João Santos Filipe Manchete SociedadeComércio | Kevin Ho apela a regresso de ajudas ao consumo O empresário e presidente da Associação Industrial e Comercial de Macau considera que os negócios locais menos ligados ao turismo atravessam uma situação difícil e pede o regresso do cartão de consumo electrónico O empresário e presidente da Associação Industrial e Comercial de Macau, Kevin Ho, defende que o Governo deve lançar uma nova ronda de cartões de consumo, de forma a ajudar os negócios locais. A opinião foi partilhada ontem, num artigo publicado no Jornal Ou Mun. Por um lado, o empresário reconhece haver um aumento evidente no número de turistas no território, assim como das receitas de vários negócios, principalmente da indústria do jogo. Kevin Ho mostra-se igualmente confiante de que a situação vai continuar a melhorar a longo prazo, em comparação com os anos da pandemia, e que a economia local “vai reflectir de forma compreensiva” essa melhoria. No entanto, o presidente da Associação Industrial e Comercial de Macau alerta também que os bairros mais afastados das zonas turísticas estão a viver um cenário diferente. Segundo o relato do empresário, a situação para estes negócios “não é boa”. Kevin Ho explica que o problema destes negócios se prende com dois aspectos. Em primeiro lugar, estão situados em zonas da cidade que não são suficientemente atractivas para os visitantes e para quem está mais aberto a gastar. O segundo problema, relaciona-se com as políticas de facilitação de circulação para o Interior e Hong Kong. Com as viaturas locais a poderem circular em Cantão, são cada vez mais os residentes que consomem no Interior, o que tem afectado negativamente os negócios locais. A abertura das fronteiras ao exterior também faz com que parte do consumo local vá para fora. Mais uma ronda Face a este cenário, e apesar de reconhecer que o Governo distribuiu vários apoios às empresas nos últimos anos, Kevin Ho defende que deve ser lançado mais uma ronda do cartão de consumo electrónico. Este foi um programa criado durante a covid-19, no qual o Governo atribuía subsídios para os residentes utilizarem nas lojas de comércio local. O programa conheceu várias rondas, e houve alturas em que o valor chegou a ser de 8 mil patacas. Kevin Ho argumentou também que entre os apoios disponibilizados pelo Executivo às empresas, que também passaram por empréstimos sem juros, os vales de consumo foram os mais eficazes. Por isso, o sobrinho de Edmund Ho acredita que o Executivo devia lançar mais uma ronda. O pedido do empresário não é novo e em 2023 vários deputados sugeriram uma medida semelhante. No entanto, este tipo de políticas tem estado afastado da agenda política recente e não está previsto no Orçamento da RAEM para este ano. Em declarações ao Jornal Ou Mun, Kevin Ho abordou igualmente a expansão dos negócios locais para a Ilha de Montanha. Sobre este assunto, o empresário afirmou existir uma postura cautelosa. No entanto, garantiu que assim que o mercado de Hengqin começar a ganhar uma dinâmica maior não haverá dificuldade em atrair os negócios locais.
Hoje Macau China / Ásia MancheteEuropa | Xi Jinping prepara visita para reconstruir confiança – analistas A possível deslocação à Europa do Presidente chinês, Xi Jinping, é vista como um passo na reconstrução da confiança bilateral, segundo observadores, numa altura em que ambos os lados tentam manter o diálogo apesar das fricções geopolíticas. O anúncio feito na quarta-feira pelo Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, de que Xi vai visitar Belgrado, constituiu a primeira indicação de que o líder chinês se vai deslocar à Europa este ano, após meses de especulação, embora Pequim não a tenha confirmado. Espera-se que Xi visite também a França, depois ter aceitado o convite do homólogo francês, Emmanuel Macron, que visitou a China o ano passado. Se a viagem for confirmada, será a primeira deslocação de Xi à Europa desde que retomou a diplomacia presencial, após a pandemia da covid-19. Citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, Ding Yifan, especialista em assuntos europeus do Centro de Investigação para o Desenvolvimento do Conselho de Estado chinês, afirmou que a viagem é uma oportunidade para China e Europa reduzirem “percepções erróneas”. “A imprensa chinesa descreve a Europa como uma seguidora dos EUA. A imprensa europeia descreve a China como apoiante da Rússia [na guerra na Ucrânia]”, afirmou. “Os dois lados estão presos em tensões e não confiam um no outro”, observou. Os países europeus desconfiam dos laços entre Pequim e Moscovo e estão sob pressão de Washington para se juntarem aos esforços dos EUA para limitar o acesso da China a materiais e tecnologias críticas. A União Europeia (UE) acusa também a China de concorrência desleal, apontando o ‘deficit’ de 400 mil milhões de euros no comércio com o país asiático. Velha amizade Em Outubro passado, a UE lançou uma investigação sobre fabricantes chineses de veículos eléctricos devido a subvenções estatais. No mês passado, Pequim lançou um inquérito ‘antidumping’ sobre as importações de brandy francês. Pequim e Bruxelas realizaram vários intercâmbios de alto nível desde a reabertura da China após a pandemia. O chanceler alemão, Olaf Scholz, visitou a China, em Novembro de 2022, e planeia nova visita em Abril. Os líderes da UE, Ursula von der Leyen e Charles Michel, bem como Macron, visitaram também a China no ano passado. Sebastian Contin Trillo-Figueroa, analista no Instituto Global da Ásia da Universidade de Hong Kong, afirmou que a cimeira EU – China, realizada em Pequim, em Dezembro passado, marcou uma “mudança significativa das perspectivas mútuas”. “Ambas as partes procuraram aprofundar a compreensão mútua e envidaram esforços para evitar conflitos”, afirmou Trillo-Figueroa. O analista acrescentou que, embora a China esteja a tentar reavivar a diplomacia presencial com a Europa, a escolha da Sérvia como primeiro país a visitar seria uma “mensagem estratégica”. “A selecção da Sérvia para esta primeira visita é uma declaração diplomática ousada”, afirmou. A China tem há muito tempo fortes laços com a Sérvia. Pequim não reconheceu o Kosovo – que declarou a sua independência da Sérvia em 2008 – como um país. Belgrado também manteve laços próximos com Moscovo durante a guerra na Ucrânia, frustrando muitas nações europeias. Ding afirmou que a França deve ser um dos destinos do possível périplo de Xi pela Europa, uma vez que este ano se assinala o 60.º aniversário das relações bilaterais. Macron há muito defende a “autonomia estratégica” da Europa e exorta o continente a não se tornar um “vassalo” dos Estados Unidos nem se deixar apanhar pela escalada de tensões entre Pequim e Washington. A China tem repetido frequentemente esta ideia, instando a Europa a aderir a este princípio no meio de complexidades geopolíticas. Victor Gao, vice-presidente do Centro para a China e a Globalização, com sede em Pequim, afirmou que Xi deve voltar a fazer o mesmo apelo. “A China está muito disposta a concentrar-se na cooperação económica e tecnológica, mas não a envolver-se em [confrontos] ideológicos”, afirmou.
João Santos Filipe PolíticaGrande Baían | Ho Ion Sang quer reconhecimento mútuo para docentes O deputado Ho Ion Sang defende que o Governo deve criar um sistema de reconhecimento de qualificações que poderá facilitar a circulação de professores entre o Interior e Macau. A proposta faz parte de uma interpelação escrita que foi revelada ontem pelo gabinete do deputado eleito pela via indirecta, pelo sector da educação. No documento, o deputado ligado aos Moradores de Macau defende uma maior aposta na formação dos professores locais, nomeadamente com viagens ao Interior. Neste sentido, considera que os professores locais devem conseguir ensinar na Grande Baía e propõe que os professores do Interior também possam vir para as escolas locais. “Como é que as autoridades podem fazer uma melhor utilização dos recursos da Grande Baía, para promover o intercâmbio de professores e implementar um sistema de reconhecimento mútuo das qualificações profissionais entre os professores da Grande Baía, para desenvolver a profissão de forma sustentada?”, questiona Ho Ion Sang. O deputado defendeu também que o Governo deve garantir melhores oportunidades de formação frequente, para que os professores possam actualizar as suas valências. Por isso, questionou o Executivo se há planos para lançar mais formações. “Só quando assegurarmos que os professores podem melhorar a sua qualidade profissional é que a dignidade e o estatuto social dos professores podem ser mantidos”, defendeu. “A melhoria da qualidade dos professores é a chave do sucesso ou do fracasso da reforma educativa”, vincou.
