China defende acordo do Irão face a sanções unilaterais dos EUA

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês defendeu hoje uma “rigorosa” implementação do acordo nuclear do Irão, face às sanções “unilaterais” dos Estados Unidos, que visam “aumentar a tensão” no Médio Oriente.

“Rejeitamos as acções dos EUA, que levaram a uma escalada da tensão”, afirmou Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

A China foi um dos países que assinou o chamado Plano Integral de Acção Conjunta (JCPOA). Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha são os outros signatários.

Depois de anunciar a sua retirada unilateral, Washington voltou a impor sanções contra Teerão, em Agosto e Novembro, incluindo sobre os sectores bancário e petrolífero. Na sexta-feira passada, o Departamento de Estado dos EUA anunciou a imposição de mais sanções.

Em resposta, o presidente iraniano, Hasan Rohaní, deu hoje 60 dias às potências mundiais para se negociar um novo acordo nuclear, caso contrário retomará o enriquecimento do urânio, e anunciou a redução de compromissos firmados no pacto de 2015.

Rohaní afirmou que o país vai deixar de limitar as suas reservas de urânio e água pesada, uma decisão que contraria o acordo nuclear de 2015.

O líder iraniano disse que a redução dos compromissos nucleares é uma medida que visa “salvar” o JCPOA, e que o Irão “não escolheu o caminho da guerra, mas o caminho da diplomacia”.

Geng considerou que Teerão “cumpriu com as suas obrigações” nos termos do acordo, que foi implementado “rigorosamente” apesar das “sanções unilaterais” dos Estados Unidos.

O porta-voz chinês destacou que a manutenção e implementação do acordo nuclear é uma “responsabilidade comum” de todos os países signatários, apelando a um “fortalecer do diálogo”, que “evite uma escalada de tensão” na região.

“A China continuará em contacto com todas as partes envolvidas, para implementar o acordo e manter os direitos e interesses legítimos dos nossos negócios”, disse Geng.

8 Mai 2019

Marcelo recebe em audiência cardeal filipino que preside às cerimónias de Fátima

[dropcap]O[/dropcap] cardeal filipino e arcebispo de Manila, Luis Antonio Tagle, que este ano preside à peregrinação de 13 de Maio de Fátima, encontra-se na sexta-feira com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, adiantou hoje a agência Ecclesia.

O cardeal filipino, que é também o presidente da Caritas Internationalis, chega na quinta-feira, dia 9, a Portugal, onde fica até dia 15. Na agenda, além das cerimónias do 13 de Maio, em Fátima, às quais preside este ano, tem uma audiência com Marcelo Rebelo de Sousa na sexta-feira, pelas 16:30. Do seu programa constam ainda visitas às Caritas diocesanas de Lisboa, Coimbra, Santarém e Setúbal.

Na sexta-feira, dia 10, depois do encontro com o Presidente da República, o arcebispo de Manila segue para um encontro com a comunidade filipina radicada em Portugal, na Igreja São Tomás de Aquino, em Lisboa, onde pelas 18:00 dará uma conferência a que se segue uma missa em inglês.

O cardeal Luis Antonio Tagle vai presidir à peregrinação internacional de maio de Fátima, anunciou hoje o Santuário, justificando, em comunicado enviado à Lusa, que a escolha reflecte um “sinal de atenção à Ásia, cujo número de peregrinos não para de surpreender”.

Em 2018, o bispo emérito de Hong Kong presidiu à peregrinação de maio e o bispo de Hiroshima à de Outubro. Este ano, em Outubro, será também um cardeal asiático a presidir, Andrew Yeom Soo-Jung, arcebispo de Seul, capital da Coreia do Sul.

O Santuário de Fátima salienta que, nos primeiros quatro meses do ano, aquele espaço já acolheu 60 grupos de peregrinos asiáticos, nove dos quais das Filipinas.

Segundo a nota, “os peregrinos sul-coreanos continuam a destacar-se na Cova da Iria como o grupo mais expressivo da presença asiática neste lugar”, sendo que, entre Janeiro e Abril, “fizeram-se anunciar 30 grupos da Coreia do Sul, num total de 730 peregrinos”.

Em 2018, dos 456 grupos asiáticos que visitaram Fátima, 125 eram sul-coreanos, 93 filipinos, 48 indonésios e 36 vietnamitas.

Dos cerca de cem grupos já inscritos para a peregrinação de maio, cerca de 10% dos peregrinos vêm de Hong Kong, Coreia do Sul, Vietname, Filipinas e Singapura, frisa o Santuário.

De acordo com a nota do Santuário de Fátima, Luis Antonio Tagle é, desde 2011, arcebispo de Manila, capital das Filipinas, o único país do continente asiático onde os católicos são maioritários.
Luis Antonio Tagle é também o actual presidente da Cáritas Internacional, sendo que, durante a sua estada em Portugal, terá vários encontros com a Cáritas nacional e com responsáveis locais da Igreja “por projectos de intervenção social para migrantes e sem abrigo”.

A peregrinação de maio, que decorre a 12 e 13, vai ter como tema “Dar graças por peregrinar em Igreja”.

8 Mai 2019

Jornalistas libertados em nome do interesse nacional, diz Governo de Myanmar

[dropcap]O[/dropcap]s dois jornalistas da Reuters libertados ontem em Myanmar (antiga Birmânia), após serem sentenciados a sete anos de prisão pela investigação sobre o massacre de muçulmanos Rohingya, foram perdoados em nome do “interesse nacional”, segundo o Governo local.

“Os dois jornalistas da Reuters foram libertados depois de os líderes levarem em conta o interesse nacional a longo prazo”, disse à agência de notícias francesa AFP o porta-voz do Governo de Myanmar, Zaw Htay.

De acordo com o chefe da prisão de Insein, Zaw Zaw, os dois jornalistas foram libertados esta manhã depois de o Presidente de Myanmar, Win Myint, ter perdoado 6.520 presos.

Nas primeiras declarações à imprensa, um dos jornalistas garantiu que vai continuar a exercer a profissão. “Sou jornalista e vou continuar a sê-lo”, disse Wa Lone, citado pela AFP.

Por seu lado, a agência Reuters emitiu um comunicado a saudar a decisão das autoridades de Myanmar, destacando a coragem dos dois trabalhadores, “símbolos da importância da liberdade de imprensa”.

Os dois jornalistas partilharam com os seus colegas da Reuters, no início de Abril, o Prémio Pulitzer de reportagem internacional, uma das maiores distinções do jornalismo.

No dia 23 de Abril, o Supremo Tribunal de Myanmar tinha rejeitado o último recurso de Wa Lone e Kyaw Soe Oo, confirmando as sentenças de prisão de sete anos, na sequência de reportagens sobre a repressão militar contra a minoria muçulmana rohingya.

O escritório das Nações Unidas em Myanmar também já saudou a libertação dos dois jornalistas.
“Estamos satisfeitos que Wa Lone e Kyaw Soe Oo, dois jornalistas da Reuters presos sob a lei de segredos oficiais de 1923, obtiveram hoje [ontem] um perdão presidencial. Agora, estão livres e podem reunir-se com suas famílias e retomar o seu trabalho vital “, declarou também a porta-voz da comissária da União Europeia dos Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, num comunicado.

A ratoeira

Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram acusados de se terem apoderado de documentos secretos relativos às operações das forças de segurança no estado de Rakhine, região do noroeste de Myanmar, palco das atrocidades cometidas contra a minoria muçulmana rohingya do país.

Quando foram detidos, em Dezembro de 2017, estavam a investigar o massacre de rohingyas em Inn Din, uma aldeia do norte do estado de Rakhine.

Desde então, as forças armadas reconheceram que realmente tinham sido cometidas atrocidades em Setembro de 2017, e sete militares foram condenados a dez anos de prisão.

Ambos os repórteres declararam sempre ter sido enganados, e um dos polícias que testemunhou no julgamento admitiu que o encontro durante o qual os documentos secretos lhes foram entregues foi “uma armadilha” destinada a impedi-los de prosseguir o trabalho.

Desde 2017, mais de 700.000 rohingyas abandonaram a região, fugindo à violência do exército birmanês e de milícias budistas e refugiaram-se em campos improvisados no vizinho Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo.

8 Mai 2019

Chinês condenado a 20 meses de prisão por contrabando de escamas de pangolim, em extinção

[dropcap]U[/dropcap]m homem de nacionalidade chinesa foi condenado em Hong Kong a 20 meses de prisão pelo contrabando de quase 50 quilos de escamas de pangolim, uma espécie em risco de extinção, noticiou hoje a imprensa local.

De acordo com o jornal South China Morning Post, Lin Jin-bao, de 44 anos, foi considerado culpado pelo tráfico de 48 quilos de escamas de pangolim, algo que poderia chegar a um valor de mercado de 189 mil dólares de Hong Kong.

O cidadão chinês, da província de Fujian, foi detido no aeroporto internacional de Hong Kong a 13 de Novembro, proveniente da República Democrática do Congo. As autoridades acreditam que teria Macau como destino final.

Os cientistas já classificaram todas as espécies de pangolins como estando em risco de extinção. Nas duas últimas décadas, o número destes mamíferos caiu cerca de 90% em todo o mundo.
De acordo com o Ministério Público responsável pelo caso, as escamas apreendidas na bagagem do cidadão chinês tinham origem em pelo menos 134 animais.

“É um sinal encorajador que os tribunais de Hong Kong estejam a aplicar penas mais severas para crimes contra a vida selvagem”, saudou o gestor de campanha do grupo de conservação WildAid Hong Kong, em declarações à agência de notícias Efe.

