Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições | Comissão vai “monitorizar” mensagens de apelo ao voto Muitos residentes já começaram a receber SMS de apelo à participação nas eleições. A Comissão de Assuntos Eleitorais assegura que tais actos ainda não são ilegais, mas promete estar atenta à situação. Pereira Coutinho, que tem enviado mensagens escritas, argumenta com a importância de apelar à participação no acto eleitoral [dropcap style≠’circle’]“D[/dropcap]ia 17 de Setembro é o dia das eleições para a Assembleia Legislativa da RAEM. É favor, incluindo a família, estar em Macau para votar.” Este é um exemplo das mensagens de apelo ao voto que já começaram a ser enviadas aos residentes, sem que haja referências directas a candidatos, até porque as listas ainda não estão oficializadas. Apesar de não existirem queixas formais, os membros da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) afirmam terem tido conhecimento do envio de SMS e prometem estar atentos. “Ainda não notámos nenhuma irregularidade mas, para garantir a imparcialidade e a justiça nas eleições, não encorajamos as associações ou entidades a fazerem propaganda ou a chamar os outros a votar. Se a comissão verificar que alguém está a violar a lei eleitoral, iremos actuar”, disse apenas Tong Hio Fong, presidente da CAEAL. Nesta fase não é ilegal o acto de enviar mensagens a apelar à participação nas eleições, mas a CAEAL não incentiva tal gesto. “Não encorajamos, mas se não constituir uma irregularidade nós vamos monitorizar consoante o caso e decidiremos se vamos intervir. Se calhar, nesta fase a situação ainda não constitui uma irregularidade, mas as pessoas devem disciplinar-se. Se for uma contravenção podemos encaminhar para o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ou para o Corpo de Polícia de Segurança Pública”, acrescentou Tong Hio Fong. “Temos comunicação com o CCAC para os casos que não estão expressamente a violar a lei. Não excluímos a possibilidade de qualquer caso que tenha violado a lei ser encaminhado para as entidades competentes e aguardaremos depois uma decisão”, disse ainda o presidente da CAEAL. Contra a ignorância A mensagem acima citada foi enviada pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Confrontado com a posição da CAEAL, o presidente da associação e deputado José Pereira Coutinho desvaloriza os comentários feitos. “As nossas mensagens vão na sequência do apelo que se deve fazer à população para que seja mais participativa. O grande problema em Macau é que, na maior parte das vezes, as pessoas não sabem o que está a acontecer. É importante que reservem esse dia como um dia muito importante de participação política activa. Espero que o Governo faça mais nesse sentido”, defende. Pereira Coutinho afirmou ainda que muitos não estão sequer informados. “Esta data está a ser divulgada na comunicação oficial e no Boletim Oficial (BO). Mas muitas pessoas não lêem o BO, não lêem jornais. Muita gente agradeceu-me pelo alerta que fizemos”, acrescentou o deputado. Menos votos nulos A reunião de ontem da CAEAL serviu ainda para analisar a nova forma de elaboração dos boletins de voto por forma a apoiar os deficientes visuais, uma vez que, nas eleições legislativas de 2013, muitos votos foram considerados nulos. “Nestas eleições a nossa comissão irá criar boletins para facilitar [o voto] a essas pessoas com dificuldades visuais. Alguns votos foram considerados nulos porque os carimbos não foram colocados de forma correcta, então falámos sobre a melhor forma de os colocar”, explicou Tong Hio Fong, sem adiantar dados quanto ao número de votos nulos registados em 2013. A comissão quer ainda resolver problemas ao nível das notificações dos lugares onde os residentes podem ir votar. “Considerando as últimas eleições para a AL, um grande número de eleitores não conseguiu receber as notificações. Talvez tenham existido enganos ou não soubessem a qual assembleia de voto se deveriam deslocar. Houve inconveniências. Temos trabalhado para melhorar a situação. Se esses eleitores tiverem alterado a residência, devem mudar a morada”, concluiu o presidente da CAEAL. A cronologia das eleições, que define questões como o período de campanha eleitoral e apresentação de candidaturas, é publicada hoje. CAEAL não vai definir critérios para media Pairam no ar algumas dúvidas quanto ao tratamento noticioso que deve ser dado nas eleições deste ano, após declarações recentes do presidente da CAEAL. Tong Hio Fong garantiu ontem que não serão definidos critérios para os órgãos de comunicação social. Estes “devem saber o que é propaganda eleitoral e o que constitui uma irregularidade, devem saber o que podem relatar e o que não podem”. “Vocês é que determinam o que é permitido. Por mais exemplos que nos apresentem agora, a questionar o que constitui uma irregularidade, digo o mesmo: todos os actos que não respeitem esses artigos [da lei Eleitoral] constituem uma violação à lei.” Tong Hio Fong disse mesmo que “a comissão já referiu que não pode ensinar à comunicação social como fazer, cabe à entidade, à ética profissional e disciplina definirem o que podem e não podem relatar. É esse o vosso dever.”
Sofia Margarida Mota SociedadeDeputado pede esclarecimento pelo cancelamento de espectáculo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Leong Veng Chai insta o Executivo acerca das “verdadeiras razões” que levaram ao cancelamento do fogo-de-artifício na passagem de ano. De acordo com o tribuno, o facto de não ter havido o espectáculo que acontece anualmente foi fonte de “frustração para os residentes”. Para Leong Veng Chai, é necessário saber o porquê de não terem sido tomadas medidas com a devida antecipação para evitar imprevistos. O deputado questiona se o Executivo “chegou a averiguar a eventualidade de terem existido circunstâncias pessoais”, lê-se em interpelação escrita. Por outro lado, o colega de Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa pretende ainda saber se os contratos feitos com as empresas responsáveis pelos transporte e preparação do espectáculo têm cláusulas que impliquem compensações em caso de falhas. Leong Veng Chai quer que o Executivo esclareça se existe “a previsão do pagamento de uma indemnização por incumprimento contratual ou a sujeição de uma multa em caso de impossibilidade de prestar o serviço em conformidade com o prazo previsto”. Dinheiro não é tudo Para Leong Veng Chai, não basta que o trabalho, orçamentado em 2,2 milhões de patacas, não tenha sido pago pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). “Quando as actividades públicas são canceladas ou adiadas, existem custos sociais bastante elevados”, justifica, sendo que o “cancelamento do espectáculo de fogo-de-artifício causou frustração a vários residentes”. Em causa está a situação referente ao espectáculo anual de fogo-de-artifício marcado para a meia-noite de 31 de Dezembro de 2016. O evento foi cancelado a 29 de Dezembro e a entidade responsável, a DST, justificou a falha com “a impossibilidade do transporte do material pirotécnico para Macau”. O imprevisto, reitera Leong Veng Chai, “deixou toda a população chocada”. O deputado considera que o Executivo “deve proceder com antecipação aos necessários trabalhos preparatórios quando se trata deste tipo de actividades públicas”. O tribuno exemplifica com as situações dos casinos em que não se registou qualquer incidente capaz de atrasar os festejos de ano novo.
Hoje Macau Manchete SociedadeLai Chi Vun | Demolição dos estaleiros origina protesto junto do Instituto Cultural Duas associações protestaram ontem junto ao Instituto Cultural para exigir que o Governo avalie os estaleiros de Lai Chi Vun do ponto de vista histórico e para que mantenha as estruturas que ainda não foram abaixo. É ainda exigida a intervenção do CCAC [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]erca de uma semana depois da demolição de dois estaleiros em Lai Chi Vun, duas associações resolveram adoptar outro método de contestação e resolveram protestar junto das instalações do Instituto Cultural (IC). Na praça do Tap Seac estiveram representadas a Nova Associação dos Trabalhadores da Indústria de Jogo de Macau, presidida por Cheng Lok Sun, e a Associação Sonho Macau. O ambientalista Joe Chan também se juntou à iniciativa. O objectivo do protesto foi solicitar às autoridades a preservação dos estaleiros de Lai Chi Vun, tendo sido pedido que comecem os trabalhos de avaliação do local como património cultural imóvel. Foi ainda exigido que os responsáveis do Governo divulguem o resultado da avaliação e o futuro planeamento dos estaleiros. Em comunicado, as associações apontam que os estaleiros de Lai Chi Vun são um sinal de que existiu em Macau uma indústria naval, devendo, por essa razão, ser considerado património. Os responsáveis lembram ainda que a concepção dos estaleiros nunca foi feita por arquitectos profissionais, por isso são peças únicas em Macau e possuem um valor importante. Há uma saída Para Cheng Lok Sun, existem alternativas para os estaleiros que não passam pela sua demolição, discordando da opção do Executivo. A recuperação pode ser feita com recurso à tecnologia existente, acredita. Citando a Lei de Salvaguarda do Património Cultural, o presidente da associação defende que o IC deve ser responsável pelo processo de Lai Chi Vun, pois cabe a esta entidade olhar para os lugares com maior necessidade de preservação. No entanto, o responsável pela Nova Associação dos Trabalhadores da Indústria de Jogo de Macau critica o facto de o IC ter permitido que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes tenha começado a demolir o que resta dos antigos estaleiros. “As autoridades deveriam ter iniciado o processo de avaliação há muito tempo. Se isso tivesse acontecido, os estaleiros não teriam sido demolidos”, apontou. CCAC para que te quero Cheng Lok Sun defende ainda que o Comissariado Contra a Corrupção deve iniciar uma investigação sobre o caso. “Criticamos o Governo por causa dos actos de corrupção e benefícios que possam ocorrer no caso de Lai Chi Vun e, por isso, achamos que o processo deve ser investigado.” O presidente da associação espera ainda que haja mais deputados que possam representar as vozes dos cidadãos nas próximas eleições, o que poderia contribuir para uma preservação da povoação e dos estaleiros. Mais de 130 dizem não Ia ontem com 134 assinaturas a petição “Não à Demolição dos Estaleiros de Lai Chi Vun”, uma iniciativa que está a decorrer através de uma plataforma online que pretende travar a destruição das estruturas em Coloane. Os mentores do abaixo-assinado defendem que os estaleiros “representam a memória de uma indústria naval que em Macau teve grande importância, sobretudo numa época em que o território dependia quase exclusivamente das vias marítimas”. Este conjunto construído “constitui uma forma de património arquitectónico que, sendo construído pelos próprios carpinteiros, valida uma identidade cultural própria”, refere-se ainda. Os subscritores propõem a manutenção das estruturas de madeira dos estaleiros e a sua recuperação para instalação de actividades ligadas à cultura, de áreas museológicas a artesanato, passando por ateliers artístico-pedagógicos e zonas lúdicas.
