Ucrânia | Pequim quer retoma das negociações entre Kiev e Moscovo

No rescaldo da reunião entre os líderes das diplomacias chinesa e ucraniana, Wang Yi indica o caminho político como o único para alcançar a paz

 

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, assegurou ontem que Pequim vai “continuar a desempenhar um papel construtivo” na retoma das negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, defendendo uma “resolução política” para um cessar-fogo.

Wang reuniu ontem no sul da China com o homólogo ucraniano, Dmitry Kuleba, que na terça-feira se tornou o mais alto responsável ucraniano a visitar o país asiático, desde o início da guerra, em 2022.

“A China considera que a resolução de todos os diferendos deve ser levada à mesa das negociações, mais cedo ou mais tarde. A resolução de qualquer litígio deve ser sempre alcançada através de meios políticos”, disse Wang, de acordo com o comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

O chefe da diplomacia chinesa afirmou que “tanto a Ucrânia como a Rússia mostraram sinais de vontade de negociar a vários níveis”, embora tenha reconhecido que “as condições e o momento não são ainda os mais adequados”.

Segundo um comunicado de Kiev, Kuleba destacou o papel da China como “força global para a paz” e disse que uma “paz justa na Ucrânia vai ao encontro dos interesses estratégicos da China”.

“A Ucrânia quer seguir o caminho da paz, da recuperação e do desenvolvimento”, disse o ministro ucraniano a Wang Yi, durante o encontro na cidade de Cantão. “Estou convencido de que estas são prioridades estratégicas que partilhamos”.

A guerra não afecta apenas a Ucrânia, mas também “mina a estabilidade internacional e o desenvolvimento de boas relações entre vizinhos, incluindo o comércio entre China e Europa”, acrescentou.

Kuleba instou Wang a encarar as relações entre Pequim e Kiev sob o prisma da possível adesão da Ucrânia à União Europeia (UE).

“Cada uma das nossas novas conversas é mais informativa do que a anterior. Esta é uma dinâmica muito positiva”, disse o ministro ucraniano, recordando que os dois se reuniram em Fevereiro passado à margem da Conferência de Segurança de Munique.

Xadrez político

Na reunião de ontem, os temas discutidos foram “as relações bilaterais, a agenda internacional e, acima de tudo, o caminho para a paz”, disse Kuleba.

Segundo o comunicado da diplomacia chinesa, Wang Yi descreveu a Ucrânia como “país amigo”, reconheceu que a continuação da guerra acarreta “riscos de escalada e contágio” a outros possíveis conflitos e reiterou que a posição de Pequim tem sido “sempre” a de “promover uma solução política”.

A China “apoiará todos os esforços que conduzam à paz e está disposta a continuar a desempenhar um papel construtivo para (conseguir) um cessar-fogo e o reinício das negociações de paz”, afirmou.

Wang disse que o seu país “vai continuar a aumentar as importações de cereais” da Ucrânia e manifestou preocupação em relação a áreas específicas como a prevenção de riscos nucleares e a estabilidade das cadeias de abastecimento.

Nos últimos meses, Kiev tem cultivado as relações com a China, na esperança de que Pequim utilize a sua influência sobre Moscovo para conter a agressão russa. No mês passado, a China recusou participar na conferência de paz na Suíça por não incluir a Rússia.

Pequim, que considera a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos, nunca condenou a invasão russa e acusa a NATO de negligenciar as preocupações de segurança de Moscovo.

Mas o país asiático também apelou, no ano passado, numa proposta de paz, ao respeito pela integridade territorial de todos os Estados – incluindo a Ucrânia.

24 Jul 2024

Ucrânia | Conflito deve ser resolvido através de negociações, defende Pequim

Pequim afirmou ontem que “qualquer conflito” deve ser resolvido “através de negociações”, referindo-se à conferência que vai ter lugar em Junho, na Suíça, com base na proposta de paz de Kiev para a guerra na Ucrânia.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, recordou que o Presidente chinês, Xi Jinping, já tinha dito na segunda-feira, em Pequim, ao Chanceler alemão, Olaf Scholz, que encoraja “todos os esforços que conduzam a uma resolução pacífica da ‘crise’ na Ucrânia” e que apoia a “convocação atempada de uma conferência internacional de paz reconhecida pela Rússia e pela Ucrânia, com a participação de todas as partes”.

Lin afirmou que, apesar de a conferência estar ainda “numa fase preparatória”, o seu país está “pronto a manter a comunicação” com todas as partes.

O porta-voz recordou que Xi disse a Scholz, na segunda-feira, que as conversações deveriam “lidar de forma justa com todas as propostas de paz”.

Scholz apelou a Xi para que use a sua influência sobre Moscovo para pôr fim à guerra na Ucrânia e reiterou a necessidade de evitar o envio de bens com dupla utilização militar e civil para a Rússia.

