Sugerida utilização de terrenos para estacionamentos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado José Pereira Coutinho sugere, num interpelação escrita ao Governo, que os terrenos desaproveitados sejam aproveitados para parques de estacionamento provisórios. A ideia não é nova, já que o Governo fê-lo com os autocarros na zona dos Nam Van. Pegando no exemplo, Pereira Coutinho afirma ser uma boa solução, apesar de provisória, para o problema de espaço que se vive em Macau.
“A falta de parques de estacionamento tem sido desde sempre um problema irresolúvel. As opiniões manifestadas pelo público demonstram bem o descontentamento que este problema tem vindo a acumular ao longo dos tempos. Assim sendo, o Governo deve lançar, de imediato, medidas resolutivas, com vista a aliviar as dificuldades do público”, defende o deputado. pereira coutinho
Pereira Coutinho indaga assim a Administração relativamente aos planos futuros para a resolução da questão. Acrescentando uma pergunta sobre a possível existência de mais parques de estacionamento. “De que planos dispõe o Governo quanto à construção de mais parques de estacionamento, para acabar, de vez, com a sua falta?”, pergunta.
Relativamente à polémica discussão sobre o regime de passes mensais, o deputado entende que “está em causa uma prática em que se exploram os interesses de alguns residentes de Macau para os oferecer a outros”. Para Pereira Coutinho o “método viável” passará, uma vez mais, pela primeira solução apresentada: aproveitar os terrenos para parques de estacionamentos provisórios.
“Se depois de recuperar os terrenos desaproveitados o Governo os destinar para fins de estacionamento, vai ponderar sobre a manutenção do actual regime de passes mensais?”, indagou o deputado.

13 Jan 2016

Condomínios | Sugerido aumento de preços conforme inflação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s associações das empresas de administração de condomínios querem que o montante cobrado aos condóminos dos edifícios sejam actualizados consoante a taxa de inflação. A ideia foi apresentada ontem durante uma reunião na Assembleia Legislativa (AL) entre duas associações do sector com a 2.ª Comissão Permanente, presidida por Chan Chak Mo.
Segundo a proposta das associações, a cada renovação de contrato, as empresas de administração de condomínios deveriam poder actualizar as verbas que cobram em função da taxa de inflação apurada nesse ano.
“Segundo as opiniões do sector o que pretendem é que, aquando das renovações, os encargos se definam de acordo com a taxa de inflação ou com o índice de preços do consumidor”, referiu Chan Chak Mo, citado pela 
Rádio Macau.
O deputado apresenta, contudo, algumas reticências, já que, diz, esta proposta pode afectar o mercado livre e a concorrência entre as empresas do sector.
“Isto afecta o livre mercado e achamos que não é uma situação muito útil. É uma questão que merece a nossa discussão”, adiantou.
A proposta de lei foi aprovada na generalidade em Outubro do ano passado e deverá continuar a ser discutida na especialidade nas próximas semanas.  

Pedidos de ajuda continuam

A União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) sugeriu que o Governo conceda mais apoio às associações no âmbito da implementação do salário mínimo no dia 1 de Janeiro. Ao canal chinês da TDM, um representante da organização referiu que a Associação já apoiou associações de proprietários de 40 edifícios a fim de reunirem para decidir os aumentos das despesas de condomínio, sendo que apenas quatro associações recusaram o aumento. O responsável adiantou ainda que o Governo deve lançar medidas no âmbito da gestão predial, porque prevê que muitos edifícios vão ficar sem esta forma de gestão. À TDM, os Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) confirmaram a recepção de dois pedidos de apoio por parte de três trabalhadores de segurança locais, com idades entre os 60 e os 65 anos.

13 Jan 2016

Património | Governo instado a comprar edifício na Rua da Barca

O prédio da Rua da Barca tem valor histórico, diz o responsável da Associação de História e Educação de Macau, que relembra que a boa vontade do Governo em preservar património poderia passar pela compra do prédio

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]han Su Weng, presidente da Associação de História e Educação de Macau, considera que o edifício localizado no número um da Rua da Barca deve ser protegido e, para isso, comprado pelo Governo. Este é um dos dez edifícios incluído na lista inicial de classificação do Instituto Cultural (IC), mas o seu proprietário já disse não concordar com a protecção devido a um “prejuízo de interesses”.
Ao jornal Ou Mun, o responsável pela Associação considerou “valer a pena” preservar o edifício construído em 1917 e que permanece como um dos poucos exemplos arquitectónicos em Macau, tanto ao nível da fachada como da decoração interior.
“O número um da Rua da Barca mostra o estilo e o nível da estrutura dos edifícios utilizados há cem anos atrás, revelando ainda a mudança e o desenvolvimento que a cidade tem sentido. É uma testemunha histórica do território”, referiu Chan Su Weng.
O proprietário do edifício já afirmou que caso este seja classificado como património vai pedir uma recompensa ao Governo, já que adquiriu o prédio com base num pagamento de dezenas de milhões de patacas e pretendia construir um edifício com seis andares.
“O IC já apoiou financeiramente vários locais com valor histórico. Neste caso, o proprietário também pode pedir um subsídio à entidade. Por outro lado, o Governo pode pensar adquirir o número um da Rua da Barca por um preço razoável, para que haja uma melhor protecção”, defendeu Chan Su Weng.
Conforme o HM avançou na segunda-feira, o proprietário do edifício, Lao Chau Lam, explicou que metade do prédio já foi demolido pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) em 2013, não estando por isso satisfeito com o facto do IC querer classificá-lo. Lao Chau Lam também não concorda com o pagamento de todas as despesas relativas à protecção, algo previsto na Lei de Salvaguarda do Património Cultural.
O presidente da Associação disse não ver qualquer vantagem em que o caso vá parar à barra dos tribunais, defendendo que tal vai demorar muito tempo até que seja encontrada uma solução.

13 Jan 2016

Seac Pai Van com novo autocarro até ao hospital

A partir do próximo dia 18, segunda-feira, vai começar a operar uma nova carreira de autocarros públicos que fará a ligação entre o complexo de habitação pública de Seac Pai Van e o hospital Conde de São Januário. Para além disso, os autocarros 25F e 37U passam a ser 51 e 72, “tendo em vista a gestão sistemática da rede de carreiras das diversas zonas de Macau”.

13 Jan 2016

Sugerido sistema de transporte marítimo

O Director da Associação Promotora da Economia de Macau (APEM), Ieong Tou Hong, sugeriu ontem a criação de um sistema de transporte de deslocação marítimo pela cidade, como acontece em Banguecoque ou Veneza. A ideia, disse Ieong ao Governo através do canal chinês da TDM, é usar os portos de Macau para criar estes percursos entre a península, Taipa e Coloane.
“Depois de ter sido aprovada a gestão das águas marítimas pelo Governo Central, o Governo da RAEM pode desenvolver o transporte marítimo em Macau, como forma de solucionar o trânsito nas estradas”, começou por dizer. “Macau é pequeno e tem demasiados carros, pelo que o Governo poderá utilizar todos os portos da região, como o Porto Interior, o Cais do Pac On e o Porto de Coloane para este efeito”, acrescentou o director.
Ieong Tou Hong considera que a RAEM pode replicar o sistema de transporte marítimo de cidades litorais como Veneza, em Itália, e Banguecoque, na Tailândia. 
“É possível para os barcos de alta velocidade, cheios de passageiros, passar nas linhas marítimas”, referiu o director, que também disse ser necessário ponderar os engarrafamentos que têm lugar nas zonas antigas da cidade, que enchem com um grande número de turistas e residentes.
Assim, disse esperar que o Governo possa desenvolver o turismo das zonas litorais, a fim de melhor distribuir os visitantes pelas várias áreas da cidade.

13 Jan 2016

Em Hong Kong e Macau faz-se sexo mais cedo do que na China

Um inquérito sobre namoro e casamento entre cidadãos chineses mostra que os entrevistados das regiões de Hong Kong e Macau têm relações sexuais pela primeira vez mais cedo do que na China continental, sendo a média os 19 anos. Os resultados do inquérito foram publicados pelo Centro de Estudos e Investigação Social da Universidade de Pequim na segunda-feira. O estudo envolveu 80 mil questionários recolhidos em 31 províncias e regiões da China, incluindo Hong Kong e Macau. O resultado do inquérito mostra que 51,9% dos entrevistados namora antes dos 18 anos. Os entrevistados das duas RAEs ocupam o primeiro lugar relativamente à primeira experiência sexual. Os inquiridos de Pequim ocupam o primeiro lugar na lista de cidades do interior da China que começa “a fazer sexo mais cedo”, sendo a média os 20 anos. Segue-se a província de Shandong.

