Sofia Margarida Mota SociedadeSalário mínimo | DSAL diz que exclusão de empregadas domésticas reúne consenso social As recomendações da Organização Internacional do Trabalho no sentido da inclusão das trabalhadoras domésticas na lei do salário mínimo universal não são relevantes para Macau, afirmou ontem a subdirectora da DSAL. Para a responsável, o mais importante é que a decisão do Governo vá de encontro à vontade da população, disse Ng Wai Han, no programa Macau Fórum [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) considera que as críticas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) pela exclusão das empregadas domésticas na proposta de salário mínimo universal, não se aplicam a Macau. A ideia foi defendida ontem pela subdirectora dos Serviços para os Assuntos Laborais, Ng Wai Han, no Macau Fórum. “Nós respeitamos todas as recomendações e opiniões da OIT”, disse, acrescentando que “neste momento a criação da lei do salário mínimo respeita a lei de Macau”. De acordo com a responsável, a decisão de exclusão desta faixa de trabalhadores foi ao encontro da vontade social, uma vez que foi tomada depois de auscultar a população. “Depois de ouvir as opiniões da consulta pública decidimos não incluir estes trabalhadores na lei”, apontou. De acordo com Ng, as convenções da OIT não se aplicam ao território. Por outro lado, e apesar do salário mínimo não ser aplicável aos trabalhadores domésticos, a DSAL promete tomar medidas de protecção para estes profissionais e “vai ter em conta o salário proposto”. “Actualmente, a média da remuneração dos trabalhadores domésticos é de 4100 patacas e o subsídio de alojamento é pago à parte, mostrando que o mercado laboral mantém uma segurança básica nos rendimentos dos trabalhadores domésticos”, referiu, apontando que “mesmo que a lei do salário mínimo não seja aplicada a esta população, não quer dizer que eles não tenham nenhuma garantia salarial”. Ilegais ocultos O combate do Governo aos trabalhadores ilegais tem sido pouco eficaz, admitiu Ng Wai Han, referindo que uma das grande dificuldades é conseguir comprovar este tipo de infracção, uma vez que “é difícil para as autoridades recolher provas”. Para que esta situação seja ultrapassada, Ng apelou à ajuda da população no sentido de denunciar as situações suspeitas de trabalho ilegal com o maior número de detalhes possível de modo a “aumentar o sucesso das operações”. Em 2015, o número de trabalhadores ilegais era de 1200. No ano passado, o número caiu para 800 pessoas nesta situação, tendo as autoridades procedido a 300 inspecções. Ng Wai Han disse ainda que a DSAL vai manter os mecanismos de troca de informações e as operações conjuntas com os agentes de Corpo de Polícia de Segurança Pública, com a Polícia Judiciária e com outras entidades envolvidas. Entretanto, o Governo admitiu anda não ter conhecimento dos conteúdos do estudo que encomendou para avaliar a viabilidade da criação da lei sindical, apesar dos resultados já se encontrarem, há cerca de dois meses, no Conselho Permanente de Concertação Social.
Sofia Margarida Mota SociedadeTerras | Governo recupera parcela no Porto Exterior [dropcap]O[/dropcap] Governo recuperou um terreno, cedido por arrendamento à sociedade Good Harvest-Comércio e Fomento Predial, na Zona de Aterros do Porto Exterior – ZAPE. De acordo com um despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, publicado ontem em Boletim Oficial, a parcela, junto ao Jai Alai tem uma área de 2 782 m2 estava destinado a habitação com a construção de um edifício de 22 pisos – duas torres assentes sobre um pódio com 4 pisos, dois dos quais em cave destinada às finalidades de habitação, comércio e estacionamento. No entanto, a empresa concessionária não cumpriu com os objectivos estabelecidos e não aproveitou o terreno dentro do prazo estipulado pelo Executivo. O despacho de caducidade foi emitido pelo Chefe do Executivo a 19 de Julho e a sociedade tem agora 15 dias para reclamar da decisão. Também na área dos terrenos, um outro despacho de Raimundo do Rosário aponta a cedência gratuita ao Governo, “livre de quaisquer ónus ou encargos” de uma parcela com 944 m2, e uma terra contígua, com a área de 4 m2, para ser anexada, ambas destinadas a manter o «Mercado Municipal da Taipa». A parte remanescente do terreno, com a área de 80 m2, destina-se a via pública.
João Luz SociedadeJustiça | Cunhada de Stanley Ho absolvida em caso de suborno Cheyenne Chan, cunhada de Stanley Ho, e Wilson Fung, antigo vice-secretário do Governo de Hong Kong, foram absolvidos dos crimes de suborno, num processo que implica concursos públicos, um romance extraconjugal e uma entrada choruda para a compra de um apartamento. Fung foi condenado por conduta imprópria [dropcap]A[/dropcap] empresária de Macau Cheyenne Chan, cunhada do magnata Stanley Ho, foi absolvida num processo em que era acusada de subornar um antigo vice-secretário da tutela do trabalho e desenvolvimento económico. O ex-governante, Wilson Fung, foi, no entanto, condenado por conduta imprópria em cargo público por não ter declarado o óbvio conflito de interesses ao Executivo. Fung, de 55 anos, foi absolvido do crime de aceitar suborno enquanto titular de cargo público. O processo teve como foco um apartamento nos Mid-Levels em Central, comprado há 15 anos pelo ex-governante da região vizinha, para o qual a empresária de Macau Cheyenne Chan, 63 anos, contribuiu com a entrada no valor de 510 mil HKD. A aquisição do imóvel aconteceu quando Wilson Fung estava no ponto mais alto da sua carreira no Executivo de Hong Kong e tinha a seu cargo decisões importantes relacionadas com direitos de tráfego aéreo e políticas da área da aviação, entre Abril de 2003 e Julho de 2006. Segundo o South China Morning Post, o tribunal deu como provado que Fung aceitou os 510 mil HKD a 28 de Setembro de 2004, enquanto aceitou candidaturas de companhias detidas por Cheyenne Chan, que incluíam propostas para contratos com o HK Express (comboio que liga Central ao Aeroporto de Hong Kong), e para novas rotas aéreas com destino a Guangzhou e Shenzhen. A empresária de Macau era proprietária de uma empresa de helicópteros. De perdição No momento da leitura da sentença, de acordo com o South China Morning Post, ao ouvir que tinha sido absolvido de receber suborno, Fung humedeceu os lábios, enquando Chan agradeceu à equipa de advogados. De seguida, os arguidos trocaram um sorriso. A cumplicidade entre Cheyenne Chan e Wilson Fung foi um dos temas abordados ao longo do processo, com a revelação de que ambos mantiveram uma relação extraconjugal entre Dezembro de 2003 e Abril de 2016. O juiz considerou também a hipótese de o casal de amantes ter acordado que o pagamento da entrada para o apartamento serviria de recompensa dos lucros que Fung ajudou Chan a obter numa transacção imobiliária. O argumento da defesa eliminava a acusação dos 510 mil HKD terem sido pagos em relação às funções públicas de Fung. O caso veio a lume depois de um jornal local ter revelado que a esposa de Wilson Fung, que é hoje em dia a número dois da secretaria dos Assuntos Internos do Governo de Hong Kong, teria permutado imóveis com uma empresa de Cheyenne Chan. Um deputado pró-democrata denunciou o caso ao organismo da região vizinha equivalente ao Comissariado contra a Corrupção. O legislador acabaria por ser condenado a quatro meses de prisão por quebra do segredo de justiça.
Juana Ng Cen PolíticaHo Iat Seng recebido na Associação Geral Mulheres de Macau [dropcap]O[/dropcap] único candidato a Chefe do Executivo reuniu ontem com a Associação Geral Mulheres de Macau (AGMM). A presidente do Conselho Executivo da associação, Lam Un Mui, no encontro com Ho Iat Seng, expressou sua expectativa nas políticas públicas do próximo Governo da RAEM no sentido de serem implementadas mais medidas para apoiar a construção de uma família harmoniosa. Acerca da igualdade entre os dois géneros, Ho Iat Seng disse que Macau já é muito justo nas medidas para homens e mulheres, mesmo no mercado laboral. Porém, como as mulheres têm mais tarefas em casa, como a criação dos filhos e o trabalho doméstico, talvez isso conduza a menor disponibilidade em comparação com os homens no local de trabalho. Ho Iat Seng disse que, neste momento, na Assembleia Legislativa há 6 deputadas, e que no Comité Permanente da Assembleia Popular, se exige uma proporção de, pelo menos, um terço de membros do sexo feminino. No que diz respeito a estatuir um tempo de amamentação, o candidato disse que não tem conhecimento profundo sobre o tema, mas que é uma situação à qual se deve prestar atenção pela possibilidade de contribuir para o aumento da taxa de natalidade. Sobre o subsídio de nascimento aos trabalhadores, Ho Iat Seng disse que em Macau há muitas famílias em que ambos os cônjuges trabalham, e que há muitos problemas que provocam pressão psicológica nos casais, como a tendência de casamentos arranjados, o pouco tempo para estarem juntos devido à carga horária de trabalho, que podem levar a conflitos que, por certo, contribuem para a elevada taxa de divórcio. Como tal, “muitos consideram que criar filhos pode trazer muitos problemas e preferem ter um animal de estimação”, frisou o candidato. Quanto à diminuição de imposto para aliviar os encargos das famílias numerosas, o candidato afirmou que Macau é um lugar de baixos impostos, uma situação diferente do que acontece em países de Europa que têm capacidade de efectuar reembolso fiscal e proporcionar subsídios com o imposto recebido. O candidato referiu ainda que é difícil passar a responsabilidade social para as empresas locais, e espera que a questão do nascimento possa ser decidida subjectivamente por cada grupo familiar.
