Hoje Macau China / Ásia MancheteDiplomacia | Europa e Estados Unidos procuram aproximação à China O diálogo da China com o mundo ocidental intensifica-se, apesar das muitas pedras que ainda persistem no caminho para uma relação harmoniosa. O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, aterrou esta semana em Berlim, numa altura em que Alemanha, França, Estados Unidos e Reino Unido apostam numa estratégia de aproximação a Pequim. Esta semana, em apenas alguns dias, o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, viajou até Pequim, Li Qiang está de viagem até Berlim e Paris e o Governo britânico prepara a ida do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, James Cleverly, à China. “Para a China, ‘the meeting is the message’ (a reunião é a mensagem)”, escreveu Mikko Huotari, director executivo da MERICS, um ‘think tank’ alemão com foco naquele país asiático, parafraseando a famosa citação do pensador canadiano Marshall McLuhan sobre a comunicação (“the medium is the message”). Para este analista, a visita de Li a Berlim é uma prova de que Pequim quer mostrar que o diálogo com um dos seus principais aliados não está comprometido, apesar de um afastamento diplomático que se acentuou nos últimos três anos. Uma das razões para este afastamento entre Berlim e Pequim reside na pressão exercida pelo Governo norte-americano para que a Europa se desligue da dependência económica chinesa, em particular em áreas sensíveis como a energia e as telecomunicações. Desde o mandato do ex-Presidente Donald Trump, e prosseguindo na era do actual líder, Joe Biden, que os Estados Unidos insistem em que os países europeus rejeitem integrar a empresa tecnológica chinesa Huawei nos concursos para as redes 5G, alegando que esta organização reporta directamente perante o Partido Comunista Chinês, colocando sérios problemas de salvaguarda das informações que circulam nestas redes. Os Estados Unidos estão preocupados, particularmente, com a progressiva afirmação das baterias eléctricas chinesas para alimentação de veículos automóveis, que ameaçam a expansão do sector automóvel em várias regiões, incluindo a Europa e os Estados Unidos. Este tema foi abordado entre o chefe da diplomacia norte-americana no encontro com o seu homólogo chinês, Qin Gang, no passado domingo, no âmbito de uma redefinição do circuito comercial entre as duas maiores potências económicas. Blinken repetiu por várias vezes a ideia de que os Estados Unidos não têm interesse em “conter o desenvolvimento da economia chinesa”, alegando que o sucesso do plano de Pequim salvaguarda igualmente os interesses norte-americanos. A tese do Governo de Joe Biden é a de que Estados Unidos e China se assumam como rivais, mas procurem evitar que a concorrência resvale para conflitos mais graves, nomeadamente a nível militar. Xadrez político Numa entrevista divulgada esta semana pela cadeia televisiva norte-americana CBS, Blinken reconheceu que os canais de comunicação militares entre os dois países continuam comprometidos, mas assegurou que este é um “processo em curso”, mostrando-se esperançado em que num futuro próximo seja possível criar formas eficazes de resolução de conflitos. “É importante que incidentes militares – como quando dois aviões se cruzem a curta distância ou dois navios entre em rota de colisão – sejam evitados através de canais estáveis de comunicação”, defendeu o chefe da diplomacia norte-americana. Por isso, na agenda do primeiro-ministro chinês a Berlim e a Londres estão matérias relacionadas com a indústria da Defesa, numa altura em que Berlim anunciou um investimento bilionário em novo equipamento, em grande parte decorrente da crescente ameaça russa, após o início da invasão da Ucrânia, em Fevereiro de 2022. “A China está interessada em que a Alemanha se desenvencilhe da dependência militar norte-americana, para que possa de seguida ficar mais receptiva às propostas comerciais chinesas. Esta abordagem certamente que não aparecerá nos comunicados após as reuniões do primeiro-ministro chinês em Berlim, mas estará muito presente nas intenções de cada diplomata chinês”, explicou à Lusa Darlyn Chai, investigadora de Relações Internacionais da Universidade de Sussex, no Reino Unido, especialista em política asiática. Para esta especialista, os europeus estão interessados em que a China e os Estados Unidos normalizem relações, para terem mais campo de manobra para restabelecer as condições para novos investimentos chineses na Europa. Contudo, para isso, defende Chai, os líderes ocidentais, e os europeus em particular, também precisam que Pequim se demarque das posições da Rússia na Ucrânia. A Alemanha – tal com a União Europeia e os Estados Unidos – tem pressionado a China para não fornecer armas à Rússia, um compromisso que Blinken ouviu da boca do Presidente Xi Jinping e que o chanceler Olaf Scholz já disse estar interessado em ouvir da boca do primeiro-ministro chinês. O tema também deverá ser um dos pontos principais da visita que o chefe da diplomacia britânica deverá realizar à China, no final de Julho, que o Governo do Reino Unido está a preparar. A viagem ainda não está confirmada, mas fontes do Governo liderado por Rishi Sunak têm defendido a necessidade de o Reino Unido não ficar para trás na reaproximação à China, quando Estados Unidos e a União Europeia aceleram os contactos diplomáticos com Pequim. Para o Governo britânico, o ‘Brexit’ apenas acentuou a necessidade de diversificar as relações externas, apesar dos apelos dos aliados norte-americanos, para conter o investimento chinês, especialmente nas áreas tecnológicas.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA | Altos representantes em Pequim para “descongelar” relações Após o encontro de Xi e Biden na véspera da cimeira do G20, os dois países começam a dar passos em direcção à normalização das relações bilaterais. A deslocação da delegação norte-americana de alto nível ao país tem como objectivo preparar a anunciada visita do secretário de Estado Anthony Blinken a Pequim no início de 2023 Os EUA enviaram a primeira delegação de alto nível à China desde as promessas, feitas em Novembro, pelo líder chinês Xi Jinping e pelo seu homólogo norte-americano Joe Biden, de “descongelarem” as relações bilaterais. O secretário de Estado adjunto para o Pacífico e Ásia Oriental norte-americano, Daniel Kritenbrink, acompanha a directora sénior do Conselho de Segurança Nacional para a China e Taiwan, Laura Rosenberger, de 11 a 14 de Dezembro, anunciou no sábado o Departamento de Defesa. A delegação irá ainda visitar a Coreia do Sul e Japão. Na China, Kritenbrink irá preparar a deslocação do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, prevista para o início de 2023, naquela que será a primeira viagem do chefe da diplomacia norte-americana à China em quatro anos. Ponto de viragem A visita da delegação acontece menos de um mês depois de uma reunião entre Biden e Xi na cimeira do bloco G20 na Indonésia, num encontro que serviu para tentar reduzir as tensões entre as duas principais potências económicas. Na ilha de Bali, Biden exortou Xi a procurar formas de “gerir as diferenças” para evitar que a competição entre os dois países degenere num conflito, e manifestou disponibilidade para colaborar em “assuntos globais urgentes”, incluindo alterações climáticas e insegurança alimentar. Por sua vez, Xi manifestou a intenção de manter um “diálogo franco e profundo” com Biden sobre os temas de importância estratégica nas relações bilaterais, a nível regional e global. Nessa reunião, Xi avisou o homólogo norte-americano para não “cruzar a linha vermelha” em Taiwan. “A questão de Taiwan está no centro dos interesses centrais da China, a base da fundação política das relações sino-americanas, e é a primeira linha vermelha a não ser atravessada nas relações sino-americanas”, disse Xi a Biden, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Esse foi o primeiro encontro presencial entre Biden e Xi desde a chegada do norte-americano à Casa Branca, em Janeiro de 2021.
Hoje Macau China / ÁsiaUcrânia | China refuta “falsas acusações” feitas por Washington O departamento de Estado norte-americano disse que as autoridades chinesas “amplificam a propaganda do Kremlin” relativamente ao conflito ucraniano. Esta terça-feira a embaixada chinesa nos EUA refutou estas acusações e diz que a posição da China sobre esta matéria sempre foi de imparcialidade e “objectiva” Há um novo confronto de palavras entre a China e os EUA no que à situação na Ucrânia diz respeito. Segundo a agência estatal chinesa Xinhua, a embaixada chinesa nos EUA criticou a posição defendida por Washington relativamente ao conflito. Isto porque o departamento de Estado norte-americano defendeu, em comunicado, que as autoridades e os media chineses “amplificam, de forma rotineira, a propaganda do Kremlin, teorias da conspiração e desinformação” sobre o conflito que opõe a Rússia e a Ucrânia. O porta-voz da embaixada chinesa nos EUA garantiu que estas declarações são falsas e que “a posição da China sobre a Ucrânia é imparcial e objectiva”. “No que diz respeito a espalhar desinformação, os EUA deveriam seriamente reflectir sobre si próprios. Ao longo dos anos, os EUA travaram guerras no Iraque, Afeganistão e Síria, matando 335 mil civis. Isto não é desinformação”, acrescentou o porta-voz da embaixada. A embaixada chinesa entende ainda que “a maior parte dos países do mundo pretendem resolver o conflito entre a Rússia e Ucrânia através do diálogo e da negociação, e nenhum deles quer ver a situação escalar ou ficar fora de controlo”. “Isto não é desinformação”, adiantou o mesmo porta-voz. O mar do sul da China Ainda sobre a questão da Ucrânia, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, recebeu ontem em Roma o seu homólogo japonês, Fumio Kishida, e ambos declararam determinação em defender a ordem internacional, tanto na Ucrânia após a invasão russa, como no mar do sul da China. “Devemos continuar unidos e determinados a defender uma ordem internacional baseada em regras, incluindo nos mares do sul da China e do estreito [de Taiwan]”, afirmou Draghi numa declaração oficial à imprensa no Palazzo Chigi, em Roma. Itália e Japão, unidos por um tratado de “paz perpétua e amizade constante” durante 156 anos e parceiros do Grupo dos Sete países mais industrializados (G7), reafirmaram também a sua condenação à invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de Fevereiro, bem como a vontade em continuar a apoiar o governo de Kiev. “Comprometemo-nos a que se chegue o mais rápido possível a tréguas, incluindo localizadas, que permitam a retirada de civis, e a favorecer as negociações de paz. Continuaremos a ajudar a Ucrânia e a pressionar a Rússia para uma cessação imediata das hostilidades”, prosseguiu Draghi. Neste sentido, agradeceu a Kishida por aceitar com “extraordinária rapidez” o envio de gás natural liquefeito para países europeus que querem reduzir a sua dependência da Rússia, como a Itália, que importa 90% do gás que consome, e 40% de Moscovo. O primeiro-ministro japonês subscreveu as palavras do homólogo italiano, salientando que “a agressão contra a Ucrânia mina os fundamentos não só da ordem europeia, mas também da ordem internacional, incluindo na área Indo-Pacífico” e no Extremo Oriente, onde “se vive uma situação geopolítica particularmente tensa”. Isto deve-se, entre outras coisas, a testes de mísseis pelo regime norte-coreano, mas também a tensões no mar do sul da China. Kishida denunciou a “tentativa de modificar unilateralmente, num contexto que envolve o uso da força, o ‘status quo’” nesses mares onde existe “um reforço súbito e não transparente das capacidades militares dos países costeiros”. “Vamos aprofundar a colaboração com Itália para uma região do Indo-Pacífico livre e aberta”, afirmou o primeiro-ministro japonês, que também se reuniu com o Papa Francisco no Vaticano.
