Andreia Sofia Silva SociedadeTSI | Governo ganha mais um recurso sobre terreno [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão ao Governo num caso de caducidade do prazo de um terreno localizado no NAPE, e que estaria destinado a habitação. Este terreno faz parte de um conjunto de 16 que estavam por recuperar em 2015 e que, entretanto, têm vindo a ser resgatados pela Administração. Um dos vários argumentos invocados pela concessionária – Macau – Obras de Aterro Limitada – é que o Governo tinha ignorado o facto do secretário para os Transportes e Obras Públicas ter, à data, autorizado uma utilização parcial por parte da Venetian SA “para servir de instalações temporárias de um parque de estacionamento e de um centro de exposições”. Esta parte do terreno corresponderia a dez por cento do total. Contudo, o TSI considerou que não foi esta autorização que atrasou o aproveitamento do terreno. A concessionária “admite que a utilização do terreno por parte da sociedade Venetian SA era meramente temporária, o que significa que não implica, portanto, qualquer alteração definitiva da finalidade da concessão previamente fixada. Nestes termos, não se pode dizer que o terreno já foi aproveitado em conformidade com os termos da concessão”. O TSI lembrou ainda que a concessionária assinou uma revisão de contrato em 2001, “a partir da qual o terreno em causa passa a ser objecto de uma concessão autónoma”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaChui Sai On prevê aumento de 30 mil milhões de receitas de jogo em 2018 [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi uma conferência de imprensa com mais dúvidas do que respostas concretas, mas, prestes a terminar o seu último mandato como Chefe do Executivo da RAEM, Chui Sai On mostrou-se optimista quanto ao cumprimento de alguns objectivos no âmbito das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2018. Questionado sobre as previsões dos ganhos com o sector do jogo para o próximo ano, o Chefe do Executivo disse prever um total de 230 mil milhões de patacas em receitas. Até Outubro, as receitas brutas oriundas dos casinos cifravam-se nas 220 mil milhões de patacas. Este foi, aliás, um ano em que as receitas do jogo atingiram os valores dourados registados em 2014, mas nem isso levou o Chefe do Executivo a dar um maior aumento salarial aos funcionários públicos, que se ficou pelos 2,4 por cento, o mais baixo desde 2011. Chui Sai On lembrou que, para chegar a este valor, ouviu muitas opiniões e que não é possível agradar a todos. “Fizemos contas com base no poder de compra e auscultámos a comissão [Comissão de Deliberação das Remunerações dos Trabalhadores da Função Pública]. O aumento dos salários é difícil, pois há pessoas que acham muito, outras pouco. Os funcionários públicos são muito importantes para o funcionamento do Governo”, frisou. Em fim de mandato, Chui Sai On deixou uma garantia aos jornalistas: o novo hospital é mesmo para erguer até 2019. “Temos a informação de que 40 por cento do trabalho [de construção] está feito. Queremos ter a construção praticamente concluída em 2019, espero que fique terminada ainda no meu mandato. Queremos que as Obras Públicas tenham um bom andamento dos processos, sobretudo ao nível das casas económicas”, frisou. Silêncios e mais silêncios Uma das grandes dúvidas que as LAG 2018 deixam sem resposta é o processo de revisão das licenças de jogo: Chui Sai On sai do Governo em 2019 e algumas licenças começam a caducar em 2020. Ontem o Chefe do Executivo também não ousou levantar a ponta do véu. “As tarefas estão a ser conduzidas e não temos detalhes a anunciar.” “É necessário fazer uma revisão das leis e acrescentar mais diplomas legais. Vamos aumentar os elementos não jogo e verificar se as operadoras estão a concretizar os seus compromissos”, frisou ainda. O Governo volta a prometer rever, no próximo ano, a Lei de Bases da Organização Judiciária, mas Chui Sai On não respondeu a duas perguntas: se esta revisão inclui um aumento de juízes no Tribunal de Última Instância e se os titulares dos principais cargos vão passar a ter direito a recurso. “Estamos a incluir este conteúdo nas LAG enquanto decorre o processo de revisão e auscultação de opiniões. [O diploma] está em vigor há muitos anos e precisamos de evoluir com o tempo. Gostaríamos que, com a revisão da lei, pudéssemos acompanhar o desenvolvimento da sociedade com eficácia”, concluiu apenas. IC e Fung Soi Kun | Processos disciplinares em curso Chui Sai On garantiu ontem que os processos disciplinares relativos ao ex-director dos Serviços Metereológicos e Geofísicos, Fung Soi Kun, e de três dirigentes do Instituto Cultural (onde se inclui Ung Vai Meng) ainda estão a decorrer. Neste contexto, o Chefe do Executivo prometeu “reforçar este processo no que diz respeito à responsabilização dos dirigentes”. “Nos últimos dois anos temos envidado esforços para que haja uma avaliação [dos dirigentes] por uma terceira parte. Este assunto está em curso.” Tarifas de autocarros | Decisão em aberto Questionado sobre o aumento das tarifas de autocarros, com valores diferentes para residentes e não residentes, o Chefe do Executivo adiantou que ainda não há uma decisão final sobre o assunto. “Não temos nenhuma decisão consumada porque ainda está a ser analisada pelo Conselho Consultivo do Trânsito. O Governo investe meio milhão de patacas por ano [para as tarifas]. Teremos de aguardar pelos trabalhos de consulta.” Avenida Wai Long | Chefe explica redução de habitações O Chefe do Executivo explicou porque é que o projecto de habitação pública deverá ter 6.500 fracções e não oito mil como estava inicialmente previsto. “Na avenida Wai Long estava optimista quanto à construção de oito mil fracções, mas passou para 6.500 tendo em conta um estudo detalhado, porque [o excesso de construção] pode afectar o ambiente. Temos de aprender com o Conselho de Planeamento Urbanístico”, defendeu.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaPaíses emergentes vão crescer 6,4% em 2017 [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s países emergentes da Ásia, incluindo a China, Índia e as economias do Sudeste Asiático, vão crescer 6,4% este ano, acima de 1,1% na América Latina e de 3,4% em África, afirmou ontem a OCDE. As previsões constam do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) intitulado “Prognóstico económico para o Sudeste Asiático, China e Índia: promovendo o crescimento através da digitalização”, apresentado ontem em Manila, nas Filipinas, no âmbito da cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). “Em 2017, prevê-se que o crescimento na China e na ASEAN se mantenha devido a um renovado e robusto consumo doméstico, enquanto se antecipa que o crescimento na Índia desacelere ligeiramente devido às reformas fiscais e monetárias”, detalha Mario Pezzini, assessor especial da OCDE no documento. Segundo o relatório, a rápida normalização da política monetária nos países desenvolvidos, o crescimento da dívida do sector privado e as expansivas restrições comerciais são os principais riscos para o crescimento. A OCDE prevê que a economia chinesa cresça 6,8% em 2017 – abaixo da média de 7,9% que a segunda potência mundial registou entre 2011 e 2015 –, prognosticando ainda um abrandamento do crescimento até 6,2% para o período 2018-2022. A OCDE atribui a moderação do crescimento chinês a problemas de capacidade e vulnerabilidade do mercado financeiro, ao passo que o consumo privado, os investimentos e as exportações manter-se-ão em alta. Já o Produto Interno Bruto (PIB) da Índia vai aumentar 6,6% este ano – contra 7,1% em 2016 –, enquanto a projecção para o período 2018-2022 é de 7,3%. O relatório avalia ainda positivamente a liberalização em algumas indústrias indianas, apesar de alertar que “maus activos” nos bancos podem limitar a procura. No caso da ASEAN, a OCDE prognostica para este ano um aumento de 5,1% do PIB do bloco regional e de 5,2% para o período 2018-2022. O Myanmar, com 7,2%, é o país que mais vai crescer no seio do bloco de dez nações, seguindo-se o Camboja (7,1%), Laos (6,9%), Filipinas (6,6%), Vietname (6,3%), Malásia (5,5%), Indonésia (5%), Tailândia (3,8%), Singapura (3,2%) e Brunei, com crescimento zero. Outros avanços A ASEAN, que este ano celebra o seu 50.º aniversário, ainda deve fazer mais progressos na eliminação de impostos comerciais, digitalizar a sua economia, liberalizar serviços e permitir o movimento de profissionais para avançar rumo à sua integração efectiva”, de acordo com a OCDE. O organismo multilateral realça a importância da digitalização da economia asiática, com a emergência do desenvolvimento de ‘software’ no Vietname, o sector de serviços na Internet nas Filipinas ou o pagamento digital na China. Contudo, assinala que a Internet, pré-requisito para a digitalização, tem uma presença desigual na região: desde 81% em Singapura a 22% no Laos. “A promoção do crescimento inclusivo através da digitalização exige reformas nas políticas de comércio e investimento, o desenvolvimento de infra-estruturas e que se enfrentem os desafios do mercado laboral”, de acordo com o relatório da OCDE.
Andreia Sofia Silva EventosGastronomia macaense | Historiador Fernando Sales Lopes lança novo livro Fernando Sales Lopes lança hoje, pelas 18h30, na Academia Jao Tsung-I, o livro “Os sabores das nossas memórias – a comida e a etnicidade macaense”, para falar de uma gastronomia que existe, sobretudo, pelas histórias que acarreta consigo. Até porque as memórias e a entidade macaense “continuarão enquanto houver macaenses” [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m minchi não é apenas um prato de comida, é uma receita que condensa memórias, histórias de família passadas aos domingos, o cheiro que saía das cozinhas das mães e das avós. A cozinha macaense pode ser esporadicamente confeccionada nos dias de hoje, num ou outro restaurante, mas nem por isso deixa de ser recordada e lembrada. É desta panóplia de recordações que fala o novo livro do historiador Fernando Sales Lopes, intitulado “Os sabores das nossas memórias – a comida e a etnicidade macaense”, lançado hoje. “Independentemente desta comida ser consumida e conhecida a sua confecção, ela existe como uma referência muito próxima”, explicou Sales Lopes ao HM. “É um traço estruturante, mítico, porque toda a gente se refere à comida macaense como uma coisa dos antepassados. É uma comida que traz junto dela o atestado de uma identidade própria. Independentemente de ser feita ou não”, acrescentou. Fernando Sales Lopes recorda que antigamente a preparação da culinária macaense estava intimamente ligada à estrutura social do território, onde as mulheres macaenses, por norma, eram donas de casa e onde havia muitas empregadas. Havia, portanto, tempo para preparar uma gastronomia que não é acessível a todos. “A comida macaense, pela sua composição e maneira de fazer, é uma comida que não é praticável há muito tempo. As pessoas comem-na no restaurante, porque em casa das pessoas ela não se faz.” Hoje “a sociedade foi evoluindo, as mulheres começaram a trabalhar e deixaram de ter criadas, porque as casas são mais pequenas”. “Deixou de haver essa ligação física à comida macaense, e por isso é que o livro se chama “o sabor das nossas memórias”, acrescentou Fernando Sales Lopes. Ainda assim, as memórias “ligadas à entidade [macaense] continuarão enquanto houver macaenses”, assegurou o historiador. Academia dinâmica A nova obra de Sales Lopes é também um trabalho de investigação, que inclui um inquérito realizado em 1999, aquando da realização do último encontro de macaenses antes da transferência de soberania. “É um trabalho académico mas é uma coisa dinâmica, porque atravessa diversos caminhos. Analisa questões como a mulher criada, a mulher patroa, ou quais eram os hábitos alimentares dos macaenses. A comida e a leitura que se pode fazer da sociedade e dos equilíbrios sociais [da época], e a forma como a comida evoca vários momentos, de que uns viviam melhor do que outros. Tudo isso se pode perceber através deste trabalho.” Apesar de estarmos perante uma obra onde o passado marca uma forte presença, Fernando Sales Lopes acredita que vai sempre existir cozinha macaense na sua forma física. “A comunidade macaense sempre teve interrogações sobre o amanhã e as pessoas vão buscar traços como a comida ou a religião. Hoje há uma confraria, existem alguns restaurantes de comida macaense. Há muita gente nova em Macau e uma juventude mais dinâmica que quer ver essas ideias postas em prática, mas de uma maneira diferente”, apontou. Para que a comida macaense saia dos livros e da memória colectiva para pertencer à realidade dos nossos dias, terá sempre de ser alterada, considerou o historiador. “[Pode recriar-se essa memória] se houver vontade e possibilidade. Para ser servida nos restaurantes, a comida macaense tem de ser alterada, porque é um tipo de comida muito pesada, que as pessoas hoje em dia já não apreciam muito. O patuá perdeu-se, e é bom que a comida não se perca”, concluiu. A apresentação tem lugar na Academia Jao Tsung-I, situada na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida.
