Pedida libertação imediata da directora financeira da Huawei

A filha do fundador da Huawei Technologies foi detida no sábado em Vancouver, a pedido das autoridades norte-americanas, por alegadamente ter violado as sanções impostas contra o Irão. A também vice-presidente da administração da empresa enfrenta uma possível extradição para os Estados Unidos. Representantes chineses protestam contra a detenção de Wanzhou Meng e exigem a sua libertação imediata

 

[dropcap]A[/dropcap]Embaixada da China no Canadá divulgou ontem um comunicado no qual pede a libertação imediata da directora financeira da empresa Huawei Technologies que foi detida em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos.

Wanzhou Meng, de 46 anos, é filha do fundador da Huawei. A mulher foi detida no sábado depois de Washington ter pedido a sua extradição por supostamente ter violado as sanções impostas pelas autoridades norte-americanas contra o Irão.

Os representantes chineses protestaram contra as autoridades norte-americanas e canadianas e exigiram que estas corrigissem o erro imediatamente e devolvessem a liberdade a Wanzhou Meng.

“Acompanharemos de perto o desenvolvimento desta questão e tomaremos medidas para proteger resolutamente os legítimos direitos e interesses dos cidadãos chineses”, pode ler-se no comunicado.

Na declaração também se refere que a China “se opõe com firmeza e protesta com energia” à detenção “que prejudicou gravemente os direitos humanos da vítima”.

As autoridades canadianas anunciaram na quarta-feira que detiveram a directora financeira da chinesa Huawei Technologies, que agora enfrenta uma possível extradição para os Estados Unidos.

O porta-voz do Departamento de Justiça, Ian McLeod, disse que Meng Wanzhou foi detida em Vancouver, na Columbia Britânica, no sábado. McLeod afirmou que havia uma interdição de divulgar informação, pelo que não podia avançar mais detalhes. A interdição foi solicitada por Meng, que tem uma audiência esta sexta-feira.

O The Wall Street Journal tinha informado no início deste ano que as autoridades dos EUA estavam a investigar se a Huawei tinha violado sanções dirigidas ao Irão. Meng é também vice-presidente da administração e filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei.

7 Dez 2018

Crime | Três indivíduos detidos por violação

[dropcap]F[/dropcap]oram detidos três indivíduos pela Polícia Judiciária (PJ) e levados ao Ministério Público (MP) pelos crimes de coacção sexual e ameaça na sequência da queixa de uma mulher alegando que tinha sido violada num hotel do Cotai.

De acordo com o Jornal Ou Mun, uma professora do continente, com mais de vinte anos de idade, veio de visita ao território e entrou em contacto com um homem de 37 anos que já conhecia. Este homem reservou um quarto de hotel e deu à vítima 10 mil dólares de Hong Kong e vales de compras no valor de 12 mil, tendo-lhe pedido para o acompanhar.

Chegados ao hotel, a mulher terá sido violada. Para escapar à situação, a vítima pediu ajuda quando conseguiu sair do quarto a pretexto de ir à casa de banho. Além do homem em causa, estão ainda envolvidos neste crime mais dois indivíduos por cumplicidade.

7 Dez 2018

Pearl Horizon | Lesados pedem nova investigação do CCAC

Os lesados do caso Pearl Horizon entregam na próxima terça-feira uma carta junto do Comissariado contra a Corrupção a exigir uma investigação ao processo relativo à concessão do terreno. Kou Meng Pok acredita que uma decisão a seu favor pode levar a uma conclusão das obras

 

[dropcap]O[/dropcap]s promitentes compradores do empreendimento habitacional Pearl Horizon decidiram apanhar boleia da decisão do Chefe do Executivo e também decidiram pedir ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC) uma investigação ao terreno que foi concessionado à Polytex e que passou para as mãos da Administração.

Kou Meng Pok, presidente da União Geral dos Proprietários do Pearl Horizon, disse ao HM que vai ser entregue uma carta junto do CCAC na próxima terça-feira com esse pedido.

De frisar que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, anunciou nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2019 que o CCAC iria investigar a aplicação da lei de terras relativa a todos os terrenos já revertidos para a Administração por falta de aproveitamento, onde se inclui o terreno onde iria nascer o Pearl Horizon.

Kou Meng Pok espera, por isso, que o organismo liderado por André Cheong apure os factos e aponte responsabilidades pela não conclusão do projecto.

“Somos inocentes e esperamos que o CCAC faça uma investigação, para que haja justiça e se apurem os factos.”
O porta-voz dos lesados defende que a investigação do CCAC a favor da Polytex pode anular a decisão do Tribunal de Última Instância (TUI), que deu razão ao Governo na declaração de caducidade do terreno, e, como consequência, levar à conclusão do edifício habitacional.

“No contexto de uma política de círculo restrito, tudo pode acontecer se o Chefe do Executivo assim o entender”, acrescentou.

Kou Meng Pok salientou que os lesados pagaram os impostos e adoptaram todos os passos nos termos da lei, mas ficaram sem a casa adquirida em regime de pré-venda. Como tal, considera que os promitentes compradores foram privados de direitos merecidos.

Pequim, ajuda-me

Kou Meng Pok apresentou ontem uma missiva junto do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, com o objectivo de pedir um encontro, a fim de comunicar a situação em que se encontram os lesados.

O presidente confessou ao HM que nunca recebeu qualquer resposta do Gabinete de Ligação, apesar das várias solicitações feitas. Nesta carta, Kou Meng Pok pediu também a demissão da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, e de Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas.

Para o porta-voz, os dois dirigentes precisam de assumir as suas responsabilidades no caso, por terem deixado os lesados a sofrer durante três anos sem uma resolução.

7 Dez 2018

Organização judiciária | Governo argumenta com convenção que não se aplica em Macau

Para justificar a ausência de recurso para o Chefe do Executivo na nova lei de bases da organização judiciária, o Governo recorreu a uma convenção europeia que não se aplica a Macau. O deputado Vong Hin Fai desvalorizou e diz que se trata apenas de uma referência de direito comparado

 

[dropcap]A[/dropcap]equipa da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, recorreu a uma convenção europeia dos direitos do Homem que não se aplica no território para justificar o facto do titular do cargo de Chefe do Executivo continuar a não ter direito a recurso judicial na revisão da lei de bases da organização judiciária.

Na última reunião da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que analisa a proposta de lei, o presidente da mesma, Vong Hin Fai, falou do Protocolo nº7 da Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e Liberdades Fundamentais, que foi adoptado em 1984.

“Este direito [de recurso] pode ser objecto de excepções em relação a infracções menores, definidas nos termos da lei, ou quando o interessado tenha sido julgado em primeira instância pela mais alta jurisdição”, pode ler-se no artigo citado pelo Governo.

Ao HM, Vong Hin Fai, deputado e também advogado, disse concordar com esta opção, apesar da convenção não se aplicar a Macau. “A meu ver, em termos de direito comparado, o proponente [Governo] chamou a atenção à comissão sobre a existência deste regime, onde o direito de recurso é limitado, tendo em conta este documento internacional.”

“Houve essa referência. É apenas uma fonte de inspiração por parte do proponente [Governo]”, acrescentou Vong Hin Fai, que deu o exemplo das referências relativas ao Direito português feitas pelos juízes locais. “A jurisprudência em Portugal também é citada pelos juízes em Macau. É apenas uma referência tendo em conta o direito comparado.”

A convenção em causa foi implementada, em 1950 pelo Conselho da Europa, no seguimento do estabelecimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948. Importa referir que a China nunca ratificou esta convenção.

Um outro documento internacional, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, implementado em 1966 e que vigora na RAEM, determina que todos os cidadãos de um território têm direito a recurso judicial, sem excepção. “Toda a pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a uma instância superior, em conformidade com a lei”, lê-se no documento.

TSI ou TJB?

A questão do recurso relativamente aos co-arguidos em processos conjuntos com titulares dos principais cargos ainda não está concluída. Vong Hin Fai referiu ontem que está por decidir qual o tribunal que irá julgar os co-arguidos envolvidos em processos que incluam o Chefe do Executivo e secretários.

“Como é que estes co-arguidos vão ser julgados na primeira instância? No Tribunal de Segunda Instância (TSI) ou no Tribunal Judicial de Base (TJB)? Alertamos o Governo para acautelar esta situação”, disse o deputado.
Caso a proposta do Governo venha a definir que os co-arguidos venham a ser julgados no TSI, tal como os secretários, surge uma situação de desigualdade, uma vez que só poderão recorrer para o Tribunal de Última Instância (TUI).

