Hoje Macau China / ÁsiaBRICS | Vladimir Putin elogia papel da Turquia O Presidente russo, Vladimir Putin, saudou ontem o papel que a Turquia pode desempenhar no grupo BRICS, liderado por Moscovo e Pequim, ao reunir-se com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, em Kazan. “Sei que a Turquia está interessada em estabelecer uma cooperação estreita com o grupo [BRICS]. E vemos aqui perspetivas importantes, tendo em conta o prestígio e o papel geopolítico especial do vosso país, que liga o leste e o oeste do continente euro-asiático”, disse Putin a Erdogan. O líder russo sublinhou ainda o caráter construtivo e de boa vizinhança das relações com Ancara. “O turismo ocupa tradicionalmente um lugar especial nas nossas relações bilaterais. Em 2023, um número recorde de cidadãos russos visitou a Turquia, mais 20,7% do que no ano anterior”, sublinhou Putin. Erdogan, por sua vez, desejou uma rápida visita do líder russo à Turquia e disse que as partes estão a trabalhar para eliminar os problemas com as transações bancárias entre os dois países. A presença de Erdogan na cimeira dos BRICS atraiu um interesse especial, uma vez que a Turquia é membro da NATO. O Kremlin declarou anteriormente que o grupo BRICS “não coloca ninguém perante o dilema ‘com este ou com o outro’”, pelo que “não há objeções” à adesão da Turquia ao grupo, apesar de ser membro da Aliança Atlântica. O grupo BRICS, inicialmente constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, alargou-se para nove membros com a integração do Irão, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, e pretende tornar-se um poderoso contrapeso ao Ocidente. Terça-feira, em Talin, na Estónia, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), o neerlandês Mark Rutte, sublinhou a importância da Turquia como membro da organização, apesar da sua vontade de aproximação aos BRICS, as principais economias emergentes do mundo. Rutte, de visita à capital do país Báltico, que faz fronteira com a Rússia, numa das suas primeiras viagens internacionais como secretário-geral da NATO (bloco de defesa ocidental), descreveu a Turquia como um membro “muito importante” da aliança e um Estado com “o direito soberano” de se aproximar dos BRICS. “Sabemos que a Turquia também está a trabalhar para ou com alguns dos parceiros dos BRICS, tem o direito soberano de o fazer. Isso pode originar debates de vez em quando, bilateralmente ou no âmbito da NATO”, declarou Rutte, quando questionado sobre a intenção de Ancara de se aproximar dos BRICS. Mas “obviamente, dentro da Aliança, sendo uma democracia de 32 países, haverá sempre debates sobre isto e aquilo”, comentou Rutte. No entanto, o secretário-geral da NATO também sublinhou que “a Turquia é um aliado muito importante da Aliança, tem uma das forças militares mais bem equipadas da NATO, desempenha um papel vital na sua parte da geografia da NATO” e “traz muitas capacidades à NATO como um todo”. O dirigente da Aliança Atlântica e ex-primeiro-ministro neerlandês, que recentemente substituiu o norueguês Jens Stoltenberg como responsável máximo da organização militar, afirmou que esta está “muito feliz e satisfeita com o facto de a Turquia ser desde há tantos anos parte da aliança”.
Hoje Macau China / ÁsiaBRICS | Putin quer ver Erdogan na Rússia em Outubro O Presidente russo, Vladimir Putin, declarou na quarta-feira esperar o homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, em Kazan, na Rússia, em Outubro, para a cimeira dos BRICS, um bloco económico a que a Turquia, Estado-membro da NATO, quer aderir. “Envio os melhores votos ao Presidente da República da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Aguardo-o na Rússia, em Kazan. Penso que marcámos uma reunião bilateral para 23 de Outubro”, disse Putin ao Presidente do parlamento turco, Numan Kurtulmus, de visita a Moscovo. “Estamos muito satisfeitos por desenvolver as nossas relações com a República da Turquia em todas as áreas”, acrescentou o chefe de Estado russo, classificando Rússia e Turquia como “bons vizinhos”. A última visita de Erdogan à Rússia foi em Setembro de 2023, quando esteve em Sochi, nas margens do mar Negro. Porta aberta A Turquia, cujas relações com os aliados ocidentais são por vezes tensas, anunciou no início de Setembro que tinha apresentado oficialmente o seu pedido de adesão aos BRICS. Com quatro membros (Brasil, Rússia, Índia e China) quando foi fundado em 2009, este grupo de economias emergentes acolheu a África do Sul em 2010 e foi este ano alargado a vários outros Estados: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egipto e Irão, parceiro económico e diplomático da Rússia. Ancara, que manteve relações estreitas com Moscovo apesar da invasão russa da Ucrânia e da guerra ali travada desde Fevereiro de 2022, é o único membro da NATO que bateu à porta deste bloco económico. Uma cimeira dos BRICS está agendada para entre 22 e 24 de Outubro, na cidade russa de Kazan. Além de Erdogan, é esperada a participação do Presidente chinês, Xi Jinping, do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e do Presidente iraniano, Massud Pezeshkian. Juntamente com a ONU, a Turquia ajudou a estabelecer um acordo sobre cereais no Verão de 2022, que visava permitir as exportações dos cereais ucranianos através do mar Negro, apesar da guerra com a Rússia, que denunciou o acordo um ano depois.
Hoje Macau China / ÁsiaTurquia | Erdogan quer integrar Organização de Cooperação de Xangai O Presidente turco, o islamista Recep Tayyip Erdogan, declarou na sexta-feira que o seu país deveria ser membro da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), da qual fazem parte a Rússia, a Índia e a China, e que se concentra em questões de segurança. “Estamos a dizer que nos acolham na Organização, não como interlocutores, mas sim como membro, como os demais” integrantes do grupo, disse Erdogan aos jornalistas que o acompanharam no voo de retorno ao seu país no final da cimeira da OCS, que se realizou no Cazaquistão. “Devemos fortalecer ainda mais as nossas relações com a Rússia e a China no âmbito da Organização de Cooperação de Xangai”, disse o chefe de Estado turco. Erdogan disse que a maioria dos membros da organização são Estados de herança e cultura turca e que a entrada da Turquia fortaleceria esse carácter. A oposição social-democrata da Turquia criticou Erdogan por promover o contacto com a OCS e com os Estados emergentes do grupo BRICS, e não com os países do Ocidente e da União Europeia. O Irão e a Bielorrússia, ambos com o estatuto de observadores, deverão juntar-se, em breve, à OCS, que congrega oito Estados membros – a Rússia, a China, a Índia, o Paquistão, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tajiquistão e o Uzbequistão. A organização conta com mais quatro países observadores – Afeganistão, Bielorrússia, Irão e Mongólia – e seis outros parceiros – Arménia, Azerbaijão, Camboja, Nepal, Sri Lanka e Turquia. A Organização de Cooperação de Xangai, criada em 2001, tem concentrado os debates sobretudo nas questões de segurança regional, combate ao terrorismo, ao separatismo étnico e ao extremismo religioso.
Hoje Macau China / ÁsiaTurquia | Presidenciais a caminho da segunda volta O presidente da Comissão Eleitoral da Turquia, Ahmet Yener, disse ontem em Ancara que já foram contados 99,4 por cento dos votos nacionais e 84 por cento dos votos no estrangeiro, sendo que Erdogan tinha 49,4 por cento dos votos, e Kemal Kilicdaroglu, 45 por cento dos votos. Ainda não se trata da divulgação do número definitivo, mas as eleições presidenciais turcas encaminham-se para uma segunda volta, com o Presidente Recep Tayyip Erdogan, que governa o país há 20 anos, a liderar sobre o principal adversário, mas a ficar aquém dos votos necessários para uma vitória absoluta. O terceiro candidato, o nacionalista Sinan Ogan, obteve 5,2 por cento dos votos, até ontem. Erdogan, 69 anos, disse aos apoiantes durante a madrugada que ainda podia ganhar, mas que respeitaria a decisão caso venha a realizar-se uma segunda volta no próximo dia 28 de Maio. Kilicdaroglu, 74 anos, mostrou-se esperançado numa vitória na segunda volta. “Vamos ganhar com certeza a segunda volta e trazer a democracia”, disse Kilicdaroglu. Até ao momento, os resultados das eleições mostram que o Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no poder, pode vir a manter a maioria no Parlamento de 600 lugares. A Assembleia perdeu grande parte do poder legislativo depois de um referendo em 2017, promovido por Erdogan e que alterou o sistema de governação do país para uma presidência reforçada.
Hoje Macau China / ÁsiaTurquia | Governo afasta-se de sanções à Rússia O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, descartou ontem a possibilidade de Ancara vir a unir-se ao programa de sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra a Rússia por causa da invasão da Ucrânia. Cavusoglu disse que o Governo de Ancara não vai juntar-se às sanções “unilaterais” contra Moscovo, tentando manter a postura de neutralidade em relação ao assunto, disse o chefe da diplomacia turca à estação de televisão Lider Haber. Neste sentido, o ministro sublinhou que a Turquia vai continuar a “levar em consideração” os interesses do próprio país, valorizando a prosperidade da Turquia, que este mês vai a eleições. “Estamos a garantir o respeito pela Convenção de Montreux”, disse Cavusoglu, referindo-se ao acordo internacional sobre o movimento marítimo nos Estreitos do Bósforo e Dardanelos, que regula a navegação de navios de guerra estrangeiros. O chefe da diplomacia de Ancara criticou directamente os comentários do principal opositor turco, Kemal Kiliçdaroglu, que admitiu recentemente dar “prioridade às relações com o Ocidente e não com o Kremlin” em caso de vitória nas eleições do próximo dia 14 de Maio. Para Cavusoglu, trata-se de uma afirmação incoerente porque, Kemal Kiliçdaroglu, acusou o ministro, disse no passado “que nada iria fazer para ameaçar as relações entre a Turquia e a Rússia”. No dia 14 de Maio realizam-se eleições gerais e presidenciais na Turquia.