Andreia Sofia Silva SociedadeAutocarros | Nova Era obrigada a pagar indemnização [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância condenou a concessionária Nova Era e um condutor da empresa a pagar uma indemnização superior a dois milhões de patacas a um outro condutor que sofreu um acidente de viação em contexto de trabalho. A seguradora chegou a ser condenada pelo Tribunal Judicial de Base ao pagamento da indemnização, mas o TUI considerou que apenas a Nova Era e o condutor (que causou o acidente) devem fazê-lo. O caso remonta a Agosto de 2012, quando um acidente de viação entre dois autocarros da Nova Era (à data, Reolian) causou uma incapacidade permanente de 38 por cento a um dos condutores, pelo facto de este ter ficado “preso entre dois autocarros” após uma má travagem, explica o acórdão. Por esta razão, o lesado recebeu “a título de indemnização por incapacidade permanente, proveniente do acidente de trabalho”, um valor superior a 528 mil patacas. Em 2015 o lesado havia deduzido um pedido de indemnização civil contra o condutor do autocarro, a própria Reolian e a seguradora, tendo o Tribunal Judicial de Base decidido absolver apenas a seguradora, pelo facto do lesado “não estar coberto pelo seguro de responsabilidade civil automóvel da sua entidade patronal”. A Nova Era recorreu da sentença, mas perdeu a causa. O TUI considerou que, “no que concerne aos empregados do segurado, a lei, ao excluí-los da garantia do seguro automóvel obrigatório, teve certamente em atenção que eles beneficiam, em regra, do seguro por acidentes de trabalho, pelo que não faria sentido uma duplicação de indemnizações”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLAG 2018 | Tufão Hato marca medidas pautadas pela “continuidade” O Chefe do Executivo apresenta hoje as Linhas de Acção Governativa para o próximo ano, mas dois analistas não esperam grandes surpresas. As medidas de resposta a catástrofes e aos problemas de habitação devem marcar um discurso pautado pela continuidade [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hui Sai On está na fase final do seu último mandato como Chefe do Executivo e hoje, quando for à Assembleia Legislativa (AL) apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2018, deverá revelar medidas que garantam uma estabilidade política e social até 2019. O discurso de hoje à tarde não deverá, portanto, ser marcado por grandes surpresas ou novidades políticas, lembrou o académico Arnaldo Gonçalves. “É tão constante na forma como actua politicamente que acho que não vão existir surpresas”, disse ao HM. “[As LAG de 2018] vão ter uma linha de continuidade face ao mandato anterior e às directivas que [Chui Sai On] tem do Governo Central relativamente à manutenção e melhoria da qualidade de vida da população”, acrescentou. “O Chefe do Executivo está a terminar o mandato e em 2019 será eleito um novo governante. Isso significa que, no ano que vem, já não vão ser tomadas medidas com impacto, porque isso pode criar efeitos que não estão previstos”, frisou ainda Arnaldo Gonçalves. Já Larry So acredita que as LAG para 2018 vão tentar recuperar a confiança da população em relação ao Governo, perdida após a passagem do tufão Hato. “O Chefe do Executivo vai focar-se na recuperação dos estragos causados pelo tufão Hato, em termos de infra-estruturas. Esta é a parte mais importante das LAG. Vai assegurar medidas que estejam relacionadas com a recuperação da confiança da população. A sociedade, não só ficou zangada, mas também se sentiu frustrada com o atraso nas respostas do Governo.” A Rádio Macau anunciou entretanto que hoje devem ser anunciados aumentos salariais para a Função Pública na ordem dos 2,4 por cento, além de avanços no processo de revisão da Lei de Bases da Organização Judiciária. Cheques aumentam Larry So, sociólogo, acredita que Chui Sai On poderá anunciar um ligeiro aumento dos cheques pecuniários concedidos à população. “Penso que estará disposto a aumentar o valor do cheque um pouco mais, para dez mil patacas, simplesmente porque a economia este ano está melhor do que no ano passado e também devido ao tufão Hato. O Governo perdeu a confiança da população e com esse dinheiro vai, de certa forma, recuperá-la.” Larry So defende ainda que as LAG para 2018 devem ser explícitas em termos de medidas a implementar para responder às políticas já anunciadas pelo continente. “O Governo Central está a promover as políticas de ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e o projecto da Grande Baía, que trazem desenvolvimentos económicos para a China e Macau. Macau, em termos de desenvolvimento económico, tem de estar alinhado e as LAG têm de incluir medidas que mostrem como vai ser estabelecida essa cooperação e se temos recursos humanos para dar resposta ao desenrolar dos acontecimentos”, frisou o sociólogo. Equilíbrio parlamentar Arnaldo Gonçalves lembrou que “enquanto Xi Jinping for secretário-geral do Partido Comunista Chinês não vão existir reformas políticas em Macau e Hong Kong”. Ainda assim, Chui Sai On vai ter de responder perante um hemiciclo mais equilibrado politicamente. “O quadro parlamentar alterou-se. Existia uma bancada mais ou menos coesa, pró-Pequim, mas nas últimas eleições houve uma evolução. O bloco de democratas é mais amplo e mostra uma maior pluralidade e isso é bom para o sistema. Acho que [Chui Sai On] vai colocar-se muito ao centro e dar sinais para os dois lados da bancada, para ter alguma tranquilidade nestes últimos dois anos”, concluiu Arnaldo Gonçalves.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeErro médico | Serviços de Saúde condenados por falha em diagnóstico O Tribunal Administrativo condenou os Serviços de Saúde ao pagamento de uma quantia superior a 120 mil patacas aos pais de um menor. Em causa está um mau diagnóstico efectuado nas urgências do hospital Conde de São Januário após uma queda que resultou numa fractura. Sem uma solução, o menor teria ficado com uma deficiência permanente no braço [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]udo começou em Março de 2010 quando um jovem português, menor de idade, caiu na escola e magoou o braço. As dores intensas e o inchaço fizeram com que os pais o levassem às urgências do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) para um diagnóstico que se revelou errado: havia uma fractura e o médico da urgência não soube detectar o problema através do raio-X realizado. Além disso, não encaminhou o jovem para uma consulta de ortopedia. Os pais decidiram levar o caso à justiça e a decisão do Tribunal Administrativo (TA) foi conhecida no passado dia 6 de Outubro: os Serviços de Saúde (SS) vão ter de pagar mais de 120 mil patacas aos pais do jovem por danos patrimoniais e não patrimoniais, segundo o acórdão a que o HM teve acesso. O TA decidiu-se por este valor uma vez que os pais do menor acabaram por se deslocar a Hong Kong para a realização de uma operação cirúrgica, que custou cerca de 90 mil patacas, além de despesas adicionais. O TA considerou que o médico dos serviços de urgência do CHCSJ “não tomou as medidas necessárias para assegurar a precisão e certeza do diagnóstico do paciente, violando as regras de ordem técnica e prudência comum exigível ao exercício de função médica”. “Atendendo a que o diagnóstico feito pelo médico de Hong Kong envolve pouca complexidade, sendo acessível a qualquer médico médio, significa que o exame da ferida do braço necessita de algum conhecimento técnico de ortopedia, pelo que o [médico da urgência do CHCSJ] deveria socorrer-se de um especialista no serviço para consulta de imediato, ou pelo menos encaminhar o menor para uma consulta posterior da especialidade.” Além disso, o médico em questão “chegou a praticar um acto ilícito”, ao tirar “uma conclusão precipitada e incorrecta com dados facultados na altura, o que, conducente à qualificação de ‘simples’ da situação do menor e à adopção do tratamento ‘errado’, ainda que o tratamento prescrito não se tenha revelado lesivo para a saúde ou vida do menor”. “Foi de modo inadequado e não imediato”, revela o acórdão. Ainda assim, o TA entendeu que a negligência não foi “grave ou grosseira”, porque o médico “seguiu o procedimento normal para o exame do paciente e foi por falta de conhecimento técnico e experiência na especialidade de ortopedia que fez um diagnóstico errado da lesão do menor”. “Não é de considerar que essa falha foi resultado directo da sua diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a que se achava obrigado em razão do cargo”, acrescenta o TA. O HM sabe que decisão do TA foi tomada após a constituição de uma junta médica composta por três médicos, dois deles do hospital Kiang Wu e pedidos das três entidades envolvidas no processo: os pais do menor, o CHCSJ e o tribunal. Com base nos documentos e exames apresentados, foi decidido por unanimidade que o jovem tinha fracturado o braço. Privado com diagnóstico A primeira ida do menor às urgências revelou-se infrutífera: nos dias seguintes as dores não paravam, apesar da prescrição do médico do CHCSJ, que lhe receitou meia ampola de Diclofenac, “bem como de pomadas e medicamentos”. Na urgência colocaram-lhe ainda uma “ligadura no braço direito”, “sem marcação de encaminhamento ou consulta posterior na especialidade de ortopedia”. Apesar do médico ter pedido o raio-X, “não reconheceu que o cotovelo do braço direito do menor foi dobrado no ângulo de noventa graus, com inchaço e dores”. Os pais decidiram então recorrer a um médico no sector privado, que verificou de imediato que a existência de fractura no braço magoado. “Foi no dia seguinte a fractura observada na consulta do médico especialista exercida no sector privado na RAEM, através do exame do novo raio-X tirado nesse dia”, lê-se no acórdão do TA. Em Hong Kong, os médicos iriam decidir-se pela operação, pois, caso contrário, o jovem menor poderia ficar com uma pequena deficiência permanente: não poderia voltar a estender o braço na totalidade. “Foi diagnosticada a fractura do côndilo medial do braço direito na consulta junto da ortopedista em Hong Kong alguns dias posteriores à queda, o que levou [o pai do menor] a aceitar a recomendação de se realizar a cirurgia imediata em Hong Kong, para reduzir os riscos da não reunião ou deformação do osso.” Os juízes afirmaram ainda compreender o facto dos pais do menor se terem deslocado a Hong Kong para resolver este caso quando o seu filho tem direito a cuidados de saúde gratuitos no serviço público de saúde em Macau. “É compreensível e não fora de expectativa que os pais, face às queixas continuadas de dores do filho menor, tenham recorrido a outro pessoal médico para opiniões técnicas. É também compreensível que se tenham preocupado com a situação do menor diagnosticada pelo médico de Hong Kong e que tenham aceite a sugestão de se realizar a cirurgia imediata em Hong Kong, para reduzir os riscos da não união ou deformação do osso.” É referido, neste contexto, que os pais do menor “perderam a sua confiança na adequação e eficácia do tratamento oferecido ao seu filho junto do serviço de saúde pública”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeSARS | Doente zero da epidemia detectado em Hong Kong há 15 anos Foi em Março de 2003 que o primeiro doente com a Síndrome Respiratória Aguda foi descoberto na zona de Kowloon Bay, em Hong Kong. Era o início da presença da epidemia que matou 299 pessoas na região vizinha e 800 em todo o mundo. Em Macau as fronteiras fecharam, houve poucos doentes e nenhuma morte. Rui Furtado, médico, recorda: “tivemos sorte, porque, se tivéssemos tido muitos doentes, as instalações que tínhamos não chegavam” [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem de 33 anos dormia no apartamento do seu irmão, localizado no Bloco E do edifício Amoy Gardens em Kowloon Bay, Hong Kong, depois de mais uma sessão de diálise. Nessa noite teve diarreia e voltou depois para Shenzen, sem saber que, já aí, era portador da Síndrome Respiratória Aguda (SARS). Em Março de 2003 a SARS chegou a Hong Kong e depois a Macau, após já estar no mundo inteiro. As fronteiras fecharam e accionaram-se os mecanismos possíveis de prevenção e tratamento para uma epidemia da qual se sabia muito pouco. Rui Furtado, médico, recorda que, à época, as instalações disponíveis no Centro Hospitalar Conde de São Januário não eram suficientes caso a RAEM tivesse tido a má sorte que atingiu Hong Kong, com a morte de 299 pessoas. “Era uma