Pelo contrário, os co-arguidos de processos conjuntos com o Chefe do Executivo são julgados no TJB, tendo duas possibilidades de recurso.

Questionado sobre este ponto, Vong Hin Fai assegurou que não há problema. “Concordamos com o princípio de que os titulares dos principais cargos e os cidadãos comuns devem ser julgados no mesmo processo. Assim evitamos problemas com a prescrição e com todas as formalidades. A comissão concorda que deve haver, pelo menos, uma possibilidade de recurso.”

Contudo, o deputado não afastou a hipótese do Governo vir a decidir que os co-arguidos de processos conjuntos com secretários possam ser julgados no TJB. “Não podemos afastar essa possibilidade no futuro, teremos de ver”, concluiu.

7 Dez 2018

Diplomacia | Augusto Santos Silva explica gafe em entrevista

[dropcap]A[/dropcap]pesar de ter dito República da China, designação utilizada para Taiwan, Augusto Santos Silva defende que se estava a referir à República Popular da China. Segundo uma entrevista concedida à TDM, no domingo à noite, Augusto Santos Silva afirmou o seguinte: “Será uma visita com muitos resultados substantivos.

Nós teremos uma declaração conjunta, assinaremos vários memorandos de entendimento e de acordo com a República da China em vários domínios, que vão do domínio científico ao económico”. Em resposta ao HM, a tutela respondeu que o ministro se estava a referir à China. “É evidente que o Ministro dos Negócios Estrangeiros se estava a referir à China, isto é, à República Popular da China”, respondeu a tutela.

Face à questão se a gafe do ministro resultaria numa investigação, à imagem do que aconteceu com o diplomata Paulo Chaves, que apelidou os chineses de DDT [Donos Disto Tudo] num comentário privado no Facebook, a tutela não forneceu qualquer resposta.

Por outro lado, foram deixadas garantias de que Augusto Santos Silva conhece a diferença entre República Popular da China, criada pelo Governo de Pequim, e a República da China, que denomina Taiwan, vista como uma província rebelde por parte do Governo Central de Pequim. O Ministério dos Negócios Estrangeiros negou que haja intenção de serem reestabelecidas relações diplomáticas com Taiwan. “Não”, foi a breve resposta à pergunta colocada.

7 Dez 2018

Terrenos | Promessa de concurso público deixada por Raimundo do Rosário

[dropcap]O[/dropcap]Governo vai lançar um concurso público brevemente para a atribuição de concessões de terrenos. A novidade foi deixada ontem pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, que não adiantou detalhes.

“Tenho uma boa notícia para o deputado Au Kam San. Vou lançar um concurso público para a concessão de terrenos e a informação vai ser publicada brevemente em Boletim Oficial”, afirmou Raimundo do Rosário, numa altura em que contestava as críticas do deputado pró-democrata, que o acusara de “parecer estar a gozar com a população”.

Au Kam San criticou o Governo por considerar que não tem trabalhado no sentido de aumentar a oferta de habitações no mercado privado. Foi no âmbito desta conversa que Raimundo do Rosário fez a revelação, deixando a entender que os terrenos vão ser concessionados com esse propósito em vista.

Sobre este procedimento não houve mais esclarecimentos, mas a informação ficou prometida para mais tarde.
Por outro lado, o secretário contestou as críticas de Au Kam San, defendendo que a equipa que lidera está sempre a trabalhar e pediu ao pró-democrata para não dizer que” parece estar a gozar com a população”.

“Se estou a brincar com a população, porque é que os 3330 trabalhadores que estão comigo estão sempre a trabalhar, trabalhar e trabalhar? Não diga que parece que estamos a gozar com a população, não é verdade”, apontou.
Ainda em relação às críticas de que foi alvo por parte do pró-democrata, Raimundo do Rosário, numa altura mais bem-disposta do debate, revelou uma história: “Uma pessoa importante, que não vou dizer quem é, disse-me que para eu saber o que precisava só tinha de ler os jornais e ver as críticas, como as do deputado Au Kam San”, disse.
Em resposta, o deputado admitiu que o tempo na AL para intervenções é limitado e que por isso tende a apontar os problemas da população e a focar os aspectos negativos. Porém, aproveitou para elogiar a prestação geral de Raimundo do Rosário: “O seu trabalho é bom”, reconheceu.

7 Dez 2018

Táxis | Secretário recusa gravação de imagens para não “chatear” Chefe do Executivo

Após terem sido apresentadas três propostas diferentes para regular o sector dos táxis, Raimundo do Rosário recusa a possibilidade de gravação de imagens no interior dos veículos. O secretário não quer pedir a Chui Sai On que volte a coordenar mais uma proposta para incluir a instalação de câmaras nos táxis

 

[dropcap]D[/dropcap]epois de três propostas sobre a mesma lei de táxis, Raimundo do Rosário explicou que não quer incluir a gravação de imagens dentro dos veículos porque não quer voltar a “chatear” o Chefe do Executivo. A explicação foi dada ao deputado Leong Sun Iok, ligado aos Operários, que questionou o secretário para os Transportes e Obras Públicas sobre o facto de apenas o Governo se opor à instalação de captação de imagens dentro dos táxis para detectar infracções.

Em causa está o facto de que cada nova versão que as comissões analisam na especialidade o diploma ter de voltar a passar por vários departamentos, como Direcção de Serviços para os Assuntos Jurídicos, diferentes tutelas do secretários, Conselho do Executivo e pelo Chefe do Executivo. Como este processo já foi repetido três vezes, incluindo a versão inicial, o secretário recusa a hipótese de incluir captação de imagens para não ter de repeti-lo mais uma vez.

“Todos os diferentes passos têm de ser assinados pelo Chefe do Executivo. Depois da proposta dos táxis ter sido aprovada na generalidade [1.ª versão], houve 12 reuniões. Depois houve uma nova proposta entregue a 9 de Agosto. A 12 de Outubro houve mais uma nova versão”, justificou Raimundo do Rosário, sobre a discussão do diploma.

“Já não vou chatear, entre aspas, de novo o Chefe do Executivo [para apresentar uma nova versão com gravação dentro dos táxis]. Ontem mesmo houve a 15.ª reunião e não entreguei mais nenhuma proposta. Já pedi ao Chefe do Executivo para refazer o processo duas vezes e não quero estar a pedir-lhe tanta vez”, frisou.

Actualmente, os deputados da 3.ª Comissão Permanente da AL e o Governo estão num diferendo, principalmente com o secretário devido à captação de imagens dentro dos táxis. Por esta razão, Raimundo do Rosário foi igualmente questionado se Chui Sai On estava ciente do caso. Contudo, o secretário recusou divulgar se comunica com o Chefe do Executivo sobre o assunto: “As nossas conversas são feitas como membros do Governo e o conteúdo é confidencial”, afirmou. No entanto, deixou uma garantia: “O Chefe do Executivo está informado sobre o que se passa dentro das reuniões, através das informações das conferências de imprensa”, revelou.

Chuva de elogios

Apesar da resposta pouco comum no hemiciclo, o trabalho de Raimundo Rosário mereceu elogios de vários quadrantes. Já em reuniões passadas, o deputado e construtor Mak Soi Kun havia feito comentários muito positivos ao desempenho de Rosário, que na altura agradeceu. Ontem o tom elogioso foi generalizado.
Primeiro foi Davis Fong, que enalteceu os trabalhos nas fronteiras, seguindo-lhe o exemplo Chui Sai Peng, Iau Teng Pio, Lan Lon Wai, entre outros.

7 Dez 2018

Mong Há | Decisão do TUI? “Não errámos”, contesta Rosário

[dropcap]A[/dropcap]tutela do secretário Raimundo do Rosário foi obrigada a repetir o concurso público do Pavilhão e Habitações Públicas de Mong Há, depois de o Tribunal de Última Instância considerar que a proposta vencedora, por ter um accionista comum a outra proposta, deveria ter sido rejeitada à partida. O concurso vai agora ser repetido, o que acontece pela segunda vez, depois da tutela se ter enganado das contas no concurso das obras do Parque de Materiais e Oficina do Metro Ligeiro.

