival é a co-produção dos Estados Unidos e do México, “Roma” de Alfonso Cuaron. Roma é o nome do bairro dos patrões de uma empregada doméstica, na Cidade do México, que acaba por se tornar a responsável pelas quatro crianças daquela família quando o pai parte em viaja por tempo indeterminado. “Roma” é apresentado a 10 de Dezembro na Torre de Macau às 15h e conta, nos principais papéis, com Abhimanyu Dassani e Radhika Madan. The man who feels no pain, de Vasan Bala Na oitava posição está o filme em competição “The man who feels no pain” de Vasan Bala . A película indiana conta a história de um jovem que sofre de uma doença rara que o impossibilita de sentir qualquer dor, o que representa uma ameaça para a própria vida. O filme pode ser visto a 11 de Dezembro, às 10h no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau. White Blood, de Barbara Sarasola-Day Segue-se “White Blood”, o filme argentino que também integra a secção de competição e traz o drama de Martina e Manuel, dois traficantes de droga entre a Bolívia e a Argentina. Manuel morre, vítima de overdose provocada pelas cápsulas ingeridas e Martina só pode recorrer ao pai que nunca conheceu para a ajudar. “White Blood” tem projecção marcada pera o dia 11 às 21h45 no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - Especial Manchete“Hotel Império” | A cidade imaginária de Ivo Ferreira em destaque no MIFF “Hotel Império” não é um filme sobre uma Macau real, mas sim o resultado da percepção do realizador, Ivo Ferreira, acerca da cidade onde vive há mais de 20 anos. Esta é premissa deixada pelo cineasta ao HM acerca da película que está entre os dez filmes recomendados pela 3a edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. “Hotel Império” é apresentado dia 11 de Dezembro, às 21h30 na Torre de Macau [dropcap]D[/dropcap]epois da estreia mundial no Festival de Cinema de Pingyao, em Outubro, e de ter sido apontado como um filme “excepcional que dá uma visão única de Macau” pelo director artístico do Festival Internacional de Cinema de Macau, Mike Goodridge, “Hotel Império” de Ivo Ferreira está em destaque no programa da 3.ª edição do maior evento local dedicado à sétima arte a decorrer a partir de amanhã, até dia 14, e que tem projecção marcada para a próxima terça-feira, na Torre de Macau, pelas 21h30. O filme é uma produção portuguesa e chinesa que traz ao grande ecrã “a cidade e as relações que nela se estabelecem”, começa por dizer Ivo Ferreira ao HM. Mas não se trata de uma Macau comum e capaz de ser identificada por todos, é antes um território que aparece como resultado de uma interpretação imaginária que o realizador foi construindo. “É uma visão, uma espécie de ideia possível de Macau. Eu não sei o que é Macau, não sei quem são as pessoas. Tenho apenas ideias sobre isso”, aponta. Em “Hotel Império”, a cidade é “uma espécie de colecção destas ideias que tenho desde os 18 anos, altura em que cheguei cá pela primeira vez”, refere. Duas décadas a viver em Macau permitiram a Ivo Ferreira assistir às transformações do território, e como tal, o filme apresenta também “a forma como o olhar foi mudando ao longo dos anos. É um mundo inventado, uma Macau fora do tempo ancorada em ideias dos anos 90 e em ideias de futuro”. “[Macau] Tem uma atmosfera muito especial e apesar de tudo há uma espécie de fragrância a melancolia que será, talvez, uma coisa deixada pelos portugueses e que às vezes parece contaminar os espaços.” IVO FERREIRA REALIZADOR IDENTIFICAÇÕES DE LADO O objectivo do realizador em “Hotel Império” não é uma aproximação do real até porque as pessoas que vivem em Macau não vão, na sua grande parte, identificar-se com o que poderão ver, considera. O que Ivo Ferreira pretende é que o público se “entretenha, em vez de ir à pro- cura dos pontos de contacto com a realidade, ou que tente procurar uma pureza dessa Macau que cada um pensa que conhece”, aponta. De acordo com o realizador português, o cinema não é para ser feito como retrato da verdade, “e mal do cinema se fosse”, até porque “para esse efeito existem géneros muito específicos como o documentário ou determinadas ficções”, aponta. “‘Hotel Império’ retrata uma Macau que se desenha muito na possibilidade ou da impossibilidade das personagens que habitam aquele espaço e das suas relações”, sublinha Ivo Ferreira. PALCO DE POUCO CINEMA Imaginado ou real, o território é um espaço apelativo para fazer cinema. “Tem uma atmosfera muito especial e apesar e tudo há uma espécie de fragrância a melancolia que será, talvez, uma coisa deixada pelos portugueses e que às vezes parece contaminar os espaços”, diz o realizador. No entanto, não é fácil fazer filmes por cá, e talvez por isso as películas que têm o território como pano de fundo ainda sejam poucas. “A quantidade de vezes que Macau aparece em filmes é irrisória se com- pararmos com outras cidades como Hong Kong, com Lisboa ou com Pequim”, sendo que esta ausência da sétima arte “não é por acaso, com certeza”, aponta. As dificuldades em produzir cinema no território sentem-se em vários aspectos, e reflectem que Macau é “uma cidade pouco habituada a ser filmada”, o que se vê “nas questões ligadas a autorizações de filmagens com as questões que têm que ver com o próprio tráfego da cidade, por exemplo”, lamenta o realizador. Mas as circunstâncias podem mudar e o Festival Internacional de Cinema, que teve início em 2016, pode representar uma alavanca nesse sentido. “Aliás, Macau começa a ser falada por causa do festival a já está no mapa da sétima arte. Trata-se de um marco importantíssimo para a imagem do território no exterior e para os realizadores locais”, sublinha. Por outro lado, a promoção do cinema feito localmente “é uma forma de dar uma imagem da cida- de que vai para além do jogo e dos casinos. Uma imagem que esteja mais ligada à identidade do lugar e que passa pela cultura”, acrescenta Ivo Ferreira. Não menos importante é o contributo que este tipo de eventos pode trazer para a formação dos próprios residentes, sendo que “contribui para a sua formação intelectual e estabelece um maior contacto com o que se passa no resto do mundo e até dentro do próprio território”, remata.
Hoje Macau Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialA agenda do Festival Internacional de Cinema de Macau 8 de Dezembro [dropcap]L[/dropcap]oro 14:00 – Cinemateca Paixão School’s Out 15:00 – Pequeno auditório do CCM The Sisters Brothers 19:00 – Torre de Macau The Guilty 19:00 – Cinemateca Paixão Green Book 20:30 – Centro Cultural de Macau Sink Or Swim 21:00 – Pequeno auditório do CCM Tumbbad 21:15 – Cinemateca Paixão Diamantino 21:45 – Torre de Macau 9 de Dezembro An Autumn Afternoon 15:00 – Cinemateca Paixão Old Boys 15:00 – Centro Cultural de Macau BuyBust 15:00 – Torre de Macau Clean Up 16:00 – Pequeno auditório do CCM The Favourite 18:00 – Centro Cultural de Macau Baby 18:30 – Torre de Macau The Good Girls 19:00 – Pequeno auditório do CCM The Pluto Moment 19:00 – Cinemateca Paixão Mandy 21:00 – Torre de Macau Nobody Nose 21:00 – Centro Cultural de Macau U-July 22 21:30 – Cinemateca Paixão 10 de Dezembro Ága 18:45 – Pequeno auditório do CCM Cobain 19:00 – Cinemateca Paixão Fly By Night 19:00 – Torre de Macau Lost, Found 19:30 – Centro Cultural de Macau Scarborough 21:00 – Pequeno auditório do CCM Close Enemies 21:30 – Cinemateca Paixão Caught In The Web 21:45 – Torre de Macau 11 de Dezembro Journey To The West: The Demons Strike Back 15:00 – Cinemateca Paixão Manta Ray 18:30 – Cinemateca Paixão Mary Queen Of Scots 19:00 – Centro Cultural de Macau Suburban Birds 19:00 – Pequeno auditório do CCM 212 Warrior 19:30 – Centro Cultural de Macau In Fabric 21:15 – Cinemateca Paixão Empire Hotel 21:30 – Torre de Macau White Blood 21:45 – Pequeno auditório do CCM 12 de Dezembro The Truman Show 16:00 – Cinemateca Paixão Aruna & Her Palate 19:00 – Pequeno auditório do CCM The Witch: Part 1. The Subversion 19:00 – Torre de Macau Xiao Mei 19:00 – Cinemateca Paixão Hard Boiled 21:30 – Cinemateca Paixão All Good 21:45 – Pequeno auditório do CCM 13 de Dezembro Up The Mountain 18:00 – Cinemateca Paixão Dear Ex 21:30 – Torre de Macau Happy New Year, Colin Burstead 21:30 – Pequeno auditório do CCM 14 de Dezembro Lawrence Of Arabia 15:00 – Cinemateca Paixão Papi Chulo 20:00 – Cinemateca Paixão
