APN | Poluição e economia: as promessas de Li Keqiang

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês prometeu ontem que os céus do país voltarão a ser azuis, com uma redução de emissões, garantindo ainda que “irá trabalhar rápido” para eliminar a poluição causada pelo uso de carvão na produção de energia.

Li Keqiang falava durante a abertura da sessão anual da Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China, com o seu discurso a ilustrar a importância do combate à poluição para a liderança do país.

As vagas de poluição que regularmente afectam as cidades chinesas são umas das principais causas de descontentamento popular, a par da corrupção e desigualdade social.

No relatório do governo apresentado ontem, Li afirma que as “pessoas estão desesperadamente à espera” de um progresso mais rápido na melhoria da qualidade do ar.

A todo o gás

O primeiro-ministro chinês disse que o Governo quer acelerar a modernização das centrais a carvão e integrar as fontes de energia renovável na rede de distribuição eléctrica.

“Vamos tornar os nossos céus azuis outra vez”, disse Li.

Grande parte do norte da China foi atingido este ano por um denso manto de poluição, que afectou mais de 100 milhões de pessoas e forçou o Governo a adoptar medidas de emergência.

Li Keqiang disse ainda que a China vai “basicamente” retirar da estrada todos os veículos com altos níveis de emissão e reduzir na ordem dos 3% as emissões de dióxido de enxofre e óxido de azoto, dois dos principais poluentes atmosféricos.

Três décadas de acelerado desenvolvimento económico permitiram retirar da pobreza centenas de milhões de chineses, mas tiveram efeitos devastadores para o ambiente do país.

A China promete há muito acabar com a poluição, mas a necessidade de alcançar um rápido ritmo de crescimento económico, que o Governo considera essencial para manter a estabilidade social, tem adiado as reformas.

Crescimento económico em 6,5 por cento

A China fixou a meta de crescimento económico para 2017 em “cerca de 6,5 por cento ou acima se possível”, um valor inferior ao alcançado no ano passado, de 6,5 por cento, mas muito acima da média mundial.

O abrandamento, face ao ano anterior, está em linha com os esforços de Pequim para modernizar a estrutura industrial do país e criar uma “sociedade moderadamente confortável”, lê-se no documento apresentado pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, na abertura da sessão anual da Assembleia Nacional Popular. O relatório fixa ainda como objectivos para este ano manter a inflação em torno de três por cento e criar 11 milhões de empregos nas cidades.

Trata-se de um milhão de postos de trabalho a mais do que os criados no ano passado e “sublinha a grande importância que damos ao emprego”, indica o documento.

O Executivo anunciou ainda que vai adoptar uma política monetária prudente este ano e manter estável o valor da moeda chinesa, o yuan, cuja desvalorização levou a uma fuga massiva de capitais do país.

Pequim contra qualquer tipo de proteccionismo

O Governo chinês declarou-se contrário “a qualquer tipo de proteccionismo”, perante a “tendência anti-globalização” que assola algumas das maiores potências ocidentais, nomeadamente com a ascensão ao poder de Donald Trump nos Estados Unidos.

A posição consta no relatório do governo, apresentado pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, na abertura da sessão anual da Assembleia Nacional Popular.

“As portas da China continuarão a abrir-se cada vez mais”, afirma Li Keqiang no documento, indicando que o país estará cada vez mais envolvido nas questões globais.

Pequim tem apoiado acordos comerciais multilaterais na Ásia Pacífico, após Trump ter anunciado a saída dos Estados Unidos do Acordo de Associação Transpacífico (TPP), levando os países envolvidos a procurar uma nova potência económica para liderar a região.

“O crescimento económico mundial continua a ser débil e a tendência anti-globalização está a crescer tanto como o proteccionismo”, sublinhou o primeiro-ministro.

Li Keqiang considera que há “muita incerteza” sobre a direcção que as grandes economias vão adoptar e os efeitos de contágio, numa aparente alusão às primeiras decisões de Trump ou à saída do Reino Unido da União Europeia.

“Os factores que poderiam causar instabilidade e incerteza estão a aumentar”, escreveu Li, colocando a defesa da globalização como uma prioridade do seu Governo para este ano.

“Os acontecimentos, tanto dentro como fora da China, requerem que estejamos preparados para enfrentar situações mais complicadas e graves”, diz.

A defesa da globalização pela China contrasta com as suas políticas internas, com empresários a queixarem-se das dificuldades em aceder a vários sectores do mercado chinês.

Nos últimos anos, o regime chinês reforçou o combate à “influência estrangeira” na sociedade civil, meios académicos, sistema judicial ou Internet.

6 Mar 2017

Malásia acusa embaixador norte-coreano de “manipular” o assassínio de Kim Jong-nam

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vice-primeiro-ministro da Malásia, Ahmad Zahid Hamidi, acusou ontem o embaixador da Coreia do Norte em Kuala Lumpur de “manipular” com as suas declarações o assassínio de Kim Jong-nam, meio-irmão do líder norte-coreano.

As declarações de Ahmad Zahid Hamidi, que também é titular da pasta do Interior, têm lugar depois de o Ministério dos Negócios Estrangeiros ter anunciado, esta noite, a expulsão do embaixador norte-coreano, Kang Chol, por não pedir desculpa após as críticas tecidas à investigação do crime.

Face à ausência de resposta a esse pedido, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Malásia, Naifah Aman, convocou no sábado o diplomata norte-coreano, mas Kang Chong declinou o encontro. As autoridades malaias deram então ao diplomata 48 horas para abandonar o país, prazo que expira na segunda-feira às 18:00.

“As declarações proferidas pelo embaixador destinaram-se obviamente a manipular o assunto”, afirmou ontem Zahid, durante uma reunião com membros do partido, citado pelo jornal The Star.

Caça ao homem

Kim Jong-nam foi assassinado, em 13 de Fevereiro, por duas mulheres que, segundo as autoridades malaias, lançaram o agente nervoso VX contra o seu rosto, provocando a sua morte poucos minutos depois.

A Malásia emitiu na sexta-feira um mandado de captura contra Kim Uk Il, um funcionário da companhia aérea norte-coreana Air Koryo, que estará refugiado na embaixada do seu país; e pretende também ouvir o testemunho do segundo secretário da representação diplomática de Pyongyang em Kuala Lumpur, Hyon Kwang Song, que não pode ser detido por gozar de imunidade.

Ambos foram vistos a despedirem-se no aeroporto de Kuala Lumpur de quatro norte-coreanos considerados suspeitos de planear o ataque contra Kim Jong-nam.

A morte de Kim Jong-nam desencadeou uma crise diplomática entre a Malásia e a Coreia do Norte, com Kuala Lumpur a anunciar nomeadamente o cancelamento do acordo de isenção de vistos de turistas com Pyongyang – uma medida que produz efeitos a partir desta segunda-feira.

6 Mar 2017

Diplomata português preocupado com direitos humanos na Tailândia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] situação dos direitos humanos na Tailândia é ainda “preocupante”, apesar dos avanços que foram feitos nos últimos anos, destaca à Lusa o embaixador de Portugal em Banguecoque, Francisco Vaz Patto.

“É verdade que existe aqui um regime militar, é verdade que a situação de direitos humanos é preocupante e é importante defendermos os nossos princípios. Não é aceitável que haja golpes militares para destituir governos, que por mais criticáveis que sejam, foram eleitos. Infelizmente isso aconteceu muitas vezes aqui. Esperamos que rapidamente as eleições tenham lugar e possa haver um verdadeiro governo democrático neste país”, afirma o embaixador.

Apesar de Vaz Patto defender o recomeço das negociações entre a União Europeia (UE) e a Tailândia para um acordo de comércio livre, reconhece, ao mesmo tempo, que é importante defender os princípios democráticos e contrariar a versão desse modelo político que o Governo tailandês adopta.

“O regime tailandês é especial. Eles dizem que a democracia na Tailândia tem de ser uma democracia especial. Não podemos aceitar. Não há uma democracia tailandesa ou portuguesa, há a democracia. Dizemos sempre que como país amigo temos a obrigação de criticar de forma positiva para ajudar a que as coisas se resolvam. Eles não aceitam, acham que no caso deles a democracia só funciona se for austera e controlada”, explica.

Estamos juntos

Segundo o diplomata, a embaixada portuguesa junta-se às restantes missões europeias na promoção dos direitos humanos, reunindo-se com organizações não-governamentais que trabalham nessa área e abordando o tema em encontros bilaterais, ainda que admita que Portugal não é “tão pró-activo como a Suécia ou a Finlândia”.

Esses esforços não caem em saco roto, e a UE acredita que se vai realizar em breve uma reunião de alto nível sobre direitos humanos, com todos os estados membros da UE e a Tailândia. Esta reunião, explica Vaz Patto, foi cancelada, mas “finalmente os tailandeses terão aceite”, aguardando-se por um entendimento.

O diplomata português destaca, em particular, a lei de lesa-majestade, que considera “muito dura, com penas muito pesadas para o crime que é cometido” – o Código Penal prevê penas de entre três a 15 anos de prisão – e dá como exemplo o caso de um jovem activista que está detido, sem direito a aguardar julgamento em liberdade, por ter partilhado um artigo da BBC que é crítico da monarquia. “Tem de haver respeito por princípios fundamentais de liberdade e a liberdade de expressão é essencial para nós”, frisa.

Algum empenho

Já no âmbito do tráfico humano, Vaz Patto sublinha os esforços do Governo tailandês para melhorar a situação, tanto no que toca ao tráfico laboral como para prostituição.

“Na indústria de pesca foram identificados escravos que eram traficados do Myanmar ou países vizinhos, postos em barcos e explorados. A Tailândia fez um grande esforço neste último ano para criar legislação, mecanismos de controlo. As coisas ainda não estão perfeitas mas isso ajudou”, garante.

Quanto ao facto de o país ser “conhecido como um destino turístico sexual”, o embaixador explica que essa é uma imagem que “os tailandeses não gostam” e que foi criada durante a guerra do Vietname, quando a Tailândia funcionava como uma base norte-americana, para onde os soldados vinham “descansar”.

“Há uma grande aposta da actual ministra do Turismo em tentar acabar com isso. É uma luta muito difícil porque é uma indústria que dá muito dinheiro e que não pode ser só combatida pelo Estado, tem de ser combatida pelos próprios turistas. [Mas] acho que é uma imagem que está um bocadinho desactualizada”, afirma.

Quase 40 mil turistas portugueses visitaram a Tailândia no ano passado, indicou o embaixador.

Cerca de 120 famílias portuguesas estão registadas na embaixada em Banguecoque e Vaz Patto acredita não serem mais de mil os portugueses a viver no país, tendo em conta que muitos não se registam na representação diplomática.

Os pedidos de passaporte por tailandeses são poucos “e alguns complicados, baseados em documentos antigos”, estando por isso pendentes em Lisboa. “Acho que é importante que em Portugal se facilite, a comunidade não é assim tanta”, diz, referindo-se aos luso-descendentes.