Hoje Macau SociedadeHabitação | Vendas triplicaram em Fevereiro [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s transacções de imóveis destinados a habitação em Macau triplicaram em Fevereiro, em termos anuais homólogos, acompanhadas por um aumento do preço médio do metro quadrado, indicam dados oficiais ontem divulgados. Segundo os dados disponibilizados no portal dos Serviços de Finanças – respeitantes às fracções autónomas destinadas à habitação declaradas para liquidação do imposto de selo por transmissão de bens –, foram transaccionadas 546 casas no mês passado, mais 203 por cento ou o triplo comparativamente às 268 do mesmo mês de 2016. O preço médio por metro quadrado também aumentou em termos anuais homólogos – passando de 73.733 para 88.440 patacas. Das três áreas de Macau, a península foi onde se verificou o maior número de transacções (427), com um preço médio de metro quadrado de 81.752 patacas. Já na ilha da Taipa foram vendidas 84 fracções autónomas, com o preço médio por metro quadrado de 94.726 patacas, enquanto em Coloane se transaccionaram 35 com o preço médio por metro quadrado de 139.374 patacas – um aumento de 150 por cento em termos anuais homólogos. Face a Janeiro, diminuiu tanto o número de transacções (menos 99) como o preço médio por metro quadrado (menos 1287 patacas).
João Luz SociedadeSaúde | Financiamento a particulares ascende a 313 milhões de patacas O suspeito do costume. Os apoios financeiros concedidos pelo Governo a privados no sector da saúde durante o quarto trimestre de 2016 foram superiores a 313 milhões de patacas. Desta soma total, o Hospital Kiang Wu e o seu Instituto de Enfermagem ficaram com a maior fatia [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s números estão aí. O Boletim Oficial (BO) revelava ontem que, para o financiamento a instituições de saúde, saíram dos cofres dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), no último trimestre de 2016, uma soma superior a 313,665 milhões de patacas. Deste total, o Hospital Kiang Wu ficou com 255,340 milhões, o que representa uma fatia de 81,4 por cento do bolo inteiro. O Instituto de Enfermagem Kiang Wu recebeu quase 24 milhões de patacas. Se juntarmos ambas as instituições do universo Kiang Wu, o volume de investimento público no grupo ascendeu a 279 milhões de patacas. Este valor corresponde a 89 por cento do total do financiamento concedido pelos Serviços de Saúde no último trimestre do ano passado. Os apoios prestados não foram referentes exclusivamente a despesas referentes aos últimos três meses de 2016. Por exemplo, o subsídio protocolar para a prestação de consultas externas, serviços de urgência e vacinação do hospital privado recebeu mais de 32 milhões de patacas referentes ao ano inteiro. Mas a maior fatia de investimento foi para o subsídio protocolar relativo a internamentos no Kiang Wu, com um valor que ficou a meio milhão dos 160 milhões de patacas – mais de metade do financiamento total. Muitos zeros Outra das instituições em destaque no BO, e que fica no segundo lugar do pódio do financiamento, é a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), com uma quantia de quase 14 milhões de patacas. Este valor corresponde a 4,4 por cento do investimento dos SSM em serviços de saúde privados. As maiores parcelas foram para o apoio financeiro à Clínica dos Operários, para o Centro de Recuperação e para os cuidados domiciliários. Dos 14 milhões de patacas, pouco mais de 71 mil foram alocadas ao serviço de exames do cancro cervical de mulheres na clínica da FAOM. A medalha de bronze na corrida aos milhões do financiamento público a instituições privadas foi para a Associação de Beneficência Tung Sin Tong, com um total de 11,680 milhões de patacas. A entidade fica, assim, com 3,72 por cento do investimento dos SSM em instituições privadas durante os últimos três meses do ano passado. Do dinheiro que foi para a associação, mais de 5,75 milhões de patacas serviram para suportar o serviço de consultas externas e estomatologia de crianças no último trimestre de 2016. As obras do Centro de Acupunctura e Fisioterapia dos Idosos receberam uma quantia de 5,7 milhões de patacas. O BO revelou ainda que a Cruz Vermelha de Macau recebeu pouco mais de um milhão de patacas referente ao apoio financeiro para o transporte de doentes, enquanto a Caritas de Macau recebeu perto de 350 mil patacas, com a maior parcela destinada à prestação de assistência médica nos asilos da instituição. A Associação Geral das Mulheres de Macau teve um apoio de 1,633 milhões de patacas. A soma foi distribuída entre o serviço de exame do cancro cervical realizado no Centro de Protecção de Saúde da Mulher e consultas de psicologia. Outro das instituições financiadas foi a Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau, que recebeu um total de quase 1,80 milhões, sendo que a maioria do investimento foi para a clínica da associação.
Andreia Sofia Silva EventosEric Chau, vice-presidente do Macau Pen Club: “Nem todos querem promover romances na China” Há 30 anos, um grupo de escritores do território criava a Associação de Escritores de Macau, também conhecida como o Macau Pen Club. Eric Chau, vice-presidente, fala dos projectos para o futuro e de como deve ser promovida a leitura entre os mais jovens [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o início eram as ideias, a vontade de partilhar palavras escritas na solidão, pequenos contos, poemas, romances. Em 1987 nascia a Associação de Escritores de Macau, ou o Macau Pen Club, e desde então que o panorama literário de Macau em língua chinesa tem ganho outra dimensão. Convidado do festival Rota das Letras, Eric Chau, vice-presidente do Macau Pen Club, falou ao HM dos projectos para o futuro. Em Setembro ou Outubro deverão ser realizadas várias actividades para celebrar o 30.º aniversário do Macau Pen Club, incluindo a aposta numa maior promoção da revista do grupo, que se publica desde o início da associação. Actualmente o Macau Pen Club conta com 93 membros, e o interesse dos mais jovens não diminuiu. “Há cada vez mais pessoas interessadas em aderir ao Macau Pen Club, mas nem todos podem aderir. Precisam de já ter alguns trabalhos publicados e o ponto mais importante é que têm de ter qualidade. Há muitos membros que estão a aderir à associação, mas não tantos quanto os interessados”, contou Eric Chau ao HM. Ainda assim, o Macau Pen Club continua a não estar aberto à comunidade de escritores de língua portuguesa ou inglesa, embora, para Eric Chau, essa pudesse ser uma realidade. “Queremos atrair mais escritores portugueses ou ingleses, mas nem todos os nossos membros dominam estas línguas. O festival Rota das Letras deveria apostar mais nessa conexão de escritores, promover eventos em conjunto e levar a uma partilha de ideias. Espero que este festival possa desempenhar um papel mais importante a este nível.” Não obstante, a literatura portuguesa desde sempre teve influência nos escritores locais. “Tem inspirado muitos dos nossos escritores chineses. Muitos dos nossos membros ficaram muito interessados em ler os romances do escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura. Mas o maior desafio na ligação entre escritores chineses e portugueses continua a ser a tradução. O foco do Macau Pen Club continua a ser os leitores chineses, e o nosso funcionamento é ainda muito baseado nos escritores chineses”, acrescentou o vice-presidente. Um plano de leitura? Sendo este um território onde os mais novos lêem muito pouco, mas onde as bibliotecas estão cheias de leitores de jornais, Eric Chau pede que se aposte em mais actividades por parte das bibliotecas públicas, que consigam atrair os mais novos para a leitura de romances ou contos. “Os docentes das escolas sempre comunicaram com o Macau Pen Club no sentido de promovermos mais a paixão pela leitura junto dos alunos, mas penso que essa deve ser uma responsabilidade dos professores. Não é sequer responsabilidade dos escritores, que apenas se devem focar em produzir literatura e escrever bons livros. Deveríamos fazer mais coisas para promover essa paixão pela leitura, e espero que essa situação melhore.” Para Eric Chau, também as livrarias “deveriam desenvolver um papel mais activo em termos de promoção da paixão pela leitura junto das crianças e adolescentes”. “As actividades desenvolvidas pelas bibliotecas públicas nem sempre são interessantes e muitas vezes são mais focadas para as pessoas que já gostam de ler. Deve ser feito o contrário”, acrescentou. Questionado sobre a possibilidade da adopção de um plano de leitura por parte do Governo, que incluiria livros recomendados às escolas [à semelhança do que acontece em Portugal], Eric Chau lembra a pequenez de Macau e do mercado. “Em termos da recomendação de livros, Macau é um território tão pequeno. Em Hong Kong, Taiwan e China já há muitas recomendações de livros, e o Governo de Macau ou as próprias entidades podem fazer referência a essas recomendações. Mas criar uma lista de livros obrigatórios não é o mais importante. O mais importante é que tipo de estratégias devem ou podem ser adoptadas pelas bibliotecas públicas para atrair os estudantes”, apontou. China, esse gigante diferente Outra das realidades do panorama literário local é que se publica muito, mas vende-se pouco. O acesso ao mercado chinês não é fácil, mas o vice-presidente do Macau Pen Club assegura que nem todos querem ir mais longe. “Nem todos os escritores de Macau estão interessados em promover os seus romances na China. Não têm esse grande objectivo de atingir os leitores da China, não têm essa ambição.” Além disso, “há diferenças, incluindo diferenças culturais, e se vendermos directamente os livros de Macau na China, penso que será difícil aos leitores do Continente entenderem o contexto das obras, o que está por detrás do romance. Há muita comunicação nas aplicações, nas redes sociais, mas publicar e vender um livro de Macau na China é difícil por causa da lei, que é mais restrita”, rematou Eric Chau.
