Hoje Macau China / ÁsiaJornalista filipina detida por difamação sai em liberdade após pagar fiança [dropcap]A[/dropcap] jornalista filipina Maria Ressa, uma das “personalidades do ano” da revista Time em 2018, detida na quarta-feira por “difamação cibernética”, foi libertada hoje sob fiança. “O que estamos a assistir é a morte (…) da nossa democracia”, disse Ressa aos jornalistas, depois de pagar a fiança no tribunal regional de Manila que tinha emitido um mandado de prisão. A premiada jornalista de um jornal online filipino acusou o Governo Rodrigo Duterte de abusar do seu poder e de usar a lei como arma para amordaçar os críticos. Na quarta-feira, Maria Ressa encontrava-se nas instalações do Rappler – um portal de notícias ‘online’ que adoptou uma linha crítica contra a guerra mortal contra as drogas liderada pelo Presidente Rodrigo Duterte – quando agentes do Gabinete Nacional de Investigação entraram para entregar o mandado de prisão, explicou a equipa de redacção, nas redes sociais. O departamento de Justiça apresentou acusações de “difamação cibernética” contra o portal Rappler, Maria Ressa – directora do portal de notícias e presidente da corporação Rappler Incorporated – e o jornalista de investigação Reynaldo Santos, por um artigo publicado em Maio de 2012 sobre o empresário Wilfredo Keng.. Este não é o único processo judicial que Maria Ressa enfrenta, já que em Novembro de 2018 foi emitido um mandado de prisão por cinco alegados crimes de evasão fiscal, acusando tanto o portal Rappler como Maria Ressa. Ressa evitou a prisão com o pagamento de uma fiança e o caso está a aguardar julgamento. A jornalista assegurou que os seus compromissos com o fisco estão em ordem e que todas essas acusações contra si e contra os media que dirige são uma perseguição política da administração de Duterte pelos seus artigos críticos da sua gestão. O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, não escondeu a sua animosidade em relação ao Rappler, que acusou de ser financiado pela CIA, e proibiu em Fevereiro de 2018 o acesso ao palácio presidencial a jornalistas deste meio.
Hoje Macau EventosRealizadora Rosa Coutinho Cabral prepara documentário sobre Natália Correia [dropcap]A[/dropcap] cineasta Rosa Coutinho Cabral, que apresentou, esta quarta-feira, o filme premiado “Coração Negro”, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, prepara um documentário sobre Natália Correia, intitulado “A Mulher que Morreu de Pé”. Em entrevista à agência Lusa, a realizadora avançou que está a preparar o documentário “A Mulher que Morreu de Pé”, sobre Natália Correia, admitindo que este é um projecto que lhe interessa, porque Natália Correia “é conterrânea, porque é uma grande poeta e dramaturga e porque foi uma mulher de intervenção”. “Fazer cinema é um acto político”, uma dimensão que surge, naturalmente, no novo projecto que a cineasta micaelense prepara, mas também em “Coração Negro” e em todos os filmes que ainda espera fazer, admite. “A forma de fazer um filme e a forma de mostrar aquilo que se conta, como é que eu decido os planos, como é que eu os considero importantes, como é que eu os quero fazer, é, de facto, um gesto, é uma política”, afirmou. Em “Coração Negro”, de 2017, mostra a morte de uma relação, mas também “toda a solidariedade que é possível ter pelo sofrimento das pessoas”, evidenciando que, no sofrimento, “nada é linear, nada tem uma causa-efeito tão concreta e tão romanesca como são [é] normalmente apresentadas [apresentado]”. A acção desenrola-se na ilha do Pico, onde o casal, interpretado por Maria Galhardo e João Cabral, está a reconstruir uma casa, uma escolha que Rosa Coutinho Cabral diz ter sido intencional, porque “toda a morfologia do Pico, a geologia do Pico, é tão intensa e é tão particular”, que “muito rapidamente, estas características da ilha tornaram-se uma metáfora da violência interna daquele casal, da violência que aquele casal vive”. O filme arrecadou vários prémios, dos quais se destacam o de melhor realizador, no Krajina Film Festival, melhor filme no Festival ARFF – Amsterdam, e melhores actores para Maria Galhardo e João Cabral, no Best Actos Film Festival, em São Francisco. O reconhecimento internacional é “muito gratificante, depois de um esforço tão grande que foi fazer este filme, que, realmente, teve uma rodagem longa, algo atribulada, com muito pouco dinheiro”, explicou, mas lamenta que, em Portugal, o mercado seja “muito fechado e muito injusto, às vezes”. Da filmografia de Rosa Coutinho Cabral constam, também, os documentários “Pé San Ié – O Poeta de Macau”, sobre o poeta Camilo Pessanha, e “Arrivederci Macau”, sobre o arquitecto Manuel Vicente, bem como as longas-metragens “Cães sem Coleira”, “Lavado em Lágrimas” e “Serenidade”. O seu novo projecto, “A Mulher que Morreu de Pé”, leva-a, novamente, aos Açores, desta vez à sua terra natal, Ponta Delgada, onde apresenta “Coração Negro”, numa sessão inicialmente prevista para quinta-feira, mas que foi antecipada para quarta-feira, no Teatro Micaelense.
Hoje Macau EntrevistaEmbaixador português destaca relação “descomplexada” com a China João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]O[/dropcap] embaixador português em Pequim destacou ontem a relação “descomplexada” entre Portugal e China, lembrando que Lisboa “não está refém” das suas alianças tradicionais, numa altura de crescente desconfiança no Ocidente face ao país asiático. “O facto de não haver trauma na relação é uma coisa muito particular e que nos dá uma enorme vantagem num diálogo aberto e descomplexado”, afirmou José Augusto Duarte, por ocasião dos 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países, que se celebra este mês. Em entrevista à agência Lusa, o diplomata lembrou que, em “épocas de apogeu ou de fragilidade” da China, Portugal “nunca alinhou em tentativas coloniais ou em guerras” contra o país. “Isso é extremamente importante: marca a diferença face a relações que são reféns das épocas em questão”, disse. O diplomata referia-se ao ressentimento da China para com as potências ocidentais, pelo século de “humilhação nacional”, na sequência da Guerra do Ópio (1839 – 1860), que marcou o declínio do país como potência mundial e a sua subjugação aos Tratados Desiguais. O fim da ocupação estrangeira, com a fundação da República Popular, em 1949, e, nos últimos anos, o restabelecimento do estatuto internacional do país, são duas das principais fontes de legitimidade do Partido Comunista Chinês, partido único no poder. José Augusto Duarte destacou ainda a forma como a presença portuguesa se manteve em Macau “sem nunca Portugal ter tido um conflito militar com a China”. “Os portugueses chegaram ao Delta do Rio das Pérolas em 1513. E foi através de Macau que a presença se manteve, mas sem ser com base num conflito com a China, ou em algo que não fosse por consentimento do lado chinês”, explicou. “É uma coisa única no âmbito das relações internacionais”, realçou. No final de Abril, o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, vai estar presente na segunda edição do fórum “Uma Faixa, Uma Rota” e fará uma visita de Estado à China, numa altura de crescente suspeição no Ocidente, face às ambições geo-estratégicas de Pequim. Desde a ascensão ao poder do líder chinês Xi Jinping, em 2013, a China adotou uma política externa mais assertiva, que se materializa no gigantesco plano de infra-estruturas ‘Uma Faixa, Uma Rota’, que visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa. A iniciativa é vista como uma versão chinesa do ‘Plano Marshall’, lançado pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de alianças que perduram até hoje. As ambições de Pequim suscitaram um reforço do escrutínio sobre os investimentos chineses em setores estratégicos, em vários países, e o despoletar de disputas comerciais com Washington. José Augusto Duarte admitiu que “há neste momento evoluções que tornam mais complexa a relação da China com uma série de países ocidentais”, mas que Portugal “não confunde os seus papéis”. “Nós temos que, respeitando os compromissos internacionais de Portugal, que deriva do facto de sermos membros da NATO e da União Europeia, termos assentes muito bem os nossos valores, mas provavelmente podemos defendê-los de forma especifica nossa”, disse. E lembrou que a “situação na qual estamos agora não é nova na História”. “As Guerras do Ópio, que aconteceram em meados do século XIX, foram extremamente complexas, mas Portugal nunca deixou de ser um aliado de Inglaterra, como também nunca participou na aliança britânica que levou a uma guerra contra a China”, disse. “Nós não acreditamos numa via conflitual para tentar mudar o nosso interlocutor, seja ele qual for. Portugal não tem, nem nunca teve essa perspetiva”, acrescentou.
Hoje Macau PolíticaAL | Ho Iat Seng admite contratação de mais assessores jurídicos [dropcap]O[/dropcap] presidente da Assembleia Legislativa admite a possibilidade de serem contratados mais assessores jurídicos para o organismo que dirige. A informação foi dada ontem à margem do Almoço de Primavera da AL. “Não está descartada essa hipótese”, disse. Para já, a AL tem “pessoal suficiente”, mas “tem havido um volume de trabalho grande com maior número de propostas de lei apresentadas pelo Governo”, acrescentou para justificar a necessidade de mais assessores. Recorde-se que desde os despedimentos de Paulo Cardinal e Paulo Taipa, que terminaram funções no passado mês de Dezembro, a AL contratou para o cargo a juíza Maria José Machado e o jurista Paulo Henriques.