situação nova, mas Macau seguiu os padrões para doenças infecciosas e epidemias. Criaram-se enfermarias próprias para receber esses doentes e felizmente houve poucos casos, mas tivemos sorte, porque se tivéssemos tido muitos doentes as instalações disponíveis não chegavam” contou ao HM. Para Rui Furtado, a SARS deixou alertas para o futuro, a que não é alheio o facto do Governo estar a construir uma nova unidade para doenças infecto-contagiosas, a ser inaugurada em 2019. “Criaram-se planos para evitar novas epidemias que ainda hoje estão em vigor. A construção da nova unidade para doenças infecto-contagiosas vem na sequência dessa situação.” O médico português, que entretanto deixou de exercer funções no serviço público, recorda o grande desconhecimento que existia, não só junto da comunidade médica, mas também junto da população. “Era uma epidemia de difícil controlo. As pessoas não sabiam como se tratava, foram tomadas medidas e o que resultou para o futuro é que passou a haver mais cuidado com as epidemias e com os cuidados primários. Houve mais atenção aos primeiros sinais epidémicos, passou a haver o controlo nas fronteiras. Depois da SARS houve outros casos. Criaram-se guias para se fazer a prevenção.” Conferência em chinês Paulo Azevedo, director-geral da empresa de media De Ficção Multimédia, era na altura chefe de redacção do diário Ponto Final e protagonizou um momento de revolta quando os SS decidiram, no âmbito da SARS, organizar uma conferência de imprensa sem tradução do chinês para português, deixando parte da população sem acesso a informações vitais sobre a epidemia. “O Jornal Tribuna de Macau chegou a colocar esse caso na primeira página”, recordou Paulo Azevedo ao HM. “Houve uma conferência de imprensa dos SS no hospital Conde de São Januário e foi apenas em chinês. Eu ouvi os senhores, nem sequer havia tradução, levantei-me e disse que assim não valia a pena [estar ali], que não respeitavam a Lei Básica e que não estava ali a fazer nada, e fui-me embora.” Na altura, “havia departamentos que utilizavam o português, e outros usavam umas vezes, outras não. Não era algo intencional. Era um pouco baldas, e ainda hoje é assim”, explicou Paulo Azevedo. O residente em Macau recorda um período de medo em que todos se tentavam preparar para aquilo que viesse a acontecer. O desconhecimento era generalizado e os SS também tinham as suas falhas, como lembrou o jornalista. “Estávamos todos preocupados, porque falava-se que podia ser uma peste tão grande como a peste espanhola que, no século XIX, dizimou centenas de milhares de pessoas. Era algo bastante novo. Estávamos a ver no que ia dar, a esperar que ninguém do nosso círculo mais próximo fosse atingido.” “Havia notícias de mortes em todo o lado e não sabíamos mais nada. Tenho pena de o dizer, mas os nossos SS não são propriamente de topo mundial. Estávamos um pouco preocupados porque eram muitos mortos, em muitos países. Mas fazer o quê?”, referiu ainda. Maior preparação Mesmo que Macau esteja no caminho da integração regional, dado a existência de planos como da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, que vai representar um maior fluxo de pessoas e de comunicações, Rui Furtado acredita que haverá medidas preventivas suficientes em casos como o da SARS. “A OMS tem guias para estas situações e Macau o que tem de fazer é seguir isso e saber alguma coisa além desses guias”, disse, sem esquecer que “nenhum território está preparado para responder a uma epidemia deste género”. “Estas doenças não são todas iguais, tudo depende do número de casos. Se forem 20 casos, Macau está preparado, se forem 50 casos, Macau está mais ou menos preparado, mas se forem 500 ninguém está preparado. Se houver duas unidades de internamento cheias com este tipo de doentes, para onde vão as pessoas? Nunca se está plenamente preparado.” Contudo, “para uma primeira fase para encarar uma epidemia, Macau está preparado”, frisou Rui Furtado. Também o jornalista Paulo Azevedo acredita que hoje há uma maior resposta a situações como a de há 15 anos atrás. “A OMS agora está mais atenta a estes vírus e epidemias. Primeiro foi a SARS, depois houve a febre das galinhas, por exemplo, e há uma maior atenção. A directora-geral é de Hong Kong (Margaret Chan). Há um outro tipo de alertas mais rápidos para os governos e direcções de saúde”, disse. Num artigo recente sobre os 15 anos do paciente zero da SARS, a revista Time Out de Hong Kong lembrou que o hábito de usar máscaras na rua, tão comum em Pequim por causa da poluição, tem uma outra origem em Hong Kong e Macau. Todos tinham medo da SARS e essa era a primeira forma de protecção. Depois da saída do paciente zero para Shenzen, 200 pessoas que viviam no edifício Amoy Garden foram hospitalizadas e diagnosticadas com a SARS. Só no final do mês de Março de 2003 é que o Governo decidiu implementar uma ordem de quarentena para todos aqueles que viviam no mesmo bloco de apartamentos onde tinha estado o infectado. No total, Hong Kong registou 1755 ocorrências, e os casos do bloco Amoy Gardens representaram 20 por cento do total. No mundo houve mais de oito mil infectados. A Time Out lembra ainda que a SARS começou a espalhar-se a partir da província de Guangdong, que demorou a comunicar o registo dos primeiros doentes com as autoridades de Hong Kong. Em Macau, o Governo fez de tudo para evitar o contágio e a propagação. Chegaram a ser instalados detectores térmicos infra-vermelhos “para acelerar os trabalhos de despistagem de pessoas com sintomas suspeitos da doença, à entrada e saída das fronteiras do território”, referiam os comunicados oficiais da altura. Em Abril de 2003, surgiu o primeiro caso de suspeita de contágio da SARS, que veio a revelar-se infundado. “Os SS acreditam, todavia, após averiguação detalhada e cuidadosa, que a notícia teve a ver com duas situações observadas: um toxicodependente de 26 anos de idade, que mora no Bairro da Areia Preta, com um abcesso pulmonar, e uma criança de 6 anos de idade, com nedio otitis”, refere um outro comunicado oficial.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeWebSummit | Participante queixa-se do fraco apoio do IPIM Macau esteve representada naquele que é considerado um dos maiores eventos da área tecnológica e de plataformas digitais com uma pequena comitiva. A KNJ Investment, nova accionista do grupo Global Media, é uma das empresas participantes. Katya Maia, fundadora do website Macau Lifestyle, participa a título individual e alerta para a falta de apoio do IPIM [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]obots que falam, carros voadores da Uber. Estas foram algumas das últimas novidades do mundo da tecnologia reveladas na WebSummit, a conferência mundial sobre tecnologia e plataformas digitais que decorreu até ontem em Lisboa. Macau fez-se representar com uma comitiva composta por Irene Lau e Steve Chan, responsáveis do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM), e o empresário Bernardo Alves, da A & P Holdings. Outra empresa local que também marcou presença foi a KNJ Investment, através de Philip Yip. A empresa é, no entanto, liderada por Kevin Ho, que recentemente adquiriu 30 por cento do grupo Global Media. Outra empresa de Macau que participou na WebSummit foi a Macau Lifestyle Media, liderada por Katya Maia e Sally Victoria Benson, e que detém o website “Macau Lifestyle”. Ao HM, a partir de Lisboa, Katya Maia falou da estreia neste evento mundial. “Macau é um território afastado e tudo isto parece irrelevante, mas isto já não é o futuro. É o presente e atinge toda a gente, desde Governo a empresas ou até indivíduos. Como participantes queremos aprender, conhecer pessoas e ganhar inspiração. Queremos levar para Macau aquilo que aprendemos aqui.” Katya Maia decidiu participar na WebSummit por sua livre iniciativa, sem qualquer apoio do IPIM. “Tudo partiu da nossa vontade, porque achamos importante participar devido às oportunidades de negócio.” Da frustração A empresária da área dos media não deixa de apontar o dedo ao IPIM. “Contactámos o IPIM várias vezes e não se mostraram muito cooperantes connosco. Tivemos uma reunião com eles mas não funcionou, não sei porque razões. Talvez porque tenhamos um website em inglês, uma área que não tem qualquer tipo de regulação em Macau, ao nível de media digital. Temos o registo e a licença mas não somos reconhecidos como media. Isto é muito frustrante.” Katya Maia considera “frustrante” o facto do IPIM não dar apoio a projectos como o Macau Lifestyle. “Acreditamos que o nosso projecto pode promover Macau no mundo e é frustrante que não seja reconhecido pelo IPIM ou outras entidades, quando é suposto apoiarem as Pequenas e Médias Empresas (PME).” A empresária tentou mesmo estabelecer contacto com os dois representantes do IPIM em Lisboa, mas afirmou nunca ter obtido uma resposta. Num evento que conta com a presença de várias startups e empresas do género de Hong Kong, da China e de toda a Ásia, Kátia Maia lamenta que haja uma certa “estagnação” na forma como as PME são promovidas neste tipo de eventos. E lamenta que haja pouca promoção numa altura em que as relações entre Portugal e China estão numa boa fase. “É incrível que não haja aqui mais PME de Macau da área da tecnologia. O IPIM está aqui representado mas não tem tido uma postura muito activa. Há aqui muitas empresas de Hong Kong, desde startups a investidores, por exemplo”, explicou. Katya Maia considera que a falta de uma maior comitiva em Lisboa não se prende com a ausência de startups em Macau. “Há muita publicidade para as PME, e muito apoio. Reconheço que recebemos apoios para jovens empresários, mas não cobre sequer a totalidade das despesas iniciais. Acreditamos que temos mais empresas inovadoras em Macau que optam por trabalhar exclusivamente online e que continuam a recusar aparecer numa ‘versão impressa’”, concluiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaNovo estatuto reforça acesso a cursos pelo pessoal dos Serviços de Alfândega [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados querem que o novo estatuto dos militarizados garanta que os funcionários dos Serviços de Alfândega (SA) também estejam incluídos na obrigatoriedade de frequência dos cursos de comando e direcção, destinados aos funcionários das Forças de Segurança de Macau que se queiram candidatar a lugares de chefia. Segundo explicou ontem Vong Hin Fai, deputado que preside à 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), o pessoal dos SA sempre frequentou estes cursos desde a entrada em vigor do estatuto, em 1994. Contudo, os deputados consideram que o Governo deve incluir, na nova proposta de lei, o termo “intendentes alfandegários”. “De acordo com a actual lei, os candidatos aos cargos de chefia têm de concluir com aproveitamento o curso de comando e direcção. O âmbito das pessoas que estão habilitadas a assumir cargos de chefia vai ser alargado, e parecem estar excluídos os efectivos dos SA, mas, segundo explicou o Governo, estes também estão abrangidos. Este foi um ponto levantado pela nossa comissão”, frisou Vong Hin Fai. Na prática, a actual definição na lei levaria à conclusão de que o pessoal efectivo dos SA “não estaria habilitado a frequentar os cursos de comando e direcção para os cargos de chefia nas Forças de Segurança de Macau (FSM)”. “Veremos se esse artigo vai ser revisto. Na prática o pessoal tem frequentado esses cursos, apesar da versão actual da lei não prever isso”, acrescentou o deputado e advogado. No encontro de ontem discutiu-se também o facto de existir, com o novo estatuto, uma maior abrangência no acesso aos cargos de direcção e chefia nas FSM. “A selecção [de pessoas] para o desempenho de cargos de direcção e chefia das FSM vai aumentar de 18 para 23, ou seja, mais cinco pessoas. Abrange pessoal da Polícia de Segurança Pública, Corpo de Bombeiros e SA”, rematou Vong Hin Fai.