Bilinguismo | Apontada falta de quadros 25 anos depois da transição

Pereira Coutinho denuncia a falta de quadros bilingues que verdadeiramente assegurem o papel de Macau como interlocutor entre a China e os países de língua portuguesa. Por outro lado, uma residente de Macau lamenta que os salários de quadros desta área tenham diminuído na última década

 

Macau tem ainda dificuldades em assumir o papel de interlocutor entre a China e os países de língua portuguesa devido, sobretudo, à falta de quadros bilingues. Esta foi a ideia deixada num artigo publicado no portal HK01, sobre os 25 anos da RAEM, onde é citada Belinda, uma residente que aprendeu português, e o deputado José Pereira Coutinho.

Recorde-se que Sam Hou Fai, que toma posse como Chefe do Executivo na sexta-feira, declarou durante a campanha eleitoral a necessidade de consolidar o papel de Macau como “um interlocutor preciso entre a China e os países lusófonos”. Porém, Belinda, licenciada em tradução e interpretação de chinês e português, diz que os quadros qualificados enfrentam dificuldades laborais, sobretudo no que diz respeito a salários e regalias.

Com 25 anos de idade, a residente estudou português durante três anos no ensino secundário, fez um período de estudos em Portugal e actualmente dá aulas em várias escolas e centros educativos privados.

“Muitos alunos perguntam-me se é útil estudar português e se é fácil depois encontrar emprego. No passado dizia-se que quem estudava português tinha emprego garantido, mas hoje a situação está bastante diferente”, disse.
Belinda terminou a licenciatura em 2021, em plena pandemia, e descreve que a economia está ainda em recuperação, sendo oferecidos salários mais baixos do que antes para funções de tradução ou ensino. Para um trabalho que antes era remunerado em 1.000 patacas, hoje é oferecido metade do montante, exemplificou.

“Os preços subiram, mas os salários não. Os preços mudaram imensas vezes em comparação com há dez anos atrás”, adiantou.

É certo que as autoridades locais investem no português com a criação de cursos e subsídios para estudos, mas, segundo a docente, muitos alunos olham para o português como um idioma pouco importante e apenas lúdico, pelo que o seu domínio da língua não evolui.

Belinda apontou ainda que os docentes receiam ensinar conteúdos da língua demasiado difíceis. “Fui confrontada por colegas que consideram que os alunos são muito pressionados. Não concordo e disse que há dez anos, no ensino secundário complementar de três anos, aprendia sempre a dizer ‘Olá, bom dia’. Só comecei a aprender a língua a sério na universidade. Ora, isso não pode acontecer”, destacou.

Desta forma, a residente espera que o novo Chefe do Executivo implemente políticas que mudem este cenário e que melhorem a situação de emprego. “Com a experiência que o novo Chefe do Executivo tem, acho que o novo Governo vai promover mais políticas de ensino”, afirmou.

Problema não resolvido

Pereira Coutinho, o único deputado macaense no hemiciclo, disse estar preocupado com a falta de quadros qualificados bilingues, afirmando que espera meses por traduções de acórdãos de tribunais ou outros conteúdos da Assembleia Legislativa.

“Durante a era de Chui Sai On, já se falava da falta dos tradutores, e naquele tempo faltavam duzentos tradutores. Porém, a situação não melhorou.” Neste sentido, José Pereira Coutinho espera que o Governo disponibilize subsídios para a formação de talentos bilingues, além de melhorar as regalias profissionais para que mais pessoas se sintam atraídas pela profissão.

18 Dez 2024

RAEM 25 anos | Fotografias de António Mil-Homens expostas no Consulado

“RAEM 25 anos – Memórias de António Duarte Mil-Homens” foi inaugurada ontem no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A mostra reúne um conjunto de imagens da transição captadas pelo fotojornalista que viveu muitos anos em Macau. Oportunidade para rever momentos como a cerimónia da transição ou a entrada do exército chinês no território

 

António Mil-Homens, fotojornalista que viveu em Macau durante largos anos, está de regresso ao território para mais uma exposição, desta vez patente no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, inaugurada ontem. “RAEM 25 anos – Memórias de António Duarte Mil-Homens” mostra, como o próprio fotógrafo indica, imagens “do regresso de Macau à grande China”, com destaque para momentos especiais como a cerimónia da transição, a entrada do exército chinês em Macau e a parada que decorreu depois.

Como o próprio recorda, em 1999 o fotógrafo fez a cobertura de todo o processo para a Revista Macau. As suas imagens acabaram por integrar também o livro do jornalista José Pedro Castanheira, “Macau: Os últimos 100 dias do Império”, editado pela Livros do Oriente e D. Quixote.

Segundo o autor das imagens, esta foi a oportunidade para “captar imagens da fase final da Administração portuguesa, como a última reunião do Conselho Consultivo do governador Rocha Vieira, ou a última sessão solene do Leal Senado de Macau, em que participaram, além do Governador, o Secretário para a Administração Pública, Educação e Juventude, Jorge Rangel e o Presidente do Leal Senado, José Luís de Sales Marques”.

Foram ainda captados momentos como a apresentação à comunidade do primeiro cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, o embaixador Carlos Frota, que contou com a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, e Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Lello.

Depois, num pavilhão montado para o efeito, “teve lugar a cerimónia da transferência, marcada simbolicamente pelo arrear das bandeiras de Portugal e do Leal Senado de Macau e pelo hastear das da nova RAEM e da República Popular da China (RPC)”, descreve o fotojornalista, que destaca como “momentos altos” os discursos de figuras políticas ligadas ao processo de transição, nomeadamente Jorge Sampaio, então Presidente da República portuguesa, e Jiang Zemin, então Presidente da RPC.

Uma nova era

“Com a entrada no território do contingente do Exército Popular de Libertação e a parada popular que se seguiu, iniciava-se em Macau uma nova era, com a criação da RAEM. As fotografias que constituem esta mostra visam tão somente relembrar os acontecimentos atrás sumariamente descritos. São documentos históricos, irrepetíveis, originados ainda em formato analógico, portanto, em filme, com as contingências técnicas da fotografia ‘pré digital'”, destaca Mil-Homens.

Olhar para estas imagens, tantos anos depois, e vê-las impressas e expostas “tem a importância do partilhar de memórias que sempre estiveram vivas, alimentadas pela permanência em Macau e por tudo o que aqui tenho podido concretizar”, referiu o fotógrafo. A exposição, que estará patente até 17 de Janeiro, é organizada pelo Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong em colaboração com o IPOR e o apoio institucional da Casa de Portugal em Macau.

17 Dez 2024

SJM | Chef António elabora pratos portugueses para o “Angela’s Cafe”

António Neves Coelho, conhecido chefe de cozinha portuguesa em Macau, foi convidado a criar três iguarias para serem provadas até Fevereiro no “Angela’s Cafe”, no Lisboeta Macau. As criações culinárias são croissant de leitão, arroz de marisco e queijo de cabra gratinado

 

Um dos mais conhecidos chefes de cozinha portuguesa em Macau, António Neves Coelho, associou-se à Sociedade de Jogos de Macau (SJM) para criar três iguarias portuguesas para o “Angela’s Cafe”, no Lisboeta Macau. Segundo o jornal Ou Mun, os pratos são o “Croissant de Leitão”, “Queijo de Cabra gratinado” e “Arroz de marisco molhado à moda do Chef António”. Os pratos podem ser provados até ao dia 28 de Fevereiro.

No caso do queijo de cabra gratinado, o prato é composto por “queijo de cabra assado, macio e quente, acompanhado de compota de figo biológico, mel de acácia, vinagre balsâmico e pão de cominhos aromáticos, atingindo um equilíbrio perfeito de doçura”, é descrito numa nota emitida pela SJM. O arroz de marisco “combina alguns dos melhores mariscos frescos, incluindo lagosta inteira, camarão tigre suculento, polvo e amêijoas, lentamente cozinhados num caldo rico preparado pessoalmente pelo Chef António”. A cerimónia de apresentação da nova parceria decorreu ontem.

António Coelho Neves está radicado em Macau há muitos anos, tendo feito carreira na área gastronómica. Fundou o restaurante “António”, na Taipa velha, e foi condecorado em 2013 com uma medalha de mérito pelos contributos na área da gastronomia portuguesa a nível local.

Terence Chu, vice-presidente da área de Alimentação e Bebidas do Lisboeta, no Cotai, apontou que o empreendimento hoteleiro e de entretenimento dá resposta aos desígnios do intercâmbio das culturas chinesa e portuguesa, pretendendo impulsionar e promover a cultura singular de Macau.

Terence Chu adiantou também que a gastronomia portuguesa é a mais representativa de Macau, e que a nova carta renova sabores mais clássicos da cozinha portuguesa, apresentando-se uma combinação do lado mais tradicional desta gastronomia com pratos mais inovadores.

Conjugação com espectáculos

Tendo em conta que está prestes a arrancar o primeiro espectáculo na zona de espectáculos ao ar livre junto ao Lisboeta, Angela Leong, presidente do conselho de administração do empreendimento aproveitou para confessar a expectativa face à inauguração do recinto. A também deputada declarou que a zona pode atrair muitos turistas que desejam ver concertos.

Tendo em conta a nova infra-estrutura cultural, Angela Leong revelou que vai negociar com comerciantes para que o horário de abertura das lojas do Lisboeta possa expandir-se, estando a ser programado um plano de coordenação com as autoridades para a evacuação de multidões. Desta forma, poderão ser fechadas algumas vias.

Sobre o Ano Novo Chinês, a empresária mencionou que será elevada a taxa de ocupação hoteleira nessa época bem como no Natal e Ano Novo, acreditando que os números poderão melhorar de forma gradual.

17 Dez 2024

Livraria portuguesa | Luís Mesquita de Melo apresenta novo livro

Luís Mesquita de Melo, jurista e autor, lança o seu novo livro amanhã na Livraria Portuguesa. “Nas Esquinas do Olhar”, editado em Setembro com a chancela da Astrolábio, apresenta uma história que começa nos Açores, de onde é natural o autor, passando depois por Lisboa, Macau e Vietname. Os anos 80 e 90 espelham-se neste romance, que não esquece o ano da transição de Macau, numa “escrita muito sensorial”

 

 

Chama-se “Nas Esquinas do Olhar” e é o novo romance de Luís Mesquita de Melo, jurista e ex-residente de Macau. Depois da edição em Portugal, em Setembro, eis que a Livraria Portuguesa acolhe amanhã o lançamento da obra.

Trata-se de um “livro de impressões e atmosferas”, uma “viagem que, partindo dos Açores e passando por Lisboa, se abre ao mundo e ao Oriente em especial: Macau e Vietname”, descreve uma nota sobre o lançamento, da autoria de Vítor Dores.

Assim, a viagem faz-se aos anos 80 e 90 do século passado, com referências à queda do Muro de Berlim, em 1989, e à transição de Macau em 1999. Além disso, o livro “articula-se em dois planos geográficos e temporais, intercalando, em flashbacks muito visuais, a lembrança nostálgica com a descoberta dos grandes espaços urbanos desse ‘Oriente longíquo'”. Faz-se, nas páginas do livro, a “revisitação da ilha [dos Açores] como espaço matricial e mítico, e da infância e da adolescência enquanto paraísos irremediavelmente perdidos”.

Vítor Dores destaca ainda, na obra, a mescla de lugares, cheiros e sabores, com laivos de “açorianidade e orientalidade”, com contrastes metafóricos como “o anticiclone dos Açores e a asiática monção do Nordeste” ou ainda o “canal Faial/Pico e os mares do sul da China, o bulício de Saigão e a paz contemplativa da paisagem açoriana”.

“Nas Esquinas do Olhar” traz personagens como Álvaro dos Reis, jovem que “chegou ao meio do mar para escrever um livro”, trazendo em si “a alma viajada e ideias que voam à solta enredadas em palavras que se lhe colaram para sempre à ponta dos dedos”. Álvaro é um “ilhéu atlântico, faialense de nascimento que cresceu entre a tentação do grande Sul e da navegação de longo curso”.

Mas também Thu, uma jovem vietnamita, “impossivelmente bonita, que desceu sem querer ao mais baixo de si, do outro lado do Golfo de Tonkin, na margem errada do Rio das Pérolas, quando só queria dançar na sua vontade triste de ser alegre”. Há depois um chinês, “bate-fichas em Macau, capaz de manobrar o lado mais negro da fraqueza humana”, lê-se na obra.

Do Direito à literatura

Esta não é a primeira vez que Luís Mesquita de Melo envereda pela literatura, tendo lançado, em 2019, “A Humidade dos Dias”. Nascido na ilha da Horta, Açores, em 1964, licenciou-se em Direito e, em 1990, rumou ao Oriente, tendo trabalhado em Macau no Gabinete para a Modernização Legislativa e como assessor do Presidente da Assembleia Legislativa de Macau.

Reside actualmente a tempo inteiro no Vietname trabalhando como advogado e executivo de empresas ligadas à indústria do jogo e ao desenvolvimento de projectos na área da hospitalidade e dos resorts integrados. Em 2022 Luís Melo lançou outra obra, intitulada “Navegações e Outras Errâncias”.

13 Dez 2024

Hengqin | SJM vai construir hotel de três estrelas e zona comercial

A Sociedade de Jogos de Macau acaba de adquirir um complexo de escritórios em Hengqin que irá transformar num hotel e zona comercial, situado na zona de Xin De Kou An Shang Wu Zhong Xin (信德口岸商務中心). Daisy Ho, presidente da SJM Holdings, explica que o negócio permite tirar partido da proximidade ao Cotai e disponibilizar mais ofertas de alojamento ao mercado de massas

 

Vai nascer um novo hotel de baixo custo com o cunho da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) em Hengqin. A SJM Resorts acaba de assinar um memorando de entendimento para a compra de uma área de escritórios em Xin De Kou An Shang Wu Zhong Xin (信德口岸商務中心), em Hengqin. O memorando foi assinado, mais concretamente, entre uma subsidiária do universo SJM, a SJM – Investment Limited, e a Zhuhai Hengqin Shun Tak Property Development Company Limited, detida integralmente pela Shun Tak Holdings.

