Hoje Macau SociedadePorto Business School organiza visita para explorar negócios na China A Porto Business School (PBS) está a organizar uma viagem a Macau e Hong Kong para quem quer explorar oportunidades de negócios na China, ainda “pouco conhecida” dos empresários portugueses, disse ontem o dirigente da instituição. “O mercado é complexo em termos culturais e regulamentares e tem grandes diferenças entre províncias, que importa conhecer. Implica visitas regulares e a criação de relacionamentos fortes com os clientes ou parceiros locais para a conquista de confiança”, afirmou à Lusa o responsável da PBS, José Esteves. É precisamente para adquirir “uma compreensão mais profunda” deste mercado e das “especificidades de Hong Kong e Macau” que a Escola de Negócios da Universidade do Porto promove, entre 17 e 23 de novembro, a semana internacional “Explorar Negócios na China”, nas duas regiões administrativas especiais chinesas. “Esta imersão pode ser crucial para entender a realidade e perceber como Hong Kong e Macau se podem posicionar num processo de internacionalização para o mercado”, notou, numa mensagem escrita. A experiência, continuou José Esteves, destina-se a profissionais, empresários e empreendedores que querem explorar oportunidades no país asiático “e fortalecer as capacidades de negócios internacionais e interculturais”, bem como a estudantes da PBS que “desejam compreender os desafios e oportunidades da região”. A ideia passa também por “promover uma visão global mais abrangente, para lá da Europa e dos Estados Unidos”. Palestras e cultura À Lusa, o responsável referiu ainda que ainda “são poucas” as empresas portuguesas com histórias de sucesso no mercado chinês. “O caso de Macau é particular, pela ligação de vários séculos, mas a China continental é ainda pouco conhecida. No entanto, conhecemos casos de empresas portuguesas de vários sectores que conseguiram encontrar o seu espaço e se posicionaram muito bem no mercado, até em sectores ditos mais tradicionais, como o alimentar ou os têxteis”, referiu. Esta edição vai contar com participantes de empresas e instituições de Portugal, Irlanda e Timor-Leste, e de vários sectores, como banca, seguros, educação, tecnologia e têxteis. Palestras sobre a economia chinesa, o comércio electrónico e o comportamento do consumidor, visitas a empresas locais e um passeio cultural em Macau são alguns dos programas do evento, promovido em colaboração com a Universidade de Hong Kong, a Universidade de Macau e a Universidade da Cidade de Macau.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesNegócio da aparência e a aparência do negócio (II) – Contramedidas A semana passada, falámos sobre o encerramento do Physical Fitness & Beauty Centre (PFBC) em Hong Kong, que nos relembrou a importância de as empresas se inovarem constantemente para se manterem competitivas num mercado imprevisível. Esta semana, vamos analisar de que forma a sociedade de Hong Kong respondeu a este incidente. Não é a primeira vez nesta cidade que os clientes não conseguem reaver os pagamentos antecipados que fizeram a empresas que posteriormente encerraram. Podemos considerar a reacção da sociedade de Hong Kong a partir de quatro perspectivas: da empresa, do sector, do Governo e da lei. Claro que a solução ideal seria o PFBC ter continuado a funcionar. Nesse caso, os contratos de arrendamento das lojas e os contratos com os clientes continuariam activos e ninguém teria sido prejudicado. Teria havido um final feliz. Para que isto tivesse sido possível, teria sido necessário que novos investidores tivessem injectado dinheiro no PFBC, ou que recursos adicionais tivessem sido providenciados através de aquisições e fusões. Fosse qual fosse o modelo, desde que o PFBC continuasse a funcionar, o problema teria naturalmente desaparecido. Vale a pena mencionar que já foi noticiado que o PFBC de Wan Chai se mantém aberto, mas com outro nome. Não podemos concluir que a utilização de outro nome implique necessariamente que a filial foi adquirida por outra empresa, porque o proprietário inicial pode continuar a operar alterando o nome da marca. Se uma nova empresa adquirir o negócio compra também as suas dívidas da empresa fundadora o que é problemático. No entanto, a comunicação social não forneceu detalhes a este respeito, por isso não temos informação suficiente para análise. Ao nível do sector, o “Beauty Consumption Safety Net System” (Sistema de Rede de Segurança no Consumo de Serviços de Beleza) lançado pela Hong Kong Beauty Industry Federation (Federação da Indústria de Beleza de Hong Kong) demonstra o poder do sector para se proteger. Este sistema permite que os salões de beleza assumam a responsabilidade de finalizar tratamentos que tinham sido interrompidos devido ao encerramento de outros salões e assim fornecerem aos clientes os serviços em falta. O mecanismo de auto-resgate do sector é sem dúvida um bom método, que não só protege os direitos e os interesses dos consumidores, como também encaminha novos clientes para os salões que assumem a responsabilidade de completar os serviços, obtendo-se uma situação em que todos saem a ganhar. Claro que a conclusão destes tratamentos implica despesas. Estas despesas são suportadas pelo salão de beleza? Como é que são geridas? A comunicação social não avançou mais detalhes por isso não podemos comentar. Para além dos mecanismos de auto-resgate tomados pelas empresas envolvidas e pelo sector de actividade, as agências do Governo de Hong Kong intervieram no caso do encerramento do PFBC e Hong Kong também tem leis aplicáveis para a protecção dos direitos e interesses dos consumidores. Enquanto agência governamental, o Hong Kong Consumer Council (Conselho dos Consumidores de Hong Kong) é validado pela Hong Kong Consumer Council Ordinance (Portaria do Conselho de Consumidores de Hong Kong). Depois de receber as queixas dos consumidores, o Consumer Council pode pronunciar-se publicamente sobre os produtos e serviços da empresa, melhorando assim a transparência do mercado e apelando às empresas para que padronizem os seus modelos operativos. Depois de os consumidores apresentarem queixa no Consumer Council, a imprensa recebe o comunicado. Os casos são divulgados, o que não só informa o público, como também incentiva os lesados mal informados a agirem de imediato e a moverem acções de compensação. Do ponto de vista jurídico, a secção 13I(1) da Portaria de Descrições Comerciais de Hong Kong estipula claramente que qualquer empresa que aceite indevidamente pagamentos de clientes para prestação de serviços está a incorrer numa ilegalidade. Indevidamente inclui muitos cenários, um dos quais é a empresa não ter intenção de prestar os referidos serviços aos clientes. Para as empresas mal-intencionadas, esta disposição legal é como uma faca encostada à cabeça. Outra disposição importante, surge na secção 275 da Companies (Winding Up and Miscellaneous Provisions) Ordinance (Portaria Empresarial (Dissoluções e Disposições Diversas), Capítulo 32. Em resumo, se uma empresa opera com a intenção de defraudar os credores, os seus proprietários estão sujeitos a responsabilidade pessoal ilimitada. Estas disposição obriga os responsáveis da empresa a compensar as vítimas. Além disso, a secção 168L ainda estipula que os tribunais de Hong Kong têm o poder de emitir uma ordem proibindo o gerente de um negócio fraudulento de voltar a exercer um cargo semelhante num período máximo de 15 anos. Para os consumidores um sistema externo de protecção é importante, mas o melhoramento da protecção própria e a consciencialização também são indispensáveis. Antes de pagarem mensalidades antecipadas, não só devem considerar cuidadosamente se podem suportar os riscos correspondentes, mas também avaliar as condições operacionais da empresa e a sua possibilidade de falência, por exemplo se a empresa tem ou não fortes probabilidades de continuar a funcionar durante o período coberto pelas mensalidades antecipadas. Um dos factores a considerar é o aluguer. Se as lojas forem arrendadas e não propriedade da empresa, os clientes podem pedir para verem se o período do contrato de arrendamento é igual ou superior ao período abrangido pelo seu pré-pagamento. Claro que mesmo que esta condição se verifique, não é prova de que a empresa tenha capacidade financeira para continuar a funcionar até ao final do período coberto pelas prestações pagas com antecedência. Mas o mais importante, é que as empresas podem recusar-se a mostrar o contrato de arrendamento aos clientes alegando quebra de confidencialidade. Em conclusão, a sociedade de Hong Kong apresentou medidas adequadas em resposta ao incidente do PFBC. Foi criado um sistema de proteção relativamente completo através de vários métodos como o auto-resgate das empresas, a assistência mútua do sector, a supervisão governamental e as sanções legais. Na próxima semana, analisaremos as implicações do caso do PFBC em Macau, bem como os ensinamentos que Macau pode retirar desta experiência a fim de incrementar a protecção dos direitos dos consumidores. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Escola de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
João Luz Manchete SociedadePanchões | Comerciantes queixam-se de negócios fracos As zonas designadas pelo Governo para queima de panchões encerraram na quarta-feira. Comerciantes de material pirotécnico revelaram prejuízos e menos pessoas do que no ano passado, apesar de o volume de turistas ter batido recordes durante os feriados do Ano Novo Lunar “O meu desejo era conseguir vender dois terços da mercadoria que comprei, mas ainda tenho perto de 60 por cento. No ano passado, não fomos forçados a oferecer descontos, mas este ano tivemos de o fazer para aliciar os clientes a comprar mais panchões”, afirmou uma das comerciantes que operou uma tenda na zona para queima de panchões e lançamento de fogo de artifício no lado da península, perto dos novos aterros urbanos junto da Torre de Macau. As declarações da comerciante, de apelido Lam, foram proferidas na tarde do último dia em que teve aberta a tenda, uma vez que depois de quarta-feira as duas zonas designadas para o rebentamento de foguetes encerraram. Nem o facto de o último dia coincidir com a celebração do Dia dos Namoradas ajudou o negócio. Em declarações ao jornal do Cidadão, Lam referiu que não só os negócios deste ano foram piores do que em 2023, como o número de pessoas que visitaram as zonas também decresceu. Isto apesar do grande volume de turistas que visitaram Macau durante os feriados do Ano Novo Lunar. Na segunda-feira, o terceiro dia dos feriados, quase 217.500 turistas entraram no território, o valor diário mais elevado em mais de cinco anos e o segundo maior desde que há registo. A poucas horas do fecho da tenda, a prioridade de Lam era reduzir os prejuízos depositando todas as esperanças na última noite de venda de panchões. Ainda assim, confirmava à mesma fonte que seria muito difícil conseguir cobrir o dinheiro investido no concurso para operar a tenda e na compra de mercadoria, custos que indicou terem aumentado, especialmente tendo em conta o reduzido consumo dos clientes, que gastaram este ano uma média de 100 patacas. Onde estão os clientes? Questionada sobre as razões possíveis para o fraco consumo, a comerciante apontou à política da circulação de veículos de Macau na província de Guangdong. Na sua óptica, os residentes preferem queimar panchões no Interior da China, onde os preços são muito mais baratos. Já Choi, também comerciante de panchões na zona perto da Torre de Macau, justificou os maus negócios com o próprio período de feriados, que levaram muitos residentes a passar férias no exterior. Também desapontado com o fraco consumo, em especial por ser Dia dos Namorados, o vendedor indicou que os clientes que mais gastaram foram residentes de Hong Kong e turistas do Interior da China. Porém, o facto de quarta-feira já ter sido dia de trabalho na RAEHK acabou por prejudicar os negócios. Outra comerciante, confirmou que iria fechar a tenda com “enormes prejuízos” e que esperava o apoio do Governo para diminuir as perdas, que incluíam cerca de 300 mil patacas de renda.