IC | Dia do Património Cultural e Natural da China celebrado em Macau

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai assinalar o Dia do Património Cultural e Natural da China, a 8 de Junho, uma série de actividades com destaque para “Génese e Espírito – Mostra de Património Cultural Intangível de Zhejiang”.

O evento multidisciplinar irá mostrar o diversificado património cultural intangível de Zhejiang através de concertos, exposições, workshops, bem como acesso livre ao Farol da Guia e à Sala de Obras Antigas e Raras Chinesas da Biblioteca Sir Robert Ho Tung. Este evento estende-se entre os dias 8 e 25 de Junho.

Para 8 de Junho está agendado o “Workshop de miniaturas de pratos macaenses em plasticina” a ter lugar na Casa de Recepções das Casas da Taipa pelas 10h e pelas 14h30 horas, e o workshop “Em Busca das Pinturas Rupestres das Montanhas Helan – Workshop de Decalque de Pinturas Rupestres das Montanhas Helan” que terá lugar no Centro Ecuménico Kun Iam, pelas 14h30.

A exposição “Unicidade: Caligrafia pelo Professor Jao Tsung-I” está patente na Academia Jao Tsung-I, apresentando 15 conjuntos de obras de caligrafia do Professor Jao.

No dia 29 de Junho, a Orquestra Chinesa de Macau apresenta no Teatro Dom Pedro V, pelas 20h, o concerto de música tradicional chinesa “Ganso Selvagem do Sul e Vento para Norte”, sob a direcção do maestro Zhang Lie. Os bilhetes para o concerto encontram-se à venda e custam entre 60 e 80 patacas.

24 Mai 2019

FAM | Peça de Lao She no Centro Cultural de Macau este fim-de-semana

“O Sr. Ma e o Filho” é a peça de teatro que o Festival de Artes de Macau apresenta este sábado e domingo. A comédia de costumes aborda o conflito entre Oriente e Ocidente, num confronto bem humorado ente as realidades de Pequim e Londres dos anos 20

 

[dropcap]O[/dropcap] Sr. Ma viaja para Londres com o filho, após a morte do seu irmão, para assumir a gerência da loja de antiguidades por ele deixada. O pai torna-se num modesto comerciante e instala-se com o filho numa residencial britânica, onde várias peripécias acontecem, numa comédia de equívocos com lugar para o romance e a sátira entre hóspede e patroa, em contraponto com a adaptação mais fácil da geração mais nova.

Os desafios vividos pelos dois chineses em terras europeias é o ponto de partida para a divertida peça, adaptada do romance homónimo do escritor e dramaturgo Lao She, inicialmente escrito em fascículos e publicado mensalmente num jornal literário de Xangai, em 1929. Além de dar continuidade às bem-humoradas subtilezas do trabalho original de Lao She, a produção adiciona elementos inovadores que homenageiam esta obra clássica com uma nova dimensão.

A peça sobe ao palco do Centro Cultural de Macau (CCM) nos próximos dias 25 e 26 de Maio, sábado e domingo, às 20h, pela mão do encenador e actor Fang Xu, também ele dramaturgo e uma referência na divulgação teatral da obra de Lao She por toda a China. A escolha desta história, que reflecte o choque entre as culturas chinesa e ocidental na década de 20 do século XX, ainda hoje faz sentido.

“Essa é a mensagem, o racismo europeu que existia contra os chineses, considerados pobres e sem os costumes daquela sociedade, mas que existe também hoje, em que os chineses ricos e bem sucedidos continuam a ser vistos com algum preconceito”, revelou ontem Fang Xu, em conferência de imprensa. O encenador fez uma adaptação radical do texto para a peça, mantendo a ideia do original, uma preocupação sua para com a obra do Lao She, que tem sido dissipada pelos filhos do autor, entretanto bons amigos, e “que afirmam que confiam nas minhas adaptações”, acrescentou.

O contacto forçado entre os valores tradicionais chineses e a ideologia ocidental, é aqui revelado através da sagacidade chinesa e do humor britânico, de uma forma leve e provocadora, num jogo onde cinco actores masculinos interpretam nove personagens, masculinas e femininas, e se divertem juntamente com o público. “Este é um drama alegre, em que colocámos algumas expressões modernas no texto, piadas também mais actuais que não existiam no original, mas não fazemos piadas políticas, só brincadeiras e interacção com a plateia”, comentou Fang Xu.

Sobre o teatro em Macau, o encenador pequinês não conhece muita coisa, mas acredita que “no território há mais liberdade e menos restrições para se poder ser criativo, o que é uma coisa boa”, afirmou, embora no continente chinês seja um actor e encenador famoso e possa apresentar as peças que quer. A próxima já está a ser preparada, também com base numa obra de Lao She.

E o que fazem tantos chapéus no cenário? “Foi a nossa ideia de representar a cidade de Londres”, com a formalidade inglesa dos costumes e dos acessórios, sobretudo na década de 20. “Achámos que alguns elementos, como os jornais e os chapéus, nos transportavam imediatamente para lá”, explicou.

Londres anos 20

A obra clássica de Lao She foi também ela influenciada pela experiência do autor, nascido em 1899 em Pequim, no seio de uma família Manchu, que foi viver para Londres como professor de chinês mandarim, em 1924. Aí traduziu para inglês literatura clássica chinesa, mas também conheceu os grandes clássicos britânicos, como Charles Dickens, um dos preferidos, que o veio a inspirar na escrita do seu primeiro livro.

Quando regressou à China, em 1931, percebeu que as suas obras eram famosas, pela comédia, o humor e a acção que continham. Mas a carreira como escritor foi afectada pela política, quando a guerra sino-japonesa eclodiu, em 1937, e o escritor se tornou patriótico e defensor de um estilo propagandístico que afectaria a qualidade do seu trabalho. Com a Revolução Cultural, em 1966, tornou-se num escritor proscrito e perseguido, vindo a falecer em resultado de agressões pelos Guardas Vermelhos, segundo consta na sua biografia.

Os dois espectáculos do próximo fim-de-semana vão ser interpretados em mandarim, com legendas em chinês e inglês. Têm duas horas de duração, sem intervalo.

24 Mai 2019

Macau terá mais de dez mil novos quartos de hotel nos próximos anos

[dropcap]M[/dropcap]acau vai contar com mais de dez mil novos quartos de hotel nos próximos anos, tendo em conta os dados ontem divulgados pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) relativos à construção dos empreendimentos habitacionais e hoteleiros no primeiro trimestre deste ano.

Actualmente, encontram-se em construção um total de 18 empreendimentos hoteleiros, que vão disponibilizar 6.810 quartos, encontrando-se em fase de projecto 26 empreendimentos hoteleiros, que vão contar com 4.807 quartos.

No que diz respeito à habitação privada, cinco empreendimentos habitacionais privados obtiveram licença de utilização, o que corresponde a 35 fogos habitacionais. Além disso, 80 empreendimentos habitacionais encontram-se em fase de construção (ainda não vistoriados) ou estão concluídos (em vistoria), o que representa 7.652 fogos habitacionais. Encontram-se em fase de projecto 193 empreendimentos habitacionais que correspondem a 14.572 fogos habitacionais, revela a DSSOPT.

24 Mai 2019

Tráfico | Detido com 220 mil patacas de cocaína

[dropcap]U[/dropcap]m homem da Malásia foi detido em Macau pela alegada prática do crime de tráfico de droga. O homem foi detido na noite de quarta-feira e tinha na posse 91 sacos de cocaína com 66 gramas desta droga, o que segundo o jornal Ou Mun pode valer até 220 mil patacas no mercado negro.

Após ter sido detido pelas autoridades, o homem confessou que trabalhava para uma rede de Hong Kong que lhe pagava um salário mensal de 40 mil patacas. Durante o interrogatório, o homem de 22 anos admitiu que decidiu aceitar a proposta da rede de Hong Kong para saldar as muitas dívidas que tem no país de origem.

24 Mai 2019

TSI | Advogada condenada a pena suspensa por falso testemunho

Uma mulher, com a profissão de advogada e residente no interior da China, foi condenada a pena suspensa em Macau pelo crime de falso testemunho, uma vez que omitiu, num documento de habilitação de herdeiros, o filho adoptivo do seu irmão mais novo. A arguida terá de pagar ainda 20 mil patacas

 

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) condenou uma advogada do interior da China a um ano de prisão em pena suspensa pela prática do crime de declaração de falso testemunho “em autoria material, na forma consumada e com dolo eventual”, previsto no Código Penal. Além disso, a mulher terá de “pagar à RAEM uma contribuição de 20 mil patacas no prazo de um mês, contado a partir do trânsito em julgado do acórdão”, lê-se ainda.

De acordo com o acórdão do TSI, ontem divulgado, a mulher omitiu o facto do irmão mais novo, já falecido, ter um filho adoptivo, não tendo colocado a respectiva informação no documento de declaração de herdeiros. Desta forma, afastou o filho adoptivo da herança de um imóvel situado em Macau. Este foi adoptado pelo falecido e mulher, sendo que ambos se divorciaram em 2001.

O caso remonta a 2011, quando os pais da arguida lhe delegaram poderes “para tratar das formalidades de partilha da fracção autónoma, deixada pelo seu falecido irmão mais novo”.

“A 10 de Outubro de 2011, a arguida dirigiu-se ao Cartório Notarial das Ilhas para proceder à ‘escritura pública de habilitação notarial de herdeiros’. Bem sabendo que o falecido tinha um filho adoptado menor, e sendo advertida de que incorria numa pena, nos termos da lei, se prestasse declarações falsas, a arguida, ao proceder à habilitação de herdeiros, declarou que o falecido não tinha qualquer descendente, que os seus pais eram os únicos herdeiros e que ninguém era titular do direito de preferência de herança ou co-herdeiros com os pais”, descreve o TUI.

Intervenção adoptada

A 22 de Junho do ano passado, o Tribunal de Judicial de Base (TJB) declarou que “não se provara que a arguida conhecia o facto de o referido filho adoptado ser descendente do falecido e que prestara declarações falsas, dolosamente e em prejuízo do referido filho adoptado”, tendo julgado improcedente “a acusação da prática de um crime de falsidade de declaração de parte”.

Contudo, o filho adoptivo, já maior de idade, recorreu junto do Tribunal de Segunda Instância (TSI) na qualidade de assistente do processo, tendo referido que, na sentença do TJB, existia “erro notório na apreciação da prova”. Na visão do assistente, a arguida “devia saber que os/as filhos/as adoptados/as equivalem aos/às filhos/as biológicos/as e que, ‘os descendentes’ incluem os/as filhos/as adoptados/as”, além de que “não obstante haver esclarecido que não conhecia bem as leis de Macau, a arguida devia duvidar se o recorrente era ou não herdeiro, pelo que a arguida actuou com dolo eventual”.

O acórdão dá ainda conta de que a sentença proferida na primeira instância “não conseguiu esclarecer também por que razão, ao tratar da sucessão da herança deixada pelo falecido, no interior da China, a arguida considerou o recorrente como herdeiro; porém, ao tratar da sucessão em Macau, a arguida entendeu que o recorrente não tinha a mesma posição jurídica”.

