ONU diz que China e EUA seriam os maiores beneficiários de um Brexit sem acordo

[dropcap]A[/dropcap] China e os Estados Unidos seriam os países que mais beneficiariam de um ‘Brexit’ sem acordo, enquanto a União Europeia e a Turquia poderiam ser os mais prejudicados, segundo um estudo ontem divulgado pela ONU.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) publicou um estudo sobre as consequências para a economia internacional com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

A China, o maior exportador mundial, poderia ganhar 10,2 mil milhões de dólares com vendas adicionais ao Reino Unido, seguindo-se os Estados Unidos, com um crescimento das suas exportações de 5,3 mil milhões de dólares, de acordo com os dados do relatório.

No estudo refere-se que a aprovação de um ‘Brexit’ sem acordo poderia beneficiar também o Japão, Tailândia, África do Sul, Índia, Brasil, Rússia, Vietname, Argentina e Nova Zelândia.

Por outro lado, prevê-se no estudo que a União Europeia perderia 34,5 mil milhões de dólares em exportações para o Reino Unido, enquanto a Turquia poderia sofrer uma redução de vendas de 2,4 mil milhões de dólares.

A Coreia do Sul, Paquistão, Noruega, Islândia, Suíça e Camboja também poderiam ver a sua economia prejudicada.

“O plano britânico de reduzir as taxas à sua lista de ‘nações mais favorecidas’ incrementaria a competitividade de países eminentemente exportadores, como os Estados Unidos e a China”, afirmou a directora de comércio internacional e matérias-primas da UNCTAD, Pamela Coke-Hamilton.

10 Abr 2019

China quer eliminar restrições no acesso ao ‘hukou’

[dropcap]A[/dropcap] China anunciou ontem que vai abolir gradualmente as restrições no acesso ao ‘hukou’ – espécie de passaporte interno -, em áreas urbanas até três milhões de habitantes, beneficiando 100 milhões de trabalhadores migrantes.

O documento, difundido pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o órgão máximo chinês de planificação económica, requer que as autoridades locais permitam o acesso a serviços básicos a trabalhadores migrantes, em cidades com entre um e três milhões de habitantes.

A medida abrange 100 milhões de pessoas, segundo a imprensa local, mas exclui automaticamente as principais cidades do país, como Pequim, Xangai, Cantão ou Shenzhen – todas com mais de dez milhões de habitantes -, ou a maioria das capitais de província.

Em 2018, o número de população urbana da China fixou-se em quase 60 por cento, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas. Com cerca de 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo.

No mesmo ano, quase 14 milhões de rurais migrados nas cidades obtiveram o ‘hukou’, segundo o relatório de trabalho do Governo, entregue, no mês passado, pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, à Assembleia Nacional Popular.

As autoridades priorizaram trabalhadores com formação universitária ou profissional, detalha o mesmo documento.

Filhos esquecidos

A autorização de residência ‘Hukou’ é um sistema implantado em 1958, durante o Governo de Mao Zedong, para controlar a migração massiva dentro do país e assegurar a continuidade da produção agrícola e a estabilidade social nos centros urbanos.

O restrito sistema de residência priva os trabalhadores de serviços básicos, como o acesso à educação ou saúde pública, rompendo com a estrutura familiar.

Devido às restrições, milhões de trabalhadores optam por deixar os filhos ao cuidado de familiares nas aldeias de origem. Em muitos casos, os pais só visitam as crianças uma vez por ano.

Um censo divulgado pelo Governo, em 2015, estima que o total de crianças “deixadas para trás” ascende a 9,2 milhões, mas estimativas independentes colocam aquela cifra nos 61 milhões.

Em 2018, o número de população migrante que não aparece nos censos das cidades onde residem fixou-se em 241 milhões de pessoas.

10 Abr 2019

Ká-Hó | Sarampo adia abertura do Hospital de Reabilitação

[dropcap]O[/dropcap] surto de sarampo levou ao adiamento da abertura da parte do novo Hospital de Reabilitação de Ká-Hó gerida pelo Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ). A revelação foi feita ontem por Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde (SSM), após uma reunião com os deputados na Assembleia Legislativa (AL). “A enfermaria do CHCSJ, que fica no segundo andar, ainda não começou a trabalhar por causa do surto de sarampo”, afirmou Lei Chin Ion, quando questionado sobre um balanço dos trabalhos.

A cerimónia de abertura do espaço, que tem 188 camas, foi feita a 1 de Abril e contou com a presença do Chefe do Executivo, Chui Sai On, e o secretário para os Assuntos Sociais e Cultural, Alexis Tam. A parte do hospital a cargo da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) está em funcionamento e serve meia centena de pacientes. “A área da enfermaria de reabilitação gerida pela FAOM tem 50 pacientes, neste momento. São pessoas que ficam internadas [no espaço]” justificou Lei Chin Ion.

Em relação ao funcionamento desta unidade hospitalar, o director dos SSM admitiu abordar a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) para haver um aumento na frequência das ligações de autocarros para aquelas zonas.

À espera de vacinas

Por outro lado, a crescente procura a nível de mundial de vacinas contra o sarampo não permite aos SSM apontarem uma data para a chegada das 10 mil doses encomendadas. A situação foi explicada ontem por Lam Chong, coordenador do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC), que anteriormente tinha previsto um prazo de três semanas para a chegada das vacinas.

“Comprámos 10 mil vacinas nos últimos dias, mas não temos uma data exacta para a entrega”, apontou Lam. “Anteriormente o fornecedor tinha-se comprometido a fazer as entregas dentro de três semanas. Mas como houve surtos na Europa e em outros países e regiões há uma grande procura. Por este motivo não temos uma data concreta para a chegada das vacinas a Macau”, justificou.

De acordo com os dados dos SSM, desde 20 de Março cerca de 4.200 adultos tinham sido vacinados contra o sarampo. Deste grupo, 1.600 pessoas eram trabalhadores não residentes. Até ao fecho da edição do HM, segundo Lam Chong, estavam confirmados 32 casos de sarampo.

Entre estes, três estavam em recuperação, em casa, e os restantes 29 totalmente curados. Ainda assim, havia a possibilidade de serem confirmados entre quatro e cinco casos novos. “Estamos a fazer o rastreio e a aguardar resultados”, reconheceu Lam.

10 Abr 2019

Como se fazem os bebés

[dropcap]U[/dropcap]ma amiga comentou que fazer sexo e fazer bebés poderão ser encarados como actividades diferentes. Uma coisa é o sexo, outra coisa é fazer um filho. Uma coisa é ter prazer, outra coisa é criar uma família. Há momentos de intercepção também. Mas quem faz sexo porque quer um bom orgasmo, pode ser um depravado. Quem tem filhos é decente. Mas o sexo nunca desaparece dos nossos mundos de significado.

Os pais que procriam em decência, terão que encarar a dura realidade de uma criança que se tornará adolescente e adulto. É preciso falar de sexo em algum momento e de como se quer incluir o sexo na parentalidade. Falar da intimidade é um dever cívico que não se resume a uma conversa do que são pipis ou pilinhas. Nas nuances do sexo e do comportamento sexual existem conceitos confusos. Há necessidade de clarificar emoções e direitos para que certas situações deixem de ser assustadoras ou estranhas. Estes são conteúdos que vão muito além dos métodos contraceptivos que existem e de ‘como se fazem os bebés’. Os conteúdos programáticos das escolas são inflexíveis, simples e de contrastes distintos e limitados. Estes carregam também uma fraca noção do direito à auto-determinação pessoal das crianças e jovens. Como se eles não tivessem nada a dizer, como se eles não pudessem participar na conversa.

Devemos falar de intimidade, consentimento, contracepção e prazer. Mas não há fórmulas perfeitas. Só abrindo espaços seguros e sem julgamento é que é possível explorar a curiosidade natural do sexo. Julgar que se pode controlar os conteúdos sexualizados a que as crianças e jovens têm acesso é pateta. Mais vale oferecer-lhes ferramentas onde eles próprios possam dar sentido às imagens e aos conceitos. Falar sobre sexo pode ajudar, mas impõem-se certos desafios.

Primeiro porque pensar na sexualização infantil/juvenil é difícil. Há um medo premente que conversas sobre sexo motivem a iniciação sexual. Segundo, há demasiada imaturidade sexual por este mundo fora para pensar que a solução passa por simples conversas. Poucos relacionam a obrigatoriedade do sexo – para a propagação genética e perpetuação da vida familiar com o bem último da vida humana – ao prazer dos corpos nus. A parte dos bebés é pragmática, a parte do prazer é polémica. A tensão cai obrigatoriamente na premissa que o sexo fora da procriação é crime – um exemplo bem contemporâneo é o caso do Brunei onde agora o sexo homossexual e o adultério são punidos com pena de morte. Portanto – estamos preparados para falar sobre sexo?

Não. Podemos não falar sobre sexo com os mais jovens? Também não. Falamos como podemos disto de ‘como fazer bebés’ e de como não tê-los. Esticamos os conteúdos para uma conversa sobre sexo cada vez mais informativa para depois percebermos que falar sobre sexo (e género também) é agora visto pelos mais melindrados como uma escolha ideológica. Sexo não é ideologia, sexo é um facto. Este facto de consequências reais precisa de ser apresentado da forma que melhor inclui a diversidade. Porque o sexo não é só sobre fazer bebés, é sobre percebermo-nos a nós próprios e à nossa sexualidade.

