Circulação | Estudada conexão de programas no Interior

As autoridades de Hengqin estão a estudar a hipótese de os veículos de Macau autorizados a circular na zona de cooperação possam também entrar na província de Guangdong. Os deputados Ma Io Fong e Nick Lei alertaram o Governo para a possibilidade do aumento do fluxo rodoviário no posto fronteiriço de Hengqin

 

Actualmente, existem dois programas, mutuamente exclusivos, que permitem aos condutores da RAEM circularem apenas em Hengqin e, ou então, na província de Guangdong. A separação dos dois programas faz com que quem tenha uma viatura com matrícula de Macau autorizada a entrar na Ilha da Montanha não possa conduzir em Guangdong, entrando em Zhuhai pela fronteira da Ponte do Delta. A separação dos dois programas passou a ter um fim à vista a partir do momento em que foi anunciado que a Comissão de Gestão da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin estaria a ouvir opiniões sobre a possibilidade de retirar ou relaxar estas limitações.

A conexão dos dois programas tem sido uma reivindicação recorrente por parte de deputados desde que entraram em vigor os programas de circulação. Aliás, desde que é permitido circular em Guangdong, a obrigatoriedade de escolher um dos dois programas levou muitos residentes a desistirem da licença para conduzir na Ilha da Montanha.

Os deputados Ma Io Fong e Nick Lei aplaudem a conexão dos dois programas, mas alertaram o Governo da RAEM para se preparar melhorando as instalações transfronteiriças do posto de Hengqin e torná-las mais convenientes num cenário de maior fluxo de trânsito.

Ma Io Fong, legislador da bancada da Associação Geral das Mulheres de Macau, considera que o Executivo deve começar por analisar a capacidade actual do posto fronteiro da Ilha da Montanha e ponderar a necessidade de criar mais corredores e tornar mais célere a travessia de veículos de passageiros.

Nick Lei concorda com o alargamento da capacidade do posto com mais corredores uma vez que a conexão dos dois programas de circulação, na sua óptica, irá aumentar em larga escala os pedidos para conduzir na Ilha da Montanha.

Firmes e seguros

O deputado ligado à comunidade de Fujian salientou, em declarações ao jornal Ou Mun, que a sala de inspecção de passageiros de veículos na fronteira de Hengqin não entrou em funcionamento, obrigando os passageiros do veículo, excepto o condutor, a passar pelos corredores de quem faz a travessia a pé.

Nick Lei criticou ainda o Governo de Zhuhai que sugeriu aos residentes de Macau fazerem a marcação para regressarem de automóvel a Macau com três dias de antecedência para pedidos referentes a fins-de-semana e feriados oficiais. O deputado entende que a medida não é conveniente para os condutores.

31 Jan 2024

História | Académicos detalham apoios a Portugal depois de ciclone em 1941

Três académicos da Universidade Politécnica de Macau debruçaram-se sobre a operação de solidariedade promovida pela comunidade chinesa de Macau para apoiar vítimas de um ciclone que fustigou Portugal em 1941. O apoio partiu de instituições como a Associação de Beneficência Tung Sin Tong ou do Hospital Kiang Wu, em parceria com o Governo

 

Em Fevereiro de 1941, um poderoso ciclone afectou Portugal e deixou um rasto de destruição em todo o país, numa altura em que todas as atenções estavam viradas para as várias frentes de batalha da Segunda Guerra Mundial. Macau, à luz da neutralidade assumida no conflito pelo Governo de António de Oliveira Salazar, não estava directamente envolvida na guerra, mas acabou por se tornar num território de acolhimento para milhares de refugiados chineses que tentavam escapar à ocupação japonesa de Xangai e Cantão. O êxodo levou a população local a triplicar, atingindo-se a fasquia de meio milhão de habitantes.

Mesmo enfrentando uma grave crise social, Macau não deixou de enviar dinheiro para as vítimas portuguesas do ciclone, como prova a investigação intitulada “Angariação de Fundos pelos Chineses de Macau para a Reconstrução do Ciclone de 1941 em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial: Perspectiva da Escolha Pública”, da autoria dos académicos Baoxin Chen, Xi Wang e Kan Chen, da Universidade Politécnica de Macau (UPM).

A elite chinesa de Macau da época, em conjunto com o Governador de Macau, Gabriel Maurício Teixeira, enviou um total de 31.075.23 dólares de Hong Kong, o equivalente a 310.752,3 dólares de Hong Kong tendo em conta o câmbio actual, após uma campanha de angariação de fundos. Entidades como a Associação de Beneficência Tung Sin Tong e Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu participaram nestas iniciativas.

Segundo os autores da investigação, a concessão de donativos por Macau “ilustra a vontade da elite chinesa e do Governo de Macau de procurar capital político e poder em resposta à crise [gerada pela] guerra”. Trata-se ainda de um “evento de caridade diplomática internacional pouco conhecido e que é relevante para as relações luso-chinesas”, lê-se no artigo.

“Apesar deste ter sido o momento mais difícil da Segunda Guerra Sino-Japonesa, a elite chinesa de Macau mobilizou forças sociais e angariou fundos para ajudar na reconstrução” após a passagem do ciclone, algo que foi “amplamente apoiado e mereceu a cooperação da população chinesa de Macau”.

Tratou-se de “uma actividade política civil” que mostra “o comportamento e o processo de escolha do público no fornecimento e distribuição de bens públicos e na elaboração de regulamentos adequados a fim de influenciar a escolha da população e maximizar a utilidade social”. Para os académicos, a campanha de recolha de donativos constitui um “extraordinário acontecimento histórico da diplomacia internacional das relações luso-chinesas em tempo de guerra” que “foi inadvertidamente esquecido”, consideram os autores.

Cartas guardadas

O estudo foi desenvolvido graças a uma bolsa atribuída pela própria instituição de ensino e só foi possível devido ao acesso que os investigadores tiveram às chamadas “Cartas de Crédito”, provas documentais em português e chinês dos donativos atribuídos, e que estavam à guarda de Luo Jing Xin, coleccionador ligado à Sociedade de Colecção de Nostalgia de Macau.

Segundo o artigo científico sobre esta investigação, a primeira parte das “Cartas de Crédito” está em chinês e conta com 52 páginas, enquanto a segunda parte contém 36 páginas em português. Os autores fizeram ainda uma pesquisa intensiva entre jornais chineses da época, que relataram este episódio e publicitaram a campanha de recolha de fundos. Uma cópia destas “Cartas de Crédito” está hoje à guarda do Centro de Estudos Culturais Sino-Ocidentais da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UPM.

Os investigadores descrevem que os representantes da elite chinesa dirigiram-se ao Governador assim que souberam da tempestade, apresentando “condolências às vítimas a fim de mostrarem simpatia em nome do povo chinês”, tendo dito que “os chineses de Macau estavam dispostos a ajudar as pessoas que tinham ficado sem casa devido ao ciclone, para que pudessem sentir o calor e a preocupação por parte da sociedade chinesa do outro lado do mundo”.

Foi ainda referido por estes representantes da comunidade chinesa que “a angariação de fundos iria beneficiar os compatriotas portugueses em sofrimento”, além de proporcionar “às autoridades de Macau uma oportunidade para demostrar a sua lealdade e capacidade de governação do Governo português”.

Dois meses de recolha

Foi então criada uma comissão de angariação de fundos depois da aprovação do Governador Gabriel Teixeira, e publicado no jornal Va Kio, dia 27 de Março de 1941, um artigo onde se descreviam “os enormes prejuízos causados pelo ciclone em Portugal e a situação de vida das pessoas”. Lia-se, na peça, o seguinte: “O ciclone varreu todo o território de Portugal. Por onde se passava havia telhas, árvores e casas destruídas até à ruína, tendo depois seguido [o ciclone] directamente para a vizinha Espanha”.

Apelava-se ao ressurgimento do “Grande Espírito Tradicional Chinês, ‘仁義’ (Ren Yi)”, relativo aos sentimentos de benevolência e rectidão. No artigo apelava-se ainda à ajuda da população, para que a comissão pudesse “reunir os donativos suficientes para prestar ajuda e apoio necessários aos que sofrem”.

A 22 de Março de 1941 o comité reuniu pela primeira vez para discutir o formato da recolha de donativos. O encontro foi presidido pelo presidente da Associação Comercial de Macau, Ko Ho Ning, com representantes das associações do Hospital Kiang Wu e da Tung Sin Tong. Foi então criado o “Comité de Ajuda dos Chineses para a Catástrofe do Ciclone Português”, presidido por Ko Ho Ning.

A 25 de Março organiza-se uma segunda reunião na Associação Comercial, onde se chegou a um “consenso sobre a estrutura organizacional, o funcionamento e as questões de implementação da angariação de fundos”. Nesta reunião, determinou-se que o Banco de Cantão, localizado na Rua Cinco de Outubro, e o Banco Tung Tak, na avenida Almeida Ribeiro, seriam as principais agências a guardar os donativos, recolhidos em Outubro e angariados entre 22 de Março e 23 de Maio. Neste processo “os chineses de Macau demonstraram um enorme fervor filantrópico”, destacam os académicos.

Para angariar dinheiro, organizaram-se bazares de beneficência, competições desportivas ou espectáculos de teatro de ópera cantonense, nomeadamente por parte do Teatro Tai Ping, à época bastante conhecido tanto em Macau como em Hong Kong.

O estudo revela que a comunidade chinesa de Macau, “de todos os estratos sociais” foi “a principal fonte de donativos”, contribuindo com 14.156,94 dólares de Hong Kong [câmbio da época], o que constituiu cerca de metade do dinheiro recolhido. Além das associações já referidas, participaram nesta recolha de fundos “celebridades e comerciantes conhecidos que se refugiaram em Macau durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, bem como o Governador de Macau e funcionários do Governo”. São destacados no estudo donativos de Zhou Yong Neng, que chefiava a delegação do Kuomitang em Macau, ou Sir Robert Ho Tung.

Esta campanha de recolha de fundos não tinha apenas objectivos de apoio social, mas também uma forte mensagem política, “não se tratando de uma mera actividade de auxílio e de caridade, mas de um acto deliberado com requisitos políticos específicos”, com diversas implicações.

“Naquela época eram inseparáveis as relações sociais entre Portugal e Macau e havia o objectivo comum de proteger Macau”, apesar das diferenças socioculturais entre portugueses e chineses e o grande distanciamento geográfico.

A elite chinesa acreditava que “China e Portugal tinham um destino comum ligado ao desenvolvimento histórico” e, numa altura em que Macau e a comunidade chinesa enfrentavam os dissabores da guerra, “os dois lados não eram apenas parceiros a enfrentar uma crise, mas também uma força vital na protecção de uma pátria comum – Macau”.

Os investigadores acreditam que esta ideia “permitiu que o evento de angariação de fundos corresse bem e reunisse mais contributos sociais”, apesar de constituir “um desafio”.

Segundo uma reportagem do jornal Público de 12 de Fevereiro do ano passado, que cita o meteorologista Paulo Pinto, “nunca houve tamanha destruição” em Portugal como a tempestade registada nesse ano de 1941. Não se sabe ao certo quantas vítimas o ciclone deixou, mas terão sido mais de uma centena de mortos e centenas de feridos.

