Hoje Macau Manchete SociedadeTroca de dinheiro | Desmantelados bancos clandestinos ligados a Macau De acordo com a informação das autoridades do Interior, os três bancos desmantelados tiveram lucros anuais de cerca de 1,5 mil milhões de dólares de Hong Kong, não só com trocas de dinheiro, mas também devido a empréstimos com juros “muito elevados” O Ministério da Segurança Pública chinês anunciou na sexta-feira ter desmantelado três bancos clandestinos ligados a câmbio ilegal de dinheiro em Macau e congelados fundos no valor de 3,9 milhões de yuan. Numa conferência de imprensa em Pequim, o director adjunto do Gabinete de Segurança Pública de Zhuhai disse que a polícia da cidade vizinha lançou uma operação que culminou com a detenção de 13 suspeitos. Niu Yanjun sublinhou que entre os detidos estão Chen Mouxia e Li Mouwei, considerados os cabecilhas de dois grupos que se dedicavam à troca ilegal de dinheiro junto às Portas do Cerco. Niu acrescentou que na operação foram apreendidos 100 mil dólares de Hong Kong, telemóveis, máquinas de pagamento electrónico e cartões bancários, além de terem sido congelados fundos em contas bancárias. Na mesma conferência, o director adjunto do Gabinete de Investigação Criminal do ministério disse que a escala deste tipo de grupos criminais “cresceu rapidamente” nos últimos anos. Cheng Shiqu explicou que os grupos têm conseguido lucros anuais de cerca de 1,5 mil milhões de dólares de Hong Kong, vindos não apenas da troca de dinheiro, mas também da usura, o empréstimo de dinheiro a juros muito elevados. Males maiores Os juros elevados terão encorajado a prática de outras actividades ilegais, incluindo “crimes violentos, fraude, roubo e contrabando, afectando de forma grave a segurança e a estabilidade social” em Macau, lamentou Chen. O dirigente disse que o Ministério da Segurança Pública pediu às forças de segurança de Macau e do Interior que reforçassem a cooperação para “combater de forma severa” o câmbio ilegal de dinheiro na região. Em 3 de Junho, a agência de notícias oficial chinesa Xinhua avançou que o ministério organizou “uma reunião especial de trabalho a nível nacional” dedicada ao câmbio ilegal em Macau. O ministério indicou na altura que o câmbio ilegal está ligado ao branqueamento de capitais e a bancos clandestinos que têm servido para transferir dinheiro entre diferentes jurisdições, nomeadamente entre Macau e o Interior da China. O Governo de Macau anunciou no final de Maio que a criminalidade relacionada com o sector do jogo em casino mais que duplicou no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, de 158 para 351 casos. As forças de segurança admitiram um aumento do câmbio ilegal de dinheiro e falaram de uma tendência de “agrupamento e profissionalização”. Entre Janeiro e Março, foram identificadas 1.292 pessoas ligadas a esta actividade, sendo que 1.227 foram expulsas do território.
João Santos Filipe SociedadeEstudante burlado em 800 mil renminbis Um estudante do Interior da Universidade de Macau foi burlado em 800 mil renminbis, em mais um caso em que os burlões se fazem passar pela polícia do Interior, para assustar as pessoas. O caso foi revelado ontem pela Polícia Judiciária (PJ), ontem. Segundo os contornos apresentados, o estudante recebeu uma chamada de um número desconhecido no dia 15 de Fevereiro. Do outro lado, alguém se apresentou como pertencendo à Polícia Pública de Guangzhou, e indicou ao estudante que o telemóvel dele estava envolvido em vários crimes de burla praticados no Interior. Para provar que era inocente, o estudante ouviu do outro lado que tinha de contribuir para um “fundo de investigação”. Sem dinheiro, o estudante pediu algum tempo para fazer a transferência bancária. Depois de contar o sucedido a alguns familiares o estudante conseguiu amealhar 800 mil renminbis, que transferiu para a conta que lhe tinha sido indicada. As transferências foram feitas em diferentes tranches e ficaram concluídas a 22 de Fevereiro. Três dias depois, o estudante recebeu uma nova chamada do Centro Anti-Fraude de Dongguan. Após essa conversa, foi informado pelos perigos das burlas online e percebeu que tinha sido enganado. A vítima apresentou queixa, e o caso está agora a ser investigado pela PJ. Casos que se repetem Entre os casos de burla em que os criminosos se fazem passar pelas autoridades do Interior, houve igualmente outra situação, também com um estudante universitário, que perdeu um total de 348 mil dólares de Hong Kong. À semelhança dos outros casos, o estudante recebeu uma chamada em que era acusado de estar envolvido em burlas no Interior, pelo que tinha de ser investigado e pagar pela investigação. Se fosse inocente, o dinheiro era devolvido. Face a essa informação, o estudante fez três transferências bancárias, a primeira de 265 mil dólares de Hong Kong, a segunda de 83 mil dólares de Hong Kong e uma terceira de 37 mil dólares. Porém, quando fez esta última, a vítima recebeu uma chamada telefónica do banco a indicar-lhe que as transferências eram suspeitas. Nessa altura, o estudante percebeu que tinha sido burlado, mas o banco ainda conseguiu cancelar a transferência de 37 mil dólares de Hong
João Santos Filipe Manchete PolíticaCrime | Gangues trocam Macau por outras regiões e meios online As novas leis e as operações contra as promotoras do jogo levaram os grupos criminosos a mudar-se para outros países onde podem branquear capitais com menor controlo Os gangues criminosos que utilizavam o território para branquear capitais estão a mudar-se para outros países da Ásia, onde as leis do jogo são mais permissivas, e também para o espaço online. A informação consta de um artigo publicado na sexta-feira pelo jornal The Weekend Australian. A nova tendência é identificada por Amanda Wood, dirigente do departamento contra o branqueamento de capitais e financiamento de terrorismo na Austrália da consultora internacional Kroll. Segundo Wood, a alteração resultou das medidas das autoridades locais, que nos últimos anos lançaram uma campanha contra o sector da promoção do jogo, levando ao encerramento do que a especialista afirmou serem “canais importantes” que permitiam a lavagem de dinheiro. “Como o resultado das actividades de regulamentação e aplicação das leis em Macau, que incluíram a prisão de alguns agentes junkets, como Alvin Chau, assim como das restrições no acesso físico aos casinos, geradas pela covid-19, os operadores junket – que antes disponibilizavam canais importantes para lavar dinheiro na Austrália, Sudeste Asiático e Norte da Ásia – mudaram as suas operações para países e regiões na zona do Mecom [Mekong em inglês] com uma regulamentação mais pobre e para os meios online”, revelou Amanda Wood, citada pelo The Weekend Australian. “Os grupos que estavam activos em Macau foram obrigados a sair, devido à prisão de alguns agentes mais activos”, indicou a responsável. “Mudaram-se para áreas novas, como as Filipinas, e zonas com menos regulamentação, onde se incluem as zonas especiais económicas do Myanmar, onde podem operar sem impedimentos”, acrescentou. Campanha anti-jogo Nos últimos anos, as autoridades de Macau lançaram uma campanha contra o jogo VIP, a reboque do que aconteceu no Interior, que resultou na detenção de Alvin Chau, presidente do grupo Suncity, e de Levo Chan, presidente do grupo Tak Chun. Estas empresas eram duas das maiores promotoras do jogo dos grandes apostadores no território. Segundo a responsável da consultora, também as redes criminosas que actuavam próximas dos promotores do jogo começaram a diversificar mais as suas actividades, com foco nas burlas através da internet. “As redes criminosas que trabalhavam com as empresas junkets também começaram a explorar outras actividades, principalmente as burlas através da internet”, vincou. Nos últimos anos, o Myanmar afirmou-se como um centro internacional de fraudes, que tem visado as pessoas na China, Estados Unidos e até a Europa. Estes crimes são cometidos através do Parque KK, que de acordo com a emissora alemã Deutsche Welle tem ligações ao residente de Macau Wan Kuok Koi. O Parque KK tornou-se igualmente famoso por funcionar com base em mão-de-obra escrava, raptada com a promessa de falsos empregos, e retida no centro onde é obrigada a trabalhar mais de 17 horas.
