Mostra “Palácio do Duplo Brilho” no MAM dia 28

Será inaugurada na próxima quinta-feira, 28, uma nova exposição no Museu de Arte de Macau (MAM). A mostra intitula-se “Palácio de Duplo Brilho: Exposição Especial do Museu do Palácio” e é organizada pelo Instituto Cultural (IC), Museu do Palácio de Pequim e conta com vários apoios, nomeadamente da Fundação Macau.

Apresenta-se uma selecção de 130 artefactos associados ao “Palácio do Duplo Brilho” do Museu do Palácio, que está situado no canto noroeste da Cidade Proibida, tendo sido a residência do Imperador Qianlong quando este era príncipe, antes da transformação do edifício em palácio.

Segundo uma nota do IC, este foi um local “acarinhado pelo imperador durante 72 anos”, sendo que o palácio “incorpora uma vasta história e cultura”. A exposição patente no MAM está dividida em quatro secções, intituladas “Nascido para Ser Imperador”, “Casamento e Família”, “Era Florescente da Governação Civil” e “Um Governo Eficaz, Uma Nação Harmoniosa”, permitindo aos visitantes “apreciar de perto o trono originalmente patente no Salão da Reverência, o salão principal do Palácio do Duplo Brilho, bem como obras de caligrafia e pinturas da autoria do Imperador Qianlong, os seus preciosos trajes e presentes trocados com a sua família real”.

Com palestra

Desta forma, permite-se “conhecer o quotidiano do imperador e os dias gloriosos no Palácio do Duplo Brilho”. Destaque ainda para a palestra que acompanha esta exposição, intitulada “De Palácio Auspicioso a Terra Abençoada – A Evolução Arquitectónica e Funções Diversificadas do Palácio do Duplo Brilho”, e que será proferida amanhã às 19h por Wang Hebei, Investigador Associado do Departamento de História da Corte do Museu do Palácio.

Nesta conversa, que decorre no MAM e que está sujeita a inscrição na plataforma da Conta Única de Macau, será analisado “como o palácio foi transformado num espaço único para os imperadores da dinastia Qing cumprirem os seus papéis na governação e na vida familiar”. A exposição estará patente até ao dia 2 de Março de 2025.

25 Nov 2024

FRC | Venetian, turismo e mercado de jogo em debate

É o maior casino do mundo e um fenómeno de popularidade entre os turistas oriundos do continente. “O Casino no Centro do Mundo: Turistas Chineses no Venetian Macau” é o nome da palestra que decorre hoje na Fundação Rui Cunha (FRC), a partir das 19h, e que conta com Timothy Simpson, da Universidade de Macau, autor de um livro sobre o tema

 

A Fundação Rui Cunha (FRC) recebe hoje, a partir das 19h, a conferência intitulada “O Casino no Centro do Mundo: Turistas Chineses no Venetian Macau”, protagonizada por Timothy Simpson, da Universidade de Macau (UM). Trata-se de uma palestra inserida no Ciclo de Palestras Públicas de História e Património, que resulta de uma parceria regular entre a FRC e o Departamento de História e Património da Universidade de São José.

O foco da apresentação será o mais recente livro de Timothy Simpson, “Betting on Macau: Casino Capitalism and China’s Consumer Revolution”, lançado no ano passado pela University of Minnesota Press, e que descreve a visão do autor sobre o sector do jogo, o futuro e o exemplo paradigmático do Venetian.

A proposta da palestra incide na teoria de Tim Simpson sobre este território bastante singular e a abordagem do autor sobre o que se pode prever para o futuro. “O Venetian Macau Resort é um dos maiores edifícios do mundo, e talvez a atracção mais popular de Macau, visitado por mais de metade das dezenas de milhões de turistas chineses que entram na cidade todos os anos. As enormes receitas do jogo no Venetian foram cruciais para a transformação pós-colonial de Macau na meca dos casinos mais lucrativa da história global e num dos territórios mais ricos do planeta. Esta palestra vai explorar o papel do Venetian no regime de capitalismo de casino local, e o modelo pedagógico da cidade de Macau na formação de cidadãos-consumidores para a nova era de reforma económica da China”, lê-se numa nota.

Na altura do lançamento, o livro mereceu uma nota de destaque do Executivo local, que o descreve como uma obra que “explora a recente transformação de Macau no local mais lucrativo do mundo para o jogo em casino e o papel formativo da cidade na metamorfose da própria China na maior sociedade de consumo do planeta”.

“Betting on Macao” centra-se, assim, nos anos após a liberalização do jogo, marcados por um profundo desenvolvimento social e económico de Macau, “durante os quais a cidade se tornou um dos territórios mais ricos do mundo”.

“No entanto, [o académico] situa o seu estudo da Macau contemporânea na história da cidade como território português, descrevendo o seu papel crucial na emergência do capitalismo global no século XVI”, descreve a mesma nota.

Assim, “grande parte do livro analisa a nova paisagem urbana de Macau, constituída por megaresorts integrados, com ambientes temáticos fantásticos, incluindo dois dos maiores edifícios do mundo”, sendo também explorado “o papel pedagógico deste ambiente construído no desenvolvimento da indústria turística da China”.

Espaço de património

No caso da publicação “Progressive Geographies”, a obra de Timothy Simpson é descrita como apresentando “uma perspectiva transversal de estudos pós-coloniais e teoria social, com uma ampla visão da indústria global do jogo”, desvendando também “as várias origens do lucrativo capitalismo de casino do território”.

“Por outro lado, a sua análise incisiva fornece uma visão distinta do projecto mais amplo de urbanização da China, das suas reformas económicas pós-Mao, e do aumento contínuo da cultura de consumo”, acrescenta-se.

O livro de Timothy Simpson estabelece ainda uma correlação com o importante património de Macau, que transformou o território num lugar com classificação da UNESCO e visitado também por causa dos seus monumentos e cultura.

“Identificada como Património Mundial da UNESCO e conhecida pela sua mistura única de arquitectura da era colonial chinesa e portuguesa, a Macau contemporânea metamorfoseou-se numa paisagem urbana surrealista e hipermoderna. Simpson situa as origens de Macau como porto comercial estratégico e a sua história subsequente a par da emergência do sistema capitalista global, traçando o fluxo maciço de investimento estrangeiro, construção e turismo nas últimas duas décadas que ajudaram a gerar a enorme riqueza do território”, descreve ainda a editora do livro.

A sessão de hoje será moderada por Priscila Roberts, Professora Associada e Chefe do Departamento de História e Património da Universidade de São José.

25 Nov 2024

Taiwan / Congresso | Kuomintang reivindica as raízes chinesas

O Partido Nacionalista Chinês [Kuomintang/KMT], principal partido da oposição taiwanesa, reivindicou ontem as raízes chinesas da ilha, governada autonomamente desde 1949.

Durante o congresso nacional do partido, que coincidiu com o 130.º aniversário da sua fundação, o presidente do KMT, Eric Chu, destacou o compromisso da formação azul na defesa da República da China [nome oficial de Taiwan] e com a manutenção da “democracia” e da “liberdade”.

Num discurso divulgado pela agência de notícias estatal CNA, Chu insistiu que a República da China tem a sua “raiz” e “fundamento” na nação e na cultura chinesas, apelando que “as forças de independência de Taiwan” não “prejudiquem ou destruam a República da China”.

Chu, antigo vice-primeiro-ministro (2009-2010) e antigo presidente da Câmara de Nova Taipé (2010-2018), enfatizou ainda que o KMT continuará a aprofundar o “desenvolvimento democrático” de Taiwan e a lutar contra o que definiu como a “hegemonia verde”, em referência às cores distintivas do Partido Democrático Progressista (PDP), no poder desde 2016.

O Congresso do KMT, organizado no Centro de Convenções e Exposições de Taoyuan (norte), contou com a presença dos principais membros do partido, incluindo o ex-líder taiwanês Ma Ying-jeou (2008-2016), que reiterou as suas críticas ao actual responsável, o soberanista William Lai, por promover a chamada “teoria dos dois Estados”, que definiu como “desnecessária, inviável e irrealista”.

O antigo líder da ilha, protagonista durante o seu mandato da maior aproximação entre Taipé e Pequim desde o fim da guerra civil chinesa em 1949, apelou ao KMT para aderir ao “Consenso de 1992”, um alegado acordo tácito entre o KMT e o Partido Comunista Chinês, que reconheceu a existência de “uma China” no mundo, embora os lados discordassem sobre o significado deste termo.

25 Nov 2024

Médio Oriente | Pequim apoia justiça após mandado contra Netanyahu

A China disse na sexta-feira “apoiar todos os esforços para alcançar a justiça” na questão palestiniana e pediu uma “posição objectiva” ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu um mandado de captura contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

“A China espera que o TPI mantenha uma posição objectiva e justa (e) exerça os seus poderes em conformidade com a lei”, disse Lin Jian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, numa conferência de imprensa.

Lin acrescentou que a China “apoia todos os esforços da comunidade internacional sobre a questão palestiniana que contribuam para alcançar a justiça”.

“O actual conflito em Gaza continua a arrastar-se e a crise humanitária não tem precedentes”, afirmou o porta-voz. Disse ainda que a China espera que o TPI “aplique o Estatuto de Roma e o direito internacional geral de forma abrangente e de boa-fé”.

“A China sempre se colocou do lado da justiça e do direito internacional, opôs-se a todas as violações do direito internacional, incluindo o direito humanitário, e condenou todos os danos causados a civis e ataques a instalações civis”, acrescentou o porta-voz.

Para além de Netanyahu, o TPI emitiu um mandado de captura contra o antigo ministro da Defesa israelita Yoav Gallant e o comandante do Hamas Mohammed Diab Ibrahim Al-Masri por alegados crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos em Israel e na Palestina.

O país asiático reiterou em várias ocasiões o seu apoio à “solução dos dois Estados”, manifestando a sua “consternação” perante ataques israelitas contra civis em Gaza, e os seus funcionários realizaram múltiplas reuniões com representantes de países árabes e muçulmanos para reafirmar esta posição ou para tentar fazer avançar as negociações de paz.

25 Nov 2024

Comércio | China melhor preparada para retaliar contra Trump

Pequim está melhor preparada a nível de legislação para retaliar contra sanções e outras medidas punitivas, afirmou ontem um investigador português, face à previsível intensificação da guerra comercial com Washington, após a eleição de Donald Trump.

Rosendo Guimarães da Costa, candidato a doutoramento em Direito internacional pela Universidade de Ciência Política e Direito da China, destacou à agência Lusa a promulgação, nos últimos anos, de legislação abrangente, incluindo a Lei Antimonopólio e a Lei Contra Sanções Estrangeiras, que permite a Pequim adoptar contramedidas extraterritoriais contra uma “vasta gama de intervenientes”.

