Xi Jinping em Lisboa | Analistas prevêem investimentos em portos e ferrovias

Arnaldo Gonçalves, especialista em relações internacionais, e José Luís Sales Marques, economista, disseram à agência Lusa que os acordos assinados entre a China e Portugal podem originar novos investimentos nas áreas dos portos e ferrovias, sem esquecer as ligações a África e América Latina

 

[dropcap]E[/dropcap]specialistas em relações internacionais disseram à agência Lusa que a visita oficial do Presidente chinês a Portugal é uma oportunidade para garantir investimento em portos e na ferrovia, mas também em projectos tripartidos em África e América Latina.

Os portos de Leixões e de Sines, a modernização da linha ferroviária que pode até passar pela privatização parcial ou total da Comboios de Portugal (CP), cooperação tripartida entre a China, Portugal e países africanos ou da América Latina para assegurar investimentos de grande escala são alguns dos exemplos dados por docentes e investigadores numa antevisão da visita oficial do Presidente chinês, Xi Jinping, a Lisboa.

“Esta é uma oportunidade para se passar das palavras aos actos, de dar uma expressão económica às boas relações entre Portugal e a China”, sublinha o presidente do Fórum Luso-Asiático, Arnaldo Gonçalves, lembrando que “Portugal, só entre 2010 e 2016, tornou-se no sétimo país europeu em que se registou mais investimento chinês”.

“Na área das infra-estruturas, está em cima da mesa a possibilidade de a China investir nos portos portugueses. O porto de Roterdão [Holanda] está sobrecarregado. Se a China quer prosseguir o esforço no âmbito da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ vai ter que ter um porto alternativo. Os portos de Leixões e Sines podem ser alternativas interessantes”, sustenta o professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto Politécnico de Macau.

Por outro lado, acrescenta, “Portugal precisa, mais tarde ou mais cedo, de modernizar a sua linha ferroviária”, defendendo que o país necessita de adoptar uma postura mais pró-activa.

“Para além dos portos, a privatização total ou parcial da CP poderia ser uma opção”, adianta o investigador, lembrando, contudo, que a aposta chinesa em vias de comunicação terrestres e marítima “coloca problemas políticos delicados à União Europeia [UE]”, sobretudo “num quadro de reemergência do poder russo e da aproximação entre Xi [Jinping] e [Vladimir] Putin”. Ou seja, explica, Portugal tem que ter algum cuidado” e “acertar bem as agulhas com a União Europeia para, no fundo, não ser uma ‘lebre’ posta a correr por Pequim contra a própria política externa da UE”.

A possibilidade de Portugal receber novos investimentos nestas áreas foi anunciada por Augusto Santos Silva, ministro português dos Negócios Estrangeiros, aquando da sua recente visita a Macau. Santos Silva disse que a assinatura de um memorando de entendimento no âmbito da política “Uma Faixa, Uma Rota” poderia ser assinado durante a presença de Xi Jinping na capital portuguesa, entre os dias 4 e 5 de Dezembro, ainda que este não será assinado “a qualquer preço”.

O ministro português deixou também claro que o Porto de Sines é “o melhor ponto” para que a “nova Rota da Seda ancore na Europa”.

“Um grande simbolismo”

Já o presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), José Sales Marques, acredita que ainda há espaço “para reforçar de forma significativa a cooperação” e que, também por isso, a visita de Xi Jinping a Portugal “é de grande simbolismo” porque “acontece num momento em que as relações estão num ponto muito alto” e após uma década “de forte expressão económica”.

Sales Marques expressa a sua convicção de que, “a ser assinado um memorando de entendimento no âmbito da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’” durante a visita de Xi Jinping, é possível que se verifique um entendimento conjunto “sobre projectos como o porto de Sines e a ligação ferroviária [de alta velocidade] até Espanha”.

O docente e investigador alerta, também, que os compromissos entre Portugal e a China não podem colidir com os interesses europeus, devendo “estar sujeitos a regras definidas pelo Tratado de Lisboa relativas a acordos sobre investimento estrangeiro”.

O presidente do IEEM destaca a importância da “nova realidade ao nível das relações bilaterais entre os dois países”, mas admite que será interessante verificar “até que ponto podem surgir, em concreto, projectos de investimento trilateral entre Portugal, China e um país africano, lusófono ou não”.

Uma opinião partilhada por Arnaldo Gonçalves, que junta a possibilidade de Lisboa e Pequim poderem acordar “investimentos tripartidos (…) não só em África, como também na América Latina”.
Afinal, exemplifica, “houve investimentos brutais chineses que fizeram disparar a dívida interna brasileira e que aparentemente vão ser congelados pelo Presidente [Jair] Bolsonaro”, pelo que “Portugal pode limar, aí, algumas arestas”.

Por seu lado, José Sales Marques, que faz questão em enumerar as manifestações das relações sino-portuguesas, como os ‘vistos gold’, aquisição da EDP, crescente fluxo turístico e até as celebrações em Portugal do Dia da China e do Ano Novo chinês como provas de que Lisboa “tem de continuar a olhar sem preconceitos e com naturalidade para o investimento” de Pequim.

“A visita coloca Portugal no mapa”, conclui por sua vez Arnaldo Gonçalves, alertando para uma outra prioridade, a de que os responsáveis políticos portugueses têm de acautelar situações como a entrada de empresas lusas no mercado chinês.

 

Visita presidencial antecipa Ano da China em Portugal

O Presidente chinês, Xi Jinping, chega a Lisboa em visita oficial, na terça-feira, antecipando o arranque do ano da China em Portugal e preparando a comemoração de 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

Quando for proclamado o Ano do Porco, a 5 de Fevereiro do próximo ano, uma enorme festa popular animará as ruas de Lisboa, não apenas para celebrar a chegada do novo ano chinês, mas também para recordar os 40 anos de história das relações diplomáticas entre Portugal e a China.

A visita de Xi Jinping, que termina na próxima quarta-feira, vem antecipar e preparar essas celebrações, que terão o seu contraponto na China, com a declaração do ano de Portugal na China, em simultâneo, como foi anunciado em Julho passado pelo então ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes.

A deslocação do Presidente chinês foi avançada pela primeira vez por Marcelo Rebelo de Sousa, em Junho, e então classificada pelo Presidente português como “muito importante” e espelho da “capacidade de diálogo e de entendimento”.

Xi vai reunir-se, em Lisboa, com o homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro, António Costa. A delegação de Xi Jinping inclui Yang Jiechi, membro do Gabinete Político do Comité Central do Partido Comunista Chinês, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Conselheiro de Estado, Wang Yi, e o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o órgão máximo de planeamento económico do país, He Lifeng.

As celebrações do ano de Portugal na China e do ano da China em Portugal incluem apresentações de companhias de bailado, concertos e exposições, num programa que foi meticulosamente estudado entre os dois governos, durante uma visita do ministro da Cultura português à China, em Julho.

Primeira desde Hu

As relações diplomáticas entre Portugal e a China estabeleceram-se a 8 de Fevereiro de 1979, depois de as negociações formais entre representantes de Portugal e da China se terem iniciado, em Paris, em 1978, três anos depois de o novo regime democrático em Portugal ter reconhecido o governo da República Popular da China, em Janeiro de 1975.
As celebrações também recordam os 20 anos da transferência da soberania de Macau para a República Popular da China, que aconteceu a 20 de Dezembro de 1999. “Macau joga um papel de grande importância” na relação entre os dois países, afirmou em Julho o então ministro da Cultura, mencionando a forma positiva como os dois países se entenderam para a transição de soberania daquele território.
A visita de Estado de Xi Jinping é a primeira desde Novembro de 2010, quando o então Presidente da China, Hu Jintao, esteve em Lisboa. Em 2017, no momento de celebração do Novo Ano chinês, o Ano do Galo, um galo de Barcelos com 10 metros de altura, da autoria da artista Joana Vasconcelos, foi enviado para a China, simbolizando “a amizade entre os povos e os países”, como disse na altura o primeiro-ministro português, António Costa.

 

Números capitais

3.393 milhões – Valor em dólares do saldo da balança comercial entre Portugal e a China, entre Janeiro e Julho deste ano. Durante aquele período, Portugal comprou ao país asiático bens no valor conjunto de 2.099 milhões de dólares (+1,43 por cento, em termos homólogos), e vendeu mercadorias num total de 1.294 milhões de dólares (+16,87 por cento).

13.º – A China era, em Julho deste ano, o 13.º cliente de Portugal e o seu sexto fornecedor.

10.000 milhões de euros – Montante investido em Portugal pela China, desde que, em 2012, a China Three Gorges (CTG) comprou uma participação de 21,35 por cento no capital da EDP.

256.735 – Turistas chineses que visitaram Portugal, em 2017, um acréscimo de 40,7 por cento, face ao ano anterior.

130 milhões de euros – Montante gasto pelos turistas chineses durante a sua estada em Portugal, no ano passado.

27.854 – Vistos emitidos pelas secções consulares portuguesas na China continental (exclui Macau e Hong Kong), em 2017. A China é o segundo país onde Portugal mais emite vistos, a seguir a Angola.

15 – Centros de vistos que Portugal tem na China, a cargo do grupo privado VFS Global.

3.952 – Cidadãos chineses que obtiveram a Autorização de Residência para a actividade de Investimento (ARI), os chamados vistos ‘gold’, desde que o programa entrou em vigor, em Outubro de 2012.

1.110 – Portugueses que residiam na China, em 2016.

100 – Treinadores portugueses de futebol a trabalhar na China. O ‘desporto-rei’ será a área que mais portugueses emprega no país, reflectindo a ambição de Pequim de elevar a selecção chinesa ao estatuto de grande potência.

25 – Universidades da China continental com licenciatura em língua portuguesa.

