Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasExposição | Macau e a Lusofonia Afro-Asiática em Postais Fotográficos É uma mostra de 260 postais fotográficos , na grande maioria datados de 1900 a 1930, período aúreo da circulação dos cartões ilustrados , que os impuseram como o mais marcante ícone da era da massificação das imagens ou da era do clichê. Documentando aspectos vários de Angola, Cabo Verde, Ex-Estado Português da Índia, Moçambique, S. Tomé e Príncipe,Timor e Macau, a sequência expositiva permite, entre outras, uma leitura de como a revolução tecnológica da 1ª Era Industrial se implantou na lusofonia afro-asiática. Luís Sá Cunha5> [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] 1a Era Industrial tem origem na invenção da máquina a vapor pelo engenheiro escocês James Watt, que a patenteou em 1769. A compreensão e aplicação dos processos da termodinâmica da força do vapor de água resultaram rapidamente na multiplicação da força do trabalho humano, operando a passagem da civilização agrária à civilização industrial, com uso das máquinas a vapor em produções massivas das fábricas de tecidos, ferramentas, papéis e… de outras máquinas mais poderosas. Se as repercussões no mundo económico foram imediatas, outras fundas aspirações iriam também rapidamente ter respostas: as ânsias humanas de comunicação, para vencer o espaço e o tempo. O mesmo Watt inventa logo de seguida processo de fazer cópias de documentos, comercializado com êxito em 1779. O processo litográfico era inventado em 1797 pelo actor Aloy Senefelder, alemão nascido em Praga, que aplicou uma tinta resistente ao ácido sobre uma placa calcária de fino grão, a que chamou planografia . Paralelamente, evoluíam avanços na Física e na Química, na óptica e nas lentes, tentando reproduzir imagens reais fixadas numa base. A técnica da fotografia surgiu em França em 1833, através de uma placa de cobre coberta com nitrato de prata, o daguerreótipo, do nome do sei inventor, Daguerre, logo seguida pela colotipia do científico inglês Henry Fox Talbot precursor das cópias sobre papel. Correm ao lado as técnicas de imprimissão e composição de fontes ou matrizes, com a linotipia e de seguida a monotipia, para textos, e com a litogravura e a fotogravura, para impressão de imagens. Surgem as revistas com ilustrações, sobretrudo a partir da última década do século. As técnicas fotográficas evoluem em rapidez e fidelidade à reprodução do real: dos pesados caixotes que requeriam 15 minutos de pose, passa-se à câmara portátil posta no mercado em 1888 pela Kodac com o genial slogan de promoção – “clique, que nós fazemos o resto”. As aplicações da máquina a vapor geram os grandes transatlânticos , as locomotivas e vias férreas transcontinentais, os cabos submarinos intercontinentais, e assim a agilização dos serviços de correios. O cartão postal Neste enquadramento exigente de novas formas de comunicação entende-se a aparição do cartão postal na Áustria em 1865, mais tarde promovido nas grandes mostras das novidades mundiais que foram as Feiras e Exposições Universais de Paris. O êxito do cartão postal compreende-se por ser meio de comunicação rápido, fácil, de baixo custo, substituindo as longas cartas fechadas, mais morosas e caras, da epistolografia romântica. O cabo-submarino e os cartões postais inauguram as mensagens “telegráficas”, no sentido de limitadas a curtas palavras, que os tempos exigiam. Na década de 90 começam a surgir os postais fotográficos ou ilustrados, que conjugam o discurso da saudade (reverso) com a visão do exótico (anverso): as famílias podem agora ver onde está o seu parente querido, as formas e cores das longínquas paragens, e sentem a sensação de uma proximidade que atenua a separação. O postal faz circular o discurso dos afectos e da nova visão do mundo , expostos ao mundo, porque viajam à vista de toda a gente. O postal é agora um documento bifronte, tem duas faces e dois discursos, é o primeiro produto post-industrial em que o conteúdo artístico se conjuga com um meio de informação ou em que o veículo da informação se vai acolher crescentemente ao elemento artístico . Os postais passam a ser o primeiro grande álbum de massas da ilustração do mundo, alargam a globalização tornando-a familiar, divulgando cidades, portos, monumentos, ícones mundiais, etno-grafias, povos e trajes, tipos humanos nunca vistos, cenários e publicidade. Na apreciação do filósofo alemão Walter Benjamin ele significa a passagem do regime da ocorrência única ao regime da ocorrência de massa, conjugando uma mensagem privada com outra reprodutível e assim massiva. É a primeira grande manifestação das indústrias culturais e indício da massificação social a deflagrar em crescendo. Mas o cartão postal fotográfico não se limita a duas faces inteiras, é geometria quadripartida, porque não há apenas frente e verso, mas neste esquerda e direita, remetentes e destinatários, e mais ainda as transgressões do reverso sobre as imagens, para as legendar, comentar, sublinhar etc., e há o texto manuscrito e o texto tipográfico: “O que eu prefiro no postal ilustrado é que não sabemos o que é o verso e o reverso, aqui ou ali, perto ou longe (…) nem o que é mais importante, imagem ou texto, e no texto a mensagem, a legenda ou o endereço”. Eis um belo resumo formal do postal na visão de Jacques Derrida . De facto, tudo num cartão postal é significante, mesmo apenas um endereço. Na vária opinião de filósofos, o postal fotográfico é “um dos mais exaustivos quanto fragmentários inventários visuais” da figuração do mundo, e “inventor da prosa do mundo por uma humanidade sem nome”. As suas imagens proliferando, viajando, prestáveis a serem coleccionadas, constituem matérias do arquivo visual de uma época, expressam um tempo como discurso e como memória, “como história e reinvenção da história”, sendo o mais relevante ícone da “febre de imagens” da “Era do clichê” (Deleuze ), ou da “violência das imagens” ( Jean Luc Nancy) , dando também matéria à “febre de arquivo” (Jacques Derrida) dos nossos dias. Invenção do turismo — uma estratégia de sedução Expostos ao olhar do mundo, “imagens distribuídas ao domícílio” na expressão de Paul Valéry, os postais vão ser o instrumento das indústrias culturais na deflagração do fenómeno do turismo, distribuindo impressões belas do mundo pelo mundo. Operando a maquilhagem do real num caixilho recortado do espaço, seleccionando o mais belo no mais favorável enquadramento, eliminando o que perturbe as sensibilidades dominantes, os cartões fotográficos impuseram-se como máscaras da sedução (Derrida) e constituindo uma estereotipia da sedução (Pierre Klossovski) incitantes do turismo. A exibição de um postal fotográfico passou a ser mostra pública de prestígio social da nova burguesia crescente, prova de frequência dos mais famosos e admiráveis sítios mundiais. A sofreguidão das imagens vem satisfazer a sofreguidão do exótico, a eliminação de distâncias e de fronteiras antes só acessíveis a poucos. Os centros urbanos, sobretudo os litorâneos, lugares de escala dos grandes transatlânticos, pressentem os novos tempos e aprestam-se a maquilhar-se, a colorir-se, ajardinar-se, a seguir a nova estratégia da sedução, para imprimirem o seu nome nos mapas das grandes rotas do mundo. A fotografia/ cartão fotográfico – fonte da História No final dos anos XX do século passado deu-se uma revolução nos critérios da análise histórica que deu origem a uma nova historiografia, por alguns chamada nova história, por superação da fundamentação exclusiva em documentos escritos e nas áreas política, diplomática, militar e económica, e com consideração de uma concepção holística da História. A história total passou a ter em conta os factos sociais no seu conjunto e inter-relação, como os sistemas culturais dominantes, a história das mentalidades, as sensibilidades sociais, as representações colectivas, a linguagem do traje e das modas etc.. Assim, a discursividade informativa da fotografia e do postal fotográfico passou a ser chamada a lugar importante de reconstituição da memória social. Este nova concepção aconteceu em França, com início das novas propostas defendidas pela École des Annales e expostas na revista “Annales d’Histoire Économique et Sociale” (1929), onde sobressaíam dois nomes de renome mundial, Lucien Fèvre e Marc Bloch. Esta escola prolongou-se por três gerações de grandes historiadores, onde podem distinguir-se Fernand Braudel, Pierre Chaunu, George Duby, Jacques Le Goff, Philipe Ariès, Pierre Nora etc., numa continuidade que se vai arrimando à antroplogia estruturalista de Lévi-Strauss e à epistemologia de Michel Foucault. Jacques Le Goff fez um dos enunciados básicos da metodologia avaliativa dos registos, com a distinção entre documento (1) e monumento (2): documento — marca de uma materialidade concreta do passado, como pessoas, lugares, equipamentos urbanos e rurais, estruturas urbanas etc. , (o que é uma escolha do historiador); monumento — como símbolo de uma época, herança do passado, o que ela estabelece como (única) imagem a ser transmitida ao futuro. Mas é Le Goff quem logo desconstrói o que disse ser uma ilusória dicotomia analítica, porque o material informativo/documental resulta da selecção, sensibilidade, critério subjectivo de quem o elabora e selecciona, e assim todo o documento é monumento, e como tal e no limite, todo o documento é mentiroso. Uma sócio-semiótica do processo histórico É dentro e a par deste movimento analítico que se gera a necessidade de mais profunda leitura dos signos, para uma interpretação sócio-semiótica da documentação histórica, onde expressões verbais, simbólicas, plásticas, de gestos, atitudes, olhares, comportamentos, trajes, linguagens, são vistos na intertextualidade dos vários códigos de compreensão do ser em trânsito no mundo. As categorias universais do signo , propostas pelo considerado grande iniciador da semiótica, Charles Sanders Peirce( 1839/1914) , primeiridade, secundidade, terceiridade, imediatismo consciente do fenómeno, entendimento do fenómeno pela consciência e interpretação e categorização dos fenómenos, constituiu quadro triádico também enquadrante da leitura dos signos visuais para posterior socio-semiótica dos fenómenos histórico-sociais. A fotografia começou a ser analizada em si própria como encenação de intertextualidade de todos os seus adereços componentes, não como simples analogon de uma realidade na sua fisicalidade concreta, mas na organização e interpretação dos seus conteúdos internos ( Umberto Eco, Ernest Gombrich). Não como um pedaço recortado e isolado do fluxo do tempo, mas como um continuum que projecta signos de interpretação para o futuro e tem no futuro uma outra e mais completa interpretação. De outra perspectiva, a fotografia por si só é histórica e, no dizer de Roland Barthes, não deve ser vista como ilustração do texto escrito, como este não deve ser o seu comentário (“la photo n’ illustre le texte, ceci ne commente la photo”) “A imagem (diz Barthes) transforma-se numa escrita, a partir do momento em que é significativa (…) uma fotografia será, para nós, considerada fala exctamente como um artigo de jornal (…) fechar os olhos é fazer a imagem falar no silêncio, a fotografia é subversiva quando pensativa”. Em figuras de gente, deve-se olhar para o traje e os adereços da vestuária, e, mais do que para o olhar, para os olhos, como recomenda Barthes. A leitura da fotografia do jovem Franz Kafka por Walter Benjamin é a mais icónica ilustração disto. Espelho e reinvenção dos impérios europeus Os discursos visuais publicitados pela circulação dos postais fotográficos podem ser vistos como espelho e reinvenção da história da expansão dos impérios europeus, sobretudo no continente africano. É que os postais não se limitavam a satisfazer o gosto pelo exótico da pupila superficial das massas citadinas europeias. Divulgando a vida dos interiores africanos, os seus usos e costumes, sistemas sociais, tecnologias ancestrais, construindo uma imagem do Outro civilizacionalmente atrasado e inferior, as imagens dos postais foram instrumento (nolens volens) da fundamentação moral às operações de uma Europa tecnicamente evoluída, belicamente poderosa, sobre núcleos tribais “primitivos”. Eis o discurso da fotografia monumento, selectiva do que uma geração intenta passar ao futuro. Limitada no seu fixismo bidimensional, a fotografia que exibe o orgulho das grandes inovações da Era Industrial — transtlânticos, portos, caminhos de ferro, estações de cabo submarino e de meteorologia, maquinarias etc. — deixa fora do caixilho ou empenumbra aquilo que se mobilizou de energia braçal para os construir, como o que em plantações de sisal, café, amendoim etc., se produzia à custa de exploração do trabalho ou da semi-escravatura. Álbum da cultura dominante, o postal também provoca, questiona, incita o olhar a aprofundar-se em dimensões meta-icónicas. Ao lado do discurso hegemónico europeu, regista também outros de incentivo à preservação das hierarquias tradicionais útil à administração europeia, e à assimilação e à integração de classes locais, que se europeizam para alcançar superior estatuto social. Tudo é cenário: na Europa a África é cenarizada, mas também aproveita os adereços desse teatro para revestir a imagem do Outro, fotografando-se com o guarda – roupa do homem da city, de cartola ou canotier, ou com chapéus emplumados à la mode de Paris. E isto, da gradação dos tons da pele ao guarda-roupa, só a fotografia pode falar à História.
