Exposição | “Show-Off 3.0” mostra obras de três personalidades locais

É inaugurada esta quarta-feira a exposição “Show-Off 3.0”, promovida pela Associação Cultural da Vila da Taipa, e que apresenta um novo conceito de mostra: ao invés de expor obras de um artista, revelam-se peças de arte adquiridas por personalidades locais. Desta vez a escolha recai nas peças de Lúcia Lemos, Carlos Morais José e Rita Machado

 

A Associação Cultural da Vila da Taipa apresenta, a partir desta quarta-feira, uma nova exposição. Trata-se de “Show-Off 3.0”, que como o nome indica é a terceira edição de uma mostra de coleccionadores locais, ou seja, aquilo que se apresenta ao público são obras de arte de personalidades de Macau ou a residir no território, ao invés de se expor o trabalho de um artista.

Assim, “Show-Off 3.0” conta com peças adquiridas por Lúcia Lemos, fundadora da galeria Creative Macau; Carlos Morais José, director do HM e autor; e Rita Machado, arquitecta. Este projecto nasce depois de se ter verificado uma “influência cultural trazida à comunidade pela primeira exposição da série”.

Segundo um comunicado da organização, este trio de personalidades “partilha as impressionantes colecções que acumularam ao longo dos anos, tanto a nível local como internacional, incluindo obras de arte que adornam os espaços mais íntimos das suas casas”.

Nesta mostra exploram-se “ideias relacionadas com o coleccionismo de arte, visando promover-se o coleccionismo como um bem cultural que parte de uma iniciativa individual, mas que pode também alargar o sentido de comunidade, fomentar a sua vitalidade e acrescentar diversidade às economias locais”. A organização desta exposição considera que coleccionar arte também potencia o próprio comércio neste segmento, além de se “fomentar o talento local e internacional”, sendo que, em “Show-Off 3.0”, tal como nas restantes edições, se revelam “aspectos da personalidade do colecionador”.

Quadros para que te quero

Lúcia Lemos, que durante anos esteve à frente da Creative Macau, apresenta “uma colecção composta, principalmente, por pinturas vibrantes e coloridas de artistas locais e estrangeiros”. “Lúcia Lemos tem estado envolvida na promoção de artistas locais há mais de duas décadas, através da interpretação de vários meios, incluindo pintura, design gráfico, arte 3D, fotografia e cinema. É também directora do Festival Internacional de Curtas Metragens Sound & Image Challenge desde 2010. Sendo ela própria uma artista plástica, que desenvolveu as suas capacidades na fotografia a preto e branco e no vídeo, a sua relação especial com as imagens resulta dos muitos anos de exposição ao meio artístico da cidade portuguesa do Porto”, destaca a organização.

Segue-se Carlos Morais José, licenciado em Antropologia, mas que sempre se dedicou ao jornalismo, sendo director do HM há vários anos. Além disso, fundou várias editoras, nomeadamente a COD e a Livros do Meio, sendo que o mais recente projecto de edição literária é a editora “Grão-Falar”, sediada em Lisboa, com o foco de editar obras sobre a cultura chinesa e asiática em português. É também poeta e autor.

“A colecção de Carlos Morais José remete para uma relação subtil e complexa entre um estudioso e um gongshi que vê pedras – rochas com uma beleza estética particular – que ao olhar não treinado parecem ser apenas pedras decorativas, mas que levam o esteta a debruçar-se sobre questões que transcendem a sua aparência”, descreve-se.

Rita Machado, arquitecta ligada ao atelier Impromptu Projects, apresenta obras de arte que se baseiam “nas relações que manteve com muitos artistas locais e internacionais, sendo que, com alguns dos quais estabeleceu amizades duradouras”.

Rita Machado “interessa-se pelas intersecções entre a cultura ocidental e oriental, o desenho urbano e o desenho arquitectónico”, tendo-se licenciado em Arquitectura na Universidade do Porto com a tese “Macau, cidade (in) finita”.

João Ó, arquitecto e presidente da Associação Cultural da Vila da Taipa, descreveu ser “uma honra convidar três coleccionadores de arte a mostrar as suas diversas colecções de arte na Vila da Taipa, após o sucesso das nossas exposições experimentais nos últimos dois anos”.

“Esta exposição rara e especial pretende explorar a natureza do coleccionismo e suscitar conversas visualmente estimulantes sobre as posses culturais de indivíduos com interesses muito específicos e altamente pessoais”, disse ainda. A mostra pode ser vista até ao dia 30 de Abril, pretendendo “reforçar ainda mais a posição da Vila da Taipa como um dos principais destinos culturais e artísticos de Macau, sublinhando a sua inestimável contribuição para a promoção das indústrias culturais e criativas do território”.

25 Fev 2025

Exposição | Taipa acolhe obras de Ernest Wong Weng Cheong

A Associação Cultural Vila da Taipa apresenta, a partir de 14 de Setembro, a exposição do artista local Ernest Wong Weng Cheong, intitulada “Catch It Outside 2.0”. A mostra reúne gravuras apresentadas pela primeira vez em Macau. João Ó, presidente da associação, levanta a ponta do véu sobre as exposições futuras, que incluem artistas como Nino Bartolo e André Carrilho

 

“Catch It Outside 2.0” é o nome da exposição que poderá ser vista na galeria da Associação Cultural Vila da Taipa a partir de 14 de Setembro. Da autoria do artista local Ernest Wong Weng Cheong, a mostra apresenta, pela primeira vez em Macau, uma colecção de gravuras em que o autor explora novas técnicas de gravura a três dimensões, misturando-as com técnicas mais tradicionais.