“Os próprios Estados Unidos ou a Europa têm este tipo de mecanismo, no que é chamado o ‘efeito de Bruxelas’”, explicou o português, radicado em Pequim há mais de dez anos.

A China foi apanhada desprevenida durante o primeiro mandato de Donald Trump, que lançou uma intensa guerra comercial e tecnológica contra o país asiático, que incluiu a imposição de taxas alfandegárias punitivas sobre milhares de milhões de dólares de importações oriundas da China, sanções contra empresas – chave chinesas, como a Huawei, e controlos mais apertados sobre o investimento e acesso por entidades chinesas a alta tecnologia produzida nos EUA.

Nos últimos oito anos, no entanto, o país asiático introduziu novas leis que lhe permitem colocar empresas estrangeiras numa lista negra, impor as suas próprias sanções e cortar o acesso a cadeias de abastecimento cruciais.

O investigador português destacou a aplicação extraterritorial desta nova legislação, exemplificando com a Lei Antimonopólio, que permite punir uma empresa que não esteja sediada na China, desde que tenha qualquer tipo de relação comercial no país asiático, a Lei da Segurança Nacional de Hong Kong, que pode ser aplicada sobre não residentes na região semiautónoma, ou a Lei da Cibersegurança, que prevê também a punição de entidades que não estejam na China.

“A China tem actualmente instrumentos muito fortes, como a Lei Antimonopólio, que foi revista e que pode ser aplicada como arma de arremesso para efeitos proteccionistas”, frisou. “A lista negativa, criada pelo ministério do Comércio chinês, pode também proibir, restringir e limitar o acesso das empresas estrangeiras ao mercado chinês”, explicou.

Recado deixado

Nos últimos meses, Pequim fez já alguns avisos, incluindo proibir as empresas chinesas de fornecer componentes críticos à Skydio, a maior fabricante de “drones” dos EUA e fornecedora das Forças Armadas ucranianas.

Pequim também ameaçou incluir a PVH, cujas marcas incluem Calvin Klein e Tommy Hilfiger, na sua “lista de entidades não confiáveis”, uma medida que pode cortar o acesso da empresa de moda ao enorme mercado chinês.

Trump prometeu impor taxas de 60 por cento sobre as importações oriundas da China, o que teria um impacto no crescimento da segunda maior economia do mundo de até dois pontos percentuais, segundo analistas.

25 Nov 2024

A última noite do Império III

por Luis Nestor Ribeiro (1)

Os Sentimentos da População

Nas ruas de Macau, os principais acontecimentos da transição eram atentamente seguidos por milhares de pessoas, que podiam assistir igualmente ao momento histórico difundido pela televisão, através de grandes ecrãs instalados nos principais pontos da cidade. A maioria estava em silêncio, observando fixamente o desenrolar dos eventos. Alguns choravam, outros permaneciam em estado de contemplação. Era um momento de despedida, mas também de esperança. Afinal, o futuro de Macau estava, a partir daquele momento, nas mãos da China.

Ao passar a meia-noite, os primeiros instantes do dia 20 de Dezembro de 1999 foram marcados pelo eclodir de uma nova era pós-colonial, com a retirada dos símbolos oficiais portugueses existentes nos organismos e serviços públicos, tendo sido minuciosamente substituídos por insígnias alusivas à nova Região Administrativa da R.P.C., num perfeito sincronismo em todo o território e ilhas da Taipa e Coloane, incluindo os distintivos usados em fardas, uniformes e viaturas oficiais ao serviço dos elementos das forças policiais e autoridades locais. Foi uma longa madrugada, muito fria e envolta num extenso manto de nevoeiro.

Ao raiar da aurora, havia uma sensação clara de que uma nova era tivera início. Era o cair do pano sobre a última parcela de território que pertencera ao antigo Império Colonial Português, formado a partir do séc. XV em diversas regiões de três continentes, onde a presença portuguesa se fez sentir, deixando marcas indeléveis como a cultura e a língua, em África, América e na Ásia. De notar também que se assistia ao último arrear de bandeira de uma nação ocidental que administrara um território na Ásia. A China soube reservar e outorgar esse papel histórico a Portugal, com discrição e elevação, impondo à coroa inglesa que o Handover de Hong-Kong se realizasse antes da transferência de Macau, não obstante as diligências infrutíferas protagonizadas pelos diplomatas de Sua Majestade, tentando em vão, negociar um hipotético adiamento. Era o reconhecimento tácito do cordial relacionalmente institucional luso-chinês, firmado num entendimento recíproco duradouro, em contraste com a natureza arrogante e beligerante da presença britânica em H.K., que resultou na sua ocupação pela força em 1842. Nos dias que se seguiram, as bandeiras chinesas e as da Região Administrativa e Especial de Macau tornaram-se uma presença constante, a esvoaçar nos mastros dispersos em vários locais estratégicos, incluindo as antigas fortalezas construídas pelos portugueses nas suas colinas.

Reinava a euforia por Macau ser finalmente governado pelas suas gentes. Em termos de segurança, assistiu-se a um regressar à normalidade, sendo evidente que as novas autoridades não iriam permitir que se repetissem actos semelhantes aos cometidos durante os últimos anos da década de 1990.

Consequências: Um Novo Capítulo

As Mudanças Económicas

O impacto económico da transferência de administração foi sentido quase imediatamente. O jogo era uma das principais atracções de Macau, sendo explorado nos diversos casinos pertencentes à STDM(15) em regime de concessão exclusiva. A RAEM – Região Administrativa Especial de Macau assistiu a uma verdadeira explosão no desenvolvimento desse sector nos anos seguintes. A liberalização do jogo acompanhada de enormes investimentos de consórcios internacionais, transformou Macau num dos maiores centros de entretenimento do mundo, rivalizando com Las Vegas.

A cidade, que antes era relativamente pacata, passou por um boom de progresso e crescimento económico vertiginoso. Novos hotéis de luxo e complexos de entretenimento surgiram, atraindo milhões de turistas todos os anos, principalmente da China e países asiáticos vizinhos. As receitas do jogo passaram a sustentar a economia de Macau de uma forma ainda mais vincada.

Mas esse crescimento económico trouxe consigo novos desafios. A dependência excessiva do jogo gerou preocupações sobre a sustentabilidade a longo prazo da economia. Além disso, a disparidade entre os rendimentos dos que trabalhavam nos casinos e a restante população aumentou, criando alguns focos de apreensão.

As Transformações Sociais

A influência da cultura chinesa cresceu exponencialmente, especialmente entre os jovens. O sistema educacional foi reestruturado para incluir mais aulas em mandarim bem como de educação cívica e patriótica, com a língua portuguesa a perder a projecção que conheceu, passando a ser cada vez menos utilizada no quotidiano.

As escolas e universidades passaram a integrar ainda mais os programas curriculares do sistema nacional de ensino ministrado na R.P.C., com um foco maior nas disciplinas científicas e menos ênfase nas humanidades. Para muitos jovens, isso representou uma oportunidade de crescer num ambiente mais competitivo, com acesso mais fácil a empregos na China. Contudo, para outros, significou a perda de uma parte importante da sua identidade.

A outra face do desenvolvimento tem exposto alguns desequilíbrios. Enquanto muitos dos que trabalham na indústria do jogo e sectores afectos ao turismo prosperaram, outros segmentos da população, especialmente os idosos, começaram a sentir o peso do aumento do custo de vida. A gentrificação de áreas históricas também fez com que algumas famílias fossem deslocadas, perdendo o acesso a habitação acessível.

O Governo da RAEM tem implementado diversas acções no sentido de mitigar os desequilíbrios sociais provocados pela inflação e pelo crescimento do sector do jogo, que representa uma parte significativa do PIB, com o objectivo de promover mais justiça social e equilibrar o desenvolvimento económico. Algumas iniciativas recentes incluem a diversificação da economia com incentivos para o fomento de outras indústrias, como turismo não relacionado com o jogo, tecnologia, saúde e educação. Foram lançados programas de formação para sustentar a criação e crescimento de PMEs, com atribuição de subsídios, diversificando assim a base económica e criando empregos em sectores alternativos.

Para combater a inflação têm sido implementadas iniciativas para evitar a especulação de preços, especialmente em habitação e produtos de consumo básicos. Outra medida que tem sido bem aceite é a atribuição de subsídios e benefícios directos à população, como cheques de consumo e aumentos nos apoios sociais, para abrandar o impacto do aumento dos preços, especialmente em alimentos e bens essenciais. Tem-se assistido a um aumento nos investimentos em programas de habitação pública, oferecendo mais unidades de habitação social para famílias de baixos e médios rendimentos, com o propósito de combater os custos elevados dos imóveis no mercado privado.

O sistema de saúde público de Macau também tem captado investimentos, com a expansão de serviços de saúde gratuitos ou subsidiados para garantir que toda a população tenha acesso a cuidados médicos de qualidade

Tenho conseguido acompanhar de perto a evolução de Macau, que não pára de me surpreender. Na visita mais recente realizada em meados de Setembro de 2024, dei-me conta dos avanços que tem registado, em vários domínios, como a melhoria da rede de transportes públicos, com autocarros modernos e climatizados, que cobrem praticamente todo o território.

O espaço público está particularmente bem cuidado, com uma atenção particular na harmonização dos canteiros, jardins e zonas verdes, impecavelmente tratadas e integradas nas novas áreas urbanas em expansão. A cidade está muito mais limpa, um efeito positivo pós-pandemia COVID-19, sendo bastante evidente o grau de higienização dos espaços interiores dos mercados públicos.

A rede viária foi melhorada, com novas acessibilidades e mais disciplina no controlo dos fluxos de trânsito pedonal e automóvel. A partir de Outubro a quarta ponte de ligação à Taipa permitiu um melhor escoamento do tráfego com destino às ilhas.

Os Desafios

A preservação da identidade cultural de Macau tornou-se um desafio cada vez maior, numa perspectiva de manter a especificidade que lhe conferia o segundo sistema, derivado do axioma político preconizado com grande pragmatismo pelo grande líder Deng Xiaoping, de um país, dois sistemas. Embora os macaenses ainda celebrem as suas festas tradicionais e mantenham algumas de suas práticas culturais e religiosas de inspiração cristã, a influência crescente da China continental começou a ofuscar muitas dessas tradições. A arquitectura de inspiração colonial ainda permanece visível, mas novos arranha-céus e complexos de casinos começaram a alterar a fisionomia e a dominar o horizonte da cidade, quebrando a noção de escala e rompendo alguns enquadramentos que faziam coabitar o antigo com o novo, numa pequena parcela de território. Não obstante alguns desequilíbrios provocados no tecido urbano pelo inevitável surto de desenvolvimento, é importante elogiar o empenho do governo local em concretizar o reconhecimento oficial pela UNESCO em 2005, de um vasto conjunto de monumentos e edifícios classificados do seu centro histórico, como Património Mundial da Humanidade, um legado histórico incontornável da sua herança cultural, de matriz luso-chinesa.

