Galgos | Concessionária do terreno do Pac On ainda não pediu alteração de finalidade

O pedido submetido pela Yat Yuen à DSSOPT com vista à transferência dos galgos para um terreno localizado no Pac On ficou em águas de bacalhau, dado que, antes, o concessionário da parcela tem de solicitar a alteração de finalidade, algo que ainda não fez

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ontinua tudo em aberto relativamente a uma eventual transferência dos galgos para o terreno no Pac On, para onde foi pensado um centro internacional a ser gerido pela Yat Yuen e pela Sociedade Protectora dos Animais – Anima. A Yat Yuen entregou, na terça-feira, um pedido à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) para o efeito, mas que foi colocado de parte, dado que o pedido de alteração de finalidade tem de ser feito pela concessionária do terreno, algo que ainda não sucedeu.

A explicação foi facultada ontem pelo secretário para as Obras Públicas e Transportes: “Previamente à avaliação desse requerimento, o concessionário deve formular um pedido de alteração de finalidade”. “Como não coincide com a finalidade do terreno, antes de apreciar este pedido, há que regularizar” essa situação, afirmou Raimundo do Rosário, em declarações aos jornalistas, à margem da inauguração da Estação Postal do Fai Chi Kei.

Localizado no 218 do lote E do Largo de Pac On, com uma área de 4.200 metros quadrados, o terreno foi concedido em 1988 à Bel Fuse para a construção de uma unidade industrial de componentes electrónicos. Segundo dados da Conservatória do Registo Predial, desde 2007, essa propriedade, encontra-se inscrita, em nome da Sociedade de Desenvolvimentos Bong Vui.

Raimundo do Rosário declinou comentar, porém, a eventual impossibilidade de a Yat Yuen explorar a propriedade, devido a requisitos inerentes à concessão de que o terreno tem que ser utilizado em exclusivo pela concessionária: “Quando houver um pedido concreto de exploração logo veremos. Não vou responder a perguntas em abstracto”.

“Fico à espera que os interessados – concessionário ou quem quer que seja – formulem mais pedidos. Quando formularem, respondemos. Não vale a pena estarmos a ficcionar outras situações”, insistiu.

A competência para aprovar a alteração de finalidade do terreno, cuja concessão é definitiva, é do Chefe do Executivo. Por esclarecer ficou também que finalidade poderia ser solicitada para o alojamento dos galgos. “Quando vier [o pedido] analisaremos”, respondeu o secretário.

Questionado sobre a obrigação da finalidade ser alterada, face à existência de eventuais outros edifícios industriais usados para diferentes fins, Raimundo do Rosário afirmou: “Se houver um caso concreto de um terreno em que no Boletim Oficial tem uma finalidade e ache que no sítio está outra suscite a questão”.

Um Bong

A Sociedade de Desenvolvimentos Bong Vui, que opera desde 2007, tem três proprietários: duas empresas (a Companhia de Desenvolvimento Predial Kok Vui, com a maior participação, e a Empresa Bondi), bem como por Lam Tak Va, que é também administrador e proprietário da Empresa Bondi, a par com a mulher, Tai Sok Fan. Segundo a Macau News Agency (MNW), o empresário é membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês pela província de Henan.

Já a Companhia de Desenvolvimento Predial Kok Vui, estabelecida em 1991, é detida pelo casal Ung Kin Kuok e Camila Ho, que desempenham o cargo de administradores não-sócios na Bong Vui, segundo dados da Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis, consultados pelo HM.

Segundo a MNW, Ung Kin Kuok é um dos accionistas do Macau Roosevelt Hotel, posição que lhe foi atribuída igualmente pelos ‘media’ em língua chinesa, nomeadamente em 2013.

A unidade, de cinco estrelas, abriu portas em Julho do ano passado numa parcela concedida inicialmente à Companhia de Corridas de Cavalos de Macau que foi cedida à Sociedade Hoteleira Macau-Taipa Resort.

Da STDM a ‘offshores’

Segundo dados da Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis, consultados pelo HM, a Sociedade Hoteleira Macau-Taipa Resorts tem Ung Kin Kuok como um dos dois administradores não-sócios. Essa empresa, com um capital social de um milhão de patacas, iniciou operações em 1993, com a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), a cujo universo pertence a Yat Yuen. Rui Cunha era à altura um dos sócios da emprea. Contudo, em 2000, deu-se a primeira de muitas mexidas, com a Companhia de Corridas de Cavalos a adquirir 990 mil patacas de participação da STDM. Oito anos depois, a fatia da Companhia de Corridas de Cavalos é adquirida por duas empresas, ambas com sede nas Ilhas Virgens Britânicas; e a minoritária de Rui Cunha por uma delas.

Assim, em Dezembro de 2008, a empresa, que tem como objecto a construção de hotéis e o exercício da indústria hoteleira e similares, fica com a Smart Right Enterprises e a Smart Lion Enterprises como proprietárias. Em 2011, o capital volta a mudar de mãos, passando para a esfera de outras duas empresas (Garden Rise e Winfull Rich), também com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. Em 2013, o cenário repete-se, com outras duas companhias sedeadas nas Ilhas Virgens Britânicas (Smart Concern e Top Listing) a dividirem a propriedade da Sociedade Hoteleira Macau-Taipa Resort. O último desenvolvimento faz referência ao penhor das duas quotas pelo Banco Industrial e Comercial da China, cujo fundamento era aparentemente garantir o pagamento de um empréstimo.

3 Ago 2018

Jogo | Wynn Resorts mais do que duplica lucros, Macau é o principal responsável

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Wynn Resorts apresentou lucros líquidos de 155,8 milhões de dólares no segundo trimestre de 2018, mais do dobro do que no período homólogo de 2017, devido aos bons resultados do jogo em Macau. “O aumento no lucro líquido atribuível à Wynn Resorts Limited deveu-se principalmente a um aumento na receita operacional do Wynn Palace”, um dos dois casinos que opera em Macau, esclareceu em comunicado o grupo com sede em Las Vegas, nos Estados Unidos.

De acordo com o grupo hoteleiro e concessionário de jogo em Las Vegas, no segundo trimestre do ano passado a Wynn Resorts tinha alcançado 74,9 milhões de dólares, uma diferença de 80,9 milhões de dólares em comparação com os dados apresentados nesta quarta-feira.

As receitas operacionais do trimestre em análise do ‘resort’ integrado Wynn Palace, em funcionamento desde 2016, foram de 620,6 milhões de dólares, mais 56,6 por cento em relação ao mesmo período de 2017.

O EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) no Wynn Palace foi de 179,3 milhões de dólares, mais 105,1 por cento comparando com o período do segundo trimestre do ano passado, pode ler-se no mesmo comunicado. Por outro lado, o segundo empreendimento que o grupo tem em Macau, o Wynn Macau, sofreu um decréscimo nas receitas em relação ao período em análise do ano passado. As receitas operacionais atingiram 543,3 milhões de dólares, menos 14,9 por cento face aos 638,5 milhões arrecadados no mesmo período de 2017.

De acordo com o comunicado, o grupo alcançou receitas de 1,61 mil milhões de dólares, o que representa um aumento 9 por cento em relação ao segundo trimestre do ano passado.

3 Ago 2018

Saúde | Médicos do privado preocupados com critérios mais rigorosos

Os médicos que exercem a profissão há mais tempo temem que a definição de critérios mais apertados para exercer medicina leve a que sejam substituídos por profissionais mais qualificados. Porém, o médico e deputado Chan Iek Lap defende que a nova lei vai aumentar a confiança na medicina local

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s médicos do sector privado estão preocupados com a possibilidade dos novos critérios para profissionais de saúde poderem gerar despedimentos, principalmente entre os médicos com mais tempo de profissão. As preocupações foram expressas num encontro com cerca de 50 profissionais de saúde, organizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM).

Em causa está a proposta de lei sobre o regime legal da qualificação e inscrição para o exercício da actividade dos profissionais de saúde, que foi apresentada, na quarta-feira, pelo Conselho do Executivo e que foi entregue ontem na Assembleia Legislativa (AL).

A proposta de lei vai ser aplicada ao sector público e privado e tem como objectivo uniformizar os critérios de ingresso e requisitos de inscrição na profissão.

Segundo um comunicado da FAOM, os médicos presentes no encontro consideram que o Governo deve divulgar mais informação sobre a matéria tão depressa quanto possível. Também foi divulgado que alguns médicos sentem que a proposta ameaça alguns dos profissionais mais velhos.

