Hoje Macau DesportoEuro 2020 | Itália defronta Espanha na 1.ª meia-final O futebol era das áreas onde espanhóis e italianos mais diferiam. Uns gostavam mais do jogo de posse e os outros mais do catenaccio, isto, historicamente falando. Hoje, ambos partilham mais semelhanças do que diferenças. Umas delas é a procura de vingança. Quer seja o nariz partido de Luis Enrique em 1994 ou a goleada sofrida pelos azzurri na final do Euro 2012, a proximidade da final de 2020 promete um jogo com mais garra do que nunca Por Martim Silva Já se defrontam desde 1924, não podia existir maior equilíbrio. Em 35 jogos, Espanha venceu 10, Itália venceu 10 e registou-se um empate em 15 ocasiões. Duas das melhores selecções, não só da Europa como do mundo, não podiam estar em melhor posição para desempatar esta igualdade histórica. O palco será em Londres, no estádio Wembley, do dia 6 para 7 de Julho às 3h de Macau. Em 9 jogos disputados entre Itália e Espanha, em Euros ou Mundiais, os espanhóis arrecadaram apenas 2 vitórias, mas uma delas foi na final do Euro 2012 por 4-0. Este foi o resultado mais expressivo de todas as finais da competição europeia de selecções. A humilhação na Ucrânia, palco da final desse ano, não parece ser uma espada de Dâmocles para as tropas de Roberto Mancini, que afirmou estar mais preocupado com o desafio de chegar à final do que com qualquer adversário específico. “Vamos desfrutar da vitória (contra a Bélgica) e depois pensamos na Espanha. São eles quem se segue e, num torneio como este, quanto mais se avança mais complicado fica.”. Na madrugada de terça para quarta-feira, há um jogo entre duas equipas muito semelhantes. As selecções de Mancini e Luis Enrique são das que mais golos marcaram, têm das maiores percentagens de posse de bola e de acerto de passe. São também as duas equipas que mais remataram nesta edição do Euro. Do lado da Espanha, o avançado Álvaro Morata é quem mais faltas sofreu (15), Aymeric Laporte é quem lidera em toques na bola (569), Jordi Alba e Ferran Torres são os dois jogadores com mais cruzamentos para a grande área (6) e Dani Olmo é o jogador com mais remates (17). Não há falta de munição na equipa espanhola. Troféu à vista Espanhóis e italianos, em 2021, partilham ideias semelhantes. Gostam de ter bola e não gostam de a perder. Quando isto acontece, são duas das equipas que conseguem, rapidamente, recuperar o esférico. Têm médios e defesas centrais criativos com a bola nos pés e quando toca a defender, os italianos Giorgio Chiellini e Leonardo Bonucci quase que parecem não ter comparação no mundo do futebol. Os dois veteranos da Juventus (36 e 34 anos, respectivamente) não têm botão de desligar e Bonucci sabe da dificuldade do embate contra La Roja. “Temos mais dois jogos pela frente, o mais difícil é contra Espanha, que são parecidos à Bélgica. Parecia que não iam passar (frente à Suíça) mas conseguiram erguer-se, portanto vamos ter uma batalha até ao fim.”. Apesar da dificuldade da tarefa, o central da Juventus fala num objectivo maior que o confronto das meias. “Eles são uma grande equipa, mas nós começámos o torneio com um sonho nos nossos corações e esperamos continuar assim.”, sentenciou o central italiano. Do outro lado, e relembrando a fúria de Luis Enrique no Mundial de 1994 após a cotovelada do defesa italiano Mauro Tassotti que partiu o nariz ao actual seleccionador espanhol, o extremo Mikel Oyarzabal mostrou-se descontente com a falta de apoio à sua equipa. “Ninguém nos apoiou. Houve toneladas de críticas quando as coisas não estavam a correr tão bem, mas agora nós sentimos que as pessoas estão do nosso lado.”, referiu o jogador da Real Sociedad. O jogo de terça para quarta-feira colocará, frente a frente, duas equipas com 5 Mundiais, 4 Euros e dois Jogos Olímpicos entre si, esperando-se um jogo equilibrado e com várias questões em aberto, nomeadamente, a de quem vai assumir o jogo e ficar mais tempo com a bola. A primeira meia-final promete ser um embate histórico não só por ser entre dois gigantes europeus, mas porque está em jogo um bilhete para a final do Euro 2020 em Wembley, e quer Itália quer Espanha não levantam troféus há algum tempo e, certamente, querem sair desta competição com algo mais dentro da bagagem. Petição quer reverter apuramento suíço Uma petição online no site francês Les Lignes Bougent alega que no penálti falhado por Kylian Mbappé, no jogo frente à Suíça para os oitavos de final do Euro 2020 e que ditou a eliminação de França da prova, o guarda-redes helvético Yann Sommer estava em posição irregular. A petição já tem cerca de 270 mil assinaturas e há confiança na ilegalidade do posicionamento do guarda-redes suíço. “Durante a marcação de penáltis do jogo entre França e Suíça, o guarda-redes Sommer não estava na sua linha durante o remate de Mbappé. Pedimos o cancelamento da qualificação suíça e a repetição do encontro. Desporto tem de ser jogado dentro das regras, mas naquela noite as regras não foram respeitadas.” Ora, de acordo com as regras do jogo, elaborado pela International Football Association Board (IFAB), a lei 14, referente à marcação de penáltis, é clara. “Quando a bola é chutada, o guarda-redes que defende tem de ter pelo menos parte de um pé a tocar na linha de golo”. O vídeo do penálti em questão mostra que Yann Sommer tem, de facto, parte do seu pé esquerdo na linha de golo quando Mbappé efectua o remate. A polémica em torno do posicionamento de Sommer é agora um não assunto e, desta maneira, os gauleses podem ir para casa descansados. Covid-19 | OMS recomenda melhor acompanhamento de adeptos Durante quase um mês, o Euro 2020 parecia imune ao vírus silencioso. Mas agora, a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) chegou num tom mais severo e com doses de aconselhamentos. “Precisamos de olhar muito além dos estádios. O que temos que ver é à volta dos estádios e como é que as pessoas chegam lá. Se estão a deslocar-se em comboios, de autocarro ou em meios individuais.” foi assim que Catherine Smallwood, responsável pelo Departamento de Emergência Sanitária da OMS, deixou o alerta sobre o possível aumento de casos do covid-19 devido à competição europeia de selecções. O aviso vem no seguimento de se detectarem cerca de 2 mil casos relacionados com o jogo entre Inglaterra e Escócia, em Wembley, no dia 19 de Junho. Foram atribuídos cerca de 1.300 casos positivos só a este jogo. De acordo com a Public Health Scotland, o organismo escocês que gere a saúde pública, houve 1.991 pessoas que testaram positivo e que admitiram ter ido a um ou mais jogos do Euro 2020. O organismo afirmou também estar a tomar todas as medidas de saúde pública na proximidade que estes casos, vindos do Euro, possam ter tido com o resto da população da Escócia. Na Finlândia foram também reportados 80 casos provenientes da Rússia, após o último jogo dos finlandeses frente à Bélgica, em São Petersburgo, no dia 21 do mês passado. O Instituto Finlandês da Saúde e Bem-Estar advertiu também que podem existir mais casos devido à proximidade com estes adeptos.
Hoje Macau DesportoEuro 2020 | Inglaterra bate Alemanha e quebra jejum de 1966 Em solo inimigo e a jogar no coração de Londres, a Mannschaft tinha como missão viver ou deixar morrer. Contudo, os alemães ensinaram-nos que conseguem ser eternos como os diamantes, especialmente contra ingleses. Mas ontem não encontraram pela frente uma equipa sem trunfos. Desta vez, as tropas de Southgate tinham em sua posse a arma dourada e licença para matar Por Martim Silva No penúltimo jogo dos oitavos de final do Euro 2020, o conjunto dos Três Leões deu alegrias a Sua Majestade, a Rainha e a todos os cidadãos ingleses quando derrotaram por 2-0 a Alemanha. Desde 1966, quando os ingleses conquistaram o Mundial desse ano frente aos germânicos, que uma selecção inglesa não derrotava uma selecção alemã em competições oficiais numa fase a eliminar. O enguiço foi quebrado e a equipa de Gareth Southgate tombou o seu Adamastor. Foi sob o olho atento dos Duques de Cambridge que o embate entre dois gigantes do futebol europeu se desenrolou de maneira equilibrada. A Alemanha com o seu 3-4-3 no ataque e um 5-3-2 a defender era o original. A Inglaterra, com o mesmo esquema a atacar e a defender era a cópia. Os ingleses adaptaram a esquemática para encaixarem individualmente nos jogadores alemães, especialmente no momento defensivo. Com Mason Mount, Jack Grealish, Phil Foden e Jadon Sancho no banco parecia que a equipa técnica inglesa tinha deitado a toalha ao chão e assumido a derrota caseira. Por vezes, o jogo até tendia a ir nessa direcção. Os alemães começaram com mais bola e a tentar fazê-la chegar às suas unidades mais adiantadas e para isso tinham não só que ultrapassar a pressão dos três atacantes de Inglaterra, Raheem Sterling, Harry Kane e Bukayo Saka, como criar vários obstáculos ao meio-campo de Declan Rice e Kalvin Phillips. Para a bola chegar ao meio-campo adversário, a Alemanha utilizou Thomas Müller no meio dos médios ingleses, Kai Havertz descaído para um dos lados, Toni Kroos mais recuado e Leon Goretzka à sua frente. Timo Werner atacava a profundidade. Durante alguns períodos de jogo, este posicionamento variava entre os jogadores de Joachim Löw, o que lhes permitiu, por vezes, chegar mais próximo da baliza de Jordan Pickford, guarda-redes inglês, que foi obrigado a duas grandes defesas, primeiro com o remate do isolado Werner aos 32 minutos e depois na segunda parte, aos 48 minutos, com um remate à entrada da área de Havertz. Para colmatar o ataque do adversário, Southgate colocou os seus jogadores numa autêntica marcação individual no campo inteiro. A atacar, o conjunto dos Três Leões usava as combinações entre Saka e Sterling e os respectivos laterais. O avançado Harry Kane atacava a profundidade. Mas a distância entre os alas e o próprio Kane em zonas de finalização fizeram com que os alemães controlassem a situação. No entanto, as tropas do seleccionador alemão mostraram-se frágeis na transição defensiva e sofreram desse veneno com o golo de Sterling aos 75 minutos, após assistência de Luke Shaw. O golo do extremo do Manchester City deu nova fé aos ingleses e exacerbou a importância que Grealish tem na equipa de Southgate, mesmo quando começa o jogo no banco. O médio do Aston Villa esteve envolvido no primeiro golo e assistiu Harry Kane no segundo do encontro, aos 85 minutos. 5 minutos antes Müller falhou um golo na cara do guarda-redes, que podia ter empatado a partida. Triunfo histórico Após uma tremenda exibição, Raheem Sterling deixou claro que sabia da qualidade da sua equipa. “Sabíamos que precisávamos de um grande desempenho contra uma equipa difícil, como fizemos hoje. Fazê-lo pelo meu país é sempre especial. Sabemos a intensidade com que podemos jogar e muitas equipas não conseguem lidar com isso. Mas vamos jogo a jogo, vamos recuperar e focarmo-nos no próximo adversário.”, sublinhou o jogador inglês. No Euro de 1996, Inglaterra e Alemanha encontraram-se na meia-final do torneio, tendo empatado a uma bola e ido a grandes penalidades. Southgate, na altura jogador, não converteu o castigo máximo e deu oportunidade aos alemães de marcarem e seguir em frente. Em 2021, o treinador inglês vê agora de fora o forte desempenho da sua equipa. “Eu acho que os jogadores foram imensos, hoje. Saber que tantos milhões de pessoas, depois de um ano difícil em casa, conseguem ter esta alegria é muito especial. Foi um grande resultado. Não tínhamos umas meias (Mundial de 2018) seguidas de uns quartos de final desde 1966. Estes jogadores continuam a escrever história.”, sublinhou o treinador dos Três Leões. Do outro lado da alegria e em tom de despedida estava Joachim Löw, que apesar da derrota decidiu recordar a sua caminhada de 15 anos à frente da Mannschaft. “Nestes 15 anos houve muita coisa positiva. Ganhámos o Mundial em 2014 e as Confederações em 2017, mas desde 2018 que temos problemas. No fundo, não conseguimos impor o nosso jogo às outras equipas.”, sentenciou o agora ex-seleccionador alemão. Ucrânia vence Suécia em jogo eléctrico Após a eliminação surpreendente de França e dos Países Baixos, o último jogo dos oitavos de final do Euro 2020 entre ucranianos e suecos prometia ser um óptimo espetáculo. Ambas as equipas já tinham mostrado competência na fase de grupos. A Suécia ficou em primeiro num grupo onde estava a Espanha e a Ucrânia é o único conjunto do Grupo C ainda em prova. No meio de um jogo equilibrado, a equipa orientada por Andriy Shevchenko saiu de Glasgow com um triunfo suado por 2-1, com necessidade de prolongamento. Os ucranianos mudaram o esquema ao colocarem 3 centrais dentro de campo. A construção de jogo a partir de trás teve alguns soluços no início da partida, devido ao enorme trabalho defensivo do 4-4-2 do treinador Janne Andersson, que tinha a primazia de defender o meio do terreno. Com a bola, a selecção de Shevchenko tentava criar desequilíbrios nas costas dos médios suecos tentando desbloquear a organização defensiva adversária através do médio Mykola Shaparenko. Com um bloco muito compacto, os ucranianos necessitavam de rápidas mudanças de flanco para apanhar as costas da linha média da Suécia em recuperação de posição. E foi isso que aconteceu no primeiro golo com um passe magistral de Shaparenko a isolar o capitão Andriy Yarmolenko que assistiu o lateral esquerdo, Oleksandr Zinchenko para um grande golo aos 27 minutos. A Suécia reduziu por Emil Forsberg aos 43 após um ressalto da defesa adversária. Na segunda parte, o jogo teve três remates aos ferros das balizas. Um da Ucrânia e dois da Suécia. E ambos os guarda-redes a fazerem várias defesas ao longo da partida. No prolongamento e após expulsão do sueco Danielsson, e com claras baixas físicas, Shevchenko lançou Artem Dovbyk que aos 120+1 minutos marcou o golo decisivo de cabeça após cruzamento de Zinchenko. No final do jogo, o treinador da Ucrânia mostrou-se satisfeito com o comprometimento dos seus jogadores. “Estou muito orgulhoso dos meus rapazes, que deram tudo. Eles aplicaram-se muito, sinto-me muito feliz e dedico o triunfo ao povo ucraniano.”, sentenciou Shevchenko cuja equipa vai agora defrontar a Inglaterra nos quartos de final. Quartos de final | Ucrânia não vence Inglaterra desde 2009 O confronto entre ingleses e ucranianos não era o esperado para os quartos de final do Euro 2020. A equipa de Gareth Southgate não teve um desempenho alegre na fase de grupos e a Ucrânia por pouco não entrava nos melhores terceiros classificados da competição. Mas aquilo que ambas mostraram nos oitavos de final, promete um jogo aberto e capaz de surpreender. Para os ucranianos, a tarefa é complicada. Em Inglaterra há jogadores que valem milhões de euros e são capazes de ter um salário superior ao orçamento de um qualquer clube ucraniano. Mas as diferenças mais importantes são dentro de campo e aí a equipa de Andriy Shevchenko tem mais do que argumentos para dificultar a vida da Inglaterra. Esta é a mentalidade do ex-jogador e agora seleccionador da Ucrânia. “Eu vi todos os três jogos de Inglaterra na fase de grupos, o de hoje frente à Alemanha não vi porque estava a preparar o nosso jogo contra a Suécia. É incrivelmente difícil eles sofrerem golos, mas as suas forças não nos assustam.”. Sem vencer os ingleses desde a qualificação para o Mundial de 2010, a Ucrânia prepara-se para um embate em Itália, no estádio Olimpico de Roma, às 3h de Macau do dia 3 para 4 de Julho, frente a uma equipa motivada depois de uma vitória emocionante frente a um antigo rival, a Alemanha. Com a euforia ainda fresca na cabeça dos seus jogadores, Southgate alerta para novos e desafiantes obstáculos durante o resto da prova. “É um momento perigoso para nós. Vamos ter o calor do sucesso e o sentimento à volta do país de que temos de aparecer na melhor forma para ganharmos isto e sabemos que será um desafio imenso daqui para a frente.”, alertou o treinador inglês. Quem vencer o duelo irá defrontar o vencedor do jogo entre República Checa e Dinamarca, nas meias-finais do Euro em Wembley. A final é no mesmo estádio, dando fogo extra à motivação inglesa.