A China e Hong Kong têm procurado reprimir o comércio ilegal, embora o porto da região administrativa especial continue a ser um importante ponto de trânsito para produtos de espécies ameaçadas.

As escamas do pangolim são, há séculos, muito valorizadas na medicina tradicional chinesa. As escamas, feitas de queratina, semelhante às unhas, são frequentemente torradas e moídas em pó antes de serem adicionadas a uma mistura de ingredientes para supostamente curar artrite, promover a amamentação para as mães e aumentar a virilidade masculina.

Sob a lei de Hong Kong, a importação e venda de espécies ameaçadas e os seus produtos podem ser punidos com penas de prisão até dez anos de prisão e multa.

7 Mai 2019

Tensões comerciais China-EUA é ameaça à economia mundial, diz FMI

[dropcap]A[/dropcap] directora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, alertou hoje para a renovada tensão comercial entre os Estados Unidos e a China, que “claramente constitui uma ameaça à economia mundial”.

“Esperamos que não aconteça”, afirmou Lagarde aos jornalistas, durante uma conferência, em Paris. A directora do FMI considerou que os mais recentes ‘tweets’ e comentários “não são muito favoráveis”, e admitiu ter sido apanhada de surpresa.

“Tínhamos a impressão de que esta ameaça se estava a diluir, que as relações estavam a melhorar e estávamos próximos de um acordo”, afirmou Lagarde.

Para a responsável, é “imperativo” que as tensões “sejam resolvidas de maneira satisfatória para todos”. Devemos proceder à “redução ou eliminação destas tensões” e adoptar “um marco legal e regulatório”, pelo qual as empresas conheçam as regras tarifárias e não tarifárias com as quais desenvolverão a sua actividade.

O ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, anfitrião da conferência, afirmou também que “o risco de guerra comercial” é “a principal preocupação” de França e da União Europeia, num momento de desaceleração da economia global.

O máximo representante dos Estados Unidos nas negociações por um acordo comercial com Pequim confirmou hoje um aumento das taxas alfandegárias, a partir de sexta-feira, sobre bens importados da China.

Robert Lighthizer detalhou que o aumento, de 10% para 25%, das taxas alfandegárias incide sobre o equivalente a 200 mil milhões de dólares de bens importados do país asiático. Em conferência de imprensa, Lighthizer acusou Pequim de “retroceder em compromissos anteriores”, após dez rondas de negociações.

Os governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.

Em causa está a política de Pequim para o sector tecnológico, que visa transformar as empresas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da concorrência externa.

As negociações decorrem desde que, em Dezembro passado, Washington e Pequim acordaram um período de tréguas, que foi entretanto prolongado, visando chegar a um acordo.

No entanto, o Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou, no domingo, que os EUA vão aumentar as taxas alfandegárias. “Durante 10 meses a China pagou taxas alfandegárias aos Estados Unidos de 25% sobre 50 mil milhões de dólares de [bens] tecnológicos, e 10% sobre 200 mil milhões de dólares de outros bens”, escreveu Trump no Twitter. “Os 10% vão ser aumentados para 25% na sexta-feira”, acrescentou.

7 Mai 2019

Líder do FMI saúda avanços da China relativamente à dívida dos países emergentes

[dropcap]A[/dropcap] directora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, saudou hoje os avanços da China quanto à sustentabilidade da dívida, depois do compromisso do presidente Xi Jinping para ter mais “transparência” nos empréstimos aos países emergentes.

“O processo em que a China se aproxima dos princípios de sustentabilidade da dívida deve ser saudado”, disse Christine Lagarde, citada pela AFP, no Fórum de Paris, dedicado este ano ao crescente endividamento dos países em desenvolvimento.

A directora geral do FMI precisou depois, em conferência de imprensa, que Pequim tinha tomado essa decisão “no seguimento de longas discussões” tidas entre a instituição sediada em Washington e “as autoridades chinesas, o Ministério das Finanças e o Banco Central” chinês.

“Reafirmamos o nosso apoio aos princípios de transparência e de informação sobre a dívida”, acrescentou a responsável, reagindo às propostas do presidente chinês durante a recente cimeira do projecto Nova Rota da Seda, que decorreu em Pequim e contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Xi Jinping tentou então responder aos críticos da sua iniciativa da Nova Rotas da Seda, acusada de ser uma “armadilha da dívida” para os países pobres.

“Tudo deve ser feito de maneira transparente e devemos ter tolerância zero com a corrupção”, disse então o presidente chinês.

A questão da dívida dos países ligados a Pequim é uma das críticas frequentes ao projecto da Nova Rota da Seda, lançado por Xi. Por exemplo, o Sri Lanka, incapaz de honrar os seus compromissos com a China, cedeu a Pequim o controlo de um porto de águas profundas por 99 anos.

7 Mai 2019

Líder norte-coreano supervisionou no sábado múltiplos disparos em direcção ao mar do Japão

[dropcap]A[/dropcap] Coreia do Norte procedeu a ensaios de lança-foguetes múltiplos de longo alcance e de armas tácticas teleguiadas no decurso de exercícios supervisionados pelo líder Kim Jong-un, referiu no sábado a agência noticiosa estatal KCNA.

A agência precisou que os disparos ocorreram no sábado, quando a Coreia do Norte também efectuou disparos de projécteis de curto alcance em direcção ao mar do Japão.

“Após determinar a ordem e o procedimento de ataque, [Kim Jong-un] deu a ordem de fogo”, revelou a agência.

“O objectivo destes exercícios consistiu em inspeccionar as capacidades operacionais e a precisão do disparo de lança-foguetes múltiplos de grande calibre e de longo alcance e ainda armas tácticas dirigidas”, indicou a KCNA, acrescentando que os disparos foram enviados na direcção do mar do Japão.

Seul instou no sábado Pyongyang “a pôr fim a acções que activam a tensão”, referindo-se ao lançamento de mísseis de curto alcance, na mensagem mais dura de Seul desde que se iniciou a aproximação entre as duas Coreias.

“O lançamento de vários mísseis de curto alcance da Coreia do Norte viola o espírito do acordo de 19 de Setembro”, é referido num comunicado do Governo sul-coreano, referindo-se à declaração assinada na cimeira entre as duas Coreias em Pyongyang do ano passado.

Este lançamento de mísseis pela Coreia do Norte ocorre numa altura de estagnação no diálogo sobre a desnuclearização com os Estados Unidos e parece indicar uma crescente impaciência de Pyongyang, que exige a Washington uma proposta de desarmamento mais flexível e acompanhada de um levantamento gradual das sanções.

O lançamento de sábado aconteceu pouco mais de uma semana depois da cimeira entre o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente russo, Vladimir Putin, em Vladivostok.

A Coreia do Norte tem exigido que cessem “totalmente” as sanções que a ONU impôs ao regime de Pyongyang devido aos testes nucleares e balísticos iniciados em 2006.

A Casa Branca, no entanto, mantém a posição de não ceder a essa pressão enquanto Pyongyang não tomar medidas concretas para desmantelar o seu arsenal nuclear.

6 Mai 2019

Linguista teme efeito dos atentados no Sri Lanka na preservação do crioulo português

[dropcap]O[/dropcap] linguista Alan Baxter disse à Lusa temer que os atentados no Sri Lanka, no domingo de Páscoa, tenham afectado falantes do crioulo de base portuguesa na região, que pertencem a comunidades pequenas e maioritariamente católicas.

“Quantos falantes – e falantes idosos – estavam naquela igreja”, questionou o especialista australiano em crioulos de base portuguesa, em entrevista à Lusa, referindo-se à igreja de São Sebastião, em Negombo, um dos locais atingidos pelos atentados à bomba que provocaram pelo menos 257 mortos no dia 21 de Abril.

O crioulo português do Sri Lanka, antigo Ceilão, é uma herança da expansão marítima portuguesa no século XVI, quando nasceu como língua de contacto entre cingaleses e portugueses, os primeiros europeus a lá chegar.

A colonização portuguesa da ilha não durou mais de 150 anos, mas, mais de meio século depois, este crioulo continua a ser falado no seio das comunidades burghers, tradicionalmente católicas.

“É uma preocupação, é um risco. Porque os melhores falantes e os mais religiosos são os idosos, as pessoas que mais tendem a frequentar a igreja nessas ocasiões especiais [domingo de Páscoa]”, alertou o director da Faculdade de Humanidades de Universidade de São José (USJ) em Macau, referindo-se aos factores de risco que ameaçam extinguir estas línguas de contacto, que se estenderam pela costa da Ásia e do Pacífico a partir do século XVI.

Por seu lado, o investigador da Universidade de Lisboa Hugo Cardoso indicou que nos crioulos luso-asiáticos, em particular, “há o risco de as comunidades serem relativamente reduzidas”.

“Independentemente do grau de vitalidade e robustez da transmissão, sempre fragiliza qualquer comunidade linguística”, apontou Cardoso, também especializado em crioulos de base portuguesa nesta região e que esteve em Macau, no ano passado, para um seminário de documentação linguística.

E quando as comunidades linguísticas são pequenas, factores de risco como desastres naturais ou ataques terroristas representam uma ameaça ainda maior. A língua tambora, por exemplo, falada na ilha indonésia de Sumbawa, desapareceu por completo na sequência da erupção do Monte Tambora, em 1815.

“Muitas vezes, o efeito decisivo de uma catástrofe natural para a extinção de uma língua pode não ser imediato, mas resultar de uma redução significativa da comunidade de fala ou da sua dispersão após o evento”, ressalvou Hugo Cardoso.