João Luz Manchete PolíticaEnsino | Coutinho pede alívio da carga horária de professores Horários de trabalho que não terminam e se estendem para o fim-de-semana, tarefas que vão muito além do ensino e a necessidade de estar permanentemente contactável, são factores de sobrecarga dos professores. Pereira Coutinho pediu ao Governo medidas concretas para dignificar a profissão e melhorar a qualidade do ensino Um dia depois de ter trazido o tema da sobrecarga de trabalho dos docentes das escolas particulares do ensino não superior no hemiciclo, o deputado Pereira Coutinho divulgou ontem uma interpelação escrita a pedir ao Governo que intervenha com medidas que dignifiquem e valorizem o papel dos professores. “A dignificação, respeito e valorização do trabalho dos docentes das escolas particulares do ensino não superior é o primeiro passo para garantir uma educação de qualidade aos alunos”, começa por vincar o deputado, revelando ter recebido no gabinete de atendimento um grupo de docentes. Segundo Pereira Coutinho, os professores queixam-se de ser “obrigados a executar trabalhos puramente administrativos, recreativos ou trabalhos de contabilidade cujas funções não constam dos conteúdos funcionais e dos seus deveres profissionais”. Além de desempenharem funções muito além das tarefas pedagógicas, estes trabalhos extra não se materializam no “pagamento das respectivas horas extraordinárias”. Acrescentando à carga horária que afasta os docentes, por exemplo, de actividades de formação, estes acabam por levar os trabalhos escolares para casa. Situação que acrescenta entre duas a cinco horas diárias à “mais de uma dezena de horas por dia nas respectivas escolas”. Telemóvel em chamas O somatório de problemas não se esgota aqui. Com um horário sobrecarregado e trabalho “exportado” para casa, “pouco tempo resta para poderem descansar e estarem com a família”, aponta o deputado, acrescentando que é exigido aos professores que se mantenham contactáveis com o telemóvel ligado o dia inteiro. Segundo Coutinho, os professores queixam-se de que o trabalho também sofre com o “elevado número de horas diárias e semanais dedicadas a interagir e responder às mensagens nos telemóveis provenientes dos alunos e encarregados de educação”. A formação também sofre, transformando a necessidade de “concluir as 90 horas em actividades de desenvolvimento profissional” numa missão impossível. “Não podemos esquecer que estes professores do ensino básico desempenham um papel fundamental quer nos ensinamentos quer no desenvolvimento pessoal, emocional e social dos alunos destinados à construção uma base sólida de conhecimentos e de autoconfiança”, recorda o deputado. Face a este cenário, Pereira Coutinho reitera o pedido para que o Governo atente ao excesso de trabalho extra-curricular dos docentes e à necessidade de terem tempo suficiente para descansar e ter uma vida além do trabalho.
Sérgio Fonseca DesportoGP Macau | FIA não mexe no formato da Taça do Mundo O Conselho Mundial de Automobilismo da Federação Internacional do Automóvel (FIA) confirmou no final da tarde de quarta-feira a continuidade de Macau como o palco de mais uma edição da Taça do Mundo de GT da FIA, a competição de “sprint” mais importante da popular categoria de carros GT3. Numa comunicação esperada, visto que em 2023 a FIA e a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau assinaram um contrato de três anos, o órgão federativo referiu: “A sétima edição da Taça do Mundo de GT da FIA terá lugar no Circuito da Guia, de 12 a 17 de Novembro, no âmbito do Grande Prémio de Macau de 2024”. Com a presença de várias equipas e pilotos de fábrica, a edição passada da Taça do Mundo foi ganha pelo italiano Rafaelle Marciello em Mercedes-AMG GT3. O sucesso da prova fez com que a FIA apostasse nos mesmos moldes para este ano. Os regulamentos desportivos e técnicos da competição também foram aprovados, e o formato mantém-se inalterado, com duas sessões de treinos de 30 minutos seguidas de uma única qualificação com a mesma duração. A entrega deste prestigiado troféu “será realizada em duas corridas, com uma corrida de qualificação de 12 voltas seguida de uma corrida principal de 16 voltas para decidir o título”. Diz também o comunicado que pelo segundo ano consecutivo, “a Taça do Mundo de GT da FIA irá utilizar combustível sustentável fornecido pela ETS Racing Fuels”. O Conselho Mundial também confirmou a Corrida da Guia como a prova de encerramento do campeonato FIA TCR World Tour. Por outro lado, não houve qualquer menção à prova de Fórmula 3 no comunicado difundido pela FIA à imprensa.
Jorge Rodrigues Simão PerspectivasO Ocidente está a perder a guerra? “Much of our planet is dominated by tyrants, and even in the most liberal countries many citizens suffer from poverty, violence and oppression. But at least we know what we need to do in order to overcome these problems: give people more liberty. We need to protect human rights, to grant everybody the vote, to establish free markets, and to let individuals, ideas and goods move throughout the world as easily as possible.” 21 Lessons For The 21st Century Yuval Noah Harari Trata-se de uma questão complexa e multifacetada que tem implicações de grande alcance para a política, segurança e equilíbrio de poderes globais. Ao longo da história, o Ocidente tem sido uma força dominante na definição dos acontecimentos mundiais, mas as tendências recentes sugerem uma mudança na dinâmica do poder que levanta questões sobre o futuro da influência ocidental. O Ocidente, muitas vezes referido como os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), é desde há muito uma força dominante nos assuntos mundiais. Desde a era colonial até à Guerra Fria, as potências ocidentais têm desempenhado um papel central na definição da política, da economia e da segurança internacional. Durante o período colonial, as potências europeias estabeleceram impérios em todo o mundo, explorando recursos e exercendo controlo sobre vastos territórios. Este legado imperial lançou as bases para o domínio ocidental na era moderna, uma vez que os países europeus ganharam influência económica, militar e política à escala global. A Revolução Industrial do século XIX solidificou ainda mais o poder ocidental, uma vez que países como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha se tornaram potências económicas e militares. As duas guerras mundiais reformularam a ordem internacional e reforçaram o domínio das potências ocidentais. Os Estados Unidos emergiram como uma superpotência após a II Guerra Mundial, liderando o Ocidente na luta contra o comunismo durante a Guerra Fria. O colapso da União Soviética em 1991 parecia solidificar a hegemonia ocidental, com os Estados Unidos como líder incontestado do mundo livre. No entanto, a era pós-Guerra Fria trouxe novos desafios ao Ocidente, uma vez que potências emergentes como a China, a Rússia e a Índia se ergueram para desafiar o domínio ocidental. A globalização, os avanços tecnológicos e as mudanças na dinâmica geopolítica têm vindo a minar a posição do Ocidente como líder inquestionável da comunidade internacional. Esta situação tem levado muitos observadores a questionar se o Ocidente está a perder a guerra pela influência global no século XXI. Vários acontecimentos importantes moldaram a actual narrativa sobre o declínio do Ocidente. A crise financeira mundial de 2008 expôs as vulnerabilidades das economias ocidentais e pôs em evidência o crescente poder económico dos mercados emergentes. A ascensão de movimentos populistas nos países ocidentais, o Brexit no Reino Unido e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, reflectiu uma insatisfação crescente com as elites e instituições políticas tradicionais. As guerras no Iraque e no Afeganistão sublinharam os limites do poder militar ocidental e os desafios da construção de nações em regiões complexas e voláteis. As revoltas da primavera Árabe no Médio Oriente e no Norte de África puseram em evidência a fragilidade dos regimes apoiados pelo Ocidente e os limites da influência ocidental na região. A crise dos refugiados na Europa tem vindo a afectar a unidade do Ocidente e a expor as divisões entre os países europeus quanto à forma de lidar com o afluxo de migrantes. A ascensão de líderes autoritários como Vladimir Putin, na Rússia, pôs em causa os valores ocidentais da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito. O ressurgimento do nacionalismo, do proteccionismo e do sentimento anti-globalização nos países ocidentais suscitou preocupações quanto ao futuro da ordem internacional liberal que o Ocidente tem defendido desde a II Guerra Mundial. Várias personalidades desempenharam um papel importante na definição da mensagem do declínio do Ocidente como Barack Obama, enquanto primeiro Presidente afro-americano dos Estados Unidos, que procurou restaurar a imagem da América no estrangeiro e reafirmar a liderança americana no mundo. No entanto, a sua administração enfrentou desafios no Médio Oriente, na Rússia e na Ásia que puseram em evidência os limites do poder americano. Angela Merkel, enquanto Chanceler da Alemanha, emergiu