Sufrágio Universal | Au Kam San aponta dedo a Chui sai On

[dropcap]O[/dropcap] deputado Au Kam San responsabilizou ontem o Chefe do Executivo, Chui Sai On, pela ausência de medidas de promoção de um sistema democrático para a eleição do líder do Governo.

Durante a sua intervenção, o deputado pró-democracia defendeu que “o sufrágio universal, quer do Chefe do Executivo quer da Assembleia Legislativa, tem a ver com a alteração às metodologias em causa, e em ambos os casos, o primeiro passo cabe ao Chefe do Executivo. Isto é inegável”.

“Aliás, não se pode imputar a não promoção do sistema político democrático ao Governo Central”, complementou Au Kam San.

9 Mai 2019

Acidente com autocarro de turismo gera preocupações e críticas de deputados

[dropcap]O[/dropcap] acidente em que um autocarro de turismo chocou contra o Café Rosa, junto ao Jardim-de-Infância Costa Nunes, fez com que vários deputados partilhassem preocupações e lançassem críticas à política de transportes. A deputada Agnes Lam referiu que não se pode permitir que os autocarros de turismo se tornem “numa bomba-relógio”.

“Este acidente teve grande eco na sociedade e voltou a suscitar a atenção da população sobre os autocarros de turismo, que deseja que o Governo investigue este acidente e adopte as medidas de prevenção adequadas. As ruas de Macau são estreitas e os veículos são muitos”, afirmou a legisladora.

“O Governo deve adoptar medidas para proibir a circulação de autocarros de turismo nos bairros antigos em determinados períodos de tempo ou até totalmente. E deve ainda definir medidas para dispersão do trânsito […] Não se pode deixar que os autocarros turísticos que circulam nas vias públicas se transformem num bomba-relógio para a segurança rodoviária”, complementou Agnes Lam.

Ho Ion Sang, que representa a União-Geral dos Moradores de Macau, também mostrou preocupações com o assunto e avançou que os residentes e lojistas “ficaram mais preocupados com a possibilidade de acidentes semelhantes”. Assim, Ho apelou para que sejam tomadas mais medidas de segurança e que se identifiquem os “pontos negros” propícios a acidentes com autocarros para que se instalem grades de protecção.

Segurança em causa

As sugestões de Ho abarcam também a segurança dos passageiros. Neste sentido, o legislador referiu a necessidade de instalar saídas de emergência extra nos autocarros e de fazerem inspecções aos mecanismos de segurança de forma periódica.

O assunto foi igualmente abordado por Mak Soi Kun e ainda Wu Chou Kit. Para Mak, o principal foco da intervenção foi a formação dos motoristas: “Os serviços competentes realizaram acções de formação para os motoristas de veículos pesados, e incluíram exemplos de acidentes de viação nessa formação? As autoridades fiscalizam a qualidade dos cursos de formação destinados aos motoristas de pesados?”, questionou. “Proponho, mais uma vez, ao Governo, que defina critérios de avaliação objectivos e científicos para a formação destes motoristas”, acrescentou.

Por sua vez, Wu Chou Kit, deputado nomeado pelo Chefe do Executivo, insistiu na necessidade de distribuir melhor o trânsito pelas estradas da RAEM.

9 Mai 2019

Segurança | Iau Teng Pio deixa aviso sobre infiltração de forças estrangeiras

A abertura do princípio “Um País, Dois Sistemas” permite que forças estrangeiras se aproveitem de Macau para recolher informações sobre a China. Por isso, o deputado Iau Teng Pio alerta para a necessidade de medidas nas “vertentes políticas, económicas, culturais, sociais e tecnológicas”

 

[dropcap]O[/dropcap] deputado Iau Teng Pio alertou para os “riscos decorrentes da abertura institucional” associados ao princípio “Um País, Dois Sistemas” e pediu ao Governo que salvaguarde a segurança nacional. Foi este o conteúdo da intervenção do legislador nomeado pelo Chefe do Executivo na Assembleia Legislativa, que também sublinhou a influência da emergência do País no plano geopolítico.

“Com a entrada do País numa nova era, isto é, na plena construção de um país forte e modernizado, a conjuntura internacional vai ser cada vez mais complicada. Enquanto região administrativa especial, Macau goza do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, que é uma vantagem, e tem de aceitar, como consequência disto, os riscos decorrentes da abertura institucional”, começou por contextualizar.

Depois deixou o alerta: “Muito provavelmente, as forças estrangeiras vão fazer de Macau uma base, aproveitando-a para recolha de informações da China, divulgação de ideologias e acções de infiltração. Portanto, neste contexto, a salvaguarda da nossa prosperidade e estabilidade, que não foram fáceis de atingir, constitui uma missão importante”, sublinhou.

Trabalho preparatório

Face ao cenário traçado, Iau Teng Pio deixou o caminho para a RAEM conseguir proteger-se: “ser pró-activa e preparar-se para eventuais adversidades, no sentido de enfrentar todos os conflitos, riscos e desafios […] tem também de acompanhar o ritmo da Pátria, lutando ombro a ombro, na certeza que vai conseguir defender a prosperidade e a estabilidade, criando um futuro melhor”, deu como receita.

O também professor de Direito considera ser necessário alargar o âmbito da aplicação das medidas de protecção nacional às “vertentes políticas, económicas, culturais, sociais e tecnológicas”. Contudo, sublinha que o esforço tem de ser conjunto e, por isso, urge que sejam desenvolvidos “canais e métodos de trabalho de sensibilização sobre a segurança”, para concretizar “a divulgação constante no sentido de elevar a consciência dos cidadãos sobre a protecção da segurança do Estado”.

Orgulho no desempenho

Ainda no que diz respeito à Segurança Nacional, Iau Teng Pio mostrou-se orgulhoso do trabalho feito pela RAEM depois da transferência da soberania. “Desde o retorno, o Governo e a população têm tido consciência disto e assumido pró-activamente as suas responsabilidades constitucionais”, afirmou.

Iau deu como exemplos do trabalho feito a legislação do artigo 23.º da Lei Básica, que já têm uma lei própria, ao contrário do que acontece em Hong Kong, assim como “actividades de educação” e a criação da Comissão de defesa da segurança do Estado.

Por outro lado, o deputado elogiou a recente exposição sobre a Segurança Nacional: “Integra vários elementos, para que os cidadãos possam, partindo de pontos de vista diferentes, compreender a importância da segurança nacional e a sua relação estrita com a vida diária, o que é importante para reforçar a consciência de todos sobre a segurança nacional”, considerou.

9 Mai 2019

Ambiente | Mais de um milhão de espécies ameaçadas de extinção

O cenário é preocupante e a responsabilidade é da acção humana, submissa ao paradigma do desenvolvimento económico e sem olhar a meios no que respeita à preservação do ambiente. Em causa está a possibilidade de extinção de mais de um milhão de espécies nas próximas décadas. A conclusão é da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecos sistémicos (IPBES) das Nações Unidas

 

[dropcap]A[/dropcap]s próximas décadas podem levar à extinção de mais de um milhão, das cerca de oito milhões de espécies – animais e plantas – conhecidas no planeta. A conclusão é clara e faz parte do mais recente relatório apresentado pela Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecos sistémicos (IPBES na sigla inglesa) em Paris, no passado dia 7 de Maio.

De acordo com o documento, a quantidade de animais por espécie, presente nos habitats naturais terrestres diminuiu em pelo menos 20 por cento, desde 1900. Actualmente, mais de 40 por cento das espécies de anfíbios, quase 33 por cento dos corais de recife e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados. Os dados não são tão claros quando se fala de insectos, mas, ainda assim, os especialistas estimam que 10 por cento das espécies estejam fortemente ameaçadas. Pelo menos 680 espécies de vertebrados têm desaparecido, desde o séc. XVI e mais de nove por cento dos mamíferos que foram domesticados para uso alimentar e funções agrícolas também deixaram de existir, estando “pelo menos mais de mil raças ameaçadas”.

Trata-se de uma “situação sem precedentes” alerta o relatório. A preocupação é sublinhada pelo presidente do IPBES, Robert Watson. “A esmagadora evidência da Avaliação Global do IPBES, vinda de um vasto leque de diferentes áreas de conhecimento, apresenta um quadro sinistro” aponta.

Suicídio global

O desequilíbrio do ecossistema, cada vez mais acentuado, não representa apenas o fim de outras espécies. É uma ameaça à própria espécie humana que desta forma acaba por destruir “a sua economia, os seus meios de subsistência, a sua segurança alimentar e a sua saúde e qualidade de vida”, sublinhou.

Este é o alerta daquele que é “é o documento mais abrangente acerca deste tema, e o primeiro Relatório intergovernamental do seu tipo”, referiu Watson.

O conteúdo foi compilado por 145 especialistas oriundos de 50 países e avalia as mudanças nas últimas cinco décadas, “fornecendo uma visão abrangente da relação entre os caminhos do desenvolvimento económico e o seu impacto na natureza”.

Ainda há tempo

Apesar do cenário actual ser assumidamente desanimador, Robert Watson não perde a esperança e aponta que ainda é tempo de evitar o pior. Mas para o efeito são precisas “mudanças transformadoras” a todos os níveis “do local ao global”.

“Através de uma ‘mudança transformadora’, a natureza ainda pode ser conservada, restaurada e usada de forma sustentável”, revela, sendo que “por mudança transformadora” se entende “uma reorganização fundamental em todo o sistema, através de medidas tecnológicas, económicas e sociais, incluindo a mudança de paradigmas, de metas e de valores”.

Tendo em conta que o mundo se tem comportado conforme os ditames de um desenvolvimento económico desenfreado, e dos interesses a ele associados, o reverter da situação actual não é fácil, e qualquer acção nesse sentido pode encontrar obstáculos erguidos “pelos interesses dominantes”.