4 – Número de universidades portuguesas – Aveiro, Coimbra, Lisboa e Minho – onde o Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua e cultura chinesas, está já implantado.

30 Nov 2018

Cabo Verde | Sustentabilidade do banco de David Chow continua por provar

[dropcap]O[/dropcap] empresário David Chow não conseguiu ainda a autorização para estabelecer o Banco Sino-Atlântico em Cabo Verde por ter apresentado um pedido com dados incompletos, o que não permite às autoridades cabo-verdianas comprovarem a sustentabilidade do futuro banco. A notícia foi avançada ontem pelo Jornal Económico, que cita um comunicado do Banco de Cabo Verde.

O pedido da Macau Legend Development não continha “todos os elementos legalmente exigidos supratranscritos, razão pela qual, até hoje, não foi permitida a devida análise e correspondente decisão por parte do Banco de Cabo Verde”, pode ler-se no comunicado.

A empresa fez o pedido inicial em Fevereiro do ano passado, mas este continha várias lacunas “de ordem formal e material”, tendo David Chow sido informado, em Março, da necessidade de apresentação de mais dados. Cinco meses depois o empresário terá enviado mais documentos, mas não enviou todos os que eram pedidos pelo Banco de Cabo Verde para finalizar o processo.

“Foram apontadas as insuficiências de ordem estratégica, económica, operacional e prudencial que não permitem aferir a sustentabilidade do projecto do Banco Sino-Atlântico”, acrescentou o mesmo comunicado.
O banco central reagiu a uma notícia do jornal cabo-verdiano A Nação, que escreveu que “o Banco de Cabo Verde se apresenta neste momento como um obstáculo intransponível para o banco Sino-Atlântico”.

Apesar das autoridades de Cabo Verde terem assinado um memorando de entendimento com a Macau Legend Development relativamente a projectos de investimento de vária ordem, que, além do banco, incluem a construção de um resort no Ilhéu de Santa Maria, há ainda várias arestas por limar.

“Tendo em conta que tal estabilidade depende, também, da influência que os principais acionistas possam exercer na atividade das instituições financeiras, o rigor na avaliação e na monitorização dos acionistas qualificados promotores de projetos no sistema financeiro nacional consubstancia-se numa regra prudencial fundamental”, explica o banco central.

Na edição do passado dia 23, o jornal A Nação escreveu ainda na primeira página que os investimentos de David Chow estão “em risco de serem desviados para Moçambique”, dada a existência de “novos obstáculos nos projectos de David Chow”. O HM tentou esclarecer estas informações junto do empresário, mas não foi possível estabelecer contacto.

29 Nov 2018

Taiwan vai lançar plano para atrair investimento de empresários da ilha no exterior

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Taiwan anunciou hoje que vai lançar, no início de 2019, um plano de ação para atrair o investimento de empresários da ilha no exterior, com incentivos fiscais e outras facilidades.

Em comunicado, as autoridades disseram que a ilha vai oferecer, a partir do próximo ano, “serviços personalizados” às empresas para “simplificar procedimentos administrativos” e ajudar a satisfazer necessidades de terrenos, mão de obra, financiamento, fornecimento estável de energia e benefícios.

O objectivo deste plano é atrair empresários da ilha com investimentos no exterior para “promover a modernização e transformação industrial e fazer de Taiwan um centro-chave na cadeia de abastecimento da indústria global”.

Taipé considerou que “os próximos três anos são essenciais para atrair empresários” locais com investimentos no exterior, sobretudo na China, para que regressem à ilha.

As empresas de Taiwan radicadas na China estão a ser afectadas pela guerra comercial entre Pequim e os Estados Unidos e as autoridades receiam que um agravamento do conflito resulte numa multiplicação de efeitos negativos, já que as empresas locais têm quase metade da capacidade produtiva instalada no exterior, principalmente na China.

Muitas companhias de Taiwan, a operar na ilha, como a TSMC, primeiro fabricante mundial de semicondutores, manifestaram também preocupação perante a guerra comercial entre Washington e Pequim, já que fornece empresas locais, chinesas e de outras nacionalidades, instaladas em solo chinês.

Grande parte das exportações de Taiwan para a China é de componentes destinados a empresas da ilha para produtos destinados à exportação, sobretudo para a Europa e os Estados Unidos.

Em 2017, 41% das exportações de Taiwan destinaram-se aos mercados da China e de Hong Kong, num montante total de 130,2 mil milhões de dólares, de acordo com dados do Ministério da Economia da ilha, o que demonstra a forte dependência do território face ao mercado chinês.

Na China encontram-se cerca de 50 mil companhias de Taiwan, muitas das quais orientadas para a exportação. O montante total do investimento acumulado de Taiwan na China é de cerca de 120 mil milhões de dólares, segundo dados de Pequim.

29 Nov 2018

Senadores dos EUA querem saber se chinesa ZTE violou sanções ao ajudar Venezuela

[dropcap]D[/dropcap]ois senadores norte-americanos pediram ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que investigue se a empresa de chinesa de equipamento para telecomunicações ZTE estaria a violar as sanções impostas pelos EUA ao ajudar a Venezuela.

O pedido foi feito na quarta-feira pelos senadores Marco Rúbio e Chris Van Hollen, através de uma carta e, segundo a imprensa norte-americana, em causa estaria a ajuda prestada pela ZTE “na monitorização e seguimento dos cidadãos venezuelanos, desde 2016”.

Esta ajuda teria permitido a criação de uma base de dados, com o “cartão da pátria”, promovida pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, o partido do Governo) para supervisionar o comportamento da população.

Os senadores querem ver determinado se a ZTE usou ilegalmente componentes norte-americanos ou ajudou o Governo do Presidente Nicolás Maduro a violar processos democráticos ou direitos humanos, bem como se terá trabalhado com indivíduos sancionados pelos Estados Unidos.

Até ao momento não houve qualquer reacção oficial de parte do Governo de Maduro nem da empresa chinesa que, segundo a imprensa venezuelana, desenvolve vários projectos na Venezuela, em aliança com a telefónica estatal CANTV.

29 Nov 2018

Guangdong trava excursões de apenas um dia ao fim de semana para Hong Kong e a Macau

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades da província chinesa de Guangdong pediram às agências de viagens daquela região para porem fim às excursões de um dia, durante o fim de semana, para Hong Kong e a Macau, foi hoje noticiado.

De acordo com o jornal South China Morning Post (SCMP), a decisão da Secretaria de Turismo da província pretende reduzir a presença de turistas e o tráfego oriundo da mega ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.

De 17 de outubro a 1 de Novembro, foram emitidos por Guangdong mais de 1,78 milhões de vistos para Hong Kong e Macau, na maioria pedidos por aposentados, um aumento de 26,6% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com departamento de segurança da província.

O Departamento de Cultura e Turismo da Província de Guangdong, citado pelo SCMP, disse ter tomado medidas para “reduzir ainda mais a pressão sobre os portos e áreas adjacentes”.

A medida procura encorajar a organização de “viagens de qualidade que durem dois dias ou mais”, argumentaram as autoridades da província, que apelaram às autoridades de turismo municipais para monitorizarem de perto as agências de viagens.

Desde que a travessia foi aberta ao tráfego, no dia 24 de Outubro, um grande número de visitantes ‘invadiu’ o bairro normalmente calmo de Tung Chung, na ilha de Lantau, Hong Kong, lotando os autocarros e esvaziando as prateleiras das lojas.

Os meios de comunicação social de Hong Kong têm denunciado a existência de operadores turísticos ilegais da China continental.

A maior travessia marítima do mundo que liga Macau, Hong Kong e a cidade chinesa de Zhuhai, inaugurada pelo Presidente chinês, é considerada uma infraestrutura fundamental para o projeto da Grande Baía que visa criar uma metrópole mundial a partir das regiões administrativas especiais e nove localidades da província de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing), com cerca de 68 milhões de habitantes.

29 Nov 2018

Escritora Margaret Atwood anuncia continuação de “História de uma serva”

[dropcap]A[/dropcap] escritora Margaret Atwood anunciou que está a escrever a sequela de “The Handmaid’s Tale” e que o livro, intitulado “The Testaments”, será publicado em Setembro de 2019, revelou ontem a editora britânica Penguin.

“A História de uma serva” (na tradução portuguesa, publicada pela Bertrand) é um romance distópico, da autora canadiana Margaret Atwood, no qual as mulheres eram obrigadas a obedecer a regras rígidas e de subjugação, tendo inspirado uma série televisiva homónima de sucesso.

De acordo com um comunicado divulgado pela editora Penguin, a escritora, de 79 anos, anunciou que agora, mais de três décadas depois da publicação original de “História de uma serva” (1985), está a preparar uma sequela, intitulada “The Testaments”, narrada por três personagens femininas.

“Desde a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, o livro ‘História de uma serva’ tornou-se um símbolo dos direitos das mulheres e de um posicionamento contra a misoginia. Agora, podemos revelar que Margaret Atwood está a escrever uma sequela”, escreve a editora.

A história é passada 15 anos após a cena final de Offred, a protagonista do primeiro livro, o momento em que a porta da ‘van’ preta bate e a personagem está prestes a ser levada para um futuro incerto ou de liberdade, ou de mais tortura e prisão, ou até mesmo de morte.

“Tudo aquilo que sempre me perguntaram sobre Gilead [República de Gilead, onde a história se passa] e o seu funcionamento interno é a inspiração para este livro. Bem, quase tudo! A outra inspiração é o mundo em que vivemos”, disse Margaret Atwood sobre a obra, dirigindo-se aos leitores.

“The Testaments” será publicado mundialmente a 10 de Setembro de 2019.