como uma líder fundamental na Europa durante as crises dos refugiados e da dívida da zona euro. A sua abordagem pragmática da governação e o seu compromisso com os valores democráticos liberais contrastaram com a ascensão de líderes populistas noutros países ocidentais. No entanto, a sua decisão de abrir as fronteiras da Alemanha aos refugiados provocou uma reacção negativa dos partidos de direita e dos grupos anti-imigração. Emmanuel Macron, enquanto Presidente de França, posicionou-se como um defensor da democracia liberal e da unidade europeia. Os seus esforços para reformar a União Europeia e reforçar a cooperação entre os países ocidentais têm enfrentado a resistência das forças nacionalistas e dos movimentos eurocépticos. A visão de Macron de uma Europa mais integrada e coesa tem sido testada por desafios actuais como o Brexit e a ascensão de partidos populistas, em quem 32 por cento dos eleitores votaram até 2023, e desses, metade votou em países da extrema-direita (o mesmo acontecerá a 10 de Março em Portugal onde segundo as sondagens o “Chega” leva já 16 por cento de intenções de voto). A percepção do declínio do Ocidente tem tido implicações de grande alcance para a política, segurança e equilíbrio de poderes a nível mundial. Na esfera económica, a ascensão da China como grande potência económica tem desafiado o domínio ocidental no comércio, no investimento e na tecnologia. As empresas chinesas como a Huawei, a Alibaba e a Tencent emergiram como líderes mundiais nas telecomunicações, no comércio electrónico e na inteligência artificial, constituindo uma ameaça competitiva para as empresas ocidentais. No domínio militar, a Rússia tem exercido a sua influência na Europa Oriental, no Médio Oriente e no Árctico, desafiando as garantias de segurança da OTAN e minando a unidade ocidental. A interferência russa nas eleições americanas de 2016, os ciberataques e as campanhas de desinformação suscitaram preocupações quanto à vulnerabilidade das democracias ocidentais à influência estrangeira. O comportamento assertivo da China no Mar do Sul da China, em África e na América Latina levantou questões sobre o futuro das alianças de segurança lideradas pelos Estados Unidos na região da Ásia-Pacífico. Na arena diplomática, a percepção do declínio do Ocidente tem vindo a afectar as relações transatlânticas e a enfraquecer a solidariedade ocidental em questões fundamentais como as alterações climáticas, a proliferação nuclear e os direitos humanos. A política externa “America First” da administração Trump alienou os aliados tradicionais na Europa, Ásia e América Latina, lançando dúvidas sobre a durabilidade das alianças ocidentais e a credibilidade da liderança ocidental. No domínio cultural, a ascensão do populismo, do nacionalismo e da xenofobia nos países ocidentais pôs em causa os valores da tolerância, da diversidade e da inclusão que têm sido fundamentais para a identidade ocidental. O sentimento anti-imigrante, os crimes de ódio e a polarização política corroeram a coesão social e alimentaram a agitação social em países como a Alemanha, a França e os Estados Unidos. A ascensão de grupos extremistas como o ISIS, a Al-Qaeda e as organizações de supremacia branca constituiu uma ameaça à segurança das sociedades ocidentais e testou a resiliência das instituições ocidentais. Diversas personalidades influentes contribuíram para o campo da percepção do declínio do Ocidente. Thomas Piketty, um economista francês, escreveu extensivamente sobre a desigualdade de rendimentos, a concentração de riqueza e a mobilidade social nos países ocidentais. O seu livro “Capital in the Twenty-First Century” desencadeou um debate global sobre a desigualdade económica e o papel do governo na resolução das disparidades sociais. Yuval Noah Harari, um historiador israelita, explorou o impacto da tecnologia, da inteligência artificial e da biotecnologia na sociedade humana nos seus livros “Sapiens: A Brief History of Humankind “, “Homo Deus” e “21 Lessons For The 21st Century”. As ideias de Harari sobre o futuro do trabalho, da guerra e do poder desafiaram a sabedoria convencional e suscitaram debates sobre as implicações do avanço tecnológico para o Ocidente e o resto do mundo. Greta Thunberg, uma ativista ambiental sueca, tem mobilizado jovens de todo o mundo para exigir acções em matéria de alterações climáticas e sustentabilidade ambiental. O seu movimento “Fridays for Future” inspirou milhões de jovens a saírem à rua e a apelarem à acção dos governos para resolver a crise climática. Os discursos de Thunberg nas Nações Unidas, em Davos e noutros fóruns internacionais chamaram a atenção para a urgência do desafio climático e para a necessidade de uma acção colectiva para proteger o planeta. A percepção do declínio do Ocidente é uma questão complexa e contestada que tem suscitado debates entre decisores políticos, académicos e cidadãos. Alguns defendem que o Ocidente está a perder a guerra pela influência global devido à ascensão de potências como a China, a Rússia e a Índia, que desafiam a hegemonia ocidental em termos económicos, militares e diplomáticos. Outros defendem que os valores ocidentais da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito são duradouros e podem resistir às pressões externas de regimes autoritários e movimentos populistas. O aumento do nacionalismo, do proteccionismo e do sentimento anti-globalização nos países ocidentais levantou questões sobre o futuro da ordem internacional liberal que o Ocidente tem defendido desde a II Guerra Mundial. A erosão da confiança nas instituições, o declínio da coesão social e a polarização do discurso político enfraqueceram as democracias ocidentais e expuseram as vulnerabilidades à manipulação e interferência externas. A pandemia da COVID-19, a guerra da Ucrânia e na Faixa de Gaza pôs ainda mais em evidência a fragilidade dos governos e sociedades ocidentais e a necessidade de uma acção colectiva para enfrentar os desafios globais. Olhando para o futuro do Ocidente e o seu papel no mundo dependerão da forma como os países ocidentais responderem às pressões internas e externas, se adaptarem à evolução da dinâmica geopolítica e defenderem os seus valores de democracia, direitos humanos e Estado de direito. O reforço das alianças, a promoção da inovação económica, a resolução das desigualdades sociais e o investimento na educação e nas infra-estruturas serão fundamentais para revitalizar o poder e a influência do Ocidente no século XXI. O Ocidente pode estar a perder a guerra pela influência global, mas não é demasiado tarde para inverter a maré e criar um mundo mais inclusivo, sustentável e pacífico para as gerações futuras.
João Santos Filipe PolíticaGoverno subsidia projectos de turismo marítimo Ao longo deste ano, as autoridades de Macau prevêem subsidiar cinco projectos relacionados com o turismo marítimo no território. A revelação foi feita por Maria Helena de Senna Fernandes, na resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei. Segundo a directora dos Serviços de Turismo, de forma a promover a diversificação do turismo, no âmbito do programa “Turismo Marítimo Diversões na Orla Costeira”, vão ser atribuídos cinco subsídios a “actividades” que permitem experimentar viagens ao longo da costa do território. As empresas apoiadas e os montantes em causa não foram adiantados na resposta à deputada, no entanto, no futuro o número de entidades apoiadas pode ser alargado. As explicações da directora indicam também que este subsídio serve para “encorajar as diferentes a organizações a utilizares as águas marítimas e a costa de Macau como uma forma de promover actividades de lazer mais diversificadas”, “aumentar o valor do turismo costeiro” e “desenvolver a economia do turismo costeiro”. A aposta actual no turismo marítimo passa igualmente pela cooperação regional, com as autoridades a indicarem a criação no ano passado dos passeios turísticos de barco entre Macau e a Ilha de Guishan, em Zhuhai. O número de ligações realizadas no âmbito deste projecto não foi adiantado. Facilidades para iates Como promoção do turismo marítimo, a estratégia passa igualmente por receber mais iates em Macau. Neste sentido, e numa aposta muito virada para a Grande Baía, foi indicado que as embarcações que não estão registadas em Macau podem agora tratar dos procedimentos de autorização de entrada e saída online, de forma a facilitar o processo. A resposta da responsável pelo turismo aborda ainda a situação das ligações marítimas entre Barra e o Cais de Coloane. Segundo a responsável, numa altura em que ainda não havia dados oficiais para Janeiro, estava previsto que se realizassem 170 viagens de ida e volta entre os dois destinos. Parte destas viagens serão realizadas pela empresa Macau Cruise, operada pela Shun Tak, de Pansy Ho, que cobra cerca de 60 dólares de Hong Kong pelos bilhetes vendidos online. Este foi um serviço que esteve suspenso durante grande parte dos últimos anos devido à pandemia da covid-19, mas segundo a directora dos Serviços de Turismo depois de ter recomeçado a operar em Agosto de 2023 atraiu mais de 5 mil pessoas, até ao final de Dezembro.