Hoje Macau VozesCEM da Areia Preta: Reabilitar e Regenerar, os outros R´s da sustentabilidade João Palla [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]artindo de uma nota de imprensa dando conta que o governo pretende demolir as instalações da CEM na Areia Preta para construção de habitação e espaços de cultura, cabe-nos uma outra pequena nota de imprensa. Em 1906 instalou-se a Melco, Macao Electric Lighting Company Ltd., na Estrada da Bela Vista, encostada às colinas da Montanha Russa e D. Maria II, uma zona íngreme dando para o rio. Circundada pelas actuais Rua dos Pescadores e Avenida Venceslau de Morais foi aqui que, durante muitos anos, se gerou a electricidade necessária para abastecer a cidade. A CEM, que veio substituir a Melco em 1972, reestruturou-se profundamente. Deslocou a principal central eléctrica para Coloane e construiu várias infra-estruturas necessárias para a modernização do abastecimento que, nos anos 80, ainda representava a electricidade mais dispendiosa do mundo. A CEM foi, por isso, e naturalmente a par do governo, um dos importantes promotores de encomenda de arquitectura ao longo das últimas décadas; de edifícios para centrais eléctricas, escritórios, subestações ou postos de transformação. Arquitectos de Macau desenvolveram interessantes exercícios plásticos que constituem hoje indiscutíveis valores da produção arquitectónica contemporânea. A CEM irá devolver o terreno da Central Térmica de Macau ao Governo onde este pretende construir habitação pública com cerca de mil fracções habitacionais. Em Macau, um dos últimos exemplos daquilo a que poderíamos chamar património industrial situa-se exactamente neste local, sendo os outros as fábricas de panchões. É preciso encontrar soluções que não sejam a da elementar demolição; olhá-las como oportunidade e desafio e não como mais um lote para construir blocos de apartamentos. A reabilitação é uma medida não só possível como a apropriada para este tipo de locais. Não temos uma Central Tejo convertida em Museu de Electricidade e em espaço de exposições mas, mais modestamente, temos uma História da electricidade que valeria a pena saber contar às novas gerações de modo a preservar a memória histórica. Porque mostrar o passado não é vergonha, apagá-lo é que chega a ser criminoso. E enquanto a reabilitação trata da adaptação e da reutilização de edifícios para novos usos, a regeneração urbana é um conceito relativamente recente que se refere a intervenções urbanas que visam dar qualidade = requalificação, e vida =revitalização a zonas ou quarteirões degradados ou obsoletos transformados em equipamentos sociais, de lazer, de criatividade e alguma também habitação devolvendo uma utilização colectiva com espaços verdes A regeneração urbana de espaços industriais constitui motivo de reflexão sobre outras disciplinas tais como o turismo industrial, a museologia, a arqueologia industrial e o próprio urbanismo. Aos decisores incautos de cultura arquitectónica ficam alguns exemplos de reabilitação de espaços industriais, como a fábrica de Pompeia em São Paulo, da autoria da Arquitecta Lina Bo Bardi, e a famosa Docklands em Londres. Quanto à regeneração urbana de espaços industriais, podem-se testemunhar inúmeros movimentos, tais como Industrial Heritage Association, The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH), e intervenções urbanas em Singapura ou várias cidades chinesas onde o melhor exemplo é o “798 Art District” em Pequim. O desafio deste lote obsoleto é uma abordagem que sintetize o equilíbrio urbano entre o desenvolvimento necessário e uma revitalização com algum grau de preservação. Não basta dizer-se que temos uma cidade de património quando não se olha para além do que já foi classificado pela Unesco, em 2005, ou pelo Decreto-Lei n.o 83/92/M, de 31 de Dezembro, há quase vinte cinco anos. A ideia de património arquitectónico deve ser vista nas acções presentes como sedimentos de acumulação de valor. Em Macau temos exemplos de diferentes estilos e correntes arquitectónicas que só existem porque houve a consciência da necessidade de as preservar. Também porque não houve a ira demolidora dos dias de hoje. E, se por magia, certos pós de bom senso mostrassem vontade de descender à Terra, indicar-lhes-íamos a escadaria que toca no céu e que traz ao interior quente do edifício da CEM – da autoria do Arquitecto Adalberto Tenreiro, construído em 1993. Este pequeno edifício de escritórios com dois pisos representa um dos melhores exemplos da arquitectura desconstrutivista em Macau. Um desenho complexo de desmontagem das peças arquitectónicas onde a estrutura dança sobre volumes desfasados. Um exercício arquitectónico irrepreensível e de valor indubitável. Nesse sentido, havendo um novo bairro de equipamentos para este local, defendemos a reutilização deste edifício cuja área reduzida em relação à área do lote, a planta livre e o seu bom estado de conservação propiciam a facilidade técnica de uma adaptação a novas funções. Entendemos que um concurso de ideias aberto será a forma mais límpida, colocando em pé de igualdade ateliers já reconhecidos com a crescente classe de arquitectos jovens de Macau. Elabore-se um programa que contemple as vertentes atrás descritas e lance-se o desafio aos que pouco ou nada têm conseguido acrescentar recentemente à cidade por força dos responsáveis governamentais e igualmente da insistente moda em importar projectos que são desenhados no exterior, unicamente assinados por arquitectos locais.
Hoje Macau SociedadeTabaco | Quase três mil multas este ano [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uase três mil pessoas foram este ano multadas em Macau por violarem a Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo, revelaram ontem os Serviços de Saúde, indicando também que foram efectuadas mais de 136 mil inspecções a estabelecimentos comerciais. De acordo com os dados oficiais, até 31 de Maio foram registadas 2.940 acusações, quase todas relativas a pessoas que fumavam em locais proibidos, e em cinco casos devido à venda de produtos de tabaco que não satisfaziam as normas da rotulagem. A maioria dos infractores eram homens (92%) e residentes de Macau (60,1%), sendo que 35,4% eram turistas e apenas 4,5% trabalhadores não residentes (sujeitos a visto de trabalho). Em 111 casos foi necessário o apoio das forças de segurança, indicam os Serviços de Saúde. Desde o início do ano, 82,1% dos autuados pagaram a multa. No que toca aos locais onde ocorre o maior número de infracções, os cibercafés continuam a liderar (16,9% dos casos), seguidos dos parques e jardins (12,8%), e das lojas e centros comerciais (9,6%). Os casinos foram submetidos a 200 inspecções este ano, sendo multadas 241 pessoas que fumavam ilegalmente. A grande maioria (80,5%) eram turistas. Desde que a lei entrou em vigor, a Janeiro de 2012, mais de 34 mil pessoas foram multadas, resultado de mais de um milhão de inspecções. Passo a passo A Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo tem vindo a ser aplicada de forma gradual, começando por visar a generalidade dos espaços públicos e prevendo disposições diferentes ou períodos transitórios para outros casos. A 1 de Janeiro de 2015, por exemplo, entrou em vigor a proibição total de fumar em bares, salas de dança, estabelecimentos de saunas e de massagens. Já os casinos passaram a ser abrangidos dois anos antes, a 1 de Janeiro de 2013, mas apenas parcialmente, já que as seis operadoras de jogo foram autorizadas a criar zonas específicas para fumadores, que não podiam ser superiores a 50% do total da área destinada ao público. Contudo, em Outubro de 2014, “as zonas para fumadores” foram substituídas por salas de fumo fechadas, com sistema de pressão negativa e de ventilação independente, passando a ser proibido fumar nas zonas de jogo de massas dos casinos e permitido apenas em algumas áreas das zonas de jogo VIP. Actualmente, encontra-se em sede de análise pela 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa uma alteração ao Regime de Prevenção e Controlo de Tabagismo, depois de, em Julho do ano passado, o hemiciclo ter aprovado, na generalidade, uma proposta de lei no sentido de proibir totalmente o fumo nos casinos, após um longo debate centrado no impacto sobre as receitas da indústria do jogo. O receio é o de que a proibição de fumar nas salas VIP agrave ainda mais a tendência de queda das receitas dos casinos, que caem ininterruptamente desde Junho de 2014.
Hoje Macau BrevesPandas vermelhos em Macau este ano [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]eong Kun Fong, membro do Conselho de Administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), confirmou a vinda de um par de pandas vermelhos para Macau este ano, por altura do Inverno. Os pandas deverão ficar albergados no Pavilhão do Panda Gigante no Parque de Seac Pai Van, sendo que o projecto de construção das instalações está quase pronto. Para além dos pandas vermelhos está prevista a chegada de um macaco dourado para aumentar o número de animais raros no parque, mas essa aquisição será ainda analisada depois da chegada dos pandas. Falta ainda saber quando chegam os prometidos flamingos. Leung Kun Fong explicou que os pandas gigantes estão em boas condições de saúde. O IACM continua a trabalhar na sua reprodução, prevendo-se que os próximos pandas possam nascer em Macau.
