Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeQuarentenas | Aumento de número de hotéis em estudo O Governo pretende aumentar o número de hotéis disponíveis para a realização de quarentenas numa altura em que há relatos de falta de vagas. Hotel Tesouro ainda tem quartos disponíveis, mas há estudantes de Macau em Hong Kong sem conseguirem regressar ao território por não terem vaga para a quarentena obrigatória O Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus pretende encontrar mais hotéis para a realização de quarentenas no território, numa altura em que surgem testemunhos da falta de vagas para quem viaja para Macau. Na conferência de imprensa de ontem, Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro, adiantou que está a ser feito um levantamento da situação, mas que, a curto prazo, será difícil disponibilizar mais quartos. “A Direcção dos Serviços de Turismo está a tentar encontrar mais hotéis para a observação médica, mas os hotéis têm de cumprir determinadas exigências dos Serviços de Saúde de Macau. Num curto período de tempo não podemos aumentar muito o número de quartos”, disse. A mesma responsável adiantou que o Hotel Tesouro ainda tem quartos disponíveis. Actualmente, existe um grupo de estudantes de Macau em Hong Kong que não consegue regressar ao território por não encontrar uma vaga para a realização da quarentena. Até ao momento, o Governo recebeu 11 pedidos de consulta, sendo que ainda não há uma data de regresso para estes alunos. Passe em estudo Os responsáveis do Centro de Coordenação foram também ontem questionados sobre a possibilidade de Macau aderir ao passe de vacinação, tal como acontece em Hong Kong. Isto porque, a partir do dia 24 deste mês, será obrigatória a vacinação em Hong Kong para a entrada em alguns locais. “Não descartamos a hipótese quando a situação pandémica em Macau for grave. Temos vindo a estudar [a medida] e quando tivermos um calendário vamos divulgar [as informações] o mais rapidamente possível”, disse Leong Iek Hou. Relativamente às viagens de funcionários públicos nos feriados do ano novo chinês, os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) vão proceder a uma contagem daqueles que saíram. Leong Iek Hou referiu que foram poucos os que viajaram e fez um apelo para que “os empregadores ou chefes [de departamentos de serviços públicos] cumpram o dever de conhecer o historial de viagem e contactos dos trabalhadores, devendo prestar especial atenção aos trabalhadores que viajaram no período do ano novo chinês”, tendo em conta a “nova vaga pandémica em cidades da China e em Hong Kong”. Outra das medidas anunciadas, prende-se com o facto de, desde ontem, ser decretada uma quarentena obrigatória de 14 dias para quem tenha estado em alguns locais da China, como é o caso do Grupo 2 da Aldeia de Xiyuanzi, na Vila de Chengjiao do Condado de Suizhong, em Huludao, cidade da província de Liaoning. Também desde ontem, estão canceladas as medidas preventivas para viajantes de zonas de cidades chinesas como Tianjin, Xangai ou Pequim, entre outras. Covid-19 | Residente vindo da Turquia testa positivo ao fim de três dias Um residente de Macau de 55 anos proveniente da Turquia, via Emirados Árabes Unidos e Singapura teve um resultado “positivo fraco” à covid-19 na passada terça-feira, ou seja, três dias depois de chegar ao território, no sábado. Um novo teste realizado na quarta-feira acusou negativo, tendo sido classificado como um “caso importado de infecção assintomática”. Até testar positivo, o paciente esteve durante três dias no Hotel Tesouro, designado para a observação médica, onde testou negativo por mais duas vezes. Após o resultado positivo, foi transportado de ambulância para o Centro Clínico de Saúde Pública em Coloane. O paciente, que se encontra inoculado contra a covid-19 com três doses da vacina da BioNTech, nunca apresentou qualquer sintoma relacionado com a doença e negou qualquer historial de infecção.
Andreia Sofia Silva PolíticaAeroporto | Obras do lado sul do terminal concluídas este ano Simon Chan Weng Hong, presidente da Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM), confirmou, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, que as obras de expansão do terminal de passageiros do Aeroporto Internacional de Macau (AIM), do lado sul, estarão concluídas ainda no primeiro semestre deste ano. “Relativamente à remodelação da parte das instalações do terminal marítimo de passageiros da Taipa, que funcionará como segundo terminal do aeroporto, prevê-se que a capacidade de processamento possa aumentar 1,5 a 2 milhões de passageiros por ano, estando as obras previstas para este ano”, adiantou o responsável. O lado norte do terminal de passageiros encontra-se em funcionamento desde 2018. O presidente da AACM falou também do novo regime jurídico do sector da aviação, cuja proposta de lei deverá ficar concluída no primeiro semestre deste ano. Recorde-se que um dos objectivos deste diploma é definir o novo estatuto da Air Macau, que continua a operar em regime de monopólio. Simon Chan Weng Hong declarou que o Aeroporto será “um dos cinco principais” infra-estruturas aéreas da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O plano é desenvolver o AIM “por fases, de modo a satisfazer o volume anual de passageiros de 15 milhões, aperfeiçoando as infra-estruturas de aviação externa de Macau”.
Andreia Sofia Silva EventosMúsica | Recital “Those Who Want to Catch Time” sábado no Macau Art Garden Ellison Lau, engenheiro de som, empresário e compositor, junta-se aos amigos músicos num recital que acontece este sábado, a partir das 21h, no Macau Art Garden. “Those Who Want to Catch Time” apresenta um repertório de músicas compostas para teatro e cinema por Ellison Lau “Those Who Want to Catch Time” [Os que querem aproveitar o tempo] é o título do recital de música que acontece este sábado, a partir das 21h, no espaço Macau Art Garden. O espectáculo é protagonizado pelo músico, compositor e engenheiro de som Ellison Lau, fundador da empresa SoundMist. Lau irá tocar piano e far-se-á acompanhar em palco pelos músicos Daniel Leong Chon Hang, violoncelista, Leung Yan Chiu, tocador de Sheng, um tradicional instrumento musical chinês, e Pn Lam, guitarrista. Ao HM, Ellison Lau explicou que o conceito principal deste espectáculo está muito ligado à pandemia e aos sucessivos confinamentos e encerramentos que as sociedades têm enfrentado nos últimos meses, o que acarreta uma nova noção de tempo. “Nestes dois anos, quando temos tempo, pudemos planear o nosso futuro. Mas há planos que, neste tempo de pandemia, podem não acontecer, então tentamos aproveitar todo o tempo de que dispomos. Não sabemos se na próxima semana não haverá outro surto que nos impeça de realizar este espectáculo, por isso há esta ideia de aproveitar o tempo antes que aconteça qualquer coisa que nos impeça de fazer o que queremos.” Ellison Lau confessa que já tem experiência de palco com estes músicos que, desta vez, se deslocaram a Macau para passar os feriados do ano novo chinês. “Nestes dois anos, em que a pandemia afectou as nossas vidas, cada vez que nos encontramos [é especial]. É este o conceito por detrás deste espectáculo.” O programa do recital inclui composições que Ellison Lau tem vindo a desenvolver nos últimos anos para filmes e peças de teatro, sendo que muitas delas foram ajustadas para serem tocadas por outro tipo de instrumentos. “As músicas que iremos apresentar têm alguma ligação com o estilo clássico, mas não tem apenas essa aproximação. Quem participou nos meus espectáculos nos últimos anos percebe que a minha música está mais virada para o novo clássico, mas acho que este recital está aberto a todos os tipos de público”, disse Ellison Lau. Tudo menos tradicional O protagonista deste recital não se assume como um músico tradicional. “Diria que a minha experiência não é muito habitual porque eu próprio não sou pianista, não estudei música. Sou engenheiro de som e faço pós-produções de música para filmes. Neste sentido, não sou um músico tradicional.” Ellison Lau espera que o novo público que não conheça o seu trabalho possa ganhar “uma nova perspectiva” das suas composições com este recital. Questionado sobre as dificuldades de ter uma empresa nesta área em Macau, o engenheiro de som confessou que enfrenta alguns desafios. “Diria que sou uma das primeiras pessoas em Macau a fazer trabalhos de engenharia de som de forma profissional. Não diria se é fácil ou difícil iniciar uma empresa como esta, mas tento focar-me nas coisas que verdadeiramente gosto de fazer. Quero mudar o padrão que existe na indústria”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEstudo | Proposta maior cooperação entre farmácias e turismo Um estudo dos investigadores Glenn Mccartney, Carolina Ung e José Ferreira Pinto defende que a abertura gradual de fronteiras do território poderia ser feita mediante uma maior cooperação entre o sector do turismo e as farmácias locais para a vacinação e testagem de visitantes Macau deveria abrir gradualmente as suas fronteiras mediante a adopção de uma maior cooperação entre as farmácias locais e o sector do turismo, para que os turistas pudessem testar-se ou vacinar-se e visitar o território de forma segura, à semelhança do que acontece noutros países. Esta é a conclusão principal deixada pelo estudo “Living with covid-19 and Sustaining a Tourism Recovery—Adopting a Front-Line Collaborative Response between the Tourism Industry and Community Pharmacists” [Viver com a covid-19 e manter a recuperação do turismo – A adopção de uma colaboração na linha da frente entre a indústria do turismo e os farmacêuticos locais”, desenvolvido pelos investigadores Glenn McCartney, Carolina Ung e José Ferreira Pinto, da Universidade de Macau (UM). “Sugerimos uma nova posição para uma estratégia de recuperação da pandemia em Macau, que poderia ocorrer de forma mais segura através de uma parceria colaborativa com uma rede de farmácias na cidade, bem como com a comunidade e websites de turismo mais populares”, pode ler-se. Os autores defendem ainda que existe “uma grande necessidade de gestão e partilha de conhecimento entre sectores”, uma vez que, devido ao programa de distribuição de máscaras, entre outras medidas, “os farmacêuticos licenciados já estão registados na base de dados das autoridades de saúde de Macau, o que promove uma rápida proximidade”. Desta forma, “com Macau a olhar para uma fase de desenvolvimento em termos de visitantes, o aproveitamento de uma contínua colaboração e criação de uma rede de farmácias comunitárias com o sector do turismo poderia reforçar a compreensão sobre a crise do sector e a comunicação”. Glenn McCartney, José