Eleições 2017 | O olhar da comunidade portuguesa sobre a campanha

Os votos na “aldeia grande”

Programas políticos com conteúdos pobres, ausência de identificação com ideias, a continuação dos interesses no hemiciclo. Portugueses, com residência permanente, dizem o que acham da campanha eleitoral que anda nas ruas. Votam sempre a cada quatro anos, mas afirmam existir um certo distanciamento face à sua comunidade

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lbano Martins é, talvez, um dos poucos portugueses em Macau que pode votar de duas maneiras para escolher os deputados que quer ver na Assembleia Legislativa (AL). O economista e presidente da ANIMA pode pôr a cruz nos deputados que concorrem pela via directa, bem como naqueles que participam pela via indirecta, através das associações.

Isto significa que, este ano, Albano Martins pode decidir por um dos 24 candidatos que concorrem pelas directas, o maior número de sempre. Pode também votar no nome de uma das 14 listas que participam pela via indirecta.

Mas Albano Martins revela-se, ainda assim, um eleitor desiludido. “Vemos que há muita pólvora e pouca explosão”, disse ao HM. O problema? Ideias que fazem parte do poder Executivo e não Legislativo.

“A maior parte das pessoas ainda pensa que concorre para chefiar o Governo, e não para a AL. As pessoas continuam a fazer programas políticos como se fossem Governo, esquecendo-se que a sua função é fiscalizar o trabalho do Governo e fazer leis. A politica de Macau é feita pelo Governo, isso faz parte da Lei Básica e há-de ser sempre assim”, adiantou.

Albano Martins considera que os “programas políticos das listas são fracos”, numa “aldeia grande” que “cresceu com muito dinheiro e desejos”.

O economista não é o único a apontar o dedo aos cartazes e programas políticos que desde sábado andam nas ruas. Rui Furtado, médico, também é residente permanente e vota sempre, mas revela baixas expectativas para o acto eleitoral de 17 de Setembro.

“A campanha decorre de modo habitual, sem grandes surpresas. O conteúdo da campanha é pobre, sempre foi e continua a ser. As pessoas fazem os programas políticos que são um conjunto de acções e sugestões conforme as ocasiões do momento. O aumento dos salários dos funcionários públicos, a protecção dos residentes. São tudo pedras batidas, não são ideias novas e não têm um verdadeiro conteúdo político”, contou.

“Voto sempre e de acordo com o que tenho possibilidade de votar, nas listas em que me revejo mais ou menos nas ideias. Mas são pobres na mesma”, assegura.

O médico diz que persistem dificuldades de comunicação na campanha eleitoral, pois a comunidade portuguesa não tem acesso à maior parte dos programas políticos em chinês.

“Há traduções, mas são de má qualidade. A pobreza política, intelectual e cultural dos programas é o que toda a gente sabe”, frisou.

Já a arquitecta Maria José de Freitas assume que tem vindo a prestar atenção a “algumas listas”, sem ter ficado muito convencida.

“Não me parecem muito inovadoras nos programas. Tenho vindo a ver até que ponto essas listas espelham algum interesse junto da comunidade portuguesa, e também noutras comunidades, com essa cultura internacional que Macau sempre evidenciou”, defendeu.

Maria José de Freitas diz que não vota por obrigação, mas cada vez que coloca uma cruz no boletim é na lista que poderá trazer algo “favorável ao desenvolvimento do território”, sem esquecer a diversidade cultural.

É por isso que defende que, este ano, os programas eleitorais “não avançaram muito nesse sentido”.

“Pode ser que até às eleições se avance mais um pouco. Tenho algumas expectativas, há listas que ainda podem propor coisas interessantes. Há professores universitários envolvidos, há pessoas com experiência em Macau que conhecem a cidade, mas falta se calhar mais conhecimento cientifico. Esta é uma lacuna importante.”

De costas voltadas

Para Rui Furtado, a necessidade de tradução das ideias políticas ou a falta dela faz com que a comunidade portuguesa seja afastada das eleições. “Nem lhe é dada a oportunidade de estar perto”, assegura.

“Não temos acesso aos programas e são corpos estranhos no meio de toda esta discussão. E isto também vale para as comunidades dos expatriados.”

O antigo presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa levanta ainda a questão dos actos de corrupção eleitoral. “A verdade das eleições, em si, é uma coisa duvidosa. Entre a compra de votos e as pressões para votar, tudo é altamente duvidoso.”

Albano Martins frisa que há poucos portugueses interessados neste acto cívico, com excepção dos macaenses. No seu reduzido grupo de amigos, as eleições para a AL raramente são tema de conversa.

“Acredito que esse número reduzido de amigos vota, mas não conversam comigo sobre o assunto. Se calhar achamos que não é importante falar sobre isto, mas cada um assume o voto à sua maneira. A maioria das pessoas que conheço tem consciência de que é importante, nem que seja por uma cruz fora do quadrado.”

A arquitecta afirma que “não há muito interesse” da parte dos portugueses, sobretudo dos que acabaram de emigrar. Mas Maria José de Freitas acredita que há uma vontade de mudar o rumo dos acontecimentos.

“As pessoas estão atentas face ao facto de que algo tem de mudar, não podemos sempre ficar no status quo. Por isso estou na expectativa se essa mudança vem mais à superfície.”

Sem representação

Quando se vota coloca-se a cruz no boletim na expectativa de que um candidato represente ou defenda aquilo em que acreditamos. Rui Furtado diz ter a plena consciência de que ninguém o irá representar no hemiciclo da Praia Grande.

“A AL não representa ninguém, representa-se a si própria e aos seus deputados que têm os seus interesses a defender. E quem pensa que tem a AL para os defender está muito enganado.”

Na visão do médico, a falta de empatia entre a comunidade portuguesa e a  política local começa logo nos debates. “Temos um problema: não assistimos às discussões do plenário mas sim à tradução dos debates. Gosto de pensar que os deputados são melhores do que aquilo que são, e que as traduções são melhores do que a realidade.”

“Basta ouvir para vermos o que a AL faz de facto. O interesse dos cidadãos não é a coisa mais importante para quem está na AL”, frisa o médico.

Também Maria José de Freitas reconhece que, apesar de cumprir o seu dever cívico como residente permanente, será difícil ver os seus interesses e desejos representados.

“Se me pergunta se algum dos candidatos corresponde ao que penso, ou qual a utilidade do meu voto, direi que há uns candidatos que correspondem mais do que outros. O ideal é difícil de atingir, mas há-de haver uma situação que pode ser mais interessante apoiar, e é por aí que vou”, remata.

 

Proibições na fronteira

Votar em Macau é sinónimo da existência de um segundo sistema, mas Albano Martins alerta para os recentes casos de proibições de deputados e jornalistas de Hong Kong na fronteira. “Estamos a assistir a mudanças cada vez mais repentinas e muito antes do prazo terminar [2049]. Basta olhar para as fronteiras. Não faz sentido que no segundo sistema um deputado da ala democrata de Hong Kong não entre em Macau por ir contra a segurança do território. Faz parte da lógica do segundo sistema ele poder viajar entre as duas regiões e emitir opiniões. Penso que viajam para a China, mas não podem viajar para Macau. É um dossier que está a ser mal gerido. Se me disserem que há intervenção da China, não acredito. Haverá aqui mais papistas do que o papa.”

A política e a ANIMA

Albano Martins recusa participar em qualquer iniciativa do foro político, além do exercício do dever cívico como residente permanente, por não querer aproveitamento político da associação a que preside, a ANIMA. “Não estou interessado em que haja aproveitamento político do nosso trabalho. Já houve no passado duas organizações que tentaram colar-se a nós, e eu recusei. Incentivo todos os que sejam residentes a participar nas eleições tentando equacionar os problemas que os futuros deputados devem levantar.”

7 Set 2017

Justiça | Português condenado por abuso sexual dos filhos

João Martins foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base a cinco anos e seis meses de prisão pela prática de dois crimes de abuso sexual dos dois filhos. O advogado de defesa, João Miguel Barros, afirma que o processo “está completamente cheio de falhas”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso remonta a Maio de 2016, mas só ontem se soube o veredicto final. Há muito que a detenção de um português suspeito de abuso sexual dos filhos menores era muito comentada na praça pública, e ontem o Tribunal Judicial de Base (TJB) decidiu condenar o homem a cinco anos e seis meses de prisão.

O nome do arguido, João Martins, só ontem foi revelado. O TJB entendeu absolver o residente do crime de acto exibicionista de carácter sexual, noticiou a Rádio Macau. Não ficou provada a ocorrência de maus tratos nem a prática de relações sexuais com a filha.

Segundo a Rádio Macau, a juíza considerou que os depoimentos dos dois filhos de João Martins em tribunal são “credíveis” e que “não há prova que foi a mãe que influenciou” as crianças.

Em declarações ao HM, o advogado de defesa de João Martins, João Miguel Barros, disse que vai interpor recurso da decisão.

“O processo está completamente cheio de falhas desde o primeiro momento e neste momento não quero fazer declarações sobre o processo”, referiu o causídico, que continua a defender a inocência do seu cliente.

“Digo apenas que acreditamos na inocência do João Tiago, e se não fosse isso nunca teríamos aceite ter sido seus advogados. Por acreditarmos na sua inocência vamos defender a sua posição em recurso. Depois se verá quando acabar a fase de recurso e quando a sentença transitar em julgado”, acrescentou.

Tudo negado

As alegadas vítimas são uma menina de sete anos e um menino de nove. Tudo começou quando a mãe das crianças começou a estranhar o comportamento dos filhos quando estavam na presença do pai. O casal havia passado por um processo de divórcio e a mãe tinha conseguido a guarda das crianças.

Segundo a TDM, terá sido numa consulta com um psicólogo que as crianças contaram que eram vítimas de abusos e que o português lhes terá tocado nos órgãos genitais, além de os intimidar com agressões físicas para que não contassem a ninguém esses episódios.

João Martins vivia perto do Parque Central da Taipa e tinha à sua guarda os filhos desde 2011, ano em que começou a divorciar-se da mulher.

Quando foi detido pela Polícia Judiciária, negou todas as acusações de que era alvo, mas o TJB entendeu ser culpado.

O caso chegou a ser notícia nos media de língua chinesa. O diário Ou Mun, título com maior circulação no território, escreveu que os actos de que João Martins é agora acusado se prolongaram por vários anos. Também o jornal Va Kio escreveu que os filhos começaram a ter medo de estar com o pai.

6 Set 2017

Paulo José Miranda, escritor e poeta: “Esta também é a terra dos portugueses”

Em “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, Paulo José Miranda explora um dos muitos limites da natureza humana, ao mesmo tempo que reflecte sobre o terrorismo. Convidado da iniciativa “Camilo Pessanha – 150 anos”, o escritor e poeta fala do novo livro, cuja personagem é o oposto do assassino profissional. O autor, que fala hoje no edifício do antigo tribunal, defende que a existência de duas culturas que se compreendem e que fazem de Macau um lugar singular no mundo, irrepetível

Publicou “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, uma compilação dos textos que tem vindo a publicar no HM. Porquê a entrevista a um assassino?

Tenho duas participações no HM. Uma é com os textos que compõem a secção “Máquina Lírica”, em que costumo escrever acerca de livros e maioritariamente poetas mais novos do que eu, que têm editado em Portugal. Participo também com a secção “Em Modo de Perguntar”, com pequenas entrevistas que tenho feito a várias pessoas, actores, poetas e escritores. De repente ocorreu-me a ideia de fazer um projecto, algo que já tinha escrito em 2004, a ver se funcionava. E eu próprio entro como entrevistador. Este livro faz parte de um projecto que já terminei, sobre obras do século XX, onde explorava diversas formas. A entrevista é uma forma utilizada no século XX, e em Portugal o gosto do público pela entrevista intensificou-se nos anos 90.

Porquê?

Talvez devido ao facto de termos vivido muitos anos no Estado Novo, a entrevista não era propriamente algo que agradasse ao regime. Então na década de 90 começou a acontecer uma coisa curiosa, em que as pessoas liam mais as entrevistas dos escritores do que os próprios livros.

Isso mudou ou intensificou-se?

Hoje em dia a situação é diferente porque a internet mudou muita coisa. Partindo dessa observação construí uma narrativa, uma ficção, em forma de entrevista. Já não era preciso estar a ler a entrevista do escritor. O Carlos [Morais José] gostou da ideia, teve alguma aceitação. Depois fez-me a proposta para editarmos o livro. Nunca pensei que o texto fosse editado tão cedo. Uma das razões para isso prende-se com o facto da entrevista ser um formato estranho para um livro, não seria a forma mais apetecível para os editores. Mas julgo que a maior dificuldade é que o texto não é muito longo. Se fosse um longo romance…que, aliás, pretendo fazer um dia.

A partir deste livro?

Não, só com esta forma, mas com outros personagens. Talvez aí seja mais fácil e apetecível para um editor. Quando me foi feita a proposta, aceitei de imediato. E porquê um assassino? O assassino opõe-se em determinados pontos de vista, que me parecem fundamentais, em relação às nossas próprias vidas e ao nosso tempo. Um deles é que ele faz uma vida inteira sem ser conhecido, porque ele era excelente no que fazia e ninguém sabia quem ele era. Isto é o oposto do que nós queremos nos nossos dias. Não só queremos ser reconhecidos pelo trabalho que fazemos como queremos ser reconhecidos só porque sim. 

Queremos ter os tais quinze minutos de fama.

E que os quinze minutos se prolonguem. Houve uma grande explosão, que me parece que está a terminar, em que as pessoas iam para a televisão sem terem feito nada de extraordinário. Este personagem é então o oposto disso tudo. Ao mesmo tempo há um jogo de espelhos entre a actividade dessa pessoa e a do próprio escritor. Vai-se traçando, à medida que ele está a falar, toda uma preparação. Há ainda a relação com a morte. Para ele matar não é encarado como morte, é visto como um trabalho. Há um outro lado, que está muito presente no nosso tempo, que é o modo como o personagem se posiciona de forma antagónica com o terrorismo, o que nos causa algum choque. Imaginamos que um assassino profissional é um terrorista, e ele distancia-se disso.

Editar este livro foi a maneira que encontrou de reflectir sobre essa questão, numa altura em que o terrorismo é tão falado e tão incompreendido?

É uma das maneiras. Tenho um livro, passado em Hong Kong, que é “A Máquina do Mundo”, uma história de amor entre dois assassinos profissionais, que vão perdendo vidas como se fosse um jogo de computador. Aí reflicto mais sobre o assunto. Em “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, o que há é o mostrar como nos anos 50 e 60 quase tudo era de elites. Até matar e pagar para matar. Hoje, como diz Karadeniz, qualquer um encomenda uma morte por meia dúzia de tostões. O assassino profissional já se tornou democrático também.

Foto: Sofia Margarida Mota

Percebo que há aí um certo fio condutor em relação à morte. Esse tema, sobretudo a morte premeditada, fascina-o?