Hoje Macau EventosComemorações do 10 de Junho na Cinemateca Paixão O cinema de Portugal vai encher o ecrã da Cinemateca Paixão no próximo fim-de- semana com uma selecção “de ouro” do que melhor por lá se faz. Integrado nas comemorações do mês de Portugal, que decorrem durante este mês, vão ser projectadas curtas e longas metragens de destaque nacional e internacional [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] cinema feito em terras lusas é tema de destaque no âmbito da Comemorações do Mês de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em Macau e Hong Kong e conta com a colaboração da Agência Internacional de Cinema Português, a Portugal Film. A iniciativa, a decorrer na Cinemateca Paixão, apresenta este ano uma mostra de filmes que reflecte a produtividade, a diversidade e a excelência do cinema português, refere a organização. Entre a selecção constam vencedores dos prémios nacionais e do público do Festival IndieLisboa 2015, bem como a curta-metragem vencedora do Leão de Ouro de Berlim e do Firebird Award do Festival de Cinema de Hong Kong, o filme “Balada de Um Batráquio” de Leonor Teles. Entre curtas e longas metragens, o programa abre no sábado pelas 16h30 com a projecção de cinco pequenos filmes. “A caça revoluções”, de Margarida Rego, é uma animação experimental que explora a relação entre duas gerações, dois tempos e duas lutas diferentes. É a Revolução de Abril a inspirar as gerações que apenas a conhecem através de relatos dos que a viveram e das fotografias apropriadas. “Aula de condução”, uma realização de André Santos e Marco Leão, aborda a esfera onde se forma a maturidade de um jovem olhar: o da intimidade e o seu silêncio enquanto territórios cinematográficos. Já “Despedida” é um filme em que Tiago Rosa Rosso cria um jogo de absurdo a partir das referências da infância e do humor nos códigos de comunicação da amizade masculina. Jorge Cramez traz “O Rebocador” e com ele um território que lembra o “film noir” de Raoul Walsh: “They Drive By Night” e as confissões solitárias de quem nele vive. A tarde fecha com o vencedor do Leão de Ouro de Berlim e do Firebird Award do Festival de Cinema de Hong Kong, “Balada de um Batráquio”, da jovem cineasta Leonor Teles que num gesto pessoal e activista desfaz preconceitos sobre a comunidade cigana. A sessão da noite com início às 20h00 vai dar lugar à longa metragem “A toca do lobo” de Catarina Mourão, em que a realizadora se centra numa figura da vida cultural portuguesa: o escritor e seu avô Tomaz de Figueiredo. Um olhar que abre as portas secretas de uma vida que deixou apenas o seu trabalho para a memória dos seus filhos e dos seus netos, tal como de uma família que se viu separada pela sua morte e marcada pelo dia-a-dia de um país dictatorial. Na sua antiga casa, vivem os segredos e os acontecimentos num quarto fechado à chave e aberto pela câmara da realizadora e pelo movimento deste filme: a intimidade. A fechar Domingo, o horário repete-se mas com a projecção da “matinée” a dar lugar a “Gipsofila” de Margarida Leitão. “Gipsofila” é o espaço pessoal de uma avó visto pela câmara da sua neta. Um ensaio sobre a sua memória através das palavras hesitantes de duas pessoas que se amam, que se filmam e partilham o mesmo sangue. O filme é também o espaço exterior de solidão de uma realizadora que encontra um lugar para criar o seu cinema e filmar uma herança que talvez se julgava perdida. À projecção segue-se um debate à volta do tema da produção cinematográfica em Portugal e a sua visibilidade pelo mundo com a directora da Portugal Film, Margarida Moz. A sessão da noite conta com “Os olhos de André” de António Borges Correia. Aqui, a paisagem de Arcos de Valdevez, em Portugal, serve de cenário para recriar uma história verdadeira onde um pai tenta reconstruir a sua vida, depois de uma separação, para acolher o seu filho André e voltar a unir uma família. Pelo olhar de António Borges Correia e a perspectiva da sua câmara, os seus actores (as pessoas que viveram, nos mesmos papéis, a mesma história) seguem as sugestões que uma nova ficção cria a partir daquilo que já se viveu, dando-nos a conhecer, pelo cinema, uma vida real de um país verdadeiro. “Aqui, em Lisboa” vai preencher a sessão da noite de 13 de Junho, uma produção realizada por Dominga Sotomayor, Denis Côté, Gabrial Abrantes e Marie Losier. Um filme que concretiza o resultado de quatro autores com quatro visões diferentes da cidade de Lisboa, passando pelos registos da ficção, do documentário, da comédia ou do fantástico. Crescer e aparecer A Portugal Film organiza, há 13 anos, o Festival IndieLisboa e outras mostras de cinema independente em Portugal e no mundo. Na sua génese está o crescente reconhecimento internacional do cinema português e da consequente curiosidade pelos filmes ali produzidos. Além de assegurar a presença de filmes nacionais no maior número de festivais internacionais, promove também a curadoria de mostras e eventos onde o público possa apreciar o melhor cinema português e onde os filmes possam não apenas ser vistos, mas também conversados com os seus intervenientes. A programação, toda ela composta por filmes em Língua Portuguesa legendados em Inglês, visa cativar o interesse do público de Macau. A mostra conta com entrada gratuita sendo que os bilhetes estão disponíveis na casa de Portugal a partir de amanhã.
Hoje Macau China / ÁsiaTiananmen | Activistas detidos por relembrar o 4 de Junho Quatro e seis são ainda números tabu na China continental. Juntos são a data da manifestação em prol da democracia que aconteceu em 1989 e que resultou em massacre. Hoje é uma data que não existe na história do continente e que as autoridades continuam a abafar. No assinalar do 27 aniversário do acontecimento, Pequim deteve seis activistas [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ábado passado assinalou-se mais um aniversário do massacre na Praça da Paz Celestial. Tiananmen recebia em 1989 milhares de jovens que se manifestavam, em tom de esperança, em prol da democracia. Numa data ainda hoje tida como tabu na China continental, 4 de Junho de 2016 assinalou mais um reforço ao silêncio com a detenção de seis activistas. A polícia chinesa deteve vários activistas, enquanto outros estão sob vigilância no 27.º aniversário da repressão aos protestos pró-democracia na Praça de Tiananmen, na China, disseram grupos de Direitos Humanos. Seis activistas dos Direitos Humanos, incluindo o poeta Liang Taiping, estão presos desde quinta-feira, após terem participado numa cerimónia particular comemorativa do “4 de Junho” de 1989, data do aniversário da repressão aos protestos pró-democracia em Pequim, afirmou a ONG chinesa Weiquanwang. Os activistas foram presos pela polícia por suspeita de “fomentar a agitação e provocar desacatos”, disse a ONG, que também informou que outro activista “desapareceu” nos últimos dias na capital chinesa. Quase três décadas passadas sobre a repressão na Praça de Tiananmen, o regime comunista continua a proibir que se faça qualquer menção sobre o assunto nos órgãos de comunicação social e na Internet, além de proibir que seja tratado nos livros escolares e de impedir qualquer debate. Cerco apertado À semelhança dos anos anteriores, “As Mães de Tiananmen”, uma associação de pais que perderam os seus filhos, foram colocados sob uma apertada vigilância policial. Zhang Xianling, cujo filho de 19 anos foi morto em 1989, disse à agência de notícias AFP que quando foi a um cemitério de Pequim, com uma dúzia de outros pais para visitar os túmulos dos seus filhos, foram cercados por polícia à paisana. Adianta ainda que “Temos estado sob vigilância desde a semana passada (…) 30 (polícias à paisana) estavam no cemitério”. “As Mães de Tiananmen” escreveram ainda uma carta aberta sob os “27 anos de terror e asfixia” a que têm sido submetidas onde consta em divulgação por Organizações Não-governamentais de Direitos Humanos na China que “nós, famílias das vítimas somos espiadas e vigiada pela polícia. Somos seguidas e mesmo detidas e têm confiscado e apreendido os nossos computadores”, continuando com “O governo ignorou-nos, finge que o massacre de 4 de Junho, que chocou o mundo inteiro, nunca aconteceu na China, e recusou-se a responder aos nossos apelos, enquanto os nossos compatriotas perdem gradualmente a memória do que aconteceu”. A carta refere ainda que o grupo foi avisado de que as visitas à casa da fundadora do grupo, Ding Zilin, com 79 anos, mas que tem problemas de saúde, seriam impedidas entre 22 Abril a 4 Junho. “Aqueles que querem visitá-la devem solicitar permissão e podem fazê-lo só depois da aprovação pela Secretaria de Segurança Pública de Pequim e não podem ser acompanhados por familiares de outras vítimas”, lê-se na carta. Outras manifestações Entretanto em Hong Kong e apesar do anúncio do afastamento da região dos acontecimento de 89, a vigília de sábado contou com cerca de 125 000 pessoas no Parque Vitória, menos 10 000 que no ano passado. O parlamento de Taiwan, por sua vez, assinalou pela primeira vez, a repressão do movimento pró-democracia em 1989, na praça Tiananmen, em Pequim, pedindo ao novo governo para levantar a questão dos direitos humanos com a China. As relações entre as duas margens do estreito da Formosa conheceram um arrefecimento com a vitória, nas eleições de Janeiro, da nova presidente Tsai Ing-wen do Partido Progressista Democrático tradicionalmente independentista. As autoridades da ilha já pediram a Pequim para tirar as lições de Tiananmen, mas esta foi a primeira vez que o parlamento assinalou aqueles acontecimentos, um dia antes do aniversário, a 4 de Junho. Os deputados do DPP, alguns membros do KMT e o dissidente chinês no exílio Wu’er Kaixi observaram um minuto de silêncio e assinaram uma moção em que é exigido ao governo que “expresse as sérias preocupações de Taiwan sobre a necessidade de reparar os incidentes de 4 de Junho num momento apropriado”. Em Macau o Largo do Senado foi palco também da tradicional vigília que contou com algumas centenas de pessoas.
Hoje Macau China / ÁsiaJack Ma diz que Alibaba diz está a cooperar com investigação dos EUA [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]ack Ma, o fundador do gigante chinês do comércio electrónico Alibaba, afirmou ontem que a sua empresa está a “cooperar activamente” com investigações à contabilidade do grupo pelo regulador do mercado de valores dos Estados Unidos. Em declarações à agência oficial chinesa Xinhua, Ma disse que o Alibaba forneceu a informação solicitada pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) dos EUA e que saúda a investigação. O Alibaba afirmou num comunicado enviado à bolsa de Nova Iorque no início deste mês que o SEC lançou uma investigação “para saber se houve alguma violação das leis federais de valores mobiliários”. Entre outras questões, o regulador norte-americano requereu informação sobre a contabilidade da Cainiao, empresa de logística do grupo, e sobre as práticas do Alibaba durante o “Dia dos Solteiros”, o maior evento promocional de vendas ‘online’ na China. “A melhor forma de resolver estas dúvidas é através da transparência e diálogo”, afirmou Ma à agência Xinhua, acrescentando que é difícil para alguns investidores norte-americanos entender o modelo de negócio do Alibaba. Entretanto, o maior accionista do Alibaba, o grupo japonês SoftBank, anunciou esta semana que vai vender pelo menos 7,9 mil milhões de dólares da sua participação no Alibaba, numa altura em que tenta reduzir o seu endividamento. O próprio Alibaba anunciou que vai comprar 2,0 mil milhões de dólares das acções detidas pelo SoftBank. “O Alibaba tem dinheiro que chegue e está optimista sobre os lucros futuros”, afirmou Ma.
