Andreia Sofia Silva SociedadeTáxis | Residentes descontentes com mau discurso e recusa de transporte [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]A percepção dos residentes de Macau sobre o serviço de táxis”. É este o nome da tese final de licenciatura da aluna de Gestão de Turismo do Instituto de Formação Turística (IFT) Charlie Chan Choi Nei, a qual se revelou vencedora num concurso ontem realizado. Após entrevistar 160 pessoas, a aluna chegou à conclusão que a recusa de transporte, o mau diálogo entre taxistas e passageiros ou as cobranças abusivas são os factores que mais desagradam os residentes. “O discurso dos taxistas, a recusa em transportar os passageiros e o longo tempo de espera são os factores que os residentes consideram mais importantes e é nessas áreas que o sector tem tido um pior desempenho. É aqui que as pessoas estão mais insatisfeitas”, explicou Charlie Chan Choi Nei ao HM. A aluna referiu ainda que entrevistou residentes de origem chinesa e não chinesa, mas que não encontrou quaisquer diferenças de opinião em relação ao funcionamento do sector. “Depois há factores como as condições do veículo, a área geográfica ou os conhecimentos profissionais, que as pessoas também consideram ser importantes”, acrescentou a aluna. A finalista do curso de Gestão do Turismo decidiu abordar este tema na sua tese final por ver tantas queixas apresentadas online. “Têm surgido muitos relatórios e queixas sobre o serviço de táxis e muitas pessoas começaram a partilhar as suas más experiências online. Sei que há um grupo no Facebook só para a partilha dessas experiências. Queria analisar melhor a situação dos táxis em Macau”, disse, mostrando vontade de mostrar o seu trabalho ao Executivo. “Gostaria de mostrar a minha tese ao Governo porque este é um grande problema em Macau, já que afecta a indústria do turismo em Macau e o dia-a-dia dos residentes. A indústria dos táxis tem que ser mais profissional, tal como no Japão, onde são muito educados, cumprimentam o passageiro e até o ajudam”, exemplificou Charlie Chan Choi Nei. Uber é preciso Na sua apresentação, a aluna deixou ainda como sugestão uma possível cooperação entre o Governo e a Uber, isto apesar das autoridades já terem referido que o serviço de transporte através da aplicação de telemóvel é ilegal. Para Charlie Chan, a Uber poderia funcionar de forma aberta a curto prazo, até à entrada em funcionamento do metro ligeiro. “Poderiam assinar uma espécie de acordo, porque hoje em dia os transportes públicos não são suficientes. No meu questionário tinha um espaço para comentários e cerca de 20 pessoas disseram que a Uber poderia funcionar e afirmaram utilizar mais a Uber do que os táxis. Referiram ainda que os condutores da Uber são educados e praticam bons preços. O Governo deveria disponibilizar um número adicional de táxis para resolver o problema e aumentar as vantagens competitivas do sector, porque em Macau há pouco mais de mil táxis e isso é pouco, tendo em conta o número de residentes e de turistas”, rematou a finalista do IFT. A tese de Charlie Chan Choi Nei foi uma das vencedoras num painel que revelou 16 trabalhos de investigação realizados por alunos do IFT no final das suas graduações. A introdução da tese final de curso é uma das novidades do instituto, que pretende dar aos alunos a capacidade não só de trabalhar em áreas mais práticas mas também de “analisar e compreender como utilizar as actuais tendências da indústria”.
Joana Freitas Manchete SociedadeRádio-Táxis | Empresa de David Chow foi a única a ser aceite a concurso Uma nova empresa detida pelo empresário David Chow ficará a cargo de cem rádio-táxis por oito anos. A decisão oficial ainda não foi anunciada, mas a Lai Ou foi a única das três candidatas a ser aceite [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma empresa de David Chow deverá ser a próxima companhia a operar cem rádio-táxis no território. A Lai Ou Serviços de Táxi, S.A. foi a única empresa a ser aceite no concurso público para a atribuição das licenças especiais para a operação destes veículos, depois das outras duas concorrentes terem chumbado por não cumprirem regras do concurso. A Lai Ou tem como presidente David Chow, empresário detentor da Macau Legend, que tem a Doca dos Pescadores. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) realizou ontem o acto público de abertura das propostas, que vai valer a emissão de cem licenças de táxi por chamada para oito anos de operação. Dentro das três propostas apresentadas, só a proposta da Lai Ou foi admitida e David Chow já se prepara para a entrada em funcionamento, ainda que o Executivo não tenha anunciado a decisão oficial. “Vamos investir 70 milhões de patacas [em infra-estruturas] e mais 30 milhões em carros. Os veículos que vamos usar vão ser de boas marcas, já temos 30 Mercedes”, disse o empresário ao canal chinês da Rádio Macau. Taxas pensadas Só “no segundo ou terceiro trimestres” é que se deverá saber a decisão do Governo, mas a empresa já tem ideias fixas sobre as taxas que quer cobrar aos passageiros. “A empresa sugere uma taxa de chamada e uma taxa de hora marcada de 15 patacas cada, bem como uma taxa de ausência de cinco patacas”, explica um comunicado da DSAT. O contrato para os rádio-táxis vai ter determinadas exigências, como a obrigação de serem providenciados ao público cinco carros adaptados para deficientes e táxis de grande porte. Mas não só. “Além de disponibilizar a marcação de serviços de táxi por telefone, através da página electrónica e de aplicações de telemóvel, deve-se explorar outras formas de marcação de táxis conforme o desenvolvimento social, a fim de possibilitar também a utilização do serviço por parte de pessoas com carências”, explica a DSAT. Em contrapartida, o concessionário pode requerer ao Governo o pagamento de metade do preço destes veículos e pode ainda cobrar ao passageiro taxas diferentes das dos táxis normais – os pretos. Isto devido ao funcionamento ser apenas permitido por chamada, não podendo estes táxis apanhar passageiros nas ruas ou estar parados nas praças de táxi. As exigências do Governo e a falta de autorização para cobranças de taxas especiais levaram a Vang Iek – anterior empresa responsável por estes táxis – a desistir do funcionamento, alegando falta de condições para tal. O ex-director geral da empresa, Sin Ma Lio, disse mesmo à rádio chinesa que “não entende porque é que o Governo nunca permitiu a cobrança destas taxas anteriormente”, quando a Vang Iek estava em funcionamento. A empresa – que não se candidatou a este concurso e não quis explicar a razão – pediu diversas vezes ao Executivo que autorizasse esta cobrança. O concurso público para a atribuição destas licenças deveria ter terminado no mês passado, mas a DSAT adiou a data de entrega até ontem, na sequência de algumas alterações ao processo. Ainda assim, as duas outras empresas que concorreram contra a Lei Ou não tiveram hipótese no concurso, por não cumprirem regras. No caso da Companhia de Serviços de Rádio Táxi de Macau, a proposta foi rejeitada porque colocou os preços das taxas a aplicar no documento de apresentação, algo que não era permitido porque estes valores só poderiam aparecer nas propostas, que são secretas. Esta empresa reclamou da decisão, mas a comissão responsável pelo concurso, cujo presidente é o vice-director da DSAT, Chiang Ngoc Vai, não aceitou a justificação. As candidatas podem também interpor recurso dentro de dez dias úteis, mas a segunda empresa a ser rejeitada – a Companhia de Serviços de Táxis Taxi Go – não o vai fazer. Esta errou pelo facto de não ter assinado nem carimbado todas as páginas do plano de operação e gestão dos serviços, bem como o currículo do pessoal de gestão da sociedade. O responsável pela empresa, Billy Choi, afirmou que não vai recorrer da decisão. Com a conclusão do acto público, a Comissão tem agora de avaliar a proposta da Lei Ou conforme o plano de operação de gestão e de serviços, sendo que a ideia é que os táxis especiais consigam entrar em funcionamento no próximo ano. A DSAT afirmou que, pelo menos 50 rádio-taxis, devem começar a circular em 2017, incluindo cinco acessíveis a deficientes. Chang Cheong Hin, chefe da Divisão da Gestão de Transportes da DSAT, acredita que o novo modelo de operação vai fazer os cidadãos de Macau “mudar a percepção que têm dos táxis” actualmente, já que este inclui possibilidade de chamada e reserva de serviços através da internet ou de aplicações móveis. Tal e qual como a Uber. “Este é um avanço no actual serviço de táxis, acredito que a qualidade vai alterar a percepção dos cidadãos”, frisou o responsável, escusando-se a comentar se a Uber poderia afectar o funcionamento destes táxis. É preciso mais taxistas O Centro de Política de Sabedoria Colectiva sugere que o Governo impulsione mais condutores a trabalhar como taxistas. Isto porque existem cerca de 14 mil pessoas com carteiras profissionais de táxi, mas apenas mil têm realmente profissão como taxistas. Ao Jornal Ou Mun, um membro do grupo, Choi Seng Hon, disse ser viável aproveitar o concurso público para estudar como atrair mais condutores com carteiras profissionais a integrar o sector, tanto a tempo parcial como inteiro. Nem que para isso seja necessário, diz, fornecer benefícios fiscais aos taxistas.
Joana Freitas PolíticaHotel Estoril | Ng Kuok Cheong quer avaliação de valor patrimonial Ng Kuok Cheong critica o Governo por não ter avaliado patrimonialmente o hotel Estoril e diz mesmo que o recente inquérito que vai de encontro às ideias do Governo para o edifício é tendencioso [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]resultado do inquérito sobre a reconstrução do antigo Hotel Estoril e da piscina, publicado pelo Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, indica que a maioria dos residentes concordam com a transformação do edifício. No entanto, o deputado Ng Kuok Cheong espera que o Governo não adie mais o início do processo de avaliação ao valor patrimonial do espaço, sendo que a petição para tal já foi entregue – por uma associação – há vários meses. Os dados recolhidos mostram que 72,8% dos membros de associações e organizações locais respondeu que “não há necessidade” de preservar o espaço, sem opinar quanto ao destino exacto. Para Ng Kuok Cheong, o Governo tem uma “intenção clara” de reconstruir o Hotel Estoril e a piscina para mostrar um “bom desempenho” do próprio Governo. No entanto, o deputado defende que fazer um inquérito e começar uma avaliação ao eventual valor patrimonial do edifício “são duas coisas diferentes”. Depois de classificar “O inquérito não foi feito em relação ao valor artístico do edifício, mostra apenas que as opiniões para manter o espaço são poucas. Isto é a verdade que o Governo quer mostrar ao público. Não me parece justo, pois parece que o Governo tem uma grande vontade de demolir o antigo hotel e a piscina”, indicou. Ng Kuok Cheong indicou ainda que apesar das opiniões mostrarem que a população não quer manter o espaço, não é o mesmo que dizer que o espaço não deva ser classificado como património. “O inquérito não inclui o significado histórico, ambiental e o design do edifício. Alguns residentes já entregaram uma petição para se iniciar uma avaliação ao valor do património. Acho que o Governo deve acelerar o processo. Caso seja para demolir o edifício, deve ser feito depois do mesmo ser avaliado”, reforçou. A Associação de urbanistas Macau Root Planning lançou a petição em causa em Setembro do ano passado. Também a Associação Novo Macau (ANM) duvida dos critérios usados no inquérito que o Governo pediu à empresa e-research & solutions para fazer. “O Governo realizou a consulta pública e a recolha de opiniões de forma independente, mas desta vez gastou 600 mil patacas para pedir o mesmo a uma empresa. É importante referir que a empresa em causa já esteve envolvida num escândalo relativamente a um inquérito feito para a Lei da Imprensa. A empresa chegou a ser acusada de tendenciosa”, pode ler-se num comunicado enviado à imprensa, pela ANM. Números claros Em esclarecimento aos dados fornecidos no inquérito, a empresa responsável, feito via telefónica, clarificou que a expressão “não tem opinião”, que levou os meios de comunicação a indicar que 80% dos inquiridos não tinha de facto opinião relativamente ao futuro do Hotel, queria apenas dizer que os inquiridos já não tinham mais opiniões a acrescentar. “A pergunta em causa é colocada apenas depois de 14 perguntas, o que quer dizer que 81,5% da população disse que já não tem mais opinião ou algo especial a acrescentar sobre a demolição e reconstrução do antigo Hotel Estoril e da Piscina Municipal Estoril. Se os residentes tiverem opinião, no questionário havia um outro conjunto de questões para saber as suas opiniões sobre as formas de disposição do edifício”, apontou a empresa, num comunicado enviado pelo Gabinete de Alexis Tam. O mesmo comunicado indica ainda que a maioria dos residentes que escolheu a opção “não tem opinião” manifestou o seu apoio à reconstrução. “A fim de evitar que a sociedade entenda que 80% da população assumiu uma posição neutra ou contra a reconstrução, a equipa de investigação reitera que, segundo os resultados das análises cruzadas, divulgados na conferência de imprensa, de entre a população que manifestou “não ter opinião”, 70,4% expressou o seu apoio à reconstrução”, rematou.