Reflexões Pessoais: Uma Jornada Íntima

No Papel de Protagonista

Numa perspectiva mais íntima, como realizador e observador atento da realidade que me rodeia, a transferência de Macau foi mais do que um mero evento histórico; foi o revisitar de uma epifania, uma profunda transformação pessoal. Desde a minha infância na ex-colónia de Moçambique e depois mais tarde em Portugal, sempre tive uma enorme curiosidade pela China e pelo Oriente, provocada em certa medida pela convivência desde tenra idade com colegas chineses que frequentaram as mesmas escolas, partilharam brincadeiras no recreio e competiram nos mesmos recintos desportivos, desde a escola primária até à conclusão do ensino secundário, – na cidade da Beira, – onde residia uma enorme comunidade chinesa(16). Deixei-me apaixonar pelas suas gentes, pela sua maneira de ser, pelos aromas exóticos que emanavam do bairro chinês e que me marcaram para o resto da vida. Seduzido pela sua cultura milenar, não resisti ao apelo de rumar a Macau no início da década de oitenta do século passado, correspondendo a um convite do Governo de Macau dirigido a um pequeno grupo de profissionais da RTP para colaborar no projecto de criação de uma nova estação TV em Macau e formar os futuros quadros locais. Finalmente pude concretizar esse desejo de imersão na realidade que sempre idealizei desde muito novo, fruto de um apelo que as culturas distantes exerciam em mim, inspirado pelas histórias exóticas que lia incansavelmente, mas que os livros não podiam captar completamente. Quando cheguei a Macau, ainda jovem, sedento de aventura e de emoções fortes, não fazia ideia de que iria testemunhar uma das maiores transições políticas da história moderna.

A minha jornada em Macau foi uma lição de vida, de aprendizagem contínua. Conheci pessoas incríveis — chineses, portugueses, macaenses e expatriados —, cada uma com sua própria visão do que significava viver naquela cidade singular. Muitos continuam em Macau e suscitam-me os mesmos sentimentos de afecto como os familiares mais próximos. Passaram a integrar a bagagem existencial que transporto, são parte da minha família, para além dos meus filhos nascidos em Macau. Acompanhei de perto as mudanças políticas e económicas, mas também fui sendo moldado pelo escopo das transformações humanas que a transição operou.

Marcas indeléveis de uma realidade fugidia

A principal lição que assimilei com a experiência de cobrir a transição de Macau foi a de que identidade é algo de fluido, em constante transformação. Macau, como território, sempre foi uma terra de fronteira — geográfica e cultural, — e a sua identidade é algo difícil de definir de forma precisa. Se tentarmos captar a sua essência numa fotografia, ela revelar-se-á com um não-lugar(17) de contornos fugazes. Macau é um exemplo perfeito dessa nova dimensão da modernidade, como se fosse um lugar sem lugar. Cada vez mais passamos o tempo em hubs(18), locais efémeros de transição e de passagem, como hotéis, mega-shoppings, terminais, gares e aeroportos e numa realidade plasmada em écrans e decorações cénicas construídas em pladur, reproduzindo modelos virtuais numa fantasia hiper-realista, vivida cada vez mais à frente de gadgets e terminais de computadores. Esta transfiguração do real resulta numa progressiva alteração dos comportamentos e rotinas sociais nas grandes metrópoles, apenas perceptível de forma parcial e transitória, numa dimensão cada vez mais povoada pelo excesso de bits de informação digital.

A realidade diáfana que os múltiplos écrans e néons dispersos na sua malha urbana convocam e projectam é de uma modernidade de contornos líquidos(19). Eternamente sedutora, esquiva e desconcertante. A sua essência flutuante brota das inúmeras camadas que se vão sobrepondo, numa heterotopia plasmada em contínuo, num processo em constante mutação. Descrever essa realidade fugaz numa narrativa impõe uma disciplina de reescrita constante, como se estivesse a produzir um palimpsesto, sem princípio nem fim. A transferência para a China não apagou essa complexidade intrínseca de Macau; apenas a transformou.

A experiência que vivi na régie de realização ao dirigir uma equipa numerosa e multicultural, constituiu um desafio enorme em termos profissionais. Nada podia falhar. O evento iria ser transmitido em directo para todo o mundo, pelos principais canais e cadeias televisivas. Recuo no tempo e recordo um momento único.

Há um momento sem fim, uma singularidade no tempo, o ‘instante decisivo’ como lhe chama o grande fotógrafo francês Henri Cartier-Brésson, que não se repercute nem se repete. A realização televisiva em directo cobrindo a sequência de imagens em sobreposição, com a deposição da bandeira das quinas e a ascensão da bandeira rubra da R.P.C., alternada pelos rostos dos líderes supremos das respectivas nações, num encandeado encantatório perdurará para sempre na História. Esse encadeado de imagens, a sua construção, o seu ritmo, a sua pulsação … têm um pouco de mim que se projecta na sua construção e na forma como foram reveladas ao mundo! Algo meu permanece para sempre ligado a essa sequência visual, o seu encadeado correspondeu de alguma forma ao pulsar do meu coração, ao ritmo da minha respiração enquanto realizava. Todo o mundo estava preso, em suspenso, acompanhando o bailado protocolar das guardas de honra, numa coreografia solene que ficou para sempre projectada pelos grandes planos dos líderes em alternância sincopada, sobrepostas ao esvoaçar das bandeiras impelidas pelos jactos de ar embutidos que eram propulsionados através de pequenos orifícios nos topos dos respectivos mastros metálicos.

Constitui um forte motivo de orgulho ter contribuído activamente para a criação dessa sequência visual que perdurará e que será objecto de estudo no Futuro, quando se pretender investigar a iconografia associada à Transferência de Poderes de Macau para a R.P.C., passando esse conteúdo audiovisual a estar sempre disponível nos principais arquivos, acervos e bancos de imagens internacionais. Estarei sempre ligado a esses instantes decisivos…

O Legado

O legado da transferência de Macau permanece ainda em processo de construção. Hoje, duas décadas e meia após o evento, a Região Administrativa continua a prosperar economicamente, mas enfrenta desafios sociais e culturais significativos. As questões da preservação da identidade cultural, a especificidade da cidadania dos residentes permanentes de Macau e seus direitos adquiridos no contexto da crescente influência chinesa, bem como a excessiva dependência da economia em relação ao jogo, constituem alguns temas centrais no debate sobre o Futuro.

As novas gerações de macaenses, embora mais conectadas à China do que nunca, ainda mantêm uma forte ligação à alma portuguesa da sua terra. O devir de Macau tem ainda alguns contornos pouco definidos, mas a resiliência e a capacidade de adaptação dos seus cidadãos convocam a esperança de continuar a encontrar formas de prosperar e evoluir, preservando o seu carácter essencial: a multiculturalidade.

Para as futuras gerações, o desafio será equilibrar o crescimento económico com a preservação das tradições culturais. Macau, com sua história rica e o seu papel de ponte entre o Oriente e o Ocidente, tem o potencial de ser um modelo de convivência pacífica e próspera num mundo cada vez mais globalizado.

Conclusão

Em 1999, Macau entrou numa nova era, mas os traços mais fortes da sua história e identidade não foram apagados com a Transferência de Administração. A RAEM continua a ser um exemplo vivo de como culturas diferentes podem coexistir de forma ecuménica, perante pressões políticas e económicas. Poder testemunhar esse momento de transição como realizador de TV foi uma experiência marcante. As lições de vida que aprendi em Macau continuarão a guiar os meus passos em busca de um mundo cada vez mais livre de barreiras, muros ou fronteiras.

*Autor, Consultor de media, Realizador/Produtor

Notas

5 Concessionária do jogo em Macau, fundada pelo magnata Ho Hung-Sun (Stanley Ho). Deteve em exclusivo o monopólio de exploração dos casinos durante a administração portuguesa com atribuição de subsídios, diversificando assim a base económica e criando empregos em sectores alternativos.

6 Uma comunidade muito influente no tecido social da Beira, tendo como polo principal uma agremiação desportiva, o Clube Atlético Chinês da Beira, com excelentes equipas de basquetebol e ginástica de ambos os sexos, que participavam com muito sucesso nos campeonatos, contribuindo com muitos atletas para as respectivas selecções provinciais. Para além do Atlético, as lojas do bairro chinês e o cemitério eram os locais que mais contribuíam para dar um ambiente oriental a alguns dos locais mais típicos da cidade onde nasci, em 1958

7 Augé, Marc – Non-Places: An Introduction to Supermodernity, 2023, Verso
8 Plataforma intermodal que assegura ligações
9 Bauman, Zygmunt – Liquid Modernity, 2000, Polity

25 Nov 2024

PJ | Burlões fingem ser representantes da Escola Pui Ching

A Polícia Judiciária recebeu queixas de quatro lojistas que foram vítimas de burlas de encomendas falsas, com prejuízos que ultrapassam as 160 mil patacas. Os burlões fingiram ser representantes do coordenador da Escola Secundária Pui Ching de Macau  e de uma empresa de táxis para pedir cotações a lojistas.

O passo seguinte seria a encomenda de produtos fornecidos por empresas designadas, com os burlões a enviarem falsas capturas de ecrã (screenshots) com supostos comprovativos de transferências bancárias, como provas de pagamento. Finalmente, era pedido aos comerciantes o pagamento de cauções. Estes montantes foram recolhidos pessoalmente, uma táctica que as autoridades indicam ter como objectivo aumentar a credibilidade do esquema, em vez do pedido para pagar a caução online.

Três vítimas perdem 1,2 milhões

Três pessoas foram burladas em 1,2 milhões de patacas, em três casos separados com os burlões a fazeram-se passar pela polícia do Interior. De acordo com o jornal Ou Mun, que citou a informação da Polícia Judiciária (PJ), todas as vítimas foram enganadas com a alegada acusação de que o seu número de telemóvel tinha sido utilizado para enviar mensagens no Interior a promover o jogo online.

A primeira vítima perdeu 223,7 mil patacas, a segunda perdeu 430 mil patacas e a terceira 540 mil patacas. Os casos aconteceram entre 12 e 21 de Novembro, e todos os burlados apresentaram queixa junto das autoridades, depois de perceberam que tinham sido enganados.

25 Nov 2024

Lai Chi Vun | Estaleiros vão reabrir ao público em Dezembro

Os dois estaleiros navais de Lai Chi Vun, que foram alvos de obras desde o passado mês de Julho, vão reabrir ao público no próximo mês, de acordo com declarações da presidente do Instituto Cultural, Deland Leong Wai Man, prestadas à comunicação social no sábado.