Ferreira Pinto e Carolina Ung fala mesmo do exemplo da Região Autónoma da Madeira, em Portugal, que exige que os turistas façam um teste de despistagem à covid-19 em farmácias comunitárias aderentes à campanha de testagem em curso. Os quatro C’s Para a realização deste estudo, os autores falaram com farmacêuticos, empresários do sector do turismo e outros profissionais, que responderam a questionários específicos. Foi depois desenvolvido um quadro conceptual baseado em “Quatro C’s”, ou seja, na comunicação, cooperação, coordenação e colaboração entre o sector farmacêutico e do turismo. “Com base nas nossas hipóteses, as respostas às entrevistas com empresários do turismo e das farmácias comunitárias confirmam a adequação deste quadro e a importância de uma colaboração interdisciplinar entre as farmácias comunitárias para desenhar um caminho sustentável para a recuperação da covid-19”, lê-se no estudo. Relativamente aos empresários do turismo, estes sugeriram “a cooperação com os serviços de farmácias comunitárias em matéria de vacinação e testagem”, sendo que uma das opiniões se refere à possibilidade de o território tornar-se, a curto prazo, “num destino em matéria de vacinação, com a melhor opção em termos de vacinas”. Outra das opiniões contidas no estudo, defende a criação de uma aplicação de telemóvel “com vários idiomas e actualizações ao minuto que providenciasse informação aos hotéis para que estes pudessem encaminhar directamente os hóspedes e viajantes internacionais para o local certo”. Os farmacêuticos ouvidos para este trabalho “projectaram a necessidade de elevar o seu papel profissional no controlo do vírus e nas medidas de prevenção para proteger a comunidade e os turistas”. Isto porque “alguns farmacêuticos já colaboram com o sector do turismo apenas ao nível da coordenação, mas uma formalização é exigida”. O estudo refere ainda que, em 2020, Macau possuía 296 farmácias comunitárias.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca Paixão | “Lost in Translation” e “Terrorizers” em exibição nos próximos dias O aclamado “Lost in Translation”, de Sofia Coppola, é um dos filmes que integra o cartaz na Cinemateca Paixão para os próximos dias, e que apresenta algumas películas que têm a Ásia como pano de fundo Ele é um actor de teatro em plena crise de meia idade que vai a Tóquio fazer um anúncio a um whisky. Ela é uma licenciada em Filosofia que acompanha o marido, fotógrafo, numa viagem de trabalho, mas que passa demasiado tempo sozinha. Os dois encontram-se no bar do hotel e depressa começam uma amizade que apenas cabe nas ruas de Tóquio. Esta é a história central de “Lost in Translation”, o aclamado filme da realizadora norte-americana Sofia Coppola, de 2003, filmado no Japão, e que conta com a presença dos actores Scarlett Johansson e Billy Murray nos papéis principais. “Lost in Translation” é um dos filmes que integra o ciclo da Cinemateca Paixão para os próximos dias, dedicado ao cinema asiático, mas não só. O filme de Sofia Coppola será exibido entre quinta-feira e dia 18. Este novo ciclo de cinema começou este domingo com a exibição de “Terrorizers”, filme que poderá ser visto até sexta-feira. Esta é uma produção de Taiwan de Wing Ding Ho que conta a história de quatro jovens em Taipei que vagueiam pela cidade com histórias pessoais marcadas pelo amor, desejo ou vingança. A película obteve uma nomeação, no ano passado, no Festival Internacional de Cinema de Toronto, para a secção de cinema internacional contemporâneo. Mostra multicultural “Lamb”, de Valdimar Johannsson, é um dos filmes com um cenário exclusivamente europeu que poderá ser visto na Cinemateca Paixão nos próximos dias, entre amanhã e o dia 15. Esta é a história de um casal que vive numa Islândia rural e que um dia faz uma descoberta alarmante no curral onde se encontram as suas ovelhas. Depressa estes descobrem que estão a enfrentar as consequências de desafiarem o rumo da mãe natureza. O filme, que marca a estreia deste realizador, obteve, no ano passado, um prémio na categoria “Originality of un certain regard” no Festival de Cinema de Cannes, incluindo uma outra nomeação. Também no ano passado “Lamb” recebeu o prémio na categoria “FIPRESCI of European Discovery” nos Prémios Europeus de Cinema. O regresso à Ásia faz-se com o filme “Vengeance is Mine – All others pay cash”, uma co-produção da Indonésia, Singapura e Alemanha, do realizador Edwin. Esta película conta a história do lutador Ajo Kawir que combate contra um problema pessoal: a impotência. No entanto, acaba por se apaixonar por uma outra lutadora, de nome Iteung. O filme vai contando a história da possibilidade desse amor. Esta película pode ser vista entre sábado e o dia 20. A selecção de filmes prossegue com “Introduction”, uma produção sul-coreana de Hong Sang-soo que conta a história de Youngho e da sua namorada, Juwon, que se muda para Berlim para prosseguir os seus estudos. Esta película obteve, no ano passado, o Urso de Prata para melhor guião no Festival Internacional de Berlim, além de ter recebido uma nomeação para a categoria de melhor filme. “A new old play”, uma co-produção de Hong Kong e França, de Qiu Jiongjiong, será exibido até domingo. Este filme passa-se no ano de 1980 e centra-se na personagem de Qiu Fu, um actor da ópera de Sichuan que morre num acidente de carro.
Andreia Sofia Silva PolíticaSaúde | Leong Sun Iok questiona planos de formação de profissionais O deputado Leong Sun Iok interpelou o Governo sobre os planos de formação de profissionais de saúde. Uma das questões prende-se com a preparação dos estágios após a entrada em vigor do “regime legal da qualificação e inscrição para o exercício da actividade dos profissionais de saúde”. “Como vai ser feita a distribuição dos estagiários pelos diversos hospitais? Solicito ao Governo que faça uma apresentação detalhada sobre o assunto”, escreveu o deputado, que está também preocupado com o plano de formação do Governo para médicos especialistas. A interpelação oral de Leong Sun Iok foca-se ainda nos restantes profissionais de saúde que não constam na lista de 15 profissões que não serão sujeitas à mesma regulação, como é o caso dos psicológicos. “As autoridades avançaram que não vai haver inscrição [para estes profissionais], mas que serão elaboradas instruções para a sua regulação. Qual é o ponto de situação destes trabalhos? O Governo assumiu que ia ser feito um estudo sobre o assunto para que estes profissionais possam ter acesso a um desenvolvimento profissional adequado. Qual é o ponto de situação?”, questionou o deputado.
Andreia Sofia Silva EventosFotografia | Exposição de Ricardo Meireles abre portas este sábado O arquitecto e fotógrafo Ricardo Meireles expõe, a partir de sábado, no espaço Hold On to Hope, da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau. O público poderá ver, em “Social Distance”, uma série de fotografias de Macau, Hong Kong, Tóquio e Taiwan que servem como uma memória dos movimentos urbanos pré-pandemia, mas também dos tempos actuais de menor contacto humano Chama-se “Social Distance” [Distância Social] e é a nova exposição individual de Ricardo Meireles, fotógrafo e arquitecto que abre ao público no próximo sábado, 12, às 15h, na galeria Hold On to Hope, da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM). Poderão ser vistas imagens não apenas de Macau mas de regiões como Hong Kong, Tóquio e Taiwan, onde impera a captura do movimento, a relação entre as pessoas no espaço urbano, mas também o contraste face aos tempos actuais, onde a pandemia ditou uma menor expressão de relações e movimentos de pessoas. Inicialmente a ARTM pretendia realizar esta exposição no ano passado, mas o tema do movimento das cidades levou Ricardo Meireles a adiar o evento e a necessitar de mais tempo para escolher as imagens que pretendia expor. Desta forma, “Social Distance” terá fotografias mais recentes mas também imagens de arquivo. Há, portanto, “uma captura do movimento e do aglomerado”, embora seja também captado “o oposto, a ideia da espera, do isolamento, a noção de que o tempo parou”. “Estas fotografias tentam abordar a ideia de um percurso mais orgânico entre as pessoas e o movimento da cidade”, disse ao HM. Um “diálogo visual” Ricardo Meireles, que não sai de Macau há dois anos, nota, na qualidade de fotógrafo, as alterações que a pandemia trouxe face à impossibilidade de capturar imagens de outras realidades. “Tive a ideia de capturar a essência do movimento de uma cidade onde, numa situação de pré-pandemia, conseguíamos absorver mais esta relação [entre pessoas] e este movimento. Há a captura destas realidades muito simples e sintéticas.” Criou-se, em “Social Distance”, um “diálogo visual” para traçar este percurso em que o tempo parece ter estagnado e as mudanças se tornaram demasiado visíveis. “ Esta exposição tem também um cariz social, uma vez que a venda das imagens irá reverter para os projectos da ARTM. A mostra está patente até ao dia 2 de Março, sendo que a galeria Hold On to Hope se situa junto à Igreja de Nossa Senhora das Dores, na povoação de Ka-Hó, Coloane.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteBienal de Pequim | Fátima Sardinha, a professora que representa Portugal Desde cedo que revelou um talento natural para a pintura e o abstraccionismo foi um amor imediato. Medos e inseguranças afastaram-na de uma carreira artística e empurraram-na para o ensino, mas um burnout levou-a a apostar na pintura e a encará-la como uma carreira. Com o quadro “Love Song”, é a única artista portuguesa presente na 9.ª Bienal Internacional de Pequim O percurso artístico de Fátima Sardinha, a única artista portuguesa a representar Portugal na 9.