Hoje Macau China / ÁsiaOrganização não-governamental pede à Tailândia para ajudar refugiados rohingyas Em vez de deter os rohingyas ou recusar a entrada das suas embarcações, a Tailândia deve acolher estes refugiados da minoria muçulmana de Myanmar e ajudá-los a requerer asilo, disse a Human Rights Watch (HRW). Num relatório divulgado hoje, a diretora interina da organização não-governamental (ONG) para a Ásia, Elaine Pearson, disse que “o governo tailandês deve pôr um fim à política de prender sumariamente os rohingyas resgatados e atirar as chaves para um canto”. O governo do primeiro-ministro tailandês Prayut Chan-ocha tem tratado os rohingyas como “imigrantes ilegais”, mantendo mais de 470 pessoas “por tempo indeterminado” em “prisões miseráveis”, refere o relatório. Em 04 de maio, a Marinha da Tailândia encontrou e deteve um grupo de 59 rohingyas, incluindo cinco menores e 23 mulheres, abandonados numa ilha no sul do país enquanto tentavam chegar à Malásia. A Marinha tailandesa garantiu que irá apreender qualquer barco que conseguir chegar às costas do país e prender os homens, mulheres e crianças a bordo sob acusações de entrada ilegal, lamentou a HRW. A Marinha vai ainda manter a política de intercetar as embarcações com rohingyas, minoria muçulmana não reconhecida em Myanmar, em águas tailandesas e “empurrar esses barcos” para a Malásia ou a Indonésia, sublinhou o relatório. “Isso equivale a uma continuação da política de repressão mortal da Tailândia, que resultou no desaparecimento de barcos rohingya em alto mar e na morte de pessoas”, disse a organização não-governamental. Há anos que a Tailândia diz que não quer aceitar os rohingyas como refugiados, mas, de acordo com o direito internacional, não pode rejeitar sumariamente os requerentes de asilo antes de fazer “uma avaliação completa e justa”, disse a HRW. A Tailândia deve permitir que o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) “faça uma triagem” de todos os rohingyas que chegam ao país, “para identificar e ajudar aqueles que procuram o estatuto de refugiado”, acrescentou Elaine Pearson. A Tailândia também não permite que os rohingyas se registem como trabalhadores migrantes legalmente documentados, ao contrário de outras pessoas vindas de Myanmar (antiga Birmânia), sublinhou o relatório. As numerosas travessias realizadas este ano fazem lembrar a crise de refugiados de 2015, quando várias embarcações com centenas de rohingya permaneceram durante semanas à deriva, depois de serem recusadas pelas autoridades da Tailândia, Malásia e Indonésia. Desde 2017 que a situação dos rohingyas piorou, quando uma operação militar no estado de Rakhine, oeste de Myanmar, provocou milhares de mortes e o êxodo de 725 mil membros desta minoria muçulmana para o vizinho Bangladesh. Segundo os investigadores da ONU, a operação militar foi “uma limpeza étnica com traços de genocídio”, pela qual generais birmaneses enfrentam agora acusações perante o Tribunal Penal Internacional, em Haia.
Hoje Macau China / ÁsiaMuçulmanos rohingya continuam a ser vítimas de genocídio na budista Myanmar, diz ONU [dropcap]O[/dropcap]s muçulmanos rohingya continuam a ser vítimas de genocídio em Myanmar, cujo Governo demonstra de forma crescente a falta de interesse no estabelecimento de uma verdadeira democracia, afirmaram na quarta-feira investigadores da Organização das Nações Unidas (ONU). Marzuki Darusman, presidente da missão de investigação da ONU em Myanmar, afirmou que milhares de rohingya continuam a fugir para o Bangladesh e que, entre 250 mil e 400 mil que permaneceram, depois da brutal campanha militar no país de maioria budista, “continuam a sofrer as mais severas” restrições e repressão. “Neste momento está a decorrer um genocídio”, sintetizou, durante uma conferência de imprensa, na quarta-feira. Yanghee Lee, a investigadora especial da ONU sobre direitos humanos em Myanmar, afirmou que ele e muitos outros na comunidade internacional esperavam que a situação sob a liderança de Aung San Suu Kyi “seria muito diferente da do passado, mas, na realidade, não é muito diferente da do passado”. Acrescentou que Suu Kyi, laureada com o Prémio Nobel da Paz e antiga presa política que agora lidera o Governo civil do Estado de Myanmar, “está em negação total” sobre as acusações feitas aos militares deste país de maioria budista de violarem, assassinarem e torturarem os rohingya e incendiarem as suas vilas, levando cerca de 700 mil a fugirem para o Bangladesh desde agosto do ano passado.