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialLongas metragens | Competição principal traz filmes para todos os gostos A secção principal de competição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM) mantém os requisitos: são seleccionadas apenas as primeiras ou segundas longas metragens de novos realizadores. O objectivo é dar a conhecer e premiar novos talentos. Este ano a secção é composta por nove filmes em que diversidade e qualidade são as palavras de ordem Além do deserto [dropcap]“Á[/dropcap]ga” é a co-produção búlgara, alemã e francesa que traz ao ecrã da principal secção de competição do IFFAM as transformações na vida de Nanook e Sedna, um casal que vive num yurt, algures no deserto. Isolados, vêem-se obrigados a mudar as rotinas de sustento quando a caça que lhes dá de comer começa a escassear com a morte inexplicável dos animais e os degelos sazonais antecipados. Entretanto, Chena é a única ligação do casal ao mundo exterior e mesmo à filha, Ága, que abandonou o inóspito lar e nunca mais regressou. Mas quando a saúde de Sedna começa a deteriorar-se, Nannook decide trazer a filha de volta e parte ao encontro de Ága. “Ága” é realizado pelo búlgaro Milko Lazaro que, nesta edição do festival, teve o seu segundo filme seleccionado. A primeira longa do realizador, “Alienation”, que conta a história de um homem grego que se desloca à Bulgária para comprar um bebé recém-nascido, estreou no Festival de Veneza em 2013. Escondidos no silêncio Eva Trobisch é a realizadora de “All Good” que trata das consequências antagónicas que o silêncio pode ter. “All Good” é a história de Jannes que, depois de ser assediada pelo patrão do seu cunhado, resolve manter o incidente escondido. Mas não é por isso que as coisas caem no esquecimento. Muito pelo contrário. Nascida em Berlim, em 1983, Eva Trobisch estreia-se nas longas metragens com “All Good”, O filme teve a sua premiére no Festival de Munique no passado mês de Junho onde conquistou os galardões para o Novo Talento Alemão nas categorias de melhor realização e de melhor actriz. Tudo por um filho A festa do cinema segue com “Clean Up” do coreano Kwon Man-ki. O argumento acompanha a história de Jung-Ju, uma mãe que perde o filho devido a doença cardíaca. Inconsolável, Jung-Ju passa os dias a trabalhar numa empresa que presta serviços de limpeza, a beber e a ir à igreja. Mas, tudo muda quando é admitido na mesma empresa Min-gu, um jovem recém saído da prisão, com aparência de mendigo e a cara coberta de cicatrizes. Jung-ju reconhece Min-gu, o menino que raptou 12 anos atrás para, com o dinheiro do pedido de resgate, poder pagar uma intervenção cirúrgica do filho. A culpa arrebata Jung-ju que agora quer saber mais sobre o jovem que a faz confrontar com o crime cometido. Kwon Man-ki nasceu em Busan, em 1983 e estudou cinema na Sangmyung University e na Graduate School of Advanced Imaging Science da Chung Ang University. A sua curta-metragem de 27 minutos “Telepata” (2015) ganhou o maior prémio no Festival de Curtas-Metragens independentes de Daegu. “Clean Up” é a primeira longa metragem de Kwon Man-ki . O filme teve estreia mundial em Busan, no mês passado e ganhou o prémio New Currents. Casos proibidos Do Reino Unido vem “Scarborough” que tem realização de Barnaby Southcombe. O filme conta a história de dois casais com amores proibidos que se encontram na cidade costeira de Scarborough. Liz mantem uma relação com Daz, de 16 anos de idade. Também menor é Beth que mantem uma relação com Aiden, um artista muito mais velho. É em “Scarborough” que os casais conseguem fugir aos olhares reprovadores. No entanto, depois da euforia, a realidade desponta. Com ela começam os conflitos e o sofrimento. “Scarborough” é a segunda longa metragem de Barnaby Southcombe depois do sucesso de “Anna” (2012), protagonizado por Charlotte Rampling, Gabriel Byrne e Hayley Atwell. “Anna” teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Berlim e participou na competição oficial no Festival Internacional de Cinema de Xangai. Adolescentes perigosos “School´s Out”, de Sébastien Marnier, traz à tela a vida conturbada de um professor de liceu, Pierre, obcecado por descobrir o que se passa com alguns dos seus alunos. Pierre é o substituto de um professor que se atirou da janela de uma sala de aulas à frente dos seus alunos. Apesar da tragédia, seis adolescentes presentes não reagiram ao sucedido. Pierre é o novo professor que se apercebe que este grupo de miúdos está a congeminar um plano misterioso e resolve descobrir qual é. O novo professor acaba por ver a vida transformada num inferno. School’s Out é a segunda longa-metragem de Sébastien Marniere e teve estreia mundial, este ano, no Festival de Veneza. Antes de se dedicar ao cinema, Marnier publicou três romances e co-escreveu uma série de animação para televisão baseada na sua novela gráfica “Salaire Net Et Monde”. Profecias pessoais Da China continental chega “Suburban Birds” do jovem cineasta Qiu Sheng. Um abatimento de terras numa área suburbana leva Hao, juntamente com uma equipa de engenheiros, a deslocaram-se ao local para investigar o sucedido. Durante a investigação, Hao encontra um diário dentro de uma escola primária. O caderno narra a história da separação de um menino do que parecia ser o seu grupo íntimo de amigos. Hao percebe que este diário pode conter profecias sobre a sua própria vida. Qiu Sheng licenciou-se em Engenharia Biomédica na Tsinghua mas foi no cinema que encontrou o sucesso com esta sua primeira longa metragem, “Suburban Birds”. O filme, que estreou este ano, ganhou o prémio de Melhor Argumento no Xining FIRST International Film Festival e participou na competição de realizadores do Festival Internacional de Locarno, em Agosto. À procura de culpados “The Guilty” é a primeira longa metragem do dinamarquês Gustav Möller que contou com estreia na secção de competição do Sundance Film Festival. O filme trata a saga do ex-policia Asger Holm quando, depois de responder a uma chamada de emergência de uma mulher que terá sido sequestrada, avança para a resolução do caso. No entanto, o crime é bem maior do que o que parece inicialmente. “The Guilty” é realizado por Gustav Möller que se estrou no grande ecrã com a curta “In Darkness” que acabou por ganhar o prémio Next Generation, no Festival Internacional de Cinema da Noruega em Haugesund. Maldita cocaína A argentina Barbara Sarasola-Day realiza “White Blood”. O filme conta a história de Martina e Manuel, uma dupla de narco-traficantes que cruzam a fronteira da Bolívia com a Argentina como “mulas” que transportam cocaína. No entanto, depois de passada a fronteira, quando se refugiam num hotel, Manuel morre de overdose devido às cápsulas que tinha ingerido. A organização criminosa para a qual trabalham exige, no entanto, a entrega da totalidade do produto que ambos transportavam. Martina precisa de ajuda e só pode recorrer a ajuda do pai, Javier, que nunca conheceu. Nascida na Argentina em 1976, a realizadora Barbara Sarasola-Day estudou ciências da comunicação na Universidade de Buenos Aires. Trabalha na área do cinema desde 2000 e realizou a sua primeira curta-metragem, “El Canal”, em 2005. A sua primeira longa “Deshora” (2013), uma – co-produção entre a Argentina, a Colômbia e a Noruega teve estreia mundial no Festival de Berlim. “White Blood” é seu segundo filme. Estatutos perdidos Do México vem “The Good Girls”. O filme realizado por Alejandra Marquez Abella conta a história de Sofia, um rapariga “perfeita”, menina de elite que vê a posição social ameaçada por uma crise económica. Sofia tem que manter aparências ao mesmo tempo que reconhece a inevitabilidade da perda de status, num momento em que aprende a viver sem dinheiro, uma coisa que sempre teve como certa. Alejandra Marquez Abella nasceu em San Luis Potosi A sua curta-metragem “5 Memories” (2009) foi exibida em mais de 140 festivais e a sua primeira longa-metragem “Semana Santa” (2015) teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto. “The Good Girls” é a segunda longa da realizadora mexicana que também estreou em Toronto no passado mês de Setembro.
Sofia Margarida Mota Especial Festival Internacional de Cinema Festival Internacional de Cinema - EspecialMIFF | Festival com competição de filmes em chinês A terceira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau, que decorre entre os dias 8 e 14 de Dezembro, vai ter uma competição dedicada apenas a filmes em língua chinesa. São seis as películas seleccionados num idioma que representa uma “cultura vibrante”, de acordo com o director artístico do evento, Mike Goodridge [dropcap]”N[/dropcap]ovo Cinema Chinês” é o nome da competição que se estreia na 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. A rúbrica vai ser inteiramente dedicada a filmes em língua chinesa que, para o director artístico do festival Mike Goodridge, representa uma “cultura vibrante”. O foco na língua chinesa é uma estreia que Goodridge espera ver tornar-se numa tendência do evento, referiu o responsável ontem à margem da conferência de imprensa de apresentação do certame. A razão, apontou, tem que ver com a qualidade dos filmes que actualmente existem e que utilizam a língua ou dialectos chineses. “Gostaria que continuasse. Não só tivemos filmes em chinês em número suficiente, como tivemos de tomar decisões difíceis para escolher apenas seis. O mundo da língua chinesa é realmente uma cultura vibrante”, disse. Para estrear a primeira edição da competição dedicada aos filmes em língua chinesa foram seleccionadas películas vindas do continente, de Taiwan e da Malásia. Os escolhidos Em competição vai estar “Baby”, do realizador de Tianjin, Liu Jie. O filme conta a história de uma empregada de limpeza de um hospital, Jiang Meng, que encontra uma recém-nascida com problemas congénitos iguais aos seus. Mas ao contrário de Jiang, esta menina é levada do hospital pela família sendo impedida de se submeter aos tratamentos necessários para sobreviver. Jiang entra numa cruzada para resgatar a menina com que se identifica. Também da China continental vai ser exibido “Up The Mountain” de Zhang Yang. O argumento traz a história do artista Shen Jianhua, que vive em Xanga, uma vila pequena e remota na província de Yunnan. Shen tem como objectivo ensinar arte aos residentes daquele lugar e com isso fazer a diferença na vida daquelas pessoas. As suas últimas alunas são um grupo de mulheres idosas que acabam por formar uma sociedade à volta da pintura. Liu Sanlian é a protagonista do filme que vem de Taiwan, “ Dear Ex”, realizado por Chih-Yen Hsu. Agonizada por sentir que a vida é um drama, a situação piora quando descobre que o marido, falecido há três meses, tinha mudado o beneficiário do seguro de vida do seu filho para um outro homem, um amante, de nome Jay. Também de Taiwan vai ser exibido “Xiao Mei” de Maremn Hwang. Xiao Mei é a protagonista desaparecida. Entretanto, os amigos juntam-se para reconstruir as recordações que têm dela na procura de pistas do seu paradeiro. É com essas recordações que percebem que a amiga afinal tinha uma vida difícil e poderia estar viver de fantasmas criados por situações complicadas no passado. Zahir Omar é o realizador malaio à frente do filme “Fly by Night”. O drama passa-se dentro do mundo criminoso de Kuala Lumpur em que um gangue de quatro taxistas se dedica a extorquir os passageiros que apanha no aeroporto. Foi ainda seleccionado o filme chinês “The Pluto Moment”. O júri para esta competição é composto pela produtora australiana Stephanie Bunburry, o produtor britânico Nick James e pelo também produtor, mas de Hong Kong, Shu Kei.