João Luz Eventos MancheteCasa Garden acolhe Rota das Letras entre os dias 8 e 17 de Março O Festival Literário de Macau Rota das Letras vai regressar à programação cultural da região durante Primavera, depois da mudança forcada para o Outono durante os anos da pandemia. Entre os dias 8 e 17 de Março, a Casa Garden vai acolher a 13.ª edição do festival que irá celebrar a obra poética de Li Bai e de Luís de Camões. Entre os convidados, o chinês Dong Xi, vencedor do 11.º Prémio Mao Dun de Literatura, e o norte-americano Chang-era Lee, finalista do Prémio Pulitzer, são os nomes mais marcantes. Num evento com espaço também para a evocação dos 50 Anos do 25 de Abril, o escritor e jornalista João Céu e Silva, o artista Fido Nesti e a guitarrista Marta Pereira da Costa estão entre os representantes do mundo lusófono. “Sempre entendemos que é em Março que faz mais sentido a realização do Festival Literário de Macau, por ser uma época do ano com menor sobrecarga de eventos. Daí que, à primeira oportunidade, e depois de várias edições realizadas nos meses de Outubro e Novembro, por força da pandemia, tenhamos decidido fazê-lo regressar à sua data original”, diz Ricardo Pinto, director do Rota das Letras. Cinco meses após a última edição, o festival volta a celebrar os 500 anos do nascimento de Luís de Camões. Desta feita, a Casa Garden, com a gruta do poeta bem próxima, vai receber a visita de Kenneth David Jackson, professor da Universidade de Yale e autor de vários estudos camonianos. O ilustrador brasileiro Fido Nesti evocará também a obra de Camões, através da sua adaptação d’ Os Lusíadas para crianças. Lugar à poesia Além do épico poeta português, a 13.ª edição do Rota das Letras terá como destaque outro nome grande da poesia universal na abertura do evento. A vida e a obra de Li Bai são o tema de uma exposição de fotografia de Xu Peiwu, artista chinês que ao longo da última década percorreu os mesmos caminhos por onde andou o poeta há́ mais de mil anos, registando as paisagens que o inspiraram na sua errância por vastas e dispersas regiões da China. São imagens “de uma enorme beleza e densidade, que nos permitem contemplar uma China despida e cativante”, afirma João Miguel Barros, curador da exposição. Na sessão inaugural, a editora Livros do Meio, de Carlos Morais José, fará nova apresentação do livro ‘Li Bai – A Via do Imortal’, de António Izidro. A evocação do 50.º aniversário da Revolução do 25 de Abril será também evocada nos primeiros dias do festival. João Céu e Silva apresenta ao público de Macau a sua obra ‘O General que começou o 25 de Abril dois meses antes dos Capitães’ – a história nunca contada de como o General António Spínola fez cair o regime.
João Santos Filipe Manchete PolíticaAterro-Lixeira | Governo volta a defender o projecto junto às praias Descartando as críticas contra o projecto que pode pôr em causa a existência dos golfinhos brancos chineses na região, a Direcção de Serviços de Protecção Ambiental afirma que a situação de acumulação do lixo da construção é “grave”. O Executivo indicou ainda que está a concluir a sustentação favorável ao aterro-lixeira, para depois ser aprovada pelo Governo Central A Direcção de Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) defendeu a necessidade de construir um aterro-lixeira em frente às praias do território, por considerar que o espaço actual para colocar os resíduos da construção está a esgotar-se. Apesar de ser um espaço de acumulação de resíduos, o Governo tem optado por denominar o projecto de “Ilha Ecológica”. “O único Aterro para Resíduos de Materiais de Construção (ARMC) em Macau, em funcionamento desde 2006, está próximo do ponto de saturação desde 2013” começou por ser indicado. “Nele apenas se pode proceder a um tratamento por empilhamento vertical dos resíduos de materiais de construção recebidos, portanto, tem-se mantido um estado de alto risco ao longo de muitos anos e a situação é grave”, foi acrescentado. Face ao cenário traçado, o Executivo só apresenta como solução a criação de um aterro: “Face à saturação do actual Aterro, revela-se necessário procurar um novo aterro para tratar os demais resíduos de materiais de construção que não podem ser utilizados para efeito do aterro”, foi sustentado. A DSPA explicou igualmente que a criação do aterro foi indicada pelas autoridades centrais, através da equipa de especialistas da Comissão Nacional para a Redução de Desastres, que elaborou o Plano Decenal de Prevenção e Redução de Desastres em Macau (2019-2028). No entanto, a localização resultou de um estudo encomendado a uma “instituição de investigação científica”, que não surge identificada. Contudo, a DSPA garante que o polémico aterro, que vai ficar situada à frente das praias de Hac Sá e Cheoc Van vai ser construído em “harmonia com a protecção ambiental” e que vai ser essencial para “assegurar o desenvolvimento sustentável” da RAEM. Opiniões contra Apesar de o Governo ter explicado várias vezes que o projecto partiu de uma sugestão das autoridades centrais, o plano está longe de ser consensual em Macau. Em causa, está o facto de o aterro afectar uma das áreas onde ainda é possível conviver com a natureza em Macau, nomeadamente nas praias e trilhos de Coloane, mas também por ameaçar a rota dos golfinhos brancos chineses, um símbolo da fauna desta região da China, cada vez mais ameaçado. Na semana passada, o grupo Green Students Union, liderado por Joe Chan, entregou na sede do Executivo uma petição com mais de 1.600 assinaturas contra a localização do aterro. Houve igualmente deputados, como Lo Choi In, que pediram ao Executivo que apresentasse alternativas, dado o impacto ambiental do aterro. Até os Moradores de Macau, força tradicionalmente pró-Pequim, intensificaram nas últimas semanas o número de interpelações a defender a necessidade de promover a defesa do ambiente, embora sem nunca mencionarem o projecto em concreto. Arquitectos locais, como André Lui, em declarações ao Canal Macau, deixaram também o apelo para que, em conjunto com as autoridades centrais, se tente encontrar uma alternativa no Interior para os resíduos de Macau. Apesar da contestação, o Governo parece determinado em avançar, e a DSPA indica que “estão em curso os diversos trabalhos de fundamentação respeitante ao projecto da Ilha Ecológica” e que quando forem terminados vão ser “submetidos ao Governo Central” que terá a última palavra.
Hoje Macau PolíticaDeputados pedem promoção da cultura chinesa nos países lusófonos Três deputados de Macau defenderam ontem a promoção da cultura chinesa no estrangeiro e o reforço do intercâmbio entre a China e os países de língua portuguesa através do território. O Governo “deve reforçar o papel de Macau como base relevante para divulgar a cultura chinesa no mundo e contar a ‘boa’ história de Macau e da China”, defendeu o deputado Kou Kam Fai, numa intervenção em conjunto com os deputados Wu Chou Kit e Pang Chuan, antes da reunião plenária da Assembleia Legislativa de Macau. As Linhas de Acção Governativa para 2024 propõem o alargamento do intercâmbio cultural com os países estrangeiros. “O Governo da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] deve continuar a incentivar os jovens estudantes de Macau e as diferentes organizações a lançarem um vasto leque de actividades de intercâmbio cultural com o exterior, e a apoiar os projectos culturais e os grupos de artes performativas de Macau a irem para o estrangeiro para intercâmbios”, sugeriu o deputado. Dragão internacional O legislador referiu que, durante o Ano Novo Lunar deste ano, o Governo organizou a participação de estudantes de Macau na celebração do Ano Novo Lunar em Portugal. Além disso, a Embaixada da China no Brasil também convidou uma escola secundária de Macau a enviar um grupo de dança para participar na celebração do Ano Novo Lunar. “O nosso país tem aproveitado plenamente as estratégias e as vias de cooperação internacional, como a iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’, e tem aproveitado o Ano Novo Lunar e outras festividades culturais importantes para reforçar a divulgação da cultura chinesa no estrangeiro”, indicou. Macau “deve aproveitar estas oportunidades para desenvolver as suas vantagens, consolidar o seu papel de plataforma e ponte entre a China e os Países de Língua Portuguesa, explorar e encontrar os amplos mercados dos Países de Língua Portuguesa, promovendo deste modo um desenvolvimento diversificado e integrando activamente a conjuntura do desenvolvimento nacional”, de acordo com a intervenção dos três deputados nomeados pelo chefe do Executivo, Ho Iat Seng.
