Hoje Macau Manchete SociedadeIndianos querem mais casinos e fazer de Goa “Macau da Índia” [dropcap]O[/dropcap] analista de jogo Grant Govertsen disse que o Governo indiano quer mais casinos em Goa e já pediu aos operadores para começarem a construir ‘resorts integrados’ em Macau, para a tornar no “próximo Macau”. Num evento promovido pela Associação Comercial Britânica em Macau (BBAM, na sigla inglesa), o director Executivo da Union Gaming afirmou que o Governo indiano “pediu aos casinos para começarem a construir ‘resorts integrados’ em Goa” para fazer de Goa “Macau da Índia”. Grant Govertsen apontou para o grande potencial de jogo da Índia e que está subvalorizado: “Os jogos de casinos ainda estão embrionários [na Índia], representam apenas 200 milhões de dólares, apesar de terem uma população de 1,3 mil milhões de pessoas”. Os casinos em Goa estão geralmente localizados em barcos fluviais e os que estão em terra não são para já apelativos para os milionários indianos, sublinhou o analista. “O Governo não quer mais barcos fluviais e quer que os casinos se desloquem para terra”, afirmou o director executivo da Union Gaming. Na opinião do analista, os operadores de jogo que não entraram em Macau, quando o jogo foi liberalizado no início do milénio, “não querem perder o barco” de Goa e querem apostar naquele que poderá ser o “próximo Macau”. “O desenvolvimento do jogo na Ásia esmaga o resto do mundo”, apontou o analista. Riscos asiáticos O Japão, Coreia, Vietname, Tailândia, Camboja, Laos, Myanmar e Filipinas, são na opinião de Grant Govertsen as principais ameaças ao monopólio do jogo em Macau. “O Japão representa a maior oportunidade para qualquer operador de jogo”, apontou Govertsen. “Vai haver um risco real para Macau”, mas só depois 2025, a data prevista para o arranque dos casinos no Japão. O parlamento nipónico aprovou em Julho uma lei que permite a abertura de três casinos e várias operadores de Macau já demonstraram interesse garantir uma licença no Japão. “O relacionamento especial entre o Japão e os EUA pode ajudar os operadores norte-americanos”, como a MGM Resorts. Das seis operadoras em Macau, a Las Vegas Sands, a Wynn e MGM têm a maioria de capital norte-americano. “Acreditamos que a Las Vegas Sands, MGM (…) e a Melco Resorts estão entre os operadores de casinos com maior probabilidade de obter uma licença no Japão”, disse à Lusa, em julho, a analista da Bloomberg, especialista no jogo na Ásia, Margaret Huang. Nesse mesmo mês em resposta a agência Lusa, a operadora de jogo em Macau Galaxy Entertainment Group demonstrou todo o interesse em conseguir uma das três vagas existentes. A aposta no Japão acontece no momento em que as licenças de jogo em Macau terminam entre 2020 e 2022. Até à data não é conhecido um calendário para a revisão das licenças, nem é claro se será mantido o modelo de concessões e sub concessões. “Tenho dificuldade em acreditar que vá haver alguma mudança [nas concessões] com o actual Governo”, afirmou Govertsen. “Os investidores estão muito focados nas concessões e claro que estão a pensar que a guerra comercial entre os EUA e a China pode não ser bom para os operadores norte-americanos” e por essa razão, o analista da Union Gaming acredita que receios as autoridades de Macau só vão tomar uma decisão em relação às concessões “daqui a sete ou mais anos”.
Hoje Macau SociedadeInstituto Cultural de Macau e Fundação Oriente acordam reforço de cooperação [dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural e a Fundação Oriente assinaram um protocolo para reforçar a cooperação entre Portugal e Macau, que prevê actividades de investigação e de promoção de actividades. O objectivo do protocolo passa por “promover e aprofundar a relação mais estreita da cooperação cultural entre Macau e Portugal (…) na área da cultura”, sublinhou o Governo em comunicado. O âmbito da cooperação inclui actividades conjuntas de investigação e co-edição de estudos, reforço da articulação entre museus e realização conjunta de eventos, bem como o intercâmbio de informação e colaboração na promoção e divulgação de ações organizadas por estas entidades. A cerimónia foi presidida pela vice-presidente do Instituto Cultural, Leong Wai Man, e o presidente do conselho de administração da Fundação Oriente, Carlos Monjardino.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA questão da sustentabilidade (III) “Sustainability, ensuring the future of life on Earth, is an infinite game, the endless expression of generosity on behalf of all.” “Drawdown: The Most Comprehensive Plan Ever Proposed to Reverse Global Warming” – Paul Hawken and Tom Steyer [dropcap]Q[/dropcap]uando a fabricante de mobiliário Herman Miller, reconhecida pela sua inovação em móveis de interiores, soluções para ambientes de assistência médica, tecnologias e serviços relacionados, com sede em Michigan nos Estados Unidos e fábricas na China, Itália e Reino Unido, bem como escritórios de vendas, revendedores licenciados e clientes em mais de cem países, examinou a composição da sua cadeira de escritório líder do mercado, encontrou mais de duzentos componentes. A “McDonough Braungart Design Chemistry (MBDC)”, foi fundada em 1995 pelo arquitecto William McDonough e pelo químico Dr. Michael Braungart, que defende abordagens infalivelmente engenhosas do “berço ao berço”, trabalhando com empresas para projectar intencionalmente produtos que eliminem o conceito de resíduos, usam energia alternativa, valorizam a água limpa e celebram diversidade há mais de vinte anos, sendo grandes defensores da sustentabilidade, e que inspeccionaram a mesma cadeira, descobrindo que os duzentos componentes continham mais de oitocentos compostos químicos. Ainda que o uso de diversos materiais seja uma prática padrão da indústria, as matérias-primas a essa escala confunde a sustentabilidade. A Herman Miller aproveitou esse conhecimento para o projecto subsequente da sua premiada cadeira “Mirra”, cuja composição de materiais é dramaticamente simplificada, sendo 96 por cento reciclável, mostrando como qualquer empresa deve começar a repensar as suas escolhas de materiais e sabemos que várias empresas usam conjuntos de materiais para eliminar componentes ambientalmente suspeitos das suas cadeias de fornecimentos. Tais agregados vão desde uma simples lista de produtos químicos proibidos enviados aos fornecedores de uma empresa até protocolos sofisticados que exigem análises laboratoriais das matérias-primas de um produto. O processo de triagem exige que as empresas consigam informações detalhadas dos seus fornecedores sobre os componentes químicos dos seus produtos e avaliem o seu impacto na saúde humana e ambiente. Os materiais suspeitos são assinalados para eliminação. Os conjuntos de materiais podem ser bastante restritivos, como o faz a gigante química suíça Ciba-Geigy que compreendeu na década de 1990, quando os mil e seiscentos corantes químicos da Ciba passaram por uma inspecção da MBDC e apenas dezasseis foram aprovados no teste. Os testes de materiais tóxicos eliminam os materiais perigosos, ao invés de seleccionar os melhores. Tentar eliminar de forma crescente os resíduos e as toxinas, seja por meio de ecoeficiência ou triagem, é um caminho muito lento. Os líderes empresariais podem encontrar a solução substituindo a análise pela acção. As empresas podem avançar directamente para uma acção parcimoniosa, indo além dos critérios tradicionais de fornecimento, como o desempenho e a estética. A segunda regra da biosfera fornece dois critérios adicionais, um físico e outro económico. Os materiais devem ser fisicamente capazes de ser reciclados e nem todos os materiais o são. O Nylon 6 na carpete da Shaw, por exemplo, pode ser reciclado, mas o seu parente mais próximo, Nylon 6,6 não pode e ambos são usados na indústria de carpetes, mas apenas o primeiro é transformado em fibra de carpete de alto valor agregado. O Nylon 6,6, se for reciclado, é fundido para uso em produtos de valor muito mais baixo, como caixas de plástico e madeira, apenas constituindo uma parte do seu trajecto para a deposição. A reciclagem de materiais deve ser rentável. É mais barato comprar novas matérias-primas no mercado ou usar materiais reprocessados? Se os materiais recuperados forem mais baratos ter-se-á encontrado um vencedor virtuoso e por exemplo, até 75 por cento do aço e mais de 50 por cento do alumínio são reciclados, principalmente, porque é necessária apenas uma fracção da energia para produzir metal virgem. A terceira regra é repensar o projecto. Quando os engenheiros enfrentam um novo desafio de projecto, geralmente questionam qual será o melhor material para a aplicação que idealizam, mas com uma combinação de materiais limitada, a pergunta é sobre qual o projecto que atenderá às especificações dos produtos que possuem, e será usando os materiais existentes ou como se pode projectar um novo produto fidedigno feito a partir de materiais exíguos? Integrar esse tipo de pensamento ao projecto de um produto significa começar pelo fim. É de considerar que para tornar o trabalho de reciclagem virtuoso, os líderes empresariais devem planear desde o início do projecto até ao final da vida útil do produto. As bactérias, na natureza, reciclam a carcaça de um coelho porque tem muita energia e valor nutritivo. Os líderes empresariais ambientalmente conscientes, em contraste, tentam minimizar os materiais nos seus produtos em nome da ecoeficiência, fazendo sentido se os produtos forem reciclados ou depositados, quando os clientes pretendem substituí-los no final do seu ciclo de vida útil, mas pode ser pérfido se estiverem a tentar recuperar os materiais economicamente. Um enorme problema de desperdício no mundo ocidental é a carpete usada. As carpetes usadas geralmente são depositadas em depósitos de resíduos ou queimadas em incineradores. A Polyamid 2000 AG desenvolveu um processo para reciclar carpetes de poliamida (PA). A central da Polyamid 2000 AG utilizou, pela primeira vez na produção industrial, a tecnologia da inovadora de decomposição para reciclar carpetes, ou seja produzir PA, a partir da contida na fibra da carpete, pela extracção de monómero. As unidades de produção têm todos os componentes de produção necessários para separar a PA da matéria-prima da carpete usada, e não tratada para processar a PA, em um material sintético comercializável. Assim, a história da Polyamid 2000 AG é importante, pois tinha quase cinco mil milhões de quilos de resíduos de carpetes usadas a serem depositados em aterros anualmente, e menos de 5 por cento para serem recicladas na década de 1990, sendo os fabricantes de carpetes criticados pelas Organizações não Governamentais e autoridades governamentais. A indústria, em resposta às críticas, voltou-se para a monstruosa instalação da Polyamid 2000 AG, instalada em uma fábrica da era comunista na antiga Alemanha Oriental na cidade de Premnitz, que foi projectada para reciclar a fibra de nylon das carpetes usadas. A fibra facial era atraente porque constituía a parte mais valiosa de uma carpete e podia ser alterada quimicamente e transformada em material renovado, tão bom como o novo, e como o processo consumia menos energia do que fabricar nylon a partir de reservas de matérias-primas, também era de esperar que fosse rentável. As instalações da Polyamid 2000 AG eram uma maravilha industrial, contando com uma de linha de fabricação altamente eficiente. As carpetes usadas eram limpas, analisadas e levadas em transportadores aéreos para equipamentos químicos que alteravam a fibra em matérias-primas. Esperava-se que a instalação extraísse cerca de dez milhões de quilos do novo Nylon 6 de mais de cento e cinquenta milhões de quilos de carpetes usadas anualmente, mas inesperadamente encerrou a laboração passado três anos. O espanto foi geral e todos se interrogaram de como tinha sido possível que uma solução verde demasiado promissora falhasse de forma espectacular? Os especialistas em PA, atribuíram ao facto do conteúdo de nylon nas carpetes usadas europeias ser menor que o esperado e diminuir anualmente. As carpetes americanas eram fabricadas com 45 por cento de fibra de nylon, e os fabricantes de carpetes europeus reduziram o conteúdo de nylon para 25 por cento. Tal economizou matérias-primas, mas tornou economicamente inviável recolher e reciclar carpetes usadas. A estratégia ambiental bem-intencionada levou à interrupção de actividade da Polyamid 2000 AG. Os fabricantes podem evitar o mesmo destino usando ciclos e devem projectar o valor de recuperação desde o início do processo. A quarta regra magna é pensar em economias de escala. É de entender que uma paleta parcimoniosa e um processo virtuoso de reciclagem podem estabelecer plataformas sustentáveis para séries integrais de produtos. A empresa americana Patagonia, tem por lema construir o melhor produto, não causando danos desnecessários e usando os negócios para inspirar e implementar soluções para a crise