Joana Freitas BrevesPacha abre oficialmente com Djs convidados A discoteca Pacha, no Studio City, abre as portas oficialmente no próximo dia 15. Durante dois dias, Djs convidados vão dar música aos presentes, com Sebastian Gamboa, DJ residente do Pacha Ibiza, a estrear-se em Macau na noite de sexta-feira. “Alicerçado no nome do melhor clube nocturno do mundo com as melhores performances internacionais, planeámos o Pacha Macau no Studio City para ser uma das experiências mais incríveis de entretenimento que a cidade tem para oferecer”, explicou o presidente e CEO do Pacha nova-iorquino, Eddie Dean. No sábado, está prometida a presença de Erick Morillo. O DJ espano-americano de reconhecimento mundial apresenta-se com os seus hits mais conhecidos frente à plateia do Pacha. Erick Morillo é conhecido pelo hit internacional “I Like to Move It”, de 1993, e pela discográfica Strictly Rythm. O DJ já foi premiado com uma série de galardões, incluindo de Melhor DJ da Casa três vezes em 1998, em 2001 e 2003. O de Melhor DJ Internacional foi em 2002, 2006 e 2009.
Flora Fong BrevesAutocarros | Nova app promete taxa de precisão de 96% Já está em funcionamento uma aplicação de telemóvel que mostra aos passageiros os horários de chegada dos autocarros às paragens. O projecto, criado pelas concessionárias Nova Era e Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM), foi testado durante dois meses e promete uma taxa de precisão de 96%. Segundo o jornal Ou Mun, o subdirector geral da Nova Era, Kuok Tong Cheong, e a subdirectora da TCM, Leong Mei Leng, anunciaram a nova aplicação no site “Macau Public Bus” na passada terça-feira, estando disponível em Inglês e Chinês. A aplicação permite aos passageiros consultar as carreiras dos autocarros e várias informações sobre a sua circulação. “Através do GPS pode saber-se a localização em tempo real dos autocarros, ver a que distância estão os autocarros prestes a chegar bem como o número de autocarros disponível”, apontaram os responsáveis. Espera-se que quase um milhão de utilizadores possa utilizar a aplicação, sendo que 300 mil poderão aceder à nova app ao mesmo tempo. Os responsáveis das duas operadoras de autocarros garantiram que fizeram vários ajustamentos durante o período de teste, frisando que o actual sistema é “estável”, apesar dos sinais poderem vir a ser mais fracos em zonas com maior densidade, como o bairro do Iao Hon.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeIFT | Cursos de licenciatura vão para a Taipa Fanny Vong, presidente do Instituto de Formação Turística, quer transferir todas as licenciaturas para o campus da Taipa e destinar o campus de Mong-Há para os cursos profissionais. Na calha estão mais duas licenciaturas [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arece estar desbloqueado o processo de transferência de alunos e cursos para o espaço do antigo campus da Universidade de Macau (UM) que foi destinado ao Instituto de Formação Turística (IFT). Fanny Vong, presidente do IFT, confirmou ontem que a partir de Agosto todos os alunos dos cursos de licenciatura vão passar a ter aulas na Taipa. “Vamos mudar os estudantes deste campo de Mong-Há para a Taipa, porque o campus da Taipa tem capacidade para acolher todos os estudantes”, disse a presidente à margem do Tourism Education Student Sumitt. Quanto ao campus de Mong-Há, na península, vai destinar-se apenas aos cursos profissionais, com vista a uma expansão dos mesmos. “Este campus vai tornar-se na base para os cursos profissionais e vocacionais, porque todos os anos temos uma média de dois mil alunos no ensino profissional e queremos proporcionar um melhor ambiente, porque actualmente o espaço é partilhado entre os alunos de licenciatura e dos cursos profissionais”, disse Fanny Vong. “No futuro vamos ter a oportunidade de proporcionar uma melhor qualificação melhor com padrões internacionais”, frisou ainda. Apesar disso, os alunos das licenciaturas vão continuar a poder ter aulas em Mong-Há. “Temos de realçar que investimos muito neste campus, em termos de materiais de cozinha, por exemplo, e vamos continuar a utilizar esses equipamentos. Sempre que seja necessário os estudantes vão continuar a utilizar este campus para fazer uso destes equipamentos”, disse Fanny Vong. O plano de transferência dos alunos perfaz duas fases, sendo que a primeira arranca em Agosto, altura em que termina o contrato de arrendamento de um edifício antigo que o IFT ocupa na Taipa, destinado apenas à residência de estudantes. Os alunos que actualmente estão nesse espaço poderão depois mudar para a UM. Mais dois cursos Em anteriores declarações, a presidente do IFT já tinha mostrado vontade de alargar a oferta formativa no âmbito da mudança para a Taipa, algo que irá concretizar em breve. “No próximo ano lectivo, que começa em Agosto, vamos lançar duas licenciaturas para o período nocturno. Vamos abrir uma turma na área de Gestão Hoteleira e outra em Retalho. A área do Retalho não é nova para nós, já temos um programa no horário diurno, mas pensamos que há uma necessidade de oferecer este programa a profissionais”, explicou Fanny Vong. O plano de aproveitamento do antigo campus da UM foi conhecido em Novembro de 2014, tendo sido cedido a quatro instituições do ensino superior locais. A Universidade Cidade de Macau (UCM), do deputado Chan Meng Kam, foi a única entidade privada a receber um espaço do Governo.
Filipa Araújo SociedadeTurismo | Macau distinguido com vários prémios [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]ano passado trouxe muito prémios a Macau relativamente ao sector do Turismo. Num comunicado à imprensa, a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) alerta para o que diz ser distinções que “reflectem a atracção de Macau devido aos seus ricos recursos turísticos, produtos e cultura”. De acordo com o Ranking das Cidades mais Competitivas da China, correspondente ao ano de 2015, Macau conquistou dois lugares entre as “Cidades Turísticas Mais Características da China 2015” e da lista das “Dez Melhores Cidades na Preservação do Património Cultural 2015”, ocupando o segundo e terceiro lugares, respectivamente. A DST explica que a lista das “Cidades Turísticas Mais Características da China” avalia as características dos recursos naturais urbanos e ecológicos, as características dos produtos turísticos, a história e cultura turística, a experiência dos visitantes, entre outros aspectos, sendo que na lista “Dez Melhores Cidades na Preservação do Património Cultural 2015” são avaliadas, em termos da classificação do património cultural, gestão e protecção, monitorização, uso e herança, entre outros. E ainda… Macau ganhou ainda o prémio de “Melhor Promoção de Turismo” na 18.ª Feira Internacional de Turismo de Busan na Coreia, bem como o prémio do “Novo Destino de Turismo Mais Popular” na Feira de Viagens ao Exterior da Índia 2015. Por outro lado, a DST foi ainda considerada a “Melhor Entidade Oficial de Turismo” na 26.ª Edição da Cerimónia de Entrega de Prémios da Publicação de Turismo TTG 2015 (TTG Travel Awards 2015), conforme indicou a própria através de um comunicado. De acordo com uma pesquisa sobre tendências nas redes sociais, conduzida pela agência de viagens H.I.S., Macau é o primeiro local turístico na Ásia que os japoneses mais desejam visitar em 2016. Macau foi também premiada como o “Melhor Destino de Lazer e Turismo” na Cerimónia da Top Travel 2015, organizada pela revista Top Travel da China.
Leonor Sá Machado BrevesTaiwan | ATFPM em Taipei para assistir às eleições Estará em Taipei uma delegação da RAEM composta por 40 pessoas dos sectores comerciais, sociais e da função pública locais. A visita será feita entre os dias 14 e 16 deste mês, tendo como objectivo o acompanhamentos da campanha eleitoral e das eleições em Taiwan. A delegação será chefiada pelo presidente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), José Pereira Coutinho. De acordo com comunicado enviado pela ATFPM, a visita inclui várias actividades como uma ida à Fundação Nacional de Políticas, à sede de campanha da candidata Wu Siyao e do candidato Lai Shibao, à sede nacional de campanha da candidata do DPP, Cai Yingwen, e à própria cidade. As hostes têm início às 15h00 desta quinta-feira em Taipei e findam com um almoço no domingo seguinte.
Flora Fong BrevesJá há 700 assinaturas contra o Edifício de Doenças Infecciosas O Governo está a planear a criação do Edifício de Doenças Infecciosas ao lado do Hospital Conde São Januário, mas vários moradores do edifício Ka On Court estão contra a sua construção. A principal razão é, alegaram, receios de contaminação. Ao canal chinês da Rádio Macau, o morador de apelido Wong explicou que ali perto moram várias famílias e existe mesmo um jardim de infância, razão pela qual está preocupado com a segurança da comunidade. Neste momento está a decorrer uma campanha de recolha de assinaturas de moradores e pais de alunos do jardim de infância contra a criação. O documento conta já com 700 assinaturas. Cheong criticou o facto do Governo não ter sequer consultado os moradores sobre a construção do edifício naquela zona. Assim, espera que o Edifício de Doenças Infecciosas seja construído num sítio distante de habitações.
Leocardo VozesSugestão do Chefe: Renascimento [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão podia concordar mais com quem defende que o Governo devia pagar era “quebas” aos tipos e tipas que investiram nos activos de risco daquela empresa de “bons rapazes” casineiros e no fim ficaram “a arder”, alguns com as economias de uma vida inteira (Isto não é certo, mas fica assim por motivos de…dramatização? Isso.) Nada contra as pessoas, que desconheço na sua totalidade, mas que no fundo devem ser pessoas como nós, com os seus problemas, sonhos, com as suas ambições, e é neste último que pecam especialmente: demasiada ambição, e ainda mais cara-de-pau. Dos “petit-je-ne-sais-quois” que nos separam culturalmente, a avareza (passo a falta de p.c.) é aquela que os chineses praticam com mais “profissionalismo”: levam aquilo tão a sério que no fim não conseguem usufruir do património que passaram a vida a acumular – e no fundo não é essa mesmo a percepção que temos de “riqueza material”? De facto o mundo é mesmo imperfeito, pois caso contrário a “riqueza de espírito” pagava pelos menos as continhas (e quem sabe deixava também uns trocados para jolas e tremoços, pelo menos?). Recordo-me de um episódio interessante que teve lugar num local público, aqui há uns anos, durante o auge da febre da especulação imobiliária. Estariam no local cerca de dez pessoas, e duas delas – ambas senhoras – conversavam a viva voz, aparentemente sobre qual seria o melhor fermento para fazer crescer ainda mais o bolo do capital que iam auferindo, e a certo ponto uma delas levanta a voz contra a outra, com um ar ultrajado, e de repente nem mais uma palavra se escutaria das duas, que pelo que deu a entender, “amuaram”. Que giro. Logo que foram embora, minutos depois, perguntei à única pessoa que não me era estranha naquele local, e que por sorte também era bilingue, qual a razão de súbita e insólita animosidade, que deixou mesmo toda a gente com cara de “isto só visto” nos momentos que se seguiram ao impacto. A prestável e cândida criatura contou-me então que as duas madames conversavam de facto sobre investimentos no sector do imobiliário, e uma delas não gostou que a outra lhe tivesse perguntado como havia obtido um empréstimo a juros apetecivelmente baixos – é lógico que se essa sabia, foi porque a “parte indignada” se vangloriou de ter obtido essa vantagem. Fiquei esclarecido, mesmo que desiludido pelo motivo tão fútil e mesquinho pelo qual se haviam desentendido aquelas duas alegres convivas. O dinheiro, o património, os negócios e mais o “raikusparta” nunca devia ser argumento de coisa nenhuma. Que chato. Que previsível. Que boçal. Pena de morte para estes gajos todos, já! (Desculpem, mas estou ainda meio traumatizado de tantos apelos à violência gratuita que andei a ler nas redes sociais). E lá está, este é o piolho oriental que nos deixa a coçar as nossas ocidentais moleirinhas; os tipos querem fazer rios de nota, mesmo que em muitos casos através de meios “marginais” (no sentido “strictum sensum” da legalidade, entenda-se), e ai de quem ousar questioná-los seja do que for. Se ganharam, “ninguém tem nada a ver com isso”, e desconfiam mesmo de alguém que lhes dá os parabéns. Se perdem, “aqui d’el-rei” ao Governo para ver se faz JUSTIÇA (ah!), e “ai de mim, que sou tão parvinha e não sabia”. Em Portugal tivemos um caso semelhante com os activos tóxicos do BES, mas aparentemente esses foram mesmo ludibriados. Mesmo assim não consigo ter pena deles – e porque havia de ter? Se os activos lhes dessem uma pipa de massa, pagavam um copinho ao pessoal? Era o pagavas! E ainda levávamos com um “o que é que tu tens a ver com o que eu ganho”, que saímos de lá com um olho moral roxo. Patetas. Bem feito! Em suma, pode-se dizer que temos aqui um grupo de gente que é o próprio reflexo da economia lúdico-dependente que popula: a casa ganha sempre, e quando não ganha, há sarilho. Veja-se o exemplo que foi a criação de um departamento governamental, coisa séria, com poderes XPTO, e tal, apenas para que ficasse assegurada a protecção dos “dados pessoais” de cada indivíduo. What’s the point? Ninguém quer saber o número do BIR do vizinho, ou mesmo o nome ou idade, e não dou conta de um número alarmante de raptos que justifique um secretismo tal que se chega ao ponto de se ficar sem saber muito bem o que se pode saber ou dizer de cada indivíduo. É uma mania, creio. Faz parte. É integrante da edição e não deve ser vendida separadamente. A expressão “quem não deve, não teme” não é para aqui chamada, portanto. Não se adapta. Sabem o que mais? Tenho uma teoria muito minha para explicar estas pequenas diferenças que todas juntas compõem certos abismos: o Renascimento. Sim, nós tivemos e eles não, mas já agora: e o que é que eles têm a ver com isso? Ah?!