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeConsolidação | Negócios que vão continuar a meio gás fazem contas à vida Os negócios que vão continuar encerrados, em regime de take-away ou a funcionar online durante o período de consolidação fazem contas à vida para se manterem à tona, e há mesmo quem considere fechar portas. A perda de clientes portugueses e chineses que abandonaram Macau é a cereja no topo do bolo das dificuldades A transição do confinamento parcial para o período de consolidação, que começa amanhã, fará pouca diferença para a instrutora de yoga Rita Gonçalves, que fundou há quase 8 anos o Yoga Loft na zona do Largo de Senado, espaço que permanecerá fechado. As expectativas de abertura caíram por terra na quarta-feira quando foi publicado no Boletim Oficial o despacho do Chefe do Executivo que dá conta da abertura dos espaços comerciais que estão na via pública, mantendo-se o encerramento de negócios como ginásios, cinemas, parques ou espaços fechados de entretenimento. Os centros de explicações continuam a funcionar online. “Tem sido complicado”, confessou Rita Gonçalves ao HM. “No meu caso, os professores só recebem quando dão aulas, imagine se eu tivesse de pagar salários. Gostava de ver a situação gerida de forma diferente e deveríamos aprender a viver com o vírus. Preferia voltar ao período que tínhamos antes, sem usarmos máscara o tempo todo e com as coisas abertas. Não consigo exercer a minha actividade com aquela máscara”, declarou. Fernando Sousa Marques, que gere o restaurante Macau Gourmet Café&Bistro junto ao edifício dos CTT, também no Leal Senado, estima já ter perdido cerca de 800 mil patacas mantendo o regime de take-away. “A maior parte das empresas que fazem este serviço só funcionam em Macau [na península], se fossem para a Taipa tinha mais negócio, porque há mais estrangeiros.” O empresário do sector da restauração lamenta que na conferência de imprensa do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus não tenham ficado esclarecidos pontos sobre as licenças sem vencimento ou os apoios prometidos para os salários de trabalhadores. “Se houver esse apoio será excelente, e assim conseguirei manter [o negócio]. Não consigo pagar salários e já dei comida aos meus empregados. Servia uma média de 60 a 70 almoços por dia e até ao final do mês não deverei ter grande movimento”, disse. Fernando Sousa Marques destaca ainda a inflação que tomou conta da economia local, o que torna a sobrevivência dos negócios num desafio ainda maior. “Antes comprava carne de porco a 90 patacas o quilo, hoje compro a 200. Como faço pratos depois com lucro?”, questiona, acrescentando que desistir não está no seu vocabulário. “Não pondero fechar, mas sim mudar o conceito, apostar em pratos mais baratos, para acompanhar a economia.” Susana Diniz, fundadora de um centro de formação que aposta em clubes de leitura em português para crianças, já tinha o Verão preparado com actividades pedagógicas, mas mais uma vez terá de mudar os planos. “Tenho algumas aulas online, mas não é a mesma coisa. Começamos a perder forças para aguentar tudo isto. O Verão é sempre uma boa altura, por causa das férias. Diria que vou perder cerca de 100 mil patacas este mês e em Agosto.” A curto prazo, Susana Diniz pretende manter o centro a funcionar online. Todas as terças-feiras, são organizadas sessões de cinema online, e às quintas-feiras o foco é a leitura. “O regime online não dá para suportar as despesas mensais. Estou a tentar manter um jogo de cintura para ver se vai dar, esperando pelo regresso das aulas em Setembro.” Clientes a ir embora Além dos negócios que se mantêm a meio gás, junta-se outro ingrediente explosivo para quem tenta sobreviver financeiramente: os clientes habituais que já deixaram Macau de vez devido às restrições impostas no território. “O mais complicado não é estar fechada há um mês, mas ver as pessoas a partirem. Os negócios estão a perder clientela, porque deixa de ser vantajoso estar cá. Desde o princípio do ano, já disse adeus a sete alunas regulares, não apenas portuguesas, mas também chinesas, com cerca de 50 anos que decidiram deixar o trabalho e ir para Inglaterra.” Fernando Sousa Marques assinala dificuldades semelhantes no seu restaurante. “Notam-se menos clientes portugueses e é uma pena, mas já estavam a ir embora [antes do surto]”. Por estes dias, manter negócios em Macau é um permanente jogo de sobrevivência. Rita Gonçalves pondera deixar de jogar. “Já estou a equacionar [fechar o Yoga Loft] juntamente com a minha família. Tal como outras pessoas, estamos a ver mais possibilidades. Se o meu marido for despedido ficamos numa situação complicada e será difícil. Se tiver de fechar continuarei com a minha vida, pois sei fazer muitas coisas. Não tenho medo de sair para Portugal ou Singapura”, rematou.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA oportunidade na crise “The Chinese use two brush strokes to write the word ‘crisis.’ One brush stroke stands for danger; the other for opportunity. In a crisis, be aware of the danger-but recognize the opportunity.” John F. Kennedy Os negócios não funcionam no vácuo, por isso a sua história está ligada à nossa história social mais ampla. A pandemia revelou e acelerou tendências mais amplas na cultura e política, porque é de acreditar que uma geração de mudanças empreendidas em nome do capitalismo minou o seu sistema, e o que podemos fazer a esse respeito. Esta tem sido uma crise mundial com duas teses. Primeiro, o impacto mais duradouro da pandemia será como um acelerador. Apesar de iniciar algumas mudanças e alterar a direcção de algumas tendências, o principal efeito da pandemia tem sido o de acelerar a dinâmica presente na sociedade. Em segundo lugar, em qualquer crise há oportunidades; quanto maior e mais perturbadora for a crise, maiores serão as oportunidades. Contudo, o optimismo em relação à segunda tese é temperado pela primeira pois muitas das tendências que a pandemia acelera são negativas e enfraquecem a nossa capacidade de recuperar e prosperar num mundo pós-COVID-19. Há um ditado atribuído a Lenine de que “Nada pode acontecer durante décadas, e depois décadas podem acontecer em semanas”. Não foi Lenine, mas sim o deputado escocês George Galloway que o parafraseou, com a típica brevidade escocesa, algo muito mais redondo e obtuso o que Lenine disse em 1918, após as mudanças radicais operadas pela sua revolução. Este tema, décadas em semanas, está a ser abordado na maioria dos sectores e facetas da vida. O comércio electrónico começou a criar raízes em 2000. Desde então, a quota do comércio electrónico no comércio a retalho tem crescido aproximadamente 1 por cento todos os anos. No início de 2020, aproximadamente 16 por cento do comércio a retalho era transaccionado através de canais digitais. Oito semanas após a pandemia ter atingido os Estados Unidos a 12 de Março de 2019, esse número saltou para 27 por cento e não vai voltar atrás. Registamos uma década de crescimento do comércio electrónico em oito semanas. O período para o social, empresarial, ou pessoal é de dez anos e considera-se rápido. Mesmo que a sua empresa ainda não esteja presente, o comportamento do consumidor e do mercado assenta agora no ponto 2030 que é a linha de tendência positiva ou negativa. Se a sua empresa tinha um balanço fraco, é agora insustentável. Se está no retalho essencial, os seus bens são mais essenciais do que nunca. Se está na venda a retalho discricionária, está mais arbitrária do que nunca. Na sua vida pessoal, se estava a brigar com o seu parceiro, as suas discussões são piores. As boas relações têm agora mais dez anos de história e boa vontade. Durante décadas, as empresas investiram milhões de dólares em equipamento para reuniões virtuais, na esperança de diminuir as distâncias. As universidades adoptaram a contragosto ferramentas tecnológicas, incluindo o “Blackboard” no início dos anos de 1990 para acompanhar o ritmo do mundo exterior. As empresas de comunicação publicaram numerosos anúncios com jantares familiares virtuais, médicos a ver pacientes, e estudantes a aprender com os grandes professores do mundo sem saírem da sua cidade natal. E durante décadas, não aconteceu grande coisa. Os sistemas de videoconferência multimilionários não funcionaram, e os professores resistiram a qualquer tecnologia mais complexa do que o “Dry Erase” ou o “PowerPoint”. O “FaceTime” e o “Skype” fizeram incursões nas nossas comunicações pessoais, mas não atingiram a massa crítica. Depois, em semanas, as nossas vidas mudaram “online” e os negócios passaram ser feitos à distância. Cada reunião de negócios tornou-se virtual, cada professor tornou-se um educador “online”, e as reuniões sociais passaram para um ecrã. Nos mercados, os investidores calibraram o valor das empresas problemáticas, com base não nas semanas ou anos seguintes, mas em pressupostos da posição da empresa em 2030. A Apple levou quarenta e dois anos para atingir o valor de um trilião de dólares, e vinte semanas para acelerar de um trilião para dois triliões de dólares (Março a Agosto de 2020). Nessas mesmas semanas, a Tesla tornou-se não só a empresa automóvel mais valiosa do mundo, mas mais importante do que a Toyota, Volkswagen, Daimler, e Honda combinadas. Durante décadas, os presidentes de câmara das grandes cidades e os responsáveis pelo planeamento têm apelado a mais pistas para bicicletas, acesso pedonal, e menos carros. E durante décadas, o tráfego, a poluição atmosférica e os acidentes congestionaram as nossas ruas e os nossos céus. Depois, em semanas, os ciclistas tomaram conta da estrada, as mesas de jantar ao ar livre brotaram, e os céus desobstruíram. As tendências negativas podem ter acelerado a um ritmo maior. Durante décadas, os economistas têm vindo a advertir que a desigualdade económica se estava a aprofundar, enquanto a mobilidade económica estava a diminuir. Uma economia com tendências subjacentes incómodas transformou-se numa distopia. Quarenta por cento dos americanos, teriam dificuldade em cobrir uma despesa de emergência de quatrocentos dólares. Mas uma expansão económica de onze anos sem precedentes significou que a maré nunca se esgotou. Depois, nos primeiros três meses da recessão Covid-19 os Estados Unidos perderam mais emprego (13 por cento) do que perderam nos dois anos da Grande Recessão (5 por cento). Metade das famílias americanas tiveram pelo menos uma pessoa a perder um emprego ou a sofrer um corte salarial devido à pandemia. As famílias com rendimentos inferiores a quarenta mil dólares foram as mais atingidas e cerca de 40 por cento foram despedidas ou dispensadas no início de Abril de 2020, em comparação com apenas 13 por cento das famílias com rendimentos superiores a cem mil dólares. O mundo girou mais depressa, para melhor ou pior. As crises trazem oportunidades. É um cliché que tem uma razão e o presidente John F. Kennedy fez dele um dos seus principais discursos da sua campanha. O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e Prémio Nobel da Paz, Al Gore, utilizou-o no seu discurso de aceitação do Prémio Nobel. A palavra chinesa para crise consiste em dois símbolos, um que significa perigo, o outro, significa oportunidade. Que oportunidades nos esperam no post-COVID-19? A pandemia tem um lado bom que pode rivalizar com o tamanho da “nuvem”. A América tem uma maior taxa de poupança e menos emissões e três das maiores, e mais importantes categorias de consumidores (saúde, educação, e mercearia) estão num estado de ruptura sem precedentes e, possivelmente, de progresso. Embora a esmagadora maioria dos hospitais devido à COVID-19 tenha sido a história principal, a narrativa mais duradoura pode ser como os outros 99 por cento das pessoas que tiveram acesso aos cuidados de saúde durante a pandemia sem pôr os pés num consultório médico, muito menos num hospital. A adesão forçada à telemedicina promete uma explosão de inovação e abre uma nova frente na guerra contra os custos e os encargos do fracturado sistema de saúde americano. Da mesma forma, o abraço forçado da aprendizagem à distância, por mais desajeitado e problemático que tenha sido, poderia catalisar a evolução do ensino superior, produzindo custos mais baixos e taxas de admissão mais elevadas, e devolvendo à aptidão o seu papel de lubrificante para a mobilidade ascendente dos americanos. Ainda mais fundamental do que a educação, a nutrição está no precipício da revolução, se a dispersão da mercearia através da entrega criar oportunidades para uma distribuição mais eficiente, maior alcance para alimentos frescos, e adopção de bens locais. Por baixo destas mudanças, a chegada à idade adulta numa crise mundial tem o potencial de amadurecer uma geração com um renovado apreço pela comunidade, cooperação e sacrifício; uma geração que acredita que a empatia não é fraqueza, e que a riqueza não é virtude. As oportunidades não são garantias. De facto, a história popular sobre a palavra chinesa para crise não é muito correcta. O primeiro caracter significa perigo, mas o segundo caracter é melhor traduzido como uma conjuntura crítica. Uma encruzilhada. Para os compatriotas de Lenine, as transformações radicais de 1917 também apresentavam oportunidades. O seu fracasso em aproveitá-las levou a um imenso sofrimento. É fácil acreditar que isso não nos vai acontecer, que “não pode acontecer agora”. Mas consideremos que não há muito tempo (meados do século XX), foram postos setenta e cinco mil cidadãos americanos atrás do arame farpado porque tinham ascendência japonesa. Considerando que nenhum de nós, no início da pandemia, pensou que os Estados Unidos poderiam perder mais vidas por dia para um vírus que outros países (menos desenvolvidos) travaram no seu caminho. A resposta americana a esta crise não inspirou confiança. Apesar de terem mais tempo para se prepararem, gastando mais nos cuidados de saúde do que qualquer outro país, e acreditando que eram a sociedade mais inovadora da história, com 5 por cento da população mundial, os Estados Unidos suportaram 25 por cento das infecções e mortes. Foram necessários os últimos dez anos para criar vinte milhões de empregos e dez semanas para destruir quarenta milhões. As viagens estão em baixa, os restaurantes estão na obscuridade, a bebida e as vendas de armas de fogo estão em alta. Mais de dois milhões de “Gen Zers” voltaram a viver com os seus pais, e setenta e cinco milhões de jovens vão à escola no meio da incerteza, conflito e perigo Os historiadores podem dissecar os passos errados que os trouxeram até aqui. A causa mais profunda do seu fracasso é clara. O envolvimento da América na II Guerra Mundial