No entanto, Raimundo do Rosário recusou a ideia de ter havido um erro no caso mais recente: “Face ao Parque dos Materiais e Oficina do Metro Ligeiro, sei as minhas responsabilidades. Mas temos de ver que em Mong Há os meus colegas não trabalharam erradamente, acho que não cometeram um erro”, disse Rosário, apesar da decisão contrária do TUI.
Ainda em relação ao Parque de Materiais e Oficina, o secretário recusou revelar como vai ser paga a compensação à empresa prejudicada no concurso público, devido a um erro que atribui a vitória à Companhia de Engenharia e de Construção da China. A vencedora, de acordo com o TUI, devia ter sido a China Road Bridge. A pergunta tinha sido colocada pelo deputado e empresário Si Ka Lon. “Creio que o deputado, como empresário, compreende que não podemos dizer como vamos negociar e o que temos para oferecer. Acho que sabe, como empresário, que numa negociação não se informa a outra parte antes de começarem as conversações”, sublinhou o secretário.

7 Dez 2018

Estacionamento | Passes mensais mais caros

[dropcap]O[/dropcap]preço dos passes mensais de estacionamento vai aumentar quando acontecer a actualização do montante pago por hora para a utilização dos parques e lugares públicos.

A garantia foi deixada por Raimundo do Rosário, após ter sido questionado pelo deputado Sulu Sou sobre o assunto. “Reconheço que o preço dos passes não acompanha o valor pago pelas horas no estacionamento. Mas vamos tornar os preços mais caros, quando actualizarmos o preço pago por hora nos estacionamentos públicos”, respondeu o secretário para os Transportes e Obras Públicas.

Ainda em relação ao trânsito e aos veículos que não cumprem limites de emissão de gases, o director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) explicou que desde o início do ano já foram apreendidas 60 viaturas. Quanto ao número de inspecções a veículos pesados de mercadorias e passageiros, foi de sete mil.

7 Dez 2018

Ella Lei acusa Governo de Edmund Ho de conluio devido a concessão de terreno

[dropcap]O[/dropcap]facto do terreno na Taipa junto à Ponte Nobre de Carvalho nunca ter sido utilizado para a construção de um parque de diversões, como foi planeado há 21 anos, e haver um projecto para a construção de residências de luxo, valeu acusações de conluio ao Governo de Edmundo Ho. A incriminação partiu da deputada Ella Lei, que ilibou Raimundo do Rosário de culpas e fez questão de referir que as decisões foram tomadas antes do secretário tomar posse.

Segundo a deputada, em causa está o facto de uma companhia ter entrado no capital social da empresa que tinha a concessão, em 2005, o que terá permitido que o projecto fosse alterado para a construção de residências de luxo.

“O terreno era para um parque temático, mas já se passaram 21 anos e nada foi construído. Naquela altura, o contrato dizia que em 2008, a concessão do terreno caducava. Mas não foi o que aconteceu”, recordou. “Em 2005 uma empresa de Hong Kong injectou capital na concessionária. Foi só um teatro que se fez naquela altura. A verdade é que o terreno foi avaliado em 4 mil milhões de patacas, na altura, e o projecto acabou alterado para residências de luxo”, apontou.

A deputada atacou depois a antiga Lei de Terras: “Era este o problema. As concessionárias vendiam os terrenos e conseguiam prolongamento dos prazos de concessão. Era tudo conluio! O Governo não devia ter autorizado o prolongamento dos prazos. Mesmo agora deve limitar, sem deixar que o propósito inicial dos terrenos seja alterado”, acusou.

Ella Lei defendeu ainda que sempre que a finalidade de um terreno concessionado for alterado, o Governo tem a obrigação de divulgar claramente as razões.

Outro ponto levantado por Ella Lei foi o facto do Governo ter pedido ao Comissariado Contra Corrupção (CCAC) para analisar os processos de declaração de caducidade dos terrenos já recuperados, apesar de já haver decisões dos tribunais.

Na resposta, Raimundo do Rosário limitou-se a dizer que o terreno do parque temático está em processo de recuperação, pelo que não pode disponibilizar mais informações. Em relação à decisão do pedido ao CCAC, a questão foi ignorada pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas.

7 Dez 2018

Raimundo do Rosário tem 13 meses para renovar ou alterar sete concessões públicas

[dropcap]A[/dropcap]té ao final do actual mandato, Raimundo do Rosário vai ter de tratar da renovação de sete contratos de concessão em diferentes áreas.

O cenário foi traçado pelo secretário, depois de ter sido questionado sobre a opção de renovar, durante quinze meses, as concessões das empresas de autocarros públicos que terminavam este ano. A opção foi vista como o adiamento da questão.

“Em 13 meses vou ter de alterar ou renovar sete contratos de concessão. Desses, dois são das empresas de autocarros. São assuntos que levam tempo e que vamos ter de resolver no próximo ano”, reconheceu.

7 Dez 2018

Trânsito | Mortalidade preocupa o director da DSAT

[dropcap]O[/dropcap]Governo está preocupado com o aumento de mortalidade nas estradas e Lam Hin San, director da Direcção de Serviços para os Assuntos Tráfego, prometeu prestar atenção a este aspecto.

“O número de acidentes voltou a níveis de 2014 ou 2012. Entre Janeiro e agora houve nove mortes, o que é mais um do que no ano passado, quando o número de vítimas foi 8”, revelou Lam Hin San.

“Vamos ponderar reforçar a fiscalização nas estradas e ver as medidas adequadas para lidar com esta situação”, acrescentou.

7 Dez 2018

França | Governo teme “grande violência” nos protestos de amanhã

Emmanuel Macron teme que a violência regresse às ruas de Paris na sequência dos protestos do movimento dos coletes amarelos. Apesar das cedências a algumas das reivindicações, as autoridades receiam o pior amanhã. A ministra do Interior declarou ter informações de que entre os manifestantes há quem não reivindique nada e só se interesse por espalhar o caos

 

[dropcap]O[/dropcap]Governo francês admitiu temer “uma grande violência” no sábado, depois de no passado fim-de-semana terem sido detidas mais de 400 pessoas, no âmbito dos protestos dos “coletes amarelos”. Citado ontem pela agência de notícias francesa, France-Presse, o Governo francês disse: “Temos motivos para temer uma grande violência”.

A declaração surge numa altura em que se multiplicam os apelos para uma nova mobilização de “coletes amarelos” por toda a França.

Os apelos surgem não obstante o Presidente francês, Emmanuel Macron, ter dado mais um passo para aplacar o mal-estar liderado pelos “coletes amarelos”, ao anular a taxa sobre combustíveis em vez de a suspender durante seis meses, como tinha sido anunciado na terça-feira. Com este novo anúncio, o Governo francês pretendia evitar a todo o custo que se repitam amanhã as cenas de guerrilha urbana dos protestos do passado dia 1 de Dezembro em Paris.

Mais de 400 pessoas foram detidas no sábado em Paris, de acordo com o chefe de polícia, que falou de actos de violência de “gravidade sem precedentes”.

Acusado de reagir tarde e mal à crise dos “coletes amarelos”, o Executivo defendeu ontem a sua gestão da situação na Assembleia Nacional, numa sessão que introduziu no hemiciclo as reivindicações do movimento contestatário.

Teoria do caos

A ministra do Interior francesa, Jacqueline Gourault, advertiu ontem para a existência de manifestantes violentos entre os denominados “coletes amarelos” que querem “que a França caia no caos”. Em entrevista ao canal BFMTV, Jacqueline Gourault destacou que esta não é a intenção de todos os “coletes amarelos”, mas sim de uma parte e deu o exemplo de um porta-voz que expressou vontade em invadir o Palácio do Eliseu, sede da presidência.

A ministra do Interior explicou que, tendo em conta os protestos marcados para amanhã, particularmente em Paris, recebeu informações de que “além dos coletes amarelos, há pequenos grupos que querem o confronto”, como tal “há o risco de as coisas correrem mal”.

Em ciclo contrário, as autoridades francesas apelaram à “responsabilidade de todos”, na crise dos “coletes amarelos”, depois de os sindicatos se organizarem e os estudantes universitários prometerem juntar-se a novas manifestações.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, pediu para que “todas as forças políticas e sindicais, os empregadores façam um claro e explícito apelo à calma”.

A frase foi citada pelo porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, e revela bem como Macron se procura associar ao executivo de Édouard Philippe, o primeiro-ministro que, tal como o Presidente, procura medir cada palavra na tentativa de placar a crise dos “coletes amarelos”.

Estudantes na rua

Michel Wieviorka, sociólogo da Escola de Altos Estudos de Paris, citado pela agência France Presse, diz que os manifestantes estão a tentar provar que o “Governo tem falta de jeito e que nunca reconhecerá a natureza negativa da sua política”. E esta perspectiva, vinda de dentro do círculo universitário parisiense, parece alastrar-se, com a indicação, de núcleos activistas da Sorbonne, de que os estudantes se preparam para se associarem ao movimento, em maior força e com maior visibilidade.