Ainda sem uma data precisa para a abertura, a responsável revelou que o Governo está a planear uma série de actividades para a animar a zona de Coloane até ao fim do ano e que esse calendário será determinante para a data de reabertura dos espaços.

A zona dos estaleiros navais irá reabrir com uma nova cara, com novas instalações com informação sobre a história da indústria naval de Macau e também com planos para construir um parque para skates, cafés, livrarias e um jardim urbano, indica a Macau News Agency. Estas obras devem estar concluídas no terceiro trimestre de 2026. Os projectos de revitalização da zona fazem parte de um plano conjunto entre o grupo Galaxy Entertainment, que financia a intervenção, e o Governo.

25 Nov 2024

Ensino | Ma Io Fong quer inspecção mais rigorosa de habilitações académicas

O deputado Ma Io Fong apelou ao Governo para proceder a uma revisão dos mecanismos de verificação das habilitações académicas, na sequência do escândalo que afectou a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, em inglês).

Através de um comunicado, o deputado defendeu que “o Governo e as escolas devem trabalhar em conjunto e adoptar uma atitude de ‘tolerância zero’ em relação a todas as infracções” e que devem “investigar e interceptar os casos de falsificação de habilitações académicas”. Ma considerou também que “a falsificação de habilitações académicas e os comportamentos registados são infracções graves e que o sistema de verificação deve ser melhorado no futuro”.

Na mensagem divulgada através do gabinete de imprensa, o deputado ligado à Associação das Mulheres defendeu ainda a intervenção do Governo ao longo de todo o processo, que indicou ter sido de uma postura “pró-activa”.

O cenário traçado por Ma Io Fong contrasta com o que foi descrito pelo portal HK01, o primeiro a noticiar o caso que envolve a falsificação de habilitações académicas de Hong Kong, que depois eram utilizadas para a admissão na instituição de Macau.

Anteriormente, o portal HK01 noticiou que a DSEDJ recusou confirmar o caso, depois de ter sido contactada, num primeiro momento pela publicação. A confirmação apenas foi avançada depois da congénere de Hong Kong ter reconhecido que teria havido falsificação de habilitações académicas.

25 Nov 2024

CCTV | Ho Ion Sang quer câmaras nas creches e jardins-de-infância

O deputado Ho Ion Sang defende a instalação de videovigilância nas creches e jardins-de-infância do território, e quer saber em que ponto se encontra o estudo que ia ser feito pelo Instituto de Acção Social (IAS) em conjunto com o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP). A instalação de câmaras de vigilância para vigiar os mais novos começou a ser defendida por vários deputados em Outubro do ano passado, depois da morte de uma bebé na Creche Fong Chong da Taipa.

“No final do ano passado, as autoridades indicaram que se tinham reunido com o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais e trocado opiniões sobre a instalação de sistemas de videovigilância em centros de acolhimento de crianças, para que fosse feita uma avaliação dos procedimentos e mecanismos operacionais pertinentes”, recordou Ho. “Qual é a situação no que se refere à instalação de sistemas de videovigilância nas creches?”, questionou.

Ho Ion Sang indicou também que no passado centros de acolhimento de crianças receberam autorização para instalarem sistemas de CCTV, para vigiar as crianças. Neste sentido, o deputado pergunta ao Governo qual o número de centros que avançaram com a medida e quais as primeiras conclusões.

Em relação às creches, Ho Ion Sang, indica que o Plano de Desenvolvimento dos Serviços das Creches de 2023 a 2025 do IAS vai terminar no próximo ano. O deputado quer saber quais vão ser as políticas essenciais para o próximo plano, e quando vão ser apresentadas.

25 Nov 2024

Fórum Macau | Carlos Monjardino aponta falta de eficácia

O presidente da Fundação Oriente, Carlos Monjardino, considera que o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) melhorou as relações entre países, mas teve poucos efeitos comerciais. Em declarações à Agência Lusa, Monjardino considerou que o organismo “funcionou, mas, porventura, não funcionou até ao ponto onde deveria ter funcionado”.

Esse ponto, concretizou, é o de “um incremento grande de relações e estabelecimento de empresas desses países – mais de Portugal, mas também de Angola, Moçambique… – em Macau para comercializar com a China”. Isso “não aconteceu”, sublinhou. “Da parte dos países de língua portuguesa, acho que havia essa intenção, mas depois [empresários e empresas lusófonos] têm que encontrar na mãe-pátria chinesa alguém – pessoas, entidades – que faça essa ligação com eles e não o conseguiram fazer, por incapacidade dos actores nessa peça de teatro”, considerou.

O fracasso até agora da ideia de fazer de Macau a porta de entrada das empresas portuguesas e lusófonas no enorme mercado da “Grande Baía” explica-se “claramente”, na opinião de Carlos Monjardino, na falta de “capacidade dos actores de negociar, de propor coisas, de aceitar determinado tipo de princípios”. “Não se chegaram à frente, não foram suficientemente perseverantes para poderem ‘levar essa carta a Garcia'”, afirmou.

Por outro lado, quando os chineses viram a oportunidade de investir em Portugal, assim como em outros países lusófonos, fizeram-no directamente. “Eles preferiram, claramente, vir aqui, negociar directamente a [companhia de seguros] Fidelidade, a Luz Saúde, EDP, REN… Negociaram aqui, directamente com o Governo [português] e não quiseram intermediários, ou seja, Macau, pelo meio”, ilustrou.

25 Nov 2024

Pedro Arede vence Open de Hong Kong em esgrima

O português Pedro Arede disse à Lusa estar “mesmo muito feliz” após vencer a competição de espada do Open de Hong Kong em esgrima, que contou com 149 atletas vindos de 12 países e regiões.

Na final da categoria de espada, disputada no sábado, Arede derrotou por 15-13 o quinto cabeça-de-série do torneio, o atleta da casa Ng Ting Hin, que tinha ficado em 62.º lugar no mundial da modalidade, disputado este mês na Suíça.

“Foi de facto um bom dia, um dia em que as coisas correram bem, fui resolvendo os problemas todos que foram aparecendo. E de facto, vencer em Hong Kong, acho que é extremamente importante”, disse o atleta.
Arede sublinhou que o Open de Hong Kong, disputado anualmente na região, é “uma das provas de esgrima mais concorridas e mais fortes ao nível da Ásia”, tendo este ano contado com o vice-campeão asiático, Ng Ho Tin, também um atleta da casa.

“Hong Kong neste momento é uma das grandes potências mundiais da esgrima”, disse o português, recordando que o território conseguiu duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris, este verão. Arede admitiu que esta foi a maior vitória desde que se mudou para a região vizinha de Macau, no final de 2019, meses após se ter sagrado, pela segunda vez, campeão de Portugal.

A mudança aconteceu por “motivos profissionais e pessoais”, mas o português manteve a intenção de continuar a competir, acompanhado à distância pelo treinador e pela seleção de Portugal. Mas a pandemia de covid-19 causou um interregno e, mesmo depois do recomeço das competições internacionais, o atleta ficou limitado às competições em Macau e na China continental, devido à política ‘zero covid’.

Sem regresso a Portugal

Aos 36 anos, Arede confessa que já não tem como objectivo regressar à selecção de Portugal, na qual participou pela primeira vez com 15 anos. “As pessoas que estão agora mais na equipa têm feito resultados e épocas extraordinárias, portanto acho que está muito bem entregue”, disse o atleta.

Arede acrescentou que tem sido “muito positivo e interessante” contribuir também para a esgrima em Macau, nomeadamente através de treinos com a selecção da região. O atleta tem dado aulas particulares a alguns jogadores de Macau e também já deu aulas de grupo na Escola Portuguesa do território. “É um projecto que gostava de retomar, nesses modos ou noutros modos, mas ter um grupo para trabalhar, acho que era interessante”, explicou o português.

Arede disse que “ainda há muita coisa por fazer” para que Macau esteja ao nível da região vizinha, mas sublinhou que “estão a ser dados passos muito bons para que possa haver bons jogadores e um bom nível”.
O atleta destacou a existência de “muitos praticantes, uma vez que praticamente todas as escolas de Macau têm a prática de esgrima e um clube afiliado”.

24 Nov 2024

China alarga isenção de visto de 30 dias para dezenas de países, incluindo Portugal

A China anunciou hoje a extensão de 15 para 30 dias do período de estadia sem visto para cidadãos de países com isenção de visto em vigor, uma lista na qual Portugal foi recentemente integrado. A medida, que visa impulsionar o intercâmbio cultural e económico, segundo as autoridades chinesas, vai ser aplicada a partir de 30 de novembro de 2024 e estará em vigor até 31 de dezembro de 2025.

O ministério dos Negócios Estrangeiros informou ainda que a lista de países com esta isenção de 15 dias, que até agora contava com 29 Estados, será alargada para incluir a Bulgária, Roménia, Croácia, Montenegro, Macedónia do Norte, Malta, Estónia, Letónia e Japão.

“A fim de facilitar ainda mais os intercâmbios com outros países, a China decidiu alargar a lista de países elegíveis para a política de isenção de vistos”, declarou hoje o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Lin Jian, em conferência de imprensa.

Com esta extensão, os cidadãos de um total de 38 países poderão entrar na China para negócios, turismo, visitas familiares, intercâmbios ou trânsito sem visto e com um período de permanência mais longo.

Tong Xuejun, diretor do Departamento Consular do ministério dos Negócios Estrangeiros, salientou hoje também, durante uma conferência de imprensa do Conselho de Estado (Executivo), que a China assinou acordos mútuos de isenção de vistos com seis países no ano passado, incluindo Singapura, Tailândia, Cazaquistão, Antígua e Barbuda, Geórgia e Ilhas Salomão. Atualmente, o país tem acordos completos de isenção de vistos com 25 nações.

Além disso, informou que, até à data, a China assinou acordos mútuos de isenção de vistos com 157 países e regiões, abrangendo vários tipos de passaportes.

Em novembro de 2023, a China anunciou que os nacionais de França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha e Malásia beneficiariam de uma isenção de visto unilateral até dezembro de 2024, depois prorrogada até ao final de 2025, uma lista à qual as autoridades acrescentaram gradualmente mais países.

Portugal passou a fazer parte desta lista em outubro passado. Nos últimos meses, o país asiático adotou uma série de medidas para ajudar os viajantes internacionais, incluindo a disponibilização dos serviços de pagamento eletrónico WeChat Pay e Alipay aos utilizadores estrangeiros que visitam a China.

No primeiro semestre deste ano, os visitantes estrangeiros mais do que duplicaram para 14,64 milhões. Segundo dados da Administração Nacional de Imigração, as entradas sem visto ultrapassaram 8,5 milhões, equivalendo a 58% das viagens, que, ainda assim, estão ainda abaixo do nível pré-pandemia.