João Luz Internacional Manchete SociedadeMyanmar | Relatório da ONU revela detalhes do genocídio dos rohingya Relatos de genocídio, violações, tortura e bombardeamentos indiscriminados são algumas das atrocidades denunciadas numa investigação das Nações Unidas aos crimes cometidos pelas autoridades birmanesas contra a minoria rohingya. O relatório apresentado pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU releva provas detalhadas dos “mais graves crimes à luz do direito internacional” [dropcap style≠‘circle’]Q[/dropcap]uando o exército do Myanmar entrou na aldeia Min Gyi, no Estado de Rakhine na parte oeste do país, colocou em acção um plano genocida contra a minoria rohingya que ficará para a história como uma das mais chocantes atrocidades cometidas neste início de século. Metodicamente, os soldados separam todos os homens da povoação para os colocarem em frente do pelotão de fuzilamento. Depois de dispararem, cortaram friamente as gargantas daqueles que ainda se mexiam. Depois da matança meticulosa dos homens, a atenção dos militares virou-se para mulheres e crianças. Desta vez, o método e o calculismo foi substituído pelo caos. Famílias foram trancadas em casas regadas com gasolina e queimadas vivas. Crianças que tentaram escapar foram baleadas, algumas jogadas ao rio e outras atiradas para o fogo, incineradas perante a dor incalculável das mães. Mulheres e raparigas foram violadas até à exaustão, mutiladas e mortas. Estes são alguns dos horrendos detalhes revelados pelo relatório das Nações Unidas sobre as atrocidade cometidas contra a minoria muçulmana rohingya na Birmânia, consideradas “os crimes mais graves à luz da lei internacional”. As 444 páginas apresentadas esta semana em Genebra pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU são uma compilação dos episódios de barbárie que levaram mais de 750 mil muçulmanos rohingya a fugir para o Bangladesh. O documento serve de base a acusações de genocídio. Em resposta ao relatório, o Governo do Myanmar negou categoricamente que as forças armadas tenham cometido as atrocidades descritas pelos observadores internacionais. Aliás, as autoridades birmaneses defenderem que as suas tropas se limitaram a reagir aos ataques de militantes rohingya contra a polícia fronteiriça e algumas povoações. Por seu lado, o painel de observadores da ONU respondeu às autoridades birmanesas referindo que “as explicações apresentadas não fazem sentido”, e que “as matanças foram generalizadas, sistemáticas e brutais”. Aliás, Marzuki Darusman, que liderou a investigação, disse ao Altor Comissariado para os Direitos Humanos que “no centro de todas as violações de direitos humanos analisadas esteve sempre a extrema brutalidade usada pelas forças militares birmanesas”. “A matança de civis de todas as idades, incluindo bebés, não pode servir de justificação para acções de contra-terrorismo. Não há como justificar a violação de mulheres e raparigas, ou queimar pessoas vivas. Estas acções são um ataque deliberado contra um povo específico”, acrescenta Darusman. Processo penal O painel de observadores requereu ao Conselho de Segurança da ONU que os responsáveis por estes crimes sejam julgados no Tribunal Penal Internacional. Um dos acusados deverá ser o líder máximo das forças armadas do Myanmar, identificado como um dos responsáveis pela barbárie. Foi também sugerido ao Conselho de Segurança a imposição de um embargo à venda de armas ao Myanmar, aplicação de sanções a indivíduos específicos, incluindo o congelamento de activos e proibição de viajar. “Qualquer relação com as forças armadas birmanesas, os seus líderes e parceiros de negócios é indefensável”, foi apontado pelo painel de observadores. Não é usual que uma investigação a violações de direitos humanos proponha o desmantelamento de hierarquias militares, ou alterações constitucionais para acabar com o domínio político de generais. Ainda assim, o painel de observadores apelou à substituição dos líderes do Tatmadaw (exército birmanês), e aconselhou a supervisão dos poderes políticos e civis das forças armadas e ao fim do controlo apertado do parlamento pelos generais. A transição de um Governo liderado por militares para um dirigido por civis, que permitiu a ascensão ao poder de Aung San Suu Kyi como Chefe de