Hoje Macau DesportoEuro 2020 | Grupo D fechado com vitória inglesa e croata De calculadora na mão, Inglaterra e Croácia entraram em campo com mentalidades diferentes. Os pupilos de Gareth Southgate já tinham bilhete para os oitavos, os quatro pontos conquistados antes do embate contra a República Checa eram suficientes. Os axadrezados, porém, ainda tinham de vencer a Escócia para continuarem na prova. Apesar de contextos diferentes, ambas cumpriram a sua missão Por Martim Silva Foi em solo britânico que ficou decidido o Grupo D do Euro 2020. A selecção da Escócia jogou com a Croácia em Glasgow, e os ingleses defrontaram os checos em Londres. Com vantagem caseira para duas equipas, apenas uma saiu ilesa e com passagem para a fase seguinte do torneio. No jogo que opôs croatas e escoceses ficou claro quem pertencia na fase seguinte, mesmo sem se saber o resultado do outro encontro do grupo. Na selecção de Zlatko Dalic não há como falhar. Uma equipa repleta de talentos como Ivan Perišić, Mateo Kovačić, Nikola Vlašić, Marcelo Brozović e Luka Modrić aproxima qualquer equipa da vitória. Com quantidade na qualidade, a Croácia não teve uma noite fácil frente à Escócia. A equipa de Steve Clarke, ex-adjunto de José Mourinho, nesta fase de grupos, não foi capaz de vencer um único jogo muito devido à sua inconsistência no momento da organização ofensiva. O recurso aos cruzamentos foi constante e não existiam unidades criativas com capacidade de progressão e finalização. Consoante a posse de bola que tinham, a grande unidade criativa e disruptiva do ataque escocês era o lateral esquerdo, Andy Robertson. No jogo de ontem, e apesar da vertente rudimentar do ataque do Exército de Tartan, o defesa do Liverpool concluiu a sua campanha no Euro como o jogador com mais cruzamentos (15) e mais cruzamentos para a grande área (5). Conseguiu alcançar também a liderança de passes para finalização (9). E é numa situação como esta, a de eliminação, que Clarke se arrependerá de não ter convocado um dos melhores jogadores da Liga NOS deste ano e que detém nacionalidade escocesa, Ryan Gauld. Mas a Escócia até causou diversos problemas à vice-campeã mundial de 2018 com o seu bloco baixo e aposta na transição ofensiva. Porém, os escoceses tiveram de lidar com Modrić sempre perto da bola. Num jogo até ineficaz em oportunidades de golo, aos 17 minutos de jogo surge o primeiro tento do encontro marcado por Nikola Vlašić num remate dentro da grande área. A resposta veio perto do intervalo, com a Escócia a empatar com golo de Callum McGregor aos 42 minutos. Na segunda parte e aos 62 minutos, o ex-Bola de Ouro, Luka Modrić marca um golaço de trivela perto da entrada da grande área. Durante a partida, o médio croata esteve longe da zona de remate e a sua equipa sofreu com isso. Mas quando teve a oportunidade, marcou um dos melhores golos desta edição do Euro. A exibição do médio croata não terminou com o golo de trivela, juntando a assistência para Ivan Perišić marcar de cabeça aos 77 minutos. Em jogo de grande intensidade, a qualidade de Modrić fez a diferença. A Croácia alcançou o segundo lugar do Grupo D e irá defrontar o segundo classificado do Grupo E. Já a Escócia vai para casa, curiosamente o mesmo sítio onde deixaram Ryan Gauld. Vitória confortável Com o apuramento já, praticamente, assegurado e com necessidade de mexer na equipa, devido também à proximidade que jogadores como Ben Chilwell e Mason Mount tiveram com o infectado pela covid-19, Billy Gilmour da Escócia, Gareth Southgate colocou, finalmente, em campo como titular Jack Grealish. O jogador do Aston Villa teve logo impacto na partida com a assistência do único golo da partida, marcado por Raheem Sterling. O cruzamento de Grealish deu golo logo aos 12 minutos com os checos a não darem grande resposta durante o resto da partida. Dos melhores em campo foi o guardião da República Checa, Tomáš Vaclík, que já frente à Escócia tinha feito uma enorme exibição. Apesar das limitações ofensivas de ambas as equipas, o jogo deu para estrear caras novas na parte inglesa. Bukayo Saka, Harry Maguire, Jordan Henderson e Jadon Sancho estrearam-se no jogo de ontem pela selecção dos Três Leões. Com apenas 68 minutos jogados, Grealish foi dos melhores em campo. Tal como Gauld, não se percebe como é que o médio do Aston Villa não consegue ter lugar no onze inicial da equipa de Southgate. Mesmo sendo um jogador que vem de lesão, Grealish foi o jogador que mais faltas sofreu na Premier League este ano (109), foi o 3.º jogador da competição com mais passes para finalização (83) e o 4.º jogador com mais assistências (10). A vitória pela vantagem mínima faz com que Inglaterra fique à espera para saber quem irá defrontar nos oitavos de final. Será o 2.º classificado do grupo de Portugal que é decidido de quarta para quinta-feira às 3h. Um confronto entre ingleses e portugueses seria interessante e histórico. Oitavos começam em terra de Cruyff Dinamarca e País de Gales formam um par inesperado no primeiro jogo da fase a eliminar do Euro 2020. O palco do embate entre os dois conjuntos é a Arena Johan Cruyff em Amesterdão, casa de um dos clubes mais emblemáticos da Europa, o Ajax. Num palco tão importante, e com o nome de uma das grandes lendas do futebol mundial, cada equipa terá sobre si níveis de pressão diferentes. O histórico de ambas na competição assim o diz. Para o País de Gales o palco ainda é novo. A equipa de Robert Page está a participar no seu segundo Euro sendo que o primeiro, em 2016, ficou marcado pela eliminação nas meias-finais por Portugal. Na primeira presença fica a uma vitória da final e na segunda, ainda a decorrer, passa a fase de grupos. Quanto à Dinamarca, o historial é mais longo. A conquista surpreendente do Euro em 1992 colocou a selecção nórdica no leque de 15 países que venceram a prova. Porém, a equipa de Kasper Hjulmand tem mais jogadores a actuar nas melhores equipas do mundo do que em 1992. Contudo, o talento não se esgota todo no conjunto dinamarquês, tendo o País de Gales jogadores experientes e habituados aos grandes palcos do futebol como Gareth Bale, Aaron Ramsey e Joe Allen. Desta maneira, galeses e dinamarqueses têm intervenientes capazes de tornar o jogo de sábado para domingo, às 00h, numa partida interessante, aberta e com emoções à mistura. O primeiro encontro dos oitavos de final promete colocar frente a frente o velho confronto entre experiência e inexperiência. Para a Dinamarca, validar o seu passado glorioso é motivação suficiente. Para o País de Gales derrotar um histórico europeu é um belo início de caminhada na sua segunda presença na competição de selecções do velho continente. Áustria e Itália não se defrontam desde 1998 No segundo duelo dos oitavos de final do Euro 2020, austríacos e transalpinos entram em campo às 3h, de sábado para domingo, no estádio de Wembley em Londres. No jogo em terra de Sua Majestade, a Itália terá o peso de não se ter qualificado para o Mundial de 2018 em cima dos seus ombros. Os azzurri atravessaram uma humilhação há três anos e têm pelo caminho uma oportunidade única para se redimirem e mostrarem a sua verdadeira qualidade. Mas para o conjunto de Roberto Mancini, o passado tem de ser colocado de lado e a concentração terá de residir no presente. A equipa italiana tem sido demolidora em todos os momentos do jogo. Durante a fase de grupos não sofreu golos e o seu guardião, Gianluigi Donnarumma, defendeu apenas dois remates em três jogos. Manuel Locatelli lidera a categoria da melhor percentagem de remates à baliza com 100%, sendo juntamente com Ciro Immobile um dos melhores marcadores do Euro com 2 golos. Com tantas lideranças de Itália no departamento estatístico da competição, será prudente constatar que a Áustria não está muito atrás. David Alaba lidera o Euro em toques na bola (278), número de cantos (15), passes para finalização (9), tem duas assistências e é dos jogadores com mais minutos na competição. Mas esta equipa não é só Alaba. Marcel Sabitzer é quem fez mais passes para a grande área (8), Stefan Lainer lidera em bloqueios (14) e Aleksandar Dragović tem uma percentagem perfeita de duelos aéreos ganhos (100%). Com qualidade dos dois lados, e sem se enfrentarem em competições oficiais desde o Mundial de 1998, Franco Foda admite um jogo dividido. “Não há adversários fáceis e sabemos disso. A Itália não perde há uma eternidade, mas talvez chegue o momento. Será importante para nós prepararmo-nos com foco e recuperarmos.” concluiu o seleccionador austríaco.