6 Mar 2017

Pequim | Advogados processam autoridades por altos níveis de poluição

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] advogado Cheng Hai quer receber do Governo de Pequim uma compensação pelo “desgaste emocional” e danos para a saúde provocados pelas vagas de poluição que frequentemente atingem a cidade.

“Há quem pense que, com o desenvolvimento económico, a poluição atmosférica é inevitável, mas isso é um erro”, disse Cheng, de 64 anos, citado pela Associated Press.

“Temos leis que protegem a qualidade do ar e níveis altos de poluição podem ser evitados se estas foram devidamente aplicadas”, acrescentou.

As palavras de Cheng ilustram o crescente descontentamento da classe média chinesa com a poluição que afecta a maioria das cidades do país. O tema deve voltar a ser debatido durante a sessão anual da Assembleia Nacional Popular, órgão máximo legislativo da China, três anos após o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ter declarado “guerra à poluição”.

Desde então, as autoridades encerraram fábricas a carvão e retiraram os veículos mais antigos e poluentes das estradas.

Dados oficiais revelam que essas medidas têm surtido efeito, com a qualidade do ar em Pequim a melhorar todos os anos, desde 2013.

No entanto, a concentração média de partículas PM 2,5, as mais finas e susceptíveis de se infiltrarem nos pulmões, em Pequim, continua a ser sete vezes acima do nível máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

“Somos vítimas da poluição e temos o direito de pedir ao Governo um pedido de desculpas e uma compensação”, afirmou o advogado Yu Wensheng, de 50 anos e natural de Pequim, citado pela AP.

As acusações de que as autoridades falham em lidar efectivamente com a poluição são importantes para mostrar que o Governo não está acima da lei, afirmou Yu.

“Se o Governo não é condicionado pela lei, que mais o poderá condicionar?”, questionou Yu, que em 2014 esteve detido, acusado de apoiar os protestos pró-democracia em Hong Kong e advogados dos Direitos Humanos.

O grupo de advogados tentou ainda processar a província de Hebei, que confina com Pequim, e a cidade portuária de Tianjin, a 120 quilómetros da capital. Dizem que os processos visam sobretudo chamar a atenção para a inércia do Governo.

Prós e contras

Três décadas de acelerado desenvolvimento económico permitiram retirar da pobreza centenas de milhões de chineses, mas tiveram efeitos devastadores para o ambiente do país.

Só este ano, Pequim vai gastar 2,7 mil milhões de dólares (2,5 milhões de euros) a combater a poluição. Parte do dinheiro será destinado a encerrar ou modernizar mais de 3.000 fábricas poluentes, substituir o uso de carvão por energias limpas e retirar das estradas 300.000 veículos altamente poluentes.

5 Mar 2017

Kim Jong-nam | Coreia do Norte atribui morte a ataque cardíaco

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m emissário da Coreia do Norte negou ontem que Kim Jong-nam, meio-irmão do líder do país, Kim Jong-un, tenha sido assassinado com veneno e atribuiu a sua morte em 13 de Fevereiro a um ataque de coração.

Ri Tong Il, embaixador da Coreia do Norte na ONU, que dirige uma delegação norte-coreana enviada à Malásia para reclamar o cadáver, negou a versão malaia numa declaração à imprensa diante da embaixada norte-coreana, segundo o canal televisivo Channel News Asia.

O embaixador adiantou que a vítima tinha um historial médico de problemas cardíacos e pressão sanguínea alta e assegurou que há fortes indícios de que a sua morte se deveu a um ataque de coração, adiantou a mesma fonte.

Ri disse ainda que se a causa da morte fosse o veneno VX, como disseram as autoridades da Malásia, deveriam enviar-se amostras do agente tóxico para a Organização para a Proibição de Armas Químicas.

Outra verdade

A Malásia indicou, com base numa autópsia preliminar, que Kim Jong-nam morreu minutos depois de duas mulheres, uma indonésia e uma vietnamita, terem lançado para o seu rosto o agente VX, no aeroporto internacional de Kuala Lumpur, a 13 de Fevereiro.

A polícia malaia crê que ambas foram recrutadas por quatro norte-coreanos que fugiram do país no mesmo dia 13 de Fevereiro, horas após o incidente, e pediu a ajuda da Interpol para os localizar.

Siti Aisyah, de 25 anos e nacionalidade indonésia, e Doan Thi Huong, de 28 e oriunda do Vietname, foram formalmente acusadas de homicídio na Malásia na quarta-feira e podem ser condenadas à pena capital se forem consideradas culpadas.

Horas depois de as duas mulheres suspeitas do ataque serem formalmente acusadas, a agência oficial norte-coreana KCNA escreveu que a alegação, no relatório da autópsia, de que pequenas quantidades do veneno extremamente tóxico foram detectadas no cadáver é “um absurdo” a que falta “rigor científico e coerência lógica”.

5 Mar 2017

Kim Jong-nam | Suspeitas acusadas de homicídio. Seul propõe suspensão de Pyongyang na ONU

 

Insistem que são inocentes, que foram enganadas, mas arriscam a pena de morte. Já há duas acusações formais em relação ao homicídio de Kim Jong-nam mas, para já, os mentores do ataque continuam a monte. Ou protegidos pelo regime de Kim Jong-un. O uso de uma arma química altamente mortífera deve ser entendido como um aviso, dizem os vizinhos do Sul e quem trabalha na defesa dos direitos humanos na Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s duas mulheres alegadamente envolvidas na morte de Kim Jong-nam foram ontem formalmente acusadas de homicídio. A indonésia Siti Aisyah, 25 anos, e a vietnamita Doan Thi Huong, de 28, foram presentes a tribunal em Sepang. Além das duas mulheres, foram acusados quatro homens de nacionalidade norte-coreana que se encontram em paradeiro desconhecido, depois de terem saído da Malásia em meados do mês passado.

As arguidas são acusadas de terem atacado Kim Jong-nam no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, no dia 13 de Fevereiro, ao colocarem-lhe no rosto um gás tóxico asfixiante – o VX, um agente nervoso letal. Ao abrigo da legislação da Malásia, as duas jovens poderão ser condenadas à morte, por enforcamento, se forem consideradas culpadas. Não foi interposto qualquer recurso após a leitura da acusação.

Ambas disseram aos representantes diplomáticos dos seus países que foram pagas para participarem no que acreditaram ser uma brincadeira para um programa de televisão.

As agências internacionais de notícias relataram que o dispositivo policial nas imediações do tribunal era grande, com cerca de 200 agentes presentes. A polícia conduziu as mulheres algemadas para o tribunal. À saída, envergavam coletes à prova de bala, um reflexo da preocupação das autoridades malaias em relação à possibilidade de que outros envolvidos no crime queiram silenciar as arguidas.

Espera de mês e meio

Ainda antes do início da audiência, em declarações aos jornalistas, o advogado de Siti Aisyah, Gooi Soon Seng, mostrou-se preocupado com questões processuais prévias ao julgamento. Está marcada uma nova sessão no tribunal para 13 de Abril, altura em que a acusação vai pedir que as duas mulheres sejam julgadas em simultâneo, num só processo.

À porta do tribunal, o advogado de Doan Thi Hong afirmou aos jornalistas que a sua cliente lhe disse estar inocente. “Negou, negou tudo. Disse ‘sou inocente’”, relatou Selvam Shanmugam. “Claro que está obviamente muito nervosa porque arrisca a pena de morte.”

Ontem, as acusações contra Siti Aisyah foram lidas em primeiro lugar, seguindo-se o processo relativo a Doan Thi Huong. Há um homem norte-coreano detido, identificado pela polícia como sendo Ri Jong Chol, mas ainda não foi acusado de qualquer crime.

A polícia malaia deteve as duas mulheres nos dias que seguiram ao ataque. As imagens do circuito de segurança do aeroporto, que tiveram uma ampla divulgação pelos media, mostrava as arguidas a abordarem Kim Jong-nam, com uma delas a colocar-lhe um objecto sobre o rosto. O filho mais velho de Kim Jong-il, que se preparava para apanhar um voo com destino a Macau, morreu 20 minutos depois.

Em declarações feitas em Jacarta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros manifestou a esperança de que Siti Aisyah possa ser julgada de forma justa. “Esperamos que o princípio da presunção da inocência seja respeitado. O advogado de defesa de Siti fará o seu melhor e desejamos que tenha um julgamento justo, em que sejam respeitados os seus direitos, e que não seja julgada pela opinião pública.”

Doan Thi Huong, a mulher vietnamita, foi detida 48 horas depois do homicídio no mesmo terminal do aeroporto onde Kim Jong-nam foi assassinado. Será a mulher que usava uma t-shirt branca com o acrónimo “LOL” estampado, e que foi captada pelas imagens do circuito de segurança enquanto esperava um táxi, já depois do ataque.

A suspeita indonésia, Siti Aisyah, foi apanhada no dia seguinte. A polícia explicou que, na prisão, teve ataques de vómitos, admitindo que se tratará de efeitos secundários da exposição ao VX. Os diplomatas indonésios que a visitaram depois disseram que se encontra bem.

Segundas intenções

Kim Jong-nam morreu vítima de uma das mais mortíferas armas químicas alguma vez criadas. O VX é muito mais potente do que o gás Sarin, usado na Síria em 2013 e no metro de Tóquio em 1995. Os especialistas dizem que umas gramas de VX são suficientes para causar a morte a muita gente. Existem fortes dúvidas sobre o modo de manuseamento do VX pelas arguidas, uma vez que, sem as devidas precauções, também elas teriam morrido.

De acordo com os serviços secretos sul-coreanos, a Coreia do Norte tem centenas de toneladas de armas químicas, incluindo VX, espalhadas por todo o país. Pyongyang nega que assim seja. Parece não haver dúvidas, entre os analistas, de que o regime de Kim Jong-un, o meio-irmão mais novo de Kim Jong-nam, é o responsável pelo que aconteceu.

“É impossível a uma associação criminosa vulgar obter VX, pelo que é uma prova de que o Estado norte-coreano está envolvido”, assinalou ao HM o activista e investigador japonês Ken Kato. O director da Human Rights in Asia vinca que “não há outro país, além da Coreia do Norte, com razões para matar Kim Jong-nam”.

A utilização deste tipo de químico levanta questões acerca dos verdadeiros motivos de Pyongyang num dos homicídios mais estranhos dos últimos anos. Há quem entenda que a escolha do VX teve que ver com a necessidade de os autores terem a certeza de que não haveria falhas. Outros analistas especulam que, ao matar um homem – aquele homem – num aeroporto internacional, a Coreia do Norte quis mostrar ao mundo o que é capaz de fazer com armas químicas, facilmente esquecidas pela comunidade internacional, que está preocupada com os avanços nucleares do regime.