Segundo uma nota da SJM, a aquisição vai permitir “a conversão de três edifícios comerciais num hotel de três estrelas, diversificando, assim, o conjunto de hotéis da SJM Resorts e contribuindo também para o avanço do turismo na Zona de Cooperação Aprofundada”, pode ler-se.

Com este investimento, a SJM pretende também “reforçar a diversificação moderada da economia de Macau”, tirando partido do desenvolvimento esperado pelas autoridades para a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin.

A SJM destaca a “localização estratégica” deste complexo de escritórios, “à entrada do Porto de Hengqin”, fazendo também uma conexão com a linha de comboios que liga Zhuhai a Guangzhou, bem como o Posto Fronteiriço de Macau e a linha de metro ligeiro.

Além do hotel, espera-se a construção de uma zona comercial com cerca de 43 mil metros quadrados, apartamentos e escritórios. A área total é de 14.845 metros quadrados, tendo sido acordada uma contrapartida no valor de 546 milhões de renminbis.

O hotel pretende “alargar o alcance [da SJM] ao mercado de massas”, sendo um empreendimento “focado na eficiência operacional e na relação custo-eficácia”, disponibilizando “opções de alojamento mais diversificadas”.

Tudo alinhado

Citada pela mesma nota, Daisy Ho, presidente da SJM Holdings e directora-geral da SJM Resorts, declarou que este memorando de entendimento se alinha “com as políticas do Governo Central para Macau”.

“Aproveitando as sinergias entre Macau e Hengqin, pretendemos criar condições para o desenvolvimento diversificado das indústrias de Macau e contribuir para a sua integração tendo em conta a agenda de desenvolvimento nacional.”

A empresária frisou a localização estratégia deste imóvel, estando “num local privilegiado, junto ao Porto de Hengqin, que funciona 24 horas por dia, e próximo do actual complexo de hotéis que temos em Macau”.

Dada a proximidade ao Cotai, o Grand Lisboa Palace ficará apenas a 10 minutos de uma viagem de carro, enquanto o Grand Lisboa, na península, fica a cerca de 30 minutos de distância de carro.

Entende-se que este investimento e futura construção “irá contribuir para alargar a base de clientes [da SJM] e desempenhar um papel fundamental na promoção do desenvolvimento do sector turístico de Macau e Hengqin”.

A SJM destaca as medidas adoptadas por Pequim que vieram facilitar a deslocação de pessoas entre Macau e o Interior da China, sem esquecer “a abertura do segmento do metro ligeiro de Macau em Hengqin, que veio acelerar a integração e desenvolvimento de Hengqin e Macau”, é referido.

13 Dez 2024

Taipa / Zhongshan | Ligação antes do Ano Novo Chinês

A ilha da Taipa poderá estar ligada ao Porto de Passageiros de Zhongshan ainda antes do Ano Novo Chinês. A garantia foi dada ontem pela directora dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água, Susana Wong, que adiantou também estar em comunicação estreita com as concessionárias de transporte marítimo

 

Susana Wong, directora dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), revelou que o Porto de Passageiros de Zhongshan está a planear abrir um percurso marítimo com ligação à Taipa. Assim, e segundo o jornal Ou Mun, Susana Wong tem mantido contactos estreitos com as concessionárias de transporte marítimo a fim de assegurar a abertura do percurso mais cedo do que o previsto, antes do Ano Novo Chinês.

A informação foi avançada aos jornalistas à margem da cerimónia de lançamento do desfile de barcos de pesca organizado pela Associação de Auxílio Mútuo de Pescadores de Macau. Susana Wong explicou que a DSAMA está, nesta fase, a ultimar todos os procedimentos essenciais, incluindo as licenças, para que as viagens entre Zhongshan e Taipa possam arrancar assim que as autoridades do Interior da China terminem os procedimentos do lado de lá da fronteira.

Em termos de frequência de viagens, Susana Wong prevê que haja apenas, numa fase inicial, duas a três viagens diárias, com percurso e ida e volta. Tudo dependerá da resposta do mercado e dos visitantes, declarou.

Melhorar o Passeio

Relativamente ao percurso intitulado “Passeio Aquático em Macau”, Susana Wong explicou também que a DSAMA tem dialogado com as seis concessionárias de jogo sobre a adição de elementos de entretenimento nesse percurso de barco, a fim de atrair mais visitantes. Segundo a responsável, a população não tem demonstrado grande adesão a este Passeio.

Susana Wong declarou que, no futuro, a DSAMA vai tentar disponibilizar mais apoios para a exploração de determinadas infra-estruturas, tal como criar pontos de entrada de navios para o Passeio Aquático de Macau, a fim de aumentar a procura. De Janeiro a Novembro deste ano, 8.800 pessoas realizaram o Passeio circundante por Macau e ilhas.

Fazer as contas

No que diz respeito ao Fundo de Desenvolvimento e Apoio à Pesca, em funcionamento desde 2007, foram aprovados 330 pedidos com empréstimos no valor de 91,7 milhões de patacas. Nos últimos anos, o montante de apoios, concedido sem juros, aumentou para 800 mil patacas, sendo que o prazo de reembolso exigido foi prolongado.

Susana Wong destacou que a recuperação do sector das pescas tem sido lenta desde a pandemia, sendo que, nos últimos dois anos, não se têm registado muitos pedidos de empréstimo. Tal deve-se ao facto de muitos pescadores serem idosos e terem vendido os seus barcos, registando-se uma redução de dez no espaço de dois anos. Actualmente, contam-se 110 barcos atracados em zonas como o Porto Interior.

A directora da DSAMA destacou que são raros os casos de beneficiários que pedem para prolongar o prazo de reembolso do empréstimo por dificuldades económicas.

13 Dez 2024

António Antunes, cartoonista: “Às vezes considero-me um artista”

Chama-se António Antunes, mas assina os seus cartoons simplesmente como António. Há 50 anos que caracteriza a actualidade com recurso ao desenho e humor, grande parte deles no Expresso. Em entrevista, o cartoonista, que desenhou os tempos do pós-25 de Abril, lamenta que hoje os jovens cartoonistas não tenham tantas oportunidades de singrar na carreira

Já vai longa esta sua aventura de 50 anos dedicados ao cartoon. Alguma vez pensou que ia fazer isto durante tantos anos?

Não. As coisas foram acontecendo, e o resultado é este. Nem sequer havia perspectivas para haver um plano. Portugal não tem sido um país que favoreça muito este tipo de actividades.

Fez formação na Escola António Arroio ainda durante o período do Estado Novo. Como era aprender artes numa altura em que o país [Portugal] era tão cinzento, com limites à criatividade?

Aprendíamos sobretudo técnicas, de trabalho ou de composição. Agora a criatividade é outra coisa. Não só ela estava muito limitada, mas também não é algo que se venda. Não há cursos para fazer artistas, há cursos que nos dão noções sobre composição ou técnicas de pintura, ou cores. Mas só isso não chega. Depois é preciso que haja qualquer coisa além daquilo que é académico. Nas artes há sempre qualquer coisa que escapa mesmo que se aprenda tudo. A criatividade é uma coisa estranha, porque não há uma regra.

O António considera-se um artista?

(Hesita) Às vezes considero.

Já teve muitos cartoons polémicos, nomeadamente do Papa João Paulo II com o preservativo no nariz. Quais foram os cartoons que o obrigaram a fazer maior jogo de cintura ou a lidar com mais pressões?

Se calhar é uma felicidade minha, mas os meus problemas nunca são a priori, mas sim à posteriori. Até agora não tenho sido muito limitado naquilo que posso fazer no jornal [Expresso]. Agora, quando as coisas saem, às vezes têm consequências. Em Portugal foi a questão do preservativo no Papa, internacionalmente foram outras coisas. Esse cartoon continua a mexer.

Como foi lidar com toda essa polémica?

Esse cartoon [do Papa João Paulo II] foi polémico porque quiseram que assim fosse. Aquilo saiu muito bem e não gerou nenhuma algazarra. Depois houve um movimento conservador no seio da Igreja que quis fazer daquilo uma polémica, três semanas começaram a empolar aquilo, a fazer um abaixo-assinado. O homem que liderava as forças católicas disse esperar um milhão de assinaturas, mas, felizmente, conseguiu apenas 29 mil, e a diferença fez com que a montanha nem um rato parisse. Chegou a ser discutido na Assembleia [da República]. É uma polémica um bocado pífia, mais ainda, 30 anos depois, quando a própria Igreja está a mudar o seu ponto de vista sobre essa matéria, nomeadamente com este Papa [Francisco], felizmente. Perante o que me levou a fazer esse cartoon, voltava a fazê-lo. As declarações do Papa na altura foram públicas, não foram sequer ocultas, dentro de muros, e falou para todo o mundo, portanto, também para mim. Senti-me lesado, que aquilo não fazia sentido nenhum. Acho que a atitude do Papa, naquele momento, foi criminosa, no pico da Sida e, em África. Foi de uma insensibilidade e insensatez enormes.

O cartoon é uma arma de arremesso, uma forma de expressão?

Arma de arremesso é uma expressão dura de mais, mas o cartoon é, de facto, a forma de eu me expressar. Há colegas meus que fazem artigos, mas eu faço desenhos.

Que outros cartoons destaca, por aquilo que lhe trouxeram?

O primeiro que me sensibilizou foi aquele que me fez ganhar o maior Salão do mundo de cartoon na altura [Grande Prémio do XX Salon International de Cartoon, Montreal, 1983], a partir deste cantinho que é Portugal. Um Salão que tinha mais de mil participantes, e ter ganho foi muito bom. Fiquei mais seguro, confiante, porque a partir daí podiam continuar a fazer-se coisas. Esse primeiro cartoon também deu polémica, o “Gueto de Varsóvia em Shatila”, em que utilizo a fotografia conhecida do gueto, de um miúdo judeu de mãos levantadas, acossado por soldados nazis, e no cartoon o miúdo é palestiniano e os soldados israelitas. [A polémica deu-se] com todas as vozes dos judeus, que são peritos nisso, a fazer muito barulho, com um certo tom de vitimização, mesmo que sejam eles a atacar. Um director do Salão disse que tentou alterar a votação, tal é o peso do lobby judaico, mas não conseguiu.

Esse cartoon poderia ser hoje desenhado novamente.

Já o publiquei novamente. Infelizmente não está desactualizado.

Mas sente que muito do que desenhou, sobre a actualidade, se repete, num sinal de que a História é cíclica?

Há uma resistência à mudança. Um dos méritos do cartoonista é ser capaz de ver antes do tempo, ou em cima do tempo, se quiser. Tenho a invasão da Crimeia feita em 2014, e assumo aquela visão. Foi em cima, e outros fizeram mais tarde. Há outros exemplos.

Começa a fazer cartoon a seguir ao 25 de Abril de 1974, ali um pouco no rescaldo da Revolução. Sente que, de certa maneira, inaugurou a disciplina do cartoon político em Portugal?

Talvez. Mas não sou muito claro em relação a isso, porque antes de mim houve um grande desenhador, o João Abel Manta, um gráfico fantástico, que tinha uma diferença enorme em relação a nós, pois éramos miúdos e ele já tinha uma cultura que lhe permitia isso. Mas há um lado menos bom, pois ele fazia propaganda política. Era um homem do Partido Comunista Português (PCP), e fez essa propaganda até onde a Revolução o permitiu. Depois quando as coisas se estabilizaram, ele saiu e foi fazer outras coisas. Isso não lhe retira a qualidade, mas não é a minha noção de cartoon. Respondo aos vários estímulos dos acontecimentos de outra forma. O cartoon permite-me expressar as opiniões, mas ser capaz de o fazer em diferentes sentidos da vida, perspectivas, sem estar prisioneiro, como ele ficou prisioneiro do PCP, foi uma coisa que me ajudou muito.

Alguma vez sentiu alguma pressão da parte dos jornais onde colaborou?

(Hesita). Algumas coisas, mas não são importantes. Uma coisa que consegui, sem grande esforço, foi fazer com que as pessoas pensassem que eu tenho um mau feitio danado, e que era melhor não se meterem comigo. Isso ajudou, porque pensavam duas vezes antes de falar comigo. Uma vez no Expresso, um tipo do desporto encomendou-me uma capa, e começou a dar dicas de como eu devia fazer o desenho. Até que lhe perguntei se alguma vez eu lhe tinha dito como escrever uma notícia. Isso deve-lhe ter ficado na memória muitos anos, e deve ter repercutido essa conversa noutras pessoas. Não frequentava o Expresso, sempre estive no meu canto e não me desgastava com o dia-a-dia, com amizades e inimizades.

Costuma desenhar aqui, no atelier?

Aqui. Mas isso [a imagem de mau feitio] de facto ajudou-me. E há também a história de eu ter outra profissão. Costumo dizer que tive mesmo duas profissões, pois era cartoonista e designer gráfico, e aí tinha clientes meus que também o eram do Expresso, nomeadamente A Tabaqueira. Era amigo do director comercial, um tipo comodista, que me metia a negociar contratos com o jornal em nome de A Tabaqueira. Portanto, eu transmitia uma imagem efectiva de poder que, na verdade, não tinha. Se juntar um tipo que tem mau feitio a um tipo que, aparentemente, tem poder, é uma chatice (risos).

