Exposições e espectáculos em 2023 batem lucros de 2019

No ano passado, as chamadas indústrias culturais tiveram receitas de 8,72 mil milhões de patacas, valor que significou um crescimento anual de 47,9 por cento, face a 2022, e mais 10 por cento do registo de 2019, quando as receitas totalizaram 7,9 mil milhões de patacas.

As indústrias culturais agregam áreas como media digital, design criativo, exposições, espectáculos culturais e colecção de obras artísticas.

Voltando à comparação anual, no ano passado o sector registou um “valor acrescentado bruto (VAB), que reflecte o contributo económico destas indústrias, de 2,90 mil milhões de patacas, mais 24,5 por cento, face a 2022.

A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) justificou o aumento das receitas com a acção do Governo, que promove “de forma contínua o desenvolvimento das indústrias em análise e à gradual recuperação da economia de Macau”.

Em relação ao peso no tecido associativo e empresarial, no ano passado existiam 2.866 organismos dedicados às indústrias culturais de Macau, mais 112, face a 2022. Outro aspecto em que a DSEC dá conta de crescimento, foi no número de pessoas empregadas no sector, que subiu mais de 15 por cento em termos anuais para quase 14 mil trabalhadores.

À lupa

Destaca-se que em 2023 as receitas dos serviços da área “media digital” foram de 3,78 mil milhões de patacas, mais 23 por cento, em termos anuais, representando o maior peso em relação às receitas dos serviços das indústrias culturais (43,3 por cento do total). Por outro lado, o VAB (1,29 mil milhões de patacas) diminuiu 4,8 por cento, devido principalmente à subida dos custos de exploração.

A segunda área mais rentável foi o design criativo, que amealhou receitas de 2,47 mil milhões de patacas no ano em análise, mais 22,6 por cento, em termos anuais. Em termos de dimensão desta área nas indústrias criativas, a DSEC indicou ontem que o design criativo representava 28,3 por cento das receitas globais.

Neste capítulo, a DSEC salienta a performance de organismos dedicados ao “design até à produção/distribuição” de produtos de marcas de Macau, que amealharam 37,1 milhões de patacas no ano passado, um aumento significativo (77,7 por cento) face a 2022.

Porém, as áreas que registaram maior crescimento foram as exposições e espectáculos culturais, “graças ao número de concertos realizados em Macau ter aumentado significativamente”, desde que foram abolidas as restrições fronteiriças impostas pelo combate à covid-19. Assim sendo, este sector amealhou no passado receitas na ordem dos 2,35 mil milhões de patacas, valor que representou uma subida de 214,6 por cento em relação a 2022. Já o valor acrescentado bruto, atingiu 755,3 milhões de patacas, mais 187,7 por cento do registo do ano anterior.

Finalmente, as receitas dos serviços da área “colecção de obras artísticas” atingiram no ano passado 125,8 milhões de patacas, o que, apesar do peso diminuto da área no computo geral das chamadas indústrias criativas (1,4 por cento do total), representou uma subida anual superior a 85 por cento.

20 Nov 2024

Exposição | “Echoes of a Golden Age” no Cotai até Janeiro

Pode ser vista até ao dia 5 de Janeiro a exposição “Echoes of a Golden Age”, na Sands Gallery no empreendimento Grand Suites do Four Seasons, no Cotai. São expostas 121 obras de arte de nove artistas contemporâneos de Macau, com o intuito de celebrar os 75 anos da República Popular da China e o 25.º aniversário transição da soberania de Macau para a China

 

Chama-se “Echoes of a Golden Age” [Ecos de uma Idade de Ouro] e é mais uma exposição com arte feita em Macau para celebrar o chamado “duplo aniversário”: os 75 anos da República Popular da China e os 25 anos da RAEM.

A mostra, que inclui 121 obras artísticas, incluindo selos, pode ser vista na Sands Gallery, no hotel Four Seasons, até ao dia 5 de Janeiro, e é uma co-organização entre a operadora de jogo Sands China e a Sociedade de Artistas de Macau, incluindo várias entidades governamentais, sendo comissariada por Lam Chi Ian, artista de Macau.

Incluem-se, assim, trabalhos de Lam Chi Ian e ainda Ung Vai Meng, que presidiu ao Instituto Cultural; Lai Ieng, Lok Hei, Ng Wai Kin, Lio Man Cheong, Lei Tak Seng, Chan Hin Io e Ao Kuan Kin. Segundo um comunicado, cada um dos artistas “apresenta uma vasta experiência nas várias disciplinas” artísticas, sendo que o público poderá ver, nas obras, “uma variedade de formas, incluindo pintura a tinta da china, pintura a óleo, aguarela, pintura acrílica, esboço, desenho com fineliner, ilustração digital e fotografia”.

Relativamente às temáticas, inclui-se “o desenvolvimento de Macau e suas características culturais e sentimentos públicos de antes e depois da reunificação”, celebrando-se, assim, “a prosperidade e o patriotismo de Macau desde a reunificação e o poder de união do povo de Macau para seguir em frente”.

A organização descreve ainda que se pode obter, com estas obras, “uma excelente visão geral das mudanças dos tempos a partir de várias perspectivas, partilhando ao mesmo tempo a alegria deste ano de duplas celebrações”.

Selos especiais

Os artistas participantes desta mostra criaram ainda selos com cenas que retratam “o esplendor centenário das Casas da Taipa ou as maravilhas modernas como a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”. São reflectidas “as mudanças históricas com desenhos únicos que registam a mudança dos tempos na pequena tela de uma moldura de selo”.

Citada pela mesma nota de imprensa, Lok Hei, artista e presidente da Sociedade de Artistas de Macau, defendeu que os selos e obras expostos “revelam-nos o amor dos artistas locais por Macau ao retratarem os traços dos edifícios locais em tempos passados e as novas paisagens da cidade numa nova era”.

“A exposição das obras dos nove artistas não só representa o nosso tributo às duplas celebrações, como também é um reflexo do património histórico de Macau devido à integração das culturas chinesa e ocidental e ao rápido desenvolvimento da cidade desde a sua reunificação”, concluiu.

Lam Chi Ian, artista e curador, afirmou que o tema central por detrás da mostra, “Macroacontecimentos através de macrovisões” acaba por incorporar “a grande ambição que é transmitida nas obras dos nove conhecidos artistas locais”.

Trata-se de uma exposição que constitui uma “representação viva da forma como Macau se tem revigorado ao longo do seu desenvolvimento histórico”, pretendendo-se “contar as histórias de Macau através do suave poder da cultura e arte”.

3 Out 2024

Jiangsu | Artistas de Macau em mostra colectiva no Museu de Arte de Nantong

Chama-se “Exposição Colectiva de Artistas Contemporâneos de Macau” e está patente, desde sexta-feira, no Museu de Arte de Nantong, em Jiangsu, China. Esta iniciativa apresenta trabalhos de 19 artistas, com nomes como Adalberto Tenreiro ou Giulio Acconci, e nasce do “Programa de Cooperação e Intercâmbio Cultural com o interior da China”

 

Primeiro vieram a Macau artistas do interior da China, nomeadamente de Jiangsu. Agora é a vez de se realizar o percurso contrário, e mostrar o que de melhor se tem feito, em termos artísticos, nos últimos anos em Macau. A “Exposição Colectiva de Artistas Contemporâneos de Macau”, patente no Museu de Arte de Nantong, em Jiangsu, abriu ao público na última sexta-feira, dia 20.

Assim, o público desta região da China continental poderá ver trabalhos de 19 artistas de Macau, nomeadamente de Adalberto Tenreiro, Alexandre Marreiros, Cai Guo Jei, Cindy Ng Sio Ieng, Denis Murrell, Eva Mok, Giulio Acconci, Ieong Man Pan, James Chu ou Kit Lei Ka Ieng.

Esta exposição é organizada pelo CAC – Círculo dos Amigos da Cultura de Macau e nasce do “Programa de Cooperação e Intercâmbio Cultural com o Interior da China”. Pretende-se não só celebrar os 75 anos da implantação da República Popular da China como também, ao abrigo desse intercâmbio, “dar a conhecer os artistas de Macau ao público de diferentes cidades da China e, reciprocamente, convidar artistas contemporâneos do Interior da China a expor em Macau, para uma interação e intercâmbio saudável e enriquecedor”.

Com esta mostra, o CAC pretende “apresentar a mais recente e diversificada criatividade dos artistas contemporâneos de Macau e também mostrar o cenário contemporâneo das artes visuais de Macau”, descreve um comunicado. Esta não é uma novidade em termos de iniciativas do CAC, que desde os anos 80 que tem vindo a organizar muitas exposições e palestras nas cidades mais importantes do Interior da China, nomeadamente Pequim, Xangai ou Guangzhou, a fim de conectar mais Macau com o país.

Esta mostra apresenta 30 obras de arte “com uma variedade de temas e suportes”, com “diferentes abordagens, conceitos, idades e etnias”, reflectindo-se, assim, os “atributos dinâmicos e diversificados construídos sobre o ambiente cultural muito rico e pluralista de Macau”. Lam Kong Chuen, co-curador da exposição, afirma que a inauguração desta mostra em Nantong levou à construção de uma “ligação de intertextualidade e inter-pintura”, sendo que a conexão de artes das duas regiões “continuará a reverberar”.

Ligações históricas

Lam Kong Chuen descreve o legado histórico destas conexões artísticas entre Macau e a China, indicando que, ao longo dos tempos, “a arte contemporânea de Macau tem sido sempre uma componente única da arte mundial”. O território tornou-se, segundo o curador, “numa zona importante para o desenvolvimento e exploração da arte, altamente respeitada no domínio da arte contemporânea”, cuja mobilidade de pessoas constituiu “um estímulo constante para o desenvolvimento da arte local”, formando “um sistema artístico complexo e variado”.

O curador recorda a chegada de Matteo Ricci, missionário jesuíta italiano a Macau em 1582, considerando-o “um marco na história do intercâmbio cultural entre a China e o Ocidente”, tendo sido esse o ponto de partida para a chegada ao Oriente da arte ocidental e das instituições de ensino.

Esta mostra constitui, para Lam Kong Chuen, “um estudo com amostras sobre a evolução multigeracional, reunindo obras de um conjunto de artistas representativos de Macau dos últimos 40 anos”. Renova-se, assim, “as discussões em torno das identidades dos artistas” que fazem parte do CAC.

