Diana do Mar Manchete PolíticaRAEM 19 anos | Cumprir os quatro desejos e contribuir para “grande renascimento” do país É por cumprir os quatro desejos formulados por Xi Jinping e pelo contributo para o “grande renascimento” da China que passa o futuro de Macau. A ideia, no sentido de uma maior integração, foi transmitida ontem por Fernando Chui Sai On durante o discurso da recepção oficial do aniversário da RAEM, a última em que marca presença na qualidade de Chefe do Executivo [dropcap]F[/dropcap]oi dos “quatro desejos” que o Presidente da China, Xi Jinping, formulou para Macau de que falou ontem Fernando Chui Sai On no discurso que proferiu na recepção oficial do 19.º aniversário da RAEM. “Grandes esperanças” que, na perspectiva do Chefe do Executivo, não só “reflectem plenamente a importância e confiança” depositadas por Pequim, como constituem “novas orientações para o futuro desenvolvimento de Macau”. Contribuir para a abertura plena do país, integrar-se no seu desenvolvimento geral e participar na sua prática governativa – tudo de “forma mais activa” – e impulsionar o intercâmbio humanístico internacional figuram como os “quatro desejos” para Macau expressos recentemente por Xi Jinping a propósito dos 40 anos da política de reforma e abertura da China. Expectativas que Fernando Chui Sai On deixou claro que o Governo não pretende gorar, mesmo estando a entrar no último ano de mandato como Chefe do Executivo. “O Governo da RAEM procurará identificar e compreender com precisão o posicionamento de Macau no processo de reforma e abertura da nova era”, afirmou, sustentando que o Executivo, “norteado pelo princípio ‘necessidades do país, vantagens de Macau’, irá participar totalmente na implementação da estratégia do país para o aprofundamento da reforma e abertura, com um espírito inovador e empreendedor”. Uma maior integração não só figura como uma aspiração de Xi Jinping para Macau como resulta da experiência vivida pela jovem Região Administrativa Especial. “A experiência destes últimos 19 anos, desde o retorno à pátria, diz-nos claramente que a articulação profunda do desenvolvimento de Macau com o desenvolvimento nacional é fundamental para a prosperidade e a estabilidade a longo prazo de Macau”, sustentou Chui Sai On, manifestando confiança de que a RAEM tem uma palavra a dizer. “Estou plenamente convicto de que todos os sectores da sociedade continuarão a cultivar o amor pela pátria e por Macau e a congregar a sua sabedoria e esforços para a construção conjunta de Macau, contribuindo assim para a promoção e implementação constantes do grandioso princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e para a materialização do sonho chinês do grande renascimento da nação chinesa”, afirmou, no discurso que proferiu diante de mais de 900 convidados. Neste sentido, insistiu que o Governo irá cumprir os desígnios que lhe foram atribuídos. “Continuaremos a apoiar e a participar proactivamente na construção da ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e a integrar-nos no desenvolvimento da Grande Baía, aproveitando as vantagens do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e as vantagens de Macau como um centro mundial de turismo e lazer e uma plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, sustentou ainda Chui Sai On, ao abordar a “fase crucial” para a implementação do primeiro Plano Quinquenal de Macau (2016-2020). Prioridades para 365 dias “Promover a construção ordenada de ‘Um Centro, Uma Plataforma’” figura, aliás, como uma das três prioridades identificadas por Fernando Chui Sai On no plano interno, no qual também entra a sabedoria de Xi Jinping. “Perspectivando o novo ano, o Governo da RAEM, unido à população, assume como sendo, nesta fase, as suas principais tarefas: estudar e implementar seriamente o espírito das importantes palavras do Presidente Xi, promover a construção ordenada de ‘Um Centro, Uma Plataforma’ e aprofundar a diversificação adequada da economia”, salientou o Chefe do Executivo. Neste ponto, e “com base nas vantagens próprias de Macau e nas características únicas do seu desenvolvimento”, o Executivo pretende “aprofundar o estudo e investigação sobre a reconversão da estrutura industrial, no sentido de acelerar” a diversificação do tecido económico, cuja estratégia para o efeito, como recordou, tem vindo a assentar na “promoção do desenvolvimento saudável da indústria pilar”– o jogo –, que, por seu turno, tem impulsionado a elevação do nível de sectores afins, bem como no crescimento de indústrias emergentes como “novos pontos de suporte da economia”. Economia à parte e recuperando o lema “ter por base a população”, Fernando Chui Sai On reiterou que o Governo vai continuar apostado em melhorar a qualidade de vida, prometendo envidar “os maiores esforços” para aperfeiçoar os “cinco mecanismos de longo prazo”. A saber: sistema de segurança social, habitação, educação, serviços médicos e formação de recursos humanos qualificados. Mais educação patriótica No extenso discurso, foi ainda referido um “reforço da educação sobre o amor pela pátria e por Macau”, bem como dos “trabalhos de apoio à juventude”, em particular aos que “privilegiem o incentivo à inovação e ao empreendedorismo dos jovens e à sua participação nos assuntos sociais”. A prevenção de desastres também não ficou esquecida, com Chui Sai On a destacar o empenho que tem sido posto na criação de um “mecanismo eficiente de longo prazo”, com vista a “uma cidade segura”. Apostar mais nos incentivos à inovação tecnológica, “aperfeiçoar a construção de um Estado de Direito”, intensificando as acções de divulgação e sensibilização sobre a Constituição da China e a Lei Básica, constituem outras das tarefas. Um conjunto do qual faz parte também – como reiterou Chui Sai On – a anunciada elaboração de diplomas complementares “tendentes à concretização da defesa da segurança nacional”. “É fundamental que estejamos firmemente confiantes no princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e empenhado em reunir consensos sociais e em congregar os esforços de todos, zelando assim pela defesa de ‘Um País’, aproveitando as vantagens do segundo sistema e garantindo a realização, de forma suave, de todas as acções governativas”, complementou, antes de abordar a mudança de Governo que se avizinha. “Celebrar-se-á no próximo ano o 20.º aniversário do retorno de Macau à pátria e haverá lugar à mudança de Governo. Iremos desenvolver, nos termos da lei, e de forma ordenada, os trabalhos preparatórios para as eleições dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo e do [próprio] Chefe do Executivo”, reiterou. A recepção oficial na Torre de Macau, uma das actividades para assinalar o 19.º aniversário do estabelecimento da RAEM contou com a presença do vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e ex-chefe do Executivo, Edmund Ho, do subdirector do Gabinete de Ligação, Yao Jian, da comissária dos Negócios Estrangeiros da RPC, Shen Beili, do comissário político da Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, o coronel Zhou Wugang, bem como com os presidentes da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Última Instância, respectivamente, Ho Iat Seng e Sam Hou Fai.
Sofia Margarida Mota EntrevistaSofia Pinto Ribeiro, jurista: “O mercado do jogo não é fidedigno nem objectivo” A criação de um Observatório da Cidade é a proposta defendida pela jurista Sofia Pinto Ribeiro na sua tese de mestrado que vai ser editada online pela Fundação Rui Cunha. A ideia é simples, reverter parte das contribuições financeiras das concessionárias para a criação e uma Fundação que reuniria especialistas mundiais para pensar a cidade e sugerir acções ao Governo. Esta contribuição para a fundação seria uma contrapartida a exigir nos próximos contratos de exploração da indústria do jogo [dropcap]C[/dropcap]omo surgiu a ideia de fazer esta tese de mestrado em que avalia o impacto do jogo na construção e dinâmica da cidade e propõe que as concessionárias participem na construção de um território sustentável? Penso que o facto de ter vivido em Macau nos anos 80 e de ter regressado em 2012 me influenciou muito, isto porque me espantou a gigantesca transformação e o impacto extraordinário que a indústria do jogo tem na cidade. Andei muito tempo a pensar numa forma de abordar esta massiva transformação, associar as duas coisas – jogo e cidade – e procurar traçar um caminho e uma aposta para o futuro. Na tese, a par com a indústria, acabei por historiar o urbanismo de Macau desde a instalação dos portugueses no séc. XVI até agora, e fui um bocadinho mais longe porque acabei por investigar todos os organismos que podem ter algum tipo de poder a este nível. Ainda que estes organismos sejam pouco eficazes porque têm basicamente poderes consultivos, têm também imensos poderes que se sobrepõem. São várias comissões, conselhos, etc. Acho que tudo isto leva a uma certa entropia no desenvolvimento urbano. Portanto, a tese culmina com uma proposta de participação das concessionárias na construção da cidade. Qual é essa proposta? Proponho a criação de uma fundação. É muito curioso observar a evolução do contrato de concessão com a STDM de 1961 e que só termina em 2001. Neste contrato, e detendo a STDM o monopólio da concessão, há um conjunto muitíssimo expressivo de obrigações para a concessionária que tradicionalmente até seriam obrigações dos poderes públicos. A STDM tinha um conjunto de contrapartidas previstas nos seus contratos que não são meramente financeiras e estão muito além disso porque têm um impacto grande para a cidade. Exemplo disso é a elaboração do plano de elaboração dos novos aterros do Porto Exterior, o financiamento de metade do Centro Cultural, a sua participação em parte do aeroporto, ou seja ajuda em projectos públicos de grande impacto. Além daquelas contrapartidas típicas de manter um casino, um hotel de luxo, etc., tem outras. Outro exemplo foi o facto da STDM ter que assegurar os transportes marítimos entre Macau e Hong Kong. Gera um monopólio, é certo, mas independente desta outra consequência, estas são obrigações tradicionalmente atribuídas aos poderes públicos. Inspirada na história, e nos primeiros contratos com a STDM em que o Governo ganhava imenso com o dinheiro, a STDM ganhava com outro tipo de vantagens e a cidade em si também saía a ganhar, proponho aquilo que seria uma parceria “win-win”, com a criação de uma fundação. E em que é que consta essa fundação? Andei muito tempo a pensar como é que havia de casar estes dois assuntos: concessionárias e desenvolvimento urbanístico. Um dia tomei conhecimento de um projecto que funciona na London School of Architecture – LSA Cities – em que o objectivo é estudar em grandes urbes a ligação entre as pessoas e o espaço urbano que é um espaço em permanente transformação. Ora, este projecto é patrocinado pelo Deutch Bank. Um banco é talvez a organização económica mais capitalista que existe e se um banco pode fazer isto, porque não um casino fazer uma coisa inspirada nesta ideia tendo em conta o passado dos contratos com a STDM. Neste sentido, o que pensei foi que, de entre as contrapartidas que se podem exigir às concessionárias e tendo em conta que os resorts já estão feitos, não parece que faça sentido continuar a exigir, na renovação de contratos, mais resorts integrados. O que resta? Obrigações financeiras? As obrigações financeiras não têm que esgotar o pacote e acho, aliás, que dada a presença hegemónica das concessionárias na cidade, o impacto extraordinário que tiveram e a forma como conseguiram modificar a cidade, é de todo legítimo exigir que participem activamente do seu desenvolvimento. Daqui nasce a sugestão que acabei por desenvolver na tese: nos novos contratos de concessão deve constar a obrigação por parte das concessionárias de fundarem uma fundação em que todas tenham participação e em que o Governo participe através de um conselho e curadores. Isto seria uma forma de influenciar o funcionamento desta fundação. Esta fundação, a que chamei de Observatório da Cidade, teria como objectivo pensar a cidade em todas as suas dimensões e em todas as suas refracções. Para isso deveria chamar, não talentos, mas especialistas mundiais nas mais diversas áreas: arquitectura, demografia , geriatria, sociologia, trânsito, tudo o que de facto possamos imaginar que tem um impacto na urbe. A cidade está a envelhecer, não está pensada para deficientes, tem problemas de trânsito e de infra-estruturas. Seria uma espécie de “think tank” que pensaria a cidade para propor políticas públicas ao Governo. É evidente que aqui entraria depois o poder discricionário do Governo, ou seja, o de aceitar ou não aceitar estas sugestões, mas pelo menos este teria