Adélia Nunes, geógrafa portuguesa e autora de um dos poucos estudos sobre o incidente, relatou ao jornal que “foi uma situação catastrófica para o país”, tendo o ciclone atingido também Espanha.

31 Jan 2024

Pequim critica interrogatórios e deportações de estudantes à chegada aos EUA

A China apresentou ontem um protesto formal às autoridades norte-americanas contra o tratamento dado aos chineses que chegam para estudar nos Estados Unidos, denunciando deportações, interrogatórios que duram horas e o revistar de portáteis e telemóveis.

Xie Feng, embaixador chinês em Washington, disse que dezenas de chineses com vistos válidos foram impedidos de entrar nos últimos meses nos Estados Unidos quando regressavam à universidade após viajarem para o estrangeiro ou visitarem familiares na China.

“Após aterrarem no aeroporto, foram submetidos a um interrogatório de oito horas por parte de agentes que os proibiram de contactar os pais, fizeram acusações infundadas e até os repatriaram à força e proibiram a sua entrada”, descreveu, durante um evento na embaixada sobre intercâmbios de estudantes. “Isto é absolutamente inaceitável”, disse.

O protesto surge numa altura em que os EUA e a China tentam impulsionar os intercâmbios de estudantes e outras trocas, visando reforçar as relações, que se tornaram conflituosas nos últimos anos, face a uma prolongada guerra comercial e tecnológica, questões de Direitos Humanos ou disputas sobre o estatuto de Taiwan, Hong Kong ou o mar do Sul da China.

Cerca de 290.000 chineses estão a estudar nos EUA, compondo um terço da totalidade dos estudantes estrangeiros no país, de acordo com diferentes estimativas.

Com 1,3 milhões de pessoas a estudar no estrangeiro, a China é o maior emissor de estudantes do mundo. Num comunicado separado, a embaixada da China disse que apresentou “protestos solenes” ao Governo dos EUA sobre o tratamento de estudantes que aterraram no aeroporto de Dulles, em Washington.

A mesma nota pediu aos estudantes chineses para terem cuidado quando chegassem ao aeroporto. Não ficou claro se os comentários de Xie se referiam a casos apenas em Dulles ou também noutros pontos de entrada nos Estados Unidos.

Exames minuciosos

Desde Novembro, os órgãos de comunicação social estatais chineses noticiaram pelo menos três casos em Dulles em que estudantes chineses viram os seus vistos de estudante válidos serem cancelados, foram repatriados após longas horas de interrogatórios e interditados de entrar nos Estados Unidos durante cinco anos.

De acordo com as notícias, foi-lhes perguntado se os seus estudos eram financiados pelo Governo chinês, se eram membros do Partido Comunista Chinês e se os seus estudos e pesquisas estavam ligados ao Governo chinês, ao exército chinês ou a laboratórios estatais do país asiático.

Os estudantes dirigiam-se, respectivamente, para o Instituto Nacional do Cancro, a Universidade de Yale e a Universidade de Maryland. Pelo menos oito chineses que entraram nos Estados Unidos com documentos válidos foram repatriados desde Novembro, de acordo com a imprensa estatal.

Segundo o comunicado da embaixada da China, os estudantes tiveram os seus aparelhos electrónicos controlados, foram proibidos de comunicar com o exterior e, nalguns casos, detidos durante mais de 10 horas.

31 Jan 2024

Exposição de Adam McEwen inaugurada esta sexta-feira em Hong Kong

Esta sexta-feira, 2 de Fevereiro, é inaugurada na galeria Gagosian, em Hong Kong, a exposição que marca a estreia na Ásia do artista Adam McEwen. Segundo um comunicado oficial sobre a mostra, trata-se de uma exposição que inclui “uma secção transversal do seu trabalho”, incluindo também novas pinturas e esculturas feitas em grafitti, um material bastante utilizado pelo artista.

Segundo a mesma nota, o artista “tende a colocar em primeiro plano, isolando-os, objectos banais, como um tapete de yoga, um bebedouro ou copos de plástico, até ao ponto de os tornar tão banais que se tornam mais fáceis de usar, desprendendo-os dos seus significados já familiares e [também] tranquilizadores”.

As esculturas de McEwen são “simples e exactas”, sugerindo “um sentido do que é estranho e uma sensação de ligeira deslocação”. Além disso, as suas pinturas “apresentam coisas do quotidiano numa linguagem gráfica simplificada que as que as descontextualiza, libertando-as das suas conotações habituais”.

O que importa

As temáticas trabalhadas por McEwen são escolhidas por terem “alguma importância”, sendo exemplo disso “um arco de comboio perto do seu estúdio, um desenho de um leão que simboliza o poder e a força, um par de candeeiros de rua perto da Grand Central de Nova Iorque que formam uma espécie de entrada ou uma espada encontrada escondida atrás de um radiador quando o artista renovou o seu apartamento”.

Ao simplificar a representação destes elementos nas obras de arte, estes temas “tornam-se acessíveis e a relação entre o sujeito e o espectador torna-se mais forte face ao tema e o significado que existe no quotidiano” dentro da realidade de cada um.

Adam McEwen nasceu em 1965 em Londres e actualmente vive e trabalha em Nova Iorque. As suas peças estão presentes em colecções no Arts Council, em Londres; na Aberdeen Art Gallery and Museums, Escócia; no Museu Guggenheim de Nova Iorque ou, nesta mesma cidade, no Metropolitan Museum of Art. A mostra em Hong Kong pode ser visitada na Pedder Street, na zona de Central, até ao dia 9 de Março.

31 Jan 2024

Concerto | “O Imperador de Beethoven” este sábado na Universidade de Macau

“O Imperador de Beethoven, por Haochen Zhang” é o nome do concerto que irá ter lugar este sábado na Aula Magna da Universidade de Macau, contando com a presença do aclamado Christopher Warren-Green. O evento é organizado pelas seis operadoras de jogo e pelo Instituto Cultural

 

É já este sábado que se pode ouvir música clássica no campus da Universidade de Macau (UM) em Hengqin. Isto porque o concerto “O Imperador de Beethoven, por Haochen Zhang” decorre na Aula Magna da UM às 20h, contando com a Orquestra de Macau dirigida pelo reputado maestro britânico Christopher Warren-Green, num evento promovido pelas seis operadoras de jogo e pelo Instituto Cultural (IC).

Segundo um comunicado do IC, o espectáculo será marcado por uma série de peças clássicas, acompanhadas pelas notas tocadas pelo pianista de renome internacional Haochen Zhang. Este, irá interpretar “Concerto para Piano e Orquestra N.º 5 em Mi bemol Maior, Op. 73 ‘Imperador'”, de Beethoven, proporcionando ao público “uma experiência deslumbrante e inesquecível”.

Este espectáculo integra-se na temporada de concertos 2023-2024 da OM e terá cerca de 1h30 de duração, sendo que os bilhetes já se encontram à venda.

Quem é quem?

As duas grandes figuras deste concerto mantêm, há muitos anos, uma carreira fulgurante na área da música clássica. No caso do maestro Christopher Warren-Green, é actualmente director musical da Orquestra de Câmara de Londres e maestro laureado da Orquestra Sinfónica de Charlotte do Estado da Carolina do Norte, nos EUA. Além disso, tem servido, por diversas vezes, como maestro em várias celebrações da Família Real Britânica.

No concerto de sábado irá interpretar, juntamente com os músicos da OM, obras que representam “o auge criativo de vários compositores de renome”, que não apenas Ludwing van Beethoven, nomeadamente a dinâmica composição “Abertura do Festival Académico, composta por Johannes Brahms em 1880.

Destaque ainda para a apresentação de “Variações Enigma”, um trabalho do compositor britânico Edward Elgar estreado em 1899. Por sua vez, Haochen Zhang foi também convidado para ser solista no “Concerto para Piano e Orquestra N.º 5”, de Beethoven, uma peça descrita como “majestosa com uma distinta aura de nobreza”, e que foi composta entre 1809 e 1811. Segundo o IC, “este concerto levará certamente o público numa memorável viagem musical”.

Nascido em 1990, Haochen Zhang é um dos mais conhecidos pianistas chineses da actualidade, apesar da sua juventude. Natural de Xangai, Haochen venceu, em 2009, a medalha de ouro na 13.ª edição do Concurso Internacional de Piano Van Cliburn, tendo sido o mais jovem músico a consegui-lo. Desde então que tem recebido aclamações dos vários públicos por onde passou, nos EUA, Europa ou mesmo na Ásia. É descrito como um pianista com “uma combinação única de profunda sensibilidade musical, imaginação destemida e um virtuosismo espectacular”.

Os prémios repetiram-se em 2017, quando recebeu a prestigiada bolsa Avery Fisher Career Grant, concedida a músicos com potencial para construir uma carreira musical importante.

31 Jan 2024

BYD | Aumento dos lucros estimado em 80 por cento

A chinesa BYD, maior fabricante mundial de veículos eléctricos, estimou ontem um lucro líquido entre 29 e 31 mil milhões de yuan, em 2023, uma subida homóloga de cerca de 80 por cento por cento.

Em comunicado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, onde está cotada, a empresa atribuiu este valor ao “rápido crescimento” no sector eléctrico, onde a BYD atingiu um novo recorde de vendas e destronou a norte-americana Tesla como a maior vendedora mundial de eléctricos no último trimestre.

“Apesar de a concorrência cada vez mais feroz no sector, a empresa alcançou melhorias significativas na rentabilidade e demonstrou uma forte resiliência através das suas melhorias contínuas na força da marca, do rápido crescimento do volume de vendas no estrangeiro, do aumento constante da vantagem de escala e da forte capacidade de controlo dos custos na cadeia industrial”, referiu a BYD.

Estes números são uma estimativa provisória e a BYD vai publicar os resultados para o exercício financeiro de 2023 no final de Março.

Tomando estas estimativas como referência, alguns analistas defenderam que os resultados do quarto trimestre da BYD deveriam ser um pouco melhores, o que fez com que as acções da empresa caíssem ontem 5,48 por cento durante a parte da manhã da sessão da bolsa de Hong Kong.

Actualmente, dois em cada cinco veículos vendidos na China são eléctricos, representando estas vendas 60 por cento do total mundial. Segundo estimativas do banco suíço UBS, até 2030, três em cada cinco veículos novos vendidos no país asiático serão movidos a baterias e não a combustíveis fósseis.

A BYD indicou recentemente que as vendas de todos os seus automóveis aumentaram quase 62 por cento em termos anuais até 2023, para mais de três milhões de unidades.

31 Jan 2024

Jordânia | Pequim apela a que se evite “círculo vicioso” de retaliações

A China apelou ontem à contenção, após um ataque com drones na Jordânia, atribuído a grupos pró-iranianos, ter resultado na morte de três militares norte-americanos. Na segunda-feira, os Estados Unidos prometeram uma retaliação “adequada”, enquanto o Irão negou qualquer envolvimento, num contexto regional já explosivo devido à guerra entre Israel e o Hamas.

“Esperamos que todas as partes envolvidas mostrem calma e contenção (…) para evitar serem apanhadas num círculo vicioso de represálias e impedir uma nova escalada das tensões regionais”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, em conferência de imprensa.

“A situação actual no Médio Oriente é extremamente complexa e sensível”, sublinhou o porta-voz, acrescentando que a China “tomou nota”, tanto das vítimas norte-americanas como do desmentido do Irão.