durou três anos e oito meses, e quatrocentos e sete mil americanos pereceram. Apesar do “stress financeiro” do tempo de guerra, foi pedido aos agregados familiares que esvaziassem os seus bolsos e comprassem títulos de guerra. Os fabricantes remodelaram as suas fábricas para construir bombardeiros e tanques, e foi imposto um limite de velocidade “Vitória” a quarenta quilómetros por hora a nível nacional para poupar combustível e borracha para o esforço de guerra. Preparam estudantes e professores do ensino secundário que deram as suas vidas pela liberdade. Após a guerra, investiram nos seus inimigos e produziram mais riqueza e prosperidade do que qualquer sociedade até à data. Durante algum tempo, distribuíram de forma mais justa do que nunca. Mudaram o local onde viviam (subúrbios) e como viviam (o carro e a televisão), e começaram a contar com as suas mais profundas desigualdades de raça e género. As forças americanas lutam no Afeganistão há dezanove anos, e perderam dois mil e trezentos e doze efectivos. O conflito transformou-se em violência que se estende por metade do globo, com mortes de centenas de milhares de civis. Durante esse tempo, eram vistos “slogans” nos veículos utilitários desportivos com autocolantes “apoiem as nossas tropas”, mas não existia dificuldade em encontrar chocolate, ou qualquer outra coisa que se pudesse desejar, na loja ou no telefone. Quanto mais dinheiro ganham, mais baixa é a taxa de imposto, e ninguém pede para comprar um título de guerra. Em vez disso, subcontrataram a guerra a um exército voluntário de jovens da classe trabalhadora, financiado pelas gerações futuras através de um aumento do défice de quase sete triliões de dólares. O patriotismo costumava ser um sacrifício, agora é um estímulo. Na pandemia, a América e os seus líderes falaram com as suas acções; milhões de mortes americanas seriam más, mas um declínio no NASDAQ seria trágico. O resultado tem sido um sofrimento desproporcionado. Os americanos com rendimentos mais baixos e as pessoas de cor têm mais probabilidade de serem infectados e enfrentam o dobro do risco de doenças graves do que as pessoas de famílias com rendimentos mais elevados. Para os ricos, o tempo com a família, a Netflix, as poupanças, e o valor da carteira de acções aumentaram à medida que as deslocações e os custos diminuíram. Se os Estados Unidos estão a dirigir-se para um futuro de “jogos da fome” ou para algo mais brilhante depende do caminho que escolherem depois da COVID-19. Um dos aspectos mais surpreendentes da crise da COVID-19 tem sido a resiliência dos mercados de capitais. Após uma breve queda quando o surto se transformou numa pandemia, os principais índices de mercado rugiram de volta. No Verão de 2020, tinham recuperado a maior parte do terreno perdido, apesar de quase duas centenas de milhares de mortes nos Estados Unidos, do desemprego recorde, e de nenhum sinal de que o vírus tivesse recuado. A Bloomberg Businessweek chamou-lhe “The Great Disconnect” numa reportagem de capa de Junho de 2020 e mesmo os profissionais de Wall Street”, declaram que ficaram “atónitos”. Dois meses mais tarde, na altura em que o artigo foi escrito, o vírus estava a matar mais de mil americanos por dia, e os índices de mercado continuavam a subir. Os índices de mercado podem, no entanto, ser enganadores. A “recuperação” tem sido o produto de ganhos de dimensão exagerada de algumas empresas, nomeadamente as grandes empresas de tecnologia e outros actores importantes. Não se reflecte nos mercados públicos mais vastos. De 1 de Janeiro a 31 de Julho de 2020, o S&P 500, que acompanha as quinhentas maiores empresas públicas, foi apenas positivo no ano. Mas as empresas do meio, de média capitalização, caíram 10 por cento. E as seiscentas empresas de pequena dimensão que foram seguidas no S&P 600 tiveram uma redução de 15 por cento. Enquanto os meios de comunicação social foram distraídos por objectos brilhantes como grandes índices tecnológicos, um incansável abate do rebanho está bem encaminhado. Os fracos não estão apenas a ficar para trás, estão a ser abatidos. A lista de falências é longa e chocante. As acções “BEACH” (reservas, entretenimento, companhias aéreas, cruzeiros e casinos, hotéis e resorts) desceram em média 50 a 70 por cento. Isto ajuda a explicar o forte desempenho dos líderes de mercado. A avaliação de uma empresa é uma função dos seus números e narrativa. Neste momento, a dimensão pode alimentar uma narrativa não só sobre como uma empresa irá sobreviver à crise, mas também sobre como irá prosperar no mundo pós-COVID-19. Após a crise, quando as chuvas regressam, há mais folhagem para menos elefantes. Empresas com dinheiro, com garantias de dívida, com acções altamente valorizadas, serão posicionadas para adquirir os activos de concorrentes em dificuldades e consolidar o mercado. A pandemia está também a impulsionar uma narrativa de “inovação”. As empresas consideradas inovadoras estão a receber uma avaliação que reflecte estimativas de fluxos de caixa daqui a dez anos, e com desconto de volta a uma taxa incrivelmente baixa. Os investidores parecem estar concentrados na visão de uma empresa, na sua narrativa sobre onde poderá estar dentro de uma década. É assim que o valor de Tesla excede agora o da Toyota, Volkswagen, Daimler, e Honda combinados. Isto apesar do facto de em 2020 a Tesla ir produzir aproximadamente quatrocentos mil veículos, enquanto as outras quatro empresas vão construir um total de vinte e seis milhões. O mercado está a fazer apostas ousadas sobre o ambiente pós-COVID-19, e estamos a assistir tanto a grandes ganhos como a declínios abruptos. No final de Julho de 2020, a Tesla subiu 242 por cento em relação a 2019, enquanto a GM desceu 31 por cento. A Amazon subiu 67 por cento, e a JCPenney faliu. Esta “desconexão” entre o grande e o pequeno, o inovador e o antiquado é tão importante como o fosso mais falado entre o mercado e a economia em geral. Os vencedores de hoje são julgados como os maiores vencedores de amanhã, e os perdedores de hoje parecem condenados. O que se passa com as previsões do mercado de capitais é que elas se autorrealizam, em certa medida. Ao decidir que a Amazon, Tesla, e outras empresas promissoras são vencedoras, os mercados reduzem o custo de capital dessas empresas, aumentam o valor da sua compensação (através de opções de compra de acções), e aumentam a sua capacidade de adquirir o que não podem construir por si próprios. E há uma quantidade incrível de capital à procura de um lar neste momento. O governo americano injectou 2,2 triliões de dólares na economia, e devido a algumas decisões políticas terríveis uma enorme quantidade desse montante vai directamente para os mercados de capitais. Assim, as empresas que se estavam a sair bem antes da pandemia beneficiaram notavelmente desta crise mundial. Encontraram fundos disponíveis para absorver as perdas de receitas, enfrentar a concorrência e expandirem-se para as novas oportunidades que a pandemia está a abrir. Entretanto, os seus concorrentes mais fracos foram excluídos dos mercados de capitais e verão as suas notações de dívida serem reduzidas, os detentores das suas contas a telefonarem, e os clientes a ficarem nervosos com os negócios a longo prazo. Há um árbitro não económico para quem perece, sobrevive, ou prospera que é o apoio do governo. As companhias aéreas, por exemplo, não estão em condições de sobreviver a esta pandemia na sua forma actual. É difícil imaginar um produto mais propício à propagação de um vírus do que um avião. A pandemia acelera o trabalho remoto e evita as viagens de negócios, a vaca a dinheiro da indústria. Além disso, as companhias aéreas têm enormes despesas gerais e dificuldade em reduzir os custos quando as receitas diminuem. Várias pequenas companhias aéreas nacionais, não vistas como campeãs nacionais, e uma série de transportadoras estrangeiras, incluindo a Virgin Atlantic, declararam falência. Mas suspeito de que não veremos uma única grande transportadora dos Estados Unidos a afundar-se, porque as companhias aéreas têm um controlo mortal sobre o Congresso. Em Abril de 2020, o governo deu-lhes vinte e cinco mil milhões de dólares, e é provável que recebam mais. Uma combinação de bons lobistas e pessoas de relações públicas, alta consciência dos consumidores, e uma profunda ligação ao orgulho nacional podem salvar uma indústria, dando-lhe uma linha de vida com capital.
João Romão VozesCusto mínimo, lucro máximo [dropcap]A[/dropcap] imprensa da especialidade divulgou recentemente quanto ganharam em 2018 os presidentes – ou CEO, como se diz agora, eventualmente com mais rigor técnico mas certamente com menor zelo linguístico, pelo menos no que diz respeito à língua portuguesa – das grandes empresas mundiais do sector turístico. E que magníficos rendimentos auferiram estes soberbos gestores, alguns mesmo capazes de ultrapassar largamente os valores conseguidos em empresas de alto gabarito internacional, como a EDP, que ainda antes de tornar chinesa já se permitia pagar mais de 3 milhões de euros anuais ao seu máximo administrador. O primeiro lugar é também expressão sintomática de uma tendência inequívoca das economias globais contemporâneas: a da vitória da distribuição sobre a produção, do conhecimento da dinâmica dos mercados sobre a dinâmica dos processos produtivos, da prioridade aos hábitos de consumo e canais comerciais em relação ao conhecimento das matérias primas e do seu processamento. Mais do que produzir conteúdos relevantes e de qualidade, interessa a eficácia com que possam transitar entre quem produz a quem consome. Não pode surpreender, por isso, que o mais bem pago gestor do sector turístico tenha sido o presidente de uma empresa cujos serviços assentam em plataformas digitais globais de reservas e distribuição de viagens e alojamento. Arrecadou mais de 5 milhões e meio de euros durante o ano passado. As outras duas actividades a dominar esta tabela de fabulosos gestores são, naturalmente, os transportes (sobretudo aéreos) e o alojamento (hoteleiro) – ou mesmo empresas que diversificam e praticam as duas actividades, como é o exemplo da empresa alemã cujo gestor ocupa o segundo lugar da tabela, ultrapassando também os 5 milhões de euros de rendimento anual. Igualmente ilustrativo das dinâmicas contemporânea do capitalismo global, no caso dos transportes aéreos, é o aparecimento neste restrito grupo de dois dirigentes máximos de empresas de aviação de baixo custo – de resto bem conhecidas no mercado português. É sabido que os serviços tendem a ser mínimos, que a pontualidade é duvidosa e que os problemas são frequentes, ainda que na maior parte dos casos estas empresas operem com subsídios generosamente atribuídos por entidades públicas e privados dos destinos para onde dirigem os seus voos. Mais uma vez, conta a eficácia da distribuição: ligações directas e baratas entre origem e destino de grupos específicos de turistas com motivações identificadas, com serviços mínimos e lucros máximos. Cerca de 2 milhões de euros cada um, receberam em 2018 os fabulosos líderes máximos de duas destas empresas. Particularmente curioso é o caso da hotelaria – e em particular o de uma empresa que por acaso utilizei este ano em dois continentes – cujo fantástico presidente auferiu mais de 4 milhões e meio de euros. A simpatia extrema com que fui tratado num desses hotéis, no sudoeste asiático, acabou por fazer com que tivesse uma interação muito maior que o habitual com quem lá trabalha. Fiquei a saber, por exemplo, que há pessoas (não sei se todas) que não têm sequer direito a um dia completo de descanso semanal – e nem valerá a pena comentar muito os níveis salariais. Certamente isso não acontecerá no segundo hotel do grupo que frequentei, em França, país onde os direitos laborais ainda beneficiam de muito razoável protecção. Ainda assim, era visível a falta de pessoal para os serviços necessários e a desproporção entre as 4 estrelas que classificam o estabelecimento e a qualidade do atendimento. Só um exemplo, que haveria muitos outros: várias vezes me dirigi ao bar para tomar um café antes de sair do hotel e quase nunca tinha alguém que me atendesse, ainda que o dito bar estivesse aberto; dirigia-me então à recepção, de onde telefonavam à pessoa que me deveria atender, entretanto ocupada noutra tarefa qualquer. Uma polivalência forçada numa equipa intencionalmente insuficiente, que contribui – tal como a ausência de descanso para quem trabalha no sudoeste da Ásia – para as poupanças necessárias ao magnânimo pagamento dos magníficos serviços do mais alto gestor da companhia. É muito disto que se faz a dinâmica turística global contemporânea: custos mínimos, exploração máxima, lucros altos e remunerações aberrantes e injustas para os administradores de topo. Também é assim que se constroem sociedades cada vez mais desiguais, exclusivas e injustas, como as que vamos observando na fase actual do capitalismo. Não é só no turismo, certamente – em muitos outros sectores se assiste a práticas semelhantes e a uma crescente desproporção entre os salários dos trabalhadores e dos gestores de topo. Mas não deixa de ser sintomático que a uma economia menos orientada para a incorporação de conhecimento e tecnologia e mais dependente de experiências turísticas de baixo custo e baixa incorporação de valor acrescentado corresponda também uma sociedade mais desigual e injusta.
