Líder chinês Bo Yibo morreu há dez anos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] histórico líder comunista chinês Bo Yibo morreu faz domingo dez anos. A China pós-maoista que ajudou a delinear, onde o Estado autoritário se manteve apesar da abertura económica, terá contribuído para a queda do filho, Bo Xilai.

Natural da província de Shanxi, noroeste da China, Bo Yibo aderiu ao Partido Comunista Chinês (PCC) em 1925, com apenas 17 anos.

Após a fundação da República Popular da China, em 1949, foi nomeado ministro das Finanças e, mais tarde, ocupou o cargo de vice-primeiro-ministro.

No entanto, durante a Revolução Cultural (1966-1976), uma radical campanha política de massas lançada pelo líder comunista Mao Zedong, foi preso, acusado de “contra-revolucionário”.

Bo, que era um aliado do então Presidente Liu Shaoqi, terá caído em desgraça por apoiar a abertura da China ao comércio com países capitalistas.

A sua mulher morreu sob a custódia dos guardas vermelhos, os jovens radicais que constituíam “a vanguarda” do movimento; os filhos foram enviados para o campo “para aprenderem com os camponeses”.

Após a morte de Mao, em 1976, Bo Yibo tornou-se um dos “Oito Imortais” – os líderes do PCC que, depois de purgados, retomaram a vida política com a ascensão de Deng Xiaoping, o “arquitecto-chefe das reformas económicas”.

Bo Yibo bateu-se então com Deng pela abertura da China à economia de mercado, contra a facção mais ortodoxa do PCC, mas opôs-se sempre a reformas políticas.

Em 1987, apoiou a remoção de Hu Yaobang do cargo de secretário-geral do PCC, acusando-o de promover o “liberalismo burguês”, termo com que se referia à democracia multipartidária.

Apoiou também publicamente a sangrenta repressão militar do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, a 4 de junho de 1989.

O seu último legado foi a ascensão política do filho Bo Xilai, até há poucos anos visto como forte candidato ao Comité Permanente do Politburo.

A queda de um príncipe

Bo Xilai, que na década de 1990 dirigiu Dalian, cidade portuária no nordeste da China, foi mais tarde governador da província de Liaoning, antes de ser promovido a ministro do Comércio, em 2004.

Contudo, o homicídio do empresário britânico Neil Heywood, em Novembro de 2011, num hotel de Chongqing, onde era então líder da organização local do PCC, veio pôr termo à sua ascensão.

A sua mulher, Gu Kailai, seria condenada à morte pelo envenenamento do empresário.

Bo, que tentou encobrir o crime de Gu, foi expulso do PCC em 2012 e condenado no ano seguinte a prisão perpétua por corrupção, desvio de fundos e abuso de poder.

Bo era então um dos políticos mais populares do país: assumia-se publicamente como uma espécie de líder da chamada “nova esquerda”, promovia o revivalismo em torno da Revolução Cultural e criticava as crescentes desigualdades sociais.

O filho mais novo, no entanto, estudava em Harvard, nos Estados Unidos, e a mulher tinha vários negócios fora da China com Heywood.

A sua queda coincidiu com o XVIII Congresso do PCC, que elegeu a nova liderança chinesa, encabeçada pelo Presidente Xi Jinping, considerado hoje o mais forte líder que a China conheceu nas duas últimas décadas.

Em tribunal, Bo Xilai admitiu ter cometido “alguns erros”, mas negou todas as acusações e, numa carta à família difundida na imprensa de Hong Kong, comparou o seu destino ao do pai.

13 Jan 2017

Davos | Xi Jinping “aberto” a reunião com equipa de Trump

Pela primeira vez na história do Fórum Económico mundial de Davos caberá à presidência chinesa a abertura da sessão. O discurso de Xi Jinping deverá centrar-se na defesa da globalização e na rejeição do proteccionismo. Pequim mostra ainda disponibilidade para encontros bilaterais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, está “aberto” a encontrar-se com os representantes da equipa do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump, que participam no Fórum Económico mundial de Davos, na próxima semana, avançou ontem o Governo chinês.

Xi vai participar pela primeira vez em Davos, como parte da sua visita de Estado, que se realiza na Suíça entre os dias 15 e 18 deste mês, e que, segundo avançou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Li Baodong, estará centrada na defesa da globalização e multilateralismo.

“Na medida em que a agenda o permitir, a parte chinesa está aberta a reuniões bilaterais”, disse Li numa conferência de imprensa em Pequim, questionado sobre um possível encontro de enviados de Trump, já que Anthony Scaramucci, membro executivo da equipa de transição, representará o Presidente eleito dos Estados Unidos no encontro suíço.

Li reconheceu que “discussões estão a decorrer” para essa hipotética reunião, mas não a deu como garantida.

Receitas chinesas

O responsável explicou também que a presença de Xi em Davos, onde no próximo dia 17 se tornará o primeiro Presidente chinês a fazer o discurso inaugural, tem como objectivo “demonstrar que a China é uma potência responsável”.

Segundo o vice-ministro, na sua intervenção Xi vai defender a globalização e o sistema vigente de comércio internacional e irá manifestar a sua rejeição ao proteccionismo, apresentará as receitas de Pequim para solucionar os problemas da economia global e explicará o seu plano para construir a Nova Rota da Seda.

Um dia depois, a 18 de Janeiro, o Presidente chinês vai visitar as Nações Unidas em Genebra, onde fará outro discurso centrado na promoção do multilateralismo e do papel da ONU nas relações internacionais.

Xi irá ainda encontrar-se com o novo secretário-geral da ONU, António Guterres, a quem oferecerá o apoio da China.

12 Jan 2017

Seul | Pyongyang tem plutónio para dez bombas nucleares

 

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte tem plutónio suficiente para fazer dez bombas nucleares, informou ontem a Coreia do Sul, uma semana depois de Kim Jong-Un ter dito que estava perto de testar um míssil balístico intercontinental.

A Coreia do Norte, que realizou cinco testes nucleares e vários lançamentos de mísseis, planeia, alegadamente, uma iniciativa nuclear para 2017 e procura desenvolver um sistema de armamento capaz de atingir os Estados Unidos.

Os analistas dividem-se sobre quão perto Pyongyang está de completar totalmente as suas ambições nucleares, mas concordam que o país fez enormes avanços desde que Kim assumiu o poder após a morte do pai, Kim Jong-Il, em 2011.

O Ministério da Defesa de Seul diz que o Norte tinha cerca de 50 quilos de plutónio para armas no final de 2016, o suficiente para fazer cerca de dez armas, mais que os 40 quilos que tinha há oito anos.

O Norte tem também uma capacidade “considerável” de produzir armas com base em urânio altamente enriquecido, segundo o ‘livro branco’ publicado de dois em dois anos, que não faz, no entanto, estimativas de ‘stock’ de urânio para armas, apontando para os segredos impenetráveis do programa de urânio.

O ‘think-tank’ dos Estados Unidos Institute for Science and International Security estimou em Junho que o arsenal nuclear total do Norte era de mais de 21 bombas, acima das 10 a 16 de 2014.

Contra-ataque

O programa nuclear da Coreia do Norte levou o país a sofrer sanções impostas pela ONU que, em 2016, levaram a perdas equivalentes a 7,4% do valor das suas exportações no ano anterior, segundo um estudo do Instituto de Estratégia para a Segurança Nacional, em Seul, ontem publicado.

A percentagem foi calculada estimando que o regime de Pyongyang perdeu, entre Março (quando o primeiro pacote de sanções de 2016 foi aplicado) e Dezembro, 200 milhões de dólares.

O número foi estimado tendo em conta a limitação das exportações norte-coreanas (principalmente para a China, o seu principal parceiro comercial), e também a queda das remessas dos trabalhadores norte-coreanos no exterior (cerca de 50 mil, principalmente na Rússia e na China).

O estudo sublinha que países como a China e o Kuwait se tornaram mais restritos na autorização de entrada de trabalhadores norte-coreanos após as sanções.

No entanto, foi o “encerramento do complexo industrial intercoreano (de Kaesong) que prejudicou em maior medida a entrada de moedas de peso no Norte”, explica o relatório.

12 Jan 2017

AL | Interpelações não são publicadas no website por falta de recursos humanos

 

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s atrasos no site da Assembleia Legislativa (AL) em relação à disponibilização das interpelações escritas dos deputados, bem como das respostas que são dadas pelo Governo, deve-se a um problema de falta de recursos humanos. A informação foi dada pelo vice-presidente do órgão legislativo, Lam Heong Sang, ao jornal Ou Mun. A solução, disse o deputado, passa pela criação de um novo programa para gerir o site da AL.

Lam Heong Sang justifica os atrasos na actualização das respostas no site da AL com a falta de profissionais de tecnologias de informação (TI), sendo que, actualmente, a Assembleia tem apenas um funcionário nesta área. Além de ser o único, “o profissional de TI tem como prioridade dar seguimento ao trabalho de acompanhamento das propostas que seguem para análise nas comissões, para que os deputados tenham os documentos de que necessitam”. Só depois chega a vez das interpelações, o modo como os deputados exercem outra função inerente ao cargo: a fiscalização da acção governativa.

Já está em discussão uma proposta de optimização dos serviços informáticos e a elaboração de um novo programa, referiu ainda o vice-presidente, sem adiantar datas quanto à sua operacionalização ou se poderão ser contratados mais técnicos especializados.

A divulgação das respostas às interpelações à comunicação social tem sido feita pelos próprios deputados. No entanto, a prática não é generalizada, pelo que a população não estará plenamente informada do acompanhamento que é dado pelo Executivo às missivas.

De acordo com o jornal Ou Mun, há ainda interpelações da passada sessão legislativa cujas respostas ainda não são publicamente conhecidas.

Lam Heong Sang referiu que, por vezes, a actualização dos documentos dos deputados é lenta devido à falta de pessoal, sendo que compreende demoras de uma ou duas semanas mas, tratando-se de meses, tal será um exagero.

O vice-presidente da Assembleia afirmou também que, em geral, é possível responder às interpelações num período de 60 dias, consoante a complexidade dos conteúdos. “Por ser uma tarefa que envolve vários serviços, exige tempo”, afirmou.

11 Jan 2017

Pequim espera crescimento de 6,7% em 2016

O “novo normal” manteve-se em 2016 com o consumo a ser determinante para o crescimento económico. Pequim destaca a sua contribuição para o desenvolvimento global mas antevê problemas para 2017

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês disse ontem esperar que o crescimento da sua economia em 2016 chegue aos 6,7%, taxa registada entre Janeiro e Setembro, e antecipou “problemas e contradições” para 2017.

A informação foi avançada pelo Presidente da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China – órgão de planificação económica –, Xu Shaoshi, que, numa conferência de imprensa, defendeu que a segunda economia mundial superou no ano passado “um ambiente económico interno e externo muito complexo”.

“O nosso crescimento nos primeiros três trimestres (de 2016) foi de 6,7% e espera-se que no conjunto do ano seja de cerca de 6,7%”, disse Xu, acrescentando que no ano passado foram criados mais de 13 milhões de novos empregos urbanos.