Não. O que acho é que o assassino profissional interessa, porque todas as situações limites do ser humano nos fazem pensar. E ser um assassino profissional é uma situação limite. Isso são coisas que me fascinam porque reflicto sobre elas, sem dúvida nenhuma. Alguém que transforma uma pessoa numa coisa entra na esfera do horror.

Algo desprovido de sentimento.

É o horror, como o que aconteceu em Auschwitz. Estas são formas que me interessam para pensar e ao mesmo tempo expor o humano que habita em todos nós. Não vamos a esse extremo, mas há algo que se ilumina a partir dali, daquele limite. O meu próximo livro, um longo romance de mais de 600 páginas, é o oposto: é sobre alguém que viveu a vida de um ponto de vista absolutamente ético. O que também é uma posição radical, de limite. Passou a vida a ler e a estudar, tendo responsabilidade. São casos extraordinários para reflexão. Ao tentarmos descer ou subir até eles, acabamos por nos iluminar a todos nós, o humano, na sua normalidade.

Falou-me do livro “A Máquina do Mundo”. Foi esse o livro que o fez regressar a Portugal depois de ter vivido vários anos no Brasil. Chegou a ser referido na imprensa como um “fantasma literário”, porque desapareceu do panorama literário português durante uns anos.

O João Paulo Cotrim recebeu uma indicação do António Cabrita, que lhe tinha enviado “A Máquina do Mundo”. Ele gostou do texto e contactou-me a perguntar se já tinha editora. Eu vivia em Curitiba e ele foi a minha casa, e conversámos. Durante o ano de 2014 acabei por escrever um livro de poesia, então o João Paulo Cotrim acabou por editar três livros.

Mas como foi regressar? Sentiu-se esse “fantasma literário”?

Não pensei assim e continuei a escrever. No tempo em que não escrevi estava dedicado à música. Não publicava, mas não tentei publicar. Era uma situação difícil para publicar, porque estava muito afastado. Hoje em dia é muito difícil editar livros sem aparecer. Se não apareces para as entrevistas as pessoas deixam de existir, somos cada vez mais numa sociedade mediática.

E o escritor tem de ser uma estrela.

Não diria uma estrela. Comecei a publicar no final dos anos 90 e as coisas eram diferentes. Davam-se entrevistas, mas não se aparecia. Hoje isso é fundamental. Nunca senti a questão do “fantasma literário”. Continuei a publicar, mas de facto não aparecia. Foram livros que passaram, não estava lá. E do ponto de vista do jornalismo é interessante escrever sobre alguém que está exilado, desaparece e de repente edita três livros.

Esta terça-feira falou sobre a experiência do que é ser português em Macau. Viveu essa experiência na pele durante três meses.

Vivi um pouco, mas a minha experiência veio de uma grande intuição, e também pela experiência de ter vivido cinco anos em Istambul. Foi uma experiência mais radical do que estar em Macau, porque ninguém fala português. Haveria talvez uma pessoa que sabia quem tinha sido Fernando Pessoa. Em Macau, além de ter lido as cartas e imenso sobre Pessanha, fiquei com uma percepção. Há qualquer coisa que acontece com os portugueses de Macau que é uma espécie de amplificador de uma estrutura existencial. Essa estrutura é como aquele fenómeno que se passa na mecânica quântica, como se houvesse uma vida paralela. Durante um tempo poucas pessoas que vinham para aqui não sentiriam que a sua vida seria uma vida de empréstimo, e que mais cedo ou mais tarde iriam recuperá-la.

Sente que somos uns privilegiados em Macau?

Hoje em dia já não, mas na década de 90 sim, sem dúvida. As pessoas ganhavam uma fortuna a fazer o mesmo que fariam em Portugal. 

Falo do privilégio de ter acesso à cultura portuguesa e a pontos identitários nesse sentido.

O que acho é que Macau é um lugar privilegiado e provavelmente único. É provavelmente o único lugar onde os portugueses estiveram que não foi conquistado, foi doado. Isso muda tudo. Em Moçambique há uma sensação de racismo, porque os moçambicanos foram colonizados. Aqui isso não existe.

Mas há um distanciamento.

Que advém da enorme diferença cultural e da língua. Há essa experiência que é o convívio de duas culturas muito distantes uma da outra, que não se fundem. Houve muito mais fusão cultural, e entre as pessoas, em Moçambique do que aqui. Os portugueses tiveram, apesar de tudo, uma diferença em relação aos outros países, apesar das atrocidades cometidas. O português misturava-se. Quando chegamos aqui os bárbaros éramos nós, há logo uma diferença, porque havia aqui uma cultura instalada. Sempre houve esse respeito. Em nenhuma parte do mundo acontece isto. No mundo em que nós vivemos, é exemplar.

Quando viveu em Macau veio escrever sobre Camilo Pessanha.

Estava inserido num projecto que era uma parceria entre a Fundação Oriente (FO) e a editora Cotovia, da qual fazia parte. A Cotovia enviava escritores para vários locais a Oriente e publicava os livros. A FO encarregava-se dos custos. Foi-me dado a escolher entre Pessanha e Venceslau de Moraes, e aí iria para o Japão. Eu não escolhi Macau, escolhi Pessanha. É um poeta pelo qual sentia um fascínio há muito tempo. Li muito sobre ele, andei nos lugares onde andou. Foi o Pessanha e a força da poesia dele que me trouxe, e interessei-me depois pela sua pessoa. É uma pessoa contraditória, cheia de mistérios à sua volta, alguém que é viciado em ópio e que tem uma profissão importante. Ao mesmo tempo tinha um desprezo pelos seus conterrâneos, e depois tinha uma sensibilidade enorme. Acho que Macau está melhor, porque já não há a sombra de muitos portugueses que sentiam isto como uma colónia. Alguns achavam que os chineses eram inferiores. Era uma sombra que pairava, mesmo que nem todos pensassem assim. Com a transferência de soberania essa sombra desaparece. Mas esta é também a terra dos portugueses, e isso é hoje mais claro.

6 Set 2017

Timor-Leste | Português condenado fala de incongruências na sentença

“Fomos todos enganados”

Tiago e a esposa, Fong Fong Guerra, foram condenados a oito anos de prisão pelo tribunal de Timor-Leste pela co-autoria do crime de peculato. Em entrevista, Tiago Guerra diz que há incongruências na sentença e muitas dúvidas sobre o paradeiro do dinheiro que o tribunal afirma estar nas contas do casal. O português, que aguarda a decisão do recurso, fala de entraves na sua defesa

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]erdeu 14 quilos enquanto esteve preso preventivamente em Díli. Tanto ele como a esposa necessitam de ser operados e de tratamento médico que não conseguem ter em Timor-Leste.

Do país não podem sai r por terem os passaportes confiscados e estarem sujeitos ao termo de identidade e residência. Os pedidos para que possam procurar ajuda médica no estrangeiro, foram entretanto recusados.

Eles são o casal português Tiago e Fong Fong Guerra, que desde 2014 se vêem a braços com um caso na justiça timorense. No passado dia 24 de Agosto foram ambos condenados pelo tribunal a oito anos de prisão pelo crime de co-autoria num caso de peculato, tendo sido absolvidos dos crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos. O tribunal condenou-os ainda ao pagamento de 859 mil dólares.

Foram acusados de “prejudicar as finanças e a economia do Estado” de Timor-Leste, por alegadamente se terem apropriado de fundos oriundos da indústria petrolífera, que pertencerão ao país.

Tiago Guerra está na fase de recolha de mais provas para sustentar o seu caso. “Estes dias têm sido muito complicados. Somos condenados por um crime que não cometemos e estamos a ver as nossas vidas destruídas”, contou ao HM.

Tiago Guerra não faz a mínima ideia de quando será proferida a última de todas as decisões. “Aqui em Díli o tribunal de recurso pode demorar um ano ou dois a apreciar um caso. Aqui há dias houve uma decisão que tinha sido interposta em 2014, ainda estava preso. Pode demorar muito tempo.”

O português diz não aceitar a sentença e fala de entraves na apresentação de provas durante a preparação da sua defesa.

“A questão mais importante aqui é o direito à defesa. Os juízes tinham dúvidas, e isso está escrito no acórdão, sobre o paradeiro dos fundos. Queríamos chamar as testemunhas que fizeram a transferência, mas foram todas negadas, os juízes indeferiram esses pedidos. Depois tentamos ainda trazer uma testemunha do banco que fez a transferência, mas o pedido também foi indeferido”, contou.

O português adiantou que “sem direito à defesa, e sem cumprir os princípios básicos de justiça, tem sido muito complicado pensar em como podemos fazer isto”. “Estamos focados na apresentação do recurso e em garantir que está lá tudo”, acrescentou.

Onde está o dinheiro?

Em 2011, Tiago Guerra detinha a Olive Unipessoal, uma empresa sediada em Timor-Leste, a partir da qual efectuava negócios e recebia pagamentos por trabalhos de contabilidade, consultoria e auditoria. Desde 2010 que Fong Fong Guerra, a sua esposa, detinha em Macau uma outra empresa, a Olive Consultancy.

Segundo Tiago Guerra, foi esta empresa que serviu como intermediária no pagamento de 860 mil dólares norte-americanos entre uma sociedade de advogados norueguesa, em representação de uma empresa, a uma outra empresa norte-americana. O pagamento, feito através de um contrato de agente depositário (contrato escrow), foi feito a convite de Bobby Boye, nigeriano com nacionalidade americana.

Esse contrato valeu à Olive Consultancy o pagamento de dez mil dólares americanos, sendo que, a partir da transferência do dinheiro para os Estados Unidos, Tiago Guerra assume nunca mais ter tido contacto com Bobby Boye.

Boye, que chegou a desempenhar funções como assessor do Estado timorense no sector do petróleo, cumpre hoje pena nos Estados Unidos pela prática de vários crimes financeiros.

Tiago Guerra fala das diversas incongruências que encontrou na leitura da sentença que o condenou a si e à sua esposa, relativas ao paradeiro do dinheiro.

“Os juízes dizem que o dinheiro (860 mil dólares) foi enviado e saiu da conta, como ficou provado graças aos peritos do Banco Central, mas depois dizem que está em parte incerta. Há uma terceira afirmação de que o dinheiro está nas nossas contas em Macau. Quando têm estas dúvidas, penso que o principio da defesa não está a ser respeitado.”

Para descobrir o rasto do dinheiro, as autoridades timorenses enviaram cartas rogatórias, a pedir diligências e informações, às autoridades de Macau.

“Pediram cartas com informações sobre nós, e foi enviado um resumo, assinado pela Polícia Judiciária e Interpol, de todas as contas bancárias em nosso nome. O saldo de todas essas contas dá pouco mais de seis mil dólares. Dizem que estão congelados 860 mil dólares? Nessa altura estava preso, não tive nada a ver com esse pedido. [As autoridades timorenses] ignoraram todas essas informações”, clarificou Tiago Guerra.

O português, que foi condenado por alegadamente ter transferido dinheiro que pertence aos cofres públicos de Timor-Leste, afirma ainda que a sentença que ouviu não dá certezas sobre se os 860 mil dólares pertencem, de facto, ao país.

“As autoridades dizem que o dinheiro que foi transferido para a nossa conta lhes pertencia, mas essa é outra questão. Isso não ficou provado em tribunal. A lei diz que os pagamentos de quaisquer receitas do petróleo devem ser feitos directamente ao fundo soberano, que pertence ao Estado timorense e cuja conta está na Reserva Federal em Nova Iorque. Estamos a falar de um banco dessa dimensão”, referiu.

Tiago Guerra questiona: “a partir do momento em que o dinheiro não foi transferido para lá, alguém pensa que pertence ao Estado timorense?”

O português assegura que, quando fez a transferência do montante, em 2011, jamais poderia imaginar que esse dinheiro pertencia a Timor-Leste.

“Só em Dezembro de 2016, quando tivemos acesso aos autos, vimos que o dinheiro está em disputa entre a empresa norueguesa e o Estado timorense. Até então não tínhamos a mínima ideia de que o dinheiro poderia pertencer a Timor e muito menos que viesse dos impostos [da indústria petrolífera].”

Alguma ingenuidade

Tiago Guerra, licenciado em engenharia e com carreira feita na área das telecomunicações, chegou a Timor-Leste em 2010, depois de ter passado pelo Brasil e pela China. Trazia na bagagem uma proposta para abrir a Digicel, empresa irlandesa, em Timor-Leste, projecto que falhou.

“A empresa contratou-me para começar uma empresa de operações de telecomunicações, e quando cheguei não havia uma licença nem a legislação que permitisse ter a licença. Não havia nada.”

Na cabeça do casal Guerra começou a pensar-se a ida para Macau, e foi nessa altura que foi criada a Olive Consultancy. A ideia era colocarem os filhos na Escola Portuguesa de Macau, onde tinham uma reunião agendada que nunca chegou a acontecer, devido ao facto de terem sido detidos no aeroporto de Díli dois dias antes.

A ligação do casal Guerra com Bobby Boye surgiu pelo facto de serem vizinhos.

“Houve a necessidade de um agente depositário e na altura Boye era uma pessoa bem vista aqui. Sei que entretanto fomos todos enganados e ludibriados por ele. Na altura tinha uma óptima reputação aqui, eu diria que era o assessor mais visível em Timor-Leste. Era recebido por todos os ministros. Quando recebemos esta proposta decidimos avançar”, lembrou Tiago Guerra.

Hoje o português não tem duvidas de que foi algo ingénuo na hora de aceitar este contrato.

“Nunca pensei que alguém pudesse ser assim. Éramos vizinhos, quando cheguei a Díli a casa dele era mesmo ao lado da minha. Agora sabemos que é criminoso, está a cumprir a pena, e que já tinha estado antes na prisão. Mesmo assim conseguiu ser escolhido no processo de contratação de um assessor internacional.”

Tiago Guerra frisa ainda não compreender como é que o tribunal timorense nunca notificou Bobby Boye como co-arguido no crime de peculato.

“Não sei como é que estou a ser condenado de ser co-autor de um crime de peculato, quando o autor do crime nem sequer foi notificado pelas autoridades. Está a cumprir pena nos Estados Unidos e são conhecidas todas as informações sobre ele. Dizem que não o conseguem encontrar? Essa informação é difícil de aceitar”, remata.

5 Set 2017

Taipa | Ampliação do mercado vai custar 30 milhões

O Governo decidiu mesmo ampliar e melhorar as actuais instalações do mercado municipal da Taipa, quando várias vozes defendiam uma nova infra-estrutura de raiz. As obras vão custar mais de 30 milhões de patacas

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á muito que moradores e deputados pedem mudanças no mercado municipal da Taipa, e parece que o Governo já tomou uma decisão sobre esse projecto.

Segundo um despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), a Companhia de Construção e Engenharia Kwong Yu vai executar as obras de “melhoramento e ampliação do mercado municipal da Taipa”. O projecto terá um orçamento na ordem das 30 milhões de patacas.