informação que lhe permitisse tomar melhores decisões. FOTO: Sofia Margarida Mota Como é que este observatório funcionaria, por exemplo a nível de financiamento? A fundação seria financiada pelas concessionárias. Nem acho que tenha que haver alteração ao status quo ou seja, as concessionárias já contribuem com 1,6 por cento para a Fundação Macau e com 2,4 por cento para o desenvolvimento urbanístico. O que acho é que este dinheiro pode ser fraccionado. É evidente que isto vai causar celeumas. Mas, como também digo na tese, o poder político serve para tomar decisões. Portanto, em vez de 1,6 por cento para a Fundação Macau, passa a ir outra percentagem e divide-se o valor, de alguma forma, entre a Fundação Macau e este observatório. Mesmo assim estamos a falar de uma barbaridade de dinheiro. Por outro lado, o dinheiro que vai para o desenvolvimento urbanístico também pode ser dividido porque, de facto, esta fundação tem tudo que ver com este sector e, nessa medida, faz todo o sentido que esse dinheiro seja canalizado para o observatório. Claro que também acho que esta ideia é virtualmente geradora de uma grande reacção por parte da Fundação Macau, mas nem sequer implica, para as concessionárias, uma maior obrigação financeira do que aquela que já existe. Implica, claro, outro tipo de envolvimento mas que acho que é perfeitamente justo de se exigir. Como é que isso se operacionaliza, por exemplo, na renovação de contratos que está prestes a acontecer? Os primeiros contratos terminam já em 2020 – a concessão da SJM e a subconcessão do MGM. A contribuição para a nova fundação deveria ser um requisito para se avançar com os novos contratos de concessão. Por outro lado, penso que o problema das subconcessões é um problema que tem que ser resolvido, até porque ao contrário do que defendem outros juristas, para mim as subconcessões são ilegais. Agora em 2020 temos uma questão a resolver primeiro e que é como tratar o final dos contratos de concessão e de subconcessão. A lei tem uma disposição que permite que, caso os contratos não tenham todos o mesmo prazo, que o prazo seja igualado. Isso é o que acho que vai acontecer. É uma solução inteligente colocar estes contratos em paridade uns com os outros. A proposta que faço é uma proposta que terá força nos contratos de renovação, ou seja se o Governo renovar tem alguma força negocial porque naturalmente as concessionárias terão interesse na renovação o que faz com que o Governo tenha outra capacidade de fazer exigências. No entanto, esta exigência também é perfeitamente legítima, e até se calhar mais eficaz, no âmbito de novos contratos. Isto porque são contratos a ser negociados de raiz e provavelmente com prazos muito mais longos do que se houver uma renovação que não sabemos em que termos vai acontecer. Acha que vai haver mais concessões? Não tenho exactamente uma opinião sobre isso. O que de facto acho é que não sabemos muito bem com quantas operadoras lidamos actualmente. Oficialmente temos três concessionárias e três subconcessionárias. Depois temos parcerias entre as concessionárias e outras operadoras de jogo que não sabemos muito bem o que são. Aliás, há um especialistas americano do sector que vem algumas vezes a Macau, Nelson Rose , que chama muitas vezes a atenção para isso: não sabemos com o que estamos a lidar. O mercado do jogo não é fidedigno nem objectivo. Ao abrigo destas parcerias que são admitidas não se sabe com base em quê, desconhecemos quantos operadores de facto estão no mercado. O que acho é era precisa que pelo menos uma situação mais rigorosa. Há uma referência na sua tese a Berlim enquanto exemplo de aproveitamento de espaço. “Ao contrário de Berlim, que soube usar a oportunidade de ocupar o espaço deixado pelo muro com a melhor arquitectura e urbanismo do mundo, Macau ainda não soube e não quis chamar os melhores a desenhar a cidade”, aponta. O que quer dizer com isto, quando se fala de Macau? O que justifica a necessidade de especialistas é o estado a que a cidade chegou e a necessidade de ter um plano integrado. A referência a Berlim é um apontamento que encontrei numa revista portuguesa de arquitectura que foi inteiramente dedicada aos 10 anos da transferência de administração e essa passagem está aí como ilustração de uma oportunidade que se perdeu. Ou seja, enquanto Berlim, quando caiu o muro, aproveitou a oportunidade para construir ali uma zona de referência na cidade em termos arquitectónicos, Macau quando se abriu ao Jogo, deixou as operadoras fizessem o que quisessem. Acho que Macau se deixou capturar pelos interesses privados. Um exemplo, apontado por um conferencista, Charles Landry, há uns tempos aqui em Macau é o caso do Venetian. Depois de mostrar um slide de Veneza e um slide do Venetian em Las Vegas diz “este é uma cópia do outro, e em Macau o Venetian é uma copia do Venetian que é uma cópia de Veneza”. Portanto, houve uma admissibilidade ou tolerância à repetição e à cópia. Não houve preocupação com aquilo que aí ser construído e com a identidade da cidade. Neste momento temos um Cotai que não é coisa nenhuma, é uma coisa perfeitamente descaracterizada que até tem uma Strip à semelhança de Las Vegas. Já é tarde de mais para voltar atrás? Acho que em certa medida é tarde de mais, de facto. Mas apesar de tudo e como sou esperançada proponho precisamente esta fundação. Claro que não sou ingénua. Senti muito entusiasmo com esta ideia, e acho de facto que é exequível embora seja ambiciosa. Mas também tenho a noção que ela não vai interessar a muita gente. A ideia parte de uma esperança que é a esperança que ainda se possa fazer algo de positivo para a comunidade. Tenho esta convicção de que as pessoas perderam o direito à cidade e acho que isso não é aceitável. Não é aceitável receber milhares de turistas todos os dias e os locais não poderem circular, não é aceitável o custo de vida ter chegado aos valores que chegou. Há uma série de coisas que são reflexo desta hegemonia das concessionárias que, se não puder ser revertida, porque isso dificilmente será, tem que ser minimizada e trabalhada de modo a contemplar a cidade, a sua identidade, o seu património, a sua população com os seus idoso, as suas crianças, todas as suas camadas. A partir do momento em que exigem resorts integrados, porque é que não exigem coisas que no fundo projectem Macau a outros níveis, no mundo. Não temos que ter só uma indústria do jogo. A cidade tem que ser ambiciosa e tem que estar motivada para ser melhor. Macau tem-se degradado nas suas condições e na sua sustentabilidade. Precisamos de uma cidade vivível, transitável, equilibrada e a fundação que proponho vai no sentido de proporcionar, ou pelo menos de tornar possível a adopção de políticas públicas que favoreçam outro modelo de cidade. Acho sobretudo que temos que ser mais ambiciosos, mais capazes e mais arrojados. O poder público tem que ter essa ambição. O facto de querermos apenas ser a cidade mais rica do mundo não me parece que seja suficiente. A RAEM é muito rica mas depois está cheia de problemas que têm urgência em ser resolvidos.
Hoje Macau EventosA música de António Pinho Vargas em guitarra no novo álbum de Pedro Rodrigues [dropcap]O[/dropcap] guitarrista clássico Pedro Rodrigues deu “largas à sua criatividade” e transcreveu para guitarra clássica peças de António Pinho Vargas, que constituem em exclusivo o alinhamento do seu novo CD, “Guitarra e outras histórias”, que foi editado ontem. No ‘booklet’ que acompanha o CD, António Pinho Vargas revela que, no texto que escreveu nos dois volumes para piano editados pela Notação XXI, em 2008 e 2009, “Dinky Toys” e “Twins’ Peak e outras histórias”, respectivamente, sugeriu “que os músicos poderiam usar as partituras dando largas à sua criatividade a partir das peças publicadas”. Conta o compositor que, “com grande rapidez, a primeira resposta desse tipo partiu de Pedro Rodrigues, guitarrista de créditos firmados”, que lhe enviou uma gravação da sua transcrição de “Tom Waits”, acompanhada de um pedido de autorização para eventualmente fazer transcrições de outras peças. “Não apenas autorizei como mesmo incentivei; de facto a qualidade da transcrição e da execução era tal que surpreendera o próprio autor, merecendo por isso o meu apoio e a minha expectativa”, afirma Pinho Vargas. Surgiu assim o CD “Guitarra e outras histórias”, constituído por onze composições, além de “Tom Waits”, também “Vilas Morenas”, “Brinquedos” e “A Dança dos Pássaros”, entre outras, todas de autoria de António Pinho Vargas, transcritas para guitarra clássica por Pedro Rodrigues, vencedor, entre outros, do Artists International Auditions, de Nova Iorque. O álbum inclui ainda as composições “As Mãos”, “Lindo Ramo, Verde Escuro”, “Quatro Mulheres”, “Fado Negro”, “Uma Já Antiga”, “June” e “O Sentimento De Um Ocidental”. Para Pinho Vargas, “neste disco Pedro Rodrigues, tendo como base as suas transcrições e depois de alguns anos nos quais foi tocando algumas destas peças em muitos concertos em vários países, apresenta-nos uma gama de variações e improvisações muito idiomáticas, próprias da guitarra, e fá-lo com enorme eficácia e qualidade instrumental, só ao alcance dos grandes músicos”. Pedro Rodrigues, por seu turno, afirma que, através das composições de António Pinho Vargas, encontrou algo que há muito procurava, “uma obra portuguesa, universalmente acarinhada”. O músico, de 38 anos, refere que desde os 20 se tem apresentado em concertos, “pelo mundo fora”, e sentiu “sempre por parte do público, muita curiosidade em torno daquilo que seria a cultura musical portuguesa”. “Da nossa cultura musical, a referência primeira foi e será o fado, estilo que nunca me foi possível realizar, apesar dos recorrentes pedidos”, confessa o músico, até que lhe surgiu na memória “o início de ‘Tom Waits’”, música que ouviu “inúmeras vezes num disco de vinil”. “Após uma primeira transcrição e após ter a possibilidade de tocar essa peça para colegas, foi imediatamente perceptível o encantamento por ela produzido. Tinha encontrado uma obra portuguesa, universalmente acarinhada por onde passasse”. O músico assinala a sua admiração pela música de Pinho Vargas, e agradece o seu “entusiasmo e estímulo”, neste trabalho. Sobre António Pinho Vargas, realça o guitarrista clássico, o “seu poder de síntese do belo, pela riqueza e diversidade que, sem fronteiras, aportou à cultura musical”. Pedro Rodrigues é professor no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro e, recentemente, criou e apresentou o programa “Seis Cordas Para Um País”, na RTP-Antena 2. As suas transcrições e edições estão editadas pela Mel Bay Publications, AVA Editions e Notação XXI. Como investigador, proferiu conferências em Inglaterra, Brasil e Portugal, dedicadas às temáticas da transcrição e da música contemporânea. Vencedor do Artists International Auditions, de Nova Iorque, do Concorso Sor, de Roma, e do Prémio Jovens Músicos, entre outros galardões, Pedro Rodrigues iniciou o seu percurso musical aos cinco anos, com José Mesquita Lopes, na Escola de Música do Orfeão de Leiria, onde terminou os estudos com a classificação máxima como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Participou em ‘masterclasses’ com David Russell, Leo Brouwer, Joaquin Clerch e Darko Petrinjiak, tendo posteriormente estudado com Alberto Ponce na École Normale de Musique de Paris, onde recebe os Diplomas Superiores de Concertista em Música de Câmara e Guitarra, este último com a classificação máxima, por unanimidade e felicitações do júri. Sob a orientação de Paulo Vaz de Carvalho e Alberto Ponce concluiu, em 2011, o Doutoramento na Universidade de Aveiro, como bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Entre outras salas, apresentou-se a solo no Carnegie Hall, em Nova Iorque, na Salle Cortot, em Paris, no Ateneo e na Sala Manuel de Falla, em Madrid, Endler Hall, na Cidade do Cabo, na África do Sul, no Centro Cultural de Belém, na Casa da Música e no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, além de festivais como Mikulov, Paris, Santo Tirso, Música Viva, Sernancelhe, Caruso e Forfest Kromeriz, entre outros. Segundo dados do músico, já estreou “mais de 60 obras dos mais importantes compositores portugueses”, como João Pedro Oliveira, Cândido Lima, Isabel Soveral, Sara Carvalho, Sérgio Azevedo, José Luís Ferreira, António Sousa Dias e Carlos Caires entre outros. Como solista, tocou, entre outras, com a Orquestra Gulbenkian, a Filarmonia das Beiras, a Orquestra do Algarve e a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, entre outras. O seu primeiro disco data de 2002, “L’histoire du tango”, tendo já editado doze CD. O mais recente, “Màchina Lirica”, data de 2015, ao qual sucede “Guitarra e outras histórias”.