Esta entidade foi criada em 1985, tendo como membros fundadores Carlos Marreiros, Mio Pang Fei, Kwok Woon, Un Chi Iam, Ung Vai Meng e Victor Marreiros.

24 Set 2024

Exposição | Celebrar 60 anos de relações diplomáticas sino-francesas

Foi inaugurada ontem a Exposição de Arte Sino-Francesa que conta com obras de pintura, vídeo, instalação ou fotografia de cinco artistas. A ideia é promover os 60 anos de relações diplomáticas entre a República Popular da China e França através da exibição de trabalhos de Francisco Ricarte, João Miguel Barros ou Alice Kok

 

A China e França passaram a ter relações diplomáticas há 60 anos e, para recordar esta efeméride, pode ser vista desde ontem uma mpstra no Museu de Arte Contemporânea do Centro de Artes e Design da Universidade de Macau (UM). A Exposição de Arte Sino-Francesa é organizada também pela associação “Art Beyond Walls”, a Fusion e a Câmara de Comércio França-Macau, contando com trabalhos de cinco artistas com ligações a Macau, China e França.

São eles João Miguel Barros, fotógrafo e curador; Cecília Ho, artista e curadora desta mostra; Alice Kok, co-fundadora da AFA – Art for All Society, artista e também curadora; Lampo Leong e Francisco Ricarte, arquitecto de formação e fotógrafo.

Segundo um comunicado, esta iniciativa, ligada ao Festival French-May, visa “explorar e reinventar a fusão das duas culturas”, chinesa e francesa e “absorver a essência das duas civilizações”. Desta forma, podem ver-se “obras dinâmicas e intrigantes” à conta de inspirações baseadas “na sociedade, estilo de vida, tradições, património e conceitos históricos e filosóficos”. A exposição pode ser visitada até 31 deste mês.

Mundo de possibilidades

Cecília Ho, há muito ligada ao panorama artístico do território através da organização de eventos e curadoria, traz a esta mostra uma colecção de desenhos intitulada “Space of Possibility” [Espaço de Possibilidade]. “Com uma perspectiva artística, reinvento um novo espaço com a história, filosofia, literatura, arquitectura e cultura da China e França”, aponta Cecília Ho na descrição que faz sobre as suas obras.

Existe, nestas obras, referências a Laozi, que discute “o Daoísmo e Descartes”, ou “Victor Hugo que partilha as emoções com Su Shi quando visita a campa da sua filha”. É também criada uma relação entre Li QingZhao e Louise Ackermann “na partilha do seu sofrimento” conjunto, imaginando-se também uma união entre o Arco do Triunfo e Buda, a Torre Eiffel e a Grande Muralha da China, ou a Catedral de Notre Dame e o Templo do Céu, em Pequim.

Trata-se de uma série de trabalhos onde “não há restrições de tempo, distância, lugar, formato, razões, religião e conceitos”, tratando-se de um espaço artístico “em que tudo é possível”.

No caso de João Miguel Barros faz-se a referência a “As Flores do Mal”, livro do autor francês Charles Baudelaire, na colecção de fotografias “L’Invitation Au Voyage / Invitation To The Voyage” [Convite à Viagem].

A apresentação é feita através de imagens focadas no momento de aterragem de aviões. Trata-se de uma “alegoria que simboliza o pensamento livre, um atributo para qualquer forma de manifestação cultural”. São imagens que fazem “a alegoria da viagem, porque a cultura apenas encontra expressão quando viaja e é bem-vinda”.

Descreve ainda Barros que “um pensamento que não viaja, que fica estagnado, é um pensamento que não tem poder, estando condenado a morrer devido à falta de reconhecimento”. A inspiração em Baudelaire surgiu por se tratar “de um dos maiores poetas românticos franceses do século XIX”, sendo que o poema escolhido pelo fotógrafo faz parte da obra “As Flores do Mal”, publicada em 1857.

“Baudelaire foi um pioneiro num tempo antes do surgimento dos aviões. Mas, antes e depois dele, houve muitos artistas e pensadores-livres que, de diferentes formas e até aos dias de hoje, aproveitaram as asas do vento para viajar para leste. Macau sempre foi um céu de segurança e hospitalidade, e aqui estamos nós hoje, em 2024, a celebrar”, descreveu ainda.

Símbolos humanos

Alice Kok apresenta a instalação “Artificial Subcounscious” [Subconsciente Artificial], enquanto Francisco Ricarte traz a esta mostra “The Hand Series” [Séries das Mãos]. Descreve o autor que a mão sempre foi um símbolo da “existência humana e de criatividade”. “Quando uma mão, e o braço, se movem para um certo ponto ou para apanhar algo que está perto, pode simbolizar também a procura de algo diferente ou que está fora do nosso elemento. Isso tem como significado a representação da intenção de usar ou misturar certos objectos, culturas, formas de expressão ou influências, no meio de tantas expressões”, apontou ainda.

Por sua vez, Lampo Leong apresenta “InkScape”, um conjunto de pinturas que “incorpora a estrutura geométrica ocidental com as tradições de caligrafia do Oriente para atingir a sensibilidade da arte pós-moderna e, ao mesmo tempo, uma qualidade atmosférica etérea e as forças dinâmicas da energia da vida”.

17 Mai 2024

Armazém do Boi | Histórias de migração inspiram exposição colectiva

Na próxima sexta-feira, é inaugurada no Armazém do Boi uma exposição colectiva que reúne peças de arte contemporânea de seis criadores. A essência transitória da vida e experiências de migração dos povos do Delta do Rio das Pérolas do interior para o litoral foram inspirações para instalações e peças de vídeo-arte

 

 

Desde o início de Novembro e ao longo de três meses e 23 dias, Situ Jian construiu um “Jardim Secreto” no Pátio do Espinho, transportando terra e plantas do seu estúdio para o pequeno recanto nas traseiras das Ruínas de S. Paulo. No próximo domingo, entre as 14h30 e as 18h, o artista irá ministrar um workshop que tem como pilar duas cartas escritas pela filha de Situ Jian, as plantas e a natureza multicultural de Macau como pontos de partida para uma discussão com os participantes.

Este é um dos seis vectores de intervenção criativa proposto pelo Armazém do Boi que inaugura na sexta-feira, a partir das 18h30, a exposição de arte contemporânea do Delta do Rio das Pérolas “The Old People’s Restaurant and the Sea”. O evento, que decorre até 24 de Março no Antigo Estábulo Municipal, reúne obras de seis artistas, Yu Guo, Zhu Xiang, Cai Guojie, Lee Kai Chung, Situ Jian, Hu Wei, em vários meios de expressão artísticas, com predominância da projecção de vídeo-arte e instalação. Porém, haverá também lugar às manifestações mais interventivas, provocadoras através de workshops com o “Jardim Secreto” de Situ Jian.

Horizontes e emoções são temas centrais da obra de autoria de Lee Kai Chung que procurou verter em vídeo a transformação e história das pessoas e paisagens contemporâneas da área da Grande Baía, com particular incidência sobre a estrutura emocional dos indivíduos deslocados.

O seu projecto mais recente, “Tree of Malevolence”, é encarado pelo artista como forma de expansão deste contexto criativo. No sábado à noite, entre as 19h e as 21h30, Lee Kai Chung irá exibir a sua árvore da malevolência, que ainda se encontra em fase de edição, e arrancar daí para uma sessão de troca de experiências com o público centrada no tema da identidade, para o qual foram convidados artistas locais. A obra explora a história do indivíduo “Y” na Feira de Cantão em Guangzhou durante a era da Guerra Fria, e representa um catalisador para a reflexão e troca de ideias.

 

A caminho da costa

“The Old People’s Restaurant and the Sea” apresenta narrativas únicas e micro-histórias da região do Delta do Rio das Pérolas. A organização do evento indica que “depois de explorar a exposição em profundidade, os espectadores poderão compreender a imaginação espacial dos habitantes das montanhas do interior em relação às zonas costeiras. Poderão também aperceber-se das estratégias de sobrevivência usadas pelos residentes das ilhas costeiras que ‘saltam’ de ilha em ilha” à procura de uma vida melhor.

Memórias de fuga, dispersão e dramas familiares são usados como pontos de confronto e partilha com o público. Por vezes, a própria montanha percorre os trilhos migratórios dos humanos, tema explorado pelas histórias da extração, transporte e deposição de pedras na região do Delta do Rio das Pérolas.

“Num lugar próximo do mar, os jovens só têm memória de pontes e enquanto os barcos caíram no esquecimento. Para alguns, as ilhas são como buracos numa sala, roídos e ocupados por ratos. Os arquipélagos são zonas de retaguarda para humanos, enquanto as terras continentais podem não o ser”, aponta a organização da mostra.

A saída de um espaço amplo para o sufoco da densidade populacional, onde reside ainda assim o sustento, são temas transversais à exposição que conta com a curadoria de Song Yi e direção do presidente Armazém do Boi, Noah Ng Fong Chao.

A entrada para a exposição é livre.

21 Fev 2024

Hong Kong | Museu de Arte mostra pinturas de Ticiano e pintores renascentistas

Até 28 de Fevereiro, Hong Kong tem em exposição pinturas de alguns dos principais artistas renascentistas de Veneza, como Ticiano, Giorgione, Veronese ou Tintoretto

 

Até 28 de Fevereiro, o Museu de Arte de Hong Kong é o palco da exposição “Ticiano e pintores renascentistas de Veneza da Galeria de Uffizi”, que mostra algumas obras do pintor que foi considerado o expoente máximo da escola renascentista de Veneza, assim como dos seus principais discípulos.

Com um preço de entrada de 30 dólares de Hong Kong, a exposição apresenta 50 quadros que estão em exposição pela primeira vez no território vizinho, trazidos desde a Galeria de Uffizi, situada no centro histórico de Florença, em Itália, e que é especializada em pintura do período do Renascimento.

Um dos principais trabalhos em exposição é o quadro “A Flora, Vénus, o Cupido com um Cão e uma Perdiz”, da autoria de Ticiano, em que a deusa romana do amor, sexo, fertilidade e da vitória surge deitada com o filho Cupido.

No espaço, estão igualmente em exibição outras obras notáveis de Ticiano, como a Nossa Senhora da Misericórdia, em que o próprio autor surge retratado ajoelhado perante a figura divina.