Estado, foi travada e, de certa maneira, até regrediu desde que a laureada pelo Prémio Nobel da Paz tomou posse. A opinião foi expressa por Christopher Sidoti, um dos observadores responsáveis pelo relatório da ONU. Sidoti acrescentou ainda que “a democracia não pode ser construída com base em alicerces de genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade”. O caso de Min Gyi O relatório tornado público esta semana está repleto de descrições de mulheres atadas a árvores pelas mãos, ou cabelos, e subsequentes violações, crianças que correm de casas a arder e que são forçadas a voltar a entrar nas habitações em chamas, uso generalizado de tortura com paus de bambu, pontas de cigarros e cera quente. Existem também relatos de colocação de minas em caminhos usados pela minoria muçulmana na fuga às atrocidades cometidas pelo exército birmanês. De acordo com o relatório, pelo menos 750 habitantes de Min Gyi morreram na sequência do ataque dos militares. Desde que começaram as “operações”, que duram há mais de dois meses, estima-se que pelo menos 10 mil pessoas tenham sido assassinadas. Esta foi a realidade resultante de mais de 875 entrevistas a vítimas e testemunhas dos mais variados grupos étnicos e religiosos. Imagens de satélite mostram que 40 por cento das povoações no norte do Estado de Rakhine foram totalmente ou parcialmente destruídas. De acordo com o líder do painel de observadores da ONU, todas as circunstâncias que rodeiam as “operações de liberação” evidenciam intenções genocidas e flagrante desproporcionalidade face a qualquer possível ameaça de militantes radicais. Aliás, o relatório refere que não houve sequer tentativas para identificar possíveis terroristas ou alvos militares, ou mesmo distinções entre militantes e civis. O sistemático incremento de tropas na região, antes de acontecerem ataques de militantes, revela o envolvimento das mais altas esferas de comando militar e “um plano organizado de destruição com intenções genocidas”. Aliás, os métodos bárbaros utilizados na campanha contra os muçulmanos rohingya não são novos. Por exemplo, a instrumentalização das violações como táctica de guerra aplicada em Rakhine, tem sido usada pelas autoridades birmanesas há décadas em conflitos com outras minorias no Myanmar. As tropas violam mulheres e raparigas sistematicamente e matam específica e deliberadamente crianças. De acordo com o relatório, oitenta por cento dos casos de violação relatados acontecem em grupo, acompanhados frequentemente pelo assassinato dos filhos da vítima enquanto esta é violada. O resultado da investigação da ONU mostra também que muitas vezes as mulheres são mordidas na cara, peito ou coxas e mutiladas nos órgãos reprodutivos como forma de serem “marcadas”. Uma mulher, que foi violada em conjunto com a irmã, contou ao painel de observadores que os soldados lhe disseram que a iriam violar até à morte. “Vamos matar todos os rohingya, este não é o vosso país”, terá sido uma das frases ouvidas pela vítima. Morte em crescendo A missão da ONU conclui que o que aconteceu no Estado de Rakhine foi um desastre que se via a milhas. Depois de décadas de discriminação oficial que limitou o acesso da minoria rohingya à cidadania e à educação, e da disseminação de discursos políticos inflamados por ódio, o desastre humanitário era uma inevitabilidade à espera de acontecer. Ultranacionalistas e extremistas religiosos têm acentuado o antagonismo racial diabolizando os rohingya como imigrantes “bengalis” que representam um ameaça existencial à identidade budista do Myanmar. Um dos líderes militares que alinha nesta violenta doutrina é o General Min Aung Hlaing, que durante as campanhas de matança referiu que “o problema bengali é um trabalho por terminar”, acrescentando que o Governo estava a “tratar do assunto”. Tanto as forças armadas como o Governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, têm descrito as acções militares como respostas apropriadas para combater o terrorismo. Como tal, não de estranhar que, além das acusações ao exército birmanês, o relatório da ONU critique o papel passivo de Aung San Suu Kyi no último ano. “Ela não usou a posição de Chefe de Estado, nem a sua autoridade moral, para atenuar ou prevenir o desenrolar dos acontecimentos no Estado de Rakhine”.