Hoje Macau PolíticaDirigente do Fórum Macau salienta “pico histórico” de trocas comerciais O volume de comércio entre a China e os Países de Língua Portuguesa atingiu no ano passado 220,9 mil milhões de dólares, registo que o secretário-geral do Fórum Macau, Ji Xianzheng, descreveu como “um novo pico histórico”. O reconhecimento do marco comercial foi indicado ontem no discurso antes do almoço de recepção oferecido aos órgãos de comunicação social pelo Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Ji Xianzheng afirmou que “as relações bilaterais entre a China e os Países de Língua Portuguesa desenvolvem-se de forma constante e crescente” e que o aumento das trocas comerciais “demonstra plenamente a resiliência e o potencial de desenvolvimento da cooperação económica e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. O dirigente não deixou passar ao lado a “retoma integral” no ano passado do intercâmbio presencial do Secretariado Permanente do Fórum de Macau, findas as restrições impostas pelas políticas de combate à pandemia da covid-19. Estar cara a cara Ao longo de 2023, o ano em que se comemoraram os 20 anos da fundação do Fórum Macau, o secretariado permanente recebeu cerca de 50 delegações económicas e comerciais do Interior da China e participou em 14 actividades de promoção económica e comercial. No regresso ao trabalho, Ji Xianzheng destacou nas actividades organizadas em 2023 “a Recepção Comemorativa, o Seminário de Alto Nível, 15.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, a Exposição Retrospectiva do Estabelecimento do Fórum de Macau – 20.º Aniversário e o apoio prestado à 1.ª Exposição Económica e Comercial China – Países de Língua Portuguesa”. Além da organização de eventos, o ano passado foi também marcado pelo recomeço de visitas, viagens a Pequim, Guangdong, Hubei, Fujian e outras províncias e cidades chinesas, assim como as primeiras visitas desde após a pandemia a Portugal, Brasil e Angola.
Hoje Macau China / ÁsiaIlhas Kinmen | Pequim exige explicação após morte de dois pescadores A China instou ontem Taiwan a explicar um incidente em que uma lancha chinesa entrou nas águas ao largo das ilhas Kinmen e dois dos seus quatro tripulantes morreram, no passado dia 14 de Fevereiro. A China criticou então as autoridades taiwanesas por terem tratado os pescadores chineses de forma “rude e perigosa”, embora Taipé tenha insistido que a sua guarda costeira actuou “de acordo com a lei”. “As medidas tomadas pelas autoridades de Taiwan feriram gravemente os sentimentos dos compatriotas de ambos os lados do Estreito de Taiwan. Desde que o incidente ocorreu, as autoridades do Partido Democrático Progressista (DPP) não pediram desculpa”, protestou Zhu Fenglian, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do governo chinês, em conferência de imprensa. O DPP lidera actualmente Taiwan. Segundo Zhu, o governo taiwanês “mentiu” e “escondeu a verdade”, “sem mostrar humanidade”. “Exigimos que as autoridades do DPP digam a verdade sobre o que aconteceu e dêem uma explicação às famílias das vítimas. O continente reserva-se o direito de tomar todas as medidas necessárias”, acrescentou. Na sequência do incidente, Taiwan declarou que cinco navios de vigilância chineses tinham entrado, na segunda-feira, nas águas proibidas ou restritas das ilhas Kinmen, um grupo de ilhas situadas a poucos quilómetros da cidade chinesa de Xiamen, no sudeste do país, onde vivem mais de 100.000 taiwaneses. A “zona interdita” em torno das Kinmen estende-se a meio caminho da costa chinesa a norte e nordeste, cerca de quatro quilómetros a leste e outros oito quilómetros a sul do arquipélago, mas a China não reconhece oficialmente a existência destas fronteiras. Para o bem comum Zhu justificou ontem também a decisão da China de alterar uma rota aérea civil paralela à linha média do Estreito de Taiwan, uma fronteira não oficial que foi tacitamente respeitada por Taipé e Pequim nas últimas décadas. Após o ajustamento, os aviões que voam ao longo da M503 ficarão mais próximos da linha média do estreito, a uma distância inferior a 10 quilómetros nos pontos mais próximos. “A rota optimizada está a funcionar normalmente há quase um mês. O ajustamento permitiu aumentar o número médio de voos diários para 65. Tem sido útil para rectificar as operações de aviação entre o Estreito e está a facilitar os intercâmbios. Trata-se de uma medida mutuamente benéfica”, defendeu.
João Luz Eventos MancheteCURB | Passeios nocturnos de bicicleta vão dar documentário A CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo vai organizar nos dias 8 e 9 de Março passeios nocturnos de bicicleta, uma rota citadina e outra costeira. Durante os passeios, acompanhados por comentários do arquitecto Nuno Soares, serão recolhidas imagens e sons para um documentário A CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo irá organizar nos dias 8 e 9 de Março, sexta-feira e sábado, a “On the move V: by night”, a quinta edição de passeios nocturnos de bicicleta, com dois passeios sobre rodas por noite. Na primeira edição deste ano da iniciativa sobre rodas, serão exploradas a zona do Porto Interior e o Centro Histórico de Macau. Além de proporcionar aos participantes uma perspectiva diferente e a oportunidade para explorar a cidade de noite, os passeios serão complementados com comentários, em inglês, do arquitecto e presidente da CURB Nuno Soares, que irá partilhar “tesouros escondidos, estórias esquecidas e locais secretos de Macau”. Durante os passeios, serão recolhidas imagens e sons que serão depois transformadas em vídeo-arte e documentário. O resultado será apresentado na Ponte 9 – Plataforma Criativa, na Rua das Lorchas, no dia 23 de Março às 18h30, perto da Praça de Ponte e Horta. O primeiro roteiro citadino arranca da Ponte 9 às 19h do dia 8 de Março e segue na direcção norte, passando pelo Patane rumo ao bairro San Kio, antes de regressar à Ponte 9 num passeio que deverá demorar cerca de uma hora. Depois da romaria a norte, o segundo passeio, designado como “Roteiro da Água”, começa onde a primeira rota terminou, ou seja, na Ponte 9. Por volta das 20h30 o pelotão segue para sul passando pela Praia do Manduco, Barra e Lago Sai Van, antes de regressar à Ponte 9. Mais uma vez, o passeio deverá ter a duração de uma hora. No dia seguinte, repetem-se os percursos, horários e duração. Os passeios estão limitados a 10 participantes. Dentro da razoabilidade A CURB refere que os participantes devem ter mais de 18 anos de idade e, naturalmente, saber andar de bicicleta, o resto estará a cargo da CURB. A CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo é uma instituição sem fins lucrativos estabelecida em Macau para promover a investigação, educação, produção e disseminação do conhecimento em arquitectura, urbanismo e cultura urbana. O Centro funciona como plataforma de intercâmbio entre o meio académico, sociedade civil, prática profissional e instituições governamentais, servindo os interesses da comunidade em geral através de estudos de investigação, workshops, conferências, exposições, concursos e outras iniciativas. A CURB é a organizadora da Open House Macau, a primeira na Ásia, e parceira associada da World Urban Campaign. O CURB trabalha também a nível regional – Macau, Grande Baía e China – e a nível internacional – particularmente na Ásia e nos países de língua portuguesa – levando as questões locais a uma audiência global como um think-tank para o futuro das cidades e da sua arquitectura.