Ao mesmo tempo, houve médicos que se mostraram a favor do estabelecimento da Academia Médica de Macau, porque consideram que pode aumentar o nível de serviços de saúde no território.

Mais confiança

Por sua vez, Chan Iek Lap, deputado eleito pela via indirecta e ligado ao sector dos médicos, defendeu que a proposta vai elevar a confiança dos cidadãos no pessoal médico, o que beneficia ao sector.

Ao Jornal Ou Mun, Chan Iek Lap apontou que, devido à ausência da acreditação no sector dos serviços de saúde de Macau, principalmente em comparação com o que se pratica no exterior, o nível da medicina local acaba por ser mais baixo. Neste sentido, explicou, acaba por ser natural que os residentes demonstrem desconfiança face ao sector.

O médico que recentemente levantou questões sobre a importação de médicos vindos de Portugal, revelou preocupações quanto às oportunidades de estágio para os recém-formados. Isto porque apenas há três hospitais no território, incluindo o a unidade hospitalar da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.

Estágio complica

Já Wong Kit Cheng entende que o regime que define as qualificações e inscrição para o exercício das profissões no sector da saúde é uma necessidade urgente. No entanto, a deputada questiona se em Macau há sítios e professores suficientes que satisfaça a procura de estágios para os recém-formados.

A deputada frisou igualmente que entre as 15 categorias de profissionais de saúde poderá ser necessário atender às diferentes particularidades de cada profissão. Por causa disso, Wong Kit Cheng sugere que se tenha em consideração os diferentes trabalhos, em vez de se realizar um estágio uniforme para as 15 categorias dos profissionais de saúde.

Já Paulo do Lago Comandante, presidente da Associação dos Investigadores, Praticantes e Promotores da Medicina Chinesa de Macau, acha que o regime pode aumentar o nível de reconhecimento dos médicos de medicina chinesa. Contudo, espera que o Governo preste apoio financeiro a estagiários e professores, uma vez que ao longo de um período de, pelo menos, seis meses os futuro médicos têm de fazer um estágio não-remunerado.

3 Ago 2018

Agências de emprego vão poder cobrar metade do ordenado a trabalhadores

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s agências de emprego vão poder cobrar honorários no valor de 50 por cento do primeiro salário recebido de um trabalhador que recorra aos seus serviços e assim encontre emprego. A cobrança só poderá ser feita depois de 60 dias da contratação e num único pagamento. A medida faz parte da nova proposta de lei da actividade de agência de emprego, que está a ser discutida pela 3.ª comissão permanente da Assembleia Legislativa.
Nos casos em que, por exemplo, uma agência arranje emprego a um funcionário de limpeza e o primeiro salário base sejam 10 mil patacas. Após 60 dias, a agência pode cobrar até 5 mil patacas ao trabalhador. Esta é uma medida que se aplica tanto a residentes como a não-residentes.
“Esta é uma proposta com que a comissão concorda, mas há um problema no caso dos trabalhadores não-residentes. Se após o período de experiência ele abandonar o cargo e voltar para o país de origem, então dificilmente a agência vai ser paga pelo serviço prestado”, afirmou Vong Hin Fai, presidente da comissão.
“Não fizemos uma contraproposta em relação a este aspecto, mas alertámos o Governo par este aspecto porque juridicamente é difícil colocar uma acção de pequena causa. O Executivo vai ter de pensar como resolver esta situação”, apontou.

Questões de heranças

Em relação à cobrança de honorários às empresas que procuram trabalhadores, não haverá um limite máximo. As agências poderão praticar os preços que pretenderem.
“A comissão concorda que sejam a regras do mercados a definir os montantes cobrados. Se uma agência praticar um preço muito elevado, haverá sempre oportunidade de recorrer aos serviços de uma com o preço mais baixo”, sublinhou o deputado. “Só no caso dos honorários cobrados aos trabalhadores é que há limite por uma questão de protecção”, completou.
Outro dos temas debatidos ontem à tarde foi a herança por parte de trabalhadores do Governo de participações sociais em agências de emprego. Aos funcionários públicos é exigido o regime de exclusividade, mas a proposta de lei não prevê o que acontece nas situações em que há uma herança da participação numa empresa. Por este motivo, o Governo prometeu aos deputados que vai arranjar uma alternativa, que passará por definir um prazo legal para a venda da participação herdada.

 

3 Ago 2018

Táxis | Governo e deputados com dúvidas sobre poderes de polícias de folga e à paisana

Os polícias à paisana ou de folga têm autoridade para aplicar a lei a um taxista que cometeu uma infracção? A questão está a levantar muitas dúvidas e os deputados exigem mais explicações ao Governo

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] questão dos polícias à paisana e fora de serviço poderem intervir quando se deparam com infracções de taxistas vai obrigar o Governo a reformular o artigo da proposta de lei. Vong Hin Fai, presidente da comissão que está a analisar o diploma, referiu na reunião anterior que os agentes apenas poderiam actuar como testemunhas nos casos em que estivessem envolvidos já fora do horário de serviço ou durante folga.

Contudo, ontem, em mais uma reunião entre o Executivo e os deputados foi sublinhada a intenção de dar aos agentes fora de serviço o poder para obrigarem os taxistas a parar no local, enquanto esperam pela chegada dos colegas. “Segundo o artigo, se os agentes da autoridade forem vítimas de uma infracção administrativa assumem logo a qualidade de executor da lei”, começou por explicar o presidente da comissão. “Assim, o agente tem poder para parar o veículo e dizer ao condutor para permanecer no local, enquanto aguarda pelos colegas que vão investigar”, acrescentou.

Na reunião não foram discutidos pormenores. Contudo, o próprio Vong Hin Fai admitiu que há um aspecto que o preocupa. “De acordo com a explicação do Governo, especialmente na PSP há agentes fardados e à paisana. Os polícias à paisana também têm autoridade pública. Mas para sabermos se esse tipo de polícias está de folga ou de serviço é necessário ir à esquadra…”, apontou.

Esta situação pode levantar ainda outros problemas porque, como foi explicado, se um taxista se recusa a parar perante um polícia à paisana pode incorrer no crime de desobediência.

Contudo estes agentes, mesmo que investidos de autoridade pública, não vão poder iniciar um processo de acusação. Esta escolha deve-se a uma questão de imparcialidade no processo. Se o polícia for a vítima e a pessoa que trata da acusação, a questão da imparcialidade pode ser posta em causa, de acordo com os deputados.

Face a esta situação, o Governo comprometeu-se a entregar um novo artigo sobre este aspecto para apreciação dos deputados.

Acesso a todos

Também ontem os deputados discutiram as gravações das conversas dentro dos táxis, que vão ter de ser guardados numa espécie de caixa-negra. Segundo a proposta de lei, as gravações têm de ser mantidas durante 90 dias, porém os deputados acham o tempo excessivo e disponibilizaram-se para o reduzir.

Ao mesmo tempo, o Governo garantiu aos deputados que tanto os taxistas como os clientes e outras partes interessadas vão ter acesso às gravações.

Raimundo do Rosário, que esteve presente na reunião, frisou que a discussão da lei está a ser feita artigo a artigo e que se vai tentar encontrar um ponto de equilíbrio entre a proposta do Governo e as posições dos deputados.

3 Ago 2018

Autocarros | Pereira Coutinho pede debate em comissão de acompanhamento

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho enviou uma carta ao presidente da comissão de acompanhamento dos assuntos da administração pública da Assembleia Legislativa, Si Ka Lo, pedindo a marcação de uma reunião para discutir a fusão de duas operadoras de autocarros.

Coutinho quer debater “a recente fusão entre a Nova Era e a TCM, que se vai tornar na maior operadora do mercado de autocarros públicos, diminuindo a concorrência”, bem como “as incertezas face ao curto período de 15 meses [de renovação de contrato], a garantia da qualidade dos serviços que foram dada para autorizar a fusão e a formação dos condutores”.

3 Ago 2018

Governo já trabalha na lei de limitação aos sacos de plástico

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) divulgou que já está a trabalhar na futura lei para limitar a utilização dos sacos de plástico, assim como na criação de um apoio financeira à aquisição de equipamentos e veículos para sector da recolha de resíduos. A proposta vai ser elaborada de acordo com a opinião do público, mas até ao final do ano não vão ser divulgadas medidas concretas, admitiu o director da DSPA, Raymond Tam, numa resposta à interpelação escrita da deputada Agnes Lam.