Como um dos principais e mais famosos artistas do século XVI, a reputação do pintor italiano nascido em Véneto, Itália, fez com recebesse encomendas para trabalhar para algumas das personalidades mais influentes da história europeia, como aconteceu com Carlos V, Imperador do Império Sacro Romano-Germânico e pai de D. Filipe I de Portugal.

Além do retrato de um dos governantes espanhóis mais famoso do século XVI, a colecção em exibição conta igualmente com um retrato de Jesus Cristo, encomendado pelo Imperador, com o título Ecce Homo. O quadro tem a particularidade de se ter tornado inseparável do próprio Carlos V ao longo da sua vida.

Entre os trabalhos expostos do artista veneziano, encontra-se igualmente a Batalha de Cadore. A pintura retrata aquela a disputa que também ficou conhecida como Batalha do Rio Seco, que opôs as forças da República de Veneza contra as forças do Império Sacro Romano-Germânico, em 1508, e que foi um dos momentos altos em termos militares da república mercante.

Pintor celebridade

Nascido em Véneto, no norte da actual província de Veneza, algures entre 1488 e 1490, Ticiano Vecellio, também conhecido como Vecelli ou Ticiano, assumiu-se como um dos principais pintores da Escola de Veneza do século XVI.

Numa república que se afirmava como um grande centro de comércio e onde se concentravam mercantes, navegadores, académicos e artistas com origens muito variadas, foi criada uma atmosfera que levaria a que pintura renascentista de Veneza acabasse por influenciar a arte um pouco por toda a Europa.

Além disso, o movimento da cidade dos canais teve a particularidade de destoar do resto de toda a pintura de Itália na altura, porque dava a primazia aos jogos de cores sobre o traço do artista.

A título individual, a Ticiano é atribuída a tendência de desenhar figuras femininas nuas e reclinadas, como a que está presente no quadro “A Flora, Vénus, o Cupido com um Cão e uma Perdiz”.

A exposição não se esgota nos trabalhos de Vecelli, e outro dos principais destaques é o quadro “A Prova de Fogo de Moisés”, da autoria de Giorgione, cujo nome verdadeiro era Giorgio Barbarelli da Castelfranco.

Nesta obra, é retratado o episódio do Antigo Testamento em que o bebé Moisés, depois de ser adoptado pela filha do Faraó Egípcio, atira a coroa do governante para o chão. O acto foi considerado como um presságio que Moisés iria derrubar o faraó. Para afastar o presságio, o faraó mandou colocar diante do bebé duas tigelas, uma com brasas e outra com cerejas. Como o bebé, guiado por um anjo, acabou por escolher levar à boca as brasas, acabou por ser considerado inocente do crime de traição.

Em destaque, está igualmente o trabalho “O Baptismo de Jesus Cristo”, pintado por Paolo Veronese, que retrata o baptismo conduzido por São João Baptista e que através de um pomba com uma aura dourada remete também para a presença da Trindade.

A exposição é o resultado de uma organização conjunta entre o Jockey Club de Hong Kong, Museu de Arte de Hong Kong, o Ministério de Cultura de Itália e a Galeria Uffizi.

18 Fev 2024

Casa Garden | Exposição atravessa meio milénio de cartografia de Macau

A exposição “Mapamorphosis: 500 Anos de Cartografia” abre amanhã portas ao público na Casa Garden. A mostra que partiu do conceito de Marco Rizzolio, com curadoria de Pedro Luz documenta a transformação e expansão da cidade através de um conjunto de mapas e elementos multimédia. A inauguração da exposição será acompanhada por um seminário

 

Se cinco anos fazem diferente, imagina-se o impacto de cinco séculos na evolução do tecido urbano de uma cidade de confluências de culturas como Macau? Esta metamorfose está na génese da exposição “Mapamorphosis: 500 Anos de Cartografia e Desenvolvimento Económico de Macau”, que é inaugurada amanhã, às 18h30, na Casa Garden.

A mostra, organizada pela Associação Cultural 10 Marias e a Fundação Oriente, partiu da ideia de Marco Rizzolio e conta com a curadoria e direcção multimédia de Pedro Luz.

A exposição assinala a transformação geográfica de Macau ao longo dos séculos através de uma colecção de mapas de diversas fontes, permitindo-nos simultaneamente visualizar o crescimento urbano e o desenvolvimento socioeconómico de Macau.

“Na era pré-colonial, a área de Macau estava reduzida a uns meros três quilómetros quadrados, o seu processo de expansão deu-se, a partir do século XVI, com o estabelecimento dos portugueses e a ‘conquista’ de território. Durante a segunda metade do século XX, a área terrestre de Macau aumentou aceleradamente, passando de 15 quilómetros quadrados em 1972 para 21 em 1994. Hoje, a área terrestre é aproximadamente de 32 quilómetros quadrados com uma população de cerca de 680 mil habitantes, fazendo com que Macau seja uma das cidades do mundo com maior densidade populacional”, é destacado pela organização.

 

Imagens e ideias

A organização do evento indica que a mostra terá como base o “importante acervo cartográfico de Macau com manifesto interesse pedagógico e didáctico, com o uso das novas tecnologias”.

Nesse sentido, a evolução geográfica da cidade e a sua consequente expansão territorial pode ser testemunhada através dos vários mapas que vão estar expostos na Casa Garden, mas também através de um vídeo da autoria de Pedro Luz que será projectado no espaço da exposição. A “projecção videográfica, com base em cartografias, mapas e imagens satélites promove o conhecimento da geografia de Macau e divulga o seu desenvolvimento histórico e económico, de forma interativa e informativa”, acrescenta a nota da Associação Cultural 10 Marias.

Além dos elementos visuais, a inauguração da mostra será acompanhada de um seminário sobre desenvolvimento económico e urbanístico de Macau, amanhã às 18h30 na Casa Garden, que terá como convidados Priscilla Roberts, Nuno Soares, Marco Caboara e José Sales Marques.

“Mapamorphosis: 500 Anos de Cartografia e Desenvolvimento Económico de Macau” estará patente ao público até 17 de Março e a entrada é livre.

5 Fev 2024

Exposição | Zhuang Hong-Yi revela “Shades of Blossoms”

A partir de 2 de Fevereiro, na galeria Artelli, no empreendimento City of Dreams, pode ser vista a primeira exposição individual de Zhuang Hong-Yi em Macau. O artista chinês reconhecido internacionalmente apresenta “Shades of Blossoms”, uma mostra que revela “uma fusão da estética oriental e ocidental”

 

A galeria Artelli, situada no City of Dreams, no Cotai, apresenta entre os dias 2 e 29 de Fevereiro a exposição “Shades of Blossoms”, do conceituado artista chinês Zhuang Hong Yi, que pela primeira vez expõe no território. Trata-se, segundo um comunicado da galeria, de uma exposição que revela “uma fusão da estética oriental e ocidental”, com uma “colecção única de obras de arte transculturais, apresentadas em paletas de cores arrojadas e motivos florais intrincados”.

Os responsáveis da exposição descrevem-na como um conjunto de “obras-primas vivas”, em que “cada pétala é criada meticulosamente para exalar uma profunda sensação de vitalidade e prosperidade”. Trata-se de quadros que representam “a beleza da natureza e da sua eterna elegância”, com “telas vibrantes que se assemelham a um canteiro de flores graciosamente arranjado quando admirado à distância”. De perto, os amantes de arte podem ver “uma tapeçaria de texturas de pétalas e um rico espectro de cores”.

Em “Shades of Blossoms”, são expostas obras em que Zhuang Hong-Yi mostra “os seus famosos canteiros de flores em camadas”, apresentando-se “uma linguagem visual de esperança e novos começos”, evocando-se também “sentimentos de felicidade, realização e rejuvenescimento”.

O artista explora, nos quadros, “narrativas e perspectivas pessoais em contos visuais, utilizando uma paleta de cores harmoniosa e emotiva que torna a sua arte simultaneamente surpreendente e intrigante”.

Desta forma, destaca a Artelli, a exposição “Shades of Blossoms” explora “o renascimento da primavera e o desabrochar das flores, formando um imaginário elegante com a interação da luz e da sombra”.

Experiência holandesa

Depois da licenciatura na Faculdade de Belas Artes de Sichuan, na China, Zhuang Hong-Yi teve a oportunidade de estudar no estrangeiro, prosseguindo os estudos em arte nos Países Baixos nos anos 90. Foi aí que o artista ligou “efectivamente as suas raízes chinesas às influências europeias”, tendo vindo a criar, ao longo da carreira, obras que “giram em torno de temas como a alegria, espiritualidade e fascínio”, reconectando “o público com a tranquilidade da natureza, ao mesmo tempo que exalam uma sensação de felicidade”.

As obras deste artista chinês pautam-se sempre por motivos florais, como símbolo de “entusiasmo, amor e busca pela vida”. As criações de Zhuang são sobretudo reconhecidas pelos canteiros de flores coleccionáveis que mudam de cor, sendo estas pinturas “uma marca distintiva” do seu trabalho.

Zhuang Hong-Yi é descrito como “um dos artistas mais influentes da China”, que “combina as suas experiências de vida na China e na Europa para moldar a sua linguagem artística distinta actual”.

As suas obras “reflectem temas, formas, cores e a utilização de materiais inspirados na cultura oriental”, misturando-se “com conceitos abstractos ocidentais”, tratando-se de uma exploração da transculturalidade por parte de Zhuang Hong-Yi.

As flores são, para o artista, uma linguagem universal, sendo pintadas de formas que divergem das normas tradicionais, uma vez que Zhuang Hong-Yi recorre a materiais como o clássico papel chinês, juntando-lhe acrílico. Desta forma, “aumenta-se a durabilidade [dos quadros]”, em que “cada peça é uma obra-prima única, impossível de replicar”.

Até à data as criações de Zhuang foram apresentadas em mais de 140 exposições individuais, bem como mais de 60 grandes feiras de arte em 18 regiões do mundo, tendo já conquistado “a admiração de coleccionadores de arte internacionais”.

26 Jan 2024

Semana cultural | “Mosaicos Sino-Lusófonos” para ver até Dezembro

A exposição “Mosaicos Sino-Lusófonos”, inserida na 15.ª Semana Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa, foi inaugurada na sexta-feira podendo ser visitada no edifício do Fórum Macau até ao dia 3 de Dezembro.