O ataque ocorrido no domingo teve como alvo uma base logística dos EUA no meio do deserto da Jordânia, na fronteira com o Iraque e a Síria. Três pessoas morreram e várias dezenas ficaram feridas, de acordo com o exército norte-americano. O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que procura um segundo mandato, está a ser pressionado internamente para responder à morte dos militares, correndo o risco de exacerbar as tensões.

Na segunda-feira, o Irão negou qualquer envolvimento e disse que não estava a tentar expandir o conflito no Médio Oriente. Desde meados de Outubro, mais de 150 ataques com drones e mísseis atingiram soldados norte-americanos e da coligação internacional no Iraque e na Síria.

31 Jan 2024

HK | Iniciado processo de aprovação de lei de segurança nacional

O diploma irá complementar a actual lei implementada por Pequim em 2020

 

Hong Kong irá criar “o mais rapidamente possível” a sua própria lei de segurança nacional, que se juntará à actual legislação, imposta por Pequim em 2020, anunciou ontem o líder da região chinesa. O texto irá abranger cinco crimes, incluindo traição, insurreição e espionagem, disse o Chefe do Executivo do território do sul da China, John Lee Ka-chiu, numa conferência de imprensa de apresentação do processo de consulta pública.

“Devo enfatizar que a legislação [nos termos do] artigo 23 da Lei Básica deve ser feita (…) o mais rápido possível”, disse Lee, referindo-se ao artigo da mini-Constituição de Hong Kong, que prevê que a cidade aprove uma lei de segurança nacional relativamente a sete crimes.

“Esta é uma responsabilidade constitucional (…) que não foi assumida 26 anos após a entrega” do território à China pelo Reino Unido em 1997, lamentou. Lee prometeu também que a lei não permitirá que suspeitos sejam transferidos para julgamento na China continental, ao contrário da lei imposta por Pequim em 2020.

O processo de consulta sobre a nova lei será “aberto” e o documento com as novas disposições será tornado público, garantiu o Chefe do Executivo de Hong Kong.

No entanto, isso só irá acontecer depois do final do período de consulta pública, a 28 de Fevereiro. A lei seguirá depois para o parlamento de Hong Kong, onde tem a aprovação garantida, uma vez que a oposição está ausente, após uma revisão do sistema eleitoral da região.

Fantasmas do passado

Em 2003, uma proposta de lei da segurança nacional teve de ser abandonada devido a uma série de protestos, que chegaram a reunir cerca de meio milhão de pessoas, em oposição. Manifestações, de uma dimensão ainda maior, voltaram a abalar o centro financeiro asiático em 2019.

Em resposta, Pequim impôs uma lei de segurança nacional que abrange quatro crimes – secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras – puníveis com uma pena máxima de prisão perpétua. Embora “a nossa sociedade como um todo pareça calma e muito segura, ainda precisamos de estar atentos a possíveis sabotagens e correntes ocultas que tentem causar agitação, particularmente algumas das ideias sobre a independência de Hong Kong que ainda estão enraizadas nas mentes de algumas pessoas”, disse John Lee.

“Alguns agentes estrangeiros ainda podem estar activos em Hong Kong”, acrescentou. “As ameaças à segurança nacional são reais, nós vivemo-las e sofremos muito (…) não queremos reviver esta experiência dolorosa”, alertou o chefe de Governo. Desde que Pequim impôs a lei de segurança nacional em 2020, 290 pessoas foram presas ao abrigo da mesma. Mais de 30 pessoas foram condenadas por crimes contra a segurança nacional.

31 Jan 2024

O despertar das mulheres chinesas e o declínio da natalidade

Académicos reflectem sobre a baixa natalidade e o papel das mulheres hoje na China

YIXIU WEI, WENDY WU, E JIA YUXUAN

Wang Xianqing: Nos últimos anos, a taxa de natalidade na China registou um declínio acentuado. Será esta uma consequência normal de uma determinada fase do desenvolvimento económico, como quando o PIB per capita de um país atinge os dez mil dólares americanos e há um aumento simultâneo da educação das mulheres e das taxas de conclusão dos estudos universitários? Ou existem factores específicos exclusivos da China que estão a influenciar este fenómeno?

Zhao Yaohui: Na minha opinião, a economia não é o único factor. As noções tradicionais de discriminação contra as mulheres ainda persistem, mas em comparação com as mulheres dos anos 70 e 60, as dos anos 80 e 90 sofreram mudanças significativas. Os seus conhecimentos, o seu nível de educação e as suas competências no local de trabalho ultrapassaram os dos homens. Há cem anos, nos Estados Unidos, as mulheres com formação superior podiam escolher a carreira em detrimento da família, sob forte discriminação de género, mas as mulheres chinesas escolheram sempre a família, mesmo as que tinham formação superior, o que indica a enorme pressão imposta pela cultura tradicional. No entanto, as mulheres nascidas nos anos 80 e 90 entraram numa nova fase: já não estão limitadas pela tradição e sentem-se obrigadas a escolher a família face à desigualdade de género. Este conflito entre as noções tradicionais e as capacidades e valores da mulher moderna marca uma das características desta geração e creio que é a principal razão para o declínio da taxa de natalidade feminina.

Lei Xiaoyan: Concordo com o Professor Zhao. Não são apenas os factores económicos que levam ao declínio das taxas de natalidade; o desenvolvimento socio-económico trouxe também muitos outros factores que, colectivamente, contribuem para o declínio. No entanto, o declínio para níveis tão baixos é algo anormal. Os Estados Unidos também registaram um declínio das taxas de natalidade, mas não tão baixo como o da China, numa fase semelhante do PIB per capita. É claro que a política de planeamento familiar acelerou o declínio das taxas de natalidade. Além disso, os conflitos entre grupos sociais e os custos da maternidade são também factores-chave para o rápido declínio das taxas de natalidade para um nível tão baixo.

Zhao Yaohui: De facto, as regiões com as taxas de natalidade mais baixas a nível mundial situam-se na esfera cultural da Ásia Oriental, incluindo a China, a Coreia do Sul e Singapura. Um ponto comum entre estas regiões é a prevalência da discriminação contra as mulheres e os sistemas patriarcais enraizados na cultura oriental. É essencial reconhecer o profundo impacto que estas normas sociais têm nas escolhas familiares das mulheres e considerar estratégias para enfrentar eficazmente estes desafios culturais.

Huang Wei: Também concordo com o Professor Zhao. Não é exacto dizer que o crescimento económico conduz invariavelmente a uma redução das taxas de natalidade. A investigação indica que, em alguns casos, as taxas de natalidade aumentam com a melhoria das condições económicas, o que indica que as pessoas continuam a querer e a gostar de ter filhos. Isto demonstra que não existe uma relação directa e uniforme entre o crescimento económico e a diminuição das taxas de natalidade. Por exemplo, os Estados Unidos têm um nível económico relativamente elevado, mas não têm uma taxa de natalidade particularmente baixa. Alguns países europeus, economicamente mais avançados do que os países da Ásia Oriental, também mantêm níveis de natalidade mais elevados.

Analisando os dados históricos e os dados transversais globais, a relação entre o crescimento económico e as taxas de natalidade não está diretamente correlacionada. De facto, existe uma relação positiva entre o crescimento económico e a promoção das mulheres. Numerosos economistas investigaram extensivamente esta área e, nos últimos anos, a relação causal entre o crescimento económico e a emancipação das mulheres tornou-se cada vez mais clara. No entanto, a relação causal entre o crescimento económico e as taxas de natalidade permanece relativamente ambígua.

Zhao Yaohui: O principal factor é a melhoria do nível de educação das mulheres.

Wang Xianqing: Porque é que os países da esfera cultural confucionista, como a China e outras nações da Ásia Oriental, apresentam taxas de natalidade relativamente baixas? Tradicionalmente, as mulheres chinesas dão grande importância à família. Será possível que, depois de receberem educação e de se tornarem esclarecidas, considerem o facto de não terem filhos como um dos indicadores significativos da sua independência?

Zhao Yaohui: “Tenho o direito de escolher não casar” era quase inconcebível há um século atrás, quando o casamento era muitas vezes essencial para a sobrevivência de uma mulher. No entanto, a situação hoje é totalmente diferente. Actualmente, as mulheres já não precisam de depender de outra pessoa para a sua subsistência. Podem viver e trabalhar de forma independente, o que está intimamente relacionado com o facto de os níveis de educação das mulheres terem ultrapassado os dos homens.

Wang Xianqing: Professor Zhao, referiu que os Estados Unidos entraram agora na quinta fase, em que muitas pessoas conseguiram um equilíbrio entre a família e a carreira. Mas, actualmente, na China, cada vez mais mulheres optam por não casar nem ter filhos para se concentrarem nas suas carreiras. Como explica este fenómeno?

Zhao Yaohui: Nos Estados Unidos, embora o fenómeno das mulheres abandonarem o trabalho para cuidar da família após o parto ainda exista, em geral, as mulheres americanas conseguem equilibrar melhor a carreira e a família do que as gerações anteriores. Em comparação com as americanas, há mais mulheres chinesas que optam por concentrar a sua atenção na vida familiar, um fenómeno que se mantém até hoje. Apesar de algumas mudanças subtis, a situação geral permanece a mesma em termos absolutos. As mulheres americanas lutaram durante décadas ou mesmo séculos para encontrar formas de equilibrar a carreira e a família. A primeira fase envolveu a escolha entre as duas. Nas décadas de 1920 e 1930, as normas sociais não permitiam que as mulheres trabalhassem depois do casamento, pelo que só podiam trabalhar antes de se casarem. Na terceira fase, as mulheres deram prioridade ao cuidado da família e regressaram à carreira depois de os filhos terem crescido. Embora estas mulheres tivessem um período de carreira mais longo e pudessem trabalhar até à reforma, também perderam muitas oportunidades no local de trabalho devido às responsabilidades familiares. Tendo testemunhado a experiência infeliz das suas mães, as mulheres da quarta fase decidiram desenvolver primeiro as suas carreiras e adiar o parto. O adiamento do parto levou a que algumas mulheres não conseguissem conceber naturalmente, perdendo assim a oportunidade de ter filhos. Agora, na quinta fase, as mulheres americanas começam a equilibrar a família e a carreira e, graças a tecnologias como a reprodução assistida e o congelamento de óvulos, as mulheres podem equilibrar melhor estes dois aspectos.

Na China, as mulheres, mesmo as que possuem diplomas universitários, têm sido historicamente obrigadas a casar e a ter filhos. Após a década de 1950, um número significativo de mulheres foi mobilizado pelo Estado para integrar a força de trabalho. No entanto, as noções tradicionais continuaram a ter um impacto profundo nas mulheres profissionais chinesas. Muitas vezes, enfrentavam o duplo fardo de gerir as suas carreiras e, ao mesmo tempo, serem responsáveis pelas tarefas domésticas, pelos cuidados com os filhos e pela assistência aos maridos após um dia de trabalho. Durante a era da economia planificada, as empresas disponibilizavam creches para ajudar as mulheres trabalhadoras a cuidar dos seus filhos, o que significava que as mulheres podiam regressar ao trabalho após alguns meses de licença de maternidade. No entanto, as creches foram basicamente canceladas após a reforma das empresas públicas em 2000. Apesar da eliminação deste tipo de apoio, continuou a ser convencional as mulheres não abandonarem os seus empregos para cuidarem dos filhos em casa. Na ausência de serviços de acolhimento de crianças, as mulheres tendem a escolher empregos mais flexíveis. Por exemplo, na década de 1990, havia muitas professoras nas universidades chinesas, o que é difícil de compreender para os americanos, porque nos Estados Unidos ser professor é altamente competitivo. Mas nessa altura, na China, os salários universitários eram baixos, pelo que muitos professores do sexo masculino optavam por exercer actividades comerciais, enquanto que, para as mulheres, o facto de não terem horário fixo de trabalho era conveniente para cuidar da família. No entanto, empregos fáceis significam muitas vezes um rendimento mais baixo e uma promoção mais lenta na carreira.