Hoje Macau ReportagemDigressão do Sporting em 1978 abriu porta “grande” para a China Por João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]V[/dropcap]alter Onofre, guarda-redes na equipa do Sporting Clube de Portugal que há quarenta anos fez uma digressão pela China, que aproximou dois países então sem relações diplomáticas, recorda sentir-se em Pequim como um “animal no zoológico”. “Todos olhavam para nós: trazíamos roupas coloridas, cada um tinha o seu estilo, enquanto [os chineses] pareciam todos iguais”, descreve assim, o ex-futebolista, Pequim no verão de 1978. Portugal e China não tinham ainda relações diplomáticas, mas quatro anos antes, a Revolução dos Cravos tinha derrubado o regime fascista do Estado Novo, tornando inevitável a aproximação ao país asiático, que se começava então a libertar da ortodoxia maoísta. “Nós tínhamos acabado de sair do fascismo, e viemos para um país que era do mais puro socialismo que existia. O mais igualitário que havia”, recorda Onofre à agência Lusa. “Roupa, cortes de cabelo, todos de bicicleta; era igual para toda a gente: homens ou mulheres”, realça. A Revolução Cultural (1966-76), radical campanha política de massas lançada pelo fundador da China comunista, Mao Zedong, estava ainda fresca. Durante aquela década de caos, dezenas de milhões de pessoas foram perseguidas, presas e torturadas, sob a acusação de serem “revisionistas”, “reaccionárias” ou “inimigos de classe”, forçando a sociedade chinesa a uma homogeneidade quase absoluta. A digressão do SCP foi promovida pela Associação Democrática de Amizade Portugal-China, uma organização criada pelo Partido Comunista de Portugal (Marxista-Leninista), o único grupo político português reconhecido então pelo Governo chinês. Um alto funcionário chinês comparou então o Sporting com a equipa de pingue-pongue americana que foi a Pequim em 1971, abrindo caminho à histórica viagem do presidente Richard Nixon à China, em Fevereiro do ano seguinte. “Os americanos, que jogaram com uma bola pequena, abriram uma pequena porta. Os portugueses jogaram com uma grande bola e abriram uma porta grande”, disse o presidente da Associação Chinesa de Amizade com os Países Estrangeiros, Wang Bingnan. O Sporting, que acabara de ganhar a Taça de Portugal, frente ao FC Porto, venceu a selecção chinesa por 2-0 e nos dois outros jogos que disputou na China, ganhou um e empatou outro. O futebol chinês era ainda uma modalidade amadora e a seleção do país, que não estava sequer inscrita na FIFA, era composta sobretudo por operários. “Primeiro a Amizade, Depois a Competição”, era, aliás, o lema que regia o desporto na China. Ainda assim, “os jogadores chineses corriam sempre atrás da bola” e “davam trabalho exactamente por isso”, descreve Onofre, que recorda a viagem, desde Portugal, como uma “aventura”. “Saímos ao meio-dia de domingo de Lisboa, chegamos aqui na terça-feira: foram três ou quatro paragens. Na altura tivemos que contornar o Vietname [a guerra tinha acabado poucos anos antes], não podíamos sobrevoar”, revela. O antigo jogador lembra-se de visitar a Muralha da China e o Palácio de Verão, dois ex-libris da China, mas o que mais o impressionou foi a paisagem humana. “No final dos turnos, na avenida junto à praça Tiananmen, eram milhões de pessoas a sair das fábricas de bicicleta. E havia um outro carro que tinha que se desviar, porque eles iam direitos, naquela tranquilidade deles”, conta. A entrevista à Lusa decorreu em Pequim, para onde Onofre regressou, no ano passado, agora como treinador de futebol numa escola pública da capital chinesa. A pobre e isolada China que o português conheceu no verão de 1978 converteu-se, entretanto, na segunda maior economia do mundo, alargando a classe média em centenas de milhões de pessoas, num ritmo sem paralelo na História moderna. A paisagem urbana acompanhou as vertiginosas transformações: os típicos becos e bairros operários da capital chinesa foram arrasados para dar lugar a arranha-céus envidraçados e blocos de apartamentos. “Desse tempo, reconheço apenas a praça Tiananmen: à volta, tudo é diferente. Olho e penso: estou noutro mundo”, conta Valter Onofre. “Eu sei que estive aqui”, acrescenta, “mas é difícil de acreditar”.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong pede a regiões da Grande Baía que evitem competição económica entre si [dropcap]A[/dropcap] chefe do Governo de Hong Kong apelou às regiões que integram o projecto chinês da Grande Baía, que Macau integra, para evitarem a competição económica entre elas, noticiou ontem o jornal South China Morning Post. “Estamos todos muito empenhados em construir uma economia na Grande Baía que seja aberta, internacional, que consistirá de um centro internacional de inovação e tecnologia e que conta com o apoio pessoal do Presidente Xi Jinping”, disse Carrie Lam, citado pelo jornal. Carrie Lam alertou contudo que a competição acirrada entre as cidades tem de ser “evitada tanto quanto possível”. O projecto da Grande Baía visa criar uma metrópole mundial a partir das regiões administrativas especiais chinesas de Hong Kong, Macau e nove cidades da província chinesa de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing), com mais de 60 milhões de habitantes. Em 2016, de acordo com o jornal, esta região representou 12,5% do produto interno bruto da China. “As nove cidades na província de Guangdong, e Hong Kong e Macau devem alavancar os nossos pontos fortes e vantagens, para criar uma economia muito maior”, apontou Lam.
Hoje Macau China / ÁsiaCasais homossexuais processam Governo do Japão no Dia dos Namorados [dropcap]T[/dropcap]reze casais homossexuais recorreram hoje aos tribunais japoneses, no Dia dos Namorados, para processarem judicialmente o Governo do Japão, contestando a constitucionalidade da rejeição no país do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Seis casais, segurando cartazes nos quais se podia ler “Casamento para todo o Japão”, entraram num tribunal de Tóquio para processar o Governo japonês, uma iniciativa que também se verificou nas cidades de Osaka, Nagoya e Sapporo. Um dos queixosos, Kenji Aiba, ao lado do parceiro, Ken Kozumi, disse aos jornalistas que “lutaria esta guerra em conjunto com as minorias sexuais em todo o Japão”. No processo, argumenta-se que a lei viola o direito constitucional à igualdade, num país em que se observa uma crescente aceitação pública da diversidade sexual e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os casais afirmaram querer que o Governo siga o exemplo de muitas outras nações de forma a garantir a liberdade conjugal. Dez municípios japoneses chegaram a promulgar ‘decretos de parceria’ para casais do mesmo sexo para facilitar, por exemplo, o arrendamento conjunto de apartamentos, mas estes não são juridicamente vinculativos. Os advogados dos queixosos adiantaram que os casos podem levar até cinco anos, ou mais, para serem decididos.
Hoje Macau China / ÁsiaTerceira ronda negocial sobre comércio China/EUA arranca hoje em Pequim [dropcap]C[/dropcap]hina e Estados Unidos iniciam hoje um diálogo de alto nível, visando pôr fim a uma guerra comercial que ameaça a economia mundial e que poderá agravar-se, após um período de trégua de 90 dias. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o representante do Comércio, Robert Lighthizer, reúnem hoje e sexta-feira, em Pequim, com o vice-primeiro-ministro chinês Liu He. Trata-se do terceiro frente-a-frente desde que, no início de Dezembro, Xi Jinping e o homólogo norte-americano, Donald Trump, concordaram uma trégua de 90 dias, para encontrar uma solução para a guerra comercial que espoletou entre os dois países, no verão passado. Washington e Pequim aumentaram já as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um dos países, caso não haja um acordo até 1 de Março, Trump ameaça aumentar ainda mais as taxas sobre importações oriundas da China. Empresários e economistas consideram improvável que os dois lados cheguem a um acordo definitivo e alegam que Pequim vai tentar convencer Washington a prolongar o período de trégua. Robert Lighthizer e Liu He apertaram as mãos no início da reunião, numa residência oficial do Governo chinês, mas não prestaram declarações à imprensa. Trump quer que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes actores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial ou robótica, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas. Washington quer também mais acesso ao mercado, melhor protecção da propriedade intelectual e o fim da ciberespionagem sobre segredos comerciais de firmas norte-americanas. Mas o Partido Comunista Chinês está relutante em abdicar dos seus planos, que considera cruciais para elevar o estatuto global do país. Na terça-feira, Trump afirmou que, embora não esteja inclinado a prolongar o prazo, poderá adiar novas taxas alfandegárias por algum tempo, caso as negociações estejam a ser frutíferas. Grupos empresariais consideram que a decisão dos principais representantes do comércio, Lighthizer e Liu, de participar pessoalmente no encontro, é um sinal de que as negociações estão a progredir. Empresas de ambos os lados foram prejudicadas pelas taxas alfandegárias impostas por Washington e pelas medidas de retaliação impostas por Pequim, ameaçando abalar as cadeias de produção globais. Os líderes chineses estão dispostos a reduzir o superavit nas trocas comerciais com os EUA, mas recusam-se a alterar os seus planos de desenvolvimento. As autoridades chinesas negam ainda que as empresas estrangeiras são forçadas a transferir tecnologia, em troca de acesso ao mercado, mas grupos empresariais e governos apontam para regulamentos que obrigam as companhias a divulgarem segredos comerciais ou a partilharem tecnologia com parceiros estatais chineses. As autoridades chinesas estão também a resistir à pressão dos EUA para aceitar um mecanismo de fiscalização que verifique se Pequim cumpriu as suas promessas.
João Santos Filipe PolíticaViolência doméstica é prioridade para deputada Wong Kit Cheng [dropcap]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng apontou a execução da lei da violência doméstica e a implementação da criminalização do assédio sexual como duas das prioridades para o seu trabalho legislativo. “Um dos grandes marcos recentes da AL foi a aprovação da lei da violência doméstica. Mas o trabalho não pode ficar por aqui. Temos de acompanhar a aplicação e corrigir eventuais problemas. Também temos de propor outras e melhores formas para proteger as vítimas e aumentar o apoio”, disse Wong, ao HM. A deputada ligada à Associação Geral das Mulheres (AGM) falou depois do assédio sexual. “A lei é recente, portanto faz parte das nossas responsabilidades acompanhar a aplicação e detectar eventuais problemas, para melhorar o diploma, no futuro”, frisou.