Uma sondagem da empresa Elabe, divulgada ontem, revela que 78 por cento dos franceses pensa que as medidas esta semana anunciadas pelo Governo não respondem às solicitações dos manifestantes e dos cidadãos descontentes que as apoiam. A sondagem indica que a aprovação popular das manifestações continua alta e que 72 por cento dos franceses mostram simpatia pelo movimento “coletes amarelos”.

As medidas anunciadas terça-feira pelo primeiro-ministro, Édouard Philippe, de suspender aumentos de impostos foram ineficazes perante os ânimos exaltados dos manifestantes, que dizem que elas sabem “a pouco e vieram tarde”.

Contudo, a sondagem da Elabe também revela que os franceses consideram que tem havido muitos excessos e são já 37 por cento (mais 6 por cento do que há duas semanas) os que consideram que os protestos devem abrandar de tom.

Coletes no parlamento

Os excessos das recentes manifestações em Paris levaram a que um juiz indiciasse 13 pessoas, incluindo um menor, de cometer actos de degradação no monumento do Arco do Triunfo, com três delas a serem colocadas em prisão preventiva. Os suspeitos foram indiciados por “intrusão não autorizada em local histórico” e por participação em grupo formado para fomentar violência e degradação de património”, entre outros crimes.
Mais de 400 pessoas foram detidas no sábado em Paris, de acordo com o chefe de polícia Michel Delpuech, que ontem falou de actos de “violência de gravidade sem precedentes”.

As detenções resultaram em 383 colocações em custódia policial (349 para adultos e 34 para menores), de acordo com um relatório final do Ministério Público.

O primeiro-ministro convocou para a Assembleia “todos os actores do debate público” para assumirem “responsabilidade”, enquanto os “coletes amarelos” preparando-se para as novas manifestações agendadas. “Todos os actores no debate público, políticos, líderes sindicais, editorialistas, cidadãos, serão responsáveis pelas suas declarações nos próximos dias. Sim, eu lanço aqui um apelo por responsabilidade”, disse o líder do Executivo.

As palavras do primeiro-ministro esbarraram no sentimento dos manifestantes. Benjamin Cauchy, um dos porta-vozes do movimento “coletes amarelos” referiu que “os franceses não querem migalhas”.

Taxar colossos

O ministro da Economia e Finanças francês anunciou ontem que será aplicado um imposto nacional aos ‘gigantes’ da Internet se não houver acordo europeu para tributar essas empresas, que estão sujeitas, na prática, a uma taxação inferior. “A partir de 2019 avaliaremos os ‘gigantes’ digitais em todo o país se os estados europeus não assumirem as suas responsabilidades”, disse Bruno Le Maire em entrevista ao canal de televisão France 2.

Macron, no entanto, descartou a hipótese de fazer regressar o imposto sobre a riqueza, que é também uma das exigências dos “coletes amarelos”, uma taxação à qual o Presidente colocara um ponto final depois de chegar ao poder, como um gesto para tornar a França num país mais atractivo para os investidores.

O ministro da Economia e Finanças explicou como será compensada a perda de receita ao ser abandonado o imposto sobre o combustível: “aqueles que têm dinheiro são os ‘gigantes’ digitais, que obtêm benefícios consideráveis graças ao consumidor francês, graças ao mercado francês, e que pagam como mínimo 14 pontos a menos que as demais empresas”.

Nos últimos meses, Le Maire tem sido um dos principais defensores de um imposto europeu sobre os ‘gigantes’ da Internet sobre 3 por cento da sua facturação.

No entanto, confrontados com a relutância de vários dos seus parceiros da União Europeia, e em particular da Alemanha, Paris e Berlim chegaram a um acordo na última segunda-feira, que reduz a proposta inicial, de forma a que o imposto se limitasse à facturação dos serviços, publicidade online e não, por exemplo, à comercialização de dados. Esta proposta, que será submetida à aprovação do Conselho Europeu até Março, só entrará em vigor se não for encontrada uma solução internacional que está a ser negociada dentro da estrutura da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e que tem encontrado muitas resistências, em particular por parte dos Estados Unidos.

7 Dez 2018

Direitos humanos | PR português disse “aquilo que devia ser dito” a Xi Jinping

[dropcap]O[/dropcap] Presidente português fez hoje um balanço “muito positivo” da visita a Portugal do chefe de Estado chinês e, questionado se não se falou pouco de direitos humanos, defendeu que disse “aquilo que devia ser dito”.

Em declarações aos jornalistas, à saída de uma conferência na Fundação Champalimaud, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi também interrogado sobre a ideia de que há uma presença chinesa excessiva na economia portuguesa e, na resposta, fez alusão às privatizações feitas na legislatura anterior.

“Perante uma decisão que, aliás, não é do meu mandato, é do mandato do meu antecessor e é do Governo anterior, acho que as relações que têm existido nos domínios de cooperação económica e financeira têm sido úteis para Portugal e importantes para Portugal, quer internamente, quer na projecção no mundo”, considerou.

Quanto à visita de Estado de Xi Jinping, que começou na terça-feira e terminou ontem à tarde, o Presidente português afirmou: “Penso que o saldo global é muito positivo, porque se falou com franqueza, porque foram muitos os acordos que foram celebrados e porque há neste mundo multipolar uma colaboração que pode e deve haver”.

Em seguida, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que Portugal tem “aliados”, uns mais antigos e outros menos, e depois tem “amigos que não são aliados, mas podem ser parceiros”, como a China.

“Nós sabemos distinguir entre aliados e amigos parceiros e sabemos colaborar com uns e com outros”, acrescentou.

Questionado se não se falou pouco de direitos humanos durante esta visita, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “No que me toca, eu disse aquilo que achei que era importante dizer”.

O chefe de Estado lembrou que, quer nas declarações conjuntas com o Presidente da China, no Palácio de Belém, quer no jantar oficial no Palácio Nacional da Ajuda, falou dos “pontos de convergência” entre os dois países no quadro internacional, dizendo que “devem passar pelo multilateralismo, pela paz, pela segurança”.

“Pelo respeito do direito internacional, pelo respeito dos direitos humanos, pelo respeito do Estado de direito e pela afirmação da vivência democrática”, completou Marcelo Rebelo de Sousa, concluindo: “Portanto, disse aquilo que devia ser dito”,

Segundo o Presidente da República, Portugal tem na China “um amigo e parceiro para o futuro”.

“O que não impede de termos aliados, como é o caso dos nossos aliados na União Europeia, dos nossos aliados na Aliança Atlântica e dos nossos aliados na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. São dois planos que se podem conjugar, são diferentes”, frisou.

6 Dez 2018

Conan Osiris, D.A.M.A, Surma e Lura entre os compositores do Festival da Canção 2019

[dropcap]C[/dropcap]onan Osiris, D.A.M.A, Surma, Miguel Guedes, Flak, D’Alva, Lura e Calema estão entre os artistas e bandas convidados pela RTP para comporem temas para ao Festival da Canção 2019, anunciou hoje a estação pública.

Num comunicado hoje divulgado, a RTP divulga os nomes “dos 16 responsáveis pela composição das canções concorrentes” ao Festival da Canção 2019, cujas semifinais decorrem a 16 e 23 de Fevereiro, nas instalações da estação em Lisboa, e a final a 2 de Março, em local a anunciar.

Dos 16 compositores a concurso, 14 foram convidados pela RTP, “uma vez mais tendo em conta a representação da diversidade de géneros musicais que tem sido aplicada desde que foi posta em prática uma remodelação do formato após um ano de pausa verificado em 2016”.

“Os dois restantes concorrentes chegaram de dois concursos promovidos pela Antena 1, um deles através do programa ‘Masterclass’ e aberto a quem não tenha até aqui música editada, o outro através de um concurso de livre submissão pública”, lê-se no comunicado.

A RTP convidou os seguintes músicos e bandas: André Tentúgal, Calema, Conan Osíris, D’Alva, D.A.M.A., Flak, Frankie Chavez, Lura, Miguel Guedes, NBC, Rui Maia, São Pedro, Surma e Tiago Machado.

Mariana Bragada e Filipe Keil foram escolhidos por concurso, respetivamente através do programa ‘masterclasses’ e do concurso de livre submissão pública.

A música “O Jardim”, interpretada por Cláudia Pascoal e composta por Isaura, venceu este ano o Festival da Canção, cuja final decorreu em Guimarães.

