Manuel Nunes SociedadeÓbito | Danilo Antunes Faleceu esta madrugada o “Filho de Macau”, Danilo Antunes, personagem incontornável na vida da cidade e um dos fundadores do popular grupo do Facebook “Conversa entre a Malta” [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Sou dos mais novos do grupo dos mais velhos”, dizia ele para se enquadrar na sociedade local, numa das suas muitas formas de brincar com as palavras e com as ideias. Danilo gostava da vida e de a viver. Sem intensidade nada valia a pena para ele e essa energia sentia-se sempre que estávamos na sua presença. Apaixonado pelos filmes e pela fotografia, o Danilo é uma personagem inesquecível para os que o que o conheceram e que ficará para sempre na memória dos que o virem imortalizado no excelente filme de Márcio Loureiro “Oumundzai” (https://bit.ly/daniantunes); um retrato que vai bem para além da pessoa pela capacidade do Danilo em revelar a cidade que o viu crescer, a cidade que ele viu crescer, um guia fundamental para quem pretender entender que história é esta, Macau. Recentemente, Danilo andava especialmente vocacionado para vasculhar os baús da memória de onde saíam histórias passadas, umas sobre as outras, expressas num trepidar infindável. Talvez o inconsciente lhe dissesse, sorrateiramente e sem mesmo ele perceber, que o fim chegaria cedo e por isso era importante recordar, dar sentido às coisas. O tempo, as memórias, as ligações simbólicas e sincronistas da vida faziam parte dos seus grandes interesses. As histórias jorravam-lhe num verbatim incessante apenas suplantado pelo imenso brilho do olhar, sinal inequívoco da sua permanente capacidade de sonhar, dos desejos e das vontades que lhe explodiam na mente a cada instante. As emoções vinham sempre em catadupa, num débito avassalador que nenhuma língua de um ser humano normal consegue dar vazão, como a dele às vezes não conseguia. Danilo acreditava, sempre, e imaginava constantemente. Idealizava um mundo melhor a cada instante, um cosmos de imagens e de cores em constante expansão. Ou o prazer simples de amigos à volta da mesa com doses maciças de gargalhadas. Danilo deixa duas filhas, o resto da família, e uma cidade enlutada. As causas da sua morte ainda não são conhecidas. Até ao momento sabe-se apenas, nas palavras de um amigo próximo, “que foi dormir e não acordou mais”. Antes assim. O Hoje Macau deseja à família enlutada e a todos os seus (muitos) amigos os sinceros parabéns por o terem tido no seu seio e um profundo voto de pesar pelo seu desaparecimento. A hora é triste, porque a sua ausência vai ser difícil de superar, mas também é tempo de sonhar, de fazer e de celebrar pois era assim que Danilo entendia a vida e, seguramente, era assim que nos quereria ver a reagir à sua ausência ou o seu percurso neste planeta terá sido em vão. P.S. – A esta hora o Danilo deve estar a pensar: “Porra! Foi preciso morrer para aparecer a cores no jornal”
Tomás Chio BrevesDeputado pede residências para polícias O deputado Zheng Anting entregou uma interpelação escrita ao Governo onde pede a construção de mais casas para as forças policiais, questionando como está o processo de atribuição de casas para os funcionários públicos. Zheng Anting indicou que o Executivo não atribui moradias aos polícias desde a transferência de soberania, lembrando que os salários de muitos destes profissionais não chega sequer para adquirir uma habitação económica. “Apesar do Governo ter aumentado por duas vezes os subsídios de habitação para a Função Pública, de mil para 2430 patacas, os polícias enfrentam o problema dos elevados preços do imobiliário e não conseguem comprar casa”, frisou. O deputado criticou ainda o facto do Governo ter prometido analisar o assunto, mas desde 2012 não foram avançadas mais novidades. Zheng Anting lembrou que Macau se depara com o problema da falta de terrenos e questiona se alguns prédios da Administração vão ser alvo de remodelação. O deputado considera que estes prédios podem servir de habitação às forças de segurança.
Joana Freitas BrevesPanama Papers | Jason Chao espera mais informações. Macau na lista Questionado sobre o caso dos Panama Papers, Jason Chao, vice-presidente da ANM, disse esperar mais informações para eventuais iniciativas por parte da Associação. “Precisamos de saber mais resultados sobre familiares ou amigos de figuras do Governo que estão envolvidos no escândalo. Acreditamos que não se tratam de casos isolados, porque já foi publicada uma lista de offshores em 2013. Ainda temos esperança que os órgãos judiciais investiguem, temos de pressionar para que mais informação sobre corrupção seja tornada pública. Não vemos esforços no combate à corrupção, não são muito consistentes. O caso de Ng Lap Seng é um dos casos mais notórios de corrupção e não podemos contar com os órgãos judiciais de Macau. Temos de confiar nos órgãos judiciais de outras jurisdições”, apontou. A imprensa portuguesa de Macau dava ontem conta que serão 25 as empresas ou investidores do território que estão envolvidos no caso Panama Papers. Os números referentes a Macau foram revelados através de uma infografia feita pelo jornal Irish Times, que faz parte do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), que divulgou os documentos da Mossack Fonseca. Haverá ainda quatro pessoas de Macau envolvidas no caso, 22 beneficiários e 233 accionistas. Mas, até agora, ainda não é conhecida a identidade de nenhuma das empresas ou indivíduos, sendo que tanto o Ponto Final, como o Tribuna de Macau indicam que os nomes deverão ser conhecidos em Maio.
Hoje Macau China / Ásia MancheteCrédito Social | China quer implementar sistema que dá pontos aos “bons cidadãos” Se for um bom cidadão, e o seu perfil nas redes sociais o indicar, recebe pontos que lhe dão viagens, carros e até permitem desburocratizar processos. É o plano mais recente da China, que tenciona implementar o chamado Sistema de Crédito Social. Uma economia emergente, um histórico financeiro atípico, um país lotado de gente, um partido único e a necessidade de controlo social – está dada a receita para o uso que se pode dar à tecnologia através das redes sociais [dropcap style’circle’]A[/dropcap]quilo que pode representar um dos mais engenhosos planos de controlo social de massas pode estar a caminho, como indicam notícias avançadas pela imprensa internacional, como o Independent, Quartz e BBC. A ideia aparentemente inocente sai do Esboço do Plano de Construção de um Sistema de Crédito Social 2014-2020 dado a conhecer pelo Conselho de Estado do Governo Central. Por entre um discurso marcado pela habitual propaganda ao país, as constantes referências ao objectivo de “estabelecer a ideia de uma cultura de sinceridade, promovendo honestidade e valores tradicionais” resvalam na iniciativa da criação de um sistema de crédito social à escala nacional. Este sistema vai avaliar a credibilidade, a confiança e as boas intenções dos cidadãos – através das redes sociais. Se por um lado este sistema de avaliação de fiabilidade de crédito na área financeira já está implementado um pouco por todo o mundo, por outro – e pegando nas directivas do Governo chinês e do Banco Central da China – estão agora os olhos postos em oito companhias privadas com projectos em andamento para o efeito. Em resposta às directivas do Governo Central acerca do seu plano quinquenal, já várias empresas privadas puseram a mão na massa para criar um sistema de avaliação da credibilidade social. Salienta-se já o Sesame Credit System, uma plataforma virtual com uma vertente quase lúdica de jogo que, com um ano de existência, foi criado, enquanto projecto piloto, pela AntFinantial – uma empresa da Alibaba, que por sua vez já representa a maior plataforma de vendas online a nível mundial, e a Tencent, gigante virtual à qual pertence