Hoje Macau China / ÁsiaJornalista filipina distinguida pela revista Time detida por difamação [dropcap]A[/dropcap] jornalista filipina Maria Ressa, uma das “personalidades do ano” da revista Time em 2018, foi ontem detida por “difamação cibernética”, após a publicação de um artigo em 2012 sobre o empresário Wilfredo Keng. Maria Ressa encontrava-se nas instalações do Rappler – um portal de notícias ‘online’ que adoptou uma linha crítica contra a guerra mortal contra as drogas liderada pelo Presidente Rodrigo Duterte – quando agentes do Gabinete Nacional de Investigação entraram para entregar o mandado de prisão, explicou a equipa de redacção, nas redes sociais. O departamento de Justiça apresentou acusações de “difamação cibernética” contra o portal Rappler, Maria Ressa – directora do portal de notícias e presidente da corporação Rappler Incorporated – e o jornalista de investigação Reynaldo Santos, por um artigo publicado em Maio de 2012. No passado mês, três procuradores do departamento de Justiça decidiram a favor do empresário Wilfredo Keng, que em Outubro de 2017 apresentou uma denúncia pela reportagem de investigação do Rappler, no qual Keng estava alegadamente ligado ao tráfico de drogas e pessoas. Apesar de já ter expirado o prazo de apresentação da queixa, o departamento de Justiça reabriu o caso uma semana depois, em Março de 2018, com base na teoria da “publicação contínua”, uma vez que o artigo ainda se encontrava na rede. Este não é o único processo judicial que Maria Ressa enfrenta, já que em Novembro de 2018 foi emitido um mandado de prisão por cinco alegados crimes de evasão fiscal, acusando tanto o portal Rappler como Maria Ressa. Ressa evitou a prisão com o pagamento de uma fiança e o caso está a aguardar julgamento. O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, não escondeu a sua animosidade em relação ao portal Rappler, que acusou de ser financiado pela CIA, e proibiu em Fevereiro de 2018 o acesso ao palácio presidencial a jornalistas deste meio de comunicação.
Diana do Mar SociedadeAgressores de Jorge Menezes vão ser julgados seis anos depois [dropcap]O[/dropcap]s dois homens que, em 2013, agrediram o advogado Jorge Menezes, vão ser julgados a 3 de Junho, após uma longa batalha legal, com três recursos, interpostos pela própria vítima, noticiou na edição de ontem o Macau Daily Times. O caso remonta a 17 de Maio de 2013, quando o advogado foi surpreendido quando saía de casa, na companhia do filho, com 5 anos, por dois homens que o agrediram pelas costas com um tijolo. Na sequência do ataque, que ocorreu em plena luz do dia, na zona da Praça da Amizade, junto ao Hotel Sintra, Jorge Menezes sofreu ferimentos ligeiros na cabeça e num braço. Após o ataque, as autoridades divergiram relativamente à motivação do ataque. Segundo o jornal, a PSP concluiu que havia uma relação óbvia às tríades, considerando que reunia todas as características de crime organizado, enquanto o Ministério Público (MP) entendeu não haver provas suficientes para se estabelecer essa ligação, enveredando por tratar o caso como um ataque isolado. No entanto, como nota o Macau Daily Times, a reacção inicial das forças de segurança sugere não só que as principais suspeitas apontavam para a prática de crime organizado, mas que consideravam existir indícios fortes o suficiente para adoptar medidas excepcionais. Exemplo disso mesmo foi o facto de o então secretário para a Segurança, Cheong Kuoc Vá ter ordenado protecção policial para a família do advogado. Segundo o jornal, a PSP demorou poucos dias a identificar os dois suspeitos, tendo recolhido informações como os nomes, documentos de viagem e contactos, além de ter ainda imagens das câmaras de videovigilância, mas estes já tinham atravessado a fronteira. Um terceiro homem, que estava no local a uma certa distância, nunca foi identificado ou apanhado pelas câmaras de videovigilância. Jorge Menezes afirmou não poder garantir o seu envolvimento no ataque, mas parecia-lhe estar ligado à agressão. Meses depois um dos alegados agressores foi travado nas Portas do Cerco quando tentava entrar em Macau e levado ao Juízo de Instrução Criminal (JIC). Estranho rumo Foi a partir deste momento que, segundo relatou Jorge Menezes, os procedimentos seguiram um caminho estranho, com o juiz a ordenar a sua libertação mediante pagamento de uma caução de 5000 patacas. Pouco depois, de acordo com o Macau Daily Times, o Ministério Público decidiu que apenas um dos agressores seria julgado, acusado de ofensas corporais simples. Inconformado, o advogado elaborou uma lista de anormalidades judiciais e interpôs um recurso contra a decisão inicial do Procurador de apenas acusar um dos homens por causa de dúvidas relativamente à identidade e morada do segundo suspeito. “Tive de recorrer para o Procurador para dizer que isto era ridículo. Eles tinham imagens dos dois agressores e moradas de ambos (…), além de que não ter a morada de um não é motivo para o libertarem”, declarou. Seguiu-se um segundo recurso relativamente ao tipo de crime, que resultou então na alteração da acusação. No entanto, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão ao Ministério Público quando concluiu não haver provas de que o ataque estava relacionado com a sua profissão ou com crime organizado. “É verdade”, reconheceu Menezes, apontando, porém, que tal resulta da ausência de investigação. “O sistema judicial de Macau e o Ministério Público nunca tiveram curiosidade em saber quem terá ordenado o ataque e nunca procuraram investigar”, criticou.
Sérgio de Almeida Correia VozesNa encruzilhada do porco “As montanhas são altas e o imperador está longe” (山高皇帝遠), provérbio chinês [dropcap]L[/dropcap]i Chunsheng, Chefe do Departamento de Segurança Pública de Guangdong, e que é também Vice-Governador de Cantão, aproveitou o facto de estarem reunidos dezenas de representantes oficiais da cidade de Maoming para perante o Governador Provincial, Ma Xingrui, anunciar a visita, no final deste ano, do Presidente Xi Jinping a Macau, por ocasião do 20.º aniversário da transferência de administração de Portugal para a RPC. Será então esta a oportunidade para se fazer uma reflexão telegráfica sobre Macau, a RPC, o momento que ambas atravessam e o que o futuro nos reserva. 1. No XIX Congresso do PCC, realizado entre 18 e 24/10/2017, o Presidente Xi Jinping deixou claras quais as linhas que iriam compor o “Pensamento Socialista com Características Chinesas para a Nova Era”. Salientou, entre outras, a necessidade da “realização da modernização socialista e o rejuvenescimento nacional tendo por base “a conclusão da construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos”, conjugando um desenvolvimento equilibrado com as necessidades do povo, fortalecendo a “confiança no rumo, na teoria, no sistema e na cultura do Socialismo com características chinesas”. Em suma, construindo um país “sob o império do rule of law socialista”. 2. Se durante os anos que antecederam o XIX Congresso se assistiu a um fortalecimento do poder do Secretário-Geral do PCC e da sua novel elite dirigente, mercê das operações de limpeza interna visando afastar e punir todos aqueles dirigentes e quadros que se desviaram da disciplina partidária, a partir de Outubro de 2017 o PCC e o Presidente Xi Jinping – alcançadas que estavam as duas primeiras metas: (i) “garantir que as necessidades básicas da população estavam asseguradas” e “as suas vidas são em geral decentes” e que (ii) se ergueu uma sociedade com “uma economia mais forte, mais democracia, ciência e educação avançadas, cultura próspera, maior harmonia social e melhor qualidade de vida” – concentraram-se no terceiro objectivo estratégico da política de abertura, o qual deverá ser alcançado quando a RPC celebrar o seu centenário, isto é, dentro de 30 anos (2049): (iii) “modernização e transformação da China num país socialista moderno”. 3. Relativamente a Macau e Hong Kong, no seu discurso ao XIX Congresso o Secretário-Geral do PCC sublinhou que o regresso destas regiões ao seio da Pátria tinha sido um “estrondoso sucesso”, provando-se que a fórmula “um país, dois sistemas” fora a melhor solução para as questões “legadas pela História, e a melhor garantia institucional de estabilidade e prosperidade a longo prazo”. 4. Xi Jinping sublinhou ainda o alto grau de autonomia de que gozavam e a necessidade de harmonização com a Constituição chinesa das respectivas leis básicas, reforçando os meios para a melhoria dos sistemas e mecanismos por estas consagrados, e manifestando a continuação do apoio ao seu desenvolvimento no contexto global da nação, “melhorando o bem-estar do povo, dando os passos necessários para o avanço da democracia, mantendo a lei e a ordem, e cumprindo a responsabilidade constitucional de salvaguardar a soberania da China, a sua segurança e o desenvolvimento dos seus interesses”. 5. Por fim, e para aquilo que aqui interessa, o Secretário-Geral do PCC manifestou (iv) a resolução da questão de Taiwan para a completa reunificação da China como uma aspiração de todo o povo chinês e objectivo fundamental para a realização dos seus interesses, recorrendo para tal aos princípios da “reunificação pacífica” e de “um país, dois sistemas” para o desenvolvimento das relações no Estreito e o processo em vista. 6. Concluído o XIX Congresso, escolhidos os homens para integrarem a nova Comissão Permanente do Politburo do Comité Central do PCC e dirigirem a execução das tarefas em vista, assistimos ao aprofundamento de iniciativas como “uma faixa, uma rota”, ao lançamento do desígnio da “Grande Baía”, a um reforço da centralização do poder, ao endurecimento e radicalização do discurso político interno, que veio acompanhado de um cada vez maior controlo da Internet, dos cerca de 800 milhões de utilizadores e das redes sociais, da realização de novos investimentos no Exército Popular, na Força Aérea e na Marinha, de ameaças de intervenção militar fora do continente (Taiwan, Mar do Sul da China, fronteira com a Índia), tudo para cumprimento de uma agenda securitária, com extensão a Macau e Hong Kong, e o prosseguimento de uma política interna que vinha de trás de silenciamento de eventuais opositores, dentro e fora do próprio PCC. 7. Concomitantemente, no plano internacional multiplicavam-se iniciativas diplomáticas em várias frentes, de certo modo aproveitando o vazio criado pelos EUA. O afastamento destes dos grandes palcos internacionais dá-se no seguimento de uma política unilateral de cariz proteccionista e desligada das grandes preocupações da comunidade internacional, mercê de uma alucinação colectiva que levou Trump à Casa Branca. O desfecho dessa alucinação é ainda incerto, mas para além de ter constituído um desafio à própria história do país e a uma herança de envolvimento mundial vigoroso desde Wilson, que sempre foi mais do que simples retórica, não obstante a sua desprezível política de segregacionismo interno, abriu portas para que a R.P. da China ocupasse o vazio criado. 