Hoje Macau DesportoEuro 2020 | Grupo B fecha hoje Após a conclusão do Grupo A, é a vez do Grupo B. Num Euro que parece correr como o vento, é hora de colocar os pontos nos is e perceber quem vai passar à fase seguinte. No segundo grupo da competição está a Bélgica, a nova “favorita” a precisar de juntar o seu talentoso grupo de jogadores a troféus de primeira instância. Mas pelo caminho há uma Dinamarca motivada, uma Finlândia com garra e uma Rússia capaz de dificultar a vida a qualquer equipa Por Martim Silva Não há elogios suficientes para a selecção da Bélgica, dotada de um talento de outro mundo. Os diabos vermelhos têm a melhor geração de jogadores de que há memória. Apenas 5 dos 26 jogadores convocados por Roberto Martínez jogam fora dos 5 principais campeonatos da Europa. Em todas as facetas do desporto-rei, jogar contra a Bélgica parece injusto e complexo. A capacidade de jogo é tremenda, havendo poucas nações capazes de a derrotar. Com a ascensão de um conjunto de jogadores que está capacitado para ombrear com Alemanha, França, Itália, Espanha e outros, os seus adversários de grupo podem, e devem, tomar todos os cuidados necessários. Mas o Grupo B do Euro 2020 é talvez o mais resiliente. Começando com a Dinamarca. A equipa nórdica parece adversa à desistência. Mesmo depois do colapso repentino de Christian Eriksen, os dinamarqueses deram uma resposta com cabeça, mãos e pés. Apesar da derrota por 2-1 contra os belgas, a Dinamarca foi competente e competitiva até ao apito final. De hoje para amanhã (00:00) os dinamarqueses vão defrontar a Rússia, outra selecção convicta da sua competência. Os pupilos do seleccionador da Dinamarca, Kasper Hjulmand, completarão os três jogos em Copenhaga, trazendo desta maneira uma ligeira vantagem para o confronto frente à equipa treinada por Stanislav Cherchesov. A Rússia demonstrou muito mais na vitória frente à Finlândia (1-0) do que tinha mostrado quando foi goleada frente à Bélgica (3-0), estando a chave desse triunfo nos pés de Aleksey Miranchuk, médio da Atalanta, que além de marcar o golo da vitória fez uma exibição de encher o olho. Do lado dinamarquês desponta Yussuf Poulsen. Frente à Bélgica, o avançado do RB Leipzig foi uma dor de cabeça para a defesa liderada por Jan Vertonghen, tendo marcado o primeiro e único golo da Dinamarca neste Euro. Pierre-Emile Højbjerg, médio do Tottenham, coroou um bom desempenho com a assistência para o golo nórdico. Há ainda Simon Kjær e Martin Braithwaite na equipa de Hjulmand, jogadores com habilidade suficiente para vencer uma partida. Do lado russo, os desempenhos de Miranchuk, Aleksandr Golovin e Igor Diveev frente aos finlandeses pintam um ataque robusto e solidez defensiva. Os treinadores de ambas as equipas, acreditam que a chave da vitória está na capacidade de trabalho. Para Cherchesov, o factor casa dos dinamarqueses não incomoda. “Este vai ser o nosso primeiro jogo fora em dois torneios seguidos e sem os nossos adeptos. No entanto, isso não é um problema. Não usámos a palavra ‘problema’ nos últimos cinco anos. É apenas uma contingência e sabemos como lidar com ela.”. Já o seleccionador da Dinamarca acredita na dificuldade da tarefa pela frente. “Aconteça o que acontecer, vamos tentar ganhar o jogo. Vai ser um duelo incrivelmente difícil frente à Rússia. Eles têm uma boa equipa. Não temos de forçar nada.” rematou o seleccionador da Dinamarca. Produto do talento A Finlândia tem pela frente jogadores como Romelu Lukaku, Eden Hazard e o regressado Kevin De Bruyne, que no jogo frente à Dinamarca marcou e fez uma assistência, trunfos que vai tentar contrariar com a vontade de disfrutar o último jogo da fase de grupos. “Criámos mais contra a Rússia, mas o último passe ainda não foi o ideal. Precisamos de melhorar este aspecto. Os jogadores estão bem-dispostos e faremos tudo para tirar proveito do último jogo da fase de grupos. Todos conhecemos a qualidade da selecção belga e estamos bem cientes de que vamos ter uma tarefa difícil.” sublinhou o seleccionador da Finlândia, Markku Kanerva. Do lado da equipa orientada por Roberto Martínez a conquista do Grupo B é um objectivo mínimo, com as ambições dos belgas a estar na conquista do troféu de campeão europeu devido à aglomeração de tantos jogadores acima da média. Com o favoritismo em mente, a Bélgica não deverá olhar para o jogo com a Finlândia como um mero amigável. O objectivo belga passa por assegurar a conquista do grupo o mais depressa possível para o foco se alargar para a final, onde uma equipa como a Bélgica pertence. As contas que vão definir o Grupo D É no Grupo D do Euro 2020 que reside a maior esperança futebolística. A selecção de Inglaterra, com todo o aparelho mediático desportivo implícito, tem a distinta tarefa de validar todos os elogios direccionados à equipa de Gareth Southgate. Luka Modrić, médio croata, já tinha deixado claro estes sentimentos quando referiu que a arrogância dos ingleses provinha dos seus jornalistas e comentadores, inflacionando as capacidades colectivas e individuais das tropas de Sua Majestade. A equipa de Southgate não tem estado ao melhor nível e jogadores como Jack Grealish têm ficado de fora do onze inicial. O jogador do Aston Villa em apenas 20 minutos de jogo contra a Escócia sofreu quatro faltas – o recorde de maior número de faltas sofridas por um suplente num Euro pertence a Éder, que frente a França em 2016 sofreu cinco. O nível exibicional tem sido fraco e não há jogadores a destacar-se. O empate contra a Escócia (0-0) com poucas oportunidades de golo deu azo à urgência inglesa de acabar com esta fase menos positiva. Pela frente está a República Checa que tem no seu plantel um dos melhores marcadores do torneio, Patrik Schick. Os checos têm uma selecção que gira à volta do atacante do Bayer Leverkusen, muito devido à sua qualidade e características físicas notáveis. Além de Schick há jogadores como Tomáš Souček e Vladimir Coufal, ambos representam o West Ham e trazem para a equipa uma dinâmica mais combativa e defensiva. O jogo será apitado pelo português Artur Soares Dias. Na outra partida do Grupo D, defrontam-se Escócia e Croácia. Modrić tem carregado a selecção de Zlatko Dalić nas suas costas, não se esperando nada de diferente frente a uma selecção escocesa que com bola não é perigosa e sem ela tem algumas limitações. Itália sai invicta da fase de grupos Entre as características mais vezes apontadas a Itália, a organização defensiva está no topo. Esta tradição faz parte da presente equipa, orientada por Roberto Mancini. Com o triunfo frente ao País de Gales (1-0), os azzurri igualaram o recorde da selecção italiana de Vittorio Pozzo entre 1935 e 1939 quando estiveram 30 jogos sem qualquer derrota. Para Mancini e os seus pupilos, a chave tem sido o incansável meio-campo e a capacidade atacante de Domenico Berardi, Lorenzo Insigne e Leonardo Spinazzola mas é na defesa que está a resposta para tanto triunfo. Além da marca histórica de jogos sem perder, a Itália segue para os oitavos de final do Euro 2020. A vitória sobre o País de Gales foi clara e evidente, apesar de alguns sustos pelo caminho, nomeadamente, o falhanço de Gareth Bale em frente à baliza de Gianluigi Donnarumma, por volta do minuto 75. Mas a chave esteve sempre na defesa com Leonardo Bonucci a ser um maestro de passes progressivos. O central da Juventus iniciou várias ligações ofensivas desde trás, ajudando Marco Verratti, que se estreou oficialmente no Euro, Jorginho e Matteo Pessina. O médio da Atalanta, que fez o único golo do encontro aos 39 minutos após passe de Verratti, fez um pouco de todo dentro de campo. Atacou a profundidade, movimentou-se como um avançado e funcionou como um ala. Depois da humilhação de não se qualificar para o Mundial de 2018, a Itália assume cada vez mais o papel de candidato a vencer o Euro 2020. No outro jogo do Grupo A, a Suíça derrotou a Turquia por 3-1. Os golos helvéticos foram marcados por Xherdan Shaqiri (2) e Haris Seferović. O único tento turco da competição foi marcado por Irfan Kahveci. A Suíça fica com 4 pontos, tendo a possibilidade de passar à próxima fase, se estiver entre os quatro melhores terceiros classificados.
Hoje Macau DesportoMédio brasileiro Paulinho deixa o Guangzhou FC por não poder entrar na China O futebolista brasileiro José Paulo Bezerra, conhecido como Paulinho, anunciou hoje a sua saída do clube chinês Guangzhou FC, face à impossibilidade de voltar à China, que encerrou as fronteiras, como medida de prevenção contra a covid-19. Na sua conta oficial no Instagram, o médio, que jogou também no Barcelona e Tottenham, afirmou que se trata de uma “despedida precoce”, mas que, “infelizmente, a pandemia alterou profundamente a dinâmica mundial”. “Devido à pandemia, eu e o clube pensamos ser melhor chegar a um acordo. Então, o meu ciclo como jogador do Guangzhou termina aqui”, explicou Paulinho, numa mensagem filmada. O futebolista relembrou a passagem pelo Guangzhou FC – anteriormente conhecido como Guangzhou Evergrande -, com o qual disputou 172 jogos, marcou 74 golos e conquistou oito títulos. A imprensa chinesa referiu a tristeza dos adeptos do clube, mas apontou que também é um “grande alívio financeiro” para o Guangzhou FC, após as últimas regras aprovadas pela Associação Chinesa de Futebol, que estipulam em 600 milhões de yuan o orçamento máximo do clube. Paulinho, de 33 anos, junta-se assim ao seu compatriota Talisca, que deixou o Guangzhou FC no mês passado e foi contratado pelo Saudi Al-Nassr. O jogador está por enquanto sem clube. Os primeiros casos do novo coronavírus foram detetados pela primeira vez na cidade de Wuhan, no centro da China, em dezembro passado, mas, com exceção de surtos esporádicos e localizados, a vida regressou ao normal no país asiático. Perante a propagação da doença por todo o mundo, a China praticamente fechou as fronteiras, em 26 de março de 2020, permitindo a entrada de estrangeiros no país só em casos considerados essenciais.
Nuno Miguel Guedes Divina Comédia h | Artes, Letras e IdeiasCapitão da vida Um dia, mais um 12 de Junho na vida de Simon Skjaer. Nessa manhã de sábado o dinamarquês acordou com um sorriso nos lábios. Estava calmo apesar de excitado; concentrado apesar de ansioso. Eram sensações contraditórias que lhe eram familiares mas, mais importante, desejadas. É provável – nunca o saberemos – que Skjaer tenha reservado uns segundos para agradecer a vida que lhe era oferecida: aos 32 anos o seu trabalho foi um sonho realizado: futebolista profissional e como se isso não bastasse, um defesa-central considerado e que jogava num dos clubes de topo europeu, o A.C. Milan. Melhor ainda: era capitão da sua selecção nacional, uma honra e responsabilidade atribuída a muito poucos. Terá feito alguns exercícios ligeiros com os colegas, trocado piadas, ouvido a última palestra do treinador antes do jogo que se avizinhava: a estreia da Dinamarca frente à Finlândia para um campeonato europeu que por circunstâncias do universo se iria realizar em diferido, um atraso de um ano em relação à data marcada. Pouco importava: a ansiedade, a vontade, os silêncios eram os mesmos das grandes competições, dos jogos em que tudo tem de ser entregue. No túnel de entrada do estádio, o nervosismo de Skjaer era o mesmo dos colegas: uma emoção presente mas discreta, quase anónima. Um capitão é um líder e o seu rosto tem de o mostrar em permanência. Assim foi na tradicional moeda ao ar, no sorriso amável que trocou com o árbitro e com o capitão adversário, “bom jogo” talvez tenha dito. Um 12 de Junho, capitão. Mais um 12 de Junho e o som de um apito e uma bola a rolar e milhões a ver, e corpos, e olhares e velocidade, não os deixar passar e retomar a posse de bola, liderar, dar ordens para os colegas se posicionarem melhor, gritar, não falhar, não falhar, não falhar, este jogo é a nossa vida. Aos 42 minutos de jogo o capitão da selecção dinamarquesa de futebol profissional percebeu o que era a vida. E não era o jogo, nunca é o jogo. Ao longe, do lado esquerdo, o número 10 da sua equipa cai desamparado, sem razão nem remédio. Não há tempo para pensar, para nada. Isto é a vida, isto é a morte, poderá ter lembrado Skjaer enquanto corria como um louco da sua posição habitual até ao companheiro entregue aos caprichos dos deuses perante um estádio de Copenhaga em choque, perante os colegas e adversários petrificados, perante todos os que viam e estavam arrasados pela violência da fragilidade de flor que é a vida humana. Simon Skjaer aproximou-se do companheiro Christian Eriksen, reconheceu a situação e agiu, a única forma de existir naquele momento. Protegeu o pescoço do jogador caído, colocando-o de lado e abrindo a sua boca de forma a libertar as vias respiratórias caso viesse a sofrer de convulsões. Passaram 23 segundos até que a equipa médica da selecção adversária, mais próxima do acidente, pudesse chegar e tomar conta da situação. Vinte. E. Três. Segundos. «Que tempo é este que não é o meu, que não é o de Christian, que não é o da sua namorada Sabrina que vejo daqui em lágrimas? Que segundos eternos me oferecem a mim, a nós, ao meu amigo a um segundo de distância de todos os segundos finais ? De que nos vale?», não terá pensado Simon Skjaer. Com os médicos já a prestarem a assistência necessária, o capitão teve tempo para fazer o ainda mais belo: ordenar uma cortina humana de pudor. Porque a vida não pode ser escancarada mesmo quando existe a possibilidade iminente de chegar ao fim. Em lágrimas, os companheiros obedeceram. O resto sabemos. O resto ganhámos. O capitão mostrou-nos como podemos enfrentar a brisa que é a nossa vida. Nenhum 12 de Junho será igual a um 12 de Junho. Assim nos preparemos.