Hoje Macau China / ÁsiaRelações China – EUA mais tensas do que nunca, 50 anos após a visita de Nixon a Pequim A visita do antigo presidente dos Estados Unidos Richard Nixon a Pequim, no auge da Guerra Fria, transformaria as relações entre Pequim e Washington e a posição da China no mundo, de forma impensável na altura. A relação entre Pequim e Washington foi sempre complexa e, após meio século de altos e baixos, está hoje mais tensa do que nunca. A Guerra Fria acabou, mas, em ambos os lados, há receios de que uma nova esteja a começar. Os Estados Unidos temem que a ordem liberal que triunfou sobre a União Soviética possa ser desafiada pelo modelo autoritário de uma China poderosa e em ascensão. “A relação EUA – China sempre foi controversa, mas necessária”, disse Oriana Skylar Mastro, especialista em assuntos da China da Universidade de Stanford, citada pela Associated Press. “Talvez há 50 anos as razões fossem sobretudo económicas. Agora, pertencem principalmente ao domínio da segurança. Mas o relacionamento nunca foi – e nunca será – fácil”, frisou. Nixon desembarcou em Pequim numa manhã cinzenta de inverno há precisamente 50 anos. Nas ruas, cartazes envergavam mensagens como “Abaixo o Imperialismo Americano”, parte da Revolução Cultural, a campanha de massas que enviou intelectuais e estudantes para o campo e submeteu muitos à humilhação pública e ataques brutais, e até mortais, em nome da luta de classes. A viagem de Nixon, em 1972, incluiu reuniões com o fundador da República Popular, Mao Zedong, e uma visita à Grande Muralha, levando ao estabelecimento de relações diplomáticas, em 1979, e ao corte dos laços formais entre Washington e Taiwan, que os EUA reconheciam então como o legítimo governo da China, após o Partido Comunista Chinês conquistar o poder no continente chinês, em 1949. O tradutor do primeiro-ministro Zhou Enlai escreveu num livro de memórias que Nixon disse, ao chegar a Pequim, “esta mão estende-se pelo Oceano Pacífico em amizade” enquanto apertava a mão de Zhou. Para ambos os lados, foi uma amizade nascida das circunstâncias, em vez de lealdades naturais. A relação entre a China e a União Soviética, ex-aliados comunistas, atravessava então um período de tensão, marcado por confrontos, ao longo da fronteira, em 1969. Mao via os Estados Unidos como um contrapeso, face à ameaça de invasão soviética. Nixon estava a tentar isolar a União Soviética e sair da prolongada e sangrenta guerra no Vietname, que dividiu a sociedade norte-americana. Ele esperava que a China, aliada do Vietname do Norte, pudesse desempenhar um papel na resolução do conflito. O presidente dos EUA colocou-se “numa posição de suplicante”, disse June Teufel Dreyer, especialista em política chinesa da Universidade de Miami, citado pela AP. A imprensa estatal chinesa promoveu a ideia de que uma “China próspera seria uma China pacífica” e que o país era um grande mercado para as exportações norte-americanas, descreveu. Mas, primeiro, os EUA tornaram-se um enorme mercado para a China, impulsionando a ascensão meteórica do país asiático, de uma nação empobrecida para a segunda maior economia do mundo. A visita de Nixon foi um “evento crucial que deu início à reviravolta da China e à sua subsequente ascensão global”, notou Dali Yang, da Universidade de Chicago, autor de vários livros sobre política e economia do país asiático. Dois anos após a morte de Mao Zedong, em 1976, o novo líder chinês Deng Xiaoping inaugurou uma era de liberalização económica, criando um sistema capitalista, liderado pelo Estado e governo de partido único, e que perdura até hoje. A riqueza da China permitiu uma grande expansão das suas forças armadas, que os EUA e seus aliados veem hoje como uma ameaça. O Partido Comunista diz que quer apenas defender o seu território. Isto inclui, no entanto, tentar controlar ilhas também reivindicadas pelo Japão, no Mar do Leste da China, e por nações do Sudeste Asiático, no Mar do Sul da China. O exército chinês envia também frequentemente aviões de guerra em missões de treino para Taiwan, uma fonte de atrito com os Estados Unidos. A China reivindica como seu aquele território. Os EUA fornecem equipamentos militares a Taiwan e alertaram a China contra qualquer tentativa de reunificar a ilha através do uso da força. Embarcar no processo de trazer a China de volta para o mercado internacional foi a decisão certa, mas o último meio século ainda não colocou as relações num caminho estável, disse Rana Mitter, professora de história chinesa e política moderna da Universidade de Oxford. “Os EUA e a China ainda não conseguiram descobrir exatamente como encaixar um no outro, num mundo onde ambos têm um papel, mas acham cada vez mais difícil acomodarem-se”, disse. As autoridades chinesas veem a visita de Nixon como um momento em que os dois países procuraram manter uma comunicação e compreensão mútuas, apesar das suas diferenças, apontou Zhu Feng, reitor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Nanjing, afirmando que essa mesma abordagem é hoje fundamental, para superar o atual impasse. Embora a sua viagem à China tenha dado vantagem aos EUA na rivalidade da Guerra Fria com a União Soviética, Washington enfrenta agora um novo cenário geopolítico – com ecos do passado. A União Soviética colapsou, mas os líderes russo e chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping, respetivamente, estão a aproximar-se, à medida que reagem contra a pressão dos EUA sobre os seus modelos autoritários. A Guerra do Vietname acabou, mas a sociedade norte-americana está hoje outra vez dividida, desta vez por causa da resposta à pandemia e da ascensão do populismo. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que deseja um relacionamento mais previsível com a China, mas persistem grandes diferenças sobre comércio e direitos humanos, tornando muito mais difícil encontrar esse entendimento mútuo. A perspetiva de estabilidade de longo prazo nos laços firmados pela visita de Nixon parece estar cada vez mais fora de alcance. “As relações China – EUA atravessam um momento terrível”, disse Xiong Zhiyong, professor de relações internacionais da Universidade de Relações Internacionais da China. “Há, de facto, pessoas que desejam melhorar as relações, mas é muito difícil consegui-lo”, argumentou.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA | Xi Jinping adverte que mundo sofrerá em caso de confronto O Presidente chinês, Xi Jinping, disse ao homólogo norte-americano, Joe Biden, numa conversa telefónica, que os dois países e o mundo “sofrerão” em caso de confronto entre a China e os Estados Unidos “Quando a China e os Estados Unidos trabalham juntos, os países e o mundo beneficiam, mas ambos os países e o mundo sofrerão se os dois países se confrontarem”, sublinhou Xi, de acordo com um comunicado difundido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. “A política dos EUA em relação à China tem causado sérias dificuldades ao relacionamento” entre as duas potências, acrescentou o secretário-geral do Partido Comunista Chinês. Foi a segunda conversa por telefone entre os líderes das duas maiores economias do mundo, desde que Joe Biden assumiu a presidência dos Estados Unidos, no início do ano. Em comunicado, a Casa Branca disse que os “dois líderes tiveram uma discussão ampla e estratégica, na qual abordaram áreas em que os interesses convergem e áreas em que os interesses, valores e perspectivas divergem”. Os Estados Unidos manifestaram vontade que os dois lados possam trabalhar juntos em questões de interesse mútuo, incluindo as alterações climáticas e a prevenção de uma crise nuclear na península coreana, apesar das crescentes diferenças. Antes da conversa por telefone, um responsável do executivo norte-americano, citado pela agência de notícias Associated Press (AP), disse que a Casa Branca não estava satisfeita com os contactos iniciais com Pequim. O responsável, que pediu o anonimato, disse que a Casa Branca esperava que uma conversa entre os dois líderes fosse benéfica. Acertar agulhas O comunicado emitido pela diplomacia chinesa destacou que “ambos os líderes mantiveram uma comunicação estratégica sincera, ampla e profunda, e abordaram as relações bilaterais e questões pendentes de interesse comum”. “A comunidade internacional enfrenta muitos problemas comuns. A China e os EUA devem assumir maiores responsabilidades e continuar a olhar em frente e demonstrar valor estratégico e político”, acrescentou Xi Jinping, de acordo com a mesma nota. Xi citou em particular as iniciativas chinesas para combater as alterações climáticas, dias após a visita à China do enviado especial dos Estados Unidos para o clima, John Kerry. Xi e Biden “concordaram em manter uma comunicação regular por meio de vários canais”, no âmbito das questões do clima, enquanto orientam responsáveis dos respectivos governos, em diferentes níveis e áreas, para fazerem o mesmo, destacou o comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, alertou John Kerry que a deterioração das relações entre os dois países pode prejudicar a cooperação na questão do clima. Wang disse a Kerry que a cooperação não pode ser separada do relacionamento mais amplo e pediu aos EUA que tomem medidas para melhorarem os laços.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | Pequim culpa Washington por “impasse” nas relações bilaterais A China culpou ontem os Estados Unidos pelo que designou “de impasse” nas relações bilaterais, durante um encontro entre diplomatas dos dois países, na cidade chinesa de Tianjin O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Xie Feng, pediu aos EUA que “mudem a sua mentalidade altamente equivocada e política perigosa”, indicou um comunicado difundido pelo ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. O relacionamento entre a China e os EUA atravessa um impasse porque alguns norte-americanos retratam o país asiático como um “inimigo imaginário”, acrescentou Xie, durante o encontro com a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman. A diplomata dos EUA está na China para debater o tenso relacionamento entre os dois países, em reuniões separadas, com Xie, que é responsável pelas relações com os EUA, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi. Sherman é a representante governamental norte-americana de mais alto nível a visitar a China desde que o Presidente Joe Biden assumiu o cargo, há seis meses. As relações entre as duas potências deterioraram-se rapidamente nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica e diferendos em questões de direitos humanos. Este fim-de-semana, Wang Yi acusou os EUA de agirem com uma postura de superioridade e de usarem a força para pressionar outros países. “A China nunca aceitaria que outro país alegasse ser superior aos outros”, disse, numa entrevista ao canal de televisão Phoenix Television. “Se os EUA não aprenderem a tratar os outros países da mesma forma, a China e a comunidade internacional têm a responsabilidade de ajudar os EUA a aprender como fazê-lo”, descreveu. O histórico antes de Roma Funcionários da Administração de Joe Biden disseram que as discussões desta semana não visam questões específicas, mas antes manter abertos canais de comunicação de alto nível. Os EUA querem garantir que existem barreiras de protecção para evitar que a competição entre os dois países resulte em conflito, disseram. Uma reunião entre Biden e o Presidente chinês, Xi Jinping, deve fazer parte da agenda, à margem da cimeira do G-20, em Roma, no final de Outubro. Sherman, que chegou na noite de domingo da Mongólia, apresentou “condolências (em nome dos Estados Unidos) para aqueles que perderam familiares”, durante as fortes tempestades e inundações, que mataram, na semana passada, pelo menos 63 pessoas, na província de Henan, centro da China. A reunião segue um encontro tenso, realizado em Março passado no Alasca, entre Wang, o veterano diplomata chinês Yang Jiechi e o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan. John Kerry, enviado especial do Governo Biden para o clima, esteve também em Xangai, para reuniões com o homólogo chinês, em Abril passado.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | Pequim quer “ensinar” EUA a tratar países como iguais O ministro das Relações Exteriores da China disse que Pequim “tem a responsabilidade de trabalhar com a comunidade internacional para ensinar uma lição aos Estados Unidos” sobre como se relacionar com outros países como iguais “Se os Estados Unidos não aprenderam a tratar outros países em pé de igualdade, temos a responsabilidade de trabalhar com a comunidade internacional para ensinar uma lição aos Estados Unidos”, assumiu Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, num comunicado publicado na noite de sábado na página oficial da internet do ministério. Segundo a agência de notícias espanhola EFE, a posição de Wang surge um dia antes da chegada, à cidade de Tianjin, no nordeste da China, da vice-secretária de Estado dos Estados Unidos da América (EUA), Wendy Sherman, num momento em que as relações entre os dois países atravessam uma fase de tensões. “Os Estados Unidos querem pressionar sempre os outros países com a sua própria força, pensando que são superiores. No entanto, quero dizer claramente aos EUA que nunca houve um país superior neste mundo, nem deveria haver, e a China não aceitará que nenhum país se considere superior”, afirmou o ministro chinês. Canais abertos A vice-secretária de Estado dos EUA chegou ontem a Tianjin, onde tem encontros previstos com o vice-ministro das Relações Exteriores, Xie Feng, responsável pelas relações EUA-China, e, provavelmente, com Wang. A “número dois” do Departamento de Estado norte-americano, Wendy Sherman, vai encontrar-se com diplomatas chineses, naquela que é a visita de maior destaque à China desde que Joe Biden chegou à Casa Branca, em janeiro. “Todas as dimensões do relacionamento estarão sobre a mesa, nessas reuniões”, disse no sábado um alto funcionário dos Estados Unidos, numa conferência de imprensa telefónica. “Os Estados Unidos acolhem bem a competição dura e constante com a China (…) mas queremos garantir que há barreiras de contenção e regras para administrar o relacionamento com responsabilidade”, acrescentou a mesma fonte. O principal objectivo de Washington é repetir, em privado, as várias queixas sobre Pequim que tem feito publicamente nos últimos meses. “O objectivo não é negociar sobre questões específicas, mas manter os canais de comunicação abertos ao mais alto nível. A nossa filosofia é que não devemos evitar tópicos difíceis apenas para sermos simpáticos”, disse o porta-voz da Casa Branca na mesma conferência de imprensa. Esse funcionário também minimizou as sanções recentemente impostas por Pequim a seis cidadãos norte-americanos. Entre os cidadãos sancionados está o ex-secretário do Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, que enquanto ocupou aquele cargo expandiu a lista de empresas chinesas que não podem negociar com empresas dos EUA sem uma licença prévia, incluindo as gigantes chinesas das telecomunicações Huawei e ZTE. Também são visados Carolyn Bartholomew, presidente da Comissão de Monotorização de Segurança e Economia entre os EUA e China, Adam King, do Instituto Republicano Internacional, Sophie Richardson, directora da organização não governamental ‘Human Rights Watch’ e ainda Conselho Democrático de Hong Kong para a China, com sede em Washington.
