Nancy Vieira, cantora cabo-verdiana: “As mornas não me fazem chorar”

Acaba de lançar um novo disco depois de um interregno desde 2018. “Gente” é o espelho de todos os músicos e compositores que têm trabalhado com Nancy Vieira, cantora cabo-verdiana que tem feito carreira em Portugal. O HM falou com a artista à margem do “Alentejo à Sombra – World Heritage Festival”, na vila de Cabrela, onde não foi esquecida a influência de Cesária Évora e o poder da morna em quem a ouve e dança

 

Tem um novo álbum, que acaba de ser lançado, “Gente”. Fale-me deste novo trabalho.

O nome diz tudo. “Gente, gente”. É a primeira vez que me aventuro na produção musical, mas não estive sozinha. Diria que a produtora principal é a Amélia Muge, o companheiro de vida e de música da Amélia Muge, José Martins, e eu. Chamei a minha “gente” destes anos todos, de quase 30 anos de vida de música para me ajudarem nos arranjos. Tive muito cuidado na escolha do repertório, não sou autora e tenho pouca coisa minha. Sou intérprete de vários autores cabo-verdianos e não só, no caso deste disco. As músicas chegaram em maquetes, com voz e guitarra, muito simples, mas já muito bonitas. Vinham já quase com uma vida própria e beleza. Este disco tem música tradicional de Cabo Verde, tem morna, tem coladeira, mas traz música da Guiné-Bissau.

País, aliás, onde nasceu.

Muitas pessoas não sabem, mas sou uma cabo-verdiana que nasceu na Guiné-Bissau. Essa é outra guerra minha porque não conheço bem a Guiné, nunca vivi lá, e a minha ligação com o país faz-se muito através da cultura e da música em particular. Por parte também de músicos e colegas que conheci já aqui em Portugal. Já tenho mais vivência de Portugal do que de Cabo Verde. Vim para Portugal com 14 anos. Não podia ficar de fora [do disco] a minha vivência com músicos portugueses que conheci aqui. Faço música com cabo-verdianos, e a base daquilo que faço é a música tradicional de Cabo Verde, mas fui recebendo, desde o primeiro momento, convites de músicos portugueses [para cantar], tal como Rui Veloso, a Ala dos Namorados, João Gil e o Júlio Pereira. Para este disco convidei alguns portugueses, como o António Zambujo que canta comigo o “Fado Crioulo”. “Rosa Sábi”, uma música deste novo trabalho, era, aliás, música tradicional portuguesa, mas demos um toque e aproximou-se do “sambinha” cabo-verdiano, a coladeira sambada.

Portanto, cabe mesmo toda a sua gente neste trabalho.

Cabe todos os que me têm acompanhado, que gostam de mim. Há a identidade da música de Cabo Verde, mas depois não há fronteiras. Aqui neste disco não tem mesmo: parte de Cabo Verde e viaja, vem de outros lugares até Cabo Verde. As nossas fronteiras são o mar.

É uma ode à lusofonia?

Também, mas sem pensar muito nisso. Tenho um músico peruano, por exemplo, o Jorge Cervantes, que produziu um disco meu de 2007. É um hispânico, e está comigo na estrada, agora, toca baixo e Charango. Tenho também o músico Olmo Marín, basco, espanhol, que toca comigo desde 2017. Há a lusofonia, mas há mais. Angola também aparece, pois tenho um dueto com Paulo Flores. “Fogo Fogo”, é um tema em que faço dueto com um grupo português que faz Funaná.

Porque é que não compõe mais?

Desde pequena que faço canções e duetos com os meus ídolos. Habituei-me a cantar grandes canções e poemas, grandes poetas cabo-verdianos, e não só. Sou muito exigente e tenho a certeza que não tenho esse dom. Canto (risos). Acho que fiz duas canções, com letra e música, tenho uma canção em co-autoria com a querida Sara Tavares. Foi feita em jeito de brincadeira, na minha casa.

Cesária Évora está ainda muito presente. Há quem diga que segue o seu legado, que é a nova Cesária. O que sente quanto a isso?

Não há ninguém parecido com a Cesária na sua interpretação e forma de estar. Isso não existe. A Cesária inspira-nos a muitos e muitas, e não me importo muito com a comparação, pois acho que quando o fazem é no sentido bom, é quase um elogio, mas não há ninguém como ela e não é intenção minha ser como a Cesária.

Quer ter a sua própria voz.

Cada um de nós tem a sua própria voz. A Cesária é única, cada um de nós, no nosso percurso, únicos. Mas é, sem dúvida, uma das grandes inspirações. É um orgulho ver nas minhas viagens e concertos em lugares longínquos a forma como ela deixou a imagem de Cabo Verde nas pessoas. Isso orgulha-me muito e comove-me, além de aumentar a minha responsabilidade. Eu, e muitos outros, continuamos esse legado.

Não gravava um novo disco desde 2018. Porquê?

Foi tudo muito natural. Houve alguma promoção e concertos com esse disco [Manhã Florida]. Os discos também têm um tempo de vida e de palco. Fiz muitos concertos, mas depois chegou a pandemia, que estragou tudo. Não foi nenhuma coisa pensada, e depois este disco [Gente], chegou a seu tempo.

Todos os discos têm o seu tempo para chegar.

Têm o seu tempo próprio. Tenho alguns anos de carreira e em 2025 conto com 30 anos desde o lançamento do meu primeiro disco, mas tenho poucos discos. Nunca senti necessidade nem pressa de gravar. Fui tendo a sorte de ter concertos, de cantar muito cada disco, cada repertório. Mas há muitos artistas que sentem que têm de fazer pausas, e posso vir a sentir isso. Mas agora tenho este rebento. Um disco é como um filho, e estou muito babada.

O que é que estes 30 anos lhe trouxeram?

Ensinaram-me muita coisa, sobretudo uma coisa importante: a magia da música de Cabo Verde. Como toca às pessoas, chega a elas, e ensinou-me também que é bom trabalhar em grupo. Tem tudo a ver, lá está, com este trabalho, “Gente”, em homenagem às pessoas que me ajudam. Continuo a aprender e vou continuar sempre.

O batuco é também tradicional de Cabo Verde, da ilha de Santiago. Tem estado mais nos palcos, é algo também positivo?

Claro que sim. Quantos mais géneros se popularizarem, melhor. A morna é a mais conhecida, mais transversal a todas as ilhas. O batuco é específico de Santiago.

Quais as grandes mensagens associadas ao batuco?

Inicialmente eram cânticos de trabalhos da terra, feitos por mulheres.

Então acaba por ter uma conotação colonial.

Sem dúvida. Houve alturas em que o batuco, sobretudo a dança, o “torno”, eram proibidos. É uma dança com alguma sensualidade, porque mexe muito com a parte do corpo feminino, e que foi proibido durante muito tempo. O funaná da ilha de Santiago também foi proibido e hoje é popular. Há muitos géneros de Cabo Verde que vão sendo divulgados. Há géneros específicos da ilha do Fogo, como o “Bandeira”, que não são muito conhecidos em Portugal, porque a morna e as batucadeiras foram avassaladoras.

O que é que a morna tem que faz deste estilo musical tão especial?

Diria que é muito difícil responder por palavras. Vou usar palavras do João Monge. Ele diz que é letrista, eu digo que é poeta. O João diz que a morna e estes géneros de Cabo Verde têm uma melancolia feliz. Algo que parece contraditório, mas que percebo perfeitamente. A mim as mornas não me fazem chorar, por mais tristes que sejam as letras. A nossa música é riquíssima em variedade de géneros, com as diferentes ilhas, mas a morna é transversal, e não toca apenas cabo-verdianos.

A classificação da morna como património pela UNESCO foi tardia?

Foi bem-vinda. Não penso na questão tempo, e tenho muito orgulho em ter estado em Bogotá, na Colômbia, nessa reunião, em Dezembro de 2019, onde a morna entrou para a lista dos patrimónios culturais imateriais da humanidade. Cantei uma hora e meia, muito nervosa, porque não estava no meu ambiente. Não era um ambiente de palco e espectáculo, era um ambiente de reuniões. Tínhamos espaço para um violão e um microfone para cantarmos morna e meia (risos).

Sentia a responsabilidade de estar a representar o seu país.

Estava. Nesse dia estávamos todos nervosos e eufóricos. Foi um dia muito feliz. A nomeação chegou em boa hora e posso dizer que essa candidatura foi muito inspirada pela candidatura do fado e pela equipa que a preparou, que deu um grande apoio.

O fado, que é também uma música melancólica, mas triste, ao contrário da morna.

Talvez triste, mas são músicas parentes, irmãs.

2 Jul 2024

Cabo Verde está hoje sob a atenção dos EUA e da China

Cabo Verde está hoje sob a atenção dos Estados Unidos da América (EUA) e da China, ao acolher uma visita da administração norte-americana e outra de uma delegação chinesa ligada a um fundo de capitais. Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, inicia em Cabo Verde um périplo por África que o vai ocupar até sexta-feira, passando também pela Costa do Marfim, Nigéria e Angola.

“Ao longo da viagem, o secretário irá destacar como os Estados Unidos aceleraram a parceria desde a Cimeira de Líderes EUA-África, incluindo em áreas como clima, alimentação e segurança sanitária”, anunciou o Departamento de Estado norte-americano, em comunicado.

Por seu lado, “Cabo Verde espera aprofundar os laços históricos de amizade com os Estados Unidos da América e delinear novas formas de parceria em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável”, referiu Ulisses Correia e Silva, primeiro-ministro cabo-verdiano.

Ulisses Correia e Silva assinalou o “grande compromisso” dos dois países com “valores universais”, assumindo ambos o papel de estados de direito democrático, respeitando os Direitos Humanos.

Entre dois gigantes

A visita de Blinken acontece um mês depois de Cabo Verde ter sido considerado elegível para um terceiro programa de financiamento do Millennium Challenge Corporation, agência governamental independente dos EUA – um apoio de ajuda pública ao desenvolvimento, com valores por definir, destinado à integração económica regional.

A deslocação coincide com a visita ao arquipélago de uma delegação do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China – Países de Língua Portuguesa (CPD Fund), que vai decorrer de segunda a quarta-feira, com o objectivo de “fortalecer a cooperação entre a China e Cabo Verde em matéria de investimento e identificação de oportunidades de negócios nos sectores estratégicos do país”.

Durante a estadia em Cabo Verde, a comitiva chinesa vai reunir-se com diversos departamentos e entidades governamentais. O Governo de Cabo Verde reiterou, na quarta-feira, o compromisso com o princípio de “uma só China”, após as eleições de dia 12, em Taiwan, que levaram à William Lai à liderança da ilha.

23 Jan 2024

Macau Legend | Activistas propõem investigação científica em resort

Um grupo de activistas cabo-verdianos, que em 2015 ocupou um ilhéu na Praia contra a construção de um complexo turístico, propõe um pólo de investigação ligado ao mar, após abandono do projecto por parte dos investidores de Macau.