Esta actividade é organizada pelo Fórum Macau e conta com 26 trabalhos fotográficos de nove artistas de oito países de língua portuguesa e de Macau, nomeadamente Edson Lima, de Angola; Gui Martinez, do Brasil; Evandro Semedo, de Cabo Verde; Samba Muhamad Baldé, da Guiné-Bissau; Jesús Domingo Williams Idjabe, da Guiné Equatorial; Yassmin Forte, de Moçambique; Tânia Dinis, de Portugal; Valdemira Bastos Lima, de São Tomé e Príncipe e António Leong, natural de Macau.

Segundo um comunicado oficial sobre a mostra, os trabalhos fotográficos apresentam “estilos diversificados”, sendo que o seu conteúdo expressa “emoções sinceras”. “Através das imagens visuais, os artistas escolheram narrar uma história, reflectir a realidade, apresentar paisagens, focar em personagens e na amizade sino-lusófona”, descreve-se.

A organização entende que as técnicas criativas usadas pelos fotógrafos “são inovadoras, como o contraste de luz e sombra, [a apresentação de] contornos nítidos, imagens realistas, alto grau de imaginação, mostrando-se uma atmosfera optimista e divertida, bem como o amor pela paz, verdade, bondade e beleza”.

No seu discurso, o secretário-geral do Fórum Macau, Ji Xianzheng, disse que esta exposição é a concretização de um “feliz casamento de imagens da China e dos países de língua portuguesa, consubstanciando um verdadeiro festival multicultural”. Além disso, entende o responsável, esta mostra “expressa a diversidade das culturas edificando as fraternidades culturais que se entrelaçam por Macau e que celebram a amizade entre os povos da China e dos países de língua portuguesa”.

14 Nov 2023

Creative Macau | Vinte anos de existência celebrados em “Quatro Estações”

A Creative Macau celebra 20 anos de existência no próximo dia 28 e, para assinalar a efeméride, convidou 40 artistas membros para exibirem as suas obras numa mostra intitulada “Quatro Estações”. Podem, assim, ser vistos trabalhos de nomes como Carlos Marreiros e Alexandre Marreiros, Adalberto Tenreiro e Yaya Vai, entre outros, estando ainda prevista a edição do livro “DOCUMENTA 2023”, relativo ao aniversário

 

É uma data redonda que não pode passar em branco. Os vinte anos de existência da Creative Macau, espaço dedicado às indústrias culturais e criativas estabelecido em Macau a 28 de Agosto de 2003, serão celebrados com uma exposição intitulada “Quatro Estações”, em que se poderão ver trabalhos de 40 artistas membros da Creative, nomeadamente os arquitectos Carlos Marreiros e Adalberto Tenreiro e os artistas Yaya Vai, Dennis Murell ou Justin Ung, entre outros, incluindo uma obra da própria directora da Creative Macau, Lúcia Lemos.

Além da exposição, que termina a 29 de Setembro, o aniversário celebra-se também com a edição do “DOCUMENTA 2023”, livro que será oferecido aos membros da Creative Macau.

Em comunicado, a Creative Macau aponta que estas têm sido “duas décadas de intensa actividade artística e cultural com a comunidade criativa”, sempre com a missão de “acolher profissionais consagrados e novos talentos em busca de reconhecimento”.

O tema “Quatro Estações” engloba “todas as variações vividas ao longo de duas décadas”. “Embora as Quatro Estações apelem aos sentidos sensoriais, a vida humana tem inúmeros significados no que respeita à sua capacidade criativa”, destaca a direcção da Creative Macau.

Estações na história

A Creative Macau aponta ainda nomes de personalidades ligadas ao meio artístico que, ao longo da história, foram retratando as quatro estações do ano, nomeadamente o Inverno, Primavera, Verão e Outono.

Assim, no período da Grécia Antiga, entre os anos 800 a 146 a.c., as quatro estações foram retratadas em esculturas, enquanto na China, no período da dinastia Tang, entre os anos de 618 a 907 d.c., o poeta Li Bai, que viveu entre os anos 701 e 762, escreveu as “Baladas das Quatro Estações”, enquanto os pintores Zhou Fang e Zhang Xua, entre outros, inspiraram-se nas estações para criar as suas obras imortais. Na época medieval, entre os anos de 476 a 1450, ou seja, até ao século XV, os europeus moralizaram as estações do ano através de ilustrações de virtudes e vícios, enquanto na época do período Edo japonês, entre os anos de 1615 e 1868, foram criados ritos ilustrativos através de xilogravuras.

Também no Japão, mas em 1832, Hokusai Katsushika retratou o Monte Fuji em “Trinta e seis vistas do Monte Fuji” dentro das quatro estações do ano e em diferentes locais com diferentes condições climatéricas.

No período do Renascimento italiano, o pintor italiano Giuseppe Arcimboldo pintou, entre os anos de 1503 e 1590, o busto alegórico da natureza com uma “extraordinária imaginação em interpretações simbólicas e acutilantes para a época”, tendo personificado “os frutos da terra e do mar de cada estação, revelando a essência da Humanidade”.

Desta forma, aponta a Creative Macau, “as estações do ano e os seus fenómenos alteram significativamente a concretização dos desejos e sonhos das pessoas, levando-as a crescer aprendendo e falhando até conseguir”.

9 Ago 2023

Creative Macau | Joaquim Kuong exibe arte inspirada no filme “Macao”

Na final da tarde da próxima quinta-feira, é inaugurada na Creative Macau a primeira exposição a solo de Joaquim Kuong, que estará patente ao público até 19 de Agosto.
Intitulada “Gleaming Dreams”, o artista debutante apresenta uma mistura de obras de várias estilos artísticos, pintura, porcelana, instalação fotográfica e gravuras, tendo como fio condutor a estética e atmosfera do cinema noir, em particular do clássico de 1952 “Macao” de Josef von Sternberg e Nicholas Ray.
Em comunicado, a Creative Macau descreve a exposição de Joaquim Kuong como um ensaio de recriação e reinterpretação a experiência de ir ao cinema, de permanecer num espaço escuro apenas iluminado pela projecção de luz. Entre as obras que resultam em “Gleaming Dreams” existe um elemento unificador, um “espanta espíritos” transversal a todos os trabalhos. O uso deste objecto “realça o facto de Macau ser um lugar onde sonhos e realidade se podem cruzar, um espaço seguro onde o antigo e o moderno coexistem”, aponta a organização da exposição.
Realizado por Josef von Sternberg em 1952, “Macao” foi o penúltimo filme da carreira do realizador, transformando-se num símbolo do final da época de ouro da RKO Radio Pictures.
Com Robert Mitchum e Jane Russell nos papéis principais, a trama desenrola-se no cenário exótico e agitado de Macau, onde Halloran (proprietário de um casino ilegal), em conluio com o Tenente Sebastian, um polícia local, controla o jogo, tráfico de joias e demais operações criminosas.
Violência, traição, perseguição, fatalismo dramático e paixão arrebatadora são os ingredientes tradicionais do género fílmico, que não faltam em doses copiosas em “Macao”.

Despertar para a arte
Com uma propensão para se exprimir artisticamente, mesmo que de uma forma amadora, Joaquim Kuong tem um percurso profissional ligado ao ensino superior. O professor assistente de linguística da Universidade de Macau tem alimentado a paixão pela gravura e pintura desde que conheceu as ilustrações de George Cruikshank nas obras de Charles Dickens. As gravuras e pinturas em blocos de madeira usados pelos artistas do movimento artístico japonês Ukiyo-e também são elencadas como referências incontornáveis na vida de Joaquim Kuong, em particular quando residiu nos Estados Unidos onde prosseguiu os estudos académicos depois da licenciatura.
Desde então, o artista local começou a experimentar desenho, com água-tinta, escultura em madeira e pintura.
Na óptica de Joaquim Kuong, mesmo ocupado com o trabalho de investigação académica nas áreas das artes e humanidades, o lado criativo jazia latente, à espera de acordar.

11 Jul 2023

Exposição colectiva “MusicArt” abre hoje na Fundação Rui Cunha

A galeria da Fundação Rui Cunha acolhe a partir de hoje a Exposição Colectiva “MusicArt”, uma mostra que reúne trabalhos de 17 artistas locais e do Interior da China. Com curadoria de Giulio Acconci, o conjunto de obras estabelece uma ponte entre sons e imagem através de várias expressões artísticas

 

 

A Exposição Colectiva “MusicArt” vai estar em exibição na galeria da Fundação Rui Cunha (FRC) a partir de hoje, reunindo obras de 17 artistas de Macau e do Interior da China sob a batuta curadora do cantor, actor e artista local Giulio Acconci.

Com a inauguração marcada para as 18h30 de hoje, a mostra apresenta uma colecção variada de trabalhos e expressões artísticas abrangendo “diferentes meios e formatos, incluindo a pintura – óleo, acrílico, aguarela, digital e técnica mista, fotografia, gravura, colagem, metal, cerâmica, animação 3D, instalação e vídeo”, revela a organização.

A exposição está dividida em quatro partes: String Connections, Synesthesia, Imaging e Fusion. A segmentação conceptual da mostra tem como objectivo “transmitir as várias emoções da sociedade contemporânea e explorar as diversas possibilidades da arte interdisciplinar”, segundo a proposta do curador.

“MusicArt” é um “projecto de arte interdisciplinar experimental que conecta os mundos da cor e das notas musicais através de interpretação mútua, inspirando-se reciprocamente para alcançar um estado harmonioso”, revela o memorando da exposição.

Giulio Acconci acrescenta no documento que apresenta a exposição com o propósito de aliar as essências de formas de expressão diversas.

“É do conhecimento comum que tanto a Música quanto a Arte podem ser explicadas ou decompostas em teorias. Os fundamentos desses dois mundos, aparentemente diferentes, são surpreendentemente semelhantes: existem sete notas básicas na música (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si), assim como existem sete cores básicas no espectro cromático (Vermelho, Laranja, Amarelo, Verde, Azul, Anil e Violeta). Uma experiência interessante poderia ser substituir as notas e cores por números e ver o que acontece”, sugere o curador.

A exposição estará patente ao público até 22 de Julho.