Hoje Macau China / ÁsiaChina confirma visita de vice-secretária de Estado norte-americana A vice-secretária de Estado norte-americana, Wendy Sherman, vai visitar a cidade de Tianjin, no nordeste da China, nos dias 25 e 26 de julho, onde reunirá com diplomatas chineses, confirmou ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Em comunicado, o Ministério detalhou que Sherman vai reunir com o responsável pelas relações entre os Estados Unidos e a China da diplomacia chinesa, Xie Feng, e posteriormente com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi. Segundo a mesma fonte, a diplomacia chinesa vai deixar claro aos Estados Unidos os seus “princípios de desenvolvimento das relações” entre os dois países, com uma “atitude firme para proteger a sua soberania” e exigir que os Estados Unidos “parem de se intrometer nos assuntos internos da China”. O Departamento de Estado dos EUA já anunciado, na quarta-feira, a visita, que visa, segundo o comunicado, “manter conversas sinceras” com a China e “administrar com responsabilidade” a relação entre as duas potências. O encontro entre Sherman e Xie é o primeiro presencial entre emissários de alto nível dos Estados Unidos e da China após a cimeira realizada em março passado, no Alasca, na qual o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o chefe das relações externas do Partido Comunista Chinês, Yang Jiechi, protagonizaram uma tensa discussão. Esta semana, os dois países trocaram acusações sobre ciberataques. As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se, nos últimos anos, devido a uma prolongada guerra comercial e tecnológica e diferendos na questão dos direitos humanos ou sobre o estatuto de Hong Kong e Taiwan e a soberania do Mar do Sul da China.
Hoje Macau China / ÁsiaJoe Biden | Ofensiva anti-China em cimeira no Pacífico, que altera estilo de Trump O Presidente dos EUA, Joe Biden lançou, durante uma cimeira virtual com os primeiros-ministros da Austrália, Índia e Japão, uma iniciativa conjunta para travar “as ambições expansionistas da China no Pacífico”. Trata-se da primeira vez que esta aliança informal dos quatro países, nascida nos anos 2000 para contrabalançar as ambições expansionistas da China, se reúne ao mais alto nível. “Esta é a primeira cimeira multilateral que tenho a oportunidade de organizar, na qualidade de Presidente”, lembrou Joe Biden na abertura da videoconferência com os primeiros-ministros do Japão, Yoshihide Suga, da Índia, Narendra Modi, e da Austrália, Scott Morrison. “Os Estados Unidos estão determinados a trabalhar com todos os nossos aliados regionais para garantir a estabilidade”, acrescentou Biden. Num outro sinal da prioridade dada à Ásia pelos EUA, o primeiro-ministro japonês será, em abril, o primeiro líder estrangeiro a ser recebido pessoalmente nos Estados Unidos pelo novo Presidente, anunciaram os dois países, esclarecendo que as alterações climáticas e o combate à pandemia de covid-19 estarão no topo da agenda da reunião. “Estamos a lançar uma nova parceria ambiciosa para impulsionar a produção de vacinas para o benefício de todos, em particular da região do Indo-Pacífico”, explicou o Presidente norte-americano. Biden disse que a aliança dos quatro países está empenhada em responder “às graves carências do sudeste asiático, através de veículos financeiros complexos que permitirão um aumento muito importante, francamente drástico, das capacidades de produção de vacinas, até mil milhões de doses em 2022”. Esse esforço será baseado principalmente na produção de vacinas na Índia e na produção aumentada da vacina norte-americana de dose única Johnson & Johnson. Com esta iniciativa, o Presidente dos EUA tenta mostrar que está preocupado com o combate à pandemia, não apenas dentro de fronteiras, mas também através de projetos de cooperação internacional. Ao mesmo tempo, Washington pretende deixar um sinal de multilateralismo no esforço de contenção das ambições expansionistas da China no sudeste asiático. Nenhum dos quatro líderes referiu explicitamente a China, mas, no jargão diplomático, a insistência em expressões como “segurança marítima” e manutenção de uma região “livre e aberta” sugerem o compromisso em contrariar estratégias de controlo por parte de Pequim. “Renovamos o nosso compromisso de garantir que a região seja regida pelo direito internacional, mantenha os valores universais e esteja livre de qualquer coerção”, disse Joe Biden, numa clara alusão a Pequim. Scott Morrison considerou que o encontro destas quatro democracias simboliza “a alvorada de uma nova era” para a região, enquanto Narendra Modi assegurou que este grupo de países continuará a ser “um pilar importante para a estabilidade”. Na próxima semana, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro da Defesa, Lloyd Austin, viajarão ao Japão e à Coreia do Sul, na sua primeira viagem ao estrangeiro. O chefe do Pentágono também viajará para a Índia, enquanto Antony Blinken prepara a primeira reunião com os chefes da diplomacia chinesa, Yang Jiechi e Wang Yi, marcada para o Alasca, no dia 19 de Março.
Hoje Macau China / ÁsiaDireitos humanos | Pequim vai publicar relatório que visa Estados Unidos O Conselho de Estado chinês promete divulgar, “num futuro próximo”, um documento sobre a situação dos direitos humanos nos EUA em 2020 e que revela a forma “incompetente” como os norte-americanos geriram a pandemia da covid-19, sem esquecer “a desordem da democracia” no país ou a discriminação racial de que sofrem as minorias O departamento de comunicação do Conselho de Estado chinês vai publicar, “num futuro próximo” um relatório sobre alegadas violações de direitos humanos ocorridas nos EUA em 2020, foi anunciado esta segunda-feira. Segundo a agência Xinhua, o documento, com cerca de 15 mil caracteres chineses tem como título “O relatório das violações dos direitos humanos nos EUA em 2020” e apresenta detalhes sobre “a incompetência dos EUA” na gestão da pandemia da covid-19, “a desordem da democracia que desencadeou o caos político” ou ainda a “discriminação racial de que sofrem as minorias”. O relatório promete ainda apresentar mais detalhes sobre “a agitação social que ameaça a segurança pública”, o aumento da “polarização entre ricos e pobres que agrava a desigualdade social” e o “atropelo dos EUA nas regras internacionais”, o que levou a “desastres humanitários”. “O grande agitador” Relativamente à pandemia, o relatório promete explicitar “a desordem das instituições democráticas americanas que levou ao caos político, o que levou a uma divisão na sociedade”, escreve a Xinhua. É também referido um sistema político com “dinheiro contaminado” que levou à “supressão da opinião pública”, transformando eleições num “espectáculo de um homem só” da classe rica, numa referência ao ex-Presidente Donald Trump. Além disso, o relatório do Conselho de Estado aponta que “a confiança da população no sistema democrático americano caiu para o mais baixo nível dos últimos 20 anos”. Sobre a discriminação, o Conselho de Estado chinês denota que as minorias étnicas nos EUA “sofrem de uma sistemática discriminação racial e que têm estado numa situação difícil”. O relatório dá ainda conta de que as infecções por covid-19 atingiram três vezes mais os afro-americanos do que as pessoas de cor branca, além de que “morreram duas vezes mais”. A Xinhua escreve também que o documento aborda a questão “do comércio de armas e o facto de os incidentes com armas terem registado um número recorde nos EUA, onde a confiança na ordem social diminuiu”. Focando-se no aumento do desemprego devido à pandemia, o Conselho de Estado chinês conclui que a América “está a tornar-se no grande agitador da segurança global e da estabilidade”.