Por isso, o apelo é dirigido à maioria, ao público em geral que quer deixar um mundo aos seus descendentes.

A este respeito a especialista argentina, Sandra Díaz que co-presidiu a avaliação global em conjunto com o alemão Josef Settele e o brasileiro Eduardo S. Brondízio, foi peremptória ao exaltar o papel do legado da biodiversidade para as gerações futuras. “A biodiversidade e as contribuições da natureza para as pessoas são a nossa herança comum e a mais importante ‘rede de segurança’ e de apoio à vida da humanidade. Mas a nossa rede de segurança está esticada até quase um ponto de ruptura (…), embora ainda tenhamos os meios para garantir um futuro sustentável para as pessoas e para o planeta”, refere a especialista.

Relevância política

Para lançar o alerta político, os autores deste relatório apresentaram pela primeira vez uma classificação dos grandes responsáveis pelo cenário actual e dos quais é necessária uma acção imediata. Por ordem decrescente de importância o relatório aponta a responsabilidade das mudanças no uso da terra e do mar; da exploração directa de recursos naturais; das alterações climáticas; da poluição e das espécies invasoras. A título de exemplo, o número de espécies exóticas invasoras por cada país, dos 21 que integram a plataforma, aumentou cerca de 70 por cento desde 1970, revelam os especialistas.

Embora de forma mais indirecta, a perda da biodiversidade do planeta está relacionada com o aumento da população e do consumo per capita; com a inovação tecnológica e com questões de governação irresponsável.

Um padrão que entretanto emerge no desenvolvimento mundial é o da interconectividade global que tem tido efeitos no desequilíbrio da vida no planeta. Trata-se do “fenómeno em que se dá a exploração de recursos numa parte do mundo para satisfazer as necessidades dos consumidores de outras regiões”, o que está a esgotar os recursos existentes.

Pedidos repetidos

O apelo a mudanças económicas e sociais profundas tem sido reiterado por peritos para proteger o planeta.

Em Outubro do ano passado, a Plataforma Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, frisou esta questão, como sendo uma necessidade imprescindível para conter os gases que provocam o efeito de estufa com “a rapidez suficiente para evitar as consequências mais devastadoras do aquecimento global”.

Agora, o relatório apresentado em Paris, não deixa de apontar que, desde 1980, as emissões de gases que provocam o efeito estufa duplicaram e a temperatura média global já aumentou em 0,7 graus. De acordo com os especialistas, “o impacto deve aumentar nas próximas décadas, superando as transformações provindas da utilização de terras e dos mares”.

Direcção futura

O relatório apresenta ainda uma série de acções a tomar tendo em conta a sustentabilidade e os caminhos para a alcançar, especificando medidas em sectores como a agricultura, a silvicultura, os sistemas marinhos, os sistemas de água doce, as áreas urbanas, a energia e as finanças.

É destacada a importância em adoptar abordagens integradas de gestão que valorizem o equilíbrio na produção de alimentos e de energia, das infraestrutura, e no consumo de água doce e exploração costeira.

Também identificada como um elemento-chave de políticas futuras mais sustentáveis ​​está a evolução dos sistemas financeiros e económicos para a construção de uma economia global sustentável, “afastando-se do actual paradigma limitado ao crescimento económico”.

Para o efeito, é necessária a adopção de uma ciência autoritária para dominar o conhecimento e as opções políticas, frisa a secretária executiva do IPBES, Anne Larigauderie.

Os especialistas acreditam ainda que os resultados deste relatório vão permitir o aumento da pressão sobre os países para a protecção da vida selvagem. A esperança de novas opções políticas é já depositada numa conferência que deverá ocorrer na China no final do próximo ano. “A iniciativa pode reforçar o reconhecimento da necessidade de novas políticas tendo em conta a ameaça de extinção de espécies e as alterações climáticas”, aponta o documento.

 

Números

População global – duplicou desde 1970 de 3,7 para 7,6 mil milhões

75 por cento dos recursos de água doce aplicados na agricultura e pecuária

Produção agrícola – aumentou 300 por cento desde 1970

Exploração de recursos naturais – duplicou desde 1980

100 milhões de hectares de floresta tropical foram perdidos entre 1980 e 2000
75% do ambiente terrestre “severamente alterado” por acções humanas

9 Mai 2019

As quatro mãos do meu piano

[dropcap]T[/dropcap]udo o que faço é por causa do Presidente, para o bem e para o mal, foi ele que me trouxe até aqui. Desde que me lembro de existir. Quando atravessava a rua e me atirava para cima dos cisnes negros que nadavam no lago em frente a casa, era o Presidente que determinava o horizonte desse acontecimento. Sempre que fazia o contrário daquilo que me pediam, não era birra, não era mau feitio. Diziam que não entrava na linha, que era rude e que tratava mal os outros meninos – e as meninas também, puxava-as pela mão, contra as suas vontades – e que dava cabeçadas e murros na parede quando estava com os azeites. Não era bem assim, mas era quase, e o quase tinha um cognome. Pedalava por precipícios, num carro sem travões. Explorava moradias em ruínas e bichos estranhos que, claro, me atacavam e por isso tinha que dar corda aos sapatos. Não era que me apetecesse, não era por minha vontade. Na verdade, odiava tudo isso. Odiava automóveis e fazer corridas de carrinhos e caricas em talhões de terra, mas tinha de ser. O Camisola Amarela, o Prémio da Montanha, nenhum faltava à comparência. A classificação por pontos e por uma jogada abaixo do par. Detestava também partir tijolos com a cabeça e os cinturões de artes muito pouco marciais. As viagens a meio da noite para clareiras de florestas cheias de gente não identificada. E alguns objectos voadores. Isso tudo tinha uma razão de ser. O ser que não tinha nome, só tinha fama. Levava-me pela mão.

Não era fácil e o troco não estava garantido. A maioria das actividades era um esforço tremendo. Mas como a vida era assim desde o seu início, não duvidei que pudesse acontecer de outra forma, que o cinto tivesse um aperto mais largo. Fosse de que lado caísse a chuva, ou soprasse o vento, o espectro estava sempre lá, como um banho de água gelada. Bom ou mau, era para cumprir. Não que refilasse ou coisa assim, não tinha nada contra, porque não tinha nada dentro de mim e não conhecia o favor. Ia apenas enchendo o recipiente que formava o meu ser em absoluto, o involucro que o Presidente segurava e que tentava vedar cheio de determinação. Foi sempre assim, em todos os estágios por que fui passando. Escolas, trabalhos, amizades, lutas. Relações quentes e frias. Viagens, festas de aniversário, casamentos e baptizados. Tudo o que inseria para dentro do meu corpo, quem me enfiava a colher na boca ou a pica da imunização? Os pesadelos, as noites mal dormidas, os vizinhos aos gritos, que conversas eram essas, quem as encenava? A família que me arranjaram, os amores, o suor e as lágrimas. Compromissos por terminar, tarefas do tamanho do mundo, coisas vãs? Era a pressa. Era o relógio que estava a tiritar. Era o dedo no cronómetro, que me fazia chegar muito depois do último. Ou antecipando o primitivo. Aqui e ali ao mesmo tempo, cala-te agora, neste devias falar. Quem tinha o microfone em riste? Não é preciso dizer quem era a personalidade. Nem apontar o dedo, porque é feio.

Questionava-o sobre muito do que sucedia. Mesmo depois da idade dos porquês, continuava a perguntar-lhe a razão de ser de tudo aquilo que se erguia à minha volta. Seriam cenários? E os figurinos, quem os vestia? Porque haveria de me colocar em dificuldades quando tudo corria bem e sem tormentos? Ele replicava que era mesmo assim, enquanto me levava ao dentista que me assassinou. Que não podia ser de outro modo. “É assim que o mundo foi feito”, convencia-me. Não me instruiu em religiões ou noutras crenças dissimuladas. Que o mundo era quadrado. O que existia estava à vista. O oculto era também uma ciência, era para apreender e descobrir ao longo do tempo. Que no chão que pisávamos existia uma crosta esférica com várias camadas de matéria incandescente em plena ebulição e que, aglomerado no centro, a mais de três mil quilómetros de distância – Lisboa > Bielorrússia -, um eixo redondinho com a temperatura do Sol que nos mantinha numa rota precisa no céu, impedindo-nos de cair na latrina de sémen do Universo. A paternidade. O vazio sem fundo.

“Nada de pressas”, dizia em muitas ocasiões.

Uma vez no ar, ia eu disparado ao embater no tampo de uma viatura que circulava no sentido errado, ainda não havia telemóveis por isso não pude utilizar o serviço de mensagens curtas, comuniquei-lhe no éter, por alguma frequência: “Porquê isto?” A geometria descritiva a gostar dela própria. Mundo quadrado, sim. “Aguenta!”, ripostou, por entre os estilhaços de vidro, um segundo antes de esborrachar um capacete novinho e o seu conteúdo – isso era o menos! – no alcatrão.

Antes de me apagar: “Aguenta!”

Em meados dos anos 90, declarou: “Deixa tudo e desaparece!” Não pestanejei. A directiva não trazia remetente nem carimbo. Nem formulário para contestação. Mas também não fui para a rua lutar. O meu lacre tinha uma existência regular: a vidinha. Um trabalho, uma namorada, quatro rodas de um automóvel. Ia ao cinema, aos concertos, aos jantares. Conduzia-me pela cidade, noite dentro, e pelo país, de Norte a Sul. Tinha um pé no chão, outro no acelerador. A cabeça no ar. E o Presidente orientou-me, à temperatura do sol nascente, a remoer o meu magma com as ferramentas todas do jardim. Desapareci e aprendi a nadar nessa superfície incandescente. E aguentei!