Lei Xiaoyan: A tendência que acabámos de mencionar – de as mulheres optarem por ficar em casa em vez de trabalhar – tem de ser vista sob dois aspectos. Por um lado, algumas mulheres optam voluntariamente por ficar em casa e, por outro lado, algumas são obrigadas a fazê-lo. Nos anos anteriores, era mais uma questão de serem obrigadas a ficar em casa para cuidar dos filhos. Em anos anteriores, tratava-se mais de serem obrigadas a ficar em casa para cuidar dos filhos, enquanto atualmente se trata mais de uma escolha voluntária. Para que as mulheres optem voluntariamente por ficar em casa e renunciar ao trabalho profissional em favor dos cuidados com os filhos, é necessário satisfazer duas condições fundamentais: Em primeiro lugar, a sociedade deve reconhecer e respeitar os assuntos domésticos e os cuidados com os filhos como tendo a mesma importância que o trabalho profissional, valorizando assim os contributos das mulheres dentro de casa. Em segundo lugar, as mulheres que optam por ficar em casa não devem ter medo de se sentirem subordinadas aos seus maridos nem correr o risco de pôr em risco os seus casamentos devido à ausência de uma carreira. Só quando estas duas condições estiverem reunidas é que a decisão de as mulheres ficarem em casa para a educação dos filhos se tornará uma verdadeira escolha, livre da percepção de que é uma penalização.

Wang Xianqing: O Professor Lei salientou o ritmo notável das mudanças nas taxas de natalidade, na educação dos filhos e nos níveis de educação das mulheres chinesas. No entanto, durante este processo, é essencial ter em consideração as áreas que foram bem tratadas e as que não o foram, em especial as que requerem uma reformulação cultural.

Lei Xiaoyan: A China fez um excelente trabalho ao registar progressos significativos na educação das mulheres chinesas, permitindo-lhes atingir um nível de capital humano comparável ao dos homens. No entanto, a questão de saber se as mulheres podem garantir a igualdade de remuneração após o ensino requer uma análise mais aprofundada. Apesar de receberem a mesma educação e formação em termos de capital humano, as mulheres continuam a enfrentar desigualdades de género no local de trabalho. A discriminação de género e os preconceitos no local de trabalho dificultam o acesso a oportunidades e recompensas iguais. Estas questões exigem esforços contínuos para que se registem mudanças.

Pergunta do público: Gostaria de fazer uma pergunta sobre a discriminação inversa do género. A discriminação inversa do género refere-se a situações em que a discriminação tradicional contra as mulheres por parte dos homens faz com que os homens sejam discriminados em determinados contextos sociais. Um exemplo notável é o serviço militar obrigatório exigido aos homens em muitos países, um mandato que não é alargado às mulheres. A discriminação inversa em função do género pode, em certa medida, conduzir a uma perda de benefícios para os homens. Como o professor mencionou anteriormente, os homens são sobrecarregados com a tarefa de apoiar financeiramente a educação dos filhos. Mas se os salários das mulheres forem mais elevados, isso pode aliviar um pouco a pressão sobre os homens para sustentarem a família, o que pode ser mais benéfico para os homens. Esta questão é causada por estereótipos de homens que pensam que as mulheres são mais vulneráveis, ou existem razões subjacentes mais profundas? Ou será que esta questão é, ela própria, uma falsa proposição?

Huang Wei: Na verdade, penso que a discriminação de género e a questão que mencionou são duas coisas diferentes. Na minha opinião, a discriminação na investigação académica é diferente da discriminação na vida real; a discriminação na investigação académica refere-se a um fenómeno a outro nível. Por exemplo, na análise estatística, é frequente identificarmos resultados significativos negativos ou positivos e classificá-los como casos de discriminação. No entanto, a discriminação de que está a falar é mais parecida com a discriminação na vida real.

Penso que não há nada que deva ser feito exclusivamente por homens ou mulheres. Trata-se mais de negociar para resolver problemas em pé de igualdade. Isto introduz outro conceito: a vantagem comparativa. Quem estiver mais apto para uma tarefa deve assumi-la, pois isso pode melhorar a eficiência. Por exemplo, eu sou uma pessoa descuidada, enquanto a minha mulher é mais meticulosa. Quando o nosso filho não está suficientemente agasalhado, posso esquecer-me de fechar o fecho do casaco. Mas quando chegamos a casa, a minha mulher chama a atenção para o facto, perguntando como é que eu me podia esquecer e se a criança se constipava, algo em que eu não tinha reparado. Penso que a divisão social do trabalho surge da necessidade de desenvolvimento económico, tornando mais eficientes as várias tarefas. O mesmo se aplica às famílias; as tarefas devem ser divididas de acordo com as características de cada pessoa. Através desta divisão do trabalho, podemos eliminar a discriminação e tornar toda a família e a sociedade mais eficientes e cheias de amor. Penso que esta é a direção correcta.

Lei Xiaoyan: O que mencionou deve-se provavelmente a diferentes divisões de trabalho. Na nossa discussão, concentramo-nos na disparidade causada apenas pelo género em condições idênticas. Se não for esse o caso, a discriminação é causada por outros factores, como as diferenças nos níveis de educação. O Professor Zhao e eu realizámos um estudo sobre as diferenças cognitivas baseadas no género. A nossa investigação revelou que, entre a população idosa da China, as mulheres apresentam capacidades cognitivas mais limitadas e menos avançadas do que as suas congéneres internacionais. Em contrapartida, a nível mundial, quando avaliadas com base nos mesmos indicadores cognitivos, as diferenças entre os níveis cognitivos dos homens e das mulheres são mínimas, sendo que as mulheres demonstram frequentemente capacidades cognitivas mais elevadas. Explorámos as razões para este facto e descobrimos que um dos factores é a diferença nos níveis de educação e não a discriminação entre os sexos. No entanto, após uma investigação mais aprofundada, descobrimos que estas disparidades educativas têm origem no tratamento desigual de rapazes e raparigas durante a sua educação infantil, o que aponta, de facto, para práticas discriminatórias. Este facto sublinha a importância de não nos concentrarmos apenas nos resultados, mas de procedermos a uma análise exaustiva e científica para compreendermos os factores causais mais profundos.

Pergunta do público: A Professora Zhao referiu que um dos principais obstáculos à participação das mulheres modernas na força de trabalho é o custo de oportunidade da participação laboral, especialmente em condições de mercado de trabalho difíceis. Os empregadores podem preferir contratar homens para evitar as implicações da licença de maternidade. Este é o maior custo de oportunidade para as mulheres. Embora políticas como a licença de maternidade alargada na China pareçam favorecer as mulheres, inadvertidamente elevam o custo da participação das mulheres na força de trabalho, tornando os homens uma opção mais rentável para os empregadores. A maternidade é uma responsabilidade conjunta do marido e da mulher. Como podemos fazer com que os homens suportem os mesmos custos que as mulheres de uma perspetiva económica? Como podemos garantir que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de emprego que os homens quando procuram emprego?

Huang Wei: A literatura existente oferece várias avaliações de políticas como a licença de maternidade. Por vezes, as políticas destinadas a proteger determinados grupos podem, inadvertidamente, prejudicá-los. Por exemplo, a regulamentação que impõe um salário mínimo para as pessoas com deficiência pode levar a que menos empregadores estejam dispostos a contratar pessoas com deficiência. O mesmo se pode aplicar às leis sobre o salário mínimo para todos os trabalhadores.

Muitos académicos têm discutido a questão das políticas de licença de maternidade, mas ainda não existe consenso. O prolongamento da licença de maternidade revelou-se benéfico em alguns países e menos positivo noutros. Na China, alguns propuseram que os homens também fossem obrigados a gozar uma licença de paternidade igualmente longa quando as mulheres tiram a licença de maternidade. A questão da duração da licença de maternidade exige uma avaliação objetiva e realista, e a resposta mudará com o tempo. Penso que a resposta dos Estados Unidos a esta questão tem variado ao longo das últimas cinco fases. Por conseguinte, a questão da licença de maternidade continua a necessitar de um debate aprofundado.

Zhao Yaohui: Esta questão envolve o tema de como reduzir a penalização da maternidade, que se refere à perda de oportunidades de emprego e de rendimento para as mulheres devido à maternidade. Afinal de contas, só as mulheres podem dar à luz filhos. É um facto inegável e um papel que os homens não podem substituir. O parto em si não é o problema, uma vez que as mulheres podem continuar a trabalhar até ao parto sem quaisquer problemas físicos. O que importa é depois do parto – se as mulheres são desvalorizadas no local de trabalho, se se tornam menos importantes ou se se tornam um fardo para os seus empregadores. As políticas devem centrar-se em aliviar os encargos das mulheres para facilitar o equilíbrio entre as suas responsabilidades profissionais e pessoais, tornando-as assim mais atractivas para as empresas. Por exemplo, há uma falta significativa de serviços de acolhimento de crianças dos 0 aos 3 anos, período durante o qual as mulheres dedicam muitas vezes um esforço substancial aos cuidados infantis, enfrentando desafios como o de arranjar uma ama. Este facto pode ter um enorme impacto no seu trabalho. A disponibilização atempada de serviços de acolhimento de crianças permite que as mães enviem os seus filhos para uma creche pouco tempo depois da licença de maternidade, o que aumenta a possibilidade de um melhor desenvolvimento da carreira dessas mães orientadas para a carreira. Por conseguinte, é importante minimizar o impacto negativo do parto nas mulheres, permitindo-lhes equilibrar eficazmente o trabalho e as responsabilidades do parto.

Perspectivas para a nova geração de mulheres chinesas

Tradicionalmente, as mulheres chinesas, mesmo face à discriminação, tinham poucas opções para além de casar e ter filhos. A situação das mulheres chinesas solteiras e sem filhos era historicamente mais difícil do que a das suas congéneres americanas. No entanto, nas últimas três décadas, registaram-se progressos consideráveis no estatuto das mulheres no local de trabalho. A proporção de mulheres que atingiram o ensino superior ultrapassou a dos homens, graças à universalização da Lei do Ensino Obrigatório e à expansão das matrículas nas universidades na década de 1990. A adesão da China à OMC provocou uma forte expansão dos empregos de colarinho branco, proporcionando muitas oportunidades de emprego para as mulheres.