Hoje Macau China / ÁsiaPolícia tailandesa cancela fórum sobre abuso de direitos humanos dos rohingya [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]polícia tailandesa cancelou, na noite de segunda-feira, um fórum organizado por jornalistas estrangeiros para discutir a violência das forças de segurança na Birmânia contra muçulmanos rohingya e outras minorias étnicas. De acordo com a agência de notícias Associated Press (AP), uma dezena de polícias chegaram ao Clube de Correspondentes Estrangeiros da Tailândia (FCCT, na sigla em inglês), em Banguecoque, onde ia decorrer o fórum, e ordenaram aos membros do painel que não falassem. Entre os oradores destacava-se Tun Khin, um proeminente activista rohingya baseado no Reino Unido, Kobsak Chutikul, um ex-diplomata tailandês e Kingsley Abbott, representante do grupo de defesa dos direitos humanos, Comissão Internacional de Juristas. No mês passado, investigadores da ONU pediram à justiça internacional para investigar e julgar o chefe do exército birmanês e cinco oficiais por “genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra” contra a minoria rohingya. Na base desta decisão estão centenas de entrevistas a rohingyas e imagens de satélite que a equipa, criada há seis meses pelo Conselho de Direitos Humanos apoiado pela ONU, compilou na sequência dos relatos dos crimes, que incluem violações, destruição de várias aldeias, escravização e assassínios de crianças. Sob o tema “Vão os oficiais de Myanmar [antiga Birmânia] enfrentar a justiça por crimes internacionais?”, o fórum foi cancelado por ameaçar “as relações externas e dar a terceiros a oportunidade de criar desassossego”, justificou a polícia. O coronel Thawatkiat Jindakuansanong disse aos organizadores: “Não estamos a pedir. Estamos a ordenar o cancelamento do evento”. O presidente do FCCT, Dominic Faulder, expressou a sua “enorme decepção” por as autoridades tailandesas terem cancelado mais um programa do clube. De acordo com a AP, esta deverá ser a sexta vez que a polícia tailandesa cancelou um dos programas do FCCT, desde que os militares tomaram o poder no país, em 2014.