Hoje Macau SociedadeFraude | Três detidos por troca de dinheiro falso A Polícia Judiciária revelou a existência de três crimes de troca de moeda ilegal, com recurso a notas falsas, com valores de 500 e 1.000 patacas. Os casos foram revelados ontem, em conferência de imprensa, onde a PJ anunciou ter efectuado três detenções. Os detidos têm idades compreendidas entre os 31 e 40 anos e confessaram a prática dos actos. Também indicaram que foram contactados no Interior, onde lhes prometeram que se fizessem as trocas de dinheiro, de acordo com instruções que seriam fornecidas mais tarde, receberiam um pagamento de 6 mil yuan. No entanto, os detidos, todos do Interior, negaram saber que as notas trocadas eram falsas. Nas declarações prestadas à imprensa, e citadas pelo Jornal Ou Mun, a PJ admite que esta forma de operar pode estar relacionada com uma associação criminosa e que é necessário fazer um acompanhamento do caso. O alerta para os crimes surgiu no sábado, quando foram recebidas queixas de quatro vítimas que tinham sido enganadas. As trocas foram combinadas por Wechat, com os pagamentos de 93.500 yuan, 186.800 yuan e 141.000 yuan, a serem feitos através da aplicação móvel. Porém, no encontro que aconteceu num casino local, apenas receberam notas falsas. Segundo a PJ, todos os detidos faziam parte de um mesmo grupo de Wechat, o que levou as autoridades a colocar a hipótese de se tratar de um grupo criminoso com mais membros.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesMacau, a pacífica [dropcap]D[/dropcap]esde o passado mês de Junho que se assiste a uma escalada dos tumultos e do caos em Hong Kong. O número de turistas do Continente tem vindo a decrescer significativamente e todas as actividades relacionadas com o turismo se têm ressentido bastante com o ambiente em que cidade mergulhou. Recentemente viajei até Lantau através da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Na ilha fiz um passeio de teleférico na zona de Tung Chung, habitualmente cheia de turistas. Desta vez não precisei de esperar na fila, não havia assim tanta gente. Em Macau, a calma continua e a afluência de visitantes mantém-se. A Direcção dos Serviços de Turismo prevê um aumento do fluxo de turismo de 10% a 15% nos feriados do Dia Nacional da China, no próximo dia 1 de Outubro. De qualquer forma, alguns analistas alertaram para o perigo de um decréscimo económico em Macau, que se ficaria a dever à redução do fluxo de turistas continentais que chegam à cidade vindos directamente de Hong Kong. Mas, para já, é preciso estarmos atentos e esperar pelos desenvolvimentos da situação. Os orgãos de comunicação social de Macau, bem como as redes sociais, vão apresentando análises muito diversas dos acontecimentos. E, para além de uma ou outra pessoa com um discurso mais radical, o cibermundo de Macau apresenta-se calmo, à margem de qualquer campo de batalha. Embora nas duas cidades vigore o princípio “Um País, Dois Sistemas”, vive-se em cada uma delas climas políticos muito diversos. Poderíamos dizer que em Macau a temperatura está regulada para o “morno” e em Hong Kong o botão encontra-se no ponto “em ebulição”. Vale a pena reflectir um pouco no motivo das diferenças. Hong Kong é uma cidade cosmopolita e o terceiro maior centro financeiro do mundo. É considerada a porta de circulação do capital chinês para fora do país. Em termos legais beneficia de vantagens únicas, ao abrigo do princípio “Um País, Dois Sistemas”, sobre sua “rival” Shenzhen. É evidente que a China continental compreende a importância de Hong Kong. Vinte anos após o regresso à soberania chinesa, o fluxo financeiro entre Hong Hong e a China ainda é inferior ao fluxo financeiro com o exterior. Na sequência da erradicação dos motins esquerdistas de 1967, e após Tiananmen, os sectores políticos de Hong Kong têm sido relativamente sólidos e independentes. A prosperidade e estabilidade que se têm vivido na cidade desde o regresso à soberania chinesa, devem-se, não só à intervenção da China, mas também ao extraordinário desempenho dos funcionários públicos herdados da administração britânica e ao enraízado respeito pelo Estado de Direito, o que gera confiança a nível local e internacional. É lamentável que este equilíbrio se tenha quebrado quando Leung Chun-ying se tornou Chefe do Executivo de Hong Kong, e que tenha piorado quando Carrie Lam lhe sucedeu, porque ela é uma pessoa que não abdica da sua posição. O “Movimento Contra a Lei de Extradição” é um fenómeno local. Contudo, teve lugar no período das negociações comerciais sino-americanas, o que veio complexificar toda a situação. Carrie Lam lidou com a situação como se estivesse a “dar uns açoites no filho mal comportado”. As forças da ordem deixaram de ser politicamente neutras para se transformarem em Forças de Intervenção destinadas a esmagar os motins e acabar com a violência. Há quem afirme que Hong Kong é um campo de batalha onde se degladiam oito “exércitos”, os manifestantes, as forças da ordem, as tríades, o campo pró-governamental, o campo pró-democracia, o Governo local, o Governo Central e a população em geral. Teria sido necessário ter à frente do Executivo de Hong Kong alguém politicamente muito inteligente e tolerante para gerir todos esses interesses e equilibrar a balança. No entanto, Carrie Lam foi abertamente contra a criação de uma Comissão Independente para avaliação dos danos. E sem uma solução de compromisso, as ideologias de extrema-esquerda foram alastrando pela cidade. Os conflitos entre as duas forças foram escalando e os meios a que cada um dos lados recorreu para alcançar os seus objectivos extremaram-se cada vez mais, até a situação ficar fora de controle. A fim de sintetizar a experiência da Revolução Cultural, Deng Xiaoping disse um dia, “A China deve impedir os avanços da Direita, mas sobretudo combater os avanços da Esquerda”. Esta máxima aplica-se na perfeição aos actuais acontecimentos de Hong Kong. Em Macau, a única cidade-casino legítima da China continental, as taxas do jogo passaram a ser garantia do desenvolvimento económico. Além disso, a dependência da cidade do turismo e do investimento estrangeiro retiraram-lhe a capacidade de produzir um pensamento e uma acção independentes. Ao longo das duas décadas após o regresso à soberania chinesa, os Chefes do Executivo de Macau, usaram recorrentemente o “Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico” para manter a população satisfeita e o mesmo fará Ho Iat Seng, o próximo responsável pela cidade, a fim de garantir a estabilidade e manter a paz. Não temos de nos preocupar com a presente situação de Hong Kong, porque existe um ditado chinês muito antigo que diz o seguinte: “a seguir ao caos virá um período de grande pacificação”. No entanto, não devemos confiar demasiado na continuação da paz em Macau, porque o desastre que nos trouxe o super tufão “Hato” ensinou-nos a estar preparados para o perigo, mesmo em tempos de paz.
admin h | Artes, Letras e IdeiasAfinal, é melhor retirar o que disse [dropcap]V[/dropcap]ou confessar: era eu que levava o dinheiro. Davam-me uns pacotes com molhos de notas variadas e pediam-me para entregar a tal pessoa. Não sabia quanto era, mas dava para ver que devia ser uma pipa de massa, que esta gente quando fazia as coisas era a sério, não se punha a brincar aos roubos como os banqueiros, que isso é mais coisa de meninos. Falávamos pelo intercomunicador do prédio. Colocavam a tralha no monta-cargas e eu só tinha de pegar nela. Simples. O nome do destinatário era inventado, era um código que só funcionava no acto de entrega. Mas eu sabia perfeitamente quem eram. A maioria era gente conhecida dos jornais, que precisava de maquia fresca para alguma necessidade mais urgente. Comprar um cabriolé ou um quadro cheio de pó do Miró, que dedos amigos tinham surripiado de uma colecção esquecida na cave de alguma repartição de finanças. Ou coisa parecida. Podia ser também do Bill Viola, que é um gajo que está sempre em voga. Não perguntava nada, não me intrometia em assuntos alheios e quando metiam conversa, para serem simpáticos, ou porque tinham uma vida de merda e não tinham ninguém para desabafar, eu dizia que sim com a cabeça para acharem que era meio surdo ou que tinha um parafuso a menos, e assim acabava-se logo o diálogo. Que fique igualmente neste registo, que não tenho grande paciência para desabafos. Faço o que tenho a fazer e não há espaço para mais dilações, que o mundo não pára. Corre. A verdade, é que o dinheiro chegava sempre ao seu destino com rigor de especialista, isso não posso negar. Parecia que tinha nascido para fazer aquilo, pegava com uma mão e entregava com a outra. Assim mesmo, como quem salpica umas cores num papel e faz uma obra de arte. Pensando bem, era melhor do que o Miró, pelo menos não tinha que sujar as mãos com o raio da tinta, que é outra coisa para a qual também não tenho ponta de interesse. E para dar aqueles tons é sempre preciso muitos tubos da Caran d’Ache. Não vamos falar de pintores, por favor. Bom, não sei se havia algum contabilista para toda aquela abundância, o mais certo era não existir nenhum, mas desde o primeiro dia que me cheirou a trafulhice das grandes. E como correu bem dessa vez, pediram-me mais uma e por aí adiante, até lhe perder a conta. Se me perguntarem, não consigo enunciar quantas foram as causas pelas quais andei a percorrer a avenida. Não apontava nada e tenho a memória fraca, nem uma anedota consigo contar e quando vou para entoar o hino, atrapalho-me. Mas para o resto, é isso, tinha bastante jeito para moço de recados ilícitos. Talvez um dia que precise possa arranjar um emprego nos Correios, é só porem-me à experiência. Quanto às verbas, agora, falam por aí que foram milhões. Milhares de milhões. Ninguém sabe ao certo, até podem ter sido, aquilo era muita massa. Acusaram este e aquele, que eram eles que levavam aquela fortuna de um lado para o outro e das mais variadas formas. Mas é mentira. Fui eu! Não me deu trabalho nenhum. Eu, no metro com um milhão no bolso. O que me ria. Em horas de ponta, muitas vezes com agentes da autoridade que voltavam para casa depois de um longo dia de trabalho, meio desfardados. E eu ali, com o bolo de aniversário na mão. Ou com a consola de jogos última geração. Partida. Já sei, ninguém me vai acusar porque sou gente miúda e não valho muito no mercado dos bandidos. Não ando para aí a passear-me num rolesroyce ou a ser levado para interrogatórios. Pelo contrário, tenho uma vida discreta, não saio muito e nem uso roupas de marca. É claro, ninguém conhece o meu nome. Mas isso vai mudar, basta escrever umas coisinhas e prolongar a verborreia. Ainda consigo lembrar-me de umas caras e rabiscar uns retratos, daqueles robots como o Miró fazia, cheios de cor e de tinta. Ou então dou com a língua nos dentes e tenho-os aí todos a pedir favores. Que é o que eu sei fazer melhor. Quanto às verbas, agora, falam por aí que foram milhões. Milhares de milhões. Ninguém sabe ao certo, até podem ter sido, aquilo era muita massa. Acusaram este e aquele, que eram eles que levavam aquela fortuna de um lado para o outro e das mais variadas formas. Mas é mentira. Fui eu! Por causa de todo o alarido, há uns meses, decidi fazer as coisas à minha maneira. Acabei com os recados de pouca monta. Se por acaso a encomenda era pequena, rejeitava a oferta, deixando de fazer as coisas por tuta e meia. Mas o mais importante: vou arrumar as botas. Fiz contas à vida e foi a decisão que tomei. Que se lixe a fama de ser o maior malandro do bairro. Essas intenções já desbotaram. E na verdade, não tenho fama nenhuma. Mas é desta, foi a última vez. Só mais este servicinho. Não se vai repetir. Já contei as notas, são dez mil. É o que veio. Não sei bem o que era para fazer com elas. Não apontei, esqueci-me. Dez mil notas de quinhentos é muito dinheiro. Vieram numa caixa de cartão, disfarçadas entre medicamentos para a gripe. Contei-as com redobrada atenção, parece que até lhe estava a tomar o gosto, eu que nunca liguei àquilo. O que fiz foi o seguinte: troquei o conteúdo do embrulho pela comissão que me cabia, que era sempre uma ninharia. Acabam sempre por ser uns forretas, Mas isso acabou, o que ganhava com toda esta história eram apenas umas esmolas. E assim foi, não toquei nos comprimidos para não se perder o volume e porque ainda não tenho dores. Deixei tudo na morada que me indicaram. Um hotel. Foi uma tarefa difícil, é um risco que se corre, eu sei, mas cinco milhões já dá para governar o que sobra dos meus dias. Não é preciso tirar um curso de matemática para perceber isso. A linha chegou ao fim. Fartei-me. Pensei que podia confiar neles, que não me estavam a enganar, apesar de terem sido sempre bem claros, afirmando com a seriedade que um intercomunicador pode transmitir, de que iam referir o meu nome quando fosse necessário e precisassem de um álibi. Mas não! Até hoje, nada. E leio os jornais todos, dia após dia. Não são eles que me vão agora acusar que os defraudei, com isso não tenho de me preocupar. Dinheiro não lhes falta. Para esses senhores, isto é uma pequeníssima migalha. E ninguém sabe quem sou, não há provas. Contas. Dificilmente gasto uma nota destas por semana, mas suponhamos que gasto uma. São dez mil semanas. Ora vejam, um ano tem cinquenta e duas, por isso é só fazer as contas. Não estou cá essa vida, nem pouco mais ou menos. É certo que deixo algum aos amigos chegados, companheiros em dificuldades ou com necessidades prementes. Tenho de me lembrar que tenho de o deixar escrito nalgum sítio, pode-me dar um treco de um minuto para o outro e ir desta para melhor, e ninguém vai saber que os meus desejos eram esses. Mais a família, que também precisa. Mas não posso dar muito nas vistas, não vão as pessoas achar que me saiu a taluda. Depois já se sabe como é que é, não me largam, e daí até vir a polícia é um instantinho, levam-me logo para averiguações. Tiram-me aquela fotografia que se vê nas séries de criminologia e venho de lá com os dedos todos pretos. Raio! Por isso, o melhor é não contar a ninguém, que ando nestas andanças. Porque não ando, na realidade, este assunto termina aqui. Quanto ao outro, dos pacotes que entregava sem levantar fervura, também não se vão estar agora a preocupar com questões dessas. Já foi. Ninguém soube, não quiseram dizer que era eu, agora já é tarde para isso. É deixar que os outros sejam acusados e que venham nas parangonas dos jornais, que eles gostam sempre de aparecer, enquanto cruzam as ruas da Baixa nos seus cadilaques. Portanto: bico calado! E se por ventura alguém ler isto, não vai ser fácil porque vou escondê-lo bem, espero que faça o mesmo. Já sei, vou guardá-las naquela caixa de sapatos e deixo-a dentro do armário, assim como quem não quer a coisa. Vivo num lugar esquecido, não há de vir aqui ninguém. E assim, como não tenho grandes aflições, vou-me servindo à medida das necessidades, não preciso de mexer uma palha nem de ir aos bancos. Pode ser que um dia, entre um século e o outro, precise de adquirir um telhado novo.