ª Bienal Internacional de Pequim, é tudo menos banal. Estudou artes no ensino secundário e os professores elogiavam-lhe o talento e a capacidade de rasgar tudo e encher de novo uma tela. Mas, mais tarde, nem sequer se inscreveu na Escola de Belas Artes do Porto, por medo de não conseguir sustentar-se com os seus quadros e também pela insegurança tão própria da idade. Com um mestrado e doutoramento em matemática, Fátima Sardinha tornou-se professora primária, mas um burnout levou-a de novo para o mundo das artes, embora a pintura sempre tenha estado presente na sua vida. “Comecei a pintar novamente, abri uma conta no Instagram e, para surpresa minha, tive uma resposta muito positiva ao meu trabalho”, contou ao HM. Fátima Sardinha confessa que o trabalho tem funcionado como “uma terapia, nos bons e nos maus momentos”. “Fui conhecendo gente no mundo das artes e criei um grupo de artistas de todos os continentes, com um curador mexicano, o Sérgio Gomez.” Rapidamente, Fátima Sardinha começou a vender alguns dos seus trabalhos online, além de ter exposto também por esta via no período da pandemia. “Tive portas abertas que, se calhar, de outra forma não se iriam abrir. Concorri depois à Bienal de Arte de Vila Nova de Gaia [2021] e fui seleccionada com um trabalho sobre o confinamento, baseado em imagens que tínhamos da situação em Itália.” Participar na Bienal em Pequim, surgiu depois de a Direcção Geral das Artes, entidade ligada ao Governo português, ter aberto um concurso para artistas portugueses. Fátima Sardinha foi a única seleccionada. “Fiquei surpreendida quando descobri que era a única portuguesa presente na Bienal, uma oportunidade única. Tive a oportunidade de participar num evento que, de outra forma, não me seria possível, pois o quadro tem 1,60 por 1,80 metros, não iria ficar barato para mim [o envio]. Mas o Governo chinês comparticipou tudo”, disse ainda. Sentimentos na tela Esta é a primeira vez que Fátima Sardinha expõe na Ásia. “Love Song” representa a esperança e foi pintado em Junho de 2020, quando o mundo vivia os primeiros confinamentos devido à pandemia. “Essa peça tem uma cor e energia que quase consome tudo o que está à sua volta, e também pela textura. Estava bem, pensei que a pandemia estava a passar e que as coisas iam melhorar. E essa é a ideia da Bienal, a luz da vida. [O quadro representa] o amor à vida, uma canção de amor. Pode ter várias leituras.” Esta e todas as obras de Fátima estão ligadas ao abstraccionismo, que a acompanha desde sempre. “Tenho alguns trabalhos figurativos, muito poucos, mas dentro do figurativo abstracto. Cada quadro que pinto é um pouco de mim… é uma situação. Não pinto apenas por pintar.” A artista confessa que gostava de reunir as diferentes reacções e emoções que os seus quadros geram nas pessoas. “É engraçado, porque quem vê as minhas obras diz sempre que são melhores ao vivo. Há pessoas que encontram caras nos quadros, vêem várias coisas. Para mim, a pintura tem de oferecer algo a quem está a ver, é como oferecer os espaços em branco, porque o autor nunca nos diz tudo. Há sempre um espaço dedicado à imaginação e é assim que eu vejo a pintura abstracta.” Para Fátima Sardinha, “uma obra de arte nunca está acabada”. Há sempre margem para mais um improviso, daí a aposta na pintura a óleo e não em acrílico, que a artista experimentou durante uns tempos. Sentimentos e pensamentos são os grandes protagonistas das obras desta artista, que reside no Porto. “Toda a minha obra é um pedaço de mim. Cada quadro, para mim, representa algo. Tenho dois quadros que não estão à venda, nem nunca vão estar, são sobre o falecimento dos meus gatos”, exemplifica. Além da participação na Bienal de Vila Nova de Gaia, Fátima Sardinha expôs o seu trabalho, no ano passado, na exposição online “Opening”, em Chicago, EUA, e na mostra “Collective Energy – A Screaming Art Group Exhibition”, entre outras.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCovid-19 | Macau recusa seguir HK e reduzir quarentenas A Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou ontem que a quarentena para quem chega ao território passa de 21 para 14 dias, mas as autoridades de Macau dizem “não estar disponíveis” para adoptar semelhante medida. A partir de amanhã, os funcionários do aeroporto passam a trabalhar em circuito fechado, tendo de cumprir quarentena e auto-gestão de saúde Macau recusa reduzir o número de dias de quarentena para quem chega ao território, que actualmente pode variar entre 14 e 28 dias consoante os países e regiões de origem. Esta decisão surge depois de Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, ter ontem anunciado a redução da quarentena de 21 para 14 dias, tendo em conta o menor período de incubação da variante Ómicron do novo coronavírus. “Não estamos disponíveis para reduzir o prazo de quarentena. O caso de contacto próximo de Zhongshan teve vários resultados negativos e só no décimo dia de quarentena é que [a pessoa] teve um teste com resultado positivo”, exemplificou Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus. “Vamos analisar a situação epidémica de Hong Kong”, disse a mesma responsável quando questionada se a redução do número de dias de quarentena poderá afectar Macau. “O número de turistas que vêm de Hong Kong é estável, entre 50 a 70 pessoas por dia. Estas precisam de apresentar um teste com um prazo de 24 horas”, referiu Leong Iek Hou. Segundo o portal Hong Kong Free Press, a redução do número de dias de quarentena entra em vigor no próximo dia 5 de Fevereiro, seguindo-se um período de sete dias de auto-gestão de saúde em casa, incluindo a realização de dois testes diários. As medidas de distanciamento social mantêm-se na região vizinha até ao dia 17 de Fevereiro, com a suspensão de grandes eventos. A realização de aulas online vai continuar. Entretanto, Leong Iek Hou adiantou que a creche Fong Chong e o lar de idosos associado ao último surto com origem em Zhuhai podem começar a funcionar normalmente e a receber visitas, uma vez que já terminou o período de quarentenas. Daqui não sais Outra das medidas anunciadas ontem, prende-se com o início, a partir da meia noite de amanhã, do sistema de gestão em circuito fechado dos trabalhadores do Aeroporto Internacional de Macau. Estes devem ficar no local de trabalho durante 14 dias, seguindo-se uma quarentena num hotel de sete dias e mais sete dias de auto-gestão de saúde, incluindo a realização de vários testes de ácido nucleico. “Todos os trabalhadores nos postos [de trabalho], mesmo as pessoas que têm contacto com outras provenientes de zonas de médio e alto risco, e ainda os que trabalham nos hotéis de quarentenas, têm de ficar sujeitos a uma gestão em circuito fechado. O aeroporto já está a implementar detalhes da execução [desta medida]”, disse Leong Iek Hou. A coordenadora disse ainda que “todos os tripulantes de regiões de médio e alto risco não entram em Macau, não saem do avião e saem no mesmo voo”. Relativamente à aplicação de telemóvel para a leitura do código de saúde, foram já efectuados 579 mil downloads, sendo que “o número de pessoas com uma declaração de saúde [por via da aplicação] apresenta uma tendência de crescimento contínuo”. O Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus prepara-se ainda para avançar para a segunda fase de fixação dos códigos de saúde a nível local. “Como na comunidade ainda existem alguns estabelecimentos que apresentam risco [de contágio], estamos a planear iniciar os trabalhos da segunda fase de fixação dos códigos de saúde. Esperamos que haja mais estabelecimentos que adiram à iniciativa, a fim de facilitar o registo do itinerário dos residentes”, adiantou Leong Iek Hou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEconomia | UM prevê crescimento entre 3,6 e 37,9 por cento A Universidade de Macau estima que a economia do território cresça em 2022 entre 3,6 e 37,9 por cento, consoante o número de visitantes e a evolução da pandemia. Desta forma, são traçados quatro cenários possíveis. Os analistas sugerem ainda uma aceleração do processo de vacinação Os analistas do Centro de Estudos de Macau e do departamento de Economia da Universidade de Macau (UM) estimam que a economia local cresça este ano entre 3,6 e 37,9 por cento. A diferença dos valores de previsão tem como base quatro cenários macroeconómicos que variam consoante o número de visitantes que Macau receber nos próximos meses. Assim, o Modelo Estrutural Macroeconómico de Macau considerou estes quatro cenários que traçam uma recuperação económica a “várias velocidades”. Caso Macau receba este ano 9,9 milhões de turistas, a economia pode crescer apenas 3,6 por cento, se receber 13,8 milhões turistas anualmente, pode registar-se um crescimento de 15,3 por cento. O terceiro cenário tem em conta a entrada de 17,7 milhões de passageiros, que poderá traduzir-se num crescimento económico de 26,2 por cento. Por fim, o quarto cenário aponta para um crescimento de 37,9 por cento caso Macau receba 21,7 milhões de pessoas. Relativamente às exportações, podem crescer entre 5,8 por cento e 64,7 por cento, também com base nestes quatro cenários. Face ao consumo interno o crescimento pode ser de apenas um por cento com base nas quatro previsões. As previsões da UM face ao desemprego apontam uma taxa variável entre 2,6 e 3 por cento. Sem incluir os trabalhadores não residentes, a taxa de desemprego dos residentes poderá variar entre os 3,5 e os 3,9 por cento. Sobre as receitas da Administração, com a exclusão das transferências da Reserva Financeira, os responsáveis da UM falam em valores que variam entre as 51,2 mil milhões e as 65,9 mil milhões de patacas. Vacinas precisam-se Depois da contracção económica “severa” em 2020, e de uma breve recuperação no ano passado, os analistas consideram que as empresas locais têm de enfrentar ainda muitos desafios. “O Governo da RAEM implementou várias políticas, especialmente para as pequenas e médias empresas, para as ajudar a combater a crise. Contudo, estas empresas enfrentam ainda uma falta de procura, e sem uma base estável de visitantes, não serão capazes de gerar ganhos estáveis.” Desta forma, o Centro de Estudos de Macau e o Departamento de Economia da Universidade de Macau concluem que as autoridades têm ainda de pensar como “acelerar o processo de vacinação em Macau”, para que as restrições transfronteiriças reduzam, possibilitando o regresso dos turistas a números pré-pandemia. O Modelo Estrutural Macroeconómico de Macau foi fundado por James Mirrlees, prémio Nobel em ciências económicas e doutor honorário em ciências sociais da UM. Académicos como Chan Chi Shing, Ho Wai Hong e Kwan Fung também colaboraram na elaboração destas previsões.