Olavo Rasquinho Vozes“Acts of God” e outras calamidades A destruição causada pelos sismos que ocorreram recentemente na Turquia e que afetaram o centro e sul deste país e o noroeste da Síria, fez com que, durante alguns dias, as notícias sobre a guerra na Ucrânia passassem para segundo plano. Calamidades como sismos, vulcões, tufões, furacões, marés de tempestade, tornados ou outros desastres naturais, são designados nos países anglófonos por “Acts of God”, expressão que até há pouco tempo era frequentemente usada em cláusulas de contratos de companhias de seguros. Desde há cerca de um ano que são publicadas diariamente imagens de destruição semelhante à provocada por esses sismos, mas causada pela guerra que atualmente decorre na Ucrânia. Fotografias de bairros residenciais em cidades ucranianas como Bucha, Hostomel, Irpin, Borodyanka, Kramatorsk, Mariupol e muitas outras, vítimas de bombardeamentos, permitem detetar semelhanças entre a destruição causada por “Acts of God” e por “Acts of Putin”. O abalo telúrico mais forte do dia 6 de fevereiro, na Turquia, teve a magnitude de 7,8 da escala de Richter, ocorreu às 04:17, hora local, e foi seguido de poderosas réplicas. O epicentro localizou-se na zona de contacto entre as placas tectónicas da Anatólia e da Arábia, que por sua vez fazem fronteira com as placas Africana e Euroasiática. As cerca de meia centena de milhares de vítimas mortais deveram-se não só à violência dos sismos, mas também ao facto de ter ocorrido de madrugada e, principalmente, a defeitos estruturais da maioria dos edifícios. Nos países onde as regras antissísmicas são rigorosamente aplicadas, tal não sucederia. Por exemplo, no Japão, sismos de muito maior magnitude têm provocado um número de vítimas consideravelmente menor. O sismo mais forte que ocorreu neste país, em 11 de março de 2011, com a magnitude de 9,1 da escala de Richter, provocou diretamente cerca de 1.500 vítimas mortais no Japão, embora o tsunami por ele gerado tenha acrescido significativamente este número para cerca de 18.500, não só neste país, mas também em outros países da Ásia. Atendendo a que grande parte do território português se encontra numa área sísmica, esta tragédia deveria alertar os construtores civis para o cumprimento rigoroso das normas que a legislação contempla. A primeira regulamentação sobre o cálculo sísmico nas construções em Portugal foi aprovada em 1958 e atualizada em 1983. Estima-se que, na Área Metropolitana de Lisboa, cerca de 67% dos edifícios foram construídos antes de haver regulamentação antissísmica. Segundo especialistas, a legislação antissísmica vigente em Portugal é a adequada, mas a fiscalização é deficiente, o que leva a pressupor que, perante um sismo de grande magnitude, o número de vítimas poderá ser bastante elevado. Estima-se que o sismo de 1755 terá atingido a magnitude entre 8 e 9 da escala de Richter, embora não haja consenso sobre este valor. Classificando a intensidade deste sismo de acordo com a escala de Mercalli Modificada, ter-se-ia atingido os graus X ou XI. O maior sismo que afetou Portugal desde o de 1755, ocorreu em 28 de fevereiro de 1969 e foi despoletado na zona de contacto das placas tectónicas Africana e Euroasiática, a cerca de 220 km a sudoeste de Sagres, atingiu a magnitude 7,9 na escala de Richter. Repercutiu-se no território continental português com o grau VII da escala de Mercalli Modificada, tendo atingido em alguns locais o grau VIII. É conveniente relembrar que a escala de Richter é logarítmica e está relacionada com a magnitude dos sismos, ou seja, com a energia libertada, enquanto que a escala de Mercalli mede a gravidade das consequências sobre as pessoas, objetos, edifícios e meio ambiente. Enquanto a escala de Mercalli tem 12 graus expressos em números romanos, de I a XII, a escala de Richter teoricamente não tem limite superior, tendo sido o maior valor desta escala atingido aquando do sismo ocorrido em 22 de maio de 1960, no Chile (oficialmente designado por Grande Terramoto de Valdivia), com a magnitude de 9,5. Enquanto que escala de Richter é logarítmica e mede a magnitude, a escala de Mercalli é qualitativa e mede subjetivamente a intensidade dos sismos. Na escala de Richter, os diferentes valores obtêm-se calculando o logaritmo de base 10 da amplitude das ondas sísmicas. Isto implica que o aumento de um grau nesta escala corresponde a um aumento de 10 vezes da amplitude sísmica. Assim, por exemplo, tomando o valor 4 da escala de Richter como referência, ao valor 5 corresponde uma amplitude sísmica 10 vezes superior. Na escala de Richter, sismos de grau 1 são apenas detetáveis pelos sismógrafos e por alguns animais, enquanto que as pessoas não se apercebem dele. Os de grau 2 já provocam um pequeno tremor, que poderá ser sentido por algumas pessoas, outras só se apercebem a partir do grau 3. Em geral, só ocorrem danos em edifícios a partir do grau 6. Perante a tragédia que atingiu os povos da Turquia e da Síria, seria conveniente aproveitar estas ocorrências para pôr os governantes de sobreaviso, de forma a promover um acompanhamento e fiscalização mais eficientes no que se refere à aplicação rigorosa da regulamentação sobre o cálculo do risco sísmico dos edifícios. A sobrecarga financeira que tal implica seria altamente compensada pela diminuição drástica do número de vítimas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCaritas | Doação de 500 mil patacas para vítimas na Turquia e Síria A Caritas Macau associa-se a uma campanha internacional da entidade para a recolha de fundos a fim de apoiar as vítimas do terramoto que afectou severamente a Turquia e a Síria. Lançada há poucos dias, a campanha em Macau já recolheu cerca de 500 mil patacas, confirmou Paul Pun Os residentes de Macau doaram, nos últimos dias, cerca de 500 mil patacas para apoiar as vítimas do terramoto que afectou a Turquia e a Síria. O número é avançado ao HM por Paul Pun, secretário-geral da Caritas, que se associa, assim, à campanha internacional lançada pela entidade em todos os países e regiões onde está representada. A campanha versa apenas a recolha de donativos monetários para a aquisição de bens alimentares e outros produtos essenciais para apoiar as vítimas desalojadas. “Recebemos até agora mais de 400 mil patacas, e esperamos em breve chegar à fasquia das 500 mil patacas. Espero receber mais donativos nos próximos dias. Qualquer quantia dada pelos residentes de Macau é importante, mesmo que seja só mil patacas, mas há quem prefira dar mais. Hoje, por exemplo, recebemos um grupo de estudantes de uma escola que doou 20 mil patacas”, contou. A campanha da Caritas Macau arrancou no passado dia 8 e tem como objectivo a compra de materiais de primeira necessidade como tendas, abrigos, alimentos ou medicamentos. “A Caritas Macau apela urgentemente às pessoas de todas as esferas da população para que prestem atenção à situação na Turquia e Síria para que possam apoiar as vítimas do desastre”, lê-se na nota divulgada no website. Entretanto, uma outra associação local, a Simang, liderada por Fernando Lourenço, enviou 65 caixas com bens de primeira necessidade esta quarta-feira num voo da Turkish Airlines, noticiou a TDM. Esta iniciativa teve início graças a um voluntário turco que pertence à Simang. O mesmo voo passou depois por Hong Kong para a recolha de mais bens doados. Como bombas atómicas O número de vítimas do terramoto não para de aumentar e, segundo as contas avançadas por Recep Tayyip Erdogan, Presidente da Turquia, esta terça-feira, o número de mortos no país já ultrapassou os 35 mil, e há também pelo menos 105 mil feridos. Na Síria, país vizinho e que há vários anos se vê a braços com uma guerra civil, estão para já contabilizados 5800 mortos. O governante turco comparou a força dos terramotos, de 7.8 na escala de Ritcher, a uma série de “bombas atómicas”. À medida que os dias passam começa a ser cada vez menos provável encontrar sobreviventes daquele que já é considerado como um dos maiores desastres natural de sempre, tendo em conta os estragos causados e as baixas temperaturas que se fazem sentir nos dois países nesta altura.
Hoje Macau SociedadeCaritas Macau angaria fundos para vítimas de sismo na Turquia e Síria A Caritas Macau respondeu a um apelo da entidade a nível internacional e lançou uma angariação de fundos para apoiar as vítimas dos sismos na Turquia e na Síria, disse ontem à Lusa o secretário-geral da organização. “A organização Caritas contactou todos os membros, já que teve ontem [terça-feira] à noite um encontro”, disse Paul Pun. “Isto quer dizer que começámos ontem a nossa iniciativa para preparar uma angariação de fundos para os mais necessitados na Turquia e na Síria”, continuou. A recolha deverá estender-se por um período de três meses, até Maio, notou o secretário-geral da Caritas Macau, que apontou a existência de duas vias para auxiliar: através de transferência bancária, sendo que os números das contas podem ser consultados na página da Caritas Macau na internet, ou através de caixas de recolha de fundos, colocadas em bancos e lojas do território, e ainda na sede da Caritas Macau, na Escola São João de Brito, na biblioteca da Caritas, na cantina Happy Kitchen e na loja Good Fortune Charity Shop, ambas da organização. Escola solidária Além desta iniciativa, também uma escola do território, que Paul Pun preferiu não identificar, decidiu apoiar a causa, através da organização humanitária da Igreja Católica. “Há um mês, [a escola] queria angariar dinheiro para outros projectos da Caritas, mas, entretanto, ligámos e perguntámos se não queriam reconsiderar e mudar para auxiliar a Turquia e a Síria, e recebi uma resposta afirmativa esta manhã”, disse o responsável, salientando que outras instituições de ensino do território poderão associar-se à campanha. A Turquia e a Síria foram atingidas, na madrugada de segunda-feira, por dois fortes sismos, que já causaram mais de 8.300 mortos, segundo o mais recente balanço oficial.
Hoje Macau China / ÁsiaBalanço do sismo na Turquia e na Síria já ultrapassa os mil mortos O mais recente balanço das vítimas do tremor de terra que atingiu o sul da Turquia e o norte da Síria já ultrapassa os mil mortos e cerca de dois mil feridos, sendo que as autoridades alertam que o número pode ser ainda mais grave tendo em conta o elevado grau de destruição. O tremor de terra, com uma magnitude de 7,8 na escala de Richter ocorreu na Turquia, atingindo a zona de fronteira entre os dois países encontrando-se no local as primeiras equipas de socorro. Na cidade turca de Adana há registo de muitos edifícios destruídos e no lado sírio centenas de pessoas continuam incomunicáveis. No norte da Síria estão concentrados mais de quatro milhões de refugiados de guerra. Fontes médicas na cidade síria de Atmeth referem a chegada constante de feridos aos hospitais. O abalo ocorreu às 04:17, hora local, a 33 quilómetros da capital da província de Gaziantep, no sudeste da Turquia, a uma profundidade de 17,9 quilómetros. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), minutos após o primeiro sismo, outro abalo de 6,7 graus na escala de Richter foi registado a 9,9 quilómetros de profundidade. Os abalos foram sentidos também no Líbano e no Chipre, segundo correspondentes da agência France-Presse. Bruxelas envia ajuda Entretanto, a Comissão Europeia está a coordenar o envio de equipas de resgate dos Estados-membros para se juntar às buscas por sobreviventes após o terremoto que sacudiu hoje o sudeste da Turquia e outros países vizinhos, especialmente a Síria O comissário europeu de Gestão de Crises, Janez Lenarcic, assinalou, numa mensagem partilhada na rede social Twitter, que Bruxelas ativou o Mecanismo de Proteção Civil da UE e que as equipas de salvamento dos Países Baixos e da Roménia já se estão a deslocar para a zona afetada. “O Centro de Coordenação de Resposta a Emergências está a coordenar o envio de equipas de resgate da Europa”, destacou o diplomata esloveno. Por seu turno, o Alto Representante para os Negócios Estrangeiros da UE, Josep Borrell, sublinhou que o bloco europeu está “pronto para ajudar” os países afetados após um “devastador” sismo, que “já ceifou a vida a centenas de pessoas e feriu muitas mais”. “As minhas profundas condolências às muitas famílias que perderam vidas e desejo uma rápida recuperação aos feridos. A UE está totalmente solidária com vocês”, disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também no Twitter. Países como a Alemanha, Rússia, a Itália e o Azerbaijão já tinham anunciado a intenção de enviar equipas de resgate para ajudar nas buscas.
