Obras de António Júlio Duarte reunidas em livro

Um livro que reúne uma retrospectiva do trabalho fotográfico de António Júlio Duarte, nas suas deambulações pelos espaços urbanos, com imagens inéditas, vai ser lançado na sexta-feira, em Lisboa, pela Imprensa Nacional.

“Ph.10 António Júlio Duarte” dá título ao novo livro da Série Ph. dedicada à fotografia portuguesa contemporânea, que já contemplou artistas visuais como Helena Almeida, Jorge Molder, Paulo Nozolino, Fernando Lemos, José M. Rodrigues, Ernesto de Sousa, Jorge Guerra, Daniel Blaufuks e Alfredo Cunha.

A obra, que reúne imagens inéditas e tem texto de Sofia Silva, é uma edição da Imprensa Nacional. De Hong Kong aos Estados Unidos da América, de Portugal ao Japão, da Guiné-Bissau à Rússia, de Cabo Verde a Itália, são alguns exemplos dos percursos urbanos do fotógrafo nascido em Lisboa, em 1965.

O livro tem uma estrutura marcadamente cronológica, onde o fotógrafo revisita alguns conceitos e formas identitárias do seu trabalho, descrito por Sofia Silva, num ensaio publicado na obra intitulada “O Teatro desperto da imaginação”, como, não um jogo de geometrias entre o quadrado e o circular, mas “uma fotografia de contacto, um combate, que se traduz em composições cruas e rigorosas”.

Passagem por Macau

António Júlio Duarte estudou fotografia no AR.CO, em Lisboa, e também no Royal College of Art, em Londres, e foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Oriente. Expõe com regularidade desde a década de 1990, tem publicado ao longo dos anos diversos livros de fotografia, e o seu trabalho está representado em coleções de referência nacionais e internacionais.

Macau fez também parte do seu trabalho, onde esteve nos anos 90 para fotografar um território cuja administração estava à beira da transição de Portugal para a China, e depois para retratar a campanha eleitoral de Chui Sai On para o cargo de Chefe do Executivo, em 2009.

Iniciada em 2017, a Série Ph. é uma coleção de monografias bilingues – em português e inglês – dedicada à fotografia portuguesa contemporânea, que tem por objectivo dar a conhecer a obra de diversos autores, com textos de especialistas.

14 Dez 2022

Índia | China diz que situação na fronteira é “estável” após confrontos

A China garantiu ontem que a situação na fronteira com a Índia é “estável”, depois de Nova Deli ter revelado a ocorrência de confrontos entre tropas dos dois países, que resultou em vários soldados feridos.

“O nosso entendimento é que a situação na fronteira entre China e Índia é, geralmente, estável”, disse o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Wang Wenbin, em conferência de imprensa.

“Ambos os lados tiveram conversas muito serenas sobre esta questão, através de canais diplomáticos e militares. Esperamos que a Índia possa comprometer-se, juntamente com a China, a implementar conscientemente o consenso alcançado anteriormente pelos líderes de ambos os países”, acrescentou.

Segundo o porta-voz chinês, é a Índia que tem que “aderir ao espírito dos acordos assinados” pelas duas partes e “salvaguardar a relação bilateral”.

O incidente, sobre o qual o porta-voz não se quis pronunciar directamente, ocorreu no dia 9 de Dezembro, quando, segundo fontes oficiais do Exército indiano, soldados chineses cruzaram a fronteira disputada que divide os dois países.

Após confrontos, que resultaram apenas em ferimentos leves, ambas as partes “retiraram-se imediatamente da zona” e realizaram uma reunião para “discutir o ocorrido, de acordo com os mecanismos de restabelecimento da paz e tranquilidade”, acrescentou a fonte indiana.

Os dois países mantêm uma disputa histórica por várias regiões dos Himalaias, com Pequim a reivindicar Arunachal Pradesh, controlada por Nova Deli, que por sua vez reivindica Aksai Chin, que é administrada pelo país vizinho.

14 Dez 2022

Covid-19 | Pequim expande clínicas para tratar pacientes face a aumento de casos

A grande explosão de casos prevista após o alívio da política de zero casos preocupa autoridades e pessoal de saúde

 

A China continua a preparar-se para uma ‘avalanche’ de casos de covid-19, que ainda não se reflecte nas estatísticas oficiais, através do alargamento dos espaços nos centros de saúde, para tratar doentes com febre, e do armazenamento de medicamentos.

Os quase 350 centros comunitários de serviços de saúde de Pequim criaram já áreas para tratar pacientes com febre, numa altura em que a “explosão de casos está a pressionar muito os serviços médicos”, de acordo com as autoridades locais. A China pôs, na semana passada, fim a quase três anos da política de ‘zero casos’ de covid-19.

“O rápido desenvolvimento da epidemia está a exercer grande pressão sobre os serviços médicos”, reconheceu o vice-director da Comissão Municipal de Saúde de Pequim, Li Ang, citado pela imprensa local. Li exortou os moradores da capital a irem aos centros apenas se não melhorarem após receberem tratamento em casa.

O funcionário observou que as chamadas de emergência aumentaram, nos últimos dias, e atingiram o pico a 9 de Dezembro, quando foram atendidas 31 mil ligações, seis vezes mais do que o normal.

Para lidar com o crescente número de pacientes, Li disse que a capital vai alargar o número de clínicas de febre, de 94 para 303, e expandir a equipa de coordenação para chamadas de emergência.

Os residentes continuam a comprar testes de antígeno e medicamentos para se tratarem em casa, levando as autoridades a pedir ao público que compre “somente quando necessário”, visando evitar o açambarcamento.

Inverno mortífero

Nos últimos dias, muitas cidades fecharam várias cabines para a realização de testes PCR e reduziram a frequência com que testam a população.

A imprensa oficial começou também a minimizar o risco da variante Ómicron através de artigos e entrevistas com especialistas, numa súbita mudança de narrativa que acompanha o relaxamento de algumas das medidas mais rígidas da política de ‘zero casos’ de covid-19, que vigorou no país ao longo de quase três anos.

O país aboliu, na semana passada, testes em massa, quarentena em instalações designadas, para casos positivos e contactos directos, e a utilização de aplicações de rastreamento de contactos.

Embora tenha sido recebido com alívio, o fim da estratégia ‘zero covid’ suscita também preocupações.
Com 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo. A estratégia de ‘zero casos’ significa que a esmagadora maioria da população chinesa carece de imunidade natural. Pequim recusou também importar vacinas de RNA mensageiro, consideradas mais eficazes do que as inoculações desenvolvidas pelas farmacêuticas locais Sinopharm e Sinovac.

A remoção das restrições poderá desencadear uma ‘onda’ de casos sem paralelo este Inverno, sobrecarregando rapidamente o sistema de saúde do país, de acordo com as projecções elaboradas pela consultora Wigram Capital Advisors, que forneceu modelos de projecção a vários governos da região, durante a pandemia.

Um milhão de chineses poderá morrer com covid-19 durante os próximos meses de Inverno, de acordo com a mesma projecção.

14 Dez 2022

Hong Kong | Justiça volta a adiar julgamento de Jimmy Lai

O julgamento do magnata da imprensa de Hong Kong Jimmy Lai, por violação da lei de segurança nacional, só terá início em Setembro de 2023, disse ontem um tribunal.

O fundador de 75 anos do jornal Apple Daily devia ir a julgamento este mês por “conluio com forças estrangeiras”, uma violação da drástica lei de segurança nacional imposta por Pequim, na sequência dos protestos de 2019. Lai incorre numa sentença de prisão perpétua.

O julgamento, que já tinha sido adiado no início deste mês, voltou a ser adiado devido a disputas legais sobre a defesa de Lai, que quer ser defendido pelo advogado britânico Tim Owen.
Owen, um proeminente advogado britânico, já trabalhou anteriormente em Hong Kong em casos de grande visibilidade.

O governo da região tinha argumentado em tribunal que deixar advogados estrangeiros litigar em casos de segurança nacional era arriscado por não existir forma de garantir a confidencialidade dos segredos de Estado.

No entanto, os juízes concordaram com a escolha de Owen e decidiram repetidamente contra o governo.
As autoridades de Hong Kong apelaram a Pequim para intervir e decidir, mas ainda não receberam uma resposta, disse o procurador de segurança nacional Anthony Chau ao Tribunal Superior da região.
Enquanto se aguarda uma resposta de Pequim, os juízes decidiram adiar o início do julgamento para 25 de Setembro de 2023.

14 Dez 2022

Sobre O imortal do Sul da China

Por Giorgino Sinedino

I.

Um dia destes, tomei coragem para arrumar a biblioteca. Os livros tinham se acumulado sobre o chão, pilhas e pilhas e pilhas. Notei que havia umas brechas nas prateleiras mais próximas à janela e mais rentes ao teto. Repassando os títulos nas lombadas, percebi que os livros não eram coisas inanimadas, mas um tipo de amigo, portadores de expectativas, experiências e emoções que gostaria de ver compartilhadas.

Além de acomodar os volumes mais recentes, ou seja, amigos mais próximos de quem sou hoje, aproveitei para reorganizar algumas divisões, já canonizadas pelo desuso. Isso me deu uma certa angústia, parecida com a de ter de ir a um lugar que deixara de ir e acabar revendo uma pessoa que não necessariamente queria rever. Cada prateleira acumula até três fileiras de livros, que estão lá como três camadas de memória(s).

A minha intenção original era a de que, quanto mais no fundo, menos esquecíveis deveriam ser os textos. Mas o tempo é implacável. Retirando os volumes maiores, revia velhas amizades que desbotaram pelo estranhamento, até que se lhes agarrou uma brochurinha partida ao meio, as capas soltas, a lombada machucada pelo abandono (e pelo pouco uso que se perdeu pelas décadas). Era a Via de Chuang Tzu, uma retradução para o português da tradução em inglês do Padre Merton, um monge trapista e filósofo americano que se encantara com aquele (monge? Filósofo?) chinês do final do século IV antes de Cristo. Com as mãos grossas de pó e poeira e fuligem, aparo a capa que cai, revelando uma assinatura ideográfica e uma data cujo significado nada despertava em mim.

II.

Um menino buchudo de cabelos encaracolados, queimados pelo álcool do perfume que a mãe lhe derramava teimosamente sobre a cabeça, entra no “quarto de despejo”, recém-construído nos fundos da casinha do conjunto habitacional Mirassol, situada no número 649, parte baixa da ladeira da rua das Violetas em Natal, Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, um país grande, mas muito estranho, da América Latina. Ia ali porque no “quarto de despejo” o pai do menino havia despejado alguns livros que comprara no embalo de sua mais nova mania, a de atentar para “coisas do Oriente”.

Praticava ioga, comia vegetariano e fazia outras coisas que o menino não entendia, mas tinha uma curiosidade não correspondida, exagero, mal correspondida. Havia livros sobre meditação, Sunzi, karatê, macrobiótica, Osho, samurais, medicina herbal e tudo o mais que você conseguir imaginar. Também havia um livrinho, cento e poucas páginas, a capa lustrosa em três cores, com um nome engraçado que aquele dentuço baixinho não sabia pronunciar. Abriu-o para procurar ilustrações, mas a frustração não o impediu de ir adiante e ler uma ou outra coisa.

III.

Um viajante chega de Brasília a China para participar de um minicurso, ao todo quase duas semanas pela frente. Tinha uma tarde livre. Como usá-la? Pensou quero ir ver um templo daoista. Tinha um ali, perto do alojamento. Uns poucos iuanes de táxi. Era um dia bonito em maio, nem frio, nem quente. O céu estava azul cobalto, o sol brilhava branco. Chegou ao “pai-iuin-quã’, “Templo da Nuvem Branca”. Famoso das histórias de alguém que peregrinou pelo mundo para ver o grande Khan. O tempo não parara. Havia alguns turistas, poucos, chineses, tirando fotos.