8. O início de 2019 trouxe uma versão modesta do Fórum Económico Mundial, este ano marcado pelo conflito comercial EUA/CHINA, onde se notou a ausência dos Presidentes dos EUA e de França, da Chanceler alemã e de Putin, acabando Pequim por enviar o seu primeiro-ministro. Tudo tão discreto que um articulista do The Guardian chamou a atenção para a atmosfera “flat” do evento por comparação com anos anteriores. Noutros pontos do globo – Venezuela, Síria, Brasil, Europa Central – aumentaram as preocupações e pela primeira vez tivemos a percepção dos danos que a guerra de tarifas traz ao comércio mundial, e os elevados custos que as partes envolvidas estão já a pagar. 9. Apesar de no último dia de 2018, num artigo do New York Times, Alexandra Stevenson e Cao Li chamarem a atenção para o arrefecimento da economia chinesa e as ordens vindas de cima para que “o porco fosse melhorado com baton”, em 18 de Janeiro pp. o People’s Daily dava conta das palavras optimistas de Ma Yun (Jack Ma), o patrão da Alibaba no fórum de Xangai, alinhando pelo diapasão traçado em Davos pelo primeiro-ministro chinês, permitindo-se titular na primeira página da edição semanal (24-30/12/2018): “Curso Estável – A economia da China é certamente uma das razões para se estar optimista em direcção a 2019 (“Steady Course – China’s Economy is certainly one of the reasons to be optimistic heading into 2019”). 10. Pura ilusão. Propaganda genuína. Os sorrisos e os números avançados para o crescimento da economia chinesa esmoreceram quando logo a seguir se ouviram as contundentes palavras de George Soros sobre o perigo no horizonte e a “farsa” da iniciativa “uma faixa, uma rota”, nas suas palavras, desenhada para promover os interesses chineses, e não os dos países recipientes, alertando para a inviabilidade económica de muitos projectos. O que por Soros foi dito complementou-se pela notícia da reunião de quatro dias do Presidente Xi Jinping e Wang Huning, número cinco do PCC e seu ideólogo mais influente, com altos quadros, alertando-os para a presença de “cisnes negros” e “rinocerontes cinzentos” no seu seio, bem como para a identificação da dissensão política como uma prioridade a combater, estando “preparados para o pior cenário”. 11. Quando o primeiro responsável do PCC e Presidente da RPC se apressaram (22/01/2019) a indicar os riscos que o Partido e os seus dirigentes devem tomar em atenção nos próximos meses – políticos, ideológicos, económicos, tecnológicos, sociais, ameaças internacionais e internos –, apelando à unidade em torno do líder e dos dirigentes para se assegurar a segurança política do regime, a confiança do povo e a estabilidade, isso só queria dizer uma coisa: a situação é bem mais grave do que aquilo que se vinha pintando. Os riscos de uma crise grave e de consequências internas imprevisíveis são reais. De outro modo, como é óbvio, o discurso não teria mudado tão rapidamente e em tão curto espaço de tempo. 12. Nos próximos dias o mundo irá continuar a assistir ao desenvolvimento das negociações entre EUA e China, à crise entre Otava e Pequim e ao fenecimento do regime madurista – cuja queda pode agravar ainda mais a situação económica chinesa devido aos mais de 50 mil milhões de dólares de ajuda que ficarão perdidos –, sem esquecer o que se passa na Malásia, no Brasil, na frente síria, na Argentina – com uma estação de rastreio espacial chinesa que está a causar incómodos políticos e a gerar contestação social –, e ainda em África com a chamada “ajuda chinesa”. Em Março terminará o período de tréguas na guerra tarifária com os EUA, altura em que também ocorrerá a reunião magna da Assembleia Popular Nacional, de onde sairão seguramente as linhas para a eleição do próximo Chefe do Executivo da RAEM. É este o ponto que a Macau interessa. 13. Até agora têm estado na linha da frente como putativos candidatos para exercerem o cargo de Chefe do Executivo, o Presidente da AL, o Secretário para a Economia e Finanças e o Secretário para a Segurança. Esta lista parece-me curta. E ilusória. Sei que há muita gente que não gostar de o ler, mas outros nomes há que poderiam integrá-la. Por exemplo? O actual Procurador da RAEM ou mesmo o Comissário Contra a Corrupção. Pelo perfil, pela experiência, pela formação jurídica. Com a vantagem de poderem ser dos poucos que sabem ler, escrever e exprimir-se com fluência em português e chinês, isto é, em cantonense e mandarim, o que não será desprezível no contexto de Macau e do programa “uma faixa, uma rota”. Estes são atributos que nem o actual nem o anterior Chefe do Executivo possuíam e que muita falta têm feito. Seria bom que o próximo os possuísse. Essa seria também uma forma de valorizar a Lei Básica, bem como a identidade e autonomia de Macau no contexto da Pátria, dando um sinal para dentro. 14. O passado já mostrou, quer em Macau quer em Hong Kong, que a entrega do poder a homens de negócios por parte do PCC nem sempre se revelou a escolha mais acertada. E muitos menos a quem esteja umbilicalmente ligado às famílias, aos magnatas, empresários e associações locais tradicionalmente próximas do poder, que na sua acção tendem a desvalorizar o respeito pela legalidade formal e substancial e pela essência da norma, colocando em causa com a sua vontade de agradar a Pequim o rule of law, a autoridade do governo, a autonomia e a estabilidade política e social. Recorde-se aqui que em 01/02/2019 Bernard Chan escrevia ser necessário ter em atenção o que aconteceu noutros países: “If life is going to get harder or at least more uncertain in the year ahead, cynicism and anger could spread unexpectedly” (SCMP, “Is Hong Kong heading for a populist revolt?”). 15. Creio, aliás, que não há melhor prova de mudar o rumo quando a propósito do caso Sulu Sou/Scott Chiang alguém se permitiu dizer, em resposta a declarações do deputado que referira não poder ser julgado pelo crime de manifestação ilegal, que “é preciso compreender como é que funciona Macau” e que “é preciso ver Macau com olhos de Macau” (HojeMacau, “Neto Valente nega que se tenha metido no caso Sulu Sou”, 14/06/2018). 16. Quanto a isto, o Tribunal de Segunda Instância, pela lapidar decisão de 31 de Janeiro pp., tirada por unanimidade e que deu provimento ao recurso oportunamente interposto pelo arguido Scott Chiang, determinou a repetição do julgamento devido a uma nulidade tão grave que se revelou insanável: violação dos direitos de defesa dos arguidos. Ficou então esclarecido, para quem tivesse dúvidas, com que olhos o TSI vê Macau e como é que Macau funciona: funciona dentro da legalidade. Ponto. Não podia ser de outra maneira. E já se tinha visto isso com a Lei de Terras. E agora façam o favor de repetir o julgamento em pleno período de cumprimento das formalidades que levarão à escolha do próximo Chefe do Executivo. Para se voltarem a discutir os atropelos à legalidade cometidos durante o processo de levantamento da imunidade ao deputado, mais o que aconteceu durante a manifestação “ilegal”, mais o que se disse e se escreveu, assim queimando politicamente e em lume brando quem não queria ouvir falar no assunto e pensava que este estava arrumado. Eu sei que para alguns é desagradável ler isto, mas em matéria de bom senso político e respeito pelo Estado de direito ficamos então conversados. 17. Num cenário de agravamento da situação económica e de instabilidade internacional e regional, seria importante que da reunião da segunda sessão anual do 13.º Congresso Nacional Popular saíssem escolhas claras, projectadas para o futuro, numa linguagem simples, capaz de dar conforto e segurança emocional à população da RAEM. 18. Soluções de continuidade já provaram trazer mais malefícios do que benefícios pela situação de fraqueza em que partem devido ao trade-off eleitoral e à submissão aos parceiros locais que tendem a encapsular e “condicionar” a capacidade de decisão do Chefe do Executivo. Veja-se de novo o caso da Lei de Terras e a forma como o Governo foi “obrigado” a pôr ordem em casa e a iniciar o processo de declaração de caducidade dos terrenos que não foram aproveitados durante o prazo das concessões, o que em meu entender só se fez por vontade expressa de Pequim e contra os maiorais locais que, não obstante o inequívoco texto da lei, pretendiam “soluções à Macau”. Ou seja, as que nos conduziram à actual situação e que Pequim obrigou a corrigir. Daí o aviso à navegação. 19. A liderança da RPC tem a noção exacta dos tempos difíceis e perigosos que aí vêm. Isso não poderá servir de desculpa para defendendo a Nação se atropelar o segundo sistema na RAEM. Até porque vem aí o concurso para as licenças do jogo e a reputação de Macau e da RPC estão a ser internacionalmente escrutinadas. Não se admitem soluções “à Macau”. 20. É hoje indiscutível que a qualidade de vida de Macau e de Hong Kong piorou (a propósito de HK: Peter Kammerer, “Ugly truth is city got worse in past 10 years”, SCMP, 29/01/2019), e que os mesmos erros políticos graves (o realismo e a auto-crítica marxistas não permitiriam dizê-lo de outra forma) foram cometidos nas duas regiões – na economia, no imobiliário, em matérias políticas, sociais, de transportes e obras públicas –, onde altos responsáveis acabaram detidos e julgados por corrupção, depois de durante anos andarem a cometer desmandos, favorecendo familiares, amigos e parceiros de negócios, deixando uma péssima imagem da sua acção, prejudicando os cidadãos das duas regiões e deitando por terra a confiança depositada por Pequim nas autonomias. O discurso oficial pode ser outro. A realidade é esta. E se quiserem podemos discuti-la. 21. Em Hong Kong as coisas já começaram a mudar. E vão mudar muito mais. Que ninguém tenha dúvidas. Veja-se a forma como Carrie Lam encaixou as inúmeras críticas que lhe foram feitas e se predispôs a aceitar o criticismo sobre as controversas matérias da segurança social, as lições de humildade que lhe quiseram dar e a abandonar uma mentalidade elitista, depois de estudos de uma universidade local revelarem que se tinha atingido a mais baixa taxa de aprovação popular desde Julho de 2017 (SCMP, 31/01/2019, p.3). Nessa mesma edição, o SCMP dava conta de que sendo o Chefe do Executivo escolhido por Pequim, jamais permitiria uma alteração às leis anticorrupção que permitisse ao Chefe do Executivo aceitar vantagens patrimoniais. E no dia anterior esse matutino informava que os preços aumentaram 37,6 % num período de cinco anos, enquanto que os salários só subiram 3% (SCMP, “HK Homes Among the Least Affordable”, baseado em Knight Franck’s, “Global Affordability Monitor”). E em Macau? 