O responsável do departamento de planificação económica chinês explicou que no ano passado manteve-se o “novo normal” – eufemismo usado pelas autoridades para se referirem a uma etapa de menor crescimento – e que o país evoluiu no seu processo de transformação estrutural.

Nesse sentido, Xu assinalou que o consumo contribuiu para 71% do crescimento económico e que o consumo de energia por unidade de produto interno bruto baixou 5%, contribuindo para a progressiva retirada das indústrias mais poluentes.

Xu destacou que, apesar de a taxa de crescimento económico da China ser inferior à de há uns anos, estima-se que o PIB cresceu em cinco biliões de yuan (685.000 milhões de euros) em 2016, o que equivale ao seu tamanho total em 1994 ou a uma expansão de 10% em relação à cinco anos.

Líder mundial

O dirigente chinês acrescentou que a contribuição do gigante asiático para o crescimento económico global “pode alcançar mais de 30%”, pelo que antecipou que se manterá como o maior motor de crescimento mundial.

“Creio que estamos bem posicionados para responder aos riscos e desafios e para manter as fluidas operações da economia chinesa”, disse Xu.

O presidente da comissão apontou o dedo à lenta recuperação da economia mundial após a crise financeira e à crescente incerteza no panorama global, que se juntam às dificuldades internas.

11 Jan 2017

Hong Kong | Dois detidos por agressão a deputado pró-democracia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] polícia em Hong Kong deteve ontem dois homens relacionados com a agressão ao deputado e activista Nathan Law no domingo à chegada ao aeroporto da cidade, informou a Rádio e Televisão Pública local.

Os dois homens, com 53 e 71 anos, foram detidos sob suspeita da agressão, que resultou em ferimentos, e de reunião ilegal.

Na segunda-feira, Nathan Law acusou o Partido Comunista de ter mobilizado os manifestantes.

Nathan Law, de 23 anos – o mais jovem deputado de Hong Kong –, foi atacado por manifestantes pró-Pequim no aeroporto da cidade, no domingo à noite, depois de regressar de um fórum político em Taiwan.

O Fórum sobre a Democracia, Legislação e Movimentos Sociais, organizado pelo Partido Novo Poder (PNP) de Taiwan, foi muito criticado por Pequim, através do Gabinete dos Assuntos de Taiwan, que o qualificou como uma conspiração entre os movimentos de independência de Taiwan e Hong Kong para dividir a China.

A deslocação a Taiwan incluiu o activista Joshua Wong, dirigente estudantil dos protestos pró-democracia de 2014, e os deputados Nathan Law, Edward Yiu e Eddie Chu.

Os deputados e activistas já tinham sido alvo de protestos à partida de Hong Kong e à chegada a Taipé para participar no fórum.

O evento de dois dias tinha como objectivo ligar os movimentos democráticos de Hong Kong e Taiwan.

Nova vaga

Nathan Law faz parte de uma nova vaga de deputados que apoia a ideia de autodeterminação para Hong Kong, uma Região Administrativa Especial da China com elevado grau de autonomia.

A ideia de independência para Hong Kong – um tema em tempos tabu – tem ganho força desde os protestos pró-democracia de 2014, que não conseguiram obter a reforma política desejada.

Ao mesmo tempo, aumenta na cidade o receio de Pequim estar a aumentar o seu controlo.

11 Jan 2017

Recusa de entrada | Polícia não revela números, nem razões

As autoridades de Macau recusam-se a revelar o número de pessoas que proibiram de entrar no território. Também não dizem por que o fizeram ou a procedência de quem bateu com o nariz na porta. O argumento? Essas informações são confidenciais

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap]s dados estatísticos de ‘recusas de entrada’ são classificados como dados e informações ‘reservados’, pelo que não há lugar para a sua divulgação”, afirmou a Polícia de Segurança Pública (PSP) em resposta escrita enviada à Agência Lusa.

Contudo, nem sempre foi assim. Pelo menos durante o mandato do anterior secretário para a Segurança – que terminou em Dezembro de 2014 –, a PSP chegou a divulgar dados sobre as pessoas proibidas de entrar em Macau a pedido dos jornalistas.

O impedimento de entrada em Macau acontece com alguma regularidade, com a grande maioria dos casos a serem tornados públicos pelos próprios visados, muitos dos quais são políticos ou activistas de Hong Kong. A PSP não tem por hábito apresentar motivos concretos, invocando, com frequência, razões de segurança.

Na mais recente resposta à Lusa, a PSP reitera que “cumpre a inspecção e o controlo de entradas e saídas” da RAEM, em “estrita conformidade” com a lei e “rigorosamente conforme as disposições legais e de acordo como os procedimentos estabelecidos, para examinar as condições de entrada de todas as pessoas e assim decidir autorizar ou recusar a entrada de visitantes”.

Os mais recentes casos de interdição de entrada – pelo menos tornados públicos – ocorreram no último dia de 2016. Dois antigos deputados pró-democracia de Hong Kong, que viajaram separadamente, viram-lhes ser negada entrada sob o argumento de que “constituíam uma ameaça à segurança e estabilidade internas” de Macau, segundo a imprensa da antiga colónia britânica.

Em Outubro, aquando da visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, foram proibidos de passar a fronteira pelo menos dez residentes de Hong Kong, incluindo activistas, mas também um deputado e um cineasta.

História com barbas

Em 2015, o caso mais notório foi o da deputada e presidente do Partido Democrático de Hong Kong, também impedida de passar a fronteira por motivos de segurança interna. Em declarações à Lusa, Emily Lau mostrou-se então “perplexa” até porque a visita era de lazer e não havia figuras importantes da China a visitar Macau, nem protestos a acontecer.

No final de 2014, um episódio inédito envolvendo um bebé de um ano levou mesmo o chefe do Executivo, Chui Sai On, a pedir desculpa. A criança figurava num grupo de 14 activistas pró-democracia e quatro jornalistas de Hong Kong proibido de entrar em Macau que, por aqueles dias, recebia a visita do Presidente da China, Xi Jinping. Aparentemente, a criança tinha o mesmo nome de uma das pessoas inscritas na “lista negra” de Macau.

Após anos a negar a sua existência, as autoridades de segurança defendem a legalidade dessa “lista negra” que, argumentam, é “elaborada tendo em consideração que essas pessoas podem constituir uma ameaça à segurança em Macau”.

A proibição de entrada sobretudo de políticos de Hong Kong tem sido uma preocupação levantada pela União Europeia e Estados Unidos.

Em Outubro, a Associação Novo Macau adiantou estar a trabalhar na criação de uma base de dados sobre violações dos direitos humanos, dando conta de que informações específicas sobre as proibições de entrada seriam compiladas num ficheiro especial. Os pró-democratas pretendem colocar a base de dados à disposição de organismos da ONU, quando for a altura de rever a ratificação de instrumentos relacionados com a protecção de direitos humanos em Macau.

10 Jan 2017

Estudo detecta contribuições de Hong Kong para maiores protestos em Macau pós-99

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s protestos de 2014 de Macau “não surgiram do nada”, numa cidade que “nasceu da corrupção”, e foram impulsionados pelos media de Hong Kong e redes sociais, conclui um estudo publicado este mês. Entre Maio e Agosto de 2014, Macau assistiu a três frentes de protesto que levaram milhares de pessoas à rua, numa das ocasiões gerando a maior manifestação (cerca de 20 mil pessoas) desde a transferência de Administração em 1999: um movimento contra uma lei que previa regalias para titulares dos principais cargos políticos, um referendo civil sobre a eleição do chefe do Governo (considerado ilegal pelas autoridades) e múltiplos protestos dos trabalhadores do jogo

Estes “foram únicos na história da cidade” desde a transferência, “em termos de escala, meios de participação e parcialmente devido à natureza das próprias exigências”, argumenta Albert Wong no estudo da Universidade de Macau “The Summer 2014 protests in Macau: their contexts and continuities”, publicado este mês na Asian Education and Development Studies.

Wong aponta para uma confluência de factores correntes e históricos numa cidade com “história de corrupção e protestos contra ela”. Macau, diz, “nasceu de corrupção”, indicando que quando os portugueses chegaram à cidade em 1553 “subornaram” um dirigente chinês para que os deixasse secar as mercadorias após uma tempestade, “e eventualmente acabaram por se estabelecer”.

O investigador refere depois as suspeitas de corrupção em torno do governador Carlos Melancia, nos anos 1990, e a condenação do secretário para os Transportes e Obras Públicas Ao Man Long, em 2008.

A este contexto, Wong adiciona o falhanço da reforma política de 2012, que não resultou numa maior voz dos eleitores, e elementos como a instalação de ‘conselhos distritais’ não eleitos.

Assim, “não é difícil perceber porque é que o público sentiu grande desespero e uma acção directa se tornou necessária pela altura dos protestos contra a lei das garantias”, uma proposta apresentada pelo Governo a três meses das eleições para o Chefe do Executivo e que previa elevadas compensações para os titulares dos principais cargos políticos após o fim das funções políticas.

O que o povo diz

Com as “sementes lançadas”, as redes sociais vieram dar um contributo essencial. Além de convocarem os protestos, plataformas como o Facebook foram usadas para pressionar os deputados a rejeitar a proposta de lei. Segundo Wong, alguns tiveram mesmo de encerrar as suas contas perante o influxo de mensagens.

Apesar de o descontentamento não vir expresso nos jornais chineses de Macau, o assunto era debatido “em restaurantes e autocarros, tanto entre a classe média, como na baixa”. Houve ainda outro empurrão fundamental: “Foram os jornais e revistas de Hong Kong, disponíveis nos quiosques e lojas de conveniência de Macau, que disponibilizaram uma fonte imparcial de comentário aos cidadãos de Macau”.

Apesar desta convergência de “precedentes e influências da actividade contemporânea acima do expectável”, o desenvolvimento social e político desde 2014 “não parece prometedor”, com a detenção temporária de alguns activistas, o afastamento de pelo menos dois académicos e a introdução de educação patriótica nas escolas, entre outros factores, remata Wong.

10 Jan 2017

Hong Kong | Deputado pró-democracia atacado no aeroporto

Depois de ter sido confrontado com os protestos de grupos pró-Pequim em Taiwan, Nathan Law  foi agora agredido  no regresso a Hong Kong, por manifestantes anti-independência

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais jovem deputado de Hong Kong, Nathan Law, foi atacado por manifestantes anti-independência no aeroporto da cidade, no domingo à noite, depois de regressar de um fórum político em Taiwan.

Law, de 23 anos, foi confrontado com um protesto pró-Pequim na zona das chegadas do aeroporto. O grupo gritava e atirou um líquido à cara do deputado, tentando também bater-lhe, ao mesmo tempo que a polícia tentava retirá-lo do local.

O incidente aconteceu depois de Law e outros activistas pró-democracia de Hong Kong, incluindo Joshua Wong, terem sido recebidos com protestos em Taipé, ao chegarem para o fórum no sábado.

O evento de dois dias tinha como objectivo ligar os movimentos democráticos de Hong Kong e Taiwan.

Law faz parte de uma nova vaga de deputados que apoia a ideia de autodeterminação para Hong Kong, uma Região Administrativa Especial da China com elevado grau de autonomia.