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaFunção Pública | Aumentos de 2,4 por cento não convencem A Rádio Macau noticiou ontem que o Chefe do Executivo deverá anunciar aumentos salariais para os funcionários públicos na ordem dos 2,4 por cento. Contudo, José Pereira Coutinho e António Lopes afirmam que essa actualização não é suficiente [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ontes ouvidas pela Rádio Macau apontam para o anúncio de aumentos salariais na ordem dos 2,4 por cento para a Função Pública por parte do Chefe do Executivo. É já na próxima terça-feira que Chui Sai On vai à Assembleia Legislativa apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG). Contudo, duas personalidades ligadas a associações representativas dos funcionários públicos consideram que este aumento não é suficiente. António Lopes, funcionário público e ex-candidato às eleições pela lista Poderes do Pensamento Político, disse ao HM que um aumento entre quatro a cinco por cento seria “mais equilibrado”. “Estando eu na qualidade de funcionário público, considero que este aumento é curto. Quantos aumentos tivemos nos últimos anos? O trabalho tem vindo a aumentar, mas nem todos os anos temos um aumento salarial. [Essa medida] parou durante algum tempo e depois o Governo decidiu voltar a aumentar, por isso penso que este valor não é suficiente”, disse o também membro da Associação Sindical dos Inspectores de Jogo. José Pereira Coutinho, deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), reuniu com o Chefe do Executivo no âmbito das reuniões de preparação para as LAG do próximo ano e, na altura, fez uma proposta de aumento na ordem dos 5,69 por cento, com base num estudo efectuado pela associação. O anúncio de um aumento de apenas 2,4 por cento não o deixa satisfeito. “Não podemos esquecer que, no cálculo da inflação, as rendas não são tidas em consideração. Por isso esta actualização é aceitável, mas com algumas reservas”, defendeu ao HM. Comissão não mexe António Lopes aponta ainda o dedo à actual composição da Comissão de Avaliação das Remunerações dos Trabalhadores da Função Pública, para explicar os baixos aumentos dos últimos anos. “A comissão só tem três ou quatro associações que representam os funcionários públicos e as coisas não avançam. A nossa associação propõe sempre aumentos mais elevados, mas essa proposta sempre foi chumbada pelo facto da maior parte dos membros serem empresários”, considerou o funcionário público. Apesar as críticas apontadas, tudo indica que a inflação em Macau deverá situar-se nos dois por cento, de acordo com estimativas apontadas pelo Fundo Monetário Internacional. A notícia da Rádio Macau fala de uma actualização das actuais 83 para 85 patacas do índice multiplicador da tabela salarial da função pública. Nas LAG para este ano, apresentadas em 2016, o Chefe do Executivo anunciou aumentos salariais na ordem dos 2,46 por cento, a menor subida em onze anos.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteManuel da Silva Mendes | Clube Militar recorda legado artístico [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s 150 anos do nascimento de Manuel da Silva Mendes vão ser hoje recordados com uma palestra proferida por António Conceição Júnior no Clube Militar. Das inúmeras facetas do advogado e intelectual que viveu em Macau nas primeiras décadas do século XX, Conceição Júnior vai falar do seu legado artístico. Deixou Vila Nova de Famalicão e chegou a Macau em 1901, tendo morrido no território já na década de 30 do século XX. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, como era comum à época, e aqui foi advogado, intelectual, presidente do Leal Senado. Manuel da Silva Mendes nasceu há 150 anos e o seu contributo para o território será hoje recordado por António Conceição Júnior com uma palestra no Clube Militar. Das inúmeras facetas de Silva Mendes, o artista macaense optou por abordar o seu legado artístico. “Irei destacar a sua colecção de arte. Silva Mendes foi um intelectual multifacetado e, como tal, um personagem de grande interesse. Contudo, convivi mais de perto com o seu legado artístico e é dele que irei falar”, contou António Conceição Júnior ao HM. Mais do que ser uma figura que interveio intelectualmente em Macau, Silva Mendes foi, aos olhos de Conceição Júnior, “um cidadão interventivo, no sentido de um homem verdadeiramente livre”. O coleccionador de arte conseguiu transpor para as páginas dos jornais da época a sua visão sobre os meios político e administrativo que vigoravam em Macau. “Para compreender como funcionava a Administração portuguesa no início do século XX em Macau, julgo ser [importante] a sua contribuição em artigos de jornais e revistas, que revelam uma acutilância, lucidez e coragem pouco comuns.” Manuel da Silva Mendes dedicou-se também a estudar partes da cultura chinesa, tendo chegado a fazer amigos junto da comunidade chinesa, como recordou António da Conceição Júnior. “Foi sobretudo um estudioso do Taoísmo e do Tao Te Qing, não descurando porém o Budismo. A sua importância enquanto cidadão que amou Macau foi a de ter cimentado diversas amizades com membros da comunidade chinesa, fazendo a ponte com o Outro, sendo nisto acompanhado por muito poucos, entre os quais José Vicente Jorge.” O advogado português foi, portanto, uma das primeiras figuras a tentar estabelecer, pela via da cultura, uma ponte entre chineses e portugueses. “Julgo que através de jornais e revistas, bem como de conferências, tentou transmitir aos seus contemporâneos a riqueza da cultura chinesa. No entanto, infelizmente, o seu exemplo não vingou verdadeiramente.” O “ressurgimento do interesse” Esta palestra acontece tempos depois da publicação da primeira biografia de Manuel da Silva Mendes, da autoria do jornalista João Botas. Na visão de António Conceição Júnior, esta e outras manifestações têm “mobilizado estudiosos de Macau”. Além disso, “o anúncio de uma reedição da Nova Colectânea de Artigos de Manuel da Silva Mendes constitui [também] um indeclinável reconhecimento do interesse que constitui, no seu todo, o legado de Manuel da Silva Mendes. Deste modo, torna-se absolutamente impossível, a meu ver, eleger uma faceta em relação a outra”. No ano em que também se celebram os 150 anos do nascimento de Camilo Pessanha, António Conceição Júnior considera que começa a existir “um ressurgimento do interesse” pelas duas personalidades. “Há um ressurgimento do interesse pelos dois, mas mais ainda pelo esquecido Silva Mendes. É um nome certamente pouco lembrado, mas creio que com o encontro em S. Miguel de Seide [em Portugal], com os trabalhos do professor António Aresta e a recente publicação a biografia por João Botas, está-se a operar o resgate de Silva Mendes”, rematou António Conceição Júnior.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePlano director | Agnes Lam diz que há falta de transparência A deputada Agnes Lam promoveu ontem um debate sobre o plano director do território na Universidade de Macau onde falou da falta de transparência no processo. O também deputado Wu Chou Kit alerta para a necessidade de integração do sistema de transportes [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois deputados à Assembleia Legislativa (AL) debateram ontem a futura concepção urbanística do território no Centro de Estudos sobre Macau na Universidade de Macau (UM). Agnes Lam, também directora do centro, organizou a iniciativa que contou com a presença de várias figuras do meio urbanístico. Ao HM, a deputada considerou que tem existido falta de transparência no processo, actualmente em fase de realização do concurso público. “Concordo [que há falta de transparência]. Temos o exemplo do plano elaborado para a zona das Portas do Cerco, que nunca foi alvo de consulta. Foi gasto muito dinheiro, mas nunca foi apresentado ao público. Não temos transparência suficiente e não sabemos o que o Governo está a fazer”, disse ao HM. Agnes Lam lembrou que o futuro plano director de Macau, elaborado no âmbito da lei de planeamento urbanístico, implementada em 2013, deve ter em conta a preparação do território para catástrofes naturais. “Devido à passagem do tufão Hato temos de pensar na melhor forma de planear a cidade. Temos de garantir o planeamento de todas as zonas do território. Há que assegurar a segurança e a qualidade de vida e perceber como podemos proteger o património cultural, e não apenas os edifícios”, apontou Agnes Lam. Também Francisco Vizeu Pinheiro, arquitecto convidado para o painel, alertou para a necessidade da existência de um “plano director transparente”. “Deve ter zonas de consulta pública e ser do conhecimento público o quanto antes. Já aconteceu anteriormente haver zonas da cidade que estavam bem definidas, com planos parciais, como a zona do NAPE ou Praia Grande, e que depois viram os planos cancelados para se dar uma maior densidade de construção”, acrescentou. Wu Chou Kit, deputado nomeado e presidente da Associação de Engenheiros de Macau, falou sobre a importância de se estabelecer um sistema de transportes interligado com Hong Kong e o continente. “Sugiro ao Governo que promova o desenvolvimento de Macau ao nível do trânsito. Um outro aspecto fundamental é o nosso sistema de transportes públicos, como o metro ligeiro. É importante que haja uma ligação com cidades como Pequim ou Fujian. Macau deve ter um sistema de transporte ligado com a China e com a nova ponte”, disse ao HM. Olha a integração Vizeu Pinheiro defendeu ainda que é importante olhar para o plano director de Macau com base em três vectores. “Um deles versa sobre as características de Macau a preservar, nomeadamente o património, o nível de vida num ambiente mediterrânico, e os desafios que Macau enfrenta, como a falta de transportes públicos.” Há também que olhar para os “possíveis cenários”. “Face à falta de terrenos de Macau, que hipótese é que temos para desenvolver? Temos os novos aterros em Coloane ou uma hipótese mais rápida, que seria estabelecer uma ligação com a Ilha da Montanha e construir aí zonas de habitação, em paralelo com o que foi feito com a Universidade de Macau. É possível, depende da vontade política”, frisou Vizeu Pinheiro. O arquitecto deixa o alerta para os cuidados que se devem ter com o “cancro” que não pára de crescer: a construção de habitação. “Não é um produto turístico que atraia pessoas. Tem de haver regras”, considerou. Francisco Vizeu Pinheiro disse ainda que não se pode elaborar um plano director sem pensar na integração regional. “Macau está a enquadrar-se na zona do delta do Rio das Pérolas e vamos ter mais comunicação com a nova ponte, que está quase pronta, e com Zhuhai. Macau não pode fazer um planeamento isolado, temos de estar mais integrados e este plano director tem de ser abrangente”, concluiu.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteParadise Papers | Cunhado de Xi Jinping envolvido no escândalo Deng Jiagui, cunhado do presidente chinês Xi Jinping. Li Xiaolin, filha do ex-primeiro-ministro chinês Li Peng. Jasmine Li, jovem chinesa que fez a sua formação superior nos Estados Unidos e neta de Jia Qinglin, nome forte do Politburo do Partido Comunista Chinês até 2012. Estas são as individualidades da China com empresas offshore, reveladas pelos Paradise Papers [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á dois anos o mundo ficava a saber as individualidades que detêm empresas offshore em paraísos fiscais, através da divulgação dos Panama Papers. Desta vez, uma nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas (ICIJ, na sigla inglesa) divulgou novos dados sobre offshores inseridos nos Paradise Papers. A origem dos documentos partiu de uma fuga de informação da Appleby, um escritório de advogados com sede nas Bermudas, e da Asiaciti, uma empresa que gere offshores e que está sediada em Singapura. Há cerca de um ano que o ICIJ anda a investigar as inúmeras informações recebidas. O nome da rainha Isabel II de Inglaterra veio à tona, tal como o de outras figuras do panorama político mundial, mas a lista dos Paradise Papers contém três nomes de personalidades chinesas com ligações indirectas ao poder. O primeiro é o Deng Jiagui, cunhado do actual presidente chinês, Xi Jinping, e que está casado, desde 1996, com Qi Qiaoqiao, irmã mais velha de Xi e filha de Xi Zhongxun, “um dos heróis revolucionários da China e um antigo dirigente de topo”. O ICIJ revela que Deng Jiagui “fez fortuna com o desenvolvimento do mercado imobiliário” e não é de agora que os milhões da sua conta bancária são notícia. “Uma reportagem de investigação feita pela agência Bloomberg em 2012 revelou que Deng Jiagui e a sua mulher detinham centenas de milhões de dólares investidos em imobiliário, acções de empresas e outro tipo de investimentos.” Foi em 2004 que o cunhado de Xi Jinping adquiriu a empresa Supreme Victory Enterprises Ltd, registada nas Ilhas Virgens Britânicas. Deng Jiagui era o único director e accionista de uma empresa cujo registo acabaria por ser cancelado em 2007. Contudo, a experiência de Deng Jiagui no mundo das offshores não se ficaria por aqui. Em Setembro de 2009, este empresário criou mais duas empresas, também nas Ilhas Virgens Britânicas, consideradas, segundo o ICIJ, “empresas na prateleira”, e que constavam no inventário dos escritórios da Mossack Fonseca, a firma de advogados de onde veio a documentação que deu origem aos Panama Papers. As duas empresas tinham como nome Best Effect Enterprises Ltd e Wealth Ming International Limited, mas Deng Jiagui não usou a sua assinatura para registar a Best Effect Enterprises Ltd. Ao invés disso, os advogados da Mossack Fonseca ajudaram Deng Jiagui a obter uma peça “usada por empresários chineses para validar documentos