Hoje Macau China / ÁsiaDívida queniana pode levar China a penhorar maior porto do país [dropcap]O[/dropcap] Quénia pode perder o porto de Mombaça, o maior do país e da África Oriental, para a China, caso falhe o pagamento de obrigações ao Banco de Exportações e Importações da China (BEIC), segundo os media locais. De acordo com um artigo publicado hoje pelo jornal diário queniano Nation, que cita um relatório do auditor-geral do país, a penhora do porto poderá ocorrer caso o Governo do Quénia não consiga pagar o empréstimo contraído para a construção de uma linha férrea entre Mombaça e várias cidades, incluindo a capital, Nairobi. Em 2014, o banco chinês acordou um empréstimo de 90% dos 3.800 milhões de dólares para a realização da empreitada, tendo o Quénia assegurado, no ano seguinte, um crédito adicional de 1.500 milhões de dólares para expandir a rede em mais 120 quilómetros. “Não temos comentários a fazer sobre o assunto porque qualquer documento divulgado teria de fazer parte de um processo de auditoria interna, e nós não comentamos a validade ou autenticidade desses documentos por uma questão de política”, disse o responsável pela comunicação do gabinete do Auditor-Geral do Quénia, citado pela Bloomberg. Segundo o artigo do Nation, o relatório indica que caso as dívidas não sejam saldadas, as receitas da Autoridade Portuária do Quénia (APQ) serão utilizadas para pagar a dívida ao país asiático. No final do primeiro semestre de 2018, as receitas da APQ cifravam-se em 42.700 milhões de xelins quenianos. De acordo com os dados do Tesouro do Quénia, a China representa o maior credor do Quénia, com 22% da dívida pública externa, calculada em 2,4 biliões de xelins quenianos. A construção da ferrovia queniana integra o projeto de infra-estruturas internacional ‘Uma Faixa, Uma Rota’, criado pelo Presidente chinês, Xi Jinping. Lançada em 2013 pelo chefe de Estado chinês, o projeto, também apelidado de ‘nova rota da seda’, inclui a construção de portos, aeroportos, auto-estradas, centrais elétricas ou malhas ferroviárias ao longo da Europa, Ásia Central, África e sudeste asiático. A iniciativa é vista como uma versão chinesa do ‘Plano Marshall’, lançado pelos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiram a Washington criar a fundação de alianças diplomáticas e militares que perduram até hoje. A perda do controlo de infra-estruturas por parte de países com dívidas à China não é inédita. No final de 2017, o Governo do Sri Lanka, ao não cumprir com as obrigações com a China, cedeu o porto de Hambantota para o Executivo chinês por um período de 99 anos. De acordo com o New York Times, esta transferência fortaleceu o controlo chinês num território pouco distante da costa da Índia, um dos principais rivais comerciais locais. As mesmas razões levaram a que, em Setembro deste ano a Zâmbia também cedesse o seu aeroporto internacional à China.
Hoje Macau China / ÁsiaCanadá recusa relacionar terceira detenção na China com caso Huawei [dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro do Canadá recusou hoje relacionar o terceiro cidadão do país detido na China aos dois casos anteriores, que terão servido de retaliação pela detenção da directora financeira da empresa chinesa de telecomunicações Huawei. Segundo a imprensa canadiana, a professora Sarah McIver é a terceira nacional detida pelas autoridades chinesas, numa altura de crescente tensão entre Pequim e Otava, que deteve Meng Wanzhou, executiva da Huawei, a pedido dos Estados Unidos. McIver trabalhava como professora no país asiático, antes de ser detida pela polícia, devido a irregularidades no seu visto. Justin Trudeau considerou hoje, em conferência de imprensa, que o caso de Mclver “parece” ser diferente dos envolvendo o ex-diplomata Michael Kovrig e o empresário Michael Spavor, que são acusados de “prejudicarem a segurança nacional da China”. Trudeau afirmou que Otava tem evitado criticar publicamente a China, apesar de as detenções terem servido aparentemente como represália, para evitar agravar as tensões com Pequim. “Por vezes, politizar ou amplificar o nível de discurso político pode parecer satisfatório a curto prazo, mas não contribuirá para o resultado que queremos, que é a segurança dos canadianos”, disse. Canadá e China enfrentam um conflito diplomático desde a detenção, no início do mês, de Meng, quando fazia escala em Vancouver. As autoridades dos EUA pediram ao Canadá que detivesse Meng, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis. Uma lei federal norte-americana proíbe responsáveis governamentais e militares de utilizarem aparelhos fabricados pela Huawei e as suas alegadas ligações ao Partido Comunista chinês são frequentemente salientadas. Na semana passada, e após advertirem Otava com “graves consequências”, as autoridades chinesas detiveram Michael Kovrig e Michael Spavor.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim rejeita insinuações do Japão sobre a sua expansão militar na região [dropcap]A[/dropcap] China rejeitou as insinuações feitas pelo Japão de que está a expandir a sua influência militar na região, e as classificou de “acusações falsas” e “infundadas”. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, respondeu assim à aprovação japonesa de novas linhas de defesa que incluem o reforço das suas capacidades e a compra de modernos aviões de combate que poderiam ser posicionados em navios da Marinha. “Os conteúdos relacionados com a China nestes documentos (das novas linhas de defesa japonesa) só repetem velhas canções, fazendo acusações infundadas às actividades do exército chinês”, declarou Hua. Além disso, a porta-voz da chancelaria chinesa disse que se tratam de “acusações falsas” sobre a ameaça da China, “algumas das quais cheiram a mentalidade da Guerra Fria”. “Devido a razões históricas, os movimentos do Japão sempre foram observados de perto pelos seus vizinhos e pela comunidade internacional”, provocou Hua, que recomendou a Tóquio “que tome cuidado com suas palavras e suas acções no campo militar e de segurança”. A porta-voz chinesa considerou ainda que as insinuações japonesas “não são boas para o desenvolvimento de laços bilaterais, nem para manter a paz e a estabilidade regional”. A revisão aprovada pelo governo japonês é a primeira na estratégia de defesa que o país adopta desde 2013, entre sinais de tensão internacional pela crescente influência chinesa na região e pelas ameaças ainda latentes do programa nuclear norte-coreano. O Executivo de Tóquio, segundo os documentos da aprovação das novas estratégias defensivas, está “profundamente preocupado” com as actividades militares de Pequim no Mar da China Oriental, assim como com as interferências no ciberespaço que poderiam prejudicar as capacidades defensivas japonesas.
Hoje Macau China / ÁsiaChina pede que à OMC investigue tarifas impostas pelos EUA O governo chinês apresentou uma queixa na Organização Mundial de Comércio contra os EUA, na sequência da guerra comercial iniciada por Donald Trump [dropcap]O[/dropcap] governo chinês solicitou formalmente nesta terça-feira à Organização Mundial do Comércio (OMC) a criação de um grupo especial para investigar as tarifas impostas pelos Estados Unidos às importações oriundas do país asiático desde Julho deste ano, origem da actual guerra comercial entre as duas potências. O pedido fecha a fase de consultas bilaterais que tinha começado em Agosto, e a disputa passará agora a ser tratada pelo Órgão de Solução de Controvérsias da OMC, formado por representantes de países-membros da organização internacional. As tarifas contra as quais a China protesta foram impostas pelo governo do presidente americano Donald Trump em resposta a supostas más práticas chinesas em matéria de transferência de tecnologia e propriedade intelectual. Uma primeira imposição de tarifas sobre bens chineses avaliados em US$ 34 mil milhões (aos quais aplicou uma taxa de 25%) foi aprovada nos EUA em Julho e, em Setembro, foram impostas tarifas adicionais de 10% a produtos procedentes da China avaliados em US$ 200 mil milhões. A China destacou que as consultas com os EUA em Agosto e Outubro terminaram sem avanços e que as tarifas “afectam significativamente os seus interesses comerciais”, o que, além disso, piora o clima do intercâmbio comercial e prejudica as linhas de produção de indústrias em todo o mundo. As acções unilaterais dos EUA “não só prejudicam os direitos e interesses da China, mas violam flagrantemente as regras da OMC”, argumentou a representação do país asiático na organização. Resposta americana Os Estados Unidos responderam que a China procura utilizar o sistema de resolução de disputas como um escudo para “uma grande gama de políticas que distorcem o comércio e práticas não admitidas pelas regulações da OMC”, por isso ameaçam a viabilidade dos mecanismos mediadores. Washington também classificou de hipócrita a decisão da China de levar a disputa à OMC, quando já está a aplicar em resposta às tarifas americanas os seus próprios encargos sobre US$ 100 mil milhões em produtos dos EUA. Trump ameaça empreender uma escalada na guerra comercial com a imposição de mais tarifas contra a economia chinesa, origem de quase metade do elevado défice comercial que os EUA mantêm com seus parceiros comerciais, e que superou os US$ 800 mil milhões em 2017.
Carlos Morais José Editorial VozesExemplo a seguir [dropcap]F[/dropcap]alta um ano para que duas décadas se cumpram sobre o advento da RAEM. Durante este período, Macau conheceu claramente duas fases, que correspondem aos governos de Edmund Ho e de Chui Sai On. A primeira foi caracterizada por um crescimento exponencial, a segunda pela consolidação desse excesso de quase tudo, principalmente de fundos nos cofres governamentais. Dos poucos dramas que este território enfrenta, porque a abundância financeira evita muitos problemas, é precisamente a falta de uma visão clara quanto ao futuro, nomeadamente quanto ao modo de aplicar inteligentemente os fundos no aumento da qualidade de vida dos cidadãos. A verdade é que o nosso Governo não consegue projectar quase nada porque se sente aflito quando faz quase tudo. O exemplo crítico passa pela Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura que não consegue iniciar um projecto com alguma envergadura, sem motivar e aceder aos protestos que sempre se levantam, no seio de uma sociedade mimada e insaciável. Foram os casos do Hotel Estoril, em que os protestos levaram ao cancelamento de um projecto de Siza Vieira, e do Antigo Tribunal, cuja transformação em biblioteca se tem arrastado miseravelmente ao longo dos anos. No entanto, também qualquer projecto ligado às Obras Públicas e Transportes parece também sofrer de irremediáveis problemas. São o caso do metro ligeiro e do Hospital da Taipa, cuja inconclusão manchará para sempre o Executivo de Chui Sai On. Fica a impressão de que o Governo não consegue ou não quer construir equipamentos sociais, seja por incompetência, no primeiro caso, seja porque vai contra certos interesses particulares, no segundo. Os elogios do presidente Xi Jinping ao Chefe do Executivo e ao Governo de Macau pecam — e despertam mesmo um sorriso de complacência — quando sublinham o sucesso na “diversificação económica”. Os números não mentem e demonstram que, pelo contrário, cada vez a região está mais dependente do Jogo e que as restantes actividades económicas debatem-se com graves problemas, nomeadamente ao nível das PMEs. Ao elogiar a diversificação económica, quando esta basicamente não existe, Xi retira valor ao elogio. E ficamos satisfeitos por saber que a RAEM tem sido um filho fiel do regime e da Pátria. De facto, neste ponto não terá Pequim qualquer razão de queixa ou antes pelo contrário. Macau não tem causado quaisquer problemas políticos, sobretudo se comparado com Hong Kong. Pelo contrário, por aqui proliferam os que são mais papistas que o papa. Outros dos macro-objectivos, desde 2003, as relações com os países lusófonos, não correu como seria de esperar. Passámos aqui anos de uma espécie de fingimento, de paródia à questão. Os empresários locais não demonstraram agilidade para empreender o caminho de África, do Brasil, de Portugal ou sequer de Timor-Leste. Nem agilidade, nem vontade. Foram precisas alterações radicais no Fórum Macau, bem como a visita do primeiro-ministro Li Keqiang e famoso discurso dos 19 pontos, para que a elite local percebesse que se trata de algo inevitável, pois resulta de uma directiva inteligente do Governo Central. Contudo, muita coisa boa se passou nestes 19 anos. Entre elas, e nada despiciente, o modo carinhoso como o Governo da RAEM continuou, ao longo de todo este tempo e sem interrupções, a tratar a comunidade portuguesa. Que, por seu lado, tem contribuído e muito para a construção da RAEM e prepará-la para os confrontos e desafios da nova era. Os portugueses continuam a desempenhar um papel importante nesta cidade, sendo responsáveis por uma parte significativa das suas manifestações culturais e pela internacionalização de Macau, além do Jogo, como cidade patrimonial ímpar. Ainda na semana passada, o actor Nicholas Cage, convidado de honra do Festival Internacional de Cinema de Macau, referiu que grande parte do interesse desta região passa pela presença e mescla de duas culturas tão diferentes: portuguesa e chinesa. E tem toda a razão. Neste sentido, acreditamos que os futuros dirigentes da RAEM saberão preservar este património único e que possibilitarão que a nossa comunidade continue a desempenhar um papel de relevo na sociedade local. Como está bem claro na Lei Básica, Macau é de todos nós, sobretudo dos que aqui deixam o seu suor e saber, ao serviço do engrandecimento de Macau e da China. O grande País do Meio sabe quem são os seus amigos e esta amizade secular entre os dois povos conhece no presente um dos seus momentos mais elevados. Que o futuro confirme e reforce estas relações que são, desde já, um exemplo a seguir, um modelo de comportamento, para a comunidade global de futuro partilhado.