Hoje Macau China / ÁsiaMar do Sul da China |Washington e Pequim trocam “galhardetes” [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o sábado, os Estados Unidos ameaçavam “a tomada de acções” na palavra de Ashton Carter, secretário da Defesa norte-americana. Ontem, Pequim respondeu dizendo que não vai ter receio dos “problemas” naquela zona. Em causa a construção pela China numa ilha reivindicada pelas Filipinas no Mar do Sul da China. “Espero que estes desenvolvimentos não ocorram, porque caso contrário vão resultar na tomada de acções tanto pelos Estados Unidos, como por outras partes na região, as quais vão ter o efeito de não só aumentar a tensão como de isolar ainda mais a China”, disse Carter numa cimeira de segurança em Singapura. A China, por seu lado, denunciou as “provocações” norte-americanas nas disputas territoriais no Mar do Sul da China. “Os países estrangeiros devem ter um papel construtivo sobre esta questão, não o inverso. A tensão no Mar do Sul da China tem-se agravado por causa das provocações de alguns países, que perseguem os seus interesses egoístas”, disse o almirante Sun Jianguo, durante uma cimeira sobre segurança em Singapura. E o almirante foi ainda avisando que “não causamos problemas, mas não temos medo dos problemas”. Gigante controlo Segundo informou em Abril a imprensa de Hong Kong , o ‘gigante’ asiático estabelecerá um posto em Scarborough Shoal, um território situado a 230 quilómetros da costa filipina. Pequim reclama a soberania de quase todo o Mar do Sul da China. Nos últimos meses, construiu ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em recifes disputados pelos países vizinhos. Apesar dos protestos de Manila, a China passou a controlar efectivamente o Scarborough Shoal, em 2012, ao estacionar navios de patrulha na área e expulsar barcos de pesca das Filipinas. Segundo uma fonte citada pelo jornal South China Morning Post, aquele posto permitirá a Pequim “aprimorar” a sua cobertura aérea no Mar do Sul da China, sugerindo planos para construir uma pista de aterragem.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasA jóia da coroa Por Michel Reis [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] violoncelo Stradivarius Chevillard-Rei de Portugal, datado de 1725 e classificado como Tesouro Nacional, é uma das jóias da coroa do espólio do Museu Nacional da Música, em Portugal, tendo pertencido a S. M. o Rei Dom Luís I (1838-1889) e sendo o único instrumento de arco em Portugal com a assinatura do famoso construtor italiano de instrumentos musicais Antonio Stradivari (1644-1737). Construído em 1725, quando Stradivari tinha 81 anos, foi primeiramente conhecido por Violoncelo Chevillard, por ter pertencido ao famoso violoncelista belga Pierre Chevillard (1811-1877) e foi posteriormente propriedade de um dos irmãos da família de luthiers franceses Vuillaume, que o vendeu ao Rei Dom Luís em 1878 por 20,000 francos. O Chevillard – Rei de Portugal tem a famosa forma “B”, a mais célebre entre as diferentes formas utilizadas por Antonio Stradivari na construção de instrumentos de arco, sendo o último construído segundo esta forma. Esta forma foi utilizada de 1707 a 1726, o período de ouro do construtor. Contudo, não estando o instrumento certificado, atribuem-no alguns a Jean-Baptiste Vuillaume (1798-1875), que imitava Stradivari com perfeição extrema. Restam hoje apenas 25 violoncelos deste tipo em todo o mundo, entre os quais o “Davidoff” (1712) , actualmente emprestado a Yo-Yo Ma, o “Duport” (1711), que pertenceu a Mstislav Rostropovich e é hoje propriedade dos seus herdeiros, o “Piatti” (1720), que pertence ao violoncelista mexicano Carlos Prieto, o “Mara” (1711), que pertence ao violoncelista austríaco Heinrich Schiff e o “Batta” (1714), que pertenceu ao violoncelista russo-americano Grigor Piatigorsky. É conhecido o interesse que o Rei Dom Luís tinha pela música. Como compositor, deixou-nos algumas obras musicais: uma Barcarola, uma Missa (a parte de violoncelo), cinco valsas e uma Avé Maria, que o próprio Rossini elogia, pelo que não raras vezes comporá obras dedicadas a Dom Luís. Parte do seu acervo instrumental encontra-se hoje, no Museu Nacional da Música. São de realçar o violoncelo Stradivarius e um piano que pertenceu a Franz Liszt. O valioso instrumento saiu há pouco tempo do Museu Nacional da Música para ser tocado pelo violoncelista russo Pavel Gomziakov num concerto de solidariedade para com a Plataforma de Apoio aos Refugiados, intitulado Música por uma Causa, realizado no passado dia 18 de Outubro, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, no qual o violoncelista, juntamente com a Orquestra Gulbenkian, tocou a Suite Nº 2 em Ré menor de Johann Sebastian Bach e o Concerto para Violoncelo e Orquestra em Dó Maior de Joseph Haydn, sob a direcção de Michel Corboz. O concerto, que esgotou a lotação do auditório, obteve uma receita de 24 mil euros. A saída do instrumento, avaliado em vários milhões de euros, do Museu Nacional da Música, esteve relacionada com a sua descoberta por Gomziakov, que esteve em Lisboa anteriormente para tocá-lo num concerto realizado no Museu da Música. Ficou tão emocionado com o som do instrumento, que pediu ao Museu para usá-lo numa gravação na Fundação Calouste Gulbenkian, com a orquestra da Fundação, do referido Concerto para Violoncelo de Haydn, que integra a sua próxima gravação discográfica dedicada a Haydn, da editora Onyx, a ser lançada no início de 2016. Depois da primeira saída, Pavel Gomziakov pediu também ao Museu da Música para usar o violoncelo Stradivarius no concerto solidário da Gulbenkian, o que só foi possível com o apoio de mecenas do Museu Nacional da Música como a Lusitânia Seguros, visto que o valor do seguro é bastante elevado e a peça precisa de medidas de segurança muito especiais. Tratou-se da segunda saída, em poucos meses, de um instrumento que não foi tocado fora do museu desde que ingressou nas colecções que o viriam a constituir, em 1937, e que é um dos 11 tesouros nacionais que o museu tem à sua guarda. Crê-se existirem ainda hoje em dia entre 630 a 650 violinos, violas e violoncelos construídos por Antonio Stradivarius, 512 dos quais são violinos. Tivemos muito recentemente oportunidade de ter em Macau o agrupamento de origem suíça Stradivari Quartett, que realizou dois concertos integrados no XXIX Festival Internacional de Música de Macau, nos quais o público pôde ouvir os fabulosos Stradivarius “Aurea” (violino, 1715), “King George” (violino, 1710), que pertenceu ao Rei Jorge III de Inglaterra, “Gibson” (viola, 1734) e o “Bonamy Dobree – Suggia”, que pertenceu à famosa violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-1950).
Hoje Macau SociedadeAssembleia da República respeita vontade da família de Pessanha [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República (AR), encarregue de dar um parecer sobre o pedido de transladação dos restos mortais de Camilo Pessanha para o Panteão Nacional, está a tentar contactar a bisneta do autor de Clepsidra, depois de notícias divulgadas pela comunicação social a dar conta da recusa da ideia. Em declarações à Rádio Macau, a presidente da comissão, Edite Estrela, assegura que vai ser respeitada a vontade da família. “Vieram a público informações que a família se opunha e esse é o primeiro passo que tem de ser dado, que é esclarecer junto da família, porque se ela se opuser penso que não há condições para se prosseguir com esta diligência”, afirmou Edite Estrela, acrescentando que já foram dados passos nesse sentido. Ana Jorge, recorde-se, frisou em Maio que a possibilidade de ver os restos mortais do bisavô Camilo Pessanha serem transladados para Lisboa estava fora de questão. Edite Estrela adiantou à rádio que os fundamentos para o pedido de transladação, da qual fazem parte seis subscritores, assentam na justificação de se assinalar os 150 anos do nascimento do autor de Clepsidra, que são celebrados a 7 de Setembro do próximo ano. “Apesar de ter escolhido viver e morrer em Macau a verdade é que manteve sempre laços com Portugal (…) a intenção é boa porque é uma forma de o homenagear, de o recordar.”
Hoje Macau BrevesDois russos detidos por uso de cartões falsificados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) deteve dois russos no Porto Exterior por estes estarem a utilizar cartões falsificados. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a detenção foi feita na última quarta-feira. Os homens estão suspeitos de utilizar várias vezes cartões falsificados para tirar dinheiro das máquinas de levantamento automático no território. Foram detidos quando estavam a tentar sair de Macau e a PJ encontrou cem cartões e peças de equipamento que ajudaram ao crime, como um computador portátil e leitores de cartões. Os dois homens pertencem a um grupo que desde 2014 se dedicava a retirar dinheiro dos ATM, tendo envolvido mais de dez bancos. A PJ suspeita que os dois russos regressaram a Macau no último mês. Consigo tinham 17 mil patacas.
Hoje Macau BrevesPedidos de ajuda por dependência do jogo aumentam [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]u I Mui, chefe da Divisão de Prevenção e Tratamento do Jogo Problemático do Instituto dos Acção Social (IAS), disse ao canal chinês da Rádio Macau que o Sistema de Registo Central dos Indivíduos Afectados pelo Distúrbio do Vício do Jogo já registou mais de 750 casos só este ano. Do total, 90% destes casos são residentes do território, sendo os restantes de Hong Kong e do interior da China. Mais de 60% das pessoas com problemas são homens e, segundo a responsável, o número de casos aumentou 130 face ao ano passado só este ano. Alguns dos solicitadores conseguiram deixar o vício do jogo, mas também houve quem tivesse voltado a cair nas malhas da dependência. O IAS promete mais promoção do jogo responsável.