João Luz Grande Plano MancheteChina | Pequim apela ao fim da guerra comercial e à reposição do que Trump “destruiu” O Governo Central quer que a relação entre as duas maiores potências económicas mundiais volte a ser de cooperação em vez de conflito. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, apelou ontem a Washington para abandonar os preconceitos e as suspeitas e restabeleça a racionalidade e o desenvolvimento saúde de uma relação bilateral. O caminho apontado foi o levantamento de restrições comerciais e o fim da interferência injustificada em Taiwan, Hong Kong, Xinjiang e Tibete Com agências Por trás de Wang Yi um banner à largura da sala anunciava o teor do discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês: “Trazer de volta ao bom rumo as relações entre China e Estados Unidos”. Foi com este pano de fundo que o governante discursou ontem em Pequim, apelando aos líderes políticos norte-americanos para abandonarem preconceitos e suspeitas infundadas, de forma a retomar relações estáveis, saudáveis e racionais entre as duas maiores potências económicas. A anterior Administração norte-americana lançou uma guerra comercial, que incluiu a imposição de taxas alfandegárias punitivas sobre grande parte dos bens importados da China e restrições no fornecimento de tecnologia às empresas chinesas ou nos intercâmbios académicos. Trump também melhorou os laços militares e diplomáticos com Taiwan, enquanto puniu as autoridades chinesas acusadas de abusos contra minorias muçulmanas em Xinjiang e de repressão das liberdades em Hong Kong. Reforçando a ideia de retorno, Wang Yi evocou uma memória histórica. “Há cinquenta anos, o Dr. Henry Kissinger quebrou o gelo diplomático e visitou a China. Com extraordinária resolução política, os líderes da China e Estados Unidos abriram em conjunto uma porta que esteve fechada durante décadas”, recordou Wang. “Cinquenta anos depois, devemos ter o sentido de responsabilidade e tomar decisões sensatas, acrescentou. O governante chinês não deixou de realçar que nos últimos anos, as relações com Washington desviaram-se do caminho normal e enfrentaram grandes obstáculos. Sem grandes rodeios, Wang apontou responsabilidades à anterior administração que, “para satisfazer as suas necessidades políticas, adoptou várias medidas para reprimir e conter a China, infligindo danos incomensuráveis às relações bilaterais”, cita a agência Xinhua. Futuro mal definido Embora o novo Presidente norte-americano, Joe Biden, tenha prometido colaborar com Pequim e adoptar um tom diferente na diplomacia dos EUA, não é claro se fará mudanças fundamentais nas políticas seguidas nos últimos anos. A reversão pode ser complicada politicamente, uma vez que os dois países enfrentam um momento negro, nunca antes vivido, em termos comerciais, disputas territoriais com vizinhos e acusações de usurpação de tecnologia e espionagem. Além disso, existe um forte apoio bipartidário a Taiwan, assim como em relação as críticas de abuso dos Direitos Humanos da China, especialmente em Hong Kong, Xinjiang e Tibete. Como tal, o governante chinês solicitou que Washington pare de “manchar a reputação do Partido Comunista da China e de conspirar ou mesmo apoiar as palavras e acções erróneas das forças separatistas de Taiwan e de minar a soberania e segurança da China em assuntos internos relativos a Hong Kong, Xinjiang e Tibete”. Sobre o comércio, Wang disse que a China defenderá os direitos das empresas norte-americanas enquanto espera que os EUA “ajustem as suas políticas o mais depressa possível”, removam taxas não razoáveis sobre produtos chineses, levantem sanções unilaterais contra empresas chinesas e institutos de pesquisa e educação e abandonem a supressão irracional do progresso tecnológico da China”. Os EUA também devem suspender as restrições aos intercâmbios nas áreas da imprensa, ensino ou negócios, para reverter a queda acentuada no número de chineses que estudam nos EUA e as visitas de chineses para turismo ou negócios, disse Wang. “Espero que os dois lados trabalhem juntos para dirigir o navio gigante que é a relação China – EUA de volta ao curso de um desenvolvimento sólido, em direção a um futuro brilhante, com perspectivas ilimitadas”, descreveu. Embora o tom do ministro, assim como do conselheiro para a política externa Yang Jiechi ou o Presidente Xi Jinping pareça mais positivo, alguns porta-vozes do Governo Central têm adoptado um tom mais combativo. Em conferência de imprensa, na sexta-feira, a porta-voz Hua Chunying do Ministério dos Negócios Estrangeiros comparou a vaga de frio que atinge o Texas com as interações sociais e económicas observadas na China durante o feriado do Ano Novo Lunar, sem demonstrar qualquer simpatia. “Tudo isto nos deu uma compreensão mais profunda do que os Direitos Humanos realmente significam e como melhor protegê-los. Estamos mais convencidos de que estamos no caminho certo e temos toda a confiança no futuro”, disse. As vistas largas Um editorial do jornal oficial Global Times, que faz eco de alguns dos pontos de vista do Governo Central, publicou no domingo um artigo que estimava o retorno dos Estados Unidos ao tom conciliatório e à cooperação por não conseguires derrotar a China. Importa realçar que analistas da Câmara do Comércio norte-americana divulgaram na semana passada um relatório, em conjunto com a consultora Rhodium Group, a concluir que se os Estados Unidos venderem metade do seu investimento directo na China, os investidores norte-americanos poderiam perder cerca de 25 mil milhões de dólares em mais-valias, de acordo com um comunicado da Câmara do Comércio dos Estados Unidos. Seguindo esta lógica, o jornal chinês teceu considerações à participação de Joe Biden na cimeia do G7 e na Conferência de Segurança de Munique, a estreia internacional do novo Presidente, sob o lema do slogan “A América está de volta”. O artigo do Global Times refere que a reconciliação com os aliados tradicionais de Washington, para fazer face aos desafios levantados pela China, “tem sido uma característica da nova administração norte-americana desde que tomou posse”. Porém, o editorial aponta que as mensagens de Biden na passada sexta-feira sugerem que a cooperação estreita entre Washington e os aliados está votada a resultar no compromisso, em vez do acção unilateral dos Estados Unidos contra os seus aliados devido às relações que mantém com Pequim. Em vez do tom de Guerra Fria, as intervenções em ambas as reuniões mencionaram a necessidade de trabalhar com Pequim em algumas áreas. O Global Times acrescenta que “quando fala com os aliados, Biden é claramente mais equilibrado do que quando comunica sozinho com os media norte-americanos”. Segundo a fonte oficial, a principal razão pela qual Washington nada pode fazer em relação a Pequim, e porque a Casa Branca vacila entre a cooperação com os seus aliados para conter a China e trabalhar com a China, prende-se com o facto que um corte decisivo com Pequim e a confrontação total seria demasiado dolorosa para Washington. O romper final da relação entre as duas maiores economias mundiais é retratado pelo Global Times como “uma esperança ilusória”.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA | Biden diz que vai haver “concorrência extrema” com China, mas não um conflito O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse ontem que a rivalidade com a China vai traduzir-se numa “concorrência extrema”, mas assegurou que quer evitar qualquer conflito entre as duas potências mundiais. Numa entrevista à televisão norte-americana CBS, de que foram divulgados apenas excertos, Biden diz que ainda não falou com o homólogo chinês, Xi Jiping, mas frisou não ter “nenhuma razão para não lhe telefonar” e que “há muito para falar”. “Ele é muito inteligente, é muito duro. Ele não tem – e não digo isto como uma crítica, é apenas a realidade -, ele não tem um grama de democracia em si”, acrescentou o Presidente norte-americano na entrevista. “Sempre lhe disse que não precisamos de ter um conflito. Mas vai haver uma concorrência extrema. E não o vou fazer da maneira que ele sabe. E é por isso que ele também está a enviar sinais. Não o vou fazer da maneira que Trump o fez. Vamos concentrar-nos nas regras internacionais”, acrescentou. A China é considerada por Washington como o seu principal adversário estratégico. Apesar disso, no seu primeiro discurso sobre política externa, na semana passada, Joe Biden foi relativamente vago quanto ao assunto, prometendo apenas estar disposto a enfrentar “o avanço do autoritarismo, em particular as ambições crescentes da China”. Biden disse então também que se vai empenhar, sem precisar, em “contrariar os abusos económicos da China” e os seus “atos de agressão” e que vai defender os direitos humanos, embora esteja determinado a trabalhar com Pequim “quando isso for do interesse dos Estados Unidos”.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto Vozes2021, o ano decisivo Com Joe Biden na presidência dos Estados Unidos, as relações sino-americanas entraram numa fase delicada. Para o Governo da China, um Presidente americano conhecedor da política chinesa torna-se um interlocutor mais complicado do que o intempestivo Donald Trump, que jogava cartadas políticas de forma irresponsável. No final do seu mandato, a estratégia de lançar um ataque à China em grande escala criou um clima político. Por isso, se Biden mudar de repente esta estratégia, pode vir a ser encarado pelos americanos como cobarde e pró-comunista. As recentes declarações dos EUA sobre os aviões de guerra da RPC que sobrevoaram Taiwan, demonstram que a atitude em relação à China se vai manter firme durante os tempos mais próximos. 2021 vai ser um ano decisivo para perceber se as relações sino-americanos se virão a tornar hostis ou cordiais. A nova liderança americana tem de afirmar rapidamente uma imagem de sucesso, caso contrário o povo americano pode vir a sentir saudades do slogan de Trump “A América primeiro”. Se os Estados Unidos forem bem- sucedidos, a China tem de recuar. A Armadilha de Tucídides (um termo que descreve a aparente tendência para a guerra sempre que um poder emergente ameaça uma hegemonia internacional) não é só uma terminologia política, é uma realidade. Devido à ascensão da China para a posição de segunda maior potência económica, e à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” ao longo dos últimos anos, A Europa e a América deixaram de a encarar como um país em desenvolvimento, para a passarem a ver como uma ameaça às suas economias. Neste xadrez politico-económico, Hong Kong tornou-se a plataforma de confronto entre a China a Europa e a América. Face a estes voláteis desenvolvimentos internacionais, e no cenário da actual pandemia, 2021 pode ser o ano decisivo para determinar quem serão os vencedores e os vencidos neste jogo de luta entre Hong Kong e a China e entre Macau e a China. As transições de poder propiciam o surgimento de crises, e a eleição presidencial americana é disso um exemplo. Em 2022, o Partido Comunista Chinês (PCC) vai realizar o seu 20.º Congresso Nacional, que pode vir a mexer com os quadros de topo da política chinesa. Nos últimos anos, os corredores de poder da China tornaram-se ainda mais homogéneos, e qualquer erro pode provocar abalos políticos. Como em 2021 se comemora o 100.º aniversário da fundação do Partido Comunista Chinês, a distribuição de poder entre os quadros neste período vai determinar as mudanças pessoais no Congresso de 2022. Se essas mudanças não forem abruptas, os riscos para o país durante a transição de poder serão reduzidos, o que vai ser determinante para o equilíbrio de forças entre a China e os Estados Unidos. Caso contrário, quando a situação estabilizar na América e a sua presença militar se voltar a sentir na Ásia, estaremos de regresso a mais uma luta pelo poder. Quanto a Hong Kong, é situação é ainda mais precária, e as clivagens no seu seio vão de mal a pior. Quando a discussão política passa para o campo do confronto, o enquadramento constitucional fica em segundo plano. Com a promulgação da Lei da República Popular da China sobre a Salvaguarda da Segurança Nacional na Região Administrativa Especial de Hong Kong, Hong Kong tornou-se num caranguejo que foi empurrado para debaixo de água por um pedregulho. O caranguejo certamente que não se consegue mexer, mas os peixes e os camarões que nadam à sua volta também sofrem. Basta olhar para as questões levantadas pelo BNO (British National Overseas passport) que pode dar ou não aos habitantes de Hong Kong a possibilidade de emigrarem para o Reino Unido, para ficarmos a perceber se as decisões que forem tomadas nesse âmbito serão certas ou erradas. Depois de os legisladores democratas se terem demitido do Conselho Legislativo de Hong Kong, os do campo pró-governamental tomaram controlo absoluto do Plenário. Infelizmente, o seu desempenho tem sido frustrante. Se nas próximas eleições de Setembro, os democratas continuarem a ser sistematicamente banidos da corrida, a cosmopolita cidade de Hong Kong tem grandes hipóteses de se vir a tornar apenas mais uma cidade da Área da Grande Baía de Cantão-Hong Kong-Macau. Hong Kong sem os seus habitantes vai tornar-se uma cidade portuária e nada mais. 2021 vai ser um ano crucial para virmos a saber o rumo que Hong Kong vai tomar. Macau sobreviveu à pandemia em 2020. No entanto, a sua recuperação económica ainda depende do turismo, e os problemas dos cidadãos têm vindo a acumular-se. O V Governo da RAEM, foi muito bem-sucedido na resposta à epidemia com a estratégia de “defesa da estabilidade”, mas o seu desempenho tem sido medíocre no que respeita `à promoção da economia e à salvaguarda do estilo de vida da população. A administração excessivamente conservadora impediu que Macau se tenha tornado a cidade a registar a recuperação económica mais rápida da Área da Grande Baía de Cantão-Hong Kong-Macau. As eleições para a VII Legislatura da RAEM também estão marcadas para o próximo mês de Setembro. Mas na premissa de que a actual composição da Assembleia Legislativa permanecerá inalterada, o sufrágio directo seria a única forma de a revitalizar. Como é que se pode impedir o Governo liderado pelo Chefe do Executivo de errar se não houver suficiente supervisão? Quando as pessoas só sabem dizer “sim” e tecer “louvores”, estamos sempre a chover no molhado. Se a reorganização dos vários poderes que atrás mencionámos for bem conduzida, estaremos todos seguros. Mas se não for, temo que se venha a criar um problema sem solução.