o WeChat. A este já se juntaram um sem número de entidades ligadas às trocas financeiras, ao comércio em geral, aos transportes, electricidade e até mesmo o Baihe, que conta no seu serviço de encontros com cerca de 90 milhões de utilizadores com todas as informações incluídas. Aqui, os adeptos do Sesamir Credit System são uma espécie de jogadores em que, e tal como nos jogos, quem mais pontua mais ganha. Pontos e ganhos O Sesame Credit System, aquando da inscrição que para já é voluntária, confere de imediato um número de pontos ao seu subscritor, dependendo da informação que tem armazenada e os respectivos cruzamentos com os parceiros. Esta informação abrange cinco áreas: uma delas avalia o histórico de crédito do utilizador, baseado nos históricos bancários e em pagamentos devidos ou não de crédito. Outro segundo exemplo, já mais personalizado, “avalia” o comportamento do utilizador enquanto consumidor (neste ponto são tidas em consideração as compras efectuadas, o pagamento atempado ou não das contas e demais obrigações e ainda as suas preferências no mercado da bolsa). Num terceiro vértice está a capacidade do indivíduo de manter as suas promessas e compromissos. O registo é capaz de conter informações acerca das fontes de rendimento do utilizador e do seu emprego e avaliar a estabilidade ou não das mesmas. Em quarto lugar está um item que se auto apela de “traços de identidade”, que de uma forma não muito compreensível remete para as características capazes de conferir ao utilizador confiança pessoal. Por último, a avaliação das relações pessoais do jogador tendo como referência os contactos nas redes sociais. Este pentágono é também uma das imagens que acompanha os utilizadores de forma a que vão tendo uma referência visual da sua pontuação. A forma como os “pontos sesamo” são dados e o por quê ao certo, não se entende, como dá a conhecer o repórter da Quartz, Zheping Huang, que se fez de cobaia na aplicação. Ainda que sem definir concretamente de que forma são dadas as pontuações, a verdade é que estamos perante um ficheiro completo da vida de cada um – do que faz, do que gosta, do que prefere, do que paga e compra ou deve, como se desloca, que amigos tem, que livros lê e um sem limite de informação. O Sesame Credit promove ainda a partilha de pontuação num acto exibicionista de sucesso ou a comparação com os “amigos” para que se mantenha o formato “rating” numa promoção contínua de um melhor lugar na escala, até porque descontos e vouchers – os prémios para os melhores cidadãos – podem dar sempre jeito. Quantos queres? Quantos ganhas? Cada indivíduo pode valer entre 350 a 950 pontos. Com uma pontuação média de 600, já cá canta um empréstimo em compras virtuais de cerca de 800 dólares sem juros, com 650 já há direito a alugar-se um carro sem necessidade de deixar depósito e com 700 a vantagem já tem outra cara: dá prioridade ao bom cidadão nas burocracias para a documentação de autorização para viajar para fora do país, nomeadamente para Singapura e acima disto até para o Luxemburgo. Mas uma boa pontuação pode também dar origem a um emprego melhor, segundo Randy Strauss director de recrutamento da Strauss Group Inc.. Os candidatos a emprego são avaliados segundo a seu “valor” e, neste sentido, “a primeira razão a dar à companhia para que se seja contratado é relativa à confiança que se pode depositar no futuro colaborador”. Strauss acrescenta que a simples análise curricular não é suficiente para avaliar o candidato sendo que, por exemplo, um crédito social baixo poderá dizer que o candidato não será o mais adequado na medida em que reflecte uma baixa responsabilidade pessoal. E pode ser também um indicador de como cada um respeita as regras e a autoridade. Por outro lado, apesar da divulgação do crédito social ser de cariz voluntário e, por enquanto, ainda seja necessária autorização do utilizador, o facto deste não a disponibilizar pode também ser tido como elemento a ter em conta numa má avaliação, na medida em que pode querer eventualmente esconder alguma coisa. Sobe e desce Mas os pontos não sobem só, também podem ir descendo. Nestes casos preparem-se os jogadores para enfrentar dificuldades burocráticas ou financeiras – caso precisem de empréstimos – ou até verem a velocidade da sua internet ser reduzida. Traduzindo por miúdos, a ideia é fácil de entender: um bom cidadão tem direito a prémios, as companhias são importantes e, se quer ir a Singapura basta dar uma olhadela aos pontos. Se não tiver os pontos suficientes, se calhar, anda com más companhias. E se passa demasiado tempo na internet, não deve querer trabalhar. Por enquanto até podem parecer absurdas estas questões, mas na realidade algumas delas já foram colocadas e respondidas, por exemplo, para Li Lyingyun, director da Sesame’s technology, que, em declarações à Caixin, na BBC, diz: “alguém que passe dez horas a jogar computador será considerado uma pessoa preguiçosa e alguém que compre frequentemente fraldas poderá ser um pai que, no balanço, tem mais probabilidades de ser uma pessoa responsável”. Este sistema é de facto, e ainda, um projecto piloto envolto numa presumida ingenuidade da sociedade, como relata a imprensa. A invasão total de privacidade, sendo a mesma objecto de avaliação, parece ser o sistema que poderá servir de referência à prática generalizada e obrigatória agendada para 2020 em todo o território chinês. Com este método de recompensa positiva ao bem que se faz, poderá estar aberta uma das formas mais engenhosas de vigilância e controlo de massas. Até porque não é preciso um “big brother” a controlar, uma vez que cada um o é voluntariamente, em troco de pontos de desconto ou viagens, ganhos através das partilhas das “boas acções do dia”. O “Dangan”, literalmente “ficheiro”, que até agora correspondia ao processo individual que o Governo da China continental terá referente ao comportamento dos seus cidadãos, sairá da gaveta para o sistema virtual e será conhecido em forma de números. Inofensivo ou assustador? Jason Chao afirma ao HM que, numa leitura superficial, o sistema parece ser inofensivo. Contudo, o activista de Macau considera que “se nos debruçarmos um pouco, constatamos que as possibilidades que abarca são assustadoras para a liberdade de expressão”. Chao dá como exemplo a influência que este sistema poderá ter no quotidiano das pessoas, em situações como a de poder ser aceite ou não para determinado emprego, sendo esta aceitação possivelmente condicionada pela pontuação que aufere. O também vice-presidente da Associação Novo Macau refere ainda “a possibilidade assustadora” de controlo massivo que o sistema oferece.
Flora Fong BrevesCEM | Mais 60 estações para carros eléctricos A Companhia de Electricidade de Macau (CEM) garantiu que o Governo já autorizou a criação de 60 estações de carregamento para veículos eléctricos, as quais deverão entrar em funcionamento em Setembro ou Outubro deste ano. Actualmente existem dez estações de carregamento a funcionar em nove parques de estacionamento públicos, os quais podem ser usados de forma gratuita. Citado pelo jornal Ou Mun, o assessor da Comissão Executiva da CEM, Iun Iok Meng, afirmou que a empresa irá construir estas novas estações em mais parques de estacionamento, incluindo os da habitação económica na Ilha Verde, Fai Chi Kei, Seac Pai Van ou no Jardim Vasco da Gama. Iun Iok Meng explicou que a chegada dos equipamentos pode demorar três meses, prometendo um carregamento mais rápido, já que um carregamento de apenas meia hora dará para cem quilómetros. Quanto à instalação de estações de carregamento em parques de estacionamento privados, Iun Iok Meng explicou que tudo irá depender da elaboração de um novo regulamento por parte do Governo, sendo que será necessária uma concordância de dois terços dos moradores.