29 Nov 2018

Timor | Ministra da Educação diz que método do ensino de português e tétum deixou “graves lacunas”

[dropcap]O[/dropcap] método de ensino de português e tétum no início da escolaridade em Timor-Leste até 2014 “não conduziu a bons resultados”, deixando os alunos com “graves lacunas de conhecimentos” noutras áreas, defendeu a ministra da Educação timorense.

“Apesar dos muitos esforços e da existência de um método coerente para o ensino das línguas, tal não conduziu a bons resultados, ou seja, não se mostrou eficaz para o nosso contexto, por várias razões”, afirmou Dulce Soares, em entrevista, por escrito, à Lusa.

Dulce Soares concedeu uma entrevista à Lusa para analisar alguns dos aspectos relacionados com o trabalho do seu Ministério, com destaque para questões curriculares, de língua e de recursos educativos.

A governante considera que os dados mostram que o método aplicado até 2014 – “que assentava no ensino da língua portuguesa e da língua tétum logo desde o 1.º ano de escolaridade e que assumia o português como língua de instrução” – sacrificou “aprendizagens noutras áreas, por (…) valorizar mais a língua portuguesa do que a língua tétum”.

“O recenseamento nacional de 2015 mostra que 80% da população afirma ter a língua tétum como primeira, segunda ou terceira língua, enquanto que apenas 5% afirmam o mesmo em relação à língua portuguesa. Quando analisamos os dados relativos às crianças em idade escolar, essa percentagem, em relação à língua portuguesa, cai para os 0,04%”, adiantou.

Um exemplo do impacto sente-se entre alguns das universidades que estão a receber alunos “fruto desse método anterior a 2014” que manifestam “graves lacunas em termos de conhecimentos (…) que são resultado desse método anterior”.

A análise dos falhanços desse método levou o Governo a avançar com a sua polémica reforma curricular de 2015, com a aposta na progressão linguística do tétum ao português: “era altura de mudar, de experimentar outra coisa”, defendeu a governante.

Além da revisão curricular, acrescentou, foram aprovados “instrumentos reguladores da progressão linguística, determinando, em cada ano de escolaridade, como deverá ser realizada essa progressão, e onde o tétum começa por servir como base e depois o português é introduzido gradualmente”.

Ainda é cedo, sustentou, dois anos depois, para avaliar se o novo método “afectou negativamente a aprendizagem da língua oficial”, sendo necessário continuar a “investir mais na formação dos professores e assegurar a distribuição dos materiais didácticos”.

“Quem sabe, daqui a 10 ou 15 anos, iremos analisar o contexto e, de acordo com a evolução da nossa sociedade, avaliaremos o método novamente e podemos determinar um outro método, podendo até voltar ao método inicial, caso as condições já forem as favoráveis para ser implementado”, explicou.

Dulce Soares insistiu que os desafios no sector educativo em Timor-Leste não são resolvidos apenas com alterações ou aprovações legislativas, sendo necessárias outras medidas mais amplas.

“A legislação base para a educação existe! Agora, há é uma tendência de alguns em, por vezes, ‘culpar’ a legislação e achar que a legislação irá trazer impactos directos no sucesso escolar, mas políticas educativas e o alcance de sucesso escolar num país democrático não se atingem com receitas tão simples”, afirmou.

 

Ministra rejeita que projeto piloto de ensino divida país

Dulce Soares rejeitou que o projecto piloto de recurso a línguas locais maternas como línguas de ensino e instrução cause divisões no país, sendo ainda cedo para determinar o seu nível de sucesso.

“Valorizar a cultura e identidade dos cidadãos não provoca divisão, mas antes a valorização de todos e a valorização de uns pelos outros. Portanto, não acredito que este projeto vá criar divisões na sociedade. O caminho a percorrer é diferente, mas o resultado esperado é o mesmo”, afirmou a ministra.

“Queremos preparar crianças capazes de, no futuro, serem cidadãos activos na sociedade, capazes de pensar e analisar e com o domínio das duas línguas oficiais do país. Todos começam no mesmo patamar, uns fazem um percurso e outros fazem outro, mas têm de atingir ao mesmo tempo o mesmo objetivo”, sustentou.

A ministra lembrou que a própria constituição defende a valorização das línguas nacionais e que “não há nenhum país que tenham valorizado as línguas locais e que isso tenha conduzido à divisão do país”.

Entre as medidas polémicas do Governo conta-se um projeto piloto introduzido em dez das mais de 1.700 escolas do país onde é usada, em cada uma, a língua nacional materna dos seus alunos como língua de ensino e instrução.

Na prática, explicou, trata-se de um projecto para perceber as vantagens e desvantagens de um processo de progressão linguística “da língua nacional para a língua tétum e depois para a língua portuguesa”.

“Apesar de o ensino de uma língua e das outras áreas disciplinares ser feito inicialmente na língua primária do aluno, no final do 6.º ano estas crianças terão de ter uma forte base de literacia nas duas línguas oficiais, tétum e português, tal como as restantes crianças que fazem um percurso escolar regular”, adiantou.

“Nas escolas do 1.º e 2.º ciclo que seguem o currículo nacional, as línguas nacionais podem ser usadas apenas como apoio ou facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem, quando necessário, para assegurar a igualdade de todos no direito a aprender e apenas nos primeiros anos de escolaridade”, acrescentou.

Dulce Soares – que foi vice-ministra da Educação no VI Governo e tutela a pasta no atual VIII Governo – explicou que, no caso deste projecto piloto, foram produzidos materiais didácticos nas línguas oficiais e dada formação aos professores para os poderem aplicar, com o seu desempenho “também avaliado por falantes da respectiva língua”.

Mais exclusão?

A governante rejeitou as conclusões de um relatório de maio desde ano, produzido pelo Ministério da Educação do VII Governo, que considera que o projecto “não está a obter o sucesso esperado junto das comunidades locais”.

No documento refere-se que os professores dizem que a sua implementação “agrava o sentimento de exclusão” face a outras escolas e ao resto do país e que o método é “confuso e sem repercussões positivas no futuro académico dos alunos”.

“Para podermos proceder a uma análise aprofundada e que permita concluir sobre os índices de sucesso e as repercussões positivas no futuro académico dos alunos que estudam nessas dez escolas que integram o programa-piloto, devemos realizar testes e usar outros instrumentos válidos para determinar o nível de aprendizagem escolar”, afirmou.

Em contrapartida, Dulce Soares citou um relatório de Outubro de 2016, sobre o mesmo projecto, que aponta dados positivos, incluindo “fortes ganhos de desempenho” que acelera o desenvolvimento académico das crianças.

“Concordo com o que é expresso no relatório de maio de 2018, de que alguns professores e dirigentes podem partilhar do ‘sentimento de exclusão’ face a outras escolas e ao resto do país”, fundamentou.

“Por isso, quando tomei posse determinei ser necessário aprovar formalmente o programa-piloto da língua materna, pois é importante regular este programa, assim como os outros programas, como o programa do CAFE, alimentação escolar, entre outros”, concluiu.

29 Nov 2018

Macau regista crescimento de 23,9% nas importações de países lusófonos

[dropcap]M[/dropcap]acau importou até Outubro mercadorias dos países lusófonos no valor de 646 milhões de patacas, um crescimento de 23,9% em comparação a igual período de 2017, informaram hoje as autoridades.

Já as exportações de Macau para os países de língua portuguesa cresceram significativamente nos primeiros dez meses do ano, mas o défice da balança comercial com os países lusófonos continua a aumentar.

Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), Macau exportou para os países lusófonos mercadorias no valor de 24 milhões de patacas, um aumento de 3.499%, face a igual período do ano passado, mas muito inferior aos 646 milhões de patacas em produtos importados.

No total, as exportações do território subiram 8% até ao final de outubro, para 10,13 mil milhões de patacas, mas o défice da balança comercial continua a aumentar fruto do crescimento das importações em 23,1%, para 64,19 mil milhões de patacas.

As exportações para a China continental atingiram, no período em análise, 1,71 mil milhões de patacas, uma quebra de 4,2% face a idêntico período do ano passado.

Por outro lado, o valor das exportações para as nove províncias do Delta do Rio das Pérolas, vizinhas de Macau, no sul do país, cresceu 5,3% para 1,66 mil milhões de patacas.

As exportações para Hong Kong e União Europeia registaram uma subida de 15,5% e 2,2%, respectivamente.

Já as vendas para os Estados Unidos caíram 31,3%. O valor total do comércio externo de mercadorias em Macau, entre Janeiro e Outubro, correspondeu a 84,44 mil milhões de patacas, mais 19,6% face ao período idêntico de 2017.

29 Nov 2018

Autoridade Monetária de Macau e Banco de Portugal assinam acordo de cooperação

[dropcap]A[/dropcap] Autoridade Monetária de Macau (AMCM) e o Banco de Portugal assinaram um acordo de cooperação para facilitar o intercâmbio de quadros e informações na área financeira, anunciou hoje a AMCM.

O acordo foi assinado pelo presidente do conselho de administração da AMCM, Chan Sau San, e pelo governador do Banco de Portugal, Carlos da Silva Costa, pode ler-se no comunicado divulgado pela AMCM.

O acordo, para além de facilitar o intercâmbio de quadros e informações na área financeira, inclui também a realização de conferências ou reuniões e formação profissional. Ambas as partes assumiram ainda o compromisso de encetarem encontros periódicos de alto nível.

“O âmbito de cooperação abrange as diversas atribuições do Banco de Portugal e da AMCM, na qualidade do banco central de Portugal e de autoridade de supervisão nas áreas monetária e financeira de Macau, respectivamente”, apontou o AMCM.

29 Nov 2018

Documentário português abre festival Sound & Image Challenge

[dropcap]O[/dropcap] documentário “A vida aqui, está vista?”, do português Filipe Carvalho, vai abrir o festival internacional de música e curtas-metragens Sound & Image, que arranca em Macau no dia 4 de Dezembro.