Raymond Tam admite ainda que para haver uma efectiva redução de resíduos, que os comportamentos têm de mudar na fonte, ou seja junto dos consumidores e comerciantes, ao mesmo tempo que sublinha que a sociedade tem de participar de forma activa para a redução do uso dos materiais de plástico.

Na resposta, o director acrescentou ainda que tem efectuado trabalhos de promoção e educação através de diversas formas diferentes junto da população. Contudo, no futuro, Raymond Tam refere que vai ser também a lei a obrigar a uma redução dos sacos de plástico e resíduos.

Por outro lado, o Governo frisa que, para já, não vai considerar estabelecer critérios para os componentes dos sacos de plástico e das palhinhas.

3 Ago 2018

Tribunais | Advogados criticam fim de recurso para co-arguidos no TUI

A negação do direito a recurso de co-arguidos em processos onde o Chefe do Executivo seja também arguido, pelo facto dos casos serem julgados no Tribunal de Última Instância, gera críticas entre alguns membros da comunidade jurídica. A medida é categorizada como uma “bizarria” e vista como “aumento político do controlo do Governo”

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lguns advogados contactados pelo HM afirmam não compreender a razão porque se está a colocar em cima da mesa a possibilidade de retirar o direito ao recurso dos co-arguidos que se vejam envolvidos em processos onde o Chefe do Executivo seja também arguido. Consideram tratar-se de uma “bizarria”, de um “retrocesso” face à intenção inicial da revisão da lei e até consideram ser um “aumento político do controlo do Governo”.

“O simples facto de se admitir essa hipótese já é uma bizarria”, começa por referir Sérgio de Almeida Correia. “Não sei de que cabeça é que saiu essa ideia peregrina, mas um dos objectivos que estava por detrás da revisão desta lei era exactamente a extensão do direito de recurso no sentido de corrigir uma deficiência do sistema.

Essa era uma contradição e algo que necessitava de ser corrigido”, acrescenta o causídico.

Uma vez que o direito de recorrer das decisões do juiz “está consagrado no sistema jurídico de Macau e está previsto na Lei Básica”, esta nova possibilidade, que ainda está a ser analisada pelos deputados e pelo Governo, significa a existência de “um número ainda mais alargado de pessoas em relação às quais fica vedado o direito de recurso”, o que é “um disparate”.

“Isso não está na natureza do sistema jurídico de Macau e aquilo que deveria ser feito era alargar o âmbito do recurso e não restringi-lo ainda mais”, frisa Sérgio de Almeida Correia.

Aquando dos processos que levaram o ex-procurador do Ministério Público, Ho Chio Meng, e o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, litigar na barra dos tribunais, houve processos conexos julgados em instâncias inferiores e não se registaram problemas de ordem processual, em termos de competência dos tribunais, que levassem a esta necessidade legislativa.

“Quando é feita a separação de processos não advém qualquer problema”, adiantou o advogado. “O que faria sentido é que também o Chefe do Executivo tivesse direito ao recurso e não que todos os que sejam apanhados na corrente deixem de ter direito ao recurso. Imaginemos um caso piramidal de corrupção, que vai desde a base ao Chefe do Executivo, e imaginemos que estão envolvidas 200 pessoas. Faz sentido que centenas de pessoas sejam julgadas na última instância sem direito a recurso?”, questiona.

Passo atrás

O HM tentou chegar à fala com o presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, que não quis fazer comentários por não estar no território. No entanto, aquando da elaboração do parecer com opiniões sobre a revisão da lei de bases da organização judiciária, a AAM não se pronunciou sobre esta matéria, uma vez que não estava, sequer, prevista.

Jorge Menezes, também advogado, considera que a medida pode implicar “um aumento político do controlo do Governo”.

“É mais um passo atrás e representa um aumento político do controlo do Governo. O Chefe do Executivo controla o Governo, a falta de recurso retira-lhe um direito fundamental em violação da Lei Básica, e implica, por esta via, um maior controlo sobre o Chefe do Executivo.”

Para o advogado, “não só há controlo na sua designação, como há controlo sobre o modo de governação, pois a falta de recurso – como a história da RAEM e de outros (poucos) países revela – diminui a qualidade da justiça e os direitos do arguido. Saber que as suas decisões não vão ser reavaliadas por outro tribunal aumenta a possibilidade de violação de direitos”.

Jorge Menezes considera que “arrastarem pessoas comuns, retirando-lhes direitos que todos os cidadão deverão ter, pela circunstância de estarem envolvidos no mesmo processo que o Chefe do Executivo, é injustificável”.

Sulu Sou, deputado que pertence à 3ª comissão permanente da Assembleia Legislativa, que actualmente analisa este diploma na especialidade, também se revela contra esta possibilidade. “Penso que todos devem ter direito ao recurso e acesso a julgamentos justos, incluindo o Chefe do Executivo”, frisou.

3 Ago 2018

Efeméride | Há 50 anos Salazar caía da cadeira. Macau soube um mês depois

Faz hoje 50 anos que António de Oliveira Salazar caiu de uma cadeira na sua casa de férias no Estoril. Um momento que marcou o início do fim do Estado Novo. Em Macau só soube do ocorrido em Setembro e chegou a celebrar-se uma missa onde os crentes pediram as rápidas melhoras do presidente do Conselho. O incidente não aligeirou a força do regime no território, onde censura persistiu até depois de 1974

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]omem de hábitos e regras escrupulosamente seguidas, António de Oliveira Salazar passava habitualmente férias no Forte de Santo António do Estoril. Há 50 anos, no dia 3 de Agosto, aconteceu o que ninguém esperava: o presidente do Conselho de Ministros, que havia instaurado o Estado Novo em 1933, caía de uma cadeira de lona. O episódio marcou o início do fim não só da sua carreira política e revestiu-se de simbolismo. O regime fascista entrava no derradeiro declínio.

Em Macau, as notícias chegavam a conta-gotas e estavam dependentes da vontade da censura. Por isso, só em Setembro o jornal Gazeta Macaense, dirigido por Damião Rodrigues, deu a notícia da queda de Salazar publicando o seu boletim clínico na primeira página. Aquando da publicação do terceiro boletim, Salazar tinha uma “função renal normal” e mostrava “sinais de franca recuperação motora e sensorial”.

Como era um diário “visado pela censura”, o Gazeta Macaense publicava, três edições depois, o sexto boletim clínico de António de Oliveira Salazar na íntegra, acompanhado de um telegrama que havia sido enviado pelo governador Nobre de Carvalho ao Ministério do Ultramar. Neste lia-se que na sessão da Câmara Municipal das Ilhas se tinha falado do nome de Salazar, tendo sido apresentados “desejos ardentes dum completo e rápido estabelecimento”. Nessa mesma reunião decidiu-se pela realização de uma missa no dia seguinte, “pelas nove horas” e “pela evolução favorável do convalescente”.

HM

As imagens da missa voltaram a fazer manchete do Gazeta Macaense na sua edição de 20 de Setembro de 1968 com o título “Macau reza por Salazar”.

“Promovido pelo Leal Senado da Câmara de Macau, realizou-se ontem na Igreja de São Domingos uma missa pelo pronto restabelecimento do presidente do conselho, o professor doutor António Oliveira Salazar. Uma grande multidão, gentes de todas as camadas sociais, desde as mais altas individualidades até aos mais humildes funcionários, bem como o numeroso público, português, chinês e de outras nacionalidades, encheu o vasto templo assistindo à missa celebrada pelo reverendo padre José Barcelos Mendes”, pode ler-se.

Cidadão de Macau

Dois anos antes, no dia 24 de Maio de 1966, Salazar foi proclamado, por unanimidade, “cidadão honorário da cidade de Macau”, e “quatro dias depois o seu retrato tinha sido descerrado nos Paços do Conselho”, escreveu o jornal.

Além de umas breves notícias do matutino, que incluíam a reprodução de telegramas, sem assinatura de qualquer jornalista, pouco se escreveu sobre o incidente que levaria ao fim do regime e à substituição de Salazar por Marcello Caetano na presidência do Conselho de Ministros.