Cláudia Pascoal e Isaura representaram Portugal no Festival Eurovisão da Canção, que decorreu pela primeira vez em Portugal, em Lisboa, na sequência de o país se ter sagrado vencedor em 2017, em Kiev com o tema “Amar pelos dois”, interpretado por Salvador Sobral e composto por Luísa Sobral.

A edição deste ano do Festival da Canção da RTP, cujo modelo foi renovado em 2016, ficou marcada por duas polémicas: um erro na contagem dos votos na primeira semifinal, que acabou por retirar da corrida a canção “Eu te Amo”, composta por Mallu Magalhães, entrando o tema de Jorge Palma; e a suspeita de plágio da música “Canção do fim”, composta e interpretada por Diogo Piçarra, uma das escolhidas na segunda semifinal, que acabou por levar o músico a desistir da competição, dando lugar ao tema de Aline Frazão.

A RTP “oportunamente divulgará quais serão os títulos das canções e os respectivos intérpretes” a concurso em 2019.

6 Dez 2018

Xi Jinping em Portugal | PCP diz que relações económicas mutuamente vantajosas são bem-vindas

[dropcap]O[/dropcap] PCP classificou ontem como “um acontecimento importante” para Portugal o desenvolvimento de relações de “amizade, paz e cooperação” com a China, considerando igualmente bem-vindas as “relações económicas mutuamente vantajosas”.

A propósito da visita a Portugal do Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, que terminou ontem, o PCP, sublinha, em nota enviada à comunicação social, que “a defesa do desenvolvimento de relações de amizade, paz e cooperação com todos os povos do mundo é um princípio fundamental da política externa de Portugal” e que “o desenvolvimento de tais relações com um país como a China é um acontecimento importante”.

“A diversificação das relações externas de Portugal e a ruptura com o seu afunilamento, nomeadamente face à União Europeia, é uma componente necessária de uma política de soberania e independência nacional”, lê-se também na nota.

Para os comunistas, “relações económicas mutuamente vantajosas, que contribuam efectivamente para o desenvolvimento do país”, são igualmente “bem-vindas com a China, como com todos os países”.

Nesse sentido, o PCP formula “os melhores votos” para o “ulterior desenvolvimento das relações políticas, económicas e culturais entre os dois países”, num contexto de “respeito pelos princípios de igualdade, soberania e reciprocidade de vantagens”.

De frisar que o PCP está actualmente no poder, em coligação com o Partido Socialista e Bloco de Esquerda (BE). O BE, juntamente com o PAN – Partido Pessoas-Animais-Natureza, recusaram participar nas cerimónias de recepção ao presidente Xi Jinping na Assembleia da República.

6 Dez 2018

Xi Jinping em Portugal | Governos destacam papel de Macau como ponte

[dropcap]A[/dropcap] declaração comum de Portugal e da China ontem divulgada dá especial destaque ao papel de Macau enquanto “ponte” entre os dois países, quando em 2019 se celebram os 20 anos da sua “retrocessão” para a China.

“Ao reconhecer os notáveis êxitos de desenvolvimento que a RAEM alcançou desde o seu estabelecimento, e ao destacar o papel importante de Macau para o relacionamento luso-chinês, as duas partes [portuguesa e chinesa] expressaram a disposição de reforçar o seu papel como ponte e elo de ligação para promover as relações de amizade de longo prazo” luso-chinesa, salienta-se no documento.

Da declaração conjunta que resulta dos dois dias de visita de Estado a Portugal do Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, alude-se, igualmente, à disposição dos dois países no sentido de continuarem “a apoiar o papel de Macau como plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa”.

“As duas partes reconheceram o papel importante desempenhado pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), 15 anos após o seu estabelecimento, e reiteraram o compromisso para com a implementação dos frutos alcançados nas suas conferências ministeriais e para continuarem a promover a cooperação pragmática em todas as matérias com ações concretas no quadro do fórum”, acrescenta-se do mesmo texto.

No mesmo documento, Portugal e China “reafirmaram ainda o interesse em fomentar a cooperação com países terceiros, em regiões como a África e a América Latina”.

6 Dez 2018

Sujata Bhatt

[dropcap]S[/dropcap]ujata Bhatt (1956) é uma poeta indiana que descobri em Nova Deli. Atarantado, esbracejando no escuro com o meu parco inglês, fossei uma tarde nas estantes das livrarias e, sem uma referência confiável de antemão, confiei no faro e apostei em quatro poetas, de quem comprei vários livros: a Sujata, o Vikram Seth, o Aga Shahid Ali e a Eunice Moraes .

Tive sorte, são todos extraordinários, e, entretanto, Vikram e Sujata tornaram-se figuras cimeiras da literatura internacional. A Sujata é aquela a que mais regresso e mais vontade me dá de “transcriar”, como diria o Herberto Helder.


UDAYLEE

Apenas papel e madeira são imunes
ao toque de uma mulher menstruada.
Então, eles construíram este quarto
para nós, ao lado do estábulo.
Aqui, estamos autorizadas a escrever
cartas, a ler, e este recolhimento dá azo
a que se cauterizem as nossas cicatrizes de cozinha.

À noite, não posso deixar as estrelas sozinhas.
E quando não consigo dormir, desato a marchar
ou sonho que marcho, neste quarto minúsculo,
de minha estreita rede para a estante
aboletada de jornais, empoeirados,
e de búzios castanhos brilhantes e uma concha,
que fazem de pisa-papéis.
Quando não consigo dormir, pego na concha
e encosto-a à orelha
só para ouvir a torrente do meu sangue,
o latejar de uma canção, o rufar
lento, dentro da minha cabeça, dos quadris.
Esta dor é o meu sangue a fluir contra,
apressando-se contra alguma coisa –
as ancas nodosas do meu sangue,
é assim que me lembro: punhados de algas rasgadas
levantavam-se com a espuma,
subiam. Em seguida, caindo, caindo na areia
abafavam os ovos de tartaruga recém-postos.

AS VOZES

Primeiro, o som de um animal
que tu nunca imaginaste.

Depois: o restolhar do insecto, o mutismo do peixe.

E então as vozes tornam-se berrantes.

A voz de um anjo falecido recentemente.
A voz de uma criança que recusa
terminantemente tornar-se um anjo com asas.

A voz dos tamarindos.
A voz da cor azul.
A voz da cor verde.
A voz dos vermes.
A voz das rosas brancas.
A voz das folhas arrancadas pelas cabras.
A voz da cobra da mina.
A voz da placenta.
A voz do couro cabeludo de uma caveira
cujo cabelo cai atrás do vidro
num museu.

Costumava pensar que eram
só uma voz.
Costumava esperar
pacientemente que uma voz regressasse
e começasse o seu ditado.

Estava enganada.

Não consigo acabar de contá-las desde agora.
Não consigo deixar
de escrever tudo o que tem para dizer.

A voz do fantasma que deseja
morrer de novo, mas desta vez
num quarto brilhante com flores fragrantes
e diferentes parentes.
A voz de um lago congelado.
A voz do nevoeiro.
A voz do ar enquanto neva.
A voz da rapariga
que continua a ver unicórnios
e fala com os anjos que conhece pelos nomes.
A voz da seiva dos pinheiros.

E então as vozes tornam-se berrantes.

Às vezes ouço-as
Rindo da minha confusão.

E cada uma das vozes insiste
E cada uma das vozes sabe
que isto é a verdade mesmo.

E cada voz diz: segue-me
segue-me e eu levo-te …

CIÚMES

Vou para a cama e então aquele homem
senta-se no quarto ao lado e continua
rindo, dos seus próprios escritos.
E então eu bato na porta
e digo, ‘agora Jim,
pára de escrever ou pára de rir!
Nora Joyce

Uma mulher come o seu coração exposto
e a janela de perto de sua cama é muito pequena
e não vai fechar
correctamente — o seu coração tem um gosto
doce, muito, é um muito agradável despiste para a amargura –
mas a lua quer lá saber
de qualquer maneira a lua parou
há muito de ajudá-la.

A ópera acabou
e uma multidão de passos lépidos,
tantos saltos altos, tamborila
rente à sua janela.

Não há estrelas esta noite.
Somente nuvens que se movem
muito rapidamente para a porem tonta.

Ela vai fechar os olhos
mas não vai dormir
vai continuar a comer o seu coração
exposto a noite toda –

e de manhã há-de pensar numa maneira
de encaixar a janela.

O ESCRITOR

A melhor história, é claro,
é aquela que não podes escrever,
a que não vais escrever.
Eis algo que só pode viver
no teu coração,
não no papel.