João Ó, presidente executivo da associação, falou ao HM sobre os processos criativos que resultaram em “Catch It Outside 2.0”. “Ele combina uma técnica muito tradicional de gravura e depois faz uma simulação tridimensional de imagens. Reproduz e simula imagens em três dimensões, mas transforma-as em obras artísticas através dos métodos tradicionais. Por norma, vemos na gravura os trabalhos feitos na chapa e impressos sobre o papel, mas no caso dele é ele que produz as imagens, reconverte-as para a chapa e depois para o papel.”

Para João Ó, esse aspecto “é muito interessante”, porque permite observar imagens fotográficas em técnicas de gravura, “uma combinação curiosa e nova para nós [como galeria] e para o mercado de Macau”.

Os temas de Ernest Wong Weng Cheong vagueiam em torno da “natureza morta, como o tijolo, o vaso ou o frasco”, sendo que o artista faz depois uma “composição especial com elementos especiais, quase fictícios, criando espaços interiores com um rasgo de luz, e com elementos naturais bastante interessantes”.

“No fundo, ele cria uma nova dimensão que obriga o observador a respirar um novo mundo. Quando olho para as suas gravuras sinto que posso passar para um outro lado e respirar um novo ar. Corporalmente, obriga-me a entrar na imagem, não há uma separação. Obriga-me a submergir e a entrar na obra de arte”, adiantou João Ó.

Do Japão para Macau

Foi com a mostra “Somewhere Still Wild”, com curadoria de James Wong, e que esteve patente na Casa Garden no ano passado, que João Ó teve o primeiro contacto com o trabalho de Ernest Wong Weng Cheong, formado em Belas Artes na Universidade de Londres.

“Foi uma exposição muito interessante, das melhores que já vi em Macau, e cujo curador foi James Wong, que é conhecido como o mestre da gravura em Macau. Ernest Wong é discípulo dele, vi que se tinha formado numa das melhores escolas do mundo e que regressou a Macau, de onde é natural. Tendo percebido que ele não tinha tido, até então, muitas exposições individuais, entendi que era um artista aos quais era preciso dar valor e que ia de encontro ao mote da nossa galeria, que é o de apresentar novos artistas numa vertente mais experimental.”

De frisar que “Catch It Outside 2.0” teve apenas uma primeira exposição no Japão, numa galeria de arte em Quioto. “Foi ele que nos fez esta proposta para apresentar, pela primeira vez, o seu trabalho em Macau. [Os trabalhos da mostra] têm uma qualidade de execução bastante acima da média para o que vemos em Macau”, adiantou o presidente executivo da associação e arquitecto.

Para João Ó, as peças de Ernest Wong Weng Cheong fazem lembrar as peças de Giorgio Morandi, grande pintor italiano conhecido sobretudo pelos seus trabalhos de natureza morta, como vasos e frascos, entre outras “composições minimalistas de elementos domésticos”.

“A composição e a tensão entre os objectos que estão juntos numa posição cria alguma harmonia. O Ernest vai muito para essa composição espacial, e quando cria uma nuvem quase surrealista por cima de um vaso leva-nos a crer que teve alguma inspiração nesse género de pintura.”

João Ó acredita que os trabalhos do artista local conduzem à “reflexão sobre uma realidade que tenta limpar todos os problemas que temos e levar-nos a apreciar esteticamente um novo conteúdo”.

O artista “traz uma visão muito peculiar do que ele entende ser uma obra de arte”, saindo “um pouco da linguagem e do espectro a que estamos habituados a ver em Macau, por ter estudado lá fora, sempre com uma grande qualidade”.

As novas exposições

“Catch It Outside 2.0” estará patente nas novas instalações da Associação Cultural Vila da Taipa, na Rua Correia da Silva, na Taipa Velha. “Continuamos a ter um espaço pequeno, mas é a partir daí que as experiências são mais interessantes”, assegura João Ó, que levanta a ponta do véu sobre o que poderá ser visto até Fevereiro no novo espaço.

Uma das exposições é do estilista de cabeleireiro macaense Nino Bartolo, que usa uma técnica mista de fotografia como veículo de expressão artística. “Ele trabalhou muitos anos na Vidal Sassoon e continua a trabalhar nessa área, mas tem uma grande paixão por fotografia. Vamos ter uma exposição de fotografias de cabelos e perucas criados por ele, num encontro bastante inusitado.”

Destaque também para a exposição do conhecido ilustrador português André Carrilho, ex-residente de Macau, que apresenta fotografias dos trabalhos que fez sobre viagens. “Esta é uma óptima oportunidade para voltar a apresentar o trabalho do André Carrilho em Macau, com a viagem como tema, numa altura em que é difícil viajar.”

João Ó conta que a exposição terá como base os cadernos de ilustrações de viagens de André Carrilho, em locais como Macau, Goa, Nova Iorque ou Paris. “Será uma lufada de ar fresco”, assegura.

7 Set 2022