Oszkar Fulop: “Apaixonei-me por esta terra”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]szkar sempre teve um fascínio com a Ásia, um continente que o aliciava e o chamava de forma surda, numa voz que chegou ao centro da Europa. Na altura, essa voz chegou através de uma proposta de emprego que não soube como recusar. Assim começava a expedição de um húngaro, oriundo da Transilvânia, a terra do Drácula. Antes da Primeira Grande Guerra, o território pertencia à Hungria, mas com a queda do Império Austro-Húngaro, seria anexado pela Roménia. Oszkar faz parte de uma família húngara numa região com apenas dois mil húngaros.

Oriundo de uma nação fracturada por múltiplos impérios, entalada entre blocos políticos, Oszkar desde criança que sentiu o chamamento dos países asiáticos. Com a queda do muro, e a chegada do capitalismo, as coisas melhoraram mas não tanto. “Tivemos um período difícil, e parecia impossível termos um trabalho e ganhar dinheiro que nos permitisse ser turistas”, recorda o segurança. Com a vida enleada num marasmo, em 2013 foi a uma agência de emprego e, por acidente, acabou por conseguir um trabalho na longínqua Macau. Seria um guarda imperial no Hotel Grand Emperor. “Apesar das condições salariais não serem espectaculares, esta era a melhor oportunidade que tinha para conseguir estar na Ásia, e Macau pareceu-me, desde logo, um bom sítio para começar”, lembra. Dessa forma o húngaro estaria a escassas duas ou três horas de voo de países que queria muito conhecer, tais como a Tailândia, o Japão, e a China interior.

“Cheguei ao aeroporto de Hong Kong e sabia zero sobre o que me esperaria, não sabia que Macau tinha sido uma colónia portuguesa”, confessa o segurança. Veio sozinho, e só tinha os representantes da empresa que o contratara à distância à sua espera no ferry. Depois de conhecer o sítio onde iria morar, de ter formação no trabalho que iria desempenhar, restava-lhe conhecer a cidade onde passou a morar. No entanto, o primeiro impacto foi difícil de encaixar. “Nos primeiros seis meses tinha a certeza de que ia apanhar o primeiro avião para deixar Macau para sempre, mas depois apaixonei-me por esta terra”, explica.

Primeiro estranha-se

Macau foi-se entranhado em Oszkar, lentamente. Levou tempo a perceber aquilo que não gostava. O principal problema a barreira da linguagem, a comunicação. Não tinha nada a ver com o local, nem com a cultura. Hoje em dia, o húngaro é feliz no território, vive num bairro tradicional, São Lázaro. Um dos episódios marcantes que mudou tudo aconteceu por acaso, foi uma feliz coincidência. Numa tasca tradicionalmente chinesa, conheceu um grupo de locais. “Comecei a passar mais tempo com eles, e aí conheci mais locais. Percebi que estava a fazer uma aproximação estúpida e que eu é que estava errado”, confessa Oszkar.

O húngaro percebeu que se demonstrasse que estava a aprender a língua, a fazer um esforço, os chineses gostavam de si, incondicionalmente. Foi aí que o amor lhe bateu à porta. “Conheci uma rapariga portuguesa que já vivia aqui desde 1994, com uma paragem pelo meio, e aí fui descobrindo a comunidade portuguesa, um grupo mais alternativo”, recorda. Essa foi mais uma porta aberta para mergulhar na vida da cidade, assim como para conhecer Portugal.

“No Verão de 2014 visitei Portugal, conheci o Algarve e o Alentejo, adorei os cenários naturais, as barragens e a comida”, explica.

Hoje em dia, Oszkar considera-se um cidadão do mundo. Apesar das saudades imensas da família, o húngaro olha para a Europa com imensa preocupação. “Existe muito racismo a vir à superfície na maior parte dos países europeus”, comenta com alguma tristeza. Tal facto, levou o segurança a sentir o velho continente como um território onde se espalha a ignorância, o medo, o que faz com que não se sinta seguro por lá. Porém, em Macau sente-se em paz.

20 Jan 2017

Taiwan critica “mesquinhez de espírito” da China sobre posse de Trump

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades de Taiwan criticaram ontem a “mesquinhez de espírito” da China, depois de Pequim ter pedido a Washington que não permita a presença oficial dos representantes da ilha na cerimónia de investidura de Donald Trump.

O ex-primeiro-ministro de Taiwan Yu Shyi-kun lidera na sexta-feira a delegação de Taiwan em Washington para o juramento do novo Presidente norte-americano. Mas a China pediu aos Estados Unidos para recusar a presença nesta cerimónia de representantes da ilha que considera uma província rebelde.

“Pedimos novamente ao lado norte-americano que não autorize uma delegação oficial de Taiwan a assistir à cerimónia de investidura do Presidente e a não manter contactos oficiais com Taiwan”, declarou ontem à imprensa a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.

De acordo com a agência oficial de Taiwan, o representante do Partido Democrático Progressista (PDP) no poder, e contrário a Pequim, Yu Shyi-kun reagiu: “Não sejam tão mesquinhos”.

“Nunca se viu em qualquer dinastia chinesa de dirigentes tamanha mesquinhez de espírito”, disse, numa referência à equipa do Presidente chinês, Xi Jinping.

Esponja sobre a história

A eleição de Trump, em Novembro, contribuiu para agravar as relações entre Pequim e Taipé, já muito tensas devido à eleição, no ano passado, para a presidência da ilha de Tsai Ing-wen, do PDP.

No início de Dezembro, Donald Trump ignorou quatro décadas de política norte-americana e falou ao telefone com Tsai, apesar de a China proibir qualquer contacto oficial entre os seus parceiros estrangeiros e os dirigentes de Taiwan.

Numa entrevista ao diário Wall Street Journal, na passada semana, o Presidente eleito norte-americano, Donald Trump, indicou estar pronto a questionar a unidade da China, defendida por Pequim. “Está tudo sobre a mesa, incluindo a China única”, disse. Washington rompeu as relações diplomáticas com Taipé em 1979.

Esta não é a primeira vez que uma delegação de Taiwan está presente na investidura de um novo presidente norte-americano.

A China nunca renunciou à possibilidade de recorrer à força para restabelecer a sua soberania na ilha.

Pequim intensificou recentemente as manobras militares perto de Taiwan, o que foi interpretado como uma demonstração de força.

20 Jan 2017

Hong Kong | Últimos planos anuais de C.Y. Leung

É pelo menos essa a ideia que C.Y. Leung tem dele próprio. O Chefe do Executivo de Hong Kong apresentou ontem as Linhas de Acção Governativa para este ano. São as últimas da sua autoria. Sai com a noção de missão cumprida

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeçou o discurso com um aviso nada meigo aos defensores da independência e terminou dizendo que todas as promessas feitas no manifesto eleitoral foram basicamente implementadas.

C.Y. Leung esteve ontem no Conselho Legislativo de Hong Kong para a apresentar as suas últimas Linhas de Acção Governativa. De forma distinta do que acontece em Macau, em que o relatório de intenções é divulgado em Novembro, os grandes planos da região vizinha são anunciados já depois do ano novo.

Na parte introdutória do discurso, Leung reiterou que Hong Kong é “parte inalienável” da China. “Todos os cidadãos têm a obrigação de cumprir a Lei Básica, e de salvaguardar a integridade territorial e nacional.”

As últimas LAG do Chefe do Executivo que teve que lidar com o movimento Occupy serviram também para fazer um balanço dos últimos quatro anos. O líder do Governo salientou que a economia de Hong Kong teve um “crescimento moderado”, a taxa de desemprego manteve-se muito baixa e a Administração fez esforços no sentido de desenvolver as indústrias emergentes.

Numa cidade onde a habitação é um problema grave, Leung salientou que os terrenos e as fracções disponíveis “aumentaram significativamente”, sendo que vários projectos estão a ser pensados ou já em fase de execução. Acrescentou também que o Governo fez o máximo que podia para aliviar a pobreza e ajudar os idosos.

A questão da independência – um fenómeno que surgiu na segunda metade do mandato de C.Y. Leung – voltou a ser abordada no final do discurso. C.Y. Leung vincou que Hong Kong é uma parte inalienável da China não só do ponto de vista jurídico, mas também no sentido em que é uma realidade política reconhecida internacionalmente. E lembrou ainda que o elevado grau de autonomia de que goza o território “não é absoluto ou arbitrário”.

Num exercício de autocrítica, o Chefe do Executivo aproveitou a oportunidade para destacar as conquistas do seu consulado. “Há cinco anos, apresentei um manifesto eleitoral concreto e holístico. Ao longo destes cinco anos, publiquei anualmente um relatório para que a população ficasse a par da implementação do manifesto. Hoje, todos os compromissos da minha proposta foram basicamente respeitados”, afirmou.

C.Y. Leung anunciou em Dezembro que não tencionava candidatar-se a um segundo mandato, embora o pudesse fazer do ponto de vista constitucional. O antigo empresário alegou motivos familiares para a saída de cena.

Terras por casas

Quanto às medidas anunciadas pelo Chefe do Executivo para o último ano à frente dos destinos políticos de Hong Kong, Leung apresentou algumas ideias para tentar resolver o problema da escassez de terras e os elevados preços que se praticam no sector imobiliário. De acordo com a RTHK, o Chefe do Executivo pretende incluir mais terrenos com valor ecológico nos parques da região, em troca do desenvolvimento urbanístico de zonas nos arredores dos parques que têm um peso ecológico relativamente baixo.

O primeiro local a mudar de estatuto é o Robin’s Nest, perto de Sha Tau Kok, que passará a ser um parque protegido, sendo que nos Novos Territórios vai ser criado o Long Valley Nature Park.

Frisando que existe um contraste entre as vastas zonas verdes e as condições precárias em que a maioria das famílias de Hong Kong vive, com grandes limitações de espaço, C.Y. Leung desafiou a população a reexaminar o plano para a utilização de terras, de modo a que o território possa ter um desenvolvimento sustentado a longo prazo.

“O problema da habitação em Hong Kong resume-se à utilização das terras, o que não é uma questão técnica, mas sim conceptual. Devemos pensar na questão de forma séria, científica e objectiva”, defendeu. O líder do Governo insistiu que é a falta de terras que faz com que a habitação tenha custos incomportáveis, e não os elevados preços da construção ou os prémios dispendiosos que são pagos pelas concessões.

Apenas sete por cento das terras de Hong Kong são utilizadas para a construção de casas, sendo que 40 por cento da área total da região é ocupada por parques.

Leung fez ainda outras sugestões para aumentar os terrenos disponíveis: o Governo vai revitalizar zonas rurais remotas para evitar a deslocação da população para áreas com maior densidade populacional. Pretende-se ainda, deste modo, preservar a biodiversidade dos espaços rurais.

Metro mais caro

O trânsito é outro aspecto destacado pelos órgãos de comunicação social locais. O Chefe do Executivo anunciou planos para reduzir a pressão nas estradas e melhorar as ligações no território.

C.Y. Leung começou por destacar que há projectos importantes que estão a ser construídos a grande velocidade, entre eles a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, a estrada que liga Yau Ma Tei e Kowloon Bay, bem como a via periférica entre Central e Wan Chai.

Depois, anunciou que vai ser feito um estudo de viabilidade para melhorar as ligações ao Aeroporto Internacional de Hong Kong, mas frisou que o metro continuará a ser a grande aposta do Governo no que toca às formas de transporte. Os preços dos bilhetes do MTR vão ser alvo de uma revisão, que deverá estar concluída antes de Julho, altura em que termina o mandato.

Hong Kong tem muitas áreas onde é difícil circular a pé – outro aspecto que o líder do Governo gostaria de ver melhorado. Para já, vão ser definidas zonas-piloto para se fazerem estudos. Já em relação às áreas que venham a ser desenvolvidas no futuro, o objectivo é garantir redes de ciclovias.