“A palavra da China tem peso na Rússia. Por isso, pedi ao Presidente Xi que exercesse influência sobre a Rússia para que [o Presidente russo Vladimir] Putin pare finalmente a sua cruzada insana, retire as suas tropas e ponha fim a esta guerra terrível”, afirmou o Chanceler alemão na sua conta na rede social X.

O líder chinês declarou que “não se deve atirar lenha para a fogueira”, apelando ao esforço de reunir condições para que a paz seja restabelecida e se evite nova escalada do conflito.

18 Abr 2024

Ucrânia | Enviado mostra esforços da China para tornar-se potência internacional, dizem analistas

O diplomata chinês Li Hui continua no seu périplo europeu, que inclui visitas a Kiev e Moscovo, além de Berlim e Paris, com vista a alcançar uma rota para a paz

 

A chegada de um enviado chinês a Kiev esta semana sintetiza os esforços de Pequim para afirmar a sua liderança nos assuntos internacionais, visando contrariar a ordem estabelecida por Washington, que considera hostil aos seus interesses, apontam analistas.

O enviado chinês Li Hui está em Kiev desde terça-feira e deverá também visitar a França, a Alemanha e a Rússia, com vista a “uma resolução política da crise ucraniana”, segundo Pequim.

Li, o representante especial para os assuntos euro-asiáticos encarregado de discutir a resolução da guerra russa contra a Ucrânia, deverá ainda visitar Varsóvia na sexta-feira para discutir a situação na Ucrânia, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco.

Desde Março passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu em Pequim os líderes do Brasil, Espanha, Singapura, Malásia, França e União Europeia, enquanto altos funcionários chineses viajaram para a Europa, Ásia Central ou sudeste asiático.

Durante o mesmo período, Irão e a Arábia Saudita anunciaram, em Pequim, um acordo para restabelecerem as relações diplomáticas. A China expressou ainda a disponibilidade para mediar as negociações para um acordo de paz entre Israel e Palestina. Na Ucrânia, Pequim diz querer negociar um acordo político que ponha fim à guerra, que dura há 15 meses.

“A China está a entrar no oceano”, disse metaforicamente o coronel reformado chinês Zhou Bo, numa entrevista à revista Time. “Não há como voltar atrás”, apontou.

Este esforço surge numa altura em que o país está a emergir de três anos de isolamento, imposto pela estratégia ‘zero covid’, para um ambiente externo mais hostil, à medida que os Estados Unidos solidificaram as suas alianças de segurança na região da Ásia Pacífico e Europa.

“É óbvio: A China quer contrariar a pressão de Washington para isolar o país”, escreveu Tianyi Wu, especialista da Universidade de Oxford nas relações entre China e Estados Unidos.

Em causa, estão também considerações económicas, à medida que fricções geopolíticas motivaram os principais parceiros comerciais da China a procurar alternativas para reduzir as vulnerabilidades nas cadeias de fornecimento.

Wu frisou, no entanto, uma visão mais ampla por detrás dos esforços da diplomacia chinesa: promover uma ordem mundial multipolar, que afrouxe o domínio norte-americano estabelecido após a II Guerra Mundial.

Caminho seguro

Nos últimos anos, Pequim avançou com fóruns e organizações multilaterais próprias, incluindo a Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas ou a Iniciativa de Segurança Global, que visa construir uma “arquitectura global e regional de segurança equilibrada, eficaz e sustentável”, ao “abandonar as teorias de segurança geopolíticas ocidentais”.

A China vai “promover uma nova forma de relações internacionais”, proclamou Xi Jinping. “Ao avançar no seu processo de modernização, a China não vai trilhar o caminho antigo da colonização e pilhagem, nem o caminho sinuoso escolhido por alguns países para alcançar a hegemonia”, assegurou o líder chinês, no mês passado, na apresentação de mais uma iniciativa, designada Civilização Global.

O líder chinês advertiu ainda outros países para se “absterem de impor os seus próprios valores ou modelos aos outros”, numa referência à ordem democrática liberal liderada por Washington.

18 Mai 2023

Ucrânia | Pequim nega envio de armas à Rússia e lembra amizade com Portugal

Após as declarações do ministro João Cravinho sobre a possível revisão das relações com a China, caso o gigante asiático fornecesse arma à Rússia, a diplomacia chinesa veio a terreiro negar qualquer intenção de apoiar a Rússia com armamento e lembrar a relação de amizade com Lisboa

 

A China negou ontem tencionar fornecer armas à Rússia e assinalou que mantém com Portugal uma relação “amigável” e “mutuamente benéfica”, após Lisboa afirmar que reveria os laços caso Pequim preste apoio militar a Moscovo.

“A China não vai realizar qualquer venda militar a partes beligerantes ou para áreas em conflito”, disse o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa resposta por escrito a perguntas da agência Lusa.