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialPrémios | Primeiro filme de realizadora italiana vence festival de cinema Dos 11 filmes em competição, apenas seis saíram da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau premiados. A cerimónia decorreu ontem e o galardão para o melhor filme foi entregue à jovem realizadora Natalia Garagiola, com o filme “Hunting Seoson”. Os dramas familiares levaram a melhor no que respeita à angariação de estátuas, mas o juro fez questão de sublinhar a qualidade de todos os trabalhos cinematográficos seleccionados para competição [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] galardão para o melhor filme da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi para o drama familiar filmado na Patagónia, “Hunting Season”. A primeira longa metragem da jovem realizadora italiana, Natalia Garagiola conquistou o júri. Para Natalia Garagiola, o facto de ter sido reconhecida em Macau pode vir a ter um papel de peso na sua carreira. Está neste momento a trabalhar no seu segundo filme, ainda sem nome mas que trata “da vida de uma médica que se debate entre o medo e a ciência e que pode vir a ter, com o reconhecimento, mais facilidade em ser financiado”, referiu aos jornalistas após a cerimónia de ontem de entrega de prémios”. A película vencedora conta a história de Nahuel que regressa a casa do pai, Ernesto, um respeitado caçador da Patagónia argentina. Nahuel é acolhido numa nova família que o despreza e está agora com um pai que o abandonou e não traz boas memórias do passado onde o filho se insere. É, no entanto, numa caçada que os dois, sozinhos na imensa Patagónia, têm oportunidade de se reencontrar. As filmagens, todas feitas em ambiente natural tiveram, as suas complicações, na sua maioria associadas às dificuldades em trabalhar com o frio que se fazia sentir, referiu a realizadora. O filme em competição da China também foi destacado. “Wrath of silence” do realizador natural da Mongólia Interior, Yukun Xin arrecadou os prémios do júri e de melhor actor atribuído a Song Yang. Song Yang faz o papel de um pai mineiro que procura o filho desaparecido e acaba por se confrontar com o submundo ligado à corrupção da exploração mineira. Sofia Margarida Mota Prémios repetidos Já o francês Xavier Legrand levou o prémio para o melhor realizador com “Custody”. A premiação não é uma novidade para Legrand que apesar de ser conhecido pelo seu trabalho de actor de teatro, com “Custody”, a sua primeira longa metragem, foi já galardoado com o prémio de melhor realizador no Festival de Veneza no passado mês de Setembro. O filme que trata dos dramas de uma criança filha de pais separados e que se vê como alvo de luta pela custódia. O papel interpretado por Thomas Goria, valeu ao jovem actor o prémio para o melhor actor jovem revelação da segunda edição do evento internacional. “Beast” do britânico Michael Pearce, depois de ter créditos ganhos nos BAFTA ed estreado na secção “Plataforma” Toronto International Film Festival deste ano, leva também duas estatuetas para Inglaterra. O filme que trata da história de Moll Huntford, uma jovem de 27 anos que vive na ilha de Jersey, ao largo da costa da Inglaterra e se apaixona por um suspeito de ser assassino em série, ganhou o prémio de melhor contribuição técnica e de melhor actriz. No que respeita à contribuição técnica, o sector premiado foi a fotografia de Benjamim Keacun, enquanto a actriz premiada foi Jessia Buckley. O argumentista e realizador israelita Samuel Maoz ganhou o prémio de melhor argumento com o filme “Foxtrot”. Samuel Maoz aos 13 aos já filmava em 8mm e aos 18 anos contava com vários filmes feitos quando foi obrigado a integrar o exército e destacado para a guerra no Líbano. O seu primeiro filme, “Lebannon” ganhou, em 2009 o Leão de Ouro em Veneza e “Foxtrot” arrecadou, este ano, também o prémio do júri no mesmo evento. Já o público de Macau escolheu como vencedor do festival a história dos tenistas Björn Borg e Joe McEnroe. A produção sueca do realizador galardoado pela crítica em Cannes com o filme “Armadillo” em 2010, Janus Metz trouxe ao grande ecrã os bastidores do campeonato de Wimbledon de 1980. É tudo bom Uma selecção de filmes com muita qualidade, foi a afirmação do júri para descrever as 11 películas que estiveram em competição nesta segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. O cineasta francês que presidiu ao júri, Laurent Cantet, miostrou-se impressionado. “São filmes de realizadores muito novos e que já apresentam uma qualidade invulgar”, afirmou em conferência de imprensa após a entrega de prémios. Já o escritor Lawrence Osborne manifestou um sentimento comum por parte do júri relativamente à escolha do filme vencedor. “Todos sentimos que “Hunting Season” trazia alguma coisa de particular, que estava muito bem construído e contava com interpretações incríveis por parte destes jovens actores”, referiu. Para o também membro do júri tratava-se de uma película que aborda de uma forma cuidadosa e original a relação entre um pai e um filho. Apesar de mais de metade dos filmes em competição não arrecadar nenhum tipo de prémio, Cantet fez ainda questão de notar que “não foi por falta de qualidade”. Udo Kier regressa como júri para o ano O prémio de carreira foi dado ao actor que já conta com participação em mais de 200 filmes ao longo dos seus 50 anos de carreira. Udo Kier, não se mostrou surpreendido com o prémio mas sim, com a qualidade dos filmes a que assistiu no festival. Para o actor de “Blade”, “Armagedon” ou “Drácula”, “é bom estar num festival que salienta o talento de jovens realizadores e que aposta no cinema independente”, disse. Udo Kier adiantou ainda que para o ano vai regressar ao território e com funções definidas: vai integrar o júri da terceira edição do Festivalk Internacional de Cinema de Macau. Festival vai ter novas secções A próxima edição do Festival Internacional de Cinema vai ter novidades. Entre elas está a criação de uma secção dedicada ao cinema asiático e de países de língua portuguesa, A informação foi deixada pela directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, à margem da cerimónia de entrega de prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. “Já tive uma reunião com o director artístico Mike Goodridge, e com o nosso embaixador deste ano, o realizador Shekar Kapur, e já estamos a preparar as edições futuras. Há a possibilidade de criar uma secção para a Ásia e uma para os países de língua portuguesa”, referiu a responsável. Por outro lado, estão na agenda melhorias. “Vamos ainda tentar perceber os pontos fracos em que ainda temos de fazer melhorias mas ouvi muitos elogios a esta edição”, apontou Helena de Senna Fernandes. Este ano o festival teve algumas alterações relativamente à edição anterior e a aposta em filmes de jovens realizadores vai se manter. “Fizemos uma grande mudança em termos de regulamento para os filmes em competição e a partir deste ano só podem entrar na corrida filmes que sejam o primeiro ou segundo trabalho do realizador”, começou por dizer, sendo que considera que a resposta a esta mudança foi muito positiva. “Esta acção teve um bom feed back por parte da indústria porque somos um evento novo é bom ter esta associação com os jovens realizadores”, apontou Helena de Senna Fernandes. Vencedores Melhor Filme – “Hunting Season” de Natalia Garagiola Melhor realizador – Xavier Legrand com “Custody” Melhor Actriz – Jessia Buckley em “Beat” Melhor Actor – Song Yang em “Wrath of silence” Melhor Jovem Actor/Actriz – Thomas Goria em “Custody” Melhor Argumento – Samuel Maoz com “Foxtrot” Melhor contribuição Técnica – Benjamim Keacun com “Beast” Prémio do Júri – “Wrath of silence” de Yukun Xin Prémio do Público – Borg McEnroe de anus Metz