João Santos Filipe DesportoAutomobilismo | Vencedores da Taça de Macau de Turismo atacam 24 horas do Dubai Equipa Teamwork, grande dominadora da prova de carros de turismo para pilotos locais do Grande Prémio de Macau, vai iniciar temporada de 2019 com prova de resistência [dropcap]O[/dropcap]s vencedores da Taça de Carros de Turismo do Grande Prémio de Macau, Sunny Wong e Paul Poon, estão entre os quatro pilotos escolhidos pela equipa Teamwork Motorsport para atacar as 24 horas do Dubai. A prova está agendada para o fim-de-semana de 11 de Janeiro, no Autódromo do Dubai, na configuração com uma distância de 5,39 quilómetros. A participação na prova do Médio Oriente marca o início da próxima época para a equipa Teamwork, que normalmente acaba a temporada com a participação no Grande Prémio de Macau, também devido ao patrocínio da empresa local, Suncity. Além de Wong e Poon, Alex Fung, quinto classificado à geral na Taça de Carros de Turismo do Grande Prémio, e Alex Hui completam o grupo de quatro pilotos que vai conduzir o Audi RS3 LMS. “Ao longo dos mais de 20 anos que tenho de experiência no automobilismo posso dizer que tenho poucos quilómetros em provas de resistência. Por isso, sinto-me muito entusiasmado com a hipótese de competir pela primeira vez numa prova de 24 horas”, disse Paul Poon, que tem no currículo sete triunfos na Taça de Carros de Turismo do Grande Prémio de Macau, entre a classe para carros até 1600CC. “O resultado não vai ser o mais importante, o principal vai ser mesmo disfrutar da experiência e da viagem”, acrescentou. Mais experiente nestas andanças é Sunny Wong. O piloto de Hong Kong estreou-se na competição em 2011. “Vamos correr as 24 horas do Dubai depois de uma pausa de dois meses. Acho que é uma boa forma de começarmos 2019 e de nos prepararmos para os nossos programas de corridas”, afirmou Wong. O piloto recordou depois as dificuldades da estreia na prova: “A primeira vez que corri esta prova foi em 2011, com uma equipa da Holanda. Na atura, ainda não era um evento muito popular entre as equipas asiáticas. Mas isso mudou. Agora vou regressar com a Teamwork e também quero ver as alterações que a prova sofreu”, acrescentou. Participação esporádica Por sua vez, Ken Lui, director técnico da equipa, encara o evento como uma participação esporádica e de aprendizagem. “Vai ser uma participação única nesta parte do globo. E é também um marco porque é a primeira vez que temos viajamos para tão longe para competir”, começou por dizer. “Também é uma oportunidade de rever vários amigos e ex-colegas de trabalho, porque são muitas as equipas asiáticas que vão estar presentes”, sublinhou. Na lista de inscritos consta também o nome do piloto de Macau Kévin Tse, que vai participar com a equipa Porsche Centre Hong Kong, ao volante de um carro do construtor alemão, o 911 GT3 R.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasO Mistério da Irritabilidade [dropcap]D[/dropcap]e onde vem a irritabilidade das pessoas? De onde nasce? Da impaciência, da frustração? Geralmente ando a pé pela cidade de Lisboa e sou confrontado muitas vezes com a impaciência dos peões em relação aos motoristas, quer seja pelo estacionamento que lhes corta a passagem – mas também não há onde estacionar –, quer seja por passarem já com o sinal vermelho. Na esquina da rua de São Bento com a Avenida Álvares Cabral, junto ao Largo do Rato, não poucas vezes assisto à fúria dos peões para com os motoristas, por estes estarem a passar no vermelho. Não há um mínimo de compreensão ou tentativa de o fazer. A situação é muito simples se analisada friamente: no Largo do Rato há vários semáforos e outras tantas direcções; os veículos que descem da Rua das Amoreiras ou da Avenida João XXI para a de São Bento têm os semáforos bastante afastados da passadeira do início da Rua de São Bento – onde os peões diariamente se enfurecem com os motoristas –, o que os leva muitas vezes a passarem o sinal no fim do amarelo e, devido a muitas das vezes terem de passar devagar por várias razões, acabam por cair em cima da passadeira como sinal verde para os peões. Por vezes, bastava que os primeiros peões esperasses dois segundos e tudo se resolvia, mas não é isso que acontece. Se o carro vem devagar, atravessam-se à frente, gesticulam e proferem impropérios, indignados por alguém não respeitar as regras do trânsito. Se o carro vem depressa, não atravessam, mas os impropérios e a gesticulação atingem o seu apogeu. Evidentemente, todos estes peões, que talvez não sejam motoristas ou quando o são cumprem todas as regras de trânsito, estão no seu direito de se indignar. Mas o que está em causa não é a indignação, mas a de saber se uma vida com correcção tem direito a agredir uma vida incorrecta? Neste caso particular é fácil de determinar o correcto e o incorrecto, não padecemos de subjectividade. Mais importante ainda do que saber se a vida correcta tem ou não direito de agredir a vida incorrecta – que evidentemente não tem, embora tenha o direito de se indignar –, é a de saber se quem tem uma vida correcta deve deixar-se perturbar por quem age incorrectamente. Pois parece-me claro que aqueles segundos de altercação afectam o ponto de vista das pessoas envolvidas. O seu humor fica alterado. Quem se alterca com outrem, a não ser que tenha prazer nisso – e há pessoas que têm prazer nisso –, vai ter o dia estragado ou, pelo menos, minutos ou horas depois do acontecido, dependendo do grau de altercação. No fundo, o que está aqui em causa não é sequer um ponto de vista da abnegação ou de perdoar os actos dos outros, mas de se auto-preservar, preservando o seu bem-estar. Esta entrega à irritabilidade, porque no fundo é disso que se trata, de irritabilidade, a pessoa irrita-se com a outra, e muitas das vezes por questões de nada, leva-nos a pensar o que está por detrás disto. Se a irritabilidade com uma situação ou com uma pessoa nos faz ficar perturbados durante um tempo, então porque nos entregamos a ela? Será que somos tão incapazes de agir em concordância com o que é melhor para nós ou a irritabilidade também nos traz ganhos? É apenas uma questão de auto-domínio? O que é propriamente a irritabilidade? O dicionário diz-nos que se trata de uma resposta excessiva a um estímulo, levando-nos claramente no sentido da medicina. Por exemplo, uma irritação na pele é a resposta (excessiva) que a pele dá a um determinado alimento ingerido ou ao contacto com produtos nocivos (por exemplo, químicos) ou com um ambiente agressivo (por exemplo, fumo ou pó). Assim, a irritabilidade em relação a um acontecimento, a irritabilidade da alma, será um estímulo excessivo na alma em relação ao que se julga ser o justo e que é corrompido. De outro modo, a irritabilidade acontece porque sentimos em nós que o outro comete uma injustiça, um gesto incorrecto. Mas se em relação a uma irritabilidade da pele, nós nos protegemos, porque em relação à irritabilidade da alma a uma possibilidade dela acontecer não fazemos o mesmo? Porque somos tão vulneráveis à irritação? Será isso uma consequência da vida em enormes comunidades ou uma consequencial de se ser humano, independentemente do tamanho da comunidade onde se esteja inserido? Quantas vezes ao dia somos confrontados com a irritação das pessoas, quer seja na vida “real” quer seja na virtual? É este aumento da irritação que legitima a pergunta acerca de qual o seu significado para o humano, se por detrás do mal evidente não estará também um bem que ainda não descortinámos, como se a irritação fosse uma espécie de equilíbrio, devido à constante frustração dos nossos dias, dos nossos quotidianos. Aquela pessoa que profere impropérios contra outrem, que seja na passadeira de uma rua de Lisboa, quer se seja no mural do facebook de alguém, talvez mais do que agir devido a um descontrolo de si mesma, aja devido a uma reacção – ainda desconhecida – da sua alma, de modo a equilibrar a sua própria vida. Talvez a irritabilidade lhe seja nesse momento tão necessária quanto um comprimido contra a tensão arterial. Talvez a irritabilidade, contrariamente ao que julgamos, seja uma forma misteriosa de preservação. Talvez o irritar-se com outrem nos salve de um ataque cardíaco. Esta especulação, a confirmar-se, justificaria pelo menos porque é que alguém perde a sua própria vida com tolices. Pois o tempo que se perde na irritação, seja um bem ou um mal, é real e concreto. A nossa vida perde-se ali. Enquanto estamos irritados não fazemos outra coisa. Nem o que tínhamos para fazer, nem o que não tínhamos para fazer e poderia ser apenas não fazer nada. Assim, enquanto a irritabilidade permanecer um mistério, talvez seja preferir evitar entregarmo-nos a ela, porque a vida que se perde entretanto não é mistério nenhum. É a nossa vida.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasUm rocambolesco rendez-vous com a história [dropcap]O[/dropcap] redemoinho das imagens não é coisa apenas do nosso tempo, caro leitor. Recuemos vinte e três séculos e repare-se no modo como elas irrompem nos textos apocalípticos de “Daniel”, chegando quase a atropelar o relato dos acontecimentos: “Considerava eu, na minha visão nocturna, que os quatro ventos do céu se precipitaram sobre o grande mar. Surgiram do mar quatro grandes animais, diferentes uns dos outros” (7,2-3). Esses animais fabulosos são, logo a seguir, descritos um a um: o primeiro “era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia”, o segundo era “semelhante a um urso”; o terceiro era parecido a “uma pantera que tinha sobre o dorso quatro asas de ave” e, por fim, o mais “aterrador”, tinha “enormes dentes de ferro (…) e dez chifres” (7,4-8)[*]. Ao lerem-se hoje estas palavras, fica-se a meio caminho entre aquela sensação de burlesco (tipo King Kong no cimo do Empire State Building com Fay Wray na palma da mão) e a possibilidade de tomar as alegorias a sério. Devo dizer, caro leitor, que já o fiz há uns tempos, quando me pus a desfibrilar um doutoramento. Uma década antes, precisamente, passou-se uma coisa na minha vida que me faz sempre evocar esta ‘terra de ninguém’ entre o burlesco e a mais severa das gravidades. Eu conto. Lembro-me que o dia ia avançado – umas três grolsch com gargalo de pirolito e um gorduroso frikandel enchiam as horas –, quando ouvi o telefone. Era a televisão (holandesa). No dia seguinte, tive que me levantar cedíssimo e lá voei com os operadores de câmara e o ensonado jornalista que fazia um dos programas de actualidade mais vistos na altura (esqueci-me completamente do nome dele). Ali ia eu como tradutor escolhido à pressa, depois de várias tentativas, em Hilversum, para encontrar alguém que não deixasse fugir aquele encontro com a “História” que a AVRO (o nome do canal) tinha subitamente descoberto. Só soube do que se tratava, quando nos alojámos numa das salas privadas do aeroporto Charles de Gaulle. O entrevistado que, umas horas depois, apareceu na minha frente era um alto responsável da polícia de S. Paulo que estava em discreto trânsito a caminho da Alemanha. Era um homem alto e magro. Uma seta de marfim com os pés espetados na terra e umas sibilantes que fariam vibrar as raízes dos coqueiros. O cinto apertado dividia-lhe o corpo em dois como se fosse uma almofada de penas atada ao meio por um fio de nylon. Andava com os pés virados para fora e o cabelo liso de risca ao meio levantava no ar uma caligrafia eléctrica. Era um hímen expressivo que avançava com passos curtos, moldando tudo com palavra líquida e aconchegada. Sorria com vapores de sapo de boca larga (e, sim, sim, parecia-se realmente com o personagem de Daniel com os seus “enormes dentes de ferro”). Na sua maleta metalizada, levava nem mais nem menos do que os presumíveis ossos do nazi Josef Mengele que iriam ser sujeitos a testes de DNA. Lembro-me bem do contraste entre o calvinismo austero do jornalista holandês e o humor desbragado e despropositado do brasileiro. Nunca mais soube nada acerca desta história que se passou há mais de três décadas. Os acasos, caro leitor, têm sempre unhas de gel: destapam o que parece tapado. Por vezes parecem feitos à medida das nossas memórias mais bizarras. Foi o que me aconteceu, quando, há dias, li uma notícia que dava como certo que os ossos de Mengele tinham passado a ser usados no Brasil em aulas de medicina forense. A iniciativa teria pertencido ao director do Departamento de Medicina Legal da Universidade de S. Paulo, Daniel Romero Muñoz, que, em meados dos anos oitenta, liderou a equipa que identificou o cadáver de Mengele. Como é sabido, Mengele foi um dos facínoras nazis que, logo após a II Grande Guerra Mundial, conseguiu fugir para Argentina e depois para o Paraguai, tendo-se fixado no Brasil em 1960. Segundo rezam as crónicas, morreu afogado na praia de Bertioga em 1979 e foi enterrado