Pequim “teve sempre uma atitude prudente e responsável” na exportação de armas e equipamento militar, acrescentou. A diplomacia chinesa afirmou ainda que mantém com Portugal laços amigáveis, de longo prazo e “mutuamente benéficos”.

As relações entre Lisboa e Pequim estão “alinhadas com os interesses de ambos os lados”, lê-se nas respostas enviadas à Lusa, após o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, ter afirmado que Lisboa teria que “rever o significado do relacionamento político e económico” com a China, caso o país asiático prestasse apoio militar à invasão russa da Ucrânia.

Proposta de paz

O governo chinês lembrou que propôs, na semana passada, um plano para pôr fim ao conflito.
Na proposta de Pequim, destaca-se a importância de “respeitar a soberania de todos os países”, numa referência à Ucrânia, mas apela-se também ao fim da “mentalidade da Guerra Fria” – um termo frequentemente usado por Pequim para criticar a política externa dos Estados Unidos.

“A segurança de uma região não deve ser alcançada através do fortalecimento ou expansão de blocos militares”, lê-se no documento, numa critica implícita ao alargamento da NATO.

No plano pede-se o fim das sanções ocidentais impostas à Rússia, medidas para garantir a segurança das instalações nucleares, o estabelecimento de corredores humanitários para a evacuação de civis e acções para garantir a exportação de grãos, depois de interrupções no fornecimento terem causado o aumento dos preços a nível mundial.

O país asiático considera a parceria com Moscovo fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos. As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se também rapidamente, nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China.

A diplomacia chinesa afirmou ainda querer trabalhar em conjunto com Portugal para promover intercâmbios e a cooperação bilateral, visando “alcançar mais resultados e benefícios para ambos os lados”.

2 Mar 2023

Ucrânia | Pequim apresenta plano de paz a líderes mundiais

Passado um ano de conflito, a China tem um plano de paz para terminar com o confronto entre Moscovo e Kiev. Já os líderes ocidentais ficaram de queixo caído quando perceberam a posição do Sul Global e que estão a ser vistos como belicistas. Wang Yi sublinhou que no plano de paz chinês se defendem os princípios de soberania, integridade territorial, a Carta das Nações Unidas e que os legítimos interesses de segurança da Rússia tinham de ser respeitados.

 

Os líderes ocidentais reagiram nervosamente a um plano de paz chinês para a Ucrânia que deverá ser revelado esta semana, mas saudaram cautelosamente a iniciativa como um primeiro sinal de que a China reconhece que a guerra não pode ser considerada apenas como um assunto europeu.

Falando na Conferência de Segurança de Munique, o diplomata chinês Wang Yi anunciou que a China iria lançar a sua iniciativa de paz no aniversário da guerra, e já tem consultou a Alemanha, Itália e França sobre as suas propostas. Wang disse que o plano de paz sublinharia a necessidade de defender os princípios de soberania, integridade territorial e a Carta das Nações Unidas. Mas, ao mesmo tempo, disse que os legítimos interesses de segurança da Rússia tinham de ser respeitados. O plano de paz deverá ser apresentado na próxima sexta-feira pelo próprio presidente Xi Jinping.

Os diplomatas que foram informados pela China não têm a certeza de quão específico Pequim pretende ser. A vontade chinesa de retratar o Ocidente como belicista pode encontrar ecos no Sul Global. Mas a grande investida chinesa é na Europa, onde tenta fazer perceber aos europeus que estão a ser manobrados pelos EUA, para seu próprio prejuízo.

“Precisamos de pensar calmamente, especialmente nos nossos amigos na Europa, sobre que esforços devem ser feitos para parar a guerra; que quadro deve haver para trazer uma paz duradoura à Europa; que papel deve a Europa desempenhar para manifestar a sua autonomia estratégica”, disse Wang Yi. “Vamos apresentar a posição da China sobre a resolução política da crise da Ucrânia, e manter-nos firmes do lado da paz e do diálogo. Não acrescentamos combustível ao fogo e somos contra colher benefícios desta crise”, concluiu.

Americanos cépticos

Já Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, disse que o Ocidente está céptico em relação a uma iniciativa de paz chinesa que apelava a um cessar-fogo imediato. “Quem não quer que as armas parem de disparar?

Só que temos de ser incrivelmente cautelosos com o tipo de armadilhas que podem ser montadas”, disse em Munique. Segundo Bliken, o presidente russo Vladimir Putin pode decidir que “porque as coisas estão a correr mal” para ele, a sua “melhor aposta é pedir um cessar-fogo imediato” e criar um “conflito congelado”, disse Blinken. “Ele nunca negociará o território que confiscou e, entretanto, usará o tempo para descansar, reequipar, rearmar e voltar a atacar”, advertiu, claramente demonstrando que não acredita numa solução pacífica e prefere a eternização deste conflito co o qual os EUA estão a lucrar, nomeadamente com a venda de gás à Europa a preços quatro vezes mais elevados do que os praticados pela Rússia.