O TSI conseguiu provar que “o recorrente fora adoptado quando era bebé de poucos meses e, desde então, convivera com o avô, a avó e a tia (arguida) aos fins de semana, férias e feriados, e que, ao fazer a habilitação de herdeiros, a arguida sabia perfeitamente da existência do recorrente e do facto de o recorrente ser filho de seu falecido irmão mais novo, já que com ele convivera muito intimamente após a adopção”. A advogada recorreu depois junto da última instância, mas o tribunal acabou por não lhe dar razão.

24 Mai 2019

AMCM | Sector dos seguros representa 28 por cento do PIB de Macau

[dropcap]N[/dropcap]os últimos vinte anos, o sector segurador de Macau aumentou 42 vezes o total dos seus activos, correspondendo, actualmente, a 28 por cento do Produto Interno Bruto do território. A afirmação foi proferida por Chan Sau San, Presidente do Conselho de Administração da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), durante a 14ª Reunião Anual do Fórum Asiático de Reguladores de Seguros.

Chan Sau San enquadrou o boom do sector, que considerou “encontrar-se no apogeu”, face ao desenvolvimento acelerado da economia da região e tendo em conta os desafios e oportunidades originados pelas “alterações climáticas mundiais e pelo desenvolvimento de tecnologias inovadoras”.

Como tal, Chau Sau San referiu “a flutuação financeira mundial e o aumento da ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos” como factores determinantes para o aumento da procura de seguros, “criando enormes oportunidades para o sector”.

O dirigente da AMCM dirigiu-se a representantes de instituições de supervisão de seguros da Ásia e Oceania para debater o tema “promoção do desenvolvimento sustentável do mercado de seguros através de um regime de supervisão eficaz”, no âmbito da reunião anual que terminou ontem.

24 Mai 2019

Fitch | Macau deve apostar no turismo para diversificar economia

O analista da Fitch responsável pelo acompanhamento de Macau considera que a diversificação da economia só poderá acontecer de forma realista e eficaz se estiver relacionada com actividades de turismo

 

[dropcap]M[/dropcap]acau é, por natureza, um centro de turismo, por isso pensar que pode diversificar a sua economia para alguma coisa não relacionada com o turismo é demasiado ambicioso e pode até nem ser uma coisa realista”, disse Andrew Fennell.

Em entrevista à Lusa nos escritórios da Fitch Ratings, em Hong Kong, Fennell explicou que “os planos do Governo passam por diversificar a economia dentro das condições existentes, é a Meca do jogo, o maior centro de jogo do mundo, atraem muitos turistas, e os esforços que têm feito é para ficarem mais tempo, fazerem mais do que apenas jogar, são actividades relacionadas”.

Os casinos, acrescentou, partilham a mesma visão, “e como parte deste esforço dedicam mais espaço a áreas não relacionadas com o jogo, por isso estamos a ver progressos, mas a realidade é que 50 por cento do PIB resulta do jogo, e o turismo é realmente a única aposta possível”.

A tendência de redução da componente dos grandes jogadores para um aumento da proporção de receitas provenientes dos jogadores com apostas mais baixas “é um dos pontos em que se pode dizer que a diversificação está a acontecer”, disse o analista, lembrando que “há dez anos o panorama era predominantemente dominados pelos jogadores VIP, mas agora há mais jogadores em massa, e o fluxo destes turistas tem sido muito forte, e isso faz parte da vontade de apostar mais no mercado de massas”.

A importância de diversificar a economia é, ainda assim, desvalorizada por Andrew Fennell, que lembra o ‘rating’ muito positivo de Macau, no nível AA: “Macau tem um ‘rating’ muito alto, e o facto de não ter uma economia diversificada não impediu que aumentássemos o ‘rating’ há um ano e meio; uma das coisas que pode fazer subir ainda mais a nossa opinião sobre a qualidade do crédito é diversificar, é um esforço que tem vindo a ser feito já há muito tempo, mas é muito difícil, tem havido passos incrementais, mas diversificar a economia é um processo difícil e muito longo”.

Por tabela

A nível económico, Macau “tem um excedente orçamental e é uma das economias mais fortes entre as 118 que a Fitch analisa a nível global”, salienta o analista, sublinhando que este território “não tem dívida, o que é sempre um factor determinante para os ratings, e continua a acumular reservas para os cofres governamentais, com saldos orçamentais muito fortes”.

Questionado sobre o impacto que as tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos da América podem ter na indústria do jogo de Macau, Fennell admite que, “do ponto de vista geopolítico a questão é muito interessante”, mas acrescenta que o impacto, a haver, é apenas indirecto.

“Pode-se pensar em cenários com um impacto directo na actividade dos casinos, por serem norte-americanos e Macau ser parte da China, pode-se até pensar em cenários devastadores para a indústria, mas para nós o cenário é mais benigno, porque se a guerra comercial tiver impacto para a China será no abrandamento do crescimento económico, o que pode afectar muitas pessoas que pensavam ir de férias para Macau e já não vão, por isso, a haver impacto, será indirecto na receita do jogo em Macau”, explica o analista.

Sobre o prolongamento das licenças de jogo a alguns operadores e a harmonização do fim dos contratos para 2022, Andrew Fennell diz que foi uma boa decisão do Governo, porque acabou com a “incerteza que havia há seis meses sobre o fim das concessões”. A decisão do Governo, concluiu, “faz sentido no contexto em que assim os decisores políticos conseguem negociar com todos ao mesmo tempo em vez de ser separadamente e em momentos diferentes”.

24 Mai 2019

CCAC estuda possibilidade de rever de leis sobre combate à corrupção

[dropcap]O[/dropcap] Comissariado contra a Corrupção (CCAC), dirigido por André Cheong, vai analisar a melhor forma de aperfeiçoar os regimes vigentes no combate a esta prática, tanto no sector público como no privado. A informação foi avançada ontem em comunicado oficial.

O CCAC “iniciou estudos de revisão relativamente ao regime jurídico penal e ao regime disciplinar dos trabalhadores da Função Pública, sendo que as conclusões desses estudos, com vista a apresentar sugestões para aperfeiçoamento dos regimes jurídicos, serão divulgadas em breve”, lê-se na nota.

O organismo liderado por André Cheong procura com a avaliação satisfazer de “forma activa as exigências da sociedade quanto ao reforço da construção de uma sociedade íntegra na RAEM”, bem como “intensificar acções de combate aos crimes de corrupção”. Além disso, a intenção do CCAC, de acordo com o comunicado divulgado ontem, é “aperfeiçoar o mecanismo de responsabilização dos trabalhadores da Função Pública, bem como articular com as propostas formuladas pelo grupo de especialistas das Nações Unidas no âmbito da avaliação de conformidade, por parte da RAEM, da implementação da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção”.

O organismo liderado por André Cheong decidiu avançar para esta medida depois de ter sido divulgada uma investigação complementar que deu conta da falta de transparência na forma como tem sido feitas as contratações no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM), uma vez que foram recrutados muitos familiares.

No seu relatório, o CCAC acusa a entidade dirigida por Shuen Ka Hung de “nepotismo”, uma vez que, até Abril de 2017, dos 101 trabalhadores que existiam no CPTTM, “16 tinham relações familiares entre si, nomeadamente de pai-filho, pai-filha, cônjuge, irmãos e irmãs entre outras, sendo que três deles já se desvincularam do serviço”. Nesse sentido, o CPTTM não fez “a divulgação ao público de informações relativas a recrutamento”, além de ter sido “demasiado arbitrário nos processos de selecção”, além de existir uma “proporção demasiado alta dos trabalhadores com relações familiares entre si”.

Secretária desvalorizou

Ainda que o CCAC tenha decidido avançar para estes estudos, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, desvalorizou esta semana, na Assembleia Legislativa, o aumento dos casos de corrupção. “Não temos número suficiente de casos [de crimes que envolvam funcionários públicos] que apoiem o aumento das penas”, disse a secretária, num debate pedido pelos deputados Agnes Lam, Leong Sun Iok e José Pereira Coutinho sobre o combate a abusos dos trabalhadores da Função Pública.

A secretária acrescentou que “nos últimos anos os crimes na Função Pública relacionados com as funções dos seus trabalhadores têm vindo a diminuir”, o que “reflecte o trabalho efectuado pelo CCAC”. Apesar dos números indicarem um aumento de casos, a secretária considerou que se trata de um crescimento “relativo”.

24 Mai 2019

Contabilistas | Período de impedimento reduzido para um ano

[dropcap]A[/dropcap]s pessoas que tiverem auditado as contas de uma empresa ficam impedidas durante o período de um ano de serem contabilistas dessa mesma companhia. Esta é uma das alterações introduzidas pelo novo Regime de Registo e Exercício da Profissão de Contabilistas, que reduz o período de impedimento de três anos para um, e que esteve ontem a ser analisada na 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL).

De acordo com o deputado Vong Hin Fai, presidente da comissão, esta mudança é justificada pelo Governo pelas opiniões vigentes no sector, assim como a comparação com as jurisdições vizinhas.

Além disso, afirmou Vong, neste ponto foi igualmente tido em conta o regime para os titulares dos principais cargos políticos, cujos impedimentos são de um ano. “Com a redução, o prazo de impedimento passa para um ano. Actualmente é de três anos. A lei fica menos rigorosa”, afirmou o deputado. “O Governo explicou esta alteração com os regimes vigentes nas regiões vizinhas e com uma consulta realizada junto do sector”, acrescentou.

Outra das questões relacionadas com o novo regime para os contabilistas prendem-se com o facto de o diploma apenas prever infracções disciplinares e crimes. A existência de infracções administrativas não é contemplada. Devido a esta “falha”, os deputados sugeriram ao Governo que tenha como referência o Regime da Qualificação Profissional dos Assistentes Sociais. O Executivo ficou por dar uma resposta posteriormente aos membros da Assembleia Legislativa numa próxima reunião.

24 Mai 2019

Sai Van | Ella Lei pede esclarecimentos sobre percursos pedonais

[dropcap]E[/dropcap]m Março deste ano o IAM anunciou planos para aumentar a plataforma de madeira e criar um trilho, também de madeira, ao longo do Lago Sai Van para responder à maior procura do espaço.

No entanto, a deputada Ella Lei, deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), diz que há cidadãos preocupados com as alterações à paisagem e pede que ao Executivo que antes de começar as obras que revele o projecto em detalhe.

“É necessário que a população tenha acesso ao conceito do projecto em grande detalhe para poder de forma objectiva expressar as suas opiniões e fazer recomendações concretas”, frisou a deputada. Ella Lei questiona assim em que fase do projecto se encontra o trilho de madeira em torno do lago e como é que o mesmo vai ser apresentado à população.

24 Mai 2019

Estacionamento | Wong Kit Cheng critica ineficácia do Governo e quer soluções

A deputada da Associação Geral das Mulheres quer que o Executivo se chegue à frente e resolva o problema da falta de estacionamento. Wong Kit Cheng defende ainda que o facto de, em 2018, 870 mil infracções à lei do trânsito 810 mil se deverem a estacionamento ilegal só mostra que há falta de lugares

 

[dropcap]F[/dropcap]alta de estacionamento em algumas zonas, parques com baixa taxa de utilização em outras e mais de 810 mil multas por estacionamento ilegal. É este o cenário traçado pela deputada Wong Kit Cheng, ligada à Associação Geral das Mulheres, em relação ao estacionamento em Macau. Por esse motivo, a legisladora escreveu uma interpelação ao Executivo a exigir alterações e resolução dos problemas.