Andreia Sofia Silva PolíticaEleições | Leonel Alves defendeu separação da provedoria de justiça do CCAC Ho Iat Seng reuniu ontem com membros da comunidade lusófona no âmbito da campanha para as eleições do Chefe do Executivo. José Pereira Coutinho foi um dos presentes e disse que Leonel Alves propôs a separação da provedoria de justiça do Comissariado contra a Corrupção. A necessidade de mais bilingues e a preservação de Coloane também foram abordados [dropcap]U[/dropcap]m total de onze membros do Colégio Eleitoral que vai escolher o próximo Chefe do Executivo, e que também pertencem às comunidades portuguesa e macaense, reuniu ontem com o único candidato nestas eleições, Ho Iat Seng. José Pereira Coutinho esteve presente, mas optou por não falar, pois quis dar a oportunidade a outros participantes. Um deles foi o ex-deputado e advogado Leonel Alves, que defendeu que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) não deve continuar a ter funções de provedor da justiça. “Ele referiu que muitas pessoas não apresentam queixas na Provedoria da Justiça pois pensam que apresentam queixas no CCAC. Na Assembleia Legislativa sempre defendi que a Provedoria de Justiça deveria ser separada do CCAC, e o próprio Ho Iat Seng concordou com essa ideia”, disse Pereira Coutinho. O HM tentou chegar à fala com Leonel Alves, mas não foi possível estabelecer contacto. Apesar de ser conselheiro das comunidades portuguesas, Pereira Coutinho optou por não falar de eventuais problemas sentidos pelos portugueses radicados em Macau. “Esses problemas tenho-os transmitido nos últimos 20 anos, nos encontros com o Chefe do Executivo. Quis deixar que os outros falassem.” Preservar Coloane Outra das figuras presentes foi Casimiro Pinto, secretário-geral adjunto do Fórum Macau, que falou da importância de formar mais quadros bilingues. “Macau tem um papel de plataforma e acho que é extremamente importante continuar a reforçar o ensino das línguas chinesas e portuguesa e formar bilingues, não apenas para desempenhar funções como intérpretes-tradutores, mas também como intermediários na área jurídica ou do comércio”, disse ao HM. Ho Iat Seng “mostrou abertura” perante a ideia, uma vez que, na sua campanha, já realizou visitas a várias escolas do território. “Ele concordou que é importante o ensino de línguas desde a infância e que este é um trabalho contínuo e importante”, acrescentou Casimiro Pinto, que espera mais encontros do género além do período de campanha eleitoral. O arquitecto Carlos Marreiros também marcou presença e falou da importância de preservar Coloane enquanto último pulmão da cidade. “Preocupei-me com Macau no geral, falei do plano director do território e da manutenção da ilha de Coloane como um dos pulmões da cidade. Deve existir um plano que não permita edifícios com mais de dois a três metros de altura com uma arquitectura integrada.” Além disso, o arquitecto defendeu o uso de energias renováveis e de águas pluviais para a irrigação dos parques. “São coisas que não custam muito e que são difíceis de implementar na península de Macau, mas nos novos aterros e nas ilhas é possível”, rematou.
João Luz Manchete PolíticaCidadão anónimo convoca vigília no Leal Senado contra a violência policial em Hong Kong [dropcap]O[/dropcap]ntem de manhã começou a circular nas redes sociais um cartaz a convocar os residentes para uma vigília silenciosa contra a violência policial em Hong Kong. A realizar-se, a vigília terá lugar no Leal Senado, na próxima segunda-feira, a partir das 20h. O Corpo de Polícia de Segurança Pública confirmou ter recebido o pedido de manifestação ontem por volta das 15h30. Até à hora do fecho da edição, as autoridades policiais ainda não tinham revelado se vão permitir ou recusar o pedido. Além do cartaz ser anónimo, sem referência a qualquer associação local, a mensagem em cantonês sublinha que a vigília tem fins pacíficos, é uma manifestação razoável e racional face ao que se passa na região vizinha. Outro aspecto mencionado é que apesar das posições políticas de cada um, a favor ou contra a lei da extradição, ou com uma visão positiva ou negativa sobre a actuação do Governo de Carrie Lam, a violência policial deve ser condenada por todos. A publicação levantou alguma polémica e troca de comentários mais acesos e motivou até um contra-cartaz. Depois do meio-dia de ontem, outra publicação passou a circular nas redes sociais com um carimbo a dizer “rejeitar” em cima do cartaz original. Na publicação que rejeita a vigília, alguns internautas comentaram que o protesto só trará confusão a Macau e que será essa a intenção. Em resposta, houve quem argumentasse que se uma vigília silenciosa tem capacidade para desequilibrar a harmonia local, então a estabilidade política e social de Macau é mais frágil do que parece. Foi também lembrado a quem se opôs à realização de um protesto contra a violência policial em Hong Kong que a Lei Básica garante aos residentes “liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação”. Sulu Sou por arrasto À medida que o cartaz se tornava viral, passou também a ser difundido um rumor de que Sulu Sou estaria por trás da vigília, acompanhado por uma foto com o pró-democrata a distribuir panfletos. O deputado viu-se forçado a publicar na sua página de Facebook um desmentido, negando qualquer envolvimento pessoal e da Associação Novo Macau na vigília, assim como o conhecimento da identidade do autor do cartaz. “Um grupo de WeChat está a dizer que distribuí panfletos esta manhã na zona da Praia do Manduco a propósito de uma vigília a realizar no dia 19 de Agosto sobre a situação de Hong Kong. Venho por este meio declarar que isto é um rumor, uma ficção, e que não tem nada a ver comigo ou com a Novo Macau”, referiu o pró-democrata. O deputado esclareceu que a foto em que aparece a distribuir panfletos foi tirada numa acção de divulgação do referendo que a Nova Macau está a promover sobre o sufrágio universal para o cargo de Chefe do Executivo. No entanto, Sulu Sou recorda que os cidadãos de Macau têm todo o direito a expressar as suas opiniões através de marchas, vigílias e outras formas de protesto, desde que o façam dentro da lei.
Hoje Macau PolíticaDSAL | Revistas instruções para patrões e empregados durante tufões [dropcap]E[/dropcap]m resposta a uma interpelação escrita por Ella Lei, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) refere que iniciou uma revisão às instruções sobre “aspectos a ter em conta pelas partes laboral e patronal em situações de tufão, chuvas intensas, trovoadas e storm surge”. Este conjunto de sugestões foi elaborado para alertar empregadores e trabalhadores que “devem acordar previamente e estabelecer por iniciativa própria a organização adequada e viável do trabalho quando se verificam condições atmosféricas adversas”. Na realidade, o Governo deixa para as partes da relação laboral as decisões quanto à forma como o trabalho decorre na circunstância de tufão. Como medida de salvaguarda, a DSAL refere que “antes e depois da passagem de tempestades tropicais, divulga atempadamente informações para relembrar aos empregadores que devem ter em atenção os direitos e interesses laborais. Apesar da relativa discricionariedade neste aspecto, a DSAL recordou à deputada Ella Lei, ligada aos Operários, que quando estiver hasteado o sinal 8 de tempestade tropical ou superior, o empregador está obrigado por lei a adquirir uma apólice de seguro de acidente de trabalho a favor do trabalhador, além de organizar o transporte do funcionário de forma a garantir a sua segurança. Se não for possível assegurar transporte, ou “devido a dificuldades reais”, o empregador deve ser “compreensivo para com as dificuldades reais ocorridas, considerando neste caso a ausência do trabalhador como falta justificado”.