Sofia Margarida Mota Reportagem SociedadeAugusto Gomes colecciona mais de um século de dinheiro de Macau Começou a coleccionar notas e moedas de Macau quando andava na escola, nos anos 60. Hoje tem, provavelmente, a maior colecção do mundo “de dinheiro do território”. São 493 peças, guardadas como um tesouro, que contam a história do uso da moeda desde 1905 [dropcap]”S[/dropcap]ou uma pessoa que gosta de coleccionar tudo o que represente Macau”, começou por dizer ao HM Augusto Gomes, a personificação do coleccionismo que lhe valeu a alcunha de “sucateiro” entre os que lhe são mais próximos. O também presidente da Associação de Coleccionadores de Macau tem actualmente todas as notas e moedas que emitidas no território desde 1905, altura em que o Banco Nacional Ultramarino (BNU) emitiu a primeira nota. Filho de uma família modesta e com vários irmãos, Augusto Gomes recorda que começou as primeiras moedas do seu acervo foram de 10 avos, quando ainda andava na escola. “No início comecei a coleccionar as moedas que se encontravam em circulação, na década de 60”, conta. “Éramos muitos irmãos e todos os meses o meu avô materno nos dava três patacas para gastar na escola e que eram entregues em 30 moedas de 10 avos”. O jovem coleccionador, escolhia as que se encontravam em melhor estado de conservação para guardar e “não gastar”. Se não tinha consigo as melhores, “trocava com os irmãos”. Nos anos 70 ingressa na Polícia Judiciária, altura em que começou a ter “um pequeno vencimento”. Foi também o momento me que se começou a interessar pela recolha de notas que até aí lhe eram pouco acessíveis. “As notas são mais difíceis de encontrar e de conservar”, diz. No entanto, entre trocas com amigos e, mais tarde, participando em leilões, Augusto Gomes conseguiu reunir exemplares de todas as notas e moedas de Macau desde a sua primeira emissão. Entre a sua colecção “única”, as “peças mais valiosas” são as primeiras notas de Macau datadas do início do séc. XX. “Tenho a primeira nota que saiu logo em 1905”, conta com orgulho. Trata-se de uma nota de cinco patacas, emitida a 4 de Setembro daquele ano, assinada à mão. Chegar às primeiras notas que circularam em Macau não foi tarefa fácil. Uma das maiores dificuldades de quem tem este hobby é o estado de conservação de um objecto de papel impresso para circular. “Na altura, as primeiras notas eram emitidas num tamanho maior das que temos hoje e ninguém tinha carteira ou mala para as guardar. Eram dobradas e postas dentro dos bolsos. É por isso que foi muito difícil encontrar notas antigas e em bom estado”, explica. Augusto Gomes recorda a tentativa de conseguir uma primeira emissão de uma nota que lhe faltava na vasta colecção. “Encontrei uma nota rara de dez patacas, por acaso, numa loja em Macau. Na altura, o dono da loja pediu-me mil patacas por ela. Foi há mais de trinta anos e o estado de conservação não era bom, estava conservada em cerca de 40 por cento. Mas como ainda não tinha aquela nota, queria comprar”. O dinheiro não chegava e Augusto Gomes pediu um desconto que lhe foi recusado. “Disse-lhe que regressava no dia seguinte, mas quando lá voltei, a nota já tinha sido vendida. Perdi a nota”, recorda desgostoso. Só passados alguns anos voltou a encontrar a nota desejada num leilão. Desta vez, a alusiva peça não lhe escaparia, mas para tal teve de pagar “uma pequena fortuna”. No momento de escolher a peça preferida, Augusto Gomes destaca a última que adquiriu num leilão em Hong Kong, em 2003: a primeira emissão da nota de 50 patacas. O coleccionador preferiu não avançar com números, mas gesticula dando a entender tratar-se também da peça mais valiosa, adquirida por um valor na casa dos seis dígitos. “A base de licitação foi de apenas 60 mil, mas subiu muito. Como era a última nota que me faltava estava disposto a tudo. Ainda por cima é uma nota assinada à mão”, conta. A acompanhar a história desta peça está o facto de que as notas de 50 e de 5 só terem sido postas em circulação em 1907 porque tinham uma aparência idêntica. “Com receio de que as pessoas confundissem uma com a outra, estas notas foram postas em circulação mais tarde, depois das pessoas já estarem mais familiarizadas com este dinheiro”, diz. Dinheiro marcado De entre as notas mais antigas do espólio, algumas apresentam perfurações arredondadas. “São notas postas fora de circulação. As marcas são inutilização deste dinheiro, pelo próprio banco, feita quando as pessoas iam entregar as notas que já não podiam usar”. Encontrar estas peças não é fácil e aquelas que integram a colecção são as sobreviventes num processo que não favorecia a recolha para memória futura. “Quando as pessoas entregavam as notas, o banco furava-as de imediato e depois enviava-as para serem destruídas. Mas, alguns funcionários guardavam estas notas para recordação e acabaram por passar de pais para filhos. Mais tarde vieram também a ser vendidas em leilão”, explica. Outra característica das notas mais antigas é um rebordo em forma de picotado e que conta como era feito o registo do dinheiro na altura. Por exemplo, “a primeira nota de uma pataca em Macau levava aquilo a que se chama de talonário, é como se fosse um bilhete de cinema. Quando era entregue tirava-se o talonário que ficava no banco e servia como registo”, conta Augusto Gomes. Por outro lado, através desta colecção é possível ainda viajar pela história da região. As notas emitidas no princípio de séc. XX sublinhavam a importância das personagens histórias, que passaram pelo território, e que eram representadas enquanto símbolos da administração portuguesa. Prova disso é a impressão da imagem de Camilo Pessanha, Camões ou Venceslau de Morais. Mais tarde, “o BNU passou da impressão de personalidades para a impressão de monumentos e as Ruínas de São Paulo começaram a aparecer nas notas do território”. Por outro lado, através das notas podem-se distinguir vários períodos políticos. “A primeira nota que saiu em 1905, ainda durante a monarquia, e é por isso que ainda apresenta a coroa no reverso”, refere. Após 1910, e a coroa desapareceu da numismática de Macau. Os Pang Tang Enquanto entreposto comercial, Macau foi palco de prolíferas transacções, essencialmente em moeda de prata, muito antes da emissão da pataca. Ainda assim, a introdução do papel moeda no território não mereceu a confiança dos residentes. Quando saíram as primeiras notas de Macau, “ninguém gostava” delas. “Os residentes não gostavam e mesmo os funcionários quando recebiam o vencimento iam logo trocar as notas por aquilo a que chamamos de certificados”, os Pang Tang. “Eram uma espécie de ‘cheques’ em outras moedas, que já se utilizavam antes da emissão da pataca”. Estes certificados tinham como referência a moeda estrangeira, e eram emitidos por aquilo a que se poderiam chamar de “bancos privados”. Após 1905, este “dinheiro” circulava paralelamente à nota oficial de Macau. As pessoas não confiavam no dinheiro do BNU, mas sim, nesta espécie de cheques aos quais estavam mais habituadas e que muitas vezes tinham equivalência com a moeda de prata de cantão”, conta. A desconfiança era tal, que mesmo tendo de pagar uma taxa de câmbio, as pessoas preferiam os Pang Tang à pataca de Macau. “Na troca era acrescentada uma espécie de juro, uma taxa, como se fosse uma taxa de troca de moeda como temos hoje. Mas compensava porque nas lojas ninguém queria a pataca. A moeda do BNU só servia para pagar a energia e os impostos ao Governo. Até os bilhetes de autocarro chegavam a ser pagos com estes certificados”, acrescenta Augusto Gomes. A Segunda Grande Guerra Mundial também foi um marco na história da circulação do dinheiro em Macau por se tratar de um dos poucos locais poupados pela campanha expansionista do império japonês. “Durante a Guerra as instituições financeiras de Hong Kong e Guangdong mudaram-se para Macau onde, não tendo permissão para emitir moeda, emitiam estes certificados”. Os “bancos provados” responsáveis pelos Tang Tang começaram a não ter reserva para cobrir as suas responsabilidades. A confiança nesta modalidade de dinheiro paralela foi diminuindo e após a guerra, “o Governo proibiu o uso deste Tang Tang”, aponta. Outro momento marcante da história da pataca foram as primeiras emissões de dinheiro por parte do Banco da China. “Foi o segundo banco a poder emitir moeda de Macau, além do BNU” e acontece na sequência da preparação da transferência de administração que veio a ter lugar em 1999. As primeiras notas e moedas emitidas por esta instituição são de 1995. Metal a circular Se as notas em patacas apareceram no início do século passado, as moedas tiveram a sua primeira emissão só em 1952. Na altura, foram emitidas moedas de 0,05, 0,1 e 0,5 moedas de níquel de prata. A estas juntaram-se as de uma e cinco patacas. As moedas de uma pataca ganharam uma alcunha entre a comunidade chinesa que lhe “chamavam de pombinhas brancas”, refere o coleccionador. Em Outubro de 1974 foi emitida a única moeda de 20 patacas como celebração da Ponte Macau Taipa, a primeira entre a península e a ilha, e hoje conhecida como Nobre de Carvalho. “Estas moedas eram distinguidas pelo seu alto teor de prata, chegando a atingir o valor de 100 patacas nos anos 80”, aponta. Foi também na década de 80 que o teor português das imagens das moedas de Macau começou a mudar e a possuir mais referências chinesas. Exemplo disso é a emissão da colecção com os signos lunares, ilustra Augusto Gomes. Augusto Gomes é o guardião de um espólio único, onde reúne “modestamente”, “99 por cento de todas as notas e moedas emitidas num total de 493 peças”. Além do valor monetário, o acervo representa “um outro tipo de tesouro” tratado com toda a dedicação, até porque, “em Macau é muito complicado manter esta colecção: temos o problema da humidade que estraga as coisas com facilidade”. Reformado e com os dias totalmente dedicados ao hobby de uma vida, Augusto Gomes conserva a colecção, de que muito se orgulha, “com desumificadores, luvas, pinças e muita paciência”. Etiquetas políticas Além de notas e moedas, Augusto Gomes reúne ainda outros objectos históricos. Um colecção de 7300 etiquetas de caixas de fósforos contam a história destes objectos e do seu papel na sociedade chinesa entre 1880 até 1950. “É uma colecção muito especial, que consiste em etiquetas conseguidas antes de serem coladas nas caixas de fósforos e que espelham para toda a história do continente durante aquele tempo”, conta ao HM. As etiquetas mais antigas datam ainda do final da dinastia Qing e eram caracterizadas pela presença de animais emblemáticos como o pavão. Com a passagem do tempo as temáticas começaram a ser outras. “As etiquetas de fósforos começaram a ser usadas para informar a população das novas leis”, conta. A proibição de fumar ópio, do jogo ou da prostituição foram o mote para slogans que adornam as caixas. “Toda esta informação aparecia nas etiquetas de fósforos até à revolução de 49. Depois de 49, passou a ser cada vez mais difícil encontrar etiquetas de fósforos porque começaram a ser impressas directamente nas caixas”, lamenta.