“O ilhéu devia ser uma extensão das universidades para estudar o nosso mar, que é muito vasto”, sugeriu Adérito Tavares, um dos membros do movimento social “Korrenti di Ativista”, que em Agosto de 2015 acamparam no ilhéu de Santa Maria, defronte da cidade da Praia, em protesto contra a construção do empreendimento turístico que estava previsto para o local.

Na semana passada, o grupo Macau Legend Development anunciou que decidiu abandonar o projecto ligado ao jogo, para apostar em iniciativas ligadas ao entretenimento e turismo de iates. Na altura, os activistas defendiam que o empreendimento de David Chow iria servir sobretudo para trazer para o país “lavagem de capitais, prostituição e turismo sexual”.

9 Out 2023

Jogo | Macau Legend abandona projecto para hotel-casino em Cabo Verde

Com as obras do hotel Djeu-Praia por terminar, o presidente e director executivo da Macau Legend Development, Li Chu Kwan, confessou que até 2025 a empresa vai abandonar o projecto em Cabo Verde e as operações no Camboja

 

O presidente e director executivo da Macau Legend Development anunciou que a operadora de jogo decidiu abandonar o projecto para um hotel-casino no ilhéu de Santa Maria, na capital de Cabo Verde, Praia. Numa entrevista à televisão de Hong Kong TVB, transmitida na noite de quarta-feira, Li Chu Kwan disse que a Macau Legend pretende encerrar as operações tanto em Cabo Verde como no Camboja até 2025.

O executivo justificou o abandono do hotel-casino em Cabo Verde com a vontade da empresa, fundada pelo empresário David Chow, de reduzir o investimento no jogo e apostar em projectos ligados ao entretenimento e turismo de iates. No passado mês de Junho, a Macau Legend anunciou planos para vender o empreendimento integrado de jogo Savan Legend, em Savannakhet, no Laos, junto à fronteira com a Tailândia, por 45 milhões de dólares.

Em 2015, David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento no ilhéu de Santa Maria, tendo sido lançada a primeira pedra do projecto em Fevereiro de 2016. O projecto envolvia o maior empreendimento turístico de Cabo Verde, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros – cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano.

O plano envolvia a construção de uma estância turística com uma área de 152.700 metros quadrados, um hotel com ‘boutique casino’, de 250 quartos, que já foi construído, mas está fechado, uma piscina, várias instalações para restaurantes e bares, além de uma marina. Mas o projecto sofreu sucessivos adiamentos. A Macau Legend anunciou em Março de 2020 que previa inaugurar no final de 2021 o hotel-casino na cidade da Praia, depois de em 2019 ter previsto a conclusão da obra para final do ano seguinte.

Obras paradas

Em Dezembro, o presidente da Cabo Verde TradeInvest, José Almada Dias, disse à Lusa que a Macau Legend tinha prometido apresentar em breve um plano para retomar as obras, paradas há vários anos.

A empresa recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, o equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros. A Macau Legend recebeu também uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo ‘online’ em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante dez anos.

A relação entre David Chow e o Governo de Cabo Verde vinha a degradar-se desde o final do ano passado, quando foi tornado público que o Executivo do país africano aguardava há meses esclarecimentos sobre o andamento dos trabalhos do casino que estavam parados.

Também em Janeiro deste ano, David Chow abandonou a posição de Cônsul Honorário de Cabo Verde em Macau e, de acordo com a informação veiculada pelo jornal A Nação, teria igualmente encerrado o espaço onde funcionava o consulado. Actualmente, Cabo Verde tem apenas um casino em funcionamento, o Casino Royal, em Santa Maria, no Sal, que abriu portas em Dezembro de 2016, após um investimento de quase cinco milhões de euros.

Adeus concessão

O Governo de Cabo Verde vai reverter a concessão do projecto para um hotel-casino na cidade da Praia, após abandono do grupo Macau Legend Development, e depois procurar outro destino para o investimento, anunciou ontem o primeiro-ministro.

“Primeiro temos que reverter a concessão. Esta é uma concessão de exploração e de investimentos. Havia já algum tempo indicação de que haveria problemas do lado do investidor, a sua capacidade de concluir o projecto”, afirmou Ulisses Correia e Silva, na cidade da Praia.

“Agora vamos fazer as partes que têm a ver com todo o suporte jurídico para fazer a concessão e depois ver que destino dar a esse investimento, que não pode ficar assim como está”, completou. Segundo o primeiro-ministro, o grupo, fundado pelo empresário David Chow, alegou problemas financeiros e de organização accionista para desistir do projecto. O Governo vai agora retomar a ocupação feita em regime de concessão e criar condições para que surjam novos projectos no local.

6 Out 2023

Empreendedorismo | Assinado acordo com Governo de Cabo Verde

A Associação de Empreendedorismo e Inovação Macau–China e Países de Língua Portuguesa assinou ontem um acordo com o Governo de Cabo Verde a fim de facilitar a entrada de empresários das cidades da Grande Baía em África

 

Um memorando de entendimento assinado ontem entre o Governo de Cabo Verde e uma associação de Macau pretende, entre outros objectivos, facilitar a entrada de empreendedores da região da Grande Baía no continente africano.

Através do memorando, assinado em Macau com a Associação de Empreendedorismo e Inovação Macau–China e Países de Língua Portuguesa (AEIMCP), a Cabo Verde Digital, programa governamental que promove o empreendedorismo e a inovação, quer “estabelecer parcerias sólidas” que permitam ao arquipélago africano posicionar-se como “plataforma tecnológica no meio dos continentes”.

“Explorar as oportunidades no ecossistema de Macau permitirá ao arquipélago internacionalizar as soluções tecnológicas feitas no país, bem como promover Cabo Verde enquanto plataforma para o mercado africano”, indica em comunicado a Cabo Verde Digital.

O documento, assinado pelo director da Cabo Verde Digital, Milton Cabral, e o presidente da AEIMCP, Marco Duarte Rizzolio, “constitui as bases” para que o país da África Ocidental sirva de entrada aos empreendedores da região da Grande Baía no continente africano, “enquanto Macau posiciona-se como uma porta de entrada na China para os empreendedores com base em Cabo Verde”, apontou a nota.

Privilégios no 929 Challenge

A Grande Baía é um projecto de Pequim para criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 80 milhões de habitantes.

Marco Duarte Rizzolio notou à Lusa que, com a parceria, a Cabo Verde Digital vai “ter acesso privilegiado ao 929 Challenge”, competição coorganizada pela AEIMCP para apoiar o desenvolvimento de negócios inovadores.

O concurso, coorganizado pelo Fórum Macau e por várias universidades e instituições de Macau vai trazer este ano, pela primeira vez, ‘startups’ dos países de língua portuguesa a Macau em Outubro, depois de duas edições online.

“Com a assinatura deste protocolo, ‘startups’ cabo-verdianas terão a oportunidade de participarem na competição de forma destacada, nomeadamente na fase final, a ter lugar em Macau, em Outubro próximo”, referiu ainda o comunicado.

O acordo, com validade de dois anos, contempla, entre outros, a promoção de programas de intercâmbio entre ‘startups’ de Cabo Verde e da região da Grande Baía, troca de conhecimentos e experiências, acesso a recursos, mentoria e fundos.

A assinatura da parceria “é de grande importância”, porque pode “impulsionar o desenvolvimento económico de Cabo Verde, especialmente nos sectores de inovação tecnologia digital”, destacou o delegado de Cabo Verde junto do Secretariado Permanente do Fórum Macau, Nuno Furtado.

O memorando resulta da participação de Cabo Verde no Colóquio sobre Empreendedorismo e Liderança de Pequenas e Médias Empresas para os Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Fórum Macau, e a decorrer até sexta-feira em Macau.

7 Jun 2023

Cabo Verde | China doa 1.042 toneladas de arroz ao arquipélago africano

Pequim tenta atenuar as dificuldades de muitas famílias cabo-verdianas que lutam por ter pelo menos uma refeição diária na mesa face à escalada dos preços decorrente da situação internacional e da quebra do turismo.
Cabo Verde vai distribuir gratuitamente por instituições sociais e de saúde 1.042 toneladas de arroz doadas pela China, que chegam este mês, para mitigar os efeitos da escalada de preços, segundo resolução aprovada em Conselho de Ministros.
“Tendo em conta a situação vivida por muitas famílias, as ajudas alimentares supramencionadas devem ser distribuídas gratuitamente às organizações públicas e da sociedade civil de cariz social, lares de idosos, hospitais e centros de saúde do país”, lê-se na mesma resolução que “determina a distribuição gratuita” desse donativo.
“Cabo Verde continua a enfrentar os efeitos da guerra na Ucrânia e da crise inflacionária, impactando de forma negativa o sistema agroalimentar, mormente, os preços dos produtos alimentares de primeira necessidade (PAPN). Graças às medidas de reforço da resiliência do sistema alimentar implementadas pelo Governo e com apoio dos parceiros de desenvolvimento, a situação da insegurança alimentar não se agravou”, refere-se ainda na resolução.
Acrescenta-se que os dados da última análise do Quadro Harmonizado, de Março de 2023, “demonstraram que devido à conjuntura caraterizada por aumento dos preços dos produtos alimentares e aumento do custo de vida, 17 por cento das pessoas estão na fase 2 (subpressão), 8 por cento na fase de crise alimentar (fase 3) e 1 por cento estão em emergência alimentar (fase 4)”.
“Considerando a imprevisibilidade dos factores que vêm condicionando o acesso económico aos alimentos por parte das famílias, o Governo continuou a implementar medidas de mitigação e a mobilizar apoios dos parceiros internacionais. Neste contexto, o Governo, no âmbito dos Acordos de Cooperação, recebeu do Governo da República Popular da China uma ajuda alimentar de mil e quarenta e duas toneladas de arroz, para o reforço do abastecimento de PAPN, com chegada prevista para o final do mês de Maio do corrente ano”, lê-se ainda.

Em recuperação

Do donativo total, 302 toneladas de arroz serão entregues em lares de idosos, 340 toneladas a hospitais e centros de saúde, e 400 a organizações da sociedade civil e instituições de cariz social.
A distribuição desta ajuda alimentar será assegurada pela Direcção Geral de Inclusão Social, em articulação com o Secretariado Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, “mediante critérios e procedimentos aprovados pelo ministro da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social”.
Cabo Verde recupera de uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística – sector que garante 25 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago – desde Março de 2020, devido à pandemia de covid-19. Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8 por cento do PIB, seguindo-se um crescimento de 7 por cento em 2021 e 17,7 por cento em 2022, impulsionado pela retoma da procura turística.