Leung não se esqueceu de referir que a degradação do trânsito tem afectado a economia, a qualidade de vida da população e o ambiente, garantindo, contudo, que estão a ser feitos esforços para contrariar esta realidade.

Ora, sobre o ambiente – uma questão complicada na região – o Chefe do Executivo anunciou que vão ser reservados 200 milhões de dólares de Hong Kong para melhorar o aproveitamento energético nos edifícios da Administração. O Governo está também a ponderar implementar legislação que permita controlar os resíduos produzidos, uma lei que deve entrar em vigor ainda este ano.

Nos mercados e nos centros comerciais, vai ser introduzido um projecto-piloto para separar os resíduos alimentares do restante lixo. Há novas medidas para os resíduos do sector da construção que vão começar a ser aplicadas em Abril.

Cultura viável

Na apresentação das LAG, C.Y. Leung falou ainda do polémico projecto do West Kowloon Cultural District. O Governo vai atribuir à autoridade do distrito todos os direitos para o desenvolvimento das unidades hoteleiras e fracções residenciais da zona destinada às artes.

O Chefe do Executivo entende que as autoridades podem avançar com estas infra-estruturas em parceria com o sector privado. Os lucros servirão para sustentar as operações da componente artística do distrito.

A ideia não é pacífica: há quem tema que o West Kowloon Cultural District não passe de mais uma zona residencial, com as artes e a cultura a serem meros elementos decorativos. Já depois do discurso, em declarações aos jornalistas, C.Y. Leung negou que haja intenção de transformar o distrito num projecto comercial, mas salientou a necessidade de se garantir a construção de zonas com lojas e hotéis para que a área tenha viabilidade.

Ensino | Educar para a pátria

O Chefe do Executivo quer destinar mais de 100 milhões de dólares de Hong Kong para reforçar o ensino da história da China nas escolas secundárias. O governante pensa também que o desenvolvimento das capacidades profissionais dos professores deve ser apoiado, para que possam conduzir os alunos a uma melhor compreensão do legado histórico chinês.

O Departamento de Educação recomendou uma revisão dos currículos através da “atribuição de um peso igual tanto aos tempos antigos, como aos modernos, com as várias dimensões políticas e culturais incorporadas no currículo”.

O Executivo também tem planos para expandir o programa de subsídios para os alunos do pós-secundário que pretendam seguir certas carreiras profissionais. Este subsídio já apoiou cerca de mil alunos no ano passado, estudantes que pretendam investir em em áreas do saber tão diversas como a medicina, a arquitectura, a engenharia, as indústrias criativas e o turismo. No próximo ano lectivo, prevê-se que os subsídios cheguem a três mil alunos.

C.Y. Leung apresentou ainda a possibilidade de enviar para o estrangeiro 150 professores do ensino secundário, com bolsas de estudo pagas pelo erário público, para pequenos cursos de um a três meses.

Está igualmente previsto que todas as escolas públicas de Hong Kong recebam um subsídio de 200 mil dólares de Hong Kong para promover a ciência e tecnologia. É de salientar que o Departamento de Educação providenciou um apoio similar às escolas primárias no ano passado.

Reacções | Eles não concordam

A ala pró-democrata do Conselho Legislativo não concorda com a análise que C.Y. Leung faz do seu próprio trabalho. Ouvidos pela rádio pública da região, vários deputados criticaram o facto de o Chefe do Executivo não ter cumprido as promessas deixadas no manifesto eleitoral apresentado há cinco anos.

O líder do Partido Cívico, Alvin Yeung, acusa C.Y. Leung de estar a encobrir as suas falhas com “mentiras”. “Não está, obviamente, a fazer um bom trabalho. Quando diz que cumpriu o que prometeu quando se candidatou, está obviamente a mentir. Basta olhar para aquilo a que chamou plano universal de pensões. Não fez nada de substancial e não respondeu ao que lhe pedimos. É basicamente uma mentira”, disse.

O responsável máximo pelo Partido Democrata, o deputado Wu Chi-wai, também considera que o Chefe do Executivo não esteve bem no seu exercício de autocrítica. “Não conseguimos encontrar uma única palavra sobre algo que tenha feito mal e que tenha tentado corrigir. Tentou dar uma lista do que fez”, afirmou. “Acho que isto basta para se perceber porque é que tem havido tanto confronto social nos últimos cinco anos.”

Já o deputado pró-Pequim Holden Chow, do DAB, aplaude os esforços de Leung. “Tem estado a fazer o máximo que consegue para cumprir as suas promessas, de modo a dar resposta a muitas das preocupações relacionadas com a qualidade de vida da população.” De forma geral, acrescenta o político, as Linhas de Acção Governativa ontem apresentadas devem ser “louvadas”.

19 Jan 2017

MP | Novo Macau exige investigação a Sónia Chan e a Florinda Chan

 

A Associação Novo Macau quer que o Ministério Público investigue os alegados favorecimentos a familiares de Sónia Chan e Florinda Chan para a sua contratação na Função Pública. Scott Chiang afirma que o Governo está a fazer de tudo para diminuir o impacto da defesa de Ho Chio Meng

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s declarações em tribunal de Ho Chio Meng, ex-procurador da RAEM, continuam a fazer mossa. Desta vez é a Associação Novo Macau (ANM) que exige que o Ministério Público (MP) investigue os alegados favorecimentos familiares por parte de Sónia Chan, actual secretária para a Administração e Justiça, e Florinda Chan, a sua antecessora. Este pedido surge depois de dois deputados terem exigido a ida do Governo ao hemiciclo para prestar esclarecimentos sobre o mesmo caso.

Ao HM, Scott Chiang, presidente da ANM, explicou que deseja uma investigação ao sistema de recrutamento na Função Pública, por considerar que os favorecimentos existem em todas as áreas da Administração.

“Existem suspeitas que tiveram algum impacto junto da confiança do público. Queremos que seja revelada a verdade em termos de recrutamento para a Administração. Acreditamos que este caso não será o único. Se foi revelado um caso verdadeiro, então de certeza que existirão muitos mais, porque é de Macau que estamos a falar. Se isso é verdade ou não cabe ao MP investigar e confirmar. Se for verdade, queremos travar este tipo de comportamentos”, disse.

As expectativas da ANM são elevadas. “Quero que haja algum resultado. Acreditamos que este tipo de actividade tem vindo a ocorrer em Macau, então há algo que tem de ser descoberto. Espero que saia algo sólido desta investigação.”

Em apuros

Questionado sobre se o facto de o julgamento de Ho Chio Meng estar a decorrer poderá levar ao atraso no arranque da investigação por parte do MP, o presidente da ANM nega que isso possa acontecer. “Não vejo porque é que esta investigação, que estamos a pedir ao MP, tenha de ser adiada só porque o caso Ho Chio Meng decorre nos tribunais”, afirma.

“Este caso tem gerado imensas acusações por parte de Ho Chio Meng. Ele é inteligente o suficiente para utilizar o tempo que tem em tribunal para revelar as atitudes erradas dos outros, isso tem vindo a acontecer nas últimas semanas e tem gerado muitos títulos nos media. Isso tem causado algum impacto e colocou a Administração em apuros. Claro que o Governo vai tentar algo para diminuir o impacto de tais declarações”, declarou Scott Chiang.

Sobre os pedidos de esclarecimento feitos por Ng Kuok Cheong e José Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa, Scott Chiang não espera respostas concretas por parte do Executivo. “Espero que o Governo dê algumas justificações na AL, mas o que estou à espera é que sejam encontradas desculpas em vez de serem dadas respostas verdadeiras. Não queremos antecipar nada, só queremos arranjar todas as formas possíveis para encontrar a verdade por detrás deste caso”, referiu.

19 Jan 2017

Mário Soares | Deputados justificam oposição a proposta de Pereira Coutinho

Chan Iek Lap diz que votou contra porque não quer ser controlado por Pereira Coutinho. Ella Lei absteve-se porque não teve tempo para pensar na proposta do colega. Os outros que poderiam ter inviabilizado a homenagem a Mário Soares não atendem o telefone. Neto Valente acha “lamentável”

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]otaram contra ou abstiveram-se, mas não fizeram declaração de voto para explicar por que não apoiaram o acto sugerido por Pereira Coutinho. Na passada terça-feira, no primeiro plenário após a morte de Mário Soares, o deputado propôs um voto de pesar pelo desaparecimento do antigo Presidente da República e primeiro-ministro português. Cinco deputados disseram que não, incluindo o vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), e outros dois preferiram o nim. O HM quis saber o motivo da atitude destes sete tribunos, todos eles com ligações aos Kaifong (as associações de moradores) ou aos Operários, as associações tradicionais com representação política no órgão legislativo.

Chan Iek Lap, deputado eleito pela via indirecta, médico com um diploma tirado na Universidade de Jinan, votou contra. Resume a razão da luz vermelha na AL com duas palavras: Pereira Coutinho.

“O modo como o deputado Pereira Coutinho apresentou a moção não foi muito apropriado”, defende. “A maneira de se expressar não foi adequada”, vincou, não sugerindo uma alternativa à forma como se deve propor este tipo de voto.

O deputado garante que não vê qualquer problema em as pessoas manifestem o quanto lamentam a perda de alguém pelas quais têm “muito respeito”, mas entende também que o local escolhido por Coutinho não foi o melhor. “Podia ter sido através dos jornais ou de actos pessoais”, diz.

Chan Iek Lap vai, porém, mais longe: “Votar a favor significa que estou a seguir a tendência geral. Se não o fizer, se votar contra, sou criticado. Sinto que sou monitorizado”. O médico diz que não quer ser “controlado por Pereira Coutinho”. “Se todos os deputados votarem a favor, ele vai dizer que toda a gente considera que ele é bom. Portanto, está a usar um acto para me obrigar a concordar com algo”, afirma.

O membro da direcção da Associação de Beneficência Tong Sin Tong alega que “até poderia nem ter votado”, bastando para tal sair do lugar. Mas votou – e foi do contra. Ainda assim, entende que “não é justo” considerar-se que, por não ter votado a favor, não respeita Mário Soares. “Expresso condolências profundas, sinceras. Realmente respeito o ex-Presidente e considero que foi uma grande pessoa. Deu muitos contributos para a relação luso-chinesa.”

É preciso ter calma

Ella Lei foi uma das duas deputadas que optaram pela abstenção – também Kwan Tsui Hang, igualmente do sector dos Operários, escolheu esta forma híbrida de exercício do voto. Mas Lei tem uma justificação diferente da de Chan Iek Lap. O problema da licenciada em Administração Pública foi o tempo.

“Não me abstive por o conteúdo da moção ter algum problema”, garante. “Recebi a proposta quando cheguei à sala e comecei a ler”, relata. Ella Lei reconhece que o regimento da AL prevê que, antes da ordem do dia, possa haver um período destinado à emissão de votos deste género, mas considera que “é preciso tempo para que as propostas sejam lidas”.

“Se se coloca um documento na nossa mesa sem termos tempo para ler com atenção, de facto não consigo, muitas vezes, tomar uma decisão”, confessa. “Já aconteceram situações semelhantes. Os documentos foram colocados repentinamente. Do meu ponto de vista, todas as decisões tomadas na AL merecem ser alvo de consideração com calma. Foi impossível tomar uma decisão num período de tempo tão curto”, reitera.

A deputada não deixa, no entanto, de analisar o gesto de Pereira Coutinho como sendo “um acto pessoal” numa “sessão que é da Assembleia Legislativa”.