22. Em Macau as coisas também vão mudar. E essa mudança não será realizada para satisfazer as “obsessões especulativas” dos mandarins locais mas para dar resposta à vox populi em matéria de qualidade de vida e aos objectivos definidos pela liderança do PCC. Acabou o recreio. As palavras e a postura do Chefe do Executivo da RAEM no discurso do Ano Novo Lunar são a melhor evidência disto. Pequim não quer gente nas ruas a manifestar-se contra o Governo e o Chefe do Executivo, nem a clamar por mais e melhor segurança social, saúde, educação, habitação, transportes, ambiente, higiene urbana, tratamento de resíduos ou veículos eléctricos. Muito menos a dar conferências de imprensa sobre a Lei de Terras. Pequim quer mais e melhores respostas aos problemas básicos. E isto envolve rédea curta sobre a corrupção, o nepotismo, o favorecimento político ou empresarial ou a Lei de Terras, instrumento único e fundamental para a resolução desses problemas. 23. Nenhum regime sobrevive com convulsões sociais e sem aprovação e apoio popular. Em democracia ou em ditadura. Por mais consolidada que seja a autocracia ou o poder dos oligarcas. E quando o regime político não é democrático, aqui entendido em termos liberais e ocidentais, sabe-se que a sua legitimidade é discutida diariamente nas ruas quando se vai ao mercado, quando se entra no autocarro ou se olha para o recibo da renda de casa ou da farmácia. O Presidente Xi Jinping sabe que para acomodar cisnes, rinocerontes e, já agora, patos bravos, vai ter de limpar a poeira e o lixo acumulados nos pilares do regime. Como em qualquer operação de limpeza muitos terão de usar máscaras, vai haver muita poeira no ar, muitos detritos em suspensão nas águas durante algum tempo e limitar os panchões. Até que se volte a respirar melhor, se possam dar algumas braçadas no mar sem correr o risco de sair de lá contaminado e que o povo saia à rua satisfeito. 24. Quando o Presidente da República portuguesa vier a Macau em Abril próximo, muita coisa terá entretanto acontecido. Nessa altura estará terminado o conclave que começará em 5 de Março e serão muito mais claras as linhas para o futuro. Também para as escolhas dos 400 membros da Comissão Eleitoral que designarão o futuro Chefe do Executivo da RAEM. O aumento de 100 membros vai baralhar as contas e é natural que quem tão cedo se posicionou e manifestou apoios a putativos candidatos seja obrigado a recuar e a “renegociar acordos”. Há coisas que dificilmente se poderão mudar. Outras (e outros) andarão no ar, na expectativa. Mas de uma coisa todos podem ter a certeza: quando no final deste ano o Presidente Xi Jinping chegar a Macau quase tudo será diferente. E não me refiro apenas ao Chefe do Executivo, qualquer que seja o escolhido. É muito provável que até lá também muitos camaleões “patriotas” tenham mudado de cor. 25. Como Wen Yang escrevia há semanas, e sim, vou voltar a citar o China Daily: “It is time to clear up the source and return to the basic of human rights”. Na RAEM também. Porque Macau não é Hong Kong. E sem isso, com turbulência, falta de visão estratégica e muito sebo, continuando a alimentar a fauna que por aí tem proliferado, indiscriminadamente, não haverá desenvolvimento. Nem será possível ter uma autonomia respeitável e respeitada até ao final de 2049, mantendo uma imagem internacional compatível com os anseios dos seus cidadãos. Um Bom Ano do Porco é o que a todos desejo. Que seja gordo, limpo, produtivo e com muita saúde.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasI love Thelma & Louise [dropcap]H[/dropcap]á já mais de dois séculos que os jornais se habituaram a preencher diariamente um conjunto de páginas originalmente em branco. Tendo em conta certos critérios, diagnosticam o país (ou o local) onde vivem e atribuem o grau de notícia a alguns acontecimentos que aí ocorrem. Com o tempo, aditaram a essa amálgama ritual outros registos, tais como reportagem, opinião, efemérides, ludemas e outras rubricas que se viriam a consolidar. Nos últimos dez anos, talvez por mimetismo próprio da espécie, as pessoas comuns passaram a fazer precisamente o mesmo nas redes sociais, entendendo-se a si como países, partes do mundo ou até como o mundo todo. Os ‘posts’ tornaram-se em notícias de um ‘eu’ que hasteia toda a latitude do cosmos. Fotografa-se a celebrar a existência, dá a ver familiares em descontinuada operação lol, exibe efemérides como se toda a gente delas se lembrasse e não se esquece, é claro, de opinar sobre todo o espectro de temas e matérias do universo Multiplicando por muitos milhões este tipo de cardápio, é hoje possível ter acesso a um somatório de registos que, em uníssono, visa sobretudo uma única coisa: chamar a atenção (abrindo o nexo das coisas privadas, de lés a lés, até às dobras do infinito). As multidões dos nossos tempos padecem de antropofobia e para suprir os males desta tarefa delicada que é existir lá vão contando os ‘likes’, um a um, para depois se entregarem a conjecturas e a mil fantasias e assim se imaginarem a exceder o inadiável. As multidões do nosso tempo andam francamente mais atentas à gazeta dos cardápios que produzem do que a notícias que se referem a coisas ditas reais, do género “só em 2018, registaram-se 18 tiroteios em escolas norte-americanas de que resultaram a morte de mais de cem jovens”. Na maioria destes casos, curiosamente, pelo menos é o que dizem os peritos, os assassinos só pretendiam chamar a atenção sobre si. Sinal de uma era que carece de caixa de velocidades, já que tudo converge nesse apressado passo de sentido único chamado Narciso. Passemos então a um veículo ainda com mudanças e embraiagem e recuemos três décadas, pois faz bem sair do casulo dos ‘posts’ que, coitados, nascem e morrem em menos de 24 horas (lembremo-nos de que os seres vivos do nosso planeta com a vida mais curta são uns microinvertebrados aquáticos de nome gastrotrichas que, apesar de tudo, vivem três dias). Convido-vos, pois, a entrar num filme intitulado ‘Thelma e Louise’, realizado por Ridley Scott (1991). Para possível espanto de todos nós, eis que as duas protagonistas, logo no início da fita, decidem tirar uma “selfie”. Na altura, esta palavra ainda nem sequer existia e a espontaneidade com que o acto decorre nas imagens em movimento pode hoje ser interpretada através de um contexto que na altura toda a gente ignoraria. A polaroid tinha nesta época uma única virtualidade: a revelação imediata em papel sem ter que esperar pelos ofícios da impressão. Era um aceno mágico, lembro-me bem. No filme, a fotografia testemunha a decisão das duas mulheres em cena. “Estamos aqui e decidimos partir em viagem”, diria o balão se estivéssemos a bordo de uma narrativa gráfica. As personagens redescobrem-se a si mesmas de modo autónomo e estão decididas a fazer o que for preciso para chamar a atenção de quem as vê. Aquele é o seu momento. Mal podiam Thelma e Louise imaginar que, um quarto de século depois, as “selfies” se iriam tornar no símbolo maior deste narcisismo epidémico que faz dos adultos crianças a desintricar os muitos acervos de fases como a oral, a anal, a genital e outras latências que deixariam Freud a quebrar bilhas de barro na feira do relógio (‘hello hello, I´m here, look at me please!’). Tal como escreveu André Gunthert*, a “selfie” é o ídolo por excelência da “ideologia da desconexão”, na medida em que ilustra o absurdo de uma vida excessivamente documentada que contrasta com os vazios de um tipo de comunicação que jorra a partir da auto-promoção forçada. A “selfie” traduz ainda o colapso actual da ideia de contexto e propõe, ela mesma, contextos próprios como forma de incitar à interacção pela interacção. É verdade que a tentação de o fotógrafo se tornar no fotografado surgiu com os ‘self-timers’ no início do século XX, tendo a Kodak Retinette, umas décadas depois, criado o temporizador automático. Após as muitas e ruidosas ufanias do Plano Marshall, o turismo estimulou a exposição dos fotógrafos viajantes ao lado das contingências geográficas como se os dois fossem um único super-alarve. Daí até hoje, um vulcão imenso explodiu. A novidade dos nossos dias é que o tremendo excesso de captação fez com que o espaço fotografado se confundisse com uma verdadeira metástese planetária. A fotografia, o fotógrafo e as coisas diluíram-se de tal modo que a fotografia, como sempre a entendemos, quase deixou de existir. O mesmo se pode dizer das antigas gazetas, dos jornais e de outros media. O espaço em branco que diariamente preenchem também se transformou em redundância. O rumor do rumor dos acontecimentos excede em muito tudo aquilo que virtualmente os fez (e faz) existir. As meta-ocorrências estão de tal modo a diluir-se na imaginação global das pessoas que as notícias quase, também, que deixaram de existir. Com raras e preciosas excepções, restará um fluxo ensurdecedor (com a palavra “fake” a pronunciar-se cada vez mais, apenas para que se possa conceder algum sentido às obstinadas quebras de lógica). O mesmo se pode igualmente dizer das pessoas comuns – todos nós, afinal – que se diluem nas redes sociais no dia-a-dia como forma de dizer ‘eu sou’/‘eu estou aqui’. Quase que deixam de existir todos os dias, para voltarem, na manhã seguinte, a tentar ofegantemente respirar de olhos arregalados num novo post. Os Toltecas faziam igualmente sacrifícios para que o sol nascesse depois de cada noite. A fé impunha a morte, mas agora o “temor e o tremor” parecem repetir-se. Compreender a fé é na realidade um absurdo, mas ainda mais absurdo é praticar uma fé (dir-se-á que é o caso dessa fé cega que consiste em ‘comunicar por comunicar’) num mundo que dela radicalmente se apeou, para dar lugar à liturgia da atenção inebriada. GUNTHERT, André. The consecration of the selfie. A cultural history, L’image sociale [Em linha] Nº 23 (Janeiro 2019), Disponível em http://imagesociale.fr/1413 [Consult. 23 Jan. 2019]
