Señoritas | EA LIVE Sessions

“Acho que é meu dever não gostar”, “Ciática”, “A mão armada”, “Alice” e “Solta-me”

Señoritas

MITÓ MENDES e SANDRA BAPTISTA

EA LIVE Session de Senõritas foi gravada ao vivo no Palácio Sinel de Cordes, em Lisboa, para as EA LIVE Sessions, um projecto musical inédito em Portugal da autoria da Adega Cartuxa e dos vinhos EA.

31 Mar 2018

Bacalhau

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ecidi no outro dia dispensar uma hora e meia do meu tempo para assistir ao filme “A Gaiola Dourada”, um retrato mais ou menos actual da emigração portuguesa em França. O filme não é recente, tem quase cinco anos, mas na altura passou-me ao lado – estando aqui no extremo oriente, é perfeitamente normal. Contudo, e desde que o filme estreou, não tenho parado de ler os maiores encómios a seu respeito.

Pessoas que dizem ter visto “quatro ou cinco vezes”, outras que, e passo a citar, “se mijaram a rir”, enfim, pensei que estava ali o “Citizen Kane” do cinema português, e eu arriscava-me a morrer estúpido se não visse “A Gaiola Dourada”. E assim, através do milagre do “streaming”, fui inteirar-me do que se tratava.
O filme é sofrível, e isto é o melhor que posso dizer dele. Não é um filme português; é uma produção francesa – 99% dos diálogos são na língua de Dumas – que conta com um elenco de actores portugueses e franceses.

Está muito longe de ser uma comédia; não me ri, nem sequer me deu vontade de sorrir, e muito menos me comoveu. Em causa não estão as (excelentes) interpretações dos seus actores principais, Joaquim D’Almeida e Rita Blanco (outra coisa não seria de esperar), ou sequer a realização do jovem Ruben Alves, ele próprio um luso-descendente. O problema é do próprio argumento, previsível e redutor. Todos temos mais ou menos uma ideia de que como é a vida da comunidade portuguesa em França, e o filme não nos traz nada de novo, ou de surpreendente.

O José trabalha na construção civil, a Maria é empregada de limpeza, sonham voltar a Portugal de vez depois de mais de 30 anos emigrados em França, os filhos estão relutantes, uma vez que já ali nasceram, sentem-se mais franceses que portugueses, etc. etc. etc.. Há uma cena perto do fim do filme, onde a patroa francesa de Maria chega a casa acompanhada de um painel de juízes de um concurso de jardinagem em que participa, e o casal português está em pleno jardim, no meio das rosas, a fazer uma sardinhada e a escutar o tema “Bacalhau à Portuguesa” de Quim Barreiros. Aliás, o “bacalhau” é um tema recorrente em todo o filme. Isto não só não tem graça, como chega a ser ofensivo; eu sou português, gosto do fiel amigo, mas não é por isso que sou um “comedor de bacalhau”.

Talvez eu não tenha a sensibilidade necessária para apreciar “A Gaiola Dourada”, para ver o filme repetidas vezes e rir-me até ficar à beira da apoplexia. Vivo em Macau há 25 anos, mas nunca me considerei um emigrante. Tal como muitos dos leitores que chegaram ainda durante o tempo da administração portuguesa, adquiri a residência poucos meses depois de chegar, não tive quaisquer problemas de adaptação, nem sequer ao idioma, sendo o português ainda hoje uma das línguas oficiais da RAEM.

Não deixo no entanto de ter simpatia pela comunidade portuguesa em países europeus como a França, a Bélgica ou a Suíça, e que ultimamente os portugueses nativos resolveram apelidar (depreciativamente) de “avecs”. Se eles têm uma vivenda na terrinha, são proprietários de terrenos no Douro vinhateiro, ou conduzem BMWs e Mercedes, certamente que foi à custa de muito esforço e sacrifício, fruto do seu trabalho, e mais nada.

Fico a aprender muito mais a respeito da actual diáspora portuguesa em programas como “Portugueses no mundo”, transmitido assiduamente pela RTPi, onde damos conta de compatriotas nossos que são empresários ou que exercem profissões liberais um pouco pelos quatro cantos do globo. Longe vão os tempos em que a emigração era apenas uma forma de fugir à pobreza.

Actualmente, temos uma massa de gente inteligente, qualificada e empreendedora que dignifica o nome de Portugal por esse mundo fora. Uma realidade que vai muito além daquilo que nos mostra “A Gaiola Dourada”, que repito, não é um mau filme, mas que deixa muito a desejar neste aspecto em particular. Não me faz sentir de todo representado.

29 Mar 2018

Voleibol | China, Sérvia, Tailândia e Polónia confirmadas na ronda de Macau

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hina, Sérvia, Tailândia e Polónia sãs as selecções que vão participar na ronda de Macau da Liga das Nações de Voleibol Feminino, competição com a chancela da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) que substituiu o anterior Grande Prémio Mundial. O torneio foi apresentado ontem e vai decorrer no Fórum de Macau entre 22 e 24 de Maio.

Na apresentação da competição, o director do Instituto do Desporto, Pun Weng Kun, deixou o desejo que as quatro formações participantes se exibam ao melhor nível e que proporcionem um espectáculo de grande de qualidade às pessoas que se desloquem ao pavilhão.

Já Philip Cheng, director da operadora Galaxy – o principal patrocinador do evento – considera que é uma honra para Macau estar presente na primeira edição da Liga das Nações e que o evento desportivo seja bem recebido por parte da população. Foi também ontem assinado o contrato de patrocínio, com a operadora a passar um cheque no valor de quatro milhões de patacas.

Os bilhetes para o torneio começam a ser vendidos a 2 de Abril, pelas 11h nas lojas Circle K e têm um custo de 150 patacas. No caso das compras online, se o bilhete for para os três dias da competição tem um desconto de 30 por cento.

29 Mar 2018

Academia do Sporting de Macau arranca com três equipas e 58 atletas

O Sporting de Macau fez ontem a apresentação dos escalões sub-9, sub-13 e sub-18 da Academia de formação de jogadores. Os responsáveis esperam que o projecto permita estabelecer as bases para o futuro do clube

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Sporting de Macau apresentou ontem os três escalões que vão constituir a academia do clube esta temporada, nomeadamente os sub-9, sub-13 e sub-18. No total, estas equipas vão envolver 58 atletas.

“Estamos muito felizes. Era um objectivo antigo do clube que só foi possível concretizar agora. É um projecto que depende do empenho dos treinadores Nuno Capela, Pedro Lopes e do dirigente José Reis. São eles os grandes responsáveis pelo que conseguimos concretizar para esta época”, afirmou Leonel Borges, presidente interino do Sporting Clube de Macau.

“Não tínhamos grandes possibilidades financeiras, mas conseguiram mobilizar as pessoas e procurar apoios, o que foi algo de extraordinário. É muito importante ter estes escalões, até porque esperamos que os sub-18 possam começar a fornecer atletas ao nosso escalão principal”, acrescentou.

Por sua vez, Nuno Capela, treinador dos seniores e um dos homens por trás do projecto, destacou a importância dos atletas mais velhos da academia subirem à formação principal. “Temos dois objectivos muito bem definidos: o primeiro é fornecer atletas à equipa principal. Este é o futuro do Sporting Clube de Macau. O segundo objectivo é o competitivo. Nas competições em que estivermos presentes queremos, logo no primeiro ano, ter uma prestação digna”, justificou o técnico. “E quando digo uma prestação digna estou a apontar ao primeiro ou segundo lugar”, frisou.

Por outro lado, Nuno Capela realçou o trabalho de Pedro Lopes e da estrutura do clube para a concretizar a academia. “O projecto que apresentámos hoje [ontem] é um trabalho colectivo, tenho de agradecer ao Pedro Lopes pela ajuda e ao clube que me permitiu desenvolver um projecto de raiz. Para mim, isto é uma felicidade”, revelou.

No escalão sub-9, os treinadores vão ser César Gibelino e Bright, atletas dos seniores, e os sub-13 por Pedro Pires, Prince e Malachay, também eles jogadores da equipa principal. Já os sub-18 têm como treinadores Pedro Lopes e Pedro Pires.

Equipa de veteranos

A cerimónia de ontem, que decorreu no auditório da Escola Portuguesa de Macau, serviu igualmente para apresentar a equipa de veteranos, também conhecidos como Velha Guarda. Nuno Capela e Pedro Lopes vão ser os técnicos da equipa.

“O objectivo é manter junto do clube um grupo de pessoas que por vias da idade já não actuam nos seniores, mas que ainda querem praticar o desporto que gostam, que é o futebol. O objectivo competitivo vai passar por fazer o melhor possível, também porque não conhecemos as outras equipas”, explicou.

O campeonato de veteranos, que é de futebol de sete e é disputado no D. Bosco, vai ter mais um ponto de interesse, com o clássico entre Sporting e FC Porto.

“Claro que são sempre jogos especiais e não vamos entrar em campo para perder. Mas acho que o mais importante é haver um bom convívio e espírito de amizade entre os atletas. Neste escalação, os resultados deixam de ter tanta importância”, declarou Nuno Capela.

29 Mar 2018

A dupla face do escritor

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que me liga à minha mulher, sem muito custo (embora isto não seja isento de pequenas tensões), para além do óbvio das filhas e das afinidades, foi ela ter aceitado implicitamente que vivemos em adultério e que a minha “legítima” é o isolamento que penhoro na escrita.

A escrita exige esta dimensão da exclusividade, nada saudável, e não admite rival, ou só a espaços quando, por cansaço, nos alheamos mutuamente. Melhor: em tempos normais, na escrita sou polígamo.