23 Mai 2023

Macau Legend | Cabo Verde aguarda há meses por esclarecimentos

O Ministério das Finanças de Cabo Verde revelou que o Governo do país africano está desde 24 de Outubro a tentar perceber o que se passa com o andamento das obras do hotel prometido pela empresa de Macau. Os trabalhos deveriam ter ficado concluídos em 2021

 

Atrasos nas obras, reestruturação do projecto com um novo calendário e promessas de esclarecimentos que tardam em chegar. É esta a situação do hotel Djeu-Praia, que a empresa Macau Legend está a construir em Cabo Verde, de acordo com o Governo do país africano.

Após as notícias em Cabo Verde sobre a carta de David Chow a desistir da posição de cônsul honorário do país em Macau e a anunciar o encerramento do consulado, o Governo do país ilhéu emitiu um comunicado com um ponto de situação sobre o investimento de 250 milhões de euros.

No documento, é recordado que em 2017 foi assinado “uma convenção de estabelecimento”, que obrigava a empresa a realizar a requalificação de toda a praia da Gamboa, a construir e explorar um hotel com casino, uma marina turística, centro de congressos, infra-estruturas residenciais e hoteleiras na zona da Praia do Gamboa e Chã d’Areia e ainda um parque de estacionamento.

Em Abril de 2019, com as obras a decorrer, a Macau Legend faz uma proposta para construir o empreendimento turístico por fases. A primeira previa um investimento de 90 milhões de euros, menos de metade do inicialmente prometido, a entrar em funcionamento em Fevereiro de 2021.

Segundo esta promessa, que foi aceite, além da construção do único edifício de oito andares edificado e da ponte que liga a praia ao ilhéu de Santa Maria, era ainda necessário concluir o estacionamento, estruturas de apoio e o hotel com Boutique Casino, com 250 quartos e uma grande piscina.

Novo atraso

Com os novos termos do contrato em vigor, a Macau Legend sofreu grandes alterações a nível dos accionistas, principalmente com a entrada na empresa de Levo Chan, proprietário da empresa junket Tak Chun. Porém, nem sequer o capital trazido pelo homem que actualmente está a ser julgado por vários crimes relacionados com a promoção do jogo, contribuiu para acelerar o andamento dos trabalhos.

O prazo de Fevereiro de 2021 foi assim ultrapassado, no contexto de pandemia, sem que a primeira fase ficasse concluída.

Finalmente, a 14 de Setembro do ano passado, mais de um ano após o prazo previsto, o Governo de Cabo Verde admite, através da empresa Cabo Verde Trade Invest (CVTI), ter pedido à Macau Legend novas informações sobre o “cronograma de execução do projecto, incluindo as fases do mesmo” e uma “demonstração da capacidade financeira para a retoma e a conclusão das obras”.

A 24 de Outubro a companhia responde pela primeira vez ao Governo de Cabo Verde. “A Macau Legend Development requereu um prazo de três meses para poder dar resposta ao solicitado, justificando os atrasos com os efeitos da pandemia e do conflito com a Ucrânia”, revelou o Governo de Cabo Verde sobre a resposta recebida.

Lembranças judiciais

Passado mais um mês, a 24 de Novembro, a CVTI aceita o pedido da Macau Legend, permitindo que os esclarecimentos sejam prestados até ao fim de 2022. Esta carta, diz o Governo de Cabo Verde, ficou “sem qualquer retorno”.

O ano chega ao fim. E a 18 de Janeiro a CVTI envia mais uma carta, em que estabelece o prazo de sete dias à Macau Legend para prestar os esclarecimentos pedidos há mais de três meses. Desta vez, a empresa é recordada que podem ser activados os meios judiciais para obrigar a cumprir as suas obrigações.

“É então concedido, pela Agência [CVTI] um novo prazo, agora de sete dias para a resposta sob pena de accionamento dos mecanismos legais e convencionais previstos nos diversos instrumentos jurídicos que disciplinam as relações entre o Estado de Cabo Verde e a promotora [Macau Legend]”, revelou o Governo da antiga colónia portuguesa.

A empresa com sede em Macau reage a 27 de Janeiro, através do “representante legal”, que justificou “o atraso na resposta com as férias ligadas ao Ano Novo Chinês” e promete “uma reposta o mais depressa possível”. Até ontem não havia informações sobre uma nova resposta do lado da Macau Legend.

Ministro nega deslocação urgente

O Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional de Cabo Verde, Rui Figueiredo, negou a existência de uma viagem a Macau com carácter urgente, na sequência da decisão de David Chow abandonar o posto de cônsul-honorário.

Ao contrário do que tinha sido publicado pelo Jornal A Nação, os motivos da viagem são apontados pelo ministro como particulares. “Sua Excelência o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional tem uma viagem agendada para Macau, há bastante tempo, mas trata-se de uma viagem de carácter privado com a família, sem qualquer ligação com a matéria aludida na notícia”, pode ler-se no comunicado.

30 Jan 2023

Cabo Verde | David Chow abandona posição de cônsul honorário

Com a demissão, o empresário avançou para o encerramento do consulado de Cabo Verde em Macau. Em causa, aponta o jornal A Nação, está o facto de David Chow sentir “um certo desagrado” com a forma como o seu investimento está a ser tratado

 

O empresário David Chow abandonou a posição de Cônsul Honorário de Cabo Verde em Macau, de acordo com a informação publicada na última edição do jornal A Nação. O pedido foi feito através de uma carta, enviada a 18 de Janeiro, e implica também o encerramento do espaço onde funcionava até agora o consulado.

De acordo com a publicação de Cabo Verde, a carta enviada pelo empresário nota “um certo desagrado”, “nas entrelinhas”, com a actuação do Governo do país insular, por entender que os seus investimentos têm sido desprezados.

Em causa, está o tratamento que outro investidor está a receber. Este investidor comprometeu-se a construir um empreendimento turístico na zona do Gamboa, onde Chow também está a investir, com um investimento de 250 milhões de dólares americanos.

“Apraz-me registar, entretanto, que o Governo de Cabo Verde acabou por conceder a um investidor local e cabo-verdiano a parte restante daquela praia, o que significa que, no futuro, toda aquela zona será considerada a joia de Santiago”, escreveu Chow, na carta citada pelo jornal A Nação. “Creio que, sendo um investidor/empresário cabo-verdiano, seria talvez menos árduo realizar um projecto desta envergadura”, acrescentou.

Ao mesmo tempo, o jornal aponta que o investimento da empresa Macau Legend, em Cabo Verde, está cada vez mais perto de se tornar num “elefante branco”. Isto porque o hotel, que inclui casino e marina, devia ter ficado concluído dentro de três anos após o início das obras. Entretanto passaram sete anos, e “só foram edificados um enorme prédio e a ponte que liga Gamboa ao Ilhéu de Santa Maria”.

Viagem de emergência

Segundo a publicação local, a decisão de David Chow “terá tido um grande impacto no Governo” de Cabo Verde, que se apressou a agendar uma viagem a Macau, para avaliar as consequências.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, Rui Figueiredo, vai assim deslocar-se à RAEM, “para tentar minimizar os eventuais estragos” que podem ser provocados pelo encerramento do consulado. O jornal não indica a data da viagem.

Esta não é a primeira vez que David Chow e as autoridades de Cabo Verde têm problemas. No passado, o empresário tentou abrir um banco no país ilhéu, denominado Banco Atlântico.

No entanto, o banco central de Cabo Verde recusou o projecto, por considerar que o empresário tinha falta de “idoneidade bancária”. Na altura, João Serra era o governador da instituição.

30 Jan 2023

Cabo Verde | Macau Legend apresenta plano de retoma para resort

Anunciado há muito pelo empresário local David Chow, o hotel-casino previsto para Cabo Verde tarda a sair do papel. Surgem agora notícias de que a Macau Legend vai apresentar um plano de retoma para o projecto, numa altura em que o grupo enfrenta dificuldades em Macau

 

O presidente da Cabo Verde TradeInvest (CVI) disse ontem que a construção do hotel-casino do grupo Macau Legend, na Praia, teve “algumas dificuldades” devido às crises, mas informou que os promotores vão apresentar brevemente um plano de retoma.

“Esse projecto tem conhecido algumas dificuldades de retoma, nem todas as empresas conseguem recuperar da crise, é preciso não esquecer que nós continuamos em crise, o mundo inteiro, não é só Cabo Verde, há a pandemia que teve os seus efeitos, há a guerra na Ucrânia, e há projetos que estão a recuperar mais depressa do que outros”, começou por explicar José Almada Dias, em declarações à Lusa, na cidade da Praia.

O dirigente disse que a agência responsável pela tramitação dos projectos de investimentos no país tem estado em contacto com os promotores, que mostram essas dificuldades, mas afirmou que “alguma decisão terá que ser tomada”.

“Eles ficaram de apresentar um plano de retoma brevemente”, adiantou José Almada Dias, avançando que se mantém o interesse dos promotores em avançar com o projecto, em que alguns trabalhos já foram feitos, nomeadamente uma ponte para o ilhéu de Santa Maria.

“Mas, naturalmente, estamos a seguir muito atentamente o assunto, em estreito contacto com os promotores e também o próprio Governo está em cima do acontecimento e brevemente teremos que ter alguma decisão se o projecto avança rapidamente ou se terá que haver outras medidas”, insistiu.

Questionado se o projecto poderá ser alterado, Almada Dias respondeu que não há indicações nesse sentido, insistindo que foi apresentado um plano de retoma das obras.

“O projecto terá de avançar, com estes ou com outros promotores”, desafiou, sublinhando que, mesmo não sendo o caso, já aconteceu em outras latitudes em que um promotor tem dificuldade em avançar com um projecto e este pode mudar de mãos.

“Não sei se será o caso, pelo contrário, os promotores estão a mostrar vontade de apresentar um plano de retoma e estamos esperançados que assim seja, por ser muito mais fácil”, vincou o presidente da CVI.

Um longo projecto

O grupo Macau Legend, do empresário local David Chow, anunciou em Março de 2020 que previa inaugurar no final de 2021 o hotel-casino na cidade da Praia, depois de em 2019 ter previsto a conclusão da obra para final do ano seguinte. Em Agosto de 2020, o ministro do Turismo cabo-verdiano, Carlos Santos, admitiu que a pandemia de covid-19 deverá atrasar a conclusão das obras, mas disse acreditar que o investimento não estava em causa.

Em 2015, David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento, tendo sido lançada a primeira pedra do projecto em Fevereiro de 2016. Trata-se do maior empreendimento turístico de Cabo Verde, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros – cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano – para a construção de uma estância turística no ilhéu de Santa Maria, que cobrirá uma área de 152.700 metros quadrados, inaugurando a indústria de jogo no arquipélago.

David Chow recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, o equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros. A promotora recebeu também uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo ‘online’ em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante dez anos.