13 Jan 2016

Turista de Moscovo “artista de rua” preso por ocupar passeio

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]oman Khromov é o nome do turista russo que no passado dia 10 foi detido pela PSP por colocar fotografias da sua viagem no passeio de uma rua da cidade. O artista estaria a vender as lembranças para pagar uma viagem à volta do mundo, mas foi a ocupação da via pública que lhe valeu uma ida até à esquadra.
Segundo Khromov, não lhe foi explicada a razão pela qual, na tarde de segunda-feira, foi detido. Ao HM, o jovem explicou que lhe foi pedido que registasse as impressões digitais e que assinasse um papel das autoridades inteiramente escrito em Chinês. Khromov recusou a assinatura e o passo seguinte foi uma viagem até aos Serviços de Migração, onde novamente lhe foram pedidas as impressões digitais e lançado um aviso com a nota de que era contra a legislação local fazer o que fez.
“Fui detido pela polícia de Macau por estar a partilhar a minha viagem sob a forma de fotografias e fui detido somente por isso, quando nem sequer tive tempo de colocar as imagens no chão”, conta o turista numa publicação que fez no Facebook na terça-feira. De acordo com o seu depoimento, o jovem não era o único nesta situação.
“Quando estava na esquadra, vi um homem francês que também tinha sido detido por estar a tocar violino na rua”, explica, acrescentando que este tinha mais de 60 anos.

Recordado para sempre

O depoimento público na rede social é claro. O jovem russo, que está a viajar pelo mundo, foi levado para a esquadra por volta das 17h30 e só foi solto por volta da meia-noite, tendo “todo o processo demorado aproximadamente seis horas e meia”. Depois disso, diz, “não teve como comer” ou voltar para o seu alojamento – o parque de campismo da praia de Hac-Sá. “Todos estes ‘felizes’ incidentes aconteceram porque partilhei convosco as fotografias da minha viagem como um artista de rua”, lamenta.
No entanto, o turista deixa uma mensagem para quem esteja interessado: afirma que não vai parar com a partilha, seja onde for. O certo é que, por aqui, o jovem infringiu a lei, que diz que os espaços públicos não podem ser ocupados.
“Convenci-me, há muito tempo, que as leis não são feitas a pensar no bem da população, mas sim de pessoas específicas.” O texto, sublinha o seu autor, vem em jeito de debate sobre a matéria, com a esperança de que “o Governo ouça” o que ali é dito. Roman Khromov fica por Macau mais dois dias, altura em que viaja para as Filipinas. Agora sem as suas fotografias e com um aviso da polícia.

13 Jan 2016

Assédio Sexual | DSAL deve “obrigar” empresas a travar casos, diz CAM

A Comissão para os Assuntos das Mulheres pede que os Serviços Laborais “obriguem” as empresas a criar um ambiente contra o assédio sexual, denunciando num artigo a existência de casos nas indústrias do Jogo e da restauração

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]certo que o Executivo já propôs a criação de um novo tipo de crime que inclui os casos de assédio sexual, mas ainda assim a Comissão para os Assuntos das Mulheres (CAM) pede mais. Na mais recente edição da publicação “Encantos – Revista Feminina”, da total responsabilidade da CAM, é sugerido que a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) crie mais directrizes para que as empresas do sector privado lidem com este problema.
“Sugere-se que a DSAL obrigue as empresas a proporcionar um ambiente seguro de trabalho aos empregados e que faça formação profissional sobre o modo de evitar o assédio sexual aos funcionários”, pode ler-se na revista. Para além disso, a CAM defende que a DSAL deve ajudar as empresas a “elaborarem directrizes para evitar a ocorrência de casos de assédio sexual entre colegas”.
A CAM pede ainda que “os departamentos jurídicos simplifiquem o procedimento de denúncia em relação às vítimas, a fim de lhes permitir o acesso à protecção da sua segurança”. A Comissão diz ainda que, para “garantir os direitos das vítimas”, o “crime de atentado violento ao pudor e o crime de assédio sexual [devem ser] incluídos nos capítulos de crime sexual do Código Penal, ou que seja determinada uma punição específica para esses crimes”. Segundo o documento de consulta pública, lançado em Janeiro, é proposta pelo Executivo a criação do crime de importunação sexual, que abrange estes casos.

Nos casinos

Segundo as opiniões ouvidas pela CAM, “as pessoas do sector dos serviços acharam que o assédio sexual ou o atentado violento ao pudor é mais comum acontecer nas indústrias de alimentação e do Jogo”. As mulheres ouvidas “acharam que as indústrias mencionadas seguem sempre o princípio de que “o cliente é o mais importante e é sempre correcto”, ao mesmo tempo que defendem que a taxa de substituição dos empregados é alta, sendo fácil ser substituído, devendo por isso tolerar-se o assédio sexual do cliente”, pode ler-se.
Nos casinos parece ser comum ocorrerem este tipo de situações. “Os funcionários que trabalham como croupier manifestaram que não têm outra solução quando [enfrentam] assédio sexual do cliente. Podem recorrer à polícia, mas como os assediadores geralmente são turistas, antes de terminar a investigação já eles terão voltado à sua terra, por isso acharam que o mecanismo de tratamento do assédio sexual da indústria do Jogo é inútil. Ao mesmo tempo, os chefes superiores preferem minimizar os problemas”, revelou o artigo.

Em silêncio

Ao HM, Christina Ieong, presidente do Zonta do Clube de Macau, também defende mais regulações para as empresas do sector privado. “Concordo com quaisquer regulações que possam proteger mais as mulheres no local de trabalho. Conheço casos de trabalhadoras que têm sido vítimas de assédio mas não encontram uma forma de falar e não querem falar. Pelo meu conhecimento, há casos que acontecem mas que nunca foram falados. As mulheres têm medo e vejo a necessidade, por parte do Governo, de trabalhar neste tipo de leis e de regulações”, referiu, afirmando que o Zonta Clube de Macau vai apresentar sugestões ao Executivo no âmbito da consulta pública sobre a revisão do Código Penal.
Além do reforço do papel da DSAL, Christina Ieong defende uma maior aposta na educação. “Macau precisa deste tipo de lei para que as mulheres estejam mais protegidas. Para além da legislação, tem de ser providenciada mais educação às vítimas, mulheres, e também potenciais vítimas”, rematou a presidente do Zonta Clube de Macau.

“Ausência de denúncia é problema cultural”

O artigo publicado na mais recente revista da CAM foi escrito com base em auscultações feitas por esta Comissão a alunos do ensino secundário e mulheres trabalhadores, incluindo ao ensino primário (ver caixa). Com base nas opiniões obtidas, a CAM concluiu que as mulheres preferem nada dizer quando são vítimas de assédio.
“Tendo em vista que o emprego serve apenas para ganhar a vida, e considerando o desenvolvimento profissional e a sua reputação individual, as mulheres trabalhadoras têm de tolerar isso e permanecer em silêncio. Todos acharam que, no caso do assédio sexual, só as empresas que buscam o equilíbrio entre o seu interesse e o direito dos funcionários, e que têm vontade de criar um mecanismo de tratamento e adoptam realmente medidas concretas, podem evitar eficazmente o comportamento do assédio sexual ou atentado violento ao pudor”, pode ler-se.
A CAM avançou ainda estatísticas da DSAL, que nos últimos cinco anos registou apenas dois casos de assédio sexual. Alunos e mulheres ouvidas pela CAM afirmaram desconhecer que a DSAL podia lidar com este tipo de casos. “O Instituto de Acção Social (IAS) disse que, em 2014, recebeu duas denúncias, uma das quais realizada através de organização civil. O número de casos recebidos pelas duas autoridades é pequeno, o que significa que o fenómeno do assédio sexual em Macau não é grave. Ou isso tem a ver com a definição jurídica equívoca do assédio sexual, que dificulta a sua definição? Isso também é um ponto que vale a pena discutir”, apontou a CAM.
Para Christina Ieong, a situação é “grave”, mas continua a ser escondida. “Muitas vítimas têm, à partida, muito medo de falar, e há muitos casos escondidos que nunca foram falados. Pensam que vão perder o seu trabalho e a sua carreira. Conheço um caso em que a rapariga foi defendida e foi despedida. Neste tipo de situações as raparigas agem de forma passiva e se forem à polícia vão ter de provar o assédio, vão causar barulho e isso poderá afectar futuros empregos e patrões”, defendeu ao HM. “Esperamos que cada vez mais vítimas, sobretudo femininas, ousem defender os seus direitos e benefícios próprios, no intuito de melhorar o estatuto jurídico dos crimes de assédio sexual”, concluiu ainda a CAM.

CAM ouviu crianças dos seis aos dez anos

Além de ouvir mulheres empregadas e alunos adolescentes do ensino secundário, a CAM foi ainda conhecer as opiniões de crianças sobre a questão do assédio sexual, nomeadamente alunos do ensino primário cujas idades não vão além dos dez anos. “No grupo de foco dos estudantes do ensino primário, os conhecimentos sobre a educação sexual e atentado violento ao pudor são superficiais, sendo geralmente obtidos dos livros, palestras nas escolas e aulas de conhecimentos comuns. Não têm opinião precisa sobre o conteúdo de assédio sexual ou atentado violento ao pudor e a maioria está a favor da prevenção do abuso sexual. Na discussão da definição de assédio sexual, a maioria dos estudantes achou que o ‘abuso’ é quando lhes for tocada a parte privada e quando se fala de forma maliciosa do corpo. Como eles não têm muitas experiências e têm pouca idade, faltam-lhes definições e ideias claras sobre o assédio sexual ou o atentado violento ao pudor”, referiu a CAM.