Hoje Macau BrevesWorkshop sobre Matisse com Ana Pessanha Pintor de emoções, como ele próprio um dia disse, e profundamente interessado na figura humana, apesar de ter começado a pintar naturezas-mortas e paisagens no estilo flamengo tradicional, Henri Matisse é um dos grandes pintores contemporâneos. Destacado impressionista, a maioria de suas primeiras obras, todavia, empregavam uma paleta escura e tendiam para o sombrio. Mas um dia tudo mudou. “Procuro o efeito de cor mais forte possível … o conteúdo não tem importância nenhuma”, referiu. Além do seu traço inconfundível, Matisse ficou também conhecido pela utilização da técnica de colagem de papéis coloridos recortados e é precisamente isso que Ana Maria Pessanha vai voltar a abordar num workshop no Creative Macau. A portuguesa tem o grau de Pintura da Faculdade de Belas Artes de Lisboa e é actualmente professora de Arte e coordenadora do programa de mestrado da Escola Superior de Educação Almeida Garrett da Universidade Lusófona. A sessão acontecerá no próximo sábado, dia 9, entre as 15h00 e as 18h00. A admissão é gratuita.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePortuguês | Governo avança com fundo de financiamento este ano Já há um orçamento definido para o fundo de financiamento permanente para o ensino e difusão da Língua Portuguesa no ensino superior, que será implementado até final deste ano. Gabriel Tong e Maria Antónia Espadinha falam de medidas de incentivo, mas dúvidas persistem Muitos dos detalhes ainda estão no segredo dos deuses, tal como o valor do orçamento. Mas a verdade é que o Governo vai avançar até final deste ano com um plano de financiamento não só para cursos de Português, mas também para a realização de palestras ou outras actividades relacionadas com o idioma. O orçamento está definido e já foi transmitido na última reunião do Grupo de Trabalho sobre Formação dos Quadros Bilingues Qualificados nas Línguas Chinesa e Portuguesa, mas não pode ainda ser tornado público. Já existe um grupo de trabalho que será responsável por, nos próximos meses, apresentar projectos e iniciativas que possam ser abrangidos por este fundo. O HM questionou ontem Sou Chio Fai, director do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), sobre este plano de financiamento, à margem da reunião da Comissão para o Desenvolvimento de Talentos. Mas poucas informações foram avançadas. “Já enviámos um ofício a todas as instituições de ensino superior (que ensinam o Português). Todas ficaram muito contentes com o facto do Governo ter um programa piloto para o financiamento ou comparticipação das despesas de projectos e programas para a Língua Portuguesa”, disse. “Iremos ter um financiamento para as capacidades linguísticas ou para os licenciados, para que as pessoas se possam candidatar a financiamento para a aprendizagem da língua”, acrescentou o director do GAES, que falou da necessidade de olhar para a formação além do universo do ensino superior. “Devemos apostar na formação de talentos não apenas nas universidades, mas temos de melhorar a formação nas escolas primárias e secundárias.” Gabriel Tong, vice-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM), também incluída neste grupo de trabalho, disse que este projecto revela uma vontade de responder às intenções do Governo Central. “É uma boa medida para a promoção do ensino da Língua Portuguesa em Macau, porque há essa necessidade. Macau tem de reforçar a sua posição para cumprir esse papel que foi dado pelo país”, disse ao HM. “Há várias medidas, mas acho que cada universidade tem objectivos diferentes. Não posso dizer que este apoio pode fazer uma revolução, ou disponibilizar todo o dinheiro necessário para a formação dos alunos em Português. Mas é um incentivo e também mostra que o Governo está a actuar no sentido positivo. É uma medida simbólica e representa um apoio em concreto”, disse ainda Gabriel Tong, que garantiu que muitos dos detalhes quanto à aplicação prática do fundo ainda estão por definir. “Sobre as medidas em concreto ou como vai ser distribuído em dinheiro, e quais os requisitos, ainda estamos a aguardar a decisão por parte do Governo.” Ligação com a China Maria Antónia Espadinha, vice-reitora da Universidade de São José (USJ), esteve presente na reunião, mas continua com muitas dúvidas sobre o lado prático desta medida. “Esse plano vai consistir na realização de propostas como a realização de conferências ou criação de materiais de ensino, mas coisas que devem sempre ser partilhadas com os colegas da China. É pensar em Macau mas é pensar também na China. E nós temos um mês para decidirmos o que iremos propor”, disse ao HM. “Ainda estamos com muitas dúvidas sobre aquilo que vamos propor. Temos um interesse comum, mas cada uma das instituições tem condições e interesses imediatos diferentes. Não sei se todos os projectos serão contemplados ou se vão depois escolher alguns”, garantiu a vice-reitora da USJ. “É uma medida de boa vontade no sentido de dar mais força no ensino do Português. Temos de ver como vai funcionar o plano. Não tenho grandes expectativas sobre a primeira fase, porque tem um prazo muito limitado e não é possível fazer muito em pouco tempo”, alertou Maria Antónia Espadinha. Aposta no luso-chinês Se Sou Chio Fai defendeu uma aposta no ensino do Português junto das escolas primárias e secundárias, também Maria Antónia Espadinha acredita que o modelo das escolas luso-chinesas deve ser fomentado. “Devemos ter uma macro estrutura que tenha em atenção os diferentes planos, mas acho que devíamos pensar no ensino secundário e também no primário. Houve um programa com as escolas luso-chinesas e que por vários motivos acabou por ir morrendo. Elas ainda existem mas cada vez ensinam menos Português, ou pelo menos algumas delas. As primárias estão a cumprir mais, nas secundárias, menos, porque o Português deixou de ser uma condição para passar de ano e os alunos podem fazer o primeiro nível, embora já estejam no oitavo ou nono ano”, explicou. USJ | Licenciatura em Estudos Portugueses e Chineses Foi ontem publicado em Boletim Oficial o despacho que autoriza a criação da licenciatura em Estudos Portugueses e Chineses (Língua e Cultura) na Universidade de São José. Com a duração de quatro anos e com o Chinês, Português e Inglês como línguas veiculares, o curso vai ensinar Português, Inglês e Mandarim, focando-se também na cultura e línguas da lusofonia e em Macau, através das disciplinas “Estudos Macaenses” e “Literatura e Arte de Macau”. O curso tem a duração de quatro anos e deverá arrancar no próximo ano.
Tomás Chio BrevesConstrução | Arquitectos exigem comunicação para revisão da lei A Associação de Arquitectos de Macau (AAM) pediu ao Governo para comunicar mais com o sector tendo em vista a revisão do Regulamento Geral de Construção Urbana. A entidade espera ainda que o Governo possa aprovar plantas de construção num prazo de 60 dias. Segundo o jornal Ou Mun, os dirigentes da AAM, Leong Chung In e Jonathan Wong, presidente, lembraram que há cerca de dez anos que o Executivo não discute o assunto com a Associação, tendo afirmado que desconhecem o novo conteúdo do diploma. O Ou Mun escreveu que a direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já estará a recolher as opiniões do sector. A AAM também pede que o Governo consiga acelerar o processo de aprovação de plantas de construção no prazo de 60 dias, o qual consta no regulamento em vigor. “Os documentos não podem estar (na DSSOPT) oito meses ou um ano sem uma resposta de aprovação, porque não nos é dito quais os problemas das plantas e quais as alterações que são necessárias”, disse Leong Chung In, que falou do caso de Hong Kong, cuja Executivo aprova plantas de construção no prazo de dois meses.
Andreia Sofia Silva PolíticaDSE | Novo director quer promover negócios nos bairros antigos Tomou ontem posse o novo director dos Serviços de Economia, Tai Kin Ip, que promete arrancar no novo mandato com o reforço no “desenvolvimento do comércio electrónico, do apoio às pequenas e médias empresas e aos jovens empreendedores e ao desenvolvimento da economia em prol das comunidades”. Na tomada de posse, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, chamou a atenção para a necessidade de fomentar os negócios nos bairros antigos. “Tendo em conta que uma das missões importantes da DSE consiste em desenvolver acções relacionadas com a dinamização do desenvolvimento económico dos bairros comunitários, e que as necessidades resultantes do desenvolvimento sócio-económico local exigem o reforço e o melhoramento do trabalho a cargo dessa entidade, é de prever maiores desafios futuros.” Tai Kin Ip, que substitui Sou Tim Peng, que se reforma a seu pedido, começou a trabalhar na DSE em 1995. Entre 1998 e 2000, exerceu funções de chefe do Departamento de Estudos, tendo sido promovido, a partir de 2000, ao cargo de subdirector, funções que desempenhou até à presente data. Também Lau Wai Meng, que ingressou na Função Pública em 1990 tomou ontem posse como sub-director da DSE.