ambiental e que se dedica fundamentalmente, à venda por retalho de equipamentos para actividades ao ar livre. A Patagonia tem uma longa história de inovação para reduzir o impacto ambiental, desde o uso de garrafas de refrigerantes recicladas em casacos desde 1993 até à mudança para 100 por cento de algodão orgânico em 1996. O programa “Common Threads Garment Recycling (CTGR)”, lançado no Outono de 2005, marca o pilar mais recente da história de inovação ambiental da empresa. Através desse programa de reciclagem a Patagonia tem vido a coleccionar peças de vestuário desgastadas e usadas dos clientes, a fim de as reciclar em novo poliéster, o polímero quimicamente conhecido como “tereftalato de polietileno (PET na sigla em língua inglesa)” que é usado para fabricar novos fios de filamentos. O programa CTGR que usa o sistema de reciclagem de fibra-para-fibra denominado de “EcoCircle”, em parceria com a Teijin, uma fabricante japonesa de tecidos. A Teijin recicla virtuosamente a roupa interior da marca “Capilene”, da Patagonia, em fibras de poliéster de segunda geração, que esta reutiliza nas roupas da época seguinte. A Patagonia estendeu a plataforma além da roupa interior, incluindo roupas de lã. À medida que outras empresas a acompanham, incentivando materiais padrão e sistemas de produção cíclicos para produtos novos e existentes, fomentam as economias de escopo e escala que geram lucratividade operacional duradoura e seguem as regras da biosfera para aumentar a economia de custos. É necessário, em primeiro lugar, simplificar um conjunto de materiais por questões de sustentabilidade que reduz a complexidade da cadeia de fornecimentos, reduz o número de fornecedores, gera descontos por volume e melhora o serviço destes à medida que mais negócios lhes são enviados. A Interface Fabric, por exemplo, economiza trezentos mil dólares por ano, apenas com a simplificação do conjunto de matérias-primas. Em segundo lugar, as empresas podem descobrir que as economias de custos surgem da virtuosa reciclagem de materiais. Por exemplo, os custos de energia da Patagonia para reciclar os materiais das suas roupas interiores são de 76 por cento menos. Para tornar o trabalho de reciclagem virtuoso, os líderes empresariais devem planear desde o início do projecto até ao final da vida útil do produto. As bactérias, na natureza, reciclam a carcaça de um coelho porque tem muita energia e valor nutritivo. Os líderes empresariais ambientalmente conscientes, em contraste, tentam minimizar os materiais nos seus produtos. A Shaw Industries descobriu que a virtuosa reciclagem do Nylon 6 requer 20 por cento menos energia e 50 por cento menos água do que a produção normal exige, e como expande o seu processo de produção verticalmente integrado para novos produtos, pode alargar os investimentos e vantagens de processamento sobre o aumento da produção. A empresa tinha anunciado, em 2006, a ampliação da sua plataforma de carpetes, o que representa 70 por cento de todo o mercado de carpetes. A alavancagem de uma plataforma de produtos sustentáveis pode criar vantagens competitivas de longo prazo e as economias não são automáticas uniformes nas empresas, pois exigem mudanças disruptivas e investimentos baseados na visão de um futuro mais verde. A rentabilidade final depende de quão efectivamente as empresas executam as regras da biosfera que é uma fonte provável de diferenciação competitiva no futuro. Em terceiro lugar há que repensar a relação comprador-fornecedor. As empresas terão que gerir o período de transição, pois um produto vai de 100 por cento de materiais virgens a quase 100 por cento de materiais virtualmente reciclados, o que exigirá encontrar formas de recuperar com lucro os produtos instalados nas residências, garagens e prédios de escritórios dos clientes e colocá-los de volta ao processo de produção. Seguir as regras da biosfera irá mudar radicalmente o tradicional relacionamento comprador-fornecedor, pois os clientes passarão a desempenhar um papel duplo como compradores dos produtos e fornecedores da empresa, dos seus bens intermediários, adicionando um novo conceito ao aforismo de ficar próximo dos seus clientes. Tal exigirá que os líderes empresariais repensem o fornecimento, marketing, vendas e o serviço, como por exemplo, o de prever os suprimentos futuros de bens intermediários quando a taxa de retorno está atrelada à próxima decisão de compra dos clientes e que depende em parte do ciclo de vida do produto. A Patagonia pode esperar que as matérias-primas recicladas retornem à empresa em cerca de dezoito meses. A Shaw, no entanto, tem que esperar de três a sete anos para que o ciclo de vida da carpete siga o seu curso. As empresas precisarão de antecipar as taxas de retorno e podem mesmo gerir os ciclos de vida dos produtos, talvez fornecendo incentivos para que os clientes actualizem prematuramente para o modelo mais novo. Tal como na biosfera, a obsolescência planeada de forma virtuosa tornar-se-á um requisito de sustentabilidade. Os líderes empresariais também enfrentarão a complexa questão da logística oposta, levando o produto usado de volta à fábrica para reprocessamento. Algumas empresas estão a apresentar soluções inteligentes. No mundo da Patagonia, por exemplo, latas usadas transformam-se em caixas de correio e a empresa pede aos clientes que devolvam as suas roupas interiores usadas ou as deixem em lojas de vendas a retalho. Esta não é uma opção para as carpetes Shaw e torna-se importante alinhar a colecta do produto usado com a entrega de novos, para ter a certeza de que os camiões estão repletos, saindo e voltando para a fábrica. Os líderes empresariais podem ver o esforço necessário para gerir a obsolescência planeada e a logística reversa como um desincentivo à adopção das regras da biosfera, o que seria pura miopia. As empresas gastam grandes quantias de dinheiro em propaganda e marketing para persuadir os clientes a contratarem, pelo que existe um valor em cada cliente que telefone para a empresa a dizer que gostaria que recolhesse o seu produto usado. O astuto vendedor veria como uma liderança de vendas muito forte. Se, por meio da obsolescência planeada, uma empresa pudesse converter uma percentagem dos seus clientes em compradores fiéis, poderia obter ganhos financeiros importantes. E, apesar dos seus críticos, a obsolescência planeada também pode produzir ganhos ambientais. Os ciclos de produtos mais rápidos trarão produtos da próxima geração que geralmente apresentam um desempenho melhor e são ambientalmente superiores aos seus predecessores. É de considerar por exemplo, que um refrigerador é 75 por cento mais eficiente em energia do que há duas décadas, custando 50 por cento menos. A aplicação das regras da biosfera pode reencarnar rapidamente os materiais em produtos mais eficientes, aumentando ainda mais os ganhos de sustentabilidade. A sustentabilidade é o melhor segredo da natureza. Ao reutilizar os mesmos materiais em um ciclo sempre crescente de desenvolvimento evolutivo, a biosfera sustentou o planeta Terra por milhares de milhões de anos e com sorte, se forem seguidas as regras da biosfera pode ajudar a sustentar negócios de muitos milhares de milhões de dólares.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasAs varreduras [dropcap]V[/dropcap]arrem e varrem – ad eternum – e nesse gesto dactilografam as manhãs. Nenhum povo varre tanto desde O Outono do Patriarca, de Garcia Marquéz, como o povo moçambicano. Pianíssimo num repertório monocórdico, interminável. Ruge-ruge em surdina, como uma nuvem de mosquitos enredada nas micaias. É incalculável o apego colocado na mão que abraçaa cintura da vassoura e lhe comanda a dança, o desenho das parábolas ou de outras figuras geométricas na varredura – embora nem sempre se conjugue o tanto que foi varridocom o que haveria a varrer. Ainda a alba se espreguiçae assoma aquele arrumo ou raspagemfugida à insonorização da noite; furtiva, antes de ser um mantoe do som das cerdas -nas placas de cimento,à diante dos portões,das portas, dos túneis, dos degraus,em redor da caldeira das figueiras-da-índia -,do seu raspar, se elevar acima do passodos guardas, cobrindo a cidadede uma redoma sem nome. Varrem, varrem, varrem – escavam uma fonte? Num frenesim que fosforesce na mais inexplicável mansidão. Terá sido a noite a levedurade uma culpa que anseiam agora apagar,extinguir, sem deixar rasto -amortalhada no ar? Maputo não desperta, Maputo varre-se para debaixo de um tapete inexistente até à madrugada seguinte quando os guardas, unânimes no hipnotismo da sua insónia, repegam na vassoura. Quatro horas depois, no bulício, já a urbe se enovela em babugem e lixo e voltou aos ritmos do desconcerto e à intimorata prioridade aos chapas, enquanto se ouvem ao longe as goteiras do impasse e fungos nascem à sombra dos ”works in regress” da política. Mas volta a chegar a noite; cansados de frango, de xima, da matapa, de esmolas, do calor brutal dentro dos chapas, do uísque martelado, vem a noite sem aplausos, envolta na dor que se sente pelo demente que se arma em chefe. E a quietude impõe-se como baforadas de cego, arcando os desejos de um milagre impossível. O vento encostado ao escuro tubula, sonda a ferrugem dos fusos horários, ou cai a chuva num alarde de praga. Raramente, contudo, mesmo em corda, a chuva ultrapassa o dealbar da alba, e aí, parecendo nascer directamente das axilas de todos os anjos caídos,recomeça o ruge-rugedas vassouras, alastram-se as cerdase o seu vaivém, fazendo-se uno, espesso,contínuo, como se a madrugadanão passasse do sonho intempestivo de milhões de limpa-chaminés. Embora o como eles varrem, o que varrem, o quanto varrem – buscam afanosamente o bíblico buraco da agulha? – raramente se ajuste ao que haveria de ser varrido. Nenhum povo varre tanto desde O Outono do Patriarca, de Garcia Marquéz, como o povo moçambicano. Julgava eu, até este domingo vinte e oito ter visto a varredura que correu no Brasil. Vão agora ser varridas, de lés a lés, as instituições do estado brasileiro. Tudo o que cheirar a lula – canetas, contratos, funcionários, directores, subsídios e expedientes de coitadismos -, vai ser varrido e substituído por chocos, mais redondos e de tinta preta como as falanges direitistas. Vai ser varrida a Amazónia, para dar lugar às manadas de bois. Vai ser varrida a preguiça dos indígenas e quilombolas, depois os próprios índios; as onças, as anacondas e piranhas serão esquartejadas e amontoadas no bojo de grandes betoneiras eléctricas para o fabrico das rações para os bois. Os peixes-boi, tão ternos, irão ser varridos para as piscinas das esposas dos grandes diplomatas dos países latino-americanos “sem viés ideológico”, homens imensamente ocupados em rápidas de xadrez e leituras do Levítico. Os botos da Amazónia (os seus golfinhos) irão ser varridos para dentro dos selos comemorativos do complexo de campos de golfe que o amigo Trump irá fazer depois de resgatar da selvática floresta os arredores de Manaus. Vão ser varridos os homossexuais, que irão conhecer as provações que Job não teve. Vão agora ser varridas, de lés a lés, as instituições do estado brasileiro. Tudo o que cheirar a lula – canetas, contratos, funcionários, directores, subsídios e expedientes de coitadismos -, vai ser varrido e substituído por chocos, mais redondos e de tinta preta como as falanges direitistas Vão ser varridos os morros onde se acumulam as favelas, ou melhor terraplanados, e a nuvem de coca que se adensar sobre os escombros será aproveitada para melhorar os records de todas as modalidades desportivas, catapultando o Brasil para a elite do desporto. Vão ser varridos para o Atlântico todos os remédios que não sejam placebo, porque na terra do Corcovado homens não têm fracalhadas. Vão ser varridas todas as ex-criaturas humanas que não cerrem as pálpebras, devotamente, para rezar o Padre Nosso com o seu presidente. Fora com os depravados, Chico Buarque, Caetano, Gil, e Jó Soares, varridos para Cuba. Varridas serão as pistolas de plástico das crianças e substituídas por verdadeiras, com balas de borracha até aos dezasseis anos e, após, de aço; para usarem em legítima defesa. Varridas também as cotas raciais na universidade, até porque os negros serão convertidos em varredores – os melhores do mundo. Teses universitárias que se debrucem sobre Drummond ou Villa-Lobos serão varridas, doravante só interessa o conhecimento aplicado: como transformar o bafo de onça em sabonete ou introduzir o sincronismo das bailarinas do Bolshoi em relógios de quartzo. Varrida a educação sexual das escolas, substituída pelas prenhezes prematuras e as ladainhas do Círio de Nazaré! Bom, nem tudo será mau nesta varredura: o candidato eleito prometeu ainda que vai procurar “relações com países que possam agregar valor económico e tecnológico aos produtos brasileiros” e isto pode ser um “negoçião” para Moçambique, se quiser exportar milhares de cerdas – que a oportunidade não se malogre.