13 Jan 2016

Studio City acolhe memorial sobre Bruce Lee

Um relógio especial com edição limitada e uma exposição. É desta forma que os 75 anos do nascimento de Bruce Lee serão lembrados no Studio City, graças a uma parceria estabelecida entre uma marca de relógios e a Fundação Bruce Lee. A exposição vai revelar ao público os grandes momentos da carreira do actor e lutador de artes marciais através da fotografia. Com o nome “Legend Never Dies: Bruce Lee 75th Anniversary Memorial Exhibition”, a exposição vai estar patente até ao dia 25 de Janeiro no espaço Times Square no Studio City. A exposição poderá ser visitada de domingo a quinta-feira entre as 10h30 e as 23h00, enquanto que de sexta-feira a sábado poderá ser visitada apenas entre as 10h30 e as 12h00. A entrada é livre.

13 Jan 2016

Livros do Meio apresenta autobiografia de K’ang Hsi

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]editora local Livros do Meio lança, na próxima segunda-feira, uma obra autobiográfica do imperador chinês K’ang Hsi. O lançamento acontece às 18h30, na Fundação Rui Cunha. “Imperador da China – Autobiografia de K’ang Hsi” compreende uma série de manuscritos traduzidos por Jonathan Spence, com cartas e outros escritos seleccionados que dão uma luz esclarecedora sobre a vida do imperador que governou a China durante a segunda metade do século XVII. Nesta peça literária – autobiográfica – todos os textos foram escritos pelo imperador, sendo que a Spence se atribui somente a selecção dos manuscritos a incluir na obra.
“Por estas páginas, perpassam as ideias, os valores, os pensamentos e as afeições de um homem que é considerado um dos mais brilhantes governantes da História”, refere a organização em comunicado.
K’ang Hsi foi o primeiro imperador a nascer a sul de Pequim, em 1654, e o quarto da Dinastia Qing. Além disso, foi o governante que mais tempo esteve no poder – 61 anos. No entanto, a sua governação não teve lugar desde a chegada ao trono, tendo sido a sua avó e outros quatro representantes a tomar as rédeas do país dos sete aos 13 anos de idade do então jovem. imperador da china spence
Este é considerado uma das personagens mais emblemáticas na história da política chinesa, tendo presenciado a Revolução dos Três Feudalismos, o Reino de Tungning em Taiwan e o bloqueio Czarista. Contas feitas, no final do seu reinado, o imperador chinês tinha a seus pés a China, Taiwan, a Manchúria e parte da Rússia, mas também a Mongólia e o Tibete.
“O livro poderá ser visto como uma tentativa de explorar o poder que a memória tem de transcender o tempo, uma tentativa de mostrar eventos de uma vida tal como podem renascer em alguns momentos de concentração mental”, explica Spence no prefácio da obra.
O livro aproxima-se de uma biografia no sentido em que o seu editor pretendeu mostrar as várias fases da vida de K’ang Hsi.
Jonathan Spence nasceu no Reino Unido, mas tem dupla nacionalidade. De entre as publicações da sua autoria estão 14 obras sobre a China subordinados a vários temas, nomeadamente diferentes dinastias, a Revolução Cultural ou a presença ocidental deste lado do mundo. Spence vive agora nos EUA, tendo-se doutorado em Filosofia Chinesa Clássica na Universidade de Yale.

13 Jan 2016

Fingertips lançam “Out of Control”, gravado em Xangai

O vídeo do novo single dos Fingertips, “Out of Control”, foi gravado em Xangai, “por um dos mais promissores realizadores portugueses da sua geração, Vasco Mendes”. Num comunicado à imprensa, a banda indica que o seu novo álbum foi gravado e produzido em Los Angeles, por Mark Nedham – o mesmo produtor de The Killers, Imagine Dragons e Fleetwood Mac. “A música explora o papel da individualidade e a forma como cada um vai atrás dos seus sonhos e da liberdade”, contam. Durante os últimos meses os Fingertips estiveram em digressão mundial pelo Japão, EUA, Brasil, Canadá, Inglaterra, Singapura, Austrália, França, Holanda e China. Para este ano, a banda está a agendar uma digressão na Europa e vários concertos nos EUA, entre eles a abertura do “Worldwide Radio Summit”, em Los Angeles, e um concerto no Hard Rock Café Hollywood.

13 Jan 2016

Música | Jovem de Macau lança hoje segundo álbum de originais

Toca bateria, teclas e guitarra e faz dos sintetizadores o seu brinquedo. Achun, nascido e criado em Macau, lança hoje “Hallucination”

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Achun e nasceu e cresceu em Macau. Foi também aqui que criou todas as músicas que fazem parte de “Hallucination”, o segundo álbum na sua carreira e que é agora dado a conhecer ao público. A data não foi escolhida ao acaso: Achun celebra hoje 32 anos e quis, com este CD, dar um “presente a si próprio”.
O disco inclui sete músicas, todas elas instrumentais, e compostas por Achun. A electrónica é o seu estilo, mas o músico – independente – explica que, por detrás do que faz, há muito trabalho.
“As pessoas pensam que eu sou um DJ, mas não. A verdade é que eu toco diversos sintetizadores e instrumentos, como bateria, guitarra e teclas”, explica ao HM, acrescentando que não se fica por aqui.

No início era os anos 80

Quando começou, há quatro anos, Achun enveredou por estilos mais relacionados com os anos 80. Como exemplo para ilustrar a sua explicação, o jovem diz-nos que começou por fazer sons semelhantes aos do jogo “SuperMario”. Ultimamente tenho criado algumas músicas mais asiáticas e de etnias diferentes, com instrumentos especiais como carimba e maracas. Quero criar músicas que misturam o estilo asiático e electrónico”, diz-nos.
Apesar de fazer tudo do zero sozinho, Achun assume que também pensa na sua audiência, especialmente quando tem concertos: o estilo pode ser mais “suave, mais vibrante, mais pesadão”. achun
Estudante do curso de Desenho do Instituto Politécnico de Macau, Achun acabou por não terminar a licenciatura. Ao mesmo tempo que estudava, trabalhava numa empresa de desenho. O facto de considerar que o conteúdo do curso não era tão interessante ajudou a que o jovem optasse pela sua paixão: a música.
“Comecei a minha carreira musical há quatro anos. A música sempre me interessou, sempre tive uma grande paixão por música e, nos três anos anteriores, sempre pensei em tornar-me músico a tempo inteiro. Só não me despedi do trabalho porque precisava de ganhar o meu pão.”
Achun publicou o seu primeiro álbum – “On The Other Side” – em 2012, tendo feito o seu primeiro concerto par ao lançamento do disco em Xangai. Foi aqui que a sua carreira deu um passo em frente.
“Conheci um italiano que era dono de uma editora em Bolonha. Combinamos lançar algumas músicas na internet e foi isso que fizemos com obras como ‘City Vibes’ e ‘The Gloaming Time’. Depois desta cooperação, fui contratado por uma empresa de Hong Kong.”
Achun passou, então, a viver e trabalhar na região vizinha. Voltou a Macau para criar mais música, mas a verdade é que o bichinho da RAEHK ficou para sempre consigo.
“Embora tenha tido concertos já em Xangai, Taiwan e Hong Kong, bem como em Macau, a maioria dos meus shows é na RAEHK. Macau não é muito conhecido nos países estrangeiros e, como morei e trabalhei lá, digo aos estrangeiros que sou de Hong Kong. Mas não me esqueço que nasci e cresci em Macau. Se for mais conhecido mundialmente, no futuro, vou dizer aos meus fãs que sou de Macau. E vou falar desta terra, caso eles não saibam onde fica”, conta-nos sorridente.

O mercado local

A dificuldade de fazer música em Macau é algo apontado pelo músico, que caracteriza a indústria musical local como um “papel branco”. Faltam recursos humanos e espaços, diz, mas também uma verdadeira paixão por música da parte do público.
“O território é pequeno, não há muito potencial para música aqui e os residentes não dão muita atenção à música. Por isso é que me concentrei mais no mercado internacional.”
Ainda assim, Achun não desiste do que gosta de fazer. Prova disso é este novo álbum, que é publicado de forma independente através da sua própria empresa – a “The Future Perfect”. Desde a criação da música, à gravação do disco e à promoção tudo é, então, feito por Achun.
O artista diz-nos ainda que todas as capas dos seus álbuns são desenhadas por si. A capa de “Hallucination” é inspirada em ficção científica, uma das suas outras paixões. O álbum vai ser lançado digitalmente, para já, e só depois em formato físico. As músicas de Achun podem ser ouvidas em plataformas como iTunes, Amazon e KKbox.

13 Jan 2016

Três propostas para rádio-táxis

O Governo recebeu três propostas de empresas para a exploração das licenças especiais de rádio-táxis. A informação foi avançada pela Rádio Macau em língua chinesa, depois do fim do período de entrega de propostas, ontem. Com estas licenças, o Governo quer colocar mais cem táxis na rua, os quais vão circular por um período de oito anos em sistema de chamada telefónica.