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasAs ministras suecas 11/02/2018 [dropcap]E[/dropcap] às vezes o mundo diverte-nos muito para lá das preocupações que lhe concernem. O maior inimigo do rinoceronte é um minúsculo insecto que lhe sobe narina acima e se instala nas circunvoluções do cérebro paquidérmico onde começa a escavar túneis, o que deixa a criatura aos pinotes e de péssimo humor. O maior inimigo do muro do Trump é um cemitério de índios que, providencialmente, se localiza na fronteira entre os EUA e o México, ao longo de muitos e muitos quilómetros, e, meus caros, contra os ancestrais não há pai, nem narina férrea que os dobre. A mostarda começa a chegar ao nariz dos Tohono O’odham e o Trump que se cuide, pois mesmo que ele não acredite em bruxos, que os há, há. E os invisíveis sobem pelas narinas acima mais soberbas. A reserva dos índios fica no Arizona e estende-se por mais de cem quilómetros na fronteira do México e vivem nela 2000 dos seus 34000 membros. Como explica o vice-líder da tribo, “Cada animal, cada pedaço da terra é sagrado, tudo tem um propósito neste mundo, e quando começamos a brincar com a mãe natureza acontecem coisas”. Por isso os terrenos da comunidade não estão à venda e construir o muro seria profanar os ancestrais. E os ancestrais não se deslocalizam, é inegociável. Portanto, aqueles fartos quilómetros com cemitérios (e alguns deles secretos, contam os líderes índios) funcionarão como o buraco de muitos molares na dentadura de crocodilo que o Trump quer implantar ao longo da fronteira. Ou ele expropria e aí profana, ou mata os índios, o que é impensável, ou corrompe-os e aí atrairá a ira dos “espíritos”. O que já estou a adivinhar é muitos túmulos a servirem de receptáculo do contrabando e muitos trilhos secretos apontados pelas linhas brancas da coca. 12/02/18 A Suécia, para além do frio e do génio de Ingmar Bergman, de quem organizei um ciclo para começar dia 19, em Maputo, tem uma mão cheia de poetas notáveis, entre os quais um senhor chamado Gunnar Ekelof, de quem adoraria traduzir a trilogia Diwan/ sobre o Príncipe de Émghion, um duplo que lhe teria sido revelado numa sessão de espiritismo, aos trinta anos, mas ao qual ele não ligou peva. Até que aos 58 anos, em 1965, Ekelof se deslocou a Istambul, e assim que entrou no quarto do hotel foi, como ele disse, forçado por um anjo a escrever a trilogia que conta as lendas em torno desse príncipe que participou na batalha de Mantzikert, em 1071, e foi feito prisioneiro, tenho-lhe sido arrancados os olhos. São poemas belíssimos, como explica Marianne Sandels, na magra antologia saída em português, «um hino à inocência, compaixão e dignidade humanas em tempo de caos e sofrimento», o que me parece ser a receita ideal para a torcida realidade actual. Um mundo heterónomo e soberbo se revela na trilogia que tenho em francês, publicada com o aval do autor, que as discutiu à sílaba com os seus tradutores. Transcrevo, entretanto, este pequeno exemplo vertido pelo Vasco Graça Moura: «SOZINHO, SOZINHO, Sozinho, sozinho, dizes que estás sozinho -/ mas o príncipe de Emghion diz: / Primeiro eu amava Xerezada/ e os seus contos/ depois Dinazarda, a sua irmã mais nova/ depois a criada dela, / depois o amante da criada, um núbio / e então o seu engraxador/ E quando me pus de joelhos/ e lambi a graxa dos seus dedos / amei a poeira/ E bebi-a tanto e tão profundamente/ que tudo para mim enegreceu». Mas veio-me isto à lembrança ao deparar com o grande debate que agora ocorre na Suécia por causa do penteado rasta da sua actual Ministra da Cultura e da Democracia. Como se sabe na Suécia metade do elenco governamental é feminino e a idade dos ministros também espanta. Antes dela ter entrado no governo, neste Janeiro último, o cargo era ocupado por, Alice Bah Kuhnke, uma afro-sueca que ocupou de forma tão competente o cargo que foi promovida a candidata para as próximas eleições europeias, mas a escolha de Amanda Lind, de 38 anos, e do Partido dos Verdes (tal como a anterior ministra), está a levantar engulhos por causa do penteado, que a “jovem” (cf. a foto) não está disposta a mudar porque o usa há vinte anos. Políticos da direita sueca, cronistas vários ou até um jovem artista e comunicador negro, Nisrit Ghebil, referem que o seu penteado é indevido. O artista acusa-a de “apropriação cultural”, sem lhe ocorrer que quando lê a Estética de Hegel ou usa um ipad Huawei talvez esteja também a fazer “apropriação cultural”. Eu preocupar-me-ia mais com as políticas que a ministra pretende desenvolver no seu mandato e que lhe ocupam o miolo sob a caixa craniana, mas este é um mundo em que o líder do país que representava o “mundo livre” diz aos jornalistas “vocês têm os vossos factos, nós temos os nossos que são factos alternativos” e por isso o que conta é o penteado. Atalhando lágrimas e suspiros, sou absolutamente fã das ministras suecas e até acho que a Amanda Lind, uma amante da BD, tem um laivo profundo de Mona Lisa que a torna providencial para o seu papel. Ainda hoje sonhei com ela. Era Verão e à beira de um rio eu tentava pescar trutas. Ela passou, viu que no meu balde já se recolhiam três trutas e sorriu, como quem diz, Convida-me para jantar. Tirou as sandálias e molhou os pés na água. Ficou aquele rio roto no calcanhar do pé dela, é o que vos digo e a mim passou-me o hábito de viver folheado em angústias.
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasNê 30/01/2019 [dropcap]M[/dropcap]ostro-lhe o meu livro pela primeira vez. Observa-o muito atentamente. Olha-me, pergunta: “És tu, a Gisela Casimiro?”, como se esse ser impresso fosse um alter-ego e não eu mesma, a pessoa que para ela é a Gisela, apenas, mas também “A” Gisela. Respondo que sim. Diz que acha o livro bonito. Não há nada melhor do que ir buscar uma criança à escola. Pelo menos para mim, que as não tenho. Hoje, a “minha” está calada. Pergunto como está, nada bem, uma dor num dente que manteve secreta desde o acordar, achando que iria passar. Levo-a ao lugar de que toda a gente gosta, o Kaffeehaus, e após muito torcer o nariz, lá se delicia vezes sem conta com a limonada de framboesa, sem gelo nem rodela de limão. Água a rodos. Hoje não há bolo para ninguém, tal é a dor, até de comer, mas fica a descrição do mítico sachertorte, promessa para a sua segunda visita. Mais tarde, abraçadas a ver Ladybug, à espera da mãe, pergunta a minha idade. Creio que se vai esquecendo, de vez em quando, ou é o tempo que se vai esquecendo de nós, deixando o que nos liga cada vez mais forte, uma ternura que nunca ganha pó, talvez apenas umas rosinhas brancas há muito tempo, ou uma única, cor-de-rosa, desta vez; amigas de longa data que, sem se verem há muito tempo, ainda ontem estiveram juntas nalguma realidade paralela. Mas depois os cabelos: tão longos como não me lembro de alguma vez ter visto. Quando lhe digo que são trinta e quatro, deleito-me com um “És muito nova.” É por isso que gosto tanto de conversar contigo, Nê. 23/01/2017 Falávamos de balões. Sobrara um, laranja, perdido na minha mala, que a Nê encheu pelo caminho. Falávamos de balões com vias lácteas e com orelhas, os balões da nossa infância. Ela, que ainda a vive, disse que, em casa, têm balões em forma de coração. A mãe observou, “Mas os corações rebentam com muita facilidade.” E eu respondi, “Infelizmente, não só em sentido metafórico.” 04/10/2016 Não sei como é que ela conseguiu, mas estávamos ambas em pé e a Nê fez-me festas na cabeça. Os que não têm seis anos vão dizer que foi por causa das escadas, mas não estavam lá, pois não? Depois, espetou o indicador ao de leve na minha barriga e apontou para a sua, já de camisola levantada. Tenho de voltar ao exercício físico, disse-lhe. Podes vir fazer educação física na minha escola. Achas que ninguém iria notar? Agora temos lá uma tartaruga bebé, ela é tão fofa, estamos sempre a olhar para ela. E já tem nome? Não. Têm de votar e depois decidir. Vou chamar-lhe Gisela. Vai ser a tua cópia. Não, vai ser a minha homónima. Entre homónimos, doppelgangers e sósias, contou-me de duas gémeas amigas, não me recordo agora os nomes, mas uma era a da camisola rosa e, outra, a da camisola azul. Coitadas, nunca mudavam de roupa? Ou vestiam sempre a mesma cor? E se trocassem de camisola, como é que fazias? Falámos da natação, do piano, do Daniel, da professora de inglês e de como ela descobriu, durante a apanhada (diferente da do meu tempo, agora apanha-se mesmo) que é mais forte do que um rapaz do quarto ano. Quando nos despedimos, pediu que a levasse comigo; abraçada a mim, dizia, não vais sair daqui, vou colar-me a ti. Menos cabelo, num corte que lhe fica tão bem, menos dentes, num sorriso que, num dia como o de hoje, especialmente como o de hoje, eu não esperava ver e que ela tem sempre para me dar. Ouvi, quando cheguei, a Catarina dizer, olha ali a Gisela. E a Nê, mesmo à minha frente, olhava para todos os lados e perguntava, ainda sem me ver, onde, onde? No meio de muitos abraços, ouvi, a minha filha está a olhar para uma das suas pessoas preferidas. Ela também é uma das minhas. Nunca quero esquecer as coisas bonitas que ela me diz. E só agora percebi o tanto que ainda tinha para lhe contar. Não sei como, mas tenho ali uma grande amiga. Duas, na verdade. E que saudades eu já tinha. 19/07/2016 Outro dia, – Gisela, qual é o teu vestido preferido? – Não sei, Nê, eu… – Eu acho que é esse que tens agora, porque já te vi muitas vezes com ele. No mesmo dia, “Quando tu me conheceste eu já tinha seis anos. Eu pensava que riqueza era ter muito dinheiro mas riqueza afinal é ser inteligente. Ó Gisela, tu disseste que ias para a natação, já começaste? Eu não sei por que é que o laranja é uma fruta e uma cor.” (E eu só consigo dizer “Ó Nê tu és linda.”) 25/06/2016 Das manhãs felizes, com encontros combinados que se sobrepõem aos casuais e tudo resulta em bonita sintonia. E há lá coisa que nos desarme mais do que, depois de sermos cumprimentados com um longo abraço, recebermos um outro, assim do nada, inesperado, ainda melhor do que o primeiro? Talvez nas crianças coisa alguma venha do nada. A Nê vem da Catarina, em parte. Ela disse à filha que os cockers são cães de veludo. Algum tempo antes, o Fred disse, “As minhas referências Disney são limitadas. Por isso é que eu sou são.”