Wang Yi com líderes europeus

Wang Yi, entretanto, tem participado num turbilhão de reuniões bilaterais com líderes e diplomatas estrangeiros à margem da Conferência de Segurança de Munique (CSM) em curso, que estava agendada de sexta-feira a domingo.

Analistas chineses observaram que a visão da China para a segurança global e o desenvolvimento não só é concretizada através do discurso planeado de Wang no CSM, uma parte fundamental da agenda da viagem global de Wang, mas também transmitida em interacções bilaterais e tecida em discussão sobre uma maior cooperação numa vasta gama de tópicos.

Depois de ter visitado França e Itália, Wang chegou à Alemanha na sexta-feira. Encontrou-se com líderes e diplomatas, incluindo o chanceler alemão Olaf Scholz, a Ministra dos Negócios Estrangeiros Gernman Annalena Baerbock, o Ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês Bilawal Bhutto Zardari e o Ministro dos Negócios Estrangeiros mongol Batmunkh Battsetseg. Wang continuará a sua ronda visitando a Hungria e a Rússia, depois de participar no CSM.

Annalena Baerbock, a Ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, saudou a iniciativa da China, dizendo: “Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, a China tem a obrigação de usar a sua influência para garantir a paz mundial”.

Baerbock disse que tinha falado intensivamente com Wang na sexta-feira sobre “o que significa uma paz justa – não que se recompense o agressor, mas que se defenda o direito internacional e aqueles que foram atacados”. A mesma mensagem foi transmitida à China por diplomatas franceses e italianos.

Baerbock disse que uma paz justa pressupõe “que aquele que violou a integridade territorial, nomeadamente a Rússia, retire as suas tropas do país ocupado”. A paz mundial baseia-se no facto de todos reconhecermos a integridade territorial e a soberania de cada país”. Ao mesmo tempo, porém, é também claro que “todas as oportunidades” para a paz devem ser utilizadas.

Sem uma retirada completa de todas as tropas russas da Ucrânia, não há qualquer hipótese de pôr fim à guerra, disse Baerbock. “Mesmo que seja difícil”, todas as exigências para acabar com a guerra através da cedência de território à Rússia são inaceitáveis”.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano Dmitro Kuleba, que teve um encontro com Wang em Munique, disse que teve uma conversa “franca” com o enviado de Pequim. “Acreditamos que o cumprimento do princípio da integridade territorial é o interesse fundamental da China na arena internacional”, disse Kuleba a jornalistas em Munique. “E esse empenho na observância e protecção deste princípio é uma força motriz para a China, maior do que outros argumentos oferecidos pela Ucrânia, os Estados Unidos, ou qualquer outro país”.

Sul Global atento e pela paz

Além dos EUA e dos seus aliados europeus, a China sabe que há uma audiência pronta em todo o Sul global se fizer um apelo ao diálogo e à paz. O Ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro Mauro Vieira insistiu que o seu país tinha condenado a agressão da Rússia, inclusive na ONU, mas acrescentou: “Temos de tentar tornar uma solução possível. Não nos podemos limitar a falar sobre a guerra. Não me refiro a negociações imediatas – teríamos de ir passo a passo, talvez primeiro criar um ambiente que torne possível uma negociação”.

O primeiro-ministro da Namíbia, Saara Kuugongelwa, afirmou: “Queremos resolver o problema, não queremos encontrar o culpado”. De nada serve que a Rússia gaste dinheiro em armas e o Ocidente financie a Ucrânia para comprar armas”.

Algumas potências ocidentais estão a considerar a possibilidade de exercer pressão para uma nova resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que apoie a Ucrânia, na esperança de que um voto esmagador a favor realçaria a falta de apoio internacional da Rússia. Mas enquanto uma votação no ano passado viu 141 nações apoiarem a Ucrânia, não é claro quantos novos convertidos existem no Sul global.

Uma fonte disse que a Ucrânia quer, compreensivelmente, uma redacção específica e dura nestas resoluções, mas quanto mais específica for a resolução, mais provável é que as nações se retirem para a neutralidade.

Na conferência de Munique, uma sucessão de líderes europeus, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron, admitiu que o Ocidente deveria ter feito mais para convencer o Sul de que o seu forte apoio à Ucrânia não nasceu de dois pesos e duas medidas. “Estou impressionado com a forma como perdemos a confiança do Sul Global”, disse Macron. Ele argumentou que a resposta do mundo à guerra mostrou a necessidade de reequilibrar a ordem global e tornar as suas instituições mais inclusivas.

Macron chamou à invasão russa da Ucrânia um ataque “neocolonialista e imperialista” que “quebrou todos os tabus” e advertiu que os espectadores eram cúmplices da agressão russa.