Hoje Macau DesportoEuro 2020 | Espanha empata com Suécia em jogo marcado pelas oportunidades falhadas Em jogo de estreia frente à Suécia, os espanhóis deixaram a pontaria em casa, desperdiçando uma mão cheia de oportunidades de golo. Espanha é um dos candidatos a conquistar o Euro 2020, tendo pela frente uma fase de grupos teoricamente fácil. Mas o futebol não é uma ciência exacta e apresenta muitas surpresas e variáveis. A Suécia não apresentou muitos argumentos ofensivos, mas foi capaz de segurar o nulo frente a uma selecção espanhola cheia de talento Por Martim Silva O favoritismo não ganha jogos. Espanha provou deste lema ao empatar com a Suécia a zero, na passada meia-noite, em Sevilha, a contar para o Grupo E do Euro 2020. O palco era o Olimpico de La Cartuja, estádio onde José Mourinho sagrou-se pela primeira vez campeão europeu com o FC Porto em 2003, mas as condições do relvado não faziam jus ao nome Olimpico. A Espanha é das poucas selecções que mantém a mesma identidade ao longo de décadas. Muita posse de bola e boa reacção à perda da mesma. Mas esta equipa de Luis Enrique, seleccionador de La Roja, é mais previsível que os conjuntos espanhóis vencedores do Euro em 2008 e 2012. Já esta Suécia, sem Zlatan Ibrahimović, não tem também muitos argumentos para fazer mais do que se viu. A Espanha tinha bola, rodando-a de um lado para o outro, procurando espaço do lado contrário, mas a Suécia, sempre fechada no seu 4-4-2 em bloco baixo, não deixava grandes espaços por cobrir. E ainda assim a selecção espanhola criou chances de golo com o guarda-redes sueco, Robin Olsen, em grande plano. Apesar das oportunidades criadas na primeira parte, os espanhóis tinham movimentos ofensivos pouco adaptados à realidade do encontro. Desta maneira, a Suécia não sofria golos, mas também mal conseguia passar do seu meio-campo. Alexander Isak, um jovem sueco de 21 anos, foi o único ponto de luz na escuridão nórdica. O avançado da Real Sociedad mostrava-se ao jogo como ninguém e foi o único protagonista ofensivo da selecção orientada por Janne Andersson. Isak foi quem mais trabalho deu a Aymeric Laporte, defesa central que se estreou em competições oficiais ao serviço de Espanha. Outra estreia marcante para os espanhóis foi a de Pedri González, jogador do Barcelona de apenas 18 anos, que frente à Suécia formou uma parceria letal com Jordi Alba, lateral esquerdo. Mas a primeira parte viu ainda Álvaro Morata, avançado espanhol da Juventus, falhar, novamente, um golo onde só tinha pela frente o guarda-redes. A inépcia de Morata em frente à baliza é chocante, e este tema é recorrente desde que se transferiu do Real Madrid para o Chelsea em 2017. Dani Olmo e Koke foram também responsáveis por não concretizarem as respectivas oportunidades de golo. Mais do mesmo A segunda parte foi o espelho da primeira. A pressão espanhola era constante sempre que perdia a posse de bola, com os suecos a não serem capazes de se organizar ofensivamente. Porém, à medida que o tempo passava, o bloco baixo da Suécia começava a quebrar. A concentração mental e física dos suecos estava nos limites. As tabelas entre Jordi Alba, um lateral que é um autêntico extremo, e Pedri começavam a criar espaços na última linha dos nórdicos e as oportunidades começavam a aparecer. Com Gerard Moreno em campo e Morata no banco, a equipa rematava mais à baliza e com mais perigo. Robin Olsen foi posto à prova por Moreno, Alba e Pedri, tendo sido responsável por 5 defesas no total da partida. A Suécia depositou toda a sua esperança em Olsen nos últimos minutos da partida, visto não conseguir ter posse de bola alguma: Espanha teve 85% da posse de bola. Estando bem patente a incapacidade ofensiva sueca, notou-se a falta de Dejan Kulusevski, avançado sueco da Juventus, que estava indisponível para o jogo de ontem devido à covid-19. O jovem de 21 anos é o novo talento sueco, tendo sido aposta recorrente para jogar ao lado de Cristiano Ronaldo na Vecchia Signora. Os talentos suecos estão todos no ataque. Emil Forsberg, Isak e Kulusevski são as peças fundamentais de uma selecção minada com falta de talento. Apesar de tanta adversidade, a Suécia foi capaz de não sofrer golos contra um dos favoritos a vencer este Euro. Espanha tem um seleccionador melhor, jogadores melhores e uma cultura vencedora superior e não foi além do nulo. Isto não é nada de novo em competições internacionais. O Euro, e o Mundial, são palcos representativos de oportunidades únicas para treinadores e jogadores mostrarem o seu valor. Não há equipas a jogar a meio gás, sendo cada vez mais difícil dominar por completo mesmo os adversários, teoricamente, mais fracos. Com isto em mente, o novo líder do Grupo E, onde Espanha perfila, é agora a selecção da Eslováquia, provando a velha afirmação de João Pinto de que prognósticos só no fim do jogo. Eslováquia vence Polónia por 2-1 em jogo disputado Em jogo de estreia do Grupo E do Euro 2020, Polónia e Eslováquia deram um espectáculo que poucos esperavam. A Polónia, orientada pelo português Paulo Sousa, começou a primeira parte a dominar e a tentar criar ligações exteriores para depois efectuar movimentos de ataque à profundidade, mas a Eslováquia manteve-se concentrada. Quando recuperava a posse de bola, contra-atacava usando Ondrej Duda e Marek Hamsik como elos de ligação para libertar os alas Robert Mak e Lukas Haraslin. E ao minuto 18, o próprio Mak através de uma jogada individual, onde ultrapassa dois adversários, remata ao poste da baliza de Wojciech Szczesny mas a bola bate nas costas do guarda-redes da Juventus, entrando. Szczesny tornou-se no primeiro guarda-redes a marcar um golo na própria baliza na história do Euro. O autogolo premiou o plano estratégico irrepreensível de Stefan Tarkovic, seleccionador eslovaco, na primeira parte. Golpe fatal Se nos primeiros 45 minutos o plano de Paulo Sousa não resultou, foram apenas necessários os 15 minutos de intervalo para o ataque polaco começar a ter mais fluidez. As ligações eram mais recorrentes e funcionavam com outra regularidade, levando a Polónia a marcar logo ao minuto 46 por Karol Linetty. Contudo, a mostragem do segundo cartão amarelo, e subsequente expulsão, ao minuto 62 a Grzegorz Krychowiak ditou o fim de uma segunda parte promissora. Imediatamente após a expulsão do médio polaco, a Eslováquia, através do central Milan Skriniar adianta-se no marcador. O defesa fez aquilo que Robert Lewandowski não conseguiu fazer durante a partida inteira: golo. A Eslováquia não é uma selecção muito competente em organização ofensiva, mas consegue ser compacta em bloco baixo, tendo jogadores mais do que capazes para criar perigo na área adversária. Hamsik tem 33 anos e Duda 26 anos e ambos foram dos melhores em campo. Por vezes, a idade não é um mau trunfo. Patrick Schik bate recorde de 41 anos com golo do meio-campo A primeira parte do jogo entre Escócia e República Checa, correspondente ao Grupo D do Euro 2020, foi um típico jogo inglês. Muita bola longa, muitos duelos aéreos e pouca bola rente ao chão. A organização ofensiva de Escócia e República Checa roçou o rudimentar. A principal fonte de ataque escocesa residia nos pés de Andy Robertson, jogador do Liverpool, que se limitava a bombardear bolas para a área sem grande estratégia. A República Checa pouco fez também, mas saiu para o intervalo por cima, com um golo de cabeça de Patrik Schik aos 42 minutos. A Schik já voltamos mais adiante. Contudo, e após uma primeira parte murcha, o segundo tempo mudou de feição, trazendo mais oportunidades de golos, especialmente para a Escócia. Houve um remate à trave e duas oportunidades de golo que levaram o guardião checo, Tomas Vaclík, a defesas impressionantes. Mas a Escócia sempre com uma organização ofensiva incapaz de solucionar os diversos problemas que a defesa checa lhe colocava. Ryan Gauld, jogador escocês do Farense, foi dos jogadores que mais oportunidades flagrantes criou na Liga NOS na época 2020/2021, e teria sido uma ajuda bem-vinda a esta selecção. A juntar ao desperdício da Escócia, veio o momento alto da partida e talvez do Euro. Ao minuto 52, Patrik Schik volta a marcar. Um golo do meio-campo com uma curva notável que bateu o recorde de distância de um golo na história do Euro. O recorde perdurava desde 1980 e o remate do ponta de lança checo percorreu 45.4 metros até chegar à baliza do guarda-redes, David Marshall. É talvez o golo da competição e com este estrondo, Schik junta-se a Lukaku na lista dos melhores marcadores do Euro e a República Checa sobe ao 1.º lugar do Grupo D.
Hoje Macau DesportoUm Euro diferente Antes da pandemia, o Euro 2020 já tinha tudo para ser diferente. Ao contrário do habitual, não vai ser realizado num único país, ou em dois. Vão ser 11 cidades de 11 países, entre os quais alguns a estrearem-se como anfitriões de fases finais como a Rússia, Azerbaijão ou Hungria. Esta é ainda a primeira vez que o Árbitro Assistente de Vídeo (VAR) vai ser utilizado no torneio. No entanto, nada serão tão atípico como um torneio denominado Euro2020 realizar-se no ano de 2021… No meio de tanta novidade e restrição, espera-se que as equipas proporcionem um bom espectáculo, pratiquem bom futebol… E que Portugal revalide o título de Campeão Europeu! Os 26 convocados de Portugal Guarda-redes Anthony Lopes 30 anos O. Lyon Rui Patrício 33 anos Wolverhampton Rui Silva 27 anos Granada Defesa João Cancelo 27 anos Manchester City Nélson Semedo 27 anos Wolverhampton José Fonte 37 anos Lille OSC Pepe 38 anos FC Porto Rúben Dias 24 anos Manchester City Nuno Mendes 18 anos Sporting Raphael Guerreiro 27 anos Borussia Dortmund Médios Danilo 29 anos PSG Palhinha 25 anos Sporting Rúben Neves 24 anos Wolverhampton Bruno Fernandes 26 anos Manchester United João Moutinho 34 anos Wolverhampton Renato Sanches 23 anos Lille OSC Sérgio Oliveira 29 anos FC Porto William Carvalho 29 anos Bétis Avançados Pote 22 anos Sporting André Silva 25 anos Eintracht Frankfurt Bernardo Silva 26 anos Manchester City Cristiano Ronaldo 36 anos Juventus Diogo Jota 24 anos Liverpool Gonçalo Guedes 24 anos Valência João Félix 21 anos Atlético de Madrid Rafa Silva 28 anos Benfica Treinador: Fernando Santos Ponto Forte O ataque. Nada exemplifica melhor o poderio ofensivo da equipa de Portugal como a situação de André Silva. O avançado fez a melhor época da carreira, com 29 golos em 34 jogos, bateu o registo de Erling Haaland, apenas ficando na lista de melhores marcadores da Bundeslinga atrás de Lewandowski. O registo não chega para ser titular na equipa orientada por Fernando Santos. Ponto Fraco O centro da defesa. Rúben Dias encantou na Premier League e assumiu-se como central de categoria mundial. Contudo, Portugal tem um problema nesta área, que fica claro com a convocatória de apenas três jogadores para a posição. Os outros convocados são os experientes Pepe e José Fonte, mas com um calendário intenso pode faltar a velocidade nos momentos-chave. A figura: Cristiano Ronaldo O capitão da selecção da “Quinas” vive de desafios e recordes. Neste Europeu vai precisar de marcar seis golos para se tornar o melhor marcador de sempre ao serviço de uma selecção. Ronaldo tem actualmente 104 golos por Portugal, contra os 109 golos de Ali Daei, pelo Irão. O estabelecimento de um novo recorde com um golo decisivo da final seria o cenário perfeito para o artilheiro e a “redenção” da final de 2016, quando teve de abandonar o relvado lesionado. Os Jogos Sábado 12 de Junho 03h00 Turquia – Itália (Jogo 1) 21h00 País de Gales – Suíça (Jogo 2) Domingo 13 de Junho 00h00 Dinamarca – Finlândia (Jogo 3) 03h00 Bélgica – Rússia (Jogo 4) 21h00 Croácia – Inglaterra (Jogo 5) Segunda-feira 14 de Junho 00h00 Áustria – Macedónia do Norte (Jogo 6) 03h00 Holanda – Ucrânia (Jogo 7) 21h00 Escócia – República Checa (Jogo 8) Terça-feira 15 de Junho 00h00 Polónia – Eslováquia (Jogo 9) 03h00 Espanha – Suécia (Jogo 10) Quarta-feira 16 de Junho 00h00 Hungria – Portugal (Jogo 11) 03h00 França – Alemanha (Jogo 12) 21h00 Finlândia – Rússia (Jogo 13) Quinta-feira 17 de Junho 00h00 Turquia – País de Gales (Jogo 14) 03h00 Itália – Suíça (Jogo 15) 21h00 Ucrânia – Macedónia do Norte (Jogo 16) Sexta-feira 18 de Junho 00h00 Dinamarca – Bélgica (Jogo 17) 03h00 Holanda – Áustria (Jogo 18) 21h00 Suécia – Eslováquia (Jogo 19) Sábado 19 de Junho 00h00 Croácia – República Checa (Jogo 20) 03h00 Inglaterra – Escócia (Jogo 21) 21h00 Hungria – França (Jogo 22) Domingo 20 de Junho 00h00 Portugal – Alemanha (Jogo 23) 03h00 Espanha – Polónia (Jogo 24) Segunda-feira 21 de Junho 00h00 Itália – País de Gales (Jogo 25) 00h00 Suíça – Turquia (Jogo 26) Terça-feira 22 de Junho 00h00 Ucrânia – Áustria (Jogo 27) 00h00 Macedónia do Norte – Holanda (Jogo 28) 03h00 Rússia – Dinamarca (Jogo 29) 03h00 Finlândia – Bélgica (Jogo 30) Quarta-feira 23 de Junho 03h00 Croácia – Escócia (Jogo 31) 03h00 República Checa – Inglaterra (Jogo 32) Quinta-feira 24 de Junho 00h00 Suécia – Polónia (Jogo 33) 00h00 Eslováquia – Espanha (Jogo 34) 03h00 Portugal – França (Jogo 35) 03h00 Alemanha – Hungria (Jogo 36) Oitavos-de-Final Domingo 27 de Junho 00h00 2.º do Grupo A – 2.º do Grupo B (Jogo 43) 03h00 1.º do Grupo A – 2.º do Grupo C (Jogo 38) Segunda-feira 28 de Junho 00h00 1.º do Grupo B – 3.º do Grupo A/D/E/F (Jogo 42) 03h00 1.º do Grupo C – 3.º do Grupo D/E/F (Jogo 41) Terça-feira 29 de Junho 00h00 2.º do Grupo D – 2.º do Grupo E (Jogo 39) 03h00 1.º do Grupo F – 3.º do Grupo A/B/C (Jogo 37) Quarta-feira 30 de Junho 00h00 1.º do Grupo E – 3.º do Grupo A/B/C/D (Jogo 40) 03h00 1.º do Grupo D – 2.º do Grupo F (Jogo 44) Quartos-de-Final Sábado 3 de Julho 00h00 Vencedor do Jogo 37 – Vencedor do Jogo 49 (Jogo 45) 03h00 Vencedor do Jogo 42 – Vencedor do Jogo 38 (Jogo 46) Domingo 4 de Julho 00h00 Vencedor do Jogo 40 – Vencedor do Jogo 44 (Jogo 48) 03h00 Vencedor do Jogo 41 – Vencedor do Jogo 43 (Jogo 47) Meias-Finais Quarta-feira 7 de Julho 03h00 Vencedor do Jogo 46 – Vencedor do Jogo 45 (Jogo 49) Quinta-feira 8 de Julho 03h00 Vencedor do Jogo 48 – Vencedor do Jogo 47 (Jogo 50 Final Segunda-feira 12 de Julho 03h00 Vencedor do Jogo 49 – Vencedor do Jogo 50 (Jogo 51) Nota: Após a fase de grupos, além dos dois melhores classificados de cada grupo, apuram-se para os oitavos-de-final- os quatro terceiros melhores classificados. A posição em que são emparelhados depende dos factores de desempate.