Na viagem, um homem coberto com uma manta na coxia ao lado, sem lhe ver o rosto, sem lhe ver o corpo. Seria ele? Seria um mantra? Não ousei levantar o véu, não lhe queria ver a cara. Nunca esteve longe, tenho a certeza. Mesmo nos momentos em que tinha de fazer as coisas sozinho, quando tudo andava ao contrário e a crosta no solo parecia romper-se em pedaços, deixando tudo em carne viva, permanecia agarrado ao meu ombro, com o seu visto de rapina. Num olhar que era só meu.

Já não espero por muito. Habituei-me. Agora, em terra de turcos, sem geometrias e deveres ocultos, aguento. Disperso. Um dia após o outro. Há sempre um que vem a seguir, não é?

Já dentro do caldeirão, falei com quem tinha de falar, nada foi por acaso. O algoritmo, o serviço de mensagens longas, os pagers. Deram-me logo isso para a mão, para que não faltasse nada. Associado a pessoas estranhas ao meu estabelecimento, que me acolheram, prossegui. Os caminhos traçados no chão. Um sistema luminoso como na pista de um aeroporto, fitas coloridas atadas aos ramos das árvores, pequenos truques de algibeira. Casas e mais casas, para o conhecimento da palma do território. Sociedades secretas. A história da Guerra do Ópio. Transatlânticos. Mais mantras, iogas e mandalas. O Presidente, a partilhar informação confidencial, elucidava-me sobre o desafio total. A liberdade a passar por ali. Na face da minha cara.

Às tantas, mandou-me para perto do General, para aprender como se fazia. “Vai!”, e eu fui, como um animal irracional que abana a cauda. Não precisava da Razão, podia viver bem sem isso, o fogo ardia sempre ao meu lado. Pensava, fazia relatórios, ouvia conversas. Carregava em botões. Observava a vida por dentro de um rectângulo que materializava em figurinhas planas de papel extorquidas da realidade. Guardava. Acumulava sabedoria. Para quê? Dizia-me que algures lá à frente, no eixo redondinho do céu, o meu dia iria chegar. Que um dia seria eu. Que a maré se iria levantar.

Next!

Um dia, pede-me para chegar a horas. Envia-me bilhetes de avião. Outros, para chegar atrasado. Grito. Para que se afaste. Mas ele não foge. Reclama, que devo ver e observar tudo com atenção, ou que ignore um conhecido de outros tempos com quem me cruzo e, se mais tarde o encontrar numa festa, que invente o pretexto de que tenho dioptrias.

Já não espero por muito. Habituei-me. Agora, em terra de turcos, sem geometrias e deveres ocultos, aguento. Disperso. Um dia após o outro. Há sempre um que vem a seguir, não é? Para lá da colina, para lá do sol posto. Traz sempre o tabuleiro recheado de iguarias a tiritar. Tic. Tac. O gravador em riste, para que permaneça a fita na memória. Sessenta aqui, sessenta ali. Os cisnes negros a atravessar a rua. Sem conserto e sem jantares. O lago seco. O salto à vara. A enfiar-me o capacete. Na paz de quem me dá a mão. E a alma.

Como sempre, está aqui. O Camisola Amarela, em fuga solitária e já muito perto da montanha. Onde está o prémio? A casca solta a sua lava. Cega-me por todo o lado. Tic. Tac. Um copo meio vazio. Meio cheio. Sem sombras. A percorrer as teclas do meu piano. Com ele, o Presidente, perpetuamente astuto, que não fez mais do que me segredar para escrever esta crónica. Jurando nunca se render. Ditando-a.

9 Mai 2019

Embaixador de Portugal apela aos jornalistas timorenses que aprendam português

[dropcap]O[/dropcap] embaixador português em Díli apelou hoje aos jornalistas timorenses que aprendam português, salientando a importância da comunicação social em língua portuguesa na construção democrática de Timor-Leste.

“Aprendam português pela vossa identidade, pela vossa profissão, pelo mundo imenso da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, a CPLP, que vos pertence”, disse José Pedro Machado Vieira.

“Sabemos todos da importância da comunicação social, bem como do papel que o acesso a informação certa e rigorosa cumpre na construção das democracias, pelo que não podemos descurar a formação permanente dos jornalistas”, referiu José Pedro Camacho Vieira, num seminário “Jornalismo em tempo de luta: relatos em português”, organizado pela embaixada e pelo Camões no âmbito da Semana da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Actualmente, encontra-se em implementação o projecto “Consultório da Língua para Jornalistas”, fruto da parceria entre o Camões, I.P. e a Secretaria de Estado da Comunicação Social de Timor-Leste, que tem como objectivos “a capacitação de profissionais da comunicação de Timor-Leste em língua portuguesa para a transmissão de informação fidedigna ao público”. Actualmente, existem cerca de 80 formandos neste projecto.

“Estudantes, jovens profissionais, peço-vos que aproveitem o conhecimento. No vosso percurso, privilegiem o mérito, a competência e a ética”, disse aos jornalistas timorenses.

Na sua intervenção, o embaixador português recordou que no último ranking de liberdade de imprensa, Timor-Leste, subiu 11 lugares mas ainda se encontra em “situação difícil”, motivo pelo qual a cooperação portuguesa “tem vindo a apoiar a Comunicação Social de Timor-Leste, através da formação de jornalistas, da redacção do quadro legal e mesmo do impulso à criação do Conselho de Imprensa, em 2015”.

O encontro, que juntou jornalistas com experiência de cobertura do país, entre os quais o delegado da Lusa, permitiu celebrar “a língua, sublinhando o valor da palavra em português”, salientou a diplomata.

Perante uma plateia de dezenas de jornalistas timorenses, os jornalistas veteranos Adelino Gomes e Max Stahl recordaram o trabalho feito no passado.

Adelino Gomes, que está em Timor-Leste numa iniciativa do Conselho de Imprensa e da Embaixada de Portugal, mostrou excertos dos seus blocos de notas da altura e descreveu os condicionalismos técnicos de operar na altura no território.

Max Stahl, que filmou o massacre de Santa Cruz em 1991, aproveitou a sua participação no seminário para falar do período de 1999, nomeadamente durante o período de grande violência após o referendo de 30 de Agosto.

O jornalista referiu-se ao facto dos vários poderes usarem imagens ou outros instrumentos para tentar manipular a opinião pública e apresentar versões diferentes da realidade.

Já Virgílio Guterres, presidente do Conselho de Imprensa timorense, recordou os seus primeiros passos no jornalismo, nomeadamente nos últimos anos da ocupação indonésia – que terminou em 1999.

Guterres salientou a criação de publicações como a Talitakum ou a Vox Populi, algumas revistas pioneiras na luta contra a ocupação indonésia.

8 Mai 2019

China defende acordo do Irão face a sanções unilaterais dos EUA

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês defendeu hoje uma “rigorosa” implementação do acordo nuclear do Irão, face às sanções “unilaterais” dos Estados Unidos, que visam “aumentar a tensão” no Médio Oriente.

“Rejeitamos as acções dos EUA, que levaram a uma escalada da tensão”, afirmou Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

A China foi um dos países que assinou o chamado Plano Integral de Acção Conjunta (JCPOA). Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha são os outros signatários.

Depois de anunciar a sua retirada unilateral, Washington voltou a impor sanções contra Teerão, em Agosto e Novembro, incluindo sobre os sectores bancário e petrolífero. Na sexta-feira passada, o Departamento de Estado dos EUA anunciou a imposição de mais sanções.

Em resposta, o presidente iraniano, Hasan Rohaní, deu hoje 60 dias às potências mundiais para se negociar um novo acordo nuclear, caso contrário retomará o enriquecimento do urânio, e anunciou a redução de compromissos firmados no pacto de 2015.

Rohaní afirmou que o país vai deixar de limitar as suas reservas de urânio e água pesada, uma decisão que contraria o acordo nuclear de 2015.

O líder iraniano disse que a redução dos compromissos nucleares é uma medida que visa “salvar” o JCPOA, e que o Irão “não escolheu o caminho da guerra, mas o caminho da diplomacia”.

Geng considerou que Teerão “cumpriu com as suas obrigações” nos termos do acordo, que foi implementado “rigorosamente” apesar das “sanções unilaterais” dos Estados Unidos.

O porta-voz chinês destacou que a manutenção e implementação do acordo nuclear é uma “responsabilidade comum” de todos os países signatários, apelando a um “fortalecer do diálogo”, que “evite uma escalada de tensão” na região.

“A China continuará em contacto com todas as partes envolvidas, para implementar o acordo e manter os direitos e interesses legítimos dos nossos negócios”, disse Geng.

8 Mai 2019

Caves de vinho do Porto Cálem com visitas guiadas em mandarim para atrair chineses

[dropcap]A[/dropcap]s caves de vinho do Porto Cálem estão a organizar visitas guiadas em mandarim para atrair turistas chineses, um “mercado novo com potencial forte de crescimento” e elevado poder de compra, disse à Lusa a directora de turismo da marca.

“Com a iminência do ‘Brexit’ e a ascensão da concorrência de destinos como a Turquia, Tunísia e Egipto (que estiveram adormecidos e que, desde 2016, têm vindo a recuperar), sentimos a necessidade de trabalhar mercados novos e com um potencial forte de crescimento”, afirmou Maria Manuel Ramos.

Segundo salientou, “sendo o mercado chinês o número um em ‘outbound’ [emissão] de turistas no mundo e tendo em conta que a Espanha surge já como o quarto país na lista de preferências deste mercado, Portugal, por questões de localização e de proximidade, posiciona-se, sem dúvida, como uma boa porta de entrada para estes visitantes”.

Adicionalmente, tem vindo a registar-se uma “procura crescente” por parte dos turistas chineses pelo destino Porto e Norte de Portugal.

“Decidimos explorar esta oportunidade, uma vez que acreditamos que apostar num dos mercados com maior poder de compra será também um dos caminhos acertados para marcar a diferença face à concorrência. Criar ofertas diversificadas, de modo a crescer num segmento competitivo, foi outro dos motivos que nos levou a fazer esta aposta”, acrescentou a directora de turismo da marca.