 

Entre telas

Passando da teoria à prática, a FRC propõe alguns concertos, reunir as artes plásticas e a música no mesmo espaço. Assim sendo, o projecto irá contar com a colaboração da Associação Vocal de Macau e da Associação de Promoção do Jazz de Macau, que vão organizar dois concertos.

O primeiro espectáculo, marcado para 8 de Julho às 17h, intitula-se “Bel Canto Saturday”, e o segundo, agendado para 15 de Julho também às 17h, será o “Saturday Night Jazz”

O curador aponta a multiplicidade de meios artísticos como uma forma de integrar a complexidade da época.

“No confronto cada vez mais intenso de diferentes culturas e ideias, esta experiência artística interdisciplinar pode ajudar-nos a compreender melhor a época em que vivemos, e promover o vigoroso desenvolvimento da arte local em Macau”, refere Giulio Acconci.

27 Jun 2023

Segurança Nacional | Ho apostado em conter interferências e sabotagem

O Chefe do Executivo garantiu que irá continuar a persistir na salvaguarda do “pleno poder de governação do Governo Central” e na execução da futura lei de segurança nacional. Ho Iat Seng comprometeu-se no fortalecimento das “forças políticas do amor pela pátria e Macau” e na “prevenção e contenção de qualquer interferência e sabotagem”

 

O Governo da RAEM vai “persistir na salvaguarda do pleno poder de governação do Governo Central, na implementação e salvaguarda do regime jurídico de defesa da segurança nacional e do seu mecanismo de execução e, simultaneamente, na implementação do princípio ‘Macau governada por patriotas’, na constante promoção e fortalecimento das forças políticas do amor pela Pátria e por Macau, e na prevenção e contenção de qualquer interferência e sabotagem”.

A garantia foi deixada por Ho Iat Seng no discurso da cerimónia de inauguração da “Exposição sobre a Educação da Segurança Nacional”, proferido no sábado no complexo do Fórum Macau.

O Chefe do Executivo sublinhou que “a segurança nacional é um apoio fundamental para o desenvolvimento harmonioso e a transmissão do multiculturalismo em Macau”, salientando a importância de preservar e transmitir a singularidade governativa e cultural de Macau. Para tal, é “determinante a segurança do Estado e a estabilidade da sociedade de Macau, a promoção e desenvolvimento dos valores fundamentais do amor pela pátria e por Macau, sendo a implementação do ‘conceito geral da segurança do Estado’ a tarefa principal da RAEM”.

Juventude patriótica

A inauguração da exposição foi acompanhada também por concursos de composição em língua chinesa e de vídeo de curta-metragem “A Minha Noção sobre a Segurança Cultural” para os mais novos.

Ho Iat enalteceu os jovens participantes, realçando os seus “fortes sentimentos de identidade e de orgulho pela cultura chinesa”, pela “coragem de mostrar o seu sentido de responsabilidade pela salvaguarda da segurança cultural nacional”, argumentando que os jovens de Macau “têm grandes expectativas pela materialização das metas grandiosas do fortalecimento do país e da revitalização da nação”.

Por sua vez, o director do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM, Zheng Xincong, indicou que a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento do Estado são princípios supremos da política ‘Um País, Dois Sistemas’.

Zheng Xincong destacou a necessidade de aperfeiçoar de forma continuada a legislação complementar e o mecanismo de execução para reforçar a garantia da segurança nacional no regime jurídico da RAEM.

O director do Gabinete de Ligação frisou ainda que a segurança nacional é fundamental para a revitalização da nação e que a sua defesa “é um dever de todos e ninguém lhe pode ficar indiferente”.

O responsável recordou também as palavras de Xi Jinping que apontou que “o impulso para o fortalecimento nacional conta com a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Hong Kong e Macau”.

17 Abr 2023

Adalberto Tenreiro, arquitecto: “Desenhar é para mim uma terapia”

“1983 Food . Space 2023”, a exposição de desenhos do arquitecto Adalberto Tenreiro, pode ser vista na galeria 10 Fantasia, no bairro de São Lázaro, até ao próximo domingo. Radicado em Macau há muitos anos, o arquitecto expõe desenhos feitos em restaurantes onde se sente mais o pulsar da cidade antiga e das memórias de sítios peculiares

 

Não tem uma exposição individual há algum tempo. Como surgiu a oportunidade de realizar esta mostra?

Esta e as três exposições individuais que fiz pertencem a um processo de organização dos desenhos que vou fazendo como passatempo. Em 1997 a exposição chamada “Diário” organizou todos os desenhos feitos até esse ano, a de 2006 teve os desenhos feitos em Itália durante os sete cursos de Verão feitos no Centro de Estudos Andrea Palladio, a de 2020 teve todos os desenhos feitos em Portugal. Meng Shu Shangyuan é a curadora desta exposição e é uma amiga minha, artista de Xangai, que ensina e pratica em Macau desde há muitos anos e com quem costumo dialogar sobre o que faço. Os desenhos em restaurantes são actos que por vezes faço na companhia de amigos. A Meng Shu conhecia esse meu ritual e aceitou os restaurantes como tema da exposição, expandindo o conceito de comida que, por exemplo, engloba as fachadas dos edifícios que têm restaurantes, ou mercearias desenhadas por estarem inseridas em desenhos maiores que fiz das ruas de Macau.

Que Macau poderemos encontrar nestes desenhos?

Temos uma Macau parcial, não toda a Macau. Há um viver antigo da cidade por entre restaurantes e cafés baratos com comida boa e tradicional, muitas vezes com mesas ao ar livre. [Surge] a comida tradicional de Yum Cha que há cada vez menos, e mesas ao ar livre que foram retiradas. Os desenhos são feitos nas áreas antigas ou muito antigas da cidade e são poucos os que são feitos em áreas com torres de apartamentos onde estão localizados os raros restaurantes de Yum Cha frequentados quase só por pessoas na terceira idade. São poucos os filhos ou netos destes comensais que vão a estes restaurantes. Quase não desenho as novas áreas urbanas e os restaurantes frequentados pelas novas gerações.

Porque decidiu expor os desenhos de forma circular na galeria, a cair do tecto?

Já há muitos anos que desenho muitas páginas em forma de círculos, formando panoramas, que depois imprimo e coloco em plástico transparente para serem colocados como planos em paredes. Numa exposição colectiva, realizada por volta de 2015, em que participei com dois desenhos, um do interior da capela da Guia, outro do exterior, onde se vê o Farol da Guia, expus o primeiro círculo, mas de um modo ainda demasiado complicado. Em Outubro do ano passado, numa outra exposição colectiva, foi usado o modo de expor os desenhos que agora repito [nesta mostra]. As salas de exposição da galeria 10 Fantasia são muito irregulares, pelo que os desenhos cilíndricos suspensos do tecto libertaram as paredes e deixaram as cortinas abertas, bem como as janelas para o exterior e as portadas para a generosa varanda. Assim, entra uma brisa na sala que coloca os cilindros num movimento delicioso. Os visitantes podem entrar e sair pela varanda e na sala de exposições, olhando para as grandes árvores exteriores ou para o espaço interior ocupado pelos cilindros.

Esta mostra contém desenhos que tem feito nos últimos anos, em jeito de diário. Que lugares ou pessoas podemos encontrar nestes esboços?

São poucos os desenhos expostos que estão terminados, mas caso não venham a ser finalizados também ficarão muito bem assim. Cada desenho tem muitas páginas feitas ao longo dos anos, diria que desde há três, nove, 15 ou 31 anos, com 15 ou 45 minutos gastos em cada desenho. Por isso são desenhos antigos e recentes ao mesmo tempo. Na lista dos desenhos exposta na sala da galeria coloco-os por ordem do início da execução. Se tivesse usado a data da última vez em que foram retomados seriam quase todos trabalhos deste ano ou do ano passado. Todos nós vamos a cafés ou restaurantes várias vezes por dia, por isso é que é um tema trabalhado com muitas páginas. Em temas como espectáculos de música ou teatro os desenhos são feitos com menos páginas, ou tenho uma maior quantidade deles feitos numa só folha. Isso deve-se ao acto de ser menos assíduo, em mim, o prazer de assistir a espectáculos.

É importante para si desenhar com frequência, além do exercício habitual da arquitectura?

Sinto que desenhar o que se considera em muita quantidade é para mim uma terapia. Outras pessoas praticam mais a leitura, ou desporto, ou preferem ainda cozinhar, gastando mais tempo nessas actividades que lhes estruturam o quotidiano. O desenhar confunde-se com a profissão de artista, mas onde ganho ou ganhava honorários é a fazer arquitectura. Na arquitectura alguns arquitectos desenham, outros não. Temos três exemplos de um extremo ao outro, que são o arquitecto e pintor Nadir Afonso, que trabalhou com Corbusier, construiu arquitectura de grande qualidade em Portugal e é famoso pela pintura que fez. Corbusier deixou uma arquitectura de referência mundial e uma pintura de qualidade de segunda linha. Existe uma foto de uma reunião de arquitectos famosos onde todos têm um lápis na mão à excepção do [Walter] Gropius, que privilegiava outras capacidades de conceber arquitectura sem passar pelo acto de desenhar. No balançar entre o desenho e arquitectura, agora ocupo mais horas a desenhar, porque tenho menos trabalho profissional de arquitectura.

21 Mar 2023

Exposição de Nino Bartolo inaugurada hoje na Taipa Village

Vision Through My Eyes” é o nome da exposição de fotografia de Nino Bartolo que é inaugurada hoje na galeria Taipa Village Living Space, na Taipa Velha. Com uma longa carreira de cabeleiro, o artista local mistura a tradicional fotografia de moda com arrojadas produções de estúdio

 

A perfeição não se atinge por acaso. O cuidado com o mais ínfimo detalhe é uma das características da fotografia do cabeleireiro Nino Bartolo, como é evidente na sua exposição de estreia, intitulada “Vision Through My Eyes”, que é inaugurada hoje na galeria Taipa Village Living Space. A mostra estará patente ao público até 9 de Dezembro, no espaço sito no número 53 da Rua Correia da Silva.

“Vision Through My Eyes” resulta do somatório entre a industrialização estética e criação artística através da sensibilidade fotográfica do artista e a sua experiência enquanto cabeleireiro.