Raquel Moz SociedadeNegócios | Jovens empresários juntam-se para mudar o ambiente em Macau Resolver os problemas ambientais num só fim-de-semana pode parecer ambicioso, mas é o que se propõem fazer centenas de jovens empresários em 60 cidades de todo o mundo. Os empreendedores locais reúnem-se de hoje até domingo [dropcap]O[/dropcap] 1º Fim-de-Semana Global de Startups, dedicado à Revolução da Sustentabilidade, realiza-se entre hoje e domingo, 21 a 23 de Junho, no hotel Sofitel em Macau. O evento acontece ao mesmo tempo noutras 50 cidades em todo o mundo, que durante 54 horas vão partilhar e apresentar projectos, ideias e produtos. O evento pretende promover a interacção entre profissionais, investidores, especialistas e mentores. A organização quer orientar todos aqueles que tenham um projecto em potência, com vista à criação de futuros produtos e serviços. Macau participa no segundo fim-de-semana desta iniciativa global, juntamente com outras 25 cidades, após um primeiro grupo de 26 cidades ter feito parte da ronda inicial do evento, no fim-de-semana passado, que incluiu a vizinha cidade de Hong Kong. O encontro conta já com cerca de 40 pessoas inscritas, para o desenvolvimento de projectos e apresentação de resultados, esperando-se outras 80 pessoas na cerimónia de apresentação dos protótipos e resultados, no último dia, domingo, antes da festa de encerramento. Os espectadores interessados podem ainda adquirir bilhete para essa sessão na página web da Techstars, pelas 16h30, ao preço único de 100 patacas. Por onde começar? Os participantes do encontro foram instados a trazer uma ideia para resolver ou inovar em termos ambientais, tema que inquieta cada vez mais a comunidade internacional e tem influência directa na vida das pessoas. Os desafios são variados: novos produtos ecológicos, planos para atrasar a obsolescência dos equipamentos, reciclagem e requalificação de materiais, redução de desperdícios alimentares, mais produção e distribuição local, construção de sistemas de eficiência energética, reconstrução sustentável de edifícios, concepção dos sistemas de transportes do futuro, e planeamento de cidades inteligentes, inclusivas e mais resilientes. “A humanidade precisa de soluções concretas para o futuro”, revelou Kenny Lei, um dos membros da organização. Uma delas começa já neste encontro de startups, com o desafio Zero Desperdício, onde foi pedido aos participantes que levassem o seu próprio material para evitar o excesso de lixo descartável e reforçar o exemplo de cidadania. O repto foi feito em todas as edições internacionais do encontro. Os melhores projectos serão avaliados na cerimónia de domingo. Os vencedores vão ter direito a seis meses de espaço gratuito em sistema de co-working no Macau Hub, entre outras regalias oferecidas pelas empresas patrocinadoras. E o Top 20 de vencedores globais oferecerá o direito a programas de incubação e workshops de aprendizagem com mentores internacionais. A única advertência da organização aos participantes “é o risco de terem que se demitir dos seus empregos na manhã de segunda-feira, para poderem montar a sua startup e seguirem o sonho de tornar o mundo melhor”, informa a página da organização.
Hoje Macau SociedadeEconomia | Startups de Macau exploram oportunidades no Brasil [dropcap]O[/dropcap]nze empresas ‘startup’ de Macau realizaram um conjunto de viagens no Brasil para reforçar o intercâmbio com incubadoras locais e explorar oportunidades no mercado brasileiro, foi ontem anunciado. No Rio de Janeiro, foram realizadas visitas à “Fábrica de Startups”, aceleradora portuguesa com sede na cidade, e ao centro de incubação “Startup Rio”, de acordo com o comunicado da Direcção dos Serviços de Economia (DSE). Na maior metrópole brasileira, a delegação visitou o “Cubo Itaú”, espaço de inovação e tecnologia, e o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia da Universidade de São Paulo. A viagem foi organizada pela DSE, em conjunto com o Centro de Incubação de Negócios para os Jovens de Macau (CINJM). “Os projectos das empresas de Macau têm certas potencialidades no mercado brasileiro”, considerou a DSE, destacando a “plataforma de tradução inteligente multilíngue de Macau”, apresentada no decurso da iniciativa. A plataforma ecológica de tradução, estabelecida através de tecnologias de vanguarda como inteligência artificial, grande volume de dados e processamento de linguagem natural, pode criar um sistema de tradução chinês-português-inglês. “Os empresários brasileiros interessaram-se muito e consideraram que pode, através da plataforma, ser reforçado de forma mais eficaz o intercâmbio comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, indicou a DSE.
Hoje Macau SociedadeNegócios | CESL Asia adquire produtora agro-pecuária no Alentejo A CESL Asia assinou um acordo para comprar o maior grupo português produtor de gado bovino, situado no Alentejo. O investimento, o primeiro na área da agricultura da empresa de Macau, é na ordem de 40 milhões de euros [dropcap]A[/dropcap]aquisição da exploração agro-pecuária “Monte do Pasto”, do grupo Saltiproud, “é significativa”, pois trata-se de “um activo valioso com 3.700 hectares de terra agrícola”, afirmou o presidente da CESL Asia, António Trindade, lembrando que Macau tem aproximadamente 3.000 hectares de área. “É um sector chave para nós, para a China e para o mundo”, sublinhou, durante a cerimónia que teve lugar na sexta-feira. A “Monte do Pasto” é já “um negócio relevante na Europa”, exportando 30 mil cabeças de gado por ano para Argélia, Espanha, Israel, Líbano, Marrocos e Palestina, que “a CESL Asia quer apoiar” através da “plataforma Macau para o financiamento, gestão e operação de negócios para a área da Grande Baía e os Países de Língua Portuguesa”, apontou António Trindade. Base das patacas A empresa de Macau assinou ainda um acordo de cooperação estratégica com a sucursal de Macau do Banco da China. “Estamos a construir uma plataforma financeira em Macau para apoiar a nossa plataforma de desenvolvimento de projectos, ao mesmo tempo que expandimos a cooperação com instituições financeiras da China, Portugal e Macau”, realçou António Trindade. Trata-se do “primeiro banco local” a assinar este acordo de cooperação estratégica para o desenvolvimento conjunto de uma plataforma financeira para investimentos na China, Macau e os países lusófonos, indicou o presidente da CESL Asia. António Trindade sublinhou que a CESL Asia tem vindo a desenvolver, nos últimos seis anos, investimentos, gestão e capacidades operacionais em Portugal, tendo em conta a iniciativa chinesa ‘Uma Faixa, uma Rota’, o plano de construção da Grande Baía e o papel de Macau como plataforma para o comércio e a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. Na cerimónia de assinatura dos dois acordos estiveram presentes o secretário para Economia e Finanças, Lionel Leong, o director-geral do departamento para os assuntos económicos do Gabinete de Ligação, Liu Bin, a secretária-geral do Fórum Macau, Xu Yingzhen, e o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, entre outros. Fundada em 1987, a CESL Asia, empresa de matriz portuguesa em Macau, opera na área da consultadoria e operação nos sectores da energia e do ambiente, conta com 450 funcionários e tem um volume de negócios a rondar os 40 milhões de dólares norte-americanos (323 milhões de patacas).
Hoje Macau SociedadeComércio | Volume de negócios a retalho atingiu os 18 mil milhões [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]volume de negócios do comércio a retalho de Macau atingiu 18 mil milhões de patacas no segundo trimestre, mais 23,7 por cento face ao período homólogo do ano passado, indicam dados oficiais. De acordo com a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), entre Abril e Junho, o volume de negócios de relógios e joalharia representou 21,1 por cento do total, seguindo-se os volumes de negócios de mercadorias de armazéns e quinquilharias (15,8 por cento), artigos de couro (13,4 por cento) e vestuário para adultos (12,4 por cento). Contudo, em comparação com os três primeiros meses do ano, o volume de negócios do comércio a retalho do território caiu 13,4 por cento no segundo trimestre. No segundo trimestre, comparando com o mesmo período do ano passado, registaram-se subidas significativas nos volumes de negócios dos principais tipos de comércio a retalho: artigos de comunicação (+65,3 por cento); artigos de couro (+36,9 por cento); mercadorias de armazéns e quinquilharias (+34,2 por cento); vestuário para adultos (+26,7 por cento) e automóveis (+24,7 por cento), de acordo com a DSEC. Por outro lado, nos meses de Abril a Junho em comparação com os três primeiros meses do ano, o volume de negócios de artigos de comunicação caiu 43,2 por cento, o vestuário para adultos sofreu uma queda de 23,2 por cento, bem como relógios e joalharia (-13,4 por cento). Já nos primeiros seis meses do ano, o volume de negócios do comércio a retalho atingiu 38,79 mil milhões de patacas, mais 24,9 por cento face ao período homólogo do ano passado.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasSupreme, supermercado | A nova mercearia do bairro [dropcap style=’circle’] O [/dropcap] supermercado Supreme, localizado na Taipa, tem desde Setembro uma nova gerência e um novo ambiente. De pequeno local de comércio, com pouca variedade de produtos, o Supreme passou a ser uma superfície comercial onde os clientes encontram tudo o que pretendem num só lugar. Encher a despensa em Macau nem sempre é fácil e requer, sobretudo, uma logística e deslocação a vários locais de comércio, pois é difícil encontrar tudo o que se precisa num só espaço. Foi a pensar nesta lacuna que Lúcia Costa, juntamente com outros sócios, resolveu apostar na renovação do supermercado Supreme, localizado bem no coração da Taipa. O que antes era um pequeno local de comércio passou a ser um supermercado de maior dimensão, que pretende oferecer aos clientes uma experiência completa ao nível de compras. “Em Macau toda a gente sente que tem de ir a mais do que um supermercado comprar as coisas. Há uma competição dos outros supermercados, mas também acho que nos completamos uns aos outros. O que estamos a tentar fazer, mas isso leva tempo, porque só abrimos em Setembro, é que uma pessoa compre tudo o que precise ali, em vez de saltitar de supermercado em supermercado.” Com uma experiência de sete anos neste sector, Lúcia Costa e parte dos sócios com que trabalha no supermercado já operavam alguns serviços num outro espaço na Taipa. Porém, investir neste negócio revelou-se uma oportunidade imperdível. “Nós já tínhamos um talho e mais alguns serviços no supermercado Park n Shop, e soubemos que este espaço estava disponível para arrendamento. Vimos nisso uma oportunidade de expandir e ter uma loja só nossa.” Lúcia Costa confessa que a maior parte dos clientes tem tido uma reacção positiva face ao novo supermercado. Ainda assim, há “alguns clientes que estavam habituados ao antigo Supreme, que tinha muitos poucos produtos e coisas muito específicas, que nós não temos”. “No início foi difícil a adaptação dos nossos clientes à loja. Mas cada vez temos mais clientes, mais produtos e o negócio vai crescendo. Ainda estamos a estudar o mercado, mas o feedback tem sido positivo. Mantivemos o nome, mas mudamos a loja, que está completamente diferente, em termos de estética e de variedade de produtos”, acrescentou a sócia do supermercado. Aposta no vegetarianismo Uma das novidades introduzidas pelo supermercado Supreme prende-se com a oferta de produtos vegetarianos, incluindo substitutos de carnes, queijos e patés. “Há muita procura em Macau de produtos vegetarianos, mas há falta de oferta de produtos não só vegetarianos mas sem lactose e sem glúten, por exemplo. Acho que cada vez há mais procura e é muito difícil arranjá-los em Macau. Então fizemos essa aposta, para termos algo diferente dos outros.” Lúcia Costa destaca ainda o talho e as suas carnes frescas. “Cerca de 90 por cento das carnes que temos são estrangeiras, principalmente da Austrália e EUA, e aí também apostamos na qualidade. Além disso, temos ofertas, em que se o cliente comprar determinados produtos fica a metade do preço. Há coisas que ficam mesmo em conta e isso não se consegue em mais nenhum outro sítio em Macau.” Além da diversidade, os sócios do supermercado Supreme buscam a qualidade, através de um grande leque de fornecedores. “A maior parte dos nossos fornecedores são de Hong Kong. Costumamos ir lá a feiras, fazemos muita pesquisa através de contactos que já temos. É assim que vamos descobrindo cada vez mais produtos e expondo-os na loja.” “Todos os produtos têm certificado. Para trazer produtos de fora tudo tem de ter um certificado que comprove de onde vêm e com que ingredientes são feitos. Apostamos em produtos de qualidade e temos muitos produtos portugueses, canadianos, australianos, americanos, e até franceses e italianos, por exemplo.” Apesar de estar localizado na Taipa, o supermercado Supreme faz bastantes entregss a moradores da península de Macau e Coloane. Para Lúcia Costa, o facto do Supreme disponibilizar um serviço em várias línguas serve de factor diferenciador face a outros negócios semelhantes. “Em primeiro lugar é difícil comunicar em inglês em todos os supermercados em Macau. Nós aqui temos serviço em português, inglês, tagalo e mandarim, temos pessoas que falam diversas línguas, o que ajuda no serviço.” O recurso às redes sociais é também uma aposta para contactar o cliente. “Temos uma página de Facebook e tentamos sempre ter feedback dos clientes. Aí, sabemos o que podemos mudar e melhorar, e só aí haverá uma evolução. Nesse ponto, as redes sociais funcionam, sobretudo com clientes novos, quando querem saber se temos determinado produto”, concluiu Lúcia Costa.
Victor Ng PolíticaEx-presidente da AL diz que sempre sonhou ser rica [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] antiga presidente da Assembleia Legislativa (AL), Susana Chou, escreveu um texto na sua conta da rede social Weibo onde afirma que sempre teve o desejo de ser rica. Num texto intitulado “tratar bem dos outros”, Susana Chou contou que, quanto frequentava a escola secundária e a universidade, sempre sonhou ser a Marie Curie da China, até que acabou por apostar na área dos negócios. Actualmente Susana Chou está afastada da vida política, sendo directora de uma empresa de consultadoria na área comercial e tradução, de nome Perfeição. Além disso, a ex-presidente do hemiciclo foi um dos nomes referidos nos Panama Papers, na qualidade de directora da “Katanic Investment S.A.”, uma sociedade anónima com sede no Panamá, criada em Dezembro de 1985. Susana Chou deixou de admirar a mulher que criou o Rádio para passar a idolatrar Steve Jobs pelas suas invenções e declarações inspiradoras que fez no final da sua vida, relativas ao valor da fortuna na vida de cada um e na importância de amar os familiares. A ex-presidente da AL lembrou que, quando era pobre, passou por vários momentos de infelicidade, sendo que desde aí ficou com o sonho de ganhar uma grande soma de dinheiro para comprar tudo o que desejasse, como conseguir o melhor lugar no cinema ou frequentar os melhores restaurantes. Apesar de ter começado a ganhar mais dinheiro há cerca de 30 anos, Susana Chou acabou por chegar à conclusão que não ficou mais feliz por causa disso. A felicidade chegou com a recordação das más experiências no passado. A sua primeira ideia, assim que começou a viver melhor financeiramente, foi ajudar os outros, dando dinheiro a quem tivesse dificuldades para resolver os problemas mais urgentes. No texto, a antiga presidente da AL reitera que, durante 20 anos, se dedicou às acções de caridade, concluindo que ajudar os outros lhe permitiu ter benefícios para si própria.