Rishi Sunak, primeiro-ministro inglês, admitiu também que o Ocidente deveria ter feito mais para persuadir o Sul Global de que os preços dos alimentos tinham disparado devido aos bombardeamentos dos campos de trigo ucranianos por parte da Rússia, e não às sanções ocidentais, como se isso fosse verdade e não uma invenção sem pés nem cabeça.

Kamala Harris, a vice-presidente dos EUA, disse que a solução para as dúvidas do Sul global era tratá-los como parceiros. Olaf Scholz, o chanceler alemão, que viajou recentemente para o Brasil e África do Sul numa tentativa infrutífera de extrair condenações mais claras da Rússia, disse à audiência de Munique: “Para ser credível e alcançar algo como europeu ou norte-americano em Jacarta, Nova Deli, Pretória, Santiago do Chile, Brasília ou Singapura, não é suficiente invocar valores comuns”.

As preocupações sobre o Sul não distraíram os líderes europeus de discutir como aumentar rapidamente a produção de munições através de maiores aquisições conjuntas e incentivos financeiros para a indústria de armamento europeia.

20 Fev 2023

APEC | “Maioria dos membros” da cimeira condena guerra na Ucrânia

Dirigentes da região da Ásia-Pacífico afirmaram no passado sábado no comunicado final que saiu da cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) que “a maioria dos membros” condena a guerra na Ucrânia.

“A maioria dos membros condenou veementemente a guerra na Ucrânia e salientou que esta causou imenso sofrimento humano e exacerbou as fragilidades existentes na economia global”, declararam os líderes da APEC, fazendo eco à linguagem utilizada na declaração final da cimeira do G20, há poucos dias.

A maioria das 20 economias mais desenvolvidas do mundo “condenou veementemente a guerra na Ucrânia” e salientou as devastadoras consequências humanas e económicas globais do conflito, segundo a declaração conjunta divulgada no final da cimeira de Bali, que se realizou na ilha indonésia entre terça e quarta-feira.

Durante a cimeira houve “outras posições” sobre a situação na Ucrânia, admitiram as 20 maiores economias do mundo na declaração, de acordo com a agência espanhola EFE.

O G20 considerou igualmente que a “utilização ou ameaça de utilização de armas nucleares é inaceitável”, segundo a agência francesa AFP.

“A resolução pacífica dos conflitos e os esforços para enfrentar as crises, juntamente com a diplomacia e o diálogo, são vitais”, lê-se na declaração.

No comunicado conjunto, o G20 disse ser necessário “defender o direito internacional” e “salvaguardar a paz e a estabilidade”, incluindo os princípios humanitários e a protecção de civis e infra-estruturas em conflitos armados.

21 Nov 2022

Xi Jinping diz para não se sobrevalorizar influência chinesa sobre Putin

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, pediu ontem ao Presidente da China, Xi Jinping, para convencer a Rússia a acabar com a guerra na Ucrânia, mas o líder chinês respondeu que o seu papel não deve ser sobrevalorizado.

Num encontro bilateral na Indonésia, à margem da cimeira do G20 (grupo das economias mais desenvolvidas e emergentes), Sánchez, como fizeram outros líderes nos últimos dias nas reuniões em Bali, “pediu para a China usar a sua influência para persuadir a Rússia a pôr fim à guerra”, lê-se num comunicado do Governo de Espanha, que não revela a resposta de Xi Jinping.

Segundo fontes da comitiva espanhola que está na Indonésia citadas pela agência de notícias EFE, o Presidente da República Popular da China reconheceu que tem uma boa relação com o líder da Rússia, Vladimir Putin, e destacou que são países vizinhos, mas afirmou que não deve ser sobrevalorizado o papel que Pequim pode ter nesta questão.

Assim, segundo as mesmas “fontes oficiais” citadas pela EFE, Xi Jinping sublinhou que a China não é um dos actores nesta guerra, iniciada com uma ofensiva militar russa no final de Fevereiro, e não quer alimentar a tensão no conflito.

Xi defendeu, ainda assim, segundo as fontes da EFE, que as sanções à Rússia ou as ameaças com julgamentos internacionais não contribuem para alcançar uma solução.

Bons negócios

No comunicado divulgado ontem, o Governo espanhol diz que Sánchez argumentou, perante Xi, que “a agressão da Rússia contra a Ucrânia é uma ameaça à paz e à estabilidade mundial que subverte os princípios de soberania e a integridade territorial que a China sempre defendeu”.

Segundo o mesmo comunicado, neste encontro, que decorreu em Bali, Sánchez e Xi abordaram também a presidência espanhola da União Europeia (UE), no segundo semestre de 2023.

“Sánchez destacou o desejo de seguir a impulsionar a cooperação entre a UE e a China em matéria comercial e de investimento”, lê-se no texto.