O papel é seco, liso.
Onde está a terra
para as raízes, e como faço para levantar aí
árvores inteiras, a imensidão da floresta
chegada do coração do espírito –
transumância no papel,
sem perturbar as aves?

E o que dizer da montanha
em que esta floresta cresce?
Das cataratas
tecendo rios,
rios com multidões de árvores
acotovelando cada uma a do seu lado
para lançar um relance
ao peixe.

Abaixo do peixe
flutuam nuvens.
Aqui, o céu ondula,
encrespa no rio os trovões.
Como se movem as coisas no papel?

Agora observa a maneira
como os tigres andam
e rasgam o papel.

SHÉRDI*

E deste modo aprendi
a comer cana-de-açúcar em Sanosra:
rasga-se com os dentes
a espessa bainha da folha
depois, às dentadas, arranco as tiras
do branco coração fibroso
— e raspo, chupo intensamente com os dentes,
aspiro até me aflorar na língua o caldo.

Manhãs de Janeiro,
o agricultor corta a tenra cana verde
e vem depositá-la à nossa porta.
Às tardes, logo que vemos que os anciãos cochilam,
esgueiramo-nos com as longas e leves varas.
O sol aquece-nos, os cães bocejam,
os nossos dentes crescem vigorosos
e deixam os nossos queixos dormentes,
por tantas horas a sugar o russ, o caldo
que gruda na mão.

Por isso esta noite
quando me dizes que use os meus dentes
para chupar com força, intensamente,
vem-me do teu cabelo o cheiro
a cana de açúcar
e imagino como gostarias de ser
shérdi shérdi ali nos campos
ali os longos talos se mexem
abrindo sendas à nossa frente.
*cana-de-açucar

OLHAR FIXO

E há aquele momento
em que a criança humana
fixa
a cria de macaco,
que olha para trás –
inocência partilhada
inocência no espaço
onde o jovem primata
não está em cativeiro.

Raia aí a pureza
orbita uma transparência
neste olhar fixo
que dura muito tempo…
olhos de água
olhos de céu
tem ainda tempo a alma de cair
porque o macaco
tem de aprender o medo –
e ao humano
cabe igualmente aprender o temor
e amenizar a arrogância.

Testemunhando tudo
agora
podem-se contar os cílios,
contem-se os caracóis
na relva,
enquanto se espera
que os olhos pisquem
ou para ver quem
primeiro desviará o olhar para longe.
Ainda o macaco não olha
o humano da mesma maneira
que olharia para as folhas
ou para os seus próprios irmãos.

E o humano fixa
o macaco adivinhando-o
um ser totalmente diferente de si mesmo.
E, contudo, é tanta a boa vontade
brilha uma tal curiosidade
nos seus semblantes.

Gostaria de escorregar para dentro
daquele olhar fixo, saber
o que a criança pensa
o que o macaquito ajuiza
naquele exato momento.

Esclareço que o garoto
está naquela idade
em que começa a usar o poder
das palavras
embora ainda sem a distância
dos alfabetos, de abstrações.
À menção de pão
ele pede
uma fatia, com manteiga e mel –
imediatamente.
Menciona-se o gato
e ele apressa-se a correr
para despertá-la.
Uma palavra
é a própria coisa.
A linguagem é simplesmente
uma música necessária
de repente conectada
ao batimento cardíaco da criança.

Enquanto o macaquito
cresce num âmbito diferente,
olha uma árvore, um arbusto,
a criança humana
e pensa …
Sabe-se lá o quê!?
O que continua a relampejar
é esse momento
de enlace:
as duas cabeças recém-formadas
equilibradas em tão frágeis pescoços
inclinando-se uma para a outro,
a cara do macaco
e a cara do garoto,
absorvendo cada uma a outra
com uma magnífica gentileza …

6 Dez 2018

Partir o pente

[dropcap]A[/dropcap] minha irmã acha que eu deveria cortar o cabelo, logo agora que recebe mais elogios que nunca. Divertida, faz-me sinais de uma tesoura invisível, sorri e oferece-se, “Se quiseres eu corto”. Não tenho usado muito os bigoudis que dela herdei quando decidiu cortar o longo cabelo bem curtinho, há uns anos. Agora, tem uma afro invejável, com tons entre o loiro e o castanho. Uma vez, numa loja de acessórios, dei por ela a experimentar uma peruca. Retorquiu, “O que foi? Sempre quis saber como ficaria se fosse loira.” É difícil cabermos, e aos nossos cabelos, por inteiro na mesma selfie, mas ambas continuamos, cada uma num país, a lidar com estranhos que insistem em tocá-los. Suspiro. Da raiz até às pontas.

Vejo vídeos sobre como fazer a transição capilar, reeducar o cabelo, fazer o big chop total ou parcial, para ter uma só textura, para desintoxicar e recuperar o meu verdadeiro eu. Na série Insecure, Issa Rae e as amigas mudam frequentemente de penteado. Em This is Us, igualmente. Parece fácil e acessível. Em Keeping up with the Kardashians, a royalty da reality tv america é adepta de extensões e perucas. Muitas vezes, a sua origem é indiana ou vietnamita: as primeiras doam o cabelo ao templo milionário e as segundas usam-no para sobreviver e alimentar as famílias mais algum tempo.

Cabelo curto, comprido, desfrizado e natural, tranças, caracóis, liso e ondulado: já tive de tudo um pouco, embora nunca o tenha pintado senão de preto. Pouco original, bem sei. No processo, parti muitos pentes, dentes de pentes, cabos de pentes, como qualquer africana ou afro descendente que se preze.

Penso que não tenho mais paciência para isto do que para usar maquilhagem. Deixei de desfrisar o cabelo há dois anos, depois voltei a fazê-lo, e já só o fazia uma vez por ano, no momento de maior desespero e embaraço, quando o pente ameaçava partir-se novamente, após logradas tentativas de domesticação. Arrependo-me e penso, agora vou ter de começar de novo. No entanto, trouxe recentemente do supermercado uma escova eléctrica. Apesar de ter um ferro de alisar e uma varinha de encaracolar, que raramente uso. Não tenho secador mas sei que, por uma vez, a explicação não cabe a Freud.

Se folheio a Poesia Toda, descubro em Herberto Helder Na cerimónia da puberdade feminina (dos índios Cunas, Panamá). A mesma inclui tesouras, cabaças, água e aguardente, lenços, mulheres e raparigas. Muitas vezes sinto saudades de ter tranças. Permanecem na memória como um ritual sagrado e moroso, em frente à televisão, com pequenas pausas e muita paciência, perfeição e minuciosidade das mãos maravilhosas da minha mãe e da minha tia.

Passaram dois anos desde o lançamento do icónico álbum de Solange, “A seat at the table”, e do hino “Don’t touch my hair”. Este single, que obriga a reflectir para além do já expressivo título, assenta muito bem num mundo em que o cabelo continua a ser motor de vítimas e de agressores, com mais ou menos silêncio e assumir de responsabilidades e preconceitos. O responder a uma pergunta que raras vezes é feita. Uma resposta pacífica para um gesto tantas vezes agressivo, se não físico, certamente mental e emocional. A artista explica “Don’t touch my hair / When it’s the feelings I wear”. Nada parece faltar a Solange. E nós sentamo-nos à mesa para pensar e lutar com ela.

Também em 2016, a ginasta olímpica Gabby Douglas foi criticada, sobretudo na comunidade afro-americana, pelo seu cabelo que, segundo os comentadores, se apresentou desleixado durante as competições. Gabby, uma jovem adulta digna de admiração, cedeu naturalmente perante tais reacções, quando deveria estar feliz, a celebrar a sua prestação e a medalha de ouro, a primeira ganha por uma afro-americana naquela categoria.
Início de 2018: uma mulher de nome Essie Grundy processa a cadeia de supermercados Walmart por suposta segregação de produtos de cabelo e pele destinados à comunidade afro-americana, guardados a chave num armário, como em Portugal vemos tantas vezes com produtos não conotados racialmente, mas que talvez tenham mais tendência a serem alvo de furtos, como artigos de higiene pessoal.

Se ando por livrarias ou supermercados, por todo o lado encontro Becoming, de Michelle Obama. A internet delira e ergue as mãos ao céu em júbilo pela sua cabeleira, em estreia natural e encaracolada na capa da revista Essence. Não foi assim há tanto tempo que os Obama deixaram a Casa Branca e o levantar de sobrancelhas que as tranças das suas descendentes causaram. Não foi assim há tanto tempo que, de Beyoncé, ouvimos “I like my baby heir with baby hair and afros.”