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaFM | Santa Casa recebeu mais de seis milhões no quarto trimestre Das entidades de matriz portuguesa e macaense contempladas com os apoios da Fundação Macau, a irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Macau surge em primeiro lugar, com mais de seis milhões de patacas atribuídos. Segue-se a Fundação da Escola Portuguesa de Macau, com quatro milhões A irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCMM) foi, do grupo de entidades de matriz portuguesa e macaense subsidiadas pela Fundação Macau (FM), a que mais dinheiro recebeu no quatro trimestre do ano passado. Os dados, divulgados ontem em Boletim Oficial (BO), apontam para a atribuição de mais de seis milhões de patacas, em três tranches de 3,8 milhões, 2,3 milhões e 537 mil patacas. Estes montantes foram atribuídos para apoiar o plano de actividades anual da SCMM, que inclui também uma parceria com a associação Bambu Artístico. Em segundo lugar, surge a Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM), que recebeu quatro milhões de patacas para custear o plano de actividades relativo ao ano lectivo de 2021/2022. No caso da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), que gere o jardim de infância D. José da Costa Nunes, o apoio foi, aproximadamente, de um milhão de patacas. Ainda no rol das entidades portuguesas e macaenses, destaca-se o apoio de 183 mil patacas atribuído à Casa de Portugal em Macau e o subsídio superior a dois milhões de patacas dado ao Instituto Internacional de Macau, pago também em três tranches de 1,9 milhões, 121 mil e 150 mil patacas. No quarto trimestre do ano passado, a Associação dos Macaenses recebeu 6.460 patacas e o Instituto Português do Oriente 152 mil patacas. Destaque também para o apoio de 63.270 mil atribuído à Associação dos Jovens Macaenses ou de 79 mil patacas para o Centro de Arquitectura e Urbanismo, fundado e dirigido pelo arquitecto Nuno Soares. Aposta na educação Olhando para a lista ontem divulgada, conclui-se que o dinheiro da FM foi aplicado sobretudo nas áreas da educação e turismo. Em termos gerais, a entidade mais subsidiada foi a Sociedade Anónima do Centro de Ciência de Macau, que recebeu mais de 122 milhões para aquisição de equipamentos e obras no interior do Centro de Ciência de Macau em 2021 e no corrente ano. A FM deu ainda um grande apoio às instituições do ensino superior, como é o caso da ajuda superior a 73 milhões de patacas dada à Fundação da Universidade da Cidade de Macau para despesas com actividades académicas, equipamentos e apoios escolares e plano de subsídio a estudantes ao ano lectivo 2020/2021. Já a Fundação Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, recebeu um total de 12.500.000 de patacas para o plano anual de 2018/2019 da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, Hospital Universitário, Escola Internacional de Macau e Faculdade das Ciências de Saúde da Universidade. A Fundação Católica de Ensino Superior Universitário, que gere a Universidade de São José, recebeu quase cinco milhões de patacas, enquanto que a Universidade de Jinan, em Cantão, obteve mais de 6,3 milhões de patacas para as obras de construção de uma nova ala académica do campus do sul e edifício base de formação de quadros qualificados em direito de propriedade intelectual. Relativamente ao sector do turismo, a FM atribuiu 44.683.000 patacas para o programa “Passeios, Gastronomia e Estadia para Residentes de Macau”. Este subsídio foi pago em duas tranches, de mais de 23 milhões para a Associação das Agências de Viagens de Macau e de 21 milhões para a Associação das Agências de Turismo de Macau. Outra das entidades mais contempladas, foi a Associação de Beneficiência do Hospital Kiang Wu, que recebeu mais de 20 milhões de patacas para aquisição de equipamentos hospitalares.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteHelena Cabeçadas, autora: “Macau é uma cidade sedutora” Sobrinha neta do Almirante Mendes Cabeçadas, Helena Cabeçadas, autora de “Macau – Uma Cidade Improvável”, viveu em Macau na década de 80, onde trabalhou nas áreas da toxicodependência e da saúde mental. Foi amiga do arquitecto Manuel Vicente e recorda um território onde a beleza e a repulsa andavam lado a lado. As memórias e as experiências são agora contadas no livro “Macau – Uma Cidade Improvável”, lançado em finais de Dezembro do ano passado Diz que este livro faz parte da sua geografia afectiva. Como surgiu este projecto? Este livro nasceu a partir de um conjunto de três livros que eu tinha escrito, e que considero como a minha biografia afectiva. Foram as cidades onde vivi, que me marcaram profundamente e alteraram a minha visão do mundo. O primeiro livro que escrevi foi sobre Bruxelas, onde vivi no final da minha adolescência. Estive exilada lá dos meus 17 aos 27 anos. Depois escrevi o livro sobre a minha infância em Moçambique, onde vivi dos oito aos dez anos, numa sociedade colonial. O terceiro livro foi sobre Filadélfia, onde trabalhei na área da droga e da toxicodependência, e em que me confrontei com uma cidade em decomposição, onde o racismo era muito forte. Foi também um choque cultural muito forte, que me marcou bastante. E depois Macau, onde vivi uns cinco anos e onde me confrontei com uma cultura completamente diferente que me marcou. Macau e a China foram um desafio para mim. Porque foi para Macau? Sempre me seduziu muito o Extremo Oriente. Em Bruxelas tinha procurado estudar o chinês e as religiões, e a hipótese de ir para Macau dava-me a possibilidade de desbravar esse mundo. Em 1983 fui requisitada pelo Governo de Macau e o meu marido foi trabalhar para a TDM. Não foi sempre fácil do ponto de vista profissional, o mundo da toxicodependência era muito fechado e muito masculino. Era pesado e dificilmente penetrável para um olhar ocidental e feminino. Quais eram os principais perfis de consumidores à época? Eram sobretudo consumidores de heroína, que era barata e de boa qualidade. O acesso era fácil. Por outro lado, havia uma tradição das casas de ópio, que só se tornaram ilegais em 1946. Ainda era uma tradição relativamente recente. Os mais velhos ainda estavam ligados ao ópio. Muitas vezes a iniciação dos mais novos ainda se fazia pelo ópio e depois partia para a heroína. Foi uma época em que a heroína se propagou muito na Ásia. As mulheres eram pouco consumidoras, e havia poucas mulheres terapeutas? Era um mundo muito masculino, e havia um registo mais prisional do que terapêutico, o que contrastava com aquilo que eu conhecia em Portugal e nos EUA. Éramos poucos terapeutas e funcionava como um grupo de guardas prisionais. Incomodava-me esse registo porque não estava de acordo com a minha visão [de abordar o problema], pois defendia a reabilitação. Em Hong Kong, em contrapartida, tinha contactos muito interessantes do ponto de vista profissional, porque fazia-se ali um trabalho que tinha mais a ver com a minha maneira de encarar esses problemas. A barreira da língua e da cultura também era muito grande, e o facto de ser mulher tornava as coisas mais difíceis. De todos os sítios onde esteve, Macau marcou-a mais, ou menos, e porquê? É uma pergunta difícil porque são idades diferentes. Em Moçambique era uma criança e em Bruxelas estava a descobrir o mundo, a Europa. Portugal era um mundo muito fechado, era o mundo do Estado Novo. Fugiu do regime quando foi para Bruxelas. Sim. Fui expulsa de todas as escolas do país. Fui presa com 16 anos e tive depois um processo disciplinar. Fazer o curso em Bruxelas permitiu-me contactar com outro mundo, tive colegas de todo o mundo. A Universidade Livre de Bruxelas era muito aberta e tolerante. Foi um desvendar de mundos. Quando fui para Macau, ou mesmo para Filadélfia, já era adulta. Em Macau foi-me lançado o desafio da cultura chinesa, de tentar decifrar aquele mundo. O que é muito difícil. A própria China estava a abrir-se ao mundo. Fui à China, onde as pessoas ainda se vestiam à Mao [tse-tung], não havia carros nem publicidade, só bicicletas, aos milhões. Era engraçado porque era um mundo muito diferente daquele que conhecíamos na Europa e até em Macau e Hong Kong. As raparigas tinham as fardas à Mao, mas já usavam saltos altos e batom, era o início de uma sociedade de consumo. Não senti miséria, mas havia pobreza. Essas viagens na China eram sempre mal vistas pelo poder, o país não gostava que os estrangeiros estivessem soltos, fora de uma excursão, sem guias. Macau era uma espécie de bolha, tínhamos a comunidade portuguesa, mas era uma sociedade cosmopolita. Muitas vezes tinha um pesadelo, o de estar fechada rodeada de guardas vermelhos que não me deixavam sair. Naquela altura ainda estávamos muito perto da Revolução Cultural, e a memória das pessoas ainda era muito forte em relação a esse período, que foi vivido de uma forma dramática em Macau, com o 1,2,3. Como era trabalhar na Administração portuguesa à época? Também dei aulas na Escola Superior de Enfermagem, foi engraçado porque tive contacto com jovens. Dava aulas de sociologia e antropologia, tive a oportunidade de organizar o curso, também na área da saúde mental. Tinha liberdade para organizar essa formação no Centro Hospitalar Conde de São Januário. Se no centro de recuperação de toxicodependentes tinha dificuldades e pouca liberdade para fazer o que queria, no hospital tive essa liberdade. Fiz um estudo preliminar sobre a criação de um centro de saúde no Fai Chi Kei e isso fez-me contactar com os Kaifong, os Operários. Isso ajudou-me a mergulhar no pensamento chinês e nas questões de saúde mental. Como era o panorama nessa altura em matéria de saúde mental? Ainda hoje é um assunto tabu no seio da comunidade chinesa. Na altura era mais difícil. Era complicado de abordar o problema, era como se não existisse. Mas nessa altura alguns psiquiatras portugueses procuraram também alterar a maneira de encarar essa questão e tentámos discuti-la com as pessoas. Contribuiu para abrir aquele mundo. De todos os elementos de Macau que estão no livro, qual foi o que mais a fascinou? Que experiência foi mais marcante? Acho que a própria existência da cidade é fascinante. É uma cidade improvável. Como é que no sul da China surgiu aquela cidade, longe de tudo? Como é que conseguiu afirmar-se, começar a existir e aguentar-se ao longo dos séculos? Houve um lado que também achei interessante, que é o facto de, no meio de tantas situações dramáticas que a cidade atravessou, Macau ter sido um importante centro de apoio a refugiados. Teve essa generosidade e gentileza, e isso torna-a numa cidade sedutora. Penso que é exemplar para os tempos que vivemos hoje em dia na Europa, com essa capacidade de absorver e receber apesar de estar fechada de tudo. Mas Macau oscilava entre o fascínio e a repulsa, havia uma grande beleza, como na Baía da Praia Grande, cheia de juncos, com uma vida intensíssima, e depois os cheiros nauseabundos, os ratos, as baratas. Depois havia o mundo macaense, mais próximo de nós, mas também complexo, um pouco impenetrável. Foi amiga do arquitecto Manuel Vicente, uma figura muito importante para Macau. Sim, foi padrinho da minha filha. Tenho muitas saudades dele, uma das pessoas mais fascinantes que conheci em Macau. Conhecia a região muito bem, tinha um humor extraordinário, contava histórias delirantes, inclusivamente sobre os diferentes governadores e as gafes que eles cometiam. A casa dele era um espaço de liberdade. Encerra-se, com Macau, os capítulos da sua geografia afectiva. Lisboa também faz parte disso, mas é uma cidade demasiado próxima e faz demasiado parte de mim. Não tenho um olhar distanciado que tinha em relação a Macau, Bruxelas ou Filadélfia. Tenho mais dificuldade em escrever sobre Lisboa.