O chão era mais antigo, os prédios pareciam ter sido renovados há algumas décadas; observava alguns cartazes explicativos, só entendendo, mal e mal, o que estava num arremedo de inglês. De repente ouve distante uma música de tubos, címbalos, uma percussão monótona, um canto que lhe parecia ladainha de alguém hipnotizado.

Nuvens de incenso sopravam preguiçosas do Oeste para o Leste. O viajante caminha pelo labirinto de espaços menores, retangulares, em que o templo se dividia, passando por toda a sorte de capelas com estátuas ou espaços privados dos monges, até que um longo varal abana pesado de mantos e calças, cobrindo o que restava do templo – um galpão de zinco e um pequeno santuário. Um casal prostrava-se sobre duas almofadas, enquanto um monge dançava desengonçado à frente deles, segurando tiras de papel.

IV.

Um pós-adolescente trintão sai do metrô, estação Nanlishilu, parte Oeste de Pequim. Nervoso. Anda em direção o “Templo da Nuvem Branca”, sem saber mais ou menos onde está. Enxerga uma placa sobre os trilhos de um bonde que parece não passar mais por ali. Está perdido.

Pergunta a um eventual passante, que lhe indica o caminho. Entra por uma entrada mais ou menos dilapidada, vê o alto portal de madeira, secularmente de pé, que não saúda a ninguém, vangloriosamente. Aborda-lhe uma grande autoridade, o segurança, que é o dono das chaves. Temendo não ser compreendido, diz umas coisas enquanto inspeciona com mil olhos o hirsuto invasor bárbaro que ousara interromper a sua terceira (ou quarta) sesta naquele dia.

Não o dissuade de entrar, contudo, despedindo-o com um abanar de cabeça e um riso sem-jeito. O visitante apressou-se: O que fora fazer ali? Esperava talvez que um dos mestres aparecesse do vazio, acariciando a barba, dizendo que tinha potencial para ver além do tempo e do espaço, para voar para onde quisesse e para viver para sempre – como num daqueles filmes de Hong Kong, vestido em roupas de rayon e uma peruca grosseira?

Passa por pessoas que se parecem muito com aquele mestre de sua imaginação. Um deles tinha uma imensa barriga redonda, que tomava sol desavergonhada, sob as carícias de uma mão grosseira com unhas extraordinariamente longas e sujas. Chega às portas da cela assinalada. Bate duas vezes. Um rosto imberbe, de traços delicados, o recebe com um calor frio.

V.

Era um jovem loiro, um perfeito sósia de Rasputin, que viera de Bucareste para a China há muitos anos. Gostava de esoterismo, sabia interpretar o tarô e arruinara seus joelhos treinando kung-fu. Desgostava-lhe a vida em casa e tinha mergulhado nos mistérios do “Oriente”. Vivera no Tibete – na verdade, na província de Qinghai, parte do Reino Tibetano da Antiguidade – e tinha vivenciado muitos prodígios. Tornara-se bom amigo de Ioiô, um colega de mestrado que chegara do Brasil há vários anos.

Ambos iam visitar um mestre daoista que havia abandonado a vida monástica. Passara a ganhar a vida fazendo cítaras Qin, apelidadas “Qin de Trovão”, pois eram moldadas de troncos derrubados por raios. Contam as lendas que esses Qin, sob as mãos certas, fazem chover e curam doenças. O mestre estava bem de vida, portanto algumas pessoas deveriam ter sido curadas de câncer e, quem sabe, um deserto deve ter virado mar. O encontro foi divertido, pois lá estava um outro mestre, que acabara de receber muita cobertura jornalística. Havia passado 50 dias sem comer, preso numa gaiola de vidro – um hamster do Dao.

Miraculosamente, continuava roliço após tanto tempo de privação. Praticava, com sucesso evidente, a técnica conhecida como “Jejum dos Grãos”. Durante os cinquenta dias, além de ter sido bem fotografado e filmado, esculpiu peças abstratas, que tinham por característica, todas, terem um orifício no meio. Disse que eram produto do “Dao”, já que o orifício “a tudo permeia”, “é a unidade além da diversidade”, “é o vazio que dá sentido às coisas” – citações de Laozi aplicadas à criação artística.

VI

Um e-mail chegou identificado com o assunto: nota de falecimento do mestre (…). A equipe do templo em Barcelona publicara um obituário. O mestre morreu, melhor, “ganhou asas” repentinamente. Ainda falava em organizar tal ou qual evento, louvava o belo jardim que preparava para gozar a sua aposentadoria, além de coisas menos mundanas – com menos frequência. O e-mail explicava que numa questão de dias, começou a vomitar ininterruptamente, reclamando de um arder no corpo, como fogo. Às vezes parecia ter visões, ou alucinações. Em momentos de lucidez, tinha um semblante esperançoso. Dizia-se ir rever o mestre, e o mestre do mestre… no Pouso dos Imortais. O tempo.

VII.
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∫∫∫

No livro, “há ensinamentos, sem esforço didático; é preciso interpretar, mas as conclusões estão fora das histórias”

As sete vinhetas acima pretendem descrever uma experiência pessoal do Daoismo, uma das mais importantes tradições intelectuais e espirituais da China, através de episódios aparentemente independentes e compartimentalizados. É notável que, em vez de utilizar um estilo narrativo a que estamos habituados em nossa tradição literária, imitei conscientemente o tipo de texto que encontramos no original chinês da obra 莊子, comumente referida como Livro do mestre Zhuang ou, singelamente, Zhuangzi. Com essa brincadeira meio séria, desejo dar uma primeira impressão do que é ler o Zhuangzi em chinês e problematizar o que fiz em minha tradução-comentário dessa obra para o português. Antes de mais nada, o leitor das vinhetas deve ter se dado conta, imediatamente, de que esse tipo de estilo literário e de estrutura narrativa cria inúmeras possibilidades de interpretação e conduzem a inúmeras possibilidades de se reagir ao que o(s) texto(s) parece(m) sugerir.

Muitas dessas possibilidades são falsas, pois conduzem a um entendimento culturalmente errado do texto. “Culturalmente errado” significa tratar do texto de uma maneira diferente daquela que os destinatários autênticos (os leitores chineses, especialmente os do período imperial, que começou no século III a.C. e terminou em 1911) tratam ou podem tratar dele. Ou seja, em minha forma de ver, o sentido “universal” da obra deve ser buscado dessa experiência particular. É preciso, consequentemente, submeter a obra a um tipo de enquadramento. Logo, para enquadrar a nossa discussão, vamos tentar compreender a importância do título que escolhi para a tradução. O original chinês possui dois tipos de título, que refletem duas atitudes básicas sobre a obra.

Como disse, é mais comum chamarmos Livro do mestre Zhuang ou Zhuangzi – o Chuang Tzu de Merton. Na verdade, esse não foi um título escolhido pelo “autor” da obra, mas uma mera atribuição de autoria, feita pela posteridade, segundo um padrão comum na história das ideias chinesas. Por exemplo, a obra de Mozi, patrono do Moísmo, é chamada de Mozi; a obra de Xunzi, um influente pensador confuciano, é chamada de Xunzi; a obra de Han Feizi, o maior representante do “legalismo”, é chamada de Han Feizi. Quem utiliza essa denominação assume que a obra é parte da chamada Literatura dos Mestres, o corpus de textos compilados sob a autoridade de pensadores de renome, líderes de comunidades que competiam entre si para obter prestígio e patrocínio político. Consequentemente, o título Zhuangzi classifica os textos de Zhuang Zhou (369-286 a.C.) – o mestre Zhuang, de seus discípulos e um conjunto de outros autores, fãs ou críticos de Zhuang Zhou, como parte desse movimento dos mestres. Isso é relevante porque Zhuangzi passa a ser enquadrado como um caminho entre vários no que se refere a questões de interesse comum para o pensamento chinês, por exemplo como se cultivar intelectualmente, de que maneira se comportar em sociedade, de que forma buscar a perfeição moral etc. Isso faz com que o Zhuangzi seja facilmente definido como (mais) uma obra de “filosofia”, pelas reconhecidas semelhanças de forma e conteúdo com essa porção de nossa experiência cultural.

Por outro lado, também é possível chamar a este livro de 南華真經, o título que a tradição religiosa daoísta atribuiu ao Zhuangzi, por honrá-lo como uma escritura sagrada. Mais do que para apelar melhor aos olhos do leitor, foi esse enquadramento que me levou a adotar a tradução semiliteral de O imortal do Sul da China.

O sinólogo alemão Richard Wilhelm já havia partido desse segundo título chinês, traduzindo-o como O Livro Verdadeiro das Terras Floridas do Sul (1920). As “Terras floridas do Sul” de Wilhelm são uma leitura poética de “Sul da China”, pois uma das palavras clássicas para China é 華, que significa “flor que acaba de desabrochar”. O “Verdadeiro”, a que Wilhelm se refere com seu título, qualifica o livro, sem dúvida, mas também remete a um tipo de ideal de existência, realizada pelo “autor” desse livro: “Homem Verdadeiro” é um jargão do daoísmo, cujo sentido é basicamente o mesmo que “Imortal”. Os “imortais” daoistas são todos os grandes mestres que dão substância ao pensamento e práticas relacionadas à essa doutrina, purificando seu corpo e prolongando sua existência, o que exige realizações também nos planos de sabedoria e de espiritualidade. Portanto, a minha escolha do título destaca esta visão específica e culturalmente referida da obra: é mais do que um texto clássico de “filosofia” chinesa, pois, em vez de ser tolhido por um esquema/sistema intelectual prévio, presume uma mentalidade e concepções de vida profundamente diferentes das nossas. Exige uma explicação holística, um esforço de tradução não apenas textual, mas também cultural.

Agora que esboçamos um enquadramento, retornemos às sete vinhetas para falar das características literárias do Imortal. A quase totalidade dos textos recolhidos no original chinês possui uma extensão comparável (ou inferior) à das vinhetas. A grande maioria consiste em breves narrativas em que se destacam diálogos curtos. Uma quantidade considerável são “ensaios” ou “aforismas”: discursos feitos por Zhuang Zhou ou a ele atribuídos. Tal como nas sete vinhetas, há fatos, há conceitos, há ensinamentos, sem que nunca haja um esforço didático de apresentar algo; é preciso interpretar, mas as conclusões estão fora das histórias; há quem afirme haver um “sistema”, mas no texto só restam experiências em toda a sua singeleza, emoções nuas. Por esse motivo, quem folheia uma tradução literal do Imortal pela primeira vez descobre no máximo umas poucas estórias interessantes ou memoráveis.

É mais provável, entretanto, que se desista de ler após se surpreender com a total falta de coerência entre estória e estória, entre capítulo e capítulo. O que causa estranheza ao leitor ocidental, porém, conforma-se aos hábitos intelectuais dos leitores chineses antigos. Eles não estavam interessados no que a obra “queria dizer” como um todo – o que é demasiado importante para nós – mas apenas em certos ensinamentos ou insights que pudessem ser postos em prática ou servir de guia para a “sabedoria”.

O daoísmo, em consonância com a atitude geral chinesa, admite que cada leitor depreenda o significado de um texto “conforme a sua capacidade de intuir o que transcende às palavras”, ou seja, o significado da obra em última instância é algo imaterial, contingente a quem a lê. Este é o grande desafio de traduzir, não só o Imortal, mas qualquer obra do pensamento chinês para qualquer língua ocidental.