E se 2016 parece ter sido um dos anos capilares de maior relevo, a uma fotografia de Barack, de cabeça baixa, permitindo a um menino que lhe tocasse no cabelo para descobrir se seria igual ao seu, o devemos. Sou fã de Michelle, mas pergunto: porque é que o cabelo encaracolado não agraciou antes a capa da sua biografia, em vez da revista, e se manteve politicamente correcto, já depois da presidência? Talvez o mundo deva mais a Michelle do que o contrário. Talvez Michelle guarde o seu cabelo natural para a intimidade; talvez tenha sido este o seu sacrifício. Os Egípcios deixavam crescer o cabelo enquanto viajavam. Talvez Michelle, não tendo ainda chegado ao fim da viagem, apenas agora tenha conseguido fazer uma pausa para pensar. Talvez a sua pequena evolução pessoal e capilar ainda venha a tempo de ser uma revolução, talvez ela não seja o seu cabelo (bem, não mais do que qualquer um de nós, pelo menos) e estejam certas as culturas que acreditam que o cabelo é uma das moradas da alma e também o estejam as primeiras-damas que se protegem atrás dele. Talvez este experimentar constante, numa altura em que toda a gente se policia, seja apenas mais uma forma de aprendermos a suportar o nosso próprio peso.

6 Dez 2018

Os matreiros a ladrar e a banca a miar

[dropcap]N[/dropcap]a Primavera de 2010, o deputado Ricardo Rodrigues desempenhou o papel de Luísa Vilaça, a personagem que Eça criou no seu conto, As singularidades de uma rapariga loura. Se nos lembrarmos, Luísa perdeu o seu Macário e o prometido casamento apenas por ter roubado um simples anel. Tentações. O deputado do PS não perdeu na altura qualquer Macário, mas, desagradado com as perguntas de um jornalista da revista ‘Sábado’ que o entrevistava, não fez por menos: fanou-lhe o gravador e, uns dias depois, decidiu avançar com uma conferência de imprensa em plena Assembleia da República (sem direito a perguntas) para explicar o inexplicável. Não sei por que razão retive este caso na minha memória, até porque existem outros muito mais sonantes que desfilam diante de nós, todos os dias, sem que dêem origem a grandes brados.

O descalabro da banca em Portugal vale bem mais do que um anel ou do que dois gravadores digitais. Mas a memória tende a reter o frugal e não o essencial. Talvez porque o frugal pode ser sempre metáfora do essencial (porventura será essa a explicação: o apego às metáforas e a outros tropos como modo eficaz de compreender coisas incompreensíveis). Mas vejamos: na escala dos milhares de milhões, os roubos à nossa carteira, só na última década, são de tal monta que é difícil explaná-los através da ciência dos números: o caso BES pode chegar aos nove, o BPN aos sete, o BANIF aos três, sem falar do BPP e dos quase cinco que a Caixa recebeu há não muito tempo. São mais de vinte milhares de milhões, calhando a cada português… (é fazer as contas como no-lo ensinou Guterres nos idos de 1995). E há fontes bem informadas – e impregnadas da linguagem técnica do ‘econometrês’ – que interpelam estes números, jurando que eles estão num forno muito aquecido a expandirem-se no dia-a-dia. Não se sabe até onde. Por vezes, os balões rebentam. E um bom soufflé de garoupa também.

Comparado com esta catedral numérica, o roubo de Tancos é uma capelinha simbólica que está mais perto da escala das cleptomanias de Luísa Vilaça e de Ricardo Rodrigues do que da unha afiada dos banqueiros (que se safam sempre com recursos, cauções, pulseiras encantadas e a p. q. os p.). Mas o desvio de Tancos não deixa de tocar num nervo particularmente sensível (a ideia ‘cada vez mais abstracta’ de defesa), ainda que o caso se tenha explicado a si próprio, através de uma mera futebolização: afinal, tudo se resumiria a uma polícia a jogar contra a outra, sendo que esse ensejo (ficcionalmente delicioso e sem árbitro nem VAR) tendesse a encobrir o fundamental: quem foi o autor do roubo? Quem colocou, neste especioso acontecimento, a máscara da loura Luísa Vilaça?

A pergunta faz-me escutar umas vozes ao longe. Um bruá metafísico. A memória é realmente um ardil que teima em nunca nos explicar por que raio se lembra de umas coisas e não de outras. Mas estas vozes chegam-me de longe e estão bem vivas: “- Romeiro! Romeiro!… Quem és tu?”. “- Ninguém.”. Garrett sabia do que falava no seu ‘Frei Luís de Sousa’. Repare-se que a figura do romeiro pertence a uma espécie de limbo: ele não é nem um vivo que regressa a Almada, nem é um morto que teria desaparecido de vez no norte de África. O romeiro é sobretudo um ‘zombie’ particularmente actual: uma personagem ínvia e difícil de definir, de encontrar, de acusar. Ele que é a causa de tudo e que, ao mesmo tempo, é um ninguém, uma ausência, um nada. Ao fim e ao cabo, o pobre romeiro representa aquilo para o qual não há resposta, nem explicação. Tanto pode corresponder a alguém que foi trocado por outrem, como pode corresponder a alguém a quem a identidade foi retirada.

O povo há muito que aprendeu a caracterizar a diferença entre roubar com espalhafato e desviar com circunspecção. No primeiro caso temos os ladrões inspirados na vozearia dos canídeos, no segundo caso temos os gatunos inspirados na elegância dos gatos. Larápios como Ricardo Rodrigues e Luísa Vilaça pertencem à primeira categoria. Os ‘donos disto tudo’ pertencem à segunda categoria. Os salteadores de pólvora que acorreram a Tancos não conseguem pertencer nem a uma nem a outra. Preferem ser o lado paródico desse ‘ninguém’ que Garrett pintou com sede de tragédia. Arrisco mesmo a dizer que esses secretos salteadores de armas perdidas são quem melhor sintoniza com esta ‘coisa’ de ser português: querer fazer muito a sério aquilo que se transforma sempre numa irreparável ‘opera buffa’.

6 Dez 2018

GP | Nova geração de carros de Fórmula 3 preocupa organização

Associação Geral de Automóvel Macau-China teme que velocidades atingidas pelo novo monolugar na Curva do Lisboa causem acidentes com proporções mais graves

 

[dropcap]A[/dropcap]Associação Geral de Automóvel Macau-China (AAMC) está preocupada ao nível da segurança devido à adopção do novo modelo de Fórmula 3. Em causa está a velocidade com que se prevê que os novos monolugares podem chegar à Curva do Hotel Lisboa, onde a piloto Sophia Flörsch sofreu este ano um aparatoso acidente. A notícia foi avançada, ontem, pelo portal motorsport.com, que cita fontes próximas da AAMC.

Enquanto o actual modelo de Fórmula 3 debita 240 cavalos e pode alcançar os 270 km/h, a nova versão do monolugar, que vai ser utilizada na próxima temporada, no novo campeonato de F3, pode chegar aos 300 km/h, uma vez que tem 380 cavalos.

Segundo o portal motorsport.com, a AAMC está preocupada com os eventuais riscos. Com carros que atingem velocidades de topo mais elevadas, a organização teme que um acidente semelhante ao que afectou a alemã Flörsch tenha consequências muito mais graves. Na altura em que se trava para a Curva do Lisboa os monolugares atingem a velocidade de ponta, o que quer dizer que em vez de chegar ao local a 270 km/h, a velocidade vai crescer até aos 300 km/h.

Ao mesmo tempo, para os novos monolugares correrem em Macau terá de haver ainda alterações no circuito ao nível das exigências FIA, com a pista a precisar de uma homologação de nível 2. Actualmente o nível de homologação é o 3. Quanto mais elevado o nível, mais apertadas são as exigências em determinados critérios, como por exemplo a segurança. A mesma notícia avança que a AAMC está relutante em fazer as alterações ao circuito citadino, para que este possa receber o nível de homologação mais elevado.

Apesar de tudo existe ainda uma grande incógnita: o peso dos futuros monolugares, que poderá influenciar a velocidade atingida. O actual carro de Fórmula 3 pesa 580 kg, mas o peso do futuro monolugar ainda não é conhecido.

Modelos antigos

A solução para o problema poderá assim passar pela manutenção dos actuais modelos. Segundo fontes anónimas citadas no artigo, Bruno Michel, organizador dos futuros campeonatos de F2 e F3, terá mesmo dito às equipas que os campeonatos vão terminar entre 28 e 29 de Setembro em Sochi, na Rússia.