Sérgio Fonseca DesportoGP Macau irá decidir o WTCR 2018 [dropcap]A[/dropcap] Corrida da Guia do 65º Grande Prémio de Macau vai ser palco da grande final da primeira edição da Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR). As três corridas a serem realizadas no Circuito da Guia, uma no sábado e duas no domingo, vão decidir o próximo campeão do mundo de carros de Turismo, depois da prova do passado fim-de-semana em Suzuka, no Japão, ter colocado Gabriele Tarquini isolado na frente da competição promovida pelo Eurosport Events. Com 87 pontos em cima da mesa para a finalíssima, Tarquini lidera o campeonato com 291 pontos, mais 39 pontos que Yvan Muller e 53 de avanço sobre Thed Bjork. O espanhol Pepe Oriola, que conduz um Cupra TCR (ex-SEAT Leon TCR), é o quarto classificado com 64 pontos de atraso, e talvez o único capaz de se imiscuir na luta pelo título com o trio de pilotos que usa os competitivos Hyundai i30 N TCR. “Já não corro em Macau há três ou quatro anos, mas ainda me lembro das curvas e do hospital”, disse em jeito de brincadeira Tarquini na conferência de imprensa após a prova de Suzuka, recordando-se do acidente na qualificação do WTCC em 2009, que o obrigou, a ele e a Yvan Muller, a uma visita forçada ao Centro Hospitalar Conde de São Januário. “Macau é especial para todos, com a excepção do Rob (Huff), que é o rei de Macau”, realçou o veterano italiano que lembrou também que Macau “é uma lotaria e tudo pode acontecer. Podes ter problemas, um acidente. Tens que sobreviver à partidas, especialmente na primeira curva. Provavelmente não é o melhor lugar quando se está em vantagem. Provavelmente é a melhor corrida para o Yvan que tem que recuperar.” (Macau ) “é uma lotaria e tudo pode acontecer. Podes ter problemas, um acidente. Tens que sobreviver à partidas, especialmente na primeira curva. Provavelmente não é o melhor lugar quando se está em vantagem. Provavelmente é a melhor corrida para o Yvan que tem que recuperar.” Gabriele Tarquini, piloto Yvan Muller, que este ano saiu da reforma antecipada, para regressar a tempo inteiro ao automobilismo, com um Hyundai assistido pela sua própria equipa, atira para canto qualquer favoritismo. “Matematicamente o título ainda é possível, mas eu penso que será um pouco complicado”, diz o francês de 49 anos. “Mas Macau é Macau, a capital do jogo, portanto nunca sabemos…” Ainda com hipóteses teóricas, mas muito remotas, de se sagrarem campeões estão mais três pilotos. O francês Jean-Karl Vernay (Audi), o argentino Esteban Guerrieri (Honda) e o húngaro Norbert Michelisz (Hyundai) têm 75, 78 e 79 pontos, respectivamente, de atraso para o líder Tarquini. Tiago Monteiro, que regressou no passado fim-de-semana à competição com um décimo primeiro lugar na terceira corrida, apenas irá marcar presença na RAEM como espectador, pois os médicos aconselharam o portuense a não alinhar na sempre arriscada prova do Circuito da Guia. O piloto português cederá o seu Honda Civic Type-R TCR ao chinês Ma Qing Hua. Preparação caseira Macau terá seis representantes na prova final do WTCR: André Couto, Filipe Souza, Rui Valente, Billy Lo, Lam Kam Sam e Kevin Tse. Antes dos carros deixarem Zhuhai e rumarem a Macau, Filipe Souza teve a oportunidade de fazer um teste de preparação no circuito permanente da cidade vizinha. “Foi um teste muito positivo”, reconheceu o piloto macaense do Audi RS3 LMS TCR ao HM. “O carro está muito bem preparado e estou com muita confiança no meu carro.” Entretanto, na cidade chinesa de Zhaoqing, o Volkswagen Golf GTi TCR da PCT-IXO Models Racing Team recebeu uma nova decoração. No entanto, Rui Valente só terá o primeiro contacto com o carro germânico nos treinos livres de quinta-feira da semana do Grande Prémio. André Couto também não irá conduzir o Honda Civic Type-R da MacPro Racing Team antes da prova, pois este fim-de-semana estará em Okayama para o evento de encerramento da temporada do campeonato japonês de resistência Super Taikyu Series.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA reafirmam compromisso com defesa de Taiwan A guerra de palavras entre as duas maiores potências mundiais estende-se também à questão do estatuto da antiga Formosa [dropcap]O[/dropcap] embaixador de facto dos Estados Unidos em Taiwan reafirmou ontem o compromisso de Washington com a autodefesa da ilha, que se assume como República da China, face às crescentes ameaças por parte de Pequim. Os EUA consideram qualquer tentativa em determinar o futuro de Taiwan “através de meios não pacíficos” uma ameaça à segurança regional e uma questão de “grande preocupação”, afirmou Brent Christensen, director do Instituto dos EUA em Taiwan, que funciona como uma embaixada, apesar de não ter o estatuto. “Opomo-nos a tentativas unilaterais para mudar o ‘status quo [de Taiwan]”, afirmou. Pequim considera Taiwan uma província chinesa, e defende a “reunificação pacífica”, mas ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência. Taiwan, ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois do Partido Comunista tomar o poder no continente em 1949, assume-se como República da China, e funciona como uma entidade política soberana. As ameaças de Pequim têm subido de tom desde a ascensão ao poder, em Taipé, da Presidente Tsai Ing-wen, do Partido Progressivo Democrático (PPD), pró-independência. Os EUA cortaram os laços formais com Taipé em 1979, e passaram a reconhecer Pequim, mas os dois lados mantêm fortes relações militares e diplomáticas não oficiais. Primeiro acto Essas relações são sustentadas pelo Acto de Relações com Taiwan, aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos em Abril de 1979, e que exige que os EUA garantam a Taiwan a sua capacidade de autodefesa. A política de Washington “não mudou” desde a aprovação daquele Acto, lembrou Christensen, em conferência de imprensa, exemplificando com a recente venda de armamento ao território, avaliada em 330 milhões de dólares. E garantiu que Washington vai cooperar no sentido de promover valores democráticos comuns e melhorar as relações económicas com a ilha. Isto inclui promover a participação de Taiwan em organizações internacionais, que Pequim tem procurado restringir. As autoridades chinesas têm ainda pressionado multinacionais, desde o sector da aviação ao têxtil, a designar Taiwan como território chinês nos seus portais oficiais ou material publicitário. No total, cinco países romperam relações com Taiwan, nos últimos dois anos, e passaram a reconhecer Pequim como o único governo de toda a China.
Hoje Macau China / ÁsiaManufactura | Actividade no nível mais baixo em dois anos Apesar da diminuição das exportações, a culpa do abrandamento resulta em grande parte da queda da procura interna. Economistas aconselham o Governo a baixar impostos e a estimular o sector privado [dropcap]A[/dropcap] actividade da indústria manufactureira (PMI, na sigla em inglês) da China caiu para o nível mais baixo em dois anos, em Outubro, segundo dados ontem divulgados, numa altura de fricções comerciais entre Pequim e Washington. O Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês revelou que o PMI recuou para 50,2 pontos, depois de em Setembro se ter fixado nos 50,8. Quando se encontra acima dos 50 pontos, o PMI sugere uma expansão do sector, abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção da actividade. Os pedidos para exportação recuaram, mas o maior impacto foi a queda na procura interna. As vendas nos sectores automóvel e imobiliário caíram, desde que Pequim dificultou o acesso ao crédito, visando travar o ‘boom’ no endividamento. “A pressão económica negativa a curto prazo é relativamente grande”, admitiu o economista do GNE, Zhang Liqun, em comunicado. Pequim precisa de baixar impostos, reduzir as restrições ao crédito e “impulsionar a confiança no sector privado” escreveu em comunicado um grupo de economistas do banco de investimento Citigroup. A resistir As exportações chinesas para os EUA têm-se mantido resilientes, apesar de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter imposto taxas alfandegárias sobre metade das importações oriundas da China, numa disputa em torno das ambições chinesas para o sector tecnológico. Em parte, isto deve-se às fábricas terem respondido aos pedidos antes da entrada em vigor das taxas. Mas produtos de alto valor, como equipamento médico e para fábricas, expressaram confiança de que vão manter as vendas no mercado norte-americano, apesar do aumento dos preços. “A queda na procura do exterior não parece ser o principal culpado”, escreve Julian Evans-Pritchard, analista na consultora Capital Economics. As novas encomendas em Outubro recuaram 1,2 ponto, para 50,8, segundo o GNE. Os novos pedidos para exportação caíram 1,1 ponto, para 46,9. A economia chinesa, a segunda maior do mundo, tem vindo a desacelerar, à medida que a liderança do país enceta a transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo doméstico, em detrimento das exportações e investimento. No último trimestre, o ritmo de crescimento económico fixou-se nos 6,5%, o nível mais baixo desde a crise financeira mundial, em 2009. Em 2017, a economia chinesa cresceu 6,8%.
