Sound and Image Challenge recebe filmes até 20 de Agosto

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]em aí mais uma edição do festival Sound and Image Challenge International, organizado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) e pela Creative Macau. Os jovens realizadores terão a oportunidade de submeter os seus filmes até ao dia 20 de Agosto, sendo que a sétima edição do evento conta com algumas novidades. Será feita uma pré-selecção de 50 películas que depois irão a concurso.

Apesar de se manterem as categorias de Ficção, Documentário e Animação, nas competições “Shorts” e “Volume”, cai a categoria de Publicidade. “Em 2015, começámos a definir as categorias cinematográficas, mas achamos que a publicidade não fazia muito sentido, por ser algo mais televisivo. Vai ganhar mais a ficção, o documentário e a animação”, explicou Lúcia Lemos, responsável pela Creative Macau e directora do Sound and Challenge International Festival.

Outra novidade prende-se com a criação da competição “Festival Poster”, em que o projecto vencedor será a imagem oficial da oitava edição do evento. Para Lúcia Lemos, o prémio poderia ser melhor, mas é apenas um começo para que os designers gráficos de Macau possam mostrar os seus trabalhos. Entre os dias 20 de Maio e 20 de Julho, os interessados poderão submeter as suas propostas, sendo que os finalistas terão direito a uma exposição na Creative Macau, que estará aberta o público entre os dias 23 de Novembro e 30 de Dezembro.

Chamar a experiência

Em sete anos, a direcção do festival recebeu cerca de cinco mil filmes a concurso, de países tão diversos como Espanha, Estados Unidos, França ou Brasil, entre outros. Só o ano passado, o Sound and Challenge International Festival recebeu 1650 produções, que resultaram em 41 filmes nomeados.

Este ano há outra novidade que, diz Lúcia Lemos, pode representar uma maior chamada de atenção em relação ao evento: o convite de antigos vencedores para fazerem parte do júri.

“Creio que o grande júri pode atrair mais submissões. Vamos convidar os vencedores internacionais das outras edições para a competição de ‘Short Films’, e isso vai contribuir para melhorar. São pessoas da área e têm a experiência pessoal como vencedores, do nosso e de outros festivais. Vai qualificar mais ainda e dar mais autoridade [ao festival]”, sublinhou Lúcia Lemos.

Além da visualização de filmes, o Sound and Image Challenge International Festival vai integrar masterclasses e palestras sobre os filmes visionados, marcadas já para o período entre 5 e 8 de Dezembro. Logo a seguir, nos dias 9 e 10, serão transmitidos os filmes finalistas, incluindo filmes extra, cuja selecção ficou a cargo de alguns curadores convidados. A Cinemateca Paixão, que é inaugurada oficialmente este mês, poderá ser outro local para a transmissão dos filmes, mas há ainda detalhes por confirmar. Os prémios variam entre as quatro e as 20 mil patacas.

17 Mar 2017

Yu Jiang, estudante, tradutor e intérprete | O exercício da descoberta

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá a dar os primeiros passos, ainda muito tímidos, no mundo da tradução, mas a paixão pela língua inglesa começou desde muito cedo. Natural de Yunnan, na China, Yu Jiang veio para Macau estudar uma segunda língua e, ao contrário de muitos jovens do seu país, a língua portuguesa não foi a sua escolha.

“Para mim, o português é mais difícil e percebi que não iria conseguir pronunciar certos sons. Mas agora comecei a estudar espanhol como terceira língua, porque me parecia um pouco mais fácil, e desde então tenho vindo a encontrar várias semelhanças com o português. Talvez aprenda português no futuro”, contou ao HM.

Ainda em Yunnan, Yu Jiang começou a interessar-se pela língua estrangeira que agora estuda na universidade. “Comecei a aprender inglês desde muito cedo, apesar de ainda não me considerar um falante bilingue de inglês e chinês”, afirmou. “Nessa altura, achava que era um língua muito bonita e que poderia ter um papel fundamental na construção de pontes entre culturas e comunidades. A comunicação, sobretudo se for entre diferentes grupos de pessoas, é um tema que me fascina e do qual gosto muito.”

Já no ensino superior, Yu Jiang espera que o curso lhe possa dar acesso, sobretudo, a um mundo fora da China. “Decidi então tirar um major em inglês, na esperança de conseguir estabelecer ligações com pessoas de diferentes comunidades no futuro, usando a língua. A tradução e a interpretação são os métodos mais importantes para atingir esse objectivo.”

Fora do mundo das palavras e dos caracteres, e da constante tentativa de ambos fazerem sentido, Yu Jiang assume “adorar ler romances”. E faz mesmo uma incursão por autores da nova geração literária da China, que contam histórias que originam reflexão sobre aquilo que o país foi um dia.

“O romance de que mais gosto, e que faz parte das minhas leituras recentes, é ‘To Live’, de Yu Hua. Através deste romance pude conhecer uma história dura onde os personagens sofrem de várias dores causadas pelo contexto especial da China naquela altura. Inspirou-me sob diferentes perspectivas, através da história, vida e seres humanos”, contou.

Outros mundos

Em Macau, cedo Yu Jiang percebeu a complexidade cultural desta sociedade e como pessoas de vários locais interagem umas com as outras. Ainda assim, o jovem acredita que os colegas da sua idade deveriam tentar ver mais vezes o mundo lá fora, para lá dos livros e das salas de aula.

“Em vez de os mais jovens estarem focados nos seus estudos na universidade, poderiam tentar ou ter a iniciativa de se exporem a mais coisas diferentes, como eventos culturais, questões sociais, projectos experimentais, por exemplo”, disse.

“Poderiam também expor-se a pessoas diferentes e a diferentes comunidades, para saírem da sua zona de conforto. Isso permitir-lhes-ia ter novas experiências onde pudessem explorar os seus interesses e paixões, e também experiências de vida diferentes”, acrescentou o estudante.

Yu Jiang defende que essa abertura pode ajudar a abrir portas, traçar caminhos. “Poderiam, com essas experiências, ter uma perspectiva mais clara do que vão fazer com o seu futuro e a sua carreira. Até porque a vida é um processo constante de exploração, em que vamos vivendo coisas que não esperamos e sem o valor esperado. Mas se não as vivêssemos nunca saberíamos o que são.”

Por ser uma sociedade “culturalmente muito diversa”, com “chineses, que são a maioria, mas também portugueses, filipinos e indonésios”, deveria ser feito mais do ponto de vista institucional para promover todas essas diferenças.

“Para lá da cultura chinesa local, virada para o cantonês, acredito que o Governo poderia promover mais a cultura no sentido de incluir mais as culturas das minorias, de modo a mostrar a imagem de Macau como um território onde não existe só uma indústria do turismo, que é próspera, mas também onde diferentes culturas coexistem.”

17 Mar 2017

Pereira Coutinho questiona prazos para recenseamento eleitoral

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona as razões para a antecipação das datas para o recenseamento eleitoral. Isto porque, antes de 2008, os residentes podiam recensear-se até ao dia 1 de Junho do ano de eleições. “Porque é que o Governo optou por terminar tão cedo o respectivo prazo?”, questiona. A lei do recenseamento eleitoral foi alvo de alterações nesse ano, tendo sido definido o prazo de 1 de Janeiro do ano de eleições para o recenseamento.

“Vários cidadãos fizeram reflectir junto do meu gabinete o facto de que, tendo em conta que as eleições para a nova legislatura apenas terão lugar em Setembro, o prazo fixado para a conclusão do recenseamento eleitoral é demasiado imprudente. Em consequência disto, alguns cidadãos, que já tinham reunido os necessários requisitos, não realizaram a inscrição no recenseamento eleitoral. Isto significa que agora já não podem cumprir os seus deveres cívicos”, escreve o deputado.

Pereira Coutinho faz mesmo uma comparação com os prazos vigentes em Hong Kong e Taiwan, que dão mais margem de manobra aos cidadãos para se inscreverem. “Em Hong Kong, o prazo de recenseamento para as eleições do Conselho Legislativo é até ao dia 2 de Julho do ano de eleições (em caso de coincidência com o ano de eleições para os conselhos legislativos distritais) ou até ao dia 2 de Maio do ano de eleições (em caso de não coincidência com o ano de eleição para os referidos conselhos distritais). Em Taiwan, o prazo de recenseamento para as eleições do ‘Legislative Yuan’ é até ao vigésimo dia anterior ao dia da eleição.”

Dado que ambos os territórios têm maiores populações em relação à RAEM, José Pereira Coutinho diz não compreender a actual situação. “As eleições do órgão legislativo nas duas regiões referidas são mais complexas, pois o respectivo número da população eleitoral é muito maior do que em Macau. No entanto, o prazo para a inscrição no recenseamento eleitoral é muito mais longo do que em Macau.”

Que planos?

Perante estes dados, Pereira Coutinho pretende saber quais os planos do Governo para incluir os potenciais eleitores que não foram a tempo de concluir o processo de recenseamento.

“Devido ao termo precoce do prazo de recenseamento eleitoral e a uma divulgação insuficiente por parte do Governo, alguns cidadãos perderam a inscrição. Será que o Governo dispõe de alguns planos viáveis para que seja dado a mais cidadãos o reconhecimento sobre a actualidade das eleições da Assembleia Legislativa e possa ser efectuada a respectiva inscrição de forma atempada?”, inquiriu.

16 Mar 2017

Eleições | Comissão vai “monitorizar” mensagens de apelo ao voto

Muitos residentes já começaram a receber SMS de apelo à participação nas eleições. A Comissão de Assuntos Eleitorais assegura que tais actos ainda não são ilegais, mas promete estar atenta à situação. Pereira Coutinho, que tem enviado mensagens escritas, argumenta com a importância de apelar à participação no acto eleitoral

[dropcap style≠’circle’]“D[/dropcap]ia 17 de Setembro é o dia das eleições para a Assembleia Legislativa da RAEM. É favor, incluindo a família, estar em Macau para votar.” Este é um exemplo das mensagens de apelo ao voto que já começaram a ser enviadas aos residentes, sem que haja referências directas a candidatos, até porque as listas ainda não estão oficializadas.

Apesar de não existirem queixas formais, os membros da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) afirmam terem tido conhecimento do envio de SMS e prometem estar atentos.

“Ainda não notámos nenhuma irregularidade mas, para garantir a imparcialidade e a justiça nas eleições, não encorajamos as associações ou entidades a fazerem propaganda ou a chamar os outros a votar. Se a comissão verificar que alguém está a violar a lei eleitoral, iremos actuar”, disse apenas Tong Hio Fong, presidente da CAEAL.

Nesta fase não é ilegal o acto de enviar mensagens a apelar à participação nas eleições, mas a CAEAL não incentiva tal gesto. “Não encorajamos, mas se não constituir uma irregularidade nós vamos monitorizar consoante o caso e decidiremos se vamos intervir. Se calhar, nesta fase a situação ainda não constitui uma irregularidade, mas as pessoas devem disciplinar-se. Se for uma contravenção podemos encaminhar para o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ou para o Corpo de Polícia de Segurança Pública”, acrescentou Tong Hio Fong.

“Temos comunicação com o CCAC para os casos que não estão expressamente a violar a lei. Não excluímos a possibilidade de qualquer caso que tenha violado a lei ser encaminhado para as entidades competentes e aguardaremos depois uma decisão”, disse ainda o presidente da CAEAL.

Contra a ignorância

A mensagem acima citada foi enviada pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Confrontado com a posição da CAEAL, o presidente da associação e deputado José Pereira Coutinho desvaloriza os comentários feitos.

“As nossas mensagens vão na sequência do apelo que se deve fazer à população para que seja mais participativa. O grande problema em Macau é que, na maior parte das vezes, as pessoas não sabem o que está a acontecer. É importante que reservem esse dia como um dia muito importante de participação política activa. Espero que o Governo faça mais nesse sentido”, defende.

Pereira Coutinho afirmou ainda que muitos não estão sequer informados. “Esta data está a ser divulgada na comunicação oficial e no Boletim Oficial (BO). Mas muitas pessoas não lêem o BO, não lêem jornais. Muita gente agradeceu-me pelo alerta que fizemos”, acrescentou o deputado.

Menos votos nulos

A reunião de ontem da CAEAL serviu ainda para analisar a nova forma de elaboração dos boletins de voto por forma a apoiar os deficientes visuais, uma vez que, nas eleições legislativas de 2013, muitos votos foram considerados nulos.

“Nestas eleições a nossa comissão irá criar boletins para facilitar [o voto] a essas pessoas com dificuldades visuais. Alguns votos foram considerados nulos porque os carimbos não foram colocados de forma correcta, então falámos sobre a melhor forma de os colocar”, explicou Tong Hio Fong, sem adiantar dados quanto ao número de votos nulos registados em 2013.

A comissão quer ainda resolver problemas ao nível das notificações dos lugares onde os residentes podem ir votar. “Considerando as últimas eleições para a AL, um grande número de eleitores não conseguiu receber as notificações. Talvez tenham existido enganos ou não soubessem a qual assembleia de voto se deveriam deslocar. Houve inconveniências. Temos trabalhado para melhorar a situação. Se esses eleitores tiverem alterado a residência, devem mudar a morada”, concluiu o presidente da CAEAL.

A cronologia das eleições, que define questões como o período de campanha eleitoral e apresentação de candidaturas, é publicada hoje.

 

 

CAEAL não vai definir critérios para media

Pairam no ar algumas dúvidas quanto ao tratamento noticioso que deve ser dado nas eleições deste ano, após declarações recentes do presidente da CAEAL. Tong Hio Fong garantiu ontem que não serão definidos critérios para os órgãos de comunicação social. Estes “devem saber o que é propaganda eleitoral e o que constitui uma irregularidade, devem saber o que podem relatar e o que não podem”. “Vocês é que determinam o que é permitido. Por mais exemplos que nos apresentem agora, a questionar o que constitui uma irregularidade, digo o mesmo: todos os actos que não respeitem esses artigos [da lei Eleitoral] constituem uma violação à lei.” Tong Hio Fong disse mesmo que “a comissão já referiu que não pode ensinar à comunicação social como fazer, cabe à entidade, à ética profissional e disciplina definirem o que podem e não podem relatar. É esse o vosso dever.”

16 Mar 2017

Eric Chau, vice-presidente do Macau Pen Club: “Nem todos querem promover romances na China”

Há 30 anos, um grupo de escritores do território criava a Associação de Escritores de Macau, também conhecida como o Macau Pen Club. Eric Chau, vice-presidente, fala dos projectos para o futuro e de como deve ser promovida a leitura entre os mais jovens

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o início eram as ideias, a vontade de partilhar palavras escritas na solidão, pequenos contos, poemas, romances. Em 1987 nascia a Associação de Escritores de Macau, ou o Macau Pen Club, e desde então que o panorama literário de Macau em língua chinesa tem ganho outra dimensão. Convidado do festival Rota das Letras, Eric Chau, vice-presidente do Macau Pen Club, falou ao HM dos projectos para o futuro. Em Setembro ou Outubro deverão ser realizadas várias actividades para celebrar o 30.º aniversário do Macau Pen Club, incluindo a aposta numa maior promoção da revista do grupo, que se publica desde o início da associação.