Sofia Margarida Mota EventosRai Mutsu escreve para recordar Macau [dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] Sonho da Ilha Verde” é o mais recente projecto de Rai Mutsu. Desta feita, o jovem escritor de Macau vai além das palavras e integra um projecto com várias dimensões artísticas. A música está a cargo da banda de Fortes Pakeong Sequeira com o projecto Blademark e a imagem é da responsabilidade da realizadora Emily Chan. A ideia é continuar o trabalho a que Rai Mutsu se dedica desde que começou a escrever: preservar uma Macau prestes a desaparecer. “Este trabalho aborda os bairros pobres que existiam na Ilha Verde e onde cresceram muitos dos artistas locais”, afirma ao HM. “São sítios cheios de histórias de infância e que caracterizam as formas de pensar dos locais”, acrescenta. As histórias, ensaios e poesia de Rai Mutsu procuram sempre as memórias do território. Para o escritor, esta é uma forma de evitar que se percam as características de Macau. “Nos últimos anos, Macau tem mudado muito e de forma muito rápida.” As alterações não se registam apenas na aparência do lugar. A maior mudança deu-se nas mentalidades das pessoas. “Antes do início do desenvolvimento abrupto de Macau, nos anos 2000, as pessoas tinham uma vida simples em que os desejos eram poucos. Com o enriquecimento da região, temos mais escolhas e as pessoas começaram a querer mais”, defende. Esta mudança de mentalidade dá origem à mudança física e “a arquitectura deixa de ter importância para dar lugar a edifícios que tragam dinheiro”. “Quero, com os meus trabalho, ter um apontamento que possa comunicar um pouco do que foi a cultura de Macau”, diz. Literatura aos bocados A escrita no território existe, considera, sendo que está muito fragmentada e, por isso, “não tem peso”. A língua é o maior obstáculo, quer para o lado de quem escreve em português, como para quem o faz em chinês. A razão, aponta, é não existir uma verdadeira plataforma capaz de traduzir as obras das várias comunidades de Macau para que se possam conhecer umas às outras. Rai Mutsu escreve para a comunidade chinesa, porque é quem o consegue ler. No entanto, fica o lamento: “Temo que os meus livros não cheguem às outras comunidades”. O abismo de entendimento entre as culturas de Macau, considera, poderia ser colmatado com a própria literatura. “As várias comunidades têm diferentes formas de pensar que, por vezes podem causar conflitos. A literatura feita e partilhada podia ter um papel importante em desmistificar preconceitos, resolver conflitos e atenuar as diferenças culturais”, aponta. Rai Mutsu gostava de viver da escrita, mas “viver como autor em Macau só é fácil se o objectivo não for ganhar dinheiro”. Não obstante, considera que o território dá liberdade criativa, mas “o que acontece é que as pessoas acabam por ir trabalhar para o Governo e, como tal, têm de passar a ter mais cuidado com o que escrevem”. As soluções passam por adoptarem heterónimos ou mesmo deixarem a escrita. Outros há, afirma, que recorrem à ficção ou à poesia. A razão, aponta, é serem géneros que permitem múltiplas interpretações. Rai Mutsu lança a 24 de Março um novo livro de poemas, “Desta Vez Venho Sozinho”.
Hoje Macau China / ÁsiaLi Keqiang diz que Pequim não quer guerra comercial com Washington [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro da China, Li Keqiang, disse ontem que os líderes chineses não querem travar uma guerra comercial com os Estados Unidos da América e manifestou optimismo numa melhoria das relações. “Não desejamos uma guerra comercial entre os dois países. Isso não tornará as nossas trocas comerciais mais justas”, disse Li, na conferência de imprensa de encerramento da sessão anual da Assembleia Nacional Popular, afirmando que as duas potências devem “defender interesses estratégicos”. O Presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu subir os impostos sobre as importações oriundas da China, visando retaliar o que considera serem práticas comerciais injustas de Pequim. As afirmações do líder norte-americano suscitaram preocupações em relação a uma resposta por parte da China, que poderia destabilizar uma das relações comerciais mais importantes do mundo. “Independentemente dos choques que esta relação sofra, a China espera que continue a avançar na direcção certa”, afirmou Li Keqiang que revelou ainda que funcionários dos dois países estão a discutir um encontro entre Trump e o Presidente chinês, Xi Jinping. O primeiro-ministro da China reafirmou o compromisso de Pequim com o comércio livre, numa reacção à postura proteccionista de Trump e em contraste com as denúncias de que a China permanece o país mais fechado entre as principais economias do mundo. A China vai abrir mais os seus mercados, apesar das “fricções no comércio e investimento”, disse Li. “Damos as boas-vindas aos nossos parceiros para partilhar connosco as oportunidades criadas pelo desenvolvimento da China”, afirmou.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Redução de poluição pode evitar três milhões de mortes prematuras [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China pode evitar três milhões de mortes prematuras em cada ano, se reduzir a poluição atmosférica para o nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo um estudo publicado ontem na The British Medical Journal (BMJ). O estudo foi realizado por investigadores chineses, que estudaram os efeitos da poluição atmosférica sobre as mortes registadas em 38 grandes cidades do país, que têm uma população de 200 milhões de pessoas no total, entre Janeiro de 2010 e Junho de 2013. Durante este período, a concentração diária de partículas finas PM10, emitidas sobretudo pelo tráfego rodoviário, sistemas de aquecimento e agricultura) atingiu, em média os 92,9 microgramas (µg) por metro cúbico (m3) nas 38 cidades, com um máximo de 136 µg/m3 em Urumqi, situada no noroeste, e um mínimo de 66,9 µg/m3 em Qinhuangdao, 300 quilómetros a leste de Pequim. A OMS recomenda que o valor médio anual seja reduzido para os 20µg/m3, quando, na realidade, mais de 80% das pessoas que vivem nas cidades, à escala mundial, estão expostas a níveis de poluição que ultrapassam este limite. As partículas PM10 (cujo diâmetro é inferior a 10 microns) são particularmente perigosas, porque podem alojar-se nas vias respiratórias. Ao estudarem as 350 mil mortes ocorridas nas 38 cidades entre 2010 e 2013, os investigadores, dirigidos por Zhou Maigeng, do Centro de Controlo de Doenças de Pequim, descobriram que uma subida da concentração em PM10 de 10µg/m3 estava associada a um aumento do número diário de mortes na ordem dos 0,44%. Mais expostos A exposição às PM10 revelou-se particularmente mais nefasta para as mulheres e os adultos com mais de 60 anos, segundo o estudo. Teve também um impacto mais importante sobre as doenças cardiovasculares, com um aumento das mortes em 0,62% por cada aumento das PM10 em 10µg/m3, enquanto nas outras patologias a subida foi só de 0,26%. Os investigadores chegaram ao número de três milhões de mortes prematuras que se poderiam evitar cada ano na China fazendo um “cálculo básico”, baseado designadamente numa população chinesa de 1,33 mil milhões de habitantes. Mas sublinharam que este número está subestimado, “porque o efeito da poluição atmosférica pode ser mais importante nas zonas rurais (que não fruam estudadas) e porque as PM10 têm um efeito sobretudo no longo prazo”.
Julie Oyang PolíticaPorque é que o 1º Imperador da China foi o Nero da poesia? [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] primeiro livro que o Imperador Qin, o Primeiro Imperador, queimou foi 《诗经》, O Livro dos Cânticos. E porquê? Não terá sido pelas as suas abundantes e explícitas referências sexuais que retratavam os nossos antepassados e os seus lamentos e padecimentos nos arrozais. O Livro dos Cânticos, também conhecido como, Clássico de Poesia, é a mais antiga colectânea de poesia chinesa, incluindo 305 obras datadas de um período compreendido entre os séculos XXI e VII AC. Pensa-se que muitas destas líricas foram escritas por mulheres, ou pelos menos, por alguém que assumia um ponto de vista feminino. Inicialmente o clássico continha 3000 cânticos. Confúcio, que organizou a compilação oficial, eliminou 90% do material e seleccionou apenas cerca de 300 cânticos que viriam a ser estudados e memorizados por estudiosos chineses e de outros países vizinhos, durante mais de dois milénios. Estes “300” ficaram na versão aprovada, porque segundo Confúcio eram os que melhor serviam o Ritual Confuciano e as boas maneiras. Comparados com os antigos egípcios, gregos ou romanos, que relevavam os comércios e as intrigas dos deuses, os heróis e as suas batalhas, os poetas chineses que escreveram o Livro dos Cânticos sentiam menos curiosidade pelos seres superiores e ignoravam-nos completamente. Os chineses preferiam cantar os lamentos das pessoas vulgares, as queixas do seu dia a dia e as injustiças que sofriam. Será que esta diferença se pode explicar de alguma forma? Talvez porque as antigas sociedades grega e romana eram sobretudo constituídas por cidades-estado e os seus cidadãos e aristocratas procurassem o entretenimento; histórias de heróis de coração bondoso e de deuses intrometidos e de espíritos malvados (Egipto) que os empurravam de guerra em guerra. Os chineses por seu lado não parecem ter encontrado encanto nenhum na guerra. Em vez disso, os poetas anónimos, na sua maioria mulheres, preferiam cantar a vida (e as suas agruras) e perseguir a esperança. Podemos facilmente imaginar que a vida ao longo das margens do Rio Amarelo era dura e desagradável e obrigava os chineses a ter uma mentalidade terra a terra, sem ilusões e prática. O Imperador Qin não conseguiu tolerar esta abertura e esta franqueza. O Imperador era muito sensível às críticas depois de ter unificado a China debaixo do “mesmo tecto” e tomou consciência do poder corrosivo dos cânticos que, embora aparentemente inocentes, falavam da vida do dia a dia do seu império “acabado de estrear”. Mas o Imperador Qin esqueceu-se que os cânticos são teimosos. Mesmo depois de ter queimado todas as cópias, as mães continuaram a cantá-los aos filhos e às filhas e estes seguiram-lhes o exemplo. O Livro dos Cânticos chegou aos nossos dias apesar dos métodos agressivos de um soberano autoritário que viveu há mais de 2.000 anos.