10 Abr 2019

Fórmula 1 | Irmão de Susana Chou é um dos proprietários da Racing Point

Durante anos Silas Chou e o parceiro de sempre Lawrence Stroll investiram em empresas de moda e venderam-nas depois com lucros astronómicos. O mais recente desafio dos dois passa agora por repetir o modelo na categoria rainha do automobilismo

 

[dropcap]E[/dropcap]ste fim-de-semana a Fórmula 1 comemora com o Grande Prémio da China a 1000.º corrida da sua História. E à partida vai estar a equipa Racing Point (anterior Force India), que tem como um dos proprietários o milionário Silas Chou, irmão da ex-presidente da Assembleia Legislativa, Susana Chou.

Apesar de ser uma pessoa discreta no que diz respeito ao mediatismo, Silas Chou está longe de ser um desconhecido no mundo da moda ou entre o clube dos milionários de Hong Kong, onde reside. Segundo a revista Forbes, o irmão de Susana tinha em 2016 nada menos do que uma fortuna avaliada em 2,6 mil milhões de dólares de norte-americanos.

Mas se a ligação entre a moda e a F1 pode parecer distante e improvável, a verdade é que foi por esta via que Silas entrou na modalidade. No ano passado, o ingresso neste desporto de Chou ficou formalizado com a aquisição da equipa Force India, que depois mudou de nome para Racing Point. No entanto, a origem deste investimento vai, pelo menos, até 1989.

Estávamos a mais de 10 anos da transferência da soberania de Macau, recorda o Hong Kong Economic Journal, quando Silas Chou e Lawrence Stroll, parceiro de sempre do irmão de Susana Chou, criaram a Sportswear Holdings, com o objectivo de comprar a famosa marca de roupa Tommy Hilfiger Corporation. A empresa já tinha ligações à família Chou, que auxiliou o designer americano numa fase decisiva para a marca. Porém, a aquisição permitiu a Silas tornar-se numa das principais figuras da empresa. Assim, em 1992, quando a Tommy Hilfiger entrou na bolsa norte-americana, o irmão de Susana Chou era identificado como um dos principais accionistas e o presidente da empresa.

Modelo Hilfiger

Com Chou, Stroll e Hilfiger a conduzir os destinos da companhia até 2006 a marca Tommy Hilfiger tornou-se mundialmente conhecida e multiplicou o volume de vendas várias vezes. Foi por isso sem grande surpresa que nesse ano Chou recebeu 1,6 mil milhões de dólares americanos pela venda das suas acções ao grupo Apax. Apesar do mesmo grupo ter recebido quatro anos depois 3 mil milhões pela mesma participação, o modelo para o futuro estava estabelecido.

Com a lição estudada a parceria Chou/Strolll apostou na marca de luxo Michael Kors. Corria o ano de 2003 quando a empresa de moda enfrentava grandes problemas financeiros. Face a este cenário, os empresários não hesitaram e completaram a aquisição de uma participação maioritária por 100 milhões de dólares norte-americanos, juntando-se ao próprio Michael Kors.

A partir desse momento a história da Tommy Hilfiger repetiu-se. Os milhares de dólares exigidos por cada produto da Kors foram reduzidos para cerca de 300 dólares e com uma reestruturação interna a empresa tornou-se uma máquina de fazer dinheiro. O sucesso foi reconhecido pelos mercados com a entrada da bolsa em 2011 e em 2014, e três anos depois, a empresa estava avaliada em 20 mil milhões de dólares americanos. Chou, Stroll e Kors entravam para o clube dos multimilionários.

Com mais uma marca bem estabelecida e apetecível, Chou repetiu o que tinha feito anteriormente e começou a pouco-e-pouco a desfazer-se das acções do grupo. Num primeiro momento vendeu a participação a nível internacional e manteve a representação de Hong Kong. No entanto, em 2017, vendeu a última participação por 500 milhões de dólares americanos e só por esta parte da empresa teve um lucro de 400 milhões. Mas se a conta for feita a toda a participação, incluindo as outras representações, o Hong Kong Economic Journal aponta que os ganhos foram 10 vezes superiores ao investimento inicial.

Repetição na F1

Este modelo vencedor vai agora ser repetido na Fórmula 1. A entrada de Chou acontece a reboque do parceiro Lawrence Stroll, que nos últimos anos tem investido em patrocínios na modalidade, com o objectivo de promover a carreira do filho, Lance.

Nos primeiros dois anos, Lance competiu na Williams F1 com o pai a ser um dos principais patrocinadores da equipa. No entanto, a falta de competitividade da equipa britânica e a falência da Force India, que procurava um comprador, abriram as portas para o investimento da dupla Chou/Stroll.

No entanto, engane-se quem pensar que este investimento foi feito apenas para promover o filho Lance Stroll. A dupla está na F1 para vender a equipa com lucro e a meta foi traçada por Lawrence em entrevista ao New York Times: “É verdade que sou um grande admirador deste desporto e, como é óbvio, tenho sido um dos grandes apoiantes da carreira do meu filho. Mas nunca tinha antecipado a compra de uma equipa, nem nunca tinha pensado que queria comprar uma equipa”, afirmou o canadiano. “Para ser sincero, esta compra só surgiu porque foi uma oportunidade de negócio fenomenal. Se fosse uma equipa que estava nos últimos lugares da grelha de partida, não fazia sentido o investimento. Mas é uma equipa que mostrou que é capaz de apresentar resultados com poucos recursos”, justificou.

É neste sentido que Stroll deixa a garantia que o lucro é o objectivo: “Não estou neste negócio para perder dinheiro. Isto é uma aposta a pensar no longo prazo, como fiz com todos os negócios em que me envolvi”, apontou. A questão que fica agora por responder é a seguinte: serão Stroll e Chou capazes de repetir os sucessos num mundo tão competitivo como o da Fórmula 1, onde tantos outros falharam? Parte da resposta começa a ser dada com a participação este fim-de-semana no Grande Prémio de China.

10 Abr 2019

O que funcionar

[dropcap]A[/dropcap] menina Marina, já famosa por ser a sábia do bairro, pergunta-me: «Senhor Nuno, o costume? Meia de leite e croissant com queijo, não é ?». E sei que a resposta está contida na pergunta e sei que nem sequer me deveria incomodar. Mas não: digo que sim mas não é o costume. Tenho problemas ontológicos por resolver, menina Marina. Antes esses do que outros e parecidos. Quem sou, quem diz o que sou, quem diz o que fui – enfim, um croissant com queijo enquanto maço os leitores.

Os amigos, quando o são, intimidam-nos. Apanham-nos desprevenidos – nós, que assobiamos descontraídos pelas pequenas alamedas da vidinha – e zinga!, perguntam, incomodam, obrigam a tirar o pano dos espelhos. O resultado nem sempre é agradável (nunca, já posso dizer) mas é sempre necessário.

Os amigos, quando temos essa sorte, limpam-nos os fantasmas sem nunca abandonarem o lugar da assombração. Quando isto sucede – esta mistura de indulgência, indiferença e espanto – podemos ajoelhar e dizer como o padre Brown de Chesterton: o mais incrível dos milagres é que eles acontecem.

Passaram já por isto, queridos leitores (e leitoras, mas acaba aqui a cedência aos tempos, os substantivos plurais são para se utilizarem)? Claro que sim. Aquele amigo ou amiga que já não encontram há algum tempo (leia-se: meia vida) mas que no entanto continua curioso, receptivo, que quer saber mais com uma ternura violenta mas bem-vinda. Aqueles que nos acompanharam na guerra mas só agora na paz têm tempo e vontade de fazer perguntas e ficar maravilhados com as respostas. E aceitam, e partilham as suas profundas dissonâncias, e vamos para casa com a barriga cheia desta coisa invulgar que começa a ser as pessoas falarem umas com as outras.

Escrevo isto sem me queixar, consciente que é um privilégio e um pouco monotemático nestas crónicas. Mas se insisto é porque – lá está – não pode ser um privilégio. Mais uma vez Oscar Wilde tinha razão: um amigo é aquele que te apunhala pela frente. Mas quando não existe frente, quando só existe ecrãs e ilusões de proximidade?

Sei lá. Talvez esteja velho, como sempre desejei. Talvez não compreenda nada e numa ingenuidade que não desejo nem pratico lute ainda pelos pequenos grandes gestos, que nos salvarão uns dos outros no quotidiano. Essa “medida temporária de graça” que surge no monólogo final de Whatever Works, o filme de Woody Allen que mais cito e onde fui buscar o título à crónica.

Olho a minha agenda e vejo que irei ler Beckett com o mano João Paulo Cotrim, que conheço desde os quinze anos e que nos voltámos a reconhecer há algum tempo, com surpresa, confirmação e festa. Mas porque nos olhámos, porque nos falámos e não vimos nada do que fomos, apenas do que agora somos.

É ir para a rua e não ter medo de olhar e falar com quem achamos que melhor nos conhece. O resultado é maravilhoso e garanto – o mundo fica um bocadinho melhor. Pelo menos durante um bocadinho mas provavelmente é esse bocadinho que interessa.

Menina Marina, é um croissant com queijo e fale comigo, fale comigo.

10 Abr 2019

Que me diz o corpo? Cai.

Fora de Lisboa, 24 de Março

 

[dropcap]A[/dropcap] notícia apanha-me fora da cidade, fora de mim. Andávamos a arranhar céus, por causa de uma ideia, é sempre assim, mas agora não sei, Manuel [Graça Dias]: desapeteceu-me.

Hei-de dar umas voltas, para ganhar coragem de arrumar o irresolvido. Quem, como tu, viu na cidade um corpo vivo, fulgurante e contemporâneo a cada instante? Ninguém, como tu, defendia o direito de cada um, sem restrição de gosto ou proveniência, a fazer a sua casa, a sua cidade. A riscar, arriscando. A construir com ruínas, a erguer em circunvoluções, vasculhando noas catálogos do disponível, sem perder a hipótese do sonhado. Lembro agora que falámos muito de janelas. Hei-de dar umas voltas, de pernas para o ar.