17 Nov 2022

Cartoon | Rodrigo de Matos participa em exposição sobre conflito na Ucrânia

Convidado pelo Instituto Quevedo de las Artes del Humor, Rodrigo de Matos é o único cartoonista português a participar na exposição “Trincheras. No a la guerra de Ucrania” [Trincheiras. Não à guerra na Ucrânia] que decorre até ao final do mês em Alcalá de Henares, perto de Madrid, Espanha

 

“O encantador de crises” é o nome do cartoon da autoria de Rodrigo de Matos, cartoonista português a residir em Macau, e que foi convidado pelo Instituto Quevedo de las Artes del Humor [Instituto Quevedo das Artes do Humor] a expor em Espanha, mais propriamente na localidade de Alcalá de Henares, perto de Madrid, numa mostra exclusivamente dedicada aos cartoons sobre o conflito que se vive na Ucrânia e que integra a XXIX Mostra Internacional das Artes do Humor.

Intitulada “Tincheras. No a la guerra de Ucrania” [Trincheiras. Não à guerra da Ucrânia], a mostra termina já no final deste mês e conta com o cartoon de Rodrigo de Matos originalmente publicado no semanário português Expresso. Além do convite endereçado a Rodrigo, os organizadores da mostra escolheram propositadamente o cartoon para ser exposto.

“No cartoon vê-se o Putin [Presidente da Rússia] trajando a sua típica indumentária com que aparece por vezes nos cartoons internacionais: com calças e botas da tropa e em tronco nu. Resolvi retratá-lo como um encantador de serpentes muito peculiar: a fazer uma dança cossaca e a tocar uma flauta em forma de tanque de guerra”, começou por explicar Rodrigo de Matos ao HM.

Publicado a 11 de Março deste ano, o cartoon retrata também a Ucrânia como uma tábua de pregos, “simbolizando as dificuldades que o exército russo estava a enfrentar na altura”. “A serpente é um gráfico com a cabeça em forma de barril de petróleo, representando os efeitos na economia que a investida de Moscovo estava a ter, nomeadamente a subida do preço dos combustíveis e da energia”, situação que continua a verificar-se meses após a publicação.

Montra internacional

Esta não é a primeira vez que Rodrigo de Matos, que também colabora com a imprensa local, participa numa mostra de cariz internacional. “Fiquei bastante contente com o convite. Sou o único representante de Portugal nessa mostra, o que é para mim uma honra e sinal de que as pessoas estão atentas ao meu trabalho e ao cartoon editorial que se faz no nosso país.”

Rodrigo de Matos é, assim, o único nome português a constar ao lado de grandes nomes mundiais do cartoon, como é o caso do suíço Patrick Chappatte, da dupla espanhola Gallego y Rey, do catalão Kap e ainda do italiano Emanuele Del Rosso.

Os organizadores da exposição explicam que pretendem uma reflexão, com recurso à arte e à criatividade, sobre um dos grandes conflitos que tem marcado a agenda mundial. “Há já seis meses que o mundo está a sofrer com o impacto de um conflito que causou o falecimento de milhares de pessoas e de tantos outros milhões que tiveram que deixar as suas casas. As consequências afectam-nos a todos, algo retratado por vários autores de todas as partes do mundo que publicam cartoons através dos quais expressam a sua raiva, crítica e impotência, sendo imagens que valem mais do que mil palavras.”

25 Out 2022

Ucrânia | China apela a cessar-fogo após Moscovo anunciar mobilização parcial

A China apelou ontem ao diálogo e a que se apoie “qualquer esforço” que permita um cessar-fogo na Ucrânia, depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter anunciado uma mobilização parcial. “Todos os esforços que levem a uma solução pacífica desta crise devem ser apoiados”, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, em conferência de imprensa.

O porta-voz assegurou que a posição da China sobre o conflito “sempre foi clara e não mudou”. Esta passa por “respeitar a integridade territorial de todos os países”, incluindo a Ucrânia e, ao mesmo tempo, atentar para as “legítimas preocupações de segurança” da Rússia.

Pequim declarou repetidamente a sua oposição às sanções contra Moscovo por “não terem base no Direito internacional” e “não resolverem os problemas”.

Putin e o homólogo chinês, Xi Jinping, encontraram-se na quinta-feira passada na cidade uzbeque de Samarcanda, na véspera da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai, liderada pela China e pela Rússia.

No início da reunião, Putin apreciou o facto de Pequim sempre ter mantido “uma posição equilibrada” sobre a Ucrânia, embora tenha admitido “perguntas e preocupações” por parte do líder chinês. Xi assegurou que está disposto a trabalhar com a Rússia para “prestar apoio mútuo” em assuntos relativos aos seus respectivos “interesses fundamentais”.