Uma questão de civilidade

Apesar das muitas tentativas feitas, foi impossível chegar à fala com os restantes deputados que não estiveram ao lado de Pereira Coutinho no plenário desta semana. À margem da sessão, o proponente manifestou desagrado com o que aconteceu dentro da sala e lamentou a falta de memória dos colegas em relação à importância que Mário Soares teve no passado do território, com reflexos ainda hoje visíveis, nomeadamente ao nível demográfico.

Na apresentação do voto de pesar, o deputado tinha sublinhado “o espírito humanista e de solidariedade para com os mais desfavorecidos, incluindo os de Macau, onde, por seu decisivo impulso, foram legalizadas dezenas de milhares de pessoas de etnia chinesa, sendo este um gesto humanitário do então Presidente da República para uma política consentânea à realidade de Macau e das suas gentes”.

Pereira Coutinho falava da “Operação Dragão”, em 1990, em que foram legalizados cerca de 50 mil ilegais. Este processo de legalização aconteceu cerca de um ano depois de uma visita de Mário Soares ao território, em que se manifestou sensibilizado com casos de mães em situação irregular, com filhos legais em Macau, correndo o risco de as famílias serem separadas. Considera-se que a visita de Soares foi decisiva para a legalização destas pessoas.

Sobre este episódio na Assembleia Legislativa, Jorge Neto Valente, presidente da Associação dos Advogados e amigo pessoal de Mário Soares, disse ao HM considerar “lamentável”. “Julgo que os votos contra e as abstenções se devem ao facto de o proponente ser quem foi, o que é ainda mais lamentável”, afirmou. “Lamentável que é, todavia, serve para mostrar que a civilidade ainda não é praticada em todos os sectores da sociedade”, rematou.

19 Jan 2017

Função Pública | Coutinho fala de abusos nas contratações

As autoridades estarão a contratar funcionários públicos no interior da China para as áreas técnicas e de tradução quando até poderiam contratar locais. A queixa é do deputado José Pereira Coutinho, que suspeita de abusos no recurso ao contrato individual de trabalho

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo quanto ao recurso ao contrato individual de trabalho (CIT) para recrutar trabalhadores não residentes (TNR) do interior da China, sobretudo para os cargos de técnicos superiores e intérpretes-tradutores. O deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) considera que existe um abuso no recurso a este tipo de contrato.

“Segundo os dados estatísticos dos Serviços de Administração e Função Pública, até 30 de Setembro foram recrutados 2006 TNR através do CIT, ou seja, 6,63 por cento do total de trabalhadores recrutados. Face a esta percentagem, nem eu nem os cidadãos podemos concordar que essa contratação aconteceu devido à escassez de profissionais ou em virtude da especial qualificação profissional do trabalhador. Portanto, há suspeitas de abuso desse tipo de contrato por parte dos serviços públicos, o que deixa a sociedade indignada”, escreveu o deputado.

Segundo Coutinho, as informações referentes às funções e salários destes trabalhadores não são claras. “Recebi queixas de cidadãos contra alguns serviços públicos, acusando-os de recorrerem ao CIT para recrutar trabalhadores do interior da China para os cargos de técnico superior ou intérprete-tradutor. Falam de ambiguidades sobre as informações acerca das funções exercidas por alguns desses trabalhadores, e ainda sobre o facto de as funções em causa poderem ser plenamente exercidas por locais, defendendo que essas práticas afectam ao seu direito ao emprego.”

Como o Governo contrata TNR tem, segundo a lei, de lhes fornecer alojamento, o que, aos olhos de Coutinho, são despesas públicas desnecessárias. “O Governo tem de disponibilizar aqueles alojamentos, o que leva ao aumento das despesas para o erário público. E os locais não gozam dessa regalia. Então será que é mesmo necessário recrutar pessoal do interior da China para os cargos de técnico superior e intérprete-tradutor?”, questionou.

O deputado deseja ainda saber se o Governo fez uma pré-avaliação quanto à necessidade de recrutamento destas pessoas. “Quanto às funções técnicas especializadas na área da tradução e interpretação, será que o Governo, antes de recrutar estes trabalhadores, avaliou se essas funções tinham de ser exercidas pelo pessoal do interior da China?”, rematou.

19 Jan 2017

Maus tratos a animais | ANIMA protesta junto do Executivo

O caso do polícia que foi filmado a maltratar um cão está a ser investigado e deu origem a um processo disciplinar. Além disso, a ANIMA apresenta hoje uma carta de protesto ao Executivo a pedir o cumprimento da lei e a retirada do animal ao agressor

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vídeo que casou revolta na Internet, onde se vê um homem a bater num cão, ganhou novos contornos. A pessoa em questão é um agente da Polícia Judiciária que perdeu as estribeiras, ao que parece, depois de o seu cão ter roído um par de sapatos. O caso encontra-se em investigação e foi levantado um processo disciplinar contra o agressor.

Ontem, em declarações à comunicação social, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, afirmou que “este caso não devia ter acontecido”, lamentando profundamente o sucedido. Acrescentou ainda, dirigindo-se ao homem em questão, que “como agente, precisa de respeitar a lei rigorosamente e ser um exemplo para os cidadãos”.

Para Albano Martins, presidente da ANIMA, este é um assunto do foro da própria polícia, que em nada tem que ver com a aplicação da lei de protecção dos animais. “É o bom nome da instituição que está em causa, depois de o vídeo se ter tornado viral e ter levado à revolta das pessoas”, comenta. Não se trata, portanto, de uma acção motivada pela aplicação da lei, mas para limpar a imagem da corporação. “Estamos perante um agente graduado, que faz investigação policial, quem nos garante que não faz isto também a uma pessoa?”, interroga-se Albano Martins.

Está também em questão a própria lei. Por enquanto, o caso em investigação não dá qualquer esperança de resolução ao activista de defesa dos animais. “A lei actual é muito vaga, portanto, o agressor vai conseguir escapar”, prevê.

Como tal, a ANIMA entregará hoje, ao final do dia, uma carta de protesto ao Executivo, um protesto formal. Não o fizeram imediatamente para não reagir a quente, e esperar para perceber o que se iria fazer. A missiva mencionará que a situação filmada é flagrante e, “dentro do que está na lei, a pessoa deve apanhar a penalização máxima, que são 100 mil patacas”. A associação irá também exigir que se cumpra a lei e que o cão seja retirado ao agressor, para ser entregue a uma instituição de protecção dos animais. Aí, Albano Martins é peremptório, assumindo que “a ANIMA está disponível para o receber”.

A lei fraca

Entretanto, ficou a saber-se mais tarde que o cão foi ontem retirado ao dono pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), que se fez acompanhar pela polícia, para fazer uma análise detalhada aos ferimentos resultantes da agressão.

Em comunicado, o IACM adiantou que esta diligência pretende averiguar se houve violação da lei de protecção dos animais. Em declarações à Agência Lusa, a PJ diz ter sido informada pela PSP, que efectua a investigação, que o animal foi examinado por um veterinário do IACM que concluiu que o incidente não teve natureza criminal.

Para Albano Martins esta é uma falsa questão. “O artigo 3º da lei proíbe o tratamento de animais por meios cruéis, ou tortura, que lhe inflija dor, ou sofrimento, não dependendo da verificação de lesões visíveis”, comenta. Para o presidente da associação o vídeo demonstra, claramente, tratamento cruel que inflige dor ao cão.

Neste caso, a lei parece que não será aplicada, mas também revela uma fraqueza do próprio diploma que defende os animais. A ANIMA avançou com uma proposta de lei onde se tipificavam todas as formas de maus tratos puníveis, para que não restassem dúvidas. “Uma proposta que era um copy paste da lei de Singapura, mas esta lei actual é muito vaga e deixa de fora uma série de actividades, que podem fazer o que lhes bem apetecer”. Ou seja, o diploma, que entrou em vigor no passado dia 1 de Setembro, aplica-se apenas a donos de animais, esquecendo veterinários, lojas de animais e empresas de criação. “Está tudo de fora, nem se sabe quem é veterinário porque não são reconhecidos por ninguém; as lojas de animais não são reguladas, podendo manter os animais em jaulas minúsculas”, alerta o presidente da ANIMA. Também quem cria animais não está sujeito a qualquer tipo de regulamentação. É caso para dizer que, em termos legais, a defesa dos direitos dos animais em Macau obedece apenas à lei do mais forte.

19 Jan 2017

Balanço de 2016 | Turistas pernoitam mais em Macau

Os Serviços de Turismo apresentaram ontem os números relativos ao sector. No ano passado, mais de 30 milhões de turistas visitaram Macau, o que representou um aumento anual de 0,8 por cento. Quem vem cá tem ficado mais tempo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ano passado representou um virar de página para a hotelaria. Pela primeira vez numa década, o número de turistas a pernoitar em Macau foi superior aos que fizeram uma visita esporádica de um dia. Esta batalha ganha pelo sector hoteleiro deve-se ao aumento das pernoitas em quase 10 por cento, motivado por um leque de factores. “Há um aumento do número de quartos disponíveis, e uma maior possibilidade dos turistas conseguirem quartos mais baratos, uma vez que o preço médio baixou”, explicou à comunicação social Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST). Acrescentou ainda que estes números reflectem o “grande esforço feito em termos de actividades, e da criação de diferentes zonas para turistas”. Outros factores chave foram a eficácia dos operadores na oferta de pacotes turísticos que implicam pernoitas em hotéis, assim como as campanhas promocionais que venderam a marca Macau.

Os principais mercados continuam a ser os mais próximos, nomeadamente o interior da China, Hong Kong e Taiwan. 2016 registou mais de 20 milhões de visitantes do Continente, o que representou um ligeiro aumento de 0,2 por cento. Destes turistas, 44 por cento vieram da província de Guangdong. No que diz ao mercado de Taiwan, registou-se um aumento de 8,8 por cento, enquanto Hong Kong desceu 1,8 por cento.

Em termos internacionais, o mercado coreano continua no topo da lista dos visitantes de Macau. Durante 2016, mais de 660 mil turistas coreanos visitaram o território, o que representou um crescimento perto dos 20 por cento.

A tendência de subida também se fez sentir nos mercados do Sudeste Asiático, com a Tailândia a ser o país que mais cresceu em termos de turistas a visitar Macau, mais de 30 por cento. Outro dos mercados a crescer consideravelmente foi a Indonésia, 11,7 por cento, enquanto as Filipinas subiram 3,7 por cento. O número de visitantes japoneses aumentou cerca de 6,5 por cento. No que diz respeito aos Estados Unidos, o único mercado de longo curso entre os dez principais mercados turísticos da RAEM, 2016 viu um aumento dos 4,6 por cento de turistas norte-americanos no território.

Ficar em Macau

Dados preliminares apontam para que, no ano passado, tenham pernoitado em hotéis de Macau mais de 15,7 milhões de pessoas, um crescimento anual de 9,8 por cento, representando 50,7 por cento do número total de visitantes. O período médio de permanência numa unidade hoteleira foi de 2,1 dias, tempo que a directora do DST pretende aumentar. Para tal é necessário diversificar a oferta. Uma das possibilidades é a exploração das potencialidades turísticas de Ka Ho, em Coloane. “Estamos a realizar um estudo pormenorizado para saber como podemos levar os turistas até lá, assim como disponibilizar um leque de actividades que despertem o interesse de quem visita Coloane”, comentou Helena de Senna Fernandes.

Além da deslocação do Museu do Vinho para Coloane, outra possibilidade é a exploração do mercado dos cruzeiros de pequenas dimensões, uma vez que Macau não dispõe de um cais de águas profundas para embarcações maiores. Está neste momento a ser negociada a possibilidade de criação de programas de cruzeiros mais pequenos entre a península de Macau, Taipa e Coloane. A DST tem facilitado reuniões entre os vários departamentos envolvidos e o operador, sendo que já se realizaram estudos para saber que tipo de barco usar, quais os trajectos, assim como outros aspectos da operação. Helena de Senna Fernandes prevê que estes projectos se concretizem até ao final deste ano.