Hoje Macau China / ÁsiaBangladesh deve reinstalar rohingyas devido a risco de catástrofe Bangladesh deve reinstalar rohingyas devido a risco de catástrofe [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] organização Human Rights Watch (HRW) defendeu ontem que o Governo do Bangladesh deve reinstalar os refugiados rohingya em locais mais seguros, dado que mais de 200.000 enfrentam o risco de catástrofe devido às monções. As Nações Unidas estimam que cerca de 215.000 pessoas que se encontram no que é o maior campo de refugiados do mundo, o de Kutupalong-Balukhali, enfrentam o risco de inundações e deslizamento de terras e que para 44.000 delas esse risco é muito alto. Num relatório intitulado “’O Bangladesh não é o meu país’: a situação dos refugiados rohingya da Birmânia”, divulgado ontem, a HRW defende a reinstalação dos refugiados rohingya “em campos mais pequenos, menos densamente povoados, em terreno plano, acessível e próximo” do mega campo onde estão actualmente. Sendo a densidade recomendada nos campos de refugiados de quatro metros quadrados por pessoa, o de Kutupalong-Balukhali conta com uma média de um metro quadrado por pessoa, o que aumenta em muito os riscos de “doenças transmissíveis, incêndios, tensões na comunidade e violência doméstica e sexual”, segundo um comunicado da organização de defesa dos direitos humanos. O relatório é divulgado quando está prestes a cumprir-se um ano do início da crise que obrigou milhares de muçulmanos rohingya a fugirem da Birmânia para o vizinho Bangladesh. A campanha de repressão do exército birmanês contra os rohingyas, iniciada a 25 de Agosto de 2017, já foi classificada pela ONU como uma limpeza étnica. “O Bangladesh devia registar os rohingyas como refugiados, garantir educação e cuidados de saúde adequados e deixá-los procurar meios de subsistência fora do campo”, adiantou. Face à pressão internacional, a Birmânia e o Bangladesh estabeleceram em Novembro um acordo para o regresso dos rohingyas, mas o processo de repatriamento ainda não começou mais de sete meses depois da data prevista para o início dos regressos. Em resposta a uma carta da HRW, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Bangladesh disse que o Governo iniciará em breve a reinstalação de 100.000 rohingyas na ilha de Bhasan Char, que a organização de defesa dos direitos humanos considera não parecer adequada para o efeito. Além de lembrar que “especialistas preveem que Bhasan Char pode ficar completamente submersa no caso de um forte ciclone durante a maré alta”, a HRW assinala que na ilha deverá ser limitado o acesso à educação e aos cuidados de saúde e poucas as oportunidades de autossuficiência para os refugiados.
Hoje Macau China / ÁsiaBirmânia | Rebeldes rohingya rejeitam autoria de massacre de hindus [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m grupo de rebeldes rohingya rejeitou o relatório da Amnistia Internacional (AI) que atribui aos guerrilheiros um massacre de população hindu na Birmânia. Segundo a AI, a 25 de Agosto do ano passado, um grupo de rebeldes rohingya armados tomou de assalto pelo menos uma aldeia no Estado de Rakhine, no oeste do país, onde morreram 99 hindus. A ONG documentou os ataques do chamado Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA) com dezenas de entrevistas, incluindo a de oito sobreviventes, e imagens analisadas por especialistas forensense. Num comunicado publicado esta noite no seu perfil de twitter, e após quatro meses de silêncio, o ARS nega “de forma categórica todas as acusações criminais injustificáveis e negligentes mencionadas no relatório”. Os rebeldes rohingya, que agradecem à AI o seu “esforço” por defender os direitos humanos, asseguram que o único propósito do seu movimento é “defender, salvar e proteger a comunidade rohingya” e que o objectivo dos seus ataques sempre foi o exército birmanês e não “inocentes civis, independentemente da sua religião ou origem étnica”. O êxodo dos rohingyas teve início em meados de Agosto do ano passado, quando foi lançada uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais. Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais). A campanha de repressão do exército birmanês contra esta minoria já foi classificada pela ONU como uma limpeza étnica e como uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.