Almirante Reis, Lisboa, 28 de Março

Deixei-me alhear. A cena estava destinada a durar poucos minutos naquele aquário com uma única parede de vidro, a porta abrindo sobre azáfama de papéis, em murmúrio de irrequietude, prestes a sossegarem em um quase nada absolutamente determinante. A leitura em voz alta e borracha na mão despejava em ladainha dados objectivos, moradas, lugares de nascimento, portanto datas. Definitivos que nem lâminas, se excluirmos os nomes. Os nomes completos não se limitam ao real, trazem primeiro o próprio, e logo dele evocação, perfume, um eco; seguem-se os apelidos revelando raízes, as serras e os rios onde germinaram os pais dos pais, quando uns ainda eram filhos e não sonhavam ser pais. Os apelidos são paisagens que nos atravessam. Movimento, só passada a fronteira de vidro. Os corpos aqui fizeram-se estátuas sentadas, recebendo a chuva a conta-gotas da voz verificando o que precisava ficar escrito para que a vida dos apelidos cruzados prosseguisse depois da morte. Estava quase como devia, a emenda fez-se para justificar o aparato do absurdo formal. Sem precisar, pus os óculos e assinei. O carimbo fez ponto mais final. Ainda não sequei as lágrimas.

Santa Bárbara, Lisboa, 29 de Março

Corto [Maltese] fez corte à navalha na mão desenhada para prolongar destinos. Meio torto, resolvi alterar a leitura das rugas na testa com lanho longitudinal. Demorei a perceber que se trata de acentuar as coordenadas. Lá diz José [Anjos]: «a mera consciência de si próprio/ ou do corpo/ não é mais do que uma tentativa,/ vã tentativa de estar parado / no que é imparável: a queda.»

Horta Seca, Lisboa, 2 de Abril

Valério [Romão] regressa de mais uma incursão europeia trazendo na bagagem dois contos vertidos para castelhano, italiano, neerlandês e romeno, no âmbito do projecto CELA (Connecting Emerging Literary Artists), projecto a dar atenção aos emergentes, escritores e tradutores. Isto além da participação na delegação portuguesa à Feira do Livro de Leipzig. Parece satisfeito com ambas as experiências, mas não se lhe arranca relatório minucioso assim à primeira.

Anda embrenhado em traduções e junta-se logo ao colossal coro de cobradores das minhas crónicas tardanças: «já trataste da autorização?» Nada me castiga mais que a papelada. Ainda nem abri o documento com as vendas do mês passado. A derrapagem parece ser a minha maneira de caminhar.

Campos Trindade, Lisboa, 3 de Abril

Nas poucas vezes que não fizemos o tradicional lançamento, por vontade do autor ou outro contratempo, sobrou-nos um estranho gosto da incompletude. Algo parece faltar no longo ciclo de construção do livro sem este ponto de exclamação. Contudo, uma avaliação rigorosa, subtraindo o que se investiu em tempo, recursos e incómodos aos parcos resultados, justifica a dúvida: valerá a pena? Até que acontecem destes, o de «Uma Fotografia Apontada à Cabeça», do mano José [Anjos]. Falo do intangível, claro: o ambiente. E para melhor explicar, dissequemos, rezando para que o Frankenstein seja, ao menos, terno na sua disformidade.

O lugar do crime, de vizinhança que se quer crescente, possui o perfume das raras possibilidades.

O Bernardo [Trindade] acendeu a luz da sala de estar, que sabe ser o epicentro de encontros insuspeitos. A Graça [Ezequiel], com foto na página, em versão antes da noite cair, ajuda a dar ideia. A generosidade da Quinta do Gradil, pela mão gentil da Ana [Matias], dispôs saborosas boas-vindas em formato viosinho, no branco, e cabernet sauvignon com tinta roriz, para o tinto.

Entre muitos amigos, chegados ou dos de partir, estavam a querida Luísa [Pires Barreto], que desenhou o objecto, cuja capa nasce de uma tela onde o Gil Madeira pôs o Anjos a procurar o feminino por entre luz e espelho e manuscritos. O Gil oferece, ainda, o nosso primeiro logótipo em círculo, dança doida de linhas sinuosas. O Marcello [Urgeghe] rodou sobre si sob o lustre para sussurrar leituras comovidas. E o João [Morais] encheu o espaço que já não havia com a sua campaniça, insuflando oxigénio. O autor, tão amante da queda, levitava, talvez por sentir que as páginas se cumpriam nas mãos e nos olhares, enfim, chegavam algures, a uma estação primeira (à maneira de O Gajo). O Gui sublinhou passagens, sem surpresa, sentindo-se com exemplar naturalidade em casa.

Ademais só mesmo a calorosa interpretação cantada pela Ana Teresa [Sanganha], que liga o seu gosto pela poesia à psicanálise, «que de gosto meu não se trata, mas sim de uma identidade». A leitura veio tintada pela amizade, como convém, mas revelou-se justa e cheia de alma.

«Digo complexidade porque, à medida que ia mergulhando nos poemas e dobrando as ondas do livro, percebia que não estava a conseguir dissociar as partes em que me tocava, da mesma maneira que não consigo dissociar corpo e mente. Mas pude perceber que memória, infância, amor e morte emergem com a subida das páginas e vivem, transversalmente, numa roda-viva de posições e justaposições. E, enquanto me desvendo através do Zé, penso que afinal só de quatro gotas se faz o oceano e que os mergulhos poderão ter só a profundidade destas quatro gotas: infância, memória, amor e morte… talvez arriscasse dizer que poderíamos retirar a infância e a memória, que das duas fala o amor e a morte, mas, como escreve o José, “são precisos dois olhos para focar/quatro para ficar”. São estas as Quatro Águas que matam a sede à humanidade e lhe dão a distância suficiente da boca do corpo até à terra.»

Ferin, Lisboa, 4 de Abril

Anuncia-se programa para a televisão pública em torno da música que nos fez mais portugueses. Pede-me o Pedro Castro depoimento matutino sobre o Sérgio [Godinho] e dispara logo a abrir um refrão de memória. A minha perdeu o pio. Sou homem do presente, sobretudo do indicativo, o que me perturba e irrita, fica escrito. Lembrei-me na atrapalhação do hoje que se quer primeiro dia para lançar novo sopro no resto a vir. Veio-me depois à boca o grão da mesma mó, «não sei se estão a ver aqueles dias/ Em que não acontece nada sem ser o que aconteceu e o que não aconteceu/ E do nada há uma luz que se acende/ Não se sabe se vem de fora ou se vem de dentro/ Apareceu». Está visto que o meu tempo continua à espera de suceder. E não ocorreria da mesma maneira sem o SG [gigante].

Biblioteca da Imprensa Nacional, Lisboa, 5 de Abril

Lá está, lançamento: «Desenhos em Volta de os Passos de Herberto Helder», de Mariana Viana, com a vetusta a dizer que está atenta aos cânones agitados apesar dessa camisa-de-forças onde a querem fechar, mas que não abdicam nunca de atacar a jugular, a que sangra, não a cegueira das minudências do artesanato do ódio. Ele há diferenças, podemos fazer degraus sem pensar em cânone, subindo ou descendo. Esta sala faz-se lugar perfeito para este desdobrável, em cada uma das direcções de todos os ventos. Entre a terra e o céu, umas varandas sem acesso, disponibilizam livros a quem saiba sobrar o varandim, folhear a geografia, saber o caminho dos degraus de água.

10 Abr 2019

Weibo | Suspensas 50 contas por “informação política prejudicial”

A campanha para “limpar” a internet de conteúdos “nocivos”, conheceu ontem um novo capítulo com o cancelamento de mais 50 contas, entre as quais a de académicos e jornalistas com milhões de seguidores

 

[dropcap]A[/dropcap] rede social Weibo, equivalente chinês ao Twitter, suspendeu mais de cinquenta contas de “líderes de opinião” da China, por publicação de “informação política prejudicial”, informou ontem um jornal de Hong Kong.

Segundo o South China Morning Post (SCMP), entre os perfis suspensos consta Yu Jianrong, um investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais que tem mais de sete milhões de seguidores e é visto como defensor de “políticas liberais”. A conta de Yu vai estar inacessível durante os próximos 90 dias.

“É muito estranho: não sei qual dos meus comentários violou os regulamentos”, disse, citado pelo SCMP. O académico acrescentou que, nos últimos dois anos, se absteve de publicar qualquer mensagem política na sua conta.

Para o Weibo, “informação política prejudicial” não se refere apenas a conteúdo que viole as leis ou a Constituição da China, mas também a rumores ou “informações adversas”, susceptíveis de minar os “valores da sociedade”.

“São temas quotidianos sobre arte. Não houve qualquer” informação política, garantiu o especialista. Yu ganhou notoriedade nas redes sociais chinesas em 2011, quando os regulamentos eram menos restritos, através da publicação de uma série de fotografias de crianças a mendigar, visando reuni-los com os seus pais e promover a doação de livros para as áreas rurais.

Outra das contas “silenciadas” nos próximos 90 dias é a de Wang Xiaolei, ex-repórter da agência noticiosa oficial Xinhua. Apesar de não publicar mensagens com conteúdo político explicito, o antigo jornalista, que tem meio milhão de seguidores, refere-se muitas vezes à dinastia Tang ou a histórias sobre artes marciais de Jing Song – o pseudónimo da jornalista de Hong Kong Louis Cha -, vistas como uma alusão indirecta à actualidade na China.