Tomando o exemplo do Imortal, tento enfrentar esse desafio em dois planos: das unidades menores (os textos singulares) e das unidades maiores (capítulos e obra como um todo).

Em primeiro lugar, esforço-me para providenciar material adicional, para que o leitor consiga adumbrar para si um contexto autêntico, gabaritando-se a ler a obra de uma forma mais próxima do leitor original. Ao longo da era imperial chinesa, alguns dos melhores leitores escreveram-lhe comentários, parte dos quais foram integradas ao texto do Imortal, servindo-nos, no mínimo, como guias de leitura, no máximo, como explicações/interpretações dotadas de autoridade. Uma tradução culturalmente fiel exige que esses conteúdos também apareçam de alguma forma, em alguma altura do volume. Isso serve de justificativa para que em meus trabalhos eu acrescente esses comentários verbatim, e/ou elabore notas, e/ou componha comentários, e/ou, (como fiz desta vez no Imortal,) enxerte material e trabalhe literariamente o próprio texto principal – flexibilizando o princípio fundamental de fidelidade ao original. Apesar dos riscos, quem compara a minha tradução-comentário do Imortal com qualquer outra feita segundo as concepções tradicionais percebe que consigo oferecer uma leitura mais redonda, pois agrego uma interpretação autêntica e fiel à(s) leitura(s)-padrão chinesa(s).

Em segundo lugar, especialmente no caso do Imortal, preocupei-me também com o problema do todo, da interpretação geral do texto. À maneira das vinhetas que escrevi no início deste texto, eu entendo que as estórias e ensaios de Zhuang Zhou são apenas aparentemente desconectadas. Em minha leitura, admito a existência de um ligame invisível que dá coerência geral à obra. Esse ligame, em meu entender, já tinha sido destacado pelo processo de edição do texto, que coligiu as diferentes estórias em sete divisões que interpreto/traduzo como sete capítulos temáticos. Meu argumento é o que sugeri nas sete vinhetas que abrem este ensaio: é fácil percebermos que há uma trajetória existencial, motivada pela vivência no daoísmo. Idem para o Imortal, embora, obviamente, seja algo bem mais rico e consistente do que as vinhetas, pois não se trata de alguém que ainda está em busca, mas de alguém que certamente encontrou “alguma coisa”… dentre muitos fracassos e desilusões. Diferentemente das vinhetas, Zhuang Zhou inicia seu texto não com a reminiscência de uma descoberta, mas com a dramatização dum ideal que construiu. Ele não refere, passo a passo, como se integrou a um tipo de comunidade, mas expõe, passo a passo, como esse ideal pode ser buscado e, eventualmente, atingido – indiferente a qualquer comunidade.

Tendo definido o enquadramento da obra, apontando o desafio de traduzir/comentar um texto com estilo estranho numa língua arcaica e explicado as duas linhas-mestras de minha tradução-comentário do Imortal do Sul da China, talvez valha a pena falar um pouco sobre a motivação para ter lido e estudado, e, finalmente, para traduzir e comentar esse texto para outras pessoas. A chave é esse “algo” que Zhuang Zhou encontrou em sua busca e que, à sua maneira, tenta nos comunicar e a que meu comentário, torço, empresta maior visibilidade e coerência. Lembro que o comentário é intentado como nada mais do que uma cerca ao longo do caminho, colocada lá não para impedir passagem, mas para balizar uma direção, dando segurança ao leitor em seu passeio da liberdade ao Dao.

Não julgo necessária nenhuma leitura preparatória sobre daoísmo. Como qualquer pioneiro, Zhuang Zhou é daoísta antes de existir um daoísmo. Hoje em dia, o daoísmo é, basicamente, uma religião institucional e monástica. Zhou não sofre sob o peso dessa bagagem. Assim como nas vinhetas, o Imortal também se refere a tipos de práticas, a determinados espaços sagrados, a praticantes que já obtiveram algum progresso etc – mas nunca diz como algo deve ser, não discrimina regras rígidas sobre o que fazer. Até os objetivos de se livrar das expectativas alheias, de entrar em harmonia com a Natureza, de prolongar a vida, de superar necessidades fisiológicas, por mais encantadores que soem, são referidos de passagem. A lição, não mais do que insinuada, é a de que não são fins em si.

Mais uma vez, referindo-nos às vinhetas, é imprescindível notarmos que o caráter independente e fragmentário das estórias do Imortal serve para afirmar que nenhuma experiência deve ser preordenada dogmaticamente – e tal é o grande frescor que sente o leitor que persiste na leitura do Imortal. A palheta emocional da obra é vasta, o que a distingue no pensamento chinês antigo. Apesar das barreiras culturais, os personagens do Imortal são fáceis de se aproximar, pois são francos para com os próprios sentimentos.

O Imortal vai muito além das vinhetas em que, entre indignação e enlevo, ternura e sarcasmo, as suas anedotas, curtinhas que são, deixam pistas sobre o processo de maturação e maturidade de quem se submeteu a um tipo de disciplina existencial e quem, por meio desta, teve acesso, pelo menos no plano da fantasia, a uma dimensão além da vida mundana – o que, percebemos bem, não mudou tanto assim nos últimos 2500 anos.

Por conseguinte, um dos insights mais valiosos de Zhuang Zhou é o de que não se deve restringir o potencial da existência humana com rótulos, a preço de não sermos tolhidos em nossa tentativa de encontrar, de realizar o “Dao”. Usando um exemplo mais próximo de nós, hoje em dia, quem gosta de filosofia ou se declara um filósofo raramente se dá conta de que, em sua dimensão cultural “original”, o filósofo era pouco mais do que um apelido para quem assumia um estilo de vida meditativa, de aperfeiçoamento moral, que fazia amizades em resposta as próprias inclinações intelectuais e espirituais – havia toda a liberdade para dar um conteúdo àquilo que fazia. Não havia uma instituição chamada de filosofia, com títulos acadêmicos e carreiras profissionais.

O Sócrates, platônico ou xenofontino, que pretendia que a filosofia fosse uma busca pessoal cotidiana, lamentava-se de que as pessoas em geral tratassem dela como um passatempo para o outono da vida, mais uma distinção social para homens de estatuto ou, pior, como conhecimentos monetizáveis em qualquer fase da vida.

No caso chinês, Zhuang Zhou reagia a uma situação ainda mais perigosa, porque a “virtude” – conhecimentos, refinamento, aptidão, compostura, moralidade etc., o termo chinês não possui um equivalente pronto em nossa cultura – era requisito formal para a única via socialmente aceita para o sucesso: uma carreira político-burocrática. A equação era simples: quanto mais alto o seu cargo, mais elevada deveria ser a sua “virtude”. Qualquer pessoa com vivência, chinês ou não, antecipa as contradições e problemas causados por esse ideal. Importa que, no contexto da China antiga, Zhou é singular, pois, de fato, deu as costas para essa única via. Sua busca existencial – seja por motivos estéticos, espirituais ou mera aversão à luta pelo “sucesso” – o projetava naturalmente para além da sociedade. Ele pregava a “desambição”: nem poder, nem riqueza, nem fama. Malgrado serem fins legítimos, como quaisquer outros, não são fins fiáveis. Colocam-nos nas mãos dos outros.

A grandeza de Zhuang Zhou, humana, não ideal, está plenamente plasmada no início da obra, que traz uma alegoria enganosamente infantil sobre a realização humana. Uma fênix gigantesca e uma rolinha minúscula disputam a atenção do narrador. A fênix atravessa o mundo em silêncio num voo cosmológico; a rolinha vive num raio de poucos metros, consciente de ter o que lhe basta. A fênix não percebe a rolinha, enquanto esta parece ter algum desprezo pelos labores da fênix. Sem tomar partido, o texto nos pergunta qual das duas representa “grandeza”. A reação imediata é a de nos concentrarmos na palavra “qual”, comparando as duas, escolhendo entre elas. No entanto, novas estórias sucedem-se, enriquecendo o debate sobre grande e pequeno, dando falsas pistas, deixando falsos testemunhos, de modo que o leitor se sente andando em círculos, perplexo com negações que se sucedem umas às outras. Apega-se a uma visão exclusiva, de “a” em detrimento de “b”, ou vice-versa.

Essa dificuldade de quebrar a casca sem esmagar o fruto me fez abandonar o plano original de fazer observações “objetivas” sobre dificuldades textuais, conceitos filosóficos, detalhes de história, geografia, folclore da China antiga etc, para me concentrar na interpretação “subjetiva” do que a obra quer dizer, tanto no plano das estórias individuais, quanto no plano do que a obra pode ensinar cumulativamente. No caso dessa alegoria fundamental, por exemplo, não há um, mas pelo menos dois “fios vermelhos” conduzindo a direções muitos diferentes – e não contraditórias entre si! Há grandeza na pequenez e há pequenez na grandeza.

Para concluir, o princípio fundamental de minha leitura, e do comentário que preparei para o Imortal, é o de que Zhuang Zhou não se recusa a legar o seu testemunho pessoal – mas o esconde entre sombras e silêncios. Esse é o grande mistério por trás dessa obra que, no início deste texto, tentei representar por meio das vinhetas.

É certo que, no Imortal, com exceção do caso dos ensaios, Zhou nunca fala em primeira pessoa, mascarando a sua onipresença através de personagens puramente fictícias ou de ficcionalizações de personalidades históricas, como Laozi e Confúcio. Sob estas reservas, o texto como um todo possui, tal como o entendo, um movimento coerente, a receita de desenvolvimento intelectual e espiritual de Zhuang Zhou.

Nenhum resumo pode se substituir à leitura integral, com todas as suas repetições e divagações, interpolações e perplexidades. Espero que minha tradução e meus comentários encorajem o leitor a persistir na leitura, fazendo as perguntas corretas e retirando algo de positivo, pessoalmente relevante, dessa experiência.

In Revista Ursula

14 Dez 2022

Turismo | Apoios alargados a visitantes de Hong Kong

O subdirector dos Serviços de Turismo (DST), Hoi Io Meng, indicou que o programa governamental que oferece descontos em estadias e bilhete de avião a turistas do Interior vai ser alargado a visitantes de Hong Kong.

De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, Hoi Io Meng indicou que a DST está a preparar a promoção de Macau como mercado de turismo em Hong Kong e no resto do mundo, a pensar na reabertura pós covid-19.

Além disso, de forma a perceber os hábitos de consumo vão ser feitos estudos de mercado. Em relação ao alívio das medidas de circulação entre Macau e o Interior, Hoi Io Meng defendeu que tem havido um trabalho intenso de promoção, pelo que é esperado que os turistas do Interior conheçam o suficiente do território na hora de escolher Macau como destino de férias.

13 Dez 2022

BNU | Regresso à normalidade é “muito bem-vindo”

O presidente do Banco Nacional Ultramarino, Carlos Cid Álvares, acredita que com o alívio das medidas de controlo da pandemia e o aumento do fluxo de turistas as pequenas e médias empresas podem recuperar um pouco do que perderam nos últimos anos

 

O presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) afirmou que o regresso à normalidade em Macau, na sequência do alívio das medidas de combate à pandemia, “é muito bem-vindo”, podendo reflectir-se na actividade bancária do território.

“Pode significar um maior fluxo de turistas, pode significar a recuperação dos negócios das pequenas e médias empresas, pode significar muita coisa para Macau, a recuperação da actividade económica e obviamente isso depois reflecte na actividade dos bancos. É muito bem-vindo esse regresso à normalidade”, referiu Carlos Cid Álvares, à Lusa.