Em acção

Imagens televisivas do ataque mostram Law a tropeçar numas escadas depois de lhe atirarem uma garrafa de água.

Os manifestantes gritaram “tropeça e morre” e um chamou “traidor” a Law.

O grupo empunhava também cartazes com as frases “Sai de Hong Kong” e “Destruir a independência de Hong Kong”.

De acordo com a imprensa local duas pessoas foram detidas, informação que não foi ainda confirmada pela polícia.

O partido de Law, Demosisto, informou que o jovem ficou ferido, mas não deu mais pormenores.

A ideia de independência para Hong Kong – um tema em tempos tabu – tem ganhado força desde os protestos pró-democracia de 2014, que não conseguiram obter a reforma política desejada.

Ao mesmo tempo, aumenta na cidade o receio de Pequim estar a aumentar o seu controlo.

10 Jan 2017

Ho Chio Meng | 9,3 milhões de patacas foram parar a sala VIP

Em mais uma sessão do julgamento do antigo procurador da RAEM, Ho Chio Meng confirmou que transferiu 9,3 milhões de patacas para o irmão, que acabaram por ir parar a uma sala VIP

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]firma não ter estado ligado ao negócio, mas a confirmação foi ontem feita no Tribunal de Última Instância (TUI). Segundo a Rádio Macau, Ho Chio Meng, ex-procurador da RAEM, afirmou ter transferido 9,3 milhões de patacas para o irmão, de nome Ho Chiu Shun, através da compra de participações na Sociedade de Promoção de Jogos Seng Ou Limitada. A transferência foi feita no início de 2015 mas, segundo o arguido, a ideia era que o dinheiro fosse investido na compra de um apartamento na zona da Praia Grande, que estava em nome do irmão desde 2006. O dinheiro terá sido investido ainda em imóveis, um parque de estacionamento e depositado em várias contas poupança em Macau e na China.

De acordo com a emissora, que está a acompanhar o julgamento, Ho Chio Meng alegou não saber que aquele dinheiro seria, meses mais tarde, investido numa sala VIP. Com base na versão do Ministério Público (MP), o arguido cometeu este crime quando já tinha conhecimento da investigação levada a cabo pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC).

Ho Chio Meng recordou perante o juiz uma conversa com o irmão, em que este lhe terá dito que o sector VIP dos casinos representava um negócio “com futuro”, mas disse que a decisão de investir o dinheiro no sector junket partiu exclusivamente de Ho Chiu Shun.

O ex-procurador não conseguiu mostrar provas da compra do apartamento, por, segundo a sua versão, não ter tido tempo de assinar as escrituras, por já estar sob investigação.

Dinheiro lavado?

Na tese do MP, o investimento numa sala VIP faz parte de um esquema de branqueamento de capitais. Ho Chio Meng não conseguiu explicar as transferências de dinheiro feitas entre o seu irmão e os sócios de dez empresas que, durante dez anos, ficaram com os contratos atribuídos pelo MP.

A acusação diz que coube ao antigo procurador a atribuição de instruções a dois sócios destas empresas, também arguidos, para abrirem contas, receberem e movimentarem dinheiro vindo de subornos pagos. Essa ideia parte de conversas telefónicas alegadamente mantidas entre Ho Chio Meng, o irmão, um cunhado e mais dois sócios de duas empresas. Ho recusou e disse ter feito “um jogo” quando leu a sua própria acusação: “adivinhar” qual era a sua voz no meio dos telefonemas.

O ex-procurador reiterou a inocência, alegando que a tese do MP é apenas uma “dedução”. “Para a acusação, é impossível [descrever] factos objectivos. Não há factos que possam apresentar. Apenas dizem: ‘O fulano pediu, o fulano deu instruções’. Isto é uma presunção”, declarou. E insistiu: “Têm de dizer quais os factos, a data, a hora [a que foram cometidos], como dei instruções e qual foi o resultado”.

Na mesma sessão de julgamento, o antigo procurador admitiu ainda ter omitido bens da sua declaração de rendimentos, alegando desconhecimento da lei. Deixou ainda uma frase: “Não fiz de propósito”.

Ho Chio Meng ilibou a sua mulher, Chao Sio Fai, de ter culpas no cartório. “Fui eu quem fez as declarações. A minha mulher não teve conhecimento, nem se meteu no assunto. A responsabilidade cabe a mim.” Chao Sio Fai é também arguida, acusada de prestar falsas declarações, algo que causa “tristeza” ao antigo procurador.

As declarações de rendimentos dizem respeito ao período entre 2010 e 2015. Contas na China e em Macau, 300 mil patacas num cofre de uma das casas do casal, um apartamento e um parque de estacionamento na Areia Preta serão os bens que faltam nessas declarações. Ho Chio Meng disse que comprou esta fracção para o pai.

10 Jan 2017

Mário Soares (1924-2017) | O democrata insaciável

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Tinha 92 anos e estava internado há já algumas semanas. Mário Soares morreu em Lisboa no passado sábado. Homem polémico, amado por uns, contestado por outros, foi uma figura incontornável do passado-presente português. A ele se deve a consolidação da democracia no país

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi a figura central da democracia portuguesa. Começou a vida política ainda estudante, no combate ao Estado Novo, fundou o Partido Socialista (PS) e desempenhou os mais altos cargos políticos na República Portuguesa. Nascido em Lisboa, a 7 de Dezembro de 1924, filho de João Lopes Soares, que foi ministro na I República, e de Elisa Nobre Baptista, Mário Alberto Nobre Lopes Soares teve um percurso político intenso, com influência em alguns dos mais importantes acontecimentos do século XX em Portugal.

Preso político e exilado pela ditadura de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, foi um dos fundadores do PS, em 1973, e depois do 25 de Abril de 1974 foi ministro dos Negócios Estrangeiros dos primeiros governos provisórios, primeiro-ministro dos I, II e IX governos constitucionais, entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, e Presidente da República por dois mandatos, de 1986 a 1996.

Os primeiros passos de Mário Soares na política foram dados aos 19 anos, em plena ditadura e no final da II Grande Guerra Mundial, quando aderiu, na clandestinidade, ao Partido Comunista Português (PCP) em 1943, tendo nessa década feito parte de organizações de resistência ao regime como o MUD (Movimento de Unidade Democrática) Juvenil e o MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista).

Antes, ainda adolescente, conheceu por via do seu pai o líder histórico do PCP, Álvaro Cunhal, então jovem dirigente comunista, que foi regente de estudos do Colégio Moderno e que lhe deu lições particulares (tal como Agostinho da Silva), incentivando-o, depois, a seguir na universidade os estudos de Filosofia.

Dois anos depois, em Agosto de 1946, foi pela primeira vez preso pela polícia política do Estado Novo, a PIDE. Cinquenta anos mais tarde, numa entrevista, confessou que a prisão foi a sua “segunda universidade”.

Terminada a II Guerra Mundial e no início da Guerra Fria (Estados Unidos/União Soviética), foi secretário da Comissão Central da candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República, em 1949, tendo participado desde essa altura em todos os actos eleitorais permitidos pelo regime do Estado Novo.

Licenciado em Ciências Históricas-Filosóficas (1951) e em Direito (1957), pela Universidade de Lisboa, Mário Soares desligou-se, entretanto, do PCP, partido do qual seria formalmente expulso em 1950.

“Ainda hoje não lhe posso dizer se fui eu que saí ou se foi o partido que me expulsou”, disse na entrevista à jornalista Maria João Avillez, que deu origem ao livro “Soares – Ditadura e Revolução”.

Os dias da prisão

Em 1953, numa fase em que era acusado de ser “oportunista” pelo PCP, aderiu à Resistência Republicana e Socialista, que pretendia construir uma alternativa de esquerda não comunista. A luta contra a ditadura foi um dos legados que recebeu do pai, que disse ser a “sua grande referência moral”. A actividade política levou a que fosse perseguido pela PIDE e preso 12 vezes num período de três anos.

Na prisão, casou-se com Maria de Jesus Barroso, jovem actriz do Teatro Nacional, a 22 de Fevereiro de 1949, com quem teria dois filhos, Isabel e João. Como advogado, defendeu presos políticos e representou a família de Humberto Delgado nas investigações que provaram a responsabilidade da PIDE no assassínio do “general sem medo”.

Em 1961, subscreveu o Programa para a Democratização da República, acto que o levaria novamente à prisão por seis meses. Três anos depois, com Francisco Ramos e Costa e Manuel Tito de Morais, fundou a Acção Socialista Portuguesa, organização que levaria mais tarde à formação do PS, e (já com Marcelo Caetano como presidente do Conselho) esteve em 1969 na primeira linha da constituição da CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática).

Em 1968, foi por oito meses deportado em São Tomé e Príncipe e, dois anos depois, foi forçado a exilar-se em França, onde deu aulas em Vincennes, em Paris, na Sorbonne, e na Faculdade de Letras da Alta Bretanha.

Durante o seu período no exílio, Mário Soares foi o principal dinamizador da fundação do PS, a 19 de Abril de 1973, em Bad Munstereifel, na República Federal Alemã, sendo eleito secretário-geral de imediato, cargo que desempenharia durante 13 anos, até 1986.

Quando o PS foi fundado, preparava-se já em Portugal o movimento dos capitães que levaria à queda da ditadura. Logo que soube do golpe de Estado, Mário Soares decidiu regressar imediatamente a Portugal, apanhou o comboio em Paris e chegou a Lisboa dois dias após o 25 de Abril. Na estação de Santa Apolónia, foi recebido em euforia por uma multidão, a quem falou da varanda da estação.

De África à Europa

No nascimento do novo regime político, com o general António de Spínola a Presidente da República, foi ministro dos Negócios Estrangeiros dos três primeiros governos provisórios e ministro sem pasta do IV, nestes dois últimos já com o general Costa Gomes nas funções de chefe de Estado. Neste período, esteve directamente envolvido no início da descolonização da Guiné, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique – processo que, pela sua controvérsia, marcou a sua carreira política.

Depois de o PS ter vencido com cerca de 38 por cento dos votos as primeiras eleições livres da democracia, para a Assembleia Constituinte, em Abril de 1975, Mário Soares entrou em frontal rota de colisão com o bloco comunista e com o então primeiro-ministro Vasco Gonçalves, demitiu-se do IV Governo Provisório e foi o principal protagonista civil do movimento contra a ameaça de “um novo totalitarismo”, desta vez de inspiração soviética.

Tendo como aliados internacionais Helmut Schmidt (chanceler da República Federal Alemã), Olof Palme (primeiro-ministro sueco), François Mitterrand (que viria a ser Presidente de França), e próximo do então norte-americano em Lisboa, Frank Carlucci, o líder do PS bateu-se por uma via europeia para Portugal e lutou politicamente contra o Processo Revolucionário em Curso (PREC), que seria derrotado militarmente com o golpe de 25 de Novembro de 1975, chefiado pelo general Ramalho Eanes.

O PS voltou a vencer o segundo acto eleitoral da democracia, as primeiras eleições legislativas, em Abril de 1976, e Mário Soares foi nomeado primeiro-ministro do I Governo Constitucional.