Hoje Macau EventosCCM | Maria Ana Bobone em espectáculo amanhã [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]aria Ana Bobone está amanhã no Centro Cultural de Macau para mostrar “Fascínio por Portugal”, um espectáculo de música portuguesa com sons do Oriente. A convite da Orquestra Chinesa de Macau, a fadista regressa ao território 15 anos depois. O espectáculo que apresenta a fadista portuguesa Maria Ana Bobone em colaboração com a Orquestra Chinesa de Macau – e sob a batuta do maestro Pang Ka Pang – tem lugar amanhã, pelas 20h00, no Centro Cultural de Macau (CCM). Esta união não é pioneira, sendo que em 2014 Maria Ana Bobone e a Orquestra actuaram juntos em Lisboa, mas a fadista regressa ao território 15 anos depois. Maria Ana Bobone é reconhecida como uma das mais talentosas artistas da sua geração, tendo-se estreado no cantar do Fado aos 16 anos. Posteriormente conclui os cursos de Piano e de Canto do Conservatório Nacional de Música de Lisboa. O seu primeiro trabalho discográfico intitulado “Alma Nova”, viria a ser o início de uma carreira brilhante que corre palcos por todo o mundo. A mistura entre o Fado e uma orquestra com instrumentos tradicionais chineses é, como diz Maria Ana Bobone ao HM, uma relação que desde o início foi “muito boa”. “O que salva neste tipo de pontes é a linguagem universal da música que permite que culturas absolutamente diferentes se encontrem”, salienta, indicando o interesse deste tipo de comunicação quando se está e trabalha com pessoas com as quais não se consegue falar. O trabalho com o maestro Pang Ka Pang também é gratificante sendo ele “uma pessoa muito característica e que ilumina um palco”. Depois da primeira colaboração, esta segunda foi aprofundada para este espectáculo, que conta com um repertório essencialmente de Fado. Para a fadista é “fantástico o trabalho que a orquestra chinesa realiza com os instrumentos que a compõem sendo que oscilam entre as sonoridades que marcam a identidade do Oriente”. Maria Ana Bobone já esteve em Macau há 15 anos a convite da Fundação Oriente e integrada num espectáculo com outros artistas. Desde essa primeira vez na RAEM até agora destaca a “evolução inacreditável” que vê e uma “diferença que demonstra vitalidade à volta de Macau e do investimento que aqui se faz”. Salienta, contudo, o gosto que sentiu pela Macau de há 15 anos em que sentiu que era “uma coisa mais pequena e mais intimista”. Outras causas Numa carreira de relevo internacional com o Fado, a artista decidiu no disco “Smooth”, lançado no ano passado, sair do trilho e arriscou numa vontade pessoal de fazer um álbum com outras canções. Uma “vontade que tinha desde sempre de ter esta experiência artística por outras linguagens musicais que era uma das coisas que não tinha feito profissionalmente”, como confessa. Sendo um projecto de carácter excepcional “podia e devia aliar-se a uma causa igualmente especial, que é a ajuda às pessoas com leucemia.” O disco contou com a produção de Rodrigo Serrão e as receitas revertem para a Associação Portuguesa Contra a Leucemia. A receptividade a esta nova aventura foi “surpreendentemente boa”. Para o futuro salienta a necessidade de paragens para reflexão e tem nem cima da mesa a possibilidade de edição de um disco ainda este ano. Mas ainda não tem a certeza se o quererá fazer. Embaixadores nacionais Levar o Fado ao mundo é um trabalho de “embaixador” em que se mostra o que se faz e quem se é. Da mesma forma, Maria Ana Bobone salienta que a Língua Portuguesa é a mais adequada ao género, não concebendo o mesmo enquanto tal se cantado noutro idioma. “Tenho uma alegria imensa em sentir que o Fado volta a estar popularizado por entre cada vez mais público de diferentes gerações”, diz, relembrando outros tempos em que as editoras recusavam trabalhos deste género musical argumentando que não vendia. Mas, diz, a situação actual é “uma grande lição para todos os que diziam e achavam isso, porque de facto o Fado vende e é das poucas coisas que vende hoje em dia”. Para amanhã, a artista afirma que tem preparado um “bom concerto esperando um gosto comum por parte do público”. Das canções fazem parte temas como “Auto-retrato”, “Fado Xuxu”, “José Embala o Menino”, “Nós as Meninas”, “Marião” e “Havemos de Ir a Viana”.
Hoje Macau Manchete SociedadeNuclear | Novo Macau diz que Governo “não tem noção do risco” A água vem da região vizinha, a comida também e só por aí Macau já não está seguro. A construção de mais uma central nuclear ao largo do território e a falta de detalhes de um plano de contingência preocupam a Novo Macau, que dizem que o Governo “não tem noção” quando diz que o território está tranquilo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau acusou ontem o Governo de não ter noção do risco de um eventual problema da central nuclear em construção a 64 quilómetros de Macau, em Taishan, e exige que anuncie planos de contingência detalhados. O apelo da Novo Macau surge na sequência de informações de que a central nuclear de Taishan, na província vizinha de Guangdong, que se encontra na fase final de construção, apresenta problemas que podem levar à ocorrência de incidentes, como falhas na produção de peças. O Governo diz que “Macau está segura por estar a uma certa distância” da central, o que, para a Novo Macau, revela a sua “ignorância devido à falta de consciência”. A associação não só recorda que actualmente “Macau e Hong Kong se encontram flanqueadas por três centrais nucleares em ambos os lados da costa”, como também que todos os alimentos do território são importados. O presidente da Novo Macau, Scott Chiang, advertiu que, em caso de incidente, Macau será “directamente afectada”, estando a Associação “profundamente preocupada”, atendendo a que o risco não é apenas o de “exposição”, mas também ao nível do abastecimento de água e de comida, assegurado em grande parte pela província vizinha. “Não há qualquer plano feito pelo Governo para reagir face a tal cenário”, argumentou. Do ponto de vista dos interesses e da segurança, a localização da central é “inaceitável”, pelo que a Novo Macau se opõe ao início das operações sem uma garantia de que a central cumpre as normas de segurança internacionais. “O Governo deve anunciar planos de emergência para incidentes nucleares, incluindo descontaminação, segurança alimentar, entre outros”, defende a Associação, que também alertou para o “duro golpe” na confiança que uma eventualidade na vizinhança pode ter na cidade que vive do turismo. O plano, qual plano? O Governo publicou um comunicado em que diz ter solicitado à província de Guangdong informações sobre a central e que tem vindo a seguir com “a maior atenção” o assunto. Refere que Macau dispõe de um plano de contingência para responder a catástrofes nucleares nas regiões vizinhas, elaborado em 1995, entretanto revisto e optimizado, cujos detalhes poderiam ser consultados no portal do Gabinete Coordenador de Segurança. Na versão portuguesa do portal não há qualquer referência a incidentes nucleares. “Fique calmo”, “ouça a rádio” e “aguarde instruções” são as indicações para um caso de emergência que surgem, segundo os dirigentes da Novo Macau, na versão chinesa do site. A central de Taishan, um projecto fruto de uma parceria sino-francesa – entre a China Guangdong Nuclear Power (CGN) e a Électricité de France (EDF) –, pretende iniciar operações dos dois reactores no próximo ano, mantendo o calendário apesar das notícias. Segundo o portal FactWire, em Abril, a Autoridade de Segurança Nuclear de França detectou excesso de carbono num vaso de pressão de uma central francesa com reactores nucleares de terceira geração (EPR) – a mesma tecnologia da de Taishan – indicando que estava demasiado frágil, o que pode causar uma potencial fuga radioactiva. Engenheiros franceses disseram ao FactWire que a unidade 1 da central foi submetida a um grande número de testes e que, na melhor das hipóteses, só poderia entrar em funcionamento em 2018. Alertaram ainda que as autoridades chinesas têm vindo a pressionar para acelerar a construção. Gao Ligang, CEO da CGN Power, negou-o, em declarações reproduzidas esta semana pelo South China Morning Post, afirmando que o recipiente de pressão dos reatores vai ao encontro de todos os padrões de tecnologia e segurança e que o progresso da construção tem estado sob apertado escrutínio por parte da China. LUSA/HM
Hoje Macau Manchete SociedadeTabaco | Fumadores diminuíram para 15% do total da população A queda de 2% em quatro anos no número de fumadores em Macau deve-se à nova lei anti-tabaco, dizem os Serviços de Saúde. Cerca de 15% da população ainda fuma, sendo a maioria homens. Muitos já tentaram desistir [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s fumadores representavam 15% da população de Macau com 15 ou mais anos de idade no ano passado, menos 1,9% do que no final de 2011, véspera da entrada em vigor da legislação anti-tabaco. Segundo os dados de um estudo dos Serviços de Saúde, ontem divulgados, a taxa de fumadores entre a população com pelo menos 15 anos era de 16,9% em 2011 e foi decrescendo progressivamente, até se situar nos 15% no final de 2015. A grande discrepância entre géneros mantém-se: 6,8% dos homens são fumadores, enquanto esta taxa é de 3,7% entre as mulheres. No entanto, os homens que fumam diminuíram de 31,4% em 2011 para 26,8% no ano passado, enquanto nas mulheres a diferença é quase nula (de 3,8 para 3,7%). É na faixa etária entre os 45 e os 54 anos que há mais homens fumadores (37,2%). Já entre as mulheres, há mais fumadores no grupo entre os 25 e os 24 anos de idade (6,5%). Os SS revelaram que 27,7% dos fumadores com mais de quinze anos já tentou deixar o tabaco. “A taxa de cessação tabágica pelos fumadores ocasionais é mais alta do que os fumadores diários e representam 40% e 26,2% respectivamente”, lê-se no comunicado, onde as autoridades atribuem a diminuição da população fumadora à aplicação da legislação que, desde 1 de Janeiro de 2012, proíbe o fumo em espaços públicos fechados. Passo a passo A Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo tem vindo a ser aplicada de forma gradual, começando por visar a generalidade dos espaços. Os casinos passaram a ser abrangidos em Janeiro de 2013, mas apenas parcialmente, já que as seis operadoras de jogo foram autorizadas a criar zonas específicas para fumadores, que não podiam ser superiores a 50% do total da área destinada ao público. Contudo, em Outubro de 2014, “as zonas para fumadores” foram substituídas por salas de fumo fechadas, com sistema de pressão negativa e de ventilação independente, passando a ser proibido fumar nas zonas de jogo de massas dos casinos e permitido apenas em algumas áreas das zonas de jogo VIP. Actualmente, encontra-se em análise uma alteração ao Regime de Prevenção e Controlo de Tabagismo no sentido de proibir totalmente o fumo nos casinos.