16 Dez 2022

Cabo Verde | Empresa chinesa volta a fornecer fardamento às Forças Armadas

As Forças Armadas de Cabo Verde vão voltar a comprar fardamento a uma empresa estatal chinesa, por quase 130 mil euros, conforme autorização concedida por despacho da ministra da Defesa, que entrou ontem em vigor. De acordo com o despacho 29/2022, assinado pela ministra da Defesa de Cabo Verde, Janine Lélis, e consultado pela Lusa, em causa está um negócio de 14 milhões de escudos (128 mil euros) a realizar com a empresa estatal chinesa China Xinxing Import and Export, através de um contracto autorizado por ajuste directo.

A mesma empresa, com os mesmos argumentos e por valor semelhante, já tinha sido contratada pelo Governo para o fornecimento de fardamento aos militares cabo-verdianos anteriormente, por falta de empresas certificadas no país.

A empresa chinesa, constituída em 1987, é especializada na produção e desenvolvimento de fardamento e outros equipamentos para forças armadas e policiais em vários países, facturando anualmente mais de 300 milhões de dólares.

No despacho assinado pela ministra da Defesa, autorizando o negócio, é referido que as Forças Armadas de Cabo Verde “têm-se digladiado com problemas na certificação técnica do material” que têm adquirido, devido à “inexistência de instituições capazes de aferir, mesurar e certificar o material adquirido para equipar as tropas”.

Além disso, justifica ainda o despacho sobre este negócio, “os militares cabo-verdianos frequentemente são enviados para o exterior, para efeito de treinamento militar, devendo os mesmos estarem munidos de fardamento de qualidade, internacionalmente certificada”. As Forças Armadas de Cabo Verde contam com um efectivo superior a mais de mil militares no activo.

28 Set 2022

Cabo-verdiano leva basquetebol até à China sem abandonar cenário tropical

Da ilha do Sal, em Cabo Verde, até à ilha de Hainão, no extremo sul da China, são 13.500 quilómetros de distância, mas o cabo-verdiano Waldir Soares, que está ali radicado, sente pouca diferença. “O ambiente é praticamente o mesmo: a cultura turística, as zonas balneares, o mar, restaurantes, bares. É a mesma cultura”, diz à agência Lusa.

Waldir Soares, de 42 anos, chegou à China em 2011, para estudar Língua, Cultura e História da China. No ano seguinte, pediu transferência para o curso de Gestão de Turismo. O destino, a ilha tropical de Hainan, e em particular a cidade balnear de Sanya, surpreenderam-no pelo contraste com a imagem que tinha formado da China, através das “notícias, televisão ou cinema”.

Beneficiando do clima tropical, baixa densidade populacional e natureza quase intacta, num país industrializado e com metrópoles densamente povoadas, a ilha é conhecida pelo turismo de saúde e bem-estar. “Isso faz parte do plano do Governo: manter a natureza, as montanhas, o verde, a qualidade do ar; a impressão digital da ilha como ela é”, descreve Soares.

Sanya popularizou-se também por receber grandes eventos internacionais, incluindo a Miss Mundo, a regata Volvo Ocean Race ou o Met-Rx World’s Strongest Man (“O Homem Mais Forte do Mundo”, em português), o evento internacional mais importante do atletismo de força.

“Aqui, eles têm o poder financeiro de organizar eventos internacionais, de levar Sanya para fora”, diz Waldir Soares. “Em Cabo Verde, fazemos o contrário: trazemos o mundo até nós, o que é mais difícil, através de eventos tradicionais, festivais de música nas praias, o artesanato”, compara.

Em Sanya, o cabo-verdiano manteve também a ligação ao basquetebol, enveredando pela carreira de professor, após terminar os estudos. “A minha vida rodou sempre em torno do basquetebol”, diz Soares, que chegou a ser convocado pela seleção nacional de Cabo Verde, apesar de nunca ter chegado a participar em competições internacionais, e jogou em clubes na Ilha do Sal, Ilha de São Vicente e cidade da Praia.

Numa quarta-feira ao final da tarde, o cabo-verdiano orienta um grupo de cinco alunos, com idades entre os 4 e 6 anos, num pavilhão situado no centro de Sanya. Nas costas da sua camisa está estampada a palavra “China”. “O basquetebol é o desporto popular que todo o chinês quer praticar, muito mais do que o futebol”, explica Soares.

A figura de Yao Ming, ex-basquetebolista chinês dos Houston Rocket, é uma das mais respeitadas na China. O país asiático é também o segundo mercado mais importante para a indústria, superado apenas pelos Estados Unidos, representando centenas de milhões de dólares em receitas da liga norte-americana de basquetebol NBA. A Associação Chinesa de Basquetebol (CBA) estimou que o número total de praticantes regulares no país é superior a 300 milhões. A China é a nação mais populosa do mundo, com mais de 1,4 mil milhões de habitantes.

“O basquetebol é forte na China devido à cultura que está associada ao desporto: o vestuário, as marcas e os modelos de ténis, o espetáculo da NBA”, frisa Soares. “Isso leva a que o número de praticantes cresça consideravelmente”.

A prática desportiva num país que durante décadas impôs a política “um casal, um filho”, é também importante para os mais jovens socializarem. “Muitas famílias têm apenas um filho e esse filho fora da escola está apenas com adultos, mas quando ele pratica basquetebol, ou futebol, badminton, um desporto de grupo, está numa comunidade desportiva, e vai ter uma educação desportiva: cooperação, trabalho em equipa, muitas outras coisas que são importantes na vida futura de uma criança”, aponta Soares.

5 Set 2022

Cabo Verde quer medicina tradicional chinesa como alternativa à convencional, diz ministro

O ministro da Saúde de Cabo Verde, Arlindo do Rosário, disse que o país está a trabalhar para implementar a medicina tradicional chinesa no país, para ser uma alternativa e para complementar a medicina convencional.

“Nós estamos a trabalhar para a implementação da medicina tradicional chinesa em Cabo Verde, medicina alternativa, dentro do Serviço Nacional de Saúde [SNS]”, disse o ministro, na sua intervenção, no ato de entrega por parte da China de equipamentos aos serviços do Hospital Universitário Agostinho Neto, da Praia, o maior do país.

O governante referiu que o projeto está a ser implementado em conjunto com o Parque Industrial de Macau, para funcionar como tratamento alternativo da medicina convencional.

“Neste aspeto também é uma área que podemos continuar a aprofundar, por forma a que possamos ter as duas medicinas trabalhando paralelamente e complementarmente em Cabo Verde”, perspetivou Arlindo do Rosário.

Há anos que Cabo Verde fala na implementação da medicina tradicional chinesa no país, prevendo também que seja um centro para servir também a África.

“Tal como em Portugal, que construiu também um centro de Medicina Tradicional Chinesa, em Lisboa, para a Europa, porque não em Cabo verde, para África?”, argumentou em setembro de 2019 o ministro, à margem do Fórum de Cooperação Internacional de Medicina Tradicional Chinesa, que aconteu em Macau.

Na altura, frisou que a indústria farmacêutica já produz cerca de 40% dos medicamentos da medicina convencional consumidos no país.

“É uma indústria em expansão, que está a desenvolver-se, também virada para a região africana, para os países (…) africanos de língua oficial portuguesa”, salientou.

A criação de legislação para regulamentar a atividade é uma das prioridades, declarou na altura à Lusa a assessora para a implementação da medicina tradicional em Cabo Verde, Leila Rocha.

Em maio de 2019, Cabo Verde assinou um acordo com o Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa Guangdong-Macau, com o objetivo de aprofundar a cooperação nesta vertente medicinal com a China.

A China tem sido um dos grandes parceiros do desenvolvimento de Cabo Verde, apoiando, além da saúde, em diversas áreas, como habitação social, militar, económica, tecnologia, segurança e formação de quadros na cultura.

26 Jul 2022

Francisco José Leandro, académico da Universidade Cidade de Macau: “Tenho óptimas referências do Fórum”

“China and portuguese speaking Small Island States: From sporadic bilateral exchanges to a comprehensive multilateral platform” é o nome do livro que acaba de ser lançado pela Universidade Cidade de Macau e que olha para Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste como os Estados insulares, falantes de português, aos quais nunca foi dada muita atenção, mas que representam um enorme potencial. Nesta equação, não só a China é parte interessada, mas também Macau

 

Falemos deste conceito de Estados insulares, falantes de português que, de certa forma, são diferentes dos outros países de língua portuguesa, sobretudo a nível sócio-económico. Até que ponto estes Estados têm esta capacidade de entrar nas parcerias com a China?

São Estados vulneráveis, fazem parte da ONU, têm programas de apoio especiais. Partimos dessa ideia de, no contexto da língua portuguesa, quais seriam os Estados que estão nesta condição? São três [Timor-Leste, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe]. Quisemos perceber o que têm em comum, pois todos eles têm uma história comum e qualquer coisa de especial na sua localização.

Em que sentido?

Começando por Timor, é um Estado muito jovem que está ainda à procura do que irá ser o seu projecto económico em termos de sustentabilidade. O seu processo de adesão à ASEAN é decisivo e vital para o país. Toda a sua integração regional faz-se com dois grandes parceiros, que é a Indonésia e a Austrália, e depois com uma presença da China, que neste contexto é particularmente interessante.

Porquê?

Na mesma latitude aparece o Estreito de Torres, que é muito importante em todo o balanceamento da navegação comercial entre os oceanos Pacífico e Índico, porque a alternativa para o Estreito é pela rota do sul, dos pólos, muito morosa e cara.

Esta obra fala também de São Tomé e Príncipe.

É importante por várias razões, sobretudo pela localização. Muita gente fala em São Tomé por causa do petróleo, mas acho que não é muito relevante, ou pelo menos não o será nos próximos anos. A questão decisiva é São Tomé no contexto do Golfo da Guiné. A questão dos acessos aos mercados e novos corredores económicos que se desenvolvem em torno dos Camarões, Nigéria.

Decisivo em que sentido?

No Golfo da Guiné a quantidade de portos de água profunda é muito reduzida. Essa é a oportunidade que São Tomé poderá explorar através do investimento chinês no porto de águas profundas no norte. São Tomé pertence a uma série de organizações internacionais. Já há cooperação entre São Tomé e a Nigéria, mas aquilo que acho que ainda falta muito trabalhar é a questão do combate à pirataria. São Tomé tem a localização perfeita para isso, não tem é os meios. Isso permitia a exploração das rotas marítimas naquela zona de forma mais segura, diminuindo os custos de navegação e de seguros.

Aos olhos da China há diferenças a nível de interesses entre Timor-Leste e estes Estados insulares em África? Timor é mais importante por uma questão de proximidade e por ser membro candidato da ASEAN?

Em relação a Timor, a China tem vários tipos de interesse, pois é um país que tem neste momento um plano de desenvolvimento muito ambicioso. Estão a construir novos portos e aeroportos, novos centros para maximizar a capacidade que o país deve ter em relação ao petróleo e gás natural. Há investimentos em infra-estruturas que são fundamentais. Mas há um quadro de presença e de acesso aos mercados. Em São Tomé a ideia é mais abrangente.