“A falta de lugares de estacionamento já se faz sentir há muito tempo. Actualmente, há cerca de 240 mil veículos motorizados em Macau. No entanto, o número de lugares oferecidos em parques públicos e privados é ligeiramente superior a 162 mil. Além disso, existem cerca de 50 mil lugares de estacionamento nas ruas”, começa por apontar Wong Kit Cheng.

A deputada critica também a política que o Governo tem seguido e que resultou no corte de ainda mais lugares nos últimos anos: “Além da falta de lugares de estacionamento, a Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) tem reduzido o número de lugares à beira das estradas por várias razões, como optimizar os passeios para peões e controlar o aumento dos veículos”, indicou. Segundo Wong, o problema é mais preocupante na Península de Macau.

Face a este cenário, a legisladora sustenta ainda que o facto de entre as 870 mil infracções à lei do trânsito, 810 mil estarem relacionadas com estacionamento ilegal apenas mostra a dimensão dos problemas que os condutores enfrentam.

Contra a ilegalidade

“Quero deixar muito claro que não estou a defender o estacionamento ilegal. Mas tenho de olhar objectivamente para o que está a acontecer. Esta é uma consequência do facto de muitos residentes simplesmente não conseguirem encontrar lugares de estacionamentos legais”, explica.

Perante este cenário, em que a membro da Assembleia Legislativa ataca ainda o facto de haver parques de estacionamento com baixa ocupação, Wong questiona: “O que é que o Governo vai fazer para resolver o problema do estacionamento para os residentes e aumentar a taxa de ocupação dos parques de estacionamento pouco utilizados?”, interpela.

No mesmo sentido, a deputada ligada à Associação Geral das Mulheres quer saber se vão haver descontos nos parques de estacionamentos menos utilizados, principalmente durante o horário da noite, e se o Governo vai inverter a tendência dos últimos e criar mais lugares à beira das estradas.

Outra das soluções apresentadas pela deputada passa por aproveitar, mesmo que de forma temporária, os terrenos recuperados por não-aproveitamento nos últimos anos e convertê-los em parques de estacionamento.

24 Mai 2019

Parlamento Europeu | Eleitores já começaram a votar, portugueses votam domingo

O processo de eleição dos 751 deputados do Parlamento Europeu para a legislatura 2019-2024 arrancou ontem na Holanda e no Reino Unido, os dois primeiros países a votar num calendário que se estende até domingo

 

[dropcap]C[/dropcap]erca de 360 milhões de cidadãos europeus votam até 26 de Maio para escolher os seus representantes no próximo Parlamento Europeu (PE), com Portugal a eleger 21 eurodeputados.

A Holanda e o Reino Unido foram os primeiros dos Estados-membros a ir ontem a eleições. Até ao fecho da edição ainda não havia resultados apurados. Hoje é a vez dos irlandeses irem às urnas. Letónia, Malta e Eslováquia votam amanhã, enquanto na República Checa o voto prolonga-se por dois dias, hoje e sábado. Todos os outros Estados-membros, incluindo Portugal, escolheram domingo para a ida às urnas.

Além da abstenção, que tem crescido a cada nova eleição e nas últimas europeias (2014) foi de 57 por cento no conjunto dos Estados-membros, estas eleições estão marcadas pela expectativa de uma maior fragmentação do PE, com a ‘coligação’ maioritária entre conservadores e socialistas ameaçada pelo crescimento de liberais e nacionalistas.

Outra das particularidades deste exercício eleitoral é a provável alteração da composição do hemiciclo e, consequentemente, da correlação de forças no PE aquando da saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

Até que o ‘Brexit’ se concretize, o Reino Unido elege os seus 73 eurodeputados e o PE mantém os 751 lugares actuais.

A partir do momento que o país deixe de ser membro, o PE passa a ter 705 eurodeputados, com parte dos 73 lugares dos britânicos a serem redistribuídos por outros Estados-membros e parte a ficar numa ‘reserva’ para futuros alargamentos.

Bom tempo

Um dos elementos que tem afastado os portugueses tradicionalmente das urnas, além do desapego às questões europeias, é o aproveitamento do fim-de-semana, nomeadamente para ir à praia. Neste aspecto, importa salientar que o dia das eleições europeias vai ser marcado por céu pouco nublado ou limpo e temperaturas que vão oscilar entre os 26 e os 30 graus Celsius, disse à Lusa a meteorologista Madalena Rodrigues. “Hoje ainda vamos ter alguma nebulosidade alta e possibilidade de ocorrência de precipitação fraca no Minho até ao final da manhã. A partir de amanhã [sexta-feira] vai predominar o céu pouco nublado ou limpo e uma subida gradual das temperaturas até domingo”, indicou a especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

De acordo com Madalena Rodrigues, no fim-de-semana e, em especial, no domingo dia das eleições europeias, as temperaturas vão rondar os 30 graus. “Estamos a falar de temperaturas em todo o território acima dos 26 graus, podendo atingir os 30 graus na região Sul e no Vale do Tejo”, disse.

A subida, explicou a meteorologista, será gradual e de um a dois graus Celsius todos os dias a partir de sexta-feira.

“Para domingo estamos a prever 25 graus de máxima para o Porto, 30 para Lisboa e 25 para Faro. As mínimas estarão à volta dos 09/11 graus no interior e entre os 13 e os 16 nas restantes regiões do continente”, disse.

Apesar do bom tempo previsto para domingo, Madalena Rodrigues indicou que a previsão aponta para algum vento que pode ser por vezes forte com rajadas na ordem dos 60 quilómetros por hora no litoral e nas terras altas.

 

Estudo revela avalanche de notícias falsas de promoção de extrema-direita

Cerca de 500 milhões de visualizações. O número redondo espelha o alcance das notícias falsas que disseminam ideias de extrema-direita durante a campanha das eleições Europeias de acordo com um estudo feito pela ONG Avaaz.

A investigação, conduzida em seis países ao longo de três meses, concluiu que grupos de extrema-direita estão a inundar as redes sociais com conteúdos falsos. Na sequência da investigação foram reportados mais de 500 grupos e páginas de Facebook que reuniram cerca de 32 milhões de pessoas e geraram mais de 67 milhões de comentários, “gostos” e partilhas.

Em declarações à Euronews, Christoph Schott, da Avaaz, descreveu a realidade mostrada pelo estudo como a evidência de que União Europeia se está a “afogar em falsidades”.

Por exemplo, na Alemanha perfis falsos de apoio à Alternativa para a Alemanha (AfD), tem estado particularmente activos durante a campanha. Na Polónia, três redes de propagaram mensagens anti-imigração e anti-europeias em cerca de duas centenas de grupos e páginas.

Nestas páginas são, inclusive, partilhadas cenas de filmes como se fossem segmentos de noticiários. Por exemplo, o partido de extrema-direita italiano, Lega Nord, partilhou um vídeo a mostrar, supostamente, imigrantes a destruir um carro da polícia. O vídeo, retirado de um filme, teve 10 milhões de visualizações. Numa página em polaco, um trecho também de um filme foi partilhado como se fosse verdadeiro, mostrando uma mulher a ser violada por um motorista de taxi estrangeiro.

Face a estas partilhas, o Facebook vincou o propósito de combater as notícias falsas. “Agradecemos à Avaaz por partilhar o seu estudo que iremos investigar. Estamos focados em proteger a integridade de eleições na Europa e no resto do mundo. Removemos contas falsas e duplicadas por violação das políticas de autenticidade e removemos páginas por espalharem conteúdo falso”, referiu um porta-voz da rede social à Euronews.

O Facebook montou um centro de operações, com quarenta técnicos, para “proteger a integridade” das eleições europeias. Uma das tarefas principais do grupo é a remoção de novos perfis falsos.

O Avaaz revelou que após a divulgação do estudo, o Facebook eliminou 77 páginas e grupos e cancelou 230 perfis. A ONG referiu ainda que estas páginas tinham quase três vezes mais seguidores do que os partidos políticos centristas.

A investigação veio à luz do dia apenas duas semanas depois de uma companhia de cibersegurança norte-americana ter revelado que desinformação de origem russa chegou a 214 milhões de europeus através das redes sociais.

Aliança | Candidato nascido em Macau

Paulo Sande, cabeça-de-lista do partido Aliança, fundado por Pedro Santana Lopes, tem ligações a Macau, local onde nasceu. No entanto, após seis meses, deixou o território com o pai com destino a Goa, onde estava durante a invasão das forças indianas. Licenciado em Direito e professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, era consultor político do Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, mas demitiu-se para ser cabeça-de-lista do Partido Aliança.

 

Onde votar

Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong

Dias: 25 e 26 de Maio

Horário: Das 8h00 às 19h00

Os portugueses residentes em Macau e Hong Kong, desde que inscritos nos cadernos de recenseamento da Comissão Recenseadora. Os cadernos de recenseamento podem ser consultados no portal do Ministério da Administração Interna: https://www.recenseamento.mai.gov.pt/

 

Listas Candidatas às Europeias de 2019

PCTP/MRPP
Cabeça-de-Lista: Luís Júdice

Partido Democrático Republicado (PDR)
Cabeça-de-Lista: António Marinho e Pinto

Pessoas-Animais-Natureza (PAN)
Cabeça-de-Lista: Francisco Guerreiro

Partido Socialista (PS)
Cabeça-de-Lista: Pedro Marques

Aliança (A)
Cabeça-de-Lista: Paulo Sande

Partido Nacional Renovador (PNR)
Cabeça-de-Lista: João Patrocínio

Nós, Cidadãos (NC)
Cabeça-de-Lista: Paulo de Morais

Partido Trabalhista Português (PTP)
Cabeça-de-Lista: Gonçalo Madaleno

Partido Social Democrata (PSD)
Cabeça-de-Lista: Paulo Rangel

Bloco de Esquerda (BE)
Cabeça-de-Lista: Marisa Matias

Iniciativa Liberal (IL)
Cabeça-de-Lista: Ricardo Arroja

Movimento Alternativa Socialistas (MAS)
Cabeça-de-Lista: Vasco Santos

Partido do Centro Democrático (CDS-PP)
Cabeça-de-Lista: Nuno Melo

Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP)
Cabeça-de-Lista: Rui Martins Loureiro

Coligação Basta!
Cabeça-de-Lista: André Ventura

Livre
Cabeça-de-Lista: Rui Tavares

Coligação Democrática Unitária (CDU)
Cabeça-de-Lista: João Ferreira

24 Mai 2019

Sten Verhoeven, especialista em direito da União Europeia | Raiva contra o sistema

As eleições deste fim-de-semana podem marcar uma viragem ideológica no Parlamento Europeu e a derrota do centro esquerda, a favor dos representantes de partidos populistas. A ideia é defendida pelo académico da Universidade de Macau Sten Verhoeven. A mudança não vai acabar com o projecto europeu, mas pode atrasar os processos legislativos da UE

 

O que podemos esperar destas eleições europeias?