Hoje Macau China / ÁsiaAlto diplomata chinês apela a melhoria das relações com os Estados Unidos O mais alto quadro da diplomacia chinesa apelou a melhores relações com os Estados Unidos, ressalvando que Washington deve “respeitar efectivamente a posição e as preocupações da China na questão de Taiwan”. O chefe do gabinete do Partido Comunista para os assuntos externos, Yang Jiechi, disse que os dois países têm diferenças entre si, mas que não devem permitir que isso atrapalhe as relações. Em comentários no influente Comité Nacional dos EUA sobre as relações bilaterais, Yang deu continuidade ao tom positivo que a China está a adotar em relação à nova administração norte-americana, após um deteriorar das relações, durante o mandato do ex-presidente Donald Trump. As relações deterioram-se rapidamente, face a uma prolongada guerra comercial e disputas sobre o estatuto de Hong Kong ou Taiwan, ilha que Pequim considera ser uma província chinesa, apesar de actuar como entidade política soberana. “A China e os Estados Unidos são dois grandes países com histórias, culturas e sistemas diferentes e, portanto, têm diferenças em algumas questões. É crucial geri-las adequadamente e não permitir que interfiram no desenvolvimento geral das relações bilaterais”, disse Yang, numa intervenção via vídeo. Os EUA devem “respeitar o princípio de uma só China e respeitar efetivamente a posição e as preocupações da China sobre a questão de Taiwan”, disse Yang. O tom positivo alimenta a perceção de que os líderes chineses esperam um novo início nas relações e um discurso mais civilizado com Washington, apesar das profundas divisões. Os EUA acusam a China de usurpar propriedade intelectual e condenam as políticas de Pequim para as regiões do Tibete, Xinjiang e Hong Kong. A China ressente-se ainda do apoio dado pelos EUA a Taiwan, juntamente com a presença militar norte-americana no Mar do Sul da China. A nomeada de Biden para embaixadora nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, designou na semana passada a China como “adversário estratégico” que ameaça o mundo, e expressou pesar por um discurso que fez, em 2019, no qual elogiou as iniciativas da China em África sem referir abusos dos Direitos Humanos.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteDmitri Félix do Nascimento, académico: “A pauta econômica será central nas relações entre China e EUA” Com lançamento marcado para o próximo dia 16, o livro “Love and Trade War – China and US in Historical Context”, da autoria do brasileiro Dmitri Félix do Nascimento e Edmund Li Sheng, da Universidade de Macau, traça um retrato histórico das relações comerciais entre a China e os EUA nas últimas décadas e antevê o futuro com Joe Biden na Casa Branca, depois de uma guerra comercial sem precedentes na era Trump Este livro apresenta uma perspectiva histórica sobre a guerra comercial. Até que ponto é diferente, tanto ao nível da história americana quanto global? Os EUA tendem a entrar em conflito comercial quando se vêem perdendo mercados ou com competidores que avançam em níveis tecnológicos. Na década de 80, tanto Japão e Alemanha Ocidental se apresentavam como competidores nos mercados internacionais, nível tecnológico avançado em diversos setores, como automobilístico, eletroeletrônicos, automação e máquinas, entre outros. Os EUA se utilizaram de instrumentos tanto domésticos quanto nas instituições internacionais, como forma de assegurar sua hegemonia. Este modus operandi americano encontrou no GATT/Organização Mundial do Comércio (OMC) um espaço que legitimava suas ações. Porém foi perdendo poder gradativamente, seja pela ascensão da economia chinesa, pela articulação dos países emergentes ou mesmo pela União Europeia (UE). Trump e seus assessores, com uma retórica anti-China fabricada durante anos, encontraram a oportunidade de colocar o empresariado e a opinião pública americana contra a China. Por isto se utilizou da lei de tarifas Smoot-Hawley da década de 30 para encontrar uma base jurídica apoiada pelo Congresso. O que pretendemos colocar em nosso trabalho é que, mesmo com esse histórico, existem especificidades desta disputa contra a China. Os motivos econômicos, ideológicos e geopolíticos na guerra comercial passam a entrar num ritmo de disputa diferenciado com outras disputas no passado. As posições políticas de Trump, e a sua visão do mundo e do comércio global, mudaram de forma profunda o conflito com a China, ou a China também foi responsável por essa mudança? Desde o início da campanha eleitoral e após sua vitória em 2016, o lema ‘American First’, para Trump, sua equipe econômica e diplomática, seria a linha política a ser seguida. Quem não obedeceu este comando teve que sair do Governo. Setores do partido Republicano, de tendências econômicas mais liberais, foram deixados para trás. A mistura de populismo de direita, nacionalismo e racista, se caracterizam como a base política de Trump. Seja na classe trabalhadora industrial com níveis de educação e empregos mais precarizados, seja na América rural, ou no pequeno e médio empresariado que perdem cada vez mais espaço. Por um lado, domesticamente Trump se aproveitou da alta desigualdade da sociedade americana, culpando ao mesmo tempo a China e seus produtos pela perda de empregos dos americanos. Trump acredita que os EUA perderam espaço no comércio global e isso justifica as ações protecionistas. Para ele e sua equipe, os tratados de livre comércio prejudicam a economia americana. A exemplo do Trans Pacific Partner (TPP) do qual enterrou as negociações; do NAFTA, que forçou a mudança nos termos dos acordos com Canadá e México; com a OMC, retirando os EUA do Órgão de Solução de Controvérsias. A guerra comercial com a China foi mais agressiva pelo fato de que Trump colocava a culpa nos governos anteriores democratas por terem aberto demais a economia e por não terem protegido a indústria americana, assim como culpava o empresariado americano, que transferiu as fábricas e investimentos para a China. Edmund Li Sheng Essa ideia acabou por gerar muitos apoios. Isso encontrou apoio na ‘América profunda’. Em 2018, o déficit comercial dos EUA com a China foi de quase 419 bilhões de dólares americanos. O objetivo de Trump e de sua política comercial era diminuir este déficit forçando a China a comprar mais produtos americanos. Encontrar um inimigo para justificar suas próprias ações fizeram Trump ser o que é. Os investimentos diretos estrangeiros dos EUA para a China apresentam diferentes dados. O grupo americano The Rhodium Group estima que os EUA realizaram Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) entre 1990-2015 de quase 228 biliões de dólares americanos. Enquanto a China investiu nos EUA 63.8 biliões de dólares americanos no mesmo período. Trump também alegava que a China subsidiava seus produtores, fazendo com que a concorrência fosse injusta para os americanos. Assim como denunciava o papel do Estado e do Partido Comunista Chinês na economia. Ou seja, os EUA se apoiam na pauta protecionista para se vitimizarem. O livro aborda também os temas da globalização e da re-industrialização. Qual o impacto na guerra comercial? O setor financeiro em todo mundo se tornou hegemônico. Nos países desenvolvidos, como os EUA e a UE, os bancos e os fundos de investimentos são quem concentra grande parte da riqueza. Houve mudanças profundas que migraram os investimentos do setor produtivo, indústria e agricultura, para o setor financeiro nos países desenvolvidos. A crise de 2008 foi um exemplo de como este setor desestrutura economias, Estados e empregos por todo o mundo. A China seguiu seu próprio caminho fazendo investimentos massivos no setor produtivo, com o objetivo de aumentar a oferta de emprego e integrar as cadeias produtivas mundiais, sem esquecer o ampliar a inovação tecnológica, ao mesmo tempo que não seguiu as receitas neoliberais do consenso de Washington. O pano de fundo da guerra comercial tem muito a ver com o papel da indústria na globalização. Trump quis restaurar o passado americano de hegemonia industrial, porém com o nível de internacionalização que vivenciamos, dificilmente a indústria americana será como antes. O livro procura dar respostas ao facto de Trump ter iniciado uma guerra comercial com a China, um importante parceiro económico e país em termos diplomáticos. Para Trump havia um desequilíbrio e déficit na balança comercial entre os EUA-China que deveria ser refeito. A lógica do livre mercado deixa de funcionar quando os EUA começam a perder competitividade. Dessa forma se justificava ações tarifárias de produtos chineses, forçando a China a comprar mais produtos americanos. Na primeira fase do acordo os EUA impunham a obrigação da China em comprar mais de 200 bilhões de dólares americanos em produtos americanos de variados setores. Caso Trump respeitasse as instituições internacionais como a OMC, ele entraria com processos contra a China, algo que os EUA já fazem. Mas Trump queria agilidade no processo, então uma disputa bilateral iria trazer mais ganhos imediatos sem intermediação de outros atores. Acusações contra a China se estendem em justificativas como competição injusta das empresas americanas na China, intervenção do estado chinês na economia, transferência tecnológica forçada, e quebra da propriedade intelectual. Falam de uma “Doutrina Trump”. O partido Republicano poderá segui-la? Há uma diversidade de grupos conservadores, extrema direita, supremacistas brancos que encontraram na figura de Trump uma síntese. Ao declarar ao mundo que o ‘America First’ não seria apenas uma retórica, a política doméstica e externa de Trump se confundem num tipo de nacionalismo populista mais primitivo. A sinofobia não é algo novo na sociedade americana, mas foi alimentada com a retórica agressiva de Trump após a eclosão da pandemia. Na realidade Trump força os setores mais conservadores do Partido Republicano a segui-lo, assim como seus apoiadores o fazem. As fraturas no partido Republicano não serão resolvidas até os dirigentes decidirem o que fazer com Trump, pois sua força é dirigida para influenciar a opinião pública (onde está perdendo cada vez mais espaço), e os diversos pequenos grupos extremistas. Ao sair do poder estes serão os tentáculos de Trump, juntamente com sua fábrica de notícias falsas. Com Joe Biden na Casa Branca, a guerra comercial poderá chegar a um fim ou ter, pelo menos, uma direcção diferente? Dependerá muito de algumas variáveis, não apenas econômicas. O apoio americano para Taiwan no Mar do Sul da China continuará, pois o apoio financeiro e militar à ilha se reforçou no Governo Obama. Com Biden há dúvidas sobre como se avaliará a primeira fase dos acordos assinados, assim como as sanções sobre as empresas de tecnologia da China, do sistema 5G da Huawei, e produtos da Tencent. Isso ainda está em aberto. Achamos que os EUA vão retornar para as mesas de negociações na Organização Mundial de Saúde. Já na ONU, a indicação de Biden será de uma representante anti-China, e provavelmente no Departamento de Estado também. Há uma grande preocupação pela parte chinesa que as ações anti-China se tornem um consenso entre democratas e republicanos, isso daria espaço a ações estratégicas de pequeno, médio e longo prazo contra o país. Concluem também que surgiram novos conflitos com a guerra comercial. A guerra comercial causou um desgaste nas relações entre os países e nos investimentos em ambas as partes. A diplomacia americana tentou a todo custo uma aliança anti-China com Japão, Austrália, Índia e Coreia do Sul. Assim como pressionou todos os países a não aderirem o sistema 5G e as empresas de tecnologia chinesas. Os EUA entraram numa crise sem precedentes pela falta de empenho no combate a Covid-19. Ao contrário da China, que conseguiu de forma eficaz controlar a epidemia com um confinamento rigoroso, manter a produção e exportação de produtos de proteção individual, e ainda produzir a própria vacina. Creio que a pauta econômica será central para o retorno das relações entre os países, porém os ‘falcões’ de Washington não deixarão a China em paz, e farão o possível para conter a influência da China no Mar do Sul e nos países que integram a Rota da Seda. Apresentam a ideia da construção de um sistema G2, com a China e os EUA. Qual seria o impacto a nível mundial? Trazemos a preocupação de uma nova guerra fria, com um estudo da própria ONU colocando as preocupações de diplomatas sobre essa dualidade, remetendo aos tempos em que os blocos políticos e ideológicos eram bem definidos na tomada de decisões. Uma preocupação que o Presidente Xi Jinping também expressou em sua fala recentemente em Davos. A UE tentou manter uma certa autonomia em relação a este conflito. Após o Brexit, a UE viu parte de seus interesses minados pela dupla Trump-Boris Johnson. Lembremos que Trump tratava a UE como uma ‘China menor’. Mesmo assim, alguns países membros já vêm tomando decisões de não implementar o sistema 5G da China, algo que gera insatisfações da diplomacia chinesa. Já que o comércio exterior entre China e UE gira em torno de mais de 560 bilhões de euros. Com Biden existe uma possibilidade do retorno dos acordos de livre comércio TPP/TIPP, para conter a expansão da economia chinesa. Qual o impacto da pandemia nas relações comerciais, sobretudo se a guerra comercial continuar? Os efeitos da pandemia já são sentidos: o aumento do desemprego, diminuição do consumo das famílias e falência de empresas são a realidade na maioria dos países. A China, ao colocar a saúde de sua população como prioridade, voltou a produzir antes de outros países. Não que não tenha havido demissões e quebra de empresas, mas as medidas do apoio do Governo chegaram às pessoas e pequenos e médios negócios, e seguraram a renda dos trabalhadores. Mesmo com a vacinação na China e nos EUA, o sistema de saúde pública da China apresenta condições de ser mais amplo e rápido na imunização. O comércio exterior irá diminuir entre os países. Talvez um novo acordo seja o mais realista nestas atuais condições.