As visitas às caves com guias chineses, que explicam e acompanham os turistas ao longo de toda a experiência de descoberta do mundo do vinho do Porto, estão já disponíveis desde o início de Abril, sob reserva prévia e para grupos com um máximo de 45 pessoas, complementando a oferta já existente de visitas guiadas em português, inglês, espanhol e francês.

Apesar de actualmente os turistas chineses representarem apenas 1% dos visitantes das caves Cálem, localizadas em Vila Nova de Gaia, o objectivo é “chegar a pelo menos 5% através de todas as acções implementadas”.

Estas acções incluem a promoção das novas visitas guiadas em mandarim “junto dos operadores que trabalham este nicho, principalmente aqueles que têm escritório ou representantes em Espanha”.

Paralelamente, a aposta da Cálem no mercado chinês passa pela presença da marca “numa das plataformas de reservas com maior implementação no mercado asiático – ‘Klook’ – e, brevemente, pela disponibilização em todas as lojas e centros de visita das marcas do grupo Sogevinus de um método de pagamento através da plataforma Alipay (a maior plataforma de pagamentos digitais da China), para facilitar as transacções junto dos turistas chineses.

Fundada em 1859 por António Alves Cálem, a marca Cálem apresenta-se como “uma embaixadora do Porto pelo mundo” e reclama a liderança no mercado português, “em larga medida graças à insígnia Cálem Velhotes”, tendo vindo a apostar em vários mercados externos.

Segundo a marca, que integra o grupo Sogevinus Fine Wines, as caves Cálem “são as mais visitadas caves de vinho do Porto e uma das mais visitadas caves de vinho em todo o mundo”.

No mercado desde a década de 1990, o grupo Sogevinus Fine Wines produz e comercializa vinhos do Porto e vinhos Douro DOC.

8 Mai 2019

Maioria dos alunos que entram na Escola Portuguesa de Macau sem português como 1.ª língua

[dropcap]A[/dropcap] maioria dos alunos inscritos no primeiro ano da Escola Portuguesa de Macau (EPM) não tem o português como primeira língua, num universo de 612 alunos de 24 nacionalidades, segundo o director da instituição.

O presidente da direcção da EPM, Manuel Peres Machado, falava à agência Lusa à margem do primeiro encontro das Escolas Portuguesas no Estrangeiro, que decorre na capital de Cabo Verde, encontro que está a permitir aos responsáveis destas escolas “trocarem impressões e falarem um pouco das especificidades das escolas e dos locais onde estão inseridas”.

E a principal especificidade da EPM é o facto de ser a única que não está inserida “num meio em que se fale português com fluência”. “Os nossos alunos não estão imersos num meio em que a língua portuguesa é usada no dia a dia fora da escola”, disse.

Para Manuel Peres Machado, esta particularidade de os alunos apenas terem o português como língua curricular produz dificuldades, mas também traz vantagens.

“Dificulta no sentido em que torna mais difícil o delinear de estratégias que levem a que os alunos e os encarregados de educação desenvolvam fora da escola o seu trabalho necessário para o conhecimento da língua que têm de dominar para a frequência da escola portuguesa”, referiu.

Por outro lado, tem a “vantagem de permitir esta vivência multicultural em que há duas culturas que são bem diferentes – a portuguesa e a chinesa -, que não estão de costas voltadas, mas antes se completam no espaço Escola Portuguesa de Macau”.

E apesar de não estarem inseridas num ambiente que fala português, os alunos acabam sempre por o levar para as suas casas: “Nunca fica restrito ao espaço escola. Há obviamente a transmissão aos encarregados de educação do que é alvo da aprendizagem da escola”.

O que aprendem e transmitem “é apreciado”, como o demonstra o número de alunos que não tem o português como primeira língua e que este ano se inscreveu no primeiro ano da EPM.

“Este ano, matriculou-se no primeiro ano mais de 60% de alunos que não tem o português como primeira língua, o que exige da escola estratégias para ensinar a língua para os alunos adquirirem as ferramentas necessárias ao acompanhamento do currículo nos anos consequentes”, disse.

O director da EPM adiantou que muitas destas crianças “não falam de todo português. Vêm de agregados familiares chineses, filipinos, ou de outras nacionalidades”.

Ao todo, estudam nesta escola 612 alunos, provenientes de 24 nacionalidades, sendo a portuguesa a mais representada, seguindo-se a chinesa (88 alunos) e outras como a brasileira, a angolana, guatemalteca, russa, inglesa.

“Existem alunos provenientes de todas as partes do mundo”, sublinhou, acrescentando que, “as crianças, desde que se dediquem, estão numa altura do seu crescimento em que absorvem a língua e começam a praticar”.

Para ensinar estes 612 alunos, que frequentam do 1.º ao 12.º ano, leccionam 65 professores.
Para já, apesar da procura crescente, a escola ainda não tem lista de espera, mas as instalações “estão praticamente ocupadas”.

A situação deverá resolver-se com a criação de um novo pólo da EPM, a ser construído num terreno cedido pela administração da Região Administrativa Especial de Macau, conforme anunciou recentemente o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da sua visita a Macau.

O primeiro encontro das Escolas Portuguesas no Estrangeiro arrancou sábado na cidade da Praia e reúne os directores destas instituições, onde estudam 6.000 alunos de várias nacionalidades e leccionam 500 professores.

8 Mai 2019

Guia de conversação vietnamita-português apresentado em Hanói

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) apresentou ontem o guia de conversação vietnamita-português durante um colóquio sobre língua portuguesa, que decorre até quarta-feira na Universidade de Hanói.

“O IPOR está a desenvolver uma série de ferramentas na área de publicações de guias lexicais e de conversação, a maior parte deles voltados para fins específicos”, como contabilidade e economia, saúde e jornalismo, afirmou o director da instituição, Joaquim Coelho Ramos, que se deslocou a Hanoi para apresentar o guia a professores e investigadores.

Editado em 2017, quando 180 alunos frequentavam o curso de licenciatura em português naquela Universidade, o “Guia de conversação vietnamita-português” apresenta noções básicas sobre língua portuguesa, vocabulário, estruturas gramaticais próprias, sinalética e gestos e expressões não-verbais documentados com imagens, abordando temas como socialização, alojamentos, estudos, visitas, deslocações, sair e fazer compras.

O desenvolvimento de materiais didácticos é também uma das prioridades do IPOR para a nova delegação em Pequim, resultante do protocolo agora assinado entre o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e a Sociedade de Jogos de Macau S.A., disse.

“Gostávamos que a delegação [arrancasse] em Setembro ou Outubro, mas depende de um concurso que vai ser lançado para seleccionar o delegado”, afirmou o responsável.

Aquele protocolo, firmado aquando da visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a Macau, em 1 de Maio passado, visou a constituição de um fundo para apoiar a difusão e promoção da língua portuguesa na República Popular da China.

Esta delegação vai ter como “conteúdos funcionais”, além da produção de material didáctico adequado às especificidades da China continental, “a formação contínua de professores” e o desenvolvimento de “actividades de intervenção cultural”.

“É nossa intenção que o delegado se desloque, dentro das suas possibilidades, para dar apoio às instituições que são cada vez mais”, disse Joaquim Coelho Ramos, numa referência ao ensino do português na China, actualmente a decorrer já em 48 universidades chinesas.

“Uma vez cumprido este núcleo muito voltado para a língua portuguesa”, o delegado vai desenvolver “actividades de intervenção cultural, sempre em articulação com a embaixada de Portugal”, já que “é um mecanismo essencial associar a cultura à língua para facilitar as aprendizagens”, explicou.

Ainda ao abrigo deste fundo, o IPOR vai desenvolver uma presença em Chengdu, na província de Sichuan (centro). Joaquim Coelho Ramos afirmou que “há já algum tempo” que o IPOR se desloca àquela cidade chinesa para dar aulas de português a médicos, enfermeiros e técnicos de planeamento familiar do Centro Internacional de Formação na área da Saúde e do Planeamento Familiar.

Estes técnicos integram as dinâmicas de cooperação e desenvolvimento da China junto dos países lusófonos, indicou. “Com esta nova ferramenta financeira, vai ser possível aprofundar essa colaboração e criar um centro de língua e cultura portuguesa, o que também vai facilitar muito a formação”, acrescentou.

O IPOR lançou recentemente um laboratório digital de línguas, um recurso tecnológico “que permite aumentar os níveis de sucesso no ensino das línguas estrangeiras”, uma vez que os professores podem fazer “um ensino mais individualizado” e acompanhar “através da consola central a evolução dos alunos”, afirmou.

Este laboratório tem capacidade para 25 alunos em simultâneo, e possibilita também o treino auditivo “muito importante para articular as palavras uma vez que são línguas muito diferentes”, disse.

Além da valência no ensino-aprendizagem, o laboratório permite explorar a área da investigação. “Através de resultados que podem ser computados ao longo da aula, o professor pode recolher elementos que permitem acompanhar a evolução do aluno”, ao mesmo tempo que permite compilar “elementos estatísticos que vão ajudar a instituição a acomodar necessidades específicas dos alunos”.

Joaquim Coelho Ramos adiantou que o IPOR vai “abrir o laboratório à colaboração de escolas de Macau, em articulação com a DSEJ [Direcção dos Serviços de Educação e Juventude] ou com o centro de difusão de línguas, parceiros institucionais do instituto”.

Este laboratório decorre “de um apoio” da região administrativa especial chinesa, sendo “de toda a justiça” que seja colocado à disposição do território”, o que também vem reforçar a vontade do IPOR de “servir de elo de ligação de todas as comunidades”, sublinhou.

8 Mai 2019

Marcelo recebe em audiência cardeal filipino que preside às cerimónias de Fátima

[dropcap]O[/dropcap] cardeal filipino e arcebispo de Manila, Luis Antonio Tagle, que este ano preside à peregrinação de 13 de Maio de Fátima, encontra-se na sexta-feira com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, adiantou hoje a agência Ecclesia.