Quando lhe pergunto sobre as pressões, penso no período logo a seguir ao 25 de Abril, anos de 1974-1975, em que tudo era politizado. Aí eram maiores?

Consegui lidar com isso. Nesse período do PREC (Processo Revolucionário em Curso) tinha mesmo um cartoon sobre o PREC que durou dois anos. Foi uma espécie de fuga para a frente. Havia uma grande confusão, e, acho eu, isso interessava ao meu jornal [Expresso], embora isso nunca tenha sido dito. Dava uma ideia de frescura do jornal em relação a um período complexo, mas nunca me disseram isso. Tenho a ideia dessa utilidade do cartoon, era a forma de consolidar a independência do jornal em relação aos acontecimentos, mesmo quando às vezes não havia essa independência.

Estamos hoje numa era do politicamente correcto, em que tudo parece ofender?

Não sinto, porque não quero sentir. Cheguei a uma fase da minha vida em que se não me quiserem aturar, não aturem. É fácil. Tudo o que foi uma luta para impor um nome e um ponto de vista, uma carreira, já foi feito. Pode ser melhorado e consolidado, mas se não for, não é. Se me tornar muito inconveniente para o jornal onde trabalho, e quero acreditar que isso não acontece…

Mas em termos gerais, às notícias, comentários nas redes sociais, sente que há o politicamente correcto?

Claro que há. A minha situação é de excepção. Os mais novos, no mundo do cartoon, não têm oportunidades nenhumas. Têm menos do que quando comecei. Por vários acasos da vida tenho uma posição que se solidificou, mas isso não é exemplificativo do que se passa ao redor. Os novos cartoonistas estão cheios de problemas, não há espaço para eles, não há meios de pagamento. São empurrados para sair dos jornais, e não para entrar.

O cartoon não tem lugar nas redes sociais?

(Hesita) Pode aparecer, mas não me parece… diz-se que o jornalismo está a morrer e nós, cartoonistas, vamos primeiro. Acho que essa é a tendência. O jornalismo tem vindo a perder poder face às redes sociais, com a opinião anónima, que não se pode escrutinar, é muito mau e medíocre. E isso vai crescer.

E a Inteligência Artificial (IA)? Pode substituir o cartoonista.

Essa nem falo porque não conheço os limites, mas intuo que devem ser terríveis. Pode de facto substituir o cartoonista, mas aí subverte-se a criatividade.

Há alguma figura pública que goste particularmente de retratar em cartoon?

Outro dia disse que, em relação ao Trump, tinha dois sentimentos antagónicos: como cidadão, acho o homem detestável; mas como cartoonista é a minha matéria prima. O Putin também é bom. Todos os homens com muitas narrativas e muito poder são susceptíveis de dar boas coisas do ponto de vista da análise de um cartoonista. São políticos com um discurso muito claro sobre o que pretendem e o que querem, e isso pode ser bom para o cartoon.

Como se sente por ir a Macau novamente?

A exposição [no Clube Militar] vai ser diferente das outras, com 160 trabalhos. Ainda é muita coisa. É uma viagem por estes anos, pela política portuguesa e internacional também. Estou cheio de curiosidade, promover a mostra, ver o que me perguntam, mas isso faz parte do jogo.

A imprensa de Macau não tem uma grande presença do cartoon, à excepção do Rodrigo [Rodrigo de Matos].

Conheço-o, dou-me bem com ele. Mas devo dizer que o fenómeno é parecido com Portugal. O que é que temos aqui? Eu, no Expresso; a Cristina Sampaio no Público; o André Carrilho saiu do Diário de Notícias; o António Maia no Correio da Manhã e pouco mais. Essa é uma tendência geral. Às vezes, e acho que isso aconteceu comigo, há momentos em que um cartoonista pode representar uma mais valia para o jornal, mas são apenas alguns momentos em que isso pode acontecer. No meu período mais complicado no Expresso, no final da década de 70, um jornal de referência que, à época, estava num país em convulsão, com alguma “irresponsabilidade” pude ir à frente, e tenho a percepção que ajudei o jornal a desembaraçar-se dessas limitações. Mas tal acontece em períodos muito específicos. Nessa fase [do pós-25 de Abril], cheguei a fazer desenhos à noite que, de dia, estavam já desactualizados.

Tem mesmo mau feitio ou é só para disfarçar?

Sou tímido, mas ando a tratar-me. (risos) Nunca foi algo que me tivesse bloqueado, falo bem em público. Sou um tipo que não gosto de correr riscos estúpidos. Estou neste prédio há vários anos e conheço apenas a porteira porque tem de ser, e não quero ter o risco de ter uma pessoa antipática a quem dei confiança. Faço isso com a maior naturalidade.

Exposição no Clube Militar

Depois da palestra na Fundação Rui Cunha, esta quarta-feira, António estará hoje na Universidade de São José a falar com alunos no workshop “Desenho Cartoon: Criação de Ideias”. Segue-se esta sexta-feira a inauguração da exposição no Clube Militar, que ficará patente até 2 de Janeiro.

12 Dez 2024

Relatório | Níveis de ozono continuam elevados na região

O mais recente Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2023 focado nas regiões de Macau, Hong Kong e Guangdong dá conta de que a emissão de alguns componentes poluentes registou uma melhoria, mas mantêm-se os níveis elevados de emissão de ozono para a atmosfera, culminando numa elevada poluição fotoquímica

 

A qualidade do ar na região do Delta do Rio das Pérolas melhorou, em parte, mas a poluição fotoquímica continua alta graças ao facto de os níveis anuais de concentração de ozono continuarem elevados. A poluição fotoquímica é a forma generalizada de poluição do ar decorrida da interacção da luz solar com óxidos de nitrogénio e compostos orgânicos voláteis.

Esta é uma das conclusões do mais recente Relatório da Qualidade do Ar de 2023, focado nas regiões de Guangdong, Macau e Hong Kong, e cujos dados se baseiam na Rede de Monitorização da Qualidade do Ar de Guangdong-Hong Kong-Macau para a Região do Delta do Rio das Pérolas, composta por 23 estações de monitorização.

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) refere que “poluentes atmosféricos, incluindo dióxido de enxofre, dióxido de azoto, monóxido de carbono, partículas PM10 e partículas PM2,5, apresentaram uma tendência de queda significativa e contínua”. Porém, “os níveis anuais de concentração de ozono nos últimos anos permanecerem semelhantes, indicando que a poluição fotoquímica na região precisa ser melhorada”.

O relatório mostra que os valores médios anuais de concentração de vários poluentes atmosféricos registados em 2023 caíram entre 17 e 86 por cento em relação aos níveis de pico, reflectindo “a eficácia das medidas de redução de emissões implementadas por Guangdong, Hong Kong e Macau nos últimos anos”.

Para resolver o problema das emissões de ozono, foi realizado um estudo, intitulado “Poluição fotoquímica de ozono na área da Grande Baía e a caracterização da deslocação regional e inter-regional de ozono”, concluído este ano. Sem divulgar os dados, a DSPA apenas refere que os “dados científicos fornecidos ajudam a entender melhor as causas de ozono na Grande Baía”.

As medidas de Hong Kong

Na mesma nota de imprensa, são referidas as mais recentes medidas adoptadas pelo Governo de Hong Kong para melhorar a qualidade do ar. Uma delas passa pela revisão do “Regulamento de Controlo da Poluição do Ar (Gasóleo Leve para Uso Marítimo)”, que “irá restringir ainda mais o limite máximo do teor de enxofre do gasóleo leve para uso marítimo, abastecido localmente, de 0.05 para 0,001 por cento”.

No que respeita a veículos, o Governo da RAEHK tem feito o abate de carros antigos, nomeadamente 40.000 veículos comerciais a gasóleo da norma da Euro IV, medida feita até finais de 2027. Pretende-se ainda a suspensão de novos registos de veículos de serviço particular movidos a combustíveis e híbridos até 2035, além de haver o plano de colocar em circulação, até ao final de 2027, cerca de 700 autocarros eléctricos e cerca de 3000 táxis eléctricos.

Segundo a DSPA, “as medidas já estão a surtir efeitos, com o número de veículos eléctricos a aumentar significativamente de cerca de 14.000 em 2019 para mais de 102.000 em Setembro do corrente ano, uma subida de cerca de sete vezes em cinco anos”, mas na região vizinha.

No que diz respeito à província de Guangdong, foram implementados diversos avisos relativos às emissões de gases ou compostos voláteis para a atmosfera no decorrer de algumas actividades económicas. Macau, por sua vez, publicou no ano passado as “Estratégias de Descarbonização a Longo Prazo de Macau” e o “Plano de Promoção de Veículos Eléctricos de Macau”, tendo vindo a “impulsionar medidas relativas à emissão de gases de escape dos veículos”, entre outras. O Executivo dá ainda apoios financeiros a quem queira abater carros ou motociclos mais antigos.

12 Dez 2024

Função Pública | Cresce burocracia para nomear chefias

Nomear funcionários para cargos de chefia na Função Pública vai tornar-se um processo mais burocrático, passando a ser obrigatório pedir o parecer de uma terceira entidade, os SAFP, antes da nomeação. As novas disposições para pessoal de chefia já deram entrada no hemiciclo

 

As novas disposições inerentes ao Estatuto de Pessoal de Direcção e Chefia já deram entrada na Assembleia Legislativa (AL), trazendo alterações à forma de nomear chefias, com um processo mais burocrático. A proposta de lei, que não tem ainda data para votação e discussão na generalidade, traz, agora, mais burocracia para a escolha de funcionários para cargos de chefias.

Assim, os serviços públicos, quando propõem o nome de um funcionário para um cargo de direcção de serviços ou de chefia, “têm de apresentar à entidade tutelar um relatório, em modelo uniformizado pela Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), onde é justificado que a pessoa em causa preenche os critérios de nomeação”.

Além disso, passa a ser obrigatório o pedido de parecer a uma terceira parte, neste caso os SAFP, “antes da submissão da proposta de nomeação”, cabendo aos SAFP “fazer uma análise global sobre a legalidade e adequabilidade para o exercício do cargo por parte desse pessoal”.

Além disso, quando as comissões de serviço são renovadas para os cargos de chefia e direcção, há que fazer novamente a revisão sobre “se o pessoal em causa ainda preenche os requisitos para o exercício de funções, sob pena da não renovação da comissão de serviço”. A ideia é garantir que os funcionários, nesses cargos, possuem “a idoneidade cívica e competência profissional”.

Na óptica do Executivo, “passaram-se 15 anos desde a elaboração da lei e, embora a sua implementação tenha decorrido sem sobressaltos, algumas disposições relativas à nomeação, gestão e responsabilização do pessoal de direcção e chefia não correspondem às necessidades actuais da sociedade”.

Novos critérios

Para nomear alguém para cargos de chefia, propõe-se também acrescentar mais dois critérios, nomeadamente o “reforço da constituição da equipa de governação” e a “promoção da mobilidade do pessoal”.

Além disso, antes de ocorrer a nomeação definitiva para determinado cargo de chefia, propõe-se que haja um “período de seis meses a um ano em regime de substituição, só podendo ser definitivamente nomeado caso o desempenho demonstre que possui competência para o exercício desse cargo”.

Determina-se ainda que “os chefes de divisão têm de concluir, com aproveitamento, determinados cursos de formação”, sendo que serão escolhidos para cargos de chefia “trabalhadores do nível imediatamente inferior”.

São também propostas pelo Governo novas regras que determinem a suspensão da comissão de serviço, a fim de “reforçar a gestão e responsabilização do pessoal de direcção e chefia”. Assim sendo, incluem-se “condutas pessoais que afectem negativamente a imagem ou funcionamento da RAEM ou prejudiquem a autoridade necessária para o exercício do cargo”. No caso de o funcionário ser constituído arguido por suspeita de prática de um crime com dolo, com prisão preventiva como medida de coacção, propõe-se que a sua comissão de serviço seja suspensa de imediato. Além disso, este fica proibido de desempenhar um cargo de direcção e chefia “por um determinado período de tempo”.

Cria-se ainda “o mecanismo de advertência em substituição da censura pública já existente”, caso os chefes nomeados “não tiverem uma gestão eficaz do serviço e não cooperem estreitamente com a tutela para assegurar as políticas, ou demonstrem insuficiências na execução de políticas governamentais”. Propõe-se, portanto, que a tutela envie, por escrito, uma advertência, que fica anexada ao relatório de apreciação de desempenho do funcionário, que será tida em conta na renovação da comissão de serviço.

Estas alterações às disposições de chefia incluem ainda as novas regras para a prestação de juramento nas sessões de tomada de posse.

12 Dez 2024

IH | Edifício D. Julieta Nobre de Carvalho sem data de demolição

O Instituto da Habitação (IH) não tem ainda uma data concreta para iniciar os trabalhos de demolição dos blocos B e C do Edifício D. Julieta Nobre de Carvalho, inaugurado na década de 70 e que se encontra actualmente degradado. Segundo a resposta assinada por Iam Lei Leng, presidente do IH, a uma interpelação escrita do deputado Ngan Iek Hang, “resta apenas uma entidade de serviço social que ainda não confirmou a data concreta para a desocupação”, tendo o IH feito o pedido para a “desocupação e devolução do espaço comercial o mais brevemente possível”.

Depois da demolição, “o terreno será entregue ao Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) para aproveitamento”, lê-se na mesma resposta.

O deputado, na sua interpelação, lembrou que “o Governo mencionou que os blocos B e C estão em mau estado, estando a planear a sua reconstrução”, pelo que não existia, até então, “novidades sobre a demolição destes blocos”, referiu.