Como o Grande Prémio de Macau só se realiza em Novembro, poderá assim haver a hipótese de se disputar como um evento fora do campeonato. Uma das grandes vantagens seria a possibilidade de convidar pilotos para aparições esporádicas.

No entanto, é ainda referido no artigo que o Governo de Macau está disponível para colaborar com a Federação Internacional do Automóvel na implementação dos novos carros de Fórmula 3 e mantém-se aberto a negociações.

6 Dez 2018

Macau Jazz Week com concertos gratuitos de 17 a 22 de Dezembro

Está aí a sétima edição do Macau Jazz Week, a semana que traz as batidas e o groove aos amantes do estilo musical. O primeiro concerto está marcado para o dia 17 de Dezembro e o cartaz encerra com uma jam session, como manda a tradição do festival. Os concertos têm entrada gratuita

 

[dropcap]A[/dropcap]s notas inaugurais vão soar pelas 20h do dia 17 de Dezembro e prometem inundar o Teatro Dom Pedro V com a languidez ritmada do swing. Vindos de Singapura, The Jeremy Monteiro Generations Band tem honras de abertura da sétima edição do Macau Jazz Week, o festival que celebra o estilo musical que nasceu nos Estados Unidos, mas que tomou o mundo de assalto. Este ano, o cartaz conta com músicos de Singapura, Taiwan, Macau e Hong Kong, que sobem ao palco do Teatro Dom Pedro V entre os dias 17 e 21 de Dezembro. O espectáculo que encerra o festival, uma jam session que reúne músicos locais e os Jazz Roaster de Hong Kong para um concerto de improviso, terá lugar na Fundação Oriente, às 16h de 22 de Dezembro.

Mas os primeiros convidados chegam de Singapura. The Jeremy Monteiro Generations Band é um conjunto liderado pelo pianista conhecido como o “Rei do Swing de Singapura”. Com uma vasta discografia, o músico tocou e gravou com lendas como Michael Brecker, Charlie Haden, Toots Thielemans, James Moody, Ernie Watts e Simon e Garfunkel.

Esta é a segunda vez que Jeremy Monteiro toca em Macau, depois de há dois anos ter tocado para o público local integrado na Asian Jazz All-Stars Power Quartet. O pianista sobe ao palco do Teatro Dom Pedro V, às 20h do dia 17 de Dezembro, acompanhado pelo saxofonista Sean Hong Wei, Ben Poh no baixo e o baterista Yap Ting Wei. A banda será acompanhada pela voz do convidado especial Louis Soliano. O cantor, conhecido como o Padrinho do Jazz de Singapura, tem uma carreira de quase 60 anos e actuou com gigantes como Stan Getz, Anita O’Day e Bud Powell.

Grandes em palco

O segundo dia, 18 de Dezembro, será marcado pela actuação do conjunto local Macau Anglican College Big Band, que se juntou a outros grupos de estudantes que formam a Macau Jazz Orchestra. O concerto está agendado para as 20h, também no Teatro Dom Pedro V.

No dia 19 de Dezembro, às 20h, o palco do Dom Pedro V será trono do “Rei da Bateria de Taiwan”, Rich Huang e o seu trio constituído pelo pianista Yu-Yin Hsu e o baixista Vincent Hsu.

Os dois dias seguintes são dedicados ao pianista Tony Abelardo, uma lenda do panorama artístico de Macau, que foi director musical do Hotel Lisboa desde 1970. Figura incontornável da primeira geração de músicos de jazz do território, Tony Abelardo foi testemunha da evolução que o estilo musical teve por cá. No dia 20, pelas 19h30 no Teatro Dom Pedro V, o músico dá uma palestra intitulada “50 anos de Jazz em Macau”.

No dia seguinte, às 20h no mesmo local, membros e estudantes da Macau Jazz Promotion Association dão um concerto de tributo ao mestre e professor Tony Abelardo.

Finalmente, no último dia do festival, e para fechar em beleza o Macau Jazz Week, a Fundação Oriente recebe às 16h uma jam session em honra do espírito livre e do improviso. A sessão de encerramento do festival fica ao encargo de músicos locais que se juntam à banda Jazz Roaster, de Hong Kong. Seguindo o espírito do jazz, todos os concertos têm entrada livre.

6 Dez 2018

Xi Jinping em Portugal | Governos assinam 17 acordos bilaterais

[dropcap]O[/dropcap]s governos português e chinês assinaram ontem 17 acordos bilaterais, envolvendo sobretudo às áreas financeira e empresarial, com destaque para o memorando de entendimento sobre a iniciativa chinesa de investimento em infraestruturas “Uma Faixa, Uma Rota”.

Estes acordos foram assinados no Palácio de Queluz, numa cerimónia presidida pelo primeiro-ministro português, António Costa, e pelo chefe de Estado chinês, Xi Jinping, que ontem terminou a sua visita de Estado a Portugal, iniciada na terça-feira à tarde.

O memorando de entendimento sobre cooperação no quadro da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” insere-se na vertente económica relativa à “Rota da Seda Marítima do século XXI” e foi assinado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e pelo diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (com estatuto ministerial), He Lifeng.

No texto deste compromisso, estão estabelecidas as modalidades de cooperação bilateral no âmbito da iniciativa chinesa ‘Uma Faixa, Uma Rota’, abrangendo uma ampla gama de sectores, com destaque para a conectividade e para a mobilidade eléctrica.

Também na área económica, Augusto Santos Silva e o ministro do Comércio chinês, Zhong Shan, assinaram um memorando sobre cooperação em matéria de comércio de serviços.

No documento, salienta-se que Portugal e a China se comprometem no sentido de que “o comércio de serviços será, no quadro da realização da Comissão Mista Económica, um dos pontos de agenda de diálogo bilateral, abrangendo áreas como transportes, turismo, finanças, propriedade intelectual, tecnologia ou cultura”.

Espaço empresas

No âmbito empresarial foram assinados sete acordos, o primeiro dos quais um memorando de entendimento para a Implementação em Portugal do STARLAB – um laboratório de pesquisa de tecnologia avançada nos domínios do mar e do espaço.

Um projecto que envolve a portuguesa Tekever e a Academia Chinesa das Ciências que tem como objectivo “alargar a cooperação com outras entidades internacionais em áreas como a visão 4D, a exploração do espaço profundo, desenvolvimento de plataformas de satélites ou de tecnologias de monitorização e proteção dos oceanos”.

Outros acordos envolveram a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) e a “COFCO International” (da área dos negócios agro-industriais) para o estabelecimento de um centro de serviços partilhados em Matosinhos, com uma previsão inicial de criação de 150 postos de trabalho; a Caixa Geral de Depósitos e o Banco da China, prevendo a emissão de dívida pública em moeda chinesa (Yuan), além de formas de cooperação bilateral em mercados terceiros no âmbito da chamada “Rota da Seda”; a EDP e a China Three Gorges no âmbito da responsabilidade social da empresa; e a State Grid e a REN para o desenvolvimento em investigação em energia, projectos de interconexão entre Portugal e Marrocos e criação de um programa de estágios internacionais.

Ainda no domínio empresarial foram assinados acordos entre o Banco Comercial Português e a Union Pay, e, igualmente, entre a MEO e a Huawei sobre o desenvolvimento da tecnologia 5G, tendo em vista permitir um aumento qualitativo do acesso à rede de banda larga móvel e comunicações com maior fiabilidade.

Cultura e ciência

Na cerimónia do Palácio de Queluz, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, e o seu homólogo chinês, Luo Shugang, assinaram um acordo para a programação de festivais culturais – área em que também se avançou para uma parceria entre a RTP e um grupo media da China para a produção conjunta de documentários.

Na ciência e Ensino Superior, Portugal e China têm agora um memorando de entendimento sobre a promoção de actividades de cooperação para o desenvolvimento de uma parceria, assim como acordos para o estabelecimento do Instituto Confúcio na Universidade do Porto e para a instalação de um Centro de Estudos Chineses na Universidade de Coimbra.

Portugal e China assinaram ainda um protocolo sobre requisitos fitossanitários para a exportação de uva de mesa portuguesa e um memorando de entendimento no domínio da água – dois acordos que foram assinados, respectivamente, pelos ministros da Agricultura, Capoulas Santos, e do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.

De referir, ainda, o compromisso em torno de uma carta de intenções sobre cooperação entre as câmaras municipais de Tianjin e de Setúbal – documento que foi subscrito pelos autarcas Maria das Dores Meira e Zhang Guoqing.

6 Dez 2018