Hoje Macau China / ÁsiaTurquia afasta eventual envio de uigures para China após ratificação de tratado A Turquia assegurou ontem que não irá enviar membros da minoria muçulmana uigur refugiados em território turco para a China, apesar da recente ratificação por parte de Pequim de um tratado de extradição com Ancara. “É incorreto dizer que (a ratificação de Pequim) significa que a Turquia irá enviar uigures de volta para a China”, afirmou o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, numa conferência de imprensa realizada na capital do país, Ancara. “Isso só será aplicado a pessoas culpadas (de crimes). No passado, existiram pedidos para o envio de uigures que se encontravam na Turquia para a China. A Turquia não aplicou tais medidas”, prosseguiu o ministro dos Negócios Estrangeiros turco. No sábado passado, o Parlamento chinês ratificou um tratado de extradição assinado em 2017 com Ancara, acordo que Pequim quer utilizar, em particular, para acelerar o regresso de alguns uigures suspeitos de “terrorismo” e refugiados em território turco. O Parlamento turco não ratificou o texto, mas a medida anunciada pelas autoridades chinesas suscitou preocupação junto da diáspora uigur – estimada em cerca de 50.000 pessoas – refugiada na Turquia, maioritariamente na cidade de Istambul. A Turquia tem laços linguísticos e culturais com os uigures (um dos 56 grupos étnicos que existem no território chinês), que são maioritariamente muçulmanos e falam na sua grande maioria uma língua relacionada com o turco. O Estado turco foi durante muito tempo um dos principais defensores da causa uigur a nível internacional. Posteriormente, e de forma a proteger os interesses económicos do país, as críticas turcas em relação ao tratamento desta minoria ficaram mais discretas. Alguns artigos publicados denunciaram que a Turquia já deportou, de forma discreta, membros da minoria uigur para a China, nomeadamente através de países terceiros. Os uigures (bem como os cazaques) são etnicamente distintos do grupo étnico maioritário na China, os chineses han, e constituem uma grande parte da população em Xinjiang (noroeste), uma vasta região chinesa que faz fronteira com o Afeganistão e o Paquistão. Esta etnia representa um pouco menos de metade dos 25 milhões de pessoas que vivem na região de Xinjiang, um vasto território semidesértico no noroeste da China há muito atingido por ataques violentos, que Pequim atribui a elementos separatistas e islamitas. A China tem sido acusada de ter lançado uma política de vigilância máxima e de concentrar minorias étnicas chinesas de origem muçulmana em campos de doutrinação e reeducação no extremo noroeste do território chinês. Segundo peritos estrangeiros, pelo menos um milhão de pessoas, incluindo uigures, estarão nestes “campos”. Pequim tem sempre rejeitado este alegado plano de “genocídio cultural” de minorias muçulmanas na China, alegando que estas instalações são “centros de formação profissional”, destinadas a ajudar a população a encontrar trabalho e a mantê-la afastada do extremismo e do terrorismo. Muitos dos refugiados uigures que se encontram na Turquia não têm notícias dos seus familiares que estão nestas estruturas. Denúncias internacionais também apontaram este ano que os uigures estão a ser alegadamente submetidos a esterilizações forçadas, no sentido de reduzir e controlar a natalidade desta população. Cerca de 20 uigures voltaram hoje a concentrar-se, pelo nono dia consecutivo, em frente ao consulado chinês em Istambul para pedir notícias dos respetivos familiares. Também apelaram às autoridades turcas para que não ratifiquem o tratado de extradição com a China. “Estamos muito preocupados. Esperamos que o Estado (turco) não aprove isso”, disse, em declarações à agência France Presse (AFP), Omer Faruh, cuja mãe e filhos estão detidos no território chinês.
João Luz InternacionalMédio Oriente | Ofensiva turca aprofunda crise humanitária na Síria Após a retirada abrupta das forças norte-americanas do norte da Síria, Erdogan aproveitou a passadeira vermelha para entrar a matar em território detido por forças curdas, recém-aliados dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico. Depois da retirada, Trump anunciou o envio de 50 milhões de dólares para estabilizar a região e proteger minorias étnicas perseguidas Com agências [dropcap]O[/dropcap]s nossos aliados garantiram-nos a sua protecção, mas, de repente abandonaram-nos com a decisão injusta de retirar as suas tropas da fronteira turca”, disseram em comunicado no sábado as Forças Democráticas da Síria (FDS), a principal força do Curdistão Sírio que combateu o Estado Islâmico. Este mesmo argumento está a ser usado contra o Governo de Donald Trump, por vários países da comunidade internacional, bem como pelas forças políticas nos Estados Unidos, incluindo o próprio Partido Republicano, que apoia o Presidente norte-americano. Mais de 130.000 pessoas deixaram as suas casas nas cidades de Tal Abyad e Ras al-Ain, desde que a ofensiva turca começou no nordeste da Síria, na quarta-feira, informou ontem a ONU (Organização das Nações Unidas). De acordo com o escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), alguns deles foram recebidos pelos seus familiares noutros outros locais, mas muitos refugiaram-se em escolas ou abrigos em cidades como Tal Amr, Hasakeh ou Raqa. Segundo o escritório humanitário da ONU, cerca de 400.000 pessoas na área podem precisar de assistência e protecção nos próximos dias. As Nações Unidas alertaram também que os hospitais públicos e privados de Ras al-Ain e Tal Abyad fecharam na sexta-feira e que mais de 400.000 pessoas ficaram sem abastecimento de água em Hasakeh, incluindo 82.000 residentes dos campos de refugiados de Al-Hol e Areesha. Ontem, perto de Tal Abyad, registaram-se “violentos combates” em Suluk, onde as forças turcas conquistaram alguns “sectores”, referiu o Observatório dos Direitos Humanos (OSDH). Os ataques aéreos turcos também atingem esta área. Um oficial das FDS confirmou o conflito. “Os turcos estão a tentar assumir o controlo, mas há confrontos violentos com nossas forças”, disse o oficial. Noutra frente, em Ras al-Ain, as forças curdas fizeram recuar os militares turcos e os seus apoiantes, segundo o OSDH. “A luta continua nos arredores ocidentais de Ras al-Ain”. Durante a noite, 17 manifestantes foram mortos em Ras al-Ain ou por atiradores das forças curdas, como quatro combatentes do FDS, segundo o Observatório. Desde quarta-feira, 85 combatentes curdos e 38 civis foram mortos, segundo o último balanço do OSDH. No sábado, Ancara anunciou que tinha conquistado Ras al-Ain, mas o FDS e o OSDH negaram. O Ministério da Defesa turco escreveu, na sua página da rede social Twitter, que a cidade de Ras al Ain foi tomada, “como resultado de acções bem-sucedidas na operação Fonte da Paz”. O Ministério turco acrescentou ainda que assumiu o controlo de uma estrada entre Qamishli e Manbech, duas das mais importantes cidades do nordeste da Síria, uma via que cobre cerca de 500 quilómetros ao longo da fronteira que Ancara aspira controlar para criar uma “zona segura”, livre de milícias curdas. “As forças turcas e os apoiantes de Ancara recuaram em várias áreas onde avançaram no dia anterior”, disse um integrante das FDS. Outro oficial das FDS, estacionado em Ras al-Ain, também relatou a retirada das forças turcas. As FDS usaram “túneis subterrâneos” para apanhar os agressores de surpresa. Outras organizações internacionais alertaram sobre uma nova tragédia humanitária na Síria. Dar e tirar No sábado, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos vão enviar 50 milhões de dólares para assistência à estabilização da Síria. De acordo com a assessoria de comunicação da Casa Branca, o dinheiro tem como objectivo proteger minorias étnicas e religiosas e promover os direitos humanos. “Este fundo irá providenciar assistência financeira de emergência aos defensores dos direitos humanos sírios, a organizações da sociedade civil e ao apoio às minorias étnicas e religiosas vítimas deste conflito”, lê-se no comunicado da Casa Branca. “Esperamos que os nossos parceiros regionais e internacionais continuem também as suas contribuições. Garantir a liberdade e segurança das minorias religiosas e étnicas continua a ser uma prioridade deste Administração”, é acrescentado. Algumas horas depois do anúncio do envio de fundos, Trump publicou no Twitter a seguinte mensagem: “As guerras sem fim têm de acabar”. Em entrevista à Fox News, o Presidente americano referiu que tomará uma atitude se “a Turquia ultrapassar os limites”. “A Turquia luta contra os curdos, é o que a Turquia faz. Nós gastámos muito dinheiro com os curdos, mas está na hora de irmos para casa”, declarou Donald Trump no mesmo dia em que anunciou o envio de tropas e armas para a Arábia Saudita. Entretanto, os chefes das diplomacias dos Estados-membros da Liga Árabe adoptaram no sábado “medidas urgentes” contra o que chamam de “agressão turca” contra o nordeste da Síria. De acordo com o comunicado, divulgado no final da reunião de emergência realizada na sede da Liga Árabe, no Cairo, os ministros analisaram, entre outras medidas, “reduzir as relações diplomáticas, suspender a cooperação militar e rever as relações económicas, culturais e turísticas” com a Turquia. Alguns países, como o Egipto, Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo Pérsico, já tinham relações muito tensas com o Governo do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, de tendência islâmica e aliado do grupo da Irmandade Muçulmana, considerada terrorista pelo Cairo. Os ministros consideraram que a ofensiva de Ancara representa “uma ameaça directa à segurança nacional dos países árabes e internacional” e “contraria as normas internacionais”. Por isso, pediram à Turquia que pare com a “agressão” e “se retire imediata e incondicionalmente de todos os territórios sírios”, enquanto consideraram “legítimos” os esforços da Síria para responder ao ataque turco. A Liga Árabe também manifestou “firme rejeição a qualquer tentativa turca de impor mudanças demográficas na Síria através da força dentro da estrutura da chamada zona de segurança”, referindo-se à ampla faixa de fronteira entre os dois países, que a Turquia deseja controlar para prevenir a criação de uma região autónoma curda. Lisboa preocupada O Governo português referiu estar a acompanhar com “muita preocupação” a ofensiva militar da Turquia no nordeste da Síria, que considera poder comprometer “objectivos prioritários” da coligação internacional contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI). “O Governo português acompanha com muita preocupação a operação militar lançada pela Turquia no nordeste da Síria, muito em particular as suas consequências sobre a população na região”, refere em comunicado o ministério dos Negócios Estrangeiros. No texto, o Governo considera que iniciativas militares unilaterais “com resultados potencialmente desastrosos” podem comprometer uma solução política sustentável da Síria e “desestabilizam ainda mais o frágil processo político” liderado pelas Nações Unidas e pelo enviado especial do secretário-geral da ONU. “Portugal considera que a presente ofensiva pode seriamente pôr em causa objectivos prioritários da comunidade internacional e da coligação Internacional contra o Daesh [acrónimo em árabe do EI], nomeadamente a luta contra grupos terroristas que ainda operam no território sírio, para além de ameaçar a segurança dos parceiros locais da coligação global que foram fundamentais para a derrota do Estado Islâmico”, sublinha o comunicado. O Governo português conclui com um apelo a Ancara para que contribua de “forma construtiva” num processo político negociado e liderado pela ONU. Negociar morte Numa perspectiva alargada, a possibilidade de aplicação de sanções europeias contra a Turquia vai ser debatida no Conselho Europeu desta semana, disse o governo francês. A secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus, Amélie Montchalin, disse que a “questão está sobre a mesa”, quando questionada sobre a ofensiva de Acara contra as forças curdas, aliadas do “Ocidente” na luta contra os radicais islâmicos. Entretanto, a Alemanha decidiu embargar a entrega à Turquia de armas que “possam ser usadas no nordeste da Síria” contra as milícias curdas, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas. “No contexto da ofensiva militar turca no nordeste da Síria, o Governo não concederá nenhuma nova licença (de venda) para qualquer equipamento militar que possa ser usado na Síria pela Turquia”, disse no sábado o chefe da diplomacia alemã, numa declaração divulgada pelo jornal diário Bild. Heiko Maas não disse qual a tipologia de equipamento militar que fica a partir de agora interdito à Turquia, nem quantificou a dimensão e duração do embargo. Em 2018, a entrega de armas à Turquia representou (com 242,8 milhões de euros) quase um terço das exportações alemãs de armas de guerra (770 milhões de euros). Nos primeiros quatro meses de 2019, as vendas de armas para as Forças Armadas turcas totalizaram 184 milhões de euros, tornando a Turquia o mais importante cliente da NATO de armamento alemão.