23 Nov 2024

Jorge Arrimar vence Prémio de Literatura dstangola/Camões

O escritor angolano Jorge Arrimar venceu por unanimidade o Prémio de Literatura dstangola/Camões, com “Cuéle – O pássaro troçador”, uma obra “muito bem documentada sobre uma região de Angola raramente presente” na literatura, anunciaram na quarta-feira os promotores.

O prémio, promovido pelo dstgroup, em parceria com o Instituto Camões, dedicou-se nesta edição a obras de prosa, de autores angolanos, publicadas em 2022 e 2023, tendo distinguido este romance histórico, situado entre o século XIX e finais do século XX, que recria factos e pessoas do sudoeste angolano, memórias reforçadas por precários vestígios escritos ou conservadas apenas na oralidade.

O júri, constituído por José Mena Abrantes, que presidiu, David Capelenguela e Amélia Dalomba, descreveu “Cuéle – O pássaro troçador” como “um fresco grandioso e muito bem documentado sobre uma região de Angola raramente presente na literatura”.

“O autor tem perfeito domínio da sua expressão, tanto na escrita e na definição das diferentes personagens, como no rigor como caracteriza modos de ser, tradições e comportamentos dos vários estratos sociais, quer do lado africano, quer do lado europeu, num momento decisivo do desenvolvimento do sul de Angola, na transição do século XIX para o século XX”, justifica.

Na opinião dos jurados, Jorge Arrimar concilia “com naturalidade, num estilo simples e fluido, reminiscências de figuras relevantes da época e da sua própria história familiar e factos históricos profusamente documentados, que revelam tanto o esboço de uma harmonia possível no contacto entre duas culturas diferentes como a violentação de uma pela outra na concretização da ocupação colonial”.

O júri destacou ainda a qualidade de grande parte das obras apresentadas este ano a concurso, quer pelo seu domínio da língua e da escrita literária, quer pela originalidade das suas temáticas ou pela sua crítica da realidade actual, que tornaram “mais difícil a decisão final”.

Entre Macau e Angola

O prémio tem um valor pecuniário de 15 mil euros, que será entregue ao vencedor, na quantia correspondente em kwanzas, em Angola, em Abril.

Nascido em 1953, em Angola, Jorge Arrimar iniciou os seus estudos superiores em Luanda, tendo concluído, posteriormente, em Portugal, a licenciatura em História, a pós-graduação em Ciências Documentais e o doutoramento em História Moderna, bem como, já em Espanha, o doutoramento em Ciências Documentais.

Foi professor de Português e de História, nos Açores, e rumou a Macau, onde permaneceu entre 1985 e 1998, tendo exercido o cargo de director da Biblioteca Nacional/Central de Macau.

O Prémio de Literatura dstangola/Camões, que distingue livros editados em poesia e prosa, de autores angolanos, tem como missão tornar-se uma referência em Angola por distinguir as obras e os autores mais prestigiados, com o máximo de rigor na escolha da obra vencedora.

Ao longo destas edições já galardoou Zetho Cunha Gonçalves, em 2019, Pepetela, em 2020, Benjamim M’Bakassy, em 2021, Boaventura Cardoso, em 2022, e João Melo, no ano passado.

22 Nov 2024

História | Blogue “Macau Antigo” celebra 16 anos

O blogue “Macau Antigo”, criado por João Botas, jornalista e autor de livros sobre a história de Macau, comemora 16 anos de existência este mês. Assim, para comemorar esta efeméride, irão decorrer passatempos para os visitantes do site, que podem ganhar livros.

Além disso, segundo uma nota de imprensa, nos próximos meses serão dadas a conhecer fotografias de Macau, “umas raras, outras inéditas, com mais de 100 anos”, de lugares como a Baía da Praia Grande, Porto Interior, “aspectos de um jardim privado chinês, que viria a ser o Jardim de Lou Lim Ieoc”, e ainda do Jardim de S. Francisco, entre outros lugares. Destaque ainda para as imagens dos aterros da zona da Praia Grande nas décadas de 20 e 30 do século passado, ou do Forte de Mong-Há.

Além disso, “como este ano se celebram os 250 anos do nascimento de George Chinnery, além de que em 2025 faz 200 anos que o pintor inglês chegou a Macau, em 1825, uma terra onde viveu até à sua morte, em 1852, serão também apresentados alguns desenhos raros feitos em Macau e novas pistas sobre a data da chegada ao território, que poderá ser anterior à versão ‘oficial’ divulgada até agora”, descreve João Botas na mesma nota.

Criado em 2008, o “Macau Antigo” tem vindo a consolidar-se como “o maior acervo documental online sobre a história de Macau, apresentando um novo post diariamente”. O projecto já conta com mais de seis mil publicações e um total de 2,6 milhões de habitantes. Em Abril último registou um novo recorde mensal de visualizações, cerca de 70 mil numa média diária, a rondar os 2.300. Dos 2,6 milhões de visitantes até agora, a maioria tem como origem Portugal (535 mil), EUA (448 mil), Macau (341 mil), Brasil (198 mil) e Hong Kong (147 mil).

22 Nov 2024

Albergue SCM | Inaugurada exposição colectiva com artistas de Taiwan

O Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau inaugurou ontem uma nova mostra de arte. Trata-se de “Sui Generis – Exposição Colectiva de Artistas Contemporâneos de Taiwan”, que promete dar uma nova perspectiva da arte que se faz na região. Destaque para a apresentação de trabalhos de três novas artistas

 

A arte feita em Taiwan volta a exibir-se no Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCM) numa nova mostra colectiva, depois de uma primeira experiência feita no ano passado, com a exposição “Worldly Existence – Habitat: 1980s Taiwan Artists Joint Exhibition”.

Desta vez, apresenta-se “Sui Generis – Exposição Colectiva de Artistas Contemporâneos de Taiwan”, organizada pelo Discrepancies Studio. Segundo um comunicado, esta mostra revela “a rica tapeçaria de influências culturais existente em Macau e Taiwan”, o que mostra “como os artistas reflectem e interpretam as suas heranças únicas”.

O leque de artistas que participam nesta exposição são Tsong Pu, Tao Wen-Yueh, Lu Hsien-Ming e três artistas femininas emergentes: Pan Yu, Hsu Ting e Hsiao Chu-Fang, “que trazem novas perspectivas à arte contemporânea de Taiwan”, é destacado na mesma nota.

Esta exposição tem ainda como objectivo “realçar a ligação vital entre cultura e arte, ilustrando a forma como estes artistas procuram exprimir as suas identidades num contexto global”. Assim, “Sui Generis” visa “promover o diálogo sobre a modernidade e a partilha de experiências culturais entre Macau e Taiwan”.

Laços de expressão

Em “Sui Generis” destaca-se o trabalho de Tsong Pu, intitulado “In a Distant Snoring Sound”. Trata-se de uma série de trabalhos artísticos que “reexamina os confortos da vida em Taiwan, explorando temas de crescimento e transformação através de experiências quotidianas”.

Por sua vez, “Suite of the City”, de Lu Hsien-Ming, explora “os ambientes urbanos que reflectem ligações emocionais às cidades de Taiwan, mostrando uma identidade artística única”. No caso de “Genesis”, de Tao Wen-Yueh, o público poderá ver a “estreia de novas obras que abordam temas de nascimento e existência, personificando um mundo vivo através da sua expressão artística”.

Pan Yu, uma das artistas que se estreia nesta exposição colectiva, traz a “Série Peónia”, que não é mais do que “uma celebração da beleza e da elegância, utilizando as peónias como metáfora da interligação da vida e do universo”.

A exposição inclui ainda a exploração artística por parte de Hsiao Chu-Fang, que faz “uma reflexão sobre a expressão emocional através de retratos inovadores de rostos e sentimentos, destacando a arte contemporânea de Taiwan”.

De salientar também o trabalho de fotografia apresentado por Tsu Ting, que é fruto de uma “investigação sobre a espacialização das imagens, criando dissonância cognitiva através das suas obras visuais”. Em termos gerais, esta mostra pretende mostrar “a vitalidade da arte contemporânea de Taiwan, como também tem como objectivo reforçar a colaboração artística entre Macau e Taiwan”.

A mostra pode ser vista na Galeria A2 do Albergue SCM até ao dia 5 de Dezembro deste ano. A curadoria está a cargo de Cai Guojie, com co-curadoria e trabalho de investigação académica feito por Tsai Shih-Wei. A mostra conta ainda com as colaborações do Espaço de Arte Shui-Lin, RIHUI AD Design Prints Company e do CAC – Círculo dos Amigos da Cultura de Macau.

22 Nov 2024

Heilongjiang | Autoridades procuram tigre siberiano que atacou agricultor

As autoridades chinesas estão a tentar localizar um tigre siberiano que atacou recentemente um agricultor na vila de Boli, na província de Heilongjiang, no nordeste da China.

O felino mordeu gravemente a mão esquerda do homem, que evitou a amputação após várias horas de cirurgia, informou ontem o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

O incidente ocorreu na segunda-feira perto da aldeia de Changtai, onde um vídeo viral mostrou o tigre em frente a uma residência, momentos antes de um vizinho conseguir fechar o portão de ferro para evitar outro ataque.

Os peritos confirmaram à imprensa local que se trata de um tigre siberiano e as autoridades locais avisaram os residentes para “evitarem as zonas montanhosas” e “saírem em grupos”, enquanto são feitos esforços para localizar o animal.

Desde terça-feira que a Administração das Florestas e Pastagens de Heilongjiang reforçou as medidas de segurança e afirmou que a presença de tigres deste tipo na região não é comum. Investigadores do Instituto de Zoologia da Academia Chinesa de Ciências sugerem que o animal pode ter atravessado a fronteira a partir da Rússia, a cerca de 100 quilómetros de distância.

O tigre siberiano, a maior subespécie de tigre, está protegido na China, onde os esforços de conservação aumentaram a sua população. O Parque Nacional do Nordeste da China, criado em 2021, alberga cerca de 70 tigres, e as vítimas de ataques podem apresentar pedidos de indemnização em caso de confirmação de tais incidentes.

Em Abril de 2021, as autoridades capturaram um tigre siberiano selvagem que tinha mordido um aldeão e, após um exame veterinário, libertaram-no numa floresta densa.

22 Nov 2024

China | Prometidas medidas para prevenir agressões indiscriminadas

O ministro da Segurança Pública da China, Wang Xiaohong, pediu “mais medidas preventivas” para “manter a estabilidade social” após os últimos ataques indiscriminados registados no gigante asiático, foi ontem noticiado.

“Devemos tomar medidas práticas para prevenir e controlar as fontes de risco. Para o fazer, devemos investigar minuciosamente cada caso e resolver os conflitos e disputas das pessoas antes que seja tarde demais”, disse Wang, citado pelo Diário do Povo.