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialMichelle Yeoh foi a actriz em foco no Festival Internacional de Cinema de Macau [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actriz em foco da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi Michelle Yeoh, uma escolha estratégica da primeira Bond girl oriental que fez carreira com sucesso a ocidente e a oriente. Mestre de kung fu, Michelle Yeoh não se fica pela espetacularidade dos golpes personalizados que a tornaram famosa no cinema da região vizinha. A actriz orgulha-se da componente de representação que lhe tem sido reconhecida em filmes com “Memórias e uma gueixa”, “Crouching Tiger”, “Hidden Dragon” e “The Lady”, e mais recentemente, na série Startrek”. Aos jornalistas Michelle Yeoh recordou a opção pelo cinema com uma forte componente física. “Quando comecei a fazer filmes, os que envolviam artes marciais e as comédias eram os mais populares nas salas de cinema. Pensei que não conseguia fazer comédia porque na altura o meu cantonês era muito mau e não lia chinê que, polo não conseguia ler guiões. Por isso pensei que o mais fácil para mim seria mesmo optar pelos filmes de artes marciais”. Tratava-se de entrar num mundo essencialmente dominado por homens, mas Michelle Yeoh não se inibiu e optou por criar um estilo próprio. “Porque é que escolhi desenvolver os meus golpes? Porque podia. Não o fazemos só porque queremos, fazemos porque podemos. Comecei a treinar muito e como tinha um passado dedicado à dança o meu corpo era muito flexível”, começou por contar. Por outro lado, a actriz considera que nos momentos de acção há que defender uma causa. “Tenho de ter uma razão pela qual lutar: Não é a mesma coisa uma mulher lutar para proteger um, filho, ou um amor, ou um inimigo do país, referiu. O estilo de luta vem também com a personagem”, referiu. Em 1997 deu o pulo para Hollywood ao participar no filme do James Bond “Tomorrow nerver dies”. Este filme, assim como o “The Lady” marcam uma mudança no rumo de carreira em no reconhecimento enquanto actriz, pois deixou de ser apenas a “mestre de kung fu de Hong Kong”. Uma actriz de causas Na tela, Michelle Yeoh defende causas que têm essencialmente que ver com a igualdade de género. “Todos os papéis que fiz, são de alguma forma, inspirados em mulheres que conheço. Apesar de representar muitas mulheres diferentes, é como se fosse uma homenagem a todas elas, a todas as mulheres que lutam”, apontou. “Não sou feminista, mas acredito em igualdade de oportunidades e que todos podemos contribuir para um planeta melhor”, referiu tendo em conta a participação activa que tem tido em diferentes organizações, nomeadamente ligadas à luta contra a pobreza. Mas, sublinhou, “cada um de nós pode fazer a sua parte no que respeita às mudanças climáticas, à pobreza e à violência”, rematou Michelle Yeoh.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialLaurent Cantet, cineasta e presidente do júri do IFFAM: “Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar” Foi vencedor da Palma de Ouro, em Cannes em 2008, e nomeado para o melhor filme estrangeiro para os Óscares com “Entre Les Murs”. Laurent Cantet presidiu ao júri da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. Aos jornalistas, o realizador falou do que mais importa quando vê um filme e da paixão que tem pelo cinema japonês e coreano Está no festival enquanto presidente do júri. Que critérios tem quando está a avaliar um filme? Penso que não temos elementos precisos. Somos cinco e entre os cinco elementos do júri se calhar não pensamos todos da mesma forma, mas penso que o primeiro elemento que temos em conta é a forma como o filme nos toca. Depois disso podemos discutir a qualidade da representação ou dos guiões. Mas o que é importante para mim, quando estou num júri deste género é o facto de não sabermos nada do que vamos ver aqui. Os filmes em competição são os primeiros ou segundos filmes de cada um dos realizadores. Entramos aqui completamente virgens no que respeita aos filmes que vemos. Entramos na sala e é uma descoberta, o que também é um momento muito bom. O que nos pode dizer dos filmes em competição? Estou impressionado com a diversidade dos filmes que tenho visto, de diferentes partes do mundo e de diferentes géneros. É uma selecção muito boa. Penso que todos os membros do júri estão muito felizes com o que vimos. Tem sido uma boa surpresa. Lembra-se quando é que descobriu que queria ser um contador de histórias através do cinema? Comecei pela fotografia e com ela descobri que queria fazer cada vez mais séries fotográficas. O objectivo era poder contar pequenas histórias. Paralelemente também gostava de escrever e escrevia contos que muitas vezes acompanhavam os conjuntos de imagens. Penso que isso me levou, mais tarde, a optar por fazer filmes. Mas o momento mais importante para mim foi ter sido aceite numa escola de cinema. Quando lá entrei não sabia nada do que era fazer um filme. Três anos depois tinha feito cinco filmes e trabalhado em muitos mais. Foi ali que, realmente tudo ficou decidido. Como é que é o seu processo de fazer um filme? O que quer dizer? Quando faço um filme tento descrever o mundo onde vivo. Tento descrever e situar a história num contexto e todos os filmes têm uma forma própria de serem feitos. Não penso que tenha um estilo. Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar. Talvez a particularidade dos meus filmes, e que se poderá encontrar em todos eles, tenha que ver com o facto de serem feitos com actores profissionais e não profissionais. Para mim é importante ouvir o que as pessoas têm a dizer acerca da sua própria vida, da vida real e tento dar um espaço onde as pessoas que normalmente não têm voz, possam expressar-se, falar de si, das suas histórias e realidades. É a primeira vez em Macau. O que acha a cidade? Acho incrível a forma como os dois universos, ocidental e oriental, coexistem no mesmo espaço. Podemos ir ao centro histórico e sentir isso através, por exemplo, da arquitectura. Mas ainda conheço muito pouco. O que pensa do cinema que está a ser feito actualmente na Ásia? Alguns dos meus realizadores preferidos são japoneses e coreanos. Infelizmente não conheço tanto do cinema chinês, mas no que respeita a cinema coreano e japonês temos muito acesso a ele em França, especialmente nos últimos dez anos. Actualmente, faz mesmo parte da cultura cinematográfica francesa e já não nos podemos alhear do cinema asiático. O que mais gosta nos filmes do Japão e da Coreia? Talvez a sua ligação com o contexto em que são feitos. Também mostram, de uma forma muito particular, as relações entre as pessoas. São relações muito muito diferentes da nossa forma de nos ligar-mos uns aos outros. Penso que no cinema tanto japonês como coreano, há um exotismo humano e das relações entre as pessoas que é muito especial. Como vê a situação do cinema francês? Penso que, como em todos os lados, temos dificuldades em fazer filmes. Há muitos realizadores e, mesmo que se consiga fazer um filme, temos dificuldade em lança-lo e distribui-lo. A coisa mais importante é, se calhar, manter a diversidade do cinema francês viva. Também é difícil vender os nossos filmes a outros países. Mas, ainda assim, a França produz cerca mais de 200 filmes por ano o que é muito bom.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialFestival Internacional de Cinema de Macau – Nos bastidores da indústria Tetsu Negami, Clockworx CO.Ltd, Japão: “Um festival profissional” [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a primeira vez que aqui está, qual é a sua primeira impressão? Estou com muito boa impressão e a minha intenção é encontrar projectos que me chamem a atenção. Se o conseguir, já é muito bom. Para ser honesto, e nesta fase, ainda não encontrei um projecto para financiar, dado os estágios muito iniciais em que se encontram, mas penso que vou acompanhar o seu desenvolvimento. Acho que no futuro somos capazes de investir e mesmo co-produzir. O que acha da forma como este encontro da industria está a ser conduzido? Todos os festivais têm de ter esta componente de mercado. Neste caso está feito de forma muito profissional e que pode vir a ter frutos. Estou surpreendido. Para o ano, vai cá estar? Sim. Gilbert Lim, Sahamongkolfilm, Internationl Co Ltd., Tailândia: “No bom caminho” É o responsável por uma das maiores produtoras e distribuidoras da Tailândia e é a segunda participação que tem neste festival. Quais as diferenças entre o ano passado e este ano? Acho que este ano está muito melhor. Está tudo muito bem organizado. A localização é excelente. O maior problema que encontrei no ano passado, e por ser a primeira edição, teve que ver com a logística que falhou em alguns aspectos. Mas, ainda assim, enquanto primeiro festival foi bastante bom. Mas esta segunda edição está mesmo muito bem organizada. Macau pode vir a ser um local importante enquanto plataforma na área da indústria do cinema? Penso que é uma situação possível tendo em conta que Macau, de alguma forma, é um lugar que é uma espécie de cruzamento entre o ocidente e o oriente. Gostava muito que o Governo de cá contiuasse a apoiar este festival. Como é que vê o futuro do festival? Não se pode julgar um festival de cinema pelos primeiros dois ou três anos. Este tipo de eventos tem de continuar para que se possa ter uma ideia acerca da sua importância para o local onde é realizado. Mas, para já, este estará no bom caminho. Para o ano, vai cá estar? Sim. Fred Tsui, Media Asia film, Hong Kong: “Macau é mais do que casinos, é cultura” O que é que Macau tem para mostrar, tendo em conta a realização de um festival de cinema em Hong Kong, e o mercado da região vizinha? Em termos de natureza, os festivais têm todos a mesma. Depois é uma questão de localização e de tempo. Mas Macau tem aspectos únicos dos quais pode usufruir. Já toda a gente conhece Hong Kong. Mas, de Macau normalmente as pessoas apenas conhecem o território por causa dos casinos, sendo que na realidade, a RAEM é muito mais. O facto de ser um festival organizado pelos serviços de turismo também faz sentido porque o território tem muito a oferecer aos visitantes. Macau é mais do que casinos, é cultura e é preciso dizer isso às pessoas. Quais as maiores diferenças que encontra entre a edição do ano passado e a deste ano? Começa pelos hotéis onde estamos. No ano passado estávamos na Taipa e era muito longe. Este ano estamos muito bem, mesmo em frente do Centro Cultural onde tudo acontece. É tudo muito conveniente e está muito bem organizado. O próprio espaço é óptimo. Está tudo melhor este ano. E mesmo no que respeita aos projectos que estão a ser mostrados, são muito melhores. No ano passado fiquei com a sensação de que os projectos apresentados vieram por convite e, este ano, sente-se que houve uma selecção cuidadosa. Para o ano, vai cá estar? Sim, claro!