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesGuerra ao vírus Devido ao aquecimento global, as anormalidades climáticas tornaram-se um fenómeno normal, no entanto não geram condições que não consigamos suportar. Mas as alterações dos fenómenos sociais vão trazer consigo consequências muito graves. Os peritos da Organização Mundial de Saúde só começaram a investigar a origem do vírus que provoca a SARS-CoV-2, quase um ano após o primeiro surto em Wuhan. Este tipo de abordagem arqueológica na procura da origem do vírus é sem dúvida um processo científico anormal. Nos Estados Unidos manifestantes irromperam pelo Capitólio, causando danos materiais e inclusivamente mortes. Vi a polícia e retirar os manifestantes do edifício, através da TV, e constatei que as salas do Congresso não ficaram seriamente danificadas. Se compararmos com a invasão que ocorreu a 1 de Julho de 2019, no Complexo onde funciona o Conselho Legislativo de Hong Kong, esta parece bastante anormal. Existem neste mundo muitas questões sem resposta, tal como o problema do vírus da SARS-CoV-2 que tem vindo a evoluir persistentemente ao longo dos últimos meses. Mas tenhamos ou não respostas a estas questões, as pessoas têm de continuar a viver porque é a única forma de perpetuar a raça humana. No início de 2021, as variantes da SARS-CoV-2 lançaram um ataque à humanidade. Ao constatarmos que certas zonas da China voltaram a declarar “Estado de Sítio” para combater a COVID-19, torna-se evidente que os novos surtos provocados pelas “inteligentes” variantes da SARS-CoV-2 são muito potentes. Se a pandemia não for controlada e as vacinas não forem suficientemente eficazes contras as novas variantes, resultantes das constantes mutações, os seres humanos podem vir a ser varridos da face da Terra, e serão derrotados na guerra biotecnológica que estão a travar contra a SARS-CoV-2. Mesmo que a humanidade tenha a sorte de vir a derrotar a SARS-CoV-2, permanece outro problema. Como diagnosticar e tratar os vírus políticos? Recentemente, Lai Xiaomin, o antigo director da China Huarong Asset Management, na China continental, foi condenado à morte por ter aceitado subornos. Foi anunciado que Lai possuia mais de 100 propriedades, que existiam mais de 100 pessoas envovidas nos subornos, e que o acusado tinha mais de 100 amantes. A Televisão Central da China (CCTV) reportou que foram encontradas em casa de Lai enormes quantidades de dinheiro e de outros valores. Com o contínuo crescimento de casos de corrupção em larga escala na China, estamos sem dúvida perante um atentado à segurança nacional. Para erradicar os vírus políticos, não podemos apenas depender das reformas e da política de abertura. A implementação da democracia e do estado de direito é a melhor cura para as doenças causadas por vírus políticos. No entanto, será que o Governo vai conseguir optar por esta via? Andrew Cheung Kui-nung, Meretíssimo Chefe de Justiça do Tribunal de Recurso Final de Hong Kong, foi entrevistado por jornalistas no dia em que tomou posse. Na altura foi interrogado sobre o caso do juiz do Tribunal de Distrito que declarou que um advogado e dois observadores teriam de abandonar a sala a menos que trocassem as máscaras amarelas que estavam a usar por outras pretas, e se portanto, era obrigatório usar preto no Tribunal. Em resposta, Andrew Cheung Kui-nung sublinhou que o que é importante é a independência jurídica e a preservação do estado de direito, e que as cores da indumentária não são relevantes. O estado de direito tornou-se o derradeiro pilar de Hong Kong. Se puder ser preservado, ainda continua a haver esperança para a cidade; caso contrário, envereda pelo caminho da destruição. A propaganda política tem de ter uma base substantiva para ser convincente. Depois da promulgação da Lei de Segurança Nacional de Hong Kong, iremos avaliar o seu grau de eficácia, considerando o aumento de pessoas que estão a sair de Hong Kong, ou que planeiam vir a sair da cidade. Não existe nenhum problema de segurança nacional em Macau. E isto não acontece por Macau ter promulgado legislação de acordo com a Lei relativa à Defesa da Segurança do Estado em 2009, mas sim porque Macau é uma região dependente, que não tem capacidade de desafiar a China continental, nem capacidade de ajudar ao seu desenvolvimento. Desde o regresso de Macau à soberania chinesa, todos confiaram nas receitas do jogo para sobreviver. O Governo de Macau apoia as Associações locais e estas Associações dependem do Governo para garantir a sua sobrevivência. Os habitantes de Macau estão acostumados a beneficiar do Plano Anual de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico, enquanto a prática do clientelismo se tornou uma regra silenciosa e a política apenas um meio para alguns ganharem a vida. A sociedade de Macau não enfrenta nenhuma crise imediata, mas, a longo prazo, o sentido de auto-complacência dos habitantes de Macau vai fazer com que percam a capacidade de sentir, que também é considerado uma espécie de vírus. O flagelo do vírus político está a tornar-se cada vez mais evidente no desenvolvimento das relações entre a China e os Estados Unidos, nas relações China-Taiwan e nas relações do Governo central da China com o Governo de Hong Kong e com o Governo de Macau. Espero que depois de a pandemia ter terminado em 2021, todos possamos aprender com o sofrimento que vivemos e encontrar uma saída para o futuro em conjunto.
Hoje Macau China / ÁsiaBiden | China felicita democrata pela tomada de posse e pede unidade na relação bilateral A China felicitou hoje Joe Biden pela tomada de posse como Presidente dos Estados Unidos e lembrou o seu discurso para também pedir “unidade” na relação entre os dois países. “Constatei que o Presidente Biden insistiu repetidamente no seu discurso na palavra ‘unidade’. Acho que é exatamente disso que precisamos agora na relação sino/norte-americana”, disse Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China aos jornalistas. A relação entre os dois países caiu ao nível mais baixo sob a Administração do ex-Presidente Donald Trump, que travou uma guerra comercial e tecnológica com o gigante asiático. Logo após a posse de Joe Biden, que ocorreu na quarta-feira em Washington, Pequim anunciou sanções contra 28 ex-funcionários do Governo cessante, incluindo o secretário de Estado Mike Pompeo, que será proibido de entrar na China e em Hong Kong. Mas Pequim, que demorou para reconhecer a vitória do candidato democrata, diz que quer virar a página. “Eu penso que tanto a China quanto os Estados Unidos devem ter coragem e mostrar sabedoria para se entenderem mutuamente”, disse a directora do departamento de informações do ministério chinês. “É obrigação da China e dos Estados Unidos, como duas grandes nações, e também é a esperança da comunidade internacional”, declarou a porta-voz. “Se os dois lados cooperarem, os anjos benevolentes prevalecerão sobre as forças do mal na relação China-EUA”, declarou Hua, citando outra passagem do discurso de Joe Biden. A porta-voz saudou o regresso dos Estados Unidos ao acordo de Paris sobre o clima e à Organização Mundial da Saúde (OMS). A nova Administração norte-americana terá que lidar com vários assuntos relacionados à China, nomeadamente a questão dos direitos humanos, especialmente em Hong Kong e na região de Xinjiang, habitada por muçulmanos uigures. A este respeito, o secretário de Estado nomeado por Joe Biden, Antony Blinken, mostrou firmeza na terça-feira durante uma audiência no Senado. Blinken disse que compartilhava da acusação lançada por Mike Pompeo de “genocídio” perpetrada pela China contra os muçulmanos uigures. O novo secretário de Biden também admitiu que o Presidente republicano cessante “estava certo em adoptar uma postura mais firme contra a China”. Joe Biden – que sucede a Donald Trump, após ter vencido o republicano nas eleições presidenciais de 03 de novembro – prestou juramento quarta-feira, na escadaria oeste do Capitólio, numa cerimónia sob um forte dispositivo de segurança, após o violento ataque ao Congresso, na passada semana, por uma multidão de apoiantes de Donald Trump.
Hoje Macau China / ÁsiaMNE chinês sobre o futuro das relações com a administração Biden: “Uma nova janela de esperança” Wang Yi ataca os que nos EUA vêem a China como “a maior ameaça” e dá o exemplo das relações com a União Europeia que, no seu entender, “resistiu às profundas mudanças no mundo” O ministro dos Negócios Estrangeiros da China considerou, em entrevista concedida à Xinhua, que “nos últimos anos, as relações China-EUA enfrentaram dificuldades sem precedentes.” Wang Yi entende que tal se deve “aos sérios equívocos dos formuladores de políticas dos EUA sobre a China. Alguns vêem a China como a chamada maior ameaça, e a sua política para a China, com base nessa percepção equivocada, está simplesmente errada. Para o chefe da diplomacia chinesa, “o que aconteceu prova que a tentativa dos Estados Unidos de suprimir a China e iniciar uma nova Guerra Fria não só prejudicou gravemente os interesses dos dois povos, mas também causou graves perturbações no mundo. Tal política não encontrará apoio e está fadada ao fracasso.” Contudo, Wang Yi não deixa de exprimir algum optimismo com a chegada ao poder de Joe Biden. “As relações China-EUA chegam a uma nova encruzilhada e abre-se uma nova janela de esperança. Esperamos que a próxima administração dos Estados Unidos volte a uma abordagem sensata, retome o diálogo com a China, restaure a normalidade das relações bilaterais e reinicie a cooperação”, afirmou. A parte chinesa está, segundo Wang Yi, disposta a cooperar. “A política da China em relação aos EUA é consistente e estável. Estamos prontos para desenvolver uma relação de coordenação, cooperação e estabilidade. A China nunca se intromete nos assuntos internos dos EUA e valoriza a coexistência pacífica e a cooperação mutuamente benéfica”, considerou. No entanto, tudo depende dos americanos: “os EUA também precisam respeitar o sistema social e o caminho de desenvolvimento escolhido pelo povo chinês e respeitar os seus direitos legítimos de procurar uma vida melhor. Sabemos que algumas pessoas nos Estados Unidos estão preocupadas com o rápido desenvolvimento da China. No entanto, a melhor maneira de manter a liderança é por meio do auto-aperfeiçoamento constante, não bloqueando o desenvolvimento dos outros”, explicou Wang. O MNE chinês refere ainda que o mundo não precisa que “a China se torne noutro Estados Unidos”. A solução será “resolver as diferenças através do diálogo e da expansão de interesses convergentes através da cooperação. Isso permitirá que os dois grandes países estabeleçam um modelo de convivência que beneficie ambos e o mundo, abrindo novas perspectivas de desenvolvimento em linha com a tendência da história”, concluiu. Europa-China: parceiros estratégicos Já em relação à União Europeia (EU), a posição chinesa é bem diferente. Para Wang Yi, “a nossa relação com a UE resistiu às profundas mudanças no mundo. De um modo geral, centrou-se no diálogo, na cooperação e no benefício mútuo e demonstrou uma forte vitalidade ao progredir com o tempo. Para os dois lados, a experiência mais importante é permanecer comprometido com a coexistência pacífica, cooperação aberta, multilateralismo e diálogo e consulta.” Isto também porque Wang entende que “a China e a UE são parceiros estratégicos abrangentes, não rivais sistémicos.” Exemplo desta situação é o novo acordo recentemente assinado. “O presidente Xi Jinping e os líderes europeus anunciaram conjuntamente a conclusão das negociações sobre um tratado de investimento China-UE, acrescentando um novo e forte impulso à cooperação.” Tal acontece no ano em a China se tornou no “maior parceiro comercial da UE pela primeira vez”. Para Wang, isto é “uma óptima notícia para a economia global” e “um exemplo claro de como, trabalhando juntos no espírito de compreensão mútua, acomodação mútua e consulta igualitária, as duas partes podem abrir amplas perspectivas de cooperação.”