Rede “limpa”

Estas suspensões fazem parte de uma campanha para “limpar e retificar” a Internet, lançada, no ano passado pela Administração da China do Ciberespaço (CAC), a agência encarregue da censura dos conteúdos ‘online’.

Em Novembro passado, a agência anunciou a suspensão de 9.800 contas nas redes sociais do país, incluindo no Weibo e WeChat.

O regulador chinês para o ciberespaço considerou ainda que o Weibo “violou as leis e regulamentos do país, ao orientar a opinião pública para a direcção errada e exercer má influência”.

As autoridades puniram a rede social com a suspensão, por uma semana, de algumas das suas ferramentas, incluindo a lista dos tópicos mais compartilhados, ou um serviço pago para fazer perguntas a celebridades.

A censura imposta por Pequim no ciberespaço resulta no bloqueio de vários portais estrangeiros e alguns serviços de “gigantes” do sector, como o Facebook, Google ou Twitter.

Considerada até há poucos anos o espaço mais livre na China, a Internet tem sido alvo de crescente censura, após a aprovação de uma lei de segurança no ciberespaço, no Verão passado.

O Governo ordenou aos responsáveis por conteúdo ‘online’ que forneçam informação que esteja “ao serviço do socialismo e da orientação correcta da opinião pública”.

O Weibo tem quase 500 milhões de usuários activos. O país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, é também o que tem a maior população ‘online’ – mais de 800 milhões.

10 Abr 2019

Associação assinala centenário de Fernando Namora

A Associação dos Amigos do livro em Macau vai assinalar o centésimo aniversário do escritor português Fernando Namora, no próximo dia 15, com a realização de uma tertúlia. O evento tem lugar na Livraria Portuguesa, pelas 18h e é acompanhado por duas exposições: uma com as obras de Namora, e outra com as capas de livros desenhadas por Victor Palla

 

[dropcap]O[/dropcap] médico e escritor português Fernando Namora comemoraria 100 anos no próximo dia 15. A data não é esquecida pela Associação dos Amigos do Livro em Macau que agendou para esse dia o primeiro de três eventos de celebração da efeméride.

Para o efeito, a Livraria Portuguesa vai receber os membros da associação e os seus convidados para uma tertúlia. O objectivo é recordar os textos e poemas de Namora. “Além de ser um escritor português muito conhecido nos anos 70 e 80 e traduzido para várias lingas acho que está um pouco esquecido”, começa por dizer o também escritor e médico membro da associação, Shee Va, ao HM para explicar a pertinência em recordar o autor português. “Nas escolas não se fala dele, as pessoas não falam dele”, acrescenta.

No entanto, o “esquecimento” de Fernando Namora não tira o mérito ao trabalho que deixou, até porque “é um escritor que marca uma época e está muito ligado ao neo-realismo apesar de no final da vida ter passado para uma fase muito mais individual”.

Por outro lado, foi um homem de liberdade, apesar de ter vivido “numa época em que se vivia o fascismo e em que existiam todas as restrições em relação à escrita”. “Ele manifestou-se como um homem livre. Expressava o seu pensamento nos livros e por essa qualidade acho que temos que o enaltecer”, sublinha Shee Va.

Exposições paralelas

A acompanhar as leituras, o organização vai promover a exposição de algumas das obras de Fernando Namora. “Vamos ter uma exposição bibliográfica com os livros que se encontram em Macau”, aponta o membro da Associação dos Amigos do Livro. A exposição conta com uma tradução para chinês dos “Retalhos da vida de um médico”, uma crítica literária das obras reeditadas de Fernando Namora que Shee Va encontrou num jornal de 1958 e uma crítica do “O homem disfarçado”.

Uma segunda exposição, desta feita dedicada às capas de livros do escritor produzidas pelo arquitecto Victor Palla, vai ainda integrar a celebração. Shee Va aproveita para recordar que Fernando Namora também foi pintor. “Ele queria seguir arquitectura mas por imposição da mãe acabou por seguir medicina. O primeiro livro que publicou, um livro de poemas chamado “Relevos” tem uma capa desenhada por ele”, conta.

A efeméride vai ainda ser assinalada com um outro encontro no dia 23 de Abril em associação com o IPOR. Os detalhes ainda estão por definir até porque, sendo o dia mundial do livro, a associação gostaria de trazer “as palavras de Fernando Namora para a rua”. “Seria uma forma de juntar a celebração com as comemorações do dia mundial do livro e de tentar promover a leitura na rua. Seria uma forma de não ficar-mos retidos num espaço interior e de trazer a literatura em português à população”, acrescenta.

Para finalizar a celebração do centenário do nascimento de Fernando Namora, a Associação dos amigos do Livro em Macau vai estar,  no dia 17 de Maio, na Escola Portuguesa numa acção que junta convidados alunos e professores.

Futuro planeado

Com o objectivo de aproximar a literatura do público local, a Associação dos Amigos do Livro em Macau quer promover mais actividades, sobretudo aquelas que possam aproximar as palavras das pessoas. Na calha, está a produção de peças de teatro de rua e “o contar histórias”. O desafio maior é “ver como se consegue atrair o público”.

Entretanto, e para Novembro, está agendada a celebração do centésimo aniversário do poeta Jorge de Sena.

Para juntar o público chinês e português Shee Va adianta que vai trazer ao território a poesia, pintura e caligrafia chinesa de modo a mostrar a complementaridade entre estas formas de arte.

“Consegui encontrar uma poetisa chinesa que viveu há 700 anos e a poesia chinesa está também muito ligada às artes gráficas porque é passada para a tela e pela caligrafia. Por isso vou juntar caligrafia, pintura e literatura num evento”. A ideia é dar aos leitores lusófonos uma maior compreensão da própria pintura chinesa, recorrendo à poesia, e à caligrafia.

10 Abr 2019

Universidades de Évora e de Macau unem-se em projectos de tradução e de património

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de Évora e a Universidade da Cidade de Macau acordaram ontem parcerias nas áreas do património cultural e da informática, aplicada à saúde e centrada na tradução automática entre chinês e português.

A assinatura dos memorandos de entendimento para estas parcerias decorreu de forma paralela à cerimónia de atribuição, pela Universidade de Évora (UE), do grau de Doutor ‘Honoris Causa’ a Chan Meng Kam, presidente do Conselho da Universidade da Cidade de Macau (UCM), realizada na tarde de ontem na cidade alentejana.

A reitora da UE, Ana Costa Freitas, explicou aos jornalistas, no final da cerimónia, terem sido formalizados “dois memorandos de entendimento”, um deles “na área do património cultural” e que implica a criação de uma cátedra na universidade alentejana, no valor de “cerca de 50 mil euros”.

Esta cátedra permitirá “financiar estudos sobre a herança cultural” comum entre Macau e Portugal, com o envolvimento do Laboratório HERCULES da UE, indicou.

“Vamos receber cá pessoas para fazerem estágios e vamos mandar para lá pessoas para fazerem também estágios e iremos formar alguém que fique à frente do laboratório lá [em Macau]”, explicou.

Segundo Ana Costa Freitas, já foi efectuado o inventário dos equipamentos que a Universidade da Cidade de Macau terá de comprar “para ter um laboratório minimamente apetrechado e, depois”, começa-se “logo a trabalhar”.

Na área da informática, explicou a reitora, a colaboração prevê a criação de laboratórios conjuntos entre as duas universidades assentes num sistema “de tradução por computador” de chinês-português e vice-versa.

“Já estamos a começar, por exemplo, na parte do ‘machine learning’ [a máquina automática de tradução] já temos o laboratório”, frisou Ana Costa Freitas.

No protocolo relativo à área da informática, consultado pela agência Lusa, pode-se ler que a parceria abrange também um laboratório colaborativo neste âmbito centrado na saúde.

A realização de cursos de verão, de turismo ou de arquitectura paisagista, na academia alentejana, recebendo alunos de Macau, será outro dos “frutos” da colaboração com a universidade privada macaense, segundo a reitora.

Após receber a distinção da universidade portuguesa, Chan Meng Kam, revelou aos jornalistas que a Universidade da Cidade de Macau vai criar, “no próximo ano lectivo, uma licenciatura em estudos portugueses”.

A Universidade da Cidade de Macau dedica “uma grande atenção aos estudos e programas centrados na aprendizagem da língua portuguesa”, frisou o responsável.

Segundo Chan Meng Kam, o governo da China “presta uma grande atenção ao papel de Macau como plataforma” de ligação aos “países de língua portuguesa”.

“Por isso, esperamos promover a cooperação entre a China e os países lusófonos em áreas como a educação, negócios, relações entre as comunidades e desenvolvimento de talentos”, argumentou.

A reitora da UE considerou Chan Meng Kam uma “personalidade incontornável da Região Administrativa Especial de Macau”, da qual é “um dos grandes embaixadores”.

“Uma região do mundo pela qual Portugal continua a ter um grande carinho e onde é bem visível o legado de séculos de trocas culturais”, frisou Ana Costa Freitas, na cerimónia de atribuição do doutoramento.

10 Abr 2019

Conselho das Comunidades Portuguesas | Rita Santos reeleita presidente

[dropcap]R[/dropcap]ita Santos foi reconduzida no cargo de presidente do Conselho Regional da Ásia e Oceânia do Conselho das Comunidades Portuguesas, depois de ter sido reeleita por unanimidade. A eleição decorreu na sequência da reunião anual dos conselhos para a Ásia e Oceânia, que aconteceu na segunda-feira e ontem em Pequim.