Como?

É todo o Golfo da Guiné, com uma presença através dos investimentos, e depois tudo o que os investimentos acabam por gerar. Se vier a ser construído este porto em Fernão Dias, há depois uma série de actividades adjacentes e uma série de interesses que se vão desenvolvendo. A mesma coisa em relação a Cabo Verde. Cabo Verde tem uma localização interessante porque, do ponto de vista do acesso marítimo e aéreo, é uma espécie de porta aviões na costa ocidental de África ao Estreito de Gibraltar e no acesso ao Canal do Panamá.

Cabo Verde é um país mais desenvolvido.

Sim, e está muito bem no Índice de Desenvolvimento Africano. Tem uma estrutura de governação muito mais sólida e consistente. Cabo Verde, neste momento, já faz planos, e tem a generalidade da população com um maior índice de educação mais elevado, o que permite tirar outro tipo de sinergias desses acordos, porque há quadros qualificados. São Tomé não tem grandes possibilidades de fazer uma gestão moderna de um grande porto, vai precisar de mão-de-obra estrangeira. Estes três Estados insulares têm semelhanças entre eles, mas depois são diferentes relativamente ao seu desenvolvimento, estrutura de governação e sistema político, embora seja muito parecido.

A China tira partido dessas diferenças.

A China faz uma coisa pragmática, não tem um modelo que impõe a todos. Aliás, não há nada que se imponha, é muito flexível. O que a China faz, faz muito bem, mas o que falta aqui não é mérito da China, mas sim dos países de língua portuguesa. A China sabe exactamente o que quer destas cooperações, mas porque estes países estão em vias de desenvolvimento ou são muito jovens, nem todos têm os objectivos nacionais classificados de forma consistente.

E a China tem sempre os seus objectivos bem definidos, é um grande contraste.

Sim. É sempre fácil dizer que o problema é da China, mas não é. Estamos numa negociação muito assimétrica em termos de recursos, mas mesmo assim o que me parece essencial é que as partes, estes três Estados, tenham a capacidade de se auto-determinarem daquilo que para eles é importante, para depois usarem isso no contexto das relações bilaterais.

Macau tem capacidade para entrar neste jogo de investimentos, nomeadamente através do Fórum Macau? Há espaço para as relações bilaterais ou cria-se uma plataforma multilateral, como o nome do livro indica?

As duas coisas. O Fórum Macau é um instrumento político da cooperação chinesa. Há canais bilaterais que não passam pelo Fórum, mas isso é natural. O Fórum Macau é um complemento dos canais bilaterais. As pessoas criticam imenso o Fórum Macau mas eu tenho óptimas referências do Fórum, e acho que aquilo que eles fazem, fazem-no bem. Exploram aquilo que é deixado pelas relações bilaterais. Creio que a negociação do porto Fernão Dias em São Tomé será conduzida numa lógica bilateral, mas há imensas coisas que aparecem associadas a este projecto, que envolvem outro tipo de actores, e o Fórum Macau pode dar uma ajuda. O Fórum Macau foi constituído em 2003, mas na realidade só ficou constituído por volta de 2017, 2018.

Isso porquê?

Houve uma série de dificuldades ao nível dos representantes [dos países]. São Tomé só nomeou o seu representante a partir de 2017, 2018. Portugal nunca teve um representante e tem agora desde 2018, e o Brasil também nunca teve, tem agora. Na realidade, o Fórum como foi pensado tem dois anos de existência. O Fórum vive das conferências ministeriais, e a sexta cimeira não se sabe quando vai acontecer devido à pandemia. É muito injusto criticar o Fórum e dizer que não serve. Houve uma série de coisas que aconteceram que não são culpa do Fórum mas circunstâncias políticas que têm de ser respeitadas no contexto da soberania dos Estados.

Para que serviram então os primeiros anos do Fórum Macau?

Falamos de uma organização cuja base é chinesa e cujos representantes são de Estados soberanos. No contexto dos Estados soberanos não há outra organização como o Fórum. As organizações precisam de tempo para amadurecerem e criarem relações de confiança. A instituição do Fundo do Fórum é uma coisa relativamente nova que não correu muito bem, e estávamos à espera da sexta cimeira que ainda não aconteceu. Mesmo em Portugal, quem sabe da existência do Fórum Macau? Meia dúzia de pessoas. O Fórum é um mecanismo importante para a China e Portugal, e a prova é que todos os países de língua portuguesa estão representados no Fórum.

Mas e o papel de Macau neste contexto?

Nesta via bilateral e complementar do Fórum, Macau tem o seu nicho. Macau não tem capacidade soberana, porque não é um Estado, nem económica para grandes investimentos. Mas o que está a acontecer em Cabo Verde, com o investimento de David Chow, é um bom exemplo. Investe num nicho criado pelas relações bilaterais. As relações entre Portugal e a China passaram por várias fases, e entre 1999 e 2003 não aconteceu nada. A partir daí o Fórum é extremamente importante. No caso de Portugal é complexo porque há uma tradição europeia e de alinhamento com os EUA, e a China é um parceiro importante, e Portugal tem de arranjar aqui um equilíbrio. Os países de que falamos também têm este tipo de problemas. Cabo Verde tem uma relação muito integrada na comunidade ocidental africana, e talvez o país mais atrasado seja São Tomé em termos de integração na sua região. Mas Timor tem a lógica da Austrália e Indonésia, e agora procura a China, para obter equilíbrio. Por exemplo, a aquisição dos equipamentos militares é feita aos três, é o melhor interesse diplomático.

As fraquezas destes Estados insulares não os vão tornar mais dependentes da China?

Todos os Estados são dependentes de outros. Posso arranjar equilibrios nessas dependências, mas para isso preciso de saber o que quero. Nestes processos de desenvolvimento estes países têm de ter cuidado e não se adjudicarem a uma única solução. Cabo Verde, por exemplo, tem óptimas relações com os EUA, com a União Europeia. Timor tem óptimas relações com a Austrália, ainda tem algumas tensões com a Indonésia, porque não há-de ter relações com a China? O país com uma situação mais complicada é São Tomé, que está numa situação de auto-isolamento há muitos anos, com o sistema de partido único, em que praticamente só se relacionou com Angola. Falamos de três países que até foram menosprezados no seu potencial. Olhamos sempre para grandes potências, como Angola, por causa dos recursos. Mas veja-se o que aconteceu: tem um problema, que é a diversificação.

Só tem o petróleo.

Sim.

Que expectativas tem para a próxima conferência ministerial do Fórum?

Há uma tendência que o Fórum está a seguir, e bem, que é a seguinte: no princípio estava inteiramente dedicado à questão do comércio e economia, e agora está a abrir-se a cooperações a outras áreas, como a cultura, a educação e a ciência. As coisas estão associadas.

13 Jul 2021

Cabo Verde recebe 31.200 doses da vacina pela Covax nos próximos dias

Cabo Verde deverá receber este mês 31.200 doses da vacina contra a covid-19 pelo mecanismo Covax e espera 300.000 doses fornecidas pela China, para acelerar o processo de vacinação, disse à Lusa o ministro da Saúde.
“Tudo indica que até finais deste mês, início do próximo essa quantidade chegará a Cabo Verde. Faltam receber 80.000 [pelo mecanismo Covax], neste momento está prevista a chegada de 31.200 doses”, disse o ministro da Saúde de Cabo Verde, em declarações à Lusa.

Cabo Verde já tinha recebido 24.000 doses da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca em 12 de Março e 5.850 da Pfizer dois dias depois, no âmbito do mecanismo Covax, iniciativa fundada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que visa garantir uma vacinação equitativa contra o novo coronavírus.

Através do mecanismo Covax, Cabo Verde tem atribuídas mais 80.000 doses de vacinas da AstraZeneca. Em 14 de Maio, Cabo Verde recebeu de Portugal uma doação de 24.000 doses de vacinas também da AstraZeneca, pelo que a garantia de entrega nos próximos dias de mais 31.200 doses é um “bom sinal”, segundo o ministro da Saúde.

Acrescentou que Cabo Verde já aplicou desde 19 de Março, quando arrancou o plano de vacinação contra a covid-19 no arquipélago, aproximadamente 20.000 doses de vacinas, num processo que deverá acelerar a partir do próximo mês, com o aumento da disponibilidade de vacinas no país. “A previsão é que durante todo o mês de Junho possamos ter mais vacinas e acelerar todo esse processo de vacinação e atingir a meta de 70 por cento [da população elegível] até final do ano”, explicou Arlindo do Rosário.

A grande remessa

Avançou ainda que está em negociação a entrega de 300.000 doses de uma das vacinas chinesas contra a covid-19, das quais 50.000 serão doadas pelo Governo da China. “É um processo que está a decorrer, está a seguir os seus trâmites normais. Nós apontamos no mais breve possível que possamos ter essa vacina também aqui em Cabo Verde”, disse.

Cabo Verde registava na quinta-feira 2.512 casos activos de covid-19, com um acumulado de 28.898 infectados, 26.116 recuperados e 253 mortes por complicações associadas à doença desde 19 de Março de 2020.

24 Mai 2021

China financia assistência técnica a agricultura cabo-verdiana com aposta nas algas

O Governo chinês assinou esta quinta-feira um acordo com Cabo Verde para o financiamento de quase 1,5 milhão de dólares em assistência técnica, a implementar pela FAO na atividade agrícola e segurança alimentar, apostando na produção de algas no arquipélago.

O projeto de assistência técnica a Cabo Verde, a três anos (2021 a 2024), surge no âmbito do Programa de Cooperação Sul-Sul entre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a China, e deverá abranger 4.500 agricultores das ilhas de Santo Antão e de Santiago, além de 100 investigadores, estudantes e técnicos, no reforço das capacidades.

“Não se trata de um projeto de infra-estruturas, em que cerca de 1,5 milhões de dólares irão ser empregues em equipamentos e infra-estruturas. Não é nada disto. Trata-se essencialmente de partilha de conhecimento e de boas práticas no domínio da agricultura, da pecuária e da produção de algas marinhas como uma novidade no contexto dos projetos técnicos que temos estado a desenvolver aqui em Cabo Verde”, destacou o ministro da Agricultura, Gilberto Silva.

O governante cabo-verdiano falava após a assinatura, na Praia, do acordo tripartido para implementar o projecto. Durante três anos, o projecto financiado pela China, com a presença de sete peritos chineses, vai fornecer a Cabo Verde assistência técnica na promoção da horticultura, com apoio à gestão dos solos, água e fertilizantes, e na promoção da proteção das plantas, através da introdução de métodos e da organização de formações de campo para a gestão integrada de pragas do milho e os métodos de controlo biológicos sobre as pragas de solo.