Hoje Macau SociedadeDesmantelada rede de levantamento ilegal de dinheiro [dropcap]A[/dropcap] PJ, em cooperação, com as autoridades congéneres da China, desmantelou um grupo envolvido num caso de levantamento ilegal de dinheiro. Segundo o Ou Mun, foram detidas 21 pessoas da China, incluindo um líder do grupo, em vários apartamentos na Taipa. Os suspeitos terão alegadamente utilizado máquinas POS (point-of-sale) alteradas para possibilitar o levantamento de quantias elevadas em Macau. No total, foram apreendidos 30 milhões de patacas em dinheiro vivo e depositados em contas VIP em casinos. De acordo com informações da entidade bancária, citados pelo mesmo jornal, foram levantados 1,2 mil milhões, resultando num prejuízo de 2,4 milhões.
Hoje Macau PolíticaGoverno | GIF a partir de hoje sob a tutela da Segurança [dropcap]É[/dropcap]a partir de hoje que o Gabinete de Informação Financeira (GIF) vai ficar a funcionar na dependência e sob orientação do Secretário para a Segurança, deixando de estar sob alçada da secretaria para a Economia e Finanças. Segundo um despacho do Chefe do Executivo, publicado ontem em Boletim Oficial, o GIF tem que elaborar um relatório anual, a apresentar ao Secretário para a Segurança, sobre a actividade desenvolvida pelo GIF respeitante a cada ano civil. A mudança, que mantém inalteradas as suas competências, foi anunciada na sexta-feira, em comunicado, pelo Conselho Executivo que justificou a mudança com a necessidade de reforço da coordenação com os órgãos de execução da lei, nomeadamente no âmbito da troca de informações. O GIF é a unidade responsável pela recolha, análise e disseminação da informação relacionada com a comunicação de transacções suspeitas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo. Com efeito, desde que foi instituído, em 2006, o GIF manteve sempre a natureza de equipa de projecto.
Leocardo VozesEmprestador Neither a borrower, nor a lender be; For loan oft loses both itself and friend. Shakespeare, “Hamlet” [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]e quiseres perder um amigo, empresta-lhe dinheiro”. Este é um bordão que se torna muitas vezes verdade, infelizmente. O dinheiro custa-nos a ganhar, temos as nossas contas para pagar, e não nos passa pela cabeça passar para as mãos de alguém o produto do nosso esforço. É aos bancos e outras instituições de crédito que cabe a função de emprestar dinheiro, e vá-se lá saber porquê, não emprestam sem que devedor lhes dê garantias. Que gajos tão chatos, com os cofres a abarrotar de nota e ainda assim são unhas-de-fome. Se a quantia pretendida é elevada e o crédito está mal parado, pode-se recorrer à família, ou a um amigo próximo com que se tenha uma relação de plena confiança. Mesmo assim é preciso explicar a razão do empréstimo – ninguém empresta dinheiro apenas “porque sim”, ou porque não lhe faz diferença. Custa negar um favor a um familiar ou alguém íntimo que se encontre em dificuldades, mesmo que exista uma hipótese de ele nunca nos poder pagar. Nesses casos dizemos-lhe “paga quando puderes”, sempre com ênfase no “paga”. Se ele realmente tiver essa possibilidade, pagará o mais rapidamente possível. Só que há pessoas a quem nunca devemos emprestar dinheiro, para o nosso bem e para o bem deles, como são os casos dos jogadores compulsivos e os toxicodependentes. Mas e quando emprestamos dinheiro a alguém que não nos é muito próximo, mas consegue “levar-nos no bico”? Que tipo de pessoas são estas? Vamos usar uma quantia razoável, uma soma de dinheiro que não sendo uma fortuna, chega para pesar no orçamento. Imaginemos que emprestamos 5000 patacas, e passamos à condição de credor. O que podemos esperar do nosso devedor? O Cumpridor: Pede-nos o dinheiro emprestado, promete devolver num determinado prazo de tempo, que depois cumpre, ou até se antecipa, e ainda nos paga um jantar. Este é o tipo de pessoa a quem vale a pena emprestar dinheiro, e até contribui para que se desenvolva com ele laços de amizade. Quem não gosta de ter um amigo honesto? Fosse toda a gente como ele, e os bancos iam ter prejuízo. O Procrastinador: Este pede-nos as 5000 patacas emprestadas e negoceia um plano de pagamento: 1000 patacas cada mês, em cinco meses. Paga a primeira e a segunda prestação, mas chega a terceira e diz-nos “epá olha este mês não dá, peço desculpa, para o próximo mês pago-te 2000”. Com jeitinho, acaba por pagar ao fim de um ano – isto é, se pagar na totalidade. O Esquecido: Pede o dinheiro, diz que devolve no fim do mês. Chegando ao fim do mês, não paga, não dá qualquer satisfação e fala connosco como se não se passasse nada. Se formos pacientes, esperamos mais um mês, caso contrário, alguns dias, e recordamo-lo da dívida. Bate com a mão na testa e diz “epá! Já me tinha esquecido vê lá tu! Pago-te amanhã sem falta”. Claro, o rapaz tem mais em que pensar. Da próxima vez que pedir emprestado, fazemos ao contrário: dizemos que “emprestamos amanhã”, e depois…esquecemo-nos! O Distraído: Este é um dos maiores caras-de-pau. Primeiro vem muito encarecidamente pedir-nos o dinheiro porque teve “um grande problema”. Conta-nos o problema cabisbaixo, com o coração nas mãos, humilhado por ter chegado àquele ponto. Sentimos pena e emprestamos-lhe o dinheiro, e dizemos-lhe que pode pagar quando quiser. Passado algum tempo devolve uma parte, promete devolver o resto “em breve”, mas entretanto muda de telemóvel, janta em hotéis de luxo com a namorada, compra roupa cara e artigos de luxo e sai todos os fins-de-semana à noite. Isto antes ou em vez de nos pagar o que deve. Faz tudo debaixo das nossas barbas, e ainda tem a lata de nos contar as suas proezas noctívagas. Da próxima vez que vier a choramingar para o nosso lado, convém termos um violino à mão, para dar um efeito mais dramático à angústia do coitadinho. O Descarado: Este é como o distraído, mas enquanto o anterior é parvinho e faz sem querer, este tem a mania que é esperto e faz por maldade. Pede-nos as 5000 patacas emprestadas porque a renda está atrasada, pediu uma extensão ao senhorio, mas este recusou e ameaça despejá-lo. Diz-nos isto com os olhos lavados em lágrimas, e torna-se quase impossível dizer que não. Passados dois dias, ficamos a saber que foi para a Tailândia de férias uma semana, e cai-nos o queixo ao chão. Quando regressa pedimos-lhe satisfações, e atira-nos com um “epá a ida à Tailândia é uma coisa, a renda é outra; não vamos misturar”. Se lhe chamamos a atenção para o descaramento, irrita-se e diz “epá se soubesse não te tinha pedido nada, fogo!”. De facto, e se eu soubesse não lhe tinha emprestado, mas agora já é tarde. A Virgem Ofendida: Este combina alguns dos anteriores, e ainda remata com um “twist”. Pede-nos encarecidamente, agradece e promete pagar “o mais rapidamente possível”. Depois procrastina, esquece-se, anda distraído, e o tempo vai passando, Lembramo-lo uma vez, duas, e diz-nos sempre que “está bem”, diz que não se esqueceu e “depois paga”. À terceira vez que lhe recordamos da dívida, numa fase em que já estamos para além de arrependidos de ter confiado nele, exalta-se e começa aos berros “O quê? Já sei meu! Fogo! Epá já te pago, o que é, faz-te muita falta? Bolas, se eu soubesse não te pedia nada, caraças”. Idem, meu caloteiro amigo, idem. Por vezes tem o desplante de acrescentar “Isto tudo ‘só’ por causa de 5000 patacas?”. Estas 5000 patacas que agora para ele são ‘só’ 5000 patacas, eram na altura do empréstimo a diferença entre a vida e a morte. Em muitos casos vai contar a toda a gente que passamos o tempo todo atrás dele, que o andamos a perseguir, e aconselha aos outros que “tenham cuidado” connosco. Ficamos os maus da fita, e só faltava dizer que somos nós que estamos em dívida com ele. Depois de nos pagar – se eventualmente pagar – convém espetar-lhe com um selo no focinho. Se ele perguntar porque fizemos isso, podemos responder: “são os juros de mora…”. O Investidor: Lembram-se do cumpridor? O primeiro da lista, aquele gajo porreiro que paga e ainda agradece ou compensa-nos pela confiança que depositámos nele, e que até dá gosto emprestar-lhe dinheiro. Ora este investidor é a corrupção do cumpridor, o seu gémeo malvado. Pede-nos 5000, paga prontamente e ainda nos leva a jantar. Passado algum tempo, pede 10 mil “para tratar de um caso urgente”, devolve-nos no dia seguinte, e diz maravilhas de nós a meio mundo. A seguir pede 20 mil, ou em alguns casos pode chegar aos 50 mil ou mais, dependendo de quão embalados estamos no seu canto da sereia, e depois não paga. Alega insolvência e pede muita desculpa, se for preciso chora à nossa frente, ou simplesmente desaparece. Um conto do vigário raro, mas não inédito. O Passarinho: Emprestamos o dinheiro, e ele voa – diz-se então que foi “emprestadado”. Mais cuidado da próxima vez, companheiro.