No Sri Lanka, desconhece-se ainda quantos falantes do crioulo com origem portuguesa terão morrido na sequência dos ataques, os piores de que há memória naquele país desde o fim da guerra civil, em 2009.

Em todo o caso, para Alan Baxter os principais desafios dos crioulos “são socioeconómicos”. É o caso da educação, do enriquecimento e da expansão das línguas dominantes.

Sobre Malaca, na Malásia, o investigador contou à Lusa como “todo o processo dos aterros”, a partir da década de 1970, levou ao declínio da pesca e à ascensão do turismo.

“O kristang (língua cristã de Malaca) ia muito bem quando era língua de pescadores, não era uma vida fácil, era uma vida mais simples e a língua servia para aquele contexto, para aquelas funções”, disse.

Entre 1979 e 1981, período em que viveu naquela antiga colónia portuguesa, Baxter lembrou que o nível escolar “era mínimo”, mas que hoje em dia “é muito diferente”.

Mais tarde, o enriquecimento da comunidade, ligado à educação e ao turismo, exerceu naturalmente “uma influência negativa relativamente ao uso” da língua, uma vez que as famílias “veem as oportunidades dos filhos crescer se dominarem o inglês”.

Hoje, Malaca não é “a favela” de 1980. “Hoje em dia, você vai [a Malaca] e todas as casas foram alvo de restauro”, descreveu Baxter do sítio que é hoje património da UNESCO. Ainda assim, “o kristang é ainda uma língua viva e falada”.

Já em Macau, até há 20 anos sob administração portuguesa, o contexto para a perda da língua, como língua comunitária, foi um pouco diferente.

“Imagino que houve uma atitude negativa fomentada por atitudes ignorantes e atitudes colonialistas (…) e o patuá foi suprimido”, afirmou o linguista, que vai dirigir um novo mestrado da USJ que tem este crioulo de base portuguesa no currículo.

“Para trabalhar na administração colonial, era preciso falar português. Então imagino que no século XIX, e durante o século XX, houvesse pessoas a criticar e a falar mal do patuá”, disse.

Com a extinção destas línguas, perdem-se “culturas e maneiras de pensar”, advertiu.

“Quando se perde uma língua, perde-se a representação de toda uma semântica cultural. Áreas culturais, área de pensamento que você não pode representar de nenhuma outra maneira, estão na língua”, disse.

6 Mai 2019

EUA vão aumentar para 25% as taxas aduaneiras de diversos produtos comerciais chineses

[dropcap]O[/dropcap]s EUA vão aumentar na sexta-feira de 10% para 25% as taxas aduaneiras sobre o equivalente a 200 mil milhões de dólares de bens chineses importados, anunciou ontem o Presidente Donald Trump.

Esta sanção, também justificada pelo “avanço demasiado lento” das negociações comercias entre os dois países, surge quando uma importante delegação de responsáveis chineses é esperada em Washington na quarta-feira para conversações, até agora apresentadas como finais e que poderiam resultar num acordo comercial.

“Durante 10 meses a China pagou taxas alfandegárias aos Estados Unidos de 25% sobre 50 mil milhões de dólares de [bens] tecnológicos, e 10% sobre 200 mil milhões de dólares de outros bens”, escreveu o Presidente norte-americano no Twitter. “Os 10% vão ser aumentados para 25% na sexta-feira”, acrescentou.

No início de Dezembro o Presidente norte-americano decidiu suspender o aumento destas taxas devido ao recomeço das negociações comerciais que até esta semana estavam a ser apresentadas como “frutuosas” e com fortes hipóteses de resultarem num acordo.

“O acordo comercial com a China avança, mas demasiado lentamente, e quando eles tentam renegociar. Não!”, referiu Trump.

O Presidente republicano pretende reduzir o colossal défice comercial dos Estados Unidos com a China. Para além de uma maior abertura do mercado chinês aos produtos norte-americanos, Trump também exige de Pequim mudanças estruturais que terminem com a transferência forçada de tecnologia norte-americana, roubo de propriedade intelectual ou as subvenções às empresas estatais.

O líder da Casa Branca, que desencadeou a guerra comercial através de taxas aduaneiras punitivas, também ameaça taxar a totalidade das importações chinesas, avaliadas em 539,5 mil milhões de dólares em 2018.

6 Mai 2019

Emigração | Portugueses em Xangai, entre o chegar e o partir

Xangai, a maior cidade da China, é o grande centro financeiro do país e um destino para muitos portugueses, mas a volatilidade dos mercados também se estende aos emigrantes, que ora chegam, ora partem

 

[dropcap]C[/dropcap]elso Benídio chegou no dia anterior, enquanto Bruno Colaço parte após seis anos. São os extremos da comunidade portuguesa em Xangai, limitada pelas dificuldades em obter vistos e a fraca presença empresarial portuguesa.

No Consulado-Geral de Portugal em Xangai, que cobre também as províncias vizinhas de Jiangsu, Zhejiang, Anhui e Jiangxi, estão registados cerca de 580 portugueses. Mas o próprio cônsul-geral Israel Saraiva admite que haja muitos que tenham partido sem avisar as autoridades. A comunidade estará mais perto das 300 pessoas, estima Bruno Colaço, um dos fundadores do Clube Português de Xangai.

O número de portugueses registados no consulado estagnou desde 2017, coincidindo com um período em que a comunidade estrangeira em Xangai tem vindo a decrescer, diz Israel Saraiva. Uma das explicações, refere o diplomata, é a “questão complexa” dos vistos de trabalho para a China.

No caso de Celso Benídio, a empresa suíça que contratou o especialista em tecnologia já investiu mais de mil euros para conseguir um visto.

“Podes ser muito talentoso mas se não falas a língua a tua empresa tem que explicar muito bem porque vai contratar um estrangeiro e não um local”, diz o português. “Temos visto esta dinâmica a acentuar-se, sobretudo nos últimos três anos”, confirma Bruno Colaço.

O gestor lamenta que a comunidade esteja também limitada pela falta de uma diáspora empresarial na China. “Não há uma câmara de comércio e contam-se pelos dedos de uma mão o número de empresas portuguesas presentes efectivamente na China, com uma representação própria, um escritório e uma empresa legalmente estabelecida”, diz Bruno.

“Embora haja promessas e mais promessas, o quadro regulatório da China permanece relativamente complexo, o que não tem criado facilidades para as empresas”, explica Israel Saraiva. Ainda assim, o cônsul acredita a pressão externa, nomeadamente da União Europeia, tem levado a novas leis que vão no sentido de “tornar o ambiente regulatório mais previsível e menos aleatório”.

Marcelo e a reviravolta

Durante a visita oficial à China, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que existe “uma empatia” ao mais alto nível político nas relações luso-chinesas e pediu aos empresários que aproveitem este momento para “ir mais longe e ir mais depressa” nos negócios. As declarações foram proferidas, na semana passada, em Xangai, aquando da abertura de um seminário económico, perante empresários portugueses e chineses.

“É um momento que não podemos desperdiçar. Porque há a memória de um conhecimento recíproco, uma capacidade de compreensão também singular, porque há uma confiança que se criou. E a confiança é crucial. Está criada a confiança, a todos os níveis”, considerou.

Segundo o Presidente da República, nas recentes visitas recíprocas entre titulares do poder político de Portugal e da China, “entre primeiros-ministros, como desde logo entre presidentes da República, nasceu uma empatia, renovou-se uma empatia”. “O quadro hoje é um quadro de excelência nas relações políticas institucionais. E é um quadro de excelência na empatia pessoal”, reforçou.

O chefe de Estado defendeu que “isso é importante” para as empresas, argumentando que “a empatia no quadro político institucional pode facilitar ou dificultar as relações empresariais”.

Dirigindo-se aos empresários dos dois países, deixou-lhes um desafio: “É ir mais longe e ir mais depressa, porque a velocidade neste tempo é outra, e não há vazios, os vazios têm de ser preenchidos. Não podemos perder um minuto. Não podem perder um minuto na concretização dos vossos projectos”.

“Foi essa a mensagem que quis aqui trazer com a minha presença. Quis dizer que, naquilo que depende dos presidentes, nós estamos presentes: está presente o Presidente Xi, estou presente eu. Naquilo que depende dos poderes políticos, estamos presentes. Agora, a vida não se faz nem só nem sobretudo com os poderes políticos, faz-se com as pessoas, faz-se com os empresários, faz-se com aqueles que criam riqueza”, acrescentou.

Oscilações de números

Apesar dos discursos políticos, e face às dificuldades burocráticas de fixação na China, o número de portugueses em Xangai continua instável. No terreno o resultado dessas dificuldades é uma comunidade portuguesa flutuante, composta sobretudo por estudantes e profissionais a trabalhar para empresas multinacionais, como é o caso do marido de Patrícia Dias. “A nossa estadia aqui não será para a vida, ele tem um contrato de quatro anos e depois logo se vê”, diz a enfermeira, que está a estudar acupuntura em Xangai.

“Não é surpreendente que as pessoas estejam cá só um ano ou dois”, diz Israel Saraiva. “Estão integradas num projecto profissional, adquirem experiência, adquirem currículo e surge-lhes uma oportunidade noutro sítio, para porventura daqui a uns anos regressarem cá”, explica o cônsul.

É o caso de Henrique Dias, que veio há um mês do Dubai para Xangai, após ter trabalhado anteriormente em Guangzhou. “Acredito mesmo que neste momento no mundo só a China e a Índia têm potencial para continuar a crescer”, explica o arquitecto.

Íman do Yuan

Apesar do recente abrandamento económico, a China continua a ser para muitos portugueses um lugar de futuro. “Quando se fala de inovação em tecnologia, a China é a mais avançada em muitas áreas, nomeadamente aquelas viradas para o consumidor”, diz Celso Benídio.