Entretanto, não tem nada de humano o desapego a que a escrita nos confina – é o contrário das tretas que ensino em Comunicação Interpessoal, ó meu querido George Bateson perdoa-me lá – e lamento reconhecer que troco um contacto humano de terceiro grau pela escrita de um conto que me satisfaça ( – embora se dissesse o contrário também seria verdadeiro).

Se a disciplina da escrita me trouxe um aparente apaziguamento dos instintos – sou fiel ao “amor único” – é porque na verdade apenas sublimo momentaneamente (e constato como o D.H. Lawrence que está por estudar a força da sublimação), não se espere de mim o menor acatamento dos meus “penchements” selváticos, aprendi apenas a dizer não e a regatear o tempo, sendo certo que se fosse católico estaria frito por pecados de pensamento e omissão.

Na verdade estou, pelo meu lado, absolutamente encurralado pelo egoísmo da escrita que me acua e trepana e devora a pouca inteligência às colheradas, como faz Hannibal aos seus incautos.
Se houver um escritor que diga que se quisesse dispensava esta crueldade é porque ainda não é um adicto, e vive em pura bazófia como um artesão de best-sellers que está carimbado da medula às sinapses pelas fórmulas.

Há, por outro lado, um bocadinho de balela romântica na afirmação de Aragon de que nunca terá escrito uma história de que não conhecesse previamente o desenvolvimento e que terá sido sempre, ao escrever, como acontece ao leitor, que ele contactou pela primeira vez com uma paisagem ou com as personagens de que vai descobrindo o carácter, a biografia e o destino. É uma espécie de heroísmo à rebours. A verdade fica-se pela metade, apesar do mais importante estar de facto no que desconhecíamos antes de ter acontecido a escrita.

Esta ignorância é como uma lapa que simbioticamente se confunde com a pele e nos faz desejar a insegurança de um pensamento em estado nascente, em látego.
Quem conviveu comigo nos jornais durante vinte anos sabe que eu nunca estive “integrado”, sempre um bocado à margem, o que me tornava suspeito, pois quem é que este gajo se julga, pensavam.

Nunca me julguei assado ou cozido, sentia-me apenas em liberdade condicional e um tipo entre comas porta-se de outra maneira e não dá excessiva importância ao que está a fazer. Por isso seria incapaz reunir os artiguelhos e as minhas suspicazes opiniões em livro. Alguns bons artigos hei-de ter escrito, mas irritam-me mais as opiniões que ao Valter Hugo Mãe o Herberto Helder ( – e já repararam como está parecido o escritor com o vate?).

Há antes algo de que padeço e está para além da minha inteligência ou do aparato, e o que faço agora é unicamente um meio, uma travessia.

O melhor só pode estar para vir, posto que nas costas fica o rasto dos meus fracassos. Todos os poemas que publiquei até hoje, todos as narrativas, carecem ainda do ímpeto do arpão do capitão Ahab. Só me resta não parar de lançar o arpão até que da sua ponta nasça a baleia.

Porque o escritor almeja, como lembrava o Proust, embora isso esteja esquecido, inventar dentro da língua uma língua nova, e para que tal enxurrada suceda não são permitidas folgas.
Enfim, mais ao menos. Na verdade, só se entra no “paraíso” pela porta dos fundos, tirem o cavalinho da chuva os que ambicionam lá penetrar pelo portão da frente – só a quem se distrai do seu propósito lhe acontece penetrar.
Permitir esta distracção é o que visam as correntes alternas da vigília. Afinal (como no amor) só lá penetra quem já é transparente.

A muitos títulos preferia viver em Paris do que em Maputo, mas a vantagem de estar em Maputo é que somos irrecuperavelmente o outro e ficamos extensivamente sujeitos à pressão do olhar “nativo” – como irredimíveis estrangeiros. Esta condição mantém no ponto uma tensão que nos situa e não autoriza que alguma vez sejam amorfos os lugares. Ficamos então adequadamente desconfortáveis, gerando-se um clima propício à criação.

É claríssimo que o meu isolamento em Maputo me fez crescer como escritor, que o meu anonimato me desencadeou uma energia nova, que a distância me recuperou o pleno sentido das proporções (ainda que a distância gere equívocos e provoque silêncios e mal-entendidos: quem não me conhece como pessoa e não vê os meus gestos, o meu riso, toma às vezes por literal o que é irónico, pura paródia, e confunde-me com meu personagem momentâneo) e que mesmo em termos humanos ganhei um lastro que não tinha. No fundo, saí da esfera da literatice para a do vivido.

O que visto de fora me parece acrescentar uma pele áspera e insensível, como a do Rinoceronte de Ionesco. Sócios iméritos da vida.

Bom, há duas horas que me mantenho na esplanada, garatujando e lendo, enquanto a Teresa se ocupa das crianças na piscina. Há que ir substitui-la durante um pedaço, dar umas braçadas com as miúdas, ver como a Jade simula o mecanismo das ondas com o chouriço ou sonhar que um dia ouvirei a Luna tocar violino debaixo de água; riremos com algumas partidas durante cinco minutos, até que o chapão de uma boer na água me lembre uma freira a mergulhar num charco de rãs e isso me arranque à piscina para vir anotar num caderno encardido e já de língua de fora mais um cabotino canteiro de flores.

29 Mar 2018

Sangrar a Oriente pelo lápis do poeta

«Melhor que conhecer uma coisa, amá-la!»
Confúcio
«Só o corpo obedece à fé porque nele se opera a
metamorfose involuntária»
Carlos Morais José, in Anastasis

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m Visitações, pequeno livrinho lançado uns meses depois de Anastasis, ambos de 2013, reforça-se a suspeita de que em Carlos Morais José (1962) o exercício poético é uma gnose lapidada por um diálogo com uma tradição e não um mero jogo lúdico. Ao qual não pode deixar de convergir uma mão cheia de responsabilidade e outra tanta de atrevimento.

Lembremos a propósito que uma das “debácles” desconcertantes da poesia no século XX, correspondendo a um tiro no pé e mais absurdo ainda ao identificarmos quem empunhou o revólver, teve lugar quando T.S. Eliot escreveu que a poesia mais não era do que um divertimento superior — pronunciamento a que posteriormente procurará emendar a mão em Os Quatro Quartetos e que provavelmente enformará a excessiva solenidade deste livro.

Porque se a poesia não tem de ser solene encurralá-la como um mero acto de dimensão lúdica — de cujo wit não estará obviamente afastada — premedita uma amputação, a mesma que seria patente se interiorizássemos que o engolfamento da paródia só autoriza degradar as referências e nunca superar-se e magnificá-las.

Em Visitações, Carlos Morais José desenha um paideuma, no sentido poundiano, convocando uma constelação de autores (nem todos poetas, como Camus ou Kafka) que se inscrevem como sombras chinesas no biombo em que decorre o seu diálogo com o filamento poético dessas vozes, e o que talvez mais surpreenda, além da escolha heteróclita dos poetas — onde se “recupera”, por exemplo, Raul de Carvalho, um grande poeta esquecido -, é certificarmo-nos que Morais José não receia nem mimetizar procedimentos poéticos, nem servir-se de todos as modulações métricas ou inclusive cultivar a rima.

O que o leva a textos tão diversos, como o que lhe desancorou do cais de Camus:

ALBERT CAMUS, Circuito da Guia

Saímos do tufão para uma temperatura insuportável, mesmo para mim que sou uma espécie de magrebino acinzentado. Hoje palmilhei uma colina, por uma estrada alcatroada. Os carros silvavam rente mas isso era-me indiferente: só cascatas de suor me troavam nas têmporas. Dei por um rio a descer-me pelas costas e agradeci aos deuses por ter um corpo semelhante ao mundo.

Ou, por contraste, este, “sacado” a Garret:

Almeida Garret Mong Há
Como é triste ver a chuva,
Por detrás destas vidraças,
Afagar de manso a rua
Fazer de mim presa sua,
Quieto, pupilas baças,
Mãos trementes, visão turva.
(…)

Deste livrinho de homenagens, que roça o hábil e divertido pastiche mas adquire uma outra leitura e seriedade quando visto à luz de Anastasis, talvez realçasse as glosas feitas em torno de Ruy Cinnati, do urdu Hafez, de D. Dinis, de Almada Negreiro (de quem mima o espírito guerreiro e as imprecações), ou o de Ângelo de Lima, que aliás termina com uma nota em que imagino sustentar-se um dos pilares de uma poética cara a Carlos Morais José:

«Agrada-me a ideia de um pensamento inútil, que não vise um fim, que não se esgota em funções e genuflexões. Utilidade e pensamento criam monstros. Goyadixit e se não o dixit, desenhou-o.»

Anastasis, um livro a todos os títulos excelente, é um projecto de outra ambição, uma prova de fôlego de 220 páginas, mas sobre o qual não dei ainda conta de qualquer texto. Provavelmente por ter sido publicado em Macau, por o seu autor ser figura renitente à auto-promoção (pedi-lhe os livros três vezes, sem resultados, e tive de ir a Macau para ele se resolver a dar-mos) e por estar inculcado, por inércia ou sobranceria, uma ideia de menoridade quanto ao que chega da Diáspora e não é emanado pela capital do velho império.

Acresce que em folheando o livro se torna evidente que a linhagem em que pisa Carlos Morais José não é consentânea com os ditames da época, o que lhe dificultará a recepção: ele não cabe nas grelhas de leitura já estabelecidas. E que linhagem é a dele?

Talvez a dos poetas menos preocupados em cultivar um imediato reflexo epocal e afinidades temáticas e estilísticas com uma sua suposta geração do que em buscar uma conformidade do sujeito com o seu daimon e as suas chaves de sentido.