Hoje Macau China / ÁsiaDetido cidadão sueco co-fundador de ONG Peter Dahlin foi detido no aeroporto de Pequim quando se preparava para apanhar um voo para a Tailândia. Encontrava-se desaparecido há vários dias e é acusado de pôr em perigo a segurança do Estado [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo chinês confirmou ontem a detenção do sueco Peter Dahlin, o co-fundador da organização não-governamental (ONG) China Action dado como incontactável há dias, e assegurou que permitirá que este contacte com diplomatas do seu país. “Peter foi detido pelas autoridades de Pequim por suspeita de pôr em perigo a segurança do Estado. Está a ser investigado”, disse ontem em conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Hong Lei. Hong assegurou que a China protegerá os direitos e interesses de Dahlin “de acordo com a lei” e “facilitará aos funcionários do consulado (sueco) o cumprimento do seu dever”. Dahlin, de 35 anos, que apoia os defensores dos direitos humanos, nomeadamente nos seus problemas com a justiça – foi abordado no início do mês, quando se preparava para embarcar num voo no aeroporto de Pequim, quando viajava para a Tailândia, via Hong Kong, disse o seu colega Michael Caster à Agência France-Presse, identificando-o como Peter Dahlin. Anteriormente, um porta-voz da associação norte-americana Chinese Human Rights Defenders havia-o identificado como Peter Beckenridge. As autoridades confirmaram posteriormente a diplomatas suecos a detenção de Dehlin, acusado de pôr em perigo a segurança do Estado, uma acusação muito grave na China e que a ONG considera “infundada”. Aquela organização denunciou, em comunicado, que nos últimos dez dias ninguém conseguiu contactar com o sueco, nem sequer diplomatas do seu país, o que supõe uma violação da lei chinesa e das convenções internacionais. A Chinese Urgent Action Working Group apresentou recentemente à ONU um documento detalhado sobre as “manobras de intimidação, a vigilância, as agressões físicas, os desaparecimentos e as detenções arbitrárias” que afectam os activistas e os dissidentes chineses. O texto incluía um contacto do homem agora detido, mas ninguém atende nesse número desde terça-feira. Cerco apertado Na presidência de Xi Jinping, a China tem endurecido a repressão contra as vozes críticas ao regime comunista, mandando prender tanto activistas como autores de blogues, advogados e intelectuais. Foi também tornado público um projecto de lei que, entre outras medidas, estipula que as ONG estrangeiras devem estabelecer uma parceria com pelo menos um órgão governamental e submeter os seus planos de acção à polícia, para aprovação. Segundo meios de comunicação estatais, os voluntários das organizações não-governamentais estrangeiras a operar na China pretendem sabotar a segurança nacional ou tentam “criar problemas” para desencadearem uma “revolução colorida” contra o Partido Comunista. Muitas organizações e governos ocidentais estão preocupados com a possibilidade de esta legislação restringir significativamente as suas actividades, pois as referências vagas à “segurança do país” podem abrir caminho a uma repressão deixada ao critério da polícia. Desde Julho passado, cerca de 300 advogados foram interrogados, detidos ou colocados sob vigilância residencial, entre os quais 38 continuam detidos pela polícia.
Fernando Eloy VozesBowie! “Eu estava virtualmente a experimentar tudo… E acho que fiz praticamente tudo o que é possível fazer – excepto coisas realmente perigosas, como ser um explorador. Mas tudo o que a cultura ocidental tinha para oferecer – Eu quis passar por tudo.” Telegraph, 1996 “Fazer o melhor de cada momento. Nós não estamos a evoluir. Nós não vamos a lado nenhum.” Esquire, 2004. “Não sei para onde irei a partir daqui mas prometo que não será aborrecido.” Madison Square Garden, no seu 50º aniversário. [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]avid Bowie foi um dos meus primeiros heróis. Hoje, porque me é mais difícil sentir a atracção pelas estrelas que sentimos quando somos jovens, para perceber o que um adolescente sente ao admirar o seu ídolo do momento tenho de me reportar ao que eu sentia por David Bowie onde tudo o que fazia era um acontecimento para nós. E continuou a fazer. Anos após anos, após anos Bowie continuou a surpreender trazendo-nos sempre trabalho de primeira qualidade, sempre provocativo, sempre grande. Ensinou-nos a libertar, a experimentar, a ser, a usufruir e conceitos tão rebeldes como a própria definição de sexualidade que é muito mais fluidez do que propriamente rótulos estritos de género ou preferência. A morte dele custou. Primeiro por assim se encerrar uma fonte ímpar de inspiração, de criatividade, de atitude, mas também por morrer um pouco de nós, daqueles que gostávamos da sua obra. Esse é o problema das mortes das pessoas que gostamos, ou nos identificamos: porque, no fundo, choramo-nos é a nós. Choramos a mágoa por não termos mais a pessoa, choramos a falta que ela nos faz, choramos por nós, por não mais a termos. Resta-nos a recordação que sabe sempre a pouco. Com a morte de pessoas que nos habituámos a “conviver” praticamente desde sempre, há uma sensação de eternidade que se esvai, um aproximar desconfortável à nossa própria mortalidade. Quando as estrelas rock da nossa infância se vão, há ainda algo de lúgubre que nos ataca, o sinal que também o nosso ciclo se aproxima do fim; e quando se tratam de foras de série como Bowie é impossível não nos ocorrer se, de facto, fizemos ou não alguma coisa de substancial com a nossa vida; um quinto que seja do que ele fez. A morte de David fez-nos também perceber quão importante a música e as artes são para as nossas vidas. Nunca tinha visto o facebook assim. Não me parece que esteja a exagerar que no dia da sua morte cerca de 90% dos meus 800 e tal contactos publicavam algo sobre David Bowie. Muita música claro, mas também inúmeras reflexões das quais me permito citar algumas: Duarte, psicólogo, dizia que “David Bowie, antes de morrer, já estava liberto da lei da morte. Movido por uma criatividade e curiosidade incessantes foi inventando, de obra-prima em obra-prima, o futuro da música e da cultura pop. Distinguia-se por ser alguém grande, de contribuir para uma forma de vida melhor – para usar o conceito de Wittgenstein: desprendia-se das fórmulas, dos sucessos, ou do espaço conquistado/inventado em trabalhos anteriores, para lançar-se vertiginosamente num novo projecto. Continuamente, encorajava ou colaborava com novos músicos e projectos musicais emergentes, que só depois se tornariam conhecidos – por exemplo os Kraftwerk – nunca temendo ficar na sua sombra. A música, a cultura, a forma de vida são bem mais importantes!” Andreia, produtora de espectáculos, dizia que “compreendo melhor Black Star agora, um disco quase perfeito mas tão enigmático. Foi composto já durante a doença, sabendo provavelmente que não iria recompor-se. Ao choque que senti com a notícia sucedeu-se a serenidade de perceber que Bowie soube lidar com a morte. Ouçamos Black Star. E tudo o resto. Celebremo-lo.” Stu, produtor de cinema e de banda desenhada, desabafava desta forma “É impressionante como um artista pode ter tanta influência noutra alma”. José, artista plástico, confessava a sua mágoa assim: “Nunca a morte de uma celebridade me afectou desta forma. Quando soube da sua morte senti este vazio estranho dentro de mim como se me tivesse sido arrancado um bocado sem permissão.” De facto. Marilyn Manson contava-nos o seguinte: “A primeira vez que me apercebi de David Bowie, foi a assistir a “Ashes to Ashes” na MTV. Fiquei confuso e cativado. Mas foi só na minha primeira real estadia em Los Angeles, por volta de 1997, que alguém me disse para perder um momento a ouvir algo para além de Ziggy Stardust, Aladdin Sane e Hunky Dory. Então fui dar uma volta alucinante de carro pelas colinas de Hollywood e ouvi “Diamond Dogs.” Toda a minha nostalgia de repente se transformou em admiração. Estava a ouvi-lo cantar sobre ficção como uma máscara para mostrar a sua alma nua. Isto mudou a minha vida para sempre.” Pois é. Era esse o poder de David Bowie. Mudava a vida das pessoas que se detivessem a escutá-lo. Uma influência global, da moda à representação, à forma de estar, ao seu activismo como, por exemplo, quando criticou a MTV por não passar música negra, ou quando rejeitou o grau de cavaleiro oferecido pela rainha de Inglaterra por não saber para que servia, ou a sua permanente capacidade de estar sempre um passo à frente no tempo como quando, em 1996, foi o primeiro artista de primeiro plano a disponibilizar um single para download, ‘Telling Lies’, um processo que, na altura, com as velocidades disponíveis, demorava cerca de 11 minutos. Mas não posso terminar sem o tweet integral de Val Kilmer que nos dá uma outra perspectiva, menos de Bowie e mais de Jones, o homem por quem Íman se apaixonou como ela recentemente disse: “A última vez que vi David Bowie foi em Brooklyn, junto com algumas pessoas muito muito sortudas que foram assistir a Lou Reed tocar a sua glória negra, BERLIN, ao vivo. Ele estava sentado mesmo à minha frente com a mulher de Lou, Laurie Anderson, que tinha visitado o meu rancho no Novo México com o Lou. Quando nos cumprimentámos, ele virou-se e eu reconheci-o instantaneamente. E eu, em vez de dizer ‘olá’ apenas comecei a dar-lhe uns tapinhas nos ombros. Não consigo descrevê-lo de forma mais precisa. Ele era tão especial que foi a única forma que consegui exprimir a minha alegria. Não acariciei muitos homens dessa forma em toda a minha vida. Estou tão feliz por o ter podido fazer. E, mais importante do que isso: ele deixou-me fazê-lo. Apenas sorriu quando lhe pedi desculpa pelos afagos. Pareceu-me que não apenas entendeu como aceitou a minha estranha oferta de gratidão e reconhecimento. E de repente o encanto desfez-se quando ele se focou intensamente no palco percebendo que para além de qualquer um de nós estava aquele concerto histórico que se iniciava. BERLIN era um disco importante para ele, como o disse várias vezes, e ele valorizava muito a sua amizade com Lou, apesar deste ser um tipo muito difícil, desafiante mesmo. Mas todos nós gostávamos de ser tão “cool” como o David. Mesmo o Lou. David era sempre o tipo mais cool na sala. E era um mestre cantor e compositor. Deus abençoe David Bowie.’” A morte de Bowie leva também consigo um dos expoentes máximos de uma geração de artistas para quem a fama era apenas boa, como ele disse, para arranjar um lugar num restaurante, tão ao avesso do comportamento tantas estrelas de brilho duvidoso dos dias de hoje que tudo fazem para aparecerem continuamente nem que seja para mostrar o novo par de sapatos. Da minha parte só espero conseguir pelo menos cumprir um percurso semelhante ao que ele preconizou quando celebrou 50 anos, idade que em breve farei, pois não há nada pior que o aborrecimento. Nada. MÚSICA DA SEMANA David Bowie – “Black Star” I can’t answer why (I’m a blackstar) Just go with me (I’m not a filmstar) I’m-a take you home (I’m a blackstar) Take your passport and shoes (I’m not a popstar) And your sedatives, boo (I’m a blackstar) You’re a flash in the pan (I’m not a marvel star) I’m the great I am (I’m a blackstar)