“Observando o desenrolar da vida na mina São Domingos (Alentejo), o filme propõe um caminho utópico em direção ao futuro daquele território e da sua comunidade”, lê-se na página do evento, que avança para a nona edição com 72 curtas-metragens e dez vídeos musicais.

O documentário, que já passou pelo festival Indie Lisboa, vai ser apresentado na secção “Cinema Expandido”, que inclui também oito curtas-metragens do Festival de Cinema do Douro, o único festival de super oito milímetros realizado em Portugal.

As 72 curtas-metragens desdobram-se em 34 ficções, 13 documentários, 25 animações. Há filmes provenientes da Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Irão, Malásia, República Checa, Rússia, Síria, entre outros.

Há duas animações assinadas por portugueses: “Porque este é o meu ofício”, de Paulo Monteiro, e “Rácio entre dois volumes”, de Catarina Sobral.

O grande júri será presidido Miguel Dias, um dos diretores do Festival Internacional de Curtas de Vila do Conde, pelo director de informação e programas dos canais portugueses da TDM e pelo realizado e produtor Detsky Graffam.

O festival, organizado pelo Creative Macau, arranca no dia 4 e estende-se até dia 9 de Dezembro no Teatro Dom Pedro V. No ano passado, o filme “Bitchboy” do realizador sueco Mans Berthas conquistou os prémios de melhor filme e de melhor ficção da oitava edição.

29 Nov 2018

Uma história feliz com lágrimas

“É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir”
José Gomes-Ferreira

 

[dropcap]N[/dropcap]oite lívida e chuvosa.
Chove – as gotas, grossas e pesadas – sem cessar.
Faz frio.

Gosto do convívio da noite («a noite muda a imagem e o sentido das coisas») – estava-mos em pleno Inverno.

A noite estava pura e transparente – «A noite é amável, tapa as mazelas, adoça os traços, esconde as impurezas».

Os vidros do quarto estavam todos, todos, mas todos, sem excepção, embaciados.

Os neurónios não saltavam, não brincavam, não mostravam a sua habitual tendência para a fuga «sem sentido físico do pesadelo», – visões dos vários lados das penumbras, muitas, imensas – estavam calmos.
Embevecidos perdidamente pela música do «compositor preferido dos matemáticos», Bach, (se fosse um Homem dos dias de hoje, seria certamente um jazzman), faziam reflexões entrecortadas com bocejos carregados de ócio – a preguiça pura e dura. Vivia na desorganização típica dos sonhos, submersos na miséria do esquecimento. Percorrer o «vazio», sem representações. Sobravam as interrogações e as ausências.

“Foi em pleno Inverno que aprendi que há em mim um Verão invencível” – um pouco na linha de pensamento de Albert Camus. Estremeci sem me aperceber do quê nem do porquê. Fixei o olhar. Percebi então finalmente a dose de alegria que me banhava.

“O exílio interior é o refúgio procurado como defesa da integridade”

As vicissitudes do poder geralmente carregam azias, indisposições, mal-estar. O progresso é tendencialmente limitado. Traz quantidade em vez de qualidade, foge da cultura com medo da revolução – pacífica a das ideias. Estas são contudo as que nos definem – “existo, logo penso” -, depois de devidamente acamadas nos patamares do conhecimento. Sempre através de um «dom» maior a palavra.

Fugimos com medos – que nós próprios construímos -, passamos a percorrer labirintos. Sim labirintos, perdemo-nos, não temos saídas. Embrulhamo-nos no quotidiano. Sonhos construídos em simples folhas de papel que, facilmente se desfazem, se destroem, voam porque o vento gélido continua a soprar lá fora.
Faz frio.

A chuva refracta a luz e esbate contornos.

A cidade dorme – já é tarde -, sinal do cansaço. Massacram e torturam-na diariamente. A beleza da cor e das formas, são já memórias quase esquecidas. Perpetuar já não se sabe conjugar, humilham-nos.
Entre o fim- da- estação e a ocasião, o discurso. Alegrem-se. Pensar, planear, executar, tudo a bem da população. Merecemos. Brindemos!

Lá fora o sector da loucura está repleto – isso vai e vem -, são cérebros pertencentes a seres desprovidos de empatia e remorsos – existem coabitam connosco, mas não são nossos Amigos -, impingem-nos os negócios da loucura. Fazem-nos ingénuos.

Usam o poder deliberadamente, revelam uma espécie de “hiperconsciência” dos métodos e técnicas que utilizam, nas suas verdades secretas, invisíveis. Existem?

Percorremos ainda alguns espaços – os que não querem -, numa cidade recheada de afazeres, preocupações, intrigas, misérias – por imposição -, não por vício ou má formação de quem a vive.
Gente simples. Gosto!

“Entre existir e viver há a mesma diferença que entre olhar e ver e que entre redigir e escrever” – segundo António Patrício.

Uma ruptura de afirmações, sobrevivência (?), – o movimento das palavras, pensamentos (?), dentro de um círculo fechado (?) – a existência, a Vida (?).

A vida é rápida, turbulenta, tumultuosa – pelo interesse e pela adversidade.
Um futuro por construir.

Andar e saborear o tempo e o espaço – parques, jardins, ruas, becos e pátios -, são oposição, as chamadas «forças de bloqueio», o tecido social de equilíbrio e harmonia desaparece.

A «nova era» requer mais poluição ( « ar poluído de banalidades») e menos saúde, mais casinos e menos direitos, mais consensos e menos harmonia, mais especulação e menos valores – tudo mas tudo subordinado ao «pequeno» poder do Jogo.

Falta coragem, vontade e capacidade de fazer -, com autoridade, mas sem autoritarismo. O governo está ao serviço de interesses e não ao serviço de valores…

A cidade continua abençoadamente calma – Santo Nome de Deus!

Este meu Inverno, foi diferente de todos os outros Invernos…

«Um dia tudo será excelente, eis a nossa esperança, hoje tudo corre pelo melhor, eis a nossa ilusão»
Voltaire (1694/1778)

29 Nov 2018

Julieta na porta de saída

[dropcap]L[/dropcap]idas ou ditas, as relações entre ficção e realidade são relações entre palavras. Palavras que semeiam imagens. Imagens que colamos a factos em polvorosa. Factos que, na maior parte das vezes, já perderam o seu entrecho próprio. Só no precipício do imediato essas relações fazem soar as suas turbinas. Talvez por isso mesmo, sejam turbulentas, difíceis de aplanar, de conter, de absorver. Ir a Verona visitar Julieta (“God knows when we shall meet again!”*) ou percorrer um romance e nele entrever uma espécie de ‘self-fulfilling prophecy’ são modos de viver esse tipo de relações como se elas irradiassem (ou forjassem) um fantasma de que não nos conseguimos dissociar.

Entre ficção e realidade fluem fantasmas, mas esses fantasmas somos nós próprios. Olho para a porta do pátio e a sua efígie reaparece-me no lóbulo occipital, embora encadeada com outras portas – e com mil ciladas espontâneas cheias de mais e mais portas – que rememoro e conjecturo. A certa altura, o que vejo são maçanetas e batentes em forma de gnomo que não cabem nas palavras (como tudo o que é fundamental na vida). Não saberei nunca onde comecei a ficcionar e a deixar de ver ou onde comecei a ver e a deixar de ficcionar. Uma flutuação sem fim que fez estalar a intenção inicial que me levara até à porta do pátio para onde ainda não parei de olhar (Romeo: “I dreamt my lady came and found me dead”*).

Por vezes, não é fácil entender que ‘ter os pés em terra’ não é uma coisa muito diferente de ‘andar sempre no ar’. Caracterizar a realidade é um pas de deux que tende amiúde a esconder o seu rosto inevitavelmente ficcional. Ao falarmos de realidade, falamos de uma foz tumultuosa onde desaguam episódios mutáveis, dando-nos a ilusão de movimento contínuo. Um cortejo com cordão umbilical, pois o mundo e todos nós vagueamos juntos e somos parte também dessa foz em constante deriva tectónica (e onde não há separação entre sujeitos e objectos).

Derivar é rastrear todo o hemisfério com uma mão de carne e osso, de um lado, e com uma outra mão que é a desse fantasma que também sou eu, do outro. Se por acaso decidisse silenciar a palavra “realidade” e a palavra “ficção”, o que restaria era apenas a água da foz tumultuosa, bravia e revolta. Apesar de tudo isso, subo ao estrado com ligeireza, continuo a dar as minhas aulas e sei perfeitamente quem sou e que papel estou a desempenhar, ainda que, ao mesmo tempo, esteja a realmente voar. Realizo e ficciono: duas asas do mesmo voo.

Todos voamos enquanto desempenhamos. Ser actor não é coisa do teatro. Se, um dia, os humanos se deram ao trabalho de inventar o teatro (Derrick de Kerckove dizia que foi para voltar a unir as pessoas que haviam sido afastadas pela invenção do alfabeto), foi justamente porque ele faz parte daquilo que somos de mais viral e autêntico. Num mesmo pasmo, somos percorridos por essa corrente de ar que nos faz ser autores, actores, partes de cenas quebradas, parcelas de actos que se reabrirão, didascálias solenes, quebrantos murmurados, encenações inteiras (“Juliet: O comfortable friar! where is my lord?/ I do remember well where I should be,/ And there I am. Where is my Romeo?*).

Somos um corpo e um ser de tentáculos obscuros feito para construções do mundo que semeiam imagens. Imagens que colaremos a factos em alvoroço. Mas factos que logo se desenrolam e despegam do cardume das coisas vividas e desejadas. Avançamos e as passadas apagam o próprio avanço ficcional em que nos revemos. Sobrará a invisibilidade do espanto, talvez.