Andreia Sofia Silva PolíticaComissão | Governo não isenta talentos de imposto profissional Isentar os residentes no estrangeiro do pagamento do imposto profissional para que regressem a Macau não está nos planos do Executivo. A Comissão para o Desenvolvimento de Talentos continua a analisar mais medidas de incentivo A isenção de impostos é uma arma utilizada por vários países e regiões que pretendem fixar população, mas essa não será a via utilizada pelo Governo para atrair os talentos que vivem no exterior. Sou Chio Fai, membro da Comissão de Desenvolvimento de Talentos, confirmou que o Executivo não pretende isentar estes residentes do pagamento de imposto profissional. “Outros países têm algumas medidas, como os benefícios fiscais ou a redução de impostos, ou outro tipo de ajuda. Mas ao nível do imposto profissional Macau é das regiões do mundo onde se paga menos e já oferecemos condições para essas pessoas [regressarem]”, disse aos jornalistas o também director do Gabinete de Apoio para o Ensino Superior (GAES). Contudo, já estão a ser preparados dois projectos para serem postos em prática este ano. A Comissão pretende criar um website com todas as informações sobre Macau para que os talentos que vivam no exterior possam analisar e ponderar sobre um eventual regresso. Tal projecto poderá estar online já este trimestre. Pontes de atracção A Comissão para o Desenvolvimento de Talentos pretende ainda atrair os académicos ou investigadores em regime de licença sabática, para que possam preencher lugares temporários nas universidades locais. “Iremos ter um projecto piloto para as instituições do ensino superior. Há professores ou investigadores que trabalham lá foram e que estão em regime de licença sabática ou de férias e podemos criar essa ponte de ligação entre eles e as instituições do ensino superior em Macau, caso estas tenham necessidade”, explicou Sou Chio Fai. A Comissão pretende ainda criar um mecanismo para atribuir credenciação a pessoas que fizeram várias formações ao longo da sua vida profissional. “Muitas pessoas estudaram muito mas não obtiveram credenciação, então vamos incentivar essas pessoas. Depois teremos de promover a ascensão vertical e horizontal na carreira profissional. Falámos com empresas e associações que estão a fazer as suas formações”, rematou.
Joana Freitas Manchete PolíticaReciclagem | Governo não vai legislar separação de resíduos Estão a aumentar os resíduos, mas nem por isso a sua separação. Ainda assim, o Executivo não quer legislar a matéria, apostando antes na formação [dropcap style]O[/dropcap]Executivo não vai, para já, legislar a separação de resíduos, ainda que se tenha notado um aumento destes nos últimos anos. Numa resposta ao deputado Zheng Anting, o presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) explica que é na promoção que reside a táctica. “Ainda que o Governo não preveja regulamentar directamente a recolha selectiva de resíduos através de legislação, continuará a promover a recolha selectiva mediante a criação de políticas, além de educação, divulgação e melhoria de instalações”, indica José Tavares. “Apesar de não existir uma disposição legal que obrigue à recolha selectiva de resíduos, há muita vontade em continuar a proceder, de forma constante, aos trabalhos de educação.” O presidente admite que as infracções que aconteceram nos espaços públicos relativas ao abandono de lixo aumentaram: por exemplo, em 2011 foram cerca de dez mil autuações por causa deste problema, sendo que em “cada ano de 2014 e 2015 registaram-se mais de 19 mil autuações”. Cerca de 50% dos responsáveis são “cidadãos locais”, mas o instituto “vai intensificar a divulgação da educação” e “pedir à Companhia de Sistemas de Resíduos (CSR), empresa responsável pela recolha do lixo, que “reforce a limpeza das ruas”. O IACM não se estende nas palavras, mas fala numa eventual revisão do Regulamento Geral dos Espaços Públicos. “O IACM tem atendido às opiniões apresentadas por cidadãos, inclusive sobre a adequação, a nível da aplicação, das multas correspondentes a condutas diferentes. Numa revisão posterior dessa disposição legal, vamos ter em consideração a situação actual do desenvolvimento da sociedade.” Cada vez mais Sobre a reciclagem dos resíduos, José Tavares diz que houve um aumento de resíduos que podem servir para reciclar, mas admite que “a taxa de recolha não cresceu da [mesma] forma”. A CSR tem o contrato de recolha de lixo por mais dez anos e uma das obrigações da empresa é recolher os resíduos separadamente, algo que garante fazer tendo “quatro veículos” para tal. O IACM garante que tem colocado mais caixotes de reciclagem em espaços públicos – havendo, neste momento, 60 pontos de reciclagem de vidro e 321 dos outros materiais. Os resíduos têm “um tratamento prévio em Macau”, mas depois são enviados para a região vizinha porque não há reciclagem no território. Escolas e instalações públicas são abrangidas pelo programa de separação de lixo e o IACM garante estar “nesta fase a colaborar com o Instituto de Habitação na instalação de 1018 contentores” de recolha selectiva em “algumas habitações públicas novas”.
Andreia Sofia Silva PolíticaPanama Papers | Secretário Lionel Leong espera mais informações [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]polémica causada pela publicação dos “Panama Papers” ainda não chegou a Macau e, para já, o Governo não reage às notícias que têm corrido o mundo e que falam das empresas offshore criadas pela Mossack Fonseca que ajudam a esconder fortunas de políticos, empresários e até personalidades do mundo das artes e do futebol. Questionado ontem sobre o assunto, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, garantiu que o Executivo tomará as devidas medidas caso haja mais informações. “Não tenho comentários a fazer porque não tenho informação. Se houver alguma ligação [a Macau] vamos analisar mas até ao momento não temos informação”, afirmou à margem da tomada de posse do novo director dos Serviços de Economia (DSE), Tai Kin Ip. Não há, até ao momento, nenhuma offshore com ligação a Macau que tenha sido criada pela sociedade de advogados. Apenas o nome de Franco Dragone, que trouxe para Macau o espectáculo “House of Dancing Water”, surge na lista de personalidades com empresas offshore. Hong Kong surge no topo das listas divulgadas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) como sendo a região com maior actuação de intermediários no processo de abertura de empresas offshore. Políticos em foco O caso divulgado pelo ICIJ em parceria com vários meios de comunicação social de todo o mundo continua a atingir os meios políticos. Ontem o jornal francês Le Monde avançou que a Frente Nacional, partido de extrema-direita em França liderado por Marine Le Pen, através de um “primeiro círculo de fiéis” pôs “em prática um sistema ‘offshore’ sofisticado” para tirar dinheiro de França. “O sistema, entre Hong Kong, Singapura, as Ilhas Virgens britânicas e o Panamá”, foi “utilizado para fazer sair dinheiro de França, através de sociedades fictícias e de facturas falsas, com o objectivo de escapar aos meios franceses para evitar o branqueamento de capitais”, adiantou o jornal. A investigação, que resultou na fuga de mais de 11 milhões de documentos, mostra várias personalidades chinesas com empresas offshore criadas pela Mossack Fonseca, as quais são próximas de figuras do Partido Comunista Chinês (PCC), incluindo o presidente Xi Jinping.
Tomás Chio SociedadeDSSOPT ainda não deu ordem de despejo para terrenos onde vai haver habitação O Governo já divulgou que planeia construir 4600 habituações públicas em sete terrenos, mas parte deles têm escritórios de departamentos governamentais que ainda não receberam avisos de despejo. Segundo o Jornal Ou Mun, estes sete terrenos envolvem um parque de estacionamento ao lado do Complexo Olímpico da Taipa, a Central Térmica na Avenida de Venceslau de Morais, as instalações da Polícia de Segurança Pública das ilhas, as instalações Temporárias do Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos no Bairro Iao Hon e outros do Cotai e Lam Mau. Por exemplo, no parque de estacionamento onde está planeada a construção de mil habitações está o escritório do Gabinete de Estudo das Políticas e, embora a Direcção dos Serviços dos Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) tenha revelado ao jornal chinês que o organismo já concluiu a proposta da planta de condições urbanísticas, a publicar em breve, o Gabinete diz que ainda não recebeu o aviso de despejo. O mesmo se passa com o Instituto do Desporto, cujo departamento tem um armazém e um campo de badminton neste parque. Outras construções Nas Instalações Temporárias do Iao Hon, onde fica o escritório da Associação de Confraternização dos Moradores do Bairro do Antigo Hipódromo Areia Preta e do Iao Hon, está prevista a construção de 200 apartamentos públicos e a planta de condições urbanísticos foi aprovada pelo CPU, mas a Associação também não recebeu qualquer novidade sobre o despejo. A DSSOPT também indicou que vai fazer um concurso público para a construção de fracções na Central Térmica, onde se prevê a criação de mil habituações, mas esta ainda lá está. Outro caso é um lote no oeste do Cotai, onde se prevê construir duas mil habitações, mas o Governo está ainda a discutir com o concessionário do terreno e não deu ainda qualquer novidade.