Hoje Macau China / ÁsiaHuawei | Pequim diz que não há evidências de ameaça à segurança nacional [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês afirmou ontem que os Estados Unidos e outros países não apresentaram nenhuma evidência conclusiva de que o grupo chinês das telecomunicações Huawei constitui uma ameaça à segurança nacional. A porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, acusou os críticos da Huawei de fabricar ameaças e abusar do poder do Estado para “eliminar os legítimos direitos e interesses de desenvolvimento das empresas chinesas”, e “usar meios políticos para intervir na economia”. Os comentários de Hua surgem numa altura em que Washington renova a pressão sobre vários países para que fechem os seus mercados à Huawei, por motivos de segurança nacional. Na segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, advertiu os aliados dos Estados Unidos contra o uso de equipamentos da empresa, afirmando que isso pode dificultar a troca de informações com Washington. “Queremos ter a certeza de que identificamos as oportunidades e os riscos de usar equipamento” da Huawei, disse Pompeo, durante uma visita a Budapeste. A empresa recusa as acusações de espionagem e nega que o regime chinês recorra à sua tecnologia para espiar os utilizadores. Mas a Austrália e a Nova Zelândia baniram já as redes de Quinta Geração (5G) da Huawei por motivos de segurança nacional, após os Estados Unidos e Taiwan, que mantém restrições mais amplas à empresa, terem adoptado a mesma medida. Também o Japão, cuja agência para a segurança no ciberespaço classificou a firma chinesa como de “alto risco”, baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais. Reis da rede Fundada em 1987, por Ren Zhenfei, um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei é hoje o maior fabricante global de equipamentos de rede e tem escritórios em Lisboa, onde conta também com um centro de inovação e experimentação. Segundo a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), desde 2004, a firma chinesa investiu 40 milhões de euros em Portugal. Em Dezembro passado, durante a visita a Lisboa do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a Altice e a Huawei um acordo para o desenvolvimento da tecnologia 5G em Portugal, apesar de, também a União Europeia ter assumido “estar preocupada” com a empresa e com outras tecnológicas chinesas, devido aos riscos que estas colocam em termos de segurança. As redes sem fio 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais eléctricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como activos estratégicos para a segurança nacional. A Huawei é também o primeiro actor global chinês no sector tecnológico, tornando a empresa politicamente importante, à medida que Pequim tenta transformar as firmas do país em importantes competidores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. A empresa emprega 180 mil pessoas e as vendas superaram os 100 mil milhões de dólares, em 2018.
Hoje Macau EventosImprensa Nacional abre ano editorial com todos os poemas que Pessoa publicou em vida [dropcap]O[/dropcap] volume “Mensagem e Poemas Publicados em Vida”, de Fernando Pessoa, numa edição crítica do filólogo Luiz Fagundes Duarte, abre esta semana o ano editorial da Imprensa Nacional (IN). Na introdução deste volume, intitulada “O Palácio Abandonado”, Luiz Fagundes Duarte afirma que “Fernando Pessoa era um rapaz planeado. E muito produtivo”, todavia em vida “apenas trouxe a público 129” poemas. Segundo o catedrático da Universidade Nova de Lisboa, dos 129 poemas que Fernando Pessoa (1888-1935) publicou em vida, 18 “foram republicados uma ou mesmo duas vezes, em datas e contextos diferentes, o que nos dá, em termos absolutos, um total de 111 poemas”, que inclui a “Mensagem”, que só por si reedita 14 poemas publicados anteriormente. O livro “Mensagem” (1934) totaliza 44 poemas e, inicialmente, estava previsto intitular-se “Portugal”, mas “à derradeira hora [foi] rebaptizado como ‘Mensagem’”. Quanto ao título da introdução, é uma referência a uma das obras que Pessoa previu publicar, “As Septe Salas do Palácio Abandonado” que, conforme os seus projectos, “contaria entre 186 e, pelo menos, 226 poemas”. Fernando Pessoa contava 27 anos, quando projectou publicar “As Septe Salas do Palacio Abandonado”, título que o filólogo aponta como “exótico” e que “se revela muito interessante não só pela ideia que o sustenta como pelo pormenor com que foi delineado”: “um ‘palácio poético’ com sete salas, cada uma com a sua designação e com o seu mobiliário”. Luiz Fagundes Duarte anexa a esta introdução, uma edição interpretativa e articulada da lista de poemas para ‘As Septe Salas’, e da sua distribuição interna “tal como Fernando Pessoa, algures na sua juventude, as pensou, e poderá verificar se os poemas que são referenciados pelo poeta para integrarem o livro no seu conjunto, e cada uma das salas em particular, cabem ou não naquela classificação tipológica”. Olho aberto Quanto ao volume que agora se traz a público, parte de um princípio metodológico: “Uma coisa são os textos — neste caso, poemas — que Fernando Pessoa, num dado contexto histórico, social e estético, entendeu publicar com o seu nome, e outra coisa são os que não publicou”, esclarece Fagundes Duarte. Sendo que “estes últimos têm vindo a ser editados criticamente por outras pessoas, chegou agora a vez dos primeiros — os ‘Poemas Publicados em Vida’, incluindo o livro de poesia mais referenciado de Pessoa, a ‘Mensagem’, bem como os poemas alheios que de outras línguas — o inglês e o espanhol — verteu para português”, serem reunidos num título. Referindo-se à edição crítica de Pessoa, Fagundes Duarte afirma que, “aparentemente, a tarefa é coisa fácil: bastaria recolher os respetivos testemunhos impressos e organizá los por datas de publicação”, mas “filologia ‘è cosa mentale’”, argumenta, numa referência ao que escreveu sobre a pintura Leonardo Da Vinci. “O olho do filólogo tem obrigação de ver mais que o do leitor não diferenciado: deve, sempre que para tal tem materiais e utensílios — e neste caso tem nos —, evitar a tentação da imitação (ou seja, limitar se a reproduzir o que já existe) e assumir o dever da interpretação”, argumenta o investigador. “Em grande parte, os poemas que Pessoa publicou em vida dispõem de originais autógrafos, que podem e devem ser descritos e interpretados pelo filólogo com vista a que o leitor tenha uma noção, o mais possível objectiva, da história genética que de cada um se pode contar”, esclarece Luiz Fagundes Duarte.
Hoje Macau EventosPresidente da República portuguesa vai condecorar Carrilho da Graça e Souto de Moura [dropcap]O[/dropcap] Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou ontem que vai condecorar, numa cerimónia no Palácio de Belém, os arquitectos João Luís Carrilho da Graça e Eduardo Souto de Moura com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública. Marcelo Rebelo de Sousa discursou ontem no lançamento do livro “Guia de arquitectura Carrilho da Graça – projectos construídos Portugal”, cerimónia que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. “O Presidente da República limita-se a dar voz a esse clamor unânime e a simbolizá-lo 20 anos e uma centena de projectos depois do galardão atribuído pelo Presidente Jorge Sampaio, comunicando que o irá condecorar com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, tal como o fez já com Álvaro Siza Vieira, e o fará também com Eduardo Souto de Moura”, anunciou no final do seu discurso. Na opinião do Presidente da República trata-se de um “verdadeiro magistério de excelência”, adiantando que a cerimónia de condecoração acontecerá no Palácio de Belém, em Lisboa. “Porque mesmo os mais heterodoxos dos heterodoxos no estilo nunca devem deixar de ter presente o mínimo sentido de Estado que o reconhecimento nacional envolve, porque é de reconhecimento nacional que falamos ao celebrar os nossos melhores em nome de Portugal”, elogiou. Na opinião do Presidente da República, “tinha de chegar um dia em que somados quase todos os prémios possíveis, chegasse o guia da obra e a justíssima homenagem ao seu criador”. “É hoje. Hoje aqui se encontram pares na caminhada, discípulos na sabedoria, colaboradores no engenho, admiradores do homem e do seu sonho, expectantes das surpresas do futuro por viver”, enumerou.
Diana do Mar SociedadeFinanças | Saldo orçamental atinge em Janeiro metade do previsto para 2019 [dropcap]A[/dropcap] Administração fechou Janeiro com um saldo positivo de 9.132 milhões de patacas, o equivalente a metade do orçamentado para todo o ano (18.061 milhões de patacas). As receitas públicas totalizaram 12.181 milhões de patacas, estando cumpridas em 10,4 por cento. Do total, 10.192 milhões resultam das concessões dos jogos de fortuna ou azar, cujo grosso diz respeito ao imposto directo de 35 por cento cobrado sobre as receitas dos casinos, cujo valor não surge discriminado. Feitas as contas, com base nas receitas dos casinos de Janeiro (24.942 milhões), os cofres públicos encaixaram 8.729 milhões de patacas com o imposto directo sobre o jogo, o equivalente a 71 por cento das receitas públicas. Já as despesas foram de 3.049 milhões de patacas em Janeiro, com a taxa de execução a corresponder a 3,1 por cento. Os gastos ao abrigo do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) estavam a zeros. Os dados publicados pela DSF apresentam um novo formato, com os valores correspondentes a 2018 a constituírem o resultado efectuado conforme as novas regras relativas às estrutura da classificação económica das receitas e despesas públicas, definidas por despacho, em linha com nova Lei de Enquadramento Orçamental, em vigor desde 1 de Janeiro de 2018, de modo a permitir uma comparação com 2019 na mesma base.