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesCai neve em Pequim [dropcap]S[/dropcap]e uma borboleta que bate as asas no Brasil pode provocar um tornado no Texas passado um mês, então a eleição presidencial nos EUA pode, sem sombra de dúvidas, trazer as primeiras neves de 2020 a Pequim. Com a chegada do Inverno no norte da China, mais cedo ou mais tarde irá nevar. O efeito borboleta é somente uma metáfora da relação causa efeito entre todas as coisas deste planeta. Acredito que quando este artigo for publicado, o resultado das eleições americanas ainda não seja definitivamente conhecido. Quer Trump seja re-eleito quer Biden ganhe as eleições, não irá haver grandes alterações na política americana no que diz respeito à China, porque, sejam quais forem as circunstâncias, os Estados Unidos colocam sempre em primeiro lugar os seus próprios interesses. Qualquer país que constitua uma ameaça a esses interesses, ou que desafie a supremacia americana, torna-se automaticamente num alvo a abater. Depois da política de abertura e de reformas da China, este país tornou-se o maior rival do gigante norte-americano. Os Estados Unidos nunca se deixarão ultrapassar por um rival na liderança do mundo. No entanto, embora os Estados Unidos sejam o país mais afectado pela covid-19, as eleições foram realizadas na data marcada. A covid -19 foi utilizada pelos dois candidatos como tópico chaves nos debates entre ambos. O vencedor, seja ele qual for, irá sempre responsabilizar a China pela pandemia, porque os políticos inteligentes sacodem sempre a água do capote. É previsível que a China e os Estados Unidos continuem a ser rivais, e que os últimos continuem com a sua política difamatória em todas as frentes em relação à China. As questões de Taiwan e do Mar do Sul da China serão motivos que os EUA irão utilizar para justificar uma intervenção nos assuntos asiáticos. Ganhe quem ganhar as eleições presidenciais americanas, irá sempre nevar em Pequim. Na 5ª sessão plenária do 19º Comité Central do Partido Comunista da China, recentemente concluída, não foram tomadas medidas para seleccionar os candidatos para a alternância de liderança em 2022, o que quer dizer que nos tempos mais próximos, poderemos assistir a uma das maiores mudanças no cenário político da China. Ninguém poderá prever o que irá surgir do caos actual. Em relação às presidenciais americanas, muitas pessoas temem que Trump não aceite pacificamente uma derrota eleitoral. No entanto, quem esteja familiarizado com o sistema político norte-americano sabe que nenhum partido vai querer ser cúmplice de um atentado à Constituição dos EUA. Todos os políticos sabem que têm de jogar segundo as regras, caso contrário põem as suas carreiras em risco, à semelhança do Presidente Nixon que teve de se demitir devido a um escândalo. Embora a China tenha lidado bem com a epidemia de covid-19, a economia interna sofreu um duro golpe, e com as sanções impostas pelos Estados Unidos, o ritmo do futuro desenvolvimento económico do país está comprometido. Nos últimos anos, o investimento estrangeiro na indústria chinesa tem vindo a deslocar-se para fora do país. Se virmos os locais onde o calçado e a roupa desportiva estão a ser fabricados, verificaremos que existe uma tendência para a situação piorar. Além disso, alguns países do sudeste asiático, e outros em vias de desenvolvimento, estão progressivamente a usurpar o estatuto de “fábrica do mundo” da China, através de uma política de custos de produção muito baixos. Muitos países europeus e americanos retiraram as suas fábricas da China e voltaram a colocá-las “em casa” para reduzir o desemprego doméstico provocado pela covid-19. A China, está actualmente num período de transição da produção baseada no trabalho intensivo para um outro, em que a produção assenta na alta tecnologia. Com vários factores em jogo, o desenvolvimento económico da China entrou numa zona de águas turvas. Se o país não lidar adequadamente com este revés económico, pode entrar em recessão, à semelhança do que aconteceu no Japão no passado. Um dos sinais de recessão económica é a situação do mercado imobiliário que se verifica actualmente na China. O Inverno chegou, por isso cair neve em Pequim é um fenómeno natural. Ganhe quem ganhar as eleições americanas, o povo chinês tem de passar no teste da vida. A duplicação do PBI da China até 2035, vai depender mais do esforço conjunto do que de slogans.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping rejeita que a China queira desassociar-se economicamente dos EUA [dropcap]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, rejeitou hoje sugestões de que o seu país procurará desassociar-se economicamente dos Estados Unidos e outros parceiros comerciais, numa altura de crescentes tensões em torno do comércio e tecnologia. Numa intervenção ‘online’ durante uma reunião com executivos da região Ásia Pacífico, Xi prometeu continuar a abrir o mercado chinês, mas não anunciou nenhuma iniciativa para responder às reclamações de que o Partido Comunista subsidia indevidamente as empresas chinesas, enquanto as protege da competição externa. Xi rejeitou as sugestões de que Pequim poderia responder às sanções dos EUA contra as suas empresas de tecnologia libertando-se da ligação a parceiros globais, visando a auto-suficiência. O Partido Comunista promoveu os seus próprios padrões tecnológicos, ao bloquear o acesso de firmas estrangeiras à rede doméstica. Isto gerou temores de que os mercados mundiais se possam dividir em segmentos menores, com padrões industriais incompatíveis, prejudicando a produtividade. “Nós nunca iremos recuar na História e tentar separar-nos ou formar um ‘pequeno círculo’ para manter os outros de fora”, disse Xi. O evento de hoje ocorreu na véspera da reunião entre os líderes da Organização de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) organizada pela Malásia. Os comentários de Xi seguiram-se à assinatura, no domingo, do maior acordo de livre comércio do mundo, a Parceria Económica Compreensiva Regional, que inclui a China e 14 países asiáticos. O acordo atrai outros países em desenvolvimento porque reduz as barreiras ao comércio de produtos agrícolas, bens manufaturados e componentes. O documento é, no entanto, pouco abrangente para serviços e acesso de empresas estrangeiros nas economias de cada país, um objetivo dos Estados Unidos e outras nações desenvolvidas. A administração de Donald Trump cortou o acesso do grupo chinês de tecnologia Huawei à maioria dos componentes e tecnologia dos Estados Unidos, por motivos de segurança. A Casa Branca está ainda a pressionar o proprietário chinês do serviço de vídeo TikTok a vender a sua operação nos Estados Unidos. Xi prometeu reduzir taxas alfandegárias, mas não deu detalhes. “Vamos reduzir ainda mais as taxas alfandegárias e custos burocráticos, cultivar uma série de zonas de inovação e promoção do comércio de importação, e expandir as importações de produtos e serviços de alta qualidade de vários países”, prometeu. As repetidas promessas da China de estabelecer zonas de comércio livre e aliviar as restrições às importações geraram reclamações por parte dos Estados Unidos, Europa, Japão e outros parceiros comerciais, de que Pequim está a usar essas medidas isoladas para evitar cumprir com as promessas feitas quando aderiu à Organização Mundial do Comércio, em 2001, de permitir às empresas estrangeiras competirem livremente na sua economia, nos setores bancário, financeiro e outros serviços.
João Luz China / ÁsiaComércio | China vai tentar renegociar tarifas e Biden procurar velhas alianças Depois da relação bipolar com Donald Trump, entre rasgados elogios e tarifas brutais, Xi Jinping poderá suavizar as relações comerciais com a mudança na Casa Branca. Após negar durante a campanha que será simpático para Pequim, Joe Biden tem pela frente a missão de reconstruir as alianças tradicionais, como com a União Europeia. Porém, o foco do Presidente eleito deverá ser a economia doméstica [dropcap]U[/dropcap]m dos mantras da economia global contemporânea é que os mercados se dão muito bem com a estabilidade política. Essa máxima vale também na relação comercial entre Pequim e Washington, que atingiu picos de crispação nunca antes vistos durante o mandato de Donald Trump. A vitória de Joe Biden pode ser encarada pelo Governo Central chinês como uma oportunidade para atenuar as tensões comerciais e renegociar um acordo que é visto por Pequim como injusto e impossível de concretizar. A primeira fase do acordo comercial foi conseguida depois de um ano e meio de troca de acusações e de tarifas amontoadas, com Pequim a comprometer-se a comprar 200 mil milhões de dólares em produtos norte-americanos, acima dos níveis de 2017, para equilibrar a balança comercial entre as duas maiores economias mundiais. A redução das metas de importação e das tarifas às exportações para os Estados Unidos são pontos que Pequim gostaria de renegociar com a Administração Biden, de acordo com Shi Yinhong, analista do Conselho de Estado chinês, citado pelo South China Morning Post. “Mais tarde ou mais cedo, Biden irá lançar a renegociação do acordo comercial, porque o actual não é realista. A renegociação também entra em linha com os desejos de Pequim”, afirmou o conselheiro ao jornal de Hong Kong, acrescentando que Biden deverá procurar mais mudanças estruturais numa nova ronda negocial. Por outro lado, Shi Yinhong acha que “a Administração Biden provavelmente irá assumir uma posição dura em relação a Hong Kong, Taiwan, Xinjiang e Mar do Sul da China, assim como outros assuntos relativos a direitos humanos, além das alegadas actividades de espionagem chinesa nos Estados Unidos”. Arrumar a casa Como é natural, ainda é demasiado cedo para se apurar com alguma clareza as prioridades de Joe Biden, mesmo que tenha categorizado a guerra comercial com Pequim como “desastrosa e prejudicial”. Porém, os assuntos de política interna, a economia nacional fragilizada pela pandemia de covid-19 e um país dividido como nunca devem ser a prioridade do novo Presidente. Apesar de o antigo vice-Presidente ter afirmado que assim que fosse eleito iria reavivar as ligações com os naturais aliados dos Estados Unidos para combater, em conjunto, a escalada de influência de Pequim no plano internacional, esse objectivo pode ficar para segundo plano. Elementos da campanha de Joe Biden revelaram à Politico que novas rondas de negociações com a China só seriam consideradas depois de investimentos internos em infra-estruturas e da aprovação de um pacote de estímulos para atenuar o impacto económico da pandemia do coronavírus nos Estados Unidos. A aposta na agenda doméstica é uma abordagem apelativa para os congressistas democratas pertencentes a comités que se debruçam sobre comércio externo, como Earl Blumenaeur, representante democrata do Oregon, que não vê necessidade de incluir um novo acordo comercial na “agenda para os primeiros 100 dias”. A posição não é consensual, levando mesmo a reacções de cepticismo, principalmente perante a exigência imediata de aliados que querem a revogação, o mais depressa possível, das políticas externas da Administração Trump. Outro argumento nesse sentido é a posição manifestada por Biden de querer atingir com os acordos comerciais prioridades mais profundas como novos compromissos na luta contra as alterações climáticas. Abordagem populista Enquanto não se dissipa o nevoeiro eleitoral, e as políticas que vão ser seguidas pela Administração Biden não ganham nitidez, há analistas que entendem que o novo Presidente eleito pode não seguir o mesmo caminho de regresso à primazia do mercado livre, bandeira tradicional das administrações Clinton e Obama. A alternativa, considerada populista pela analista citada pela Politico, é o populismo de procurar objectivos de protecção ambiental e de luta pela melhoria de salários. Nesse sentido, procurar tréguas na guerra comercial protagonizada por Trump pode resultar no aumento de oportunidades para fortalecer a capacidade fabril dos Estados Unidos. Apesar de ter ganho 66 mil empregos fabris em Setembro, o sector perdeu 647 mil empregos desde Fevereiro, ou seja, desde o início da pandemia. Eliminar algumas das tarifas implementadas por Donald Trump, poderá dar um novo fôlego à indústria que tem sofrido com os elevados preços de importação e do acesso restrito a mercados estrangeiros. Vista de Pequim Um editorial publicado na noite de domingo no Global Times aponta para as prioridades do Governo Central na adaptação a uma nova realidade. “Pequim deve falar com a equipa de Biden da forma mais profunda possível para recuperar as relações entre China e Estados Unidos para um estatuto de maior previsibilidade”, aponta o editorial. O jornal, que costuma dar eco à voz do Governo Central em negócios estrangeiros, refere que existe espaço para reajustes às relações entre os dois países, por exemplo, na luta contra a pandemia, uma das emergências da Administração Biden. O editorial destaca o facto de Biden ter referido a abordagem científica como a forma para lutar contra a propagação da covid-19 e, como tal, “será difícil os Estados Unidos continuarem a culpar a China”. A nova abordagem pode mudar a agulha do confronto para a cooperação pragmática. O Global Times indica a intenção firme de retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris sobre alterações climáticas. Nesse âmbito, é afirmado que a cooperação entre Pequim e Washington é indispensável. O jornal oficial assume que “é muito provável que Biden continue a campanha de ‘pressão máxima’ sobre a China, mas sem o estilo descuidado de um jogador de casino”. É salientado que apesar do aumento de tensões e tarifas, a balança comercial com a China não se alterou, mas com repercussões económicas nefastas para as empresas norte-americanas. “A China não deve alimentar ilusões de que a eleição de Biden irá aliviar, ou fazer recuar as actuais relações entre os dois países, nem enfraquecer a esperança de que as relações bilaterais possam melhorar. A competição e protecção contra a China só vão aumentar”, prevê o editorial do Global Times. Porém, é deixado uma expectativa positiva, baseada “no interesse comum dos povos dos dois países, e da comunidade internacional, que as relações entre Estados Unidos e China sejam aliviadas e controladas”. Como tal, os governantes dos dois países devem trabalhar em conjunto, encontrar uma base de entendimento para ter uma relação baseada no trabalho, estabilidade e previsibilidade. Joe, o moderado A origem política do Presidente eleito é outro facto tomado em conta pelos analistas de negócios estrangeiros. “Joe Biden pertence ao círculo político centrista, moderado, com experiência em lidar com relações internacionais e com compreensão do que é o multilaterialismo. Será um actor racional”, referiu Wang Huiyao, presidente do think tank sediado em Pequim Centre for China and Globalisation, citado pelo South China Morning Post. Outro ponto de interesse, é verificar até que ponto Pequim irá continuar a respeitar o acordo comercial estabelecido com Donald Trump, quando o republicano já não se encontrar na Casa Branca. Ainda para mais, tendo em conta que renegociar acordos internacionais de comércio não está no topo das prioridades da nova Administração. Ainda assim, é expectável que a equipa de Joe Biden analise os acordos estabelecidos por Trump e decida quais devem manter-se em vigor, de forma a recuperar a credibilidade internacional. Antes das eleições, a China aumentou a compra de produtos agrícolas norte-americanos, apesar de não ter atingindo os objectivos fixados para 2020. No final de Setembro, apenas estavam cumpridas 54 por cento das metas estabelecidas, apesar da subida considerável de importação de soja, milho e carne de porco dos Estados Unidos para a China. A continuar neste caminho, os objectivos acordados vão-se ficar pelos 65 por cento das metas de compras de bens agrícolas norte-americanos. De acordo com dados oficiais chineses, divulgados no sábado, em Outubro a balança comercial agravou-se a favor da China em 46,5 por cento, em relação ao dia em que Donald Trump tomou posse.