Flora Fong Manchete SociedadeReciclagem|Dificuldades em reciclar devido a recuperação de terrenos Continua a saga da falta de apoios às poucas empresas que ainda fazem reciclagem em Macau e estas dizem-se em maiores apuros do que quando fizeram greve, sem que haja soluções à vista [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]han Man Lin, presidente da Associação de Confraternização de Reciclagem de Materiais Ecológicos de Macau, assegura que o sector está a enfrentar cada vez mais dificuldades, não só porque os preços de produtos reciclados diminuíram, mas também por falta de terrenos. O responsável apela, por isso, ao Governo que permita o arrendamento de espaços para que os trabalhos possam ser levados a cabo. Depois de Hong Cheong Fei, director-geral da Companhia de Sistema de Resíduos (CSR), afirmar ao canal chinês da Rádio Macau que os preços dos produtos de reciclagem e tratamento de resíduos diminuíram em 50 ou 60%, Chan Man Lin assegurou ontem ao HM que a situação está ainda mais difícil do que na altura em que foi feita uma greve, em Setembro do ano passado. E isso tem a ver, diz, com o facto de o Governo estar a esforçar-se por recuperar terrenos que não foram desenvolvidos dentro do prazo. “Actualmente existe apenas uma empresa grande de reciclagem na Taipa, mas o Governo quer também recuperar o terreno onde a empresa trabalha e coloca os materiais. Falta apenas pouco mais de um mês para que a empresa tenha de sair do lote. Enviámos uma carta aos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) e aos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) para que arrende outro terreno para continuar o trabalho, mas ainda não responderam”. Embora que o responsável da CSR dissesse que actualmente existem 200 empresas ligadas ao sector da reciclagem, Chan Man Lin afirma que, na verdade, existem apenas cerca de 60 empresas, porque “nos últimos tempos já fecharam mais de dez”. E o encerramento eventual desta, na Taipa, poderá vir a piorar a situação. “Caso a empresa grande na Taipa feche, nenhuma pequena e média empresa conseguirá sobreviver”, avançou o presidente, “porque esta empresa recolhe 80% de materiais [recicláveis] de Macau. Quando as PME recolherem os materiais, não existirá um espaço para fazer embalagem, decomposição, nem exportação.” Todos os anos Macau exporta mais de 300 mil toneladas de materiais para reciclagem, explicou Chan Man Lin. A reciclagem de papéis é mais fácil e as empresas podem arrendar um espaço no Porto Interior para a exportação conjunta. Mas a reciclagem de materiais de metal faz barulho e precisa de um terreno distante da população. Novo presidente, velhas medidas A Associação de Confraternização de Reciclagem de Materiais Ecológicos de Macau já visitou o novo director da DSPA, Raymond Tam no mês passado, a quem explicou as suas dificuldades. A resposta do responsável mostrou que “confirma os trabalhos e esforços do sector”, no entanto, “não mostrou qualquer medidas de apoio”. Questionado sobre se considera fazer uma nova manifestação ou greve, Chan Man Lin diz apenas estar desapontado, uma vez que não há soluções. “O Governo só pensa que nós somos irracionais e agora apenas esperamos por uma resposta. Mas não sei qual vai ser a reacção dos trabalhadores quando as empresas precisarem de fechar em breve”, rematou. O Governo já disse que não quer legislar a obrigação de reciclar.
Tomás Chio BrevesFunção Pública | Susana Chou pede saída de “incompetentes” A ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL), Susana Chou, defendeu em mais um texto publicado no seu blogue que o Governo deve resolver o problema dos funcionários públicos “incompetentes”, cujo desempenho põe em causa a eficácia governativa. Susana Chou deu o exemplo do sector privado, referindo que quando há trabalhadores que se deparam com chefes incompetentes, podem mudar de emprego, mas na Função Pública essa situação não se verifica. A ex-presidente do hemiciclo garante que quando os funcionários públicos têm de trabalhar com chefes ineficazes ou que “têm inveja” dos que desempenham bem as suas funções, acabam por não se dedicar ao seu posto de trabalho, o que traz ineficácia em todo a máquina administrativa. Susana Chou recordou que no seu percurso político encontrou vários superiores sem capacidade, sendo que alguns ainda continuam na Função Pública. A ex-presidente da AL espera que o Executivo solucione um problema que, na sua óptica, também afecta a sociedade.
Flora Fong Manchete SociedadeIC | Investigador do CCAC denuncia ilegalidades Uma testemunha do CCAC assegurou ontem em tribunal que o irmão do ex-vice-presidente do IC só poderia ter sabido das informações que o ajudaram a vencer concursos através da obtenção de documentos do Governo Continuou ontem o julgamento do ex-vice-presidente do Instituto Cultural (IC) Stephen Chan e do assessor técnico superior Lei Man Fong, que vão acusados pelo Ministério Público (MP) de ter dado informações que beneficiaram a empresa do irmão de Stephen Chan para que esta vencesse mais de meia dúzia de concursos públicos em adjudicação de serviços. Na sessão de ontem do Tribunal Judicial de Base, um investigador do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) assegurou que a empresa do irmão de Stephen Chan – a Empresa de Engenharia Vo Tin – conseguiu informações “extremamente semelhantes” a documentos secretos do IC. A testemunha apontou ainda que está envolvido no caso “400 mil patacas que foram tratados por um banco privado ilegal da China continental”. O HM acompanhou ontem as declarações do investigador do CCAC, afirmando este que através da investigação foi possível perceber que a empresa do irmão de Stephen Chan obteve informações sobre as cotações de outras empresas candidatas ao concurso da instalação de electricidade e de iluminação básica e monitorização na Casa do Mandarim em 2008, que foram “extremamente semelhantes” a documentos internos do IC. No início da investigação, o CCAC apenas copiou os documentos do computador da empresa do irmão de Stephen Chan, em 2011, onde descobriu as informações de cotações. Quando o CCAC tentou obter os documentos originais do computador, estes tinham sido eliminados porque o irmão os “considerava inúteis”. Mesmo assim, o CCAC apreendeu o computador e recuperou os documentos eliminados. Quase gémeos “Quando fizemos uma comparação com os documentos originais no IC, que considero documentos secretos, tanto o formato de escrita como as informações das cotações das três empresas candidatas eram extremamente semelhantes, incluindo os detalhes. Só faltava o logótipo do IC. Portanto, considero estranho”, afirmou. O investigador do CCAC afirma que as informações do irmão de Stephen Chan “só podem ter sido obtidas através dos documentos do IC”, e que “não conseguia fazer isso se apenas tivesse ouvido ou tivesse lido os documentos”. A testemunha declarou ainda que, através dos documentos, o irmão de Stephen Chan conseguiu saber os preços das outras empresas que iam apresentar as propostas a concurso, podendo assim ajustar a sua cotação no segundo concurso público, depois do primeiro público para a prestação dos serviços ter sido cancelado. Ao responder ao Ministério Público (MP) sobre a não declaração de novos bens de Stephen Chan em 2008 e em 2010, o investigador do CCAC apontou que havia um montante de cerca de 400 mil patacas depositado numa conta bancária do seu irmão. Através da investigação do CCAC, foi possível perceber que esse dinheiro chegou de “um banco privado ilegal do interior da China”.
Hoje Macau BrevesStanley Ho faz parte de empresa que quer TAP Stanley Ho, o magnata do Jogo de Macau, está ligado à Hainan Airlines (HNA), a empresa que pretende comprar a Transportadora Aérea Portuguesa (TAP). De acordo com o jornal português Público, o nome de Stanley Ho surge como sócio da HNA na companhia de aviação low cost HK Express. As duas empresas terão acordos comerciais para partilha de voos. O jornal diz que, apesar de não haver praticamente informação sobre a estrutura accionista da HK Express, sites especializados e a imprensa internacional dão conta de que a participação de Stanley Ho no capital foi diminuindo ao longo do tempo para os actuais 25,3%. Além dos 45% do grupo HNA, o restante capital estará hoje repartido ainda por Mung Kin Keung (15%) e pela China Energy Development (14,7%). Se a entrada da chinesa HNA se concretizar, Stanley Ho poderá assim voltar a cruzar-se com a TAP – anteriormente, a empresa foi parceira de Stanley Ho, quando o empresário adquiriu, através da Geocapital, 85% da VEM, a unidade de manutenção que pertencia à falida Varig. A HK Express foi fundada em Março de 2004 pelo magnata dos casinos e começou a transportar passageiros no ano seguinte. E foi logo em meados de 2006 que a HNA entrou em cena, com a compra de 45% da participação do empresário.