Apesar de o BNU ter completado 120 anos de presença em Macau a 20 de Setembro, as restrições de prevenção e controlo da pandemia no território, que tem seguido a política ‘zero covid’ de Pequim, acabaram por adiar as celebrações para esta sexta-feira.

Num balanço à presença da instituição em Macau, o responsável salientou o serviço prestado à comunidade e o apoio à actividade económica local, admitindo “bons e maus momentos”, embora “sempre presente e a apoiar o desenvolvimento” do território.

“De certeza que quem pensou esta operação se calhar não pensou que ia cá estar durante tanto tempo, ou se calhar pensou”, reagiu.

O também CEO do BNU, do grupo Caixa Geral de Depósitos, disse ser “um grande orgulho” e “uma grande responsabilidade” para a instituição ser um dos bancos emissores de moeda em Macau, a par do Banco da China, com contrato renovado em 2020 e válido até 15 de Outubro de 2030.

Aposta certeira

Sobre a actividade dos últimos anos, Carlos Cid Álvares considerou ter havido “um salto enorme” depois de 1999, no período que se seguiu à transferência da administração do território de Portugal para a China, com uma “grande proximidade dos resorts integrados”.

“Na altura, o BNU talvez tenha sido dos poucos bancos a apoiar o arranque dos casinos. Eu não estava cá, mas a ideia que tenho é que o banco esteve muito próximo, o CEO da altura [esteve] muito próximo dos diferentes casinos e o BNU teve um papel muito relevante no arranque do negócio dos resorts integrados aqui em Macau”, explicou.

Com a liberalização do jogo em Macau, em 2002, e o início da actividade das várias concessionárias no território “era necessária a emissão de umas garantias bancárias”, sendo que o BNU emitiu quatro das seis garantias, explicou.

Quanto a planos para o futuro, o presidente realçou o desenvolvimento do banco em Hengqin, onde foi estabelecida uma sucursal há cinco anos e que conta com 17 funcionários.

“Temos acompanhado quem de Macau investe naquela ilha e é essa [sucursal] que no fundo vai estar completamente ligada ao futuro e ao crescimento de Macau e, portanto, o BNU vai com certeza apoiar empresários, empresas particulares que queiram desenvolver os seus negócios na China continental, utilizando a ilha da Montanha para esse efeito”, sublinhou. “Está já a entregar resultados todos os anos e, portanto, isso é importante”, completou.

Carlos Cid Álvares referiu ainda que o BNU, “integrado no grupo Caixa Geral de Depósitos poderá ter um papel bastante importante” no papel de Macau enquanto plataforma de negócios entre a China e os países de língua portuguesa.

13 Dez 2022

Segurança | Número de imigrantes ilegais cai mais de 50%

Na primeira metade do ano, o número de imigrantes ilegais detectados em Macau registou uma quebra de 51,2 por cento face ao período homólogo do ano anterior. O número foi assim de 80 imigrantes ilegais na primeira metade de 2022, de acordo com dados revelados pelo Gabinete do Secretário para a Segurança em resposta a uma interpelação da deputada Wong Kit Cheng.

Desde 2020 até agora, com a pandemia, o Governo entrou em contacto com os consulados dos países destes imigrantes, para encontrar formas de apoiar as pessoas a regressaram aos seus respectivos países.

Foi desta forma que se lidou com a situação, nas alturas mais intensas da covid-19, quando a RAEM estava praticamente isolada e não havia voos para deixar o território. Porém, segundo a mesma fonte, com a reabertura das linhas aéreas por Singapura foi possível resolver várias das situações pendentes.

13 Dez 2022

Covid-19 | Hong Kong decreta fim das restrições de viagem

A partir de hoje será permitido entrar em Hong Kong sem cumprir qualquer tipo de quarentena ou auto-gestão de saúde. Para isso, basta apresentar um teste negativo à covid-19. Só quem testa positivo ficará com o código de saúde vermelho e terá de cumprir isolamento

 

Hong Kong levanta, a partir de hoje, todas as restrições de viagem a quem chega à cidade e com teste negativo à covid-19, noticiou ontem o jornal local South China Morning Post (SCMP). O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, anunciou as novas medidas antes do encontro semanal com o Conselho Executivo, de acordo com a publicação diária em língua inglesa.

Até agora, quem chegava à região administrativa chinesa tinha de cumprir o regime ‘0+3’, sem necessidade de cumprir quarentena em hotel, mas com três dias de auto-gestão médica domiciliária, mantendo-se durante esse período o código de saúde amarelo, que proibia, por exemplo, a entrada em restaurantes.

Com a nova medida, Hong Kong adopta o regime ‘0+0’ e todas as pessoas chegadas ao território com teste negativo à covid terão código de saúde azul, o que significa poder andar livremente pela cidade, destacou o SCMP.

De acordo com as novas regras, quem testar positivo, mantém o código de saúde vermelho e é obrigado a respeitar o actual protocolo de isolamento. John Lee disse ainda que, a partir de hoje, os residentes já não terão de fazer a leitura do código QR para registar a entrada em locais da cidade, embora os clientes de restaurantes e pessoas que visitem determinadas instalações ainda precisem de apresentar o registo da vacinação.

“As decisões têm como base dados e riscos. O risco de infecção dos casos importados é menor que o risco de infecções locais. Acreditamos que o levantamento [das medidas] não vai aumentar o risco de surtos locais”, salientou Lee, citado pelo SCMP.

Sobre uma possível abertura da fronteira entre Hong Kong e o interior da China, Lee disse que o Governo tem estado a negociar activamente com as autoridades centrais. “As autoridades do interior também dão muita importância a isto”, acrescentou.

Medidas graduais

Na semana passada, Hong Kong aliviou as medidas de quarentena e isolamento, depois de uma alteração à política ‘zero covid’ por parte de Pequim. Um aumento de infecções diárias tinha impedido a cidade de levantar as regras de distanciamento social, lembrou o jornal. As autoridades de saúde de Hong Kong registaram um total de 14.717 casos na segunda-feira, cinco por cento dos quais importados. De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins dos Estados Unidos, Hong Kong ultrapassou as 2,2 milhões de infecções e registou 10,959 mortes desde o início da pandemia da covid-19.

Macau mantém a fórmula de quarentena “5+3”, que implica o cumprimento de cinco dias em isolamento num hotel e três dias de auto-gestão de saúde, mas desta vez com código de saúde amarelo. No entanto, as autoridades locais também se mostram abertas a mudar gradualmente as restritivas regras de combate à covid-19, nomeadamente com a entrada em vigor, também a partir de hoje, da medida de isolamento em casa para contactos próximos de doentes com covid-19.

Loja de comida portuguesa espera reabertura da China

O fim anunciado da estratégia ‘zero covid’ na China continental dá esperança ao restaurante e loja em Hong Kong onde Michael Franco, bisneto do primeiro Presidente português, partilha a paixão pelos sabores de Portugal.

Pequim anunciou na segunda-feira o fim do uso de uma aplicação que rastreia as deslocações do utilizador. O país mantém, no entanto, a quarentena obrigatória para quem chega de Hong Kong e do estrangeiro.

“O Governo disse que as restrições iriam ser levantadas muito em breve. Esperemos que o negócio volte ao normal até ao Ano Novo Chinês [22 de Janeiro], uma época alta, sobretudo para a alimentação”, disse à Lusa o director de marketing da loja ‘Bairro à Portuguesa’.

Tony Cheung lembrou os “dias difíceis” do pior surto de covid-19 em Hong Kong, em Fevereiro: “O impacto foi enorme para todos os negócios ligados à comida. Ninguém saía de casa, ninguém vinha aos centros comerciais, não havia turistas”.

Para manter a porta aberta, a loja recorreu à entrega ao domicílio, “sobretudo para pratos especiais, como o leitão”, ou fazia promoções para escoar os produtos, explicou Cheung, sobrinho de Michael Franco.

A redução drástica no número de voos para Hong Kong não ajudou, fazendo disparar o custo do transporte de produtos como o presunto português, que “não pode vir de navio porque tem um período de validade muito curto”, sublinhou o gestor.

Mais tarde, a guerra na Ucrânia fez subir o preço dos combustíveis, tornando também mais caro o transporte pela via marítima de produtos como o vinho português, lamentou Cheung. “Simplesmente sobrevivemos durante a pandemia. Tivemos prejuízo com a renda e os salários do pessoal”, disse o director de marketing do ‘Bairro à Portuguesa’.

A situação tem melhorado desde o Verão, referiu Cheung. “O tráfego está a regressar, mas ainda não de volta aos níveis de 2018. Já conseguimos ver turistas chineses, mas ainda é raro”, acrescentou.

Ironicamente, disse o gestor, o fim da quarentena para quem chega a Hong Kong vindo do estrangeiro, a partir de Setembro, acabou por não ajudar. “Nos últimos dois meses, o número de pessoas a jantar no restaurante diminuiu. Talvez os residentes de Hong Kong prefiram passar os fins de semana ou as férias na Tailândia ou em Taiwan”, explicou Cheung.

“Reavivar memórias”

O director de marketing da loja disse que, ainda assim, a loja continua a servir para “reavivar memórias”. “Antes da pandemia, as pessoas podiam ir regularmente a Macau comer comida portuguesa. Agora vêm aqui”, afirmou.

Com a época festiva a aproximar-se, tornam-se mais populares os cabazes de Natal, indicou Cheung, onde o Bairro à Portuguesa junta alguns dos produtos mais populares, como vinho do Porto, presunto e sardinhas congeladas.

“As pessoas provam as sardinhas assadas no restaurante e depois querem experimentar em casa”, disse o gestor. Sardinhas assadas é um dos pratos que Michael Franco aprendeu a fazer com a avó, filha de um general português que, após ter sido destacado em Macau, se mudou para Hong Kong. Franco é bisneto de Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente português (1911-1915).

Fronteira | Quarentena para entrar na China termina em Janeiro

A quarentena obrigatória para quem quer entrar na China oriundo de Hong Kong deve chegar ao fim a partir do dia 9 de Janeiro, deixando de existir assim a fórmula “0+3”. A informação foi ontem veiculada pelos media de Hong Kong, sendo que, segundo o portal Macau News Agency, o portal HK01 foi o primeiro a dar a notícia citando uma fonte próxima da Comissão de Saúde da província de Guangdong.

Com o fim da quarentena, restam apenas três dias de monitorização do estado de saúde em casa. Segundo a Bloomberg, que também cita os media de Hong Kong, as novas medidas serão postas em prática mediante um “programa piloto” a entrar em funcionamento antes da chegada do Ano Novo Chinês. De frisar que já em Novembro a Comissão Nacional de Saúde da China anunciou uma redução da quarentena obrigatória para os estrangeiros para cinco dias, ao invés dos anteriores sete.

13 Dez 2022

António Miguel de Campos: “No pensamento chinês tradicional, não existe o conceito de verdade absoluta”

Depois de ter traduzido em 2010 o Dao De Jing, de Laozi, a que chamou “Livro do Caminho e do Bom Caminhar”, António Miguel Campos publicou este ano uma tradução comentada dos escritos de Mestre Zhuang (Zhuang Zi), que romaniza, “de modo a ser mais correctamente lido por um leitor lusófono”, como “Chuang Tse”. Sobre o livro, o filósofo e a filosofia, respondeu a umas perguntas de Via do Meio

 

 

VM: Depois de ter traduzido o Tao Te King (Dao De Jing), de Lao Tse (Lao Zi), apresenta-nos agora uma tradução, também plena de comentários, dos escritos de Chuang Tse (Zhuang Zi). Como vê os dois autores, na sua relação com o taoismo?