Hoje Macau Manchete SociedadeMais de 30 junkets sem licença renovada devido a novas regras Já só cabem no mercado VIP dos casinos as promotoras que se souberem comportar à altura das exigências estabelecidas para o sector no passado mês de Outubro. O rigor na gestão das promotoras obrigou à não renovação da licença de dezenas de junkets [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oram 35 as empresas de junkets que viram a sua licença revogada depois de, em Outubro passado, não terem entregue todos os documentos necessários constantes de novas instruções em vigor. A confirmação foi feita pelo novo director da Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), Paulo Chan, à Rádio Macau. “No ano passado, em Outubro, após o caso Dore, emitimos uma nova instrução no sentido de obrigar os promotores de jogo à entrega do seu modelo contabilístico, a identificação do responsável pela contabilidade, o local de depósitos, entre outros elementos”, explicou. “Até ao prazo definido alguns não chegaram a entregar os elementos e, como tal, não renovámos a sua licença de promotores de jogo. Houve 35 promotores em que não houve renovação da licença”, acrescentou Paulo Chan. O director esteve ontem no programa Fórum Macau e sublinhou que a criação de uma nova legislação para os junkets vai ser prioridade na sua tutela. “Sim, maior exigência em relação à idoneidade das pessoas ou das companhias, à sua situação financeira, etc. É nessa orientação que nos vamos encaminhar”, acrescentou o responsável. No decorrer do programa, um ouvinte pediu que fosse criada uma base de dados de empréstimos feitos na área do Jogo e Paulo Chan afirmou que a ideia é “viável” se houver concordância do sector e da população. Também é importante que a implementação de uma norma desta natureza cumpra os requisitos estabelecidos pela Lei de Protecção de Dados Pessoais. Há já empresas que têm bases de dados não oficiais, segundo respondeu o director da DICJ. Paulo Chan revelou que o relatório da revisão das licenças de Jogo inclui mais um item além dos originais oito orientações: vai agora ter-se em atenção do desenvolvimento das promotoras de Jogo e sua situação. Quanto ao caso Dore, Paulo Chan revelou que já foi renovada a licença desta empresa por mais três meses. “Não quero que surjam mais problemas na sociedade. A Dore tem vontade de melhorar a sua forma de operar, incluindo os equipamentos e as suas contas”, indicou. O responsável afirmou que a DICJ tem negociado com os advogados da empresa e responsáveis da Wynn Macau. Além disso, espera que o assunto esteja resolvido muito em breve, reiterando que a natureza criminal da questão continua a ser alvo de investigação pela PJ. Um grito de alerta A presidente do Instituto de Formação Turística (IFT), Fanny Vong, defendeu que, apesar de 2016 ser um ano de abertura de vários empreendimentos de Jogo, este será um ano complicado. “Vai ser um ano difícil para os hotéis, porque segundo o sector hoteleiro as taxas de ocupação vão baixar. Mas quando a economia abranda também podemos encontrar oportunidades”, defendeu Fanny Vong, que falou da necessidade de criar “novos produtos de turismo e de lazer”. “Os hotéis vão começar a pensar mais no lançamento de produtos que não estão relacionados com o jogo, produtos mais apelativos, o que pode mudar a imagem de Macau como um verdadeiro destino de turismo e não apenas de Jogo. É tempo para consolidar os objectivos do passado e ver o que pensámos há dez anos e não chegamos a concretizar. Há dez anos falava-se na diversificação, mas não chegou a ser o factor principal. Agora é altura de se tornar o factor principal e ver como Macau pode tornar-se um lugar atractivo para residentes e turistas”, acrescentou a presidente do IFT. John Ap, novo docente do IFT com 23 anos de experiência na área do Turismo, fala da crise nos casinos como uma “chamada de atenção”. “Nos últimos anos vimos uma queda significativa das receitas de Jogo nos último 18 meses. A indústria passa por vários ciclos e penso que isso é bom porque funciona como uma chamada de atenção. É importante para a indústria e também para o Governo de olhar para a necessidade de diversificação da economia. Quando existe uma fase difícil é uma boa altura para olhar para a diversificação”, apontou. “Os tempos vão ser difíceis, mas é algo cíclico, vai melhor, mas entretanto os gestores vão ter de pensar de forma criativa para gerar receitas por outras formas. Falo de eventos e de conferências. Grandes conferências têm ocorrido em Macau, mas segundo a minha observação não há muitas pessoas de fora de Macau a participar nestes eventos”, referiu. John Ap falou ainda da necessidade de criar mais serviços turísticos de qualidade para fomentar a diversificação. “Há sempre uma margem de melhoria na forma como se formam os profissionais e como se elevam os padrões. Se os visitantes se sentirem bem-vindos querem voltar, mas se os serviços não são muito bons, as pessoas vão reparar nisso. E é isso que precisa de acontecer na Ásia. Não podemos estar em restaurantes de luxo e em hotéis de cinco estrelas e depois sermos mal recebidos pelos taxistas ou pelos empregados das lojas”, rematou. “Espero que as empresas subam os salários” Choi Kam Fu, director da Associação de Empregados de Jogo de Macau, pediu às seis empresas de Jogo que aumentassem os salários dos seus funcionários. Choi Kam Fu considera que apesar da economia de Macau estar numa profunda fase de ajustamento, há capacidade para aumentar os ordenados, já que o imposto sobre o Jogo ficou dentro das previsões do Governo. O responsável defende que é preciso engordar os salários se se quiser que as pessoas continuem a trabalhar no sector. Choi também está a favor do aumento dos salários para os trabalhadores das pequenas e médias empresas (PME) locais. O sector que mais recursos humanos requer também precisa de boas novas, defendeu. Choi Kam Fu afirmou ao Jornal Ou Mun que “o lucro bruto do sector foi de 230 mil milhões em 2015”, acrescentando que “o aumento não vai causar muito impacto” nas empresas. “A nossa Associação já mandou uma carta a pedir o aumento de salários às seis concessionárias de Jogo em conjunto com a Associação dos Croupiers de Jogo de Macau e a Associação dos Chefes de Banca de Jogo de Macau”, explicou ao Ou Mun. O director acredita que estes aumentos são positivos, já que vêm em jeito de felicitação pelo trabalho até agora desenvolvido pelos funcionários, de certa forma garantindo a continuidade do bom desempenho. Lao Ka Weng, um representante da Associação Power of the Macao Gaming disse concordar com Choi. “Um aumento de 5% em 2015 para os empregados do sector só providencia umas centenas de patacas e pode nem sequer vir compensar o aumento da inflação”, começou por afirmar. “Espero que as empresas de Jogo subam os salários à mão-de-obra, uma vez que cumprem um papel principal na sociedade”, acrescentou. A Wynn e a SJM já anunciaram bónus para os trabalhadores, mas não falaram sobre subida nos vencimentos.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasAquilino Ribeiro Ribeiro, Aquilino, Andam Faunos Pelos Bosques, Círculo de Leitores, Lisboa, 1983 Descritores: Literatura portuguesa, Romance, Ruralismo, Arcaísmo, 272 p.:21 cm Cota: C-8-5-168 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]quilino Ribeiro nasceu na freguesia do Carregal no Concelho de Sernancelhe a 13 de Setembro de 1885 e faleceu em Lisboa a 27 de Maio de 1963. Da sua biografia consta como nota de destaque o facto de ter sido implicado no Regicídio de 1908. Consta também que frequentou o Seminário de Beja, o qual abandonou por falta de vocação e que entrou em 1907 para a Loja maçónica da Montanha do Grande Oriente Lusitano. Nesse mesmo ano foi preso por acusação de anarquismo, mas evadiu-se no ano seguinte, mantendo-se contudo na clandestinidade em Lisboa. Mais tarde, em 1910, foi para Paris e matriculou-se na Sorbonne, mas não viria a terminar o curso, regressando a Portugal em 1914 começando a leccionar no Liceu Camões. Entrou para a Biblioteca Nacional em 1917 e conviveu de perto com Jaime Cortesão e Raul Proença. Colaborou ainda com a Seara Nova, fazendo parte da direcção da Revista. Viria a ser julgado e condenado, mas à revelia, em Tribunal Militar em 1929, por práticas hostis ao regime, depois de ter sido preso e se ter evadido em 1927, por ter participado na revolta do 7 de Fevereiro e tendo reincidido na revolta de Pinhel em 1928. Mestria e Vitalismo Comecei cedo a ouvir falar de Aquilino do qual se dizia que era o grande mestre da língua portuguesa sendo assim considerado um escritor incontornável no panorama da História da Literatura Portuguesa da primeira metade do século XX. O primeiro texto que li de Aquilino foi nas edições Sá da Costa, uma introdução-prefácio ao Francisco Xavier de Oliveira, o Cavaleiro de Oliveira, e desde aí decidi que o leria, senão por inteiro, pelo menos o essencial da sua obra. O texto sobre o exilado Cavaleiro de Oliveira é caudaloso, tão expressivo e bem escrito que estimulou imenso a minha curiosidade pela restante obra. Trata-se de facto de um texto notável que vivamente recomendo como forma de entrar na escrita intensa e vital de Aquilino, como lhe chama José Carlos Seabra Pereira. Falando da obra de Aquilino, a verdade é que, apenas o essencial é extenso, pois em tudo o que escreveu o autor se situou num plano de grande mestria e qualidade. Ainda assim destaco o romance de estreia, A Via Sinuosa desde logo por isso, porque é bom caçar um escritor quando ele está mesmo a sair do ninho. Os romances de estreia são imperdíveis para mim, mas nesse plano Aquilino é um autor esquivo, pois a sua estreia é uma obra atípica; estou a referir-me ao folhetim A Filha do Jardineiro escrito em parceria com José Ferreira da Silva, obra de propaganda republicana. O Jardim das Tormentas, publicado alguns anos mais tarde, já pode ser considerado de estreia, mas é uma colectânea de contos. A verdade é que temos que ter em conta esses textos, pois esses é que são de juventude, escritos e publicados com a idade de 22 e 28 anos respectivamente e afinal o escritor tem já 33 anos quando publica o primeiro romance. De facto, quando se fala da obra de Aquilino Ribeiro há cinco títulos que ocorrem imediatamente e em catadupa como se constituíssem uma Pentalogia e são eles os romances, Terras do Demo (1919), O Malhadinhas (1922), incluído na colecção de contos A Estrada de Santiago, Andam Faunos Pelos Bosques (1926), A Casa Grande de Romarigães (1957) e Quando os Lobos Uivam (1958). Mas como se pode constatar, nem sequer são textos próximos no tempo. As Terras do Demo é uma obra de juventude, o autor tem 34 anos, enquanto A Casa Grande de Romarigães e Quando os Lobos Uivam são obras de maturidade tardia, escritas quando o autor já passou dos 70 anos. Devo começar por confessar que apesar de ser já intenção minha ler e escrever sobre Aquilino Ribeiro, no âmbito modesto destas minhas Fichas de Leitura, a ideia se reforçou imenso depois de ler o notável estudo da obra do escritor, recentemente publicado na Verbo por José Carlos Seabra Pereira e designada, Aquilino – A escrita vital. Nessa obra Seabra Pereira na linha também de Urbano Tavares Rodrigues evidencia como linha isotópica transversal a toda a obra aquiliniana a questão da luta de eros contra cronos; mas o que alimenta esta tensão é em Aquilino da ordem de um imanentismo vitalista hostil às formas, secularizadas ou não, de uma qualquer forma de providencialismo, em particular o providencialismo de matriz historicista. A mundividência aquiliniana é sempre desenganada e realista ao mesmo tempo. Seabra Pereira fala de um sensualismo redentivo, mas sensualismo neste caso afasta-se da vulgata hedonista para se colar a um vitalismo global que sendo do corpo também é do espírito. E é do corpo e do espírito simultaneamente porque em Aquilino a fórmula dicotómica tradicional nos aparece esvaziada. O homem aquiliano é uma totalidade orgânica determinada pela vontade sendo que esta vontade se insere num transe existencial dominado por um imperativo categórico que não sendo imoral é pelo menos não moral. E é