Diana do Mar Manchete PolíticaDistribuição dos cheques pecuniários começa a 3 de Julho [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] nova ronda de distribuição de cheques pela população inicia-se no próximo dia 3 de Julho, foi ontem anunciado. Os residentes permanentes recebem 9.000 patacas, enquanto os não permanentes 5.400 patacas Com os valores inalterados, tal como os procedimentos afectos à distribuição, faltava apenas o calendário. O Conselho Executivo anunciou ontem ter terminado a análise ao projecto de regulamento administrativo relativo ao plano de comparticipação pecuniária para 2018. A nova ronda de distribuição de dinheiro inicia-se a 3 de Julho (tal como no ano passado), começando por quem recebe por transferência bancária, como beneficiários de subsídios, funcionários públicos e indivíduos que tenham registado a recepção da devolução de impostos ou demais pagamentos a cargo da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF). Segue-se o envio dos cheques cruzados para a caixa de correio pela ordem sequencial da data de nascimento, num processo que deve ser dado como concluído em meados de Setembro. São elegíveis os residentes que, a 31 de Dezembro, eram titulares do Bilhete de Identidade de Residente (BIR), sendo que a distribuição de dinheiro chega também aos que vivem no exterior. A título de exemplo, no ano passado, foram enviados para o estrangeiro 64 mil cheques, indicou o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng. Ao abrigo do plano para este ano, 656.772 residentes permanentes vão receber 9.000 patacas; enquanto 53.280 não permanentes têm direito a 5.400 patacas, com a medida a representar um encargo financeiro de 6,19 mil milhões de patacas. Entre 2008 e 2017, o Governo desembolsou mais de 43,1 mil milhões de patacas com o plano de comparticipação pecuniária, cujo objectivo passa pela partilha dos frutos do desenvolvimento económico da RAEM. A medida foi lançada a título provisório em 2008 pelo anterior Chefe do Executivo, Edmund Ho. Dados facultados recentemente pela DSF ao HM indicam que, em dez anos, mais de 50 mil cheques, no valor de quase 370 milhões de patacas, estavam por depositar, o equivalente a pouco mais de um por cento das verbas atribuídas.
Diana do Mar SociedadeSubsídios actualizados no próximo ano lectivo [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s subsídios para a aquisição de manuais escolares vão ser actualizados no próximo ano lectivo. Segundo um despacho do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, publicado ontem em Boletim Oficial, o montante sobe 200 patacas para cada um dos níveis de ensino. No caso dos ensinos infantil e primário, o apoio aumenta de 2.200 para 2.400 patacas; enquanto o do secundário vai passar das actuais 2.900 para 3.100 patacas. O mesmo despacho, com efeitos a partir do próximo ano lectivo, também revê em alta o montante do subsídio de alimentação de 3.400 para 3.600 patacas. Já o subsídio para pagamento de propinas mantém-se em todas as frentes: 4.000 patacas para os estudantes dos ensinos infantil e primário; 6.000 patacas para os do ensino secundário geral e de 9.000 para os do ensino secundário complementar. Os subsídios para pagamento de propinas, de alimentação e de aquisição de material escolar destinam-se a apoiar famílias carenciadas, pelo que são atribuídos com base no rendimento mensal do agregado familiar. No caso de uma família com dois elementos, por exemplo, o limite é de 11.160 patacas, enquanto numa de quatro o tecto corresponde a 18.690 patacas. Já para famílias de oito ou mais membros o rendimento médio mensal máximo é de 25.930 patacas.
Hoje Macau China / ÁsiaTurismo à procura de adrenalina traz dinheiro a região pobre [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]poiada no braço de uma amiga, Fang Bing atravessou a mais longa ponte de vidro do mundo, suspensa num desfiladeiro no noroeste da China, numa experiência de “adrenalina”, onde o truque é “não olhar para baixo”. “Arrependi-me quando cheguei a meio”, admite à agência Lusa Fang, uma das curiosas que viajou até ao parque natural de Hongyagu, para caminhar a quase 218 metros de altitude sobre uma plataforma transparente. Inaugurada em Dezembro passado, a ponte de Hongyagu é constituída por 1.077 placas de vidro – cada uma com quatro centímetros de espessura -, e tem 488 metros de comprimento. Fang Bing, que se deslocou cerca de 80 quilómetros desde Shijiazhuang, a capital da província de Hebei, assume ter sentido “muito medo” ao caminhar sobre a ponte. “Mas também se não tivesse sentido, não tinha valido a pena gastar 398 yuan”, acrescenta, referindo-se ao preço do bilhete de acesso à plataforma. Para alcançar a ponte é necessário subir 2000 degraus, num percurso de quase uma hora, que poderá ser evitado a partir de Maio, quando a organização inaugurar um teleférico. Em redor da estrutura, erguem-se até perder de vista dezenas de montanhas, áridas devido ao inverno seco do noroeste chinês. Outros visitantes revelam-se mais corajosos: “No início senti medo, mas quando cheguei a meio já estava bem”, conta Sheng Yuxiao, que vive a poucos quilómetros do parque. Sentada ao lado de uma amiga sobre a plataforma, Sheng diverte-se a tirar ‘selfies’, indiferente à vertigem sentida por outros visitantes. Pontes de vidro não são novidade na China, que conta já com 60 estruturas deste género, segundo a imprensa local. É também no país asiático que se encontra a ponte de vidro mais alta do mundo, suspensa a 300 metros do solo, no parque de Zhangjiajie, que inspirou as Montanhas Aleluia do filme “Avatar”. “As pontes de vidro são muito populares na China”, explica à Lusa Liu Qiqi, engenheiro-chefe da estrutura em Hongyagu. Sentado num dos restaurantes da cidade antiga de Hongyagu, onde são servidos pratos típicos da região, incluindo massa com carne de javali, Liu revela que o vidro usado nesta obra é de “tecnologia militar”. “Cada bloco de um metro tem capacidade para suportar 500 quilos”, diz. “Este tipo de vidro é apenas frágil ao impacto de objectos pequenos: varas com pontas de ferro, bengalas, ou objectos bicudos”. Liu revela que o custo de construção da ponte fixou-se em 150 milhões de yuan. Hongyagu pertence ao condado de Pingshan, no extremo noroeste de Hebei, junto à fronteira com a província de Shanxi. Hebei produz mais aço do que qualquer país no mundo – com excepção da própria China. Shanxi é o núcleo da indústria do carvão no gigante asiático – o maior consumidor de carvão do planeta. No dia em que a agência Lusa esteve em Hongyagu, um espesso manto de poluição cobria ambas as províncias e persistia no ar o cheiro a carvão. Na auto-estrada que liga Shijiazhuang e Hongyagu, a circulação de camiões carregados daquele minério negro era constante, num fluxo que o Governo chinês espera diminuir, através da promoção de outras fontes energéticas, como o gás natural ou as renováveis, parte da sua “guerra à poluição”. Só nas indústrias do aço e do carvão, a China deverá extinguir 1,8 milhão de empregos ao longo dos próximos anos. A ponte de vidro de Hongyagu parece assim ligar uma região pobre e isolada à emergente indústria do turismo chinesa, que só no ano passado facturou 5,4 biliões de yuan. “Queremos dinamizar o turismo na região, torna-lo mais competitivo”, afirma Liu. “Por isso, erguemos aqui esta ponte”.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Banca capaz de congelar contas no prazo de 24 horas Deputados e Governo obtiveram a confirmação da Autoridade Monetária e Cambial de que os bancos têm capacidade para congelar contas suspeitas em casos de branqueamento de capitais no prazo de 24 horas. A Assembleia recebeu emails de residentes com dúvidas sobre esta matéria [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá praticamente concluída a análise na especialidade da revisão dos diplomas relativos à prevenção e repressão do crime de branqueamento de capitais, bem como do diploma referente à prevenção e repressão dos crimes de terrorismo. Na reunião de ontem, os deputados e o Executivo obtiveram a garantia da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) de que a banca será capaz de congelar contas bancárias em processos de investigação de branqueamento de capitais. A medida deve ser levada a cabo no prazo de 24 horas, após decisão do juiz. “Colocou-se a dúvida se [a medida] poderia ou não ser tomada nesse prazo mas, segundo as respostas da banca e da AMCM, será possível”, explicou o deputado Cheang Chi Keong, que preside à 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Segundo o deputado, vários residentes chegaram a enviar questões à Assembleia, por email, sobre esta matéria. “Havia algumas preocupações relativamente à comunicação de movimentações suspeitas dentro de 24 horas. Foi feito um diálogo com a banca e, em resposta, recebemos a informação de que esse formato é viável. A AL tem recebido emails de residentes que falam de receios de que essa medida possa não ser exequível. Mas na resposta dada pela AMCM foi assegurado que a banca poderá levar a cabo esse formato”, disse Cheang Chi Keong. Votação até Abril O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esteve ontem presente na reunião que serviu essencialmente para limar algumas arestas, após ter sido elaborado um novo documento de trabalho para a revisão dos diplomas. Cheang Chi Keong garantiu que os pontos mais importantes já foram discutidos, prevendo que, até finais de Abril, o novo diploma seja sujeito a votação na especialidade. “Alguns receios e questões técnicas foram resolvidos. Foi acrescentada a responsabilidade das pessoas colectivas”, acrescentou o presidente da comissão. Cheang Chi Keong frisou ainda que há uma unanimidade junto dos deputados em relação à autonomização entre o crime de branqueamento de capitais e o crime que precede esse delito. “As assessorias tinham posições diferentes, mas o Governo tomou a decisão. A comissão apoia com unanimidade essa decisão legislativa do Governo e somos também unânimes em aceitar as novas alterações”, concluiu. As alterações aos diplomas de controlo e prevenção dos crimes de branqueamento de capitais e terrorismo, implementados em 2006, têm carácter de urgência para responder às “deficiências identificadas” em 2007 pelo Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais. Sem essas mudanças, o território corria o risco de ser integrado na lista negra, o que “iria afectar o crescimento de Macau, sobretudo para o sector económico e financeiro”, explicou Cheang Chi Keong.