Depois, existe ainda a teoria de que Pyongyang não pretendia que o VX fosse descoberto, por não querer arriscar mais sanções impostas pelas Nações Unidas.

Ken Kato acredita que a Coreia do Norte entrou num “comportamento que demonstra a incapacidade de tomar decisões racionais”. Se assim não fosse, prossegue o activista, não teria entrado em conflito directo com a Malásia, um dos poucos aliados do regime. “Isto é extremamente perigoso para a comunidade internacional porque o Norte pode vender armas nucleares, químicas e biológicas a terroristas”, sublinha o activista, com vasto trabalho desenvolvido sobre o regime. “Não é um assunto que diga respeito à Malásia, mas sim ao mundo todo.”

O castigo

Os estados que assinaram a Convenção sobre Proibição de Armas Químicas podem invocar que existiu uma violação da legislação internacional no caso Kim Jong-nam. A Malásia faz parte deste pacto desde 1993 – que proíbe a produção, a transferência e a utilização deste tipo de armamento –, mas a Coreia do Norte não.

As autoridades policiais de Kuala Lumpur já deram indicações de que estão disponíveis para fazerem chegar os resultados da autópsia e das investigações às Nações Unidas. Resta agora saber se o Conselho de Segurança da ONU irá tratar o caso como altamente prioritário.

No limite, os estados que ratificaram a convenção podem invocar o pacto e tomar medidas colectivas em relação a Pyongyang que poderão mesmo resultar na suspensão dos direitos e privilégios da Coreia do Norte no âmbito das Nações Unidas. Seul defende este caminho: esta semana, numa convenção sobre desarmamento em Genebra, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul, Yun Byung-se, afirmou que a utilização de armas químicas é um aviso, pelo que a comunidade internacional deve agir. O diplomata entende que o regime de Kim Jong-un deve ficar temporariamente impedido de ocupar o assento que detém nas Nações Unidas.

“A comunidade internacional não está habituada a lidar com um país como a Coreia do Norte”, considera o japonês Ken Kato. “Devia perceber que o regime norte-coreano é uma associação criminosa. Deve ser tratado como tal e não como um país em desenvolvimento, em fase de aprendizagem das normas internacionais. De outro modo, o regime jamais mudará.”

 

 

 

 

Só Pyongyang pede o corpo

Membros do Governo da Malásia estiveram reunidos com uma delegação norte-coreana que chegou a Kuala Lumpur esta semana para um encontro de alto nível sobre a libertação do cidadão da Coreia do Norte que se encontra detido, bem como para a entrega do corpo de Kim Jong-nam.

O ministro da Saúde, Subramaniam Sathasivam, disse aos jornalistas que não esteve presente no encontro, mas adiantou que terá de ser tomada uma decisão acerca do que fazer com o corpo, uma vez que não apareceu qualquer parente próximo para identificar formalmente a vítima do ataque do passado dia 13.

A Coreia do Norte diz que o morto é um cidadão norte-coreano, mas nega que seja o meio-irmão do líder Kim Jong-un. Logo a seguir ao assassinato ter sido tornado público, o regime exigiu que o corpo lhe fosse entregue e tentou evitar a realização da autópsia.

A morte de Kim Jong-nam desencadeou o pior conflito diplomático entre Kuala Lumpur e Pyongyang de que há registo, com a Malásia a insistir que o corpo do homem assassinado no aeroporto internacional da capital só será entregue a um familiar próximo após exame de ADN. As agências internacionais de notícias ainda chegaram a dizer que o filho mais velho de Kim Jong-nam, Kim Han-sol, estava a partir de Macau para a Malásia, para resgatar o corpo do pai. Até à data, tal não se verificou.

2 Mar 2017

Hong Kong | Regina Ip desiste de candidatura a chefe do Executivo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] antiga secretária para a Segurança de Hong Kong Regina Ip anunciou ontem a desistência das eleições para o cargo de chefe do Executivo da cidade, depois de não ter conseguido as necessárias 150 nomeações do comité eleitoral.

Regina Ip disse que não só não conseguiu mais nomeações como perdeu algumas para outros candidatos a chefe do Executivo, depois de alguns membros do comité eleitoral terem mudado de ideias e desistido de apoiá-la.

Qualquer candidato a chefe do Executivo de Hong Kong tem de conseguir o apoio de pelo menos 150 membros do comité eleitoral para concorrer às eleições. O comité eleitoral composto por cerca de 1.200 membros vai escolher o próximo líder de Hong Kong a 26 de Março.

“Não posso continuar a minha campanha”, disse, segundo o jornal South China Morning Post.

Regina Ip foi a primeira mulher secretária para a Segurança de Hong Kong, tendo apresentado a sua demissão em Julho de 2003, depois da contestação nas ruas contra uma polémica proposta da lei anti-subversão no território.

A presidente do partido pró-Pequim New People’s Party disse que iria regressar na quinta-feira ao Conselho Legislativo (parlamento) para continuar o seu trabalho de deputada, escreveu a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

Corrida a três

Os outros três – Carrie Lam, John Tsang e Woo Kwok-hing – submeteram as suas nomeações e foram confirmados como candidatos oficiais à eleição para o chefe do Executivo.

A antiga número dois do actual governo, Carrie Lam, foi a que conseguiu maior apoio entre os membros do comité eleitoral, tendo visto aprovadas 572 das 579 nomeações que submeteu na terça-feira.

Já as candidaturas de Tsang e de Woo obtiveram o apoio de 160 e de 179 membros do comité eleitoral, respectivamente.

Nos últimos meses houve outros interessados nas eleições, mas que desistiram antes de apresentarem a respectiva candidatura oficial. É o caso de Leung Kwok-hung, o activista e deputado da League of Social Democrats (Liga dos Sociais Democratas), também conhecido por ‘long hair’ (cabelo comprido), que no sábado disse que não iria tentar a corrida eleitoral.

2 Mar 2017

ONU | Pequim e Moscovo rejeitam sanções contra Damasco 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Rússia e a China vetaram terça-feira um projecto de resolução da ONU que previa sanções contra a Síria pela utilização de armas químicas no conflito que afecta aquele país há quase seis anos.

Na votação realizada terça-feira no Conselho de Segurança da ONU, o projecto de resolução, apresentado pelo Reino Unido, França e Estados Unidos, recebeu nove votos favoráveis e três votos contra (China, Rússia e Bolívia).

O Cazaquistão, Etiópia e o Egipto abstiveram-se.

Washington, Paris, Londres, Pequim e Moscovo são os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e têm todos poder de veto.

Na semana passada, a Rússia, aliada tradicional do regime de Damasco, já tinha anunciado o seu veto ao projecto de resolução.

É a sétima vez que Moscovo utiliza o seu poder de veto para proteger o regime de Bashar al-Assad de sanções da ONU. Em seis dessas ocasiões, a China apoiou o veto russo.

Algumas horas antes da votação, o Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que era inoportuno impor sanções à Síria em pleno processo de negociações de paz entre a oposição síria e o regime de Damasco.

A guerra na Síria já fez mais de 310.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados, desde 2011.

“Esta resolução é muito oportuna”, afirmou a embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU, Nikki Haley, diante dos membros do Conselho de Segurança, após a votação.

“É um dia triste para o Conselho de Segurança quando os membros começam a encontrar desculpas para outros Estados-membros que matam o seu próprio povo. O mundo está definitivamente mais perigoso” após esta rejeição, acrescentou a embaixadora.

O projecto de resolução rejeitado terça-feira previa sanções contra 11 responsáveis sírios, principalmente chefes militares, e 10 organismos, todos com ligações a pelo menos três ataques com armas químicas, em 2014 e 2015. Estes ataques visaram as cidades sírias de Tell Mannas, Qmenas e Sarmin.

2 Mar 2017

Presidente filipino insta polícia a retomar a “guerra contra a droga”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, instou a polícia a servir novamente na “guerra contra a droga”, um mês depois de ter suspendido a campanha após a confirmação de corrupção no seio das forças de segurança.

O Presidente filipino afirmou que deu ordens ao chefe da Polícia Nacional, Ronald dela Rosa, para “recrutar homens jovens e patriotas da Polícia Nacional como membros das forças de trabalho” nas operações anti-droga, em declarações reproduzidas ontem pela estação local ABS-CBN.

“Tenho que fazê-lo porque me faltam homens”, disse Duterte, que não apontou uma data concreta ou mais detalhes sobre o reinício da campanha.

O Presidente especificou, no entanto, que os polícias que integrem as futuras operações não devem estar envolvidos em corrupção.

Duterte suspendeu a sua campanha anti-droga no final de Janeiro depois de reconhecer que, no âmbito desta, alguns agentes tinham levado a cabo práticas abusivas, como o sequestro e homicídio de um empresário no quartel-general da Polícia Nacional na cidade Quezón.

Duterte prometeu então centrar-se em levar a cabo uma “limpeza” na Polícia Nacional e, uma vez finalizada, retomar as operações que desde o passado mês de Junho até Janeiro custaram a vida a mais de 7.000 alegados narcotraficantes e toxicodependentes.

Às armas

Vários políticos apoiantes de Duterte e o próprio chefe da Polícia Nacional, Ronald dela Rosa, instaram nos últimos dias o Presidente a retomar o quanto antes a campanha.

Dela Rosa disse na segunda-feira que se isso não acontecer vão “perder-se os avanços conseguidos nos primeiros sete meses”.

Por outro lado, as Forças Armadas das Filipinas assinaram na terça-feira um acordo com a agência anti-droga (PDEA) que serviu para envolver os militares do país na campanha contra o narcotráfico de Duterte.

Duterte, que chegou ao poder em Junho de 2016, prometeu ‘limpar’ as Filipinas de narcotraficantes e toxicodependentes, por considerar que a droga está a destruir as novas gerações do país.

Vários países e organizações internacionais criticaram a sua política de linha dura, denunciando que viola os direitos humanos.

2 Mar 2017

Herdeiro do reino da Samsung indiciado por corrupção

O herdeiro do império da Samsung e quatro outros executivos do maior fabricante de ‘smartphones’ do mundo, foram indiciados ontem nomeadamente por corrupção no âmbito do vasto escândalo que afecta a Coreia do Sul há meses, informou o Ministério Público.

[dropcap style=’circle’]”O[/dropcap]s procuradores especiais indiciaram hoje, (ontem), o vice-presidente da Samsung Electronics Lee Jae-Yong (…) por corrupção, desfalque, ocultação de activos no estrangeiro e perjúrio”, afirmou Lee Kyu-Chul, porta-voz da equipa que investiga o escândalo de corrupção e tráfico de influências que levou à destituição, ainda não definitiva, da Presidente, Park Geun-Hye.

Maior fabricante mundial de ‘smartphones’, que representa um quinto da economia sul-coreana, a Samsung vê-se novamente envolvida num escândalo, quando ainda está a tentar recuperar do problema do Galaxy Note 7, cujas baterias explodiam.