De acordo com António Cambeta, que à época tinha deixado a Marinha e trabalhava numa empresa chinesa, pouco se falava do assunto no seio das comunidades portuguesa e macaense. “Poucas notícias foram dadas sobre o assunto”, garantiu ao HM. “Não houve diferenças nenhumas, mesmo depois do 25 de Abril de 1974. A censura continuou até depois dessa data, continuou a existir a polícia secreta e a polícia judiciária. E se perguntar a outros portugueses que na altura já residiam cá, vão dizer-lhe exactamente a mesma coisa.” No que diz respeito à comunidade chinesa, esta “não fazia ideia do que se passava”, uma vez que “os chineses nunca ligaram à política portuguesa”, adiantou António Cambeta.

João Guedes, jornalista e autor de vários livros sobre a história de Macau, garantiu que “o impacto desse acontecimento foi nulo” e só existiu “no coração dos defensores do salazarismo, que estavam todos no poder aqui”. “De resto não houve alterações visíveis nenhumas. As coisas sabiam-se mais tarde e a censura só deixava sair as coisas na altura que o Governo entendia que deveriam sair, nem que fosse um ano depois. Não se notou nenhuma diferença, a censura perdurou até ao 25 de Abril, sem alterações.”

A última notícia do estado de saúde de Salazar, vinda da “Lusitânia”, dava conta de que “o presidente do Conselho estava gravemente doente”. Novamente com grande destaque na primeira página, lia-se que “o professor Salazar foi esta manhã observado pelo neurologista americano, doutor Huston Merritt, especialista do Instituto Neurológico de Nova Iorque, que se deslocou propositadamente a Lisboa a fim de tratar o presidente do Conselho, após o oferecimento do Governo dos Estados Unidos para enviar a Portugal o especialista que os neuro-cirurgiões portugueses julgassem mais indicado para observar o ilustre enfermo”. 

Marcello, o “aluno excepcional”

A 27 de Setembro de 1968 tornou-se inevitável o afastamento de Salazar do poder, uma vez que o acidente provocou-lhe graves danos cerebrais que viriam a culminar na sua morte, em 1970. Marcello Caetano tomou posse nesse dia, mas, segundo declarações ao Diário de Notícias do historiador Filipe Ribeiro de Meneses, autor de “Salazar – Biografia Política”, “Salazar não tinha a mais pequena intenção de largar o poder”.

A Gazeta Macaense publicou a notícia da substituição e uma breve biografia de Marcello Caetano cheia de elogios. Num texto sem assinatura, o último presidente do Conselho de Ministros foi descrito como um “aluno excepcional que sempre se impôs à admiração dos mestres e condiscípulos pela lucidez da sua inteligência e apego ao trabalho, que lhe valeram elevadas classificações”.

Licenciado em Direito “com raro brilho”, em 1931, Marcello Caetano publicou o Manual de Direito Administrativo em 1937. Tal como o seu antecessor, era um nome bastante considerado na classe jurídica portuguesa.

Jorge Fão, hoje dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, recorda-se que, em Macau, aceitou-se bem a chegada de Marcello Caetano como o novo dirigente do Executivo da metrópole. “As comunidades portuguesa e macaense reagiram bem à entrada do Marcello Caetano no Governo, porque o Salazar tinha a fama de ser um ditador. O Marcello Caetano, para nós, tinha uma outra imagem, não era tão ditador como o outro. A comunidade aceitou-o de bom grado, mas passados uns anos as pessoas fartaram-se dele, porque em Portugal continuou a existir um partido único.”

Depois do invernoso acidente de mobiliário que alerou a história de Portugal, seguiu-se a “Primavera Marcelista”, que trouxe uma muito ligeira aragem à Assembleia Nacional, hoje Assembleia da República. O parlamento passou a ter, depois de 1969, deputados da ala liberal, que lutavam por uma abertura do regime à democracia.

Contudo, em Macau, nenhuma mudança se fez notar com essa abertura. “Havia uma maior liberdade em Portugal mas em Macau sentiu-se muito pouco essa liberdade. Mesmo depois do 25 de Abril a liberdade era relativa. No caso da chegada de Marcello Caetano, para nós significou exactamente a mesma coisa. Continuava a existir o partido único e o governador era o homem máximo, ditava todas as regras e ninguém ia contra o governador”, recorda Jorge Fão.

O presidente da APOMAC destaca, no entanto, a influência que o novo presidente do Conselho tinha na área do Direito, mesmo a quilómetros de distância. “O Marcello Caetano tinha uma certa vantagem, era muito bom em Direito. Nós [na Função Pública] tínhamos de estudar certos manuais de Direito e ele era um homem de cabeça. Ainda hoje se cita o manual de Direito Administrativo de Marcello Caetano”, frisou.

Na mesma entrevista que concedeu ao Diário de Notícias, o autor da biografia de Salazar lembrou que o tratamento depois da queda da cadeira demorou a chegar, pois poucos tiveram noção das consequências. O ex-dirigente do Estado Novo nunca havia perdido a consciência. “Houve naturalmente alguma consternação depois da queda, mas só alguns dias mais tarde foi Salazar visto pelo seu médico, e isso em função de uma consulta previamente marcada – e o Dr. Eduardo Coelho nada notou de anormal.”

Filipe Ribeiro de Meneses adiantou ainda que, a 3 de Setembro, o ditador ainda presidiu à reunião do Conselho de Ministros. “Segundo Franco Nogueira, Salazar estava claramente afectado nessa reunião, durante a qual pouco falou. Esta deterioração é aliás bem visível no diário de Salazar – a escrita deteriorou-se muito nestes dias de Setembro. Mas ninguém ousou sugerir que o ditador precisava de cuidados médicos”, referiu o historiador.

3 Ago 2018

Gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2017

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em todo no mundo em 2017, um ano marcado por temperaturas anormalmente elevadas e uma fusão do gelo sem precedentes no Ártico, segundo um documento de referência publicado ontem.

O relatório anual publicado pela agência dos EUA para os oceanos e a atmosfera (NOAA, na sigla em inglês) e sociedade norte-americana de meteorologistas divulga um conjunto de indicadores que mostra a aceleração em 2017 do aquecimento do planeta.

Este aquecimento resulta da combustão de energias fósseis, que aumentam a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera.

O ano de 2017 foi o ano em que Donald Trump anunciou a retirada dos EUA do acordo internacional de Paris sobre o clima.

Os EUA são o segundo poluidor mundial, a seguir à China, mas a eleição do milionário republicano para Presidente colocou no poder os que negam a responsabilidade humana no aquecimento do planeta, e o próprio Dolnald Trump, que têm procurado desmantelar a regulação deixada pelo presidente antecessor, Barack Obama, destinadas a mitigar o efeito nefasto das atividades humanas.

O documento, com 300 páginas, compilado por mais de 450 cientistas originários de cerca de 60 países, usa o termo ‘anormal’ mais de uma dezena de vezes para se referir às tempestades, às secas, às temperaturas elevadas ou ainda o degelo recorde verificado no Ártico em 2017.

Entre as principais conclusões do documento está a dos níveis recordes atingidos pelos tipos de gases com efeito de estufa mais perigosos libertados na atmosfera, designadamente o dióxido de carbono e o metano.

A taxa de concentração do dióxido de carbono (CO2) na superfície da Terra atingiu 405 partes por milhão, que é “a mais alta desde que há registos das medidas atmosféricas modernas”. No documento salientou-se ainda que “a taxa de crescimento global do CO2 quase que foi multiplicada por quatro desde o início dos anos 1960”.

O recorde do ano mais quente da época moderna continua a ser o estabelecido em 2016, mas o ano de 2017 não está longe, “com temperaturas bem mais elevadas do que a média” em boa parte do planeta, sublinhou-se no documento.

Em função dos dados em que o relatório se baseia, 2017 foi o segundo ou o terceiro ano mais quente desde meados do século XIX e foi também “o ano mais quente sem o El Nino”, desde que os dados são coligidos de forma sistemática, sublinhou-se no texto, aludindo ao fenómeno climático ocasional que provoca a subida da temperatura.

No último ano, foram registadas temperaturas recorde na Argentina, no Uruguai, na Espanha e na Bulgária. Quanto ao México, ele “bateu o seu recorde de calor pelo quarto ano consecutivo”.

Em 2017, o nível do mar também atingiu um valor recorde pelo sexto ano consecutivo. O nível médio do mar está agora 7,7 centímetros acima do registado em 1993.