João Graça Gomes, bolseiro da China Three Gorges, accionista da EDP – Energias de Portugal, está também optimista. “Assim que eu anunciei no LinkedIn que ia começar a estudar na Universidade Jiaotong de Xangai, recebi logo duas ofertas de emprego na China de uma empresa norte-americana”, revela o investigador em energias renováveis.

Ao ver o investimento chinês a chegar a Portugal, João já tinha começado a aprender mandarim no Instituto Confúcio em Lisboa. E não é o único a encarar a língua chinesa como uma vantagem competitiva. A filha de Patrícia Dias, de nove anos, frequenta uma escola internacional em Xangai onde está a aprender mandarim, falado e escrito. Mesmo Henrique Dias garante que a filha, com apenas nove meses, irá no futuro aprender a língua chinesa.

Entre chegadas e partidas, a maioria dos portugueses parece ter uma certeza, a de não ter planos para regressar ao país natal. “Aqui tenho a possibilidade de trabalhar no futebol de formação a tempo inteiro, o que não acontece em Portugal”, explica Rui Vitorino. “No nosso nível ninguém fica rico, mas dá-nos qualidade de vida”, diz o treinador dos sub-15 da zona de Yangpu.

“Adorava contribuir para o meu país mas não necessariamente voltar”, diz Celso Benídio. “Agora, trabalhar para uma empresa portuguesa e estar focado em Portugal, isso não, de todo”.

Metrópole em expansão

Hoje em dia, Xangai é um dos incontornáveis pólos financeiros numa época em que o centro de gravidade da economia global se desloca para o oriente.

Xangai tem uma população de cerca de 24 milhões de habitantes e está previsto que até 2050 dê o salto demográfico para uma marca algures entre os 35 e os 45 milhões de habitantes. Importante referir que no contexto circundante do Delta do Rio Yangtze, se estima que o número de habitantes ascenda aos 200 milhões.

A taxa de crescimento da cidade tem-se mantido estável e consistente desde a década de 1980, quando a população era menos de metade da actual. Apesar do crescimento do número de habitantes, Xangai soube reinventar-se para acompanhar este pulo demográfico. Por exemplo, a rede de metro da cidade, com comboios a circular em 12 linhas, é a mais extensa do mundo. Facto notável, principalmente se tivermos em conta que a primeira linha abriu apenas em 1993. Neste aspecto, importa referir que existem mais quatro linhas em construção, e cinco das existentes estão em expansão. Este exemplo é demonstrativo da forma como a cidade se soube equipar para fazer face ao salto demográfico.

Actualmente, Xangai de uma taxa de crescimento de entre 700 a 800 mil pessoas por ano. Em termos comparativos, Toronto é o centro urbano que regista maiores taxas de crescimento demográfico na América do Norte e Europa, com uma taxa entre 100 a 125 mil por ano.

Se a tendência continuar, estima-se que até 2025, mil milhões de pessoas vão viver nas grandes cidades chinesas.

6 Mai 2019

Rei Vajiralongkorn da Tailândia coroado em cerimónia no Grande Palácio Real

[dropcap]O[/dropcap] rei Vajiralongkorn da Tailândia foi ontem coroado numa sumptuosa cerimónia no Grande Palácio Real, em Banguecoque, quase três anos depois de ter sido proclamado rei após a morte do seu pai, Bhumibol Adulyadej.

O monarca de 66 anos foi acompanhado pela sua mulher, a rainha Suthida, general da força de segurança do palácio e ex-comissária de bordo, com quem casou na semana passada. Para além de Suthida, estiveram ainda presentes membros do Governo e do Conselho Privado do rei.

Pelo menos 10 mil membros das forças de segurança foram mobilizados em torno do palácio, onde as cerimónias de coroação durarão até segunda-feira com um orçamento de 1.000 milhões de bat.

Vajiralongkorn, décimo monarca da dinastia Chakri, foi proclamado rei em dezembro de 2016, três meses após a morte de seu pai, o rei Bhumibol Adulyadej, que reinou por sete décadas.

O rei, de 66 anos, deverá enfrentar comparações em relação ao seu pai, que foi muito trabalhador e profundamente respeitado pelos tailandeses.

Vajiralongkorn passa longos períodos no estrangeiro, pelo que conquistar a sua posição entre a população tailandesa poderá levar tempo.

O soberano participou em dois eventos de alto nível em 2015, levando milhares de tailandeses em massa a eventos de ciclismo para marcar os aniversários dos seus pais.

Na sexta-feira, Vajiralongkorn aprovou um decreto real que concede um indulto em massa, que poderá beneficiar centenas de prisioneiros tailandeses.

“O rei está consciente de que a auspiciosa ocasião da coroação é considerada um evento especial e, num acto de graça real, considerou adequado conceder indultos para presos que lhes dão a oportunidade de ser bons cidadãos que fazem boas acções para o futuro da nação”, refere o decreto publicado na Gazeta Real.

Desconhece-se o número de preso que poderão beneficiar do indulto, que entrará em vigor a partir de sábado.

Segundo o decreto real, os beneficiados serão, entre outros, condenados em liberdade condicional, os maiores de 60 anos que têm de cumprir menos de três anos de pena ou os menores de 20 anos que tenham sido condenados pela primeira vez e tenham cumprido metade das suas sentenças.

Por outro lado, os condenados à morte verão a sua sentença comutada para prisão perpétua, contanto que não tenham beneficiado de um indulto anterior.

5 Mai 2019

Futebol, um símbolo do “soft power” chinês que pode falhar

No estudo “Turismo, Desporto, Diplomacia e ‘Soft Power’: O Caso Chinês”, Emanuel Júnior e Carlos Rodrigues, da Universidade de Aveiro, em Portugal, defendem que o investimento do Governo Central na área do desporto tem vindo a funcionar como uma arma diplomática, intensificado na era Xi Jinping. Contudo, há o risco de a estratégia não obter os resultados políticos desejados

 

[dropcap]D[/dropcap]ois investigadores da Universidade de Aveiro, em Portugal, acabam de publicar na publicação “Revista Turismo & Desenvolvimento” um artigo que olha para a forma como o Governo Central tem utilizado o desporto como uma estratégia diplomática. Em “Turismo Desportivo, Diplomacia e ‘Soft Power’: O Caso Chinês”, Emanuel Júnior e Carlos Rodrigues falam da forma como essa estratégia tem vindo a evoluir, sobretudo desde que Xi Jinping se tornou Presidente do país. Contudo, há fortes possibilidades desta estratégia não ser bem-sucedida, por duas razões.

“A China tem um enorme desafio pela frente, que é a busca por criar uma prática cultural no país. Jogar futebol não faz parte do quotidiano dos chineses. Fazer desta prática um hábito, incorporando seu jogo e o consumo do seu espectáculo, inclusive, em nosso entendimento, é um desafio inovador e que demandará tempo”, explicou Emanuel Júnior ao HM.

O investigador, licenciado em Direito e com experiência em jornalismo, alerta também para o facto de o futebol na China ser encarado, do ponto de vista estratégico, como algo planeado a médio e longo prazo. Isto porque existe entre as esferas decisórias o entendimento de que o futebol implica uma mudança cultural que não acontecerá da noite para o dia. Por esse motivo, “o desafio para as autoridades chinesas é enorme, pois é preciso que não haja precipitações, por exemplo, que possam ocasionar em decisões equivocadas, políticas e regras que ao invés de colaborarem para o desenvolvimento do futebol no país terminem por atrapalhar.”

Emanuel Júnior acredita ainda que a segunda razão para uma possível falha nesta estratégia reside “naquilo que alguns pesquisadores denominam ‘soft disempowerment’ – que ocorre quando esta tentativa ‘sai pela culatra’ e a influência e o prestígio são abalados ao invés de expandidos”.

Apesar da aposta no desporto, sobretudo no futebol, tem sido mais notória nos últimos anos, a verdade é que não só o conceito de ‘soft power’ foi introduzido na China em 1992, estando na linguagem oficial do Partido Comunista Chinês desde 2007, como houve mudanças em 2008, quando o país recebeu os Jogos Olímpicos.

“Hu Jintao mostrou-se empenhado em fazer da China uma potência do desporto mundial, determinando que acções fossem tomadas para que passassem de ‘um país de acontecimentos desportivos importantes para uma potência desportiva mundial’. Portanto, percebe-se que se trata de uma estratégia antiga, que antecede a chegada de Xi Jinping ao poder.”

Muito antes destes dirigentes chegarem à liderança do Governo Central, já o desporto tinha despertado a atenção de Mao Zedong, quando fundou a RPC, em 1949. “Se olharmos para a história da RPC percebemos que o desporto sempre serviu como instrumento político e diplomático.”

Uma arma

Emanuel Júnior defende que o actual Presidente chinês marcou a diferença pelo enorme investimento e atenção que tem dado ao futebol. “Xi Jinping é mais explícito em relação ao que ele entende necessário à China, como explorar o soft power, no sentido de que o país precisa ter uma boa narrativa sobre sua imagem e comunicar melhor a mensagem da nação ao mundo.”