Apesar disso, as atitudes discriminatórias tradicionais em relação às mulheres ainda prevalecem na sociedade chinesa. Persistem fenómenos como a violência doméstica, os preconceitos de género que favorecem os homens e o grave desequilíbrio dos papéis de género nos agregados familiares. Mesmo as mulheres que ocupam posições de topo no local de trabalho são frequentemente sobrecarregadas com a maior parte das tarefas domésticas. As práticas discriminatórias contra as mulheres são ainda mais comuns nas zonas rurais.

Além disso, o fenómeno do “funil de carreira” limita severamente o desenvolvimento das mulheres no local de trabalho. Tomando as universidades como exemplo, há muitas mulheres com doutoramento, mas uma proporção menor de mulheres entre os professores, ainda menor entre os professores associados e extremamente rara entre os professores catedráticos. O mesmo se passa nos serviços públicos. O número de mulheres diminui à medida que se passa para o nível de secção, de gabinete e mesmo de ministro. Este fenómeno merece a atenção e a investigação das pessoas.

Pessoalmente, a situação actual das mulheres chinesas é semelhante à quarta fase de desenvolvimento das mulheres americanas mencionada anteriormente. As capacidades das mulheres foram reforçadas sem precedentes, mas a discriminação e os constrangimentos contra as mulheres continuam a existir. Perante esta contradição, muitas mulheres poderão optar por permanecer solteiras e sem filhos, uma tendência que poderá intensificar-se no futuro.

Para ajudar as mulheres chinesas a alcançar um equilíbrio entre a carreira e a família, é necessário criar um ambiente social verdadeiramente equitativo. Para o conseguir, é fundamental defender três mudanças fundamentais:

1. Alterar as percepções discriminatórias e reformular a cultura tradicional. Os homens mais velhos e outros membros da família também devem adotar o conceito de igualdade de género. As sogras devem encorajar os filhos a fazer mais tarefas domésticas e a partilhar os encargos domésticos das noras.

2. A sociedade deve criar um ambiente de trabalho propício ao desenvolvimento familiar, proporcionando horários de trabalho o mais flexíveis possível.

3. A sociedade deve esforçar-se por oferecer serviços de acolhimento de crianças de elevada qualidade e a preços acessíveis, colmatando a lacuna substancial que existe atualmente, em especial para as crianças dos 0 aos 3 anos. Esta lacuna obriga frequentemente muitas mulheres a abandonar oportunidades de carreira promissoras em profissões com rendimentos elevados e a optar por empregos menos competitivos para cuidar das crianças.

A nossa convicção é que os avanços tecnológicos e do mercado podem eventualmente retificar numerosos preconceitos e distorções cognitivas e comportamentais relacionados com o género. No entanto, este processo requer um período de tempo significativo. Por conseguinte, é imperativo que a sociedade no seu conjunto trabalhe proactivamente para criar um ambiente mais favorável às mulheres.

In Pekingology

31 Jan 2024

Crimes graves | Taxa mantém-se baixa em 2023

A Polícia Judiciária considera que a ocorrência de crimes graves em Macau se manteve num nível baixo, durante o ano passado. Em 2023, a PJ registou quatro casos de homicídio, 45 de fogo posto e 33 de roubo, não havendo registos de ofensas corporais graves ou de rapto, foi indicado num comunicado.

“Na maior parte dos crimes, tais como aqueles ligados ao jogo, aos estupefacientes, a roubo e furto, entre outros, embora se tenha registado um aumento do número de processos face ao ano anterior, este número ainda é inferior ao de 2019”, referiu.

No pólo oposto, as burlas que envolvem telecomunicações e crimes cibernéticos mantiveram “uma tendência de aumento gradual”, superior ao do período antes da pandemia de covid-19, informou a força policial.

No ano passado, a PJ instaurou 12.390 processos criminais, uma subida de 43,9 por cento relativamente a 2022, de acordo com a mesma nota. Em comparação com 2019, registou-se uma descida de 20,5 por cento, salientou.

Dos 12.390 processos, “6.804 são inquéritos e denúncias, o que representa uma subida de 52,2 por cento face a 2022, também uma subida de 7,1 por cento em relação a 2019”. Em 2023, 2.516 indivíduos foram encaminhados para os órgãos judiciais, de acordo com o documento “Trabalho da PJ – instauração de processos, trabalhos de execução da lei e policiamento de proximidade em 2023”.

“Face às alterações da situação criminal, a PJ (…) com foco no melhoramento das acções em resposta ao aumento dos riscos da criminalidade transfronteiriça, o reforço do combate aos crimes relacionados com o jogo e o aprofundamento multidimensional do trabalho anti-burla, lançou muitas medidas de prevenção e controlo e conquistou alguns resultados, conseguiu-se assim salvaguardar a segurança da comunidade e proteger os direitos e interesses da população”, destacou no comunicado.

31 Jan 2024

Suicídio | Recorde anual batido em 2023 com 88 mortes

Nos últimos três meses do ano passado, 26 pessoas suicidaram-se em Macau, encerrando um ano que superou as piores estatísticas da última década. O Governo destaca entre as principais causas doenças mentais, doenças crónicas ou fisiológicas e problemas financeiros

 

Os Serviços de Saúde (SS) anunciaram ontem um dos mais trágicos capítulos estatísticos do território. No ano passado, 88 pessoas suicidaram-se em Macau, total que representa um aumento anual de 10 por cento em relação a 2022, que já tinha sido um ano dos mais mortais dos últimos 10 anos.

Entre Outubro e Dezembro do ano passado, tomaram a sua própria vida em Macau 20 pessoas do sexo masculino e seis do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 20 e os 85 anos. Os SS acrescentam que entre as 26 pessoas que se suicidaram no último trimestre de 2023, cinco não tinham estatuto de residente.

Quando comparado com 2021, o ano passado registou um aumento de suicídios de 46 por cento, e um aumento de 31 por cento face ao total de suicídios registados em 2019. Analisando os dados de 2023 trimestralmente, os últimos três meses foram os mais trágicos, com 26 suicídios, seguido do segundo trimestre quando se registaram 24 suicídios.

“Segundo a análise dos dados, neste trimestre (o último de 2023), as possíveis causas do suicídio são principalmente resultantes de doenças mentais, doenças crónicas ou fisiológicas e problemas de jogo ou financeiros”, indicaram ontem os SS. Além disso, o Governo acrescenta que “as causas do suicídio são complexas e frequentemente envolvem doenças mentais, factores psicológicos, socioeconómicos, familiares, de relações humanas e factores genéticos biológicos”.

Os mais próximos

Durante a sessão de respostas a questões dos deputados durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa, no passado dia 15 de Novembro, o Chefe do Executivo lamentou o aumento dos suicídios em Macau e relativizou a situação traçando uma comparação com outros países. “Os casos de suicídio são infelizes e o Governo sente tristeza face a eles. (…) A taxa média anual é de nove casos por cada 100 mil pessoas e nós estamos com uma taxa um pouco superior, pois em 2022 a taxa foi de 10,5 casos por cada 100 mil e em 2021 de 7,8. Nos Estados Unidos a taxa é de 14,5 casos por cada 100 mil pessoas e no Canadá é uma média de 10,5 casos por cada 100 mil. A taxa de Macau é elevada, mas nesses países a população é maior”, declarou Ho Iat Seng.

Face à gravidade da situação, o Governo apela à prevenção e empatia da população. “Para reduzir a incidência de suicídio, os residentes devem contactar, comunicar e preocupar-se mais com as pessoas que estão ao seu redor, com as suas vidas diárias e incentivar aquelas que estão com problemas emocionais a procurar activamente ajuda profissional”, referem os SS.

Todos aqueles que estejam emocionalmente angustiados ou considerem que se encontram numa situação de desespero devem ligar para a Linha Aberta “Esperança de vida da Caritas” através do telefone n.º 28525222 de forma a obter serviços de aconselhamento emocional.

31 Jan 2024

Burla | “Polícia de Fujian” leva 2 milhões de HKD

Um homem foi burlado em 2,2 milhões de dólares de Hong Kong (HKD) depois de ter acreditado que estava a ser contactado pelas autoridades do Interior. O caso foi revelado pela Polícia Judiciária ontem e citado pelo jornal Ou Mun.

Os primeiros contactos com o homem foram feitos em Dezembro do ano passado, quando a vítima recebeu uma chamada de alguém que se apresentou como empregado da China Mobile. Nessa conversa, o burlado fpoi informado de que tinham sido detectadas várias chamadas fraudulentas com origem no seu telemóvel.

Face a essa informação, o falso empregado da China Mobile encaminhou a chamada outra pessoa, que se apresentou como parte da polícia de Fujian. Esta segunda pessoa disse à vítima que estava em curso uma investigação e que era necessário depositar dinheiro em contas bancárias do Interior e de Hong Kong, para que a origem dos fundos fosse verificada.

Sem suspeitar de que estava a ser burlado, o homem foi fazendo várias transferências até chegar à quantia de 2,2 milhões de dólares de Hong Kong. Além disso, a vítima tinha ainda de ligar à “polícia de Fujian” todos os dias para declarar o seu paradeiro, o que também fez.

Sem mais dinheiro, o homem recusou continuar com as transferências bancárias. Foi também nessa altura falou com amigos sobre o caso, e lhe foi indicado que possivelmente tinha caído num esquema de burla. O homem ainda tentou voltou a ligar alegadamente para Fujian, mas como não conseguiu estabelecer o contacto acabou por apresentar queixa junto das autoridades.

31 Jan 2024

Caso Obras Públicas | TUI recusa pedido de habeas corpus de William Kuan

A defesa de William Kuan entende que o empresário está preso ilegalmente, mas o Tribunal de Última Instância tem uma leitura diferente. Os fundamentos da decisão não são conhecidos

 

O Tribunal de Última Instância (TUI) recusou um pedido de habeas corpus interposto pela defesa de William Kuan, empresário envolvido no caso que também tem como arguido o ex-director das Obras Públicas Li Canfeng. A informação consta do portal do TUI, onde se pode ler que a decisão foi tomada na passada sexta-feira.

O habeas corpus é um instrumento jurídico utilizado para libertar uma pessoa que se encontra a cumprir uma pena de prisão ilegal ou quando esta se encontra detida ilegalmente. No caso da prisão ilegal, o pedido é motivado por três situações: quando a prisão é efectuada ou ordenada por uma entidade sem poderes para tal, quando a prisão resulta de um facto que não tem como consequência pena de prisão, ou quando a pessoa é detida além dos prazos fixados pela lei ou por decisão judicial.

No caso da detenção ilegal, o pedido pode ser apresentado em quatro situações: quando é excedido o prazo para a entrega ao poder judicial da pessoa, quando a detenção acontece fora dos locais legalmente permitidos, quando a detenção é executada por uma autoridade sem poder, ou quando a prisão é feita devido a um facto para o qual não está prevista a detenção.

O portal do TUI apenas indica que foi “declarada extinta a instância”, sem que tenha sido colocado online o acórdão com os fundamentos que levaram à recusa do pedido.

À espera

No julgamento do Tribunal Judicial de Base, William Kuan tinha sido condenado com uma pena efectiva de 18 anos, por um crime de sociedade secreta, três crimes de corrupção activa e três crimes de branqueamento de capitais.

Contudo, mais tarde, foi absolvido pelo Tribunal de Segunda Instância de um crime de sociedade secreta e de um crime de branqueamento de capitas. Mesmo assim, não deixou de ser condenado por três crimes e corrupção activa, e dois crimes de branqueamentos de capitais, o que resultou numa pena de cinco anos e seis meses de prisão.