No entanto, o turismo de Macau tem desafios complicados pela frente em 2017. Em primeiro lugar, houve uma redução de 12 por cento do orçamento afecto ao Fundo do Turismo, algo que não assusta a directora do DST, que projecta uma “melhor maximização dos recursos”. Outro desafio é totalmente externo: a variação cambial. Com o dólar Americano mais forte, isso levará à subida do valor do dólar de Hong Kong, que por sua vez influenciará a pataca. Um efeito dominó que pode encarecer o destino Macau, retirando-lhe competitividade em relação a outros destinos.

 

 

Aposta no Brasil

No ano passado visitaram Macau cerca de 9500 turistas brasileiros, o mesmo que em 2015, mas é um mercado apetecível para o DST. “Estamos a identificar áreas e segmentos para atrair turistas do mercado brasileiro”, explicou Helena de Senna Fernandes. Para já, a aposta brasileira ainda está a ser avaliada com um estudo de mercado mas é, para os Serviços de Turismo, um país interessante em termos de mercado de longo curso.

19 Jan 2017

Economia | BNU inaugurou sucursal na Ilha da Montanha

O Banco Nacional Ultramarino já tem presença em Hengqin e olha agora para a possibilidade de “imediatamente efectuar negócios” na moeda chinesa, bem como fomentar relações com países de língua portuguesa

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá finalmente inaugurada a já anunciada sucursal do Banco Nacional Ultramarino (BNU) na Ilha da Montanha. Segundo um comunicado da entidade, a abertura do espaço “representa um avanço inovador no reforço da cooperação económica entre Guangdong e Macau”.

Além de se tratar do primeiro banco de Macau a abrir uma sucursal na China, esta inauguração vai ainda permitir “imediatamente efectuar negócios em renminbi, graças ao “Acordo de Concretização Básica da Liberalização do Comércio de Serviços em Guangdong”, estabelecido entre a China Continental e Macau no âmbito do Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais (CEPA).

O comunicado aponta ainda que a presença do BNU em Hengqin se trata de um “excelente exemplo da cooperação entre Guangdong e Macau, através do estabelecimento de uma sucursal na China Continental sob as políticas preferenciais do CEPA”.

“Com o apoio da sua casa matriz, a Caixa Geral de Depósitos, e da sua vasta rede financeira nos países de língua portuguesa (PLP), o BNU ajudará as empresas de Macau a expandir os seus negócios para a China Continental, promoverá uma cooperação mais estreita entre Macau e a província de Guangdong, e apoiará a consolidação de Macau como plataforma de serviços para a cooperação económica e comercial dos PLP”, aponta o mesmo comunicado.

Sim à qualidade

No seu discurso, Pedro Cardoso, presidente da comissão executiva do BNU, referiu que a presença do BNU na China “representa um marco na expansão da nossa oferta de serviços financeiros para a província de Guangdong”. “Estamos comprometidos em fornecer serviços financeiros de elevada qualidade, assim como os serviços tradicionais de depósitos e empréstimos, operações cambiais e financiamento comercial”, disse ainda.

“O nosso principal objectivo com a abertura da agência de Hengqin é assim ajudar a reforçar a ligação entre os países de língua portuguesa e a República Popular da China. É igualmente nosso objectivo reforçar o apoio aos nossos clientes de Macau que têm investimentos e negócios na China Continental e em particular em Guangdong”, frisou o presidente da comissão executiva.

Pedro Cardoso disse ainda estar confiante quanto ao “futuro de Hengqin no âmbito do desenvolvimento global da região do Delta do Rio das Pérolas”. No ano em que celebra 115 anos de existência, o BNU pretende ainda “promover continuamente a cooperação económica entre a China e os países de língua portuguesa”.

19 Jan 2017

Espectáculo “Made in Macau 2.0” recorda vivências nas fábricas

É já em Fevereiro que estreia em Macau o espectáculo “Made in Macau 2.0”, que retrata o tempo em que milhares de pessoas vieram do Continente para trabalhar nas fábricas de Macau. Teresa Lam, mentora do espectáculo de teatro documental, optou por contar a sua história de vida, num misto de ficção e realidade

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi por pouco que Teresa Lam não nascia no meio de uma fábrica de têxteis, a meio da noite. A mãe, imigrante oriunda da China, sem posses económicas, sentiu as fortes dores do parto e foi sozinha para o hospital. Estávamos em 1980 e em Macau o boom do turismo ainda não se fazia sentir. Havia dificuldades económicas e muitos procuravam emprego.

Foi esta a realidade que Teresa Lam optou por retratar no projecto de teatro documental “Made in Macau 2.0”, que subirá ao palco do edifício do antigo tribunal nos dias 18 e 19 de Fevereiro. Ao HM, Teresa Lam explicou por que optou por ser a personagem principal da sua própria criação.

“Este projecto é sobre a minha família, que saiu da China para se estabelecer em Macau, e conta a história de como cresci numa fábrica têxtil. Nos anos 80 e 90 as fábricas eram muito comuns. Claro que, depois, a indústria do turismo tornou-se dominante e todas as fábricas foram fechando. Faço parte da geração que assistiu a esta rápida mudança, porque nasci em 1980 e a primeira parte da minha vida vivi-a numa antiga colónia portuguesa, mas depois tive de regressar à China com a minha família. Somos a geração que mais vivenciou esta rápida transformação da história de Macau.”

Sendo uma mistura de teatro documental com storytelling, “Made in Macao 2.0” pretende mostrar à sociedade dos dias de hoje a história de um tempo passado. “Esta é uma colecção de memórias muito especial para as pessoas de Macau. Espero que o público possa recordar os tempos difíceis de Macau por comparação a uma fase em que temos o PIB mais elevado do mundo”, defendeu Teresa Lam.

Para a mentora deste projecto, só faria sentido falar de si mesma se fosse para mostrar a história de tantas outras pessoas. “Pensei que, se fosse falar de mim, teria de ser mostrando toda a Macau e como o território mudou. E como as ideologias foram mudando, porque os nossos pais mudaram-se para Macau devido à situação política na China naquela altura. As suas visões são muito diferentes. O público poderá ver como nascemos e crescemos. Praticamente nasci na fábrica.”

Experiência checa

Esta não é, contudo, a primeira vez que este espectáculo sobe ao palco. Tudo começou em Praga, na República Checa, onde Teresa e Kevin Chio, produtor do espectáculo, fizeram os seus mestrados nesta área.

“Em dois anos fizemos um projecto final e decidimos que tínhamos de fazer algo sobre Macau. Ficámos muito felizes com um contacto que conseguimos com um centro de arte performativa local, um dos maiores de Praga. Foi importante porque a maioria dos teatros são em checo, mas este está aberto a profissionais do estrangeiro e, por isso, conseguimos apresentar o nosso projecto. Também cooperamos com artistas de Praga ligados ao teatro documental.”

Para Teresa Lam, estar em Praga e apresentar lá o seu espectáculo foi importante do ponto de vista criativo. “Conseguiram transmitir-nos uma visão estrangeira ao projecto, porque muitas vezes introduzimos elementos de uma cultura, como os pauzinhos, e não compreendemos como os outros vão olhar e entender esses elementos culturais.”

No ano passado, Teresa Lam e Kevin Chio foram convidados para regressar à capital checa, onde fizeram a segunda fase do “Made in Macau 2.0”, que vai agora ser apresentada ao público local.

Apesar de conter uma boa dose de realidade, “Made in Macao 2.0” também será feito de ficção. “O espectáculo vai mostrar a realidade, mas também alguma imaginação, sobretudo sobre o período anterior ao meu nascimento, quando os meus pais vieram para Macau. Abordo também os amigos dos meus pais, que não tiveram a mesma sorte de vir para o território. Fiz alguma pesquisa sobre isso e criei alguma ficção à volta desse período”, concluiu.

O espectáculo está a cargo da companhia de teatro alternativo Rolling Puppet, fundada por Teresa Lam, e será apresentado ao público no dia 18 de Fevereiro às 20h e no dia 19 de Fevereiro às 15h. Os bilhetes já se encontram à venda.

19 Jan 2017

China | Governador de Liaoning admite ter adulterado dados económicos

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m governador chinês admitiu que a sua província adulterou durante anos os dados económicos, escreveu ontem a imprensa estatal, nas vésperas de Pequim revelar as estatísticas do crescimento económico em 2016.

As declarações de Chen Qiufa, governador de Liaoning, província do nordeste do país, confirmam as suspeitas levantadas por funcionários e analistas, chineses e estrangeiros, sobre o rigor dos dados económicos da China.

A informação sobre o ritmo de crescimento económico do país, o motor da recuperação global após a crise financeira de 2008, afecta as decisões de investidores em todo o mundo.

Citado pela agência oficial Xinhua, Chen Qiufa admitiu que, entre 2011 e 2014, os dados económicos das cidades e condados sob a jurisdição de Liaoning foram minados por estatísticas falsas.

Em 2014, um grupo de inspecção delegado por Pequim avisou Liaoning sobre a “prevalência de fraude nos dados da economia”.

Num caso detectado em 2013, um condado daquela província apresentou receitas públicas 127% acima dos valores reais, segundo a Xinhua, que cita o órgão máximo anti-corrupção do Partido Comunista Chinês (PCC).

No primeiro trimestre de 2016, depois de concluídas as investigações, Liaoning tornou-se a primeira província chinesa a apresentar um crescimento negativo.

Liaoning depende da indústria pesada, sobretudo dos sectores do aço e carvão, gravemente afectados por excesso de capacidade de produção e ineficiência.

O Gabinete Nacional de Estatísticas chinês anuncia na sexta-feira os dados de crescimento económico relativos ao ano passado.

Defeitos crónicos

As declarações de Chen constituem uma admissão rara de um problema sistémico nas estatísticas sobre a segunda maior economia do mundo.

A promoção dos funcionários locais depende da performance económica dos sítios onde estes exercem os cargos, numa política que incentiva à adulteração dos dados.

Em dezembro, o responsável máximo das estatísticas da China acusou funcionários locais de “alterarem” os dados sobre a economia e avisou que os infratores serão “severamente punidos”.

O próprio primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, expressou já dúvidas sobre a credibilidade dos dados estatísticos do país, numa conversa com o embaixador dos Estados Unidos na China, em 2007, revelada no Wikileaks.

“A inflação do Produto Interno Bruto (PIB) é uma doença crónica – não acontece apenas em Liaoning”, afirmou a Xinhua, notando que naquela província, contudo, o problema é “particularmente grave”.

19 Jan 2017

China | Advogados pedem demissão do presidente do Supremo Tribunal

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de uma dezena de advogados chineses pediram a demissão do presidente da máxima instância judicial da China, após este ter apelado aos juízes para que não caiam na “armadilha ocidental” da separação de poderes.

Zhou Qiang, que lidera o Supremo Tribunal Popular da China, disse que os tribunais do país devem resistir à “ideologia errada” do ocidente, como a democracia constitucional, separação de poderes e independência do sistema judiciário.

O “papel dirigente” do Partido Comunista (PCC), que governa o país desde 1949, é um “princípio cardial”, estando o sistema judicial subordinado ao poder político.

Ainda assim, nos últimos anos foram realizadas algumas reformas a nível local, visando garantir maior independência dos juízes.

Porém, citado pela agência oficial Xinhua, Zhou lembrou que a ideologia é um factor importante na avaliação de funcionários do Governo e que aqueles que violarem os requisitos ideológicos devem ser punidos.

Segundo informou o jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), os comentários de Zhou levaram mais de uma dezena de advogados a pedir a sua demissão.