Hoje Macau China / ÁsiaMyanmar | Destruídas cerca de 300 aldeias rohingyas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] organização Human Rights Watch (HRW) denunciou ontem que cerca de 300 aldeias da minoria muçulmana rohingya foram incendiadas no noroeste da antiga Birmânia durante a última ofensiva do exército, após o ataque de insurgentes em Agosto. A HRW utilizou imagens de satélite para identificar 288 aldeias queimadas, total ou parcialmente, no norte do estado de Rakhine, com dezenas de milhares de estruturas afectadas, a maioria casas habitadas por rohingyas. Num comunicado, a organização de defesa de direitos humanos assegurou que 90% das aldeias afectadas concentraram-se no município de Maungdaw e que os incêndios queimaram casas de rohingyas, mas deixaram intactas zonas adjacentes habitadas por budistas. A HRW indicou também que pelo menos 66 aldeias foram queimadas desde 5 de Setembro, quando o Governo birmanês deu por concluída a “operação de limpeza” iniciada após o ataque de um grupo rebelde rohingya a 25 de Agosto e que, segundo a ONU, levou 530 mil rohingyas a fugir para o Bangladesh. “As últimas imagens de satélite mostram porque é que meio milhão de rohingyas fugiu para o Bangladesh em apenas quatro semanas”, disse o sub-director para a Ásia da HRW, Phil Robertson. “O exército birmanês destruiu centenas de aldeias rohingya ao mesmo tempo que cometeu assassínios, violações e outros crimes contra a humanidade que forçaram os rohingya a fugir para salvar as suas vidas”, acrescentou. O Governo do Myanmar assegurou que a violência foi originada por “terroristas rohingyas”, apesar de o Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU ter classificado a operação militar como uma “limpeza étnica”. Sem cidadania Antes da operação militar estimava-se que cerca de um milhão de rohingyas vivia em Rakhine, onde são alvo de crescente discriminação desde o surto de violência sectária de 2012 que causou pelo menos 160 mortos. A antiga Birmânia não reconhece a cidadania aos rohingya e há vários anos que lhes impõe severas restrições, incluindo a privação de liberdade de movimentos. O Bangladesh, onde antes desta crise viviam cerca e 300 mil rohingyas, também trata os membros desta minoria como estrangeiros e até agora apenas cerca de 30 mil foram reconhecidos como refugiados.
Hoje Macau China / ÁsiaMyanmar | ONG acusa exército de travar ajuda aos rohingya [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] organização não-governamental Burma Human Rights Network (BHRN) acusou ontem o governo birmanês de estar a bloquear a entrega de ajuda humanitária às aldeias da minoria muçulmana rohingya no oeste do país. Em comunicado, a BHRN indicou que muitas aldeias próximas do município de Buthidaung, no estado de Rakhine, não receberam ajuda desde a mais recente vaga de violência que teve início em 25 de Agosto. “Todas as aldeias perto da localidade precisam de comida. Aqui [Buthidaung] podemos sobreviver, mas as aldeias são pobres. Desde 25 de Agosto não foi permitida a chegada de ajuda das ONG”, indicou um morador à BHRN. Os activistas assinalaram que as autoridades também impedem o acesso da ajuda humanitária da ONU ao norte de Rakhine, onde vive a maioria dos rohingya. Segundo a ONG, apenas chegam à área suprimentos limitados de grupos locais ou da Cruz Vermelha, mas, ainda segundo a mesma organização, destinam-se, na sua maioria, às aldeias dos budistas ‘rakhine’. A ONU elevou no domingo para 519.000 o número de rohingya que chegaram ao Bangladesh em fuga da violência na Birmânia desde 25 de Agosto, dias após ter revisto o plano de resposta à crise humanitária no país. A BHRN denunciou ainda que as autoridades do Bangladesh destruíram pelo menos duas dezenas de barcos utilizados para transportar rohingya sob o pretexto de que estavam a ser usados para introduzir drogas no país e detiveram pescadores por ajudarem os membros daquela minoria que fogem da violência. Face à falta de barcos para a travessia, os activistas afirmam que milhares de rohingya encontram-se encurralados na foz do rio Naf, que separa os dois países. Neste sentido, a ONG pediu ao Myanmar para permitir a entrada de ajuda humanitária em Rakhine e ao Bangladesh para que facilite a entrada daquela minoria apátrida, considerada pela ONU como uma das mais perseguidas do planeta. Resposta brutal A crise dos rohingya começou a 25 de Agosto, após um ataque de um grupo rebelde desta minoria muçulmana às instalações policiais e militares no estado de Rakhine, uma acção a que o exército respondeu com uma ofensiva que ainda prossegue. De acordo com testemunhas e organizações de direitos humanos, o exército da antiga Birmânia arrasou povoações incendiando-as e matou um número indeterminado de civis a tiro enquanto esvaziava essas localidades. O Governo assegurou que a violência foi desencadeada por “terroristas rohingya”, mas o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos classificou a operação militar como “limpeza étnica”. Antes da campanha militar, os rohingya que habitavam em Rakhine eram estimados em um milhão. O Myanmar, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, os quais sofrem crescente discriminação desde o início da violência sectária em 2012, que causou pelo menos 160 mortos e deixou aproximadamente 120 mil pessoas confinadas a 67 campos de deslocados.