Em comunicado, o gabinete dirigido por Rita Santos adiantou que os “conselheiros tiveram uma reunião prolongada com José Augusto Duarte, Embaixador de Portugal em Pequim”, onde “foram passados em revista matérias relacionadas com o bem-estar das comunidades, o emprego, a educação e assuntos de natureza consular”.

Armando Jesus fica com o pelouro das questões sociais, económicas e fluxos migratórios. Da delegação australiana, Sílvia Renda fica a cargo do ensino do português no estrangeiro, cultura, associativismo e comunicação social, enquanto Melissa Silva fica responsável pelas pastas das questões consulares e participação cívica e política.

10 Abr 2019

Tufões | Gastos mais de 110 milhões de patacas em equipamentos

O Governo gastou cerca de 113 milhões de patacas em equipamentos de resposta a emergências, após a passagem do tufão Hato, revelou ontem o Comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários. Este ano, as autoridades esperam a passagem de quatro a seis tufões, alguns deles “severos”

 

[dropcap]D[/dropcap]esde a passagem do Hato em Agosto de 2017, o Governo adquiriu equipamentos para fazer frente à passagem de tufões no valor de 113 milhões de patacas. A informação foi dada ontem pelo comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), Ma Io Kun, à margem da reunião da protecção civil. “No ano passado, antes da passagem do tufão Mangkhut foram investidos 70 milhões de patacas, este ano mais de 43 milhões”.

Entre as aquisições, mais de 70 tipos diferentes, o responsável destacou a aquisição de viaturas anfíbias e botes para “acções de salvamento”, geradores para responder a cortes de energia e drones.

Os SPU admitem que ainda aguardam outros equipamentos, que devem chegar “antes do início da época de tufões”. No entanto, de acordo com Ma Io Kun, não há razões para preocupação. “Temos equipamentos suficientes para tratar as situações já desde antes da passagem do tufão Mangkhut”, apontou.

Ma Io Kun recordou que para este ano está prevista a passagem de quatro a seis tufões por Macau, “com a possibilidade de situações severas devido à influência do aquecimento global e a situações climáticas extremas”. O primeiro tufão está previsto para meados de Julho, e o último para o início de Outubro, acrescentou.

Abrigos para todos

Em termos de infra-estruturas, Macau vai dispor este ano de 17 abrigos, mais um do que no ano passado, para acolher quem necessitar de deixar as suas casas. Além destes abrigos, há ainda mais quatro pontos de encontro para situações de emergência. De acordo com o representante do Instituto de Acção Social, presente na reunião de ontem dos Serviços de Protecção Civil, estes centros têm capacidade para acolher cerca de 24 mil pessoas e estão equipados para receber portadores de deficiência.

“Também foram acrescentados centros para acolher os turistas retidos durante as tempestades e nestes centros há recursos materiais e alimentação”, disse Ma Io Kun. “Vamos transferir os turistas das Portas do Cerco para o Campo Desportivo dos Operários, os que vêm da Ponte HKZM vão ser transferidos para o Pavilhão Desportivo da Escola Luso Chinesa. Os turistas do Terminal Marítimo do Porto Exterior vão ser transferidos para o Instituto Politécnico de Macau e os que vêm através dos postos do Cotai vão seguir para a Nave Desportiva”, acrescentou.

Tudo a postos

Para preparar a população para uma situação de evacuação de emergência, vai ser realizado no próximo dia 27 a operação Peixe de Cristal 2019. “O exercício vai abranger cinco zonas: Ilha Verde, Fai Chi Kei, Porto Interior, zona da praia do Manduco e também Coloane e vai ser realizado em simultâneo”, apontou o Comandante-geral dos SPU.

Este exercício de simulação vai também ter o contributo da população, estando disponíveis 450 vagas para residentes. “Este ano esperamos a participação [da população], no entanto, sendo a primeira vez, não podemos esperar um grande número de pessoas”, disse.

Os residentes interessados podem inscrever-se até ao próximo dia 22 e os serviços vão proceder a duas sessões de esclarecimento prévias agendadas para as manhãs de 24 e 27 de Abril.

10 Abr 2019

Turismo | Governo quer oferecer mais atracções para distribuir visitantes

[dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo de Macau defendeu ontem a oferta de mais atracções e locais de interesse para distribuir os turistas e aliviar a pressão sentida em algumas zonas do território. “O nosso problema em capacidade de acolhimento é que [o turismo] não é distribuído. (…) Temos de providenciar mais possibilidades, mais atracções”, afirmou Helena de Senna Fernandes.

Macau recebeu em 2018 mais de 35 milhões de turistas, um número que já não está longe do ‘tecto máximo’ de 40 milhões de turistas por ano, segundo o Instituto de Formação Turística (IFT).
Para a directora dos Serviços de Turismo, “há muitas áreas que estão a sentir esta pressão”, pelo que a estratégia passa por “distribuir os turistas por diferentes espaços”.

Questionada sobre outras formas de limitar o número de visitantes, Senna Fernandes salientou que o território “não é um parque temático”, por isso há que pensar em “diferentes maneiras” de combater o problema.

A aplicação de uma taxa turística, que está a ser estudada pelo Governo, não é, no entanto, a solução para limitar o número de entradas, defendeu.

A responsável falava à margem da apresentação da 7.ª Expo de Turismo de Macau, que se realiza entre os dias 26 e 28 deste mês. No ano do 20.º aniversário da transferência de administração do território, o evento tem “um objectivo maior”, sublinhou Helena de Senna Fernandes. Neste sentido, a área de exposição foi ampliada para o dobro, de 11 mil para 22 mil metros quadrados, e o número de expositores aumentou de 550 para 800, num orçamento global de 23 milhões de patacas, indicou a responsável em conferência de imprensa.

Até à data, está confirmada a participação de cerca de 430 empresas e entidades e de 450 compradores profissionais, provenientes de mais de 50 países e regiões.

10 Abr 2019

MP | Inquérito aberto a indivíduo que se passou por condutor acidentado

[dropcap]O[/dropcap] Ministério Público (MP) abriu um inquérito para investigar o caso de um homem que se fez passar por um condutor que terá sido responsável por um acidente de viação.

O caso em questão aconteceu quando um automóvel bateu numa barreira de cimento. Depois do acidente, que terá acontecido de madrugada, o condutor abandonou o local e um amigo deslocou-se ao sítio onde ficou o carro sinistrado a fim de se fazer passar pelo responsável pelo acidente.

Na sequência de diligências preliminares de investigação, o caso foi encaminhado pela polícia para o MP. Como tal, o amigo que se fez passar por condutor acidentado é agora suspeito de favorecimento pessoal, crime praticado por quem impede, frustra, ou ilude actividade probatória ou preventiva de autoridade, com intenção de evitar que outra pessoa, que praticou um crime, seja submetida a pena ou medida de segurança. O MP aplicou medida de coacção “em conformidade com a situação concreta”, sem que tenha sido esclarecida qual.

Este crime é punido com pena de prisão até 3 anos, ou com pena de multa e também sancionado na forma tentada.

Por outro lado, também o indivíduo que abandonou o local do acidente de viação, fugindo às suas responsabilidades, será alvo das “respectivas diligências de investigação criminal nos termos da lei”, de acordo com um comunicado emitido pelo MP.

Além disso, o organismo responsável pela persecução penal em Macau adianta que as diligências de investigação vão prosseguir de forma a punir juridicamente os dois indivíduos envolvidos no caso.

10 Abr 2019

Wynn negoceia compra da maior operadora da Austrália

A operadora de jogo Wynn Resorts, com casinos nos Estados Unidos e em Macau, está em negociações para comprar a maior operadora de casinos da Austrália, a Crown Resorts, foi ontem anunciado

 

[dropcap]A[/dropcap] Crown, que tem casinos em Melbourne, Perth e Londres e, em breve, em Sydney, indicou estar em discussões confidenciais sobre uma oferta da Wynn, de acordo com um comunicado.

A operadora australiana disse que a oferta tem um valor implícito de 10,50 dólares por acção, a ser paga 50 por cento em dinheiro e 50 por cento com acções da Wynn. A oferta avaliou a Crown em cerca de oito mil milhões de dólares norte-americanos.

“Não há certeza de que estas discussões resultem numa transacção”, apontou a Crown, sublinhando que a proposta está sujeita a condições que incluem aprovações regulatórias.

O valor da Crown caiu 20 por cento desde meados de 2018, devido a resultados inferiores ao esperado. Para os executivos da empresa, a quebra nos lucros deveu-se a uma diminuição dos gastos dos apostadores asiáticos.

Jogo ilegal

Em 2016, 19 funcionários do grupo australiano foram presos na China sob a acusação de promoverem ilegalmente jogos de fortuna e azar. Um tribunal chinês sentenciou 16 dos réus, incluindo três cidadãos australianos, a penas de nove a dez meses de prisão, e os três restantes foram libertados após perto de um mês de detenção.

Na sequência deste caso, a Crown abandonou os planos de investimento em Macau e em Las Vegas, e chegou mesmo a vender terrenos na capital do jogo norte-americana ao Wynn por 373 milhões de dólares.

Contudo, as notícias da possível compra da Crown pela Wynn levaram, na manhã de ontem, a um aumento de 20,5 por cento no preço das acções na bolsa de valores australiana para 10,07 dólares.

As receitas operacionais da Wynn Resorts no último trimestre de 2018 subiram 4 por cento, para 1,70 mil milhões de dólares, com o Palace, na faixa de casinos do Cotai, entre as ilhas da Taipa e de Coloane, a render mais 84 milhões, enquanto o Wynn Macau perdeu 30,3 milhões.