Entretanto, o IAM está a planear obras de optimização de zonas de lazer no bairro de Toi San, nomeadamente na Rua Central de Toi Sán, Bairro Social de Tamagnini Barbosa, Rua da Missão de Fátima e Rua de Lei Pou Chôn, segundo a mesma resposta.

11 Dez 2024

RAEM, 25 anos | António Vitorino destaca fracasso na diversificação

O antigo secretário-adjunto do Governo de Macau entre 1986 e 1987, destacou esta segunda-feira os pontos mais difíceis na negociação da transição de Macau com a China. No que respeita à autonomia, “talvez o sector onde tal foi menos conseguido tenha sido o da economia”, defendeu António Vitorino na apresentação do livro que reúne 25 testemunhos sobre a transição

 

António Vitorino, antigo secretário-adjunto do Governo de Macau nos anos de 1986 e 1987 e figura ligada ao processo de transição de Macau, defendeu esta segunda-feira, em Lisboa, no lançamento do livro “Macau entre Portugal e a China – 25 testemunhos”, que o ponto menos conseguido foi a garantia de autonomia económica do território.

“Talvez o sector onde isso tenha sido menos conseguido tenha sido o da economia. Já se falava, na altura, na necessidade de diversificação, dada a extrema dependência da economia em relação ao jogo, um facto de força, mas também de vulnerabilidade. Hoje, em Macau, continua-se a debater a necessidade de diversificar a economia. Mas conseguimos salvaguardar o estatuto emissor do BNU [Banco Nacional Ultramarino] e a subsistência da pataca como moeda da RAEM”, apontou.

António Vitorino, personalidade histórica do Partido Socialista (PS), referiu ainda o dossier em torno da nacionalidade dos residentes de Macau como um dos processos mais “difíceis”. “Verificou-se uma diferença substancial entre Macau e Hong Kong, que foi objecto de grande crítica por parte da opinião pública ao Governo de Hong Kong e inglês. Engendramos um sistema engenhoso da troca de memorandos, em que consideramos portugueses os cidadãos nascidos em Macau até 1981 e cuja nacionalidade era depois transmitida, mas foi uma negociação muito difícil.”

Vitorino destacou também a necessidade de preservar “o património construído” de matriz portuguesa, pois “foi muito difícil fazer compreender à parte chinesa que havia esse património construído em Macau que tinha de ser preservado”.

“Portugal queria ter garantias que não seria subvertido pela RAEM. O nosso grande argumento é que não podíamos ser punidos pelo facto de os ingleses não terem deixado património construído em Hong Kong”, lembrou.

A manutenção do estatuto da Igreja Católica em Macau foi outro dos pontos sensíveis na discussão com os chineses. “Foi possível negociar com a China o estatuto da Igreja Católica em Macau que não era apenas ligado ao culto, mas tratava-se também de uma importante presença no ensino. Isso marca uma interessante diferença histórica em relação a Hong Kong, com um modelo inglês de matriz pública. Mas Macau sempre teve um ensino feito por instituições ligadas à Igreja, e o ensino público só surge depois de 1910.”

Tarefas “ciclópicas”

Vitorino, hoje um nome falado em Portugal como potencial candidato à Presidência da República, lembrou que “não é possível congelar a história”, pelo que olha para o livro editado pela Âncora Editora com “nostalgia da Macau e da China que conheci”.

Há 25 anos, “as tarefas que estavam à frente da Administração de Macau e de Portugal pareciam-me ciclópicas”, salientou, lembrando “uma história de sucesso com vicissitudes de ambos os lados”.

Do lado chinês, estas eram Tiananmen, cuja tensão em 1989 foi “um momento muito difícil e delicado deste percurso”. “Tivemos, nestes 25 anos, a afirmação da China como potência global, com tudo o que isso significa em termos de assertividade, afirmação, pujança económica e ambição política. Houve vicissitudes em Macau e Portugal, mas manda-me a prudência que não as especifique.”

Acima de tudo, António Vitorino destacou que sempre se procurou “um bom entendimento entre Portugal e a China”, sendo que havia, para começar, “diferentes interpretações sobre as razões da nossa presença multisecular no território de Macau”.

No tocante à transição de Hong Kong, o histórico socialista referiu que o Reino Unido “optou por uma estratégia mais adversária, de constante tensão”. “Achamos sempre que a estratégia a seguir devia ser o de procurar o melhor entendimento com a República Popular da China, porque era isso que iria garantir o melhor resultado para Macau e as suas populações. Seria interessante fazer o relato daquilo que o Reino Unido tentou criar de problemas ao nosso bom relacionamento entre Portugal e a China. A nossa estratégia provou funcionar e criou condições para que falemos de uma história de sucesso”, rematou.

11 Dez 2024

Lusofonia | Estudo interpreta identidade “política” que Pequim quer para Macau

A China criou uma “identidade lusófona” para Macau, mais política do que ligada às vivências da população. No meio deste jogo, o português é uma língua de negócios. Estas são algumas das conclusões do estudo “A Construção de uma Identidade Lusófona: política de língua portuguesa em Macau pós-1999”, de Li Guofeng, Nuno Canas Mendes e Diogo Cardoso, da Universidade de Lisboa

 

“A Construção de uma Identidade Lusófona: política de língua portuguesa em Macau pós-1999” é o nome de um projecto de investigação que está a ser desenvolvido pelos académicos Li Guofeng, Nuno Canas Mendes e Diogo Cardoso, da Universidade de Lisboa (UL), com ligação ao Instituto do Oriente (IO).

Algumas destas conclusões serão apresentadas na próxima sexta-feira, na conferência “Ensino do Português na RAEM e a Construção de uma Identidade Lusófona”, que decorre no auditório Dr. Stanley Ho, no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

Uma das conclusões do trabalho, que ainda está em curso, prende-se com o facto de as autoridades chinesas terem criado para a RAEM uma certa “identidade lusófona” afastada da população, ela própria com as suas identidades muito próprias, consoante a génese das comunidades que residem no território.

“A população de Macau nunca falou português. O Governo chinês também não tem o intuito de fazer com que todos falem português em Macau, mas essa identidade [lusófona] que é atribuída a Macau é política, de certo modo é mais artificial. Não é uma identidade verdadeira que possa existir em toda a sociedade, não é uma questão meramente cultural”, disse ao HM Li Guofeng, doutorando e docente no Instituto de Ciências Sociais e Políticas da UL. Assim, “promover a língua portuguesa em toda a sociedade de Macau será, no futuro, uma fantasia, uma tarefa quase impossível”, declarou.

Desta forma, a promoção do português e a sua difusão nas escolas visa ajudar a construir esta mesma identidade. Porém, o mandarim vai prevalecer naquela que é a verdadeira identidade da grande maioria da população, composta pela comunidade chinesa.

“O mandarim irá mesmo ultrapassar o cantonês na sociedade de Macau, porque essa é a verdadeira identidade que a China quer atribuir ao território. No caso do português, é mesmo de uma identidade política. O aumento dos cursos de português em Macau é, de facto, uma realidade, mas quando olhamos para a situação sociolinguística de Macau, esse aumento continua a não ter um papel tão evidente, não é algo que se percepciona”, frisou Li Guofeng.

O académico denota, aliás, que Macau “tem uma situação sociolinguística bastante complexa, pois tem o mandarim, o cantonês, o inglês que é falado em todo o mundo e o português, sem esquecer os idiomas do Sudeste Asiático, embora não sejam tão significativos”.

Assim, na prática, “o português não irá ganhar um grande peso em Macau, mas nesta investigação percebemos que o fortalecimento da língua tem esta componente política atribuída pelo Governo Central no desenvolvimento do idioma”.

Dificuldades de Rocha Vieira

Nuno Canas Mendes, presidente do IO, destaca que a entidade que lidera “sempre deu muita atenção a Macau e ao ensino do português, e ao activo estratégico que é o seu ensino”. Porém, o estudo visa trazer uma nova perspectiva aos muitos estudos que já existem sobre a matéria.

“Temos muitos trabalhos feitos sobre o português em Macau, mas que têm uma abordagem mais pedagógica. Este projecto tenta investigar o desenvolvimento da promoção da língua portuguesa pela China na RAEM”, explicou Li Guofeng.

O estudo surge numa altura em que, no caso de Hong Kong, “a preservação do inglês ou do cantonês são temas muito sensíveis”, porque na região vizinha o tema transforma-se numa “questão política”, salientou. Assim, o que este trabalho pretende ter de original é “o estudo da promoção da língua sob a perspectiva da construção de uma identidade, que também é política”.

O português sempre teve presença em Macau, ganhando novos contornos institucionais quando se começou a discutir a transição da Administração de Macau. Com a Lei Básica, passou a idioma oficial, sendo que, com a criação do Fórum Macau, em 2003, passou a ser encarado como uma língua com potencial económico.

“Penso que a China, nos anos 80 ou 90, já tinha vontade de promover a língua portuguesa, e o Fórum Macau foi um factor muito importante, pois criou-se essa necessidade com a intensificação dos intercâmbios políticos”, destacou Li Guofeng.

Já Nuno Canas Mendes refere que o próprio mundo “mudou”, e com ele os interesses da China”, que são hoje mais virados para os países de língua portuguesa. “Daí ter crescido o ensino do português inclusivamente fora de Macau, sendo hoje ensinada em várias universidades da China.”

O trabalho dos três académicos dá ainda conta de que a última Administração portuguesa de Macau, com Rocha Vieira ao leme, enfrentou dificuldades para promover o português nas escolas. “A promoção da língua portuguesa em Macau não foi fácil, porque, em primeiro lugar, havia rivalidades entre a comunidade chinesa e portuguesa. No Governo de Rocha Vieira houve a necessidade de preservar a herança cultural portuguesa no território, e tentou-se promover o ensino português nas escolas primárias e secundárias, fortalecendo esse ensino nas instituições do ensino superior. O último Governo de Macau fez muitas tentativas para este processo, mas havia algumas opiniões contra esta promoção”, indicou o académico chinês.

Li Guofeng salienta que “o português não era uma língua falada pelos chineses, o maior grupo social a viver em Macau, mas também não era um idioma marginal”, dada a importância que tinha para subir na carreira pública. “Era uma língua dominada por uma certa classe da sociedade, como membros do Governo, advogados, professores. Era uma língua limitada a uma minoria.”

A importância do Brasil

O estudo debruça-se também sobre o verdadeiro lugar de Macau no ensino do português. Para Diogo Cardoso, há um elo de ligação com a China no ensino e formação de professores, que é mantido por questões históricas e para “cumprir as tais necessidades económicas contemporâneas, pois falamos de um idioma que é o quinto mais falado do mundo”.

“Temos de olhar para os interesses contemporâneos da China. Nem tanto Portugal, mas o Brasil e países em África pelo seu potencial de desenvolvimento económico. Várias empresas chinesas estão a lançar-se ao mundo, com projectos firmados, sobretudo na América Latina”, disse Diogo Cardoso, que fala “da discrepância em termos de vontade e de meios entre os dois países [Brasil e Portugal] para o ensino da língua nesta região”, nomeadamente com os poucos leitores existentes no Instituto Camões (IC) em Pequim, por exemplo.

“Será que o Governo português está efectivamente a promover o ensino de português de Portugal. Será que existe uma estratégia da parte de Portugal?”, questionou Diogo Cardoso.

O Brasil criou, em 2022, o Instituto Guimarães Rosa, que desempenha o mesmo papel na difusão do português pelo mundo como o IC. Desta forma, Nuno Canas Mendes destaca que “um dos factores críticos do estudo é a assertividade do Brasil no que toca ao ensino da língua, com a recente criação do Instituto Guimarães Rosa, mas que já compete com o IC, o que reflecte o aprofundamento, nestes últimos anos, das relações entre a China e o Brasil”.

“Há uma questão que pode ser complexa para Portugal, pois até pode haver uma estratégia de língua, mas esta só existe se for aplicada. Quando não há oferta suficiente do Estado português, a China resolve o problema, como tem feito. Em boa verdade, não precisa de Portugal para nada para ensinar o português, essa é que é a questão pragmática de tudo isto”, rematou.

A sessão de sexta-feira começa às 18h30 e é promovida pelo IO e Instituto Português do Oriente, sediado em Macau.

10 Dez 2024

Vila da Taipa | Exposição de Crystal W. M. Chan para ver até Fevereiro

A Associação Cultural da Vila da Taipa acolhe, até Fevereiro, uma nova exposição da artista local Crystal W. M. Chan, intitulada “Subtropical Romance”. Trata-se de uma mostra de pintura da artista que fez formação superior em Nova Iorque e que faz parte da nova geração de artistas de Macau.

Ao HM, Crystal Chan confessou que grande parte dos quadros presentes na vila da Taipa foram pintados este ano por altura da sua gravidez. “A minha filha nasceu em Outubro, trouxe muita alegria à minha vida e isso influenciou-me a ver o mundo de forma diferente. [A minha gravidez] trouxe novas cores à minha vida e também à minha paleta de pinturas”, disse.

Porém, mais do que quadros pintados num certo estado de graça, Crystal W. M. Chan aponta que estas pinturas são também “uma reflexão sobre viagens e turismo, pois depois da covid todos nós ficamos com vontade de viajar”.

“Adoro ir a praias e ilhas, gosto do Verão, do sol e do mar. Penso que o clima tropical faz as pessoas felizes, no geral. Além disso, muitos turistas visitam Macau, uma cidade subtropical de onde sou natural e onde vivo. Comecei a pensar na relação que temos com o nosso local de origem e como tentamos fugir dele para outro paraíso imaginado. Como todos os frutos, árvores e plantas também migraram de um continente para outro e se tornaram símbolos tropicais exóticos.”