Actualmente o Macau Pen Club conta com 93 membros, e o interesse dos mais jovens não diminuiu. “Há cada vez mais pessoas interessadas em aderir ao Macau Pen Club, mas nem todos podem aderir. Precisam de já ter alguns trabalhos publicados e o ponto mais importante é que têm de ter qualidade. Há muitos membros que estão a aderir à associação, mas não tantos quanto os interessados”, contou Eric Chau ao HM.

Ainda assim, o Macau Pen Club continua a não estar aberto à comunidade de escritores de língua portuguesa ou inglesa, embora, para Eric Chau, essa pudesse ser uma realidade.

“Queremos atrair mais escritores portugueses ou ingleses, mas nem todos os nossos membros dominam estas línguas. O festival Rota das Letras deveria apostar mais nessa conexão de escritores, promover eventos em conjunto e levar a uma partilha de ideias. Espero que este festival possa desempenhar um papel mais importante a este nível.”

Não obstante, a literatura portuguesa desde sempre teve influência nos escritores locais. “Tem inspirado muitos dos nossos escritores chineses. Muitos dos nossos membros ficaram muito interessados em ler os romances do escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura. Mas o maior desafio na ligação entre escritores chineses e portugueses continua a ser a tradução. O foco do Macau Pen Club continua a ser os leitores chineses, e o nosso funcionamento é ainda muito baseado nos escritores chineses”, acrescentou o vice-presidente.

Um plano de leitura?

Sendo este um território onde os mais novos lêem muito pouco, mas onde as bibliotecas estão cheias de leitores de jornais, Eric Chau pede que se aposte em mais actividades por parte das bibliotecas públicas, que consigam atrair os mais novos para a leitura de romances ou contos.

“Os docentes das escolas sempre comunicaram com o Macau Pen Club no sentido de promovermos mais a paixão pela leitura junto dos alunos, mas penso que essa deve ser uma responsabilidade dos professores. Não é sequer responsabilidade dos escritores, que apenas se devem focar em produzir literatura e escrever bons livros. Deveríamos fazer mais coisas para promover essa paixão pela leitura, e espero que essa situação melhore.”

Para Eric Chau, também as livrarias “deveriam desenvolver um papel mais activo em termos de promoção da paixão pela leitura junto das crianças e adolescentes”. “As actividades desenvolvidas pelas bibliotecas públicas nem sempre são interessantes e muitas vezes são mais focadas para as pessoas que já gostam de ler. Deve ser feito o contrário”, acrescentou.

Questionado sobre a possibilidade da adopção de um plano de leitura por parte do Governo, que incluiria livros recomendados às escolas [à semelhança do que acontece em Portugal], Eric Chau lembra a pequenez de Macau e do mercado.

“Em termos da recomendação de livros, Macau é um território tão pequeno. Em Hong Kong, Taiwan e China já há muitas recomendações de livros, e o Governo de Macau ou as próprias entidades podem fazer referência a essas recomendações. Mas criar uma lista de livros obrigatórios não é o mais importante. O mais importante é que tipo de estratégias devem ou podem ser adoptadas pelas bibliotecas públicas para atrair os estudantes”, apontou.

China, esse gigante diferente

Outra das realidades do panorama literário local é que se publica muito, mas vende-se pouco. O acesso ao mercado chinês não é fácil, mas o vice-presidente do Macau Pen Club assegura que nem todos querem ir mais longe.

“Nem todos os escritores de Macau estão interessados em promover os seus romances na China. Não têm esse grande objectivo de atingir os leitores da China, não têm essa ambição.”

Além disso, “há diferenças, incluindo diferenças culturais, e se vendermos directamente os livros de Macau na China, penso que será difícil aos leitores do Continente entenderem o contexto das obras, o que está por detrás do romance. Há muita comunicação nas aplicações, nas redes sociais, mas publicar e vender um livro de Macau na China é difícil por causa da lei, que é mais restrita”, rematou Eric Chau.

16 Mar 2017

Rita Wong e Albert Chu, gestores da Cinemateca Paixão: “Queremos trazer cinema de todo o mundo”

A pequena sala de cadeiras coloridas começa finalmente a receber público de forma regular já a partir do dia 30 deste mês. Sob gestão da Associação Audiovisual CUT, a Cinemateca Paixão será também um espaço para aprender mais sobre a história do cinema de Macau, através de uma biblioteca com material reunido pelo Instituto Cultural. Rita Wong, presidente da associação, e Albert Chu, director artístico, falam da intenção de trazer uma pluralidade de experiências relacionadas com o grande ecrã, com workshops e residências para cineastas

[dropcap]A[/dropcap] vossa associação ganhou o concurso público para a gestão da Cinemateca Paixão, por um período de três anos. Por que decidiram participar neste processo?
Albert Chu (A.C.) – A associação já levou a cabo várias projecções de filmes e promoveu várias produções de Macau. Quando soubemos que o Instituto Cultural (IC) iria abrir o concurso público, acabou por ser uma decisão natural para nós, a de que deveríamos ser um dos concorrentes. Era uma hipótese que coincidia com o que vínhamos fazendo até então, e queríamos continuar a fazer esta promoção e a realizar exibições para as pessoas de Macau. Mas a nossa maior preocupação era se conseguiríamos levar a cabo actividades numa base diária e garantir a operacionalização do espaço, porque é algo muito diferente do que realizar algumas actividades por ano. A possibilidade tornou-se mais próxima da realidade e agora já se tornou uma coisa real.

Rita Wong (R.W.) – Antes de aderir a este projecto já trabalhava nesta área, pois estive no Centro Cultural de Macau (CCM) durante dez anos, ligada a projectos de audiovisual. Então a oportunidade de aderir ao projecto foi natural, foi uma boa oportunidade para concentrar todos os esforços na promoção do cinema.

A.C. – Já havia uma parceria com o CCM para fazer o Macau Indies. Já nos conhecíamos bem e era uma boa maneira de trabalharmos em conjunto.

Além da exibição de filmes, que outras actividades pretendem desenvolver na Cinemateca?
R.W. – Queremos estabelecer aqui um centro de exibição de filmes temáticos. O que temos planeado é, além da normal exibição, termos todos os meses temas especiais e eventos relacionados com os filmes, como workshops ou residências para cineastas, ou ainda palestras. Queremos que este seja não só um espaço de mostra de filmes, mas também de partilha e discussão depois da sua exibição. Em Abril vamos arrancar com um workshop sobre critica de cinema, que terá a duração de um ano. Em Maio vamos convidar alguns cineastas de Taiwan para participarem num workshop ligado ao marketing, para analisar o que o mercado necessita. Em Junho vamos ter uma residência de cineastas e vamos convidar realizadores de cinema da região – vamos ter também exibição de filmes e depois uma conversa com o público. É objectivo dessa residência levar filmes para as escolas e realizar workshops com realizadores de Macau, para que haja uma ligação.

A.C. – Estamos mais activos em termos de estratégia. O dito cinema normal apenas depende do mercado, dos últimos lançamentos mas, na Cinemateca, queremos criar diferentes eventos e projectos, com várias temáticas. Temos um plano e queremos promover a cultura do filme.

Que filmes poderão ser exibidos na Cinemateca? O público poderá ver cinema asiático, mas também europeu?
R.W. – Queremos trazer cinema de todo o mundo. A nossa postura vai no sentido de trazer uma diversidade e também filmes que estejam fora do circuito comercial, como filmes independentes ou filmes de arte. Claro que todos os meses vamos ter filmes locais também. Em dois fins-de-semana, por exemplo, teremos películas para mostrar aos residentes e também aos turistas. Em Abril vamos começar a mostrar filmes de Macau realizados nos últimos 20 anos.

Para contar a história de novo.
R.W. – Sim. Em Maio teremos um maior foco nos realizadores de cinema e, em Junho, teremos uma selecção de filmes produzidos por cineastas mulheres. Na verdade vamos trabalhar com diferentes curadores, para termos esse programa diversificado.

Disse-me que a Cinemateca também vai ter uma livraria e um espaço aberto ao público. Macau já teve uma importante indústria de cinema, que se foi perdendo. É importante contar a história, para que se possa recomeçar?
A.C. – Em relação à livraria apenas garantimos a sua operacionalização. Cabe ao IC a cedência dos materiais. Não é algo que está sob o nosso controlo, mas penso que a ideia é reunir todos os livros e informações disponíveis em termos não só da produção de filmes em Macau, mas também de filmes que tenham uma ligação ao território. No entanto, apenas podemos fazer recomendações ao IC. Será um projecto a implementar lentamente no próximo meio ano, mas depois penso que será feito de forma mais rápida. Em relação à exibição de filmes, todos os anos teremos dois temas relacionados com Macau, duas pequenas actividades.

É fundamental fazer esse trabalho de recolha? Era algo que fazia falta ao sector?
A.C. – Esse sempre foi o objectivo e vamos tentar realizar isso.

Estiveram envolvidos no Macau Indies por um longo período de tempo. Tracy Choi foi premiada na primeira edição do Festival Internacional de Cinema. Como descrevem a produção cinematográfica nos dias de hoje? Acreditam que Macau começa agora a desenvolver novos passos, com mais produções?
A.C. – Há muitos realizadores que têm mais conhecimentos para fazer os seus filmes. Têm uma plataforma [com o apoio do CCM] para isso, para filmar e fazer grandes produções. Nos últimos anos vimos várias pequenas produções a nascer. Têm hoje mais oportunidades para participar em diferentes festivais de cinema e para terem acesso a mais lugares para filmar. Tudo isso fará com que Macau, em termos de produção cinematográfica, vá no bom sentido. Tudo depende de quão arduamente o realizador vai trabalhar. De como será trabalhada a sua criatividade. Se é bom o suficiente, se reflecte a realidade de Macau.

R.W. – Cresci praticamente com todos eles que, no início, trabalhavam muito de forma individual, a aprender. A coisa mais extraordinária é que esse processo levou-os a crescer, mas a crescerem juntos, desde as primeiras edições do Macau Indies. Vejo-os agora a fazer filmes de uma forma mais madura, em termos de sonoridade, da escrita de guiões. São ainda pequenas produções, mas estão a seguir um caminho. É a parte mais feliz de tudo isto.

Numa das edições do Macau Indies venceu uma produção que abordava a temática da homossexualidade. Os realizadores locais também estão a começar a abordar outro tipo de temas, há uma maior diversidade de assuntos no cinema local?
A.C. – Deveria haver. Mas muitas vezes depende da sensibilidade de cada realizador. Em poucos anos estarão mais focados num ou outro projecto e os temas começaram a ser mais diversos. Isso é bom.

Pensam mais nos problemas da sociedade?
A.C. – No Macau Stories 3 – City Maze [produção da Associação Audiovisual CUT] houve uma ligação ao suspense, com um certo lado negro. Aí os realizadores começaram a abordar esse género e, no futuro, vamos ter cada vez mais abordagens a outros géneros cinematográficos.

R.W. – O CCM tem uma plataforma onde os realizadores têm toda a liberdade para desenvolver os temas escolhidos. Isso vai acontecer mais em Macau, sendo que vão ter de lidar com a pressão do mercado. Vão ter a liberdade para abordar temas sociais sobre os quais tenham interesse ou preocupação.

De certa forma, há ainda uma experimentação?
R.W. – Sim.

A.C. – Há cinco anos, todos eram realizadores. Mas, agora, se quisermos montar uma equipa, há pessoas para os diferentes cargos [necessários para a rodagem e produção de um filme]. Esse é um grande salto, se compararmos com os últimos cinco anos.

Falaram do mercado. Como é que os locais olham para o cinema local, uma vez que os filmes da China ou da Coreia do Sul são muito populares? É difícil às produções locais obterem o seu espaço?
R.W. – Temos de começar primeiro pelas pequenas produções. Não diria que ainda estejam a experimentar, mas têm de se focar em pequenas produções primeiro. Como contar uma história da melhor forma. Isso é o mais importante.

A.C. – Olhar para as intenções do público é também a nossa missão. Queremos atrair mais locais para que venham aqui. É verdade que o público de Macau terá uma tendência para escolher primeiro os filmes coreanos, chineses e até de Hollywood. Isso é porque pensam que as produções de Macau não são boas o suficiente, ou porque é algo artístico que não compreendem. Mas a nossa Cinemateca é uma boa forma para estarmos mais perto do público, para que possam conhecer que as produções de Macau são próximas das suas vidas mas, ao mesmo tempo, têm padrões profissionais. É uma missão de longo prazo para nós.


Inauguração com direito a filme

Rita Wong e Albert Chu confirmaram ainda na conversa com o HM que o dia da inauguração oficial vai servir para mostrar uma pequena produção que contou com a participação de três cineastas de Macau: Tracy Choi, Choi Koiwang e António Caetano de Faria. O contrato com a Associação Audiovisual CUT arrancou no passado dia 1 de Janeiro e está avaliado em oito milhões de patacas anuais.

15 Mar 2017

Revitalização da zona de Mong-Há discutida este sábado

Vários profissionais ligados ao urbanismo vão reunir-se para debater a renovação da zona de Mong-Há. Com “Relink_Revive” pretende-se olhar para as formas de ligação dos vários pontos culturais e habitacionais da zona, sem esquecer o aproveitamento do Canídromo

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]ual a utilização que deve ser dada ao actual terreno ocupado pelo Canídromo? Que ligações podem ser estabelecidas em toda a zona de Mong-Há, com mais acessos pedonais? São algumas das questões para as quais vão ser encontradas respostas no debate “Relink_Revive” [ligar e reviver], que vai juntar vários profissionais ligados ao urbanismo.

O encontro terá lugar no Centro de Design de Macau e é organizado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), o departamento de arquitectura da Universidade de São José, o Instituto Politécnico de Milão e o Albergue SCM.

Ao HM, José Luís Sales Marques, presidente do IEEM, explicou que a ideia é abordar estudos de caso e ter acesso a uma visão mais alargada, trazida por profissionais estrangeiros.

A utilização do terreno onde se situa o Canídromo será um dos temas abordados. “Espero que seja um espaço público”, apontou Sales Marques. “Pode ser utilizado para aumentar a área de espaço público para toda aquela zona, que tem uma elevada densidade populacional.”

O arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro será um dos oradores e irá revelar um estudo desenvolvido por alunos da USJ para a revitalização daquela zona. “A grande preocupação para o futuro é o que será feito do Canídromo, porque têm aparecido nos jornais diferentes ideias para o aproveitamento do espaço. É importante fazer valer o significado histórico e cultural de Mong-Há”, defendeu.

“Está previsto no Plano de Desenvolvimento Quinquenal que essa zona seja ligada ao lazer e cultura, mas isso não é compatível com a oferta turística actual, que está centrada na Almeida Ribeiro e Ruínas de São Paulo. Temos de ter mais espaços pedonais e zonas que sejam de mais fácil acesso”, disse ainda o arquitecto.

Já Maria José de Freitas, autora da primeira fase de requalificação de Mong-Há e outra das oradoras, aponta que “se o Canídromo sair dali, que seja um lugar que tenha que ver com espaços polivalentes”.

Melhores acessos

Para José Luís Sales Marques, a zona de Mong-Há carece sobretudo de novos e melhores acessos, que liguem os diversos pontos culturais e habitacionais. “A zona do Canídromo está separada de Mong-Há através da avenida Almirante Lacerda, como se fosse um muro. Tudo o que existe na colina de Mong-Há é recente, do final dos anos 90. Criaram-se algumas estruturas, mas não foi feita foi a ligação com o Armazém do Boi e a colina. Há um dado adicional, o edifício do canil municipal, que agora é património. Isso significa que há regras estabelecidas e sem dúvida que todo aquele espaço merece ser requalificado”, lembrou o presidente do IEEM.

Sales Marques acredita ainda que deveria ser feito um trabalho de revitalização olhando para algumas zonas da Areia Preta, onde “começa a aparecer um conjunto interessante de restaurantes, com o próprio Centro de Design de Macau, que é um pólo importante”.

Também Francisco Vizeu Pinheiro fala da necessidade de “revitalizar o património que não está a ser usado”, pois existem “vários pontos culturais que estão desconectados”. “A Avenida Coronel Mesquita poderia ser mais amigável”, referiu.

Aproximar e renovar

A primeira fase de requalificação de Mong-Há foi concluída, mas o segundo projecto acabaria por ficar na gaveta, à boleia da mudança causada pela transferência de administração. Para Maria José de Freitas, seria importante, nos dias de hoje, “aproximar o quarteirão de Mong Há que envolve o Canídromo e os antigos estábulos municipais que, hoje em dia, são o Armazém do Boi”.

“Deve dar-se atenção à área do Canídromo. A colina de Mong-Há tem cerca de 50 metros e, para pessoas com uma certa idade, é difícil chegar ao topo. Era importante ter meios mecânicos de acesso e de ligação entre o topo da colina e a área adjacente”, defendeu.

Maria José de Freitas dá também atenção às casas históricas da Avenida Coronel Mesquita. “Há situações interessantes de moradias que eram de funcionários públicos e que estão abandonadas, e seria mais um tentáculo de ligação. Muita coisa poderia acontecer para que este espaço fosse mais integrado.”

José Luís Sales Marques referiu ainda ao HM que a intenção é que a participação nesta conferência possa dar acesso a pontos para a renovação da licença dos profissionais do urbanismo, tendo já sido submetido um pedido ao Conselho de Arquitectura, Engenharia e Urbanismo para esse efeito. A entrada é gratuita.

15 Mar 2017

José Maçãs de Carvalho, fotógrafo: “Interessa-me a aparência das coisas no plano visual”

Com “Arquivo e Democracia” transportou para Lisboa a realidade das empregadas filipinas de Hong Kong que usufruem das ruas da cidade para aproveitarem os domingos de descanso. A exposição está no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. As histórias de vida são duras mas, ainda assim, José Maçãs de Carvalho, fotógrafo e subdirector do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, assume não retratar episódios do ponto de vista sociológico, mas sim meramente visual. O ex-residente de Macau prepara novos projectos para o território

[dropcap]C[/dropcap]omo surgiu a possibilidade de fotografar as empregadas filipinas de Hong Kong?
A ideia de fazer um ensaio visual sobre a questão já existe desde o tempo em que vivi em Macau [entre 1994 a 1998]. Desde 1999 tenho regressado a Macau anualmente e desde 2009 que comecei a filmar com mais regularidade.

Porquê o nome “Arquivo e Democracia”?
Desde 2011 que investigo a matéria do arquivo. Já fiz sete exposições cujos títulos têm a palavra. Aliás, a minha tese de doutoramento (2014) é sobre Arquivo e Memória. Aqui, em Hong Kong, o ‘Arquivo’ vem pelo excesso, excesso de pessoas na rua ao domingo, excesso no gesto, enfim, acumulação também. ‘Democracia’ porque a forma como ocupam as ruas configura uma espécie de democracia plena, total.

O que mais o fascinou durante a realização deste projecto a Oriente?
Filmei entre 2009 e 2012. Sempre achei este acontecimento muito curioso, estranho, e por ser contingente. Se não se for ao domingo a Hong Kong nunca se vê este fenómeno. Em Macau, as empregadas domésticas residem nos seus próprios apartamentos, o que faz com que não estejam nas ruas nos seus dias de folga como em Hong Kong, onde vivem em regime interno na casa dos patrões.

Pensou em abordar também a realidade das empregadas em Macau?
Não me interessa aquele acontecimento como facto social, não adopto um ponto de vista sociológico. Interessa-me a aparência das coisas no plano visual, portanto não são as empregadas filipinas que me interessam, mas a forma como aquelas mulheres ocupam a zona mais rica de Hong Kong e como interagem com a arquitectura.

As empregadas filipinas e indonésias em Hong Kong têm estado no epicentro de uma discussão sobre os direitos humanos e laborais. Como é que a fotografia pode contribuir para esse debate e reflexão?
A arte pode sempre contribuir para o debate se tiver uma ligação ao real. Macau surge também retratada no projecto “Arquivo e Melancolia”, recentemente em exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC). Porquê ir buscar uma imagem tirada dos anos 90, numa altura em que o território era tão diferente? Que história faltava contar? O filme que mostrei no MNAC foi filmado em 2011 e retomava uma fotografia que fiz numa loja de parafusos, no Porto Interior, quando vivia em Macau, no fim dos anos 90. Mais uma vez, esse filme não é sobre Macau, é sobre uma acumulação excessiva e periclitante de milhares de parafusos e porcas; um epítome da precariedade do arquivo e da memória.

Tem algum novo projecto pensado sobre Macau e sobre a Ásia?
Há vários projectos em progresso: uma exposição que desenvolverei com a Margarida Saraiva, ainda sem data, e ainda um projecto de fotografia que iniciei em 1999 e que retrata o quotidiano de ex-alunos meus de Macau.

Macau teve uma comunidade portuguesa pujante nos anos 80 e 90, período em que viveu no território. Que memórias guarda, que análise faz à produção de arte em Macau na altura?
As melhores memórias. Macau é a minha segunda terra. Até poderia morrer em Macau. Nesse tempo a produção artística era muito irregular: coisas fracas e coisas muito boas.

Anos depois da transição, Macau ainda constitui um fascínio para os artistas portugueses?
Diria que a Ásia, mais do que Macau.

É subdirector do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Estão pensadas parcerias com o território?
Para já, não. Temos parcerias com o Museu Russo de S. Petersburgo e a Universidade da Sorbonne, em Paris. Temos ainda em estudo uma parceria com uma universidade inglesa.


Novo livro lançado a 18 de Março

As fotografias sobre as empregadas filipinas que ocupam as ruas de Hong Kong e o trabalho desenvolvido sobre esse tema são parte integrante do novo livro de José Maçãs de Carvalho, a ser lançado no próximo dia 18. A obra chama-se “Arquivo e Intervalo” e é o resultado da exposição no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), tendo o apoio da editora Stolen Books e do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. A obra reúne quatro textos “que se aproximam de quatro filmes em torno da matéria do arquivo e que, de algum modo, também epitomam questões fulcrais da prática fotográfica e videográfica”, escreve o autor. Desde 2010 que José Maçãs de Carvalho tem trabalhado “em exclusivo problemáticas relativas ao arquivo e à sua expressividade”. Os textos do novo livro “problematizam a substância do arquivo naquilo que ele tem de excesso, precariedade e esquecimento, mas também aquilo que o marca como lugar e temporalidade”, acrescenta. Os textos de “Arquivo e Intervalo” têm organização de José Maçãs de Carvalho e são da autoria de José Bragança de Miranda, Pedro Pousada, Adelaide Ginga e Ana Rito. A apresentação será feita no próximo dia 18, no MAAT, em Lisboa, pelo escritor Gonçalo M. Tavares e por José Bragança de Miranda, investigador e ensaísta.

15 Mar 2017

Pouca liberdade académica, investigações e prestígio: a análise ao trabalho do reitor da UM, Wei Zhao

Em nove anos à frente da Universidade de Macau, Wei Zhao lidou com a mudança da instituição para o campus da Ilha da Montanha e enfrentou investigações de auditoria. Há quem entenda que trouxe prestígio à instituição. Outros dizem que não respeitou a liberdade académica

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntrou em 2008 e deixará o lugar dez anos depois, em Novembro do próximo ano. Está quase concluída a história de Wei Zhao como reitor da Universidade de Macau (UM), após ter decidido não se recandidatar a um terceiro mandato. O Governo reagiu ontem à sua saída da universidade pública através de um comunicado oficial.

“O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura [Alexis Tam] respeita a autonomia de que beneficia a UM, assim como a decisão tomada pelo próprio reitor”, lê-se no documento. Além disso, o secretário “reconhece os trabalhos realizados pelo professor Wei Zhao enquanto reitor da UM”.

A UM emitiu ontem um comunicado onde explica que o novo reitor será escolhido com base num processo de recrutamento internacional, levado a cabo por uma comissão que ainda não tem data para ser criada.

“A universidade fez grandes progressos nos últimos anos em termos de desempenho e ao nível da obtenção de reputação internacional, investigação e publicações, e na promoção dos talentos”, considerou Peter Lam, presidente do organismo.

O HM falou com personalidades que não têm uma relação directa com a UM para analisar o mandato de Wei Zhao. Segundo o politólogo Larry So, foi um homem que, acima de tudo, contribuiu para um maior prestígio da universidade.

“A coisa mais importante é que a UM mudou-se para a Ilha da Montanha e tem hoje um campus muito maior do que o anterior. Durante o seu mandato, houve uma maior promoção da UM junto da China em termos de reputação e rankings. Colocou um grande ênfase na construção da reputação da universidade”, apontou.

Pouca liberdade académica

Ainda assim, as críticas chegam quanto à promoção de uma maior liberdade académica. Poderia ter feito mais, mas não fez. “Por norma, a liberdade académica é aceitável [em Macau]. Tanto na UM, como no Instituto Politécnico de Macau a Administração respeita-a, mas diria que há umas certas limitações, uma espécie de autocensura. O próprio reitor nunca fez uma promoção no sentido de existir uma forte liberdade académica ou de expressão. Ele teve bastantes oportunidades para fazer uma melhoria nesse sentido”, acrescentou Larry So.

Jason Chao, activista, é ainda mais claro. “Não posso dizer que tenha sido um grande apoiante da liberdade académica. Não acredito que haja uma garantia da liberdade académica dentro do actual sistema. Independentemente da pessoa que for escolhida para ser o novo reitor, não me parece que as coisas vão mudar.”

Para Éric Sautedé, actualmente a trabalhar em Hong Kong, Wei Zhao não respeitou a liberdade académica, tendo-a ignorado. “O grande erro foi o despedimento de Bill Chou em 2014, por razões possivelmente ‘fabricadas’ e muito dúbias. A liberdade de expressão não foi respeitada e continua a ser esquecida como, por exemplo, para organizar um simples evento para celebrar o 4 de Junho [dia do protesto em Tiananmen]”, apontou.

Polémicas e silêncios

Wei Zhao tem sido um reitor parco em palavras, em que as raras entrevistas são concedidas aos meios de comunicação de língua chinesa. Ainda assim, não teve um mandato fácil.

Um dos casos mais polémicos aconteceu em 2011, quando se soube que o recém-nomeado director da faculdade de Direito, John Mo [entretanto substituído por Gabriel Tong], não era especialista em Direito de Macau. O facto gerou várias críticas por parte da comunidade jurídica, mas o próprio John Mo acabaria por desvalorizar o episódio.

Já em Fevereiro de 2015, o Comissariado de Auditoria (CA) resolveu investigar o “regime de atribuição de alojamento aos trabalhadores da UM”, tema que foi alvo de reportagens devido à existência de alegadas irregularidades e desigualdades na distribuição de apartamentos a docentes no novo campus. Contudo, nada foi apontado à instituição. Foi também analisada a “Instalação da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Macau”.

O CA analisou ainda a criação do Instituto de Investigação Científica e Tecnológica da Universidade de Macau em Zhuhai, cuja criação “comportou graves riscos” para a Administração. Vários juristas chegaram a apontar ao HM que tal acto constituía uma violação da Lei Básica, mas o Governo optou por não fazer uma investigação por considerar que esta interpretação não constou do relatório do CA.

“Não temos muitas informações sobre essa questão. Se me pergunta se, de certa forma, afectou a continuidade do mandato ou a sua reputação, teríamos de ter mais informações para fazer comentários. Comentar algo de forma especulativa não seria justo nem para ele, nem para a própria universidade”, comenta agora Larry So.

Para Éric Sautedé, Wei Zhao “implementou um sistema bastante opaco de gestão, em que o instituto de investigação em Zhuhai é apenas a ponta do icebergue”.

14 Mar 2017

Sanaz Fotouhi, co-produtora de “Love marriage in kabul”: “A política não vai criar a paz”

Co-produziu um filme que aborda a questão dos casamentos arranjados no Afeganistão, mas também escreve. “Love Marriage in Kabul” foi o passaporte para Sanaz Fotouhi vir a Macau participar no festival Rota das Letras. Com o HM conversou sobre o Afeganistão do pós-guerra e de como os padrões ocidentais de liberdade trazem pressão às mulheres do Médio Oriente

[dropcap]Q[/dropcap]Qual a história que está por detrás do documentário “Love Marriage Kabul”? Como é que chegou a esse projecto?
Na realidade, é uma história longa. Quando decidimos [Sanaz trabalhou com Amin Palangi e Pat Fiske] fazer o filme não era para ser este em particular. Em 2006, decidimos fazer um filme sobre o Afeganistão, então viajámos para lá e procurámos por temas interessantes. Deparámo-nos com um assunto terrível, as mulheres que se imolam, como tentativa de suicídio. Mas a curta-metragem, intitulada “Hidden Generation [Geração Escondida]”, continha um assunto tão horrível que as pessoas não se identificaram e, surpreendentemente, o filme não correu assim tão bem, porque não houve essa identificação. Decidimos fazer algo mais positivo. Demorámos alguns anos a pesquisar sobre este assunto, queríamos encontrar uma história feliz. Só depois de ter acesso a esta organização [Mahboba’s Promise] é que descobrimos a história perfeita para fazer o filme.