Anastasis (o termo grego para Ressurreição, e que no fundo corresponderá a um Segundo Nascimento, ideia muito cara no Oriente onde o poeta vive há quase trinta anos) reproduz na capa A Conversão de S. Mateus, de Caravaggio, o apóstolo que pregou pela Judeia, Etiópia e Pérsia e morreu na Etiópia, apedrejado, queimado e decapitado, e que podemos entrever como o símbolo de um andarilho.

O livro, coerentemente, deixa-se ler como um itinerário, compondo-se de dez capítulos que na generalidade se associam a um destino: Abertura, Patmos, Istambul, Syria, Pérsia, Índia, Sião, Terra Khmer, Mekong, e Final.

A este tour de force afluem textos de diversos modos e géneros — poemas, aforismos, anotações de viagens, tradução de poetas orientais ou transcriações em entretecido verso, versículo ou em prosa poética; meditações diarísticas ou trechos de recorte “jornalístico”, etc — mas releva que o feixe se caracteriza por uma comum escrita tensa, ritmada, polvilhada aqui e ali de aliterações (começa assim O Felino: Faz-me fera falta essa certeza) e de rimas internas à prosa (e, aliás, metade dos poemas rimam), num sulco transfronteiriço entre os géneros no qual a sombra poética sempre avulta.

O itinerário que aqui se evoca não é unicamente físico, material, mas nutre-se da espiritualidade dos lugares, assumindo o texto as personas, as máscaras poéticas que lhe sejam próprias, sendo embora de advertir que o respeito ao locus… não é contagiado pela reverência cega, pelo que no trânsito do livro abundam os “desvios”, as anfractuosidades, e as suas ambiências não desdenham o álcool e outros derivativos, aliás como o sexo e as dúvidas existenciais, ilustradas neste belo trecho, de Resafa — em Syria:

«No templo de Júpiter, os áugures explicaram-me a vida. Como sempre não percebi. Está tudo aqui nesta pedra de leite ofertada. Seguro-a. Ardente na mão. Mas nem o sol me faz entender a escrita persistente das areias, nem o vento me ensina a língua áspera dos imortais.», pág. 72;
registe-se contudo que em Anastasis não se leva a cabo uma “viagem encapsulada” à maneira de Raymond Roussel.
Anastasis traceja, antes, as diferentes tradições do território percorrido e — vê-se pela nomeação geográfica como o leque é extenso, dos poetas sufis aos urdus, dos gregos e hebraicos aos chineses e malaios, dos profetas hebraicos aos místicos –, escapando a identificação dessa linha às referências habituais para se encharcar nómada na experiência carismática duma topografia do espírito com assento a Oriente.

A haver uma tradição reconhecível para este livro encontro-a mais do lado de Claudel, um dos autores convocados em Visitações, ou das Estelas, de Victor Segalen, nos livros do Kenneth White, do que em qualquer outro exemplo do lastro português. Mesmo Ruy Cinnati é mais localizado e ateve-se a Timor.

Daí que Anastasis seja tão diferente do que se encontra no panorama da actual poesia portuguesa e merecesse uma atenção que lhe destrinçasse os fartos motivos de interesse; eu não tenho dúvidas em afirmar ser este um livro de referência, de sempre, no âmbito da Diáspora, e como a singularidade que introduz merecia outro eco.

Engana-se, entretanto, quem julgue encontrar na entoada desta escrita que em inúmeros passos se aproxima do versículo e, já vimos, não teme usar a rima nem estruturas frásicas tradicionais uma dicção “antiga”. Só uma leitura negligente e apressada produzirá este juízo. Antes acontece haver em Carlos Morais José um tão apurado domínio da língua que o poeta (e neste particular aproxima-se de Grabato Dias), prescindindo de exibir um estilo faz antes cabotagem, usando-se das máscaras, adaptando o de outros.

O que se atesta, por exemplo, nos inúmeros gazel que permeiam o capítulo Pérsia, onde o leitor é, por fim, restituído ao hedonismo “metafísico” de Kahayyam. Porém, avisa Morais José, e antevejo aqui outro preceito da poética que lhe imagino cara: «O nosso afã não é copiar, nem cumprir. O paraíso será sempre a reescrita» (pág. 138).

Depois, Anastasis, como se disse atrás, nas suas imprevistas meditações está repleto de curto-circuitos, de erupções dissonantes que rasgam os laivos neo-platónicos (presentes) para os “infectar” com a imanência das rudes intersecções do quotidiano e do real — isto é, há no texto o desejo da ideia mas não a sua primazia.

Neste aspecto, o livro é tremendamente pós-moderno e testemunha o itinerário de uma poesia que — se se infere como aventura espiritual, no sentido de uma evasão ao trivial e da consequente busca, mesmo que intermitente, desse Absoluto de que falava Paz (que está não aquém mas além das religiões) — já não pode abster-se do que foi desmistificado pelo século XX e cunhado pelo paródico; pelo que, arredada de qualquer dogma, a poesia há-de vasculhar no profano e no circunstancial rastos do sagrado e vice-versa, sabendo-se como as religiões calcificam enquanto a poesia re-humaniza os gestos do celebrante.

Demos alguns exemplos das dissonâncias, como estes colhidos em Sião:

Sukhumvit, Soi 1
«À hora sexta, é um alvorecer de pássaros
e não o grande motor que acorda a cidade.
São cantos, estribilhos: toda uma poesia de jardim
que se evola dos bairros.
A rapariga que risca a rua
como um estremecer de asa.
Da janela do automóvel,
o homem do táxi chama o colega
com um beijo repenicado.
Não são maricas,
sequer efeminados:
falam como os pássaros.» (161)
ou, Sukhmuvit, Soi 6:
«A mãe sentou-a no meu colo.
“tem 14 anos, mas já é experiente”, garantiu.
“Obrigado”, retorqui, “pode trazer mais um
uísque?»

Citemos o desconcertante fecho de Cisterna, em Istambul:

«Em parte discreta da velha cisterna bizantina, duas cabeças de medusas servem de base a medusas. Uma está invertida, a outra de lado, apoiada na face direita, Não se sabe porquê. Provavelmente porque assim dava mais jeito ao construtor. Mas o que fazem ali as duas górgonas?

Há uma terceira medusa, de que ninguém fala, muito parecida com as suas irmãs da cisterna. Está no Museu de Arqueologia, perto do pequeno quiosque onde, depois do café (“à turca, com o pó todo”), os teus cabelos se transformaram em serpentes.
Agora sou a estátua que aguarda a inscrição: um nome, uma sentença, um epitáfio:

TEVE PÍFIA VIDA
ALBERGOU NO SEU SEIO
UM MONSTRO
Alien (o filme) ou a iconografia do amor.»

Ou ainda o fecho de Café Roozegar, em Pérsia:

«Se a poesia desvenda, tal não surge como prenda no vinho ou nas mulheres. Há na rosa uma maldade que embeleza a cidade, mas que em mim só apoquenta como o cruzar da tormenta de velas bem levantadas. Vou lá fora… fumo um charro… é melhor de que um cigarro…
Impossível regressar.»

Cruzam-se para além disso neste livro, incessantemente, a memória poética e a memória etnográfica (Carlos Morais José é antropólogo de formação), entrançadas no tecido duma cartografia pessoal que de modo inescapável se condensa em pontos irradiantes duma certa herança cultural onde ainda se manifestam resíduos da sua origem (e mesmo geracional, como na evocação a Morrison), embora na sua generalidade já se apresente híbrida, desterritorializada e transgeracional:

ALLEPO/Hotel Baron

«Nesta varanda de pedra, bebi um uísque com soda, brindando a Lawrence que conheci da Arábia, mas que pertencia ao meu país. O barman, de calça clássica, colete de risca escura e irrepreensível laço, serve como um cavalheiro de outros tempos, fazendo corar o turista. Sorriu-me e percebeu: “Está ali naquela sala”: a conta assinada pelo punho do Inglês, o homem sem pai que conquistou para si mesmo uma Pátria.
Sorri-lhe, cúmplice, de uma traição que só grandes homems cometem. E, rapidamente, beberiquei o uísque, voltando à varanda donde, ontem, e hoje se vê passar a Syria.»

E como isto não pretende ser uma crítica mas apenas uma chamada de atenção para um percurso singular no panorama actual da escrita em língua portuguesa, fecho com um excerto de Allamut:

«Amo a visão destes montes descarnados, de puríssima geração, intocados de árvores ou vegetação rasteira, forma primeira do planeta do início. Hoje de humano sobra-me o vício.
E se assim embaciado permaneço, não é temor nem doença que padeço. Para tal bastam a beleza que invoca e a teimosa dor de não se dar a troca.
*
Dizem os historiadores que o paraíso dos haxixins nunca existiu. Provavelmente terão razão: percorridos os jardins, fumados os cachimbos e amadas as belas huris, ainda assim não me deu para matar.»

Com um excerto de O haxixe:
«(…)
Com Walter Benjamin no terraço, esgrimindo
frio no oiro do ar. Electricidade perpassa nessa
espessura loira e informe.
Como ele, esqueço-me de certa lotaria e esfrego
outra vez o joelho, sentado na anti-gravidade da
cadeira, no centro cósmico da cidade; um cego
inundar-me-á de música e isso bastará para me
erguer em radical felicidade.
Não serei milionário. Está, contudo,
ao meu alcance uma torre áurea,
edificada sobre as ruínas de um violino.
Walter significa: um automóvel nascente…
o túmulo vegetal… uma assunção do poente… a aura
caída das eternidades por haver. Um anjo para
entreter…»

Sigo para Patmos, II Skala:

Nos cafés do porto espera-se pelos navios, o desembarcar lento dos passageiros e a largada ufana dos grandes motores. Os turistas dão uma volta à ilha, visitam as principais atracções e raros são os que aqui pernoitam. Outras ilhas os esperam. É isso que as ilhas sabem fazer.