De acordo com o jornal oficial do Partido Comunista Chinês, o ministro realçou, durante uma deslocação à província de Liaoning (nordeste), que as autoridades devem “reforçar as tarefas de prevenção” para “garantir a segurança da população e manter a estabilidade social”.

“Temos de resolver os problemas das pessoas com precisão. E à medida que o final do ano se aproxima, devemos também reforçar a fiscalização da segurança nos transportes rodoviários e nos grandes eventos”, acrescentou Wang.

Na terça-feira, o Ministério Público da China prometeu “punições severas, rigorosas e rápidas” para aqueles que cometessem “crimes hediondos” após uma recente vaga de ataques.

A procuradoria afirmou, em comunicado divulgado após uma reunião de trabalho, que irá implementar “uma abordagem de tolerância zero para crimes dirigidos contra alunos ou que comprometam a segurança escolar”. A reunião sublinhou “a importância de processar tais casos de forma decisiva e rápida para alcançar um poderoso efeito dissuasor”.

Contas preocupam

A polícia da cidade chinesa de Changde, na província central de Hunan, deteve na terça-feira um homem de 39 anos acusado de atropelar vários peões em frente a uma escola. As autoridades locais afirmaram que as vítimas, cujo número não foi divulgado e que foram levadas para o hospital, não apresentavam ferimentos que pusessem em risco a sua vida.

No último ano, multiplicaram-se no país asiático os ataques indiscriminados contra transeuntes. Na semana passada, um homem conduziu um automóvel contra um grupo de pessoas à porta de um centro desportivo em Zhuhai, provocando pelo menos 35 mortos e 43 feridos.

Em Fevereiro, um homem matou pelo menos 21 pessoas na província oriental de Shandong com uma faca e uma pistola. Em Julho, um automobilista de 55 anos atropelou uma multidão em Changsha (centro da China), matando oito pessoas, na sequência de um litígio sobre propriedade.

Em Outubro, um homem de cerca de 50 anos esfaqueou cinco pessoas à porta de uma escola em Pequim, incluindo três crianças.

Os motivos são muitas vezes pouco claros ou não são tornados públicos, mas a imprensa local classifica frequentemente estes episódios como “vingança contra a sociedade”, ou seja, ataques em que o agressor actua contra pessoas inocentes por frustração devido a disputas legais, sentimentais ou comerciais.

22 Nov 2024

Presidente do órgão legislativo máximo da China de visita a Portugal

O presidente do órgão legislativo máximo da China e oficialmente segunda figura do regime chinês, Zhao Leji, iniciou ontem em Portugal um périplo de nove dias pelo sul da Europa, que inclui ainda deslocações a Espanha e Grécia.

Segundo um comunicado difundido pela Assembleia Popular Nacional (APN) da China, Zhao visita Portugal a convite de Aguiar Branco, o presidente da Assembleia da República. O responsável chinês tem também previsto encontros com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro.

Constitucionalmente, a Assembleia Popular Nacional é o “supremo órgão do poder de Estado na China” e o seu plenário anual decorre todos os anos, em Março, durante dez dias, no Grande Palácio do Povo, em Pequim.

Zhao Leji é oficialmente o número dois da hierarquia chinesa, a seguir ao secretário-geral do Partido Comunista e Presidente, Xi Jinping. O primeiro-ministro, Li Qiang, é o número três.

Os cerca de 3.000 delegados que compõem a APN, entre os quais uma representação das Forças Armadas, não são, porém, eleitos por sufrágio directo, e o “papel dirigente” do Partido Comunista Chinês (PCC) permanece como “um princípio cardial”. Entre os delegados está a elite política, líderes empresariais, tecnológicos, mediáticos e artísticos do país asiático.

Aos delegados cabe aprovar novas leis, nomeações políticas e relatórios de trabalho do governo que detalham o progresso de vários departamentos e ministérios. Os responsáveis também votam o orçamento para a Defesa ou a meta de crescimento económico, durante a sessão plenária, em Março.

Mas os analistas consideram que a função da APN é sobretudo aprovar formalmente decisões feitas anteriormente pela elite do Partido Comunista e que o debate aberto é escasso.

A subir

A China tornou-se, na última década, o quarto maior investidor directo estrangeiro em Portugal. Empresas chinesas, estatais e privadas, detêm uma posição global avaliada em 11,2 mil milhões de euros na economia portuguesa, segundo o Banco de Portugal (BdP). Os investimentos abrangem as áreas da energia, banca, seguros ou saúde.

Em 2018, os dois países assinaram um memorando de entendimento sobre a iniciativa “Faixa e Rota”, um megaprojecto de infraestruturas lançado por Pequim que visa expandir a sua influência global através da construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas.

22 Nov 2024

Brasil | Lula e Xi defendem paz na Ucrânia e o reconhecimento de um Estado palestiniano

Após a participação na cimeira do G20 no Rio de Janeiro, os dois presidentes reuniram em Brasília para analisar a crise internacional e aprofundar as relações entre as duas nações

 

O Presidente do Brasil, Lula da Silva, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, renovaram quarta-feira em Brasília os apelos para o fim da guerra na Ucrânia e para a criação de um Estado palestiniano no Médio Oriente.

Lula da Silva recebeu quarta-feira na capital brasileira, com honras de Estado, o Presidente chinês, Xi Jinping, com quem debateu uma extensa agenda bilateral e o panorama global após a sua participação na cimeira do G20 (grupo das 20 maiores e emergentes economias do mundo), que decorreu esta semana no Rio de Janeiro.

Em declarações aos jornalistas, Xi Jinping afirmou, ao lado do Presidente brasileiro, que “o mundo está longe de ser um lugar pacífico”. “Só quando abraçarmos as questões de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável é que trilharemos um caminho de segurança universal”, frisou o líder chinês.

Sobre o conflito na Ucrânia, o Presidente chinês disse já ter enfatizado várias vezes que não existe uma solução simples para um assunto complexo.

“China e Brasil emitiram os entendimentos comuns sobre uma resolução política para a crise na Ucrânia e criaram o Grupo de Amigos da Paz sobre a crise na Ucrânia junto com os outros países do Sul global. Devemos reunir mais vozes que defendem a paz e procurem viabilizar uma solução política da crise na Ucrânia”, declarou Xi Jinping.

Por sua vez, Lula da Silva destacou que num “mundo assolado por conflitos armados e tensões geopolíticas, China e Brasil colocam a paz, a diplomacia e o diálogo em primeiro lugar”.

O Presidente brasileiro sustentou também que o mundo “nunca vencerá a fome no meio de guerras”.

Xi Jinping falou ainda no conflito em curso na Faixa de Gaza, avaliando que a situação humanitária naquela região continua a deteriorar-se e que “os efeitos de contágio” estão a ampliar-se e que a segurança regional está “gravemente afectada”.

“Estamos profundamente preocupados e a comunidade internacional tem de ter um maior empenho. Para resolver a crise actual é preciso focar na Palestina, que é a causa de raiz [do conflito]”, disse o líder chinês.

“Apelamos para um cessar-fogo imediato, assistência humanitária garantida, e a implementação da solução de dois Estados [Palestina e Israel] e esforços incessantes para uma solução abrangente, justa e duradoura na questão palestiniana”, acrescentou.

Cooperação económica

Lula da Silva e Xi Jinping também expressaram o desejo de aprofundar o diálogo entre a China e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), bloco económico fundado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e que deverá ser composto também pela Bolívia, que está em processo final de adesão.

“Trabalharemos juntos para continuar o diálogo entre o Mercosul e a China”, disse o Presidente brasileiro.

A possibilidade de uma negociação comercial entre a China e o Mercosul está a ser discutida há algum tempo e é vista como uma possível alternativa a um eventual fracasso do acordo que o Mercosul vem procurando, sem sucesso, com a União Europeia (UE) nos últimos 25 anos.

Xi Jinping declarou, por sua vez, que a China gostaria de trabalhar com o Brasil e com os demais países da América Latina e Caraíbas para elevar a novos patamares a cooperação entre a China e a região.

22 Nov 2024

ASEAN | Lloyd Austin lamenta nega de homólogo chinês a reunião bilateral

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, lamentou ontem que o homólogo chinês tenha optado por não dialogar com ele durante as reuniões entre chefes da Defesa do sudeste asiático no Laos.

A Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) está a realizar conversações sobre segurança em Vienciana, numa altura em que enfrentam disputas marítimas com a China e a dois meses da transição de poder nos EUA.

A decisão do ministro chinês da Defesa, Dong Jun, “é um revés para toda a região”, disse Austin, após o primeiro dia de encontros. “É lamentável. Afecta a região porque a região quer realmente que nós, dois actores importantes, duas potências importantes, falemos um com o outro, e isso tranquiliza todos”, afirmou.

A China não fez qualquer comentário imediato sobre a decisão de não reunir com Austin. O responsável pelo Pentágono chegou ao Laos após reuniões na Austrália com funcionários do país e com o ministro da Defesa do Japão.

Os dirigentes comprometeram-se a apoiar a ASEAN e expressaram “séria preocupação com as ações desestabilizadoras nos mares do Leste e do Sul da China, incluindo a conduta perigosa da República Popular da China contra embarcações das Filipinas e de outros Estados costeiros”, segundo um comunicado.

Para além dos Estados Unidos e da China, também o Japão, a Coreia do Sul, a Índia e a Austrália são outros países de fora do sudeste asiático que estão a participar nas reuniões de dois dias da ASEAN.

As Filipinas, o Vietname, a Malásia e o Brunei, membros da ASEAN, têm reivindicações territoriais sobrepostas com a China no mar do Sul da China, cuja soberania Pequim reivindica quase na totalidade. A Indonésia, a Tailândia, Singapura, Myanmar (antiga Birmânia), o Camboja e o Laos são os outros membros da ASEAN.

Maré baixa

À medida que a China se tornou mais assertiva na defesa das suas reivindicações territoriais nos últimos anos, os membros da ASEAN e Pequim têm vindo a negociar um código de conduta para reger o comportamento no mar, mas o progresso tem sido lento.

As autoridades concordaram em tentar concluir o código até 2026, mas as conversações têm sido dificultadas por desacordos sobre se o pacto deve ser vinculativo.

O Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., que apelou a uma maior urgência nas negociações do código de conduta, queixou-se numa reunião de líderes da ASEAN, em Outubro, que o país “continua a ser alvo de assédio e intimidação” pela China, que, segundo ele, violam o direito internacional.

Em Outubro, o Vietname acusou as forças chinesas de terem agredido pescadores vietnamitas em zonas disputadas no mar do Sul da China. A China também enviou navios de patrulha para áreas que a Indonésia e a Malásia reivindicam como parte das suas zonas económicas exclusivas.