[dropcap]E[/dropcap]ssa é a verdadeira questão. Pela primeira vez, parece que os partidos de centro esquerda não vão conseguir manter a maioria. Isto não significa que vão ficar isolados ou que não vão continuar a ter poder. Mas significa muito em termos legislativos. Estes grupos partidários eram a força motriz no que respeita à adopção de legislação. Sem a maioria no parlamento vai ficar muito mais difícil encontrar parceiros de modo a conseguir a maioria necessária para adoptar legislação. Esta vai ser uma situação nova e única. Nunca tivemos isto antes. Claro que as eleições ainda não ocorreram, ainda há muita coisa a decidir, e a tendência ainda pode oscilar entre as duas partes, mas parece que esta ala não vai ter a maioria. Em vez disso, vai haver o crescimento da presença de mais partidos euro-cépticos e até mesmo hostis à própria Europa que vão tentar formar um grupo grande dentro do Parlamento Europeu. Claro que esse grupo pode, não digo bloquear, mas dificultar a produção legislativa e a definição de comissários. Basicamente, podem travar a máquina. Não vão atirar a Europa para um buraco, isso é impossível, mas vão definitivamente abrandar muito a máquina europeia. Vai ser com certeza, uma questão altamente problemática para a União Europeia (UE) que está agora à procura de um segundo fôlego depois do ressurgimento dos partidos populistas por todo o lado e quando se espera que responda a isso.

Que União Europeia podemos esperar?

Alguns destes partidos são pró Europa, mas talvez uma Europa diferente daquela que temos neste momento. Uma Europa que tenha em conta as considerações do povo, o que quer que isso queira dizer. Há esta ideia de criar um grupo parlamentar focado nos partidos populares. É uma perspectiva mais populista e menos subsidiária em que se admite a necessidade da UE, mas também se defende o respeito pelas divergências, pelas diferenças culturais e pelas peculiaridades dos diferentes estados membros em que assuntos como a emigração assumem um grande papel.

Alguns destes partidos não são apoiantes da emigração. Aliás, há países que consideram que todos os problemas da Europa se devem à emigração, especialmente a Hungria e Polónia. Mas em outro domínios, por exemplo, no comércio, é natural que venham a ter uma outra postura, até mais pro-Europa. Mais uma vez, não há certezas.

A que se deve a subida dos partidos populistas?

Para mim, é mais um sinal para as elites de que certas coisas não são mais aceitáveis. O que não é uma surpresa. As despesas sociais foram muito cortadas em vários estados membros em altura de crise. Houve austeridade motivada por outros países membros muito poderosos, além da própria Alemanha. Claro que economicamente se pode debater se isso era necessário ou não. Mas por outro lado, estas políticas enfraqueceram a sociedade. Será uma surpresa ver que anos depois da economia ser retomada estes países vítimas da austeridade parecem não ver qualquer benefício disso? Ficam chateados. Encontramos maior apoio aos partidos populistas nas áreas rurais porque foram deixadas de lado. As pessoas estão zangadas e reagem através do voto. É um voto contra o sistema, seja qual for o sistema. Para mim isto é um alerta. Algumas destas preocupações são reais. Sim, o desenvolvimento da União Europeia nos últimos 20 anos tem sido óptimo. A livre circulação é uma excelente iniciativa e há muitos vencedores, mas também há perdedores. A Europa é um projecto que também tem que conseguir dar voz às pessoas que ficaram de fora. E os partidos populistas, na sua maioria de direita, capitalizam-se nisto. Têm um discurso em que dizem: vocês perderem as vossas oportunidades porque os emigrantes entraram. Eles não são anti-sistema por natureza, eles querem, claro, ser parte do sistema. Alimentam essa zanga e usam-na para conseguir entrar no Parlamento Europeu. Mas o facto é que se tratam de partidos que também não fazem grande coisa de facto. Olhemos o que aconteceu na Áustria. Teve um partido de direita, populista, que no fim acabou por sair devido à corrupção. Este partido preocupava-se realmente com o bem-estar da população? Sou muito céptico em relação a isso. Estes partidos são muito bons na sua narrativa e alimentam a zanga actual.

E onde fica o centro-esquerda?

A ala mais à esquerda não tem sido capaz, perante uma série de assuntos sociais, de se salientar e de se focar para trazer estas pessoas para um movimento mais ao centro esquerda. Isso é talvez a parte mais chocante deste processo todo: Que os sociais democratas que historicamente deram voz digamos, aos não privilegiados, tivessem falhado completamente em chamar a eles esta maioria de pessoas.

Normalmente, as eleições europeias não tem muita adesão. Acha que pelos motivos que apresentou, este ano pode ser diferente?

Penso que podem mobilizar as pessoas. Pelo menos já se fala das eleições europeias este ano. Estão nas capas de jornais. Não me lembro de ter sido assim anteriormente. Por outro lado, não espero uma grande diferença na adesão às urnas. Pode existir um aumento pequeno, na ordem dos cinco a seis por cento, mas não uma grande diferença. Se pensarmos num aumento significativo, acho que isso não vai acontecer. É uma pena porque o Parlamento Europeu é de facto o organismo legislador mais importante na Europa.

Porquê este desinteresse das pessoas?

Acho que tem que ver com a distância. As pessoas votam mais numas eleições municipais porque estão a falar de pessoa vizinhas. Eleições regionais já são menos os votantes. Mesmo a um nível nacional, muitas vezes as pessoas já não se mostram tão interessadas. A um nível europeu trata-se de votar em pessoas que vão estar em Bruxelas, que é muito longe. Por outro lado, o Parlamento Europeu lida com aspectos mais técnicos da legislação. Estas eleições ficam também muitas vezes na sombra de outros processos eleitorais nacionais ou regionais. O mesmo acontece no que respeita aos partidos: as pessoas não sabem o que os partidos fazem a um nível europeu, não têm ideia. Se perguntarmos às pessoas qual é o seu representante no Parlamento Europeu, as pessoas provavelmente não sabem, o que é um problema. Por outro lado, os partidos a nível europeu, têm dentro de si, muitas divisões. Por exemplo um partido conservador de Espanha é diferente de um conservador da Holanda. Os socialistas franceses e os alemães podem não concordar em muitas coisas.

O Reino Unido ainda participa nestas eleições, enquanto o Brexit é negociado. O que pensa desta situação?

É uma novela. Ninguém sabe o que está a acontecer. Nestas eleições são os conservadores a votar no partido do Nigel Farage. Vamos ver uma polarização. Vamos ver as pessoas que realmente querem o Brexit, a votar no Farage e o resto vai ser distribuído por outros partidos. Mas por outro lado, isto mostra como as pessoas se relacionam com o Brexit depois de dois anos de negociações. Quantas pessoas querem mesmo o Brexit? Imagine que o partido do Farage tem 40 por cento dos votos, isso faz com que seja o partido mais votado, mas também significa que 60 por cento da sociedade não está interessada no Brexit. Penso que estes são também os últimos dias de Theresa May, ela lutou pela aprovação do mesmo acordo várias vezes e isto não vai durar para sempre. Quem a vai substituir? Boris Johnson é pró Brexit, mas enquanto figura política é forte o suficiente para desistir da saída se não encontrar um acordo. Como é que se resolve tudo isto? Para mim, cabe à UE tomar uma decisão, porque de outra forma pode ser uma decisão adiada indefinidamente. Não se pode deixar um país eternamente no limbo.

Há a possibilidade de um segundo referendo?

Um segundo referendo é o mesmo que dizer que há dois anos pediram a opinião das pessoas, mas agora mudaram de opinião e vão perguntar de novo. Politicamente falando, demora algum tempo para apresentar este tema de novo a referendo. Também não significa que o resultado de um segundo referendo venha a ser diferente. Mas, de novo, o referendo foi muito recente. Uma nova consulta é uma estratégia muito arriscada.

E a China? Pode vir a sofrer consequências com estas mudanças na Europa?

Os países mais à direita não são necessariamente contra a liberdade comercial. Talvez sejam partidos que defendem maior isolamento nacional, que querem limitar o comércio, mas também precisam dele. O Reino Unido é um bom exemplo. É muito euro-céptico, mas tem sido sempre muito favorável ao comércio global. Temos de ver como a situação vai evoluir e o que estes partidos vão realmente defender. O problema da China com a Europa pode ser o mesmo que se levanta com os Estados Unidos. Há de facto algumas práticas na China, nomeadamente no que se refere a propriedade intelectual, que também são preocupações da Europa. Tanto os governos da UE como dos EUA têm posições semelhantes acerca da transferência obrigatória de propriedade intelectual dos investimentos na China. Mas as ferramentas usadas para negociar com a China são diferentes e claro que a implementação de tarifas não será a forma certa de combater estas situações. Por outro lado, se os EUA avançarem com o aumento das tarifas às exportações europeias, e que parece que vão fazer, pode-se pensar que o inimigo do meu inimigo é meu amigo, e aí as negociações entre a China e a Europa, que já decorrem há algum tempo, podem ser mais rápidas. Mas também existem outros mercados a considerar: Singapura, Japão ou a Coreia do Sul são economias muito importantes com quem também temos acordos.

A China pode mesmo acabar por ser beneficiada?

A Europa e a China têm um bom ambiente de comércio. Isso significa que a China vai ser um parceiro da UE? Não, isso não vai acontecer. As relações económicas vão continuar, mas pensar que a China pode substituir os EUA enquanto parceiro da UE, não conto com isso. Claro que há uma diferença de estratégias entre as negociações que acontecem entre a China e a Europa. A Europa tem agora uma abordagem da China mais pragmática. O facto de a Europa não levantar a voz acerca de determinados assuntos publicamente não quer dizer que não os aborde, mas de uma forma mais privada.

Quais os maiores desafios para a Europa nos próximos anos?

Vão ser a forma de trazer de volta as pessoas que vão votar nos partidos populistas ou que são mais cépticos sobre o projecto europeu. Penso que há necessidade de os políticos se aproximarem das pessoas e das suas necessidades. Não é o mesmo que ouvir as pessoas e nada mudar. Por exemplo, em relação é emigração, um dos temas centrais, precisamos da emigração, temos é de saber o que fazer com ela. Pode ser assustador muitas pessoas verem de repente entrar nos seus bairros uma quantidade muito grande de emigrantes que não falam a língua etc. Nestes casos há que investir mais na integração. Não se pode ser como o Japão que é muito vedado ao exterior. Mas é preciso saber as necessidades que se têm e perante elas, acolher os emigrantes. Não é dar subsídios apenas, mas dar ferramentas para fazer com que os emigrantes também se sintam úteis. Ninguém gosta de ser inútil.

24 Mai 2019

Difícil de compreender

[dropcap]U[/dropcap]ma das coisas mais difíceis de compreender é o talento. Com apenas 13 anos de idade, e sem nunca ter tocado nenhum instrumento ou ter músicos na família – o pai não distinguia o som de uma guitarra do de um órgão –, em apenas um mês de contacto com uma guitarra eléctrica, Gastão (Gas) tocava vários standards da música rock. Ao fim de seis meses tocava numa banda com uma acuidade impressionante. Saltava o muro da casa dele para a minha e passava horas a tocar no estúdio. Em um ano tocava guitarra melhor do que eu hei-de tocar em várias vidas. Atentava em detalhes que escapam à maioria, distinguia sons num disco que poucos conseguiam. O pai não só não punha obstáculos, como ainda estimulava, comprando-lhe o melhor material possível, pois felizmente o dinheiro não era um problema naquela casa. Ao Gas só lhe interessava o rock, mais nada. Por vezes, aparecia-me em casa e tocava um tema de jazz que tinha ouvido na rádio ou visto num vídeo, ou ainda um samba no violão, mas era apenas uma forma de mostrar-me que podia tocar outros estilos musicais, se quisesse. E podia.