Diana do Mar SociedadePatrimónio | Instituto Cultural propõe classificação de nove bens imóveis Foi aberto ontem o procedimento de classificação do segundo grupo de bens imóveis, incluindo de estilo português, desde a entrada em vigor da Lei do Património Cultural. Do elenco figuram o Cemitério S. Miguel Arcanjo ou as Casas Moosa [dropcap]N[/dropcap]ove bens imóveis podem vir a integrar a lista do património de Macau dentro de um ano. O primeiro passo foi dado ontem com a abertura do procedimento de classificação por parte do Instituto Cultural (IC). A lista contempla nove imóveis, dos quais três são propostos para a categoria de monumentos. A saber: Posto do Guarda Nocturno, Templo de Sin Fong e Ruínas do Colégio de S. Paulo (antigo muro, troço na Rua D. Belchior Carneiro, n.º 35). Erigido antes da década de 1940, o Posto do Guarda Nocturno localiza-se na Rua da Palmeira, que era a artéria principal de uma das principais zonas residenciais da comunidade chinesa de Macau – o Patane. Além de ser uma profissão de longa tradição, antes da popularização dos relógios, o tangedor de horas prestava outros serviços à comunidade, nomeadamente no combate a incêndios, até entrar gradualmente em declínio a partir dos anos 1970. O posto, que serviu depois de residência dos guardas-nocturnos, teve outras finalidades ao longo dos anos e, actualmente, funciona como espaço museológico. O segundo bem imóvel que o IC propõe que seja classificado como monumento é o Templo de Sin Fong. Situado na Travessa de Coelho do Amaral, o templo, com pelo menos 190 anos de história, chegou a estar à beira-rio antes dos aterros realizados no início do século XX. Para a categoria de monumento o IC avança ainda as Ruínas do Colégio de S. Paulo (antigo muro, troço na Rua D. Belchior Carneiro), que ocupa uma área, actualmente devoluta, de 17 metros quadrados. Os vestígios do antigo muro, que foi desaparecendo depois do incêndio de 1835, foram descobertos em 2010. Já na esfera de edifício de interesse arquitectónico recaem outros três bens imóveis: o edifício da Calçada do Gaio, n.º6 e do Estrada da Vitória n.º 30, bem como as Casas Moosa. O primeiro, com uma área de 226 metros quadrados, foi construído em 1929-30. O prédio, caracterizado por um estilo ecléctico com decorações neo-árabes, funciona como sede do Instituto de Estudos Europeus. Já o segundo, uma moradia com jardim na frente, datada sensivelmente da mesma altura e com área idêntica, serve actualmente o Centro do Bom Pastor. Já a terceira proposta de classificação como edifício de interesse arquitectónico recai sobre as Casas Moosa (um dos três bens imóveis de propriedade privada da lista). Erigidas antes de 1880, mantêm intactas as características arquitectónicas, incluindo as persianas de estilo português, as janelas com lâminas de madrepérola, o ‘dougong’ tradicional chinês em madeira e os balaústres. A família Moosa, descendente de Cassam Moosa, muçulmano da Índia que veio para Macau para se dedicar ao comércio, continua a habitar e a operar uma loja nos números 45 e 47 da Rua Central. Os sítios Os restantes três imóveis merecem, na perspectiva do IC, ser sítios classificados. O primeiro é o Cemitério S. Miguel Arcanjo, inaugurado em 1854, onde jazem importantes figuras como o poeta português Camilo Pessanha, o coronel macaense Vicente Nicolau de Mesquita ou o negociante chinês Francisco Volong. O IC pretende ainda elevar a sítio classificado o antigo Mercado do Tarrafeiro, que remonta à segunda metade do século XIX. Conhecido por “Mercado Simão” e “Mercado Kong Iec” destinava-se sobretudo à venda de peixe fresco. Após ter encerrado, em 1928, parte do terreno foi aproveitada para habitações, restando um único pórtico, na confluência da Rua de Cinco de Outubro com a Rua do Guimarães. O antigo Mercado Municipal da Taipa (“Feira do Carmo”) surge como o terceiro bem imóvel proposto pelo IC para integrar a categoria de sítio classificado. Do total de nove, apresentado ontem, é o único que fica situado fora da península. Erguido em 1779 no coração da vila da Taipa, começou a entrar em decadência na década de 1970 do século XX, na sequência da popularização de um novo modelo de mercado fechado em edifícios de grande dimensão, acabando por vir a dar lugar, em 2003, a um espaço público aberto. Este é o segundo grupo de bens imóveis a ser alvo de abertura do procedimento de classificação, depois de, em Dezembro de 2015, ter sido feito o mesmo para um primeiro lote, formado por dez bens imóveis, abrindo caminho à sua inscrição na lista do Património Cultural. Inicialmente, o segundo grupo era composto por 13 bens imóveis, mas quatro acabaram por cair, indicou a presidente substituta do IC, Leong Wai Man, em conferência de imprensa onde explicou que, após lançada a primeira fase de estudos e de recolha de provas, o IC concluiu não dispor de informação suficiente para avançar com propostas de classificação. Tal não significa, como ressalvou a responsável, que não venham a integrar futuros lotes. Consulta pública Ao abrigo da Lei da Salvaguarda do Património, a instrução do procedimento de classificação compete ao IC e compreende a abertura do procedimento, a audiência prévia do proprietário do imóvel (se for privado), a avaliação do IC e o parecer do Conselho do Património Cultural (que não é, porém, vinculativo), cabendo a decisão final ao Governo. A lei, em vigor desde 1 de Março de 2014, determina que esse procedimento deve ser concluído pelo IC no prazo de 12 meses, bem como que a proposta de classificação de um bem imóvel tem de ser objecto de consulta pública. Essa consulta pública começa na próxima quarta-feira, dia 7, e termina a 5 de Janeiro. Durante o período de 60 dias, vão ter lugar três sessões públicas (a 11 e 25 de Novembro e 15 de Dezembro). O IC tem depois um máximo de 180 dias para apresentar o relatório final relativamente às opiniões recolhidas.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasSe calhar, Deus chama-se Baldwin [dropcap]N[/dropcap]a insónia, há um túnel viscoso que se forma. É coisa que faz alastrar o borboto das paisagens perdidas: praias inóspitas, areias tempestuosas, planícies extensas, estepes desertas, fundos soturnos de todos os oceanos. Vincado sobre esta cenografia, o momento da insónia coincide com o da tentação falhada, algo parecido com o hiato em que Orfeu, segundo o mito, se vira para trás, já perto da saída do Hades, e deita tudo a perder na vida. Para o evitar, Van Gogh tomava cânfora, Proust tomava Veronal e Marilyn Monroe tomava fenobarbital. Em vão. Na insónia, a lira deixa de encantar panteras e propõe os seus rombos e soluções: Death in paradise na Fox Crime, pó de calcitrin para as cirurgias da Grey, Hailey Baldwin a passear na praia com um globo terrestre na palma da mão e o grande jipe cherokee na Syfy para penetrar a vénus amarelada dos candeeiros de rua que invadem os tectos do quarto. Para o bem e para o mal, há que saber percorrer o túnel da insónia como se não houvesse tempo no horizonte. Mas apenas e tão-só um brevíssimo instante, uma ínfima travessia, um logro que até poderá vir por bem (noites há em que um busto de Alexandre Magno caminha na nossa direcção com barbatanas avermelhadas, tudo é possível). O que se vê, o que se delira e o que se pensa numa insónia não é nunca objectivo, claro está. É veludo pardo. Melhor: é uma ebulição de gases miríficos tipo esboço de arte expressionista à procura das tripas. Com mais clareza ainda, caros leitores: a insónia é um degredo sem geografia, um sarcófago que pôs a múmia à venda na feira do relógio, um canal sem qualquer tipo de Veneza à volta, por vezes uma simples Stabat Mater a propagar-se nos arrabaldes de Urano. É voz comum afirmar-se que a ideia de perspectiva rareia na insónia. É da praxe. Leonardo da Vinci não faria a mínima ideia, mas tudo parece abater-se num mesmo plano que se esfuma, enquanto se entreabre. No entanto, apesar do tom crepuscular, sabe-se que o comboio da vida irá continuar. Para além do muro. Para além do roubo das armas de Tancos. Mais: sabe-se que o desconhecido percorrido pelos dedos da insónia se ajustará, em todo o caso, a coisas que já conhecemos. Mesmo se vagas, pouco gramaticais e deleitosas, pois, verdade se diga, ‘ele’ há sempre no universo uma mão amiga. Numa das minhas mais recentes insónias, pus-me a imaginar as dores de cabeça por que passaram alguns investigadores europeus, quando, a partir de 1799, foram confrontados com um animal que misturava o ‘imisturável’: era um mamífero que punha ovos e que via o leite escorrer ao longo do seu corpo peludo; além disso, apoiava-se em patas que atrás tinham esporões e que à frente ostentavam umas pequenas asas. Um quebra-cabeças do diabo capaz de ameaçar regras estáveis. Coisa de insónia, realmente, ou, se se preferir, um panorama próprio dos prodígios de Boaistuau e das monstruosidades de Ravenna. O animal era o ornitorrinco, escapava a todos os modelos e um alemão, de nome Blumenbach, chegou a baptizar o bicho como Ornithorhynchus paradoxus precisamente por parecer incategorizável. Só quase um século depois, o mistério seria resolvido por W. H. Caldwell e o estado de insónia substituído pelo palavrão “monotrémato” (mamíferos que são, ao mesmo tempo, ovíparos). No território da insónia o paradoxo dirige sempre a sua desmedida fauna. No território da insónia, confundimo-nos todos com um ornitorrinco com os faróis de nevoeiro acesos. No território da insónia, cruzamos inevitavelmente o nosso olhar com o de Medusa e por isso ficamos feitos de pedra. Imobilizados. Vimo-nos e já estamos a vislumbrar as vertigens de Bosch. Tentamos moldar o mundo, mas ele escapa-se-nos sempre: tanto põe ovos e dá de mamar ao busto de Alexandre Magno e às suas barbatanas avermelhadas, como é capaz de pressupor a existência de bolsonaros de bolso nos horizontes mais tropicais do planeta. Grande parte do globo terrestre insinua-se (e sempre se insinuou) em estado da mais pura insónia. Tal como nos dias aziagos, o pião das horas mortas e florbelianas continua a girar. Gira sem parar. E eu com a convicção cristalina de que foi a mão de Hailey Baldwin quem o atirou sobre o veludo pardo que agora lentamente já se abre para a alvorada (dos dedos cor-de-rosa). O túnel, afinal, não era modelo para insónia nenhuma. O túnel era a próprio modelo. Nada de cyberstalking, confesso: apenas insónia, desatino, sôfrego abysmo.
Hoje Macau EventosFotografia | Associação “Somos!” cria concurso sobre imagens da lusofonia [dropcap]A[/dropcap] “Somos! – Associação de Comunicação em Língua Portuguesa” lança em Dezembro um concurso de fotografia intitulado “Somos – Imagens da Lusofonia”, com o tema “Raízes Lusófonas: Veículos de Comunicação”. O objectivo desta iniciativa é, de acordo com um comunicado “disponibilizar mais um canal em Macau de divulgação das tradições e da cultura que mantêm ligados os países e regiões do universo lusófono”. Os interessados devem inscrever-se entre os dias 1 e 31 de dezembro deste ano e os resultados serão anunciados no mês de Fevereiro do próximo ano, seguindo-se uma exposição fotográfica. Do júri fazem parte os fotógrafos Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau há oito anos, Lim Choi, Paulo Cordeiro, Rodrigo Cabrita e Rui Caria. A ideia é que os participantes possam “captar momentos, objectos, ideias ou pessoas e que contribuam, de alguma forma, para a transmissão da herança e características lusófonas”. O concurso está aberto a todos os cidadãos dos países falantes de português e Macau, além de que são permitidas fotografias tiradas num destes países. Cada concorrente só pode apresentar três fotografias e estas devem ser originais. Os prémios variam entre duas a cinco mil patacas. Além da exposição com as imagens vencedoras, deverá ser feita uma outra mostra “com todas as outras fotografias admitidas a concurso que o júri considere relevantes ou de valor tendo em conta o enquadramento com o tema do concurso fotográfico e o propósito da Somos – ACLP, de projectar a dimensão cultural da Lusofonia, assim como o papel de Macau enquanto plataforma que une a China e os países e regiões de Língua Portuguesa”.