João Luz InternacionalMédio Oriente | Ofensiva turca aprofunda crise humanitária na Síria Após a retirada abrupta das forças norte-americanas do norte da Síria, Erdogan aproveitou a passadeira vermelha para entrar a matar em território detido por forças curdas, recém-aliados dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico. Depois da retirada, Trump anunciou o envio de 50 milhões de dólares para estabilizar a região e proteger minorias étnicas perseguidas Com agências [dropcap]O[/dropcap]s nossos aliados garantiram-nos a sua protecção, mas, de repente abandonaram-nos com a decisão injusta de retirar as suas tropas da fronteira turca”, disseram em comunicado no sábado as Forças Democráticas da Síria (FDS), a principal força do Curdistão Sírio que combateu o Estado Islâmico. Este mesmo argumento está a ser usado contra o Governo de Donald Trump, por vários países da comunidade internacional, bem como pelas forças políticas nos Estados Unidos, incluindo o próprio Partido Republicano, que apoia o Presidente norte-americano. Mais de 130.000 pessoas deixaram as suas casas nas cidades de Tal Abyad e Ras al-Ain, desde que a ofensiva turca começou no nordeste da Síria, na quarta-feira, informou ontem a ONU (Organização das Nações Unidas). De acordo com o escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), alguns deles foram recebidos pelos seus familiares noutros outros locais, mas muitos refugiaram-se em escolas ou abrigos em cidades como Tal Amr, Hasakeh ou Raqa. Segundo o escritório humanitário da ONU, cerca de 400.000 pessoas na área podem precisar de assistência e protecção nos próximos dias. As Nações Unidas alertaram também que os hospitais públicos e privados de Ras al-Ain e Tal Abyad fecharam na sexta-feira e que mais de 400.000 pessoas ficaram sem abastecimento de água em Hasakeh, incluindo 82.000 residentes dos campos de refugiados de Al-Hol e Areesha. Ontem, perto de Tal Abyad, registaram-se “violentos combates” em Suluk, onde as forças turcas conquistaram alguns “sectores”, referiu o Observatório dos Direitos Humanos (OSDH). Os ataques aéreos turcos também atingem esta área. Um oficial das FDS confirmou o conflito. “Os turcos estão a tentar assumir o controlo, mas há confrontos violentos com nossas forças”, disse o oficial. Noutra frente, em Ras al-Ain, as forças curdas fizeram recuar os militares turcos e os seus apoiantes, segundo o OSDH. “A luta continua nos arredores ocidentais de Ras al-Ain”. Durante a noite, 17 manifestantes foram mortos em Ras al-Ain ou por atiradores das forças curdas, como quatro combatentes do FDS, segundo o Observatório. Desde quarta-feira, 85 combatentes curdos e 38 civis foram mortos, segundo o último balanço do OSDH. No sábado, Ancara anunciou que tinha conquistado Ras al-Ain, mas o FDS e o OSDH negaram. O Ministério da Defesa turco escreveu, na sua página da rede social Twitter, que a cidade de Ras al Ain foi tomada, “como resultado de acções bem-sucedidas na operação Fonte da Paz”. O Ministério turco acrescentou ainda que assumiu o controlo de uma estrada entre Qamishli e Manbech, duas das mais importantes cidades do nordeste da Síria, uma via que cobre cerca de 500 quilómetros ao longo da fronteira que Ancara aspira controlar para criar uma “zona segura”, livre de milícias curdas. “As forças turcas e os apoiantes de Ancara recuaram em várias áreas onde avançaram no dia anterior”, disse um integrante das FDS. Outro oficial das FDS, estacionado em Ras al-Ain, também relatou a retirada das forças turcas. As FDS usaram “túneis subterrâneos” para apanhar os agressores de surpresa. Outras organizações internacionais alertaram sobre uma nova tragédia humanitária na Síria. Dar e tirar No sábado, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos vão enviar 50 milhões de dólares para assistência à estabilização da Síria. De acordo com a assessoria de comunicação da Casa Branca, o dinheiro tem como objectivo proteger minorias étnicas e religiosas e promover os direitos humanos. “Este fundo irá providenciar assistência financeira de emergência aos defensores dos direitos humanos sírios, a organizações da sociedade civil e ao apoio às minorias étnicas e religiosas vítimas deste conflito”, lê-se no comunicado da Casa Branca. “Esperamos que os nossos parceiros regionais e internacionais continuem também as suas contribuições. Garantir a liberdade e segurança das minorias religiosas e étnicas continua a ser uma prioridade deste Administração”, é acrescentado. Algumas horas depois do anúncio do envio de fundos, Trump publicou no Twitter a seguinte mensagem: “As guerras sem fim têm de acabar”. Em entrevista à Fox News, o Presidente americano referiu que tomará uma atitude se “a Turquia ultrapassar os limites”. “A Turquia luta contra os curdos, é o que a Turquia faz. Nós gastámos muito dinheiro com os curdos, mas está na hora de irmos para casa”, declarou Donald Trump no mesmo dia em que anunciou o envio de tropas e armas para a Arábia Saudita. Entretanto, os chefes das diplomacias dos Estados-membros da Liga Árabe adoptaram no sábado “medidas urgentes” contra o que chamam de “agressão turca” contra o nordeste da Síria. De acordo com o comunicado, divulgado no final da reunião de emergência realizada na sede da Liga Árabe, no Cairo, os ministros analisaram, entre outras medidas, “reduzir as relações diplomáticas, suspender a cooperação militar e rever as relações económicas, culturais e turísticas” com a Turquia. Alguns países, como o Egipto, Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo Pérsico, já tinham relações muito tensas com o Governo do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, de tendência islâmica e aliado do grupo da Irmandade Muçulmana, considerada terrorista pelo Cairo. Os ministros consideraram que a ofensiva de Ancara representa “uma ameaça directa à segurança nacional dos países árabes e internacional” e “contraria as normas internacionais”. Por isso, pediram à Turquia que pare com a “agressão” e “se retire imediata e incondicionalmente de todos os territórios sírios”, enquanto consideraram “legítimos” os esforços da Síria para responder ao ataque turco. A Liga Árabe também manifestou “firme rejeição a qualquer tentativa turca de impor mudanças demográficas na Síria através da força dentro da estrutura da chamada zona de segurança”, referindo-se à ampla faixa de fronteira entre os dois países, que a Turquia deseja controlar para prevenir a criação de uma região autónoma curda. Lisboa preocupada O Governo português referiu estar a acompanhar com “muita preocupação” a ofensiva militar da Turquia no nordeste da Síria, que considera poder comprometer “objectivos prioritários” da coligação internacional contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI). “O Governo português acompanha com muita preocupação a operação militar lançada pela Turquia no nordeste da Síria, muito em particular as suas consequências sobre a população na região”, refere em comunicado o ministério dos Negócios Estrangeiros. No texto, o Governo considera que iniciativas militares unilaterais “com resultados potencialmente desastrosos” podem comprometer uma solução política sustentável da Síria e “desestabilizam ainda mais o frágil processo político” liderado pelas Nações Unidas e pelo enviado especial do secretário-geral da ONU. “Portugal considera que a presente ofensiva pode seriamente pôr em causa objectivos prioritários da comunidade internacional e da coligação Internacional contra o Daesh [acrónimo em árabe do EI], nomeadamente a luta contra grupos terroristas que ainda operam no território sírio, para além de ameaçar a segurança dos parceiros locais da coligação global que foram fundamentais para a derrota do Estado Islâmico”, sublinha o comunicado. O Governo português conclui com um apelo a Ancara para que contribua de “forma construtiva” num processo político negociado e liderado pela ONU. Negociar morte Numa perspectiva alargada, a possibilidade de aplicação de sanções europeias contra a Turquia vai ser debatida no Conselho Europeu desta semana, disse o governo francês. A secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus, Amélie Montchalin, disse que a “questão está sobre a mesa”, quando questionada sobre a ofensiva de Acara contra as forças curdas, aliadas do “Ocidente” na luta contra os radicais islâmicos. Entretanto, a Alemanha decidiu embargar a entrega à Turquia de armas que “possam ser usadas no nordeste da Síria” contra as milícias curdas, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas. “No contexto da ofensiva militar turca no nordeste da Síria, o Governo não concederá nenhuma nova licença (de venda) para qualquer equipamento militar que possa ser usado na Síria pela Turquia”, disse no sábado o chefe da diplomacia alemã, numa declaração divulgada pelo jornal diário Bild. Heiko Maas não disse qual a tipologia de equipamento militar que fica a partir de agora interdito à Turquia, nem quantificou a dimensão e duração do embargo. Em 2018, a entrega de armas à Turquia representou (com 242,8 milhões de euros) quase um terço das exportações alemãs de armas de guerra (770 milhões de euros). Nos primeiros quatro meses de 2019, as vendas de armas para as Forças Armadas turcas totalizaram 184 milhões de euros, tornando a Turquia o mais importante cliente da NATO de armamento alemão.
Hoje Macau China / ÁsiaTurquia considera “vergonha para a humanidade” tratamento dos Uigures muçulmanos pela China [dropcap]A[/dropcap] Turquia qualificou ontem como “vergonha para a humanidade” o tratamento dado pela China aos Uigures, a minoria muçulmana turcófona que diversas ONG, ao contrário dos grandes países muçulmanos, consideram alvo de repressão. “A política de assimilação sistemática das autoridades chinesas face aos turcos Uigures é uma vergonha para a humanidade”, declarou em comunicado Hami Aksoy, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia. A região autónoma chinesa de Xinjiang, onde os Uigures constituem a principal etnia, tem registado violentas tensões interétnicas e atentados mortíferos, e está sujeita a elevada vigilância policial. Segundo acusações de especialistas e ONG, ate um milhão de muçulmanos estarão detidos em centros de reeducação política. As acusações são desmentidas por Pequim, que se refere a “centros de formação profissional” contra a “radicalização” islamita. Pequim assegura que as medidas de segurança em Xinjiang são necessárias para combater o extremismo, mas não são dirigidas a qualquer grupo étnico em particular. “Os Uigures que não estão detidos nos campos também estão sob forte pressão”, acrescentou Aksoy, apelando à comunidade internacional e ao secretário-geral da ONU para “pôr termo a uma tragédia humana que se desenrola em Xinjiang”. Até ao momento, os principais países muçulmanos não se manifestaram sobre esta questão devido aos receios de comprometerem as suas relações com a China, um importante parceiro comercial. Aksoy afirmou ter sido informado da morte sob detenção de Abdurehim Heyit, um poeta Uigur. “Este incidente trágico reforçou ainda mais a reação da opinião pública turca sobre as graves violações dos direitos humanos em Xinjiang”, segundo o comunicado.