Hoje Macau China / ÁsiaRohingya | Dalai Lama pede a Suu Kyi solução pacífica para a crise O dalai lama instou a líder de facto da Birmânia, Aung San Suu Kyi, a encontrar uma solução pacífica para a crise dos rohingya, manifestando preocupação relativamente à violência que levou quase 300 mil pessoas a fugir do país [dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]eço-lhe a si e aos seus colegas para que estendam a mão a todas as franjas da sociedade a fim de tentar restabelecer relações amigáveis no seio da população num espírito de paz e de reconciliação”, declarou o líder espiritual tibetano, numa carta endereçada à líder de facto do regime birmanês e também Nobel da Paz, a que a agência noticiosa francesa AFP teve hoje acesso. “As perguntas que me dirigem levam-me a pensar que são inúmeros os que têm dificuldade em compreender que aquilo que sucede aos muçulmanos acontece num país budista como a Birmânia”, escreveu o dalai lama. Os rohingya têm fugido em massa do oeste da Birmânia rumo ao vizinho Bangladesh desde que o exército lançou uma vasta ofensiva militar na sequência do ataque, lançado em 25 de Agosto, contra três dezenas de postos da polícia pela rebelião, o Exército de Salvação do Estado Rohingya (Arakan Rohingya Salvation Army, ARSA), que defende os direitos daquela minoria muçulmana. A ONU actualizou ontem para 313 mil o número de rohingyas que atravessaram a fronteira para o Bangladesh. Segundo uma estimativa, também das Nações Unidas, divulgada anteriormente, mais de um milhar de pessoas daquele minoria muçulmana podem ter morrido na sequência da escalada da violência no estado de Rakhine, um número duas vezes superior às estimativas birmanesas. A Birmânia, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma minoria apátrida considerada pelas Nações Unidas como uma das mais perseguidas do planeta. Mais de um milhão de rohingya vive em Rakhine, onde sofrem crescente discriminação desde o início da violência sectária em 2012, que causou pelo menos 160 mortos e deixou aproximadamente 120 mil pessoas confinadas a 67 campos de deslocados. Apesar de muitos viverem no país há gerações, não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais e o recrudescimento do nacionalismo budista nos últimos anos levou a uma crescente hostilidade contra eles, com confrontos por vezes mortíferos. Limpeza em curso O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos do Homem afirmou ontem que a forma como a Birmânia está a tratar a minoria muçulmana rohingya aparenta “um exemplo clássico de limpeza étnica”. “A Birmânia tem recusado o acesso dos inspectores [da ONU] especializados em direitos humanos. A avaliação actualizada da situação não pode ser integralmente realizada, mas a situação parece ser um exemplo clássico de limpeza étnica”, disse Zeid Ra’ad Al Hussein na abertura da 36.ª sessão do Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas, em Genebra. Aung San Suu Kyi tem sido duramente criticada por defender a actuação do exército em relação aos rohingya por múltiplas personalidades, entre as quais os a paquistanesa Malala Yousafzai e o sul-africano Desmond Tutu, também laureados com o Nobel da Paz, havendo mesmo uma petição, já assinada por mais de 350 mil pessoas de todo o mundo, a pedir ao comité norueguês que lhe retire o prémio. Na passada quarta-feira, a líder birmanesa defendeu-se das críticas, afirmando haver uma campanha de desinformação sobre a questão e assegurando que vai proteger os direitos de todas as pessoas. “A solidariedade internacional com os ‘rohingya’ é o resultado de um enorme iceberg de desinformação, que visa criar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas”, disse Suu Kyi.