João Santos Filipe Manchete PolíticaCaso Mong Há | Accionista é director de associação que tem primos Chui como membros O Sr. Long Kuok Keong Ligado a oito empresas, Long é o homem que assinou duas propostas no concurso de atribuição das obras da habitação social de Mong Há e que fez com que o processo fosse declarado ilegal. As suas empresas cooperam regularmente com companhias estatais chinesas, e Long é ainda membro do Comité Municipal de Qingyuan da CCPPC [dropcap]L[/dropcap]ong Kuok Keong é o empresário que está na origem da declaração de ilegalidade do concurso público de adjudicação das obras de construção de habitação social e do Pavilhão Desportivo de Mong Há, devido a práticas “susceptíveis de falsear as condições normais de concorrência”. Nascido na província de Cantão, Long veio para Macau na década de 80, na altura, vindo de Hainão, e dedicou-se ao ramo da construção. O facto de ser accionista de duas empresas, a Long Cheong e a Shing Lung, que apresentaram propostas diferentes para as obras em apreço, foi o motivo para os tribunais declararem o concurso público do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estrututras ilegal. Segundo a informação consultada pelo HM, Long Kuok Keong fundou a Companhia de Construção & Engenharia Shing Lung, a 16 de Setembro de 1996, com um capital social de 200 mil patacas. Desde o início, tem como sócia a esposa, Lei Mui, cada um com 50 por cento do capital da empresa. Em relação à Long Cheong, fundada em 2003 com um capital social de 100 mil patacas, Long Kuok Keong ficou detentor de 51 por cento da empresa e o outro sócio, Ieong Pun Chio, residente do Interior da China, com 49 por cento. Em 2009, Long vendeu os 51 por cento a uma accionista com o nome Chang Ngan Kun, saindo da empresa. Contudo, em 2013, adquiriu os 49 por cento do seu parceiro inicial, Ieong Pun Chio, percentagem que ainda detém actualmente, e voltou a ser um dos principais accionistas. O concurso público para a atribuição das obras em Mong Há foi vencido pela Shing Lung, que participou num consórcio com a Companhia de Construção de Obras Portuárias Zheng Hwa. A proposta teve um valor de 1,78 mil milhões de patacas e a conclusão ficou prometida para 1336 dias após o início da obra, argumentos suficientes para convencerem o júri do GDI. Por sua vez, a Long Cheong participou com a Companhia de Construção Cheong Kong no concurso, para o qual apresentou uma proposta no valor de 1,795 mil milhões de patacas e o compromisso de finalizar os trabalhos em 1300 dias. Ontem, o HM tentou perceber as razões que levaram Long Kuok Keong a apresentar duas propostas diferentes, mas o empresário não se encontrava no seu escritório. Com os primos Chui Long Kuok Keong chegou a Macau com 22 anos em 1980. É um dos directores da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial de Macau, presidida por Paul Tsé e, segundo o portal oficial, conta nos órgãos sociais com deputados como Chui Sai Cheong, Chui Sai Peng e os ex-deputados Fong Chi Keong e Tommy Lau. Ainda no âmbito das actividades empresariais, Long disse ao portal do Comité Municipal de Qingyuan da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês – do qual é membro – que está envolvido em oito empresas. Às duas que participaram no concurso público para as obras de Mong Há, juntam-se, segundo o HM apurou, a Houtai Wah Keong Construction & Engineering Company e Veng Cheong. As companhias de Long têm cooperado frequentemente com as empresas estatais China State Construction Engineering, China Harbour Engineering Company e China Railway Construction Corportation. Além das oito empresas, de acordo com a informação que consta no portal do Comité Municipal de Qingyuan, Long é ainda membro da Associação dos Naturais de Cheng Un de Macau, que presidiu durante mais de 10 anos. Cheng Un é o nome em cantonense para Qingyuan, a versão do nome da cidade em mandarim. A associação tem mais de 100 membros em Macau e é também presença habitual na Marcha Por Um Milhão, evento de solidariedade organizado pelo jornal Ou Mun. No que diz respeito às suas actividades no Interior da China, Long Kuok Keong é membro do Comité Municipal de Qingyuan da CCPPC, assim como do Comité Municipal de Yingde, cidade de onde é natural, ambas na Província de Cantão. Escolha mais cara O concurso do GDI foi considerado inválido na semana passada, depois de ter sido lançado a 4 de Agosto de 2016 e ter terminado a 22 de Setembro do mesmo ano. Entre os critérios para a escolha do vencedor constavam: preço da obra (48 por cento), prazo de execução (12 por cento), plano de trabalhos (18 por cento) e experiência e qualidade em obras (22 por cento). No total, concorreram sete propostas, duas consideradas inválidas logo no dia da abertura do concurso. A escolha do GDI acabou por cair sobre o consórcio Companhia de Construção de Obras Portuárias Zheng Hwa/Companhia de Construção e Engenharia Shing Lung, que prometeu a conclusão do projecto dentro de 1336 dias, data que deve ser alcançada em Setembro de 2021. Segundo o portal do GDI, os trabalhos arrancaram em Março de 2017. “Estas propostas deviam ter sido rejeitadas, e também quero reforçar isso, não devido a questão de natureza técnica, mas de natureza legal. Há pelo menos esta diferença substancial.” Raimundo do Rosário No entanto, havia duas propostas mais baratas que a vencedora e que também tinham um prazo de conclusão mais reduzido. Por exemplo, a Companhia de Engenharia e de Construção de China (Macau) apresentou um preço de 1,66 mil milhões de patacas e um prazo de 980 dias. Já o consórcio Grupo de Construções Top e Top Builders Internacional fez uma proposta com um preço de 1,75 mil milhões e um prazo de 1265 dias. Ambas propostas preteridas apresentaram preços e durações mais reduzidas. Após a decisão, o caso foi para tribunal, devido à contestação do consórcio Grupo de Construções Top e Top Builders Internacional. Na primeira decisão, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu contra o Governo. O Chefe do Executivo levou o caso para o Tribunal de Última Instância (TUI), e o Governo voltou a sofrer nova derrota, devido ao facto de ter aceitado duas propostas com o mesmo accionista, o que pode ser encarado como uma manipulação do princípio de concorrência. Também por esta razão, apesar do recurso ter sido do Chefe do Executivo, as custas do processo foram imputadas às duas empresas ligadas a Long Kuok Cheong. Questões jurídicas No final da sessão plenária de ontem, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, abordou o caso. Desde que está no cargo, esta é a segunda vez que os resultados de um concurso público são considerados ilegais, depois do caso da adjudicação do contrato de construção do Parque de Materiais e Oficinas do Metro Ligeiro. Na altura, o Governo enganou-se nas contas e atribuiu a obra ao candidato que deveria ter ficado em segundo lugar. A decisão do TUI no caso mais recente foi revelada na terça-feira, minutos depois de Raimundo do Rosário ter pedido desculpa na Assembleia Legislativa devido ao primeiro erro. Porém, ontem o discurso seguiu uma outra linha, com o secretário a dizer que não estava completamente informado sobre o episódio, apesar da decisão ter sido tomada na semana passada. “Há aqui uma coisa que é substancialmente diferente. Enquanto na questão do metro, e ontem [na terça-feira] pedi desculpa por isso, a avaliação de propostas foi um erro técnico. Desta vez, o problema não está na avaliação das propostas, mas sim no facto da decisão do TUI ter considerado que, na altura da abertura das propostas, havia duas que deviam ter sido rejeitadas e que não foram”, disse o secretário. “Estas propostas deviam ter sido rejeitadas, e também quero reforçar isso, não devido a questão de natureza técnica, mas de natureza legal. Há pelo menos esta diferença substancial”, frisou, sem avançar mais explicações. Também ontem, o HM pediu esclarecimentos sobre o caso ao Chefe do Executivo, através dos porta-vozes do Governo, que se limitou a dizer que “não tem nada a declarar sobre a decisão judicial”. Por sua vez, o GDI não enviou qualquer resposta e manteve-se incontactável, horas depois do pedido de informações.
Sofia Margarida Mota EntrevistaRosa Coutinho Cabral, cineasta: “Renasci muita coisa pelo caminho” A cineasta Rosa Coutinho Cabral está em Macau para apresentar o filme “Pé San Ié – O poeta de Macau”, um ensaio visual sobre o exílio de Camilo Pessanha, que será exibido na Cinemateca Paixão na segunda-feira, às 18h. Este é o culminar de um processo de encontros e desencontros com a fantasmagoria do poeta e da cidade onde morreu [dropcap]E[/dropcap]stá em Macau para apresentar o filme sobre o Camilo Pessanha. Porquê este poeta? A génese da minha ligação a este poeta extraordinário tem uma pequena história. Aliás, todas a minhas ligações têm uma história, quer seja na vida, na literatura ou no cinema. A génese desta ligação com o Pessanha começou muito cedo, quando eu era miúda. Estava ainda nos Açores e teria menos de 13 anos. Descobri um dia um livro na casa de alguém, comecei a ler, adorei, pedi emprestado, não me lembro se por não ter dinheiro para o comprar ou porque não estaria à venda ali em São Miguel. Mas li Pessanha e como todos os adolescentes, também tinha a pulsão da escrita e acabei por “roubar” palavras a este poeta. Tudo isto está no filme. O mais importante é o que aprendemos acerca de nós próprios em todo o processo. Ficamos a conhecermo-nos melhor através de um conhecimento que nos é exterior. Um conhecimento de alguma forma projectado? Não sei se é projectado mas acho que é uma boa palavra, ainda não tinha pensado nela. Mas, sobretudo, quando uma peça acaba, quando terminamos de realizar uma coisa com toda a alegria e sofrimento que lhe é intrínseco, na verdade o que fica de mais importante é o que se conhece acerca de nós através dessa tal exterioridade, projectada ou não, e que neste caso tinha o nome de Camilo Pessanha de Macau. O que fica também é uma ligação, que vou adjectivar de superlativa, a ligação que tive com os outros, comigo e com o objecto do filme, o Pessanha, e como estas várias ligações me trazem até aqui. Não morri pelo caminho. Morri muita coisa, toda gente morre muita coisa pelo caminho, mas também renasci muita coisa pelo caminho. Isto só acontece se houver uma ligação forte com o que se faz. Como foi o processo para fazer este filme? Acho que tive o privilégio absolutamente extraordinário de trabalhar com pessoas com quem gostei muito de trabalhar. Umas já conhecia, outras não. Já conhecia o João Cabral, que é meu irmão e quem diz os poemas no filme. Há uma matéria no filme que é a própria poesia do Pessanha. Já conhecia o Pedro Cardeira, aqui de Macau, de um outro filme que tinha feito. O filme não é só meu. São matérias que têm uma ligação muito profunda com cada sujeito que as produz e que, por sorte, se encontraram neste filme e congeminaram qualquer coisa que acho que tem interesse. Também tenho que referir o José Carlos Pontes que fez a música e que, além disso, acompanhou todo o processo de acabamento do filme. Foi o grande apoio do fechar do filme e sem o qual seria impossível terminar este filme. Além destas pessoas que conhecia há duas novidades grandes: a Susana Gomes, que fez a fotografia, e o Carlos Morais José. E acho que o encontro com o Carlos Morais José é muito importante no próprio processo do filme. Este acto de fazer um filme, ou outra coisa, fica sempre marcado pelos encontros. FOTO: Sofia Margarida Mota Da mesma forma que se reencontrou com a primeira leitura… Na realidade, quando era miúda e descobri o Pessanha percebi que aquelas palavras na poesia eram fundamentais. Eu era uma adolescente, mas talvez também sentisse a dificuldade que é viver neste mundo. Mas acabei por esquecer o Pessanha. Um dia, aqui em Macau, o Rodrigo Guimarães pergunta-me porque é que eu não fazia um filme sobre o Pessanha. Na viagem de regresso a Lisboa o Daniel Pires faz-me a mesma pergunta. Reli o Pessanha e achei que era isso mesmo que queria fazer. Regressei a Macau e comecei a trabalhar com a Susana. Nessa altura, conheci o Carlos Morais José. Ouvi-o falar de Pessanha e pedi quase imediatamente se o podia filmar numa espécie de repérage ainda. Fiquei com a sensação de que aquela pessoa tinha que ver com o âmago deste projecto, no sentido da parte em que queria fazer um documentário ficcionado e não só um filme institucional com entrevistas. Fiquei com um duplo problema porque a partir daí percebi que estava dirigida para dois objectos: um para o documentário e o outro que era o filme. Tinha de fazer os dois e assim fiz, num tempo recorde. Durante ano e meio filmámos e montámos o filme. Não é a primeira vez que filma em Macau. Qual é a sua relação com o território? Já conhecia Macau. Já cá tinha filmado. Tive a sorte de o fazer com o Manuel Vicente. Adoro Macau. Há sempre coisas muito estranhas na vida e às quais eu não espero dar nenhuma explicação. Macau é uma destas cidades que produz em mim uma atracção muito forte