Joana Freitas SociedadeTrânsito | Governo estuda introdução de autocarros articulados Um está já a ser testado, mas a DSAT quer tentar que todas as três operadoras de Macau tenham autocarros articulados a percorrer as ruas. Estes levam mais gente e poderão diminuir a pressão do tráfego, diz o organismo A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) está a “avaliar a viabilidade” de autocarros articulados circularem em Macau. A garantia foi dada ao HM pelo organismo, depois deste jornal ter questionado o Governo sobre a circulação de um autocarro com duas carruagens e 18 metros em Macau. A ideia é que todas as três operadoras em Macau tenham estes veículos, mas para já apenas a Nova Era deu um passo nesse sentido. “Recentemente, a Macau Nova Era de Autocarros Públicos importou um autocarro de duas carruagens, de 18 metros de comprimento, com o objectivo de realizar testes e avaliar a viabilidade da sua circulação”, diz a DSAT. De acordo com a empresa, há mais um a caminho. Ainda não há qualquer calendário para a introdução destes veículos nas ruas de Macau, uma vez que tal “se encontra na fase de estudo”, como indica a DSAT, que assegura estar a discutir pormenores com a Transmac e a TCM. “Com o aumento contínuo da procura de deslocação por autocarros em Macau, o Governo anda a discutir com as três operadoras de autocarros a introdução de autocarros de grande porte, nomeadamente os autocarros de duas carruagens, para dar resposta à necessidade da deslocação do público”, explica. Estes autocarros conseguem transportar até 150 passageiros mas, de acordo com a TDM, os condutores terão de possuir licença de reboque para os poder conduzir.
Manuel Nunes Eventos Manchete“Sea of Mirrors”, novo filme de Thomas Lim, começa a ser gravado amanhã O realizador Thomas Lim volta produzir uma longa-metragem inteiramente filmada no território. “Sea of Mirrors” é a história de uma ex-actriz japonesa que vem a Macau convencida que tem um investidor à espera para fazer um filme. Um puro engano, numa história cuja principal particularidade é ser toda filmada em iPhone [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omeça a ser amanhã gravado “Sea of Mirrors” (“Mar de Espelhos, em Português), o novo filme de Thomas Lim. Tal como “Roulette City”, o seu filme anterior, a autoria do guião e a produção também estará a cargo do próprio realizador, com um elenco preenchido com actores do Japão, Macau e Hong Kong. Apresentado como um thriller psicológico, “Sea of Mirrors” traz-nos a história de Riri Kondo, uma ex-actriz japonesa, que viaja para Macau com a filha, Nana, para reunir com um potencial investidor que afirma ser seu fã. A proposta: investir num filme realizado por ela. Puro engano, pois a questão tem mais a ver com sexo do que com filmes. Riri desmarca a reunião mas, em retaliação, a filha é raptada e a tentativa para a salvar leva-a à beira da loucura. Actualmente a viver em Los Angeles, Thomas Lim espera criar um filme para distribuição internacional , pelo que reuniu uma equipa de várias origens: a actriz japonesa Kieko Suzuki (também produtora do filme) encaixa no papel de Riri, enquanto Sally Victoria Benson – australiana de Macau – encarna a extravagante actriz americana Isabel. O actor coreano Jay Lim toma o papel do investigador coreano Jang. A designação para o filme surgiu de uma antiga denominação de Macau antes da chegada dos portugueses que, garante Thomas Lim, “era conhecida como “Jinghai” (literalmente “Mar de Espelhos”). O objectivo era o de conseguir um título que remetesse para a cidade, para a reflexão sobre as formas de vida locais, ou, como diz Lim, “uma imagem reflectida do que pensamos de nós mesmos”. Prevendo-se que esteja terminado lá para o final do mês, o filme segue para pós-produção em Los Angeles. O filme traz ainda uma particularidade uma vez que é inteiramente filmado com um iPhone 6S, o que fica a dever-se ao facto do realizador entender que as câmaras do telefone têm a textura visual ideal para a história, para além de se ajustarem bem – do ponto de vista logístico – com a vida real dos principais criadores do filme. Para o efeito, a Direcção de Fotografia vai ser assegurada por Santa Nakamura, um veterano em filmar em iPhone. Para Lim, que julga ser o primeiro filme a ser gravado desta forma em Macau, a ideia é também a de liderar uma nova onda de evolução na forma de fazer cinema no território e de permanecer fiel à sua filosofia de há muito: “o único obstáculo para o cinema é a tenacidade do cineasta. Não a paixão, porque as pessoas podem sempre falar com muita paixão e não tomar medidas. Sem tenacidade não há filmes”, disse. A saga dos cineastas Também ele actor, Thomas Lim escreveu a história com base na sua própria experiência, onde pretende revelar a obsessão de gerir uma carreira e o tormento mental que se sofre quando os holofotes mudam para outro alvo. Como o próprio diz, “ser actor ou cineasta não é apenas um emprego ou carreira, mas um estilo de vida e, provavelmente, uma obsessão. Temos de estar constantemente a estudar ou a praticar. Por isso, quando me perguntam o que eu faço no tempo livre, a minha humilde resposta é sempre: ‘Não tenho tempo livre'”.
Hoje Macau China / ÁsiaPanama Papers | Jornal oficial do PCC diz que investigação tem propósitos políticos Um jornal do Partido Comunista da China (PCC) classificou ontem a operação “Papéis do Panamá” como uma campanha de “desinformação”, em que Washington possui “particular influência”, e que tem como alvo líderes de países não ocidentais. Dirigida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), aquela investigação abrange 11,5 milhões de documentos ligados a quase quatro décadas de actividade da firma de advogados panamiana Mossack Fonseca. Especializada em esquemas de evasão fiscal e com uma carteira de clientes prestigiados, a Mossack Fonseca tem mais escritórios na China do que em qualquer outro país, segundo a sua página oficial na Internet, presente em oito cidades chinesas, incluindo Hong Kong. De acordo com o ICIJ, pelo menos oito actuais ou antigos membros do Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, terão colocado os seus bens em empresas ‘offshore’. O jornal britânico Guardian revela que uma pesquisa interna conduzida por aquela firma indica que a maior proporção de donos das suas empresas ‘offshore’ são provenientes da China continental, seguido por Hong Kong. Sob a liderança do actual Presidente chinês, Xi Jinping, Pequim lançou uma persistente campanha anti-corrupção, enquanto reprimiu activistas e dissidentes que exigiam maior escrutínio sobre os titulares de cargos públicos. Entre os familiares, ou pessoas próximos de altos responsáveis chineses envolvidos, figura Deng Jiagui o marido da irmã mais velha de Xi. Em 2009 – quando Xi era membro do comité permanente do Politburo do PCC, mas não Presidente – Deng tornou-se o único accionista de duas empresas de fachada nas Ilhas Virgens britânicas, revelou o ICIJ. Censura quase total Sem nunca referir o envolvimento de líderes chineses, o Global Times jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, acusa os documentos analisados de terem “alvos políticos”. Todavia, nos restantes órgãos de comunicação, ou nas redes sociais chinesas, as referências à operação são escassas, enquanto a transmissão de canais de televisão estrangeiros no país, como a estação britânica BBC, é interrompida de cada vez que o caso é mencionado. Segundo um relatório difundido em 2011 pelo Banco central da China, funcionários chineses corruptos terão enviado um total de 120 mil milhões de dólares para contas no estrangeiro. A Mossack Fonseca mantém escritórios nas cidades chineses de Xangai e Shenzhen, nas cidades portuárias de Qingdao e Dalian e nas cidades de Jinan, Hangzhou e Ningbo. Os documentos, inicialmente conseguidos pelo diário alemão Suddeutsche Zeitung no início do ano passado, foram em seguida divididos pelo ICIJ entre 370 jornalistas de mais de 70 países. A investigação desencadeou já crises políticas, em alguns países, e noutros, a promessa de processos judiciais.