Além disso, em 2009, quando Xi Jinping ainda era vice-presidente, já sinalizava para o “Sonho do Futebol Chinês”. “Dois anos depois, revelou ter ‘três sonhos do Campeonato do Mundo’: participar do Campeonato do Mundo, sediar o Campeonato do Mundo e vencer o Campeonato do Mundo”, frisou o académico, sem esquecer que Xi “tem como uma das suas metas o crescimento da indústria desportiva chinesa”. Prova disso foi o facto de, em 2014, o Conselho de Estado da China ter publicado o documento “Opiniões para a aceleração do desenvolvimento da indústria desportiva e promover o consumo do desporto”. É na esteira deste documento que surge o “Plano de desenvolvimento do futebol a médio e longo prazo (2016-2050). O programa previsto para o futebol, além de ser visto como a mola propulsora para o crescimento da indústria desportiva chinesa, explicita no seu texto a necessidade de se buscar, através do futebol, a promoção de intercâmbios e trocas de conhecimentos, o estabelecimento de relações e a aproximação da China com outras nações, ou seja, o soft power, explica o académico.

Se na China o futebol não é uma prática desportiva tradicional, o mesmo não acontece em Portugal, de onde saíram muitos treinadores para formar os futuros talentos do futebol chinês.

Emanuel Júnior acredita que esta ligação estreita deverá continuar nos próximos anos. “Portugal pode dar um enorme contributo para o desenvolvimento do futebol chinês. Aliás, desde o plano do futebol, veem-se exemplos do intercâmbio entre portugueses e chineses no âmbito do futebol.”

O académico dá o exemplo da Foyo Culture and Entertainment Co Ltd, subsidiária da Fosun, que se tornou sócia da Gestifute (do agente português Jorge Mendes). Outro exemplo apontado é a empresa chinesa WSports Seven, do empresário Qi Chen, que criou um clube, o Oriental Dragon FC, com o intuito de formar exclusivamente futebolistas chineses em Portugal. Qi Chen também é accionista maioritário dos clubes portugueses Pinhalnovense e Torreense.

Os investimentos estendem-se ao Desportivo das Aves, cuja SAD é detida em 90 por cento pela Galaxy Believers, companhia de marketing desportivo que pertence aos chineses Wei Zhao e Hongmin Wang. No fim do ano passado, 80 por cento das ações do Tondela, da I Liga portuguesa, foram adquiridas pela Hope Group do chinês Jiang Lizhang. Mais recentemente, no início do mês de Abril, o Sporting firmou um princípio de acordo com vista ao desenvolvimento do futebol jovem na província de Guiyang, na China.

A importância dos JO

O doutorando da UA pensa que a realização dos JO em Pequim representou um ponto de viragem para esta estratégia.

“Em 1979 (ano em que o país aderiu às organizações desportivas mundiais) a China percebeu a importância do desporto de alta competição internacional na promoção da imagem do país e, por isso, estabeleceu a estratégia olímpica. Então, acreditamos que, do ponto de vista do desporto como instrumento de soft power, a estratégia olímpica representaria esta intensificação. O culminar desta estratégia foi a organização dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.”

Nos JO, a delegação chinesa ganhou um total de 51 medalhas de ouro num total de 100, contra as 36 obtidas pelos atletas norte-americanos. Ainda assim, Emanuel Júnior deixa claro que o sucesso obtido pela estratégia olímpica chinesa jamais esteve próximo de ser replicado no desporto mais popular do mundo, o futebol. Esse facto fez com que “Hu Jintao tenha determinado que acções fossem tomadas para que o país se tornasse, definitivamente, uma potência do desporto mundial”.

A chegada ao poder de Xi Jinping representou uma intensificação deste plano táctico, pois o presidente “entendeu a importância do crescimento da indústria desportiva e viu o desporto como um instrumento eficaz para a promoção do país no cenário internacional e no estabelecimento de seus interesses geopolíticos”.

Neste sentido, o “plano do futebol estabelece uma ligação entre o desenvolvimento do futebol e a implementação das ‘Quatro Abrangentes’, que configuram os objectivos políticos de Xi Jinping, que buscam criar uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos, aprofundar a reforma, impulsionar o Estado de Direito e fortalecer a governança do Partido”.

3 Mai 2019

OPA/EDP: CMVM extingue procedimentos relativos às ofertas da China Three Gorges

[dropcap]A[/dropcap] Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) indeferiu os pedidos de registo das ofertas públicas de aquisição (OPA) da China Three Gorges (CTG) sobre a EDP e EDP Renováveis, extinguindo os respectivos procedimentos administrativos.

Em comunicado divulgado hoje, a supervisora do mercado de capitais informa que “o Conselho de Administração da CMVM deliberou, a 30 de Abril de 2019, indeferir os pedidos de registo daquelas ofertas públicas de aquisição, por esse efeito extinguindo os respectivos procedimentos administrativos”.

Recordando que, em 24 de Abril, a assembleia geral da EDP não aprovou a proposta de deliberação para a alteração dos respectivos estatutos e tendo a CTG demonstrado antecipadamente a sua intenção de não renunciar a essa condição, “deu-se como não verificado um requisito para o registo e posterior lançamento da oferta sobre a EDP e, por conseguinte, sobre a EDP Renováveis”.

Os accionistas da EDP chumbaram na reunião magna a alteração dos estatutos para acabar com a limitação dos direitos de voto a 25% do capital.

Antes da reunião de accionistas, a CTG tinha esclarecido que se mantinham em vigor todas as condições da OPA, incluindo a desblindagem de estatutos, pelo que a operação caiu em 24 de Abril e agora esta formalidade encerra o processo que se havia iniciado em Maio de 2018, quando a CTG, o principal accionista da EDP, anunciou ao mercado a intenção de lançar uma oferta sobre o grupo liderado por António Mexia.

2 Mai 2019

Atentados no Sri Lanka provocaram pelo menos 257 mortos – novo balanço

[dropcap]O[/dropcap]s ataques cometidos no domingo de Páscoa no Sri Lanka mataram 257 pessoas, de acordo com um novo balanço hoje anunciado pelas autoridades, que alertaram que esse número poderá aumentar.

“O saldo está agora em 257 mortos”, disse à agência de notícias francesa AFP o director-geral de serviços de saúde, Anil Jasinghe. O balanço anterior das autoridades cingalesas apontava para 253 mortos.

“Esse aumento é devido a mortes hospitalares. Também há partes corporais, então são pelo menos 257” mortos, declarou ainda Jasinghe. O Sri Lanka anunciou há alguns dias que identificou 42 cidadãos estrangeiros entre os mortos. Entre os estrangeiros mortos está um português. Não houve qualquer registo de feridos ou mortos oriundos de Macau.

Vários outros estrangeiros ainda estão desaparecidos e podem estar entre os corpos não identificados na morgue em Colombo, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado publicado na noite de segunda-feira.

Segundo o balanço, 496 feridos foram hospitalizados, dos quais 47 ainda estão ainda a ser tratados (12 nos cuidados intensivos).

2 Mai 2019

ONG denuncia uso de aplicação móvel para vigiar muçulmanos em Xinjiang

[dropcap]U[/dropcap]ma organização não-governamental (ONG) denunciou hoje que as autoridades chinesas estão a usar uma aplicação móvel para vigilância maciça ilegal e detenções arbitrárias de muçulmanos na região ocidental de Xinjiang.

No relatório “Os algoritmos da repressão da China: Engenharia reversa numa aplicação de vigilância maciça da polícia de Xinjiang”, a Human Rights Watch (HRW) apresenta novas provas sobre a vigilância de Estado em Xinjiang, onde o Governo chinês submeteu 13 milhões de muçulmanos turcófonos a crescentes medidas de repressão, no âmbito da “campanha ‘mão pesada’ contra o terrorismo violento”.

Entre Janeiro de 2018 e Fevereiro de 2019, a HRW conseguiu estudar a aplicação para telemóveis que os responsáveis chineses usam para aceder à Plataforma de Operações Conjuntas Integradas (IJOP), o programa de policiamento em Xinjiang que agrega dados sobre pessoas e assinala quem é considerado potencialmente ameaçador.

Ao examinar o ‘design’ da aplicação, disponível no período de estudo, a HRW conseguiu saber o tipo específico de comportamento e as pessoas visadas por este sistema de vigilância maciça, de acordo com o relatório da ONG de defesa dos direitos humanos, com sede em Washington.

“A nossa pesquisa mostra, pela primeira vez, que a polícia de Xinjiang está a usar informação recolhida ilegalmente sobre comportamentos totalmente legais das pessoas e que são usados, depois, contra elas”, disse Maya Wang, investigadora sobre a China para a HRW.

“O Governo chinês deve encerrar imediatamente a plataforma IJOP e apagar todos os dados reunidos de indivíduos em Xinjiang”, afirmou a HRW, apelando aos governos estrangeiros que imponham sanções a responsáveis chineses.

No documento, a ONG alertou que as autoridades de Xinjiang estão a recolher uma enorme variedade de informações da população, desde o tipo sanguíneo à altura, da “atmosfera religiosa” de cada um à filiação política.

A plataforma da polícia visa 36 tipos de pessoas para compilação de dados, incluindo quem deixou de usar smartphones, quem deixou de “interagir com os vizinhos” e quem “pede dinheiro ou materiais para mesquitas com entusiasmo”, indicou.

A HRW acrescentou que a plataforma segue toda a população em Xinjiang, vigiando os movimentos das pessoas ao seguir os seus telefones, veículos e cartões de identificação.
Ao mesmo tempo, mantém registos do consumo individual de electricidade e de combustíveis.

A ONG disse ter descoberto que o sistema e alguns dos controlos rodoviários da região trabalham em conjunto para criar uma série de barreiras invisíveis ou virtuais, ao mesmo tempo que a liberdade de movimentos individual é restringida consoante o nível de ameaça que as autoridades atribuem a cada um, determinado por factores programados no sistema.