António Cabrita Diários de PrósperoDiários de guerra de um ornitólogo [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] o quarto telemóvel que me impinge desde que me sentei na esplanada. Não desiste. Já passaram na rua uma trintena de grávidas. Dois vendedores de dvds piratas esperam encostados à acácia que eu me levante para me acossar. Uma miúda de olhos de boga, tão afadigada a digitar no seu cell, fica tremendamente desiludida quando eu a interrompo só para lhe perguntar as horas… E extensões eléctricas, não quer? Fazem sempre jeito. Vendo duas tábuas de engomar pelo preço de uma. Quarenta e um graus, e o café não tem gelo. A minha mulher liga-me, Faz cinquenta dias que entregaste o relatório – como se estivesse nas minhas mãos. Não me pagam, interpôs-se uma guerra idiota entre a bondade e a administração do Estado. Um gala-gala sobe pela acácia. Abro o gmail, um aluno enviou-me a proposta do seu projecto de fim de curso, pedindo que o supervisione. Dou uma leitura na diagonal. É uma vala comum onde se esqueceram de deitar os corpos. Não há uma vírgula onde se note que a criatura esteve quatro anos na universidade. Face a este caos, é preciso um método, um simulacro de ordem. Como faço tudo ao contrário do que é costume, descanso fazendo traduções, assim como outros pescam o merlin ou vão ao Kruger fotografar os leões. Tenho uma péssima, uma canhestra relação com as línguas. Leio quotidianamente em várias delas mas é frequente sentir-me como quem lê as pegadas de tartaruga na praia, incerto sobre a morfologia do animal que aqueles sinais indicam. É porque me é difícil que persisto. Da mesma forma que só a dificuldade me levou a não abandonar a escrita. Estou para todas as línguas como Moisés para as costas de Deus. E sentindo ao perto a luz dos sessenta afigura-me inútil invejar aqueles que por berço articulam os vocábulos alheios como morrões que displicentemente abandonam nos cinzeiros. Traduzo numa espécie de selvático urbanismo mental, em inconspícuo labor, enquanto na rua os jacarandás se desnudam ou a casca do limão cai no gim. É aquilo a que chamo: os diários de guerra de um ornitólogo. Sem dar-me conta reuni quinhentas páginas de poesia, traduzidas do espanhol, do francês, do inglês, do italiano. Ia agora editar todos os hispânicos, duzentas páginas. Mas o editor, numa atitude infantil de animal birrento, quis polemizar em 360 graus e disparou no seu próprio pé, pondo-se fora do baralho. Creio que só uma coisa terão em comum, os meus poetas: a ideia da destruição da linguagem não lhes é afim. Se nos atermos ao que dizia Bataille: «a poesia há-de ser o comentário de sua própria ausência de sentido», nenhum deles abraçaria tal dogma. Contudo, já os imagino a assentir com o que Andrès Sánchez Robayana anotou no seu diário: «A poesia é agora, para mim, um novo estado de consciência. Um estado ilegível. Porém um estado que provém da leitura paródica do ilegível. Por um momento, vejo, leio o ilegível. Não é decifrar um inimigo, mas sim vivê-lo» (La Inminencia/ Diarios, 1980-1995, pág.44). São coisas muito distintas. De SALVADOR ESPRIU (1913-1985), catalão, um poema, OS JACINTOS: «Sentir sem mais,/ conhecer de cada coisa/ o lhano e simples nome, carícia/ como a de abril sobre as folhas novas/ enquanto a luz de chuva da tarde/ se reclina pouco a pouco entre os jacintos./ Claro momento da flor, reflectida,/ e por vezes recôndita: beleza/ última do seu recorte nos meus olhos./ Depois, pelo ar, ténue/ recordação, o mais além do intenso verde/ da erva que molha esta chuva lenta». 14/03/2017 A minha mulher, Teresa Noronha, editora e escritora, foi convidada para um encontro de literatura infantil, em Lisboa. Aceitou e tendo o passaporte caducado foi renová-lo. A um mês da partida. Pagou a taxa de urgência, para o levantar em cinco dias. Na data indicada pelo recibo deslocou-se à Migração. Nada. Mais uma semana de peregrinações. Nada. Um dia fez finca-pé, queria que a esclarecessem sobre o atraso do seu passaporte. Ao fim de três horas, sentiram-se maçados e resolveram ir verificar. Tem um problema com o seu processo… Que problema? Tem um «V», uma abreviatura em vez de um nome e na fábrica recusaram fazer o passaporte… E por que não me avisaram logo, para se resolver? Esqueceu… No dia seguinte, ela levou a cópia da certidão de nascimento requerida. Como se a Migração não tivesse um cadastro identitário dela há cinquenta anos, como se… Entregou a cópia ao “chefe” e reforçou a sua urgência. Explicando, a) que o problema fora dos serviços, a funcionária que recebera os documentos requeridos não assinalou a anomalia; que pagara uma taxa de urgência; que a urgência agora era total pois ia representar Moçambique num encontro dos Palops com data marcada. O “chefe” descansou-a, o seu processo “vai ser muito bem encaminhado!”. E tudo desacelerou. Talvez porque a senhora foi maçadora. Talvez pelo motivo não-declarado que de outra vez levou uma funcionária a dizer descaradamente a uma filha nossa, Menina, pagaste a taxa de urgência, mas se não me deres mil o teu documento fica pronto daqui a seis meses… Talvez só por incompetência e relaxe… Embora “muito bem encaminhado”, houve descaminho. O V tornou-se “um caso” e o passaporte não saiu. E a minha mulher não compareceu no encontro. Dá um enorme cansaço insistir em viver num país que todos os dias se afadiga a maltratar os seus melhores elementos, porque a qualidade destes ilumina a mediocridade reinante. Ah, mas porque não recorreram ao Ministro da Cultura, que vocês conhecem, perguntam amigos. Exactamente porque não podemos colaborar com o estado das coisas, a nenhum preço. Queremos um país onde seja possível a um cidadão comum ser respeitado pela simples inerência dos seus direitos. Mesmo que a honestidade seja o que nos trama, preferimo-la. Seguir-se-á o protesto.
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Circuito permanente em Hong Kong é bem visto por cá [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]pesar de várias tentativas frustradas do passado, Hong Kong continua a sonhar em ter o seu próprio circuito de automobilismo. A organização com sucesso de uma corrida citadina do Campeonato FIA de Fórmula E, para carros eléctricos, no passado mês de Outubro, e a recente possibilidade de nascer um complexo para os desportos motorizados no Kai Tak Sports Park, atirou novamente este tema para a praça, ao ponto desta matéria ter sido levada ao Conselho Legislativo de Hong Kong. Em Macau, este projecto, a concretizar-se, será muito bem-vindo. Com seis anos de experiência no planeamento do Grande Prémio de Singapura, o australiano Simon Gardini é um dos dois designers responsáveis por avaliar a zona do antigo Aeroporto Internacional de Kai Tak onde poderá nascer o circuito. Na conferência de imprensa organizada pela Associação Automóvel de Hong Kong (HKAA), Gardini explicou que “dado os constrangimentos da zona em termos de desenvolvimento, nós não estamos a falar sobre um circuito Fórmula 1. Estamos a falar de corridas citadinas, e poderá ser algo para FIA Grau 2, o que nos permite ter tudo menos Fórmula 1, como corridas de GT, super carros, turismos, etc”. O desenho da pista ainda está numa fase embrionária, mas poderá ter 2.4 quilómetros de perímetro, sendo que terá que ser construída segundo as exigentes normas da FIA e integrada nos outros complexos desportivos já projectados para o recinto. Lawrence Yu Kam-kee, o actual presidente da HKAA, ambiciona que Kai Tak seja o palco do evento anual da Fórmula E, em vez do circuito improvisado no Porto Vitória e desenhado pelo arquitecto português Rodrigo Nunes. Este tópico foi levado ao Conselho Legislativo de Hong Kong pelo deputado Michael Tien. “De facto, zonas vizinhas como Macau, Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Singapura ou Malásia há muito que apostaram nas corridas de automóveis e por vezes têm eventos que atraem milhares de espectadores, para além do benefício económico adicional”, disse o deputado na sua intervenção, relembrando que “Hong Kong organizou o ano passado pela primeira vez uma pequena prova da Fórmula E. Em dois dias tivemos 21,000 espectadores. Foi um bom espectáculo e foi igualmente bom porque 7% dos espectadores eram turistas de fora”. Tien aproveitou para clarificar que “apesar de eu não ser um entusiasta de automobilismo”, o facto de existir “uma grande parcela de terra, deve ser um bom caso para se estudar”. Para o também membro do Conselho Distrital de Tsuen Wan, “Hong Kong está absolutamente qualificada para ter uma pista. Para além da pista, a infra-estrutura pode incluir hotel, restaurantes, áreas de recreação, fonte termal e uma série de outro tipo de estruturas”. Dada a proximidade à Disneyland, o deputado do Novo Partido do Povo salientou as sinergias que poderão ser criadas em termos de turismo e lazer. Isto, porque “para além das corridas de carros, a pista pode ser usada para provas e actividades de ciclismo”. Benéfico para nós A construção um circuito permanente de automobilismo na RAEM é algo fora de questão, dada a perceptível falta de espaço para o levantamento de uma infra-estrutura desta natureza. Desde 1996 que o Circuito Internacional de Zhuhai, a cerca de 45 minutos de distância das Portas do Cerco, é o palco favorito para os pilotos do território exercitarem as suas capacidades ao volante quando o Kartódromo de Coloane não é uma alternativa. Contudo, devido à complicada logística, causada pelas limitações na importação de veículos de competição construídos no estrangeiro, e os elevados custos de transporte, uma outra opção na região será sempre recebida de braços abertos. Existe uma certa unanimidade quanto às vantagens que poderão trazer aos agentes do território o aparecimento de novo complexo na região vizinha. “A existência de qualquer pista perto de Macau trará sempre vantagens para os pilotos locais. É sempre mais um lugar para treinar, praticar e competir. Sendo localizado fora da China Continental, os trâmites de importação e exportação dos carros e equipamentos serão sempre mais fáceis de resolver”, explicou fonte conhecedora do meio automobilismo do território que pediu anonimato ao HM, realçando que um dos benefícios mais palpáveis está na evolução daqueles que representam Macau nos eventos motorizados: “Podemos comparar a “performance” dos pilotos locais, antes e depois da existência das pistas permanentes vizinhas de Zhuhai e Cantão. Com a existência destas duas pistas, os pilotos locais conseguiram evoluir muito a técnica de condução e afinação dos carros”. Conhecedor do automobilismo asiático e com uma vasta experiência internacional, Duarte Alves também concorda que um circuito em Hong Kong irá ser muito positivo para os desportos motorizados em Macau, pois “um circuito e infra-estruturas para o desporto motorizado numa região vizinha e de fácil acesso, em especial se for de alto nível, é sempre uma mais valia, não só para os pilotos, como também para as equipas que competem sob a bandeira da RAEM”. O engenheiro de pista da B-Quick Racing e da Phoenix Asia Racing acredita que um circuito aqui ao lado irá beneficiar os desporto motorizados da RAEM “é mais um circuito para adicionar ao leque de opções para treinar e competir, podendo assim oferecer uma oportunidade para os pilotos progredirem. O facto de Hong Kong estar tão perto, oferece também mais flexibilidade para os pilotos que tenham uma agenda mais apertada”. Alves, que é também vice-presidente da Associação dos Jovens Empresários de Macau, relembra que o circuito permanente mais próximo da RAEM é o de Zhuhai, que é base operacional da grande maioria das equipas com licença desportiva de Macau e acolhe as duas provas do Campeonato de Carros de Turismo de Macau, hoje “apresenta falta de investimento e fraca manutenção”. Já um novo circuito em Hong Kong “poderá prometer melhores infra-estruturas para as equipas de Macau utilizarem como base, não só dando apoio aos pilotos da RAEM, mas também desenvolvendo esta vertente comercial do desporto motorizado”. Alves alerta também que outras variáveis irão entrar na equação do sucesso deste circuito, pois ”tudo dependerá dos custos de arrendamento das garagens, logística e também de mão de obra. Como qualquer investimento, tudo dependerá se o circuito será financeiramente atractivo para as condições que oferece, comparado a outros circuitos da região. Resumindo, como é típico nesta indústria, as condições financeiras irão ditar se os pilotos e equipas conseguirão tirar máximo proveito”.