Foi o que me aconteceu na semana passada. Vi-me atolado pelo espanto em estado puro, se é que isso existe. Eu explico: é no mínimo extravagante uma pessoa escrever um romance há duas décadas e, depois, a coisa tornar-se acontecimento (e, para mais, com um lastro verdadeiramente trágico e displicente pelo meio). Refiro-me ao aluimento da estrada entre Vila Viçosa e Borba, meu trilho de infâncias e de piqueniques na tapada real, mas também cenário do final do meu romance ‘A Falha’ (1998). Bem sei que no filme do João Mário Grilo (que adaptou o romance em 2002), a tragédia era ainda mais clara do que no romance.

Confesso que, nos últimos dias, me senti a andar no ar com os pés ligeiramente em terra. Tal como escrevi no dia do desastre, nunca foi minha aptidão insuflar de realismo os meus romances. É coisa que não está em mim e quem me conhece sabe-o. No entanto, quando escrevi ‘A Falha’, tinha a consciência plena de que havia alguma verossimilhança na abordagem. E os factos comprovaram-no. Só no precipício do imediato, esta estranha relação entre realidade e ficção faz soar as suas turbinas, é verdade. Julieta bem podia ser o nome da porta que dá para o meu pátio que, como se sabe, não é em Verona mas sim em Lisboa. O meu pátio que, afinal, é um grande teatro que habita na minha cabeça e em mais lado nenhum (“Prince”: “(…) Came to this vault to die, and lie with Juliet.” (…) / “Montague: But I can give thee more:/ For I will raise her statue in pure gold;/ That while Verona by that name is known,/ There shall no figure at such rate be set/ As that of true and faithful Juliet”*).

*Shakespeare, W.; Romeo and Juliet, Simon & Schuster (The Folger Shakespeare Library), Editors: Barbara A. Mowat and Paul Werstine; Washington D.C., 2011, pp. 57, 65 e 294-96.

29 Nov 2018

Um acto solitário

[dropcap]A[/dropcap]terrei em Lisboa. Que amigos vou rever, que livros vou comprar – são sempre as questões que se impõem.

Abro a mala em casa de familiares e antes de qualquer outro movimento os meus olhos embatem na lombada da última edição do tomo que reúne toda a poesia do Herberto Helder. Imediatamente me estico na cama, num relance sobre os últimos livros do poeta os Poemas Canhotos e A Morte sem Mestre, que faltam no meu volume, efeito de ser emigrante há década e meia.

E relembro um texto que escrevi no Facebook em defesa do poeta:
«Várias vezes escrevi sobre o Herberto, nenhuma bem. Também não será desta que melhorarei a minha performance. Porque não basta ter vontade e parafrasear o que nos escapa, nem isso traz consolo à evidência duma inteligência lacunar.

Não admira que me espante o carácter peremptório do que leio.

Rebato um texto de Diogo Vaz Pinto sobre o Herberto Helder, saído no I e replicado no seu blogue, crónica de execução, eivada de um tom com que não posso estar mais em desacordo.

Não li ainda A Morte sem Mestre e, apesar da curiosidade, não sofro de ansiedade. Acho que quase todos os livros são dispensáveis e creio, com Robert Lowell, que foi um dia feliz para Satã quando Mallarmé declarou que o mundo cabia num livro. Isto deixa-me mais à vontade para dizer que acho impossível que Herberto tenha escrito um “mau” livro, um livro “desprovido de magia”.

Há é vários tipos e graus de magia.

Um homem envelhece e tem os gestos represos de quem é ultrapassado aos vinte metros por qualquer pintainho zarolho, percebendo finalmente que na sua retorta alquímica fabricou tinta dourada mas não ouro. E di-lo, com toda a honestidade que acarreta o seu verbo magnificado por um uso onde nunca defraudou.

Agora, não é plausível que face à sua nova condição lhe exijam que repita o seu reportório ou que seja estanque à experiência de estar acossado pela morte. É um livro rude, direto? Sigamos a sugestão fonética que o remete para Le Marteau sans Maître, de René Char, para entender: desta vez, como um furibundo Nietzsche, o velho vate, resolveu ser intempestivo, fazer poesia à martelada.

Golpe contra golpe, jogando contra a noite a insónia, contra a anestesia da sageza a ferocidade da dor. A mim parece-me uma indagação radical, da base e do cimo, uma forma de neutralizar a atracção dos ímanes, e depois vida é isso mesmo: mudança, sob um capitoso desprendimento.

As três coisas que me entristecem no texto de Diogo Vaz Pinto sobre o Herberto:
– que ele confunda tão precipitadamente a opinião com o conhecimento – esquecido de que lhe estão ainda vedados os cinquenta anos que o separam do vate e que as modulações inesperadas que a vida inocula na escrita, lhe desenganarão todas as teses;
– depois, que, numa projecção algo heróica, exija ao livro que cumpra uma “via correcta” em vez de escutar no livro a sua respiração fanhosa, a materialidade com que é ali exposta uma particular vulnerabilidade;
– por fim, o que no Diogo tem sido infelizmente recorrente, que olhe para o mundo a partir da perspectiva de um entomologista – altaneiro, superior, investido pela missão de manter a piolheira sob vigilância e à mercê da lente com que foca o «asco».

Eis que o Herberto, coitado, sucumbiu a esta nova zona categorial – encontrou a sua “ascuidade”.
Custa-me engolir que, ainda que o livro fosse menor (não sei, não o li), falte ao Diogo a sensibilidade para perceber que o Herberto não merecerá, aos oitenta e picos, que um jovem lhe cuspa na fronha que ele já não passa de um eunuco, de um ouro convertido em lata.

Faltou talvez à sua leitura aquilo que, pelo que li sobre ele, é mato no livro: a humildade de reconhecer os limites, que não somos só urdidura, estilo, abstracção, distância, alquimia e acabamento, mas desequilíbrio, pathos, diarreia, carne viva, dor, inacabamento, e por isso palha demasiado humana.

Detecta-se no seu texto, para além duma falta de urbanidade, uma ingratidão profunda, mesquinha.
Não estará o livro à altura do estatuto do velho leão e do seu lugar na história da literatura? Talvez. Não li. Presumo que o Herberto se deixou de poses e depôs a máscara: é um ser falho e carecido de amor, como todos.

E di-lo: até a merda da poesia o trai, a ele que tanto traiu em seu nome.

Uma vez perguntaram ao Picasso o que faria se fosse metido na cadeia. Desenharia com a merda que fizesse, disse. Quem não tem cão caça com gato. O importante é o acto de caçar. Quando se fez isso toda a vida, capturar a presa ou não é irrelevante, o alvo é interior e não exterior. Daí que os arqueiros zen, nos seus exercícios, visassem alvos que se situavam a três metros de distância: o fito não era demonstrar a pontaria, mas tornar una a respiração e o acto.

O que faria Picasso ao pintar com a própria merda, é o que faz Herberto ao escrever com os recursos que lhe são próprios à lucidez consentânea ao seu actual estado. A merda só dá castanho, mas a expressão no traço não faltaria ao Picasso e isso é que seria preciso captar e não acusá-lo de uniformidade cromática… ou do aroma.

O Herberto foi sempre um dos nossos “homens dignos”. Isso merece decoro e nunca que o tomemos como objecto de repreensão e desdém. Nenhuma vaca é sagrada, mas a demanda do Graal não autoriza a soberba, que Lancelot faça cruzada contra o rei Artur, acusando, imagine-se, o mar de entrar no Amazonas.

O irónico é que, inadvertidamente, Diogo serviu o último intento do velho cisne: sacudir, aos 83 anos, o manto da unanimidade.

O Herberto deve estar contentíssimo. E eu com ele.»

O crítico não tinha razão, o livro do Herberto é um magnífico acto solitário.

29 Nov 2018

Eu também

[dropcap]“N[/dropcap]o outro dia chamaram-me bitch e eu sorri.” De cada vez que uma mulher nos conta algo assim existe, certamente e no mínimo, uma história semelhante que devemos partilhar. A geografia pode muito pouco contra o que vai no íntimo das gentes, e fronteiras, muros, géneros e espaços pessoais é fácil e conveniente, tantas vezes, ultrapassar.

Muitas vezes não me lembro do que aconteceu. Quer dizer, não penso no que aconteceu, não me surge de repente ao cair a chuva ou ao ouvir uma canção. Sempre tive uma memória demasiado boa até para o meu próprio bem. Não do género fotográfico, pelo menos não completamente, não só: a memória das emoções, da roupa que trazia vestida, de uma ou outra frase que seria insignificante para a maioria das pessoas, mas que se cravou no meu inconsciente talvez para o resto da vida (as frases sim, essas surgem sempre que lhes apetece, não tenho qualquer controlo sobre elas). Isto é diferente, talvez seja o meu próprio corpo a repelir essa memória com todas as suas forças. Porém, ela nunca mais poderá ser completamente apagada, e de vez em quando abre-se essa gaveta do meu cérebro (nunca poderia guardar essa memória no coração, já teria morrido por esta altura) ou talvez não, porque se seguiram outras tão más ou piores.

“Are you interested in writing a book?”, foi uma das muitas perguntas feitas por um grupo de senadores homens, brancos, a Anita Hill, professora universitária e activista negra, em 1991, aquando do processo que abriu contra o candidato nomeado para o Supremo Tribunal Clarence Thomas, que viria a ser confirmado juiz, o segundo negro a ocupar um dos cargos mais importantes do país. Negro e negra em lados opostos da justiça, ambos a fazerem história em simultâneo. Este nunca foi o plano. Estamos quase no final de 2018, e continuamos de costas voltadas em relação a isto.