Fui vê-lo tocar apenas duas vezes num bar: o seu primeiro show, pois era um marco na sua vida e ele fazia questão que eu fosse assistir; e depois, passados dois anos de ter iniciado a sua relação com a guitarra, quando inaugurava a sua banda de originais. As músicas eram todas compostas em parceria com o vocalista. A melodia da voz e as letras eram do Maurício (o Mau) e os arranjos dele. Tinham ambos 15 anos, estudavam juntos no mesmo liceu e, aliado ao enorme talento que tinham, viam o futuro mais brilhante que a luz de um verão de Floripa. Quando sai de Florianópolis, faltava-lhe um ano para acabar o liceu. No final iria para Boston, estudar guitarra e composição em Berklee, seguindo os passos dos seus ídolos, a banda Dream Theater. E assim foi, soube-o depois. Há um ano vi no youtube um vídeo dele, onde tocava jazz com o guitarrista e compositor Matthew Stevens, que foi durante algum tempo o maestro de Christian Scott e de Esperanza Spalding. Fiquei surpreso, mas não tanto. Já vi muitos guitarristas, ao crescerem, mudarem do rock para o jazz.

Mas se o talento é uma das coisas mais difíceis de compreender, a razão porque acontece a uns e não a outros, e como se desenvolve de forma tão perfeita como uma flor a despontar, outra também muito difícil de compreender é o mau tempo que se abate sobre o humano, em forma de depressão e de más decisões. Na semana passada soube por um amigo comum que o Gas se tinha suicidado, com 24 anos acabados de fazer. Desde que o conheci nunca teve falta de dinheiro, nem de futuro, nem de amor. Provavelmente do que sempre teve falta foi dele mesmo, e a juventude e o rock de algum modo foram escondendo essa falta. O Mau, que continua a cantar, numa banda em Sampa, ao lamentar a morte do amigo publicamente, escreveu no mural do Facebook: Deus dá e Deus tira. Ou isso ou outra coisa qualquer, desde que seja incompreensível, como fazer um filho, escrever um livro, compor uma música… Gas viveu 12 anos, desde o dia em que pôs as mãos nas seis cordas da guitarra até ao dia em que as pôs na corda onde pendurou a vida.

23 Mai 2019

Macau recebe mais de três milhões de visitantes em Abril

[dropcap]M[/dropcap]acau recebeu mais de três milhões de visitantes em Abril, um aumento de 15,9% em relação ao período homólogo do ano passado, indicam dados oficiais hoje divulgados.

Em Abril, o número de turistas (1.624.285) e o de excursionistas (1.807.902) aumentou 5,4% e 27,4%, respectivamente, em termos anuais, totalizando 3.432.187 visitantes em Macau, de acordo com a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC).

Por visitante entende-se qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (aquele que passa pelo menos uma noite) e excursionista (aquele que não pernoita). No mês passado, o período médio de permanência dos visitantes foi de 1,1 dias, menos 0,1 dias em termos anuais.

A maioria dos visitantes entrados em Macau, em Abril, era oriundo do interior da China (2.339.868), mais 13,5% comparativamente a igual período do ano passado.

Os visitantes de Hong Kong (696.902) e da Coreia do Sul (61.573) aumentaram 0,8% e 30%, respectivamente, enquanto o número dos visitantes oriundos de Taiwan (91.829) desceu 2,9%, em termos anuais.

Nos primeiros quatro meses do ano entraram na Região Administrativa Especial de Macau 13.791.945 visitantes, mais 19,9% em relação a igual período de 2018. Em 2018, Macau bateu o número recorde de turistas: 35,8 milhões, um aumento de 9,8% em relação a 2017.

23 Mai 2019

É sempre a primeira vez

[dropcap]A[/dropcap]s palavras vinham esparsas. Mas ele sabia que era uma espécie de amor, aquilo que sentia, um amor pelas coisas boas, e aguardava a transmissão. Sabia ainda que não havia rede e que nada o iria sustentar na queda, se ela existisse. As palavras chegavam sem sentido. Avulsas. “Circo”. Ele teria ouvido: “Vem ter ao circo”. Vindo assim, sem convicção, num fragor que despontara de parte nenhuma. Quem? Como? Quando? Porquê? Nada. Não havia esclarecimento. O fio terminava ali. Sem novelo.

Na sua cabeça só havia campo. Lugar vago. Livre. Uma configuração não alinhada com planície, mas sob a forma de colinas que se desenvolviam sem feição e sem regras. Como se dentro delas o respirar da terra, para cima e para baixo, as tivesse deixado assim, desviadas da sua existência. Desmanchadas, esquecidas, tumorais. Com vegetação disforme a preencher o demorado espaço. Alguns arbustos, árvores sem fruto e sementes que não se agarravam ao chão, que ficavam ali, sem enleio. Forma solta de pensar. Na expectativa de que a imagem das colinas se desvanecesse e que daí surgisse a vastidão e a solução para a soma dos seus infortúnios. A planura.

“Circo!”

Não um substantivo, mas um verbo. Eu circo, tu circas. Por baixo, matéria oca. Vazio. Indefinição. A terra seca. Um quase silêncio. O seu corpo em tumulto, cheio de sede de metamorfismo e clarividência, a aguardar as ordens da transmissão. As palavras que não vinham. E isso, sabia-o, era o prenúncio de coisas más, de tudo aquilo que não queria repetir. O seu corpo feito em colina, ali deixado, sem gema, sem força para suportar o passado que se avistava. Não era a queda, nem o circo, que temia, mas a sombra já vivida da desilusão.

Nem era à retaguarda que o torcer do relógio aludia, porque os instantes prosseguiam bem aconchegados na sua torrente, desaguando oportunidades que sem transigência era necessário ocupar. A hora e a sua ponta, apinhadas de resíduos de outras cronografias, a demandar recomposição. O estridente refrão. Uma nova cena. Claquete! A luz da alvorada a repetir-se, inscrevendo histórias similares com o corpo embutido como protagonista. Dia após dia. Uma narrativa desconhecida para viver. Sobre o que iria versar o novo enredo, seria sobre uma pequenina aldeia no campo? Era preciso transpor o despertar para alcançar a feição da nova presença. A vã promessa de um vocábulo ao acordar. O foco. Luzes! A dor faminta de existência que brotava sem ser notada. Retirava pronomes. Retirava preposições. Retirava-se.

Não se é gente, não há valor, nesta obediência. Na ordem da escrita. O génio não raia. Tudo é invisibilidade. Tanto e nada disso importa. Agora. Aqui. Depois. É sempre a primeira vez. Inicia-se amanhã? O pretenso texto, a pretensa crónica?

Hoje. Agora. Aqui. Este momento rigoroso que não existe e que não chega a ser abordado. É uma ocasião que descende de outra, que leva a um inexperto enlace, onde o tempo se dilata. Decorria o intervalo passado e já se sucede uma nova reticência. Um tempo de ninguém. Demarcações verbais. Ele circa.

A intermitência onde nada acontece. Alguma coisa desliza e se incrementa. Um braço que aperta. Uma noite. Será já dia? Fecha-se uma porta, abre-se outra. Vozes que reclamam. Vento que passa. Leva os sussurros de um momento para o outro. Os odores, os nervos, os gritos. De um flanco, nada, porque tudo se foi. Do outro, igual, porque ainda nada surgiu. Não há vez na derradeira obscuridade que antecede a palavra inicial, que se espera límpida. O primeiro passo, na mão que avança. Pede-se que integre uma frase, para que mais à frente nutra um sentido. Algures. Algures muito mais à frente. Acolá.

Não se é gente, não há valor, nesta obediência. Na ordem da escrita. O génio não raia. Tudo é invisibilidade. Tanto e nada disso importa. Agora. Aqui. Depois. É sempre a primeira vez. Inicia-se amanhã? O pretenso texto, a pretensa crónica? Um homem assente na fachada do seu desentendimento. Uma coluna dórica. Com uma tragédia grega a esmoer-se por dentro. De mãos largas, a desenhar a linha do momento preciso, contra as regras do que já se afixou. O friso, a arquitrave, o capitel. Desastres. Veículos de pernas para o ar. Aí sabe-se que vai existir uma história para contar, uma história das boas. E no outro dia, mais uma. No espaço. O momento da alvorada repete-se. Além.

E uma espécie de amor.

Ele. Ainda a aguardar a transmissão, ponderava em contínuo sobre o “Circo” e o seu entendimento. Quem lhe terá dito, de onde terá surgido a alusão? Colava memórias que inventassem itinerários. Subterfúgios isolados. Talvez se tratasse de um monólogo. Uma cena desconexa num enredo de curta duração. A criação de um plano. Uma cama ao fundo da sala. Seria um quarto, seria o fim da noite? Um candeeiro de pé alto. Um tapete. Roupa espalhada no chão. Colinas. As sementes que se desprenderam e recomeçaram a raiar descendência. A querer apontar para o génio. Para o sabor do ânimo. “Vem!”, disseram-lhe. Os dedos visíveis. O ar que passa.

Lembra-se de coisas para contar, sobre os homens que viu. Figuras desagregadas, perdidas do seu domínio. Árvores que jamais darão fruto. Mas nada disso terá importância que se faça notar. Ou fome de dor. Não quis ir, ao circo, é o único elemento que reconhece. A solitária certeza que considera. O indefeso NÓS. Nós não circamos. E aqui vai. A história de um fim sem princípio e sem novelo, que na inocência da manhã trará outra realidade. Outro mundo. Um novo sol. Outra vinda. Que continua por contar. Para que possa dizer e indicar o sentido do caminho por percorrer. O famigerado termo. Em exclamação. Quantos são? Quantos se alinham? Quantos gritam?

Numa espécie de amor, o silêncio impera. O amor pelas coisas boas. Dissipado. As colinas não deram lugar à planície. Em seu lugar, surgiu a cidade. Onde se circa. A queda que levanta a palavra que não cai. Nem o remoer da urbe se ouve lá fora. Nem as frestas de outra vida. Apenas a resposta muda, sem boca, sem corpo. Sem gente. Nada mais do que um papel. E uma caneta. Até aqui.

A noite cai. Levanta-se o dia. O dia exacto.

  BANDA SONORA 

23 Mai 2019

Dina Pedro da Dinamite Team

[dropcap]Q[/dropcap]uem sobe a um ringue, tem as maiores expectativas, a da vitória. Um ringue é um laboratório vivo da vida. Quando um dos meus sobe ao ringue, eu só penso na sua vitória, por ele, pela minha Mestra, pela sua família e seus amigos. Quando alguém sobe a um ringue para combater só tem um pensamento na sua cabeça, a vitória. Se eu pudesse, fazia que só os meus ganhassem, mas há o combatente do outro canto, também tem a sua disciplina, a sua treinadora, a sua família e os seus amigos. Se eu pudesse, só os meus ganhariam. Não se pode entender mal o que eu digo. Não aposto por dinheiro.

Aposto o que os meus apostam. A vida toda. A vida toda não é a preparação para um combate.