AMC: São, sem dúvida, os dois mais importantes pensadores do taoismo filosófico. As suas obras formam a base textual e filosófica da escola de pensamento taoista (道家, dàojiā). Na sua obra, Lao Tse enuncia aforismos breves, em linguagem muito concisa e poética, que apresentam os conceitos básicos do taoismo e do monismo dialéctico, expresso no conceito de yin-yang, que caracteriza o pensamento taoista e que continua hoje a ser um substrato fundamental do modo de pensar chinês.
Chuang Tse é o primeiro pensador chinês que constrói uma filosofia dirigida ao homem individual, incitando cada pessoa a encontrar por si própria a felicidade interior, libertando-se das amarras mentais do pensamento convencional e da sujeição a uma moralidade social rígida, como a defendida pelo confucionismo, e procurando viver de um modo mais espontâneo, em harmonia com o que é natural.

VM: Distante do confucionismo, mas também de outras correntes do pensamento chinês?

AMC: É um pensador fora do comum, profundo, humorístico e irreverente, e um escritor extremamente inovador na cultura chinesa, e cuja filosofia, expressa numa linguagem muito menos concisa, tende a suscitar a auto-interrogação no leitor, por criar um vazio no que é dito que evoca algo que está para além dos limites da linguagem. Este tipo de discurso foi mais tarde adoptado pelos budistas Chan e Zen, que o usaram nos seus koans (公案, gōng’àn).

VM: Será que o fascínio exercido pelo taoismo junto das mentalidades ocidentais, por oposição a algum desinteresse pelo confucionismo, está relacionado com o “individualismo”, por vezes reconhecido como existente nos pensadores ditos taoistas?

AMC: No século XVII, a Europa ficou fascinada com o confucionismo e com o modo como ele se reflectia na estrutura social e administrativa da China. E essa admiração acabou por influenciar alguns aspectos da organização social e administrativa europeia. No entanto, desde que a defesa das liberdades e direitos individuais ganhou força na Europa, a sua exagerada ênfase nos deveres para com a comunidade em detrimento dos direitos individuais, começou a ser no Ocidente considerada algo «anacrónica» e menos interessante. Para isso contribui hoje uma sua associação à noção defendida pela escola legalista de que os seres humanos são naturalmente egoístas e que, por isso, o que é necessário é a definição de um conjunto de leis e punições rigorosas e um firme controle político e militar do Estado.

O maior fascínio pelas ideias taoistas surgiu no Ocidente sobretudo através do interesse que se começou a manifestar na segunda metade do século XX, e sobretudo por parte dos mais jovens, pelo budismo Zen e pelas artes marciais e medicinas orientais, que têm por base conceitos taoistas e sugerem para os ocidentais um modo de pensar alternativo. Esse modo de pensar o mundo parece ter um efeito terapêutico para um ocidental, como um antídoto contra algumas «maleitas» do pensamento convencional ocidental, o que explica, por exemplo, que haja médicos que sugerem a leitura do Tao Te King a pessoas deprimidas e professores de piano que aconselham a sua leitura aos seus pupilos.

VM: Então ler o taoismo como um “individualismo” estará errado?

AMC: Embora os taoistas incitem cada pessoa a encontrar por si própria a felicidade interior, não se pode considerar que a sua filosofia defenda o «individualismo», na medida em que nela se encara o Homem apenas como uma entre «as dez mil coisas» que existem na Natureza e se defende que o mais importante é ele se inserir harmonicamente nela. E essa visão agrada ao modo de pensar ocidental actual, em que é dada uma grande importância à Natureza e à sua preservação. Note-se que a razão pela qual os taoistas criticam as normas de comportamento confucianas é sobretudo o facto de elas tornarem o funcionamento da sociedade demasiado rígido, contrariando o que é natural. Acrescente-se ainda que o interesse pelos conceitos taoistas é também resultante da compreensão de que eles são um substrato muito importante da cultura chinesa e por isso indispensáveis para se entender a alteridade do modo de pensar chinês.

VM: Chuang Tse recusa admitir que existe uma só verdade. Não é este “perspectivismo” no seu pensamento, algo que o aproxima de vários pensadores contemporâneos, nomeadamente ocidentais?

AMC: Há muitas semelhanças entre o perspectivismo de Chuang Tse e de Nietzsche. Mas enquanto Nietzsche pretende, pela exploração de uma multiplicidade de perspectivas, aceder a um conhecimento superior, que ultrapasse as limitações de cada uma delas, Chuang Tse não está interessado na busca de conhecimento enquanto tal. O seu objectivo é prático: o que temos de fazer para que as nossas acções sejam bem-sucedidas. E o perspectivismo que propõe, a que poderíamos chamar um «perspectivismo prático», consiste em ir optando por verdades parciais, de modo que elas sejam ajustadas às situações, sem ficarmos mentalmente amarrados a nenhuma delas. Para Chuang Tse, o «estado de espírito privilegiado» é ser capaz de ajustar a nossa perspectiva às circunstâncias, em vez de, à maneira dos moralistas e lógicos, dissipar esforços inúteis na tentativa de «ajustar as circunstâncias» à nossa perspectiva.

VM: Uma outra posição face ao conceito de “verdade”?

AMC: Note-se que no pensamento chinês tradicional, não existe o conceito de verdade absoluta, no sentido ocidental. Fala-se do certo-errado (是非, shìfēi), um termo que sugere a dinâmica de procurar o certo, ou seja, o que é admissível ou adequado, sabendo que pode estar errado, ou seja, uma dinâmica certo-errado do tipo yin-yang.

Há que referir que Kierkgaard dizia que perguntar o que está certo ou errado, em termos absolutos, é um erro, porque as verdades que nos movem são apenas «miragens» ou «representações» em que decidimos acreditar, e geralmente apenas temporariamente, com base nas nossas fortes intuições do momento. Também Wittgenstein dizia que o que torna correcto dizer que uma afirmação é «verdadeira» não é a sua correspondência com a realidade, mas apenas o critério usado para determinar a verdade.

VM: No caso de Chuang Tse, que interpretação elabora da sua relação com o conceito de Vazio, que o mestre refere, entre outros, a propósito de um talhante? Poderia distinguir, para os nossos leitores, a diferença entre Nada e Vazio? Além deste, que ideias, que conceitos, presentes em Chuang Tse, lhe causaram maior interesse?

AMC: Na história do talhante Ting, Chuang Tse não fala no vazio (虛, xū) mas nos veios naturais (天理, tiānlǐ) da carne, o espaço entre as articulações. É uma história apresentada para expor como se deve «nutrir a vida» (養生, yǎngshēng), tanto fisiológica como psicologicamente, minimizando os conflitos nas interacções com as coisas e com as outras pessoas. Se estivermos atentos à textura natural das coisas e das situações, podemos agir como o artífice exímio e, assim, esperar «esgotar os anos que nos cabem de vida» sem encontrar adversidades de maior. O modo taoista de resolver os problemas, o «agir sem agir» (為無為, wéi wúwéi), segue esta prática.

No entanto, na Arte da Guerra de Sun Tse (孫子兵法, Sūnzi bīngfǎ), um texto incluído no «Cânon Taoista» (道藏, dàozàng), diz-se que «quem avança sem que lhe possam resistir, segue em frente no que está vazio (虛, xū)», o que lembra a mestria de Ting, que talhava no «espaço vazio» entre as articulações. No caso de Sun Tse, o vazio pode significar o que está fraco ou desprotegido, mas também os «veios naturais» da cada situação, que nos permitem avançar sem resistência, continuando sempre intactos e afiados como a lâmina da faca de Ting.

O Nada (無, wú) é o que ainda não se manifestou, ou seja, o que ainda não existe e de onde emerge o que existe (有, yǒu). No Tao Te King, ele é identificado com o Tao e sugere-se que ele é a fonte original de tudo e o Princípio Supremo que gera tudo o que existe e está na origem do seu devir. No Chuang Tse, ele é descrito como sendo a Unidade indiferenciada de todas as coisas que, em si, não é uma coisa, é «Nada», mas onde é como nela existissem coisas sem fim, embora sem delimitações entre elas. Chuang Tse apresenta o Tao essencialmente como um processo de transformações contínuas, sem fim nem início, que «faz com que as coisas sejam coisas».

Segundo os taoistas, quem busca a harmonia com o Tao deve esvaziar a mente para atingir o estado de vacuidade mental que se designa por «clareza» (明, míng) em que as respostas adequadas surgem tão natural e espontaneamente como uma imagem num espelho e não como resultado do encadeamento contínuo de pensamentos conscientes. É um regresso ao «vazio» indiferenciado do «antes de tudo», que liberta espaço para garantir que nada do que nesse vazio pode espontaneamente emergir seja impedido de o fazer.

VM: E, no entanto, no seio da certeza de não existirem certezas, surge sempre a dúvida e as suas manigâncias?

AMC: Um conceito introduzido por Chuang Tse que achei muito interessante foi o de «deslizar para o deslumbramento da dúvida» (滑疑之耀, huá yí zhī yào). Ele diz-nos que, quem é sábio, não vê utilidade em afirmar categoricamente o que está certo e prefere manter-se deslumbrado com a dúvida e ficar-se apenas pelo que é óbvio e intuitivo.

Outro conceito que achei muito interessante é o do uso de «palavras do jarro» (卮言, zhī yán), uma forma de linguagem fluida e «despreocupada», caracterizada por uma transformação constante, que não busca nenhum objectivo final para além da sua própria continuação. É possível que Chuang Tse, ao escolher um jarro para caracterizar as suas palavras, tenha também querido associá-las às palavras que se dizem depois de se beber vinho, quando o inconsciente é menos controlado pela consciência e podemos ser mais espontâneos, livres e criativos, deixando-nos transformar pelas coisas. Cabe aqui recordar a frase «Há mais filosofia numa garrafa de vinho do que em todos os livros», de Louis Pasteur. Chuang Tse diz-nos que usar «palavras do jarro» é um modo de «falar não-falando», por ser um discurso que não está preso a nenhuma perspectiva rígida e que discorre sobre ideias de um modo que supera os limites da lógica e da própria linguagem, sendo ele próprio uma manifestação do processo sempre renovador que é a transformação natural das coisas.

VM: Poderemos falar na felicidade de um peixe?

AMC: Chuang Tse parece apontar para a possibilidade de existir um conhecimento intuitivo que não é o resultado de análises e raciocínios lógicos, mas é apreendido directamente pela observação do mundo, com a mente esvaziada de todo o conhecimento conceptual. Os peixes «vagueavam livremente e sem amarras» e era evidente que eles estavam felizes. É interessante referir que o filósofo indiano Jiddu Krishnamurti defendia que «a capacidade de observar sem analisar é a mais alta forma de inteligência».

VM: Somos Chuang Tse ou a borboleta?

AMC: A história em que Chuang Tse se pergunta se é mesmo ele ou uma borboleta que sentiu que era durante um sonho é uma alegoria que põe em causa a distinção entre a ilusão e a realidade, encorajando-nos a encarar todos os estados mentais como tendo a mesma natureza efémera dos sonhos. Devemos acreditar sinceramente em qualquer coisa em cada momento, mas deixar que aquilo em que acreditamos vá mudando, sentindo-nos unos com o Universo, fluindo nele e com ele, perdendo-nos de nós próprios, participando totalmente nas transformações do fluxo universal da vida.

O sonho é algo de natural e por isso deve ser equiparado ao estado acordado. E, nos sonhos, podemos libertar-nos com facilidade das nossas perspectivas rígidas e deixar-nos transformar livremente e sem amarras e isso pode-nos fazer ficar mentalmente mais flexíveis e ajudar-nos a saber aproveitar melhor todas as oportunidades que surgirem no nosso caminho. O romano Séneca (65 a.C.) dizia que «não é por as coisas serem difíceis que não as ousamos fazer. É por não as ousarmos fazer que elas são difíceis». Como diz António Gedeão, na Pedra Filosofal, «o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer. E sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança».