Enquanto chefe de Governo, primeiro com um executivo do PS sem maioria no Parlamento, depois em coligação com o CDS, teve de gerir o regresso de milhares de retornados das ex-colónias e uma situação de quase ruptura financeira do país, aplicando um programa negociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas foi também neste período, em 1977, que Mário Soares iniciou formalmente o processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE).

De 1979 a 1983, na oposição, acordou com a Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM) a primeira revisão da Constituição, que consagrou o carácter civilista do regime.

Em 1983, Soares foi novamente primeiro-ministro, desta vez em coligação com o PSD liderado por Mota Pinto. O IX Governo Constitucional, conhecido como o Governo do “Bloco Central”, de 1983 a 1985, foi confrontado com a necessidade de um segundo pedido de resgate ao FMI e concluiu o processo de adesão de Portugal à CEE a 12 de julho de 1985.

Apesar da recomposição das finanças públicas e de se ter alcançado o objectivo da integração europeia, o PS sofreu a maior derrota da sua história nas eleições legislativas de 1985, com 21 por cento dos votos.

Os anos da presidência

Mesmo com um ambiente político desfavorável – as sondagens davam-lhe oito por cento das intenções de voto –, Mário Soares decidiu no final de 1985 lançar-se na corrida presidencial.

Na primeira volta, atingiu os 25 por cento, batendo os outros candidatos apoiados por eleitorado de esquerda, Maria de Lurdes Pintassilgo e Salgado Zenha, que até 1980 tinha sido o seu “número dois” na direção do PS. Na segunda volta, derrotou o candidato apoiado pelo PSD e CDS, Freitas do Amaral, por 120 mil votos de diferença.

Em Belém, exerceu um primeiro mandato em que apostou na proximidade com as pessoas, através da realização de “presidências abertas”, em que se fixava vários dias fora da capital, tal como os antigos monarcas portugueses fizeram até ao final do Antigo Regime. No plano externo, realizou dezenas de viagens por todo o mundo, visando projetar a imagem de Portugal como uma democracia moderna.

Neste seu primeiro mandato, PS, PRD (Partido Renovador Democrático) e PCP uniram-se numa moção de censura que derrubou o Governo minoritário liderado por Cavaco Silva, mas Soares recusou a formação de um novo executivo com base naqueles partidos de esquerda e convocou eleições antecipadas em 1987, nas quais o PSD teve a sua primeira de duas maiorias absolutas.

Mário Soares foi reeleito sem dificuldade Presidente da República em 1991, com 70,4 por cento dos votos e com o apoio do PSD. No entanto, o seu segundo mandato seria marcado por um clima de crispação com o Governo de Cavaco Silva.

Nos meios do PSD, foi apontado como uma das “forças de bloqueio” da governação de Cavaco Silva, enquanto Soares reclamou “o direito à indignação” mesmo perante um Governo de maioria absoluta.

Em 1995, depois de dez anos de “jejum” de poder socialista, Mário Soares deu posse a António Guterres como primeiro-ministro e, alguns meses depois, no início de 1996, passou o testemunho da Presidência da República a um outro socialista, Jorge Sampaio.

Político até ao fim

Fora de Belém, Mário Soares voltou a percorrer o mundo, participando em conferências e palestras. Escreveu artigos em jornais e revistas e nunca se coibiu de comentar a actualidade nacional e internacional.

Em 1999, por convite do então secretário-geral do PS, António Guterres, regressou à política activa, aceitando o desafio de liderar a lista dos socialistas para o Parlamento Europeu, acto eleitoral que venceu com cerca de 44 por cento dos votos.

“Agora, basta! Não haverá mais política, nem exercício de cargos políticos”, disse a 7 de dezembro de 2004, durante um jantar comemorativo dos seus 80 anos.

Mas em 2005, agora por proposta do líder do PS, José Sócrates, Mário Soares decidiu travar mais um combate político e lançou-se numa terceira candidatura à Presidência da República.

Porém, Manuel Alegre também resolveu entrar na corrida presidencial de 2006 como independente, disputando-lhe o espaço socialista, e Cavaco Silva venceu o acto eleitoral logo à primeira volta. Soares acabaria em terceiro lugar, inclusivamente atrás de Alegre, com pouco mais de 14 por cento dos votos.

Ao longo da última década, Soares posicionou-se claramente na esquerda política, aproximando-se de personalidades do Bloco de Esquerda e do espaço comunista. No plano internacional, Soares apoiou a acção do antigo chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva, e fez questão de mostrar a sua amizade com o falecido e controverso presidente venezuelano, Hugo Chavez.

Em contraponto, o fundador do PS fez discursos extremamente violentos contra o ex-Presidente norte-americano George W. Bush, contra a chanceler germânica, Angela Merkel, e contra o rumo recente da União Europeia, que considerou subordinada ao neoliberalismo e à “ditadura dos mercados”.

Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mereceu-lhe sempre os mais rasgados elogios, considerando-o “o maior estadista e político que existe no mundo”. Barack Obama e o papa Francisco foram as duas últimas figuras mundiais encaradas como referências pelo fundador do PS.

Ao contrário do que acontecera com anteriores líderes do PS como Vítor Constâncio, Jorge Sampaio ou António Guterres, Soares teve poucos momentos de choque com a liderança socialista de José Sócrates (2004/2011), a quem frequentemente elogiou a sua coragem e determinação política.

Após a queda política de Sócrates, Soares manteve-se equidistante na disputa pela liderança do PS travada entre António José Seguro e Francisco Assis, em Julho de 2011, elogiando ambos, mas no Verão de 2013 incompatibilizou-se com o então secretário-geral do PS, Seguro, quando este se envolveu em negociações (falhadas) com o PSD, sob observação do ex-Presidente da República Cavaco Silva.

Nas eleições “primárias” socialistas de Setembro de 2015, Mário Soares esteve ao lado do actual líder, António Costa, contra António José Seguro, tendo depois apoiado o antigo reitor da Universidade de Lisboa Sampaio da Nóvoa nas presidenciais de janeiro de 2016, que Marcelo Rebelo de Sousa venceu logo à primeira volta.

Durante o período de resgate financeiro de Portugal, entre 2011 e 2014, Mário Soares colocou-se frontalmente contra o executivo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho, tendo promovido conferências na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa que juntaram representantes de todas as forças de esquerda “em defesa da Constituição” e em rejeição contra a linha da “troika” (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional).

Em 2012, através de um manifesto, o antigo Presidente da República pediu a demissão do executivo liderado por Passos, alegando que Portugal estava a “arruinar-se” e a “ser destruído”, e defendeu a formação de um Governo de personalidades (ou técnico) sem recurso a eleições antecipadas, tal como tinha acontecido em Itália.

No mesmo ano foi promotor de um novo manifesto, desta vez de solidariedade com o povo da Grécia, juntamente com 33 personalidades ligadas à esquerda portuguesa, entre eles o ex-líder da CGTP Carvalho da Silva, de quem se aproximou politicamente, chegando mesmo a sugerir que seria um bom candidato presidencial.

Nos últimos anos, a corrente neoliberal tornou-se a inimiga número um do combate político de Mário Soares. Nesta fase, numa das suas aparições públicas, Mário Soares deixou mesmo um aviso em tom dramático sobre os perigos do poder dos mercados financeiros.

Após a morte da sua mulher, Maria de Jesus Barroso, em Julho de 2015, começaram a ser raras as aparições públicas de Mário Soares. Em 2016, já com a sua saúde debilitada, Mário Soares foi alvo de várias homenagens institucionais, a primeira quando recebeu em Abril do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, numa cerimónia reservada, o diploma de deputado honorário no âmbito dos 40 anos da posse da Assembleia Constituinte.

No mesmo mês, por ocasião das comemorações do 25 de Abril de 1974, o fundador do PS recebeu do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, também numa cerimónia reservada, a chave da cidade – a mais alta distinção atribuída pelo município a personalidades com relevância nacional e internacional.

A 23 de Julho, foi a vez do primeiro-ministro, António Costa, numa cerimónia pública que se realizou nos jardins de São Bento, prestar homenagem ao I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, por ocasião dos 40 anos da posse deste executivo minoritário do PS.

Mário Soares esteve presente pela última vez numa sessão pública a 28 de Setembro, quando o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou a antiga presidente da Cruz Vermelha Portuguesa Maria de Jesus Barroso.[/vc_column_text][vc_text_separator title=”” css=”.vc_custom_1483988720204{margin-bottom: 12px !important;}”][vc_message message_box_style=”solid” style=”square” icon_fontawesome=”fa fa-comments”]

REACÇÕES

Chui Sai On, O Chefe do Executivo sublinhou o importante papel tido por Mário Soares “no diálogo entre a China e Portugal no que diz respeito a assuntos relacionados com Macau” para frisar que a ausência de Mário Sares será “sentida”. Chui Sai On não deixou de referir, em mensagem enviada à comunicação social, o carácter de liderança de excelência e as “estreitas relações com o território” tidas pelo político português.

Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaense e da APIM, fala de um político que deixa “alguma saudade”, pois sempre que vinha ao território “provocava banhos de multidão”.  “A imagem que havia em Macau era de uma pessoa que sabia ouvir. Recordo-me que quando chegou a Macau, nas suas visitas, já como Presidente da República, era uma pessoa muito querida, estava muito habituado aos banhos de multidão, que ele próprio provocava”, disse o advogado. O macaense recorda como o político causava “constante preocupação ao pessoal da segurança” porque, ao contrário de “outras personalidades que se afastavam da multidão por razões de segurança”, Soares “fazia questão de quebrar [o aparato de segurança], juntava-se às pessoas, fazia questão disso”. “Vamos sentir muita falta dele”, diz Senna Fernandes, lembrando como a estreia do seu grupo de teatro em patuá, os “Doçi Papiaçám” foi dedicada a Soares, no ano de 1993.

Vasco Rocha Vieira, general e último governador de Macau, fala de Mário Soares como tendo sido “um grande político, um grande homem e um grande português”, que viu “o tempo à frente do seu tempo”. “Devemos muito ao doutor Mário Soares: o Portugal da liberdade, da democracia, da abertura ao exterior, de uma nova visão do mundo e da sua capacidade de ser maior do que o seu espaço nacional. Portugal e os portugueses devem-lhe isso e devem recordá-lo como um grande político, um grande homem e um grande português”, afirmou Rocha Vieira. Para Rocha Vieira, Soares foi “um homem que viu o tempo à frente do seu tempo”. “Esteve nas grandes decisões estratégicas de Portugal moderno, na segunda metade do século XX, e, principalmente, depois da implementação da democracia em Portugal. Apontou rumos, apontou estratégias e teve a percepção de que Portugal, na escala nacional, precisava de se expandir para outros mercados, para outros espaços, nomeadamente União Europeia, na altura CEE, e a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)”, vincou o último governador. Além disso, o general sublinhou “a noção muito clara” que Mário Soares tinha de que Portugal, para lá destes espaços, “precisava também de alianças para garantir” a segurança e a defesa do país, razão pela qual o antigo Presidente da República foi “um grande defensor da presença activa de Portugal na Nato”.