Prevê-se que, já este ano, a empresa adjudicatária receba pouco mais de dez milhões de patacas para desenvolver o projecto, sendo que no próximo ano deverá receber 20 milhões.

Projecto antigo

Em 2015 o deputado Ho Ion Sang defendeu, numa interpelação escrita entregue ao Governo, a necessidade de construir um mega complexo na zona onde se situa o mercado municipal da Taipa. Na sua visão, a actual proposta de expansão e melhoria deveria ficar posta de parte. Vários vendedores afirmaram que, apesar do aumento do número de bancas, a expansão não será suficiente para as necessidades actuais.

O deputado considerou, à data, que a actual infra-estrutura tinha poucas bancas e uma pequena dimensão, o que levava os moradores a fazerem compras noutros mercados municipais.

Há vários anos que o Instituto para Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) tem em mente a realização de obras de expansão e melhoria, que deverá passar pelo aditamento de nove bancas, equipamentos de elevadores e ar condicionado. Antes de 2015 existia esta ideia, cujo calendário previa a conclusão das obras daí a dois anos, o que não se verificou.

Nas mesmas questões que enviou ao Governo, Ho Ion Sang falou da possibilidade de criação de um complexo ao estilo de centro comunitário, mercado e auto-silo em Chun Su Mei, perto da Vila da Taipa, que foi apresentado pelo IACM, mas que acabou por não ser aceite.

Na apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) do ano passado, José Tavares, presidente do IACM, assumiu a existência de vários problemas no funcionamento dos mercados municipais. Estava, por isso, prevista a adopção de “várias soluções transitórias”.

5 Set 2017

Candidatos apresentam programas políticos

Novo Macau | Processos legislativos abertos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação do Novo Progresso de Macau (ANPM) quer que os processos legislativos sejam mais rápidos, mas, acima de tudo, mais claros. A ideia foi deixada ontem pelo número um da lista candidata pró-democrata, Solu Sou. “Queremos que todas as reuniões de comissão sejam abertas e que o público tenha acesso”, disse, na conferência de imprensa de apresentação do programa eleitoral.

Paralelamente, o objectivo é permitir aos residentes participar no processo, situação que só pode acontecer com o devido conhecimento. “Queremos garantir um maior compromisso da população na própria concepção das leis”, explicou.

Solu Sou considera que este é um aspecto que já existe em vários países e mesmo em Hong Kong, pelo que também em Macau devem existir reuniões públicas para auscultar as opiniões da população de modo a permitir que sejam incluídas no processo legislativo”, reiterou o candidato.

Por outro lado, a ANPM quer que o Governo seja mais questionado. O meio, apontou Solu Sou, pode ser através de mais debates na Assembleia Legislativa, sendo que, considera, esta é uma forma de colocar em causa o próprio Governo. “Queremos iniciar activamente debates e levantar algumas questões ao Governo. Não é uma coisa muito comum, apesar de já se começarem a ver alguns debates na última legislatura, mas achamos que devem existir mais”, referiu.

Estas duas prioridades têm que ver com uma insatisfação da ANPM com o “conformismo” generalizado dos deputados da Assembleia. “O que temos assistido a nível legislativo em Macau tem sido sempre tudo muito igual. Os legisladores e deputados são pró-governo e sentimos que há relutância em usar mecanismos diferentes para contestar o que está mal”.

Programa com todos

Ao olhar para a proposta de programa da ANPM, não é difícil constatar que tenta abarcar todos os sectores locais. Da habitação, à educação e à saúde, não faltam ideias para o território. A defesa dos animais e a igualdade de género estão ainda contemplados na luta da lista pró-democrata.

De acordo com Solu Sou, o programa foi feito tendo por base três fontes de informação fundamentais.

“A primeira fonte pode ser considerada uma extensão do trabalho que vem do passado da ANPM e tem mantido a consistência ao longo dos anos”, explicou.

Paralelamente, a ANPM tem feito, nos últimos meses, várias reuniões com profissionais representativos de várias indústrias e sectores locais. Dos encontros, surgiram aspectos e necessidades que foram integrados no programa.

Por último, a lista candidata pró-democrata, foi à rua recolher opiniões dos eleitores e usou também os dados que foi recebendo na campanha eleitoral das últimas eleições.

Se no dia do início de campanha, no sábado à meia-noite, Solu Sou mencionou a importância da geração mais nova, ontem na apresentação do programa eleitoral o número um da ANPM reitera que apesar do apelo ao voto dos jovens locais, são uma associação para todos.

“O nosso foco não se concentra só nos jovens, esta é uma faixa da população à qual chegamos mais facilmente através da nossa divulgação online. Mas, na rua, estamos atentos a toda a população e recebemos apoio de várias faixas etárias. O nosso alvo são todos os eleitores”, remata.

Ontem a comitiva de campanha andou pela Horta e Costa e pela Taipa.

Agnes Lam espera obter um assento na Assembleia Legislativa

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sessão de apresentação do programa político, ocorrida ontem, Agnes Lam, líder da lista Observatório Cívico, disse ter esperança de obter um assento na Assembleia Legislativa (AL) pela via do sufrágio directo.

No programa político da lista Observatório Cívico não há diferenças notórias em relação aos restantes programas políticos, mas Agnes Lam considera que, no caso da sua equipa, todas as ideias e objectivos baseiam-se em estudos e provas. A candidata disse mesmo que, se houvesse ideias impossíveis de serem alcançadas, não as iria incluir no seu programa político.

Jovens e habitação

A habitação destinada aos jovens é um dos principais pontos do programa político da lista Observatório Cívico. Agnes Lam apontou ontem que, para que seja mais fácil a aquisição de imóveis por parte dos jovens, o Governo poderia recorrer às contribuições feitas para o regime de previdência central não obrigatório. Tudo para que os jovens tivessem dinheiro para pagarem as primeiras prestações dos empréstimos.

A candidata defende ainda o aumento do imposto para quem detém uma segunda habitação sem grande utilização. Agnes Lam prefere rejeitar a ideia “Terras de Macau dedicadas às gentes de Macau”, que tem sido adoptada pelo Governo, preferindo a mensagem “Prédios de Macau dedicados às gentes de Macau”.

A ideia seria levar os promotores imobiliários a disponibilizar partes dos edifícios para a construção de habitação pública.

Ainda na área do imobiliário, Agnes Lam defende a criação de um departamento público que trate e fiscalize as instalações eléctricas dos edifícios, à semelhança do Electrical and Mechanical Services Departament de Hong Kong.

Saúde e património

Apostando na necessidade da reabertura do turismo marítimo, em zonas como a Doca dos Pescadores, Taipa e Lai Chi Vun, Agnes Lam foca ainda a sua atenção na melhoria da qualidade dos serviços de saúde. A candidata acredita que os médicos que trabalham no sector privado não têm motivações para aumentar as suas habilitações.

A lista Observatório Cívico defende também uma melhoria da preservação do património cultural, a preservação das zonas verdes e ainda a criação de planos de apoio a trabalhadoras grávidas.

Na lista constam nomes como o de Cheong Chi Hong, número dois de Agnes Lam e médico. Ng Hio Cheng é o número três e é também médico, tendo defendido ontem que o Executivo não tem políticas suficientes na área da protecção ambiental. Keong Wai Cheng e Choi Chi Wai são o número quatro e cinco, respectivamente.

ACUM de Si Ka Lon quer habitação como prioridade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] apresentação do programa político da lista encabeçada por Si Ka Lon, A Associação dos Cidadãos Unidos de Macau (ACUM), começou com uma exposição dos problemas actuais vividos pela sociedade local. O número um da lista candidata salientou ontem em particular, os elevados preços da habitação, os problemas relativos ao trânsito e a debilidade de algumas das indústrias locais. O candidato lamenta estas situações e a falta de medidas eficazes por parte do Governo para as resolver.

É com este contexto que Si Ka Lon propõe a criação de um mecanismo que possa “devolver a riqueza aos cidadãos” e em que seja dada resposta às solicitações dos residentes ligadas à habitação, aos serviços de saúde e às garantias de reforma. “Os cidadãos não deveriam de estar preocupados com a primeira prestação na aquisição do imobiliário, com as consultas médicas nem com a vida quando forem idosos”, referiu o candidato.

Função pública mais eficaz

Além dos assuntos sociais, é de salientar que Si Ka Lon considera importante que se aumente a qualidade do funcionamento dos serviços do Governo. Como solução, o número um da ACUM sugere uma melhoria do trabalho da função pública, com a criação de um sistema justo de ascensão na carreira, de responsabilização e de atribuição de benefícios. O objectivo, disse, é “excluir os trabalhadores da função pública que não reúnam os requisitos do Governo e promover a qualidade dos serviços públicos”.

No que respeita aos assuntos ligados à habitação, Si Ka Lon considera que o Governo deve incluir esta matéria nas prioridades. Para o candidato, a solução passa pela construção de habitação pública nos terrenos recuperados pelo Executivo e pela criação de um regime de previdência para habitação não obrigatório. A razão apontou, é apoiar aqueles que pretendem comprar casa pela primeira vez.

O número dois da lista, Kyan Su Lone, apresentou as acções do programa político referentes à saúde. Kyan Su Lone sugere a criação de um seguro para doenças graves para todos os residentes. Na área da educação, o número dois da ACUM quer ver aumentado o número de vagas nas creches do território.

A apresentação do programa feita ontem contou com a presença de Chan Meng Kam. Apesar de estar de saída da Assembleia Legislativa, o ainda deputado fez questão de mostrar o seu apoio à ACUM.

Lei Siu Kun | Melhor acesso à habitação e combate à corrupção

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] lista Ou Mun Kong I, que se apresenta no número 17 do boletim de voto, apresentou ontem o seu programa político. Segundo informação veiculada pelo canal chinês da Rádio Macau, a lista encabeçada por Lei Siu Kun tem na totalidade sete membros. Do programa eleitoral, o cabeça de lista destacou a necessidade de resolver a dificuldade na aquisição de propriedade e o combate à corrupção. Lei Siu Kun quer ainda que seja feito um melhor aproveitamento dos fundos públicos, que seja garantido o direito ao emprego através da aprovação de legislação e que seja feito um controlo de preços no consumidor. O líder da lista Ou Mun Kong I disse ainda que o preço do metro quadrado de um prédio construído em Macau deve rondar as duas mil patacas. Como tal, espera que o Governo possa conceder cerca de 60 terrenos afectos à construção de fracções residenciais vendidas a baixo preço para beneficiar os mais jovens.

NUDM | Em defesa do sector do jogo e habitação

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Nova União para o Desenvolvimento de Macau (NUDM) liderada por Angela Leong aposta, no seu programa político, na defesa do jogo e dos seus funcionários bem como nos jovens e na resolução dos problemas ligados à aquisição de habitação.

A candidata, ligada ao sector do jogo, destaca a importância da implementação de políticas de diversificação económica e de diversificação do próprio jogo, de modo a atrair um turismo global. Para o efeito, o programa da NUDM prevê ainda a luta pela construção de uma marina no território, bem como a aposta numa “cidade verde e inteligente”, sendo que não esquece a intenção de transformar Macau num espaço de qualidade de vida a nível internacional.

Os funcionários do sector representado pela NUDM, têm ainda os seus direitos defendidos, nomeadamente no que respeita à saúde. Angela Leong pretende continuar a lutar pelo melhoramento do sistema de saúde para os trabalhadores do jogo, sem esquecer que o mesmo tem de ser feito em relação ao resto da população.

Habitação jovem

O “Youth Hostel Scheme” é um dos pontos de relevo e que pretende promover a habitação mais acessível aos jovens locais. A ideia é, além de facilitar aos mais novos a aquisição de casa, “promover ainda a criação de espaços e actividades recreativas que mostrem que o território pode ser uma cidade energética”.

Património e patriotismo são também duas das linhas orientadoras da NUDM. O objectivo é “preservar a herança cultural intangível, promover a cultura do jogo e encorajar a integração cultural”, lê-se na apresentação enviada à comunicação social.

Outra das prioridades são o desenvolvimento de políticas dirigidas não só ao ensino para os mais jovens como ao programa de aprendizagem contínua. A transparência política é ainda parte do programa eleitoral da NUDM bem como o apoio a todas as acções que tenham em conta as políticas de “Uma Faixa, Uma Rota” e a “Grande Baía”, de modo a materializar a plataforma entre a China e outros países.

Ho Ion Sang | A tempestade e o serviço social

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão oito candidatos e Ho Ion Sang surge como número um. Assim é a lista União Promotora para o Progresso, que dá prioridade aos assuntos sociais, sem esquecer as necessidades relacionadas com a habitação, trânsito, terrenos ou serviços de saúdes.

Ho Ion Sang disse ontem que vai exigir ao Governo mais medidas para atenuar as pressões sentidas pelos cidadãos que pertencem à classe média.

Na área empresarial, o líder da União Promotora para o Progresso referiu que deve ser feita uma aposta no desenvolvimento diversificado da economia local como estratégia a longo prazo. Ho Ion Sang entende que o sector do jogo se deve desenvolver em conjunto com as restantes indústrias, para que haja lugar ao fomento das Pequenas e Médias Empresas e negócios mais tradicionais.

Acerca da passagem do tufão Hato, Ho Ion Sang adiantou que faz falta a existência de um mecanismo eficaz na resposta às catástrofes por parte do Executivo. O candidato acrescentou ainda que, caso seja reeleito para um assento na Assembleia Legislativa, irá levar a cabo um papel de fiscalização e chamar a atenção para a responsabilização dos funcionários públicos.

Na área do planeamento urbanístico, Ho Ion Sang lembrou que devem ser reforçados os trabalhos de renovação urbana, tendo prometido continuar a apresentar sugestões sobre o controlo das inundações na zona do Porto Interior.

O programa político da União Promotora para o Progresso foca-se também no aproveitamento adequado dos cofres públicos, na necessidade de melhorar o serviço público e privado de saúde, sem esquecer a criação de um mecanismo de longo prazo para a formação de talentos no território, entre outros pontos.

As queixas da Aliança Pr’a Mudança

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]orge Valente, número dois de Melinda Chan na lista Aliança Pr’a Mudança, alertou para a existência de vários entraves impostos pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) na realização da campanha eleitoral.

“Sentimos que existem bastantes entraves porque, desta vez, especialmente em termos de publicidade e campanha, há muitas coisas que não estavam bem explicadas e isso apanhou-nos de surpresa”, disse Jorge Valente ao HM.

O candidato referiu ainda que continuam a existir muitas zonas cinzentas na aplicação prática da legislação. “Com tantas sessões de esclarecimento continuam a existir muitas perguntas à CAEAL e eles continuam a precisar de tempo para nos responder porque parece que também não têm uma resposta pronta.”

O número dois de Melinda Chan assegurou que o início da campanha eleitoral “foi bom”. “Temos ido à rua distribuir panfletos e falar nas zonas que nos permitem fazer publicidade. Tem sido boa a resposta. Ontem fomos aos três candeeiros, choveu e não apareceu muita gente. Ainda assim, apareceram responsáveis pelas Pequenas e Médias Empresas que ajudamos durante o tufão Hato”, explicou.