Neste momento, William Kuan ainda aguarda o desfecho de parte da acusação no que diz respeito ao crime de sociedade secreta, uma vez que o Ministério Público (MP) recorreu para o TUI, para que garantir a condenação por este crime. Ainda não há uma decisão final.

No âmbito deste processo, os ex-directores das Obra Públicas, Li Canfeng e Jaime Carion foram condenados com penas de 24 e 20 anos, respectivamente. Apenas Li Canfeng apresentou recurso da primeira condenação, com a pena a ser reduzida para 12 anos de prisão efectiva, uma vez que caíram crimes como o de sociedade secreta. Também neste caso, aguarda-se o desfecho do recurso do MP que foi assinado por Ip Son Sang.

31 Jan 2024

DST | Turistas estrangeiros com viagens grátis de Hong Kong para Macau

A partir de 1 de Fevereiro, o Governo vai lançar a “oferta de bilhetes de autocarro directo e de barco gratuitos de Hong Kong para Macau, destinada a visitantes internacionais que visitam Hong Kong”, anunciou ontem a Direcção dos Serviços de Turismo (DST). A campanha contará com a parceria óbvia das empresas de transporte de passageiros de autocarro e de barco entre as duas regiões.

A medida tem como objectivo “alargar as fontes de visitantes e promover o turismo e a economia”, indica a DST. A campanha é limitada apenas à viagem no sentido Hong Kong para Macau e, devido ao limite no número de ofertas, os bilhetes são processados por ordem de chegada.

As promoções têm duração diferente consoante o transporte usado. O serviço de autocarro gratuito irá funcionar de 1 de Fevereiro a 31 de Agosto deste ano. Para tal, é preciso mostrar o documento de viagem e cartão de embarque para obter o bilhete gratuito no terminal de transferências SkyPier do Aeroporto Internacional de Hong Kong. Quanto aos ferries, a promoção estará activa entre 1 de Fevereiro a 31 de Julho deste ano.

31 Jan 2024

Hengqin | Escola quer abrir mais uma turma de ensino infantil

Iao Tun Ieong, director-geral da Escola de Hengqin Anexa à Escola Hou Kong (Para Filhos dos Residentes de Macau), confirmou ontem que foi feito um pedido à Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude para a abertura de mais uma turma de ensino infantil de nível 1 na Ilha da Montanha. Segundo o jornal Ou Mun, o pedido foi justificado com o grande número de inscrições.

Iao Tun Ieong também apontou que a escola poderá abrir já no ano lectivo de 2024/2025, que começa em Setembro, e que a escola já está a receber inscrições de alunos até ao segundo ano do ensino primário. Cada nível de ensino deverá ter uma turma com um máximo de 35 crianças.

O director da instituição adiantou também que são necessários mais docentes de Macau, do Interior da China ou mesmo de países e regiões do exterior, pois a escola pretende ter uma abrangência internacional. Contudo, os professores do Interior da China irão constituir a maioria do corpo docente.

O também director da Escola Secundária Hou Kong prevê que seja necessária uma preparação entre um e dois anos para que a escola comece a aceitar inscrições de ensino secundário para o ano lectivo de 2026/2027.

31 Jan 2024

Táxis | Aumentos podem entrar em vigor no Ano Novo Lunar

Pela primeira vez em sete anos, a DSAT prepara-se para aumentar as tarifas de táxi. Associações de profissionais do sector pediam a actualização de preços ainda antes da pandemia para atenuar o impacto dos custos crescentes de operação

 

O Ano Novo Lunar pode trazer uma subida de preços para quem anda de táxi, a primeira dos últimos setes anos. A informação foi adiantada por um grupo de representantes de taxistas ao jornal Ou Mun, com base numa resposta da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), face às reivindicações do sector.

Segundo as informações adiantadas pela DSAT ao sector, o preço da bandeirada deve subir das actuais 19 patacas para 21 patacas. Também a cobrança das distâncias vai aumentar, com o preço a passar de duas patacas por cada 220 metros percorridos, em vez dos actuais 240 metros.

Os preços mais caros abrangem igualmente os tempos de espera quando o táxi está parado por indicação do passageiro ou durante o percurso, com a cobrança a ser feita por cada 55 segundos, face aos actuais 60 segundos.

As taxas adicionais, tal como a deslocação entre as Ilhas ou nas paragens perto dos portos fronteiriços, vão ser igualmente aumentadas, embora não tenha sido adiantado o valor em causa. Os representantes do sector afirmaram ao jornal Ou Mun que embora a proposta seja medíocre, é aceitável porque permite aliviar os custos de funcionamento.

Os mesmos grupos queixaram-se ainda que nos últimos sete anos todos os custos ficaram mais caros, como os combustíveis, ou o preço de novas viaturas. Sobre os novos veículos foi indicado que enquanto há sete anos era possível comprar um carro de 100 mil patacas, que agora custa pelo menos 300 mil patacas. No capítulo dos combustíveis, foi indicado que o preço da gasolina aumentou para cerca de 12 patacas por litro face às 8 patacas por litro cobradas há sete anos.

Exigências de 2019

Os aumentos são uma exigência que vem de 2019, quando um grupo empresas de taxistas, que incluem a Associação Geral dos Comerciantes de Trânsito e de Transporte de Macau, a Associação dos Comerciantes e Operários de Automóveis de Macau, a Federação de Motoristas de Táxi Profissional, a Associação Geral dos Proprietários de Táxis e a Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau S.A., começou a pressionar as autoridades para implementar uma nova tabela de preços.

Na altura, a DSAT não respondeu ao pedido e a questão deixou de ser discutida devido à pandemia da covid-19. A proposta das empresas de táxis defendia um preço inicial de 22 patacas para os primeiros 1500 metros, face às anteriores 19 patacas para os primeiros 1600 metros. A proposta de 2019 também sugeria que a cobrança de duas patacas para cada 220 metros, assim como o aumento de tarifas adicionais durante os feriados.

31 Jan 2024

PIB | Riqueza de Hengqin não conta para Macau

O director dos Serviços de Estatística e Censos, Vong Sin Man, revelou de acordo com o modelo actual, a riqueza gerada na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin não é contabilizada no Produto Interno Bruto (PIB) de Macau. A informação consta de uma resposta a uma interpelação escrita do deputado Lei Chan U, ligado à Federação das Associações do Operários de Macau.

O responsável explicou que o cálculo do PIB segue os “critérios internacionais previstos”, ou seja, respeita o princípio da territorialidade. Todavia, Vong Sin Man garante que mantém a comunicação com os responsáveis da Zona de Cooperação Aprofundada para melhorar a recolha de dados sobre a riqueza gerada pelas empresas na Ilha da Montanha com sede em Macau. Estes dados, explicou Vong, podem ser contabilizados para o Rendimento Nacional Bruto (RNB) de Macau e permitem à sociedade conhecer “o fluxo das receitas entre Macau e a Zona de Cooperação Aprofundada”.

A questão tinha sido levantada pelo deputado, depois de anteriormente, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, ter proposto ao Governo Central que os investimentos das empresas registadas em Macau na Zona de Cooperação Aprofundada fossem integrados no PIB da RAEM.

31 Jan 2024

Balança comercial | Défice cresce quase dois mil milhões

O défice da balança comercial, em 2023, foi de 128,11 mil milhões de patacas, o que constitui um aumento de 1,82 mil milhões de patacas face ao ano de 2022, quando o défice se cifrou nos 126,29 mil milhões de patacas. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que o comércio externo de mercadorias foi, no ano passado, de 154,78 mil milhões de patacas, um crescimento de 0,9 por cento face ao montante de 153,33 mil milhões de patacas registados em 2022.

No ano passado, o valor exportado de mercadorias foi de 13,34 mil milhões de patacas, uma quebra de 1,3 por cento face a 2022, enquanto as importações se situaram nas 141,44 mil milhões de patacas, mais 1,2 por cento em termos anuais.

As exportações de Macau para o Interior da China foram de 975 milhões de patacas, enquanto para Hong Kong foram de 9,53 mil milhões de patacas, uma quebra de 25,5 e 7,5 por cento, respectivamente. Macau exportou apenas produtos no valor de 151 milhões de patacas para a União Europeia, menos 8,8 por cento em relação a 2022.

Destaque para o facto de o valor de mercadorias exportadas para os países que pertencem à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” ter sido de 772 milhões de patacas, mais 47,8 por cento.

31 Jan 2024

Encontro | Governo aposta na cooperação com Universidade de Nanjing

A aposta do Executivo de Macau nas quatro indústrias estratégicas designadas para diversificar a economia foi um dos pontos centrais do encontro entre Ho Iat Seng e o secretário do Partido Comunista da Universidade de Nanjing

 

O Chefe do Executivo recebeu na segunda-feira na Sede do Governo uma comitiva de dirigentes da Universidade de Nanjing, liderada por Tan Tieniu, membro da Academia Chinesa de Ciências e secretário do Partido Comunista da Universidade de Nanjing. Como não poderia deixar de ser, o ensino e a formação de quadros qualificados foram os principais tópicos da reunião, com particular destaque para as quatro áreas estratégicas para diversificar a economia da RAEM.

Ho Iat Seng sublinhou que “a Universidade de Nanjing é uma instituição de excelência do País e com uma longa história, cujo intercâmbio com as instituições de ensino superior de Macau vem de longa data”. O líder do Governo local salientou o papel da instituição na “formação, ao longo dos anos, de quadros qualificados em diversas vertentes para Macau”.

O Chefe do Executivo reafirmou que o seu Governo está a procurar promover as quatro indústrias principais, entre elas, o desenvolvimento da tecnologia de ponta e finanças modernas”, sectores que “necessitam do suporte de mais talentos”, indicou o líder do Governo.

Périplo universitário

A cooperação académica foi outro dos assuntos na agenda, com Ho Iat Seng a vincar a importância de “promover projectos de investigação científica em áreas mais alargadas com a Universidade de Macau e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau”. Além disso, o Executivo da RAEM sugeriu o reforço do intercâmbio e cooperação na formação de funcionários públicos e na protecção ambiental.

Por sua vez, Tan Tieniu, também membro do Comité Permanente do 14.º Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, afirmou ter visitado várias instituições locais de ensino superior, constatando “as mudanças e o progresso de Macau”.

O responsável do PCC realçou que as quatro indústrias abrangidas pela política 1+4, traçada por Pequim, “são todas indústrias competitivas no futuro”. Nesse sentido, garantiu que a universidade “irá intensificar a cooperação com Macau nos domínios da inovação científica e tecnológica, big data, indústria financeira e neutralidade carbónica, no sentido de formar mais talentos para a RAEM”.

31 Jan 2024

Psicologia | Factores socioculturais na China podem “ocultar” traumas

Um estudo psicológico realizado por três investigadores de Macau, Hong Kong e Estados Unidos concluiu que factores socioculturais podem dificultar diagnósticos de perturbação dissociativa da identidade em pacientes chineses. O trabalho refere que as perturbações dissociativas são muitas vezes confundidas com depressões ou estados de ansiedade

 

Diagnosticar casos de perturbação dissociativa da identidade (DID) em pacientes chineses pode tornar-se num desafio para psicólogos e psiquiatras, mas não é impossível. No entanto, cabe aos terapeutas “navegar as nuances culturais, desafiando simultaneamente as inconsistências culturais” da comunidade chinesa para analisar estes casos, tendo em conta que muitos pacientes chineses “tendem a reprimir emoções e consideram inapropriado mergulhar na própria psique e nos próprios sentimentos”.