Anabela Ritchie, última presidente da Assembleia Legislativa antes da transferência de soberania, recorda Mário Soares como um presidente muito interessado “na preservação da identidade” local e preocupado com a prevalência de direitos fundamentais. “Tinha muito em mente a preservação da identidade e singularidade de Macau, a manutenção de Macau depois da transição para a República Popular da China”, recordou Anabela Ritchie à Lusa, apontando que o segundo mandato de Soares como Presidente, até 1996, coincidiu com um “período muito importante” para o território, quando se negociava a “entrega” de Macau. Apesar da distância, Ritchie garante que Soares “sempre se interessou, sempre quis ouvir” e mostrava “grande solidariedade e carinho” por Macau. “Interessava-se mesmo e usava amiúde a expressão ‘Macau é um desígnio nacional’, no sentido em que é um projecto que deve envolver toda a gente. Creio que sensibilizava as pessoas para as tarefas que estavam a ser realizadas em Macau no período de transição”, lembra.

Tiago Pereira, secretário coordenador da secção do Partido Socialista (PS) em Macau, recorda ainda a forma como Mário Soares lidou com o processo de transferência do território. “Macau esteve sempre presente nas sua preocupações, e ele de facto estava preocupado, no sentido em que queria entregar a administração de Macau da melhor forma possível à China. Consegue dotar Macau de infra-estruturas próprias importantes. A secção do PS em Macau obviamente admira muito o doutor Mário Soares, mas não só: a comunidade portuguesa em geral também o sente e é uma pessoa respeitada localmente pela comunidade chinesa também”, rematou.

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9 Jan 2017

Mário Soares (1924-2017) | A legalização de 50 mil pessoas em Macau

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m aparente acto espontâneo de Mário Soares, dado às fugas ao protocolo, durante uma visita a Macau, teve um resultado inesperado: ao consolar uma criança, deu um empurrão à legalização de 50 mil pessoas. O jornalista João Guedes, já então repórter da TDM (Teledifusão de Macau), recorda-se de quando, em 1989, Soares visitou Macau e foi abordado por um grupo de trabalhadores ilegais chineses, que pediam a regularização da sua situação – um problema que se arrastava há anos “mas ninguém tinha coragem” de resolver.

O Jornal Tribuna de Macau descreveu como Mário Soares foi confrontado com uma “pequena manifestação” que incluía “quatro crianças empunhando um cartaz com inscrições chinesas” que pediam “a intervenção do Presidente para a obtenção dos documentos de identificação de Macau para as suas mães”.

As crianças “abriram um pano onde se lia a frase ‘Por favor dá o bilhete de identidade à minha mãe’”, escreve o jornal, explicando que as mães estavam ilegalmente em Macau, casadas com maridos em situação legal e com filhos já nascidos no território, “devidamente documentados”.

“Ao notar a presença de cidadãos de etnia chinesa que insistentemente o pretendiam interpelar junto ao Palácio da Praia Grande, Mário Soares cruzou a avenida para apurar o que se estava a passar. Quando (…) se aproximou do local, um cidadão de etnia chinesa (…) prostrou-se no chão aos pés de Soares pedindo a sua intervenção para resolver a situação da sua mulher”, escrevia o Tribuna na edição de 3 de Março de 1989.

Soares, “visivelmente chocado com a situação e com o choro das crianças, (…) prometeu resolver a situação”. Tendo em conta que a mulher corria risco de ser repatriada para a China, o Presidente declarou que “as crianças não podem ser separadas da mãe”. “Vamos tratar disso”, afirmou.

A “Operação Dragão”

Segundo João Guedes, este episódio desencadeou uma operação de legalização, cerca de um ano mais tarde, preparada “entre os maiores segredos”, tentando evitar que multidões acorressem a Macau para conseguir um documento de identificação. Esta é uma ligação comum na memória de quem vivia na cidade na altura.

“O governador [Carlos Melancia] ficou à rasca, toda a gente ficou à rasca e é quando o governador não tem alternativa se não virar-se para o comandante das forças de segurança e dizer ‘Legalize-me toda a gente que está em Macau’. E pronto, legaliza 50 mil pessoas”, conta à Lusa.

O jornalista refere-se à “Operação Dragão”, em Março de 1990, que começou com um anúncio das autoridades de que seriam legalizados os pais indocumentados de cerca de 4200 crianças. A notícia gerou tal afluência que acabou por resultar na legalização de “um número mais avultado do que se imaginaria”, escreve o Tribuna.

Durante anos, recorda João Guedes, surgiam rumores, periodicamente, de que Macau ia legalizar a população em situação irregular, cerca de 15 por cento à época. “Eram nuvens de chineses a tentar chegar a Macau das formas mais imaginosas. Havia rumores, o pessoal vinha por vários meios, a nado ou em sampanas, havia até passadores chamados ‘cabeças de cobra’”, explica. Apesar de os rumores nunca se concretizarem, os ilegais – empregadas domésticas, trabalhadores da construção – iam-se acumulando.

“Era uma questão que se pressentia como necessária, mas ninguém tinha coragem para pôr isso em andamento. Até essa coisa do Soares”, explica o jornalista, lembrando que já decorriam preparativos para a transferência de administração de Macau de Portugal para a China e era necessário saber exactamente quantas pessoas havia na cidade.

Surge, então, este anúncio, indicando os locais onde as pessoas se deviam reunir para iniciar os procedimentos. “Um dos pontos era o Canídromo”, onde se deu “uma grande bronca”, devido à concentração de uma “multidão enormíssima” junto aos portões da pista de corridas de cães, recorda Guedes.

O jornalista encontrava-se no alto do forte de Mong-Ha com um operador de câmara. “Tinha uma vista perfeita para o Canídromo e assisti àquilo, estivemos a transmitir em directo”, conta.

O gesto humanitário

O Tribuna de Macau descreve como “milhares de imigrantes” vieram “a salto para Macau”, atraídos por “boatos” de “uma possível amnistia que lhes possibilitasse manterem-se no território”.

“A multidão não arredou pé, exigindo que o Governo lhes desse garantias quanto à legalização. (…) Ao princípio da noite o caso encontrava-se num beco sem saída, com alguns manifestantes a avançarem com a ideia de greve de fome”, descreve o jornal.

O Governo chegou a anunciar a suspensão das legalizações e mandou ‘limpar’ a cidade, mas voltaram a criar-se grupos: “Cerca das duas horas da manhã a situação foi-se deteriorando com a chegada de mais centenas e centenas de ilegais (…) A situação manteve-se tensa durante largas horas, com a multidão aos gritos a exigir ser também registada, uma multidão que ia engrossando à medida que o tempo passava”.

Com dificuldade em controlar a multidão, as autoridades “decidiram fazer a listagem” dos ilegais, sendo conduzidos para o Campo da Polícia, nas Portas do Cerco, e o Estádio do Canídromo. Neste último “estabeleceu-se o pânico”, com disparos para o ar pela polícia e pessoas “no chão espezinhadas”, “chegando a haver rumores, não confirmados, que uma criança teria sido morta”.

Nesta operação foram registados mais de 50 mil ilegais, escreveu a Lusa na altura.

Miguel Senna Fernandes diz “não ter dúvidas” de que esta operação foi uma consequência da reacção de Soares aos manifestantes em 1989. “Naturalmente é um gesto humanitário de Mário Soares para uma política consentânea à realidade de Macau e das suas gentes. Seja como for, a visita de Soares em 1989 teve um efeito praticamente directo quanto à Operação Dragão, não aconteceu antes porque, enfim, tinha de se ver a logística e oportunidade”, disse à Lusa.

9 Jan 2017

Leung Hio Ming vai ser o novo presidente do Instituto Cultural

Já se sabe quem vai ser o novo presidente do Instituto Cultural. Trabalha na casa, é um dos vice-presidentes de Ung Vai Meng, e foi director do Conservatório de Macau. Leung Hio Ming é o senhor que se segue

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] notícia foi avançada este fim-de-semana pela Rádio Macau: Leung Hio Ming vai ser o próximo presidente do Instituto Cultural (IC). Guilherme Ung Vai Meng anunciou, na sexta-feira, que vai abandonar o cargo, em Fevereiro, para se dedicar à vida artística. O pintor estava à frente do IC desde 2010, depois de ter liderado o Museu de Arte de Macau.

Quanto ao sucessor de Ung Vai Meng, está no organismo desde 1995. Leung Hio Ming desempenha as funções de vice-presidente. O antigo director do Conservatório de Macau é doutorado em Música pela Universidade do Kansas, nos Estados Unidos. Em 2010, recebeu a Medalha de Dedicação da RAEM.

Sete anos depois de ter assumido a presidência do IC, Guilherme Ung Vai Meng decidiu aposentar-se da função pública. Em declarações ao Canal Macau da TDM, explicou que chegou o tempo de se voltar a dedicar à arte.

“A nossa vida tem períodos e objectivos diferentes. As pessoas conhecem-me do mundo das artes. No meu coração tenho grande vontade de ter esse lado criativo, por isso, no último ano, comecei a explicar ao secretário Alexis Tam, meu grande amigo, que queria voltar ao mundo artístico para criação e investigação de arte”, justifica.

Questionado sobre se a saída se deve a algum tipo de pressão ou desgaste relacionado com processos complicados nos últimos anos, como, por exemplo, o da nova Biblioteca Central, Guilherme Ung Vai Meng garantiu que a decisão é exclusivamente pessoal.

Alexis Tam lamenta

Em declarações aos jornalistas, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura lamentou a saída de Guiherme Ung Vai Meng. “É um trabalhador e presidente de grande qualidade na Administração Pública”, apontou Alexis Tam.

O governante explicou que, no segundo semestre do ano passado, o presidente do IC apresentou o seu pedido de aposentação, uma vez que trabalha há cerca de 40 anos na Função Pública. Tam contou que tentou demovê-lo, mas acabou por aceitar a sua decisão.

O secretário acrescentou que tem dado “grande importância ao cumprimento das atribuições do Instituto Cultural”. “Toda a equipa do IC mostrou também grande empenho no seu trabalho, tendo obtido resultados muito positivos, reconhecidos por todos”, afirmou.

A propósito da salvaguarda do património cultural, uma das atribuições do instituto, Alexis Tam defendeu que “há diferentes partes interessadas na sociedade que defendem diferentes ideias, o que é natural e acontece também noutros países e regiões”, pelo que “cabe ao Governo da RAEM executar da melhor forma os trabalhos de salvaguarda do património cultural, considerando sempre o interesse público e o bem-estar da população”.

9 Jan 2017

CCAC |  Recebida queixa do “caso Sónia Chan”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) já recebeu a queixa do caso relativo ao favorecimento de um familiar para entrada na função pública, por parte da  secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan. A informação foi dada pelo comissário contra a corrupção André Cheong ao Jornal do Cidadão.

“Recebemos a queixa não há muito tempo,” referiu André Cheong acrescentando que na fase actual do processo não tem mais declarações a fazer. O comissário sublinhou que o caso foi directamente entregue ao CCAC, sem adiantar pormenores.