A Aliança Pr’a Mudança apresenta nos próximos dias o seu programa político para as eleições legislativas.

Poderes do Pensamento Político | Mais apoios aos funcionários públicos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ntónio Lopes é o número dois da lista Poderes do Pensamento Político e defende, segundo a Rádio Macau, mais medidas e melhores condições para os funcionários públicos. “Mais e melhores condições de habitação para os funcionários públicos vão permitir que façam um melhor trabalho e prestem melhor serviço à população. Salvaguardar as regalias destas pessoas é outro dos nossos objectivos”, disse António Lopes à Rádio Macau no dia em que foi apresentado o programa político da lista que, pela primeira vez, participa nas eleições de 17 de Setembro. O candidato disse ainda que “são necessárias mais vozes na Assembleia Legislativa a favor dos funcionários dos serviços públicos” além dos nomes de José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai.

4 Set 2017

Tufões | Associação Novo Macau aponta responsabilidades a Chui Sai On

A Associação Novo Macau considera que Chui Sai On, o Chefe do Executivo, é o principal responsável pelas consequências da passagem do tufão Hato, por nunca ter adoptado medidas na prevenção de catástrofes e na melhoria das infra-estruturas

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ausou dez mortos e as suas consequências ainda estão na mente de muitos, que não esquecem o tufão mais forte dos últimos 50 anos. Os estragos que o Hato causou no território levaram a Associação Novo Macau (ANM) a acusar o Chefe do Executivo, Chui Sai On, de ser o principal responsável por tudo o que aconteceu nos últimos dias.

“A ANM pede que o Chefe do Executivo seja responsabilizado. O próximo passo que Macau deve tomar é responsabilizá-lo, e também ao Governo, pela sua inacção e necessidade de reformas, para que se possa prevenir a ocorrência de uma nova tempestade”, lê-se em comunicado.

Número a número, a ANM recorda todas as medidas que ficaram por cumprir e que, na visão de Sou Ka Hou e Paul Chan Wai Chi, levaram a que o território tenha ficado seriamente destruído.

“O tufão foi, claro, um desastre natural, mas a maior parte dos efeitos sentidos vieram das acções humanas, nomeadamente do Governo e do Chefe do Executivo em específico”, apontam.

A ANM começa por apontar a renomeação de Fung Soi Kun como director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) em Agosto. “Depois dos pedidos públicos que foram feitos para a saída de Fung Soi Kun, o Chefe do Executivo decidiu renovar o seu mandato, garantindo que este teria a experiência e conhecimentos adequados ao cargo.”

Além disso, os SMG “nunca cumpriram a promessa de rever o sistema de alerta de tempestades tropicais”.

Medidas de 2009

A Novo Macau recorda ainda que, já em 2009, quando Edmund Ho ainda era Chefe do Executivo, o Governo aprovou o Sistema de Alerta e Aviso para Situações de Ameaça de Risco Colectivo. Em 2012, foi criada uma comissão para lidar com este tipo de situações.

Contudo, “estes sistemas não foram utilizados nesta ocorrência e o Chefe do Executivo deveria ser responsabilizado pela falta de acções”.

Sobre a actuação do corpo de operações da protecção civil, a ANM defende que ficou aquém do desejado, uma vez que, sem a ajuda de vários grupos de voluntários, a limpeza das ruas teria falhado.

O Chefe do Executivo é também criticado pelo facto de nunca ter avançado com a construção de infra-estruturas consideradas essenciais para travar as cheias na zona do Porto Interior. “O atraso na construção destas infra-estruturas causaram mortes e perdas económicas”, aponta a ANM.

A Novo Macau acredita ainda que as falhas de electricidade que se verificaram nas horas seguintes à passagem do tufão Hato mostram o quão Macau está dependente do continente.

“Durante esta Administração, a proporção da electricidade importada passou de dez para 90 por cento, o que faz com que Macau fique vulnerável se o fornecimento de electricidade não for estável ou estiver danificado”, remata a associação.

1 Set 2017

Deputada de Hong Kong barrada na fronteira. Chui Sai On em silêncio 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ias depois de vários jornalistas de Hong Kong terem sido barrados na fronteira, após a passagem do tufão, eis que as autoridades locais decidiram barrar mais uma cidadã da região vizinha.

Segundo o website Hong Kong Free Press, que cita o jornal Apple Daily, Helena Wong, deputada do campo pró-democrata do Conselho Legislativo (LegCo), foi proibida de entrar em Macau por constituir “uma ameaça à segurança interna e estabilidade”.

A deputada referiu que foi a primeira vez que viu ser-lhe negada a entrada na RAEM, tendo prometido que iria endereçar uma carta a Chui Sai On, Chefe do Executivo. “Isto é uma piada e traz grandes prejuízos para a imagem de Macau”, referiu Helena Wong.

Ao HM, o porta-voz do gabinete do Chefe do Executivo adiantou que Chui Sai On remete o seu comentário para as palavras proferidas nos últimos dias por Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, “nada mais tendo a acrescentar”.

Esta semana, após a proibição de entrada de jornalistas de Hong Kong, Wong Sio Chak referiu que “ninguém gostaria de ter a sua entrada proibida no território independentemente da sua profissão e não estamos concentrados numa só profissão”. “São casos confidenciais e que não podem ser divulgados o que também é conforme a lei”, acrescentou.

Segundo o mesmo portal de informação, Helena Wong frisou que iria discutir o assunto com Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, e levá-la a reflectir sobre o descontentamento que este tipo de decisões pode originar junto da população de Hong Kong.

A deputada deslocou-se a Macau no âmbito de uma visita de intercâmbio organizada pelo Instituto Politécnico de Hong Kong e pela Universidade de Macau. Na fronteira, Helena Wong terá sido interceptada pelos agentes do Serviço de Migração, tendo sido levada a preencher documentos com dados pessoais. Todos os seus colegas conseguiram entrar no território.

Alta frequência

Desde Dezembro do ano passado que este tipo de casos têm sido mais frequentes, sobretudo nas vésperas da realização de visitas oficiais de governantes da China às duas regiões administrativas especiais.

O Governo nunca admitiu a existência de uma lista negra de pessoas que estão proibidas de entrar em Macau. À Lusa, a Polícia de Segurança Pública disse apenas, em Janeiro deste ano, que as informações estatísticas das “recusas de entrada” são considerados como “dados de informações reservados”, pelo que “não há lugar à sua divulgação”.

1 Set 2017

Tufão Hato | No Myfair Garden ninguém sabe quando vai ter água

O Myfair Garden, na Barra, é um dos cinco edifícios que continua a não ter acesso a água canalizada, por culpa dos estragos nas tubagens. A associação de condóminos reuniu ontem para tentar chegar a uma solução, mas a água só deverá chegar daqui a duas semanas

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o número 31 da rua Francisco António continua a não existir água quando se abrem as torneiras. Não fosse o regresso da electricidade, depois de um apagão que afectou toda a gente, seria ainda mais difícil transportar baldes de água pelas escadas, num prédio com 15 andares.

O Myfair Garden, localizado na zona da Barra, ainda não tem água canalizada, mas a culpa não é da Macau Water.

À semelhança de outros quatro edifícios no território, este prédio residencial ficou com as tubagens avariadas graças à passagem do tufão Hato e não há uma data concreta para o regresso da água potável. O HM falou com moradores no local e todos dizem que nas próximas duas semanas o problema será resolvido, mas ainda nada é certo.

Para irem buscar este bem essencial, todos os dias os moradores vêem-se obrigados a subir e a descer constantemente. Não há filas, mas junto aos pequenos tanques que fornecem água de forma provisória está sempre alguém de balde na mão.

Ieong é um deles. Os pais são membros da União dos Proprietários do Edifício Mayfair Court e, segundo ele, as concessionárias já deram todo o apoio na reparação das infra-estruturas. O abastecimento de água já deveria, portanto, ter voltado, mas as tubagens dos andares mais altos ficaram danificadas.

A união de proprietários já se reuniu para resolver a situação, estando neste momento à espera do apoio financeiro do Governo. As discussões entre condomínios prosseguem e não há ainda uma data para que a água regresse.

“A ideia é que todos os moradores dêem uma parte do dinheiro necessário, porque todos nós queremos ter água em casa o mais depressa possível”, adiantou.

Ontem à noite houve nova reunião, mas o consenso ainda não terá chegado.

A contar o tempo

Mário, italiano e idoso, é outro dos moradores do Myfair Garden que foi afectado pela passagem do tufão Hato.

“Ouvi dizer que a falta de água vai continuar nas próximas duas semanas, mas espero que demore menos tempo”, defendeu ao HM.

Leong, outra moradora, desloca-se para ir buscar água e conta que, apesar da inconveniência que a falta de água trouxe ao seu dia-a-dia, agradece a solidariedade de todos os condóminos e administradores do prédio.

Jojo também ouviu dizer que daqui a duas semanas poderá ter água para necessidades tão básicas como tomar banho ou lavar a roupa, esperando uma solução para breve.

O Myfair Garden está localizado numa das zonas mais afectadas pelo tufão. Contudo, a falta de água é o único problema que persiste depois de dias em que a luz faltou em todo o lado e o lixo se acumulou em vários locais.

Há dias, em conferência de imprensa, Susana Wong, directora dos Serviços dos Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), alertou para a existência de cinco prédios sem água, tendo sido prometida a cedência de apoio técnico. No caso dos prédios que utilizam a água de tanques já existentes no prédio, foi aconselhado a que esta seja fervida antes de ser consumida, pelo facto de não estar ligada à rede pública de abastecimento.

1 Set 2017

Annie Wang, cantora e estudante | Animal de palco

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]queles que já a ouviram cantar nas jazz jam sessions no espaço Live Music Association (LMA) percebem que está ali um talento natural e uma presença forte que é revelada em palco. Fora dele, Annie Wang assume-se como mais introvertida, mais calada, “mas não demasiado”.

Estudante do departamento de inglês da Universidade de Macau (UM), Annie Wang recorre ao filme “Mr e Mrs. Smith”, protagonizado por Brad Pitt e Angelina Jolie, para se caracterizar em palco.

“Acho que tenho duas personalidades diferentes. Antes de vir para Macau trabalhei como cantora em part-time em bares, quando andava na escola secundária. No dia-a-dia era uma nerd, a carregar os livros e usava óculos. As aulas acabavam às nove da noite e aí punha a minha maquilhagem e ia cantar”, recorda-se.

Annie Wang não faz da música uma profissão, mas começou a cantar ainda antes de aprender as primeiras palavras. Os pais ajudaram-na e incentivaram o nascimento de uma paixão.

“Os meus pais gostam de cantar e quando era pequena cantavam muito comigo. O meu pai cantava uma canção e deixava sempre a ultima palavra da canção para eu cantar. É uma coisa de infância, que começou muito cedo.”

Os pais, professor de educação física, e a mãe, professora de música, também vão fazendo uma perninha como cantores. “Mas são pequenos concertos na nossa cidade”, adianta.

Se Annie começou a cantar ainda antes de falar, as primeiras experiências em palco aconteceram logo no jardim-de-infância.

“Claro que não cantei jazz”, ironiza. “Devo ter cantado algumas canções infantis, muito provavelmente. Tenho uma fotografia e tudo”, recorda.

Desde aí, Annie Wang nunca mais deixou os palcos de fora. “Cantar num palco é uma constante na minha vida. Aconteceu na escola primária. Desde que me lembro todos os anos tinha uma oportunidade de cantar.”

Mudança de mentalidade

A escolha de Macau para fazer os estudos superiores acabou por revelar-se uma agradável surpresa.

“Esta experiência tem sido muito boa. Estou de facto a adorar estudar na UM. Vim estudar para cá por causa dos cursos e dos professores, e quando cheguei aprendi muito com eles. De certa forma mudou a minha vida e a minha forma de pensar.”

No território também teve algumas experiências como cantora, sobretudo em sessões onde se canta de forma livre. “Não fiz concertos a sério”, assegura.

A cantora ouve jazz e todos os tipos de música. Num lugar onde a música ao vivo tem vindo a ganhar outro rumo, Annie Wang destaca o papel importante que o LMA tem tido.

Referindo-se às jazz jam sessions, que decorrem todos os domingos, a jovem estudante garante dar todo o apoio. “Pela minha experiência no LMA há muitos músicos talentosos. Não sabia que aquele lugar existia. Não é um espaço comum em Macau. Há uma certa vibe que é diferente e diversa face ao que existe.”

A cantora adianta que este tipo de concertos, com uma onda mais intimista, não são frequentes em muitas cidades chinesas.

“Não diria que é mais fácil ser cantora na China. Depende do quão queremos isso, do quão queremos subir na carreira. Há mais hipóteses de fazer jam sessions em Macau do que na China.”

Doutoramento na calha

Estando prestes a licenciar-se, Annie Wang não sabe ainda o que quer fazer em termos profissionais. Associar a música à investigação académica é um dos objectivos.

“Sempre cantei mas sempre estudei ao mesmo tempo. Neste momento estou a pensar em continuar os meus estudos e fazer um doutoramento. Nunca vou desistir de cantar, vou procurar algo mas continuar a cantar. Quero focar-me nesse trabalho de investigação que pretendo fazer.”

Ficar em Macau é uma possibilidade, mas a estudante não descarta experimentar outros destinos. “Tudo depende do que acontecer este ano. Vou licenciar-me para o ano que vem e este ano vou procurar outras oportunidades. Vou ver se dá para fazer um doutoramento num outro lugar”, remata.

1 Set 2017

DSAL | Trabalhadores da Galaxy queixam-se de irregularidades

Representantes de 300 trabalhadores estiveram ontem reunidos com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais onde apresentaram várias reivindicações contra a Galaxy. Em causa está a falta de pagamentos e más práticas durante o tufão Hato

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem fez o turno da noite não pôde sair e foi obrigado a ficar. Quem entrou de manhã teve de se deslocar para o trabalho, mesmo com o sinal 8 de tempestade içado. Estas reivindicações, num total de 21, foram ontem apresentadas numa reunião que juntou representantes de 300 trabalhadores da operadora de jogo Galaxy e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).

O deputado José Pereira Coutinho, que esteve presente na reunião e acompanhou o caso, disse ao HM que muitas das reivindicações referem-se a situações que já têm “barbas brancas”. A passagem do tufão Hato terá reforçado o descontentamento.

“A lista de reivindicações é longa e não posso deixar de referir o facto da empresa, durante anos e propositadamente, fazer coincidir o descanso semanal com os feriados obrigatórios”, começou por dizer o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM).

Além disso, “os trabalhadores acham que a empresa faltou à palavra ao não conceder os bónus dos últimos anos até à presente data.”

Três representantes da Galaxy estiveram na reunião, tendo sido feita uma contra-proposta, que foi recusada pelos trabalhadores. Segundo Pereira Coutinho, ainda não há uma data para a resolução do problema.