Hoje Macau DesportoSporting campeão: Hora tardia ‘rouba’ força à festa em Macau, sem tirar drama e lágrimas A hora tardia do jogo ‘roubou’ força às celebrações em Macau do título nacional de futebol do Sporting, mas a diferença de sete horas não despojou os adeptos do drama nem das lágrimas contidas durante 19 anos. A mais de 10.000 quilómetros de Portugal, os sportinguistas vibraram com a vitória sobre o Boavista (1-0) já na madrugada de quarta-feira, mas a distância só ‘emprestou’ intensidade aos festejos num bar na ilha da Taipa que adiou especialmente a hora de fecho para projetar o jogo que ‘carimbou’ o 19.º título, à 32.ª jornada. Num grupo composto por muitos jogadores do Sporting de Macau, seniores e veteranos, já próximo do final do jogo, alguém do grupo procurou sossegar o nervosismo e tensão geral, face às perdidas do Sporting e à vantagem ‘maga’ do marcador: “Somos do Sporting, qual é a novidade? Temos de sofrer”. “É claro que não era preciso sofrer tanto, mas sendo sportinguista, e, sabendo como tem sido a história do Sporting, (…) é claro que tínhamos de sofrer [neste jogo]”, desabafou no final do encontro Pedro Paulo Santos, ainda a recuperar das emoções. Entre abraços, Carlos Oliveira, reforçou o sentimento: “Foi um grande alívio emocional, (…) mas correu bem”. Afinal, salientou, “isso é o sportinguista, se formos ver os campeonatos para trás da história recente (…) é sempre sofrimento até à última”, para reconsiderar logo de seguida: “Bom, foi a três jornadas do fim”, portanto, “correu bem”. Pedro Paulo Santos até preferia que o título fosse garantido na jornada seguinte, pelo simbolismo e pela rivalidade, mas não conseguiu disfarçar satisfação imediata. “Até esperava que fosse no jogo com o Benfica, tinha tido um sentimento especial, obviamente, apesar de ser muito triste ver os estádios vazios, era bom festejar o título na Luz, mas estou contente do Sporting ter conseguido já a três jornadas do fim, que se mantém invicto há 32 jornadas”, assinalou. Os festejos, tinham arrebatado o fôlego e a fluência a Ismael Gulamo, mas não a memória. O sportinguista sublinhou que a conquista do campeonato foi um feito de todos, lembrou a frase motivacional ‘leonina’ de “Onde vai um vão todos” e recordou o último campeonato que o Sporting venceu, o de “Jardel, do João Pinto, lembro-me de tudo”, reiterou. Embalados pelo entusiasmo, já pela manhã que se levantava na capital mundial do jogo, e à falta de melhor cenário, mais de uma dezena de adeptos fez questão de se deslocar para o casino da MGM para tirar uma fotografia junto do leão, um símbolo que é partilhado pela operadora de casinos e, claro, pelo Sporting.
André Namora Ai Portugal VozesOs ricos querem roubar a bola Há séculos que se discute a luta de classes. É a luta entre os ricos e os pobres. Parece algo de natural, mas não o é e tem havido ao longo dos anos muitas mulheres e homens que têm lutado e perdido a vida pela causa do combate à discriminação entre os seres humanos. Então, não é que na semana passada não se falou em outra coisa do que em futebol? O pontapé na bola entrou na discussão internacional precisamente por causa dos mais ricos quererem atirar para o caixote do lixo os pobres do futebol. Os ricos, como esse mafioso espanhol Florentino Pérez, que tem enriquecido mais à custa da presidência do Real Madrid, está a apadrinhar uma Superliga com apenas dez clubes ricos. Os dirigentes da UEFA já ameaçaram com a expulsão desses clubes que querem fazer parte da Superliga, da actual Taça dos Campeões. E aqui o FC Porto, Benfica e Sporting poderiam ter a oportunidade de regressar a disputar a Taça dos Campeões. Os mesmos dirigentes ameaçaram que os jogadores que tomem parte na Superliga não poderão integrar as selecções nacionais dos seus países. A discussão tem sido feia e a maioria dos clubes rejeita frontalmente que os donos disto tudo no futebol europeu levem para a frente a criação da referida Superliga. A verdade, é que os ricos do futebol querem ainda ficar mais ricos. O balde de água fria que caiu sobre as hostes do futebol, de governos europeus e de federações provocou logo a maior rejeição. O seleccionador português Fernando Santos e o treinador do Sporting, Ruben Amorim, criticaram severamente a ideia, e com eles de imediato os responsáveis dos clubes ingleses e italianos, excepto os da Juventus. O presidente da La Liga de Espanha, Javier Tebas, colocou logo o dedo na ferida acusando Florentino Pérez de ”andar equivocado há algum tempo, agora vejo-o perdido. Creio que é um grande empresário da construção civil, mas um desastre como presidente do Real Madrid”, disse Javier Tebas. Igualmente os presidentes da FIFA e da UEFA tomaram posição contra a ideia da Superliga sublinhando que os clubes que participarem nessa competição sofrerão consequências. Os comentadores televisivos são unânimes em adiantar que se trata de um acto de ganância por dinheiro e como nas sociedades dos humanos, no futebol os ricos querem é ser sempre ainda mais ricos. A ideia da superliga está suspensa porque só o Real Madrid e o Barcelona é que abraçaram o projecto de Florentino Pérez. Os promotores da ideia dizem que vão repensar o projecto. Apesar do abandono dos clubes ingleses, forçados a tal decisão devido á pressão exercida pelos adeptos, tudo indica que a “bomba” será um fiasco sem pernas para andar. Os promotores da ideia já vieram dizer que “dadas as circunstâncias, vamos reconsiderar os passos a dar para remodelar o projecto”. Desconfio que ficará para as calendas. Ninguém nos dias de hoje do mundo de futebol, onde são os pequenos e pobres clubes que dinamizam a modalidade irão permitir que os Ricardos Salgados do futebol consigam levar avante um projecto ignóbil. O Manchester City, que está em primeiro lugar na liga inglesa, a caminho de ser campeão, foi o primeiro dos clubes ingleses a oficializar a saída da Superliga, seguindo-se os graúdos Arsenal, Liverpool, Manchester United, Chelsea e Tottenham. Na Itália verificou-se a saída do AC Milan e do Inter de Milão. A Juventus está a pensar. Resumindo, o fiasco está patente e só o Real Madrid e o Barcelona é que estão ao lado do empreiteiro Florentino Pérez. O absurdo deverá ir por água abaixo, até porque muitos clubes já manifestaram a sua rejeição a qualquer transmissão televisiva dessa possível Superliga. Os muito ricos do futebol pensavam que eram favas contadas e que o baú dos milhões estava atrás da porta. Enganaram-se porque, felizmente, as maiorias ainda têm uma palavra a dizer. Fernando Santos é um homem do futebol há muitos anos e quando ele referiu que não pode ser a ganância pelo dinheiro a reinar no futebol, sabia o que estava a dizer e para bem do futebol esta ideia absurda de uma Superliga deve ir por água abaixo numa das muitas catastróficas inundações que assolam presentemente o nosso globo.
João Romão VozesBola ao centro Anunciada com pompa e inevitável soberba, a superliga do futebol europeu parece ter morrido antes de nascer: um torneio onde o pedigree iria definir o acesso, com alegados precedentes históricos a determinar direitos futuros e participação garantida para os membros fundadores, auto-consagrados como os mais prestigiados do planeta futebolístico, já detentores das maiores riquezas mas à procura de uma apropriação ainda maior dos benefícios globais que o espetáculo da bola vai gerando, entre bilhetes para os estádios, direitos televisivos, mercadorias promocionais, subscrição de canais digitais ou outras formas de rentabilizar marcas de notório sucesso e visibilidade. Não é nova, evidentemente, esta tentativa de transformar em rendas garantidas benefícios que teriam que ser disputados em arenas – ou mercados – com alguma concorrência, ainda que altamente desequilibrada: esta é, na realidade, uma característica marcante do capitalismo tardio que nos tocou viver, já com escassos recursos e mercados por explorar e oportunidades de lucro insuficientes para a avidez dos mais agiotas do planeta. Escasseiam também progressos tecnológicos susceptíveis de transformar empresas em figuras singulares e inimitáveis, criadoras dos seus próprios monopólios, e por isso dos seus rendimentos rentistas, apesar de tudo conseguidos à custa de inteligência e criatividade. Podemos olhar para o primeiro caso – o do esgotamento das oportunidades de exploração intensiva de recursos, como Marx antecipou: a inevitável tendência para a descida da taxa de lucro que havia de matar o capitalismo. Ou podemos olhar para a segunda hipótese, a do esgotamento das possibilidades de inovação, tal como Shumpeter definiu: a burocratização de uma economia que apenas se reproduz, incapaz de gerar novas rupturas e desequilíbrios criativos. Olhemos por um ou por outro prisma, as consequências são semelhantes: é notória nas últimas duas décadas a concentração do capital em enormes empresas transnacionais, com sucessivas fusões e aquisições, mais ou menos hostis, nos mais diversos sectores de actividade, concentrando o poder económico e político em cada vez menos entidades ou pessoas e naturalmente diminuindo a tal concorrência que devia ser apanágio dos mercados livres das economias contemporâneas. Outro exemplo é o da privatização sucessiva de serviços públicos ou de sectores estratégicos das economias, incluindo transportes, energia, educação, saúde, habitação, enfim a mercantilização de tudo o que é essencial à vida humana. Transformando a prestação de serviços públicos em monopólios privados parasitários criam-se novos rendimentos rentistas que dispensam a concorrência e consolidam a concentração da riqueza de quem já a tem à custa da vulnerabilidade e das necessidades básicas da maioria da população. Um exemplo flagrante desta violência económica, social e política é o das vacinas que supostamente irão neutralizar a maior pandemia que jamais afectou a humanidade: com patentes que privaram os benefícios da sua comercialização, resolvem um problema de saúde enriquecendo ainda mais um reduzido número de empresas com ampla hegemonia no mercado global de saúde, neste caso a operar em quase-monopólio, com uma procura global francamente superior à capacidade de oferta e um poder quase absoluto para decidir preços e margens de lucros: cá estamos para pagar o que for preciso, por interpostos governos, para que nos livrem do terrível vírus. Tem sido assim com o resto da saúde, naturalmente: já é pequeno o papel do estado na apropriação do conhecimento e no controle dos processos de produção, ainda que continue a ser um agente essencial à educação, formação, investigação e desenvolvimento científico, neste como noutros sectores essenciais à vida humana. A criação da tal superliga de futebol europeu inscreve-se com facilidade nesta lógica predatória de aceleração e intensificação dos processos de dominação e controle de mercados: um torneio que dispensa boa parte da competição, como outros monopólios dispensam a concorrência económica: até poderia haver umas vagas para quem tivesse méritos devidamente comprovados, mas estariam reservados para a eternidade os lugares ocupados pelos clubes fundadores, essa auto-denominada aristocracia do futebol europeu, com direitos históricos adquiridos por inerência que ultrapassam quaisquer outras veleidades da meritocracia – e da tal competição, que supostamente seria o essencial destes torneios alegadamente desportivos. De resto, na agenda dos agiotas estava também a limitação dos salários e do valor das transferências dos jogadores, aproveitando os super-poderes patronais que a ausência de concorrência consagra na sua plenitude. Não correu bem, no entanto: levantaram-se muitas vozes com determinação suficiente para neutralizar o processo, pelo menos por enquanto: grandes clubes da Alemanha e da França não acederam ao convite, clubes médios com legítimas aspirações à elite protestaram desde o primeiro momento, praticamente todas as instituições reguladoras do futebol europeu, e mesmo os adeptos de alguns clubes supostamente beneficiados vieram rapidamente para a rua gritar. O recuo dos clubes ingleses parece ter neutralizado esta intentona monopolística, a que se seguiram também clubes ingleses e espanhóis. Se a concentração do poder futebolístico continuar, será por outras vias, que não a da imposição administrativa de torneios exclusivos e fechados à competição. De resto, não é a primeira vez que no futebol se nota uma rejeição das tendências contemporâneas do capitalismo tardio que infelizmente não se observa noutros domínios das nossas economias e sociedades: já há alguns anos, também foram grandes os entraves à liberdade de transferência de jogadores, quando já a globalização dos mercados e a liberdade de circulação de pessoas e capitais se expandiam pelo planeta em sucessivos acordos comerciais, económicos e políticos. Na altura, um jogador chamado Bosman havia de se tornar ponta de lança de progressos legislativos que haviam de trazer ao futebol os processos de liberalização condizentes com os do resto da economia. Veremos num futuro próximo em que resultam estas intenções de criação de uma superliga de privilegiados. Não se nota grande coisa noutros domínios da economia, da sociedade ou da política, mas quando toca ao futebol, ainda se levantam as vozes contra o liberalismo vigente. Antes isso. Bola ao centro!