A importância do café

Depois da morte dos cafés, sobraram as ténues
esplanadas sem lua nem metafísica, na sombra
de navios de outros tempos. A tripulação fugira.
Gatos apardecem as vielas por detrás dos bares.
Onde talvez se beba qualquer coisa.
O café permanece belo como dantes.
A mesa é curta. A melopeia interrompida.
(…)
Onde estão os barcos? Por que demoram?
Quero partir agora, que se chega a minha hora.
No café estrela um relógio de navio? Por que me rio?
É igual navegar ou estar sentado.
Sonhar acordado como os meninos.
Das vésperas: sorver taninos, as nuvens de veludo,
o entrudo avermelhado, a parte do céu quebrada em
anis de desespero. Não choro.
Por que me rio? Vai já longe aquele navio…

E termino com o primeiro de Dois aforismos:
«A primeira palavra desfez o mundo. Ainda hoje nos entretemos, com as suas irmãs, no trabalho de o recriar.»

29 Mar 2018

Fundador de grupo interessado no Novo Banco julgado por fraude

O fundador do grupo chinês Anbang, que em 2015 foi apontado como candidato à compra do Novo Banco, compareceu ontem em tribunal, por acusações de fraude e uso da sua posição em beneficio próprio

[dropcap]W[/dropcap]u Xiaohui foi detido em 2017 e, em Fevereiro passado, os reguladores chineses assumiram as operações do Anbang Insurance Group, depois de uma vaga de aquisições por todo o mundo ter suscitado dúvidas sobre a origem do dinheiro e a sustentabilidade do grupo.

Wu é acusado de ter angariado de forma fraudulenta fundos no valor de 65 mil milhões de yuan e de abusar do seu cargo em benefício próprio, segundo um comunicado difundido pelo Tribunal Popular Intermédio Nr.1 de Xangai.

A maioria dos julgamentos na China decorre num único dia, mesmo para casos complexos envolvendo crimes económicos. Os veredictos são normalmente emitidos num espaço de dias ou semanas.

Em Agosto de 2015, o grupo Anbang não conseguiu chegar a acordo com o Banco de Portugal para a compra do Novo Banco, numa corrida em que participaram também os chineses do Fosun e o fundo de investimento norte-americano Apollo.

Bater no fundo

Wu, cuja empresa se tornou mundialmente famosa, em 2014, ao comprar o icónico hotel de Nova Iorque Waldorf Astoria, por 1.950 milhões de dólares, é um dos multimilionários mais conhecidos da China. A sua mulher é neta de Deng Xiaoping.

A indústria dos seguros na China foi nos últimos dois anos abalada por vários casos de fraude. Em Setembro passado, o anterior director da Comissão Reguladora de Seguros da China foi julgado por receber subornos, enquanto executivos do sector foram punidos por corrupção e má gestão.

O comunicado do tribunal detalha ainda que Wu é acusado de infringir os limites de capital estipulados pelos reguladores, ao captar 724 mil milhões de yuan a partir de 10,6 milhões de investidores.

Criada em 2004, com sede em Pequim, a Anbang tem mais de 30 mil trabalhadores e activos no valor de 227 mil milhões de euros, segundo o seu ‘site’ oficial.

29 Mar 2018

Guerra da Coreia | Seul “repatriou” restos de 20 soldados chineses mortos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério da Defesa sul-coreano anunciou hoje ter “repatriado” os restos mortais de 20 soldados chineses mortos durante a Guerra da Coreia, primeiro conflito armado da Guerra Fria, que colocou comunistas contra capitalistas na península coreana.

Segundo as autoridades de Seul, soldados sul-coreanos entregaram a uma Guarda de Honra da China caixões lacados cobertos com a bandeira vermelha chinesa, no aeroporto de Incheon, a oeste da capital, onde foram embarcados num avião de carga da Força Aérea Chinesa.

Com esta transferência subiu para 589 o número de restos mortais de soldados chineses repatriados pela Coreia do Sul, fruto de um acordo entre os dois países, assinado em 2013.

Esta operação surge na véspera do Festival Chinês de Qingming, uma celebração tradicional de homenagem aos soldados caídos durante a Guerra da Coreia, que opôs as duas Coreias entre 1950 e 1953. A Coreia do Sul teve o apoio da Nato e dos Estados Unidos da América, que colocaram soldados no terreno. A Coreia do Norte contou com o reforço de soldados chineses e teve o apoio logístico da União Soviética.

Estima-se que três milhões de soldados do exército comunista chinês tenham desempenhado um papel crucial de apoio às tropas do norte durante o conflito.

A Guerra da Coreia, que terá provocado quatro milhões de vítimas, colocou o mundo à beira de uma terceira guerra mundial. Em Julho de 1953 foi assinado um cessar-fogo, que separou as duas Coreias, que até hoje ainda não assumiram oficialmente o fim da guerra.

29 Mar 2018

Amnistia Internacional | Chinesa Haiyu viola leis moçambicanas de exploração mineira

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Amnistia Internacional acusa a empresa mineira chinesa Haiyu Mozambique Mining de violar as leis moçambicanas e internacionais numa exploração de areias pesadas em Nagonha (Nampula), considerando que a operação mineira resultou no desalojamento de 290 pessoas.

“A Haiyu violou a legislação nacional nas áreas do ambiente e da exploração mineira. Antes de estabelecer as suas operações, a empresa não consultou os residentes de Nagonha; não realizou uma Avaliação de Impacto Ambiental adequada para identificar os riscos de minerar e despejar areias nas zonas húmidas; e não monitorizou e reportou os seus próprios impactos ambientais ao governo para verificação e aprovação”, indica a Amnistia Internacional num relatório que foi apresentado ontem em Maputo e ao qual a Agência Lusa teve acesso.

No relatório “As Nossas Vidas Não Valem Nada – O Custo Humano da Exploração Mineira Chinesa em Nagonha, Moçambique”, a organização de direitos humanos considera que “as práticas da Haiyu transformaram a topografia da área e afectaram o sistema de drenagem das zonas húmidas”, alterações que “tiveram impactos negativos sobre o ambiente e a população local”.

O mais importante desses impactos deu-se na manhã de 7 de Fevereiro de 2015, quando uma inundação súbita destruiu parcialmente Nagonha, uma aldeia litoral no distrito de Angoche, na província de Nampula, norte de Moçambique.

“Quarenta e oito casas foram imediatamente arrastadas para o mar, pois a água das inundações abriu um novo canal em direcção ao mar que atravessou a aldeia, dividindo em duas a duna sobre a qual a aldeia está situada. As inundações deixaram cerca de 290 pessoas desalojadas. A edilidade local registou mais 173 casas parcialmente destruídas”, recorda a Amnistia Internacional (AI).

Segundo os especialistas consultados pela AI, esta situação deveu-se ao “impacto das operações mineiras da Haiyu (…), nomeadamente o impacto das contínuas descargas de areias da mineração sobre as zonas húmidas e os cursos de água”, o que causou alteração na topografia e, em última análise, as inundações de Nagonha em 2015.

Direito à terra

Por outro lado, quando confrontada pelos residentes desalojados de Nagonha para a necessidade de os compensar pelos estragos, a empresa chinesa primeiro recusou e depois apresentou uma proposta considerada inaceitável.

“O plano de reassentamento proposto pela Haiyu era extremamente inadequado e os residentes de Nagonha sentiram-se insultados e recusaram a oferta”, escreve a AI. Ou seja, para a organização não-governamental, “a Haiyu (…) não seguiu o processo de diligência devida adequado em termos de direitos humanos para identificar, impedir, atenuar e, se necessário, reparar os impactos adversos das suas operações sobre os residentes”.

A AI considera também que o Governo moçambicano sabia que a Haiyu não tinha feito as avaliações de impactos ambientais nem, como é de lei, consultou os residentes em Nagonha para obter deles o “direito de uso e aproveitamento da terra” (DUAT), um direito que estes têm quando vivem num terreno por mais de dez anos.

“O Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) tinha conhecimento de que a Haiyu não tinha consultado e ouvido os residentes de Nagonha para obter a transferência do DUAT” e “sabia que a Haiyu não tinha realizado as auditorias de impacto ambiental”, adianta a AI.

Ainda assim, concluiu a AI, o governo permitiu que a Haiyu avançasse com a exploração mineira em Nagonha. “Apesar das provas sobre os impactos negativos das operações mineiras sobre as pessoas de Nagonha, o governo permitiu a continuação de práticas de exploração mineira prejudiciais, sem qualquer controlo. (…) As falhas do governo em fazer cumprir a legislação e regulamentos existentes constituem uma omissão evidente no seu dever de proteger os direitos humanos de interferências de actores não estatais”, aponta a ONG.

A Haiyu, que explora areias pesadas em duas concessões em Nampula (Nagonha e Sangage) desde 2011, das quais extrai minerais como a ilmenite, o titânio e o zircão, continua a negar qualquer responsabilidade.

“Em primeiro lugar, as chuvas foram intensas, muito violentas e de uma escala nunca vista durante 100 anos. Isto constitui força maior. Foi uma catástrofe natural, não foi provocada por actividade humana. Em segundo lugar, a extracção de areias pesadas envolve a separação por gravidade e os resíduos (na forma de areia branca, neste caso) são devolvidos ao seu ponto de origem, imediatamente após a separação. 99 por cento da areia permanece no seu ponto de origem e não é extraída. Isto contradiz a ideia de que houve uma alteração no canal para as águas subterrâneas, o que não é verdade”, argumentou a empresa numa mensagem à AI.

Após ouvir especialistas, a AI considerou que “a reivindicação de que as chuvas de Fevereiro de 2015 ‘foram de uma escala nunca vista durante 100 anos’ é falsa”. A Haiyu continua a despejar areias sobre as zonas húmidas até hoje.