Não é claro como a próxima administração do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, abordará a situação do mar do Sul da China.

22 Nov 2024

A última noite do império II

Por Luis Nestor Ribeiro (1)

O Dia a Dia em Macau

O quotidiano antes da transferência era uma mistura de rotinas tranquilas e de celebrações que enchiam de vida o território. O Mercado Vermelho, próximo da zona norte da cidade, era um dos meus lugares favoritos. Ali, o movimento começava cedo. Os pescadores, com suas bancas lotadas de frutos do mar frescos, dividiam o espaço com vendedores que traziam as suas verduras recém-colhidas do outro lado da fronteira das Portas do Cerco. Havia também especiarias exóticas, ervas medicinais chinesas e uma profusão de cores e aromas que transformavam o mercado num espectáculo visual e sonoro, como se estivesse a assistir ao recital polifónico de uma ópera sincrética.

Durante as festividades tradicionais chinesas, as ruas ganhavam ainda mais vida. O Festival do Tung Ng, um dos eventos anuais mais aguardados, era celebrado com a realização de regatas de Barcos-Dragão. O rio das Pérolas enchia-se de embarcações coloridas e ornadas com dragões esculpidos, enquanto os competidores remavam num ritmo frenético, ao som dos tambores e dos aplausos da multidão. A celebração unia a cidade, independentemente da origem étnica ou social. Todos estavam presentes — portugueses, chineses, macaenses, estrangeiros e turistas de várias proveniências.

O transporte público era limitado, mas tinha uma resposta satisfatória à escala da sua dimensão. Os pequenos autocarros serpenteavam pelas ruas estreitas. Por vezes, ainda era possível observar triciclos que se dedicavam primordialmente ao transporte de turistas para os casinos e que eram uma herança do tempo em que a cidade era percorrida num corrupio sem fim de riquexós, enquanto as águas circundantes da Baía da Praia Grande eram sulcadas pelos juncos e sampanas, com suas velas enfunadas pelo vento, à semelhança de um exótico bailado aquático de leques a flutuar sobre água. O progresso ia gradualmente tomando conta do quotidiano, tendo a ligação de Macau a Hong-Kong, outro importante centro comercial e cultural da região, passado a ser assegurada por modernos jactoplanadores. A construção do Aeroporto Internacional, uma antiga aspiração da população, tornou-se uma realidade, após diversos avanços e recuos de ordem legal e administrativa. A vida parecia seguir o seu curso normal, mas, à medida que o ano de 1999 se aproximava, havia uma sensação crescente de que uma mudança colossal iria mudar tudo de forma radical.

A Névoa da Incerteza: expectativa e esperança

Nos meses que antecederam a transferência de poderes, um aumento de tensão era perceptível nas conversas. O futuro estava rodeado de incertezas, e isso afectava profundamente o estado de espírito da população. Como realizador e produtor de TV, testemunhei essa ansiedade de perto, conversando com habitantes que, embora esperassem uma transição pacífica, não podiam evitar algum receio face ao que desconheciam.

Para muitos residentes, especialmente os que tinham raízes portuguesas ou macaenses, a preocupação de perder direitos e liberdades era real. Havia uma sensação crescente de que, com o tempo, a autonomia prometida pela R.P.C. começaria a desvanecer-se. Embora houvesse a promessa de ser respeitado o princípio de “um país, dois sistemas”, que preservaria a autonomia de Macau por 50 anos, era um tema que suscitava alguma inquietação. O meu amigo Xavier tinha-me confidenciado algumas das suas preocupações, quando nos encontrávamos no café da esquina:

– “… o sistema “um país, dois sistemas” parece promissor no papel, mas como será na prática? E, mais importante, quanto tempo realmente durará? O status quo até agora garantido sob o domínio português, será salvaguardado sob a administração chinesa?”

E a Guilhermina, mãe de uma colega dos meus filhos na escola, segredou-me enquanto aguardávamos o final das aulas:

“- Tenho medo que Beijing acabe por intervir mais cedo do que o prometido, para acabar com o clima de insegurança que vivemos agora em Macau, devido aos atentados cometidos pelas tríades.”

Esse estado de espírito reflectia-se em pequenos gestos e atitudes que contribuíam para alimentar a expectativa. Lembro-me de ver mais e mais famílias portuguesas enviando os seus filhos de regresso a Portugal, preocupadas com o futuro educacional e social de suas crianças num território sob domínio chinês. Ao mesmo tempo, muitos funcionários das repartições e serviços da administração pública, cientes de que os seus empregos não estariam garantidos após a transferência, começavam a preparar-se para abandonar a cidade e retornar aos seus locais de origem, rumo a Portugal ou outros países de língua portuguesa. Nos corredores de alguns edifícios administrativos, o clima era de apreensão e de despedida.

Nos locais de encontro e convívio mais frequentados, as conversas giravam em torno de questões relacionadas com a preservação da identidade cultural de Macau. Alguns dos meus amigos mais próximos, que eram professores e artistas locais, preocupavam-se particularmente com o impacto que o controlo chinês poderia ter sobre a expressão artística e o sistema judicial de Macau, de matriz portuguesa, cuja moldura se baseia num ramo de uma árvore sustentada pelo antigo direito de matriz romana.

A ansiedade também afectava os empresários. O sector do jogo, um dos pilares incontornáveis da economia local, vivia uma fase de estagnação. Os operadores dos casinos não sabiam se a nova administração chinesa manteria o modus operandi ou implementaria mudanças drásticas. O clima de incerteza pairava não só sobre os cidadãos, mas também sobre alguns alicerces da economia local.

No final da década de 1990, a segurança do território tinha sido fortemente colocada à prova através de uma série de atentados e incidentes com grande repercussão nos media, cometidos na sua maioria por tríades rivais que disputavam o controlo de áreas fulcrais para o exercício das suas actividades ilícitas. Recordo que nesse período as autoridades portuguesas não tiveram mãos a medir para tentar neutralizar os desacatos cometidos por alguns protagonistas mediáticos do submundo do crime, que encheram as manchetes dos jornais e revistas com notícias sensacionalistas, relatando os atentados bombistas em viaturas, homicídios perpetrados em locais públicos e incêndios colectivos de motociclos estacionados na via pública.

As Divisões Sociais

Apesar da apreensão se ter instalado em grande parte da comunidade portuguesa e macaense, havia também um grupo de considerável influência, que interpretava a transferência como uma nova janela de oportunidade que se abriria. Para os empresários e investidores chineses, a transição significava a possibilidade de Macau assumir um papel económico relevante no contexto regional do grande delta do Rio das Pérolas. A crescente abertura da China ao capitalismo, e a sua promessa de uma maior receptividade relativamente a grandes investimentos no sector do jogo, começava a atrair a atenção de novos investidores, no quadro de futura adesão da China à Organização Mundial do Comércio.(9)

Entre os jovens, as reacções também eram divididas. Alguns, nascidos e criados em Macau, não tinham receio da mudança e viam-na até como uma oportunidade de renovar as suas perspectivas de futuro. Estavam curiosos para ver como a nova administração moldaria a cidade. Outros, no entanto, temiam que a terra que conheciam desaparecesse, substituída por uma versão descaracterizada e padronizada de uma vulgar cidade sob administração chinesa.

O Dia da Cerimónia: Um Momento Histórico

A expectativa nos dias que antecederam a cerimónia de transferência era tanto de celebração quanto de apreensão. O território havia sido profusamente decorado com bandeiras chinesas e portuguesas, e as fachadas das repartições oficiais estavam iluminadas, criando um cenário sumptuoso de despedida monumental. Ao mesmo tempo, não se podia ignorar a tensão pairando no ar. Para muitos, era o fim de uma era.

Na noite de 19 de dezembro de 1999, quando teve início a sucessão de 21 eventos que constavam do programa oficial de comemorações da Cerimónia de Transferência de Administração, as ruas estavam tomadas por uma enchente de populares interligados por uma contagiante mistura de emoções. Teve lugar a despedida do Governador de Macau ao seu staff e colaboradores no Palácio de Santa Sancha (residência oficial), o render da guarda de honra no Palácio do Governo, seguido de uma série de concertos e eventos culturais que mesclavam tradições portuguesas e chinesas. Os convidados reuniram-se para assistir aos espectáculos, mas o verdadeiro protagonista era o próprio território. Cada esquina, cada beco, cada fachada colonial, cada mercado, parecia estar a despedir-se da sua própria história como peça insubstituível de uma antiga colónia.

Os Protagonistas

E, finalmente, às 24 horas de 19 de Dezembro de 1999, no local propositadamente construído para o evento (10), entraram em cena os principais líderes políticos: o presidente de Portugal, Jorge Sampaio, e o presidente da China, Jiang Zemin. Cada um representava o peso de suas respectivas nações. Para os portugueses, a cerimónia marcava o final de quase cinco séculos de presença colonial na Ásia. Para os chineses, significava a recuperação de mais uma peça do que consideravam ser uma parcela perdida da pátria. Os discursos dos líderes estavam repletos de simbolismo. Jorge Sampaio destacou os laços culturais e históricos que uniam Portugal e Macau, mas também enfatizou a necessidade de respeitar a autonomia do território no novo contexto chinês. Jiang Zemin, por sua vez, prometeu que Macau continuaria a prosperar sob o princípio de “um país, dois sistemas”, garantindo a continuidade de seu modo de vida e sistema económico.

Foi o momento crucial dos 21 eventos, assistido no local por 2500 personalidades convidadas, em representação de governos e organismos internacionais, mas que, por força daquela que então se considerou ser “a maior operação mediática da história do audiovisual português”(11), foi seguida por milhões de pessoas em vários pontos do Mundo. Pelo consórcio formado pela TDM de Macau em conjunto com a RTP (Portugal) foi cedido o sinal da cobertura televisiva que realizei a partir de um OB-Van (Carro de Exteriores e Estúdio móvel de TV) à Televisão Estatal chinesa (CCTV – China Central Television) que, após o recepcionar, o distribuiu para cerca de 300 estações afiliadas em toda a China. O colossal dispositivo técnico montado para as várias emissões via satélite, mobilizou 250 profissionais (sendo cerca de 150 da TDM, incluindo alguns contratados a produtoras do Sul da China e H.K. e 100 da RTP) ao serviço do Consórcio TDM – RTP que provisionou as várias frentes operacionais onde estavam perto de 100 câmaras TV, 10 carros de exterior OB-Van, um helicóptero de transmissões por feixes, estúdios, régies, 40 cabines para jornalistas comentadores no Press and Broadcast Center e 12 posições móveis de câmaras TV, em diferentes pontos (no exterior) onde os acontecimentos justificassem a sua presença(12).