Gregory Johnson, um oceanógrafo que trabalha para a NOAA, avisou, em declarações à comunicação social, que “mesmo que se congelasse as taxas de gases com efeito de estufa nos seus níveis atuais, os oceanos continuariam a aquecer e o mar continuaria a subir durante séculos, talvez mesmo milénios”.

No Ártico, a temperatura no solo era superior em 1,6 graus Celsius à média do período 1981-2010 e o documento sublinhou que “o Ártico não conheceu temperaturas tão anormalmente elevadas do ar e da superfície da água desde há dois mil anos”.

Em março, a extensão máxima do banco de gelo foi a mais fraca desde que há 37 anos começou a ser medida por satélite.

Os glaciares do planeta recuaram também pelo 38.º ano consecutivo.

Por outro lado, “as precipitações na terra firme em 2017 foram nitidamente abaixo da média”, sublinhou-se no relatório.

As temperaturas mais elevadas das massas oceânicas conduziram a uma taxa de humidade mais elevada, em particular nestes três últimos anos, o que provocou mais precipitação, enquanto outras partes do planeta sofreram longos períodos de seca.

2 Ago 2018

Artistas António Dias, Mário Cravo e Eleanora Koch morreram no mesmo dia no Brasil

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mundo das artes brasileiro está de luto depois de ter perdido no mesmo dia, na quarta-feira, três conceituados artistas: António Dias, Mário Cravo e Eleonora Koch.

António Dias, famoso pelas suas obras em papel ‘kraft’, morreu durante a tarde de quarta-feira no Rio de Janeiro aos 74 anos, após anos a lutar contra um cancro.

Dias nasceu em 1944 na cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba (nordeste) e mudou-se para o Rio de Janeiro aos 14 anos. Em 1965, viajou para a Europa com uma bolsa de estudos de pintura que havia recebido na Bienal Francesa e, aos 21 anos, ganhou o prémio da Bienal de Paris.

Em 1972 recebeu uma bolsa da Fundação Simon Guggenheim para trabalhar em Nova Iorque e, cinco anos depois, viajou para a Índia e Nepal, onde estudou técnicas de produção de papel.

Já Mário Cravo, de 95 anos, morreu na cidade de Salvador, no estado da Bahia, vítima de doença prolongada.

O artista baiano começou a sua carreira como pintor, mas ficou notabilizado pela escultura.

Estudou primeiro no Rio de Janeiro e depois nos Estados Unidos e, quando voltou ao Brasil, fez parte da primeira geração de artistas modernistas baianos, tornando-se especialista em monumentos.

Em mais de 70 anos de atividade profissional, Cravo foi um dos artistas que mais estimulou e valorizou os elementos da cultura popular para produzir arte.

Eleonore Koch foi a última dos três artistas que o Brasil viu partir na quarta-feira. A pintora de origem alemã morreu de insuficiência cardiorrespiratória aos 92 anos de idade num hospital em São Paulo.

A artista foi a única aluna do pintor Alfredo Volpi – considerado pela crítica como um dos mais importantes artistas da segunda geração do modernismo.

Lore, como era conhecida entre as amigas, há muitos anos que estava doente e não pintava desde então devido a problemas de visão.

Eleonora Koch participou em duas edições da Bienal de São Paulo (1959 e 1967) antes de se instalar em Londres em 1968.

2 Ago 2018

Vítor Pereira goleia Paulo Sousa e sobe a segundo na China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Shanghai SIPG, treinado pelo português Vítor Pereira, subiu hoje ao segundo lugar da liga chinesa de futebol, após receber e golear, por 4-1, o Tianjin Quanjian, que é comandado por Paulo Sousa, na 15.ª jornada.

Os golos da partida foram todos marcados por jogadores brasileiros, com destaque para Oscar, que bisou para a equipa de Vítor Pereira, aos 46 e 53 minutos. Elkeson, aos 12, e Hulk (ex-FC Porto), aos 28, fizeram os restantes tentos do Shanghai SIPG.

O avançado Alexandre Pato marcou, aos 27 minutos, o único golo da equipa de Paulo Sousa.

Com este triunfo, o Shanghai SIPG subiu ao segundo posto do campeonato chinês, com menos um ponto, e também menos um jogo que o Shandong Luneng, que lidera.

Por seu lado, o Tianjin Quanjian caiu para o oitavo posto, a nove pontos do primeiro lugar.

2 Ago 2018

Administração Pública | Hong Wai deixa Delegação de Macau em Pequim

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]ong Wai deixou de exercer o cargo de Chefe da Delegação da RAEM em Pequim, com a chegada ao fim da comissão de serviço.

A informação foi divulgada ontem no Boletim Oficial e confirmada horas mais tarde através de um comunicado do Porta-Voz do Governo. “A nomeação, exoneração e mobilidade das chefias de departamento resultam de decisões comuns e normais na Administração Pública.

O cargo de Chefe da Delegação em epígrafe será exercido interinamente por um funcionário daquela delegação, com as qualificações necessárias”, foi ainda explicado. O nome do novo Chefe da Delegação da RAEM em Pequim não foi anunciado.

2 Ago 2018

Chui Sai On afirma que Exército é pilar para a estabilidade do território

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe do Governo de Macau, Fernando Chui Sai On, defendeu ontem que o território vive uma nova fase socio-económica “repleta de novas oportunidades e diversos desafios” e referiu que a Guarnição de Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês é um pilar essencial para a prosperidade do território.

Segundo o governante, que falava na comemoração do 91.º aniversário do estabelecimento do Exército de Libertação do Povo Chinês, o território “tem registado um desenvolvimento programado nos diversos sectores e uma elevação contínua da qualidade de vida dos cidadãos, num contexto de harmonia e estabilidade socioeconómica”. Esta mudança, lê-se no discurso divulgado pelas autoridades, é indissociável do “desenvolvimento sólido e sustentável do princípio ‘Um País, Dois sistemas'”, considerou.

Já no final do ano passado, nas comemorações do 18.º aniversário da região administrativa especial, Chui Sai On defendia que o mesmo princípio era fundamental para “assegurar a prosperidade e a estabilidade a longo prazo” de Macau. À data, e num discurso de tom mais moderado, o chefe do Executivo lembrava a “recuperação gradual” da economia, com as finanças públicas a manterem-se estáveis e a taxa de desemprego a registar “um nível relativamente baixo”. Hoje, mais confiante, Chui Sai On apontou como “pilar para a prosperidade e estabilidade” o papel da Guarnição de Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, que igualmente tem contribuído “para o bem-estar dos residentes”.

No ano passado, cerca de mil militares participaram pela primeira vez em operações de socorro, na sequência da passagem do tufão “Hato” pelo território, o pior dos últimos cinquenta anos, que causou dez mortos e mais de 240 feridos.

2 Ago 2018

Saúde | Mais de 900 residentes registados como dadores de medula óssea em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 900 residentes de Macau encontram-se inscritos na base de dados dos dadores de medula óssea de Hong Kong, indicaram ontem os Serviços de Saúde, dando conta de que pelo menos um doou com sucesso as células estaminais do sangue.

Os Serviços de Saúde de Macau e a Autoridade Hospitalar de Hong Kong assinaram, em 2012, um Memorando de Entendimento sobre o Registo de Dadores de Medula Óssea, que expira em Dezembro, mas cuja renovação está a ser analisada.

A informação foi facultada pelos Serviços de Saúde num comunicado que dá conta da renovação do acordo de cooperação com a Autoridade Hospitalar de Hong Kong até 2023, após uma visita de uma delegação da região vizinha na terça-feira.

2 Ago 2018

Improvisos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] vida, dizia alguém, é como um concerto de cordas que se executa em pleno palco, à medida que se vai aprendendo, que a sua partitura se inscreve em nós – em sangue.

Também o poema. Dizia o René Char: «coitado do poeta a quem o poema não ensinou algo que ele não sabia de antemão!», aludindo a esta experiência de jogar sem rede. E não é só bazófia romântica; impele-nos a necessidade de desfazer as imediações e as tramas discursivas para conseguir aquilo a que Derrida chamava “o deslocamento dos limites do cerco” (ele chamava-lhe “cloture”, que à letra seria mais “fechamento”, mas recorta-se um cerco em qualquer fechamento).