Hoje Macau China / ÁsiaONU questiona investigação birmanesa sobre abusos contra minoria étnica [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ONU questionou ontem a credibilidade da comissão governamental birmanesa que investigou a violência contra a minoria muçulmana rohingya, após denunciar que as acções das forças de segurança são passíveis de se considerar “limpeza étnica”. Adama Dieng, enviado especial da ONU para a prevenção do genocídio, mostrou-se “chocado e alarmado” com o relatório, divulgado na semana passada, pelo Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, que denuncia uma série de abusos perpetrados desde Outubro, altura em que o exército lançou uma grande ofensiva no estado de Rakhine (oeste) após ataques mortíferos de rebeldes contra postos fronteiriços. Esses abusos incluem execuções sumárias, violações, desaparecimentos forçados, tortura e tratamento desumano ou detenção arbitrária, de acordo com o relatório que indica que centenas de membros da comunidade rohingya terão sido mortos. A campanha militar levou aproximadamente 65.000 pessoas a fugir para o Bangladesh e 22.000 outras a deslocarem-se para o interior da Birmânia, segundo calculou o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. A zona do norte de Rakhine mantém-se fechada ao acesso da ajuda humanitária, da qual dependem milhares de pessoas, e de observadores e jornalistas independentes. Adama Dieng congratulou-se com o compromisso anunciado pelo governo birmanês de investigar os abusos denunciados no relatório, publicado depois de uma comissão liderada pelo vice-presidente Myint Swe não ter encontrado provas dos referidos abusos por parte das forças de segurança, mas contestou o resultado. “A actual comissão não é uma opção credível para levar a cabo uma nova investigação”, disse Dieng, ao mostrar a sua preocupação relativamente às diferenças entre as conclusões do relatório do grupo governamental e as do organismo das Nações Unidas. “Apelo para que qualquer investigação seja realizada por um grupo realmente independente e imparcial, que inclua observadores internacionais”, afirmou o enviado especial da ONU. Em comunicado, o mesmo responsável insta o governo birmanês a demonstrar a sua sinceridade em resolver o conflito em Rakhine, onde a organização Human Rights Watch (HRW) também denunciou, na segunda-feira, novos casos de violência contra os rohingya. Casa dos horrores O grupo de defesa dos direitos humanos com sede em Nova Iorque documentou violações de mulheres, incluindo meninas de 13 anos, perpetradas por soldados e guardas fronteiriços que insultaram, agrediram e ameaçaram as vítimas por razões étnicas ou religiosas. “Estes horríveis ataques a mulheres e meninas rohingya por parte das forças de segurança acrescentaram um novo e brutal capítulo ao longo e repulsivo historial de violência contra as mulheres por parte do exército birmanês”, disse a investigadora da HRW, Priyanka Motaparthy. A activista culpou ainda o governo birmanês pelo seu fracasso na investigação das violações e de outros crimes contra os rohingya, apelando também à realização de uma investigação internacional e independente. “O governo deveria parar de questionar estas denúncias de violações e em troca oferecer apoio às vítimas e acesso a cuidados médicos”, sustentou Motaparthy. Mais de um milhão de rohingya vive em Rakhine e sofre discriminação na Birmânia, de maioria budista. A maioria não tem cidadania e é considerada como imigrante ilegal do Bangladesh, ainda que alguns vivam no país há várias gerações. Os rohingya são uma minoria muçulmana apátrida considerada uma das mais perseguidas do planeta pelas Nações Unidas.