Zhou Qiang “não está à altura do seu cargo ao contrariar a tendência mundial de independência do sistema judicial”, afirmou o grupo num baixo assinado, citado pelo SCMP.

Que reforma?

Após ascender ao poder, em 2013, o Presidente chinês anunciou uma reforma no sistema legal, visando garantir o primado da lei.

No entanto, o regime promoveu uma campanha repressiva contra activistas pró-democracia e advogados que trabalham em casos considerados sensíveis para o Governo.

Desde 2015, centenas de advogados chineses dos direitos humanos foram detidos, interrogados e alguns condenados à prisão por “subversão do poder do Estado”.

19 Jan 2017

A força do que é inútil   

[dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]bsen, o maior dramaturgo do século XIX, esteve vinte anos fora da Noruega e foi nesse período que se tornou uma estrela do teatro internacional. Durante parte da sua ausência o seu verdadeiro lar foi o Café Maximilian, em Munique, onde, com a sua barba flamejante e os inúmeros jornais espalhados pela mesa, era um ponto de atracção e de admiração dos turistas. De tal modo que quando voltou à Noruega, o dono do Maximilian, em desespero, contratou um figurante de grandes barbas e semelhanças físicas com o dramaturgo, para ocupar a sua mesa todos os dias durante três horas a folhear jornais com um idêntico recolhimento e ímpeto físico a dobrá-los.

Aquele que não passava de um símbolo e que viveu sempre com tantas dificuldades materiais, tornara-se vital para a sobrevivência do café.

Igualmente, é hoje incalculável o volume de negócios, de eventos musicais e de lucro que tem movido o nome e a música de Mozart. Algo que seria muito estranho para o coveiro que em 6 de Dezembro de 1791 o enterrou na vala comum, como alguém imprestável e facilmente substituível. E poucos nomes cristalizam melhor como símbolo de uma civilização, a europeia.

Há poucas semanas li que o Gaudi teria acabado os seus dias a pedir esmola a quem passava nas Ramblas. Espantado, vasculhei em várias fontes e não consegui perceber se o genial arquitecto acabou mesmo na miséria profunda se a informação não passava de uma força de expressão. Mas apurei que acabou em grandes dificuldades financeiras e que o seu aspecto era o de um homem cujos problemas já faziam negligenciar a higiene e o estado da sua indumentária. Ou seja, morreu aquém da dignidade que impunham as suas obras. E hoje há maior símbolo de Barcelona?

Servem estes exemplos para constatar: os valores que fomentam o status social apresentam-se o mais das vezes invertidos – tendo em conta aquilo que no futuro verdadeiramente renderá, aquilo que alargará a liberdade expressiva do homem e lhe dilata o imaginário, ou seja, as modalidades de ser. Demos um exemplo: o futuro de Cristiano Ronaldo, assim que deixar de jogar à bola é nulo; comparativamente quantos conhecem o nome de Júlio Pomar, cuja obra continuará viva daqui a cinco séculos?

Nestes tempos incautos de esvaziamento da promessa humanista, trucidada pelo primado da economia e da estatística, urgia que os valores do símbolo recuperassem terreno na escala da hierarquia social. Hoje vivemos sobre a ditadura do utilitarismo e da funcionalidade. Os quais dependem duma obturação do simbólico. Daí a haver uma ultrapassagem dos regimes simbólicos no imaginário colectivo vai uma enorme distância.

«No universo do utilitarismo, um martelo vale mais que uma sinfonia, uma faca mais que um poema, uma chave de fenda mais que um quadro: porque é fácil compreender a eficácia de um utensílio, enquanto é sempre mais difícil compreender para que podem servir a música, a literatura ou a arte», lembra Nuccio Ordine. Mas esta é a mesma dimensão reducionista que faz do sexo um mero exercício de fisiologia, numa monocordia pornográfica, e perdeu de vista a inteligência, a criatividade, do erotismo.

Eis a primeira mentira que é preciso desalojar, a de que vivemos num mundo pós-simbólico – deu-se apenas uma deslocação nos suportes mediáticos. Hoje há livros e viés da Gestão, por exemplo, que se servem da lição dos clássicos greco-romanos para vender melhor, persuadir melhor, agenciar os negócios ou prodigalizar uma dinâmica de grupo; já inversamente, não há um livro de literatura dessa área que possa dizer-se que tenha nutrido o imaginário humano com o mesmo teor vitamínico e duração.

Quando um arauto neo-liberal vai ao cinema e se presta a alimentar a segunda maior indústria dos EUA dar-se-á conta do que é que está a fazer? Está a entrar na caverna de Platão e a dar sequência à engrenagem dos mitos? Aquela mesma criatura que depois virá defender que vivemos num estádio pós-simbólico saliva pela sequela de Blade Runner: a narrativa que triunfou porque cerziu a fábula dos «amores contrariados» (a mesma de Romeu e Julieta) com o mito do Fausto, numa trama futurista.

Apetece dizer que o afluxo da sociedade neo-liberal contemporânea não passa do exacerbamento do “complexo de Midas” vivido à sombra da “síndrome de Midas”. O complexo prende-se com o medo (incutido desde a infância) de não se ser capaz de valorização social, no sentido do sucesso económico, e a síndrome, no seu epítome, clarifica o ódio por tudo que não seja “dinheiro” e não traduza a ascensão social por via dos bens que o “ouro” autoriza, querendo reverter em fobia “regeneradora” o que afinal se apresentava como um handicap em Midas: a amputação da sua sensibilidade.

Temo que com a investidura de Trump se irão acrescentar dois elementos aleatórios a esta conjugação já de si perigosa: uma celebração do imaginário do casino (a aposta no jogo e no bluff enquanto impulsionadores do económico, do social, até mesmo da guerra, aliás como corolário do sistema de Wall Street) e uma nova e arbitrária escalada da infantil cruzada do numerário contra o simbólico. Entretanto, seria bom lembrar: nada que assente exclusivamente no plano da vida material trouxe alguma vez alguma coisa de relevante à memória dos povos.

Por fora disto, tudo o que é inútil se nos afigura irrenunciável: do amor à dignidade ou à melancolia na música de John Surman, o saxofonista que quis conhecer o vento (os abismos do free jazz) para enfim nos tocar o coração.

19 Jan 2017

Dias todos

Horta Seca, Lisboa, 9 Janeiro

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ia que começa com correio é dia maior; ano que começa assim, espero que expluda. O próprio livrinho vestiu-se envelope, foi trazido pelo e teve que se abrir com corta-papéis. «O ano em que o calendário avariou» contém poema homónimo de Manuel António Pina interpretado pela M2N Press, dos queridos Marta Madureira e Pedro Amado, ou seja, «composto em caracteres móveis de 10 e 16 pt, de Grotesco corrente (Antiga Inglesa) e Bodoni itálico. Impresso em cartolina offset 315 e printeset de 50 g/m2 numa Adana HS2 em Dezembro.» Puro gozo. Os caracteres dançam no que dizem e no que figuram abrindo transparências delirantes, segundas leituras, divertimentos. E depois o verde surge segunda cor, que tinge também a linha que coze os cadernos. A mistura de tempos em que vivemos na arte das impressões em papel pode multiplicar a fauna no jardim das delícias. «Naquele ano espantoso/cada um podia ter à vontade/as suas manias/porque todos os dias eram os dias todos». Obrigadinho é que lhes desejo.

(Paradoxo por resolver: mando cada vez menos cartas.)

Assembleia da República, Lisboa, 10 Janeiro

Ao mesmo tempo impressionante e divertida, a mais comovente das despedidas a Mário Soares: povo que grita, «Soares é fixe!». A simplicidade constituiu-se assim moldura exacta para a solenidade das homenagens. O militante anti-fascista, o político e conspirador incansável, o bon vivant com sentido de humor, o grande leitor e apreciador de artes plásticas, atraído pelos mares, o ensaísta mais ou menos polémico, o cosmopolita bem relacionado, o estadista com causas, o ministro, o primeiro-ministro, o presidente da república, tudo e mais alguma coisa, que o homem foi do tamanho do século, tudo resumido numa frase de campanha, singela e quase banal, uma brisa de Verão. E depois regressei ao dicionário (Houaiss, 2003), como há anos fazia semanalmente, para ver o que se esconde na palavra e logo a surpresa: ajustado, que possui firmeza, confiável, dotado de inteireza, forte, que agrada. Mesmo o primeiro dos significados – rectângulo de madeira ou ferro destinado a sustentar locomotiva – faz sentido se pensarmos no tempo enquanto comboio. De alta velocidade.

Centro Cultural de Belém, Lisboa, 12 Janeiro

Ouvir uma conversa está longe de ser o mesmo que vê-la. A voz, só por si, concentra atenções. Creio que se perderá menos, portanto, do primeiro Obra Aberta quando for transmitido, dia 16, na Rádio Renascença. Ao vivo, em sala cheia, a Maria João Costa geriu, com a mestria que se lhe reconhece, o ritmo do dueto entre os brilhantes professores, tradutores, ensaístas, Frederico Lourenço e António de Castro Caeiro. E com que corpo estas vozes se apresentaram! Não podia ter começado de melhor maneira a primeira fase deste projecto, em boa hora acolhido por Elísio Summavielle. Uma seta disparada na direcção dos tristes pedagogos que dão o ensino da filosofia como tempo perdido, dispensável obstáculo na formação veloz e eficaz das novas gerações. Cada um a seu modo iluminou com cristalino pensamento o tempo que atravessamos. Além das obras respectivas – Novo Testamento (Quetzal), a ambiciosa tradução que marcou este Natal, no caso do Frederico, e para o António, Um Dia Não São Dias (abysmo), tentativa de discernir o modo como apercebemos o tempo –, pedimos aos convidados para atirarem ao lume da discussão outros títulos da actualidade, escolhas que incluíram Fédon, de Platão (Guimarães), a Obra Poética, de Sophia (Assírio & Alvim), Ser e Tempo, de Heiddeger (ed. bras. Unicamp), ou Doutor Fausto, de Thomas Mann (D. Quixote), entre outros. Destabilizadora, esta sabedoria que atravessa o tempo em baixo contínuo. Fiquei a matutar na leitura do António: haverá criação sem amor? «O Fausto da tradição em que assenta o de Goethe vende a alma ao Diabo para comprar tempo de juventude. Era um homem velho cheio de mundo e de vida, mas sem o amor que apenas tarde na vida lhe acena. O Fausto de Mann também vende a alma ao Diabo e é tempo a moeda de troca, mas é um jovem músico. O tempo que pretende é para a criação artística. E é por amor que o Diabo lhe exige precisamente não amar. O olhar do amor passa a ser para Fausto o olhar da perda e da morte. Tudo o que vê morre. Ganha 24 anos, mas pode trocar-se a possibilidade de amar pela possibilidade de criar?»

Desconhecia em mim o nervoso miudinho que me pregou à parede do fundo a jogar pingue-pongue de mãos nos bolsos.

Casa Fernanda Botelho, Vermelha, Cadaval, 15 Janeiro

O pretexto foi a entrega do Prémio Literário Fernanda Botelho dedicado ao conto, patinho feio da edição nacional. «Os portugueses não se interessam por contos…», dizem os nossos editores, como se não dependesse deles tentar fugir aos interesses, ou, pelo menos, expandi-los. E esquecendo Aquilino, Brandão, Herberto, Sophia, Sena, Mário de Carvalho, Cardoso Pires ou a própria Fernanda Botelho, cuja casa visitámos em seguida. Devido ao amoroso dinamismo da sua neta, Joana, tornou-se centro cultural que, além de preservar o espólio, em colaboração com o Centro de Estudos Comparatistas, irradia propostas de promoção de leitura e interpretações multidisciplinares da obra. Outro caso sério, capaz de afinar (em feminino) o nosso olhar sobre o século XX. Em breve, na abysmo.