Eu deveria ter uns sete ou oito anos. Estava na escola primária e já fazia o percurso entre casa e escola sozinha, embora acompanhada por colegas de turma a maior parte do caminho. Mas eu estava a falar de quando andava na terceira classe. Costumava ir a casa de uma familiar que ficava num bairro a uns quinze ou vinte minutos a pé de nossa casa, brincar com as filhas dela. Elas eram mais velhas do que eu, e na verdade uma delas não era mesmo filha, mas era tratada como tal. Ela tinha, ainda, dois filhos. Todos eram mais velhos do que eu uns bons anos. Era sobretudo para não ficar sozinha em casa, para me livrar de sarilhos e do aborrecimento.

“Estou bem triste.” Assim começa uma mensagem de voz tremida. Pouco importa se vem de uma rapariga bonita. “Eu vinha do trabalho hoje, às sete da manhã e três homens começaram a dizer-me coisas, a chamarem-me de puta, vadia, a fazer gestos obscenos. Deviam estar bêbados. Entrei em pânico e comecei a gritar com eles também. Fiquei muito agoniada e comecei a chorar. Eu estava tão feliz, o trabalho tinha corrido bem, apesar de cansativo. Agora vou ficar com medo, agora vou ficar a olhar para todo o lado para ver se vem alguém.”

Ele devia ter uns quinze anos. Raramente penso nisto. É só mais uma das coisas que não posso alterar. A maior parte das vezes nem me lembro que aconteceu. Chamava-me ao quarto dele, conversava comigo e dizia que gostava de mim. Fazia-me deitar no chão e deitava-se em cima de mim. Tocava-me, fazia pressão sobre mim e tentava, constantemente, chegar mais longe, e como não conseguia, ficava zangado. Lembro-me muito bem de ter-se rido de mim quando, uma vez, fui até à janela e comecei a recitar os nomes dos meus colegas de turma. Uma das irmãs dele, uma vez, espreitou pelo buraco da fechadura, e disse que sabia o que estávamos a fazer, e que ia contar, mas não o fez. Eu mesma nem sei porque não o fiz. Por medo, talvez. Medo do que todos iriam dizer e pensar. Eu não percebia bem o que se passava, acho que parte de mim via aquilo como uma forma de afecto.

É o homem alto e forte com equipamento de ténis completo à porta do campo que fica ao lado de um supermercado onde vais tantas vezes após a escola, e que faz esperas e tenta falar contigo. É o funcionário da junta que varre as ruas e vai deixando pequenos bilhetes caídos no chão, pequenas cartas que entenderá certamente serem de amor para a tua amiga com doze anos, como tu; mais tarde é a história da tua prima aos catorze, e um vizinho e amigo da família. É a tua colega de faculdade num parque de estacionamento, e a amiga dela também, e contar-te isto na esplanada num dia de sol e alguma coisa gelar-te por dentro e te privar de empatia para com ela, como quem diz, faz parte, calha a todas, quem nunca. É aquela rapariga de há muito tempo, e o irmão e o segredo partilhado e calado por todas as irmãs. É a pessoa que admiras e respeitas e te diz todas as coisas que sempre quiseste ouvir sobre o teu trabalho, mas que momentos depois tenta beijar-te. É a pessoa que te procura para uma colaboração mas após uma série de observações intrusivas se propõe ir contigo para casa ao fim de um jantar que, para ti, era apenas de trabalho; é ainda aquela pessoa que justifica, “Se calhar ele estava só muito apaixonado”. E chegas a casa e rebentas num pranto e não consegues dormir, e a vida do outro segue como se nada fosse. É a actriz que se defende não se afastando, chocando e tentando reverter o nojo. É o actor que fala de aguentar o assédio porque são apenas três dias de filmagens, e lutou muito por aquilo, e tem de pagar as contas, e terá o trabalho para mostrar e para se consolar. É quem te julga e recorda que ninguém te apontou uma arma à cabeça, e que és uma desilusão. É quem fala mal de ti e acha que não tens direito a uma voz porque mandaste nudes a este e àquele e ao outro, ou porque és gay, ou porque és latina, ou asiática, ou trabalhadora do sexo, ou todas as anteriores. É a mulher de Thomas, deixando uma mensagem de voz a Hill em 2010 a exigir um pedido de desculpas. Ou o senador Alan Thompson a perguntar, ainda em 1991, “Why in God’s name would you ever speak to a man like that the rest of your life?”

Já era adulta quando falei nisso a alguém pela primeira vez. A vida por vezes é muito cruel. Foi um alívio quando a família toda se mudou para Inglaterra. Nunca mais os vi, e ainda bem. Mas nada tira o amargo de maçã podre. Temos tendência para relevar a fruta quando ela está tocada, cortamos e deitamos fora o que estiver manchado, ou oxidado, ou podre. Não queremos, não gostamos de desperdiçar nada, mas naquele caso eu não podia ficar com uma parte e esperar que o todo não estivesse envenenado. Era uma situação da qual só poderiam resultar mais vítimas, e assim deixei-me ser a única. Porque a vergonha e a culpa nos fazem sentir que estamos sós, que ninguém quer saber ou acreditar, que somos, realmente putas, desmerecedoras de compaixão e merecedoras de todas as coisas más, sortudas por haver quem nos queira, mesmo se pela força, mesmo se desta forma, porque nós começámos tudo isto apenas por existirmos.

Há pessoas que pedem desculpa e há pessoas que não. Há pessoas que se fecham para o mundo e para os outros e passam a viver como se fossem de cristal. Pessoas que se calam e pessoas que não o fazem. Há pessoas que se magoam mais e se desassociam de si, e entram num pesadelo de miséria e promiscuidade, em detrimento da sua já frágil condição. Que deixam de acreditar em si para acreditar no gaslighting do outro. Para alguns é compulsão e doença, para outros um momento menos brilhante, toldado pelo ego e por algum álcool à mistura. Concluo que será sempre demasiado cedo para poder chegar a qualquer conclusão, a não ser a de que continuamos sem saber como lidar, como conviver uns com os outros, como amar, como respeitar, como entender.

“And I can’t explain; it takes an expert in psychology to explain how that can happen, but it can happen, because it happened to me”, disse ela, ainda em 1991. E os Sonic Youth responderam “I believe Anita Hill.” Eu também, eu também.

29 Nov 2018

China | Cientista que terá criado bebés geneticamente manipulados suspende experiências

O cientista chinês que anunciou ter modificado geneticamente o ADN de duas gémeas para que se tornassem imunes ao vírus da Sida, anunciou que iria interromper temporariamente os ensaios clínicos. A experiência já foi condenada por vários cientistas, um pouco por todo o mundo

 

[dropcap]O[/dropcap] cientista chinês que alega ter criado os primeiros bebés geneticamente manipulados no mundo anunciou ontem que vai fazer uma “pausa” nas suas experiências, após as reações da comunidade científica internacional.

“Vai realizar-se uma pausa nos ensaios clínicos, dada a situação actual”, disse ontem He Jiankui durante uma conferência de especialistas em Hong Kong, na qual reiterou a sua declaração de segunda-feira, em como era responsável pelo nascimento de gémeas cujo ADN foi manipulado para as tornar resistentes ao vírus da Sida.

Na mesma conferência internacional, um antigo prémio Nobel, David Baltimore, afirmou que o trabalho do cientista chinês mostrou uma falha de auto-regulação entre os cientistas.

Baltimore sublinhou que o trabalho de Jiankui “seria considerado irresponsável” porque não atendia a critérios com os quais muitos cientistas concordaram há vários anos, antes que a manipulação genética pudesse sequer ser considerada.

David Baltimore falava numa conferência internacional em Hong Kong, onde o cientista chinês He Jiankui, de Shenzhen, fez as suas primeiras declarações públicas desde que o seu trabalho foi revelado.
Jiankui disse que as gémeas nasceram este mês e que foram concebidas de forma a que pudessem resistir a possíveis futuras infecções pelo vírus da Sida.

Baltimore adiantou que os membros que formam a comissão da conferência vão reunir-se e divulgar uma declaração na quinta-feira sobre o futuro neste campo científico.

Outro proeminente cientista norte-americano que discursou na conferência, o reitor da Escola de Medicina de Harvard, George Daley, alertou contra uma reação adversa à alegação de He.

Daley argumentou que seria lamentável se um passo em falso com um primeiro caso levasse cientistas e órgãos reguladores a rejeitar o bem que poderia advir da alteração do ADN para tratar ou prevenir doenças.
Ainda não há confirmação independente da alegação do cientista chinês, mas cientistas e reguladores foram rápidos em condenar a experiência como antiética e não-científica.

A Comissão Nacional de Saúde ordenou que as autoridades locais na província chinesa de Guangdong investigassem as acções de He Jiankui, enquanto o seu empregador, a Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, anunciou também que abriu um inquérito.

Novo mapa

Na segunda-feira, o cientista chinês afirmou ter ajudado a criar os primeiros bebés geneticamente manipulados do mundo, gémeas cujo ADN He Jiankui disse ter alterado com tecnologia capaz de reescrever o ‘mapa da vida’.

O cientista, He Jiankui, da cidade de Shenzhen, disse que alterou os embriões durante os tratamentos de fertilidade de sete casais, tendo resultado numa gravidez até agora.

Jiankui afirmou que o objectivo não é curar ou prevenir uma doença hereditária, mas tentar criar uma capacidade de resistência a uma possível infecção futura de VIH-Sida.

Nos últimos anos, os cientistas descobriram uma maneira relativamente fácil de manipular genes. A ferramenta, chamada de CRISPR-cas9, torna possível alterar o ADN para fornecer um gene necessário ou desactivar um que esteja a causar problemas.

Jiankui estudou nas universidades de Rice e Stanford nos Estados Unidos antes de regressar à terra de origem para abrir um laboratório na Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China, em Shenzhen, onde também tem duas empresas de genética.