em S. Paulo com um nome falso. Passados poucos anos, devido à intercepção de uma carta do casal alemão que enterrou Mengele com o nome de Wolfgang Gerhard, a verdade veio ao de cima. Daí que, em 1985, o cadáver tivesse sido finalmente exumado e, depois de longa pesquisa, a equipa multinacional que na altura se formou chegou à conclusão que se tratava mesmo do corpo de Mengele. Foi no decorrer destas perícias que eu voei de Amesterdão para Paris e servi de tradutor à AVRO. Houve, no entanto, caro leitor, um pequeno acontecimento que fez desse dia um dia King Kong. Quando já nos despedíamos nos corredores do aeroporto, fiquei a sós por momentos com o polícia que, com o seu ar afilado de seta de marfim, me murmurou aos ouvidos por duas vezes: “Isto são ossos de cachorro, isto são ossos de cachorro”. E de seguida rematou: “Os verdadeiros já voaram, já voaram”. Vi-o depois a desaparecer no meio da multidão, ia de costas, cada vez mais pequeno, e imitava com a mão a forma de um avião. O cinto apertado dividia-lhe o corpo em várias escarpas, os pés a serpearem mistério e a cabeça a esfumar-se até se confundir com uma seta, ou com uma lâmina afiada. Na narrativa de Daniel, a vitória do “filho do homem” sobre as quatro “bestas” funcionava como alegoria para os males terríveis do mundo que, de modo iconográfico, se iam assim expiando. No desfecho da narrativa que pôs o polícia fuinha de S. Paulo a expelir sibilantes no Charles de Gaulle, a alegoria gestual soube-me a fel. Não saberei bem dizer porquê. Talvez porque conseguir, ao mesmo tempo, dizer a verdade e confundir os sentidos é atracar em ‘terra de ninguém’ (nesse limbo entre o King Kong burlesco e a gravidade da circunstância). Foi aí, em terreno instável, que esta minha história se ficou. Sem âncora alguma. Até porque, para o bem ou para o mal, o apocalipse não passa disso mesmo: de uma visão. E uma visão é coisa que existe por si, sem precisar seja do que for que a explique. O autor anónimo dos textos de Daniel sabia-o bem. [*] Daniel, Antigo Testamento em Bíblia Sagrada, Difusora bíblica, Lisboa, 2000, Pp.1421-1451.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasA Desordem e o Ódio [dropcap]É[/dropcap] famosa a fúria de Samora Machel quando descobriu que afinal Mutimati Barnabé João (autor de “Eu O Povo”) fora uma invenção de António Quadros e não um guerrilheiro frelimista, morto em combate. Percebe-se mas denota a ingenuidade do líder moçambicano, nesta matéria. Não se fazem bons poemas por ordem e graça do Espírito Santo. E a poesia não brota da sageza, da espontaneidade, ratice ou boa vontade, mas do domínio, técnico, e duma feliz dosagem entre as valências da memória e da imaginação, e quando a uma certa tradição retórica se conjuga a circunstância e a oportunidade. Ademais, por gracioso que seja António Aleixo não se compara a Fernando Pessoa. Durante o regime socialista, como aconteceu nos outros países da mesma feição política, Moçambique foi habitado pelo dogma de que toda a gente era poeta ou artista. O que é confundir os iguais direitos que a todos cabe a montante com o que cada um faz disso a jusante. Do mesmo modo que não me tornei cientista atómico nem escultor, a poesia não é para todos. Embora continue a haver muitos mais imitadores de poetas do que poetas. O Cartier-Bresson fez dos mais notáveis enquadramentos da fotografia do século xx porque tinha atrás de si um curso de pintura – arte a qual abdicou, depois de ter interiorizado toda a história da disciplina. Não nasceu do nada aquele “vício natural” de enquadrar as fotos como se cristalizasse num clic a harmonia condensada de um universo. Sim, o desejo é capaz de produzir objectos ou acções que transmutam o saber em novas formulações ou relações, mas para isso é necessário sublimar algo já existente, seja da ordem da sexualidade, duma crença ou de qualquer repertório técnico-discursivo. Vale o mesmo para a rebeldia política, como movimento capilar, se por um lado fascina o apelo romântico da luta hoje é um crime abstrairmo-nos da história política dos últimos cem anos, pois esta destruiu a idade da inocência, e não foi só para os militantes. Já estes caracterizam-se por presumirem uma unidade formal para a luta por via de uma transcendência – personificada no comité central do partido, ou nos dogmas da ideologia ou do nacionalismo, como realidades superiores. Depois, com mais ferocidade acrescida exercem as suas tarefas de organização e de exterminação. E os fins valem sempre os meios. Sempre preferi os rebeldes, aquele que actualizam uma potência sem o filtro de uma filiação, que a uma necessidade visceral de justiça ou de mudança aliam uma causa concreta ou uma reavaliação dos valores. O que por vezes deu mudança de paradigmas, como em Maio de 68. Mas isso assusta. Daí que Carvalho da Silva, o antigo dirigente sindical, tenha dito sobre os “coletes amarelos”: “Não há democracia sem estruturas de mediação, os sindicatos, como muitas outras organizações, existem para representar interesses específicos, e a quem a sociedade pode responsabilizar; nestes movimentos inorgânicos perante a ausência de estruturas de mediação, isso torna-se uma bagunça e nega a democracia”. É uma evidência que a democracia pode ser a primeira vítima do seu próprio sucesso mas esta será uma forma simplista de colocar as questões. Como não simpatizar com os “coletes amarelos”? Ainda que a sua força seja a sua fraqueza: a sua recusa de líderes e porta-vozes é eficaz (já foi) numa acção pontual, em prolongando-se pode cair na indistinção e na instrumentalização por grupos radicais. Macron começou arrogantemente e afinal a sua inflexão neo-liberal dobrou como o junco diante da violência da realidade. Agora, dada a capilaridade da comunicação hoje em dia e os contágios que daí advêm é de perguntar se a reivindicação de que Macron abdique não terá já uma dedada da extrema-direita. Em Portugal o movimento tem a sua primeira manifestação marcada para esta semana. O poder está apreensivo – foi de cem euros, a cedência de Macron no aumento do ordenado mínimo – e curiosamente a UGT e a CGTP já se colocaram de fora das reivindicações. Não querem estar “fora do sistema”, serem considerados arruaceiros. Entretanto, o que mais desconcerta e ninguém quer pensar é a atmosfera de uma crispação latente que borbulha quer nas redes sociais, quer no descontrole com que num ápice os comentários dos leitores nos jornais se aproximam da arbitrariedade do ódio. É um sintoma acabrunhante. O ódio toma conta das sociedades. Com profetas eleitos: Trump e Bolsonaro, que elevaram à legitimidade a arbitrariedade, o espírito arruaceiro e a impunidade. Tudo o que é arcaico, as pulsões mais retrógadas têm agora uma âncora para se assumirem sem vergonha. A notícia mais simples e anódina é trampolim para exercícios de picardia e de desqualificação mútua entre os comentadores, o objecto da notícia não passa de um pretexto. Na semana passada, António Lobo Antunes deu uma entrevista em que se afirmava a favor de uma só nação ibérica. Com raras excepções não se trocaram argumentos nos comentários que se lhe seguiram, não se discutiu uma ideia; antes se amontoaram as notas denegridoras sobre o escritor, as sentenças e a condenação sem freio que roça o ódio. Todavia, há vinte anos, se um Virgílio Ferreira, um Eduardo Lourenço, um Prado Coelho, uma Agustina ou o Abelaira, manifestavam uma ideia considerada controversa havia em primeiro lugar uma suspensão da opinião. Se aquela criatura dizia tal, ponderava-se, porque a autoridade de milhares de páginas escritas por aquele autor pesava. Agora há uma manifesta falta de humildade e a sentença de um mecânico de automóveis, de um marceneiro, de um polícia, de uma empregada doméstica, de um trolha, de um enfermeiro, parece equivaler-se à de um escritor consagrado. Também as democracias liberais caíram na distorção do socialismo e confundem o justo direito à igualdade a montante com a propriedade da opinião a jusante. Todos pensadores de primeira água, todos são poetas e artistas. E entretanto esconde-se um fascista não declarado entre cada três comentadores.
Sofia Margarida Mota EventosCinema | “Caminhos Longos” de António Lemos Ferreira recorda Macau dos nos 50 O realizador António Lemos Ferreira esteve no território para apresentar o documentário “Caminhos Longos” no festival de curtas metragens Sound & Image Challenge. O filme traz ao ecrã as imagens feitas no território pelo seu pai em 1957, numa narrativa que se cruza com o regresso do cineasta a Macau, quase 60 anos depois de ter partido [dropcap]“C[/dropcap]aminhos Longos” é o filme realizado por António Lemos Ferreira que traz ao ecrã a Macau dos final dos anos cinquenta numa história que cruza o passado familiar do cineasta. A película esteve em exibição no festival de curtas metragens Sound & Image Challenge e, de acordo com o realizador, o objectivo agora e que seja um presente para os moradores, tendo distribuido várias cópias por associações locais. O filme tem origem em 1955, altura em que o pai de António Lemos Ferreira realizou a película homónima que veio a desaparecer anos depois. “Durante muitos anos foi o primeiro e único filme que existia acerca do território, mas acabou por desaparecer”, conta António Ferreira ao HM. Mas, as imagens recolhidas pelo pai do realizador não se limitaram ao filme. “Dois anos mais tarde, em 1957, filmou-me a mim, filmou a cidade, principalmente a vista da torre da Guia, filmou a família e mesmo alguns dos seus alunos do tempo em que dava aulas no Colégio Dom Bosco”, refere. “Lembro-me que o meu pai foi comprar a bobine de 8mm a Honk Kong que na altura custaria meio ordenado. Depois o padre António Giacomino é que lhe emprestou a câmara para que pudesse filmar”, recorda. Do baú As bobines de 8mm permaneceram guardadas até ao ano passado, altura em que António Lemos Ferreira achou que “era altura de trazer aquelas imagens a público para mostrar sobretudo aos macaenses o território de outros tempos” e ao mesmo tempo explorar com um contraponto com a realidade. Foi quando surgiu a ideia de fazer um documentário, aponta. Para o efeito o realizador regressou a Macau, após quase 60 anos de ausência. “O objectivo era inicialmente visitar os locais filmados pelo meu pai e procurar fazer as filmagens nos mesmos ângulos, mas Macau mudou. Sofreu muitas alterações”, refere. De acordo com o cineasta, estas mudanças são normais e podem mesmo ser construtivas. Neste caso, um imprevisto acabou por se tornar o fio condutor de toda a narrativa. “Ía filmar só as pessoas a saírem da igreja e calhou naquela altura começar a decorrer uma procissão. Aproveitei, filmei, correu bem e acabei por aproveitar a música de toda a procissão. Era uma música fúnebre mas que fazia uma boa ligação filosófica entre o casamento dos meus pais e a visita que fiz ao cemitério”, conta ao HM. Com o confronto com a realidade também a ideia inicial para “Caminhos Longos” se foi transformando. “Acabei por fazer uma adaptação dos locais, numa abordagem em que contei com a minha parte da família mais velha e que ainda está cá”, comenta. O resultado foi uma produção luso macaense em que “a família mais nova, mais virada para as novas tecnologias e para a música tratou dos arranjos e edição em Portugal, enquanto a família de Macau contou as histórias”. Regresso a casa “Caminhos Longos” acabou por representar o percurso do próprio realizador no seu regresso a Macau, aponta, e foi feito como se se tratasse de um diário pessoal onde estão as memórias mais antigas e o caminho até à actualidade. Por outro lado, o filme “representa um reencontro com as origens e também com o que a minha infância em que vinha de uma família macaense tradicional, de um português que veio cá fazer a tropa, conhece uma chinesa, casam-se e têm filhos”, acrescenta o realizador ao mesmo tempo que recorda os anos em que cresceu no território. “Vivi cá os primeiros sete anos de vida e andava sempre dividido. Era educado no seio de uma família chinesa, convivia com ela e falava chinês e depois ía para a escola portuguesa e sentia-me atrapalhado, o que na altura era muito comum nas famílias macaenses”, recorda. Mas, acima de tudo “Caminhos Longos” é um filme que pretende ser uma oferta ao território. “Fiz o filme para que seja oferecido ao povo de Macau porque todas as sociedade são o que são dada o seu passado”, sublinha. No regresso a Macau, no ano passado, apesar de ter conhecimento das alterações que a cidade sofreu nos últimos anos, António Lemos ferreira não deixou de se surpreender. Mas no geral, “Macau é agora uma cidade muito internacional com muita variedade arquitectónica em que se conseguiu manter as características portuguesas de alguns edifícios, o que torna o território muito interessante”, remata.