Um Hato por resolver

Na passada quarta-feira os trabalhadores terão sido obrigados a ficar no local de trabalho sem terem direito a um dia de descanso.

“Quando o sinal 8 foi içado os trabalhadores foram forçados a voltar para o trabalho. Os que estavam dentro da empresa foram obrigados a fazer horas extraordinárias contra a sua vontade. Muitos pediram para ir para casa e isso foi rejeitado”, explicou o deputado.

As horas extraordinárias foram pagas pela empresa, mas, segundo Coutinho, “o que os trabalhadores queriam era ter direito a um dia para irem para as suas casas reparar os estragos”.

Segundo um artigo do South China Morning Post, o sinal 8 de tufão só terá sido içado às 9h00 de quarta-feira para que os casinos não pagassem horas extraordinárias aos seus trabalhadores. Até ao fecho desta edição, não foi possível obter uma reacção por parte da Galaxy.

Fichas ao ar

Outra das queixas que foi apresentada na reunião de ontem prende-se com o funcionamento das mesas de jogo, problema que, segundo Pereira Coutinho, deveria ter sido apresentado à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

“Não existindo clientes a jogar nas mesas de jogo, os croupiers são obrigados a distribuir cartas durante horas, sem que haja um único cliente a jogar. Isto tem criado doenças profissionais face ao prolongado tempo de trabalho.”

Foram ainda feitos relatos sobre o comportamento da operadora de jogo face às alegadas agressões que os croupiers são sujeitos.

“Os queixosos manifestaram um grande desagrado face ao comportamento da empresa no tocante às agressões feitas aos croupiers. A empresa, em vez de os defender, persegue-os e aplica sanções, quando deveriam ser apresentadas queixas-crime junto das autoridades policiais.”

Nos últimos dias a Galaxy tem sido alvo de comentários negativos nas redes sociais sobre o facto de, alegadamente, ter pedido ajuda a voluntários para a limpeza das piscinas do empreendimento hoteleiro. Contudo, Pereira Coutinho adiantou que este assunto não foi abordado no encontro de ontem.

31 Ago 2017

Pessanha, 150 anos | José Drummond apresenta “O Exorcismo” este domingo

Conhecido artista plástico, José Drummond lança no domingo um livro que reúne poemas escritos à mão no início dos anos 90. Os textos falam de sentimentos mas mostram também o próprio autor na pele de artista

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]entimentos e palavras sobre pintura, ou simplesmente reflexões. O universo privado de José Drummond cabe todo em “O Exorcismo”, o livro de poesia que será lançado este domingo no edifício do antigo tribunal, inserido nas comemorações dos 150 anos do nascimento de Camilo Pessanha, uma iniciativa do Hoje Macau.

A revelação de Drummond como poeta não passa de uma forma do autor exorcizar – daí o nome – aquilo que lhe ia na mente e na alma no início dos anos 90. Mais de uma década depois, poucas alterações foram feitas e a publicação aconteceu mesmo.

“Este foi um período bastante intenso, em que tinha sempre uma série de cadernos antigos e ia escrevendo duas ou três linhas”, recordou ao HM. “Escrevi reflexões sobre pintura mas também reflexões sobre o que me acontecia na altura, fosse relacionado com amores ou o com o estado do tempo, por exemplo.”

Drummond nunca deixou esses cadernos, e no meio de idas e vindas, a poesia acabou por acompanhá-lo sempre. Alguns poemas chegaram a acompanhar uma exposição que o autor realizou em 1992.

“Alguns cadernos desapareceram, outros permaneceram. Há cerca de um ano e meio, voltei a pegar neles e olhei para eles de uma outra forma. Comecei a encontrar correspondências com o trabalho que continuei a fazer e algumas linhas dos meus trabalhos na área das artes plásticas estão ali expostas.”

Daí a ligar a publicação do livro ao evento dedicado ao Camilo Pessanha foi um passo. Inicialmente havia a ideia de editar as crónicas que o Hoje Macau publicou no suplemento H, mas os poemas fizeram mais sentido na cabeça de José Drummond.

Palavras com sentido

Aquilo que Drummond escreveu à mão há anos atrás, quando escrever no computador estava longe de ser algo comum, ainda faz sentido nos dias de hoje. O artista plástico lembra que até utilizou alguns escritos para a última exposição que fez na Casa Garden, com curadoria de Margarida Saraiva e apoio da Fundação Oriente.

“Tenho algumas expectativas de ver como é que as pessoas vão reagir. Pessoalmente penso que o livro faz sentido também enquanto artista plástico, porque o que lá está escrito é um reflexo de um período no qual as linhas condutoras do meu trabalho como artista se mostram ali”, contou.

O nome do livro surgiu da necessidade de colocar cá fora “demónios privados”, um acto de exorcismo que aconteceu através das palavras.

Depois de ter dado provas como artista plástico, José Drummond não tem grandes expectativas face aquilo que o público vai pensar dele na versão poeta.

“Espero que o público olhe para o livro como ele é. É apenas um livro de poesia, mais nada do que isso.”

Pessanha, a influência

Associar o lançamento de “O Exorcismo” à efeméride dos 150 anos do nascimento de Camilo Pessanha é, para José Drummond, uma grande oportunidade. O poeta português faz parte dos seus autores favoritos.

“Para mim o Pessanha foi um génio, e está dentro do grupo de escritores que mais me influenciaram, ou que influenciam. Também lá estão o Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa e alguns poetas americanos. Há um lado que me interessa muito no Pessanha que é a forma simbólica e a musicalidade que as palavras têm na sua obra. É uma oportunidade óptima poder participar nestes encontros”, rematou.

31 Ago 2017

Coloane | Uma semana depois estragos ainda são visíveis

Nas primeiras horas após a passagem do tufão Hato, os membros da protecção civil demoraram a chegar a Coloane por falta de meios. Primeiros grupos de voluntariado começaram a aparecer na tarde de quinta-feira e tiveram de esperar pela recolha do lixo. Quase uma semana depois, ainda há muitos sinais da tempestade que passou

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] lugar das praias, da vila pitoresca onde se comem os célebres pastéis de nata e onde persistem as palafitas ficou tão ou mais destruído com a passagem do tufão Hato face a outras zonas do território, mas a falta de meios levou a que a ajuda tenha faltado logo nas primeiras horas após a calamidade.

Durante a tarde de quarta-feira, à medida que iam baixando todos os sinais de tempestade, os agentes da protecção civil começavam a encher as ruas da península. O mesmo não aconteceu em Coloane que, por falta de meios, só começou a receber ajuda das autoridades a partir de sexta-feira.

“Fomos na quinta-feira ao final da tarde e depois fomos de novo na sexta-feira de manhã. Não havia lá ninguém, as pessoas estavam a arrumar e a limpar as coisas sozinhas, não vi agentes nenhuns da protecção civil, nem bombeiros”, recordou Cíntia Leite Martins, fundadora do projecto Manavida que organizou os grupos de voluntariado.

A ideia deste grupo era “ajudar os pequenos comerciantes, os mais velhotes, e também ajudar a limpar as ruas”. “As pessoas que apoiamos eram os empregados das lojas, não vimos mais ninguém”, lembrou.

António Barrias ajudou a organizar outro grupo de voluntariado que juntou cerca de 300 pessoas e que, nas primeiras horas após a calamidade, começou a fazer limpezas a partir da Taipa, também junto ao Galaxy.

“Fizemos uma tentativa de ir a Coloane na sexta-feira, mas as vias estavam impedidas. Tivemos que deixar a protecção civil fazer o seu trabalho”, contou.

“No sábado fomos lá e pareceu que tudo aquilo estava um bocado esquecido por toda a gente. Havia casas completamente destruídas, parecia um cenário de guerra. Era muito semelhante ao que se encontrava no Fai Chi Kei, mas claramente não se via o mesmo número de pessoas a ajudar. Havia muita policia, mas reparei que se estavam a esquecer das casas pequenas.”

António Barrias chegou a ser interpelado por uma idosa que não conseguia sequer chegar a casa.

“Estacionei o carro porque levei muito equipamento comigo. Fui parado por uma senhora idosa que estava na rua porque a única forma que ela tinha de entrar em casa era através de uma rua na floresta. Estivemos a ajudá-la a limpar e só nessa rua demoramos quase uma hora a tirar tudo. Era mesmo ao lado do estabelecimento prisional e ninguém a ajudava”, frisou António Barrias.

Falhas na recolha de lixo

Cintia Leite Martins recorda-se de ajudar a recolher lixo e de ser obrigada a parar porque faltavam camiões de recolha adequados.

“O problema foi a acumulação do lixo e houve horas em que não havia muito para fazer, porque não tínhamos locais onde o pôr. Começou a ficar escuro, porque não havia electricidade em muitos sítios, e as pessoas disseram para voltarmos no outro dia, porque haveria luz do dia.”

“Só na sexta-feira é que chegaram mais agentes. Mas havia muita falta de camiões de recolha e os que vinham eram muito altos. Era impossível colocar lá o lixo, porque estamos a falar de máquinas e mobílias”, adiantou Cíntia Leite Martins, que afirma ter-se sentido frustrada, tal como os seus colegas voluntários, por não conseguirem fazer mais e de maneira mais rápida.

Também ela foi abordada por uma senhora idosa que vive sozinha e que “não tinha ajuda de ninguém”. “Fomos nós que conseguimos tirar as coisas de dentro da casa e do jardim.”

Ainda há sinais

Ao HM, responsáveis de grupos de voluntariado que se deslocaram à zona relatam que, quase uma semana depois da passagem do tufão Hato pelo território, ainda há muito a fazer na ilha de Coloane e em alguns locais do Cotai.

“Coloane ainda está muito mal, tenho passado de carro e ainda se vêem alguns estragos. Desde o One Oásis até ao Galaxy as ruas estão cheias de lixo e há árvores caídas. Esta parte foi esquecida e é isso que queremos fazer esta semana”, adiantou Cíntia Leite Martins, uma das mentoras do projecto ManaVida, que alia a prática desportiva ao apoio social.

Cintia Leite Martins criou um evento nas redes sociais para que, nos próximos dias, mais voluntários se disponibilizem para limpar ruas perto do empreendimento Galaxy, no Cotai, e também no edifício One Oásis. Há também relatos que falam da destruição que persiste no parque de animais de Seac Pai Van.

“É triste estar a limpar muitas zonas e chegar a casa e ver tudo ainda num caos”, aponta a fundadora do ManaVida, que reside no One Oasis.

Em Coloane os estragos ainda se fazem sentir e há muito por arrumar. Na sua página do Facebook, a pastelaria e padaria Lord Stow’s, famosa pelos pastéis de nata e local habitualmente cheio de turistas, afirma que estará fechada ao público nos próximos dias para reparar os estragos.

Sem criticas

A destruição trazida por um tufão que foi um dos maiores dos últimos 50 anos obrigou a definir prioridades e urgências e não houve tempo para tudo.

“O cenário que se via na vila de coloane era de destruição completa. Havia casas que estavam bem mas outras que ficaram completamente destruídas, em que tivemos de deitar quase tudo fora. O chão estava todo cheio de lama e cimento quebrado, não era agradável de se ver.”

Barrias adiantou que, se algumas estruturas ficaram de pé, o mesmo não aconteceu com o recheio das casas. “O nível de perda dos bens pessoais de todos foi enorme. Limpamos casas em que não se salvou absolutamente nada e as pessoas estavam no desespero completo.”

Ainda assim, António Barrias acredita que Coloane vai ficar recuperada nos próximos dias, por ser um sítio que atrai muitos turistas.

Barrias também não culpa os agentes da protecção civil e os bombeiros pelo atraso porque, no fim de contas, fizeram o que podiam e como podiam.

“Sem a ajuda deles havia muita coisa que não conseguíamos fazer”, frisou. “Quando chegamos já lá estavam agentes da policia, do IACM e bombeiros. Eram muitos estragos para o pessoal que Macau tem.”

Os voluntários de António Barrias dividiram-se em dois grupos, um de limpeza e outro destinado à entrega de mantimentos em locais como o orfanato localizado em Ka-Hó ou o hospital Kiang Wu, localizado na zona da Taipa Velha.


Lai Chi Vun | “Todas as casas estão vazias”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s estaleiros onde outrora residiu uma industria naval já eram frágeis, e a passagem do tufão Hato só veio acentuar ainda mais os estragos. Na pequena povoação à entrada da vila de Coloane há casas que ficaram vazias, sem telhados.

David Marques, porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, recorda que, nos dias a seguir à tragédia, “a maior parte do trabalho foi feito pelos locais e moradores”. “Os agentes da protecção civil estavam lá mas eram apenas uma ou duas pessoas”, disse, defendendo que Coloane “foi uma zona com menor prioridade” junto dos decisores.

Na antiga vila de construção naval, ainda há casas bastante destruídas e o apoio financeiro decidido pelo Executivo não se adapta a estas situações extremas, apontou David Marques.

“Há muitas casas que ficaram sem telhados. O Governo disse que ia ajudar as pessoas com apoios financeiros, mas o que foi criado foi para empresas e não para este tipo de casas. Perdemos tudo e vamos precisar muito desse dinheiro. Todas as casas estão vazias, sem electrodomésticos. O subsídio foi feito para compensar os estragos em portas e janelas e não para este tipo de problemas”, rematou.

30 Ago 2017

Zombie Tuna, agência de marketing | Uma ajuda aos pequenos negócios

O projecto é embrionário e acaba com uma lacuna no mercado: a falta de uma empresa com estratégias de marketing para as Pequenas e Médias Empresas. Tito Rafael está radicado em Macau há pouco tempo e quer trazer criatividade aos pequenos negócios

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á passou por Londres e Pequim, onde trabalhou depois de ter concluído um MBA na Porto Business School, em Portugal. Em Macau há pouco tempo, Tito Rafael quer partilhar a sua experiência no marketing criativo, tendo criado a Zombie Tuna.

“Tive sempre a trabalhar na área do marketing nos últimos sete anos”, começou por contar ao HM. “Vim parar a Macau porque a minha esposa veio trabalhar para cá. Depois vi que tinha oportunidade de criar uma coisa nova e fazer algo de raiz.”

Nesta fase a Zombie Tuna existe apenas na sua casa e não emprega qualquer pessoa, mas Tito Rafael já tem planos e alguns contactos para começar.

“Quis criar uma nova agência mais focada no marketing criativo, de forma a conseguir chegar a clientes mais pequenos e não às grandes empresas de Macau. Há uma oportunidade aqui, sobretudo por ser um meio pequeno, de fazer diferente e promover negócios mais pequenos”, contou ao HM.

A ideia é “optimizar os clientes que trabalhem localmente”, num território que, por hábito, costuma procurar estratégias de marketing em Hong Kong.

“Apercebo-me de que há uma tendência de olhar sempre para Hong Kong como o sítio de reserva onde se pode ir buscar tudo. Na verdade Macau é auto-suficiente em muitas coisas. Agências de marketing, nos termos do que quero fazer, não existem.”