Diana do Mar Manchete SociedadeDefesa insiste na inconsistência de provas no caso de apostas do Mundial 2014 Os registos de apostas feitas após a operação policial, ou seja, quando computadores estavam já na posse da PJ, foram uma das provas colocadas ontem em causa na audiência do julgamento do caso das apostas ilegais do Mundial de Futebol de 2014. A leitura da sentença foi marcada para o próximo dia 26 [dropcap]A[/dropcap] defesa voltou a apontar ontem incongruências nas provas recolhidas no âmbito do julgamento do caso de apostas ilegais no Mundial de Futebol de 2014, que envolve 15 arguidos, todos ausentes, acusados de exploração ilícita de jogo, crime punível com pena de prisão até três anos. “É com espanto que vejo informações nos autos, com registos de 1 a 12 de Maio, cujo ‘turnover’ [volume de negócios] totalizou 3,5 mil milhões”, afirmou Icília Berenguel, advogada de cinco dos arguidos, pedindo explicações a um técnico superior do Departamento de Informática da PJ, atendendo a que o Mundial do Brasil decorreu entre 12 de Junho e 13 de Julho. No seguimento, o juiz, Lei Wai Seng, quis saber se a testemunha, que ficou incumbida de encontrar dados nos computadores sobre o caso, tinha um intervalo temporal para a pesquisa. A resposta foi negativa, levando a advogada a insistir por que razão os investigadores, aos quais competiu fazer a análise dos dados, mencionam então datas nos respectivos relatórios. “Tem de lhes perguntar”, afirmou. O técnico superior do Departamento de Informática também falhou em responder como surgem nos autos informações extraídas dos computadores já depois da operação policial, ou seja, quando estavam na posse da PJ. “Como é que tecnicamente explica o facto de ter sido retirado do computador elementos posteriores à sua apreensão?”, questionou Icília Berenguel, fazendo menção a dados de uma folha Excel, referentes a 21 de Junho, envolvendo duas apostas, quando a operação policial teve lugar a 19. Após insistência, incluindo de outros advogados de defesa e do próprio juiz, o técnico da PJ admitiu a possibilidade de a informação do computador estar a ser movimentada por outra pessoa, eventualmente noutra parte do mundo, tendo reconhecido ainda que não é possível identificar quem utilizou o(s) computador(es). Pedro Leal continuou. “Com todos os dados que tem à frente, diga-me quando e em que computador foi feita uma aposta ilícita em Macau”, afirmou, pedindo um exemplo concreto. As respostas não agradaram, com o advogado a apontar o dedo às testemunhas da PJ por estarem “a passar a bola” uns para os outros, dado que, na véspera, os investigadores tinham remetido explicações para os técnicos de informática. Face à ausência de provas concretas, foram pedidos pelo menos os “indícios”, com a testemunha a citar os registos de apostas, historial de conversas no Skype, com palavras-chave relacionadas, como “bet” (aposta), entre outros. Exemplos que a defesa entendeu serem apenas “generalidades”. “Ao fim de dois dias, ainda não consegui entender o que o levou a chegar à conclusão de que estavam a explorar jogo ilegal em Macau”, afirmou Gabriel Tong, advogado de Paul Phua Wei Seng, empresário malaio apontado como cabecilha da alegada rede. (I)legalidades Na parte da manhã foram ouvidas três testemunhas, todas da PJ, incluindo um agente que examinou parte dos telemóveis apreendidos nas buscas a pelo menos quatro quartos de hotel do Wynn. Em causa uma de duas testemunhas, arroladas na véspera pelo Ministério Público, cuja inquirição foi contestada pela defesa no arranque da audiência por razões de legalidade. O tribunal não devia “perder tempo”, dado que a prova que vier a ser feita sobre telemóveis será “nula”, isto é, “sem qualquer validade”, argumentaram os advogados, aludindo à ausência de autorização de um juiz ou do consentimento da parte para o acesso ao conteúdo dos telemóveis. O juiz, Lei Wai Seng, manteve a posição de ouvir as testemunhas, mas garantiu que terá esse aspecto em conta na hora da sentença. “Não se preocupem”, disse. A audiência prosseguiu à tarde, com a inquirição de todas as testemunhas, incluindo as da defesa. A leitura da sentença está marcada para o próximo dia 26.
Hoje Macau SociedadeUM | Ge Wei e So Kee Long designados vice-reitores [dropcap]G[/dropcap]e Wei e Billy So Kee Long foram escolhidos para o cargo de vice-reitores da Universidade de Macau (UM), após deliberações do Conselho da UM, tomadas já em Agosto e Dezembro, diz um aviso da instituição, publicada ontem em Boletim Oficial. Ge Wei, professor da Faculdade de Ciências da Saúde da UM, foi nomeado por cinco anos, enquanto Billy So Kee Long, vindo da Faculdade de Humanidades da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, por três anos. Ambas as nomeações produzem efeitos a partir de segunda-feira. Segundo o ‘site’ da UM, Ge Wei exercia já o cargo de vice-reitor substituto para a área da investigação. Existem mais quatro postos de vice-reitor, um dos quais (Assuntos Globais) ocupado por Rui Martins.
Hoje Macau SociedadeHong Kong | Alteração legal pode abrir extradição de Joseph Lau para Macau Uma alteração à lei de Hong Kong que regula a extradição traz a possibilidade de Joseph Lau vir a cumprir em Macau a pena de prisão de cinco anos e três meses a que foi condenado. A potencial reforma visa colmatar lacunas legais expostas por um caso de homicídio ocorrido no ano passado em Taiwan [dropcap]A[/dropcap] possibilidade do Governo de Macau pedir a extradição de Joseph Lau às autoridades de Hong Kong ganhou força esta semana. A secretaria da Segurança da região vizinha revelou que planeia alterar a lei que regula os pedidos de extradição, permitindo o regresso de fugitivos que se encontrem em Hong Kong para Macau, Taiwan e Interior da China. É de salientar que a actual versão do diploma prevê reciprocidade das transferências de condenados. Se o Conselho Legislativo de Hong Kong aprovar a proposta, os pedidos serão atendidos caso a caso e as extradições dependentes de autorização da Chefe do Executivo de Hong Kong. Apesar de não existir um acordo entre as duas regiões administrativas especiais para a transferência de condenados foragidos, a alteração legal em apreço abre a porta à extradição de Joseph Lau para Macau. O magnata de Hong Kong foi condenado a uma pena de cinco anos e três meses de prisão efectiva em 2014 no megaprocesso Ao Man Long. A justiça de Macau deu como provados os crimes de corrupção activa para acto ilícito e um crime de branqueamento de capitais. No final do processo, os juízes concluíram que Ao Man Long recebeu de Joseph Lau 20 milhões de dólares de Hong Kong como contrapartida pela atribuição de cinco lotes à ‘offshore’ Moon Ocean, subsidiária do grupo Chinese Estates Holdings, detida pelo empresário foragido. De acordo com a revista Forbes, a fortuna de Joseph Lau em Abril de 2017 estava estimada em 15,1 mil milhões de dólares norte-americanos. A razão das coisas Esta posição do Executivo da região vizinha surge em resposta ao alegado homicídio cometido por um residente de Hong Kong que terá assassinado a namorada, que estava grávida. O crime aconteceu em Fevereiro do ano passado e o suspeito conseguiu regressar a Hong Kong, escapando à justiça taiwanesa. O adolescente de 19 anos, chamado Chan Tong-kai, foi detido em Hong Kong mas apenas foi acusado de roubo e lavagem de dinheiro depois de ser apanhado na posse do cartão de crédito da vítima, dinheiro vivo e outros bens. Apesar dos pedidos das autoridades taiwanesas, e face à inexistência de acordo de extradição entre as duas regiões, Chan Tong-kai não foi enviado para Taiwan. A proposta de alteração legal que será apreciada pelos legisladores de Hong Kong visa colmatar estas lacunas de cooperação judiciária, mantendo as protecções estabelecidas na actual legislação. Nomeadamente, as disposições que asseguram que os fugitivos não podem ser julgados devido à raça, religião, nacionalidade e inclinações políticas, com a decisão final a permanecer nos tribunais de Hong Kong. Entretanto, o deputado do campo pró-democrata James To Kun-sun alertou para a possibilidade desta alteração à lei abrir a porta para que Pequim peça o envio de dissidentes políticos de Hong Kong para o Interior da China. É expectável que a proposta de lei seja votada e aprovada ainda durante a actual sessão legislativa, que termina em Julho.
Hoje Macau SociedadeGrande Prémio | Alexis Tam atribui louvor à Comissão [dropcap]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, reconheceu publicamente a Comissão do Grande Prémio, enaltecendo o “elevado mérito desportivo e organizativo” que “o evento conseguiu mais uma vez alcançar”. Segundo o louvor, publicado ontem em Boletim Oficial, a Comissão do Grande Prémio “merece uma justa homenagem pela permanente, constante e competente entrega em todos os trabalhos que vão da complexa construção do circuito, minuciosa organização das provas, competente e delicado socorro dos feridos ou empenho na diminuição do impacto na vida dos residentes”. Alexis Tam realça ainda “o profissionalismo exemplares” e a “grande capacidade de adaptação que foi reconhecida e elogiada internacionalmente”.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Vong Hin Fai admite terem sido feitas reuniões da comissão de regimento sem conhecimento dos deputados [dropcap]V[/dropcap]ong Hin Fai, deputado e secretário da comissão de regimento e mandatos da Assembleia Legislativa (AL), admitiu ontem que, no passado, foram marcadas algumas reuniões sem o conhecimento de todos os deputados. “Nos mandatos anteriores da AL, a comissão de regimentos fez muitas reuniões que não eram fechadas mas que serviram para discutir assuntos técnicos. No passado muitas reuniões foram feitas sem que os media tenham sido informados, e algumas vezes foram feitas sem dar conhecimento aos deputados. Algumas vezes não demos conhecimento, mas isso cabe ao presidente da comissão decidir”, disse, à margem do almoço de primavera da AL com os media. O presidente da comissão de regimento e mandatos é o deputado Kou Hoi In, que não prestou declarações sobre esta matéria. Entretanto, o presidente da AL, Ho Iat Seng, acrescentou que cabe aos presidentes das comissões decidir se devem convocar os jornalistas para a respectiva cobertura. A questão foi colocada depois de ter sido noticiado que a comissão de regimento e mandatos reuniu à porta fechada, sem conhecimento dos repórteres. Além disso, nem todos os deputados foram notificados. “Se as respectivas comissões entenderem que devem ser comunicadas, então deve ser feita essa comunicação. Mas isso depende da decisão de cada comissão.” “Não posso estipular qualquer regra. Mas posso alertar para que se avisem antecipadamente os órgãos de comunicação social da realização das reuniões”, acrescentou Ho Iat Seng. Sulu Sou referiu que nos compromissos “formais com o Governo, o presidente da comissão deve notificar os jornalistas”, enquanto que para os trabalhos técnicos, de natureza interna “os deputados não são notificados”. “Nas reuniões entre os juristas da AL e os deputados, alguns presidentes de comissão notificam os jornalistas, mas outros não o fazem. Neste aspecto, Vong Hin Fai [presidente da 3ª Comissão Permanente e secretário na Comissão de Regimento e Mandatos] tem uma boa postura, notifica os jornalistas mesmo para as reuniões entre conselheiros jurídicos e legisladores”, frisou.