Hoje Macau China / ÁsiaEncerrado sistema que fez sair sete mil milhões de euros para fora do país [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China anunciou ontem ter encerrado um sistema que transferiu ilegalmente 6,8 mil milhões de euros para fora do país, numa altura em que Pequim tenta travar a fuga de capitais. Em comunicado, a Administração Estatal de Divisas da China anunciou ter investigado seis empresas com sede em Shenzhen, no sul do país. Outras firmas terão usado documentos falsos ou falsificado compras ao exterior como forma de transferir dinheiro para fora do país, revelou o regulador. Entre os métodos utilizados consta ainda a transferência de grandes montantes através de várias pequenas transferências, visando despistar as autoridades. O regulador chinês disse que este ano vai “fortalecer a supervisão do mercado de troca de divisas e atacar seriamente as violações das regras do câmbio, como forma de proteger a balança de pagamentos da China com o exterior”. “Ao mesmo tempo, vamos aumentar a transparência das políticas e promover a abertura dos mercados financeiros ao exterior”, acrescentou. Ser racional No ano passado, o aumento do investimento chinês além-fronteiras, procurando melhores retornos, levou Pequim a criticar o que designa de investimento “irracional” e a adoptar uma série de restrições à transferência de dinheiro para o exterior, face à fuga de capitais, abrandamento do crescimento económico e queda do valor do yuan. Em Portugal, o país asiático tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores, comprando participações nas áreas da energia, seguros, saúde e banca. Em Janeiro passado, no entanto, o Banco de Portugal escolheu o fundo norte-americano Lone Star para negociar a compra do Novo Banco, em detrimento do fundo chinês China Minsheng Financial Holding. Apesar de ter a melhor proposta financeira, o Minsheng não apresentou provas de que conseguiria pagar o montante oferecido, devido às restrições nas transferências de divisas para fora da China. As reservas cambiais do país asiático, as maiores do mundo, caíram consecutivamente nos últimos sete meses, à medida que o banco central chinês gastou entre 40.000 e 60.000 milhões de dólares para aumentar o valor da moeda chinesa, o yuan. Em janeiro, as reservas chinesas caíram para o valor mais baixo em seis anos, ao atingir 2,99 biliões de dólares (2,82 biliões de euros), uma queda de 992 mil milhões de dólares (937 mil milhões de euros), comparativamente ao valor máximo de 3,99 biliões de dólares, atingido em unho de 2014.
Hoje Macau SociedadeAnálise | Declaração de dinheiro na fronteira sem impacto Analistas consideram que a proposta de lei que obriga à declaração nas fronteiras do transporte de dinheiro no valor igual ou superior a 120 mil patacas não vai ter impacto nos casinos [dropcap style≠’circle’]“N[/dropcap]a nossa perspectiva, a proposta do Governo [cujos principais pontos foram apresentados na semana passada], para a declaração do transporte de numerário e instrumentos negociáveis ao portador acima de 120 mil patacas na fronteira, não vai ter um impacto significativo nas receitas de jogo”, observa Chelsey Tam, analista na Morningstar Asia, num comunicado citado pela Agência Lusa. Analistas da JP Morgan, citados pelo portal especializado em jogo GGRAsia, também consideram que a medida surge “realmente com vista à adopção de padrões internacionais no âmbito do combate à lavagem de dinheiro [e] não tem nada que ver com o controlo de capitais da China, nem visa a indústria do jogo”. “Acreditamos que não se trata de um ‘apertar’ das regulações nem para a indústria do jogo nem para a saída de capital da China para Macau, ao contrário do que alguns analistas possam temer”, sublinham DS Kim e Sean Zhuang. Os analistas da JP Morgan recordam ainda que, “legalmente, os chineses apenas podem transportar 20 mil yuan em cada visita ao exterior; pelo que este limite [120.000 patacas] é já cinco vezes mais elevado do limite legal que os visitantes do interior da China têm de respeitar”. Outro dinheiro Além disso, acrescentam, os jogadores VIP “normalmente não transportam dinheiro quando cruzam a fronteira”, já que normalmente jogam a crédito ou utilizam outras formas de financiamento facultadas pelos operadores ‘junket’. A proposta de lei, que segue agora para a Assembleia Legislativa, prevê que quem não cumprir o dever de declaração incorre em infracção administrativa, punível com multa de um a cinco por do valor que exceda o montante de referência, mas nunca inferior a mil patacas, nem superior a 500 mil. A medida visa responder a uma das 40 recomendações no âmbito do combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo emitidas pelo Grupo de Acção Financeira (GAFI), que foram emitidas em 2012 e actualizadas em Outubro último. “A RAEM, como membro do Grupo Ásia-Pacífico contra o branqueamento de capitais necessita, portanto, de cumprir as aludidas recomendações do GAFI”, justificou na semana passada o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, na apresentação do diploma, enfatizando que esse modelo de funcionamento existe noutros países e territórios. O Grupo Ásia-Pacífico tinha previsto realizar uma avaliação de Macau no final do mês passado.
Angela Ka PolíticaLei Kin Iun entregou petição a Secretário para a Segurança [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ei Kin Ion, activista e presidente da Associação Activismo para a Democracia, entregou ontem uma petição no gabinete do Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, exigindo a este uma investigação a alegados actos ilícitos praticados por um grupo de pessoas ligadas à máfia. Tal como já foi noticiado, Lei Kin Iun acusa estas pessoas de terem cercado a sua habitação e de o terem obrigado a ficar em casa por ocasião da visita de Li Keqiang, primeiro-ministro da China. Durante os três dias da visita Lei Kin Iun afirma que não conseguiu sair de casa. A polícia acabou por considerar que o caso se devia a uma “disputa de dinheiro”, mas na carta entregue ao Secretário para a Segurança o activista afirma duvidar da decisão das autoridades, frisando que não conhece sequer aqueles que cercaram a sua casa. “Segundo a lei vigente, a restrição da liberdade pessoal já constitui um crime, mas a polícia usou o pretexto da disputa de dinheiro, terá feito isso de forma deliberada?”, questionou, afirmando que vai levar este caso até ao fim.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim pronto para ajudar Moçambique a ultrapassar crise [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo da China manifestou ontem em Maputo disponibilidade para ajudar Moçambique a atravessar a actual crise económica e financeira, anunciando planos para o cancelamento de dívidas e a construção de um parque industrial. Em declarações aos jornalistas no final de um encontro com o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, o embaixador da China em Maputo, Su Jian, afirmou que Pequim estuda o cancelamento de empréstimos sem juros contraídos por Moçambique, como parte do seu compromisso de apoiar o país a ultrapassar a actual crise. “Desde 2001, a China já perdoou a Moçambique 10 verbas de empréstimos sem juros, recentemente perdoamos cinco milhões de dólares e agora as duas partes estão a preparar mais perdões de dívida”, declarou Su. No âmbito da cooperação bilateral, prosseguiu o embaixador chinês, os dois países estão a preparar a instalação de um parque industrial que vai permitir que empresas chinesas transfiram para Moçambique as suas linhas de produção. “O Governo chinês vai enviar um grupo de especialistas para preparar o planeamento e a localização do parque industrial, para podemos convidar empresas chinesas e moçambicanas”, afirmou Su Jian. Su acrescentou que a implantação do parque irá permitir a criação de mais empregos, aumento de exportações e de receitas e contribuir para a diversificação da economia moçambicana. No encontro com o primeiro-ministro moçambicano, o diplomata chinês endereçou um convite do Governo de Pequim a Carlos Agostinho do Rosário, para participar na Cimeira do Fórum da Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países Lusófonos, agendada para Outubro próximo em Macau. “A presença de uma delegação oficial de alto nível de Moçambique será muito importante para o sucesso dessa cimeira”, declarou Su Jian. A China é um importante parceiro de Moçambique, mantendo uma forte cooperação em vários domínios, incluindo no campo económico e empresarial. Moçambique atravessa uma crise económica e financeira, provocada pela queda do preço das matérias-primas e dos investimentos, calamidades naturais, derrapagem da moeda nacional, subida galopante da inflação e aumento exponencial da dívida pública. Em paralelo com a crise económica e financeira, o país é igualmente assolado por violência militar, com confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e o braço armado da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido de oposição, na sequência da recusa do movimento de aceitar os resultados das eleições gerais de 2014.