Tito Rafael aponta o foco para clientes com poucos recursos financeiros através de plataformas digitais.

“Quero propor uma série de serviços que englobem a definição da estratégia do negócio, passando pelo design e pelas redes sociais. A ideia é vender serviços de consultadoria para promover o negócio nas plataformas digitais, disponibilizar serviços de consultadoria e know-how”, adiantou Tito Rafael.

O objectivo é que as PME “tenham a possibilidade de, mesmo com valores baixos, chegar ao mercado e expandi-lo”.

“Queremos ajudar as pessoas a desenvolver estratégias locais para o negócio crescer”, acrescentou o marketeer.

Obstáculo linguístico

A trabalhar sozinho nesta fase, Tito Rafael considera que o chinês é, por enquanto, um entrave na expansão da Zombie Tuna, mas não deverá sê-lo para sempre.

“A língua pode ser um entrave, sem dúvida. A ideia é, no futuro, abranger o cantonês. Já estou a trabalhar numa nova versão do site para que seja multilingue. Conforme vou expandindo a empresa espero encontrar uma pessoa, para a área comercial, que seja bilingue e que possa estabelecer os contactos.”

Antes de enveredar por esta aventura, Tito Rafael já tinha tido duas experiências de trabalho no território, que o fizeram perceber o funcionamento do mercado.

“Fui-me apercebendo de algumas lacunas no mercado. Lacunas que são relativamente fáceis de resolver e foi aí que pensei que poderia fazer qualquer coisa para atingir o objectivo de fazer algo diferente.”

A empresa ainda agora começou a criar uma imagem nas redes sociais, e a ideia é ir crescendo com o tempo.

“Estamos mesmo numa fase embrionária. Ainda estou a usar a minha casa. Quanto aos clientes estou a estabelecer os primeiros contactos. A ideia está a ser posta em prática e agora é esperar para ver o que podemos fazer pelas pessoas”, concluiu.

30 Ago 2017

As soluções para as cheias do Porto Interior que teimam em não sair do papel

A zona da Barra, Porto Interior e Praia do Manduco estão habituadas às cheias, mas não teria de ser assim. Falta de vontade política, de soluções integradas a longo prazo e o choque com interesses privados têm impossibilitado uma solução para as inundações crónicas. Além disso, existe uma evidente insuficiência da rede de esgotos assim como a falta espaço no estuário do Rio das Pérolas para a subida da maré

[dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]oi tudo empurrado para dentro, tinha em casa água do mar, lodo, lama, esgoto de sanita e os diabos da cidade”, conta António Conceição. O empresário que vive no bairro da Almeida Ribeiro, junto aos tintins, ficou com a casa inundada a partir de dentro. “Aconteceu pela parte de escoamento da canalização, retrete, pia e ralos”.

Dejectos que deviam ter uma viagem só de ida, fizeram o retorno pelas canalizações acima das casas da zona do Porto Interior, trazendo, por arrasto, todo o tipo de detritos e águas. “Há uma deficiência muito grande para controlar a subida do nível da água em Macau, mas a inundação da minha casa deveu-se, sobretudo, à insuficiência estrutural da rede de canalização”, explica António Conceição.

Este é um problema crónico de certas zonas da cidade, em particular das zonas da Barra, Porto Interior e Patane, que estão sujeitas a estas situações quando se dá a conjugação de factores normais como a subida da maré, chuvadas intensas, ou ocorrência de tufões.

Têm-se procurado soluções para resolver do problema da zona ribeirinha, como a criação de uma bacia de retenção temporária e a construção de uma central de bombagem para assegurar a drenagem das águas da chuva, mas os projectos nunca saíram da gaveta. Foram também apresentadas propostas para remendar os problemas, quase simbolicamente, como a construção de muros mais altos junto à margem.

Estas são consequências. As causas não se ficam pela normal acção da natureza. Mário Duque, arquitecto, encontra nas várias transformações ao longo do estuário a causa para as constantes subidas dos níveis das águas.

Com as contínuas construções de aterros e urbanizações o espaço para a entrada da maré no estuário foi diminuindo. “É um problema conjunto causado por toda a região de Guangdong, relacionado com a necessidade de captar água para consumo em pontos acima do estuário”, explica o arquitecto.

Pias e fontes

A necessidade de fazer aterros cada vez mais altos também tem consequências ao nível da transferência da vulnerabilidade para os aterros mais antigos e baixos, isto numa cidade com um solo predominantemente impermeável, com um tempo rápido de concentração de água da chuva e sem bacias de retenção. Tudo ingredientes que fomentam as calamidades crónicas que se reflectem na destruição que arruína a vida de quem vive nas zonas baixas.

Além da ausência de mecanismos estruturais para lidar com as transformações do estuário do Rio das Pérolas, há outro elemento de “chicoespertice” que origina calamidades domésticas como a que sofreu António Conceição.

“Em Macau proliferam ligações de esgoto doméstico ilegal, ou seja, instalações sanitárias improvisadas e ligadas directamente ao esgoto pluvial mais próximo”, elucida Mário Duque. O arquitecto esclarece que esta é uma “situação tipificada como crime contra a saúde pública e ambiente”, mas uma realidade que só é revelada por um cenário de inundação.

António Conceição sentiu isso, uma cheia que veio de dentro dos canos e que transformou a sua casa numa piscina com mais de um metro de profundidade. Na altura, o empresário não estava em casa, mas estava um amigo que “pegou nas coisas mais valiosas e conseguiu guarda-las no mezzanine”. Ficou um espólio submerso constituído por centenas de livros, muita informação digital e uma colecção de desenhos feitos ao longo de uma década de trabalho.   

Além de bens de valor intangível, António Conceição fez um “cálculo redondo das despesas que devem rondar cerca de 85 mil patacas, com muito equipamento à mistura”. Também a casa ficou, naturalmente, inabitável, num estado bastante degradado. O empresário destaca os pobres acabamentos da construção de Macau que potenciou o “impacto brutal na casa”.

Ainda assim, António Conceição entende que está longe de ser um caso grave, uma vez que “houve pessoas que passaram perigo de vida e perderam tudo”.

Gaveta de projectos

O tufão Hato deixou a nu todos estes problemas estruturais que deixam a zona ribeirinha vulnerável à fúria dos elementos.

Vítor Chan, porta-voz do Governo, revelou que foram feitos dois estudos para resolver o problema. O primeiro é a criação de uma barreira. O segundo é uma avaliação conjunta com as cidades de Zhuhai e Zhongshan para a criação de um plano integral “que resolva o problema na fonte”, explicou o representante do Executivo. Ambos os estudos foram submetidos ao Conselho de Estado, estando o Governo da RAEM a aguardar resposta. Os trabalhos de avaliação de impacto ambiental e orçamento foram acelerados e vão decorrer ao longo do segundo semestre deste ano, sendo que é expectável que no próximo ano esteja concluída uma versão final do estudo.

Esta é uma conversa que se vem repetindo há mais de trinta anos.

Miguel Campina, arquitecto que acompanha estudos que intervenham neste domínio desde os anos 1980 não entende “o que se anda a estudar há tanto tempo”. O arquitecto equipara a resolução deste problema à falta de acção para a concretização do plano director.

“A única coisa que fizeram, pensando que iam resolver alguma coisa, foi um murozinho para evitar situações mais comuns da maré alta entrar para a zona mais baixa do Porto Interior”, recorda Miguel Campina.

O arquitecto considera que esta não chega a ser uma solução. “Não funciona, é como tratar uma doença grave com aspirina, não tem qualquer efeito prático a médio longo prazo”, acrescenta. Miguel Campina vai mais longe e afirma que “aquilo que se tem feito é fingir que se faz alguma coisa, mas na prática é só adiar”.

Na década de 1980 houve um projecto para solucionar os problemas de inundações do Porto Interior relacionado com a drenagem da bacia do Rio das Pérolas.

“Era preciso criar um sistema de retenção subterrâneo e uma central de bombagem para assegurar que a drenagem da água da chuva pudesse continuar a ocorrer mesmo nas situações de maré alta”, explica o arquitecto. Soluções que tentam resolver o problema resultante da diferença entre os pontos de descarga e o nível da água que fica mais alto. Devido à sobrecarga dos colectores, a água não só fica impedida de sair como, pelo contrário, sai pelos pontos de drenagem das vias circundantes. Tudo trabalhos de grande envergadura do ponto de vista da engenharia, “mas nada que fosse particularmente difícil”. Porém, os projectos esbarraram na falta de vontade política e nos diversos lobbies que controlam a decisão política, de acordo com Miguel Campina

“O Governo teria de exercer aquilo que é a sua prerrogativa, mas isso não aconteceu porque nunca há vontade de mexer nos interesses instalados, é preferível manter tudo na mesma”, comenta Miguel Campina.

O arquitecto apenas vê uma solução para o problema se esta for lucrativa. “Ficamos à espera que um dia apareça uma situação milagrosa, que se traduz na prática na oportunidade de um negócio”, projecta.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do Governo pediu compreensão e paciência para a resolução do problema da zona ribeirinha. Vítor Chan enumerou a necessidade de conjugação de trabalhos por parte de vários departamentos e da interligação com os serviços das cidades vizinhas como um factor de complexidade que atrasa os trabalhos.

No entanto, a população que vive no Porto Interior espera uma solução para um problema crónico que não tem de resultar nas consequências catastróficas que se verificaram na semana passada e que, por certo, se vão repetir.

O arquitecto Miguel Campina, fez parte de uma equipa que elaborou o projecto para tratar desta situação ainda antes da transferência, corria a década de 1980, há mais de trinta anos. Um plano que nunca foi posto em prática, mas que poderia ainda ser aproveitado nos dias de hoje.

“Nada é impossível, o contexto alterou-se mas a validade das propostas formuladas mantém-se. Pode-se salvaguardar o essencial da filosofia de intervenção é possível fazer-se qualquer coisa”, considera Miguel Campina. No entanto, o arquitecto alerta que “quanto mais tempo passar, menos coerência final haverá do ponto de vista daquilo que poderia ser alcançado”.

Entretanto, a população das zonas ribeirinhas de Macau continuam à espera de uma solução, muitas das vezes com água pela cintura.

29 Ago 2017

AIPIM “repudia” posição da CAEAL sobre publicação de entrevista

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês (AIPIM) reagiu ontem à tomada de posição da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), que exigiu ao semanário bilingue Plataforma Macau a retirada da entrevista publicada online ao candidato às eleições José Luís Pedruco Achiam.

No comunicado, a AIPIM afirma que “repudia esta situação”, pois considera “incompreensível que um conteúdo jornalístico, neste caso uma entrevista, seja equiparado a propaganda”.

“Na linha do que foi referido no nosso comunicado, datado de 20 de Abril último, a AIPIM considera que é fundamental que, em todas as ocasiões e períodos, inclusive antes do início da campanha eleitoral, o exercício da liberdade de imprensa e o direito à informação sejam integralmente respeitados, incluindo a realização de entrevistas e cobertura noticiosa de acções envolvendo candidatos, em consonância com o que está consagrado na Lei Básica da RAEM e na Lei de Imprensa”, lê-se ainda.

A entrevista foi publicada na edição do Plataforma Macau do passado dia 18 de Agosto. A CAEAL invocou a Lei Eleitoral para a remoção da entrevista no que diz respeito ao período de proibição de propaganda eleitoral, tendo sido referido que “quem não cumprir as instruções incorre no crime de desobediência qualificada”.

Linhas “invisíveis”

Maria Caetano, coordenadora do semanário, publicou um texto onde denunciou o caso, intitulado “Linhas Invisíveis”.

“O conteúdo foi retirado, e as possíveis consequências seriam demasiado gravosas caso este jornal assim não procedesse. O que não significa que se deva permanecer calado ou deixar de contestar a imposição, seriamente ilegítima e limitadora dos direito, dever e liberdade de informar – que, até hoje, se encontram consagrados no ordenamento jurídico de Macau”, escreveu.

Maria Caetano defende que a CAEAL, “na sua actuação”, “dispôs um número de linhas invisíveis, que confundem conceitos, atropelam direitos e que impõem o medo pela simples capacidade que este órgão, responsável, tem de determinar arbitrariamente a quem impõe instruções”.

“O Plataforma tem vindo semanalmente a entrevistar com equilíbrio cada um dos candidatos às eleições do próximo mês. Fá-lo na expectativa de garantir informação e debate num espaço público e político cada vez mais coarctado, e em vista de eleições que se arriscam a ser as mais desinformadas e anódinas de sempre. Espera poder continuar a fazê-lo”, rematou a coordenadora do jornal.

29 Ago 2017

AL | Ho Iat Seng deixa mensagem para nova legislatura 

O presidente da Assembleia Legislativa pede que os deputados que vierem a compor a nova legislatura “estabeleçam o sentido de missão histórica e de responsabilidade perante a era actual”. No relatório de balanço é dado destaque às alterações feitas ao regimento

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] passagem do tufão Hato pelo território adiou o habitual encontro do presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, com os media, mas o relatório de balanço da legislatura que chegou ao fim foi ontem lançado.

Nele Ho Iat Seng deixa um apelo aos deputados que venham a compor a próxima legislatura do hemiciclo, que arranca em Outubro, após a realização das legislativas de Setembro.

“Desejo que os deputados da nova legislatura prossigam a boa tradição, defendam o cerne da política ‘Um País, Dois Sistemas’ e estabeleçam com firmeza o sentido de missão histórica e de responsabilidade perante a era actual”, escreveu.

Ho Iat Seng acrescenta ainda que os novos deputados devem ser “solidários e devotados, desempenhar efectivamente as funções e o papel da AL, servindo de elo entre o passado e o futuro, por forma a construir uma RAEM melhor”.

No ano legislativo que findou realizou-se um total de 50 plenários, sendo que a taxa média de assiduidade dos deputados chegou aos 94,73 por cento. Houve um total de 135 reuniões das comissões, com uma taxa de assiduidade dos membros do hemiciclo de 88,48 por cento.

Um total de 20 deputados apresentaram, até ao dia 15 de Agosto, 591 interpelações escritas, tendo sido realizadas dez reuniões para debater 72 interpelações orais.

Os deputados realizaram, nos seus gabinetes, um total de 285 atendimentos a residentes, tendo chegado, via e-mail ou telefone, um total de 124 opiniões ou pedidos.

Mudanças elogiadas

Ho Iat Seng fez ainda elogios às alterações que foram levadas a cabo ao Regimento da AL. A medida “melhorou os procedimentos de interpelação oral”, pois “procedeu-se ao agrupamento das interpelações da mesma área e sobre o mesmo assunto, para serem respondidas em conjunto”.

“Acredita-se que esta forma inovadora de agrupamento possa ajudar a elevar os efeitos dos trabalhos no âmbito das interpelações da AL e, ao mesmo tempo, demonstrar que existe uma simbiose entre a coordenação e a supervisão exercidas pelo órgão legislativo sobre o órgão executivo, a qual promove uma interacção positiva entre os mesmos”, apontou.