André Cheong fez referência ao relatório de actividades do organismo de 2015, sendo que  “entre os processos penais descobertos, os conluios entre o pessoal do Governo e as empresas de adjudicação são preocupantes”. Para o relatório de 2016, cuja data de publicação está prevista em Março, André Cheong não adianta quaisquer informação.

De acordo com a mesma fonte, O Chefe do Executivo, Chui Sai On  já tem conhecimento da queixa e afirmou que o processo irá seguir de acordo com os procedimentos legais.

9 Jan 2017

Justiça | Ho Chio Meng faz reparos à acusação

De cápsulas de café a esquentadores, passando por viagens de avião com pessoas que, alegadamente, não deviam ter viajado à boleia do Ministério Público. O julgamento do antigo procurador continua e Ho Chio Meng reitera que é inocente

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ex-procurador da RAEM não se conforma com a acusação de que usou dinheiro do Ministério Público para pagar bilhetes de avião e quartos de hotel a pessoas estranhas ao serviço. Ho Chio Meng garante que “não há crime” algum e reiterou que a “acusação está mal feita”. De acordo com a Rádio Macau, que tem estado a acompanhar o julgamento, Ho Chio Meng deixou, na passada sexta-feira, um desabafo: “Não posso ter mais azar do que estar aqui sentado. Mas azar do que este não pode haver”.

Acusado de mais de 1500 crimes, a maioria relacionados com a aquisição de bens e serviços de pequeno valor, Ho Chio Meng referia-se à acusação de que, em sete anos, gastou milhões de patacas em viagens e hotéis com pessoas que não faziam parte do MP e que a acusação identifica como “amigas” do arguido. O ex-procurador voltou a contestar a escolha das palavras: “Esse termo [‘amiga’] não é correcto. Se [o convidado] não for homem, só pode ser mulher. Se a acusação fala nas mulheres, é necessário que diga que há homens também”.

Na versão de Ho Chio Meng, os beneficiários das despesas de representação “estavam a prestar serviços para o MP”, apesar de não fazerem parte do organismo. Seriam pessoas próximas do Gabinete de Ligação ou que viram os gastos autorizados por “um dirigente” que o ex-procurador disse não pretender identificar. A informação estará num documento. “Se tivessem visto este documento, não teriam esta conclusão. Não pensaram bem as coisas”, afirmou, dirigindo-se aos magistrados do MP.

Entre estas pessoas que não faziam parte do serviço e viajaram com o Gabinete do Procurador, está Wang Xiandi, também arguida no processo. Apesar das tentativas do tribunal, Ho Chio Meng não quis entrar em pormenores sobre as ligações de Wang ao MP.

“Sou inocente. Choro pela inocência”, reforçou o ex-Procurador, referindo-se ainda às acusações relacionadas com as despesas de representação. “Sinto-me mal a ler isto. Não corresponde à verdade e afecta a minha família. Da maneira como está escrito, afecta a minha família”, disse.

Rir do que é “muito ridículo”

Na mais recente sessão do julgamento, que está a decorrer no Tribunal de Última Instância, Ho Chio Meng reforçou o tom das críticas à acusação de que é alvo, relata ainda a Rádio Macau. O ex-procurador revelou indignação sobre o alegado esquema de corrupção associado à aquisição de bens e serviços durante o tempo em que esteve à frente do Ministério Público, e disse que havia factos da pronúncia que lhe davam vontade de rir.

“Vi o contrato e até me ri. Não por estar contente, mas por ser muito ridículo”, afirmou Ho Chio Meng, referindo-se ao momento em que, já na prisão, viu por que estava acusado de burla pela compra de serviços de microfilmagem. A acusação alega que houve crime porque as empresas contratadas “não prestaram serviços profissionais, apenas mandaram os seus trabalhadores desempenhar o trabalho”.

Na versão do MP, o serviço devia ter sido prestado por um “técnico de microfilmagem” e por um “operador de computador”. Já Ho Chio Meng alega que esta é uma área onde não há especialistas. “Até eu posso fazer este trabalho”, disse.

O ex-procurador preparava-se também para contestar a acusação na parte em que cita a quantidade de microfilmes comprada, mas a referência serviu apenas para o juiz Sam Hou Fai, que preside ao julgamento, concluir que, afinal, o arguido tem tempo para “ver a acusação tintim por tintim”.

A sessão começou com Ho Chio Meng a afirmar que as condições na prisão são “muito difíceis” para preparar a defesa. “É uma pessoa sozinha, um papel e uma caneta” contra os mais de 1500 crimes que constam da acusação.

O antigo procurador voltou a apontar para a “falta de provas” e disse que a acusação é “subjectiva” e parcial por ignorar alguns factos.

Ainda sobre os contratos de obras e serviços relacionados com a residência oficial, Ho Chio Meng repetiu que se limitou a seguir o modelo do Governo para escolher sempre a mesma empresa. “Em relação às residências oficiais, há prestações de serviços praticamente fixas”, reforçou.

A existência de um piano na moradia oficial do então procurador causou perplexidade ao tribunal. Sam Hou Fai, que também tem direito a residência oficial, quis saber quanto custou o piano e quem o comprou. “A sede do Governo perguntou-me o que queria para lá”, respondeu Ho Chio Meng. E acrescentou: “Não se esqueça que entrei primeiro. Vivi lá primeiro”.

Água quente e café

Na sessão falou-se ainda da instalação de um esquentador na residência (Ho Chio Meng é acusado de ter recebido 700 patacas de comissão pelo serviço) e da compra de cápsulas Nespresso para o MP. O tribunal quis saber por que o café não era comprado directamente ao fornecedor, mas através de uma empresa.

Ho Chio Meng alegou questões práticas e disse que este foi um assunto a que não prestou atenção por entender que “é pouco relevante”, apesar da burocracia envolvida. O tribunal insistiu na pergunta e Ho Chio Meng acabou por se mostrar indignado. “Toda a gente toma café. Mas quem foi preso preventivamente e está aqui sentado, acusado de burla ou de participação económica, sou eu”, rematou.

9 Jan 2017

China | Anunciadas novas medidas e objectivos para meio-ambiente

Pequim prossegue os planos para atacar os efeitos da poluição atmosférica. Com metas ambiciosas, e investimentos avultados, pretende-se reduzir drasticamente as emissões de poluentes, e apostar nas energias renováveis e transportes públicos

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante a reunião dos países da APEC de Pequim, em Novembro de 2014, as autoridades chinesas diminuíram drasticamente a laboração fabril dos arredores da metrópole. O objectivo seria tornar o ar um nadinha mais respirável para receber os líderes dos países da aliança económica. O resultado foi um vislumbre de céu azul por cima de Pequim, uma raridade tão grande que resultou na invenção de uma nova cor: azul APEC. Não só uma representação do apurado sentido de humor chinês, mas também a demonstração de que ver o céu em Pequim é algo que acontece quando o rei faz anos.

Além de se ter tornado uma marca de pouco prestígio da capital chinesa, a poluição atmosférica começa a acarretar um forte peso socioeconómico para a segunda maior economia mundial. Como tal, o Governo Central propôs na semana passada um plano de investimento musculado de 2,5 biliões de yuan para a geração de energias renováveis até 2020, de forma a inverter a marcha do país em direcção ao abismo ecológico. O plano foi avançado pela Agência Nacional de Energia chinesa na noite da passada quinta-feira, e marca um virar de página de Pequim. A ideia é progressivamente largar a energia fóssil, em particular o uso do carvão, que foi o grande motor do crescimento económico chinês, e rumar em direcção às energias mais amigas do ambiente.

Prevê-se que o investimento criará mais de 13 milhões de empregos no sector das renováveis, de acordo com o plano traçado até 2020. Este plano irá duplicar a geração de energia amiga do ambiente, nas áreas das eólicas, energia hidráulica, solar e nuclear.

No mês passado, a instituição que traça os planos gerais da economia chinesa, a Comissão para as Reformas e Desenvolvimento Nacional, comunicou um plano de cinco anos no qual se pretende injectar um bilião de yuan no sector da energia solar. Este exemplo implicará o crescimento que quintuplicará o sector. De acordo com analistas ouvidos pela Reuters, este investimento poderá servir para a construção de mais de mil novas estações de geração de energia solar.

O investimento será repartido estrategicamente, tendo sido alocados 700 mil milhões de yuan para as centrais eólicas, enquanto o sector hidráulico receberá 500 mil milhões de yuan. O restante dinheiro irá para a energia gerada pelo poder das ondas e para a energia geotermal.

Apesar de tudo, o consumo energético de um país com quase 1,4 mil milhões de habitantes é algo colossal. Para se ter uma ideia mais concreta da grandiosidade do problema, apesar deste investimento até 2020, as energias renováveis representarão apenas quinze por cento do total do consumo energético chinês. O carvão continuará a ser uma parcela fundamental da rede energética chinesa, sustentando cerca de metade do consumo da energia. Mesmo assim, este esforço de Pequim equivale a uma poupança de queima de 580 milhões de toneladas de carvão.   

O investimento chega numa altura em que o custo da construção de centrais de energia solar decresceu cerca de 40 por cento, em relação aos valores de 2010. De acordo com Steven Han, analista de energias renováveis ouvido pela Reuters, Pequim pode mesmo a investir mais, à medida que os custos do sector diminuam.

Cortas nas emissões

A China está a planear cortes nas principais fontes da poluição atmosférica, incluindo no dióxido de enxofre, assim como pretende avançar com planos para promover mais transportes públicos nas grandes cidades. As intenções foram anunciadas no final da semana, numa altura em que o norte do país vive, de novo, dias dramáticos causados pela poluição.

A segunda maior economia do mundo vai cortar nas emissões de dióxido de enxofre, uma das principais fontes da poluição do ar, consequência das indústrias e das centrais de energia. O plano anunciado pelo Conselho de Estado prevê uma redução de 15 por cento até 2020.

Além de definir limites para as emissões do sector industrial, a China pretende aumentar a presença dos transportes públicos nas zonas metropolitanas, de modo a que passem a significar 30 por cento do trânsito total. Até 2020, pretende-se ainda promover combustíveis mais limpos e eficientes.

O país vai no terceiro ano da “guerra contra a poluição”, numa tentativa de minimizar a herança de três décadas de crescimento económico sem qualquer entrave, ou preocupação ambiental. Nos últimos tempos, têm sido feitos esforços no sentido de ir ao encontro dos padrões de qualidade do ar e de evitar episódios de forte poluição.

Um porta-voz do Ministério do Ambiente afirmou que o uso excessivo de recursos “é um forte constrangimento que trava o desenvolvimento económico e social da China”.

Nas últimas duas semanas, zonas vastas do norte da China estão a ser afectadas por smog, causado pelo aumento da utilização de carvão necessário para os sistemas de aquecimento, imprescindíveis no Inverno. A poluição voltou a fazer-se sentir com intensidade apesar das concentrações das partículas PM 2.5 terem descido seis por cento em 2016, de acordo com os números oficiais.

Nas novas indicações do Conselho de Estado, explica-se que as emissões vão ser controladas através de critérios mais rígidos para as grandes produções fabris, ajustando a estrutura industrial da China e aumentando o número de empresas que vão estar obrigadas a contribuir para o combate à poluição. As emissões dos veículos também vão ser alvo de medidas mais rigorosas, com novos padrões a serem implementados.