Tenho assistido a meses que se estendem por anos.

Quando vemos um combatente treinar, só podemos acreditar nele, na sua técnica, na sua dieta, no seu sono, no seu treino. Nem nos passa pela cabeça que são corajosos. Parece que não sofrem nem com o treino, nem com a dieta. Muito menos, parece que sofrem com a dor física. E a dor física é de toda a espécie. Não é só a aceleração, não é só as horas sem descansarem bem até regressarem ao treino. É a dor que é tão aguda que só a adrelina a sufoca. Não é que não haja dor ao sofrer um golpe. Até pode parecer que se sofre, mas é mais a consciência de se ter perdido.

Não há dor. Há outra coisa. A compreensão de que o corpo apagou. E se não apagou, a mente já não vai buscar nada ao corpo. Podemos achar, quem vê de fora, que há violência. Violência há com armas e haveria se um fosse treinado e o outro combatente não.

Temos dois combatentes que não lutam um contra o outro, mas um com o outro. Se tudo tiver sido como mandam as regras, treinaram. Estão um para o outro. Mas eu tenho os meus e os outros terão os deles.

Eu pensava que os meus não perdiam.

Mas como não? Todos nós perdemos algures, em algum tempo na vida, com quem merecemos perder e com quem não merecemos perder. No knock down vai-se abaixo. Há contagens. O combatente ergue-se.

O que achamos nós que lhe passa pela cabeça? Não é perda. Quer-se erguer, quer ficar de pé, mostrar as luvas ao árbitro, mostrar que está apto a continuar. E quer continuar. Não, não pensa na dor, não pensa na família, não pensa na treinadora, não pensa em si. Sim: pensa em tudo, em todas as pessoas que o levaram ao ringue. Alguém no canto diz-lhe para respirar, para fazer a contagem: um, dois, três, quatro, cinco, seis, aos sete tenta levantar-se e levanta-se. Podemos pensar que fica ali, queremos que fique ali, porque somos a mãe ou o pai ou a namorada ou o namorado.

Mas a nossa treinadora diz coisas incompreensíveis para o público e para o outro canto. Diz qualquer coisa simples como: respira, levanta a guarda, bate com a perna esquerda no lado de dentro da direita, fica com a guarda alta.

O segundo round ecoa. Depois das miúdas anunciarem outro round. Ninguém vê como são belas. Não há sexo dentro de um ringue. Há a disputa da vitória. Há a liberdade para se disputar a vitória. Há a competência que quer a vitória, porque se é livre. O que se quer é a liberdade. Ninguém consegue perceber um combatente se não compreender que quer ser livre.

A vitória é a liberdade. A dor não existe. Existe depois, se calhar. Mas os combatentes querem a vitória porque decidiram ser livres. Pode ser um sonho de infância, mas nunca é um sonho negativo. Nunca ninguém ganha por raiva.

Só se ganha por… amor. Um combate é um acto de amor.

E tu vais ao tapete. É a segunda contagem. E levantas-te. Um, dois, três, quatro, cinco, seis… E lembras-te do que te disse a tua treinadora. Levanta-te com tempo. Toma o teu tempo.

E lá está outra vez o teu oponente. Pode parecer maior do que tu, mas tu não queres que nada acabe. Não tens tempo, agora, para que o combate acabe, queres que continue a eternidade, porque tu sabes que tens a técnica, a coragem.

E vais de novo ao tapete. O árbitro dá-te a terceira contagem.

Não foste ao tapete de qualquer maneira.

Do outro lado, comemoram a vitória.

E tu bates palmas ao teu oponente.
A vida é celebrada.

Lembras-te de todas as vezes que venceste. Sobretudo, uma vez mais, lembras-te do que pensaste quando perdeste da última vez.

“Segunda, quando tiver lambido as feridas do meu corpo e, sobretudo, as da minha alma, regresso aos treinos.”

E os treinos são no local sagrado, onde vais voltar a perder peso, fazer dieta, treinar.

E a tua treinadora diz-te: “acredito absolutamente em ti, querida, querido”.

23 Mai 2019

Presidente chinês alerta para dificuldades criadas pela guerra comercial com EUA

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, alertou ontem o povo chinês para os “riscos e desafios” da “situação difícil” criada pela guerra comercial com os EUA, de acordo com declarações divulgadas pela agência estatal Xinhua.

“O nosso país encontra-se numa fase de procurar oportunidades estratégicas para o desenvolvimento, mas a situação internacional está cada vez mais difícil”, disse o Presidente chinês, durante uma visita à província de Jiangxi, no sul do país.

Xi dirigiu-se aos cidadãos para os alertar para o contexto “complexo e desfavorável” que enfrenta a economia do país, incentivando-os a estar preparados para “superar riscos e desafios”.

As declarações de Xi ocorrem no momento em que a guerra comercial entre a China e os EUA continua numa escalada, sobretudo depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter declarado sanções à empresa de tecnologia chinesa Huawei, considerando que a sua tecnologia de comunicações 5G coloca riscos de espionagem.

Empresas como a Google anunciaram esta semana que vão deixar de facilitar e permitir que a Huawei use o seu sistema operativo, Android, com o qual operam os telemóveis da empresa chinesa.

A Huawei terá agora três meses para a fase de transição facilitada pelo governo norte-americano, antes de ficar exposta às sanções anunciadas por Donald Trump. Outras empresas norte-americanas de processadores informáticos como a Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom, a empresa alemã Infineon Technologies e fabricantes de ‘chips’ como a US Micron Technology e Western Digital vão também deixar de fornecer a Huawei, cumprindo as instruções de Trump, o que pode atrasar os planos de adoção da rede 5G em todo o mundo.

A directora financeira e filha do fundador da Huawei, Meng Wanzhou, também se encontra em liberdade condicional sob fiança no Canadá, após ter sido detida naquele país a pedido dos EUA, que acusou a empresa chinesa de violar as sanções impostas ao Irão.

O fundador e CEO da Huawei, Ren Zhengfei, tentou minimizar as sanções dos Estados Unidos, dizendo que a sua empresa está vários anos à frente dos seus concorrentes, na tecnologia 5G.

23 Mai 2019

Portugal | O Clarim distinguido por divulgar cultura lusitana

[dropcap]A[/dropcap] Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP) entrega hoje o diploma de sócio de mérito ao semanário católico O Clarim, pelo trabalho desenvolvido na divulgação da língua e da cultura portuguesas.

O diploma vai ser entregue ao director do jornal, o padre José Mandía, na sessão solene das comemorações do dia da SHIP, a realizar no salão nobre do Palácio da Independência, em Lisboa, numa cerimónia que deverá ser presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou O Clarim, em comunicado.

A SHIP é uma associação nacionalista “vocacionada para a valorização e divulgação dos valores da Portugalidade, muito particularmente na área das Ciências, Letras e Artes”, pode ler-se na mesma nota. A decisão de atribuir ao semanário a categoria de sócio de mérito foi tomada na Assembleia-geral da associação, que decorreu em 11 de Abril.

23 Mai 2019

Macau e Portugal juntos em investigação de medicina tradicional chinesa

[dropcap]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau expressou à Ministra da Saúde o desejo de promover com Portugal investigação na área da medicina tradicional chinesa, anunciaram ontem as autoridades.

A intenção foi transmitida a Marta Temido por Alexis Tam em Genebra, na Suíça, onde decorre até dia 28 a Assembleia Mundial da Saúde, órgão máximo da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O governante “manifestou o desejo de haver uma cooperação mais estreita no futuro, para promover conjuntamente a investigação no campo da medicina tradicional e impulsionar o desenvolvimento dessa medicina e da medicina alternativa na Europa e em África”, pode ler-se na mesma nota.

A 27 de Março, o Governo de Macau revelou que pretendia registar, até ao final do ano, entre quatro e seis produtos de medicina tradicional chinesa em Moçambique, um “país piloto” no estudo da exportação desta área para o espaço lusófono e onde já está prevista a criação de um Centro de Medicina Chinesa.

A estratégia de ‘exportação’ da Medicina Tradicional Chinesa para os países lusófonos, utilizando também Portugal como porta de entrada para a Europa, e de Angola, mas sobretudo Moçambique para África, é encarada como um dos eixos centrais de actuação para 2019 pelas autoridades de Macau.

Êxito externo

A aposta tem sido marcada por algum sucesso nos países africanos de língua portuguesa, segundo o Governo de Macau, sobretudo na formação de médicos e terapeutas, com o território a definir um plano até 2019 que inclui a obtenção de licenças de comercialização de medicamentos e a criação do Centro de Medicina Chinesa de Moçambique.

Em Genebra, Alexis Tam manifestou ainda à Ministra da Saúde a vontade de conjugar esforços na “implementação do programa Hospital Twinning Partnerships entre Macau e os países de língua portuguesa e a formação de profissionais de saúde especializados”.

Recorde-se que a 26 de Abril, as autoridades de Macau e Timor-Leste lançaram o projecto denominado Hospital Twinning Partnerships, no âmbito da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” e em parceria com a OMS.

“Espera-se que esta parceria melhore a qualidade dos serviços de saúde em Timor-Leste, promova a qualificação das instituições e do pessoal de saúde locais e aprofunde a cooperação com os países de língua portuguesa na área da saúde”, declarou então Alexis Tam.

Macau prevê investir neste projecto cerca de um milhão de dólares. Lançado pela OMS em 2009, o programa tem como objectivo ajudar países menos desenvolvidos a melhorar a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde, através da partilha de experiências e apoio técnico de parceiros geminados.

Neste sentido, as autoridades do território vão ajudar Timor-Leste, que “ainda não tem um projecto sustentável na área da saúde”, a criar “um regime de medicina geral e a aperfeiçoar o mecanismo de prevenção de doenças”, segundo o director dos Serviços de Saúde de Macau.

23 Mai 2019

Da identidade dos Macaenses e de outros portugueses do Oriente

[dropcap]R[/dropcap]eflectindo quanto baste, parece poder concluir-se que:

Não rendem votos aos partidos políticos portugueses, nem remessas de divisas, como as provenientes dos lucrativos emigrantes portugueses na Europa, no Continente Americano, na Austrália e na Nova Zelândia. Em consequência: não há espaço num departamento governamental semelhante àquele que os sucessivos governos nunca se esquecem de ter: uma Secretaria de Estado para a Emigração ou dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, conforme a semântica política mais ao gosto de cada maioria parlamentar. Nem cabem aí.

Não proporcionam negócios, nem representam quota de mercado nas exportações portuguesas. Em consequência: não há espaço num departamento governamental semelhante aos que se dedicam à cooperação com a África ou a Europa. Nem cabem aí.

Não proporcionam receitas ao Fisco e à Segurança Social portuguesa, nem a sua força de trabalho está à disposição de empresários portugueses. Em consequência: não há espaço em estruturas do tipo Alto Comissariado para as Minorias Étnicas e Imigração. Nem cabem aí.

Na estrutura do Governo e da Administração em Portugal não existe espaço nem atenção para as Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente. Porque elas não são lucrativas para os cofres do Estado. Porque o Estado se habituou à vida fácil de, por lei ou por medidas administrativas, sobrecarregar os contribuintes com impostos e taxas que sucessivos (des)governos vão dissipando, em alegre paralisia ante a eurodestruição da economia portuguesa.