19 Jan 2017

Equipa do Consulado estreia-se na segunda divisão

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi ontem apresentada à comunicação social a equipa de futebol de onze do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A apresentação não podia ter sido feita em melhor atmosfera, tendo sido realizada depois de uma expressiva vitória por 3-0 na jornada inaugural do campeonato da II divisão de Macau.

“Mais do que um projecto competitivo, este é um projecto diplomático pioneiro a nível mundial”, declarou o Cônsul-geral, Vítor Sereno, também capitão de equipa. Que se saiba, não existe outra equipa diplomática que participe numa competição desportiva federada. Para o diplomata, o desporto é uma via de aproximação de comunidades, e esta iniciativa visa “fomentar a participação activa dos portugueses na vida da RAEM”, e estreitar os laços que unem Portugal, Hong Kong e a China.

A equipa do consulado, que se constituiu em 2013, tem sido convidada para participar em jogos tanto nas duas regiões administrativas especiais, como na China Continental. O futebol tem sido um veículo que proporcionou, de acordo com Vítor Sereno, o desenvolvimento de relações privilegiadas com países como as Filipinas, Vietname, Camboja, Indonésia e Tailândia.

Além de estreitar laços com o exterior, a constituição da equipa criou uma atmosfera de team building entre os próprios funcionários do consulado. Entre os 23 jogadores que constituem o plantel, seis fazem, ou fizeram, parte do staff diplomático. O próprio cônsul-geral diz, com humor, que “aos 46 anos tenta fazer pela vida, e marcar uns golos”, apontando como meta, pelo menos, repetir os 11 golos que marcou na época passada.

A equipa do consulado tem vindo a subir de escalão de ano para ano, numa ascensão meteórica. Ficou em terceiro lugar da 3.ª divisão na última época, campeões da 4.ª divisão em 2015, sendo que em 2017 Vítor Sereno promete fazer o melhor possível e “dignificar as camisolas” que vestem.

Durante a apresentação da equipa para a nova temporada, o cônsul-geral aproveitou para fazer uma saudação especial à equipa da Casa de Portugal, que também compete na 2.ª divisão de Macau, assim como aos patrocinadores. Vítor Sereno fechou a sua intervenção agradecendo à comunidade portuguesa nascida, ou radicada, em Macau e em Hong Kong, pelo apoio incondicional à equipa. A formação terá oportunidade para retribuir o apoio prestado nas quatro linhas.

19 Jan 2017

Carros de Turismo | Campeonatos de Macau voltam a Zhuhai

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sua sigla inglesa) já tem calendário provisório para a temporada de 2017. A competição promovida pela Associação Geral Automóvel Macau-China (AAMC) vai voltar a apostar em dois eventos e ambos a realizar no Circuito Internacional de Zhuhai, como demonstra o calendário de provas para este ano do circuito permanente da cidade continental chinesa adjacente à RAEM.

O primeiro “Festival de Corridas de Macau” está marcado para 27 e 28 de Maio, sendo que o segundo fim-de-semana está agendado para 24 e 25 de Junho. Esta é uma boa notícia para os pilotos locais que, na sua maioria, preferem competir na pista de Zhuhai, devido à conveniência da localização e às condições da própria pista. Isto, para além dos custos menores que acarreta competir em Zhuhai, comparando com outras paragens que o MTCS visitou na última década, como por exemplo, o circuito de Fórmula 1 de Sepang, na Malásia. Nos dois últimos anos, em parceria com a Associação Automóvel de Hong Kong (HKAA), a AAMC organizou três fins-de-semana de corridas no Circuito Internacional de Guangdong. Neste momento o circuito localizado nos subúrbios da cidade de Zhaoqing tem duas datas reservadas e por confirmar para o mês de Março para realizar o “GIC Challenge” de 2017. Estes eventos serviram nos últimos anos para os pilotos de Macau preparem os seus carros antes das jornadas decisivas do MTCS que, para além de atribuírem os títulos aos pilotos do território, qualificam-nos para as corridas de carros de turismo do Grande Prémio de Macau.

Novidades em 2017?

Apesar da estabilidade do calendário, 2017 poderá ser um ano de grandes novidades para os pilotos de carros de turismo locais. Segundo apurou o HM junto de diversas fontes, há movimentações para uma eventual alteração nos regulamentos técnicos da categoria “AAMC Challenge”, destinada às viaturas de preparação local com motores 1.6 Turbo e cujos elevados custos de preparação das viaturas têm sido colocados em causa pelos pilotos.

Ao mesmo tempo, poderão também existir mudanças no programa de corridas de suporte do Grande Prémio de Macau que terão impacto directo no número de pilotos do território apurados para o grande evento do mês de Novembro. As próprias provas de qualificação dos pilotos locais para as corridas de carros de turismo de suporte do programa do Grande Prémio poderão sofrer alterações na sua essência e não se restringir, como até aqui, apenas aos pilotos da RAEM. A Taça AAMC de GT, que no passado foi um título atribuído aos participantes em provas seleccionados do campeonato GT Asia Series, também poderá regressar este ano.

19 Jan 2017

É um mundo cão

[dropcap style≠’circle’]1) C[/dropcap]irculou pelas redes sociais no início da semana um vídeo que dava conta de um caso de maus tratos a animais, que indignou qualquer pessoa de bem, e deixou as associações dos direitos dos animais à beira de um ataque de nervos. Nas imagens recolhidas por um amador (aparentemente) da janela da sua casa, vê-se um indivíduo a espancar brutalmente um cão do terraço de um edifício anexo, durante cerca de um minuto. Mais tarde veio a saber-se que o agressor é um agente da Polícia Judiciária, e aparentemente fora do seu horário de turno, naquele que deve ser o seu  “remanso do lar” – lá se foi a desculpa de que o animal estava a ser interrogado, e mostrava-se pouco disposto a colaborar com as autoridades. Nem por acaso, e logo para azar do actor principal daquela fita, ainda no ano passado a AL aprovou (finalmente) uma lei que criminalizou a “biqueirada ao cachorro”, uma exótica e bizarra forma local de lidar com o “stress”. A PJ abriu um inquérito, e veio muito oportunamente condenar a conduta do seu agente (e é preciso não esquecer a tal leizinha, pois…). Acho mal e acho bem – o comportamento do agente, e a prontidão da resposta por parte das autoridades, respectivamente. Isto de molestar criaturas de sangue quente está completamente “off”, e ao contrário do oficial do GP de Macau que enxotou à vassourada um cão que se atravessou na pista durante os treinos, aqui “não havia nexexidade” nenhuma.

2) Por falar em AL, o deputado José Pereira Coutinho apresentou na última terça-feira no hemiciclo um voto de pesar pelo desaparecimento de Mário Soares, figura inalienável dos últimos 40 anos da História de Macau, e da transição do território para a R. P. China em 1999. Achei a ideia boa, mas não gostei da “entrega” por parte do sr. deputado;  leu mal, depressa, atabalhoadamente, ignorando quase por completo a pontuação. Podia estar nervoso, cansado, não interessa, pois logo a seguir o quadro ficou completamente borrado: o voto foi aprovado com 13 votos a favor, cinco contra, e duas abstenções. Quanto a estas últimas, quem acha que a intensidade da ordem de trabalhos da AL (?) não deixa tempo para sentimentalismos, tem todo o direito a ser tótó, mas…votar contra? Um voto de pesar por uma pessoa que faleceu, e que nunca lhes fez qualquer mal – antes pelo contrário – e…votam contra?!?! Não me surpreendeu que tenha vindo dos sectores patrióticos cá do burgo, mas…para quê? Quem é que lhes encomendou o sermão? Parece que a memória é mesmo curta, e que nem ainda há nem dois meses um outro elemento do órgão legislativo local ficou com um enorme “melão” depois de uma demonstração de “patriotismo” durante uma visita ao continente, e que não agradou ao seu destinatário. E sabem porquê? Porque sois ricos. Não “marxistas”, e muito menos revolucionários. E no caso da AL, devem o estatuto a…Mário Soares, entre outros. Ó, a ironia. E que Pátria é essa que estes patrioteiros idealizam, onde nem se respeitam os mortos?

19 Jan 2017

Ho Chio Meng terá tentado reaver prova apreendida

O antigo motorista oficial do ex-procurador da RAEM foi ouvido ontem em tribunal. Contou que ajudava a cobrar rendas de familiares e amigos do arguido e falou dos encontros que o magistrado tinha com mulheres

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] história foi contada ontem em tribunal pelo antigo motorista de Ho Chio Meng. De acordo com a Rádio Macau, que tem estado a acompanhar o julgamento, Ho Chio Meng terá tentado recuperar um documento apreendido durante buscas feitas pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC), numa altura em que estava já sob investigação. Em causa está uma caderneta bancária do cunhado, encontrada na casa do motorista do ex-procurador. O funcionário, de nome Mak Hak Neng, confirmou cobrar rendas em nome de familiares e de um amigo do arguido.

Ouvido no Tribunal de Última Instância como testemunha da acusação, Mak Hak Neng disse que, a pedido de Ho Chio Meng, “ajudava” a executar contratos de arrendamento referentes a fracções e a parques de estacionamento em nome do cunhado de Ho Chio Meng, Lei Kuan Pun, e de Mak Im Tai, empresário arguido no processo e amigo de longa data do antigo líder do Ministério Público.

O motorista oficial do ex-procurador explicou que era o responsável por “ver se [os arrendatários] pagavam as rendas” e, por isso, estava na posse de cadernetas bancárias de Lei Kuan Pun e de Mak Im Tai. Os documentos foram encontrados pelo CCAC durante uma busca à residência da testemunha.

A emissora relata que Mak Hak Neng confirmou também que, a pedido de Ho Chio Meng, foi ao CCAC pedir a devolução da caderneta do cunhado do ex-procurador, mas o documento permaneceu apreendido como prova.

A testemunha admitiu ainda que transportou grandes quantias de dinheiro para Zhuhai em nome do ex-procurador, sendo que os valores eram depositados numa conta individual de Ho Chio Meng. O motorista disse, a partir de 2005 ou 2006, passava a fronteira, “mensalmente”, com montantes entre 100 mil a 300 mil dólares de Hong Kong. O Ministério Público apontou que os valores “ultrapassavam o limite estabelecido por lei”, mas a testemunha não esclareceu se alguma vez teve problemas na Alfândega, conta a Rádio Macau

Quartos e hospedeiras

A acusação tentou também provar que Ho Chio Meng tinha encontros com mulheres em quartos de hotel, em Macau e Zhuhai, pagos pelo Ministério Público. A agenda telefónica do motorista do ex-procurador foi uma das provas apresentadas: Mak Hak Neng registou contactos de várias mulheres, que terão sido dados por Ho Chio Meng. Alguns destes contactos tinham a expressão “cor vermelha” associada ao nome e, na versão da testemunha, seriam “hospedeiras”.

O motorista revelou também que chegou a transportar estas mulheres para hotéis e fez o check in em quartos que nunca utilizou, porque as chaves eram entregues a Ho Chio Meng. A acusação mostrou duas facturas referentes a uma das reservas feitas em nome do motorista: uma está assinada com o carácter “Mou”, que acusação diz ser uma mulher; outra terá sido assinada pelo ex-procurador, às duas da manhã.

Ontem, foi também ouvida uma escuta telefónica entre a testemunha e Ho Chio Meng. A chamada foi feita na véspera de Mak Hak Neng prestar declarações no CCAC. O motorista começou por negar o telefonema, mas acabou por confessar, depois de ter sido ameaçado de processo-crime por mentir sob juramento. Na conversa, o ex-procurador diz ao motorista: “Não fales muito”.

A testemunha garantiu, no entanto, que não contou o que se passou durante o depoimento no CCAC a Ho Chio Meng, nem a outros arguidos no processo.