O que Chuang Tse nos propõe é que nos deixemos «vaguear livremente e sem amarras» numa espécie de «sonho acordado» em que vamos sendo quem nos parece que somos, mas em que o vamos também deixando para trás, esquecendo-nos de quem fomos antes. O objectivo desse vaguear é sentirmo-nos livres e felizes. Não interessa se esse vaguear é considerado moralmente virtuoso ou útil para o bem-geral. O vaguear é um fim em si mesmo.

A este propósito, é interessante reler o que Fernando Pessoa dizia numa carta dirigida a Casais Monteiro: “Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, de várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real …”

VM: Ou somos, finalmente, seres como aqueles macacos, facilmente manipuláveis, como também acreditava Maquiavel?

AMC: Quanto à relação destes textos com o pensamento de Maquiavel, há que frisar que ele dizia que, quando as circunstâncias mudam, as pessoas são mais facilmente manipuláveis se estiverem amarradas a perspectivas rígidas. Ora o modo de encarar o mundo aconselhado por Chuang Tse destina-se exactamente a libertar-nos das amarras de concepções e perspectivas rígidas e faz com que sejamos mais dificilmente manipuláveis, por ele nos permitir ajustar as nossas perspectivas às circunstâncias.

13 Dez 2022

Inflação agrava crise na importação de produtos portugueses

A subida da inflação em Portugal está a dificultar a importação de produtos portugueses para Macau, negócio que já estava em apuros com a pandemia e a guerra na Ucrânia. Transporte, mão-de-obra e distribuição são factores que pesam na factura

 

Empresários contactados pela Lusa alertam para o agravamento da crise no negócio da importação de produtos portugueses para Macau devido ao aumento da inflação. Os efeitos da pandemia de covid-19, primeiro, e os da guerra na Ucrânia, depois, já tinham atingido seriamente o sector, mas o crescimento da inflação piorou o cenário, que se traduz numa escalada de preços que não poupa o aluguer de contentores, pagamento de mão-de-obra e matérias-primas, explicam os importadores.

Em Macau, a crise no sector agudizou-se muito por causa das medidas de prevenção pandémica que fizeram desaparecer turistas e, com eles, boa parte do mercado de consumo do qual dependiam os empresários ligados à importação de produtos portugueses.

“O preço dos contentores, com a pandemia, e o facto de muitas vezes não cumprirem os prazos previstos, sobretudo para quem trabalha com produtos portugueses não congelados, era já um problema. A falta de turistas era outro, mais ainda para um sector como, por exemplo, de importação de vinho. Agora, com o aumento dos preços, tudo está pior”, lamenta António Alves, da Eurovinhos.

O empresário da firma de Macau que importa para o território e para o sul da China continental queixa-se ainda do aumento do custo de matérias-primas como papelão e vidro, essenciais para a embalagem dos produtos, com significativo impacto no preço final.

Pequenas latas

Carlos Rodrigues, da F. Rodrigues (Sucessores) Limitada, também na área de importação de vinho e produtores alimentares, sublinha isso mesmo, mas acrescenta ao vidro e papelão, uma outra carência, a de alumínio, que afecta o sector das conservas.

“Com tudo isto, temos de contar com o aumento dos custos de mão-de-obra, do combustível, que tem efeitos na distribuição, do preço dos contentores, embora esse esteja agora com uma tendência para diminuir. Mas a verdade é que há produtos que já foram aumentados duas vezes este ano. E alguns dos produtos praticamente aumentaram 40 por cento, como por exemplo o azeite”, pormenoriza.

No momento em que a agência de notação financeira Fitch reviu em baixa as previsões para o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] mundial para 1,4 por cento em 2023, tendo em conta a luta dos bancos centrais contra a inflação e as condições do mercado imobiliário chinês, as perspectivas de que o cenário melhore nos próximos tempos é visto com cautela pelos empresários.

O mercado de Macau, muito dependente do mercado turístico da China continental, foi atingido por uma crise que não poupou os casinos, o grande motor da economia. Mas, garantem os empresários, a restauração e a compra de vinhos e de produtos portugueses vivia sobretudo dos turistas de Hong Kong. Só que há praticamente três anos que as viagens entre as duas cidades vizinhas passaram a ser uma ‘miragem’, com Macau ainda a manter a obrigatoriedade de uma quarentena à chegada ao território.

“Este é um mercado muito dependente dos turistas de Hong Kong, porque não são os turistas da China continental que compram estes produtos”, assinala Carlos Rodrigues, ao mesmo tempo que lamenta a subida do desemprego e as muitas lojas e negócios fechados em Macau.

13 Dez 2022

China pode repor normalidade pré-pandemia a partir de Março, diz especialista

O epidemiologista chinês Zhong Nanshan prevê que a China possa repor a normalidade do quotidiano pré-pandemia por volta do segundo trimestre de 2023, de acordo com declarações à imprensa.

Face à crescente propagação do novo coronavírus, após as autoridades terem posto fim à estratégia ‘zero covid’, Zhong usou como exemplo o atual surto em Cantão, no sudeste do país, adiantando que o pico no número de casos diários na cidade vai ser atingido entre o final de janeiro e meados de fevereiro.

Aquele período coincide com o Ano Novo Lunar. A principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais, regista, tradicionalmente, a maior migração interna do planeta, com centenas de milhões de chineses a regressarem à terra natal.

O epidemiologista recomendou aos cidadãos que recebam doses de reforço das vacinas contra a covid-19, para aumentar o nível de proteção antes daquele período.

Zhong também pediu às pessoas que continuem a usar máscaras e que não comprem quantidades excessivas de remédios para combater a febre, como ocorreu recentemente em várias cidades do país, resultando numa escassez de suprimentos nas farmácias e hospitais.

Nos últimos dias, a imprensa oficial começou a minimizar o risco da variante Ómicron através de artigos e entrevistas com especialistas, numa súbita mudança de narrativa que acompanha o relaxamento de algumas das medidas mais rígidas da política de ‘zero casos’ de covid-19, que vigorou no país ao longo de quase três anos.

As autoridades afirmaram que estão reunidas as “condições” para que o país “ajuste” as suas medidas nesta “nova situação”, em que o vírus causa menos mortes, e anunciaram um plano para acelerar a vacinação entre os idosos, um dos grupos mais vulneráveis, mas ao mesmo tempo mais relutante em ser inoculado.

O país aboliu, na semana passada, testes em massa, quarentena em instalações designadas, para casos positivos e contactos diretos, e a utilização de aplicações de rastreamento de contactos.

Isto ocorreu depois de protestos em várias cidades da China contra a estratégia de ‘zero casos’ de covid-19. Alguns dos manifestantes proclamaram palavras de ordem contra o líder chinês, Xi Jinping, e o Partido Comunista, algo inédito no país em várias décadas.

Embora tenha sido recebido com alívio, o fim da estratégia ‘zero covid’ suscita também preocupações.

Com 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo. A estratégia de ‘zero casos’ significa que a esmagadora maioria da população chinesa carece de imunidade natural. Pequim recusou também importar vacinas de RNA mensageiro, consideradas mais eficazes do que as inoculações desenvolvidas pelas farmacêuticas locais Sinopharm e Sinovac.

A remoção das restrições poderá desencadear uma ‘onda’ de casos sem paralelo este inverno, sobrecarregando rapidamente o sistema de saúde do país, de acordo com as projeções elaboradas pela consultora Wigram Capital Advisors, que forneceu modelos de projeção a vários governos da região, durante a pandemia.

Um milhão de chineses poderá morrer com covid-19 durante os próximos meses de inverno, de acordo com a mesma projeção. Especialistas advertiram, no entanto, que ainda há possibilidades de o Partido Comunista reverter o curso e reimpor restrições, caso ocorra um surto em grande escala.

12 Dez 2022

Museu de História de Hong Kong prepara exposição sobre lusodescendentes

O Museu de História de Hong Kong está a preparar uma exposição sobre a centenária presença dos lusodescendentes na região chinesa, cuja inauguração está prevista para meados de 2023, disse hoje o coordenador do projeto.

A comunidade será a primeira a merecer destaque entre várias exposições temáticas rotativas que o museu está a preparar, desde 2017, no âmbito de uma renovação que originalmente estava prevista abrir ao público ainda este ano.

“O lançamento da exposição foi adiado por causa da covid-19”, afirmou à Lusa, em Hong Kong, o investigador Francisco da Roza. “Estamos a trabalhar para um lançamento previsto, de forma provisória, para meados do próximo ano”, acrescentou.

Num folheto sobre uma campanha de recolha de artefactos, documentos e fotografias para a exposição, o museu diz querer “trazer para a ribalta a excecional história da comunidade portuguesa em Hong Kong”.

O museu destaca ainda “a pitoresca diversidade” dos lusodescendentes, incluindo as tradições religiosas católicas, a gastronomia de fusão e o patuá, uma língua crioula de base portuguesa, em risco de extinção.

Os macaenses e membros da então numerosa comunidade portuguesa em Xangai, no leste da China, começaram a chegar logo depois da fundação da colónia britânica, em 1841, sublinha o museu. José Maria d’Almada e Castro foi um dos primeiros não chineses a mudar-se para a cidade, logo no ano seguinte.

Durante os primeiros anos do território, a comunidade eurasiática “aproveitou o talento para as línguas e o estatuto único de ‘nem chinês nem ocidental’ para servir de ponte entre os mercadores e funcionários do governo britânico e os chineses”, indica.

Os lusodescendentes “prosperaram em várias indústrias”, lembra o museu, como a impressão, a farmacêutica e a advocacia. Ainda hoje a presença da comunidade na justiça é visível através de Roberto Alexandre Vieira Ribeiro, um dos três juízes permanentes do Tribunal Superior de Hong Kong.

A comunidade deu também “o seu contributo ao desenvolvimento urbano de Hong Kong”. O empresário Francisco Soares foi o principal promotor, na década de 1920, do desenvolvimento da zona de Ho Man Tin, onde ainda existe a Avenida Soares.

O declínio da comunidade começou em 1967, quando a então colónia britânica sentia, inclusive através de atentados bombistas, o impacto da Revolução Cultural na China. A imigração dos lusodescendentes continuou depois da crise mundial do petróleo em 1973.

Para recolher artefactos, documentos e fotografias para a exposição, Francisco da Roza foi à Califórnia, nos Estados Unidos, e a Toronto e a Vancouver, no Canadá, entre a diáspora da comunidade eurasiática.

A pandemia impediu, no entanto, o coordenador do projeto de ir à Biblioteca Nacional da Austrália, em Melbourne, para investigar os documentos pessoais do jornalista, escritor e historiador lusodescendente José Maria Braga (1898-1988), que viveu em Macau e Hong Kong.

Entre as instituições da comunidade que ainda sobrevivem na região administrativa especial chinesa, contam-se o Clube de Recreio e o Clube Lusitano.

12 Dez 2022

Ronaldo: “Ganhar um Mundial por Portugal era o maior e mais ambicioso sonho da minha carreira”

O capitão da seleção portuguesa quebrou o silêncio com uma publicação nas redes sociais onde refere que ganhar um Mundial por Portugal era “o maior e o mais ambicioso sonho” da sua carreira. “ Felizmente ganhei muitos títulos de dimensão internacional, inclusive por Portugal, mas colocar o nome do nosso país no patamar mais alto do Mundo era o meu maior sonho”, escreveu.