Um cientista norte-americano garantiu ter trabalhado com Jiankui nesse projecto. Trata-se de um professor de física e bioengenharia, Michael Deem, que foi seu conselheiro na Universidade de Rice, em Houston. Deem também detém “uma pequena participação” nas duas empresas de Jiankui, disse.

Todos os homens do projecto tinham VIH, enquanto que todas as mulheres não, mas a manipulação genética não visava evitar o pequeno risco de transmissão, explicou.

29 Nov 2018

G20 | Donald Trump e Xi jinping debatem disputas comerciais

[dropcap]O[/dropcap] Presidente norte-americano, Donald Trump, vai ter esta semana oportunidade de se colocar à prova como negociador, quando reunir com o homólogo chinês, Xi Jinping, para debater uma guerra comercial que ameaça a economia mundial.

Trump, que diz ser um “grande negociador”, vai reunir com Xi, durante a cimeira do G20, que se realiza em Buenos Aires, sexta-feira e sábado.

Caso os dois líderes não estabeleçam tréguas, as disputas comerciais deverão intensificar-se: as taxas alfandegárias que Trump impôs sobre quase metade das importações oriundas da China estão configuradas para aumentarem de 10 por cento para 25 por cento, no início de 2019. Pequim deverá retaliar.

Os analistas duvidam de um acordo final, que termine de vez com a guerra comercial. No entanto, os mais optimistas esperam que os dois lados concordem com uma espécie de “cessar-fogo”, que permita manter o diálogo e adiar o agravar das disputas.

Mas numa entrevista publicada terça-feira pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal, Trump disse ser “altamente improvável” que a Casa Branca venha a aceitar o pedido de Pequim, de suspender o agravamento das taxas alfandegárias.

Trump voltou ainda a ameaçar com a possibilidade de alargar as taxas alfandegárias a todos os produtos importados da China.

O Presidente norte-americano mostrou-se confiante: “Estou muito bem preparado. Não é como se precisasse de me sentar e estudar. Eu sei o que estou a fazer. Sei melhor do que qualquer outra pessoa. E a minha intuição sempre esteve certa”.

Wendy Cutler, vice-presidente do Instituto de Estudos Asiáticos e antigo funcionário norte-americano para o Comércio, que negociou com a China, considerou que as “expectativas”, para o encontro no G20, “são muito baixas”.

“Vai ser uma negociação muito difícil. Os assuntos em questão não são de solução fácil”, disse.
Trump impôs já taxas alfandegárias sobre 250 mil milhões de dólares de importações oriundas da China. Pequim retaliou com taxas sobre bens norte-americanos.

Washington justificou a decisão com tácticas “predatórias” por parte de Pequim, na sua ambição em competir em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável ou robótica, visando quebrar com o domínio industrial norte-americano.

A Casa Branca alega que Pequim força a transferência de tecnologia, em troca de acesso ao mercado chinês, ou usurpa segredos comerciais às empresas norte-americanas.

Pequim nega as acusações e afirma que as sanções de Trump visam apenas conter a ascensão do país.
As disputas levaram já a quedas nas praças financeiras em todo o mundo, sobretudo na China, onde a bolsa de Xangai recuou mais de 20 por cento, desde que o início das disputas, este Verão.

Divisões internas

Na semana passada, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) reviu em baixa a previsão do crescimento da economia mundial de 3,7 por cento para 3,5 por cento, citando as disputas comerciais como um dos principais motivos.

Grupos empresariais norte-americanos têm apelado ao Governo para que chegue a um acordo com a China, mas o panorama actual é pouco encorajador.

Na semana passada, o representante do Comércio norte-americano, Robert Lighthizer, afirmou que os esforços da China para usurpar segredos comerciais de firmas norte-americanas “aumentaram em frequência e sofisticação”.

“A China, fundamentalmente, não alterou as suas acções, políticas e práticas, relativas à transferência de tecnologia, propriedade intelectual e inovação, e parece mesmo que adoptou outras medidas irracionais, nos últimos meses”, afirmou, num relatório.

Mas a Casa Branca parece também dividida entre defensores de uma política mais agressiva face à China, como o conselheiro para o comércio Peter Navarro, e defensores do comércio livre, como o conselheiro máximo para a política económica, Larry Kudlow.

No início deste mês, Navarro afirmou num discurso que Trump não se interessa sobre o que Wall Street pensa sobre a sua política de confronto com a China.

Mas quatro dias depois, Kudlow considerou os comentários de Navarro “infundados”. “Não foram autorizados por ninguém”, disse Kudlow. “Penso mesmo que ele fez um mau serviço ao Presidente”, afirmou.

29 Nov 2018

MIFF | “Shadow” de Zhang Yimou encerra Festival

[dropcap]O[/dropcap] último filme do realizador chinês Zhang Yimou, “Shadow”, vai fechar a edição deste ano do Festival Internacional de Cinema, aponta um comunicado da organização.

Depois de ter passado por Veneza, Toronto e Londres, e de ter sido galardoado com o “Golden Horse” para a melhor realização, o drama histórico do também realizador de “To LIve”, foi seleccionado para encerrar o evento local dedicado à sétima arte, num evento que marca a estreia da película a nível internacional.

De acordo com o director artístico do festival, Mike Goodridge, “‘Shadow’ é um filme visualmente extraordinário e uma história fascinante de intrigas e decepções na corte de um antigo reino. (…) É o filme perfeito para fechar o nosso festival”.

29 Nov 2018

Festival barroco traz Amarillis e Pierre Cambourian a Macau

O Ensemble Amarillis e o intérprete e compositor Pierre Cambourian vão participar no Festival de Música Barroca que decorre até ao próximo dia 8, em Macau. A iniciativa conta, nesta quarta edição, com a estreia de músicos locais no programa

 

[dropcap]A[/dropcap] quarta edição do Festival de Música Barroca promovido pela Alliance Française de Macau teve início ontem e prolonga-se até ao próximo dia 8 de Dezembro. A abertura teve lugar no Cube Militar com um espectáculo a cargo de um quarteto de cordas composto por músicos da orquestra de Macau, o que assinala a estreia de intérpretes locais no evento.

Amanhã, pelas 19h30, o Seminário de São José acolhe um concerto que reúne instrumentistas do reconhecido agrupamento francês Amarillis Ensemble acompanhados no órgão por Pierre Cambourian.
O grupo é também o protagonista do concerto de dia 1 de Dezembro, na Casa do Mandarim pelas 15h. O “ensemble” parisiense de música barroca é considerado um dos mais originais da Europa até porque se tem dedicado a explorar o estilo musical recorrendo a temas menos conhecidos do grande público, indo mesmo em busca de composições inéditas para acrescentar ao seu repertório, de acordo com a apresentação do grupo na sua página oficial.

Criado pela flautista e oboísta Heloísa Gaillard que assume as funções de direcção artística do grupo, e pela intérprete de cravo, Violaine Cochard , o “ensemble” conta já com 17 discos e vários galardões internacionais. É também conhecido por colaborar com cantores de renome tais como Patricia Petibon, Stéphanie d’Oustrac, Sonya Yoncheva, Karine Deshayes e Mathias Vidal. Além dos concertos de música barroca, o grupo é ainda referenciado por sair da sua zona artística participando em projectos que associam diferentes géneros musicais, como o jazz ou música contemporânea ou mesmo integrar trabalhos na área do teatro e da dança.

Órgão único

No dia seguinte, pelas 19h30, o Seminário de São José volta a receber Pierre Cambourian desta feita enquanto solista. O recital interpretado por Cambourian vai utilizar o único órgão barroco do território.
Cambourian dá regularmente concertos na Europa tanto em recitais individuais como participante em várias orquestras. Conhecido pelo seu ecletismo musical, o instrumentista francês reúne, na sua discografia, trabalhos que vão desde o barroco à música contemporânea. Pierre Cambourian é também compositor e, além de peças que compõe para órgão, coro, voz, trompete e saxofone, destaca-se no seu repertório a “Missa de São Vicente de Paulo”.

O festival termina no dia 8 com um concerto protagonizado por músicos locais. No palco juntam-se intervenientes da Orquestra de Macau e alunos do Conservatório. O espectáculo tem lugar no Parisien às 19h. Todos os eventos contam com entrada livre.

29 Nov 2018

PSP detém 33 pessoas nas zonas do Cotai e NAPE

[dropcap]A[/dropcap] Polícia de Segurança Pública (PSP) deteve um total de 33 pessoas nas zonas do Cotai e NAPE esta semana, entre domingo e segunda-feira, em acções de combate ao crime.

Segundo um comunicado oficial da PSP, houve dois indivíduos detidos por alegadamente estarem envolvidos em actividades ilegais de troca de dinheiro, 12 pessoas pela prática de prostituição e 19 que terão participado em actividades ilegais ligadas ao jogo. As autoridades afirmaram ainda que os casos vão continuar a ser investigados.

29 Nov 2018

CEM lança expansão da Central Térmica de Coloane

Raimundo do Rosário esteve presente na cerimónia e deixou em aberto a hipótese de subida do preço da electricidade em 2019. “Logo veremos”, respondeu quando questionado sobre o assunto

 

[dropcap]O[/dropcap] reforço da aposta na energia verde e na produção local de electricidade. É desta forma que os responsáveis da Companhia de Electricidade de Macau (CEM) definiram o novo projecto de expansão da Central Térmica de Coloane, cuja cerimónia de lançamento se realizou ontem.

O custo da obra está estimado entre 2,7 mil milhões patacas e 3 mil milhões patacas e os trabalhos deverão estar finalizados em 2022.

“Depois da nova unidade de geração a gás natural estar em funcionamento, a capacidade de produção de energia local aumentará significativamente. Contribuirá para 30 por cento do consumo total de energia, enquanto a proporção pode ser aumentada para 50 por cento em caso de emergência, podendo fazer face a situação de condições meteorológicas extremas de forma mais eficaz no futuro”, disse o presidente do Conselho de Administração da CEM, Fu Jianguo, no discurso da cerimónia. “Juntamente com a terceira interligação [ao Interior da China para a importação de energia] de 220kV com a China Southern Grid, a estabilidade geral do fornecimento de energia pode ser significativamente melhorada”, acrescentou.