É difícil encontrar histórias felizes junto das mulheres do Médio Oriente?
Penso que não é difícil, há muitas histórias. É difícil, isso sim, ter acesso às histórias. Sabemos que elas existem, mas o que é mais difícil é estabelecer esse contacto para que as pessoas contem as suas histórias.

As pessoas têm medo de contar ou consideram que muitos dos casos que ocorrem são normais?
É uma questão cultural. O Médio Oriente tem sociedades muito segregadas, a diferença entre o que é público e privado é muito clara. Assuntos como o casamento, ter filhos, suicídio, são coisas muito pessoais, sobre as quais as pessoas não querem falar, sobretudo com alguém estrangeiro. Por isso é que ajudou bastante o facto de ser mulher para fazer este filme. O meu parceiro é o director do filme, mas é um homem [Amin Palangi] e não conseguiu ir a sítios onde eu conseguia ir. Então o meu papel para obter as histórias das mulheres foi muito importante.

Este filme teve uma grande projecção internacional. Isso é fundamental para mostrar ao mundo o que está a acontecer com as mulheres no Médio Oriente?
Sim. Quisemos sobretudo mostrar às pessoas que a vida continua, que as pessoas conseguem viver para além da guerra [do Afeganistão], algo que tem vindo a acontecer de forma contínua nos últimos anos. Com o “Hidden Generation” quisemos mostrar a ocorrência de um problema, era urgente e importante, mas como era muito errado, não havia uma conexão com as pessoas. Mas “Love Marriage in Kabul” tem uma história que todos gostam, todos se apaixonam por ela. Por isso é que as pessoas se identificam mais com este filme.

Nasceu no Irão. Por que decidiu fazer um filme no Afeganistão?
Em parte foi coincidência. O meu pai trabalhou no Afeganistão, em Cabul, então ficámos fascinados com o país. E depois é muito mais fácil fazer filmes no Afeganistão do que no Irão (risos).

Devido à censura?
Sim e também porque precisamos de muitas coisas, permissões, pedidos. No Afeganistão podemos ir simplesmente aos sítios.

Há ainda uma repressão em relação à mulher iraniana?
Para quem vive fora do Irão, ter acesso à realidade do país pode ser surpreendente, porque as mulheres na verdade têm bastante poder e têm vindo a ganhá-lo nos últimos anos. Olhando para os números de acesso às universidades, há mais mulheres do que homens, as mulheres são poderosas nos negócios, são educadas, têm uma voz. A situação é boa se compararmos com outros países vizinhos.

Como a Arábia Saudita, por exemplo.
Sim. Não posso comparar com o Afeganistão, porque o país ainda está a recuperar da guerra. É preciso tempo para recuperar. Mas, comparando com a Arábia Saudita, sem dúvida que a vida é melhor. Há grandes diferenças.

E no Afeganistão? A sociedade está a recuperar no sentido certo?
As coisas têm vindo a melhorar. Quando visitámos o país em 2006, e quando voltámos em 2009, e depois em 2013, fomos observando muitas mudanças. Logo a seguir à saída dos Talibã o país não tinha quaisquer infra-estruturas. Não havia telefones, bancos, tudo foi destruído. Gradualmente fomos vendo uma melhoria na sociedade. Mas, ao mesmo tempo, penso que a situação das mulheres ficou diferente. No filme “Hidden Generation” investigámos as razões pelas quais as mulheres se tentavam imolar. E surpreendentemente as mulheres começaram a fazer essas tentativas depois da saída dos Talibã. Pensávamos que as coisas seriam piores durante o Governo Talibã, mas descobrimos que, com a sua saída, novas coisas começaram a aparecer no país. As mulheres ficaram expostas a novas ideias, mas houve muita pressão.

Não sabiam como lidar com essas ideias.
Não sabiam. Quando os Talibã saíram, a televisão voltou ao Afeganistão. Então as mulheres começaram a assistir a filmes Bollywood e a ver coisas diferentes, mulheres a exporem-se. Muitas pessoas decidiram ir para países como o Paquistão ou o Irão porque a guerra acabou, mas depararam-se com situações de pobreza, também com muita pressão. Depois da guerra começou a surgir também a influência de muitas organizações não-governamentais (ONG) que chegaram ao Afeganistão e começaram a dizer que era preciso dar liberdade às mulheres. Mas a liberdade foi imposta segundo padrões ocidentais. O que percebemos é que podemos ensinar isso às mulheres, mas os homens não estão preparados para ter isso na sociedade. As mulheres podem começar a protestar, mas os homens vão dizer “cala-te e senta-te”. É uma situação extremamente complexa. Não podemos culpar os homens directamente, porque para eles é uma forma de protecção, não sabem lidar com isso.

Como se pode criar então uma liberdade com padrões adaptados ao Médio Oriente, aos seus usos e costumes?
A liberdade é uma coisa relativa. Há diferentes padrões de liberdade. É muito difícil abordar isto porque a liberdade dos países ocidentais é muito diferente da liberdade do Médio Oriente. Há uma enorme diferença cultural. Não acho que a comunidade internacional seja responsabilizada por trazer essa liberdade. Temos é de criar compreensão para que as pessoas possam avançar para isso sem qualquer tipo de críticas. Essa é a solução.

É necessário então uma maior promoção dos ideais e mais acções de educação.
Mais do que as ONG, penso que as histórias são importantes, a arte é importante. Acho que a política não vai criar a paz, é apenas sobre benefícios materiais. Exposições, fotografias, filmes, são uma boa forma de criar essa conexão.

A sua família estava no Irão em 1979. Como viveram a revolução?
A minha história é diferente, porque eu não cresci no Irão. Vivi no Japão, na América, em Hong Kong. O meu pai era bancário e não me considero a típica mulher iraniana. Mas sim, a minha família estava no país nessa altura, viram tudo de fora, não eram propriamente apoiantes do que estavam a acontecer, não se envolveram nessa questão. O meu pai sempre trabalhou em vários países.

Sente-se afortunada pelo facto de não ter vivido no Irão? Isso deu-lhe maior liberdade para fazer coisas?
Essa é uma pergunta interessante, nunca pensei sobre isso. A minha história é única. Sinto que faço mais coisas, e não apenas em relação às mulheres no Irão. Mas isso não tem que ver com o facto de ser iraniana, mas sim com o meu estilo de vida, com o facto de viajar tanto.

Que projectos pretende desenvolver a seguir?
Estou a trabalhar num livro sobre este filme, estou à procura de uma editora. É sobre os bastidores do filme, mas também sobre a minha perspectiva enquanto mulher no Afeganistão. Também sou directora-geral da Asia-Pacific Writers and Translators (Escritores e Tradutores da Ásia-Pacífico).

14 Mar 2017

Lam U Tou: Candidatura à AL? “Não afasto essa possibilidade”

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]studou Ciências Ambientais, mas optou por ter este papel activo junto de associações locais. Porquê?
Tudo começou por acaso. Em 1999, quando acabei a escola secundária, precisava de escolher um curso na universidade. Tinha boas notas, mas era um pouco teimoso. Não queria os cursos que a maioria escolhia e acabei por escolher Ciências Ambientais, porque gostava muito de geografia e da área do ambiente. Na altura vi a notícia de que o Governo iria criar a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, e aí tive mais certezas da minha decisão, porque as questões ambientais ainda eram uma novidade. Depois comecei na comunicação social, o que me deu uma ideia do que acontecia na sociedade. Entrei para uma associação e tornei-me assistente de um deputado e, desde então, tenho estado ligado aos assuntos sociais. Graças ao meu trabalho nas associações tenho contacto com pessoas de várias classes sociais, e participei directamente em muitos casos. Tudo isso ajudou a que fizesse este caminho.

Decidiu sair da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e criar a Associação Sinergia de Macau. Porquê?
Além de trabalhar na FAOM, também estava na Associação Choi In Tong Sam. As duas entidades são independentes mas, de certa maneira, têm algumas relações. Tratava de casos nas associações e descobri que na sociedade existem diversos problemas que estão por resolver. Há uma coisa que lamento: que as pessoas não resolvam os seus problemas e só façam comentários de uma forma geral. Há pessoas a favor do Governo, outras estão contra o Governo, mas muitas vezes não bastar só ter estas duas opções. O mais importante é fazer um balanço entre os problemas, ouvir as vozes dos vários sectores e tudo isso acontece pouco na sociedade.

Que outras razões o levaram a tomar essa decisão?
Já tenho mais de 30 anos e achei que poderia experimentar um novo caminho. Na Associação Sinergia quero reunir uma experiência de dez anos e melhorar as resoluções para os problemas existentes em Macau. Se me pergunta se tenho grandes objectivos ou expectativas, digo que não, mas acho que devemos fazer uma mudança. Mesmo que não seja eu a fazer, alguém em Macau deve fazê-lo.

Quais as razões para a sua saída da FAOM? Achou que não podia conciliar as duas coisas?
Não. A FAOM é uma associação tradicional e sem dúvida que ocupa uma certa posição social em Macau. Mas quando estava na FAOM muitos atribuíam-me uma categoria, como se eu só representasse os trabalhadores e não tivesse em conta as outras questões. Era uma grande pressão para mim. Percebi que o facto de me estarem a colocar numa categoria iria influenciar a eficiência das decisões e soluções, então decidi sair da FAOM e da Choi In Tong Sam. Na altura, questionei os meus actuais colegas da Associação Sinergia de Macau e percebi que tínhamos ideias semelhantes sobre como Macau deve mudar. A nossa associação tem pessoas de áreas diferentes, e se mantivesse a identificação como membro da FAOM seria difícil unir as pessoas.

Quais os trabalhos que a nova associação se propõe fazer?
Estamos focados em questões políticas e seguimos temas que já vínhamos seguindo, na área do trânsito ou da habitação, que são dois temas muito discutidos pelos cidadãos. Muitos dizem que o Governo não faz um bom trabalho nestas áreas, admito que é verdade, mas temos de ver como podemos avançar e resolver os problemas. Temos de ser racionais.  

Que ideias tem para esses dois assuntos?
Ao nível do trânsito, apresentei várias sugestões quando era membro do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários. Falei do túnel pedonal da Guia, pois pensava que, com isso, haveria mais uma opção para os cidadãos se deslocarem. Recentemente o Governo anunciou a intenção de controlo do número de veículos. Não estamos contra a ideia, mas esse controlo, por si só, não melhora o trânsito em Macau, porque já há muitos veículos a circular. Com base nas minhas observações as autoridades devem encorajar as pessoas a terem mais opções em termos de transportes públicos. Seria também eficaz se pudéssemos andar a pé. Mas quanto ao túnel pedonal da Guia, se existisse iríamos demorar apenas 20 minutos entre a zona da Horta e Costa e o NAPE. Recebi muitas queixas de cidadãos que dizem não conseguir apanhar autocarros nesse percurso por causa do trânsito. Além disso, os serviços de autocarros escolares não satisfazem as necessidades, pelo que os pais optam por levar os seus filhos à escola de carro.

Além da habitação e do trânsito, em que outros assuntos se focam?
Na verdade, não nos focamos num assunto específico. Houve pessoas que me perguntaram se a nossa associação se focava apenas para um lado. Honestamente digo que não. Damos importância a todos os assuntos sociais. Convidamos para a nossa associação todos aqueles que quiserem trazer uma mudança para Macau.

É candidato à Assembleia Legislativa este ano?
Ainda não tenho nenhum plano sobre uma candidatura à AL, mas não vou eliminar essa possibilidade. Aproveitamos todos os meios para participar na sociedade. Claro que os trabalhos de candidatura às eleições da AL são muitos e difíceis. Vamos considerar todas as possibilidades mas, neste momento, não tenho um plano concreto. Como somos uma associação nova, temos muitas restrições. Quer seja na AL, quer seja numa entidade consultiva, a associação vai sempre participar de forma activa, porque queremos de facto implementar uma mudança. Sobre a candidatura é cedo para falar, não tenho planos, mas não afasto essa possibilidade.

Pensa que as eleições vão trazer alguma mudança ao hemiciclo? O que poderemos esperar?
Há algo de irracional na AL, sobretudo ao nível dos candidatos que não distinguem entre a distribuição de benefícios e as eleições. Esse é um dos assuntos mais discutidos na sociedade. É necessário que exista uma fiscalização mais rigorosa. Há violação às normas e há muitos espaços cinzentos. Em termos de instruções, Macau ainda tem de fazer mais. O regime de eleições legislativas não é justo para quem possui poucos recursos e a sociedade não está a dar muita atenção a este assunto. O actual sistema político não encoraja os jovens que queiram contribuir para serviços sociais de forma independente.

De que forma?
Isso tem de ser pensado. Se a sociedade quiser encorajar os jovens a expressar mais a sua opinião, temos de criar um sistema em que eles participem e que os permita irem subindo. Nas entidades do Governo, como os conselhos consultivos, as pessoas trabalham a tempo inteiro ou parcial? As pessoas só recebem montante igual ao índice 10 da tabela salarial da Função Pública quando assistem a uma actividade, se não estou em erro. Poderíamos disponibilizar trabalhos a tempo inteiro aos jovens, para que participem com maior esforço. Há muitos cursos de formação na área da política, mas isso não chega. Precisamos de aperfeiçoar o sistema para criar uma plataforma de participação.

Refere-se também à AL?
O problema é o mesmo. As pessoas dizem que não há novos rostos na AL, porque o sistema deve ser melhorado. As pessoas não têm outra opção. Não há uma subida gradual na sociedade e só se entra directamente na AL. Então é difícil [o acesso] para jovens sem recursos e experiência que queiram servir a sociedade.

Apesar disso, acredita em novos rostos nas próximas eleições?
É difícil prever resultados. Mas, com o que temos visto, não antevemos grandes mudanças. É provável que se mantenham os cenários anteriores.

E previsões para a candidatura da FAOM? Kwan Tsui Hang não deverá ser candidata.
Como saí da FAOM, penso que não é conveniente fazer comentários. A FAOM tem uma boa base e acredito que, se continuar assim, com o seu trabalho bem feito, vai receber votos suficientes dos cidadãos. 