Sofia Margarida Mota PolíticaSeguro Universal Saúde | Estudo revela que população prefere o sistema actual Os resultados preliminares de um estudo da MUST sobre a implementação do seguro universal de saúde revelam que a maioria dos inquiridos prefere o actual sistema de apoio médico, afirmam os Serviços de Saúde [dropcap]A[/dropcap] maioria dos inquiridos de entre a população local está satisfeita com o actual sistema de apoio a cuidados de saúde. A ideia é tirada dos resultados preliminares de um estudo sobre a implementação de um seguro de saúde universal no território, que está a ser desenvolvido pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla inglesa). “De acordo com os dados preliminares da pesquisa, a maioria dos entrevistados prefere manter o actual sistema gratuito de cuidados médicos”, apontam os Serviços de Saúde (SS), em resposta a uma interpelação do deputado Sulu Sou acerca da implementação de um seguro universal de cuidados médicos. Os SS esperam ainda que “os resultados possam servir de referência para análise de políticas” no âmbito da saúde. Custos partilhados Para o Governo “o objectivo do sistema universal de garantia de cuidados de saúde é a inclusão de todos os residentes num quadro unificado de seguro médico” em que exista a partilha das despesas resultantes de doença “entre todos” – Governo e população – até porque se trata de uma matéria “também da responsabilidade da sociedade”. Desta forma, é necessário que “Governo e cidadãos reúnam fundos em conjunto”. Dentro do campo do seguro médico, uma das características principais, defendem os SS, “é a igualdade e direitos e obrigações”, ou seja, “aqueles que pagarem o prémio do seguro médico, mesmo tendo o direito ao reembolso das despesas, têm também que continuar a suportar algumas despesas médicas”. Para já, Macau dispõe de “um sistema de regalias, com uma garantia de acesso a cuidados de saúde abrangente e com mais cobertura”, isto porque também permite o acesso a tratamento especializado gratuito dos grupos vulneráveis da população, aponta o Governo. Por outro lado, uma vez que o sistema de garantia de cuidados de saúde universal cobre “uma vasta gama de questões” e dado “o seu profundo impacto”, especialmente sobre aspectos económicos, só poderá ser implementado “com consenso social”, acrescentam os SS. Os resultados finais do estudo que está a ser levado a cabo pela MUST deverão ser conhecidos no quarto trimestre deste ano. Intenções de Ho Entretanto, o seguro universal de saúde pode se implementado pelo Governo liderado por Ho Iat Seng. O objectivo é transferir a procura dos residentes dos serviços públicos para entidades privadas. “Se tivermos um seguro médico podemos então desviar alguns serviços para o sector privado. Assim, reduz-se a pressão económica” dos residentes, disse Ho na apresentação do programa político no passado sábado. Para já, o futuro Chefe do Executivo não se compromete porque é “apenas um candidato” e só quando formar Governo pode avançar com medidas, evitando assim ser criticado. Na resposta a Sulu Sou, os SS recordam ainda que a esperança média de vida no território voltou a atingir um novo pico no ano passado, passando a ser de 83,7 anos, estando o território “nos primeiros lugares a nível mundial”.
Andreia Sofia Silva EntrevistaDireitos humanos | Académica diz que Portugal não quer “beliscar” relação com a China Carmen Amado Mendes, professora na Universidade de Coimbra, defendeu ao HM, referindo-se à área dos direitos humanos, que “sempre houve, do ponto de vista de Portugal, uma preocupação muito grande em não ofender a parte chinesa”. Portugal condenou, de forma multilateral, a situação em Xinjiang no contexto das Nações Unidas e dificilmente o irá fazer de forma bilateral, adiantou a académica. Carmen Amado Mendes diz ainda que o proteccionismo no Brasil face à China é anterior a Jair Bolsonaro [dropcap]P[/dropcap]rofessora de relações internacionais na Universidade de Coimbra (UC) e especialista em assuntos relacionados com a China e Macau, Carmen Amado Mendes falou esta terça-feira em Lisboa numa palestra promovida pelo espaço Casa Ninja e que teve como tema “A presença da China nos países de língua portuguesa”. À margem do encontro, a académica disse ao HM que, em matéria de direitos humanos, os parceiros lusófonos da China nunca quiseram por em causa a relação diplomática estabelecida, pelo que preferem o silêncio face a muitas questões. “Não tem havido interesse por parte destes países em referir a questão dos direitos humanos. Por parte dos países africanos as razoes são óbvias, porque eles próprios tem problemas a este nível e a relação foi estabelecida do ponto de vista das elites que se protegem mutuamente e que fazem as negociações, muitas vezes, sem terem consideração os interesses da população.” No que diz respeito a Portugal, Carmen Amado Mendes recorda que “sempre houve uma preocupação muito grande em não ofender a parte chinesa, mas é uma questão que vem da nossa história”. DR Neste sentido, a professora universitária dá o exemplo de Macau. “A nossa presença em Macau, com excepção de alguns episódios críticos da história, foi sempre uma presença muito passiva ou muito reactiva relativamente ao que o lado chinês nos ia permitindo ou às portas que se iam abrindo. Penso que nenhum líder português vai querer algo que belisque ou possa beliscar a relação com a China.” Recentemente, o semanário Expresso noticiou a tomada de posição de Portugal sobre à situação em Xinjiang. A notícia, com o título “Costa irrita Pequim ao defender uigures”, dava conta de que Portugal é um dos Estados-membros da União Europeia “que querem que ‘as autoridades chinesas respeitem os direitos dos uigures e de outras minorias da província de Xinjiang’”, numa iniciativa feita “no âmbito do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas”. O mesmo jornal adiantou que o facto de Portugal ter tomado uma posição “terá irritado as autoridades de Pequim, que se sentiriam protegidas de críticas pelos avultados investimentos chineses em Portugal sem sectores como a banca, energia, seguros e saúde”. Uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) em Portugal referiu ao Expresso que “as autoridades chinesas conhecem as posições de Portugal a respeito das questões dos direitos humanos”, sendo que é uma área em que os dois países “tem posições distintas”. Carmen Amado Mendes destaca o facto de essas “manifestações acontecerem num contexto multilateral”, pois, a nível bilateral, “as coisas são feitas de forma a que não constituam um entrave ao bom relacionamento”. “Essas declarações são sempre feitas em contexto que não põe em perigo o bom relacionamento bilateral, essa é a preocupação principal de Portugal”, acrescentou. Reacção “não é tardia” O posicionamento dos Estados-membros da UE e os argumentos constam de uma carta datada de 22 de Julho e que será tornada publica quando o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos assim o entender, disse o MNE em resposta escrita ao HM. O ministério liderado por Augusto Santos Silva entende que esta tomada de posição “não foi tardia”. “As autoridades chinesas conhecem as posições de Portugal a respeito das questões dos Direitos Humanos. Conhecem também a convergência da posição portuguesa com a da União Europeia e ambos, Portugal e China, sabem que este é um domínio em que as posições dos dois países são distintas. Recorda-se que a UE e a China têm um diálogo regular sobre Direitos Humanos e que ainda na última Cimeira de Abril reafirmaram a importância que concedem a tal diálogo”, adiantou o MNE na mesma resposta. Questionado sobre se esta tomada de posição pode vir a afectar o relacionamento bilateral entre a China e Portugal, ou potencialmente afastar investimentos do país, o MNE rejeitou essa possibilidade. Proteccionismo pré-Bolsonaro “Não podemos generalizar o investimento chinês nos PALOP” Carmen Amado Mendes alertou ainda para o facto de “o contexto diplomático ter mudado” entre a China e o Brasil com a tomada de posse do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, mas defende que o proteccionismo económico sempre foi adoptado pelo país. “Esse proteccionismo é muito anterior a Bolsonaro. Poderia não ser visível do ponto de vista diplomático mas era muito visível quando falávamos com pessoas de topo, por exemplo na Federação das Indústrias de São Paulo ou com uma série de instituições do Governo brasileiro que tinham a seu cargo a relação com a China. Na própria Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), ou no Conselho Empresarial Brasil-China, há décadas que se faz a advocacia de medidas proteccionistas.” Carmen Amado Mendes destaca o facto das autoridades brasileiras terem alterado a lei de terras para evitar que empresários chineses adquirissem terrenos para a produção de soja. Ainda assim, “não nos podemos esquecer que a China e o Brasil precisam um do outro no contexto internacional da sua afirmação enquanto potências emergentes”. “Isso ficou muito visível desde a criação do grupo dos BRICS, que foi uma ligação que estes países aproveitaram do ponto de vista diplomático e foi uma ideia que foi lançada com motivações puramente financeiras pela Goldman Sachs, mas que os países aproveitaram porque que isso lhes traz visibilidade no plano internacional.” Grupo dos três Carmen Amado Mendes defende que o investimento chinês nos países de língua portuguesa é diferenciado, estabelecendo três grupos distintos de países: de um lado, os africanos, do outro o Brasil e Portugal, e depois Timor-Leste. “Não podemos generalizar o investimento chinês nos países de língua portuguesa, porque é distinto. Temos, por um lado, os países africanos e Timor, e, por outro lado, o Brasil que compete com a China no mercado interno e critica imenso a China pela exportação de produtos manufacturados, nomeadamente no ramo automóvel, o que acaba por competir ou impedir o desenvolvimento das empresas brasileiras.” A docente universitária acredita que “o investimento da China nestes três grupos de países vai-se ajustando às imposições que estes países fazem face à presença chinesa”. “Só o comportamento destes países dirá o que vai acontecer no futuro”, frisou. Ajudar a China fora dela No que diz respeito aos países africanos, o investimento chinês tem vindo a fazer-se de outra forma. “Até ao momento o investimento que a China tem feito nos países de língua portuguesa tem sido ditado pelos padrões estabelecidos pela própria China. Isto é principalmente visível nos países africanos, em que foi a China que ditou as regras do jogo, estabeleceu um modus operandi muito próprio, com o modelo em que constrói infra-estruturas em troca de recursos naturais, levando mão-de-obra.” Com este modelo, a China encontrou “uma forma de combater o desemprego interno, com uma preocupação social evidente, pois ao exportar a sua mão-de-obra, exporta os seus materiais de construção, o que faz com que continue a promover o desenvolvimento da China fora do próprio país.” “Isto foi definido pelo lado chinês e aceite pelo lado africano talvez por não existir uma alternativa viável para a construção dessas infra-estruturas, por falta de massa crítica, de recursos humanos, de capacidade de organização”, adiantou Carmen Amado Mendes. A professora universitária, que falou ontem no espaço Casa Ninja, em Lisboa, denota uma “apatia” na sociedade civil em Portugal no que à China diz respeito. “Acho importante debatermos estas questões em Portugal porque noto que há uma diferença enorme entre a sociedade civil portuguesa e a de Macau. Parece que há um desinteresse ou uma grande apatia em relação às questões da China, apesar do forte investimento chinês em Portugal. Daí que tenha aceite falar neste debate. Em Portugal falta debater este tema e está na altura da sociedade civil ser alertada.”