Envolve ainda a “promoção do pequeno produtor pecuário”, através da melhoria da produção animal e da melhoria da genética animal, do reforço da vigilância epidemiológica e da valorização dos produtos animais.

O projecto prevê ainda um estudo sobre a eco-fisiologia e o potencial do cultivo de algas marinhas e da cadeia de valor em Cabo Verde, bem como o desenvolvimento e implementação de “sítios-piloto para introduzir e promover a cultura de algas marinhas”, explicou a FAO.

“Temos um imenso mar e é possível tirar melhor proveito deste imenso mar na produção de algas e introdução de algas como alimentos, mas também, e porque não, utilizar as algas para outros fins, como a cosmética e efeitos farmacêuticos. Temos de começar a tirar melhor proveito dos recursos marinhos”, enfatizou o ministro da Agricultura.

O objectivo, explicou Gilberto Silva, é tirar partido da “experiência” da China nesta actividade. “Não tendo nós tradição nem experiência neste domínio, entendemos que é bom começar com estudos e com a partilha de conhecimentos que nos levem a definir melhor o caminho e empregar uma boa franja da nossa população, sobretudo aquela que se vem dedicando à extração de areias nas praias, à produção de algas. Portanto, encontrar um caminho mais sustentável para assegurar o emprego e o rendimento, e acima de tudo proteger o ambiente”, disse ainda o governante.

O montante estimado do projeto é de quase 1,5 milhão de dólares, financiados pelo Governo da China, sendo a execução e gestão a cargo da FAO, através do acordo tripartido assinado. De acordo com Ana Touza, representante da FAO em Cabo Verde, o arquipélago será o décimo país a implementar um projeto ao abrigo do Programa de Cooperação Sul-Sul/FAO-China.

“Em temos de inovação o destaque vai para a possibilidade de aquacultura em algas marinhas, área ainda não muito estudada e aproveitada em Cabo Verde, um país com 99% de mar e com grande potencial na matéria”, destacou a representante da FAO, sublinhando igualmente a atenção que será dada ao combate às pragas que afetam a produção agrícola no país.

O embaixador da China em Cabo Verde, Du Xiaocong, assumiu que este projeto é um dos passos para assinalar, em 2021, os 45 anos das relações diplomáticas entre os dois países, reforçando a cooperação bilateral. “E demonstra que no futuro próximo, a China vai apoiar mais parceiros internacionais e oferecer mais apoio aos países africanos, na agricultura”, destacou o diplomata chinês.

“Leva-nos a crer que vamos no caminho certo, no caminho de uma agricultura cada vez mais resiliente e adaptada às mudanças climáticas, mais inteligente e voltada para o reforço da segurança alimentar e nutricional, tendo em conta que é necessário produzir mais alimentos saudáveis e colocar na mesa dos cabo-verdianos”, concluiu o ministro Gilberto Silva.

5 Fev 2021

Ensino superior | Oito cabo-verdianos finalistas deixam Macau a 4 de Setembro

Nuno Furtado, delegado de Cabo Verde junto do secretariado permanente do Fórum Macau, adiantou ao HM que oito estudantes finalistas do ensino superior deixam o território na próxima sexta-feira, dia 4 de Setembro, regressando a Cabo Verde. Quanto aos novos alunos, abrangidos por programas de intercâmbio, terão aulas online até poderem viajar para Macau e para a China

 

[dropcap]U[/dropcap]m total de oito alunos cabo-verdianos finalistas de ensino superior em Macau deixam o território na próxima sexta-feira, dia 4, apoiados pelo Governo do seu país. A informação foi adiantada ao HM por Nuno Furtado, delegado de Cabo Verde junto do secretariado permanente do Fórum Macau, e que tem coordenado o processo de saída destes estudantes.

A maior parte dos alunos frequentaram cursos no Instituto Politécnico de Macau (IPM), embora a Universidade de Macau (UM) também tenha acolhido alguns estudantes. No total, 27 alunos terminam as suas licenciaturas, mas muitos deles tiveram aulas online já em Cabo Verde.

“Apesar de os estudantes terem concluído o curso em finais de Junho, conseguimos, através dos contactos que fizemos junto do IPM, a autorização para a sua permanência na residência de estudantes até termos uma oportunidade de regresso a Cabo Verde”, adiantou Nuno Furtado.

Os voos de regresso serão feitos por Seul, na Coreia do Sul, seguindo-se um segundo voo entre Lisboa e Cabo Verde. “Há muitas limitações para sair de Macau e através de Taipé também não é fácil. O Governo de Cabo Verde financiou a compra dos bilhetes e deu um subsídio para a subsistência destes alunos”, frisou o delegado do Fórum Macau.

Quanto aos restantes alunos, que frequentam os segundo e terceiro ano dos cursos, vão continuar em Macau, adiantou o responsável.

Intercâmbio no limbo

Com um novo ano lectivo prestes a arrancar, os novos alunos abrangidos pelos programas de intercâmbio não poderão voar para Macau nos próximos tempos. “Temos alunos inscritos no curso de tradução e de Administração Pública, mas as orientações que temos da direcção do IPM é para que a sua entrada fique suspensa por um determinado período. Não é aconselhada a sua vinda para Macau”, disse Nuno Furtado.

Ainda assim, a frequência dos cursos não fica afectada, uma vez que o IPM irá disponibilizar aulas online. Nuno Furtado encara este processo como “sendo complexo”.

“Há muita pressão psicológica, há estudantes que já não contam com a atribuição de uma bolsa, e por isso é que foi necessário conseguirmos junto do Governo de Cabo Verde algum apoio. Até os estudantes macaenses na Europa também enfrentam algumas dificuldades para sair de Macau. Temos de trabalhar num quadro muito bem organizado”, concluiu.

Ao HM, o IPM confirmou que os alunos finalistas concluíram os cursos de Ensino da Língua Chinesa como Língua Estrangeira e de Gestão de Jogo e Diversões. Quanto ao intercâmbio, “não ficará suspenso devido à pandemia”, estando previsto o acolhimento de novos estudantes no novo ano lectivo. A UM não respondeu, até ao fecho desta edição, às questões colocadas.

A embaixada de Cabo Verde em Pequim está a acompanhar o regresso de 22 estudantes que se encontram na China, também marcado para o início de Setembro. Esta terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, adiantou que há também alunos retidos no Brasil que aguardam o regresso do período lectivo nas universidades, mas estão a ser acompanhados pela rede consular. “Vamos continuar a acompanhar a situação epidemiológica no Brasil, onde em termos da pandemia de covid-19 é muito grave”, admitiu o ministro. O Governo de Cabo Verde garantiu na segunda-feira o repatriamento de um grupo de 140 estudantes cabo-verdianos retidos no Brasil devido à pandemia.

27 Ago 2020

Deputado cabo-verdiano critica qualidade de materiais chineses usados em furos

[dropcap]O[/dropcap] deputado cabo-verdiano Damião Medina, do MdP, partido no poder no país, afirmou ontem, no parlamento, que os materiais chineses usados para equipar furos no concelho do Porto Novo, ilha de São Antão, são de má qualidade.

“Furos foram equipados nas vésperas das campanhas eleitorais em Porto Novo, foram mal dimensionados, material de má qualidade, atrevemos até dizer material chinês, que hoje estamos a resolver. Essas são as intervenções que vocês fizeram durante esses 15 anos”, disse o deputado do Movimento para a Democracia (MpD), eleito pelo círculo eleitoral da ilha de Santo Antão.

O deputado fazia referência às obras realizadas pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), agora na oposição, após perder as eleições em 2016, depois de 15 anos no poder.

Damião Medina fazia uma intervenção no debate com o ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, no arranque da sessão plenária de Janeiro no parlamento cabo-verdiano, precisamente num edifício construído e reabilitado pela China.

Em resposta, o deputado do PAICV Carlos Delgado pediu um pronunciamento do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Santos, relativamente às declarações de Damião Medina, o que não chegou a acontecer.

“Gostaria de ouvir o pronunciamento do presidente sobre essa afirmação infeliz do deputado, que acusou gravemente um país, que é a China, que tem uma cooperação histórica com este país”, afirmou Carlos Delgado, eleito também pelo círculo eleitoral de Santo Antão.

Damião Medina voltou a intervir, dizendo que o seu colega não o vai colocar em problemas com a China. “Reconheço o que a China tem feito pelo país e não é o caso que referencia”, esclareceu.

A China é um dos principais parceiros de Cabo Verde, em relações diplomáticas estabelecidas em 1976, um ano após a independência do país africano.

Além da Assembleia Nacional, a China construiu vários outros edifícios emblemáticos em Cabo Verde, como a Biblioteca e o Auditório nacionais, a primeira barragem no país, e tem apoiado outros projectos e instituições no arquipélago.

17 Jan 2019

Cabo Verde | Sustentabilidade do banco de David Chow continua por provar

[dropcap]O[/dropcap] empresário David Chow não conseguiu ainda a autorização para estabelecer o Banco Sino-Atlântico em Cabo Verde por ter apresentado um pedido com dados incompletos, o que não permite às autoridades cabo-verdianas comprovarem a sustentabilidade do futuro banco. A notícia foi avançada ontem pelo Jornal Económico, que cita um comunicado do Banco de Cabo Verde.

O pedido da Macau Legend Development não continha “todos os elementos legalmente exigidos supratranscritos, razão pela qual, até hoje, não foi permitida a devida análise e correspondente decisão por parte do Banco de Cabo Verde”, pode ler-se no comunicado.

A empresa fez o pedido inicial em Fevereiro do ano passado, mas este continha várias lacunas “de ordem formal e material”, tendo David Chow sido informado, em Março, da necessidade de apresentação de mais dados. Cinco meses depois o empresário terá enviado mais documentos, mas não enviou todos os que eram pedidos pelo Banco de Cabo Verde para finalizar o processo.

“Foram apontadas as insuficiências de ordem estratégica, económica, operacional e prudencial que não permitem aferir a sustentabilidade do projecto do Banco Sino-Atlântico”, acrescentou o mesmo comunicado.
O banco central reagiu a uma notícia do jornal cabo-verdiano A Nação, que escreveu que “o Banco de Cabo Verde se apresenta neste momento como um obstáculo intransponível para o banco Sino-Atlântico”.

Apesar das autoridades de Cabo Verde terem assinado um memorando de entendimento com a Macau Legend Development relativamente a projectos de investimento de vária ordem, que, além do banco, incluem a construção de um resort no Ilhéu de Santa Maria, há ainda várias arestas por limar.

“Tendo em conta que tal estabilidade depende, também, da influência que os principais acionistas possam exercer na atividade das instituições financeiras, o rigor na avaliação e na monitorização dos acionistas qualificados promotores de projetos no sistema financeiro nacional consubstancia-se numa regra prudencial fundamental”, explica o banco central.

