Sexta e última temporada de “House of Cards” estreia-se na sexta-feira

[dropcap]A[/dropcap] sexta e última temporada da série norte-americana “House of Cards”, que tinha sido suspensa no ano passado na sequência de acusações de assédio sexual ao protagonista, o ator Kevin Spacey, estreia mundialmente na sexta-feira.

A sexta e última temporada da série tem oito episódios, protagonizados pela atriz Robin Wright, que nas temporadas anteriores interpretava o papel de Claire Underwood, mulher de Frank Underwood, a personagem de Kevin Spacey.

Nesta temporada, os actores Diane Lane, Bill Shepard e Greg Kinnear irão juntar-se ao elenco, do qual fazem parte, entre outros, Michael Kelly, Jayne Atkinson, Patricia Clarkson e Boris McGiver. Em Outubro do ano passado, a Netflix anunciou que a sexta temporada da série seria a última.

Esse anúncio foi feito pouco depois de ter surgido a primeiro denúncia contra Kevin Spacey. Nessa altura, o ator Anthony Rapp acusou Spacey de o ter assediado sexualmente numa festa em 1986, quando tinham, respetivamente, 14 anos e 26 anos.

Na sequência da acusação, Kevin Spacey assumiu a sua homossexualidade e garantiu que não se recordava do episódio relatado, apesar de ter dito que, se realmente aconteceu, devia “sinceras desculpas” a Rapp pelo seu comportamento. Entretanto, a produção da série foi suspensa, tendo sido retomada este ano.

Antes disso, Netflix e o estúdio Media Rights Capital anunciaram que cortariam relações com Kevin Spacey, tendo ainda a plataforma tornado público o cancelamento do filme sobre o escritor norte-americano Gore Vidal, autor de obras como “Lincoln” ou “Império”, que seria protagonizado pelo ator.

Entretanto, oito actuais e antigos funcionários de “House of Cards” acusaram Spacey de ter tornado tóxico o ambiente da produção da série, por causa do assédio sexual.

Também no final do ano passado, o teatro Old Vic, em Londres, reuniu testemunhos de 20 pessoas sobre o alegado “comportamento inapropriado” do ator norte-americano, que entre 2004 e 2015 foi diretor artístico daquela estrutura.

Já em Agosto deste ano, o jornal Los Angeles Times avançou que Kevin Spacey estava a ser investigado nos Estados Unidos num novo caso de alegada agressão sexual. Um porta-voz da polícia do condado de Los Angeles explicou que a suposta agressão ocorreu em outubro de 2016 em Malibu, no estado da Califórnia. As autoridades já estavam a investigar o actor por um incidente semelhante que terá ocorrido em Outubro de 1992, em West Hollywood.

31 Out 2018

Arábia Saudita liberta 19 filipinas detidas em festa de Halloween

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades sauditas libertaram hoje 19 filipinas que estavam detidas desde sexta-feira por participarem numa festa de ‘Halloween’, em Riade, aguardando agora julgamento na embaixada do seu país.

Em comunicado, o embaixador filipino na capital do reino, Adnan Alonto, anunciou ter conseguido a identificação das filipinas detidas, que afinal são 19 e não 17, como inicialmente reportado.

As autoridades concordaram em libertar as mulheres da prisão Al Nisa, na capital, e entregá-las “temporariamente” à embaixada das Filipinas, onde devem aguardar julgamento por terem violado a lei islâmica que proíbe a interação em público entre homens e mulheres sem laços familiares, segundo Adnan Alonto.

“As leis da Arábia Saudita proíbem estritamente homens e mulheres solteiros de serem vistos juntos em público”, pode ler-se no comunicado do Departamento de Negócios Estrangeiros das Filipinas.

Este episódio levou a embaixada em Riade a emitir um alerta à comunidade filipina no país, pedindo que esta “leve em conta as sensibilidades locais”. Ao mesmo tempo, apelaram aos trabalhadores filipinos que se encontram no Médio Oriente que respeitem as tradições locais e as leis dos países anfitriões.

De acordo com dados das autoridades filipinas, cerca de três mil filipinos abandonam todos os dias o país, muitos deles rumo a países árabes, onde as mulheres tendem a trabalhar como trabalhadoras domésticas e os homens no sector da construção. Cerca de dez milhões são trabalhadores migrantes no exterior e o envio de suas remessas representou 10,46% do PIB filipino em 2017, segundo o Banco Mundial.

31 Out 2018

Pelo menos quatro mortos na passagem do tufão Yutu pelas Filipinas

[dropcap]P[/dropcap]elo menos quatro pessoas morreram na sequência da passagem do tufão Yutu pelas Filipinas, onde as equipas de resgate continuam as operações para encontrar sobreviventes entre a lama e os destroços, informaram hoje as autoridades.

O prefeito de Natonin, na ilha de Luzón, confirmou à imprensa local que cerca de 30 pessoas estão presas num edifício oficial do Governo, soterrado após um deslizamento de terra, e que as equipas de salvamento continuam as operações de resgate.

O prédio é a sede do Departamento Provincial de Obras Públicas, onde dezenas de pessoas afetadas se refugiaram das chuvas intensas e dos ventos fortes do Yutu. O tufão Yutu atingiu na terça-feira as Filipinas e provocou danos materiais, como a queda de árvores e casas que perderam os telhados, além de forçar a retirada de milhares de pessoas.

A tempestade – que passou a sul da trajetória do tufão Mangkhut, que fez dezenas de mortos no mês passado – provocou trombas de água em Luzón, a ilha mais populosa do arquipélago. Yutu tocou a terra na madrugada de terça-feira, com ventos que sopravam a 150 quilómetros por hora, com rajadas de até 210 quilómetros por hora.

Quase dez mil pessoas que vivem em áreas baixas deixaram as suas casas antes da chegada do tufão devido ao risco de inundações. Os ventos destruíram casas, telhados ficaram desfeitos e postes de iluminação e árvores foram arrancados.

Os responsáveis pela gestão de catástrofes disseram que o Yutu é menos poderoso do que o Mangkhut, que provocou a morte de mais de 100 pessoas, a maioria num deslizamento de terra na região de Itogon.

As Filipinas são atingidas todos os anos por cerca de 20 tufões, que causam centenas de mortes e agravam ainda mais a pobreza que atinge milhões de pessoas. O Haiyan, um dos tufões mais violentos de sempre, devastou o centro do arquipélago em novembro de 2013, deixando mais de 7.350 mortos ou desaparecidos, tendo ainda deixado sem habitação mais de quatro milhões de pessoas.

Ainda não é certo se o tufão Yutu irá atingir Macau, uma vez que a possibilidade de ser içado sinal 8 é, para já, muito baixa.

31 Out 2018

China não precisa de Portugal para entrar em África, mas haver empresas portuguesas ajuda, aponta CCLC

[dropcap]O[/dropcap] presidente da câmara de comércio e indústria luso-chinesa, João Marques da Cruz, considerou que “a China não precisa de Portugal” para entrar em África, mas reconheceu que os negócios com empresas portuguesas são mais viáveis.

“Objectivamente a China não precisa de Portugal para entrar em nenhum país africano”, disse o responsável, acrescentando que “sem dúvida que as empresas portuguesas, com o ‘know-how” que têm em África e na América Latina, conseguem acrescentar valor porque conseguem que, se o negócio envolver uma empresa portuguesa, a cooperação empresarial, de negócios, seja melhor recebida e os negócios têm mais condições de serem viáveis se envolverem empresas portuguesas do que diretamente empresas chinesas”.

Em declarações à Lusa a propósito da gala que se realiza na quarta-feira em Lisboa, para assinalar os 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países, com a presença do primeiro-ministro e do embaixador chinês em Portugal, e que acontece antes da visita do Presidente chinês a Portugal, em dezembro, João Marques da Cruz vincou que “o importante é haver uma relação permanente e a um nível elevado de relações económicas entre empresas portuguesas e chinesas e não esteja dependentes dos momentos e altos e baixos”.