19 Jan 2017

Eleições em Hong Kong | Quatro fora, dois

A vida política em Hong Kong tem estado animada por estes dias. Em pouco mais de um mês, C.Y. Leung perdeu dois elementos do Governo que se demitiram para poderem oficializar a candidatura a Chefe do Executivo. Carrie Lam ou John Tsang? É difícil arriscar previsões. Regina Ip e Woo Kwok-hing parecem ser cartas fora do baralho

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro nome apareceu ainda em Outubro: Woo Kwok-hing é um magistrado de 71 anos, independente, um homem que aparece sem que ninguém esteja à espera e que, ao que tudo aponta, terá grandes dificuldades numa corrida em que os pesos pesados contam muito.

Depois, em meados de Dezembro, chegou Regina Ip, uma veterana da política de Hong Kong que, aos 66 anos, é deputada ao Conselho Legislativo. Revelou a intenção de se candidatar três dias depois de John Tsang ter apresentado a demissão do cargo de secretário para as Finanças.

A seguir veio Carrie Lam, a número dois do Chefe do Executivo. A agora antiga secretária-chefe recebeu esta semana luz verde de Pequim para se candidatar, no mesmo dia em que o Governo Central desimpediu o caminho a John Tsang.

Um não alinhado, três candidatos pró-Pequim. O politólogo Edmund Cheng, professor da Universidade Baptista de Hong Kong, não acredita na possibilidade de um independente convencer o eleitorado – em número reduzido, como se sabe – da antiga colónia britânica. A política na Ásia não conhece fenómenos como no Ocidente em que, cansados do sistema, os eleitores tendem a votar em figuras que surgem descontextualizadas do ponto de vista partidário.

Também Regina Ip, uma das fundadoras do New People’s Party, antiga secretária para a Segurança, não terá grandes hipóteses, agora que a ala pró-Pequim tem outros dois nomes, aparentemente mais fortes. Ip foi a primeira mulher a ter a pasta da Segurança e não se deu bem com as funções que desempenhou: foi durante o seu consulado que Hong Kong tentou avançar com a legislação prevista no Artigo 23.o da Lei Básica, uma ideia fortemente contestada pela população. Acabou por pedir a demissão, tendo sido o primeiro membro a cair do Governo de Tung Chee-wa, Chefe do Executivo entre 1997 e 2005. “Regina Ip é considerada um plano B, não tem uma grande rede de apoio social, sobretudo se compararmos com Carrie Lam”, explica Edmund Cheng.

A deputada sabe que a entrada da ex-secretária-chefe na corrida não lhe facilita a vida. E, segundo disse esta semana, as aspirações de Carrie Lam já lhe custaram alguns apoios no seio da comissão eleitoral. Mas, ainda assim, a mulher que diz que Pequim quer vê-la como candidata não está disposta a desistir. “Não me importo. Não estou preocupada, uma vez que isso [a mudança do sentido de voto] é normal. Só espero que as eleições sejam justas e transparentes”, declarou, citada pela imprensa de Hong Kong.

Uma mulher de acção

Dois (possivelmente) de fora, sobram outros dois. Mas pode haver mais um. “É provável que Long Hair também se candidate”, aponta o analista Eric Sautedé sobre este milagre da multiplicação de políticos interessados em serem líderes do Governo. Long Hair, de seu nome Leung Kwok-hung, membro do Conselho Legislativo, é um político e activista bem conhecido pelas suas acções intempestivas, que dificilmente cairá nas graças da comissão eleitoral.

A grande discussão estará centrada em torno de Carrie Lam e John Tsang, duas personagens políticas com passados diferentes e posturas distintas, apesar de terem integrado o mesmo elenco governativo.

“É difícil fazer previsões, especialmente porque demitiu-se há poucos dias e a demissão foi agora aprovada. Ainda não tem um programa”, diz Sautedé acerca da ex-secretária-chefe.

Lam conta com aspectos que pesam a seu favor e outros que nem por isso. “Começa [a corrida] no meio de uma controvérsia sobre o Museu do Palácio Nacional no Western Kowloon Cultural District”, explica o analista. “Há muitas pessoas que a comparam a C.Y. Leung, dizendo que é ‘voluntariosa’: é muito persistente e está muito mais do lado de quem decide do que de quem consulta”, continua.

Ainda assim, assinala Eric Sautedé, Carrie Lam tem um perfil muito diferente do actual líder do Governo. “O actual Chefe do Executivo era um empresário e ela é funcionária pública desde 1980. Ela é mais virada para a comunicação do que ele.” O politólogo recorda que o último funcionário público a chegar ao cargo político de topo em Hong Kong foi Donald Tsang, que está a ser julgado neste momento, acusado de corrupção. “Esse vai ser o cenário de toda a campanha”, antevê o analista.

A candidata teve um papel especial num dos momentos mais complicados da história política e social do pós-handover: o movimento Occupy. Eric Sautedé recorda que, em Outubro de 2014, foi a mais alta representante do Governo no debate com os estudantes organizado pela rádio pública. Lam ainda ensaiou uma hipótese de mediação entre os jovens e Pequim. “Claramente, o Executivo teve uma postura defensiva durante esse debate e esta foi a melhor tentativa de negociação”, sublinha.

O silencioso

À hora a que este texto estava a ser escrito, a RTHK dizia que para amanhã, quinta-feira, está prevista uma conferência de imprensa de John Tsang para anunciar a candidatura – o ex-secretário pediu demissão há mais de um mês mas ainda não disse, com todas as letras, que quer ocupar o lugar que C.Y. Leung vai deixar vago. O silêncio tem dado pano para mangas: há quem especule que o nome não cai bem junto de Pequim.

Edmund Cheng, o professor da Universidade Baptista, não alinha no jogo da tentativa de adivinhação do pensamento do Governo Central. Tal como Carrie Lam, John Tsang está dentro do sistema, “mas a forma como lidam com a polarização é muito diferente”, vinca. “Carrie Lam é mais populista, no sentido em que é capaz de oferecer algo para resolver um problema e faz um discurso que chega às classes mais baixas.”

O politólogo, que olha com apreensão para a divisão profunda em que se encontra a sociedade de Hong Kong, admite não saber até que ponto este cenário terá um peso substancial nas opções do Norte. “Se a polarização for uma preocupação de Pequim, se estiver a agir no sentido de resolver esta divisão, John Tsang vai estar numa melhor posição, porque tem vontade de agir nesse sentido”, afirma. “Mas se as preocupações de Pequim forem os acontecimentos recentes protagonizados pelo movimento pró-independência, então os cálculos têm de ser outros”, diz, salientando que o Governo Central tem grandes preocupações em torno das questões ligadas à segurança nacional e à soberania.

“Não sabemos qual é a prioridade de Pequim neste momento”, reitera Edmund Cheng. “Mas Pequim é mais pragmático do que a maioria das pessoas parece acreditar”, destaca. “Na sequência do movimento Occupy, temos visto uma abordagem mais prática do que alguma vez poderíamos ter imaginado.”

Numa análise mais local, Eric Sautedé acrescenta que a sensação que existe em relação a John Tsang é a de que “não é a escolha de Pequim”. “Está mais mais ligado ao sector empresarial, mas foi criticado, no passado, por ser muito fraco a projectar excedentes orçamentais”, lembra. “Nem todos os banqueiros parecem confiar nas suas capacidades.”

Meses de tensão

Eric Sautedé considera interessantes as movimentações em torno das eleições. “Elsie Leung disse que quatro candidatos já são de mais, mas acredito que é do interesse de Pequim deixar o máximo de candidatos possível, mesmo que no fim o objectivo seja conseguir mais de 600 votos, ou mais de 689 votos (o número obtido por C.Y. Leung em 2012)”, defende. “Provavelmente os pró-democratas ainda estão a pensar em qual será a melhor estratégia em relação aos dois candidatos pró-Pequim”, diz também, recordando que estão em franca minoria no seio dos mais de 1200 membros da comissão eleitoral.

A viver em Hong Kong, o académico – residente de Macau durante vários anos – conta que, neste momento, “os ânimos estão sossegados”, mas diz também que “existe muita revolta em surdina”. “As eleições vão ser tensas e várias novas questões vão ser abordadas durante a campanha, muitas delas relativas aos desafios socioeconómicos, sobretudo no que toca às formas de combate das desigualdades, os direitos sobre as terras e o desenvolvimento sustentável”, enuncia.

Sobre a necessidade de Hong Kong ter um líder carismático e com grande capacidade de execução – há analistas que entendem que o problema de Hong Kong é não ter tido ainda um Chefe do Executivo com estas características –, Edmund Cheng constata que, nos dias que correm, “o apoio popular pode perder-se em apenas três meses”.

O politólogo faz uma comparação com Macau para explicar qual é o grande drama político da antiga colónia britânica. “Em Macau, a elite aparece como estando unida e o campo pró-democrata é muito fraco. C.Y. Leung é pró-activo, mas não foi capaz de unir o campo pró-Pequim e esse é que foi o grande problema.” Também Pequim entende como problemática esta incapacidade de mobilização das elites do sistema.

“A divisão social é muito complexa. Precisamos de um líder muito forte”, indica o docente da Universidade Baptista. Carrie Lam ou John Tsang? “Ambos parecem ter mais experiência do que os chefes do Executivo que tivemos até agora.”

18 Jan 2017

Mário Soares | Aprovado voto de pesar com chumbo do vice-presidente da AL

Pereira Coutinho levou ontem a plenário um voto de pesar pela morte de Mário Soares. A iniciativa foi aprovada, mas houve quem não achasse bem. Kaifong e Operários não se mostraram favoráveis à acção do deputado. O vice-presidente da Assembleia, Lam Heong Sang, votou contra

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] morte de Mário Soares levou ontem o deputado José Pereira Coutinho a apresentar uma proposta de voto de pesar na Assembleia Legislativa (AL), que foi aprovada com 13 votos a favor e cinco contra. Dentro do grupo de deputados que rejeitaram o voto de pesar está Lam Heong Sang, vice-presidente da AL, com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM).

À margem da sessão plenária, Pereira Coutinho lamentou a posição demonstrada por Lam Heong Sang. “Sendo deputado, tem o dever de conhecer a história política de Macau nos últimos 30 anos. É espantoso que este voto tenha vindo do vice-presidente, porque ele sabe que Mário Soares deu um grande contributo para Macau, foi um amigo dos chineses.”

Coutinho lembrou a legalização de 50 mil pessoas. “É a ele que todas as famílias em Macau, que hoje em dia têm os seus filhos nas universidades, lhe devem o facto de terem o BIR. Ele merece um agradecimento por parte da população.”

Não foi apenas o vice-presidente que se mostrou descontente com o voto de pesar ao antigo Presidente da República e primeiro-ministro português. Todos os deputados que representam a FAOM e a União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong) se abstiveram ou votaram contra. Kwan Tsui Hang, da FAOM, absteve-se, tal como a sua colega de bancada Ella Lei. Ho Ion Sang e Wong Kit Cheng, dos Kaifong, votaram contra.

Num debate marcado por várias ausências, votaram a favor nomes como o de Chui Sai Cheong, deputado eleito pela via indirecta e irmão do Chefe do Executivo, Dominic Sio, Ng Kuok Cheong, Au Kam San e José Chui Sai Peng, primo de Chui Sai On.

Falta de memória

Para José Pereira Coutinho, a posição demonstrada pelos representantes de duas das mais antigas e tradicionais associações de Macau mostra como a história do território ainda não é algo generalizado.

“É importante haver educação política em Macau. Isto resulta da falta de sensibilidade, tacto político e respeito pela história do território. Foi isso que temos feito nos últimos 12 anos, tentar dar o nosso máximo contributo para que nas escolas e na sociedade haja um ensino da história e educação na política. Não fico espantado com essa conduta que nada abona à própria pessoa que votou.”