Hoje Macau InternacionalWall Street fecha em baixa com queda da moeda turca a inquietar investidores [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] bolsa nova-iorquina encerrou ontem em baixa, com os investidores a cederem, durante a sessão, à inquietação com a queda acentuada da moeda turca e à possibilidade de contágio a outras economias. Os resultados definitivos da sessão indicam que o seletivo Dow Jones Industrial Average perdeu 0,50%, para os 25.187,70 pontos. Da mesma forma, o tecnológico Nasdaq cedeu 0,25%, para as 7.819,71 unidades, e o alargado S&P500 recuou 0,40%, para as 2.821,93. Os três índices tinham começado a sessão com ganhos, antes de começarem a apresentar sinais de hesitação quanto ao rumo a seguir. “Os investidores foram sem dúvida influenciados pela situação na Turquia e por todos os receios quanto às consequências que ela pode provocar, mesmo que no final a situação tenha sido contida”, observou Karl Haeling, da LBBW, destacando os fracos volumes das transações. Em fundo de tensão diplomática entre Ancara e Washington, a moeda turca tornou a cair hoje para o seu nível mais baixo. Na esperança de tranquilizar os investidores, o banco central da Turquia garantiu que iria tomar as “medidas necessárias” para garantir a estabilidade financeira, mas isso foi insuficiente para estancar a queda da moeda. A contração da praça nova-iorquina neste contexto “correspondeu talvez a um novo acesso de nervosismo do mercado, que se vai estabilizar e rapidamente recuperar para novos recordes”, previu Haeling. Não obstante, este analista avisou: “Não se pode afastar todo o risco e as comparações com a crise asiática de 1997, desencadeada com a queda da moeda tailandesa, não devem ser totalmente negligenciadas”, salientou. Haeling acrescentou que “numerosos países endividaram-se muito em dólares, que está a subir fortemente, o que vai encarecer os seus reembolsos”. Ao mesmo tempo, insistiu, “a lista dos países confrontados com problemas económicos não se reduziu, incluindo China, Federação Russa, Argentina, Turquia ou Itália”.
Hoje Macau InternacionalErdogan reivindica vitória nas eleições presidenciais e legislativas turcas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reivindicou ontem a vitória numas eleições presidenciais e legislativas renhidas, perante uma oposição determinada a impedi-lo de obter um novo mandato de cinco anos com poderes consideravelmente reforçados. “Os resultados não-oficiais das eleições são claros. Segundo eles, a nossa nação confiou-me a responsabilidade de ser Presidente da República”, disse Erdogan, numa declaração a partir da sua residência, em Istambul, antes de a contagem dos votos estar concluída, reivindicando também a maioria parlamentar para a aliança dominada pelo seu partido, o AKP. Segundo a agência de imprensa estatal Anadolu, Erdogan obteve 52,8% dos votos, quando estão contados quase 95% dos votos, e a aliança do AKP recolheu 53,82%. A declaração de vitória de Erdogan surgiu depois do principal partido da oposição, o CHP (social-democrata), ter afirmado que a sua própria contagem dos resultados parciais indica que é inevitável uma segunda volta das presidenciais. Mesmo antes da proclamação do chefe de Estado, os apoiantes já tinham começado a celebrar a vitória agitando bandeiras turcas nas ruas de Istambul e, após as suas declarações, eram audíveis buzinas de automóveis, segundo a agência francesa AFP no local. “A Turquia, com uma taxa de participação de perto de 90%, deu uma lição de democracia ao mundo inteiro”, afirmou Erdogan. O Presidente turco convocou em abril estas eleições presidenciais e legislativas antecipadas inicialmente previstas para novembro de 2019. O duplo escrutínio é particularmente importante, porque assinala a passagem do sistema parlamentar em vigor para um sistema presidencial em que o chefe de Estado concentra a totalidade do poder executivo. Erdogan defende a necessidade de tal medida para garantir a estabilidade na cúpula do Estado, mas os seus opositores acusam-no de querer monopolizar o poder com esta transformação. Oposição da Turquia divulga tentativas de fraude nas eleições O principal partido da oposição turco divulgou tentativas de fraude durante as eleições legislativas e presidenciais antecipadas a decorrer no país. “Chegaram-nos numerosas queixas”, sobretudo da província de Sanliurfa (sudeste), declarou o porta-voz do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), Bulent Tezcan, durante uma conferência de imprensa na sede da formação em Ancara. Tezcan enumerou vários exemplos de tentativas de introduzir votos falsos nas urnas, evocando uma urna com mais de uma centena de votos, todos pela aliança dominada pelo partido no poder, Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), mesmo antes da abertura das assembleias de voto. Também divulgou um vídeo, que afirmou ter autenticado, de um homem afirmando que existiam mais boletins que votantes numa assembleia de voto em Suruç. O procurador de Sanliurfa, à qual pretende Suruç, afirmou ter aberto um inquérito após aquelas alegações e já foram detidas quatro pessoas, segundo a agência estatal Anadolu. Temendo fraudes, em particular no sudeste de maioria curda, opositores e organizações não-governamentais mobilizaram várias centenas de milhares de observadores. “Na região houve ataques, ameaças para deter os nossos observadores”, afirmou Tezcan. Lamentou igualmente a presença de “pessoas armadas nas ruas”, que tentam criar, segundo ele, “um ambiente de terror para os eleitores”. O Partido Democrático dos Povos (HDP, principal formação pró-curda e de esquerda) também divulgou nas redes sociais tentativas de fraude e de intimidação no sudeste.
Paulo José Miranda Em modo de perguntar ManchetePelin Esmer | A cineasta de Istambul Pelin Esmer (1972, Istambul) estudou Antropologia e é uma conceituada realizadora turca, galardoada com vários prémios. [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]azes filmes documentários e filmes ficcionais, e és cineasta premiada em ambos. O que diferencia uns dos outros? Para mim, os teus filmes documentários não se diferenciam dos filmes ficcionais. Há vários tipos de filmes documentários, de facto. Hoje o filme documentário já não se restringe a sua função informativa, embora ainda seja assim que a maioria das pessoas entendem o documentário. O que faz com que os meus filmes documentários não sejam filmes ficcionais, mas filmes documentários, é que os personagens são reais. Se eu não filmasse aquelas pessoas, ainda assim elas continuavam vivas e a terem a mesma vida que eu retrato. Este é, para mim, o argumento maior para dizer que os meus filmes documentários são filmes documentários e não filmes ficcionais. Evidentemente, os meus filmes documentários não são filmes informativos, não tem essa missão, como por exemplo os filmes documentários que se pode assistir em vários canais da TV cabo. Mas o que hoje em dia determina a diferença entre o ficcional e o documentário é precisamente a não criação de uma realidade. Eu não crio uma realidade nos meus filmes. A realidade já existe, mesmo que eu a não filme; mesmo que eu não existisse. Nos teus filmes ficcionais não crias uma realidade, mas crias um modo de ver. Se preferires, mostras o que estava escondido. Isso, sim. Pelo menos, é o que pretendo fazer com os meus filmes documentários. Pretendo mostrar sentimentos e condições das estruturas do humano que muitas vezes nos estão vedadas no nosso quotidiano. Por outro lado, mais do que dar respostas, os meus filmes são modos de fazer perguntas. E essa é precisamente a razão pela qual eu julgo os teus filmes, a que chamas de documentários, como não documentários. Entendo, mas não posso esquecer que a existência dos meus personagens não dependem da minha criação ou da criação de um escritor, eles existem. Há ainda uma outra diferença, que faz com que esses meus filmes sejam determinantemente filmes documentários: nos filmes de ficção, primeiro escreve-se o roteiro (script) e só depois se filma; no modo como trabalho o documentário há apenas um roteiro imaginado por mim, que é mais uma espécie de índice do que um roteiro, e quando vou filmar não forço a realidade que vou filmar para que actue de acordo com o meu roteiro imaginário. Só escrevo o roteiro no final, depois de ter tudo filmado, na montagem e usando o material filmado, isto é, usando o real e não o imaginário. Depois de Oyun (A Peça de Teatro), que saiu em 2005, nunca mais filmaste documentários. E Koleksiyoncu (O Coleccionador), o teu primeiro filme, saira em 2002. Quer isso dizer que abandonaste os filmes documentários e que eles foram apenas um modo de chegar ao filmes de ficção, 11’e 10 kala (Das 10 às 11), em 2009, Gözetleme Kulesi (A Torre de Vigia), em 2012 e mais recentemente Ise yarar bir sey (Uma Coisa Útil), em 2017? Não, de maneira nenhuma. Não deixarei de filmar documentários, aliás estou neste preciso momento a filmar um novo documentário, fora de Istambul, e nem vejo este tipo de filmes como algo para chegar aos filmes de ficção. Não penso que o filme documentário seja inferior ou superior ao filme de ficção. Fiz filmes de ficção, porque há já um tempo que tinha a ideia de os fazer. Agora, que encontrei novamente um bom assunto para fazer um documentário, regresso a esse tipo de filme. O que me interessa não é o filme documentário ou o filme de ficção, o que me interessa é o filme. Se existir algum personagem ou alguma história reais que me interessem bastante, filmo como documentário; se encontrar histórias ou personagens, quer seja eu que invente ou quer sejam outros que inventem, e que me interessem, filmo como ficção. Para além das questões técnicas, que não podem ser esquecidas, não faço distinções entre filmes documentários e filmes de ficção. Interessa-me fazer filmes. E o que é isso “fazer filmes”? Para mim, fazer filmes é fazer perguntas. Só faz sentido fazer um filme se tiver uma pergunta para fazer. Mas essa pergunta não vem apenas em palavras, já que se trata de usar uma câmara que capta imagens e sons. Posso até fazer essa pergunta ou perguntas sem qualquer palavra, ou com muito poucas palavras, mas sem imagens não será nunca um filme. Depois de tantos prémios internacionais e nacionais, e em especial o de Tribeca, em Nova Iorque, que foi entregue pelo próprio director do festival, Robert de Niro, que mudou na tua vida profissional? Deu mais visibilidade ao meu trabalho, mais oportunidades de encontrar outros directores e actores. Por