“Infelizmente, ontem o sonho acabou. Não vale a pena reagir a quente. Quero apenas que todos saibam que muito se disse, muito se escreveu, muito se especulou, mas a minha dedicação a Portugal não mudou nem por instante. Fui sempre mais um a lutar pelo objectivo de todos e jamais viraria as costas aos meus companheiros e ao meu país”.

CR7 agradeceu ainda a todos os portugueses pelo apoio, “agora, é esperar que o tempo seja bom conselheiro e permita que cada um tire as suas conclusões.”.

A importância de aprender

Cerca de meio milhar de adeptos aguardava a chegada da equipa a Lisboa, embora apenas 14 jogadores tenham regressado com a comitiva – Rui Patrício, Raphaël Guerreiro, Cristiano Ronaldo, Rafael Leão, Bruno Fernandes, Matheus Nunes, Rúben Neves, Bernardo Silva, João Cancelo e Diogo Dalot permaneceram no Qatar.

“Estamos tristes por não poder dar mais a esta gente, porque se calhar não merecíamos sair da maneira que saímos, mas é o futebol. O futebol tem dessas coisas, há que aprender com o jogo de ontem [sábado] para que o futuro possa ser bem melhor para nós”, afirmou Pepe.

Único dos 14 jogadores que prestou declarações à comunicação social presente no aeroporto, Pepe comentou ainda a situação de Cristiano Ronaldo.

“O Cristiano Ronaldo ficou bem, é a nossa bandeira portuguesa, chega a todos os lados do mundo. Deu o seu contributo quando foi chamado e há que agradecer-lhe, a ele e a todos os companheiros também que tentaram dar o seu melhor, dar o máximo e trabalhar ao máximo para poderem estar disponíveis para o treinador. Quando assim é, as coisas são muito mais fáceis,” completou.

Sobre a continuidade de Fernando Santos como selecionador, o defesa, de 39 anos, não quis falar muito.

“Eu sou jogador, não tenho nada que falar sobre isso [eventual saída de Fernando Santos], não vou entrar por esse caminho. É o que falei antes: agradecer às pessoas e o carinho, nós sentimo-lo”, afirmou.

A comitiva lusa aterrou no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, pelas 17h40 de domingo, e cerca de vinte minutos depois passou a saída VIP do aeroporto, onde os aguardavam algumas centenas de adetos, junto dos quais se acercaram elementos como o selecionador nacional, Fernando Santos, e jogadores como William Carvalho, Rúben Dias, Diogo Costa, Gonçalo Ramos e Pepe para algumas fotografias e autógrafos.

Portugal foi afastado do Mundial2022 no sábado, ao perder nos quartos de final com Marrocos, por 1-0, com um golo de Youssef El-Nesyri. Nas meias-finais, Marrocos vai defrontar, na quarta-feira, a campeão mundial em título, França, que eliminou a Inglaterra também no sábado, enquanto a Croácia vai medir forças com a Argentina, na terça-feira.

12 Dez 2022

Covid-19 está a propagar-se na China depois de alívio de restrições, diz epidemiologista

A vaga de covid-19 está a “propagar-se rapidamente” na China, alertou hoje um epidemiologista conselheiro do Governo, na sequência da decisão da tutela de abandonar a estratégia de “covid zero”.

Na quarta-feira, as autoridades chinesas anunciaram o abrandamento geral das restrições sanitárias, depois dos protestos da população, e na esperança de revitalizar a segunda maior economia do mundo, que tem sido asfixiada pelas restrições.

As lojas e restaurantes de Pequim estavam hoje desertos, enquanto o país aguarda um pico de infeções com o fim dos testes PCR de rotina em grande escala, a possibilidade de isolamento em casos ligeiros e assintomáticos, e o recurso mais limitado de confinamentos.

“Atualmente, a epidemia na China (…) está a alastrar rapidamente e, nestas circunstâncias, por mais forte que sejam a prevenção e o controlo, será difícil cortar completamente a cadeia de transmissão”, afirmou, em entrevista aos meios de comunicação estatais chineses, um dos principais conselheiros do Governo desde o inicio da pandemia.

“As atuais sub variantes da Omicron … são altamente contagiosas … uma pessoa pode transmitir a 22 pessoas”, acrescentou Zhong. O país enfrenta uma onda de casos que está mal preparado para gerar, com milhões de idosos ainda não totalmente vacinados e hospitais sem capacidade para acomodar um elevado número de pacientes.

A China tem uma cama em unidades de cuidados intensivos para cada 10.000 habitantes, alertou, na sexta-feira, o diretor do departamento de assuntos médicos da comissão nacional de saúde.

Jiao Yahui anunciou que 106 mil médicos e 177.700 enfermeiros seriam redirecionados para unidades de cuidados intensivos para lidar com a nova vaga de casos, não adiantando, no entanto, como é que outros setores hospitalares se iam organizar.

Hoje, longas filas de pessoas formaram-se à porta das farmácias de Pequim, enquanto os residentes se apressavam a abastecer de medicamentos para a febre e de ‘kits’ de testes contra a covid-19.

Em declarações à AFP, algumas pessoas disseram que estavam a encomendar medicamentos em farmácias de cidades próximas. “Tenho medo de sair”, afirmou Liu Cheng, residente no centro de Pequim, acrescentando que “muitos” dos seus amigos com sintomas ou que deram positivo no teste contra a covid-19 não tinham reportado.

12 Dez 2022

Três organizações e dois cidadãos recebem Prémio Sérgio Vieira de Mello em Timor-Leste

Três organizações não-governamentais e dois cidadãos são hoje agraciados na edição de 2022 do Prémio de Direitos Humanos Sérgio Vieira de Mello, atribuído pela Presidência de Timor-Leste.

Na 15.ª edição, os prémios, no valor de 10 mil dólares cada, reconhecem cidadãos timorenses e estrangeiros, organizações governamentais e não-governamentais que se destaquem na promoção, na defesa e na divulgação dos direitos humanos no país.

Entre os agraciados este ano, contam-se o timorense Gil Horácio Boavida, fundador da organização HASATIL, que reúne organizações envolvidas nos setores do turismo e da agricultura e responsável por vários projetos, de acordo com o decreto assinado pelo Presidente, José Ramos-Horta.

A outra agraciada é a brasileira Simone Assis, diretora executiva do projeto Pro-Ema, criado em 2018 para apoiar jovens mulheres sobreviventes de abusos sexuais.

A edição deste ano reconhece ainda a associação ATKOMA, da ilha de Ataúro, a trabalhar desde 2005 para desenvolver o turismo sustentável na região.

Serão ainda agraciados o Leeuwin Care Centro Santa Bakhita, em Díli, e a organização Masine Neo, do enclave de Oecusse-Ambeno.

Criados a 18 de março de 2009, por José Ramos-Horta, durante o primeiro mandato como chefe de Estado timorense, os prémios visam igualmente assinalar, anualmente, o Dia dos Direitos Humanos.

A iniciativa tem ainda como objetivo reconhecer o trabalho realizado pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello enquanto chefe da Missão da ONU de Administração Transitória de Timor-Leste, entre novembro de 1999 e maio de 2002.

O diplomata brasileiro morreu em 19 de agosto de 2003, vítima de um atentado no Iraque.

Normalmente os prémios são atribuídos em duas categorias, Direitos Civis e Políticos e Direitos Económicos, Sociais e Culturais, sendo que na edição deste ano apenas serão entregues galardões correspondentes à segunda categoria.

A cerimónia de entrega do prémio vai decorrer no Palácio Presidencial, em Díli, pelo Presidente interino e presidente do Parlamento timorense, Aniceto Guterres Lopes, na ausência de José Ramos-Horta, que se encontra em visitas no estrangeiro.

12 Dez 2022

Tailândia | Previsão de 10 milhões de turistas atingida

A Tailândia alcançou no sábado a previsão de 10 milhões de turistas em 2022, números inferiores aos registados antes da pandemia da covid-19, mas que sustentam a recuperação deste sector-chave da economia do país.

Para celebrar o marco, que cumpre a previsão realizada em Agosto pelo Ministério do Turismo, os visitantes foram recebidos com uma série de presentes em vários aeroportos do país e em fronteiras terrestres, num evento baptizado de “Amazing Thailand 10 Million Celebrations”.

O primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha, tem previsto dar as boas-vindas no aeroporto internacional Suvarnabhumi, no este de Banguecoque, aos passageiros de um voo da Arábia Saudita, que segundo as autoridades locais, completa a marca dos 10 milhões de visitantes.

A crise sanitária causou estragos no sector turístico da Tailândia, que em 2019 registou um recorde de 39,8 milhões de visitantes, um sector-chave para a segunda economia do sudeste asiático que antes da covid-19, representava entre 12 e 20 por cento do Produto Interno Bruto tailandês.

O Governo da Tailândia indicou em Setembro que estimava alcançar os 32 milhões de turistas em 2023, o equivalente a 80 por cento dos visitantes antes da pandemia, ainda que recentemente se tenha mostrado cauteloso face a uma possível desaceleração.

12 Dez 2022

Japão aprova lei para limitar pedidos de doações de grupos religiosos

O parlamento japonês aprovou uma lei para limitar os pedidos de doações de grupos religiosos, uma medida direccionada sobretudo para a Igreja da Unificação, que chamou a atenção pelas ligações ao assassino confesso do ex-primeiro-ministro, Shinzo Abe.

Segundo a Europa Press, a lei foi aprovada com o apoio do bloco no Governo e da maioria da oposição, cinco meses após o assassinato de Shinzo Abe pelas mãos do filho de um seguidor da Igreja da Unificação, que acusou a organização de arruinar a família, devido a doações.

A legislação proíbe as organizações de “enganar” o público para solicitar doações, recorrendo a tácticas coercivas pelo medo.

Assim, é proibido pedir aos doadores que obtenham dinheiro através da venda de imóveis e outros bens e a medida aprovada contempla penas de até um ano de prisão e multas de um milhão de ienes (cerca de 7.200 euros).

Adicionalmente, se as doações forem feitas por qualquer das formas proibidas pela nova lei, os cônjuges ou filhos dependentes dos doadores poderão cancelá-las em seu nome, através de procedimentos legais.

Lei do povo

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, destacou que se reuniu com as vítimas daquela organização religiosa e reconheceu que os seus problemas são “muito graves”, pelo que prometeu “adoptar as medidas necessárias” para aplicar a lei “ de forma eficiente”.

No entanto, vários parlamentares que apoiam as pessoas arruinadas por doações criticaram a legislação, considerando que foi elaborada rapidamente e que tem deficiências, segundo a agência de notícias japonesa Kiodo.

A legislação surgiu depois de familiares de ex-seguidores da Igreja da Unificação terem enviado queixas ao Governo, acusando o grupo religioso de levar as suas famílias à falência, ao pedir doações avultadas.

A Igreja da Unificação, fundada no país em 1954, é conhecida pelas suas “vendas espirituais” e por pressionar os seguidores a comprar produtos a preços exorbitantes.

O Governo japonês lançou uma investigação sobre a gestão da controversa Igreja da Unificação, em Novembro, para perceber se existem práticas de violações da Lei de Organizações Religiosas, no que diz respeito à angariação de seguidores e à gestão das doações recebidas.

12 Dez 2022

Cotai | Novo evento gastronómico esta sexta-feira

É já esta sexta-feira que tem lugar um novo evento gastronómico em Macau, o “Crunch and Munch Fair Macao – Fiesta for Five”, que se realiza no Cotai Strip Park até ao dia 26 de Dezembro.