e que esteja talvez no capítulo das pequenas ou das grandes paixões. Como todas as atracções tem os seus momentos de ódio, repúdio. Mas há qualquer coisa muito profunda que me liga a Macau, embora eu tenha cá chegado já bastante tarde até porque já não sou nova. Mas, de facto, não conheci Macau jovem nem com um olhar quase adolescente. Nada disso. Acho que conheci Macau com o olhar de quem está a entrar no envelhecimento. É uma cidade que tem diversas escala. É uma cidade aparentemente desordenada, cheia de contrastes de épocas, do antigo e do muito velho, que são coisas diferentes ao muito novo e ao muito actual. Estas diferenças agradam-me muito e produzem de um ponto de vista urbano uma espécie de desorientação muito divertida. É quase o que podemos encontrar em grandes metrópoles, porque tudo é abrangente pelo olhar mas é tudo muito diferente. Também gosto muito de estar num sítio com pessoas diferentes e Macau é a diferença por excelência. Há ainda outra questão. Sou açoriana e há uma humidade em Macau que adoro. Sinto-me absolutamente em casa. Outra coisa interessante é que da última vez que saí de Macau senti uma coisa muito especial: senti que me estava a ir embora e não que estava a regressar ao meu lugar a Lisboa. Sinto que me estava a ir embora do meu lugar e agora, quando cheguei, senti que estava a regressar a Macau o que é uma coisa estranha. O filme foi apresentado no DocLisboa. Como foi a reacção do público? Da crítica não sei, porque foi há muito pouco tempo. As outras reacções foram de boca a boca, do público que lá estava e que pelo que disseram gostaram muito. O filme é um objecto estranho. Não é um objecto que se diga tradicional. Aqueles que conheciam Macau gostaram da forma como viram a cidade e como filmei Macau. Fico contente com isso, fico orgulhosa por ter correspondido a qualquer coisa que as pessoas esperavam ver e ficaram muito admiradas com uma pessoa como o Carlos Morais José. Aliás, perguntaram-me onde encontrei este actor, esta pessoa, quem é ele, de onde vem. A relação entre os nossos dois discursos presentes no filme corre muito bem, interage muito bem. Eu dediquei-me a falar de cinema e não do Camilo Pessanha e esta relação com uma pessoa que está ali e fala do Camilo Pessanha. Ao mesmo tempo prestou-se generosamente ao jogo e à encenação do que eu queria fazer para poder filmar o morto. Não foi um desafio fácil, ele aceitou o desafio e fê-lo magistralmente. “Aproximar da morte, de algum modo, aproximar da fantasmagoria e, sobretudo, não querer tornar presente aquilo que está ausente no sentido da carne. Ele não está cá, há outras coisas que podem estar.” Porque é que este filme é um objecto estranho? Só posso falar da estranheza do objecto, ou da forma como fiz o filme pensando no filme acabado. Esta é uma circunstância nova. É estranho porque a tal ligação que tive com este Camilo Pessanha foi um encontro muito profundo, especialmente, por razões próprias com a dor. Tinha de chegar aí e tinha de trabalhar esta ligação de uma forma que se convertesse cinematograficamente. Essa ligação tinha de ser uma faca afiada, profunda, até ao fim do mundo. Finalmente, tinha de me colocar a mim própria, pela primeira vez num filme feito por mim, ensaiar numa experiência quase repetitiva este acto de me aproximar de alguém que não está cá. Aproximar da morte, de algum modo, aproximar da fantasmagoria e, sobretudo, não querer tornar presente aquilo que está ausente no sentido da carne. Ele não está cá, há outras coisas que podem estar. Isso era um grande desafio e torna imediatamente o objecto deste filme num objecto estranho. Depois há o modo de fazer, como é que se faz isso? São as questões que coloco no filme. Como faço e experimento isso? Acho que o cinema é, acima de tudo, um acto de experimentar que deve ser feito com a maior honestidade possível. Acho que ninguém faz tudo o que quer, mas acho que me aproximei o quanto baste para me sentir bem. Uma pessoa experimenta e eu experimentei o espaço por forma a decantar essa presença do Camilo Pessanha nesta cidade e a cidade Macau de Caminho Pessanha. FOTO: Sofia Margarida Mota Teve uma experiência semelhante, mas com uma pessoa viva. Manuel Vicente. Foi muito diferente? A diferença reside num ponto muito simples. A vida e a morte. O Manuel Vicente veio a Macau pela última vez comigo. Ele próprio diz, a dada altura no filme, “sei lá se volto a Macau”. Eu acho que ele sabia que não voltava, intuía. Acho que aquele filme foi uma despedida do Manuel Vicente a Macau. Era a Macau de Manuel Vicente. Eu gosto muito de cidades, e a forma como se vive e usa a cidade. Portanto, o Manuel Vicente deu-me uma perspectiva de Macau mas com aquela diferente, ele estava vivo, tinha carne e osso. E o Camilo Pessanha não tinha carne nem osso. Esta realidade de trabalhar atrás de um fantasma, atrás da morte, foi uma coisa muito profunda para mim e foi aquilo que tentei descobrir cinematograficamente. Acha que este filme é mais seu que os outros? É. Duas ou três pessoas que me conhecem há muito tempo disseram-me que este é o meu melhor filme. Não sou um cineasta VIP, fiz pouca coisa e não estou na boca do mundo. Não faço parte do mainstream e também nunca quis fazer. Sempre tentei fazer o que queria e acho que, finalmente, comecei a ter essa possibilidade. Quero contar coisas que tenham uma certa universalidade no fim, o Camilo Pessanha é importante porque a dor dele tem uma certa universalidade, a dor da humanidade, a dor dos desvalidos da sorte. Imagino que nem toda a gente goste, ou que um número muito reduzido de pessoas goste, não me importo, mas estou-me a aproximar cada vez mais do que quero fazer. Por outro lado, é um filme que também foi buscar à própria natureza do Camilo Pessanha, à sua forma de fazer. De algum modo, é um ensaio que se divide em quatro e esses quatro ensaios estão constantemente a recomeçar e a matar o anterior. Ou seja, é uma reinscrição ao jeito de Pessanha. A sua procura da eterna perfeição que ele tentou fazer reescrevendo os seus poemas, por vezes deixando de escrever. Mas, como o Carlos diz no filme, um poeta é sempre um poeta, mesmo que deixe de escrever. https://www.youtube.com/watch?v=4gtrcRBHs3E
Hoje Macau SociedadeTufões | Aplicação para emergências estreia com o Yutu [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro anunciou ontem o lançamento de uma aplicação móvel dedicada a situações de emergências que vai estreiar-se com a aproximação do tufão Yutu, que mantém içado em Macau o sinal 1 de tempestade tropical desde a manhã de terça-feira. A aplicação móvel “GeoGuide para emergências” permite à população obter informações sobre a previsão de inundação dos diferentes níveis de “storm surge” através de um mapa acessível na versão ‘online’ e ‘offline’. A “GeoGuide para emergências”, com interfaces em chinês (tradicional e simplificado), português e inglês) em português e inglês, é um projecto da Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro com o apoio dos Serviços de Polícia Unitários e dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG). A ‘app’ oferece previsões, localizações dos centros de acolhimento de emergência, bem como informações sobre as linhas de emergência e um guia de prevenção de riscos/desastres, entre outros dados. Segundo as previsões dos SMG era “moderada a relativamente alta” a probabilidade de ser hasteado o sinal 3. Às 20h de ontem, o Yutu localizava-se a aproximadamente 560 quilómetros de Macau, movendo-se a uma velocidade de 12 km/h. Aplicados limites de velocidade na Ponte HKZM Devido à aproximação do tufão Yutu, está a ser ser aplicada desde ontem a medida provisória de limite de velocidade na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, segundo a conta oficial de Wechat para os shuttle-bus que fazem a tra- vessia, noticiou hoje o canal chinês da Rádio Macau. Os veículos ficam com uma velocidade limitada inferior a 60 quilómetros por hora. Prevê-se que a viagem de shuttle-bus demore mais 15 minutos que o habitual. O fim da medida provisória será anunciada posteriormente de acordo com a evolução do tufão.
Andreia Sofia Silva SociedadeAMM | Jorge Menezes fala em pressões contra ex-candidato à presidência O advogado Jorge Menezes disse ao HM que advogados sofreram “pressões” para não apoiarem Sérgio de Almeida Correia e que houve “desespero” por parte de Jorge Neto Valente na busca de apoios à sua recandidatura [dropcap]O[/dropcap] desespero revelado na busca dos 200 proponentes, na agressividade, na pessoalização, no ataque à advocacia de um colega foi a expressão do medo”. A frase é de Jorge Menezes, advogado, quando convidado pelo HM a comentar a desistência de Sérgio de Almeida Correia da candidatura à presidência da Associação de Advogados de Macau (AAM). Menezes revelou ainda que “houve colegas que confidencialmente afirmaram que até assinaram como proponentes (a candidatura de Neto Valente), pois não teriam como dizer não, mas que não votariam, pois o voto é secreto”. “Houve colegas que confidencialmente afirmaram que até assinaram como proponentes (a candidatura de Neto Valente), pois não teriam como dizer não, mas que não votariam, pois o voto é secreto.” Jorge Menezes, advogado O causídico aponta que “o presidente (Neto Valente) deu contributos muito importantes à AAM e à justiça da RAEM”, e que os advogados devem “estar gratos por isso. Mas nesta campanha manchou uma memória pessoal que poderia ter ficado para sempre”. Menezes afirmou também que este episódio que antecede as eleições que se realizam em Dezembro “foi um mau exemplo que a única instituição democrática da RAEM deu a comunidade”. “O Dr. Neto Valente conseguiu uma vez mais, ocupar um cargo sem ir a votos. Não é necessário ser-se milionário para se ser presidente da AAM. Os advogados não se medem pela conta bancária”, acrescentou. Ainda assim, Jorge Menezes acredita que “as associações de advogados são uma força de mudança na sociedade, contra o status quo dos interesses, praticando a transparência e preocupando-se também com a defesa do Estado de Direito”. Sem comentários O HM contactou ontem vários causídicos, mas foram poucos os comentários que conseguiu obter sobre esta desistência. Francisco Gaivão referiu apenas que “saudou as duas candidaturas com naturalidade”. “Também vejo com naturalidade o facto das pessoas acharem que não têm condições para avançar. Sempre vi com bons olhos a candidatura do Dr. Neto Valente”, frisou. Sérgio de Almeida Correia não quis fazer mais comentários além do comunicado onde anunciou a decisão de não se candidatar. Sobre ele, Jorge Menezes tece elogios: “A sua candidatura foi um exemplo de elevação, a disponibilidade de Sérgio de Almeida Correia para se candidatar e a civilidade com que reagiu a ataques pessoais evitáveis marcará para sempre a história da AAM”. Apesar da desistência, a candidatura de Sérgio de Almeida Correia mostrou que “a AAM não será uma monarquia dinástica” e que se pode contar com ele para fiscalizar o trabalho da Direcção, rematou.
Hoje Macau PolíticaAAM volta a insistir em ameaças à independência judicial [dropcap]A[/dropcap] Associação dos Advogados de Macau (AAM) defende o aumento do número de juízes do Tribunal de Última Instância (TUI) de três para sete. A indicação do número é uma das novidades da segunda opinião enviada pela associação dirigida por Jorge Neto Valente à 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, que está a analisar as alterações à Lei de Bases da Organização Judiciária. “A AAM tem vindo a defender há muito tempo que é necessário alargar também o quadro de juízes do TUI, tendo em conta o aumento exponencial de processos entrados nos tribunais, e o aumento do número de processos pendentes”, consta no documento enviado à comissão, que está disponível no portal da AAM. “Para solucionar este problema, a AAM defende que o quadro de juízes do TUI seja aumentado de três para sete juízes”, é acrescentado. Outro dos aspectos que voltou a ser referido é a opção legislativa que estipula que apenas os “juízes com nacionalidade chinesa” e “nomeação definitiva” podem julgar os crimes em que está em causa a segurança do Estado. A AAM receia que com a redacção proposta pelo Governo que “tanto a independência judicial como o princípio do juiz natural” sejam gravemente afectados. Ontem, a 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa esteve reunida com membros do Governo para debater a proposta de lei. A reunião não contou com a participação da secretária Sónia Chan, que esteve no Conselho Executivo. No final, Vong Hin Fai reconheceu que os deputados também já receberam os pareceres sobre o diploma dos conselhos de Magistrados Judiciais e do Ministério Público. O presidente da comissão não entrou em detalhes sobre os documentos, limitou-se a dizer que são “curtos e bastante técnicos”. Em relação à reunião, os deputados voltaram a mostrar-se preocupados com a acumulação de funções pelos juízes. Contudo, o encontro chegou ao fim sem conclusões e a matéria vai continuar a ser discutida hoje.