ao invés de assinaturas”. “Não é claro para que eram usadas as duas empresas”, afirmam os jornalistas do ICIJ responsáveis pela investigação. A filha do primeiro-ministro É considerada na China a “rainha da energia”, por ser vice-presidente da empresa estatal China Power Investment Corporation. Fez, aliás, a sua formação em engenharia num dos estabelecimentos de ensino superior mais conceituados do país e do mundo: a Universidade Tsinghua. Ela é Li Xiaoling, filha de Li Peng, primeiro-ministro chinês entre 1987 e 1998. Na política desempenha funções como delegada da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. O seu nome também consta nos Paradise Papers, por deter offshores que traçaram um estranho rumo entre o Estado do Lichestein, na Europa, e as Ilhas Virgens Britânicas. Segundo a investigação do ICIJ, Li Xiaoling e o seu marido, Liu Zhiyuan, criaram a “Fondation Silo”, uma fundação constituída no Lichenstein e que era a única accionista da empresa “Cofic Investments Ltd.”, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. Esta acção “decorreu no período em que Li Peng era primeiro-ministro chinês”, apontam os jornalistas. Li Xiaolin tentou ocultar a sua ligação familiar ao primeiro-ministro chinês com a ajuda do seu advogado suíço, Charles-Andre Junod. Este disse aos advogados da Mossack Fonseca que “os fundos da Cofic Investments tinham origem nos lucros obtidos com a ajuda dada a outros clientes da sua firma para que estes exportassem maquinaria pesada da Europa para a China”. Além disso, Charles-Andre Junod “submeteu o passaporte [de Li Xiaolin] atribuído por Hong Kong e uma carta que fala dela como tendo o nome de ‘Xiaolin Liu-li’, para que a ligação a Li Peng fosse mais difícil de estabelecer”. O consórcio de jornalistas afirma que a Mossack Fonseca “pareceu não ter a percepção de que Li Xiaolin era a filha do antigo primeiro-ministro chinês”. Charles-Andre Junod não fez grandes comentários ao ICIJ, mas frisou que “sempre respeitou a lei” neste processo. Li Xiaolin não respondeu às perguntas dos jornalistas. A estudante investidora Jasmine Li faz parte da geração de jovens chineses milionários que tiveram a oportunidade de estudar fora da China, mas ela fez mais do que isso. Quando ainda era estudante da Universidade de Stanford, na Califórnia, já investia no mundo das offshores. Jasmine Li é neta de Jia Qinglin, que deteve a quarta posição do Politburo do Partido Comunista Chinês até à sua saída, em 2012. O ICIJ recorda que a jovem começou a sua ascensão social “depois de ser fotografada num baile em Paris, em 2009, ao lado de jovens amigas ligadas a meios políticos e de riqueza”. A carreira de Jasmine Li começou pelo mundo da arte, tendo começado a trabalhar como assistente do artista chinês Cai Guoqiang, sedeado em Nova Iorque. A jovem “trabalhou depois como uma espécie de relações públicas de uma galeria para a Artsy, um retalhista de arte online em Nova Iorque e Hong Kong”, aponta o ICIJ. Ainda no período em que era estudante universitária, Jasmine Li “tornou-se a única accionista da Harvest Sun Trading Limited, uma empresa registada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2009”. A empresa transferiu um dólar para Jasmine Li através de Zhang Yuping, o fundador da distribuidora chinesa de joalharia de luxo Hengdeli Holdings Limited, em Dezembro de 2010. Jasmine Li era também a única accionista de uma outra empresa registada nas Ilhas Virgens Britânicas, intitulada Xin Sheng Investments. Os documentos divulgados nos Paradise Papers revelam que estas duas empresas offshore tinham ligações a duas outras consultoras com registo em Pequim. “Como Jasmine Li detinha estas duas consultoras através das entidades offshore, o seu nome não aparece publicamente nos documentos de registo, permitindo-lhe deter a propriedade secreta dessas empresas”, explica o ICIJ. Nomeados nos documentos rejeitam qualquer irregularidade O secretário do Comércio norte-americano e porta-vozes da rainha de Inglaterra e dos ministros brasileiros e russos defenderam a legalidade dos respectivos investimentos em offshores expostos nos Paradise Papers. A União Europeia considerou as revelações chocantes e exigiu “sanções dissuasivas”. Referido nos documentos, Wilbur Ross, o secretário do Comércio da administração de Donald Trump, considerou que não há “absolutamente nada de repreensível” no facto de deter 31% da Navigator Holdings, uma empresa de transporte marítimo que tem como um dos principais clientes a empresa russa de gás e produtos petroquímicos Sibur. Ora, entre os proprietários da Sibur estão Guennadi Timtchenko, próximo do Presidente russo, sancionado pelo Tesouro norte-americano após a anexação da Crimeia, e um genro de Vladimir Putin, segundo o diário The New York Times. “Não existem ligações ao nível dos conselhos de administração, nem ao nível dos accionistas, não tenho nada que ver com a negociação desse acordo” comercial entre a Navigator e a Sibur, defendeu-se Wilbur Ross na televisão pública britânica BBC. Sublinhou igualmente que o contrato tinha sido negociado antes de integrar o conselho de administração da Navigator e que a empresa Sibur, em si mesma, “não foi sancionada”. O governante norte-americano indicou, todavia, à Bloomberg TV que vai “provavelmente” ceder o resto das acções que detém na Navigator. “Eu estava prestes a vendê-las, de qualquer maneira, mas não por causa de tudo isto”, observou. Contactado pela agência noticiosa francesa AFP, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos disse considerar que o secretário respeita as normas do Governo. Um antigo responsável do gabinete de ética durante a presidência de George W. Bush, Richard W. Painter, sustentou contudo que o caso de Wilbur Ross poderá levantar questões éticas. O esquema de Isabel II O ICIJ pôs igualmente a nu estratégias de “optimização fiscal” de outros altos dirigentes políticos. A rainha de Inglaterra, Isabel II, dispõe, assim, através do Ducado de Lancaster, propriedade privada da soberana e fonte de receitas, de uma dezena de milhões de libras esterlinas em fundações nas Ilhas Caimão e nas Bermudas, segundo a BBC e o jornal The Guardian. As verbas colocadas nesses paraísos fiscais estão investidas em numerosas empresas, entre as quais a Brighthouse, uma empresa de aluguer com opção de compra de móveis e material informático acusada de lucrar com a miséria alheia, ou ainda uma cadeia de lojas de bebidas alcoólicas actualmente em processo de falência. “Todos os nossos investimentos estão a ser alvo de uma auditoria completa e são legítimos”, disse à AFP uma porta-voz do Ducado de Lancaster. “Efectuamos um certo número de investimentos, alguns dos quais em fundações no estrangeiro”, disse a porta-voz, acrescentando que estes representam apenas 0,3% do valor total do Ducado. O líder da oposição britânica, o trabalhista Jeremy Corbyn, classificou, no entanto, a situação como “escandalosa” e exigiu que sejam “fortemente punidas” pessoas com fortuna pessoal ou multinacionais que lucram com as falhas do sistema para pagar o mínimo de impostos possível. Do Brasil ao Canadá No Brasil, os ministros da Economia e da Agricultura, Henrique Meirelles e Blairo Maggi, negaram, por sua vez, qualquer irregularidade, depois de os seus nomes terem sido ligados a sociedades ‘offshore’ em paraísos fiscais. No Canadá, o multimilionário Stephen Bronfman, à frente da antiga empresa de vinhos e bebidas espirituosas Seagram, colocou, com o seu padrinho Leo Kolber, 60 milhões de dólares norte-americanos (52 milhões de euros) numa sociedade ‘offshore’ nas Ilhas Caimão, revelou o jornal Toronto Star. Este amigo de Justin Trudeau, responsável pela angariação de fundos para o Partido Liberal canadiano na campanha eleitoral de 2015, poderá tornar-se uma pedra no sapato do primeiro-ministro, eleito após prometer reduzir as desigualdades e promover a justiça fiscal. Os responsáveis políticos russos desvalorizaram também diversas fugas de informação dos ‘Paradise Papers’ sobre duas empresas públicas, a VTB, o segundo maior banco russo, sujeito a sanções dos Estados Unidos e que terá investido na rede social Twitter, e a Gazprom, a gigante petrolífera russa, que terá financiado indirectamente um veículo de investimento que tem acções da rede social Facebook. “[Estas fugas de informação tentam] inflamar os ânimos com formulações confusas”, acusou um responsável do Senado russo, Constantin Kosachev, citado pela agência oficial RIA Novosti.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasHonect, empresa de marketing digital | Estratégias online Foi há dois anos que Ignacio Valls se aventurou no mundo digital por conta própria. A Honect providencia serviços de marketing digital, criação de websites e elaboração de planos de marketing para as empresas utilizarem nas redes sociais. O trabalho é, na sua maioria, feito para as Pequenas e Médias Empresas [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]um mundo que é um rodopio, a imagem externa de qualquer empresa conta. Sobretudo se esta imagem existir nas inúmeras plataformas online actualmente disponíveis. Depois de uma experiência na China, Ignacio Valls veio para Macau e percebeu, pouco tempo depois de trabalhar numa empresa de marketing, que muito ainda havia a fazer nesta área. Daí até investir no seu próprio negócio, mas virado para o mundo digital, foi um passo. Nascia a Honect. “Percebi que não há muitas empresas que façam marketing digital, ainda é tudo feito offline, com a impressão de folhetos, por exemplo”, começou por contar ao HM. “Não há muitas opções e também percebi que há muitas empresas de Macau a deslocarem-se a Hong Kong para procurarem este tipo de serviço, como a gestão de redes sociais ou a criação de planos de marketing digital.” Hoje a Honect disponibiliza quatro tipo de serviços, que vão desde a elaboração de planos de branding para empresas, à promoção em redes sociais como o Facebook ou o Instagram. Ainda assim, as características do tecido empresarial local levam a que a Honect seja mais procurada para determinado tipo de serviços. “Em Macau focamo-nos sobretudo na área da criação de websites e no marketing concebido especificamente para as redes sociais. Trabalhamos muito com empresas que operam na área de comidas e bebidas, como restaurantes e empresas de importação e exportação.” As PME acabam por constituir a maioria dos clientes. “A maioria das grandes empresas procuram este tipo de serviços fora de Macau, em Hong Kong por exemplo.” Falta de criatividade Apesar de existir no mercado há dois anos, a Honect continua a funcionar quase como começou: com colaboradores à medida das necessidades. “Somos uma equipa pequena, com alguns designers. Depende sempre do projecto que temos em mãos.” Desde que a Honect abriu portas, Ignacio Valls confessa ter visto poucos desenvolvimentos na área do marketing digital, sobretudo ao nível da criatividade e inovação. “Penso que há falta de criatividade nesta área. Aqui há sobretudo o marketing que é feito offline, e depois o marketing digital faz-se apenas recorrendo ao Facebook.” A situação é bem diferente na China, país onde o comércio vive um ritmo de desenvolvimento alucinante e onde tudo funciona online, inclusivamente sistemas de pagamento. “Na China há muita inovação, é um país com muito comércio e criam-se novas formas de fazer marketing. Aqui é necessária uma maior criatividade.” A Honect garante que disponibiliza serviços a preços simpáticos, tendo em conta a pequena dimensão da maioria das empresas do território. O estabelecimento da confiança junto do cliente é o mais importante. “Queremos construir uma relação de confiança com os nossos clientes e eles não querem deixar os nossos serviços. Providenciamos serviços que conseguem suportar financeiramente”, rematou Ignacio Valls.