13 Jan 2016

Violência Doméstica | Crença na definição de crime público

O Governo diz que a lei contra a violência doméstica está “quase pronta” mas não adianta se será crime público ou semi-público. Intervenientes, outrora ouvidos pela Administração, acreditam na definição de crime público, até porque dizem, é o único caminho possível

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]evereiro é o prazo final atribuído pelo Governo para a apresentação da proposta de Lei de Prevenção e Correcção da Violência Doméstica na Assembleia Legislativa (AL). O diploma parece trazer novidades e – apesar de o Governo não avançar se vai realmente enveredar pela criminalização pública deste acto – associações envolvidas na elaboração da lei acreditam que esse é o caminho.
“Acredito muito que será definido o crime público. Acho que o Governo vai avançar com isso”, indicou Paul Pun, presidente da Cáritas de Macau, ao HM. De notar que esta é a grande questão que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) – juntamente com a pasta dos Assuntos Sociais e Cultura, tutela do Secretário Alexis Tam – tem para definir.
“Crime público é a única decisão possível”, argumenta a irmã Juliana Devoy, directora do Centro de Acolhimento Bom Pastor, vocacionado maioritariamente para mulheres vítimas de violência doméstica. “Depois de um ano de estudo, com reuniões com várias associações acho que já é tempo de se tomar uma decisão”, acrescentou.

Jogo escondido

Apesar do Governo não levantar o véu sobre a definição que irá ser dada ao crime – como o HM tentou – admite que já elaborou uma versão preliminar com o consenso que conseguiu alcançar depois de oito encontros com a assessoria da AL. Ontem o Governo voltou a reunir, na AL, para discussão do assunto, segundo o que conseguiu apurar o HM.
“O que nós temos agora é nada. Não há uma lei que proteja as vítimas de violência doméstica, [uma lei] que permita que muitos casos se evitem. E outras coisas como medidas judiciais”, explicou Devoy, adiantando que “só o facto de estar quase pronto é um grande alívio para quem todos os dias lida com esta situação”.
Questionados sobre os trabalhos do Governo, os representantes, ouvidos em 2014 e 2015, ainda não foram contactados novamente pela Administração. “Eu ouvi [que a proposta de lei estava pronta] há dois dias, mas o Governo ainda não nos contactou. Finalmente. Estou convicto que será crime público”, reforçou Paul Pun.
Contactado pelo HM, o Gabinete de Alexis Tam clarifica que a proposta está “quase” pronta, sem nunca esclarecer as decisões tomadas. Com a definição de crime público, qualquer pessoa ou entidade poderá denunciar um caso de violência doméstica, continuado ou não, sem que a vítima saiba ou sequer dê consentimento. O caso seguirá pelas mão do MP, mesmo sem a participação directa da pessoa ofendida.
Em 2012, após um ano desde a primeira consulta pública sobre o assunto, o Instituto de Acção Social, órgão responsável pela elaboração da proposta, entendia não haver necessidade de tratar a violência doméstica como crime público. Depois, há quase dois anos, disse que seria crime público mas em casos de violência “continuada” e não no geral. A questão levantou dúvidas entre as associações ligadas às vítimas e alguns deputados, que diziam não perceber o que era violência continuada.

13 Jan 2016

Lei Sindical | Deputados têm “esperança” na aprovação

Pereira Coutinho e Au Kam San esperam que os deputados, sobretudo os nomeados, possam aprovar a Lei Sindical apresentada pela FAOM. Mas também dizem que isso só acontece se houver o aval do Chefe do Executivo

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ela primeira vez na história da política local uma associação que não a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) apresentou um projecto de Lei Sindical na Assembleia Legislativa (AL). José Pereira Coutinho, actual presidente da ATFPM e autor de seis projectos desta mesma lei, espera que a iniciativa da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), através dos deputados Kwan Tsui Hang, Ella Leo e Lam Heong Sang, possa reunir os apoios necessários.
“Vejo com grande esperança o facto de haver colegas que finalmente decidiram apresentar o projecto. Espero que reúna o consenso e os votos necessários para a sua apreciação na generalidade”, disse Pereira Coutinho ao HM, sublinhando que espera sobretudo o apoio dos sete deputados nomeados pelo Chefe do Executivo.
“Não vai ser fácil [obter o apoio], mas acredito que se houver da parte do Chefe do Executivo uma boa vontade, e se der indicações positivas para que os deputados nomeados tenham abertura em relação a este diploma, então não vejo razão para que continuemos a aceitar lacunas desta natureza”, frisou o deputado directo.

Deputados analisam diploma

Contactado pelo HM, Lau Veng Seng, deputado nomeado, disse não ser a melhor altura para dizer se vai ou não votar a favor, por ainda estar a analisar o diploma. Também Gabriel Tong, nomeado, pediu mais tempo para analisar o projecto de lei.
“Houve várias tentativas no passado propostas pelo deputado Pereira Coutinho e desta vez são outros deputados a apresentar. Temos de ver se há coisas novas e em que medida é que os direitos e a organização sindical estão garantidos”, disse ao HM.
Leonel Alves, deputado indirecto, também não quis comentar por estar a analisar o diploma.

Não vai ser fácil

Ao HM, o deputado Au Kam San garantiu que vai votar a favor, tal como fez nas anteriores votações. Contudo, o deputado lembra que a lei só poderá ser aprovado se existir um “entendimento tácito” entre os três deputados [da FAOM] e os deputados que representam o sector empresarial. Só isto, diz, poderá facilitar a aprovação na generalidade.
Na nota justificativa da proposta de lei pode ler-se que “a presente iniciativa legislativa tem por objectivo concretizar o disposto da Lei Básica da RAEM, dar cumprimento ao exigido pela Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e colmatar o vazio legislativo nesta matéria, criando-se a respectiva regulamentação no ordenamento jurídico da RAEM”, pode ler-se. O HM tentou ainda obter reacções junto de outros deputados, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.

12 Jan 2016

Susana Chou diz que Macau não cumpre bem papel de ligação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL), Susana Chou, considera que Macau não está a desempenhar bem o papel de plataforma de serviços comerciais e empresariais entre a China e os países de Língua Portuguesa. A antiga responsável atribui essa ineficácia à falta de profissionais bilingues.
Num artigo publicado no seu blogue, Susana Chou cita um estudo de 2011 feito pelo académico Guo Yongzhong, do Instituto Politécnico de Macau (IPM), denominado “Pensamento de Estratégias da Plataforma em Macau da Cooperação Comercial e Empresarial entre a China e os países da Língua Portuguesa”, onde este aponta que o Governo Central investiu um grande apoio financeiro e de recursos humanos para a transformação de Macau numa plataforma. No entanto, frisa também, o território não consegue desempenhar de forma completa este papel.
A ex-presidente referiu que esse estudo “mereceu grande concordância” sua. “Tenho muita pena que o Governo da RAEM não agarre esta boa oportunidade [de desenvolver a plataforma].”
Como um dos exemplos para provar essa ideia, Susana Chou dá um exemplo próprio: a empresa privada criada por si em 2014 que tinha como objectivo providenciar serviços comerciais e empresariais entre a China e os países da Língua Portuguesa. A ex-presidente do hemiciclo afirma que esta empresa não conseguiu começar qualquer trabalho nos últimos dois anos porque não encontrou “talentos bilingues” apropriados em Macau.
Susana Chou frisa que, para se tornar uma plataforma real, é necessário profissionais suficientes. Algo em que o Governo assegura estar a apostar.
“Concordo muito com a ideia do doutor Guo, que sugere aumentar o ensino da Língua Portuguesa e dos estudos científicos. A verdade é que Macau não tem talentos bilingues e caso o Governo não arranje profissionais para trabalhar em Macau que compreendam as leis dos países de Língua Portuguesa, as finanças e a gestão empresarial do interior da China as leis internacionais, a criação da plataforma em Macau é apenas um discurso oco”, indicou.