29 Mar 2018

Cinema | João Botelho assume plágio de romance histórico no filme “A Peregrinação”

O cineasta João Botelho assumiu o plágio do livro “O Corsário dos Sete Mares – Fernão Mendes Pinto”, na escrita do argumento do filme “A Peregrinação”, rodado parcialmente em Macau. A autora da obra, Deana Barroqueiro, não esconde a revolta e denunciou o caso na sua página pessoal do Facebook

[dropcap]A[/dropcap]final, o cineasta português João Botelho não escreveu o argumento do seu filme “A Peregrinação” com base na obra original do escritor Fernão Mendes Pinto, mas sim a partir do romance histórico de Deana Barroqueiro, intitulado “O Corsário dos Sete Mares – Fernão Mendes Pinto”. O filme foi parcialmente filmado em Macau e ambos os autores estiveram presentes no território a convite do festival literário Rota das Letras.

Foi a própria autora que fez a denúncia do caso na sua página pessoal de Facebook, depois de ter recebido uma carta de João Botelho, também endereçada à sua editora, Casa das Letras/Leya.

Na missiva, o cineasta explicou que tentou, durante meses, contactar Deana Barroqueiro, mas que nunca conseguiu. “Sou o autor do filme “A Peregrinação” e durante meses, nesta ‘arte de vampiro’ que é afinal o cinema, li, consultei, adaptei e reescrevi cenas para a minha curta adaptação da vida e do livro de viagens de Fernão Mendes Pinto. Na verdade, o seu romance, o Corsário dos Sete Mares, foi forte inspiração para algumas cenas do filme, as da China”, pode ler-se.

Botelho adiantou ainda que pensou que a autora estaria nos Estados Unidos, pois tentou “contactar a editora e não conseguiu à primeira nem à segunda”. “É evidente que devia ter insistido três, quatro vezes. Mas meteu-se a produção – trabalhosa, longa e difícil. Tive o cuidado de colocar em primeiro lugar nos agradecimentos, no genérico final do filme, o seu nome. É pouco, eu sei. Eu e o produtor aceitamos a sugestão da sua editora para colocar uma cinta com os dizeres: ‘Inclui episódios adaptados do romance O Corsário dos Sete Mares’. Perdoe-me”, conclui a carta.

Na sua resposta, que também partilhou no Facebook, Deana Barroqueiro não escondeu a indignação. “A sua justificação de que não me conseguiu contactar nem à editora Leya é inverosímil, bastava que algum dos seus ajudantes pusesse o meu nome no Google e acharia diversos meios para o fazer – sou figura pública, tenho blogues, várias páginas no Facebook, e-mails e telefones e passo meses sem sair de casa, a escrever; do mesmo modo, a Leya não é uma editora de vão de escada, que não atende o telefone.”

Uma das mais conhecidas autoras de romance histórico em Portugal defendeu ainda, na sua resposta, que o cumprimento dos direitos de autor nem sempre é cumprido no seu país. “João Botelho, se eu vivesse na América, o senhor não se atreveria a usar a minha obra do modo como o fez, porque lá os direitos de autor são sagrados. Em Portugal, as leis existem, mas só são cumpridas por alguns.”

Deana Barroqueiro confessou ainda ter tido conhecimento da situação de plágio depois de ter sido avisada por leitores mais atentos. “Fui alertada por leitores que comentaram a ‘adaptação cinematográfica do Corsário dos Sete Mares’, convencidos de que o realizador usara o meu romance e que eu sabia. Perplexa, fui pesquisar na internet. O primeiro texto/entrevista que li foi o de Nuno Pacheco, no Ípsilon. E passei da admiração ao pasmo. O senhor fala das personagens que eu inventei no meu romance, como se fossem da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. E refere como fontes a obra do próprio aventureiro, as canções do Fausto e a adaptação do Aquilino, de onde tirou a conhecida e rebatida ideia do alter ego de Fernão, sem nunca mencionar o meu livro, que tantas personagens e ideias lhe deu.”

A autora viu o filme e gostou “bastante” dele, mas viu nele todo o romance que escreveu. “Fiquei com a sensação de que o senhor seguiu mais de perto o guião do meu romance (porque de um guião se trata) do que o da Peregrinação, que é confuso e de tal maneira intrincado, que me levou muitíssimo tempo a destrinçar.”

Cenas da China copiadas

Segundo as declarações do cineastas, as partes do romance histórico que mais usou no filme são as que dizem respeito à China. A respostas da escritora nessa matéria é peremptória. “Sabe bem que não foram apenas as cenas da China que adaptou do meu romance ou nas quais se inspirou, João Botelho. A japonesa Wakasa também não existe na Peregrinação, foi com muita pesquisa que encontrei a história e as crónicas japonesas, ficcionei o seu casamento com Fernão, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly.”

A autora dá ainda outros exemplos de plágio. “A ‘Senhora’ adúltera foi também uma ficção minha a partir de um crime do tempo, que encontrei num arquivo e numa genealogia. Até o ‘número mágico nove’, de que fala nas entrevistas, é o leit-motiv do meu livro. Assim, é de facto muitíssimo pouco o seu reconhecimento.”

Além disso, “não há nenhuma namorada ou amante de Pinto na sua obra, só existem no meu romance (exceptuando a rainha da Etiópia)”, sendo que “a violação da chinesa, por António de Faria, não existe de todo na Peregrinação”.

Deana Barroqueiro escreveu também que criou a personagem da amante chinesa, “assim como o nome Meng e os seus amores”. “Inventei-os a partir da menção feita por Pinto aos filhos do português Vasco Calvo – ‘dois meninos e duas moças’ -, no cap. 116 da sua Peregrinação. Ora, a cena que se vê no filme de ‘Meng’ com uma bacia de água perfumada de flores, a lavar as cicatrizes que Pinto tem nas costas, das chicotadas na prisão, é um dos episódios do meu romance que considero melhor conseguidos. A diferença é que João Botelho coloca a cena em Pequim e não na aldeia onde vão viver os portugueses junto à muralha da China, como condenados a trabalhos forçados”, escreveu ainda a autora, que deu outros exemplos.

O caso já gerou reacções nas redes sociais, nomeadamente do escritor Rui Zink, que também esteve no festival literário Rota das Letras. “Por que motivo os gajos que fazem filmes são amiúde tão desrespeitadores para com quem escreve os livros que, ora com autorização, ora surripiando, vampirizam?”, questionou.

“Curiosamente, no teatro acontece menos. Há um desejo de apropriação (já vi cartazes de peças sem nome do autor, e faz-me espécie a moda dos «a partir de», e uma cultura do DJ quase como quase verdadeiro compositor das musiquetas que ‘sampla’) mas é em menor grau. No caso do cinema, o abuso torna-se tão natural como, em tempos idos, o realizador casar com a estrela do filme. É chato”, escreveu ainda Zink.

O HM tentou chegar à fala com a autora, mas até ao fecho da edição não foi possível estabelecer contacto. Nos prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, o filme “Peregrinação” foi um dos nomeados em várias categorias, incluindo a de melhor argumento.

29 Mar 2018

Táxis eléctricos | Recebidas mais de mil propostas de exploração

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ecorreu ontem o acto público de abertura de propostas para o concurso público de exploração de 100 licenças de táxis eléctricos. De acordo com um comunicado, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) recebeu um total de 1024 propostas, com valores que variam entre as 810 e 988 mil patacas. Das 1024 propostas, houve 43 desistências e 13 não foram admitidas pelos responsáveis do concurso.

A DSAT recorda que, apesar das críticas do sector relativamente à adopção de veículos eléctricos para este tipo de transporte, a verdade é que os números não ficaram aquém dos que foram registados nos concursos públicos anteriores.

“O Governo lançou, no final de Fevereiro, o concurso público exigindo a utilização de veículos eléctricos de forma a corresponder ao desenvolvimento da protecção ambiental. Embora esta exigência tenha suscitado a apresentação de várias opiniões por parte do sector, foram recebidas 1.024 propostas pela Administração, valor superior às propostas recebidas nos concursos dos últimos três anos, atribuindo a este concurso público a maior percentagem de participação”, pode ler-se.

29 Mar 2018

DSAL | Governo acha que trabalhadores estão protegidos em caso de despedimento

Na resposta a uma interpelação do deputado Lei Chan U, o director da DSAL defendeu que a lei das relações do trabalho garante protecção pessoal, profissional e financeira suficiente para os trabalhadores. Wong Chi Hong entende que a legislação é eficaz mesmo em casos de despedimentos sem justa causa, e sem pré-aviso

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo considera que a actual legislação sobre as relações do trabalho é suficiente para proteger os trabalhadores, mesmo nos casos de despedimento sem justa causa. A posição assumida faz parte da resposta do director da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, Wong Chi Hong, perante uma interpelação escrita do deputado Lei Chan U.

“Nos casos em que o empregador não resolve o contrato com justa causa, a lei das relações de trabalho já garante ao trabalhador um certo período de tempo para encontrar um novo emprego após a cessação do contrato de trabalho e permitir que mantenha a sua sobrevivência por um período de tempo”, escreveu Wong Chi Hong.

Segundo o responsável da DSAL, o facto de um contrato terminar por iniciativa do patrão sem haver pré-aviso, obriga a que a entidade patronal tenha de pagar na mesma os dias estipulados no contrato de pré-aviso. Nos casos em que os contratos são omissos neste capítulo, os patrões para efectuarem a rescisão do vínculo laboral estão obrigados a pagar o equivalente a 15 dias de trabalho. Já se a rescisão partir do empregado, este fica obrigado a trabalhar sete dias.