Hoje Macau China / ÁsiaPompeo renova na Indonésia ataques às reivindicações da China no mar do Sul [dropcap]O[/dropcap] Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, insistiu hoje na Indonésia na sua campanha contra a China, parte dos esforços para deter a crescente assertividade de Pequim no Pacífico e no Índico. A visita ocorre a cinco dias das eleições nos Estados Unidos, em que a China é um dos principais temas, com Donald Trump a acusar o candidato rival, Joe Biden, de estar comprometido com Pequim. Pompeo alertou para a “agressividade” da China no mar do Sul da China, que Pequim reivindica quase na totalidade, apesar dos protestos dos países vizinhos. Na sede da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em Jacarta, Pompeo elogiou a liderança da Indonésia na organização, por rejeitar o que chamou de reivindicações “ilegais” da China. “Respeitamos a liberdade [de navegação] nos mares, a soberania e o Estado de Direito”, disse, ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, Retno Marsudi. Sem referir a China, Marsudi concordou que “as leis internacionais devem ser respeitadas”. “As nossas nações cumpridoras da lei rejeitam as reivindicações ilegais do Partido Comunista Chinês no mar do Sul da China, como fica claro pela liderança corajosa da Indonésia neste tópico, dentro da ASEAN e nas Nações Unidas”, disse Pompeo. “É uma causa que vale a pena perseguir no âmbito multilateral e a administração [de Donald] Trump apoia”, acrescentou. Em Julho passado, o governo de Trump rejeitou totalmente quase todas as reivindicações marítimas de Pequim no mar do Sul. A decisão surgiu numa altura em que Trump iniciou um esforço para usar a China como um tópico na campanha para as presidenciais, contra o adversário democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden. Até então, a política dos EUA consistia em insistir que as disputas marítimas entre a China e os seus vizinhos menores fossem resolvidas pacificamente, por meio de arbitragem apoiada pela ONU. Numa declaração emitida em 13 de julho, Pompeo disse que os EUA consideram agora ilegítimas praticamente todas as reivindicações marítimas chinesas fora das suas águas internacionalmente reconhecidas. A China ignorou decisões de arbitragem internacional e tem avançado nas tentativas de fazer cumprir as suas reivindicações. Pompeo especificou que a China não pode reivindicar o baixio James, um banco oceânico perto da Malásia, as águas ao redor do coral Vanguard, ao largo do Vietname, ou o baixio Luconia, perto do Brunei. Pompeo disse ainda que a proteção das ilhas de Natuna pela Indonésia é de louvar. O secretário de Estado norte-americano chegou à Indonésia oriundo das Maldivas, onde anunciou que os Estados Unidos vão abrir, pela primeira vez, uma embaixada no arquipélago do Oceano Índico, um movimento que reflete a crescente apreensão norte-americana com o aumento da influência chinesa na região. “O Partido Comunista Chinês mantém o seu comportamento ilegal e ameaçador”, disse Pompeo, poucas horas depois de acusar a China de ser “predatória”, durante uma visita ao Sri Lanka. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, disse que a verdadeira intenção do secretário de Estado é “fazer com que a China volte a uma era de pobreza e estagnação e deixar o mundo cair no abismo do confronto e divisão”.
Hoje Macau China / ÁsiaSecretários de Estado e da Defesa dos EUA visitam Índia com a China na mira [dropcap]O[/dropcap]s secretários de Estado e da Defesa norte-americanos iniciam hoje uma visita oficial à Índia, com a missão de reforçar a aliança contra a China, a uma semana das eleições nos Estados Unidos. Mike Pompeo e Mark Esper procuram capitalizar na crescente desconfiança da Índia face ao país vizinho, para sustentar uma frente regional que trave a crescente afirmação da China na região do Indo-Pacífico. Os dois lados têm previsto assinar um acordo amplo para partilha de informação de satélites militares e cooperação estratégica. Poucas horas depois de Pompeo e Esper aterrarem na Índia, o Governo de Donald Trump notificou o Congresso norte-americano sobre os planos de venda a Taiwan de sistemas de mísseis Harpoon, por 2,37 mil milhões dólares. Trata-se da segunda grande venda de armamento em duas semanas para a ilha, que Pequim considera ser uma província sua, apesar de funcionar como uma entidade política soberana. Os dois territórios separaram-se em 1949, depois de as forças nacionalistas terem fugido para Taiwan, após a derrota na guerra civil chinesa contra os comunistas. A China reagiu à primeira venda com o anúncio de sanções contra empresas de defesa dos EUA. Pouco antes de a venda ser anunciada, Pompeo reuniu com o ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, S. Jaishankar, para elogiar a “forte parceria entre os Estados Unidos e a Índia”. O secretário de Estado norte-americano considerou esta parceria “essencial para a segurança e prosperidade de ambos os países, a região do Indo-Pacífico e o mundo”, segundo um comunicado do Departamento de Estado. China e Índia têm registado confrontos na fronteira disputada nos Himalaias. Dezenas de milhares de soldados estão num impasse desde maio, quando violentos confrontos resultaram na morte de pelo menos 20 soldados indianos. A relação entre a China e os Estados Unidos deteriorou-se também rapidamente, nos últimos dois anos, com várias disputas simultâneas entre as duas maiores economias do mundo, em torno do comércio, tecnologia, a soberania do mar do Sul da China ou questões de direitos humanos. Em Pequim e em Washington, referências a uma nova Guerra Fria são agora comuns. Índia e China travaram uma guerra de um mês pelos territórios disputados na fronteira, durante o auge da Crise dos Mísseis em Cuba, em 1962, e alguns temem que ocorra um confronto semelhante. Pompeo não escondeu o desejo da Casa Branca de contar com a ajuda da Índia para isolar a China. Desde que Trump se tornou Presidente, os EUA e a Índia reforçaram gradualmente a cooperação no âmbito militar. Quando Trump visitou a Índia, em fevereiro passado, os dois lados concluíram acordos de defesa no valor de mais de 3 mil milhões de dólares. O comércio no âmbito da defesa bilateral aumentou de quase zero, em 2008, para 15 mil milhões de dólares, em 2019. As negociações em Nova Deli esta semana seguem-se a uma reunião que Pompeo teve no início deste mês, em Tóquio, com os homólogos da Índia, Japão e Austrália, que juntos formam as quatro nações do Indo-Pacífico conhecidas como “Quad”. O Quad é visto como um contrapeso para a ascensão da China, que tenciona reforçar o domínio militar em toda a região. Pompeo tem ainda planeadas deslocações ao Sri Lanka, Maldivas e Indonésia, com a intenção de pressionar estes países a resistirem à China.
Hoje Macau China / ÁsiaChina condena pressão exercida pelos Estados Unidos sobre Portugal [dropcap]A[/dropcap] China condenou hoje a pressão exercida pelos Estados Unidos para Portugal banir o grupo de telecomunicações chinês Huawei da infra-estrutura de redes 5G, defendendo que nenhum país com “espírito independente” cederá a Washington. “Coagir outros países para que obedeçam à sua vontade não é apenas um acto flagrante de assédio, mas também uma evidente rejeição dos princípios de economia de mercado defendidos pelos Estados Unidos”, apontou à agência Lusa o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. “Nenhuma nação com um espírito independente se associará a esta campanha” de Washington, acrescentou o Ministério, em comunicado. Durante uma visita a Lisboa, na semana passada, o subsecretário de Estado norte-americano Keith Krach frisou a importância de excluir a Huawei das redes de quinta geração (5G), a Internet do futuro. A visita de Krach ocorreu poucos dias depois de, numa entrevista ao Expresso, o embaixador norte-americano em Lisboa, George Glass, ter considerado que os portugueses “têm de fazer uma escolha agora” entre “trabalhar com os parceiros de segurança, os aliados, ou trabalhar com os parceiros económicos, os chineses”. Glass admitiu que “Portugal acaba inevitavelmente por ser parte do campo de batalha na Europa entre os Estados Unidos e a China” e alegou que o país asiático tem “planos de longo prazo para acumular influência maligna através da economia, política ou outros meios”. As palavras do diplomata foram criticadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que lembrou que “em Portugal, quem decide acerca dos seus destinos são os representantes escolhidos pelos portugueses”. Na mesma nota, enviada à Lusa, a China acusou os Estados Unidos de “infringirem as regras do comércio internacional” e “danificarem os interesses dos consumidores e negócios”. “Acreditamos que todos os países vão manter uma posição justa e objetiva e fazer escolhas independentes, de acordo com os seus interesses, os interesses em comum com outros países e a tendência do desenvolvimento da humanidade”, lê-se no comunicado. O Governo chinês lembrou ainda que Portugal e a China mantêm uma parceira estratégica global. A Parceria Estratégica Global entre Portugal e a China foi assinada em outubro de 2010, durante a visita de Estado a Lisboa do então Presidente chinês, Hu Jintao, a que se seguiram importantes investimentos chineses na economia portuguesa. A relação entre a China e os Estados Unidos deteriorou-se rapidamente nos últimos dois anos, com várias disputas simultâneas entre as duas maiores economias do mundo. Em Pequim e em Washington, referências a uma nova Guerra Fria são agora comuns. Para além do boicote à Huawei, a administração de Donald Trump colocou outras 70 empresas chinesas na Lista de Entidades do Departamento de Comércio, limitando o seu acesso a tecnologia norte-americana. No Mar do Sul da China, uma faixa de navegação vital na região Ásia-Pacífico, navios de guerra norte-americanos e chineses disputam agora constantemente posições, enquanto Washington passou a realizar visitas de alto nível a Taiwan, uma afronta a Pequim, que considera a ilha parte do seu território. Uma prolongada guerra comercial subsiste também entre os dois países, apesar de um acordo de Fase 1, que não conheceu novos desenvolvimentos desde o final do ano passado. Os dois lados mantêm taxas alfandegárias punitivas sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.