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialPrémios | Já são conhecidos os projectos vencedores do “Project Market” São 30 000 dólares americanos para dividir pelos três vencedores do “Project Market Award” do Festival Internacional de Cinema. Os galardoados foram conhecidos na segunda-feira e as participação portuguesas não conseguiram estatuetas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema já começam a ter destinatários. A noite de segunda-feira foi dedicada à entrega do galardão aos vencedores da secção dedicada ao mercado e indústria cinematográfica do evento. Um total de 30 000 dólares americanos foi distribuído equitativamente por “Mihara” uma coprodução dos Estados Unidos e do Japão realizada por Jaqueline Castel, “The girl with no head, um projecto da Malásia realizado e produzido por Liew Seng Tat e Pete Teo, e “The last stage” de Liam O´Donnel, um filme que conta com a participação dos Estados Unidos, França e Indonésia. Os filmes, ainda em fase inicial de produção, integram a secção do festival dedicada à apresentação de projectos à industria. Os candidatos foram seleccionados de acordo coma curadora de Todd Bown. A secção dedicada à indústria contou, este ano, com a participação de 14 projectos que durante três dias foram meticulosamente apresentados e submetidos a comentários de alguns dos mais influentes representantes da produção e distribuição de filmes do mundo, sendo que o continente asiático se destacou. Os projectos foram divididos em três categorias tendo em conta os objectivos de cada um. O “Project Market” apresentou o bloco dedica os prjevtos de filmes de género, filmes de autor e projectos que estavam à procura de parcerias internacionais. Um momento de qualidade Os portugueses Jerónimo Rocha e o residente de Macatu, Ivo Ferreira estiveram presentes em diferentes categorias. Jerónimo Rocha este a apresentar “Deadalus”, uma continuação da curta homónima que o realizador quer ver no grande ecrã. Da experiência no festival, Jerónimo Rocha destaca a qualidade que caracteriza este sector do festival e ao HM referiu que, independentemente dos resultados imediatos, “a experiência está a ser muito produtiva até porque permite aceder a diferentes formas de analisar o filme que queremos fazer e, como tal de o podermos melhorar”. Já Ivo Ferreira trouxe “Projecto Global” à secção de autor. Apesar do projecto, para já, contar apenas com 20 páginas de guião escritas, Ivo Ferreira admite não estar no festival propriamente à procura de apoios, até porque se trata de um filme de Portugal, mas, quem sabe, conseguir interessados na sua distribuição”, apontou ao HM. Por outro lado, o produtor de “Projecto Global” não deixou de destacar a qualidade do sector dedicado ao mercado. “Do que tenho visto, esta secção do festival está ao nível do melhor que se faz na Europa”, disse.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialUdo Kier, actor e vencedor do prémio de carreira: “Se não fosse actor seria jardineiro” Independentemente do tipo de filme ou do papel, Udo Kier é uma cara conhecida do público. Com 50 anos de carreira e trabalhos feitos em todos os géneros cinematográficos, o carismático actor alemão está no território para receber o prémio de carreira do Festival Internacional de Cinema. Aos jornalistas, Kier falou com boa disposição de alguns dos filmes em que participou, da sua paixão pela jardinagem e da amizade que tem com Lars von Trier É a segunda vez este ano que recebe um prémio de carreira. No ano passado também recebeu alguns. O que é que se está a passar? Tenho 73 anos e é quando envelhecemos que as pessoas nos dão prémios. É agradável. Se tivesse 100 anos seria mais complicado porque não teria a energia que tenho agora para os receber. Já participou em centenas de filmes. É verdade. Já fiz filmes maravilhosos. Aliás já filmei com a filha do Charlie Chaplin e é espantoso porque é muito estranho tocá-la e perceber que estou a trabalhar com a filha do Charlie Chaplin. Continuo a trabalhar muito. Estive na China a trabalhar nuns estudios maravilhosos, a gravar “Iron Sky 3”. Foi muito interessante porque estivemos a trabalhar com actores chineses e o Andy Garcia era a única pessoa que falava inglês ali comigo. O que achou da experiência no continente? Os chineses têm uma grande tradição cultural na arte da representação, assim como os japoneses. Foi a minha primeira vez na China. Foi engraçado porque pensava que ía para uma pequena vila chamada Tsingtao e quando lá cheguei vi as construções e os arranha céus e perguntei quantas pessoas vivam ali. Disseram-me que cerca de 10 milhões. Fiquei muito espantado por saber que 10 milhões pode ser a população de uma pequena cidade da China. Foi também uma oportunidade de conhecer a cultura. Andei por lugares realmente mais pequenos e com muitas construções antigas. Gostei muito. Em Macau quero fazer o mesmo. Até agora ainda só vi casinos e espaços maravilhosos e dourados , com água fogo e Frank Sinatra. Mas quero ir às ruinas de São Paulo e sentir a história na minha mão. Já trabalhou com realizadores como o Wim Wenders, Quentin Tarantino ou von Trier. Como é que é trabalhar com estes nomes? Cresci na Alemanha. Tive a sorte de conhecer o Fassbinder quando tinha cerca de 16 anos. Depois fui para Inglaterra aprender inglês, Foi lá que fui convidado para a minha primeira participação num filme. Na altura, não queria muito ser actor, mas gostava da atenção que tinha quando as pessoas me encontravam num restaurante e diziam que me tinham visto na tela. Na Alemanha, existiam três grupos, o de Wenders, o de Herzog e o do Fassbinder. Eu estava no grupo do Fassbinder e não estava autorizado a trabalhar com os outros dois. Quando o Fassbinder morreu é que trabalhei tanto com o Wenders como com o Herzog. Mas o Lars é diferente. É um dos meus melhores amigos. Já trabalhamos juntos há 24 anos. Sei as datas porque sou o padrinho da sua filha e ela acabou de fazer 24 anos. Participei em todos os filmes do Lars von Trier e só não vou estar neste último. Mas o Lars já me ligou a dizer que o poster de promoção vai ter em destaque “sem Udo Kier”. Eu acho óptimo, acabo por ser o centro do póster. Representa normalmente as personagens estranhas e vilões. Gosta? Claro que sim. Até porque eu sou um bom tipo. Eu salvo animais e sou jardineiro. Aliás, se não fosse actor seria, sem dúvida, jardineiro. Tenho uma casa linda na Califórnia e sou eu que planto e podo as árvores. Nem uso luvas porque a ideia é estar em contacto com a natureza. Também gosto de cozinhar, especialmente para amigos. Mas depois de fazer estas coisas durante um par de semanas começo a pensar que está na hora de fazer um filme. É assim que os filmes acontecem. Este ano e no ano passado fiz tantos filmes porque achei realmente que eram todos projectos muito bons. Não ando atrás deles. A coisa boa nisto é que a internet sabe mais de mim do que eu próprio. Já fiz mais de 200 filmes. Digo sempre que, desses 200, 100 são maus, 50 até podem ser apreciados se se estiver a beber um copo de bom vinho tinto, e 50 são bons. Quando podemos, como actores, dizer que fizemos 50 bons filmes, podemos sentirmo-nos muito bem. Trabalho com muito realizadores que nem conseguem fazer maus filmes. Gus Van Sant não consegue fazer um filme mau, Herzong também não. Podem fazer filmes que as pessoas não gostem, mas não são filmes maus. Eles sabem bem que andam a fazer. Também trabalho com realizadores que me esqueço do nome de propósito e faço filmes que nunca vejo. Podemos encontrar o seu nome a representar todo o tipo de papéis em todo o tipo de filmes. Como é que selecciona os seus trabalhos? Isso é mais uma coisa boa da internet. Quando me chega um guião é muito fácil ter informação adicional. Se for de um realizador que eu nunca tenha ouvido falar, vou ao IMBD e vejo logo que filmes fez e com quem. Tenho agora um filme em competição em Berlim de uma realizadora italiana em que isso aconteceu. Leio o guião, sei quem o fez. Depois leio apenas a minha parte do guião. Depois leio o guião sem a minha parte. Se decidir que o filme é bom sem mim e sem o meu papel não vejo razão para o fazer. Por vezes não é o tamanho ou o protagonismo do papel que fazemos, mas sim o seu interesse. Por exemplo, quando fiz o “Melancolia” com Lars von Trier, o Lars disse-me para improvisar uma cena em que tinha de pensar como seria entrar numa sala e não querer ver a Kirsten. Ficou toda a gente a olhar para mim e eu levantei a mão e disse que a poria em frente da cara. Acabei por fazer essa cena e quando o filme esteve em Cannes, aquele movimento de mão foi o gesto que ficou memorizado no público. O que fica por vezes são detalhes e o que importa para mim enquanto actor é perceber de que forma posso tornar algumas situações interessantes e mesmo únicas, o que se pode fazer com pequenos papéis. Enfim, gosto e ser actor. Um dia terei de parar. Sou uma pessoa muito realista e já tenho 73 anos. Penso que tenho mais sete bons anos pela frente até aos 80. Quando começamos a fazer filmes queremos filmar uma data deles ao mesmo tempo para experimentar tudo. Agora é muito diferente. Acho que já não represento, sou só eu, um texto e uma situação. Não tenho este tipo de sentimento forte que me in duza a ter de fazer alguma coisa. Nunca senti que queria trabalhar em especial com um realizador nem nunca me dirigi a nenhum para o fazer. Imaginem que chego perto do David Lynch e digo que quero trabalhar com ele e ele me responde “quem não quer”? iria sentir-me terrivelmente. (Risos). Os realizadores conhecem-me e se quiserem trabalhar comigo sabem como me encontrar. A sua carreira ascendeu com isso mesmo. Com um encontro com Paul Morrissey. Paul Morrissey descobriu-me. Estava a viajar de Roma para Munique e tinha um homem sentado ao meu lado, americano. Como todos os americanos perguntou-me logo o que é que eu fazia. Respondi que era actor e entreguei-lhe a minha foto de apresentação. Ele disse que era interessante e pediu-me o número, que escreveu na última página do passaporte. Até pensei que deveria ser importante para ele e acabei por lhe perguntar também o que fazia. Ele disse-me que era realizador, que trabalhava para Andy Warhol e que se chamava Paul Morrisey. Umas semanas depois recebi um telefonema dele a dizer que estava a fazer o Frankenstein e que