Assim, no meio de tantas viagens e correlações entre lugares tropicais, a artista começou a pensar “na forma como lugares se transformam em desejos e realizam as nossas fantasias”.

“Não me lembro de ter visto, enquanto crescia, todas estas palmeiras em Macau, mas agora tornaram-se parte do cenário deste paraíso manufacturado”, adiantou a artista, cujas obras também remetem para a ideia “do encontro do Oriente com o Ocidente como slogan turístico”.

O regresso

Há cinco anos que Crystal W. M. Chan não expunha em nome próprio em Macau. Agora, “Subtropical Romance” surge numa altura em que a pintura dá à artista “tempo para contemplar e reflectir num ambiente calmo, num ano com muitas mudanças”.

O nome da exposição remete “para o sítio onde nos encontramos neste momento, que é Macau, e que vem tanto da situação climática real como a ideia de tropical, numa espécie de imaginação em relação a férias de lazer”. Em relação ao conceito de romance, pode ser pensado “como uma fantasia, uma história de amor, mas o romantismo é também um género dos séculos XVIII e XIX que foi muito significativo na história da arte”.

“É um movimento em resposta à era do Iluminismo e à Revolução Industrial, quando as pessoas sentiram a necessidade de se exprimirem, de sentirem e de imaginarem. Tem a ver com paixão, intuição e emoção. Também tem a ver com a relação entre os seres humanos e o ambiente”, acrescentou.

Crystam W. M. Chan tem feito projectos em parceria com o seu marido, o também artista Benjamin Kidder Hodges, estando “sintonizada” no ambiente em que se encontra, com preocupações sobre as grandes mudanças em Macau.

“Desde que voltei para Macau por causa da covid que testemunhei o processo de construção das ilhas artificiais entre Macau e a Taipa e aprendi mais sobre o facto de a recuperação de terrenos fazer parte da história do desenvolvimento de Macau. Estes projectos também dizem respeito à forma como somos tão cegos ou tão impotentes perante as alterações ambientais. Penso que a arte sonora permite-me construir um ambiente que sintoniza os nossos ouvidos para ouvir o que nos rodeia.”

A artista diz estar “feliz por manter a pintura como a principal prática artística”, pois é um género artístico que “requer mais conversação interna, como um monólogo”, querendo apostar também em arte sonora. A exposição pode ser vista na galeria da associação na Rua dos Clérigos.

6 Dez 2024

Livro | Viagem do “Pátria” contada agora ao público infanto-juvenil

Filipa Brito Pais, sobrinha-neta do aviador Brito Pais, que há 100 anos fez a primeira viagem aérea de Portugal a Macau com Sarmento de Beires e Manuel Gouveia, acaba de lançar o livro que conta essa história aos mais novos. “A aventurosa viagem do Pátria” tem prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa

 

A Edições Afrontamento acaba de lançar em Portugal mais uma obra que conta a viagem do “Pátria”, nome do avião que, há 100 anos, percorreu os céus desde Vila Nova de Mil-fontes até Macau, a primeira viagem do género a ser realizada. Lá dentro, iam os aviadores Brito Pais e Sarmento de Beires, bem como o mecânico Manuel Gouveia.

Filipa Brito Pais, sobrinha neta do aviador Brito Pais, e professora do primeiro ciclo do ensino básico, é a autora de “A aventurosa viagem do Pátria”, destinado a um público infanto-juvenil, e com ilustrações de Leonor Almeida. O prefácio está a cargo do Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, que também dá apoio à edição do livro.

Ao HM, a autora explicou que o livro se dirige a pequenos leitores a partir dos oito anos, mas “pode ser adaptado a adultos que queiram conhecer a história mais rapidamente e que gostem de banda desenhada”.

Houve muitas aventuras a ficar de fora, embora haja muitas por contar. “Não retrata todas as etapas, porque seria impossível que o fizesse por ser para crianças. É um livro cuja história está bastante reduzida, até a pedido do meu editor, porque queria meter todas as peripécias e aventuras que eles viveram. A história de escreverem na tela do avião, na partida, foi uma das que não escrevi. O facto de Manuel Gouveia [o mecânico], dizer que era um homem do Norte, e que se fosse para morrer, morria-se. Outra do banho tomado a água fria que afinal era água a ferver.”

São peripécias “demonstrativas de coragem e perseverança, capacidade de liderança”, sendo que este é um livro com uma mensagem forte, para que os jovens “não desistam dos seus sonhos”.

Filipa Brito Pais cresceu a ouvir algumas histórias da grande aventura protagonizada pelo seu tio bisavô, e contada em livro pelo seu companheiro de viagem, Sarmento de Beires. Com as actividades de comemoração do centenário da viagem, Filipa percebeu que os mais jovens gostavam da história, mas não havia material de leitura para lhes transmitir a aventura.

A ideia de fazer um livro começou a surgir a partir de 2017, quando, por ironia do destino, Filipa Brito Pais foi colocada numa escola em Colos, Odemira, a Escola Básica Aviador Brito Pais. Colos é a terra dos seus avós, e aí, com os colegas, Filipa começou a falar de uma história desconhecida.

“Com a aproximação do centenário surgiram convites para eu ir à escola dar palestras, incluindo da Escola Portuguesa de Macau. Aí senti que, realmente, existia curiosidade e tanto as crianças como os jovens gostam da história, mas não havia literatura sobre o assunto. Então, nas palestras, levava comigo para a literatura adulta, nomeadamente o original de Sarmento de Beires com cerca de 100 anos. Face à mensagem que transmito nas minhas palestras, no sentido de os jovens não desistirem dos sonhos, para terem a coragem que os aviadores tiveram, comecei a adaptar para criar este livro”, contou.

Carinho em Colos

Filipa Brito Pais ainda conheceu “a tia Céu”, que foi a grande impulsionadora da angariação de fundos feita em todo o país para que a viagem pudesse acontecer, e que contou com apoios financeiros das famílias dos aviadores. Tal movimento chegou a aparecer nos jornais da época e a gerar bastante entusiasmo.

“Lembro-me de ir a casa dela e ainda ouvir as histórias. Como criança as coisas iam surgindo, tínhamos os quadros e os livros. A minha avó falava muito dele, a minha bisavó também. A nossa casa era na Rua dos Aviadores, em Vila Nova de Mil-fontes, que acolhia os aviadores quando iam a Mil-fontes.”

Filipa Brito Pais lamenta que a história esteja hoje “bastante esquecida em Portugal, ao contrário do que acontece em Macau”, por oposição à muito conhecida viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

“Foi uma estória apagada da história por questões políticas que hoje conhecemos, e em Colos percebi que havia um grande carinho por ela. Com o centenário começaram a haver maiores movimentações na família no sentido de honrar e continuar o legado deixado pelo meu tio bisavô.

“A aventurosa viagem do Pátria” conta, assim, a “aventura épica” feita em 1924, quando estes três homens deixaram “o nome de Portugal na História da Aviação Mundial”.

“Brito Pais e Sarmento de Beires sonharam em voar e em honrar a Pátria e Camões, escolhendo o destino de Macau, que nessa época era terra portuguesa. Sem apoios financeiros e com um avião velho e pesado, arriscaram e voaram por países que até então, nunca ninguém tinha ousado voar. Foram muitas as aventuras e poderiam ter desistido perante as adversidades que foram encontrando, mas não! Eles continuaram.”

Na mesma descrição do livro, é apontado que a obra revela “não só a força portuguesa e o amor à Pátria destes três heróis nacionais, esquecidos na história, como também mostra que nunca devemos desistir dos nossos sonhos até alcançar o nosso objectivo”.

6 Dez 2024

Rádio táxis | Inquérito revela procura alta e pouca oferta

Lançado pela Aliança do Sustento e Economia de Macau, o inquérito sobre o serviço de rádio táxis revela que há muita procura, mas pouca oferta, com mais de metade dos inquiridos a queixarem-se da falta de veículos disponíveis. Mais de 90 por cento dos inquiridos disse preferir chamar um táxi desta forma

 

Macau continua a sofrer com a falta de táxis. É o que revela um inquérito lançado pela associação Aliança do Sustento e Economia de Macau sobre os serviços de rádios táxis, que aponta continuar a haver muita procura para a pouca oferta existente.

Se 90,79 por cento dos inquiridos demonstraram vontade de chamar este tipo de táxis para as suas deslocações, o que significa que o serviço tem bastante potencial, verifica-se a falta de oferta, os longos períodos de espera e a insatisfação com a qualidade dos serviços. Mais de metade dos inquiridos, 61,13 por cento, respondeu que não existem veículos suficientes para o serviço, enquanto 59,78 por cento dos utentes afirmou que o tempo de espera é demasiado longo ou simplesmente não conseguem pedir um condutor. Além disso, 41,94 por cento dos utentes criticam a qualidade dos serviços.

A equipa responsável pelo inquérito aponta que estes dados mostram que há ainda problemas com o serviço de rádio táxis que precisam ser resolvidos para impulsionar o funcionamento e utilização deste meio de transporte.

Como resolver?

O inquérito questiona também os residentes sobre as políticas que devem ser adoptadas. Assim, 60,1 por cento dos entrevistados pedem a supervisão do Governo, enquanto 54,86 por cento dos entrevistados preferem que haja, simplesmente, mais oferta de veículos. Por sua vez, 48,21 por cento dos entrevistados pedem que a qualidade dos serviços seja melhorada, enquanto 38,36 por cento dos entrevistados querem uma maior oferta em termos de tarifas cobradas.

A equipa responsável pelo inquérito conclui, assim, que cabe às autoridades assumir um papel activo na melhoria deste serviço, a fim de resolver os problemas e dificuldades sentidos por residentes e turistas. A mesma equipa também entende que são necessários mais táxis, para dar resposta ao futuro desenvolvimento da zona A dos novos aterros.

Foram também colocadas questões sobre as razões para os entrevistados pedirem um rádio táxi, sendo que a maioria usa este serviço para sair de Macau em viagem, com 78,94 por cento dos residentes e 67,88 por cento dos turistas a optarem pelo serviço para deslocações ao aeroporto.

Por sua vez, 50,78 por cento dos residentes e 49,09 dos turistas chamam um rádio táxi para deslocações aos terminais marítimos, enquanto que em relação aos postos fronteiriços, há 68,69 por cento de turistas a escolher um rádio táxi, número superior ao dos residentes, uma vez que apenas 60,9 por cento dos locais opta por pedir um táxi deste género.

O inquérito realizou-se entre os dias 19 de Junho e 4 de Setembro deste ano, contando com um total de 1.564 respostas válidas, com a participação de 959 residentes de Macau, 61 trabalhadores não residentes, 495 turistas e 49 pessoas de fora destas categorias.

6 Dez 2024

Graffiti | Festival “!Outloud” com mais de 30 artistas na rua

Está aí mais uma edição do festival exclusivamente dedicado ao graffiti. O “!Outloud – Festival Internacional de Arte de Rua” decorre até domingo com uma série de pinturas feitas ao vivo por artistas convidados de vários países da área do graffiti, música e dança. Destaque para a presença da dupla de artistas locais AAFK

 

Os amantes de graffiti dispõem, até domingo, de um festival inteiramente dedicado a este género artístico de rua que só nos últimos anos ganhou maior notoriedade e, sobretudo, reconhecimento.

O “!Outloud – Festival Internacional de Arte de Rua” decorre até ao dia 8 em vários pontos da cidade, sendo organizado por diversas entidades, nomeadamente a Sociedade de Artes Visuais da Cidade de Macau ou a Associação Juvenil de Dança de Rua de Macau, entre outras. As pinturas serão feitas ao vivo junto ao Hotel S, junto à Praça Ponte e Horta.

Segundo um comunicado, este festival pretende “promover o intercâmbio cultural através da arte de rua, fomentar o desenvolvimento artístico da comunidade, melhorar a atmosfera artística do bairro e insuflar energia” nos bairros comunitários onde acontecem estas pinturas.

O público pode ver trabalhos de 33 artistas de países como Japão ou Coreia do Sul, sem esquecer nomes de regiões como Taiwan ou Hong Kong, prevendo-se que a área total das paredes cobertas de graffiti irá ultrapassar os 1.000 metros quadrados, “tornando-se no maior evento de arte de rua da história de Macau”.

AAFK é o nome da dupla de artistas locais convidada para este festival. Os AAFK são Anny, de Macau, e Felipe, natural da Costa Rica. Ambos têm um passado ligado ao design gráfico, ilustração, publicidade e indústria de brinquedos. Fazem graffiti desde 2015, tendo já exposto as suas pinturas murais na China, Europa e Costa Rica.

A edição deste ano tem como tema principal a ideia de “City Pop”, ou “Cidade Pop”, combinando “elementos de música e arte pop com cultura de rua num evento artístico de grande escala”. Para demonstrar a conexão da cultura pop que existe em Macau com o festival, foram convidados “conhecidos artistas de graffiti do Japão e da Coreia do Sul para criar pinturas ao vivo”.

Será ainda organizado um concurso de dança na rua para apoio social, com artistas como Yoon Ji, da Coreia do Sul, ou Madoka, do Japão. Todas as taxas pagas pelo público serão entregues, após o pagamento dos custos do evento, para causas locais de beneficência.

Dez anos de pintura

Destaque ainda para o verdadeiro significado de “Outloud”, em cantonense “響朵 – Heong Duo”, que se refere à ideia de “fazer um nome para si próprio”. Segundo a organização do festival, é uma ideia associada “a um sentimento de autoconfiança inabalável” ou a uma “declaração ousada de um determinado estatuto no mundo”. Neste caso, de quem pinta e expressa, através do graffiti, aquilo que quer dizer.