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Preocupações com créditos imobiliários de alto risco Para ocupar as cidades fantasma, as imobiliárias têm vindo a relaxar o crédito e a facilitar as aquisições o que, na opinião de especialistas, é uma prática arriscada que pode vir a dar maus resultados. Agora, o governo está a tentar por travões depois de ter deixado o mercado em roda livre Segundo um artigo publicado esta segunda-feira no The Wall Street Journal (WSJ), as iniciativas da China para reduzir o excesso de imóveis desocupados estimulando o crédito imobiliário provocaram um problema ainda maior o que está a alarmar os reguladores: um surto de empréstimos de alto risco ao estilo das hipotecas “subprime”, que tiveram um papel central na crise financeira norte-americana. Geralmente, os compradores na China dão um terço do preço de um imóvel novo como entrada. Mas, segundo a reportagem do WSJ, um rápido crescimento no número de compradores assumindo empréstimos para dar entradas em imóveis está a levar as autoridades chinesas a restringir a prática. Serviços de crédito que captam dinheiro a investidores e depois o emprestam a juros mais altos concederam 924 milhões de yuan em financiamentos para entradas de compras de imóveis em Janeiro, mais que o triplo do volume de Julho do ano passado, segundo a Yingcan, uma consultoria de Xangai. Para ajudar as cidades a ocupar seus apartamentos vazios, o governo chinês começou a relaxar o crédito no final de 2014 e, relata o WSJ, um executivo sénior de um dos quatro maiores bancos estatais chineses diz que os empréstimos para pagar entradas de imóveis contribuíram directamente para uma alta recente nos preços dos imóveis em grandes cidades. “É uma prática arriscada que deve ser contida”, disse. Comprem que é fácil As autoridades chinesas estão a intervir e, em Março, o banco central e o Ministério da Habitação começaram a restringir empréstimos que encorajam compradores de imóveis com slogans de “sem entrada”. Yang Jun, um auxiliar de escritório de 31 anos, assumiu um empréstimo juntamente com familiares e amigos para pagar a entrada de 30% de um apartamento de 1,5 milhão de yuan em Nanquim, mas ainda lhe faltaram 100 mil. Esse montante veio a ser coberto pela construtora que lhe ofereceu um empréstimo. “Isso ajudou-me a realizar meu sonho chinês” da casa própria, diz Yang. “Muitos jovens com eu ficariam fora do mercado sem a ajuda destes financiamentos.”, disse o jovem. O governo chinês começou a relaxar o crédito no fim de 2014 para ajudar as cidades a ocupar seus apartamentos vazios — herança de um boom alimentado por dez anos de crescimento da população urbana e crédito barato. Mas, apesar da alta nos empréstimos para entradas e um acesso mais fácil às hipotecas para grupos como trabalhadores migrantes da zona rural, encontrar compradores tem sido uma tarefa difícil em alguns lugares. Em vez disso, o relaxamento do crédito e incentivos alimentaram uma corrida imobiliária nas grandes cidades.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasCinema na China | “Palácio de Verão” 性爱与政治:重访电影《颐和园》 Julie O’Yang Palácio de Verão é o quarto filme do escritor-realizador Lou Ye. Embora seja um nome menos conhecido do cinema chinês, Lou é, sem dúvida, o realizador que melhor domina a narrativa do enredo, destacando-se também pela escolha de vários temas polémicos que versam a sexualidade, o género, as obsessões e a política. Palácio de Verão conta a história do encontro de um rapaz e de uma rapariga. A rapariga, Yu Hong, cresceu numa cidade do Nordeste, perto da fronteira com a Coreia. Admitida numa prestigiada universidade da capital chinesa, a jovem e independente heroína está determinada a viver intensamente e a realizar os seus sonhos. Numa festa disco no campus, Yu Hong encontra Zhou Lei e, não é preciso muito, para que os dois percebam que foram feitos um para o outro. Mas, deve-se saber de antemão, esta não é só uma história de amor. Após conturbadas e inebriantes sequências de sexo, o filme envereda por um registo mais tranquilo. Como pano de fundo temos o clamor da China dos anos 80. Num estilo um tanto ou quanto anárquico, este levantamento não deixou de ter sido corajoso e cheio de promessas. Um tempo de reformas, onde aspirantes a intelectuais desfrutaram de um curto período de liberdade de expressão. No entanto a idade de ouro da democracia chinesa estava prestes a sofrer um golpe trágico quando o Estado promoveu o terror no Verão de 1989. A 4 de Junho, o Massacre da Praça de Tiananmen marcou o ponto de viragem da história da China moderna. Neste argumento, quer o sexo quer a política são levados ao rubro, mas, no fim, das chamas restam apenas cinzas. Sobra uma nação privada de esperança às portas do advento de uma nova era, a do capitalismo “Made-in-China”. No entanto o filme não se resume só ao amor e à política. A segunda metade aborda questões da família, que por sua vez são colocadas num contexto histórico. Lou Ye capta um período de transformações, durante o qual as bicicletas que deambulavam pelas ruas de Pequim foram substituídas por corridas de Volkswagens e as cartas de amor por emails. A nostalgia dum mundo para sempre perdido insinua-se através de uma atmosfera por onde perpassa uma estética feminina e nos corta a respiração. Palácio de Verão tem momentos chocantes quando os civis são abatidos pelas Forças Armadas. À semelhança da heroína da história a China parece perdida num limbo, sem objectivo. Veja o trailer aqui: https://bit.ly/1ZwahkX Palácio de Verão 140 min Drama | Romance Falado em: Mandarin | Alemão
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasQue estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? A empregada do bar Têm estado dias de nevoeiro. Dias nos quais não se vê o outro lado da ponte. Uma cerração que se estende e que entra nas nossas cabeças. Ofuscando a visão. Aglutinando a alma. Até não existir mais nada. Até só existir esta intensa camada que envolve os nossos corpos. Nada mais que este estar em surdina. Esta pressão que aperta o coração. Olho para ti. E és? Existes realmente? Ou subsistes apenas como reminiscência no espaço cinza claro? Desde que aqui vens que me parece poderes estar interessado em mim. Mas algo se passou na tua vida que te deixou com uma dor profunda. Vens aqui todas as noites. Vens beber até não poderes mais. Sou sempre eu que te sirvo. E sirvo-te o tempo todo. Primeiro vieste uma noite e não ficaste muito tempo. Depois as visitas tornaram-se cada vez mais frequentes. Já encontrei os teus olhos a passear pelas linhas do meu corpo. Por vezes demoras-te no decote do meu vestido e, a medo, nos meus seios. Sinto que imaginas coisas, mas ainda não percebi bem o quê. Não sei se te sentes tão atraído por mim como eu me comecei a sentir por ti. A verdade é que uma mulher sente sempre o olhar de um homem. Ao mesmo tempo parece que tens medo de ti. Do que pode acontecer. E até, de podermos acabar na cama. E, se calhar, tens razão. Não sei se tens medo de te ligar a mim. Se calhar tens medo de ti. Se calhar tens medo que eu seja sádica, abusiva ou dominadora. Se calhar tens medo de seres tu o sádico. Se calhar tens medo que, apesar de trabalhar num bar, eu seja uma pessoa dócil. Que seja quase como uma flor. Uma flor que tu poderás danificar. Mas eu digo que não poderás. E digo que não poderás, porque se eventualmente acontecer algo entre nós, eu tudo farei para ser, primeiro a tua princesa, e depois a tua rainha. Hoje é terça-feira, e tu, mais uma vez, estás sozinho. Estás sentado ao balcão, no mesmo lugar de sempre, não muito longe do aquário. As tuas mãos variam de posição frequentemente. As tuas mãos existem em alternância, entre o copo e a cabeça, que se percebe mais confusa que nunca. Num gesto repentino bates com o copo no balcão e bebes o que resta de uma vez só. Ainda não estás bêbado como já te vi. Algumas vezes por esta altura já estás preparado para subir ao teu quarto. Mas hoje a tua confusão tem uma