João Santos Filipe SociedadeReserva Financeira | Rentabilidade anual de 5,2 por cento No ano passado, a reserva financeira gerou lucros de 28,98 mil milhões de patacas, o que representou uma rentabilidade anual 5,2 por cento. Os dados foram avançados ontem pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). Segundos os números oficiais no final de 2023, o valor dos capitais da Reserva Financeira foi de 580,47 mil milhões patacas, dos quais a reserva básica representava 152,06 mil milhões de patacas e a reserva extraordinária 428,41 mil milhões de patacas. Segundo a AMCM, estes números resultaram de uma “estratégia prudente”, “de forma a manter um controlo rigoroso dos riscos”, face ao que disse ser um mercado “assente em complexidades e mudanças constantes”. Como parte desta estratégia, houve uma “maior alocação dos activos nos instrumentos do mercado monetário e nos títulos de dívida” às custa do investimento “em acções cotadas”. Esta alteração da estratégia visou “assegurar a preservação do capital e aumentar os rendimentos dos activos”. Em relação a este ano, a AMCM espera vários desafios decorrentes do “fraco crescimento das principais economias”, “ausência de melhorias na crise geopolítica, bem como a probabilidade de o ritmo de redução das taxas de juro pelos principais bancos centrais ao longo do ano se desviar significativamente das expectativas do mercado”. A autoridades prometem assim uma política de investimento com base nos princípios de “segurança, eficácia e estabilidade”, e “no controlo” e “prevenção dos potenciais riscos de degradação na economia”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCaso Kong Chi | MP recorre da condenação a 17 anos de prisão Apesar da sentença pesada, o procurador-adjunto da RAEM foi absolvido do crime de associação criminosa e este poderá ser um dos aspectos que vai voltar a ser analisado pelos tribunais O Ministério Público (MP) apresentou recurso da decisão que condenou o procurador-adjunto da RAEM Kong Chi a 17 anos de prisão. No entanto, o recurso estará relacionado com a parte da decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI) que absolveu o arguido da prática do crime de associação criminosa. “O Ministério Público interpôs recurso dentro do prazo legal em relação à decisão de primeira instância mencionada”, foi respondido pelo organismo liderado por Ip Son Sang, numa resposta enviada ao HM. A 16 de Janeiro, Kong Chi foi condenado a uma pena de prisão de 17 anos, pela prática de 22 crimes de corrupção passiva para acto ilícito, 19 crimes de prevaricação, 7 crimes de violação de segredo de justiça, 3 crimes de abuso de poder, 1 crime de favorecimento pessoal e 1 crime de riqueza injustificada. O ponto que estará em causa no recurso do MP face à decisão em primeira instância do TSI será a absolvição pelo crime de associação criminosa. Inicialmente estava previsto que o prazo legal para a apresentação do recurso tivesse de acontecer até 5 de Fevereiro, mas o prazo foi prolongado dado que um dos arguidos trocou de advogado. Como consequência, o prazo foi alongado por mais 20 dias. Outros condenados Na correspondência com o HM, não foram comentados os fundamentos da decisão e se o recurso visa a absolvição da advogada Kuan Hoi Lon. Kuan estava acusada de participar na associação criminosa criada por Kong Chi, assim como os outros arguidos, o casal de empresários Choi Sao Ieng e Ng Wai Chu. No entanto, o TSI absolveu a advogada da prática de todos os crimes de que estava acusada e indicou que não havia provas de que a causídica mantivesse contactos com o procurador-adjunto da RAEM. Também na primeira decisão dos tribunais sobre o caso, a arguida Choi Sao Ieng foi condenada com uma pena de 14 anos de prisão, pela prática de 14 crimes de corrupção passiva para acto ilícito, 15 crimes de prevaricação, 6 crimes de segredo de justiça, 3 crimes de abuso de poder e 1 crime de favorecimento pessoal. Por sua vez, Ng Wai Chu, cônjuge de Choi Sao Ieng, foi condenado a 6 anos de prisão pela prática de 2 crimes de corrupção passiva para acto ilícito, 2 crimes de prevaricação, 2 crimes de violação do segredo de justiça, 2 crimes de abuso de poder e 1 crime de favorecimento pessoal. Com este recurso, o caso vai agora ser analisado pelo Tribunal de Última Instância. Caso o TUI considere que Kong Chi criou efectivamente uma associação criminosa, Kong será o segundo magistrado condenado por este crime desde a criação da RAEM. O primeiro magistrado condenado foi Ho Chio Meng, ex-Procurador, em 2017.
João Santos Filipe SociedadeGrande Prémio | Chan Chak Mo volta a integrar Comissão A secretária para os Assuntos Sociais e Cultural, Elsie Ao Ieong U, nomeou o deputado e empresário Chan Chak Mo como membro da Comissão do Grande Prémio deste ano. O despacho da nomeação foi publicado ontem no Boletim Oficial, produz efeitos até ao final do ano e Chan Chak Mo foi considerado pela secretária como uma das “individualidades de reconhecido mérito na área do turismo e do desporto de Macau”. Nos anos mais recentes, Chan Chak Mo tem integrado a Comissão do Grande Prémio, que por sua vez encomenda grandes quantidades de bolos secos à pastelaria Yeng Kee, controlada pelo deputado e empresário, através de empresa Future Bright. Estes bolos são anualmente distribuídos, através de duas caixas, aos membros da imprensa acreditados, mas também a outras pessoas acreditadas. Como parte da comissão coordenada por Pun Weng Kung, presidente do Instituto do Desporto, fazem ainda parte na condição de individualidades ligadas ao turismo e desporto Chong Coc Veng, ligado à Associação Geral de Automóvel de Macau-China, o empresário Chum Pak Tak, ligado à construção civil e sector do imobiliário, Henry Ho, ex-piloto, Cheang Peng Tai, hoteleiro e Chao Hio Tong.
João Luz Manchete SociedadeGalaxy | Dividendos voltam a ser distribuídos a accionistas A Galaxy anunciou ontem lucros ajustados de 2,8 mil milhões HKD no último trimestre de 2023, com resultados líquidos mais de três vezes superiores em termos anuais. A performance do grupo permitiu a retoma da distribuição de dividendos aos accionistas, sendo a primeira concessionária a fazê-lo desde que terminaram as restrições fronteiriças O Galaxy Entertainment Group apresentou ontem os resultados do quarto trimestre de 2023 indicando numa nota à bolsa de valores de Hong Kong. A concessionária conseguiu ao longo do ano passado lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA, em inglês) ao longo do ano passado de 9,96 mil milhões de dólares de Hong Kong (HKD), valor que contrasta com as perdas de 553 milhões de HKD de 2022. O presidente e fundador do grupo, Lui Che Woo, enalteceu os resultados “apesar da concorrência tanto em Macau como a nível regional e das questões geopolíticas e económicas que afectaram a confiança dos consumidores”. O homem forte da Galaxy destacou também a oportunidade de voltar a distribuir dividendos. “Somos a primeira concessionária de Macau a retomar os dividendos e a devolver capital aos accionistas após a reabertura da fronteira. Estes dividendos demonstram a nossa confiança contínua nas perspectivas a longo prazo de Macau e da empresa. O nosso sólido balanço e o fluxo de caixa das operações permitem-nos financiar o plano de desenvolvimento e prosseguir as nossas ambições de expansão internacional”, indicou Lui Che Woo. O grupo refere ter distribuído no final de Outubro um dividendo especial de 20 cêntimos de HKD por acção, e irá pagar 30 cêntimos por acção no dia 26 de Abril. A natureza dos números Nos últimos três meses do ano passado, as receitas líquidas do grupo Galaxy aumentaram 6,9 por cento em relação ao trimestre anterior, para 10,3 mil milhões de HKD, resultado que em termos anuais representa uma subida anual de 253,9 por cento. O quarto trimestre de 2023 foi também sinónimo de lucros EBITDA de cerca de 2,8 mil milhões de HKD, que se reflectiu numa subida trimestral de 1,4 por cento, e performance que dá a volta às perdas de cerca de 163 milhões de HKD no quarto trimestre de 2022. Em termos de receitas brutas, a Galaxy apurou nos últimos três meses de 2023 cerca de 9,24 mil milhões de HKD, uma subida de 5,7 por cento face ao trimestre anterior e um aumento de mais de 400 por cento face aos últimos três meses de 2022.