justamente nesse plano que é absolutamente justo chamar-lhe vitalista. Ora o vitalismo é sempre muito mais individualista que gregário ou social e daí que as personagens de Aquilino pisem muitas vezes o risco mas curiosamente sem perderem quer o halo de autenticidade quer o halo de justiça admissível. Mesmo quando não são completamente justos os heróis de Aquilino impedem-nos de julgá-los por que eles se encontram em certa medida para além do bem e do mal. Mas só em parte. A maior parte das antropologias filosóficas centradas na dimensão ética e moral do homem, sobretudo, moral, aparecem estigmatizadas por um optimismo muitas vezes bondoso mas ingénuo. A dimensão da oikeiosis estóica, do conatus essendi espinosista ou da evangélica fórmula da perseveração do ser até ao fim, contudo tão naturais e espontâneas, é muitas vezes obliterada em ordem à prossecução de filosofias que sacrificam o indivíduo no altar social e comunitário. Seguramente que deve haver limites para a voracidade egoísta do amor de si, mas isso não obsta à autenticidade dinâmica daquilo que citando Ortega y Gasset, Seabra Pereira identifica como “desejo de ser” e aplicado a Aquilino aparece reforçado por uma instância libidinal activa. É aqui talvez que reside a propensão vitalista de Aquilino, ela é indissociável de eros e luta agónica contra a clausura do ser nas malhas de cronos. E talvez por isso a sua posição é ao mesmo tempo não escatológica mas também não historicista. Esta perspectiva é-me muito desafiante na medida em que eu sou mais sensível à tonalidade da bondade do ser e portanto ao argumento ontológico do ser para o bem, mesmo que isso possa sacrificar a pletora da expansão individual. É isso que encontro em Sócrates e é isso que encontro em Cristo. Esta assunção desenha em mim uma espontânea suspeita face às propostas que propõem formas expansivas do vitalismo do ser, como encontramos em Cálicles, no Górgias, em Trasímaco, na República, em Diderot no Supplément au Voyage de Bounganville e por maioria de razão em Sade e em Nietzsche, mas também, ainda que de modo mais timorato em “l’esprit parfaitement content et satisfait” de Descartes, na “Vera acquiescentia” de Espinosa ou até na Befriedigung hegeliana. Mas o curioso é que o vitalismo de Aquilino não chega nunca a possuir a marca ostensiva de uma expansão do poder ou para utilizar a expressão de Lévinas a promoção d’“Essa força que vai”. Contudo não podemos sonegar que o vitalismo mitigado, ou não, corresponde como nos diz Raymond Polin à procura de uma plenitude do ego e a um claro “accomplissement de tous les désirs”. Nesta perspectiva vamos no sentido do homem estético kierkgardiano e não da direcção de uma homanidade ética. A minha natural propensão vai para esta segunda perspectiva que é socrática e cristã. No âmbito da primeira estaremos sempre mais na linha de uma possibilidade de derrapagem dionisíaca em direcção ao universo irracional e herético da ubris e eu por mim prefiro adequar-me aos cânones do espírito apolíneo consagrados no célebre apotegma da deusa Nemesis: “Nada em excesso”, ou “Nada para além da medida” inscrito lapidarmente no Oráculo de Delfos. Se citei Hegel foi porém forçando uma dimensão que nele não é de modo nenhum dominante já que reconhecendo o carácter incontornável do querer ser ele não deixa de na filosofia da história salientar que todo o querer-ser é liminarmente ético (existentivo e ôntico) e metafísico (existencial e ontológico). Naquele tipo de posições é sempre a natureza que serve de modelo e que representa o valor por excelência e a referência obrigatória. No caso de Diderot é tão forte esta tendência que no Supplément, apesar de ele admitir a necessidade de uma moral de tipo universalista ao mesmo tempo pretende inferir o universalismo não na perspectiva de uma transcendência moral relativamente à natureza do homem mas justamente a partir da natureza do homem e, para cúmulo, fazendo da natureza do homem não a sua capacidade para ultrapassar as pulsões naturais primárias, porque só aí se pode encontrar a moral, mas antes justamente na natureza «tout court», fazendo jus a um naturalismo integral, já que só o artificialismo o poderia combater. Neste sentido o vitalismo de Diderot anuncia Nietzsche e pelo menos implicitamente Diderot é tão anti-Sócrates quanto anti-Cristo, tal como Nietzsche. E já que estou com a mão na massa, será talvez o momento asado para proceder a um esclarecimento estrutural sob a forma de uma quase declaração de princípios. É importante porque ela permite que se possam compreender melhor alguma das minhas opiniões aqui em sede de Fichas de Leitura, passadas e futuras. Ora a ideia esta: Independentemente de ser correcta ou não a ideia de que é com Sócrates que, através da sua radical reflexão ético-moral, o universo da norma se começa a sobrepor progressivamente ao universo da natureza, interessa ter em conta que este tipo de tensão dicotómica atravessa historicamente toda a história grega desde o princípio. Não vou (nem posso) alongar-me aqui sobre todos os momentos em que este conflito se manifestou de modo radical, mas não posso esquecer dois instrumentos culturais determinantes. O primeiro é a obra de Hesíodo, Os trabalhos e os dias, já que pela primeira vez se faz uma clara condenação da brutal desmesura e a apologia consequente da justiça e da medida e de resto como se justiça e medida fossem permutáveis. E o segundo é a cultura órfico-pitagórica, uma vez que é no quadro reflexivo desta cultura, que a cultura grega inaugura uma preocupação relativamente ao problema do bem e do mal. Aí se fala de um mal constitutivo da natureza do homem, espécie de mácula original e aí começa portanto a physis a sofrer os primeiros golpes e o caminho que conduz à norma a abrir uma clareira por onde haverá de irromper um dia. Deixo de lado agora as incidências escatológicas desta cultura, mas de qualquer modo deixo claro que a espiritualização da alma, a ideia de juízo e a procura da beatitude deixaram marcas profundas na tradição cultural do ocidente. Mas sobretudo o que é mais incontornável é o facto de que paralelamente à possibilidade de uma normatividade laica se enraiza a ideia de uma justiça transcendente assim como a ideia não menos pregnante de uma Théia moira (graça divina). Portanto começa a fazer o seu caminho a ideia de uma inseparabilidade, de um enlace decisivo portanto, entre moral e salvação. E é então quando, não as leis ou a tradição, isto é não Thémis, a diké ou o nomos mas sim os deuses, se tendem a tornar nos arquétipos personificados dos comportamentos éticos e morais que a dicotomia apolíneo / dionisíaco se torna analiticamente insubstituível. O facto de Dionísio aparecer no âmbito do orfismo intimamente associado a Deméter, deusa-terra-mãe, conferiu-lhe desde o início o estatuto de um deus que faz apelo das forças instintivas, subterrâneas, senão mesmo irracionais, por clara contraposição com Apolo, deus da claridade, da luz, da inteligibilidade e da razão. De facto, o apelo da terra-mãe é o apelo do indiferenciado, de uma pertença onde o eu extaticamente se dissolve (daí que também a oposição orgânico / individual seja tão determinante e decisiva na cultura ocidental contemporânea). Não vale a pena explorar a ideia, para mim errada, de que a desmesura do êxtase, o paroxismo, a catarse é aqui o caminho da sabedoria e da salvação. Interessa-me mais reter esta ideia de que todas as propostas vitalistas se confundem com o universo da ὕbriς. E o que eu sinceramente penso é que até aos nossos dias continua a fazer sentido esta profunda duplicidade da cultura europeia e ocidental. Portanto, às forças obscuras de Dionisos e Deméter pode-se continuar a opor a sagacidade exegeta das forças da racionalidade, da inteligibilidade e o mundo artificial de Thémis, ou seja o mundo da norma e da diké. E que é neste universo ideológico e mental que se joga de uma forma decisiva a secularização e a autonomia e a possibilidade de uma ética e de uma moral humanistas. Regresso a Seabra Pereira para começar por reconhecer que apesar da posição vitalista de Aquilino Ribeiro, em boa verdade mais espontaneamente poética, como Seabra Pereira ressalva, do que propriamente correspondendo a uma posição de fundo programática, a verdade é que o seu vitalismo nunca nos choca. Esse será provavelmente o maior mérito literário do autor, a capacidade de incluir no modus operandi e vivendi das personagens comportamentos de tipo libertino, sem que o sejam ideologicamente e sem que o conjunto da obra resulte como promoção do espírito libertino militante. Em boa verdade, e não posso deixar de comungar completamente com Seabra Pereira o entendimento explicativo reside no facto de que o voluntarismo de Aquilino, quer dizer das suas personagens, não é nunca uma “vontade de ter poder sobre outrem”, mas antes “vontade comum de poder fazer, de poder dizer, de poder fruir”. E, em boa verdade, nesta nuance aninha-se toda uma enorme diferença entre uma filosofia do domínio sobre as pessoas e as coisas e uma simples fruição lúdica das ‘coisas’ correspondendo neste plano a um libertinismo quase sem mácula, mais poético e lúdico do que outra coisa; o que Seabra Pereira designa: que é em geral apenas “vontade de expansão afirmativa e emancipante — desembiocada mas não declamatória”. O poder não aparece como um programa ou como tendência para a substituição de uma moral evangélica. Quase que poderíamos dizer que este hedonismo vitalista não sendo angélico também não é demoníaco. É ainda assim libertino, mas sem programa. Finalmente e o que provará a correcção tanto a da análise da obra aquiliana como a do notável texto de Seabra Pereira, vem este autor a plasmar e para mim de forma definitiva no seguinte: “tem ressonâncias nietzscheanas o irredentismo psicológico-moral que predomina na obra aquiliana, mas que se abstém das violências amorais da superação nietzscheana contra o humanismo judaico-cristão”. Ficará para outras núpcias este diálogo com Aquilino e Seabra Pereira, quando eu tiver lido a maior parte da obra do escritor. Por hoje vou dedicar algumas considerações particulares a esta obra que tenho em mão, Andam Faunos Pelos Bosques. Este romance é particularmente emblemático das considerações ideológicas que acabo de fazer pois ao mesmo tempo que não se coíbe de dar largas ao seu vitalismo erótico articula de modo por vezes magistral o demoníaco com o divino. A beleza faz corpo com eros e com a transgressão mundana porém legitimada pela função redentora do Fauno. Há semelhanças entre Fauno e Sátiro, mas a figura do Fauno embora seja associado ao prazer sexual perdeu a conotação bestial conquanto ainda possa ser representado metade humano, metade bode. Aquilino usa a simbologia do Fauno para dar largas ao seu vitalismo erótico ao mesmo tempo que compromete os padres que são quem faz as despesas da narrativa. O texto pretende também promover os cânones de uma sexualidade mais livre face ao conservadorismo rural na matéria. E a verdade é que as donzelas a dada altura por espontânea vontade se foram oferecer aos braços da inefável criatura, anjo, homem ou demónio: “Donzelinhas, mal a pojar dos seios, foram oferecer-lhe a flor temporã da puberdade. As casadoiras, no primeiro abrir mão da família, moscavam para ele”. A primeira reacção dos camponeses foi apanhar a fera e é espantosa a narrativa aquiliniana mobilizando todo o tipo de recursos geográficos, linguísticos e etnográficos para cantar a gesta da “Batida” heróica. Neste ponto, precisamente, poderá residir a eventual condenação do texto, uma vez que desde o léxico até à caracterização dos figurantes parece que se convoca um mundo fascinante mas desaparecido.