O presidente da AL considerou ainda que “face às múltiplas pressões e desafios”, o hemiciclo “realizou ordenadamente os trabalhos e cumpriu escrupulosamente as atribuições legais”.

“Com um espírito altamente responsável, concluiu com sucesso a apreciação de todas as iniciativas legislativas, congregando amplamente o consenso e equilibrando os diversos interesses”, rematou.

29 Ago 2017

Tufões | Recolhidas cerca de duas mil toneladas de lixo

A passagem do tufão Hato obrigou à recolha de cerca de duas mil toneladas de lixo nos últimos dias, e ainda não há uma data certa para que as ruas voltem à normalidade. Existem ainda 25 edifícios sem água potável

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia em que o exército chinês regressou ao quartel, depois de três dias intensos de limpeza dos destroços causados pela passagem do tufão Hato, o Governo chamou os jornalistas para fazer o balanço daquela que foi a maior tempestade dos últimos 50 anos e que levou à ocorrência de dez mortes.

Fong Vai Seng, do serviço de licenciamento e ambiente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), referiu que, no último fim-de-semana, 1787 toneladas de lixo foram recolhidas das ruas, sendo que só na madrugada de domingo para segunda-feira foram recolhidas 150 toneladas.

O trabalho tem vindo a ser feito em parceria com grupos de voluntários e a empresa responsável pela recolha do lixo, sendo que não há, até ao momento, uma data para que as ruas do território voltem a estar limpas como antes.

“Temos vindo a melhorar a situação mas ainda há zonas com lixo de grande porte, cremos que ainda vai levar algum tempo até regularizar a situação.”

Sobre o fornecimento de água, Susana Wong, directora dos Serviços Marítimos e da Água (DSAMA), garantiu que cinco estações de fornecimento da Ilha Verde estão agora a operar normalmente. A água produzida “é suficiente para abastecer todo o território”, apontou, apesar de ainda existirem “25 edifícios que não têm água abastecida de forma normal”.

Susana Wong assegurou ainda que não há qualquer perigo em consumir a água que sai das torneiras. Quanto aos edifícios que possuem tanques de reserva de água, os moradores devem fervê-la um pouco antes do seu consumo, uma vez que esse bem essencial vem indirectamente da rede pública e está armazenado em tanques que podem ter sido danificados.

Sem doenças

Ung San Hong, do IACM, referiu que já foram detectadas situações em que lojas e supermercados procuram colocar nas prateleiras produtos que estiveram em contacto com água suja, algo que tem vindo a ser controlado.

“Temos feito inspecções junto de restaurantes e supermercados. Os alimentos não estão em condições de revenda pelo facto de terem estado em contacto com água suja.”

Lam Cheong, representante dos Serviços de Saúde, adiantou ainda que, até ao momento, não foram registados casos de febre da dengue ou outras doenças transmissíveis devido ao lixo acumulado na rua e à falta de água potável.

“A Barra e a Ilha Verde são zonas muito afectadas e temos feito o trabalho de erradicação dos mosquitos. Temos enviado um total de 150 trabalhadores e todos os dias temos feito este trabalho”, frisou. Registaram-se apenas alguns casos de gastroenterites no hospital público e no Kiang Wu.

Vítor Chan, porta-voz do Governo, adiantou que não há dados sobre os estragos ocorridos nas concessionárias de jogo. O mesmo responsável defendeu que o Governo não deve intervir no dinheiro que, até ao momento, foi doado pelas operadoras, por se tratarem de “iniciativas da sociedade civil”.

29 Ago 2017

Tufão Hato | O lado político e falhado de uma tempestade

Nas redes sociais circularam fotografias de alguns governantes na ajuda à limpeza nas ruas, mas para o politólogo Eric Sautedé o Governo reagiu tarde e falhou por completo na comunicação à população. Apesar das reuniões com a protecção civil, só ontem Chui Sai On foi ver de perto a calamidade que muitos viveram

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oras depois da passagem do tufão Hato pelo território, muitos questionavam a ausência dos secretários e do próprio Chefe do Executivo nas ruas, numa altura em que, sem água ou electricidade, as pessoas se deparavam com as suas casas e lojas viradas do avesso.

Circulariam mais tarde fotografias de governantes a ajudar nas acções de limpeza, tal como o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça. Também Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, andou nas ruas. Wong Sio Chak foi, aliás, afectado pelo tufão, tendo ficado sem algumas portas e janelas de casa.

O Chefe do Executivo, apesar de ter participado em diversas reuniões com bombeiros e protecção civil, só saiu à rua ontem, tendo visitado a zona da Ponte e Horta e também junto ao templo Hong Kung.

Eric Sautedé, politólogo, tece críticas ao comportamento do Executivo na forma como lidou com a catástrofe. Na sua visão, as respostas foram tardias e incompletas.

“Se o Chefe do Executivo tivesse ido para as zonas mais prejudicadas teria ajudado. Mas em vez disso foi mais tarde e houve alguns comentários que referiram que ele fez por se manter em segurança. Claro que ter um problema de saúde como a gota faz com que as suas deslocações sejam limitadas, mas ele demonstrou várias vezes uma total falta de empatia.”

Eric Sautedé dá vários exemplos, tal como a publicação de um texto inserido na rubrica “Palavras do Chefe do Executivo”, no website do Governo, que “quase roça a caricatura”, sem esquecer a conferência de imprensa na quinta-feira ao final do dia.

“A mensagem que foi lida pelo Chefe do Executivo foi um desastre em termos de comunicação política: limitou-se a ler um guião e fez um grande esforço para esconder o embaraço”, apontou.

Para Eric Sautedé, a população precisava de dados concretos e de acções, e muita coisa falhou nas primeiras horas.

“Houve muitas contradições, previsões (sobretudo no que diz respeito ao número de vítimas), em vez de terem sido providenciadas respostas às verdadeiras preocupações das pessoas, tal como quando é que a água e a electricidade iriam estar novamente disponíveis.”

“Pedir desculpas é importante, mas tal foi feito com uma total falta de empatia, que foi assumida e compreendida como existindo uma total incompetência”, acrescentou o professor universitário.

Caso único

Alexis Tam, que fez por visitar alguns bairros afectados na zona norte e o hospital público, foi o único “capaz de falar para o público sem ler um discurso”. Ainda assim, Eric Sautedé considera que “não foi capaz de dar respostas às pessoas”.

“A ajuda providenciada por membros do Governo foi, na maioria, apenas para a fotografia, e esperamos sempre que os líderes liderem, e não que carreguem objectos e limpem as ruas. Alguns tiveram um melhor comportamento do que outros: Lionel Leong chegou tarde, mas foi genuíno, enquanto Sónia Chan apareceu de mocassins brilhantes e parecia constrangida com a situação”, recorda o ex-docente da Universidade de São José.

Eric Sautedé não deixou de apontar a presença de alguns deputados nas ruas, sendo que uns “agiram com mais boa-fé do que outros”, dada a aproximação do acto eleitoral de Setembro.

“A forma tardia como o Governo reagiu, e de forma inapropriada, são produto de um sistema em que os interesses empresariais prevalecem e a lealdade está acima da competência”, frisou, lembrando a ocorrência de dez mortes.

“Era suposto a situação melhorar com o novo Executivo, que tomou posse em Dezembro de 2014, mas, obviamente, falharam na missão e desta vez isso custou vidas humanas”, concluiu ao HM.

Porto Interior | Ng Kuok Cheong questiona atrasos nas obras

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong interpelou o Governo sobre os efeitos das obras temporárias na zona do Porto Interior para a prevenção das inundações. O objectivo é tentar compreender se o adiamento dos trabalhos de erradicação das inundações na zona está relacionado com as obras do metro ligeiro.

Ng Kuok Cheong recorda que, já em 2014, obteve respostas dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), bem como da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) sobre a prevenção das inundações.

À data, a resposta dos SMG previa a conclusão das obras temporárias em 2015, sendo que existiria uma proposta, de médio e longo prazo, para uma reconstrução da zona. Iria ainda ser levada a cabo uma integração com o projecto do metro ligeiro.

O deputado deseja saber, portanto, se esse projecto foi adiado por causa dos atrasos ocorridos na primeira fase da obra do metro ligeiro. Ng Kuok Cheong pede ainda uma responsabilização dos funcionários e que se avancem de imediato com os trabalhos de reconstrução.

A interpelação faz ainda referência aos dez mortos causados pela passagem do tufão Hato, que fez a maior parte dos estragos nas zonas baixas da península, tal como o Porto Interior e a zona da Barra. Além das vítimas terem morrido por incidentes nas ruas, houve ainda corpos encontrados em parques de estacionamento.

28 Ago 2017

Tufão Hato | Voluntários ajudaram a limpar as ruas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ssociações e cidadãos arregaçaram as mangas para ajudar a limpar uma cidade que se transformou, sexta-feira e sábado, num sítio nauseabundo. A limpeza era urgente antes da chegada do tufão Pakhar

Fosse a recolher lixo ou a distribuir comida e água, centenas de voluntários fizeram “o que podiam e o que não podiam” pelo regresso à normalidade em Macau, após a passagem do tufão Hato.

As zonas mais afectadas pelas inundações foram invadidas por verdadeiros ‘exércitos’ empenhados em remover as toneladas de lixo amontoado nas ruas.

Tsé Fung foi um dos muitos jovens que trocou o refrescante conforto do ar condicionado de casa pelo intenso calor da rua. Por volta das 16h00 encontrava-se pela Rua dos Ervanários.

“A minha casa não foi afectada, mas este é o meu bairro, por isso, tinha de vir ajudar”, disse o estudante de 19 anos à agência Lusa, com a voz abafada pela máscara que usa a cobrir a boca e o nariz, como tantos outros, para não respirar o cheiro nauseabundo, durante uma pausa ao fim de seis horas consecutivas de labuta.

Sio, de 37 anos, pôs mãos à obra na véspera. Faz-se o que pode e o que não pode pela terra onde nasceu: “Se vês algo [como isto] tens de reagir”.

“Não há recursos humanos suficientes para dar resposta a tudo”, lamentou, enquanto ajeita as luvas de borracha que vão até ao cotovelo.

“As pessoas estão simplesmente a seguir os seus instintos porque não esperam – nem podem esperar – nada. Só se valem a si próprias”, sublinhou, antes de voltar a pegar na vassoura.

“Um trabalho excepcional”

Não muito longe andava Sandra Carrilho, de 45 anos, que também começou na sexta-feira a ajudar a remover o lixo, inserida num grupo que conheceu na véspera nestas andanças.

“Hoje há imensa gente na rua”, comparou, antes de fazer um ponto da situação: “Não se podia circular aqui, mas os voluntários limparam isto tudo e no Porto Interior, onde moro, o trabalho também foi excepcional”.

“As pessoas têm noção da gravidade, havia comida solta, dispersa na rua, daí o esforço enorme para se recolher todo o lixo até porque pode voltar a haver inundações”, observou.

Enquanto filas de dezenas de contentores aguardavam vez para serem ‘tombados’ para o camião do lixo, chegaram “reforços” sob a forma de carrinhas de caixa aberta de particulares e empresas que estacionam ao lado de mobílias e electrodomésticos sem salvação.

A onda de voluntariado não se cingiu apenas à recolha de lixo, uma vez que houve também muita gente a distribuir comida e água.

Ana Cristina Vilas, por exemplo, além de recolher lixo, foi distribuir água em Coloane na sexta-feira. No sábado, com o apoio de amigas, decidiu ajudar outros e de outra forma: comprou centenas de tecidos da loja onde se costuma abastecer, gastando mais de quatro mil patacas.

Isto além de ter lançado antes um apelo pelo Facebook nesse sentido para que “a única loja de tecidos do centro da cidade”, que estava a vender “tudo ao desbarato não feche as portas”.

“Esta é a única forma de ajudar os pequenos comerciantes” afectados pelas inundações, sublinhou Ana Cristina Vilas, mostrando os panos húmidos dentro do ‘trolley’ de compras que, quando estiverem secos, vão servir o “Dress a Girl Around the World”, pelo qual é responsável em Macau desde Abril.

“São pessoas que conheço há 30 anos”, enfatiza a funcionária pública que, depois da experiência de trabalho que viveu na quinta-feira, o dia a seguir à passagem do tufão Hato, decidiu tirar um dia de férias na sexta-feira.

“Não tínhamos água nem ar condicionado. Não tínhamos condições para trabalhar. Chegámos ao mais baixo possível e por isso fui antes ajudar quem precisa”, realçou.

Por todo o lado

A Associação dos Jovens Macaenses (AJM) também organizou acções de rua. Na sexta-feira, a partir das 18h00, cerca de 70 pessoas ajudaram a limpar a zona adjacente ao Mercado Vermelho. No sábado houve outras tantas na zona da Almeida Ribeiro.

Ontem foi dia de “andar a correr de um lado para o outro a distribuir comida aos idosos ou a limpar as ruas”, contou ao HM Guiomar Pedruco, presidente da AJM.

“Não houve muita destruição mas houve muito lixo. As pessoas das lojas estavam desesperadas”, recorda Guiomar Pedruco, que tece uma crítica à actuação do Executivo.

“Houve gabinetes que não tiveram água e electricidade e o Governo deveria ter reunido esses funcionários públicos para ajudarem a limpar as ruas, em vez de estes ficarem sentados nos seus gabinetes.”

Guilherme e Cíntia Leite Martins, criadores do projecto Mana Vida, também organizaram uma acção de limpeza na vila de Coloane, que ficou também bastante afectada.

28 Ago 2017

Exposição de Vhils em Macau em risco

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma das inúmeras consequências da passagem do tufão Hato por Macau foi a destruição do mural do artista Vhils junto à Escola Portuguesa de Macau. Além disso, a exposição “Destroços”, que o artista, também conhecido como Alexandre Farto, inaugurou nas Oficinas Navais, na Barra, poderá ter ficado seriamente afectada.

Um membro da equipa garantiu ao HM que estão a ser apurados os estragos e que “Destroços” deverá mesmo fechar portas.

“Posso dizer que foi com grande tristeza que recebemos a notícia do que se passou em Macau. Foi um choque para todos. Estamos neste momento a apurar todos os estragos e possivelmente teremos que encerrar a exposição pois será difícil recuperar a maior parte dos trabalhos.”

Aquela que é a primeira exposição de Vhils em Macau foi inaugurada a 31 de Maio, sendo que estaria patente na zona da Barra até 5 de Novembro. No local, Alexandre Farto colocou, além dos trabalhos com pedra trabalhada, instalações de vídeo.

À Lusa, o artista disse que o objectivo de “Destroços” era “fazer uma reflexão sobre o meio urbano de Macau e as suas particularidades”.

O mural que Vhils fez sobre Camilo Pessanha, exposto nos jardins do consulado-geral de Portugal em Macau, ficou intacto.