Por outro lado, o director da DSAL recorda que a rescisão sem justa causa envolve igualmente o pagamento de uma indemnização ao trabalhador, que pode variar entre sete e 20 dias de trabalho por ano, dependendo da longevidade na empresa.

Jogo de equilíbrios

Na resposta ao deputado apoiado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Wong Chi Hong considera ainda que a actual lei das relações do trabalho está baseada num ponto de equilíbrio entre os interesses dos patrões e trabalhadores.

“O actual regime baseia-se nas duas principais orientações estabelecidas nos anteriores regimes jurídicos das relações de trabalho, nomeadamente a flexibilidade na cessação da relação de trabalho, contribuindo para garantir que o mercado de trabalho possa ser coordenado com o desenvolvimento económico, e o estabelecimento de um certo nível de garantia, permitindo que os trabalhadores tenham estabilidade pessoal, profissional e financeira”, defende.

O director da DSAL promete igualmente que o Governo estará atento a abusos e que irá fiscalizar frequentemente o mercado de trabalho.

29 Mar 2018

Plataforma | Mercado de rua em Macau destaca produtos lusófonos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro mercado de rua dedicado à promoção e distribuição de produtos lusófonos vai estar a funcionar em Macau até domingo, com 20 expositores de bebidas e alimentos locais e dos países de língua portuguesa.

“O certame irá permitir que mais residentes e turistas possam entrar em contacto com a cultura e os produtos típicos da RAEM e dos países de língua portuguesa”, de acordo com um comunicado do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), um dos organizadores do evento, divulgado na terça-feira.

Além dos produtos alimentares, o mercado oferece também oficinas de pintura de azulejos portugueses, demonstrações de culinária, concertos de cantores macaenses e dos países de língua portuguesa, assim como actuações de bandas e danças, entre outros.

O IPIM indicou esperar que os produtos dos países de língua portuguesa possam integrar-se nos bairros comunitários, “promovendo o fluxo de pessoas e consumo nos círculos comerciais na vizinhança”.

29 Mar 2018

Comércio externo de Macau sobe 26,8 por cento em Janeiro e Fevereiro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] comércio externo de mercadorias de Macau subiu 26,8 por cento nos primeiros dois meses do ano, em relação ao período homólogo anterior, para 16,9 mil milhões de patacas, foi ontem divulgado.

De acordo com a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), Macau exportou bens avaliados em 1,94 mil milhões de patacas, mais 3,4 por cento do que em Janeiro e Fevereiro de 2017. O défice da balança comercial dos dois primeiros meses de 2018 fixou-se nos 13 mil milhões de patacas, já que o valor das importações alcançou os 15 mil milhões de patacas, mais 30,6 por cento em termos anuais.

Segundo a DSEC, as exportações para a China continental atingiram, no período em análise, 323 milhões de patacas, mais 38,4 por cento em termos anuais. O valor das exportações para as nove províncias do Delta do Rio das Pérolas, vizinhas de Macau, no sul do país, representaram 97,8 por cento da totalidade das exportações para a China continental. Já as vendas para os Estados Unidos e a União Europeia caíram 39,4 por cento e 33,2 por cento, respectivamente, em termos anuais. As exportações para Hong Kong registaram uma descida de 2 por cento.

29 Mar 2018

Telecomunicações | Lucros da CTM com quebra de 18,5 por cento

A Companhia de Telecomunicações de Macau registou, no ano passado, lucros na ordem dos 881 milhões de patacas. Os resultados foram justificados com a redução dos preços praticados junto dos clientes finais

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s lucros da CTM sofreram uma quebra de 18,5 por cento para os 881 milhões de patacas em 2017, quando em 2016 tinham sido de 1.081 milhões. Os resultados foram anunciados ontem pela empresa, que justificou a redução com a implementação de preços mais baratos.

Para este ano, a CTM admite voltar a reduzir os preços para os consumidores, mas Vandy Poon, CEO da empresa, considera que os montantes praticados já são “razoáveis”.

“A redução dos preços vai criar um impacto negativo para os nossos resultados. Mas, por outro lado, vai tornar o nosso serviço mais popular. Ouvimos os residentes de Macau e os nosso clientes e estamos a baixar os preços de forma razoável”, afirmou Vandy Poon.

“Porém, para podermos desenvolver as infra-estruturas e melhorar os nossos serviços temos que investir; para isso precisamos de bons resultados. Também temos de ver que somos uma empresa e temos de pensar nos lucros”, acrescentou.

Apesar das quebras, o CEO da empresa disse que os accionistas mostraram-se “contentes” com os resultados. Ainda sobre os preços praticados pela empresa, Vandy Poon considerou que são “competitivos e o resultado do funcionamento de um mercado com concorrência perfeita”.

Em relação a 2018, a empresa anunciou ainda uma redução de sete por cento nos circuitos alugados às outras companhias de telecomunicações locais. Com esta alteração, a empresa espera que os lucros, em relação a este aspecto, possam sofrer uma quebra extra de 7,7 milhões de patacas. No entanto, Vandy Poon acredita que a empresa vai conseguir compensar a quebra em outras áreas. “Esperamos que com a economia local a melhorar possamos recuperar ao longo deste ano e apresentar uma ligeira melhoria nos resultados”, frisou.

De acordo com os dados de Vandy Poon, a CTM tem neste momento uma quota de mercado de 44 por cento, ao nível dos serviços de telemóveis. Já no mercado da rede fixa, em que apenas tem como competidora a Mtel, alcança uma quota acima dos 90 por cento.

Alerta para fraudes

Os responsáveis da empresa abordaram também as recentes burlas telefónicas, com as chamadas originadas em países como a Papua Nova Guiné. Em relação a este aspecto, Vandy Poon apelou às pessoas que utilizem o bom-senso e não façam transferências de dinheiro.

“O número de queixas e pedidos de informação que recebemos tem aumentado nos últimos dias. É um caso que surgiu recentemente, apenas no fim-de-semana. Mas vamos trabalhar de forma árdua para lidar com estes casos”, vincou Poon. “Pedimos às pessoas que não enviem qualquer dinheiro na sequência das chamadas. Usem o senso-comum e tentem informar-se sobre o que está a acontecer”, frisou.

Ainda ao longo deste ano, a CTM espera começar os trabalhos para instalar as infra-estruturas necessárias para assegurar a cobertura de rede na Zona A. O objectivo passa por garantir que as infra-estruturas estão prontas ainda antes das pessoas começarem a habitar a área.

Já em relação à nova lei da cibersegurança, Vandy Poon disse que a empresa apoia a iniciativa do Governo e que o diploma pode aumentar a segurança das pessoas que utilizam o ciberespaço.

29 Mar 2018

Macau Legend | Prejuízos quase duplicaram em 2017

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Macau Legend obteve prejuízos de 507,3 milhões de dólares de Hong Kong, quase o dobro do registado no ano passado (277,5 milhões). Em comunicado, divulgado na noite de terça-feira, o grupo justificou parte das perdas ao impacto do tufão Hato.

O ano de 2017 “foi excepcionalmente afectado por três factores negativos independentes que convergiram ao mesmo tempo. Em primeiro lugar, houve um aumento nos custos operacionais e depreciação devido à abertura do Legend Palace [em Fevereiro].

Em segundo, foram registados danos a propriedades e equipamentos e perda de receita como resultado do tufão Hato [em Agosto]. Finalmente, houve um aumento dos custos financeiros relacionados com grupo”, afirmou o co-presidente e director-executivo da Macau Legend, David Chow, num comunicado separado citado pelo portal especializado GGRAsia.

A Macau Legend arrecadou receitas no valor de 1,84 mil milhões de dólares de Hong Kong, mais 24,8 por cento do que em 2016, com as provenientes do sector do jogo a representarem dois terços do total.

Sob a bandeira da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), a Macau Legend opera três casinos no território que, a 31 de Dezembro, contavam com um total de 194 mesas de jogo, das quais 165 operacionais. Os resultados incluem ainda um ano completo de gestão e operação do casino no Laos, iniciada em Setembro de 2016. O Savan Legend, que tinha em funcionamento 59 mesas no final do ano passado, gerou receitas de jogo na ordem dos 246,4 milhões de dólares de Hong Kong.

29 Mar 2018

Burlas telefónicas | Operadoras não detectaram roubo de dados pessoais

A Polícia Judiciária não recebeu quaisquer queixas sobre possíveis roubos de contactos de telemóvel das operadoras de telecomunicações, no âmbito dos casos mais recentes de burlas telefónicas. Sit Chong Meng, director da PJ, frisou que os burlões utilizam um programa que permite fazer combinações de números de telemóvel

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uitos cidadãos de Macau têm recebido nos últimos dias chamadas telefónicas de números oriundos da Papua Nova Guiné que, caso sejam retornadas, podem acarretar prejuízo financeiro. Trata-se, portanto, da nova burla que anda a fazer os telefones de Macau tocar.

Ontem, à margem de um encontro com alunos da Universidade de Macau (UM), o director da Polícia Judiciária (PJ), Sit Chong Meng, garantiu que nenhuma operadora de telecomunicações do território detectou o roubo de dados pessoais dos clientes.

“Durante a nossa investigação percebemos que os burlões recorreram aos números iniciais de cada contacto, como o 668, e têm um programa para fazer uma combinação dos números de telemóvel. Estamos em contacto com empresas de telecomunicações. Estas empresas não fizeram nenhuma queixa”, adiantou aos jornalistas.

Sit Chong Meng frisou também que a população local tem enviado algumas pistas que acabaram por ajudar nas investigações. “Recebemos algumas informações, apenas de consulta, através da linha aberta, em que nos foram fornecidas algumas pistas para investigação. Temos um sistema de colaboração com as autoridades da China e a Interpol.”