O plano agora anunciado também se compromete com o incentivo à reciclagem e garante que vão ser encerradas empresas que sejam grandes consumidoras de energia e que não cumpram os padrões de eficiência energética. O Conselho de Estado pretende ainda utilizar “mecanismos de mercado” para combater os resíduos e a poluição.

Num anúncio feito em separado, o Ministério do Ambiente revelou que as estações de energia e as fábricas produtoras de papel de Pequim, Hebei e Tianjin vão fazer parte de um esquema piloto de emissões a ser criado este ano.

O Governo Central tinha já afirmado, em Novembro último, que vai ser estabelecido um sistema de emissões a nível nacional que vai abranger todos os sectores industriais até 2020.

Pulmões de ferro

As redes sociais explodiram na semana passada com a publicação de fotografias dos comboios de alta velocidade que ligam Xangai a Pequim. As composições estavam cobertas de poeira que as pintou de castanho. Para reforçar a máxima que uma imagem vale mil palavras, as fotos tornaram-se virais nas redes sociais, alertando para as consequências de semanas de níveis de smog a bater records de perigosidade para a saúde pública.

Na sequência destes alertas de smog, um cientista da Universidade de Tecnologia Química de Pequim, Liu Yong, analisou as máscaras comummente usadas pela população do norte da China durante os dias de alerta de má qualidade do ar. A análise encontrou vestígios de carbonato de cálcio, óxido de ferro e sulfato de ferro nas partículas visíveis. Apurou-se que os compostos eram oriundos de um complexo fabril que queima carvão, libertando os gases para a atmosfera.

O maior problema, no entanto, são as nano-partículas que não são filtradas por estas máscaras, e que representam o maior problema para a saúde. Ouvido pelo South China Morning Post, Liu explicou que “pode haver uma ligação entre a inalação destas substâncias e o aumento de casos de cancro do pulmão”.

Segundo o cientista, o diabo está nas nano-partículas com tamanho inferior a 25 nanómetros, que entram nos pulmões, passam para a circulação sanguínea e acabam por se alojar nos órgãos, incluindo no cérebro. Depois de absorvidas, ficam durante longos períodos de tempo no corpo, constituindo um claro perigo para a saúde pública.

Estes são os inimigos invisíveis que se escodem no muito visível smog que tem manchado os céus de parte da China. Com metas ambiciosas, Pequim pretende combater as consequências socioeconómicas deste flagelo atmosférico, devolver a confiança dos cidadãos no ar que respiram e recuperar o azul do céu.

9 Jan 2017

Grupos pró-China em Taiwan protestam contra activista e deputados de Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]rupos pró-China em Taiwan protagonizaram protestos e confrontos com a polícia à chegada à ilha de um activista e de três deputados de Hong Kong para participar num fórum pró-democracia, informou ontem o diário Taipei Times.

O Fórum sobre a Democracia, Legislação e Movimentos Sociais, organizado pelo Partido Novo Poder (PNP) de Taiwan, foi muito criticado por Pequim através do Gabinete dos Assuntos de Taiwan, que o qualificou como uma conspiração entre os movimentos de independência de Taiwan e Hong Kong para dividir a China.

De Hong Kong chegaram a Taiwan o activista Joshua Wong, dirigente estudantil dos protestos pró-democracia de 2014, e os deputados Nathan Law, Edward Yiu e Eddie Chu, para participar no fórum.

Ao chegarem ao aeroporto foram recebidos com protestos protagonizados por cerca de 200 membros de um grupo pró-China, que conseguiram romper o cordão policial, mas foram impedidos de agredir Wong e os deputados.

Mais tarde, durante e depois da realização do fórum, cerca de 300 membros de grupos pró-China protagonizaram protestos.

Surpresas e manipulações

No fórum, Joshua Wong disse que estava surpreendido com os protestos e afirmou que nem ele nem os três deputados eram defensores da independência de Hong Kong.

O deputado Nathan Law, por sua vez, disse que os protestos eram fruto de uma manipulação do Partido Comunista chinês e que não iriam afectar a sua defesa da democracia e da autonomia de Hong Kong, nem tão pouco as suas relações normais e saudáveis com Taiwan.

O Partido Novo Poder, nascido de um movimento estudantil que em 2014 tomou o controlo do Parlamento em protesto pela política de aproximação económica à China prosseguida pelo então Presidente Ma Ying-jeou, é uma formação política anti-sistema e radicalmente independentista.

Joshua Wong e Nathan Law tinham já encontrado cerca de 50 manifestantes pró-China no aeroporto de Hong Kong, munidos com cartazes com mensagens em que os chamavam de “traidores”, escreveu ontem o jornal South China Morning Post.

9 Jan 2017

Presidente de Taiwan de visita à América Central

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] viagem de Tsai Ing-wen inclui duas paragens nos Estados Unidos. A hipótese de um encontro da Presidente taiwanesa com Donald Trump gera receios de uma escalada da tensão entre a China e os EUA

A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, partiu sábado para a América Central, numa viagem que tem escalas nos Estados Unidos, semanas depois do aumento da tensão com a China.

As relações diplomáticas entre Pequim e Washington vivem momentos de tensão após um telefonema da Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, ao Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, no dia 2 de Dezembro, para felicitá-lo pela sua vitória eleitoral.

Tsai fará duas escalas nos EUA, em Houston e em São Francisco, no início e no fim da sua ronda centro-americana, até 15 de Janeiro, durante a qual visitará quatro dos seus 21 aliados diplomáticos: Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador.

Esta viagem visa “consolidar os laços diplomáticos” e “estreitar a cooperação bilateral” com os aliados, “reforçar a cooperação e “ampliar o espaço internacional” da ilha, afirmou Tsai, no aeroporto internacional Taoyuan, antes da sua partida.

Durante a viagem, a Presidente de Taiwan vai assistir à tomada de posse na Nicarágua do Presidente, Daniel Ortega.

A acompanhar Tsai segue uma comitiva também composta por empresários.

Encontro escaldante

Em Taiwan e nos Estados Unidos fala-se de um possível encontro de Tsai ou da sua equipa com o grupo de assessores de Trump ou mesmo com o Presidente eleito, que perante a pergunta sobre a possibilidade de uma conversa com Tsai, respondeu “vamos ver”.

“Um encontro Trump-Tsai desencadearia fortes tensões, irritação dos aliados e outras represálias da China, que pediu a Washington que não permitisse escalas de Tsai no seu território”, disse sábado à agência espanhola Efe o director do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Tamkang, Li Da-jong.

Esta é a segunda viagem de Tsai à América Latina e Central, depois de outra realizada ao Panamá e Paraguai em Junho do ano passado.

Durante mais de quatro décadas, os Estados Unidos tem baseado as suas relações com o gigante asiático no princípio de uma China única, pelo que o único Governo chinês que Washington reconhece é o de Pequim, o que o distancia das aspirações independentistas de Taiwan.

9 Jan 2017

John Kerry diz que EUA respeitarão política de uma só China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] representante da política externa chinesa e Jonh Kerry falaram ontem por telefone sobre as relações entre os dois países. O secretário de Estado norte-americano reafirmou o respeito pela política de uma única China, apesar da tensão criada pelo telefonema da Presidente de Taiwan a Donald Trump.

O secretário de Estado norte-americano assegurou ontem, numa conversa telefónica com o seu homólogo chinês, que os Estados Unidos respeitarão a política de uma China única, independentemente de que partido esteja no Governo, informou o ministério chinês.

As relações diplomáticas entre Pequim e Washington vivem momentos de tensão após um telefonema da Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, ao Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, no dia 2 de Dezembro, para felicitá-lo pela sua vitória eleitoral.

Tsai fará duas escalas nos EUA, em Houston e em São Francisco, no início e no fim da sua ronda centro-americana, de 7 a 15 de Janeiro, durante a qual visitará os seus aliados diplomáticos Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador.

Na sua conversa telefónica com o ministro chinês, Wang Yi, John Kerry sublinhou a importância das relações entre os EUA e a China, enquanto Wang afirmou que os dois governos devem “continuar a trabalhar para proteger e reafirmar” o desenvolvimento das relações bilaterais, acrescentou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Kerry assinalou o êxito do desenvolvimento das relações bilaterais e destacou a colaboração em questões como a recuperação económica global, a luta contra as alterações climáticas e a resolução de assuntos importantes sobre segurança internacional.

As novas ameaças

Apesar do compromisso da administração do actual Presidente dos EUA, Brack Obama, com o princípio de uma só China, Trump já pôs em causa a sua continuidade.

“Não sei porque temos de estar ligados por uma política de uma só China, a não ser que cheguemos a um acordo com a China que tenha a ver com outras coisas, incluindo o comércio”, disse Trump, a 11 de Dezembro, ao canal televisivo Fox News.

Durante mais de quatro décadas, os Estados Unidos tem baseado as suas relações com o gigante asiático no princípio de uma China única, pelo que o único Governo chinês que Washington reconhece é o de Pequim, o que o distancia das aspirações independentistas de Taiwan.

6 Jan 2017

Seul | Park nega envolvimento em esquema de corrupção

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal Constitucional sul-coreano começou esta quinta-feira o julgamento do processo de destituição da Presidente, Park Geun-hye, suspeita de ter dado acesso privilegiado a informações sensíveis a uma amiga, que terá usado a sua influência para conseguir favores junto de grandes empresas.

A defesa da Presidente negou todas as acusações de envolvimento em esquemas de abuso de poder e corrupção. “Park nunca deixou os seus assessores interferirem com os assuntos de Estado e nomeou os dirigentes governamentais através de procedimentos legítimos”, afirmou o advogado Lee Joong-hwan.

O arranque do julgamento foi adiado para esta quinta-feira, depois de Park não ter ido à sessão marcada para terça-feira. A Presidente voltou a faltar, mas os juízes decidiram avançar. Não é obrigatória a presença de Park durante esta fase do processo e os seus advogados já tinham dito que a Presidente iria ausentar-se “a não ser que existam circunstâncias especiais”, segundo a agência estatal Yonhap.

Não sou o único

O tribunal tem seis meses para concluir se Park deve ou não ser destituída. Mesmo num país onde os casos de corrupção política são comuns, as suspeitas sobre Park criaram uma crise política sem precedentes na Coreia do Sul, que assistiu durante várias semanas às maiores manifestações populares da sua história democrática. O próprio partido da Presidente, o Saenuri, tem tentado distanciar-se de Park – mais de metade da bancada parlamentar votou a favor da destituição.

A 9 de Dezembro, o Parlamento aprovou a abertura de um processo de destituição por uma larga maioria. A pressão para que Park se demita dura há meses, depois de terem vindo a público os contornos da sua amizade com Choi Soon-sil, uma empresária filha de um amigo do ex-Presidente e pai da actual líder, Park Chung-hee.