Um antigo residente de Xinjiang disse à HRW, uma semana depois de ter sido libertado na sequência de uma detenção arbitrária: “Estava a entrar num centro comercial e um alarme cor de laranja disparou”. Apesar de ter sido libertado de um campo de detenção por estar inocente, a polícia aconselhou o residente a “ficar em casa”, acrescentou.

As autoridades programaram a plataforma de maneira a tratar muitas actividades habituais e legais como indicadores de comportamentos suspeitos, como compra de combustível, viagens consideradas excessivamente longas ao estrangeiro, ou se deixou de conseguir seguir um telemóvel.

Algumas das investigações verificam se os telemóveis foram usados para aceder a 51 aplicações móveis consideradas suspeitas, incluindo WhatsApp, Viber, Telegram e Redes Privadas Virtuais (VPN), disse a HRW.

A plataforma foi desenvolvida pela China Electronics Technology Group Corporation (CETC), empresa estatal na área de serviços militares. Por sua vez, a aplicação foi desenvolvida pela Hebei Far East Communication System Engineering Company (HBFEC), companhia que, na altura do desenvolvimento da aplicação, pertencia à CETC.

A HRW não obteve uma resposta à carta enviada à CETC e à HBFEC na qual pedia informação sobre a aplicação e o sistema IJOP.

Em Março, o Conselho de Estado chinês publicou um livro branco intitulado “A luta contra o terrorismo e o extremismo e a protecção dos direitos humanos em Xinjiang”, no qual detalhou ter detido, desde 2014, deteve 12.995 terroristas na região de Xinjiang, desmantelou 1.588 grupos “violentos e terroristas” e apreendeu 2.052 “artefactos explosivos”.

“Entre 1990 e o final de 2016, forças separatistas, terroristas e extremistas lançaram milhares de ataques terroristas no Xinjiang, matando um grande número de pessoas inocentes e centenas de policias, e causando prejuízos incalculáveis”, referiu.

O Governo chinês garante que “protege e respeita plenamente os direitos civis, incluindo a liberdade religiosa” e que as suas acções têm como objectivo “evitar que o extremismo se propague e que se incite o ódio étnico (…) através da religião”.

Desde que, em 2009, a capital de Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional, a China tem levado a cabo uma agressiva política de policiamento dos uigures.

2 Mai 2019

Marcelo termina visita à China “muito feliz” e destaca “grau máximo” nas relações políticas

Inês Escobar de Lima, enviada da agência Lusa

 

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou-se hoje “muito feliz” com a forma como decorreu a sua visita de Estado à China e destacou a subida para “o grau máximo de relacionamento político”.

Marcelo Rebelo de Sousa fez o balanço da sua visita de três dias à República Popular da China numa conferência de imprensa no Consulado-Geral de Portugal em Macau, considerando que “superou as expectativas”, quer em termos globais, quer no que respeita a esta região administrativa especial.

O chefe de Estado destacou o memorando de entendimento que estabelece um novo patamar no plano das relações políticas bilaterais: “Subiu-se para o grau máximo de relacionamento político possível, ao nível dos Estados Unidos da América, do Reino Unido, da França e da Alemanha, parceiros políticos num diálogo que ultrapassa a mera parceria estratégica”. “Pois Portugal coloca-se aí”, realçou.

No que respeita às relações económicas, disse que houve “passos muito significativos” no fórum que decorreu em Xangai com empresários portugueses e chineses, alguns dos quais celebraram acordos.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “muitos outros foram negociados” nessa ocasião e o clima nos contactos entre empresários “não podia ser melhor, não havia uma razão de insatisfação”.

“Serenamente, como é próprio do nosso relacionamento, vão sendo dados passos muito importantes, cheio de perspectivas de futuro. E por isso saio muito feliz, e comigo sai feliz o Governo e sai feliz também a delegação da Assembleia da República”, declarou, no final da sua intervenção inicial nesta conferência de imprensa.

Acompanharam o Presidente da República na sua visita de Estado à China – dividida entre Pequim, Xangai e Macau – os deputados Adão Silva, do PSD, Filipe Neto Brandão, do PS, Telmo Correia, do CDS-PP, pelo líder parlamentar do PCP, João Oliveira, e por Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista “Os Verdes”.

Bloco de Esquerda e PAN optaram por não integrar a delegação parlamentar desta visita, o que justificaram com a situação dos direitos humanos e das liberdades na China.

Pela parte do Governo, integraram a sua comitiva oficial os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias.

1 Mai 2019

Guterres discutiu com Xi Jinping direitos humanos da minoria muçulmana

[dropcap]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, discutiu com o Presidente chinês a questão dos direitos humanos em Xinjiang, onde se calcula que um milhão de muçulmanos estejam detidos indefinidamente em campos de reeducação, informou a ONU.

Pela primeira vez, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, confirmou na segunda-feira que Guterres discutiu “a situação em Xinjiang”, com o Presidente da China, Xi Jinping, acrescentando que já houve ” vários outros contactos no passado recente sobre esta mesma questão”, junto das autoridades chinesas.

Dujarric apelidou as discussões de Guterres com Xi de “muito cordiais” e “francas”, durante o fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, no final desta semana, em Pequim, que se realizou entre 25 e 27 de Abril e que contou com a presença de líderes de 37 países e regiões, incluindo o Presidente da República português.

Este anúncio vem na sequência de várias críticas de organizações não-governamentais, entre as quais da Human Rights Watch (HRW), que exortou o secretário-geral das Nações Unidas a denunciar publicamente, em Pequim, a detenção arbitrária de um milhão de muçulmanos.

As autoridades chinesas negaram durante muito tempo a existência de campos de internamento, mas, perante a publicação de imagens de satélite e de documentos oficiais na Internet que denunciavam a sua existência, referiram-se a centros educativos que ensinavam a língua chinesa, o desporto ou a dança folclórica para combater o extremismo religioso.

Numa carta aberta ao líder da ONU divulgada na semana passada, a Human Rights Watch lamentou o “silêncio” de Guterres sobre a “deterioração dos direitos humanos em Xinjiang, onde uigures e outros muçulmanos turcófonos estão detidos indefinidamente em campos de educação”.

“A posição do secretário-geral sobre este tema sempre foi a mesma em privado e público”, balizando esta questão em princípios indivisíveis, como os direitos humanos que devem ser plenamente respeitados na luta contra o terrorismo e na prevenção do extremismo violento e que cada comunidade deve sentir que a sua identidade é respeitada, explicou o porta-voz da ONU.

Segundo Dujarric, Guterres declarou às autoridades chinesas que “apoia totalmente as iniciativas” da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que tem vindo a pedir a Pequim acesso total à região de Xinjiang para avaliação da situação dos muçulmanos de origem uigur detidos em campos de reeducação.

Em Setembro de 2018, Bachelet pediu autorização a Pequim para o envio de uma equipa à região ocidental do país, mas ainda não obteve resposta, sendo que no início de Março voltou a fazer o pedido.

30 Abr 2019

Imperador Akihito abdica e deseja “paz e felicidade” para o Japão e o mundo

[dropcap]O[/dropcap] imperador Akihito anunciou hoje a sua abdicação, agradeceu ao povo japonês e desejou que a era do seu filho, que na quarta-feira lhe sucede, traga “paz e felicidade” ao Japão e ao mundo.

Akihito encerrou hoje as cerimónias de abdicação, após 30 anos de reinado no trono de Crisântemo, que será ocupado agora pelo seu filho mais velho, o príncipe herdeiro Naruhito.

Esta foi a primeira abdicação do trono de Crisântemo no Japão em mais de dois séculos. O imperador Akihito disse hoje que se sente “com sorte” por ter cumprido as suas funções “com um profundo sentimento de confiança e respeito para o povo”, nas suas últimas palavras pronunciadas durante a cerimónia de abdicação.

“Hoje concluo os meus deveres como imperador”, declarou o imperador do Japão no início de seu breve discurso durante a cerimónia, realizada no Palácio Imperial, em Tóquio, diante de 294 participantes, incluindo representantes da família real e dos três ramos do Governo japonês.

Depois de agradecer as palavras do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que o precedeu na cerimónia, também agradeceu ao povo japonês “por apoiá-lo e aceitá-lo em seu papel de símbolo do Estado”.

Akihito, de 85 anos, dirigiu-se ao público na cerimónia de abdicação, que durou pouco mais de dez minutos e foi realizada no Salão Pino, a maior sala do Palácio Imperial de Tóquio.

Antes dos discursos, os camareiros imperiais apresentaram dois dos três tesouros sagrados que Akihito guardou durante as suas três décadas no trono e que simbolizam o poder do cargo, além dos selos imperiais usados para assinar os documentos oficiais.

O acto terminou com Akihito a abandonar o salão, acompanhado pelos camareiros que carregavam os baús com os tesouros sagrados, seguido pela imperatriz Michiko e os demais membros adultos da família imperial.

De acordo com o protocolo imperial japonês, o imperador Akihito continuará no cargo até à meia-noite de hoje e a proclamação de seu filho mais velho e príncipe herdeiro Naruhito terá lugar na quarta-feira.

Akihito anunciou em Agosto de 2016 que a sua idade e problemas de saúde o impediam de cumprir plenamente os seus deveres como imperador. Após esse anúncio na televisão, aconteceram uma série de decisões políticas para a sua abdicação, possibilidade que não estava contemplada no quadro legal então em vigor, até que uma lei específica foi aprovada nesse sentido.

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, anunciou hoje formalmente a abdicação do imperador Akihito e sublinhou a era de paz que o país tem experimentado nestas três décadas.
Shinzo Abe falou em nome do povo japonês no ato de abdicação de Akihito.