Hoje Macau Entrevista Eventos MancheteNuno Gonçalves, dos The Gift: “Queremos sempre o espectáculo como se fosse o último” A abertura da digressão da banda portuguesa The Gift já conta com sala esgotada em Macau no concerto que tem lugar hoje no Centro Cultural. Nuno Gonçalves, fundador e músico da banda, está radiante, não só com este espectáculo que representa a abertura das comemorações dos 20 anos de carreira, como pelo disco – ainda sem nome – que aí vem e que contou com a produção de Brian Eno [dropcap]E[/dropcap]sta digressão, iniciada hoje, marca os 20 anos de vida dos The Gift. Como é que nasceu e tem sido esta aventura? A banda nasceu como qualquer banda nasce. Pelo menos tenho esperança que hoje as bandas ainda nasçam dessa forma. Amigos de escola com amor pela música, com uma vontade própria da idade em fazer coisas. Depois pelo facto de virmos de uma cidade pequenina, como é o caso de Alcobaça, e por isso não termos tanto acesso à cultura como nos grandes centros urbanos, o que criava em nós uma motivação extra. Foi assim que começámos, num sótão pequenino em Alcobaça. De 1994 até hoje é uma história com muito trabalho em que fazemos os discos das nossas vidas e investimos muito tempo e dinheiro nas digressões. Queremos sempre apresentar um espectáculo diferente e o melhor possível, como se fosse o último. Algumas dificuldades quando se foram profissionalizando? No início ainda estudávamos. A música era um hobby, apesar de ser um hobby que nos roubava muito tempo. A profissionalização da banda só se dá entre 1998 e 2000. Sentimos algumas dificuldades associadas ao facto de sermos uma banda de fora dos grandes centros urbanos, que cantava em Inglês, com um estilo não muito definido. Não éramos Fado, não éramos o Pop da época, éramos diferentes dos Santos e Pecadores ou dos Delfins…. Mantêm hoje essa diferença? Acho que sim. Ao fim destes anos todos, e também pela presença e voz da Sónia e pela maneira como faço as músicas, acabamos por ter a nossa identidade e acho que essa também é uma das mais valias da banda. A entrada da Sónia inicialmente não era prevista… Não imaginava uma voz feminina, mas a partir do momento em que a Sónia cantou, fiquei rendido. É um dado curioso. Imaginava sempre a banda, o que também terá a ver com a adolescência, como uma coisa muito de rapazes. Não é a primeira vez que está em Macau. Como foi em 2000? Foi óptimo. Recordo-me desse ano em que andávamos com 12 músicos em palco. Vínhamos de Hannover e depois seguíamos para Paris. Foi uma época muito produtiva da banda. Foi um espectáculo muito engraçado porque na altura não vínhamos com muitas expectativas. Acho também que uma das grandes vantagens da banda é essa de não ter expectativas em muita coisa. Tentamos sempre fazer o nosso melhor e se corre bem, ainda bem. Lembro-me que estava cheio e que esgotámos os CDs todos que tínhamos trazido para venda. Divertimo-nos imenso. O público era também muito heterogéneo, dos oito aos 88 anos. Esta abertura de digressão em Macau foi por acaso ou planeada? Sabíamos que à partida seria mais ou menos por esta altura. Há uma lacuna de espectáculos normalmente entre Janeiro e Maio, apesar de nós, e por gostarmos de tocar em teatros, fazermos muitas vezes nesta altura os nossos concertos também. Aqui calhou e ficámos muito lisonjeados com isso. Por um lado vamos ter tempo para trabalhar e por outro vamo-nos divertir imenso porque vamos trabalhar para um público que à partida não está conquistado e isso é óptimo. O que esperam deste espectáculo hoje? Disseram-me que estava esgotado. Vamos fazer o nosso melhor e acho que as pessoas vão gostar muito. Como é que é levar a música que se faz em Portugal ao mundo, visto os The Gift também já terem esse papel? Acho que levar a música portuguesa ao mundo já se faz há muitos anos e mais especificamente no Fado. No nosso caso, é um bocadinho diferente, tentamos levar outra música. Na minha opinião é uma música mais identificativa do Portugal moderno do que propriamente duas guitarras e um xaile preto. Acho que Portugal tem bastante mais cor e é bastante mais luminoso do que isso. Nesse sentido, e o facto de ser também diferente, faz com que seja também mais difícil. Ainda não há estradas traçadas por uns Heróis do Mar, ou por uns GNR. Infelizmente essas grande bandas portuguesas e muito identificativas da nossa geração não conseguiram passar além fronteiras. Ao contrário de nomes como a Amália Rodrigues, Mariza, Dulce Pontes ou Madredeus. Existe uma auto-estrada com via verde aberta para o Fado na ‘worldmusic’, que não existe no Pop. O caminho é mais difícil. Nós, por exemplo, temos mercados em que estamos mais solidificados, como o de Espanha. Isso será também pela proximidade geográfica e por isso acaba por nos permitir abrir a nossa própria estrada. Por exemplo em Madrid já tocámos para 1700 pessoas. Já temos também uma presença forte nos média. Por outro lado já não temos a mesma projecção nos média de Portugal, o que pode significar que é um caminho já traçado, em que não somos mais a coqueluche da música portuguesa. Mas existe em Espanha um crescer de interesse ao ponto de virem a Portugal ver espectáculos nossos. No Brasil também temos tido destaque bem como nos Estados Unidos, onde com maior ou menor frequência, também vamos. Relativamente à estrada aberta do Fado. Os The Gift também já tiveram um projecto associado a ele. Como correu? É um projecto ligado ao Fado porque cantamos poemas de temas de Fado, mas que por si não o era. E só assim eu o poderia fazer. Não sou de todo amante do género, tal como não sou amante de Heavy Metal e convidei o Fernando Ribeiro dos Moonspell para fazer parte do projecto. E como foi abordar essa coisa pela qual não se tem um gosto especial? O facto de não gostar do estilo não é porque não ache que a Mariza, a Carminho ou a Ana Moura não tenham um talento tremendo. O mesmo se aplica aos novos compositores. Tem a ver com o xaile negro e toda aquela penumbra e melancolia que eu também tenho na minha música, mas gostava de ver mais cor nas coisas. O projecto da Amália Rodrigues foi pedido pela Paula Homem. No início disse imediatamente que não, mas depois ela disse-me que queria que fosse um projecto sem Fado e aí já entendi melhor e aceitei. Foi um grande sucesso e muito divertido para nós. Criámos laços que ficaram para a história, a Sónia por exemplo acabou por conhecer o Fernando e tiveram um filho, a minha filha nasceu nessa altura, etc. Foi uma época muito luminosa, divertimo-nos muito porque não havia a pressão de carreira e sabíamos que era um projecto que tinha um início e um fim. A música que se faz em Portugal está boa e recomenda-se? Sim, acho que sim e acho que sempre esteve. Não sou daquelas pessoas críticas em relação à música portuguesa. Quando começámos, por exemplo, existia um concurso de música moderna alternativa na nossa cidade de Alcobaça. Sem querer e sem se falar muito nisso nós tínhamos à porta uma pequena “Factory” do Andy Warhol naquele espaço todas as semanas. Nunca achei que a música portuguesa era de má qualidade. O que se fala muitas vezes é que não há oportunidades, que as rádios não passam esse tipo de bandas, etc. Nós não temos razão de queixa da rádio. Continuamos a perceber que é na rádio que se fazem os grandes sucessos e é de lá que saem os hits. Se a rádio está boa? Não considero. Acho que está muito má. Acho que há uma incoerência tremenda nas playlists. Não há uma linha condutora. O que é que aí vem? Vamos lançar um novo disco que já está feito. Se não for no final deste ano será para o ano. Tivemos a sorte de realizar este projecto de sonho produzido pelo melhor produtor do mundo que é o Brian Eno, misturado pelo não menos conhecido Flood, e é uma história de sonho. Aprendemos imenso. Foi tremendo. Foram dois anos de trabalho que chegaram agora ao fim. Temos um disco de sonho para lançar que rompe com barreiras dos The Gift e que constrói, para mim, as nossas melhores canções de sempre. Acho que ao final de 20 anos conseguirmos este projecto com o Brian Eno foi a cereja no topo do bolo e pode ser o início de uma nova etapa muito importante dos The Gift. Como foi trabalho com esse “monstro” que é o Brian Eno? Foi a melhor experiência que podíamos ter, quer profissional, quer enquanto relação. Um ser humano extraordinário. Tem também uma maneira muito interessante de conduzir as pessoas e os músicos. Eu nem tenho muitas palavras. Tudo poderá ser hipérbole. Quando falo do trabalho com ele é tudo muito grande e muito bom.
Hoje Macau EventosDesign | Iniciativa “This Is My Street” arranca amanhã Arranca amanhã no Centro de Design de Macau a actividade “This Is My Street”, que dá o pontapé de saída para um conjunto de iniciativas de olhos postos no cruzamento, integração e comunicação entre o design e a comunidade [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]proximar e envolver a comunidade local dos designers e do seu trabalho é o mote para o “This Is My Street”, iniciativa que arranca amanhã no Centro de Design de Macau, pelas 15h00, com uma palestra explicativa. Com o intuito de dar a conhecer o projecto, foram convidados de Hong Kong Freeman Lau e Kurt Chan que lideraram uma acção idêntica na área de Kai Tak, onde se situava o antigo aeroporto da cidade vizinha. Manuel Correia da Silva, co-fundador da Lines Lab e vice-presidente da direcção da Associação de Designers de Macau, adianta ao HM que a partir desta experiência a ideia é conseguir também na RAEM uma aproximação entre o trabalho dos designers em prol da comunidade e com o envolvimento desta. “This Is My Street” tem como coração a área circundante do Centro de Design de Macau, sendo considerada pelo responsável como “marginal”. Situada na zona norte da península, tem uma forte componente residencial e alberga ainda antigas zonas industriais, concretizando-se como um espaço mais “à mão” e com necessidades inerentes. Manuel Correia da Silva adianta que apesar de, por si só, não ser um projecto de intervenção urbana, pode acontecer que no decorrer do processo aconteçam acções de intervenção no espaço. A ideia é dar a conhecer aos vizinhos de bairro o papel do designer na comunidade que integra e com isso é intenção convidar cidadãos das redondezas para um diálogo. Procura de identidade A escolha dos membros da comunidade será efectuada com a observação dos habitantes e frequentadores assíduos da vizinhança, representando a sua identidade. As entrevistas entre habitantes e designers tem início marcado para a semana que vem e tanto nelas, como no decorrer de todo o processo, “o objectivo é cruzar dois eixos, um que aborda o olhar dos designers sobre as necessidades que sentem no bairro sendo que consideram possuir competências para melhorar a situação e um outro que é o lado da rua, dos que lá moram e dela fazem parte e que em si representem a sua identidade”. O registo da iniciativa pretende ser a produção de um filme documentário de cerca de dez minutos a ser apresentado no final de todo o processo e que documente todo o percurso. Manuel Correia da Silva salienta ainda que “o que interessa nesta estreia é a promoção deste tipo de relações, sendo que mais importante agora é o processo e não o resultado”. Apesar de por agora ainda não existir feedback por parte da comunidade, serve o seminário de amanhã para dar a conhecer o que aí vem. Manuel Correia da Silva há dez anos que leva a bom porto o festival “This Is My City”, que o mesmo considera “uma visão mais macro” da actual iniciativa” sendo que “acabam também por ser todos subprodutos da mesma ideia com elementos em comum”. O mote é sempre o discutir e pensar a cidade.