Leocardo PolíticaNeo-mini-dicionário [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]oje decidi fazer uma coisa diferente, e compilar alguns neologismos, bem como termos e expressões que passaram a adquirir um sentido diverso do original, depois de passarem pelo inferno das redes sociais. Espero que não detestem muito. Abortismo: apoio à prática do aborto, como parte do plano para o Genocídio Branco. Anti-Semitismo: qualquer demonstração de relutância em aceitar a política expansionista e o comportamento criminoso do estado de Israel. Benfica: não sabendo bem do que se trata, é aquele ou aquilo que tem a culpa de tudo; “a culpa é do Benfica”. Burguês: um indivíduo que sabe escrever; “Ao contrário de muito burguês a quem o paizinho pode pagar os estudos, existe gente que teve de começar a trabalhar muito cedo e não aprendeu a escrever devidamente. De qualquer maneira e independentemente dos estudos, todos temos direito a opinar.” (da página do PNR). Capitalismo: um horror porque o dinheiro está nas mãos dos outros, mas uma maravilha na hora de atacar os esquerdalhos. Cientistas: esquerdalhos pagos pelo George Soros para nos impingir a teoria do aquecimento global e prejudicar o humilde negócio familiar das petrolíferas. Direitinha: alguém que se diz de direita, mas que na verdade não passa de mais um esquerdalho. Estalinista: pessoa que se opõe à verborreia demente do fadista João Braga. Esquerdalho: basicamente qualquer indivíduo que não partilha de ideologias fascistas e não seja um reaccionário. Fascismo: ideologia de esquerda; “Mussolini pertenceu ao Partido Socialista italiano e Hitler ao Partido Nacional Socialista”. Feminazis: partidárias radicais dos ideais feministas, que “são lésbicas e querem acabar com os homens”. A existência destas implica que toda e qualquer pretensão do feminismo seja “uma grande treta”. Genocídio Branco: a teoria de a vinda de refugiados e imigrantes para o Ocidente faz parte de um plano maior com vista à extinção de raça branca. A sério. George Soros: bilionário americano relativamente discreto até há poucos anos, quando lhe foi atribuída a autoria da “Conspiração globalista”. Globalismo: a ideia de um mundo sem fronteiras. Uma coisa “terrível”. Globalização: coisa boa quando se vai comer ao chinês e fazer compras no Toys’R’Us, péssima quando se vive paredes meias com imigrantes. Invasão Uterina: vinda para o Ocidente de mulheres islâmicas “que têm oito filhos EM MÉDIA cada uma”, com o intuito de contribuir para o Genocídio Branco. Islamo-fascismo: é melhor nem procurar saber do que se trata. Liberalismo: “uma doença mental”. Vem também em versão “neo” e “ultra”. Maoista: pessoa que se opõe à realização de palestras onde o convidado seja o Dr. Jaime Nogueira Pinto. Me(r)dia: os media convencionais, que “escondem a verdade”. Nazi: lengalenga infantil; “- És um ganda nazi! – Não não, nazi és tu!” Neo-marxismo: supostamente o mesmo que Marxismo, só que da era tecnológica; na prática é tudo que não se insira neste rol de disparates que estou aqui a debitar. Nova Ordem Mundial (NOM): Parece qualquer coisa saída de um plano diabólico de Lex Luthor, ou do imperador Ming, mas “estamos a caminho dela”, com a ajuda do Globalismo, Soros, abortocionistas, feminazis, etc. Politicamente Correcto: serviu durante muito tempo para que certas pessoas não ouvissem o que não gostam, e é actualmente desprezado por estas mesmas pessoas para que possam dizer os disparates que muito bem entenderem. Refujihadista: deixem para lá. Salazar: ditador que morreu pobre e decrépito, tal como o país que deixou; D. Sebastião do saudosismo lusitano. Trump: o santo e a senha; quem é anti-Trump não entra no clube Trump, e vice-versa.
Tânia dos Santos SexanáliseO Complexo Materno [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão acreditem se alguém insistir na naturalidade da maternidade. Se Freud referia-se aos impulsos sexuais da forma enfatizada como o fazia, era porque acreditava numa perspectiva de ser humano onde o sexo é a actividade biologicamente determinada mais importante. O sexo leva à gestação e a gestação traz-nos, depois de uns ideais nove meses, um bebé. Todos estes passos são naturais, o que levou a crer que tudo o que venha para além disso também será normal, fácil e natural. Ser-se mãe (ou pai) está de facto associado a complexas formas hormonais de vinculação, mas isso não é evidência de absolutamente nada. Não torna nada ‘natural’ só porque falamos de formas de activação fisiológica. Pensemos nas mães, por exemplo, quando se tornam responsáveis pelo bem-estar de um bebé que se desenvolveu dentro de si durante uns bons largos meses – nem sempre sentem as suas emoções alinhadas com a expectativa do que é ser uma (boa) mãe. O susto que não será quando se apercebem nos tempos conturbados que ainda virão. As dores de parto são simplesmente o fim da gestação, mas o início de tudo. Dores de peito, bebés que não param de chorar, ou que têm preguiça de mamar! Noites sem dormir que pioram o desespero de tentar fazer as coisas bem feitas enquanto completamente exaustas. Suponho que já tenham ouvido falar das famosas depressões pós-parto, resultantes de uma predisposição hormonal para a tristeza acompanhada da sensação de podermos estar a falhar como mães. A nossa cabeça entra em curto circuito quando nos pressionamos ao limite para ser aquilo que não podemos: não podemos ser mães geneticamente programadas e preparadas para tudo. O lado negro da maternidade está um tanto ou quanto envolvido em tabu. Como entendemos as mulheres naturalmente cuidadoras e maternais, é muito estranho pensarmos que existem mulheres arrependidas por terem filhos, ou que, de forma ainda mais dramática, tenham fantasias homicidas. As dificuldades emocionais que muitas mulheres têm que ultrapassar quando se vêem com filhos nos braços não são do conhecimento geral. Estas dificuldades são vistas como atípicas – mas contribuem para um entendimento da maternidade de uma forma mais inteira, mais complexa, mais real. Percebemos melhor que não basta ligar os fusíveis para o mecanismo maternal funcionar, é preciso tempo e alguma esperança de que estamos a fazer o melhor que podemos. E mais – fala-se no relógio biológico que todas as mulheres sentem em alguma altura das suas vidas, o desespero do corpo de não ter sido fecundado e não ter gerado vida. Dizem as vozes mais experientes que lá para os 30 e poucos que o tic-tac não nos deixará em paz (e vai nos pôr a babar sempre que virmos as bochechas redondinhas daqueles seres humanos pequeninos e amorosos). Ser mulher também é sonhar em ter filhos e ter uma família, mas não conseguirmos. Este é o (ainda outro) lado negro da maternidade: estarmos convencidas que estamos neste mundo para procriar e não estarmos biologicamente preparadas para o fazer. O útero prega-nos partidas e priva-nos desta possibilidade – há mulheres que nem útero têm! Percebem o drama? Brincámos com bonecas toda a infância para não poder ter um filho de verdade. Para além de uma sentida desilusão pessoal, a sociedade também não é muito simpática para com as mulheres inférteis. No pior dos casos tratam-nos como se fossemos defeituosas ou incompletas. Talvez esta tentativa de complexificar a maternidade tenha saído mais dramática do que desejaria. Simplesmente tento reforçar uma perspectiva mais abrangente de certos fenómenos que estão intimamente relacionados com expectativas de género, que prendem os movimentos das mulheres que fazem o melhor que podem nas condições que nos são oferecidas. Há mulheres que não foram feitas para ser mães e que o são. Há mulheres que até seriam umas mães porreiras e não querem sê-lo. Há mulheres que não podem ser mães biológicas, mas que ainda assim conseguem ser mães de crianças com quem criam laços fortes de vinculação. Há mulheres que deprimem assim que vêem o seu bebé, há outras mulheres que se apaixonam perdidamente. Não nascemos mulheres para naturalmente tornarmo-nos mães. Aprendemos.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Vice-presidente ataca campanha contra as drogas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] vice-presidente das Filipinas exortou ontem os cidadãos do seu país a “desafiarem as gritantes violações dos seus direitos”, numa referência crítica à violenta campanha do Presidente Duterte contra as drogas, considerada “criminosa” por várias organizações. Numa declaração em vídeo a ser mostrada num fórum da ONU, Leni Robredo disse que o problema das drogas ilegais nas Filipinas não se pode resolver “só com balas”. O discurso de Robredo constitui uma das mais fortes críticas ao Presidente Duterte, que repetidamente atacou o fórum de direitos humanos. No discurso ao fórum da ONU sobre mortes extrajudiciais, em Viena, Robredo cita queixas específicas sobre abusos, incluindo a forma como familiares de suspeitos traficantes e consumidores de droga têm sido ameaçados quando a polícia não consegue encontrar os alvos principais. Robredo recorda que mais de 7.000 pessoas foram assassinadas em “execuções sumárias” em nome da guerra contra as drogas lançada por Duterte após ser eleito Presidente no Verão passado. Nas Filipinas, o vice-presidente é eleito numa eleição separada da presidencial e Robredo pertence a um partido político diferente do de Duterte. Relações difíceis Robredo é um dos poucos políticos de topo nas Filipinas que se tem manifestado contra a campanha de execuções em nome da luta contra as drogas promovida pelo Presidente. A relação entre ambos os políticos é muito difícil e Duterte não convida a vice-presidente para as reuniões do seu gabinete. Na mensagem agora divulgada, Robredo denuncia também que a pena de morte poderá regressar em breve às Filipinas, algo que considerou “um erro grave” porque viola as normas internacionais da ONU. Robredo conclui pedindo a Duterte que empreenda uma “guerra contra a pobreza” e não contra os consumidores de droga. Duterte tem sido alvo de críticas da comunidade internacional e de organizações humanitárias, que o acusam de, na sua operação para limpar os bairros das drogas, cometeram-se milhares de execuções extrajudiciais de traficantes e toxicodependentes. Num relatório divulgado no final de Janeiro, a Amnistia Internacional revelou que a polícia filipina, sob ordens directas do Presidente Rodrigo Duterte, tem vindo a assassinar cidadãos pobres com a desculpa de que está numa luta contra as drogas, forjando provas e chegando a contratar assassinos. “Agindo de acordo com instruções do mais alto nível do governo, a polícia das Filipinas matou e pagou a outros para matar milhares de alegados envolvidos em crimes com drogas, numa onda de execuções extrajudiciais que podem constituir crimes contra a Humanidade”, indicou a Amnistia Internacional no relatório “Se é pobre, é morto: Execuções Extrajudiciais nas Filipinas”.