João Luz Manchete SociedadeCrime | Burlas pela Internet e telefone disparam 75,8% Os casos de burla e extorsão com recurso às telecomunicações e à Internet subiram 75,8 por cento em 2023, levando a perdas de 311 milhões de patacas. A criminalidade global aumentou mais de um terço no ano passado, violações quase que duplicaram, abusos sexuais de menores aumentaram 33 por cento e o número de sequestros foi quase sete vezes maior face a 2022 Confirmando a tendência que se vem acentuando desde a pandemia, quando a criminalidade passou para o online e para o telemóvel, o ano passado fechou com um aumento anual dos casos de burla e extorsão com recurso às telecomunicações e à Internet de 75,8 por cento face ao registo de 2022. De acordo com dados oficiais divulgados ontem pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, Macau registou 1.306 burlas cometidas através do telefone ou ‘online’ no ano passado, mais 735 casos do que em 2022. A maioria das burlas (894, mais 43,7 por cento) aconteceram com recurso à Internet, embora o maior aumento tenha ocorrido nas burlas através do telemóvel (412), que quase quadruplicaram. Num relatório que apresenta as estatísticas da criminalidade, a tutela da Segurança revelou que em 329 casos as vítimas revelaram a burlões os dados de cartões de crédito quando tentavam comprar bens ou serviços ‘online’, mais do dobro do registado em 2022. Wong Sio Chak sublinhou ainda que no ano passado 148 pessoas foram alvo de extorsão após terem partilhado fotos nuas em plataformas de mensagens na Internet, um aumento de 60,9 por cento. Nas estatísticas apresentadas ontem, destaque para a criminalidade violenta que cresceu 76,5 por cento. Neste capítulo, os sequestros tiveram um aumento significativo de 583,3 por cento, de seis casos em 2022 para 41 no ano passado, enquanto as violações quase duplicaram no espaço de um ano, de 21 em 2022 para 41 no ano passado. Em relação às violações, as autoridades acrescentaram que quase 80 por cento das vítimas não eram residentes de Macau e que a maioria dos casos aconteceu em quartos de hotel. Wong Sio Chak afirmou que não exclui a hipótese de estes crimes estarem relacionados com a prostituição. Também os casos de abusos sexuais de crianças aumentaram, 33,3 por cento em termos anuais, assim como os homicídios que passaram de um caso em 2022 para quatro em 2023. Aplicação segura As autoridades de Macau registaram um aumento de 37,6 por cento da criminalidade global em 2023, algo justificado com o aumento dos turistas, após o fim das restrições impostas no âmbito da política ‘zero covid’. Na conferência de imprensa de ontem, Wong Sio Chak revelou que a Polícia Judiciária (PJ) está a testar uma aplicação de combate à burla, que deverá ser lançada em Abril na rede social WeChat. A aplicação vai permitir às pessoas consultarem números de telefone, contas bancárias e endereços de correio electrónico suspeitos, assim como obter informações sobre os métodos de burla mais usados. O secretário disse que a PJ detectou 90 casos praticados por redes criminosas transfronteiriças, cujo valor envolvia mais de 100 milhões de patacas e deteve 134 pessoas. Além disso, acrescentou que, graças a um mecanismo de alerta para suspensão de transacções suspeitas e cessação de pagamento, a polícia de Macau conseguiu recuperar mais de 113 milhões de patacas em 531 casos. Ainda assim, o responsável sublinhou que o crime de burla com recurso às telecomunicações “já se tornou um fenómeno criminoso enfrentado por muitos países regiões do mundo”. Centenas de milhares de pessoas, a maioria dos quais chineses, têm sido alvo de tráfico humano para centros no Sudeste Asiático, onde são forçados a defraudar compatriotas através da Internet, de acordo com um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos divulgado em Agosto. Cerca de 100 mil pessoas foram traficadas para o Camboja e pelo menos 120 mil para Myanmar, apontou o relatório. A incapacidade da junta militar no poder em Myanmar em acabar com estes centros tem levado a tensões com a China, um dos principais aliados e fornecedores de armas do país. Com Lusa
João Santos Filipe PolíticaMulheres | Wong Kit Cheng pede maior igualdade de género Na antecipação do Dia Internacional da Mulher, que se celebra a 10 de Março, a deputado Wong Kit Cheng pediu ao Governo e à população que façam maior esforços para promover a igualdade de género, no que diz respeito à vida em casal. “Há que apelar à sociedade para mudar o papel das mulheres como principais cuidadoras da família e promover a partilha das tarefas domésticas por ambos os cônjuges, para reduzir a pressão física e psicológica das mulheres que têm de trabalhar e cuidar da família”, afirmou a deputada, ligada à Associação das Mulheres de Macau. A legisladora considerou igualmente que o Governo deve “estudar, quanto antes, a implementação de mais medidas favoráveis à família em diferentes ambientes de trabalho, através de legislação, incentivo ou apoio financeiro”. Entre as medidas, Wong sugeriu um maior período de “licença parental” e um “horário flexível de trabalho”, para que as mulheres possam “encontrar um melhor equilíbrio entre a família e o trabalho”. Em relação à “grande participação das mulheres na vida particular” e ainda como “cuidadoras da família”, Wong Kit Cheng considerou que a situação “dá origem a situações de discriminação no local de trabalho, preconceito por causa do sexo, falsas oportunidades de promoção, assédio sexual verbal e despedimento de mulheres grávidas”.
João Santos Filipe Manchete PolíticaPrisão preventiva | Aprovada lei que prolonga prazo de detenção Numa altura em que a prisão preventiva de alguns arguidos de casos mediáticos foi contestada, inclusive com pedidos de habeas corpus, os deputados aprovaram ontem a “lei de combate aos crimes de jogo” que aumenta os prazos legais das detenções A Assembleia Legislativa aprovou ontem na generalidade a “lei de combate aos crimes de jogo”, que aumenta os prazos de prisão preventiva para vários crimes, muitos dos quais nem sequer estão relacionados com o jogo ilegal. A aprovação resultou de uma proposta do Governo, apresentada em Janeiro, numa altura em que os tribunais de Macau têm enfrentado pedidos de habeas corpus, para a libertação de arguidos cujos prazo de prisão preventiva foram ultrapassados. Os crimes que passam a prever um período de prisão preventiva mais alargado são os de traição à pátria, secessão do Estado e subversão contra o poder político do Estado, o crime de associação criminosa e ainda todos os crimes com uma pena máxima superior a oito anos de prisão e praticados com recurso à violência. Os arguidos passam assim a poder ficar oito meses em prisão preventiva, sem que tenha sido deduzida acusação, ou até um ano de preventiva, nos casos em que há instrução, mas não há despacho de pronúncia. Ao mesmo tempo, os arguidos podem igualmente ficar detidos durante dois anos, sem que tenha havido condenação em primeiro instância, e três anos, sem que tenha havido condenação transitada em julgado. Afinação geral Também ontem, os deputados aprovaram a alteração à lei dos juramentos que vai fazer com que os membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo tenham de prestar juramento. Segundo o diploma aprovado na generalidade, e que ainda tem de ser discutido e votado na especialidade, a recusa de juramento faz com que os membros da comissão percam o cargo. O mesmo critério passa a ser adoptado para outros cargos na RAEM que já exigiam o juramento, como acontece com o Chefe do Executivo, presidente do Tribunal de Última Instância, deputados, magistrados, entre outros. No caso de o juramento ser lido com uma versão diferente da que consta no previsto da lei, desde que se prove ter havido dolo, a consequência passa igualmente pela perda do cargo. Este é também o resultado para alguém que preste juramento “de qualquer forma que não seja sincera ou solene”, o que é entendido como violação do procedimento de juramento ou de ofensa à cerimónia do juramento. As alterações foram explicadas pelo Executivo com a necessidade de conformar a lei com as novas exigências da segurança nacional.
Hoje Macau SociedadeConsulado | Pedidos de documentos nacionais sobem 90,6 %em 2023 O número total de cartões do cidadão e passaportes nacionais, pedidos nos serviços consulares de Macau e Hong Kong, aumentou, no ano passado, 90,6 por cento face a 2022, anunciou ontem o Consulado Geral de Portugal. Este número total de cartões do cidadão e passaportes “excedeu, pela primeira vez, a fasquia simbólica dos 30 mil (33.577), o que representa um aumento 90,6 por cento em relação a 2022 e mais 17,5 por cento do que o anterior recorde, em 2018”, indicou, em comunicado enviado à Lusa, depois da primeira reunião deste ano do Conselho Consultivo da área consular de Macau e Hong Kong. Na área do registo civil, foram feitos 1.059 registos de nascimento e 265 processos de aquisição de nacionalidade por via do casamento, “mais do que o somatório dos últimos dez anos”, acrescentou, na mesma nota de balanço da atividade consular. Na reunião do Conselho Consultivo, presidido pelo cônsul-geral, Alexandre Leitão, e com a presença de 11 dos 12 conselheiros que integram o órgão, foram ainda destacadas várias medidas de simplificação administrativa adotadas no ano passado, como o “aumento de 60 por cento das vagas diárias de atendimento no Consulado Geral para cartões do cidadão e passaportes abertas na plataforma, a triplicação das mesmas vagas no Consulado Honorário em Hong Kong”. Constituído em julho, o conselho consultivo da área consular de Macau e Hong Kong, o primeiro da região, tem a missão de emitir pareceres sobre matérias que afectem os portugueses locais.