Hoje Macau DesportoFutebolista japonês Kazuyoshi Miura renova com o Yokohama aos 53 anos O futebolista japonês Kazuyoshi Miura renovou por uma época o contrato com o Yokohama FC, preparando-se, aos 53 anos, para disputar a 36.ª temporada como profissional, anunciou o clube nipónico. Em comunicado divulgado pelo Yokohama FC, o avançado, que completa 54 anos em fevereiro, garantiu que a sua paixão e vontade de jogar futebol “não param de crescer”. ‘King Kazu’ tornou-se o futebolista mais velho a jogar na liga japonesa em setembro de 2020, quando alinhou no encontro com o Kawasaki Fontale (3-2), com 53 anos, seis meses e 28 dias. O avançado, que começou a carreira aos 15 anos, no Brasil, e se prepara para disputar a 36.ª época como profissional, foi o primeiro japonês a alinhar na liga italiana, e soma 91 internacionalizações e 55 golos marcados ao serviço da seleção do seu país.
Hoje Macau Desporto MancheteÓbito | O mundo despede-se de Maradona, o maior futebolista de todos os tempos Diego Armando Maradona morreu na quarta-feira. A estrela da selecção argentina faleceu em casa no seguimento de um ataque cardíaco, depois de ter sido hospitalizado no início do mês. O mundo inteiro reagiu com pesar e o Governo argentino decretou três dias de luto oficial. Aos 60 anos, desaparece uma lenda que ficará para sempre na história do futebol mundial [dropcap]O[/dropcap] dia de ontem começou com a notícia da morte de Maradona, o mago do futebol que atingiu a eternidade ainda em vida, multiplicando pelo mundo inteiro mensagens de profundo pesar. Diego Armando Maradona morreu esta quarta-feira, na sua casa, avança o jornal argentino Clarín. A confirmação da morte foi também dada pelo seu agente e amigo Marias Morla à agência espanhola EFE. Ao longo do dia de ontem, milhares de adeptos emocionados acorreram ao palácio presidencial, a Casa Rosada, para se despedirem de el pibe de oro, o menino de ouro, numa cerimónia transmitida para todo o mundo. Quem andou por Buenos Aires ontem à tarde pensou que a Argentina tivesse voltado à primeira fase do confinamento como forma de combater o coronavírus. De repente, o país ficou num silêncio espesso como se o tempo tivesse parado. Uma dor como se todos os argentinos tivessem perdido um parente próximo em comum. Nas portas dos clubes por onde Maradona passou como jogador ou como técnico, o silêncio era recortado por alguma oração e pelo pranto contido que se transformava em lágrimas quando se tentava explicar o que se sentia. “Primeiro pensei que fosse uma mentira quando recebi uma mensagem com a notícia. Depois, pensei que, se fosse verdade, ele poderia sair como numa finta, como sempre fez com os adversários. Desta vez, ele não conseguiu fintar. Estou destruída”, diz à Lusa, entre lágrimas, Patricia Ortiz (46) na porta do Boca Jrs, clube do qual Maradona era adepto e que foi o trampolim para a sua carreira internacional. Patricia leva um ramo de flores e um rosário. “Vamos sentir saudades. Será a nossa lenda”, afirma. À porta do Boca Jrs, os fãs foram chegando aos poucos. Os carros passavam como numa procissão improvisada. De quando em quando, o silêncio era interrompido por um aplauso. “Ele foi lendário por onde passou aqui na Argentina e no mundo, mas, com o Boca, teve uma relação especial, de amor. Aqui ele era o Diego do povo”, acrescenta Diego Moreno (30) cujo nome foi uma homenagem do pai ao jogador. “É verdade. Ele não jogava pelo dinheiro. Era por amor ao futebol. Foi o maior e o mais humilde de todos. Um dos poucos que jogava pelo que sentia”, destaca Delia (62), que enaltece as conquistas de Maradona, apesar da carreira reduzida pelas drogas. O antigo capitão da selecção argentina, que actualmente era treinador do Gimnasia de la Plata, foi hospitalizado no dia 2 de Novembro devido a anemia e desidratação, apresentando igualmente estado depressivo. Os exames a que foi submetido revelaram a presença de um hematoma subdural. Depois de sair do hospital, foi noticiado que Maradona terá dado entrada numa clínica de reabilitação para tratamento à dependência ao álcool. A par do brasileiro Pelé, que completou 80 anos em Outubro, Maradona é considerado um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos com uma carreira marcante com passagens pela selecção argentina, com a qual conquistou o Campeonato do Mundo, e no Nápoles onde levou a equipa italiana aos melhores resultados da sua história, incluindo a conquista de duas ligas italianas, as únicas do palmarés do clube, e uma Taça UEFA. Enquanto treinador, o argentino teve o ponto alto da carreira quando orientou a selecção do país durante dois anos, tendo alcançado os quartos de final do Mundial2010, na África do Sul, competição em que foi derrotado pela Alemanha (4-0). Foi pelo seu papel em levar ao Nápoles à glória em Itália que o astro argentino foi homenageado na cidade italiana em 2017, recebendo o título de cidadania honorária. Mais alta é a queda A vida de Diego Maradona foi marcada por muitos problemas de saúde decorrentes da sua vida de excessos. Em 2000, teve um ataque cardíaco, após uma overdose de drogas, durante umas férias em Punta del Este, no Uruguai, a que se seguiu um longo processo de cura em Cuba. Em 2004, numa altura em que pesava mais de 100 quilos, sofreu outro enfarte em Buenos Aires, e chegou a ser submetido a uma cirurgia de estômago para perder peso. A vida desportiva daquele a quem “os argentinos tudo perdoam”, nascido a 30 de Outubro de 1960 num bairro pobre dos subúrbios de Buenos Aires chamado Villa Fiorito, iniciou-se aos nove anos, no Cebollitas, e prosseguiu aos 15 no Argentino Juniores. Quatro anos passados, e já como campeão mundial sub-21, Maradona juntou-se ao Boca Juniores, clube com o qual conquistou o seu primeiro título de campeão, em 1981. Um ano depois, e após participação na primeira de quatro fases finais de um Mundial (Espanha82), o jogador transferiu-se para o FC Barcelona, clube onde apenas venceu uma Taça do Rei, frente ao eterno rival, o Real Madrid. Espanha marcou também a lesão mais grave na carreira do argentino. Fractura do tornozelo esquerdo, provocada pelo defesa Andoni Goikoetxea, do Atlético de Bilbau. Corria o ano de 1983. A lesão afastou-o dos relvados durante mais de três meses. Esta primeira etapa espanhola ficou também assinalada por uma hepatite, logo no ano da chegada à Catalunha, doença que o impediu de jogar por três meses. Se a isso se juntar a expulsão no Brasil-Argentina no Mundial82, a passagem pelos estádios espanhóis ficou aquém daquilo que se esperava da estrela argentina. Vida napolitana A “maldição espanhola” levou o Nápoles a contratar Maradona em 1984. A opção italiana veio a revelar-se um misto de “céu e inferno” para o jogador. Em Itália, levou o Nápoles, pela única vez na sua história, a sagrar-se por duas vezes campeão: 1987 e 1990. Ganhou ainda uma Taça UEFA (1989), uma Taça de Itália (1987) e uma Supertaça italiana (1991). Inspirado pelos ares de Itália, Maradona carregou a selecção argentina até ao segundo título mundial (depois do Argentina78), ao vencer a Alemanha na final do México86, por 3-2. Nesse torneio ficou célebre o episódio da “mão de Deus”, lance assim definido pelo próprio, para justificar o golo marcado com a mão frente à Inglaterra nos quartos de final, jogo ganho pelos sul-americanos, por 2-1. Numa entrevista ao jornal Daily Mail, o antigo guarda-redes inglês, Peter Shilton, afirmou que o astro argentino foi “o maior jogador contra o qual alguma vez jogou”, mas reforçou: “O que não gosto é que ele nunca tenha pedido desculpa”. “Em nenhum momento admitiu ter feito batota, ou que gostaria de pedir desculpa (…) Em vez disso, usou a sua expressão ‘mão de Deus’. Não foi justo”, afirmou. “Parece que tinha grandeza, mas infelizmente não tinha desportivismo”, observou. Shilton, de 71 anos, admitiu que a sua vida “está há muito ligada à de Diego Maradona”, mas não da maneira de que teria gostado. O antigo guarda-redes inglês lamentou a morte de Maradona e enviou as condolências à família. Do relvado às clínicas Quatro anos depois do México96, de novo liderada por Maradona, a Argentina repetiu a final do Mundial (Itália90), afastando os anfitriões nas meias-finais (1-1, 4-3 nas grandes penalidades). Mas os alemães desforraram-se e venceram o torneio (1-0 na final). Apesar da fase italiana ser a mais vitoriosa na sua carreira, foi também, para muitos, o período em se deixou enredar pelo consumo de droga (cocaína). Foi expulso do Nápoles, em 1991. A saída de Itália levou-o de novo a Espanha, para uma época sem história no Sevilha (1992/93). Daí rumou à Argentina para jogar pelo Newell’s Old Boys (1993/94), regressando ao Boca Juniores (1995/97), onde terminou a carreira, com 37 anos. Pelo meio, ficou uma passagem efémera pelo Mundial EUA94, onde Maradona teve um controlo antidoping positivo (efedrina). Isso valeu-lhe a expulsão da prova e posterior castigo de um ano, aplicado pela FIFA. Ao longo da vida submeteu-se a vários tratamentos de desintoxicação de droga, o mais famoso dos quais, em 2000, quando passou uma temporada em Cuba, onde surgiu publicamente ao lado de Fidel Castro. Maradona regressou aos palcos mediáticos ao assumir o comando técnico da selecção argentina (manteve uma permanente tensão com a imprensa), levando a equipa até aos quartos de final no Mundial2010, na África do Sul, eliminada pela Alemanha (4-0). Após este desaire, e apesar do apoio dos adeptos argentinos, Dieguito, El Pibe de Oro, El Diez ou Pelusa – nomes pelos quais é carinhosamente tratado na Argentina – abandonou a selecção das Pampas. A federação argentina chegou a propor a retirada da camisola 10 do equipamento oficial, em homenagem a Diego Armando Maradona. País em lágrimas “Por ocasião da morte de Diego Armando Maradona, o Presidente decreta três dias de luto nacional a partir desta data”, disse a Presidência da Argentina, num breve comunicado. Alguns minutos depois, o chefe de Estado argentino usou a sua conta na rede social Twitter para expressar gratidão pelos momentos de “felicidade” que o jogador deu ao povo do seu país. “Levaste-nos ao ponto mais alto do mundo. Fizeste-nos imensamente felizes. Foste o maior de todos. Obrigado por teres existido, Diego. Vamos sentir a tua falta, por toda a vida”, escreveu Alberto Fernández, que também divulgou uma foto na qual aparece a abraçar Maradona. Em declarações à rádio, o chefe de Estado recordou mais tarde que em Fevereiro passado se encontrou com Maradona, com quem falou, “durante muito tempo”, sobre futebol. “Sempre resgatei o melhor dele, o genuíno, o original. O que ele não gostava, dizia; e o que gostava, também dizia”, recordou Fernández. O Presidente disse que guarda memórias “indeléveis” do antigo jogador de futebol, à época em que representava a equipa de Argentinos Juniors, clube do qual o Presidente argentino é adepto. “Sentimos que éramos os mais fortes do mundo com Diego. É uma perda horrível”, acrescentou Fernández. Por sua vez, a ex-Presidente e actual vice-Presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, expressou a sua tristeza pelo falecimento do ex-jogador argentino. “Muita tristeza … Muita. Um grande deixou-nos. Adeus, Diego. Amamos-te muito. Um grande abraço aos seus familiares e entes queridos”, escreveu a ex-Presidente na sua conta de Twitter.
João Santos Filipe DesportoGoverno quis obrigar a testes de covid-19 antes de jogos, mas voltou atrás [dropcap]A[/dropcap] informação foi dada, na sexta-feira à tarde, pelos responsáveis da Associação de Futebol de Macau aos clubes: a partir daquele dia as competições estavam suspensas porque era necessário tratar das formalidades para que os jogadores começassem a fazer os testes de covid-19, com um resultado negativo, nos sete dias antecedentes aos jogos. Os custos tinham de ser assumidos pelos clubes e a imposição não se limitava às competições seniores, também os escalões de formação tinham de realizar os testes, e pagá-los, para poder haver competições. Às equipas foi explicado que as novas medidas entravam em vigor devido às orientações dos Serviços de Saúde, que estão a coordenar a resposta à pandemia, e que os jogos ficavam suspensos, com efeito imediato e por tempo indeterminado para haver uma adaptação às exigências. Com jogos e treinos de várias associações e modalidades em risco, o Governo acabaria por recuar ainda no mesmo dia, através de comunicado. “O Instituto do Desporto informa que, após coordenação com os Serviços de Saúde, reiniciará todas as actividades locais de treinamento e competição a partir de amanhã [sábado]”, podia ler-se no comunicado emitido ao final da noite de sexta. Segurança e bem-estar No dia seguinte, Pun Weng Kun, presidente do Instituto do Desporto (ID), reagiu à polémica, à margem da inauguração da exposição Carros do Grande Prémio de Macau, no Tap Seac. Em declarações aos jornalistas, Pun Weng Kun admitiu que a decisão tinha sido inconveniente para as associações e atletas envolvidos no desporto local, e assumiu que a decisão tinha sido tomada após um consenso entre os SSM e o ID para aplicar as orientações mais recentes de como lidar com a pandemia. Ainda em relação à decisão que foi revertida no mesmo dia, Pun explicou que o objectivo passou sempre por garantir a “maior segurança e bem-estar” de todos os envolvidos. Por outro lado, o presidente do ID olhou para o futuro e para as medidas que vão ser adoptadas, deixando antever uma maior flexibilidade das autoridades.