tinha um pequeno papel para mim. Pensei que ele era maluco e que estava a brincar. Mas foi engraçado que pouco tempo depois ele veio a Munique para o lançamento de um filme e convidou-me para assistir a uma conferência de imprensa. Eu estava lá sentado num lugar qualquer e quando lhe perguntaram quem seria o Frankenstein ele apontou para mim e disse, Mr Kier. Toda a sala mudou. O mesmo acabou por acontecer com o filme seguinte, o Drácula. Estávamos a filmar o Frankenstein e no último dia estava naquelas festas do Warhol. Estava lá o Fellini, e uma data de gente, todos muito altos e com peitos muito grandes. E eu estava ali, como Dr. Frankenstein triste por ver terminados os meus 15 minutos de fama. Paul Morrissey apareceu e disse: “acho que vamos ter um drácula alemão”. Era eu, mas tinha de perder muito peso numa semana. Disse que não havia problema e não comi mais do que folhas verdes e água. Aliás, o drácula acaba por aparecer numa cadeira de rodas porque eu não tinha força para me levantar e ficar de pé. Com estes dois filmes acabei por ser abordado por toda a imprensa e aqueles papéis acabaram por se tornar clássicos. Dali passei para uma outra fase mas o Paul Morrisey foi muito importante para mim. E como é que foi o encontro com von Trier? Tinha visto o primeiro filme do Lars von Trier, “Element of crime” e queria mesmo conhecer a pessoa que tinha feito aquele filme. Consegui ter um encontro agendado. Estava à espera de alguém como o Kubrick ou o Fassbinder, que me aparecesse vestido de preto, a coçar-se todo e de mau humor. Apareceu-me um jovem que parecia um estudante. Era Lars von Trier. Conversámos e umas semanas depois ele ligou-me a dizer que estava a fazer “Medea” e queria que fizesse um dos protagonistas, o marido de Medea. Eu disse que não tinha aspecto de viking ou de rei. Ele respondeu-me para não fazer mais a barba nem lavar o cabelo, durante um mês e para depois ir ter com ele à Dinamarca para ser apresentado e “vendido” ao produtor. Foi o que fiz. Fiquei muito estranho e na viagem ía a cheirar muito mal. Mas acho que não há problema quando se cheira mal em classe executiva. Ninguém se importa e se calhar até pensam que é um novo perfume. Fiz este filme e acabei por participar em todos os filmes à excepção do mais recente. Porque é que não está neste? Penso que terão sido os produtores a dizer que não me queriam por estar em todos os filmes. Lars von Trier é conhecido por não ser uma pessoa fácil. Da sua experiência, como é trabalhar com von Trier? Antes de mais, ele não gosta de actores. A sua deixa preferida para os actores é “não representem” e toda a gente quer trabalhar com ele. Por exemplo em “Dogville” todos ganhámos o mesmo ordenado, ou seja, quase nada, todos dormimos no mesmo quarto e comemos na mesma mesa, a equipa toda, desde o responsável pelo bengaleiro à Nicole Kidman. E todos estávamos felizes por estarmos a trabalhar com um excelente realizador. Ele não é uma pessoa difícil de todo. A Bjork não gosta dele, mas a verdade é que ganhou a Palma em Cannes com “Dancer in the dark” e que será a sua primeira e única. Noamy Watson teve a sua primeira nomeação para os óscares com um filme de Trier. Diria que von Trier é melhor a dirigir mulheres do que homens. Alguns realizadores conseguem transmitir o que querem melhor às mulheres. Lamenta algum papel que tenha recusado? Não. Quando é reconhecido na rua, qual é a personagem que mais lhe associam? Na América é com Blade, o vampiro e a geração anterior era do drácula ou o Frankenstein. Na Europa é em Pet Dectetive. Como é que aprendeu a representar? Nunca estive numa escola de actores. Criei-me a mim mesmo. Observei pessoas e depois trabalhei com actores muito bons. Observava-os e tinha realizadores talentosos. Pode-se aprender a técnica, mas não o talento. Esse, ou se tem ou não se tem.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialCinema local | Chan Ka Keong estreou a sua primeira longa Macau pode vir a ter uma indústria de cinema e o Festival Internacional de Cinema pode ser uma grande ajuda. Mas, os realizadores locais têm muito que trabalhar. A opinião é de Chan Ka Keong que estreou no fim-de-semana a sua primeira longa metragem, “Passing rain”. Autocrítico e ciente das dificuldades, o realizador fala ao HM da inexperiência e de aspectos a mudar nas produções futuras [dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]assing rain” é a primeira longa metragem de Chan Ka Keong, e fez a sua estreia no fim-de-semana na Torre de Macau enquanto parte do cartaz dedicado às apresentações especiais feitas por realizadores locais. Para o realizador, “Passing rain” não é apenas um nome mas sim a própria essência do filme. “Não gosto de sol, e é por isso que chamei o filme de “Passing rain”, começa por contar ao HM. A ideia é ser uma metáfora da vida: “vem de repente, passa rápido. A vida e a chuva são assim. Aqueles que amamos e aqueles de que não gostamos também aparecem e desaparecem das nossas vidas, como no filme, como a chuva em Macau”, refere. Filmagens congestionadas Mas, apesar do financiamento do Instituto Cultural para a produção da película, as filmagens no território nem sempre são fáceis. O maior problema, aponta, tem que ver com as deslocações. “Até parece cómico por se tratar de um lugar tão pequeno, sendo suposto ser fácil e rápido andar de um lado para o outro. Mas não é. As estradas são muito estreitas pelo que tínhamos de estacionar a carrinha do material e descarregar para deixar o espaço disponível para filmar. Depois, sempre que tínhamos de mudar de lugar deparávamo-nos com o trânsito. Seria muito mais fácil fazer a maior parte dos trajectos a pé, mas com o material era impossível, explica o realizador. Por outro lado, tratando-se da primeira longa metragem realizada por existiram outros aspectos que vieram trazer à tona melhorias que têm de ser tidas em conta no futuro. “Não tenho experiência em fazer histórias dramáticas e este filme é uma espécie de salada com vários ingredientes que se vão misturando e que precisava de um drama mais bem trabalhado”, diz. Proximidade, precisa-se Autocrítico, o realizador considera que “com a vertente dramática mais bem trabalhada, um filme torna-se mais apelativo para o público, sendo mais fácil entrar na própria história e nas emoções que lhe estão associadas”. Apesar de satisfeito com “Passing rain”, Chan Ka Keong abre os olhos para os próximos filmes. “Neste filme, falhei ao colocar o público à distância. Não os coloco nas cenas ou em contacto com a emoções das personagens. O público apenas assiste”, aponta. O próximo projecto já está a ser trabalhado e trata-se de uma produção de baixo custo “em que tudo acontece ao lado de uma cama, entre dois personagens e em que são desenvolvidas as filmagens dos pequenos detalhes da vida”. Para o realizador o Festival Internacional tem um papel fundamental para a indústria local, sendo que é imperativo que os realizadores façam a sua parte. “Os realizadores de Macau têm de trabalhar cada vez com mais afinco para que as próximas edições deste festival possam ter mais trabalhos locais em exibição e capazes de entrar em competição”, remata Chan.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialMaria Helena de Senna Fernandes: “Abrimos o festival com uma boa nota” O Festival está em andamento. Depois da abertura, quais a primeiras impressões? Estou muito orgulhosa. Temos muito orgulho que desta vez existam alguns filmes dentro do nosso programa que já têm boas expectativas para os Óscares. “Call me by your name” e “The shape of water” são alguns dos filmes que podem entrar nas corrida. A abertura este ano foi feita com a projecção de um filme de caracter comercial. Como correu? Abrimos o festival com o “Paddington 2” e para mim foi uma experiência muito diferente da que tivemos no ano passado. Em 2016 o filme de abertura era mais artístico, mas este ano dedicámos o primeiro dia à família. Que mudanças podemos ter nesta edição e para o futuro? Queremos ser um festival para o público em geral e foi bom ver que na cerimónia de abertura contámos com várias famílias que vieram acompanhadas das crianças. Penso que foi um sucesso. Abrimos o festival com uma boa nota. Qual é agora a prioridade? Acho que é importante cultivar, no público local, o gosto de ir ao cinema porque só assim podemos vir a ter uma indústria neste sector. Precisamos de pessoas a gostar de filmes para que possam ser feitos. Para nós, é importante que este festival seja internacional e para isso tem de ter as projecções, mas também a própria indústria. Este ano temos 14 projectos a procurar investidores. Enquanto membro do Governo, é importante ter esta oportunidade de acolher um festival que possa vir a motivar a nossa indústria. Mike Goodridge – Director do Festival Internacional de Cinema de Macau “Queremos que as pessoas passem a ter o cinema como um hábito” Sofia Margarida Mota O que tem a dizer do início do festival? Acho que começámos muito bem. Com o filme de abertura, dada a escolha, tivemos a presença de muitas crianças no público o que foi muito interessante. Estamos lançados e agora a preocupação é ver a ligação dos filmes com o público. Que expectativas tem agora? As expectativas são boas. A avaliar pelo número de bilhetes vendidos no sistema, estamos mesmo muito entusiasmados por terem sido em grande quantidade. Agora resta saber se as pessoas vão mesmo ver os filmes. De qualquer forma, já deu para ver que há realmente interesse. O que é preciso fazer, a partir de agora? É um festival recente e vai ainda demorar alguns anos para habituar as pessoas à sua existência para que participem activamente nele. Não queremos ensinar ninguém, só queremos que as pessoas passem a ter o cinema como um hábito e que se tornem “agarradas” ao grande ecrã. As expectativas são muito boas. Agora que o festival está em andamento é ver como é que corre e acompanhar o evento.