Hoje Macau SociedadeGoverno vai financiar estágios na UNESCO [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau vai financiar, pela primeira vez, até dez residentes permanentes que pretendam realizar estágios proporcionados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), foi ontem anunciado. As inscrições para o projeto de estágios, organizado pela Comissão de Desenvolvimento de Talentos, Fundação Macau e Gabinete de Apoio ao Ensino Superior, abrem na quarta-feira e terminam a 13 de abril. O projeto, a ser realizado pela primeira vez pelo Governo, “visa habilitar os jovens de Macau a realizarem estágios nas organizações internacionais, com vista a ampliar a sua visão e promover o seu crescimento profissional através da aprendizagem em contexto real de trabalho”, explica um comunicado oficial. O programa prevê a atribuição, anual, de um apoio financeiro a um máximo de dez residentes permanentes (nascidos em Macau ou a viver no território há pelo menos sete anos). As áreas funcionais dos estágios abrangem Ciências Sociais e Humanas; Ciência, Tecnologia e Inovação; Recursos Humanos; Comunicação e Património Cultural, sendo os locais dos estágios distribuídos nos Camarões, Moçambique e Peru, refere a mesma nota. São elegíveis os residentes permanentes com qualificações profissionais ao nível do ensino superior exigidas pelas vagas de estágio (licenciatura ou grau académico mais elevado) dos anos letivos 2015/2016 ou 2016/2017 e correspondente capacidade linguística. O estágio tem uma duração máxima de 12 meses, prevalecendo a notificação de admissão da UNESCO. O Governo de Macau irá conceder aos estagiários admitidos um subsídio de transporte, seguro e um apoio mensal para subsistência no valor de 12.000 patacas (1.400 euros). Os resultados relativos aos candidatos admitidos aos estágios vão ser publicados no final de junho.
João Luz PolíticaElla Lei pede transparência no recrutamento no Instituto Cultural Com Vítor Ng [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s críticas do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) começam a ter consequências políticas. Ella Lei pede explicações ao Executivo, através de interpelação escrita, sobre os métodos de contratação do Instituto Cultural (IC). Além disso, questiona se práticas semelhantes são praticadas noutros serviços. Na sequência do relatório do CCAC que arrasou a forma como o IC contrata pessoal, Ella Lei pede que sejam apuradas responsabilidades. A deputada sublinha que foi usado o modelo de aquisição de serviços no recrutamento de um grande número de trabalhadores, dando eco às conclusões do CCAC. A representante dos Operários é peremptória a categorizar as práticas de recursos humanos do IC como ilegais, considerando que esta maneira de contratar é a norma naquele organismo. Além disso, salienta que estes métodos são generalizados às subunidades do IC, algo que, para a deputada, é inadmissível, uma vez que o Governo implementou o regime do contrato de trabalho nos serviços públicos precisamente para trazer transparência à função pública. Neste capítulo, Ella Lei aplaude o Executivo, pois considera o regime legal uma via para credibilizar os serviços com transparência e eficácia. Outro dos benefícios da lei é a igualdade que imprime no processo, assim como a justiça no acesso aos concursos públicos por parte dos cidadãos. Concurso transparente O relatório do CCAC demonstrou como foram, reiteradamente, omitidas informações e publicidade dos recrutamentos, faltando rigor nos métodos de selecção dos candidatos. Ella Lei lembra que, antigamente, alguns departamentos contratavam funcionários públicos, de forma abusiva, através de contrato de tarefa. A deputada contextualiza a iniciativa legislativa do Executivo que trouxe transparência ao processo, uma vez que os cidadãos pediam rigor nos critérios de contratação. Neste domínio, a deputada quer saber se as autoridades têm conhecimento acerca da situação de contratação dos trabalhadores por aquisição de serviços em todos os departamentos públicos. Outra das questões da interpelação versa sobre as formas de fiscalização das práticas de recursos humanos da máquina estatal. Ou seja, se o Governo confirma se existem casos semelhantes noutros departamentos públicos. No caso particular do IC, Ella Lei quer saber quais os métodos de investigação que o Executivo irá usar e que medidas vão ser tomadas para prevenir a repetição de ilegalidades deste género.
Hoje Macau PolíticaPequim | Associação quer eleição directa dos representantes de Macau A Associação Poder do Povo entrega hoje no Gabinete de Ligação do Governo Central uma carta em que defende o sufrágio directo para a eleição dos representantes de Macau junto da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. É ainda pedida a abertura das fronteiras durante 24 horas [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]alam de falta de representação e pedem, por isso, uma mudança. A carta que a Associação Poder do Povo vai hoje entregar junto do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, endereçada a Zhang Dejiang, exige mudanças profundas na forma como os deputados por Macau à Assembleia Popular Nacional (APN) e delegados da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) são escolhidos. Na visão da associação, os representantes da RAEM nestes órgãos não representam a população chinesa de Macau, pelo facto de não terem sido eleitos directamente pelos residentes. A Poder do Povo alerta ainda para o facto de não se saber como é que foi realizada a eleição dos representantes. A entidade fala ainda do exemplo do interior da China, que elegeu representantes oriundos das classes baixas para a APN, que foram escolhidos por cidadãos que vivem em aldeias. Assim, a Poder do Povo acredita que também os locais devem ter o direito de votar nos seus representantes. Cheong Weng Fat, vice-presidente da Poder do Povo, defendeu ao HM que há uma falta de representatividade. “Os deputados expressam as suas vozes mas não representam as vozes dos cidadãos. Muitos dizem que desconhecem notícias sobre a APN ou o CCPPC, pelo que esperamos que um dia se possa eleger estes representantes através do sistema ‘uma pessoa, um voto’”, explicou. Em comunicado, a Poder do Povo afirma que a população do Continente dá importância à APN e à CCPPC, pelo facto de ter expectativas de uma representatividade das suas preocupações e anseios, e também para que haja uma maior fiscalização dos trabalhos do Governo. Fronteiras a toda a hora A carta da Poder do Povo surge numa altura em que os deputados da APN estão reunidos em Pequim. A representar Macau estão oito deputados, incluindo o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. São eleitos por um colégio eleitoral. A associação pede, por isso, que se instalem vários postos no território para recolha de opiniões, para que sejam entregues junto dos governantes em Pequim. A Poder do Povo pede ainda que seja disponibilizado o acesso de 24 horas na fronteira das Portas do Cerco, uma medida que poderia facilitar a vida das pessoas que circulam com frequência entre Macau e a China.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaTabaco | Só há regras para casinos no próximo ano A análise na especialidade da proposta de lei relativa ao tabaco está a chegar ao fim. Com cedências por parte da Assembleia Legislativa e do Executivo, o diploma vai ser apreciado na especialidade no próximo mês, mas os requisitos para as salas de fumo dos casinos só serão conhecidos em 2018 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] proposta de revisão da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo deverá regressar ao plenário e ser votada na especialidade já no próximo mês, depois de meses de espera em sede de comissão. A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 2.ª Comissão Permanente, Chan Chak Mo, após uma reunião de análise do diploma. Perdida a luta pela proibição total de fumo nos casinos, a comissão admite que as operadoras possam instalar salas de fumo obedecendo a critérios restritos. A razão, apontou Chan Chak Mo, “é a preservação dos lucros da maior fonte de receitas do Governo”. O deputado sublinha ainda que é uma forma de “minimizar os efeitos nocivos que o tabaco tem para a saúde dos trabalhadores do jogo, sendo uma medida positiva, tanto para funcionários, como para os aspectos ligados à competitividade económica”. “Não devemos correr o risco de proibir por completo o fumo nos casinos porque iria afectar as receitas e mesmo os trabalhadores”, afirmou. A solução passa pela criação de requisitos rígidos e claros para as salas de fumadores. No entanto, as directrizes que irão definir as características legais destes espaços só serão definidas após a aprovação da proposta na especialidade e dadas a conhecer através de regulamento administrativo, que está previsto para o próximo ano. “A entrada em vigor dos requisitos vai ser a 1 de Janeiro de 2018 e as salas de fumo têm de reunir os requisitos definidos por regulamento administrativo no prazo de um ano”, afirmou. Neste período de tempo, as operadoras podem manter as salas existentes e “a instalação dos requisitos tem de ser concluída antes de 1 de Janeiro de 2019, visto o prazo para proceder às obras ser de um ano após a publicação do regulamento administrativo”, explicou Chan Chak Mo. Actualmente, Macau tem casinos em fase de construção e, questionado acerca da existência de alguma orientação que possa definir as salas de fumo que estão a ser feitas, o deputado afirmou que, de momento, não existem. As operadoras correm o risco de, em menos de um ano, terem de proceder à reconstrução de novos espaços para fumadores. “Caso não tenham conhecimento dos requisitos, correm o risco de estar em incumprimento e, nesse caso, há que introduzir as alterações”, concedeu. O presidente da comissão defendeu que as decisões que os casinos estão a tomar na construção de salas de fumo “são uma decisão comercial” e, como tal, apontou duas soluções: “Ou atrasam as obras e aguardam pelo regulamento administrativo ou sujeitam-se, se necessário, a ter de reformular os espaços para fumadores”. Também as salas VIP vão estar sujeitas às mesmas regras. A proposta de revisão legislativa não admite qualquer espaço onde seja permitido fumar além das salas destinadas para o efeito. “Nas restantes áreas dos casinos é proibido fumar. O consumo de tabaco só é permitido nas salas de fumo”, sublinhou. Concessões e excepções A comissão concordou ainda com outras cedências. A proibição de fumar a menos de 10 metros de distância de locais de paragem de transportes colectivos foi abandonada e deu lugar à nova sugestão do Executivo. O diploma prevê agora que sejam as entidades competentes a definir os espaços. “Manifestámos alguma reserva relativamente à sua exequibilidade e, agora, foi determinado que as áreas autorizadas a fumadores sejam delimitadas pela entidade competente, nomeadamente o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais ou pelos Serviços de Transportes e Obras Públicas.” A comissão sugeriu que sejam instaladas salas de fumos no estabelecimento prisional. “Actualmente, é permitido fumar nas áreas demarcadas pelo director e é proibido nos recintos fechados. No entanto, há reclusos que não têm direito a recreio e que deveriam ter a possibilidade de fumar”, afirmou Chan Chak Mo. Do diploma consta também a proibição de salas de prova de charutos nos estabelecimentos de venda exclusiva de produtos de tabaco. “Por uma questão de igualdade, se as pessoas não experimentam os cigarros também não faz sentido que tenham de o fazer com os charutos”, disse. A exposição de marcas de cigarros chega também ao fim e, “nas mercearias e tendas de jornais, não podem ser visíveis por quem passa”. “O modelo que sugerimos pode passar por um papel A4 em que constem as marcas que o estabelecimento tem à venda. Pode ser mostrado aos clientes mas não pode ser visto a partir do exterior”, rematou Chan Chak Mo. A comissão deverá ter uma reunião com o Executivo na próxima semana, de modo a darem a conhecer as últimas sugestões. O objectivo é avançar o mais rápido possível com a proposta para que, em Abril, seja submetida então a votação.