Não por acaso as vanguardas acabaram nos anos cinquenta e sessenta por querer diluir o hiato entre a vida e a arte. O que a sermos lúcidos nos levou a grandes equívocos, embora nos tenha indubitavelmente favorecido em ductilidade.

Mas hoje até a linguagem televisiva aprendeu a jogar com esta nossa necessidade de desfazer as imediações para nos tornar adictos. Como agora comprovei em cinco minutos. Paguei o café e levantei-me para sair mas dando-me conta que no plasma passavam os penaltis Espanha-Rússia, do campeonato do mundo, jogo que eu não vi, detive-me. E o que assisti no último penalti espanhol maravilhou-me.

Iago Aspas parte para a bola e bate-a e no arco de um segundo vemos o rosto dele mudar como um ecrã: primeiro contente por ver que tinha dado à bola uma direcção oposta à do estiranço do guarda-redes russo, o que prometia golo, chega mesmo a sorrir numa intensidade da expectativa vencida pois sentia que havia cumprido com o seu dever, e de repente assoma-lhe o espanto à face por ver que o pé do guarda-redes, uma réstia do mísero pé, acertara na bola e desce-lhe a decepção ao rosto por se certificar de que falhou o que meio segundo antes parecia certo.

Esta gama de emoções faciais deflagrada num segundo é o que é acolhido emocionalmente pelo espectador que – sem que faça uma leitura decomposta dos estados de animo do jogador – a recebe de uma forma directa e na totalidade do seu espectro.

Não há mediações, qualquer necessidade de um ajuste discursivo no fluxo das imagens, nada a compreender ali: basta acolher a imagem para se experimentar o inteiro valor dela.

Este segundo de televisão ilustra de forma genuína a transição epistemológica que hoje ocorre nas sociedades mediáticas, como foi diagnosticada por Hans Gumbrecht, de uma cultura do sentido para uma cultura da presença.

Já não são as olímpicas capacidades hermenêuticas que provocam a valorização e o desejo dos indivíduos na grelha das suas expectativas sociais mas sim a entronização de cada um na lógica de participação que faz do poder da performance e do sulco da presença as qualidades que agora são investidas no enlace entre o individual e as representações colectivas. Não admira assim que as actividades desportivas hoje sobrepujem sobre as intelectuais e que a imagem ganhe momentaneamente o estatuto de uma natureza.

Aquilo que os artistas dantes buscavam, no afã de romperem as barreiras e de inocentemente se aproximarem de uma concepção da arte totalizadora que transfigurasse a vida no acontecimento de uma expressão sublimada, é agora obtido em cinco segundos de televisão, por meios técnicos e sem pretensões artísticas. A televisão parece conectar a palavra à coisa e a imagem à vida sem mediações.

Sabemos que isto é ilusório mas o simulacro é impactante e ilustra o que defende a psicanálise, i. é, que o nosso inconsciente não distingue entre o facto e a coisa imaginada. E, pior, isto deixa-nos a sós com a pergunta: afinal passa-se alguma coisa no exterior da nossa cabeça? Poderemos alguma vez fugir à fatalidade de sermos solipsistas sem perdão? Ou, no seu inverso, à fatalidade de sermos prisioneiros como as personagens de Solaris das suas próprias imagens?

Creio que a saída está no amor. O amor dá-nos a prova de que o mundo existe fora de nós e pode ser benigno. Porém, para que essa exterioridade que o amor valida aconteça é exigida a coragem de ser vulneráveis e de nos propormos não controlar nada. Como aventei num apontamento que havia esquecido: «… não acho qualquer benefício na fusão, que anula não apenas o outro como a experiência do seu atrito em mim. Mesmo no amor, o outro deve respirar pela sua própria cabeça. E ainda que reconheça o atractivo das sugestões dos filósofos-terapeutas, como Samuel Buber e James Hillman, para quem um encontro é uma relação sym-bálica, ou seja, um plinto que ajudará a manifestar-se em mim uma propensão latente, ou que, no mínimo, ao levar-me a funcionar como reagente, me catapulta para a transformação, gosto ainda de me pensar como testemunha de um outro que me resiste, que não me é conjugável e pertence a outras dimensões e formas de ser, tão legítimas como a minha.»

Assisti esta semana ao vídeo do encontro entre George Steiner e António Lobo Antunes. E o Steiner confia a Lobo Antunes que o alinha entre os autores para quem o amor sobrepujou o ódio. E no contraponto dele coloca o Céline. Isto não faz de um melhor que o outro, no entendimento do ensaísta, mas em Lobo Antunes divisa-se um percurso do perdão ao amor e um respeito pelo outro e o mundo que pelo menos não o degrada, em Céline o ressentimento do autor sobrepõe-se ao mundo e oblitera-o, torna-o uma mera projeção dos seus fantasmas – espantosamente bem encenado como são todos os espectáculos de guilhotina.

Eu – que adoro o Céline, não é isso que está em questão – comprei momentaneamente esta dicotomia do Steiner.

Embora a xaropada da canção romântica do Roberto Carlos que começa a soar no café me faça debandar e fugir da crónica.

2 Ago 2018

Guerra da Coreia | Restos mortais de soldados norte-americanos repatriados

O Comando das Nações Unidas (UNC), liderado pelo exército dos Estados Unidos, realizou ontem uma cerimónia solene para repatriar os restos mortais de 55 soldados norte-americanos mortos na Guerra da Coreia recentemente devolvidos pela Coreia do Norte

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cerimónia foi realizada na base aérea de Osan, a 70 quilómetros ao sul de Seul, cinco dias após o regime de Pyongyang permitir que um avião norte-americano pousasse na localidade norte-coreana de Wonsan, recolhesse os restos mortais dos soldados e voltasse para a Coreia do Sul.

A entrega foi acordada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, durante a cimeira realizada a 12 de Junho, em Singapura, em que ambos assinaram uma declaração para melhorar as relações entre os dois países e para trabalhar sobre a desnuclearização da península.

“Os mortos da Guerra da Coreia (1950-1953) nunca foram esquecidos pelos Estados Unidos ou pelos outros 16 países que compunham o Comando das Nações Unidas (UNC), nações que apoiaram os norte-americanos durante esta guerra. O Comando nunca deixa soldados para trás, vivos ou mortos, e continuará a missão de repatriação até que cada soldado retorne para casa”, explicou a UNC num comunicado.

Cerca de 500 pessoas participaram na cerimónia, incluindo o comandante da UNC, Vicent Brooks, o embaixador dos Estados Unidos na Coreia do Sul, Harry Harris, e o ministro da Defesa sul-coreano, Song Young-moo.

Concluído o acto, espera-se que os restos mortais sejam enviados para o Havai, onde está a sede da Agência de Contabilização de Desaparecidos em Combate e Prisioneiros de Guerra do Departamento de Defesa (DPAA), que será responsável pela identificação das ossadas.

Quem é quem

O processo de identificação deve levar pelo menos alguns meses, segundo os especialistas. Entretanto, as primeiras avaliações sugerem que é “provavelmente espólio norte-americano”, disse John Byrd, director de análise científica da DPAA. “Os restos são consistentes com os restos mortais que já recuperámos na Coreia do Norte (…) no passado”, disse Byrd a jornalistas na base militar de Osan.

Desde 1990, os restos mortais de 629 americanos que morreram na Coreia do Norte foram devolvidos às suas famílias, segundo a UNC.

Mais de 36 mil militares dos Estados Unidos morreram na Guerra da Coreia e cerca de 7700 desapareceram, dos quais 5300 estavam supostamente a norte do 38.º paralelo.

Com este gesto simbólico, a Coreia do Norte procura convencer os Estados Unidos da necessidade de assinar um tratado de paz para substituir o cessar-fogo que pôs fim ao conflito, um documento que o regime de Kim considerada chave para a sua sobrevivência. No entanto, Washington mostrou dúvidas sobre este tratado de paz e parece estar a esperar primeiro por acções concretas de Pyongyang que apontem para um compromisso real de abandonar o seu programa nuclear.