determinação qualquer que não te deixa ficar bêbado. Vou agora passar à tua frente. Devagar. Com um leve agitar do corpo. Fazendo com que este rebolar me insinue. Esperando que este rebolar te acorde e te faça olhar para mim. Vou-o fazer sem aviso prévio, de modo a que sintas um arrepio na espinha. Daqueles arrepios que fazem tremer o sexo. Daqueles arrepios que ampliam a imaginação. E assim me perco no sonho, no desejo, a olhar para ti. A olhar para ti. Mas tu não me vês. E que vejo eu? Vejo um homem que já não é novo. Talvez um pouco rebelde. Um homem estranho, abatido, e, sempre à procura, sempre tão perdido. Tudo o que quero neste momento, é mostrar-te que o que quer que seja que te tenha acontecido, não merece esta forma dolorosa de suicídio em andamento lento. Mas sou tímida, e nunca seduzi ninguém nesta situação, a partir do lado de dentro do bar. Eu sei. Eu sinto. Eu sei que podes ser bastante convincente. Eu sinto que, com vontade, com a tua voz calma, com o teu olhar que sei pode ser quase sedutor, podes fazer qualquer mulher sucumbir em desejo. Eu sei. Eu sinto. Mas estas não são as melhores circunstâncias. Tu não és tu. És tu e dor. E eu sei que posso fazer com que te esqueças. Nem que seja por um momento. Se me deres oportunidade para isso. Deixa ver se me consigo surpreender e me lanço para ti. “Que fazes hoje à noite depois disto?” Uma onda de antecipação parece crescer no meu peito quando penso nessa possibilidade. De algum modo não quero admitir mas parece que tenho estado à espera de ti. Parece que tenho estado à espera que te sentes nesse banco e que olhes para mim. Parece que és tu que irás preencher o vazio que sinto. Olho-te nos olhos e sorrio. Os teus olhos permanecem perturbados. Os teus olhos frios que seguram tanta dor. Olha para mim. Obedece-me. Toco-te na mão. Tu pareces não sentir. As tuas mãos frias. Imagino a minha mão pequena dentro da tua. Ensaio mais um toque rápido e desajeitado. Quero que as minhas intenções sejam mais claras. Quero-te. Quero um homem misterioso como tu. “A polícia anunciou pela primeira vez a existência de um assassino em série relacionado com o caso das mulheres com abdómenes cortados. A polícia decidiu agora colocar vigilância em todas as ruas principais da Taipa.” José Drummond
Fernando Eloy VozesNão estaremos a esquecer-nos de algo? Por entre névoas do politicamente correcto, da tolerância e da protecção de minorias, o mundo ocidental parece esquecer-se de algo extremamente importante, algo que resolve muitas das questões existenciais dos dias de hoje. Esquecemo-nos de onde vem o sucesso da forma de vida ocidental que tanto prezamos. Esquecemo-nos do enorme valor do laicismo. Todos nós já vivemos a opressão religiosa. De Portugal à Dinamarca fomos violentados, queimados e ostracizados. Passámos por tempos onde excomungar era uma terrível ameaça. Mas livrámo-nos disso. Prosperámos porque libertos de conceitos e preconceitos, aprendemos a viver livres e até a respeitar os outros. Escrevemos Tratados da Tolerância e até a Carta dos Direitos Humanos, o único texto realmente sagrado da humanidade. Mas hoje discute-se, como se de repente não soubéssemos, a melhor forma de lidar com os muçulmanos e outros povos que não conseguem distinguir a religião do Estado. Preocupados com eles, coitadinhos, quando devíamos é ter dó por ainda não se terem livrado dos atavismos arcaicos nem perceber que Estado é uma coisa e religião é outra. O problema é também parecermos não saber explicar-lhes nem, tão pouco, lembrar-nos desse facto tão crucial na nossa evolução social recente. Na Suíça, avançava esta semana o DN, (https://bit.ly/muçuaperto) as autoridades educativas de Therwil, cantão de Basileia, depois de dois estudantes muçulmanos do sexo masculino terem contestado o hábito suíço de dar um aperto de mão aos professores, sancionaram o comportamento pois os estudantes alegaram que, caso o docente fosse do sexo feminino, o costume era contrário às suas crenças religiosas. Na Alemanha, avança a Russian Television (https://bit.ly/salsichanao), vivem a polémica das salsichas após uma série de escolas, cantinas e enfermarias as terem banido por questões religiosas. Nos Estados Unidos, orgulha-se a Esquire (!) (https://bit.ly/soldadosikh) que considera, e cito, “uma vitória para a liberdade religiosa” o facto de um soldado-norte americano ter vencido a batalha do turbante alegando, uma vez mais, motivações religiosas para ter uma cobertura capilar diferente da dos demais. Esta semana, foram várias as vozes a insurgirem-se contra o editorial intitulado “Como chegámos até aqui” do Charlie Hebdo (https://bit.ly/hebdoedita), inclusive a do “The Independent”, um jornal que até tenho em melhor conta. Dizem os recalcitrantes que o Charlie está apenas a incitar ódios contra todos os muçulmanos, um texto inadmissível e desapropriado. Já não “somos todos Charlie”, portanto. Diz o editorial a determinada altura, e cito, “veja-se o padeiro do bairro, que acabou de comprar a padaria que vem substituir a antiga do velhote acabado de se reformar. Ele faz croissants excelentes e é um fulano simpático sempre com um sorriso para os clientes. Está mesmo completamente integrado na vizinhança. E não são nem as suas longas barbas nem a mazela de rezar na testa (indicativa da sua grande devoção) que incomodam a clientela. Estão demasiado ocupados a embrulharem as sandes para o almoço. As que ele vende são fabulosas mas a partir de agora não mais existem as de fiambre nem as de bacon. O que não é um problema porque existem muitas outras escolhas – atum, galinha e os complementos todos. Seria, portanto, pateta resmungar ou armar confusão numa padaria tão adorada. Nós habituamo-nos com facilidade. (…) Nós adaptamo-nos.” Uns malditos os Charlies que têm o desplante de tocar na ferida. Na realidade, uma sociedade sem capacidade para se sentir a si própria, manietada por sentimentos de culpa e atafulhada de pensamentos tolerantes… Melhor, uma cultura sem coragem de ser por causa dos outros, coitados, que até a invejam, candidata-se ao esquecimento desfeita no pó dos tempos. O que nos falta perceber, no ocidente, é não existir vergonha alguma em sermos como somos, em renegar muçulmanos e todos os outros que entendam a religião como uma condicionante da vida, tal como hoje escarnecemos os inquisidores e moralistas que um dia nos fizeram baptizar um certo período na nossa história como “Idade das Trevas”. Se não pretendermos voltar a esses tempos assustadores, temos de ser capazes de perceber que a tolerância para com os outros não pode exceder a nossa forma de vida, leia-se os Estados laicos que nos deram a liberdade, a alegria de viver, de dizer o que nos apetece, de criar como nos aprouver, de vivermos como nos der na gana. Mas também alguns do nosso lado tentam fazer-nos voltar atrás, como o beato do novo presidente que na sua primeira missão oficial como representante do Estado (laico) português foi beijar a mão ao Papa, fazendo questão de nos lembrar da “dívida” para com o Vaticano por nos ter reconhecido o país… Não está em causa Francisco, que tem tido um pontificado de mérito, mas o significado da visita. Estivesse lá o Rato Zinger e seria igual. Mas em Portugal ninguém disse nada, ninguém comentou. Talvez por acharmos normal, talvez porque, ingenuamente, pensemos que as trevas não mais voltarão. Mas elas voltam quando desistimos de procurar a luz. Talvez não com a cruz, talvez com um crescente, ou outra coisa qualquer, mas virão se não percebermos o que devemos ao laicismo. Não venham, portanto, com razões religiosas para isto ou para aquilo. Não valem. Não são aceites em Estados laicos. Esquecermo-nos disto leva à crise, ao extremar de posições, à intolerância e, por fim, à guerra. David Bowie – All the Madmen (1970) (Where can the horizon lie When a nation hides Its organic minds in a cellar…dark and grim They must be very dim) Day after day They take some brain away Then turn my face around To the far side of town And tell me that it’s real Then ask me how I feel