Hoje Macau China / ÁsiaCafé Delta estabelece parceria com o Alibaba A Delta Cafés foi escolhida para dinamizar a categoria “café” no Alibaba, que domina o e-commerce na China. As exportações representam 32% dos negócios do Grupo Nabeiro [dropcap]O[/dropcap] Alibaba, uma espécie de Amazon chinesa, identificou o café como uma das categorias estratégicas para os próximos anos e convidou a Delta Cafés para a dinamização desta nova categoria, num projecto de parceria desenhado a 5 anos. “Sendo o TMALL o principal veículo de criação de marca na China, a Delta Cafés assumiu o desafio de lançar a primeira Flagship Store oficial portuguesa gerida directamente pela marca, oportunidade única para a Delta Cafés, enquanto marca inovadora, de aprender e corresponder às novas expectativas dos consumidores”, considera Alberto Pinto, director para os mercados internacionais do Grupo Nabeiro – Delta Cafés. As exportações representam cerca de 32% do negócio do Grupo Nabeiro – Delta Cafés, cujo volume de negócios em 2018 será da ordem dos 400 milhões de euros. Está presente em 25 países mas os mercados em que estão com posição mais interessante são aqueles em que a marca tem operação própria, com destaque para Espanha, Brasil, França, Angola, Suíça e Luxemburgo. “Temos apostado continuamente nos diferentes mercados onde estamos presentes, pensando de forma global e agindo localmente, proporcionando novos momentos de consumo e chegando a novos consumidores”, refere Alberto Pinto. Presença em Xangai A Delta tem presença directa na China com a Delta Food Shangai, que tem como principal actividade a promoção e comercialização de café e produtos complementares no mercado asiático e em Angola, através da Angonabeiro, que faz a distribuição dos produtos da Delta e produz a marca de café Ginga. Mas é Angola é um caso especial. Como diz Alberto Pinto, “reconhecemos a qualidade do café angolano e por isso o compromisso do Grupo Nabeiro com Angola é de longo prazo”. Considera ainda que a Angonabeiro, “tem contribuído activamente para restaurar o café angolano e os hábitos de consumo dos angolanos e esses esforços têm dado frutos ao longo dos anos”. Um dos objectivos da Delta Cafés é entrar no ‘top ten’ das marcas de café mundiais, nos próximos cinco anos. Para este objectivo, além da internacionalização, o outro pilar é a inovação, por isso pretendem “continuar a criar tendências e a acrescentar valor aos vários momentos de consumo e de partilha proporcionados pelo café, diz Alberto Pinto. Uma das lanças para a conquista de mercados, está a Delta Q, sistema de cápsulas para consumo no lar e nas empresas, que surgiu no mercado em Novembro de 2007 com uma produção diária de 395 cápsulas. Dez anos depois, a marca de café do grupo Nabeiro produz mais de dois milhões de cápsulas por dia, com destino a 25 países. Algumas acções recentes que obedecem a estes dois pilares são o primeiro café expresso móvel, através do Delta Q WALQ), a aposta num novo segmento de mercado com barras de cereais Croffee, o Go Chill by Delta é uma bebida fria de café com leite, uma nova edição Chef’s Collection com assinaturas dos ‘chefs’ Ljubomir Stanisic e Ricardo Costa e novas campanhas internacionais, com a nomeação dos embaixadores Ricardo Pereira e Pauleta, respectivamente para os mercados do Brasil e de França.
Diana do Mar Manchete PolíticaChan Meng Kam leva Lótus de Ouro; Vítor Sereno é o primeiro diplomata luso a ser agraciado É para o empresário e membro do Conselho Executivo que vai a segunda mais alta condecoração da RAEM: a Lótus de Ouro. Já entre os cinco distinguidos com a Lótus de Prata figuram dois antigos deputados – Kwan Tsui Hang e Fong Chi Keong. A comunidade portuguesa – como tem vindo a ser habitual – também não foi esquecida, com o Governo a atribuir uma medalha de mérito profissional à médica Paula Pimenta e o título honorífico de prestígio ao ex-cônsul de Portugal Vítor Sereno, que estará presente na cerimónia [dropcap]C[/dropcap]han Meng Kam vai ser distinguido com a Lótus de Ouro, a segunda mais alta condecoração da RAEM, a seguir ao Grande Lótus, que não é entregue desde 2013. O anúncio foi feito ontem, em comunicado, pelo Gabinete do Porta-Voz do Governo, que publicou a lista composta de aproximadamente meia centena de individualidades e entidades que vão ser agraciadas. A cerimónia de imposição de medalhas e títulos honoríficos tem lugar a 9 de Janeiro. A atribuição da Lótus de Ouro ao empresário natural de Fujian e membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) e do Conselho Executivo da RAEM foi justificada com a sua participação “activa”, ao longo dos anos, nos “assuntos sociais e públicos, nos trabalhos de voluntariado e em acções de beneficência”. O papel de liderança em “encorajar os jovens a dedicarem-se ao serviço público” também foi enaltecido, a par com o empenho “em dar um contributo à educação e prestação de serviços aos grupos em situação vulnerável” e o “auxilio financeiro”. Chan Meng Kam, que começou a dar cartas no cenário político como deputado (2005-2017), ocupa, entre outros, o cargo de presidente do conselho de administração da Universidade Cidade de Macau e do Comité Paralímpico de Macau, assumindo a mesma posição na Aliança do Povo de Instituição de Macau que, aliás, fundou. A Lótus de Ouro figura como a segunda mais alta condecoração da RAEM, a seguir à Grande Lótus que foi atribuída pela última vez, em 2013, a Lau Cheok Va, pouco depois de ter deixado a presidência da Assembleia Legislativa. Prata para ex-deputados, banqueiro e atleta Já a Lótus de Prata vai para cinco personalidades, incluindo também dois ex-deputados: Fong Chi Keong e Kwan Tsui Hang. O primeiro, empresário ligado ao ramo da construção civil e presidente da Associação Geral de Wushu de Macau e membro do conselho de administração de várias universidades, é agraciado pela sua dedicação, desde a década de 1980, à “promoção de acções de beneficência, cultura, educação e desporto e aos assuntos sociais, assim como às actividades associativas”. No breve perfil, o Gabinete do Porta-voz destaca ainda que, ao longo dos anos, Fong Chi Keong tem também “vindo a acompanhar de perto e a apoiar a educação e as causas de beneficência na China”. Em causa, uma figura que, enquanto dirigente da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu, chegou a afirmar que “é impossível estar a sempre a ajudar as pessoas” e que, na qualidade de deputado nomeado pelo Chefe do Executivo, defendeu no hemiciclo, aquando do debate sobre a criminalização da violência doméstica, que as agressões no seio de um casal constituem um sinal de amor, um comentário que lhe viria a valer acérrimas críticas por parte da sociedade que o obrigaram a admitir que falou “demais”. Também com a Lótus de Prata vai ser distinguida Kwan Tsui Hang, pela luta que travou, ao longo de 21 anos como deputada (1996-2017), “em defesa de reivindicações da população e na luta pelos direitos da classe trabalhadora”, com o Executivo a reconhecer também os trabalhos associativos, nomeadamente no seio da Federação das Associações dos Operários, bem como a sua participação activa na elaboração e revisão da legislação laboral e em diplomas relacionados com a segurança social. A mesma distinção vai ainda para Ho Hao Tong, presidente do conselho de administração do Banco Tai Fung pelo seu contributo para “o desenvolvimento social e melhoria da vida da população e do sector da indústria e comércio, e para Huang Junhua, atleta da selecção de artes marciais de Macau que conquistou, este ano, uma medalha de ouro para a RAEM na modalidade de Nanquan nos Jogos Asiáticos, que decorreram na Indonésia. Premiar o mérito Já com as medalhas de mérito – divididas em sete categorias – vão ser agraciadas 23 individualidades e entidades. A portuguesa Paula Pimenta, chefe de serviço no Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), onde trabalha desde 1995, figura entre as personalidades distinguidas por mérito profissional. O Executivo destaca em particular o trabalho desenvolvido pela médica, que criou a especialidade de Medicina de Urgência no CHCSJ, em 2003, ano em que ocorreu a Síndrome Respiratória Aguda (SARS): “Apesar das circunstâncias extremamente exigentes ligadas à epidemia não houve disrupção do serviço de urgência, cumprindo escrupulosamente os princípios profissionais na prestação de cuidados urgentes à população de Macau”. O mesmo galardão vai ser entregue a outro profissional de saúde. Em causa, Kuok Cheong U, médico consultor da área de imagiologia que desempenha actualmente as funções de subdirector dos Serviços de Saúde e director do CHCSJ, com o Executivo a salientar que foi sob a sua liderança que o único hospital público de Macau recebeu acreditação internacional em termos de gestão pelo Conselho Australiano de Normas de Saúde, bem como a melhoria significativa do nível geral dos serviços médicos prestados. O lote de medalhas de mérito profissional fecha-se com Xu Aoao, astrónomo que trabalha ao serviço da Universidade de Ciência e Tecnologia, com o Governo a colocar em relevo o papel que o professor universitário desempenhou no âmbito da criação dos laboratórios de referencia do Estado; e com Mak Seng Hin, responsável pelo Departamento de Informática e Tecnologia do Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, pelo seu contributo, na formação e selecção, ao longo de mais de uma década, de participantes de Macau que alcançaram bons resultados em competições regionais e internacionais. Já as medalhas de mérito industrial e comercial vão para Mok Chi Wai, gerente geral da Companhia de Construção e Investimento Predial Tai Iec e presidente da Federação de Juventude de Macau; para Ip Sio Man, também empresário, que acumula em simultâneo a presidência da Associação de Fornecedores de Macau e da Associação Comercial e Industrial de Publicações de Macau; bem como para Wong Kin Chong, presidente da Casa de Câmbio Sun Fu Lon, elogiado pelo trabalho em prol da melhoria do ambiente de negócios nas zonas antigas, em particular na zona norte da cidade. O restaurante Sai Nam e o restaurante cantonense Kapok granjeiam as medalhas de mérito turístico; enquanto as de mérito educativo vão para três personalidades, entre as quais Sou Chio Fai – que desempenha funções nos serviços de educação públicos desde 1989 e ocupa, desde 2011, o cargo de coordenador do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior –, bem como para uma instituição de ensino (Escola de Santa Madalena). Já a medalha de mérito cultural vai ser entregue ao jornal Ou Mun (Diário de Macau), fundado em 1958, considerado “um meio de comunicação social tradicional de Macau e reconhecido por diversos sectores sociais”. Operários, Mulheres e bispo premiados por altruísmo Pelo mérito altruísmo serão agraciados, Stephen Lee, nomeado bispo de Macau em Janeiro de 2016, por “seguir e acreditar nos valores da compaixão e amor” e “promover activamente a educação, cultura, caridade e outros serviços sociais, bem como a Federação das Associações dos Operários de Macau e a Associação Geral das Mulheres, ambas criadas em 1950, e a Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau (constituída em 1968). As medalhas de mérito desportivo vão em exclusivo para atletas – Li Yi (artes marciais), Sou Soi Lam e Wong Sok I (ambos no karaté) e Hoi Long (triatlo). Já as medalhas de valor, de dedicação e de serviços comunitários – que visam premiar entidades, órgãos públicos ou trabalhadores, que se distinguiram no desempenho das suas funções pela prestação de serviços de relevo – são 11, incluindo duas entidades (Centro de Operações de Protecção Civil e o Serviço de Urgência do CHCSJ). Marjory Vendramini, fundadora dos lares “Berço da Esperança” e “Fonte da Esperança” foi uma das personalidades distinguidas nesta categoria pelos serviços de cuidados aos bebés e crianças abandonados e maltratados e pelo apoio a mulheres e famílias em risco. No plano os títulos honoríficos destaca-se a distinção a Vítor Sereno, que exerceu o cargo de cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong entre Março de 2013 e Agosto último. Actualmente a desempenhar a função de embaixador no Senegal, Vítor Sereno figura como o primeiro diplomata português a ser agraciado pelo Governo da RAEM. Contactado pelo HM, Vítor Sereno, agora embaixador no Senegal, afirmou que se deslocará a Macau para a imposição da medalha. “Atendendo à importância da distinção, estarei presente na cerimónia pública”, adiantou Vítor Sereno ao HM, agradecendo ao Governo e, em especial, ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, pelo título honorífico de prestígio. “Gostaria de o dedicar a todas e a todos os portugueses que vivem e trabalham em Macau”, afirmou, falando de “um exemplo enquanto comunidade para o mundo”. “Partilho-o também com a minha antiga equipa de trabalho, agora chefiada pelo embaixador Paulo Cunha Alves e com todos os colegas diplomatas, técnicos e administrativos das nossas missões na República Popular da China”, sublinhou Vítor Sereno. Lista das individualidades e entidades agraciadas com medalhas e títulos honoríficos: Medalhas de Honra: Lótus de Ouro – Chan Meng Kam Lótus de Prata – Fong Chi Keong Lótus de Prata – Ho Hao Tong Lótus de Prata – Kwan Tsui Hang Lótus de Prata – Huang Junhua Medalhas de Mérito: Mérito Profissional – Xu Aoao Mérito Profissional – Kuok Cheong U Mérito Profissional – Maria Paula de Matos Pimenta Simões Mérito Profissional – Mak Seng Hin Industrial e Comercial – Mok Chi Wai Mérito Industrial e Comercial – Ip Sio Man Mérito Industrial e Comercial – Wong Kin Chong Mérito Turístico – Restaurante Sai Nam Mérito Turístico – Restaurante Cantonense Kapok, Limitada Mérito Educativo – Choi Kun Sam Mérito Educativo – Sou Chio Fai Medalha de Mérito Educativo – Escola de Santa Madalena Medalha de Mérito Educativo – Tang Siu Lan Medalha de Mérito Cultural – Ou Mun Iat Pou (Diário de Macau) – Empresa Jornalística e Editorial Limitada Mérito Altruístico – Lee Bun Sang Stephen Mérito Altruístico – Federação das Associações dos Operários de Macau Mérito Altruístico – Associação Geral das Mulheres de Macau Mérito Altruístico – Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau Mérito Desportivo – Iao Chon In Mérito Desportivo – Li Yi Mérito Desportivo – Sou Soi Lam Mérito Desportivo – Hoi Long Mérito Desportivo – Wong Sok I Medalhas de Valor, de Dedicação e de Serviços Comunitários: Valor – Centro de Operações de Protecção Civil Valor – Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário Valor – Chao Ka Cheong Dedicação – Chio U Lok Dedicação – Vong Se Peng Dedicação – Ngou Kuok Lim Dedicação – Tang Kwong Yui Serviços Comunitários – Lam Wai Wa Serviços Comunitários – Chan Ioi Kong Serviços Comunitários – Marjory Rangel de Faria Vendramini Serviços Comunitários – Associação Richmond Fellowship de Macau Títulos Honoríficos de Prestígio e de Valor: Prestígio – Ma Hok Cheung Prestígio – Vítor Paulo da Costa Sereno Prestígio –Liu Liang Valor – Lam Oi Man Valor – U Choi Hong Valor – Equipa da Escola Secundária Pui Ching que participou na “Feira Internacional de Ciência e Engenharia 2018 (Intel ISEF)” Valor – Leong Ieng Wai