Leonor Sá Machado EventosMúsica | Brandon Lamn lança novo disco como Burnie Brandon Lamn actua sob vários nomes, mas é Burnie quem acaba de lançar o disco “Lotus City”. Com Macau como pano de fundo, trilha um novo caminho para a música electrónica, dando-lhe novas roupas e até um corte e maquilhagem radicais [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]artista de Macau Brandon Lamn voltou a assumir a forma de Burnie, nome artístico com o qual funciona a solo, para lançar um novo disco. Intitulado “Lotus City”, alude naturalmente à sua terra-natal, Macau, que tem a planta de lótus como figura representativa na bandeira. Em entrevista ao HM, Lamn confirma que grande parte do novo álbum vem beber à vivência da própria cidade, havendo mesmo faixas que assim o explicam. “A cidade dá-me material de inspiração e exemplo disso são as faixas ‘Fireworks’, ‘Cyclone’ e ‘Panda’ que, de certa forma, se relacionam facilmente com a cidade. Vivo aqui há 30 anos e produzi o disco em Macau, pelo que naturalmente o meu trabalho musical será afectado por isso mesmo”, explicou. Já disponíveis para ouvir gratuitamente na plataforma Soundcloud, estão ‘Square’ e ‘Soul Alliance’. É através de uma batida electrónica que o artista tenta passar para o ouvinte a sonoridade de uma cidade em constante movimento. As deslocações diárias, o trânsito nas estradas, a altura dos prédios e as vistas desarmadas do horizonte urbano são alguns dos elementos que fazem a qualidade deste disco. Mudança de espírito Lançado este mês, o álbum pretende ser, segundo Burnie, uma compilação de sonoridades diferentes das anteriores lançadas. “Quando comparado com os álbuns dos EVADE [banda de Lamn], penso que todos conseguem identificar estilos musicais muito diferentes. EVADE é uma banda e por isso as músicas são o resultado daquilo que eu, a Sonia e Faye temos feito durante estes anos”, diz. No entanto, acrescenta, ‘Lotus City’ é um trabalho “só” de Brandon. “É a forma como eu vejo a música electrónica”, define. Esta nova peça é resultado de uma série de experiências com base na cidade, mas que não só se inspiram na sua vivência, como em sons e batidas verdadeiras. Burnie faz uso da técnica de sample, onde se captam sons dos ambientes em redor para incorporar em músicas, geralmente funcionando como música de fundo. Neste caso, foram usados sons que remetem para “estilos de música oriental” e outros de downtempo. Patrocínios culturais O lançamento do álbum contou com o patrocínio do Instituto Cultural que, esclarece Lamn, financiou “a produção, masterização e impressão” da peça. “Sinto-me feliz por ver que o Governo está a investir recursos nas indústrias culturais e criativas, até porque qualquer artista precisa de um determinado tempo para crescer”, diz. Burnie aponta para uma média de dez anos até que a internacionalização seja possível. “É preciso ser paciente”, defendeu. Questionado sobre a qualidade, no geral, dos artistas locais, Brandon Lamn fala da existência de vários bons autores e compositores musicais, numa indústria “que se está a desenvolver” à imagem das de Taiwan e da Coreia do Sul no seu tempo. O próximo passo é publicitar o novo disco em Guangzhou já este sábado e mais tarde realizar o lançamento oficial em Macau e em Hong Kong. Além disso, o artista está em debate com lojas no Japão, Malásia e Singapura para a eventual venda do álbum a nível regional. “Estou também em negociações com uma empresa para a colocação do álbum online, em websites como o iTunes, Beatport e Amazon”, finalizou. Há ainda uma digressão asiática pensada e Lamn promete divulgar mais pormenores mal tenha as confirmações.
Tomás Chio SociedadeAgente da PSP suspeito de conduzir alcoolizado atropela idoso [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Polícia de Segurança Pública (PSP) está a investigar um agente policial suspeito de ter atropelado um idoso enquanto conduzia embriagado no passado domingo. O jornal Ou Mun explica que o acidente teve lugar na junção da Avenida Almirante Lacerda com a Rua João de Araújo, às duas da madrugada. [dropcap]O[/dropcap] polícia seguiria com mais duas pessoas no carro: um deles foi identificado como sendo um agente policial desde 1999 de apelido Ng e um segundo é Lei, também agente desde 1991. A terceira pessoa é Gu, uma doméstica de 29 anos, namorada de Lei. A Polícia de Trânsito, que chegou ao local depois do acidente, obteve declarações de Ng e Gu, mas o cruzamento de dados deixou dúvidas: é que ambos afirmaram ser quem ia ao volante no momento do embate antes de terem passado no teste do balão. A PSP começou então a considerar a hipótese de ter sido Lei quem ia ao volante, já que não só não passou no teste, como tinha valores acima da média. A máquina apitou, mostrando 2,7 g/l. O agente confessou ter sido então o autor do crime, justificando que não conseguiu parar o veículo a tempo de não embater no idoso. Transporte perigoso A PSP já enviou o caso para o Ministério Público. O agente Lei vai ser acusado de condução perigosa e a PSP já garantiu que vai dar início a um processo disciplinar a aplicar aos dois agentes. O idoso, que tem 85 anos, teve de receber tratamento hospitalar. O Ou Mun acusou ainda a PSP de não dar a notícia por dois dos seus agentes estarem envolvidos. À acusação, as autoridades responderam apenas que quando o incidente teve lugar, os seus funcionários estavam a resolver a questão junto da Polícia de Trânsito e dos Bombeiros, razão pela qual a notícia só foi publicada pelo departamento de comunicação no dia seguinte.
Flora Fong PolíticaElla Lei pergunta por sistema para responsabilizar empreiteiros Ella Lei critica o Governo por continuar a deixar que aconteçam casos de subempreitadas em Macau sem que haja uma lei para proteger os trabalhadores [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]deputada Ella Lei quer saber quando será implementado o regime que vai permitir mais protecção aos trabalhadores das obras, que muitas vezes não recebem salários. Numa interpelação escrita, a deputada pede ao Governo que esclareça a posição dos empreiteiros, nomeadamente na questão da contratação de sub-empreitadas. Além disso, Ella Lei quer ver feita justiça no que diz respeito à responsabilização dos empreiteiros em relação aos trabalhadores que são contratados pelas subempreiteiras e que ficam, muitas vezes, sem receber salários e sem saber a quem recorrer para tal – se aos empreiteiros, se aos subempreiteiros que os contratam directamente. Isto, porque as empresas empurram as responsabilidades de uns para os outros. Ella Lei fala ainda de casos em que os empregados sofrem com a falta compensação por acidentes laborais. Para a deputada, a responsabilidade é da concessionária, mas neste momento não há uma legislação que ajude estes empregados. Ella Lei considera que o sistema de contratação, pelos subempreiteiros, é muito comum nas operações diárias, geralmente para aumentar o grau de eficiência nos estaleiros e diminuir a necessidade de mais recursos humanos. No entanto, a deputada alerta para o facto do Executivo ainda não ter lançado qualquer medida para fiscalizar este sistema de subempreitada, assim dando azo a menos protecção para as pessoas que trabalham sob os responsáveis pela obra. Mal pelas aldeias A deputada indicou ainda que os subempreiteiros não devem arcar com 100% das culpas no caso de irregularidades na obra, ficando estes erros a cargo das concessionárias também. “O Chefe do Executivo já afirmou que é possível criar um regulamento sobre a gestão de funcionários de construção para entrar em processo legislativo ainda este ano, mas será que o regulamento vai obrigar o empreiteiro geral a pagar adiantado aos empregados em determinadas alturas?”, questionou. Ella Lei quer ainda saber se o documento vai incluir garantias para estes trabalhadores contratados pelos subempreiteiros.
Flora Fong Manchete PolíticaLei Sindical | Kwan Tsui Hang conta com metade do apoio do hemiciclo e alerta A deputada mostra-se “mais ou menos” confiante na aprovação da “sua” Lei Sindical, que diz ser necessária a Macau. Kwan Tsui Hang sabe que alguns deputados não a vão apoiar e assegura que o Governo não se vai chegar à frente com um diploma previsto na Lei Básica Porque decidiram apresentar agora o projecto da Lei Sindical? A lei já foi apresentada muitas vezes, inclusivamente pelo deputado José Pereira Coutinho que a apresentou durante vários anos, mas nunca conseguiu que fosse aprovada. Agora vamo-nos esforçar ao máximo para conseguir que seja aprovada. Quais as principais diferenças entre este projecto e os anteriores apresentados por Pereira Coutinho? Não fizemos uma comparação entre os projectos de lei, apenas nos conteúdos que achamos ser necessários. De uma forma geral, os pormenores são iguais, mas não comparamos as diferenças de cada cláusula. Mas há referências a qualquer um dos projectos já apresentados? Fizemos uma referência ao conteúdo do projecto da Lei Sindical que apresentei em 2006 ou 2007. Quais as cláusulas que foram alteradas ou melhoradas? É difícil dizer. Com base no ângulo dos três deputados, no actual projecto de lei foi adicionado algum conteúdo que não estava incluído, tendo sido também alterada a forma como foi escrito o próprio diploma. Acredita que desta vez os deputados vão votar a favor? Metade, metade. Não tenho muita certeza, mas estamos a tentar ganhar apoio. Mas alguns já mostraram que não vão votar a favor. Portanto já contactaram alguns deputados. Uma parte. Contactámos sobretudo aqueles que consideramos que poderão apoiar [o projecto de lei]. Contactaram os deputados nomeados? Alguns sim. De facto, já obtivemos as opiniões de alguns deputados nomeados, mas não podemos avançar agora quais são. Considera que os deputados vão apoiar mais este projecto de lei? É difícil dizer. Tudo depende da vontade de cada um, não depende do tipo de deputados (se são directos, indirectos ou nomeados). Mas pensa que a área que os deputados representam pode ter influência? Por exemplo, os deputados da área comercial podem votar contra? Sim. Existe uma preocupação em relação aos deputados que são empresários. Nós também os contactámos, mas não podemos deixar de apresentar um projecto de lei só porque vai contra os seus interesses. Os deputados que o HM contactou afirmaram ainda estar a analisar o diploma, que será votado a 20 de Janeiro. Acha que podem votar contra com o argumento de que não tiveram tempo para analisar a lei? Quanto a esta questão só podemos respeitar a decisão dos outros deputados. Para mim, a votação do projecto de lei no plenário é apenas a primeira fase, depois o conteúdo é aberto. Se for aprovado, a Comissão Permanente [que o analisar na especialidade] vai depois debater os pormenores do projecto. Essa não é a principal questão, mas sim o facto de Macau precisar de uma Lei Sindical. Sendo algo previsto na Lei Básica e tendo assinado as convenções internacionais, Macau precisa desta lei, sobretudo para os trabalhadores terem a liberdade de participar em sindicatos. Também os sindicatos devem estar devidamente regulamentados e não continuarem a ser apenas associações. A natureza é diferente. Se este projecto de lei for reprovado, acredita que o Governo irá apresentar outro? Creio que o Governo não vai apresentar num futuro próximo, porque o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) ainda não discutiu sobre esse assunto, apesar dos constantes pedidos dos representantes dos trabalhadores. Os deputados poderão votar a favor só quando o Governo apresentar o seu projecto de lei? Não adivinho isso. O vosso projecto de Lei Sindical também engloba os Trabalhadores Não Residentes (TNR). Os TNR são fundamentais para a sobrevivência das Pequenas e Médias Empresas (PME)? Os TNR não suportam apenas as PME, mas as grandes empresas também estão a recrutar muitos TNR. Em Macau existem quase 180 mil TNR, o que ocupa uma grande parte da mão-de-obra. Assim os TNR devem estar abrangidos no âmbito da Lei Sindical, bem como os seus direitos. Mas a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) tem criticado a importação de TNR. As duas coisas não podem ser faladas juntas. A importação de TNR deve estar de acordo com as necessidades da sociedade. Não contrariamos isso, mas apenas os abusos que acontecem nessa contratação.