Mais tarde, em declarações aos jornalistas, o vice-presidente do Conselho de Administração, João Marques da Cruz, aprofundou os aspectos ecológicos. “Uma parte da actual capacidade de energia produzida utiliza tecnologias que não são as mais modernas e que têm níveis de poluição razoavelmente acentuados. Por isso, o que vamos fazer é substituir essa capacidade mais poluente, por um ciclo combinado, usando gás natural, que tem uma redução em alguns poluentes de 90 por cento, mas que na média tem uma redução de 50 por cento”, explicou.

“A ideia é antiga e corresponde a uma necessidade. Estamos perto do Cotai, com todos aqueles hotéis fantásticos e não é correcto num lugar turístico ter uma fonte poluidora”, frisou.

Preços podem aumentar

Também Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, esteve presente na cerimónia. No final, garantiu que a extensão não vai resultar em preços mais altos, mas que poderá haver outros motivos para que isso aconteça.

“Ainda não sabemos se vai haver aumentos [devido a extensão da central térmica]. Mas penso que a electricidade não vai ficar mais cara, o que não quer dizer que a energia não possa aumentar. Há muitos anos que não é aumentada”, apontou. Questionado sobre se ia haver uma aumento em 2019, deixou a dúvida no ar: “logo veremos”, respondeu.

No entanto, o Governo não está a contar com um aumento motivado pelo preço das matérias primas ou aumentos no Interior da China, causados pela guerra comercial com os EUA. “Neste momento, não vejo nuvens negras no horizonte. Mas estas coisas, como sabem, evoluem. Não é um assunto concluído. Mas neste momento não prevejo um aumento”, afirmou Raimundo do Rosário.

A cerimónia de início da extensão da nova fase da central térmica foi realizada no mesmo dia em que também se celebrou o início das operações da obra original, há 40 anos.

 

Confiança em renovação da concessão

A actual concessão da CEM termina em 2025. No entanto, a empresa está confiante que o contrato possa ser renovado por mais 15 anos. “A partir de 2025 podem acontecer duas coisas, uma é que a CEM continuar a ter a concessão, uma coisa que desejamos e que tudo faremos para que aconteça”, afirmou o vice-presidente do Conselho de Administração, João Marques da Cruz. “Se a concessão acabar, todos os activos vão ser transferidos para o novo concessionário. Mas estamos muito confiantes que a CEM vai continuar a servir Macau nos 15 anos seguintes após 2025”, acrescentou.

 

Cão não preocupa

“As pessoas podem estar descansadas. O que aconteceu foi um acidente e os acidentes, infelizmente, ocorrem. Penso que a CEM já está a tratar do assunto, já fez inclusive um comunicado e vai continuar a investigar o caso”, disse o secretário para os Transportes e Obras Públicas, sobre o cão chamado Beethoven que morreu, depois de ter entrado em contacto com um poste de um candeeiro público. “Lamento o sucedido”, frisou. Do lado da CEM, João Marques da Cruz também abordou o assunto: “O nível de incidentes na nossa rede é baixíssimo, comparado com os indicadores internacionais e compara muito bem com Hong Kong. Os acidentes podem acontecer. É lamentável, mas não devemos concluir que a nossa rede não é segura”, disse o responsável da CEM.

29 Nov 2018

‘Croupier’ condenada a um ano e meio de prisão por furto de fichas

[dropcap]U[/dropcap]ma ‘croupier’, de 44 anos, foi condenada recentemente a uma pena de prisão efectiva de um ano e seis meses por peculato, após ter furtado fichas de jogo no valor de 450 mil dólares de Hong Kong, bem como a compensar o casino onde trabalhava.

Segundo noticiou ontem o jornal Ou Mun, em 2014, a ‘croupier’, terá subtraído fichas de jogo avaliadas em 100 mil dólares e, posteriormente, desviado outras no valor de 350 mil dólares de Hong Kong. O crime foi descoberto por um funcionário através do sistema de videovigilância.

29 Nov 2018

Governo recupera terreno em Hac-Sá ocupado de forma ilegal

[dropcap]O[/dropcap] Governo recuperou um terreno localizado na povoação de Hac-Sá, em Coloane, e que faz parte de um conjunto de terrenos cuja recuperação foi reivindicada pelos deputados Ella Lei e Leong Sun Iok, ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau.

De acordo com um comunicado da Direcção de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), foram instaurados vários processos na recuperação do terreno, uma vez que “vários espaços verdes tinham sido destruídos”. O espaço estava ilegalmente ocupado, sendo que no início do ano “estavam a ser realizadas no terreno obras de nivelamento sem a devida licença de obra, tendo-se verificado que a área do terreno ilegalmente ocupado tinha sido aumentada”.

Apesar da DSSOPT ter decretado uma suspensão das obras, a verdade é que “os infractores não só menosprezaram essas ordens como aceleraram o ritmo de execução das obras, tendo aterrado uma parte do terreno onde antes se encontrava um tanque”.

Multas aplicadas

Depois dos ocupantes ilegais terem continuado as obras, a DSSOPT resolveu fazer uma visita ao local, tendo descoberto que o terreno “estava dividido em diversas zonas, as quais dispunham de entradas e saídas, que serviam sobretudo para depósito de materiais, máquinas e materiais diversos”.

“Além disso, constatou-se também que no terreno foram construídas barracas metálicas e uma edificação clandestina e que uma das zonas estava a ser utilizada para depósito e outra para a exploração de uma churrasqueira”, aponta ainda o comunicado.

Os ocupantes do terreno ficam sujeitos ao pagamento de uma multa que corresponde não apenas à área ocupada mas também relativa às obras de demolição. Concluído o processo, “o terreno será entregue aos serviços competentes para efeitos de gestão”.

29 Nov 2018

Vacinação | Serviços de Saúde garantem qualidade de produtos importados

Os lotes de vacinas com problemas que chegaram a Taiwan e Hong Kong não foram importados por Macau. Os Serviços de Saúde admitem comprar produtos aos laboratórios Sanofi, mas ao contrário das vacinas que entraram em Taiwan e Hong Kong, as da RAEM foram produzidas nos EUA

 

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde garantem a segurança de todas as vacinas contra a gripe importadas para o território. A posição foi tomada, na terça-feira à noite, depois de ter sido revelado que tanto Taiwan como Hong Kong tinham importado vacinas com partículas brancas, impurezas, do laboratório francês Sanofi.

Segundo a informação do Governo de Macau, as vacinas que foram compradas são na sua maioria provenientes da Alemanha, do laboratório GSK. Também houve vacinas importadas de laboratórios da Sanofi, mas neste caso tiveram origem norte-americana, pelo que não há razões para qualquer preocupação ou pânico.

“Os Serviços de Saúde da Região Administrativa Especial de Macau reiteram que nunca foram importadas vacinas suspeitas de terem problemas e as vacinas usadas no território são provenientes de diferentes origens e marcas”, pode ler-se no comunicado. Foi ainda deixado o apelo para que o público “não entre em pânico nem esteja preocupado”.

De acordo com a explicação oficial, houve vacinas da marca Sanofi importadas. Contudo, o laboratório onde foram produzidas fica nos EUA, enquanto a proveniência dos lotes com problemas foi a França. A marca também é diferente: “Algumas vacinas, destinadas aos bebés e a crianças pequenas, são quadrivalentes, da marca FluQuadri, produzida nos laboratórios dos Estados Unidos da América (EUA) da empresa Sanofi com o número de lote U6256FF”, foi admitido. Porém é explicado que as vacinas com problemas têm a marca Vaxigrip e envolvem, os lotes R3J721V ou R3J72.

“Os Serviços de Saúde questionaram os fornecedores e obtiveram garantias que as vacinas disponibilizadas não foram afectadas por este incidente”, foi igualmente revelado.

Sem reacções adversas

Segundo o Governo a questão é tratada com o máximo de zelo e “além de serem escolhidas vacinas produzidas por fabricantes de renome internacional, existe um rigoroso controlo das condições de transporte e de armazenamento”.

O caso surgiu depois das autoridades de Taiwan terem detectado anomalias em vacinas, devido à existência de partículas brancas, nomeadamente impurezas. Os mesmos lotes com problemas também forma importados para Hong Kong, afectando cerca de 175 mil vacinas, cuja utilização foi suspensa. No entanto, as autoridades de Hong Kong garantem que até ao momento não foram detectadas “reacções adversas” nas pessoas vacinadas com os produtos em causa.

De acordo com os Serviços de Saúde de Macau, no âmbito do Programa de Vacinação Gratuita contra a Gripe Sazonal 2018-2019, que começou a 24 de Setembro, já foram vacinas 86.674 pessoas, o que representa um aumento de 29 por cento face ao ano passado, quando tinham sido vacinadas 67.232 pessoas. O território tem ainda em stock 63.000 doses da vacina.

29 Nov 2018

Ponte HKZM | Carrie Lam vai discutir com Macau e Zhuhai fluxo de turistas

[dropcap]A[/dropcap] Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou ontem que vai tentar falar com os governos de Macau e de Zhuhai face ao crescente descontentamento dos residentes de Tung Chung, Lantau, com o elevado fluxo aos fins-de-semana de turistas da China que chegam através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.

Segundo o portal Hong Kong Free Press, Carrie Lam afirmou que a situação melhorou desde a aplicação da nova regra, pela empresa que presta o serviço de ‘shuttle bus’, destinada a excursões, dado que agora os turistas têm de se registar com uma antecedência de 24 horas.

29 Nov 2018