Já estamos “a entrar nessa fase de relação estável e de nível elevado entre os dois países”, considerou o também administrador da EDP com o pelouro internacional, vincando acreditar que “as empresas portuguesas possam ser parceiros úteis para negócios entre a China e os países do hemisfério sul, nomeadamente na América Latina e em África”.

Questionado sobre a importância que a iniciativa ‘Rota da Seda’ pode ter para as empresas portuguesas, João Marques da Cruz salientou que Portugal pode beneficiar dessa ideia chinesa.

“Podemos beneficiar dessa iniciativa de investimento, que é a maior iniciativa de investimento em curso no mundo, com investimento muito centrado em infraestruturas, é importante que Portugal se posicione, porque todos os países estão a posicionar-se, mesmo os de maior relevância económica”, disse o administrador da EDP, apontando o exemplo da Alemanha.

“Portugal, com pergaminhos na relação da Europa com a China através de Macau, deve posicionar-se para ser recetor de investimento, fundamentalmente pensado para infraestruturas”, disse, acrescentando: “Julgo saber de um interesse português num investimento no porto de Sines por parte de empresas chinesas e isso encaixa totalmente na lógica da Rota da Seda porque se trata de uma infraestruturas estratégica e há essa propensão chinesa para esse tipo de investimento”.

A nova Rota da Seda foi lançada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, e inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos, centrais elétricas e zonas de comércio livre, visando ressuscitar vias comercias que remontam ao Império romano, e então percorridas por caravanas.

Os projetos são sobretudo construídos por empresas chinesas e financiados pelos bancos estatais da China, estendendo-se à Europa, Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

Em 2017, as trocas comerciais entre os dois países fixaram-se nos 5,6 mil milhões de dólares, com as exportações chinesas a somarem 3,48 mil milhões de dólares e as vendas de Portugal à China a ascenderam aos 2,12 mil milhões de dólares, uma subida homóloga de 34,69%.

31 Out 2018

Tufão Yutu | Aplicados limites de velocidade na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau

[dropcap]D[/dropcap]evido ao tufão Yutu, a partir de hoje será aplicada a medida provisória de limite de velocidade na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, segundo a conta oficial de Wechat para os shuttle-bus que circulam na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, noticiou hoje o canal chinês da Rádio Macau.

Os veículos só podem movimentar-se a uma velocidade inferior a 60 quilómetros por hora. Prevê-se que a viagem de shuttle-bus demore mais 15 minutos, sendo afectado o tempo de espera dos turistas. O fim da medida provisória será anunciado posteriormente de acordo com a situação do tufão.

31 Out 2018

Fundo das Indústrias Culturais investe 6,3 milhões em programa de apoio

[dropcap]O[/dropcap] Fundo das Indústrias Culturais (FIC) anunciou ontem que vai investir 6,3 milhões de patacas no âmbito do apoio financeiro para a criatividade cultural nos bairros comunitários, um dos dois programas lançados este ano. No total, foram aprovados 23 projectos, os quais vão ser executados por 11 empresas culturais e criativas.

O programa – um dos dois lançados no corrente ano pelo FIC – tem como objectivo impulsionar a integração entre os sectores de venda a retalho/restauração em bairros comunitários e a criatividade cultural. Já o programa de apoio financeiro para a construção de marcas encontra-se na fase de candidaturas, sendo que o prazo termina hoje.

Impulsionar mais empresas de Macau a desenvolverem actividades de cooperação entre diferentes sectores (como moda/vestuário, design, exposições e espectáculos culturais e programas cinematográficos e televisivos), para acelerar a divulgação dos produtos/serviços culturais e criativos de Macau no exterior, designadamente aos mercados da iniciativa “Uma faixa, uma rota” e da “Grande Baía” figura como o objectivo. Vão ser seleccionados, no máximo, cinco projectos. A avaliação deve ser concluída até ao final do ano.

31 Out 2018

Ex-Governador Garcia Leandro diz que medidas securitárias são tendência mundial

[dropcap]P[/dropcap]ara o primeiro Governador português de Macau do pós-25 de Abril as recentes medidas securitárias são uma preocupação legítima da China, mas não devem retirar o sono aos residentes locais. “Acho que não [devem tirar o sono às pessoas]. São questões que resultam da ciberguerra e das necessidades cibersegurança, que actualmente acontecem em todo o lado”, disse, ontem, em declarações ao HM.

“A China percebe que não lhe vão fazer uma guerra, porque tem uma grande massa crítica para aguentar, mas pode ter intervenções do exterior através da via digital para tentaram destruir alguma coisa por dentro. É evidente que Hong Kong é um sítio fácil para essas pretensões e Macau acaba por ser arrastado”, acrescentou.

O ex-Governador, que esteve à frente do território entre 1974 e 1979, acredita também que a situação das duas regiões administrativas especiais é diferente. Porém, admite que possa não haver a mesma percepção por parte do Governo Central. “Para nós, não faz sentido esta onda securitária em Macau. Mas se estivéssemos sentados em Pequim, e a olhar de uma maneira mais geral, sem um conhecimento da história e do ambiente local tão profundo, talvez também olhássemos para Hong Kong e Macau da mesma maneira”, justificou. Mesmo assim, Garcia Leandro deixa um aviso: “Hong Kong e Macau são realidades diferentes, mas isso não quer dizer que não possa haver riscos também em Macau”, apontou.

Ainda em relação às mudanças levadas a cabo pelo secretário Wong Sio Chak no território, muitas vezes vistas como mais restritivas das liberdades individuais, Garcia Leandro diz que é uma tendência que vai acontecer em todo o mundo e que resulta também do país ser visto como o principal inimigo dos Estados Unidos da América.

“Hoje há outros perigos com origem no mundo digital e a China está com medo desses perigos. Também os Estados Unidos já definiram que a China é o seu maior inimigo”, frisou. “Por outro lado, esta onda securitária na China vai colocar-se em todos os países. Todos vão ter estes cuidados”, acrescentou.

31 Out 2018

Pólo-aquático | Fishballs de Macau participaram em torneio de Hong Kong

Após uma reestruturação profunda e várias limitações, a formação local de pólo aquático participou no torneio de Hong Kong e alcançou uma medalha de prata numa das taças da tabela inferior

 

[dropcap]A[/dropcap] equipa Fishballs de Macau participou no passado fim-de-semana no Torneio Beach Festival Hong Kong e conquistou a medalha de prata na Taça Vargas, para equipas da segunda metade da tabela. Em declarações ao HM, o capitão da formação, Rui Pedro Pinto, valorizou o esforço dos atletas, uma vez que o clube encontra-se em fase de reestruturação profunda, depois da saída de vários atletas por motivos profissionais.

Ao contrário do que é habitual nas partidas de pólo-aquático, em vez de sete contra sete, o torneio decorreu no formato de quatro atletas contra quatro, num total de 21 minutos, divido em três períodos. Além da formação de Macau, a competição contou ainda com equipas de diferentes países e regiões, como Interior da China, Filipinas, Japão e Hong Kong.

A primeira fase correu bem para a equipa de Macau, que com uma vitória, diante do SG Sichuan, e uma derrota, passou em segundo lugar do grupo. Depois, não conseguiu somar mais vitórias, mas levou para casa a medalha de prata de um dos troféus dos patrocinadores, a Taça Vagas.

“A nossa prestação foi muito positiva tendo em conta as condições de treinos que temos. Também o clube está em reestruturação interna e houve muitos atletas impedidos de participar. Tivemos inclusive de jogar com um estreante, que esteve em muito bom nível, e duas atletas, que também estiverem num nível muito elevado”, disse Rui Pedro Pinto, capitão da equipa, ao HM. “Os resultados até poderiam ser outros, porque no último jogo de qualificação tivemos à beira da vitória, mas faltou aquela ponta de sorte, que às vezes faz a diferença”, acrescentou.