A organização do “!Outloud” recorda o momento em que, há dez anos, surgiu em Macau “um parque de graffiti no coração de Macau”, o que levou ao nascimento desta iniciativa “numa cidade conhecida pela sua diversidade artística, com arquitectura moderna e, ao mesmo tempo, tradicional, e com um cenário turístico vibrante”.

O “!Outloud” orgulha-se, assim, de seleccionar “cuidadosamente os locais com significado histórico e que tenham uma história por detrás, injectando, nessas áreas, uma nova energia através da arte do graffiti e da dança de rua, da criação musical e da cultura”.

5 Dez 2024

Ensino | Macau com bons resultados a Ciências e Matemática no TIMSS 2023

Os alunos de Macau registaram um bom desempenho nas áreas da Matemática e Ciências na estreia do território na avaliação do Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências, em inglês “Trends in International Mathematics and Science Study” (TIMSS), relativo a 2023.

Assim, de entre mais de 60 países e regiões, Macau registou, em média, 582 pontos a Matemática e 536 pontos em Ciências, “sendo ambos significativamente mais elevados do que as médias internacionais (503 pontos em Matemática e 494 pontos em Ciências)”.

Assim, segundo uma nota da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Macau ficou em 6.º lugar a Matemática e 12.º lugar em Ciências no TIMSS 2023, ranking onde participou pela primeira vez. O TIMSS realiza-se desde 1995 a cada quatro anos. Para a participação de Macau nesta edição do ranking a DSEDJ organizou a participação de mais de 5.500 alunos do 4.º ano do ensino primário, de 59 escolas locais. A DSEDJ acrescenta ainda, sobre os resultados, que “as diferenças de pontuações em Matemática e em Ciências dos dois grupos de alunos de Macau provenientes de contextos socioeconomicamente altos e baixos (59 pontos tanto em Matemática como em Ciências) foram inferiores às médias internacionais (85 e 91 em Matemática e em Ciências, respectivamente), sendo também as mais reduzidas entre os países ou regiões com desempenho elevado”.

Equidade em alta

Para as autoridades, estes dados mostram que “Macau mantém um sistema educativo de qualidade e equitativo”, além de que “as proporções dos alunos de Macau que alcançaram os quatro pontos de referência internacionais são significativamente mais elevadas do que as medianas internacionais”, sendo que 68 por cento dos alunos locais “atingiram o nível avançado ou elevado no desempenho a Matemática e 45 por cento atingiu o nível avançado ou elevado no desempenho a Ciências”, com ambas a serem “mais elevadas do que as medianas internacionais, as quais foram de 42 e 38 por cento”, respectivamente.

O TIMSS é um ranking desenvolvido pela Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional, analisando o desempenho nestas duas disciplinas por parte de alunos de vários países e regiões.

5 Dez 2024

Comunidades | Cesário condecora macaenses e ATFPM

José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, estará de novo em Macau e traz consigo na bagagem novas distinções. Desta vez, são as medalhas de mérito atribuídas à comunidade macaense por ocasião do encerramento de mais uma edição do Encontro, e também à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau

 

O encerramento, esta semana, do Encontro das Comunidades Macaenses de 2024 vai contar com a presença de uma figura do Governo português que, de resto, tem sido, há muitos anos, visita habitual da RAEM. Trata-se de José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que vai condecorar a diáspora macaense com uma medalha de mérito, bem como a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (AFTPM), cujos dirigentes, José Pereira Coutinho, presidente; e Rita Santos, presidente da assembleia-geral, foram conselheiros para Macau e Ásia do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).

De destacar, porém, que esta distinção surge numa altura em que Rita Santos e demais dirigentes da ATFPM estão a ser investigados em Portugal por alegadas irregularidades cometidas nas eleições, estando este processo a ser investigado pelo Ministério Público (MP) e em segredo de justiça, foi confirmado ao HM. O processo arrancou graças a uma queixa feita pelo deputado Paulo Pisco, do Partido Socialista, à Comissão Nacional de Eleições, posteriormente remetida para o MP.

A medalha de mérito irá também para o grupo de teatro em Patuá Doci Papiaçam di Macau, liderado por Miguel de Senna Fernandes, e que há vários anos se dedica a preservar e divulgar o crioulo macaense em todo o mundo, mantendo um coro e levando a palco, todos os anos, uma peça de teatro.

Em Outubro, por ocasião da eleição dos membros do CCP, o coro dos Doci Papiaçam di Macau esteve em Lisboa a convite de José Cesário, tendo feito várias actuações, incluindo na Casa de Macau em Lisboa. Também à TDM, Miguel de Senna Fernandes declarou que esta distinção é “uma honra e um incentivo” para a continuação do trabalho.

Jantar no sábado

A agenda oficial do secretário de Estado determina que esta sexta-feira ele irá participar na sessão de encerramento do Encontro Mundial das Comunidades Macaenses, sendo que a entrega das medalhas de mérito aos Doci Papiaçam será feita a partir das 19h no hotel Venetian. No sábado, por ocasião de um jantar na Torre de Macau, será entregue a medalha de mérito à ATFPM. No domingo, além da participação na missa da Sé Catedral, José Cesário tem dois encontros marcados em Hong Kong, um com a comunidade portuguesa e macaense, que decorre no Clube de Recreio de Hong Kong, e outra ao Museu da História da Cidade de Hong Kong onde se encontra uma ala dedicada às Comunidades Portuguesas.

O jantar de sábado promovido pela ATFPM serve para celebrar os 25 anos da RAEM, os 75 da implantação da República Popular da China e os 37 anos de existência da própria associação.

O Encontro das Comunidades Macaenses tem decorrido por estes dias com diversos eventos pela cidade. Na segunda-feira, por exemplo, aconteceu no Instituto Internacional de Macau, a palestra “Valorização do Património e Desafios do Futuro”, protagonizada por António Monteiro, dirigente da Associação dos Jovens Macaenses.

5 Dez 2024

Função Pública | Punidos comportamentos e ligações “anti-China”

Está no hemiciclo o novo Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública que descreve de forma vaga situações em que os funcionários podem ser acusados de atentar contra a RAEM e a China. Devem-se respeitar, por exemplo, as decisões da Assembleia Popular Nacional e estão proibidos comportamentos que prejudiquem “o prestígio, imagem e credibilidade” do Executivo

 

“Afirmo solenemente pela minha honra que defenderei e farei cumprir a Lei Básica da RAEM da República Popular da China (RPC), dedicarei toda a minha lealdade à RAEM da RPC, desempenharei fielmente as funções em que sou investido, cumprirei as leis, serei honesto e dedicado para com o público e servirei a RAEM com todo o meu empenho.”

É este o termo do juramento que todos os funcionários públicos devem ler na hora de assumir funções, incluindo o pessoal ao abrigo do estatuto privativo de pessoal. O não cumprimento da regra, ou a leitura de um outro conteúdo alterado na cerimónia da tomada de posse, pode resultar em demissão.

Esta vai ser a nova realidade dos funcionários públicos de Macau que devem também cumprir uma série de requisitos, inclusivamente comportamentais, para não serem acusados, ou suspeitos, de atentarem contra a RAEM e o país nas suas bases ideológicas e políticas fundamentais.

Algumas linhas orientadoras constam no novo Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau e diplomas conexos que deu entrada na Assembleia Legislativa (AL) para votação na generalidade e posterior análise na especialidade.

Uma das alterações faz-se notar logo na parte dos deveres a cumprir pelos trabalhadores do Governo, referindo-se que “têm de defender a Lei Básica e ser fiéis à RAEM da RPC, não podendo comportar-se de modo a prejudicar o prestígio, imagem e credibilidade da Administração Pública, estando exclusivamente ao serviço do interesse público e exercendo a sua actividade de forma digna”. Porém, a proposta de lei em questão não determina situações específicas de comportamento que poderão levar a violações do estatuto.

Depois, a fim de “determinar se a Lei Básica é defendida, e se existe fidelidade à RAEM da RPC”, a lei refere várias situações que poderão originar processos sancionatórios ou disciplinares, e potenciais demissões. Uma delas é se o funcionário “não defender a ordem constitucional estabelecida na Constituição da RPC e Lei Básica, organizando ou participando em actividades com a intenção de derrubar ou prejudicar o sistema fundamental do Estado”.

Os trabalhadores estão também proibidos de “não defender a unidade e integridade territorial do Estado, praticando actos que as ponham em perigo”.

Uma questão de integridade

Relativamente ao combate às forças “anti-China”, descreve-se que os trabalhadores da Administração Pública não devem ter, de qualquer forma, ligações a pessoas ou organizações. Assim, é punível o “conluio com organizações, associações ou indivíduos anti-China que se encontrem fora da RAEM para se infiltrar nos órgãos de poder da RAEM”, sobretudo se os funcionários participarem em “acções de formação organizadas por essas entidades ou receber apoio financeiro destas”.

Na proposta de lei incluem-se ainda outros cenários passíveis de punição, incluindo “não respeitar o sistema político consagrado na Constituição da RPC e na Lei Básica, atacando com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando a RPC ou a RAEM”.

Destaque ainda para a protecção daquilo que é discutido, analisado e decidido na Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão legislativo máximo da RPC. Assim, o funcionário será punido se “não respeitar as competências da Assembleia Popular Nacional e do seu Comité Permanente”, nomeadamente se “atacar com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando as leis, interpretações e decisões aprovadas pela APN”.

De frisar que “a prática de actos contra a soberania e segurança nacional, ou actos contra a segurança do Estado” também entram para o rol de acções que os funcionários públicos da RAEM devem evitar.

A nova proposta de lei determina que “a recusa do juramento é considerada falta de posse, implicando automaticamente a anulação do provimento, não podendo ser agendada nova prestação de juramento”. Pode ser considerado recusa a situação em que “o jurador assine, de forma dolosa, uma declaração em que o respectivo termo de juramento tenha sido adulterado, designadamente com a alteração ou distorção de expressões desse termo”. Perante a recusa da prestação de juramento, “é obrigatoriamente aplicada a pena de demissão”.

Quem estiver envolvido em “situações de não defesa da Lei Básica da RAEM da RPC, ou de não fidelidade à RAEM da RPC, por factos comprovados”, será alvo de uma aposentação compulsiva ou demissão, incluindo outros factores, nomeadamente o “abandono do lugar” de trabalho.

Recorde-se que quando a proposta foi apresentada no fim da discussão do Conselho Executivo, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, disse ser “muito difícil” dar exemplos de comportamentos desleais, mas garantiu que a proposta iria incluir “expressamente quais são os actos”. No entanto, a proposta contém termos vagos como “ultrajar” decisões emanadas da APN, ou não respeitar o sistema político, não sendo claro se discórdia pública, ou crítica, pode resultar em demissão.

Magistrados também contam

Na nota justificativa da proposta de lei lê-se que o Governo pretende assegurar o princípio “Macau governada por patriotas”, o que justifica as alterações e a obrigatoriedade da prestação de juramento.

Lê-se ainda que o diploma “propõe o estabelecimento do dever de defesa da Lei Básica da RAEM da RPC” que deverá ser “cumprido por todos os trabalhadores dos serviços públicos”, sendo que “a violação deste dever constitui infracção disciplinar” e aplicada “a pena de demissão”.

Além disso, “a fim de se articular com a revista lei relativa à segurança da defesa do Estado, propõe-se que na proposta de lei que este dever se aplique também aos magistrados”, sendo, para esse fim, “alterado o Estatuto dos Magistrados para introduzir a respectiva disposição”.

Destaca-se que para os funcionários públicos em funções têm de “prestar juramento num determinado prazo sob forma de declaração por si assinada” depois da entrada em vigor da lei que altera os estatutos. Mais uma vez, “a recusa do juramento implica a pena de demissão”.

“No que respeita à prestação de juramento do pessoal de direcção e chefia no acto de posse, será tratada através da alteração das disposições fundamentais do Estatuto de Pessoal de Direcção e Chefia”, lê-se ainda.

Outra das principais mudanças prende-se com o “reforço dos meios de investigação dos procedimentos disciplinares” e “aumento da equidade das sanções”. Segundo a nota justificativa, propõe-se “a imposição de uma obrigação das entidades públicas e privadas de colaborarem com as investigações conduzidas pelo instrutor em processos disciplinares”. Assim, estas devem prestar depoimento, “sendo sancionada com multa a recusa sem justa causa” se esse testemunho não for feito.

A proposta de lei dá ainda atenção aos casos de trabalhadores que “se aposentam antecipadamente ou se desliguem do serviço antes da conclusão do processo disciplinar para contornar as sanções disciplinares com efeitos mais gravosos”. Propõe-se, assim, a suspensão do processo de aposentação caso já esteja em curso um processo disciplinar, além de que, no caso dos antigos contribuintes do regime de previdência, “a pena disciplinar a aplicar seja substituída por multa”.

Destaque também para o facto de os trabalhadores, caso sejam condenados em processos judiciais, terem de restituir ao Executivo os salários relativos ao período da prisão preventiva. “Uma vez confirmada, por sentença judicial, a ausência do serviço devido a prisão preventiva, causada por razões imputáveis ao trabalhador, a proposta de lei propõe que este seja obrigado a restituir à Administração o vencimento auferido nesse período.”

4 Dez 2024

Ben Lee, analista de jogo, sobre as novas concessões: “Precisamos de algo grandioso”

O analista de jogo e consultor Ben Lee acredita que é preciso fazer muito mais para diversificar a economia de Macau para lá do jogo, sobretudo tendo em conta o tipo de eventos organizados ao abrigo das novas concessões. O analista acha que Macau poderia olhar para dois resorts no Vietname como exemplos a seguir para atrair turistas internacionais

 

Que balanço faz dos dois anos de novas concessões de jogo?