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Cathay Pacific despede dois pilotos por ligação aos protestos [dropcap]O[/dropcap] website informativo Hong Kong Free Press noticiou hoje o despedimento de dois pilotos por parte da companhia área de bandeira de Hong Kong, a Cathay Pacific, por terem ligações aos recentes protestos que invadiram o aeroporto do território. “A Cathay Pacific deseja tornar claro que não expressa quaisquer posições no tema de qualquer processo em curso. A Cathay Pacific reitera que cumpre as regras e regulamentos de todas as jurisdições às quais estamos sujeitos”, lê-se. Um dos pilotos foi preso e multado por ter participado nos protestos na zona de Sheung Wan, no passado dia 28 de Julho, enquanto que outro foi saqueado pelo uso indevido da informação do voo CX216 na segunda-feira. Nesse mesmo dia, o aeroporto anunciou o cancelamento de todos os voos depois das 18h00.
Hoje Macau China / ÁsiaChina descreve manifestações no aeroporto de Hong Kong como “quase terroristas” [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês descreveu hoje as agressões a dois homens no aeroporto de Hong Kong por manifestantes anti-governamentais como actos “quase terroristas”, numa subida de tom de Pequim, que está a reunir soldados na fronteira. “Condenamos veementemente esses actos quase terroristas”, afirmou Xu Luying, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e de Macau do Governo chinês, em comunicado. Na terça-feira, o quinto dia de uma mobilização sem precedentes no aeroporto de Hong Kong, os manifestantes obstruíram a passagem que leva às áreas de embarque. À noite, um homem suspeito de ser um espião chinês infiltrado, foi amarrado a um carrinho de bagagem, por um grupo de manifestantes e, mais tarde, levado pela ambulância. O Global Times, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês, disse ser um dos seus jornalistas. Num outro incidente, um homem denunciado por um grupo de manifestantes como um polícia infiltrado foi atacado. As forças de segurança tiveram que usar gás pimenta para dispersar os manifestantes. O aeroporto de Hong Kong reabriu hoje depois de ter cancelado centenas de voos, na segunda e terça-feira, enquanto Pequim reforçou as suas ameaças de intervenção. Imagens de satélite difundidas hoje mostram veículos do exército e da polícia chinesa reunidos em Shenzhen, cidade que faz fronteira com Hong Kong. Um comunicado da polícia chinesa, difundido pela imprensa, informou que mais de 12 mil policias estão reunidos em Shenzhen, para exercícios anti-motim. “O exercício será realizado para aumentar o moral das tropas, praticar e preparar a segurança das celebrações e manter a segurança política nacional e a estabilidade social”, disse a polícia. Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
Hoje Macau China / Ásia MancheteImagens de satélite mostram polícia e militares chineses próximos de Hong Kong [dropcap]I[/dropcap]magens de satélite hoje difundidas mostram veículos do exército e da polícia chineses reunidos em Shenzhen, cidade que faz fronteira com Hong Kong, palco há dois meses de protestos anti-governamentais. De acordo com as imagens, difundidas pela Maxar Technologies, veículos militares e de segurança estão estacionados no Centro de Desportos da Marinha de Shenzhen, na fronteira com Hong Kong. Um comunicado da polícia chinesa, difundido pela imprensa, informou que mais de 12 mil policias estão reunidos em Shenzhen, para exercícios anti-motim. Os exercícios são parte dos preparativos de segurança para o 70.º aniversário da República Popular da China, em 1 de Outubro. “O exercício será realizado para aumentar o moral das tropas, praticar e preparar a segurança das celebrações e manter a segurança política nacional e a estabilidade social”, disse a polícia. Também a imprensa oficial chinesa advertiu que os manifestantes em Hong Kong caminham para “a autodestruição”, ao mesmo tempo que são divulgados vídeos com veículos militares a aproximarem-se da fronteira da cidade. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu na rede social Twitter que foi informado pelos serviços secretos norte-americanos de que tropas chinesas estão a ser transferidas para a fronteira com Hong Kong. Na terça-feira, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse à imprensa que “actividades ilegais em nome da liberdade” estão a prejudicar o Estado de Direito na região administrativa especial chinesa, e que a recuperação do centro financeiro asiático pode demorar muito tempo. O Governo chinês afirmou esta semana que há “sinais de terrorismo” nos protestos anti-governamentais em Hong Kong, agravando assim o tom sobre as manifestações. Entre a opinião pública chinesa, exposta nos últimos dias a uma intensa campanha mediática sobre os manifestantes em Hong Kong, repetem-se os apelos, através das redes sociais, para uma intervenção das forças armadas chinesas no território. Inicialmente, as autoridades chinesas optaram por censurar qualquer informação sobre os protestos, que decorrem há dez semanas, mas, nos últimos dias, optaram por caracterizá-los como tumultos violentos, perpetuados por mercenários pagos por forças externas. Críticas aos manifestantes e demonstrações de apoio a uma intervenção do exército são hoje quase o único tópico partilhado por utilizadores do Wechat, a principal rede social da China. Facebook, Twitter ou Instagram estão banidos da rede chinesa, a maior do mundo, com cerca de 710 milhões de utilizadores.
Hoje Macau China / ÁsiaChina vai investir 24,8 mil milhões de dólares no Estado brasileiro de São Paulo [dropcap]S[/dropcap]ão Paulo vai receber investimentos de empresas e instituições financeiras chinesas no valor de 24,8 mil milhões de dólares em 10 anos, disse ontem o governador deste estado brasileiro. Os acordos foram formalizados numa missão comercial que o governador de São Paulo, João Dória, fez, juntamente com uma comitiva de empresários brasileiros, à China no início de Agosto, quando este estado também inaugurou um escritório para captação de recursos e novas parcerias na cidade chinesa de Xangai. “Fechámos 24,8 mil milhões de dólares em compromissos de investimentos [da China] nos próximos 10 anos (…). Deste total, 10 mil milhões de dólares (8,9 mil milhões de euros) vem de um compromisso com o China Development Bank e outros 10 mil milhões de dólares com o banco dos Brics [banco de desenvolvimento criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]”, explicou Dória numa conferência de imprensa com jornalistas estrangeiros. “Outros 4,8 mil milhões de dólares (4,2 mil milhões de euros) são investimentos programados do sector privado que devem acontecer nos próximos cinco anos. Individualmente, o maior investimento será da Huawei, que investirá 800 mil milhões de dólares numa nova fábrica de tecnologia no interior do Estado de São Paulo”, acrescentou. Questionado sobre a guerra comercial travada entre os Estados Unidos e a China, João Dória disse acreditar que o Brasil manterá uma posição de neutralidade, embora o Presidente do país, Jair Bolsonaro, demonstre publicamente que tem um alinhamento maior com o Governo norte-americano. “Não me preocupa a política [de alinhamento de] Bolsonaro com [Donald] Trump, porque Bolsonaro deve visitar a China em Outubro próximo e se ele tivesse alguma resistência à China, certamente, não faria esta visita”, avaliou. “A meu ver, o melhor para o Brasil é aproveitar a boa oportunidade que a China oferece dadas as medidas restritivas que o Governo Trump impôs aos chineses. É muito claro que a China hoje é um país que procura novos parceiros comerciais no mundo e que a América Latina é prioridade. Na América Latina, a grande prioridade é o Brasil, o maior mercado”, acrescentou. João Dória, que muitos analistas políticos colocam como possível candidato às eleições presidenciais de 2022, governa desde 1 de Janeiro o Estado de São Paulo, o mais industrializado e populoso do Brasil, que é responsável por um terço da riqueza total gerada no país.