Que análise faz ao funcionamento da Assembleia Legislativa?
Na AL há comissões permanentes e de acompanhamento. Penso que as suas funções devem ter mais destaque, pois têm capacidade para exigir explicações ao Governo. Muitos relatórios de auditoria revelam problemas, mas tenho dúvidas se o Governo dará o devido seguimento para a sua resolução. Por isso, estas comissões devem ter um papel mais prático. Além disso, o número de reuniões realizadas não é suficiente, o que significa que não dão o devido seguimento aos dossiers. Noutros países, este tipo de comissões têm sempre muitos trabalhos em agenda mas, em Macau, isso não acontece. Quanto ao Governo, não dá dados concretos para explicar determinadas políticas. Deve esforçar-se mais nesta área.

É membro do Conselho para a Renovação Urbana (CRU). O modo de funcionamento é o ideal?
Se me pergunta se os trabalhos são feitos de forma muito lenta, digo que sim. Os trabalhos deveriam ter sido feitos pelo antigo Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, pois o CRU tem um âmbito maior e mais objectivos. Sempre achei importante fazer bem os trabalhos desde o início. O grande problema é sempre a necessidade de os proprietários chegarem a acordo. Já tentámos fazer ver ao Governo que são necessárias normas claras para a inspecção predial, bem como manter o programa de apoio financeiro para renovação de velhos edifícios. Essas ideias já existiam, mas o problema é que é necessário alterar as leis.

Que outros problemas afectam os avanços na renovação dos edifícios?
Depois de atingido o consenso, os proprietários necessitam de pagar mais do que uma vez o imposto do selo sobre a transmissão do imóvel e o imposto do selo especial. Acho que isso não faz sentido e contraria a intenção original. Já fizemos sugestões ao Governo, resta esperar pela legislação. São ainda precisas melhorias ao nível do ambiente, tráfego e instalações das zonas antigas. Há ainda a necessidade de dinamização dos vestígios e património culturais. Estes quatro pontos devem continuar a ser discutidos no CRU, mas o Governo não coordena bem os trabalhos.

Que outros problemas na sociedade destaca?
A doação de órgãos. Em 1998 já tínhamos legislação sobre o assunto e um regime de doação. Como é que, até agora, ainda não podemos doar órgãos? Esse assunto deve ser analisado.

Dedica-se à associação a tempo inteiro?
Nos próximos meses sim, irei trabalhar para cimentar a associação, mas depois terei de arranjar outro trabalho. Quase parece que agora estou de férias. Espero que a associação possa continuar a funcionar com os esforços de toda a gente.

13 Mar 2017

CAEU | Governo promete mais cursos de formação em português

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] falta de cursos de formação em língua portuguesa na área do urbanismo tem sido uma questão levantada por muitos profissionais, sejam eles arquitectos, engenheiros ou urbanistas.

Em resposta ao HM, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) referiu que é objectivo criar mais acções de formação na língua de Camões. “Para responder às aspirações do sector, a DSSOPT e as instituições de ensino estão a organizar várias acções de formação contínua, algumas das quais têm interpretação simultânea para português.”

O HM revelou numa reportagem publicada em Fevereiro que a predominância de cursos em chinês e as poucas acções de formação realizadas por entidades como a Associação de Arquitectos de Macau (AAM), ou a própria DSSOPT, pode originar dificuldades na renovação das licenças profissionais.

Na resposta, o organismo liderado por Li Canfeng alerta ainda para a necessidade de divulgar previamente as mesmas iniciativas. “À luz do regulamento administrativo, as listas das acções de formação contínua reconhecidas devem ser divulgadas na página electrónica do Conselho de Arquitectura, Engenharia e Urbanismo, juntamente com os demais dados relativos às entidades formadoras, condições de frequência e carga horária das acções de formação.”

A DSSOPT não adianta, porém, qualquer calendário para a realização de acções de formação com recurso à língua portuguesa.

Programa activo

Nuno Soares, membro da direcção da AAM, explicava em Janeiro que o objectivo da entidade é realizar mais acções de formação do que aquelas que têm sido feitas.

“Nem todos os cursos são em português ou inglês, e a regra é que a maior parte deles sejam em inglês, para permitir que todos os membros possam assistir. Há algumas formações em chinês, mas serão a excepção. Sempre que pudermos, faremos em português”, frisou Nuno Soares.

“Todos nós queremos fazer mais formações, a AAM já tinha essa preocupação. Vários membros têm manifestado o facto de não terem muitas horas de formação e, por isso, estamos a tentar fazer mais do que aquelas com as quais nos comprometemos. Estamos a tentar aproximarmo-nos de um curso por mês. O programa está activo e estamos a tentar intensificá-lo”, apontou ainda.

13 Mar 2017

Lai Chi Vun | Os projectos e as ideias antes das demolições

Muito antes de o Governo decidir deitar abaixo os estaleiros, a povoação de Lai Chi Vun foi alvo de vários projectos vindos do sector privado. A muitos deles, o Governo nunca deu uma resposta, chegando a rejeitar outros. O HM revela três projectos propostos por dois amantes da indústria naval, sem esquecer as ideias de estudantes de Arquitectura

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]ouve uma altura em que se pensou além do vazio virado para o mar. Sobre Lai Chi Vun já muito se criou antes de se decretar a demolição dos velhos estaleiros. Alunos de Arquitectura e amantes de barcos feitos com madeira dedicaram tempo pessoal a estudar e a apresentar sugestões para revitalizar a povoação.

Muitas propostas foram entregues ao Governo, explicadas ao detalhe, ou então foram discutidas em debates públicos nos quais membros do Executivo estiveram presentes.

Para Lai Chi Vun pensaram-se edifícios multiusos, ligações ao Cotai ou ao campus da Universidade de Macau, museus, um parque temático ligado à indústria naval, pequenas moradias. Muitos destes projectos acabaram por ficar na gaveta, pendentes, à espera de uma resposta que nunca chegou. Noutros casos, houve recusas.

Um dos projectos partiu de Henrique Silva. O seu amor pelos barcos levou-o a preparar um projecto conceptual em parceria com uma empresa que se dedica à construção de empreendimentos navais virados para o turismo. A proposta foi apresentada ao Governo no ano passado.

“Este projecto contemplava a existência de oficinas, que é uma coisa que não existe em Macau para quem precisa de manutenção de barcos, um museu e um clube para iates. E ainda uma escola de vela”, explicou ao HM. 

Além disso, “na zona onde ficaria a marina colocar-se-iam vivendas”, para dar uma oportunidade de investimento ao sector imobiliário.

“Criava-se ali uma zona privilegiada, porque o turista que chega de barco não é propriamente uma pessoa pobre, e ficaria ainda com acesso privilegiado ao Cotai. Todos ganhavam, porque o projecto também ajudaria a desenvolver a economia tradicional de Coloane, sem ter de a destruir. Desenvolvia-se um núcleo diferente, com outro tipo de animações”, apontou Henrique Silva.

A ideia era, assim, criar um complexo náutico “de nível internacional”, uma vez que a Doca de Lam Mau, localizada na zona do Fai Chi Kei, é de mais difícil e longínquo acesso. “Mantinha-se a memória do espaço e depois poderiam ser incorporados mais pormenores”, disse ainda.

Parque temático à beira-mar

Tam Chon Ip estudou arqueologia, é freelancer e um apaixonado pela cultura de um território que o viu nascer. Também ele teve ideias que gostaria de ver implementadas em Lai Chi Vun. A abertura de uma espécie de parque temático foi uma delas.

“O nosso plano visava a preservação dos estaleiros para serem mostrados ao público, com a implementação de uma zona de teatro, um espaço público e outro tipo de infra-estruturas. Teríamos elementos não comerciais, com a conservação da arte e cultura. A parte mais importante seria um parque temático com workshops sobre a construção de barcos. Os participantes poderiam vivenciar a experiência da cultura tradicional de Macau”, resumiu ao HM.

Um dos pontos centrais do projecto seria o estaleiro Liuhe, onde foi construída a Lorcha Macau. “Sempre pensei que indústria de construção de barcos se poderia transformar em algo cultural e criativo, em que o lado tradicional e inovador poderiam combinar. É possível optimizar a povoação para os turistas, moradores e residentes. A própria povoação de Lai Chi Vun é um museu ao ar livre.”

Apesar do esforço, Tam Chon Ip acabou por ver algumas das suas ideias recusadas, ao nível de pedido para financiamento. “Temos vindo a promover o projecto e também nos candidatámos a vários apoios, mas alguns projectos não foram aceites, o que criou dificuldades.”

Este amante da história e da cultura chegou a promover uma pequena exposição sobre os estaleiros em Lai Chi Vun, “mas não houve qualquer novidade depois da visita das autoridades”.

Ligação a Hengqin

Em 2013, a povoação de Lai Chi Vun obteve projecção internacional ao ter sido alvo de um projecto desenvolvido por alunos de Arquitectura do Instituto Politécnico de Milão, no âmbito do Prémio Compasso Volante. José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), presidiu ao júri, que contou também com a presença do arquitecto Carlos Marreiros.

“Foi feito um concurso aberto a estudantes de pós-graduação de várias universidades, nomeadamente o Politécnico de Milão, a Universidade de Palermo, uma universidade de Singapura e outra do Japão. Nesse concurso os alunos vieram a Macau, estiveram alguns dias cá e fizeram vários levantamentos sobre a zona de Lai Chi Vun e a história de Macau”, contextualizou.

Os estudantes foram orientados pelos professores, fizeram os projectos e apresentaram-nos primeiro em Palermo, e depois em Milão. “Foi uma oportunidade para expor questões importantes do ponto de vista de reabilitação urbana, e procurar soluções arquitectónicas para problemas que existiam e continuam a existir na cidade”, indicou José Luís Sales Marques.

O presidente do IEEM recorda que foram apresentadas “várias soluções”, incluindo a possibilidade de construir uma ligação entre Lai Chi Vun e a Ilha da Montanha, no pedaço de terreno onde funciona o campus da Universidade de Macau.

“Foi um exercício muito válido e interessante, que envolveu muita gente, uma comunidade internacional bem informada. Os trabalhos estão bem fundamentados, há pormenores, e descrição do ambiente e do local. As soluções apresentadas eram destinadas sobretudo ao lazer, que é muito aquilo que o Governo pretende para aquela zona.”

A importância das técnicas

Numa entrevista concedida o ano passado ao HM, Carlos Marreiros revelou alguns detalhes sobre as propostas que o Governo viu, mas sobre as quais nunca reagiu. Foi pensada “a construção de residências de luxo, com apenas três andares, integradas na colina”, sem esquecer a edificação de “uma pequena marina e um museu, incluindo uma super cobertura integrada com a actual estrutura dos estaleiros. A iniciativa privada fazia as suas contas, o Governo adquiria isto e geria-o”.

À data, Marreiros confessou que sobre Lai Chi Vun não havia nada de concreto. “Fizemos estudos, propusemos ao Governo, não há resposta. Havia uma parte para viabilizar a construção, para construir e ganhar dinheiro”, apontou.

Sales Marques entende que já não é possível deixar os estaleiros como eles estão, mas fala sobretudo da necessidade de manter vivas as técnicas de outrora.

“São construções lacustres, que têm uma grande beleza. São estruturas industriais mas feitas com grande plasticidade, e isso também é importante, porque pode servir de inspiração para outras coisas. Os alunos que vieram de Milão ficaram maravilhados com aquela plasticidade, as soluções, o tipo de construção, como se resolviam problemas de arquitectura, com recurso a meios bastante simples.”

As exposições do Prémio Compasso Volante levaram à organização de um debate no Albergue SCM, mas poucas respostas foram obtidas. “A nossa ideia era fazer uma exposição com a associação de moradores da zona, mas não conseguimos encontrar um local para isso [em Lai Chi Vun]. Fizemos então um debate ao ar livre nas instalações do Albergue, em que estiveram responsáveis do Instituto Cultural. Apresentamos as ideias todas na altura”, concluiu Sales Marques.

O presidente do IEEM frisou que “a questão que se coloca é que não há qualquer resposta”. “É importante perceber o que existe na cabeça de quem manda nestas coisas.”

Sales Marques, que se debruçou sobre o estudo de uma importante indústria naval, recorda que nos idos anos 50 e 60 chegaram a morar cerca de 50 mil pessoas na zona do Porto Interior, nas chamadas aldeias flutuantes. Nos dias de hoje parece não haver vontade de preservar essas memórias.

“O que é triste em Macau é que as pessoas não dão valor a essas coisas, ao simbolismo, às coisas que nós fazemos. É pena que, por inacção, tenhamos de chegar ao ponto em que parece que não há alternativa se não a demolição. Aquele deve ser um espaço público, e não deve ser privatizado para a construção de luxo”, defendeu Sales Marques.

10 Mar 2017

FIJ | Caso Jinan terá dado origem a casos de auto-censura nos media chineses

A doação de cem milhões de yuan à Universidade de Jinan pela Fundação Macau terá originado situações de auto-censura em alguns meios de comunicação em língua chinesa. É o que aponta o último relatório da Federação Internacional de Jornalistas, que fala de injustiças aquando da visita de Li Keqiang

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais recente relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), referente ao ano de 2016, tece duras críticas ao panorama da comunicação social em Macau, com foco para situações de auto-censura e alegada pressão exercida por parte de entidades governamentais.

Com o título “Macau discrimina”, a FIJ relata uma situação denunciada pela Associação dos Trabalhadores da Comunicação Social, ocorrida a 13 de Maio do ano passado, sobre a produção noticiosa acerca dos cem milhões de yuan que foram doados pela Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan.

A associação “lançou um comunicado a condenar as acções de diversos jornalistas locais que fizeram auto-censura ao seu trabalho”, sendo que “vários jornalistas recusaram revelar os nomes dos funcionários do Governo que foram fontes de artigos que eles próprios escreveram sobre alegados favorecimentos levados a cabo pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On”.

“O comunicado aponta: ‘Os artigos foram eliminados e os comentários mais críticos dos entrevistados foram removidos. Alguns jornalistas deliberadamente começaram a desempenhar outras funções. Um dos órgãos de comunicação enviou uma lista de entrevistados aos jornalistas e disse que deveriam ser contactados aquando da produção de notícias importantes. Os jornalistas foram ainda avisados de que as notícias deveriam ser positivas’”, lê-se.

Segundo a FIJ, a mesma associação referiu que há “razões para acreditar que os órgãos de comunicação social exerceram auto-censura, mas também receberam pressão do Governo”.

O relatório faz referência ao facto de Chui Sai On ser parte integrante da direcção da Universidade de Jinan, ao mesmo tempo que também preside ao conselho de curadores da FM. “Chui Sai On foi acusado de utilizar dinheiros públicos para os seus próprios interesses políticos”, aponta o documento.