Dados mais recentes revelam que, entre o primeiro dia do ano e o passado domingo, ocorreram 452 casos de burlas telefónicas, sendo que 31 delas deram prejuízo para aqueles que retornaram as chamadas. Houve ainda cinco casos de um tipo de burla intitulado “Quem sou eu?” e outros 23 casos em que os burlões se fizeram passar por funcionários de órgãos judiciais da China para extorquirem dinheiro. Houve ainda dois casos em que os burlões fingiram ser funcionários do departamento de migração e dos Serviços de Alfândega.

Desde Julho do ano passado, a PJ já deteve duas pessoas, sendo que houve um total de 34 envolvidas, sem que tenha existido qualquer detenção.

De frisar que esta segunda-feira foi detido um cidadão de Taiwan suspeito de fazer parte de um grupo de burlões que operava em Macau. O canal chinês da Rádio Macau noticiou que o suspeito tem 38 anos e terá sido responsável por 16 casos de fraude, que geraram prejuízos na ordem de um milhão de patacas. O suspeito foi detido no aeroporto e terá cometido os actos entre Julho e Agosto do ano passado.

Aperto aos ilegais

Sit Chong Meng comentou também os casos mais recentes de pessoas que passam a fronteira para Macau de forma ilegal, tendo garantido que, actualmente, uma passagem custa cerca de 20 mil renmimbi. Ainda assim, o director da PJ garantiu que a segurança neste âmbito foi reforçada.

“Temos um mecanismo de combate à emigração ilegal, com polícias das três regiões, mas os Serviços de Alfândega são os responsáveis pela intercepção dos emigrantes ilegais, tal como a PSP. A PJ depois ajuda na investigação. Depois de terem sido descobertos estes casos é mais difícil passar a fronteira de forma ilegal”, concluiu.

29 Mar 2018

Zheng Xiaosong pede diplomas complementares ao artigo 23.º da Lei Básica

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] director do Gabinete de Ligação, Zheng Xiaosong, defendeu melhorias ao ordenamento jurídico de Macau, nomeadamente através da elaboração de leis complementares ao artigo 23.º da Lei Básica, de acordo com as necessidade reais do território. A ideia foi transmitida num encontro com o Chefe do Executivo e com deputados à Assembleia Legislativa (AL), noticiou o jornal Ou Mun.

Esta posição parece ir ao encontro da manifestada recentemente num texto publicado no portal do gabinete do Secretário para a Segurança, que defende a revisão da Lei relativa à defesa da Segurança do Estado. Isto apesar de Wong Sio Chak ter referido não haver, de momento, “quaisquer orientações ou projectos concretos” para o diploma.

Destacando que 2018 é o ano que dá início à implementação plena do espírito do 19.º Congresso do Partido Comunista da China, Zheng Xiaosong afirmou que o órgão legislativo tem grande responsabilidade em fomentar a implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas”, defendendo ser necessário governar de acordo com a Constituição da China e a Lei Básica.

Também se mostrou esperançado que os deputados desempenhem um papel de liderança a espalhar o amor por Macau e pela pátria, tendo salientado que, em nenhum momento, se permite que a segurança da soberania nacional seja prejudicada, ou que os poderes do Governo Central sejam desafiados.

O director do Gabinete de Ligação sublinhou ainda que Macau é parte importante do desenvolvimento nacional. Zheng Xiaosong destacou ainda o papel de liderança desempenhado pelo Chefe do Executivo aquando da passagem do tufão Hato, no crescimento económico do território, as melhorias para a vida da população e a harmonia social.

Por seu lado, o presidente da AL apelou aos deputados que estudem a Constituição da China com atenção, afirmando que espera unir os legisladores, sob o apoio do Gabinete de Ligação, numa visita a cidades da zona da Grande Baía para fazer preparação de trabalhos legislativos.

29 Mar 2018

Pensão do antigo director dos SMG fixada em quase 80 mil patacas por mês

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] antigo director dos Serviços de Meteorologia (SMG), Fong Soi Kun, com 35 anos de serviço, vai receber uma pensão mensal correspondente ao índice 865 da tabela em vigor, ou seja, 73.525 patacas, acrescida do montante relativo a sete prémios de antiguidade (5.950 patacas). O valor da pensão por aposentação voluntária foi publicado ontem em Boletim Oficial.

O antigo director dos SMG anunciou a sua demissão um dia depois da passagem do Hato, o pior tufão a atingir Macau em mais de século, que fez dez mortos e mais de 200 feridos em 23 de Agosto do ano passado.

Em Novembro, o Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, instaurou um processo disciplinar contra o ex-director na sequência de uma investigação interna, realizada pela Comissão de Inquérito sobre a Catástrofe do tufão Hato.

Isto sensivelmente um mês depois de o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, ter tomado a mesma decisão, na sequência de um relatório arrasador do Comissariado Contra a Corrupção. Com efeito, Fong Soi Kun responde apenas num único processo disciplinar.

29 Mar 2018

PCC | Si Ka Lon e Chan Kam Meng destacam papel de Macau

[dropcap]S[/dropcap]i Ka Lon, delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional (APN), e Chan Kam Meng, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), estiveram ontem presentes no programa “Fórum Macau”, do canal chinês da Rádio Macau, onde defenderam os contributos dos residentes de Macau nos órgãos políticos da China.

Si Ka Lon, também deputado à Assembleia Legislativa, lembrou que Macau tem vindo a dar o seu contributo ao formar jovens da China nas suas universidades, tendo defendido que, com o projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, haverá um maior fluxo de pessoas a trabalhar e viajar nestas regiões.

Por sua vez, Chan Kam Meng destacou o trabalho dos residentes de Macau e Hong Kong na tentativa de redução da pobreza que ainda existe no Interior da China. Si Ka Lon explicou ainda que a maioria dos delegados à APN recolhem opiniões junto da sociedade para as mostrar em Pequim, e que reflectem as verdadeiras necessidades da população local. Já Chan Kam Meng frisou que tem tido contactos com residentes das classes sociais mais baixas, sendo a APN e CCPPC importantes canais de diálogo, que funcionam sem grandes obstáculos.

29 Mar 2018

Terrenos | Ung Choi Kun acha que o Governo receia impacto no mercado imobiliário

O ex-deputado à Assembleia Legislativa Ung Choi Kun publicou um texto no Jornal do Cidadão onde defende que o Governo pode estar a atrasar a declaração de caducidade de terrenos por temer o impacto no mercado imobiliário. Há 17 terrenos cuja concessão já chegou ao fim sem que o Executivo tenha agido em conformidade

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi número dois de Chan Meng Kam no hemiciclo até 2013 e uma das vozes defensoras da revisão da Lei de Terras em vigor. Ung Choi Kun, ex-deputado à Assembleia Legislativa (AL), publicou ontem um texto no Jornal do Cidadão onde defende que o Governo de Macau deve fazer a gestão dos terrenos tendo como exemplo as leis e métodos de gestão do continente.

Referindo-se aos elevados preços do mercado imobiliário, Ung Choi Kun sugeriu que as autoridades locais tenham como referência os regulamentos implementados na China.

Na visão do ex-deputado, e presidente da Associação dos Empresários do Sector Imobiliário de Macau, há vozes que defendem que o Governo tem vindo a atrasar a declaração de caducidade de muitos dos terrenos cuja concessão chegou ao fim para evitar possíveis consequências negativas para o mercado.

Neste sentido, Ung Choi Kun acredita que o Governo pode aprender com as medidas implementadas na China, que defende serem apropriadas para garantir uma oferta adequada de habitação e evitar possíveis estímulos negativos para o sector imobiliário com a abertura de novos concursos públicos.

Ung Choi Kun entende também ser fundamental analisar o panorama do sector e as razões por detrás dos elevados preços das casas. O ex-deputado lembrou que o território tem estabilidade política, uma sociedade que se tem vindo a desenvolver nos últimos anos, uma crescente população e o aumento do investimento.

Ainda assim, Ung Choi Kun acredita que os elevados preços das habitações se devem à tensão existente entre a pouca oferta e a elevada procura. O ex-deputado defende, por isso, que o Governo deve implementar políticas para o sector imobiliário e garantir que todas as informações são transparentes.

Responsabilidade partilhada

Actualmente, o Governo tem vários processos a decorrer em tribunal relativos a terrenos cuja concessão foi declarada nula. Ung Choi Kun teme que o surgimento de mais processos instaurados pelas concessionárias no futuro possa atrasar o desenvolvimento dos terrenos, quando estes passarem para hasta pública.

O antigo deputado lembrou que Macau e o continente têm regimes jurídicos diferentes. No entanto, destacou o facto da legislação chinesa pressupor a responsabilidade do Governo pelo não desenvolvimento dos terrenos, e não apenas da concessionária. Na sua visão, tal garante uma maior justiça e eficiência na gestão dos terrenos.

O atraso na declaração de caducidade de mais de uma dezena de terrenos já foi tema de debate na AL, tendo muitos deputados questionado as razões para o Governo não ter ainda publicado os despachos em Boletim Oficial que estabelecem a caducidade das concessões. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, já garantiu que a sua equipa está a analisar estas situações caso a caso de acordo com o calendário previsto.

29 Mar 2018

Diplomacia | Líderes da Coreia do Norte e da China reuniram-se na capital chinesa

Nem a China quer ser deixada de fora, nem a Coreia do Norte pretende transmitir essa mensagem numa altura em que faz uma aproximação a Washington e Seul, defendem analistas. A visita surpresa de Kim Jong-un a Pequim serve também para Pyongyang mostrar aos Estados Unidos e à Coreia do Sul que tem outras opções no caso do diálogo fracassar

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s rumores espalharam-se como um fogo florestal, mas só ontem chegou a confirmação oficial: os líderes da Coreia do Norte e de Pequim estiveram reunidos. Foi a primeira viagem de Kim Jong-un ao estrangeiro e o primeiro encontro que manteve com outro chefe de Estado desde que chegou ao poder em Dezembro de 2011.