O cardeal filipino, que é também o presidente da Caritas Internationalis, chega na quinta-feira, dia 9, a Portugal, onde fica até dia 15. Na agenda, além das cerimónias do 13 de Maio, em Fátima, às quais preside este ano, tem uma audiência com Marcelo Rebelo de Sousa na sexta-feira, pelas 16:30. Do seu programa constam ainda visitas às Caritas diocesanas de Lisboa, Coimbra, Santarém e Setúbal.

Na sexta-feira, dia 10, depois do encontro com o Presidente da República, o arcebispo de Manila segue para um encontro com a comunidade filipina radicada em Portugal, na Igreja São Tomás de Aquino, em Lisboa, onde pelas 18:00 dará uma conferência a que se segue uma missa em inglês.

O cardeal Luis Antonio Tagle vai presidir à peregrinação internacional de maio de Fátima, anunciou hoje o Santuário, justificando, em comunicado enviado à Lusa, que a escolha reflecte um “sinal de atenção à Ásia, cujo número de peregrinos não para de surpreender”.

Em 2018, o bispo emérito de Hong Kong presidiu à peregrinação de maio e o bispo de Hiroshima à de Outubro. Este ano, em Outubro, será também um cardeal asiático a presidir, Andrew Yeom Soo-Jung, arcebispo de Seul, capital da Coreia do Sul.

O Santuário de Fátima salienta que, nos primeiros quatro meses do ano, aquele espaço já acolheu 60 grupos de peregrinos asiáticos, nove dos quais das Filipinas.

Segundo a nota, “os peregrinos sul-coreanos continuam a destacar-se na Cova da Iria como o grupo mais expressivo da presença asiática neste lugar”, sendo que, entre Janeiro e Abril, “fizeram-se anunciar 30 grupos da Coreia do Sul, num total de 730 peregrinos”.

Em 2018, dos 456 grupos asiáticos que visitaram Fátima, 125 eram sul-coreanos, 93 filipinos, 48 indonésios e 36 vietnamitas.

Dos cerca de cem grupos já inscritos para a peregrinação de maio, cerca de 10% dos peregrinos vêm de Hong Kong, Coreia do Sul, Vietname, Filipinas e Singapura, frisa o Santuário.

De acordo com a nota do Santuário de Fátima, Luis Antonio Tagle é, desde 2011, arcebispo de Manila, capital das Filipinas, o único país do continente asiático onde os católicos são maioritários.
Luis Antonio Tagle é também o actual presidente da Cáritas Internacional, sendo que, durante a sua estada em Portugal, terá vários encontros com a Cáritas nacional e com responsáveis locais da Igreja “por projectos de intervenção social para migrantes e sem abrigo”.

A peregrinação de maio, que decorre a 12 e 13, vai ter como tema “Dar graças por peregrinar em Igreja”.

8 Mai 2019

Jornalistas libertados em nome do interesse nacional, diz Governo de Myanmar

[dropcap]O[/dropcap]s dois jornalistas da Reuters libertados ontem em Myanmar (antiga Birmânia), após serem sentenciados a sete anos de prisão pela investigação sobre o massacre de muçulmanos Rohingya, foram perdoados em nome do “interesse nacional”, segundo o Governo local.

“Os dois jornalistas da Reuters foram libertados depois de os líderes levarem em conta o interesse nacional a longo prazo”, disse à agência de notícias francesa AFP o porta-voz do Governo de Myanmar, Zaw Htay.

De acordo com o chefe da prisão de Insein, Zaw Zaw, os dois jornalistas foram libertados esta manhã depois de o Presidente de Myanmar, Win Myint, ter perdoado 6.520 presos.

Nas primeiras declarações à imprensa, um dos jornalistas garantiu que vai continuar a exercer a profissão. “Sou jornalista e vou continuar a sê-lo”, disse Wa Lone, citado pela AFP.

Por seu lado, a agência Reuters emitiu um comunicado a saudar a decisão das autoridades de Myanmar, destacando a coragem dos dois trabalhadores, “símbolos da importância da liberdade de imprensa”.

Os dois jornalistas partilharam com os seus colegas da Reuters, no início de Abril, o Prémio Pulitzer de reportagem internacional, uma das maiores distinções do jornalismo.

No dia 23 de Abril, o Supremo Tribunal de Myanmar tinha rejeitado o último recurso de Wa Lone e Kyaw Soe Oo, confirmando as sentenças de prisão de sete anos, na sequência de reportagens sobre a repressão militar contra a minoria muçulmana rohingya.

O escritório das Nações Unidas em Myanmar também já saudou a libertação dos dois jornalistas.
“Estamos satisfeitos que Wa Lone e Kyaw Soe Oo, dois jornalistas da Reuters presos sob a lei de segredos oficiais de 1923, obtiveram hoje [ontem] um perdão presidencial. Agora, estão livres e podem reunir-se com suas famílias e retomar o seu trabalho vital “, declarou também a porta-voz da comissária da União Europeia dos Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, num comunicado.

A ratoeira

Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram acusados de se terem apoderado de documentos secretos relativos às operações das forças de segurança no estado de Rakhine, região do noroeste de Myanmar, palco das atrocidades cometidas contra a minoria muçulmana rohingya do país.

Quando foram detidos, em Dezembro de 2017, estavam a investigar o massacre de rohingyas em Inn Din, uma aldeia do norte do estado de Rakhine.

Desde então, as forças armadas reconheceram que realmente tinham sido cometidas atrocidades em Setembro de 2017, e sete militares foram condenados a dez anos de prisão.

Ambos os repórteres declararam sempre ter sido enganados, e um dos polícias que testemunhou no julgamento admitiu que o encontro durante o qual os documentos secretos lhes foram entregues foi “uma armadilha” destinada a impedi-los de prosseguir o trabalho.

Desde 2017, mais de 700.000 rohingyas abandonaram a região, fugindo à violência do exército birmanês e de milícias budistas e refugiaram-se em campos improvisados no vizinho Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo.

8 Mai 2019

A Anormalidade da Normalidade do Sexo

[dropcap]A[/dropcap] ideia que mais gosto de defender é a de que o sexo normal não existe. A expectativa que atingimos certas metas sexuais ao longo das nossas vidas, não é infundada, mas irrealista. Quem somos, de onde viemos e para onde vamos, sexualmente falando, envolve-se de narrativas já nossas conhecidas. Clichés, se quiserem, do género, do sexo e de como fazer filhos.

Falsas crenças sobre os nossos corpos e de como devemos sentir os nossos corpos – sem termos sentido o nosso corpo primeiro. Há uma visão muito fixa do que é o sexo. O sexo é entre um homem e uma mulher. O sexo é a penetração vaginal e a virgindade só se perde quando ela acontece (tudo resto não conta…). Os homens são uns tarados e as mulheres umas santas. O pénis é de fácil orgasmo e a vagina um mistério orgásmico que nem vale a pena aprofundar. A lista é infindável.

Uma colega de faculdade há uns bons tempos escreveu um texto que me trocou as voltas. O texto criticava a excessiva ênfase do sexo vaginal quando se falava de sexo. Foi como se permitisse uma reinvenção. A partir daí veio-me uma vontade de desfazer os mitos, as caixas categóricas e as expectativas. Comecei a perceber que o sexo esteve sempre preso à penetração vaginal. Sexo oral ou sexo anal existem para evitar o acto em si (como formas de ‘contracepção’) ou para chegar à derradeira penetração. Estas ideias têm persistido com muita força porque pensamos sobre o sexo sem grande flexibilidade ou crítica. Se achamos que já sabemos tudo, como ganhamos espaço para mudança? Cabe-nos perguntar por que é que o sexo é só vaginal? Quando é que os preliminares são sexo também? Quando é que o prazer é uma forma prolongada de estar na cama e não o único e derradeiro momento orgásmico?

Para chegarmos à verdadeira diversidade sexual precisamos de romper com o mito do que é normal. A normalidade é redutora, exclusiva e preconceituosa. Mas a criatividade na cama permite que o prazer faça cada vez mais sentido para cada um de nós. A orientação sexual e a identidade fazem parte deste conjunto de formas de nos reinventarmos. A forma como nos agarramos a uma normalidade artificializada por centenas de anos de repressão social e religiosa, faz-nos pessoas limitadas. Não só porque não reconhecemos no outro o direito à diversidade e ao prazer, mas porque ficamos amarrados em nós mesmos. Não aproveitamos o sexo como um encontro privilegiado entre o mental e o físico. O nosso corpo é negligenciado por sociedades cada vez mais intelectualizadas e racionais. No sexo podemos dar-lhe espaço fora dos ‘limites’ do sexo. Sexo é penetração – e carícias, toques, lambidelas e momentos de partilha de imensa intimidade.

A consciencialização da anormalidade da normalidade do sexo conseguiu que a homossexualidade saísse do manual de doenças psiquiátricas. Também foi com esta consciencialização que indivíduos transgénero e intersexo começaram a reivindicar os seus direitos e prazeres. As vulvas também se tornaram mais felizes com o direito a serem como são – apesar da procura por cirurgias plásticas vulvares continuar a ser assustadora. A abertura e confiança em comunicar aquilo que nos dá prazer na cama, para lá da penetração, para lá dos medos e fantasmas do sexo, é só mais uma feliz consequência. O sexo normal é uma invenção, o ‘anormal’ é só uma continuação honesta de nós mesmos.

8 Mai 2019

E se…

[dropcap]O[/dropcap]s dias começam a estar quentes e a pedirem algum ócio merecido, nem que seja para escapar das pequenas e médias tragédias que sempre nos oferecerá a vidinha. Os leitores sabem do que falo: longe de tudo e perto de nós, dedicados de alma e cérebro por uns minutos a questões tão essenciais para a humanidade como “qual será a temperatura ideal de uma imperial” ou, um pouco mais dramático, “que livro é que me apetece ler agora”.