Li Keqiang só para alguns

O relatório da FIJ faz também referência ao tratamento dado aos media aquando da visita de Li Keqiang. “Em Outubro, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang visitou Macau. Os media locais seguiram todos os procedimentos para pedirem o acesso aos locais de visita, mas pelo menos um meio de comunicação viu ser-lhe negada a permissão para ter acesso à maioria dos eventos, sem que lhe tenha sido dada qualquer explicação”, pode ler-se.

Na prática, um “órgão online independente e livre” terá sido “tratado de forma injusta por parte do Governo” de Macau, aponta a FIJ. Sem apontar nomes, a entidade afirma que este “teve apenas permissão para participar em apenas três dos 12 eventos organizados, enquanto os media tradicionais obtiveram permissão para estar nos 12 eventos”.

O documento refere ainda o facto de as autoridades policiais não terem divulgado informações sobre dois falsos atentados à bomba, um caso denunciado pela Associação de Jornalistas de Macau.

“Quando foram questionados sobre o atraso na transmissão de informação para nós, responderam que ‘Não informamos os media até que todos os riscos tenham sido afastados’”. A associação disse que o acto foi uma clara violação do direito à informação”, esclarece o documento.

Os recados da FIJ

Na visão da FIJ, os meios de comunicação social locais “enfrentaram obstáculos, não só da parte do Governo que atrasou o fornecimento de informação, mas também ao nível da auto-censura imposta pelas direcções [dos meios de comunicação].”

É ainda feito o aviso para a necessidade de maior isenção por parte dos jornalistas. “Consideramos urgente que todos os profissionais de media estejam alerta e que defendam o jornalismo profissional. Devem manter uma solidariedade profissional e manterem-se neutros, precisos, equilibrados e justos. Devem recusar pedidos de manipulação de fontes, questões pré-seleccionadas ou submeter questões para aprovação do Governo ou orquestrar reportagens ‘exclusivas’.”

A FIJ defende ainda que “o facto de as pessoas estarem em silêncio não significa que a sociedade é harmoniosa”. “O papel dos media deve ser o de observar e registar o que acontece, e não assumir este ou aquele lado. Um desequilíbrio de poder entre a elite que governa e as pessoas comuns pode levar a uma sociedade desastrosa, na qual ninguém se sente seguro e respeitado.”

“Os jornalistas devem estar atentos às necessidades das pessoas e evitar suprimir da informação ou transformarem-se em ‘parceiros’ do outro lado da barricada. Se isso acontecer, as pessoas que apoiam a verdade devem dizer em voz alta ‘não!’”, alerta a FIJ.

Ao HM, José Carlos Matias, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), referiu que a entidade não foi contactada pela FIJ. “A nossa associação está a levar a cabo um inquérito sobre questões relacionadas com a liberdade de imprensa e acesso às fontes, estando agora a iniciar o processo de análise e redacção [do relatório]. Quando tivermos o relatório em mãos, vamos tentar ter uma visão sobre os problemas levantados”, concluiu.

10 Mar 2017

SAFP | Proposta para aumentos por categorias este ano

O director dos Serviços de Administração e Função Pública afirma que já no segundo semestre deste ano deverá ser apresentada uma proposta inicial para a actualização dos ordenados dos funcionários públicos. A ideia é estabelecer aumentos salariais conforme as categorias que desempenham

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap] se em vez de os aumentos na função pública serem iguais para todos existissem vários valores de aumento, para as diferentes categorias de trabalho? Em resposta à interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), garantiu que uma proposta inicial nesse sentido deverá ser submetida ainda no segundo semestre deste ano. Os SAFP prometem realizar uma consulta junto dos funcionários públicos sobre o assunto, tendo prometido implementar o regime “passo a passo”.

Em 2015, numa resposta a outro deputado, Kou Peng Kuan alertou para as dificuldades de implementação da medida, dada a “alta complexidade” que seria uma total alteração da estrutura salarial da Administração Pública.

Kou Peng Kuan adiantou ao deputado Si Ka Lon que os SAFP vão, com base nos resultados da reflexão sobre o regime de carreiras, submeter uma proposta quanto à actualização das remunerações por categorias.

O mesmo responsável acrescentou que o Governo já iniciou trabalhos sobre esta questão, tendo analisado o sistema já existente em Hong Kong. Tudo para que seja criado um mecanismo de actualização salarial mais flexível e razoável, e também para afastar os preconceitos em relação ao desempenho de diferentes categorias na função pública.

O director dos SAFP recordou ainda a Si Ka Lon que existem várias medidas de apoio financeiro para os trabalhadores públicos das camadas mais baixas. A título de exemplo, no início deste ano o índice mensal do subsídio de residência passou de 30 para 40.

Juntar categorias

Para o deputado José Pereira Coutinho, também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), há muito que o Governo vem, sobre esta matéria, “navegando consoante os ventos que sopram”.

Apesar de clamar pela implementação dos aumentos por categorias, Pereira Coutinho considera que deve haver junção de algumas delas, uma vez que as funções a desempenhar são muito semelhantes.

“Propusemos a junção da categoria de técnico com a de técnico superior, por exemplo, para separar a água doce da água salgada em termos de remunerações, para que a situação seja mais justa para os trabalhadores da função pública. Não recebemos resposta às nossas opiniões”, disse ao HM.

“O Governo explora trabalhadores pagando salários diferentes das funções exercidas. Propositadamente, o Governo contrata trabalhadores de índice 195 e obrigam-nos a exercer funções entre as categorias 260 a 350 da tabela indiciária. Enquanto o Governo não respeitar isso e continuar a explorar os trabalhadores desta forma, por mais que se actualizem os vencimentos de algumas categorias não se resolve o problema estruturante”, concluiu.

9 Mar 2017

Lai Chi Vun | Dois estaleiros foram ontem demolidos

 

O Governo arrancou ontem com a demolição de dois estaleiros na povoação de Lai Chi Vun. Os trabalhos fizeram-se de modo tranquilo, sem revolta dos moradores ou antigos construtores navais. As Obras Públicas vão fazer um concurso público para o novo planeamento

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] destruição já se adivinhava há cerca de dois dias na povoação de Lai Chi Vun. Alguns técnicos apareceram no local para fazerem marcações junto aos dois terrenos onde estão localizados os estaleiros em que o risco de queda é maior. Ontem, aquilo que moradores e antigos construtores de barcos mais temiam aconteceu: responsáveis da Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), juntamente com os técnicos da Companhia de Engenharia Sun Hong Kin, procederam à destruição dos dois primeiros estaleiros localizados logo no início da rua.

Tudo começou por volta das nove da manhã, mas não houve registo de tumultos ou protestos. David Marques, porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, tem a sua casa localizada ao lado do primeiro estaleiro demolido. Ao HM, explicou que algumas pessoas se reuniram no local para garantir que nada acontecia às suas moradias, mas não houve sequer a tentativa de travar a demolição.

A DSAMA nunca chegou a avançar a data oficial para o começo dos trabalhos, apesar de a questão ter sido colocada pelo HM. O comunicado de imprensa sobre o assunto só foi tornado público durante a manhã de ontem, quando as máquinas já trabalhavam a todo o vapor em Lai Chi Vun.

O documento aponta que a DSAMA “instou à empresa de construção [Sun Hong Kin] que tomasse medidas para garantir que a obra não afectasse a segurança das barracas e instalações vizinhas”. Por sua vez, o Instituto da Habitação (IH) “aconselhou os residentes das barracas a desocuparem temporariamente as barracas durante a execução das obras”.

O mesmo comunicado apontava ainda que “caso estes tenham necessidades e satisfaçam os requisitos, os serviços competentes podem disponibilizar-lhes alojamento temporário”. Necessidade que, segundo o porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, não parece existir para já.

Si Kong Iao, engenheiro civil responsável pela empresa Sun Hong Kin, disse ao HM que os trabalhos de demolição dos dois estaleiros, incluindo a limpeza dos terrenos, deverão demorar 50 dias. O comunicado explica que depois “proceder-se-á ao nivelamento do terreno, para garantir a segurança pública e salubridade ambiental”.

“A estrutura que dá apoio aos estaleiros estava quase a cair, e o tecto também estava prestes a colapsar. Como engenheiro digo que vale a pena esta demolição porque os estaleiros já estavam em muito mau estado”, referiu.

A Sun Hong Kin será apenas responsável pelos trabalhos relativos aos dois estaleiros. “Não sei qual será o futuro dos restantes”, acrescentou Si Kong Iao.

Concurso para novo estudo

Quanto ao planeamento da zona, a DSAMA adianta apenas que “a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes irá coordenar os trabalhos relativos ao concurso público para a realização do estudo de planeamento”, isto apesar de já existir um relatório datado de 2012, cujo conteúdo se desconhece em pormenor.

O objectivo é amplificar o “âmbito do planeamento, tendo em conta a realidade da zona, e ponderar, de forma global, o arruamento e instalações públicas da respectiva zona, atendendo às necessidades de desenvolvimento sustentável da vila de Coloane”. Tudo para que se possa oferecer “no futuro um espaço de melhor qualidade para os cidadãos e turistas”.

Sobre os restantes estaleiros, a DSAMA garante que há quatro terrenos “cujo estado de instalações é aceitável e com melhor ambiente”, sendo que a entidade “está a analisar o pedido de renovação das licenças desses lotes”. Há ainda três lotes que foram recuperados nos últimos anos e que se encontram em “procedimento administrativo” por forma a serem entregues “aos serviços competentes após a sua conclusão”.

9 Mar 2017

Turismo | Proposta de Kou Hoi In junto da APN gera críticas

 

Pouco impacto nas receitas do jogo, falta de infra-estruturas e pior qualidade de vida para quem cá vive. Eis as críticas apontadas por dois analistas à proposta feita pelo deputado Kou Hoi In de criar vistos chineses com duas entradas a cada três meses

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Kou Hoi In quer mais turistas a visitar Macau. Segundo o Jornal Tribuna de Macau, o também representante da RAEM na Assembleia Popular Nacional (APN) fez uma proposta junto do órgão legislativo da China quanto à possibilidade de estabelecer vistos que permitam duas entradas a um turista por cada ciclo de três meses.

Em declarações ao HM, o economista Albano Martins prefere recorrer à ironia para mostrar que está contra a proposta. “Deviam chegar turistas todos os dias, 365 dias por ano, e o deputado devia andar nas ruas de Macau. A qualidade de vida da população é muito mais importante do que ter gente a meter dinheiro ao bolso”, apontou apenas.

Já Anthony Wong, docente na área do Turismo da Universidade Cidade de Macau (UCM), alerta para a falta de infra-estruturas que persiste no território. “Esta medida pode de facto trazer algum desenvolvimento ao turismo mas, no território, deve haver também um desenvolvimento em termos de infra-estruturas, com mais entretenimento. Não falo de mais hotéis, mas em termos de espaços e eventos, para garantir o conforto de quem nos visita. Acho que ainda temos uma deficiência a esse nível. Se queremos atrair mais turistas, ainda há muito a melhorar.”

Impacto assim-assim

Em termos económicos, Anthony Wong considera que os vistos de duas entradas a cada três meses, sistema que já vigora em Hong Kong, não trarão grandes consequências.

“Poderia melhorar um pouco mais em termos de número de turistas, especialmente para os que vêm de Guangdong. Mas não traria um grande impacto na economia. Poderia existir algum aumento em termos de chegada de turistas em trânsito, dos que circulam entre Guangdong e Hong Kong com frequência”, diz.

Para Anthony Wong, uma mudança nos vistos nem sequer iria contribuir para um aumento significativo das receitas do jogo. “Poderia haver algum impacto, porque haveria mais turistas. Mas o problema é que esta medida não iria levar mais turistas para o jogo, não é esse o foco, especialmente se falarmos de jogadores VIP.”

As mudanças iriam verificar-se, sobretudo, na percepção do território enquanto destino de turismo em trânsito. “Poderia ser uma oportunidade para promover Macau para um turismo em trânsito. Aí haveria uma promoção do turismo no Delta do Rio das Pérolas e Macau seria apenas uma das paragens, com turistas com múltiplas entradas”, concluiu o docente da UCM.

9 Mar 2017

House of Beijo, loja de vinhos e conservas | Douro, um amor tardio

Natural de Hong Kong, Gordon Yue já importava vinhos de vários países, mas o sabor do néctar português não o fascinava. Um convite à região do Douro mudou tudo. Há dois anos abriu a House of Beijo, loja de vinhos, conservas e produtos de cosmética, por ser uma palavra que apela ao amor e à felicidade, juntamente com um copo na mão

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão foi amor à primeira vista. Até há quatro anos, Gordon Yuen não conseguia encontrar um único vinho português de que gostasse. “Sempre achei que o sabor era uma porcaria. De verdade. Naquela altura, quando vinha a Macau e tentava provar algum vinho, todos tinham um mau sabor”, contou ao HM.

Um convite para ir à região do Douro acabou por mudar a sua percepção sobre os produtos e, hoje, a loja que Gordon Yuen possui na Calçada do Amparo, em Macau, obteve o nome graças a uma das zonas com mais história em termos de produção de vinhos. House of Beijo, ou Casa do Beijo, roubou o nome ao vinho “Quinta do Beijo”.

“Recebi um convite para ir ao Douro, então pensei ‘nunca estive em Portugal e tenho aqui uma viagem grátis, com tudo pago’. Foi a primeira vez que fui ao Douro. Havia uma prova de vinhos e achei o vinho incrível. Não conhecia nada sobre aquela região, e comecei a partir daí a adorar esse vinho e a promovê-lo”, contou ao HM.

As viagens a Portugal começaram a ser uma constante. “Vou ao Douro, a Lisboa, a várias zonas produtoras de vinho. Mas continuo a achar que o vinho do Douro é o melhor.”

O português é que vende

Durante a entrevista, Gordon Yuen foi à estante buscar uma garrafa de “Quinta do Beijo”, enquanto degustava um copo de vinho de outra nacionalidade. A razão? As fracas vendas dos vinhos franceses, americanos ou espanhóis na loja, e o sucesso do vinho português junto dos turistas.

“Se abrisse a loja de novo não escolheria esta localização e levava a maioria dos vinhos para Hong Kong, à excepção dos portugueses e do vinho do Porto. São os melhores. Todos os clientes que chegam aqui, sejam da China, de Taiwan ou da Coreia, só procuram vinhos portugueses. Não sabem que há vinhos franceses ou italianos. Compram três e quatro garrafas. Os outros fazem-me perder tempo, acabo por ser eu a bebê-los”, apontou.

O sabor das conservas

Além das estantes cheias de garrafas de vinho, a House of Beijo tem também várias conservas, um sucesso junto de quase todos os turistas que por ali passam. Gostam da qualidade do produto, do sabor do peixe com os vários temperos. Há também produtos de cosmética para a pele e cabelo, vindos de França e feitos com ingredientes naturais.