Regresso para o ano

Após esta participação, os Fishballs de Macau vão continuar a treinar, mas o regresso à competição está apenas agendado para o próximo ano. “As próximas provas vão ser em Hong Kong, já no ano que vem. Temos três ou quatro participações em torneios agendadas”, revelou Rui Pedro Pinto.
Em relação ao desenvolvimento da modalidade no território, o capitão explicou também que os Fishballs de Macau vão continuar a apostar na formação local e a preparar mais atletas para reforçar a equipa no futuro.

31 Out 2018

A luz do desejo

Praça da Fruta, Caldas da Rainha, 4 Outubro

[dropcap]E[/dropcap]difício que já foi banco alberga tesouro maior. Se não é museu, engana bem, tantas vezes as portas generosamente se abrem para entrarmos no «cofre» onde se expõe a maior – dizem-me, em coro a Isabel [Castanheira] e a Margarida Araújo – colecção de cerâmica caldense. João Maria Ferreira faz parte daquela raça de coleccionadores cuja paixão o leva, não tanto à acumulação, mas a descobrir o máximo sobre o objecto do seu desejo. A projectar sobre ele luz. Sem eles, muito património se teria perdido nas voragens do tempo e desatenções estatais. Faltou tempo para apreciar cada detalhe, cada história, cada brilho. Obrigatório voltar, e não apenas por causa de Bordalo. A simpatia de João Maria a isso obriga. Outros pretextos podem ainda acontecer, que das idas ao Oeste costumam resultar aventuras.

Museu Municipal, Óbidos, 4 Outubro

Além das muralhas, de pedra e humidade, este lugar está cheio de igrejas, vãos de silêncio onde a luz troca carícias com as sombras. As fotografias que Fernando Lemos tomou de Hilda Hilst ergueram outro desses espaços dedicados ao sagrado. E ao desejo. Na dança entre o olhar e o modelo, sendo no essencial pose, a intimidade encandeia de natural. Ela entrega-se sobre a mesa, mão estendida, olhar fugindo; ele desce para recolher o movimento. Só em três dos doze retratos se cruzam os olhos de ambos, mas em todos ela e ele se tocam. Dela emana absoluta liberdade, de pálpebras cerradas solta tranquilidade. As pupilas, as unhas-garras e o cigarro dizem tão só arrebatamento. «Já não sei mais o amor/ e também não sei mais nada./ Amei os homens do dia/ suaves e decentes esportistas./ Amei os homens da noite/ poetas melancólicos, tomistas,/ críticos de arte e os nada.» Assim lhe disse ela, Hilda, a ele, Lemos. «Agora quero um amigo./ E nesta noite sem fim/ Confiar-lhe o meu desejo/ o meu gesto e a lua nova.»

Circula (pelo menos na Ler Devagar) cuidado volume (Edições SESC), com organização e texto de Augusto Massi, além de fotomontagens inéditas de Fernando Lemos. Ao texto de enquadramento não se podia pedir mais. A recomposição pelo artista das imagens da memória sublinha mais a luz e os olhos, rasgando, colando, focando, desejando. Os retratos, esses, brilham de intensidade. Não consigo deixo de me abrigar neles, templos portáteis de melancólico gesto, lua nova em noite sem fim. (Na página, exemplo do diálogo entre lâmpada, digo lua, e olho.)

Fernando Lemos foi para o Brasil, em 1953, cansado da ditadura. Tantos anos depois, inverte-se o movimento de outros artistas por via das trevas que ameaçam o mais solar dos países.

Casa José Saramago, Óbidos, 5 Outubro

Orquestrada pelo [José] Anjos, assisti intermitentemente às tentativas do [João] Barreiros, do Filipe [Homem Fonseca] e do [Luís] Carmelo para materializarem a incorpórea ideia de «realidade aumentada». (Já vos disse que o tema do Fólio deste ano procurava tactear o futuro?). Ela anda aí, não apenas nos livros de ficção científica, não apenas na literatura ela mesma, não apenas nos delírios tecnológicos, mas sobretudo nas expansões comerciais das redes. Retive duas notas. Esta de que os esforços mais recentes limitarão a nossa liberdade de escolha, ainda que anunciem o contrário. E outra: nos primeiros esforços de contar o mundo (Gilgamesh, Mahâbhârata) logo este se viu aumentado. Nem tanto resolvido.

Isso poderia ter acontecido na longa conversa, partida e logo reunida em um sem número de outras, mal se juntaram a nós o António [de Castro Caeiro], alegre com a realidade física das «Constituições», e o Henrique [Manuel Bento Fialho], solto de uma prestação televisiva de primeira. Disfrutando a sombra de digníssimas oliveiras, à força de um pão com sabor a verdade, devidamente regado, a tarde discorreu como rio fresco pelas margens da FC nacional e internacional, do cinema de género, das memórias, da inevitável filosofia, além de desabafos vários e pitada de má-língua. Nasceu ali, creio, a ideia intensamente hodierna de um festival literário cosplay: cada fã só teria entrada se vestisse a pele do seu escritor de eleição. Quanto tardará a acontecer tal visão do inferno?

Museu Abílio, primeiro, Museu Municipal depois, Óbidos, 6 Outubro

Cedo, demasiado cedo, o mano Tiago [Ferreira] expôs com desarmante clareza os desafios que enfrentamos face à tecnologia, sobretudo o seu braço armado, a robótica. Acalmou uma ou outra ansiedade, talvez tenha despertado outras, mas afirmou confiança invejável no futuro. Pelo que conheço dele no presente, descansou-me. Deu por título à masterclass, Apocalípticos ou integrados, piscando o olho a Umberto, e logo ecoando na do mano António [de Castro Caeiro], que à velocidade da luz, nos fez perceber que é nos momentos em que tudo parece impossível que o futuro se nos rebenta nas mãos: «o piscar de olhos da eternidade age sobre nós». O apocalipse ilumina, afinal, outra possibilidade de sermos em andamento. Assim saibamos ler cada sinal, cada brilho.

Casa abysmo, Óbidos, 6 Outubro

O primeiro andar do Jacinto [Gameiro], ali na Rua Direita, quase caía com o peso do bom humor e da luz que o Carlos [Querido] lançou sobre «As Constituições Perdidas de Aristóteles», finalmente vertidas em português de lei pelo António [de Castro Caeiro], e embrulhadas com sabor e saber pelo Miguel [Macedo], aproveitando bem do passado o que ele pode conter de futuro. Por junto, também com o mano [José] Anjos, parecíamos aviadores de balcão, mas, se olharmos às circunstâncias, servíamos possibilidades. Cada constituição começa por esta altura a instituir-se, com perigos, identidade, mas também expectativa, probabilidade outra. De súbito, veio a Raquel [Santos] arrancar-me daqui…

Museu Municipal, Óbidos, 6 Outubro

…para aqui. Estava para começar a sessão de homenagem ao arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que se espraiou singela e luminosa, com o Nuno [Miguel Guedes] a gerir conversa solta com Luís Coimbra e o Vasco [Medeiros Rosa]. Falando de futuro, houve quem no passado tivesse razão antes do tempo, que fizesse do seu presente pavimento de utopia ajardinada: parques naturais, desenvolvimento sustentável, arquitectura integrada, luta anti-nuclear, amor à terra, hortas urbanas e política, bem entendido, de tudo se falou. Com soberano respeito pelas diferenças. Sim, é possível.

Fui surpreendido, neste contexto, por públicos agradecimentos do Zé [Pinho] e do Humberto Marques, que preside à Câmara. Protestei comovido. O prazer tinha acontecido antes nas longas sessões de preparação, sonhando possibilidades, fazendo pontes, discutindo identidades e constituições e braços amigos, os da robótica.

Bons malandros, Óbidos, 6 Outubro

Um dos segredos mais divertidos e mal guardados do Fólio neste lugar sagrado de pândega. E desejo. Recolhidas as díspares colheitas do dia, vão chegando ao longo da noitada infindável os poetas tomistas e alguns esportistas. A cada um, a Zélia e o Luís [Cajão] oferecem o conforto de um repasto, temperado pelo carinho, e a última bebida da noite ou a primeira da madrugada. Hoje, estivemos a ler futuros nas mãos até cheirar a jornais do dia e o dia raiava.