Vice-presidente da Samsung Electronics e filho do presidente do grupo, Lee Jae-Yong, 48 anos, é suspeito de ter pago cerca de 40 milhões de dólares em subornos à confidente de Park Geun-Hye, Choi Soon-Sil, conhecida como “Rasputina sul-coreana”, em troca de favores políticos.

Lee, que se tornou no patrão de facto da Samsung, depois do pai ter sofrido um ataque de coração em 2014, em prisão preventiva desde dia 17, negou todas as acusações contra si.

Os seus colegas enfrentam acusações idênticas à excepção da de perjúrio.

Amiga do alheio

O escândalo em causa centra-se em Choi Soon-Sil, amiga de 40 anos da Presidente, suspeita de ter usado pessoas para obrigar os grandes grupos industriais do país a “dar” quase 70 milhões de dólares a duvidosas fundações por si controladas.

O Ministério Público considerou Park como cúmplice no caso, ao ter permitido que Choi interviesse em assuntos de Estado – apesar de não deter qualquer cargo público.

Choi terá extorquido, com a sua conivência, os principais conglomerados do país para fazer entrar 77.400 milhões de won (cerca de 61 milhões de euros) em duas fundações que controlava, em troca de favores.

O parlamento, controlado pela oposição, aprovou a destituição da Presidente a 9 de Dezembro por causa daquele que é um dos maiores escândalos políticos da história recente da Coreia do Sul, uma decisão que terá de ser ratificada pelo Tribunal Constitucional para ser definitiva.

A justiça tem até Junho para decidir se Park tem de abdicar permanentemente ou pode voltar a assumir o cargo.

Os poderes presidenciais de Park estão suspensos, com o primeiro-ministro a liderar o Governo.

Caso a destituição de Park avance, a Coreia do Sul tem que realizar eleições presidenciais nos 60 dias seguintes.

Mesmo no caso de o Constitucional rejeitar o “impeachment” parlamentar, a Coreia do Sul vai realizar eleições presidenciais no próximo dia 16 de Dezembro, já que o mandato de cinco anos de Park Geun-hye está prestes a expirar.

1 Mar 2017

Taiwan assinala 70.º aniversário de massacre

Taiwan assinalou ontem o 70.º aniversário da sangrenta repressão de protestos contra o governo, numa altura de renovada tensão entre Pequim e Taipé.

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s protestos, que começaram a 28 de Fevereiro de 1947, foram dirigidos contra a administração corrupta do Partido Nacionalista da China, de Chiang Kai-shek. Tropas governamentais abriram fogo sobre manifestantes que protestavam pacificamente contra a morte de civis em confrontos com a polícia na sequência do espancamento de uma vendedora de cigarros.

Entre 18.000 e 28.000 pessoas terão morrido no incidente, ocorrido entre a derrota dos japoneses que ocuparam Taiwan até 1945 e a retirada para a ilha das forças nacionalistas, de Chiang kai-shek, que na altura controlavam ainda a China.

A China considera a revolta popular parte da luta global que levou à vitória comunista em 1949, enquanto muitos taiwaneses a vê como uma reacção contra as tentativas da China para governar a ilha sem o consentimento da sua população nativa.

Suprimidos sob o governo nacionalista, a revolta tornou-se um ponto aglutinador para os taiwaneses que dizem que a ilha e a China são nações separadas.

Achas para a fogueira

As comemorações deste ano são particularmente especiais, porque o governo está a preparar uma lei que poderá rebaptizar um monumento histórico no centro da capital, Taipé, dedicado a Chiang kai-shek e remover a sua estátua do local.

A administração independentista de Taiwan, liderada pela Presidente Tsai Ing-wen, também está a revelar todos os documentos governamentais secretos sobre o incidente.

O Kuomintang, que Chiang dirigia quando foi derrubado pelo Partido Comunista Chinês (PCC) de Mao Tse Tung que, nesse ano, fundou a República Popular da China levando Chiang Kai-shek a refugiar-se em Taiwan, que liderou sob lei marcial até à sua morte em 1975.

O então governo nacionalista pediu desculpa às vítimas do massacre em 1995, mas movimenta-se para excisar a memória de Chiang que se manteve intacta sob a administração do anterior Presidente nacionalista Ma Ying-jeou, que deixou a liderança de Taiwan no ano passado.

1 Mar 2017

Encerrado sistema que fez sair sete mil milhões de euros para fora do país

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China anunciou ontem ter encerrado um sistema que transferiu ilegalmente 6,8 mil milhões de euros para fora do país, numa altura em que Pequim tenta travar a fuga de capitais.

Em comunicado, a Administração Estatal de Divisas da China anunciou ter investigado seis empresas com sede em Shenzhen, no sul do país.

Outras firmas terão usado documentos falsos ou falsificado compras ao exterior como forma de transferir dinheiro para fora do país, revelou o regulador.

Entre os métodos utilizados consta ainda a transferência de grandes montantes através de várias pequenas transferências, visando despistar as autoridades.

O regulador chinês disse que este ano vai “fortalecer a supervisão do mercado de troca de divisas e atacar seriamente as violações das regras do câmbio, como forma de proteger a balança de pagamentos da China com o exterior”.

“Ao mesmo tempo, vamos aumentar a transparência das políticas e promover a abertura dos mercados financeiros ao exterior”, acrescentou.

Ser racional

No ano passado, o aumento do investimento chinês além-fronteiras, procurando melhores retornos, levou Pequim a criticar o que designa de investimento “irracional” e a adoptar uma série de restrições à transferência de dinheiro para o exterior, face à fuga de capitais, abrandamento do crescimento económico e queda do valor do yuan.

Em Portugal, o país asiático tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores, comprando participações nas áreas da energia, seguros, saúde e banca.

Em Janeiro passado, no entanto, o Banco de Portugal escolheu o fundo norte-americano Lone Star para negociar a compra do Novo Banco, em detrimento do fundo chinês China Minsheng Financial Holding.

Apesar de ter a melhor proposta financeira, o Minsheng não apresentou provas de que conseguiria pagar o montante oferecido, devido às restrições nas transferências de divisas para fora da China.

As reservas cambiais do país asiático, as maiores do mundo, caíram consecutivamente nos últimos sete meses, à medida que o banco central chinês gastou entre 40.000 e 60.000 milhões de dólares para aumentar o valor da moeda chinesa, o yuan.

Em janeiro, as reservas chinesas caíram para o valor mais baixo em seis anos, ao atingir 2,99 biliões de dólares (2,82 biliões de euros), uma queda de 992 mil milhões de dólares (937 mil milhões de euros), comparativamente ao valor máximo de 3,99 biliões de dólares, atingido em unho de 2014.

1 Mar 2017

Ásia tem de gastar 26 biliões de dólares em infra-estruturas até 2030

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s nações asiáticas têm de gastar 26 biliões de dólares em infra-estruturas até 2030 para combater a pobreza, os efeitos das alterações climáticas e impulsionar o crescimento económico, aponta um relatório do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) ontem divulgado.

No seu relatório apresentado ontem em Hong Kong, o BAD, instituição com sede em Manila, afirma que os governos de alguns dos países mais pobres do mundo que devem investir em quase todas as áreas, desde transportes, a telecomunicações, passando pelo saneamento e fornecimento de electricidade e de água.

Os especialistas do BAD instam os legisladores da Ásia a duplicar a actual despesa em infra-estruturas, que se situa aproximadamente em 881.000 milhões de dólares por ano.

“A procura de infra-estruturas ao longo da Ásia e no Pacífico excede em muito a actual oferta”, afirmou o presidente do BAD, Takehiko Nakao, em comunicado.

Em falta

A Ásia é uma das regiões economicamente mais dinâmicas do planeta, mas também é ‘casa’ de 400 milhões de pessoas que vivem sem electricidade, de 300 milhões que carecem de água potável e de 1.500 milhões que não têm acesso a saneamento básico, segundo os dados do BAD.

Além disso, muitos países precisam de portos, caminhos-de-ferro e estradas adequadas que permitir ligar os seus territórios de forma eficiente, observa o BAD no relatório.

Em concreto, o banco estima que, até 2030, nos países asiáticos em desenvolvimento falta investir 14,7 biliões de dólares em electricidade, 8,4 biliões em transportes, 2,3 biliões em telecomunicações e 0,8 biliões em instalações sanitárias.

Os 1,7 biliões por ano que o BAD aconselha que sejam investidos até 2030 no seu mais recente relatório representam mais do dobro do que o calculado no anterior relatório do tipo que elaborou, em 2009, para o período 2010-2020, altura em que instava a investimentos na ordem dos 750.000 milhões de dólares por ano.

Os especialistas da instituição atribuem essa diferença, por um lado, ao aumento do número de países incluídos no relatório – dado que o de 2009 referia 32 e o deste ano abarca todos os 45 países em desenvolvimento da Ásia e Pacífico e, por outro, ao aumento dos preços que se verificou desde então.

1 Mar 2017

Perspectiva | Reunião entre Donald Trump e Xi Jinping à vista

Os avanços e recuos nas relações entre Estados Unidos e China vão conhecer um novo episódio: o encontro, frente-a-frente, entre os dois líderes. Desde as primárias republicanas, Trump tem abalado a estabilidade diplomática entre as duas potências. Os líderes devem encontrar-se em Julho, à margem da cimeira do G20 de Hamburgo

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]isualize este número: 1,12 biliões de dólares. Damos uma ajuda, são 12 zeros. Esta é a soma no pano de fundo das relações sino-americanas. Trata-se da dúvida soberana norte-americana que Pequim detém, isto depois de vender grande parte desses títulos de dívida para fortalecer o yuan em tempo de desaceleração do crescimento económico. Os dados são da Secretaria do Tesouro, demonstrando que a China já não é a maior detentora de dívida americana, tendo sido ultrapassada pelo Japão.

Esta pedra no sapato de Washington é um dos factores que deve ser tido em conta com a chegada de Donald Trump à Casa Branca. O homem que quer renegociar tudo, para que a América volte a ser grande, não tem parado de falar na China desde as primárias republicanas, quase sempre de forma pouco diplomática e descuidada. Pois bem, avista-se um encontro com Xi Jinping à margem da próxima cimeira do G20, a realizar-se em Hamburgo no próximo mês de Julho, de acordo com fontes citadas pelo South China Morning Post.

Ao longo dos anos, Pequim tem financiado Washington com somas exorbitantes de dinheiro, naquilo que poderá ser o maior elefante na sala do mundo da economia política mundial. Usando outra analogia elefantina, quando Donald Trump entra na loja de porcelana da geopolítica, começa a partir a loiça toda. Nomeadamente, pondo em causa a política “uma só China”, no que diz respeito a Taiwan, mas também acusando Pequim de manipulação de moeda. Aliás, há dias, o magnata nova-iorquino rotulou os chineses de “campeões mundiais de manipulação cambial”, em declarações prestadas à Reuters. Esta alegação surge depois da Administração norte-americana ter tentando apaziguar as relações entre as duas maiores potenciais económicas mundiais. Em mais uma demonstração de incoerência, é de salientar que, escassas horas antes, o novo Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmara que a Casa Branca não tinha planos para rotular a China como um país que manipula moeda.