Tudo começou quando duas emissoras japonesas deram conta da chegada (imprevista) de um comboio blindado com origem da Coreia do Norte, acompanhada por um invulgar reforço da segurança em torno da residência de hóspedes de Diaoyutai, e limitações no acesso à Praça de Tiananmen, um protocolo habitual quando ocorrem visitas de líderes estrangeiros ao Grande Palácio do Povo.

Tanto a China como a Coreia do Norte confirmaram finalmente a visita que Kim Jong-un realizou, de acordo com o China Daily entre domingo e quarta-feira. Durante a histórica estadia em Pequim, o líder norte-coreano transmitiu ao Presidente chinês, Xi Jinping, o seu compromisso para com a desnuclearização da península coreana.

Segundo a agência oficial chinesa Xinhua, Kim revelou a Xi que a situação “estava a começar a melhorar”, afirmando estar “comprometido com a desnuclearização na península. Neste âmbito, o jovem líder, de 34 anos, afirmou que a desnuclearização pode ser alcançada.

“Se a Coreia do Sul e os Estados Unidos responderem com boa vontade aos nossos esforços, criarem uma atmosfera de paz e estabilidade e tomarem medidas faseadas e sincronizadas para alcançar a paz, a questão da desnuclearização da península pode ser resolvida”, declarou Kim Jong-un.

“Tive discussões frutuosas com Xi Jinping sobre o desenvolvimento das relações entre os dois partidos e os dois países, as nossas situações internas respectivas, a manutenção da paz e a estabilidade na península coreana, entre outras questões”, acrescentou.

“Este ano têm havido mudanças promissoras na situação da península coreana e expressámos o nosso apreço pelos grandes esforços que a Coreia do Norte tem feito a este nível”, afirmou Xi Jinping, também citado pela Xinhua.

Depois de anos de provocações, que ganharam forma em inúmeros testes nucleares e de mísseis, que lhe valeram sucessivas sanções impostas pela ONU, Pyongyang tem feito um esforço diplomático inesperado recentemente.

O primeiro passo visível foi dado quando Kim Yo-jong, irmã de Kim Jong-un, liderou, no mês passado, uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang que levou a conversações directas com a Coreia do Sul. Tanto que Kim deve encontrar-se com o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em Abril, assim como participar numa cimeira com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, possivelmente em Maio. Um compromisso que deve manter-se de pé, a avaliar pelas palavras de Kim Jong-un em Pequim que terá manifestado vontade de “ter um diálogo” com Washington.

Não tirar o tapete

Esta visita parece sugerir que Kim valoriza ou precisa do aval de Pequim ou, eventualmente, do seu aconselhamento, escreveu o New York Times. Enquanto faz uma aproximação aos Estados Unidos e à Coreia do Sul, Pyongyang não quer, porém, transmitir a mensagem de que a China foi posta de lado, defendem analistas.

“Perante um potencial momento histórico, antes do início de uma peça dramática na península coreana, a China estava a perder o centro das atenções”, afirmou Cheng Xiaohe, especialista em assuntos da Coreia do Norte, na Universidade Renmin, em Pequim. “É extremamente difícil para os Estados Unidos fazer um roteiro para um processo de desnuclearização viável que vá ao encontro das condições prévias da Coreia do Norte sem o apoio ou envolvimento da China”, afirmou, citado pela agência Reuters.

“A China quer mostrar que não pode ser deixada de parte”, frisou.
Em paralelo, ao reforçar os laços com Pequim, a Coreia do Norte envia também uma sinal a Washington e a Seul de que tem outras opções caso o diálogo fracasse. Afinal, não obstante o recente distanciamento, Pequim é o mais importante aliado de Pyongyang. Para além da afinidade ideológica, a China combateu ao lado da Coreia do Norte na Guerra da Coreia (1950-53).

“O Norte obviamente acredita que manter a sua tradicional relação com a China permite-lhe ter maior influência sobre os Estados Unidos”, afirmou Koh Yu-hwan, especialista em assuntos da Coreia do Norte, da Universidade sul-coreana de Dongguk, citado pela agência Associated Press. “Mesmo que o diálogo com Seul e Washington corra bem à Coreia do Norte, o país continuará a precisar da ajuda da China. E caso não funcione, a Coreia do Norte definitivamente precisará do apoio da China”, acrescentou.

A visita de Kim ocorre também numa altura em que a economia norte-coreana é fortemente atingida pelas sanções impostas pelas Nações Unidas devido ao programa nuclear e de mísseis balísticos. As provocações do regime levaram Pequim a afastar-se e a aprovar as sanções no Conselho de Segurança da ONU, onde tem poder de veto. Cerca de 90 por cento do comércio externo da Coreia do Norte é feito com a China, sendo que, recentemente, Pequim restringiu o fornecimento de petróleo, levando o regime a procurar agora uma solução diplomática.

Se, por um lado, a China não pretende ter uma ameaça nuclear junto às suas fronteiras, por outro, não deseja também o colapso de um regime que serve como tampão entre a fronteira chinesa e a Coreia do Sul, país aliado dos Estados Unidos.

Com efeito, caso o diálogo com a Coreia do Sul e os Estados Unidos fracasse, Pyongyang poderá voltar a exibir as suas capacidades nucleares. Nesse caso, defende Du Hyeogn Cha, investigador do Instituto de Estudos Políticos de Asan, em Seul, a Coreia do Norte procurará que a China não se comprometa a reforçar ainda mais as sanções.

Qualificada de “não oficial” pela China, apesar de terem sido publicadas fotografias dos dois líderes, a histórica deslocação à capital chinesa apenas foi confirmada por Pequim e Pyongyang depois de Kim Jong-un ter regressado ao hermético país. A acompanhar o líder norte-coreano esteve a sua mulher, Ri Sol-ju, e vários altos quadros de Pyongyang, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong Ho, e altos funcionários do Partido dos Trabalhadores.

Descrevendo a visita como um “dever solene”, num banquete oferecido pelas autoridades chinesas, Kim Jong-un afirmou que não poderia ter escolhido outro destino. “É apropriado que a minha primeira visita ao estrangeiro seja à capital da República Popular da China, como é também um dos meus deveres valorizar a amizade entre a China e a Coreia do Norte, da mesma forma que valorizo a minha própria vida”, afirmou, de acordo com a KCNA.

A agência de notícias oficial norte-coreana também destacou a “profunda” troca de opiniões sobre as relações bilaterais e a segurança na península coreana entre os dois líderes. Contudo, de acordo com o Guardian, não fez qualquer referência à promessa de desnuclearização feita por Kim Jong-un.

Washington e Tóquio pedem explicações

Horas depois de confirmada a realização da cimeira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu, afirmando estar ansioso por reunir-se com o líder norte-coreano. “Durante anos e através de diversas administrações toda a gente dizia que a paz e a desnuclearização da península coreana não eram sequer uma pequena possibilidade. Agora, há uma boa oportunidade de Kim Jong-un fazer o que é certo pelo seu povo e pela Humanidade”.

Quem não gostou particularmente da visita surpresa foi Tóquio que pediu, entretanto, satisfações a Pequim. “Queremos receber uma explicação completa por parte da China”, afirmou ontem o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, durante um discurso no Parlamento, indicando que Tóquio “está a recolher e a analisar as informações desta visita secreta com grande interesse”.

Apesar de valorizar a “disposição para o diálogo da Coreia do Norte”, Abe reiterou que Pyongyang “deve abandonar seus programas nucleares e de mísseis de forma completa e irreversível”. Forte defensor da política de “pressão máxima” sobre Pyongyang, em linha com Washington, o primeiro-ministro japonês tem mostrado cepticismo quanto à disposição do regime norte-coreano para dialogar.

29 Mar 2018

Crime | Burlas telefónicas em Macau resultam em prejuízos de 418 mil patacas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma vaga de burlas telefónicas em Macau resultou em prejuízos equivalentes a 418 mil patacas em menos de três meses, disse à Lusa a Polícia Judiciária (PJ). Desde o início do ano, foram já registados 452 casos de burla telefónica de acordo com dados da PJ, Polícia de Segurança Pública (PSP) e Serviços de Alfândega (SA).

Entre Julho e Agosto de 2017, os alvos de burlas telefónicas foram, sobretudo, estudantes universitários e os prejuízos, registados em menos de um mês, rondaram as 13 milhões de patacas. Entre Setembro e Dezembro, os dados das autoridades apontavam para 1.596 casos e prejuízos superiores a 310 mil patacas.

O esquema dos burlões é fazerem-se passar por funcionários públicos ou de órgãos jurídicos da China continental. A PJ indicou, na segunda-feira, ter detido um cidadão de Taiwan, apontado pelas autoridades como um dos principais membros de um grupo de burlas activo em Macau no verão passado.

28 Mar 2018

Metro ligeiro | DSAL vai aprovar contratação de trabalhadores não residentes com base nas necessidades

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) afirmou, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, que, no âmbito da construção e funcionamento do metro ligeiro, vai aprovar pedidos de contratação de trabalhadores não residentes para preencher a falta do pessoal técnico-profissional consoante a situação real.

No entanto, a DSAL garantiu que, se houver residentes que correspondem às condições para as vagas, os trabalhadores não residentes serão progressivamente substituídos, a fim de garantir que os locais têm prioridade no emprego e oportunidades de ascensão profissional.

A DSAL indicou que se encontra em articulação com o plano do Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) no âmbito da formação de trabalhadores para o funcionamento do metro ligeiro, adiantando que serão organizados cursos e oferecidas informações actualizadas sobre o mercado de emprego.

28 Mar 2018