“As receitas operacionais foram de 1,69 mil milhões de dólares no último trimestre de 2018, um aumento de 4 por cento, ou 65,4 milhões; as receitas operacionais do Wynn Macau e das operações Las Vegas aumentaram 84 e 11,7 milhões, respectivamente, compensadas por um decréscimo de 30,3 milhões no Wynn Macau”, anunciou a gestora de hotéis e casinos.

10 Abr 2019

Nova lei para profissionais de saúde levanta dúvidas

O ETAPM foi transposto para a nova lei dos profissionais de saúde, mas há vários conceitos que os deputados não entendem e que o Executivo não consegue clarificar. O Governo prometeu voltar a trabalhar no diploma

 

[dropcap]A[/dropcap] nova lei para a qualificação e inscrição dos profissionais de saúde está a gerar várias dúvidas aos deputados porque em várias partes apenas houve uma cópia adaptada do que consta no Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM).

No entanto, a adaptação faz com que os deputados não percebam o alcance de alguns artigos, que também não foram explicados de forma totalmente clara pelo Executivo, que admite fazer mudanças nas partes mais obscuras.

“Todos nós cometemos erros no nosso trabalho e este aspecto não foi propriamente bem conseguido”, afirmou o presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, Chan Chak Mo, no final do encontro de ontem. “O ETAPM foi feito a pensar nos trabalhadores da função pública e há circunstâncias que não se adaptam aos profissionais de saúde”, explicou.

Entre as dúvidas levantadas está o artigo que define os deveres dos profissionais de saúde, nomeadamente quando é definido que estes profissionais devem “guardar respeito absoluto pela vida humana e pela dignidade e integridade dos doentes a quem prestam cuidados de saúde”.

Para os membros da comissão não são claras quais as condutas que não respeitam a “dignidade das pessoas”.

“Se um médico não cumprimentar com boas maneiras o paciente, será que está a faltar ao respeito à sua dignidade?”, questionou Chan Chak Mo. “O Governo disse-nos que vai pensar sobre estas situações e repensar o artigo”, acrescentou.

A comissão diz ter compreendido o desejo de evitar práticas em que os médicos recusam responder a perguntas dos pacientes ou fazem declarações como “não vou estar a explicar-lhe [ao paciente] porque você também não percebe estas coisas”, porém, a redacção permite interpretações diferentes. Ainda em relação a este aspecto, os deputados questionaram o Executivo sobre se a utilização de palavrões de forma involuntária poderia “violar a dignidade das pessoas”. No entanto, também não houve uma resposta clara.

Das atenuantes

Outro artigo que levou dúvidas foram as atenuantes para os profissionais de saúde, nos casos em que foram instaurados processos disciplinares. Uma das circunstâncias para atenuar uma eventual sanção é a “ausência de publicidade da infracção”. Também este ponto não é visto como claro: “O que se entende por ausência de publicidade? Se se mantiver em silêncio sobre a infracção e ninguém souber, aplica-se a atenuante? E se tiver comentado com os colegas o acontecido, já não se aplica?”, perguntou.

Apesar de todas estas questões, na reunião de ontem foram igualmente debatidos artigos que obtêm o consenso, como foi o caso da alínea que impede os médicos de declararem objecção de consciência em situações urgentes, quando não há outros profissionais disponíveis para intervirem.

10 Abr 2019

Santa Casa da Misericórdia | Chui Sai On reuniu com dirigentes

[dropcap]U[/dropcap]ma delegação da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCM) reuniu na passada segunda-feira com o Chefe do Executivo. Leonel Alves, presidente da Assembleia-geral, e António José de Freitas, provedor da Mesa da direcção da instituição trocaram impressões com Chui Sai On sobre os serviços de acção social e de caridade.

De acordo com um comunicado do Governo, o Chefe do Executivo destacou os alicerces bem consolidados da instituição, enalteceu a persecução do objectivo e espírito e felicitou os dirigentes pelo 450º aniversário da SCM.

Por sua vez, Leonel Alves agradeceu o apoio que o Governo da RAEM tem prestado à SCM e destacou o papel que a instituição tem para os macaenses, “não só porque sinaliza os mais de quatro séculos da sua presença em Macau, como também a posição e responsabilidades que mantêm”.

Já o provedor António José de Freitas referiu que para as actividades comemorativas dos 450 anos da SCM, Macau vai receber, pela primeira vez, o Congresso Internacional das Misericórdias, que contará com mais de 200 pessoas provenientes de países lusófonos.

10 Abr 2019

Deputado Lam Lon Wai declara guerra a “veículos zombies”

[dropcap]O[/dropcap] deputado Lam Lon Wai quer que o Governo assegure que vai lutar com os carros abandonados na RAEM, ou seja contra as viaturas estacionadas ao longo da via pública durante anos, sem que os proprietários paguem os respectivos impostos. É este o conteúdo da última interpelação escrita pelo deputado dos Operários, que foi ontem divulgada.

“É difícil conhecer a dimensão deste fenómeno sobre os proprietários que não pagam os impostos dos respectivos veículos porque o Governo não revela os dados. Mas em muitas vias mais remotas há lugares de estacionamento que estão ocupados por veículos sem o imposto em dia, como se fossem veículos zombies”, escreve o deputado ligado aos Operários. “Apesar das várias queixas, este tipo de veículos ocupa os lugares públicos e os recursos de estacionamento. Há situações em que até criam riscos à segurança”, é acrescentado.

Face a este cenário, o legislador quer garantias do Executivo que vai combater o abandono dos carros. “De forma a garantir uma boa circulação e o estacionamento legal […], será que o Governo vai adoptar as medidas necessárias para combater este fenómeno e tomar a iniciativa de implementar as leis em vigor?”, questionou.

Ao mesmo tempo Lam Lon Wai quer uma caça activa aos veículos zombie, ou seja os que não têm o imposto de circulação em dia. “Até ao final do prazo legal [1 de Abril], houve um grande número de veículos que não teve a situação regularizada. De forma a garantir que todos os proprietários dos veículos cumprem as suas obrigações, será que o Governo vai tomar a iniciativa e fazer inspecções para garantir que todos os veículos circulam de forma legal?”, é perguntado.

10 Abr 2019

Admitido projecto de lei sindical apresentado por Pereira Coutinho

[dropcap]A[/dropcap] Assembleia Legislativa vai voltar a ser chamada a pronunciar-se sobre o projecto de lei sindical. A iniciativa, da autoria de Pereira Coutinho, foi admitida, faltando apenas agendar o plenário para ser votada pelos seus pares.

O projecto de lei sobre o direito fundamental de associação sindical – o sexto de Pereira Coutinho – “visa dar cumprimento rigoroso à importante obrigação constitucional decorrente do artigo 27.º da Lei Básica e subsequentemente colmatar uma grave lacuna existente ainda hoje no ordenamento jurídico da RAEM”, refere a nota justificativa.

A Assembleia Legislativa chumbou, em Outubro de 2017, pela nona vez um projecto de lei sindical. Recentemente, em declarações ao HM, após ter sido reeleito presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), Pereira Coutinho mostrou-se confiante numa eventual mudança de postura. “Se o Chefe do Executivo quiser deixar uma marca importante no seu mandato de 10 anos, esta é a melhor oportunidade. É a última hipótese de deixar uma imagem positiva junto dos trabalhadores”, afirmou Pereira Coutinho, para quem as orientações do líder do Governo aos sete deputados nomeados podem fazer a diferença.

De recordar que, aquando da apresentação das Linhas de Acção Governativa para 2019, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, foi peremptório ao afirmar que “o Governo não tem intenção de tomar a iniciativa para apresentar uma proposta de lei sindical no último ano de mandato. No entanto, foi encomendado um estudo para medir o pulso à sociedade a este respeito, adjudicado pelo valor de 837 mil patacas, à associação do empresário Kevin Ho, sobrinho do ex-chefe do Executivo, Edmund Ho.

Os resultados deviam ter sido apresentados até ao final do ano passado, mas o prazo foi [prolongado, devido à necessidade de “ajustes” ao questionário, uma das vertentes do estudo. Segundo a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, deve ser concluído até Junho, devendo o respectivo relatório ser remetido depois ao Conselho Permanente de Concertação Social para discussão.

10 Abr 2019

Função Pública | Pedido debate sobre ilegalidades e infracções disciplinares

Leong Sun Iok e Agnes Lam querem debater na Assembleia Legislativa a forma de tratamento das ilegalidades e infracções disciplinares cometidas pelos funcionários públicos. O primeiro propõe um órgão especializado, enquanto a segunda a revisão das sanções previstas no Código Penal

 

[dropcap]F[/dropcap]oram admitidas na Assembleia Legislativa duas propostas de debate, da autoria de Leong Sun Iok e de Agnes Lam. As duas moções, ainda sem plenário agendado, têm como denominador comum a forma de tratamento das ilegalidades e infracções disciplinares praticadas por funcionários públicos.

As propostas para a realização de um debate surgem na senda do relatório anual do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), recentemente divulgado, que pôs a descoberto nomeadamente dois casos suspeitos da prática do crime de abuso de poder por parte de dois dirigentes de serviços públicos, entretanto encaminhados para o Ministério Público.