Na edição do passado dia 23, o jornal A Nação escreveu ainda na primeira página que os investimentos de David Chow estão “em risco de serem desviados para Moçambique”, dada a existência de “novos obstáculos nos projectos de David Chow”. O HM tentou esclarecer estas informações junto do empresário, mas não foi possível estabelecer contacto.

29 Nov 2018

Praia, a cidade estaleiro em Cabo Verde

[dropcap]A[/dropcap] cidade da Praia, em Cabo Verde, assemelha-se a um estaleiro, com obras públicas e privadas a crescerem em vários sítios e em simultâneo, o que para uns é incomodativo, mas para outros um sinal de esperança.

Avelino Mendes Tavares, conhecido como Caló, é pescador desde “a barriga da mãe”, como faz questão de sublinhar, e a sua vida junto ao mar de Cabo Verde permitiu-lhe assistir a muitas mudanças na orla marítima da cidade da Praia.

E foi junto ao mar que viu erguer-se um edifício majestoso na praia da Gamboa, onde costuma pescar, que faz parte do megaprojeto de hotel e casino da Macau Legend Development Ltd, do magnata David Chow.

Trata-se do maior empreendimento turístico previsto para Cabo Verde, com um investimento superior a 200 milhões de euros, e que consiste num complexo turístico com hotel, marina, centro de convenções e casino.

“Acompanhei esta obra desde o seu início. Digo que é a maior infraestrutura que será feita em Cabo Verde. Quanto estiver tudo pronto, tudo bonito, vai atrair mais turistas, mais câmbio, podemos ser vistos por todo o mundo como algo importante”, disse Caló, que não esconde o entusiasmo com a obra, mesmo que saia com a pescaria prejudicada.

David Chow. Foto HM

E explica: “Para os pescadores é mau porque tapou a praia. Assim muitos peixes já não entram como dantes. Para nós é mau, mas para o Estado de Cabo Verde é bom porque ganha-se mais dinheiro”.

Questionado sobre a beleza da obra, para alguns considerada de dimensão exagerada, dado estar junto ao mar, Caló não tem dúvidas de que “é uma obra bonita que vai trazer muito rendimento para Cabo Verde” e “vai trazer muitos turistas para o país”.

O pescador encontra ainda outra vantagem neste crescimento urbanístico, acreditando que tantas obras estão a dar emprego a quem não o tinha.

“No ano passado não choveu e muitas pessoas do interior não tinham emprego e estão a trabalhar aqui agora. São muitos pedreiros, pintores e muitos vieram [das ilhas] de Santo Antão, São Nicolau”.

Arlindo Gomes, 56 anos, e uma vida dedicada à construção civil, não subscreve o mesmo optimismo.

Junto à obra onde irá nascer o Parque Tecnológico de Cabo Verde, também na Praia, aguardava pelo encarregado enquanto partilhava com a Lusa o desânimo de estar quase a chegar ao fim do ano sem ter faturado nenhum dinheiro.

“Vim aqui procurar trabalho. Estou desempregado. Este ano ainda não consegui nada. Já procurei em várias obras, agora venho aqui para falar com o encarregado para ver se alguém me dá emprego”, disse.

Questionado sobre o impacto de tantas obras no desemprego que atinge tantos cabo-verdianos, Arlindo Gomes disse nada notar.

“Há muitos profissionais sem trabalho, apesar das obras. Está tudo parado”, afirmou.

E o elevado desemprego leva a que muitos aceitem trabalhar muito, em más condições e por menos dinheiro: “Se não estava contente, mudava e arranjava sempre outro trabalho. Agora, mesmo que esteja amargurado, maltratado, tenho que aguentar. Está muito difícil”.

A vida corre melhor para Ailton Rocha, 28 anos, frequentador da praia Quebra-Canela, uma das três que na orla marítima da capital estão a sofrer intervenções devido às construções que aí se erguem.

Gosta da praia “porque é maravilhosa” e ali encontra o que considera o mais importante: “Mulheres”.

Sobre os vários bares e restaurantes que na falésia estão a ser construídos só encontra vantagens, embora reconheça que as obras provocam algum incómodo.

“Talvez incomode”, mas “vale a pena”, porque as obras são “muito importantes para embelezar a praia”.

Além disso, referiu, “as obras são muito importantes para as pessoas que não têm emprego e agora estão a trabalhar”.

Após umas horas de descontração nas areias da Quebra Canela, a enfermeira espanhola Lina Monteiro disse à Lusa que assim que chegou à cidade da Praia se apercebeu do volume de obras na capital.

Considera que este nível de construção é bom para o país, mas só espera que os edifícios sejam construídos até ao fim, coisa que nem sempre acontece na cidade.

A trabalhar no Hospital Agostinho Neto, o principal de Cabo Verde, Lina Monteiro espera que as obras “sejam importantes para o desenvolvimento” do Estado.

Além das praias de Quebra Canela e Gamboa, também a Prainha está cercada por obras: O hotel Jasmin, uma unidade hoteleira de cinco estrelas do grupo Sana, de um lado, a recuperação do farol de D. Maria Pia, também conhecido por farol da ponta Temerosa, no outro, e, paralela à linha do mar, a residência oficial do Presidente da República de Cabo Verde, propriedade do Estado.

As novas construções são vizinhas de edifícios recuperados e de alguma importância, como a nova sede do Banco de Cabo Verde, com a obra em curso, que fica na mesma rua que o Palácio da Assembleia Nacional, ainda com algumas chapas das obras de que foi alvo.

A reabilitação do Palácio da Assembleia Nacional foi financiada pelo Governo chinês, no âmbito da cooperação existente entre Cabo Verde e a China.

Já a obra da nova sede do Banco de Cabo Verde, cujo projeto de arquitetura foi elaborado por uma equipa liderada pelo arquiteto português Álvaro Siza Vieira, movimenta diariamente dezenas de homens e máquinas que ali fazem crescer o edifício numa das principais zonas da cidade, conhecida como a rua das embaixadas, na Achada de Santo António.

Outra das principais obras na Praia é a requalificação da Praça do Palmarejo, a cargo do grupo Khym Negoce, que prevê a ocupação de um quinto da área com infraestruturas, estacionamento, espaços verdes e lojas.

Para já, a parte central da praça está cercada por chapas de metal, sendo visível o avanço das obras através da porta por onde entram e saem os veículos de apoio.

Na terra do pó, estas obras aumentam ainda mais a presença de detritos no ar e nas superfícies, exigindo maiores cuidados de limpeza, principalmente por parte dos estabelecimentos comerciais, como a “Padaria”, uma popular pastelaria portuguesa situada na praça do Palmarejo.

À Lusa, Patrícia Santos, que gere a “Padaria”, disse que os primeiros dias foram os mais complicados e que, para já, as obras só são prejudicais à vista.

Na sua casa, que já ganhou fama, os clientes que optam pela esplanada tiveram de se habituar a aumentar a voz para serem ouvidos, mas todos compreendem a razão do incómodo.

“Compreendemos que as obras são para embelezar aqui o centro do Palmarejo”, reconhecendo que o pó agora é mais que nunca, levando a mais cuidados de higiene.

Ligeiramente afastado do centro da cidade, mas ainda na zona do Palmarejo Grande, o novo Campus Universitário de Cabo Verde é das maiores obras em curso na cidade.

Os carateres chineses que rodeiam as redes de proteção dos edifícios são um primeiro sinal do investimento chinês nesta obra, projetada para cerca de 5.000 estudantes e perto de 500 docentes, 61 salas de aulas e cinco auditórios com 150 lugares.

Com finalização prevista para 2020, o novo campus foi financiado pelo Governo chinês em 15 milhões de dólares. Para já, ocupa uma vasta área na cidade, movimentando trabalhadores, máquinas e material, presença a que os praienses já se habituaram.

4 Nov 2018

Mayra Andrade – “Afecto”

“Afecto”

Não sei bem o que fazer
Nem sei como te dizer
Cada vez que me chegas me sinto mais longe de ti
Teu pudor foi transmitido e será neutralizado
Teu pudor foi transmitido
Não importa o quanto faça
Pouco importa a cor do ouro
Na corrida ao teu afecto
A medalha é sempre bronze
Sou orfã da tua ternura

Muito me salta à vista
Quando chegas reta e firme
Que pouco posso fazer para te fazer mudar
Teu pudor foi transmitido e será neutralizado
Teu pudor foi transmitido

Se soubesses abraçar
De vez em quando beijar
E aos recantos imperfeitos
Com menos rigor apontar
Quem seria eu?
Sou orfã da tua ternura

Quando estamos tu e eu
E ao meu lado adormeces
Um oceano nos separa
Mas tu não sabes de nada
A canção que se repete
A tristeza que me cala
O Amor foi recebido
Apesar do que tu calas
O Amor foi recebido
Apesar do que tu calas

Mayra Andrade

25 Out 2018

Mayra Andrade lança “Manga”, “uma fruta que faz bem ao coração”

[dropcap]A[/dropcap] cantora Mayra Andrade vai subir ao palco do Théâtre des Bouffes du Nord, em Paris, hoje, para apresentar o novo disco, “Manga”, a ser lançado em Janeiro.

O quinto álbum da artista cabo-verdiana, que trocou Paris por Lisboa há três anos, chama-se “Manga”, “uma fruta interessante que faz bem ao coração” e que deve ser consumida “sem muitos limites”, havendo um tema, em crioulo, que também adota o nome daquela que é “considerada a rainha das frutas tropicais”.

“É uma fruta muito sensual, é uma fruta em que a cor evolui, o sabor evolui. Por exemplo, eu vivi no Senegal quando tinha seis anos e lembro-me de ver as pessoas a comer manga verde com malagueta e sal. Essa mesma manga, depois de madura, é degustada como um fruto muito doce. Então é uma fruta interessante que ainda por cima faz bem ao coração”, contou à Lusa.

O novo álbum da intérprete de “Lua”, “Dimokránsa” e “Ténpu ki Bai” é descrito como “um disco intimista” e uma espécie de “auto-retrato”.

“É um disco para o qual eu compus e escrevi mais do que nunca e, de certa forma, onde eu trato temas ou assuntos que me tocam com o objetivo de ultrapassá-los e de resolvê-los sem rancores e sem dores. É um disco interessante porque, ao mesmo tempo, é uma celebração de eu estar a viver um momento em que estou cada vez mais alinhada com o que eu sou, com a época que eu estou a viver”, disse a artista de 33 anos.

Cinco anos após “Lovely Difficult”, o novo disco de Mayra Andrade tem “uma espécie de frescura”, entre afrobeat, música urbana e sons tradicionais de Cabo Verde, tendo sido gravado entre a Costa do Marfim e Paris, com a colaboração do multi-instrumentista cabo-verdiano Kim Alves, do produtor Romain Bilharz, que trabalhou com Stromae, Ayo e Feist, e dos produtores marfinense 2B e senegalês Akatché.