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteRita Wong e Albert Chu, gestores da Cinemateca Paixão: “Queremos trazer cinema de todo o mundo” A pequena sala de cadeiras coloridas começa finalmente a receber público de forma regular já a partir do dia 30 deste mês. Sob gestão da Associação Audiovisual CUT, a Cinemateca Paixão será também um espaço para aprender mais sobre a história do cinema de Macau, através de uma biblioteca com material reunido pelo Instituto Cultural. Rita Wong, presidente da associação, e Albert Chu, director artístico, falam da intenção de trazer uma pluralidade de experiências relacionadas com o grande ecrã, com workshops e residências para cineastas [dropcap]A[/dropcap] vossa associação ganhou o concurso público para a gestão da Cinemateca Paixão, por um período de três anos. Por que decidiram participar neste processo? Albert Chu (A.C.) – A associação já levou a cabo várias projecções de filmes e promoveu várias produções de Macau. Quando soubemos que o Instituto Cultural (IC) iria abrir o concurso público, acabou por ser uma decisão natural para nós, a de que deveríamos ser um dos concorrentes. Era uma hipótese que coincidia com o que vínhamos fazendo até então, e queríamos continuar a fazer esta promoção e a realizar exibições para as pessoas de Macau. Mas a nossa maior preocupação era se conseguiríamos levar a cabo actividades numa base diária e garantir a operacionalização do espaço, porque é algo muito diferente do que realizar algumas actividades por ano. A possibilidade tornou-se mais próxima da realidade e agora já se tornou uma coisa real. Rita Wong (R.W.) – Antes de aderir a este projecto já trabalhava nesta área, pois estive no Centro Cultural de Macau (CCM) durante dez anos, ligada a projectos de audiovisual. Então a oportunidade de aderir ao projecto foi natural, foi uma boa oportunidade para concentrar todos os esforços na promoção do cinema. A.C. – Já havia uma parceria com o CCM para fazer o Macau Indies. Já nos conhecíamos bem e era uma boa maneira de trabalharmos em conjunto. Além da exibição de filmes, que outras actividades pretendem desenvolver na Cinemateca? R.W. – Queremos estabelecer aqui um centro de exibição de filmes temáticos. O que temos planeado é, além da normal exibição, termos todos os meses temas especiais e eventos relacionados com os filmes, como workshops ou residências para cineastas, ou ainda palestras. Queremos que este seja não só um espaço de mostra de filmes, mas também de partilha e discussão depois da sua exibição. Em Abril vamos arrancar com um workshop sobre critica de cinema, que terá a duração de um ano. Em Maio vamos convidar alguns cineastas de Taiwan para participarem num workshop ligado ao marketing, para analisar o que o mercado necessita. Em Junho vamos ter uma residência de cineastas e vamos convidar realizadores de cinema da região – vamos ter também exibição de filmes e depois uma conversa com o público. É objectivo dessa residência levar filmes para as escolas e realizar workshops com realizadores de Macau, para que haja uma ligação. A.C. – Estamos mais activos em termos de estratégia. O dito cinema normal apenas depende do mercado, dos últimos lançamentos mas, na Cinemateca, queremos criar diferentes eventos e projectos, com várias temáticas. Temos um plano e queremos promover a cultura do filme. Que filmes poderão ser exibidos na Cinemateca? O público poderá ver cinema asiático, mas também europeu? R.W. – Queremos trazer cinema de todo o mundo. A nossa postura vai no sentido de trazer uma diversidade e também filmes que estejam fora do circuito comercial, como filmes independentes ou filmes de arte. Claro que todos os meses vamos ter filmes locais também. Em dois fins-de-semana, por exemplo, teremos películas para mostrar aos residentes e também aos turistas. Em Abril vamos começar a mostrar filmes de Macau realizados nos últimos 20 anos. Para contar a história de novo. R.W. – Sim. Em Maio teremos um maior foco nos realizadores de cinema e, em Junho, teremos uma selecção de filmes produzidos por cineastas mulheres. Na verdade vamos trabalhar com diferentes curadores, para termos esse programa diversificado. Disse-me que a Cinemateca também vai ter uma livraria e um espaço aberto ao público. Macau já teve uma importante indústria de cinema, que se foi perdendo. É importante contar a história, para que se possa recomeçar? A.C. – Em relação à livraria apenas garantimos a sua operacionalização. Cabe ao IC a cedência dos materiais. Não é algo que está sob o nosso controlo, mas penso que a ideia é reunir todos os livros e informações disponíveis em termos não só da produção de filmes em Macau, mas também de filmes que tenham uma ligação ao território. No entanto, apenas podemos fazer recomendações ao IC. Será um projecto a implementar lentamente no próximo meio ano, mas depois penso que será feito de forma mais rápida. Em relação à exibição de filmes, todos os anos teremos dois temas relacionados com Macau, duas pequenas actividades. É fundamental fazer esse trabalho de recolha? Era algo que fazia falta ao sector? A.C. – Esse sempre foi o objectivo e vamos tentar realizar isso. Estiveram envolvidos no Macau Indies por um longo período de tempo. Tracy Choi foi premiada na primeira edição do Festival Internacional de Cinema. Como descrevem a produção cinematográfica nos dias de hoje? Acreditam que Macau começa agora a desenvolver novos passos, com mais produções? A.C. – Há muitos realizadores que têm mais conhecimentos para fazer os seus filmes. Têm uma plataforma [com o apoio do CCM] para isso, para filmar e fazer grandes produções. Nos últimos anos vimos várias pequenas produções a nascer. Têm hoje mais oportunidades para participar em diferentes festivais de cinema e para terem acesso a mais lugares para filmar. Tudo isso fará com que Macau, em termos de produção cinematográfica, vá no bom sentido. Tudo depende de quão arduamente o realizador vai trabalhar. De como será trabalhada a sua criatividade. Se é bom o suficiente, se reflecte a realidade de Macau. R.W. – Cresci praticamente com todos eles que, no início, trabalhavam muito de forma individual, a aprender. A coisa mais extraordinária é que esse processo levou-os a crescer, mas a crescerem juntos, desde as primeiras edições do Macau Indies. Vejo-os agora a fazer filmes de uma forma mais madura, em termos de sonoridade, da escrita de guiões. São ainda pequenas produções, mas estão a seguir um caminho. É a parte mais feliz de tudo isto. Numa das edições do Macau Indies venceu uma produção que abordava a temática da homossexualidade. Os realizadores locais também estão a começar a abordar outro tipo de temas, há uma maior diversidade de assuntos no cinema local? A.C. – Deveria haver. Mas muitas vezes depende da sensibilidade de cada realizador. Em poucos anos estarão mais focados num ou outro projecto e os temas começaram a ser mais diversos. Isso é bom. Pensam mais nos problemas da sociedade? A.C. – No Macau Stories 3 – City Maze [produção da Associação Audiovisual CUT] houve uma ligação ao suspense, com um certo lado negro. Aí os realizadores começaram a abordar esse género e, no futuro, vamos ter cada vez mais abordagens a outros géneros cinematográficos. R.W. – O CCM tem uma plataforma onde os realizadores têm toda a liberdade para desenvolver os temas escolhidos. Isso vai acontecer mais em Macau, sendo que vão ter de lidar com a pressão do mercado. Vão ter a liberdade para abordar temas sociais sobre os quais tenham interesse ou preocupação. De certa forma, há ainda uma experimentação? R.W. – Sim. A.C. – Há cinco anos, todos eram realizadores. Mas, agora, se quisermos montar uma equipa, há pessoas para os diferentes cargos [necessários para a rodagem e produção de um filme]. Esse é um grande salto, se compararmos com os últimos cinco anos. Falaram do mercado. Como é que os locais olham para o cinema local, uma vez que os filmes da China ou da Coreia do Sul são muito populares? É difícil às produções locais obterem o seu espaço? R.W. – Temos de começar primeiro pelas pequenas produções. Não diria que ainda estejam a experimentar, mas têm de se focar em pequenas produções primeiro. Como contar uma história da melhor forma. Isso é o mais importante. A.C. – Olhar para as intenções do público é também a nossa missão. Queremos atrair mais locais para que venham aqui. É verdade que o público de Macau terá uma tendência para escolher primeiro os filmes coreanos, chineses e até de Hollywood. Isso é porque pensam que as produções de Macau não são boas o suficiente, ou porque é algo artístico que não compreendem. Mas a nossa Cinemateca é uma boa forma para estarmos mais perto do público, para que possam conhecer que as produções de Macau são próximas das suas vidas mas, ao mesmo tempo, têm padrões profissionais. É uma missão de longo prazo para nós. Inauguração com direito a filme Rita Wong e Albert Chu confirmaram ainda na conversa com o HM que o dia da inauguração oficial vai servir para mostrar uma pequena produção que contou com a participação de três cineastas de Macau: Tracy Choi, Choi Koiwang e António Caetano de Faria. O contrato com a Associação Audiovisual CUT arrancou no passado dia 1 de Janeiro e está avaliado em oito milhões de patacas anuais.