22 Set 2022

A guerra na Ucrânia e o ambiente

O mundo está a sofrer uma tripla crise: o clima em degradação, a pandemia da Covid-19 e a guerra da Ucrânia. Poder-se-á perguntar: de quem será a culpa? Muito provavelmente do homo sapiens (homem sábio, em latim) que de sábio parece não ter muito. A natureza tem vindo a ser agredida pelos gases de efeito de estufa, produto das atividades desse tal homo sapiens, e a pandemia também parece ter sido causada pela interferência humana na natureza selvagem. E quanto à guerra da Ucrânia, não restam dúvidas nenhumas, mais uma vez o desrespeito pelas regras que deviam regular a convivência entre as nações foram desrespeitadas.

Desde 24 de fevereiro de 2022, as alterações climáticas e a pandemia passaram a segundo plano nas atenções dos meios de comunicação social. Apesar das perspetivas em relação às alterações climáticas continuarem a ser grande preocupação a nível global, e de a Covid-19 ainda não estar debelada, os dirigentes do mais extenso país do mundo desencadearam um ato de agressão, sob o pretexto de uma manobra de antecipação perante a ameaça de um outro país, muito mais fraco em termos de poderio militar. Não serviu de atenuante o facto de muitos nacionais de ambos os países terem fortes laços familiares de um e outro lado da fronteira e de haver traços comuns em ambas as culturas e história. O primeiro Estado eslavo, designado por Rússia de Kiev, fundado no século IX, abrangia grande parte das atuais Rússia e Ucrânia. À Rússia de Kiev sucedeu o Estado Moscóvia, que empreendeu, em meados do século XVIII, a reunião de principados russos dispersos, dando origem ao Império Russo, que vingou entre 1721 e 1917. Pedro o Grande, o primeiro imperador, segundo consta, é o grande ídolo do atual presidente da Federação Russa, o qual, saudoso da União Soviética, parece querer constituir um império com a extensão da URSS, cujo desaparecimento foi por ele classificado como a pior tragédia do século XX, esquecendo-se de calamidades como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Genocídio Arménio perpetrado pelo Império Turco-Otomano (1914-1923), a Grande Fome que assolou Ucrânia nos anos trinta (Holodomor, 1932-1933) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), durante a qual ocorreu o Holocausto.

O cristianismo ortodoxo é, ainda hoje, a religião predominante em ambos os países, embora tivesse havido recentemente uma cisão entre as Igrejas Ortodoxas Ucraniana e Russa, acabando com uma união que datava de 1685. Apesar de o próprio presidente da Federação Russa ter afirmado que a Ucrânia é, não só uma parte inalienável da história e cultura da Rússia, mas também seu espaço espiritual, tal não impediu que o povo ucraniano visse as suas cidades bombardeadas indiscriminadamente, e se tornasse vítima de uma guerra não declarada, ilegal e ilegítima. Milhares de vítimas civis, milhões de deslocados internamente e de refugiados são o resultado desta barbaridade, que ainda está longe de terminar.

Estranhamente, esta guerra foi abençoada por Cirilo, Patriarca de Moscovo e toda a Rússia e Primaz da Igreja Ortodoxa Russa. Conforme se expressou na liturgia de 6 de março de 2022 (designado por Domingo do Perdão), seria necessário ajudar os dissidentes de Donbass, onde, segundo ele, ocorria um “genocídio” desde 2014. Também afirmou “… esta guerra é contra aqueles que apoiam os homossexuais, como o mundo ocidental, e tentaram destruir o Donbass apenas porque esta terra opõe uma rejeição fundamental aos chamados valores oferecidos por quem reivindica o poder mundial”. Ainda segundo Cirilo, “a guerra não é fisicamente, mas sim metafisicamente importante”. Acontece, porém, que os que têm sido fisicamente eliminados nesta tragédia não são vítimas metafísicas, mas sim bem reais.

Apesar de a atitude dos dirigentes da Federação Russa ser denunciada diariamente, não cessam os ataques a infraestruturas civis, entre elas bairros densamente habitados, centros médicos, armazéns de cereais, jardins infantis, escolas, universidades, igrejas, teatros, museus, hospitais, maternidades, etc. A autocracia que reina em Moscovo insiste na política de terra queimada, transformando cidades inteiras em destroços, o que seria inimaginável em pleno século XXI. Antes já o mundo assistira perplexo à destruição massiva de cidades inteiras na Síria, como Alepo, pelo regime sírio coadjuvado pelas tropas russas, nunca imaginando que algo de semelhante poderia ocorrer de novo na Europa. Perante a estupefação do mundo democrático, vemos, quase em tempo real, reportagens sobre o bombardeamento de cidades como Mariupol, Irpin, Busha e Borodyanka, entre tantas outras.