João Santos Filipe DesportoTaça de Macau | Formato de liga marca regresso da competição Os jogadores e as equipas técnicas vão ter de fazer os testes de ácido nucleico e apresentar os resultados antes de poderem entrar em campo. O início da competição está marcado para 18 de Setembro [dropcap]O[/dropcap] futebol oficial vai regressar a 18 de Setembro com a Taça de Macau da Primeira Divisão, que este ano se realiza num formato de liga. Os planos para o futebol foram apresentados ontem, numa conferência de imprensa agendada pela Associação de Futebol de Macau. Segundo o vice-presidente, Kwok Po Chuen, todas as dez equipas da primeira divisão mostraram interesse em participar na competição e os jogadores e equipas técnicas vão ter de fazer os testes de ácido nucleico e apresentar resultados negativos. “Uma vez que a competição vai começar brevemente temos de seguir as instruções dos Serviços de Saúde para garantir que o desporto é praticado em condições de segurança”, afirmou Kwong. “Vai ser exigido a todos os jogadores, equipa técnica e aos responsáveis das equipas que façam o teste de ácido nucleico e que apresentem os resultados negativos antes dos jogos”, acrescentou. Esta foi uma exigência que mereceu elogios da associação: “São instruções que consideramos muito importantes porque vão criar um ambiente seguro para todos os participantes”, considerou. Em caso de haver um agravamento da pandemia, a AFM admite que a competição possa ser cancelada, não havendo suspensão. Porém, se tudo correr dentro do previsto, sem imprevistos como tufões, a competição deverá terminar por volta do mês de Novembro. Os jogos da Taça de Macau para a primeira divisão vão ser realizados no Estádio de Macau. Em relação aos jogos da Taça para a Segunda Divisão, o recinto escolhido é o Estádio Lin Fong. As partidas são abertas ao público, que antes de entrar tem de apresentar a declaração de saúde e a quem é ainda medida a temperatura. Novos formatos A Taça de Macau para a Primeira Divisão vai ser disputada a uma volta entre as dez equipas participantes. As inscrições só começam a partir de sexta-feira, mas a AFM garante que todas as formações mostraram interesse em alinhar na competição. Os resultados não têm impacto a nível interno para a época de 2021, mas a AFM admite que possam ser utilizados para escolher as equipas de Macau que podem participar nas competições continentais, ou seja a Taça AFC. Segundo a AFM, a confederação asiática vai ter duas opções para escolher os participantes de Macau na Taça AFC: com base na classificação do campeonato do ano passado ou com base nesta taça. Quanto às taças para a segunda e terceira divisões, as competições arrancam a 19 de Setembro e as equipas vão ser divididas em grupos, que realizam duas voltas. “Sabemos que as taças não são campeonatos, mas mesmo que este ano não haja liga queríamos dar a oportunidade aos jogadores de praticarem este desporto”, explicou o vice-presidente da AFM.
Hoje Macau DesportoCovid-19 | Liga sul-coreana arranca sexta-feira à porta fechada e em formato reduzido [dropcap]A[/dropcap] Liga sul-coreana de futebol começa na sexta-feira com jogos à porta fechada e um calendário reduzido, após o adiamento do seu início por mais de dois meses, devido à pandemia de covid-19. A época de 2020, que recebeu ‘luz verde’ para começar depois de estabilizada a crise de saúde no país, tem início pelas 19:00 locais, com o jogo inaugural entre o campeão Jeonbuk Motors, do treinador português José Morais, e o Suwon Samsung Bluewings, em Jeonju. “Graças ao trabalho duro dos médicos sul-coreanos e à participação ativa da população no distanciamento social, a Liga pode começar”, afirmou o presidente da Liga K sul-coreana, Kwon Oh-gap, em declarações à agência Associated Press. Embora o confinamento não tenha sido aplicado na Coreia do Sul e as fronteiras não tenham sido fechadas, as autoridades decidiram, em 24 de fevereiro, adiar o início da primeira e segunda divisões, que estava agendada para cinco dias depois. O sucesso em conter a infeção, que regista uma média diária de cerca de 20 novos casos, de um total de mais de 10.800, levou no final de abril o governo, clubes e Liga a decidiram iniciar a competição, à porta fechada, em 08 de maio. Devido ao atraso no início da temporada, foi acordado reduzir o calendário de 38 para 27 jogos e, para permitir o regresso da modalidade, todos os jogadores e equipas técnicas dos 24 clubes das duas divisões tiveram que testar negativo à covid-19. O campeão Jeonbuk Motors, orientado por José Morais, parte para a presente edição com o objetivo de quebrar dois recordes, ao tentar ser o primeiro clube a vencer quatro títulos sul-coreanos seguidos e a somar oito campeonatos. Nesta temporada, o Jeonbuk contratou Cho Gue-sung, de 22 anos, que marcou 14 golos na época passada, para jogar ao lado do veterano Lee Dong-gook, que, aos 41 anos, e após 22 épocas na Liga K, é o seu máximo goleador, com 158 golos. Muitos acreditam que o grande rival de Jeonbuk será novamente o Ulsan, a outra equipa ligada ao conglomerado Hyundai, que deixou escapar o título de 2019 de forma dramática com uma inesperada derrota na derradeira jornada da prova. O duelo entre ambos terá um fator extra que tem a ver com o facto de o Jeonbuk ter contratado o jogador mais valioso (MVP) de 2019 e estrela do Ulsan, Kim Bo-kyung, para compensar a perda de Moon Seon-min, que terá que jogar este ano no Sangju Sangmu, a equipa das Forças Armadas, por se encontrar a cumprir serviço militar. Para substituir Kim, o Ulsan contratou o médio veterano Lee Chung-yong, que retorna ao campeonato sul-coreano depois de mais de uma década a jogar na Europa (Bolton Wanderers e Crystal Palace, Inglaterra, e Bochum, Alemanha). A primeira divisão da Liga K também abriga uma boa quantidade de jogadores de futebol brasileiro, além do espanhol Osmar (FC Seul), do colombiano Manuel Palacios (Pohang Steelers) e do costa-riquenho Marco Ureña (Gwangju FC). A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 260 mil mortos e infetou cerca de 3,7 milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de um 1,1 milhões de doentes foram considerados curados.
Hoje Macau DesportoCovid-19 | “Não me arrependo de ter assinado pelo Wuhan”, diz Daniel Carriço [dropcap]O[/dropcap] futebolista internacional português Daniel Carriço afirmou hoje não estar arrependido de ter assinado pelos chineses do Wuhan Zall, apesar de a equipa estar retida em Espanha, devido à epidemia de Covid-19, provocada por um novo coronavírus. “Não me arrependo. Estou entusiasmado, porque quero participar na Liga chinesa e desfrutar de uma nova experiência. Além do mais, asseguraram a minha segurança e que vamos trabalhar em Espanha até que a situação se mantenha na China”, disse o central luso à imprensa espanhola. Daniel Carriço assinou pelo Wuhan Zall, do principal escalão chinês, no último mercado de ‘inverno’, após seis temporadas e meia ao serviço do Sevilha. O jogador, de 31 anos, está integrado na equipa do Wuhan Zall que se encontra a estagiar em Espanha desde o final de janeiro e impossibilitada de regressar à China, devido ao surto de Covid-19 no país. “Tive algumas dúvidas no início, quando começámos a negociar a transferência. Não se sabia nada. Apenas que havia um novo vírus na China. No entanto, a equipa técnica assegurou-me que não regressariam à China enquanto a situação se mantivesse na China, sobretudo em Wuhan”, revelou. Carriço deseja que a Liga chinesa, que se encontra suspensa, recomece “o mais rapidamente possível” e admitiu que os colegas de equipa estão a passar um momento complicado, uma vez que “muitos têm familiares fechados em casa”. Os jogadores do Wuhan foram recebidos na sede da Liga espanhola de futebol e vão assistir ao vivo ao clássico Real Madrid-FC Barcelona, que se disputa hoje, no Santiago Bernabéu. O surto de Covid-19, detetado em dezembro, na China, e que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou pelo menos 2.916 mortos e infectou mais de 84 mil pessoas, de acordo com dados reportados por 57 países e territórios. Das pessoas infectadas, mais de 36 mil recuperaram.
admin DesportoCovid-19 | "Não me arrependo de ter assinado pelo Wuhan", diz Daniel Carriço [dropcap]O[/dropcap] futebolista internacional português Daniel Carriço afirmou hoje não estar arrependido de ter assinado pelos chineses do Wuhan Zall, apesar de a equipa estar retida em Espanha, devido à epidemia de Covid-19, provocada por um novo coronavírus. “Não me arrependo. Estou entusiasmado, porque quero participar na Liga chinesa e desfrutar de uma nova experiência. Além do mais, asseguraram a minha segurança e que vamos trabalhar em Espanha até que a situação se mantenha na China”, disse o central luso à imprensa espanhola. Daniel Carriço assinou pelo Wuhan Zall, do principal escalão chinês, no último mercado de ‘inverno’, após seis temporadas e meia ao serviço do Sevilha. O jogador, de 31 anos, está integrado na equipa do Wuhan Zall que se encontra a estagiar em Espanha desde o final de janeiro e impossibilitada de regressar à China, devido ao surto de Covid-19 no país. “Tive algumas dúvidas no início, quando começámos a negociar a transferência. Não se sabia nada. Apenas que havia um novo vírus na China. No entanto, a equipa técnica assegurou-me que não regressariam à China enquanto a situação se mantivesse na China, sobretudo em Wuhan”, revelou. Carriço deseja que a Liga chinesa, que se encontra suspensa, recomece “o mais rapidamente possível” e admitiu que os colegas de equipa estão a passar um momento complicado, uma vez que “muitos têm familiares fechados em casa”. Os jogadores do Wuhan foram recebidos na sede da Liga espanhola de futebol e vão assistir ao vivo ao clássico Real Madrid-FC Barcelona, que se disputa hoje, no Santiago Bernabéu. O surto de Covid-19, detetado em dezembro, na China, e que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou pelo menos 2.916 mortos e infectou mais de 84 mil pessoas, de acordo com dados reportados por 57 países e territórios. Das pessoas infectadas, mais de 36 mil recuperaram.
admin h | Artes, Letras e IdeiasFilhos de um grande apito [dropcap]O[/dropcap] guarda-redes foi o primeiro a ceder, não fez por mal, talvez estivesse um pouco distraído, e quando se esticou para impedir que a bola entrasse dentro da sua baliza, não conseguiu. Estava assomado com dores de cabeça, o dia não tinha começado bem, momentos antes viu-se a pensar noutro assunto que o levou para longe da sua pequena área. Eram coisas que que se arrastavam e que não andava a conseguir resolver. Questões de heranças que lhe tiravam o sono à noite e impediam que descansasse como convém. Remoía, distante, sem reparar que o capitão da equipa contrária galgava na sua direcção trazendo a bola à frente, já desprovido de opositores que lhe amainassem o galope. Só acordou quando o remate foi desferido, meditando que todo aquele esforço o tinha a si como destinatário e era dirigido aos seus reflexos. A potência do remate, o ângulo, a destreza do rival ao ter conquistado tal posição na ponta do terreno. Chegara a vez de mostrar a sua elasticidade, razão primária por estar no interior daquelas quatro linhas, exactamente à hora marcada, numa das equipas principais e icónicas do país. Mas sendo atleta de alta competição não podia compadecer-se com tais recolhimentos, completamente fora das suas funções. Na centelha do desportista não há tempo para que o pensamento chegue ao raciocínio, quanto mais conseguir que volte para trás dando ordens aos órgãos do corpo que habita. No campo só funciona o instinto, a intuição e, claro, o esplendor físico. Nada mais. Raras excepções, têm a inteligência na ponta dos pés. Não era o caso. Ainda saltou, percebendo exactamente onde a bola, que surgia a velocidade estonteante, se iria cruzar consigo. Mas fê-lo com desapego, como se naquele momento estivesse a ligar a televisão preparando-se para ver a partida sentado no conforto da sua sala. “Olha o guarda-redes a saltar. Não a vai apanhar.” Quando tomou consciência do acto, já o árbitro apontara para o centro do campo e vários jogadores saltavam para as costas do felizardo goleador, construindo um castelo de carne humana por cima dele. Das bancadas, alguns assobios e exclamações menos próprias da claque desiludida, abonecada até ao nariz com as cores da sua equipa. Tinham recebido uma facada nas costas. E doía. O coração pingava. Colocou o dedo polegar de uma das luvas para cima, pretendendo afirmar que estava tudo bem, que a partir dali ia redobrar a atenção e valer-se dos seus atributos. Quis suster o furor dos adeptos, para que amparassem os seus ídolos e não estivessem já de lâmina afiada nos dentes. Pelo rumo dos acontecimentos, iriam precisar deles com máxima energia, era injusto cortarem o cordão umbilical logo ali ao primeiro desaire. “Ok!”, quis transmitir, sabendo de relance que nem o bramido de um estádio cheio a puxar por si iria elevar a sua moral. Continuava de braços caídos. Olhou para o céu. Um avião lá em cima a passar. Não conseguiu distinguir a companhia aérea. Ia para Norte. Tinham decorrido apenas vinte minutos de jogo quando isto aconteceu. Havia ainda um período largo para recuperar, mas o rolar do relógio tanto podia funcionar a seu favor como contra. Depois, foi um defesa que falhou um passe. Tinha-se organizado de maneira a enviar a bola lá para a frente, para os avançados, para se ver livre da responsabilidade de ter o esférico a queimar-lhe as botas. Era assim que fazia, não retinha a bola mais do que dois ou três segundos em seu poder, pressentia o movimento da equipa e batia lá para a frente, de modo certeiro. Era essa a sua maior qualidade, pela qual era muitas vezes referenciado nos jornais desportivos, os passes de longa profundidade. Mas qualquer propósito o fez mudar de rumo, talvez falta de confiança momentânea ao não sentir a deslocação propícia dos seus companheiros como era hábito, a soprarem com vento adverso, e como recurso fez um atraso; muito mal articulado, diga-se. Um adversário que o perseguia à laia de predador faminto, esticou a perna e o rechaçar da bola fez com que saltasse um pouco mais para a frente, onde estava outro jogador isolado com a mesma cor de camisola. A partir daí, foi só dar um toque por cima do homem da baliza, que mais uma vez saiu atarantado da sua área para a defender, e esperar pela alegria das bancadas e o estribilho dos homens da rádio a esticar a goela até ao prancha das unhas dos pés. Dada a movimentação das peças naquele hectare, a física ditava que não havia muito que pudesse ter sido feito de outra forma. Nem o monstro do lago Ness, nas terras altas da Escócia, conseguiria defender aquele remate, saído directamente da linha sábia de um ângulo de bowling. Uma coisa assim deixaria qualquer um de olhos tortos. Os tempos eram outros, a época áurea dos futebolistas de maior renome começara naquela altura a preencher anúncios de óbitos dos jornais. Só assim eram recordados. E feitos, depois de mortos, grandes homens, às costas do pretérito de inusitadas homenagens. “Ah, morreu!” Aí, as pessoas lembravam-se e vinham para a rua chorar, escrevendo grandes emolumentos. Lá saltaram e festejaram o golo. O marcador triturado pelos camaradas de partido que lhe abafaram o corpanzil numa moche de heavy metal. Não havia muito mais a realizar, a desmoralização colara-se às chuteiras de toda a equipa. Eram soldados prostrados, indiferentes ao canhangulo do inimigo. O guarda-redes não deixava de pensar na santa terrinha e na família desavinda que se fraturou pela ambivalência do dinheiro, ao recortar o legado paterno via interpretação desconcordante. Ajuizados na cobiça de um futuro que nunca tiveram, agarraram-se esfaimados ao que não lhes pertencia. Ele, que não precisava de nada e tinha a vida feita, assistia incrédulo àquilo tudo, no lugar mais baixo do camarote, sem nada poder fazer. No entanto, pelo arrasto dos detritos, o sentimento trespassava as redes da sua baliza e vinha agachar-se na sua conduta. Assim como a família, a linha de simpatizantes que o acarinhavam como jogador de futebol estava pronta a descambar. Vinha duvidando se algum dia iria voltar aos grandes palcos internacionais e às grandes vitórias, que vivera com grande alegria. Pressagiou que a partir dali, soava naquela altura o apito do árbitro a finalizar a primeira parte, o rumo da sua carreira seria apenas descendente e que num par de épocas estaria a jogar na divisão inferior ou em clubes asiáticos, só para continuar a ter algum proveito financeiro. Ainda tentaram ir lá para a frente – “Às armas! Às armas!”, ralhava o mister desesperado – acreditando que era possível virar o resultado. Mas não. Um remate para as nuvens, um canto mal marcado, um passe longo demais; foi esse o resumo dos acontecimentos. Se na primeira parte o jogo já estava perdido, na segunda foi a catástrofe de uma ponta à outra. Nem arma secreta no banco existia, tal era o desfalque efectuado ao longo dos anos pelos órgãos administrativos que por ali passaram. Tirando o guarda-redes e mais dois ou três, que tinham um historial considerável, a estrutura definida para defender aquele emblema centenário era formada por um bando de ilustres desconhecidos ou por apostas vagas de treinadores e cabecilhas diletantes, executando negócios que só interessavam aos bolsos dos empresários. Eram tão maus que nem o penteado lhes souberam instruir. Os tempos eram outros, a época áurea dos futebolistas de maior renome começara naquela altura a preencher anúncios de óbitos dos jornais. Só assim eram recordados. E feitos, depois de mortos, grandes homens, às costas do pretérito de inusitadas homenagens. “Ah, morreu!” Aí, as pessoas lembravam-se e vinham para a rua chorar, escrevendo grandes emolumentos. E o pior de tudo, era que a realidade não indicava bom augúrio para o resto do campeonato, que se iniciara precisamente com aquele jogo. De um ano para o outro, o treinador ficara à condição e arrastava-se, era mais um que nem a sombra das comemorações da república iria ver ali sentado. Ao sair do estádio já levava o rabo a tremer. O presidente de olhos postos no relvado, a conjecturar forma de pagar as dívidas, nem deu pela sua presença. Todos tinham observado o que aí vinha, só um louco ou um pescador do lago Ness poderiam ditar o contrário. Não havia como evitá-lo. Seria mais um ano perdido na cauda da tabela e longe do brilho dos foguetes. Era óbvio, a herança ficaria por resolver. Ad eternum.