A organização do evento refere que “cada trabalho é o produto de uma mistura mestria no domínio da fotografia de moda e cabeleireiro, sem descurar o papel da maquilhagem, iluminação, encenação, design de roupa e acessórios, até ao casting de modelos.” Todas estas variantes se conjugam para dar vida a fotografias etéreas, que captam momentos e gestos fora do mundo físico em imagens “visualmente marcantes e repletas de cores vibrantes, humor e equilíbrio”.

“Temos a honra de mostrar a paixão, domínio de técnica e profissionalismo de Nino Bartolo através desta colecção de fotografia artística de moda”, refere o curador e presidente da Associação Cultural Taipa Village, João Ó.

“Dentro da indústria da moda, o cabeleireiro é uma profissão particularmente artística. Cada penteado pode ser encarado como uma escultura efémera que amplia a personalidade das pessoas, fazendo da fotografia um meio crucial para imortalizar esse momento”, acrescentou.

O curador adianta também que a exposição inaugurada hoje pode ser interpretada como a génese de uma série de mostras no Taipa Village Living Space com o objectivo de unir indústria e arte, dando espaço a talentos que consigam aliar profissionalismo e paixão artística.

“Modéstia à parte, reconhecemos que por vezes surgem raros encontros com certos indivíduos que suscitam excelentes conversas e pensamento criativo. O é caso de Bartolo, que é alguém impelido por ideais e que não se deixa prender pela rotina do quotidiano”, declara João Ó.

 

Até às raízes

Nascido e criado em Macau e com raízes portuguesas, Nino Bartolo tem construído uma carreira de cabeleireiro recheada de reconhecimentos em competições internacionais.

Antes de se mudar para Londres, onde ingressou na Sassoon Academy (que frequentou durante cinco anos), Bartolo viveu e trabalhou em Estocolmo um ano. O passo seguinte foi a entrada na escola de cabeleireiros Allilon, onde esteve quatro anos, antes de dar início a uma série de colaborações com revistas internacionais de moda e em anúncios publicitários

Desde então, a carreira profissional levou a viver em Xangai e a aprofundar a sua paixão pela moda, cabeleireiro e fotografia. O culminar desta jornada profissional e criativa pode ser apreciado até 9 de Dezembro no Taipa Village Living Space.

9 Nov 2022

Exposição de caligrafia e pintura de “Lee Chau Ping e Alunos” na FRC

A Fundação Rui Cunha inaugura na quarta-feira, às 18h30, a Exposição de Caligrafia e Pintura de “Lee Chau Ping e Alunos”, uma mostra conjunta do Mestre Lee e 43 aprendizes que colaboram nas suas aulas, oficinas e actividades artísticas. As actividades são organizadas pela Associação de Amizade das Artes, Pintura e Caligrafia de Macau, presidida por Lee Chau Ping.

A mostra dá a conhecer cerca de 44 peças de pintura e caligrafia, uma por cada participante, e reflectem a preocupação de Lee Chau Ping em ‘promover a cultura da caligrafia e pintura chinesa, bem como a arte, com o objectivo de reunir entusiastas para estudar a sua essência, para que os membros possam pesquisar, aprender e observar os outros durante estas actividades’, pode ler-se no manifesto da iniciativa.

O propósito da exposição, é ainda ‘fornecer uma plataforma para exibir as obras de pintura e caligrafia dos alunos. E é uma boa oportunidade para criar e praticar esta arte, permitindo que os alunos comuniquem com outros, cultivando a alfabetização cultural, incentivando sentimentos, enriquecendo a sua vida espiritual e levando adiante a cultura e as tradições chinesas para serem transmitidas de geração em geração’, considera o mestre.

Escola de Lingnan

Lee Chau Ping calígrafo e pintor local, é conhecido como discípulo do estilo artístico da Escola de Pintura de Lingnan. Nascido em 1959, o artista começou a sua carreira como designer de interiores, formado pelo Instituto de Design e Indústria de Hong Kong.

A paixão pelas artes vem da infância, tendo aprendido pintura e caligrafia chinesas por influência do pai, quando tinha uns seis anos de idade. O percurso académico levou-o depois para o mundo do design e da gestão de negócios. Seguiu para a Canadian Public Royal University, onde fez um Master of Business Administration, passou pela Princeton University, onde obteve um PhD em Gestão, e ainda pela Renmin University of China, para uma graduação em Administração de Empresas. A exposição vai estar patente até ao dia 25 de Junho.

13 Jun 2022

Joalharia | Peças de Cristina Vinhas expostas a partir de hoje na Casa de Vidro 

Cristina Vinhas está de volta às exposições individuais nove anos depois. “Mudanças” é hoje inaugurada na Casa de Vidro do Tap Seac, no âmbito das celebrações do 10 de Junho, e apresenta peças diferentes que pretendem chamar a atenção para a importância de preservar o meio ambiente. Para ver até ao dia 25 deste mês

 

“Mudança” é o nome da nova exposição individual de Cristina Vinhas que, nove anos depois da última mostra com o seu nome, apresenta novas peças de joalharia onde a necessidade de preservação do meio ambiente constitui a mensagem principal. Tratam-se de “peças novas feitas totalmente para esta exposição”, onde se misturam materiais como o vidro, o estanho ou o latão, entre outros.

“Esta exposição divide-se em duas partes, uma delas em que retrato o subsolo e outra o mar, a parte subaquática. Há algum tempo que trabalho nesta exposição pois tem peças especiais. Penso que é uma mostra diferente e original”, afirmou Cristina Vinhas ao HM.

Para a artista, que dá aulas de joalharia na Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau (CPM), o tema “mudança” surge devido à importância “de um ajuste na forma de estar, de nos relacionarmos com os outros, com a terra e com o mar”.

“Tem de haver mais respeito pelo meio ambiente. A exposição é uma chamada de atenção. Além da parte da beleza [das peças], o que está subentendido é o alerta para a importância da protecção do ambiente”, acrescentou a artista.

A última edição do programa oficial de celebração do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas contou com uma exposição de peças de filigrana, mas Cristina Vinhas quis trazer algo de diferente este ano.

“Seria mais adequado [apresentar a filigrana], porque tem mais a ver com a nossa alma portuguesa, é mais conotado com a nossa joalharia. Mas não iríamos repetir. Tenho alguma dificuldade em repetir as peças e colecções, mas não descarto essa hipótese. Esta mostra é também um reflexo das vivências que tenho em Portugal e na Europa.”

Menos alunos

Cristina Vinhas não tem dúvidas: jamais conseguiria fazer as peças que compõem a mostra “Mudança” se não estivesse a viver em Macau. “As peças que encontrei há alguns anos em Cantão dificilmente conseguiria encontrar numa outra zona do mundo. Tenho a minha oficina em Portugal mas seria difícil fazer uma exposição de vidro lá.

Também consegui fazer a minha exposição por estar a leccionar na CPM. Aqui faço coisas que não conseguiria fazer noutro lugar, pois estou a trabalhar com outros materiais.”

Em Portugal, aponta a responsável, “acabamos por encontrar materiais mais tradicionais, e estas peças fogem um pouco ao que é habitual na joalharia”. “Na área do vidro também apresento uma abordagem diferente. Faço a combinação do vidro com estanho e latão, que não é comum ver e penso que o resultado é bastante interessante”, frisou.

“Mudança” foi ainda possível devido ao facto de Cristina Vinhas ter menos alunos no atelier de joalharia na CPM, devido ao facto de muitos portugueses estarem a deixar o território.

“A afluência às aulas é bastante inferior face aos anos anteriores. Temos de abrir para a comunidade chinesa, pois nós, portugueses, somos poucos aqui e é difícil sobreviver se contarmos apenas com a nossa comunidade. Além disso, não podemos contar com o apoio da comunidade portuguesa. Em relação aos ateliers, temos de conquistar novos mercados e alunos”, sugeriu.

7 Jun 2022

Exposição | Mostra em Mong-Há visa quebrar estereótipos de género 

“Forget The Frame” é o nome da exposição que a Associação para o Desenvolvimento das Novas Mulheres de Macau apresenta no próximo dia 23, nas Vivendas de Mong-Há. O público poderá conhecer melhor o trabalho das artistas locais Celeste C. da Luz, Alice Ieong e Su Cheng

 

A Associação para o Desenvolvimento das Novas Mulheres de Macau [New Woman Development Association of Macao] está de regresso às exposições com a mostra que apresenta, no próximo dia 23 de Abril, nas Vivendas de Mong-Há, um novo espaço cultural criado a partir dos antigos alojamentos dos funcionários públicos.

A mostra, que termina a 15 de Maio, intitula-se “Forget The Frame”, conta com curadoria de Carol Lei e Hannah Ieong e revela o trabalho de três jovens artistas de Macau, Celeste C. da Luz, Alice Ieong e Su Cheng. A exposição gira em torno das ideias da imaginação e de liberdade criativa, no sentido de que “quem cria este tipo de trabalhos pode quebrar quaisquer estereótipos de género que existem na sociedade, ao mesmo tempo que apresenta mensagens de uma perspectiva feminina”.

Estas três artistas são, assim, convidadas a desenvolver trabalhos através de diferentes meios criativos, espelhando a sua imaginação através da arte e revelando a sua “criatividade única”. A ideia é que o público possa “ser encorajado a abandonar todas as limitações, sair da caixa e deixar-se inspirar pela possibilidade de liberdade”.

Além da exposição em si, estão previstas uma série de actividades, incluindo uma zona interactiva intitulada “Breaking the Frames in Life” [Quebrar as molduras da vida], visitas guiadas ou workshops, que estão sujeitas a marcação prévia. A ideia, com estas iniciativas paralelas, é fazer com que os interessados compreendam a temática central do evento, bem como os artistas que nele participam e os trabalhos apresentados, para que se possa “desencadear uma reflexão sob diferentes perspectivas”.

Papel feminino

Recorde-se que esta associação, criada em 2017, tem vindo a chamar a atenção, através da arte, dos papéis diversificados que a mulher pode desempenhar na sociedade local, tentando quebrar estereótipos de género que ainda persistem.

Esta exposição pretende abordar a ideia de que as mulheres, muitas vezes, “vivem dentro de estruturas que outras pessoas criam ou com base nas premissas adoptadas pela sociedade, tal como as expectativas criadas para as diferentes idades, ou segundo uma identidade social em particular ligada às ocupações, posições, interesses, talentos ou relacionamentos”.