Andreia Sofia Silva Manchete Sociedade“Panama Papers” | Lista tem nomes ligados a figuras do PCC Deng Jiagui, cunhado de Xi Jinping, Jasmine Li, filha de Li Peng, ou Patrick Henri Devillers, antigo parceiro de negócios de Gu Kailai, ex-mulher de Bo Xilai. Todos eles detêm empresas offshore criadas pela Mossack Fonseca e todos mantêm ligações a figuras próximas do poder político na RPC. Uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação revela Hong Kong como a região com mais intermediários [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ão familiares de antigos ou actuais dirigentes chineses, ou mantinham negócios com figuras proeminentes do Partido Comunista Chinês (PCC) que caíram em desgraça. Três personalidades chinesas e um francês surgem na lista de detentores de empresas offshores criadas pela firma de advogados Mossack Fonseca, as quais terão alegadamente servido para actos ilícitos ou para esconder fortunas e património. Os nomes são o resultado de um trabalho de investigação de um ano realizado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa) e o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, bem como outros órgãos de informação, tal como a BBC, o The Guardian e o português Expresso. Uma fuga de informação permitiu a transmissão de 11,5 milhões de ficheiros que mostram todos os detalhes da criação das offshores por parte da Mossack Fonseca, empresa que também tem sede em Hong Kong. Estão envolvidos mais de 140 políticos de 50 países, bem como 21 paraísos fiscais. Os documentos divulgados pelo ICIJ revelam que o cunhado de Xi Jinping, actual presidente da República Popular da China (RPC) e líder do PCC, Deng Jiagui, detém as empresas “Best Effect Entreprises Ltd” e “Wealth Ming International Limited”, ambas sedeadas nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo o ICIJ, Deng Jiagui fez fortuna no sector imobiliário, tendo-se casado com Qi Qiaoqiao, irmã mais velha de Xi Jinping. Em Setembro de 2009, Deng Jiagui tornou-se o único director e accionista das duas empresas offshore. A Mossack Fonseca “ajudou Deng a obter uma ‘chop’ – uma peça de metal ou uma pedra usada por empresários chineses para validar documentos em vez de assinaturas – para a Best Effect Enterprises”. O ICIJ garante que “não é claro para que é que as empresas serviam”, sendo que nessa altura já Xi Jinping era uma figura proeminente do Partido e membro do Politburo. Quando Xi Jinping se tornou presidente do país, as duas empresas de Deng Jiagui estavam inactivas. Li Xialin, filha do antigo primeiro-ministro da RPC Li Peng (entre 1988 e 1998) é outro nome que consta na lista. A vice-presidente da China Power Investment Corporation e delegada da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) detém a “Fondation Silo”, empresa de exportação de maquinaria pesada, em conjunto com o marido, Liu Zhiyuan. Essa empresa, com registo no Lichtenstein, era a única accionista da “Cofic Investments Ltd”, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas quando Li Peng era primeiro-ministro. No acto de estabelecimento da “Cofic Investments Ltd”, o advogado suíço do casal disse à Mossack Fonseca que o capital da empresa vinha de lucros obtidos em casos de apoio aos seus clientes na exportação de maquinaria da Europa para a China. O ICIJ aponta que a Mossack Fonseca não tinha conhecimento de que se tratava da filha de Li Peng. O mesmo advogado enviou um passaporte emitido em Hong Kong e uma carta que se referia a Li Xialin como “Xiaolin Liu-Li”. Desta forma era mais difícil estabelecer uma ligação com o antigo primeiro-ministro. Charles-Andre Junod, o advogado, e que foi director da Cofic Investments, negou qualquer comentário mas disse que sempre cumpriu a lei. Offshore adolescente Jasmine Li, neta de Jia Qingling, que até 2012 estava na quarta posição no PCC, tornou-se a única accionista da “Harvest Sun Trading Limited” quando ainda estudava na Standford University. Esta empresa também se estabeleceu nas Ilhas Virgens Britânicas em 2009, mas foi transferida em 2010 para Jasmine Li por Zhang Yuping, detentor da Hengdeli Holding Limited, empresa de retalho de produtos de luxo. A neta de Jia Qingling também foi a única accionista da Xin Sheng Investments, também com morada nas Ilhas Virgens Britânicas. As duas empresas offshore são as “mães” de duas consultoras estabelecidas em Pequim, as quais são detidas por Jasmine Li através das entidades das offshore. Desta forma o seu nome não aparece nos documentos públicos, o que faz com a propriedade sobre essas empresas permaneça desconhecida. A sombra de Bo Xilai Bo Xilai, antigo político em ascensão no seio do PCC, entretanto caído em desgraça, surge nesta investigação, tal como Gu Kailai, sua antiga mulher presa por homicídio. Quando foi condenado a prisão perpétua, Bo Xilai negou o depoimento da mulher sobre a compra de uma vivenda pela família na Cote d’Azur francesa, qualificando-a como “louca”. Mas a verdade é que os documentos divulgados pelo ICIJ vêm provar esse negócio. O francês Patrick Henri Devillers, que chegou a servir de testemunha no processo, foi parceiro de negócios de Gu Kailai. Os três estabeleceram os primeiros contactos em Dalian, China, e Gu e Patrick tornaram-se directores da Adad Limited, sediada no Reino Unido. O francês também ajudou a ex-mulher de Bo Xilai a estabelecer, em 2000, a “Russell Properties”, a offshore que terá servido para comprar a vivenda. Gu Kailai admitiu em tribunal que quis manter a propriedade desta casa secreta, não só para não pagar impostos mas também por considerar que deter uma casa de luxo no estrangeiro poderia não ser boa política para a ascensão do marido que estava prestes a entrar para o Politburo. A Russell Properties chegou a ser gerida por procuração, em Jersey, até que passou a ser gerida unicamente por Patrick Henri Devillers. O HM tentou obter comentários de especialistas sobre esta investigação feita à escala global, mas até ao fecho da edição não foi possível. Hong Kong lidera ligações intermediárias Não há, até ao momento, nomes na lista ligados a Macau ou Hong Kong, mas a região vizinha lidera a lista de países com mais ligações ou operações intermediárias no processo de estabelecimento das empresas. Foram realizadas 2212 operações em Hong Kong, incluindo mais de 37 intermediários activos. A Mossack Fonseca trabalhou com intermediários em mais de cem países, incluindo mais de 14 mil bancos. Para além de Hong Kong, a Suíça e o Reino Unido foram outros dos países onde ocorreram mais operações deste tipo. De Lava Jato a Putin A investigação do ICIJ tornou públicas informações ligadas a figuras como o rei da Arábia Saudita, do Presidente da Argentina e de elementos próximos do Presidente russo Vladimir Putin, o presidente da UEFA, Michel Platini, e a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón. No caso de Vladimir Putin, o jornal inglês The Guardian escreve que os documentos mostram como essas aplicações financeiras de membros do círculo fechado do presidente russo os tornaram “fabulosamente ricos”. Putin não aparece em nenhum dos registos, mas os dados revelam um padrão: os seus amigos, Yuri Kovalchuk e Sergei Roldugin, ganharam milhões em negócios que aparentemente não poderiam ter sido efectuados sem o seu patrocínio, refere o jornal. A empresa afirma que opera há 40 anos acima de qualquer crítica ou ilegalidade e nunca foi acusada de qualquer acto criminoso. Também o empresário português Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira, investigado no caso brasileiro Lava Jato, surge na lista. O portal de notícias brasileiro UOL, um dos mais de cem meios de comunicação envolvidos na investigação, noticia que a Mossack Fonseca criou sociedades em offshores para pelo menos 57 indivíduos já publicamente relacionados com o esquema de corrupção na Petrobras. Idalécio de Oliveira terá aberto várias empresas offshores em paraísos fiscais, meses antes de vender à Petrobras parte de um campo de petróleo no Benim, em 2011. Primeiras baixas A investigação do ICIJ já trouxe consequências para a Islândia, já que o primeiro-ministro Gmundur Davíð Gunnlaugsson, deverá enfrentar na próxima semana pedidos de eleições antecipadas, por ser um dos visados. Entretanto, a Austrália está a investigar 800 cidadãos por possíveis evasões tributárias após a divulgação da lista de nomes, alegadamente envolvidos em esquemas de corrupção com offshores. “Actualmente identificámos mais de 800 contribuintes (australianos) e ligámos mais de 120 deles a um fornecedor associado de serviços situado em Hong Kong”, disse o departamento australiano de impostos ao diário The Australian Financial Review. Segundo a estação local ABC, os suspeitos australianos estão sobretudo ligados à “Popular Corporate Service Limited”, um dos fornecedores de serviços “offshore”, que procura os serviços da empresa de advogados panamiana Mossack Fonseca para alegadamente contornar a lei. HM/LUSA Tudo começou em Hong Kong As primeiras suspeitas surgiram com o caso Thomas Chan Kui-yuen, ligado a uma das maiores empresas de imobiliário da Ásia, a Sun Hung Kai Properties (SHKP). Thomas Chan foi condenado a cinco anos de prisão em 2014 por ter pago altos subornos a Rafael Hui, número dois do Executivo. Em 2012, quando o processo de investigação ainda decorria, a Mossack Fonseca tentou encerrar a Yorkshire Limited, onde Thomas Chan Kui-yuen teria sido director durante 20 anos. Aí ter-lhe-á sido comunicada pela SHKP que a empresa Yorkshire Limited não tinha quaisquer objectivos. Foi então que a empresa de advogados descobriu a prisão de Thomas Chan e foram levantadas dúvidas quanto à sua legalidade enquanto director. A Mossack Fonseca continuou a pedir mais documentos, incluindo a identificação do empresário, caso as autoridades pedissem dados sobre a empresa. Mas a SHKP recusou fornecer mais detalhes, afirmando que a empresa tinha estado “inactiva há muitos anos”. Apenas três meses depois, a SHKP forneceu as informações, permitindo à Mossack Fonseca dissolver a Yorkshire Limited. Foi a prisão de Thomas Chan que despoletou o debate sobre se a Mossak deveria ter rompido com os seus clientes mais ricos ou não. O dono da empresa, Ramon Fonseca, já veio dizer que nada tem a ver com o que os clientes fazem.