31 Out 2018

O espanto como acto de resistência

[dropcap]É[/dropcap] tão fácil a vida deixar-nos sem palavras. Sem nada, até. Este exercício algo desesperado de que o leitor é agora testemunha mais ou menos voluntária não passa, outra vez, de uma luta contra o inevitável. Sabemos que vamos perder cedo ou tarde, a questão não é essa; e a resposta é ir escrevendo como quem vive, na ilusão do náufrago optimista – alguém ou alguma coisa nos irá salvar.

Mas não me apetece escrever sobre o que vejo. Prefiro o conforto do bairro, onde a tristeza planetária chega sempre almofadada por algum rosto familiar. Só assim consigo suportar o que medra em todo o lado, algo que nunca esperei assistir mas reconheço como um sintoma e não como a doença. Discursos de ódio, de autoritarismo, da força como derradeiro argumento começam a invadir os dias com uma naturalidade inquietante. Mesmo agora, quando escrevo, existe essa real possibilidade do outro lado do Atlântico, no Brasil. Custa-me alvitrar, ver para além do que somos bombardeados. Para um pessimista antropológico como eu é uma terrível altura para ter razão. Para um moderado, que também sou, é uma péssima altura para não ser ouvido. Gente como nós está à beira da extinção ou na clandestinidade. Sem querer transformámo-nos no novo punk; dizer “vamos pensar antes de agir, discutir antes de fazer” é considerado subversivo pelas ideologias da acção que regressam um pouco por todo o lado.

Sei que o Brasil, de uma forma ou de outra, irá sobreviver. Sei que os brasileiros agradecem os conselhos transatlânticos que lhes chegam, bem-intencionados mas inúteis – e que no fim serão sempre eles a escolher o seu destino. O que me preocupa é o preço dessa escolha e dessa sobrevivência porque, isso sim, não tem fronteiras nem moeda própria. E o que fazer desta sabedoria?

No meu caso, escrever. Por enquanto ainda nos arreda da barbárie. E refugiarmo-nos no que de bom foi escrito, como o faço agora numa crónica de Antônio Maria, O néscio de vez em quando, publicada em 1959. Se o leitor é visita desta casa desde o início saberá que este autor brasileiro é um dos maiores cronistas de sempre. Como se não bastasse, ainda teve tempo para compor e escrever grandes canções, de que a célebre Manhã de Carnaval é só um exemplo. Mas divago, deixem que vos diga da crónica; nela, Maria fala dele e da necessidade de escrever; de como, numas férias da sua escrita, estendido numa rede na praia e ouvindo a conversa doce e inteligente da sua mulher ele interrompe-a constantemente com uma fascinação infantil cada vez que um peixe salta do mar:

« – Você viu o peixe ?
E completo, fazendo o tamanho com as mãos:
– Era dest’amanho»
É esta perplexidade perpétua sobre as coisas que as tornam novas. É isto que quem defende a barbárie não permite nem gosta. Até porque é este espanto mental e de criança que sempre nos irá resgatar. Sempre.

31 Out 2018

Antigo quadro da agência de espionagem líder da Universidade de Pequim

[dropcap]U[/dropcap]ma das mais prestigiadas universidades da China nomeou ontem para novo líder o antigo director da filial em Pequim da agência chinesa de espionagem, ilustrando a crescente pressão do regime chinês sobre o meio académico.

A escolha de Qiu Shuiping para secretário do Partido Comunista (PCC) na Universidade de Pequim surge numa altura em que a liderança chinesa, sob o comando do Presidente Xi Jinping, procura reforçar a conformidade académica e a influência do partido nas universidades do país. Qiu formou-se em Direito, em 1983, pela Universidade de Pequim, onde foi também secretário-geral da Liga da Juventude Comunista da China.

Entre 2013 e 2014, foi secretário do partido no gabinete em Pequim do ministério chinês da Segurança do Estado, o organismo encarregue da espionagem e contra espionagem. A nomeação de Qiu visa formar uma instituição “de classe mundial com características chinesas (…) aproveitando as oportunidades na nova era”, lê-se num comunicado de imprensa emitido pela universidade e que recorre à linguagem oficial do PCC.

Poder reforçado

Sob a liderança de Xi Jinping, que após uma emenda constitucional recente poderá exercer como Presidente vitalício, as autoridades chinesas têm reforçado o controlo sobre a sociedade civil, ensino ou religião.

“No Governo, exército, sociedade ou escolas, norte, sul, este ou oeste – o Partido [Comunista] comanda tudo”, afirmou Xi Jinping, no discurso que inaugurou o XIX Congresso do PCC, em Outubro passado.

O mais poderoso líder chinês desde Mao tem também advertido contra a infiltração de conceitos políticos liberais nas universidades do país, pressionando os académicos a aderirem às noções do regime comunista.
No entanto, centenas de milhares de jovens chineses estudam hoje em universidades fora do país.
A própria filha de Xi formou-se na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

31 Out 2018

China elimina interdição do comércio de partes de tigre e rinoceronte

Numa decisão que contraria a política posta em prática nos últimos anos de combate ao comércio ilegal de espécies em vias de extinção, o Governo chinês volta a abrir portas a caçadores furtivos e contrabandistas. Grupos de protecção dos animais falam de “consequências devastadoras a nível global”

 

[dropcap]A[/dropcap] China vai voltar a permitir o comércio de produtos feitos à base de partes de tigres e rinocerontes em perigo de extinção, sob “circunstâncias especiais”, numa decisão condenada por grupos de protecção dos animais.

Um comunicado divulgado na segunda-feira pelo Governo chinês evita referir qualquer alteração à lei que interdita o comércio, referindo apenas que vai “controlar” a venda e compra, e que os chifres do rinoceronte e ossos de tigre poderão ser comprados apenas a partir de animais criados em cativeiro, para “pesquisa médica e cura [de doenças]”.

“Sob circunstâncias especiais, a regulação da venda e uso destes produtos vai ser reforçada, e qualquer acção relacionada vai ser autorizada. O volume do comércio vai ser rigorosamente controlado”, lê-se na mesma nota.

Ossos de tigre e chifres de rinoceronte são usados na medicina tradicional chinesa, apesar da falta de evidência sobre a sua eficácia no tratamento de doenças e do impacto na vida selvagem.
O Fundo Mundial para a Natureza considerou que a decisão de Pequim vai ter “consequências devastadoras a nível global”, ao permitir que caçadores furtivos e contrabandistas se ocultem por detrás do comércio legal.

“Com a população de tigres selvagens e rinocerontes num nível tão baixo e sob várias ameaças, a legalização do comércio de partes do corpo é simplesmente um risco demasiado grande”, reagiu em comunicado Margaret Kinnaird, directora do Fundo.

“A decisão parece contradizer a liderança que a China tem assumido, recentemente, no combate ao comércio ilegal de espécies selvagens”, afirmou.

Trocas de marfim

A China proibiu o uso e comércio do osso de tigre e chifre de rinoceronte em 1993, depois de aderir à Convenção sobre o comércio internacional de espécies em perigo de extinção, que inclui mais de 170 países.
Nesse ano, eliminou o osso de tigre e o corno de rinoceronte da farmacopeia da medicina tradicional chinesa.
Já no início deste ano, Pequim baniu o comércio e transformação de marfim de elefante.
Desde então, o marfim de elefante deu lugar ao de mamute nos mercados chineses, em Cantão, segundo a agência Lusa.

“Ninguém se atreve a vender marfim de elefante; a polícia mantém vigilância apertada”, explicaram vários vendedores em Hualin, um dos maiores mercados da capital da província de Guangdong.
No entanto, a efectividade da lei está ameaçada pelo comércio nos países vizinhos, com visitantes e intermediários chineses a comprarem marfim de elefante no Japão, Laos ou Vietname, segundo várias organizações de conservação da vida selvagem.