Andreia Sofia Silva EventosArte | Escultura de bambu de Wong Ka Long exposta na Taipa “Reverie” é o nome da escultura de bambu com inspiração em elementos da cultura japonesa da autoria do artista local Wong Ka Long que estará patente em dois locais da vila da Taipa a partir desta quarta-feira. A iniciativa é da galeria Taipa Village Art Space, que, entretanto, se prepara para mudar de instalações São capacetes transformados em sinos, com as cores características da vila da Taipa, uma mescla de amarelos, verdes e azuis. Tudo isto se relaciona com uma escultura em bambu com cerca de três metros, que revela símbolos da cultura japonesa, como o santuário ou a casa de chá. É assim “Reverie”, com as temáticas “Bless” e “Tea Room”, o mais recente projecto do escultor Wong Ka Long que estará exposto nos largos Maia de Magalhães e Tamagnini Barbosa, na vila da Taipa, a partir de hoje e até ao dia 15 de Abril. Esta iniciativa, da galeria Taipa Village Art Space, gerida por João Ó, vem dar voz a uma criação artística antiga de Wong Ka Long, acrescentando-lhe uma nova roupagem. “Este foi um dos projectos mais interessantes, em termos colaborativos, que tive com um artista”, confessou João Ó ao HM. “Ele chegou com uma ideia e eu dei-lhe soluções, pois não havia nada pré-estabelecido. Eu apresentei o bambu e ele os capacetes. Inicialmente queríamos mostrar as esculturas que o artista já tinha feito, mas muitas foram sendo mostradas ao longo dos anos e não era muito positivo estar a repeti-lo.” Desta forma, “Reverie” traz novamente a público um projecto anterior, com capacetes militares, que representam “uma dicotomia entre a guerra e a paz, o Oriente e o Ocidente”. Estes capacetes já foram expostos como se fossem cerâmica tradicional chinesa, com uma referência aos cravos vermelhos da revolução portuguesa do 25 de Abril de 1974. João Ó descreve Wong Ka Long como “um escultor bastante versátil” que tanto trabalha com materiais mais tradicionais, como o barro, como depois aposta nas estátuas de bronze exibidas em espaços exteriores. O responsável pela galeria Taipa Village Art Space adiantou também que optou pelo Largo Maia de Magalhães, por ser um sítio mais pacato, mas acolhedor, em contraste com o Largo Tamagnini Barbosa, onde passam muitas pessoas. Com “Reverie” pretendeu-se, desde o início, estabelecer uma comunicação com quem vê a peça, para que esta possa ser tocada e sentida. “As pessoas em Macau têm imensa afinidade com o bambu, existe um afecto intrínseco da população chinesa com o bambu. E a peça do artista é bastante apelativa e íntima face à população e acho que, nesse sentido, haverá imensa receptividade. Além disso, é um trabalho interactivo, pois as pessoas podem mexer nos capacetes transformados em sinos e fazer as suas preces.” Novo espaço Trazer “Reverie” para a rua foi a solução encontrada por João Ó tendo em conta a mudança de instalações da galeria de arte, que só deverá materializar-se daqui a uns meses. “Deixámos de ter a galeria de arte este ano por questões imobiliárias, o espaço foi demolido e vai ser revertido para exploração de restauração. Já temos outra galeria em vista, noutro espaço na vila da Taipa, mas não vai estar pronta tão cedo. Sabendo isso desde final do ano passado, projectamos esta primeira exposição para o exterior, para aproveitarmos o tempo e continuarmos a lançar projectos no espaço público.” O arquitecto afirma que cada vez mais deseja experimentar novas formas de exibir arte. “Há falta de espaços para desenvolver iniciativas, sobretudo interiores. Deve haver uma flexibilidade na forma de mostrar os artistas, mudar o conceito de que todas as exposições devem ser interiores. O espaço interior é, para mim, muito mais o de coleccionador e de museu.” Nascido em Macau em 1977, filho de um pintor de aguarelas, Wong Ka Long estudou escultura na Academia de Belas Artes de Guangzhou em 1996, tendo feito o mestrado na mesma área em 2003. Desde 2004, que o autor tem participado em inúmeros projectos e exposições. É muito conhecido no território pelo trabalho que explora a ligação entre peças militares antigas, o bronze e a cultura.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeFMI | Previsões de crescimento do PIB na ordem dos 15 por cento O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 15 por cento este ano, apesar de “ainda demorar tempo até que haja um regresso a níveis pré-pandemia”. Este crescimento dever-se-á a um regresso gradual dos turistas estrangeiros e por uma maior procura interna, embora o FMI preveja que o PIB só deverá crescer para níveis pré-pandemia a partir de 2025. No próximo ano, a economia local deverá ter um crescimento na ordem dos 23 por cento graças às novas licenças de jogo e a uma maior integração do território no projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O FMI aponta, no entanto, que “apesar do forte apoio fiscal e da almofada financeira que os casinos representaram em termos de emprego e consumo, a queda acentuada da sua actividade expôs as vulnerabilidades de Macau a forças externas que têm vindo a afectar o fluxo de turistas”. Há ainda “preocupações a longo prazo” relacionadas com a “elevada exposição” a choques causados pela pandemia. “A previsão de riscos a curto prazo inclui uma nova intensificação da pandemia da covid-19 e um aumento do stress do sector financeiro de Macau”, destaca o FMI. O documento dá ainda conta que “o forte impacto da pandemia no crescimento de Macau aumentou a necessidade de uma diversificação económica além da indústria do jogo”. Os analistas do FMI acreditam que as autoridades deveriam vocacionar melhor as medidas fiscais adoptadas em prol de “grupos [sociais] vulneráveis e criação de emprego, a fim de promover a recuperação e inclusão”. Além disso, “um investimento adicional em cuidados de saúde, educação e infra-estruturas vai responder a procuras imediatas, à medida que vai facilitando a diversificação da economia e mitigar riscos a médio prazo”. Olha a bolha Ainda sobre a diversificação económica, o FMI denota que tal objectivo “vai exigir esforços concertados na atracção de talentos e profissionais qualificados, na resolução de lacunas em termos de infra-estruturas físicas e digitais e no reforço da eficiência das instituições públicas e na agilização das regulações de mercado”. O relatório não deixa de fazer menção ao perigo de uma bolha imobiliária na China, mais visível depois da exposição da enorme dívida do grupo Evergrande. “Uma cooperação com a China em matéria de supervisão deverá minimizar possíveis repercussões do stress originado pelo sector do imobiliário no continente”, lê-se. Apela-se, por isso, às autoridades de Macau para o “reforço da monitorização de riscos em matéria de dívida e reforço de medidas de insolvência e resolução de divida”, sendo que uma reestruturação de cenários poderia “aliviar as vulnerabilidades do sistema financeiro e apoiar a recuperação”.
Andreia Sofia Silva EventosAlbergue SCM | Semana do Design de Macau destaca sector da restauração Termina esta quinta-feira mais uma edição da Semana do Design de Macau, que este ano se foca nas Pequenas e Médias Empresas locais, ligadas ao sector da restauração, que tentam mudar a sua imagem. Hong Ka Lok, dirigente da Associação de Design de Macau, revela que o objectivo deste evento é mostrar que o talento e “poder” dos designers locais está vivo e recomenda-se A edição deste ano da Semana do Design de Macau pretende mostrar os negócios locais na área da restauração que buscam por uma nova imagem, em resposta a novos tempos, mercados ou consumidores. Até quinta-feira, a exposição com alguns trabalhos desenvolvidos por designers para marcas locais pode ser vista no Albergue SCM, num evento que conta com o apoio de várias entidades, incluindo o Instituto Cultural, sendo organizado pela Associação de Design de Macau. A mostra pretende “mostrar como os designers podem contribuir para as pequenas e médias empresas (PME) locais e as suas marcas, e como podem, através disso, atrair mais turistas e jovens, para que estes conheçam melhor a história de restaurantes antigos do território”, exemplificou Hong Ka Lok, dirigente da Associação de Design de Macau. Este evento “apresenta casos de colaborações entre dezenas de empresas locais e de Singapura, além de promover visitas guiadas a estas marcas”, a fim de demonstrar “o poder do design de uma forma mais directa, no sentido de revelar como é que os designers convertem a filosofia e as histórias de um negócio numa linguagem visual”. A Semana do Design de Macau do ano passado focou-se “na ideia de coleccionar os trabalhos de designers e mostrar que há novos profissionais em Macau, e que todos eles estão activos e a mostrar o seu trabalho em plataformas internacionais”, adiantou Hong Ka Lok. Na edição deste ano, o foco é nas PME e nas suas marcas. “Através da associação percebemos que hoje em dia há muitas PME que estão a tentar fazer uma renovação da sua marca, e que também têm uma nova imagem para o seu mercado”, acrescentou o responsável. Pontes e plataformas Citado por um comunicado, Chao Sio Leong, presidente da Associação de Design de Macau, lembrou que esta é a 17.ª edição de um evento inteiramente dedicado a esta área e que a entidade permanece com os esforços de promover “os negócios criativos de Macau”. O objectivo com esta mostra é “estabelecer uma ponte de comunicação entre o design e o público em geral”, bem como uma plataforma de troca de ideias através de fóruns, exposições e exibições de filmes, entre outros eventos. Neste sentido, a edição deste ano da Semana do Design de Macau organizou uma “Noite do Design”, numa tentativa de integrar esta área com a música ou as artes visuais, entre outras expressões criativas. A ideia foi sempre levar o público “a explorar mais possibilidades de design local e compreender o seu valor na sociedade”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLegislativas | O que os partidos portugueses defendem para os emigrantes Reforço da rede de consulados, melhoria no ensino da língua portuguesa, com acesso gratuito, ou concessão de mais poderes ao Conselho das Comunidades Portuguesas. Em vésperas de eleições agendadas para domingo, o HM apresenta algumas propostas dos partidos políticos portugueses com assento parlamentar para as eleições legislativas A campanha eleitoral para as eleições legislativas em Portugal está a chegar ao fim, restando poucos dias até à ida às urnas no domingo. Um olhar sobre algumas propostas dos partidos políticos com assento na Assembleia da República (AR) permite concluir que as grandes preocupações passam pelo reforço da rede consular e de embaixadas, a fim de assegurar que os emigrantes portugueses têm mais acesso aos serviços públicos. O papel do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) não é esquecido, nem a necessidade de melhorar o ensino da língua portuguesa. O PAN – Partido Animais Natureza, cuja porta-voz é a deputada Inês Sousa Real, propõe “aumentar o número de funcionários/as para os consulados e alargar a rede consular a outros locais onde exista uma grande concentração de portugueses/as, bem como aumentar o investimento no acesso remoto aos serviços, nomeadamente via telemóvel”. É também proposto por este partido a criação de “conselheiros/as sociais junto das embaixadas para endereçar as questões da emigração em cada país”. Ainda na área afecta ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o Partido Social Democrata (PSD) afirma ter como prioridade “as comunidades portuguesas espalhadas por todos os cantos do mundo”, propondo, para isso, “melhorar os serviços prestados, sobretudo nas embaixadas e consulados, modernizando a sua rede e avaliando os seus impactos”. Concretamente, o partido, que tem uma secção em Macau, apresenta como medidas o alargamento do Centro de Atendimento Consular a todos os postos consulares, propondo funcionamento durante 24 horas, sete dias por semana. “As Comunidades Portuguesas devem ser um eixo de defesa dos interesses de Portugal, através de uma verdadeira rede. Uma ligação estreita entre as comunidades e o tecido empresarial português constitui um enorme potencial de internacionalização dos produtos nacionais que precisa de ser melhor aproveitado, em estreita colaboração com a AICEP”, lê-se ainda no programa deste partido. No caso da Iniciativa Liberal (IL), liderado pelo deputado João Cotrim Figueiredo, o partido propõe uma reforma na rede consular portuguesa com uma forte aposta em mecanismos digitais. Os objectivos são “diminuir os tempos de espera e de resposta por parte dos serviços consulares”, bem como “aumentar a eficiência de postos consulares em situação de crise”. A IL vai mais longe e pretende que haja, nos postos consulares, “mais liberdade para contratar e despedir, com as devidas dinâmicas que impossibilitem compadrios e nepotismo”. É necessário, para este partido que tem apenas um deputado no parlamento, “trabalhar junto com consultoras de sistemas de informação para melhorar a arquitectura dos sistemas dos postos consulares e torná-los mais eficazes”. É também fundamental “reduzir a carga burocrática manual, priorizando o digital”. Neste capítulo, a IL quer eliminar a “Carta de Confirmação de Morada”, propondo a actualização da informação online, ou ainda facilitar o envio do pin do cartão de cidadão. São ainda feitas propostas de agilização do voto para portugueses que, temporariamente, se encontrem no estrangeiro. Serviços de apoio Ainda dentro do funcionamento da rede consular, a IL propõe mais permanências consulares em locais onde não exista qualquer embaixada ou consulado, bem como “aumentar a frequência e duração dessas permanências, permitindo adicionalmente que as marcações de serviços consulares nessas instâncias sejam também feitas via plataforma online”. Além disso, “deverão ser criadas equipas itinerantes suplementares para as permanências, potencialmente racionalizando recursos”. No caso do Partido Socialista (PS), liderado por António Costa, actual primeiro-ministro, as propostas dirigidas à diáspora incluem “adaptar a organização diplomática e consular às novas realidades da emigração portuguesa e aproveitar o enorme potencial da diáspora”. No programa do PS é referida a reestruturação “global da resposta dos consulados, revendo e reforçando a rede e aplicando o novo modelo de gestão consular” através da simplificação de procedimentos e “consolidando os mecanismos de apoio a situações de emergência. São ainda apresentadas medidas para reforçar o investimento feito no país e apostar no retorno de emigrantes, sendo feita uma referência ao programa “Regressar”. Além disso, o PS promete “reforçar o apoio ao associativismo e aos projectos de educação, cultura, desporto, apoio social e combate à violência de género desenvolvidos nas comunidades”. No caso do Bloco de Esquerda (BE), coordenado por Catarina Martins, é sugerida a contratação, todos os anos, de 20 mil funcionários públicos “para compensar os que saem”, além de serem propostos “mais dez mil contratos por ano”. “O Bloco também se preocupa com o acesso dos portugueses que vivem no estrangeiro (comunidades emigrantes) aos serviços públicos. Propomos um alargamento da rede de consulados e um reforço dos seus serviços.” Proposta semelhante tem o Livre, partido que chegou a ser representado no Parlamento pela deputada Joacine Katar Moreira, que acabou por se tornar numa deputada não inscrita. Nestas eleições, o Livre, liderado por Rui Tavares, pretende “reforçar o serviço do consulado virtual e discutir a rede consular”. CCP com mais poderes São vários os partidos que defendem um maior papel atribuído ao Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Um deles é o Livre, que faz uma proposta concreta de tornar obrigatória a consulta deste órgão “em qualquer matéria que diga respeito às comunidades portuguesas no estrangeiro, tornando-o afecto à Presidência do Conselho de Ministros em matéria especializada”. Para o partido fundado por Rui Tavares, o CCP deve ter um “orçamento e estrutura adequados”. Também o PAN sugere “definir áreas de consulta obrigatória para o CCP”, bem como “estender às comunidades do estrangeiro as actividades da Comissão para a Cidadania e Igualdade”. Para este partido, que tem uma forte agenda ambiental e ecológica, deve-se “fomentar a participação paritária das mulheres na liderança das associações e nas eleições” para o CCP. A importância do português Os programas eleitorais dos partidos portugueses dão também destaque à necessidade de reforço e maior acesso do ensino da língua de Camões. O PAN propõe-se “apoiar o ensino, presencial e à distância, da língua do país de destino, bem como da língua materna para as comunidades com inscrições gratuitas”. Na visão deste partido, deve-se “desenvolver um programa para incentivar o intercâmbio cultural, para fomentar projetos artísticos, literários e musicais”. O CDS-PP, liderado por Francisco Rodrigues dos Santos, tem apenas um tópico no programa eleitoral directamente destinado à diáspora portuguesa, e que passa pela “criação do Dicionário Universal da Língua Portuguesa e da Biblioteca Universal da Língua Portuguesa contendo entradas respeitantes às palavras usadas em todos os países de língua portuguesa, com o respectivo sentido e enquadramento gramatical”. Regressando ao programa do PS, importa referir a criação “um plano de acção cultural específico” para as comunidades, bem como “renovar e modernizar a rede do ensino do português no estrangeiro, reduzindo os encargos das famílias e melhorando o uso das tecnologias digitais e de educação à distância”. Além disso, os socialistas prometem “divulgar e promover internacionalmente a língua e cultura portuguesas”, através da continuação da coordenação entre as áreas governativas dos Negócios Estrangeiros e da Cultura. Pretende-se “aumentar a presença do português como língua curricular do ensino básico e secundário, através de projectos de cooperação com países de todos os continentes”. Em matéria de ensino superior, o PS pretende “consolidar a presença do português e dos estudos portugueses na Europa, Américas, África, Ásia e Oceânia”, bem como “alargar a rede das cátedras de ensino e investigação em estudos portugueses”. O BE inclui no seu programa eleitoral o estabelecimento do ensino do português gratuito para quem vive fora do país. O Partido Comunista Português (PCP) não inscreveu qualquer proposta específica destinada às comunidades portuguesas no estrangeiro no seu programa eleitoral.
