Imprensa Nacional abre ano editorial com todos os poemas que Pessoa publicou em vida

[dropcap]O[/dropcap] volume “Mensagem e Poemas Publicados em Vida”, de Fernando Pessoa, numa edição crítica do filólogo Luiz Fagundes Duarte, abre esta semana o ano editorial da Imprensa Nacional (IN).
Na introdução deste volume, intitulada “O Palácio Abandonado”, Luiz Fagundes Duarte afirma que “Fernando Pessoa era um rapaz planeado. E muito produtivo”, todavia em vida “apenas trouxe a público 129” poemas.

Segundo o catedrático da Universidade Nova de Lisboa, dos 129 poemas que Fernando Pessoa (1888-1935) publicou em vida, 18 “foram republicados uma ou mesmo duas vezes, em datas e contextos diferentes, o que nos dá, em termos absolutos, um total de 111 poemas”, que inclui a “Mensagem”, que só por si reedita 14 poemas publicados anteriormente.

O livro “Mensagem” (1934) totaliza 44 poemas e, inicialmente, estava previsto intitular-se “Portugal”, mas “à derradeira hora [foi] rebaptizado como ‘Mensagem’”.

Quanto ao título da introdução, é uma referência a uma das obras que Pessoa previu publicar, “As Septe Salas do Palácio Abandonado” que, conforme os seus projectos, “contaria entre 186 e, pelo menos, 226 poemas”.

Fernando Pessoa contava 27 anos, quando projectou publicar “As Septe Salas do Palacio Abandonado”, título que o filólogo aponta como “exótico” e que “se revela muito interessante não só pela ideia que o sustenta como pelo pormenor com que foi delineado”: “um ‘palácio poético’ com sete salas, cada uma com a sua designação e com o seu mobiliário”.

Luiz Fagundes Duarte anexa a esta introdução, uma edição interpretativa e articulada da lista de poemas para ‘As Septe Salas’, e da sua distribuição interna “tal como Fernando Pessoa, algures na sua juventude, as pensou, e poderá verificar se os poemas que são referenciados pelo poeta para integrarem o livro no seu conjunto, e cada uma das salas em particular, cabem ou não naquela classificação tipológica”.

Olho aberto

Quanto ao volume que agora se traz a público, parte de um princípio metodológico: “Uma coisa são os textos — neste caso, poemas — que Fernando Pessoa, num dado contexto histórico, social e estético, entendeu publicar com o seu nome, e outra coisa são os que não publicou”, esclarece Fagundes Duarte.

Sendo que “estes últimos têm vindo a ser editados criticamente por outras pessoas, chegou agora a vez dos primeiros — os ‘Poemas Publicados em Vida’, incluindo o livro de poesia mais referenciado de Pessoa, a ‘Mensagem’, bem como os poemas alheios que de outras línguas — o inglês e o espanhol — verteu para português”, serem reunidos num título.

Referindo-se à edição crítica de Pessoa, Fagundes Duarte afirma que, “aparentemente, a tarefa é coisa fácil: bastaria recolher os respetivos testemunhos impressos e organizá los por datas de publicação”, mas “filologia ‘è cosa mentale’”, argumenta, numa referência ao que escreveu sobre a pintura Leonardo Da Vinci.

“O olho do filólogo tem obrigação de ver mais que o do leitor não diferenciado: deve, sempre que para tal tem materiais e utensílios — e neste caso tem nos —, evitar a tentação da imitação (ou seja, limitar se a reproduzir o que já existe) e assumir o dever da interpretação”, argumenta o investigador.

“Em grande parte, os poemas que Pessoa publicou em vida dispõem de originais autógrafos, que podem e devem ser descritos e interpretados pelo filólogo com vista a que o leitor tenha uma noção, o mais possível objectiva, da história genética que de cada um se pode contar”, esclarece Luiz Fagundes Duarte.

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