outro lado, tornou-se um pouco mais fácil arranjar dinheiro para os outros filmes. E, também por causa disso, desse primeiro prémio em Tribeca, Oyun foi o primeiro filme documentário turco a ser exibido nos cinemas comerciais na Turquia. Podes adiantar algo acerca deste novo filme documentário que estás a filmar? Há 14 anos filmei “A Peça de Teatro”, que era um filme acerca de um grupo de mulheres numa aldeia no leste da Turquia, que resolveram fazer uma peça de teatro e com isso falar dos seus maridos, como elas os viam. A sociedade nestes lugares é demasiado fechada e esta peça constituí uma verdadeira revolução na aldeia e, por causa do filme, na sociedade turca. Agora regressei à aldeia e estou a filmar uma digressão que eles foram convidadas a fazer, por toda a região de Mersin. Por exemplo, amanhã elas irão actuar nas montanhas, para os nómadas. Estás familiarizada com o cinema português ou brasileiro? Do cinema português, do que conheço, o que mais me interessa são os filmes de João Rodrigues e o Tabu, de Miguel Gomes. Mas não conheço assim tanto dos novos realizadores. Quanto ao Brasil, embora não possa dizer que estou familiarizada, conheço alguns filmes. Gostei muito de Cidade de Deus, os filmes documentários de Eduardo Coutinho, o documentário Ônibus 174, o Estamira, de Marcos Prado, o Che Guevara e a Central do Brasil, de Walter Salles. Haverá mais que me estarei a esquecer… De resto, é muito difícil os bons filmes, que não tenham uma grande produtora, chegarem às salas de cinema, seja onde for. Esse é o problema do cinema, hoje, em qualquer parte do mundo. Excerto de Gözetleme Kulesi (A Torre de Vigia) https://www.youtube.com/watch?v=8HEzaXn5FiA
Hoje Macau Internacional MancheteTurquia | Oposição contesta resultado de referendo O Partido Republicano do Povo, o principal partido da oposição turca, não se conforma com o resultado – nem com os métodos – do referendo que reforça os poderes de Recep Tayyip Erdoğan. O Presidente do país passa a ser um homem com força em demasia. Se as autoridades do país não resolverem o problema, a solução poderá passar pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] principal força da oposição da Turquia, o Partido Republicano do Povo (CHP), deu ontem início a uma batalha para anular o referendo que prevê novos poderes para o Presidente Recep Tayyip Erdoğan. Também a união das associações de advogados e os observadores internacionais duvidam da legalidade do processo, colocando em causa o modo como foram obtidos os votos favoráveis às intenções do Chefe de Estado. Os turcos votaram no fim-de-semana passado uma alteração da Constituição que prevê a atribuição de mais poderes ao Presidente. Com a vitória do “sim” — com 51,37 por cento dos votos –, Erdogan passará a poder nomear e afastar ministros, membros do Tribunal Constitucional e a poder emitir ordens executivas. Até aqui, estas funções eram da competência do Parlamento que, a partir de agora, terá um papel meramente secundário. Apesar da fraca margem com que venceu o referendo, Recep Erdoğan entende que o resultado termina com todo o debate em torno do poder que a presidência passará a ter. E fez questão de desvalorizar as críticas dos observadores internacionais, que concluíram que o processo não foi verdadeiramente democrático, uma vez que as duas partes não tiveram oportunidades iguais. Através de um comunicado, o Conselho da Europa e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa considerou também que a cobertura dos meios de comunicação social foi parcial e que houve limitações às liberdades fundamentais. Erdogan não esteve com meias medidas: aconselhou os observadores a “manterem-se no seu lugar”. O primeiro-ministro Binali Yildirim – que deixará de ter emprego mal as alterações constitucionais entrem em vigor, uma vez que o cargo vai ser extinto – anunciou que Erdogan vai ser convidado a voltar ao AKP mal os resultados oficiais sejam anunciados, um sinal de que o Governo não tem qualquer intenção de esperar pelo resultado do apelo da desagradada oposição. Ao abrigo do actual diploma fundamental, ao Presidente é exigida imparcialidade e que renuncie a ligações a partidos políticos. Pouco após o anúncio do CHP em relação à contestação do referendo, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, declarou que “toda a gente, a começar pelo principal partido da oposição, deve respeitar (…) a palavra da nação”. “Os que se esforçam por lançar uma sombra sobre o resultado do referendo propagando alegações [de irregularidades] agem em vão. A vontade da nação foi expressa livremente nas urnas, este caso está terminado”, atirou. Recurso para nada À hora de fecho desta edição, o CHP ainda não tinha apresentado junto do Alto Conselho Eleitoral (YSK) o pedido de anulação do referendo de domingo sobre o reforço dos poderes do Presidente, algo que deverá ter acontecido ainda ontem. Um responsável do Partido Republicano do Povo deveria reunir-se com o presidente do YSK duas horas antes da entrega do recurso. Também o HDP, partido da oposição pró-curdo, denunciou “manipulações” no escrutínio. Em causa está a decisão de última hora do YSK de considerar como válidos os boletins não marcados com o selo oficial das autoridades eleitorais. A oposição vê nessa decisão uma manobra que permite a fraude. São poucos aqueles que, na Turquia, acreditam que o recurso legal interposto pela oposição em relação ao referendo leve a uma recontagem dos votos e muito menos a uma nova realização da consulta popular. Mas se a polémica em torno do referendo não se resolver, permanecerão dúvidas profundas acerca da legitimidade de um acto que partiu o eleitorado ao meio, depois de uma campanha que polarizou a população turca e que deixou a Europa em alerta. Também a organização que representa a advocacia no país entende que a decisão do YSK em relação aos boletins de voto viola claramente a lei, tendo evitado que os registos oficiais sejam devidamente guardados, o que poderá ter tido impacto no resultado. “Com esta decisão ilegal, os conselheiros nas mesas de voto [os membros oficiais] foram levados a acreditar que a utilização de boletins sem o selo oficial das autoridades era apropriado”, afirmou a União das Associações de Advogados da Turquia (TBB) num comunicado, citado pelas agências de notícias internacionais. “Não lamentamos o que sai deste referendo, mas sim as violações claras e brutais da lei que têm um potencial impacto nos resultados.” O principal partido da oposição – que já anunciou também que levará o caso ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, se tal for necessário – recordou que a decisão de última hora em relação aos boletins de voto não foi inédita, uma vez que o Governo tinha já autorizado um acto semelhante. Não se sabe, para já, quantos boletins de voto sem selo foram considerados válidos pelo Alto Conselho Eleitoral. O presidente do organismo explicou que recebeu muitas queixas das mesas de voto porque não tinham selos para carimbar os boletins. A decisão de permitir documentos não oficiais foi tomada neste contexto, depois de recebido um apelo nesse sentido por parte de um político ligado ao AKP, o partido no poder. Um membro austríaco da missão de observadores do Conselho Europeu, citado pela Reuters, indicou que 2,5 milhões de votos poderão ter sido manipulados, o que é quase o dobro da margem de vitória de Erdogan. Também este observador não compreende como podem ser autorizados boletins de voto sem o selo oficial. “Estas queixas são para ser levadas muito a sério e são, de qualquer modo, de tal dimensão que vão surtir efeitos contrários ao do resultado do referendo”, afirmou Alev Korun à rádio ORF. Em nome do bem As autoridades responsáveis pelos processos eleitorais na Turquia ainda não tinham, ontem à noite, resultados oficiais – os provisórios apontam para uma vitória do “sim” com quase 51,4 por cento dos votos. Se Recep Tayyip Erdoğan levar a melhor, acontecerá na Turquia a maior reviravolta constitucional desde a fundação da república moderna. É um desejo que o Chefe de Estado alimenta há muito. Os argumentos de Erdogan têm que ver com as características políticas e sociais da Turquia. Diz o político que a concentração do poder na presidência é necessária para evitar a instabilidade. Como é óbvio, a oposição tem um entendimento muito diferente da situação: a pretensão de Erdogan é criar um sistema em que o poder é controlado por um só homem. Esta monopolização de poderes acontecerá num país membro da NATO, que tem fronteiras com o Irão, o Iraque a Síria, e cuja estabilidade é de uma importância vital para a União Europeia e para os Estados Unidos. Logo no domingo, o Partido Republicano do Povo escreveu no seu site que tinha recebido “queixas consideráveis” de eleitores a quem foram dados boletins de voto e envelopes sem o selo oficial. Quanto à união de advogados, o presidente da TBB, Metin Feyzioglu, contou que recebeu telefonemas de várias províncias sobre votos em documentos não oficiais. Metin Feyzioglu, que é visto como potencial futuro líder do partido da oposição CHP, explicou ainda que os advogados que acompanharam o processo de perto recomendaram às autoridades nas mesas que os votos deveriam ser cuidadosamente guardados após terminada a contagem. Mas tal não terá acontecido, pelo que a prova das irregularidades não foi devidamente preservada. Em Abril de 2014, o YSK decidiu anular o resultado de eleições locais em dois distritos do sudeste da Turquia, precisamente por causa do recurso a boletins de voto informais. O acto acabou por se repetir dois meses mais tarde – mas em causa estavam, na altura, diferentes ganhos políticos para o homem que manda na Turquia. E que quer mandar muito mais. A América dá os parabéns O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, telefonou a Erdogan para o congratular pela vitória do “sim” no referendo de domingo passado na Turquia. De acordo com um comunicado da Casa Branca, durante a conversa telefónica, os dois governantes terão também discutido as acções levadas a cabo pelas forças norte-americanas contra a Síria no início deste mês. “O Presidente Trump agradece ao Presidente Erdogan por apoiar esta acção dos Estados Unidos e os líderes concordaram com a importância de responsabilizar o Presidente sírio Bashar al-Assad”, lia-se no mesmo comunicado. “O Presidente Trump e o Presidente Erdogan também discutiram a campanha contra o ISIS e a necessidade de cooperar contra os grupos que usam o terrorismo para atingir os seus fins.”