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAssistentes sociais | Deputados questionam composição do conselho profissional O Governo propõe que os assistentes sociais do sector privado venham a obter a sua credenciação através do Conselho Profissional dos Assistentes Sociais. Vários deputados questionaram o facto deste órgão só ter três membros “integrados na área do serviço social” e da ausência de uma eleição. Foi ainda exigida uma maior clarificação quanto aos nomes dos cursos, para evitar que profissionais qualificados não estejam abrangidos pela lei [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]orria o ano de 2011 quando o Governo anunciou que iria criar um regime de credenciação para os assistentes sociais do sector privado. Seis anos depois, o “regime de acreditação profissional e inscrição para assistente social” foi ontem aprovado na generalidade pela Assembleia Legislativa (AL), com apenas um voto contra do deputado Sou Ka Hou. Apesar da aprovação por uma larga maioria, o diploma foi alvo de diversas criticas. Tudo começou com a composição do futuro Conselho Profissional dos Assistentes Sociais (CPAS), cujos membros serão escolhidos pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Este órgão terá um presidente e cinco vogais propostos pelo Governo, incluindo “três [membros] que são obrigatoriamente integrados na área do serviço social”. Há também cinco vogais “em representação dos assistentes sociais, das instituições do ensino superior, das associações profissionais ou das instituições dos serviços sociais”. “Fiquei um pouco decepcionado com a composição do CPAS”, começou por dizer o deputado Sulu Sou. “Num relatório tudo apontava para que mais de metade dos membros do CPAS seriam assistentes sociais, mas não verificamos isto na proposta de lei e esta é uma questão crucial. O que quero é que haja uma composição justa do CPAS. Se não se consegue mostrar que há uma autonomia profissional há que alterar a lei posteriormente. Onde está o compromisso feito na altura? Espero que o secretário adopte uma forma de eleição mais democrática”, acrescentou o deputado ligado ao campo pró-democrata. Também Ng Kuok Cheong lembrou que “se permitirmos que os vogais sejam eleitos, o CPAS vai ter mais credibilidade junto da população. Em Hong Kong há eleições e metade dos assentos são ocupados por membros do sector”. Na visão do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, está garantida a representatividade dos assistentes sociais. “Queremos elevar o estatuto social e profissional dos assistentes sociais. Damos uma grande importância a autonomia dos assistentes sociais. A maior dificuldade com que nos temos deparado tem sido o CPAS que tem de ser acompanhado com a implementação de regulamentos administrativos e aí tudo vai ser claro. Vamos falar com o sector para que recomendem colegas a participar no CPAS, serão os assistentes sociais inscritos a eleger, no futuro, os seus representantes.” O deputado José Chui Sai Peng baseou-se no actual sistema de credenciação existente na sua área (engenharia civil) para pedir ao Governo a definição de vogais suplentes. Tudo para evitar “conflitos de interesses” Vários cursos, um só nome A proposta de lei apresentada pelo Governo prevê que “os titulares das habilitações académicas em serviço social” sejam sujeitos a exames de admissão, para que depois obtenham o certificado de qualificação profissional, que deve ser renovado a cada três anos. Cabe depois ao Instituto de Acção Social proceder à inscrição do assistente social. Estas medidas são apenas aplicadas a quem trabalha no sector privado, pois os assistentes sociais do sector público regem-se pelas suas próprias regras. Vários deputados afirmaram temer que profissionais que tenham frequentado cursos superiores com nomes diferentes, mas na mesma área, não possam obter a credenciação, pelo facto da lei ser muito específica. Foram ainda referidos casos de pessoas que exercem a profissão há muitos anos, mesmo sem licenciatura. Ella Lei foi uma das deputadas que levantou esta questão. “Há assistentes sociais que já estão a estudar ou que querem entrar para esta área mas as suas habilitações não têm o nome de Serviço Social. A proposta de lei tem de ser clara. Algumas pessoas que estão a estudar no exterior não frequentam formações em serviço social [mas sim cursos com outra designação]. As pessoas podem ter experiência, mas como o regime não é claro as pessoas não conseguem entrar”, alertou a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau. Vários membros da AL deram mesmo o exemplo do regime de qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo, que deixaram sem credenciação alguns profissionais qualificados. “Muitos engenheiros não conseguem exercer a profissão por causa do sistema de credenciação, porque a lei está muito pormenorizada”, alertou Wu Chou Kit, deputado nomeado e presidente da Associação dos Engenheiros de Macau. Também Agnes Lam lembrou que são necessárias mais clarificações “para evitar que as pessoas que estudam fora de Macau depois não vejam as suas formações reconhecidas”. Alexis Tam garantiu apenas que o Governo vai dar “apoio” a este tipo de casos. Outra das questões levantadas no debate de ontem prende-se com a necessidade de acelerar a implementação do código de ética e deontologia dos assistentes sociais do sector privado. Muitos deputados temem que esse documento fique concluído muito tempo depois da implementação da lei.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJoão Goulão, director do SICAD, sobre drogas: “Criminalizar vítimas é pouco eficaz e pouco inteligente” É o director do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) de Portugal. João Goulão está em Macau para participar na 27ª conferência da Federação Internacional de Organizações Não-Governamentais para a Prevenção de Drogas e Abuso de Substâncias (IFNGO). Crítico da legalização das drogas, é, contudo, apoiante da despenalização. Portugal é pioneiro neste tipo de políticas e os resultados são animadores Há 15 anos Portugal iniciou o processo de descriminalização das drogas. Macau está a andar no sentido oposto ao ter em vigor há um ano uma lei que aumentou as penas para os consumidores. Está no caminho errado? Não me atrevo a dizer isso. De acordo com a minha sensibilidade e a minha experiência, está. É o caminho errado porque é o oposto de uma abordagem humanista das pessoas afectadas por problemas de dependências de drogas. Mas, nós estamos do outro lado do mundo e as culturas, as tradições e as formas de pensar são francamente distintas. É difícil apresentar receitas infalíveis e que sejam aplicáveis em qualquer lado do mundo. Aquilo que me proponho fazer aqui é a partilhar a experiência que nós próprios temos de uma escolha que foi feita há cerca de 16 anos em Portugal e que foi ir pela via da descriminalização do consumo, mantendo um sinal claro de desaprovação social do uso de drogas. Consumir drogas, em Portugal, continua a ser priobido embora seja apenas na esfera do direito administrativo. Qualquer coisa que podemos comparar com o facto de usar ou não usar o cinto de segurança, por exemplo. Alguma coisa que é destinada a proteger a minha própria integridade física mas que não é deixada ao mero livre arbítrio. Um consumidor de drogas que seja interceptado pela polícia não incorre em sanções penais, não vai para a cadeia, não fica com um registo criminal o que contribui para diminuir o estigma, mas pode incorrer em sanções que podem ser multas ou outro tipo, como o desempenho de serviço cívico ou proibição de frequentar determinados locais. Que resultados tem tido Portugal com a despenalização? Este regime tem dado muito bons resultados na nossa sociedade mas obviamente associado a uma série de outras intervenções ao nível da prevenção do tratamento, da redução de danos e da reinserção social. É o pacote completo que tem dado bons resultados. No meu ponto de vista não é legítimo, nem é sério do ponto de vista intelectual, estabelecer uma relação de causa-efeito entre a descriminalização apenas e os resultados que temos obtido. Seria complicado replicar esse modelo em Macau? Eventualmente, sim. Só é possível aplicar um modelo deste tipo se houver respostas na área da saúde e na área social capazes de lidar com o problema. Não estamos a falar de tráfico, essa é uma outra questão. Não estamos a falar dos enormes interesses económicos que se movimentam em torno disto, estamos a falar das vítimas desses interesses. Criminalizar estas vítimas, seja em que latitude for, parece-me pouco eficaz e pouco inteligente. Macau está a atravessar um período de maior integração regional. Como é que as autoridades podem responder às consequências dessa integração, nomeadamente se vierem a ter resultados no aumento do tráfico e de consumo? Essa não é propriamente minha área de expertise. É a minha primeira visita a Macau e estou francamente impressionado. No meu imaginário, Macau corresponderia ao que vi na zona central da cidade, com o casino Lisboa que era o que conhecia dos filmes. Fiquei completamente esmagado por esta Las Vegas que encontrei. Sabia que havia uns casinos mas isto tem uma dimensão que não estava à espera. E, obviamente que olhar para isto, faz-me pensar nos enormes volumes de dinheiro que aqui se movimentam e nas organizações que se movimentam em seu torno. Seguramente estarão implicadas organizações ligadas ao tráfico. Tudo isto exige uma atenção muito especial das autoridades e não é fácil lidar com isso. O meu lado da questão, aquele que conheço, é o daqueles que alimentam toda essa indústria. Em Portugal alargámos, há cerca de cinco anos, o scope da nossa intervenção a todos os comportamentos aditivos. Lidamos não apenas com as substâncias ilícitas, mas também com o álcool, e com comportamentos aditivos sem substância como é o caso do jogo ou do ecrã. Do que vejo aqui, as coisas entrecruzam-se com uma enorme intensidade. Do lado da saúde, é importante existirem respostas para todos os tipos de adições, ou seja para as substâncias ilícitas e lícitas, e todos estes comportamentos sem substância que geram muito sofrimento ao próprio e às famílias. É algo céptico em relação à legalização das drogas leves. Não sou propriamente céptico, mas é preciso pensarmos bem no que é que estamos a falar. Quando, em Portugal, foi descriminalizado o consumo de drogas, foi para todas as substâncias. A medida foi baseada num princípio: a relação que o indivíduo estabelece com a substância e não a substância em si. Faz pouco sentido falar em legalizar um determinado grupo de substâncias e deixar todas as outras no mesmo regime. Neste momento diria que Portugal foi ao limite do paradigma proibicionista. Mantemos a proibição de usar drogas, todas elas, mas deixaram de ser objecto de procedimento criminal. Fomos pioneiros a ensaiar este modelo e em regra geral, todos os indicadores relacionados com substâncias têm vindo a baixar o que é uma situação que, não sendo resolvida como não o é em nenhuma sociedade, tem registado progressos importantes. Abrimos um determinado caminho e estamos a ser imitados, diria, por vários países. Fomos um laboratório social: fizemos uma experiência e temos resultados para mostrar. Neste momento, não enfrentamos como enfrentávamos há 15 ou 16 anos, uma situação dramática. Por outro lado, há outros países que estão a ensaiar novos caminhos. Acho que não perdemos nada em esperar o resultado dessas experiências. Não temos a pressão que tínhamos há 20 anos, para mudar a todo o custo. Portanto, vamos esperar para ver o que é que sai do que está a ser feito e depois pensar o que fazer. Não se trata de cepticismo, mas sim de ter alguma cautela. É importante olhar para o uso da canábis na medicina? Sim, é importante e em relação a isso não tenho nenhuma resistência. Só que isso não é um “negócio” meu. Isso é o “negócio” das organizações médicas e para o Infarmed que é a agência reguladora de medicamentos. Se os produtos de canábis responderem às exigências de que são sujeitos os novos medicamentos que são introduzidos no mercado, se o balanço custo-benefício – e estou a falar de custos que impliquem o risco da dependência – for francamente positivo, não tenho nenhuma resistência. O que francamente me desagrada é a mistura mais ou menos intencional que tem havido na discussão entre a questão do uso terapêutico da canábis e o seu uso recreativo, como se o seu uso medicinal fosse como um cavalo de tróia para fazer passar o uso recreativo, dizendo assim: “isto é tão bom que até cura doenças”. Não é disso que se trata e também não gostava de ver os médicos a prescreverem a pedido, para circunstâncias que não têm justificação clínica. Uma coisa é a regulação do uso terapêutico em circuitos estritamente médicos, uma outra conversa é a do uso recreativo. Estamos na era das drogas sintéticas, que são muitas vezes vendidas online. Há ainda um grande desconhecimento acerca desta matéria e ausência de regulação? Nós tentámos reagir a este mercado e às novas substâncias piscoactivas, no florescer das chamadas smartshops que, de um momento para o outro, apareceram em todos os cantos de Portugal. Produzimos legislação, numa altura em que estávamos a ser confrontados com emergências hospitalares relacionadas com essas novas substâncias e mesmo algumas mortes, que, na prática, levou ao encerramento destas smartshops. Embora estejamos cientes que continua haver consumos dessas substâncias, o que é um facto é que o número de emergências hospitalares baixou drasticamente. Elas circulam, são consumidas em Portugal mas diria que é um mercado relativamente residual. E, acrescento, ainda temos de estar preparados para que haja algum recrudescimento desse mercado. Normalmente, somos um bocado tradicionais e as coisas chegam a Portugal um