A China é o maior consumidor mundial de marfim, símbolo de estatuto e parte importante da cultura e arte tradicionais chinesas.

31 Out 2018

Chefe do Executivo forçou adjudicação ilegal em obras de Mong Há

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) considerou que a adjudicação das obras de construção de habitação social de Mong Há e de reconstrução do Pavilhão Desportivo de Mong Há foi feita de forma ilegal. As obras já estão em curso, desde o ano passado, mas o tribunal decidiu que o consórcio constituído pelas Companhia de Construção e Obras Portuárias Zhen Hwa e Companhia de Construção & Engenharia Shing Lung nunca poderia ter sido aceitado no concurso, por estar em causa “as condições normais de concorrência”.

Segundo a decisão tomada no passado dia 19 de Outubro, e revelada ontem, um dos accionistas da empresa Shing Lung era igualmente o único accionista de uma outra empresa, a Long Cheong, que também participou no mesmo concurso público. Enquanto a Shing Lung foi a vencedora do concurso da adjudicação da obra, a Long Cheong ficou no terceiro lugar, depois de ter participado em consórcio com a empresa Cheong Kong.

Para o TUI, o facto de haver um accionista comum em duas propostas diferentes é um acto que é susceptível de “falsear as condições normais de concorrência”, o que de acordo com a lei das obras públicas obriga a que sejam “rejeitadas as propostas e candidaturas apresentadas”. Por esta razão, o TUI conclui que “as propostas [com o mesmo accionista] tinham de ser rejeitadas”.

O TUI veio desta forma confirmar uma decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI), de 14 de Junho deste ano, que era contestada pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On. Isto porque após o concurso, as empresas Grupo de Construção Top e Top Builders Internacional, devido à existência do accionista comum, recorreram dos resultados da adjudicação.

Déjà vu

Após analisar a questão, o TSI já tinha decidido a favor das construtoras insatisfeitas, que tinham sido derrotadas no concurso, contudo, Chui Sai On optou por recorrer da decisão. Agora surge um veredicto final e as empresas Zhen Hwa e Shing Lung assumem as custas do processo, uma vez que concorreram em condições que tornam o mesmo inválido.

Quanto ao Chefe do Executivo, devido ao andamento das obras, poderá voltar a recusar aplicar a decisão dos tribunais, o que obrigaria a uma nova adjudicação, invocando “causa legítima de inexecução”, alegando que estão em causa “graves prejuízos para o interesse público”. Esta foi uma medida tomada em relação ao Parque de Materiais e Oficinas do Metro Ligeiro, quando em Agosto deste ano a adjudicação da obra que estava praticamente terminada foi igualmente considerada ilegal.

31 Out 2018

Içado sinal 1 de tempestade com a passagem do tufão Yutu

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) içaram esta manhã o sinal 1 de tempestade tropical, prevendo que o mesmo deverá estar içado durante o dia de hoje. Às 11h00 o Yutu localizava-se a 690 quilómetros a sueste de Macau. O estado do tempo na região será afectado pela influência do tufão com uma monção nordeste, a partir de hoje e até ao fim-de-semana, pelo que, segundo as previsões dos SMG, o vento será forte.

Os SMG prevêem ainda que o sinal 3 de tempestade tropical deverá ser içado entre esta madrugada e a manhã desta quinta-feira, 1 de Novembro, sendo essa probabilidade “moderada a relativamente alta”. É baixa a possibilidade de ser içado o sinal 8 de tempestade.

De acordo com um comunicado, o Yutu deverá “desacelerar a velocidade de movimentação e a pouco e pouco deverá tomar o rumo para norte e para a parte nordeste do mar do sul da China”. “Dado que o estado do tempo na região está afectado pela co-influência do Yutu com uma monção nordeste, nos próximos dois dias, o vento será forte, podendo atingir o nível 6”, apontam os SMG.

31 Out 2018

Lucros da SJM subiram 65,1% no terceiro trimestre do ano

[dropcap]A[/dropcap] Sociedade de Jogos de Macau (SJM) anunciou ontem ter registado lucros líquidos de 707 milhões de dólares de Hong Kong entre Julho e Setembro – mais 65,1 por cento em termos anuais homólogos.

Em comunicado, a operadora, fundada pelo magnata Stanley Ho, indica que as receitas líquidas do jogo ascenderam a 8,3 mil milhões de dólares de Hong Kong – mais 9,5 por cento face ao terceiro trimestre do ano passado – correspondendo a sensivelmente 98 por cento do total de receitas encaixadas pelo grupo.

O segmento de massas contribuiu com 5,6 mil milhões de dólares de Hong Kong – mais 10,6 por cento – ao passo que as receitas do jogo VIP (grandes apostas) geraram 5,03 mil milhões de dólares de Hong Kong – mais 6,6 por cento em termos anuais homólogos.

O EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) foi de 919 milhões de dólares de Hong Kong no terceiro trimestre, traduzindo um aumento de 26,7 por cento comparativamente ao terceiro trimestre do ano passado.

31 Out 2018

Quatro feridos após explosão em restaurante causada por fuga de gás

Acidente ocorreu por volta das 6h50 da manhã, num restaurante no Porto Interior, e três dos feridos estão internados. Autoridades dizem que o número de botijas de gás no restaurante respeitava a lei

[dropcap]Q[/dropcap]uatro pessoas ficaram feridas, três das quais em estado grave, durante a manhã de ontem, na sequência de uma explosão num restaurante no Porto Interior. O caso foi detectado pelas 6h50 na manhã e na origem esteve a fuga de gás numa das botijas do restaurante.

Os feridos são trabalhadores do espaço, três do género masculino e um do feminino, e apresentam queimaduras de primeiro e segundo graus, de acordo com a informação fornecida pelo Corpo de Bombeiros, ao HM. Após a chegada ao local das autoridades, os afectados foram imediatamente transportados para o Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ) e Hospital Kiang Wu.

Segundo um comunicado do Governo, os homens internados no hospital público têm 29 e 32 anos. Um dos feridos tem cortes profundos na cabeça e no rosto e teve de ser suturado. Já o outro teve “queimaduras de grau II em 40 por cento do corpo”, que lhe afectaram “a cabeça, o rosto e os membros”. Também os pulmões deste segundo paciente apresentam lesões, pelo que está internado nos cuidados intensivos.

Para o Hospital Kiang Wu foram encaminhados um homem com 37 anos de idade e uma mulher com 29. O indivíduo apresenta queimaduras de segundo grau nos membros inferiores, fractura óssea discal, contusão cerebral e contusão pulmonar. O estado de saúde é considerado estável. Já a mulher teve alta, horas depois, uma vez que apenas tinha queimaduras ligeiras nos membros inferiores.

O restaurante afectado fica num edifício na Rua Doutor Loureço Pereira Marques e quando as autoridades chegaram ao local já todos os trabalhadores, entre eles os feridos, estavam no exterior. Por esta razão, assim que chegaram ao local os 48 bombeiros, que estavam divididos por 8 viaturas, puderam começar imediatamente a combater as chamas.

“A investigação preliminar aponta para a existência de uma fuga de gás, que depois levou à explosão. A fuga teve origem numa das quatro botijas de gás do restaurante, número de botijas que respeita a legislação em vigor”, disse fonte do Corpo de Bombeiros, ao HM.

Tecto destruído

Como consequência da explosão, o tecto do restaurante, que tem uma habitação por cima, colapsou parcialmente e houve também uma das paredes da cozinha, local onde se verificou o acidente, que ficou totalmente destruída. Além disso, houve vários objectivos destruídos, com os vidros a serem projectados para a via pública. Apesar do impacto, não houve danos para os edifícios situados ao lado do restaurante afectado pela explosão.