Na apresentação feita na AL, Coutinho destacou as declarações de Xi Jinping, Presidente chinês, e Chui Sai On, Chefe do Executivo. “Considerando a figura maior da história que é, como o comprovam os inúmeros votos de pesar manifestados de forma global e publicamente, como os já referidos pelo Presidente Xi Jinping, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, de imensos chefes de Estado e de Governo de todos os quadrantes políticos e geográficos, das mais diversas organizações internacionais, crê-se que é totalmente justificado e adequado que este parlamento da RAEM manifeste igualmente o seu voto de pesar.”

O deputado falou de Soares como sendo “uma figura incontornável da história recente de Macau e do estabelecimento das relações diplomáticas, frutuosas e de amizade entre Portugal e a República Popular da China”.

Além disso, Mário Soares “demonstrou um elevado espírito humanista e de solidariedade para com os mais desfavorecidos, incluindo em Macau, onde, por seu decisivo impulso, foram legalizadas dezenas de milhares de pessoas de etnia chinesa, sendo este um gesto humanitário do então Presidente da República Portuguesa para uma política consentânea com a realidade de Macau e das suas gentes”, concluiu.

18 Jan 2017

Tsui Wai Kwan diz que aumentos das taxas de veículos não foram repentinos

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aumento das taxas de veículos e motociclos voltou a ser um assunto abordado na Assembleia Legislativa (AL), mas desta vez surgiu uma voz a apoiar a medida implementada pelo Governo no passado dia 1 de Janeiro. O deputado nomeado Tsui Wai Kwan acusou as vozes críticas de não deixarem o Executivo tomar medidas.

“Na AL nunca pararam as críticas ao Governo por não conseguir controlar os veículos. Mas, depois de este lançar uma política, estando a polícia a actuar segundo a lei, começaram de imediato as manifestações e críticas de cedência de interesses. Que criatividade!”, começou por apontar.

“Será que queremos mesmo corrigir o que não está correcto, agravando o custo da violação da lei para elevar efeitos dissuasores contra o abuso de estacionamento ilegal, para melhor salvaguardar os direitos de utilização do espaço rodoviário público dos residentes? Ou será que vamos deixar, de braços cruzados, o aumento infinito dos veículos e continuar a conceder subsídios irracionais, cuja conta vai ser paga por toda a população?”, questionou.

Ao contrário das vozes que têm vindo a falar de uma medida que entrou em vigor de um dia para o outro, sem pré-aviso, Tsui Wai Kwan lembra que o Executivo foi mostrando vários sinais. “De facto, os aumentos não foram repentinos, pois havia indícios possíveis de verificar. O secretário Raimundo do Rosário manifestou várias vezes nesta Assembleia a sua postura pelo facto dos custos para alimentar os veículos serem excessivamente baixos, o que é raro no mundo, e que há vários anos os montantes não eram actualizados. Isto queria dizer que os custos iam ser aumentados, sendo também o timing para rectificar o estacionamento abusivo. Todos nós já sabíamos que isto ia acontecer.”

Tsui Wai Kwan deixou ainda um recado aos seus colegas no hemiciclo. “A atitude do Governo é passiva – tem sido esta a expressão que sai da nossa boca. Agora, o Governo está a começar a rectificar o caos, mas estamos a impedi-lo de o fazer. Afinal queremos ou não que o Governo actue? Ou deve assumir uma atitude passiva? Apoiamos os fenómenos incorrectos do passado? Ou queremos fenómenos correctos hoje? Os deputados devem fazer o que devem, e não fazer o que não devem.”

Também a deputada Ella Lei levantou a questão, mas noutra perspectiva, lembrando as dificuldades sentidas pelos motoristas de pesados. “Como a sua implementação foi demasiado precipitada, a população ficou descontente e os motoristas, em especial, ficaram ainda mais preocupados, pois os veículos são o seu ganha-pão. As novas medidas intensificaram os conflitos devido à falta de estacionamento para veículos pesados”, resumiu.

18 Jan 2017

Portas do Entendimento | Chan Hong exige remodelação

Chan Hong interpelou ontem o Governo quanto à necessidade de renovar as Portas do Entendimento. A deputada quer o monumento seja integrado no plano de revitalização da zona da Barra

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]onstruído no tempo do governador Rocha Vieira para celebrar a união entre os portugueses e os chineses, o monumento intitulado Portas do Entendimento, localizado na zona da Barra, é hoje um local ao abandono com pedaços de mármore a cair aos poucos. O alerta foi ontem dado na Assembleia Legislativa (AL) pela deputada nomeada Chan Hong, que pede a renovação do espaço.

“Desloquei-me ao local e vi que está coberto de ervas e cheio de pontas de cigarro no chão, com o desprendimento das placas de mármore da sua estrutura, paredes riscadas e pilares partidos e inclinados, o que deixa as pessoas bastante preocupadas”, declarou. “Esta situação não se coaduna com o que está escrito na sua entrada principal: ‘Portas do Entendimento, o desejo dos cidadãos dos dois países e o espírito de Macau’. Macau, enquanto centro mundial de turismo e lazer, não deve permitir que as Portas do Entendimento fiquem danificadas, pois afecta a imagem de cidade turística”, defendeu a deputada no período de antes da ordem do dia.

Para Chan Hong, o monumento deve ser remodelado antes da construção do metro ligeiro e do centro modal da barra. “O Governo quer criar um corredor costeiro entre a Barra e a Torre de Macau, e tentar proceder à inclusão das Portas do Entendimento no plano geral de desenvolvimento dessa zona, mas, até agora, não houve qualquer avanço. Os serviços competentes afirmaram que só vão iniciar as obras de construção desse corredor e de reparação do monumento depois de se concluir a construção do centro modal da Barra e do metro ligeiro. É possível reparar primeiro as Portas do Entendimento?”, questionou.

Garantir a segurança

A deputada entende que o Governo deve avaliar o local e elaborar uma “proposta de reparação”. “A salubridade do local está má, e as consequências dos acidentes quanto ao desprendimento das placas de mármore e desabamento da estrutura serão graves. Para salvaguardar a segurança dos cidadãos e dos turistas, será que é necessário encerrar de imediato as Portas do Entendimento, e afixar editais e avisos para proibir a entrada do público? Solicito ao Governo que efectue, o quanto antes, um exame geral e uma avaliação de segurança”, apontou.

Chan Hong considera que esta é a altura ideal para proceder à reparação do monumento, numa altura em que os laços entre Macau, Portugal e China estão mais próximos. “Com o aumento do intercâmbio entre a China e Portugal, a cooperação económica vai ser cada vez mais profunda. Macau, enquanto entreposto de diálogo e cooperação entre as referidas partes, deve desenvolver bem o seu papel. Mas, ao longo do tempo, as Portas do Entendimento não foram reparadas e isso não se justifica”, rematou.

18 Jan 2017

Conexão Lusófona quer estabelece pontes em Macau

A plataforma multicultural visitou o território, reuniu com o cônsul-geral de Portugal, assim como com várias instituições chave a fim de estudar possíveis projectos por cá. O objectivo é aprofundar a troca cultural no espaço lusófono

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap] ideia é este ser o primeiro passo de um caminho”, projecta Laura Vidal, co-fundadora e presidente da Conexão Lusófona, que faz a sua primeira visita a Macau. A Conexão Lusófona é uma plataforma multidisciplinar, que pretende fazer um cruzamento cultural, tendo a língua portuguesa como fio condutor. “Sempre tivemos tanto chineses, como macaenses e sempre tivemos uma grande vontade de nos aproximarmos a Macau e à China”, explica. A presidente da instituição conta que esta foi uma viagem exploratória, inicial, para procurar parceiros e interlocutores. “Não viemos com uma ideia fixa para fazer este ou aquele projecto”, confessa Laura Vidal.

A associação, ou movimento, começou com um blog e foi evoluindo para uma plataforma diversificada. Organizam um festival de música, entre os vários projectos culturais que promovem o contacto e a aproximação de jovens lusófonos. A rede ainda disponibiliza um portal, com notícias ligadas à lusofonia, “que começou com um simples blog, até crescer para um projecto na área da comunicação, que está a dar agora os primeiros passos”, conta Laura Vidal.

A Conexão Lusófona começou entre estudantes que se espalharam pelo mundo, uma rede global nascida num contexto académico. A ideia era tentar aproximar todos, explorar semelhanças e diferenças com as pessoas de países que partilham a língua de Camões. No meio dessa conexão, os fundadores da plataforma aperceberam-se de que a sua geração era determinante no que toca à afirmação da lusofonia no mundo, à sua imagem. Uma geração que, de acordo com a presidente da Conexão Macau, tinha pouco contacto com a multiculturalidade que se encontra no mundo lusófono. “Só conhecia um pouco dentro dos clichés habituais, Portugal é fado e Ronaldo, o Brasil é samba, mas existe um profundo desconhecimento. Então, a ideia da associação, do movimento, é promover um sentimento de pertença e identificação das novas gerações”, explica.
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18 Jan 2017

Instituto Ricci deixa Tap Seac este ano. Governo ainda não decidiu utilização do espaço

O Instituto Mateus Ricci vai abandonar o espaço arrendado no Tap Seac definitivamente ainda este ano, mas o Governo ainda não tomou uma decisão quanto à utilização do histórico edifício

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á arrancaram os trabalhos para a saída definitiva do Instituto Mateus Ricci do espaço que ocupa junto à praça do Tap Seac. Ao HM, o padre Luís Sequeira confirmou que a saída será concluída ainda este ano. “Fomos informados para, assim que possível, sairmos do espaço, têm-nos dito isso, mas sem nos forçarem. Penso que, durante este ano, faremos a saída e passaremos a funcionar em colaboração com a Universidade de São José (USJ), deixando a nossa biblioteca fazer parte da restante colecção, mas com uma clara autonomia das instituições.”

O IC explicou ao HM que ainda não tomou qualquer decisão quanto à utilização do imóvel. “O edifício situado na Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida é propriedade do Governo e encontra-se actualmente arrendado ao Instituto Ricci de Macau pela Direcção dos Serviços de Finanças. Até agora, o Instituto Cultural não tem qualquer novidade sobre este edifício”, aponta uma resposta enviada por escrito.

A integração do Instituto Mateus Ricci na USJ permitirá aos alunos e docentes da universidade privada o acesso a cerca de 25 mil a 30 mil livros e revistas. Para o padre Luís Sequeira, será uma boa ligação. “É bom para ambos. É bom o facto de o Instituto Mateus Ricci ter começado com uma autonomia e estar agora enquadrado. E dá à USJ uma outra dimensão, que é ter centros de estudo e investigação.”

“Já ouvimos, aquando da transformação do Hotel Estoril, que se estaria a pensar fazer um centro de actividades culturais e de estudos, em conjunto com as casas tradicionais ali situadas. Depreendo que haverá qualquer ideia nesse sentido. Estou convencido de que será para colocar no Tap Seac instituições de carácter cultural e artístico.”

Para o fundador do Instituto Mateus Ricci, esta mudança traz também um novo rumo para a entidade. “Parece-me bem, depois de 15 anos, que o nosso instituto seja enquadrado dentro de uma instituição universitária, e aquela que tem mais relação connosco, que é a USJ. Esperamos que seja de facto uma secção da universidade com valor em termos de estudos chineses, e um centro de investigação sobre os contextos chineses e internacionais. Tem uma dimensão intercultural e isso parece-me algo importante para uma universidade, e dá uma projecção à instituição”, rematou.

O acordo assinado com a USJ em Maio previa a mudança de instalações até ao final do ano passado, algo que não se concretizou.

18 Jan 2017