Hoje Macau DesportoBolinha | Expulsões acabam com jogo mais cedo [dropcap]O[/dropcap] encontro entre Lun Lok e Ka Ia, a contar para o campeonato de futebol sete, terminou 17 minutos mais cedo, depois do árbitro ter expulsado três atletas do Lun Lok, nomeadamente Chu Kai Wang, Ho Man Hou e Fabrício Lima. Estas expulsões fizeram com que de acordo com os regulamentos a equipa ficasse sem o número mínimo de atletas em campo para disputar o encontro. Do lado do Ka I também houve uma expulsão. Porém, o encontro não terminou sem polémica, com os ânimos a exaltarem-se e no final os agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública tiveram mesmo de intervir para proteger o árbitro da confusão.
Hoje Macau DesportoBolinha | Expulsões acabam com jogo mais cedo [dropcap]O[/dropcap] encontro entre Lun Lok e Ka Ia, a contar para o campeonato de futebol sete, terminou 17 minutos mais cedo, depois do árbitro ter expulsado três atletas do Lun Lok, nomeadamente Chu Kai Wang, Ho Man Hou e Fabrício Lima. Estas expulsões fizeram com que de acordo com os regulamentos a equipa ficasse sem o número mínimo de atletas em campo para disputar o encontro. Do lado do Ka I também houve uma expulsão. Porém, o encontro não terminou sem polémica, com os ânimos a exaltarem-se e no final os agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública tiveram mesmo de intervir para proteger o árbitro da confusão.
Hoje Macau DesportoVítor Pereira empata na China e vê Guangzhou Evergrande reforçar liderança [dropcap]O[/dropcap] campeão Shanghai SIPG, treinado por Vítor Pereira, empatou ontem na visita ao Wuhan Zall, por 1-1, em jogo da 20.ª jornada da Liga chinesa de futebol, após a qual viu o Guangzhou Evergrande reforçar a liderança. A equipa de Xangai esteve a perder por 1-0, graças a um golo de Liu Yun logo aos quatro minutos, mas ainda empatou, por intermédio do austríaco Marco Arnautovic, assistido por Hulk, aos 23. O Guangzhou Evergrande venceu o Beijing Renhe (3-0) e aumentou para quatro pontos a vantagem para o Shanghai SIPG e para o Beijing Guoan, que desceu ao terceiro lugar, com os mesmos pontos da equipa de Xangai, depois de perder no sábado.
João Santos Filipe DesportoFutebol | Governo impediu entrada de faixa no Estádio de Macau A partida de celebração do 20.º Aniversário da RAEM entre o Southampton e o Guangzhou R&F terminou com o resultado de 4-0. O jogo ficou marcado pelo facto de o Instituto do Desporto ter impedido a entrada no estádio de uma faixa de Sulu Sou que dizia: “O nosso objectivo é o Mundial” [dropcap]O[/dropcap] encontro entre Southampton e o Guangzhou R&F, organizado pelo Governo para celebrar o 20.º Aniversário do Estabelecimento da RAEM, terminou com o resultado de 4-0. Che Adams, Shane Long, Yan Valery e Christoph Klarer marcaram os golos da formação inglesa, que valeram a vitória no torneio. Quanto à partida, houve um claro domínio do Southampton diante de um Guangzhou com segundas linhas e que nunca pareceu estar em condições de lutar pelo resultado. Contudo, o amigável ficou marcado pelo facto de o deputado Sulu Sou ter sido impedido de entrar com uma faixa que dizia em inglês e chinês: “O nosso objectivo é o Mundial”. Antes do encontro, o pró-democrata já havia apelado aos adeptos para vestirem de preto e para se sentarem na zona da bancada ligada à porta 23. O objectivo era protestar a falta de desenvolvimento do futebol de Macau e o facto da Associação de Futebol de Macau não ter permitido que a selecção local disputasse o encontro de qualificação para o Mundial de 2022, no Sri Lanka. A acção estava prometida para a Porta 23 do Estádio de Macau e às 18h, quando o recinto abriu portas, o deputado estava pronto para entrar, vestido de preto e com a faixa. No entanto, Sulu Sou e os outros participantes da iniciativa, na maioria ligados à Associação Novo Macau, tiveram de entrar sem a faixa. O representante do ID, que cordialmente impediu a entrada da faixa, é igualmente colaborador da Associação de Futebol de Macau. O colaborador em questão lida com várias formalidades em eventos da Associação de Futebol de Macau e até com a comunicação com jornalistas nas conferências de imprensa da selecção. Ao HM, um porta-voz do ID confirmou que não foi autorizada a entrada, mas não avançou qualquer motivo. “Em relação à entrada com bandeiras, faixas e outros materiais de apoio, a organização exige uma autorização prévia para este tipo de itens”, foi apontado. “Os organizadores reservam o direito para recusar a entrada no estádio dos materiais mencionados que não estejam relacionados com este jogo em particular”, foi acrescentado. Já sobre o facto de ter sido o funcionário da AFM a barrar o acesso da faixa, o ID apontou para a “organização conjunta” do evento: “Este jogo de futebol foi co-organizado pelo Instituto do Desporto e pela Associação de Futebol de Macau. Todas as operações relacionadas com a partida foram realizadas em conjunto pelo ID e pela AFM”, foi sustentado. Mistura de membros? Quando a AFM impediu a selecção de Macau de disputar no Sri Lanka a segunda mão da fase de pré-apuramento para o Mundial de 2022, devido a questões de segurança, o presidente do Instituto do Desporto (ID) sublinhou que o Governo não intervinha nos assuntos da AFM. Pun Weng Kun explicou esta postura com exigência da FIFA que “impedem” o Governo de intervir nos assuntos das federações. Contudo, ontem, o ID impediu mesmo a entrada de uma faixa que era dirigida à Associação de Futebol de Macau, apesar da mensagem não mencionar directamente a entidade. Ainda em relação à partida de ontem, o “torneio” teve um custo de 10 milhões de patacas e contou com uma equipa da Premier League. Porém, os “Saints” apenas trouxeram da equipa principal o guarda-redes Fraser Forster, o defesa Maya Yoshida, os médios Josh Sims, Tyreke Johnson e os avançados Shane Long, Yan Valery, Che Adams e Marcus Barnes. Os restantes jogadores da equipa principal ficaram na Irlanda, onde a formação está a estagiar. O resto do plantel que marcou presença em Macau pertence ao escalão sub-23. Dúvidas no GP O presidente do Instituto do Desporto, Pun Weng Kung e o presidente da Associação de Futebol de Macau, Chong Coc Veng, não são estranhos a episódios em que se alega censura. Ambos são elementos fundamentais da Organização do Grande Prémio de Macau que enfrentou críticas e acusações por não transmitir as imagens de vários acidentes durante a prova, como o infortúnio da piloto Sophia Florsch. O caso acabou por ser negado por Pun Weng Kun, que recusou qualquer intenção de esconder as imagens e explicou que o objectivo foi sempre proteger a imagem dos pilotos acidentados.
João Santos Filipe DesportoFutebol | Sulu Sou pede a adeptos protestem contra a associação O deputado apela aos adeptos que se deslocarem ao encontro entre o R&F Guangzhou e o Southampton que levem camisolas pretas, como forma de protesto contra a Associação de Futebol de Macau, que impediu os jogadores de defrontarem o Sri Lanka [dropcap]O[/dropcap] Torneio Internacional de Macau de Comemoração do 20.º Aniversário do Estabelecimento da RAEM, que opõem o R&F Guangzhou ao Southampton, foi a forma encontrada pelo deputado Sulu Sou para mostrar o descontentamento face à Associação de Futebol de Macau (AFM). O jogo está agendado para amanhã às 20h00,no Estádio de Macau e o pró-democrata pede aos adeptos que não desistam, vão logo às 18h00 e se vistam de preto. “Os cidadãos que se preocupam com o desenvolvimento do futebol de Macau nunca vão esquecer a desgraça que foi perder por falta de comparência um jogo de qualificação para o Mundial da FIFA”, consta no texto do evento, na rede social facebook. “Apelamos a todos que aproveitem esta oportunidade para apoiarem os jogadores da selecção e mostrarem o descontentamento do com a AFM por irem ao jogo, logo às 18h00, vestidos de preto”, é acrescentado. O jogo está a ser organizado pelo Instituto do Desporto, que distribuiu 10 mil bilhetes gratuitos para a partida. Os ingressos esgotaram e não têm lugares marcados. Foi por este motivo que o deputado ligada à Associação Novo Macau pediu aos interessados em mostrar a sua insatisfação que entrem pela porta número 23 e se concentrem nessa zona da bancada. O grande catalisador para este protesto, segundo Sulu Sou, foi a decisão da AFM de desistir da primeira fase de pré-apuramento para o Mundial de 2022, depois de ter impedido a selecção de jogar a segunda mão da eliminatória no Sri Lanka. A escolha foi justificada com motivos de segurança, face aos ataques terroristas da Páscoa. Equipas chegam hoje Em relação ao encontro, as duas equipas chegam hoje a Macau, de acordo com o programa revelado pelo Instituto do Desporto. O Guangzhou arranca às 09h00 de Cantão e entra no território pelo Posto Fronteiriço de Cotai. Já a comitiva do Southampton tem chegada marcada para Hong Kong em dois grupos, às 11h55 e 13h15 de hoje, e entra em Macau através do Posto Fronteiriço da Ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai. Mais tarde às 19h15, a equipa do Southampton tem um treino conjunto com os jogadores da selecção local. A sessão de trabalho é a porta fechada, pelo que o público não poderá assistir. Já no dia da partida, alguns jogadores mais conhecidas da equipa britânica e da equipa chinesa têm agendada uma sessão de intercâmbio com juvenis da selecção de Macau, que tem a duração de uma hora. Esta actividade está agendada para as 09h00, no Campo de Hóquei do Centro Desportivo de Olímpico.