Após o incêndio, o Comandante do Corpo de Bombeiros, Leong Iok Sam, deslocou-se ao local onde defendeu, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau, a necessidade dos restaurantes instalarem detectores de fugas de gás. A instalação não é obrigatória, mas é aconselhada pelos bombeiros.

Esta é a segunda grande explosão em restaurantes registada este ano. Em Julho, uma situação semelhante ocorreu na Zona da Areia Preta, também causada por uma fuga de gás numa botija, e causou um morto e seis feridos. Na altura, a vítima mortal não estava no restaurante, mas antes do outro lado da parede da cozinha, numa área de um edifício residencial que dá acesso aos elevadores para os moradores do prédio.

31 Out 2018

Comércio externo subiu 19,6 por cento até Setembro

[dropcap]O[/dropcap] comércio externo de Macau atingiu 75,01 mil milhões de patacas até Setembro, traduzindo um aumento de 16,7 por cento face ao período homólogo do ano passado, indicam dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Macau exportou bens avaliados em 9,07 mil milhões de patacas (mais 5,9 por cento) e importou mercadorias avaliadas em 65,94 mil milhões de patacas (mais 21,7 por cento) nos primeiros nove meses do ano. Por conseguinte, o défice da balança comercial nos nove primeiros meses agravou-se, atingindo 56,87 mil milhões de patacas.

31 Out 2018

Filósofo Chen Lai aborda valores e visão de mundo da cultura chinesa no domingo

[dropcap]“V[/dropcap]alores e Visão de Mundo da Cultura Chinesa – Horizonte da Globalização” titula a palestra proferida, no próximo domingo, por Chen Lai, descrito como um dos mais influentes filósofos e pensadores contemporâneos da China. A iniciativa, marcada para as 15h no auditório do Instituto Politécnico de Macau (IPM), integra as palestras de mestres da cultura organizadas pelo Instituto Cultural (IC) desde 2013.

Em comunicado, o organismo indica que Chen Lai, que é actualmente director da Academia de Estudos Chineses da Universidade Tsinghua e conselheiro do Instituto Central de Investigação de Cultura e História, tornou-se o primeiro doutorado em filosofia na nova China. Chen Lai, que estuda sobretudo história da filosofia chinesa, com especial foco no confucionismo, recebeu inúmeras distinções na China.

A palestra, que vai ser conduzida em mandarim, com tradução simultânea para português, tem entrada livre, embora seja necessário inscrição. O prazo para o efeito termina às 17h do próximo sábado.

31 Out 2018

Ponte HKZM | Aeroporto Internacional de Macau com serviço de ‘check-in’

[dropcap]O[/dropcap] Aeroporto Internacional de Macau anunciou ontem que vai instalar um ‘check-in’ no posto fronteiriço da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, devido ao expectável aumento de passageiros. “Com a abertura da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, espera-se que a mobilidade de residentes e passageiros nas três zonas continue a aumentar no futuro”.

Como tal, “de modo a proporcionar uma conveniente viagem aos passageiros, o Aeroporto Internacional de Macau (MIA) reservou um espaço para instalar o centro de serviço de check-in”, refere em comunicado.

Nos primeiros seis meses do ano, o aeroporto registou mais de quatro milhões de passageiros, mais 20 por cento em termos anuais homólogos.

31 Out 2018

Quase um quinto da população prisional em prisão preventiva

Quase um quinto da população prisional de Macau encontra-se em prisão preventiva. A possibilidade de se introduzir a pulseira electrónica merece “reflexão”, mas parece estar fora da agenda do Governo

[dropcap]A[/dropcap] população prisional de Macau era composta, a 31 de Agosto, por 1.397 reclusos. Do total, 250 encontravam-se em prisão preventiva, ou seja, o equivalente a 17,8 por cento do total, de acordo com dados facultados ao HM pela Direcção dos Serviços Correccionais (DSC).

O universo de reclusos – 1.397 – representa 85,7 por cento da capacidade máxima do Estabelecimento Prisional de Coloane, estimada em 1.630 pessoas. Ora, a proporção de reclusos em prisão preventiva – na ordem de um quinto – tem desencadeado críticas por parte de advogados que alertam para a eventual banalização do recurso à mais grave medida de coacção prevista na lei.

Neste âmbito, a possibilidade de ser introduzida a figura da pulseira electrónica, por um lado, como alternativa a medidas privativas de liberdade e, por outro, para aliviar a lotação da cadeia, tem sido abordada de quando em vez, por deputados e advogados. Aliás, há sete anos, chegou mesmo a ser proposta pelo Conselho dos Magistrados do Ministério Público (MP) no âmbito do parecer relativo à revisão do Código de Processo Penal (CPP) por ser “uma medida madura tecnologicamente e viável juridicamente”. Recorde-se que o organismo era liderado, à altura, por Ho Chio Meng, condenado a uma pena de 21 anos de prisão, em Julho do ano passado.

Pulseira inteligente

Contactado pelo HM a respeito, o actual Procurador, Ip Son Sang, afirmou que o Ministério Público (MP) não iniciou qualquer “estudo específico” sobre a hipótese de introdução da pulseira electrónica, mas “mantém um parecer positivo” em relação à alteração do CPP. “No entanto, as alterações devem assegurar a protecção dos direitos dos cidadãos”, ressalva o gabinete do Procurador, na breve resposta, num aparente comentário a outras sugestões apresentadas na altura pelo Conselho de Magistrados do MP relativamente à reforma do CPP.

O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, respondeu, por seu turno, que a pulseira electrónica é uma medida “merecedora de profunda reflexão e discussão pública, a qual, não obstante a sua relevante importância, não se esgota na opinião da comunidade jurídica”. No entanto, as questões de política criminal não são definidas pela secretaria para a Segurança, cabendo-lhe, tão somente, a execução das medidas privativas de liberdade impostas pelos tribunais da RAEM”, ressalva.

A secretaria para a Administração e Justiça figura como a tutela sob a qual recai a responsabilidade na matéria – dado que a introdução da pulseira electrónica implicaria mexidas no CPP –, mas Sónia Chan escusou responder às perguntas endereçadas por este jornal.

31 Out 2018

LAG | Aliança de Povo sugere arrendamento de habitação pública a jovens

A Aliança de Povo de Instituição de Macau organizou um fórum que antecipa a apresentação das próximas Linhas de Acção Governativa. A maioria dos convidados focou-se nos temas da habitação pública, trânsito e nas medidas e apoio social para idosos

 

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Aliança de Povo de Instituição de Macau, Nick Lei, entende que apesar do Governo ter elaborados vários projectos de habitação pública, existem lacunas que merecem preocupação, nomeadamente a falta de calendários para a conclusão desses projectos. À margem do fórum organizado na sede da associação, o presidente disse aos jornalistas esperar que as casas públicas sejam construídas o mais rapidamente possível.

Nick Lei revelou que recentemente a opinião pública foi auscultada, inclusivamente das faixas etárias mais que manifestaram esperança na redução dos preços das casas. Para corresponder a estas expectativas, o líder associativo espera que as Linhas de Acção Governativa (LAG) tenham medidas que auxiliem os mais novos a aceder ao mercado imobiliário.

“Perante o contexto da falta de habitação pública suficiente, e antes da implementação de medidas de controlo dos preços das casas no mercado privado, será que o Governo pode introduzir novos conceitos no âmbito de habitação pública? Por exemplo, fazer com que os jovens possam arrendar fracções de habitação pública antes de as adquirir”, salientou.

Idosos e trânsito

Por outro lado, o responsável da associação mencionou os problemas crescentes enfrentados pela população idosa. No entanto, Nick Lei sugere que se aumente o valor da pensão para idosos, que sejam oferecidas oportunidades de emprego a este segmento populacional, que o regime de previdência central não obrigatório seja revisto e que se implemente o regime obrigatório.

O presidente da Associação dos Consumidores das Companhias de Utilidade Pública, Cheang Chong Fai, destaca o trânsito como um dos temas que mais expectativas gera para as LAG, especialmente o tráfego na zona da Pérola Oriental e o impacto que tem na vida quotidiana da população.