Frente-a-frente

Também na questão de Taiwan, Trump voltou atrás na aproximação à histórica pedra no sapato da diplomacia chinesa. Depois de colocar em causa a política “uma só China” múltiplas vezes, numa chamada com Xi Jinping, o Presidente norte-americano inverteu marcha e garantiu continuar a política seguida por Washington na questão formosina. Na sequência da chamada, o Presidente chinês terá dito que “os dois países estão totalmente aptos a tornarem-se bons parceiros”, de acordo com a agência Xinhua.

A maior constância de Donald Trump tem sido a inconstância. Nesse aspecto, torna-se urgente uma reunião entre os dois líderes, sem tweets incendiários pelo meio. “Pequim tem mantido contactos com a equipa de Trump sobre a possibilidade de uma reunião bilateral e Washington tem expressado opiniões semelhantes”, revela fonte citada pelo South China Morning Post.

No entanto, a incerteza é um dos traços da administração Trump, que tem revelado grande cepticismo, mesmo algum desdém, em relação a reuniões multinacionais. O isolacionismo tem sido uma imagem de marca da permanente campanha da nova Administração, profundamente marcada pela presença próxima de Steve Bannon.

O vice-presidente do Instituto de Relações Internacionais Chinesas, Yuan Peng, afirmou ao South China Morning Post que um encontro entre os líderes é essencial para mudar o tom e o rumo da relação entre Pequim e Washington. O analista disse mesmo “tratar-se de uma urgência para que os países possam trabalhar no futuro próximo”.

Do outro lado do espectro, James Woolsey, antigo director da CIA e ex-conselheiro de Trump em matérias de segurança nacional, aponta o mesmo caminho, dando a ideia de que quanto mais cedo a reunião acontecer, melhor. “A chave é não deixar a retórica azedar as relações entre os dois países, para se começar a trabalhar de imediato”, comentou ao matutino de Hong Kong. É de salientar que Woolsey se demitiu por discordar das declarações do Presidente acerca dos serviços secretos norte-americanos.

Visita a Washington

Trump tem reiterado a ideia de que nos negócios é importante a relação pessoal, o confronto cara a cara. Tal como no reino animal, quando dois machos alfa se encontram o embate pode resultar em cooperação ou sangue. Nesse sentido, Gal Luft, director do americano Instituto de Análise à Segurança Global, uma organização norte-americana, afirma que é fundamental os líderes “estabelecerem ligações pessoais, conhecerem-se”. O analista acrescenta que a “química pessoal que emergirá, ou não, poderá ditar a relação entre os dois países”.

A coincidir com o 45.º aniversário da histórica visita de Richard Nixon à China, que marcou a normalização das relações diplomáticas entre os dois países, Pequim enviou o seu diplomata n.º 1, Yang Jiechi, a Washington.

O conselheiro de Estado chinês estará hoje em reuniões com as contrapartes norte-americanas, diz um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros à Xinhua. De acordo com uma fonte ligada ao Partido Comunista Chinês (PCC), citada pela agência oficial, o assunto no topo da agenda será a discussão da altura para a primeira reunião entre os dois presidentes. Outro dos pontos na ordem de trabalhos será a situação na Coreia do Norte. Neste aspecto, as dúvidas também se mantêm, uma vez que o Presidente norte-americano repetiu, várias vezes, que usaria a questão de Taiwan para renegociar a posição chinesa em relação a Pyongyang.

No caso de Donald Trump seguir a via do isolacionismo e não comparecer em Hamburgo, uma hipótese bem possível para o encontro com Xi Jinping é a próxima reunião da APEC, a cimeira de Cooperação Económica da Ásia-Pacífico, a realizar-se no Vietname. Também é possível que a visita de Yang Jiechi resulte num encontro fora de reuniões multinacionais.

Aperto de mão

Para Xi Jinping, uma reunião com Donald Trump em Julho reveste-se de um significado especial, uma vez que o líder chinês tem razões para sentir alguma ansiedade em estabilizar as relações entre as duas potências antes da reunião do congresso do PCC, em Outono. A normalização das relações com Washington é um trunfo que o actual líder chinês, por certo, gostaria de levar para o encontro em Pequim que definirá a liderança chinesa.

Entretanto, já se especula sobre o que dirá nas entrelinhas o primeiro aperto de mão entre Trump e Xi Jinping. Depois do excesso de análise do cumprimento do magnata nova-iorquino ao primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e ao primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, já muito se especula sobre as conclusões a tirar na forma como Xi Jinping saudará Trump.

Apesar dos apertos de mão vigorosos do Presidente norte-americano, no plano geopolítico vingam as questões económicas, militares e diplomáticas. Neste capítulo, Pequim tem tido a tarefa ingrata de tentar chegar à comunicação com uma Administração que responde de forma inconsistente e errática em matérias demasiado sensíveis.

Para o vice-presidente do Instituto de Relações Internacionais Chinesas, Yuan Peng, a pior incerteza é não saber com quem contactar em Washington e como, atendendo a que Donald Trump tem demonstrado pouco interesse em usar os típicos canais diplomáticos. “E se acontece algo, uma urgência, quem contactamos?”, interroga-se Yuan Peng. A questão ganha outra dimensão com o uso descuidado de Donald Trump das redes sociais, onde não se coíbe de improvisar sobre matérias sensíveis sem qualquer apoio de consultores, nomeadamente, enquanto assiste a programas da Fox News.

Até a reunião se realizar, tudo pode acontecer, com o mundo em suspenso, aguardando as cenas dos próximos capítulos.

28 Fev 2017

Estratégia de erradicação da pobreza elogiada por Guterres

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, salientou há dias em Munique, que o desenvolvimento é um canal importante para prevenir conflitos, sobretudo no que diz respeito à frágil situação internacional.

Guterres referiu também que a China foi o país que mais contribuiu na erradicação da pobreza no mundo, na última década.

A China, cuja população supera os 1,3 mil milhões, é o país com maior número de população pobre erradicada, além de ser um dos países a cumprirem mais cedo os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODB).

Nos últimos 30 anos, mais de 700 milhões de chineses foram retirados da pobreza, com o número da população em situação de miséria a cair para 558 milhões em 2015, um total de 70% da população retirada da pobreza no mundo inteiro.

Xi Jinping, logo após assumir o cargo, apresentou o plano ambicioso de erradicar até 2020 toda a população pobre no critério actual, de modo a tornar o país numa sociedade modestamente confortável, indica o órgão de comunicação estatal, China Daily.

Para o efeito, a China estabeleceu um mecanismo do combate à pobreza a cinco escalões. Durante os quatro anos entre 2013 e 2016, a China retirou por ano mais de 10 milhões de pessoas da miséria, totalizando em 55,6 milhões de indivíduos.

Concretamente, a estratégia chinesa na erradicação da pobreza frisa a precisão na assistência de famílias, planeamento, uso de fundos, acesso a medidas, entre outros, para que os programas de combate à pobreza atinjam todas as pessoas desfavorecidas.

A estratégia supracitada não só abre um novo capítulo para a missão chinesa do combate à pobreza, mas também oferece um exemplo piloto a muitos países menos desenvolvidos, afirma a publicação.

Directivas presidenciais

O Presidente Xi Jinping apresentou uma série de propostas em relação à cooperação global na luta contra a pobreza, tais como “acelerar o processo global de erradicação da pobreza”, “reforçar a cooperação na luta contra a pobreza”, e “melhorar o ambiente internacional de desenvolvimento”, entre outras, tendo sido galardoado com a resposta positiva da ONU e alguns países em desenvolvimento.

Para além disto, a China tem procurado realizar cooperações sul-sul, prestando assistência a outros países em desenvolvimento, sem adicionar qualquer condição política, visando apenas ajudar os países menos desenvolvidos a erradicar a pobreza.

Nos últimos uns 60 anos, a China tem oferecido um total de 400 mil milhões de yuans de assistência a 166 países e organizações internacionais, assim como enviou mais de 600.000 pessoas em missões de ajuda humanitária.

28 Fev 2017

Tailândia vai erguer edifício para a cremação do defunto rei

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de quatro meses depois da morte do rei Bhumibol Adulyadej, a Tailândia lançou ontem, com grande pompa, a obra do monumento para a cremação do monarca, que deve ter lugar no próximo Outono.

A poucos metros do grande palácio, enquanto monges budistas ecoam mantras, os generais no poder na Tailândia, após o golpe de Estado de Maio de 2014, presidiram à cerimónia durante a qual foram colocados os primeiros pilares do edifício.

A data de cremação do rei Bhumibol Adulyadej não foi ainda oficialmente divulgada mas, segundo fontes governamentais, deve ter lugar em Outubro ou Novembro, altura em que termina o ano de luto nacional.

Organizada no grande palácio de Sanam Luang, em pleno ‘coração’ da capital, Banguecoque, a cremação real será um enorme evento. Apesar de o orçamento não ter sido divulgado publicamente, as autoridades prevêem gastar milhões de euros por essa ocasião.

Sete décadas de união

Bhumibol Adulyadej, de 88 anos, que morreu em Outubro do ano passado, depois de uma longa doença, pondo fim a um reinado de sete décadas em que personificou a unidade do país que lhe valeu o título do mais antigo monarca em exercício, era profundamente venerado.

Bhumibol Adulyadej chegou ao poder em 9 de Junho de 1946, depois da morte do irmão mais velho, o rei Ananda Mahidol, vítima de um acidente com arma de fogo, no palácio real de Banguecoque. O acidente ficou até hoje por explicar.

No início do reinado, já depois da abolição da monarquia absoluta no país, em 1932, o papel do rei foi ensombrado por uma série de líderes militares fortes.

Mas com o apoio de outros membros da família real e alguns generais, Bhumibol Adulyadej fortaleceu o papel da monarquia, com uma série de visitas às províncias mais remotas e através de numerosos projectos de desenvolvimento agrícola.

Apresentado como um semideus e benfeitor da nação, as suas imagens são omnipresentes no país e o culto da personalidade foi reforçado após o golpe de Estado de 22 de Maio de 2014, realizado pelos militares em nome da defesa da monarquia.

A família real tailandesa está protegida por uma das leis sobre lesa-majestade mais severas do mundo, e nos últimos dois anos, os processos por crimes de ofensa à monarquia multiplicaram-se e as sanções aumentaram.

Sem qualquer prerrogativa constitucional, Bhumibol Adulyadej exerceu uma enorme autoridade moral e foi sempre visto como a única personalidade capaz de unir os tailandeses.