João Santos Filipe PolíticaRegimento | Mudanças equacionadas para evitar expressões como “Casa do Lixo” Um grupo de legisladores está a estudar se expressões ofensivas ou palavrões devem ser punidos, caso sejam considerados como infracções ao Estatuto dos Deputados ou ao Regimento da Assembleia Legislativa [dropcap]U[/dropcap]m grupo de deputados da Assembleia Legislativa, alegadamente liderado por Ho Iat Seng, Vong Hin Fai e Kou Hoi In, está a equacionar alterar as regras que regem os trabalhos do hemiciclo, que tem o título de Regimento da Assembleia Legislativa. Segundo o HM apurou, em cima da mesa está a possibilidade de inclusive serem criadas penalizações para desencorajar os deputados de utilizar expressões como “Assembleia do Lixo”. Esta é uma das reacções pró-sistema depois do deputado Sulu Sou ter utilizado a expressão popular no início de Agosto. Neste momento, ainda não é certo que a proposta se materialize e que os deputados possam ser efectivamente penalizados por eventuais ofensas à própria AL, uma vez que a mesma se encontra em “fase de estudo”. Contudo, a penalização é vista como a forma de evitar com que sejam os deputados a “ofender a casa”, principalmente durante as reuniões do Plenário, que são transmitidas em directo para os cidadãos. De acordo com uma fonte ouvida pelo HM, neste momento, há um grupo de deputados que “está a cozinhar o regimento” com um objectivo muito claro: “torná-lo mais restritivo”. O HM tentou entrar em contacto, ao final da tarde, com Vong Hin Fai, secretário da Comissão de Regimentos e Mandatos, com o intuito de obter uma reacção às informações obtidas. O deputado não atendeu o telefone. Vong, que é advogado de profissão, já anteriormente tinha explicado ao HM que o actual regimento não oferece uma punição para os casos em que se considera que os deputados infringiram o artigo 71.º do regimento, que define o fim do uso da palavra. Segundo este artigo “o orador é advertido pelo Presidente [da AL] quando […] o discurso se torne injurioso ou ofensivo”. Outras situações que não prevêem punição são as infracções ao artigo 38.º do Estatuto dos Deputados, que define que os legisladores devem “respeitar a dignidade da Assembleia Legislativa e dos Deputados”. Os dois artigos do estatuto e regimento foram invocados por Vong Hin Fai, quando protestou contra as declarações de Sulu Sou, após o pró-democrata ter utilizado da expressão “Casa do Lixo”, uma forma popular de tratar a Assembleia Legislativa. No entanto, quando comentou o caso ao HM, não defendeu a implementação de punições. Sanções de lado Na sequência do protesto, Ho Iat Seng, presidente do hemiciclo, enviou o caso para ser analisado pela Comissão de Regimentos e Mandatos. No entanto, a reunião da comissão presidida por Kou Hoi In nunca mais foi agendada, ou pelo menos o encontro não foi comunicado aos órgãos de comunicação social. Durante o dia aberto da Assembleia Legislativa aos cidadãos, a 20 de Outubro, Ho Iat Seng comentou aos órgãos de comunicação social em língua chinesa as eventuais mudanças. Todavia, nunca concretizou um cenário em que fossem implementadas medidas punitivas, apesar do assunto ter sido abordado. Ho considerou também que não deviam ser os deputados a insultar a Assembleia Legislativa e que a liberdade de expressão tem limites. Um dos exemplos dados foi a utilização de “palavrões”. No passado alguns deputados utilizaram “palavrões” no Plenário e chegaram a ser advertidos por Ho. Contudo, esses palavrões nunca geraram queixas, e antes da utilização da expressão “Casa do Lixo” nunca tinham sido utilizados como um exemplo para alterar o regimento.
Sofia Margarida Mota PolíticaPortas do Cerco | Terminal entra em funcionamento antes do Natal Raimundo do Rosário confirmou ontem que o terminal de autocarros das Portas do Cerco vai entrar em funcionamento na altura do Natal para que no Ano Novo Chinês possa estar a funcionar em pleno. O secretário para os Transportes e Obras Públicas adiantou ainda que as 24 carreiras que funcionavam ali antes do seu encerramento vão ser reduzidas [dropcap]A[/dropcap]s obras no terminal subterrâneo de autocarros das Portas do Cerco vão estar finalizadas perto do Natal, altura em que a estrutura deverá entrar em funcionamento. A informação foi dada, ontem, pelo secretário para os Transportes e Obras públicas, Raimundo do Rosário, durante a reunião plenária da Assembleia Legislativa (AL). “No Natal devemos abrir o terminal, mas as infraestruturas quando começam a entrar em funcionamento têm sempre acertos a ser feitos”, disse, sendo que só na altura do ano novo chinês é que o terminal de autocarros daquela zona deverá estar a funcionar em pleno. “Por outro lado, no ano novo chinês vem muita gente e portanto vamos aproveitar o período entre o Natal e o ano novo para acertar essas pequenas coisas de modo a que, no ano novo chinês, o terminal esteja a funcionar normalmente e em pleno”, acrescentou. O terminal das Portas do Cerco está fechado desde Agosto do ano passado depois de ter sofrido danos com a passagem do tufão Hato e a entrada em funcionamento estava prevista para o ano que vem. O secretário adiantou que as obras no terminal vão custar no total, 141 milhões de patacas. “No ano novo chinês vem muita gente e portanto vamos aproveitar o período entre o Natal e o ano novo para acertar essas pequenas coisas de modo a que, no ano novo chinês, o terminal esteja a funcionar normalmente e em pleno” Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras públicas O debate de ontem foi pedido pelo deputado Sulu Sou, há mais de um ano, para discutir se valeria a pena continuar com as obras de reparação do terminal ou avançar já para um planeamento geral do posto fronteiriço das Portas do Cerco tendo em conta o desenvolvimento de um centro modal de transportes. Sulu Sou admitiu que este debate já é tardio, no entanto, considera ainda pertinente saber do ponto da situação do estudo que o Governo levou a cabo entre 2012 e 2014 que visava a construção do centro modal de transportes. Males que vêm por bem Raimundo do Rosário admitiu que o relatório em causa já está desactualizado e “ainda bem”, tendo em conta a lição dada com a passagem do Hato. O relatório, apresentado em 2014, apontava para a construção de um terminal com quatro pisos subterrâneos e uma profundidade subterrânea de 27 metros. “Com as inundações causadas pelo Hato, verificamos que não podemos fazer uma estrutura assim e que a próxima terá no máximo dois pisos subterrâneos”, apontou o secretário. Rosário avançou ainda que está em curso um novo estudo há dois meses para tratar desta matéria. Menos carreiras Entretanto, com a entrada em funcionamento do terminal as carreiras serão menos do que as 24 que anteriormente ali circulavam, adiantou Raimundo do Rosário. Para já, o secretário não adiantou quais as carreiras que vão continuar no terminal e quais as que vão estar dispersas. “Não posso aqui dizer quais as carreiras que voltam ao terminal e temos que respeitar o conselho consultivo para os assuntos de trafego”, disse, sendo que “as empresas de autocarros vão ter a sua opinião, bem como os cidadãos e os donos de lojas e vamos ter uma solução para ir de encontro a todos esses interesses e opiniões”, acrescentou. Ainda a este respeito, o deputado Ip Sio Kai revelou que a população estava satisfeita com a dispersão de autocarros que teve que ser feita com o fecho do terminal, e questionou mesmo se valia a pena avançar para um posto modal de transportes naquela zona. “Nos últimos tempos ouvi dizer que o desvio das carreiras de autocarros melhorou os negócios e que há mais visitantes e pessoas a circular”, apontou.
Hoje Macau Breves PolíticaCheques pecuniários | Poder do Povo pede aumento para 10 mil patacas [dropcap]A[/dropcap] Associação Poder do Povo entrega hoje uma carta na sede do Governo a pedir o aumento do valor dos cheques pecuniários para um mínimo de 10 mil patacas. Em declarações ao HM, o presidente da associação, Si Tou Fai, recordou que a última actualização do valor dos cheques pecuniários foi em 2014, altura em que se estabeleceu o valor de nove mil patacas. O responsável espera que o Governo proceda a uma nova actualização com um aumento mínimo de mil patacas. “Ao longo dos últimos cinco anos, os preços dos bens têm aumentado, bem como as tarifas de autocarros”, disse. De acordo com Si, os aumentos em alguns produtos atingiram mesmo os 50 por cento pelo que considera que a distribuição de cheques de dez mil patacas “é razoável”. A associação solicita ainda ao Executivo a disponibilização de fracções nos edifícios de habitação económica para arrendar a pessoas com idade inferior a 40 anos.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaHabitação económica | Nova lei acaba com sorteio e retoma sistema de pontuação Casas aos pontos [dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo terminou a análise ao diploma que revê a lei de habitação económica. A principal novidade é o fim do sistema de sorteio e o regresso da pontuação. A proposta prevê multas para quem não permanecer no território durante 183 dias. O Conselho Executivo terminou a análise ao diploma que revê a lei de habitação económica, implementada em 2011. A grande novidade é o fim da atribuição de casas por sorteio e o retorno do sistema de pontuação de candidaturas com critérios a fixar pelo Chefe do Executivo. Mas as alterações não se ficam por aqui. Na prática, as regras apertam para a aquisição de casas públicas, tendo mudado, a título de exemplo, os prazos de permanência no território e relativos ao investimento em imóveis. Na prática, um residente não se pode candidatar a uma casa económica se tiver adquirido uma fracção nos últimos dez anos. Na lei em vigor, esse prazo é de cinco anos. Para colmatar o problema das casas vazias, o Governo decidiu impor o limite de 183 dias por ano para a permanência no território no ano anterior ao da candidatura. Caso esta regra não seja cumprida, está prevista uma multa que vale entre 10 a 30 por cento do preço de venda inicial da fracção. No que diz respeito às regras de candidatura, “na proposta de lei sugere-se que a candidatura à habitação económica tenha de ser apresentada por um elemento do agregado familiar, com idade mínima de 25 anos e que seja residente permanente há, pelo menos, sete anos”. Outro dos pontos que se altera com o novo diploma é a exclusão dos candidatos que adquirem imóveis através de herança. “Prevê-se expressamente que possa ser alvo de um tratamento excepcional a situação em que o candidato adquira, por motivo de sucessão, um imóvel com finalidade habitacional”, lê-se no comunicado. Ainda assim, há regras, uma vez que o valor dessa casa “não deve exceder o correspondente limite total do valor patrimonial”. “Neste momento não há nenhum concurso a decorrer, e se um novo concurso vier a abrir no futuro, [a proposta de lei] não vai influenciar. Se no próximo ano houver concurso, vamos seguir a lei vigente.” Arnaldo Santos, presidente do IH A nova lei de habitação económica vai implementar o regime de ordenação de candidatos por pontuação no processo de candidatura, algo que os deputados do campo pró-democrata já tinham pedido ao Governo. Não está previsto, à semelhança do que já existe na habitação social, a criação de candidaturas permanentes. “A proposta de lei não contempla candidaturas permanentes e continua a ser por concurso”, referiu Arnaldo Santos, que adiantou também que o novo concurso de atribuição de casas económicas não será ainda abrangido pela nova lei. “Neste momento, não há nenhum concurso a decorrer, e se um novo concurso vier a abrir no futuro, [a proposta de lei] não vai influenciar. Se no próximo ano houver concurso, vamos seguir a lei vigente”, explicou o presidente do Instituto da Habitação (IH). Revenda só com autorização O diploma prevê ainda que os cônjuges dos candidatos estejam incluídos no boletim de candidatura, algo que não é aplicável no caso de estes não serem residentes. Neste ponto, será calculado em conjunto o salário e o património líquido do parceiro no contexto do agregado familiar. Em relação ao valor da casa, nos casos de revenda por parte dos residentes, será definido de acordo com a inflação através de uma fórmula definida na nova lei. “O preço é definido por uma fórmula que propomos na lei e que está indexado à inflação, que está ligada ao rendimento familiar do agregado. Está mais de acordo com o que queremos fazer, para que as fracções sejam recicladas em termos de utilização.” Em casos de revenda, será necessária uma aprovação prévia por parte do IH, sendo que o preço da venda será calculado também de acordo com a lei. A referida fracção “só pode ser vendida a residentes permanentes que reúnam os requisitos de candidatura a uma habitação económica”. Questionado se haverá algum benefício a candidatos que já tenham concorrido e que tenham ficado de fora, Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, adiantou que se tratam de situações diferentes. “Esses casos não têm uma relação directa com a proposta de lei. Com a revisão desta proposta de lei queremos distribuir melhor os recursos públicos e tendo em conta as infracções que verificamos nos últimos anos”, concluiu. DSAMA com mudanças O Conselho Executivo terminou também a discussão relativa ao regulamento administrativo que altera a composição da Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA). Será assim criado o departamento de gestão das áreas marítimas e extinguida a divisão de planeamento e promoção das oficinas navais, bem como cinco secções da DSAMA. O Museu Marítimo passará a departamento e, na prática, a DSAMA passa a funcionar com oito departamentos e 16 divisões. O organismo vai também passar a ter um sub-director.