Além disso, nos tempos actuais, a mulher “desempenha um determinado papel como filha, mulher ou mãe que pode ser estereotipado”, sendo que “as pessoas assumem que vivem como deveriam viver” e não consoante os seus gostos pessoais, acrescenta a associação na mesma nota.

A Associação para o Desenvolvimento das Novas Mulheres de Macau foi criada por “nove mulheres independentes e confiantes”, pretendo juntar mulheres de vários campos e de várias idades que vivam no território.

“Encorajamos as mulheres a descobrirem os seus próprios valores e a aceitar novas coisas. Também pedimos que as mulheres quebrem as restrições pessoais e tradicionais e sejam pró-activas, além de desenvolverem os seus talentos”, acrescenta ainda a associação.

12 Abr 2022

Cheong Kin Man participa em mostra em Lisboa e Berlim

O antropólogo e residente de Macau Cheong Kin Man, que vive em Berlim, é um dos autores que participa na exposição “Sensing the City – Sense of the City”, que estará patente ao público, entre 19 e 27 de Março, em Berlim no bairro Nova Colónia.

A mostra é organizada pot estudantes dos cursos de artes visuais e arquitectura da Universidade das Artes de Berlim e acontece em simultâneo em Lisboa, na Biblioteca de Marvila.

Doutorado em antropologia visual, Cheong Kin Man participa na instalação de arte intitulada “Arbeitspause”, que em alemão significa pausa no trabalho. O projecto foi desenvolvido em parceria com as artistas Marta Sala, da Polónia, Johanna Reichhart, da Alemanha e Costanza Rossi, do Chile, entre outros.

“Com esta instalação artística procuramos reconstituir o projecto de arte participativa com o mesmo título e que foi realizado no ano passado em Berlim, com o patrocínio do Senado e inserido na campanha estatal ‘Berlim contra a violência’”, contou ao HM.

Bandeira característica

Graças à iniciativa da artista Marta Sala foram ainda desenvolvidas cinco oficinas artísticas que visam uma reflexão colectiva, e cujo resultado será agora mostrado. “Numa das sessões públicas actuei num ritual de dança com uma bandeira costurada com um caracter chinês que significa ‘vazio’ e enverguei um traje experimental, ambos feitos por Marta Sala. Esse caracter, ou o ideograma na sua forma mais primitiva, representa uma pessoa a dançar num ritual”, explicou Cheong Kin Man.

Desta oficina artística nasceu um projecto de documentação fotográfica e textual, com uma bandeira, feito em parceria com Marta Sala, e que será agora exposto em Berlim e Lisboa.

Em termos gerais, a exposição visa explorar sensações individuais criadas pelas cidades e espaços urbanos, apresentando, em diferentes formatos artísticos, obras de arte, workshops e outro tipo de iniciativas com a presença do público. Em “Sensing the City – Sense of the City” vão ser apresentados trabalhos de audiovisual, escultura, ilustração ou fotografia, entre outros, da autoria de 50 criadores.

16 Mar 2022


Edifício Ritz | Exposição de “Fai Chun” e pintura chinesa

É inaugurada, na próxima segunda-feira, a exposição de “Fai Chun” e pintura chinesa no edifício Ritz, situado no Largo do Senado. Este é um evento promovido pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau, presidida por José Luís Estorninho, que termina quarta-feira, dia 26.

A mostra inclui 12 artistas e calígrafos da Associação das Artes de Pintura e Caligrafia de Macau, estando também programada a oferta de “Fai Chun” durante a realização do evento. Serão ainda expostas 15 obras de pintura chinesa alusivas ao novo ano lunar, do Tigre.

A abertura do evento acontece segunda-feira, às 13h30, com uma sessão de escrita de “Fai Chun”, que se repete no dia seguinte às 10h. Nessa terça-feira decorre, às 17h30, a cerimónia de abertura da exposição. Na quarta-feira, acontece uma nova sessão de “Fai Chun”, encerrando-se as actividades. A entrada é livre.

20 Jan 2022

Livraria Portuguesa acolhe exposição de livros de artista

Da pintura à banda desenhada, passando pela escultura, fotografia e arquitectura, a Livraria Portuguesa alberga a partir de sexta-feira uma exposição de livros de artista com trabalhos de mais de 50 autores portugueses e locais. Do conjunto de obras que, muitas vezes, não eram para ser ou serviram de base para criações artísticas, destaque para produções de Julião Sarmento, Blaufuks, Rusty Fox e Chong Hoi

 

 

A partir de sexta-feira, a Livraria Portuguesa acolhe uma exposição dedicada a livros de artista, que junta cerca de 68 obras de mais de 50 autores portugueses e locais. Organizada pela Associação Cultural 10 Marias, a segunda edição da “Book Hop” em Macau vai exibir publicações independentes, de pequena escala, únicas ou que tenham servido de esboço para criações artísticas ou profissionais, nas mais diversas áreas, como a escultura, a pintura, a banda desenhada ou a arquitectura.

Depois de em 2018, a 1.ª edição do evento no território ter servido, sobretudo, para mostrar o que era feito em Portugal na área, a exposição que pode ser apreciada na galeria da Livraria Portuguesa até 5 de Dezembro pretendeu integrar mais artistas locais, especialmente de matriz chinesa.

“A exposição que fizemos em 2018 foi essencialmente para mostrar o ‘estado de arte’ daquilo que se fazia em Portugal ao nível dos livros de artista. Trouxemos para Macau a maior parte dos livros e entrámos em contacto com alguns artistas locais como o Carlos Marreiros, o Alexandre Marreiros, o Konstantin Bessmertny, entre outros. No fundo, arranjámos um núcleo aqui de Macau, mas mais ligado à lusofonia digamos assim”, começou por explicar ao HM o curador da Book Hop, Paulo Côrte-Real.

“Da edição passada para esta (…) temos agora muito mais artistas locais connosco, especialmente chineses. Isto para nós é importante porque há uma diferença em termos de pensamento e de abordagem aos assuntos, entre as pessoas de Macau de matriz portuguesa e de matriz chinesa. Integrá-los neste evento é uma boa maneira de juntarmos toda a gente”, acrescentou.

A exposição conta com a participação de artistas portugueses como Julião Sarmento, Daniel Blaufuks, João Louro, Leonor Antunes, Pedro Valdez Cardoso, Pedro Pousada, Alexandre Baptista, João Miguel Barros e artistas locais como Chong Hoi, Alan Ieon, Rusty Fox, Jack Wong, Tang Kuok Hou, Yolanda Kog ou Yang Sio Maan.

Sublinhando que um dos objectivos da curadoria passa por “ir buscar o maior número possível de disciplinas”, Paulo Côrte-Real destaca a presença do recém-falecido artista multidisciplinar e “internacionalmente reconhecido”, Julião Sarmento, os trabalhos fotográficos de Rusty Fox e Daniel Blaufuks e as criações de João Louro e Pedro Valdez Cardoso nas áreas do desenho e da escultura. De referir ainda, a obra de “corte e colagem” feita a partir de revistas dos anos 20 da autoria do Anonymous Art Project.

 

Faz-se caminhando

 

Para Paulo Côrte-Real, o facto de existir uma exposição em Macau dedicada aos livros de artista pode contribuir para “abrir os horizontes” e fazer com que “mais pessoas percebam que um livro pode ser uma obra de arte”.

“Há pessoas que não fazem ideia que este tipo de objectos pode ser exposto. Tendo cuidado e construindo o conceito como uma ‘obra de arte’, um livro ou um caderno pode até acabar exposto na parede como uma pintura. Pode ser que mais tarde se aventurem a fazer também as suas criações”, acrescentou.

Sobre a exposição propriamente dita, o curador aponta que tanto a disposição como a sequência em que vão ser apreciadas as obras está ainda ser definida, mas a organização poderá respeitar motivações temáticas, cronológicas ou cromáticas. Entre os exemplares expostos, haverá ainda obras originais e outras reproduções de edições inferiores a 300 exemplares.

Perante o apoio demonstrado pelos artistas locais à iniciativa, agora em maior número, no futuro a ideia será levar mais autores locais, sobretudo de matriz chinesa, para Portugal, numa evolução de sentido inverso relativamente às origens do Book Hop, cuja primeira edição portuguesa aconteceu em Coimbra, no Centro de Artes Visuais.

“Com a inclusão de mais artistas locais queremos virar o conceito ao contrário, ou seja, em vez de trazermos os artistas portugueses até Macau, queremos dar a conhecer os artistas de Macau a Portugal. Estamos a começar a pensar nisso e na forma de concretizar esta ideia”, rematou o curador, apontando para a possibilidade de isso acontecer já no próximo ano.

17 Nov 2021

Artistas locais levam a “verdade sobre Macau” a Milão

A Casa degli Artisti em Milão recebe a partir de amanhã uma exposição colectiva de criadores de Macau intitulada “Truly False – Exploring Factualness from Macao”. Com a curadoria de Livia Dubon, os artistas locais Eric Fok, Ieong Man Pan, Leong Chon, Wong Ka Long e Wong Weng Io exibem na capital da Lombardia a verdade artística das terras da Deusa do Mar

 

Que valor e significado têm os conceitos de “realidade” e “verdade” nos conturbados dias que correm? Como podem artistas oriundos de um enclave quase mitológico e contraditório como Macau responder a estas questões através da sua visão?

Estes são alguns dos mistérios no cerne da exposição colectiva de artistas locais “Truly False – Exploring Factualness from Macao”, ou “Verdadeiramente Falso – Explorando a factualidade de Macau, que estará patente na Casa degli Artisti em Milão a partir de amanhã, até 12 de Dezembro. A mostra, com curadoria de Livia Dubon, reúne obras de Eric Fok, Ieong Man Pan, Leong Chon, Wong Ka Long e Wong Weng Io.

A relação nebulosa entre realidade e ficção traça a indefinida fronteira que dá mote à exposição. “A pandemia e as notícias falsas que se seguiram dominaram-nos, confundiram-nos e, em alguns casos, abalaram as relações com outros e a confiança nos nossos governos e valores culturais. Como é que este sentimento de incerteza se repercute num lugar “híbrido” como Macau?”, contextualiza a apresentação da mostra.