Por outro lado, ex-ricas instituições privadas de utilidade pública, criadas à custa de muito dinheiro levado de Macau para Portugal, em condições que não dignificaram o País e que, em princípio, deveriam prestar atenção às Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente – saber onde estão, quantos são, que carências têm e as potencialidades que nelas existem – encaram as poucas de cuja existência vagamente sabem, como criaturas interessantes a que, de vez em quando, se dão uns “amendoins” com o afecto próprio do visitante de uma aldeia de macacos num qualquer jardim zoológico.

A Universidade de S. José, em Macau, herdeira do património espiritual do glorioso Padroado Português do Oriente, ingloriamente desaparecido, que gerou espiritualmente as Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente, terá uma palavra a dizer, um tempo para sobre elas reflectir e um espaço institucional para elas? Fiz esta pergunta na comunicação que apresentei, em Fevereiro de 2011, na Conferência “A Lusofonia entre Encruzilhadas Culturais”, organizada, precisamente, pela Universidade de S. José… Parece não ser assunto que interesse. O seu objectivo mais importante, parece, é ser reconhecida como universidade chinesa…

As Missões Portuguesas nos Estreitos, Malaca e Singapura, deixaram de existir em 1 de Julho de 1981, na sequência dos acordos celebrados entre o Bispo de Macau, D. Arquimínio da Costa, e os Bispos James Soorn Ceong, de Malaka-Johor, e Gregory Yong Soon Nghean, Arcebispo de Singapura, em 26 de Julho de 1977 e ratificados por decreto da Santa Sé, de 27 de Maio de 1981.

A Missão Portuguesa de Malaca, desde a concordata de 23 de Junho de 1886, estava sujeita à dupla jurisdição exercida pelo Bispo de Macau e pelo Bispo de Malaca e incluía as igrejas de S. Pedro e de N. Senhora da Assunção e outras capelas. A Igreja de S. Pedro manteve as suas funções de Igreja paroquial e os seus padres continuaram a servi-las sob a autoridade do Bispo de Malaca, enquanto o Bispo de Macau o permitisse. Morreram os Padres Augusto Sendirn e Manuel Pintado, últimos missionários portugueses em Malaca.

A Missão Portuguesa de Singapura compreendia a Igreja Paroquial de S. José que dependia do Bispo de Macau. Enquanto paróquia deixou de existir passando às funções de simples igreja de devoção e os seus padres continuaram a servi-la – padres Francisco António Bata e João Guterres. O sustento e as despesas destes padres continuaram sob a responsabilidade do Bispo de Macau.

Os bens – imóveis e móveis – da Igreja de S. José continuaram a pertencer-lhe, sendo administrados pelo respectivo Reitor e sob controlo do Arcebispo de Singapura, enquanto o Bispo de Macau continuasse a enviar missionários. Quando isto deixasse de se verificar, seria realizado um acordo sobre a transferência civil desses bens. As outras propriedades pertencentes à Missão Portuguesa (Comission for the Administraüon of the States of Portuguese Mission in China) não entraram neste Acordo.

A Diocese de Macau foi, portanto, o último reduto do Padroado Português do Oriente. Não esteve, o Senhor Bispo D. José Lai, na disposição de convidar os bispos das dioceses onde vivem as Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente para uma conferência em que se desse início ao trabalho de unir as pontas desta teia cuja destruição teve início com o corte das relações diplomáticas por iniciativa do Governo liberal português em 1833 e a extinção das ordens religiosas, por decreto de 31 de Maio de 1834.

Agora é tarde. Macau tem um Bispo estranho à Igreja de Macau. Provavelmente, para preparar a sua transformação em paróquia de Hong Kong ou de Cantão. Estabelecida como Diocese em 1576, uma das maiores dioceses do Mundo em área territorial, dela nasceram as dioceses de Funai-Nagasaki (1588), Nanjing (1658), Hanoi (1659), Hong Kong (1841), Guangdong-Guangxi (1848), Dili (1940), Malaca-Johor (1981).

As Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente são comunidades de portugueses excluídos, apesar do seu forte sentimento de pertença a Portugal, da sua fidelidade secular à Religião Católica e do seu património linguístico – o crioulo – a que chamam “Portugis”.

Ainda assim – ou talvez por isso mesmo – estão excluídas da Lusofonia.

Mas o desconsolo maior, excluídos da Lusofonia somos todos nós. Porque apesar do denominador comum que é a Língua Portuguesa, padrão ou crioula, enquanto estivermos privados da liberdade básica de todas as outras que é o direito de estar e de ir de um lado para o outro, “jus manendi, ambulandi eunde ultro citroque”, a CPLP pode ser tudo o que quiserem. Não é de certeza uma Comunidade inclusiva de povos livres de circularem no espaço que se diz pertencer-lhes.

5. O fenómeno colonial e as “fonias”

O fenómeno colonial, na sua formulação pura e dura, consistiu na validação entre as potências coloniais dos seus interesses de exploração em África. Formalmente assumida no Acto Geral da Conferência de Berlim, em 1885. Aí, muito antes de Shengen, Portugal viu-se forçado a aderir ao discurso europeu. A ocupação efectiva dos territórios africanos vinha ao arrepio da sua própria tradição e muito para além da sua capacidade económica, social e militar.

O anticolonialismo do Século XX e a descolonização foi um facto sem precedentes na História da Expansão Europeia. Centrou-se no objectivo impreterível de reconquista da Soberania pelos povos colonizados.

O Século XIX assistira à secessão das colónias americanas dos respectivos países ibéricos. O Século XVIII assistira à independência das colónias inglesas da América do Norte. À excepção do Canadá. Para aí se deslocaram os colonos que preferiram manter-se leais à Coroa Britânica. Ficaram conhecidos por United Empire Loyalists.

A independência das colónias americanas foi um fenómeno “sui generis”. Os respectivos territórios não foram restituídos aos seus povos originários. Foram entregues aos europeus e seus descendentes que aí se tinham estabelecido.

A descolonização dos Séculos XVIII e XIX constituiu, portanto, o resultado da secessão de interesses em conflito. Que opunham europeus geograficamente separados pelo Atlântico. Mas unidos pela mesma cultura e pela mesma língua.

O Século XVII tinha sido a época de consolidação de uma nova ordem europeia no domínio do Mundo. O seu exclusivo, ditado em Tordesilhas, deixou de pertencer aos países ibéricos. Foi derrubado e substituído por holandeses, ingleses e franceses, em várias partes.

A abertura dos mares à navegação de outros países europeus, resultou da acção da Reforma iniciada com Martim Lutero. Reforma que levou ao esvaziamento do poder central europeu pela autoridade pontifícia romana que vigorava desde a queda do Império Romano.

A Lusofonia como, aliás, a Francofonia, a Hispanofonia e a Anglofonia, são espaços que radicam no fenómeno colonial. Assentam no uso da língua do ex-colonizador como cimento aglutinador.

No interior das antigas colónias; nas relações entre elas; e com as metrópoles do passado.
Em tais espaços, procura-se decantar a História de episódios de força e opressão; transformar em amigos, anteriores inimigos; substituir a violência pretérita pelo diálogo; suprir a antiga exploração pela moderna cooperação.

Ao contrário das teses que sustentam que tais espaços existem para manter o espírito colonial, parece que no seu estádio actual eles serão pouco mais do que áreas de catarse ou expiação.

E não parece que possam ir mais além, pelos fortes compromissos existentes entre os ex-países colonizadores, no seio da União Europeia. Compromissos que inviabilizam irremediavelmente a sua participação plena em qualquer outra “Comunidade de Povos”. O Acordo de Shengen inviabiliza qualquer expectativa de livre circulação de cidadãos das antigas colónias no território das antigas metrópoles. Apesar de pertencerem à mesma comunidade linguística – anglófona, francófona hispanófona ou lusófona.

6. Portugueses em Macau

A historiografia de Macau não é unânime quanto à data do estabelecimento dos portugueses neste minúsculo porto do sul da China. Existe uma variação entre os anos de 1549 e 1557.

Os portugueses que se estabeleceram em Macau, no início e ao longo dos séculos, não foram apenas os nascidos no território europeu de Portugal, mas também portugueses euro-asiáticos, asiáticos convertidos à religião católica, euro-africanos e africanos. Estes, na documentação primária, são denominados “cafres”, frequentemente.

Essa teia de portugueses que se identificam como “portugis” ou “cristang” localizam-se: na Índia: Diu, Damão, Dadrá, Nagar-Aveli, Goa, Korlai, Mangalore, Cananor, Mahé, Cochim, Bombaim, Negappattinam; no Sri Lanka: Batticaloa, Trincomalee e Puttalam; na Indonésia: Bali, Java, [Tugu e Brestagi], perto de Djacarta, Ilha de Flores [Larantuka e Sikka], Ilhas de Ternate e Tidore; na Malásia: Alor Star, Penang, Perak, Kuala Lumpur, Seremban e Johor Baru]; em Singapura; na Tailândia [Bangkok]; no Bangladesh: Chittagong e Daca; em Mianmar [Sirião].

O destino dos macaenses foi diferente do dos portugueses da Indonésia, da Malásia e do Sri Lanka, por terem defendido a sua terra, pela força das armas, contra várias tentativas de invasão e ocupação pelos holandeses, desde 1603, nomeadamente, pela “Retumbante vitória definitiva alcançada por Macau sobre os holandeses comandados por Kornelis Reyerszoom que, com 14 navios e 800 homens, pretendeu tomar a cidade. O inimigo foi completamente desbaratado ante o indómito esforço dos macaenses, capitaneados pelo denodado herói Lopo Sarmento de Carvalho. Colaboração do Pe. Rho S.J. (de passagem em Macau) a partir da Fortaleza do Monte, e protecção do Santo do Dia, S. João Baptista, em 24 de Junho de 1622 (Cfr. Beatriz Basto da Silva : Cronologia da História de Macau).

Os Macaenses

Os descendentes dos portugueses, nascidos em Macau e, posteriormente, na diáspora macaense, são os macaenses.

Macaense é o euro-asiático de ascendência portuguesa nascido em Macau.

O conceito de Macaense contém três elementos:
– Origem étnica mista: europeia e asiática;
– Ascendência portuguesa;
– Macau e a diáspora Macaense como local de nascimento: Hong Kong, Xangai, Tianjin, Bangkok e, mais recentemente, Austrália, Canadá, Brasil, E. U. América e Portugal.

A independência dos territórios ultramarinos de Portugal, a perda da nacionalidade portuguesa comum dos seus naturais (DL 308-A/75, de 25 de Junho) e a emergência de novas nacionalidades em cada um deles, parece tornar obsoleto o elemento “ascendência portuguesa”, no conceito de macaense. A substituição de “ascendência portuguesa” por “ascendência lusófona” é inviável por não preencher relações de parentesco e por excluir boa parte das populações dos países de língua oficial portuguesa que não falam português.

Por outro lado, durante várias décadas, ao longo do séc. XX, os contingentes de tropa africana em Macau, provenientes de Angola, Moçambique e Guiné, deixaram descendência, exclusiva ou principalmente, com mulheres chinesas, de que julgo não existirem registos. De tais descendentes, de homem africano com mulher chinesa, não há notícia de terem beneficiado do estatuto de macaense. Conheci de vista uma mulher, filha de mãe chinesa e pai africano (Landim, de Moçambique), que era “criada de servir”. Desses sino-africanos ou afro-chineses, cujo número se desconhece, não há notícia de nenhum ter recebido o estatuto social de macaense.