João Santos Filipe Ócios & Negócios PessoasChamberlain, Soluções de marketing online Lio Pek Mui fundou em 2010 a Chamberlain e hoje oferece ferramentas de promoção para as empresas que apostam nas vendas através das redes sociais. Além disso disponibiliza acções de formação em marketing online [dropcap style≠‘circle’]F[/dropcap]undada em 2010, a Chamberlain apresenta um conjunto de soluções de marketing para as empresas que desejam promover-se e vender os seus produtos através das redes sociais. Além disso com o tempo, a empresa fundada pela residente Lio Pek Mui, começou a diversificar e a apostar na oferta de cursos e acções de formação ligadas ao marketing, mas também nas áreas das línguas, piano, manicura, etc.. “É uma empresa que aposta na publicidade online, nomeadamente ao nível do design de conteúdos de promoção como a elaboração de posters, covers para páginas do facebook, imagens ou vídeos”, disse Bami Lio, fundadora e designer de comunicação da Chamberlain, ao HM. “Começamos a funcionar em 2010 e nessa altura apostávamos mais no design de websites. Ainda é algo que fazemos, mas temos apostado mais no desenvolvimento dos conteúdos de promoção para as redes sociais”, acrescentou. A nível do ensino superior, Lio Pek Mui estudou jornalismo e comunicação, em Macau e mais tarde apostou num curso de telecomunicações, em Taiwan. No entanto, a Chamberlain foi sempre conciliada, até porque surgiu de um interesse genuíno em marketing. “Sou uma pessoa com um interesse forte no marketing e na comunicação de forma geral. Considerei que com esta empresa apresentava uma solução relativamente nova no mercado e que me permitiria fazer algo de que gosto”, justificou. Neste momento, em termos de empregados, Lio Pek Mui é a única pessoa que faz parte dos quadros da empresa. Para os serviços oferecidos em que não é especialista, recorre a uma rede de colaboradores. “Temos uma oferta de serviços alargada por isso recorremos a uma rede de colaboradores. Mesmo para mim, esta não é ocupação a tempo inteiro, desenvolvo outras actividades foram da Chamberlain”, frisou. Oferta de cursos Além dos serviços prestados, a Chamberlain dispõem igualmente da oferta de vários cursos. Apesar de no início a plataforma se focar principalmente nas ferramentas de marketing online, com o tempo a oferta foi alargada através de acordo com colaboradores. Recentemente a empresa oferece esteve envolvidas nos cursos de formação: “Marketing Online: Design e Gestão” e ainda “Segredos que os empresários do mundo online e do Taobao não te vão contar”. “Também oferecemos diferentes tipos de formação para os interessados, passando por online marketing, técnicas de utilização de dispositivos móveis para a promoção de empresas, ou mesmo sobre a utilização mais básica para utilizar telemóveis inteligentes. Disponibilizamos ainda cursos de línguas, manicura, piano, e mesmo de magia entre outros”, explicou. Como parte da promoção da Chamberlain, Lio Pek Mui decidiu candidatar-se a um lugar no espaço Anim’Arte do lago Nam Van. A candidatura teve sucesso, mas as expectativas não têm sido totalmente correspondidas. “Como actuamos na área das indústrias criativas tivemos a possibilidade de nos candidatar a um espaço no lago Nam Van. O lado bom é que os visitantes são 50 por cento turistas e 50 por cento locais. Os locais que frequentam este espaço normalmente estão muito atentos à formações que oferecemos”, frisou. “O número de visitantes à área não tem correspondido totalmente às expectativas. Tem o lado positivo de ter turistas e residentes a frequentá-lo, mas acredito que talvez no Tap Seac houvesse mais pessoas a ver o nosso espaço”, confessou.
Hoje Macau China / ÁsiaNegócios | Regras podem vir a ser aliviadas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] recente período de calmaria nos mercados accionários da China ajudou a criar um ambiente apropriado para um novo relaxamento das regras para os negócios com índices futuros e a implementação de novas medidas de liberalização, segundo um comentário publicado pela imprensa estatal. Este ano, o mercado de ações do tipo A tem operado de forma tranquila, com forte redução da volatilidade, uma estrutura de valorização mais razoável e a recuperação da confiança dos investidores, pode ler-se num artigo publicado na edição desta quinta-feira do Economic Information Daily, jornal produzido pela agência de notícias estatal Xinhua. “O mercado atingiu as condições para mais reformas voltadas para os mercados e o relaxamento apropriado dos futuros das acções”, diz a publicação. Reservas cambiais voltam a aumentar [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s reservas cambiais da China, as maiores do mundo, subiram 0,35% em Agosto, face ao mês anterior, para 3,09 biliões de yuan, a aumentarem pelo sétimo mês consecutivo, informou ontem o Banco do Povo da China. O aumento fixou-se em 10.800 milhões de dólares. A empresa de análises Capital Economics calcula que o banco central chinês adquiriu 15.000 de dólares em reservas, ao longo do mês de Agosto. A valorização do yuan, a moeda chinesa, nas passadas semanas, também terá resultado numa menor procura por moedas internacionais, uma tendência que a Capital Economics prevê que continue ao longo dos próximos dois anos, levando a uma redução na saída de capitais.
Hoje Macau China / Ásia MancheteMyanmar | Autocarros geram polémica na governação de Aung San Suu Kyi [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram mais baratos, chegaram mais depressa e são um sinal das boas relações que se pretende ter com Pequim. O Governo de Yangon comprou a três empresas chinesas os autocarros que circulam na cidade. O processo de aquisição, por sugestão da embaixada da China, está a causar desconforto dentro e fora do Myanmar. Mas Aung San Suu Kyi prepara-se já para outros negócios Dificilmente poderia ser mais visível o primeiro grande projecto da liderança de Aung San Suu Kyi ligado às infra-estruturas: centenas de autocarros amarelos circulam pelas ruas de Yangon. O partido da Nobel da Paz, no poder, tem nas novas viaturas a expectativa de que sirvam como símbolo do quanto pretende transformar a vida de quem vive no Myanmar. Mas os dois negócios feitos para a importação de dois mil autocarros de fabrico chinês, com um orçamento estimado em mais de 100 milhões de dólares norte-americanos, estão a causar uma invulgar perturbação dentro do partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND). Há deputados regionais que questionam o custo do projecto e acusam o ministro-chefe de Yangon, Phyo Min Thein, de falta de responsabilização. Phyo Min Thein é tido como sendo um protegido de Aung San Suu Kyi, explica a agência Reuters. “O Governo de Phyo Min Thein sofre de falta de transparência”, afirma um deputado de Yangon da LND, Kyaw Zay Ya. “A imagem do Governo sairá manchada se ele não mudar de atitude.” O negócio, feito com fabricantes chineses e com um empresário com ligações à junta militar que governou o Myanmar ao longo de várias décadas, contribuiu também para azedar as relações com o Ocidente, de acordo com diplomatas. Não há qualquer indício de que tenham sido violadas leis na celebração dos contratos, mas o embaixador da União Europeia no país, Roland Kobia, queixou-se numa carta enviada ao ministro do Comércio, Than Myint, de falta de transparência nos processos públicos de adjudicação de serviços e obras. “Neste momento, a economia interna continua a ser dominada por um pequeno número de agentes domésticos e regionais, com velhas práticas que inviabilizam a competição justa”, escreveu Kobi numa carta datada de Junho, citada pela Reuters. O diplomata não fez referência específica ao negócio dos autocarros. Os veículos chineses custaram cerca de metade do preço praticado pela concorrência internacional. Engenheiros que os inspeccionaram no Myanmar acreditam que terão uma vida mais curta do que aqueles que seguem padrões internacionais. Phyo Min Thein não fala do assunto às agências internacionais. Mas tanto ele, como outros ministros têm vindo a público defender o negócio, argumentando que o entendimento entre o Myanmar e a China fez com que tivesse sido possível adquirir os autocarros a um preço de desconto, tendo sido rapidamente entregues. Em resposta à Reuters, o embaixador da União Europeia sublinhou que “muitos actores europeus estão prontos para trabalhar no Myanmar, mas é preciso fazer mais para que possam ter uma hipótese justa de competirem por contratos”. Roland Kobia referia-se, em termos gerais, a maior transparência nos concursos públicos. O Ministério do Comércio não comenta as observações do diplomata europeu. Quando Aung San Suu Kyi subiu ao poder, em 2015, os analistas acreditaram que as empresas de países europeus teriam oportunidades na antiga Birmânia. Afinal, tinham sido os governos ocidentais os grandes entusiastas das mudanças de regime no país do Sudeste Asiático, aqueles que mais aplaudiram a transição para a democracia, iniciada em 2011. A aquisição dos autocarros vem apenas realçar por que razão os apoiantes de Aung San Suu Kyi no Ocidente estão cada vez mais desiludidos com a Administração do Myanmar, que tem um interesse crescente pelos negócios com a China. Fazer depressa Phyo Min Thein, um político carismático de 48 anos que passou quase 15 deles atrás das grades por se opor à junta militar, costuma dizer que não tem tempo a perder. Propôs-se remodelar o antiquado sistema de trânsito de Yangon, oferecendo ao partido de Aung San Suu Kyi uma das primeiras oportunidades de melhorar, de forma tangível, as vidas de mais de dois milhões de passageiros, numa cidade que votou na LND de forma esmagadora. No ano passado, as autoridades de Yangon rejeitaram uma proposta da Corporação Financeira Internacional, ligada ao Banco Mundial, para melhorar a rede de tráfego. A recusa teve que ver com detalhes no plano, que exigia uma monitorização detalhada do trânsito e a realização de um concurso público. De acordo com fontes da Reuters, para o negócio dos autocarros chegou a haver conversações com fornecedores franceses e holandeses, que não deram em nada, uma vez que não eram capazes de responder à rapidez exigida por Phyo Min Thein. Assim, a Yangon Bus Public Company (YBPC), uma parceria público-privada que tem o Governo da cidade como accionista principal, decidiu comprar mil autocarros de dois fornecedores chineses escolhidos pelo embaixador de Pequim no Myanmar, Hong Liang. Mais mil viaturas foram adquiridas a uma terceira empresa, num negócio privado celebrado com o empresário Kyaw Ne Win, neto de Ne Win, um antigo líder da junta militar. Nas duas aquisições, não houve concurso público. A assembleia regional também não debateu o assunto. “Sim, as pessoas podem dizer que não existe transparência”, assume o presidente da YBPC, Maung Aung. “Mas abrir um concurso não é necessariamente melhor. O negócio foi feito para manter as boas relações entre os dois países.” Amigos como nunca Desde que Aung San Suu Kyi subiu ao poder, o Myanmar tem tentado aproximar-se da China. Em 2011, o Governo birmanês bloqueou um negócio financiado por Pequim. A Nobel da Paz quer acabar com o azedume que ficou dessa altura. A aproximação à China e, sobretudo, a postura em relação à minoria muçulmana Rohingya têm provocado alterações no estatuto de Aung San Suu Kyi a Ocidente. Numa viagem feita há quase um ano, em Setembro de 2016, Aung San Suu Kyie e o Presidente Xi Jinping discutiram como é que o Myanmar pode tirar partido da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. A líder birmanesa admitiu, na altura, reticências da população do país em relação à qualidade dos produtos chineses, tendo proposto a Xi Jinping que a embaixada chinesa ajudasse a encontrar os melhores fornecedores, indicou à Reuters fonte envolvida no negócio dos autocarros. O primeiro acordo para a aquisição dos veículos foi assinado em meados de Abril. Dois meses depois, as empresas escolhidas – a estatal Anhui Ankai Automobil e a privada Zhengzhou Yutong Bus – entregaram, cada uma, 500 autocarros amarelos. A Zhengzhou Yutong é liderada por Yuxiang Tang, membro da Assembleia Popular Nacional. Desconhece-se qual foi o critério para a escolha dos dois fornecedores. O presidente da Yangon Bus Public Company limitou-se a dizer que os governos das províncias onde estão localizadas as empresas deram “garantias de qualidade”. Fonte não identificada de uma das construtoras chinesas disse à Reuters que acordos feitos nestes moldes “são muito raros” porque, “noutros países, existem por norma concursos e é necessário seguir as regras estabelecidas”. A embaixada chinesa em Yangon não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pela agência de notícias.