“Há uma espécie de frescura. Talvez por não ter lançado um disco há muito tempo, eu tive tempo de encontrar o caminho que realmente se aproximava mais daquilo que eu queria. Foi um caminho longo… Lancei um disco há cinco anos, comecei a trabalhar neste disco há cerca de três. Portanto, foi um disco que foi amadurecido e que culminou num retrato muito fiel do que eu sou hoje”, afirmou, de sorriso nos lábios.

As sonoridades afro-contemporâneas aliam-se às letras maioritariamente em crioulo cabo-verdiano e quatro em português porque Mayra Andrade está “num momento muito lusófono”, em Lisboa, nunca gravou “tanto em português como agora” e nem sente saudades de Paris, onde chegou com 17 anos.

“Mudei-me para Lisboa há três anos. Eu sinto-me totalmente em casa em Lisboa, devo dizer. Está-me a fazer muito bem, depois de ter vivido 14 anos em Paris, de finalmente pousar-me numa cidade, onde me sinta tão acolhida e com um clima tão bom, as pessoas muito queridas e come-se tão bem. Realmente Lisboa tornou-se casa para mim”, revelou.

Em “Manga”, a maior parte das letras e composições são de Mayra Andrade, mas também há músicas de Sara Tavares, Luísa Sobral e outros compositores.

O primeiro ‘single’, “Afecto”, que foi lançado este mês, é assinado por Mayra Andrade e fala sobre “a ausência de demonstração dos afectos” e a corrida à conquista desses mesmos afectos.

“Às vezes, achamos que demonstrar os nossos sentimentos é um sinal de fraqueza e não é. A ausência destas demonstrações, acaba por esculpir muito a nossa personalidade e a nossa forma de estar na vida. Há carências muito profundas que se criam e há sempre forma de pensar que há gente que tem problemas maiores que a ausência de afeto, mas seja como for, a demonstração do afeto é uma coisa que nós devemos perseguir sempre”, acrescentou.

Hoje, em Paris, acompanhada de uma “banda totalmente nova”, Mayra Andrade vai revelar em palco o disco que chega em janeiro e cantar, ainda, outras músicas “que as pessoas já conhecem”.

Mayra Andrade começou, a 13 de Outubro, a digressão europeia que a vai levar, também, a Estocolmo, Roterdão, Paris, Lisboa (3 de Novembro), Toulouse, Luxemburgo, Almada (17 de novembro), Londres, Berlim, Marselha, entre muitas outras cidades europeias.

23 Out 2018

China/África | Pequim disponibiliza apoio milionário a Cabo Verde

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China vai disponibilizar “a título gratuito” cerca de 20 milhões de dólares norte-americanos a Cabo Verde, no âmbito da ajuda pública ao desenvolvimento, anunciou o primeiro-ministro cabo-verdiano.

O anúncio foi feito por Ulisses Correia e Silva na sua página da rede social Facebook, na qual dá conta do encontro mantido com o Presidente chinês, Xi Jinping, na passada quinta-feira. “Discorremos sobre as questões de índole global, designadamente as mudanças climáticas e a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas” e “passámos em revista a dinâmica das relações sino-africanas, bem assim a cooperação sino-cabo-verdiana, que se quer cada vez mais inovadora e com enfoque em parcerias económicas mutuamente vantajosas”, lê-se na nota do chefe do governo.

Segundo Ulisses Correia e Silva, os dois governantes comprometeram-se a “trabalhar na identificação das melhores vias para incrementar o conhecimento recíproco, bem como potenciar a cooperação económica e comercial, com ênfase ao projecto da Zona Económica Especial da Economia Marítima em S. Vicente, a segunda fase do projecto Cidade Segura e a construção de um Centro Internacional de Conferências na Cidade da Praia”.

Sobre a ajuda pública ao desenvolvimento, o primeiro-ministro de Cabo Verde referiu que “o Presidente chinês anunciou que irá disponibilizar a Cabo Verde, a título gratuito, apoio financeiro de cerca de 20 milhões de dólares americanos, em áreas a acordar por via diplomática”.

Ulisses Correia e Silva escreveu igualmente que “o Presidente Xi Jinping assegurou ainda que as oito medidas e os 60 mil milhões de dólares, anunciados para triénio 2019 a 2022, no âmbito do Fórum de Cooperação China África (FOCAC), constituem importantes janelas de financiamento ao dispor dos países africanos, que possuem projectos cuja viabilidade económica atestam a sua relevância e sustentabilidade”.

10 Set 2018

Xi quer que relação com Cabo Verde seja modelo de “tratamento igual”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Presidente chinês, Xi Jinping, disse ontem ao primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, que Pequim quer tornar a relação bilateral “num modelo do princípio de tratamento igual” para todos os países, “independentemente da dimensão”.

Os dois líderes estiveram ontem reunidos, na sequência do Fórum de Cooperação China/África, que se realizou esta semana, e trouxe a Pequim dezenas de chefes de Estado e de Governo do continente africano.

Citado pela agência Xinhua, Xi Jinping afirmou que Pequim quer “reforçar o vínculo entre as estratégias de desenvolvimento de Cabo Verde” e “expandir a cooperação em áreas como infra-estrutura e economia do mar”. Xi apelou a um apoio mútuo “mais firme” em questões envolvendo os respectivos “interesses fundamentais” dos dois países.

O líder chinês enalteceu ainda a participação de Cabo Verde na iniciativa Nova Rota da Seda. Xi Jinping prometeu já um investimento da China no continente africano, nos próximos três anos, de 60.000 milhões de dólares, no âmbito daquela iniciativa.

O também secretário-geral do Partido Comunista Chinês afirmou que Pequim presta “especial atenção” às preocupações de Cabo Verde como um pequeno país insular, afirmando que a China está disposta a reforçar a coordenação em assuntos como as alterações climáticas e a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, da ONU.

Durante a abertura do Fórum China/África, Xi Jinping prometeu um perdão de dívida para alguns dos países do continente, incluindo pequenas nações insulares, mas sem detalhar quais.

O primeiro-ministro cabo-verdiano reafirmou o compromisso com o princípio de uma só China – visto por Pequim como uma garantia de que Taiwan é parte do território chinês -, e a vontade em participar na Nova Rota da Seda.

Ulisses Correia e Silva esteve na quarta-feira na Nova Área de Binhai, na cidade portuária de Tianjin, a cerca de 120 quilómetros de Pequim. O responsável cabo-verdiano disse a Xi Jinping que a visita àquela área, construída de raiz nos últimos anos, foi “inspiradora”, detalhou a Xinhua.

Cabo Verde está a negociar com a China vários projectos de desenvolvimento, como a Zona Económica Especial Marítima de São Vicente, o Cidade Segura e o Centro Nacional de Convenções da Cidade da Praia.

7 Set 2018

Diplomacia | Cimeira da CPLP terminou ontem sem abordar questão de Macau

Chegou ontem ao fim a cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Cabo Verde. Da agenda saiu a vontade de implementar a livre circulação de pessoas e bens dos Estados membros, mas a questão de Macau não foi discutida. Para Francisco José Leandro, docente da Universidade de São José, o assunto “não está em cima da mesa”

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau não é um Estado mas tem a língua portuguesa como idioma oficial, o que só por si seria argumento suficiente para se ponderar a sua adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ainda que a China tivesse de tomar essa decisão. Em 2016, a um ano de se realizar a cimeira em Brasília, Brasil, o secretário-executivo da CPLP, Murade Murargy, garantiu que a adesão de Macau seria sempre um ponto complicado. “Isso não, porque os territórios estão dentro de países”, afirmou, lembrando que a China já utiliza a RAEM como ponte de ligação com os países de língua portuguesa através do Fórum Macau.

A cimeira deste ano, realizada em Cabo Verde, chegou ontem ao fim e o assunto parece continuar na gaveta. O HM não obteve resposta sobre a possibilidade de inclusão do assunto Macau na agenda, e Francisco José Leandro, docente da Universidade de São José (USJ), autor de vários artigos sobre a CPLP, deixou bem claro que “este assunto não está em cima da mesa”.

“Há dificuldades do ponto de vista jurídico, porque não estão previstos membros que não sejam Estados. Mas acho que a questão essencial é o facto das relações que a China tem estabelecido com os países de língua portuguesa terem sido sempre feitas com uma base bilateral ou através do Fórum Macau”, adiantou ao HM.

Apesar de não fazer parte da CPLP, ao lado de países como Portugal, Brasil, Cabo Verde ou São Tomé e Príncipe, entre outros, Macau participa através da presença de vários observadores consultivos, como é o caso da Fundação Oriente, Instituto Internacional de Macau ou a Associação de Universidades de Língua Portuguesa, da qual fazem parte Rui Martins, da Universidade de Macau, e Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau.

A própria USJ é observador consultivo, mas o papel destas entidades é meramente auxiliar. “Esse estatuto [de observador consultivo da USJ] foi reconhecido o ano passado e acho que estão previstas para este ano um conjunto de iniciativas na área cultural. Mas estes parceiros consultivos não protagonizam as relações económicas e político-diplomáticas, e são essas que são determinantes”, alertou Francisco José Leandro.

Só boas intenções

Da cimeira dos últimos dois dias saiu a ideia de tornar a CPLP num espaço de livre circulação de bens, pessoas e serviços. Maria do Carmo Silveira, secretária-executiva da CPLP, referiu que a facilitação da mobilidade e a promoção do comércio como os principais desafios que a organização enfrenta.

Contudo, Francisco José Leandro defende que houve poucas evoluções no seio da CPLP desde a sua fundação, em 1995. “A CPLP, apesar de haver boas intenções, na realidade não tem uma componente diplomática e de negócios que possa ajudar nesta relação entre a China e os países de língua portuguesa. Se olharmos para a génese da CPLP, e para aquilo que ela é hoje, algumas coisas foram ponderadas, como a dimensão da segurança.”

Contudo, na visão do docente especialista em ciência política e relações internacionais, a CPLP “não tem ainda uma bagagem económica e diplomática que permita ser uma plataforma para esse aprofundamento de relações com a China”.

Mesmo que a livre circulação de pessoas e bens aconteça no seio dos Estados-membros, tal não terá influência para Macau e China, apesar da existência do Fórum Macau e de projectos de integração e cooperação como é o caso da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

“A livre circulação levanta outras questões e não sei se a CPLP tem capacidade política para as ultrapassar. É mais uma das boas intenções mas vai ser difícil de implementar. Há Estados que pertencem ao MERCOSUL, à União Europeia (UE). Não é assim tão fácil. Os Estados que pertencem à CPLP não estão disponíveis para sacrificar nenhuma da sua soberania em favor da própria CPLP. Portugal fez isso em relação à UE, mas nenhum dos outros Estados o fez em relação a outras organizações internacionais e muito menos à CPLP”, rematou. Ontem decorreu ainda a eleição do português Francisco Ribeiro Telles para o cargo de secretário-executivo.

19 Jul 2018