Rui Flores VozesPorta fechada [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] recente aumento de tensão entre a União Europeia e a Turquia, a propósito de acções de campanha que alguns ministros de Erdogan queriam efectuar junto de comunidades turcas na Alemanha, Áustria e Holanda, e que foram travadas pelos governos europeus, veio pôr em evidência a impossibilidade de um acordo de adesão da Turquia à União Europeia. Isso ficou ainda mais acentuado, quando, neste fim-de-semana, o governo alemão autorizou uma manifestação de curdos anti-Erdogan em Frankfurt. O tom da retaliação de Ancara, que acusou os governos de Berlim, Haia e Viena de nazismo, é um sinal de que, nem no curto nem no médio prazos, o processo negocial sofrerá avanços. Desde que a Turquia requereu formalmente a entrada na União Europeia, em 1987, e a União Europeia lhe permitiu adquirir o estatuto de país-candidato, pouco ou nada tem avançado. É um facto que a União e Ancara estabeleceram um acordo aduaneiro, que está em vigor desde 1995. Mas dos 16 dossiers abertos (de um total de 33!) sobre as matérias respeitantes ao processo de adesão, as áreas de trabalho nas quais a Turquia teria de se aproximar aos padrões europeus para ser aceite no clube dos 28, apenas um chegou a bom porto. A questão dos direitos humanos, das liberdades fundamentais e da qualidade da democracia, sofreram um enorme revés com o golpe de estado do ano passado. A tentativa de golpe de 15 de Julho de 2016, abortada no dia seguinte, fez 241 mortos e perto de 2200 feridos, segundo os dados oficiais, e foi atribuída pelas autoridades ao movimento Fethullah Gülen. Gülen é um antigo imã, que se encontra radicado nos Estados Unidos, e que preside a uma rede global de escolas turcas. É considerado por alguns como “um dos rostos mais encorajadores do Islão hoje em dia” – escreveu-o, por exemplo, no Huffington Post, Graham Fuller, um destacado dirigente do National Intelligence Council norte-americano, um think tank que apoia as agências de informação americanas, com análise e tendências. É evidente que esta visão das coisas olha para o Islão como algo que deve ser dividido entre o radical e o moderado. A tentativa de golpe de estado e tudo o que se seguiu seriam episódios de um conflito interno turco, de uma aparente divisão transversal da sociedade entre duas forças antagónicas: de um lado, encontrar-se-ia uma visão mais liberal do Estado e, do outro, estaria uma visão mais autoritária da causa pública. Com os desvios autoritários de Erdogan cada vez mais visíveis – a Freedom House coloca a democracia turca no grupo de países “parcialmente livres”, que tem, no entanto, uma imprensa “não livre” –, Güllen, sob protecção norte-americana (assim decreta a narrativa turca oficial), estaria a travar uma luta com Erdogan. Segundo alguns autores, acima de tudo, isto seria um ataque ao chamado “modelo de governo turco”, que combina o Islão com democracia e economia de mercado (um modelo que estaria na base das genericamente falhadas primaveras árabes). A resposta de Erdogan aos eventos do ano passado não deixa, de facto, dúvidas sobre o caminho que quer trilhar o presidente turco: a União Europeia, no seu relatório anual sobre a Turquia, publicado no final de Setembro, indica que a purga conduzida pelo presidente turco levou à detenção de cerca de 40 mil pessoas, 31 mil das quais permanecerão presas, incluindo 81 jornalistas. Na administração do Estado, 66 mil funcionários públicos continuavam suspensos e 63 mil tinham sido despedidos. Mais de 4.000 instituições e empresas foram encerradas e os seus bens apreendidos ou transferidos para instituições públicas. A tentativa de purga chegou mesmo à Europa, com Ancara a pedir a vários Estados-membros da União Europeia o encerramento de escolas ou instituições alegadamente ligadas ao movimento Gülen. Neste contexto, há relatos de que membros da diáspora turca que vivem na Europa estão sob pressão para relatar outros membros destas comunidades. Tal como Putin, Erdogan tem demonstrado um certo apego ao poder. Está na chefia do Estado turco há apenas três anos, mas serviu como primeiro-ministro de 2003 a 2014, após três rotundas vitórias eleitorais à frente do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, que criou em 2001. Mais do que a comparação em termos de estilo, deve salientar-se a aproximação entre os dois líderes políticos. Depois de a Turquia ter pedido desculpas por ter abatido um caça russo no âmbito do conflito sírio, as relações Ancara-Moscovo foram normalizadas um mês antes do golpe de estado; numa altura, em que os turcos criticavam fortemente os Estados Unidos, seu aliado da NATO, pela falta de assistência na luta contra as forças curdas na Síria. Com os desvios autoritários de Erdogan cada vez mais visíveis, consubstanciados pela consulta popular de 16 de Abril, não espanta que outros Estados-membros venham, nesta Europa de 2017, das posições extremadas e da cedência fácil ao populismo, juntar a sua à voz da Áustria, que, que na sequência da purga de Erdogan requereu o fim do processo de adesão da Turquia à União Europeia. Mesmo com a União Europeia a pagar à Turquia para manter nas suas fronteiras cerca de 3 milhões refugiados sírios nas suas fronteiras.
Joana Freitas Manchete PolíticaTurquia | Erdogan retoma controlo e aproveita para “limpar” Exército Talvez tenha sido a tentativa de golpe de estado mais curta que alguma vez aconteceu: de sexta-feira para sábado, e em menos de 14 horas, militares do Exército turco anunciaram a tomada do poder na Turquia, para na manhã seguinte se renderem. Mas, a tentativa de golpe de Estado não foi uma brincadeira: deixou centenas de mortos e feridos, a suspeita de ter sido um ataque orquestrado e o agradecimento de um presidente a Alá [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ra noite quando forças do Exército turco entraram por estações de televisão e rádio adentro. Através dos canais nacionais, o “Conselho para a Paz na Nação” – como se auto-intitulavam – anunciava a tomada do poder na Turquia. Bombardeamentos e tiroteios ao lado dos edifícios do parlamento e do palácio presidencial em Ancara faziam ouvir-se. Ancara e Istambul ardiam aparentemente rendidas às investidas de soldados que se revoltaram contra o governo. Mas, na manhã seguinte, a história tinha dado uma reviravolta. Aquilo que foi uma tentativa de golpe de Estado na sexta-feira passou a ser a perseguição a militares e juízes no dia de sábado. A revolta durou menos de 24 horas, mas deixou 265 mortos (161 civis) e 1500 feridos, permitindo a Recep Tayyip Erdogan, Presidente do país, iniciar uma campanha anti-opositores. Erdogan estava de férias, quando, na sexta-feira ao final da tarde, os militares do seu Exército anunciavam ter controlado o país com o objectivo de “reinstalar a ordem constitucional, a democracia, os direitos humanos e a liberdade, de forma a assegurar que a lei e a ordem pudessem ser restauradas”. Imagens da CNN turca mostram dezenas de soldados a entrar pela sede da estação dentro. No céu, jactos do Exército sobrevoavam o parlamento, local onde um helicóptero militar deixou muitos estragos com tiros que se podem ver e ouvir em gravações vídeo. Os soldados percorriam as ruas de tanque, tendo até bloqueado duas das principais pontes e vias que davam acesso ao aeroporto de Istambul. Missão: Vingança A Turquia parecia, de facto, rendida aos militares. Mas Erdogan estava atento, apesar de se encontrar de férias. O presidente turco conseguiu voar até ao aeroporto de Atartuk, o principal de Istambul e que, curiosamente, os soldados não tomaram. E foi aqui, de telemóvel em punho, que o governante fez um apelo surpreendente ao país: pediu aos cidadãos que saíssem à rua e defendessem o governo. E muitos, de bandeira às costas, fizeram-no. Os manifestantes passaram a cercar tanques, de onde arrancavam à força soldados. Os protestos saíram à rua contra o golpe de Estado. Na manhã de sábado, os militares acabam por se render: de mãos no ar, sem armas, caminham na direcção da oposição, na Ponte de Bosphorus. Imagens mostram civis contra militares – os primeiros a bater nos segundos, acobardados no chão, com bastões e pontapés. Os símbolos que podiam relembrar o país de mais uma tentativa frustrada de golpe de Estado tinham desaparecido sábado de manhã. As forças fiéis ao regime tinham conseguido pôr fim à ocupação. Libertaram o chefe militar turco, sequestrado pelos revoltosos, enquanto o Primeiro-Ministro Binaldi Yildirim anunciava o fracasso da tentativa. Yildirim falava numa “acção que manchou a democracia” e, a par de Erdogan, propõe a restauração da pena de morte para os golpistas. É aqui que começa a caça ao homem: cerca de três mil militares são presos, entre eles dois generais e o comandante da Força Aérea, 2745 juízes e procuradores também se viram perseguidos até agora. E o presidente turco não é meigo nas declarações que faz. “Vão pagar por isto. Esta rebelião foi um presente de Alá, porque dá-nos uma razão para limpar o nosso Exército”, disse, logo após a rendição. Traidores e “uma minoria” foi como o responsável apelidou os envolvidos na revolta. [quote_box_left]“Vão pagar por isto. Esta rebelião foi um presente de Alá, porque dá-nos uma razão para limpar o nosso Exército” Recep Tayyip Erdogan, Presidente turco[/quote_box—left] Gulen, o inimigo Para Erdogan, o golpe militar tem um líder por trás: Fethullah Gulen, seu antigo aliado, agora exilado nos EUA. O Primeiro-Ministro do país, que já pediu a entrega de Gulen pelos norte-americanos, disse mesmo que quem apoiasse Gulen estaria a declarar guerra à Turquia. O clérigo, muçulmano, assegurou que nada teve a ver com o golpe e condenou o ataque. O mesmo fizeram os quatro principais partidos políticos da Turquia numa cena rara, quando se uniram para condenar o golpe numa sessão de emergência do Parlamento. Gulen é há anos acusado por Erdogan de estar a tentar um golpe de Estado para o deitar abaixo. Mas com militares. Era sabido que Gulen teria apoiantes nas autoridades policiais da Turquia, mas não no Exército. Outros dos seus apoiantes são, precisamente, juízes e magistrados. “Sendo alguém que já sofreu múltiplas tentativas de golpes de estado nos últimos cinco anos, é especialmente insultuoso ser acusado de estar ligado ao ataque”, disse Gulen, citado pela CNN. Com Erdogan, pequenos empresários, comerciantes e uma burguesia moderna subiram de estrato social. Foram esses, juntamente com os cidadãos turcos que não querem o regresso ao tempo dos golpes militares, que ajudaram o presidente a repor a ordem. Mas, se para uns Erdogan ajuda à manutenção da democracia, para outros é apenas um ditador que viu, agora, o seu poder reforçado. Gulen foi um dos que se juntou aos muitos analistas turcos que consideram que o golpe foi “orquestrado” por Erdogan. Macau com um pedido de ajuda Também o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo de Macau emitiu um comunicado onde apelam aos cidadãos para se manterem em segurança. “A situação da Turquia tem-se agitado nos últimos tempos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Embaixada da China na Turquia avisam aos cidadãos chineses para não se deslocarem neste período à Turquia. Os cidadãos chineses e instituições que se encontram na Turquia devem manter em alerta máxima, ter em conta as devidas precauções de segurança, estar preparados para emergências, bem como evitar a saída das suas residências e deslocações a locais de grande concentração de pessoas”, pode ler-se no comunicado, onde admite ter recebido dois pedidos de informação e um pedido de assistência de cidadãos de Macau. O pedido de assistência refere-se a uma residente de Macau que se encontrava a aguardar em segurança na área restrita do aeroporto de Istambul para o voo de regresso a Hong Kong. Foi-lhe fornecida alimentação pela companhia aérea e a mulher deveria regressar assim que possível. Património em suspenso A UNESCO suspendeu a reunião do Comité do Património Mundial em Istambul, na sequência da tentativa de golpe militar na Turquia. “A 40ª sessão do Comité do Património Mundial está suspensa até novo aviso”, disse o organismo, com sede em Paris, num comunicado divulgado no seu site. A reunião arrancou no passado domingo e deveria terminar na quarta-feira. Pedida extradição de oito militares Entretanto, a Turquia já pediu à Grécia a extradição dos oito militares revoltosos que fugiram num helicóptero para o país. “Pedimos à Grécia para extraditar os oito traidores o mais rápido possível”, disse o Ministro dos Negícios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, à estação televisiva HaberTurk. Os oito homens aterraram num helicóptero militar turco na Grécia, pedindo asilo, segundo já tinha revelado a polícia grega anteriormente. O helicóptero Black Hawk pousou depois de enviar um sinal de socorro às autoridades no aeroporto de Alexandroupolis, no norte da Grécia. Sete das pessoas a bordo estavam vestidas com uniforme militar e todos são suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe de Estado. Portugueses a salvo O Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, afirmou ontem que não existem pedidos de ajuda urgentes de portugueses na Turquia. “Não temos notícias preocupantes no que diz respeito a portugueses”, disse o chefe da diplomacia portuguesa à agência Lusa, numa declaração ao telefone a partir de Ulan Bator, capital da Mongólia, onde participou na Cimeira do Encontro Ásia-Europa (ASEM). “Estamos a acompanhar o mais de perto possível” a situação na Turquia”, afirmou Augusto Santos Silva, indicando que a embaixada de Portugal em Ancara “está a trabalhar activamente” e que houve “contactos” por parte de portugueses com a representação diplomática na capital turca, “o que é natural”. Augusto Santos Silva condenou o ataque. “Em primeiro lugar, condenamos a violência contra as instituições democráticas na Turquia e, portanto, apoiamos as instituições democráticas, isto quer dizer, a presidência, o parlamento e o governo turcos; em segundo, apelamos contra qualquer escalada de violência para evitar que os acontecimentos evoluíssem no sentido absolutamente indesejável e, em terceiro, apelamos a que fosse evitada qualquer tipo de violência contra civis”, disse Augusto Santos Silva. EUA | Kerry reage a alegações de envolvimento O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse ao ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, que as acusações públicas sugerindo que oficiais americanos teriam planeado a tentativa de golpe militar na Turquia eram categoricamente falsas e prejudiciais às relações entre os países. Kerry pediu cautela à Turquia após a tentativa de golpe e sugeriu que o país respeitasse a lei na sua investigação sobre a conspiração, disse o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby. “Ele deixou claro que os EUA estariam dispostos a dar assistência às autoridades turcas conduzindo essa investigação, mas que insinuações públicas ou alegações sobre qualquer papel americano no golpe que falhou são inteiramente falsas e prejudiciais às nossas relações bilaterais”, disse Kirby, de acordo com Reuters. Foi o Ministro do Trabalho da Turquia, Suleyman Soylu, que afirmou que Washington estaria por trás da tentativa de golpe militar na Turquia. “Os EUA estão por trás da tentativa de golpe. Alguns jornais publicados [nos EUA] vêm conduzindo actividades por vários meses. Há muitos meses enviamos pedidos aos EUA sobre Fethullah Gulen. Os EUA precisam de extraditá-lo”, disse Soylu. O governo turco também acusou os soldados da base aérea de Incirlik de estarem envolvidos no golpe frustrado. A base é usada pelos Estados Unidos em ataques contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Sabia que… A Turquia já teve, pelo menos, quatro tentativas de golpes de Estado? A primeira aconteceu em 1960, seguindo-se uma em 1971. A terceira tem lugar em 1980 e a outra 13 anos depois.