Hoje Macau China / ÁsiaWall Street fecha em alta graças a desanuviamento comercial EUA-China [dropcap]A[/dropcap] bolsa nova-iorquina encerrou ontem em alta acentuada, com os investidores entusiasmados com o adiamento da aplicação de tarifas alfandegárias suplementares pelos EUA a importações oriundas da China. Os resultados definitivos da sessão indicam que o índice selectivo Dow Jones Industrial Average avançou 1,48%, para os 26.279,91 pontos, depois de ter chegado a valorizar mais de 2% durante o período de transacções. O tecnológico Nasdaq ganhou 1,95%, para as 8.016,36 unidades, e o alargado S&P500 progrediu 1,50%, para as 2.926,32. A praça nova-iorquina tinha começado a sessão no vermelho, devido à preocupação com o agravamento da crise política em Hong Kong e a ameaça de uma intervenção da China. Mas os índices passaram bruscamente para terreno positivo, depois de um comunicado do representante norte-americano para o Comércio Externo, que indicava que as taxas suplementares de 10% anunciadas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, a aplicar às importações de bens chineses, como telemóveis, computadores portáteis e consolas de jogos, tinham sido adiadas de 1 de Setembro para meados de Dezembro. Outros produtos, como os ligados à saúde ou à segurança, serão totalmente isentos desta taxa. “O adiamento das tarifas é muito positivo. É interpretado como um degelo, uma vez que a situação (entre os EUA e a China) era glacial”, disse Alan Skrainka, da Cornerstone Wealth Management. “Isto mostra a que ponto os investidores estão sensíveis a cada notícia sobre o assunto, quando o comércio mundial está em vias de perder vigor”, continuou Skrainka. A praça nova-iorquina tem evoluído nas últimas semanas em função dos desenvolvimentos na frente comercial sino-norte-americana, alternando entre baixas repentinas e subidas brutais. “Um tuíte (mensagem na rede social Twitter) do Presidente Trump pode fazer os investidores cederem ao pânico ou então provocar um entusiasmo desmedido. Isto indica, na minha perspectiva, uma falta de confiança”, sublinhou Sam Stovall, da CFRA. No mercado obrigacionista, a taxa de juro sobre a dívida norte-americana a 10 anos evoluía em 1,69%, cerca das 21:20 de Lisboa. Manteve-se assim acima da taxa de juro paga pela dívida a dois anos, que estava em 1,67%. A chamada inversão da curva das taxas, quando a primeira fica abaixo da de prazo mais curto, é geralmente considerada como um sinal antecipador de uma recessão.
Hoje Macau China / ÁsiaCaxemira | MNE da Índia reúne com líderes chineses em Pequim [dropcap]O[/dropcap]s representantes máximos diplomáticos da Índia e da China reuniram ontem, em Pequim, depois de Nova Deli ter revogado o estatuto especial da região da Caxemira, parte da qual a China reivindica como sua. A agência noticiosa oficial Xinhua informou ontem que o ministro indiano dos Negócios Estrangeiros, Subrahmanyam Jaishankar, disse que Pequim espera que a Índia “desempenhe um papel construtivo na paz e estabilidade regional”. A Xinhua citou Jaishankar a afirmar que a Índia “respeitará o consenso alcançado com a China sobre a manutenção da paz na fronteira e continuará a trabalhar com a China para resolver adequadamente a questão das fronteiras por meio de consultas”. China e Índia, ambas potências nucleares, partilham uma fronteira com 3.500 quilómetros de extensão, a maioria contestada. Diferendos territoriais levaram a um conflito, em 1962, que causou milhares de mortos. Em 2017, as forças armadas de ambos entraram num impasse de 10 semanas, no estado vizinho do Butão. A China reivindica cerca de 90.000 quilómetros quadrados de território no nordeste da Índia, enquanto Nova Deli acusa a China de ocupar 38.000 quilómetros quadrados do seu território no planalto de Aksai Chin, no oeste dos Himalaias, incluindo a região de Ladakh, que Nova Deli tornou, este mês, num território separado do resto da Caxemira. A visita à China do ministro indiano ocorre pouco depois do homólogo do Paquistão -principal rival da Índia e um aliado próximo da China -, ter também visitado Pequim. O Paquistão procura apoio chinês na abertura de um inquérito das Nações Unidas sobre a revogação pela Índia da autonomia da Caxemira e a sua divisão em dois territórios federais: Jammu e Caxemira e Ladakh. As autoridades indianas argumentam que o estatuto especial da Caxemira cultivou um sentimento separatista, susceptível de ser explorado pelo Paquistão, e que estava a atrasar o desenvolvimento económico da região. A agência noticiosa indiana Press Trust of India informou que Jaishankar disse ao homólogo chinês, Wang Yi, que as medidas legais em relação à Caxemira são questões “internas” da Índia, que não dizem respeito à China. O ministro também reuniu com o vice-presidente chinês, Wang Qishan, um dos principais assessores do Presidente da China, Xi Jinping, para questões económicas e de política externa. Dividir por dois A Caxemira indiana está sob um bloqueio de segurança sem precedentes, para evitar a agitação social, após o anúncio das decisões. A região dos Himalaias é reivindicada na íntegra pelo Paquistão e pela Índia e dividida entre ambas as nações. O Paquistão revelou que está a considerar uma proposta para abrir processo no Tribunal Internacional de Justiça contra a decisão da Índia. Islamabad, que já travou três guerras contra a Índia, duas das quais por causa de Caxemira, considerou ilegal a decisão e, na quarta-feira, expulsou o embaixador indiano e pôs fim ao comércio bilateral. Na quinta-feira, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, esteve em contacto, via telefone, com os seus homólogos da Índia e do Paquistão, defendendo “uma solução política bilateral”. Caxemira é dividida entre a Índia e o Paquistão, duas potências nucleares que já travaram duas guerras pelo domínio daquele estado. Os dois países disputam a região montanhosa na totalidade, desde a partição subcontinente, em 1947, no final da época colonial britânica. Diferentes grupos separatistas combatem, há várias décadas, a presença de cerca de 500 mil soldados indianos na região, para exigir a independência do território ou a integração no Paquistão. Dezenas de milhares de pessoas, na grande maioria civis, morreram no conflito.
Sofia Margarida Mota SociedadeGalaxy | Receitas diminuíram no primeiro semestre [dropcap]O[/dropcap] grupo Galaxy Entertainment anunciou ontem receitas líquidas de 26,1 mil milhões de dólares de Hong Kong no primeiro semestre, menos sete por cento comparativamente ao período homólogo de 2018. De acordo com o comunicado divulgado pelo grupo, o EBITDA ajustado (lucros antes de impostos, amortizações e depreciações) diminuiu 4 por cento em termos anuais tendo registado 8,3 mil milhões de dólares. No segundo trimestre deste ano, o EBITDA ajustado foi de 4,3 mil milhões o que comparativamente ao mesmo período do ano passado, representa uma subida de 9 por cento. Entretanto continua a registar-se o aumento das receitas provenientes do jogo de massas, que no primeiro semestre cresceram 8 por cento, registando uma receita bruta de 14 mil milhões de dólares de Hong Kong entre os meses de Janeiro e Fevereiro de 2019. “Em termos gerais, o mercado em Macau continua relativamente estável, apesar de um decréscimo no volume do segmento VIP, devido à crescente concorrência regional, às actuais tensões comerciais e ao abrandamento da economia chinesa. Continuamos a redireccionar os nossos recursos de modo a alcançar o melhor uso e a concentrarmo-nos no alargamento da margem do negócio de massas”, afirmou o presidente do grupo Galaxy Entertainment, Lui Che Woo, de acordo com a nota enviada.
Andreia Sofia Silva VozesQue grande chatice [dropcap]B[/dropcap]em podem ir para a rua, vão conseguir alguma coisa?” “Tu já viste isto, agora fazem esta greve? E as pessoas?” Estas são algumas das frases ou questões que tenho ouvido ou lido nas redes sociais, não só sobre a greve dos motoristas que se vive em Portugal, mas também sobre o que se está a passar em Hong Kong. São dois mundos diferentes, bem sei, mas repare-se no pensamento que está por detrás disto: mais vale estar calado e não ir contra a ordem estabelecida porque depois o aeroporto para, a economia mexe, o combustível não chega para todos e o dia-a-dia normal agita-se. É importante uma manifestação, fazer-se ouvir, marcar a diferença, sempre de maneira ponderada, com objectivos concretos e uma agenda bem definida. Caso contrário, para que serviram as revoluções? Para que serve legislar-se o direito à greve, à manifestação, à liberdade de expressão? Já não vale a pena lutar por nada e ficarmos à mercê de um sistema com o qual não concordamos? Seremos apenas lutadores de Facebook e do Twitter, escondidos por detrás de um ecrã, apontando o dedo sem nada fazer e sem nada apoiar? Com a luta de uns ganham-se os direitos de todos. Os meios não justificam os fins, mas há coisas pelas quais se devem lutar sempre.