Ainda há muito trabalho a fazer. Pelo que pudemos ver até agora, as concessionárias concentraram-se em projectos mais ligeiros, como galerias de arte locais, eventos culturais, a realização de concertos e pequenas reabilitações de bairros culturais. Os grandes projectos, como o parque de diversões de alta tecnologia, o Conservatório ou novos hotéis ainda não foram vistos. Uma vez que já passaram dois dos dez anos [de concessão], e tendo em conta que a construção de alguns destes projectos deverá demorar vários anos, parece que será necessário adiá-los. As receitas do segmento não-jogo, em percentagem de receita bruta obtida pelas concessionárias, parecem ser superiores às de 2019, mas diminuíram nos últimos dois anos. É possível que voltem nos próximos dois anos a situar-se entre os 10,5 e 11 por cento verificados em 2019.

Recentemente, Ho Iat Seng agradeceu às concessionárias o cumprimento dos contratos e a colaboração no desenvolvimento do segmento não-jogo, reiterando que conseguiram obter alguns lucros durante a pandemia. Acha que foi justo nas suas palavras?

Os casinos estão a fazer esforços para desenvolver o segmento não-jogo, mas, mais uma vez, a maior parte desses esforços estão focados em eventos mais ligeiros, de menor nível. Não vemos grandes ideias como a esfera de investimentos de 2,3 mil milhões de dólares que vemos em Las Vegas, por exemplo. Se tal acontecesse, iria enquadrar-se facilmente nos compromissos de 15 mil milhões de dólares prometidos pelas concessionárias [aquando da assinatura dos novos contratos]. Poderíamos falar também da ideia de fazer uma competição de Fórmula 1 na rua, como se viu em Singapura e recentemente também em Las Vegas.

Como analisa a recuperação das operadoras em termos de receitas do jogo nos últimos meses?

A recuperação do jogo em Macau tem sido extremamente boa, prevendo-se que o sector recupere para cerca de 78 ou 79 por cento dos níveis registados em 2019.

A Sociedade de Jogos de Macau (SJM), por exemplo, foi uma das operadoras de jogo com maiores dificuldades em termos de cash flow durante a pandemia. Considera que a sua recuperação, em comparação com os outros cinco, foi positiva?

A SJM teve dificuldades no início, mas parece estar, finalmente, a fazer alguns progressos. Mas ainda terão alguns desafios para reposicionar o seu “hardware” [instalações e demais empreendimentos] no futuro.

O que podemos esperar do novo Governo de Sam Hou Fai para a área do jogo?

O Chefe do Executivo eleito parece estar a tentar garantir que as operadoras honrem os seus compromissos. Os seus dois mandatos irão, provavelmente, cobrir os próximos oito anos das novas concessões. Penso que, em última análise, tudo se vai resumir a saber se ele consegue motivar os vários aparelhos governamentais a executar a sua visão e missão.

No âmbito dos novos contratos, como vê a evolução global do sector do jogo?

Em 2019, a percentagem das receitas do segmento não-jogo em comparação com as receitas do jogo atingiu 10,5 por cento. Essa percentagem subiu para 22 por cento durante a covid-19, e desde então tem caído gradualmente para 13,5 por cento, segundo dados do terceiro trimestre deste ano. Essa percentagem vai continuar a diminuir à medida que as receitas de jogo continuarem a crescer. Nos últimos tempos, temos visto os residentes de Macau e Hong Kong a dirigirem-se para o norte [China] para pouparem dinheiro. A questão que se coloca é porque é que os habitantes do continente iriam descer e fazer o inverso? A solução, tal como prevista pelas autoridades, é que Macau precisa de diversificar o mercado [de turistas e jogadores] que vem do continente. Isso faz todo o sentido em termos de lógica, mas a realidade é que os nossos esforços parecem estar a regredir. Os visitantes provenientes de fora da grande China representavam 7,8 por cento do total de visitantes de Macau, mas diminuíram para 6,5 por cento até final de Setembro deste ano. Isto remete para os eventos de cariz ligeiro que têm sido organizados que, de longe e em grande parte, são realmente orientados para os chineses que, afinal, constituem a maior parte da nossa fonte de receitas.

Como se pode dar a volta a esse panorama?

Voltando ao início, penso que precisamos realmente de algo grande, icónico, semelhante à esfera que se vê em Las Vegas ou até mesmo algo parecido com o projecto da “Ponte Dourada” em Da Nang, digna de aparecer no Instagram, ou a “Ponte do Beijo”, em Phu Quoc, ambos no Vietname. O facto de estes projectos terem sido construídos por um grupo local ligado ao sector hoteleiro, sem qualquer ligação aos lucros provenientes do jogo, demonstra criatividade e perspectiva de longo prazo em termos de planeamento.

Luta de classes

Ben Lee alertar para o perigo de mercado de massas “fugir” de Macau

A conversa com Ben Lee surge no contexto de uma palestra que protagonizou, recentemente, sobre os dois anos das novas concessões de jogo. Promovida pela Câmara de Comércio França-Macau, a sessão teve como nome “Macau New Gaming Landscape: Two years into concessions, what now?”, tendo o analista e sócio-gerente da IGamiX Management & Consulting defendido, segundo o portal Asian Gaming Brief (AGBrief), que o jogo VIP não terminou por completo, estando assim a ser alvo de uma nova classificação.

Segundo o AGBrief, citando palavras de Ben Lee, “o jogo de massas incorporou o mesmo escalão [de jogadores] que foi tão abertamente criticado pelo Governo”, mas que as operadoras “estão a mudar o seu foco para o acomodar”.

O analista realçou o “recente foco na transformação de quartos de hotel mais antigos e pequenos em opções de luxo, com todas as operadoras a compreender a necessidade de obter qualidade em vez de quantidade”.

Porém, defendeu que “o foco no segmento de luxo continua a criar um impasse”, pois “há muito que Macau se concentra em aumentar o número de visitantes para poder aumentar as receitas”, mas o modelo de negócio “vai contra a necessidade de aumentar as despesas por pessoa”.

Ben Lee alertou também para o facto de muitos turistas poderem, de facto, começar a optar por outros destinos com preços mais em conta. O analista defendeu que os jogadores de massas “não podem ser ignorados”, pois continuam a ser “o principal motor” do sector. “Os preços exorbitantes dos quartos de hotel podem constituir uma ‘barragem’ para o aumento de visitantes”, pois, conforme sugeriu, “os apostadores podem ir para outros locais de férias, como a Tailândia, se o preço não for bom”. Este país asiático “está a crescer e espera-se que ultrapasse Singapura em termos de receitas brutas”, numa altura em que os tailandeses trabalham na nova legislação sobre o jogo.

“Esperam aprovar a sua lei do jogo em Maio do próximo ano. Partindo do princípio que isso acontece, há três a cinco anos para construir um resort integrado ou empreendimento. Poderão estar a funcionar consideravelmente antes da abertura do Japão”, indicou Ben Lee.

Ainda em relação ao mercado de jogo na Ásia, o analista destacou que os apostadores asiáticos irão concentrar-se nos futuros mercados de jogo da Tailândia e Japão “enquanto aproveitam as actuais ofertas em Macau, Singapura e Filipinas”, escreveu o AGBrief.

3 Dez 2024

Hengqin | Linha de Metro Ligeiro abre hoje ao público

É mais um marco no andamento da construção do Metro Ligeiro. A linha de Hengqin abre hoje ao público, ligando a Estação de Lótus ao Posto Fronteiriço de Hengqin em dois minutos. A primeira carruagem parte hoje às 13h11

 

É hoje inaugurado um novo segmento do Metro Ligeiro que passará a ligar o território de Macau e Hengqin. Segundo um comunicado da Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, a primeira carruagem parte da Estação de Lótus da Linha de Hengqin às 13h11, tendo como destino o Posto Fronteiriço de Hengqin.

A travessia entre as únicas duas estações da Linha de Hengqin tem a duração de cerca de 2 minutos e a frequência de cerca de 6 minutos.

Fica a promessa de que, com este percurso de Metro Ligeiro, seja possível chegar à fronteira de Hengqin em dois minutos, com frequência de viagens a cada seis minutos.

Hoje, os passageiros podem chegar “antecipadamente à estação para aguardar e embarcar no metro ligeiro de forma ordenada de acordo com as instruções dos trabalhadores no local”, é referido na mesma nota.

No que respeita à cobrança de bilhetes, “no cálculo do número de estações, tal como a travessia marítima em qualquer direcção entre a Estação da Barra e a Estação do Oceano, acresce uma estação por travessia marítima em qualquer direcção entre a Estação de Hengqin e a Estação do Lótus”, sendo “considerado como duas estações para a cobrança de tarifas”.

Maior rapidez

A Linha de Hengqin do Metro Ligeiro tem 2,2 quilómetros de comprimento total, dispondo das estações “Lótus” e “Hengqin”. Os passageiros que quiserem deslocar-se ao Interior da China via Hengqin poderão apanhar o metro na “Linha de Hengqin”, começando na “Estação de Lótus” e passando pelo túnel subaquático no Canal de Shizimen, chegando depois à “Estação de Hengqin” situada na cave da Zona do Posto Fronteiriço de Macau no Posto Fronteiriço Hengqin.

No caso dos turistas que cheguem a Macau por este posto fronteiriço, poderão também escolher a “Linha de Hengqin” para viajar na “Linha da Taipa”, fazendo, para isso, correspondência na “Estação de Lótus”.

As autoridades defendem que, a entrada em funcionamento de uma nova linha de metro irá proporcionar-se a residentes e turistas “uma alternativa de transporte conveniente e eficiente” para quem se desloque de e para o Posto Fronteiriço Hengqin, ajudando “Macau a integrar-se no perímetro de uma hora de distância na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

As obras da “Linha de Hengqin” começaram em 2021, tendo sido inaugurado no passado dia 21 de Novembro o centro modal de transportes, alvo de remodelação, e que está situado no segundo andar do lado de Macau do Posto Fronteiriço de Hengqin.

2 Dez 2024

Governo | André Cheong e Wong Sio Chak mantêm pastas

Foram revelados no sábado os nomes dos novos secretários do Executivo que será liderado por Sam Hou Fai. A lista tem novidades, como O Lam e Tai Kin Ip, mas mantém André Cheong na Administração e Justiça e Wong Sio Chak na Segurança. Raymond Tam irá para a tutela dos Transportes e Obras Públicas

 

Terminou o tempo das previsões: foi revelada no sábado a lista dos secretários e demais dirigentes do novo Governo liderado por Sam Hou Fai, Chefe do Executivo eleito que tomará posse no próximo dia 20 de Dezembro.

A lista mantém alguma continuidade em relação ao anterior Executivo de Ho Iat Seng, verificando-se apenas algumas mudanças de posto para figuras que há muito ocupam cargos de topo na Administração pública. André Cheong continua a ser secretário para a Administração e Justiça, e Wong Sio Chak renova o mandato à frente da tutela da Segurança. Elsie Ao Ieong U é substituída por O Lam, antiga assessora de Chui Sai On, antigo Chefe do Executivo, passando para o Comissariado de Auditoria.

Na área dos Transportes e Obras Públicas o destaque vai para nomeação de Raymond Tam enquanto secretário, em substituição de Raimundo do Rosário que já havia demonstrado publicamente a vontade de sair.

Raymond Tam foi director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), e chegou a ser director interino dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) aquando da polémica saída de Fong Soi Kun, em 2017, no rescaldo da passagem do tufão Hato pelo território.

Raymond Tam passou, porém, a ser mais falado quando foi acusado do crime de prevaricação no caso das campas do Cemitério de São Miguel Arcanjo, quando ainda estava no antigo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, hoje Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Absolvido na primeira instância, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) confirmou, em 2015, a mesma absolvição, juntamente com outros três funcionários do então IACM.

Raymond Tam passou então a ser figura de confiança do Governo, mantendo-se em altos cargos, subindo agora novamente na hierarquia ao liderar os Transportes e Obras Públicas.

O Lam é a meia-novidade da lista de secretários, passando a liderar a tutela dos Assuntos Sociais e Cultura. Antiga chefe de gabinete de Chui Sai On, entre 2014 e 2019, e vice-presidente do conselho de administração do IAM, O Lam vinha sendo apontada como possibilidade pelos media locais, mas para uma pasta diferente: Economia e Finanças.

A número dois do IAM defendeu, em Março deste ano, que o facto de Macau importar grande parte dos produtos alimentares da China pode ser usado como uma forma de fomentar o sentimento de “amor à pátria” entre a população.

Ouvida pelo jornal Ou Mun, a responsável declarou que o Governo de Macau deve divulgar às novas gerações o facto de que a larguíssima maioria dos produtos alimentares frescos e congelados chegam à RAEM vindos do Interior da China. O Lam citou a expressão “Três Comboios Expresso”, um slogan do Governo Central que partiu de uma ordem de Zhou Enlai, antigo primeiro-ministro chinês, que ordenou que três comboios partissem todos os dias em direcção a Shenzhen de Xangai, Wuhan e Zhengzhou transportando produtos alimentares para Hong Kong e subsequentemente, para Macau. Os três comboios permitiram o abastecimento de Macau e Hong Kong com alimentos em melhores condições sanitárias e reduziu em dois terços a chegada de produtos às duas cidades. O Lam defende que esta história deveria voltar a ser contada aos mais novos, “para que os residentes possam apreciar a nação na ponta da língua”.

Com O Lam escolhida para as pastas da saúde, cultura ou serviços sociais, a área da Economia e Finanças fica, afinal, com alguém “da casa”: Tai Kin Ip, que foi director dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), passou o ocupar o cargo desempenhado por Lei Wai Nong na pasta da Economia e Finanças.