Hoje Macau PolíticaLionel Leong | Lei laboral deverá ser revista daqui a um ano [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, disse em Pequim, à margem das reuniões da Assembleia Popular Nacional (APN), que a lei das relações do trabalho deverá “avançar para o processo legislativo” já no primeiro trimestre de 2018. A notícia é avançada pela Rádio Macau, que explica ainda que ainda este ano deverá ser organizada uma consulta pública junto da população sobre o assunto. Em Pequim, onde Lionel Leong se encontra na qualidade de deputado de Macau à APN, o secretário referiu que o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) tem vindo a discutir a revisão do diploma, no que diz respeito à implementação da licença de paternidade remunerada. A deputada Ella Lei já entregou um pedido ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, para apresentar junto do hemiciclo uma proposta de alteração da actual lei. O objectivo é incluir também no novo diploma a regulamentação da sobreposição de dias de férias com feriados. “Sugerimos que, quando aconteça uma sobreposição, as férias possam ser compensadas e gozadas nos restantes dias de trabalho.” A deputada, que representa a Federação das Associações dos Operários de Macau, defende ainda a implementação de cinco dias de licença de paternidade.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeRevitalização da zona de Mong-Há discutida este sábado Vários profissionais ligados ao urbanismo vão reunir-se para debater a renovação da zona de Mong-Há. Com “Relink_Revive” pretende-se olhar para as formas de ligação dos vários pontos culturais e habitacionais da zona, sem esquecer o aproveitamento do Canídromo [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]ual a utilização que deve ser dada ao actual terreno ocupado pelo Canídromo? Que ligações podem ser estabelecidas em toda a zona de Mong-Há, com mais acessos pedonais? São algumas das questões para as quais vão ser encontradas respostas no debate “Relink_Revive” [ligar e reviver], que vai juntar vários profissionais ligados ao urbanismo. O encontro terá lugar no Centro de Design de Macau e é organizado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), o departamento de arquitectura da Universidade de São José, o Instituto Politécnico de Milão e o Albergue SCM. Ao HM, José Luís Sales Marques, presidente do IEEM, explicou que a ideia é abordar estudos de caso e ter acesso a uma visão mais alargada, trazida por profissionais estrangeiros. A utilização do terreno onde se situa o Canídromo será um dos temas abordados. “Espero que seja um espaço público”, apontou Sales Marques. “Pode ser utilizado para aumentar a área de espaço público para toda aquela zona, que tem uma elevada densidade populacional.” O arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro será um dos oradores e irá revelar um estudo desenvolvido por alunos da USJ para a revitalização daquela zona. “A grande preocupação para o futuro é o que será feito do Canídromo, porque têm aparecido nos jornais diferentes ideias para o aproveitamento do espaço. É importante fazer valer o significado histórico e cultural de Mong-Há”, defendeu. “Está previsto no Plano de Desenvolvimento Quinquenal que essa zona seja ligada ao lazer e cultura, mas isso não é compatível com a oferta turística actual, que está centrada na Almeida Ribeiro e Ruínas de São Paulo. Temos de ter mais espaços pedonais e zonas que sejam de mais fácil acesso”, disse ainda o arquitecto. Já Maria José de Freitas, autora da primeira fase de requalificação de Mong-Há e outra das oradoras, aponta que “se o Canídromo sair dali, que seja um lugar que tenha que ver com espaços polivalentes”. Melhores acessos Para José Luís Sales Marques, a zona de Mong-Há carece sobretudo de novos e melhores acessos, que liguem os diversos pontos culturais e habitacionais. “A zona do Canídromo está separada de Mong-Há através da avenida Almirante Lacerda, como se fosse um muro. Tudo o que existe na colina de Mong-Há é recente, do final dos anos 90. Criaram-se algumas estruturas, mas não foi feita foi a ligação com o Armazém do Boi e a colina. Há um dado adicional, o edifício do canil municipal, que agora é património. Isso significa que há regras estabelecidas e sem dúvida que todo aquele espaço merece ser requalificado”, lembrou o presidente do IEEM. Sales Marques acredita ainda que deveria ser feito um trabalho de revitalização olhando para algumas zonas da Areia Preta, onde “começa a aparecer um conjunto interessante de restaurantes, com o próprio Centro de Design de Macau, que é um pólo importante”. Também Francisco Vizeu Pinheiro fala da necessidade de “revitalizar o património que não está a ser usado”, pois existem “vários pontos culturais que estão desconectados”. “A Avenida Coronel Mesquita poderia ser mais amigável”, referiu. Aproximar e renovar A primeira fase de requalificação de Mong-Há foi concluída, mas o segundo projecto acabaria por ficar na gaveta, à boleia da mudança causada pela transferência de administração. Para Maria José de Freitas, seria importante, nos dias de hoje, “aproximar o quarteirão de Mong Há que envolve o Canídromo e os antigos estábulos municipais que, hoje em dia, são o Armazém do Boi”. “Deve dar-se atenção à área do Canídromo. A colina de Mong-Há tem cerca de 50 metros e, para pessoas com uma certa idade, é difícil chegar ao topo. Era importante ter meios mecânicos de acesso e de ligação entre o topo da colina e a área adjacente”, defendeu. Maria José de Freitas dá também atenção às casas históricas da Avenida Coronel Mesquita. “Há situações interessantes de moradias que eram de funcionários públicos e que estão abandonadas, e seria mais um tentáculo de ligação. Muita coisa poderia acontecer para que este espaço fosse mais integrado.” José Luís Sales Marques referiu ainda ao HM que a intenção é que a participação nesta conferência possa dar acesso a pontos para a renovação da licença dos profissionais do urbanismo, tendo já sido submetido um pedido ao Conselho de Arquitectura, Engenharia e Urbanismo para esse efeito. A entrada é gratuita.
João Luz SociedadeJustiça | Prossegue julgamento contra São Januário Continua o julgamento que senta no banco dos réus o Centro Hospitalar Conde de São Januário, um médico obstetra e uma enfermeira por erro e negligência que, alegadamente, originou o nascimento de um bebé com paralisia cerebral profunda. Ontem foram ouvidas testemunhas arroladas pelos réus [dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]stive presente no bloco operatório e fiz a reanimação do bebé”, declarou ontem uma médica pediatra ouvida em sessão de julgamento em que se inquiriram testemunhas arroladas pelos réus. Em causa estiveram os primeiros momentos de vida do bebé que nasceu sem pulso e que terá ficado com uma paralisia cerebral profunda alegadamente na sequência de más práticas médicas durante o trabalho de parto. Ainda antes, no início da inquirição, a médica revelou que não conhecia o caso em questão, uma vez que é também testemunha noutros casos e o departamento jurídico dos serviços hospitalares não lhe adiantou informações por razões de confidencialidade. A pediatra continua a trabalhar no Centro Hospitalar Conde de São Januário e foi colega do médico e réu Huang Yaobin. A testemunha acompanhou o recém-nascido nos primeiros oito dias de vida, mas não atestou em tribunal acerca do seu estado de saúde. A inquirição girou em tornos dos procedimentos de reanimação e dos testes realizados posteriormente ao parto. Durante a operação de cesariana estava no bloco de parto uma vasta equipa. A saber, dois pediatras, dois obstetras, duas enfermeiras e um anestesista. A testemunha confirmou que a presença de um segundo médico pediatra se deveu à gravidade da situação, tendo sido a própria a efectuar a reanimação do recém-nascido. Práticas questionadas Um dos tópicos discutidos durante a sessão de julgamento foi a recolha de sangue do cordão umbilical para análises. Como o bebé nasceu sem pulso, segundo os clínicos ouvidos, as práticas médicas ditam que a prioridade seja dada à reanimação. Só depois de o recém-nascido ter estabilizado, já com batimento cardíaco e respiração normais, é que se procedeu à recolha de sangue do cordão umbilical para análise. A segunda testemunha inquirida foi um médico obstetra e ginecologista com 27 anos de carreira, e que trabalhou no São Januário até 2014, onde foi colega do réu, Huang Yaobin, durante oito anos. Questionado pela defesa em relação às análises ao sangue da grávida, o obstetra indicou que havia indícios de uma inflamação, mas que não se pode afirmar, definitivamente, tratar-se de uma infecção nas membranas fetais. Além disso, foi discutido o impacto da administração de oxigénio enquanto o parto estava a ser induzido à parturiente. Segundo o clínico, é procedimento normal dar oxigénio de forma a estabilizar tanto a grávida, como o feto – é, de resto, um método regular no São Januário. O obstetra esclareceu ainda o colectivo de juízes que a administração de oxigénio apenas se torna prejudicial ao feto se for em grandes quantidades, deixando ainda claro que o método não serve para acalmar a grávida, nem se destina a produzir esse efeito. A sessão de julgamento foi ainda marcada por alguma esgrima de litigâncias entre as partes, com a equipa de advogados da família autora do processo a protestar a repetição de questões já debatidas, e as interrupções da advogada de um dos réus. Por outro lado, as mandatárias dos réus protestaram perante a presidente do colectivo de juízes a postura em julgamento dos autores na concessão de quesitos durante a sessão. Prosseguem os trabalhos com mais testemunhas arroladas pela defesa, depois de, na semana passada, terem sido ouvidos os familiares da criança no cerne deste processo, numa audiência marcada por emoções fortes.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Ex-Presidente acusado de fuga de informação secreta [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ex-presidente de Taiwan Ma Ying-jeou (2008-16), próximo da China, foi ontem acusado formalmente de cumplicidade em fuga de informação confidencial num caso de escutas telefónicas em 2013. O caso das escutas desencadeou divisões dentro do Partido Kuomintang (KMT), então no Governo, entre Ma – que o dirigia – e o presidente do parlamento da altura, Wang Jing-pyng, próximo do independentista Partido Democrata Progressista (PDP). Durante o seu mandato, Ma promoveu uma aproximação à China que levou à assinatura de 23 acordos entre Taipé e Pequim, bem como a uma histórica reunião com o Presidente chinês, Xi Jinping, em Singapura, em Novembro de 2015. Ma, que há muito tinha diferenças políticas com Wang, foi informado pelo então procurador-geral Huang Shih-ming sobre um alegado uso indevido de influência, descoberto em conversas entre Wang e o porta-voz do PDP, na altura na oposição, Ker Chien-ming, sobre um caso contra este último. Huang, que foi condenado a 15 meses de prisão por divulgar informação confidencial, reconheceu no julgamento que tinha comunicado ao então Presidente detalhes sobre a investigação a Ker e Wang, a 31 de Agosto de 2013, e disse ter informado o primeiro-ministro Jiang Yi-hua quatro dias depois, por ordem de Ma. Após a fuga de informação para a imprensa sobre o possível recurso a influência indevida, Ma fez os possíveis para que o KMT expulsasse Wang, lhe retirasse o assento parlamentar e o cargo de presidente do parlamento, mas um recurso de Wang bloqueou legalmente as intenções do KMT. Divisões e fracassos O caso afectou a unidade do partido, e juntamente com o Movimento dos Girassóis de 2014 – protagonizado por estudantes e movimentos sociais preocupados com a aproximação à China – levou à derrota eleitoral do KMT nas eleições municipais de 2015 e nas presidenciais e legislativas de 2016. O deputado do PDP Ker Chien-ming apresentou uma queixa contra Ma em 2013 acusando o então Presidente de ceder informação sobre uma investigação criminal em curso. Ker afirmou que Ma divulgou informação obtida pelo então procurador-geral. No entanto, o ex-Presidente defendeu sempre que é inocente e os seus advogados negam que o procurador tenha recebido instruções presidenciais para divulgar informação confidencial sobre essas conversas.