Andreia Sofia Silva SociedadeTaipa | Anulada concessão de terreno que iria dar lugar a parque aquático Foi ontem declarada nula a concessão de um terreno à entrada da Taipa que chegou a ser pensado para construir um parque aquático, mas que nunca foi desenvolvido. A decisão surge depois de vários deputados questionarem o atraso na declaração de caducidade [dropcap]D[/dropcap]ecorria o ano de 1997 quando o terreno localizado em frente ao hotel Altira foi concessionado à Chong Va – Entretenimento Limitada, após a realização de um concurso público que recebeu três propostas. A ideia era erguer ali um parque aquático que competisse com o Ocean Park de Hong Kong, mas a verdade é que o terreno permaneceu durante 25 anos sem desenvolvimento. Ontem, de acordo com um despacho publicado em Boletim Oficial (BO) e assinado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, foi finalmente declarada nula a concessão. Vários deputados, tal como Ella Lei e Leong Sun Iok, ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), questionaram recentemente as razões para o atraso da decisão do Executivo. O despacho aponta para o facto da concessionária não ter cumprido “com a obrigação de realizar o aproveitamento do terreno no prazo estipulado” no contrato assinado. Além disso, o Governo refere o facto de “as razões justificativas expostas pela concessionária na resposta à audiência escrita não lograram alterar o sentido da decisão de declarar a caducidade da concessão”. A concessionária tem agora 15 dias para recorrer da decisão junto dos tribunais. Golfinhos e museu A Chong Va – Entretenimento Limitada tem como sócio José Cheong Vai Chi. A empresa tem também como gerente não sócio o empresário Ambrose So, hoje director-executivo e vice-presidente da Sociedade de Jogos de Macau. Liang Tat Man e Lai Lim Ching compõem o grupo de gerentes. De acordo com o despacho publicado em BO em 1997, assinado pelo secretário-adjunto José Alberto Alves de Paula, a concessão previa a construção de um parque aquático com um espaço com golfinhos, um santuário de aves, um jardim botânico, um campo para a prática de mini golfe, restaurantes, um museu de cera e um teleférico, entre outras infra-estruturas. Como contrapartidas para a concessão por arrendamento, a Chong Va – Entretenimento Limitada teve de suportar os custos de várias obras, tal como a construção e pavimentação de arruamentos, de diques de protecção e muros de retenção, bem como redes de águas, esgotos e drenagem de águas pluviais. Estava também prevista a construção de um parque de estacionamento subterrâneo que seria explorado pelo Governo, bem como de “outras infra-estruturas consideradas necessárias e indispensáveis à prossecução da finalidade da concessão”. Numa intervenção recente na Assembleia Legislativa, a deputada Ella Lei acusou o Governo do ex-Chefe do Executivo Edmund Ho de conluio no processo de concessão deste terreno. “O terreno era para um parque temático, mas já se passaram 21 anos e nada foi construído. Naquela altura, o contrato dizia que em 2008, a concessão do terreno caducava. Mas não foi o que aconteceu”, recordou. “Em 2005 uma empresa de Hong Kong injectou capital na concessionária. Foi só um teatro que se fez naquela altura. A verdade é que o terreno foi avaliado em 4 mil milhões de patacas, na altura, e o projecto acabou alterado para residências de luxo”, apontou. A deputada atacou depois a antiga Lei de Terras: “Era este o problema. As concessionárias vendiam os terrenos e conseguiam prolongamento dos prazos de concessão. Era tudo conluio! O Governo não devia ter autorizado o prolongamento dos prazos”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeZona de arborização vai nascer junto ao edifício do Gabinete de Ligação [dropcap]D[/dropcap]ois terrenos localizados perto do edifício do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM vão ser aproveitados para a construção de uma zona de arborização, ainda que as árvores tenham de respeitar a altura máxima prevista na lei, de cerca de 20 metros, devido à proximidade com o Farol da Guia. O projecto foi ontem aprovado em sede do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). Contudo, um membro do CPU questionou se seria possível alterar a finalidade do terreno, uma vez que o concessionário nada pode construir e, por isso, não irá obter lucros do pedaço de terra que lhe foi concessionado. “O proprietário perdeu tudo, coitado. Este terreno é para uma zona verde que não tem qualquer fim de exploração. Será que o proprietário pode trocar este terreno por outro?”, questionou. Li Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), garantiu que o assunto poderá ser debatido posteriormente. ”Este terreno tem como finalidade a construção de uma zona verde e não pode ser explorado para outros fins. Mas poderemos discutir as questões de propriedade numa outra ocasião.” Os dois terrenos, localizados na estrada de Cacilhas, tiveram a última planta de alinhamento oficial emitida em 1995. Actualmente o local encontra-se ao abandono, com apenas alguns veículos estacionados. Lugares precisam-se Além do pedido de alteração de finalidade, outro membro do CPU questionou o Governo se seria possível estabelecer ali alguns lugares de estacionamento, pelo facto do Gabinete de Ligação ser um local com muitos eventos e visitas. “Estes dois terrenos têm como fim a arborização, mas podemos ou não disponibilizar alguns lugares de estacionamento ali? Como ao redor está localizado o Gabinete de Ligação, que recebe muitas visitas e onde existe muita circulação. A rua é estreita e não há muito espaço para estacionamento, e neste terreno existe uma área muito vasta”, apontou. Apesar de ter considerado esta opinião “muito pertinente”, Li Cafeng lembrou que o terreno não é público. “A finalidade é para a criação de uma zona verde. Sei que à frente deste edifício há um auto-silo público, mesmo em frente ao edifício do Gabinete de Ligação. Há falta de lugares de estacionamento mas o terreno não é público, pelo que não podemos ainda tomar medidas quanto a isso”, frisou.
Diana do Mar Manchete SociedadeFitch mantém ‘rating’ de Macau em AA A Fitch Ratings decidiu manter a notação de crédito a longo prazo de Macau em AA, com perspectiva estável. O grau AA, o segundo mais elevado, a seguir ao triplo A, corresponde a uma capacidade de cumprimento muito forte [dropcap]A[/dropcap] agência Fitch Ratings, uma das maiores do mundo, anunciou ontem que decidiu manter a notação de crédito a longo prazo de Macau em AA, com perspectiva estável. A classificação atribuída é “sustentada pelas finanças públicas excepcionalmente fortes, combinadas com um demonstrado compromisso de prudência fiscal tanto durante períodos de ganhos inesperados como de choques negativos nas receitas de jogo”. Em contrapartida, assinala, o ‘rating’ é “constrangido pela alta volatilidade do Produto Interno de Bruto (PIB), pela concentração na indústria do jogo e do turismo da China e pela sua susceptibilidade a mudanças no ambiente político da China”. Destacando o desempenho fiscal “forte” da RAEM, a Fitch Ratings estima que o saldo orçamental corresponda a 9,5 por cento do PIB em 2018, uma descida ligeira face aos 10 por cento do ano passado. A agência de notação financeira salienta que a actividade “robusta” do jogo continuou a impulsionar as receitas fiscais, mas observa que as despesas mantêm-se abaixo do orçamentado. A Fitch Ratings aborda ainda as previsões do Chefe do Executivo para o próximo ano, constantes das Linhas de Acção Governativa (LAG), que apontam para um cenário de estabilidade, para notar que o Executivo prevê um superavit de 18 mil milhões de patacas em 2019 – cerca de 4 por cento do PIB – com base em cálculos “bastante conservadores”. Neste âmbito, a Fitch Ratings dá o exemplo da previsão implícita de uma contracção de dois dígitos das receitas dos casinos relativamente às suas previsões para 2018. “A Fitch prevê um saldo orçamental de 9,4 por cento do PIB em 2019, com base na nossa perspectiva mais optimista de que as receitas de jogo vão subir aproximadamente 5 por cento no próximo ano”, diz o mesmo comunicado. Único sem dívida soberana Os recorrentes excedentes orçamentais têm contribuído para criar largas almofadas financeiras, observa a agência que estima que as reservas fiscais de Macau sejam equivalentes a 136 por cento do PIB, aproximadamente seis vezes mais do que a despesa projectada no Orçamento para 2019. Além disso, aponta, “Macau figura como o único território avaliado pela Fitch Ratings sem dívida soberana, o que a coloca abaixo da mediana histórica AA, correspondente a 39 por cento do PIB”. Relativamente ao principal motor da economia de Macau, a Fitch Ratings nota que a indústria de jogo teve este ano um desempenho acima das suas expectativas, notando que o mercado de massas cresceu rapidamente, em linha com o desejo das autoridades de diminuir a sua dependência dos grandes apostadores, embora apontando que o segmento VIP ainda contribui com a fatia de leão para as receitas dos casinos (cerca de 55%). O crescimento “robusto” dos turistas também merece destaque, com a agência a atribui-lo a uma série de iniciativas com vista a facilitar a chegada de visitantes da China, bem como a uma maior conectividade fronteiriça, em que se inclui a abertura da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. PIB com subida de 4,6% em 2018 A Fitch faz ainda previsões relativamente ao PIB, antecipando um crescimento de 4,6 por cento este ano, mas um abrandamento para 3 por cento em 2019. “Tal resulta da nossa expectativa relativamente a uma moderação gradual da actividade do jogo, aliada a uma perspectiva reduzida no plano da procura interna”, justifica, apontando para uma queda da despesa pública em 2019, devido à conclusão de uma série de projectos de infra-estruturas. No plano das finanças externas, Macau surge entre as mais fortes do universo de países e regiões avaliados pela agência que antecipa um superavit da conta corrente equivalente a aproximadamente 30 por cento do PIB, uma média que a RAEM mantém há mais de 15 anos, reflexo do facto de o grosso das receitas de jogo serem geradas por turistas. Como resultado, o território tornou-se um grande credor externo (205% do PIB), sublinha a Fitch, apontando que o peso dos activos externos líquidos no PIB (172% do PIB) contribuiu para que Macau tenha subido ao quinto lugar entre as economias avaliadas. Os riscos de sempre A Fitch também sinaliza os potenciais riscos, com a forte dependência do jogo a surgir à cabeça, dado que o sector representa quase 50 por cento do PIB e mais de 20 por cento do emprego, “não obstante os esforços de diversificação económica”. Segue-se o facto de sete em cada dez turistas serem da China, os quais são, aliás, os visitantes que mais gastam, algo que, adverte a agência, também pode ser um problema: “Qualquer mudança inesperada nas regulações relativas aos vistos ou no ambiente político em geral da China que tenha impacto na capacidade de viajarem para Macau ou que acabe com o ‘de facto’ monopólio de jogo de Macau na China seriam prejudiciais ao seu perfil de crédito”. Embora fora do seu foco de atenção, a Fitch alerta ainda para a possibilidade de as operadoras de jogo norte-americanas serem afectadas pela escalada da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. Até as próprias discussões relativamente ao futuro da indústria do jogo, cujas actuais licenças expiram entre 2020 e 2022, constituem “um potencial risco”, isto apesar de a Fitch entender ser improvável que tenha um impacto negativo na qualidade do crédito soberano de Macau. “A Fitch não acredita que as autoridades vão procurar perturbar as operações de negócio dos operadores de jogo, dado o potencial efeito dominó nas receitas fiscais, emprego e turismo em termos gerais”, realça a mesma nota. Relativamente à banca a Fitch espera estabilidade, tanto do ponto de vista do lucro, como da qualidade dos activos ou da capitalização, ainda que advirta para riscos associados ao rápido crescimento dos empréstimos e à crescente exposição à China que é, aliás, a maior na região da Ásia Pacífico, equivalendo a cerca de 38 por cento dos activos do sector bancário no final do primeiro semestre. “A agência também entende que a indulgência do quadro regulamentar constitui um potencial risco, apesar de as autoridades estarem em vias de melhorar algumas das deficiências” através da actualização do regime jurídico do sistema financeiro, que vai aumentar as exigências em termos de capital, endurecer as sanções contra actividades financeiras ilícitas e melhor alinhar as directrizes de supervisão com os padrões internacionais”.