O ‘Centro de Imprensa e Emissões TV – Press and Broadcast Center’ foi instalado pelo Consórcio em 3 andares do edifício Zhu Kuan, nas imediações do Centro Cultural de Macau. Durante três longos meses, desde o início de Novembro de 1999 até ao final de Janeiro de 2000, foi naquele preciso local que desenvolvi toda a planificação, organização do trabalho de produção e o encerramento desse complexo ciclo, com a apresentação do relatório final e o fecho de contas do orçamento. Foi necessário coordenar em várias frentes, os aspectos logísticos e técnicos de cobertura televisiva, para instalação dos equipamentos em diversos locais dispersos pela cidade, incluindo as autorizações para os planos de voo do helicóptero que iria recolher imagens aéreas dos eventos. Sucederam-se reuniões e sessões de trabalho com representantes do Palácio do Governo, Segurança, Obras Publicas, staff de Produção e Jornalistas. Entre os jornalistas destacados pela RTP, estavam dois anchors, Judite de Sousa e José Rodrigues dos Santos, antigos profissionais da TDM no início da década de oitenta e que revisitavam Macau com a distinta missão de apresentarem a emissão televisiva personalizada para a audiência portuguesa.

No constante vaivém entre reuniões e visitas prévias de vistoria aos locais de transmissão, incluindo posições de reportagem para os jornalistas, recordo que cada acesso de pessoas e viaturas ao interior do perímetro de segurança onde se localizava o nosso Centro, implicava uma inspecção meticulosa pelos elementos das Forças de Segurança. O perímetro abrangia os locais onde decorreriam as principais cerimónias, e o acesso de pessoas só era autorizado após serem atravessados os pórticos de raios X, usados com o propósito de localizar e neutralizar quaisquer armas ou objectos que pudessem constituir uma ameaça. Isso provocava imensos constrangimentos, para a circulação de pessoal técnico, equipas de reportagem e respectivos equipamentos. Imagine-se o stress causado com os atrasos, quando o material recolhido nas reportagens não podia ser editado a tempo e horas de ser emitido. Havia um excesso de zelo provocado pelo clima de insegurança que se vivia, devido aos incidentes causados pelas tríades em vários pontos do território. As viaturas que entrassem na zona de segurança tinham de se sujeitar a uma inspecção rigorosa do seu interior e do chassis, com o recurso a espelhos colocados em braços telescópicos que reflectiam os pontos inacessíveis.

Numa perspectiva mais pessoal, confesso que foi um período de trabalho intenso, de grande azáfama, em que praticamente só ia a casa para dormir, quando tinha a sorte de não ter de fazer sessões longas de trabalho sem interrupção, por imperativos de ordem profissional. No âmbito do Consórcio, fui o Coordenador de Produção e Realização de todas as equipas que fizeram a cobertura dos 21 eventos oficiais para além de responsável pela realização televisiva do evento principal, onde se procedeu à transferência de poderes.

Coordenei igualmente a realização da transmissão televisiva em directo para várias estações e canais noticiosos internacionais que o Host Broadcaster(13) assegurou de forma ininterrupta durante três dias, após a cerimónia principal. Esta solução permitiu difundir conteúdos relevantes sobre a realidade e história de Macau, para além da reprodução em diferido dos eventos oficiais mais mediáticos, numa emissão internacional disponível via satélite para todos os continentes e adaptada aos diferentes fusos horários. A ela aderiram as principais cadeias mundiais, com destaque para a CCTV China, RTP Portugal, BBC Reino Unido, CNN E.U.A., NHK Japão, ABC Austrália, Globo Brasil, entre outras.

A maior adversidade que senti naqueles momentos foi ter de coordenar uma numerosa equipa multicultural, com profissionais oriundos de várias proveniências geográficas e que não falavam a mesma língua. Esse é sem margem para dúvidas um dos maiores desafios para qualquer realizador. A improbabilidade de poderem reagir todos com o mesmo timing, às instruções que receberiam da régie (14). Como não dominavam todos a mesma linguagem, optei por razões estratégicas, por me dirigir à equipa na língua inglesa, recorrendo aos termos técnicos mais usados nos estúdios de cinema e tv para estruturar guiões e planificações. Se assim não fosse, ia ver-me incompreendido numa Torre de Babel.

Num directo, em termos de realização televisiva, não há margem para indecisões nem reflexos retardados. Ser capaz de transmitir ordens perceptíveis à equipa, sem hesitações, nem hiatos de comunicação é um must. Qualquer instante do que está a ser transmitido e a ser captado pelas câmaras num palco, numa tribuna, num cenário, etc, tem de ser exibido no preciso momento em que acontece, de forma a tornar lógico, perceptível e coerente o conteúdo que se difunde. O realizador não pode perder aquilo que chamo o ‘instante relevante’.

Se isso porventura suceder, a gramática visual de uma sequência não está a ser bem interpretada e reproduzida. Num ambiente de régie em directo, no momento da realização só pode ouvir-se uma voz de comando, a do realizador que solicita e comuta a sequência de imagens e sons, captadas pelas câmaras, microfones, sem atrasos. Todos os meios, humanos e técnicos, têm de estar perfeitamente sincronizados em resposta às instruções do realizador. Um processo criativo análogo sucede quando um maestro dirige uma orquestra sinfónica. Para o sucesso de uma realização em directo, é imprescindível que, qualquer gesto, acção ou movimento seja captado no exacto momento em que ocorre. Se houver um atraso, o que se pretende transmitir perdeu-se irremediavelmente. Em directo, não há lugar para repetições!

Notas

1-Author, Media Consultant, TV Director / Producer. Lived and worked in Macau for 25 years, between 1983 and 2008.

9 A China tornou-se oficialmente o 143º membro da O.M.C. em 11 de dezembro de 2001, após 15 anos de

negociações, completando uma etapa importante no seu processo de "reforma e abertura" iniciado em 1978 com o grande líder visionário Deng Xiaoping. Esta adesão oficial, constitui um marco incontornável no processo gradual de globalização que a economia mundial evidenciava no dealbar do novo milénio. A par e passo, os bens de consumo produzidos em massa na R.P.C. começavam a inundar os principais mercados globais.

10 A cerimónia teve lugar num edifício temporário de estrutura leve, com traços arquitectónicos inspirados numa gigantesca lanterna chinesa, construído especificamente para o evento no Jardim do Centro Cultural de Macau

11 Teves, Vasco Hogan – RTP. 50 Anos de História, Museu da RTP, 2007

https://museu.rtp.pt/livro/50Anos/Livro/DecadaDe90/MaisPaisEMaisMundoNosAnosDificeisDaRTP/Pag12/def

ault.htm

12 O Conselho de Administração da RTP reconheceu o mérito do trabalho desenvolvido (Ordem de Serviço nº 3, de 7.2.2000): “Em todas as situações inerentes ao cumprimento da missão, os trabalhadores da empresa destacados para o Consórcio evidenciaram níveis extraordinários de desempenho, ultrapassando não só as dificuldades logísticas como também os constrangimentos linguísticos e de diferença cultural dos seus parceiros de operação. Em face do referido índice de desempenho, aliado à dedicação, à competência e à atitude cívica igualmente patenteados, o Conselho de Administração deliberou aprovar um público louvor a todos os trabalhadores da empresa que integraram o Consórcio TDM/RTP, a que entende dever associar aqueles que nos serviços da Sede asseguraram o conjunto das tarefas necessárias para o referido efeito.”

13 Consórcio TDM – RTP

14 Centro de Controlo e Comando da Realização TV

22 Nov 2024

Turismo | Número de visitantes ultrapassa 3 milhões em Outubro

Macau recebeu mais de 3,1 milhões de visitantes em Outubro, uma subida de 13,7 por cento em termos anuais, indicam dados divulgados ontem pelas autoridades.

A entrada de 3.135.358 visitantes no território representa “uma recuperação de 97,7 por cento do número” verificado no mesmo mês de 2019, ainda antes da pandemia da covid-19, disse a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

No mês em análise, os números dos excursionistas (1.789.072) e dos turistas (1.346.286) subiram, em termos anuais, 23,2 e 3,1 por cento, respectivamente, referiu a DSEC, em comunicado. Em termos de origens de visitantes, a maioria (2.263.443) chegou do Interior da China, o que representa uma subida de 16,1 por cento em relação ao mesmo mês de 2023.

Já entre Janeiro e Outubro, o número de visitantes em Macau totalizou 29.056.272, mais 28,1 por cento face ao período homólogo de 2023.

Na semana passada, a Polícia de Segurança Pública (PSP) anunciou que o número de visitantes a chegar a Macau, este ano, até 10 de Novembro, ultrapassou 30 milhões. Macau recebeu no ano passado 28,2 milhões de visitantes, quase cinco vezes mais do que no ano anterior e 71,6 por cento do recorde de 39,4 milhões fixado em 2019, de acordo com dados oficiais da DSEC.

22 Nov 2024

“Iluminar Macau” | Nova edição a partir de 7 de Dezembro

Começa a 7 de Dezembro mais uma edição do evento “Iluminar Macau”, que tem como tema “Imersão do Tempo e do Espaço” e que se prolonga até 25 de Fevereiro. Segundo uma nota da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), o evento “conta com a participação de artistas estrangeiros, do Interior da China, de Hong Kong e de Macau”, ficando a promessa da apresentação de “instalações emblemáticas e interactivas”, bem como espectáculos de vídeo mapping.

Participam nesta edição 18 artistas e equipas de design, nomeadamente de oito cidades consideradas “Cidades Criativas do Design”, como Pequim, Xangai, Chongqing, Shenzhen, Nagoya, Cidade do México, Montreal e Sydney, além de Macau e Hong Kong, e contando ainda com a participação de Portugal e da Nova Zelândia.

De Portugal, chega João Jorge Magalhães, Zhu Xi, de Xangai; Li Wei, de Pequim; e “Miss Elephant”, de Hong Kong. O evento apresenta temas em seis zonas da cidade, num total de 31 instalações e três espectáculos de vídeo maping. Os seis subtemas são “Pulse of the Future”, na zona da Praia do Manduco; “Interlude of the Ocean”, na Praia Grande; “Glourious Epoch”, no NAPE; “Realm of Fantasy”, na zona norte da península; “Fusion of Arts and Culture”, na Taipa, e “Nostalgic Aura”, em Coloane. As instalações podem ser visitadas entre as 19h e as 22h.

Um dos espectáculos de vídeo mapping acontece na praça em frente ao Centro de Ciência de Macau, com o Japão a apresentar “Create the Future”. Os restantes dois espectáculos de vídeo mapping, “Connect” e “100 FUN”, serão apresentados no Largo dos Bombeiros, na Taipa. As sessões de vídeo mapping terão lugar diariamente entre as 19h00 e as 21h30, em cada 30 minutos.

22 Nov 2024