28 Ago 2017

Tufão Hato | Dois residentes criam logótipos solidários

Manin Vong é designer e decidiu criar o logótipo “Rezar por Macau” que, horas depois da passagem do tufão Hato, começou a povoar várias fotos de perfis de locais no Facebook. Uma funcionária pública criou outro logótipo em inglês e português

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm ambos das cores da bandeira da RAEM e contêm mensagens de esperança para horas que foram bem difíceis. Ainda no rescaldo da passagem dos tufões Hato e Pakhar por Macau, dois residentes criaram dois logótipos que se têm tornado virais na rede social Facebook.

São já várias as pessoas que optaram por criar uma foto de perfil com estes logótipos, que dizem “Rezar por Macau” em chinês ou ainda “Que Deus abençoe Macau”.

Manin Vong, designer de moda e fotógrafo freelancer, contou ao HM porque decidiu criar esta imagem.

“Momentos depois da passagem do tufão, todos nós nos sentimos muito tristes”, referiu. “Sentimos que o Governo não estava a dar o devido apoio à população. Na internet líamos comentários negativos vindos de Hong Kong. Então decidi fazer algo para unir as pessoas em Macau.”

O tufão Hato vai ficar para a história como o maior dos últimos 50 anos e esta é talvez a primeira vez que no território se cria este tipo de imagens para as redes sociais.

Manin Vong estudou em Taipei, mas hoje vive e trabalha em Macau. Afirma não ter tido propriamente uma inspiração especial para fazer este logótipo.

“Na verdade é um símbolo muito simples. Usei a imagem da bandeira e a frase ‘Rezar por Macau’. Decidi usar esta imagem em vez das palavras”, explicou. Na sua visão, o facto de tantas pessoas decidirem ter utilizado o logótipo na sua foto de perfil só mostra que, na hora da tragédia, todos se uniram para ajudar.

“Acredito que esta imagem simboliza a esperança que todos têm neste momento”, disse.

Críticas ao Executivo

O HM falou com Martin Vong quando o Exército de Libertação do Povo Chinês chegava a Macau para ajudar a limpar as ruas. Nessa altura, em muitas das zonas as pessoas limpavam os destroços sozinhas ou com a ajuda da protecção civil.

“Esperamos poder recuperar as nossas casas o mais cedo possível, para que Macau possa voltar ao normal”, defendeu o designer, que considera que a resposta dada pelo Executivo demorou a chegar.

“O Governo de Macau demorou muito tempo a reagir ao desastre. No dia seguinte à passagem do tufão, os membros do Governo não apareceram. Sabemos que o pessoal da linha da frente, como os polícias e bombeiros têm trabalhado muito, mas infelizmente não vimos de imediato nenhum apoio do Governo”, referiu.

Um dia depois desta entrevista, vários membros do Governo, tal como Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, Alexis Tam, dos Assuntos Sociais e Cultura, ou Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, andaram nas ruas a ajudar nas limpezas, a verificar a acção da protecção civil ou a visitar os doentes no hospital público e os mais necessitados em diversos bairros. Chui Sai On, Chefe do Executivo, visitou a protecção civil horas depois da passagem do tufão Hato, mas só ontem é que se deslocou a algumas zonas do território, tal como a zona da Ponte Horta e Costa.

O HM tentou ainda falar com a criadora do logótipo em português e inglês, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.

28 Ago 2017

Tufão Pakhar: Sinal 3 içado “esta noite ou madrugada”. Sinal 8 amanhã de manhã

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) acabam de informar que o sinal 3 de tempestade tropical deverá ser içado “esta noite ou madrugada”, graças à passagem do tufão Pakhar pelo território.
“Espera-se que os ventos se fortaleçam gradualmente já esta noite e amanhã”, aponta a entidade.
Amanhã, domingo, durante o período da manhã, “perto do meio-dia”, o tufão aproximar-se-á de Macau “cruzando a cerca de 100 ou 150 quilómetros a sudeste”.
Os SMG ponderam ainda içar o sinal 8 amanhã de manhã.
“Na altura, será um momento alto do impacto do ciclone tropical para o território. Aguaceiros e ventos vão tornar-se mais frequentes. Desde modo, os SMG não descartam a hipótese de içar o sinal de tempestade tropical 8, amanhã de manhã”, lê-se no comunicado.

Mais inundações

Os SMG prevêem também a ocorrência de “ligeiras inundações” nas zonas situadas perto do Rio das Pérolas. Hoje as limpezas dos destroços e do lixo continuam para que se possa prevenir a propagação de doenças. O trabalho tem sido feito não só pelo serviço de protecção civil bem como por vários grupos de voluntários.
Deverá ser içado o sinal amarelo de “storm surge” “em breve”. “Recomenda-se à população que toma medidas preventivas contra a tempestade tropical e inundação”, alertam os SMG.
Por volta das 14h00 a tempestade tropical estava localizada a cerca de 720 quilómetros de Macau, à medida que se movimenta em direcção à costa oeste da província de Guangdong.

26 Ago 2017

Porto Interior e Barra | Comerciantes com perdas de milhões e sem informações

Caminhar a partir da Rua dos Mercadores, no Porto Interior, até à zona da Barra é tropeçar em lixo e coisas que a água e o vento desarrumaram e destruíram. Muitos deles exigiram a presença de membros do Governo no local e questionaram a ausência do estado de calamidade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s pés, enfiados em chinelas, chapinham na lama que se formou de uma tempestade que ainda não se compreendeu de onde veio, mas que todos já sabem o que deixou. Os rostos são tristes com uns sorriso pelo meio porque, no fim de contas, o Porto Interior inunda todos os anos, porque todos os anos há um ou outro tufão. Há um estranho hábito de lavar e arrumar impregnado na pele de quem vive junto ao rio das pérolas.

Com o tufão Hato tudo foi diferente, e agora olha-se para o futuro com mais matemática na cabeça. Há quem tenha perdido milhões de patacas em negócios acabados de criar, há outros a quem só resta limpar o lixo que ficou na loja de uma vida, porque não há outra hipótese de sobrevivência.

Depois da tempestade, o senhor Lau limpa o seu espacinho de venda de carnes secas que fica mesmo ali na esquina da Rua dos Mercadores. A ajudá-lo está a mulher, enquanto vários comerciantes como ele vêm falar-lhe das últimas. Aquele que ficou com a água até ao pescoço porque foi salvar o arroz que tinha no armazém, o outro que ficou preso no parque de estacionamento.

Sofia Margarida Mota

O senhor Lau aponta para um pedaço de espelho e assegura: “a água chegou até aqui!”. “As pessoas não tinham tempo de fugir. Foi muito grave este tufão, todos ficaram com muitos prejuízos e ainda não sei quanto me vai custar tudo isto”, contou ao HM.

“O maior problema foi a água da chuva, que subiu repentinamente”, disse ainda, apontando o dedo ao Executivo. “O Governo precisa de melhorar o sistema contra inundações aqui na zona.”

Na Rua dos Mercadores cada um está por si. Todos os que ali moram ou trabalham se entre ajudam, mas não se vê nenhum membro das forças de protecção civil a dar uma ajuda nas limpezas. Há quem não queira contar a sua história da tempestade porque “não tem tempo”.

Ali ao lado, no Louceiro Foc Iu Cheong, limpam-se os estragos ao mesmo tempo que se aproveita para ir vendendo umas coisas. O negócio existe há largas décadas e agora o senhor Foc, com mais de 80 anos, nem sequer sabe que contas fazer à vida.

Ainda assim, defende que o Governo não tem culpa. “Isto não tem nada a ver com o Governo, tudo aconteceu devido à natureza. Nunca aconteceu isto em Macau.”

Naquela manhã, o senhor Foc ainda não tinha água na loja, nem luz. “Não consigo estimar os prejuízos e não sei se o Governo vai dar apoio.”

O Executivo já anunciou apoios às pequenas e médias empresas, através da concessão de empréstimos sem juros acima das 600 mil patacas. Esta foi uma das primeiras medidas decretadas nas primeiras horas após a tragédia que já vitimou oito pessoas. No rescaldo dos acontecimentos, são ainda poucos os que têm conhecimento.

Becos da balbúrdia

Se entrarmos pelos becos adentro, o caos começa a adensar-se. Há papéis e coisas espalhadas, cheiros que se misturam, objectos amontoados em cima da lama. Os moradores da zona, sobretudo idosos, lavam as sapatilhas com água roubada das bocas de incêndio porque não há mais nada.

Uns metros mais à frente, o senhor Cheong Kuok Veng, alfarrabista, assume: “nunca vi nada assim”. Lá dentro amontoam-se livros em chinês, mas muitos deles vão para o lixo.

“Vamos continuar com a loja porque temos de sobreviver, não somos funcionários públicos”, ironiza, chamando a atenção para o facto do dia ter acordado como se nada tivesse acontecido.

“O Governo deveria ter declarado estado de calamidade. Tive água até ao peito nesta zona, e os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) deveriam ter içado o sinal 8 mais cedo, fizeram uma previsão muito incorrecta. Vamos levar uma semana até termos tudo arranjado”, disse.

Sofia Margarida Mota

Pela Rua do Pagode abaixo, comenta-se a mesma história que tem vindo a partilhar-se nas redes sociais. Uma família cujos filhos morreram porque quiseram salvar os bens e acabaram sugados pela água.

Chao, que vende velharias na Rua das Estalagens, atira ao chão um monte de livros molhados, cujo destino é o lixo. O nível da água chegou até ao peito naquele pedaço de loja minúsculo.

“Devo ter aqui cerca de 100 mil patacas de prejuízo, mas ainda não fiz bem as contas. Ainda não sei como é que vai ser o apoio do Governo, mas de certeza que vai ajudar alguma coisa.”

Por ali vende-se roupa molhada por todo o lado e há calças de ganga de lojas penduradas para quem as quiser comprar. O número 80 da Rua das Estalagens, onde Sun Yat-Sen morou e instalou uma farmácia, parece ter ficado intacto, ainda que com uma ligeira inundação.

Danos na Portuguese Street

Pedro Esteves abriu há poucos meses o espaço “Food Truck”, junto à chamada rua portuguesa, que trouxe para Macau a bifana tipicamente portuguesa. Agora o cenário é de vazio e destruição.

“Quando aluguei isto perguntei se a água chegava aqui. Não sou novo em Macau e sei como são as coisas. Mas hoje, logo ali a partir da zona do Mercado de São domingos percebi logo. Fiz amizades com os chineses aqui da rua e só olhávamos uns para os outros. Toda a gente ficou prejudicada.”

Pedro Esteves estima ter perdido cerca de 250 mil patacas com os danos causados pelo tufão Hato.

“Perdi tudo e não imaginava como isto ia estar. Quando cheguei aqui encontrei o caos. Não conseguia abrir a porta sequer. Estava tudo no chão.”

O proprietário do espaço Food Truck lembra, contudo, que o espírito de entreajuda se fortaleceu com a tragédia. “O tufão fez com que as pessoas tenham ficado mais próximas umas das outras. Estamos a ajudar-nos.”

Pela rua adentro, o cenário é semelhante. Onde antes estava água há agora um rasto de destruição. Todos os produtos das lojas estão amontoados cá fora. Limpa-se o que ficou, tenta-se encontrar um rumo.

Restaurantes destruídos

Na zona da Barra o trânsito é quase normal, não fossem as paragens de autocarro estarem cheias de objectos caídos e árvores que roubam os passeios às pessoas.

Não há um pedaço de rua que não tenha lixo ou água suja. Há caixas com garrafas espalhadas, usam-se mangueiras para apagar a destruição, enquanto várias pessoas almoçam onde podem.

António Rodrigues, alentejano, há 35 anos em Macau, nunca viu nada assim e está tão desesperado que assegura: “se tivesse aqui um fósforo pegava fogo a isto e quem viesse a seguir fazia tudo de novo, para não se aproveitarem do que fizemos aqui”.

A Casa do Porco Preto foi um dos novos restaurantes que abriu na zona da Barra, bem perto do templo de A-Má, e nada restou. A água subiu muito e destruiu o negócio de uma vida.

António Rodrigues mostra-nos os seis lugares que lhe pertencem e que ficaram destruídos: o restaurante, a futura padaria, os armazéns e a carrinha que faz o abastecimento dos produtos que importa do Alentejo para Oriente. No total, estão ali mais de dois milhões de patacas perdidos.

“É pena que em vez de virem aqui vocês, jornalistas, não venham representantes do Governo para ver como isto está. Estão fechados nos seus gabinetes. Tudo isto aconteceu porque há um problema com a drenagem das águas e não resolveram ainda”, disse.

No chão pousam enchidos e queijos prontos a ir para o lixo, dezenas de garrafas de vinho molhadas pela água, frigoríficos que já não funcionam, papéis com dívidas acumuladas molhados.

“Pergunta-me porque é que estamos aqui. Este é o sítio mais baratinho, os contentores chegam aqui é mais fácil fazer o desembarque”, explica.

Fornecimento atrasado

Os armazéns da empresa de António Rodrigues ficam ao lado dos armazéns da Nam Kwong, responsável pela distribuição dos supermercados e mercados do território. À hora em que o HM visita o local, não há luz e ainda se arrasta a água com vassouras. Há caixotes por todo o lado com garrafas de refrigerantes que estão por chegar às prateleiras. Ninguém consegue estimar quando é que o fornecimento regressará ao normal.

Questionado sobre o apoio que o Governo quer conceder às PME, António Rodrigues lança mais críticas. “O apoio que deviam dar era virem aqui. Vão conceder empréstimos sem juros? Com tanto dinheiro deveriam dar, já que dão a universidades chinesas que ninguém conhece”, defende.

Para o empresário, “o senhor Fung Soi Kun (director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos) deveria demitir-se e não esperar para ser exonerado. O secretário Raimundo do Rosário também, porque já foi director das Obras Públicas e sabe muito bem que havia estudos para esta zona”.

António Rodrigues critica também o facto do Executivo não ter decretado estado de calamidade. “Neste momento não há condições para Macau ter uma vida normal. Está tudo cheio de lixo, deveriam ser garantidos apenas os serviços mínimos.”

Lorcha sem luz

À porta do restaurante A Lorcha, do macaense Adriano Neves, há cadeiras espalhadas por todo o lado e empregados a comer Mcdonalds porque, lá dentro, o cenário é de escuridão.

“Tudo o que conseguimos ver está aqui fora. Do resto ainda não sabemos porque não temos luz. Tudo o que estava dentro do frigorifico foi para o lixo. Não consigo fazer uma previsão. Só sei mais coisas quando me derem água e luz.”

Adriano Neves também não compreende porque é que, até aquela hora, nenhuma autoridade se dirigiu à Barra para ver de perto os estragos.

“Já passei por muitos tufões, mas este assim, tão violento, é o primeiro. O Governo devia vir ver in loco e não olhar para as notícias. Não vi aqui ninguém, nem um polícia apareceu aqui.”

25 Ago 2017