Hoje Macau China / ÁsiaBanco Asiático de Investimento terá 100 países membros O Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII), a primeira instituição financeira internacional proposta pela China, vai alargar o número de países membros de 57 para cerca de 100, anunciou ontem o presidente Jin Liqun. Em declarações ao jornal oficial China Daily, Jin disse que 30 países aguardam a adesão ao BAII e mais 20 indicaram já uma “intenção firme” de fazer parte da instituição. Caso se concretize, o BAII ultrapassa assim o Banco Asiático de Desenvolvimento, criado pelo Japão em 1966, e que conta com 67 membros, 19 dos quais exteriores à região da Ásia-Pacífico. Com uma participação de cerca de 13 milhões de dólares, Portugal é um dos 57 países fundadores do BAII, que no conjunto integra 14 países da União Europeia. O Brasil é o nono maior accionista, com uma quota de 3.181 milhões de dólares e o único membro em todo continente americano. Proposto pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em 2013, aquela entidade é vista como uma reacção do Governo chinês ao que considera o domínio norte-americano e europeu em instituições globais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Gigantes de fora Entre as grandes economias do planeta, apenas Estados Unidos da América e Japão não fazem parte, mas Jin frisou que “a porta continua aberta”, acrescentando que as empresas daqueles países serão tratadas de forma “igual e justa”, destaca o China Daily. Segundo o antigo vice-ministro das Finanças da China, o banco irá anunciar a primeira rodada de projectos de infra-estruturas este mês, e a segunda e terceira no final deste ano. O BAII vai também estender o financiamento a países exteriores à Ásia com “fortes relações económicas” com o continente e, para além de infra-estruturas, irá também financiar projectos nos sectores educação, saúde e planeamento e gestão urbana. Com sede em Pequim, o BAII tem um capital inicial de 100.000 milhões de dólares (30,34% pertence à China) e é assumido como o principal instrumento de financiamento da iniciativa chinesa “Uma Faixa e Uma Rota”, um gigante plano de infra-estruturas, que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasQue estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? | 15 – O estripador *por José Drummond [dropcap styçe’circle’]“M[/dropcap]eu Amor. Escrevo-te aqui de uma cidade perdida nas montanhas do Japão. Espero que esta minha primeira carta desde que nos separámos te acalme e que te possa dar alguma esperança. É importante que saibas que eu não te esqueci. Vives dentro do meu coração. Sempre. Desculpa não ter conseguido contactar-te antes da minha partida. Tenho a certeza que ele desconfia de alguma coisa. Estou a ficar assustada. Ontem a voz dele alterou-se e frequentemente fica em suspenso e não acaba as frases. Como se estivesse realmente a pensar noutra coisa. Não sei porque não tive coragem de acabar isto aí. Deixei arrastar tudo e depois pensei que seria mais fácil de lidar com este palerma durante a viagem. Na verdade gostava que estivesses aqui ao meu lado. Agora. Neste preciso momento, para não ter que te escrever e poder sussurrar tudo ao teu ouvido. E deixar-me abraçar. E deixar-me beijar. Só estou bem ao pé de ti. Quero dar-me toda. Para que me conheças ainda melhor do que eu própria me conheço. Espero que não estejas triste. Não tolero o pensamento de que possas estar triste. Como sabes não sou o tipo de mulher que se enrola em infidelidades. Tudo isto é tão complicado. Tudo isto é tão novo para mim. Não sei como tens paciência para mim. Não sei o que vês em mim. Posso garantir-te que não estou nesta relação contigo para perder tempo ou para brincar com os teus sentimentos. Por favor acredita na minha sinceridade. Tu és o homem que eu amo. Que mais me iluminou. Que mais me faz feliz. O único que realmente me faz feliz. Aqui, ao lado dele, sinto-me rodeada por esta miséria. Espero com todo o meu ser que acredites que sou honesta quando te digo que tu és aquele que o meu íntimo deseja. Aquele que trago sempre no peito. Como gostaria de poder planear o tempo exclusivamente em tua função. Desculpa-me, sabes que nunca tive jeito para escrever, mas todas as palavras são puras e saem do meu coração. Contigo sou tão diferente. Estou sempre com vontade de fazer coisas. Como gostava de voltar a cantar ópera cantonense. Aquelas escapadas à sala privada de karaoke, onde acabamos uma vez por fazer amor, acordaram em mim o meu gosto em cantar. Sabes que quando era pequenina sempre quis ser como a minha mãe. Ela cantava frequentemente na associação de bairro. Ouve um período, no qual, fui a muitos concertos tradicionais com ela. Lembro-me que ela chegou a ganhar prémios. Dava gosto ouvi-la. ‘Uma mulher que sabe cantar bem pode hipnotizar o homem certo’, dizia-me ela com frequência. Ela podia cantar em todos os lugares. Era uma mulher muito corajosa e confiante de si própria e das suas decisões. Como gostava de ser um bocadinho mais como ela. Depois aquela horrível pneumonia acabou com as forças dela. Foi nessa altura que os meus tios me levaram para Macau. Nunca mais a vi e eles esconderam-me a sua morte até eu fazer 16 anos. Mentiram-me durante anos e anos. Nessa altura a minha vida começou a deixar de fazer sentido. Acreditei que o mundo estava contra mim e que Deus não existe. Acabei por seguir o trabalho mais estúpido do mundo. Como sempre odiei estar por ali a deitar fichas para jogadores porcos, almas penadas, pessoas sem interesse nenhum. Por causa do meu trabalho eu tinha que usar aquele uniforme completamente amorfo e sem estilo. Sempre que saia dirigia-me às casas de banho, na parte de trás do hotel, e carregava um pouco nos cosméticos até alterar o rosto. Trazia sempre um vestido leve num saco que me ajudava a voltar a fazer sentir-me pessoa de novo. Era mais forte que eu. Era o desejo de conseguir ter uma existência. Sabes que a verdade é que eu sonhava um dia ainda conseguir fugir para Paris e estudar moda. Foi numa dessa noites depois do trabalho no Casino Lisboa que acabei por conhecer este palerma. Levou-me a comer ostras e lagosta e confesso-te que me deixei seduzir pelo seu dinheiro. A cada encontro comprava-me a alma com mais uma jóia. Não demorou muito até nos casarmos. Proibiu-me logo de trabalhar. Muitas vezes pensei que a minha vida acabou ali. Mal sabia eu que ainda te viria a conhecer. Uma vez resolvi pintar o cabelo com tons vermelhos. Nessa noite não me falou e na manhã seguinte deixou-me um bilhete, antes de sair para o trabalho, que dizia: ‘é favor mudar a cor do seu cabelo. Não é uma cor decente para a mulher de um político. Se alguém a vê com esse aspecto o meu lugar na assembleia fica em risco.’ E foi assim que nunca mais mudei o meu corte de cabelo nem o pintei de outra cor que não preto. Lembro-me que quando era miúda cuidava imenso do meu cabelo longo. Sonhava encontrar o meu príncipe e sonhava que ele me ajudava a lavar o cabelo. E que depois, com imenso carinho ajudava-me a secá-lo. E que brincava com ele quando encostava a minha cabeça no seu peito. A minha felicidade quando nos conhecemos. Meu amor. Finalmente alguém brinca com o meu cabelo. Finalmente alguém despertou em mim o romance. Esta paixão que me revelou que afinal a vida não tinha acabado. Agora, aqui perdida de saudades tuas, sei que estou pronta para te dar todo o meu amor. Tu és tão especial. Espero que nunca te arrependas de estar comigo. Sonha comigo meu amor. Dá-me tempo para acabar isto que estarei de volta muito, muito em breve. Sempre tua. Daphne.”
Hoje Macau China / ÁsiaPortugal quer ser um “ponto estratégico” da Rota Marítima da Seda [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ortugal quer ser um “ponto estratégico” da iniciativa chinesa Rota Marítima da Seda, disse o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em entrevista ontem publicada pelo jornal oficial do Partido Comunista da China (PCC). “Portugal está disposto a mover, em conjunto com a China, todas as diligências, no sentido de se tornar um ponto estratégico da Rota Marítima da Seda”, frisou Rebelo de Sousa, numa extensa entrevista publicada na versão impressa do Diário do Povo e na edição digital em português, inglês e chinês. Aquela iniciativa, anunciada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em 2013, refere-se a um gigante plano de infra-estruturas, que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático. Segundo as autoridades chinesas, vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas, cerca de 60 por cento da população mundial. Local apetecível Neste aspecto, Rebelo de Sousa frisou o “elevado grau de operacionalidade” e a “localização privilegiada” do porto de Sines, na costa ocidental portuguesa, como “porta de entrada” para a Europa. “Este porto encontra-se numa fase de atracção de investimento e acredito que poderá oferecer inúmeras vantagens a eventuais parceiros chineses”, disse. Desde que a China Three Gorges comprou 21,3% da EDP (Energias de Portugal), em 2011, a China assumiu-se como um dos maiores investidores em Portugal, adquirindo participações em grandes empresas das áreas da energia, seguros, saúde e banca. O chefe de Estado português destacou a relação de “complementaridade” no sector energético, “especialmente nas árceas produção e eficiência energética e energias renováveis”. “Os investimentos levados a cabo por empresas chinesas neste sector traduziram-se em resultados palpáveis para ambos os lados”, frisou ao jornal oficial do PCC. Para Rebelo de Sousa, existe hoje um número considerável de acordos assinados entre os dois países, nas “mais diversas áreas”, enquanto o número de visitas oficiais “tem aumentado, não só em quantidade, mas também em qualidade”. No ramo da investigação científica, porém, o Presidente da República considerou que “existe ainda uma larga margem de progressão”, apesar de “centros de pesquisa das universidades dos dois países terem avançado com alguns programas de cooperação”. Atracção sínica Rebelo de Sousa, que revelou ter uma “atracção” pela China, disse ainda que Portugal sempre primou pelo reforço da colaboração entre empresas chinesas e portuguesas nos mercados de Angola, Moçambique e outros países de língua oficial portuguesa. E propôs que ambos os lados avancem com um mecanismo de cooperação para operar em terceiros mercados, nomeadamente em África ou na América do Sul. “As empresas portuguesas e chinesas podem trabalhar juntas nestes mercados nos sectores das infra-estruturas e energia”, indicou. Quanto ao estatuto de Portugal como membro fundador do Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII), a primeira instituição financeira internacional proposta pela China, Rebelo de Sousa disse ao Diário do Povo que deseja que este sirva para aproximar Portugal de outros países da Ásia. Fontes oficiais portuguesas estimam que a China investiu 10 mil milhões de euros em Portugal, desde 2012. Fundado em 1948, na província chinesa de Hebei, o Diário do Povo tem uma tiragem diária superior a 2,5 milhões de exemplares e 300 milhões de visualizações na edição digital. Não é o único órgão estatal chinês, mas logo junto à recepção nota-se o seu estatuto singular: quatro fotografias exibem os homens que lideraram a China, desde 1949, a ler atentamente o jornal. Mao Zedong, o fundador da República Popular que dirigiu o país ao longo de 27 anos, e os seus sucessores – Deng Xiaoping, Jiang Zemin e Hu Jintao – estão lá todos. Desde Setembro passado, o Diário do Povo ocupa um edifício de 33 andares construído de raiz no moderno e cosmopolita CBD (Central Business District) de Pequim, e emprega actualmente cerca de 10 mil pessoas.