Segundo uma nota de imprensa, esta iniciativa contará com a representação de estabelecimentos de restauração e bebidas locais, além de serem convidados operadores de restauração das quatro Cidades Criativas de Gastronomia do Interior da China, nomeadamente Chengdu, Shunde, Yangzhou e Huai’an. A ideia é que possam ser apresentadas em Macau “várias especialidades gastronómicas dos cinco locais a fim de aprofundar a integração dos elementos ‘turismo+gastronomia’, aumentando a atracção de Macau enquanto cidade turística”. Pretende-se também “alargar as fontes de visitantes”.

A organização do evento está a cargo da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) em parceria com a Associação Industrial e Comercial da Zona de Aterros do Porto Exterior (ZAPE) e seis grandes empresas de turismo e lazer do território.

As autoridades classificam este como sendo “o primeiro grande evento culinário realizado ao ar livre na zona do Cotai”, reunindo áreas como o turismo, a gastronomia, compras, a promoção da cultura sino-lusófona ou as indústrias culturais e criativas, entre outras. Haverá um total de 106 stands divididos em várias zonas temáticas. O evento apresenta ainda espectáculos recreativos e musicais.

12 Dez 2022

Festival Internacional de Curtas | “Fantasma Neon” premiado como melhor filme

Terminou na sexta-feira mais uma edição do Festival Internacional de Curtas-metragens de Macau, promovido pela Creative Macau, que distinguiu o filme do brasileiro Leonardo Martinelli. Jose Pozo, de Espanha, foi considerado o melhor realizador. “Sea” do residente Jonhson Chon Sin Chan ganhou na categoria de melhor design de som

 

“Fantasma Neon”, do realizador brasileiro Leonardo Martinelli, conquistou na sexta-feira o prémio de melhor filme do 13.º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau. O prémio de melhor realizador distinguiu Jose Pozo, de Espanha, com o filme “Plastic Killer”, enquanto a melhor edição foi para o espanhol Valentin Lopez, com “El Productor”, e a melhor cinematografia para Yorgos Giannelis.

A curta “Sea”, de Jonhson Chon Sin Chan, residente de Macau, arrecadou o prémio de melhor design de som e o de melhor música original foi para Juan Pablo e Villa Dan Zlonik, por “Hambre”, de Carlos Meléndez, do México.

“Maldita. A love song to Sarajevo”, de Amaia Remire e Raul de la Fuente Calle (Espanha/Bósnia-Herzegovia), venceu a categoria de melhor documentário, enquanto “The Rat”, de Zhantemir Baimukhamedov, do Cazaquistão, foi distinguido com o prémio melhor ficção.

O prémio de melhor filme local foi atribuído à obra de ficção “For-get”, de Jenny Wang, enquanto “Keep on rolling”, de Tainqi Zhao, conquistou o prémio “Identidade Cultural de Macau”. A ficção “Last day off”, de Mark Aguillon, de Macau, foi o melhor filme na categoria de escolha do público, indicou a organização.

Animação russa distinguida

A melhor curta de animação foi “The Encounter”, de Aleksandra Krivolutskaia, da Rússia, enquanto “Les larmes de la Seine”, realizado por Yannis Belaid, Eliott Benard, Nikolas Mayeur, Etienne Moulin, Hadrien Pinot, Lisa Vicente, Philippine Singer, Alice Letailleur, arrecadou o prémio melhor filme estudante.

Na competição “Volume”, os prémios de melhor vídeo do festival foi para “Can you hear me”, de Johnson Chon Sin Chan, com a banda FIDA e o de melhor canção foi “Remember me”, filmado por Bryan Chio, Macau, com Garcy Lam, cantora do território. Já “NPC” de Bruce Pun, de Macau, com a banda Experience, venceu na categoria de “Melhores efeitos visuais”.

Dos mais de quatro mil filmes e vídeos submetidos a concurso, de 123 países, foram escolhidos 111 para serem exibidos no Teatro Capitol, entre 1 de Dezembro e a passada quinta-feira, incluindo quatro filmes de Portugal.

“Carpinteiro de Papel”, realizado por Daniel Araújo Medina e Renata de Carvalho Pinto Bueno, competiu na categoria de documentários, enquanto “A Boneca de Kafka”, de Bruno Simões, “Polvo”, de Catarina Sobral, e “A Criação” de José-Manuel Xavier integraram a lista das curtas-metragens de animação.

O Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau, que assinala 13 anos de vida, apresenta produções independentes de reduzido orçamento. Lançado em 2010, pela Creative Macau e pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau, como um pequeno concurso audiovisual, a iniciativa expandiu-se pelos cinco continentes e, em 2015, evoluiu para um festival de curtas-metragens, mantendo o objectivo de motivar a participação de produções fílmicas e vídeos musicais locais e internacionais, a competir em Macau.

12 Dez 2022

Pandemia | FMI saúda abrandamento da política “covid zero”

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, saudou na passada sexta-feira a decisão de Pequim de abrandar a política “covid zero”, sublinhando tratar-se de um “avanço decisivo”.

“Felicitamos as acções decisivas levadas a cabo pelas autoridades chinesas (…) no sentido de recalibrar a política sobre o covid (SARS CoV-2)”, disse Georgieva, após uma conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro Li Kegiang em Huangshan, na China.

Na quarta-feira passada, as autoridades sanitárias de Pequim anunciaram um desagravamento geral das restrições sanitárias relacionadas com a propagação do vírus Covid-19.

Entre as principais medidas, foi decretado o fim dos testes (PCR) sistemáticos e em larga escala, a possibilidade de isolamento doméstico para casos ligeiros e assintomáticos e limitações relacionadas com o confinamento.

Os esforços da República Popular da China para aumentar a taxa de vacinação são uma boa escolha para “o povo chinês, para a Ásia e para o resto do mundo”, acrescentou Georgieva.

“O desempenho da China é importante (não apenas) para a China, mas também para a economia mundial” que foi agravada pela guerra na Ucrânia e pelos efeitos da crise sanitária que fizeram aumentar os níveis do custo de vida em vários países.

O abandono progressivo da estratégia “covid zero” vai contribuir para “afastar incertezas”, disse Ngozi Okonjo-Iwela, directora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) presente na mesma conferência.
O secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Mathias Corman, acrescentou que “estes ajustamentos apoiam o vigor e a retoma (económica) na China e no mundo”.

12 Dez 2022

Hong Kong | Jimmy Lai condenado a mais de cinco anos de prisão por fraude

Um tribunal de Hong Kong condenou no sábado o magnata Jimmy Lai a cinco anos e nove meses de prisão, por fraude, ao permitir que uma consultora operasse sem permissão nas instalações do jornal de oposição que fundou.

Segundo avança a imprensa da ex-colónia britânica, citada pela EFE, o tribunal condenou Jimmy Lai a uma multa de cerca de 242.000 euros e proibiu-o de administrar empresas durante oito anos. O tribunal concluiu, em Outubro, que Lai, de 75 anos, ocultou “deliberadamente” as operações da empresa Dico Consultants nas instalações do extinto jornal Apple Daily.

Segundo o tribunal, o magnata, que já está preso por organizar e participar em protestos antigovernamentais não autorizados, violou o contrato de arrendamento dos escritórios do Apple Daily, que incluía uma cláusula que proibia o uso para actividades não relacionadas com a edição e impressão de jornais ou revistas.

O juiz decidiu que Jimmy Lai tinha a obrigação de garantir que todas as empresas subsidiárias que operavam naquelas instalações cumpriam os requisitos da empresa proprietária da instalação.

A consultora Dico começou a operar nos escritórios do Apple Daily em 1998, onde continuou em actividade até meados de 2020, informou o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

12 Dez 2022

Foxconn | Maior fábrica de iPhone do mundo põe fim a 56 dias de confinamento

A maior fábrica de iPhone do mundo, situada no centro da China, acabou na sexta-feira com quase dois meses de um confinamento que resultou em confrontos entre operários e forças de segurança e na fuga de trabalhadores.

Em comunicado, o grupo Foxconn afirmou que o regime de trabalho em ‘circuito fechado’, que proíbe os funcionários de abandonarem as instalações da fábrica, chegou ao fim, após vigorar ao longo de 56 dias.

Aquele regime, usado por grandes fábricas na China desde 2020 em resposta a surtos de covid-19 em áreas próximas, foi instaurado na fábrica da Foxconn depois de vários trabalhadores terem fugido das instalações no final de Outubro devido ao aumento de casos na cidade de Zhengzhou, a capital da província chinesa de Henan. O complexo da Foxconn em Zhengzhou tem um efectivo fixo de até 200 mil funcionários.

Face à fuga de vários trabalhadores, a empresa ofereceu avultados bónus para atrair novos colaboradores, que acabaram por entrar em violentos confrontos com a polícia. Os operários afirmaram que a empresa não cumpriu com as quantias prometidas. A Foxconn alegou que se tratou de um “erro técnico”.

Estes incidentes fizeram com que a empresa de tecnologia anunciasse uma queda de 29 por cento na receita em Novembro, em relação ao mês anterior. Nos últimos dias, a imprensa oficial chinesa passou a minimizar o risco da variante Ómicron através de artigos e entrevistas com especialistas.

As autoridades já afirmaram que estão reunidas as condições para que o país ajuste as suas medidas nesta “nova situação” em que o vírus causa menos mortes, embora também tenham anunciado um plano para acelerar a vacinação entre os idosos, um dos grupos mais vulneráveis, mas ao mesmo tempo mais relutante em ser inoculado.

12 Dez 2022

EUA | Altos representantes em Pequim para “descongelar” relações

Após o encontro de Xi e Biden na véspera da cimeira do G20, os dois países começam a dar passos em direcção à normalização das relações bilaterais. A deslocação da delegação norte-americana de alto nível ao país tem como objectivo preparar a anunciada visita do secretário de Estado Anthony Blinken a Pequim no início de 2023

 

Os EUA enviaram a primeira delegação de alto nível à China desde as promessas, feitas em Novembro, pelo líder chinês Xi Jinping e pelo seu homólogo norte-americano Joe Biden, de “descongelarem” as relações bilaterais.

O secretário de Estado adjunto para o Pacífico e Ásia Oriental norte-americano, Daniel Kritenbrink, acompanha a directora sénior do Conselho de Segurança Nacional para a China e Taiwan, Laura Rosenberger, de 11 a 14 de Dezembro, anunciou no sábado o Departamento de Defesa.
A delegação irá ainda visitar a Coreia do Sul e Japão.

Na China, Kritenbrink irá preparar a deslocação do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, prevista para o início de 2023, naquela que será a primeira viagem do chefe da diplomacia norte-americana à China em quatro anos.

Ponto de viragem

A visita da delegação acontece menos de um mês depois de uma reunião entre Biden e Xi na cimeira do bloco G20 na Indonésia, num encontro que serviu para tentar reduzir as tensões entre as duas principais potências económicas.

Na ilha de Bali, Biden exortou Xi a procurar formas de “gerir as diferenças” para evitar que a competição entre os dois países degenere num conflito, e manifestou disponibilidade para colaborar em “assuntos globais urgentes”, incluindo alterações climáticas e insegurança alimentar.

Por sua vez, Xi manifestou a intenção de manter um “diálogo franco e profundo” com Biden sobre os temas de importância estratégica nas relações bilaterais, a nível regional e global.

Nessa reunião, Xi avisou o homólogo norte-americano para não “cruzar a linha vermelha” em Taiwan.
“A questão de Taiwan está no centro dos interesses centrais da China, a base da fundação política das relações sino-americanas, e é a primeira linha vermelha a não ser atravessada nas relações sino-americanas”, disse Xi a Biden, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Esse foi o primeiro encontro presencial entre Biden e Xi desde a chegada do norte-americano à Casa Branca, em Janeiro de 2021.

12 Dez 2022