Hoje Macau SociedadeIdentificado quinto caso de Legionella [dropcap]U[/dropcap]m taxista com 69 anos de idade foi identificado, ontem, como o quinto caso de Legionella no território. O diagnóstico foi concluído quatro dias depois do indivíduo se ter deslocado, pela primeira vez, a um clínica local, o que aconteceu no dia 15 de Dezembro, quando apresentava como sintomas febre e tosse. Actualmente, o homem, que tem um historial de doenças crónicas, encontra-se internado em estado crítico, com turvação da consciência e ainda com manifestações de febre. A fonte da infecção ainda não está identificada, mas os familiares dos indivíduos não apresentam qualquer sintoma. Também nos 10 dias anteriores aos sintomas, o individuo não viajou para fora de Macau.
Andreia Sofia Silva SociedadeCPU | Questionada construção de posto de combustíveis no Cotai [dropcap]O[/dropcap] Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) aprovou ontem a construção de um posto de abastecimento de combustíveis no Cotai, junto ao empreendimento Broadway. Apesar da aprovação, o projecto submetido foi alvo de criticas da parte do membro do CPU e também deputado nomeado Wu Chou Kit. “O Governo tem de respeitar o despacho de 2004 [que já previa a construção de um posto de combustíveis]. Já está definida uma ligação entre as duas ciclovias, e penso que o Governo tem de ponderar bem para ver se há outra localização para este posto de abastecimento de combustíveis.” Li Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, garantiu que esta obra “não afecta o projecto da ciclovia”, além de que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais “já tem um plano” para o local. O anúncio da obra de extensão da actual ciclovia da Estrada Flor de Lótus até Coloane foi anunciado em Fevereiro deste ano e deverá custar aos cofres do Executivo um total de 18 milhões de patacas. Está prevista a sua inauguração no próximo ano.
João Santos Filipe SociedadeFebre suína africana chega a Zhuhai, principal abastecedor de Macau Doença animal já afecta 23 províncias do Interior da China, entre as quais a vizinha, ou seja o principal mercado abastecedor da RAEM. Associação local mostra-se preocupada com o impacto no abastecimento. IACM garante que está a seguir o caso [dropcap]O[/dropcap] surto da febre suína africana chegou ontem ao distrito de Xiangzhou, na cidade de Zhuhai, e causou a morte de 11 porcos. Esta região é uma das principais fornecedoras deste tipo de carne a Macau. A informação foi avançada, ontem, pelo Ministério da Agricultura e para os Assuntos Rurais do Governo Central. Segundo o ministério do Interior da China, o alerta para a situação foi dado às 15h00, quando o Centro Nacional de Pesquisa Sobre Doenças Animais confirmou os resultados das autópsias. Além das 11 mortes registadas, foram abatidos outros 50 suínos que se encontravam no mesmo matadouro. A criação de uma zona de quarentena e a desinfestação dos espaços ocupados pelos animais foram outras das medidas de controlo do contágio adoptadas. Apesar da febre suína africana não ser transmitida para os seres-humanos, é provável que o território vá sentir os efeitos ao nível do abastecimento e dos preços da carne. De acordo com o presidente da Associação dos Comerciantes de Carne Verde Iong Hap Tong de Macau, Che Su Peng, cerca de 95 por cento dos porcos em Zhuhai têm origem na empresa que forneceu os animais contagiados pela febre. Por este motivo, Che teme que a rede de fornecimento acabe mesmo por ser afectada. Segundo as palavras do presidente só ontem foram importados cerca de 140 porcos vivos, que foram colocados de quarentena. Durante o dia de hoje devem ser abatidos, dentro dos procedimentos normais. Governo segue situação Depois de ter sido conhecido o caso, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) emitiu um comunicado a garantir que está a acompanhar os acontecimentos e em contacto com as autoridades do Interior da China. “Após ter sido revelado o incidente [do contágio], entrou-se em contacto com as autoridades do Interior da China e com os fornecedores de porcos vivos. Apesar de haver uma redução no número de animais disponíveis para o fornecimento, o abastecimento de Macau não foi afectado e as pecuárias que fornecem o território não registaram casos de contágio da doença”, pode ler-se, na versão em chinês, do comunicado do IACM. Ainda de acordo com o Governo, “as inspecções e os trabalhos de quarentena em Macau vão ser reforçados, incluindo os cuidados de desinfestação nos matadouros”. O IACM explica ainda que a doença “só afecta javalis e porcos domésticos”, não constituindo qualquer tipo de ameaça para a saúde humana. Segundo a mesma fonte, a febre suína africana não tem “impacto directo na saúde nem na segurança alimentar”. O Governo explica ainda que o vírus é facilmente destruído, uma vez que não resiste a elevadas temperaturas. Em relação à compra de carne de porco, o IACM aconselha as pessoas a não trazerem qualquer tipo de produtos do Interior da China nem a adquirirem produtos de vendedores ambulantes, que não identifiquem a origem dos animais. Em relação aos cuidados durante a confecção de carne de porco, é pedido às pessoas que cozinhem bem a carne e que lavem bem as mãos, após terem estado em contacto com carne de porco crua.
Hoje Macau PolíticaIAM | Ho Ion Sang teme repetição de funções face a outros serviços [dropcap]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang interpelou ontem o Governo quanto à possibilidade do futuro Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), que entra oficialmente em funcionamento no próximo dia 1, venha a repetir serviços já desempenhados por outras entidades públicas. Isto porque, na visão do deputado, o IAM promete oferecer, de acordo com a lei que serve de base à sua criação, serviços na área da cultura, recreio e salubridade pública. Ho Ion Sang lembrou também que algumas funções anteriormente desempenhadas pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) foram transferidas para o Instituto Cultural e Instituto do Desporto. Neste sentido, o deputado ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM), questiona o que é que o Governo vai fazer para evitar esta possível repetição de funções e quais as medidas que serão tomadas para garantir a coordenação interdepartamental. Na interpelação escrita, o deputado recorda que o Governo anunciou que seria concluído ainda este mês o processo de selecção dos candidatos para o conselho consultivo do IAM. Ho Ion Sang pede que haja um equilíbrio nos membros, para que haja igual acesso de jovens e mulheres. É também exigido que sejam divulgados os critérios de selecção com vista a aumentar o nível de abertura do IAM.
João Santos Filipe PolíticaIdosos | Agnes Lam quer mais apoios a proprietários de fracções antigas A deputada está preocupada com a falta e apoios à camada mais velha da população proprietária de casas antigas, sem condições de acesso adequadas, pede ao Governo que estude a viabilidade de medidas de apoio [dropcap]A[/dropcap] deputada Agnes Lam está preocupada com os idosos proprietários de fracções antigas sem condições, como a ausência de elevadores, e quer saber quais são as medidas de apoio que o Governo vai adoptar. Para a legisladora, muitos destes residentes atravessam dificuldades profundas, uma vez que apesar de terem mobilidade reduzida necessitam de subir vários lances de escadas para entrarem e saírem de casa. O cenário é agravado devido ao facto de serem proprietários de fracções nas zonas mais antigas da cidade, o que faz com que as casas tenham um valor baixo no mercado. Assim, defende Agnes Lam, estes cidadãos não conseguem vender a casa e comprar uma mais moderna com as condições de mobilidade que necessitam. O facto de terem uma fracção também impossibilita a candidatura à compra de uma fracção económica ou social. Foi esta a razão que levou Agnes Lam a enviar uma interpelação ao Governo para saber que planos podem ser criados a pensar nestes cidadãos: “Recebemos no escritório muitas queixas de pessoas idosas que estão numa situação complicada. Por um lado, têm fracções com pouco valor no mercado, normalmente situadas nas zonas velhas. Mas à medida que envelhecem deixam de conseguir subir e descer escadas, porque são prédios antigos e sem elevadores. Contudo, se venderem a casa, o dinheiro não é suficiente para se mudarem para uma mais moderna, onde têm as condições que agora necesistam”, explicou a deputada, ao HM. “São situações em que as pessoas têm uma casa, mas não têm mais rendimentos. Também os filhos não precisam de herdar a casa, porque já têm habitação própria. Portanto, era importante que houvesse um apoio para as pessoas se mudarem para um local melhor”, justificou. Neste sentido, Agnes Lam considera que há, pelo menos, três medidas cuja viabilidade deve ser estudada: um plano de troca de casas comparticipado, a disponibilização de habitações sociais e ainda a disponibilização de lares de terceira idade. No primeiro caso, o Governo comparticipava o pagamento da futura casa, na diferença entre o preço da habitação antiga e da nova. Por exemplo, se num caso a casa antiga de um casal fosse vendida no mercado por três milhões de patacas e a nova habitação custasse quatro milhões, então a comparticipação do Governo seria de um milhão. No segundo caso, o Governo trocaria a casa actual dos idosos por uma fracção social. Contudo, após a morte dos habitantes, ambas as casas reverteriam para a RAEM. Já no último caso, as pessoas deixariam as casas e seriam internadas em lar, com condições de acesso e onde pudessem viver à vontade. Hipoteca invertida Ainda a pensar neste tipo de casais com uma habitação, mas sem rendimentos, a Agnes Lam sublinha a necessidade de se estudar um mecanismo de hipoteca invertida, tal como acontece em Hong Kong. A hipoteca invertida é um mecanismo de apoio social em que o Governo ou instituições celebram acordos com os proprietários de fracções e se comprometem a pagar mensalmente uma prestação ao longo de planos de 5 anos, 10 anos ou 20 anos, dependendo do tempo que vive. Durante esse período, o proprietário continua a viver em casa. Assim que morre, ou o contrato chega ao fim, o idoso tem a prioridade na compra da casa, pelo valor do dinheiro que recebeu ao longo dos anos. Caso opte por não comprar a casa, ou morra, o Governo ou instituição financeira, vendem a fracção no mercado. Se a venda gerar um lucro superior aos pagamentos, o dinheiro ganho é dividido entre as partes, sendo que no caso da morte, passa para os descendentes. O objectivo desta medida é financiar a pessoa no seu dia-a-dia, como se fosse uma pensão em troca da habitação. “A importância da hipoteca revertida fica-se no aspecto em que permite às pessoas viverem na sua casa até morrerem, ao mesmo tempo que recebem uma espécie de pensão. É um bom negócio. Consideramos que poderá ser uma solução para algumas pessoas”, sublinhou Agnes Lam.
Hoje Macau PolíticaEstudo | Associação de ex-deputado pede controlo dos preços do imobiliário [dropcap]A[/dropcap] Associação de Gestão de Macau, presidida pelo ex-deputado Lau Veng Seng, divulgou ontem um estudo sobre o planeamento da carreira dos jovens e a compra de habitação. De acordo com o jornal Ou Mun, a associação pede que o Governo controle os preços praticados no mercado imobiliário através da regulamentação dos investidores do exterior. É também defendido o aumento dos valores das propriedades adquiridas para fins de investimento. O estudo contou com a participação de mil inquiridos, entre os 18 e 39 anos, e revela que 35 por cento já tem casa própria, enquanto que apenas 20 por cento compraram casa com as suas poupanças.