Aqui no bairro é certinho: os cidadãos seniores ganham vida e espaço e as suas alegres rabugices são partilhadas com todos, sem medo nem pudor. Nada é poupado, desde a política ao clássico “onde é que esta juventude irá parar?” e passando pelo melhor lugar onde comer uma lampreiazinha decente. Eu, que tal como o personagem e autor do livro a que roubei o nome desta coluna, me encontro (espero) no meio do caminho da minha vida, gosto de os ouvir. Sento-me perto da mesa em que estão e discretamente tento pescar o máximo de sabedoria e frases saborosas que deles saem. É um ofício delicioso, temperado ainda por cima com uma modesta ambição: um dia gostaria de ser como eles.

E assim aconteceria sem sobressaltos, não fora o aparecimento súbito da menina Marina e da sua filosofia involuntária, que muitas vezes são semente para estas palavras. Como hoje, aliás.

Enquanto atendia um cavalheiro que estava ao meu lado aproveitou para perguntar de forma displicente, um olho em mim e outro no abatanado prestes a sair: “O senhor Nuno já alguma vez pensou como seria se não tivéssemos a vida que temos e fossemos todos mais ricos e felizes?”

Manhã de ócio definitivamente arruinada com esta questão. Por outro lado, crónica assegurada. O que mais me inquietou não foi sequer a presunção de que sendo mais ricos seríamos mais felizes – o que verdadeiramente me perturbou foi o “se”, a ideia da vida no condicional.

Nunca compreendi este exercício, que me parece inútil, triste e perigoso. Mas é uma armadilha em que já vi muito boa gente cair. Viver a vida no condicional é um limbo que deveria ter sido considerado por Dante (sim, outra vez) como mais um círculo no seu Purgatório. Pensar o que poderia ter sido é uma espécie de ingratidão face ao que temos, mesmo quando o que temos não nos agrada. Numa teologia laica seria pecado mortal. Aquele amor que falhou, aquela carreira que não aconteceu, aquele romance que poderíamos ter publicado – pobres minutos, tão desperdiçados neste território de ninguém, que de útil e de belo têm tanto como os famosos prognósticos depois do jogo.

Idealmente, passado, presente e futuro devem estar no mesmo lugar. E se esta formulação parece parente dos tempos preconizados por Santo Agostinho – “o presente do passado; o presente do presente; o presente do futuro” – então é porque é. O famoso carpe diem de Horácio volta a lembrar-nos a profunda tristeza de entregar as nossas almas ao “e se”. Agarrar o dia é aproveitar para pensarmos constantemente no que somos e como podemos fazer para sermos melhores para nós e para os outros, já que não sabemos o minuto seguinte (e não, não é um convite desabrido ao trólaró da vida).

É tão escuro viver no condicional. Uma estrada sem saída, uma rua sem luz. Já nos chega o maior e mais indelével dos “ses” que é nascer. E esse, francamente, já se sabe como irá acabar.

8 Mai 2019

O lugar de que sou é estar aqui

Rivoli, Porto, 10 de Abril

[dropcap]V[/dropcap]iagem -relâmpago para outra manifestação em torno das «Constituições» atribuídas a Aristóteles, na versão do António [de Castro Caeiro]. O Rui [Spranger] emprestou a voz cava para dar corpo aos fragmentos e José Meirinhos propôs um detalhado e muito cuidado enquadramento do percurso destes textos até chegarem à mão do tradutor, que, como bem assinalou, atreve-se a contribuir com inúmeros neologismos. A nossa língua não tinha ainda acomodado medidas e moedas e demais peças de um quotidiano perdido no tempo (e na fantasia). Pena terem sido poucos os que se atreveram à viagem.

CCB, Lisboa, 11 de Abril

Poucos conseguem falar de livros como o Jorge [Silva Melo]. Há um saber que se esconde nas calorosas definições das personagens, no respigar do detalhe biográfico do autor que interessa para estender da história como toalha tombando sobre a mesa. Falou-se de teatro, e muito, neste Obra Aberta. E de língua, que o Duarte [Azinheira] trouxe como pretexto um utilíssimo «Novo Atlas da Língua Portuguesa», de José Paulo Esperança, Luís Reto e Fernando Luís Machado (ed. INCM).

Casa da Cultura, Setúbal, 12 de Abril

Acaba sempre sendo viagem, a conversa desta «Filosofia a Pés Juntos». Lá fomos às raízes para perceber que a alma ensopa o corpo e que demorámos séculos até perceber de que massa somos feitos. O órgão do tempo demorou a descobrir o coração como centro. Até então, o esterno era o lugar da consciência de si: quando apontamos para nós próprios, o cerne fica mesmo ali. Depois, em fundo de boca, fica-me o sentido de sarcófago como comedor de carne.

Povo, Lisboa, 15 de Abril

Sessão marcada por avarias e desencontros, esta dedicada à poesia de José-Emílio Nelson, que terá para mim sempre o caracter de «Beleza Tocada», de fruto que o toque encaminha para a maturação, talvez o apodrecimento. O Henrique de-tantos-nomes Fialho ficou na estrada, traído pelo motor. O Filipe [de Homem Fonseca] foi travado e não podemos ver as suas mãos dançar no ar que o teremim respira. Mas o Pedro [Proença] desenhou com a voz, a Rita [Taborda Duarte] abriu caminhos, que o Luís [Carmelo] e eu seguimos diligentemente. Mas esta poesia é ruim de se dizer, despega-se dos olhos, faz-se agreste e desassossegada, com ela todo o caminho se faz sobre gelo fino. Peculiar, portanto, o encontro.

Coura, sem paredes, 26 de Abril

De súbito, na esplanada, talvez em resposta ao Trakl que o António [de Castro Caeiro] acabava de ler, o Miguel [Martins] diz de cor o «soneto presente», do Ary dos Santos. Na rua onde pulsa o coração desta terra inscrevo na pele o meu hino para estes dias. «Não me digam mais nada senão morro/ aqui neste lugar dentro de mim/ a terra de onde venho é onde moro/ o lugar de que sou é estar aqui.// Não me digam mais nada senão falo/ e eu não posso dizer eu estou de pé./ De pé como um poeta ou um cavalo/ de pé como quem deve estar quem é.// Aqui ninguém me diz quando me vendo/ a não ser os que eu amo os que eu entendo/ os que podem ser tanto como eu.// Aqui ninguém me põe a pata em cima/ porque é de baixo que me vem acima/ a força do lugar que for o meu.» As gaiolas também se rasgam, grita o cartaz do «REALIZAR:poesia» (algures na página), assinado pelo António Pinto.

Biblioteca Aquilino Ribeiro, Coura, 27 de Abril

Por agora, uma certa ideia totalitária de cânone enquanto regulador do gosto vai fazendo escola, suscitando aqui e ali boas traduções, mas acompanhado de retóricas castigadoras, sem se afastar de miserável proselitismo. O momento, portanto, não será o melhor para entender que alguns livros possam nascer de gestos de amor, na crença de que o humano possui grandeza única. E que merece ser celebrada. O António Cabrita e o Miguel [Martins] escolheram guiar-nos através da esparsa produção do Levi [Condinho] com este «Pequeno Roteiro Cego». Trata-se de um tributo afectivo, um reconhecimento da importância que o autor teve no concreto de algumas vidas, tornando-se ainda testemunho de um certo tempo. A poesia ilumina e muito para além desta circunstância, apesar da tocante simplicidade que parece praticar. E depois Levi Condinho trata deus por tu, chama-o para inúmeras conversas, de braço dado, de olhos nos olhos. O autor não quis subir, não se dá com viagens, mas foi devidamente descrito enquanto paisagem pelo Miguel. Por causa da música que soa ininterruptamente em pano de fundo, a Luísa [Pires Barreto] glosou na capa um certo modo das cores se arrumarem para dizer jazz, como foi com certas editoras que, no seu tempo, não recusaram esta luxúria.

«A sensibilidade do miolo miúdo do poema/ não concebe o grito do pregador/ nem o sarcasmo dos castrados da intempérie// o homem vai no transporte da sua vida/ e a escrita faz-se no andar do transporte/ quem entende apenas o exterior parado/ nada vê – por isso o abandono é tanto// e o pudor de uma flor discreta comove/ como o grito das aves na montanha árida// voltar ao grito e ao silêncio/ mas não da forma tão visível como quereis/ eis a ciência do azul de dentro// canto/ mas os cães mijam/ nos postes de silêncio/ do meu canto.»

Retiro do Taboão, Coura, 28 de Abril

O sol esbatia, impiedoso, cada contorno. O rio parecia quedo, concentrado na tarefa de espelhar o céu. Os carvalhos receberam as palavras com soberana indiferença. E, no entanto, os versos de Georg Trakl, vertido pelo António para o cadinho do português, parecem resultar de golpes de canivete em um qualquer tronco. Lá nos explicámos o melhor que pudemos este volume de «Poemas», mas foram sobretudo as leituras em voz alta que me parece que impuseram uns laivos de magia. Não vejo melhor lugar para fazer soar esta melancolia escaldante, este «Sussurro ao Meio Dia». «Sol outonal, delgado e hesitante,/ E a fruta cai das árvores./ O silêncio habita espaços azuis,/ Onde um meio-dia se alonga.// Sons de metal, de moribundos;/ E um animal branco precipita-se./ Canções roucas de meninas morenas/ São levadas como as folhas em queda.// De Deus, a fronte sonha cores,/ Adivinha as suaves asas da loucura./ Sombras movem-se na colina,/ Envolvidas pelo negro da podridão.// Crepúsculo sereno cheio de vinho;/ Fluem tristes as guitarras./ E tu entras na terna lâmpada/ Como se de um sonho te tratasses.» Indistinto na folhagem pareceu-me ver o autor tal qual aparece, tão bem apanhado pelo Manuel [San Payo], na capa. Mantinha o corpo trocado pelo sobretudo de traços, de vestígios. E pareceu-me sorrir, mas ao longe podia ser apenas um esgar.