Andreia Sofia Silva EventosCinema | CUT apresenta “Abe, de Fernando Grostein Andrade, no próximo sábado No próximo sábado, dia 29, será exibido “Abe”, o filme que encerra a sexta edição de um cartaz de filmes pensados virados para a família. A iniciativa, promovida pela Associação Audiovisual CUT, inclui ainda um workshop com Helen Ko sobre pratos tradicionais do Ano Novo Chinês. Rita Wong, directora da CUT, adiantou que um novo cartaz de filmes já está a ser pensado “Abe”, um drama com toque de comédia, de Fernando Grostein Andrade, é a escolha da Associação Audiovisual CUT para encerrar um programa de cinema dedicado a miúdos e graúdos. A exibição acontece no próximo sábado, dia 29, na Casa Garden, sendo antecedida por um workshop sobre pratos tradicionais chineses com a artista Helen Ko. Os dois eventos têm lugar entre as 15h e as 17h. Ao HM, Rita Wong, directora da CUT, contou que a escolha do filme visou, precisamente, reunir toda a família. “Este filme é mais ajustado para crianças um pouco mais velhas, entre oito a dez anos de idade, porque tem mais diálogos. Também fazemos a curadoria de actividades e desta vez convidamos uma artista, Helen Ko, que nos vai falar sobre os pratos tradicionais do Ano Novo Chinês. Queremos, desta vez, aproximar-nos desta festividade, apresentar às crianças as comidas que tradicionalmente se preparam nesta altura do ano e dar-lhes a conhecer o seu significado e como estão ligadas à família. Queremos criar também uma maior consciência da criatividade.” Este ciclo de cinema para as famílias teve início no ano passado, estando neste momento a CUT a preparar a edição de 2022. No entanto, como está dependente do apoio financeiro do Instituto Cultural, Rita Wong não quis adiantar grandes detalhes sobre o cartaz, que já está em preparação. “Ao longo deste ano observámos que podemos ter mais filmes e eventos associados à natureza e aos modos de vida. Penso que há ainda mais espaço para criar novos programas com artistas locais.” Acima de tudo, a CUT pretende “ter mais recursos para continuar com esta actividade, porque tem um grande significado e as famílias gostam bastante de assistir aos filmes em conjunto, bem como de participar nas actividades complementares que criamos”, frisou a responsável. Outras fitas Tendo em conta o cenário de pandemia, Rita Wong confessou que continua a haver bastante espaço para a exibição de filmes além das salas de cinema habituais e da Cinemateca Paixão, anteriormente gerida pela CUT. “Nesta altura de pandemia as pessoas não conseguem sair e procuram por mais bons programas para fazerem sozinhos ou em família. Já são exibidos muitos filmes comerciais e penso que há de facto espaço para mostrar outro tipo de cinema diferente do que é produzido em Hollywood.” “Abe” conta a história de um menino de 12 anos que mora na zona de Brooklyn, em Nova Iorque, com a mãe judia e o pai palestiniano. Com tantas diferenças no seio familiar, Abe decide começar um curso de gastronomia, tornando-se amigo e aprendiz de Chico, personagem interpretado pelo músico brasileiro Seu Jorge.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições legislativas | Atrasos no envio de boletins e impossibilidades de voto A realização de uma quarentena de 21 dias em Macau vai retirar a alguns portugueses a possibilidade de votarem nas próximas eleições legislativas. Gilberto Camacho, conselheiro das Comunidades Portuguesas alerta para novos atrasos no envio de boletins de voto. Cartas ficaram retidas em Macau para desinfecção Vários portugueses residentes em Macau não terão qualquer possibilidade de votar nas eleições legislativas do próximo domingo, dia 30, devido à realização da quarentena de 21 dias à chegada ao território. É o caso de Nelson Moura, que também não iria conseguir votar caso as autoridades de Macau tivessem estendido a proibição de voos estrangeiros. “Uma pessoa quer ter o direito de votar em qualquer circunstância. Tendo em conta que a pandemia já dura há algum tempo, seria de esperar que as autoridades tivessem acautelado uma alternativa para quem não tem forma de votar pela via postal ou pelo consulado através de Macau”, referiu. Este residente, contactou o Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, que sugeriu o envio de uma procuração, para que alguém pudesse levantar o boletim de voto por si nos correios, enviando-o novamente para Portugal. Nelson Moura contactou também o Ministério da Administração Interna, que não apresentou qualquer alternativa, pelo facto de estar recenseado no território e não em Portugal. Contactado pelo HM, o conselheiro das Comunidades Portuguesas, Gilberto Camacho, voltou a apelar à implementação do voto electrónico. “O processo fica mais prático e não há atrasos, nem deslocações.” Boletins que não chegam Além dos constrangimentos da quarentena, muitos portugueses a residir em Macau, Hong Kong ou China poderão não conseguir votar devido ao atraso no envio dos boletins de voto, tendo em conta a redução de voos. Disso mesmo, dá conta Gilberto Camacho. “Os boletins de voto chegam sempre atrasados. Todos sabem quando é o dia das eleições, por isso é incompreensível que Portugal os envie à última hora, tendo em conta que agora temos as ligações aéreas suspensas.” O conselheiro estima que “de Macau vão chegar [a Lisboa] zero votos, porque não há tempo”. “Seriam necessárias, no mínimo, três semanas para o envio de todos os votos. É uma vergonha, mas já estamos habituados. É por isso que as pessoas não votam”, frisou. Gilberto Camacho ainda não recebeu o seu boletim de voto por correio, tal como Jason James Santos, português a residir em Hong Kong. “Não me espanto. A intenção é nobre, mas falha a execução. A representatividade democrática só se atingirá quando conseguirmos votar de modo electrónico”, defendeu. Paulo Costa, presidente da associação “Também somos portugueses”, tem tido contacto estreito com o Ministério da Administração Interna a propósito do envio dos boletins, a fim de verificar problemas e atrasos. Os dados não são ainda públicos, tendo o MAI adiantado apenas a Paulo Costa que “até ao momento China/Macau é o terceiro país com mais cartas-resposta [de boletins de voto] recebidas em Lisboa”. “A alternativa é mesmo o voto electrónico, mas havemos de lá chegar”, acrescentou Paulo Costa. Numa nota divulgada ontem nas redes sociais, o Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong informa que as cartas com os boletins de voto ficaram retidas nos Correios por um período de 70 horas para serem desinfectadas. “Foi-nos confirmado que foi já concluído o serviço de distribuição das mais de 50 mil cartas, restando neste momento cerca de 20 mil cartas devolvidas e por levantar nos Serviços de Correios, nomeadamente aquelas com morada incompleta ou que não foi possível de entregar no domicílio.”