“O imperador, de acordo com a lei imperial especial, abdica hoje”, disse Abe na cerimónia. Na sua mensagem, o primeiro-ministro sublinhou ainda que Akihito “sempre quis a paz da nação e a felicidade do povo japonês”.

O chefe do Governo japonês lembrou o papel desempenhado pelo imperador Akihito e pela imperatriz Michiko para consolar os japoneses pelos desastres naturais que o país sofreu nos últimos trinta anos.

O príncipe herdeiro Naruhito subirá ao trono de crisântemo na quarta-feira e, numa cerimónia separada, herdará o privilégio imperial da espada e da joia, bem como os selos imperiais como prova da sua sucessão como o 126.º imperador do Japão.

30 Abr 2019

Ausência de Bloco e PAN “é um sinal da liberdade que existe em Portugal”, diz Marcelo

Por Inês Escobar de Lima, enviada da agência Lusa

 

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da República considerou ontem que a ausência de Bloco de Esquerda e PAN na sua visita de Estado à República Popular da China “é um sinal da liberdade que existe em Portugal”.

Em resposta à comunicação social, num hotel de Xangai, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “não é a primeira vez que isso acontece” e defendeu que “assim deve ser, a escolha deve ser livre”.

Interrogado se não ficaria mais confortável se na China estivesse acompanhado por todos os partidos com representação parlamentar, respondeu: “Não, eu fico confortável com aqueles que vêm. Sabem, o povo português diz uma coisa: dança quem está na roda”.

“Portanto, quem quer estar na roda, está na roda. Quem está na roda, dança. Quem não quer estar na roda, não dança daquela vez, dança da próxima”, completou.

Bloco de Esquerda e PAN não quiseram integrar a delegação parlamentar que acompanha esta visita de Estado, opção que justificaram com a situação dos direitos humanos e das liberdades na China.

Num período de declarações aos jornalistas, acabado de chegar a Xangai, vindo de Pequim, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado sobre a ausência desses dois partidos, se a considera um embaraço ou um sinal.

“É um sinal da liberdade que existe em Portugal. Já não é a primeira vez que isso acontece”, retorquiu, acrescentando que houve outras visitas que esses partidos não integraram, “às vezes até por razões meramente de impossibilidade prática”

“Mas, tem sucedido que não tenham vindo por considerarem que não faz sentido integrarem a delegação, por uma escolha livre. E assim deve ser, a escolha deve ser livre. Não se impõe a nenhum partido a integração da delegação nestas visitas de Estado”, defendeu.

O Bloco de Esquerda não quis participar na visita de Estado do Presidente da República à China, devido às “restrições à liberdade e violação dos direitos humanos” neste país, justificou fonte oficial do partido, em resposta à agência Lusa.

O PAN comunicou que o seu único deputado, André Silva, também não iria integrar a comitiva, “em coerência com as posições críticas” que tem assumido “em relação ao regime autoritário chinês, de partido único, onde são constantes as restrições à liberdade e a violação dos direitos humanos, num país onde não existe liberdade de imprensa”.

Numa nota enviada à Lusa, o PAN invocou também a “invasão e a violenta ocupação do Tibete pela China, marcada pela repressão, prisão, desaparecimentos, tortura e assassinatos infligidos ao povo tibetano”.

Acompanham o Presidente da República na sua visita de Estado à China os deputados Adão Silva, do PSD, Filipe Neto Brandão, do PS, Telmo Correia, do CDS-PP, o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, e Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista “Os Verdes”.

Pela parte do Governo, integram a sua comitiva oficial os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias.

Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Pequim na sexta-feira, para participar na segunda edição do fórum “Faixa e Rota”, iniciativa chinesa de investimento em infra-estruturas, e ontem iniciou uma visita de Estado à China, que termina esta quarta-feira, em Macau.

30 Abr 2019

Marcelo Rebelo de Sousa aplaude “subida de nível” nas relações bilaterais

Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se com Xi Jinping no Grande Palácio do Povo, em Pequim. O Presidente português elogiou a aproximação cada vez mais profícua entre as duas nações com um histórico de amizade de vários séculos

 

[dropcap]O[/dropcap] Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, saudou ontem perante o seu homólogo chinês, Xi Jinping, a “subida de nível” nas relações políticas bilaterais, considerando que existe igualmente “uma aproximação de pontos de vista no plano multilateral”.

“Estamos a conseguir converter uma relação de séculos de amizade, de conhecimento e de colaboração entre a China e Portugal numa realidade viva virada para o futuro”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, no início de um encontro com o Presidente chinês, no Grande Palácio do Povo, em Pequim, alargado às respectivas delegações.

O chefe de Estado português, que começou ontem uma visita de Estado à República Popular da China, salientou a “subida de nível de cooperação”, com a passagem da “parceria estratégica” estabelecida em 2005 para um “diálogo estratégico” entre os dois países.

Esta “subida de nível” no plano das relações políticas bilaterais foi formalizada logo após o encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e Xi Jinping, através de “um memorando de entendimento para o estabelecimento de um diálogo estratégico”, assinado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, e chinês, Wang Yi.

Com este instrumento, Portugal e a China acordam em proceder a consultas políticas regulares sobre temas bilaterais e de política internacional e em aumentar os contactos entre as autoridades governativas, com visitas mútuas, uma vez por ano, ora na China, ora em Portugal, ao nível dos ministros Negócios Estrangeiros.

“Ao mesmo tempo, afirmamos pontos de vista, preocupados com a situação internacional, com uma perspectiva multilateral defensora dos direitos internacionais e universais, defensora das organizações internacionais, aberta à construção da paz, da segurança e do diálogo. Preocupada com a liberdade de comércio”, acrescentou o Presidente português.

Olhar em frente

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “assim, soma-se à preocupação e ao aprofundamento bilateral uma troca de pontos de vista e uma aproximação de pontos de vista no plano multilateral e universal”.

No plano bilateral, referiu que existe “também um aumento e aprofundamento quanto à importância das relações económicas, financeiras, culturais e sociais entre os dois países”.

O Presidente português falava perante a comunicação social, que assistiu às suas declarações iniciais neste encontro, antecedido de uma cerimónia de receção com honras militares, na Praça Tiananmen, em frente ao Grande Palácio do Povo, em que se ouviram os hinos dos dois países.

“Ao celebrarmos 40 anos de relações diplomáticas e 20 anos da transferência da administração em Macau, estamos a olhar para o futuro, nas relações bilaterais e no plano multilateral”, resumiu, sentado em frente a Xi Jinping.

A seguir a este encontro, o Presidente chinês ofereceu um banquete oficial em honra do chefe de Estado português, que à noite viajou de Pequim para Xangai.

Marcelo Rebelo de Sousa chegou à China na sexta-feira, para participar na segunda edição do fórum “Faixa e Rota”, iniciativa chinesa de investimento em infraestruturas da Ásia à Europa, em que interveio, no sábado.

Inês Escobar de Lima
LUSA

30 Abr 2019

Relações luso-chinesas sobem de patamar político com contactos anuais

[dropcap]P[/dropcap]ortugal e a China formalizam hoje, através de um memorando de entendimento, um novo patamar nas relações bilaterais, que passam da parceria estabelecida em 2005 para um “diálogo estratégico”, com contactos anuais.

O “memorando de entendimento sobre diálogo estratégico entre Portugal e a República Popular da China” vai ser formalizado hoje no Grande Palácio do Povo, em Pequim, onde o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, será recebido pelo seu homólogo chinês, Xi Jinping, confirmou à Lusa fonte diplomática.

Com este memorando, os dois países acordam em proceder a consultas políticas regulares sobre temas bilaterais e de política internacional e em aumentar os contactos entre as autoridades governativas, com visitas mútuas, uma vez ao ano, ora na China, ora em Portugal, ao nível dos ministros Negócios Estrangeiros.

O relacionamento de Portugal com a China passa da actual “parceria estratégica” assinada em 2005 para o patamar da França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos da América, referiu a mesma fonte diplomática.

À chegada à China, na sexta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa fez alusão a este novo patamar político nas relações luso-chinesas, referindo que estava em curso “um salto qualitativo em termos bilaterais” e que Portugal passaria para o mesmo “nível de potências mundiais ou de países de grande afirmação europeia”.

“É o salto qualitativo que é dado durante esta visita, passando de um memorando, que já é do ponto de vista de parceria estratégica muito importante, agora no plano bilateral para mais do que isso”, afirmou.

Em declarações feitas na Grande Muralha, ao norte de Pequim, o chefe de Estado acrescentou que Portugal passava assim a ter com a China “um relacionamento político ao nível de países como a França, como o Reino Unido, como os Estados Unidos da América”.

Já quando recebeu Xi Jinping em Lisboa, no início de Dezembro do ano passado, o Presidente português tinha falado na vontade de “continuar a construir” a parceria entre Portugal e a China “com diálogo político regular e contínuo”.

Na actual legislatura, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, teve uma curta reunião com o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, durante uma escala na Base das Lajes, nos Açores, em Setembro de 2016, e no mês seguinte o primeiro-ministro português, António Costa, visitou a China.

Em Julho de 2017, o então presidente do comité permanente da Assembleia Popular Nacional da República Popular da China, Zhang Dejiang, esteve em Lisboa, onde os dois parlamentos assinaram um memorando de entendimento.

Em 2018, houve visitas recíprocas dos ministros dos Negócios Estrangeiros, em Maio e Outubro, do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, à China, em Novembro, e do Presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal, em Dezembro.

Agora, Marcelo Rebelo de Sousa retribui essa deslocação, iniciando hoje uma visita de Estado de três dias à República Popular da China, dividida entre Pequim, Xangai e a RAEM, após participar na segunda fórum “Rota e Faixa”, na capital chinesa.