Por sua vez, Nelson Kot, presidente da Associação de Estudos Sintético Social de Macau, confessou não ter uma perspectiva optimista em relação ao relatório das LAG de 2019, por achar que não será fácil ter ideias criativas. Ainda assim, o líder associativo critica o facto de o Governo ter organizado encontros com associações locais só recentemente, numa altura demasiado próxima da data de divulgação do relatório das LAG. Como tal, Nelson Kot pede que o Executivo comece os encontros meio ano ou até nove meses antes de divulgar relatório, para que as sugestões sejam tidas em conta. Entretanto, o presidente está optimista e prevê que as medidas apresentadas sejam benéficas para os cidadãos, nomeadamente através do aumento das prestações de assistência social.

 

LAG à vista

A Associação de Nova Visão de Macau realizou um inquérito, ao qual responderam mais de oito centenas de pessoas, sobre as expectativas para as LAG. Segundo um comunicado, mais de 80 por cento dos cidadãos querem medidas e políticas sociais incluídas no relatório das LAG. De entre as dez medidas e políticas mais esperadas, as primeiras três dizem respeito à maior rapidez de construção de habitação pública, melhorias no trânsito e acelerar a reforma médica. Além disso, a associação revelou que, pela primeira vez, entraram na lista de temas expectáveis para as LAG políticas de incentivo à criação de negócios entre os mais jovens e soluções para inundações.

31 Out 2018

Deputados aguardam solução sobre redução dos membros da CCPPC na comissão eleitoral

[dropcap]A[/dropcap] 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) continua à espera uma “solução” para resolver a redução de 16 para 14 do número de representantes dos membros de Macau na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) na comissão eleitoral que elege o Chefe do Executivo, a via que vai abrir caminho à entrada de dois representantes do futuro Instituto para os Assuntos Municipais (IAM).

“Esta proposta de lei [de alteração à Lei Eleitoral para o Chefe do Executivo] entra em vigor a 1 de Janeiro e tem que se esclarecer bem quem são os dois que não podem eleger o Chefe do Executivo”, insistiu o presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). O caminho – segundo apontou Chan Chak Mo – deverá passar eventualmente pela introdução de uma disposição transitória.

É que o diploma, actualmente em análise em sede de especialidade, tem data de entrada prevista a 1 de Janeiro, altura em que estará ainda a valer o mandato (de cinco anos) dos membros da quarta comissão eleitoral, ou seja, a que escolheu o líder do Governo em 2014. O artigo 31.º do diploma dita que se a perda de qualidade de candidato for relativa designadamente a representantes dos membros de Macau na CCPPC procede-se a uma nova selecção dos correspondentes membros na comissão eleitoral.

Estes – recorde-se – são eleitos pelos seus pares mediante sufrágio interno. No entanto, na perspectiva dos deputados, a norma precisa de ser “mais clara”. Enquanto falava aos jornalistas, Chan Chak Mo deu conta de que estava a decorrer uma “reunião técnica” entre as assessorias do Governo e da AL para tentar resolver o imbróglio.

O outro ponto que dominou a reunião prendeu-se com os futuros representantes do IAM que vão entrar para a comissão eleitoral. Segundo Chan Chak Mo, houve deputados que contestaram o facto de o diploma prever que os membros do conselho de administração do IAM – nomeados pelo Chefe do Executivo – possam integrar a comissão eleitoral, composta por 400 elementos que escolhe o líder do Governo, sob o argumento de “ética política”, por “parecer que estarão a votar no patrão”.

No entanto, a maioria dos membros da 2.ª Comissão Permanente da AL acabou por aceitar as explicações do Governo. “Membros do conselho de administração também são membros do IAM”, afirmou o presidente da 2.ª Comissão Permanente da AL, apontando que a sua exclusão constituiria assim uma violação à Lei Básica. “Isto não é uma novidade”, sustentou, fazendo o paralelismo com os deputados nomeados pelo Chefe do Executivo que também podem votar na sua eleição.

31 Out 2018

Governo aguarda caducidade de planta cadastral para decidir futuro do terreno do Alto de Coloane

[dropcap]O[/dropcap] Executivo está dependente da declaração de caducidade da planta cadastral para tomar medidas quanto à propriedade do terreno localizado no Alto de Coloane. “A planta cadastral foi emitida de acordo com o regime geral de construção urbana. Esta planta tem a validade de um ano e perdeu a sua validade no início do corrente ano. Não precisamos de apontar a sua caducidade e, a partir deste momento, não iremos emitir uma nova planta”, apontou o responsável da Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro.

Li Cafeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), garantiu que os restantes processos estão dependentes dessa caducidade. “Vamos revogar a planta de alinhamento oficial e depois iremos fazer o despejo. Se alguém perdeu o direito de propriedade não pode requerer uma nova planta cadastral, estamos a aguardar pelo estado do direito de propriedade do sujeito e depois é que vamos avançar com procedimentos”, explicou.

Em Fevereiro deste ano, um relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) denunciou o caso de fraude associado ao terreno localizado no Alto de Coloane, não só em termos da propriedade como das suas dimensões. Neste momento, decorre uma investigação.

Despejo em curso

Quanto ao terreno da antiga fábrica de panchões, localizado no coração da Taipa velha, está em curso o processo de despejo, que envolve 28 mil metros quadrados. “O estado do terreno é complexo, pois há quatro formas legais, uma vez que uma parte do terreno é estatal, outra incerta e uma outra que está relacionada com contratos já celebrados, mas que foram considerados caducados. Estamos a tratar do processo de despejo, está a decorrer”, referiu Li Cafeng.

Em Dezembro do ano passado, a Sociedade de Desenvolvimento Predial Baía da Nossa Senhora da Esperança recorreu para o Tribunal de Segunda Instância, no âmbito do caso ligado à Fábrica de Panchões Iec Long, mas voltou a ser derrotada. A empresa pretendia evitar já a ordem de desocupação dos terrenos que trocou pela fábrica, mas viu as suas pretensões serem-lhes negadas.

31 Out 2018

Seis meses depois, Boracay procura recuperar do fecho

Boracay abriu aos turistas na passada sexta-feira. As festas de praia estão proibidas e o número diário de turistas passa a fixar-se em 19 mil. Interrompida a principal actividade económica, a população passou a sofrer ainda mais privações. Joven Antolin não cruzou os braços e perante a adversidade serviu mais de 26 mil refeições a famílias carenciadas durante o período em que a ilha esteve encerrada

 

[dropcap]A[/dropcap]cabaram-se as festas. Boracay reabriu ao turismo, com novas e apertadas regras. Para já, foi anunciado que as festas na praia têm os dias contados, assim como a ingestão de bebidas alcoólicas e o consumo de tabaco. Outra das mudanças face ao que era habitual nos areais de Boracay é a proibição de vendedores, massagistas, espectáculos de fogo e, para já, desportos aquáticos. Também a quantidade imensa de barcos que habitualmente ficavam ancorados à beira-mar foram forçados a atracar noutras paragens.
Além destas alterações, foi fixado um número mínimo de turistas permitidos diariamente na ilha (19 mil), enquanto o número máximo de trabalhadores passou a ser 15 mil por dia.

É de referir que no ano passado, Boracay foi visitada por dois milhões de turistas, o que apurou mil milhões de dólares de lucro, em grande parte às custas de um desastre ambiental que estava à vista de todos.

Antes do encerramento da ilha, as autoridades filipinas descobriram que cerca de um terço dos 600 a 700 resorts operavam sem licença. Deste universo, apenas foi permitida a reabertura a 157 hotéis, oferecendo 7308 quartos aos primeiros turistas que regressaram a um dos mais procurados destinos turísticos da Ásia.
O Executivo de Duterte tem planos para alargar a “restauração” a outros pontos de grande procura no arquipélago, que tem mais de sete mil ilhas.