12 Jan 2016

Hotel

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]assava mais tempo do que o necessário dentro de quartos de hotel, aproveitando até ao limite as promessas que ia buscar às suas necessidades e aos seus medos mas principalmente às suas leituras. Ao contrário do que outros faziam (tinha ouvido várias histórias ao longo dos últimos anos), nunca ficava no mesmo quarto mesmo quando repetia um hotel.
Ser hóspede de hotel é um pouco como ser actor. É fácil de perceber porquê, não vale a pena estar a tentar explicar. Preparar a água para o banho, mudar o canal de televisão, fazer chá ou deixar a roupa espalhada pelo chão do quarto de uma maneira ritual e diversa da que se pratica normalmente.
Talvez uma das seduções do hotel seja a de se fazer o mesmo que se faz todos os dias em casa mas de modo diferente e com muito mais liberdade. Por essa razão é que um quarto de hotel é o melhor lugar para se ler poesia, sem distracções, como um equivalente adulto de uma cabana numa árvore ou o lugar escondido por baixo das escadas junto das vassouras.
Ser hóspede de hotel pode ter uma vantagem inocente, a de nos sentirmos praticantes de uma pequena fraude sem consequências. E porque é aí que se fazem ou podem fazer muitas coisas, como os escritores podem ser, como diz Cláudio Maggris em Danúbio, uma falsificação de si próprios, projectando o pronome “eu” noutra pessoa (Capítulo 2, O Danúbio Universal do Engenheiro Neweklowsky, 14. De Lauingen a Dillingen).
-Este é também, e fora provavelmente para ele, o lugar do adultério, uma das ficções que nos foram obrigando a viver.
-Uma outra ficção que o uso de um hotel faz disparar são histórias de pessoas que aparecem mortas em quartos de hotel, o que tem um mistério inventado porque lá é muito fácil inventar mistérios. É aí que o quarto se transforma numa cripta. Para matar alguém é melhor fazê-lo num quarto de hotel ou de uma pensão do que numa casa particular.
-Sonhara que alguém o fora procurar ao quarto quando já lá não estava.
-Usa-se também como sítio para praticar o desenraizamento, que pode ser consequência de um acontecimento sério ou um desejo turístico de olhar pela janela e sentir as luzes em baixo, indistintas.
Para a prática turística do desenraizamento pode ler-se um livro de Herta Müller. Reisende auf einem Bein/Travelling on One Leg seria uma boa escolha já que Irene, recém emigrada de um país que nunca é nomeado mas que os leitores de Müller sabem qual é, sente e mostra constantemente uma desadequação no país que a acolhera. Der Mensch ist ein großer Fasan auf der Welt/The Passport, também pode ser útil porque fala de uma partida adiada mas finalmente conseguida.
Claro que um hotel tem muito que ver com uma viagem ou o desejo de uma. É impossível não pensar no jovem Dedalus de Joyce. There was a book in the library about Holland. There were lovely foreign names in it and pictures of strange looking cities and ships. It made you feel so happy.
Imagine-se ser condutor de um táxi e começar o dia sem saber onde se vai. Começar por ir ao norte da cidade. Depois a uma estação ferroviária antiga com torreões finos, num sítio difícil de parar e largar o cliente. Para onde irá ele? Uma passagem por um hospital velho a precisar de reparações. Ao pequeno almoço não imaginaria nada disto. Durante o dia não há passageiros para espectáculos, vestidos a rigor para a ópera ou o teatro. Compton Street, St. Peter’s and St.Paul’s Primary School, please, de manhã. 77, De Gusto, Charlottenstraße, bitte, à hora de almoço ou de jantar.
Uma das grandes vantagens é a da fugacidade da visita não permitir que se acumulem emoções que poderiam mais tarde dar origens a nostalgias sólidas. O hábito é um vício difícil de deixar e assim permite-se a criação de uma desordem, mesmo que esta obedeça a uma ordem de uma memória ou de uma moda.
Começava agora a sentir um fascínio por aquelas pessoas que nunca viajaram, que viveram toda a vida num mesmo país ou numa mesma região, algo que lhe seria impossível reproduzir. Começava a sentir um fascínio por quem, durante décadas, encontrara sempre o mesmo cheiro ao preparar-se para dormir e poderia continuar na perfeição a cumprir todas as suas tarefas domésticas se por qualquer razão perdesse a visão.
Bruce Chatwin tem um livro assim. Todos os outros são passados num lugar diferente e são uma viagem, mesmo que não sejam livros de viagens. Mas On The Black Hill é sobre dois irmãos gémeos que passam toda a sua vida em Gales, of all places, que também é o sítio onde cresce Austerlitz, o herói do livro de Sebald com o mesmo nome. Se por coincidência se lerem os dois livros, o País de Gales nunca será a mesma coisa para nós e é por isso que um hotel é um pouco como uma língua estrangeira que se desconhece totalmente ou se percebe mal, cheia das vantagens cautelosas dos malentendidos e das relações fugazes.

12 Jan 2016

Intoxicação leva quatro pessoas ao hospital

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uatro pessoas precisaram de assistência médica depois de terem sofrido uma intoxicação decorrente da inalação de Sulfureto de Hidrogénio. Duas delas ficaram mesmo internadas. A situação foi comunicada aos Serviços de Saúde após quatro funcionários do Supermercado San Miu, da Avenida Olímpica da Taipa, terem sido transportados para o Centro Hospitalar Conde de São Januário e para o Hospital Kiang Wu. Um dos funcionários, do sexo masculino ficou ferido na cabeça devido a uma queda decorrente de um desmaio. “Os relatos dos funcionários que foram observados referem que, antes de sentirem tonturas, falta de respiração e em três casos desmaios sentiram um intenso cheiro, decorrente das operações de desentupimento de canos que causaram uma inundação de água no estabelecimento.”
Segundo informações do Corpo de Bombeiros, no local, “a concentração de sulfureto de hidrogénio era excessiva e a mesma pode estar relacionada com a libertação de gases tóxicos das operações de limpeza das canalizações”. As manifestações clínicas dos pacientes coincidem com os sintomas comuns de intoxicação por sulfureto de hidrogénio, refere um comunicado, mas a causa exacta está ainda a ser investigada.
O sulfureto de hidrogénio está habitualmente presente no petróleo bruto, gás natural, gases vulcânicos e em fontes termais. Os baixos níveis de concentração deste gás não provocam sintomas, mas a existência de um aumento da concentração pode provocar irritação dos olhos e vias respiratórias, tontura, dor de cabeça e sonolência. Os níveis elevados podem causar coma, paragem respiratória e até mesmo a morte. O sulfureto de hidrogénio tem um odor forte, pungente e semelhante ao odor de ovos podres, mas quando a sua concentração é muito alta, “as pessoas podem não o detectar devido a fadiga olfactiva”.
Os SS alertam os cidadãos para limpar os locais onde possa existir uma grande quantidade de gases, tais como esgotos.

12 Jan 2016

Festival de Graffiti | Arte urbana nas escolas e parques da cidade

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação do Poder das Artes para Inspirar Inteligência de Macau está a organizar o primeiro Festival de Graffiti de Macau. O evento começou ontem e decorre durante uma semana. Entre as actividades disponíveis estão palestras e a possibilidade de pintar as paredes de parques e escolas.
A cerimónia de abertura do festival aconteceu ontem no Centro UNESCO de Macau. Foi também aqui que teve início a Exposição de Obras de Graffiti de Alunos do Ensino Especial, com a cooperação da Cáritas de Macau e da Associação de Familiares e Encarregados de Deficientes Mentais de Macau.
O presidente da associação, Chong Cok Veng, e o director da Associação, Peter Siu Chun Yun esperam tornar este festival anual, considerando uma “marca local” para atrair mais turistas e para que a arte urbana atinja a cidade.

Quarteto italiano

É às 10h00 de amanhã que acontece uma palestra sobre o tema, no Instituto Politécnico de Macau. Quatro artistas de graffiti do grupo italiano Truly Design – Mauro Italiano, Emanuele Ronco, Marco Cimberle e Emiliano Fava – são as cabeças de cartaz do festival. O quarteto lecciona actualmente no Instituto Europeu de Design, em Torino. Marco Cimberle é especialista em Design a três dimensões e Mauro Italiano em Ilustração.
Das 14h00 às 16h00 de hoje e amanhã e das 10h00 às 16h00 desta quinta e sexta-feira estão abertas sessões de grafitti no Parque de Grafitti de Macau, situado na Rua dos Mercadores. O graffiti não “invade” apenas o parque, como também chega à Escola da Cáritas de Macau às 10h00 de amanhã. O último dia da actividade vai ter lugar na Praça de Amizade, das 9h00 às 17h00, onde os artistas vão fazer graffiti em 3D. 
Esta actividade é co-organizada pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e patrocinado pela Fundação Macau.

12 Jan 2016

Governo deu trabalho a mais de cem deficientes em dois anos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto de Acção Social (IAS) já ajudou 129 portadores de deficiência a encontrar trabalho nos últimos dois anos, sendo que 69 empresas foram premiadas por empregarem pessoas deficientes no âmbito da 6ª edição do Plano de Atribuição de Prémios às Entidades Empregadores de Pessoas Deficientes. Dez empregados ganharam mesmo a distinção de “melhores trabalhadores”. Esta iniciativa foi desenvolvida em conjunto com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).
Numa resposta ao HM – que deveria ter entrado na reportagem ontem publicada – o IAS defende que o Governo tem vindo a valorizar a reabilitação e a empregabilidade das pessoas com deficiência, cooperando com as associações ao nível das acções de formação, planeamento da vida destas pessoas e ainda transferência de emprego. O IAS deu ainda um subsídio a oito instituições orientadas para os serviços de reabilitação profissional, tendo apoiado financeiramente 300 pessoas, incluindo portadores de deficiência mental, física e auditiva.
Nos anos de 2014 e 2015, o IAS transferiu um total de 214 pessoas para outros trabalhos, tendo 129 sido recrutados depois desse período de transferência. Ontem, recorde-se, Hetzer Siu dizia numa reportagem feita pelo HM sobre o tema que o Governo não era um dos melhores exemplos na contratação destas pessoas. O director-executivo da Special Olympics dizia que, actualmente, o Governo tem apenas quatro portadores de deficiência a trabalhar e que, como não existe uma carreira especial ou uma forma de inscrição especial para encorajar a empregabilidade destas pessoas, “é muito difícil trabalhar” na Função Pública.
“Podemos ver que nem o Governo está muito activo na contratação de deficientes”, dizia.