Voltando ao vinho, Gordon Yuen assegura que, na hora de vender para casinos e hotéis, é o vinho francês que acaba por ser sinónimo de qualidade e elegância dentro de um copo. “Quando os clientes vão jogar procuram mais esses vinhos”, aponta, referindo que a culpa é da falta de estratégia de marketing por parte dos portugueses. “O vinho francês é mais conhecido. O vinho português é muitas vezes considerado um vinho barato e nem todos os clientes VIP gostam. Um vinho francês é quase sempre considerado muito bom.”

Os entraves

Com as portas abertas há dois anos, e com o negócio de importação a correr sobre rodas em Hong Kong, Gordon Yuen explica que o volume de vendas na House of Beijo poderia ser maior.

“Tenho de dizer que a localização desta loja não é a ideal, porque não há muita gente a passar por aqui. Está um pouco aquém das minhas expectativas. Se abrisse de novo não escolhia esta localização”, referiu.

Gordon Yuen falou ainda dos entraves que podem existir na relação empresarial com os produtores portugueses. “Em Portugal, o estilo de vida é considerado mais importante do que o negócio. Se eu disser que quero este e aquele produto, dizem-me: ‘ok, está acordado’, mas três meses mais tarde continuo a não ter a minha encomenda. Não é fácil fazer negócio, sobretudo na área dos vinhos. Precisam de ter grandes encomendas para enviar aos importadores, para não ser tão caro, e precisamos de esperar.” Tudo isto é dito com o sorriso de quem ultrapassa as diferenças culturais na hora de negociar.

8 Mar 2017

Tabaco | Comissão volta a analisar o diploma na Assembleia

Há mais de seis meses que os deputados não se debruçam sobre a revisão do regime de prevenção e controlo do tabagismo, que prevê o fim das salas de fumo nos casinos. O regresso à análise na especialidade de um diploma polémico está marcado para a próxima terça-feira

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma lei cujo processo de revisão tem sido feito de avanços e recuos, mas parece que, desta vez, vão ser dados passos em frente. Há mais de seis meses que a 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) não se encontra para analisar na especialidade o regime de prevenção e controlo do tabagismo, mas está agendada uma nova reunião para a próxima terça-feira.

Esta sessão de trabalho decorre depois de o Governo ter mostrado abertura para a permanência de salas de fumo nos casinos, desde que com padrões mais rígidos.

No período em que a análise na especialidade ficou em banho-maria, as operadoras de jogo tornaram públicos dois relatórios que comprovam que, afinal, as salas de fumo desempenham bem o seu papel. Do outro lado, as associações de trabalhadores do jogo têm refutado essas conclusões.

A última vez que a comissão presidida pelo deputado Chan Chak Mo reuniu foi em Junho do ano passado. Nessa altura, foi referido que a elaboração de uma nova proposta iria atrasar os trabalhos, uma vez que sete deputados da comissão se mostravam a favor das salas de fumo e apenas dois estavam a favor da proibição total do tabaco nos casinos.

Muitos consideravam então o documento de trabalho de revisão da lei “parcial”, pelo que se impunha a necessidade de prolongar a análise. “É para ser mais democrático. Há deputados que entendem que o memorando não está bem redigido porque não reflecte bem as suas opiniões”, referiu Chan Chak Mo na altura.

Em Agosto, o deputado Au Kam San mostrou-se preocupado com a possibilidade de o diploma ficar esquecido nas gavetas do hemiciclo. Na altura, o HM questionou a Assembleia sobre o facto da discussão em torno do diploma estar parada, sendo que muitos deputados defenderam que a revisão não era prioritária. Ng Kuok Cheong, o seu colega de bancada, chegou mesmo a dizer que poucos gostariam de ver a revisão da lei avançar.

As contradições

Pelo meio falou-se de uma contradição: se na generalidade a revisão da proposta de lei passou com a aprovação da maioria dos deputados, no seio da comissão as opiniões revelaram ser diferentes.

Numa ocasião pública, o deputado Leong Veng Chai frisou isso mesmo. “Na altura, a maioria dos deputados votou a favor mas depois, quando chegou à comissão, só dois deputados mantiveram essa opinião. Percebem a contradição?”, questionou.

Em Fevereiro deste ano chegaram as declarações que, segundo o Governo, não representam uma reacção a pressões. “Se as salas de fumo forem bem instaladas e não afectarem os outros, então não há problema”, disse Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Resta saber quais as conclusões da próxima reunião da 2.ª comissão permanente da AL.

8 Mar 2017

Instituto do Desporto em silêncio sobre processo de adesão ao Comité Olímpico

Depois de o Chefe do Executivo ter dito que Macau aceita o facto de não ser um Estado soberano para pertencer ao Comité Olímpico Internacional, o Instituto do Desporto nada diz sobre o que tem sido feito nesse sentido desde 2007. Resta a promessa de participação em eventos do Conselho Olímpico da Ásia

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto do Desporto (ID) não adianta qualquer informação sobre as etapas que têm sido levadas a cabo na tentativa de adesão de Macau ao Comité Olímpico Internacional (COI). O HM quis saber o que tem sido feito nos últimos dez anos, bem como se Macau iria mesmo “desistir” do processo de adesão ao COI, após as declarações do Chefe do Executivo, Chui Sai On.

Contudo, o ID apenas afirmou que os atletas locais e as instituições desportivas vão continuar a participar em eventos sob alçada do Conselho Olímpico da Ásia (COA).

“O ID vai continuar o seu esforço no apoio ao desenvolvimento do desporto em Macau e, enquanto membro do COA, Macau vai participar de forma activa nos eventos por si organizados e em outras competições internacionais. [Tal irá] providenciar o desenvolvimento do desporto local, o qual irá realizar-se com condições favoráveis por forma a atingir novas metas de desenvolvimento”, explicou o organismo ao HM através de resposta escrita.

Esta segunda-feira, no âmbito de um encontro com Gou Zhongwen, director da Administração Geral do Desporto e presidente do Comité Olímpico da China, Chui Sai On disse que a RAEM “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar o Comité Internacional, apesar das alterações introduzidas nas regras do COI”. Hong Kong que, tal como Macau, não é um país, faz parte do COI desde 1951.

Mais do mesmo

Da parte do ID, nada mais há a acrescentar à história oficial que já se conhece. “No seguimento da criação do Comité Olímpico de Macau, em 1987, foi submetida a candidatura de adesão ao COI e ao COA. Enquanto que a candidatura ao COA foi aprovada em 1989, a revisão dos estatutos do COI feita em 1996 significou que apenas ‘Estados independentes’ seriam reconhecidos, e Macau não poderia ser aceite como membro do COI.”

Em declarações ao HM, Manuel Silvério, antigo presidente do ID, considerou que as palavras do Chefe do Executivo não representam a total desistência da RAEM, tendo dito ainda que, em 2007, o território estava prestes a fazer parte do COI.

“Como pessoa ligada ao desporto e residente digo que, se Macau desistir, e se as pessoas pensarem em não levar para a frente essa luta, não estamos a fazer as coisas de acordo com a Lei Básica, não estamos a fazer as coisas como Hong Kong fez e somos nós próprios que estamos a recusar um direito que é nosso”, acrescentou Manuel Silvério.

8 Mar 2017

Raquel Ochoa, autora da biografia de Manuel Vicente: “O seu génio era, por natureza, caótico”

No meio dos esquissos pragmáticos fazia poesia e filosofia, buscava eternamente um desconhecido para o conhecer e criar uma outra coisa. A paixão pela arquitectura durou até ao fim, tal como o lado pop que marcou um génio “irrepetível”. O livro “Manuel Vicente: A Desmontagem do Desconhecido” é hoje apresentado no edifício do antigo tribunal, no âmbito do festival Rota das Letras

[dropcap]C[/dropcap]omo é que chegou a Manuel Vicente e à possibilidade de escrever a sua biografia?
É uma aventura com muitos anos, porque escrever sobre Manuel Vicente é tudo menos fácil. Não é uma pessoa com um carácter e um percurso linear. Nenhum ser humano é, mas o Manuel Vicente destaca-se. O seu génio era, por natureza, caótico. Ele costumava dizer que a maneira de se ordenar era utilizando aquelas grelhas que ele usava muito na sua arquitectura. Quanto ao resto não seguia um padrão, não tinha uma forma de querer agradar a um qualquer parâmetro. Começámos este trabalho com o apoio do Centro Cultural e Científico de Macau. Um amigo que foi aluno dele, o Sérgio Xavier, disse-me: ‘Tu que escreves biografias vais adorar o meu professor, que é um homem que eu adoraria que alguém que não tem nada que ver com a arquitectura tentasse capturar a sua personalidade’. Fui um pouco sem saber ao que ia, mas fiquei imediatamente convencida. Comecei então a entrevistar Manuel Vicente, a conhecer alguns dos seus amigos. Isto durou dois anos e nunca pensámos que iria demorar tanto tempo a ser publicado o livro.

O que levou a isso?
Ele adoeceu e, antes disso, estava com trabalho e menos tempo. Por causa da doença afastámo-nos, ele afastou-se de toda a gente. Após a morte dele demorei a encontrar a finalização do projecto. 

Porquê?
Este trabalho não é uma biografia, chamo-lhe ensaio biográfico. Se estava pensado para ser uma biografia, não pôde ser no final devido à sua partida.

Houve histórias que ficaram por contar.
O meu trabalho não ficou completo e tinha de assumir um risco. Ou finalizava a biografia com um método que não é o meu ou tinha de chamar-lhe outra coisa, e torná-lo num documento interessante e importante para entender a vida de Manuel Vicente. Aí foi essencial a aproximação e interesse de Rui Leão, que foi seu colega e que o conheceu muito bem. Deu-me algum apoio e a sua equipa direccionou-me onde estava perdida. Depois fiz várias entrevistas e pude completar esta biografia. Tive acesso a um trabalho do Bruno Alves, que fez uma tese de mestrado sobre o arquitecto.

Que Manuel Vicente podemos ter no livro? Vamos ter o homem caótico ou o arquitecto que gosta de pop art?
É uma pergunta à qual é difícil responder. Sempre quis mostrar o Manuel Vicente íntimo, que não era nada fácil. O meu foco não é, de todo, a arquitectura. Esta aparece porque é a linguagem dele, é a maneira como ele se projecta na sua construção como pessoa. Percebo pouco ou nada de arquitectura e, aliás, a feitura deste livro muda-me completamente a visão que tenho sobre ela, sobre as cidades. As conversas com ele alteraram também a minha maneira de olhar o mundo. Há uma alteração entre a Raquel que não conhece o Manuel Vicente e a Raquel que passa a conhecê-lo. Fascina-me o carácter, o pensamento filosófico. O que me interessou partilhar foi: porque é que este homem consegue pensar desta maneira.

Ele próprio era uma pessoa do mundo. Muitos consideram-no um arquitecto de Macau, mas ele não gostava muito dessa designação.
Não posso com toda a certeza dizer que não gostava, mas posso dizer que ele se via como um arquitecto do mundo. E com muito mundo. Essa é uma das facetas que tento ao máximo apresentar de uma forma muito simples, contando episódios passados em várias partes do mundo e as pessoas que o influenciaram. Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é viajar e identifiquei-me muito com o Manuel Vicente viajante. Há episódios incríveis na vida dele. Há um episódio em que ele tem a oportunidade de dar quase a volta ao mundo durante seis ou sete meses. A primeira mulher está grávida e, por um acidente de percurso ele perde um transporte, e quando chega à maternidade a mulher já tinha tido o filho. Obviamente ela não gostou, ele conta isto com imensa pena, mas este episódio revela bem o viajante que Manuel Vicente era e também o que é viajar: faz-nos também perder muitas coisas. Até ao fim da vida, lidou com as consequências de ser um viajante e de não ser um homem que assentou só num sítio. Falo nomeadamente da dificuldade que é estudar a obra arquitectónica dele, que é uma obra dispersa.

Que pessoa foi o Manuel Vicente que não está espelhada nos edifícios que desenhou? Há outro lado?
Sem dúvida. Qualquer pessoa que tenha tido a oportunidade de privar com ele entende essa espontaneidade com que ele falava e se incorporava nas coisas. Ele tinha uma forma de ver esta planta que aqui está numa rua, numa cidade, num projecto. Tinha uma maneira de emergir nas coisas. Incorporava-se nas coisas com um mergulho completamente louco, de uma maneira incansável. São épicas as histórias dos seus ateliers, em que todos viviam praticamente neles. Ele impunha esse ritmo, mas aquilo era uma festa, não era nada imposto. Esta é talvez a faceta mais conhecida dele, a maneira fogosa com que ele vivia as coisas. Para mim, o mais interessante foi captar tudo isso em discurso directo. É ouvir a maneira como ele sussurrava as coisas. Em pormenores tentei ao máximo trazer essa voz dele, dos tempos que precisava para começar a falar das coisas. Não o vejo ou nunca o vi como arquitecto, como os outros olham para ele e têm um enorme respeito pela sua arquitectura. Entendo esse respeito, mas o que me fascinou foi o pensador Manuel Vicente. A maneira como ele pensa sobre a construção de uma identidade, de um povo.

Quando pensamos na arquitectura pensamos em algo estático, com números, linhas, e ele ia além disso. Ia além desse pensamento pragmático.
Sim. Ele tinha uma objectividade que é clara nas suas obras, mas era dentro dessas linhas que ele criava poesia. Eu também o via como poeta. Estava sempre a fazer grandes anotações de frases que ele dizia e que eram autêntica poesia. Confesso que vi o meu trabalho inacabado, mas chegámos a um produto final que vale a pena. Não é por acaso que não existem milhares de biografias sobre ele. É muito difícil encontrar um fio condutor para a história da vida dele. Era um homem de uma errância em relação ao pensamento e espaço físico onde viveu, e à própria arte que praticava. Ele recebeu influências de arquitectos também eles completamente erráticos e fora do sistema, e tudo isso é difícil de compilar e colocar numa obra biográfica.

Nessas conversas como surgia Macau? Surgia de forma espontânea, era um território que lhe dizia muito?
Macau surgiu nas nossas conversas constantemente. Não houve uma conversa em que Macau não surgisse. Era muito giro, porque ele tinha várias Macau na sua vida. Tinha a Macau que guardava de forma cinematográfica na sua cabeça, do período em que chegou [ao território], daquilo que foi a primeira grande paragem em termos profissionais. Depois tem a fase de Macau de grande trabalho e intervenção na cidade. Depois há uma terceira Macau, de fazer o seu trabalho olhando para as condições políticas que aqui existiam. [Desse período] também tem bastantes histórias para contar, mas sempre reservado. Muitas das informações nem surgem em discurso directo, mas sim com base em jornais. Há depois uma última Macau, quando ele tem cá o atelier, mas está baseado em Lisboa. É a Macau em que tudo o que ele é e sente vem daqui mas, ao mesmo tempo, com algumas amarguras, nomeadamente a história do Fai Chi Kei. 