Flora Fong PolíticaEleições | Ex-candidatos da AL concordam com prolongação de campanha [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]relatório publicado pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) sobre as últimas eleições para o hemiciclo sugere que o período de campanha eleitoral seja prolongado e Agnes Lam e Paul Pun, ex-candidatos a deputados, concordam com a sugestão. De acordo com o relatório, apesar de ser sugerido o alargamento deste período, é pedido que se mantenham os mesmos mecanismos de campanha: os encontros com a população e a publicidade nos carros. Ao Jornal Ou Mun, Agnes Lam – actualmente professora de Comunicação da Universidade de Macau (UM) – disse que duas semanas é pouco tempo para este tipo de actividades e para que os candidatos sem o apoio de grandes associações consigam divulgar as suas intenções. “Concordo com o prolongamento do período da campanha eleitoral, porque as pessoas de Macau são lentas no processo de conhecer os ideais e projectos dos candidatos”, começou a ex-candidata por explicar. “De acordo com experiências anteriores, os residentes só dão atenção às eleições a partir do décimo dia de campanha”, informou. Agnes Lam acrescentou que existem diferenças nos candidatos “ricos” e “pobres”. “É difícil evitar, a 100%, os gastos em termos de recursos, porque há quem não tenha dinheiro para oferecer presentes como outros, tendo em conta os dias de campanha”, disse. O ambiente é que ganha O relatório da CAEAL também se queixou de não ter “base legal para penalizar” actos de campanha eleitoral feitos com base nestas oferendas, consideradas como “corrupção”, por estas serem feitas através de associações. Agnes Lam concorda. “Macau não tem partidos, não se pode proibir que os candidatos se organizem em associações. Macau tem é ‘deformações políticas’ que não podem ser corrigidas”, referiu. A Comissão defende que não vai enviar programas políticos dos candidatos aos eleitores por razões económicas e cuidado com o ambiente. Agnes Lam, que liderou a equipa dos candidatos “Observatório Cívico” em 2013, não concorda com essa ideia. “As pessoas de Macau não ligam à política. Caso o Governo tenha intenções de promover as eleições, deve enviar programas políticos aos eleitores. As eleições apenas são realizadas uma vez a cada quatro anos e o princípio de proteger o ambiente não deve ser, neste caso, um facto decisivo”, lamentou. Para o secretário-geral da Cáritas de Macau, Paul Pun – que criou a equipa dos candidatos “Associação Esforço Conjunto para Melhorar a Comunidade”, em 2013 –, o alargamento do período de campanha é positivo. No entanto, acredita que o prolongamento vai obrigar ao acréscimo dos trabalhos da Comissão e das despesas de cofre público. Contrastando com a opinião de Agnes Lam, Paul Pun considera que “ser pobre” pode ser um factor positivo para a campanha: “o mais importante são os trabalhos do quotidiano junto da comunidade, as ideias que representam a população e a comunicação com o Governo”, afirmou.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesO Paradoxo da Intimidade [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] intimidade é daqueles pilares relacionais que não pode ser dispensado. É a parede mestre dos relacionamentos românticos. Intimidade, eufemisticamente, refere-se a sexo, ao mesmo tempo que se refere a proximidade, familiaridade e muito à vontade com o outro. A isto se deve à nudez, às caras de sexo, aos orgasmos, a histórias de infância, a traumas, a choros, a sorrisos e às confissões nunca antes partilhadas. Esta é a porta que permite a entrada do outro aos recantos mais sombrios do nosso ser. O Sr. e Sra Perfeitos deixam de fazer sentido à medida que a intimidade cresce. Porque estas zonas mais negras, mais sujas e vergonhosas, são normalmente partilhadas e expostas no desenvolver da relação. As nossas imperfeições e dificuldades tornar-se-ão (idealmente) objectos de amor. Todos nós queremos ser reconhecidos e adorados exactamente como somos, podres incluídos. E o que somos nós? Somos aquele equilíbrio de que nos orgulhamos e nos envergonhamos (se de uma forma saudável, em quantias que se nivelam). O que muitos se questionam é que se deveria existir uma barreira intransponível? Um limite para a abertura íntima, ou seja, o que é que é demais ou de menos? Devemos mostrar tudo? Ou um pouco menos que tudo? Não há fórmulas, claro. Apesar da cultura popular gostar bastante de as impor, às vezes, com alguma graça. Tomemos o exemplo do cocó. A merda. Dizem uns e outros que há um protocolo para o número dois. Quem viu o Sexo e a Cidade saberá que as quatro amigas regulamentaram que não se caga na casa do namorado. Ponto. É das primeiras preocupações que se tem quando passamos pela primeira vez mais de 24 horas com a pessoa amada ou com a pessoa com quem se anda a ter uma amizade colorida. É muito pouco sexy quando pensamos que sai algo de nós tão nojento e malcheiroso. Por isso tenta-se esconder o facto que as nossas funções biológicas existem, aliás, nunca existiram. O quê? Fazer cocó? Dar um peido? Só na escuridão de uma casa-de-banho, quando ninguém está a ver ou a cheirar. Escusado será dizer que há quem se sinta mais confortável em partilhar os seus movimentos intestinais do que outros. Dependendo da forma como vemos o acto de evacuar. Li algures por uma bloggeira, que se debruça por várias questões matrimoniais, que acredita que muitos casais podem considerar o à vontade em partilhar movimentos intestinais, um desleixo. Que provavelmente reflectirá as expectativas que o mundo cria das relações amorosas. Porque há quem as tome de uma forma cinematográfica tão literalmente (e.g. cabelos ao vento, risos soltos, jantares românticos, olhares profundos) que provavelmente terão dificuldade em lidar com o ‘desleixo’. Muito menos com um peido. Que, diga-se, até pode ser um daqueles momentos de intimidade de graça adolescente. Quem fala de puns, pode falar de outra coisa qualquer, que por alguma razão recai bastante em expectativas femininas. Mulheres que se ‘desleixam’ com a maquilhagem, com a roupa interior sexy, com os pêlos que teimam (que surpresa!) em nascer de novo. E o que é que é suposto fazer em relação a isso? Conheço quem viva sob esta doutrina da perfeição, ao ponto de dormir com maquilhagem para conseguir acordar e apresentar uma cara fresca, e não com uma terrível cara de sono (nunca percebi como é que esta técnica funciona, não me sai da cabeça a imagem do Joker todo esborratado – combinação de maquilhagem com uma almofada). Também já a vi quem se preocupe obcessivamente em tirar todos os pêlos do corpo, para que o seu mais que tudo nunca perceba que eles de facto existem. Cada um faz o que quer, e é aconselhado a fazer aquilo que o deixa mais confortável e lhe dê mais prazer. Óbvio. Mas tem me feito espécie que o tão temido ‘desleixo’ seja carregado pelas mulheres, como se houvesse a obrigação de sermos as únicas a manter uma intimidade interessante, sexy e bem apresentada. Que não é o caso. Acautelem-se homens: vêm aí as doutrinas anti-barrigas de cerveja e as queixas de falta de gestos românticos. O que eu percebo como o paradoxo da intimidade é o seguinte: tenta-se incutir a ideia de que a intimidade é necessária para o desenvolvimento do casal, mas carrega a possibilidade de ser encarada como um desleixo. Porque se a ideia é sermos nós mesmos com o outro, e permitir que a atracção circule e seja entendida nos moldes que nos definem, podemos cair nas temidas coisas mundanas que por si só não são muito atraentes e em casos mais graves, poderão pôr relacionamentos em causa. Por isso, seguindo o conselho de tantos terapeutas matrimoniais por esse mundo fora: comunicação. Se vos agrada ou se vos incomoda, comuniquem um com o outro (de forma diplomática, acusações têm pouco de produtividade). Porque os gestos de intimidade e de desleixo, o romantismo exacerbado, as actividades rotineiras e um ou outro pum, são o que fazem uma relação.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasLITS, empresa de tradução e IT | Ana João, CEO A LITS – Languages and IT Services – pretende aliar os serviços de tradução à área das tecnologias da informação. Para Ana João, CEO da empresa, 2016 pretende ser o ano da “consolidação e desenvolvimento” para um projecto que se quer afirmar no mercado da tradução local [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]um território que quase todos os dias se revela uma autêntica Torre de Babel, a LITS – Languages and IT Services (Companhia de Serviços Linguísticos e Informáticos) surge como a entidade que ajuda a resolver o novelo linguístico. A operar no território desde 2012, a empresa que disponibiliza serviços de tradução, aliados à tecnologia, afirma não querer ficar por aqui. Sendo uma empresa sócia da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos de Macau, o objectivo da LITS é transpor barreiras. “Aproveitando o uso das tecnologias de informação, investimos em duas áreas que não conhecem barreiras porque podemos estar sediados em Macau e prestar serviços em qualquer parte do mundo”, disse ao HM Ana João, CEO da empresa. A LITS presta diversos serviços de tradução em “várias línguas e serviços informáticos”, já tendo clientes em Macau e em Portugal. “Inicialmente a área da tradução era a que registava uma maior procura, tendo-se passado para uma situação de equilíbrio. No mercado local, a LITS tem sido procurada para tradução, com destaque para as línguas portuguesa, chinesa e inglesa. Por parte dos clientes de Portugal há procura de tradução, quase sempre de Português-Chinês e de desenvolvimento de software à medida do cliente ou material pedagógico interactivo. A nível de IT, estamos a colaborar apenas com empresas de Portugal”, explicou Ana João. Para a CEO, o ano de 2016 é de consolidação. “A LITS tem vindo a dar passos no sentido de se afirmar no mercado, acima de tudo pela qualidade dos serviços prestados. Definimos o ano de 2016 como de consolidação e desenvolvimento e os resultados obtidos até ao presente dão-nos confiança para investir e consolidar o projecto LITS”, referiu Ana João. Falta de tradutores Com pedidos de tradução na área da Ciência, Ensino ou Direito, a LITS tem prestado serviços nas mais diversas áreas. “O mercado da tradução em Macau é promissor em termos de procura nas línguas portuguesa, chinesa e inglesa, mas no que se refere a outras línguas é bastante residual. Esporadicamente aparecem pedidos para tradução do francês ou espanhol, mas não é significativo”, frisou Ana João. Apesar do espaço de crescimento, a CEO da LITS não deixa de apontar o facto do mercado ter uma pequena dimensão. “Macau é um mercado limitado, mas a LITS é uma empresa que desde o início não se restringe à procura de clientes no mercado local, porque o lema é ultrapassar as fronteiras geográficas e criar uma rede de clientes locais e do exterior, nomeadamente dos Países de Língua Portuguesa”, apontou. Apesar do sucesso, a empresária lembrou as dificuldades de quem começa do zero. “Ao nível da competitividade, este é um mercado relativamente fechado, sendo difícil para uma nova empresa entrar e sobreviver num ambiente muito exigente em termos de diversidade de temáticas e de gestão de prazos.” A falta de recursos humanos também atingiu a LITS. “Se limitarmos a procura aos recursos humanos existentes em Macau, isso torna difícil ou praticamente impossível desenvolver a actividade, principalmente na área da tradução. No entanto, o trabalho em rede permite ir procurar profissionais no exterior. A procura de pessoal qualificado é um desafio constante mas tem sido uma experiência positiva”, apontou Ana João, lembrando a “falta de tradutores nas áreas mais técnicas”. Ana João considera que a maioria das empresas do sector ainda tem espaço para crescer. “Já existe um nível de resposta considerável, tendo em conta que, para além das empresas especializadas, há um grande número de tradutores individuais ou freelancer. Contudo, como a maioria das empresas de tradução de Macau são recentes, ainda têm capacidade para crescer o que irá aumentar a resposta”, rematou.
Joana Freitas BrevesLei Sindical é votada no dia 20 A Assembleia Legislativa (AL) vai votar, na generalidade, o projecto da Lei Sindical no dia 20 de Janeiro, quarta-feira da próxima semana. Depois de chumbado seis vezes quando apresentado por José Pereira Coutinho, o projecto segue agora para uma nova votação assinada pelos deputados Kwan Tsui Hang, Ella Lei e Lam Heong Sang, vice-presidente da AL. No mesmo dia será ainda apresentada, discutida e votada na generalidade a proposta de alteração à Lei das Drogas, assim como o projecto de lei de alterações ao Código Penal apresentado pelos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San. Será ainda apreciado o parecer da 3.ª Comissão Permanente relativo ao Relatório sobre a Execução do Orçamento de 2014 e votado o projecto de resolução para os efeitos do artigo 154.º do Regimento da AL.