bocadinho mais tarde do que noutros países e quando vemos a realidade em alguns países europeus temos de nos preparar para que o fenómeno alastre largamente. Como é que está a ser o acompanhamento do aumento de consumidores de heroína com a recente crise? Depois da crise económica, houve realmente um certo regressos do consumo de heroína por via injectada que era uma realidade que já não se via há muito. Este regresso é sobretudo à custa de antigos utilizadores que recaíram em sequência da crise, pessoas confrontadas com dificuldades acrescidas e que recaíram. São também consumidores de idade mais avançada, que tiveram os seus episódios de consumo aos 20, 30 anos, depois pararam durante uns 10 ou 20 anos, e depois recaem. Somos confrontados agora com uma população diferente. Aquilo que era o investimento no sentido de uma completa inserção social, para devolver esta pessoa completamente e integralmente à sociedade, já não é o mais adequado. Não temos o mesmo tipo de veleidades quando estamos com pessoas de 50 e 60 anos. O grande objectivo agora é acompanhar estas pessoas que se mantiveram vivas e acompanhá-las no processo de um envelhecimento com dignidade. As prioridades em relação a esta população mais envelhecida são diferentes do que aquelas que se colocam a jovens consumidores. Em relação ao vício do jogo. Enquanto director do SICAD, que perfis podemos traçar? Não tenho nenhuma experiência profissional em lidar com esta questão. Estamos ainda numa fase de cruzamento de experiências com quem está mais adiantado nestas matérias, com centros internacionais que lidam com esta questão. Há perfis diversificados em relação aos quais eu não consigo discorrer grande coisa. O ecrã é um vício sem substâncias que começa a ter algum relevo na sociedade actual. Em que ponto é que está a abordagem desta adição? Os mecanismos de todos estes comportamentos têm que ver com o tornarem-se no centro da vida da pessoa, seja o jogo, seja o ecrã, seja a acumulação dos dois. Aqui o que tentamos partilhar com experiências de outros países é o debate destas questões e as abordagens possíveis de serem feitas utilizando a internet inclusivamente. Podemos utilizar Pop Ups que aparecem num determinado momento a alertar para o número de horas que o utilizador está a ter. É impressionante, um pouco por todo o mundo, mas aqui em Macau ainda mais, o número de pessoas que passa o tempo a olhar para o telefone. Vemos aqui centenas de pessoas e não vemos uma que não esteja a olhar para o ecrã. Mas tudo tem de ser pensado de forma adequada às culturas das pessoas às quais se dirige . Não podemos pensar num pronto a vestir de intervenções, temos de nos adaptar às realidades culturais de cada país ou região. Ainda sobre o vício do jogo, estão ser pensadas alguma parcerias com Macau para intervir nesta problemática? Isto não é fácil. Além de partilharmos experiências através de momentos como esta conferência ou a partilha de conhecimentos de outros encontros, a distância e os custos envolvidos não nos permitem uma partilha técnica tão intensa quanto seria desejável. Gostaria muito de mandar uma equipa de profissionais do meu serviço. Mas é desejável que este intercâmbio se mantenha e se aprofunde.
Andreia Sofia Silva PolíticaReceitas dos casinos vão crescer a dois dígitos este ano [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, prevê um crescimento a dois dígitos das receitas de jogo para este ano, depois de os casinos terem fechado Outubro com o melhor desempenho mensal desde 2014. Observando que “têm mantido uma tendência estável e positiva”, Lionel Leong estima um crescimento positivo de dois dígitos das receitas da indústria do jogo – principal motor da economia de Macau – face a 2016, indica um comunicado oficial. As receitas de jogo atingiram no acumulado dos primeiros dez meses 220.010 milhões de patacas – mais 19,2 por cento face ao apurado entre Janeiro e Outubro do ano passado, segundo dados oficiais divulgados na quarta-feira. O regresso das receitas de jogo a um crescimento positivo em 2017 é expectável face ao desempenho dos últimos meses, dado que, desde o início do ano, as receitas cresceram sempre a dois dígitos em termos anuais homólogos à excepção de Janeiro (+3,1 por cento). A previsão de crescimento a dois dígitos para o cômputo de 2017 “significa que os resultados vão acabar por ultrapassar a previsão inicial”, pelo que “caso a tendência actual de aumento se mantenha no próximo ano, a estimativa é que em 2018 o valor orçamental das receitas do jogo seja ainda mais alto do que o deste ano”, refere a mesma nota citando Lionel Leong que, este mês, vai apresentar a proposta de Orçamento à Assembleia Legislativa. Meses dourados No entanto, o Governo normalmente adopta uma postura conservadora na previsão das receitas de jogo, feitas com base na estimativa do que irá arrecadar em impostos (35 por cento em directos e 4 por cento em indirectos). A título de exemplo, Macau arrecadou só nos primeiros nove meses do ano em impostos directos sobre o jogo 68.641 milhões de patacas, um valor que reflecte uma execução de 95,5 por cento face ao Orçamento autorizado de 2017. Outubro de 2017 marcou o 15.º mês de subida das receitas da indústria do jogo, depois de um ciclo de 26 meses consecutivos de quedas anuais homólogas.
Andreia Sofia Silva PolíticaAssociações apoiam órgão municipal sem poder político Representantes da Associação Comercial de Macau e da Associação Geral das Mulheres mostram-se a favor da criação do futuro Instituto Municipal tal como é proposto pelo Executivo. Contudo, na primeira sessão de consulta pública sobre a proposta, ouviram-se vozes contra [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, reuniu com a Associação Comercial de Macau e Associação Geral das Mulheres de Macau com o objectivo de “aperfeiçoar os trabalhos governativos”, a poucas semanas do Governo apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2018. Segundo um comunicado oficial, os representantes das duas associações “manifestaram o apoio à criação de órgãos municipais sem poder político em conformidade com a Lei Básica”. Além disso, ambas as associações “acreditam que, com a criação do órgão, podem reforçar-se as interacções entre os serviços comunitários e o público, proporcionando assim aos cidadãos serviços municipais de melhor qualidade”. Tanto a ACM como a AGM “mostraram interesses no âmbito das funções e disposição do pessoal do órgão municipal”, entre outras áreas. Recorde-se que o Governo apresentou há semanas a proposta que determina a extinção do actual Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e a criação do futuro Instituto Municipal, cujos membros serão escolhidos pelo Chefe do Executivo. Dúvidas futuras Na passada sexta-feira decorreu a primeira sessão de consulta pública sobre o diploma, que, segundo um comunicado oficial, contou com a presença de 300 pessoas. Das 29 intervenções, “houve participantes que consideraram que os membros do órgão municipal devem ser eleitos para elevar a participação dos residentes”. Há muito que esta é a bandeira dos deputados do campo pró-democrata. Pelo contrário, outras pessoas “concordaram que a criação do órgão municipal não carece de ser através de eleição, pois o órgão municipal sob incumbência do Governo presta serviços aos residentes na área da cultura, recreio e salubridade do ambiente, bem como apresenta propostas de consulta ao Governo”. A sessão de consulta pública incidiu também sobre a “questão do futuro dos trabalhadores do IACM, após a sua extinção”. Foram ainda exigidas melhorias no actual sistema de funcionamento no seio da Função Pública após a criação do Instituto Municipal. Com a nova proposta, “espera-se reforçar as funções de consulta e coordenação interdepartamental, para que haja uma adaptação ao plano geral de reestruturação das funções do Governo e uma simplificação da criação de serviços e entidades públicas”. Tudo para “evitar a sobreposição das funções, para que os residentes possam ter um melhor serviço municipal”, aponta um comunicado oficial. Na sessão, que contou com a presença da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, ficou garantido, da parte do Governo, que, com o futuro Instituto Municipal, “será promovida a cooperação interdepartamental, a fim de melhor resolver os assuntos sociais que envolvem serviços interdepartamentais”. O Governo adiantou também que “os interesses do pessoal do IACM não serão afectados, concretizando uma transição estável de funções”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeARTM espera aumento de orçamento para a luta contra a droga Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação e Toxicodependentes de Macau, espera que o secretário Alexis Tam anuncie nas próximas Linhas de Acção Governativa um aumento do orçamento destinado às associações. Hoje arranca a 27ª conferência mundial da IFNGO [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]as últimas Linhas de Acção Governativa (LAG) o Governo decidiu manter os mesmos montantes de subsídios destinados a associações de cariz social. Contudo, as despesas não têm parado de aumentar. Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), disse ao HM esperar novos aumentos nas LAG para 2018. “Houve medidas de cortes de fundos o ano passado, não houve um aumento. É natural que a ARTM, tendo mudado para um sítio muito maior, mas mantendo o mesmo valor de subsídio, tenha algumas dificuldades em pagar certas despesas, como a electricidade, que quadruplicou. Mas sabemos que para o ano as coisas serão melhores.” “Esperamos um aumento [nas LAG]. Mas agradecemos o apoio dado à ARTM em relação às novas instalações, que são óptimas”, acrescentou Augusto Nogueira. O também presidente da federação de organizações não-governamentais para o abuso de drogas e substâncias (IFNGO, na sigla inglesa), falou com o HM à margem da conferência de imprensa que deu o pontapé de saída para a 27ª conferência bianual, que começa hoje e se prolonga até quarta-feira. A IFNGO junta organizações não-governamentais (ONG) de todo o mundo que trabalham na área da toxicodependência, e a ideia desta iniciativa é juntar no mesmo evento diversas visões desta área. “Vão ser discutidos quatro pilares que consideramos bastante importantes, como a prevenção, tratamento, redução de danos e adição. Pretende-se com esta conferência que haja uma discussão entre as várias ONG que vão estar presentes e que apoiam a continuidade da criminalização das drogas, a sua descriminalização e algumas até a sua legalização. Pretende-se que haja uma discussão aberta e uma mistura de opiniões.” No visão da ARTM, o caminho deve ser o da descriminalização. “Temos de aceitar que tudo evoluiu de uma forma diferente e que existem muitas provas e investigação cientifica de que as coisas têm de mudar. Hoje em dia os programas de disponibilização de seringas são bastante importantes para a saúde publica, [além de que] enviar pessoas para a prisão ou para centros de tratamento não é a melhor solução.” Futuro em aberto Há cerca de um ano que vigora em Macau uma nova lei da droga que trouxe penas mais pesadas de prisão para quem consome estupefacientes. Augusto Nogueira considera é cedo para avaliar se o Governo vai ou não rever novamente o diploma em prol da descriminalização. “Nem estamos a pensar nisso. Apenas queremos debater. Acredito que depois disto iremos mostrar na comissão [Comissão de Luta contra a Droga, de que Augusto Nogueira é membro] o que foi falado aqui e depois logo se vê. Não queremos forçar o Governo a mudar ou dizer que vamos tentar forçar para que se altere a lei. Sabemos de antemão que há pessoas no Governo que apoiam a ideia de que nenhum tipo de consumidor devia ser preso”, esclareceu o presidente da IFNGO e da ARTM. Questionado sobre os efeitos do novo diploma, Augusto Nogueira pensa que só em 2018 se poderão notar alguns resultados. “Muitos dos casos estão a ser julgados com a lei antiga. Actualmente não sentimos ainda uma avalanche de pessoas a entrar no centro de tratamento. Vamos esperar por 2018 para ver o efeito da lei. No meu entender acho que o consumidor de drogas não necessita de ir para a prisão, mas de ser reencaminhado, mesmo que tenha recaídas, para o tratamento de uma ONG”, rematou. A palestra de hoje vai contar com a presença de Celeste Vong Hin Mui, presidente do Instituto de Acção Social, e do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam.