Nuno Miguel Guedes Divina Comédia h | Artes, Letras e IdeiasA infelicidade como uma das belas artes [dropcap]T[/dropcap]inha-me prometido, a bem dos leitores e da minha própria saúde, fazer uma pausa nas crónicas menos luminosas e existenciais. Mas o universo encarrega-se de não nos deixar fugir ao que somos. Assim foi, e neste caso da pior maneira: perdemos David Berman, poeta e um dos maiores escritores de canções das últimas três décadas. Para mim e para muitos terá sido como perder um amigo próximo. Ainda mais porque todos andávamos maravilhados com o seu regresso, após uma década de ausência. O álbum Purple Mountains (do colectivo com o mesmo nome, veículo musical para as palavras de Berman) é uma obra-prima. Negra e luzidia, é certo; mas um regresso extraordinário, as marcas do antigo fundador dos Silver Jews a brilharem no fundo do mar. Só que a questão era essa: era para o fundo que Berman sempre quis que olhássemos. Estupidamente ou não, entre os vários lamentos e extraordinários tributos que fizeram ao homem, não me saía da cabeça a história de Steven Bradbury. Para quem não conhece, eu conto: Bradbury foi um patinador no gelo, na modalidade de velocidade em pista curta, que venceu da forma mais improvável a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002. Depois de várias eliminatórias em que conseguiu ir sendo apurado de forma medíocre ou por desqualificação de concorrentes, Bradbury chegou à final – e vence-a porque os outros patinadores se envolveram numa queda colectiva, restando-lhe deslizar de forma serena até à meta. Durante alguns dias lutei comigo próprio para tentar descobrir a razão desta imagem recorrente mas aparentemente tão distante do que estava a sentir. Percebi quando comecei a revisitar, de forma mais calma, a obra de Berman. Desde o princípio que as suas canções são sobre os patinadores que caíram naquela elipse gelada e sobre quem vence daquela maneira. Berman escrevia sobre a vida do ponto de vista do perdedor e sempre com a consciência de que mesmo quando se vence, é o acaso que é a lei. Sim, sim: Random Rules, uma das mais famosas canções dos Silver Jews. Na minha opinião, Berman conta-se entre os grandes cronistas da infelicidade, uma arte nobre e difícil. Não o ser infeliz, nem a tristeza – isso são temas que atravessam desde há muito a música popular, de Hart a Porter, a Cohen ou Curtis. O que Berman descrevia era a própria infelicidade, algo diferente e mais profundo; e como outros grandes chegava a rir-se dela. Um pouco como o risus purus de Beckett ou o optimismo desesperado que Francis Bacon dizia colocar nas suas telas. Uma constatação da miséria mas também um humor de condenado na masmorra. Os versos de Berman são altamente citáveis e precisaria de duas crónicas para poder esgotar os melhores. Isso dá-lhe uma capacidade aforística que não é só mera catarse: é trabalho, vontade de criar a linha perfeita. Numa vida atormentada por dependências, abandonos amorosos, má relação com o pai e uma terrível depressão, era capaz de escrever coisas como “In 1984 I was hospitalized for approaching perfection”, o verso de abertura do já citado Random Rules. Neste disco a luz negra foi mais longe enquanto que, por contraste, a estrutura musical e produção são mais acessíveis e complexas. As canções são demasiado perto do osso, sabemo-lo sempre. E mesmo assim cantamos com gosto o refrão contagioso que diz “All my happiness is gone”. A morte de Berman tornou este Purple Mountains o mais belo dos testamentos musicais, só comparável ao último disco de Leonard Cohen. Mas haverá sempre a nuvem terrível do absurdo da vida e o desespero de um homem que depois de regressar resolve deixar este mundo. “The dead know what they’re doing when they leave this world behind”, assegura-nos no belíssimo Nights That Won’t Happen. Pois sim, mas quem me dera que isso servisse de consolo, David. Quem me dera.
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasBoca de Incêncio Santa Bárbara, Lisboa, 10 Agosto [dropcap]T[/dropcap]ropeço em velho texto que se aplica e auto-confirma. «A única verdade que vos posso contar é a de não estar preso a esta ou aquela mentira. Cultivo tantas, como em jardim botânico de espécies em vias de propagação. A mentira é uma infestante. Arde nos interiores, dá cor aos litorais, esconde no seu bojo líquido as areias e as dunas. As mentiras têm desertos nos bolsos. Só se descobre uma notícia se ela se confessar. Gosto muito das minhas mentiras. Algumas alimentam-se de moscas e obrigam-me a sair pela manhã para terem o que comer. Outras enchem-se com o ar verdadeiro das noites longas. Outras ainda sanguessugam imagens de televisão: anúncios, documentários e programas de culinária. Todas me escravizam com o trabalho de lhes oxigenar o sangue. Ando há tempos a roçar o abismo. Confesso que me protejo do mundo com a música que não sei tocar. Bebo demais e sei de menos. Não faço o suficiente para dizer que tenho uma vocação. Não escrevo diários e não me exponho, a não ser no disparate. Manipulo como animal de feira o lugar-comum. Sento-me nas frases como se estivesse cansado. E estou cansado nas coisas como se estivesse doente. Acham que sou engraçado e sei. Sou um ignorante melancólico. Acham que me disponho aos outros e faço. Afinal cultivo o meu umbigo em uma preguiça infindável.» Horta Seca, Lisboa, 11 Agosto Cultivei, em tempos, no Expresso, uma leira de prosa onde procurava colher as palavras que actualidade atirava ao ar, ilustrada pelo mano Tiago [Manuel] (que ilustra algures a página com uma inédita destinada a «assessor de imprensa»). O nevoeiro pôs-me a folhear as páginas do dicionário perdido, para me garantir ao ouvido que o passado custa a deixar o ouvido. Arranquei umas da letra p, de pequeno possível. «Pandemónio – Milton criou a palavra para dar nome à morada apalaçada de Satã, em Paraíso Perdido. Significa agora uma mistura confusa de pessoas ou coisas. À primeira vista, assemelha-se bastante ao nosso quotidiano. Também se aplica à uma associação de pessoas para praticar o mal ou promover desordens e balbúrdias. Moraremos no condomínio aberto do demónio tendo por vizinhos um gang, duas claques e três máfias? «Pantanas – No singular é lamaçal, atascadeiro, um grande pântano. Mas ouvir, a propósito da vida ou do orçamento, das eleições e do país, que «isto está de pantanas» deve-se ao facto de estamos perdidos ou com o negócio a correr mal. Também pode ser, singularmente, um salto lateral em que as mãos tocam no chão enquanto o corpo executa meia-volta. «Papagaio de pirata – Segundo a oralidade brasileira, dona e senhora de belas imagens, classifica o assessor político ou de imprensa que surge amiúde no enquadramento televisivo de um político (eleito ou em campanha), em geral logo atrás por sobre o ombro. Não confundir com emplastro. «Percepcionar – O mundo anda perigoso, por isso nos gritam a cada minuto esta exigência de percepcionar as ameaças. Não chega o uso dos sentidos para as perceber ou uma qualquer capacidade para as compreender, temos que as percepcionar. Como a percepção também inclui nos seus sentidos o efeito mental de representar os objectos, muito provavelmente paira por aqui um aviso acerca de obstáculos no caminho. Ou serão buracos? «Pindérico – No entendimento burlesco das coisas é alguém magnífico e excelente, de altíssima qualidade. Mas afinal resume-se a indivíduo pobre, mal vestido, sujo e magro, ainda que teime em fazer figura. Quantas candidaturas políticas, programas de televisão, romances e figuras públicas nos surgem assim, sonsos e ensossos? «Player – «Este player pode play discos», ou seja, este jogador pode jogar discos. In Manual de Instruções de DVD. «Poder – «Desligue o poder quando a unidade não é usada». E não se esqueça: «gire em torno do poder», que é como quem diz, em inglês, turn on the power. in Manual de Instruções do mesmo DVD. «Populares – Eles acodem aos eventos no plural e logo deixam de ser povo, gente comum, pessoas simples, para se transfigurarem em anónimos ferozes, turbamulta de um só rosto brutal, cuspindo insultos. Nalguns casos trazem ao palco a ignorância em estado natural e, portanto, totalitário. Noutros desejam a violência cobarde, uma justiça feita pelas mesmas mãos que poderiam ter corajosa e solitariamente evitado a desgraça. Mais do que figurantes, são actores do circo mediático. E representam-nos bem. «Praga – O homem vermelho de raiva soergueu-se na janela do automóvel em andamento e gritou: «Que tenhas um acidente!» Era uma praga, uma velha imprecação desejando males, no caso, a outro condutor mais lento, mais azelha ou apenas mais respeitador. As estatísticas mostram que, devido à velocidade ou à mentalidade, a morte nas estradas é um desastre, um flagelo, enfim, uma maldição das antigas. Não virão todas do Egipto, não serão ervas daninhas ou uma multidão de gafanhotos, mas elas andam por aí: são as lojas dos chineses, para uns, para outros a delinquência juvenil; para estes o futebol, para aqueles as seitas religiosas. Traz consigo o cheiro de outros tempos, este pedido com instância, esta súplica a uma entidade superior para que faça mal a alguém em nosso nome. Rogar uma praga é requerer um serviço com ponto de exclamação, reencaminhar em direcção concreta um mal que anda por aí à solta, indicar ao outro o caminho do inferno. A mais comum e prática talvez seja o básico «vai para o diabo!» Mas, além de o gritar, é preciso acreditar. Os irlandeses, povo de mar e literatura, não se limitavam a atirar frases do tipo «que tenhas uma morte horrível!» ou «que o diabo te asfixie!». Apanhadas as pedras que eram empilhadas em forma de fogueira, ajoelhavam-se e tratavam de inventar sofrimentos, terminando o ritual dizendo «até que estas pedras peguem fogo». Cada qual com sua praga, as pedras eram atiradas para longe. Imagino o sucesso que seria a venda de calhaus com maldição incluída… À falta disso, podemos sempre contar com o fogo das palavras. Roga-se apenas alguma criatividade. Na tradição judaica há imprecações sugestivas: «Que te caiam os dentes todos menos um, e que esse te doa!» De Espanha, vem boa imagem: «Que engulas um pavão e que todas as penas se transformem em lâminas de barbear!» «Prestação – Na televisão, que é afinal a superfície do nosso mundo, os sumo-sacerdotes da opinião pública avaliam continuamente a prestação dos gestores públicos e semi-públicos, assessores e magistrados, políticos e eleitos, dos governadores e governantes, enfim, daqueles que deveriam estar obrigados a fornecer-nos explicações. As prestações dos avaliados como dos avaliadores raramente são prestáveis pelo que não saldam o crédito que lhes damos. A culpa é nossa. «Pum! – Segundo o Morais, dicionário que merece tratamento por tu, é a voz para queda, explosão ou disparo de um tiro. Por detrás da onomatopeia nem por isso violenta para queda, explosão ou disparo, esconde-se ainda o traque, como todos sabemos, ventosidade anal acompanhada de ruído. Embora não encontre registo, nem no Novo Dicionário de Calão, do Afonso Praça, sei que em paragens a norte, se usa apenas «pu», o que lhe retira alguma percussão. Mais colorido é o uso infantil de «pusete». A geografia mexe muito com as palavras. Por exemplo, em francês, este som diz-se «prout», mas deve soltar-se de igual modo. Discreto. «Punho – «Sonho com uma língua cujas palavras, como punhos, quebrassem queixos…» Cioran, Cahiers 1957-1972, Gallimard.