Esta é uma das ideias principais do estudo “Working with Chinese trauma survivors with dissociation: Lessons from two cases in Macao” [Trabalhando com sobreviventes chineses de trauma com dissociação: Lições de dois casos em Macau], da autoria de Im Wai Lao, que tem mais de dez anos de experiência em Macau, Robert Grant e Hong Wang Fung. O artigo científico foi publicado em Novembro no European Journal of Trauma & Dissociation. O trabalho foi feito com base em casos clínicos com pacientes chineses que apresentaram sintomas como ansiedade ou depressão, sendo que alguns tentaram mesmo o suicídio. Em todos, os terapeutas perceberam que a resposta estava nas vivências familiares e da infância, embora tenha sido um processo demorado, pois era difícil aos pacientes verbalizar o que sentiam e buscar a origem dos sentimentos.

Segundo o estudo, a dissociação “refere-se a falhas no processo de integração das próprias experiências psicofisiológicas, tais como memórias, emoções e identidades”, sendo que quando resulta de trauma está “intimamente relacionada com experiências interpessoais adversas, especialmente durante a infância”. Contudo, até à data, não era muito explorada “a forma como as normas e valores socioculturais tradicionais podem estar associados à dissociação”.

O estudo conclui que a “dissociação relacionada com o trauma existe na comunidade chinesa, embora possa estar escondida por detrás de outros problemas”. Os académicos consideram que “os factores culturais chineses podem reforçar a utilização da dissociação como forma desadaptativa de lidar com a situação, porque a expressão emocional não é valorizada e porque a harmonia interpessoal é enfatizada, mesmo quando existem relações tóxicas e/ou abusivas”.

Segundo os autores, tal deve-se às diferenças entre a cultura chinesa e a ocidental. “Na cultura ocidental moderna defende-se a individualidade”, enquanto a cultura chinesa “enfatiza não só os papéis sociais e a harmonia nas relações interpessoais, mas também os sintomas físicos e os comportamentos externos”. Tal faz com que, na hora de se sentar na cadeira do psiquiatra, o paciente chinês tenha mais dificuldade em verbalizar o que sente e procurar a verdadeira origem do sofrimento mental.

Tempestade de emoções

Um dos casos citados pelo estudo é o de ‘CL’, designação atribuída a uma mulher chinesa de 32 anos, administrativa, da classe média, que há quatro anos vive e trabalha em Macau. A mulher sofreu “um colapso emocional súbito, sem qualquer razão óbvia que pudesse ser identificada” depois da passagem do tufão Hato por Macau, em 2017, que gerou uma vaga de destruição e dez mortos. Depois da tempestade, a mulher começou “a sentir insónias intermitentes e tornou-se excessivamente sensível a trovoadas, acordando durante a noite, aterrorizada, tendo dificuldade em voltar a adormecer”.

Depois do colapso seguiu-se o registo de “sintomas depressivos, incluindo pensamentos suicidas, e sintomas somáticos como fadiga extrema, dores musculares, falta de ar e agravamento da insónia”. Os sintomas agravaram-se aquando da passagem por Macau do tufão Mangkhut. Em plena pandemia, em 2020, “CL” passou a ter ataques de pânico, pesadelos e fortes dores de estômago.

Os autores descrevem que “CL” foi “criada no seio de uma família com graves carências emocionais e o seu contexto cultural acentuou os graves problemas de identidade causados pela forma como os pais se relacionavam com ela”. O terapeuta percebeu que, da parte da mãe, “faltaram cuidados, aliada a uma enorme crítica”, enquanto do pai houve “ausência e o distanciamento afetivo”, com impactos na auto-estima da paciente, cenário que “provavelmente contribuiu para a sua patologia dissociativa”.

Contudo, “a tendência para a somatização entre os chineses dificultou a exploração do interior de ‘CL’ pelo terapeuta para fazer um diagnóstico”. De frisar que só três meses depois do início da terapia se começou a verificar “uma abertura significativa na amnésia de ‘CL'”. Foram precisas 14 sessões de terapia para que a paciente reconhecer a fúria com a sua a mãe a tratava, momento que virou a página na terapia levando ‘CL’ a falar mais abertamente das memórias com a progenitora.

Metas físicas

Tendo em conta este caso clínico, os autores do estudo referem que “muitos chineses não têm consciência emocional e tendem a expressar os seus sentimentos através de sintomas físicos, como dores de cabeça e de estômago”. Este panorama explica-se pelo facto de, na cultural tradicional chinesa, as emoções serem consideradas “culturalmente irrelevantes”, pelo que “o reconhecimento das dificuldades emocionais é muitas vezes visto como um sinal de fraqueza ou inutilidade”.

Na relação entre pais e filhos, “as filhas são desencorajadas a fazer quaisquer comentários negativos sobre as mães, independentemente da verdade, uma vez que é considerado pouco filial, o que tem um peso significativo para muitos chineses”.

O estudo relata ainda o caso de ‘K’, uma mulher que nasceu numa família com dificuldades, em que só o pai trabalhava como operário, o que a obrigava a cuidar dos irmãos e a ter, desde cedo, vários trabalhos a tempo parcial. A busca pela terapia fez-se quando o seu casamento começou a ruir, originando pensamentos suicidas logo após o nascimento do primeiro filho. O casamento não melhorou depois do nascimento da segunda filha, com o marido a não se responsabilizar pelas contas da família, o que levou ‘K’ a sentir-se “perplexa, exausta e desamparada”.

Neste caso, o terapeuta revela não ter tido sequer “um pequeno espaço para entrar” no ambiente emotivo da paciente, pois ‘K’ não conseguiu verbalizar o que sentia. Segundo o estudo, tal explica-se pelo facto de, “na cultura chinesa, as crianças serem normalmente impedidas de falar ou perguntar, sendo-lhes exigido silêncio e submissão, especialmente as raparigas, uma vez que são consideradas inferiores ou mesmo sem valor aos olhos de muitos pais chineses”.

Descreve-se ainda que, na comunidade chinesa, dá-se uma “ênfase significativa a certos marcos em idades específicas, como o casamento e ter filhos, particularmente para as mulheres”. ‘K’ procurou ajuda psicológica “devido ao seu casamento conturbado”, sendo que, “durante anos, foi ela que teve de pagar a maior parte das contas e de tratar de todas as tarefas domésticas”.

Os autores apontam ainda que estas experiências “estão profundamente ligadas aos valores e abordagens chinesas para lidar com questões emocionais e psicológicas”. Nestes casos, dá-se “prioridade à resistência em detrimento dos sentimentos pessoais”, para “tentar melhorar situações difíceis e evitar quebrar, apesar da dor, do sofrimento e dos sintomas associados”. O divórcio, por exemplo, “é considerado um fracasso cultural para as mulheres na sociedade chinesa, onde uma mulher divorciada é vista como uma ‘esposa abandonada'”.

Assim, os autores do estudo concluem que “algumas normas socioculturais podem contribuir para o desenvolvimento e manutenção de sintomas dissociativos”, embora assumam a necessidade de realizar “mais estudos empíricos”. No trabalho do terapeuta, recomenda-se que este, para detectar casos de DID, deve “ter em consideração os factores culturais” do paciente e “ser culturalmente sensível”, além de “colectar informações do paciente sobre as experiências da primeira infância, incluindo antecedentes familiares e interacção com os pais”.

Lê-se ainda que o respeito pela hierarquia, na sociedade chinesa, é mais importante do que um olhar sobre si mesmo e a individualidade, além de que “a cultura chinesa coloca frequentemente uma maior ênfase na adaptação a papéis ligados ao contexto”.

Descrevem os autores que, nas famílias chinesas, “a hierarquia implica que se espera que os indivíduos ouçam e se submetam aos mais velhos, ao mesmo tempo que compreendem como interagir com cada membro da família de uma forma distinta, a fim de manter a harmonia externa”.

Com base nos casos descritos, refere-se que ‘CL’ e ‘K’ sofreram “traumas de vinculação e apresentaram sintomas de perturbação dissociativa”, pois ‘CL’ não se recordava “de ter sido amarrada e expulsa de casa pela mãe”, enquanto ‘K’ não tinha memória “de ter sido abusada sexualmente pelo avô”.

Ambas as mulheres “sofreram confusão de identidade, lutando constantemente para se definirem e sentindo a dor de não terem crenças e valores morais consistentes”. Além disso, “ambas revelaram despersonalizações, sentindo-se emocional e fisicamente desligadas”.

Os autores defendem ainda que seja feita “mais investigação sobre a forma como factores ou valores socioculturais específicos, por exemplo, a piedade filial ou preferência pelos rapazes em detrimento das raparigas, possam estar associados a problemas de saúde mental, incluindo a dissociação”.

31 Jan 2024

Pena de morte

No passado dia 25, foi usado pela primeira vez nos Estados Unidos nitrogénio na execução de um prisioneiro condenado à morte. Ao mesmo tempo, um prisioneiro foi executado no Japão e essa execução foi relatada pelo carrasco. Neste artigo faremos uma reflexão sobre a pena de morte.

No Alabama, um prisioneiro que tinha assassinado uma mulher a troco de 1.000 dólares foi condenado à pena de morte, através da administração de uma injecção intra-venosa, um procedimento inovador. A execução teve lugar em 2022, mas o procedimento correu mal e o prisioneiro, mesmo tendo recebido várias injecções não morreu. O homem posteriormente processou o estado do Alabama, alegando que tinha sido sujeito a um trauma muito grave. A repetição do procedimento violaria a Oitava Emenda da Constituição dos EUA e seria considerado tratamento cruel e invulgar. No Tribunal de Primeira Instância o prisioneiro perdeu o caso. Seguidamente, apelou para o Tribunal Federal, mas o Governo estatal ignorou o recurso e manteve a decisão. Finalmente, minutos antes da execução, o perdão foi recusado e a sentença acabou por ser aplicada.

Neste caso, existem vários aspectos dignos de atenção. Primeiro, devemos reflectir sobre a decisão do Governo estatal. A execução de prisioneiros é a implementação da decisão do tribunal e um acto em defesa da justiça, o que merece respeito. Este respeito decorre do cumprimento, por parte do Governo estatal, da decisão do tribunal e está em consonância com o espírito do Estado de direito. No entanto, antes de o juiz que ia analisar o recurso ter tido oportunidade de se pronunciar, o Governo estatal optou por dar seguimento à execução, ignorando claramente a lei. Pensemos sobre isto, se o Tribunal tivesse decidido a favor do prisioneiro, a execução teria de ser adiada, de acordo com a lei, mas como o Governo estatal não esperou pela decisão do tribunal ele não teve essa oportunidade. Perguntemo-nos, este Governo estatal rege-se pela lei? Obedece ao princípio do Estado de Direito? Que consequências podem ter estas acções? Embora neste caso, a decisão do tribunal não viesse a alterar a decisão, a actuação do Governo estatal ao ignorar a lei não deixa de ser condenável. Se não houver melhoramentos, a credibilidade deste Governo ficará prejudicada de futuro.