Victor Ng Manchete SociedadeSugerida proibição do acesso de funcionários dos casinos apenas nas zonas de jogo [dropcap]C[/dropcap]loee Chao, líder da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, está a organizar uma acção de recolha de assinatura online contra a proibição de entrada dos trabalhadores dos casinos de entrarem nesses locais fora do horário de trabalho. Em declarações ao HM, a presidente referiu que concorda com a intenção original desta política para ajudar os trabalhadores viciados no jogo. Mas tendo em conta que vários estabelecimentos com muita adesão da população se situam dentro dos casinos, essa medida pode trazer inconvenientes aos trabalhadores ligados ao jogo. “A verdade é que que se não podemos entrar nos casinos pode ser algo muito inconveniente para nós. Será que quando tivermos a necessidade de voltar atrás porque nos esquecemos de algum objecto, por exemplo, também estamos a violar a lei?”, questionou. Por essa razão, Cloee Chao sugere que fora do horário de trabalho os funcionários dos casinos sejam proibidos de entrar apenas nas zonas onde estão localizadas as mesas de jogo. Segundo a presidente, a recolha de assinaturas continua até este sábado, sendo que para já foram recolhidas cerca de 300 assinaturas. O resultado vai ser depois apresentado junto do Chefe do Executivo.
Andreia Sofia Silva EventosLivro “Timor-Leste – Da guerrilha às forças de defesa” apresentado hoje na FRC [dropcap]E[/dropcap]m Maio de 2002 Timor-Leste tornou-se o novo Estado soberano do século XXI depois de anos de ocupação indonésia, mas um ano antes foi necessário transformar os 650 homens que participaram na luta, pois deixaram de ser guerrilheiros. Luís Bernardino, autor do livro “Timor-Leste – Da guerrilha às forças de defesa”, em parceria com Nuno Canas Mendes, acompanhou de perto este processo de transformação das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL) em Forças de Defesa de Timor-Leste (FDTL). Na obra, apresentada hoje na Fundação Rui Cunha (FRC), constam imagens e testemunhos dessa fase em que o país caminhava para se afirmar como um Estado democrático. “Eu participei em 2001 nesta equipa, e sou uma das pessoas responsáveis por este projecto. Nesse tempo fiz um conjunto de fotografias e o objectivo é disponibilizar aos timorenses uma foto-reportagem associada a alguns textos explicativos deste processo. É um documento histórico, um livro institucional”, contou Luís Bernardino ao HM. Além de ser Tenente-Coronel de Infantaria do Exército Português e licenciado em ciências militares, Luís Bernardino tem também um mestrado em estratégia e um doutoramento em relações internacionais, sendo também membro da Nato Joint Force Command Brunssum Holand. Publicado em três idiomas – português, inglês e tétum – a obra “é uma homenagem e um testemunho de um processo que envolveu as lideranças de Timor-Leste, o Governo português, outros países da região e a ONU, e que se caracterizou por uma mudança daquilo que é uma força de guerrilha, fruto de uma ocupação e de uma resistência, para umas forças armadas num panorama diferente de um Estado democrático” Luís Bernardino classifica o livro como “institucional, porque pretende fazer a homenagem aos 650 militares guerrilheiros que fizeram esse processo de transição”. Além disso, “em termos académicos, é relativamente inédito e, de alguma forma, um caso de estudo para quem se dedica à área da segurança e das relações internacionais”. Estudos são necessários No processo de mudança em prol da constituição das FDTL, houve duas fases de formação dos militares, primeiro nas montanhas de Timor-Leste e depois num centro de formação. “Quisemos dar à comunidade mundial uma visão de como aconteceu este processo em Timor-Leste e que mostra de forma bastante visível como é que neste processo complexo da transição o país foi ganhando vantagem e normas para um Estado democrático e de Direito”, contou Luís Bernardino, que considera que continuam a faltar investigações e livros sobre a história de Timor-Leste, que obteve a sua independência face a Portugal em 1975. Poucos meses depois seria ocupado pela Indonésia, tendo anexado o território como a 27ª província do país. “Os livros são sempre importantes e são testemunhos que ficam. Este livro tem essa vantagem porque tem textos explicativos e também imagens. Já estão a aparecer alguns livros de pessoas que participaram no processo de resistência, mas seria desejável que aparecessem mais”, rematou. Antes da sua apresentação em Macau, “Timor-Leste – Da guerrilha às forças de defesa”, foi editado em Portugal, tendo sido acompanhado por uma palestra e exposição de fotografia.
Hoje Macau DesportoPortuguesas Fu Yu e Jieni Shao seguem em frente no Open da Suécia de ténis de mesa [dropcap]A[/dropcap]s portuguesas Fu Yu e Jieni Shao garantiram a presença na terceira ronda preliminar do quadro de singulares do Open da Suécia de ténis de mesa, com Tiago Apolónia, Diogo Chen e João Geraldo a serem eliminados. Em Estocolmo, Fu Yu bateu a russa Anastasia Kolish por 4-0 (11-7, 11-8, 11-8, 11-3), resultado idêntico ao conseguido por Jieni Shao frente à eslovena Alex Galic (11-8, 11-7, 11-6, 11-7). Na terceira ronda, Fu Yu vai encontrar a norte-coreana Song Kim e Jieni Shao vai jogar com a japonesa Miyu Kato. No torneio masculino, com Marcos Freitas apurado diretamente para o quadro principal, Tiago Apolónia, João Geraldo e Diogo Chen perderam com o francês Enzo Angles, o indiano Amalraj Anthony e o alemão Benedikt Duda, respetivamente. Em pares, Diogo Chen e o brasileiro Vitor Ishiy perderam com os polacos Marek Badowski e Jakub Dyjas, na primeira ronda preliminar.
Hoje Macau DesportoGinasta Simone Biles chega ao 11.º título mundial no regresso à competição [dropcap]A[/dropcap] ginasta norte-americana Simone Biles conquistou ontem o título mundial do concurso por equipas, nos Mundiais de Doha, na sua primeira competição internacional após os quatro ouros olímpicos no Rio 2016. Em Doha, Biles conquistou o 11.º título mundial da sua carreira, aos 21 anos, ao vencer a prova de equipas, com Grace McCallum, Morgan Hurd, Riley McCusker e Kara Eaker, num concurso em que somaram 171,629 pontos. As norte-americanas conquistaram o ouro por nove pontos, à frente da Rússia (162,863) e da China (162,396), países que estão qualificadas desde já para os Jogos Olímpicos de Tóquio2020. Qualificada para a final do concurso geral, e para as quatro finais individuais de aparelhos, Biles mostrou hoje, uma vez mais, estar na elite da ginástica mundial, com a conquista do seu terceiro título por equipas, após os êxitos de 2014 e 2015.
Hoje Macau DesportoPresidente do Benfica demite-se caso sejam provados “actos menos lícitos” no clube [dropcap]O[/dropcap] presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luís Filipe Vieira, assegurou hoje que se demite caso sejam apurados pela Justiça “actos menos lícitos” praticados pelo clube da Luz, numa altura em que decorrem vários processos em tribunal. “[Os casos na Justiça] Afectam-nos mais a nós do que ao Benfica. Sofremos bastante”, afirmou Vieira depois de ter sido questionado numa entrevista concedida à TVI sobre os vários processos judiciais que envolvem o clube. Sobre as acusações que recaem sobre Paulo Gonçalves, ex-assessor jurídico dos encarnados, Luís Filipe Vieira diz que é necessário esperar pelo veredicto final dos processos. “Neste momento, [Paulo Gonçalves] não foi condenado. Há a presunção de inocência. O Benfica perdeu um grande profissional”, atirou, realçando: “Não misture o Paulo Gonçalves com o Benfica”. Segundo o líder das ‘águias’, “tudo o que o Benfica ganhou foi dentro do campo”, pelo que se houver actos de corrupção comprovados, vai pedir a demissão do cargo que exerce há 15 anos. Vieira mostrou-se convencido que “no final a Justiça vai funcionar”. Vieira quer manter treinador Luís Filipe Vieira elogiou ontem o trabalho que o treinador da equipa principal de futebol Rui Vitória vem fazendo no clube e quer que o seu contrato, válido até 2020, seja cumprido até ao fim. “Por minha vontade, garanto que [Rui Vitória] é o treinador até ao final do contrato”, afirmou Vieira numa entrevista concedida à TVI, canal de televisão em Portugal, num momento em que o técnico tem sido contestado depois de o Benfica ter sofrido duas derrotas consecutivas, primeiro, na Liga dos Campeões frente ao Ajax (1-0), e no último sábado contra o Belenenses (2-0), na I Liga. Segundo o líder das ‘águias’, o treinador “tem feito um trabalho fantástico”, especialmente, no lançamento de jovens jogadores da formação do Benfica. “Lançou dez jogadores em três anos. É o homem certo para o projeto que o Benfica quer”, reforçou Vieira, considerando que “há hoje uma grande injustiça para com Rui Vitória”. O presidente do Benfica apontou para a conquista de dois campeonatos nacionais de futebol nos dois primeiros anos de contrato de Rui Vitória, bem como para a obtenção do recorde de 88 pontos na época 2015/16, recordando ainda os quartos de final da Liga dos Campeões atingidas nessa mesma época e desvalorizando a falta de títulos na época transata. “O Rui Vitória não merece as críticas que lhe têm feito. Neste momento, o Rui é o treinador mais qualificado e vai lançar mais três ou quatro jogadores formados no Caixa Futebol Campus na próxima época”, frisou. E acrescentou: “Todo o nosso projeto assenta no Seixal. O Benfica não deverá fazer o que fez no passado. O Benfica não pode depender de um resultado menos positivo. O Benfica está a preparar-se para dominar o futebol português na próxima década”. De acordo com Vieira, “a estratégia do Benfica é ganhar com os talentos formados em casa”, realçando os nomes de Rúben Dias, Gedson Fernandes e João Félix como exemplo de jogadores jovens que já têm sucesso na primeira equipa. “Recebemos ofertas de 20 e 25 milhões de euros por um jovem de 19 anos. E também propostas de 40 milhões de euros e de 35 milhões de euros por outros dois jovens e não saíram”, sublinhou, destacando que Rúben Dias e Gedson já renovaram os seus contratos e estão “blindados com cláusulas muito elevadas” e que João Félix “vai renovar já amanhã [quarta-feira] com cláusula de rescisão bastante alta”. Para Vieira, a retenção do talento formado no Seixal é “a única possibilidade de o Benfica triunfar na Europa”. “Recusámos 75 milhões de euros por dois jogadores no último verão. O Gedson não está feliz? O Rúben Dias não está feliz?”, salientou. O presidente do clube da Luz também comentou as notícias que dão conta de uma proposta do Everton no final do ano passado para contratar Rui Vitória. “Não era eu que lhe ia cortar as pernas”, vincou Vieira, revelando que, caso o negócio avançasse, Rui Vitória iria ganhar oito vezes mais no emblema inglês.