Rico percurso

Oficialmente, o rei está acima da política, mas Bhumibol interveio em alturas de grande tensão – 1973, 1981 e 1992 -, assistindo a numerosos golpes militares, 19 constituições e ainda mais primeiros-ministros, para encontrar soluções não-violentas em algumas crises.

Nascido em Cambridge, Massachusetts (Estados Unidos), Bhumibol Adulyadej viveu e estudou na Suíça até final da Segunda Guerra Mundial.

Em 2006, recebeu do então secretário-geral da ONU Kofi Annan o primeiro prémio de mérito de Desenvolvimento Humano.

A Bhumibol Adulyadej sucedeu o seu filho Maha Vajiralongkorn que foi proclamado rei da Tailândia no início de Dezembro.

28 Fev 2017

Seguros | Detentor de quarta maior fortuna do país expulso da indústria

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Comissão Reguladora de Seguradoras da China expulsou da indústria por dez anos Yao Zhenhua, quarta maior fortuna do país, por cometer irregularidades na compra de acções do gigante imobiliário Vanke, informou sábado a imprensa oficial.

Yao, fundador do conglomerado financeiro Baoneng, facultou informação falsa para ser autorizado a aumentar o capital da sua filial seguradora Foresea Life, uma operação com a qual financiou a aquisição de títulos da Vanke, segundo a imprensa oficial chinesa.
Após uma investigação, o regulador chinês concluiu que a Foresea Life não utilizou fundos dos seus accionistas, como afirmado na altura, para o aumento de capital em Novembro de 2015 o que permitiu que se tornasse no sócio maioritário na Vanke e desencadeou uma luta pelo controlo da imobiliária.
A comissão responsabilizou directamente Yao por essa informação errónea, decidindo retirá-lo da presidência da Foresea Life e proibiu-o de participar no sector dos seguros durante a próxima década.
O regulador dos seguros da China anunciou também que, a partir de agora, irá oferecer aconselhamento para “melhorar” a gestão da Foresea Life, uma empresa que já puniu, em Dezembro, pela sua implicação na disputa pelo controlo da Vanke.

Fim de ciclo

A suspensão da indústria seguradora trava a ascensão no mundo empresarial chinês de Yao Zhenhua, um empresário praticamente desconhecido até há pouco mais de um ano e que, no espaço de meses, ascendeu à quarta posição da lista dos mais ricos, publicada pela Hurun, equivalente chinês da Forbes.
Além disso, encerra-se mais um capítulo no caso Vanke, uma longa disputa que implica várias das maiores imobiliárias chinesas e que aparentemente ter-se-á resolvido no passado mês de Janeiro com a entrada no capital da empresa do grupo estatal Shenzhen Metro Group que ficou como segundo maior accionista.
A batalha pelo controlo desta empresa, a maior no ramo imobiliário residencial na China, teve início no final de 2015, quando a Baoneng se tornou no principal accionista, apesar da oposição do fundador da imobiliária, o magnata Wang Shi.
Para comprar as ações da Vanke, a Baoneng fez com que a Foresea Life pedisse um crédito equivalente ao dobro do seu capital, decisão que motivou a investigação da Comissão Reguladora de Seguradoras e resultou agora na sanção imposta a Yao.
A equipa de gestão da imobiliária tentou travar a manobra da Baoneng por diversas ocasiões e, em Janeiro, conseguiu finalmente a esperada entrada no universo de accionistas da Shenzhen Metro Group, a firma que opera a rede de metro da cidade chinesa de Shenzhen, em substituição do conglomerado estatal China Resources.
Assim, a Vanke espera obter acesso à edificação de terrenos disponíveis junto às novas linhas de suburbano de Shenzhen, a cidade onde tem a sua sede, de modo a garantir a sua futura viabilidade.
Os reguladores também estão a analisar a compra de títulos da Vanke efectuadas pela imobiliária Evergrande, no final do ano passado, que lhe permitiu converter-se na terceira maior accionista, seguindo métodos similares aos da Baoneng e também através de uma filial seguradora.

27 Fev 2017

Donald Tsang, ex-Chefe do Executivo de Hong Kong, condenado a 20 meses de prisão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] antigo chefe do Executivo de Hong Kong Donald Tsang foi hoje condenado a 20 meses de prisão, após o julgamento em que foi considerado culpado de conduta indevida durante o período em que liderou a cidade.

O juiz Andrew Chan disse que pensava condenar Donald Tsang a 30 meses de prisão, mas acabou por retirar dez meses devido ao seu bom caráter e contribuição para o desenvolvimento de Hong Kong. A pena máxima era de sete anos de cadeia.

Tsang, de 72 anos, foi chefe do Governo de 2005 a 2012 e é o titular do mais alto cargo de Hong Kong ser condenado num caso criminal.

O ex-chefe do Governo foi declarado culpado de conduta indevida na sexta-feira e detido preventivamente mas só hoje a pena foi conhecida. Na segunda-feira à noite, deu entrada no hospital Queen Elizabeth após informar que se sentia indisposto.

Tsang enfrentou um julgamento de um mês e meio, acusado de três crimes de conduta indevida e suborno.

Foi considerado culpado de má conduta por não ter declarado que a ‘penthouse’ em Shenzhen que planeava arrendar pertencia a um empresário cuja empresa de ‘media’ se estava a candidatar a uma licença de rádio digital.

O juiz Andrew Chan disse, citado pela emissora pública RTHK, que a gravidade da má conduta se prende com a posição de Tsang como líder do Governo de Hong Kong na altura, e que a “quebra de confiança foi um aspeto importante e significativo na sua criminalidade”.

Segundo a RTHK, Tsang será, no entanto, julgado novamente por acusações de corrupção sobre as quais o júri não chegou a um veredito maioritário, segundo as quais o ex-líder aceitou a casa de Shenzhen do empresário Bill Wong como compensação pela licença a uma das suas empresas.

O juiz indicou a intenção de marcar o julgamento para setembro mas uma data não foi ainda fixada.

23 Fev 2017

Marcelo diz que 2017 pode ser um ano de aprofundamento entre Portugal e China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da República antecipou esta terça-feira que 2017 pode vir a ser “um ano particularmente significativo no aprofundamento de relações” entre Portugal e a China, considerando que a União Europeia percebe que tem a ganhar com a aproximação chinesa.

“Tudo indica que é de esperar nos próximos anos um aprofundamento nas relações entre esse mundo e a China. E Portugal – presente nas três comunidades [União Europeia, CPLP e Comunidade Ibero-americana] – será um protagonista activo e importante nesse relacionamento”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no discurso de encerramento da conferência “Macau – Uma ponte na relação económica entre a China e os países de língua portuguesa”, que decorreu terça-feira em Lisboa.

Na opinião do chefe de Estado, “o ano de 2017 pode vir a ser particularmente significativo no aprofundamento de relações que são seculares entre os dois povos, mas que a democracia portuguesa permitiu que fossem muito intensas entre os dois Estados”.

“A União Europeia percebe que, para além das amizades, das parcerias, das alianças históricas que mantém – nomeadamente transatlânticas -, tem tudo a ganhar com a aproximação relativamente à China. Passa-se com a União Europeia, passa-se em particular com Portugal”, defendeu.

Novos vectores

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que não quer que se retire destas palavras “a ideia de que Portugal é menos fiel às relações transatlânticas ou a União Europeia pode prescindir desse parceiro fundamental que são os Estados Unidos da América”, porque “não pode”.

“Só que o mundo é feito de aditamentos, não de subtracções. Trata-se de aditar novos vectores estratégicos. Portugal não está a descobrir a China pela primeira vez. Macau assim o demonstra”, sublinhou.

Para o chefe de Estado, “é preciso estudar esta nova realidade” e não se pode “apenas registá-la tomando conhecimento dos factos do dia-a-dia”.

“O Presidente da República está atento a esta realidade, às coordenadas fundamentais da nossa política externa, que no essencial são as mesmas desde a Constituição de 1976. Está atento à evolução do mundo, da realidade geo-estratégica, da realidade económica e esta nova coordenada fundamental”, justificou.

23 Fev 2017

Donald Tsang | Destino do antigo Chefe do Executivo é conhecido hoje

É hoje anunciada a pena que Donald Tsang vai ter de cumprir, depois de, na semana passada, ter sido condenado por conduta indevida no exercício de funções. O facto de o ex-Chefe do Executivo ter sido considerado culpado não é bom para a política da região vizinha, numa altura em que são cada vez menos aqueles que acreditam no sistema

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fenómeno não é exclusivo de Hong Kong, aponta o politólogo Edmund Cheng: “Tem acontecido o mesmo também em várias novas democracias da Ásia”. Quando termina o mandato político, chega a vez do mandado judicial. Foi assim em Taiwan, na Coreia do Sul há uma ex-Presidente a braços com a justiça, e em Hong Kong é aquilo que se sabe, com um processo que hoje entra numa nova fase.

A justiça vai anunciar esta quarta-feira o que Donald Tsang terá de fazer para ressarcir a sociedade pela conduta indevida que teve enquanto Chefe do Executivo. O antigo líder do Governo foi condenado na passada sexta-feira mas, de forma diferente da de Macau – em que à condenação corresponde, de imediato, a pena a cumprir –, só agora é que o arguido vai ficar a saber o que o espera. Para já, passou pela experiência da detenção.

“A sentença tem aspectos positivos e negativos”, analisa ao HM Edmund Cheng, professor da Universidade Baptista de Hong Kong. “Demonstra, pelo menos, que Hong Kong tem um sistema judicial independente, comparativamente com as jurisdições à volta.” O lado simpático de toda esta polémica fica por aqui.

Para o politólogo, o facto de Donald Tsang ter sido condenado é preocupante em termos de opinião pública e estabilidade social. O académico faz uma viagem de 20 anos ao passado para falar do tempo em que o Reino Unido era soberano em Hong Kong. “Claro que se poderá dizer que, nos tempos do colonialismo, os problemas não eram revelados”, admite. No entanto, não é essa a imagem que as pessoas têm. “Havia a imagem de que a Administração zelava pelo interesse público e não pelos interesses específicos de um grupo. É a percepção que existe”, afirma.

“Sem dúvida que este processo é preocupante, porque tem um impacto negativo na confiança das pessoas em relação ao sistema. As pessoas pensam que o poder executivo é corrupto”, continua Edmund Cheng, que lamenta que Hong Kong tenha perdido o sistema de “check and balances” que outrora teve e que, entretanto, perdeu.

Sistema em deterioração

O politólogo não afasta a possibilidade de haver uma intervenção da justiça no dia em que o actual Chefe do Executivo, C.Y. Leung, deixar o poder. “Isto não é uma democracia, a responsabilização política não é feita enquanto os políticos estão no poder, pelo que é preciso esperar que abandonem os cargos”, vinca. O sistema político não tem suficientes mecanismos de fiscalização para ir garantindo que a governação decorre no mais rigoroso cumprimento da lei.