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping pede mais abertura e melhoria do ambiente de negócios O presidente não se cansa de incentivar os líderes sectoriais e exige medidas concretas para melhorar o ambiente de negócios. [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China deve melhorar o seu ambiente de investimento e de mercado, acelerar a abertura ao mundo e reduzir os custos de operação, declarou na segunda-feira o presidente chinês, Xi Jinping. O país deve “criar um ambiente de negócios estável, justo, transparente e previsível, bem como acelerar os esforços para construir uma economia aberta com o fim de promover o desenvolvimento sustentável e saudável da economia chinesa”, disse Xi numa reunião do Grupo de Liderança Central para Assuntos Financeiros e Económicos, revelou a Xinhua. Uma meta importante da construção de uma economia aberta é estimular a melhoria das instituições e leis nacionais para obter uma eficiência e uma força competitiva maiores no mercado global, indicou o presidente. “O investimento estrangeiro desempenhou um papel significativo no desenvolvimento económico da China ao promover uma distribuição razoável dos recursos e impulsionar as reformas orientadas ao mercado”, disse Xi. “A China deve continuar a aproveitar melhor o investimento estrangeiro para avançar com reformas estruturais do lado da oferta, actualizar a economia e atingir o nível do desenvolvimento tecnológico global”, acrescentou. Xi pediu ainda a aceleração dos esforços para eliminar as restrições ao acesso e à propriedade de estrangeiros em sectores como os cuidados infantis, cuidado de idosos, projectos arquitectónicos, contabilidade, auditoria, comércio, logística, comércio electrónico, manufacturas e serviços. A abordagem de “lista negra” da gestão do investimento estrangeiro, que foi adoptada em zonas de livre comércio piloto no país, deve ser expandida a toda a nação o mais cedo possível, mencionou Xi. A lista negra identifica os sectores e negócios que estão fora dos limites ou restringidos para o investimento. Xi também pediu mais rapidez na unificação das leis e regulamentos sobre negócios nacionais e estrangeiros e na criação de novas leis fundamentais sobre o investimento estrangeiro. “Leis, normas e políticas que não correspondam à direcção geral e ao princípio de abertura devem ser abolidas ou revistas num prazo determinado, e deve-se dar tratamento nacional a leis e políticas relativas a companhias com fundos estrangeiros depois de entrarem no mercado”, disse o presidente. Xi pediu às megacidades, como Pequim, Xangai, Cantão e Shenzhen, que liderem a melhoria do ambiente de negócios e pediu acções para reduzir as inspecções e multas a companhias e proibir cobranças ilegais. O presidente sublinhou a importância de proteger os direitos de propriedade intelectual (DPI), e pediu às autoridades para melhorarem as leis e regulamentos, elevarem a qualidade e eficiência das revisões de propriedade intelectual, e acelerarem a actualização institucional para a proteção dos DPIs relacionados aos sectores emergentes e novos tipos de negócios. “As más condutas devem ser punidas mais severamente para que os infractores dos DPIs paguem um alto preço”, disse. Ao falar sobre o sector financeiro, Xi indicou que as áreas que ajudam a proteger os direitos e interesses dos consumidores, promovem a competência ordenada e previnem os riscos financeiros, devem ser abertas com prontidão. Xi pediu esforços para avançar na abertura da conta de capital de maneira ordenada e impulsionar com firmeza o yuan para que se torne uma moeda internacional. O mecanismo de formação da taxa de câmbio do yuan deve ser melhorado e o valor da moeda deve manter-se basicamente estável e num nível razoável e equilibrado, disse Xi. Para manter-se ao ritmo da abertura financeira, a China precisa ter uma forte capacidade reguladora, indicou o presidente. O mandatário pediu que os reguladores financeiros aprendam com as experiências internacionais, abordem os laços fracos e melhorem a forma de regulamentação. Sobre o comércio exterior, Xi sublinhou a expansão de importações ao manter a estabilização de exportações, para promover a balança de pagamentos sob a conta corrente. O presidente também exigiu medidas para que o comércio exterior se liberalize mais e seja mais conveniente e assinalou que os custos institucionais das importações devem diminuir, que a autorização de quarentena e alfândegas devem ser racionalizados, e que as queixas das companhias devem ser melhor atendidas. “As autoridades devem estudar a redução de tarifas a certos artigos de consumo e incentivar a importação de produtos especializados”, indicou Xi. É necessário desenvolver no país um ambiente de mercado caracterizado por condições de igualdade que dê aos negócios o mesmo trato em cobrança de taxas, quarentena de importação e comercialização para dar capacidade à voz dos consumidores e do mercado, assinalou o presidente.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaPonte do Delta | Au Kam San questiona custos para Macau Contas são um mistério O deputado Au Kam San pretende saber o valor total que Macau terá de suportar face às derrapagens orçamentais com a construção da nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. E questiona o silêncio do Executivo sobre o assunto [dropcap]A[/dropcap] nova ponte que vai ligar Hong Kong, Zhuhai e Macau deverá receber os primeiros veículos ainda este ano, tendo um orçamento superior a cem mil milhões de yuan. Porque o projecto foi sofrendo atrasos e derrapagens orçamentais, com Hong Kong a anunciar, recentemente, que as duas regiões administrativas especiais teriam de investir mais na obra, o deputado Au Kam San questionou o Governo sobre o valor da factura que será suportada pela RAEM. Numa interpelação escrita, o deputado lembra que o orçamento inicial do projecto estava estimado em 38 mil milhões de yuan, sendo que 15,73 mil milhões seriam nanciados pelas três regiões onde a ponte vai ser construída. Por sua vez, os restantes 20 mil milhões de yuan “seriam pagos através do crédito bancário a ser contraído pelo consórcio do empreendimento”. “De acordo com essa estrutura de nanciamento, Macau teria de assumir 1,980 mil milhões de yuan. Porém, com a contínua derrapagem orçamental que se tem veri cado nesse empreendimento, qual vai ser, a nal, o montante da des- pesa que Macau vai ter de assumir?”, questiona Au Kam San. O deputado alerta ainda sobre o silêncio do Governo sobre esta matéria, defendendo que “o público tem vindo a ser iludido e completamente deixado às escuras”. “Quando o membro do Governo responsável pela tutela desse projecto, Raimundo do Rosário, foi questionado sobre o assunto, apenas respondeu que o ‘Governo tem verba já cabimentada para a ponte sobre o Rio das Pérolas’e, quando questionado sobre se aquele montante seria su ciente, apenas a rmou ‘vamos ver à medida que andamos’, sem acres- centar mais nenhuma informação para o público”, lembra Au Kam San. E AS LIGAÇÕES? Para Au Kam San, há também muito para explicar sobre o custo das instalações físicas da ilha arti cial. O projecto é da responsabilidade do Governo local, tendo as obras sido entregues a empresas da China Continental. Contudo, “não foram revelados por- menores quanto ao montante das despesas relativas a essa parte do empreendimento. Qual é o montante das despesas com essas obras? E quando é que as mesmas vão estar concluídas?”, inquiriu. “O público tem vindo a ser iludido e completamente deixado às escuras.” Au Kam San destaca ainda o facto de serem necessárias duas ligações para unir a futura ilha artificial aos novos aterros e também à península, além de serem “indispensáveis as infra-estruturas rodoviárias situadas na zona dos novos aterros, que estão relacionadas com essas duas ligações”. Também para estes projectos o de- putado deseja saber detalhes. “Quando é que vai ser iniciada a construção dessas três ligações? E quando é que estará concluída? Qual é o orçamento para cada uma das referidas ligações?”, perguntou. UM MILAGRE Na interpelação escrita, o deputado de- fende também que “Macau tem passado ao lado da construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”, pois “olhando para o que está a acontecer, até agora nada se mexeu”. “Segundo o secretário Raimundo do Rosário, Macau vai tomar medidas necessárias para que a ponte seja aberta à circulação automóvel em finais do corrente ano. Mas ninguém acredita que, em dez meses, possa estar concluída a ligação do troço de Macau da ponte sobre o Rio das Pérolas, no qual se inclui o edifício da inspecção alfandegária de Macau.” O deputado duvida ainda que “estejam prontos os canais aquáticos que estabelecem a ligação da ilha artificial à zona dos novos aterros e a conexão desta área com a península de Macau, bem como as obras de infra-estruturas desses dois canais localizados nos referidos novos aterros”. Au Kam San questiona mesmo se “vai haver algum milagre” para que todos esses projectos sejam edificados a tempo e horas. Ainda assim, “até ao momento, a maior incógnita continua a ser o encargo da construção do troço de Macau da ponte sobre o Rio das Pérolas, e o montante da derrapagem orçamental e da despesa que Macau vai ter de assumir. E, além disso, ainda o montante das despesas com as infra-estruturas rodoviárias para a ligação entre essa ponte e a península de Macau”, rematou.
Hoje Macau SociedadeLucros da SJM caíram 5,6 por cento em 2016 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Sociedade de Jogos de Macau (SJM) anunciou uma queda de 5,6 por cento nos seus lucros em 2016, que totalizaram 2,327 mil milhões de dólares de Hong Kong. Num comunicado enviado à bolsa de Hong Kong, a SJM reportou uma queda de 11,5 por cento no EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) para 3,417 mil milhões de dólares de Hong Kong, comparando com 2015. As receitas de jogo diminuíram 14,5 por cento, de 48,282 mil milhões de dólares de Hong Kong para 41,272 mil milhões em 2016. A SJM informou que em 2016 as receitas do grupo geradas pelo mercado VIP caíram 20,5 por cento e que as receitas no segmento de massas diminuíram 8,2 por cento. “Em 2016, o grupo representou 19,1 por cento das receitas dos casinos de Macau, no valor de 216,709 mil milhões de dólares de Hong Kong. A quota de mercado global do grupo diminuiu em relação aos 21,7 por cento registados em 2015”, adianta o comunicado. Até 31 de Dezembro, a SJM tinha 315 mesas de jogo VIP em operação (menos 71 em relação a 2015) e 20 promotores VIP (mais um do que no ano anterior). As receitas VIP do grupo passaram a corresponder a 17,3 por cento do total gerado pelos casinos de Macau nesse segmento, quando em 2015 a SJM detinha 20,2 por cento de quota no mercado VIP. Segundo a informação divulgada à bolsa de Hong Kong, a construção do novo empreendimento da SJM – o Grand Lisboa Palace – iniciada a 13 de Fevereiro de 2014, deverá estar concluída no final deste ano e abrir no primeiro semestre de 2018. A SJM disse em comunicado que “o desempenho do grupo em 2017 e no médio prazo é susceptível ao desempenho económico global da região envolvente, às políticas governamentais, e ao nível de visitantes, assim como ao ambiente de concorrência entre os operadores de casinos em Macau”. “Embora não seja claro por quanto tempo vão manter-se as condições que inibiram o crescimento da receita de jogo, o grupo mantém-se optimista quanto às suas perspectivas de futuro, tendo em conta o potencial de crescimento dos visitantes e despesa em Macau, o desenvolvimento de infra-estruturas que melhorem o acesso à região, e a prosperidade geral da região asiática”, acrescentou.
Sofia Margarida Mota Ócios & NegóciosSofi Handmade – Artesanato | Fong Mei I, proprietária Sofi Handmade é a marca criada por Fong Mei I. A jovem de Macau vê na concepção de acessórios uma paixão e já tenciona passar o conhecimento a outros. Para já, tem as peças disponíveis nas várias feiras de artesanato do território, e em lojas em Macau e na Taipa [dropcap]F[/dropcap]ong Mei I tem 26 anos e é a responsável pela pequena empresa de artesanato Sofi Handmade. O negócio é a tempo parcial para a recém licenciada em língua e literatura chinesa, mas é fruto de um gosto pessoal pelo trabalho feito com as mãos. Foi mesmo a paixão pelo artesanato que levou Fong Mei I a deixar o emprego a tempo inteiro de modo a ter mais espaço para esta actividade alternativa. “Há uns anos tinha um emprego mas queria dedicar-me mais ao artesanato. Agora estou a trabalhar a tempo parcial e tenho mais flexibilidade de horários”, refere ao HM. O tempo é fundamental, não só para a produção dos objectos, mas também para a sua comercialização. “Agora, tenho mais disponibilidade para participar em actividades que envolvam o artesanato e a participação em feiras relacionadas”, menciona a jovem local. O interesse pelo artesanato e pela criação de objectos únicos data de 2012, altura em que começou a “aprender sozinha algumas técnicas através da visualização de vídeos na Internet”. O resultado foi a produção de acessórios, essencialmente brincos, colares e pulseiras recorrendo à utilização de metal, missangas e cristais. A actividade da Sofi Handmade começou timidamente e como resposta a um convite de amigos. “No início de 2015 comecei a criar objectos mas, naquela altura ainda não tinha a minha própria marca. Foi através do convite de uns amigos que queriam participar numa feira local de artesanato promovida pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM)”, recorda. A responsável pela Sofi Handmade fez algumas peças que acabaram por ser vendidas e decidiu criar a sua própria marca. Satisfeita com o desenvolvimento da actividade e com a aceitação do público, a artesã classifica as suas peças como “bonitas”. Os clientes são essencialmente jovens do sexo feminino. “A maioria dos meus clientes são meninas que gostam de se vestir bem”, afirma. No entanto, o mercado tende a alargar. Com a crescente participação em feiras locais, a artesã tem constatado que, cada vez mais, os interessados nas suas peças vão desde crianças a adultos “com mais de 50 anos”. Fong Mei I revela ainda que o negócio está a crescer e os seus produtos já têm espaço fora das tendas. “Já tenho peças em duas lojas onde apresento as minhas criações em regime de consignação, a Binshu Studio em Macau e a Youth Works, na Taipa”, diz. Para o desenvolvimento do projecto, a proprietária considera fundamental os apoios que o Governo de Macau tem vindo a conceder ao sector do artesanato. “A feira promovida pelo Instituto Cultural, no Tap Seac, é muito importante”, afirma. “É ali que mais vendo e onde ganho grande parte das minhas receitas”. A razão, afirma, prende-se com o facto de ser um local em que passa muita gente de diferentes origens. “O certame integra artesões de regiões diferentes. Além de Macau existem feirantes de Hong Kong, Malásia, Cantão e da Coreia do Sul. É a maior actividade de criatividade cultural”, explica. O negócio vai de vento em popa e Fong Mei I vê o futuro com bons olhos. Além da produção, a jovem local quer agora lançar-se no ensino das suas artes. “Vou continuar a participar nas actividades e quero realizar workshops para ensinar este ofício.”