Andreia Sofia Silva SociedadeViolência doméstica | CCP condena acórdão de tribunal português As conselheiras do Conselho das Comunidades Portuguesas condenam um acórdão assinado pelo juiz português Neto de Moura que cita a Bíblia e o Código Penal português de 1886 para justificar actos de violência doméstica contra uma mulher [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso aconteceu em Portugal e já correu meio mundo: um acórdão do Tribunal da Relação do Porto condenou, com penas suspensas, dois homens pela prática de violência doméstica contra uma mulher, não sem antes lembrar que esta praticou adultério. O juiz Neto de Moura, que assinou o acórdão decidido por um colectivo de juízes, citou a Bíblia e o Código Penal de 1886 para afirmar que a traição foi uma atenuante no caso. “Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte”, pode ler-se no acórdão. Este documento levou 13 conselheiras do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), incluindo Rita Santos, em representação de Macau, a manifestar-se contra o seu conteúdo. “Na sequência do acórdão do Tribunal da Relação do Porto, do dia 11 de Outubro de 2017, sobre um caso de violência doméstica a uma mulher, redigido com termos machistas e discriminatórios, as Conselheiras das Comunidades Portuguesas julgam ser seu dever repudiar um exercício da justiça em que crenças religiosas e morais pessoais são utilizadas para justificar e minimizar a responsabilidade dos agressores.” O CCP chega a dar o exemplo da China como um país onde ainda há muitos casos de violência doméstica e poucas medidas de prevenção. “As conselheiras das comunidades portuguesas gostariam de relembrar que a violência contra as mulheres não é caso único em Portugal. Na China, entre 25 a 40 por cento das mulheres casadas ou com parceiros sofreram violência da parte do seu parceiro, o que perfaz dezenas de milhões de pessoas para somente cerca de 50 mil queixas por ano. Os abrigos para as mulheres violentadas são raríssimos, cerca de 400 para uma população de 1,3 mil milhões de pessoas.” Progressos vs retrocessos O acórdão em questão, que já foi notícia em inúmeros media internacionais, aponta que “a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente”. Neto de Moura faz mesmo referência ao Código Penal de 1886 para justificar o papel da traição neste caso. “Ainda não foi há muito tempo que a lei penal (Código Penal de 1886, artigo 372.0) punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse acto a matasse.” É também afirmado que, “com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher e uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher.” As conselheiras acrescentam que, nos últimos anos, houve “progressos das últimas décadas em relação à condição da mulher”. Contudo, “há ainda muito a fazer e o retrocesso é um perigo real, como podemos constatar com o caso do acórdão do Tribunal da Relação do Porto”.
Andreia Sofia Silva EventosModa | Plataforma junta designers, modelos e fotógrafos no mesmo espaço [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]andra Moore promove este sábado um evento no City of Dreams que reúne manequins, marcas, fotógrafos e maquilhadores num só espaço. O resultado de um dia de partilha poderá ser visto à noite, na passerelle, com um desfile no Pacha. A ideia é juntar experiência à vontade de aprender, dando oportunidade aos talentos locais desta área Imagine-se um lugar onde estilistas que estão a começar a carreira se juntam aos que já têm alguma experiência. Ao seu lado estão manequins que ainda agora começaram a pisar uma passerelle, mas que podem aprender com quem já desfila há muitos anos. Há grandes e pequenas marcas, fotógrafos com ou sem anos de carreira. Este é o objectivo do evento que se realiza este sábado, intitulado Asia Group Shoots. Sandra Moore é a mentora por detrás desta iniciativa que visa imitar os reality-shows que se produzem um pouco por todo o mundo, mas com a ideia de ajudar os talentos locais a conhecerem um pouco mais sobre o mercado onde querem trabalhar. Durante o dia o City of Dreams vai servir de espaço para fotografias e produção de moda, seguindo-se à noite um desfile na discoteca Pacha. Vão participar nomes como a Macauhub, uma plataforma de designers criada por Clara Brito e Manuel Correia da Silva, ou Sophie Lei, directora da Elite Make Up School. As peças do designer macaense Nuno Lopes também vão estar presentes no evento, apesar do estilista não se encontrar no território. Ao HM, Sandra Moore falou mais de um evento que pretende vir a realizar-se todos os anos. “É uma experiência, um novo conceito e esperamos revolucionar o mercado. Gosto de fazer as pessoas felizes. Vamos ter no mesmo espaço manequins com e sem experiência, fotógrafos, maquilhadores. Isto vai possibilitar aos participantes a construção de um portfólio e permitir a todos estes profissionais estarem mais perto da comunidade”, contou. Sandra Moore fez a sua formação em teatro e considera que Macau é o sítio ideal para estabelecer este tipo de evento. “Acredito que seria interessante mostrar o conceito da indústria da moda como um reality-show, porque toda a gente gosta de ver o American’s Next Top Model, certo? Isto seria interessante em Macau. Tenho em mente a criação de uma espécie de fábrica, uma plataforma. Temos elementos que são fundamentais para qualquer programa de televisão, então poderíamos criar algo que toda a gente gostasse de ver, com personagens. Há muito potencial.” Talentos de todo o lado O Asia Group Shoots não se faz apenas de talentos de Macau, mas também de todo o mundo. A aprendizagem e a partilha de experiências é o mais importante. “Macau tem muito potencial e temos uma boa plataforma que não está a ser usada na totalidade. Os estilistas que aqui existem são incríveis. A Semana da Moda de Macau acabou de acontecer e não acredito que muitos estilistas de Macau tenham tido a possibilidade de participar. Gostaria de ajudar na sua motivação, esse é um objectivo que queremos atingir.” Sandra Moore espera que os nomes que estão agora a começar, seja na moda, na fotografia ou na maquilhagem, possam encarar o Asia Group Shoots como um bom ponto de partida. “É importante também para perceberem que a indústria da moda é mais fácil de alcançar, então basicamente este evento vai proporcionar-lhe as asas para que eles possam voar. O objectivo é fazer com que dêem passos na construção de uma carreira mais facilmente. À noite teremos o desfile e isso vai dar a possibilidade de brilharem em palco e construir pontes para uma carreira futura. Acredito que será uma experiência incrível”, concluiu.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEPM | Fundação Oriente já pagou dívida de 21,4 milhões de patacas A Fundação da Escola Portuguesa de Macau já recebeu os 21,4 milhões de patacas das mãos da Fundação Oriente. Está assim concluído o processo relativo à dívida desta última entidade, apurada num relatório elaborado pelo Governo português [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram anos a conceder tranches de dinheiro de forma desigual e abaixo do acordo definido antes da transferência de soberania do território. Ao todo, a Fundação Oriente (FO) devia à Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM) um total de 21,4 milhões de patacas que já foram saldadas. A garantia foi dada por Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM, integrante da FEPM), ao HM. “Está resolvido e chegamos a acordo com a FO. Houve uma devolução do dinheiro e as coisas estão a andar. O montante foi acordado e está pago.” Apesar das duas entidades terem chegado a um acordo, a verdade é que chegou a pensar-se recorrer aos tribunais, conforme disse ao HM, em Junho, o presidente da FEPM, Roberto Carneiro. “Está pensada uma acção judicial, mas penso que vão chegar a acordo. Mas a acção judicial está pronta, caso não se chegue a acordo”, apontou. Para se apurar estes valores, foi preciso o Estado português promover uma auditoria às operações financeiras entre a FO e FEPM, que ficou concluída em 2015, mas cujos resultados só foram divulgados este ano. Ranking duvidoso Tem sido divulgado nas redes sociais, nos últimos dias, um ranking elaborado pelo website “We Talk Everything South African” sobre as melhores oito escolas privadas de Macau. A contagem coloca a Escola Portuguesa de Macau no fim do ranking, mas Miguel de Senna Fernandes afirma “não levar o ranking muito em conta”. “Nunca são explicitados os critérios com que o ranking é feito. É o sucesso escolar, o número de alunos? Há muita coisa que não sabemos. A EPM não tem de ser a melhor de Macau, mas a verdade que é as perguntas que faço se aplicam a outras escolas.” O website não dispõe de quaisquer informações adicionais sobre esta contagem e não tem sequer informações de contacto dos autores do ranking. Sobre a EPM, afirma apenas que se trata de uma “escola privada, uma escola internacional sem fins lucrativos localizada em Macau, que possui turmas do 1º ao 12º ano de escolaridade e que recebeu fundos do Governo português”. Miguel de Senna Fernandes não põe de parte uma tentativa de esclarecimento posterior com os gestores de website. “Não conheço esta entidade, mas vou sugerir ao Manuel Machado [presidente da direcção da escola] para que se procure saber como foi feito este ranking.” O presidente da APIM recorda que “a EPM é de excelência e foi sempre esta a minha percepção. É um ranking que não tem valor nenhum e é mau aparecer nas redes sociais, com toda a publicidade que pode envolver”. Num ranking que coloca a Escola Internacional de Macau no primeiro lugar há, no entanto, uma escola que foi classificada duas vezes: a Pui Ching Middle School surge na segunda e na sexta posição.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeHetzer Siu | Benefícios fiscais concedidos às empresas não chegam O Governo quer atribuir benefícios fiscais a empresas que contratem portadores de deficiência, mas Hetzer Siu, presidente da Macau Special Olympics, considera que as PME precisam de mais apoio para acolher estes trabalhadores [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] votada na próxima segunda-feira a proposta de lei apresentada pelo Governo com vista à concessão de benefícios fiscais a todas as empresas que contratem portadores de deficiência. A medida abrange “todos os empregadores, contribuintes do imposto complementar de rendimentos ou [aqueles] que exerçam por conta própria as profissões liberais e técnicas do segundo grupo do imposto profissional”. O trabalhador deve prestar serviços à empresa num mínimo de 128 horas mensais, e, para ter acesso ao benefício fiscal, o empregador deve escrever, na folha de declaração de rendimentos, que o trabalhador em questão é portador do cartão de avaliação de deficiência. Na visão de Hetzer Siu, presidente da Macau Special Olympics, este é um bom princípio, mas não chega, tendo em conta as dificuldades sentidas pelas Pequenas e Médias Empresas (PME). “As PME querem contratar os portadores de deficiência, mas têm de saber como podem interagir com eles. Este é um bom primeiro passo, mas no futuro o Governo tem de adoptar mais medidas para promover a contratação de deficientes”, defendeu ao HM. O ex-candidato às eleições legislativas, pela lista liderada por Angela Leong, lembrou que as diferenças no tecido empresarial são grandes. “Se falarmos de grandes empresas, como é o caso dos casinos, não existe uma preocupação com os ganhos obtidos com esses benefícios fiscais. Os portadores de deficiência são contratados por uma questão de imagem pública da empresa. As pequenas empresas, por sua vez, preocupam-se com os benefícios, mas precisam de mais apoio para contratar estas pessoas.” A falta de apoio surge porque as PME já sofrem, por si só, com a falta de recursos humanos. “Há diferentes tipos de deficiência e não têm conhecimentos profissionais para lhes dar a devida formação. O Governo dá o apoio financeiro, mas tem de criar um novo sistema para ajudar as PME nesta área.” Falta de informação A CESL-Ásia é o exemplo de uma empresa que tem vindo a promover estágios com pessoas portadoras de deficiência que acabam por ser contratadas. António Trindade, CEO da empresa, congratula-se com esta medida do Governo, mas afirma que, muitas das vezes, as PME não contratam mais por falta de informação. “Em Macau há muitas empresas que têm integrado elementos com deficiência, e não vejo que as pessoas não sejam produtivas. Existem algumas oportunidades, mas poderiam surgir muito mais”, defendeu. “A questão dos benefícios fiscais é positiva porque despoleta a atenção mas neste caso haverá potencial para adicionais medidas não fiscais, que produzem o efeito de integração destes membros. Devo lembrar que Macau tem uma insuficiência de mão-de-obra”, acrescentou António Trindade. Apesar do Governo querer incentivar a contratação de portadores de deficiência no sector privado, não têm existido grandes mudanças ao nível da contratação para a Função Pública. Segundo dados estatísticos referentes a 2015, os últimos disponibilizados pela Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, há apenas 73 deficientes a trabalhar como funcionários públicos.