12 Jan 2016

Ho Ion Sang quer regulamentação para lojas de take-away

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Ho Ion Sang quer ver melhorados os regulamentos que ditam o licenciamento de estabelecimentos de comidas e bebidas, pedindo que sejam incluídas as lojas de take-away. Numa interpelação escrita, Ho Ion Sang explicou que, actualmente, para operar uma loja de comidas e bebidas de “take away”, produzir e fornecer alimentos não é preciso ter uma licença de estabelecimento alimentar, pelo que basta tratar do caso através de registo comercial junto dos Serviços para a Economia (DSE).
O deputado avançou que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) já respondeu, numa outra interpelação sua, garantindo que a segurança higiénica da produção alimentar está a ter o devido controlo desde a entrada em vigor, em 2013, da Lei de Segurança Alimentar. Na mesma resposta, explica Ho Ion Sang, o organismo defendeu que vai reforçar a fiscalização destes estabelecimentos.
No entanto, tal não é suficiente para o deputado, pelo que este insiste na integração das lojas de take-away na mesma legislação.
“Qual é o mecanismo de fiscalização de higiene e exames alimentares desenvolvido pelo IACM? Consegue este assegurar os padrões sanitários?”, questionou. Ho Ion Sang quer ainda saber quando é que o Governo considera a revisão do licenciamento para regulamentar melhor a operação das lojas de “take away”.

12 Jan 2016

Uma triste ficção

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m economista estaria em óptima posição para explicar ao leitor o que é a moeda. De uma nação, de um estado, de uma simples região. Não sendo economista, e escrevendo para todos, terei de me socorrer daquilo que aprendi ao longo da vida, procurando numa linguagem desprovida de tecnicismos e enfeites semânticos transmitir aos leitores o que quero levar à sua reflexão.
A moeda é para a generalidade das pessoas aquilo que tem um valor pecuniário, aquilo que numa economia serve para comprar bens e serviços. Unidade de conta, reserva de valor, meio de troca. Em regra, são estas as funções da moeda. Mas se estivermos a falar de Macau, de uma região administrativa especial de um Estado soberano, estaremos também a falar de algo mais. Estaremos a falar de um símbolo da sua identidade, de uma marca da diferença, de um valor seguro, fiável e com a capacidade de perdurar para além dos homens, constituindo valor, criando riqueza, sendo motivo de orgulho das suas gentes.
Quando em 1987 foi assinada a Declaração Conjunta sobre a Questão de Macau, ficou a contar desse texto no seu ponto 2.8 que a Pataca – está grafado em maiúscula – continuaria a ter curso legal na RAEM. No Anexo I, relativamente ao esclarecimentos prestados pela RPC, ficou a constar que “[c]omo moeda com curso legal na Região Administrativa Especial de Macau, a Pataca de Macau continuará em circulação, mantendo-se a sua livre convertibilidade”. Quanto à segunda parte do que ficou acordado sabe-se que, segundo informa a AMCM, para a convertibilidade das notas de Macau emitidas em patacas pelo Banco da China e o BNU, “os dois bancos emissores devem entregar na AMCM um montante equivalente em dólares de Hong Kong, à taxa cambial de HKD1 = MOP1.03”. Quanto à primeira parte, agora que estamos a mais de 30 anos de 2049, é que tenho dúvidas que a pataca continue em circulação nas condições que os seus cidadãos podem esperar.
E manifesto as minhas dúvidas porque embora os que aqui trabalham recebam os seus proventos, em regra, na moeda local, sei que hoje em dia se contam pelos dedos de uma mão os poucos contratos, dos milhões que anualmente são celebrados em Macau nas mais diversas actividades, cujo valor é fixado na moeda local. Ou em que sendo fixados em dólares de Hong Kong apresentam a correspondência em patacas. É verdade que se continua a pagar as contas nos restaurantes em Patacas, aqui grafando-se em maiúscula o que consta dos textos legais e nos sai do bolso, bem como são notas nessa moeda que servem para pagar as compras nos mercados, cafés e lojas de sopas de fitas, havendo ainda alguns cartões de débito e de crédito emitidos nessa moeda. Mas o facto de esses valores ainda assim poderem ser pagos na moeda da terra é cada vez mais uma raridade. Se formos a ver bem as coisas, aquilo que os cidadãos de Macau pagam em patacas não é mais do que os preços em dólares de Hong Kong convertidos na moeda local. Pode parecer confuso mas basta olhar para o que se passa no mercado imobiliário, ver as montras das imobiliárias, para perceber do que falo.
Quando no espaço de dois ou três dias se verifica que o preço do leite, dos iogurtes, das batatas ou das azeitonas aumenta e alguém questiona a razão para a variação de preço, muitas vezes em valores bem superiores àquilo que são os dados oficiais da inflação, a explicação é sempre a de que os produtos são importados e pagos em dólares de Hong Kong a quem os vende, apesar de não raro quem os vende não estar em Hong Kong, nem na China, mas aqui em Macau. Quanto a isso parece existir uma espécie de clister conformista que a tradição local nos impele a acatar sem ondas, fazendo com que a explicação que sorridentemente nos enfiam deslize sem dor nem mais questões, numa espécie de bênção pela satisfação de necessidades básicas.
O problema é quando alguns desses clisteres assumem proporções “bíblicas”. Isto é, quando se compara o valor pago por esse serviço em dólares de Hong Kong com a crescente falta de patacas nos bolsos para perfazer o preço pedido.
Na verdade, a convertibilidade da pataca e a crescente insuficiência de moeda local nos bolsos dos cidadãos é um problema que não é sentido pela elite política, empresarial, administrativa e, já agora, criminal da RAEM, isto é, aquela andou a receber “investimentos” em salas VIP, como se de bancos autorizados se tratassem, e que mercê da sua argúcia, perspicácia e capacidade reprodutiva conseguiu alterar o sentido do texto da Declaração Conjunta a que acima aludia de maneira a que a moeda com curso legal em Macau se tenha tornado o dólar de Hong Kong.
É evidente que o problema não nasceu ontem, tendo contribuído sobremaneira para a actual situação uma decisão judicial proferida em plena Administração portuguesa, no tempo daquele senhor que passou por uma data de portos a encher contentores e a instituir fundações dos mais variados tipos sem se preocupar com o factor cambial. Nessa altura houve um tribunal superior que veio dizer que o dólar de Hong Kong era uma moeda com curso “quase-legal” em Macau e que perante a exigência do Código Civil então vigente de que os contratos de arrendamento cujo valor fosse superior a oitocentas patacas fossem reduzidos a escrito sob pena de nulidade, veio esclarecer que para esse efeito oitocentos dólares de Hong Kong eram exactamente o mesmo que oitocentas patacas. Graças a esse “douto” aresto, que como cidadão de Macau me envergonhou, aquilo que era nulo tornou-se válido, a cantina dos almoços continuou a funcionar, embora entretanto já encerrada, e os cidadãos pagam hoje o custo social e económico dessa equiparação forçada.
E isso é de tal forma escandaloso que quem queira nesta altura comprar um automóvel, arrendar uma fracção para habitação ou comércio ou um lugar de estacionamento terá de negociar os preços em dólares de Hong Kong e celebrar os contratos nesta moeda. E as patacas, além de se terem tornado um bem raro e escasso para pagar as contas, pura e simplesmente tornaram-se numa ficção. Uma ficção com custos elevados e indignos.
Neste momento, a pataca só serve para pagar o salário do Chefe do Executivo, o dos seus secretários e o do pessoal que exerça funções públicas e assalariadas na actividade privada. E impostos e custas judiciais. Quanto ao mais não existe. Qualquer empresa do sector automóvel ou empresa de mediação imobiliária anuncia alegremente os seus preços em dólares de Hong Kong como se fossem patacas, e até quando o vendedor ou senhorio é de Macau, recebe o seu salário em patacas e paga as contas do supermercado na moeda local, a renda da casa onde o seu inquilino vive ou a do lugar de estacionamento que arrenda ao vizinho é paga em dólares de Hong Kong. Nos casinos contam-se pelos dedos as máquinas que há em patacas, havendo mesmo algumas salas em que os residentes de Macau que queiram e possam jogar na sua terra, para o poderem fazer têm primeiro de trocar patacas por dólares de Hong Kong num balcão da concessionária ou subconcessionária, como se estivessem de férias em Las Vegas e essa fosse efectivamente a moeda de Macau, a única com curso legal. Uma vergonha.
Bem sei que estas são questões menores para quem tudo recebe, com excepção das ajudas de custo e do seu pocket money, em dólares de Hong Kong ou noutra moeda qualquer. Quem recebe as suas “comissões” em dólares de Hong Kong ou USD, contando para isso com a benevolência dos legisladores e a insensibilidade das autoridades, preocupa-se pouco com isto. Não lhe toca, passa-lhe ao lado. Mas para os outros, para os filipinos das limpezas, para o segurança do tribunal, para o lavador de carros que veio do outro lado das Portas do Cerco para ganhar a vida em Macau e para todos os que diariamente são obrigados a converter patacas em dólares de Hong Kong para pagar a renda do quarto ou do apartamento, o desprezo dos poderes públicos perante esta realidade cala fundo. E dói.
Para o cidadão de Macau que recebe o seu salário em patacas é incompreensível que tudo seja negociado em dólares de Hong Kong. Que esta seja a verdadeira moeda de Macau. O facto de existir uma taxa fixa e uma indexação permanente não retira a esta realidade o carácter aviltante de que este facto se reveste.
A actual situação da pataca, para além de facilitar a lavagem de dinheiro, o crime económico e a corrupção, só beneficia os especuladores. E os que sendo residentes noutras regiões recebem os seus pagamentos em dólares de Hong Kong, sendo poupados aos custos de conversão e transferência, podendo continuar a arrecadar sem custos para si e em prejuízo dos cidadãos locais e dos cofres da RAEM.
Se a pataca é hoje uma ficção, se se entende que sempre foi, se não é um símbolo da autonomia de Macau e da sua identidade, se não se quer que seja, se não serve os interesses da RAEM, então o Governo local deverá acabar com a actual fantochada e dizê-lo, sendo nisso secundado pela própria RPC. Porque a actual realidade é a todos os títulos inaceitável e o Governo da RAEM deveria ser o primeiro a encontrar uma solução que retirasse a Pataca do ghetto em que se encontra. Uma solução que lhe restituísse a dignidade e protegesse os cidadãos de Macau dos abusos dos que aqui especulam e traficam noutras moedas.
A pataca é um símbolo da cidadania de Macau e isso vê-se nos cheques com que anualmente se tem comprado a sua submissão, o seu silêncio, a sua passividade. E é por ser paga em patacas que a sua cidadania deve ser respeitada. A cidadania de Macau não é convertível, nem tem curso quase-legal em qualquer outra moeda. Por isso é que para qualquer cidadão que vive do seu trabalho dez ou vinte mil patacas não são o mesmo que dez ou vinte mil dólares de Hong Kong. Nunca o foram. Qualquer ladrão, até o mais pobre, sabe isso na hora de estender as mãos para as lavar.