Quando demoliram o complexo de habitação pública.
Ele tem um episódio que acho curial. Quando lhe perguntei o que achava desta demolição, conta que, durante os primeiros anos de Macau, houve alguém que tentou alterar a fachada de um edifício que ele tinha feito e que aquilo o transtornou por completo. Aí era o Manuel Vicente ainda jovem. Ele disse-me isso de uma maneira muito gira: ‘A minha tensão arterial foi para um nível que nunca mais saiu de lá. Percebi nesse momento que as minhas obras são as minhas obras, e eu sou eu’. Então, em relação ao Fai Chi Kei, ele dizia que era uma pena, mas que as cidades evoluem. Que lhe custava, mas que não ia pensar muito nisso.

Que outras mágoas levou de Macau?
Ele não era um homem de muitas mágoas. Esta é a resposta politicamente correcta, mas é verdadeira. Ele era um homem que respirava a projectar e dizia que a vida dele era fazer arquitectura. A única mágoa dele foi talvez não lhe terem dado mais trabalho. Acredito que o projecto da Expo 98 que foi demolido também tenha sido uma mágoa para ele, por ser a obra lindíssima que era. Teria outras, mas estas eram as mais evidentes. Ele era uma pessoa que explodia quando tinha de explodir, eu ainda tive uma quota-parte disso, mas não se compara a outras situações que aconteceram. O Manuel Vicente que conheci, nos últimos anos, é alguém completamente resolvido, à excepção de não se conformar com o facto de ter menos trabalho.

A arquitectura esteve à frente da vida pessoal?
Não sei se tenho estatuto para responder a isso. Sei que pôs a arquitectura à frente de tudo e mais alguma coisa, muitas vezes. Não sei se fazia isso de forma sistemática. A arquitectura era a sua grande paixão, mas adorava os filhos. Sempre que podia falava da segunda mulher, Teresa, falava com imenso respeito da primeira mulher, e a legião de amigos era muito referida. Era um homem de afectos, terá tido muitas loucuras e, nessa busca pela arquitectura, terá feito alguns atropelos.

O livro chama-se “A Desmontagem do Desconhecido”. É o desconhecido para além do que foi edificado?
É enigmático, foi difícil pensar um título à altura. A desmontagem vem da maneira que ele tinha de ver as coisas, de as desmontar. O desconhecido surgiu porque tudo o que era novo, o que ele não conhecia, era o que o animava. Percebi isso nele: ele queria ir em busca do desconhecido para depois desmontar e montar de novo à maneira dele. Há muitas histórias da infância neste livro, sobre a deficiência que ele tinha numa anca. Teve uma infância demolidora, passou 12 anos numa cama.

Talvez venha daí a vontade de ir à aventura.
Sim. Quando entendemos a infância que ele teve e de como a família o apoiou, que ele talvez não contasse no escritório, é interessante percebermos isso. É como a aventura na Índia, que o marca enquanto jovem. Ele tem também uma aventura em Karachi, no Paquistão, e o regresso da Índia é uma viagem que dá um livro. São coisas que se narram de forma breve e consistente neste livro, e que nos fazem aproximar de novo desta pessoa, que é muito saudosa para Macau e Portugal, para o mundo da arquitectura e dos pensantes que gostam de falar com alegria, a sorrir. Ele era essa pessoa.

Que legado deixa ele?
Há muita gente que, a partir do momento em que entra em contacto com ele e com a sua obra, percebe que Manuel Vicente é irrepetível. Tem este lado pop, uma linguagem apelativa para um jovem que goste do lado disruptivo da arquitectura. Acho que as pessoas que se interessam por este mundo não consensual da arquitectura o vão procurar e estudar.

7 Mar 2017

Comité Olímpico | Manuel Silvério entende que Macau ainda não desistiu

O Chefe do Executivo disse ontem que Macau “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar” o Comité Olímpico Internacional. Manuel Silvério, antigo presidente do Instituto do Desporto, afirma que não se trata de uma desistência. E diz que o processo não deve ser suspenso

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]orria o ano de 1989 quando Macau escreveu uma carta de intenções a pedir para integrar o Comité Olímpico Internacional (COI), processo que continua pendente por não ser um país, apesar da mudança de estatutos da organização em 1997. Hong Kong faz parte do COI desde 1951.

Ontem, no âmbito de um encontro com Gou Zhongwen, director da Administração Geral do Desporto e presidente do Comité Olímpico da China, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, disse que Macau “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar o Comité Internacional, apesar das alterações introduzidas nas regras do COI”.

Ao HM, Manuel Silvério, ex-presidente do Instituto do Desporto (ID) que acompanhou o processo de tentativa de adesão ao COI até 2008, ano em que se reformou, não está em causa uma desistência por parte da RAEM.

“Analiso esta declaração não como uma desistência, mas como uma grande esperança de ser a República Popular da China a apoiar, a levantar e a forçar o processo. Se não tiver vontade política, de certeza que o Chefe do Executivo sabe que não pode forçar, nem trabalhar nesse sentido.”

Manuel Silvério considera que, segundo a Lei Básica, Macau tem direito a pertencer ao COI, se colocar a designação “Macau, China”, “tal como o que aconteceu com Hong Kong”, apontou.

Apesar disso, o impasse persiste. “Todos os dirigentes do COI admitem que o pedido de Macau é diferente dos outros. Não devem castigar Macau por uma decisão tardia e adiada pelo próprio COI [sobre a mudança dos estatutos].”

Manuel Silvério diz não conseguir explicar porque é que este processo ainda não ficou concluído. “Não devo ser eu a responder a isso, e julgo que os actuais dirigentes do Comité Olímpico de Macau também não saberão responder ou nem têm coragem para responder.”

“Como pessoa ligada ao desporto e residente digo que, se Macau desistir, e se as pessoas pensarem em não levar para a frente essa luta, não estamos a fazer as coisas de acordo com a Lei Básica, não estamos a fazer as coisas como Hong Kong fez e somos nós próprios que estamos a recusar um direito que é nosso”, acrescentou.

As tais declarações

Manuel Silvério recorda o passado para ir buscar palavras de Chui Sai On, na Assembleia Legislativa, acerca da adesão da RAEM ao COI. “A única pessoa que disse, publicamente, e na Assembleia, foi o actual Chefe do Executivo, de que Macau não estaria interessado. Para mim ele está a tentar rectificar o que afirmou há uns anos.”

O ex-presidente do ID garante que a China sempre apoiou uma adesão de Macau ao COI. “Pelo que sei, a RPC e o Comité Olímpico da China sempre apoiaram esse desiderato de Macau. Nunca, nem formalmente nem informalmente, a China falou dos inconvenientes dessa afiliação. Nenhum dirigente, nem o actual nem os anteriores, mostraram que a China não quer que Macau participe.”

A adesão esteve prestes a ser uma realidade há dez anos, mas Manuel Silvério não adianta quais foram os entraves que evitaram que isso acontecesse. “Há uns anos, em 2007, faltava apenas um passo para Macau entrar no COI. Nessa altura, o presidente do COI visitou Macau e assistiu à abertura dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto.”

No encontro com Gou Zhongwen, Chui Sai On referiu ainda que o facto de Macau ser membro da direcção do Conselho Olímpico da Ásia (COA) permitiu “desenvolver as modalidades desportivas em alta competição, sendo também um enorme incentivo para os atletas locais”.

7 Mar 2017

Comissão mista | Escolas de Portugal e Macau juntas em rede

Da segunda reunião da subcomissão da língua portuguesa e educação, integrada na Comissão Mista Macau – Portugal, saiu a ideia de criar uma rede de escolas dos dois territórios, em colaboração com o Instituto Confúcio. Há ainda a hipótese de um protocolo entre o Instituto Camões e o IPM

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ideia deixada em Macau por Tiago Brandão Rodrigues, ministro português da Educação, parece estar prestes a nascer. Aquando da sua visita ao território, o ano passado, o ministro afirmou que gostaria de ver as escolas locais criarem laços com instituições portuguesas, sobretudo as que já ensinam mandarim.

Essa foi precisamente uma das conclusões saídas da segunda reunião da Subcomissão mista da língua portuguesa e educação, criada no âmbito da Comissão Mista Macau-Portugal. Segundo um comunicado oficial, “as partes acordaram na criação de uma rede de escolas associadas que unirá, por via de protocolos de geminação, escolas secundárias de Portugal, preferencialmente aquelas onde decorre o projecto piloto da oferta de mandarim […] a escolas da RAEM, onde é ministrada a língua portuguesa”.

A rede será operacionalizada com o apoio do Instituto Confúcio e constituirá uma plataforma privilegiada para o desenvolvimento de outras áreas de cooperação bilateral que as partes consideraram relevantes”, tais como a “capacitação institucional no domínio da produção de estatísticas em educação, do desenvolvimento da educação inclusiva, do desporto escolar e adaptado, da educação estética e artística do ensino e formação profissionais”.

O plano poderá ainda contemplar apoios ao nível “da coordenação e liderança escolares, bem como da promoção da leitura em língua portuguesa para crianças e jovens”.

O encontro, que decorreu em Lisboa entre os dias 20 e 21 de Fevereiro, contou com Sou Chio Fai, do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior, enquanto coordenador da delegação da RAEM, enquanto que Ana Paula Laborinho, presidente do Instituto Camões, chefiou a delegação portuguesa.

Segundo o mesmo comunicado, a delegação portuguesa “expressou o seu reconhecimento pelo apoio institucional e financeiro que tem sido dado pelo Executivo da RAEM à Escola Portuguesa de Macau, que constitui uma escola de referência no quadro das escolas portuguesas no estrangeiro”.

Ligação ao IPM

Da reunião saíram também novas intenções para reforçar a formação de professores, tal como a “assinatura, num futuro próximo, de um protocolo de cooperação entre o IC e o Instituto Politécnico de Macau (IPM)”. Os membros da Subcomissão falaram do “grande progresso que se tem verificado na RAEM e o trabalho desenvolvido nesse domínio pelas autoridades da Região e pelas várias instituições académicas”.

Uma vez que as universidades portuguesas estão à procura da internacionalização, o GAES considera que “a nova Lei do Ensino Superior, em vias de aprovação pela Assembleia Legislativa, abre espaço ao incremento e alargamento da cooperação neste sector”. Dessa forma a aposta será feita através do portal study & research in Portugal, “uma ferramenta de apoio que o GAES passará a veicular junto dos estudantes e investigadores da RAEM”.

Foi adiantada ainda a possibilidade de um “aumento do número de bolsas de estudo”, um “elemento importante de uma estratégia definida por parte do Governo da RAEM”. A ideia é “acelerar a formação de quadros bilingues em áreas que não se restringem, apenas, às da tradução e formação jurídica”.

Mais tecnologia

As entidades assinaram um memorando de entendimento entre a Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal (FCT) e o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e Tecnologias de Macau (FDCT).

O acordo insere-se nas “áreas estratégicas prioritárias” assumidas neste encontro, que visam, ao nível do ensino superior e investigação, “o desenvolvimento de projectos conjuntos nos domínios da investigação, ciência e tecnologia, e ainda formações pós-graduadas”.

Foram ainda assinalados “os avanços registados na resolução dos constrangimentos referentes à tramitação dos processos de estudantes da RAEM que vêm estudar para Portugal”. A “disponibilidade” por parte do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CISP) para que as instituições académicas ligadas a esta entidade possam aceitar o exame unificado para efeitos de acesso ao ensino superior em Portugal, “no âmbito do Estatuto do Estudante Internacional”, ficou ainda demonstrada.

Quanto ao reconhecimento de graus académicos, “as partes têm já em análise o texto do memorando de entendimento no qual será alicerçada a cooperação neste domínio”.

6 Mar 2017

Saúde | Tratamentos médicos no exterior vão manter-se sem alterações

Os Serviços de Saúde esclarecem que não há redução de tratamentos fora de Macau para doentes oncológicos devido a cortes orçamentais ou à entrada em vigor da Lei do Erro Médico

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s tratamentos feitos por doentes de Macau em hospitais estrangeiros não irão sofrer quaisquer alterações ou eventuais reduções. É o que afirma um comunicado ontem emitido pelos Serviços de Saúde (SS).

O esclarecimento surge após terem sido “expressas algumas opiniões públicas aludindo ao facto de que, devido a eventuais cortes orçamentais e à entrada em vigor da Lei do Erro Médico, os pacientes oncológicos, que se encontram em reabilitação no exterior, tinham visto os seus tratamentos cancelados”.

Os SS esclarecem assim que cabe à avaliação dos médicos de Macau a decisão do doente continuar ou não a ter consultas fora do território, pelo que “a questão não está relacionada com o orçamento”. “Quer as despesas, quer os locais de tratamento, não irão sofrer a influência das mudanças sócio-económicas”, aponta o mesmo comunicado.

Os Serviços de Saúde explicaram ainda que casos antigos de erro médico ocorridos antes da entrada em vigor da lei podem ser analisados no Centro de Mediação de Litígios Médicos, criado recentemente. Este centro tem como responsabilidade a mediação ao nível dos valores de indemnização, sendo que “a apresentação de litígios ao centro tem carácter voluntário e o procedimento de mediação é gratuito para as partes”.

Tal pedido não “suspende qualquer prazo de recurso” aos tribunais, e também não impede os intervenientes de recorrerem para as instâncias judiciais para verem o caso resolvido.

Expectativas e rigor

Para os SS, o facto da Lei do Erro Médico já estar em vigor “não impede que situações já passadas e relacionadas com eventuais erros médicos voltem a ser discutidas em público”. Isto apesar de “em algumas situações, já existirem decisões judiciais e que são respeitadas pelos SS”.

Segundo os Serviços, “é compreensível que os pacientes tenham expectativas de que os tratamentos possam ‘curar’ as situações clínicas, mas os médicos apenas prestam o apoio e diagnosticam o tratamento mais adequado ao paciente”. “Estes diagnósticos podem não corresponder à expectativa criada pelos doentes originando, eventualmente, insatisfação nos utentes provocando, por vezes inevitavelmente litígios médicos”, afirma ainda a entidade dirigida por Lei Chin Ion.

Ainda sobre a Comissão de Perícia do Erro Médico, os SS dizem que a nomeação dos seus membros “foi efectuada de forma rigorosa, de acordo com as suas qualificações”, por forma a “garantir o funcionamento independente da Comissão”. Esta “não se encontra sujeita a qualquer ordem, instrução ou interferência, de forma a garantir a justiça e a imparcialidade”.

6 Mar 2017