Hoje Macau VozesBRICS: Análise comparativa da sua performance * Por Rui Paiva [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]menção ao BRICS remete para uma pluralidade de realidades bem diversas, atentando ao que cada país membro representa sob o ponto de vista económico, financeiro ou enquanto actor global que, não obstante, consubstanciam um lobby de expressão mundial que representa 40% da população (três mil milhões de pessoas), e pouco mais de 20% do produto global. A China destaca-se pela sua pujança económica e financeira, com elevadas taxas de crescimento, (se bem que a decair para perto dos 6%), e uma realidade global mais sólida do que os restantes países. Este crescimento é considerado como uma importante forma de legitimação do Governo e do Partido Comunista Chinês. A diferença de dimensões realça-se no PIB da China, quatro vezes o do Brasil (e grosso modo também da Rússia e Índia), e vinte vezes maior que o da África do Sul. “A nova normalidade” é o conceito usado pelo governo chinês para definir o actual estádio, que significa a mudança de um crescimento forte para um crescimento menor, mas sustentável. Concretamente, em 15 de Março de 2015, aquando da 3ª sessão da 12ª Assembleia Popular da China (APN), o primeiro-ministro Li Keqiang refere numa conferência de imprensa que “a economia chinesa entrou na fase da nova normalidade”. Xi Jinping, num discurso muito importante apresentado em 28 de Março de 2015 no Boao Forum for Asia Annual Conference 2015 (a replica asiática do World Economic Forum, realizado de 21 a 24 de Janeiro em Davos), caracteriza da seguinte forma este estádio: “Now, the Chinese economy has entered a state of new normal. It is shifting gear from high speed to medium-to-high speed growth, from an extensive model that emphasized scale and speed to a more intensive one emphasizing quality and efficiency, and from being driven by investment in production factors to being driven by innovation. China’s economy grew by 7.4% in 2014, with 7% increase in labor productivity and 4.8% decrease in energy intensity. The share of domestic consumption in GDProse, the services sector expanded at a faster pace, and the economy’s efficiency and quality continued to improve”1. E mais adiante quantifica o envolvimento chinês, afirmando“This new normal of the Chinese economy will continue to bring more opportunities of trade, growth, investment and cooperation for other countries in Asia and beyond. In the coming five years, China will import more than US$10 trillion of goods, Chinese investment abroad will exceed US$500 billion, and more than 500 million outbound visits will be made by Chinese tourists”. Análise dos indicadores De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano, um indicador para aferir o grau de desenvolvimento humano e social, a Rússia é a melhor posicionada em 55º, seguida do Brasil em 85º, figurando entre os piores a África do Sul em 121º e a Índia em 136º. A China coloca-se a meio da tabela (101º). Na realidade, o PIB (em PPP), o maior produto decurso de alguns anos), leva a que se verifique a necessidade de recurso às suas diversas divisas, ou ao dólar norte-americano, a referência para os mercados financeiros, como ocorre nos pagamentos de negócios de petróleo (fala-se de petrodólares). No plano político, desde logo sobressai a natureza dos regimes políticos, sendo três democracias e duas repúblicas de regime autoritário; e se a China é um actor global com uma projecção crescente, já a Rússia se tem destacado pela sua presente beligerância, mas há a ponderar outro aspecto que os caracteriza: a ‘vantagem’ de serem ambos membros do Conselho de Segurança da ONU, dando-lhes outra capacidade negocial. Ora, por outro lado, devemos ter em conta que as posições expressas nesse mesmo conselho pelos vários BRICS não são idênticas, como aconteceu a propósito da resolução relativa à Síria: a Índia e a África do Sul a favor, e a China e a Rússia a vetarem a resolução. Analisando sob a perspectiva da Governance, não sendo nenhum dos países abertamente revisionista, é apontado outro indicativo de falta de unidade de acção: o caso da eleição para o FMI (de Christine Lagarde), não conseguindo entender-se para um candidato comum. Passando à ordem social e demográfica, veja-se que a população (força de trabalho activa) tem e terá a médio e longo prazo um impacto diferente: a Rússia e a China com graus de envelhecimento que a Índia não acompanhará. Este factor tem um abalo muito significativo a nível de competição internacional, ou da criação de diásporas no mundo, na divisão internacional de trabalho (a China na manufactura e a Índia campeã dos serviços, por exemplo via call centres de multinacionais). Pontos de convergência entre o BRICS4h> Abordando agora os aspectos que podem aproximar estes países e auxiliar a implementação de uma acção de colectivo, com impacto regional ou global, podemos destacar o facto de até agora não serem abertamente revisionistas (nenhum propondo a alteração da ordem internacional), afirmando-se pela manutenção do statu quo (dependendo todos os outros, de uma ou outra forma, da China). Afirmam-se mais como actores de um forum de reflexão e decisão sobre a ordem política internacional e sobre o sistema financeiro, numa união de esforços, mas acima de tudo uma forma de projectarem a sua posição, de se fazerem ouvir, dado que ganhando maior peso e capacidade de pressão poderão imprimir a sua vontade, instigando um espírito de união (relativa), que a crise financeira terá ajudado a fortalecer. Na política interna serão eventualmente mais susceptíveis de enveredar por formas nacionalistas de comportamento, associadas a um proteccionismo comercial ou financeiro. Uma característica comum é a adopção de política sistemática de acumulação de reservas, atitude defensiva e de precaução desde a crise asiática4 de 1997, uma prática que ganhou maior expressão entre os países deste continente. Esta é uma medida com impacto nas suas balanças de pagamentos e na sua autonomia financeira em relação ao exterior, com efeitos muito positivos na capacidade de afirmação económica e financeira e autêntico ‘guarda-chuva’ ajudando a solucionar eventuais crises futuras (veja-se o caso presente da Rússia). Também a China está a implementar reservas externas num modelo global, mas justificada parcialmente, em torno da insuficiência mundial de infraestruturas. A Índia poderá eventualmente ser a excepção, ao querer assumir-se como uma alternativa regional à China e tendo em conta a recente e aparente (com a Índia é preciso esperar para ver) assunção de uma parceria estratégica mais realista e profunda com os EUA; este factor poderá passar a reflectir um ponto de divergência futuro. Importante também é o “factor liberdade”, em que as três democracias (do IBAS) se destacam pela positiva com uma pontuação de 2, quando a China e Rússia têm valores muito elevados: 6,5 e 6. A medida da desigualdade (distribuição de rendimento) é-nos facultada pelo índice de Gini2, muito elevado na África do Sul, com 0,65, melhor o da Índia nos 0,34, Rússia com 0,39, e Brasil e China ainda com muito espaço para percorrerem, com 0,52 e 0,47 respectivamente. Finalmente as Reservas Externas cujo caudal foi alimentado pela China até Junho de 2014 (um pico de 3,99 mil milhões de dólares), estacionando actualmente nos 3,887 mil milhões. Representam seis vezes as da Rússia, e cerca de dez vezes as do Brasil e da Índia. Este é um indicador de liquidez e de capacidade de financiamento de orçamentos expansionistas. Reservas que a China orienta para operações de M&A (aquisições e fusões) pelo mundo fora, contrabalançando a perda de dinamismo do seu modelo de desenvolvimento e rentabilizando assim esses recursos acumulados, ao mesmo tempo que vai gradualmente descolando da sua dependência do dólar norte-americano e perfilhando um outro importante desiderato, ainda longínquo: a projecção do yuan enquanto moeda de referência mundial. O FMI tornou públicas projecções de crescimento do BRICS (2015/2016), que vêm fundamentar os receios de queda do crescimento da China (6,8/6,3%), comprovam a pujança da Índia (7,5/7,5%), o crescimento fraco da África do Sul (2/2,1%), o crescimento inócuo do Brasil (-1%/1%) (com fragilidades infraestruturais, corrupção do caso Petrobras e contestação social massiva) e finalmente uma Rússia fortemente abalada pelas sanções (crise ucraniana e tomada da Crimeia, a par da forte quebra dos preços do petróleo), com crescimento negativo (-3,8/1,1%). Em síntese, assiste-se, a) Brasil, com problemas políticos e sociais (dossiê corrupção), infraestruturas deficitárias, perdas de receitas de petróleo; b) Rússia, com dificuldades advindas da quebra de preços de petróleo e devido às sanções aplicadas (ocupação da Crimeia), aliando-se tacticamente à China (v. g. nas áreas energéticas), demografia envelhecida a suscitar receios futuros; c) Índia, com crescimento mais sustentado e expressivo, mas com uma vasta população rural e pobreza endémica, com muitas e importantes reformas por fazer, (dossiê fiscal por exemplo); d) China, em mudança de modelo (de baseado nas exportações para um assente no consumo), e anterior crescimento rápido assente na voragem do imobiliário e das bolsas de valores, com problemas de equilíbrio entre a liberalização de sistemas (financeiro), e a centralização do poder; e) África do Sul, relevante no seu continente, mas com xenophobia nas relações laborais, (mineiros imigrantes), fragilidades infraestruturais, necessidade de reformas estruturantes. Será fácil o entendimento entre estes países tão diferentes? Pontos de divergência entre o BRICS Na ordem económica e financeira sobressai uma grande disparidade com tudo o que implica a sua projecção no mundo, capacidade de influenciar decisões de investimento ou de outra natureza económica e financeira, facilmente perceptível quando a China é quatro vezes superior ao Brasil, Índia e Rússia e vinte vezes à África do Sul. Acresce um manifesto diferente grau de desenvolvimento, de vontade ou de tendência reformista, assim como de modernização do sistema financeiro. Nos recursos naturais e energéticos, refira-se a diferença de realidades para os diversos países: existência de recursos e sua exportação, característica da África do Sul, do Brasil e da Rússia. A Rússia, como um dos principais produtores energéticos, tem o seu orçamento muito dependente da venda do petróleo e gás, sendo muito afectada por variações, no sentido da baixa, do preço do petróleo, estando no outro lado da balança a China e a Índia (importadores de recursos naturais e energia). A China aproveitou a actual pressão sobre os preços energéticos para repor as suas reservas estratégicas. No plano financeiro e monetário, a inexistência de uma moeda de referência de um dos seus membros, (estando a China a tentar internacionalizar o yuan3, o que só se verificará em pleno no decurso de alguns anos), leva a que se verifique a necessidade de recurso às suas diversas divisas, ou ao dólar norte-americano, a referência para os mercados financeiros, como ocorre nos pagamentos de negócios de petróleo (fala-se de petrodólares). No plano político, desde logo sobressai a natureza dos regimes políticos, sendo três democracias e duas repúblicas de regime autoritário; e se a China é um actor global com uma projecção crescente, já a Rússia se tem destacado pela sua presente beligerância, mas há a ponderar outro aspecto que os caracteriza: a ‘vantagem’ de serem ambos membros do Conselho de Segurança da ONU, dando-lhes outra capacidade negocial. Ora, por outro lado, devemos ter em conta que as posições expressas nesse mesmo conselho pelos vários BRICS não são idênticas, como aconteceu a propósito da resolução relativa à Síria: a Índia e a África do Sul a favor, e a China e a Rússia a vetarem a resolução. Analisando sob a perspectiva da Governance, não sendo nenhum dos países abertamente revisionista, é apontado outro indicativo de falta de unidade de acção: o caso da eleição para o FMI (de Christine Lagarde), não conseguindo entender-se para um candidato comum. Passando à ordem social e demográfica, veja-se que a população (força de trabalho activa) tem e terá a médio e longo prazo um impacto diferente: a Rússia e a China com graus de envelhecimento que a Índia não acompanhará. Este factor tem um abalo muito significativo a nível de competição internacional, ou da criação de diásporas no mundo, na divisão internacional de trabalho (a China na manufactura e a Índia campeã dos serviços, por exemplo via call centres de multinacionais). Notas 1 Xi Jinping – Towards a Community of Common Destiny and A New Future for Asia (disponível em https://english.boaoforum.org/ hynew/19353.jhtml). 2 Quanto mais perto dos 0,5, menor desigualdade; quanto mais aproximado do 1, maior grau de desigualdade. 3 O acordo de fornecimento de gás e petróleo que a Rússia (Gazprom) e a China (China National Petroleum Corporation) selaram em Maio de 2014, no montante de 400 mil milhões de dólares, foi fechado em yuans e rublos, quando normalmente estes contratos de energia são firmados em dólares, o que é visto como uma parte da estratégia de descolagem da divisa americana pois, quando assim acontece, obrigam-se os consumidores de petróleo a pagarem nesta moeda, expandindo a sua utilização. 4 A China por ter tomado uma atitude – política monetária – mais radical, conseguiu evitar o efeitos das fortes pressões especulativas que outros países asiáticos sofreram, caso da Tailândia e Indonésia, por exemplo.
Flora Fong SociedadeCriado grupo departamental para ajudar PME [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]director dos Serviços de Economia (DSE), Sou Tim Peng, disse ao jornal Ou Mun que vai ser criado o “Grupo Interdepartamental de Trabalhos de Estudo da Economia Comunitária” para apoiar as Pequenas e Médias Empresas (PME), no âmbito do Conselho para o Desenvolvimento Económico. Sou Tim Peng afirmou que o grupo interdepartamental vai convocar uma reunião “para breve”, sendo que, com base numa recolha de opiniões sobre como apoiar as PME e desenvolver a economia comunitária, será entregue um documento ao Governo. O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, já tinha referido no ano passado que esperava que mais departamentos públicos pudessem colaborar com este grupo de trabalho. O director dos Serviços de Economia disse que o tecido empresarial local é composto na sua maioria por PME, defendendo que o Governo precisa de criar um bom ambiente de negócios para estas empresas. “As PME são uma fonte fundamental para a economia de Macau”, apontou. O director da DSE falou ainda da política de “serviços ao domicílio” que presta apoio “abrangente” às PME na exploração dos negócios, lançada em Novembro do ano passado. Até ao momento a DSE já recebeu mais de 40 pedidos de ajuda. Para além de querer realizar mais actividades nos bairros comunitários, a DSE garante que vai ajudar na promoção da cultura junto dos turistas, bem como das diferentes características de Macau.