Aquando da tomada de posse da nova equipa na direcção de serviços, Tai Kin Ip indicou que a DSEDT se iria empenhar “no apoio à instalação, em Macau, de empresas tecnológicas de qualidade”, bem como na “concretização em Macau dos projectos de investigação científica de qualidade, na tentativa de que seja injectado um novo dinamismo no desenvolvimento da inovação científica e tecnológica local”.

Adriano Ho sai de jogo

No Ministério Público (MP), o procurador passa a ser Chan Tsz King, até à data comissário do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), substituindo Ip Son Sang.

Chan Tsz King, natural de Hong Kong, tem formação em língua portuguesa e figura na lista de magistrados mais antigos do MP da RAEM. Chan Tsz King foi procurador-adjunto do MP entre 20 de Dezembro de 1999 e 2014.

Licenciado em Direito na Universidade Autónoma de Lisboa, Chan Tsz King frequentou o primeiro curso de formação de magistrados judiciais e do MP, órgão no qual ingressou em 1997 como delegado do Procurador, até ser promovido procurador-adjunto após a transferência.

O CCAC passa a ter como comissária Ao Ieong Seong, que era adjunta de Chan Tsz King desde 2019 e que assume, assim, o papel principal. É magistrada do MP desde 2013, mas antes, em, 2007, tinha iniciado a carreira no CCAC como investigadora. É licenciada e mestre em Direito pela Universidade de Macau, onde também foi professora assistente.

No capítulo das forças de segurança, Leong Man Cheong irá continuar como comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, enquanto os Serviços de Alfândega vão passar a ser liderados por Adriano Marques Ho, que era director dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

Adriano Marques Ho tomou posse como director da DICJ em 2020, tendo um longo currículo na área da segurança. Licenciado em Direito pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, Adriano Marques Ho trabalhou na Polícia Judiciária (PJ), desempenhando, entre 1988 e 2003, funções como investigador criminal. De 2004 a 2010 foi subinspector e responsável (chefe da Divisão) do sub-gabinete de Macau do Gabinete Central Nacional Chinês da Interpol, tendo sido promovido em 2010 a chefe do Departamento de Investigação Criminal onde permaneceu até 2012. A partir de 2012 passou a ser chefe do Departamento de Crimes Relacionados com o Jogo e Económicos, lugar que ocupou até 2014. Desde então e até Junho de 2020, exerceu funções como assessor do gabinete do secretário para a Segurança, passando depois para a liderança da DICJ.

Os parabéns de Ho Iat Seng

Entretanto, o gabinete do Chefe do Executivo em funções, Ho Iat Seng, emitiu uma nota de parabéns endereçada ao novo elenco do VI Governo da RAEM e procurador do MP, cujas nomeações foram decretadas pelo Conselho de Estado da República Popular da China.

Ho Iat Seng apresentou “cordiais e calorosas congratulações aos recém-nomeados”, desejando “que todos se empenhem e dêem o seu melhor nas tarefas e acção governativa, sob a liderança de Sam Hou Fai, unindo-se à sociedade formando um todo na luta por novos avanços, servindo a nação e Macau”.

Ho Iat Seng pediu também que a nova equipa governativa preste “novos contributos e alcancem novas conquistas, dando continuidade a implementação estável e duradoura do grandioso princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ na RAEM”.

O Conselho de Estado chinês indicou que as nomeações para o sexto mandato do Governo da RAEM e o Procurador-Geral do MP, foram efectuadas em conformidade com a Lei Básica da RAEM da República Popular da China e “com base nas nomeações” do Chefe do Executivo eleito, Sam Hou Fai, de acordo com um comunicado divulgado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

O ex-presidente do Tribunal de Última Instância, Sam Hou Fai foi eleito em 13 de Outubro. Nascido em 1962 em Zhongshan, na vizinha província chinesa de Guangdong, o magistrado completou a licenciatura em Direito pela Universidade de Pequim, tendo frequentado posteriormente os cursos de Direito e de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Coimbra.

O mandato do actual Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, termina em 19 de Dezembro e Sam Hou Fai e o novo Governo serão empossados a 20 de Dezembro, dia em que se assinala o 25.º aniversário da implementação da RAEM, na sequência da transferência da administração de Portugal para a China.

2 Dez 2024

Praça do CCM oferece espectáculos gratuitos este fim-de-semana

A praça do Centro Cultural de Macau (CCM) será palco, este fim-de-semana, de uma série de espectáculos ao ar livre, totalmente gratuitos. A iniciativa chama-se “Clássicos reimaginados: Harmonias da Hora Dourada” e conta com o apoio da Sands China.

Segundo uma nota da operadora de jogo, esta iniciativa conta com actuações ao vivo do grupo “Janoska Ensemble”, Niu Niu e Gordon Lee, além de uma masterclass especial do Janoska Ensemble. Os concertos integram-se no Programa de Artes Performativas da Sands China em celebração do 75.º aniversário da fundação da República Popular da China, do 25.º aniversário do regresso de Macau à pátria e da designação de Macau como Cidade Cultural da Ásia Oriental 2025.

Este sábado terá lugar, a partir das 17h, o “Concerto dos 10 anos do Janoska Ensemble”, grupo com músicos de jazz que anda em digressão com o seu novo álbum, intitulado “The Four Seasons”. Destaque ainda para a realização de uma masterclass com este grupo no domingo, no mesmo local, a partir das 16h.

Os “Janoska Ensemble” descrevem-se como um “conjunto que transporta a improvisação na música clássica para o século XXI”, proporcionando “uma viagem emocionante e aventureira às últimas fronteiras onde nenhum músico foi antes”.

Este grupo apresenta uma espécie de fusão de vários estilos musicais, ultrapassando “todas as fronteiras com a sua linguagem musical poliglota”. Os “Janoska Ensemble” estrearam-se com o disco “Janoska Style”, em 2016, tendo lançado, há cinco anos, “Revolution”, que ganhou um Disco de Ouro. Em 2022, surgiu o terceiro trabalho de originais, “The Big B’s”.

“Resumir em poucas palavras a qualidade especial dos arranjos de Janoska não é tarefa fácil: são incursões paralelas no território clássico e em domínios distantes do repertório musical, onde os músicos exercem a sua criatividade espontânea para criar música de primeira classe, inovadora e emocionante que vive e respira”, descreve-se no website oficial do grupo.

Os “Janoska Ensemble” são compostos por três irmãos de Bratislava – Ondrej e Roman Janoska nos violinos e František Janoska ao piano – juntamente com o cunhado Julius Darvas, nascido em Konstanz, no contrabaixo.

Niu Niu Vs Gordon Lee

Esta série de espectáculos inclui ainda o “Concerto de Harmónica de Gordon Lee” e o “Recital de Piano ‘Lifetime’ de Niu Niu”, ambos a partir das 17h30.

No caso de Gordon Lee, o músico é considerado como um dos importantes harmonicistas do mundo, tendo ganho, em 2017, o Festival Mundial de Harmónica de 2017, que é a competição de grau mais elevado para este tipo de instrumento.

Gordon foi convidado a actuar no Carnegie Hall em Nova Iorque, no Muth Concert Hall em Viena, no Esplanade em Singapura, no International Harmonica Festival em Seul e no World Harmonica Festival em Trossingen na Alemanha. O seu repertório inclui o Concerto para Harmónica de Spivakovsky, o Prelúdio e Dança para Harmónica e Orquestra de Farnon, Toledo para Harmónica e Orquestra de Moody, entre outros.

Nascido e criado em Hong Kong, Gordon formou-se na Universidade de Educação de Hong Kong, além de ter estudado Harmónica Cromática com o solista de Harmónica Cromática Franz Chmel de Viena, Sigmund Groven da Noruega. O músico estudou também Harmónica Diatónica com Howard Levy, vencedor de dois Grammys, de Nova Iorque. Em Hong Kong, estudou técnicas de execução com o solista de sheng Cheng Tak-wai.

No caso de Niu Niu, nome artístico de Zhang Shengliang, é já um famoso pianista com apenas 27 anos. Nasceu em Xiamen, China, numa família de músicos, tendo começado a estudar piano com o pai. Estreou-se em recitais de piano com apenas seis anos de idade, tocando uma Sonata de Mozart e um Étude de Chopin. Aos oito anos, Niu Niu foi o aluno mais jovem de sempre a matricular-se na escola primária afiliada do Conservatório de Música de Xangai.

29 Nov 2024

Mímica | Festival no CCM e Jardim Luís de Camões no fim-de-semana

Decorre este fim-de-semana a terceira edição do Festival Internacional de Mímica de Macau, organizado pelo Teatro CANU, e que terá sessões no Centro Cultural de Macau e também ao ar livre no Jardim Luís de Camões. O evento conta com a participação de artistas locais e internacionais, peritos na arte de fazer rir, sonhar e pensar

 

Acontece este sábado e domingo a terceira edição do Festival Internacional de Mímica de Macau (MIMF), um evento organizado pelo Teatro CANU, e que este ano tem como mote “Viver a vida através dos olhos de um palhaço, e com sentido de humor”. Não surpreende, assim, que uma das secções do evento seja “Clown’s Dream” e outra “Humor Clashing”, sendo que os espectáculos, de curta duração, decorrem na Box I do Centro Cultural de Macau (CCM).

Assim, no sábado e domingo, a partir das 19h45, pode ver-se a actuação “Vitamin”, com Carlo Jacucci, de Itália. Segundo a organização, este espectáculo é “uma viagem deliciosa pelos momentos peculiares da vida, onde o quotidiano se torna extraordinário” e onde “uma lagarta luta para se libertar da sua caixa, um guru tropeça na sabedoria que nunca leu e um corredor de maratona desvia-se hilariantemente da rota, transformando-se em roubo”.

Aqui, Carlo Jacucci, o único actor, “dá vida a estas personagens inesperadas, transformando lutas simples em beleza cheia de riso”.

Segue-se “idio2 Play”, com a dupla de performers japoneses Kosube Abe e Hiroyoshi Hisatomi. Em dez minutos estes irão recorrer a chapéus e outros adereços para combinar “movimentos hábeis e uma improvisação leve e bem-humorada”.

O “Dio2” é um duo de entretenimento japonês, apostando em magia, comédia e acrobacias, num estilo “ligeiramente absurdo, mas conscientemente único”.

Ainda nesta secção do festival destaque para o espectáculo de 30 minutos protagonizado por Gregg Goldston, “The Magic of Mime”.

Este “é um espectáculo cativante de habilidade física, misturando comédia e drama para criar um mundo invisível encantador”. Gregg apresenta “um chapéu mágico”, encaminhando o público em “batalhas que transformam de forma surreal a realidade em fantasia, numa luta sincera entre o desejo de amizades e o medo de as perseguir”.

Gregg Goldston é um mimo de renome mundial, realizador e educador de mímica de Los Angeles, tendo começado a trabalhar nesta área depois de ver a actuação do mestre Marcel Marceau. Em várias tournées americanas de Marceau nos anos 2000, Gregg serviu como assistente do actor, tendo depois começado a desempenhar papéis mais importantes. Gregg Goldston, visto como alguém que está a ajudar a desenvolver a primeira geração de mimos americanos, irá dar um workshop integrado neste festival.

Sonhos dos palhaços

Se em “Humor Clashing” as actuações começam no final do dia, na secção “Clown’s Dream” o riso e a fantasia prometem prolongar-se pela noite dentro, a partir das 21h30.

Apresenta-se, com actores japoneses e o Teatro CANU, o espectáculo “The Eyes of Odin”. “Na mitologia nórdica, Odin, o rei dos deuses, enviava os seus corvos para voar até ao mundo dos humanos e observar tudo o que acontece. Desta vez, inesperadamente, um deles perdeu-se no nosso mundo – um lugar cheio de risos e mistérios insolúveis: ouviu um prisioneiro obcecado com a liberdade; testemunhou um professor apaixonadamente dedicado à musculação durante uma aula de ginástica; e encontrou uma lontra marinha numa fonte termal, tão apaixonada por se encharcar que nem os deslizamentos de terras e as tempestades ao nível de um tufão a conseguiram afastar”, descreve-se, sobre o espectáculo.

Esta actuação é “um poema visual que combina actuações de palhaços, mímica, teatro físico e música ao vivo”, com momentos poéticos dentro do absurdo, colocando questões silenciosas e guiando o público a seguir os passos do corvo para um reino indefinível”.

Destaque ainda para outras actuações, como “ZEROKO Play”, com o grupo Zeroko, composto por Masahi Kadoya e Keisuke Hamaguchi. Fica a garantia de “palhaçadas, objectos e humor para uma diversão interactiva”.

Das 12h às 18h, tanto no sábado como no domingo, é a vez do Jardim Luís de Camões receber actividades diversas como sessões de pintura facial para crianças ou actuações musicais, como é o caso do Dj Burnie, natural de Macau. Também nestas ruas haverá lugar à mímica e ao divertimento. Esta secção do festival intitula-se “WOW! Outdoor Performance Festival”.

Fonte de inspiração

O Festival Internacional de Mímica de Macau nasce das experiências teatrais de Lai Nei Chan, fundadora e directora desta iniciativa, que estudou em Londres.

“Uma vez, assisti a uma actuação de palhaços no Festival Internacional de Mímica de Londres, onde dois palhaços fizeram um espectáculo que me comoveu pelo seu poder sem palavras e impacto emocional, despertando o meu amor pela mímica. Descobri que esta forma não-verbal de actuação não exigia qualquer preparação e permitia uma imersão pura na experiência teatral, livre de pensamentos excessivos. Esta constatação alimentou o meu desejo de criar um festival internacional de mímica em Macau, permitindo ao público local experimentar as alegrias únicas desta forma de arte”, confessou.

29 Nov 2024