2 Ago 2018

Taxas Alfandegárias | Pequim diz que não vai ceder às pressões dos EUA

O Governo chinês afirmou ontem que as tentativas de chantagem e pressão dos Estados Unidos sobre a aplicação de taxas alfandegárias aos produtos chineses “não vão funcionar”. Analistas da Moody’s mostram cepticismo quanto à vontade real de Donald Trump em impor tarifas de 25 por cento sobre as exportações chinesas

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] resposta da República Popular da China surge após informações acerca da eventual imposição de taxas sobre produtos chineses num valor que pode alcançar os 200 mil milhões de dólares. “A chantagem e a pressão dos Estados Unidos nunca vai funcionar com a China e se foram tomadas medidas que piorem a situação nós iremos aplicar contra-medidas para que possamos manter os nossos direitos e interesses”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Geng Shuang. “Nós pensamos que os conflitos comerciais devem resolver-se com conversações e negociações. Os nossos esforços e a nossa sinceridade estão à vista de todos”, acrescentou.

Fontes próximas da Administração norte-americana indicaram na terça-feira que os Estados Unidos pretendem estabelecer taxas alfandegárias de 25 por cento sobre as exportações chinesas, o que pode vir a totalizar um valor correspondente aos 200 mil milhões de dólares.

“O diálogo deveria ter como base a confiança mútua e a igualdade, estabelecendo regras e credibilidade porque as ameaças unilaterais e a pressão são contraproducentes”, frisou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim.

Muita parra

Segundo notícia veiculada na passada terça-feira pela agência Bloomberg, Pequim e Washington querem retomar o diálogo comercial, depois de semanas de impasse nas negociações para alívio das tensões comerciais. A agência cita fontes segundo as quais estão a ser mantidas conversações privadas entre representantes do Tesouro dos Estados Unidos e do Conselho de Estado chinês, ao mesmo tempo que decorrem negociações na Administração norte-americana para acertar a posição a ser agora adotada pela Casa Branca.

Segundo a Bloomberg, Washington estará a tentar obter concessões por parte de Pequim de modo a recuar no propósito. A Moody’s previu que conflito entre os dois países deverá continuar a somar barreiras ao comércio ao longo de todo o ano, antecipando que os EUA podem crescer por causa disso menos 0,25 por cento em 2019, e que a China se arrisca a perder até 0,5 por cento na actividade do próximo ano.

A agência de rating acredita que o presidente norte-americano, Donald Trump, não chegará a impor taxas adicionais de 25 por cento às importações de automóveis e partes dos seus parceiros, e que as negociações do tratado de livre comércio da América do Norte, o NAFTA, não resultarão no colapso do bloco. “Estamos à espera de que a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China e outros países seja prolongada, com novas medidas comerciais a serem implementadas ao longo de 2018”, indica Elena Duggar, presidente do conselho macroeconómico da Moody’s, em nota publicada esta terça-feira. “Actualmente, pensamos que a disputa comercial ficará aquém da plena implementação das medidas potenciais mais graves anunciadas até aqui, incluindo tarifas sobre todas as importações automóveis dos Estados Unidos ou o colapso do NAFTA”.

2 Ago 2018

Exposição | Espaço Casa do Povo acolhe “Sangiorgiari”, de Sásquia Salgado

Sásquia Salgado acabou recentemente o curso de fotografia e prepara-se para expor pela primeira vez em Macau, no espaço artístico Casa do Povo. “Sangiorgiari” assenta numa série de fotografias que contam a história de uma procissão na Sicília, em que os crentes carregam, durante um dia inteiro, a estátua de São Giorgio

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante um dia inteiro a estátua de São Giorgio é carregada a cavalo, no meio de vozes e fúrias de uma população que, durante o ano, aguarda por aquela procissão. Todos os que carregam a estátua do santo protector ganham o nome de “sangiorigarios”. Foi este ritual religioso, muito famoso na Sicília, que captou a atenção da fotógrafa Sásquia Salgado.

Recentemente licenciada em fotografia, Sásquia Salgado decidiu pegar neste trabalho documental para realizar a sua primeira exposição no lugar que a viu nascer: Macau. O espaço criativo Casa do Povo, em Coloane, foi o local escolhido para acolher a mostra inaugural.

O embate com a festividade religiosa aconteceu um pouco por acaso. “Estive a estagiar durante cinco meses em Itália quando acabei o curso o ano passado, em fotografia, no Porto. Estava a estagiar perto de Milão, não estava na Sicília, e fui lá uma primeira vez, em trabalho. Aí disseram-me que ia haver uma festa onde as pessoas carregavam uma estátua enorme durante um dia inteiro e que é esperada pelas pessoas o ano todo.”

Quando regressou a Milão, Sásquia Salgado pesquisou mais sobre este acontecimento e decidiu que seria um bom tema para fotografar. As emoções das pessoas foram um dos pontos de partida para este trabalho. “Não fui fotografar o festival em si, mas queria apanhar as expressões das pessoas, sobre o que sentiam naquele momento. Acabei por voltar à Sicília de propósito para fotografar o festival. Este acontece em várias cidades pequenas da Sicília, mas a maior parte das pessoas vão para Modica, uma das cidades mais antigas da Sicília”, contou.

Sásquia Salgado revelou que ela própria se deixou envolver na emotividade colectiva da procissão. “Quando cheguei deparei-me com algo que não estava à espera. Esperava muita euforia porque sei que as pessoas sentem muito aquilo. Quando se fala de religião há sempre um certo fanatismo, e acabei por me sentir também eufórica. Não consegui chegar muito perto da estátua, porque estavam bastantes pessoas, mas senti-me como se estivesse também ali a carregar a estátua. As pessoas estavam completamente fora de si”, recorda.

Apesar da procissão na Sicília ter sido o tema escolhido para a sua primeira exposição em Macau, Sásquia Salgado chegou a ponderar mostrar as imagens que captou nas muitas viagens que fez no sudeste asiático. “Tinha em mente umas fotografias de viagens, porque a maior parte do trabalho fotográfico que faço é documental. O ano passado viajei pelo Vietname, Cambodja e Tailândia e também queria expor essas fotografias como algo mais documental de viagem e de cultura. Contudo, nunca tive essa oportunidade porque depois comecei a trabalhar e não tinha tempo. Depois é que surgiu esse projecto e achei mais interessante expor.”

Entre a Europa e Macau

Com um pai fotógrafo e uma mãe jornalista, Sásquia Salgado sempre esteve muito ligada à imagem, seja através do audiovisual ou da fotografia. A escolha do percurso profissional acabou por ser quase imediata, sem grandes indecisões. “Acabei o meu curso no Porto mas já tenho contacto com a fotografia desde muito nova. Ir para a universidade estudar fotografia de uma forma mais profunda foi mais uma etapa da minha caminhada”, frisou.

Depois da experiência em Milão e após estar na Magnum, em Paris, Sásquia Salgado gostaria de regressar a Macau e aqui fazer carreira, apesar de se tratar de um território de pequena dimensão. “Queria fazer fotografia documental e poder viajar, retratar o que vivi naquele momento. Ainda estou um bocado à procura daquilo que posso fazer com a fotografia, porque é uma disciplina muito vasta, não é só captar uma imagem, é mais do que isso.”

Expor em Macau e na Europa é uma possibilidade de futuro, mas a Casa do Povo representou a possibilidade de Sásquia Salgado expor num lugar que é a sua casa. “Já sabia da existência da Casa do Povo. Nasci em Macau, fui-me embora para estudar mas depois comecei a pesquisar alguns sítios onde podia expor. Sempre morei em Coloane e até digo que nasci em Coloane e não em Macau. Então também queria expor num sítio onde me sentisse em casa”, concluiu.

2 Ago 2018

Poemas de Pedro Tamen reunidos no livro “Retábulo das Memórias”

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]oda a poesia de Pedro Tamen publicada entre 1956 e 2013 está reunida em “Retábulo das Memórias”, volume editado pela Imprensa Nacional na sua colecção Plural, em Portugal .

A poesia de Pedro Tamen “é agora completamente reunida”, neste volume de mil páginas, lê-se num curto texto na contracapa, referindo que o poeta está traduzido em 14 línguas. “Poema para Todos os Dias” (1956) abre o volume que integra os 19 livros publicados pelo poeta nascido há 83 anos em Lisboa, e inclui ainda “Esparsos”, vários poemas publicados soltos, designadamente em revistas como a Colóquio/Letras ou em livros de homenagem a poetas, casos de Jorge de Sena e Ana Hatherly.

Entre eles encontram-se “Verdes Anos” (1963), escrito para a composição homónima de Carlos Paredes, “Cesário” (1986), “Deverá, senhores, pensar-se” (1990), ou “Menina de Timor” (1999), que dedica à ex-primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo.