O facto de Donald Tsang já não estar no poder não significa que a opinião pública olhe para todo este processo como algo que pertence ao passado. “De certeza que o campo pró-democrata vai utilizar o caso para questionar por que razão houve tanta corrupção depois da transferência de soberania. É porque o sistema actual só serve os interesses dos magnatas?”, lança Edmund Cheng, que recorda que Donald Tsang não é caso único em Hong Kong, apesar de ser o mais alto titular de um cargo político a ser condenado pelos tribunais da RAEHK. O antigo secretário-chefe Rafael Hui, lembra o politólogo, está neste momento na prisão, a cumprir pena por crimes de corrupção.

“O mais importante é que estamos a falar de tecnocratas que foram educados e treinados durante o tempo colonial. Julgava-se que agiam de forma limpa. Mas estes tecnocratas foram autores de crimes desta natureza”, observa. “Isto levanta a questão se estas pessoas perderam qualidades durante estes anos ou se o sistema não tem uma forma eficaz de responsabilização.”

Qualquer que seja a resposta, o tempo é de “incertezas e de desconfiança” no poder executivo de Hong Kong. Mais uma vez, a antiga colónia britânica e Macau apresentam características diferentes, mesmo quando em causa estão a corrupção e o abuso de poder. Edmund Cheng acredita que os processos judiciais da RAEM que envolvem figuras de relevo “têm que ver com rivalidades políticas”. Já na região vizinha, os casos em tribunal devem-se essencialmente “à deterioração do sistema, o que gera muita preocupação”.

Tirar o laço

Ontem, Donald Tsang tornou-se no primeiro líder do Governo de Hong Kong a passar uma noite sob detenção. O tribunal decidiu que deveria permanecer detido até se saber da pena que terá de cumprir, sendo que existe a convicção generalizada de que irá passar uns tempos atrás das grades.

Num dos muitos artigos publicados sobre o assunto, o South China Morning Post não perdoa: “O antigo Chefe do Executivo Donald Tsang Yam-kuen em tempos jantou com empresários de sucesso em Macau e viajou em iates com magnatas, mas segunda-feira à noite bateu no fundo, ao dormir na ala prisional do Hospital Queen Elizabeth”, escrevia ontem o jornal.

Tsang, de 72 anos, “trocou o fato e o laço, que faz parte da sua imagem, por um uniforme da prisão” na noite de segunda-feira, descreve ainda o matutino em língua inglesa, depois de um juiz ter decidido enviá-lo para o centro de máxima segurança de Lai Chi Kok e ter dado a entender ser pouco provável a determinação de uma pena suspensa. No entanto, pouco depois das 21h, foi levado para o hospital, por ter dito que não se estava a sentir bem.

O antecessor de C.Y. Leung arrisca-se a sete anos na prisão. O júri de nove elementos entendeu que o antigo líder do Governo teve uma conduta indevida no exercício de funções, num processo que implicou a aprovação de três candidaturas da emissora de rádio Wave Media, entre 2010 e 2012, numa altura em que estava a negociar o arrendamento de uma penthouse em Shenzhen com o empresário Bill Wong Cho-bau, o principal accionista da estação.

Tsang vai ser ainda julgado por um crime de corrupção, uma vez que o júri não conseguiu chegar a qualquer conclusão acerca deste ponto da acusação. Ainda não há nova data para o novo julgamento. A acusação acredita que o antigo Chefe do Executivo aceitou, como compensação pelas concessões à emissora de rádio, trabalhos de renovação da penthouse em Shenzhen, no valor de 3,35 milhões de dólares de Hong Kong.

Amigos há muitos

A imprensa de Hong Kong relata que a advogada de defesa de Donald Tsang, Clare Montgomery, apelou a uma pena de curta duração, com pena suspensa, pedindo ao juiz que tenha em consideração que a aprovação dos pedidos feitos pela Wave Media eram justificáveis.

A defesa destacou ainda a quantidade de cartas de apoio a Tsang, escritas por aliados políticos mas também por adversários, incluindo os antigos secretários Carrie Lam e John Tsang, ambos candidatos a Chefe do Executivo nas eleições deste ano. “Teve uma vida dedicada ao serviço público e às pessoas de Hong Kong”, assinalou também Clare Montgomery.

“Sir Donald Tsang foi o único Chefe do Executivo moderado, que teve disponibilidade para discutir com a oposição”, diz o politólogo Edmund Cheng. “Apesar de as acusações de corrupção não terem nada que ver com o seu legado político e a postura que adoptou, parece-me que será julgado em conformidade. Como é possível constatar, foram poucos os políticos e os media pró-regime que o defenderam antes e depois da decisão judicial, o que torna clara a mensagem política”, afirma ainda. O politólogo não quer com isto dizer que haja uma motivação política por detrás do processo, mas chega à conclusão de que “ser simpático para com a oposição não traz necessariamente protecção política durante a crise”. Donald Tsang comandou os destinos políticos de Hong Kong entre 2005 e 2012.

22 Fev 2017

China | Novas medidas contra a Coreia do Norte a caminho

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China afirmou ontem que continuará a adoptar medidas contra a Coreia do Norte, visando aplicar integralmente a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o programa nuclear e de mísseis balísticos de Pyongyang.

Pequim suspendeu no fim-de-semana passado as importações de carvão a partir do país vizinho.

Em conferência de imprensa, o ministro do Comércio chinês, Gao Hucheng, disse que a China “é séria” no cumprimento das suas obrigações internacionais, não tendo, porém, detalhado quais serão as novas medidas contra a Coreia do Norte.

Pequim, o mais importante aliado de Pyongyang, cortou com um dos poucos canais que o regime de Kim Jong-un tem para obter divisas externas, ao proibir as compras de carvão do país, a partir de domingo passado e até ao final deste ano.

Esta decisão inscreve-se na aplicação da resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em Novembro passado, segundo afirmaram num comunicado conjunto o Ministério do Comércio e a Administração Geral de Alfândegas da China.

Em Dezembro passado, as importações chinesas de carvão da Coreia do Norte aumentaram, num fenómeno que Gao justificou com os “ciclos normais” de adaptação das políticas internacionais à legislação local.

Sem margem para dúvidas

O ministro insistiu que a seriedade da China na implementação da resolução do Conselho de Segurança “é inquestionável”.

A decisão surge depois do assassínio de Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte, na Malásia, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês recusou qualquer relação entre ambos os acontecimentos.

Até há pouco tempo, as relações entre Pequim e Pyongyang eram descritas como sendo de “unha com carne”.

A insistência de Pyongyang num controverso programa nuclear levou, porém, Pequim a alinhar com a Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos da América e Rússia, condenando os testes com explosões atómicas do país vizinho.

As duas nações mantêm, no entanto, laços diplomáticos e comerciais.

22 Fev 2017

Confrontos em Timor-Leste entre grupos de artes marciais fazem 24 mortos em três anos

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]onfrontos entre grupos de artes marciais timorenses e o uso de um tipo de arma banca conhecida como ‘rama ambon’, importada da Indonésia, causaram nos últimos três anos 24 mortos, 46 feridos graves e 23 ligeiros, segundo o Governo.

A informação faz parte do relatório da comissão do Parlamento Nacional que analisou uma proposta de lei do Governo contra a violência de grupos de artes marciais, que têm causado problemas em Timor-Leste, e ainda o uso de várias armas brancas em diversos incidentes.

Especialmente visados na proposta de lei estão os crimes de fabrico, importação, transporte, venda, cessão ou porte de ‘rama ambon’ – armas usadas em vários pontos do arquipélago indonésio.

Trata-se de uma espécie de fisgas com que se lançam pequenas flechas, lâminas ou setas e que chegaram a ser usadas em muitos incidentes nos últimos anos como prática de iniciação de jovens em grupos de artes marciais ou em confrontos entre grupos.

Os dados referem que em 2014 se registaram 36 incidentes de violência envolvendo praticantes de vários grupos de artes marciais, que causaram 11 mortos, 17 feridos graves e oito ligeiros.

Em 2015, os 26 incidentes registados causaram oito mortos, 15 feridos graves e três ligeiros e no ano passado houve a registar 29 incidentes com cinco mortos, 14 feridos graves e 12 ligeiros.

Lei em debate

Longuinhos Monteiro, ministro do Interior, participou ontem no plenário no debate do diploma na generalidade, processo que começou com questões técnicas, nomeadamente o facto da comissão A do parlamento ter aprovado um texto substitutivo que vai muito além dos 15 artigos da proposta do Governo.

Esse texto inclui vários capítulos de outras leis, incluindo a lei de segurança interna, o uso de força e o regimento de armas e revoga ainda a lei existente das artes marciais, tendo o ministro explicado que o executivo não o contesta desde que “não substitua a ideia básica da proposta inicial”.

“O importante é que a lei reflicta a nossa preocupação com o fabrico, importação, transporte e posse destas armas brancas e com as práticas ilícitas de artes marciais”, disse à Lusa Longuinhos Monteiro.

O ministro explicou que não se trata de travar artes marciais reguladas e “até reconhecidas como desportos olímpicos” mas sim outras que “estão na ilegalidade e causam problemas” constantes.

“Muitas situações que ocorrem têm origem em confrontos nas artes marciais”, recordou.

A lei prevê penas de 3 a 6 anos para quem fabricar, importar, exportar, transportar, vender, ceder ou ter na sua posse armas brancas como a rama ambon, que aumentam para quatro a oito anos para quem usar as armas na prática de crimes.

As penas são duplicadas em casos de serem cometidas por elementos das forças de segurança, do sector da justiça, funcionários públicos ou “elemento ou grupo de artes marciais ou de práticas rituais”.

A prática ilícita de artes marciais é punida com pena de prisão até três anos, que aumenta até oito anos se for feita “com o objectivo de causar desordem social”, com a pena a dobrar para elementos das forças de segurança, do sector da justiça, funcionários públicos.

“Não é aceitável que elementos das forças de segurança, funcionários públicos criem uma situação que viola a lei e a ordem pública”, afirmou Longuinhos Monteiro.

O uso de uniformes ou símbolos relacionados com artes marciais ou rituais ilegalizados é punido com multas até 500 dólares.

22 Fev 2017

Kim Jong-nam | Malásia e Coreia do Norte às avessas. Televisão divulga filme do assassinato

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A Coreia do Norte não assume que o homem que morreu na semana passada em Kuala Lumpur é o filho mais velho do Querido Líder. E acusou, mais uma vez, a Malásia de estar a conduzir investigações com pouca credibilidade. A polícia procura quatro norte-coreanos. O filho de Kim Jong-nam já terá partido de Macau para a capital malaia

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m conjunto de imagens dos circuitos de segurança do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur foi ontem tornado público, mostrando o ataque de que Kim Jong-nam foi alvo. O vídeo, divulgado por uma estação de televisão do Japão, acompanha o meio-irmão do líder da Coreia do Norte a entrar no terminal e a ser abordado por uma mulher, que lhe tapa o rosto.