“Entre as visões eurocêntricas e a integração na China, Macau representa hoje em dia uma posição de fantasia entre reflexões pós-coloniais e a inovação tecnológica, entre ideais de colectivismo e individualismo, entre as políticas de preservação patrimonial e o diálogo com o Interior da China.” Partindo desta colecção de dicotomias, a curadora apresenta ao público italiano os trabalhos de cinco artistas de Macau.

 

 

Camadas intangíveis

As obras de Eric Fok da série “Paradise” reflectem esta multiplicidade existencial, servida em camadas sobrepostas, com representações cruzadas de horizontes ultramodernos rasgados por arranha-céus, em cima de paisagens ancestrais e edifícios com arquitectura alfacinha.

A curadora descreve o universo visual de Eric Fok como “mundos especulativos e fantásticos que distorcem as linhas entre ficcional e real, figuras renascentistas e personagens fictícios, tornando Oriente e Ocidente, passado e presente, em realidades inseparáveis”.

A estética de contraste é uma linha comum a muitos artistas que, com base na imagem de Macau, esboçaram um local imaginário que capta “desejos de fuga”.

Também o fotógrafo Ieong Man Pan navega por esses mares conceptualmente indefinidos, na série “72 dpi Landscape”.

Escapando da natureza reflexiva que costuma caracterizar a fotografia convencional, Ieong joga com imagens que, à primeira vista, parecem reproduções de paisagens naturais, mas que afinal são fotografias de plantas num cenário pobre em pixels de baixa resolução (72 dpi). Onde estará a factualidade, a verdadeira natureza num cenário falso?

Numa acepção de três dimensões, a instalação “Gate” de Wong Ka Long materializa uma fronteira. Panos vermelhos e brancos, com crus caracteres negros esmurram o espectador com frases como “doenças entram pela boca e adversidades saem pela boca”. Controlo e comportamento são dois pratos da balança artística que constitui “Gate”.

 

 

Paraíso virtual

A Casa do Artista de Milão irá receber ainda trabalhos da jovem artista Wong Weng Io da série “Confusion of Confusions”. Estas obras exploram a relação sensível entre aparelhos digitais, fluxo informativo e a origem dos mitos. A busca identitária é um dos propósitos da expressão artística de Wong. Em “Genesis” a artista junta 600 ecrãs num mosaico que forma um espelho negro, procurando encontrar o ponto entre o mundo perfeito e o paraíso virtual.

Na óptica da curadora, “o ecrã é o caos prévio à criação e o espaço que separa os planos terrestre e celestial”, onde as telas animadas se intrometem no corpo humano, anexando máquina e biologia e multiplicando uma série de gestos e comportamentos nunca antes vistos na espécie humana. Wong Weng Io pergunta onde estará a verdadeira essência humana, num mundo de repetidas acções e de explosões de estímulos artificiais.

Além das obras que compõem “Truly False – Exploring Factualness from Macao”, a Casa degli Artisti irá organizar duas palestras, que podem ser acompanhadas online, no dia 24 de Novembro, às 18h locais, e a 2 de Dezembro à mesma hora.

A primeira é sobre as descrições poéticas de Macau, “entre a realidade e a imaginação”, conduzida por Michela Graziani, professora de literatura portuguesa da Universidade de Florença. A segunda palestra será uma reflexão identitária sobre o conceito de se ser “chinês” e “italiano” e da busca por autenticidade cultural. Valentina Pedone, professora de Estudos Chineses da Universidade de Florença, é a oradora do evento.

16 Nov 2021

ARTM | Nova exposição inaugura este sábado 

“Art of Healing II” é o nome da nova exposição que a Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM) inaugura este sábado, por volta das 16h, na galeria ARTM H2H, situada nas casas amarelas da antiga leprosaria de Ka-Hó, em Coloane.

Esta mostra revela as obras feitas pelas pessoas em recuperação da dependência de drogas não apenas da ARTM, mas também de vários centros de tratamento da China, localizados em 20 províncias do país. É a segunda vez que a associação de Macau colabora com a Comissão de Narcóticos da China para este projecto.

Augusto Nogueira, presidente da ARTM, adiantou que as 90 peças estarão disponíveis para venda, sendo que esta mostra pretende revelar “a importância e valorização da capacidade das pessoas que estão em tratamento de poderem exprimir os seus sentimentos através da arte”.

Para o presidente da entidade, é também importante que estas pessoas “se sintam valorizados” e que haja uma desmistificação da ideia de que estes pacientes são criminosos apenas por consumirem estupefacientes.

Nesse sentido, é importante “fazer entender que a recuperação é possível e que estas pessoas precisam de ajuda e não devem ser punidas”, existindo em Macau “canais próprios em Macau para ajudar pessoas com problemas”, frisou Augusto Nogueira. A mostra celebra também o Dia Nacional da República Popular da China.

27 Out 2021

Exposição | “Voyage”, de Konstantin Bessmertny, patente no Clube Militar

O Clube Militar abre hoje portas a uma nova exposição individual de Konstantin Bessmertny. “Voyage” é o somatório de 17 quadros e uma escultura, quase todos trabalhos inéditos, que remetem para viagens imaginárias a partir de um só lugar. As obras que compõem “Voyage” materializam artisticamente a crítica humorada ditada pelos tempos actuais

 

Konstantin Bessmertny, artista há muito radicado em Macau, nunca teve por hábito expor com frequência em nome próprio. No entanto, as restrições de viagem impostas pelas autoridades devido à pandemia mudaram esse panorama. A prova disso é que abre hoje portas, no Clube Militar, uma nova exposição de Bessmertny, composta quase na totalidade por quadros novos, alguns iniciados este ano, outros terminados agora. Além dos quadros, a mostra conta também com uma escultura em madeira, intitulada “Naked Yoga on the Beach”. A exposição pode ser vista até 6 de Novembro.

Em “Voyage” o artista lançou-se em viagens imaginárias e, ao mesmo tempo, exercícios de viagens no tempo. É assim com os quadros “Battle of Macau. 1622”, que remete para a Batalha de Macau, travada a 24 de Junho de 1622, e que celebrou a vitória dos portugueses sobre os holandeses. Este exercício de história através do pincel é também feito no quadro “The View of Praia Grande before arrival of Jorge Álvares in 1513”, que espelha a visão do artista sobre o momento da chegada dos portugueses ao território.

“Há a ideia de que não estamos a viajar, mas podemos continuar a fazê-lo de forma imaginária ou virtualmente”, contou ao HM.

“Na maior parte dos trabalhos desta exposição construí a imagem de que podemos viajar para qualquer lado, permanecendo num lugar. Acabo por também fazer humor, mas tem muito a ver com a forma como as coisas estão a acontecer à nossa volta”, acrescentou.

Questionado se estes quadros contêm também críticas às restrições em vigor, Konstantin Bessmertny assume que sim, mas que são também “uma análise à situação que temos”. “Não podemos criticar porque vivemos com erros, tentativas. Escolhemos o caminho de saída, cometemos erros e ninguém está livre de os cometer. Mas há países mais avançados que outros ao nível da vacinação. Macau, de certa forma, está atrás comparando com a Europa e outros países em matéria de vacinação, mas aprendemos com os tempos. Quanto mais depressa nos vacinarmos mais depressa podemos passar para a fase seguinte. Apenas espero que Macau possa acelerar esse processo.”

Metáforas e questões

Konstantin Bessmertny não tem viajado porque é claustrofóbico e não quer fazer mais de 14 dias de quarentena num quarto de hotel. Assim sendo, permaneceu em Macau nos últimos meses, facto que naturalmente influenciou a sua produção artística. Para esta mostra pegou em quadros que começaram a ser pintados há muitos anos, alguns na década de 90. Konstantin Bessmertny recuperou-os e terminou-os, quando há muito se tinha esquecido dos seus detalhes.

“Não estamos a viajar fisicamente, mas viajamos numa outra dimensão. Tento mostrar outras formas de viajar, diferentes formas de ver terras longínquas.”

Em “Voyage” há paisagens tropicais, explicadas pelo facto de, no ano passado, o artista ter ficado confinado dois meses na Tailândia. “Comecei a pintar a natureza pois tinha um estúdio no meio da selva. Então surgem labirintos, imagens tropicais, algo completamente diferente.”

O artista explica que esta exposição também olha para o futuro. Konstantin fala da metáfora da sala escura com uma porta que todos desejamos abrir. A pandemia fê-lo criar mais narrativas nos seus quadros, mais interrogações, inclusivamente sobre o que se passa no mundo e no seu país, a Rússia.

“Ando a ler mais do que nunca, tenho mais tempo para me concentrar nos livros que sempre estiveram empilhados no meu estúdio. Há mais narrativas no que estou a fazer. O meu país está a passar por um período complicado. Quando é que a Rússia se vai tornar num país democrático? Quando termina esta autocracia, a ideia louca de pessoas a concentrarem o poder? É uma fase diferente da União Soviética.”

Ler tornou-se, nos últimos tempos, um elixir inspirador para pintar. “Poderia dizer que me sinto mais criativo devido à pandemia. Não tenho experiências a viajar, não vou a museus, não visito amigos. A minha fonte de inspiração vem da literatura.”

Outra das obras que o público pode rever nesta exposição é o quadro “Yam Cha. Grand Finale”, já presente numa das mostras da Bienal de Macau.

“Gosto de fazer coisas que nunca fiz antes, por isso tenho tantas séries de quadros. Não acredito que um artista tenha um só estilo, de propósito, porque é chato pintar sempre da mesma maneira. Quero desafiar-me a mim próprio, fazer algo que nunca fiz”, contou.

Uma espécie de exercício

Fazer “Voyage” foi, para Konstantin Bessmertny, o resultado de uma espécie de exercício físico. “Escolhi salas digitais, feiras de arte e galerias online, mas não é a mesma coisa. Continuo a ter de fazer [exposições presenciais], como uma espécie de exercício físico. Macau é um local muito pequeno, e penso que ter uma exposição a cada cinco anos, ou três, é mais do que suficiente, mas agora faço uma exposição por ano.”

Konstantin Bessmertny dá também aulas e também aí teve de se adaptar à nova realidade. Os quadros de “Voyage” são, portanto, o espelho das constantes adaptações que o mundo teve de fazer perante a pandemia.

“Dar aulas através do Zoom é quase como se fosse realidade virtual. Como podemos ensinar a misturar cores através do Zoom? Estamos a enfrentar uma situação absurda na maior das vezes e temos de aprender a viver com isso”, conclui.

25 Out 2021