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaVoos estrangeiros | Suspensão chega ao fim no prazo previsto A suspensão dos voos estrangeiros para Macau acaba mesmo no domingo e não será prolongada. Ontem à tarde, as autoridades afirmaram que ainda estavam a analisar o assunto, mas horas depois confirmaram o regresso dos voos de fora da China a partir da meia-noite de segunda feira Às 17h de ontem, o Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus não tinha ainda uma decisão sobre o fim ou o prolongamento da suspensão dos voos estrangeiros para Macau. “Até este momento ainda estamos a analisar a decisão e quando tivermos uma decisão final iremos anunciar em diferentes meios e não apenas através da conferência de imprensa. Compreendo que há uma urgência, mas ainda estamos a analisar a situação”, disse Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro. No entanto, já cerca da meia noite, foi divulgada uma nota relativa ao fim da suspensão a partir da meia-noite de segunda-feira, dia 24. Estas pessoas devem “cumprir os requisitos vigentes relativas a teste de ácido nucleico e vacinação contra a covid-19”. Quem viaje de países considerados de extremo alto risco, como o Brasil, EUA, Indonésia ou Nepal, numa lista que não inclui Portugal, terá de apresentar três certificados de testes com resultado negativo realizados nos últimos cinco dias. “Os referidos certificados devem ter pelo menos 24 horas de intervalo entre cada amostragem”, devendo ser realizada uma quarentena de 28 dias à chegada ao território. No caso dos restantes países, deve ser apresentado o certificado negativo do teste de ácido nucleico com amostragem recolhida nas últimas 48 horas, e ser realizada uma quarentena de 21 dias. Além disso, pessoas com idade igual ou superior a 12 anos devem apresentar o certificado que ateste a vacinação completa há pelo menos 14 dias, com a última dose da vacina a ser administrada num período de sete meses. Regras escolares Relativamente às aulas presenciais dos alunos transfronteiriços, do ensino superior e não superior, serão suspensas, a partir de hoje e até final do Ano Novo Chinês, adiantou Wong Ka Ki, chefe do departamento do ensino não superior da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ). “Cerca de 80 por cento das escolas realizam exames esta semana e podem, assim, adiantar as férias sem prejudicar a aprendizagem [dos alunos]. Para os encarregados de educação que tenham dificuldades a cuidar das crianças em casa, as escolas podem prestar serviços de apoio até ao terceiro ano. As restantes escolas podem optar por adiar os exames. As instituições do ensino superior podem fazer ajustamentos segundo a sua situação real, pois vão iniciar férias esta semana. Podem ser substituídas as aulas presenciais por aulas online ou adiantar as férias do Ano Novo Chinês”, referiu o responsável. As recomendações Acerca dos casos de contacto próximo com infecções registadas nas cidades de Zhuhai e Zhongshan, há 1363 pessoas a realizar quarentena, sendo que quatro desses contactos estão em Macau e um na China. Há ainda um total de 295 casos de contacto próximo pela via secundária. Até ao momento, os resultados de testes de ácido nucleico destas pessoas foram todos negativos. “Também adoptámos medidas de controlo para as pessoas que estavam no mesmo autocarro dos casos de contacto próximo, com resultados de testes negativos”, adiantou Leong Iek Hou. Os responsáveis do Centro de Coordenação e de Contingência foram ainda questionados sobre a existência de pessoas com código de saúde amarelo que nunca estiveram em zonas de risco em Zhuhai ou Zhongshan. Leong Iek Hou prometeu que estas situações serão analisadas. “O código ficou amarelo porque as pessoas declararam que foram a esses locais, e depois alteraram, dizendo que não tinham ido. Nestes casos o código fica amarelo. Também recebemos informações do interior da China dizendo que essas pessoas tinham ido a esses locais. Não sei de casos concretos, mas talvez tenha havido um desentendimento. Temos uma plataforma para as pessoas fazerem uma declaração sobre esse assunto, e vamos ver se é possível converter o seu código numa outra cor tendo em conta as informações por eles fornecidas.” Sobre a verificação do código de saúde pela via da redigitalização, Leong Iek Hou relembrou que esta medida é obrigatória para entrar em serviços públicos, sendo que para o sector privado é apenas feita uma recomendação. “Não temos uma regra mas encorajamos que estes estabelecimentos tomem medidas para ajudar os cidadãos a registarem o seu itinerário”, concluiu a coordenadora do Centro. Ensino superior | Duas doses ou testes Os funcionários e os alunos do ensino superior serão obrigados a ter duas doses da vacina para entrarem nestas instituições a partir de hoje. Há ainda a possibilidade de poderem apresentar um teste PCR negativo, foi ontem anunciado na conferência de imprensa. No caso do ensino não superior, esta medida é apenas exigida aos funcionários das escolas. Wong Ka Ki, da DSEDJ, referiu que no ensino superior 88,2 por cento de professores e funcionários têm uma dose da vacina.
Andreia Sofia Silva EventosPerformances ao vivo e vídeo em destaque na nova edição do MIPAF É já amanhã que decorre a nova edição do Festival Internacional de Artes Performativas de Macau (MIPAF, na sigla inglesa), uma iniciativa organizada pelo Armazém do Boi. Ao HM, o curador do evento, Ng Fong Chao, presidente do Armazém do Boi, garantiu que o principal objectivo é “explorar a relação entre a “arte corporal” e a “imagem”. O programa dá ênfase à arte performativa ao vivo, onde o corpo assume um papel primordial. Além do MIPAF decorre em simultâneo o Festival de Vídeo Experimental de Macau (EXiM, na sigla inglesa). “Vamos mostrar performances ao mesmo tempo que são exibidos vídeos, sendo que os artistas vão poder gerar outro tipo de arte através do seu trabalho”, referiu o responsável. Entre as 18h e as 20h de amanhã, os espectáculos podem ser vistos no espaço Macau Art Garden, na avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, com entrada livre. Para o cartaz deste ano, foram convidados artistas da China, como é o caso de He Libin e Tang Weichen, de Kunming, Tan Tan, de Wuhan e Long Miaoyuan, de Shenzhen. Todos eles vão apresentar as suas performances elaboradas com base no tema “Image in Body Art”. “Os artistas terão a liberdade de integrar vídeos nas suas performances. Desta forma, tentámos encontrar artistas com experiência nestas áreas, como é o caso de Tan Tan e Long Miaoyuan.” O curador acrescentou ainda que “os artistas têm necessidade de trabalhar com a ideia de ‘o que mostrar’ com duas formas artísticas diferentes”. Desta forma, “o público poderá olhar para os trabalhos do MIPAF e os vídeos do EXiM, ter diferentes experiências e interpretá-las de diferentes formas”. A culpa é da covid Ng Fong Chao declarou também que o MIPAF sempre quis ter uma vertente internacional e ser uma plataforma para os artistas de todo o mundo revelarem o seu trabalho. Esta é a reacção a uma crítica apresentada pelo ex-deputado Au Kam San, que na página de Facebook do evento disse que não havia quaisquer artistas de fora da China no cartaz. “Temos tido muita pressão devido à pandemia ao longo destes dois anos. Temos procurado uma melhor altura para nos ligarmos a diferentes países desde o início deste ano, mas os custos em termos de saúde, tempo e recursos são muito altos.” O curador adiantou que a ocorrência de surtos de covid-19 na China obrigou a organização do festival a dividir o programa em duas partes. Depois da primeira parte do evento, que teve apenas artistas locais, ter acontecido em Dezembro, surge agora a segunda parte.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeLei do jogo | Steve Vickers alerta para “risco político” devido à segurança nacional O consultor e analista de jogo Steve Vickers considera que os investidores estrangeiros devem ter em conta os “riscos políticos”, uma vez que a segurança nacional será um factor a ter em conta pelas autoridades para a atribuição de licenças de jogo Apresentada a nova proposta de lei do jogo na Assembleia Legislativa (AL), o analista de jogo e consultor Steve Vickers emitiu esta quarta-feira um comunicado onde comenta as principais alterações trazidas com o diploma. A mais premente, para o responsável, é o facto de o Chefe do Executivo poder anular uma concessão de jogo caso exista uma ameaça à segurança nacional. “O maior risco que as operadoras de jogo enfrentam não é do ponto de vista regulatório, mas sim político. As autoridades de Macau e da China, quando avaliarem a renovação das licenças, vão ter claramente como critério a segurança nacional. Por exemplo, o fluxo de capital pode ser considerado, especialmente quando estiver ligado às operadoras norte-americanas que procuram repatriar os seus dividendos.” Desta forma, para este analista, “o Governo de Macau poderá agir em matéria de partilha de dividendos, considerados excessivos, particularmente se forem registados grandes fluxos de capital da China, trazendo preocupações em matéria de segurança nacional a Pequim”. No comunicado divulgado, Steve Vickers considera também que “a compreensão e a capacidade para equilibrar o risco político [por parte dos investidores] é mais importante do que nunca”. Além disso, “a nova proposta de lei inclui obrigações do ponto de vista operacional e exigências para responder a um ‘desenvolvimento saudável’, bem como outras questões não directamente relacionadas com o negócio que não são familiares para os operadores estrangeiros”. Sector VIP em mudança Relativamente ao concurso público para a atribuição de novas licenças, o consultor defende que “um calendário mais realista [para a sua realização] seria em finais deste ano, ou mesmo em 2023”, o que iria obrigar as autoridades a prolongar as actuais concessões. “O Governo de Macau poderá favorecer os campeões domésticos, ou pelo menos exigir alterações na estrutura accionista das entidades controladas por estrangeiros, o que pode ser problemático para eles. Além disso, nem todas as actuais concessões vão sobreviver ao processo”, prevê o analista. No sector dos junkets haverá mais restrições face à partilha de ganhos, aponta Steve Vickers. A proposta de lei em causa “torna claro que a ligação da indústria do jogo aos junkets para o fornecimento de jogadores VIP irá chegar ao fim”, tendo em conta a detenção de Alvin Chau, CEO do grupo Suncity, em Setembro. Para o responsável, “estas medidas vão, provavelmente, restringir um crescimento a curto prazo” do sector. Por sua vez, Colin Mansfield, analista de jogo da agência de rating Fitch, disse à Lusa que a proposta de lei do jogo foi “bem recebida”, existindo ainda riscos que permanecem como o processo de licitação de novas licenças. “A divulgação foi bem recebida pela clareza no que diz respeito ao ambiente regulamentar pós-licitações. Nada do que foi divulgado na proposta de lei foi, na nossa opinião, excessivamente surpreendente ou negativo.” O especialista considerou ainda que um factor a favor desta proposta de lei foi o facto de não ter havido alterações materiais na taxa do imposto sobre jogos e não estarem estabelecidos impedimentos materiais à capacidade de pagamento de dividendos por parte dos operadores.