Com bastante nitidez, vê-se também o pedido de ajuda de Kim Jong-nam a funcionários do aeroporto, que o levam aos seguranças. Depois, o primogénito de Kim Jong-il dirige-se à clínica do aeroporto, sendo que o vídeo termina já com uma imagem da vítima numa maca. Recorde-se que morreu a caminho do hospital.

As imagens, que já correram mundo, foram divulgadas numa altura em que aumenta o conflito diplomático entre a Malásia e a Coreia do Norte, na sequência de divergências sobre o modo como deve ser tratado o corpo e conduzidas as investigações.

A Malásia chamou o seu representante diplomático em Pyongyang, tendo ainda convocado o embaixador norte-coreano em Kuala Lumpur, para obter explicações sobre as acusações de que as autoridades do país estavam em conluio com “forças estrangeiras” na investigação do homicídio.

Ir ao engano

Entretanto, a polícia está à procura de quatro norte-coreanos que saíram da Malásia no dia do ataque, tendo já detido um suspeito da Coreia do Norte, uma mulher vietnamita, outra da Indonésia e um homem de nacionalidade malaia. Acredita-se que o detido de nacionalidade norte-coreana não desempenhou um papel de relevo no ataque.

Pelo menos três dos suspeitos norte-coreanos procurados apanharam um voo da Emirates com destino ao Dubai, de acordo com informações recolhidas pela Reuters junto dos serviços de migração de Kuala Lumpur. Já o jornal local Star diz que os quatro homens regressaram a Pyongyang – a mesma versão é contada pelo Channel NewsAsia (CNA), que cita uma fonte da polícia malaia.

“Os quatro homens planearam e executaram o homicídio. Foram eles que recrutaram as duas mulheres”, explicou a fonte. Os suspeitos entraram na Malásia entre 31 de Janeiro e 7 de Fevereiro.

A mãe da mulher indonésia detida disse à Reuters que a filha, Siti Aishah, foi enganada, pois achava que tinha sido contratada para um anúncio ou programa de televisão. A imprensa malaia diz que a suspeita vietnamita, Doan Thi Huong, contou à polícia que achou que estava a participar numa brincadeira inofensiva.

Filho a caminho

Mal a notícia da morte de Kim Jong-nam foi conhecida, tanto os Estados Unidos, como a Coreia do Sul acusaram Pyongyang do homicídio. A morte do filho mais velho do Querido Líder – que desde 2001 se encontrava a viver fora do país – não mereceu um comentário imediato da Coreia do Norte. Foi preciso esperar e as palavras do regime mais isolado do mundo foram em tom acusatório.

A determinação da Malásia em levar por diante a autópsia e a recusa em entregar de imediato o corpo a Pyongyang levaram o embaixador norte-coreano a questionar os motivos da postura das autoridades malaias, num comentário raro feito à imprensa na passada sexta-feira.

Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Malásia rejeitou as acusações e anunciou o regresso do embaixador malaio na Coreia do Norte “para consultas”.

Quanto ao corpo, será entregue ao parente mais próximo – mas ainda ninguém da família o pediu formalmente. As agências internacionais de notícias diziam que o filho mais velho de Kim Jong-nam, Kim Han-sol, era esperado ontem na Malásia. Apanhou um voo para Kuala Lumpur a partir de Macau.

O Ministério da Saúde acredita que amanhã poderão ser divulgados os resultados da autópsia.

Sul em alerta

A morte de Kim Jong-nam fez com que a Coreia do Sul tivesse ontem uma reunião do Conselho Nacional de Segurança. O Presidente sul-coreano em funções disse no encontro ter “a certeza quase absoluta” de que Pyongyang – ou seja, Kim jong-un – é o culpado do homicídio.

Hwang Kyo-ahn deixou ainda um apelo ao reforço da segurança do país perante possíveis “provocações” da Coreia do Norte, tendo pedido a altos funcionários e militares que estejam alerta para a possibilidade de o país vizinho levar a cabo actos terroristas contra funcionários do Governo ou contra a Coreia do Sul “para desviar a atenção internacional” do crime.

“Se juntarmos o anúncio das autoridades malaias e várias informações e circunstâncias, parece que o regime norte-coreano está por detrás do incidente”, disse Hwang, que apoiou assim a posição do Ministério da Unificação de Seul que, no domingo passado, acusou Pyongyang ser responsável pelo crime.

O Presidente em funções classificou o homicídio de Kim Jong-nam como um “acto criminoso desumano inaceitável” e pediu aos funcionários que procurem cooperação internacional para que a Coreia do Norte pague pelo “acto de terrorismo”. “Isto demonstra claramente a natureza temerária e brutal do regime norte-coreano, que usa qualquer meio para manter o poder”, acrescentou Hwang Kyo-ahn.

Menos amigos

O modo agreste como a Coreia do Norte tem estado a lidar com Kuala Lumpur, na sequência da morte de Kim Jong-nam, faz com que o regime de Pyongyang possa ficar ainda mais isolado em termos internacionais.

A Malásia encontra-se entre um número cada vez menor de aliados do tempo da Guerra Fria com quem Pyongyang tem conseguido manter laços. De acordo com informações do Governo da Coreia do Sul, o regime de Kim Jong-un tem 53 embaixadas e missões diplomáticas no estrangeiro.

Especula-se também que a paciência da China com a Coreia do Norte possa estar a ser testada. Depois de ter deixado a Coreia do Norte, o filho mais velho de Kim Jong-il passou a viver entre Macau e Pequim, sendo que viajava precisamente para o território quando foi alvo do ataque fatal.

No sábado passado, Pequim anunciou a suspensão, até ao final do ano, de todas as importações de carvão da Coreia do Norte – os analistas dizem que se trata de um duro golpe para a já frágil economia do regime. O gesto tem sido lido como uma forma de bater o pé a Kim Jong-un, depois de Pyongyang ter vindo a comportar-se de forma cada vez mais agressiva, com ensaios nucleares que causam preocupação ao nível internacional.

Na edição desta segunda-feira, o Global Times, jornal do Partido Comunista Chinês, justificava a suspensão das importações de carvão com a determinação de Pequim em trabalhar em conjunto com a comunidade internacional para travar os esquemas nucleares norte-coreanos, mas não deu pistas sobre uma eventual mudança radical de atitude perante o vizinho.[/vc_column_text][vc_column_text css=”.vc_custom_1487807395168{margin-top: -20px !important;margin-bottom: 14px !important;}”]

O filme

[/vc_column_text][vc_cta h2=”Síndroma da negação” h2_font_container=”font_size:44px” h2_google_fonts=”font_family:Oswald%3A300%2Cregular%2C700|font_style:300%20light%20regular%3A300%3Anormal” h2_css_animation=”none” shape=”square” style=”flat” color=”chino” use_custom_fonts_h2=”true” css=”.vc_custom_1487807037533{margin-bottom: 0px !important;border-top-width: 1px !important;border-right-width: 1px !important;border-bottom-width: 1px !important;border-left-width: 1px !important;padding-top: 20px !important;padding-right: 20px !important;padding-bottom: 20px !important;padding-left: 30px !important;border-radius: 1px !important;}”]O enviado da Coreia do Norte na Malásia afirmou ontem que não se pode confiar na investigação da polícia sobre o homicídio da semana passada no principal aeroporto de Kuala Lumpur. O diplomata de Pyongyang insiste ainda que a vítima não é Kim Jong-nam, o meio-irmão do líder Kim Jong-un. Em declarações aos jornalistas, depois de um encontro com as autoridades malaias, Kang Chol afirmou que a embaixada identificou sempre a vítima pelo nome Kim Chol, com base no passaporte na posse do homem que morreu na segunda-feira da semana passada. “Já passaram sete dias desde o incidente, mas não há uma prova clara sobre a causa da morte em neste momento, não podemos confiar na investigação da polícia da Malásia”, vincou o embaixador. “A embaixada já o identificou como sendo Kim Chol, um cidadão norte-coreano, como vem referido nos seus documentos de viagem”, reiterou. Kim Chol era um nome frequentes vezes utilizado por Kim Jong-nam – era, de resto, a identidade que usava, por exemplo, na sua conta de Facebook.[/vc_cta][/vc_column][/vc_row]

21 Fev 2017

Pequim recorre ao crédito para impulsionar economia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s bancos chineses emprestaram mais dinheiro em Janeiro do que o valor equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) português, à medida que Pequim tornou o crédito mais barato e acessível, visando incentivar o crescimento económico.

O incentivo ao crédito gerou, no entanto, uma dívida insustentável, que levou a China a tentar restringir a sua política monetária, ao mesmo tempo que evita o abrandamento do ritmo de crescimento económico.

Só no primeiro mês do ano, os bancos chineses concederam 2,03 biliões de yuan em novos empréstimos.

No final de 2016, o endividamento do país ultrapassou os 270% do PIB, impulsionado por múltiplos cortes das taxas de juro e pelo crescimento de empréstimos através de esquemas ilegais.

Devido em parte ao crédito fácil, a economia chinesa cresceu 6,7%, no ano passado, num ritmo suportado pelo ‘boom’ na construção e aumento dos gastos públicos com infra-estrutura.

A segunda economia mundial está agora sobrecarregada com um endividamento difícil de gerir, afirmou no mês passado em comunicado Andrew Fennell, analista da agência de ‘rating’ Fitch.

“A estabilidade do crescimento económico da China deve-se a estímulos e não à sustentabilidade”, lê-se.

Dinheiro fácil

A agência Standard & Poor’s advertiu ainda que “a dependência num crescimento alimentado pelo crédito implica o risco de uma ‘aterragem dura’ [abrandamento súbito] para a economia”,

O Banco do Povo Chinês (banco central) cortou por várias vezes as taxas de juro, entre 2014 e 2016, ajudando a contribuir para um ‘boom’ no crédito.

A abundância de dinheiro fácil teve consequência imprevisíveis, como a forte subida do preço do imobiliário ou o investimento na moeda virtual ‘bitcoin’.

No ano passado, o preço médio por metro quadrado subiu 14% em Pequim, 38% em Nanjing e 49% em Shenzhen, o centro tecnológico da China, no sul do país.

Milhões de novas habitações continuam, porém, por vender, nas médias e pequenas cidades do país. O empréstimo para compra de habitação atingiu um terço do crédito concedido pelos bancos chineses em Janeiro, uma percentagem recorde.

Entretanto, o banco central chinês subiu, em Fevereiro, as taxas de juro a curto prazo pela primeira vez em quatro anos.

Citado pela agência France Presse, Wei Yao, analista do banco Société Generale afirmou que Pequim está a arriscar um equilíbrio do fluxo de crédito.

“O alto nível de endividamento e a forte expansão dos balanços dos bancos tornam o sistema financeiro vulnerável a uma mudança abrupta”, disse. “A restrição da política monetária não pode ser demasiado súbita”.

21 Fev 2017