Filipa Araújo PolíticaOrçamento | Governo chamado a justificar gastos e PIDDA [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Chan Chak Mo, considera ser necessário o Governo dar mais explicações quantos aos gastos previstos na Lei do Orçamento de 2016, agora em análise na especialidade, depois de aprovada na generalidade na semana passada. “Hoje ouvimos a nossa [equipa de] assessoria económica que diz que há falta de informações [na proposta de lei]”, começou por dizer Chan Chak Mo, dando como exemplo o caso do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA). A Comissão considera que, entre o período de Janeiro a Setembro, o orçamento peca por falta de informações importantes. “Ainda no PIDDA, sabemos que constam 18 projectos que compreendem construções e grande reparações (…) com um valor bastante avultado de 145 mil milhões [de patacas], mas há falta de informações sobre estas obras”, apontou o presidente, indicando que espera que o Governo pormenorize os gastos já na próxima reunião com a Comissão, agendada para quarta-feira. Alexis na cadeira As informações suplementares já atribuídas à Comissão sobre o orçamento para o próximo ano não são, portanto, suficientes. A Comissão notou ainda que o Gabinete para os Assuntos Sociais e Cultura registou um aumento notório nas despesas previstas, sendo por isso necessário que o Governo justifique esta previsão de gastos. “Verifica-se [no Gabinete para os Assuntos Sociais e Cultura] um aumento bastante significativo no que diz respeito às despesas para o próximo ano”, apontou Chan Chak Mo, sublinhando que na próxima reunião conta com a presença de vários representantes do Governo. Em relação aos outros serviços, Chan Chak Mo explica que a Comissão irá convidar os respectivos representantes para reuniões futuras para “conhecer a situação de cada” um.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemFamílias numerosas, uma realidade cada vez menos visível [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]e Maria mandasse no seu corpo, se os partos não deixassem marcas, se o relógio o permitisse, teria tido seis filhos. Não conseguiu. “Comecei a sentir-me mais fraca assim que tive o terceiro filho, mas por mim teria mais.” É assim que esta residente de Macau, há 22 anos, conta ao HM a sua experiência nas lides da maternidade. Hoje, Maria (nome fictício), funcionária pública, está apenas com o seu filho mais novo, de 14 anos. Em casa. Os outros dois já estão a estudar no Reino Unido e Austrália e seguiram outro rumo. A família de Maria foge à regra do que se passa com a maioria dos casais em Macau e nos países ditos desenvolvidos: não vão além dos dois filhos e nem querem pensar em ter uma família numerosa. Aqui, há condicionantes próprias: inflação, falta de espaço, incapacidade na compra de uma habitação, falta de vagas nas escolas e creches. Maira Belati conseguiu contorná-las e teve seis filhos. Casou com António Martinez em 1998 e foi com ele que construiu a sua família. Nascida no Rio de Janeiro, depois de ter vivido em Espanha, Maira vive em Macau há muitos anos e fala de um projecto familiar feito à imagem de Deus. “Desde que eu e o António nos casámos abrimo-nos à vida e não pomos nenhum obstáculo (meios contraceptivos) à vinda dos filhos. Os filhos vêm como sendo uma bênção nas nossas vidas, como um presente de Deus. Com eles aprendemos a dar-nos, a amar de verdade sem esperar nada em troca”, contou Maira ao HM, por e-mail. O dia-a-dia profissional de Maira Belati e António Ramirez é também ele feito com crianças, pois dirigem a Maranatha Arts Society, que trabalha com as escolas na organização de actividades extra-curriculares e eventos de animação. Ao fim de tantos anos em Macau, Maira Belati assume que este “não é um lugar fácil para uma família numerosa”. “Não há ajudas, não está bem visto. Hoje em dia ter uma família numerosa é ir em contra corrente. Mas tenho que reconhecer que a sociedade de Macau sempre nos tratou muito bem, os meus filhos falam chinês, pensam em chinês e amam os chineses que aqui habitam.” Apesar de em Macau e Hong Kong não existir a política do filho único, como há no continente, Maira Belati considera que muitos não compreendem os casais que procuram ter mais do que um rapaz e rapariga. “Para a comunidade chinesa, se estás à procura de ter um rapaz porque só tens raparigas, aí compreendem. Mas como no meu caso, que tenho três rapazes e três raparigas, todos do mesmo matrimónio, então é impossível compreenderem”, aponta. Fila na creche de madrugada Moon Tin é chinesa, tem 36 anos e é mãe de três filhos. As dificuldades de que fala Maira Belati sentiu-as na pele: chegou a estar numa fila às quatro da manhã para conseguir uma vaga numa creche e até pediu ajuda a 40 amigos de Macau, Hong Kong ou Taiwan para que acedessem ao site de inscrições das creches, por forma a obter um lugar para os filhos. Moon Tin trabalha numa empresa de relações públicas e, juntamente com o marido, designer de Taiwan, mantém uma loja de vestidos de casamento. Aos domingos têm de fechar o espaço para conseguirem estar em família, mas é um dia de rendimento que perdem. “O Governo deveria oferecer mais apoios às famílias que têm mais de três filhos”, defende ao HM. “Em Taiwan, ter um bebé dá direito a ganhar dez mil patacas do Governo. Em Macau só recebemos 1100 patacas de subsídio de maternidade, devemos pedir dentro de um ou dois meses e temos de contribuir com um certo montante para o fundo de segurança social. Isso é menos humanitário e não corresponde à inflação.” Junto da comunidade chinesa, ter mais do que um filho também pode representar mais apoio aos pais na velhice. “Devido ao envelhecimento da população, ter pelo menos três filhos ajuda a dividir o encargo da velhice no futuro. Caso contrário, só com um filho, a pressão será grande”, defende Moon Tin. O sufoco económico existe. Moon Tin conta que sente grandes diferenças em relação ao tempo em que só tinha um filho e acredita que os salários que ganham podem não ser suficientes para sustentar toda a família, pelo que procuram por novas formas de rendimento. A ajuda da empregada Para além dos pais e dos avós, que dão uma ajuda a cuidar dos netos, ter uma família numerosa em Macau implica quase sempre pagar uma empregada doméstica. Moon Tin gasta por mês cinco mil patacas com a sua empregada, incluindo 14 dias de férias e os bilhetes de avião. “Só com boas condições é que conseguimos que uma empregada aceite o trabalho, e ela deve ser de confiança, porque não estamos sempre em casa.” Apesar de uma empregada doméstica ser uma grande ajuda, nem sempre as mães confiam numa pessoa estranha para cuidar dos seus rebentos. Maria conta que as suas colegas de trabalho têm esse receio. “Quando criei os meus filhos não tive dificuldades, porque era muito fácil arranjar as creches que nós queríamos. Tive uma empregada quando tive a minha segunda filha. Mas antes de 2002 as coisas não eram tão difíceis. Agora penso que as coisas estão cada vez mais caras, e mesmo com as empregadas, as minhas colegas têm muito receio de deixar os filhos bebés com as empregadas ou com as mães. Há alguma falta de confiança.” Maria, que sempre trabalhou para o Governo, defende que “os funcionários públicos têm apoios suficientes” para terem mais filhos, mas que o mesmo não se passa no sector privado. “Talvez (pudesse) dar mais tempo na licença de maternidade, porque quem está na privada tem apenas um mês.” As experiências destas mães poderiam encaixar em qualquer família de classe média, embora nem todos consigam suportar a despesa mensal de uma empregada. Dados fornecidos ao HM pelo Instituto de Acção Social (IAS) mostram uma despesa mensal do Governo em cerca de um milhão de patacas, para 112 famílias com mais de cinco filhos. Paul Pun, secretário-geral da Caritas, conhece alguns casos, que acredita estarem a diminuir cada vez mais. “O número de grandes famílias está a diminuir em relação ao passado. Há duas semanas conheci uma família com seis filhos, e o pai tinha acabado de deixar a prisão e tinha uma deficiência. Mas esta família está a receber apoio do IAS e todos os filhos estão felizes. Temos ainda uma família com dez filhos que recebe apoio da Caritas, e estão todos bem. Mas não temos muitos casos com pais que tenham mais de seis filhos.” Tal como na maioria dos países desenvolvidos, ter uma família numerosa em Macau implica enfrentar muitos olhares cheios de interrogações e estranheza. “A geração mais nova acha um pouco estranho, o que querem agora é gozar mais a vida, coisa que os pais não fizeram. Então o número de filhos condiciona muito. Acham que ter dois filhos é o suficiente e dá-lhes tempo para gozar a vida”, acredita Maria. *Com Flora Fong
Hoje Macau PolíticaPZ – “Sem Ponta Por Onde Se Pegue” “Sem Ponta Por Onde Se Pegue” Se tens problemas com o passado Abre uma janela para o futuro Se tens problemas com o presente Quebra a tua quebra recorrente e vem Oh Malhão Malhão Parte a partitura e vem Oh Trim Tim Tim Se te encontras congestionado Expulsa o atum da narina Se te encontras amachucado Deixa o teu corpo na oficina e vem Oh Malhão Malhão Quebra a tua quebra e vem Oh Trim Tim Tim Não tenho mais Voto na matéria… Sem ponta por onde se pegue Sem ponta por onde se pegue Sem ponta por onde se pegue Não tem… PZ
Carlos Morais José EditorialUma baforada de bom senso [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hui Sai On tem razão quando diz que a quebra das receitas do Jogo nada tem a ver com proibição de fumar. Mas não tem a razão toda e os números que as operadoras hoje apresentam são disso testemunho. Se pensarmos um pouco, não é do interesse das operadoras que se fume nos casinos. Estou convencido que os seus donos prefeririam um ambiente mais saudável para todos. Por isso acredito mais nos dados agora revelados, no que na estatística apresentada pelo Governo, certamente através dos Serviços de Saúde, os mesmos que montaram a campanha mais fundamentalista que alguma vez aconteceu em Macau. De facto, não vislumbramos que interesse poderiam ter os casinos em albergar fumadores, se não soubessem que uma parte significativa das suas receitas desaparecerão com o fumo. Sobretudo, nas salas VIP, afinal onde se realiza diariamente a mais importante recolha de dinheiro para os cofres das operadoras, da RAEM e da população de Macau. [quote_box_right]E é bom não esquecer também que, sendo a maior parte do dinheiro aqui gasto de cidadãos chineses e de origem chinesa, é muito bom para o país que parte desse dinheiro fique em terra chinesa e não desapareça para os cofres e as economias de outros países.[/quote_box_right] (Interessante o facto do estudo governamental ter feito um “referendo informal” à população, tendo obtido o resultado de 70% a favor da proibição total do fumo nos casinos. Não se percebe bem é porque razão a população há-de ter opinião sobre isto, que não a afecta directamente, e não sobre… outras coisas. Esperamos que tenha existido uma cuidadosa protecção dos dados pessoais dos “referendados”.) A verdade é que nem sempre a realidade nem se curva perante os nossos desejos e tem aquele mau feitio de ir contra o que nos parece mais lógico, mais saudável e etc.. Basta, contudo, um pouco de bom senso para que se encontre uma alternativa ou várias alternativas que deixem todos satisfeitos. É por isso positivo que o Governo não se incruste na “tolerância zero” e deixe aberta uma porta aberta à negociação. Se assim fizer, mais não mostrará que entende a realidade da cidade que governa e, nesse sentido, não correrá o risco de ver biliões a serem desviados para outros casinos das redondezas que, provavelmente, estão a esfregar as mãos de contentes com esta atitude da RAEM. E é bom não esquecer também que, sendo a maior parte do dinheiro aqui gasto de cidadãos chineses e de origem chinesa, é muito bom para o país que parte desse dinheiro fique em terra chinesa e não desapareça para os cofres e as economias de outros países. Uma baforada de bom senso, na hora certa, tem evitado enormes descalabros. Agora precisa-se.