Park terá recorrido a Choi para pedir sugestões para discursos oficiais, dando-lhe acesso a informações confidenciais, incluindo acerca de políticas em relação à Coreia do Norte. A empresária é acusada de usar a sua posição privilegiada junto da Presidente para pressionar donos de grandes conglomerados sul-coreanos a financiarem fundações que lhe pertenciam. Outras suspeitas incluem o ingresso da filha de Choi, Chung Yoo-ra, na prestigiada Universidade para Mulheres Ewha, que terá sido concedido pela posição da sua mãe.

O julgamento de Choi, detida desde Novembro, também começou esta quinta-feira, com a empresária a negar todas as acusações. “Enfrento muita injustiça”, declarou Choi em tribunal. “A acusada não procurou nem o mínimo ganho financeiro para si própria desde o dia em que as fundações foram estabelecidas”, afirmou o seu advogado, Lee Kyung-jae.

6 Jan 2017

Ponte do Delta | Zhuhai anuncia planta do posto fronteiriço

As autoridades de Zhuhai já divulgaram os planos para a fronteira que vai existir na ligação entre Hong Kong, a cidade chinesa e Macau. A prioridade no acesso vai ser dada aos transportes públicos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]cupa uma área total de 107,33 hectares e vai ser instalado na ilha artificial construída para o efeito. As autoridades da cidade chinesa vizinha deram a conhecer os detalhes do posto fronteiriço de Zhuhai na Ponte do Delta.

De acordo com a imprensa chinesa, que teve acesso aos pormenores da planta, a zona oriental da fronteira tem ligação ao segmento principal da ponte. A parte ocidental da estrutura está virada para o município chinês, enquanto o lado sul fará a ligação ao posto fronteiriço de Macau.

O terreno onde vai ficar instalada a fronteira tem espaço para outras infra-estruturas: as autoridades explicam que existem áreas para serviços industriais, instalações públicas e ainda uma zona reservada para o desenvolvimento.

A planta revela também as localizações concretas das zonas funcionais do posto fronteiriço de Zhuhai, como o controlo da documentação, a zona integrada do serviço e o centro de transportes rodoviários.

A planta permite ficar ainda a perceber-se como é que vai ser feito o controlo dos transportes no posto fronteiriço: a ideia é controlar e orientar a entrada de viaturas privadas na ilha artificial, sendo que vai ser dada prioridade aos veículos públicos.

A planta também reserva uma abertura na rede rodoviária subterrânea da cidade para que possa ser feita uma ligação ao centro de transportes rodoviários do posto fronteiriço. A zona sul permitirá chegar ao posto fronteiriço de Macau.

A ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau deverá estar concluída no final deste ano. A secção da cidade vizinha já está concluída: ficou pronta com o túnel de Gongbei, um projecto que demorou quatro anos a ser executado. A passagem tem mais de 2700 metros de comprimento e atravessa o posto fronteiriço.

5 Jan 2017

Ho Chio Meng dá o exemplo de adjudicações feitas pelo Governo

O antigo líder do Ministério Público voltou ontem ao Tribunal Judicial de Base. O arguido defende-se da adjudicação de obras à mesma empresa com o exemplo do Governo

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]o Chio Meng afirmou ontem no Tribunal de Última Instância (TUI) que usou os mesmos argumentos do Executivo para justificar a entrega de obras sempre à mesma empresa, por ajuste directo. De acordo com a Rádio Macau, que acompanhou a sessão, o antigo procurador exemplificou com a vasta série de contratos que, desde 2000, foram entregues ao deputado Fong Chi Keong.

A emissora nota que é, provavelmente, o caso que mais salta à vista de entrega de contratos públicos, sempre à mesma empresa, com dispensa de concurso e a um ritmo anual. Ho Chio Meng não indicou nomes mas fez referência às “obras na sede do Governo” que, desde a transição, têm sido entregues a uma empresa do deputado Fong Chi Keong, que presta também o mesmo tipo de serviços à Assembleia Legislativa.

O reparo foi feito pelo arguido enquanto estava a ser ouvido sobre as obras de remodelação da residência oficial que ocupou enquanto procurador, quando informou que ia dar a “resposta que o Governo deu a uma interpelação de um deputado” sobre as obras no palácio da Praia Grande. Ou seja, os contratos foram entregues sempre à mesma empresa por uma questão de “segurança”, “confidencialidade” e “boa qualidade do serviço prestado”, facto que descreveu como “natural e lógico”.

Ho Chio Meng negou, no entanto, ter indicado qualquer empresa a troco de contrapartidas. De acordo com a acusação, as companhias que, durante dez anos, ficaram com todos os contratos do Ministério Público eram controladas por familiares do ex-procurador, através de testas de ferro.

Defesa em bloco

Ainda segundo a rádio, forçado pelo tribunal a ser mais rápido na defesa, Ho Chio Meng deixou de analisar os contratos um a um, repetindo sempre as mesmas respostas. Está agora a responder por tipos de serviços comprados, que a acusação dividiu em 24 séries.

As respostas mantêm-se, com o ex-procurador a negar a prática de crimes e a criticar a forma como a acusação está construída. Disse, por exemplo, que, para o MP, “basta haver uma subempreitada para haver crime de burla”. Já nos casos em que o serviço foi de facto prestado pela empresa que ficou com o contrato, Ho surge acusado de participação económica em negócio.

Quase um mês depois do início do julgamento, ainda não foi possível perceber quais os factos em concreto que ligam o ex-procurador às empresas citadas na acusação, assinala a emissora.

A audiência terminou duas horas mais cedo, com o presidente do TUI, Sam Hou Fai, a concordar que o arguido precisava de tempo para preparar a defesa. O juiz deu ordens a Ho Chio Meng para “apontar” e ler, na prisão, os milhares de factos da pronúncia que pretende analisar na próxima sexta-feira – dos mais de 1500 crimes que constam da acusação, 1300 dizem respeito só a contratos.

Antes de o tribunal passar para a inquirição de testemunhas, Ho Chio Meng tem ainda de se pronunciar sobre 56 crimes de lavagem de dinheiro.

5 Jan 2017

Embaixador português em Pequim distinguido

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] embaixador de Portugal em Pequim, Jorge Torres Pereira, recebeu esta quarta-feira em Lisboa o prémio de melhor diplomata económico do ano, atribuído pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP).

Em comunicado terça-feira enviado à Lusa, a CCIP precisou que o prémio anual, baptizado com o nome de Francisco de Melo e Torres, prestigiado diplomata português do século XVII, e que vai na quarta edição, foi entregue ao embaixador português, no âmbito do Seminário Diplomático promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, a decorrer no auditório do Museu do Oriente.

Licenciado em Medicina, Jorge Ryder Torres Pereira ingressou na carreira diplomática em 1986 e já esteve colocado em Londres, Telavive, Moscovo, Madrid, Ramallah e Banguecoque, antes de representar Portugal em Pequim.

O diplomata recebeu o prémio para o chefe de missão diplomática que, ao longo do ano, mais se destacou “no apoio à internacionalização de empresas portuguesas e na captação do investimento estrangeiro, contribuindo para o crescimento da economia portuguesa”, das mãos do presidente do júri, o embaixador António Monteiro, e do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone.

Boas aplicações

No valor de 25 mil euros, o prémio – de cujo júri fazem ainda parte Paulo Portas, vice-presidente da CCIP, e Miguel Horta e Costa, membro da direcção – será aplicado em “acções de apoio à internacionalização das empresas portuguesas e na captação de investimento estrangeiro, contribuindo deste modo para a melhoria do desempenho da missão diplomática premiada”, lê-se no comunicado.

Para escolher o vencedor, o júri “analisa casos concretos de empresas que se tenham internacionalizado com o apoio do diplomata nomeado, casos de empresas estrangeiras que se tenham estabelecido em Portugal ou entrado no capital de uma empresa portuguesa através da actuação directa do chefe de missão diplomática, bem como eventos organizados pelo nomeado para promover a imagem de Portugal”, refere-se ainda no documento.

O presidente da CCIP sublinha a importância do Prémio Francisco de Melo e Torres, argumentando que este “tem vindo a afirmar-se como uma referência” ao reconhecer “o papel fundamental que os nossos diplomatas têm na aplicação objectiva e com resultados da diplomacia económica nas empresas e na economia portuguesa.”

5 Jan 2017

Julgamento de portugueses retidos em Díli marcado para Fevereiro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] julgamento de um casal de cidadãos portugueses que está retido em Timor-Leste há dois anos, acusados de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental, começa no dia 28 de Fevereiro, determinou o Tribunal de Díli.

A data do arranque do julgamento de Tiago e Fong Guerra, que tem para já uma segunda sessão marcada para 14 de Março, foi confirmada numa curta audiência no Tribunal Distrital de Díli (TDD) presidida pela juíza Jacinta da Costa na terça-feira.

“Por um lado estamos satisfeitos pelo facto de o tribunal ter adiado o início do julgamento, considerando que ainda decorre prazo para apresentarmos a contestação bem como o rol de testemunhas e outros meios de prova, exercendo assim, de forma plena, todos os direitos processuais por forma a podermos provar a nossa inocência e limpar o nosso bom nome”, disse à Lusa Tiago Guerra.

“Contudo, não podemos deixar de salientar que esta questão, que já leva dois anos, tem paralisado as nossas vidas, bem como a vida dos nossos familiares, em especial dos nossos filhos”, sublinhou.

Um dos advogados do casal tinha sido notificado de que o julgamento começaria a 3 de Janeiro mas a notificação não cumpriu o previsto na lei, que determina que devem ser os arguidos a ser notificados pessoalmente.

Os dois portugueses – que só no final de Dezembro tiveram acesso ao processo completo – foram ao TDD e acabaram por ser formalmente notificados a 28 de Dezembro, ou seja com tempo insuficiente para que o julgamento pudesse começar a 3 de Janeiro.

Na curta audiência na terça-feira a juíza propôs o arranque do julgamento para 28 de Fevereiro, data aceite pela defesa e Ministério Público.

“Não tem sido fácil lidar com a presunção de culpa, reconhecendo que principio maior é o da presunção da inocência, tal como foi invocado recentemente pelo primeiro-ministro timorense”, frisou Guerra.

“Queremos acreditar num julgamento justo com igualdade de armas entre a acusação e a defesa. Esperamos, acima de tudo, que seja feita justiça”, disse ainda.

Da acusação

Em causa está a acusação, pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental.

Na acusação, o MP considera os arguidos responsáveis pela autoria material em concurso real e na forma consumada dos três crimes.

Como provas, além de documentos contidos no processo, o MP timorense apresenta quatro testemunhas, incluindo o ex-vice-ministro das Finanças Rui Hanjam, dois outros funcionários do Ministério das Finanças e a actual ministra desta pasta, Santina Cardoso.

A procuradora defende a manutenção das medidas de coação, considerando até que “se reforçaram os pressupostos que determinaram a aplicação” dessas medidas.

Pede ainda que os arguidos sejam condenados a pagar uma compensação civil no valor do que dizem ser as perdas do Estado timorense, que totalizam 859.706,30 dólares.

No caso do crime de peculato e de branqueamento de capitais, as penas máximas previstas no Código Penal timorense são de 12 anos de cadeia e para o crime de falsificação de documentos a pena máxima é multa ou três anos de prisão.

5 Jan 2017