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA China empresarial “President Xi Jinping emphasized that innovation; economic restructuring and consumption should be among the top priorities of China’s next stage of growth (the 13th Five-Year Plan for 2016–2020). The “Internet Plus” action plan seeks to drive economic growth by integration of internet technologies with manufacturing and business.” “China’s Mobile Economy: Opportunities in the Largest and Fastest Information Consumption Boom” – Winston Ma, Xiaodong Lee and Dominic Barton [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] crescimento da economia chinesa parecia imparável. O antigo modelo de crescimento, que depende fortemente do planeamento estadual e de um imenso investimento em infra-estruturas e propriedades, prospera com um uso maciço de crédito fornecido pelo sistema financeiro dominado pelo Estado, que se está a esgotar a todo o vapor. O sucesso da transformação económica da China depende da capacidade de correcção das suas instituições. Muito pode ser alcançado se forem retiradas as lições correctas do passado recente, que permitiu o inigualável sucesso económico da China, e principiar o trabalho de fazer face aos problemas estruturais que têm algemado o espírito empreendedor do povo chinês. Apesar de todas as suspeitas que muitos analistas levantam sobre a economia chinesa, a imagem não é de pesar, antes pelo contrário, havendo muitas razões para ser confiante. Embora a taxa de crescimento anual do PIB tenha caído para menos de 7 por cento, ainda representa maior produção económica do que os 14 por cento de 2007, simplesmente, porque a economia se tornou muito maior, e ao longo do tempo, temos observado o surgimento de novos tipos de empresas na China. Os altamente disruptivos são os que mais agressivamente usam novas tecnologias, como a Internet móvel para desafiar operadores ineficientes, são globais em visão, mais dispostos a assumir riscos, e mais qualificados na administração do mercado de capitais, podendo aproveitar ao máximo as potencialidades da nova tecnologia e fornecer não só melhores produtos de fabrico, mas também serviços de qualidade cada vez mais sofisticados, sendo a esperança das grandes empresas da China. As pessoas estão curiosas em saber como se explica o crescimento da economia chinesa e a forma como tal aumento implicou para o resto do mundo. O surgimento da economia chinesa decorreu do espírito empreendedor dos executivos e fundadores corporativos que tinham sido incentivados e libertos devido à reforma da China e às políticas de abertura. As suas histórias de sucesso e fracasso tornaram-se gradualmente assuntos de pesquisa de negócios e matéria de casos usados no ensino das escolas de negócios, e instrução de empresários e líderes de negócios pelo mundo. Após três décadas e meia de desenvolvimento económico, a China transformou-se de um país empobrecido na segunda maior economia do mundo. O pesquisador do Instituto de Tecnologia Computacional da Academia Chinesa de Ciências (CAS), Liu Chuanzhi, em 1984, decidiu aventurar-se no mundo dos negócios e com a ajuda de dez outros colegas, criou uma empresa de tecnologia em Zhongguancun, um distrito onde a maioria dos institutos nacionais de pesquisa estão localizados, tendo conseguido juntar RMB 200.000 como investimento inicial. O objectivo de Liu era humilde, pois tratava-se de desenvolver um sistema para acelerar a digitação de caracteres chineses em computadores e, se possível, ganhar algum dinheiro, e provavelmente estava além dos sonhos mais loucos de Liu, pensar que a sua pequena empresa se tornaria em uma das empresas de tecnologia mais bem sucedidas da China. A empresa, mais tarde conhecida como Lenovo, foi classificada como a 231.ª maior empresa do mundo em vendas pela revista Fortune, em 2015. Liu não só se orgulha da maior quota de mercado de computadores do mundo, mas também desenvolveu uma base sólida em áreas como smartphones, tablets, megadados, computação em nuvem, private equity, venture capital investment e agricultura. A Lenovo era uma empresa totalmente doméstica, antes da aquisição da unidade de computadores da IBM, em 2005. A partir de 2015, os activos e as vendas no exterior ultrapassaram 50 por cento, e os executivos não chineses representam mais da metade dos executivos seniores da Lenovo. A Lenovo tem sido amplamente vista como a empresa mais orientada para o mercado e a mais internacional da China. Em 1980, Ren Zhengfei, um ex-oficial do exército, mudou-se para Shenzhen para tentar a sua sorte. Após algumas tentativas fracassadas, fundou a Huawai Technologies, em 1988. Em menos de trinta anos, a Huawai tornou-se a fornecedora e líder mundial de equipamentos de informação e telecomunicações, exportando produtos e serviços para mais de cento e cinquenta países. As vendas totais da Huawei, em 2014, ultrapassaram duzentos e oitenta e oito mil milhões de RMB, e o seu lucro líquido foi de cerca de vinte e oito mil milhões de RMB. A Huawei tem vendas significativamente maiores do que os campeões tradicionais neste campo, como a Ericsson, Alcatel-Lucent e Siemens. A Huawei é também o terceiro maior produtor de smartphones do mundo, com mais de 9 por cento da participação no mercado mundial, desde do terceiro trimestre de 2015. A Sany Group, empresa sediada em Changsha, capital da província de Hunan, anunciou em 20 de Janeiro de 2012, a aquisição da Putzmeister, fabricante alemão de máquinas de engenharia e gigante industrial. Quando Liang Wengen fundou a Sany em 1994, possuir o “elefante” (apelido de Putzmeister) era apenas um sonho. A Sany, em menos de 20 anos, possuía o “elefante”, e também obteve acesso às tecnologias de ponta e canais de distribuição da Putzmeister em todo o mundo. O maior processador de carne da China, a Shuanghui International Holdings Ltd., em Maio de 2013, firmou um acordo de 4,7 mil milhões de dólares para adquirir a Smithfield Foods Inc., dos Estados Unidos. O negócio marcou a maior aquisição de uma empresa americana por uma empresa chinesa. A Smithfield Foods Inc. foi criada em 1936, juntamente com outras quatro empresas, e controla 73 por cento da indústria de transformação de carne de porco dos Estados Unidos. Enquanto a receita de Shuanghui foi de 39,7 mil milhões de RMB, em 2012, a Smithfield referiu uma receita duas vezes maior que o da Shuanghui, de aproximadamente de 80,3 mil milhões de RMB, em 2012. A aquisição aumentou significativamente a escala global em negócios da Shuanghui, estabelecendo uma base sólida para a sua Oferta Pública Inicial (OPI), em Hong Kong. A procura por carne de porco continua a aumentar na China, estando a Shuanghui a emergir como um império porcino. O empresário Lei Jun, em um pequeno escritório alugado em Pequim, juntamente com os seus seis parceiros, em Abril de 2010, anunciou a fundação de Xiaomi.com. Lei Jun tinha sido um empresário de sucesso antes de fundar a Xiaomi.com e levou a Kingsoft, uma empresa de desenvolvimento de software, para o estatuto de OPI. Fundou também, a Joyo, uma plataforma de comércio electrónico que foi adquirida pela Amazon. O fundador da Xiaomi.com, estava predestinado a entrar no mercado de smartphones high-end. A Xiaomi.com, um ano mais tarde, lançou o seu telefone de primeira geração com um preço de retalho de 1999 RMB. Tendo por base as vendas na Internet e o marketing de boca-a-boca, as vendas de Xiaomi.com aumentaram rapidamente, vendendo mais de sessenta milhões de aparelhos em 2014, e tornando-se o sexto maior produtor mundial de telefones celulares. O telefone móvel, para Lei Jun, não é apenas um dispositivo simples. É um equipamento que engloba software, serviços de internet e hardware. O Xiaomi.com, desde o início, tem conseguido desenvolver um ecossistema que não só abriga aplicativos, mas vende também, uma ampla gama de artigos, desde entretenimento, passando por software até serviços. A sua mais recente avaliação, efectuada no final de 2014, fixou o valor da Xiami.com em quarenta e cinco mil milhões de dólares, sendo considerada uma das mais valiosas “startups” do mundo, e uma das dez maiores empresas de Internet, em valor estimado de mercado no mundo. Durante as últimas três décadas e meia, histórias como Lenovo, Huawei, Sany, Shuanghui e Xiaomi têm abundado na China. A China empresarial está a crescer, e juntamente com a surpresa improvável do impulso da China corporativa é o rápido crescimento da economia chinesa, desde que o governo chinês iniciou a reforma económica em 1978, a China conseguiu manter uma taxa média de crescimento do PIB de mais de 9 por cento. A China ultrapassou o Japão para se tornar a segunda maior economia do mundo, em 2010. A China ultrapassou os Estados Unidos para se tornar a maior fabricante do mundo, em 2012. A China produziu menos de 3 por cento da produção total mundial, em 1990. Esta proporção aumentou para quase um quarto. Considerando a indústria do alumínio como um exemplo. Os produtores chineses de alumínio representavam apenas 4 por cento da produção mundial, em 1990 e até 2014, a sua participação aumentou para 52 por cento. Ao longo do caminho do desenvolvimento, a China também se tornou o maior consumidor de bens de luxo do mundo, bastando caminhar pelas ruas de Pequim, Xangai, Shenzhen e muitas cidades costeiras, para se poder facilmente sentir o entusiasmo dos cidadãos chineses, em que muitos parecem viver uma preocupação optimista, falando pelos iPhones, carregando malas Rimowa, calçando sapatos Prada e usando relógios Piaget. Ainda que o crescimento do PIB tenha abrandado nos últimos anos e muitos tenham perdido a fé no discurso da China, esta continua a ser o mundo da manufactura e centro de exportação, e um dos motores de crescimento mais poderoso do mundo. Todos os anos, a revista Fortune publica uma lista das 500 maiores empresas do mundo, a Fortune Global 500. Este produto clássico da revista é muito valorizado pelos meios de comunicação chineses, bem como pelas empresas chinesas. O facto de constar desta lista, para muitos, tem o significado de se tornar em uma empresa de classe mundialmente respeitada. Para a China empresarial, o real progresso deu-se em 1986, quando duas empresas chinesas entraram na lista pela primeira vez. O número de empresas chinesas na Fortune Global 500, desde então, tem aumentado, aparecendo cento e seis empresas, em 2015, em comparação com cento e vinte e oito nos Estados Unidos. A China já obteve mais empresas listadas na Fortune Global 500, desde 2011, do que a Alemanha e o Japão, tendo sido ultrapassada apenas para os Estados Unidos. As empresas chinesas, nos últimos trinta e cinco anos, transformaram-se com sucesso de acordo com a prática e os padrões de empresas como a GE, Toyota e Shell. A revista Fortune classifica as empresas globais de acordo com suas vendas totais. O limiar para a lista de 2015 foi de cerca de vinte e quatro mil milhões de dólares, correspondente a cerca de cento e cinquenta e quatro mil milhões de RMB, e mais de cem empresas relataram vendas acima dos cento e cinquenta mil milhões de RMB, em 2015, pelo que o aumento da China empresarial não poderia ser mais óbvio. Em grande medida, esta vaga simboliza o sucesso económico da China nos últimos trinta e cinco anos. Em 2015, entre as dez maiores empresas do mundo por receitas, estão três empresas estatais chinesas, a Sinopec, PetroChina e State Grid Corporation da China. A China não tinha uma única empresa no sentido moderno do termo, quando em 1978, foi forçada a iniciar a sua reforma económica. As denominadas por empresas, eram unidades de trabalho do tipo instalado na União Soviética, destinadas a cumprir as tarefas que lhes fossem atribuídas pelas agências de planeamento, em diferentes níveis. Até então, o Banco Central da China, o Banco Popular da China (PBOC na sigla em língua inglesa), sob a supervisão do Ministério das Finanças, também funcionava como um banco comercial. O PBOC desagregou as suas funções comerciais e deu forma ao Banco Industrial e Comercial de China (ICBC na sigla em língua inglesa) nos princípios da década de 1980. Desde então, o ICBC tornou-se um dos maiores intermediários finais do mundo. O ICBC, em 2015, foi considerada a décima oitava empresa mundial em termos de receita, o maior banco e a empresa mais rentável, batendo a Apple e a Exxon. Transformando-se de simples unidades de produção sob a economia planeada para empresas orientadas para o lucro e mercado, a China empresarial concluiu com êxito a sua primeira metamorfose. Estudar a ascensão rápida e inverosímil da China empresarial é trabalho fascinante, pois apresenta muitas perguntas, algumas preocupantes, tal como o facto de milhões de empresas chinesas, muitas vezes em larga escala, conduzirem negócios na ausência de infra-estrutura institucional bem desenvolvida e como se processa a aplicação da lei e a protecção dos direitos de propriedade.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasGet Shape, roupa desportiva | “Queremos atingir o público chinês” A Get Shape é uma marca de roupa desportiva que vem do Brasil e que chegou a Macau pela mão de Cácio Borges Inhaia. Desde há três anos para cá que as roupas fazem sucesso, existindo planos para a expansão em Hong Kong e na China [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oje em dia não basta fazer desporto, há que fazê-lo também com estilo. Foi a pensar nessa tendência que o brasileiro Cácio Borges Inhaia resolveu trazer a marca brasileira “Get Shape” para Macau há três anos. O negócio tem estado a correr tão bem que há até planos para a sua expansão para além das fronteiras da RAEM. “Quando a marca chegou a Macau, a ideia era vender as roupas apenas na loja de depilação brasileira ‘We love wax’. Mas como a marca está a registar um grande fluxo de vendas, estamos a pensar em expandir e vender para Hong Kong e China”, contou o importador ao HM. Cácio Borges Inhaia garante que os clientes sentem de imediato a diferença das roupas. “Ao início não reagem, mas depois o que acontece é que, em vez de levarem uma peça, levam muitas mais. A malha e o corte brasileiro são muito bons. Além de proporcionarem conforto, são peças que ajudam a definir a silhueta, o que faz com que sejam diferentes daquilo que se conhece, não só na Europa, como também em Macau.” A ideia de trazer a representação da marca para Macau partiu da vontade de mostrar o que de diferente existe no mercado do outro lado do mundo. “Hoje em dia temos uma gama de produtos para tentar atingir o público chinês e os estrangeiros que cá vivem. Achamos necessário trazer algo novo para Macau, para além do que existia, baseado num conceito um pouco retro. Quisemos trazer um design completamente novo, tanto no que respeita ao corte e às malhas de confecção, como aos estampados”, explicou Cácio Borges Inhaia. “Estamos a fazer uma nova campanha publicitária e a montar o catálogo para este ano, que já contém colecções para o Verão e o Inverno. A ideia é, com isto, entrar de cabeça no mercado chinês. No início vamos à procura de lojas e ginásios para que possamos tentar chegar directamente ao público-alvo, que são as mulheres”, disse ainda o responsável. Cácio Borges Inhaia garante que os seus produtos prometem aliar o conforto ao lado estético. “Umas calças de ganga não terão o mesmo conforto de umas leggings. As nossas malhas são de elastano que, por serem de elástico, dão muito conforto e são práticas de usar. Como é um design brasileiro, são confortáveis e encaixam bem no corpo, acabando por corrigir algumas imperfeições, como estrias ou celulite.” O responsável garante que esta junção melhora o estado de espírito de quem usa estas roupas. “Quem veste fica em forma, molda o corpo e também o estado de espírito, porque a pessoa se sente bem vestida, fica mais bem disposta e com uma maior auto-estima.” A China e o desporto É certo que a moda há muito que entrou no mundo do desporto, mas só recentemente é que a China aderiu a essa tendência. Para Cácio Borges Inhaia, trata-se de um “mercado pouco misto”, com uma gradual abertura. “Sinto que vamos lentamente introduzindo e mostrando novos conceitos, e os chineses estão à procura de novidades de outros mercados. É uma coisa boa para um país que esteve tanto tempo fechado ao mundo, e agora está a ter esta oportunidade de aceder a coisas e conceitos novos.” Apesar de considerar a moda desportiva retro, Cácio Borges Inhaia nota um aumento da prática de desporto. “Os hábitos desportivos estão a crescer cada vez mais. Temos o Crossfit e maratonas também. Este é já um mercado forte no estrangeiro e isso começa a reflectir-se por cá, não apenas para melhorar a saúde, como também a aparência”, rematou.