A nova visão do Governo filipino para Boracay irá também afectar a indústria do jogo, nomeadamente o grupo Galaxy que se preparava para abrir um casino na ilha, com um investimento previsto de cerca de 500 milhões de dólares norte-americanos. O casino seria aberto em parceira com um grupo filipino, que face à notícia de que não seria permitido jogo em Boracay emitiu um comunicado dirigido à Bolsa de Valores das Filipinas a dizer que não tem mais informações a acrescentar sobre o projecto, além do que foi noticiado nos meios de comunicação social.

Vida suspensa

Na passada sexta-feira terminou o calvário de um povo que ficou, de um dia para o outro, sem sustento. Durante seis meses, os empregos e salários ficaram em suspenso. Não houve turistas a quem dar massagens ou refeições para servir nos restaurantes. Em nome da protecção ambiental, a ilha de Boracay esteve fechada durante seis meses ao turismo e só abriu na passada sexta-feira.

De portas encerradas, os residentes da paradisíaca ilha na província de Aklan, depararam-se com desemprego e, por consequência, fome. Joven Antolin, filipino com nacionalidade canadiana e proprietário de um hotel na ilha, resolveu abrir as portas para dar de comer a parte da comunidade, em especial numa das áreas mais pobres na zona norte, Yapak. Todos os dias, adultos e crianças fizeram fila com um prato nas mãos à espera de comida.

Seis meses depois, Joven Antolin disse ao HM que serviu um total de 26,750 refeições a moradores da ilha e garante que há ainda pessoas à espera de licenças para poder regressar ao trabalho. “Muitos dos locais que vivem na nossa comunidade ainda estão à espera de trabalho, pois estavam ligados aos barcos de recreio e, neste momento, a sua circulação ainda não é permitida. Muitas mulheres que vendiam bugigangas e lembranças também continuam à espera do Governo”, confessou.

Face a esta circunstância, quem esperou seis meses para voltar ao activo, vai ter de aguardar mais, com “paciência e um grande espírito de perseverança”, sublinha Joven.

“Algumas pessoas que antes estavam empregadas em hotéis tiveram a oportunidade de regressar. Os locais que conduziam barcos, tinham bancas de rua, eram massagistas na praia ainda estão à espera dos planos que o Governo terá para eles. Muitos dos hotéis ainda não conseguiram abrir porque necessitam de licença. O processo para a obtenção dessa licença é muito caro.”

Ainda assim, o Governo liderado por Rodrigo Duterte tem providenciado “subsídios que servem de incentivo ao trabalho na comunidade”. “Essas pessoas [que continuam à espera] limpam as ruas e o Governo paga-lhes por esse trabalho, mas não tenho a certeza se esse programa vai continuar”, acrescentou.
O proprietário do hotel referiu também que antes do fecho de Boracay a turistas, “a maioria dos trabalhadores na área do turismo, ligados a hotéis e restaurantes, foram reencaminhados para as áreas metropolitanas”.

Restam sinais de emprego pouco qualificado e mal pago, assegura. “Apenas 15 por cento dos locais tem um emprego significativo na área do turismo. Espero que isso mude.”

Além das questões laborais, permanecem problemas relacionados com infra-estruturas. No interior da ilha há ainda muitas vias rodoviárias em péssimas condições e, por isso, fechadas à circulação do trânsito. “As estradas ainda estão em obras e pode levar algum tempo até que fiquem concluídas. Também é necessário mexer em alguns edifícios que precisam de ser demolidos. Acredito que tudo ficará a funcionar bem, tendo em conta algumas estruturas que já estão concluídas.”

No passado dia 11, Joven Antolin escreveu na sua página de Facebook que a ilha poderia não estar ainda pronta para receber turistas. “Será que iremos receber bem as pessoas quando a maior parte das estradas estão em construção e continuam a existir inundações quando chove e a electricidade se mantém inconsistente? Será que trazer pessoas beneficia o processo?”, questionou.

Para o proprietário do Oasis Resort and Spa, esta situação “não é justa para os convidados que não fazem a mínima ideia de como está o interior da ilha, sobretudo quando estão disponíveis poucos serviços”, escreveu.

Apoio não acabou

Domingo, dia 28, foi o último dia em que o resort de Joven Antolin distribuiu refeições a famílias necessitadas, mas o empresário garante que vai continuar a desenvolver um programa de cariz social.
“No último domingo foi o último dia em que demos alimentação à comunidade e começamos a preparar o hotel para os hóspedes. Ainda providenciamos refeições gratuitas para os alunos e damos essas refeições nas salas de aula.”

Nos próximos meses, todos os que se hospedarem no hotel de Joven Antolin poderão ajudar também a comunidade. “Começámos um programa que vai continuar neste ano académico. Nesta altura, vou levar vários doentes para Manila que precisam de cirurgias, na maioria ao coração e ancas, e também para que façam check-ups médicos. Esperamos que os futuros hóspedes da ilha possam considerar hospedar-se no nosso hotel para que possamos continuar a prestar cuidados à nossa comunidade. Aqui podem ter férias com uma finalidade.”

Neste sentido, os turistas poderão também fazer voluntariado e participar “no programa de doação de refeições ou até a ajudar alunos no programa que estamos a desenvolver”. “Podem desfrutar de um bom dia na praia e fazer a diferença ao mesmo tempo, é uma situação em que ambos ganhamos”, disse ao HM.

Ao longo dos últimos seis meses, Joven Antolin foi mantendo um diário do seu programa de apoio no Facebook. No passado dia 3, foi relatada a fome que muitos sentiram nestes meses em que o negócio e o trabalho pararam por completo. “Dia 156: ter fome e não ter nada, ao mesmo tempo que se observa os outros a comer, é a pior experiência que alguém pode ter. Nesta fase, já servimos 23,400 refeições e estamos gratos por esta oportunidade de servir a comunidade neste período duro e por podermos oferecer refeições gratuitas a todos os que precisam.”

Outro dos relatos feitos por Joven Antolin tem como foco o aumento dos preços dos alimentos nos mercados. “Dia 99: em apenas dois dias os preços dos vegetais voltaram a aumentar. As couves e cenouras que comprei há dois dias a 100 pesos por quilo (dois dólares americanos) estão agora a 140 pesos (2.75 dólares). Há o receio de que os preços continuem a aumentar”, apontou.

Ajuda na saúde

Além de providenciar comida, Joven Antolin tem ajudado várias pessoas que necessitam de tratamentos médicos. Com esse propósito, abriu uma campanha de recolha de fundos. O gerente de hotelaria divulgou um desses casos na sua conta de Facebook no passado dia 6 de Setembro. “Dia 129: Ontem, depois de servir refeições visitei um homem que necessita de uma cirurgia à anca. Ele e os quatro filhos vivem numa divisão pequena, que tinha o chão inundado devido à água da chuva. Estavam bastante envergonhados por me deixarem entrar, mas quis conhecer a realidade em que têm vivido. É um local pequeno com camas partidas e cheio de roupas molhadas. Mas, ainda assim, as crianças mantém um sorriso. Augusto tem feito um enorme esforço para cuidar dos filhos mesmo que isso o magoe fisicamente.” Mais tarde, este homem acabou por receber tratamento com a ajuda de Joven Antolin.

Descrita como “fossa séptica” pelo próprio presidente filipino, Rodrigo Duterte, a ilha de Boracay voltou a abrir portas ao turismo com a água mais limpa e com menos espaços hoteleiros e de restauração junto às praias.

Além disso, haverá uma cota de visitantes autorizados e novas regulamentações, como a proibição de tabaco e álcool nas praias, a fim de trazer ordem para ao litoral. O objectivo agora é tornar sustentável uma ilha que acolheu nos últimos anos até dois milhões de turistas por ano.

A ministra do Turismo das Filipinas, Bernadette Romulo-Puyat, espera que este “novo” Boracay marque uma “cultura sustentável do turismo” nas Filipinas. “Trata-se de ter em conta o impacto das nossas acções sobre o estado actual e futuro do meio ambiente”, disse.

31 Out 2018