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCovid-19 | Primeiro caso foi há dois anos. Residentes lamentam medidas restritivas Faz amanhã dois anos que Macau registou o primeiro caso de infecção com o novo vírus SARS-Cov-2, que leva à doença covid-19. Quase um ano depois da chegada do primeiro lote de vacinas ao território, a taxa de vacinação continua a não ser a desejável e as medidas que, aos olhos de alguns, são demasiado restritivas, não deixam a economia avançar. Em dois anos, muitas famílias deixaram o território mais cedo do que esperavam face a este cenário Foi a 22 de Janeiro de 2020 que Macau registou o primeiro caso de covid-19. A primeira infectada foi uma paciente com 52 anos de idade de Wuhan, a cidade chinesa que foi o epicentro do novo vírus SARS-Cov-2, que origina a covid-19. O somatório de casos é hoje de 79, sem qualquer caso mortal, e com a ocorrência de alguns surtos comunitários que obrigaram a rondas de testagem em massa, fecho temporário de fronteiras e confinamento de algumas zonas da cidade. Em Fevereiro de 2020, ocorreu o impensável: o fecho dos casinos durante 15 dias, num território onde as apostas nunca tinham parado desde a liberalização do jogo. Ao longo destes dois anos, foram encerrados, por diversos períodos, escolas, teatros, cinemas, parques e ginásios, o que trouxe alguns constrangimentos à economia e às pequenas, médias e grandes empresas. O Governo lançou cartões de consumo para incentivar a população a comprar no pequeno comércio e criou linhas de empréstimos às empresas sem juros. Foram ainda atribuídos subsídios aos profissionais liberais. Se no início as medidas impostas pelas autoridades para lidar com a pandemia foram elogiadas em todo o mundo, a verdade é que começaram a surgir críticas e descontentamento em relação a algumas políticas consideradas demasiado restritivas, como a imposição de quarentenas de 21 dias. Além disso, continua a não se vislumbrar, a curto prazo, a possibilidade de viajar até Hong Kong sem cumprir quarentena ou, pelo menos, com algumas medidas restritivas. Nestes meses, muitos portugueses e estrangeiros deixaram Macau perante a impossibilidade de verem os seus familiares com a frequência habitual, por não terem dias de férias suficientes para uma quarentena tão longa. Disso dá conta Marisa Peixoto, directora do jardim de infância D. José da Costa Nunes, que não vê a sua família há mais de dois anos. “Obviamente que me custa, é difícil, mas emigrar foi uma opção que tomei. Estamos a sentir, na escola, em relação ao pessoal docente, agentes de ensino e famílias, que há pessoas a ir embora mais cedo do que iriam se continuássemos com as facilidades [de viagem] que tínhamos antes”, contou ao HM. Marisa Peixoto considera “exagerado” o período de quarentena, principalmente tendo em consideração que quem chega da China cumpre, na maioria dos casos, um isolamento que não vai além de 14 dias. Relativamente s medidas no jardim de infância, a directora recorda que, no início, foi “um pouco confuso”, seguindo-se um período de natural adaptação. “As directrizes que recebemos da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) foram entrando na nossa rotina, na dos pais e crianças. Hoje continuamos a fazer o mesmo que fazíamos há dois anos.” Francisco Ricarte, arquitecto e fotógrafo, está neste momento a cumprir quarentena de 21 dias num quarto de hotel, sendo submetido a vários testes de ácido nucleico por semana e sem ter qualquer contacto com o exterior. Na sua visão, a taxa de vacinação dos idosos em lares ou centros de acolhimento, na ordem dos 30 por cento, é uma “situação problemática. “A pandemia e o conhecimento que temos evoluíram muito nestes dois anos”, defendeu o arquitecto, resignado por essa evolução não ter sido acompanhada pelas autoridades e população de Macau. “Dois anos mudaram mentalidades, modos de procedimento. Começaram as primeiras situações que encaro com alguma perplexidade, que é o facto de não ter havido uma adesão imediata à vacinação.” O residente lamenta que o Governo não tenha assumido “uma posição pró-activa no sentido de comunicar aos residentes que a vacina é um método seguro e eficaz”. Hoje continuam a existir “medidas de prevenção extremamente restritivas e detalhadas”. “As pessoas que vêm de fora estão sujeitas a um escrutínio extremamente rigoroso em termos de saúde. O código de saúde passou de ser um mecanismo de mera gestão para ter um outro nível de rastreio, pois permite detectar onde as pessoas estiveram.” Regresso a casa Albano Martins, economista e presidente honorário da ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais de Macau, está de regresso a Portugal, depois de décadas a residir em Macau. Voltou por motivos de saúde, embora a pandemia o tenha afectado. “Voltei em definitivo por não me rever mais na Macau de hoje. Sob o manto da segurança, estamos a entrar em áreas muito perigosas”, alertou. O responsável destaca que, no início da pandemia, as autoridades tomaram as decisões mais correctas. “Os primeiros meses de intervenção do Governo foram inteligentes, mas a partir de determinada altura deixou-se comandar toda a economia por decisões muito discutíveis. Ficámos confinados convencidos de que é possível ter uma política de casos zero, mas não é possível.” Para Albano Martins, Macau acabou por seguir “o caminho mais doentio, que é o de restringir as saídas das pessoas e, ao mesmo tempo, não se conseguir convencer a população a vacinar-se”. “As restrições são naturais, o que não é natural é a quarentena de 21 dias, mais o período de auto-gestão de saúde. As pessoas, do ponto de vista psicológico, estão a ficar muito abaladas.” José Sales Marques, economista, confessa que “já perdeu a noção do tempo” desde que a pandemia começou. “Podemos dizer que as medidas tomadas foram acertadas, pois Macau conseguiu manter-se como um lugar seguro do ponto de vista sanitário. Não têm havido praticamente casos comunitários em Macau. Mas sem dúvida que a política de zero casos exige uma grande perseverança, que tem uma lógica própria que devemos respeitar.” Para Sales Marques, Macau “tem tido pouca sorte”, pois ocorrem surtos nas regiões vizinhas perto das épocas festivas que, por norma, atraem mais visitantes a Macau, como foi o caso da semana dourada, em Outubro, e agora no ano novo chinês, com a ocorrência do surto em Zhuhai. “O Governo conseguiu acumular algumas reservas que são agora fundamentais para a continuidade da sua capacidade de produzir medidas e levar a cabo políticas públicas de apoio à economia, mas há muitas empresas mais pequenas que não têm essa capacidade [de recuperação]. O pequeno comércio e restauração tem vindo a mudar de seis em seis meses, mas não deixa de haver alguma vontade de procurar soluções.” O economista e presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau destaca, contudo, que a população tem sabido reagir com alguns projectos de empreendedorismo. “Houve mexidas e vemos a tentativa de encontrar soluções através de um certo tipo de empreendedorismo. [Essas pessoas] podem basear-se em empréstimos ou investimentos de capital acumulado, mas vemos uma forte tentativa de resposta.” Em relação ao sector do jogo, fortemente abalado pela pandemia, Sales Marques destaca a chegada ao hemiciclo da nova proposta de lei do jogo, que permite pôr fim a uma situação que não estava clarificada. “Tem havido uma reacção positiva do mercado em relação a isso e ajuda a trazer alguma esperança. Se houver uma certa recuperação do jogo e alguma abertura… todos pensávamos numa abertura com Hong Kong e de repente as coisas acontecem. É tudo imprevisível.” Em relação às comunidades estrangeiras, “é evidente a pressão psicológica”. “Há famílias e pessoas que depois de tantos anos de Macau acabam por ir embora, quando talvez ficassem mais tempo”, apontou. Recorde-se que, em Novembro, as imposições de quarentena foram criticadas pelo epidemiologista português Manuel Carmo Gomes. Apontando o dedo à política de zero casos, seguida pela China, Macau e Hong Kong, o especialista destacou que “é muito difícil, sem ter uma [taxa] de vacinação muito alta, aguentar com medidas dessas”. “Estão apenas a atrasar o inadiável”, frisou. “Países que apostaram na política de zero casos rapidamente perceberam que a população não adere à vacinação, porque não sente que existe um perigo real. É o caso da Nova Zelândia e da Austrália, que já abandonou a política de casos zero e está a apostar na vacinação. Se houver muito poucos casos devido a esses confinamentos muito rigorosos as pessoas não sentem necessidade de se vacinar”, reforçou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeGoverno ainda não sabe se mantém ou suspende proibição de voos estrangeiros depois de domingo A medida de suspensão de voos estrangeiros para Macau termina já este domingo, dia 23, mas o Governo não diz, para já, se irá manter esta decisão ou suspender esta proibição. “Até este momento ainda estamos a analisar a decisão e quando tivermos uma decisão final iremos anunciar em diferentes meios e não apenas através da conferência de imprensa. Compreendo que há uma urgência, mas ainda estamos a analisar a situação”, disse Leong Iek Hou, médica e coordenadora do centro de coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus. As autoridades disseram ainda que, até à data, foram recebidos 22 pedidos de ajuda ou informação sobre o regresso ao território. A suspensão de voos estrangeiros, “de fora da China” foi anunciada pelas autoridades no passado dia 9, na sequência da detecção de dois casos da variante Ómicron do novo coronavírus em residentes que chegaram ao território oriundos do estrangeiro e que cumpriam a quarentena obrigatória. Segundo relatos de agências de viagens locais à agência Lusa, haverá cerca de duas dezenas de pessoas em Portugal à espera de notícias para poderem viajar ou remarcar os seus voos. O cônsul-geral de Portugal em Macau, Paulo Cunha Alves, disse à Lusa que recebeu dois pedidos de apoio ou informação. O diplomata lembrou que a suspensão “é da competência das autoridades de Macau”, mas garantiu que o consulado “está a prestar todas as informações possíveis e em contacto regular com as autoridades locais”.
Andreia Sofia Silva EventosMúsica | Projecto “The Rooms” apresenta novo single, intitulado “The Strangest One” “The Strangest One” é o novo single do projecto “The Rooms” desde o lançamento do álbum “O Fim da Escuridão” em Dezembro. João Gonçalves confessa que esta música nasceu para um projecto de João Oliveira, tendo trabalhado com os músicos Iat U Hong e Ao Chon Fai “The Strangest One” é o novo single do projecto musical “The Rooms”, de João Gonçalves, e que já pode ser ouvido em diversas plataformas digitais de música. Ao HM, João Gonçalves explica que esta nova música nasceu para um projecto de instalação sonora de João Oliveira, integrado no Festival Internacional de Música de Macau deste ano. “O João pediu-me para arranjar músicos e criar umas músicas para tocar com a instalação sonora, e esta instalação era composta por um quadro com vários instrumentos pintados sensíveis ao toque, que ao serem tocados transmitiam o som de um instrumento.” “The Strangest One” acabou por surgir neste rol de criações, que conta com colaborações do violinista Iat U Hong e do multi-instrumentalista Ao Chon Fai. “Já tinha trabalhado com Iat U Hong numa das faixas do álbum [O Fim da Escuridão]. É o tipo de músico que não precisa de grande direcção. Ao Chon Fai está ligado ao Jazz em Macau, sobretudo no desenvolvimento de novos talentos.” João Gonçalves tinha trabalhado com Ao Choi Fai na música “Slavin”, gravada no ano passado. “Sempre ouvi um clarinete baixo enquanto estava a criar esta música, talvez por influência de Charles Mingus e Eric Dolphy, que trabalhou muitas vezes com ele. Digamos que fiquei apaixonado pelo som do clarinete baixo e decidi repetir.” O novo single dos “The Rooms” surge depois do lançamento, em 2021, do álbum “O Fim da Escuridão”, lançado a 14 de Dezembro. Este projecto reúne as faixas musicais que os “The Rooms” foram gravando em estúdio ao longo do ano passado, à excepção da faixa “A Little Stronger”, gravada em finais de 2020. Paisagem de Cormac McCarthy Além dos músicos acima descritos, João Gonçalves decidiu juntar-se a Dave Wan, que integra os Náv. “Sou um pouco purista do analógico e na fase de gravação procurei alguém para tocar as tablas que já tinham sido inseridas pelo João Oliveira na instalação sonora. O Dave Wan completou o ensemble.” João Gonçalves destaca a mistura “improvável e pouco ortodoxa” do uso de guitarra eléctrica, violino e clarinete baixo na elaboração de “The Strangest One”. “No processo de criação e produção é ainda mais estranha a adição de um instrumento chinês, o Guqin, e um instrumento indiano, as Tablas, mas acabou por resultar bastante bem”, frisou. No final, a sonoridade de “The Strangest One” remete “para a paisagem de um livro do escritor norte-americano Cormac McCarthy, Western e apocalíptica, com a adição dos instrumentos asiáticos mas também com alguns contornos orientais”. O mentor dos “The Rooms” adiantou ainda que, no processo criativo, a música surge a partir da experimentação com instrumentos. “À medida que o processo avança vão-se limando as arestas. O mesmo acontece com as letras. A coisa apenas flui, sai e vai-se esculpindo”, concluiu.