Apesar de os deputados – ambos eleitos por sufrágio universal – centrarem as propostas de debate na importância de elevar os efeitos dissuasores, sugerem diferentes meios para atingir esse fim. Leong Sun Iok, por exemplo, avança com a possibilidade de ser criado um órgão independente responsável pela execução do regime disciplinar da função pública, à semelhança de Hong Kong e Taiwan. Uma solução que, além de acarretar “normas e critérios uniformes para o tratamento e a aplicação de sanções aos trabalhadores da função pública nos processos disciplinares”, permitiria ainda uma “revisão e apresentação de propostas de melhoria do regime disciplinar”, argumenta o deputado dos Operários.

“Para promover a edificação da integridade, uniformizar os mecanismos de tratamento das ilegalidades e infracções disciplinares cometidas pelos trabalhadores da função pública e reforçar os mecanismos de fiscalização dos titulares dos principais cargos e do pessoal de direcção e chefia, deve o Governo instituir um Conselho Especializado para os Assuntos Disciplinares dos Trabalhadores da Função Pública”, aponta Leong Sun Iok. Isto porque, “actualmente, não há na Função Pública um órgão, nem pessoal especializado, para interposição e execução do processo disciplinar” nem “um regime aperfeiçoado e uniformizado quanto à tipologia e regras sancionatórias, o que impede o mecanismo vigente de fiscalização de surtir o efeito previsto”, argumenta o deputado na nota justificativa.

Rever o Código Penal

Já Agnes Lam lança a possibilidade de se introduzirem mexidas no Código Penal para se atingir esse objectivo. “Com vista a reforçar os respectivos efeitos dissuasores, deve ou não recorrer-se à revisão das disposições do Código Penal sobre as sanções para os crimes de corrupção e prevaricação e para as outras infracções disciplinares dos trabalhadores da função pública?”, questiona a deputada.

Na moção, Agnes Lam lembra que a criação de um “governo transparente” figura como um dos “importantes objectivos”, mas que a realidade tem mostrado um cenário diferente. “As várias ilegalidades e até os actos ilegais de corrupção e prevaricação praticados por trabalhadores da função pública, revelados ao longo destes anos, deixaram muitas vezes a sociedade chocada e assustada e prejudicaram gravemente a credibilidade do Governo”, lamenta a deputada para quem os recentes casos demonstram que há funcionários sem “medo” das consequências de violarem a lei.

Na nota justificativa, Agnes Lam faz um paralelismo com Hong Kong e Taiwan, concluindo que “não há grande diferença” nos regimes, mas antes no “preço relativamente baixo preço a pagar” por actos de corrupção cometidos por funcionários públicos em Macau. “Ninguém foi punido com pena de prisão superior a três anos. Como é bastante baixo o preço que os trabalhadores da Função Pública têm de pagar em caso de violação da lei, até mais baixo do que para o crime de roubo, já deixou de ser uma brincadeira dizer que ‘subornar é melhor do que roubar’”, aponta, citando o relatório de actividades de 2018 do CCAC.

Neste sentido, a deputada sugere então que, por via de alterações ao Código Penal, “sejam aumentadas as sanções aplicáveis aos trabalhadores da função pública por ignorarem e praticarem actos que violam a lei”.

10 Abr 2019

Grande Baía | Sónia Chan em Tóquio para promover projecto regional

[dropcap]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, esteve ontem em Tóquio enquanto representante do Chefe do Executivo da RAEM numa sessão de promoção do projecto de cooperação regional da Grande Baía.

Esta foi a primeira actividade, “em grande escala” de promoção no exterior organizada em conjunto pelos dirigentes de Guangdong, Hong Kong e de Macau, desde o lançamento das Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento do projecto de cooperação inter-regional a 18 de Fevereiro.

No discurso, a governante sublinhou “que a Grande Baía é uma das regiões com mais alto nível de abertura e mais vitalidade da economia da China”.

10 Abr 2019

Habitação económica | Deputados querem fixar periodicidade de abertura de concursos

Deputados querem deixar escrito na proposta de alteração à lei da habitação económica a periodicidade da abertura de concursos. Governo rejeita a possibilidade, apesar do compromisso político

 

[dropcap]D[/dropcap]eputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) pretendem ver fixada na lei a periodicidade da abertura de concursos para a habitação económica, propondo um intervalo de três a cinco anos, mas o Governo declina fazê-lo, apesar de garantir ser essa a intenção política.

As divergências saídas da reunião de ontem foram confirmadas por ambas as partes. “A Comissão gostaria que ficasse escrito na lei que de X em X anos – seria entre três a cinco anos – o Governo fosse obrigado a abrir um concurso para a habitação económica”, mas “temos mantido a posição de que não deve ficar escrito na lei, não obstante nós termos a intenção de fazer isso periodicamente”, afirmou o secretário para os Transportes e Obras Públicas. “O problema é fixar na lei. Talvez seja demasiado conservador – acredito que sim –, mas não queria comprometer-me com o prazo”, complementou Raimundo do Rosário.

“Tenho receio de que uma vez escrito possamos não cumprir e aí é muito desagradável porque está na lei. Temos essa intenção [de abrir concursos periodicamente] e certamente faremos isso”, insistiu o titular da pasta dos Transportes e Obras Públicas, pedindo “flexibilidade” para não se fixar no diploma um prazo concreto. Até porque existem situações que escapam ao controlo do Executivo, apontou Raimundo do Rosário, dando um exemplo concreto. “Quando o senhor Chefe do Executivo anunciou que ia abrir um concurso para habitação económica durante este mandato, nós trabalhamos na base de que seria na Avenida Wai Long [junto ao aeroporto, no antigo terreno do La Scala], mas depois tivemos de fazer uma avaliação de impacto ambiental e atrasou”, pelo que “o concurso que vai ser aberto não será na Wai Long, mas na zona A” dos novos aterros. “É um bom exemplo de como há imprevistos e que levam tempo a resolver”, argumentou o secretário.

Raimundo do Rosário insiste que o compromisso do Governo em aumentar a oferta de habitação pública existe. “Prova” disso mesmo é que, a prazo, vão ser disponibilizadas 34 mil fracções (28 mil na zona A e 6 mil na Avenida Wai Long), argumentou. No entanto, os deputados insistem em ter garantias no papel sobre a abertura dos concursos para a habitação económica, em vez de promessas verbais, como confirmou o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, Ho Ion Sang, que reproduziu os argumentos invocados pelo Executivo de que pôr “preto no branco” prazos não é só “difícil”, como pode “criar falsas expectativas”.

À medida

Os deputados transmitiram ainda ao Executivo preocupações relativamente à tipologia das futuras fracções face à experiência do último concurso para habitação económica, lançado em 2013, que contou com mais de 40 mil candidatos a apenas 1.900 apartamentos, dos quais metade eram da tipologia T1. Um cenário que levou ao “fenómeno” de famílias de quatro elementos verem ser-lhes atribuído um T1, enfatizou Ho Ion Sang.

Neste sentido, “muitos deputados questionaram o Governo se consegue assegurar que as tipologias se adequam às necessidades”, face à existência de um projecto com tipologias pré-definidas, atendendo a que “também não consegue dominar a estrutura dos agregados familiares”, explicou o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL.

Tal afigura-se pertinente nas vésperas do lançamento do concurso para a habitação económica, prometido para o actual mandato, em que vão ser disponibilizadas 4.000 fracções para compra a preços inferiores ao do mercado na zona A dos novos aterros. Isto porque, como indicou Ho Ion Sang, o Governo revelou que a tipologia de 25 por cento dos apartamentos (1.000 em 4.000) vai ser T1. “Já alertamos o Governo sobre a proporção”, reiterou o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL.

Ordem dos trabalhos

Actualmente, o Governo encontra-se “concentrado” na primeira fase da zona A dos novos aterros. Segundo Raimundo do Rosário, vão ser desenvolvidos oito lotes, dos quais quatro destinam-se a habitação económica – abarcando as 4.000 casas a atribuir no próximo concurso. Seguir-se-á o projecto da Avenida Wai Long, com três fases, que vai oferecer aproximadamente 6.000 fogos, voltando-se à zona A até se completar as 28 mil habitações públicas. No entanto, a primeira fase na Avenida Wai Long prevê um “número reduzido” de apartamentos, composta “maioritariamente” por instalações sociais, ainda a definir pelos respectivos serviços, indicou Raimundo do Rosário.

Apesar da abertura do concurso ainda este ano para a aquisição de 4.000 fracções na zona A, vai demorar até que os candidatos tenham as chaves na mão, admitindo-se mesmo a hipótese de tal nem ser possível durante o mandato do próximo Governo. Isto porque “não vai conseguir concluir a construção nos próximos três anos” e, depois, “construção e ocupação são coisas distintas”, apontou Ho Ion Sang.

A 1.ª Comissão Permanente da AL volta a reunir-se hoje com o Governo para discutir a proposta de alteração à lei da habitação económica.

10 Abr 2019

“Uma Faixa, Uma Rota” | Alternativa à Rota da Seda dos séculos XIII e XVI em debate

O Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa, organizou na segunda-feira uma conferência subordinada ao tema da Nova Rota da Seda promovida por Pequim. O domínio da região, a posição geoestratégica que a China ocupa, e o papel de Moscovo no equilíbrio do xadrez internacional foram os temas discutidos por académicos portugueses

 

[dropcap]A[/dropcap] Nova Rota da Seda promovida pela China constitui uma alternativa às antigas rotas de Marco Polo e Vasco da Gama, e a Rússia é decisiva para esta estratégia, considerou o académico José Félix Ribeiro no decurso da conferência “Dinâmicas e Interacções na Eurásia” promovida pelo Instituto de Defesa Nacional (IDN) em Lisboa, associada ao Curso de Estudos Avançados sobre a Eurásia.