É também estranho é que a Federação Russa, país que assinou há escassos anos (1915) o Acordo de Paris para as alterações climáticas, está completamente indiferente ao facto de, com esta guerra absurda, estar a fugir ao compromisso assumido perante a ONU, através das respetivas NDCs (Nationally Determined Contributions), segundo as quais se havia comprometido reduzir 30% das emissões de gases de efeito de estufa, até 2030, relativamente aos níveis de 1990. Uma das consequências desta guerra irracional, estúpida, ilegítima e ilegal, além dos milhares de mortos e milhões de deslocados e exilados, será uma maior degradação do ambiente, o qual decerto sofrerá com a poluição resultante da combustão de milhares de toneladas de combustíveis fósseis utilizados na guerra, assim como com a utilização de minas indiscriminadamente espalhadas não só em áreas urbanas, mas também rurais, onde o cultivo de cereais faz da Ucrânia uma espécie de celeiro do mundo.

A Federação Russa está também a fugir ao acordo assumido pela maioria dos governos do mundo durante a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 2017, que teve como objetivo combater o impacto generalizado da poluição no nosso planeta, trabalhando em conjunto para um mundo livre de poluição, nomeadamente no que se refere à qualidade do ar, da água e do solo.

O ambiente na Ucrânia está a ser agredido de tal forma, que pode comprometer a saúde pública e animal nos tempos mais próximos. O impacto de milhares de bombas são um verdadeiro atentado à natureza, provocando crateras no solo, libertação de metais pesados e produtos químicos tóxicos que, espalhados na atmosfera, arrastados pelo vento, e infiltrando-se no solo, rios e lençóis freáticos, prejudicam florestas e campos de cultivo.

Em termos ambientais, as repercussões desta guerra far-se-ão sentir não só na Ucrânia e regiões vizinhas, mas também em lugares longínquos. Por exemplo, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, num “tweet” datado de 2 de março de 2022, expressou a opinião de que a guerra na Ucrânia pode constituir um risco para o Brasil, na medida em que acentua a necessidade de se explorar reservas mineiras para extração de potássio, elemento que está na base da fabricação de fertilizantes. Acontece, porém, que parte destas reservas estão em territórios indígenas da Amazónia. Serviu de base para esta pretensão o facto de a Federação Russa ser o principal fornecedor de fertilizantes do Brasil, que importa mais de 90% deste produto para uso na agricultura e que, devido à guerra na Ucrânia e às respetivas sanções, poderá ter muitas dificuldades na sua aquisição. A exploração mineira deste elemento poderá implicar a construção de novas estradas em plena Amazónia, o que forçosamente implicaria maior degradação do solo e dos recursos hídricos em áreas protegidas e, por arrastamento, um perigo para o ambiente, biodiversidade e populações indígenas. Tal pretensão, a ser concretizada, provocaria maior insatisfação das tribos que vivem nesses territórios, o que muito provavelmente se refletiria em desassossego social, o que já está a acontecer através de manifestações que têm vindo a ser realizadas pelos representantes das tribos amazónicas, em protesto contra a desflorestação que se tem vindo a acentuar desde que Bolsonaro foi eleito presidente.

Esta exploração de potássio, em plena floresta, iria piorar grandemente a situação ambiental, que já está a ser vítima de cerca de vinte mil garimpeiros que exploram ilegalmente as terras protegidas por lei, na Amazónia, com especial incidência no nordeste do Brasil, onde ouro e diamantes são extraídos sem grandes preocupações no que se refere à poluição dos rios e subsolo.

Teme-se, também, que a guerra na Ucrânia venha a provocar maior desflorestação em determinadas regiões da Ásia, como as abrangidas pela Indonésia e Malásia, onde já extensas zonas de floresta tropical, habitat de espécies em via de extinção, foram substituídas pela plantação de palmeiras da espécie elaeis guineensis, cujo fruto está na base da produção do óleo de palma. Isto porque se prevê que vá escassear a produção e exportação de óleo de girassol, de que a Ucrânia e a Federação Russa são grandes produtores. Consequentemente, irá aumentar o preço dos outros óleos vegetais, inclusive do óleo de palma, o que será um incentivo para que os produtores expandam as suas culturas, o que implicará mais desflorestação.

Além das consequências ambientais, já se teme a fome generalizada em vastas regiões do globo, devido ao bloqueio dos portos ucranianos do Mar Negro. Por exemplo, o Governo de Cabo Verde, segundo o periódico cabo-verdiano “A Nação”, estima que o número de pessoas com insegurança alimentar quadruplicou em relação à média, em Cabo Verde, podendo ser afetadas cerca de 43 mil pessoas, ou seja, 10% da população.

Sob o pretexto duma pretensa “desnazificação”, os governantes da Federação Russa conceberam e estão a executar um plano de destruição de um país. O que está a acontecer na Ucrânia, com a destruição massiva de infraestruturas indispensáveis à vida normal de uma nação, e os incontáveis crimes de guerra que estão a ser perpetrados, aproxima-se muito do conceito de genocídio. Também estão a ser deliberadamente praticados atos que prejudicam gravemente o ambiente de uma maneira extensa e duradoura, o que já está ser classificado por alguns defensores do meio ambiente como “ecocídio”.

2 Jun 2022