12 Jan 2016

Hotel Estoril | Residentes concordam com transformação em pólo cultural

Para os residentes não há necessidade em preservar o antigo Hotel Estoril. A maioria concorda com as ideias do Governo, mas dizem que é preciso um novo parque de estacionamento

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s residentes concordam com a ideia do Governo em transformar o Hotel Estoril num pólo cultural, mas dizem que não há necessidade de preservar o prédio. Foram mais de 2800 os residentes que responderam a um estudo sobre o destino a dar ao edifício do antigo hotel. De acordo com o resultado do estudo ontem apresentado, o actual debate centra-se na demolição ou preservação deste prédio, que no Tap Seac tem estado desde a década de 50, com mosaicos que aludem à Arte Nova francesa.
A esmagadora maioria – 72,8% – dos membros de associações e organizações locais respondeu que “não há necessidade” de preservar o espaço. No entanto, a opinião não é assim tão esclarecedora quando se fala do destino a dar ao local, excluindo a visível vontade de ali erigir um estacionamento subterrâneo. Dos entrevistados por telefone, uma esmagadora maioria concordou com as ideias de transformação do local, mas não opinou quanto ao destino exacto.
“Os residentes foram questionados sobre se tinham ou não opiniões em relação à demolição e reconstrução do antigo Hotel Estoril e da Piscina Municipal Estoril e 81,5% deles expressaram que ‘não têm opinião’”, escreve a entidade responsável pelo estudo, a eRS.
Em cima da mesa estavam hipóteses como demolir toda a estrutura, preservá-la totalmente ou apenas de forma parcial, ou reconstruí-la. O documento encontra-se dividido em duas partes: uma primeira com “opiniões da sociedade”, para a qual foram recolhidas informações em sedes de associações, durante sessões na rádio e na televisão, entre outros.
Ficam por responder questões como a necessidade de preservar o mosaico – característico do hotel –, a transformação do espaço num centro cultural e recreativo para jovens e o que fazer à piscina.

A quem convém

Foram os residentes das zonas da Av. Conselheiro Ferreira de Almeida e da Guia que mais revelaram saber sobre o projecto em discussão. A razão dada pela empresa responsável pelo estudo é, de acordo com o investigador Angus Cheong, o impacto da solução junto das pessoas que moram perto do local.
A primeira pergunta feita via telefone pretendeu saber se os residentes estavam a par das ideias de reaproveitamento para o antigo hotel e as apoiavam. Ficou acima da média, de 0 a 10 pontos. “Em termos gerais, o apoio da população em relação às ideias de reaproveitamento do antigo Hotel Estoril e da Piscina é de 7,4 pontos, acima da média”, refere a empresa e-research & solutions na explicação. Quase 75% dos inquiridos têm conhecimento sobre o assunto em causa.
Quanto à criação de um centro de actividades culturais naquele local, os resultados são também expressivos, com 74,7% das opiniões a favor e apenas 7,5% contra. O estabelecimento de cafés, esplanadas e espaços de lazer está no fundo da lista de vontades da população, com a construção de um novo auto-silo no primeiro lugar de pedidos. A seguir surge a criação de instalações desportivas e a criação de uma piscina de água aquecida, com todas estas propostas a ter nota positiva acima dos 7,3 pontos.

12 Jan 2016

Saúde | Casos de mau diagnóstico ensombram “primeiro ano brilhante”

São os pacientes que o dizem: ainda que esteja a melhorar, a saúde continua com arestas por limar, mais no que aos profissionais diz respeito. Há erros muito graves, dizem, e ir aos hospitais – públicos ou privados – “é uma questão de sorte”

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, elogiar o bom trabalho realizado pela sua equipa nesta pasta, os utentes dão a mão à palmatória: a saúde está melhor dizem, mas há ainda um caminho longo a percorrer. Prova disso são os exemplos, contados na primeira pessoa, de quem foi “mal atendido” por profissionais de saúde do sector público e privado e, pior que isso, foi vítima de “um diagnóstico errado”.
Durante os últimos meses, o HM recolheu vários relatos de utentes do serviços de saúde de Macau. Alguns deles chegaram mesmo ao nosso jornal sem os termos procurado, com residentes a quererem falar do que lhes aconteceu.
Foi o caso de Maria João. A portuguesa estava em casa quando sentiu uma dor abdominal forte. “Pensei que fosse uma cólica, alguma coisa que tivesse comido. Não me preocupei”, conta ao HM. Os suores frios começaram, o coração bateu mais forte e a perna direito ficou presa. “Comecei a ter algumas dificuldades em caminhar, mas resisti e pensei que dali a pouco passaria”, relembra. A dor não passou e a zona abdominal começou a ser motivo de preocupação. “Comecei a inchar descontroladamente. A minha barriga estava enorme e muito dura. Sentia uma dor forte e deixei de me conseguir esticar, andava curvada. Fui para o hospital”, explica.
Maria João deu entrada no Centro Hospitalar Conde de São Januário depois das 22h00. “Esperei uma hora, nem sei se chegou a ser tanto. Estava pouca gente, algumas crianças com sintomas de gripe”, assinala. A recebê-la esteve um médico que “pouco ou nada falava em Inglês ou Português”.
“Para meu alívio estava um enfermeiro, de cara nova, que falava um medíocre Inglês e algumas palavras em Português. Acho que ele percebeu a minha cara de pânico e veio dizer um ‘tudo bem’ e perguntou-me se tinha dores, para me apaziguar a alma”, brinca, agora que o susto passou.
Maria João sentou-se numa cadeira junto à secretária e esperou que o médico falasse. “Ele não falou e eu disse-lhe um ‘hello’. De olhos fixos no ecrã e entre os papéis o médico só olhou para mim quando eu disse ‘aqui, tenho uma dor aqui’. Um olhar de cinco segundos, se tanto, e volta a cabeça para o ecrã”, conta.
Diagnóstico: sofre de dor. “O médico não me tocou, mal me olhou e diz-me, depois de lhe relatar o meu dia e a progressão da situação, que ‘sofro de dor’. Isso eu sabia. Mas quis saber, como é obvio, o motivo da dor. A pessoa que me acompanhava – na altura com mais força reivindicativa do que eu – começou a fazer perguntas ao médico em causa”.
“Não vai pedir análises? Que dor é esta? Porque é que ela está com dores? Pode ser apendicite? Pode ser cólica? O que é que pode ser?” foram algumas das perguntas feitas. Perguntas estas que nunca encontraram resposta. “É uma dor. Se quiser fazer exames para perceber pode na segunda-feira ir ao centro de saúde – era sexta à noite – mas por agora toma isto. Foi o que o médico me disse, depois de me receitar Buscopan para as dores musculares”, explica.
A dor tinha uma origem: Maria João fez uma reacção alérgica a um alimento, um facto que desconhecia até então. A dor não passou e, no dia seguinte, Maria João foi ao sistema de saúde privado, onde “só o segundo médico conseguiu perceber o que era”.