“Quando a China apresenta esta nova estratégia, diz que quer construir uma ponte e ao mesmo tempo uma estrada. A ponte é terrestre e a estrada é marítima”, assinalou em declarações à Lusa no “A Nova Rota da Seda é uma alternativa da China às rotas de Marco Polo e de Vasco da Gama”, assinalou.

“A ponte em terra e a estrada no mar é em si suficientemente curioso para não se perguntar o que quer verdadeiramente a China. Julgo que a China quer ter a protecção da massa continental euro-asiática, que a torne mais independente do mar, sobretudo do Pacífico”, disse.

Na perspectiva do académico, a primeira intervenção de um debate moderado por Luís Tomé, professor da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), Pequim pretende dominar a rota percorrida por Vasco da Gama (ao longo da costa africana) por dois motivos. “Em primeiro lugar porque quer controlar na Índia, o seu verdadeiro adversário regional, e em segundo lugar quer surgir perante a Ásia como capaz de desafiar os Estados Unidos, porque a ambição da China é ser o centro da Ásia”.

Quando se avolumam as perspectivas de confronto entre estas duas grandes potências em diversas áreas, Félix Ribeiro acredita que nunca entrarão em confronto directo “porque felizmente são ambas potências nucleares”, mas “vão infernizar-se uma à outra”.

Blocos de sempre

Neste cenário, não exclui críticas à abordagem de Washington face à China, e também face à Rússia, que permanece um actor decisivo para a consolidação da estratégia de Pequim, devido em particular à sua colossal dimensão continental.

“Os Estados Unidos trataram os derrotados da Segunda Guerra Mundial, Alemanha e Japão, de uma forma absolutamente extraordinária, transformaram-nos nos seus principais aliados nos seus respectivos territórios”, recordou o académico.

Após ao fim da União Soviética, considera, Washington deveria ter optado por uma posição menos assertiva. “Os Estados Unidos deveriam ter a mesma memória, que o fundamental quando se derrota alguém é saber o que se faz a seguir. E, sobretudo, quando não foi uma derrota de invasão, não houve um tiro, foi uma implosão”, defendeu.

“Se o Presidente George Bush pai [no poder entre 1989 e 1993] tivesse mantido mais um mandato, nunca teria feito o que Bill Clinton fez, que foi acelerar a adesão dos países de Leste à NATO com aquela rapidez. Clinton quis mostrar que era tão republicano como os republicanos, quer na economia quer nas relações externas. Julgo que foi uma política desastrosa”, considerou.

Dar-lhes gás

O professor e investigador do ISCSP Marcos Faria Ferreira, que abordou o tema “Água, cooperação e conflito na Ásia Central”, Helena Rego, académica e funcionária do SIRP [Sistema de Informações da República Portuguesa] com a intervenção “Percepções em torno da Rússia”, integraram os cinco intervenientes num debate que se prolongou por mais de três horas.

As “Relações Alemanha-Rússia” estiveram no centro da intervenção de Patrícia Daehnhardt, investigadora do IPRI-Instituto Português de Relações Internacionais e professora na Universidade Lusíada, que não ignorou a “ambiguidade” da actual situação.

“Há uma certa ambiguidade, mas da parte dos alemães dizem que uma coisa é o panorama político, mas que existe uma relação essencialmente comercial, de salvaguarda de acesso aos recursos energéticos da Rússia, e fazem essa separação, que numa perspectiva externa leva a que a Alemanha possa ser criticada nesse domínio”, frisou em declarações à Lusa, e numa referência ao projecto Nord Stream II, que vai transportar gás russo para a Europa e já implicou a ameaça de sanções por parte dos EUA a empresas europeias.

Este pipeline tem sido motivo de controvérsia entre a Chanceler Angela Merkel e o Presidente Donald Trump, mas é uma história que vem de trás.

Em 2005, apenas a dias do fim do mandato de Gerhard Schroeder, o Chanceler aprovou o projecto o pipeline de quase 1300 quilómetros ao longo do Báltico. Schroeder, que é amigo pessoal de Vladimir Putin, acabaria a trabalhar como gestor da construção do Nord Stream, ao serviço da Gazprom. O gasoduto ficou pronto em 2011 e espera-se que a segunda fase se conclua este ano, numa infra-estrutura de importância maior para a economia russa, assim como para a autonomia energética alemã.

Apesar da posição de Merkel quanto às sanções impostas a Moscovo na sequência da incursão militar na Ucrânia, estratégia económica tem levado a Chanceler a não se opor à construção do Nord Stream II. Facto que levou Trump a sugerir à líder alemã que deixasse de comprar gás russo.

Integrar Moscovo

No entanto, a Crimeia foi um passo longo para a diplomacia alemã, também de acordo com a apreciação de Patrícia Daehnhardt. “No domínio político a Alemanha tem mantido uma coerência desde 2014 [após a anexação da Crimeia pela Rússia e a guerra no leste da Ucrânia], na perspectiva da Alemanha sempre encarou a relação bilateral com a Rússia numa perspectiva de uma relação ‘sui generis’, mas mudou a sua posição, apoiada pela chanceler Ângela Merkel e pelos sociais-democratas do SPD”, precisou.

A académica assinala que o Governo de “grande coligação” na Alemanha apoiou o endurecimento dessa posição, denunciou uma violação do direito internacional e considera-se “justificada” nessa sua liderança de uma resposta Ocidental de aplicação de sanções a Moscovo logo a partir de 2014. Uma liderança em conjunto com os Estados Unidos, “mas efectivamente foi a Alemanha que liderou essa resposta”, disse.

“As acções da Rússia na Crimeia em 2014 não mudaram apenas o tom, mas também a posição. Reconhecendo que é importante, houve aqui uma alteração. Em 2010 houve um encontro entre Merkel e o então Presidente russo Dmitri Medveved numa tentativa de se criar uma nova arquitectura de segurança, e sempre houve essa preocupação de ‘como vamos integrar a Rússia'”.

No entanto, Patrícia Daehnhardt considera que esta perspectiva de “integração” não está totalmente excluída, e compara os reflexos da dimensão política à dimensão comercial, “onde entre 2013 e 2017 houve uma diminuição considerável do volume de comércio”, mesmo que em 2018 voltou a aumentar.

“Mas existe ainda a dimensão energética, e aí a Alemanha refere ser absolutamente fundamental, porque do gás natural que é importado da Rússia para a Europa, 38 por cento a 40 por cento é depois distribuído na Europa, não fica apenas na Alemanha. E aí, a Alemanha diz que é uma questão de interesse europeu”, acrescentou.

A “manutenção da pressão” sobre Moscovo, e a preservação da convergência a nível interno, e do Ocidente, são aspectos que deverão prevalecer, apesar de a académica detectar a delicada posição alemã neste contexto, com as alterações da política externa norte-americana com Donald Trump na Presidência, e a pressão que exerce sobre as opções das empresas energéticas alemãs e europeias, em particular em torno do projecto Nord Stream II.

“A posição da Alemanha está a tornar-se mais difícil para a sua política externa. Em última instância, a política externa e as visões estratégicas da política externa deveriam ser bastante mais aprofundadas e desenvolvidas, e é isso que falta um pouco à Alemanha”, considerou.

Antes do período de debate a última intervenção foi da responsabilidade de Carlos Gaspar, investigador do IPRI em torno do tema “Rússia e Segurança Europeia”. E ao extrair uma das consequências do que definiu como “ofensiva da Rússia contra a segurança europeia”, assinalou a perspectiva de uma “dependência excessiva” da Rússia em relação à China. “Uma dependência excessiva que provavelmente terá efeitos importantes internos entre as elites russas, entre as escolhas que se vão impor a estas elites”, disse.

10 Abr 2019

Peste suína alastra-se a todo o continente chinês com surtos no extremo noroeste

[dropcap]A[/dropcap] China detectou novos casos de peste suína africana nas regiões do Tibete e Xinjiang, no extremo noroeste do país, informaram hoje as autoridades locais, confirmando o alastrar do surto a todo o território continental.

Os casos foram detectados em vários condados da cidade de Nyingchi, Região Autónoma do Tibete, e em Urumqi, a capital de Xinjiang, detalhou, em comunicado, o ministério chinês da Agricultura e dos Assuntos Rurais.

A doença afecta porcos e javalis, mas não é transmissível aos seres humanos. No entanto, coloca em risco o mercado chinês, que produz anualmente 600 milhões de porcos.

O ministério anunciou um mecanismo de emergência, visando isolar, abater ou desinfectar os porcos, e proibiu a entrada ou saída de todos os suínos vivos e produtos suínos das áreas afectadas.

Em Nyingchi, 55 porcos morreram, enquanto em Urumqi foram registados quinze porcos infectados, numa fazenda com um total de 200 suínos.

Desde que foi inicialmente detectado no início de Agosto, no nordeste da China, o surto espalhou-se já pelas 30 províncias e regiões da China continental. Centenas de milhares de porcos foram já abatidos.

Apenas a ilha de Hainan, no extremo sul do país, e as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong, não registaram casos.

A carne de porco é parte essencial da cozinha chinesa, compondo 60% do total do consumo de proteína animal no país. Dados oficiais revelam que os consumidores chineses comem mais de 120 mil milhões de quilos de carne de porco por ano.

A flutuação do preço daquela carne é, por isso, sensível na China e o Governo guarda uma grande quantidade congelada para colocar no mercado quando os preços sobem.

No final do ano passado, as autoridades chinesas autorizaram três matadouros portugueses a exportar para o país.

Profissionais do sector estimam que, até ao final do ano, as exportações portuguesas para a China se fixem em 15.000 porcos por semana, movimentando, no total, 100 milhões de euros.

9 Abr 2019