Isabel Castro Manchete PolíticaDeclarada caducidade de cinco parcelas em Seac Pai Van [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Executivo declarou a caducidade de cinco terrenos na zona industrial de Seac Pai Van. Ao todo, são 16.210 metros quadrados que o Governo pretende reaver em Coloane. Os concessionários, entre eles o empresário Ng Fok, não aproveitaram as parcelas para a finalidade que lhes tinha sido atribuída. Os despachos de declaração da caducidade, assinados pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, foram ontem publicados em Boletim Oficial. O primeiro lote, identificado pelas letras “SA”, foi arrendado em 1989 à sociedade Plasbor – Fábrica de Plásticos e Borrachas. O terreno destinava-se à construção de um edifício de oito pisos, sendo que em dois deles deveria ter sido criada uma unidade industrial de transformação de borracha e matérias plásticas. O prazo do arrendamento terminou a 28 de Dezembro de 2014 e “não se mostrava aproveitado”, lê-se no BO. No segundo caso, o lote “SQ1”, a área em questão é maior: são 4780 metros quadrados que foram concedidos, em 1990, à Empresa de Construção e Obras de Engenharia San Tak Fat, para a edificação de um complexo industrial de dois pisos e uma área descoberta para a instalação de diversos equipamentos da central de produção de asfalto. A 8 de Dezembro de 2015, data em que terminaram os 25 anos do período do arrendamento, nada tinha sido feito no local. Nem aço, nem sapatos Já o “SG2”, uma parcela com 1575 metros quadrados, tinha como finalidade a construção de uma fábrica de calçado. O terreno foi concedido em 1990 à Companhia de Desenvolvimento e Fomento Predial Hua Quan. O prazo de arrendamento terminou a 12 de Agosto de 2015 e, mais uma vez, sem sinais de que tivesse sido utilizado nos termos do contrato celebrado com a Administração. A RAEM deverá ainda reverter o lote “SF”, com 3375 metros quadrados, arrendado em 1990 ao empresário Lau Lu Yuen. O terreno deveria ter sido aproveitado para a construção de um edifício com oito pisos, onde era suposto ter sido instalada uma fábrica de perfis de aço inoxidável. O prazo de arrendamento terminou a 8 de Novembro de 2015. Quase um ano antes, em Dezembro de 2014, tinham chegado ao fim os 25 anos do arrendamento de uma parcela com 3488 metros quadrados, também na zona industrial de Seac Pai Van e igualmente por aproveitar. O lote “SD” foi concedido à Sociedade de Importação e Exportação Ng Fok em 1989 e destinava-se à construção de um prédio com nove pisos, sendo um deles para “indústrias”. Os concessionários dos terrenos que agora vão perder as parcelas têm 30 dias para interpor recurso contencioso para o Tribunal de Segunda Instância. Podem ainda apresentar uma reclamação para o Chefe do Executivo, no prazo de 15 dias.
Diogo Simões Tecnologia VozesStrategic Design: a variável secreta da Inovação Empresarial [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] seguro afirmar que a inovação é um dos principais motores da economia global. Novos produtos e serviços estão a concorrer com negócios antigos – o chamado “old money” – e há muito enraizados na nossa cultura, levando a que os mais desatentos os dêem como dados adquiridos. Vejamos o exemplo da Uber e a revolta que gerou nos transportes públicos e privados tradicionais. Há muito tempo que se dava como adquirido que o transporte de passageiros da localização A para localização B era uma necessidade com todas as soluções já descobertas, intensivamente testadas e validadas. A inovação tecnológica encarregou-se rapidamente de provar que essa afirmação era tudo menos verdadeira e que estaríamos no limiar de uma revolução. Como em todas as revoluções, são as pessoas que têm o papel principal. A revolução gira em torno de um descontentamento com determinados conceitos e valores que são unilateralmente impostos. No passado, quando o “old-money” reinava, o produto era dono e senhor – uma ditadura em termos de modelo de negócio. As marcas não queriam saber das pessoas nem do que estas consumiam. A estratégia era completamente invertida: existiam produtos limitados e as pessoas consumiam o pouco que existia no mercado, sem grandes alternativas de expressar a sua opinião ou de mostrar o seu descontentamento. Mas será a inovação tecnológica por si só é suficiente para gerar um novo paradigma de negócio? Será que a tecnologia foi a principal variável desta equação? Transcrevendo esta mesma equação: de um lado está uma necessidade que precisa de ser colmatada, do outro lado está a inovação tecnológica. É suficiente? Retratando de uma forma mais prática: de um lado está a necessidade de transporte de passageiros, do outro está a tecnologia para tornar empresas como a Uber possíveis. Colocando as variáveis nesta posição, estamos a descrever exactamente o modelo de negócio de tempos passados onde a simples fórmula “Problema resolvido é igual à soma da necessidade com a tecnologia.” Então o que distingue o “old-money” do “new-money”? O que faz com que, por exemplo, o maior grupo hoteleiro, com 8.000 (oito mil) quartos esteja avaliado em $7B e o Airbnb, com 0 (zero) quartos esteja avaliado em $30B? A resposta para estas perguntas é tão simples que este artigo pode parecer irrelevante: a forma de ouvir os consumidores mudou. Existe mais uma variável na tal equação que funciona tão naturalmente que passa despercebida aos olhos de quem a consome: O Strategic Design. Este processo oferece às empresas uma forma de olhar para o negócio como um todo e não apenas para as partes que pareçam mais frágeis. E muitas vezes essa fragilidade não está no produto ou serviço, está na experiência que estes oferecem aos seus consumidores, às pessoas. A experiência de utilização de um serviço, produto ou mesmo de uma marca é vital para o seu sucesso e, nos dias de hoje, não está apenas ligada à própria utilização mas também ao que a precede e sucede. Como referi anteriormente, a necessidade de transportar pessoas sempre existiu. E sempre existiram formas de a satisfazer. A pergunta que impera é: as soluções que existiam no mercado ofereciam uma boa experiência de utilização a quem as procurava? O mercado mostrou rapidamente que não. E é neste “não” que as empresas têm de trabalhar. A geração de novas ideias e conceitos é óptima para a inovação, mas esta fase é só o início do processo. As ideias precisam de ser validadas por quem vai usufruir delas: as pessoas. Os consumidores que vão comprar têm de ser ouvidos e esse feedback é crucial para as marcas e para as empresas. O sucesso do Strategic Design, aliado à tecnologia, facilmente é validado quando empresas como a Uber, Paypal, Airbnb e Netflix – entre muitas outras – o utilizam para manter viva a experiência que oferecem ao seu público-alvo. Nesta nova Era as empresas não podem olhar para o passado em busca de orientação, o sucesso depende hoje da intersecção de novas tecnologias com as rápidas mudanças nas expectativas dos clientes. É necessário que os empresários, empreendedores e decisores, descubram quem está no mercado e oferece aconselhamento em Strategic Design, para que possam começar a desenhar experiências de utilização que cativem o cliente desde o primeiro contacto com o seu negócio.
Sofia Margarida Mota China / Ásia PolíticaVeículos de Macau já podem circular na Ilha da Montanha Os veículos de Macau já podem andar na Ilha da Montanha. A ligação foi oficialmente aberta ontem e contou com a presença de Wong Sio Chak. O secretário frisou que a cooperação com os vizinhos está ainda no início, mas é já um marco na promoção da competitividade regional [dropcap]F[/dropcap]ontem oficialmente aberto o acesso de veículos de Macau à Ilha da Montanha. A cerimónia, que coincidiu com a comemoração do 17.º aniversário da transferência de administração, teve como representante oficial do Governo da RAEM o secretário para a Segurança. Para Wong Sio Chak, foi “uma medida muito bem ponderada”. A abertura da ligação rodoviária entre as duas zonas está ainda na primeira fase. O secretário explicou que poderão existir mais etapas dependendo dos trabalhos que venham a ser feitos no aperfeiçoamento da ligação. E a China aqui mais perto O reforço da cooperação regional e o alcance de uma melhor ligação com os mercados do Interior da China e internacionais foram alguns dos aspectos sublinhados pelo governante na cerimónia da entrada em circulação de veículos de Macau na Ilha da Montanha. O objectivo, reiterou, “é a ampliação de espaço de Macau, o fortalecimento de sinergias para o seu desenvolvimento e a promoção de uma diversificação moderada da economia local”. A abertura à circulação de veículos de Macau para este território da China Continental é fruto do incremento do mecanismo de cooperação entre a província de Guangdong, a cidade de Zhuhai e a RAEM. A ideia é promover “uma nova zona económica de classe mundial e uma comunidade com uma qualidade de vida elevada”. DEVAGAR SE VAI AO LONGE Se para já a medida é tomada com cautela, o objectivo das próximas fases tem objectivos mais alargados. “Acreditamos que, no futuro, esta liberdade de circulação facilitará o intercâmbio das populações de ambos os territórios, aperfeiçoando a aquisição de recursos para o desenvolvimento regional, promovendo a cooperação de complementaridade de Guangdong- -Macau, principalmente na economia de Zhuhai-Macau”, referiu o secretário. Em causa está o desejo de consolidar a cooperação, capacidade e competitividade regionais. A ideia é promover “uma nova zona económica de classe mundial e uma comunidade com uma qualidade de vida elevada”, diz Wong Sio Chak Para já, nem todos os veículos com matrícula de Macau vão poder circular livremente na Ilha da Montanha – têm de ter permissão das autoridades. Wong Sio Chak promete novidades para breve, sabendo-se já que o processo se vai desenrolar em diferentes fases e que terão prioridade condutores com ligações a Hengqin.