Não me toques que me desafinas

Matt W. não nasceu em Macau mas é como se fosse filho da terra, não fossem os mais de 13 anos a residir no território. História de erros nos diagnósticos e tantas outras são uma constante, anota, enquanto ressalva que no hospital público “também há gente boa”. O caso de Matt implica uma clavícula partida.
“Fui para o hospital [São Januário] porque a fazer desporto parti a clavícula. Cheguei às urgências e os médicos tiraram-me um raio-x. Disseram que estava tudo bem, receitaram-me um medicamento para as dores e mandaram-me para casa”, conta.
Tudo isto seria normal não fossem as dores permanentes que levaram Matt uma segunda vez ao São Januário. Um médico diferente, ainda que no mesmo lugar, deu origem a um diagnóstico diferente: afinal Matt efectivamente tinha partido a clavícula e um novo raio-x mostrava isso.
“A solução passava por partir novamente o osso ou então fazer fisioterapia. Optei pela segunda hipótese, mas confesso que em nada adiantou. As dores ainda as tenho”, frisou. Nunca ninguém assumiu a responsabilidade.
Rita E. tem 25 anos e historial clínico. Depois de sentir diversas vezes mau estar e muitas palpitações, a jovem recorreu ao Conde de São Januário para realizar um electrocardiograma que permitisse justificar as arritmias que sentia.
“Entrei na sala do consultório, era um médico-assistente chinês”, apontou ao HM, salientando a “nenhuma importância que a diferente cultura poderá ter”. Rita explicou os sintomas e o que estava ali a fazer: um exame. “Já não era a primeira vez que fazia este tipo de exame, portanto sei os procedimentos. Comecei a tirar a roupa e fui imediatamente parada. Disse para eu esperar. Enquanto isto veio uma técnica do hospital que me deu uma bata para vestir, enquanto o médico esperava lá fora. Depois de vestida só com a bata, o médico entrou e começou a colar-me os adesivos para fazer o exame, mas fez-me estar de costas para ele. Nunca olhou para mim”, relembra.
Em termos práticos, o médico pediu a Rita que se virasse de costas enquanto lhe colava os “adesivos às escuras”. “Ele nunca olhou para mim. Eu percebo a cultura chinesa, já sabia que tocar e olhar para um corpo do sexo oposto é um problema. Mas naquele momento de aflição, ver um médico que nem sequer olha para o paciente e nem está a ver onde põe os adesivos, deixa-nos ainda mais nervosos. Colocamos em causa a qualidade dele, o seu profissionalismo”, aponta.

Do público ao privado

Mas esta não foi a única má experiência de Rita e as histórias de profissionais de saúde que não tocam ou olham para os pacientes multiplicam-se quando falamos com residentes.
“Um dia estava cheia de dores na barriga, não sabia o que era, só tinha uma certeza: não era estômago, porque era mais em baixo”, conta. Depois da má experiência no São Januário, Rita não quis arriscar e foi directamente para o Hospital Kiang Wu. Já lá dentro, a queixosa foi atendida por uma médica que lhe receitou “muitos” medicamentos, sem nunca sequer olhar para ela.
“Fiquei tão chateada. Estava cheia de dores, a explicar o que sentia e em momento algum a médica olhou para mim. Estava com os olhos fixos no ecrã do computador. Não me auscultou, não me tocou no corpo, que é uma coisa básica quando temos dores”, conta. Em menos de cinco minutos, Rita recebeu uma receita médica com “sete tipos de medicamentos para o estômago”.
Rita E. decidiu nem sequer aviar a receita e ir directamente para o Conde de São Januário. Foi lá que perceberam que era uma infecção na bexiga. A profissional de saúde do hospital público nem queria acreditar quando viu a receita: “ela disse mesmo que os medicamentos eram todos para a mesma coisa e que se tomasse aquilo, com o que tinha, ainda iria agravar a situação”, frisa Rita.
“Temos que admitir que é sempre uma questão de sorte ir ao hospital. Não podemos não referir os bons profissionais que lá existem, que foi o meu caso com a médica do público, mas este tipo de situações são uma constante”, defende. “Todos os hospitais têm maus momentos, mas em Macau é um exagero. Raras são as pessoas que não tenham uma má experiência e o pior, para mim, é mesmo a indiferença com que alguns médicos nos tratam”, aponta.
Admitindo as melhorias que neste último ano aconteceram, tal como a diminuição das filas de espera, Matt W. reforça a ideia de que fala Rita – é preciso ter “sorte” com o “médico que nos calha”. “Há muito bons profissionais no hospital público. É preciso é calharmos nas mãos deles”, reforçou.

Residente só foi diagnosticada depois de ser vista por seis profissionais

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]na Soares, designer, é residente de Macau há três anos e foi o mais recente caso relatado ao HM. Ana começou por sentir febre e um cansaço fora do comum. Depois de dois dias sem melhorias, dirigiu-se ao serviço de urgência do hospital da Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST), local onde lhe receitaram medicamentos para baixar a febre. Possível constipação seria o diagnóstico mais acertado. Dois dias depois e sem melhorias, Ana volta a um médico privado. “É uma infecção”, disse-lhe o médico. Um novo antibiótico.
No quinto dia de mau estar – e estando na China em trabalho – o corpo de Ana deixou de reagir e estava cada vez mais fraco. Depois de quase desmaiar, os colegas de trabalho encaminharam-na para o hospital de Shenzen.
“Uma baixa de defesas. O sistema imunitário estava fraco”, conta. Este foi de facto o diagnóstico mais próximo da realidade, mas ainda assim o médicos aconselharam-na a visitar um médico em Macau. Ao chegar ao território, Ana foi imediatamente encaminhada para a Clínica Maló. O silêncio de um serviço de urgência previa o errado diagnóstico que surgia.
“Nunca me tocou. Foi a pessoa que estava comigo que disse para o médico ver a minha garganta. Tinha a boca cheia de bolhas, os lábios todos rebentados. Tinha enormes papos na garganta. Estava desesperada. A minha amiga pediu ao médico para perceber o que se passava e fazer análises”, relembra.
A resposta do médico deixou as duas mulheres boquiabertas. “Talvez seja melhor ir às urgências do São Januário ou Kiang Wu porque nós aqui não fazemos exames ao fim-de-semana.”
E assim aconteceu. De uma urgência, Ana passou para outra. No Kiang Wu da Taipa o médico explicou: “Está com uma crise de amigdalite”.
Novo antibiótico, um anti-inflamatório e analgésicos. Foi o sexto médico em seis dias. Três dias depois, Ana não melhorou e a boca estava a piorar. “Fui a uma médica portuguesa, porque achei que o problema só podia ser de comunicação”, conta.
A sétima médica confirmou o diagnóstico da cidade vizinha chinesa: Ana estava com o sistema imunitário débil e precisava de repouso absoluto, a medicação indicada e muita hidratação. Contudo, e porque Ana estava sob o efeito de diversos medicamentos, a jovem não podia tomar imediatamente o que melhor lhe serviria. Hoje está saudável e diz, brincando, que no seu caso “só à sétima foi de vez”.

Contentar com pouco

OPINIÃO

“Com a saúde não se brinca”, sempre ouvi a minha mãe dizer. Agora, 30 anos depois, repito as sábias palavras da minha progenitora: “com a saúde não se brinca”. E às vezes olho para a saúde em Macau e questiono-me se não estarão a brincar com os utentes. Em dois anos de existência no território, quis o destino que a “pasta” da Saúde me parasse muitas vezes na secretária. Como jornalista, tenho acesso em primeira mão – ou pelo menos deveria ter – aos planos e concretizações do Governo. Alexis Tam inaugurou o seu mandato dando prioridade à saúde. De louvar. Atitude corajosa, achei eu, quando publicamente o nosso representante afirmou despedir quem fosse preciso. “Os futuros cinco anos brilhantes”, proclamou Alexis. Um ano depois, durante as Linhas de Acção Governativa da sua pasta – que, vejam lá, também me calharam a mim – o Secretário dá os parabéns à sua equipa de trabalho. “Foi um bom ano”, lembro-me de o citar. Os deputados, esses, que durante um ano apontaram o dedo, chegaram a levantar-se dos seus confortáveis assentos e agradecer o trabalho prestado. Melhorámos, confesso que sim, mas não chega. Não me vou contentar com o pouco. Não posso e não quero. Não me chega como paciente e utente do serviço médico de Macau. Não me chega como jornalista que vai ouvindo e assistindo a histórias que não devem, nem podem, acontecer. Admito que o ano de 2015 teve aspectos positivos. Eu própria cheguei a escrever sobre eles. Menos esperas, mais horas de serviços, mais isto e aquilo. Mas precisamos de mais. E como todas as pessoas que ouvi para o artigo que acabaram de ler, melhorámos mas não nos podemos contentar só com isto. Precisamos de médicos humanizados. Somos um centro internacional, não é? Então comportemo-nos como tal. Precisamos de médicos que lutem pelos seus pacientes, que queiram ser os melhores médicos do mundo. Queremos um Governo que nas suas potencialidades consiga proporcionar o mais precioso ingrediente à vida humana: saúde.

(Nomes fictícios)

12 Jan 2016