Algures entre Coura e Braga, 28 de Abril

Esta estrada sinuosa presta-se a devaneios meditabundos. À ida, tive por companhia uma série magnífica de nuvens a pintalgar um azul de espanto. Na descida, o assunto foram árvores, sobretudo os carvalhos e as oliveiras. Anda por aqui uma estranha moda de podar as oliveiras arredondando-as e achatando-as que nem pneu. Mas o que tenho que registar (para prova futura) é a revelação desta espécie que me era desconhecida: limão caviar. O fruto contém pequenas nuvens.

8 Mai 2019

IPM Art-Venture mostra trabalhos de finalistas até Outubro

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) lançou a iniciativa “IPM Art-Venture” que prevê “a realização de uma série de actividades e representações artísticas durante seis meses, de Maio a Outubro”, destinadas a revelar ao público os trabalhos dos alunos dos cursos de arte e de música do IPM.

De acordo com um comunicado, esta iniciativa visa comemorar os 70 anos da criação da República Popular da China (RPC) e os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China, bem como os 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e Portugal.

O programa inclui 12 actividades e apresentações artísticas nas áreas de música, design e artes visuais. Na inauguração do programa, esta quinta-feira, irá realizar-se um concerto de graduação, em que os alunos finalistas do Curso de Música demonstrarão as competências aprendidas ao longo de quatro anos. Serão ainda apresentadas três exposições com trabalhos de alunos.

Parcerias com Portugal

Nos meses de Verão serão lançados também três eventos. A Exposição “Cidade Artística – Criações Artísticas”, a realizar em colaboração com a Universidade de Porto e a Universidade de Aveiro, e que mostra trabalhos de alunos e professores das escolas de artes da China (Macau) e de Portugal. As três instituições, trazem a cultura própria da sua cidade, fazendo um intercâmbio, através da exposição dos trabalhos criativos de design e de artes visuais.

O segundo evento corresponde ao 12.º Fórum sobre a investigação e a educação de música na Região Ásia-Pacífico, onde “académicos e especialistas na área da música provenientes de todo o mundo vão trocar experiências e explorar em conjunto o desenvolvimento futuro de actividades educativas na área da música”.

Já o terceiro evento diz respeito à “Exposição dos antigos alunos do Curso de Artes Visuais nos 30 anos”, que reúne trabalhos dos alunos graduados do Curso de Artes Visuais, das últimas três décadas.

Em Setembro acontece ainda a “Exposição de criatividade e cultura em comunidade”, que vai apresentar os resultados dos projectos criativos culturais da comunidade de Macau e do projecto de transformação de restaurantes antigos. Em simultâneo, realiza-se o “Fórum de criatividade e cultura de Macau”, para o qual são convidados especialistas da China e do exterior para abordarem temáticas sobre a teoria e a prática ligadas às indústrias culturais e criativas na área de gastronomia.

8 Mai 2019

FAM | “Rain” em palco no Centro Cultural de Macau no próximo domingo

A partir da música do compositor Steve Reich, chega a Macau “Rain”, performance de Rosas, uma das mais importantes companhias de dança contemporânea do mundo, liderada pela coreógrafa belga Anne Teresa De Keersmaeker. “Rain” vai cair no grande auditório do Centro Cultural de Macau este domingo, às 20h

 

[dropcap]E[/dropcap]xistem poucas coisas que combinam tão bem no mundo artístico como música minimal e dança contemporânea. Um dos bons exemplos desta simbiose sobe ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau este domingo, pelas 20h, como parte do cartaz do Festival de Artes de Macau. “Rain” é o espectáculo concebido pela pioneira coreógrafa belga, Anne Teresa De Keersmaeker e interpretado pela companhia que dirige, a Rosas, que traz ao território a sua visão de movimento a partir da música do compositor norte-americano Steve Reich.

“Impelidos pelos tons pulsantes de Steve Reich, nove bailarinos percorrem o palco com agilidade, dançando variações infinitas de liberdade física e precisão geométrica, com uma leveza de tirar o fôlego”, refere o Instituto Cultural em comunicado.

Os espectadores que forem este domingo ao Centro Cultural podem esperar um cozinhado constituídos pelos ingredientes artísticos que tornaram Anne Teresa De Keersmaeker uma figura incontornável do mundo da dança. As figuras matemáticas, a repetição sustentada, a ocupação geométrica do espaço, a arte da variação contínua são elementos essenciais de “Rain”.

Movimento mínimo

O espectáculo da companhia Rosas, foi a primeira coreografia assinada por Anne Teresa De Keersmaeker a entrar para o repertório do ballet de Ópera de Paris. Importa referir que a belga foi laureada com inúmeros prémios de prestígio, incluindo o Samuel H. Scripps/American Dance Festival Award for Lifetime Achievement, em 2011, e o Leão de Ouro para Lifetime Achievement in Dance da Bienal de Veneza, em 2015.

Esta é uma das mais características coregrafias de Anne Teresa De Keersmaeker e parte de “Music for 18 Musicians”, composto pelo norte-americano Steve Reich em 1976. O compositor é um dos nomes cimeiros, ao lado de vultos como Philip Glass, da música minimalista do final dos anos 1960.

Durante uma hora e dez minutos, nove bailarinos dão corpo aos pulsantes tons da música de Steven Reich numa composição de movimentos que une todas as partes, num jogo de constante afastamento e reaproximação, até se chegar a um consenso coreografado com mestria. Os bailarinos, por várias vezes, ocupam o palco em simultâneo, oferecendo ao público uma variedade técnica e fisicalidade que desafiam os normais cânones das coreografias de grupo.

“Rain”, que estreou em 2001, é um trabalho ainda aplaudido pela crítica e público e que se mantém relevante no plano da dança contemporânea. O espectáculo não está esgotado e os bilhetes custam entre 300 e 120 patacas.

8 Mai 2019

MGM Cotai, Morfeu e Okura distinguidos pelos Prémios Hotel Verde

[dropcap]A[/dropcap]s unidades hoteleiras MGM Cotai, Hotel Morfeu e Okura ganharam a distinção ouro no “Prémio Hotel Verde 2018”, organizado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), que distingue práticas amigas do ambiente no sector hoteleiro. A escolha foi feita de entre um conjunto de 19 hotéis do território.

A DSPA aponta, em comunicado, que os “hotéis premiados tomaram as devidas medidas para reduzir o fornecimento de bebidas em garrafa de plástico descartável, nomeadamente a instalação do sistema de água potável filtrada para substituir dispensadores de água de garrafão, a instalação de locais ‘self-service’ ou diminuindo ou até suspendendo o fornecimento de água engarrafada em garrafas de plástico”.

Além disso, o MGM Cotai, Okura e Morfeu destacaram-se na “melhoria evidente nas vertentes da conservação de energia e a poupança de água, redução de resíduos e recolha de resíduos recicláveis, e o controlo da poluição do ruído e da luz”.

Em Junho, realiza-se a cerimónia para atribuir os louvores aos diversos hotéis premiados. Além dos três hotéis premiados com o ouro, cinco hotéis ganharam o prémio de prata, quatro o prémio de bronze e três o prémio de excelências.

A DSPA nota também que “o sector hoteleiro de Macau tem vindo a concretizar a gestão de resíduos alimentares e em quase 64 por cento dos hotéis galardoados já foi efectuada a recolha de resíduos alimentares”. Foi também notado que “80 por cento dos hotéis premiados efectuaram acções relativas à reciclagem de resíduos recuperáveis, as quais incluem papéis usados, garrafas de plástico, latas de alumínio, garrafas de vidro e pilhas e baterias usadas, entre outros, sendo a quantidade total de recolha acumulada de mais de 21 toneladas métricas”. O mesmo comunicado dá conta de que 20 por cento dos hotéis vencedores utilizam veículos eléctricos.

8 Mai 2019

Turismo | Aproveitamento dos passeios marítimos depende de empresas

[dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes, apresentou ontem os três produtos turísticos que caracterizam o passeio marítimo de Macau.

São eles o Passeio Marítimo “Reel Fun”, o Passeio Aquático do Porto Interior à Ilha Artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e o Passeio Aquático do Terminal de Passageiros da Taipa à Ponte Cais de Coloane.

Segundo informação do canal chinês da TDM-Rádio Macau, a directora informou que o futuro depende do desenvolvimento do passeio marítimo, e que cabe às respectivas empresas a decisão de promover novos produtos turísticos.

Acerca da proposta da DSSOPT, sobre a eventual construção de instalações de prevenção de cheias no Cais de Coloane poder vir a influenciar a paisagem do local, Maria Helena de Senna Fernandes respondeu que a segurança do público é uma consideração essencial. Mas mencionou também que a DSSOPT vai equilibrar as necessidades de todos os sectores, sem descartar a influência na paisagem.

8 Mai 2019

Alargada proibição de autocarros de turismo nas Portas do Cerco

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) anunciou ontem que o período de proibição de entrada de autocarros de turismo no lado leste da Praça das Portas do Cerco passa a ser diário. A partir da próxima sexta-feira, estes veículos não podem circular, diariamente, entre as 14h e as 20h.

A medida já era aplicada desde Dezembro durante os fins-de-semana e os feriados, e passou a ser uma realidade também durante os dias úteis desde Fevereiro. A DSAT explica em comunicado que depois de feito o balanço ao funcionamento de todos os postos fronteiriços e de ouvir a Direcção dos Serviços do Turismo e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), decidiu alargar definitivamente a proibição de circulação todos os dias.