“Esparsos” reúne 42 poemas e, além de “Verdes Anos”, que foi gravado por Teresa Paula Brito, inclui “Um Fado: Palavras Minhas, que José Luís Tinoco musicou e Carlos do Carmo gravou, e “É Dia”, também musicado por Tinoco, gravado por Teresa Silva Carvalho, e ainda “Fontes”, que Tamen escreveu para figurar num painel de cerâmica de Francisco Relógio para um snack-bar em Lisboa, entre outros.

“Retábulo das Memórias” inclui ainda a bibliografia de Pedro Tamen, dividida em livros de poesia publicados, antologias e livros publicados no estrangeiro.

Uma vida de prémios

O autor, que é também tradutor e crítico literário, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa e dirigiu editorialmente, com António Alçada Baptista, de 1958 a 1975, a editora Moraes.

De 1975 até 2000 foi vogal do conselho de administração da Fundação Calouste Gulbenkian, cargo que acumulou durante três anos, de 1987 a 1990, com a presidência do P.E.N. Clube Português.

Literariamente, Pedro Tamen foi distinguido com o Prémio D. Diniz/Casa de Mateus, em 1981, o Grande Prémio de Tradução Literária, em 1990, o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1991, o Prémio Bordallo, da Casa da Imprensa, em 2000, e no ano seguinte, o Prémio P.E.N. de Poesia, em 2001.

O poeta recebeu ainda o Prémio Luís Nava, em 2006, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, em 2010, e o Prémio Literário Casino da Póvoa, no ano seguinte.

Em 1993, o Governo português condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. A colecção Plural, reactivada há três anos pela Imprensa Nacional, foi criada pelo escritor Vasco Graça Moura, em 1992, quando esteve à frente da Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

2 Ago 2018

Óbito | Morreu a fadista Celeste Rodrigues aos 95 anos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] fadista Celeste Rodrigues, irmã de Amália Rodrigues, morreu ontem, aos 95 anos, confirmou à Lusa o neto Diogo Varela Silva.

“É com um enorme peso no coração, que vos dou a notícia da partida da minha Celestinha, da nossa Celeste. Hoje deixou uma vida plena do que quis e sonhou, amou muito e foi amada, mas acima de tudo, foi a pedra basilar da nossa família, da minha mãe, da minha tia, dos meus irmãos, sobrinhos e filhos, somos todos orgulhosamente fruto do ser humano extraordinário que ela foi”, escreveu Diogo Varela Silva na rede social Facebook, remetendo para mais tarde informações adicionais.

Nascida no Fundão, em 14 de Março de 1923, a irmã de Amália Rodrigues iniciou a carreira há 73 anos, ao aceitar o convite feito pelo empresário José Miguel (1908-1972), detentor de vários teatros e casas de fado, entre os quais o Café Casablanca. Do seu repertório constam, entre outros temas, “A Lenda das Algas” e o “Fado das Queixas”.

2 Ago 2018

Construção civil | Salários dos trabalhadores baixaram 2,3 por cento

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ados oficiais da Direcção dos Serviços de Estatística de Censos (DSEC) revelam que o salário médio dos trabalhadores da construção civil rondou, no segundo trimestre, as 767 patacas, uma queda de 2,3 por cento em termos trimestrais. Há quatro trimestres sucessivos que se registam quedas nos salários, aponta ainda um comunicado da DSEC. “O salário diário médio dos trabalhadores da construção residentes (961 patacas) e o dos trabalhadores da construção não residentes (645 patacas) diminuíram 1,0 por cento e 4,6 por cento, respectivamente.

A DSEC dá ainda exemplos e adianta que o salário médio de um operário de máquinas electromecânicas é de 821 patacas diárias, o de assentador de tijolo e estucador é de 680 patacas, o de armador de ferro é 821 patacas e o de montador de sistema de ar condicionado é de 895 patacas. Em todas estas profissões se registaram quebras nos ordenados. Pelo contrário, o salário médio de um pintor é agora de 746 patacas, o de um canalizar ou montador de tubagens de gás é de 917, o que registou aumentos na ordem dos 4,3 por cento e 4,1 por cento, respectivamente.

Eliminado o efeito da inflação, no segundo trimestre de 2018 o índice do salário real dos trabalhadores da construção (101,0) subiu 1,1 por cento, em termos trimestrais e o dos trabalhadores da construção residentes (97,3) aumentou 0,5 por cento.

2 Ago 2018

Telecomunicações | Governo quer ouvir operadoras ainda este ano sobre convergência

O Governo está a trabalhar no novo quadro legislativo para criar o regime de convergência dos diferentes serviços des telecomunicações e espera até ao final do ano ouvir as operadoras. Quanto à possível redução de impostos às operadoras, o Executivo afasta a hipótese

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo espera ouvir até ao final do ano as operadoras de telecomunicações no âmbito da elaboração das novas leis e regulamentos para a implementação da convergência no sector. Até agora, existem diferentes licenças que permitem aos agentes do mercado oferecer serviços de forma separada, como internet, telefone por rede fixa, televisão ou serviço de telemóveis. No entanto, desde o ano passado que o Executivo admite que um dos objectivos para a sector passa por permitir às diferentes operadoras oferecer no futuro pacotes de serviços integrados, como acontece em diversos países, como Portugal.

Apesar de não haver um calendário definido para a implementação deste tipo de serviços, que possivelmente ainda terá de passar pela Assembleia Legislativa, a Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações (CTT) já está a trabalhar no diploma e espera ouvir até ao final do ano os diferentes agentes deste sector.

“Sobre o regime de Convergência, os CTT estão a preparar o quadro legislativo, em conformidade com o processo legislativo. Tentaremos que a consulta à indústria seja realizada ainda este ano”, responderam os CTT, depois das questões enviadas pelo HM, sobre o processo.

Ainda segundo o HM conseguiu apurar, existe neste momento alguma apreensão no sector das telecomunicações face às alterações, uma vez que não tem havido muita informação. Como tal, as operadoras presentes em Macau não sabem como se devem preparar para os desafios futuros.

Sem isenções fiscais

Também com vista ao investimento nas redes de telecomunicações para a implementação da convergência, existe no seio das diferentes operadoras a vontade de terem uma isenção fiscal à imagem dos casinos. Actualmente, as concessionários do jogo estão isentas de pagar o imposto complementar de rendimentos sobre os lucros, devido a despachos dos Chefe do Executivo, que tem sido constantemente renovados. Contudo, pagam imposto sobre as receitas brutas e ainda precisam de pagar um determinado montante por mesa de jogo instalada nos diferentes espaços.

É este modelo que as operadoras gostavam de ver implementado, que poderiam levar a uma poupança em impostos entre 40 e 50 por cento e que defendem seria melhor utilizado na actualização das redes e infra-estruturas. Actualmente, é exigido às operadoras de telecomunicações que paguem uma renda pela concessão, imposto sobre as chamadas de roaming recebidas, utilização do espectro da rede, pagamento por cada transmissor do sinal rádio ou microondas e imposto sobre os lucros.

Contudo, o Governo, não mostrou ao HM abertura para aceitar qualquer tipo de proposta deste género: “De acordo com os Contratos de Concessão e licenças actualmente existentes no sector das telecomunicações, as respectivas concessionárias e entidades licenciadas devem pagar à RAEM uma determinada percentagem do total das receitas provenientes da concessão ou dos serviços licenciados. E, neste momento, o Governo não tenciona proceder a qualquer alteração relativamente a esta matéria”, foi explicado.

2 Ago 2018

Jogo | Receitas dos casinos subiram mais de 10 por cento em Julho

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s casinos fecharam o mês de Julho com receitas de 25.327 milhões de patacas, traduzindo um aumento de 10,3 por cento em termos anuais homólogos.

Segundo dados publicados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), no acumulado de Janeiro a Julho, os casinos encaixaram 175.544 milhões de patacas em receitas, ou seja, mais 17,5 por cento face aos primeiros sete meses do ano passado. Macau contava, no final de Junho, com 6.588 mesas de jogo e 17.296 ‘slot machines’ distribuídos por um universo de 41 casinos.

As receitas dos casinos cresceram 19,1 por cento em 2017 para 265.743 milhões de patacas, invertendo três anos consecutivos de quedas (-3,3 por cento, em 2016, -34,3 por cento em 2015 e -2,6 por cento em 2014).

2 Ago 2018