Segundo, da primeira vez, o insucesso da execução não foi culpa do prisioneiro. Para ele, o castigo já tinha sido aplicado. Assim, o Governo tem o poder de voltar a submetê-lo à mesma punição, não tendo ele cometido um novo crime? Independentemente da existência ou não de uma disposição legal, fazê-lo passar uma segunda vez pelo processo de execução é uma questão altamente controversa. Ora vejamos, se alguém é condenado à pena de morte, a condenação obedece ao princípio “um crime, um castigo”. Depois da primeira tentativa, o prisioneiro foi submetido a um processo muito doloroso, mas teve sorte e não morreu. Mas se tiver de passar outra vez pelo mesmo procedimento, estamos perante um caso de “múltiplos castigos para um crime” o que não é justo. Mas se não for executado, também é injusto para os familiares da pessoa que ele matou, porque efectivamente da primeira vez a pena de morte não foi aplicada.

Este assunto divide a opinião pública e os dois pontos de vista são incompatíveis. Só podemos esperar que a bondade e o perdão possam com o tempo reduzir a controvérsia.

Terceiro, o Governo estatal tinha optado por um método de execução inovador, a utilização de nitrogénio, usado pela primeira vez para este fim nos Estados Unidos. Primeiro, o condenado é colocado num colete de forças e é-lhe aplicada uma máscara por onde é injectado o gás. Sem oxigénio, morre rapidamente por asfixia. As pessoas que assistiram a esta execução afirmaram que o homem lutou desesperadamente, espumando da boca e que tentou sem sucesso libertar-se da máscara. Agonizou durante 22 minutos.

Há certos princípios que devem ser seguidos na execução da pena de morte. Os condenados à pena máxima merecem-na porque cometeram crimes graves. No entanto, o processo de execução não deve ser excessivamente doloroso. Após ser condenado, a execução dever ser efectuada o mais rapidamente possível. O cumprimento destas condições releva respeito pelos prisioneiros e é também uma demonstração de humanidade.

Existem muitas formas de executar a pena de morte. O método mais comum é a administração de uma injecção letal. As drogas injectadas têm um efeito hipnótico e fazem parar o coração, pelo que a morte ocorre durante o sono. Desta forma, os condenados morrem pacificamente. O homem que sobreviveu à primeira tentativa de execução recebeu a injecção letal, mas possivelmente porque as drogas não estavam bem doseadas não morreu.

Outro método bastante usado, é a cadeira eléctrica, no qual a morte é provocada por vários choques de alta voltagem. Como as pessoas têm condições físicas diferentes e uma resistência diferente à electricidade, não é raro alguns condenados sobreviverem a este método. Existe ainda o pelotão de fuzilamento. Este método também não é doloroso. Desde que as balas atinjam o coração o prisioneiro morre pacificamente. Seja qual for o método aplicado, deve ser assegurado que o executado não passa por um processo muito doloroso. Se existir uma primeira tentativa de execução falhada, levanta-se necessariamente a questão da justiça de uma segunda tentativa.

Este artigo focou-se na questão de fazer passar um prisioneiro duas vezes por um processo de execução, mas sabemos qual é que é a atitude das pessoas quando têm de encarar a pena de morte? Como é que os executores se sentem quando têm de aplicar a pena? O artigo da próxima semana vai analisar estas questões a partir de casos de pena de morte no Japão.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola de Ciências de Gestão Universidade Politécnica de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

30 Jan 2024

FRC | Exposição de poesia e cultura de Xue Rongxuan a partir de hoje

A Fundação Rui Cunha (FRC) apresenta hoje, às 18h30, a exposição “A Poesia e Cultura Chinesa de Xue Rongxuan”, tratando-se de uma homenagem póstuma ao mestre calígrafo e poeta também conhecido pelo pseudónimo ‘Lau Pi’ (陋筆 ou caneta ruim), recentemente desaparecido em finais de 2023.

Este artista participou, nos últimos anos, em exposições colectivas e conferências promovidas pela FRC, com co-organização da Associação de Poesia dos Amigos do Jardim da Flora.

A exposição reúne um conjunto de cerca de 40 obras de caligrafia e poesia, representativas do percurso literário e da experiência artística ao longo da vida de Xue Rongxuan. De acordo com os Amigos do Jardim da Flora, ele “não era apenas um estudioso versátil e muito eloquente, tinha também grande talento para citar as escrituras e criar belas frases, especialmente em dísticos, o que o tornou notável no campo da literatura e da poesia”.

Segundo os Amigos do Jardim da Flora, Xue Rongxuan “nunca poupou esforços para promover a cultura tradicional chinesa, e usou os seus anos de experiência pessoal a pesquisar e a elevar o conhecimento das elites da cultura chinesa”.

A FRC descreve ainda que Xue Rongxuan sempre foi “modesto quanto às suas capacidades de escrita”, sendo uma “pessoa de pensamento rápido, um indivíduo com extensa sabedoria”. Além disso, respeitava muito a cultura chinesa e tinha um “profundo conhecimento da sua história, língua, geografia e tradições, bem como de poesia, canções antigas e dísticos”. A mostra vai estar patente até ao dia 17 de Fevereiro.

30 Jan 2024

Cinemateca Paixão | As películas escolhidas para “Encantos de Fevereiro”

O mês de Fevereiro é o mais curto do ano e é também o momento de celebrar o Ano Novo Chinês. Os amantes de cinema podem passar esta quadra festiva de olhos postos no ecrã da Travessa da Paixão: o cartaz escolhido pela Cinemateca traz, a partir desta sexta-feira, “Old Fox” e “Stonewalling”. Destaque ainda para os filmes da secção “Nova Força Chinesa” para ver nos próximos dias

 

A Cinemateca Paixão prepara-se para apresentar um cartaz em Fevereiro com duas películas asiáticas. Com a secção “Encantos de Fevereiro” a chegar à sala da Travessa da Paixão já a partir desta sexta-feira, os amantes do cinema mais independente podem ver “Old Fox”, uma produção de Taiwan, do realizador Hou Hsiao-Hsien, e ainda “Stonewalling”, um filme sino-japonês.

“Old Fox”, de 2023, conta a história de Liao Jie que, com 11 anos, e no ano de 1989, participa num esquema de poupança com o pai para que juntos possam comprar uma casa dentro de três anos. Mas com o mundo em constante mudança, e com os preços dos imóveis a disparar, rapidamente percebem que as poupanças conseguidas nos últimos anos não são suficientes.

Percebendo pertencer a uma família pobre, Liao Jie começa a olhar para o seu senhorio, um homem a quem chamam “Velha Raposa”, com outros olhos, encarando-o como um modelo a seguir ao invés do próprio pai que nada consegue fazer para melhorar a sua vida.

Este filme integrou, no ano passado, o cartaz do Festival Internacional de Cinema de Tóquio, tendo obtido quatro prémios na 60.ª edição dos Golden Horse Awards [Prémios Cavalo de Ouro], de Taiwan. Este é o quarto filme de Hou Hsiao-Hsien.

Múltiplas personalidades

“Stonewalling”, uma produção sino-japonesa de 2022, será exibida nos dias 18 e 27 de Fevereiro e é outra das produções que também se destacou na última edição dos prémios de cinema de Taiwan, além de ter sido seleccionado nesse ano para a secção “Dias de Veneza” do Festival Internacional de Cinema de Veneza.

Com realização de Ryuki Otsuka e Huang Ji, este filme explora a vida de uma rapariga que, com 20 anos, assume várias vidas e personalidades. Com o seu nome verdadeiro, Lynn, é uma estudante universitária que subitamente descobre estar grávida. Já com o falso nome de “Rainy”, trabalha como promotora a tempo parcial para ajudar a mãe com as despesas, que se vê obrigada a indemnizar um paciente por negligência médica. Após dar à luz o bebé, com o nome de “Sílvia”, decide vender a criança para saldar essa dívida. O problema é que o parto acontece durante a pandemia de covid-19 e o namorado decide aparecer de repente, levando esta mulher com múltiplas personalidades a deparar-se com um novo problema.

Entretanto, nos próximos haverá ainda oportunidade de ver alguns filmes na secção “Nova Força Chinesa”, nomeadamente “Trouble Girl”, que, tendo a sessão de hoje já esgotada, regressa aos ecrãs a partir de sexta-feira e até ao dia 15. Este filme também se destacou na 60.ª edição dos Golden Horse Awards, uma vez que a actriz Audrey Lin obteve o prémio para a melhor actriz principal.

De Chin Chia-Hua, este filme relata a história de Xiao Xiao, que sofre de transtorno do défice de atenção com hiperactividade, de quem se afastam familiares e amigos. Só com o professor Paul é que Xiao Xiao parece encontrar compreensão, mas subitamente esta testemunha um segredo deste com a sua mãe, o que transforma o seu percurso emocional.

Por sua vez, “Love is a Gun” será exibido entre os dias 10 e 25 de Fevereiro. Há ainda a possibilidade de ver amanhã, 31, “Inside the Yellow Cocoon Shell”, exibido novamente dia 7 de Fevereiro, e “Anatomy of a Fall”, exibido pela última vez este sábado às 17h, e que venceu a “Palma de Ouro” no Festival de Cinema de Cannes de 2023.

Da secção “Clássicos Chineses” há ainda o filme, recentemente restaurado, “Yi Yi: A One and A Two”, do ano 2000, a ser exibido dia 10. Com este filme, Edward Yang, de Taiwan, venceu o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cinema de Cannes desse ano. Ainda da secção “Encantos de Janeiro” revela-se este sábado, às 20h, numa última sessão, “Evil Does Not Exist”.

30 Jan 2024

Filipinas | Marcos acusado de querer abolir limite de mandatos presidenciais

O ex-Presidente das Filipinas Rodrigo Duterte acusou o actual chefe de Estado de querer abolir o limite de mandatos presidenciais e avisou que Ferdinand Marcos Jr. poderá ser deposto como o pai, o falecido ditador Ferdinand Marcos. Num discurso no domingo à noite, Duterte alegou que os deputados apoiantes de Marcos estão a subornar autoridades locais para alterarem a Constituição de 1987 e remover o limite de mandatos presidenciais.

Actualmente, os presidentes das Filipinas só podem cumprir um mandato de seis anos. Membros da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do parlamento do país, têm discutido uma possível alteração da Constituição, que inclui várias salvaguardas para tentar prevenir novas ditaduras.

Mas o líder da Câmara, Martin Romualdez, primo de Ferdinand Marcos Jr., garantiu que a intenção é apenas rever a Constituição para remover as restrições ao investimento estrangeiro. Marcos disse estar aberto a alterar as disposições económicas, mas opõe-se à remoção de restrições à propriedade estrangeira de terras e outras indústrias consideradas críticas, como a comunicação social.

A Constituição de 1987 entrou em vigor um ano depois do ditador Ferdinand Marcos, acusado de pilhagem e atrocidades contra os direitos humanos, ter sido deposto por uma revolta popular apoiada pelo exército.

O discurso de Duterte, perante alguns milhares de apoiantes na região natal do político, em Davao, trouxe a público uma aparente fissura política com o sucessor, embora a filha, Sara Duterte, seja vice-Presidente de Marcos, na sequência de uma vitória eleitoral esmagadora em 2022.

30 Jan 2024