(continua)

23 Mai 2019

ID sem informação de jogo entre Inter de Milão e PSG, mas não recusa hipótese

[dropcap]O[/dropcap] Instituto do Desporto (ID) reafirma que ainda não recebeu qualquer pedido para disponibilizar o Estádio de Macau para um encontro entre Inter de Milão e PSG, mas não fecha as portas ao evento. As declarações foram prestadas ontem por Pun Weng Kun, presidente do Instituto do Desporto, à margem da cerimónia de assinatura do contrato de patrocínio para o Grande Prémio de Macau.

“Na sociedade houve notícias a dizer que duas equipas de renome vão jogar em Macau. Até ao momento o Instituto do Desporto não recebeu qualquer requerimento para ceder o Estádio para a realização do jogo”, começou por explicar o presidente do ID.

“Se organizadores pretenderem vir a Macau, independentemente de serem locais ou de fora, não vamos recusá-los. Mas antes de anunciarem que vão realizar actividades, têm de ponderar se haverá disponibilidade das instalações e se o território oferece os requisitos mínimos para os eventos ou actividades”, acrescentou.

De acordo com o anúncio dos organizadores da partida, o grupo Kaisa Culture & Sports, de Shenzhen, o encontro vai acontecer em Macau, a 27 de Junho. No entanto, o ID nega ter sido contactado. Neste momento, falta pouco mais de um mês para a data do alegado encontro.

“Tendo em conta que o ID tem de se preparar para ceder as instalações, os pedidos têm de ser feitos com uma antecedência entre um a dois meses antes do evento ou actividade”, explicou sobre o processo. “Também temos de ver as situações concretas para saber se temos as condições para esses eventos. Mas estamos sempre de porta aberta para ceder pavilhões, piscinas, estádios.

Os eventos são bem-vindos e sabemos que também podemos beneficiar destas actividades”, sublinhou. Em relação ao encontro entre Southampton e Guanzhou R&F, que está agendado para 23 de Julho, e que vai celebrar os 20 anos da criação da RAEM, Pun Weng Kun diz que a preparação está a correr dentro da normalidade. “Já anunciámos, tanto o Instituto do Desporto como a Associação de Futebol de Macau, que haverá um jogo entre o Southampton e o Guanzhou R&F. Estamos na fase preparatória”, afirmou.

23 Mai 2019

Grande Prémio | Orçamento aumenta 50 milhões de patacas

A Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau aposta num orçamento de 270 milhões de patacas para o evento deste ano. Ontem foi avançada a confirmação de que a prova de Fórmula 3 vai ser realizada com o novo monolugar da categoria

 

[dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do Grande Prémio de Macau vai ter um orçamento de 270 milhões de patacas, um aumento de 50 milhões face ao ano passado. Os valores foram revelados ontem por Pun Weng Kun, coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau (COGPM). Em 2018 o orçamento tinha sido de 220 milhões de patacas, o que significa que há um crescimento de 22,7 por cento.

“Nos últimos três anos, desde que o Grande Prémio passou para o Instituto do Desporto, o orçamento rondou os 220 milhões de patacas. Tentámos sempre manter esse orçamento [220 milhões], mas este ano prevemos um orçamento de 270 milhões de patacas”, disse Pun Weng Kun.

No ano passado o responsável já tinha antevisto uma subida dos custos não só para acompanhar a inflação, mas também para fazer melhorias no traçado e cobrir custos de manutenção dos equipamentos.

Este ano o Grande Prémio de Macau volta a receber seis provas: a corrida de Fórmula 3, Taça GT de Macau, Corrida da Guia, que conta para Taça do Mundo de Carros de Turismo (WTCR), Taça de Carros de Turismo de Macau, Corrida da Grande Baía e ainda a prova para as motos.

No que diz respeito à prova de Fórmula 3, está confirmada a presença do modelo mais recente da categoria, que tem motores com mais 140 cavalos do que os anteriores, além de uma maior dimensão.

“A FIA [Federação Internacional de Automobilismo] tem um novo modelo de carros e claro que pretende que Macau utilize o novo modelo no Circuito da Guia. Os técnicos da FIA já visitaram o circuito para fazerem uma análise sobre a viabilidade de estes carros competirem neste circuito”, revelou. “Vamos fazer os ajustamentos conforme as exigências da FIA. Não só nas curvas, mas em diferentes pontos na Guia”, acrescentou.

Patrocínio também cresce

Além do orçamento, também o valor do patrocínio principal foi aumentado. A empresa promotora do jogo Suncity subiu a parada dos 20 milhões de patacas do ano passado para 25 milhões, ou seja, houve um aumento de 25 por cento.

A cerimónia de assinatura do novo contrato de publicidade decorreu ontem no Centro de Ciência de Macau. Ainda à margem do evento, Pun Weng Kun revelou que a preparação da prova, que se realiza entre 14 e 17 de Novembro, está a decorrer dentro da normalidade. “A preparação está a decorrer até ao momento de forma ideal e estamos a cumprir a calendarização da nossa agenda”, apontou Pun. “Creio que as corridas vão permitir atrair vários pilotos conhecidos a Macau e acredito que muitos, locais e do estrangeiro, já estão entusiasmados com a possibilidade de correrem em Macau”, frisou.

23 Mai 2019

Profissão de fé

[dropcap]”A[/dropcap]os cento e dez anos de idade, cada ponto, cada linha que eu traçar vibrará de vida», previa o pintor japonês Hokusai no posfácio às suas Cem Vistas do Monte Fugi, e tenho para mim que ele tinha razão.

A obsessão da juventude, um dos efeitos que as obras de Mozart e Rimbaud imprimiram no sulco do modernismo, contaminou a sociedade de massas, impulso que depois o cinema converteria em “identificação com a luxúria de ser novo”. O rock e a contracultura consolidaram o mito da (eterna) juventude a que foi emprestado até um cunho fáustico; a hipótese de fazer “um pacto satânico”, em troca de um sucesso rápido, levanta como promessa saltar-se sobre várias etapas da vida, a longa duração a que a experiência obrigaria.

Hoje, os resultados desta «pressa em arder» são o mais das vezes frívolos, embora continue a haver quem logre grandes conseguimentos numa curta existência e, no domínio do rock, bastar-nos-ia a Amy Winehouse. Na generalidade, passa-se o contrário. A grande liberdade dos últimos Picassos ou de Rembrandt, o solto negrume de Goya na Casa do Surdo, os últimos quartetos de Beethoven, a qualidade de presença dos últimos desenhos de Hokusai, a qualidade iniludível dos últimos livros de Vicente Aleixandre, Mario Luzi, Seifert ou de Armando Silva Carvalho, a insofismável grandeza dos últimos vinte anos da carreira de Saramago. convidam-nos a encarar a idade como um delta que vai alargando o seu caudal (a isso exige a sua maior sedimentação) e não como uma espera em cujas ramagens se esgarçam os pássaros do outono. Em todos estes casos, quanto mais velhos mais jovens.

Tudo o que assinei até aos 38 anos, livros, argumentos de filmes, artigos, vogava ainda na lassidão imatura de quem crê pertencer a um circo imputrescível, tendo o nosso trapézio uma barra de ouro. Tolices. Retirei tudo da tábua bibliográfica.

É só pelo desapego que nos apercebemos que, na arte, não é a cola que faz a colagem. Esta é uma ilusão de todas as gerações. Outra: a que a expressividade tem de ter brilho. Com a idade começamos a almejar os “poucos recursos” do Harpo Marx, a inteligência da sua mudez. Menos palavras, mais densidade.

Afinal, não é tanto a literatura que interessa como descobrir que janelas abre a palavra para outro tipo de realidade; da mesma forma, o que nos transforma não é o que fazemos com o tempo (qualquer nababo endinheirado encontrará formas de despender o seu tempo) mas o indefinível movimento de dilatar o tempo. A poesia, a pintura, convocam a realidade, i. é, podem, num acto de reversão, exercer uma influência sobre o real, são operativas. Conta Simon Leys: «um cavalo dos estábulos imperiais de que Han Gan tinha sido encarregado de fazer o retrato pôs-se a coxear depois do artista se ter esquecido de pintar um dos seus cascos».

O bordado, o ronrom da literatura, não fica fora da agenda (estamos viciados nela) mas começa a atrair-nos os seus intervalos, onde, com sorte, desatamos a desempalhá-la. Pelo motivo que registou Bachelard: «A poesia é um dos destinos da palavra». Daí que a poesia seja imorredoura enquanto houver linguagem. Minimizar a poesia, querer reduzi-la à irrelevância, expõe na palavra a sua sombra em carne viva; só a poesia cura a palavra da funcionalidade e lhe dá ventilação. Sem a poesia, a palavra é um quarto carcomido pelo bolor, onde não chega a luz. A palavra tende a fossilizar, a poesia age como o emoliente que restitui a mobilidade às suas articulações. E, a ser sério, cada poeta será sobretudo «um investigador em poesia», mais do que uma personalidade poética.

O essencial, de facto, foi dito por Hokusai:

«Desenhava desde a idade dos seis anos toda a espécie de coisas, e a partir dos cinquenta os meus trabalhos foram frequentemente publicados. Mas até aos setenta anos eu não fiz nada que mereça verdadeiramente atenção. Não foi senão com setenta e três anos que comecei a compreender um pouco do crescimento das plantas e das árvores, a estrutura dos pássaros, dos animais, dos insectos e dos peixes. Aos oitenta anos, espero ter progredido nesta via e aos noventa poder penetrar até ao princípio latente das coisas, de maneira que aos cem anos tenha atingido na minha arte um nível maravilhoso. Aos cento e dez anos, cada ponto, cada linha que eu traçar vibrará de vida».

Na véspera dos oitenta anos, quando Hokusai desenhava uma mosca, no fundo só usava os dizeres da natureza – imitava. E pedia que o destino lhe desse mais dez anos para conseguir incubar na mosca o voo. Ou seja: toda a vida Hokusai desconfiou do seu primeiro esquisso. Mesmo já tendo direito a ele, pediu dez anos mais.

O traço justo ou a palavra justa, como lembra Júlio Pomar (e quando é que os poetas começarão a reivindicar este tremendo escritor?), não significa a justeza de um decalque mas o que “destapa” na forma um novo tipo de relação, seja a de uma imagem que de repente pulsa (a descolagem da mosca) ou a de uma palavra que desencadeou na frase uma corrente de ar.
Isto só se adquire depois de décadas a praticar, não é dado: é conquistado. Pior, durante o nosso trajecto de criadores, ensina-nos Matisse: «as regras, todos os ensinamentos colhidos no Louvre (da arte ou da vida), estão para o pintor como os flutuadores para o hidroavião: durante o voo a inutilidade deles é nula». Todavia, será vão querer ensinar ou transmitir isto – é preciso aprender para depois desaprender e essa experiência é indelegável, sendo isso que faz de cada uma um valor único.

Entretanto, di-lo o poeta sírio Adonis, o vento lê a rosas que o perfume escreveu.

23 Mai 2019