A medida procura “desviar o fluxo de pessoas e melhorar a situação do trânsito na zona das Portas do Cerco”. Além disso, a medida “não impede que o CPSP adapte a proibição provisória fora do período indicado, sempre que a situação de trânsito e o fluxo de passageiros o justifiquem”.

8 Mai 2019

IAS | Número de toxicodependentes registados desceu no ano passado

Menos 8,2 por cento de toxicodependentes foram registados em 2018, mas o “ice” sobe no ranking de preferências. O IAS atribui o bom resultado às medidas de prevenção e acaba de abrir uma nova unidade da rede centralizada de registos no Hospital Kiang Wu

 

[dropcap]O[/dropcap] número de toxicodependentes referenciados em Macau diminuiu ligeiramente em 2018, representando uma descida de 8,2 por cento, com 424 casos registados contra os 462 de 2017. Os dados do Sistema de Registo Central de Toxicodependentes do Instituto de Acção Social (IAS) foram ontem revelados na 1ª Sessão Plenária da Comissão de Luta contra a Droga de 2019, que decorreu ao final da manhã.

Entre o total de toxicodependentes registados em 2018, 24 eram jovens, ou seja, 5,7 por cento, um número que se manteve quase idêntico ao ano anterior. O “ice” continua a ser a droga de eleição, representando 48,2 por cento do conjunto de estupefacientes consumidos, o que é um aumento face a 2017, onde os cristais de metanfetamina já perfaziam um terço das substâncias viciantes, ou 35,1 por cento.

Cerca de 70 por cento do consumo é feito em espaços privados – seja em casa própria, casa de amigos ou hotéis –, à semelhança de anos anteriores, mas a despesa com as drogas decaiu bastante, com a média mensal dos gastos a fixar-se nas 3.792 patacas em 2018, contra 7.834 patacas em 2017.

Em declarações à imprensa, no final do encontro, a chefe de Departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS, Lei Lai Peng, afirmou que a tendência de descida do universo de toxicodependentes, sobretudo os mais jovens, tem resultado da prevenção levada a cabo nos últimos anos. “Segundo os dados de 2014, a idade dos jovens que consumiam droga, dos 16 aos 20 anos, representava 6,3 por cento do total, mas quando chegámos ao ano passado, em 2018, essa percentagem desceu para 5,4 por cento. Portanto, há uma descida [da incidência da droga] quanto à idade dos toxicodependentes. Isso tem a ver com a sensibilização e com a educação, promovida junto da sociedade. E a sensibilização não pode parar. Embora haja uma descida, continua a haver cada vez mais acções [de divulgação e prevenção]”, sublinhou.

O Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes de Macau foi outra medida elencada e que, recentemente – entre Fevereiro e Março deste ano – abriu mais um centro de reporte no Hospital do Kiang Wu, aumentando para 20 as unidades existentes que informam o IAS sobre casos de abuso de drogas.

Com o recém anunciado ponto de recolha de informações, “o Governo procura localizar e descobrir novos casos de consumo de droga, não só através da cooperação com entidades públicas, mas também com as entidades privadas, para alargar a rede de recolha de informações e para assim procurar resolver o problema ou reduzir o consumo de droga na sociedade”, explicou a responsável.

O sistema de registo centralizado de abuso de drogas foi criado há dez anos atrás, em 2009, e desde então o IAS tem feito o convite a várias entidades, públicas e particulares, para integrarem a rede de notificação e apoio, que permite contabilizar novos casos e estabelecer medidas para a redução do problema, acrescentou Lei Lai Peng.

Próximas visitas

A Comissão de Luta Contra a Droga prepara-se para enviar, na segunda quinzena de Maio, um grupo de vogais até Pequim, para uma visita ao Departamento de Controlo de Narcóticos do Ministério de Segurança Pública da China, com o objectivo de “conhecer as novas tendências de consumo e de tráfico de droga na RPC.

Como Macau, Hong Kong e a China são regiões adjacentes, queremos saber qual é a situação nestas regiões fronteiriças, e que informações podemos obter no sentido de fazermos uma boa prevenção comum. Também nos interessa conhecer os trabalhos de prevenção e os novos métodos de desintoxicação implementados na China”, adiantou Lei Lai Peng na conferência de imprensa.

O grupo participará também na 28ª edição da Conferência Mundial da Federação Internacional das Organizações Não-Governamentais para a Prevenção do Abuso de Drogas e Substâncias – a “IFNGO Conference” a 23 e 24 de Maio, em Pequim.

O plano de trabalhos para 2019 inclui ainda, entre outras iniciativas, a programação da série de actividades do Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, que decorrerá entre Junho e Agosto, e a realização da Conferência Nacional sobre Prevenção e Tratamento da Toxicodependência de 2019, a acontecer em Macau no mês de Outubro.

8 Mai 2019

Ponte HKZM | Autocarros entre Macau e aeroporto de Hong Kong para breve

[dropcap]E[/dropcap]m resposta a interpelação do deputado Ho Ion Sang, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) revelou estar para breve a ligação directa, de autocarro, entre o posto fronteiriço de Macau da Ponte HKZM e o Aeroporto Internacional de Hong Kong.

As rotas de autocarros vão ser supervisionadas pelas autoridades de ambas as regiões administrativas especiais e, de acordo com a DSAT, o Executivo de Carrie Lam já estará a afinar detalhes logísticos.

Outro detalhe revelado pela DSAT, e citado pela Macau News Agency, indica que o parque de estacionamento leste do posto fronteiriço de Macau da Ponte HKZM teve uma ocupação de 0,74 por cento do total da capacidade, enquanto o parque oeste registou cerca de 3 por cento. Face à fraca afluência aos espaços de estacionamento, as autoridades de Hong Kong reduziram o tempo mínimo de permanência no parque de 12 para 6 horas, enquanto Macau continua a exigir a reserva mínima de 12 horas.

A DSAT justifica a fraca afluência nos parques de estacionamento com o facto de mais de 80 por cento dos visitantes que chegam a Macau através da Ponte HKZM o fazerem de autocarro.

8 Mai 2019

Burlas Telefónicas | Primeiro centro de transmissão descoberto em Macau

O esforço conjunto das autoridades da RAEM e do Interior da China resultou no desmantelamento de uma rede de burlas telefónicas. O caso envolve mais de 25 milhões de renminbis de prejuízo provocado por uma rede com capacidade para fazer 10 mil telefonemas por dia

 

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ), em cooperação com a Polícia de Zhuhai, interceptou na segunda-feira uma rede de burlas telefónicas que terá causado prejuízos de pelo menos 25 milhões de renminbis. Segundo a informação fornecida ao HM, o caso ganha maior relevo uma vez que esta foi a primeira vez que o centro de transmissão de um esquema deste género foi instalado na RAEM.

“A nossa investigação descobriu que a rede criminosa arrendou dois apartamentos na Zona Norte de Macau para servirem como centro de transmissão. Encontrámos nestes apartamentos vários computadores e outro tipo de equipamentos”, disse uma porta-voz da PJ ao HM. “Esta foi a primeira vez que um centro de transmissão para burlas telefónicas foi detectados em Macau”, foi acrescentado.

De acordo com a informação revelada pelas autoridades, esta rede terá sido responsável por 68 burlas telefónicas no Interior da China e 8 em Macau, com as perdas para os lesados a rondarem os 25 milhões de renminbis. “Acreditamos que a rede criminosa estava a operar há mais de sete meses e que fazia cerca de 10 mil telefonemas fraudulentos por dia”, foi explicado. “Pelo menos 68 fraudes telefónicas foram concretizadas no Interior da China e 8 em Macau, o que resultou numa perda para as vítimas superior a 25 milhões de renminbis”, foi detalhado.

Da operação realizada na segunda-feira resultou ainda a detenção de um homem de Taiwan com 29 anos, que tinha na sua posse 460 cartões SIM. De acordo com a PJ, o homem era o principal responsável pela manutenção e operação dos computadores e equipamentos que permitiam o funcionamento do esquema de fraudes.

Após a detenção, o homem foi reencaminhado para o Ministério Público (MP) e enfrenta a acusação da prática do crime de burla, que se for tida como de “valor consideravelmente elevado” é punida com pena de prisão dos 2 aos 10 anos. O suspeito responde ainda pela acusação do crime de associação criminosa, punido com pena de prisão de 3 a 10 anos ou 5 a 12 anos, caso o homem seja considerado como o cabecilha.

8 Mai 2019

Alimentação | Pereira Coutinho defende subsídios

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho sugeriu ao Governo que comparticipe a compra, por parte dos cidadãos, de alimentos mais saudáveis. A proposta faz parte de uma interpelação escrita datada de 29 de Abril, que foi divulgada ontem.

Segundo o legislador ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) a ideia partiu da conclusão de um estudo norte-americano, realizado na Universidade de Tufts, no Massachusetts.

“A equipa investigadora da dita universidade chegou à conclusão que uma comparticipação de 30 por cento na compra de frutas e vegetais poderia prevenir 1,93 milhões de ocorrências de doenças cardiovasculares e 350 mil mortes”, começou por explicar. “Estudaram também um cenário do subsídio ser alargado a outros alimentos saudáveis como produtos integrais, frutos secos, peixe, óleos vegetais e nestes casos a prevenção seria de 3,28 milhões de episódios de doença cardiovascular e 620 mil mortes evitadas”, acrescentou.

São os números anteriores que servem de base para a proposta que Coutinho vê como “inovadora”: “Vai o Governo introduzir medidas inovadoras e extremamente positivas para liderar uma cultura social de dieta saudável dos cidadãos da RAEM, comparticipando uma percentagem nas prescrições para aquisição de produtos saudáveis?”, pergunta.

“Vai o Governo utilizar medidas económicas no sentido de promover junto da sociedade comportamentos alimentares saudáveis para prevenir e diminuir as doenças crónicas, cardiovasculares e diabetes?”, é igualmente questionado.

8 Mai 2019