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialLawrence Osborne, escritor e júri do IFFAM: “Macau é única” O livro “The Ballad of a Small Player” passa-se em Macau e pode vir a ser adaptado para o grande ecrã. A obra é de Lawrence Osborne que está no território enquanto membro do júri do Festival Internacional de Cinema. Para o escritor britânico, Macau é um lugar único [dropcap]É[/dropcap] a primeira vez que está a trabalhar com a área do cinema. Tenciona estar mais ligado à sétima arte? Já fui muitas vezes convidado para escrever guiões e sempre disse que não. Conheço muitas pessoas do mundo do cinema e sempre achei que era um negócio muito complicado. Envolve muito tempo junto de um público e envolve muitas questões relacionadas com dinheiro, o que para mim são tudo complicações. Se se é um escritor, sentamo-nos no nosso quarto sozinhos, fechamos a porta e estamos assim todos os dias, e isso é óptimo. É a única coisa me interessa. Mas, de facto, este ano está muita coisa a mudar porque tenho vários livros que podem vir a ser adaptados e, com isso, tenho de estar envolvido com todos os problemas associados. O que é que o fez mudar de ideias? Tenho cerca de seis livros publicados e dois para o serem. Já escrevi bastante e acho que vou tirar um ano de férias para fazer outras coisas e ver o que acontece. Por outro lado, também há muito dinheiro envolvido (risos) porque faz com que não tenha de me preocupar com essa parte durante uns tempos. Quando escrevemos livros andamos sempre falidos. Qual o seu interesse pelo cinema? O cinema é um mundo muito interessante. Às vezes até gosto mais de cinema do que, propriamente, de literatura. Vejo muitos filmes. Mas o mais importante é a arte narrativa, que é sempre uma arte. Há sempre uma história. Pintura e música são diferentes. Elas existem numa outra dimensão. Mas as artes narrativas estão ligadas. Quando vejo um filme e enquanto escritor estou sempre tecnicamente interessado no que está a acontecer na história. O mesmo acontece ao ver os filmes deste festival. Estamos sempre a perguntar-nos o que vem a seguir na história e, na maioria das vezes em que conseguimos perceber isso, não nos sentimos bem. Pensamos que se o mesmo acontecer quando alguém está a ler as nossas histórias, elas perdem a imprevisibilidade, e, para nós escritores, isso significa que são fracas. Já foi abordado acerca da possibilidade de adaptar o romance “The Ballad of a Small Player”, que acontece em Macau, para cinema? É uma opção. Aliás, quando sair deste encontro com os jornalistas, vou ter a minha primeira reunião acerca de um guião desse livro. Mas ainda não pensei nessa história ainda como um filme. Já o escrevi há alguns anos, pelo que há coisas que não estão frescas na minha memória. Quando escrevi “The Ballad of a Small Player”, não tinha em mente qualquer adaptação para cinema. Era apenas literatura. Era um conto de fadas chinês. Por isso, fiquei surpreendido quando me apareceram com a possibilidade de ser adaptado. Se calhar vão me pedir para fazer o screenplay, e se calhar vou pensar nisso. Com quem se vai reunir para o efeito? Não posso ainda dizer ao certo com quem, mas posso avançar que uma das pessoas é o director do festival Mike Goodrige. Só o conheci uma vez em Londres onde o trabalho dele é muito reconhecido enquanto produtor e é uma pessoa com muito bom gosto também. Aliás, isso pode ser constatado pelos filmes que temos neste festival, que são óptimos. Por vezes, nos festivais de cinema, os filmes conseguem estar muito longe de serem bons, mas neste, a qualidade está muito alta. Acho que é uma situação muito gratificante para Macau: ter todos estes filmes de grande qualidade em competição e em exibição. Todos nós, membros do júri, estamos muito surpreendidos. “The Ballad of a Small Player” é uma história que acontece em Macau e que trata da realidade do território. Como é que lhe ocorreu escrever este livro? A forma como as histórias começam é muito interessante porque não acontece de uma forma, aparentemente, lógica. Há uma pequena passagem no livro em que a rapariga está a relembrar uma oferta que fez num templo, e essa imagem era uma situação por que passei no Tibete. Na altura estava a fazer uma viagem pela China, escrevia para a Vogue e andava acompanhado com dois fotógrafos e dois tradutores. Não sabia porque é que estava ali ao certo, mas acabámos por ir a este lugar assustador, no meio de uma grande floresta com vista para um rio enorme. Era um sitio deserto onde estava um mosteiro gigante com cerca de 30 monges. O meu condutor de carro era um tibetano e de repente parou, entrou no templo, e deixou um monte de notas. Eu achei tão estranho. Aquela imagem ficou comigo e não tendo qualquer conexão com Macau acabei por fazer uma adaptação no livro. Foi assim, por exemplo, que nasceu aquela personagem do livro. Muitos dos livros que escreve são escritos depois de viver nos sítios onde a narrativa acontece. Isso também aconteceu com “The Ballad of a Small Player”? Não. Normalmente vivo nos lugares mas não vou para nenhum sitio para fazer pesquisa para livros. O processo é o inverso. Detesto essa coisa de alguém pensar em fazer alguma coisa sobre um lugar e ir lá para pesquisar durante duas semanas. Isso é treta e não funciona. É preciso conhecer realmente um lugar e para isso é preciso lá viver, caso contrário, é falso. Não vivi em Macau mas passei muito tempo aqui em 2001, 2002, 2003 e 2004. Na altura trabalhava para o New York Times e escrevia sobre os medicamentos psiquiátricos na Ásia. Mandavam-me para a China, para o Bornéu, a Indonésia, a Papua Nova Guiné, etc. Acabava sempre por regressar ou a Hong Kong, ou a Bangkok, que funcionavam como uma espécie de base de trabalho. Muitas das viagens que fazia eram à selva e eram muito cansativas. No final, no regresso, acabava sempre por passar, pelo menos, um mês em Hong Kong, para descontrair. Acabei por me habituar a vir a Macau, porque tinha muita curiosidade. Quando percebi que era tão diferente de Hong Kong, comecei a preferir Macau a Hong Kong e a ficar cada vez mais tempo em Macau. Era uma ligação estranha a que sentia, mas foi completamente acidental. Adorava esta atmosfera que não é nem portuguesa, nem chinesa. Não se vê uma mistura óbvia, mas Macau é única. A segunda razão porque comecei a vir para Macau, teve que ver com o vinho porque também fui um dos críticos de vinho da Vogue e Stanley Ho tinha a maior colecção de vinhos que existia no Hotel Lisboa. São milhares de garrafas. Foi muito interessante para mim porque não conseguimos encontrar este tipo de colecções muito menos feitas por um chinês. Daí existirem cenas no livro que se passam no antigo Robuchon. O jogo, nunca apareceu na sua vida? Sim, apareceu mas mais tarde. Tudo acontece numa sucessão. Quando passamos muito tempo num sitio, como eu passava no Lisboa a beber bastante vinho e sem conhecer ninguém, num lugar onde toda a gente circula à noite e a ver as pessoas a jogar, começa-se a jogar também. Jogava bacarat na sua forma mais fácil. Aliás acabei por achar que era uma coisa bastante terapêutica, principalmente quando perdia dinheiro. Porquê? A nossa relação com o dinheiro é muito baseada no adquirir e guardar o dinheiro. Passam-se vidas inteiras neuroticamente obcecadas com a ideia de guardar dinheiro, de não o gastar. Se formos a um casino frequentado por chineses, que também são muito obcecados pelo dinheiro, a situação é ainda mais particular porque é um lugar onde é muito fácil perdê-lo. Quando isso acontece é como se alguma coisa dentro de nós se partisse e rendemo-nos a isso. E isso é bom. É a primeira vez que é membro de um júri? Enquanto júri de cinema, sim. É muito mais divertido do que ser júri de livros. No mundo da literatura, se um membro de um júri gosta em especial de um livro detestam se um outro membro não gosta. Mas aqui é tudo mais objectivo. Discutimos os filmes que vemos ao jantar, de forma muito civilizada. Todos temos sensibilidades diferentes mas discutimos os filmes em todos os aspectos. O que é que é um bom filme para si? Penso que a história tem de ser visceral. Se se pensar muito, se se tratar de um filme muito intelectual, já perdeu alguma coisa. Penso qua a intensidade é o que mais conta. Acho que muitos dos escritores, actualmente, são demasiado intelectuais. Pensam demais, e isso é sempre um erro. Não funciona. Mas tenho de reforçar que ainda só vi filmes bons aqui, entre os sete que já visualizamos. Considera mudar de carreira, da literatura para os filmes? Não, é demasiado tarde para isso. Nós fazemos o que fazemos e já é muito difícil fazer uma coisa bem. Não é possível fazer duas coisas bem. O que é um bom livro? Isso é mais complicado. Há muito poucos livros que são realmente bons. A literatura é tão diversa.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialFilmes de Pang Ho-Cheung em exibição esta semana na Cinemateca [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Festival Internacional de Cinema de Macau só começa em Dezembro, mas, entretanto, já se faz sentir no território. Exemplo disso é o ciclo que decorre na Cinemateca desde ontem, dedicado ao realizador Pang Ho-Cheung. Depois de “Love Puff”, exibido ontem, amanhã é dia de apresentar “Isabella”. O filme passa-se em Macau, na véspera da transferência de administração e conta a história de um polícia local, Shing, que está a atravessar um mau momento na vida e a ser investigado por crimes de corrupção. Para se animar, vai à procura de consolo feminino e conhece Yan, a filha que não sabia que tinha. Com o novo papel de pai, Shin tem agora de lidar com a relação homossexual de Yan e com os abusos que sofre por parte de um colega de trabalho. Resta saber se pai e filha se conseguem reconhecer como tal. “Isabella” ganhou o Urso de Prata no 56.º Festival de Cinema de Berlim. Sexta-feira é dia de “You shoot, I shoot”. O filme passa-se na vizinha Hong Kong. Numa cidade superpopulosa, em que o espaço, escasso, é palco de pequenas conquistas diárias e gerador de ódios e conflitos, os serviços de assassinato profissionais estão em boa maré de negócio. É o caso de Bart que investe o que ganha com as encomendas de morte no mercado imobiliário. No entanto a crise aparece, Bart começa a ter menos propostas de trabalho e as rendas do aluguer de casas também descem. Em Hong Kong, apenas as mulheres mais ricas começam a ter possibilidades de contratar assassinos. Bart dedica-se agora a este mercado. Pang Ho-Cheung é um argumentista e realizador de Hong Kong que tem na carreira, não só múltiplas produções, como prémios internacionais e, este ano, é convidado para dirigir uma masterclass promovida pelo Festival de Cinema de Macau. O ciclo conta com entrada livre e as projecções são às 15h30.