Hoje Macau China / Ásia ManchetePolícia abandona aeroporto de Hong Kong, voos restabelecidos e manifestantes dispersam João Carreira, enviado da agência Lusa [dropcap]A[/dropcap] polícia anti-motim abandonou as suas posições no exterior do aeroporto de Hong Kong num momento em que os manifestantes começam a dispersar e os primeiros voos a serem restabelecidos. Este é o retrato actual num dos mais movimentados aeroportos do mundo após um protesto que obrigou pelo segundo dia consecutivo a cancelar todos os voos, deixando milhares de passageiros em terra. A calma que se vivia às 01:00 de hoje no aeroporto internacional de Hong Kong contrasta com os momentos de tensão vividos quando um contingente da polícia entrou pelas 22:45 locais no terminal 1. A polícia anti-motim posicionou-se no exterior, onde foi efectuada pelo menos uma detenção e um ferido entre as forças de segurança, que chegaram a usar gás pimenta sobre os manifestantes, constatou a agência Lusa no local. Centenas de jovens rodearam os primeiros agentes no Terminal 1 e tentaram bloquear o acesso à zona onde se efectua o ‘check-in’, recorrendo aos carros de transporte de bagagem do aeroporto e a algumas grades, que limitam habitualmente os balcões das companhias aéreas. À chegada das carrinhas que transportavam os polícias, os manifestantes dirigiram-se aos balcões de ‘check-in’ onde se encontram muitos passageiros retidos, aconselhando-os a deslocarem-se para alguns locais que consideravam serem mais seguros. Cerca de 20 minutos depois da primeira entrada do contingente policial, as forças de segurança, aparentemente bloqueadas por centenas de manifestantes, abandonaram o terminal, para logo depois se posicionar no exterior a polícia anti-motim, onde estacionaram também viaturas de emergência médica. Ontem à tarde, e pelo segundo dia consecutivo, as autoridades aeroportuárias de Hong Kong cancelaram a saída de todos os voos devido a mais um dia de protesto, o quarto consecutivo, que ocupou os terminais do aeroporto internacional e aconselharam o público em geral a não se deslocar para o local.
Hoje Macau China / Ásia MancheteONU diz que há evidências de actuação da polícia de Hong Kong fora das normas [dropcap]O[/dropcap] Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU assegurou ontem que há evidências de que as autoridades de Hong Kong aplicaram medidas anti-distúrbios que vão contra as normas internacionais e pediu uma investigação imparcial às ocorrências. “Por exemplo, foram vistos polícias a lançar gases lacrimogéneos directamente a manifestantes, sobre zonas fechadas, com graves riscos de provocar feridos ou mortos”, disse o porta-voz da ONU, Rupert Colville, numa conferência de imprensa, em Genebra, Suíça. As autoridades de Hong Kong “devem investigar estes incidentes imediatamente e mudar as suas práticas anti-distúrbios quando vão contra as normas internacionais”, sublinhou o porta-voz da alta comissária, Michelle Bachelet. Colville acrescentou que a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos “está preocupada com a escalada de violência” nos últimos dias, naquele território, cujo aeroporto, um dos mais concorridos do mundo, suspendeu as operações durante dois dias, devido aos protestos no recinto. As declarações do porta-voz da ONU geraram, por seu turno, protestos na diplomacia chinesa, que, num comunicado, classificou de “interferência nos assuntos internos da China, enviando uma mensagem errada dos violentos delinquentes”. “Os protestos em Hong Kong recentemente tomaram uma forma tal que alguns criminosos estão deliberadamente a perpetuar a violência”, indica a nota oficial enviada a partir da missão da China em Genebra. Estas pessoas “usaram bombas de fumo, coquetéis molotov e pistolas de grande calibre”, e “não só perpetraram graves delitos violentos, como mostraram uma tendência para recorrer a acções terroristas”, acrescenta. Para a China, o que se passou em Hong Kong “não é de forma nenhuma uma questão de direitos humanos”. A ex-colónia britânica enfrenta a sua pior crise política desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China em 1997. A contestação social começou no início de Junho contra um projecto de lei que pretendia autorizar as extradições para Pequim. A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e reivindicam agora medidas para a implementação do sufrágio universal no território, a demissão da actual chefe do Governo, uma investigação independente à violência policial e a libertação dos detidos ao longo dos protestos.
Hoje Macau China / ÁsiaTrump diz que exercito chinês está a posicionar-se na fronteira de Hong Kong [dropcap]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ontem que o exército chinês está a posicionar-se na “fronteira com Hong Kong”, segundo fontes dos serviços de informações norte-americanos, e apelou à calma entre as partes. Donald Trump divulgou este apelo em mensagens na rede social Twitter, acrescentando que muitas pessoas o acusam, e aos Estados Unidos, de responsabilidades “pelos problemas actuais” na antiga colónia britânica. O Presidente norte-americano avaliou ainda que a situação dos protestos em Hong Kong estava “muito difícil”, mas espera que a crise possa resolver-se de forma “pacífica”, sem mortos. “Espero que se resolva para todas as partes, incluindo para a China. Espero que possa haver uma solução pacífica, e que ninguém fique ferido”, disse também hoje o Presidente norte-americano aos jornalistas. Washington já tinha exortado na segunda-feira a que todas as partes se abstivessem de qualquer violência. Os protestos em Hong Kong duram há mais de dois meses, e, nos últimos dois dias atingiram o aeroporto de Hong Kong, tendo obrigado ao cancelamento de todos os voos, deixando milhares de passageiros em terra. Entretanto, a polícia anti-motim abandonou as suas posições no exterior do aeroporto e os manifestantes começam a dispersar, com os primeiros voos a serem restabelecidos. Este é o retrato actual num dos mais movimentados aeroportos do mundo após um protesto que obrigou pelo segundo dia consecutivo a cancelar todos os voos, deixando milhares de passageiros em terra.