Hoje Macau China / ÁsiaAviação | Pequim vai promover avião rival de Boeing 737 e Airbus A320 A aviação civil chinesa consolida o seu desenvolvimento com a apresentação no sudeste asiático do C919 destinado a competir com os modelos ocidentais Boeing 737 e Airbus A320 O construtor aeronáutico chinês Comac vai realizar voos teste do seu avião C919 no Vietname, Laos, Camboja, Malásia e Indonésia para promover a “sua eficácia” junto das companhias aéreas do Sudeste Asiático, informou ontem a empresa em comunicado. O avião, concebido para rivalizar directamente com os modelos Boeing 737 e Airbus A320, é a grande aposta da China no sector da aviação civil, uma vez que se insere no segmento dos aviões de fuselagem estreita, que representa actualmente mais de metade dos aviões comerciais em actividade no mundo. Depois da primeira exibição no estrangeiro, em Singapura, este mês, o C919 iniciou ontem a digressão, partindo do aeroporto de Van Don, no nordeste do Vietname. O modelo vai percorrer outros destinos nas próximas duas semanas para “lançar as bases para o desenvolvimento do seu mercado no Sudeste Asiático”. O C919 também vai ser acompanhado pelo primeiro avião regional desenvolvido pela China, o ARJ21, que garantiu o primeiro comprador internacional, a TransNusa, companhia aérea da Indonésia, no final de 2022, depois de vender mais de cem unidades a companhias aéreas chinesas. O C919, que levou mais de 14 anos a ser desenvolvido, fez o primeiro voo comercial em Maio de 2023, operado pela companhia estatal China Eastern, à qual foram entregues as primeiras quatro unidades, tendo já transportado mais de 130.000 passageiros nas rotas que ligam Xangai a Chengdu e Pequim. A aeronave pode transportar entre 158 e 192 pessoas e tem um alcance entre 4.075 e 5.555 quilómetros, e as autoridades do país pretendem alcançar uma quota de 10 por cento do mercado doméstico de aviação comercial até 2025, tendo já recebido mais de mil encomendas, principalmente de companhias aéreas chinesas. Modelo da casa A Administração da Aviação Civil da China (CAAC) disse no início deste ano que vai promover o reconhecimento internacional do C919, com o objectivo de obter certificações de organismos como a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA). No ano passado, a Comac afirmou que o seu objectivo é atingir uma produção anual de cerca de 150 destes aviões nos próximos cinco anos. Embora utilize componentes ocidentais, o C919 representa o esforço da China para reduzir a dependência dos fabricantes europeus e norte-americanos em termos de tecnologia aeronáutica. O objectivo a longo prazo é desenvolver uma cadeia de abastecimento totalmente autóctone. A Comac prevê que o número de aviões civis de passageiros duplique a nível mundial nas próximas duas décadas para mais de 51.000, com a procura na região Ásia Pacífico a aumentar de cerca de 3.300 unidades para cerca de 9.700 nesse período, algo que a empresa vê como uma oportunidade para se tornar uma “nova opção fiável” no mercado.
Hoje Macau EventosTeatro Dom Pedro V | “Noites de Fado” regressam na sexta-feira O Instituto Cultural volta a organizar os concertos “Noites de Fado” no Teatro Dom Pedro V a partir de sexta-feira. Os espectáculos vão encher de música a histórica sala todas as sextas-férias, sábados e domingos até ao dia 24 de Março, sempre entre as 19h e as 20h, num total de 12 apresentações. Para estes concertos, foram convidados os fadistas portugueses Tiago Correia e Bárbara Santos que se apresentarão a solo e também em dueto Além disso, a partir das 18h, em jeito de preparação para os concertos, os espectadores podem saborear petiscos e bebidas típicas portuguesas e apreciar concertos de artistas locais “que interpretarão temas instrumentais de música ligeira em guitarra portuguesa, guitarra clássica, violino, piano digital, clarinete, yangqin e saxofone. Na galeria do Teatro também estará patente uma exposição sobre a história e evolução do Fado ao longo dos tempos. Os bilhetes custam 200 patacas, com direito a uma bebida. Portadores de BIR, de cartão de professor de Macau, cartão de estudante, cartão de idoso e registo de avaliação da deficiência têm um desconto de 20 por cento.
João Luz Eventos MancheteFernando Pessoa | Tradução para chinês de “Livro do Desassossego” à venda O Instituto Cultural publicou a tradução para chinês tradicional do clássico de Fernando Pessoa “Livro do Desassossego”, que esteve a cargo do veterano Zhang Weimin, que há 35 anos traduzira “Antologia de Fernando Pessoa”. A obra encontra-se à venda na livraria online do Instituto Cultural O Instituto Cultural (IC) juntou-se à Jiangsu Phoenix Literature and Art Publishing, para publicar a tradução em chinês tradicional do “Livro do Desassossego”, a colecção de manuscritos escritos pelo poeta português Fernando Pessoa sob o heterónimo Bernardo Soares. A publicação do enigmático e fragmentado livro de Pessoa é integrado na “Colecção de Literatura Chinesa e Portuguesa” e encontra-se à venda na livraria online do Instituto Cultural por 100 patacas. O IC salienta que a publicação tem como objectivo “promover o intercâmbio literário chinês e português e apresentar obras portuguesas célebres aos leitores chineses”. A versão chinesa publicada pelo IC é da responsabilidade do veterano tradutor Zhang Weimin, premiado pela Sociedade de Língua Portuguesa, que em 1988 foi o autor da edição bilingue de uma “Antologia de Fernando Pessoa”, também lançada pelo IC. A tradução para chinês da obra pessoana está intimamente ligada a Macau, com a primeira versão, incompleta, de “A Mensagem” da autoria do macaense Luís Gonzaga Gomes. A publicação da obra em chinês foi uma forma de assinalar o 24.º aniversário da morte do poeta e divulgar aos alunos do liceu onde Gonzaga Gomes era professor. A tiragem foi de quinhentos exemplares, dos quais trinta em edição de luxo. Posteriormente, por altura do quinquagésimo aniversário da morte de Fernando Pessoa, e com o patrocínio do IC, foi publicada a “Antologia Poética de Fernando Pessoa”, resultado da colaboração de Jin Guo Ping e do macaense Gonçalo Xavier (na altura estudante na Universidade de Pequim), e a versão integral de “A Mensagem” em chinês, de autoria de Jin Guo Ping. Só no mundo O “Livro do Desassossego” é uma obra fragmentada apresentada pelo autor como uma autobiografia pouco factual, e que foi deixada inacabada e sem edição. O próprio arranjo e organização do livro tem sido motivo de debate desde a primeira publicação em português, corria o ano de 1982. A componente heterodoxa de “Livro do Desassossego” permite estabelecer uma relação de intimidade com o leitor, a quem é concedida a entrada na vida do autor ao longo dos mais de quatrocentos fragmentos de prosa escritos entre 1913 e 1934, um ano antes da morte do poeta. A propósito da nova publicação em chinês tradicional, o IC descreve Fernando Pessoa como “um escritor e poeta famoso português” e sublinha o carácter multifacetado da obra. “O ‘Livro do Desassossego’ inclui uma nova apresentação dos extensos manuscritos do escritor numa rica variedade de formas e estilos, abrangendo diários, ensaios e artigos. Explorando temas que incluem filosofia, estética, psicologia e sociedade, estas obras retratam os costumes de Portugal e, particularmente, de Lisboa, em que cada secção constitui um capítulo independente transmitindo visões instigantes”, descreve o organismo liderado por Deland Leong Wai Man. A alma nas letras A tradução em chinês tradicional deste livro constitui o oitavo volume da Colecção de Literatura Chinesa e Portuguesa. “Dedicada a reunir uma série de livros sobre literatura de Macau ou relacionada com o tema, de escritores chineses e portugueses, a Colecção de Literatura Chinesa e Portuguesa pretende que tanto autores como leitores ultrapassem as barreiras linguísticas, reconhecendo a essência e os diversos estilos da criação literária chinesa e portuguesa nas obras traduzidas para a língua chinesa ou qualquer outra língua”, refere o IC. A colecção inclui obras como “100 Sonetos de Luís Vaz de Camões”, a versão em português de “Almas Transviadas”, da autoria do escritor local Tang Hio Kueng, a versão bilingue em chinês e português de “Amores do Céu e da Terra, Contos de Macau” da escritora de Macau Ling Leng, “Poemas de Du Fu” e “Contos Selecionados de Eça de Queiroz” numa edição bilingue, em português e chinês. O IC indica ainda que tem descontos especiais para grandes volumes de compras do livro. Os leitores locais podem levantar as encomendas pessoalmente em qualquer uma das 13 bibliotecas públicas do IC (na Península de Macau, na Taipa ou em Coloane), e os leitores não locais poderão solicitar a entrega das encomendas através do Serviço EMS dos Serviços de Correios e Telecomunicações de Macau.