Hoje Macau EventosDia do Património Cultural da China comemorado em Macau Da música às exposições, sem descurar a caligrafia e arte chinesas, são diversas as actividades organizadas pelo Instituto Cultural para assinalar a 11ª edição do Dia do Património Cultural da China na RAEM [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Dia do Património Cultural da China, assinalado a 11 de Junho, tem este ano como tema “Deixe que o Património Cultural faça parte da vida moderna”, numa iniciativa com o intuito de incentivar residentes e turistas a visitar o Centro Histórico de Macau. Na agenda está a realização de uma série de actividades a decorrer em locais históricos, museus e bibliotecas – exposições, palestras e visitas gratuitas são algumas delas, de modo a aproximar o público do património. Entra as exposições, a organização destaca “Memórias do Tempo – Macau e a Lusofonia Afro-Asiática em Postais Fotográficos” e a exposição temática “Exposição da Colecção de Livros de Pedro Nolasco da Silva”. A primeira decorre entre 10 de Junho e 4 de Dezembro no Arquivo de Macau, onde são exibidos um conjunto de postais ilustrados seleccionados do acervo documental/iconográfico do organismo. Os trabalhos ilustram “uma perspectiva mais ampla dos aspectos urbano-arquitectónicos, etnográficos, históricos, naturais e socioeconómicos de países como Angola, Cabo Verde, ex-estados da Índia Portuguesa, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor Leste, entre outros países da Lusofonia Afro-Asiática tendo em conta a sua relação com Macau”. Junto aos livros Já a Biblioteca Pública de Macau organiza a mostra temática “Exposição da Colecção de Livros de Pedro Nolasco da Silva”, entre 10 e 18 de Junho, das 13h00 horas às 19h00 horas, na biblioteca do edifício do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). A acompanhar o evento decorrerá uma palestra e uma visita sob o mote da exposição, numa iniciativa levada a cabo por Lee Shuk Yee e onde consta a apresentação dos livros deste “importante funcionário de Macau do séc. XIX, bem como o seu espírito de promoção das culturas chinesa e portuguesa”, adianta a organização. O evento tem lugar a 11 de Junho pelas 15h00, sendo de entrada livre, mas sujeita a reserva de lugares. A arte e caligrafia chinesas também ocupam lugar nas festividades com o convite dirigido pela Academia Jao Tsung-I, numa iniciativa de 8 a 12 de Junho que tenciona proporcionar aos participantes uma oportunidade para apreciarem as obras de Jao. Outros tons A música está presente com a apresentação do concerto “Rapsódia Chinesa – Obras de Peng Xiuwen” pela Orquestra Chinesa de Macau e dirigido pelo “conceituado” maestro Bian Zushan, a 18 de Junho às 20h00 no teatro D. Pedro V sendo que os bilhetes já se encontram à venda. Ainda nos dias 11 e 12 o Farol da Guia tem outra luz, sendo que abre especialmente ao público entre as 10h00 e as 17h00, enquanto que o Museu de Macau, nas mesmas datas, tem entrada gratuita.
Hoje Macau EventosGraça Morais abre comemorações do Dia de Portugal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas começa já hoje a comemorar-se na RAEM, com a abertura da exposição “Trás-os-Montes, Terra Mágica”, da artista portuguesa Graça Morais. Com abertura marcada para as 18h30 na sala Ho Yin do Clube Militar, a mostra traz obras que, segundo a organização e citando Miguel Torga, exprimem a ligação íntima à terra e aos seus costumes, a esse espaço pedregoso, “parado e mudo”, onde “apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto”. Nas cerca de 35 obras que fazem parte da exposição “há um motivo quase constante que emana da pintura de Graça Morais.” Sem ser sempre declarada, está aqui a memória da terra que a viu nascer e onde passou a infância. A organização adianta ainda que “parece haver em cada uma das suas obras uma reminiscência, um traço, uma sombra que revivem e reflectem esse ‘reino maravilhoso’ – como Miguel Torga, ele próprio um nativo das terras de além-Marão, lhe chamou um dia.” É a experiência dessa infância mágica e a recordação de hábitos e gestos cujas raízes se prendem num passado longínquo que a organização e a artista pretendem partilhar com o público. Graça Morais, transmontana, vive e trabalha agora por entre a terra onde nasceu e Lisboa. Da sua carreira, e após terminada a formação em Pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto e de uma passagem por Paris, contam também trabalhos nas áreas da cenografia e da escrita. A sua vida e obra já foram também objecto de documentários como “As Escolhidas” (1997) de Margarida Gil ou “Na Cabeça de uma Mulher está a História de uma Aldeia” de Joana Morais. Ilustrou e colaborou com poetas e escritores, como José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís ou Miguel Torga e em 2008 foi inaugurado o Centro de Arte Contemporânea de Bragança com o seu nome sendo que as exposições destinadas à sua obra são frequentemente renovadas. Graça Morais está hoje representada em diversas colecções públicas e privadas. A exposição estará patente ao público até 12 de Junho e tem entrada livre.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasEstética urbana pós-socialista ou o Tibete invisível 你知道多少? * por Julie O’yang [dropcap sryle=’circle’]N[/dropcap]ão é frequente vermos um filme que nos revele um universo intimista e que, simultaneamente, nos proporcione emoções fortes num contexto de transformação social. Kekexili (可可西里, Patrulha da Montanha) é a excepção. A partir dos anos 90, a geração de lideres chineses que sucedeu a Mao Tsé-Tung iniciou uma série de reformas com vista a desenvolver a economia e que conduziram a uma explosão dos mercados. Este crescimento acelerado da economia trouxe profundas alterações sociais; o consumismo, o individualismo, e o planeamento urbano modificaram as funções e as faces das metrópoles. Estes factores promoveram uma migração massiva de jovens criativos, de todas as áreas, para as grandes cidades. Procuravam inserir-se nos circuitos intelectuais e de oportunidades profissionais. Ao contrário de Mao, que promovia o conceito de “o campo rodeado de cidades”, e que conduziu o Partido comunista à vitória, a China de hoje vive nas “cidades rodeadas pelo campo”. O sentimento crescente de urgência, intimo e pessoal, é um elemento determinante para compreender a China enquanto zona pivot do mundo actual. Kekexili, realizado por Lu Chuan, é um exercício sobre a estética urbana (no artigo da semana passada falei sobre “Nanjing! Nanjing!”, um filme épico passado na II Guerra, do mesmo realizador). E é por isso que uma história poderosa, onde ressalta a extravagância da natureza humana, é ao mesmo tempo uma história intima. Curiosamente, esta narrativa profundamente pessoal acaba por nos revelar o espírito do Tibete com maior clareza do que – atrevo-me a dizer – o Budismo. Kekexili é um filme inspirado numa história verdadeira em torno da caça ilegal de antílopes tibetanos na região de Kekexili, a maior reserva natural da China. O início do filme é desde logo chocante. Vemos um membro das patrulhas da montanha a ser executado pelos caçadores ilegais. Mas o protagonista da história é Ga Yu, um jornalista de Pequim que se desloca à região para fazer uma reportagem sobre os voluntários que lá trabalham. Nesta pesquisa é acompanhado por Ritai, o chefe da patrulha. Certo dia, Ritai convida-o a acompanhar a equipa numa emboscada aos caçadores de antílopes, após terem sido informados que eles se encontravam nas proximidades. À medida que se embrenham na natureza, perseguindo as suas presas, assistimos às tremendas dificuldades que os esperam, já que têm de enfrentar, não só, inimigos bem armados, como também as inclementes forças da natureza. Com o deslumbrante cenário do Planalto Tibetano como pano de fundo, Kekexili conta a história dos tibetanos que enfrentam a morte e a fome para salvar as hordas de antílopes das armas de caçadores impiedosos. Filmado in loco, Kekexili, é uma mistura do fatalismo dos Westerns com a realidade fulgurante de um documentário. Se imagina o Tibete como um local pacífico, repleto de monges piedosos em oração, este filme vai fazê-lo mudar de ideias. O filme é uma junção de detalhes poéticos, tensão de cortar à faca e heroísmo muy macho, à la Hemingway. Veja o trailer de Kekexili em: bit.ly/1U4NYOB Antes de terminar, queremos, contudo, pôr o dedo na ferida. Porque é que o Tibete é tão importante para o Regime chinês? Ocorrem-nos três motivos óbvios: 1: Já o detém. Abrir mão do Tibete seria dar o dito por não dito e representaria um enorme embaraço. A China quer manter o status quo. 2: O Tibete é rico em recursos naturais. Para além da riqueza em minérios, a maior parte da água potável que abastece esta zona da Ásia brota do Planalto Tibetano. O controlo da água dos rios é essencial para a agricultura chinesa. 3: O Tibete é uma zona rica em espiritualidade. Muitos chineses (jovens) anseiam por uma âncora espiritual e encontram-na no Budismo tibetano e nas suas crenças exóticas. O espiritualismo tibetano é um contraponto ao Cristianismo e ao Islamismo que alastram na China, numa onda de popularidade crescente. Em 1279, Kublai Khan destronou a Dinastia Sulista Song. O Tibete tornou-se parte integrante do Império Mongol, também conhecido como, Dinastia Yuan, seguindo a histórica “linhagem” chinesa. A Dinastia Yuan conquistou a China e tornou-se orgulhosamente parte da história oficial chinesa. Penso que, para além do cenário do poder político, esta questão mexe com os sentimentos humanos mais primitivos e involuntários, como respirar.
Hoje Macau Manchete SociedadeIPIM abre candidaturas de apoio ao comércio online O IPIM vai dar até 20 mil patacas às empresas de Macau que queiram colocar os seus produtos à venda em plataformas online. As candidaturas decorrem até ao final do ano [dropcap sryle=’circle’]O[/dropcap]Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) abre na próxima semana o Plano de Incentivo para a Promoção do Comércio Electrónico. Destinado a empresas locais ou com metade do capital de Macau, a iniciativa visa dar a conhecer os produtos da RAEM ao mesmo tempo que incentiva este tipo de comércio. A ideia é encorajar a utilização da Internet como ferramenta promotora da venda de produtos locais e a entrada em novos mercados, como anunciou ontem o IPIM em conferência de imprensa. Após o plano de 2009 que tinha como base a divulgação em plataformas “Business to Bussiness” (B2B), é agora a vez de avançar com a promoção em plataformas que chegam directamente aos consumidores, as “Business to Consumer” (B2C). Na próxima segunda-feira, 6 de Junho, abrem as candidaturas ao apoio especialmente concebido para ajudar as pequenas e médias empresas (PME). É também neste dia que as empresas podem conhecer quais as plataformas já acreditadas pelo IPIM onde os produtos podem ser postos à venda. Plataformas estas semelhantes, por exemplo, ao Ali Baba. À espera da centena O IPIM promete dar até 20 mil patacas a cada empresa, incentivos que incluem apoio para “despesas técnicas anuais e despesas ligadas à publicidade e promoção”. O limite é de 70% do total da despesa e cada empresa poderá beneficiar do apoio apenas uma vez por ano fiscal. Para serem elegíveis ao apoio financeiro as empresas têm que estar registadas na Direcção dos Serviços de Finanças, ter pelo menos 50% das quotas detidas por residentes de Macau e ter actividade comercial nas áreas de produção e/ou comércio de produtos. Para já, o subsídio está apenas numa fase experimental – que decorre a partir de 6 de Junho e até 31 de Dezembro -, sendo que o IPIM pretende cativar o interesse de pelo menos cem entidades, tendo disponibilizado uma verba total de dois milhões patacas. No entanto, Glória Batalha Hung adianta que, caso o interesse no projecto seja superior ao estimado e as empresas cumpram os requisitos, o montante “poderá ser aumentado”. Por outro lado, se as candidaturas forem muito inferiores ao número previsto, a presidente-substituta do IPIM adianta que pode ser sinal de que “alguma coisa não esteja a correr bem e que o próprio projecto necessitará de ser revisto.” Já António Lei, Director do Centro de Apoio Empresarial do IPIM, refere que o tempo de espera da aprovação não excederá os 30 dias não esquecendo que, se por agora as plataformas acreditadas pelo IPIM são essencialmente chinesas, incluindo de Macau, a instituição está também aberta a propostas de creditação de outras origens de modo a internacionalizar cada vez mais o comércio local.