29 Abr 2019

Marcelo ouve lama budista em Pequim explicar importância do patriotismo

Por João Pimenta, da agência Lusa 

 

[dropcap]O[/dropcap] Presidente português ouviu hoje o responsável máximo pelo maior templo de budismo tibetano em Pequim a defender a importância de conciliar a religião com o patriotismo, pondo os interesses do Estado acima de tudo.

“Em primeiro lugar, temos de ser patriotas e defender os interesses do Estado e do país. Só assim poderemos ser bons budistas”, explicou Hu Xuefeng a Marcelo Rebelo de Sousa.

Hu é um dos lamas escolhidos pelo Partido Comunista Chinês (PCC) para encontrar a 15.ª reencarnação do Dalai Lama, o líder político e espiritual dos tibetanos.

O actual, que o regime chinês acusa de ter uma “postura separatista”, vive exilado na vizinha Índia, na sequência de uma frustrada rebelião contra a administração chinesa, em 1959.

Questionado sobre como conciliar o domínio exercido pelo PCC com a vida religiosa, Marcelo Rebelo de Sousa remeteu a questão para o lama, que realçou que o budismo “não pode ficar preso a um passado de há 2.500 anos” e defendeu os esforços de Pequim “para achinesar as religiões”.

“O nosso objectivo é o mesmo: lutar pelo futuro da China, o futuro da nossa pátria”, explicou Hu Xuefeng, durante a visita de uma hora do Presidente da República ao Templo dos Lamas, complexo que combina os estilos chinês e tibetano.

Na China, os assuntos religiosos do budismo, taoismo, islamismo ou cristianismo estão atribuídos a congregações sob tutela do Partido Comunista, partido único no poder.

O Governo chinês apela às igrejas católicas do país para aderirem ao “socialismo com características chinesas” e adoptarem a “direcção correta de desenvolvimento”.

“Temos que modernizar e estudar a ciência, para vivermos em comunidade de uma forma moderna. Só adaptando-nos à nova era da modernidade é que podemos trazer o budismo para o futuro”, apontou Hu.

Com cerca de três milhões de habitantes, o Tibete é uma das regiões chinesas mais vulneráveis ao separatismo, com os locais a argumentarem que o território foi durante muito tempo independente até à sua ocupação pelas tropas chinesas em 1951.

Pequim está a tentar reforçar o seu controlo sobre o processo de reencarnação dos lamas tibetanos e, por consequência, do próprio Dalai Lama, legitimando assim o domínio comunista na região dos Himalaias.

Hu, que nasceu na região da Mongólia Interior e não é de etnia tibetana, é tido como um dos lamas mais influentes. O responsável pelo Templo dos Lamas foi membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o principal órgão consultivo do Governo chinês, entre 1995 e 2000.

Lembrando que a liberdade religiosa é para os portugueses uma “evidência” que está na Constituição, Marcelo Rebelo de Sousa considerou haver no país asiático “uma tentativa de compatibilizar o espírito patriótico com a liberdade religiosa e a afirmação da unidade da China com o exercício da liberdade religiosa”.

O Presidente da República aproveitou a visita ao emblemático templo de Pequim para acender um incenso e formular o desejo de um Portugal “feliz e próspero”.

Marcelo Rebelo de Sousa está a realizar uma visita oficial à China, que inclui encontros com o homólogo chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro, Li Keqiang, e passagens por Pequim, Xangai e Macau.

Em Março passado, o parlamento português aprovou um voto em que manifesta a sua preocupação pelo respeito das liberdades no Tibete e pediu empenho à China na protecção dos direitos humanos.

O voto, apresentado pela bancada do Partido Socialista, manifestou “preocupação pela subsistência de situações em que não são asseguradas as liberdades fundamentais no território do Tibete”.

E apelou “às autoridades da República Popular da China que assegurem, em diálogo com a sociedade civil e na linha dos padrões internacionais de protecção dos direitos humanos de que é signatária, no quadro da Organização das Nações Unidas, a sua plena efectivação”.

29 Abr 2019

Imperador japonês Akihito abdica do trono para o filho mais velho Naruhito

[dropcap]A[/dropcap]o fim de 30 anos, o reinado do imperador japonês Akihito termina esta semana, quando abdicar em favor do filho mais velho, Naruhito, que se tornará o soberano da mais antiga monarquia reinante do mundo.

No dia 1 de Maio, às 00:00 locais, o Japão entra no ano 1 da nova era imperial “Reiwa” (“Bela harmonia”), após três décadas sob o império de “Heisei” (Conclusão da paz”).

Pela primeira vez em dois séculos, um imperador abdica do trono em vida, em virtude de uma lei de excepção escrita especificamente para Akihito, que em 2016 tinha expressado o seu desejo de se poder afastar de funções, por “não poder exercer de corpo e alma” as tarefas de imperador, com problemas de saúde.

Com 85 anos, Akihito deixa o trono ao seu filho mais velho, o príncipe herdeiro Naruhito, de 59 anos, historiador de formação e propenso a ignorar a tradição imperial rígida e os protocolos severos do Japão.

Naruhito promete ajudar o Japão a avançar para a modernização da mais antiga monarquia reinante do mundo, tornando-se o imperador número 126 a subir ao Trono do Crisântemo.

A biografia de Naruhito não é a mais ortodoxa para o padrão dos príncipes herdeiros do Japão, tendo sido criado pela mãe, Michiko, e não pelo pessoal do Palácio Imperial, e tendo estudado no estrangeiro, em vez de ficar pelos estabelecimentos de ensino japoneses, como era tradição.

Tal como o pai, Naruhito casou com uma plebeia, a princesa Masako, a quem tem protegido de críticas e ataques públicos, sobretudo na fase em que esta atravessou uma fase de doença prolongada de foro psicológico.

A figura do imperador do Japão foi forjada ao longo dos séculos, a partir da origem divina que simbolicamente se lhe associa, mas a história recente tem reafirmado a sua personagem como um símbolo de unidade do Estado, embora com funções políticas quase nulas.

Nem sequer naquilo que está associado ao regime imperial que protagoniza: quando o governo do Japão recentemente escolheu o novo nome para a época que terá início em 1 de Maio, “Reiwa” (“bela harmonia”), o imperador não foi tido nem achado.

Após a derrota do Japão na II Guerra Mundial, o novo papel do imperador ficou muito limitado, praticamente com valor simbólico. É o imperador que nomeia o primeiro-ministro, mas estritamente de acordo com a decisão do Parlamento.

“Segundo a Constituição, o imperador japonês é um símbolo, mas penso que este imperador já transformou o símbolo num ser humano”, defende Makoto Inoue, jornalista que há 15 anos cobre a agenda imperial para o jornal Nikkei.

O imperador que agora abdica, Akihito, teve uma educação bem mais tradicional que a do filho, conduzida por tutores imperiais, mas passou por experiências traumáticas, como quando teve de fugir da II Guerra Mundial, em criança, através das montanhas de Nikko.

Desde que foi nomeado imperador, após a morte do pai, em 1989, Akihito recusou sempre ser tratado como um “ser divino” e procurou humanizar o cargo que ocupou, lutando sempre pela imagem do Japão como um país pacífico, tendo mostrado remorso pelos ataques do exército imperial japonês, durante a II Guerra Mundial.

Tal como o filho que agora o sucede no cargo, Akihito também casou com uma plebeia, a imperatriz Michiko, que conheceu a praticar ténis, um dos seus desportos favoritos.

Ao filho, Naruhito, incutiu o gosto pelas viagens, convenceu-o a estudar em Oxford, em Inglaterra, e sempre acarinhou o perfil mais heterodoxo do herdeiro que agora assume o lugar de imperador.

Os analistas dizem que o novo imperador manterá a proximidade com as pessoas que o pai já tinha trazido para o trono e espera-se que ele preserve o espírito pacifista e de defesa da Constituição japonesa.

Quem lida com Naruhito de perto descreve-o como “sincero e atencioso” com quem o rodeia e muito interessado nas causas sociais e ambientais.

Mas os japoneses estão já preocupados com a sucessão da família imperial, já que Naruhito e Masako têm apenas uma filha, Aiko, de 17 anos, que pela sua condição feminina não poderá aceder ao trono, deixando o lugar para o próximo na linha de sucessão, Akishino, irmão mais novo de Naruhito, e o seu filho, Hisaito, de 12 anos, único neto de Akihito.

29 Abr 2019

Li Keqiang defende mais cooperação com Portugal “em todos os sectores”

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, considerou hoje que o relacionamento luso-chinês “tem avançado sem sobressaltos” e afirmou que a China está disposta a reforçar a cooperação bilateral com Portugal “em todos os sectores”.

Li Keqiang falava no início de um encontro com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, na residência oficial Diaoyutai, em Pequim, que durou cerca de meia hora.

“A China e Portugal são importantes parceiros de cooperação e temos salvaguardado o multilateralismo e o comércio livre. O relacionamento bilateral tem avançado sem sobressaltos e a parte chinesa está disposta a reforçar a nossa cooperação em todos os sectores”, afirmou.

A República Popular da China quer “estreitar ainda mais” o relacionamento luso-chinês, também “no quadro da cooperação China/União Europeia e entre a China e os países de língua portuguesa”, referiu.

“Acredito que a sua visita vai injectar um novo ímpeto à relação bilateral”, acrescentou o primeiro-ministro chinês, numa breve declaração inicial, com tradução simultânea, que a comunicação social pôde registar. Marcelo Rebelo de Sousa começou hoje uma visita de Estado de três dias à República Popular da China.

29 Abr 2019