Hoje Macau Manchete ReportagemTurquia | Quase meia centena de mortos em atentado terrorista O Aeroporto Internacional de Atartuk foi alvo de um atentado terrorista perpetrado por três bombistas suicidas, numa altura em que o país vive o período do Ramadão. A Europa já mostrou a sua solidariedade para com a Turquia, enquanto o mundo aguarda um ponto de viragem na luta contra o terrorismo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Europa voltou a mergulhar num cenário de sangue e horror com mais um ataque terrorista ao início da noite desta terça-feira (madrugada de quarta-feira em Macau). Desta vez o alvo foi Istambul, capital da Turquia, mais precisamente o Aeroporto Internacional de Atartuk, sendo que até ao fecho desta edição, as autoridades turcas já tinham contabilizado um total de 41 mortos e mais de cem feridos, naquele que é o quarto atentado terrorista que Istambul sofre desde o início do ano. Três bombistas suicidas fizeram-se explodir num atentado que terá sido organizado pelo Estado Islâmico (também conhecido por Daesh), segundo disseram fontes policiais à agência de notícias Dogan. Mas fontes do Governo turco colocaram também a hipótese do ataque ter sido orquestrado pelos independentistas do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). O ataque aconteceu naquele que é um dos três aeroportos mais movimentados da Europa e a base de operações da companhia aérea Turkish Airlines. Só o ano passado passaram por este aeroporto mais de 61 milhões de pessoas. Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, lamentou o ataque. Após os acontecimentos, o presidente reuniu-se de emergência com o primeiro-ministro, Binali Yildirim, e com o responsável das forças armadas, o General Hulusi Akar. “O ataque que teve lugar durante o mês sagrado do Ramadão prova que os terrorista têm como alvo civis inocentes. O único objectivo dos ataques é minar a Turquia pelo derramamento de sangue e causando dor”, lê-se no comunicado divulgado, citado pela CNN Turk. Para o presidente turco, o ataque “só ajuda a produzir propaganda” contra o país, recorrendo ao “sofrimento de pessoas inocentes”. O responsável deixou ainda uma mensagem de esperança: “espero que o ataque ao aeroporto de Ataturk seja um ponto de viragem na luta comum em todo o planeta, com os países ocidentais a liderar o combate às organizações terroristas”, acrescentou. “As bombas de [ontem] em Istambul, tendo em conta o carácter perigoso do terrorismo, podem acontecer em qualquer cidade no mundo, em qualquer aeroporto. Para os grupos terroristas não há diferenças entre Istambul, Londres, Berlim, Ancara ou Chicago.” UE apoia terrorismo? O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlüt Çavusoglu, afirmou ontem que o pedido da União Europeia (UE) à Turquia para modificar a sua legislação anti-terrorista significa um “apoio ao terrorismo”, noticiaram ontem meios de informação do país. “Numa altura em que estamos imersos na luta contra organizações terroristas como o PKK ou o Daesh, dizerem-nos para modificarmos a nossa legislação anti-terrorista sob pena de não se aprovar a eliminação dos visas significa apoiar o terrorismo”, afirmou o Ministro, citado pela agência Efe. A cadeia turca de televisão CNN Türk e a agência semi-oficial Anadolu fizeram ontem, de acordo com a Efe, eco das declarações do Ministro, proferidas em Viena, durante um jantar com representantes da sociedade civil e empresários turcos, depois de participar numa conferência internacional sobre a Líbia na segunda-feira na capital austríaca. “Não temos nenhum medo. Quero sublinhar isto: perante uma tal imposição, não baixaremos a cabeça de forma alguma”, insistiu o chefe da diplomacia turca. A redefinição do “terrorismo” na legislação turca em termos mais precisos é uma das 72 exigências da UE para eliminar a necessidade de visas aos cidadãos turcos e uma das cinco que Ancara ainda não cumpre. Apesar deste compromisso constar no acordo assinado em 2013, o governo turco tem-se recusado ultimamente a cumpri-lo, justificando que não pode permitir-se fazê-lo num momento de conflito com a guerrilha curda e com o Estado Islâmico. A acusação de “colaboração com o terrorismo” é utilizada de forma corrente nos tribunais turcos contra pessoas críticas em relação ao governo, ainda que não sejam ou tenham sido protagonistas de violência. Situação turca “mais grave” Líderes europeus e mundiais já comentaram mais um atentado terrorista ocorrido meses depois dos incidentes de Bruxelas e Paris. François Hollande, presidente francês, referiu que aquilo que aconteceu no Aeroporto Internacional de Ataturk “torna ainda mais grave a situação na Turquia”. Em comunicado, Hollande considerou que este se trata de “um acto de violência intolerável e que reforça a determinação comum para combater todas as formas de terrorismo”, tendo ainda deixado várias condolências aos familiares das vítimas. Do lado dos Estados Unidos, a Casa Branca também já reagiu através de um comunicado oficial. “O Aeroporto Internacional Ataturk, tal como o aeroporto de Bruxelas que foi atacado no início do ano, é um símbolo das ligações internacionais e dos laços que nos ligam. Mantemo-nos firmes quanto ao nossos apoio à Turquia, que é nosso aliado na NATO e parceiro, tal como todos os nossos amigos e aliados em todo o mundo, enquanto combatemos a ameaça do terrorismo.” O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, condenou o atentado, considerando-o como “mais uma inaceitável demonstração da barbárie dos que recusam a paz”. “O Presidente da República condena veementemente o terrível atentado de Istambul, mais uma inaceitável demonstração da barbárie dos que recusam a paz, a liberdade e a democracia, e apresenta sentidas condolências à Turquia e às famílias de todas as vítimas de diversas nacionalidades”, pode ler-se no comunicado publicado na página oficial da Presidência. A culpa é das redes sociais? Instituições e particulares queixam-se de promoção de ataques na internet As redes sociais são usadas por milhões de pessoas em todo o mundo, que as consideram vantajosas, mas são também veículos para fomentar ataques como o de Istambul, alertam instituições e particulares. Muitas destas entidades acabam por levar estas redes sociais à justiça. O Google (YouTube), o Facebook e o Twitter são três das redes sociais que estão agora acusadas em tribunal de permitirem aos grupos jihadistas difundirem a sua ideologia e recrutar membros. A queixa foi apresentada há menos de duas semanas pelo pai de uma estudante californiana, morta nos atentados de Paris, em Novembro do ano passado. Na terça-feira, imprensa especializada divulgou notícias de que o YouTube e o Facebook já estariam a bloquear, de forma automática, vídeos com conteúdos extremistas, algo que vários governos têm pedido com insistência. Aas redes sociais têm contraposto o pedido com a liberdade de expressão. Quando se comemora, hoje, o Dia Mundial das Redes Sociais, o tempo é também de alertas para os malefícios que lhes podem estar ligados. O próprio director da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos), John Brennan, já admitiu que as redes sociais tornam mais difícil o combate ao terrorismo. As novas tecnologias podem também, nas palavras do responsável, ajudar os grupos terroristas a coordenar acções, ajudar na divulgação da propaganda e inspirar apoiantes um pouco por todo o mundo. Nessa convicção, há menos de duas semanas, o norte-americano Reynaldo Gonzalez apresentou no Tribunal Federal da Califórnia do Norte uma queixa contra três das principais redes sociais (YouTube, Twitter e Facebook), depois de a sua filha, Nohemi Gonzalez, ter morrido nos atentados de Paris do ano passado. Com consciência Na queixa afirma-se que as redes sociais têm apoiado, até de forma consciente, a ascensão do grupo extremista Estado Islâmico, permitindo-lhe perpetrar vários ataques, incluindo o de 13 de Novembro, na capital francesa. E acrescenta-se na queixa que, no fim do ano de 2014, o auto-designado Estado Islâmico tinha 70 mil contas no Twitter, das quais pelo menos “79 oficiais”, e que colocava “pelo menos 90 ‘tweets’ por minuto”. “O Estado Islâmico utiliza o Google (YouTube) e o Facebook da mesma maneira”, lê-se na queixa, na qual se pede às redes sociais em causa uma indemnização. A primeira audição está marcada para 21 de Setembro, no Tribunal Federal de Oakland. Na verdade, a utilização pelo Estado Islâmico das novas tecnologias e das redes sociais é conhecida. O grupo extremista faz propaganda em várias línguas, incluindo em Português, e, no último número da sua publicação, com 68 páginas, faz ameaças de morte, “sem piedade ou remorso”, aos “não crentes”, lembra os últimos atentados, diz que “Paris foi um aviso, Bruxelas foi um lembrete” e acrescenta: o que está para vir é pior e “mais devastador”. Nas redes sociais há estudos que indicam que só o Estado Islâmico coloca mais de cem mensagens no Twitter em cada minuto e que através das novas tecnologias conseguiu para a sua causa dezenas de milhar de potenciais terroristas. Hoje há países onde o Facebook é proibido, ou outros (como Israel, na semana passada) que anunciaram a criação de leis para restringir o seu uso. E hoje, provavelmente, as redes sociais vão de novo ser acusadas na sequência dos ataques no aeroporto de Istambul. Apesar de comemorarem o seu dia.