Sofia Margarida Mota Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialFestival de Cinema | Já são conhecidos dez dos 11 filmes em competição Dramas familiares, histórias reais e surrealismos de guerra são alguns dos temas que marcam a selecção de filmes em competição na 2ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. São na sua maioria filmes que marcam a estreia nas longas metragens dos seus realizadores. Todos de 2017, já passaram também pelos principais festivais de cinema internacionais e prometem marcar a diferença no evento local [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] secção de competição da 2ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau abre as hostes, a 9 de Setembro, com a “história por contar” dos tenistas Björn Borg e Joe McEnroe. A produção sueca do realizador galardoado pela crítica em Cannes com o filme “Armadillo” em 2010, Janus Metz, traz ao ecrã do pequeno auditório do Centro Cultural de Macau o drama dos bastidores do campeonato de Wimbledon de 1980. Björn Borg, à conquista do quinto título mundial está exausto. Borg e John McEnroe confrontam-se no campo, mas nos balneários só são compreendidos por aquele que é o seu maior inimigo. O dia continua com o filme galardoado pelo público na secção da crítica de Cannes deste ano. Trata-se de “Hunting Season” , a primeira longa metragem de Natalia Garagiola. A película conta a história de Nahuel que regressa a casa do pai, Ernesto, um respeitado caçador da Patagónia argentina. Nahuel é acolhido numa nova família que o despreza e está agora com um pai que o abandonou e não traz boas memórias do passado onde o filho se insere. É, no entanto, numa caçada que os dois, sozinhos na imensa Patagónia, têm oportunidade de se reencontrar. O sábado de competição fecha com o filme do alemão Jan Zabeil “Three Peaks”. A película trata de um drama familiar. Aeron vive com Lea e o seu filho de oito anos, Tristan, com quem não consegue construir uma relação. A esperança mora numas férias nas Dolomitas italianas. A ideia é que este tempo possa representar um ponto de partida para uma nova vida e uma nova vivência familiar. No entanto, e apesar dos esforços de Aaron, Tristan continua leal ao pai biológico. É num passeio entre os dois, dentro de mais uma tentativa de aproximação, que a situação começa a ganhar outro rumo, quando Aaron e Tristan, devido ao nevoeiro, se perdem um do outro. Das minas à pastelaria O dia seguinte começa com a projecção de “Wrath of silence” do realizador natural da Mongólia Interior, Yukun Xin. Xin explora, em “Wrath of silence”, não só o drama de um pai que procura o filho desaparecido como o submundo ligado à corrupção da exploração mineira. Depois de saber que o filho não voltou a casa após dois dias no campo a guardar ovelhas, o mineiro Zhang Baomin decide voltar à aldeia para o procurar. As dificuldades são muitas. A população não se mostra com vontade de ajudar a encontrar a criança desaparecida e, sem desistir, Zhang acaba por se confrontar com os perigos e os negócios que determinam a exploração mineira. O fim-de semana termina com “The Cakemaker”. Trata-se de uma produção israelita a cargo do realizador Ofir Raul Graizer. Em “The Cakemaker”, Thomas, um jovem padeiro alemão que gere uma pastelaria em Berlim, tem um caso com Oren, um homem casado de Israel que vai frequentemente à Alemanha em negócios. Quando Oren morre, vítima de um acidente em Israel, Thomas viaja para Jerusalém à procura de respostas. Sem dar a conhecer a natureza da relação que mantinha com Oren, Thomas começa a trabalhar para Anat, a viúva, e consegue com a perícia que traz de Berlim, revitalizar o negócio de biscoitos tradicionais. Mas, a relação entre Thomas e Anat não se fica por aqui. “The cakemaker é a primeira longa metragem de Ofir Raul Graizer, o realizador que trabalha entre a Alemanha e Israel e teve a sua estreia galardoada com o “Ecumenical Jury Award” no Karlovy Vary International Film Festival, na Répública Checa. Tragédias entre a Índia e Inglaterra A segunda-feira abre com uma adaptação de uma peça de Shakespeare a uma família de elite indiana. A protagonista é a viúva Tulsi Joshi que tem o filho prestes a casar com uma descendente da família Ahuja. Com a união, fica concretizada a associação de duas famílias de negócios. Mas o filho de Tulsi Joshi acaba por ser encontrado morto antes da cerimónia, e aparentemente a causa seria o suicídio. Tulsi não se conforma e dois anos mais tarde trata de se casar ela com um herdeiro da família Ahuja. O objectivo: ir à procura da verdade acerca da morte do filho e vingar-se a qualquer preço. O filme é “The Hungry” e conta com a realização da realizadora natural de Cálcutá, Bornila Chatterjee. “The Hungry” é a segunda longa metragem de Chatterjee e teve a estreia destacada como apresentação especial no Toronto International Film Festival, em Setembro. No mesmo dia, mas ao serão, vai ser exibido no grande ecrã “Beast” do britânico Michael Pearce. Moll Huntford é uma jovem de 27 que vive na ilha de Jersey, ao largo da costa da Inglaterra. Moll ainda está em casa dos pais e teve o crescimento marcado por uma mãe dominadora e uma educação sem liberdade, principalmente depois de ter sofrido um acidente na adolescência. Mas Moll apaixona-se por um estranho e misterioso individuo, Pascal. Quando a vida parece estar a mudar, é encontrado um corpo na ilha, a quarta vítima de um assassino em série, e Pascal é o principal suspeito. É mais uma vez uma primeira longa metragem do realizador, já com créditos ganhos nos BAFTA e que viu a sua estreia na secção “Plataforma” Toronto International Film Festival deste ano. Divórcios e surrealismos O dia 12 de Dezembro traz à tela mais duas películas em competição. “Custody” de Xavier Legrand é um outro drama familiar vindo de França que trata, desta feita, da luta de uma mãe pela custódia do filho após o divórcio. O argumento é que a criança pode correr o risco de ser abusada pelo pai. Como em dramas do género, a criança vê-se numa luta que não é a dela e acaba por ser refém dos desentendimentos entre os pais. O realizador Xavier Legrand é conhecido pelo seu trabalho de actor de teatro, mas em “Custody”, a sua primeira longa metragem, foi já galardoado com o prémio de melhor realizador no Festival de Veneza no passado mês de Setembro. “Foxtrot” traz ao ecrã uma abordagem com toques de surrealismo. Michael e Dafna são um casal devastado pela tristeza causada pelas mortes na guerra dos seus familiares. Agora foi a vez do filho. No entanto, com Dafna sedada, Michael começa a duvidar da morte do filho. O filme é do israelita Samuel Maoz que aos 13 aos já filmava em 8mm. Aos 18 anos contava com vários filmes feitos quando foi obrigado a integrar o exército e destacado para a guerra no Líbano. O seu primeiro filme, “Lebannon” ganhou, em 2009 o Leão de Ouro em Veneza e “Foxtrot” arrecadou, este ano, o prémio do júri no mesmo evento. A secção de competição termina a apresentação a 13 de Dezembro com “My Pure Land” de Sarmad Masud. Tal como o filme que abre a secção, trata-se mais uma vez de uma película baseada em factos reais. No Paquistão, Nazo juntamente com a mãe e uma irmã são forçadas a defender a sua casa depois da prisão do pai. Estas mulheres vêm-se cercadas por milícias, que a mando do tio, querem reaver as terras da família. Nazo não se rende.
Andreia Sofia Silva Eventos Festival Internacional de Cinema - Especial MancheteThe Winter e São Jorge sagraram-se os grandes vencedores O argentino “The Winter” venceu na categoria de Melhor Filme porque tudo nele foi belo, através das coisas simples. Depois de Veneza, Nuno Lopes voltou a vencer na categoria de Melhor Actor, com o filme “São Jorge”, que ganhou também na categoria Melhor Realizador https://www.iffamacao.com/wp-content/uploads/2016/11/thewinter_22nov.mp4 [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]iziam as regras do Festival Internacional de Cinema de Macau que um filme não poderia vencer dois prémios, mas o júri não teve escolha. Se “The Winter” (O Inverno), do argentino Emiliano Torres, venceu apenas na categoria principal, como Melhor Filme, o português São Jorge arrecadou dois prémios: o de Melhor Actor (Nuno Lopes) e Melhor Director (Marco Martins). “Sisterhood”, de Tracy Choi, ganhou a estatueta de Melhor Actriz (Jenifer Yu), para além de ter ganho o prémio do público. “O meu único pedido para os meus colegas do júri foi para verem os filmes com emoções, com o coração”, disse Shekar Kapur após a cerimónia de entrega dos prémios. ”Se alguém fez um trabalho brilhante num filme porque não premiar? Por isso decidimos quebrar as regras”, disse ainda. O júri falou de “The Winter” como sendo uma bela película onde o minimalismo consegue contar as maiores histórias. “Achei o “The Winter” lindíssimo, os actores incríveis. O filme foi muito completo, bem interpretado, com boa fotografia, com uma história forte. Tive muitas reacções em relação a ele”, disse Giovanna Fulvi, membro do júri. Emiliano Torres referiu estar sem palavras. “Ganhar um prémio já seria bom, mas ganhar o prémio principal é espectacular. Esperamos que este prémio possa trazer o nosso filme para a Ásia.” Com excepção de “Sisterhood”, filme local, não houve estatuetas para produções asiáticas. Mas, para Shekar Kapur não há mal nenhum nisso. “Não havia regulamentos que diziam que deveríamos prestar atenção aos filmes asiáticos. São filmes e é isso que é bom no cinema, trespassa geografias e conta histórias sobre nós.” O risco “São Jorge” aborda a vida de um pugilista que sem opção arranja emprego numa empresa de cobranças difíceis numa altura em que Portugal vive os constrangimentos de uma crise. Nuno Lopes vê o seu trabalho de actor reconhecido mais uma vez, após vencer em Veneza o prémio na secção “Horizontes”. Apesar de ausente, o actor português deixou uma mensagem via skype a agradecer a distinção: “Tenho pena de não estar presente e é uma honra poder receber este prémio. Quero agradecer ao meu amigo e ao melhor realizador com quem se pode trabalhar” disse referindo-se a Marco Martins. Marco Martins falou do risco que foi fazer “São Jorge”. “Quando comecei a escrever o guião todos me diziam que era perigoso fazer um filme sobre o presente, porque não temos perspectiva. Concordo com isso, mas para nós era um momento importante, em que muitas pessoas perderam trabalhos e apoios sociais. Assumi o risco, e nunca tinha feito um filme de cariz social.” O realizador deixou no ar a hipótese de um dia filmar em Macau, mas referiu que filma sobretudo lugares que lhe são próximos. “Escolho sempre temas que me são próximos, fiz muitos documentários na Índia ou no Japão, e Macau gerou em nós um grande fascínio.” “Elon, não acredita na morte” , a produção brasileira que conta com a realização de Ricardo Alves Júnior ganhou o prémio para a melhor contribuição técnica. Ao HM, o realizador manifestou a sua alegria não só pelo reconhecimento mas por ser um prémio que valoriza a equipa. “Estamos muito satisfeitos com este reconhecimento internacional, e mais do que um prémio individual, este é uma condecoração colectiva que tem em conta o trabalho de todos”, referiu ontem. https://www.iffamacao.com/wp-content/uploads/2016/10/saintgeorge_22nov.mp4 Lembrar Muller Marco Muller foi lembrado por Ricardo Alves Júnior, realizador de “Elon não acredita na morte”. “Para a gente o festival foi importante porque teve a figura do Marco Muller, foi isso que nos levou a fazer a estreia internacional do filme aqui. É importante estar aqui a receber o prémio numa selecção feita por uma figura tão importante do cinema.” A falta de público em muitos dos filmes foi também notada pelo realizador brasileiro. “(Marco Muller) conseguiu levantar um grande evento, que correu muito bem. O mais importante no festival são os filmes e o público e esperamos que no próximo ano consigamos trazer mais gente para ver os filmes, algo que nos fez muita falta.” Prémios Melhor Filme – “The Winter”, Argentina Melhor Realizador – Marco Martins – São Jorge – Portugal Melhor Actor – Nuno Lopes – São Jorge – Portugal Melhor Actriz – Lindsay Marshal – Trespass against us – UK Melhor Jovem Actriz – Jeniffer Yu – “Sisterhood” – Macau Melhor Argumento – Amy Jump e Ben Wheatley – “Free Fight” – UK Melhor Contribuição Técnica – “Elon não acredita na morte” – Brasil Prémio do Júri– “Trespass against us” – UK Prémio do Público – “Sisterhood” – Macau