Hoje Macau ReportagemProtesto no aeroporto de Hong Kong, da caça a polícias chineses infiltrados às fotos de Carrie Lam nos urinóis Reportagem de João Carreira [dropcap]O[/dropcap] protesto de ontem no aeroporto de Hong Kong ficou marcado por momentos de tensão e descompressão entre os manifestantes, ilustrados na ‘caça’ a supostos polícias chineses infiltrados e nas fotografias da chefe do Governo colocadas nos urinóis. Entre as rondas de recolha do lixo que se acumulava no terminal 1 do aeroporto, as explicações aos passageiros – sobre a motivação dos protestos -, e a distribuição de comida e bebida, os jovens manifestantes protagonizaram alguns momentos de tensão. Em duas ocasiões, uma à tarde e outra ao início da noite (hora local), centenas de jovens que participaram no protesto rodearam dois homens, acusando-os de serem polícias do interior da China infiltrados entre os manifestantes, que os manietaram e agrediram, obrigando um deles a receber tratamento hospitalar. Mais tarde, foram divulgadas algumas imagens nas redes sociais de documentos de identificação de pelo menos um destes homens que confirmariam, alegadamente, as suspeitas dos manifestantes. Um dos alvos dos protestos pró-democracia que duram desde o início de Junho em Hong Kong é a chefe do Governo, Carrie Lam, cuja imagem foi colocada em cada um dos urinóis, uma acção que motivou alguns sorrisos entre passageiros e manifestantes, que se deslocaram ao local propositadamente para filmarem ou tirarem fotografias. Ao final da tarde, na área onde se efectua o ‘check-in’, uma jovem manifestante sentava-se junto a uma passageira brasileira que ficara retida no aeroporto, na viagem de regresso a São Paulo, via Joanesburgo. A manifestante, de apelido Ng, que se juntou ao protesto depois de concluir uma jornada de trabalho numa empresa próximo do aeroporto, explicava a razão da manifestação, junto à brasileira que desconhecia a natureza das reivindicações. A jovem de Hong Kong explicou que o Governo não tem ouvido as reivindicações dos manifestantes e que esta nova fase dos protestos procura pressionar as autoridades através de acções com impacto económico. Ng reiterou as acusações de violência policial ao longo dos quase dois meses de protestos, nos quais se começou com a exigência de retirada da lei de extradição, à qual se somaram as reivindicações de um inquérito independente à actuação policial, demissão de Carrie Lam e libertação dos detidos. Lisete Castro, do Estado brasileiro de Goiás, que participou numas olimpíadas de matemática em Taiwan e passou quatro dias em Hong Kong, chegou ao aeroporto para apanhar um voo com destino a Joanesburgo, onde fazia escala para o destino final, São Paulo. Sem saber cantonês, mandarim ou inglês, sem funcionários das companhias de aviação nos balcões de atendimento e sem qualquer informação sobre o voo, a brasileira estava conformada com as horas que adivinhava ter pela frente até conseguir entrar num avião: “O que não tem remédio, remediado está”, disse, com um sorriso cansado. Após o caos que se viveu no aeroporto, sobretudo durante a tarde, a calma reinava ao final da noite em ambos os terminais, muito por culpa de uma acção policial que dispersou os jovens que protagonizaram o protesto pelo quarto dia consecutivo, depois das autoridades terem garantido junto de um tribunal uma providência cautelar na qual se determinava a retirada dos manifestantes da estrutura aeroportuária, segundo a imprensa local. Os protestos em Hong Kong duram há mais de dois meses e têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, com recentes dados a apontarem para um impacto económico na indústria de viagens na ex-colónia britânica. O clima de contestação social em Hong Kong resulta da apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica.
Hoje Macau EventosAssédio sexual | Plácido Domingo acusado por nove mulheres Oito cantoras e uma bailarina afirmaram ter sido importunadas sexualmente pelo cantor espanhol. Testemunhos de mais de 30 pessoas ligadas ao meio musical confirmam já ter assistido a comportamentos incorrectos do tenor. O poder de Plácido Domingo e o receio de represálias profissionais terá levado a que apenas a meio soprano Patricia Wulf tenha dado a cara, mantendo-se as outras alegadas vítimas no anonimato [dropcap]O[/dropcap] cantor espanhol Plácido Domingo terá assediado sexualmente várias mulheres e usou a sua posição para as punir quando o recusavam, tendo a agência de notícias Associated Press divulgado ontem relatos de profissionais do meio a confirmar estes comportamentos. Numa extensa investigação por parte da agência norte-americana, oito cantoras e uma bailarina disseram ter sido assediadas sexualmente por Plácido Domingo, numa série de acontecimentos que ocorreram ao longo de três décadas, em espaços que incluíam companhias de ópera onde o cantor ocupava cargos de direcção. Muitas dizem ter sido avisadas por colegas para nunca ficar a sós com Domingo. Seis outras mulheres relataram à AP avanços que lhes causaram desconforto, em particular uma cantora que Plácido Domingo repetidamente convidou para sair, depois de a ter contratado para uma série de concertos na década de 1990. Adicionalmente, quase 30 outras pessoas ligadas à indústria musical, desde cantoras a músicos de orquestra, passando por professores de canto e administradores, confirmaram ter testemunhado comportamentos impróprios de índole sexual por parte do espanhol de 78 anos. Uma das mulheres que acusam Plácido Domingo de assédio sexual contou à AP que o espanhol enfiou a mão dentro da sua saia e três outras acusam-no de as ter beijado à força em camarins, num quarto de hotel e num almoço. “Um almoço não é algo estranho”, disse uma das cantoras. “Alguém a tentar segurar a tua mão durante um almoço de negócios é estranho – ou a colocar a sua mão no teu joelho. Ele estava sempre a tocar-te de alguma maneira e sempre a beijar-te”. Das nove pessoas que acusam o cantor, apenas a meio soprano Patricia Wulf aceitou divulgar o seu nome, tendo as restantes pedido anonimato por temer represálias profissionais e pessoais. Sete das nove mulheres disseram acreditar que as carreiras sofreram por terem rejeitado os avanços sexuais de Plácido Domingo. Uma delas disse que teve relações sexuais com o cantor em duas ocasiões e que, numa delas, quando Plácido Domingo saiu do quarto, deixou uma nota de 10 dólares na cómoda: “Não quero que te sintas como uma prostituta, mas também não quero que tenhas de pagar para estacionar”. Rede de poder Contactado pela AP, Placido Domingo não respondeu às questões específicas sobre as acusações, declarando que “as alegações destas pessoas, cujo nome não é divulgado e que remontam até há 30 anos, são profundamente perturbadoras e – da forma como são apresentadas – imprecisas”. “Ainda assim, é doloroso ouvir que posso ter incomodado alguém ou causado desconforto, não importa há quanto tempo e apesar das minhas melhores intenções. Acreditei que todas as minhas interacções e relações foram sempre bem-vindas e consensuais. Quem me conhece ou trabalhou comigo sabe que não sou alguém que intencionalmente magoasse, ofendesse ou embaraçasse outra pessoa”, acrescentou o cantor, que diz que “as regras e padrões” de hoje são “muito diferentes do que foram no passado”. A influência do cantor no meio – membro do conjunto de Três Tenores, com José Carreras e Luciano Pavarotti, director-geral da Ópera de Los Angeles, presidente da Europa Nostra, presidente da administração da Federação Internacional da Indústria Fonográfica e responsável pelo concurso Operalia, que se realizou em Lisboa no ano passado – é tamanha que só Wulf aceitou dar a cara em declarações à AP. Muitas das pessoas admitiram sentir-se fortalecidas pelo movimento #MeToo e decidiram que a maneira mais eficaz de atacar a má conduta sexual na indústria era denunciar o comportamento da figura mais proeminente da ópera. Lista negra Em Agosto do ano passado, o maestro titular da Orquestra Real do Concertgebouw, na Holanda, Daniele Gatti, foi afastado do cargo, depois de reveladas acusações de que teria atacado duas mulheres no seu camarim. Meses depois, foi contratado para a Ópera de Roma. Outro maestro, Charles Dutoit, foi afastado de várias orquestras com quem colaborava na sequência de denúncias de conduta imprópria ao longo de mais de duas décadas. Passado pouco tempo, tornou-se maestro convidado da Filarmónica de São Petersburgo. Também James Levine foi pela Ópera Metropolitana de Nova Iorque, sem que se conheçam novas ocupações do maestro. Em Dezembro de 2017, as pessoas que denunciaram casos de assédio e abuso sexual, num movimento colectivo denominado #MeToo, surgido nos Estados Unidos, foram nomeadas “Personalidade do Ano” pela revista norte-americana Time. Um dos casos mais mediáticos envolveu o produtor norte-americano Harvey Weinstein, acusado de assédio e abuso sexual por mais de 80 mulheres, entre as quais várias estrelas de Hollywood, como Gwyneth Paltrow, Ashley Judd e Angelina Jolie. Depois destas denúncias, através de investigações pelo jornal The New York Times e a revista The New Yorker, e que levaram Harvey Weinstein a ser despedido da empresa que cofundou e à sua expulsão de várias associações e organizações, nomeadamente da Academia de Hollywood, outros casos foram surgindo. Entre os acusados de assédio e abusos sexuais, mas também de má-conduta sexual, estão atores como Kevin Spacey e Dustin Hoffman, o ex-presidente da Amazon Studios Roy Price, os realizadores Brett Ratner e James Toback, os jornalistas Charlie Rose, Glenn Thrush e Matt Lauer, o fotógrafo Terry Richardson e o comediante norte-americano Louis C.K.